Segurança do paciente.

Transcrição

Segurança do paciente.
III Congresso Brasileiro dos Serviços de
Saúde do Poder Judiciário
Segurança do Paciente e Cultura Institucional
Rosane Oliveira Simões
Consultora de Qualidade e Segurança
2011
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
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Grandes Acidentes Industriais na Década de 80
Acidente na plataforma
Piper Alpha
Mar do Norte, 1988
167 mortes
Union Carbide em Bhopal, Índia – 1984
Vazamento tóxico – 8.000 mortes
Relatório Cullen sobre o acidente:
► Os
riscos devem ser avaliados nas fases
iniciais de desenho
► As
avaliações
contínuas
de
riscos
devem
ser
► Os
funcionários devem ser treinados em
segurança, por exemplo, com permissões
para atividades de maior risco
►A
qualidade do sistema de gerenciamento
de segurança é crítica
Exxon Valdez – Alasca – 1989
Derramou 41 milhões de litros de petróleo
► A auditoria é vital
► As causas são quase sempre sistêmicas
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
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Um dos primeiros trabalhos publicados sobre a segurança do paciente
foi o de Schimmel em 1964 - The Hazards of Hospitalization (1964).
Neste artigo, ele relatou que 20% dos pacientes admitidos para
tratamento médico no hospital universitário em estudo, sofreram um
ou mais episódios de complicações decorrentes do cuidado, sendo
que 19% destes danos foram classificados como sérios ou fatais.
Como recomendação, apontou a necessidade de que seja ponderado
o provável benefício de cada exame ou tratamento contra o possível
risco, escolhendo somente os que se justificam, e estando preparado
para alterar o procedimento diante de um dano real ou potencial.
Schimmel EM. The Hazards of Hospitalization Ann Intern Med 1964; 60:100-10.
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Este assunto também já era mencionado na área da saúde...
3
No setor de saúde a mudança iniciou-se no final
da década de 1990, por meio de publicações
sucessivas, dentre elas o livro
“ TO ERR IS HUMAN: BUILDING A SAFER HEALTH
SYSTEM”.
elaborado
pelo
Comitê
para
a
Qualidade do Cuidado à Saúde na América
(Committee on Quality of Health Care in
América) do IOM, concluído em 1999 e
publicado em 2000.
IOM Institute of Medicine. Committee on Quality of Health Care in America. To Err is
Human. Washington DC: National Academy Press; 2000.
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Todavia, só teve repercussão internacional com a
publicação feita pelo IOM
To Err is Human1
Hospital de ensino brasileiro2
 98.000 pacientes morrem a cada ano por
erros na assistência.
 1,3 milhões sofrem algum dano como
conseqüência durante hospitalização
 CDC estima que dois milhões ao ano
adquirem infecção relacionada a assistência
 5 milhões admitidos durante um ano em CTIs,
vão experimentar ao menos 1 EA prevenível
 Colorado e Utah em 1992 - 2,9% EA e destes
6,6% óbitos.
 Nova York em 1984 - 3,7% EA e destes
13,6% óbitos.
Extrapolando para o total de internações
553 prontuários avaliados
385 prontuários elegíveis (100%)
 Colorado e Utah: 44.000 mortes/ano.
 New York: 98.000 mortes/ano.
 Londres – 1014 prontuários – 10,8% EA,
sendo 1/3 seqüelas graves ou óbitos.
 5a. causa de morte
 mais da metade dos EA poderiam ser
prevenidos
 167 (43%) possível EA relatado
 39 (10%) EA confirmado
 26 (69%) EA evitável
Origem dos EA:
 Procedimentos médicos 30,8% (sondagem
vesical, IOT, CVC, etc)
 Procedimentos cirúrgicos 26,9%
 Diagnóstico 17,3%
 Obstétrico 13,5%
 Medicamentosos 5,8%
44% foram EA decorrentes de omissão
56% foram EA decorrentes de ação
Em um estudo conduzido pela Society of Actuaries (SOA) verificou que eventos
adversos preveníveis custaram ao sistema de saúde americano $19,5 bilhões em 2008
1 - TO ERR IS HUMAN BUILDING A SAFER HEALTH SYSTEM . Committee on Quality of Health Care in America, IOM. 1999.
2 - Mendes, W. et al – Revisão dos estudos de avaliação da ocorrência de eventos adversos em hospitais. Ver. Bras. Epidemiol.2005; 8(4): 393-406
5
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... Erros em saúde matam ou deixam seqüelas
•




•
•
Campanha das 100.000 Vidas (2004) –
Intervenções
Rapid Response Team (RRT)
ADE - Reconciliação medicamentosa
IAM – “Perfect Care”
Infecção Sítio Cirúrgico
Infecção cateter central
Pneumonia Associada a Ventilação Mecânica
Pacote de medidas (“bundles”)
… é um grupo de intervenções dirigidas aos pacientes com
cateteres vasculares e/ou ventilação mecânica que, ao serem
implementadas, todas juntas resultam em melhor resultado que
ao serem implementadas individualmente
Cerca de 3000 hospitais americanos aderiram (representando 78% dos leitos dos EUA)
estima-se que 122300 vidas foram salvas em 18 meses
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Institute for Healthcare Improvement
As seis intervenções do 5M Lives Campaign (2007):
 Prevenção Ulcera por Pressão… guidelines baseados em evidência para prevenção
 Reduzir Infecção por MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus) … práticas de




controle de infecção
Prevenção de Dano por Medicamentos de Alta Vigilância… foco inicial anticoagulantes,
sedativos, narcoticos, e insulina
Redução de Complicações Cirúrgicas… implementadas recomendações do Surgical Care
Improvement Project (SCIP)
Tratar Insuficiência Cardíaca Congestiva com guidelines baseados em evidências… para
reduzir as re-admissões
Get Boards on Board… disseminando os processos implementados e resultados para o Board
para que eles possam acelerar os processos institucionais essenciais para a segurança da
assistência.
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Em dezembro 2006 o IHI lançou o desafio da campanha de
5 milhões de vida salvas
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 Implementação da
cultura de
tolerância zero
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Mudança de paradigmas...
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Lancamento OMS – 25/06/08
Objetivo: melhorar a segurança do paciente
cirúrgico
Reduzir mortes e complicações durante a cirurgia
16.000 pessoas morrem/dia e centenas com sequelas permanentes
ISC – 14% dos eventos adversos;
ISC:
EUA – 3%
Bolivia – 12%
Tanzania – 19%
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Desafio: Safe surgery save lives – Campanha de cirurgia segura
1. Paciente certo, local certo (lateralidade)
2. Anestesia segura
3. Reconhecer e atuar em caso de PCR
4. Reconhecer e atuar em caso de sangramento
5. Evitar induzir reações alérgicas ou eventos adversos a
drogas (conhecimento)
6. Prevenir/minimizar ISC
7. Prevenir retenção de instrumentais/compressas/gazes
8. Identificar peças anatômicas
9. Comunicação efetiva – problemas
10. Vigilância epidemiológica
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Objetivos da cirurgia segura
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
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Metas internacionais de Segurança do Paciente
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•
Checar pelo menos duas identificações do paciente (nenhum
devendo ser o número do quarto do paciente) antes de iniciar um
procedimento ou tratamento, coleta de amostras de sangue,
administração de medicamentos, administração de sangue e
hemocomponentes.
2. Melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais.
•
•
•
Para ordens verbais ou telefônicas ou para comunicar resultados
críticos de exames, verificar a ordem completa ou resultado de
exame tendo a pessoa que recebeu a ordem ou resultado de
exame, “escrevendo e lendo de volta” a ordem completa ou
resultado de exame informado.
Padronizar as medicações que não poderão ser feitas sob ordem
verbal e/ou telefônica.
Mensure, avalie e, se apropriado, implemente ações para a melhoria
do tempo de comunicação dos resultados de exames e valores
críticos.
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1. Identificar pacientes corretamente
3. Melhorar a segurança do uso de medicações de alto risco (highalert).
•
Remover eletrólitos concentrados (incluindo, porém não limitado
a, cloreto de potássio, fosfato de potássio, cloreto de sódio >
0,9%) das unidades de internação de pacientes.
4. Eliminar cirurgias do lado-errado, paciente-errado, procedimentoerrado.
• Realizar a marcação do sítio cirúrgico (envolver paciente)
• Implementar um processo para assinalar o local da cirurgia no
corpo do paciente e envolver o paciente no processo de
marcação.
• Criar e utilizar o TIME-OUT - processo de verificação préoperatória, como um checklist, para confirmar que os
documentos apropriados (prontuário; exames) e equipamentos
necessários estão disponíveis, corretos e funcionando, antes de
iniciar o procedimento.
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Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
Metas internacionais de Segurança do Paciente
Metas internacionais de Segurança do Paciente
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• Adotar diretrizes reconhecidas e atualizadas para higiene das
mãos (CDC ou órgão similar no país).
• Implementar programa efetivo de higiene das mãos.
•
Gerenciar como evento sentinela todos os casos identificados
de morte inesperada ou perda permanente de função
associados com infecção adquirida na assistência à saúde.
6. Reduzir o risco de dano/lesão ao paciente vítima de Queda
•
Avaliar e reavaliar periodicamente cada paciente quanto ao
risco de queda, incluindo o risco potencial associado ao uso de
medicamentos (prescrição);
• Adotar ações
identificado.
para
reduzir
ou
eliminar
qualquer
risco
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
5. Reduzir o risco de Infecção Hospitalar
Como nos organizamos...
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
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1. Decisão e interesse do nível mais estratégico
2. Responsabilidade da supervisão
3. Refletida como prioridade
a. no cotidiano, nas reuniões e discussões
b. nas políticas e procedimentos, que refletem padrões de
qualidade e excelência
4. Metas e resultados mensurados
5. Eventos adversos notificados, analisados e recomendações
retro - alimentadas
6. Comunicação aberta e frequente
7. Auditoria para verificar a adesão
8. Bons resultados comemorados, incentivados e premiados
9. Suporte qualificado
10. Treinamento permanente
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Decálogo de Segurança
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Segurança deve ser o primeiro objetivo de uma organização de Saúde!
Balanced
Scorecard
2011
Dados Acumulados até Junho
Índice de Segurança do Paciente 2011
Meta
Peso
2009
2010
Redução
%
80% 100% 120%
Taxa de infecção em Cirurgia Limpa
11%
0,20
0,25
0,22 0,20 0,18
-19%
Infecção de corrente sangüínea assoc. à Cateter Venoso Central
12%
1,34
1,39
1,22 1,18 1,14
-15%
Utilização de Alcool Gel (quanto falta para 100ml/paciente-dia)
10%
16,1
35,6
30,5 29,2 27,9
-18%
Taxa de Erro de Medicação
11%
0,78
0,42
0,38 0,36 0,34
-15%
Quedas com Dano Grave e Moderado (SBIBAE - incluíndo transeuntes)
11%
19
32
22
19
16
-41%
Taxa de Glicemia < 60 mg/dl
10%
11,4
9,5
8,7
8,5
8,3
-10%
Broncoaspiração em Endoscopia e Colonoscopia
11%
14
7
7
5
3
-29%
Não Adesão do Corpo Clínico a Profilaxia de TEV
12%
56,2
34,8
EAGs Catastróficos
12%
23
19
-
16,2
15,5
Indicadores - 2011
Índice de processos internos
29,4 28,0 26,6
18
16
14
13,0 11,9 10,8
-20%
-16%
-20%
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Gerenciamento dos Eventos Adversos
Contexto
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein 2011
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1
MUITO
GRAVE
 Fatalidades
 Derrames de grandes proporções
 Doença incapacitante permanente
30
ACIDENTES COM
CONSEQÜÊNCIAS
MODERADAS
 Lesões com perda de tempo
 Doença incapacitante temporária
 Contaminação ambiental de médio porte
300
ACIDENTES COM
CONSEQÜÊNCIAS LEVES
3.000
ACIDENTES SEM CONSEQÜÊNCIAS
30.000
PRÁTICAS INSEGURAS
 Primeiros socorros
 Aconteceu, mas ninguém foi atingido
 A diferença é o fator sorte
 Atos + condições inseguros
 Exposição a agentes agressivos
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Práticas Inseguras X Conseqüências
Riscos mais comuns inerentes
ao processo assistencial
Falta de visibilidade (Exemplos: nomes de
pacientes semelhantes, drogas semelhantes.)
Responsabilidades não claras
Várias equipes cuidando de um mesmo paciente.
Falha na comunicação entre as equipes e
profissionais
Pacientes internados em qualquer unidade,
independente da patologia
Falta constante de vagas
Familiares e acompanhantes sem informação
Processos não integrados – Alta não organizada
por todos os envolvidos; resultado de exames em
andamento na hora de visita médica
Desperdício, entre outros
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O que buscamos?
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Sistema de Gerenciamento de Segurança
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Fluxo de Gerenciamento de Eventos23
Identificação/
Notificação do EA
1.
2.
Cultura da Segurança
• Compromisso Liderança
• Ambiente Não-punitivo
Sistema Notificação:
• Eletrônico
Ferramentas Qualidade:
Investigação
Análise das Causas
•DEPOSE
•Brainstorming
•Regra dos Porquês
•Ishikawa/Espinha Peixe
•Pareto
•Matriz Causa Efeito
•Matriz Esforço Impacto
•Pokayoke
•5W2H
•ACR (VA, JCI, TRIPOD)
Plano Ações e
Acompanhamento
1.
Comunicação
2.
Disclosure
Recursos tecnológicos:
• Circuito interno de TV
• Registros no prontuário
• Laudos de exames
• Pareceres de “especialistas”
e laudos técnicos (equipamentos)
• Controles farmácia
(dispensação/pyxes, farmácia clínica)
Corporativa
• Boletim
• Reuniões Lideres
• Treinamentos (case, cenário)
Local (Áreas)
• Mural
• Reuniões
•
Envolve paciente/família
e médico titular
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Fluxo de gerenciamento dos eventos adversos
Anônimo e de caráter
não punitivo!
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Sistema de Notificação 24
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Evento Adverso: Requer Atitude e Trabalho em Time
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Escolha de método de análise de causas
Revisão do processo assistencial do transplante de órgãos com
criação de barreiras para garantia da correta identificação do paciente em
consonância com o doador, com o objetivo de evitar a realização de cirurgia em
local e paciente errado;
Padronização de extensor fotossensível para uso na UTI neonatal
simplificando o processo, com o objetivo de minimizar erros de medicação
relacionados a este tipo de medicação e risco de infecção na corrente
sanguínea;
Revisão da infra-estrutura necessária para realização de paracentese,
visto que este é um procedimento de risco (saiu do HVM e passou a acontecer
somente no Morumbi - suporte de banco de sangue e UTI).
Entre outras...
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Exemplos de ação forte:
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Comitê de Qualidade e Assistência (Board): apresentação semestral dos resultados
para monitoramento.
Comitê Executivo de Segurança: reunião mensal com todas as lideranças - fatores
causais, ações (responsáveis e prazos), acompanhamento de tendências;
Comitês Locais de Segurança: times de trabalho; reuniões periódicas com liderança
local e especialistas;
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Segurança deve ser refletida como prioridade
Considerações finais
 Segurança é uma demanda sobre todos os setores da Sociedade;
 É um tema estratégico para organização; um direito do paciente;
 A abordagem exige compromisso, engajamento e metodologia adequada;
 Os resultados são tangíveis em todos os níveis.
A escolha do caminho a ser percorrido,
depende apenas
de onde se quer chegar...
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