prazer eu sou o negro - Valorizando a Diversidade

Transcrição

prazer eu sou o negro - Valorizando a Diversidade
PRAZER EU SOU O NEGRO
Prazer eu sou o negro. Sou conhecido como Preto, Neguinho ou Negão. Vim
aqui contar um pouco da minha história. Há muito tempo eu existo nesse mundo e
há muito tempo venho tentando desfazer uma imagem distorcida que as sociedades
do mundo inteiro fizeram de mim. Não sou essa diferença toda que as pessoas
acreditam que eu sou. Há muito tempo o homem branco me fez de seu objeto,
achando que eu era inferior a ele. Coitado. Ele nem sabia que o diferente era ele.
Por muito tempo me fizeram de escravo achando que minha condição aqui na terra
era essa. Mas eu te pergunto: que condição?
Sou tão ser humano como qualquer outro ser humano. Penso, falo, bebo,
como, durmo, estudo e trabalho como qualquer indivíduo e mesmo assim as
pessoas atribuem a mim uma incapacidade que eu não tenho, uma fraqueza que
não carrego e uma piedade que não mereço. Sou tão igual quanto qualquer ser
humano e sou tão humano quanto qualquer ser igual.
Estou aqui para pedir que parem de ter pena de mim. Que não me façam de
coitado, pois de coitado eu não tenho nada. Sou tão resistente como um nó de
bambu, sou tão inteligente quanto qualquer um e tão capaz que consigo superar os
pensamentos medíocres e ultrapassados de certos homens da sociedade moderna
que em face de sua incapacidade de compreender acerca do que eu sou, continua a
achar que é superior a mim, baseando-se em seus intrínsecos preconceitos com um
obstinado objetivo de me ofender e me esmorecer com suas cruéis atitudes.
Algemas e correntes não fazem mais parte do meu figurino. As correntes
que carrego agora são as correntes do pensamento livre e aberto, as algemas que
cercam meus pulsos são as algemas do amor, do perdão e da dignidade que circula
nas veias do meu ser. Meus braços uso agora para abraçar o meu próximo e não
mais para carregar os fardos dos pecados alheios. Minhas costas uso-as para apoiar
o peso das minhas alegrias e não mais para apoiar o preconceito de certos homens
que erroneamente acreditam serem melhores do que eu. Minhas pernas uso agora
para caminhar em direção ao meu futuro e não mais para caminhar em direção a
propósitos insignificantes de homens que não sabem aonde querem chegar. Meus
ouvidos uso para ouvir palavras que engrandecem os homens e o tornam melhores
e não mais para escutar xingamentos, ofensas e palavras depreciativas de homens
fracos que usam a ignorância de certas palavras para ganharem, no grito, o que eles
não conseguem com a raça. Uso meu nariz, para respirar vida e apreciar o cheiro da
pura liberdade que me foi tirada no passado mais que agora só fazem parte de
textos em livros de historia. Uso minha boca agora para dizer que EU SOBREVIVI e
agora posso experimentar minhas inúmeras conquistas. Acima de tudo não posso
esquecer de dizer que agora uso o meu olhar para enxergar o mundo da maneira
como ele deve ser visto: Um mundo onde a diversidade existe para mostrar que é na
diversidade que encontramos a igualdade. O direito de exercer nossos costumes,
valores e crenças devem ser respeitados e que raças existem para mostrar que o
amor não tem cor, pode ser de qualquer textura, modelo e forma. O que importa
meus caros irmãos, não é a cor que cobre a tua pele, mas sim a cor do caráter que
cobre a tua alma.
Quando todos os homens tiverem consciência dessa verdade não vou mais
precisar escrever textos como esse para lembrá-los da minha história de lutas,
tristezas e humilhações.
Por isso, encerro dizendo que aprendam a viver com as diversidades
existentes no mundo moderno e mesmo que não concordem com as diferenças que
esse mundo oferece, tenham consciência que se tudo nesse imenso universo fosse
do mesmo jeito, não teria graça a existência nesse mundo.