Um Olhar Sobre o Mundo – Parte II: Explorando

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Um Olhar Sobre o Mundo – Parte II: Explorando
Um olhar sobre o Mundo
EXPLORANDO O UNIVERSO ASIÁTICO
SUMÁRIO
PREFÁCIO
02
REPÚBLICA POPULAR DA MONGÓLIA
04
IRKUTSK – A JOIA DA SIBÉRIA
56
DESCOBRINDO A ÁSIA CENTRAL
65
REPÚBLICA DO CASAQUISTÃO
85
REPÚBLICA DO UZBEQUISTÃO
98
REPÚBLICA DO TURCOMENISTÃO
115
REPÚBLICA DO TADJIQUISTÃO
126
REPÚBLICA DO QUIRGUISTÃO
137
ROTA DA SEDA
151
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
166
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
PREFÁCIO
A modificação na inclinação da Terra e da sua rotação, em
milhões de anos, alterou o clima dos continentes. A seca que se
prolongou por dois mil anos extinguiu as florestas e a vida animal da
África. Em virtude dessas mudanças o Homo Sapiens logo começou a
se espalhar além do seu lugar de origem, a procura de territórios mais
hospitaleiros na Europa e Ásia. Cerca de 500 mil anos atrás grupos de
seres humanos se estabeleciam na Ásia, até o Norte da China e se
estenderam em direção ao sul, na Ásia Central, norte da Sibéria, Índia e
no Sudeste Asiático.
O Homem de Java, assim denominado porque seus restos
fósseis foram encontrados na ilha de Java, na Indonésia, é um tipo
primitivo (Pithecanthropus erectus), viveu há cerca de 500 mil anos
atrás, era caçador, utilizava o fogo e era capaz de fazer ferramentas
simples, de pedra e ossos. No Período Quaternário, em plena época
glacial do Paleolítico Inferior, há 460 mil anos viveu nos arredores de
Pequim, “o Sinanthropus pekinensis”chamado de“Homem de Pequim“,
o fóssil desse Homo sapiens foi descoberto pelo cientista chinês Weng
Chungpei, em 1929.
O Homo Sapiens Neanderthalensis é o mais bem conhecido
homem pré-histórico, apareceu na Europa e Ásia há aproximadamente
250 mil anos. Desde 1848, muitos fósseis foram encontrados em
diversas partes da Europa e do Oriente Médio.Vivia em cavernas, onde
também sepultava seus mortos. Para caçar empregava armadilhas,
armas de pedra e osso e utilizava o fogo. Durante os vários Períodos da
Idade do Gelo, grupos de caçadores seguiram para o norte, a fim de
explorar a rica vida animal das regiões das estepes da Ásia Central,
alcançando a taiga e a tundra da Sibéria e o Novo Mundo.
O Homem de Cro-Magnon (Homo sapiens) apareceu na
Europa, no último Período Glacial, há mais de 40 mil anos. É um
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Um olhar sobre o Mundo
ancestral do homem de hoje.Desenvolvido depois da última Era Glacial
da Época Plistocênica, o homem atual é o resultado de um processo de
evolução realizado durante milhões e milhões de anos. Somente há
cerca de um milhão de anos, nesse curso prolongado da evolução,
apareceu o primeiro ancestral no qual se podem identificar caracteres
humanos. O Homo sapiens sapiens, o humano moderno apareceu no
final do Período Quaternário, inicio do Pleistoceno, surgiu no continente africano entre 1,8-2 milhões de anos atrás.
Todos os homens e mulheres pertencem ao gênero Homo, à
espécie Homo sapiens e subespécie Homo sapiens sapiens. Eventuais
variações genéticas são mínimas e insuficientes para configurar
diferenciações raciais. A espécie humana pode ser dividida em raças,
distinguidas umas das outras por certas particularidades físicas. As
raças são o conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais
como a cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de
cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade.Todas
as raças atuais descendem de ancestrais comuns.
A população humana divide-se em três grupos raciais: o
Negróide (raça negra), o Caucasóide (raça branca) e o Mongolóide
(raça amarela). Num sentido geral, o continente africano é a região dos
Negróides; a Ásia, dos Mongolóides; a Europa dos Caucasóides. O
centro-leste da Ásia e particularmente a Região Chinesa é considerada
o torrão natal da raça Mongolóide. A variedade racial é enorme. Os
mongolóides ou amarelos são os mais numerosos, abrangendo chineses, japoneses, mongóis, indonésios, siberianos, malaios. Os caucasóides ou brancos ocupam a Europa, a Ásia Menor, parte da Ásia Central,
o Irã, o Afeganistão, o norte da Índia, o Turcomenistão.
A difícil adaptação ao clima hostil da época, levou a uma
evolução que fez com que o Homo sapiens chinês, adquirisse as características que possui hoje: a cor amarela da pele, cabelos pretos, grossos
e lisos e olhos oblíquos. Em certa extensão a miscigenação de povos
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tem ocorrido em todas as partes do mundo. As diferenças biológicas
entre as raças atuais são insignificantes. Há a teoria que considera que
as características humanas são determinadas, 50% por hereditariedade
e outros 50%, pelo modelo de cultura onde nasceu, se criou e viveu;
pressupondo que há algum tipo de correlação entre as características
ditas“raciais”e culturais dos indivíduos, grupos sociais, ou popu-lações.
Devido ás contínuas migrações e conseqüente miscigenação com outros
povos tornam-se difícil definir antropologicamente as diversas raças.
REPÚBLICA POPULAR DA MONGÓLIA
Após as fortes emoções vividas na longa e proveitosa viagem
ao Arquipélago Malaio e países do Sudeste Asiático, os pesquisadores
Rodrigo, biólogo, e seu primo Álvaro, jornalista e cientista social,
voltaram para a casa dos pais, onde gozaram de um prolongado tempo
para descansar e curtir a vida. Apesar das contínuas cobranças e
rigorosos conselhos dos pais, nenhum dos dois se adaptou à monotonia
da vida no campo.
Pois o seu espírito inquieto e aventureiro não lhes permitiu
que ficassem parados. Certa noite, Rodrigo sonhou que se encontrava
no Deserto de Gobi. Uma tempestade de areia vinha ao seu encontro;
logo a primeira nuvem de poeira começou a envolvê-lo. Acordou
assustado, e uma forte impressão ficou gravada na sua memória. Quis
transmitir esta emoção ao seu primo Álvaro. Resolveu telefonar-lhe:
- Alô! Álvaro, meu amigo. O espírito da aventura voltou a
tomar conta de mim novamente. Esta noite, em sonho, estive na
Mongólia. Isto despertou em mim aquela vontade louca de viajar, de
estar de frente com o desconhecido. Vamos embrenhar-nos outra vez
neste mundo maravilhoso, cheio de enigmas, de mistérios! Você está a
fim de continuarmos na busca do nosso objetivo?
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Um olhar sobre o Mundo
- Alô! Rodrigo! O convite é convincente, não tem como não
aceitar. Agora, depende da permissão dos nossos pais, se eles
autorizarem e liberarem a verba auxiliar, isto é, os cartões de crédito,
voaremos para a Mongólia, para continuar as nossas andanças e
pesquisas – respondeu Álvaro, exultante.
Os dias foram passando; chegaram os festejos de Natal e Ano
Novo, veio a Páscoa e a resposta positiva dos pais para viajarem não
vinha. Eles estavam em dúvida. Rodrigo e Álvaro pediam, insistiam,
até que os pais Giovani e Conrado decidiram a favor.
- Podem viajar, se as pesquisas que vão realizar forem úteis
para enriquecer e ampliar os conhecimentos nas suas carreiras profissionais. Não deixem de fotografar tudo. – deliberou Giovani.
Rodrigo sendo uma pessoa prevenida, fez os cálculos do disponível para a viagem. Somou os proventos que recebia como pesquisador na área de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Paraná, mais a Bolsa de Estudos com que fora contemplado pelo
governo chinês, no intercâmbio científico - cultural, com a finalidade
de estudar a biodiversidade da Região Chinesa. Principalmente o
impacto ambiental causado pela atividade humana, no processo da
desertificação progressiva da região, tendo como referência os Pampas
Gaúchos e o Nordeste brasileiro. Para impedir este fenômeno o
governo Chinês, elaborou um plano conhecido pela designação de
”Grande Muralha Verde”, um enorme anel de florestas plantadas, como
uma barreira para impedir a expansão da desertificação e também
barrar as tempestades de areia que ocorrem no norte da China.
Álvaro contava com a renda dos documentários e reportagens
enviadas a BBC. Tendo verificado e conferido os saldos de suas contas
bancárias, calcularam o valor suficiente para custear a viagem
projetada, e principalmente, contando com o apoio financeiro incondicional oferecido pelos pais de ambos, deram continuidade ao plano.
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Um olhar sobre o Mundo
Era o início de abril de 2012.
Numa tarde amena de outono, os dois pesquisadores brasileiros munidos dos passaportes e demais documentos, de mochilas nas
costas, despediram-se dos familiares e amigos, e eufóricos embarcaram
no avião da Tam em Foz do Iguaçu, via São Paulo, Los Angeles, rumo
à Beijin (Pequim) na China. Álvaro levava um Tablet, presente do pai,
e Rodrigo um Smartphone, e mesmo com essa nova tecnologia, não
deixaram de levar uma moderna câmera fotográfica e os notebooks,
onde gravavam tudo.
Naquele dia memorável, Rodrigo aos 29 anos e Álvaro com
30 anos completos, lançavam-se em uma nova e emocionante aventura. A viagem de São Paulo à Beijin levou 28 horas de vôo. O avião
pousou no Aeroporto Internacional de Beijin ás 6 horas da manhã; os
dois viajantes estavam muito cansados, sonolentos, mas felizes.
O maior empecilho para eles era o da língua, pois eles não
entendiam o mongol nem o mandarim e dificilmente encontrariam
alguém que falasse inglês ou francês. Quem dominava essas línguas era
apenas o pessoal das áreas de turismo, dos departamentos públicos e
hotéis. No guichê de informações turísticas do aeroporto consultaram o
agente a respeito da viagem para Mongólia – O agente disse-lhes:
- As vias de comunicação na Mongólia são escassas. As
estradas pelo interior do país são em maioria de terra, só algumas são
asfaltadas. A capital Ulaan Baator está conectada à Estrada de Ferro
Transiberiana por um ramal da Transmongolian Railway que parte de
Ulan-Ude na Sibéria, cruzando a Mongólia passa pela região autônoma
mongólico-chinesa e segue até Beijin (Pequim).O aeroporto de Ulaan
Baator está unido com Beijin e Moscou, por serviço aéreo regular; bem
como algumas das mais importantes cidades da Mongólia tem a
comunicação aérea entre si pelas linhas domésticas. O transporte
tradicional por caravanas de camelos continua através dos caminhos
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pedregosos do deserto de Gobi, mas aos poucos está sendo substituído
por Jeeps, caminhonetes e vans.
- Vocês podem escolher o transporte que preferirem – disse.
Mas ainda por sugestão do agente, resolveram viajar de trem.
Após um breve descanso num pequeno hotel em Beijin (Pequim)
dirigiram-se para a Estação Ferroviária onde, com a ajuda do agente de
turismo, adquiriram as duas passagens de primeira classe, e embarcaram às 18 horas para a capital Ulaan Baator.
Escolheram a melhor opção que foi a de viajar de trem, pois
assim teriam oportunidade de conhecer, no percurso, o país que iam
visitar. O trajeto levou 32 horas, rodando pela Estrada de Ferro Transmongoliana, parando nas pequenas estações onde centenas de pessoas
se acotovelavam para conseguir embarcar nas classes populares.O povo
levava de tudo, desde mudanças inteiras com galinhas, cachorros,
cabras, móveis e panelas. Era uma balburdia só.
Após uma noite inteira de trem atravessando o norte da China
chegaram à fronteira com a Mongólia, lá o trem ficou parado durante 5
horas para trocar as rodas do trem, pois o padrão chinês é diferente do
padrão mongol. Na fronteira foi necessário apresentar os documentos.
Resolvidos os trâmites burocráticos, enfrentaram mais 12 horas de
viagem pelo deserto de Gobi.O trem chegou ao destino, Ulaan Baator,
por volta do meio-dia.Os nossos dois aventureiros estavam sonolentos,
exaustos mais cheios de expectativa e ansiedade.
Apesar de cansativa, a longa viagem valeu a pena, pois a vista
da janela do trem lhes apresentou um mundo de cenários assombrosos
de montanhas e desertos, de costumes exóticos do povo, observado nas
paradas das estações da estrada de ferro.O povo da Mongólia é muito
pobre. Eram modos de vida e usos que fugiam totalmente dos nossos
padrões. Desceram do trem carregando suas bagagens. Passaram pelo
Departamento de Imigração para controle de passaportes e vistos de
entrada, e depois de liberados seguiram em táxi para o Hotel Genghis
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Um olhar sobre o Mundo
Khan Holiday Inn, que já tinha sido reservado pela agência de viagens
em Foz do Iguaçu.
Feito o chek-in e já instalados em um bom apartamento no
hotel, tomaram um banho morno relaxante e pediram o almoço.
Alimentados, caíram na cama e dormiram até tarde. No momento
oportuno Álvaro entrou em contato com a agência da BBC, para
confirmar o envio das gravações com às reportagens para o jornal.
Após o descanso, Rodrigo e Álvaro procuraram a recepção do hotel
para se informar da possibilidade de contratar um guia turístico que
falasse inglês para acompanhá-los na excursão pelo país. O gerente do
hotel, senhor Chin Lin, aconselhou-os para que procurassem na sede da
Universidade Nacional da Mongólia, uma pessoa capacitada para essa
missão.Ele mandaria um recepcionista acompanhá-los e apresentá-los
ao diretor da Faculdade de Geografia e História de Ulaan-Baator.
O diretor Batbold Elbeghor analisou atentamente o pedido e
indicou o professor licenciado Gaudhan Khulan para guia. Ele dispunha
de tempo e era conhecedor profundo do país. Por acaso, o professor
Gaudhan se encontrava na Secretaria da Faculdade, e não foi difícil
acertarem com ele as condições do trabalho, pois ele adorava viajar e
ficava feliz em poder transmitir a outros o seu conhecimento.
Acompanhados por ele, começaram no outro dia de manhã visitando a
capital Ulaan Baator (Herói Vermelho). O professor foi lhes explicando
as singularidades da cidade.
- Em Ulaan Baator, as tradições ancestrais e o culto budista
contrastam com a arquitetura stalinista herdada do período de influência soviética e com os traços de modernidade que hoje invadem esta
cidade isolada no coração da Ásia Central. Pode parecer exótico, mas
podemos encontrar habitantes locais vestidos com trajes tradicionais
nos dias comuns.
- Situada a 1.350 metros de altitude Ulaan Baator fica no
centro-norte do país. A cidade foi fundada em 1639, às margens do rio
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Tuul. Com uma população de 1.240.048 (2011) è uma cidade moderna,
com bons hotéis munidos com internet, pousadas, cafés, restaurantes,
shopping centers, lan-houses, bares, salões de beleza, comércio movimentado, largas avenidas e grandes praças arborizadas. Caminhando
pela calçada observaram a enorme estátua do herói nacional Genghis
Khan situada na Praça Central, e acolá a Estatua Pedestre de Buda.
Adiante se vislumbrava o Monastério de Gandantegchinlin e
o imponente Palácio de Inverno de Bogd Khan, e mais ao longe se
localizava o Memorial Natsagdori, a Academia de Ciência e Biblioteca,
o Templo Choyjin Lama, o Wedding Palace, o Banco Central, o
Parlamento, a Bolsa de Valores e as embaixadas: Britânica, dos EUA,
da Alemanha, da Polônia, da China, da Rússia. Distante 20 quilômetros
da cidade se encontra o Aeroporto Internacional Genghis Khan.
Visitaram o interessante Museu de História Natural, com
valiosa exposição de pedras preciosas e cristais de rocha coloridos,
como também fósseis de dinossauros e de outros animais do deserto e
das estepes. Próximo à Praça Sukhbaatar localiza-se o Museu Nacional
de História da Mongólia o qual visitaram, à tarde. Expõe armas e outros
utensílios de guerra da época de Genghis Khan. A visita foi elucidativa
a respeito da formação e unificação do país.
Por coincidência, naquela noite estava sendo apresentada uma
peça importante no Teatro Nacional Acadêmico, baseada na época da
ocupação chinesa; as entradas eram gratuitas, e os dois brasileiros
aceitaram o convite do guia para assistir ao espetáculo, que foi lhes
sendo traduzido ao desenrolar do drama. O clima estava ameno, pois
entrava o verão, que vai de maio a setembro, o clima nessa época é
muito quente, até abrasador. O inverno começa em setembro e vai até
mês de abril, época não propícia para excursões, a temperatura cai muito, faz um frio intenso e tudo se cobre de neve.
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No outro dia de manhã, sentados à mesa do desjejum, no
refeitório do hotel, o professor Gaudhan começou fazer a descrição da
Mongólia, delineando o território no mapa estendido diante deles.
- A Mongólia ocupa uma superfície de 1.566.500 km², possui
3.133,318 (2011) milhões de habitantes, com uma taxa de crescimento
populacional de 1,489%,ao ano.Composição étnica de origem khalkhamongol (90%) e diversas minorias entre cazaques, chineses, usbeques e
russos. Nos recentes testes de DNA dos mongóis, os cromossomos Y
provam de que 1% da população masculina é descendente de Genghis
Khan.A língua oficial é khalkha-mongol, mas também se fala o cazaque, o mandarim e o russo. A capital do país é a cidade Ulaan Baator
com 1.240.048 de habitantes (2011), outras cidades importantes são:
Ulaangom, Khovd, Olgii, Darhan, Erdenet, Baganuur, Bayan-khongor,
Bulgan, Uliastai, Choybalsan, (44.367),Orkhon, Mörön (114.000),
Dalandzadgad, Sainshand, Baruun Urt.
- Em 1924, a Mongólia Exterior, se declara independente da
China e proclama-se como República Popular da Mongólia, torna-se a
segunda nação comunista do mundo. Em 1988, a China e a República
da Mongólia, firmaram o primeiro tratado para delimitar sua fronteira
comum, que se estende ao longo de 4.655 quilômetros. A Mongólia era
um país de economia socialista centralizada até o inicio da década de
1990.A constituição de 1992,aboliu os últimos vestígios do marxismoleninismo ao implantar um regime democrático, parlamentarista,
quando então se realizaram as primeiras eleições livres, a cada 4 anos.
Reformas democráticas foram iniciadas, com a difícil conversão para
uma economia de mercado. Em 2009, foi eleito para presidente do país
Tsakhiagiyn Elbegdorj e para primeiro-ministro Bathold Sukhbaatar.
- Com uma altitude média de 1600 m acima do nível do mar, a
Mongólia é formada, na maior parte por vastos planaltos elevados,
situa-se no Centro-leste da Ásia, num território árido e distante do mar,
entre a República Popular da China ao Sul e a Rússia (Sibéria) ao
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Norte. Ao noroeste, na junção das fronteiras da Mongólia com a
Rússia e o Cazaquistão, localiza-se a Cordilheira Altai, que se estende
entre a Mongólia e o Cazaquistão, por cerca de 2.000 km e abrange 845
mil km². As estepes áridas e cinzentas que cobrem quase toda Mongólia, se transformam no outro lado dos Montes Altai, no leste do
Cazaquistão, em vastas planícies verdes dominadas pelos nômades
cazaques.Esta diversidade é formada pelo Maciço Altai, um dos grupos
de montanhas mais inacessíveis do mundo, com o elevado e nevado
Pico Belukha de 4506 metros de altitude. Entre as nuvens aparecem os
cinco cumes brancos, tendo o ponto culminante no pico Nayramadlim
que supera os 4.374 metros de altitude. Os cumes foram batizados de
Tavan Bogd Uul (Os Cinco Deuses).
- A Cordilheira Altai ocupa territórios da Sibéria Meridional,
Mongólia, Cazaquistão e da China. As origens das montanhas remontam ao período orogênico que abrange eventos ocorridos no préCambriano, Ordoviciano, Devoniano, Mesozóico e Cenozóico, rochas
desses períodos são encontradas nas montanhas. O fator mais importante na paisagem tem sido a influência da glaciação, com cinco
períodos glaciais em evidência, 1.499 glaciares na região do Altai e
grande número de lagos. Nos altiplanos do Altai nascem os grandes
rios da Sibéria, o Irtysh, Ob e o Yenissei.
As Montanhas Altai começam com as elevações em GórnoAltaysk, na República Autônoma do Altai (Sibéria) a 52° graus Norte,
e entre 84° e 90° graus Leste funde-se com as Montanhas Sayan que se
estendem no sentido sudeste seguindo a fronteira China-Mongólia,
quando tomam o nome de Sayan Oriental. Desde esse ponto começam
a perder a altitude gradualmente, terminando no Deserto de Gobi.
A região possui um rico patrimônio cultural Os primeiros
seres humanos apareceram na região quase um milhão de anos atrás,
como evidenciado nos assentamntos de Andronovo do Paleolítico, na
região de Gorno-Altaisk. A região do Altai foi a pátria das tribos
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nômades de Sakhas sibérianos, dos khanatos e impérios dos Citas, dos
Turcos-Uygures, Yenissey-Quirguizes, Kidans, Mongóis e Oirats.
- A Cordilheira Altai Mongólica forma a fronteira Oeste da
Mongólia. Pinturas rupestres encontradas em algumas grutas do Altai
remontam a três mil anos a.C. Aqui as montanhas se alternam com os
vales fluviais e lagos, com estreitas passagens entre os maciços que no
passado eram utilizadas pelas caravanas da Grande Rota da Seda.
Outras cadeias importantes são o maciço de Khangai que se estende
desde a fronteira norte, ocupa o território do centro-oeste e se ramifica
alcançando o deserto de Gobi onde se confunde com as montanhas do
Gobi-Altai. Na Cordilheira Khangai nascem diversos rios como o
Orkhon e o Ider, afluentes do Selenga, o Khanuy e è onde também se
iniciam os lagos Orog Nuur, Boontsagaan e outros.
- O Maciço Khentii é uma cadeia de montanhas nas províncias
de Töv e Khentii no norte-nordeste da Mongólia. A cadeia estende-se
por 1,2 (um milhão e duzentos mil hectares), contorna a área protegida
Khan Khentii e inclui a mais sagrada montanha da Mongólia, a
Burkhan Khaldun. A montanha Burkhan é considerada sagrada, pois
segundo a tradição mongol, Genghis Khan teria nascido à sombra dos
seus picos gelados. Esta montanha é rica em vestígios arqueológicos
históricos.São respeitadas como sagradas as montanhas Bogd Khan,
Burkhan Khaldun, Otgon Tenger, esta última estende-se por 95.500
hectares.As três montanhas representam valores sagrados e respeitados
desde os tempos remotos. Genghis Khan, no século XIII, considerou
serem as mais importantes das 16 montanhas da Mongólia, veneradas e
protegidas pela tradição.
- O país possui rios perenes e intermitentes, dos quais os mais
importantes são: o Selenga, rio que se origina da confluência dos rios
Ider e Delgermönön, á noroeste de Uliassutai, deságua no lago Baikal
na Sibéria, sua extensão é de 992 km, e sua bacia hidrográfica cobre
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447.000 km². Seus afluentes da margem esquerda são os rios Egiin,
Dzhida, os da margem direita, o Orkhon, Khanui, Chikoy, Khilok,Uda
-.O rio Orkhon nasce na cadeia Suvarga Khairkhan nos
Montes Khangai, província de Övörkhanghay, a cerca de 650 km a
sudoeste da capital Ulaan Baator, no deserto de Gobi, e flui na direção
norte por 1.124 km antes de se juntar ao Selenga. Os principais
afluentes do Orkhon são os rios Tuul, Tamir e Kharaa. Sua bacia
hidrográfica e de 132.835 km². A cerca de 350 km a sudoeste de Ulaan
Baator, na região onde corre o rio Orkhon, encontra-se o vulcão hoje
extinto, Bus-Obo com 1.944 m de altitude. É um cone vulcânico de
basalto e cinzas.Tem sua origem no final do Pleistoceno há dois
milhões de anos.
- O rio Onon, nasce nos contrafortes leste das Montanhas
Khentii. Tem 818 km de extensão e bacia hidrográfica de 94.010 km².
Por 298 km corre em território mongol. Atravessa a fronteira com a
Sibéria, sua confluência com o rio Ingoda forma o rio Shilka.
- O rio Kerulen tem sua origem na cadeia Khentii, nos
contrafortes sul da montanha Burkhan Khaldun, a uns 180 km a nordeste de Ulaan Baator. Com grandes volteios corre na direção leste
atravessando a Província de Khentii, cruza a região oriental da estepe
da Mongólia passando pelas cidades de Ulaan Ereg e Choybalsan
(80.150 habitantes em 2008). Entra no seu curso final na China e
deságua no lago Hulun Nuur. Tem 1.254 km de extensão e uma bacia
hidrográfica de 116.400 km². Em épocas de cheia o lago Hulun
transborda e suas águas fluem para o rio Argun. O rio Kerulen que
normalmente deságua no lago Hulun se converte então num afluente do
Argun e passa a fazer parte de um dos rios mais extensos do mundo, o
sistema Kerulen-Argun-Amur que tem a extensão de 5.054 km e
deságua no Mar de Okhotsk.
- A Mongólia, pode ser dividida em duas regiões. Ao longo da
fronteira noroeste se estendem as Montanhas Altai Mongólicas, que se
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alternam com os vales fluviais e lagos.A maior parte dos 3.000 lagos
está reunida na extremidade ocidental encravada entre as montanhas
Altai e Khangai na zona dos lagos. Mongólia é um vasto planalto
girando entre 900 e 1650 m de altitude, acidentado por desfiladeiros e
paredões da Cordilheira Altai, que delimita o país, e que constitui
verdadeira barreira ao Nordeste. Entretanto, à Oeste é facilitada a
comunicação com paises da região como Cazaquistão, Quirguistão,
Tadjiquistão e a China, em particular, pelas estreitas passagens entre
montanhas, pela Depressão de Dzungaria e o vale do rio Tarim.
- O país tem o clima desértico, continental, árido no Sul e
árido frio no Norte. O clima possui acentuada variação térmica anual.
A umidade é geralmente muito baixa e o sol é intenso. Fortes ventos
de até 140 km por hora tornam a vida difícil.No noroeste, nas encostas
e níveis mais altos das montanhas, crescem florestas boreais de
coníferas, como pinheiros, bétulas, abetos e lariços.O Grande Parque
Nacional do Gobi contém um importante ecossistema. Ele abriga o
remanescente do camelo bactriano selvagem, o jumento selvagem, e
uma pequena população de ursos do Gobi, única espécie de urso que
habita o deserto.
- As estepes da Mongólia são juncadas de tamaricáceas, de
gramíneas rasteiras, touceiras de grama dura e pequenos arbustos
espinhosos de galhos retorcidos, flora típica das estepes e desertos.
Predomina uma vegetação pobre em variedade, são plantas que conseguem se adaptar e sobreviver nos terrenos salinos em torno dos
pequenos pântanos.Logo eram raras as vezes em que pessoas coletavam
alguma fruta, como bagas e avelãs. As pertinentes secas, as mudanças
bruscas de temperatura, as violentas tempestades atmosféricas e a
grande salinidade do solo explicam a pobreza vegetal.
- Nos planaltos mais elevados a vegetação é escassa,
sobrevivem apenas ervas e arbustos resistentes à hostilidade do clima.
No inverno, as estepes ficam cobertas de neve, e a água dos rios
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congela. O solo é marron acinzentado e contem gesso e halita (sal de
rocha).Os aqüíferos subterrâneos têm quantidades relativamente grandes de água, estão perto da superfície, alimentando pequenos lagos e
nascentes.Nas depressões úmidas existem as salinas e pântanos habituais gramados.
- A pouca fauna mongólica resume-se em alguns marsupiais,
raposas, martas e a doninha. Ursos pardos, tigres, leopardos da neve e
grandes matilhas de lobos, que estendem seu domínio até o vale do rio
Amur.A marmota, o esquilo e a lebre montês se sobressaem entre os
roedores.O menor animal que vive no Gobi é o jerboa,pequno roedor
que mais parece um minúsculo canguru. Nas estepes vivem cabras,
carneiro argali, antílopes, gazelas, o camelo-bactriano (de duas corcovas), manadas de cavalos, asnos e gado vacum. As pastagens estão
sendo degradadas pelas cabras, criadas pelos nômades como fonte de
pele, carne e lã cashmere.
- Os répteis e anfíbios são pouco numerosos e algumas
espécies como cobras e os escorpiões são muito venenosos. Os abundantes lagartos do deserto rastejam do abrigo da sombra de uma pedra
para outra, nesse abrasante e petrificado mundo de rochas e areia. No
calor do verão surgem nuvens de moscas sugadoras de sangue, que
atormentam os animais e pessoas. As margens dos rios, lagos e
pântanos salinos aparecem enxames de insetos, libélulas, moscas,
pernilongos e milhares de borboletas coloridas.
- A estepe acolhe um número considerável de pássaros
adaptados ao clima rigoroso, tais como a coruja da neve, grous, pegas,
falcões, cotovia, o pardal, o faisão, o avestruz, abutre monge, o pato
cinzento silvestre e águias. Algumas águias e falcões são treinados
pelos nômades para caçar, com seus olhos aguçados na vastidão dos
campos. Voando à frente do vento, no céu pálido e frio de outono,
vêem-se longas filas de gansos selvagens que emigram para climas
quentes.O cavalo é um animal precioso e essencial para a vida nas
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
estepes, é usado como meio de locomoção em todas as ocasiões e
principalmente na guerra, são resistentes, ágeis e rapidos.Encontram-se
grandes manadas de cavalos selvagens pastando a erva dos campos.O
esterco seco dos animais domésticos, como cavalos, vacas, camelos,
serve como combustível aos nômades.
- A segunda região compreende a metade sul do país. Trata-se
de uma estepe semidesértica, com depressões pouco profundas, e a
imensidão árida e pedregosa do grande deserto de Gobi, com área
aproximada de 1.295.000 km², que se estende por 1610 km de leste a
oeste e 965 km de sul a norte, através do sul da Mongólia e norte da
China (deserto Taklamakan).Ao contrário do Saara há poucas dunas de
areia, mas encontram-se grandes áreas de planícies de cascalho e
afloramentos de rocha nua. A porção oeste do Gobi é completamente
coberta por areia, onde tempestades de areia são comuns.Todo o
território meridional da Mongólia corresponde ao deserto de Gobi,
enorme superfície arenosa, formada por cadeias de montanhas e bacias,
pontilhada com alguns vales e serras intercalados, situada entre 800 a
1.500 metros de altitude.As chuvas são escassas.
- A vasta depressão está rodeada pelas Montanhas Altai-Gobi
à oeste, abrange partes do território norte e noroeste da China.Em sua
definição mais ampla, o Gobi inclui o longo trecho de deserto e área
semi-desértica que se estende desde o sopé dos Montes Pamir à leste,
no Quirguistão, às Grandes Montanhas Khingan à leste, na fronteira da
Manchúria e do sopé do Altay, das Sayan e Yablonovy no norte, às cordilheiras do norte das Kunlun, Altun-Tagh e cadeias de montanhas Qilian que formam as extremidades do norte do planalto tibetano no sul.
- Alguns geógrafos consideram a área ocidental da região do
Gobi, como a bacia do Tarim em Xinjiang e os desertos de Lop Nor e
Hami, na Depressão de Turphan como um deserto separado, o
Taklamakan. Ao noroeste da China fica a quinta eco-região do Deserto
de Gobi, na extremidade oeste, já em Xinjiang Uygur, conhecida como
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Um olhar sobre o Mundo
a Bacia de Junggar/ Dzungarian (semi-deserta), ocupando uma área de
777.000 km². Estende-se também pelo sul da Mongólia e leste de
Cazaquistão, situando-se ao norte da Bacia de Tarim, onde se encontra
o Deserto Central de Gurbantünggüt também conhecido como Bacia
Junggar, é o segundo maior deserto da China.
-Tendo ao sul as montanhas Tien Shan, Montes Altai ao
nordeste, as montanhas Tarbagatai ao noroeste e ao norte o Vale do Rio
Irtysh.O Rio Irtysh nasce no sopé dos Montes Altai, cuja fonte de água
vem do degelo das montanhas, lança-as no lago Zaysan e continua a
correr pelas estepes do Cazaquistão por 4.440 km até a confluência no
rio Ob na Sibéria; quando junto com o rioTobol e outros afluentes
formam o formidável sistema Ob-Irtysh, de 5.570 km e uma bacia
hidrográfica de 2.430.000km³,deságua no Golfo de Ob no Mar de Kara.
- Desde a pré-história, o Deserto de Gobi tem sido a terra dos
povos nômades, lugar inóspito varrido pelos ventos fortes, com um
clima extremo, marcado por mudanças rápidas de temperatura, no
inverno oscila entre - 40° a - 20º Celsius negativos e no verão quente e
seco, entre 17° a 50° C. positivos. As chuvas são escassas no oeste do
deserto e pouco mais freqüentes no nordeste. É constituído de
montanhas rochosas e por grandes extensões de dunas móveis de areia,
algumas chegam a 800 m de altura.
- O vasto planalto apresenta zonas rochosas, enquanto que a
porção oeste é completamente coberta por areia., onde não faltam
areias movediças e tempestades de areia, comuns na região do Gobi
chinês.Ventos intermitentes de até 140km por hora, de inusitada
violência, açoitam todo o espaço do deserto.No verão, ocorrem fortes
temporais, a água da chuva desaparece na areia.A drenagem do deserto
é, em grande parte subterrânea, rios de superfície tem pouco fluxo
constante. Riachos estão confinados à margem do Gobi e secam rápido.
- O Gobi é conhecido no mundo da Paleontologia pela riqueza
e qualidade das suas jazidas fósseis, onde foram descritas muitas
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Um olhar sobre o Mundo
espécies de dinossauros, lagartos, mamíferos e aves pré-históricas.
Foram achados fósseis petrificados expostos na areia, a céu aberto.O
deserto de Gobi é considerado um dos maiores sítios arqueológicos do
mundo. No Gobi Central foram encontrados fósseis de dinossauros da
Era Mesozóica (cerca de 250 a 65 milhões de anos atrás) e fóssil de
mamífero da Era Cenozóica. Nas escavações efetuadas no TsagaanAgui, em 1990, foram encontrados artefatos do Paleolíco e Neolítico,
datados de 35.000 anos atrás.
- O sudeste do Gobi e o norte do deserto de Ordos fazem parte
da grande bacia arenosa e de argila dura, coalhada de pequenos lagos
salinos, que ocupam a grande depressão que, possívelmente, no passado, fazia o leito dum extenso lago salino ou de um vasto mar interior.
No Gobi a vegetação é escassa, não crescem árvores ou arbustos, no
solo compacto marron-cinzento, rico em carbono, gesso, cascalho
grosso e areia, medram apenas gramíneas, capim agulha, ervas
rasteiras, Artemísia-cinza e vegetação halófila (adaptada a terrenos
salinos),que ocupam os pequenos pântanos salgados.As planícies do
Gobi consistem de gipsita e outras rochas sedimentares da Era
Cenozóica (65 milhões de anos) embora alguns afloramentos isolados
sejam mais antigos.
- O rio Kerulen é o maior rio permanente de Gobi. Os rios
intermitentes da região deságuam em pequenos lagos salgados ou
desaparecem na areia. No idioma mongol, “Gobi” significa “lugar sem
água”.A água é um recurso limitado e caro, para consegui-la cavam-se
poços profundos na areia, em sua volta formam-se os oásis, onde se
instalam os ghers.O deserto de Gobi limita-se ao norte e ao sul por
regiões de estepes onde pequenas tribos nômades que habitam a região,
praticam a criação de rebanhos de bovinos, caprinos, ovinos, cavalos,
camelos e yaques que são à base da economia tradicional. O clima
árido e a fragilidade do solo são fatores preponderantes para o processo
de desertificação em curso.
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Um olhar sobre o Mundo
- Os desertos são áreas nas qual a evaporação da água excede
a precipitação de chuvas. As plantas dos desertos adaptam-se de vários
modos para sobreviver à seca. Depois de uma chuva, um deserto estéril
pode florescer repentinamente, cobrindo-se com milhares de variedades
de flores multicoloridas, que desaparecem rapidamente após produzirem sementes, hibernam até a primavera e a próxima chuva. Entre elas
são encontradas centenas de valiosas plantas medicinais. No noroeste,
nas encostas e níveis mais altos das montanhas, crescem florestas
boreais de coníferas, como pinheiros, abetos e lariços.
- Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro decidiram explorar o
deserto de Gobi e suas zonas periféricas, seu sonho acalentado durante
muito tempo e uma das razões das suas pesquisas. Foram até a estação
Rodoviária em Ulaan Baator, felizmente era o dia em que o ônibus iria
fazer o trajeto até a cidade de Dalandzadgad, destino pretendido por
eles. Embarcaram no veículo lotado, que rodou por uma bem conservada estrada asfaltada. A cidade se situa a 560 km da capital Ulaan
Baator. Foram 8 horas de viagem, pelo meio da estepe. Situada na
boca do deserto a cidade é chamada de “portal do Gobi”.
- A antiga cidade de Dalandzadgad, com 18.740 habitantes
(2011) é a capital da Província Omnogovi que abriga 61.314 habitantes dispersos por 165.377 km² de deserto. É uma pequena cidade,
ventosa e isolada, mas proporciona ao viajante alguns confortos que
estão ausentes em outros lugarejos, como água quente, eletricidade e
algumas lojas para se abastecerem de alimentos frescos para a viagem.
Apesar de a região ser pouco habitada, com o povo muito pobre, o
governo investiu na cidade em infra-estrutura moderna, com ruas
pavimentadas, água, eletricidade, comercio, pequeno aeroporto, hotéis,
restaurantes, lan-houses e estruturas destinadas à educação e a tecnologia. Possui diversas torres com sinal para telefones fixos e celulares e
conexão para Internet.
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Um olhar sobre o Mundo
Os dois brasileiros estavam acompanhados pelo professor
Gaudhan Khulan. Logo após a chegada na cidade dirigiram-se ao setor
de informações turísticas. Procuravam um guia, homem responsável e
experiente em viagens pelo deserto.Foi-lhes apresentado Khentai
Kuriltuk,que correspondia às exigências.Combinado o valor da remuneração, passaram a tratar da compra da provisão de alimentos e água
necessários para vários dias; alugaram 5 cavalos mongóis, pequenos
mas fortes e ágeis, que montaram um tanto ressabiados.
Um cavalo levava a carga com provisões e a barraca de lona,
própria para camping.Pela manhã, despediram-se dos últimos confortos
da civilização e deixaram Dalandzadgad, acompanhados pelo guia.
Lançavam-se numa aventura de prazo indeterminado, à exploração de
lugares inóspitos por um dos territórios de menor densidade populacional do mundo 1,7 habitantes por km², que continuam a viver
segundo a tradição nômade.
O grupo seguiu rumo sul para o interior do deserto de Gobi,
que a cada passo tornava-se mais pedregoso, mais árido e inóspito, de
dia fazia um calor insuportável e as noites eram gélidas. Na região
encontraram muitos fósseis marinhos, testemunho de épocas remotas
em que ali se situava um mar interior. Defrontaram-se com grupos de
camelos bactrianos e rebanhos de cabras e ovelhas a procura do pasto
ralo ou alguma vegetação, espalhados pelo deserto. Cavalgando pela
região,encontraram um cenário geológico impressionante, a “Tsagaan
Suvarga”. Espalhados pelo território encontram-se centenas de cones
vulcânicos com cinzas basálticas de 300 a 1120 m de altura, datados
do Pleistoceno Superior e Holoceno.
Nos campos vulcânicos Gurvan Sayan Uul (Médio Gobi),
cerca de 900 km de Ulaan Baator, a sudoeste do Gobi, na Província de
Omnogovi, estão localizados sete picos com crateras vulcânicas,
algumas se elevando até 2.768 m acima. As formações rochosas
esparsas pelo deserto exibem crateras como bocarras escancaradas de
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Um olhar sobre o Mundo
feras raivosas; são resquícios de vulcões extintos há centenas de
milhões de anos. Os vulcões possuem significado místico para os
mongóis, relacionado ao xamanismo e seus mistérios.
O grupo aproximou-se para apreciar melhor o fenômeno.
Rodrigo e Álvaro, com grande esforço, devido ao calor intenso, subiram ao topo da mais alta cratera; a vista daquela altura era impressionante, viam-se formações rochosas, dunas e mais dunas de areia.
- Oho!Oho! - ouviu-se o som do grito exultante da dupla,
tendo o eco repetido centenas de vezes na imensidão do deserto.
No horizonte distante observaram um acampamento de nômades. As tendas brancas revestidas de couro de boi, plantadas aqui e
ali na estepe, são elementos indissociáveis da paisagem. Por tradição, a
porta da habitação itinerante, que se monta e desmonta em menos de
duas horas, abre-se para todos: vizinhos, outros nômades, turistas,
viajantes, condutores.Um pequeno fogão portátil, aceso no centro, com
a chaminé saindo para fora da tenda, duas ou três camas desmontáveis,
um ou outro móvel, estas são as casas da metade da população
mongol.Galoparam ao encontro deles. Foram recebidos por um mongol
sorridente que, seguindo a tradicional hospitalidade dos nômades os
convidou para pernoitar no gher (tenda).Para o jantar foi lhes servida
sopa de carne de carneiro com macarrão.
Logo de manhã, os quatro cavaleiros agradeceram a cortesia e
seguiram adiante, pelo caminho pedregoso que conduzia pelo deserto.
Quando subiam por um terreno raso, deparararam-se com uma cena
fantástica a sua frente. Viram um grande lago nevoento, azul e violeta
sombrio, num vale fundo, com as margens indistintas juncadas de
aglomeração de pedras, cor de púrpura escura.Ali estava ele, flutuante,
frio e perdido, com seus contornos nebulosos e pálidos, suas águas tão
paradas como a lâmina de um vidro.Havia algo de terrível no aspecto
daquela água imóvel,que tinha a aparência de um sonho no crepúsculo
ardente.Imóvel mas fluida, parecia quase ao alcance da mão, e logo de
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Um olhar sobre o Mundo
novo uma centena de quilômetros distante, aprofundando-se e empalidecendo nos seus tons obscuros de turquesa e ametista.
Suas margens confundiam-se e apagavam-se no terreno arenoso e vermelho, sem vegetação. O lago não passava de uma miragem
do deserto, uma ilusão de ótica. Mas aparece em cada poente, neste
mesmo lugar, frio, imutável e fantasmagórico ”Lago Encantado”
conforme os habitantes locais o chamam. Muitas pessoas têm perdido a
vida tentando aproximar-se dele. Em pleno dia, com o sol a pino no
céu, não há nada ali, a não ser a planície de areia cinza juncada de
pedras esverdeadas.
Os rapazes caíram num silêncio pesado enquanto contemplavam o lago, cujo aspecto de um sonho fantástico se intensificava a
cada momento. Uma sensação confusa de horror se apoderou deles.
Rodrigo sentiu uma vontade irresistível de descer até o vale e chegar
perto do lago. Ele fixava as formações cônicas de pedra purpúrea
espalhadas pelas margens. Supersticioso, como todos os mongóis, o
guia Khentai advertiu-o do perigo que corria.
- Vamos embora – gritou o guia, - e sem esperar resposta,
esporeou o cavalo que galopou veloz pelo caminho. O céu flamejante
rapidamente empalideceu e apagou-se, e quase num piscar de olhos a
noite desceu sobre o deserto. Eles armaram o acampamento logo que os
últimos raios do sol se foram. Para o jantar o guia Khentai preparou um
cozido mongol, de carne de carneiro (ou de cavalo), macarrão e
verduras.Exaustos e sonolentos deitaram no chão da tenda, forrado com
tapete de couro de cavalo.
Mas no dia seguinte o lago misterioso foi esquecido, pois o
solo do deserto parecia um lençol enrugado de ouro puro ao sol
nascente e as colinas irregulares, tremeluziam contra o céu brilhante. O
vento incessante, ondulante e forte, soprava formando ondas sobre a
areia.O grupo cavalgava pela trilha entre os paredões de penhascos,
quando avistaram um oásis, verde, amplo e cheio de arbustos, onde
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Um olhar sobre o Mundo
estava situada uma aldeia de muitos ghers. Khentai conduziu-os até a
gher do seu amigo Darham, o chefe da aldeia. Caminharam entre uma
multidão de mulheres curiosas, crianças seminuas, cães ladrando e
gado espantado correndo e mugindo.
Na vastidão das estepes e dos desertos a hospitalidade dos
mongóis é marcante. Os quatro visitantes foram recebidos com grande
cordialidade pelo chefe Darham e pelas pessoas da comunidade. Foi
lhes oferecida água em bacias de alumínio para lavarem as mãos e os
rostos ardentes de poeira do caminho. A esposa do chefe Darham
serviu-lhes cúmis, e um cozido tártaro com pedaços de carne de
carneiro e cereais e de sobremesa tâmaras turcas. Durante a refeição o
anfitrião ofereceu vinho de leite, artesanal, a mais alta cortesia mongol.
A tradição das estepes não lhes permitia recusar essa gentileza .À tarde
houve uma grande festa, com jogos, competições de arco e flecha, lutas
de bhok,e corridas de camelo e cavalo. Desse evento só os homens
participaram, as mulheres olhavam e aplaudiam.
Quando a noite caiu e as fogueiras crepitavam, Darham
convidou os visitantes a conhecer a sua família, levou-os até a tenda
onde vivia com a esposa e a jovem filha Yessi. Ele chamou pelas
mulheres e elas apareceram na porta da tenda, tímidas e desconfiadas.
Vestiam longas túnicas azuis da cor do céu; em volta da cintura de
Yessi havia uma serpente retorcida de prata, com olhos de topázio
vermelho. Sobre os ombros ela trazia um magnífico manto de pele de
marta. Seus cabelos pretos desciam-lhe até a cintura. Ela olhou para as
visitas com seus olhos pardos, oblíquos e seu olhar pousou no olhar
extasiado de Rodrigo.
Um arrepio ardente percorreu-lhe o corpo, e a chama de fogo
consumia-lhe o sangue jovem. Rodrigo sorriu para ela, e nesse sorriso
transpareceu todo o ardor da juventude, então teve consciência do
próprio desejo. Ele não via nada exceto a beleza dela, seus lábios
vermelhos entreabertos, como que pedindo beijos.O encantamento dos
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
dois não passou despercebido pelo pai DarhamA filha Yessi era sua
jóia preciosa. Seria conveniente casa-la com estrangeiro, talvez lucrasse
muito na transação. Nesse caso, falou o instinto mercador do mongol.
Examinou a filha com olhar crítico, avaliando-a, como se ela
fosse uma potranca que tencionava vender, e então se voltou para o
amigo Khentai, (o guia e interprete mongol), levou-o para o lado e fez a
proposta. Daria a filha em casamento ao estrangeiro e como dote queria
o notebook do Rodrigo, pois estava encantado com o poder da
máquina.Tinha visto o moço utilizar o notebook para gravar a pesquisa
feita no local. Sem suspeitar do que se passava na cabeça do inculto
chefe mongol, Rodrigo mostrou ao curioso homem e a seus amigos, o
alcance da Internet e demais propriedades dessa maravilhosa maquina.
O guia Khentai, passou a proposta do chefe Darham ao biológo
Rodrigo, que surpreso e indignado, respondeu:
- Mas que proposta maluca é essa. Eu não tenciono desfazerme do notebook que é minha ferramenta de trabalho e também não
posso me casar, pois sou noivo na minha terra.Sinto muito decepcioná-lo chefe Darham, mas eu não posso aceitar a sua proposta. A sua
filha merece muito mais, é uma jovem e bela moça, merece um
casamento de sua escolha e um noivo que a ame.
Depois deste desfecho imprevisto, o chefe Darham tornou-se
grosseiro, mostrou má vontade em relação aos visitantes e ao seu
amigo Khentai.O grupo resolveu despedir-se e seguir o seu caminho.
Como já era noite avançada, aceitaram a oferta de um dos moradores
da aldeia. Alugaram dele um gher,que era destinado para turistas.
Tinha tapetes de couro no chão servindo de cama, a comida estava
pronta, era do que precisavam. Assim que o dia clareou foram embora.
Com a morosidade de viajar a cavalo e as dificuldades que
surgiam a cada passo, os pesquisadores brasileiros não desistiam de
explorar o Gobi. Os cavalos trotando pelos caminhos pedregosos,
outras vezes afundando na areia, chegaram às gigantescas dunas de
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Um olhar sobre o Mundo
areia de Khongoryn Els, que se estendem por mais de 100 km, com
altura de até 800 m, impressionam qualquer pessoa.Uma família de
nômades instalada no sopé das dunas recebeu-os alegremente.Havia
camelos para quem quisesse conhecer as dunas no dorso das resistentes
criaturas.Mas Rodrigo e o guia Khentai atreveram-se a escalar o topo
num quadriciclo Yamaha, emprestado no camping próximo; a vista de
cima era espetacular. É um lugar ermo, afastado de qualquer povoação,
só apareciam de quando em quando pequenos ghers de pastores
nômades, isolados, no meio do nada.
Por sorte, mesmo um tanto distante, encontraram um acampamento turístico, (camping) com vários ghers, com banheiro, um
bemvindo chuveiro e um restaurante; passaram a noite num desses
gher-camp.Com o calor de 40° C. ao entardecer era impossível pensar
em acampar na tenda de lona que levavam. Assim, já desperto ao raiar
do dia, Rodrigo chamou Álvaro para trocar uma idéia.
- Que tal se voltássemos à Dalandzadgad, onde poderemos
trocar o meio de transporte, no lugar de cavalos vamos alugar uma
dessas caminhonetes Toyota 4x4, adequadas para terrenos difíceis, com
motorista experiente em viagens pelo deserto?- sugeriu Rodrigo.
- Ora! Isto seria a melhor solução para as dificuldades que
temos, reconheço que viajar a cavalo nestes ermos, enfrentando o calor
sufocante o dia todo, está sendo impraticável – observou Álvaro.
Resolveram voltar. Chegando à cidade dispensaram o guia
Khentai Kuriltuk e seus cavalos; pagaram-lhe o valor combinado. Na
cidade foram a procura do veículo e do motorista. No setor de informações do hotel onde se hospedaram, foi lhes indicado o senhor
Sanchir Yijn, motorista qualificado e responsável, que possuía uma
caminhonete de aluguel, conveniente, e estava disposto acompanhá-los
na excursão pelo deserto. Após alguns ajustes da remuneração Sanchir
foi contratado. Abasteceram-se dos itens necessários para a longa e
difícil viagem; de alimentos que acondicionaram num isopor com gelo,
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Um olhar sobre o Mundo
noutro colocaram várias garrafas de água, encheram os dois tanques de
gasolina, no dia seguinte enfrentaram a estrada pedregosa e esburacada.
Mudaram de direção, seguiram para o sudoeste conhecer o
Parque Nacional de Gurvansaikhan, que se situava perto da fronteira
chinesa, a 340 km da cidade de Dalandzadgad, capital da Província de
Omnogovi; é um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi,
com infra-estrutura adequada com iluminação solar,internet e televisão,
boa habitação e estradas de acesso.Criado em 1993, possui uma
superfície de 26.947,37 km².O percurso revela um cenário fantástico,
repleto de pequenos roedores, pássaros e aves de rapina que sobrevoam
os céus.A vegetação esparsa sustenta os antílopes pretos, os ibex
(cabrito montês) manadas de belos carneiros Argali, camelos bactrianos
(de duas corcovas), asnos e cavalos selvagens. Também é o território
do leopardo das neves. O Parque contém mais de 200 espécies de aves.
Os dois brasileiros aproveitaram das comodidades oferecidas
no Parque. Hospedaram-se num gher espaçoso, onde passaram dois
dias descansando. Deliciaram-se com banhos quentes e comida
saborosa. Fazia já uma semana que seus corpos não sentiam o prazer do
banho.Todas as tardes visitavam um local interessante, como as
imensas dunas de areia, os campos salpicados de crateras de vulcões
extintos, os cânions de gelo, as vistas deslumbrantes sobre as
montanhas povoadas pela floresta de bétulas e pinheiros; sempre na
companhia dos guardas do Parque. Fazia muito calor, mais ou menos
40° C. e apesar disso as pessoas aqui vivem com pouquíssima água,
praticamente vêem somente areia e pedras, com o clima mais inclemente do planeta, mudando de calor extremo a frio congelante.
Tendo explorado parte dos lugares importantes, o grupo
seguiu viagem para Bayankhongor, onde no século XX, foram
encontrados ovos e muitos fósseis de dinossauros. As areias do deserto
contêm ricas jazidas de fósseis, de diversas espécies de dinossauros,
lagartos e de mamíferos pré-históricos Talvez por sorte, podiam
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
encontrar algum fóssil enterrado na areia. O deserto de Gobi abrange
uma série de picos de montanhas extraordinários, colossais dunas de
areia que contrastam com formações rochosas que elevam montes e
desenham gargantas abruptas a rasgar a paisagem. A 600 km de Ulaan
Baator se estende a cadeia Khangai, onde se situa o pico Ulaan Uuul,
com 3449 m de altura, localizado na Província de Bayankhongor.
Os viajantes pernoitaram num gher de nômades do deserto. A
família ofereceu-lhes comida que consistia de cozido de carne de
carneiro nadando em gordura; a cama era um tapete de couro de boi,
mas faltou a indispensável água para o banho que seria bemvindo,
nesse extremo calor da tarde, fazia 40° C. e isso impedia que
entrassem na barraca antes das 8 horas da noite quando começava a
refrescar, apesar de só escurecer as 10 da noite. No outro dia viajaram
logo de manhã, para aproveitar o clima mais ameno. Após algumas
horas a comitiva parou em Yolym Am, cujo nome significa “a boca do
abutre”, um incrível e verdejante vale que, no fundo mantém gelo
durante o ano todo. Viajando sem pressa, observando as espetaculares
paisagens do deserto, fotografando e anotando tudo nos seus notebooks,
eles seguiram para o leste do país, ao encontro do ramal da Estrada de
Ferro Transmongoliana em Saynshand.
O professor Gaudhan descrevia as peculiaridades da região:
- Saynshand é a capital da Província de Dornogovi, situada no
coração do deserto, centro da cultura budista. A cidade de Saynshand
abriga 20.515 habitantes (2011),está distante da capital Ulaan Baator
472 km. Dotada de infra-estrutura moderna; possui eletricidade, água,
esgoto, ruas pavimentadas, telefone, lan-houses, restaurantes, bares,
comércio ativo,escolas e clubes,uma vida social organizada em torno
do funcionalismo da Estrada de Ferro. Saynshand é uma das diversas
estações da Mongolian Railway, a Estrada de Ferro que sai de Beijing
(Pequim) atravessa a região norte chinesa e o deserto de Gobi segue até
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Um olhar sobre o Mundo
Ulaan Baator, se conecta à Transiberiana em Ulan Ude, margem direita
do lago Baikal, na Sibéria, sudeste da Rússia.
- Encontra-se, próximo à cidade de Saynshand uma das ruínas
históricas importantes, o Monastério Budista Khamarinn. Na época do
stalinismo, o exercito soviético saqueava as relíquias sagradas do povo
mongol. Antes de o templo ser destruído, os monges budistas esconderam nas areias do deserto de Gobi, as 64 Arcas Sagradas com os
tesouros do monastério.Parte desses tesouros já foi desenterrada pelos
monges e está exposta no museu de Saynshand e uma parte está perdida
na imensidão das areias do deserto.
- A Província de Sükhbaatar, capital Baruun-Urt, localiza-se
na parte sul das Grandes Planícies Orientais da Mongólia, a 220 km a
leste de Saynshand e estende-se até a fronteira chinesa. O campo
vulcânico Dariganga, localizado no sudeste da Mongólia, perto da
fronteira da China, pertence à região que inclui a vasta estepe de
Dariganga, que é salpicada de crateras de lava vulcânica e cones de
cinzas, de mais de 220 vulcões extintos. Vulcões ativos na época do
Pleistoceno e Holoceno, por volta de dois milhões de anos atrás. Os
cones variam de 25 a 300m de altura. Ergue-se ali o vulcão sagrado
Altan Ovoo de 1.354 m de altitude, vulcão extinto. É adorado por
povos Dariganga que habitam as regiões da Província de Sukhbaatar e
todo território a nordeste da Província de Dornod até à fronteira leste
chinesa e as margens do rio Onon.
- Grande parte da população Dariganga (40.800 em 2010),
está localizada na parte sul da Província de Sukhbaatar (antiga
Dariganga Khoshun, que tomou o nome da montanha Dari Uul e do
lago Ganga), em um planalto vulcânico nas proximidades do deserto
de Gobi. Os Dariganga pertencem a um grupo oriental de mongóis, que
incluem os khalkha, os buriatas e a maior parte de chineses.Na grande
maioria são pastores nômades, mas há uma parte da população
Dariganga que trabalha nas fazendas agrícolas e nas indústrias.
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Um olhar sobre o Mundo
Com a facilidade de viajar em veículo com tração 4x4, foi
lhes possível ter acesso à áreas mais remotas, onde a magia do lugar
selvagem se revela em cada canto.Ao pôr do sol que lançava raios
dourados e carmesim sobre os paredões de pedra com profundas
cavernas, viram do topo de uma cratera vulcânica uma paisagem
exótica, como se tivessem ido à lua.A maior parte do território é
elevado de 1.000 a 1200 m acima do nível do mar.
Possui dunas de areia, pequenos lagos, nascentes e córregos.
Animais de estepe habitam a área: antilopes, marmotas, lobos, raposas,
texugos, gambás, coelhos, porcos-espinho, veados, cabras e ovelhas
argali. Sobre o céu azul voam aves como a pomba, águia, abutre,
cotovia, andorinha, corvo, papagaio, falcão, gavião coruja, pega,
poupa; também vivem na área perdizes e o cisne selvagem desliza
solene pelas águas dos lagos de Dariganga. Fósseis de animais préhistóricos e de plantas são encontrados nas areias do deserto.
Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro junto com o professor e
intérprete Gaudhan Khulan decidiram mudar a direção da viagem,
seguiram para o norte. Deixaram a Dariganga, o deserto de Gobi e suas
areias para conhecer a estepe.Em Saynshand encheram os dois tanques
de gasolina e seguiram por uma estrada de terra que os levou pelas
montanhas Arts Bogdyn.A medida que deixavam o Gobi, a paisagem
torna-se menos austera dando lugar a pequenos arbustos e a pastos
verdejantes.Das encostas pedregosas surgem nascentes de água,
formam-se riachos e rios.Nas estradas não há setas ou tabuletas com
indicação de distâncias ou direções.Viajar pelo interior da Mongólia é
seguir os rastos dos pneus anteriores e confiar nos conselhos de gente
local, se as conseguir encontrar, o que é uma tarefa difícil. Também
não e fácil localizar esses caminhos indicados por eles.
De Saynshand dirigiram-se para Arvaikheer, onde passaram a
noite, desta vez com mais conforto, num hotel local, com banho quente
e alimentação adequada, quando puderam recuperar as forças para os
Monika Gryczynska
29
Um olhar sobre o Mundo
dias que se seguiram.. Arvaikheer é uma cidade pequena do interior,
mas tem um mercado bom, onde nossos exploradores puderam se
reabastecer de alimentos frescos para o resto da viagem. .Estavam de
novo no centro geográfico da Mongólia, a curta distância do verdejante
Vale de Orkhon.
Deixaram Arvaikheer e seguiram para a região montanhosa de
Orkhon, via Bat-Olziy e a sua nascente de água quente. Exaustos,
dormiram em gher dos nômades, ao lado da cascateante queda de água
do Orkhon, um lugar espetacular, próprio para entregar-se a devaneios.
A mudança do panorama era total. Os verdes tomaram conta da
paisagem. As árvores substituíram as dunas de areia, o som da cascata
tomou o lugar do uivo continuo do vento do deserto. Passaram aqui
dois dias e duas noites apreciando a beleza do lugar, o deslizar manso
das águas, as manadas de cavalos e yaques pastando nos campos, os
rebanhos de ovelhas e cabras. Nas águas do Orkhon encontram-se
peixes, como o lúcio, a carpa, a perca,o bagre e o taimen.
- O Vale do Orkhon, declarado Patrimônio Mundial pela
UNESCO, é considerado berço da civilização Cita, remontando à 3º
milênio a.C., dos turcos e dos povos nômades mongois no decorrer de
mais de dois mil anos.O Vale possui muitos outros sítios arqueológicos
como: Memoriais Turcos do princípio do século VIII, dedicados à
Bilge Kagan e seu irmão Kultegin, onde foram encontradas as
inscrições de Orkhon e os monumentos dos nômades Göktürk. As
ruínas da antiga cidade de Khar Balgas, fundada em 751 a.C.capital do
Império dos Turcos Uygures, cobre 50 km² e que contem ruínas do
palácio, de lojas, templos, mosteiros etc. O Eremitério de Tovkhon
localizado no topo de uma montanha. As ruínas do palácio mongol do
século XIII, na colina Doit, que se presume ter sido residência de
Öghedei Khan.
Depois de deixarem o Vale de Orkhon a primeira paragem
após 373 km rodados (50 km por hora) e dois pneus furados chegaram
Monika Gryczynska
30
Um olhar sobre o Mundo
em Kharkhorin, cidade que existe hoje junto as ruínas de Karakorum,
antiga capital da Império Mongol de Genghis Khan, do século XIII. O
grupo ficou alojado em ghers de famílias mongóis, na redondeza de
Kharkhorin, com vista esplêndida para o Mosteiro Erdene Zuu Khüd, o
primeiro mosteiro budista estabelecido na Mongólia; destruído durante
os expurgos stalinistas da década de 1930. Foi reconstruído em parte,
após o colapso do comunismo em 1990.
Após a visita ao mosteiro e de uma passagem pelo mercado da
cidade, os pesquisadores continuaram a viagem para Tsetserleg, onde
chegaram à tarde. Tsetserleg é a capital da Província de Arkhangay, é
uma bela cidade, rodeada por montanhas, com ruas arborizadas. Tem
um agradável mercado, pequeno, mas bastante sortido, com muito
artesanato e verduras frescas. Na praça visitaram um belo templo e o
Museu da Província de Arkhangay.Esta noite dormiram num hotel que
lhes lembrou o conforto do mundo ocidental, banho quente, boa cama
e comida a gosto.Deixaram Tsetserleg pela manhã, a estrada de terra
seguia por uma região montanhosa. Á esquerda estendia-se a
cordilheira Khangay Nuruu,a segunda maior da Mongólia, onde
nascem alguns dos seus mais importantes rios.
- Viajando por muitos quilômetros com solavancos e poeira,
chegaram finalmente à afamada garganta do rio Chuluut, que foi
devidamente apreciada em sua beleza. Seguindo pela estrada estreita
entraram na perigosa passagem do desfiladeiro de Chuluut. A área
vulcânica de Turyatu-Chuluut está localizada no norte da Mongólia,
cerca de 700 km a oeste de Ulaan Baator e a 170 km de Tsetserleg É
uma extensa região, caracterizada por várias crateras de vulcões
extintos e o Grande Lago Branco.Antes de chegarem ao Lago passaram
pelo vulcão Khorgo localizado na Província Arkhangai.O Khorgo,
agora extinto, entrou em erupção ao longo de quatro períodos,a partir
do Mioceno ao Holoceno. A última erupção ocorreu em 2.930 a.C.
quando a lava vulcânica bloqueou o leito do rio Chuluut, dando origem
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
ao lago Terkhin-Tsagaan Nuur o (Grande Lago Branco) de águas
cristalinas.
Uma exaustiva caminhada levou os dois exploradores,
Rodrigo e Álvaro, ao topo do vulcão que se eleva a 2400 m de altura.
Chegaram perto da cratera de cerca de 180 m de largura e 100 m de
profundidade que conserva gelo durante o ano todo. A vista que se
descortina do alto sobre o lago, as montanhas, os bosques de coníferas
é algo espetacula-lar. A água cristalina do lago oferece a oportunidade
para nadarem nas águas tépidas, pescar e passear a cavalo pelas
margens, e descontrair com o vento fresco que vem das montanhas que
circundam o lago. O lago faz parte do Parque Nacional KhorgoTerkhiin Tsagaan Nuur.
Na manhã seguinte partiram para o norte. Os caminhos da
fronteira norte da Mongólia seguem todos ao Parque Nacional do
Hövsgol Nuur de 2.760 km², de lago alpino e de dezenas de montanhas, sendo a mais alta a Sardyk Burenkhaan Munku de 3.492 m altura,
povoadas de densas florestas de pinheiros, lariços e bétulas, prados a
perder de vista. O maior e o mais profundo lago glacial de água doce, o
Hövsgöl Nuur, conhecido como a Pérola Azul, ocupa uma depressão
estrutural na parte mais setentrional da Mongólia, próximo à fronteira
da Sibéria (Rússia).Situado a 1.645 m acima do nível do mar, está
cercado pelas encostas das Montanhas Sayan Orientais, tem entre 138 e
267 m de profundidade.
- A superfície do lago congela completamente durante o
inverno. Hövsgöl é um dos mais antigos lagos do mundo com mais de
2 milhões de anos. A área do lago é um Parque Nacional protegido,
criado em 1997, é tradicionalmente considerado sagrado.O Parque é o
lar de uma variedade de animais selvagens, como cabras, carneiro
argali, lobos, cervos, ursos pardos, alces siberianos. Durante o verão
aves migratórias visitam os lagos do norte.As águas geladas do lago
Monika Gryczynska
32
Um olhar sobre o Mundo
Hövsgöl são pobres em espécie de peixes, no entanto, encontra-se a
perca, o lenok, burbot e o esturjão.
Depois de estudarem as peculiaridades do Parque e do Lago
Hövsgöl os dois pesquisadores dirigiram-se para a Reserva Khustain
Nuruu National Park para ver os cavalos selvagens da Mongólia.A
reserva está situada a 160 km a leste da capital Ulaan Baator.Na área
de conservação da natureza, a preservação do cavalo selvagem ou
cavalo Przewalski, é o objetivo principal.Considerado extinto em
1969, verificou-se que alguns cavalos selvagens ainda viviam em
zoológicos europeus. Os animais foram trazidos de volta à Mongólia e
re-introduzidos ao seu ambiente natural, onde se multiplicaram com
grande sucesso, hoje existem mais de 200 cavalos selvagens,é uma raça
famosa por seu vigor e resistência. Fotografaram alguns espécimes,
junto com as crias, pastando no meio do campo.
Durante os seis meses de peregrinação pela Mongólia, os
brasileiros Álvaro e Rodrigo, enfrentaram o intenso calor e frio,
insetos, poeira e solavancos; dormindo em ghers, comendo carne de
carneiro, cabra ou camelo em todas as refeições, estavam saturados
desse tipo de alimento, precisavam de alguma verdura e fruta fresca. A
viagem de cerca de 2 mil quilômetros, pelo sul, centro e norte da
Mongólia saldou-se em 7 pneus furados, uma avaria na embreagem do
veículo e um acidente que resultou num eixo quebrado.
Os pesquisadores resolveram voltar à Ulaan Baator, procurar
um bom hotel para descansar e repor as energias, também para analisar
o resultado das pesquisas, inclusive fazer um balanço da situação
financeira. Após minuciosa análise do custo-beneficio do empreendimento decidiram encerrar as viagens pelo país. Acertaram as contas e
dispensaram Sanchir Yijn com a sua caminhonete. Faltava ainda
inteirarem-se da História da Mongólia, matéria que seria explanada
pelo professor Gaudhan Khulan, que era mestre emérito no assunto.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Dois dias depois, já refeitos, convidaram o professor para a
uma reunião.Com essa finalidade foi lhes cedida uma sala privativa.
- Bom dia!-O professor cumprimentou ao entrar - si estiverem
prontos podemos começar a viajar pela História.
- Como vai professor, será um prazer ouvi-lo! Podemos ligar o
gravador? – responderam Rodrigo e Álvaro, simultaneamente.
- A Mongólia, é berço de um povo tradicionalmente nômade
que em ondas sucessivas, chegou a invadir as regiões civilizadas da
China, Índia, Anatólia (atual Turquia) e da Europa Oriental. Região
pouco povoada, tem uma reputação de isolamento. Os seus desertos, o
seu clima severo e uma população largamente dispersa de pastores
nômades tenderam a mantê-la isolada da vida moderna. A maior parte
do território da Mongólia é formada por planaltos e estepes.
- Os mongóis antes do século XIII habitavam a região ao sul
do rio Kurelen e o Vale do rio Orkhon. Constituem uma das principais
etnias do norte e do leste da Ásia, formada por um conjunto de povos
que possuem laços culturais e uma língua comum. Físicamente os
mongóis diferem de outras raças. São de estatura geralmente mediana,
têm a pele entre amarela e castanho-escura, cabelo preto, liso e grosso,
o nariz achatado e curto e olhos pequenos, oblíquos. Eles têm as maçãs
do rosto sensivelmente mais salientes que o queixo. Poucos deles têm
barba, e quando a possuem é bastante rala.
- A vida era dura para os mongóis, habitantes das estepes
nevadas, estéreis e poderosas, das terríveis planícies vazias, das montanhas vermelhas e escarpadas, dos desertos secos e arenosos. Ventos e
poeira, relâmpagos e granizo, trovões e raios, gelo e tempestades, eram
seus companheiros do dia-a-dia. Não conheciam um lar duradouro,
esses nômades, sim, precisavam viajar com as estações, fugindo das
tempestades de neve dos mais aterradores invernos e fugindo no verão
do calor escaldante, da seca e das tempestades de areia do deserto.A
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
fome era o espectro que se sentava com eles em cada refeição, mesmo
que aquela fosse abundante.
- Basicamente, os nômades viviam da carne de carneiro e de
cavalo, do cúmis, que é o leite fermentado de égua, do queijo e de
milhete. Algumas tribos cultivavam cereais nos vales de terras mais
férteis. A alimentação nas estepes era carnívora, pelo fato de as terras
serem estéreis, portanto, escassas em vegetação para o consumo
humano. Um cavaleiro mongol colocava uma porção de carne em baixo
da sela de sua montaria e quando tinha fome era só tirar e comer, pois
estava salgada com o suor e assada com calor do cavalo.
- Mesmo produzindo algum tipo de cultivo agrícola, os
mongóis eram em grande maioria nômades. A vida era difícil, primeiro pelo perigo de conflitos e ataques de inimigos. Segundo, o clima que
variava sempre, de dia era o sol escaldante e a noite o vento tempestuoso de frio cortante. Ocorriam constantes mudanças de lugar devido a
ameaças de inimigos ou em busca de pastos para seus rebanhos. Nessas
ocasiões todo o ordu (aldeia) punha-se em movimento.
- Deslocavam-se com suas tendas (yurte,gher),feitas em
estruturas de forma afunilada, sustentadas por estacas de madeira, as
paredes e o teto forrados com couro de boi,de lobo ou de cervo, o chão
da yurte era forrado de peles de animais ou de ricos tapetes roubados
nas incursões às tribos inimigas.Na entrada da yurte eram colocadas
plataformas de madeira e a porta era protegida por abas de couro de
boi, bordadas finamente. O teto possuía uma abertura que permitia a
entrada de luz e a saída da fumaça do braseiro alimentado por estrume
de gado ou de cavalo, que ardia no meio da yurte.
- Quando começava o inverno e fazia muito frio, estava na
época de deslocar-se a procura de novos pastos. Gado, ovelhas, camelos e cavalos, inquietos, eram ouvidos na sua agitação.Com as primeiras nevascas punham-se a caminho, movendo-se com rapidez, pois a
cada hora o clima mudava, o vento ficava mais áspero e cortante.Areia
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
misturada com neve fustigava-lhes o rosto.As mulheres e crianças
encolhiam-se dentro das suas yurtes (gher) agasalhando-se contra o
frio.As tendas estavam todas ligadas umas às outras movendo-se como
uma unidade fluida, cada varal preso ao eixo do veículo seguinte.
- Eram colméias de feltro negro arredondadas rolando sobre
plataformas de madeira, puxadas por bois arquejantes, que roncava,
gemia e balançava.Rodavam vagarosamente; estranhos panoramas se
apresentavam diante dos olhos; cadeias de montanhas negras e
recortadas com picos afiados como navalhas erguiam-se contra os
horizontes das estepes cobertas de neve e de gelo lívido, salpicadas de
crateras alcantiladas de vulcões extintos.Desciam por vales amplos e
extensos cortados por cursos de água congelados, juncados de tamaricáceas e capins altos, ásperos, cinzentos, murchos ou secos.
- O ordu era a única coisa que se movia no deserto colossal.
Assemelhava-se a uma vagarosa fila de formigas, arrastando-se através
dos desfiladeiros, das montanhas, lutando para subir os íngremes
planaltos, dirigindo-se para o norte, procurando pastos verdes para seus
rebanhos.Passavam por florestas cinzentas, cujas árvores desfolhadas e
retorcidas,contorciam-se com o vento forte, como que torturadas, e
pareciam inclinar-se na direção do ordu como fileiras de monstros
ameaçadores. Muitas vezes, à medida que as estações se sucediam, os
mongóis nômades, fizeram essa viagem através de montanhas e do
deserto, de planaltos e despenhadeiros, leitos de rios secos e planícies
pedregosas, fugindo do inverno.
- No seu caminho de volta para os pastos de verão eles encontravam a relva exuberante, as árvores e tamaricáceas com folhagens verdes e brilhantes e léguas de deserto cobertas de flores multicoloridas. O inverno de violentos crepúsculos vermelhos, brilhando
sobre lagos congelados e tundra branca tinha terminado. Às vezes
quilômetros e quilômetros de flores brancas inclinavam-se ao vento
suave e fresco, e pétalas azuis, rosas, douradas e escarlates derramaMonika Gryczynska
36
Um olhar sobre o Mundo
vam-se pelos vales, planícies, planaltos, barrancos de rios, como um
imenso tapete persa.
- Os pássaros cortavam os céus azuis e ardentes e seus cantos
melodiosos enchiam o deserto de sons emocionantes. A vegetação,
desde as árvores tortas e raquíticas do Gobi à relva espessa e as flores,
desabrochavam durante a noite numa orgia de vida, e o ar inteiro se
enchia de sons do crescimento febril. Os ventos vinham carregados dos
odores da fecundidade e quando as chuvas torrenciais desabavam os
aromas tornavam se por vezes sufocantes.
- Passado o inverno os pastores e guardadores de gado tangiam de volta seus rebanhos. Nuvens de poeira cinzenta e dourada
dançavam em volta deles e a atmosfera do deserto ardente e sufocante,
estava cheia de seus berros roucos e gritos estridentes dos pastores. O
gado mugia, andando através dos caminhos tortuosos por entre os vales
e montanhas escarpadas. A aldeia de tendas dos mongóis Yasoun
(Sakhas) assentava-se no vale do rio Orkhon, e era na direção desse rio
amarelo-pardo que os guardas dos rebanhos conduziam os animais para
beberem água. Podia-se contar centenas de cabeças e feixes de chifres,
um mar de caudas e de ancas peludas, uma floresta de pernas e cascos
que passavam em torvelinho de poeira que tudo envolvia. Dezenas de
crianças nuas, de olhinhos oblíquos e cabelo preto brincavam no
cascalho cinzento do rio.
- Nesse momento, outros pastores se aproximavam conduzindo garanhões selvagens e irrequietos, éguas e suas crias. Seus olhos
selvagens brilhavam através da poeira. Seus corpos eram recobertos por
um pelo espesso, cinzento, e com as longas caudas espantavam os
enxames de insetos que os ferroavam. Os guardadores, a cavalo,
gritavam, tangendo os animais com varas compridas. Esses domadores
eram mais selvagens do que os garanhões, e mais ferozes, seus olhos
pardos cintilavam furiosos. Os rostos escuros brilhavam de suor e os
Monika Gryczynska
37
Um olhar sobre o Mundo
lábios estavam rachados pelo calor e poeira.A gritaria era ensurdecedora e o fedor insuportável.
- Os caçadores seguiam-nos montados em pequenos e ágeis
cavalos árabes carregando os frutos da caça, presos com cordas em
frente deles: antílopes e lebres, porcos-espinho, aves e raposas, martas
e faisões. Grandes fogueiras escarlates começavam a arder entre as
fileiras de yurtes e tochas crepitantes começavam a dançar por entre as
fileiras, e o céu tomava rapidamente a cor de púrpura da noite do
deserto. Sob os pés das pessoas, a terra ainda estava quente do calor
escaldante do dia. O sol estava se pondo e o céu escurecia.
- O poente, para os lados do rio Orkhon de águas amarelocinzentas, demarcados pela vegetação baixa e irregular cinza-esverdeada, constituía um espetáculo uniforme. O horizonte era de um
vermelho palpitante marcado por milhares de pequenos penhascos
negros aguçados como dentes. Para o leste, o céu sem fim era dum
róseo mesclado, resplandecente. A abóbada do céu perdia-se em
imenso nevoeiro fulvo, as colinas entalhadas e torreadas, projetando-se
íngremes, eram baluartes inexoráveis esculpidos em pedra vulcânica
pelos ventos do deserto.
- O imenso e desolado silêncio do Gobi parecia ter caído do
infinito sobre a terra, e até mesmo o sussurro do rio Orkhon, amarelocinza perdia-se naquele silêncio.E de novo os ventos carregados de
gelo, ululantes, repletos de ecos misteriosos, soprando, chegando dos
céus com asas de horror, assaltavam a terra arenosa do Gobi e enchiamna com os sons dos assobios e uivos tremendos, levantando em redemoinhos a areia do deserto.As vezes o terrível silêncio era abalado por
trovões e raios, os nômades supersticiosos ficavam aterrorizados,
detinham-se e murmuravam preces à “Khokh Tengger, o Senhor do
Céu Azul”.O zênite estava semeado pelas cintilações das milhares de
estrelas, aterradoras, gélidas, distantes.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- De repente, a imensa noite do Gobi era cortada pelos sons
angustiosos e doces, selvagens e solitários de uma flauta, que inundavam a alma de uma melancolia dorida. A voz da flauta gemia,
soluçava, suave e frágil, mas, no instante como por encanto, seu som
tornou-se triunfante, sua nota intensa cortou o céu sem iluminá-lo,
invadindo-o completamente.Ampliava-se no caos da eternidade e ardia
ali, bela, pungente e provocante. Era a alma do homem, sitiada e alheia,
perdida, pequena, brilhante, atacada por todos os ventos do céu e do
inferno, buscando plenitude e vida. Sua voz trêmula falava de amor, de
Deus, de dor, mas sempre de esperança e de fé, mesmo em meio a seu
desamparo na imensidão do deserto. Na alma dos nômades havia um
sentimento irresistível de liberdade, como a ânsia dos pássaros
migratórios, que voam pelo instinto alheio a razão.
- As antigas lendas dos mongóis falavam, que milhares de
anos atrás, um poderoso império se situava ali onde hoje fica o deserto
de Gobi, com cidades fulgurantes de vida, comércio e agitação. Ali
tinham existido templos e mercados, academias e escolas, parques com
fontes de água e ruas apinhadas de gente, palácios e inumeráveis casas,
jardins, lagos, piscinas públicas e terraços. Ali tinham se erguido
muralhas e portões de bronze; havia o burburinho das caravanas
chegando e outras partindo, entre o resmungo dos camelos, o relinchar
dos cavalos e ladridos de cães, os mercadores regateavam nos ricos
bazares de centenas de cidades prósperas.
- Para onde tinha ido tudo isso? Por que desaparecera? Esse
mundo de fartura e riquezas se desfizera em areia. Imperadores tinham
cavalgado por ruas agora enterradas na areia, o vento rodopiava a
poeira onde outrora exércitos montados em seus ágeis cavalos
desfilavam em meio a uma floresta de lanças Agora, o opressor e o
oprimido jaziam lado a lado, insignificantes, esquecidos na tumba do
nada. Multidões tinham chorado ali e se alegrado e delas não restara
nenhum vestígio além do vento vergastando feroz e irresistível,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
varrendo o deserto, com o som de tambores ressoando em surdina e o
silêncio da morte, refletidos no céu azul pálido e frio.
- Segundo essa antiga tradição o atual deserto de Gobi, já foi
uma região fértil, com uma grande planície cultivada e com milhares de
habitantes. Até o século VII, as tribos uygures possuíam um extenso
Império na Mongólia Central, com a capital Karakota. Esse Império já
existia há 18.000 mil anos a.C. se estendia por toda a Ásia, desde o
Pacífico, através da China, Mongólia, Ásia Central até o Mar Cáspio.
Seu apogeu foi até 15.000 a.C.o declínio aconteceu no fim da Era do
Gelo. Os uygures herdeiros do poder turco do Vale do Orkhon
formaram povoados ao redor dos oásis. Outra cidade que foi habitada
pelos uygures, Onjin, estava situada nas areias do Deserto de Gobi.A
região do Gobi foi se transformando, paulatinamente, de uma região
fértil em deserto árido,o que não favorecia a agricultura e a fome
assolou o país, levando ao declínio da civilização uygure.
- O povo uygur não é de origem mongólica, mas da família
caucasiana, aparentados com os turcos-oghuzes, embora houvesse
séculos habitassem a Mongólia. O uygure é uma língua do ramo turcooriental. Formavam um Estado muito poderoso e florescente, com uma
cultura que lhes vinha da Pérsia, da Índia e da China,.tinham alcançado
um alto nível de civilização, conheciam a arquitetura, a medicina,
matemática, astrologia, mineração, produção têxtil e agricultura e as
praticavam com grande habilidade e conhecimento.
- A sua hegemonia desapareceu no século IX (ano 847), sob
os ataques dos quirguizes nômades; conservaram, contudo, o seu
particularismo, até sob o domínio mongol, russo e chinês. Foram os
educadores dos povos turco-mongóis. Os uighures migraram para o
oeste, os seus descendentes encontram-se entre os turcomenos, usbeques e na província chinesa de Xinjiang Uygur Zizhiqu.
- Os mongóis, não foram os primeiros povos das estepes a
fundarem poderosos impérios, antes deles, o mundo já havia conheMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cido o império dos citas, dos uygures, dos hunos, dos persas, dos turcos
seljucidas, dos chineses. Os mongóis já existiam há vários séculos, mas
suas origens ainda são desconhecidas. Os relatos mais antigos datam do
século VII, especialmente das descrições chinesas; contudo o tronco da
família mongólica é bem mais antigo remontando há vários milhares de
anos atrás, quando migraram do leste, talvez da Região Chinesa, a
procura de pastos para seus rebanhos.
- Dividiram-se em tribos e clãs que, ora se aliavam e ora guerreavam entre si. Deste tronco familiar, surgiram os povos que deram
origem aos hunos, citas, mongóis, chineses, siberianos e a centenas de
povos indígenas das Américas, reafirmando a teoria da migração
através do Estreito de Behring. Dai o fato de que todos esses povos
possuírem semelhanças físicas. Embora falassem a língua mongol,
cultuassem os mesmos deuses, eles se referiam um aos outros pelos
nomes dos clãs. Como Merkits que eram habitantes das florestas ao sul
do Vale de Orkhon, eram hábeis mercadores e artesãos competentes.
Outros de turcos-uygures, keraits, yasoun, sakhas, taijuts, tangutes,
tártaros, naimans, e outras denominações.
- A primeira menção que se pode identificar com a Mongólia
nas crônicas chinesas remonta há 2.000 anos a.C.Contudo, os primeiros mongóis de cuja origem se tem certeza são os xiong-nu, do século
IV a.C. Os xiong-nu ou talvez fossem os mesmos povos hunos de
origem indo-iraniana, primeiros habitantes do Vale do rio Selenga, que
une a Sibéria ao coração da Ásia. Calcula-se que os hunos chegaram á
região quatro séculos a.C. Eles criaram um grande Império tribal na
Mongólia, quando da unificação da China, sob as dinastias Chin e Han
em 221 a.C. a 220 d.C.
- O Império Huno lutou contra a China durante séculos, se
desintegrando no século IV da nossa era, devido às lutas internas.
Durante o século V, os hunos de Átila subjugaram quase toda a Europa
e atacaram o Império Romano.Foram substituídos por povos turcoMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
orientais,originários das estepes da Ásia Central que se estabeleceram
em toda a região.
- Os mongóis conheciam a metalurgia, confeccionavam suas
roupas, calçados, acessórios, utensílios, arcos e flechas, laços e outras
armas. Sua produção artesanal era na base de madeira, ferro, cascos,
chifres, lã, couro e pele de animais. Praticavam o comercio com
caravanas da Rota da Seda, como os turcos de Samarcanda e Bukhara e
cidades da China, quando não as assaltavam para saquear. Nas
comemorações de casamentos, nascimentos ou de vitórias sobre os
inimigos festejavam com música, jogos e corridas, fartavam-se de
carne de carneiro ou de cavalo, cozidos em caldeirões pelas mulheres
do ordu. Nessas ocasiões embebedavam-se com vinho de arroz.
- Os clãs mais poderosos controlavam a atividade da tribo. As
famílias de menor destaque pagavam tributos ao clã dominante; se
deslocando com suas tendas a procura de novos pastos, acampando e
guerreando sob as suas ordens. Os animais eram de propriedade
individual, já sobre a terra existia o direito coletivo da tribo.Os
mongóis eram caçadores e criadores de rebanhos de gado e cavalos.
Passavam a maior parte da sua vida na sela de seus cavalos das estepes.
Aprendiam a cavalgar e usar armas ainda crianças.
- Os costumes mongóis praticamente não mudaram desde os
tempos remotos, boa parte da sua cultura se conservou ao longo dos
séculos até os dias de hoje, como a música e a dança, a vestimenta
tradicional, o estilo de vida nômade, o esporte, incluindo as corridas de
cavalos e de camelos, lutas de vale-tudo, tiro ao alvo, e a tradicional
luta de Bokh, praticada há vários séculos, que surpreendemente não
sofreu nenhuma mudança nas regras neste tempo.
- Todo homem capaz, em condições de manejar uma arma era
guerreiro e caçador. Lutavam sobre um código restrito de disciplina e
lealdade.Quando uma tribo era muito poderosa, organizavam-se em
exércitos, muitas vezes de centenas de milhares de homens.Os assaltos,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
os saques dos acampamentos rivais eram feitos em conjunto, com a
captura de gado, cavalos, mulheres e crianças, prisioneiros inimigos e
as suas yurtes e todos os demais bens que possuíam,esse era um
método de enriquecimento.A história dos mongóis oscila entre estes
períodos de concentração ou de dispersão das tribos nômades.
- No decorrer do século XI, as tribos turcas a oeste e khitans a
leste se confundiam com os mongóis pela similaridade da língua e
modo de vida. Os khitans estabeleceram a dinastia chinesa de Liao
(907-1125) e passaram a reinar na Manchúria e Norte da China
controlando quase todo o território da Mongólia atual. Os povos
nômades da Mongólia formaram um dos maiores impérios a partir de
uma série de conquistas militares continuadas por algumas gerações.
Entre os séculos XI e XII, um líder tribal chamado Kabul Khan
comandava um ordu de 30 mil tendas, ele reuniu as tribos mongóis
numa guerra contra a China controlada pela Dinastia Jin, mas foi
derrotado, e a unidade mongol foi desfeita.
- No sudoeste da Mongólia, à margem das nascentes do rio
Orkhon, região que até o começo do século XII, estava sob o domínio
dos turcos-uigures. Nas proximidades e em paz com os turcos, viviam
os pacíficos agricultores da tribo merkits. A noite caia, e as fogueiras
da aldeia crepitavam. De repente, ouviu-se o troar de mil cascos de
cavalos e inúmeros guerreiros sakha, inimigos, invadiram o espaço
entre as fogueiras. Brandindo suas armas, cimitarras recurvas e adagas
cintilantes ao fogo, lançaram-se sobre a fogueira principal, onde o
xamã da tribo merkit realizava o ritual de casamento entre Houlun,
filha do chefe do clã e Todoyan, o mais valente guerreiro daquele povo.
- Yesukai, filho de Kabul Khan e líder do clã dos mongóis
yasoun (sakha), jovem e arrogante mongol, de olhos negros, amendoados que brilhavam ferozes. Galopando velozmente, com um grito
estridente arrebatou a jovem noiva e a lançou sobre a garupa do seu
cavalo branco. Saiu em disparada; touxe a menina para seu ordu (aldeia
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Um olhar sobre o Mundo
de tendas) para que mais tarde se tornasse sua esposa.Ambos os clãs
eram inimigos.Depois de certo tempo Houlun teve um filho de Yesukai
A criança nasceu no ano de 1.167, na yurte de seu pai, próximo ao rio
Tungel, à sombra das montanhas Burkhan Khaldun O primogênito
recebeu o nome de Temudjin.
- O deserto estava derretendo sob o sol escaldante. E, logo que
o sol desceu num arco chamejante para oeste, os mongóis da tribo
yasoun (sakha) começaram preparar uma grande festa para todo seu
povo, para comemorar o nascimento de Temudjin, filho de Yesukai.
Estavm acampados com centenas de tendas, num oásis amplo, de
gramas verdes, árvores e tamareiras; num recanto escondido estava o
poço de águas frescas e cristalinas. Acenderam enormes fogueiras onde
assavam grandes quantidades de carne de cavalo e de carneiro gordo.
Distribuiram entre o povo, vinho de arroz e frutas em abundância. O
povo festejava alegremente, dando vivas ao recém-nascido.
- As antigas lendas xamânicas mongólicas pressagiavam que,
Khokh Tengger, Senhor do Eterno Céu Azul, enviaria do céu um lobo
cinzento que devoraria o mundo .Para muitos este lobo cinzento fora
Temudjin que afirmava ser de ascendência divina.Conta, ainda, a
tradição popular que Temudjin, ao nascer trazia preso no pequenino
punho um coágulo de sangue, augúrio da sua ferocidade e sede de
sangue quando adulto.
- Ele teve mais 6 irmãos: Bektor, ao qual Temudjin matou
ainda criança, num acesso de fúria por julgá-lo um traidor, Belguthei,
Khasar, Subodhai, Ogodhei, Juschi e Jamuga, de origem naiman, irmão
de sangue, que já adulto foi morto por Temudjin por suspeita de deslealdade para com ele; teve ainda dezenas de outros meio-irmãos, pois
na cultura mongol a poligamia era permitida, um homem poderia ter
tantas esposas quantas conseguisse manter.
- Temudjin era descendente de Bodeontchar “o Homem de
Olhos Pardos”, ancestral do antigo povo da linhagem do lobo cinzento
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Um olhar sobre o Mundo
que, conforme a lenda, concebera os mongóis yasoun (sakhas), uma
tribo com tradição de poder; neto de Kabul Khan, maior líder dos
mongóis yasoun até então. Quando completou nove anos de idade seu
pai Yesukai, decidiu que era hora de arrumar uma esposa para seu
filho. Foram até outro clã e lá ele se tornou noivo de Börte, uma
menina da tribo Olhod, “os Olhos Pardos”, gente da sua mãe, com qual
se casou mais tarde. Enquanto Yesukai voltava para casa, ao anoitecer,
ele avistou um acampamento de nômades tártaros, ali ele pediu
hospedagem por uma noite, embora fossem inimigos, era costume entre
as tribos das estepes, não negar hospitalidade a ninguém. Comida e
bebida foram servidas á ele em abundância e Yesukai fora envenenado
pelos tártaros; dias depois veio a falecer no seu ordu.
- Com a morte do pai, Temudjin aos 9 anos de idade,como
primogênito,era o sucessor direto e agora líder do clã dos yasoun.
Contudo os aliados do seu pai se recusaram a aceitar a liderança de um
menino, abandonaram-no nas estepes, junto com a mãe e seus seis
irmãos, a pura sorte. Ele fora traído pelos antigos aliados do seu pai.
Embora fosse ainda uma criança Temudjin não desistiu, mesmo quando
os merkits, inimigos do seu clã, lhe roubaram Börte, a sua meninaesposa, a qual recapturou meses depois, pedindo ajuda a alguns clãs
amigos. Atacou e derrotou a tribo inimiga, matando e escravizando os
adversários.
- Esse ato de bravura angariou-lhe a simpatia dos outros clãs
mais poderosos. Desse tempo em diante Temudjin passou a ser identificado como um valente e corajoso guerreiro. Já não era apenas um
baghatur das estepes, mas reconhecido chefe duma tribo forte, e como
tal começou a usar, preso ao cinturão, um punhal chinês cravejado de
pedras preciosas, roubado por seu pai no assalto à uma caravana de um
mandarim chinês.
- Temudjin, desde menino foi destemido, de caráter arrogante, ágil e veloz como uma raposa, tinha o olfato de um animal
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Um olhar sobre o Mundo
acostumado ao perigo, percebia tudo; seu olhar de águia era rápido e
penetrante, o gesto curto e decidido. Quando adulto, a combinação
violenta de brilho selvagem e sombra no rosto, dava à expressão da
face ao mesmo tempo bárbara, feroz e fria. Era dado a paixões e acessos de cólera, mas havia nele algo superior aos outros homens.
- Era um homem sombrio, violento e implacável, inflexível e
inexorável. E, contudo existia nele o melhor da generosidade e da
audácia mongóis, e a sua palavra, uma vez dada a um amigo, nunca
seria quebrada. Ele era honesto, com aquela honestidade mongol,
simples e primitiva. Muito inteligente e ambicioso, não se limitava a
ser apenas líder do clã dos yasoun (sakhas), ambicionava mais, muito
mais, ele queria o mundo, então partiu para sua conquista.
- Primeiramente convocou Koschu, o xamã da tribo sakha.
Sabia que os xamãs e os sacerdotes são elementos indispensáveis e
necessários, de outra maneira não haveria baghaturs, poderosos khans
ou outros opressores do povo mantendo-o na sujeição. Eles escravizam
os homens com palavras, para que eles continuem a obedecer-lhes e
servir-lhes.Ele conhecia bem a utilidade do terror. Por sua ordem o
xamã invocava os espíritos e anunciava ao povo que tivera uma visão
profética, falava com voz premonitória às multidões de nômades:
- “Temudjin nasceu para ser o Senhor do Gobi e aquele que o
seguir, seguirá a glória, a vitória e terá muitas riquezas. E aquele que
não o seguir, os espíritos do Céu Azul o amaldiçoarão para sempre e
terá uma morte horrível, cheia de sofrimento”.
- A religião dos mongóis naquele tempo e ainda continua
sendo para 32% da população, o xamanismo. Xamanismo é um termo
genérico para se referir a praticas de curandeirismo, feitiçaria, mágicas,
fetichismo, animismo, entre outras crenças místicas. O xamanismo era
cultuado e praticado por diversos povos nativos da Ásia, Europa,
África, Oceania e das Américas. O xamã era uma mistura de adivinho,
feiticeiro e sacerdote, logo, em algumas culturas ele é visto como o
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Um olhar sobre o Mundo
intermediário entre os homens e os deuses, possuindo poderes mágicos
e até proféticos, portanto, era respeitado e temido pela maioria da
população.Os mongóis acreditavam em vários deuses, mas
especialmente veneravam e temiam um deus, Khokh Tengger, o Senhor
do Céu Azul, deus dos trovões e tempestades.
- Por volta do ano 1.180, aproximadamente 830 anos atrás,
esse povo de pastores nômades das estepes asiáticas, donos de grandes
manadas de cavalos e camelos, uniu-se sob a liderança de Temudjin de
13 anos de idade, um adolescente valente e astucioso.Convocado a
comparecer ao Quriltay (junta deliberativa), lá os chefes mongóis,
decidiram conceder a Temudjin o titulo de Genghis Khan (o poderoso
governante).Armados com arcos e flechas, montados nos seus cavalos
velozes, iniciaram uma campanha de conquistas territoriais, que mudaria a face do mundo conhecido até então.Os guerreiros mongóis se
tornaram o exercito mais temido e poderoso em seu tempo, tão implacável na crueldade que lhe renderam a fama de bárbaros sanguinários.
- O jovem Temudjin, nomeado como Genghis Khan, tinha a
pele morena e bronzeada da cor das colinas do deserto. Seus olhos
verde-pardos oblíquos coruscavam chispas de fogo, o cabelo vermelhodourado solto ao vento, relampejava contra o sol poente. Naquele dia
ele voltava com seus guerreiros para o ordu, montado no seu garanhão
branco com uma cimitarra turca atravessada no cinturão. No caminho
pela estepe encontraram uma caravana tártara que era uma escolta para
mercadores karaits e naimans que se dirigiam de Catai (China) para a
cidade turca de Karait. Muitos mercadores lhe pagavam tributos para
proteger-lhes as caravanas, mas esta não contava com esse privilégio.
- A caravana era integrada por cavalos e camelos, levava
carregamentos de chá, especiarias, pratarias, sedas, tapetes, manuscritos, instrumentos musicais, roupas bordadas, jóias, turquesas, armas
incrustadas de pedrarias e outros artigos de luxo.Os guerreiros mongóis
atacaram, saquearam e mataram os tártaros e mercadores karaits.
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Um olhar sobre o Mundo
Depois do assalto, carregaram sobre os ombros e as costas os seus
quinhões levando-o para suas yurtes.A pilhagem tinha sido excelente.
Temudjin escolhera uma belíssima jovem karait para ser sua segunda
esposa, trazendo-a para seu ordu junto com o resto do saque sobre o
lombo de um camelo. As outras jovens e bonitas mulheres levou-as
para seu harém. Durante a vida toda ele teve um apetite sexual
insaciável. Foi pai de uma multidão de filhos bastardos.
- Em curto espaço de tempo, Temudjin tinha atacado, conquistado e absorvido clãs pertencentes aos merkits, aos naimans, aos
uygures, aos tungutes, aos karaits, à confederação tártara e as tribos
taijuts.Pelo caminho juntavam-se ao estandarte dos “nove rabos de boi”
centenas de outros homens, com suas famílias, clãs errantes que antes
eram inimigos e que agora estavam cheios de temor, revêrência e
admiração por esse yasoun, o Temudjin. Os povos nômades o
idolatravam. Chamavam-no de “Falcão do Eterno Céu Azul”. Ele
anunciava às multidões de nômades, com voz de um predestinado:
- “Foi profetizado em meu nascimento que eu seria imperador de todos os povos das estepes e dos desertos. Seria o mais poderoso de todos os homens, “o Imperador do Mundo”.Pois eu farei do
Gobi um Império, e então, o resto do mundo que me aguarde”.
- Genghis unificou as tribos mongóis, lhes deu leis e um
Império, e tornou os simples arqueiros, cavaleiros nômades, numa
máquina de guerra que abalou o Mundo Antigo que, aterrorizado via as
hordas de cavaleiros bárbaros, que pareciam invencíveis, marcharem
em sua direção. Em toda a parte desencadeava-se o Apocalipse sob sua
passagem. Em toda parte,as campanhas relâmpagos traziam vitórias aos
guerreiros vindos das estepes.Os Impérios mais poderosos e protegidos
pelas muralhas, os reinos prósperos, todos os Estados conquistados
não escapavam à carnificina, incêndios e destruição.As mulheres e
homens jovens, eram levados como escravos.
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Um olhar sobre o Mundo
- Temudjin, o Genghis Khan, carismático e autoconfiante,
começou com um exército de 25.000 guerreiros. Antes de Genghis,
outros khans tentaram unificar as tribos mongóis mas falharam muitas
vezes. No ano de 1206, já aos 49 anos de idade, após 30 anos de
ataques a clãs inimigos em guerras de conquista, Genghis, conseguiu
unificar todas as tribos mongóis em torno da confederação do Gobi,
graças a sua capacidade política e militar.Foi adicionando forças
unindo e subjugando tribos nômades, tais como os tártaros que
mantinham guerra com as outras tribos. Os homens dos povos
dominados eram anexados ao exército, eram divididos em várias
divisões, para que não pudessem conspirar contra os líderes.
- O soldado mongol não recebia soldo nem outro pagamento
além dos saques efetuados nos ataques aos inimigos. A habilidade de
mover-se rapidamente e uma reputação de crueldade os precedia. Os
mongóis lutavam como arqueiros leves da cavalaria, usando o arco e a
flecha compostos; com alto poder de penetração e alcance. Eram
excelentes em planejarem emboscadas e ataques surpresa. Temudjin
era um homem sábio e feroz. Distribuía os despojos das incursões a
tribos inimigas ou das caças, de modo igualitário, com eqüidade.
- Na qualidade de líder dos guerreiros mongóis, Temudjin
conhecia a paralisante força psicológica do terror e da superstição. Os
lideres do exército mongol faziam uso pleno do pavor; massacravam a
população de uma cidade inteira, invadida, para com facilidade
conquistar a cidade seguinte que, aterrorizada, desistia de lutar.No final
não eram só as hordas que derrotavam o inimigo, era o nome terrível de
Temudjin, místico e invencível.
- Seu primeiro alvo era os velhos inimigos dos mongóis, os
chineses da Dinastia Jin, formada por tunguses vindos da Sibéria.
Primeiro atacou a parte norte da China. Nessa época, o Império Chinês
estava dividido sob o poder de três grandes dinastias, no norte a
Dinastia Jin, a noroeste a Dinastia Tangut, ou Si Hia e ao sul, a
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Um olhar sobre o Mundo
Dinastia Song. Em 1215, Pequim, a capital do Império Chinês fora
conquistada, pilhada e incendiada. Terminada a guerra da China,
Genghis Khan vai se voltar para oeste, em direção da Ásia Central,
dominada nessa época pelo Canato Kara Kithai e pelos turcos-uygures.
Subjugou os dois Canatos e anexou-os ao Império Mongol.
- Depois do massacre de Pequim, muitos habitantes da cidade
foram mortos e milhares foram escravizados. Dentre os que foram
feitos escravos estava Ye Liu Chutsai, príncipe e general de Catai,um
sábio chinês.De imediato, pela sua grande sabedoria Chutsai impressionou Genghis Khan que lhe concedeu a liberdade e deu-lhe o
importante lugar de Conselheiro. Chutsai com seus sábios conselhos
teve uma participação fundamental no governo de Genghis Khan, foi o
responsável por uma mudança radical na política do conquistador: a
destruição foi substituída pela utilização.
- Ye Liu Chutsai mostrou a Genghis Khan o quanto poderia
ser lucrativo apenas conquistar a China, sem destruí-la. O sábio fez o
imperador perceber as imensas vantagens que a avançada civilização
chinesa poderia oferecer aos incultos mongóis. Foi graças à Chutsai
que o objetivo das campanhas de Genghis contra cidades mudou de
destruição para conquista.Com os conselhos de Chutsai, de que sempre haveria algo a ser aprendido com os povos conquistados; os
melhores guerreiros podiam ser incorporados aos exércitos mongóis.
Assim ele procedeu quando da conquista das tribos tártaras. Os
guerreiros prisioneiros, suas esposas e filhos, seus cavalos, seus rebanhos e yurtes, incorporou ao seu Império.Os soldados tártaros férozes e selvagens,combatiam com o simples terror de meros animais.
- Ye Liu Chutsai, o grande sábio chinês, prognosticava que,
“Apesar das guerras e da destruição, o espírito de esperança, paz e
amor, não morrerá. Mesmo que advenham a escuridão e a fúria, ele
viverá! É da natureza do próprio mundo que embora desabe a
tempestade e a floresta seja despedaçada, embora o vulcão derrame sua
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
lava sobre as plantações, embora o inverno queime os pastos,haja uma
primavera da terra e da alma e tudo cresça e floresça de novo”.- Esta é
a lei da Natureza.
- A Mongólia é herdeira do Império Mongol, que no ano de
1215, se estendia da China através das estepes da Ásia Central, até as
margens do Mar Cáspio, incluída toda a área dos atuais Cazaquistão,
Usbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão, Pérsia (Irã), Armênia,Georgia, partes do Afeganistão, do Iraque, da Índia e da Rússia, dominava
parte da Ásia e da Europa, sob o comando de Genghis Khan.Seus
descendentes avançaram sobre toda a Rússia européia, parte da
Polônia, Bulgária e Hungria, além de fazer dos turcos seljúcidas, dos
reinos de Burma, Anan e Champa, seus vassalos.
- Antes de sua morte, Genghis Khan dividiu o Império em 4
setores, a serem governados por seus descendentes, mas subordinados
ao Grande Khan. Djothci, era o 1° filho de Börte, a menina-esposa de
Temudjin,que o criou como seu primogênito. Porém, persistia a dúvida
sobre a verdadeira paternidade do menino, se o pai era Chilger Boke,
da tribo merkit, que havia raptado Börte, logo depois do casamento
com Temudjin, e a aprisionado durante alguns meses, ou Temudjin que
a resgatou num assalto à aldeia dos merkits. Esta incerteza levou
Genghis a nomear o 3° filho, Ogodei Khan,como seu sucessor.
- Djothci tinha morrido em batalha, na China em fevereiro de
1227, e seus domínios ficaram para seu filho Batu Khan. O 2º filho de
Genghis, Djaghatai Khan ficou responsável pelo governo da Ásia
Central, com o Canato de Kara Khitai e parte do Sultanato de
Khwarazm. Ogodei Khan, o 3º filho, ficou com o Canato dos Uygures
e o antigo país dos Naimans. Finalmente o caçula, Tolui Khan, ficou
responsável pelo restante do Império e administração da casa paterna.
- Quando Genghis Khan morreu em 18 de agosto de 1227,
aos 60 anos, foi sepultado aos pés da Montanha Burkhan Khaldun, no
maciço Khentii. Para sucedê-lo foi eleito pelo Quriltay, em 1229,
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Um olhar sobre o Mundo
Ogodei Khan como 2º Imperador Mongol. Em 1236 Ogodei Khan,
ocupado com a guerra na China,ordenou a Batu Khan, filho de Djothci
e ao general chefe dos tártaros Subotai, para que seguissem para Oeste
conquistar a Rússia e a Europa. Em 1237, liderando um exercito de 150
mil ferozes cavaleiros das estepes, atacaram, destruíram e saquearam a
cidade de Kiew (Ucrânia) e ocuparam a cidade de Moscou, num assalto
relâmpago, em pleno inverno russo.
- Entre os anos de 1239 a 1241, os mongóis continuam se
deslocando para Oeste e se atiram sobre a Polônia, sua capital
Krakowia é incendiada e a população massacrada. O exercito tártaromongol avança para Hungria e chega perto de Viena na Áustria.Os reis
europeus temendo que a terrível horda de bárbaros chegasse às suas
terras, foram socorrer Viena. Nessa época, os exércitos mongóis de
centenas de milhares de guerreiros eram vistos como uma praga que
assolava a Europa.
- Os selvagens nômades mongóis, montados nos seus
pequenos e ágeis cavalos das estepes, rápidos e precisos no manejo do
arco e flecha, traziam a morte e destruição por onde passavam. Algo
que a Europa já havia vivenciado oito séculos antes com os hunos,
povo de origem mongol, os quais liderados pelo seu maior líder, Átila,
intitulado “O Flagelo de Deus”, aterrorizou o Império Romano no ano
de 434. Para sorte da Europa, Ogodei Khan morreu em campanha em
1241. Dessa forma Subotai e Batu Khan suspenderam as operações
militares na Europa e retornaram para Mongólia.
- Ogodei Khan estava morto, seu irmão Djaghatai havia
morrido no mesmo ano e Tolui, o caçula, havia falecido nove anos
antes, portanto, os três filhos legítimos de Genghis Khan, candidatos ao
trono estavam mortos. Os descendentes de Djothci, considerados
bastardos não tinham direito, a solução foi eleger um dos seus netos,
assim, o herdeiro de Ogodei Khan, seu filho Guyuk, foi eleito terceiro
Imperador Mongol no ano de 1.242, morreu em 1.248.
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Um olhar sobre o Mundo
- Em 1251, o Quriltay elegeu Mongka Khan, filho de Tolui, e
neto de Genghis Khan, o quarto Imperador Mongol de 1.251 a 1.259.
Após a morte do Imperador, Hulagu e Kublai, irmãos de Mongka e
também netos de Genghis Khan, voltaram sua atenção para o sudoeste,
em direção ao Califado de Bagdá o qual pertencia a poderosa Dinastia
dos Abássidas. Em 1259, as tropas de Hulagu Khan sitiaram Bagdá, a
cidade foi invadida, saqueada e destruída, 90 mil pessoas foram mortas
na batalha que durou três dias. Kublai Khan estava em campanha no sul
da China, quando foi convocado pelo Quriltay para retornar á capital
mongol Karakorum. Ele fora eleito o 5º Imperador Mongol em 1.260,
governou até 1.294.
- Em 1279, Kublai Khan, filho de Tolui, conquistou toda a
China e fundou a dinastia Yuan que controlava a China e Mongólia sua
terra natal. Uma vez estabelecido o Império veio a grande paz. Por um
período, os mongóis floresceram na região das estepes e do norte da
China. Em 1294, Kublai morreu na China, e o poderio mongol
começou a declinar na Ásia e outras regiões de ocupação. Os 4 Canatos
tiveram curta existência, a exceção do Canato da Horda Dourada, na
Rússia, onde o domínio mongol durou por 250 anos. Em 1368, o trono
da China caiu nas mãos da dinastia Ming. A China invadiu a Mongólia
incendiou Karakorum antiga capital do Império, e seu território
permaneceu sob autoridade chinesa até a queda do poder imperial da
Dinastia Qing.
- Entre 1370 e 1404, Timur-i- Leng (Tamerlão), um guerreiro
turco-mongol, descendente de Genghis Khan, fundou o segundo
Império Mongol, com as conquistas do Turcomenistão, da Pérsia (Irã),
da Siria e da Anatólia (Turquia). Em 1398 saqueou Dheli na Índia,
matando 100.000 de seus habitantes. Morreu em 1404, na China.O
grande império herdado por seus filhos ruiu após sua morte.
- Com o fim do Império, no inicio do século XV, os mongóis
voltam a se dividir em tribos hostis. Os manchus aproveitam-se da
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
disputa tribal e conquistam o território, dividindo-o em duas unidades
políticas.A Mongólia caiu sob o domínio manchu, quando os nobres
mongóis khalkha prestaram um juramento de aliança com o imperador
manchú. Os manchús, um grupo tribal que conquistara a China em
1644, fundou a Dinastia Qing,que permaneceu no poder até sua queda
em 1911. Em 1691, o território ao sul e leste torna-se a Região
Autônoma de Mongólia Interior e faz parte do território chinês. A
região norte e oeste são reunidos em 1759, como Mongólia Exterior.
Em 1727, a Rússia e a China manchú concluíram o tratado de Khyakta
delimitando as fronteiras entre a China e a Mongólia que ainda permanece até hoje.
- A Mongólia ainda é um país economicamente pobre, sendo
as atividades primarias a base da economia nacional, enfrenta grandes
dificuldades econômicas. Cerca de um milhão de mongóis, ou um terço
da população vive no campo,seguindo seu modo de vida nômade,1/3
vive na capital Ulaan Baator, e 1/3 vive espalhada pelas pequenas
cidades do interior do país. Desde a queda do comunismo, Mongólia
fez quase tudo ao seu alcance para se abrir ao mundo. Porém as antigas
tradições sobrevivem e a natureza selvagem é ainda intacta.
- Os problemas socioeconômicos se intensificaram após a
transição do comunismo para uma economia de mercado. Mesmo no
século XXI, mais da metade da população da Mongólia vive abaixo da
linha de pobreza. O território mongol é rico em recursos minerais. As
entranhas das Montanhas Altai, possuem ricas jazidas minerais.
Existem grandes depósitos de petróleo, de carvão, ferro, estanho, cobre,
ouro e prata. A Mongólia precisa gerar dinheiro, maquinaria e mão-deobra especializada para explorar tais recursos, sobretudo, depois da
retirada dos subsídios e dos 50 mil técnicos e assessores governamentais soviéticos. O elemento russo existente, calculado em aproximadamente 560.000 indivíduos, exerce grande influência no país.
Estradas em construção é um sinal de forte investimento chinês.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Apesar destes sinais de mudança, encontram-se grupos de
nômades, nas estepes, que ainda fazem a mudança de acampamento
recorrendo a yaques e a carroças feitas de madeira, levando os haveres
das famílias que mudam de lugar várias vezes ao ano. Algo a despertar
a atenção são as antenas parabólicas e os painéis solares associados aos
ghers. Nas estepes, alguns ghers são transformados em pequenos restaurantes ou até albergues para turistas.Cerca de setenta por cento da
terra é utilizada para pastagens onde se criam grandes manadas de
gado, cavalos, cabras, ovelhas, yaques e camelos.Cultivam-se cereais,
em especial o trigo e milhete nas terras agricultáveis do país, que
representam menos de um por cento de todo território.
- Não há religião oficial A constituição de 1992 garante a
liberdade religiosa. As práticas religiosas tradicionais, entre as diversas tribos mongóis nômades é o xamanismo ancestral. (32%), que
consiste especialmente em crenças supersticiosas, curandeirismo,
sonhos, fantasmas, em práticas de feitiçaria e a adoração ao deus
Khokh Tenger, o Senhor do Céu Azul. Entretanto, 28 % da população
mongol professa o lamaísmo budista, uma pequena parte pratica o
islamismo, existe também o agnosticismo e o ateísmo.
- Os muitos descendentes das tribos que outrora habitavam a
extensa região mongol, como os uyghures, turcos, mongóis, cazaques,
usbeques, merkits, karaits, quirguizes, buriatas, tunguses, tártaros,
tangutes, chineses, russos, atualmente habitam a região da República
Popular da Mongólia, a Mongólia Interior, a China, Manchúria, Sibéria
e outras regiões da Ásia Central.
- A Mongólia possui Patrimônios Culturais e Naturais da
Humanidade listados pela UNESCO, como: o deserto de Gobi,
Khuvsgui, Gorkhi-Terelj, o vulcão Khorgo, Khan Khentii, o Mosteiro
de Manzushiri criado em 1750, abrigava mais de 350 monges e 20
templos, inclusive escolas de medicina, astrologia e filosofia, foi
destruído em 1930 pelo governo comunista russo, atualmente está
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
sendo reconstruído.Inclui a capital Ulaan Baator; a paisagem cultural
do Vale do Orkhon, que possui dois conjuntos de ruínas antigas ao
longo do vale do rio Khar Balgas, a antiga capital do Canato Uyghur, e
a antiga capital do Império Mongol, Karakorum. Complexos
petróglifos das Montanhas Altai, a bacia do lago Salgado e os campos
salpicados de cones de cinzas vulcânicas. Á sudoeste, perto da fronteira
chinesa, a 560 km da capital, se situa o parque nacional Gurvansaikhan
National Park, um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi.
- Em 1992, foi criado o Parque Nacional de Hövsgól Nuur,
sendo o maior parque constituído por florestas na região. O norte é
caracterizado por bosques de coníferas e bétulas. Vivem ali carneiros
argali, cabras-montesas, ursos pardos, martas zibelinas, alces e mais de
200 espécies de pássaros, Ainda mais extraordinária é a riqueza da
fauna.Existe grande quantidade de animais e um mundo impressionante de pássaros e peixes. A Mongólia é um país de extremos, é
incrível como as pessoas, as plantas e os animais sobrevivem a
temperaturas extremas de verão e do inverno. As alternativas de
temperatura e paisagens, durante todo o tempo são enormes. O frio é
algo inimaginável, só o suportam as pessoas já ambientadas.
IRKUTSK - A JOIA DA SIBÉRIA.
Apesar dos transtornos, a análise da viagem pela Mongólia foi
super-positivo. Então se voltaram para execução do projeto original,
viajar para a Misteriosa Sibéria. O último dia em Ulaan Baator, foi para
providenciar os passaportes e os vistos, para o Cazaquistão e outros
países da Ásia Central, região que pretendiam conhecer antes de se
aventurarem pelo território selvagem da Sibéria. Para isso, acertaram os
honorários e agradecidos despediram-se do professor Gaudhan Khulan,
que os acompanhou e orientou durante toda a excursão pelo país.
Encerraram a conta do Hotel, e se dirigiram à Estação Ferroviária da
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Transmongoliana. Adquiriram duas passagens de primeira classe, com
direito á cabine de duas camas e banheiro. O destino seria a cidade de
Novosibirsk, no entroncamento da Estrada de Ferro Transiberiana com
a Turksib, caminho que os levaria às cidades e estepes da Ásia Central.
Saíram de Ulaan-Baator de manhã, o trem fez a primeira
parada de 20 minutos em Darhan, depois em Suhbaatar, em Naushki a
primeira cidade russa, depois Sliudianka e Ulan-Ude, capital da
República da Buriátia.Teriam como primeira parada a cidade de Irkutsk
na Sibéria,destino para quem visita o famoso lago Baikal o maior lago
do mundo. Eram aproximadamente 666 km, ou 32 horas de viagem de
trem, das quais 8 horas iam passar nas paradas de fronteiras, da
Mongólia (2 horas) e da Rússia (6 horas), para troca das rodas do trem,
o padrão dos trilhos da Transiberiana é de bitola larga, diferentes do
padrão chinês.
Uma atenção especial eles teriam que dispensar aos passaportes para resolver os trâmites burocráticos de fronteira. Oficiais
russos entram no trem para verificar os documentos, carimbam os
passaportes, verificam o visto e os cartões de entrada no país, pedem a
declaração da receita federal e dos valores que os viajantes levam
consigo. É necessário o visto para entrar na Rússia, na Mongólia e na
China e não esquecer de registrar o visto junto ao Departamento de
Vistos e Registros, que deve ser feito pela agência de turismo, ao
desembarcar no país. Na China e na Mongólia as estações costumam
ter pessoal fluente em inglês, mas os funcionários das ferrovias russas,
principalmente nas cidades da Sibéria, falam apenas a língua russa.
Ainda na Mongólia os dois viajantes não podiam esquecer de
comprar o kit de sobrevivência: sopa pronta, miojo, chá, café solúvel,
leite em pó, pão e queijo e duas canecas. Podiam preparar a sua
refeição com a água quente do samovar que tem em cada vagão.
Também não deixaram de comprar duas garrafas de vodka e muitos
rolos de papel higiênico. Os trens russos têm vagões restaurantes, com
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
comida razoável, mas são muito caros, no entanto, as atendentes do
vagão são bastante atenciosas.
Após as longas horas de viagem exaustiva de trem, os nossos
excursionistas chegaram à cidade de Irkutsk às 16 horas. Cansados e
sonolentos, foram informar-se sobre um hotel para se hospedar. Foilhes indicada a pousada Baikaler, de localização central, com todas
comodidades, rápido e livre acesso à internet e Wi-Fi, e de preço
conveniente.Dirigiram-se para lá.De fato era uma boa hospedaria, então
fizeram o check-in e receberam as chaves do quarto.Havia duas camas,
banheiro privativo e um bom chuveiro,o que era ótimo, pois necessitavam de um bom banho, isto, depois de dois dias de viagem.
Passaram a tarde dormindo.Terminado o jantar foram informar-se sobre
a contratação de um guia, que falasse inglês.
Foi lhes apresentado o senhor Sergei Andreyevich Imanoff,
pessoa culta e bem informada. Depois de regatear o preço (costume
russo), foi contratado para guiá-los na cidade e na visita ao lago Baikal.
Não esperou muito para começar a desdobrar-se em elogios à fantástica
beleza, amplidão e riqueza dessa Região e do lago Baikal. Logo de
manhã saíram para visitar o Irkutsk Regional Art Museum, fundado
pelo prefeito da cidade V.P. Sukachyov, esse Museu é considerado o
terceiro maior dos Urais ao Oceano Pacífico, em primeiro lugar está o
famoso Museu Hermitage de São Petersburgo e em segundo lugar a
célebre galeria Tretyakov de Moscou. O guia Imanoff continuou
informando aos visitantes:
- A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk, possui
uma população de 593.604 pessoas (2010).Os primeiros russos
chegaram na área em 1580, buscavam coletar impostos do povo local,
os Buriatas, por ordem do príncipe de Moscovo Ivan IV,“O Terrível”
que conquistou a Sibéria, durante seu reinado (1533-1584).Foi enviado
para explorar a região, o ataman (líder) cossaco Yermak Timoveief,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
que, com seus intrépidos e sanguinários guerreiros das estepes, percorreu o território siberiano e aventurou-se pelos mares glaciais do Ártico.
- O ataman Yermak acampou na aldeia de Verkhoyansk,
atualmente cidade à beira do rio Yana, no extremo nordeste da Sibéria,
é um dos pontos mais frios do globo, chega a 60º graus negativos no
inverno e 40º graus positivos no verão.Com suas tropas atravessou o
Maciço de Verkhoyansk, que se iguala nos extremos de temperatura.O
comercio lucrativo de peles valiosas, incentivou os russos a ocupar a
Sibéria, que é uma vasta região da Ásia Oriental, outrora ocupada por
diversas tribos aborígines e povos de origem turca e mongol.
- Diversos fortes foram construídos, como Tobolsk em 1587,
Eniseisk, Yakutsk. Em Irkutsk a fixação permanente começou com a
construção de uma fortaleza em 1636. A cidade tornou-se um entreposto importante no intercâmbio comercial entre a China e a Europa,
no rentável negócio de peles valiosas de animais selvagens, tigres,
raposas, zibelinas ou ursos e marinhas como a lontra-do-mar, em troca
de seda, chá e pedras preciosas. De inicio, o forte servia como moradia
de inverno dos cobradores de impostos, mais tarde residência do
governador geral da Sibéria Oriental, Fedor Yelezkoi nomeado em
1595, tendo como sucessor Ivan Mosalskoi, designado em 1598.
- A legendária cidade de Irkutsk, centro da região do Angara é
a capital da Sibéria Oriental, fundada em 1636, na margem elevada do
lado direito do rio Angara, na confluência do rio Irkut. Possui um
kremlin, belas e grandes casas de madeira ornadas de esculturas
barrocas. É uma cidade admirável, meio bizantina, meio chinesa, volta
a ser européia pelas suas largas avenidas ladeadas de passeios, atravessada por canais de margens arborizadas. Desde o inicio, a cidade
era multicultural e multinacional.
- Por três séculos e meio Irkutsk viveu uma vida sofrida,
passando por muitas dificuldades, parcialmente ignorada pela capital,
Moscou. O pior delas foi o incêndio devastador que durou três dias e
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Um olhar sobre o Mundo
noites. A cidade construída de madeira era um inferno ardente, foram
necessários dez anos para reconstruí-la. Os pioneiros, cossacos, missionários, deportados, ricos comerciantes, intelectuais, grandes patriotas e
filantropos, pessoas de toda Sibéria e da Rússia, cada uma delas
adicionou esforços para reconstruir das cinzas a sua cidade, Irkutsk.
Eles construíram hospitais, orfanatos, escolas, bibliotecas e igrejas.
- Atualmente Irkutsk é uma grande cidade próspera e moderna,
cheia de jovens e estudantes. Começou destacar-se no século XIX.
Milhares de militares e oficiais superiores envolvidos na revolta
dezembrista do ano de 1826, contra o czar Nicolau I, foram exilados
para a Sibéria. Irkutsk se converteu no principal centro da vida
intelectual e social de artistas russos, oficiais e exilados políticos, a
grande parte do patrimônio cultural da cidade vem deles. Arquitetos
talentosos construíram muitas casas de madeira, cheias de cores pastel,
adornadas com decorações talhadas a mão e as belas mansões de ladrilhos. As áreas da cidade onde os edifícios de madeira dominam são
igualmente admiráveis.A cidade se orgulha de sua arquitetura, pode-se
apreciar os artísticos elementos de madeira trabalhada em rendilhado.
- Platibandas barrocas enfeitadas de espirais graciosos, decoradas com buquês esplêndidos. Ramos de tulipas entalhados sobre as
portas e janelas, ventiladores e raios de sol adornando platibandas, as
cores de íris finos cobrem as paredes das casas, tábuas rendilhadas
dispostas ao longo das bordas de telhados. Isso é um pouco do mistério
do trabalho dos artífices carpinteiros peritos na arte barroca. Passear
pelas ruas antigas de Irkutsk, faz com que as pessoas possam conhecer
melhor a cultura dos antigos eslavos. Hoje, a cidade de Irkutsk, é um
dos maiores centros econômicos e culturais na parte oriental do país informou, orgulhoso, o guia Sergei.
- O grupo visitou a histórica Catedral da Transfiguração de
Cristo igreja católica romana, construída em estilo gótico, pelos pátriotas poloneses deportados para a Sibéria, em razão do envolvimento no
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Um olhar sobre o Mundo
Movimento de Libertação da Polônia do jugo russo, em 1830. Entraram
na bela Mesquita Tatar de paredes em azulejos decorados em árabescos, a grande Sinagoga judaica e a imponente Catedral Ortodoxa Russa
de São Nicolas, com ícones e altares dourados e zimbórios bojudos
como cebolas. O Patriarca Fiodor Rasgildeev, encontrava-se no interior
do Templo, veio receber os peregrinos dirigindo-lhes palavras de boas
vindas e benção sacerdotal, em russo.
- Á noite luzes brilhantes são ligadas nas entradas das salas
de cinemas e dos teatros, fato que os incentivou a assistir no Irkutsk
Academic Drama Theater a um documentário sobre a Sibéria. No outro
dia iam visitar o Geological Museum Rossyskaya e o Sidorov State
Mineralogical Museum at Irkutsk. Existem ainda dúzias de opções, de
restaurantes, shoping centers e o passeio ao lago Baikal.
- A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk, possui
uma população de 591.470 habitantes A Região de Irkutsk, abrange
uma área total de 774,8 mil km², que representa 4,6% do território da
Rússia, com uma população de 2.505.577 pessoas (2009). A maioria da
população da Região de Irkutsk (79%) vive em áreas urbanas Outras
maiores cidades da Região de Irkutsk são: Bratsk, Angarsk, Ust-Ilimsk,
Usolie-Sibirskoye, Cheremhovo, Shelekhov. A composição étnica da
Região de Irkutsk é de 89% de russos, 4% de tártaros, buriatas 3%,
ucranianos 2%, bielo-russos 1%, chuvaches 1%.
- A distância de Moscou para a cidade de Irkutsk é de 5.042
km. Partem rotas diretas conectando a cidade com outras regiões da
Rússia até Vladivostok no Mar do Japão, com á Mongólia e à China
pela Estrada de Ferro Transiberiana e seus ramais dentro e fora do país.
A economia da cidade assenta na indústria da madeira, do alumínio e
dos minerais, a produção do chá, na agricultura e no turismo. É uma
das maiores e importantes cidades da Sibéria, com várias universidades, igrejas, e museus históricos, alem do lago Baikal, a uma hora
de trem de Irkutsk..Possui um clima subártico, caracterizado por granMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
des variações de temperatura entre as estações do ano.Os invernos são
muito frios - 17°C a - 43°C, o verão é quente e seco de + 17°C + 40° C
- A flora da Região inclui 1733 espécies de plantas, sendo
605 de plantas medicinais e 224 espécies de plantas comestíveis. A
fauna é rica e variada, sendo 68 espécies de mamíferos regionalmente
raras, como alce, veado, corço, javali, esquilo, raposa, urso, tigre. 322
espécies de aves, 6 espécies de répteis e 5 de anfíbios. Existe uma
imensidade de peixes nos rios e lagos.A Região é rica em minerais.Os
principais recursos minerais são hidrocarbonetos, gás, ouro, mica, ferro, carvão e sal. Existem depósitos de manganês, diamantes, estanho,
enxofre. Os recursos de carvão estão concentrados na bacia de Irkutsk
(96%) e na parte sul da bacia do Tunguska.As principais indústrias da
Região de Irkutsk são: construção de maquinas, siderurgia, mineração,
industria química, refino de petróleo e industria de madeira.
- A Região de Irkutsk possui uma extensa e bem desenvolvida
infra-estrutura de transporte. A principal via de transporte é a Ferrovia
Transiberiana e seus ramais, inclusive a Transmongoliana. Da cidade
de Tayshet para leste, estende-se o trecho leste da Ferrovia de BaikalAmur.Na Região de Irkutsk originam-se os maiores rios navegáveis - o
Angara, o Lena, o Baixo Tunguska, que facilitam o transporte por água
de pessoas e um grande volume de cargas.
- O rio Yenissei nasce nas montanhas Tannu-ola na República de
Tuva, (próximo à fronteira norte da Mongólia) recebe as águas do
Tunguska e do Angara que tem origem no Lago Baikal, um curso de
5464 km e deságua no Oceano Glacial Ártico.Os rios da Sibéria são
preciosas vias de comunicação; a pesca fluvial constitui, por outro lado,
um importante recurso para o camponês siberiano.O transporte aéreo,
incluindo o internacional é realizado pelos aeroportos situados nas
cidades de Irkutsk e Bratsk.
- O lago Baikal era conhecido como o Mar do Norte na China
Antiga. O explorador russo que veio pela primeira vez conhecer o Lago
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Baikal foi Kurbat Ivanov, em 1643. O Lago fica a 7 horas de carro de
Irkutsk, situado a 455,5 m acima do nível do mar, têm cerca de 636 km
de comprimento e 79 km de largura e 1.750 m de profundidade
máxima, ocupa uma área de 31.722 km², e uma bacia hidrográfica de
560.000 km², é o maior lago de água doce da Ásia é o mais antigo (25 a
30 milhões de anos).
- Seus afluentes são os rios Selenga, Chikoy, Khilok, Turka,
Sarma, Uda, Barguzin, Snezhnaya, o Alto Angara. Além desses rios,
esse imenso reservatório de água doce é alimentado por mais de
trezentos trinta e seis rios menores e pela água do degelo das
montanhas. Seu escoadouro é o rio Angara Inferior, que depois de
passar por Irkutsk vai lançar-se no Yenissei, um pouco acima da cidade
de Yenisseik. A cidade mais próxima do Lago Baikal é Listvyanka,
mais turística e com mais infra-estrutura que Olkhon Island.
- Acompanhados pelo guia os nossos pesquisadores saíram de
Irkutsk, logo de manhã, chegaram em Olkhon á tarde e hospedaram-se
num resort.No outro dia bem cedinho embarcaram na Ferrovia Circum
Baikal que contorna o Lago, faz paradas de alguns minutos em lugares
pitorescos para apreciação dos turistas.O lago contém 27 ilhas sendo a
maior a Ilha Olkhon.O trem que passa no lado leste do lago, fica circundando essa magnífica paisagem de 100 quilômetros por mais ou
menos 3 horas, então há tempo suficiente para admirá-lo.A visão que se
tem do lago,especialmente com as montanhas cobertas de neve é de
fato deslumbrante.
Os dois brasileiros passaram o dia todo, se deslocando em
torno do lago admirando a fantástica paisagem. Depois, seguiram para
a aldeia Listvyanka com uma parada próximo da Rocha Xamã.
Visitaram o Museu de Arquitetura de Madeira com exibição de casas
históricas e habitações de povos indígenas, em seguida fizeram uma
visita ao parque zoológico com animais nativos. Estava ficando tarde e
os nossos exploradores começaram a sentir fome, precisavam jantar.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Foi-lhes indicado o típico restaurante Sibirskaya Zaimka,
deleitaram-se com pratos tradicionais siberianos. Em seguida visitaram
o povoado de Buryat (povo indígena da Sibéria), que fica a 70 km de
Irkutsk, na remota planície siberiana. Pernoitaram num autêntico yurt
buriata. O programa do dia seguinte incluía o Museu de Folclore com
exposição de artesanato e música com danças típicas, o encontro com o
Xamã, espécie de sacerdote, médico e feiticeiro que atua como
curandeiro e adivinho entre os povos asiáticos. Convidados, visitaram
seu yurt e saborearam a comida buriata e o chá produzido na região.
- O lago Baikal é enquadrado por um magnífico circulo de
montanhas vulcânicas. Os Montes Baikal que o circundam são uma
ramificação da cadeia Sayan, parte do vasto sistema da formação da
Cordilheira Altai, da Ásia Central. As Montanhas Baikal, na costa norte
e a taiga são protegidas como Parque Nacional. O Lago é um habitat
rico em biodiversidade, com cerca de 1085 espécies de plantas e 1550
espécies e variedades de animais e 52 espécies de peixes, catalogados.
O lago Baikal é um grande Riftt (fenda) entre duas falhas geológicas,
onde a crosta está se separando dois centímetros por ano.A área da
falha é sismicamente ativa, havendo fontes termais e freqüentes terremotos.Pela profundidade, podem existir espécies de peixes abissais.
- Em 1862, foi registrado um terremoto que atingiu a desembocadura do rio Selenga, o tremor gerou uma separação de 175 km² de
terra da margem e um aumento de 50% de água no lago. A água
lançada no interior do Lago Baikal formou uma nova baía. Sismólogos
perceberam que o solo submerso do lago mantém um movimento
constante de deslizamento, atividade responsável pela abertura de um
abismo que, em alguns milhões de anos, aumentaria a fenda que
possivelmente irá dividir a Ásia em duas porções e unir o Lago Baikal
ao Oceano Ártico.
Os pesquisadores visitaram os lugares importantes de Irkutsk
e o Lago Baikal.Decidiram continuar a viagem pela Transiberiana que,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
partindo de Irkutsk passa por Novosibirsk e Omsk, adentra o Cazaquistão até o entroncamento da Transiberiana em Petropavlotsk. Desta
cidade devem seguir pelo ramal da estrada de ferro para Astana, a nova
capital da República do Cazaquistão. A via ferroviária TurquestãoSibéria, ou “Turksib”, e uma ferrovia que liga a Ásia Central à Sibéria,
com um total de 2.375 km, atravessa hoje quatro países: o Usbequistão,
Quirguistão, Turcomenistão, Cazaquistão, até à Sibéria.
DESCOBRINDO A ÁSIA CENTRAL.
Acertaram a conta do hotel, pagaram o guia Sergei, que
agradecido pela recompensa, levou-os até a estação da Transiberiana
recomendando-os às provodnitsas, a dupla de funcionárias de bordo
que cuida do vagão e controla os bilhetes das passagens. Viajaram em
cabines de primeira classe, para duas pessoas, com duas camas e
W.C.Os vagões oferecem relativo conforto, o único e considerável
desconforto é a falta de uma ducha para tomar banho O percurso de
trem de 1.490 km até Novosibirsk levou um dia e meio (30 horas).
- Se precisarem de um guia em Astana, recomendo-lhes o
senhor Alexei Vestchikyn, pessoa honesta e bem informada, capaz de
orientá-los durante a visita ao país. Vão encontrá-lo no Oásis Inn Hotel,
cuja estadia já foi reservada para vocês, pela agencia de turismo de
Irkutsk, que também fora encarregada das suas passagens para Astana
via Petropavlosk, na junção da Transiberiana – Cazaquistão e ferrovias
do sul – informou o prestativo guia Sergei A.Imanoff.
Os trens da Transiberiana levam a bordo todo tipo de gente,
de turistas a contrabandistas, soldados, migrantes, comerciantes e
aventureiros e sempre há a presença garantida dos mochileiros. Passageiros vindos dos subúrbios vizinhos introduzem-se no trem não se
sabe como, amontoando-se nos vagões. Antes enchiam as plataformas
entre os carros, alguns andavam para lá e para cá em cima dos trilhos,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
ao longo do trem, outros permanecem na plataforma diante das portas
dos vagões, esperando abrirem-se. Seus hábitos, sua maneira de vestirse, a lingua que falam, eram totalmente diferentes dos nossos.
As razões disso são as grandes distâncias, o tráfego deficiente,as péssimas condições das estradas e o preço alto dos bilhetes aéreos.
No inverno quando a temperatura pode chegar a 40º graus abaixo de
zero, o ambiente é climatizado e um vagão restaurante oferece vodka e
fartos pratos quentes da cozinha russa.Os dois brasileiros já estavam
habituados a carregar consigo um dicionário do idioma dos países por
onde planejavam viajar, isto ajudava muito,pelo menos na comunicação
básica, pois os funcionários das estações russas não falam outras
línguas, apenas o idioma natal.
O trem parou por 20 minutos em Novosibirsk, já passando da
meia-noite. Os dois desceram para comprar alguns alimentos frescos e
água na estação. Precisaram andar depressa, pois o maquinista já
avisava a partida.O trem resfolegava e chiava, preparando-se para partir
com um apito estrondoso. O comboio continuou passando por Omsk,
rumo Petropavlosk, parou na fronteira entre os dois países, durante
duas horas, para que os passageiros que iam ficar no Cazaquistão
apresentassem os documentos e vistos de entrada no país. As pessoas
deviam mudar de trem na junção férrea que leva para Astana e ao
interior do país. A distância de 2500 km entre Irkutsk e Petropavlosk
demorou 48 horas de viagem, dois dias e duas noites.
Petropavlosk è uma cidade situada na margem do rio Ishim
no norte do Cazaquistão a 135 km da fronteira da Rússia, ao longo do
Transiberiano. É a capital da província do Norte do Cazaquistão. Possui
uma população de 203.523 habitantes (2009). Petropavlosk foi fundada
em 1752 como uma fortaleza, com a finalidade de estender a influência
russa nos territórios nômades cazaques para o sul.O forte foi batizado
com o nome de dois santos cristãos, apóstolos Pedro e Paulo.Recebeu o
estatuto de cidade em 1807.Foi um importante centro comercial de seda
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
chinesa e tapetes de procedência usbeque e turca, até a Revolução
Russa de 1917. Atualmente possui fábricas de conservas, curtumes,
máquinas, comércio de gado e couros.
Já era de manhã quando os dois brasileiros desceram do trem
da Transiberiana na estação em Petropavlosk, no Cazaquistão. Foi
difícil para Rodrigo e Álvaro localizar o guichê de informações
turísticas, para orientar-se na escolha do trem certo que se dirigisse para
Astana. Os bilhetes eles os tinham em mãos, mas não entendiam nada
em russo. Depois de perambularem pela estação durante meia hora
encontraram o funcionário do guichê, ele falava a língua inglesa e
gentilmente encaminhou-os ao comboio que partia para Astana dentro
de uma hora; recomendou-os às funcionárias do vagão e acomodou-os
na cabine. Nessa altura o dicionário de línguas pouco os ajudou.
A viagem levava aproximadamente oito horas, portanto, iam
chegar à capital Astana por volta das quatro horas da tarde.O trem
entrou na estação da cidade avisando com um silvo agudo. Houve
reboliço de gente na plataforma, pessoas que desciam dos vagões
carregando seus pertences e outros que se acotovelavam para entrar,
levando pilhas de bagagens, trouxas e crianças se lamuriando.
Os dois brasileiros desceram do trem, meio zonzos. Conferiram os pertences e se dirigiram ao ponto de táxis.Para facilitar o
entendimento Rodrigo mostrou o endereço escrito no papel, Oásis Inn
Hotel, reservado com antecedência pela agencia de turismo de Irkutsk.
O motorista entendeu o bilhete e prontamente levou-os até o hotel.
Fizeram o chek-in e receberam as chaves do apartamento. Tomaram um
bom banho e caíram na cama, exaustos. Dormiram a noite toda,
acordaram traspassados pela fome. Pediram o desjejum duplo no
apartamento, o qual comeram com grande apetite. Depois de saciada a
fome, desceram até o saguão do hotel procurar pelo guia Alexei
Westchikyn, recomendado por Sergei Andreyevich.Imanoff. Lá estava
ele esperando sentado à mesinha, lendo o jornal do dia.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Senhor Alexei Westchikyn? - Somos pesquisadores brasileiros, Rodrigo e Álvaro. Seu amigo e colega de Irkutsk, Sergei A.
Imanoff o recomendou. Precisamos de um guia que fale inglês e seja
motorista, para nós conduzir durante estadia no Cazaquistão e talvez
nos países vizinhos, portanto, vamos falar em sua disponibilidade e
remuneração pelo seu trabalho - explicou Rodrigo.
Pela informação de Sergei A. Imanoff, Alexei era diplomado
pela Faculdade de História e Geografia da Ásia Central, sendo também
formado pela Faculdade de Turismo;essa dupla graduação dava-lhe autoridade de informar e guiar os pesquisadores com plenitude pelo país.
- Eu sou guia turístico, possuo uma caminhonete Toyota 4x4,
a qual eu mesmo dirijo, conheço a fundo o meu país, nessa ocasião
disponho de tempo, será um prazer conduzi-los e orientá-los; quanto ao
preço vamos chegar a um acordo, com certeza - respondeu Alexei.
Ele era um homem jovem, de meia estatura, troncudo, de pele
morena e olhos castanhos, um fiel representante do tipo de homem
russo. Simpático e comunicativo, era bem humorado e gostava do seu
trabalho.Falava a língua cazaque, russo, farsi, turco, inglês e alemão,
entendia também o mandarim.Vestia com simplicidade, uma calça
jeans, camisa esportiva e jaqueta de couro.Portanto, seria ideal conviver
com ele durante as nossas andanças - raciocinou Álvaro.
Acertados todos os detalhes, começaram à tarde visitando a
cidade de Astana. Alexei os conduzia e explicava-lhes a história.
- Astana está situada no centro-norte do Cazaquistão, construída na margem do Ishim (Esil), rio que nasce nas estepes entre
Astana e Karaganda, banha Astana e Petropavlosk antes de atravessar a
fronteira e entrar na Federação Russa. Deságua no rio Irtysh, tem 2.450
km de extensão. As suas águas procedem, sobretudo, da fusão das
neves, fica congelado durante seis meses no ano.
- A antiga vila de Akmolinsk durante muito tempo não passou
de um ponto de parada de nômades. A cidade foi fundada como uma
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
fortaleza em 1824 e posto militar russo, por uma unidade de cossacos
siberiana de Omsk, tornou-se centro administrativo em 1868. Sua
importância cresceu no fim do século XIX, quando se tornou um
entroncamento de impor-tantes linhas ferroviárias. Encontra-se na
junção da Trans-Siberian-Cazaquistão com as ferrovias do sul. Na
cidade foram feitas muitas novas construções e escritórios destinados
aos funcionários do governo russo. Fundações para pesquisas e
Instituições de ensino superior e profissionalizante. Houve um notável
desenvolvimento da cidade. Grande parte da população está empregada
pelas ferrovias. Existem bairros habitados exclusivamente por tártaros,
outros por russos e outros por quirguizes.
- Durante o domínio da União Soviética, sob o governo de
Josef Stalin (1924-1953), Astana foi transformada num campo de
prisioneiros de guerra com trabalhos forçados. Para centenas de milhares de internados e suas famílias, um dos mais notórios campos no
Arquipélago Gulag. Chamada de Akmolinsk, foi a capital da região até
1961, quando foi rebatizada de Tselinograd. Assim que o Cazaquistão
tornou-se independente da União Soviética em 1991, a cidade foi
renomeada para Aqmola. Em 1997, depois do terremoto que destruiu a
antiga capital Almaty, o governo transferiu a capital do país para
Aqmola e a cidade foi rebatizada para Astana. As razões para tornar
Astana a capital do país não se limitam aos terremotos em Almaty, mas
existe o grande interesse do governo cazaque de poder controlar as
zonas do nordeste, onde existe grande influência russa e fala-se russo.
- O presidente Nursultan Nazarbayev decidiu construir uma
nova capital porque a capital anterior, Almaty, era muito perto da
fronteira da China, muito congestionada e propensa a seguidos abalos
sísmicos. Foram contratados famosos arquitetos internacionais, como o
japonês Kischo Kurokawa e Norman Foster, para planejar a nova
capital. O que o presidente queria ele conseguiu, graças às receitas do
petróleo do Mar Cáspio. O poço de Kashagan é considerado um dos
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
maiores poços de petróleo do mundo. Como as cidades do Golfo
Pérsico, Astana flutua sobre os petrodólares do Cáspio, e assim como
as cidades do Golfo e as novas cidades chinesas, Astana inspira a
admiração em todos que a visitam.
- O projeto da cidade foi baseado no entrelaçamento com a
natureza, com espaços verdes entre os prédios. Já havia quatro
shopings-center, construídos dentro de um quilômetro quadrado de
área, e no projeto constava mais um.O presidente, encomendou ao
engenheiro Foster para desenhar um projeto em forma de pirâmide,
seria o Palácio da Paz e Reconciliação, onde foi instalada a Universidade Nazarbayev, o Centro de Investigação Cientifica e diversas Faculdades. Foi construido o imenso e extravagante Khan Shatyr, ostentando um globo de ouro na torre de aço branca; seria um complexo
comercial e de entretenimento, com lojas e parques temáticos. Astana é
uma cidade moderna em franco progresso. Possui 882.980 habitantes
(2012). Eleito em 2012, o atual prefeito da cidade é Imangali
Tasmagambetov.
- Para os críticos cazaques, o local escolhido para a capital do
país é inadequado. É muito isolado, situado no centro de uma região de
planícies das estepes do Cazaquistão, no semi-árido, com o clima
extremamente rigoroso no inverno e verões quentes. Parece uma cunha
futurista através da planície, decorada por edifícios de vidro e aço
vanguardistas. A elevação de Astana está em 347m acima do nível do
mar, é a segunda capital mais fria do mundo com - 40ºC. no inverno, a
primeira é Ulaan Baator na Mongólia, terceira é Ottawa no Canadá.
Não contabilizando os imensos recursos financeiros gastos na construção dos complexos do governo, oriundos dos petrodólares do Cáspio.
Rodrigo e Álvaro pecorreram os pontos turísticos de Astana
e ouviram com atenção a história relatada pelo guia. Juntos entraram
num bar para descansar e tomar um refresco. Sentados à mesa, o guia
Alexei apanhou o jornal local e começou a ler. Uma noticia em destaMonika Gryczynska
70
Um olhar sobre o Mundo
que lhe chamou a atenção. Realizava-se um congresso na sede da
Universidade Nazarbayev. O tema em debate era a antropolgia cultural,
biológica e arqueologia da Ásia Central.
Alexei sugeriu aos pesquisadores brasileiros que era muito
conveniente eles assistirem aos debates. Seria útil e interessante, para
sua melhor compreensão da formação do elemento humano centro
asiático. As palestras proferidas em cazaque eram simultaneamente
traduzidas para o inglês. Ele os ajudou na liberação das entradas, que
eram gratuitas. Os dois, entusiasmados, aceitaram a sugestão do guia e
passaram as próximas tardes assistindo à conferência na Universidade.
O principal tema da palestra era sobre as culturas da antiguidade.
***
Para tornar mais acessível aos pesquisadores estrangeiros o
tema tratado na Conferência,o guia Alexei auxiliou explicando melhor:
- Desde os tempos pré-históricos, tribos nômades nativas das
estepes, desertos e das montanhas da Ásia Central habitavam o extenso
território que abrangia o Turquestão situado entre o sul da Sibéria, entre
o norte do Irã e Afeganistão, o leste do Mar Cáspio, o Mar de Aral e o
centro-oeste da China.As mudanças constantes de clima na região
forçaram grandes movimentos migratórios de seus habitantes, o que
trouxe tribos indo-européias e hunas para oeste, arianas e turcas para o
norte, entre outros.A história da Ásia Central tem sido determinada
pelo clima e geografia da região.A aridez da região fez com que a
prática da agricultura torne-se deficitária.
- A Cultura Botai, como é conhecido o grupo pré-histórico
cazaque, pode estar entre os mais antigos ancestrais dos indo-europeus,
etnia cujos dialetos deram origem a quase todas as línguas faladas na
Europa, do português ao russo, bem como aos idiomas do Irã e da
Índia. Os primeiros indo-europeus eram da cultura Botai, surgiram nas
estepes do Cazaquistão. Achados arqueológicos de fósseis de cavalos,
Monika Gryczynska
71
Um olhar sobre o Mundo
nos assentamentos da cultura Botai sugerem a criação e domesticação
de eqüinos selvagens, por volta de 4.000 a.C. Os cavalos serviam como
montaria no pastoreio, na caçada e na guerra, também como fonte de
leite, carne e couro.
- As escavações arqueológicas indicam que o sul do Cazaquistão foi habitado pelo homem desde o Paleolítico (4.500 a.C.)
Tribos de pastores nômades Citas (Sakhas) criavam gado, também se
dedicavam à metalurgia do bronze (1500 a.C.), fabricavam punhais,
facas, jóias e utensílios domésticos de cerâmica. Até o inicio do
primeiro milênio a.C.a tribo Cita ocupou o território das estepes, a tribo
Savromat o norte e oeste, os Kangues a região do Syr-Darya e os Usuns
em 177 a.C. (cuja escrita, armas e jóias foram preservados), o sul.
Estabeleceram o “País Usun” na região do Semireche (Sete Rios), entre
as Montanhas Tien Shan,Tarbagatai e o Território Zhetysu (Dzungaria).
- Até o século IV d.C., a maioria dos Sakhas e seus descendentes Usuns de língua turca, sobre os ataques das tribos huez-hi foram
forçados a migrar para Mongólia e depois expulsos pelos hunos para
Dzungaria. Fundaram novos estados, como o Canato Turco Ocidental,
cujas tribos se estabeleceram na Rota da Seda. No território do
Semireche os arqueólogos desenterraram dezenas de Montes Usuns e
cemitérios. Nos túmulos encontraram grande número de ornamentos de
ouro e espelhos de bronze.
- A área das estepes foi dominada durante milênios pelos
povos nômades. O estilo de vida nômade era bem adequado para a
prática da criação de gado e cavalos, mas também da guerra e os
cavaleiros das estepes estavam entre os maiores guerreiros do mundo
do seu tempo. Quando centenas de tribos estavam sob o comando de
grandes líderes, formaram-se exércitos quase invencíveis, aterrorizando
nações, como a invasão da Europa realizada pelos hunos, os ataques de
Wu Hu à China, a conquista de grande parte da Eurásia pelos mongóis.
Monika Gryczynska
72
Um olhar sobre o Mundo
- A Ásia Central só esteve unificada sob um governo central
durante o período de dominação mongol no século XIII. O domínio dos
nômades terminou no século XVI, quando surgiram as armas de fogo
que permitiram aos povos sedentários controlar as defesas. Desde
então, a China, que inventou a pólvora no século IX, desenvolveu uma
arma rudimentar aperfeiçoando-a aos poucos, amplamente utilizada nas
guerras de conquista e defesa dos seus territórios.
- Em 1914, perto da aldeia de Andronovo, no sitio arqueológico situado no Vale do rio Yenissey, foram descobertos vários
cemitérios com esqueletos humanos e cerâmica elaborada com rica
decoração. Os arqueólogos deram o nome de Andronovo à cultura ali
existente na Idade do Bronze do II milênio a.C.O rio Yenissey nasce
nas montanhas Tannu-Ola, na República de Tuva, Sibéria (fronteira
norte da Mongólia), corre por 5.464 km pela taiga siberiana e deságua
no Mar de Kara
-A Civilização Andronovo cobre uma vasta porção da Ásia
Ocidental, encontra-se com a Cultura Srubnaya entre os rios Volga e
Ural e estendem-se para o leste para a Depressão Minusinsk, entre o
Alatau Kuznetsk e as montanhas Sayan e Altai. Sítios arqueológicos
são encontrados ao sul até o sopé das montanhas Dag Kopett, do Pamir
e Tien Shan. Além disso, há uma extensa cadeia de Cultura Andronovo
na zona de floresta-estepe, na Sibéria. Cultura Andronovo é de grande
importância para a compreensão da história inicial dos povos de língua
indo-iraniana. A idéia é que os complexos arqueológicos de Andronovo
e Srubnaya tivessem sido povoados por indo-iranianos, que se
estabeleceram na região no final do 3º milênio a.C.
- O sitio arqueológico mais antigo da cultura Andronovo se
encontra a sudeste dos MontesUrais, datando de 2.300 a.C.(Idade do
Bronze).Restos arqueológicos de Citas incluem elaboradas tumbas
contendo ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos. Técnicas de
mumificação e terra congelada têm ajudado na relativa preservação dos
Monika Gryczynska
73
Um olhar sobre o Mundo
restos mortais. A Sociedade Andronovo estendeu-se por toda a área do
Cazaquistão até a Sibéria durante o 2º milênio a.C.É representada por
uma grande variedade de assentamentos e sítios com cemitérios. Os
assentamentos Andronovo são geralmente situados nas margens de
pequenos rios ou várzeas baixas. Eles podem ser de dois tipos:
pequenos, com várias casas de troncos de madeira ou de grande porte,
com 10 a 100 casas, espaçosas, de até 100 m², semi-subterrâneas
aprofundadas no solo, com corredores em forma de saída.
- A economia da Cultura Andronovo na Europa Oriental foi
baseada em pecuária, complementada por alguma agricultura, caça,
pesca e coleta. Por este tempo foi avançada em metalurgia e concentrada em centros na Ásia ocidental: nos Urais,Cazaquistão,Tadjiquistão,
Sibéria ocidental e nas Altai mongólicas.A produção de metal foi
uniforme em toda a região.
- Citia foi uma extensa região na Eurásia habitada desde 2.000
anos a.C. até o inicio da Idade Média, por um grupo de povos indoeuropeus falantes de línguas iranianas conhecidos como Citas.O território da Citia incluía as planícies da estepe pôntica (Pontus Euxinus)
da costa ao norte do Mar Negro, o Cazaquistão, o sul da Rússia e a
Ucrânia, a região norte do Cáucaso, incluindo Azerbaijão, Sarmátia,
Bielorússia e Polônia até o Mar Báltico (antigo Oceano Sarmático) o
baixo Danúbio e o Sakastan, situado no leste do Irã e o Baluchistão,
região habitada por Indo-Sakhas (Citas).
- A origem e a localização exata da antiga Citia consta como
sendo a região das encostas dos Montes Altai, onde atualmente situa-se
a República de Tuva com a capital Kyzyl, no sul da Sibéria, fronteira
com a Mongólia. Os povos do tronco Cito-Sármata são herdeiros de
uma história de guerras por sobrevivência e criação de múltiplos reinos
e impérios de curta duração ao longo de vastas extensões de terras em
contínuas alterações de fronteiras.A mais importante tribo Cita mencionada nas fontes gregas residia nas estepes entre os rios Dnieper e Don.
Monika Gryczynska
74
Um olhar sobre o Mundo
- A língua dos Citas e dos Sármatas tinha forte similaridade
com dialetos iranianos orientais, como o sogdiano, entretanto,ainda que
houvesse semelhanças culturais, eram desde o principio possuidores de
idiomas e morais diferentes.Os Sakhas eram citas asiáticos, são
referidos pela primeira vez nos anais assírios como Ishkuzai por volta
de 700 a.C.Os Citas são mencionados na Bíblia no capítulo 38 do livro
de Ezequiel. Nesta passagem da Bíblia o profeta usa o nome hebraico
Magogue. O historiador judeu Flávio Josefo diz que os magoguitas
eram chamados de Citas pelos gregos.
- Os Citas eram um antigo povo ariano de pastores nômades
eqüestres e invasores. Ao lutar, montavam cavalos velozes e eram
ferozes combatentes. Fundaram o primeiro grande império nômade de
toda Eurásia Central, e que no seu apogeu habitavam uma área imensa
que ia desde as estepes da Ucrânia até o noroeste da China e do
Estreito de Bhering na Sibéria Meridional até o Norte da Índia.
Dominavam vastas terras, recortadas por possessões de outros povos
das estepes, das tundras e taigas, ou atravessadas por povos totalmente
nômades. Organizados em confederações de clãs, reuniam grandes
exércitos quando necessário. Praticavam a metalurgia e ourivesaria
muito avançada, usavam cavalos para combate na guerra, criavam
gado, carneiros e camelos.
- Sob a proteção do ambiente hostil e dinâmico das estepes os
povos Citas eram considerados como um dos povos mais ferozes em
combates. Invadiram a Mesopotâmia no ano 530 a.C. lutaram e venceram Ciro, o Grande, Imperador da Pérsia, combateram contra Filipe da
Macedônia e contra seu filho Alexandre, o Grande, no ano 333 a.C.
lutaram e venceram muitas vezes contra os Romanos e os Hunos. Durante a Idade Média,os Citas e os Sármatas se dispersaram pela Europa
e miscigenados teriam formado a maioria dos povos do leste europeu.
- Os tocários, o povo mais oriental entre os arianos, tinha
parentesco com os citas. Sepultavam seus reis em grandes túmulos de
Monika Gryczynska
75
Um olhar sobre o Mundo
pedra. Um túmulo Cita, foi encontrado na região de Ysyk Köl perto da
cidade de Almaty. Restos arqueológicos de Citas incluem elaboradas
tumbas contendo jóias de ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos.
Eles usavam sofisticadas técnicas de mumificação. Os Citas ainda
existentes, já foram na Antiguidade um dos povos mais violentos, mais
temidos e que mais terras dominavam. Considerados como sanguinários possuíam um xamanismo guerreiro assentado sobre as virtudes
da guerra, mas também eram artífices, lavradores e comerciantes.
- Os reis Citas não eram apenas guerreiros, mas também
sacerdotes supremos. Os costumes dos Citas foram descritos pelo historiador grego Heródoto de Halicarnasso, em seu livro “História”. A
arte Cita era animalista, muitas vezes parecendo reproduzir a idéia de
metamorfose, nos detalhes de suas pinturas e ourivesaria elaborada com
figuras de peixes e animais, artefatos encontrados em seus túmulos, nos
diversos sítios arqueológicos no sopé dos Montes Altai na Mongólia.
Também foram encontrados restos de uma civilização Cita de 2.500
a.C. na região do Lago Ysyk Köl no Quirguistão. O Alatau Kyungey da
cordilheira Tien Shan corre paralelo a costa norte do lago Ysyk Köl,
daqui se vêem seus picos nevados. (Alatau, nome genérico para série
de cadeias de montanhas, caracterizado por intercalação de áreas de
vegetação, pedras espalhadas e neve).
- Nos séculos IV-III a.C.os Citas, estabeleceram seu primeiro
estado no território do Cazaquistão, com a capital em Zhetusy. Os Citas
assim como seus parentes Sármatas englobam nações diferentes entre
si, os Sármatas possuem muito mais etnias do que os Citas sendo difícil classificá-los, mesmo porque, alguns são miscigenações. Em seu
tempo os Sármatas ocuparam o norte e oeste do Mar Negro, geraram
mais Estados, alguns dos quais ainda são Sarmátias, existem como
diversas Repúblicas Federadas Russas na região Caucásica. Algumas
comunidades Sármatas habitam nas regiões do Vale do Tarim e do
deserto de Taklamakan na província de Xinjiang na China.
Monika Gryczynska
76
Um olhar sobre o Mundo
- Entre os anos 209 a.C.a 216 d.C.as tribos Xiong-nu, ou hunos
asiáticos que viviam na Mongólia, emigraram da região de Ordos, no
ano 85 a.C.para se estabelecer em Soghdiana e Transoxiana, próximo
ao rio Talas, onde criaram um novo Império.Os Xiong-nu eram um
povo antigo, nômade, da Ásia Central, talvez descendente de várias
tribos turcas, uma fusão com elementos turcomanos, mongol e tocario
iraniano.Na realidade os hunos não eram um povo etnicamente homogêneo,mas provinham de diferentes grupos étnicos das estepes e florestas, de origem turca, yenisseica, tungusa, yacuta, irãnica, mongólica.
- No inicio da Era Cristã essas tribos organizadas em
exércitos, montados em cavalos velozes criados nas estepes, foram se
deslocando rumo à oeste invadindo a Europa. Eram hordas de
guerreiros hunos, ávaros, visigodos, alanos, vândalos, godos, eslavos.
Por volta do primeiro século d.C.,as incursões ao norte da China, deram
inicio a uma série de invasões que, nos quatro séculos seguintes,
ameaçaram as civilizações estabelecidas na Europa, norte da China,
Pérsia e Índia. Tais invasões foram causadas pelos avanços dos
nômades da Ásia Central e resultaram no retrocesso das civilizações.
- Os invasores não eram somente povos de origem indoeuropeia, eram povos do nordeste da Ásia, ligados por parentesco e
tradições comuns, e tinham se espalhado a partir de uma única região.
Tinham tipo físico variado, mas em geral com características mongólicas.A maioria falava idiomas de grupos altaicos do nordeste da Ásia,
como dialetos turcos.Eram povos de pastores nômades.Estabeleceram
alianças com diversas tribos de cavalarias móveis que incluíam
nômades iranianos e tribos mongólicas das florestas da Sibéria, mongóis, tártaros,turcos, ávaros, visigodos, hunos, alanos, sakhas.
- A maioria das grandes confederações de guerreiros não era
inteiramente da mesma etnia,mas uma mistura entre clãs euro-asiáticos.
Pesquisas modernas mostram que cada uma das grandes confederações
dos guerreiros das estepes tais como: sakhas ou citas, xiong-nu, hunos,
Monika Gryczynska
77
Um olhar sobre o Mundo
ávaros, khazares, mongóis etc. não eram iguais, mas uniões de
múltiplas etnias como a dos turcos, tártaros, ienisseianos, tungusicos,
úgricos, irãnicos,eslavos, mongólicos e muitos outros povos. Foram
descobertos esqueletos humanos, no sitio arqueológico do Vale do
Tarim, no deserto de Taklamakan (Xinjiang, China), que datam de
1800 a.C.a 200 d.C.A característica notável dessas múmias preservadas
pela aridez do clima, é o seu tipo físico caucasóide, aparecem algumas
de tipo mongólico e também algumas múmias negroides.
- Apesar de hoje os turcos ocuparem a Península da Anatólia,
atual Turquia (desde 1071), em épocas remotas essa região foi ocupada
por diversos povos: hititas, frigios, lídios, persas, gregos, bizantinos, e
finalmente turcos otomanos.O berço dos povos turcos da Antiguidade é
a taiga siberiana, região junto à fronteira norte da China. Por volta do
século XIX a.C., das montanhas da Transbaikalia, do vale do Orkhon e
das margens do rio Selenga,os primeiros turcos começaram a se
deslocar para o sul. Nas suas lentas migrações trocaram as florestas
siberianas pelas estepes e desertos da Mongólia e noroeste da China.
- Seguindo as demais etnias, os turcos dividiram-se em tribos
que estavam divididas em clãs. Assim como os Mongóis, os turcos
eram pastores nômades, apesar de terem fundado algumas cidades,
criavam cavalos, gado, camelos e ovelhas. Esses povos mantiveram sua
religião original xamânica, o tengriismo.Com o passar dos séculos
disseminaram-se pelo mundo, diferenciando-se entre si. São de origem
turca povos tão diferentes como os hunos, os ávaros, os seljúcidas, os
búlgaros, os húngaros, os finlandeses, os estónios e os azeris.
- Os cultos tradicionais da Ásia Central, geralmente referidos
como xamanismo, sobrevivem em muitos lugares, muitas vezes
disfarçados com sincretismo. Na Sibéria, pós-soviética, 300 anos após
sua conversão forçada, os yacutos e demais povos siberianos rejeitaram
o cristianismo ortodoxo em favor do xamanismo. Muitos voltaram a
cultuar Tengri “ Deus do Céu Azul ” dos mongóis e dos povos habiMonika Gryczynska
78
Um olhar sobre o Mundo
tantes das estepes.Veneravam o sol, a lua, o fogo, a água e a terra-mãe,
enfim, cultuavam a natureza e lhe ofereciam sacrifícios.
- Entre os anos 500 a.C. e 500 d.C.o território do atual Cazaquistão abrigou diversas culturas nômades guerreiras como a dos Citas
(Sakhas), sármatas, hunos, alanos, turcos, uygures, entre outras tantas.
Os idiomas das primeiras sociedades tribais evoluíram distanciando-se.
As línguas turcas constituem uma família lingüística de cerca de trinta
línguas, falada através de uma vasta área desde a Europa Oriental e
Mediterrâneo à Sibéria e oeste da China.Hoje diferentes povos falam
línguas turcas como os usbeques, os cazaques,os quirguizes, os
turcomenos, os yacutos e os turcos da Turquia.
- Os Uygures é um povo de origem ariana, com uma cultura
que data de 20.000 anos. Diz a lenda que são remanescentes do
continente desaparecido de Lemúria. Com um passado brilhante, a
história dos Uygures se confunde com a da raça ariana. O primórdio do
Império Uygur na Mongólia consta desde ano 742 a.C. até sua queda
em 848 d.C.Viveram na Mongólia onde floresceu seu Grande Império.
Possuíam um elevado grau de civilização e bom tino comercial.
Estavam numa posição estratégica da Rota Oriental da Seda.
- Depois da destruição do seu Império, por um grande
cataclismo geológico e elevação das montanhas, seguido pela catástrofe
climática (a Grande Seca),os uygures migraram para várias partes do
mundo, incluindo a Europa, dando inicio às civilizações eslavas, celtas,
irlandesas, bretões e bascas. O povo uygur de hoje é uma mescla de
povos turcos da Ásia Central, hunos e outras etnias. Os remanescentes
desse povo reside na Província de Xinjiang Uygur Região Autônoma
no noroeste da China.Foram anexados pela dinastia Manchu, em 1876.
- Os hunos eram povos bárbaros da Ásia Central, de origem
turca (ou proto-turco-mongol), identificados com os Xiong-nu e com os
Uygures, povos aparentados, de língua turcomana que habitou a
Mongólia. Os hunos eram guerreiros nômades, extremamente violenMonika Gryczynska
79
Um olhar sobre o Mundo
tos e sanguinários, sua fixação na Ásia Central remonta ao século XII
a.C. fundaram vários impérios. Os hunos do Extremo Oriente eram
descendentes dos Xiong-nu..Os nômades do Grande Império Xiong-nu
já eram bem conhecidos no século IV a.C. pelas violentas incursões
que faziam ao Norte da China, que para proteger-se contra os invasores
construiu a Grande Muralha, em 304 a.C.Emigraram da Mongólia no
primeiro século d.C.
- Acredita-se que os hunos era um povo formado por várias
tribos nômades, com uma mescla genética e cultural, foram um grupo
etnicamente diversificado. Ocuparam a Mongólia por muitos séculos e
deram origem a duas linhagens de hunos, os hunos brancos e os hunos
negros. Nos séculos IV e V.d.C. houve novas invasões dos nômades
hunos negros na Europa.Os hunos brancos ocuparam o Império Persa
no século V d.C. Movendo-se com suas yurtes (casas sobre rodas de
madeira), com as famílias e grandes rebanhos de animais e cavalos
domesticados, eles migraram em busca de novos pastos para se estabelecerem. Dirigiram-se em direção sul da Rússia no século IV, e
ocuparam a bacia fértil do Baixo Danúbio, se fixaram nas planícies
húngaras, no leste europeu. Dessas áreas de pastagens férteis, os hunos
controlavam um império que se estendia dos Montes Urais (na Rússia)
ao rio Reno (na França) e do Báltico ao Danúbio. Quando chegavam
numa região, espalhavam o terror, pois eram extremamente violentos e
cruéis com os inimigos.
- O surgimento do Império Huno de Kushan que se estabeleceu
nas terras baixas da Província Turan de Atyrau, nos territórios da antiga
Báctria, ao redor do rio Amu-Darya (antigo Oxus),no final do Iº século
a.C. No inicio do século IV d.C.,tinham como líder um nobre chamado
Kushan Malkar de Khi, época que marca o inicio das grandes migrações utilizando cavalos como cavalgadura e transporte de cargas. Os
hunos eram ótimos e velozes cavaleiros, treinados desde a infância a
montar em cavalos selvagens domados por eles. Foram os inventores
Monika Gryczynska
80
Um olhar sobre o Mundo
dos estribos de pé em que se apoiavam quando galopando em seus
cavalos velozes, atiravam habilmente para todos os lados com seus
arcos compostos, recurvados, técnica desconhecida no ocidente.
- Malkar reuniu dez tribos das estepes na Primeira
Confederação tribal turca. O Império proto-turco do clã Dulo espalhou
sua influência até a Europa Central.Invadiram a Europa sob a chefia de
Dulo Átila nos anos 370 a 408.Por volta de 452, Átila não chegou a
atacar Roma por estar doente e seu exercito extenuado pelas
campanhas,ele desistiu e retornou ás estepes asiáticas.O Império
desintegrou-se após sua morte em 453, com nenhum líder forte para
mantê-los unidos. Átila, o Huno, era descendente do clã Dulo, dinastia
governante do Delta do Volga.
- Os Kushans foram um dos cinco ramos da Confederação
Yuez-hi (tocários, indo-europeus), povo nômade que havia migrado da
bacia do Tarim obrigados a abandonar suas terras em Gansu, no
noroeste da China, estabelecendo-se na antiga Bactria.A ascensão do
Império Kushan, da Horda Yuez-hi, parentes dos hunos e dos Xiong-nu
que se fixaram no vale do rio Amu-Darya (Oxus), região do Mar
Cáspio, desde 165 a.C. a 225 d.C. e aos poucos estendem seus
domínios até Mathura na Índia no século Iº d.C.Grandes áreas de
Afeganistão e Khotan foram anexadas ao Império Kushan.No inicio do
século IV, o ultimo dos reinos Kushan, na Índia, foi conquistado pelos
hunos brancos ou eftalitas, outro povo indo-europeu.
- Os alanos eram povos de diversas origens asiáticas, que
falavam uma língua iraniana e compartilhavam da mesma cultura. Era
um grupo de pastores e guerreiros nômades iranianos entre os povos
Sármatas, se estabeleceram na Sarmácia entre o Mar de Azov e o
Cáucaso, no século V d.C. invadiu e dominou a Gália e a Península
Ibérica.Os arianos se estabeleceram na Pérsia desde o final do 3º
milênio a.C. sua pátria era Ariana atual território do Afeganistão. Seu
Império foi destruído pelos hunos asiáticos
Monika Gryczynska
81
Um olhar sobre o Mundo
- Os hunos de Átila também devastaram o Império Sassânida
do Irã, fundando uma dinastia no norte da Índia, os Xiong-nu.. Quatrocentos anos depois do colapso do poder Xiong-nu no norte da Ásia
Central, a liderança dos povos turcos passou a ser dos Göktürk, seus
descendentes, eles herdaram suas tradições e experiência administrativa. Os sucessores dos Xiong-nu na Ásia Oriental, os Göktürk
(turcos azuis) eram povos originários do norte da China, descendentes
dos grupos étnicos altaicos. A primeira menção conhecida do termo
turk aplicado a um grupo turco foi em referência aos göktürks no século
VI, conforme consta de um registro chinês.
- A principal onda de migração dos turcos, que estavam entre
os mais antigos habitantes do Turquestão, ocorreu na Idade Média,
quando eles se espalharam através da maior parte da Ásia, chegando à
Europa e ao Oriente Médio. Os turcos azuis governaram desde os anos
552 a 745, um Império que ia da Manchúria, no norte da China,
abrangia a Mongólia, as regiões dos Montes Altay e do lago Baykal,
estendia-se às estepes áridas a oeste do rio Syr-Darya (Yaxartes), até o
Mar de Aral e rio Amu-Darya (Oxus).Os turcos seljúcidas eram
aparentados com os hunos e os Xiong-nu.Os hunos desapareceram da
história após uma leva de novos invasores, como os Avaros.
- No final do século VI, o clã Dulo das Dez Tribos se separou
dos Göktürks para se tornar o Império Khazar da Província de Atyrau,
nas estepes do Mar Cáspio. As investigações arqueológicas de
memoriais turcos lhes permitiram relacionar com os turcos específicos
grupos tribais.Escavações nas proximidades da Cordilheira Sayan-Altai
mostrou que havia culturas que poderiam estar relacionadas com os
Quirguizes, Kypchaks e Oghuzes.A lingua turca era falada por diversos
povos cujo centro estava em Altai.
- Os turcos orientais sediavam suas tribos a leste dos Montes
Altai mais prcisamente no Vale do rio Orkhon e os turcos ocidentais
reinavam a oeste das montanhas Tien Shan e na região do Semireche
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
(Sete Rios) a nordeste da Transoxiana. Cobriram a parte sudeste do
atual Cazaquistão entre as cadeias de montanhas a leste e o lago
Balkhash a oeste, marcada pela presença de vários rios. Semireche,
região chamada de Transoxiana situa-se entre o rio Amu-Darya e o
Syr-Darya.Em Semireche, nômades e sedentários conviveram através
de séculos da história, já que esta porção das estepes eurasianas
facilitava ambos os modos de vida.
- As guerras tribais, a luta pelo poder e pastagens das estepes,
montanhas e vales do Cazaquistão obrigou algumas tribos turcas a
mover-se para o sul e estabelecer na Ásia Central (Turghuses, Karluks,
Uzbeques, Oghuzes e Seljúcidas), e no Cáucaso (Turcomenistão) e na
Europa (Kangars-Pechenegues, Kypchaks,Turcos-Oghuzes e Karakalpaks). As cidades de Taraz, Otrar, Ispidzhab e Talkhir estavam na
Grande Rota da Seda que ligava o Oriente ao Ocidente. Diversas
mercadorias eram transportadas em grandes caravanas de camelos:
como seda, perfumes, tecidos, pedras preciosas, ouro e prata, medicamentos, corantes, cavalos, elefantes, leopardos, avestruzes e escravos
humanos para venda.
- Os Ávaros são considerados um grupo túrquico proto-mongol
procedente da Mongólia, aparentado com os hunos. Originalmente
eram da Sibéria Ocidental, viviam nas encostas dos Montes Urais.
Conservaram-se sempre como pastores e guerreiros nômades, nunca se
adaptaram a agricultura.Invadiram e se estabeleceram no sul da Ucrânia
as margens do Mar Negro.Por volta do ano 560 os domínios ávaros iam
do Volga até a foz do Danúbio. Um outro ramo Ávaro ou hunos
brancos eram povos de origem uralo-altaica, pastores nômades das
estepes da Ásia Central, foram conduzidos para oeste, pelos turcos
azuis seus parentes, assolaram a Europa durante três séculos (558 a
823), foram derrotados por Carlos Magno e a partir de 822 esse povo
desapareceu da história, talvez assimilado por outras etnias.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Em 766, os Karluqs, Naimans e Tangutes, organizados numa
confederação de tribos turcas, estabeleceram um Estado no que é hoje o
Cazaquistão Oriental.Nos séculos VIII e IX, parte do sul do Cazaquistão foi conquistado pelos árabes, que introduziram o Islã. Durante os
séculos VIII até XI, os Turcos-Oghuzes controlaram o oeste do território e os turcos Kimek e Kipchak ocuparam o leste em 743-1220. O
grande deserto central do Cazaquistão ainda é chamado de Dasht-i
Kipchak (o cinturão de estepes dos turcos Kipchak ).Cidades antigas
como Taraz, Hazrat,Turkestan foram fundadas; serviram como importante parada ao longo da Rota da Seda que ligava Ocidente ao Oriente.
- Uma consolidação política do território só foi iniciada com a
invasão mongol do inicio do século XIII.Em 1124-1218,Genghis Khan
conquistou o Canato Kara-Khitan e Cazaquistão caiu sobre o controle
da Horda de Ouro do Império Mongol até 1446. O Canato Cazaque foi
fundado em 1456, na parte oriental do sul da atual República do
Cazaquistão. O Canato nem sempre teve um governo unificado, a fim
de ter um khan comum. Em 1867, o czar Alexandre II, do Império
Russo, incorporou o território do Turquestão até 1918; outras potências
expandiram-se pela região e dominaram a maior parte da Ásia
Central.O Turquestão Russo era um imenso território de 3.076.628
km²., incluído na área de oásis localizada ao sul da estepe cazaque,
mas não os protetorados do Emirado de Bukhara e o Canato de Khiva.
- O Governo do Turquestão Russo foi formado em 1868, com a
capital em Tashkent. Cinco anos depois da Revolução Bolchevique de
1917, forma-se a União das Republicas Socialistas Soviéticas e os
países do Turquestão passam a fazer parte da União Soviética. Em
1925, por decisão do dirigente russo Jósef Stálin,a região que constituía o Turquestão Russo foi repartida entre o Cazaquistão, Quirguistão,
Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e o Xinjiang chinês. Após
colapso da URSS em 1991, os cinco países que faziam parte do Turquestão Russo, declaram a sua Independência da Rússia, retomam seus
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
territórios e organizam seus governos.O Cazaquistão ficou com uma
área de 2.724.900 km², o Quirguistão uma área de 199.945 km², o
Tadjiquistão uma área de 143.100 km², o Turcomenistão uma área de
488.100 km² e o Uzbequistão uma área de 447.400 km². O resto do
território faz parte da atual Região Autônoma Uygur de Xinjiang.
REPÚBLICA DO CAZAQUISTÃO
A palestra que os pesquisadores brasileiros Rodrigo e Álvaro
assistiram em Astana foi bastante elucidativa na questão primordial,
como a formação territorial dos países e culturas centro-asiáticas, também lhes forneceu valiosos subsídios para os estudos que se propunham realizar no país. O guia Alexei em seguida começou a explicar a
história e geografia do Cazaquistão.
- Cazaquistão é um país localizado na Ásia Central, é o nono
país em área territorial com 2.724.900 km², um dos maiores países do
mundo. Cazaquistão obteve a sua independência com a dissolução da
União Soviética, em 1991. Possui uma população de 18,7 milhões
(2012). Seu território se estende de oeste para leste desde o Mar Cáspio
até as montanhas Altai na divisa da Mongólia, e do norte para o sul
abrange desde as planícies da Sibéria Ocidental aos oásis e desertos da
Ásia Central. Limita-se ao norte e oeste com a Rússia por 6.846 km de
fronteira; a leste por 1.533 km com a China, ao sul por 1051 km com o
Quirguistão, por 2203 km com o Usbequistão e por 379 km com o
Turcomenistão e a oeste com o mar Cáspio.Entre as principais cidades
estão Almaty,Astana,Karagandy,Shyimkent, Atyrau,Turquestan,Taraz,
Semey,Aqtau,Petropavlov, Balkhahs,Aqtobe,Kökshetaü, Zhezkazgan.
- Há muitos rios, lagos e grandes reservatórios no Cazaquistão. No oeste e sudeste é banhado pelo Mar Cáspio numa distância
de 2.320 km.O rio Ural e seus afluentes fluem para o Mar Cáspio, a
leste do Cáspio surge nas areias o Grande Lago ou Mar de Aral (3.300
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
km² de área),que serve de divisa natural entre o Cazaquistão e
Uzbequistão, recebe as águas dos rios Amu-Darya e Syr-Darya.Há
cerca de 7.000 lagos, entre eles estão:o Lago Balkhash de 16.996 km²
nas areias do Cazaquistão Central, Lago Zaysan no leste, Lago Alakol
no sudeste e Lago Tengiz no sul.Os maiores rios do país são: o Irtysh,
Ishim, Ural, Syr-Darya, Amu-Darya, Ili, Charyn, Tobol e Nura.
- As grandes atrações no Cazaquistão são: a cidade de Almaty
(Alma-Ata, antiga capital), os desfiladeiros do rio Charyn, os desfiladeiros do Urso, o Mausoléu do Khoja-Akhmet Yassawi em Turkistan,
Reserva Natural de Aksu-Zhabagly,os navios encalhados no Mar
Cáspio, o maravilhoso Lago Kelsu nas montanhas Tien Shan, o Parque
Nacional de Ili-Alatau, Medeu, Chimbulak, a paisagem arqueológica de
Tamgaly (no sul), a montanha Khan Tengri (Senhor dos Espíritos),
com pico de 7010 m de altitude com a cobertura glacial, localizada nos
Montes Tien Shan na fronteira da China-Quirguistão e Cazaquistão, a
leste do lago Ysyk-Köl. Próximo a Turquistan fica o Parque Natural de
Sayram-Ugam, é um complexo arqueológico medieval.Apresenta estrutura oval e está protegido por muralhas. Possui um sofisticado sistema
para condução de água. Conserva vestígios do antigo cemitério e de um
bairro extramuros.
- A “Saryarqa”designa a amplidão das estepes e lagos cristalinos do Norte do Cazaquistão inclusive os planaltos cazaques, foram
designados como Patrimônio pela UNESCO em 2008. A extensão da
“Saryarqa” num total de 450.344 hectares compreende duas áreas
protegidas, a Reserva Natural de Naurzum (Kostanay) e a Reserva
Natural Korgalzhyn (Aqmola). Estas zonas pantanosas são pontos de
parada-chave e cruzamento na rota de aves aquáticas migratórias da
Ásia Central, da África e Europa para os seus locais de reprodução na
Europa Ocidental e da Sibéria Oriental.
- Os flamingos cor-de-rosa são uma grande atração na
Reserva Korgalzhyn, assim como o grou branco siberiano de 1,25m de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
altura (em extinção), o pelicano e a águia pescadora, para citar apenas
alguns. Os 200.000 hectares de estepes da Ásia Central fornecem
refúgio importante para mais da metade das espécies da flora e fauna
das estepes da região, inclusive o ameaçado de extinção antílope Saiga,
antigamente abundante, agora reduzido pela caça clandestina.
- No centro e sudoeste do Cazaquistão encontra-se o Planalto
Siberiano Central, os Planaltos de Cascaca e de Ustyurt, o Deserto de
Kyzyl-Kum e a Depressão Cáspica, que se estende até ao Mar Cáspio.
Ao nordeste e sudeste encontram-se as majestosas cordilheiras de Altai,
Tarbagatai, Alatau e Tien Shan. Entrecortada por glaciares e espessas
florestas a Cordilheira de Tien Shan (Montanha dos Espiritos),é uma
das maiores cordilheiras da terra.
Rodrigo e Álvaro os dois pesquisadores brasileiros, avisaram
o seu guia Alexei que iriam iniciar a viagem de exploração, e era do
seu interesse ir até a notável Reserva Natural Aksu-Zhabagly. Para ir a
Reserva Aksu que fica no sul do país, forçosamente teriam que
atravessar todo o território cazaque, do norte ao sul, portanto, apresentava-se lhes a oportunidade de conhecer todos os lugares interessantes
do percurso. O guia Alexei fez a revisão e abasteceu a caminhonete de
gasolina. Acertaram a conta do hotel e de madrugada pegaram estrada.
Após rodarem 200 km por estrada asfaltada chegaram à Karaganda.
- Karaganda foi fundada como uma vila por soldados russos
em 1856, para servir como ponto de apoio para caçadores de peles.
Durante o domínio do Império Russo e também na era Jósef Stalin
muitos deportados políticos e étnicos vieram povoar a cidade de
Karaganda. Havia alemães do Volga, poloneses, ucranianos, lituanos,
georgianos, intelectuais e militares russos rebeldes, entre as diversas
etnias exiladas. Os prisioneiros eram obrigados ao trabalho escravo,
forçado, nos campos agricolas e nas minas de carvão que produziam
combustível para os altos fornos das usinas de aço da Russia.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Karaganda é uma cidade industrial carbonífera, portanto,
apresenta aos visitantes reduzidos atrativos, apenas o bem organizado
Jardim Zôológico, a Universidade Estadual de Karaganda, o Palácio da
Cultura dos Mineiros, igrejas, avenidas arborizadas e monumentos, os
quais foram visitados e apreciados pelos viajantes em trânsito.
De passagem pela cidade seguiram para Zhezkazgan pela
estrada que leva à Kzyl-Orda. Viajaram através do Platô de Ustyurt, um
planalto que se estende pelo território do Cazaquistão, Uzbequistão e
Turcomenistão abrangendo 200.000km².Está limitado pelo Mar de Aral
ao leste e pelo Mar Cáspio ao oeste, o clima è árido, o solo pedregoso e
a altitude média é de 150 m.O panorama que se lhes apresentou era o
horizonte de estepes verdes, de uma amplitude a perder de vista.
Formações de planície, do tipo de paisagem dominada por
vegetação baixa, sobretudo herbácea, gramíneas e arbustos, sem
árvores, constituída por tufos ou moitas de plantas afastadas umas das
outras, deixando o solo parcialmente descoberto, esparsas e ressecadas.
As estepes estendem-se por toda a Eurásia desde o Oriente da Europa,
seguem cobrindo as planícies do Mar Negro e do Cáspio, difundindose por todo o extremo sul da Rússia, pela Ásia Central, pela Sibéria,
Mongólia e norte da China, com vegetação própria de climas semiáridos, na faixa de transição entre climas úmidos para os desertos.
A caminhonete dos pesquisadores rodava pela estrada esburacada, com pouca ou nenhuma conservação quando, após horas de
viagem se defrontaram com uma encruzilhada que levava aos campos
de Bayconur. Numa região semidesértica, a 250 km a noroeste de KzylOrda encontra-se o Cosmódromo Baykonur, de onde a União Soviética
lançou suas naves tripuladas ao espaço. A cidade de Bayconur possui
um status especial por estar sendo arrendada para a Rússia, junto com o
Cosmódromo, até o ano de 2050. Em 1947, dois anos após o fim da
Segunda Guerra Mundial, foi fundada, próxima à cidade de Semey, a
Área de Testes de Semipalatinsk, principal área de testes de bombas
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
nucleares da União Soviética. O território cazaque converteu-se em
campo para provas e armazenamento de armas nucleares soviéticas.
Não foi permitida a entrada dos visitantes aos campos de testes russos.
Portanto, seguiram viagem para o Mar de Aral ou o que sobrava dele.
- O Mar de Aral já foi o 4º maior Lago do planeta com a área
de 68.000km², ele e seu companheiro maior, o Mar Cáspio, são restos
geológicos de um grande mar interior que dominava a paisagem centroasiática milhões de anos antes e que se retraiu deixando-os como resto
de sua existência. Seu nome significa mar das ilhas e está situado na
divisa de Cazaquistão com Uzbequistão. Na época em que estes dois
países faziam parte da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas) o desastre teve inicio. Os soviéticos declararam como
kolkhoses (zonas agrícolas coletivas) as estepes da Ásia Central.
- Como parte do plano governamental foi construído o Canal
Qaraqum para desviar as águas dos rios Amu-Darya e do Syr-Darya, os
dois rios que alimentavam o lago, para irrigar plantações de algodão,
trigo, arroz e outros cereais.Com a redução do abastecimento pelos rios
o Lago Aral começou a secar e hoje está com 60% de água a menos, e
metade do tamanho original, criando à sua volta desertos de areia com
cascos de navios enferrujados, encalhados Esse mar fechado apresenta
alta salinidade devido a forte evaporação. Quase sem plantas é a região
mais quente e árida do Cazaquistão. Nas costas desérticas do Aral,
vivem camelos bactrianos, selvagens.
Abatidos pela visão negativa do Aral, os dois pesquisadores
conduzidos pelo guia Alexei continuaram a viagem em direção à KzylOrda. Grande parte do território que estavam percorrendo está ocupada por areia, faz parte do deserto de Kyzyl-Kum de 298.000 km²
estendendo-se a leste do Mar de Aral O rio Syr-Darya atravessa a
cidade de Kzyl-Orda fundada em 1820, como fortaleza de Kokand. Em
seu tempo foi utilizada como parada das caravanas da Rota da Seda que
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
levava para Shymkent. Praticamente não tinha nada para se ver em
Kzyl-Orda, a não ser as ruínas dos muros da antiga fortaleza.
Em vista disso, resolveram seguir para Shymkent a cerca de
450 km de distância. Chegaram tarde da noite, então se dirigiram para o
centro da cidade para hospedar-se nalgum hotel para pernoitar. Foi
lhes indicado o Hotel Clara Center Sapar, bem central e de preço
moderado. Fizeram o chek-in e receberam as chaves do apartamento
para 3 pessoas, com banheiro e água quente.Saíram para jantar e como
o guia Alexei já conhecia a cidade não foi difícil encontrar um bom
restaurante com comida típica.Enquanto jantavam o guia foi lhes explicando tudo sobre a cidade medieval que iam conhecer.
- Shymkent está localizada no vale do rio Sayram no sopé das
Ugam Gama, a uma altitude de 512 m. A cidade já existia nos séculos
XI-XII. Nas escavações arqueológicas foram encontradas sepulturas
datadas para os séculos V-VI. Shymkent era um centro comercial mais
poderoso de Cazaquistão, um marco importante na Grande Rota da
Seda. Durante séculos os assentamentos locais foram devastados por
invasores. No século XIII,o exercito de Genghis Khan passou pelo
oásis Sayramsky ocupando-o como território mongol.No século XIV,
Timur incluiu-o em seu Império com a conquista da Horda Dourada.
No século XVI, Shymkent passou a fazer parte do Canato Cazaque e no
século XVIII, foi invadida pelos conquistadores Dzhungar. Na metade
do século XIX, foi conquistado pelo Canato Kokand Bukhara. Em
1864, foi ocupada pelo exercito do Império Russo.
- Shymkent e uma cidade vibrante com um animado Bazar,
bons restaurantes, hotéis, ruas e avenidas arborizadas, exposições da
época do Estado Kangyui no Museu Regional, diversos parques,
viveiros de plantas, Jardim Zoológico, Hypódromo, cinemas, teatros,
Ópera e lugares históricos a serem visitados.Como Shymkent é o centro
Regional do Sul do Cazaquistão todas as rotas turísticas começam na
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cidade, pode-se ir a cidades de Turkistan, Sayram, Otrar, Taraz a antiga
capital do estado Karakhanid turco e a Reserva Aksu-Zhabagly.
Acompanhados do guia, Álvaro e Rodrigo percorreram e
filmaram os pontos interessantes da cidade e já cansados voltaram ao
Hotel para refazer as energias, pois planejavam ir no outro dia conhecer
a Reserva. A Reserva Natural Aksu-Zhabagly está localizada 70 km a
leste de Shymkent, na parte ocidental norte da faixa de Tien Shan no
sul do Cazaquistão. É uma das mais belas e ricas reservas de natureza
povoada do mundo, formada por vales e montanhas subindo para as
fronteiras do Quirguistão e Uzbequistão, a leste de Shymkent é a mais
antiga criada em 1926, com uma área de 130.000 hectares. A Reserva
Natural de Aksu-Dzhabagly é um parque repleto de bosques e picos
nevados da cordilheira Talassky Alatau.O local também acolhe a fauna
de estepe como marmotas, lobos e a Saiga (espécie de antílope).
- As cordilheiras do sul com seus cumes perenemente
nevados que ultrapassam os 4.000 metros, seus rios rápidos que descem
em cascatas e os vales povoados com bosques de coníferas, como
lariços, abetos e cedro. A reserva, no extremo oeste do intervalo Alatau
Talassky se estende desde a borda da planície a cerca de 1200m até
4239m no Pico Sayram. Abriga impressionante flora e fauna.
Encontram-se ali 239 espécies diferentes de aves, 52 de mamíferos, 11
espécies de répteis e cerca de 5000 gêneros de insetos diferentes. Entre
os animais mais famosos está o leopardo-das-neves, o lince asiático, a
marmota, a lebre, o urso das Tien Shan,o carneiro argali, a marta, o
texugo, e o ibex siberiano.A maior ave que vive na reserva é a águia
dourada com 3 m de envergadura de azas e o grifo, outra grande ave..O
acesso principal á Reserva é a cidade de Zhabagly.
Tendo já se refeito da longa e cansativa viagem desde Astana,
os dois exploradores brasileiros e seu guia levantaram cedo, com o
intuito de viajar até a Reserva Aksu-Zhabagly, para estudar a flora e a
fauna abundantes na região.Era uma ótima oportunidade para o biólogo
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Rodrigo pesquisar a biodiversidade desse extraordinário meio ambiente, fotografando e anotando as singulares descobertas no seu notebook
para análise posterior.Passaram o dia todo andando pela mata espessa,
encontraram lagos, geleiras e picos nevados nas montanhas. Já era tarde
quando o guia Alexei alertou-os do adiantado da hora.Planejaram voltar
à Reserva durante os próximos três dias para continuar as pesquisas.
Hospedaram-se em casa de família na aldeia de Kaskasu. Este foi um
dos melhores e proveitosos programas que realizaram no Cazaquistão.
- A paisagem do oeste do Cazaquistão consiste de extensos
desertos com alguns lagos salgados no meio. É aqui, no deserto, que se
concentram as grandes reservas de gás natural e de petróleo, cujos
projetos de extração estão a cargo da companhia americana Chevron.
Situada às margens do Cáspio a cidade de Atyrau está sendo ocupada
por trabalhadores da Companhia petrolífera. Os nossos pesquisadores
não podiam deixar de conhecer a cidade de Atyrau e o Mar Cáspio,
mesmo que de passagem, pois em seguida iriam para Tashkent.
- O Mar Cáspio, com uma superficie de cerca de 386.400 km²
é um mar fechado, sem efluentes, de água salgada (0,05%). Tendo mais
de 1.200 km de comprimento e um máximo de 450 km de largura, sua
extensão costeira se estende por 5.894 km (6.500 km com as ilhas),
com uma profundidade média de 180 metros, mas que pode atingir até
1.025 metros em alguns pontosVários rios deságuam no Cáspio, como
Terek, Ural, Emba, Kura, Samur, Atrek, entre os 130 rios principais,
mas o mais importante deles é o Volga, rio que nasce nas colinas
Valdai a noroeste de Moscou. Tem 3.688 km de comprimento e sua
bacia se estende por 1.380.000 km².Tudo que acontece ao longo do
vale do Volga, tem amplas repercussões sobre o Mar Cáspio. Os cientistas afirmam que no passado o Mar Cáspio era muito mais extenso do
que é agora, por causa de mudança climática o mar começou a secar e
diminuir, este processo resultou na formação do deserto de Kara-Kum.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- Durante grande parte do século XX, a soberania sobre o
Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética 87% e o Irã 13%, os
dois países banhados pelas águas do mar. Com a desintegração da
União Soviética em 1991,o Cáspio passou a banhar o litoral de cinco
países independentes.Nesse contexto a Rússia foi obrigada a dividir os
87 % do acesso ao litoral do Mar Cáspio com os novos países. Ao
Cazaquistão coube 29% ou 1.885 km; a Rússia ficou com 19 %,
correspondendo a 1.235 km; o Azerbaijão com 21%, ou 1.365 km, o
Turcomenistão 18 % ou 1.170 km; Irã 13 % ou 845 km. A região do
Cáspio é considerada a terceira zona com maiores reservas em
hidrocarbonetos do mundo, depois do Golfo Pérsico e da Sibéria.
- A grande parte do território de Cazaquistão resume-se a
planaltos, altiplanos erodidos do leste com colinas rasas, depressões e
lagos de águas salinas. Há também várias cadeias montanhosas,
inclusive ao longo das fronteiras leste e sudeste (com a Rússia, a China
e o Quirguistão) na Cordilheira Karatau ao sul, incluindo vastas áreas
baixas como a depressão Kaundy, que chega a 132 m abaixo do nível
do mar.O sul e leste tem grandes extensões de montanhas selvagens e
intocadas como Tien Shan e Altai, que podem atingir até 7.010 m de
altitude no pico Khan Tengri e 7.439 m no pico Pobeda, os pontos mais
elevados do país.A Cadeia de Montanhas Altai estende-se por cerca de
2.100 km, ramifica-se nos Montes Sayan Oriental e Tannu-ola, na
Republica de Tuva, na fronteira com a Rússia, Cazaquistão e Mongólia, ponto onde se destaca a máxima elevação de Altai, o Monte
Belukha, com 4506 m.
- Estendendo-se de norte ao sul a superfície do Cazaquistão é
coberta por 26% de deserto, 44% de semideserto e 24% pela estepe
que ocupa 804.500 km², embora ao norte atinja 6% na zona da taiga. A
área de florestas ocupa 105.000 km².Esquemas de irrigação do governo
socialista russo, tornaram produtivas enormes áreas da estepe, entre o
Mar de Aral e o lago Balkhah. Grande parte da zona de floresta-estepe
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
é composta por solo negro, muito fértil, o “Chernoziom” excelente para
agricultura, explorado intensamente pelo governo russo.
- O deserto do Cazaquistão é uma região árida, com chuvas
raras e temperatura alta no verão, tempo severo e intenso frio no
inverno. Fortes ventos trazem tempestades de areia. O clima do país é
continental, com verões quentes e invernos frios. Espalhados sobre a
estepe cazaque encontram-se montes com túmulos de nobres guerreiros, de dimensões impressionantes, entre eles a necrópole Bergazy e
Dandybai na “Saryarca”, Tegisken e áreas Priaralie. Eles contêm as
armas dos guerreiros mortos, como machados, punhais de bronze,
lanças, facas, jóias de bronze e carroças com seus cavalos.
- A história do Cazaquistão descreve o passado humano na
maior superfície da Eurásia. O cinturão de estepes foi o habitat de
numerosos grupos humanos que começam com o Pithecanthropus e
Sinanthropus, extintos, viveram há 800.000 anos nas Montanhas
Karatau, nas áreas do mar Cáspio e lago Balkhash; os Neaderthais
entre 140.000 a 40 mil anos a.C., nas encostas da Cordilheira Karatau,
próximo ao rio Syr-Darya (Yaxartes).As montanhas Karatau estão
localizadas no sul do Cazaquistão, ao norte do rio Syr-Darya. As
montanhas contêm sítios arqueológicos da Idade da Pedra, que representam vários estágios de evolução cultural desde o inicio da Idade do
Paleolítico (4.500.000) para o Neolítico (8.000-4.000) a.C.
- A chegada do moderno Homo Sapiens há 60.000-12.000
anos atrás, espalhou-se pela imensidão das estepes do Cazaquistão após
o fim do último Período Glacial. O território tem sido habitado desde a
Idade da Pedra, 8.000 anos a.C. pelas culturas Atbasar, Kelteminar,
Botai, Mokanjar, Ust-Narym e outras culturas arqueológicas. Á cultura
Botai (4.000- 3.600 a.C.) é creditada a primeira domesticação do
cavalo. As tribos praticavam a pecuária nômade favorecidos pelo clima
e pastos abundantes. Nas estepes, vales de rios e montanhas do
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Cazaquistão foram encontradas cerâmicas e ferramentas de pedra
polida da época Neolítica.
- A mudança das condições climáticas forçou o deslocamento
maciço de populações para fora do cinturão das estepes. O Período da
Seca, aridez que durou um milênio a partir do 2° milênio a.C.foi a
causa do despovoamento da região,sua população se deslocou para o
norte para a zona de florestas da Sibéria e norte da China.Com o fim do
período árido,1.200 a.C. no inicio da Idade do Ferro, novas populações, de sakhas-citas que segundo estudos arqueológicos conheciam a
escrita, vindas do leste da Mongólia, formaram alianças com as tribos
de Usuns e Alanos que viviam próximos e povoaram as áreas
abandonadas. Criaram-se novos agrupamentos a partir do século VII
a.C.e no século III a.C. surgiu o Império Huno que abrangeu todo
Cazaquistão e absorveu mais 26 povos independentes unindo as tribos
das estepes e os povos das florestas em um único estado.
- O clima e as extensas estepes são apropriados para o pastoreio de animais. Os cazaques nativos eram um povo nômade, que
amava a liberdade das estepes; de origem turca pertenciam a várias
tribos, agrupadas em aldeias, viviam em tendas feitas de couro de boi
(yurtes) colocadas sobre rodas de madeira e puxadas por bois, o que
facilitava o deslocamento de um lugar para outro, iam a procura de
pastagens verdes para seus rebanhos.As montanhas do Cazaquistão
abrigam pastos verdes de uma profusão admirável, que no verão se
cobrem de flores silvestres numa explosão de cores. Nos rios abundam
as marmotas, trutas e lúcios, que servem de alimento para as águias.
- Existe em abundância a fauna selvagem, como o lobo
cinzento, o lince e o javali.Nas montanhas do sul encontram-se alguns
exemplares de leopardo-das-neves.A população concentra-se no norte e
no sul, onde ficam as terras mais férteis e as cidades industrializadas.
Ao norte do lago Balkhash e dos mares Cáspio e de Aral encontra-se
uma área de terras de grande fertilidade a dos “solos castanhos”. Na
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Um olhar sobre o Mundo
agricultura, cultivam-se cereais em grande escala, frutas, batata,
legumes e algodão. Produz lã de alta qualidade. Há imensa reserva de
petróleo e gás, carvão, minerais, ferro, cobre, níquel, prata e ouro.
- A colonização do Cazaquistão pela Rússia foi retardada por
várias insurreições e guerras das populações nativas, contra a ocupação
russa, no século XIX. A construção de fortes e acampamentos militares
começou a ter efeito destrutivo sobre a economia cazaque tradicional,
limitando o território outrora vasto sobre o qual as tribos nômades
podiam pastorear os seus rebanhos. O fim do nomadismo começou em
1890, quando grande quantidade de colonos russos foi assentada nas
terras férteis do norte e do leste do Cazaquistão. Entre 1906 e 1912,
mais de meio milhão de fazendas russas foram implantados no país. A
construção de Estrada de Ferro Trans-Aral, entre Oremburgo e
Tashkent facilitou ainda mais a colonização russa. O governo de
Moscou fez uma enorme pressão sobre o modo de vida tradicional
cazaque ocupando pastagens e uso de recursos hídricos escassos.
- A fome e o deslocamento das suas terras, fizeram muitos
cazaques juntarem-se à Revolta Geral da Ásia Central, contra o
recrutamento forçado de homens para o exercito imperial russo na
Primeira Guerra Mundial. Em 1916, as forças russas reprimiram com
violência a resistência à tomada da terra e recrutamento, milhares de
cazaques foram mortos e milhares fugiram para a China e Mongólia.
Durante a grande fome de 1921, milhões de cazaques morreram de
inanição. A repressão soviética da elite tradicional, somada à
coletivização forçada das terras nas décadas de 1920 e 1930, trouxe
fome e instabilidade. Entre 1926 1939 a população do país diminuiu
em cerca de 22%, devido à fome, violência e migração em massa.
- A República Autônoma Socialista Soviética do Quirguistão
foi criada em 1920, e foi rebatizada para República Autônoma
Socialista Soviética do Cazaquistão em 1925, e Alma-Ata tornou-se
sua nova capital. Em 1936, o território foi incluído como república
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
soviética, ocasião em que experimentou um influxo populacional de
milhões de exilados de outras partes da União Soviética, no decorrer
das décadas de 1930 e 1940. Muitas das vítimas das deportações foram
mandadas para Sibéria ou ao Cazaquistão meramente por sua herança
étnica ou seus credos políticos e foram internados nos gigantescos
campos de trabalhos forçados, os famosos Gulags.
- A economia do Cazaquistão baseia-se essencialmente nas
exportações de petróleo, que representam 56 % do valor das exportações. O país dispõe de reservas importantes de urânio, produz 13%
da produção total de urânio no mundo.A via ferroviária Trans-Aral
atravessa o país passando por cidades como Aral, Qyzyl-Orda, Turkistan e Shymkent. Também liga o país ao Usbequistão e a Rússia chegando até as cidades de Tashkent e Oremburgo. Da mesma forma a via
ferroviária Turquestão-Sibéria (Turksib) liga o país ao Usbequistão e a
Rússia, mas também ao Quirguistão e as cidades de Tashkent e
Novossibirsk, tem 1.440 km de extensão.
- Com o golpe da linha dura de Moscou contra o governo de
Michail Gorbatchev, em agosto de 1991, seu governo desmoronou e 11
das 15 repúblicas soviéticas assinaram a Declaração da Dissolução da
URSS. No dia 16 de dezembro de 1991 surgia um novo país.A República do Cazaquistão apareceu no mapa geopolítico do mundo. Desde o
fim da União Soviética o país é governado pelo presidente Nursultan
Nazarbayev, que se elegeu sucessivas vezes e promoveu o crescimento
da economia com investimentos externos na extração crescente de
petróleo e gás. Reestruturou e consolidou muitas operações do governo
em 1997, eliminando um terço dos ministérios da época russa. Lutou
para garantir á República recém-independente a grande riqueza mineral
e o potencial industrial, quando o presidente russo Michail Gorbatchev,
negociava um acordo com a Chevron, empresa petrolífera americana,
para a exploração dos campos de petróleo de Tengiz, no Mar Cáspio.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
REPÚBLICA DO UZBEQUISTÃO
Álvaro e Rodrigo exploraram as matas da Reserva Aksu
Zhabagly durante cinco dias, subindo e descendo morros e montanhas,
atravessando vales e rios, estudando o meio ambiente, a flora, observando de perto os animais e pássaros, fotografando tudo. Á tarde
voltavam para se alimentar e pernoitar na aldeia.Exaustos das caminhadas,deram por terminada a pesquisa na Reserva, não porque não
tivesse mais nada para ver,mas simplesmente porque estavam cansados.
Resolveram ir conhecer á cidade de Tashkent no Uzbequistão.A entrada no país foi facilitada, pois o guia Alexei conhecia o pessoal da
fronteira e os trâmites da burocracia uzbeque. Depois de liberado o
passe o guia abasteceu a caminhonete e pegou a direção de Tashkent
Logo se dirigiram para o centro da cidade passando por ruas largas e
arborizadas. Hospedaram-se no Le Grand Plaza Hotel, de quatro estrelas, de preço e padrão de serviços aceitáveis. Mas tudo que eles
desejavam era um bom banho e dormir. Cansados, queriam estar em
forma para descobrir o melhor da cidade de Tashkent.
- Uzbequistão ex-república soviética, país do centro-oeste da
Ásia Central, com uma área de 447.400 km² e uma população de 28,1
milhões (2012), a maioria muçulmanos (82,7 %.) O povo usbeque é de
origem turca, falam a língua usbeque, tadjique e russo. Limita-se ao
norte com a República do Cazaquistão, a leste e sudeste com a
República do Quirguistão e Tadjiquistão, a oeste com a Repúlica de
Turkemenistão e ao sul com Afeganistão. De relevo essencialmente
plano,o território possui cerca de 75% de sua área ocupada pela depressão de Turan. Ramificações das cordilheiras de Tien Shan e Pamir esta com picos que ultrapassam os 4.400m de altitude, ocupam o leste e
o noroeste. Tem grande parte, cerca de 298.000km² de seu território
ocupada pelo deserto de Kyzyl-Kum, um dos maiores do mundo,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
composto de variadas paisagens dentre as quais: diversos oásis, platôs
cobertos por uma mistura de cascalho e areia e também planícies
cobertas de areia vermelha e estepes secas. O clima é continental
desértico, com amplas variações térmicas e chuvas escassas.
- A capital da República de Uzbequistão é Tashkent, cidade
com 2.210.000 habitantes. A ex-soviética Tashkent têm algo de comum
às demais capitais das ex-republicas soviéticas da Ásia Central, como
pesadões e ultrapassados modelos de automóveis Lada, caminhonetes e
caminhões de transporte antigos, de fabricação russa e prédios de
arquitetura funcional soviética. Estatuas e ruas com nome de Lênin.
Tashkent foi de grande importância na Rota da Seda, hoje é uma cidade
de grandes avenidas, praças e árvores, cafés, hotéis, lojas e shoppings,
se moderniza e tenta melhorar sua infra-estrutura para atrair turistas.
Dificeis, e inconpreensiveis para os estrangeiros são os nomes de ruas e
predios escritos em caracteres cirílicos, como a sinalização de trânsito.
- Durante o segundo e o primeiro milênio a.C o território do
atual Uzbequistão integrava a região da antiga civilização bactriana.
Desenvolveu-se ali uma cultura original, síntese de elementos indianos,
persas e gregos. A capital Tashkent foi colonizada por povos antigos
como um oásis no rio Chirchik, próximo ao sopé das Montanhas Tien
Shan Ocidentais. Em tempos pré-islamicos, a cidade foi a capital do
principado de Chach, era uma cidadela construída ao redor do século V
a III a.C.cerca de 8 km ao sul do rio Syr-Darya. Por voltado século VII
d.C. o principado de Chach tinha mais de 30 cidades prósperas abastecidas de água por uma rede de 50 canais, tendo desenvolvido um
centro de comércio entre os sogdianos e turcos nômades.
- Durante os séculos X a XV, caravanas que vinham da China
seguindo ao longo da Grande Rota da Seda, paravam na cidade de
Kokand, famosa por seu artesanato (era a maior do Vale de Fergana),
para descançar e comercializar sua mercadoria. No passado, Kokand
era um grande centro religioso, havia 35 madrassas e cem mesquitas na
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
cidade. A maioria delas foi arrasada pelo tempo, terremotos e pelas
autoridades soviéticas. Nesse tempo, como foi registrado nas crônicas
chinesas, foi fundada a cidade de Rishtan, com inúmeras oficinas de
produção da famosa Cerâmica Azul de Rishtan. A cerâmica azul é uma
tradição nacional, que permaneceu até o presente. È produzida por
artesãos famosos que colocam sua alma no processo. A decoração
invulgar da cerâmica de Rishtan é mundialmente famosa por causa de
sua tecnologia exclusiva de fabricação.
- A cidade de Tashkent foi destruída por Genghis Khan em
1219, embora o grande conquistador já tivesse saqueado a cidade em
1214. Sob as dinastias Timuridas e posteriores Shaybanid a cidade
reviveu, apesar dos ataques ocasionais dos nativos uzbeques, cazaques,
persas, mongóis e uirats. Durante o governo do czar Alexandre II,
Tashkent passou a ser um Canato independente sob proteção russa e em
1809 Tashkent foi anexada ao Canato de Kokand. Em 1918, tornou-se
a capital da República Socialista Soviética Autônoma de Turquestão.
- Em 1966, a maior parte da cidade antiga foi destruída por
um grande terremoto de 7,5º na escala Richter, principalmente as áreas
densamente povoadas da cidade velha onde predominavam habitações
de adobe. As repúblicas soviéticas enviaram planejadores urbanos para
ajudar na reconstrução da cidade devastada. Devido ao terremoto de
1966, e a remodelação soviética, pouco patrimônio arquitetônico sobreviveu da história antiga de Tashkent.
A principal atração de Tashkent é o complexo Imam Khazrati,
integrado pelo Mausoléu do Sheik Abu-Bakr Muhammed Kaffal
Shashi, pela Madrassa Barak Khan e pela Mesquita de Khast Imam, do
final do século XVI, onde se encontram fragmentos do mais antigo
Alcorão do mundo datado do século VII, composto de 353 grandes
páginas de pergaminho manchado com sangue do califa assassinado. O
Alcorão Uthman foi trazido por Timur-i-Leng para Samarcanda. Pontos
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Um olhar sobre o Mundo
turísticos visitados são: o Mausoléu de Kaffal Chach de 1541, a
Madrassa (escola religiosa muçulmana) o Koukeldash do século XVI.
- O Chorsu Bazaar, enorme bazar ao ar livre, situa-se no
centro da parte antiga da cidade de Tashkent. Tudo que se possa
imaginar está lá a venda. O Junus Khan Mausoléu, é um grupo de 15
mausoleus, de três séculos, restaurados no século XIX. O maior deles é
o túmulo de Junus Khan, avô de Babur fundador do Império Mughal O
Palacio do Príncipe Romanov do século XIX, construído pelo neto do
czar Alexandre III, e seu Museu de Belas Artes do Uzbequistão. O
Alisher Navoi Opera e Ballet Theatre.O Museu de História é o maior
da cidade. O Amir Timur Museum, abriga exposições de Timur.
- Nos bazares de Tashkent encontra-se à venda a cerâmica decorativa, que está entre os melhores exemplos da mais antiga tradição
do artesanato nacional uzbeque. Na província de Khorezm, há os
descendentes dos mestres de Khiva, que fazem peças esmaltadas de
diversos tons de turquesa. Os bonecos de Samarcanda, estatuetas de
personagens folclóricos, também há peças que representam os camelos
das caravanas, figuras fantásticas, estatuetas de terracota encontradas
por arqueólogos entre ruínas antigas, chicaras, tigelas e pratos de
finissima cerâmica colorida de turquesa. Impressionantes são as jóias,
brincos, pendentes, pulseiras e anéis com pedras semi-preciosas e de
filigrana. E muito grande a oferta de peças para levar como lembrança.
Os tapetes de grande tradição na região se destacam pela beleza do
colorido e figuras. Feitos à mão, de lã ou de seda e tingidos com cores
naturais, foram historicamente uma mercadoria preferida na Rota da
Seda. O principal centro de venda dos tapetes é Bukhara.
Outras cidades importantes do Uzbequistão e suas regiões,
que seriam visitadas pelos dois pesquisadores brasileiros recomendadas
pelo guia: Namangan, Samarcanda, Bukhara,o Oásis Khiva com a
fortaleza murada de Itchan-Kala plantada no deserto Kyzyl-Kum,
Termez, Shakhrisabaz, Urgench, Nukus. O extenso deserto de KyzylMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Kum (terra vermelha) ocupa mais de dois terços do território do país.
Sua formação vem do período geológico do Quartenário. Localiza-se
entre os rios Amu-Darya (Oxus) e Syr-Darya (Yaxartes).O deserto é
constituído por áreas rochosas e coberto por uma vegetação rala e
raquítica, no meio das dunas de areia vermelha.Implacável,estende-se
infinitamente além do horizonte. Apre-senta um panorama assombroso,
fascinante e ao mesmo tempo terrível, perdido no meio do nada.
Rodaram por muitos quilômetros pelo meio do deserto, de
repente a surpresa, como por pura magia o deserto desaparece dando
lugar a colinas verdes e plantações de milho e algodão. Observam-se
pequenas tribos de mongóis contruindo suas yurtes e cultivarem cereais
nos vales mais úmidos. As colinas são ocupadas por rebanhos de
cabras, ovelhas karakul, cavalos e gado. Entre as estepes destaca-se a
de Ustyurt por seu tamanho, entre o Mar de Aral e Cazaquistão. O país
possui uma extensão de 420 km de acesso ao Mar de Aral. No inverno
é possivel praticar esqui nas geleiras das Montanhas Tien Shan, no
Parque Nacional de Ugam-Chatkal.
Depois de explorarem todos os recantos interessantes da
capital Tashkent e vizinhança, Rodrigo e Álvaro, conduzidos pelo guia
Alexei, dirigiram-se para a cidade histórica de Samarcanda, cujo nome
significa “Cidade de Pedra”, em sogdiano. Por indicação encaminharam-se para o Hotel Ásia Samarkanda, central, fizeram o chek-in e
receberam as chaves do apartamento, com três camas e banheiro
privativo. Depois de descançarem saíram para conhecer a cidade.
- Samarkanda é a segunda maior cidade do Uzbequistão,
depois de Tashkent, tanto em população e área como em importância
industrial. A ocupação do local data do Paleolítico Inferior e é um dos
berços da civilização de vários povos da Ásia Central. Facas e diversos
objetos feitos de sílex do século VII a.C.foram encontrados no sítio
arqueológico Afrasiyab nas ruínas da antiga cidade, famosa pela sua
localizaçãço estratégica no centro da Rota da Seda, entre a China e a
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Um olhar sobre o Mundo
Europa e por ser um centro de estudos islâmicos. É uma das mais
antigas cidades do mundo tendo sido fundada em 700 a.C.
- Usada como paragem na Rota da Seda, Samarkanda foi a
capital da Satrapia de Sogdiana sob a dinastia Aquemênida da Pérsia,
quando Alexandre, o Grande conquistou-a em 329 a.C. Foi subjugada
pelos árabes em 712, e floresceu sob o Império dos Samânidas, tornouse uma das cidades mais importantes do Império Persa. Samarcanda foi
a capital da Sogdiana até invasão chinesa da região então conhecida
como Transoxiana. Revoltados com o domínio chinês, uma coligação
de exércitos árabes, iranianos e túrquicos derrotou os chineses na
batalha de Talas em 751, ocasião em que foi conseguido (sobre tortura
de prisioneiros chineses)o segredo de fabricação de papel. Samarkanda
tornou-se o primeiro centro de fábricação de papel no mundo islâmico,
e de lá a invenção se espalhou para o resto do mundo. O matemático,
astrônomo e poeta persa Omar Khayyan, (1048-1131), residiu na
cidade antes de se mudar para Isphahan, no Irã.
- Em 1220, o exercito de Genghis Khan sitiou e destruíu
Samarkanda. No século XIV, foi a capital do Império de Tamerlão, que
se estendia desde a Índia à Turquia.Em 1499,os uzbeques Shaybanidas
assumem o controle de Samarkanda e da região.O rei persa Nadir Shah
conquistou a cidade por volta de 1720.Em 1868, a cidade foi tomada
pelo exercito russo, e em 1925, tornou-se a capital da República
Socialista Soviética do Uzbequistão, sendo depois em 1930, substituída
por Tashkent atual capital da República, centro administrativo, turístico
e comercial do país.
- Samarcanda tem cerca de 470.500 habitantes (2012). Os
pontos turísticos da cidade histórica são: a Praça Registan, composta
por três grandes madrassas em torno de uma grande praça.O Ulugh Beg
Madrassa concluída em 1420.A Madrassa Sherdar de 1636. A Madrassa Tilla-Kari de 1660. A Mesquita de Bibi-Khanym, construída
pela esposa de Tamerlão, parcialmente destruída por um terremoto em
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Um olhar sobre o Mundo
1897. A Necrópole de Shah-i-Zinda,o profeta que trouxe o Islã à esta
região.O Mausoléu de Gur-Emir,é uma jóia da arte islâmica, com um
sepulcro sobre uma enorme pedra de jade, aqui estão sepultados os
restos mortais do conquistador Tamerlão, morto em 1405. O Observatório de Ulugh-Beg, construido em 1420, pelo neto de Tamerlão.O
Museu Arqueológico de Afrasiyab com peças do século VII a.C.
Samarcanda, cidade de 2.700 anos, foi inscrita na lista de Patrimônio
Mundial da UNESCO em 2001, como Samarkanda-cruzamento de
culturas. Tal como Bukhara, Samarcanda, é um dos centros históricos
do povo tadjique de língua persa.
Rodrigo e Álvaro saíram de Samarkanda logo após o almoço,
a caminhonete de Alexei, percorreu uma distância de cerca de 250 km
de estrada mal conservada, fato que ocasionou um pneu furado e
grande atraso na viagem. Cruzando as secas planícies do deserto de
Kyzyl-Kum chegaram à Bukhara ao anoitecer. A cidade histórica está
situada no meio deste deserto de “Areias Vermelhas”.Na procura de
hospedagem, foi lhes indicado o Hotel Ásia Bukhara,dirigiram-se até lá
e apresentaram os passaportes na recepção. Fizeram o chek-in e
receberam as chaves do apartamento de três camas, banheiro privativo,
com chuveiro quente. O hotel servia o café da manhã e tinha um bom
restaurante. Após o banho desceram para o jantar, em seguida foram
dar uma volta pelas ruas. Alexei foi explicando fatos sobre a cidade:
- Bukhara, a terceira maior cidade de Uzbequistão, mantêm
fascinantes monumentos e a vida agitada de um rico shopping na Rota
da Seda. Existem poucas cidades com mais história e sensações para
oferecer aos visitantes do que Bukhara. Os melhores exemplos de arte
islâmica, os ricos tons de azuis das cúpulas dos bazares da Rota da
Seda ainda sobrevivem na cidade mais vibrante do Uzbequistão. Embora as suas origens remontem ao século VII a.C. a época dourada
foi nos séculos IX e X, quando a cidade se tornou o centro intelectual
do Império Persa dos Samânidas.As inúmeras invasões e domínios
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Um olhar sobre o Mundo
subseqüentes, como Genghis Khan ou a União Soviética, não apagaram
as Madrassas e mesquitas magníficas que caracterizam uma das sete
cidades sagradas do Islã.
- A região em torno de Bukhara já era habitada pelo menos
cinco milênios a.C. Localizada na Rota da Seda, a cidade tem sido um
centro de comércio, de estudos científicos de cultura e religião.O centro
histórico de Bukhara, contem numerosas mesquitas e Madrassas, foi
listado pela UNESCO como um dos Patrimônios Mundiais. Sua
arquitetura e sítios arqueológicos formam um dos pilares da história da
Ásia Central O coração da cidade está situado em Lyabi Hauz, uma
praça construída em 1620 em torno de uma piscina que foi um
importante reservatório de água para a cidade. Lugar ideal para as
pessoas se reunirem á tarde, á sombra das árvores seculares. Visitar a
mais antiga zona de comércio da cidade, com seus mercadores de seda,
jóias e tapetes, chegando até a Mesquita Atttory.
- A medieval Madrassa Kukeldash, a maior escola islâmica na
época e o mosteiro Khanaka construídos pelo vizir Nadir-Divan-begi.
O complexo de Po-i-Kalyan com o Minarete Kalyan e as Madrassas,
tem sido durante séculos o símbolo de Bukhara e do Islã.A Mesquita
Kalyan concluída em 1514, é uma das maiores da Ásia Central e pode
acomodar até 12.000 pessoas. A fortaleza Ark, uma cidadela murada no
interior de Bukhara, continha o palácio do emir, centro administrativo,
mesquitas e escritórios.
Visitaram fortalezas, bazares, monumentos, mesquitas, madrassas, túmulos, teatros, a Ópera e os maravilhosos parques de Bukhara.
Extasiados com o que tinham visto, os pesquisadores Álvaro e Rodrigo
decidiram prosseguir na exploração da cultura uzbeque, viajando para o
Oásis de Khiva (Khorezm), lugar onde as caravanas da Rota da Seda
descansavam antes de cruzarem o deserto de Kara-Kum no caminho
para a Pérsia. O distrito de Khorezm, está centrado no delta antigamente rico e fértil do rio Amu-Darya (Oxus).Era um centro antigo de
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Um olhar sobre o Mundo
cultura e arquitetura iraniana.Desde o passado remoto da sua história os
habitantes de Khorezm pertenceram a civilização iraniana.Falavam a
língua iraniana.Em consequência da constante migração e dos ataques
dos turcos, a área de Khiva tem uma população mista de Karakalpaks,
Uzbeques e Cazaques,que falam a língua turca
Sairam de Bukhara logo após o café da manhã. O guia Alexei
já havia feito a revisão do carro, abastecido de combustível, então
foram para a estrada. A distância de Bukhara à Khiva era aproximadamente 300 km de estrada com péssimo asfalto, muito esburacada. O
trajeto passava pela histórica cidade de Urgench, que era o portão de
entrada para Khiva, distante dali cerca de 26 km.Hospedaram-se em
Urgench no Hotel Khorezm Palace, o mais conveniente pelo preço e
atendimento, pois incluia também as refeições.Como era o horário de
almoço,foram saborear a comida tradicional uzbeque.
- Originalmente o centro principal habitado era KunyaUrgench ou “Velha Urgench”,que foi abandonada devido a destruição
pelos árabes em 712.As origens de Urgench são consideradas pelos
arqueó-logos para os séculos V e VI, do inicio do período Aquemênida,
época em que foi construida a Fortaleza de Kyrkmolla.Situado no
cruzamento das rotas de comércio, tornou-se um importante centro dos
séculos X a XIII. A cidade foi destruida por Genghis Khan em 1221.
- No século XVI, Urgench, a capital do Canato de Khorezm,
foi transferida para Khiva e a cidade foi abandonada. Reconstruida em
1831, com muitos bazares,50 monumentos históricos, 250 casas antigas
datadas do século XVIII, no entanto, o desenvolvimento moderno teve
lugar fora da cidade velha, que mais tarde foi utilizada como um cemitério.A cidade de Urgench é um território livre, está localizada exatamente na atual fronteira entre Uzbequistão e Turcomenistão, seu moderno Aeroporto Internacional é utilizado pelos dois países limítrofes.
Os nossos psquisadores estavam anciosos para conhecer o
famoso Oásis de Khiva um dos centros históricos do Uzbequistão, que
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Um olhar sobre o Mundo
evoca a lendária Rota da Seda, entre a Europa e a China, percorrida
por Marco Pólo.Queriam explorar e fotografar a milenar cidade-museu.
Encruzilhada das rotas de caravanas, do comércio de papel, de seda e
de ouro, as planícies de Khorezm se estendem do noroeste de
Uzbequistão, entre os desertos de Kyzyl-Darya e Kara-Kum. Khiva, a
mais remota e mais bem preservada das cidades da Rota da Seda, é
localizada no coração do oásis de Khorezm, teve um dos maiores
mercados de escravos, onde circulavam livremente ladrões e piratas.
- Os antigos falam sobre história da cidade de Khiva, que foi
fundada por viajantes muçulmanos turcos do Cazaquistão, no século X,
mas os arqueólogos afirmam que a cidade já existia desde o século V.
A partir do século XI fez parte do Império Persa e no século XVII,
Khiva havia se tornado a capital do Canato de Khiva, governado por
um Khan poderoso do ramo Astrakhan da Dinastia Genghisid. Os
russos lançaram um ataque sobre a cidade, que caiu em 1873. Após a
tomada bolchevique, Khiva passou a fazer parte da Republica
Socialista Soviética do Uzbequistão até a independencia do país.
- O centro da cidade é cercado por mais de 2 km de fortificações, algumas datando do século V. O complexo arquitetônico de
Itchan-Kala é o antigo centro de Khiva rodeado por muralhas com 4
portões de cada lado da fortaleza retangular é um verdadeiro museu ao
ar livre. Khiva é uma cidade murada no meio do deserto, repleta de
minaretes, de labirintos de ruelas, mesquitas, mausoléus e palácios
suntuosos. Os exploradores dedicaram o dia todo visitando Khiva, a
Fortaleza Kunya-Ark incluindo Kurinish Khana, Madrassas MohamedAmin-Khan, Amir-Tur e Rafanck, os complexos de Palva-Kari e Abd
Al Bobo e o Mausoléu de Sho-I-Kalandar Bobo. Após o almoço no
Hotel Madrassa, vão visitar a Mesquita Djuma fundada no século X,
os Mausoléus de Uch Avlioli e Pakhlavan Mahmoud, as Madrassas
Kutlug-Murad Inaq e Arab Mohammed Khan, que abriga cerca de
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Um olhar sobre o Mundo
55.000 objetos antigos. Já era noite quando os nossos pesquisadores
retornaram à Urgench e ao Hotel onde se hospedavam.
- Uzbequistão é um paraíso para os turistas. Terra do sol,
desertos e vales férteis. De cidades que escondem entre suas calçadas
as lendas do seu conturbado passado. Sua história mais distante nos
leva até a época de Ciro, o Persa, do século VI a.C.quando seus antigos
povos nômades, recém-conquistados, fundaram belas cidades como
Samarcanda, Bukhara, Khiva, que ao longo dos séculos, iriam ser
protagonistas e centros de gravidade de muitos acontecimentos que
ocorreriam na Ásia Central. Entre as maravilhas acham-se os bazares
movimentados, expondo artigos exóticos; os nômades do deserto de
Kyzyl-Kum com suas yurtes cilindricas espalhadas pela estepe; o vale
do Rio Oxus e as três cidades que abrigam a coleção mais homogênea e
imponente da arquitetura islâmica do mundo, as cidades de Khiva,
Samarcanda, e Bukhara. Congelados no tempo, imunes aos seus efeitos
são verdadeiros cenários das Mil e Uma Noites, lugar apropriado para
os mais imaginativos sonhos e fantasias de contos de fadas. A ornamentação cerâmica em tons de azul-turquesa contrasta com os ocres de
tijolos da cor do deserto. São brilhantes os tesouros históricos das
cidades uzbeques, patrimônios desconhecidos da maioria das pessoas.
- É maravilhoso conhecer lugares que poucos visitam, não se
pode deixar de ver os Centros Históricos de Bukhara, de Samarcanda e
de Shakhrizabz, na região de Kashkadarya e Itchan-Kala, cidade interna, protegida por muralhas do velho oásis de Khiva, que era o ultimo
lugar de descanso das caravanas antes de cruzarem o deserto de
Karakum até a Pérsia. Visitar cidades mais antigas do mundo, viver o
incomum e aventuras incríveis. Imaginar os feitos de bravos aventureiros da Rota da Seda, que em gigantescas empreitadas de comércio, deram curso às caravanas de camelos que se deslocavam pelos desertos
de Gobi,Taklamakam, Kyzyl-Kum e Karakum, rumo a Bizâncio.
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Um olhar sobre o Mundo
- Milhões de aventureiros, espiões, comerciantes, peregrinos,
soldados, generais, khans, imperadores, sacerdotes ou simples nômades
sem rumo, percorreram a pé ou em lombo de camelos, o mais conhecido caminho entre o Oriente e Ocidente, a chamada Rota da Seda,
constituída pelo conjunto de caminhos que liga a costa do Mar Mediterrâneo na Síria à Xian antiga capital do Império Chinês, atravessando cerca de sete mil quilômetros ou mais, entre os atuais países:
Síria, Iraque, Irã, Turcomenistão, Uzbequistão,Afeganistão e Paquistão.
O percurso coincide com o caminho natural que corta a Ásia ao
comprido, margeando altas cadeias de montanhas, desertos e mares.
- De acordo com vestígios arqueológicos, foi o trajeto das
migrações pré-históricas, por onde o homem africano caminhou para a
Ásia e chegou à Oceania, sempre em busca de melhores condições de
caça e clima ameno.Em sentido contrário, foi a rota das migrações
indo-européias, as levas de homens que vieram da Ásia dar origem aos
povos semitas, como árabes e judeus e à maioria das etnias européias,
há 10 mil anos.
- As primeiras referências aos caminhos da Rota da Seda
surgiram na Pérsia no século VIII aC.A maior parte desses caminhos
era conhecida há séculos pelos povos de origem persa: os sogdianos,
que habitavam o atual Uzbequistão, os partas, arianos e bactrianos do
atual Afeganistão, e os aracosianos onde hoje é o Paquistão.Esses
povos migratórios já negociavam seda com chineses e vendiam seus
tecidos a romanos e cartagineses, em Damasco e Antióquia na Síria.
Os viajantes além do comércio promoviam a mais incrível troca de
valores culturais e espirituais entre a Europa e o Oriente. Aqui o trio
“história-cultura-natureza” é recompensado na plenitude. As vozes da
história contam culturas tão complexas e heterogêneas, que apenas as
influências budista, cristã, muçulmana e do zoroastrismo poderiam
criar num só lugar e na história da humanidade. Ninguem conseguiria
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Um olhar sobre o Mundo
descrever o sabor dos deuses das frutas locais, também o encantamento
de conhecer a arte da manufatura dos fabulosos tapetes de Bukhara.
História é o que não falta ao Uzbequistão, mas foi o capricho
da imaginação que criou as mais extravagantes e exóticas fantasias nas
mentes dos pesquisadores Álvaro e Rodrigo.Fizeram correr soltas as
imagens de grandes caravanas de camelos carregados de tesouros,
mercadores cruzando desertos, de caravançarais, de oásis, de esplendidos tapetes persas, lindas mulheres escondidas atrás das burcas e de
bazares fabulosos com bailarinas dançando a “dança do ventre”.
- Os uzbeques possuem longa tradição sedentária, ligada ao
comercio da Rota da Seda e à agricultura. A irrigação transforma o país
em um dos maiores produtores mundiais de algodão, mas ao mesmo
tempo, provoca uma catástrofe ambiental no Mar de Aral, que está
secando e a crescente salinização do solo utilizado na agricultura irrigada. O país não consegue produzir trigo e outros cereais suficientes para
o consumo, importando-os da Rússia, do Cazaquistão e dos EUA.
- O pão é um alimento de grande significado para o povo
uzbeque, assim como para os demais povos da Ásia e Europa do
Centro-Leste. Sobre ele tem algumas normas que o converte num
produto sagrado. Se cair uma fatia de pão no chão deve-se levantá-lo,
beijar e pedir perdão a Deus. A família é uma instituição social muito
importante para os uzbeques. Hierarquizada classicamente, aparece o
pai, o avô, a avó, a mãe e o primogênito, com certos direitos devidos à
sua posição dentro da família. Dentro desta ordem o homem desfruta
de mais direitos formais que a mulher. Uzbequistão é um país de
tradição islâmica. A maioria dos uzbeques é muçulmana.
- Uzbequistão possui uma das maiores minas de ouro do
mundo, a de Muruntau, localizada no deserto de Kyzyl-Kum (Areias
Vermelhas) a 400 km a oeste de Tashkent. O depósito de ouro de
Muruntau foi formado no período Permiano durante o processo de
intensa atividade vulcânica. Atualmente, o Uzbequistão é o terceiro
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
maior exportador de algodão do mundo e um importante produtor de
gás natural e ouro. O país possui grandes depósitos de gás natural,
petróleo, carvão mineral, ouro, cobre, tungstênio, bismuto e urânio. As
montanhas da Cordilheira Tien Shan prolongam-se pela fronteira de
norte à sul.O Chimtarga é o pico mais alto com 5.489 m, se encontra na
Cordilheira Zeravshan a 130 km a oeste de Samarcanda. Entre os
demais acidentes geográficos se encontram o Vale de Fergana e de
Zeravshan e as depressões de Tashkent e Kashkadar. Uma das características desta região é a sua grande atividade sísmica.
- Pelo Uzbequistão passam os maiores rios da Ásia Central. O
Syr-Dárya com 2.137 km de extensão, nasce nos Montes Tien Shan e
deságua no Mar de Aral. O Amu-Darya com 2.400 km, nasce nas
montanhas Kunlum na Cordilheira do Hindu Kusch a 6.700 metros de
altitude, dirige-se para o noroeste através dos Montes Pamir, passa por
Tadjiquistão, Afeganistão, Uzbequistão, Turcomenistão e volteando
torna passar em Uzbequistão onde desemboca no Mar de Aral. Têm
como tributário o rio Zeravshan. É grande a importância que têm estes
rios para a economia do país, suas águas são essênciais para atividade
agrícola, sendo utilizadas na irrigação de grandes extensões de terras
áridas onde se cultiva algodão, arroz, trigo, batata, frutas, verduras,
num total das terras em cultivo de mais de 4 milhões de hectares.
Infelizmente, esta é a razão pela qual o Mar de Aral esta secando.
- O território do Uzbequistão foi povoado desde o 5º milênio
a.C.Existem achados arqueológicos de ferramentas nos assentamentos
de homens primitivos nas regiões de Fergana, Taskhent, Bukhara,
Khorezm e Samarcanda.As primeiras civilizações existentes no Uzbequistão foram a Sogdiana, Bactriana e Khorezm. Vários antigos centros
agrícolas importantes se desenvolveram no que é hoje o Uzbequistão,
como de Khorezm, no baixo Amu-Darya, Mawarannahar, entre o curso
médio do Amu-Darya e Syr-Darya .
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- A população e a língua dos primeiros Estados surgidos no
século X a.C. era de Citas indo-europeus. Durante vários séculos esses
Estados fizeram parte do Império Persa (século VI a.C.) dos reinos
greco-bactrianos, do Império Kushan e do Estado dos hunos brancos
eftalitas (século IV d.C.). Desenvolveu-se aí uma cultura original,
mistura de elementos índianos, persas e gregos. O povo usbeque é de
origem turca, falam a língua usbeque, russa e farsi de influência persa.
Em 530 a.C. Ciro II, o Grande (fundador do Império Persa) cruzou com
seu exercito o Rio Oxus e conquistou a região (entre os cursos médios
do Oxus e Yaxartes e as montanhas Pamir),que com o nome de
Sogdiana ficou incorporada ao Império Persa.
- O lendário Vale de Fergana é um amplo vale com uma
extensão de 25.000 km² de terra fértil que se espalham por três países,
independentes desde 1991, Uzbequistão, Quirguistão e Tadjiquistão. É
um grande oásis, localizado na parte leste do Uzbequistão, rodeado
pela cordilheira Kuramin no noroeste, serra Chatkal ao norte, serra
Fergana no oriente e os intervalos Alai no sul.É a região mais densamente povoada do país, uma área fértil onde se concentra a agricultura.
O clima ameno do Vale de Fergana permite a grande produção de
algodão, seda, frutas e outras culturas agrícolas. O Vale deve sua fertilidade para dois rios, o Narim e Kara-Suu, que correm a partir do leste
juntando-se perto de Namangan formando o Syr-Darya.
- A história do Vale de Fergana remonta a mais de três mil
anos quando foi ocupado por greco-bactrianos. Andizhan, é a maior
cidade da região uzbeca do Vale de Fergana, lugar de passagem para o
Quirguistão. Existem várias cidades antigas no Vale de Fergana, entre
elas Marghilan, fundada no século IV a.C. é um dos mais antigos
povoamentos do Vale de Fergana, onde caravanas numerosas se
deslocavam ao longo da Rota da Seda em direção ao Mediterrâneo.A
cidade é famosa por sua seda maravilhosa, é o local da maior fábrica de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
seda tradicional do Uzbequistão, o“Yodgorlik, Fabrica de Seda” que
emprega milhares de operários.
- Merece destaque o animado e colorido Bazar realizado às
quintas-feiras e domingos. As ruínas de muralhas lembram as invasões
de Alexandre, o Grande, que em 327 a.C. conquistou Sogdiana e
Bactria.Durante o século IV d.C.uma nova onda migratoria de nômades
apareceu na Ásia Central, os hunos brancos eftalitas, que fizeram
balançar o controle sassânida da região até meados do século VI.Por
volta do ano 560, o Imperador Sassânida Cosróes I, aproveitou a
aparição de uma nova tribo nômade, os turcos, para aliar-se com eles e
inflingir uma derrota definitiva aos hunos eftalitas fixando a fronteira
nordeste do seu Império no curso do rio Oxus, ficando os turcos
estabelecidos na Transoxiana.
- Em 1.220, esses territórios foram conquistados por Genghis
Khan e seus exércitos mongóis. No século XIV, o conquistador Timuri-Lenk (Tamerlão), subjugou os mongóis e criou o Império de
Mawarannhar, com capital em Samarcanda.Os árabes deram à região
Transoxiana o nome de Mawarannhar. Tamerlão (1336-1405d.C.), não
era mongol e sim turco, nascido em Shajrishav, filho de um emir.
Durante os seguintes trinta e quatro anos desenvolveram mais de onze
campanhas estendendo seu império até a Mesopotâmia, o Cáucaso,
Persia, Afeganistão e India até o rio Indo. É considerado como referência histórica nacional usbeque. No inicio do século XVI, Marghilan
tornou-se famosa devido ao fato de um neto de Timur-i-Lenk, o sultão
Babur, ter nascido e crescido aqui. Ele tornou-se governante de Fergana
e mais tarde fundou o Império Mughal na Índia.
- Os turcos nômades derrotaram os hunos e incorporaram a
maior parte da Ásia Central ao seu Império. O Canato Turco do século
IX a XIII, formou-se uma civilização muçulmana baseada numa
agricultura de irrigação e no artesanato. A grande cidade de Bukhara
(centro religioso e de ciência muçulmana), Samarcanda e Urgench se
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
tornam prósperos centros de comercio das caravanas que atravessam a
Grande Rota da Seda, entre a China e Bizâncio. Uzbeques era o nome
coletivo que se dava às tribos nômades das estepes de diversas origens,
turca e mongol, todas elas de língua turca, que habitavam o Alay-Too
nos tempos de Tamerlão. Estas tribos, reunidas sob o comando de
Mohamed Shaybani, invadiram Mawa-rannahar no final do século XV,
aproveitando as divisões internas dos Timuridas e ocuparam Bukhara e
Samarcanda.
- A principal causa do declínio do Estado Usbeque no século
XVI, foi a diminuição do intercâmbio na Rota da Seda, entre a China,
Índia e Europa, transferido aos portugueses pela via marítima; a
epidemia que assolou a região em 1590 e as constantes invasões das
tribos nômades dos tártaros-mongóis; somado ao fato de o Canato
Usbeque ser um Estado muçulmano na fronteira da civilização
sedentária, rodeada de tribos nômades muitas vezes hostís. Os usbeques
se adaptaram à vida agrícola. Os turcomenos, karakalpakos, cazaques e
os quirguizes mantivram seu caráter nômade até a época da conquista
russa da Ásia Central em 1864 a 1884.
- No século XVIII e XIX, o Canato Turco fica dividido entre
os Canatos de Bukhara, Khiva e Kokand. O Canato de Bukhara
protegido pelas montanhas, isolado pelas suas estepes, é um Estado
forte e perigoso. Os emires de Khiva e Bukhara só exerciam uma
soberania nominal sobre as tribos turcas do deserto de Karakum (Areias
Pretas), que se dedicavam ao comércio de escravos no território do Irã.
Os três Canatos, na Ásia Central, entraram em choque com os interesses coloniais da Rússia e Grã-Bretanha relacionados com mercado do
algodão. Os russos ocuparam Tashkent em 1865 e governaram toda a
Ásia Central.
- Em 1867, o czar russo Alexandre II, cria a Província de
Turquestão, com centro em Taskhent, anexada à Rússia. Em toda a
Ásia Central, o exercito vermelho foi mantido ocupado em sufocarem
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
levantes através de décadas de domínio do território. O governo
soviético de Józef Stalin reorganizou as fronteiras da Ásia Central a
partir de um critério de limites étnicos. Em 1924, é criada a República
Socialista Soviética do Uzbequistão com a divisão do Turquestão
Russo, incorporada à União Soviética (URSS). Com a dissolução da
URSS, o Soviete Supremo do Uzbequistão proclama a independência
do país em 1991. Nas eleições o primeiro ministro soviético Islam
A.Karimov elege-se presidente, reeleito em 2007, por mais sete anos.
Na era soviética, as repúblicas da Ásia Central foram úteis para o
cultivo de algodão e testes de dispositivos nucleares. Moscou investiu
muito dinheiro e tecnologia no desenvolvimento desses projetos.
REPÚBLICA DE TURCOMENISTÃO
Depois de uma noite bem dormida, já recuperados do cansaço
da viagem à Khiva, os dois pesquisadores estavam animados para
prosseguirem nas suas explorações.O guia Alexei foi fazer uma revisão
na caminhonete e abastecer de combustível, enquanto isso, Álvaro e
Rodrigo aproveitaram o tempo para explorarem os arredores da cidade,
admirando os monumentos e as ruínas de Kunya-Urgench.A tarde após
o almoço, tomaram o rumo da antiga cidade de Nukus situada na
margem do Baixo Amu-Darya, distante 166 km de Urgench, de onde
partia o caminho, pelo deserto de Karakum, em direção à Ashkhabat
capital de Turcomenistão.
Pernoitaram em Nukus em casa de uma família uzbeque muito
hospitaleira e atenciosa. No outro dia de madrugada aventuraram-se
pela estrada, péssima, mal conservada, sem sinalização, que corria pelo
Deserto de Karakum (Areias Pretas), lugar inóspito, frio e arenoso,
ocupa (70% ou 250.000 km²) do território de Turcomenistão. É caracterizado pela existência de impressionantes dunas de areia preta de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
mais de 90 metros de altura e depressões modeladas pelo vento em
toda sua extensão, cobertos por uma vegetação pobre.
A caminhonete Toyota rodava pela trilha, desviando dos
buracos e bancos de areia. À tarde passou pela remota aldeia das tribos
Teke onde os esperava um espetáculo impressionante e único no
mundo, a cratera de Darweze. Situada a mais de 250 km ao norte de
Ashgabat, bem no meio do grande deserto de Karakum, a cratera, com
cerca de 60 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade está em
chamas há pelo menos 42 anos. Os habitantes locais de vida nômade
chamam-na de “Porta para o Inferno”, por causa do cheiro de enxofre
queimado que pode ser sentido de longe. O guia Alexei sabia de longa
data dessa estranha ocorrência, descreveu-a em pormenores.
- A cratera é rica em enxofre e gás natural, substâncias que
podem estar ligadas à existência do buraco, cujas chamas de brilho
laranja, durante a noite, podem ser vistas do espaço a centenas de
quilômetros de distância. Os relatos sobre a origem do fenômeno
contam que, no ano de 1971, geólogos russos estavam procurando
reservas de gás natural na região, quando uma das plataformas de
perfuração caiu em uma caverna subterrânea, o que abriu a cratera. A
caverna estava cheia de gás, então os russos incendiaram o local para
que o gás se consumisse e não se espalhasse pelo ambiente, mas o gás
da cratera estaria queimando desde então.
- É comum encontrar no deserto animais selvagens como
lobos, raposas e antílopes. Também se reproduzem as perdizes, galos
negros, águias douradas, aves pernaltas, falcões, gaviões,uma grande
diversidade de pássaros, insetos, répteis e entre eles escorpiões, cobras
venenosas e lagartos.Nesse quente e inóspito deserto vivem pastores
nômades que se dedicam à criação de camelos e ovelhas karakul.A
região é rica em ouro, petróleo e gás.
Os pesquisadores continuaram a viajar pela estrada do deserto
escaldante por exaustivas 10 horas, para percorrer os cerca de 500 km
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
de distância que leva até Ashgabat, a capital do país. Ao entrarem na
cidade dirigiram-se ao centro à procura de alojamento.Antes
apresentaram-se ás autoridades fiscais para carimbar os passaportes e o
visto de entrada.Após as formalidades, hospedaram-se no Grand
Turkmen Hotel. O guia Alexei recolheu o carro na garagem e tirou as
bagagens. Fizeram o chek-in,e receberam as chaves do apartamento
para três pessoas, com chuveiro quente e refeições servidas no
restaurante do hotel. Logo após o café da manhã, foram explorar a
cidade e os arredores deste remoto mundo.
- A capital de Turcomenistão é a cidade de Ashgabat, a maior
do país, com 637.238 habitantes. Foi fundada em 1818, no lugar de
uma aldeia do mesmo nome, como uma guarnição russa. Situada no
limite do deserto de Karakum, na fronteira com o Irã, nas encostas da
Cordilheira Kopet-Dagh cujo pico mais alto se eleva a 2924 metros
acima do nivel do mar.A cadeia de montanhas é propensa a grande
atividade sismica. A cidade foi quase totalmente devastada por um
terremoto em 1948, com uma intensidade de 7,3 na escala Richter, que
matou cerca de 110.000 pessoas.
- Ashgabat apresenta imponentes edifícios e monumentos de
mármore branco, parques, fontes, jardins bem cuidados, longas avenidas e mesquitas de cúpulas douradas. Além dos museus está o Bazar
Tolkuchka, onde são vendidos animais vivos, jóias, tapetes e uma
grande diversidade de frutas secas. A cidade desenvolveu-se sobre as
ruínas da cidade da Seda de Konjikala mencionada pela primeira vez
no século II a.C.e arrrasada por um terremoto no século I a.C.
- Konjikala foi reconstruída, e devido a sua localização
privilegiada na Rota da Seda, floresceu, até sua destruição pelos
mongóis no século XIII. Renasceu nos séculos seguintes como uma
pequena aldeia até que os soldados russos construíram uma fortaleza
em 1869. Ashgabat permaneceu como parte da Pérsia até 1881, quando
foi cedida ao Império Russo. O governo soviético estabelecido em
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Ashgabat foi expulso por forças de uma coalizão de britânicos e
turcomenos, em 1918, mas voltou em 1919. A cidade experimentou um
rápido crescimento e industrialização.
Alexei informou quais são as atrações turísticas de Ashgabat.
- Possui o Museu de Belas Artes Turcomano, o Museu do
Tapete Turcomano, o Museu de História do Turcomenistão e o Museu
Nacional de História de Ashgabat, que exibe artefatos do período das
civilizações dos Partos e dos Persas e a Academia de Ciências de
Turcomenistão. Entre as grandes Mesquitas destacam-se a Mesquita
Azadi, a Mesquita de Omar Khezrety e a Mesquita Iraniana. O Arco da
Neutralidade, um grande tripé sobre o qual há uma estátua de ouro do
ex-presidente Saparmurat Niyazov, endeusado por ele mesmo. A
estatua gira, a fim de sempre ficar face ao sol durante o dia. Os
brasileiros visitaram o Hipódromo, o Parque da Independência, Museu
de História e Etnografia, o Arco da Neutralidade, a Sagrada Mesquita
de Turkmenbashi e o sitio arqueológico de Nisa, a antiga capital do
Imperio Parta, que teve sua época próspera no século III a.C.
- No alto da colina, no seio das Montanhas Kopet Dagh, a 18
km de Ashgabat, ficam as ruínas da cidade histórica de Nisa, que no
ano 247 a.C.até 253 d.C.foi capital do Império de Partia.Nela se
encontra, o Palácio Real, alguns templos e centros de atividade
comercial. Também próxima à Nisa existe a antiga cidade de Anauz,
habitada desde o Período Neolítico, que conta com sitio arqueológico
e é famosa por sua bela Mesquita. Alvaro e Rodrigo acompanhados
pelo guia Alexei percorreram a cidade de Ashgabat, admirando seus
museus, mesquitas, bazares, praças e mausoléus e visitaram as ruínas
das históricas cidades de Nisa e Anauz.
- Desde o primeiro milênio a.C. o Turcomenistão esteve incorporado a vários grandes Estados, como o Império Persa, depois ao
Império de Alexandre, o Grande, no século IV a.C. e ao Imperio Árabe.
Em meados do século III a.C.foi substituído pelo Estado de Partia. A
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
residência real do Império de Partia foi localizado em Nisa Velha,
cidade que estava situada na Rota da Seda, em conseqüência os partos
tinham uma vida econômica e comercial ativa e grandes cidades
foram estabelecidas. O Estado de Partia durou 470 anos, entrou em
colapso em 224 d.C.,foi conquistado pela dinastia Sassânida iraniana.
Entre os séculos V e VIII, houve invasões eftalitas, turcas e árabes, isto
representou o inicio da dominação turca no Turcomenistão. O século
VI, é conhecido como o século dos khagans (reinos) turcos.
- Escavações arqueológicas mostram que o primeiro assentamento humano na região do atual Turcomenistão ocorreu ainda no
período Neolítico entre 7.000 - 5000 a.C Os artefatos encontrados nas
áreas de Togalak-Depe, Chopan-Depe e Geok-Depe, sugerem uma
cultura avançada. As pessoas foram capazes de criar pequenas maravilhas em vários tipos de arte, contando a sua história, modo de vida e
crenças religiosas. A escultura é uma arte antiga, tendo aparecido no
periódo Neolítico, sofreu um caminho difícil de desenvolvimento.
Adoração da natureza, ritos e magia, eram as condições em que a arte
neolítica dos ancestrais dos turcomenos foi formada.
- Turcomenistão é um país situado na Ásia Central,com a área
de 488.100 km² limitado ao norte pelo Cazaquistão, ao norte e leste
pelo Uzbequistão, ao sul pelo Afeganistão e pelo Irã, a oeste situa-se na
costa do Mar Cáspio ao qual tem acesso por 1.170 km de litoral, onde
existe grande reserva de petróleo quase inexplorada. Os turcomenos são
descendentes dos turcos Oghuz da Mongolia, um dos principais ramos
dos povos turcomenos.
- Os Oghuz instalaram-se no território do atual Turcomenistão
a partir do século VII a.C. provenientes da região do Altai e mais
precisamente do Vale do Orkhon. Muitos Oghuzes emigraram para o
ocidente nos séculos IX e XII d.C., mas os que ficaram deram origem
ao povo atual, entre os séculos XIII e XVI.O idioma turcomeno está
muito próximo do tártaro da Criméia e do turco, que integra o ramo de
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
línguas turcomenas (ou túrquicas),faz parte do grupo Oghuz, também
incluí as línguas azeri, gagauz e turco, da família das línguas
altaicas.Ao longo da história, o turcomeno incorporou contribuições do
persa, árabe e do russo.
- Os primeiros habitantes do atual Turcomenistão foram as
tribos nômades turcas provenientes da região da Mongólia e do atual
Cazaquistão, habitantes das encostas das montanhas Altai mongólicas.
A partir do século X, essas tribos passaram por um processo de
islamização, que veio para o país através da Rota da Seda, de atividades
missionárias. Os missionários foram adotados como patriarcas dos clãs
ou grupos tribais. Na era soviética, todas as crenças religiosas foram
atacadas pelas autoridades russas como superstição e vestígios do
passado. A prática religiosa foi proibida e a grande maioria das
mesquitas foi fechada.
- Khwarazm é uma região histórica ao longo do rio AmuDarya (antigo Oxus) no atual Turcomenistão e Uzbequistão. Ele fazia
parte do Império Aquemênida da Persia nos séculos VI-IV a.C. Em 330
a.C. Alexandre, o Grande, derrotou os Aquemênidas. Os árabes
conquistaram o território no século VII. Nos séculos seguintes, o país
foi governado por muitos invasores, incluindo os turcos Seldjucidas,
Khwarazm-shahs, Mongóis e Timuridas até o inicio do século XVI,
quando se tornou o centro do Canato de Khiva. Durante o reinado do
sultão Jalaledin Khwarazm-shah foi conquistado o Irã, o Iraque, parte
da Ásia Central, Cazaquistão e Norte da Índia, o que o tornou o maior
Estado do Oriente. Eles construíram uma civilização que era superior à
dos seus contemporâneos, em cultura, artes e arquitetura.
- Nos séculos XI-XII, surgiram os Turcos Oghuz que levaram
à formação de um grande império, que se estendia da Ásia Oriental
para a Síria e Palestina, e era governado pela dinastia Seldjuk. Os
sultões Seldjuks incentivaram a ciência, a arte bem como a arquitetura.
A construção maravilhosa e evocativa do período Seldjuk é o MausoMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
léu do Sultão Sanjar em Merv. Do período aparecem magníficas obras
de arquitetura, muitas das quais estão preservadas até hoje, são um
legado histórico e cultural de valor inestimável da nação turcomena.
- Aproveitando-se dos distúrbios internos e externos que
surgiram no Império de Khwarazm, os mongóis lançaram um ataque
com um enorme exercito e começaram a conquistar as cidades do
Norte Khwarazm uma por uma. Em 1218, Genghs Khan, o Conquistador Mongol, invadiu e ocupou toda a Ásia Central. Em 1221, os
exércitos mongóis chefiados pelos filhos de Genghis Khan, Jushi,
Chagatai e Ogodei atacaram a capital do Império de Khwarazm,
Gurganj, e depois de um sitio de seis meses a cidade se rendeu, os
mongóis a arrasaram e mataram mais de um milhão de pessoas. Os
ataques mongóis causaram transtornos enormes à vida econômica e
social no Turcomenistão e nas terras de Khwarazm. Bibliotecas,
mesquitas, escolas e instituições de ciências foram destruidas e
milhares de pessoas foram assassinadas.
- Após a invasão mongol, as terras de Turcomenistão foram
divididas entre os filhos de Genghis Khan, Jushi ficou com o Norte,
Hulagu com o sul e Chagatai com o leste. Após a desintegração do
Império mongol, como resultado de conflitos internos, o chefe turco
Tamerlão reuniu as tribos nômades turcas formando um poderoso
exercito.Tendo ocupado Khwarazm e Turcomenistão em 1388, estabeleceu um grande Império cuja capital era Samarcanda, destruiu a Horda
de Ouro e estendeu seu domínio para o norte. Tamerlão reinou entre
1370 e 1405.
- A história do Turcomenistão desde o século XVI até o
século XIX foi determinada pelas relações entre o estado do Irã,
Khiva, e Bukhara. No entanto, como as guerras entre estes Estados,
neste perío-do ocorreram principalmente nas terras do Turcomenistão,
elas prejudicaram muito o povo turcomeno. Em 1864 os russos
ocuparam o Canato de Kokand e tomaram Tashkent e Samarcanda. Em
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Um olhar sobre o Mundo
1868-1871 eles conquistaram o Canato de Bukhara, e avançaram do
Cáspio para a área do Mar de Aral ocupando novos territórios. Em
1881, os russos entraram na cidade de Ashkhabat.
- Na segunda metade do século XIX, os russos fundaram o
porto de Krasnovodisk, a leste do Mar Cáspio, que logo se transformou
em área militar russa.Na batalha de Gok Tepe, em 1881,cerca de 150
mil turcomenos foram mortos pelo exercito Imperial Russo e o
território passou a constituir a província Transcaspiana Russa durante
setenta anos. Em 1895, a Rússia e o Reino Unido dividiram entre si o
Turcomenistão. De 1920 a 1923, a dupla ocupante dididiu o vasto
território do Turquestão em cinco repúblicas socialistas: Turcomenistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão.
- Até 1990, Turcomenistão foi uma república soviética chamada Turkmênia. A independência de Turcomenistão foi proclamada em
27 de outubro de 1991. A população atual do país é de 5,2 milhões
(ano 2012), com a composição de 90% de turcomenos, 2% de russos,
uzbeques 3%, cazaques e outros 5%.O idioma oficial é o turcomeno. A
maioria ou 90% da população professa a religião muçulmana sunita,
enquanto 8%, são seguidores da Igreja Ortodoxa e 2%, são agnósticos.
O país é uma república presidencialista, em 2007 foi eleito como
presidente Gurbanguly Berdymuhammedov, reeleito em 2012.
- No ano de 1991, com a independência, o turcomeno
recuperou o alfabeto latino, deixando de lado o antigo alfabeto cirílico,
russo. As escritas mais antigas do idioma turco estão na atual
Mongólia, são as inscrições Bugut no alfabeto sogdiano dos primeiros
Göktürks da primeira metade do século VI, numa extensa área do vale
do rio Orkhon, descobertas em escavações de arqueólogos russos em
1893. Essas peças foram elaboradas por volta de 632, e chamadas de
Alfabeto de Orkhon.
- O clima do país é um árido subtropical desértico, com pouca
chuva, os invernos frios e secos, verões quentes com temperatura que
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
chega a 51,7ºC. Mais de 90% do território do país é ocupado pelo
deserto de Karakum, onde existem imensas jazidas de gás natural, a
principal receita do país. O relevo é dominado pelas planícies arenosas
do deserto de Karakum (areias negras).Cerca de 80%do território tem
altitude inferior a 500 metros e mais de 10% consistem em gigantescas
dunas de areia. O centro do país e dominado pela Depressão de Turan,
que atinge 81 metros abaixo do nível do mar. As maiores elevações se
encontram nas cordilheiras de Paropamisos e Kope-Dag no sul, e do
planalto Ustyurt no norte.O deserto de Karakum ocupa a parte mais
árida da depressão aralo-caspiana, onde muitas áreas foram recuperadas
para agricultura através de irrigação
- Os rios ausentes na maior parte do território sulcam as
regiões de fronteiras, como o rio Amu-Darya na divisa de Uzbequistão
e o Murgab, que nasce no Afeganistão, o Tedzhen e o Aatrek.O Canal
de Karakumsky de 1,1 mil quilômetros, o maior projeto de irrigação do
mundo,iniciado em 1950, transporta a água do rio Amu-Darya para
outras regiões áridas do país,tornando possível o cultivo de algodão em
áreas originalmente secas, mas vem causando um desastre ambiental no
mar de Aral,onde o Amu-Darya deságua. O Aral está secando deixando
à sua volta grandes depósitos de areia com ausência total de vegetação.
- As maiores densidades demográficas ocorrem na costa do
Mar Cáspio, ao longo dos rios e dos oásias. O Turcomenistão é um país
onde predomina o deserto que é parcialmente despovoado, só habitam
ali alguns pastores nômades, criadores de cabras. A ausência quase
total de vegetação expõe o solo à erosão dos ventos e à desertificação
contínua o que se torna um grande problema.O subsolo é rico em vários
minerais, possui grandes reservas de petróleo, gás natural, carvão,
cobre, sal e enxofre.A industria se destaca no setor petroquímico,
metalúrgico e mecânico.A fabricação de tecidos, especialmnte de
tapetes, também é importante. Na agricultura, o principal produto é o
algodão, cereais, batata, tomates e frutas. As tribos nômades da região
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
criam cavalos, camelos bactrianos (de duas corcovas) que utilizam no
transporte de cargas, e ovelhas karakul da qual aproveitam a lã e carne.
Álvaro e Rodrigo, não deixaram de conhecer as cidades mais
importantes do país: Turkmenbashi, Mary e Merv, aproveitando o
conhecimento da língua turca (farsi) do guia Alexei. Viajaram até lá.
- Turkmenbashi, cidade portuária de frente ao Mar Cáspio, é
a porta de ligação marítima para o Ocidente. Um serviço de balsa liga
Turkmenbashi com Baku, capital de Azerbaijão. É o ponto mais
ocidental da ferrovia Trans-Cáspio que liga o porto e a cidade à capital
Ashgabat. A maior refinaria de petróleo de Turcomenistão está em
Turkmenbashi. Em 1717 Alexander Bekovich-Cherkassy, príncipe
russo, estabeleceu um povoado fortificado no leito seco do rio AmuDarya, quando este rio desaguava no Mar Cáspio, com finalidade de
conquistar o Canato de Khiva. A expedição falhou e os russos
abandonaram o povoado por 150 anos. Em 1869, os russos voltaram a
ocupar o forte, agora batizado de Krasnovodsk..
- A Rússia Imperial tinha a sua base de operações contra
Khiva e Bukhara e as tribos nômades turcomenas. Um dos atrativos da
cidade é o Museu de História Régio-nal, situado no edificio que foi o
antigo Forte Russo. As ilhas são partes da Reserva Estatal de
Turkmenbashi criada para proteger as mais de 280 espécies de aves e
animais que vivem nesse habitat. Para os dois exploradores foi uma
dádiva poder estudá-los no seu próprio lar.
- A cidade de Mary, é o centro industrial de Turcomenistão e
a segunda maior do país. Aí se encontra o Museu Rgional que possui
mostras da cultura e tradições turcomenas, incluindo objetos cerimoniais, tapetes, o Bazar Zelyony e o Tikinsky Bazar.
- A cidade de Merv, antiga Fortaleza Parta, estende-se por
100 km², encerra em si mesma a vida de cinco cidades muradas, de
diferentes períodos históricos. Povoada desde a Idade do Bronze
conserva vestígios do século VI a.C.e posteriores: muralhas, templos,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
mausoléus, cisternas. Em 330 a.C., Alexandre, o Grande, derrotou os
exercitos Aquemênidas, estabeleceu uma cidade no rio Murgab que
chamou de Alexandria.A cidade mais tarde se tornou Merv, que foi
uma das grandes cidades do mundo Islâmico e um importante
entreposto da Rota da Seda.Possui um sitio arqueológico, as Fortalezas
Erk-Kala e Giaur-Kala,o Mausoléu do Sultão Sanjar, a Cidadela do
Sultão Kala, o Mausoléu de Muhammad ibn Zeid, a Fortaleza KyzKala, o Parque Nacional Histórico e Cultural da Antiga Cidade de
Merv, declarada como Patrimônio Cultural pela Unesco. Merv é considerada o centro espiritual dos peregrinos islâmicos e sitio dos memoriais e de ruínas históricas. A cidade é rica em imensas plantações de
algodão que são regadas pelas águas do rio Murgab.
Os exploradores Álvaro e Rodrigo não queriam deixar este
enigmático país, o Turcomenistão, sem conhecer e explorar a Reserva
Natural de Kugitang. Era uma ocasião muito especial para ampliar suas
pesquisas sobre a biodiversidade de plantas e animais desta região da
Ásia Central.Vão gastar um dia de viagem de Ashgabat até Atamyrat
(Kerki) isto é, percorrer 600 quilômetros de carro, e mais três horas
para chegar à Reserva, ao todo vão despender seis dias para visitar a
área toda. A hospedagem vai ser num acampamento base para turistas.
- A Reserva Kugitang está situada na encosta oeste das
Montanhas Kugitang, na fronteira com o Uzbequistão. Kugitang significa em turcomeno “montanhas quase intransponíveis”.Abrange um
território de 27.140 hectares, a área foi declarada como reserva natural
em 1986, a fim de proteger o rico ecossistama da cordilheira. A
característica mais marcante da Reserva Natural de Kugitang é o
“Platô Dinossauro”com mais de 400 pegadas de dinossauros
megalossauros, do Período Jurássico, cerca de 150 milhões anos atrás.
- Os vales profundos e encostas das montanhas são cobertas
por árvores de nóz, bordo, zimbro e uva selvagem. Vivem ali ovelhas e
cabras da montanha, gatos selvagens, leopardos persas, roedores,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
serpentes e divesas espécies de aves. A montanha mais alta do
Turcomenistão Air Baba (3.137 metros) situa-se na Reserva Natural .O
Hodjachilgazbaba Canyon é de 28 quilômetros de extensão e as
paredes do Daraya Canyon são de 600 metros de altura.Kaptyakan
Cave parte da mais extensa rede de cavernas calcárias da Ásia Central.
- O Turcomenistão tem o quinto maior depósito de gás natural
do mundo, as atividades de extração de petróleo desenvolveram-se
perto do Mar Cáspio. O governo tem adotado reformas econômicas
com cautela, e espera apoiar-se nas exportações de gás natural e de
algodão para sustentar sua ineficiente economia. As metas de
privatização são limitadas. O país tem necessidade de pagar os juros de
uma grande dívida externa de curto prazo. As exportações totais do país
cresceram cerca de 15% ao ano entre 2003 e 2006, devido aos altos
preços externos do gás natural e de petróleo.No entanto, as condições
de vida do povo ainda continuam muito precárias.
REPÚBLICA DO TADJIQUISTÃO
Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro, na companhia do guia
Alexei, depois de explorarem as cavernas, os rios, os vales e montanhas
de Turcomenistão, fotografaram e estudaram a flora e a fauna durante
os seis dias de caminhada pela região.Avaliaram o resultado positivo
das descobertas sobre a Reserva Natural Kugitang, registrando tudo nos
seus notebook. Já era tarde quando voltaram exaustos para o povoado
de Kerki, onde se hospedaram numa casa de família uzbeque que
recebia excursionistas oferecendo-lhes alimentação tradicional, como
uma sopa de verduras com carne de carneiro e lugar para dormir.
De Kerki, pretendiam viajar para cidade de Dushanbe a capital
de Tadjiquistão. Para isso, Alexei abasteceu a caminhonete de combustível, verificou a parte mecânica, em seguida pegaram a estrada. Na
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Um olhar sobre o Mundo
fronteira foram efetuadas as formalidades aduaneiras com apresentação
dos passaportes e vistos de entrada.A distância de Kerki para Dushanbe
é cerca de 350 km, com travessia pelo rio Amu-Darya em balsa, que se
apresentou como uma verdadeira aventura. O rio é constituido pelo rio
Vakhshs, que nasce na região do Pamir a 6.000 metros de altitude, no
norte do Hindu Kush, se junta ao rio Panj para formar o Amu-Darya, na
fronteira do Tadjiquistão-Afeganistão, corre por 2.620 km e deságua no
Mar de Aral.
No Tadjiquistão não há qualquer sinalização na estrada, este
fato demonstrou-se o mais difícil da viagem.Como não tínham mapa do
país e dada a ausência de sinais,ficaram desorientados.Com a estrada de
terra em péssimas condições, a temperatura a rondar os 45º, o dia foi
terrível.A curta distância até Dushanbe, normalmente, devia ser percorrida em máximo de 6 horas, mas demorou o dia todo, mesmo tendo
saído muito cedo.Viajaram sem descansar, sem se alimentarem bem (a
gastronomia na Ásia Central é a mais pobre do mundo),pois tudo que
havia era carne de carneiro e gordura a boiar na sopa, no arroz, no
yogurte e na verdura.Água potável era difícil de obter.Viajaram dezenas de quilômetros sem ver uma única pessoa, uma casa, ou um bar.
- Tadjiquistão, é um país localizado na Ásia Central, com uma
área de 143.100 km². Apesar de ser pequeno é uma autêntica ilha em
termos paisagísticos e culturais, dos grandiosos montes Pamir à antiga
Rota da Seda. O relêvo é ocupado em sua maior parte por um planalto
de 4 mil metros de altitude média, com picos que ultrapassam 7 mil
metros como os montes Pamir, no leste, que abrigam o ponto culminante do país, o Pico Imeni Ismail Samani (Pico Comunismo) de 7.495
metros de altitude. Nas montanhas Guissar-Alay, fica o Pico Lênin de
7.134 m de altitude, a Cordilheira Tien Shan abriga o Pico Pobeda de
7.439 m e o Khan Tengri (Senhor dos Espíritos) de 7.010 m de altitude.
Pamir e a Tien Shan ocupam mais de 90% do território do Tadjiquistão,
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
quase totalmente coberto por montanhas. A metade oriental tem as
maiores alturas em Transaltai de 7.143 metros.
- Enormes geleiras alimentam uma rede hidrográfica de grande
potencial energético.No norte, o rio Syr-Darya irriga o vale de Fergana,
no leste, destaca-se o rio Zeravshan, nas terras baixas do sudoeste
correm o Kofamihon, o rio Vakhshs e o rio Panj, que deságuam no
Amu-Darya, na fronteira do Afeganistão. O país possui uma população
de 7,1 milhões (2012) sendo 75% de tadjiques, 23% usbeques, 3% de
russos, 1,5% quirguizes e 6,5% outros. O território do Tadjiquistão é
povoado desde a Antiguidade remontando à 3º milênio a.C.
Estabeleceu-se ali a civilização dos Citas (cultura Andronovo), os
primeiros focos sedentários da Ásia Central e da Sibéria Meridional. O
Estado Bactriano situava-se no curso superior do rio Amu-Darya. A
bacia do rio Zeravshan e o vale Kashkadaria foram os núcleos da
formação de outro Estado, a Sogdiana. Do século VI a.C.ao IV a.C.
suas terras que eram conhecidas como Bactria e Sogdiana, foram
anexadas ao Império Persa Aquemênida.
- O poderoso Império Persa caiu após a invasão do exercito
macedônico de Alexandre o Grande, na Sogdiana e Bactria, em 327
a.C.Com a queda do seu Império no século III a.C.surgiram o Estado
greco-bactriano e o reino de Kushan, que logo caíram com os ataques
das tribos huez-hi e dos tocarios das estepes.Nos século IV e V d.C.
Sogdiana e as regiões limítrofes foram invadidas pelos hunos eftalitas
e nos século VI e VII, pelos povos Turco-Oghuzes da Mongólia. No
final do século VII o Tadjiquistão caiu sob o poder do califado árabe.
- Povo de origem turca, de língua iraniana, os tadjiques foram
islamizados durante o século VIII d.C., sob ocupação árabe. O território
de Tadjiquistão foi incorporado ao Império Mongol de Genghis Khan
no século XIII, e no século XVI, foi ocupado pelo turco Tamerlão
(Timur-i-Lenk). Mesmo sob a influência árabe na região, os mongóis e
turcos otomanos também o ocuparam. Durante o século XIX, o
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Um olhar sobre o Mundo
Tadjiquistão é dividido entre o Emirado de Bukhara que existiu até
1921 e o Canato de Kokand.
- O Tadjiquistão, foi na Época Antiga uma importante passagem da conhecida Rota da Seda, desenvolvida em 112 a.C. Era a rota
de comércio entre a China e o Ocidente, tendo recebido influência de
várias religiões, como budismo, cristianismo, zoroastrismo e maniqueísmo. No inicio do século VIII, as caravanas árabes começaram a
divulgar o Islamismo nas terras tadjiques e no século seguinte a religião islâmica já era predominte na região, atualmente 86,4 % da
população professa o islamismo sunita, 5% xiita, o agnosticismo 8,6%.
Desde o domínio persa, mongol até a ocupação russa no século XIX, o
Tadjiquistão esteve sob o poder de forças estrangeiras durante grande
parte de sua história. Os tadjiques são cultural e linguisticamente persoiranianos não turco-mongóis como muitos povos da Ásia Central.
- Em 1860, o país foi ocupado pelo Império Russo, ficou por
131 anos sob o jugo imperial. Com a revolução bolchevique ocorrida
na Rússia, o Tadjiquistão passou a fazer parte da União Soviética em
1922. Em 1991 o Tadjiquistão torna-se independente na seqüência do
colapso da URSS. Em seguida o país mergulhou em uma guerra civil
que só terminou em 1999, quando foram realizadas eleições pacíficas.
O Tadjiquistão é uma República presidencialista. O presidente eleito é
Emomali Rakhmon desde 1994, reeleito em 2006.
- Os muitos grupos étnicos presentes no país são de iranianos,
russos, ucranianos, alemães, armênios e afegãos. É um país pobre, a
economia divide-se entre agricultura, a indústria e o setor de serviços.
O subsolo é rico em ferro, alumínio, chumbo, zinco, antimônio, mercúrio, além de possuir importantes reservas de ouro e urânio, carvão,
tungstênio, bismuto.O país é famoso por pedras preciosas e semipreciosas, incluindo lazurite do Pamir, lápis-lazúli, rubis, ametistas,
espinelios e quartzo ornamental. Entretanto, a principal renda do
Tadjiquistão e derivada do tráfico de heroína do Afeganistão.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- A parte ocidental do Vale de Fergana forma um promontório
ao norte do país, é a ponta extrema do fértil Vale, por onde corre o SyrDarya no rumo noroeste na direção do Mar de Aral. Áreas férteis
encontram-se nos vales localizados entre as cordilheiras, cortados por
inúmeros rios. O clima frio e seco nas montanhas forçou a agricultura
a se limitar nas planícies ocidentais, férteis e irrigadas pelas águas dos
rios, onde se cultivam cereais, linho, vinhas e pomares. A agricultura e
o setor mais importante e o algodão a principal colheita.
- O Tadjiquistão faz fronteira com o Afeganistão ao sul, com
Uzbequistão a oeste com Quirguistão ao norte e a República Popular da
China ao leste. A maioria da população do Tadjiquistão pertence ao
grupo étnico tadjique, que partilha sua cultura e história com o Afegãnistão e falam o idioma persa, fato que favoreceu uma expressiva
mistura etnica e de tradições. A forte influência da tradição persa na
cultura tadjique vive na tecelagem de vistosos tapetes. É produzida uma
vasta gama de produtos de porcelana e esculturas de jade.
- O tipo físico dos tadjiques é uma miscigenação da raça
mongol com caucasóide, similar à dos seus vizinhos afegãos que são
altos, de pele morena, esguios, com olhos e cabelos negros. O antigo
nome de Afeganistão era Aryana, pátria dos primeiros arianos. Muitos
habitantes destas regiões usam barretes na cabeça feitos de astracã (pele
de cordeiro karacul ),ou de pele de raposa.Vestem roupas tradicionais
do país: sandálias, largas calças brancas como dos árabes, uma enorme
camisa branca, usadas para fora das calças que descem abaixo dos
joelhos, um colete ricamente bordado, um sobretudo de tecido pesado.
Alguns usam turbante com uma das pontas atiradas sobre os ombros.
A lingua oficial é o tadjique (farsi), atribuído ao grupo de línguas
persas, mas fala-se também o uzbeque e o russo.
- O clima do país e de invernos suaves e verões quentes em
vales e planicies, seco e frio nas montanhas. Mais de 90% da população
de Tadjiquistão está concentrada no vale da depressão Zeravshan
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
noroeste e nos vales dos afluentes do Amu-Darya, na região
montanhosa do sudoeste O contraste climático promoveu uma rica flora
e fauna.Exitem mais de 5.000 espécies de plantas e flores, enquanto os
mamíferos incluem ursos, raposas, linces, martas, zibelinas, leopardosda-neve e lobos...lobos...brr... Muitos lobos. Os Montes Pamir são o
antigo lar do carneiro selvagem e do cervo do mato.
- A capital Dushanbe é a maior cidade do país, com 773.939
habitantes, situa-se no oeste do território tadjique. Dushanbe, de 1929 a
1961, chamava-se Stalinabad, em homenagem a Józef Stalin, época em
que os russos ocupavam o país.Os soviéticos transformaram a área até
convertê-la num centro de produção de algodão e seda e realojaram na
cidade milhares de pessoas provenientes de outras repúblicas da União
Soviética.A cidade foi muito prejudicada com a Guerra Civil do país,
luta entre facções políticas, religiosas e tribais que ocorreu entre 1992 a
1997, logo depois da Independência.Localizada entre montanhas, tem
sofrido restaurações para corrigir danos da guerra civil. Hoje é considerada uma cidade tranquila e agradável. Alguns edifícios interessantes
são: a União dos Escritores, o Palácio Presidencial, o Museu Nacional.
Ainda vale a pena visitar o Jardim Botânico e os Montes Fann.
- Existem na região restos arqueológicos que remontam ao
século V a.C., mas Dushanbe foi um pequeno povoado até cerca de 80
anos atrás.Atualmente é uma cidade moderna, com grandes parques
verde-jantes, largas avenidas herdadas do tempo em que os russos ali
mandavam, com grandes estátuas e monumentos.Tem uma enorme
quantidade de jeeps Toyota,de primeira linha, que circulam pelas avenidas; os edifícios de estilo clássico europeu pintados de cores claras,
as praças e rotundas com estatuas de herois locais, restaurantes internacionais e cafés modernos em estilo francês, tudo indica uma cidade
européia, nada supõe que se trata do mais pobre país da Ásia Central.
- Sómente há hotéis em cidades maiores do país. Em Dushanbe
foi recomendado o Hotel Vahkshs, bem central, na Avenida Rudaki,
Monika Gryczynska
131
Um olhar sobre o Mundo
junto à Opera, asseado e espaçoso, com quarto duplo, banheiro com
chuveiro quente e de preço acessível.Ali se hospedaram os dois
pesquisadores brasileiros junto com seu guia Alexei. Próximo à longuíssima Avenida Rudaki fica um belo Parque com xafariz no centro.
Afastando-se por uma rua paralela que sai da praça em frente ao
Teatro da Ópera encontra-se o grande Bazar Barakat, no seu interior
parece que se está em plena Rota da Seda num abundante mercado das
Mil e Uma Noites, cheio de mais variadas mercadorias: tapetes persas e
nacionais, tecidos da mais pura seda, esculturas de jade, jóias de ouro e
lindíssimas bijuterias folheadas a ouro, ânforas de prata e os mais
exóticos artefatos. Não falta nada neste grande centro de negócios.
Deixar o confortável hotel que os hospedou durante dois dias
teve um efeito melancólico, pois enfrentaram um percurso entre
Khorugh e Dushanbe de cerca de 300 km, que devia levar umas quinze
horas, mas demorou dois dias por causa das péssimas condições da
estrada e conseqüentes avarias na caminhonete. Atravessaram pequenas
aldeias de yurtes espalhadas e casas de adobe, os campos de cultivo
divididos por grandes muros em pedra, e cascatas que correm das montanhas e trazem água pura, cristalina, que é a maior riqueza do país.
As demais estradas que levam a outras regiões do país são de
terra batida, como para ás cidades de Kulob, Qurghonteppa, Khorogh,
Urateppa, Murgab, Langar,Ishkashim, Saghuirdasht Pass a 3252 metros
de altura e para Pamir Highway (Estrada do Pamir).Os pontos turísticos a visitar no Tadjiquistão são: em Marguzor os idílicos e belos Sete
Lagos situados entre montanhas, cada lago de cor diferente. O sitio
arqueológico de Sarazm, no Vale de Zeravshan, atesta a presença
humana na região a cerca de 4.000 a.C., remonta ao período Neolítico.
Sarazm e uma cidade antiga a noroeste do Tadjiquistão perto da
fronteira do Uzbequistão. Vale a pena visitar o National Museum of
Antiquies of Tadjiquistão.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
- A segunda maior cidade do país é Khujand que se une à
capital por 100 km de rodovia asfaltada. Fundada por Alexandre o
Grande, na sua passagem pela região no século IV a.C.conserva
vestígios das muralhas do século X. Também são interessantes a
Mesquita e o Mausoléu de Sheikh Massal ad-Din do século XIV. Resta
como memória da ocupação russa uma estátua de Lênin de vinte metros
de altura, decorada na base com um gigantesco emblema de foice e
martelo. O movimentado Bazar Panchshanbe em frente a um complexo
religioso. De antiga colônia persa do século VI a.C., a país independente da era pós-soviética,Tadjiquistão percorreu um longo caminho,
construindo uma das mais valiosas identidades culturais da região.
Os habitantes vivem em isolamento; para chegarem a qualquer
cidade, mesmo pequena, terão que caminhar durante 2 ou 3 dias por
trilhas cavadas entre as montanhas. Na impossibilidade de encontrar
pousada ou restaurante para se alimentar e descansar, os exploradores
paravam nas casas de famílias taidjiques, aliás, muito sorridentes e
gentís, onde era lhes oferecido banho, cama e servida sopa de carne de
carneiro para o jantar. A realidade é que estas demoras lhes permitiu
ver mais de perto o país e conhecer melhor a sua gente.
Antes de partir de Dushanbe, os pesquisadores, já tinham
conhecimento das dificuldades das estradas tadjiques, por isso não se
espantaram quando, algumas horas depois de rodarem pela estrada
esburacada, uma pedra mais afiada furou o cárter do veículo, que
acabou por levá-los à Istaravshan para o concerto do carro. A caminhonete rodava por uma estradinha de terra em precárias condições, a
neve ficava cada vez mais forte, a visibilidade era no máximo de 50
metros, era difícil encontrar a direção certa a seguir. Lentamente foram
ganhando altura, seguindo por uma trilha bastante escorregadia, mas
como os pneus do veiculo eram próprios para este tipo de estrada,
continuaram subindo, cruzaram a barreira dos três mil metros de altura.
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
Como estavam cada vez mais alto, o ambiente foi ficando mais
frio, até o momento em que a chuva tornou-se uma neve espessa.
Qundo entraram no leito de um rio, quase que o motorista Alexei não
conseguiu encontrar a saída do outro lado, mas após mais uma íngreme
subida, encontraram um platô onde se perfilavam umas duas dezenas
de barracas de montanhistas. Felizmente encontravam gente com quem
poderiam conversar e trocar idéias.
Acampavam na planície a 4.000 metros de altura, centenas de
alpinistas que disputavam o premio “Leopardo das Neves” instituído
pelo governo do Cazaquistão. Premio esse, que seria concedido aquele
que conseguisse escalar todos os picos com mais de 7 mil metros de
altitude dos Montes Tien Shan. Foram acolhidos com entusiasmo e
logo convidados para almoçarem juntos. Finalmente iam comer uma
refeição decente em companhia agradável dos esportistas. As horas
passaram rápido com boa conversa, nem perceberam quando começou
anoitecer. Pernoitaram numa barraca que estava vazia, acomodados em
sacos de dormir. Á noite foram acordados com o rugido do vento. Uma
forte tempestade de neve desabava sobre o acampamento.
De repente tudo começou a tremer, como se uma tropa de
cavalos passasse por ali. Rodrigo acendeu a lanterna e olhou na direção
da saída. Assustou-se com a grande quantidade de blocos de gelo e
neve invadindo, fechando a entrada do pequeno recinto onde dormiam.
Tentaram empurrar o gelo para fora, mas a massa era compacta e
pesada. Pegaram a pá e começaram a cavar até limpar um pouco o
caminho. Sairam para fora da barraca, lá fora fazia um frio terrivel,
soprava um vento congelante fazendo redemoinhos na neve. Isto
significava avalanches perigosas e muita neve pelo caminho.
A preocupação deles estava totalmente voltada para a descida
que seria muito arriscada. Tinham um abismo para descer, com 50% de
inclinação, nenhuma marca do caminho, o vento os cegando e muita
neve querendo escorregar montanha abaixo No outro dia cedo após o
Monika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
café da manhã, seguiram viagem para Khorug. Devido ao excesso de
neve foi difícil vencer as subidas abruptas ou deslizar perigosamente
nas descidas serpenteantes ladeadas de precipicios. Mesmo com toda
aquela neve, brigando com um vento que parecia querer jogá-los
montanha abaixo, conseguiram chegar ao posto de fronteira quirguize.
O próximo destino dos pesquisadores Álvaro e Rodrigo era,
percorrer os 725 km de distância de Khorug, pela íngreme e acidentada
Estrada do Pamir com destino à cidade de Osh, de lá seguiriam para
Bishkek, a capital do Quirguistão. Estavam a caminho de um dos
maiores desafios desta viagem, destino pelo qual tanto esperaram, uma
das mais arriscadas e espetaculares estradas do país, a perigosa Pamir
Highway (Estrada do Pamir), construída pelo exercito russo. Estrada
que liga o Afeganistão, o noroeste da China e as Repúblicas Soviéticas.
Pensavam eles, que seriam facilmente percorridas depois de todas as
estradas em más condições pelas quais passaram até aqui. Puro engano.
O caminho em espiral montanha abaixo, que cruzaram nessa
famosa Estrada do Pamir,o mau estado do pavimento, a altura dos picos
nevados, as arriscadas curvas, desfiladeiros e ravinas que enfrentaram.
Durante uns dez dias regalaram-se com as magníficas paisagens do
Pamir, já coberto de neve.Custava-lhes cada vez mais respirar, tamanha
era a altura onde estavam (4.000 metros).O trajeto permitiu-lhes
desfrutar da esplêndida visão de lagos, aldeias semeadas de yurtes,
acampamentos nômades, rebanhos de yakes, antigas minas de prata e
rubis, ruínas de fortalezas, águas termais e gêiseres, cavernas com
pinturas pré-históricas, petróglifos, santuários budistas e islâmicos encravados nas montanhas, um panorama fantástico para admirar.
Não encontraram ninguém, nem uma viva alma pelo caminho,
só de vez em quando aparecia uma Yurte negra perdida no tempo, não
tendo nada para oferecer como alimento. Então acampavam e o Alexei
providenciava o almoço ou o jantar. Tomavam banho na água fria do
rio. Aproveitaram para conhecer o Corredor do Wakhan, cujo rio corre
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Um olhar sobre o Mundo
ao lado no desfiladeiro de 300 metros abaixo, o lugar marca a estreita
fronteira entre Tadjiquistão e Afeganistão. Para visitar a região de
Görno-Badakhshan, os Montes Pamir e o Corredor do Wakhan, é
necessário ter uma autorização especial da embaixada, além do visto
normal. Isto tudo o guia Alexei já providenciou antecipadamente.
As montanhas das Cordilheiras Tien Shan e do Pamir têm seus
picos sempre congelados e cobertos de neve a 5.000-7.000 metros de
altura, cujos cumes e costados ameaçadores nenhum homem tinha
escalado, e para onde quer que se olhasse elas dominavam a paisagem.
Parecia improvável que qualquer pessoa pudesse transpô-las.
Tadjiquistão é um país assombroso, por suas montanhas, picos e
desfiladeiros cobertos de gelo, por lagos com águas de reflexos coloridos de ouro e azul-turquesa situados nas depressões entre montanhas,
ravinas, rios e cascatas, tudo isso encantou os exploradores brasileiros.
Tendo percorrido quase todo o território de Tadjiquistão e
admirado esse país da natureza, aquele que mais vezes surpreendeu os
exploradores brasileiros, pela súbita elevação dos seus picos montanhosos cobertos de neve, ou pelos lagos cristalinos espelhando os
penachos de nuvens salpicadas de branco, pelos imensos desertos a
mais de 4.000 metros de altitude, ou pelo vento forte que os empurrava
em todas as direções, tonteava, fazia gargalhar, queimava-lhes a pele
até secar e descascar como as serpentes em época de mudança de casca.
Ofereceu-lhes também momentos de prazer e contemplação,
enquanto o guia-cozinheiro preparava a sopa de carneiro e verdura,
numa paragem no meio do nada. Possibilitou-lhes a oportunidade de
tomar banho nas águas límpidas e geladas do rio próximo, e adormecer
com o murmúrio da fonte que rola célere pela encosta abaixo por entre
as ravinas, e corre na direção de um outro rio ou lago acolhedor.
Depois de caminhar até a exaustão pelas montanhas, admirar os
picos nevados e os vales verdes, com tímidos flocos de neve caindo por
entre grossos pingos de chuva, que doía quando batiam na pele.
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Um olhar sobre o Mundo
Fotografando e anotando tudo nos seus notebook, os dois brasileiros
acompanhados pelo guia Alexei, subiram a íngreme ladeira que levava
até a alfândega, na fronteira entre o Tadjiquistão e o Quirguistão.A
fronteira trouxe à eles outro problema: a falta de água potável.
Cansados pela subida e pelo fortíssimo vento, caminharam
para aquele lago de águas paradas que lhes seviu de salvação. Não se
preocuparam com a qualidade da água. Era água e com ela mataram a
sede. Lá em cima, os policiais esperavam para mais um carimbo no
passaporte, o da saída do país.
REPÚBLICA DO QUIRGUISTÃO.
Os dois estudiosos acompanhados pelo guia Alexei, passaram
por três escritórios diferentes da alfândega, antes de os militares
quirguizes liberarem a sua entrada, num país mais verde, mais nômade
e mais encoberto pelas nuvens que o Tadjiquistão. Os guardas de
fronteira lhes desejaram “Bem-vindos ao Quirguistão” e deram sinal
verde para seguirem adiante. Alexei como bom conhecedor do território quirguize, cheio de entusiasmo, começou a explanar as peculiaridades e as pictôricas paisagens alpinas do país.
- Quirguistão é uma República da Ásia Central, ex-integrante
da antiga União Soviética. É um país situado entre as estepes do Cazaquistão, desertos do Uzbequistão, planatos elevados de Tadjiquistão e
planícies pouco povoadas e áridas do Oeste da China (Xinjiang). O
relevo é bastante acidentado, dois grandes sistemas montanhosos
atravessam o país, as cordilheiras de Pamir e Alay a sudoeste e Tien
Shan, a nordeste. Devido às suas majestosas montanhas e clima continental temperado, Quirguistão possui os maiores glaciares, enormes e
extensos campos de neve de altitude, rios impetuosos correndo nos
vales baixos e lagos de águas cristalinas de cor turquesa. Paisagens
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alpinas e bucólicas são a marca do Quirguistão. Elas seduzem as
pessoas, prendem a sua atenção e rendem as mais belas fotografias.
Chovia, fazia frio, mas isso não os demovia da idéia de chegar
à Sary-Tash, o primeiro povoado do país, com meia dúzia de casas
habitadas e duas estradas que cortavam a pequena povoação, uma para
o interior do país e outra para a China. Dormiram numa yurte,de
família quirguiz, jantando uma sopa de carneiro e pão do dia anterior, e
nem banho puderam tomar, pois não tinha água e nem lugar apropriado. No outro dia de manhã seguiram o caminho para cidade de Osh.
A caminhonete Toyota 4x4, rodou pela estrada escavada em
ziguezague em torno das encostas das gigantescas montanhas, por
entre paredões de pedra calcárea de um lado, de outro, profundos
precipícios. Á beira de abismos e despenhadeiros o percurso tornava-se
assustador. O veículo desequilibrava-se nas curvas acentuadas, corria o
perigo de tombar no abismo a cada passagem mais arriscada.
O panorama era magnífico, dos vales onde corriam rios de
águas límpidas, caudalosas, geladas, ao lado as piscinas naturais
sulfurosas com águas quentes em plena montanha. Viam-se do alto da
montanha os campos verdes com grupos de cavalos pastando, manadas
de yaques, vacas, ovelhas, cabras e crianças, muitas crianças brincando
em volta das yurtes brancas que pontuavam o imenso tapete verde.
Ouvia-se o tilintar dos cincerros e os mugidos das vacas, por entre os
gritos e risos das crianças da aldeia.
Na chegada à cidade de Osh, sempre descendo ladeira abaixo,
das fantásticas alturas de 4.000 metros ou mais, da Estrada do Pamir
(Osh está situada a 800 metros de altitude),encontraram um gigantesco
mercado a céu aberto, com frutas de todas as cores e formatos, de
multiplos sabores, uma enorme quantidade de verduras, carnes, animais
vivos, aves e ferramentas agrícolas, entre a mais variada mercadoria.O
burburinho de uma cidade grande, moderna, com parques verdes e
carrosséis, animação, milhares de pessoas nas ruas, muitos hotéis e
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Um olhar sobre o Mundo
restaurantes, lan-houses, cinemas. Que estranha é a civilização, há dois
passos, no país ao lado, não existe quase nada.
A antiga cidade de Osh foi fundada pelos povos Citas, como
um assentamento, há aproximadamente 4.000 anos atrás. Nos arredores
foram encontrados sítios arqueológicos com artefatos elaborados em
ouro e bronze, e sepulturas da civilização Andronowo (dos Citas).Osh é
a segunda maior cidade de Quirguistão, localizada no sudoeste do país,
na fronteira com o Uzbequistão,era uma encruzilhada da Rota da Seda,
para caravanas que se deslocavam da India e da China para a Europa.
A cidade tem 267.000 habitantes (2012), possui forte tradição como
centro industrial. Foi ocupada pelo Império Russo em 1876. Osh não
tem muitas atrações. Tem um mercado super movimentado, com
comerciantes quairguizes, uzbeques e tadjiques dentre outras etnias,
regateando a mercadoria com seus compradores. Existem incontáveis
números de pessoas com olhos azuis e cabelos loiros de origem
caucasóide. O parque da cidade, que fica ao longo do rio, estava cheio
de gente, com crianças nos balanços, casas de chá e pessoas cantando
em karaokes, idosos jogando xadrez, casais de jovens namorando.
Á tarde caiu uma forte chuva, o ambiente foi ficando mais
frio, até um momento em que a chuva tornou-se uma neve espessa,
mesmo assim Rodrigo e Álvaro passaram rapidamente em um mercado
para se abastecer de frutas secas, sucos, biscoitos e verdura fresca.
Depois de visitar e fotografar os recantos mais pitorescos da cidade de
Osh os três foram descansar na Pousada onde estavam hospedados. No
outro dia acordavram cedo para continuar a viagem até cidade de
Bishkek, capital de Quirguistão. A distância era de aproximadamente
de 400 quilômetros. Sabiam que o trajeto iria proporcionar momentos
difíceis, pois a estrada não tinha asfalto, era de terra e mal conservada,
cheia de curvas, corria em ziguezague aos pés da montanha, com
desfiladeiros, subidas íngremes e descidas beirando precipícios.
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Um olhar sobre o Mundo
A chegada à capital, a soviética e arborizada Bishkek, a maior
cidade do país com 865.527 habitantes. A primeira vista apresentou que
o país era bem mais pobre que seu vizinho com petróleo, mas também
tinha montanha como pano de fundo na sua principal cidade. Bishkek
situa-se no vale do rio Chu, na parte norte dos Montes Alay que são
uma extensão da cordilheira Tien Shan, sobe para 4.855 metros e
oferece um cenário espetacular para a cidade.O norte da cidade é uma
fértil e levemente ondulada estepe, se estende para o norte em direção
ao vizinho Cazaquistão.
- Bishkek situa-se a 800 m de altitude, originalmente era um
local de descanso para as caravanas que percorriam a Rota da Seda
através da cordilheira Tien Shan, tendo sido fundada pelo Khan
Kokand em 1825, como cidade fortificada. A capital não oferece
muitos atrativos, embora conte com a presença de muitos museus de
interesse, muitas áreas verdes e vários bazares. Em 1862, foi conquistada pela Rússia Imperial. Entre seus principais monunentos destaca-se o
magnífico edifício do governo, a Casa Branca, um gigantesco bloco de
mármore branco construído pelos russos. É uma cidade de amplas
avenidas, edifícios públicos marmoreados e numerosos blocos de
apartamentos de estilo soviético.
- È moderna e atraente, com milhares de árvores que
proporcionam cor e sombra. Destacam-se ainda: o Museu Histórico
Nacional, o Museu Estatal de Artes Aplicadas, a Casa-Museu Frunze, o
Monumento à Independência, na Praça Ala-Too e diversos parques. É
uma cidade moderna em desenvolvimento, repleta de restaurantes,
hotéis, cafés, lojas e shoppings Muitos carros europeus e japoneses
circulam pela cidade. Bishkek é também o centro financeiro do paìs,
todos os bancos comerciais têm agências na cidade.
- Embora a cidade seja relativamente jovem, a área
circundante tem alguns locais de interesse pré-histórico; do periódo
greco-budista, do período da influência nestoriana, dos canatos e do
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Um olhar sobre o Mundo
período soviético, encontra-se a Catedral Ortodoxa Russa de Santa
Ressureição. A parte central da cidade é construída sobre um plano de
grade retangular. A rua principal é a Avenida Chui, com edifícios
governamentais, Univer-sidades, a Academia de Ciências, vários
grandes centros comercias estão localizados ao longo dela, também
fornece acesso a Dordoy Bazaar que fica na periferia nordeste da
cidade, é um grande mercado de varejo e atacado. A Montanha AlaToo, cerca de 40 km de distância oferece um cenário espetacular para a
cidade., o Parque Nacional Ala Archa fica apenas a 40 minutos de
carro, local belissimo que vale a pena visitar.
Almaty, antiga Alma-Ata. Para não perder os magníficos
panoramas do sudeste de Cazaquistão e as atrações de Almaty, os
nossos viajantes dirigiram-se para a antiga capital do pais. A cidade
distava de Bishkek cerca de 200 km de boa estrada, asfaltada. A
fronteira não apresentou dificuldade para passar, os agentes da
alfândega apenas carimbaram os passaportes e autorizaram a seguir
viagem. A história de Almaty foi sendo contada, com grande
conhecimento e entusiasmo pelo guia Alexei, ele mesmo um cazaque
apaixonado pelo seu paìs. Hospedaram-se no Inter-Continental Almaty,
hotel central, com bom restaurante e de preço moderado.
- A antiga cidade de Almaty e a maior cidade do Cazaquistão
com quase 1,5 milhão de habitantes. Exibe uma atmosfera ocidental,
com shoppings, centros comerciais, bons hotéis, cafés e restaurantes,
butiques, uma extensa agenda cultural e uma animada vida noturna.
Fundada por cossacos da região de Omsk como um forte de nome
Zailiysky em 1854, aos pés da cadeia montanhosa de Tien Shan, mais
tarde renomeada como Verny, depois para Alma-Ata.
- Os devastadores terremotos de 1.887 e 1911, destruíram
quase toda a cidade de Verny, cujas casas eram construídas em tijolos
de adobe. Em 1918 foi imposto oficialmente o regime soviético no
país. Em 1927, foi transferida a capital da República do Cazaquistão
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Soviético, de Kzyl-Orda para Alma-Ata. Na década de 30, depois do
fim da construção da Ferrovia Turquestão-Sibéria, Alma-Ata, como era
então conhecida, tornou-se o mais importante ponto intermediário do
trajeto da Estrada de Ferro Turksib, inaugurada em maio de 1929. Em
1997, a capital do país foi transferida para Astana, (antiga Aqmola).
- As atrações turísticas de Almaty valem a pena serem
visitadas são: a Catedral Russa Zemkov uma das mais altas construções
em madeira, o Memorial à Guerra, Museu Estatal da Arte, o Museu
Regional, a Catedral de São Nícolas que é um belo exemplo de Igreja
Ortodoxa Russa, a Mesquita Dungan (chinêsa), a Mesquita Muçulmana
e bairros antigos.Com grande número de edifícios de estilo colonial,
sombrios, ruas arborizadas com álamos, os bazares e mercados animados e o mais antigo hipódromo na Ásia Central. A cidade dispõe de
hotéis e restaurantes, de primeira categoria, há também diversos cassinos e clubes noturnos, que os nossos aventureiros foram conhecer.
- Durante os séculos XII-IX a.C. na Era do Bronze, as tribos
Sakha e Usun os primeiros agricultores e criadores de gado fundaram
os assentamentos Terenkary e Butakty no território da atual cidade de
Almaty. Nas escavações arqueológicas das antigas aldeias foi encontrada cerâmica, instrumentos e artefatos feitos de osso, pedra e metal.
Existem inúmeros túmulos funerários nos assentamentos espalhados
pela estepe. Chamam atenção os túmulos gigantes dedicados aos líderes
Sakha.O achado mais famoso e o Homem de Ouro do túmulo Ysyk, o
tesouro Zhalaulinsky,o diadema Kargaky, e as peças de arte em bronze.
- Embora o Islamismo tenha sido introduzido no século XV, a
religião só foi assimilada tempos depois, ela passou a co-existir com o
Tengrismo, 51,6 % dos cazaques são muçulmanos. A crença tradicional
cazaque acreditava que diversos espíritos habitavam a terra, o céu, a
água e o fogo, assim como as florestas e animais domésticos.Como o
gado ocupa espaço central no estilo de vida tradicional, a maioria das
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Um olhar sobre o Mundo
suas práticas e costumes nômades estão relacionados a ele. Também
estão ligados historicamente à cavalos e equitação.
- Durante a Idade Média (entre séculos VIII-X) a evolução de
Almaty é caracterizada pelo desenvolvimento da cultura, pela mudança
de estilo de vida nômade para sedentária, na prática da agricultura e
artesanato, em conseqüência surgiram vilas e cidades no território de
Semireche. Assentamentos situados no Alto Almaty tornaram-se pontos comerciais da Grande Rota da Seda. É uma cidade antiga que vale a
pena ser vista em sua amplitude.
De passagem por Almaty e a pedido dos exploradores Álvaro
e Rodrigo, o guia Alexei pegou a estrada para o lago Balkhash.
Chegaram bastante tarde ao local e em conseqüência, teriam que
dormir numa yurte de fmília cazaque. Ali também era servida no jantar
a sopa de carneiro com legumes e no desjejum kumis e queijo de leite
de égua. Distante de Almaty cerca de 300 km, o Lago Balkhash, é do
tipo endorreico (fechado, não possui emissários), está localizado no
sudeste do Cazaquistão, cuja bacia é compartilhada com a China, com
uma pequena parte no Quirguistão. Desde o 1º século d.C. até o VIII, o
Lago Balkhash foi conhecido pelos chineses como Pu-Ku, constituia a
fronteira do noroeste da China, durante a dinastia Qing (1644-1911).
- No entanto, em 1864, o lago e sua área circundante foram
cedidos ao Império Russo. Com a dissolução da União Soviética em
1991, o lago passou a formar parte do Cazaquistão. O Lago Balkhash
fica na parte mais profunda da Depressão Balkhash-Alakol que foi
formada entre montanhas durante o Neógeno e o Quartenário. A bacia
é uma parte da Dzungarskiy Ala-Tau que também contém os lagos
Sasykkol, Alakol e Aibi. Estes lagos são remanescentes de um antigo
mar que cobria toda a Depressão Balkhash-Alakol.
- O Lago Balkhash tem uma área de cerca de 16.996 m², é
elevado 341 m acima do nível do mar, tem um formato de lua crescente
e uma profundidade máxima de 26 m.A parte ocidental (58%) é
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Um olhar sobre o Mundo
preenchida com água doce e a oriental é mais profunda e de água mais
salgada.As costas oeste e norte do lago tem 20 a 30 m de altitude,
compostas de rochas Paleozóicas como pórfiro, granito, xisto e calcário
e mantem vestígios de antigos terraços.
- Rios que alimentam o Lago Balkhash são: o Ili, Karatal,
Aksu, Lepsi, Byan, Kapal, Koksu.Suas águas ficam congeladas durante
os meses de novembro a março. As margens do lago estão protegidas
por matas ciliares, que é uma cobertura vegetal que se desenvolveu ao
longo da margem; cresce ali o junco, a cana comum e um tipo de
bambu, vicejam diversas espécies de capim e grama entre touceiras de
salgueiros. O Lago é também habitat de 120 tipos de aves aquáticas
incluindo biguás, pardilheiras, faisões, águias douradas, a garça grande,
o pelicano branco, colhereiro e diversas outras aves.
- A importância económica do lago está na sua indústria
pesqueira; a abundância de peixes, como carpas, percas, o oriental
dourado, catfish; caiu em décorrência da pesca predatória e declínio no
nível e qualidade da água.As florestas do delta do Ili eram habitadas
pelo tigre caspiano e sua presa o javali, inclusive o rato almiscarado
tinha ali a sua morada, no entanto, as recentes mudanças do nível da
água destruíram os seus habitats.
Depois de explorarem o Lago Balkhash os nossos excursionistas voltaram para o hotel em Almaty já bastante tarde da noite. Não
querendo perder tempo levantaram cedo e, mesmo sendo distante de
Almaty cerca de 200 km foram conhecer o famoso Canyon Charym.
Formado pelo rio Charyn, um dos rios mais profundos que nasce nas
montanhas Tien Shan a 300 m de altitude e corre por entre os paredões
de cascalho vermelho do desfiladeiro que é esculpido com profundas
fissuras, formando cavernas, grutas e composições rochosas de inumeráveis formas e cores de uma espetacular beleza, o Canyon Charyn.
- O Canyon se estende por 171 km ao longo do rio Charym,
Uma rachadura na terra abriu um desfiladeiro de grande profundidade,
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Um olhar sobre o Mundo
no Período Carbonífero, época da sedimentação das rochas.A paisagem
é quebrada por numerosos vales e desfiladeiros onde o rio Charyn corre
tempestuoso, cheio de corredeiras.As margens do rio são cobertas com
matas de salgueiros, choupos, tamarindos e bosques de álamo asiáticos.
É um lugar fantástico, de formas estranhas deixadas pela erosão e
intemperismo que criou um reino de fadas inimaginável, de esculturas
de arenito de aparência pitoresca “O Vale dos Castelos”, com encanto
próprio. Sua aparência extravagante cria a ilusão de uma cidade
habitada por criaturas fantasmagóricas.
Os pesquisadores brasileiros partiram muito cedo de Almaty,
e acompanhados dos mais pitorescos cenários seguiram para Karakol
margeando o Lago Ysyk-Köl e a Cordilheira Tien Shan. Por toda a
longa viagem circularam por estradas precárias emolduradas por
paisagens incríveis de campos dourados, vales verdejantes, rebanhos de
ovelhas, geleiras alpinas, rios caudalosos, aves de rapina, cavalos
quirquizes, matas de zimbro, sítios arqueológicos dos Citas, parques
nacionais e lagos transparentes. Assim chegaram às margens do YsykKöl, onde fica Karakol, a mais soviética, desoladora e melancólica
cidade que visitaram. Hospedaram-se no hotel Amir, simples, mais
confortável. O desjejum e o almoço servidos foram surpreendemente,
apetitosos. A Internet do hotel funcionava razoavelmente, portanto, os
dois aproveitaram para mandar e-mails para os pais no Brasil.
- Karakol é um dos destinos turísticos do Quirguistão. O seu
Museu Regional tem exposições dos petróglifos do Lago Ysyk-Köl,
artefatos de bronze da cultura Cita e uma breve história da geologia e
exploração mineral na região. Karakol foi fundada como um posto
militar russo em 1869. Cresceu na década de 1880, com o afluxo de
dungans, muçulmanos chineses que fugiram da guerra na China.A
cidade é divulgada como uma bela estância às margens do Lago YsykKöl, aos pés das Montanhas Dzhungarskiy Ala-Tau e na foz do rio
Karakol, mas é uma cidade sem atrativos.
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Um olhar sobre o Mundo
- Próximos da cidade de Karakol ficam lugares interessantes
como Djety Orguz, um balneário de montanha, as belas formações
rochosas Sete Touros e Coração Partido. Outra atração é a Igreja
Ortodoxa Russa a Catedral da Santíssima Trindade, concluída em 1895,
usada como clube na era soviética, agora restaurada, voltou a funcionar
como igreja. O mais notável monumento arquitetônico de Karakol é a
Mesquita Dungan, exemplo de templo islâmico de influência chinesa.
- Um dos percursos mais impressionantes é realizado entre os
vales de Karakol, declarado Parque Nacional e Arashan.A caverna
passa pelo lago Ala-Köl e termina em Altyn Arashan, um povoado com
balneário a três mil metros acima do nível do mar. A cidade Karakol é
conhecida como um centro de alpinismo, com um grande número de
rotas estabelecidas nos vales, como Ak-Suu, Altyn Arashan e Karakol,
que é a ultima cidade no caminho para a geleira Indilschek.
- O Cazaquistão possui maravilhas como Lago Bolshoe
Amatinkoe, situado a 2.500 metros de altitude.O Lago Song-Köl
estende-se aos pés das montanhas Küngery Alatau, a 110 km de
Almaty, localizado a mais de três mil metros de altitude, congela a cada
inverno. No verão, gramas altas e verdejantes brotam em volta do lago,
e atraem uma multidão de pastores com seus rebanhos de gado. É uma
ocasião ideal para conhecer o povo, seu modo de vida e seus costumes.
Esta região é protegida como Reserva Natural e Zoológica.
Os pesquisadores brasileiros não podiam deixar de explorar e
fotografar o sitio arqueológico do Desfiladeiro Tamgaly, com paredes
de arenito, entre o Rio Chu e às íngremes e áridas montanhas Ili. A
região possui uma concentração de cerca de 5.000 gravuras rupestres
(petróglifos), que datam do 2º milênio a.C. (Idade do Bronze),
distribuidos por 48 complexos de assentamentos humanos com um
grande número de cemitérios. O Canyon Central contêm a maior
concentração de gravuras que se acredita serem altares e áreas de culto
dos povos Citas, pastores. Localiza-se a 170 km a nordeste de Almaty.
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Um olhar sobre o Mundo
A maior parte dos petróglifos está no Canyon principal, incluídos como
Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2004.
- No centro-sul do país, existem três sítios históricos que instigavam a curiosidade dos nossos exploradores, o Koshoy Korgon, Tash
Rabat e Saimaly-Tash. Aos dois primeiros destinos chega-se pela
estrada que comunica Naryn ao Passo Torugart a 3.752 m acima do
nível do mar, na fronteira com a China. O Koshoy Korgon está situado
junto ao povoado de Kara-Suu. Conserva os restos de uma antiga
fortaleza do século X.
- O Tash Rabat é um antigo caravançarai com aspecto de
fortaleza, foi utilizado pelas caravanas da Rota da Seda, está situado
aos pés de uma colina e se encontra a mais de 3.000m de altitude, está a
125 km de Naryn e a 90 km da fronteira da China. O acesso ao
caravançarai se desvia da estrada principal. O Saimaly-Tash está na
rota que, desde Naryn se dirige ao oeste, até o Vale de Fergana. É um
grande conjunto de petróglifos, que datam de 4.000 anos, com centenas
de esculturas em pedra que reproduzem cenas de caça, vestuário,
cerimônias, rituais religiosos e animais selvagens.
Já bastante cansados, Álvaro e Rodrigo, voltaram para Almaty
onde pernoitaram. Tinham vivido uma expriencia incrível e valiosa
para seus estudos. No outro dia cedo retornaram para Bíshkek, capital
de Quirguistão, de lá seguiram para pesquisar, estudar e fotografar as
paisagens magníficas do Parque National Ala-Archa, nas montanhas
Tien Shan, a cerca de 40 km ao sul de Bishkek. O parque inclui o
desfiladeiro do Rio Ala-Archa e o impressionante vale de montanhas a
2500 metros de altitude. Os montes Ala-Tau e a cidade de Karakol, as
maravilhosas paisagens alpinas a 4 mil metros de altura. Rios caudalosos e riachos que correm em direção aos vales, muitas geleiras e
abundantes picos rochosos.Bem marcadas as trilhas cruzam o parque e
levam as pessoas a verdadeiros paraísos cênicos de montanha.
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Um olhar sobre o Mundo
Formado em História e Geografia, o guia Alexei estava apto a
relatar minuciosamente os fatos relativos aos países da Ásia Central,
principalmente do Quirguistão, país rico em fantásticas paisagens,
montanhas e notável história.
- Na Idade do Bronze (2°milênio a.C.) o território do
Quirguistão era habitado por tribos de pastores e agricultores. Entre os
séculos VII e III a.C. foi ocupado pelas tribos Citas (sakhas).As terras
do Quirguistão faziam fronteira com o Império Persa absorvendo a sua
cultura.Foram invadidas por tribos iranianas, como os sogdianos, e
ocupadas por muitos séculos.Do século I a.C.- IV d.C.o território do
Quirguistão fez parte do Império Kushan. Os quirguizes tiveram sua
grande expansão após a queda do Canato dos Uygures em 840 d.C.
Então eles se expandiram para a região de Tien Shan e mantiveram o
domínio do seu território por 200 anos. No século XII, o seu domínio
recuou para as montanhas de Altai e Montes Sayan devido a expansão
do Império Mongol.
- O território é habitado pelo povo Uygur Khara-Khitai,
nômades, que emigraram da Mongólia. O primeiro reinado a surgir do
Canato Göktürk foi o Império Budista Uygur entre os anos de 740-840
d.C.Após o Império se desintegrar, parte dos Uygures migraram para a
área do Tarim Bassin e Gansu. Lá eles formaram uma confederação
chamada Khara-Khoja que reunia vários estados budistas. Outros, os
Uygures Karluks ocuparam o oeste do Tarim Bassin, o Vale de
Fergana, Dzungaria e parte do moderno Cazaquistão, fazendo fronteira
com o Sultanato Muçulmano Turco-Tadjique de Khwarezm.
- A invasão mongol no século XIII, devastou o território do
Quirguistão, tirando do seu povo a independência, sua escrita e língua.
O filho de Genghis Khan, Juschi, conquistou as tribos quirguizes, e
pelos próximos 200 anos o povo quirguiz esteve sob o domínio da
Horda Dourada, Canato de Chagatai e dos Oirates. As tribos Oirates
eram pastores nômades de origem mongol, originários da Dzungária. O
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principal grupo Oirate tem sua origem na Ásia Central. Emigraram para
a Rússia há 400 anos. Atualmente vivem na República da Calmúquia,
conhecidos como Calmucos. A região cai sob o controle dos turcos
Gögtürks no século XIV, e em 1685 é dominado pelos Mongois. Em
1758, Quirguistão passa a fazer parte do Império Chinês. Em 1864, a
região é incorporada ao Império Russo, dentro da região de Semireche.
- Após a Revolução Bolchevique em 1917, o poder soviético
se impõe e em 1936 o país se torna uma das Repúblicas Soviéticas.
Nômades até o começo do século XX, os quirguizes foram obrigados a
mudar radicalmente o seu modo de vida no socialismo, se integrando às
novas cooperativas agrícolas (kolkozes) e novas indústrias criadas pelo
Estado soviético (têxtil, tabaco, madeira, metalurgia e usinas de
eletricidade).
- Muito da cultura nacional quirguiz foi reprimida durante o
governo de Józef Stalin. A partir de 1986, em consequência das
mudanças iniciadas na URSS, pelo presidente Mikhail Gorbatchev em
1931 (Glasnost e Perestroika), desenvolveu-se um movimento pela
independência do Quirguistão. A independência é declarada em 31 de
agosto de 1991. Instalou-se uma república parlamentarista, foi eleito
como presidente de Quirguistão, Askar Akaev.
- Em 2011,é eleito como presidente Almazbek Atambayev
com 63% de votos. A língua oficial è o quirguize, uma língua da
família de línguas turcas, também se fala o russo e o usbeque. A
religião professada é muçulmana sunita 52%, cristã ortodoxa 30%,
outras 18%. Grupos étnicos: quirguizes 65%, russos 13%, usbeques
14%, dungans, ucranianos, uygures 3% e 5% é composto por minorias
que vivem no país, tártaros, tadjiques, turcos. Nos últimos anos, o país
enfrenta grave crise institucional e tensão entre as etnias uzbeques e
quirguizes, na questão da propriedade de terras de cultura. Na região de
Osh, mais de 200 pessoas foram assassinadas por jovens quirguizes,
manipulados por agentes da antiga policia soviética.
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Um olhar sobre o Mundo
- A região do Quirguistão é assolada por intensa atividade
sísmica, seu território de 199.945 km² tem mais de 90% ocupado pela
cordilheira Tien Shan. O país fica na junção de dois grandes sistemas
montanhosos da Ásia Central, o Tien Shan e Pamir, que compreendem
uma série de cadeias de montanhas, que vão do leste para o oeste,
sujeita a graves terremotos. No encontro dessas grandes massas situa-se
o pico Pobeda de 7.439 m de altura, o do Pamir com 7.134 m, o pico
Khan Tengri com 7010 m e outros picos que ultrapassam os 4 mil
metros de altitude. Geleiras e neve perpétua abrangem mais de 3% do
total do território. Até a atualidade o remanescente interglacial é
formado pelas geleiras Muzart com 34 km de extensão, e a geleira
Indylschek de 69 km de comprimento. Estas montanhas dominam
vastas pradarias onde os nômades quirguizes pastoreiam seus rebanhos
de ovelhas e cabras.
- Tien Shan (Montanhas Celestiais), assim denominadas pelos
povos pré-históricos da região, os Yuez-hi. Estepes e verdes pradarias
recobrem as terras baixas e a vegetação alpina domina as montanhas
ricas em diversidade de fauna e flora. As montanhas fornecem o habitat
para o urso, lince, lobo, texugo, arminho, marta, veado, cabras e
carneiro montês.As aves incluem a betarda, águia, abutre,gavião, falcão
e perú de montanha. Nas montanhas Tien Shan crescem extensas matas
perenifólias e decíduas incluindo o abeto, nogueira, lariço, zimbro.
- O Vale de Fergana é a principal zona baixa do país, fica a
sudoeste, são pastagens para ovelhas, vacas, cabras, cavalos, yaques e
porcos. A produção ovina e eqüina é bastante desenvolvida. A
apicultura é outra criação em destaque. O solo irrigado é utilizado para
plantações de beterraba de açúcar, legumes, arroz, algodão, tabaco,
parreiras e amoreiras para criação do bicho-da-seda. Algodão, lã e
carne são os principais produtos de exportação.
- A rede hidrográfica do Quirguistão é formada pelos rios
Chu, Chatkal, Kara-Suu e Naryn, formadores do rio Syr-Daria que
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correm para sudoeste e para o lago fechado Ysyk-Köl, localizado a
nordeste, situa-se a 1.609 m acima do nível do mar. O clima
continental é caracterizado por verões quentes e invernos frios O
Quirguistão possui uma população de 5,4 milhões (2012) A economia
do país, bem como da capital Bishkek é essencialmente agrícola,
abastecida com as quantidades maciças de cereais, frutas, vegetais e
animais que é produzida na região.
- A cidade é servida pelo Aeroporto Internacional de Manas.
Outras cidades históricas importantes do Quirguistão: Osh, Jalal-Abad,
Karacol, Tokmak, Talas, Daraut Kurgan, Chatyrtash, Kara-Say,TashKomur,Toktogul. Como recursos minerais, possui antimônio, mercúrio,
chumbo, zinco, carvão, petróleo (em pouca quantidade) e gás natural.
- Em 1996, uma empreza canadense começou a exploração da
mina de ouro de Kuntor localizada a 300 km da capital e apenas 60 km
da fronteira da China. A mina de Kuntor e uma das 10 maiores do
mundo produz 20 toneladas de ouro por mês e representa 40% das
exportações do país. Entretanto, cerca de 43% da população vive
abaixo da linha de pobreza. A penúria, inflação e corrupção dominando
o país, o Quirguistão vive momento de tensão e incerteza política.
ROTA DA SEDA
Perito em história o guia Alexei explicou a razão que
incentivou a criação da Rota da Seda. Esta era a designação para uma
série de rotas interligadas através do sul da Ásia, usadas no comércio
da seda, entre o Extremo Oriente e a Europa. Eram percor-ridos por
caravanas de camelos que levavam o carregamento da preciosa seda um monopólio chinês até o século III da Era Cristã - pinturas, papel,
peças de laca, esculturas de jade, porcelana, jóias de ouro, perfumes,
ameixas secas e as afamadas especiarias. Nas viagens de volta os
mercadores traziam vidros, cristais, pentes de tartaruga, frutas, melões,
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azeitonas, animais e aves como pavões e águias douradas. Também
traziam artistas de circo, dançarinos e músicos para cidade imperial.
- As rotas estabelecidas desde 206 a.C. foram essenciais para
as trocas entre estes continentes, até a descoberta do caminho marítimo
para as Índias, no século XV. Era a única comunicação ininterrupta,
através da Rota da Seda, um caminho de 7 mil quilômetros que se
estendia da China Meridional atravessava a Ásia Central e seguia para
o Ocidente até destinos como a Pérsia, Egito, Portugal, Espanha, Síria e
cidades do Mediterrâneo. Formava a maior rede comercial do Mundo
Antigo, que ajudou a fundamentar o inicio do Mundo Moderno. Em
ambas as direções da Rota, de ida e de volta, aprendia-se muito, pois
havia uma grande troca cultural, o que expandiu novas idéias, valores e
crenças pelo mundo, e o maior exemplo é o budismo que graças aos
caminhos da Rota, teve extraordinário impulso.
- A Estrada tinha vários ramais, caminhos que passavam por
diversas povoações perdidas no meio dos desertos. As rotas começavam em Xian no centro da China; a Rota Norte passava através de
Yumenguán (Passo do Portão de Jade), atravessava pelo deserto de
Gobi na direção do deserto de Hami, antes de seguir na direção das
montanhas de Tien Shan e o Passo Torugart.Costeando as franjas, ao
norte, do temível deserto de Taklamakan, onde se situavam as antigas
cidades de Kashgar e Ürümqi, que serviam de apoio às caravanas.
Os pesquisadores brasileiros estavam hospedados no Hotel
Hyatt Regency em Bishkek, central, e bastante confortável. O sonho do
biólogo Rodrigo era percorrer a antiga Rota da Seda numa caravana,
viajando no lombo de camelo, pelo deserto de Gobi. Por coincidência
ou pura sorte, quando caminhavam no Grande Shopping em Bishkek,
chamou-lhes atenção um anuncio de agencia de viagens, que oferecia
uma excursão pela lendária Rota da Seda.
O roteiro apresentado pela agencia seduziu os nossos dois
ousados personagens. Decidiram enfrentar a experiência e o desconMonika Gryczynska
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Um olhar sobre o Mundo
forto de viajar em lombo de camelo pelo deserto, fato que só por si já
era uma aventura, mas foi o que mais os incentivou. Para tanto,
dispensaram os serviços do guia Alexei e gratos pelos bons serviços e
ótima companhia, pagaram-lhe os merecidos honorários. Iam aguardar
a saída da excursão em Bíshkek, daqui a dois dias.
A viagem que a agencia oferecia seria de ônibus da empreza,
desde a capital Bishkek até a cidade de Naryn a 200 km de distância.
Lá estavam os camelos esperando para levar os 15 turistas na aventura
pelo deserto. O roteiro passava pelas históricas cidades de Narym,
Kashgar até Urümqi na Província Xinjiang Uygur Região Autônoma,
do noroeste da China, distante 1.200 km de Bishkek. Era um percurso
arriscado, pelo temível deserto de Taklamakan, uma viagem ao passado
seguindo a Rota da Seda, em lombo de camelo.
Uma rápida passagem pelo “caravançarái” autêntico, de Tash
Rabat do século XI, que servia como pousada nos caminhos da Rota da
Seda, localizado próximo da Passagem de Torugart, cerca de 125 km
distante de Narym. A caravana ia atravessar o Passo Torugart, a 90 km
de uma remota fronteira encravada na Cordilheira Tien Shan situado a
3.752 metros de altitude, na divisa de Quirguistão e a China. “É
obrigatória a apresentação do passaporte e visto de entrada.no país”.
A autorização para entrada na China corria por conta da
agencia de viagens que providenciou todos os papeis burocráticos com
antecedência. Era uma jornada espetacular que envolvia trâmites
políticos recentes e suscetíveis, dos quais o guia da expedição estava
ciente. Mas, acima de tudo, requeria uma dose do vigor exigido para a
aventura e o pioneirismo. Ajustando-se às mudanças do clima (altitudes
acima de 4.000m) e do desconforto da montaria, os viajantes acharam
que valia a pena o sacrificio. O fato mais emocionante era o meio de
transporte utilizado. As pessoas viajavam montadas em camelos, com
guias experientes e tratadores de camelos dirigindo a caravana.
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Um olhar sobre o Mundo
O camelo bactriano (de duas corcovas), é um mamífero
ruminante, originário da Ásia Central, a maioria vive na região, alguns
poucos permanecem em estado selvagem no deserto de Gobi. Adaptado
à vida no deserto, o camelo desafia as areias, o vento, o sol e as altas
temperaturas.Possui as patas largas para não afundar na areia. Utilizado
como meio de transporte, percorre grandes distâncias ao longo do
deserto, sem beber água e alimentar-se. O camelo tem servido ao
homem há muitos séculos, mas permanece rebelde e hostíl. Não deita
ou não levanta quando empaca, se a carga for pesada demais.
Resmunga, geme, vocifera, escoiceia e descarrega sua irritação mordendo e cuspindo nas pessoas.
Chegou o dia do inicio da tão sonhada viagem pelo deserto.
Os quinze candidatos a aventureiros saíram de Bishkek de madrugada,
no ônibus da agencia. O veículo tomou o rumo da cidade de Naryn a
200 quilômetros de distância, lugar onde os esperavam os camelos, os
tratadores e os guias.O veículo enfrentou uma estrada de terra em
péssimas condições, sem sinalização nenhuma, seguiu para o sudeste,
em direção à China. Chegaram à Narym ao entardecer, portanto não
daria tempo para visitar a cidade, que na verdade era muito modesta
com poucos atrativos, havia alguns pontos históricos para conhecer e o
rio Naryn que divide a cidade, e têm suas margens lindamente
arborizadas. O hotel para acomodação dos viajantes estava reservado;
concluido o chek-in foram lhes entregues as chaves dos quartos.
O guia da excursão Almazbek Ahbad, um quirguiz alto, de
cabelo e barba ruiva, olho castanho e físico avantajado (mais parecia
um russo), avisou na véspera:
- Descansem bem, pois partiremos às quatro horas da manhã..
Foram acordados pelo ruído assustador dos cameleiros e
homens da comitiva, preparando-se para seguir com a caravana. Os
camelos irritados foram carregados com estruturas das tendas de lona
negra dobradas. Levaram mantimento, frutas e verduras suficientes
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Um olhar sobre o Mundo
para a viagem e bujões com água. Após o rápido desjejum os viajantes
seguiram para o pátio onde ficavam os camelos. Os animais estavam
prontos e enfileirados na trilha, a caravana ia começar a andar.
- Cada pessoa monte no seu camelo – ordenou o guia chefe.
Os cameleiros ajudaram os homens a subir na sua montaria,
fazendo o camelo ajoelhar e depois levantar-se calmamente.
- Como se sente caro primo, nessa original postura? - o
jornalista Álvaro gritou de cima do seu camelo para Rodrigo.
- Até que me sinto confortável, até agora - respondeu Rodrigo.
A caravana começou a andar tomando o rumo leste para o
Passo Torugart na fronteira da China. Os camelos caminhavam enfileirados, a passo lento, cadenciado. Resmungavam e blateravam sistematicamente. O sol a pino brilhava intensamente, quando alcançaram o
topo de uma montanha de onde podiam observar algo que sempre
inspirou o viajante na Ásia; os muros de um caravançarái surgindo ao
longe, no horizonte, marcando a proximidade da fronteira. O caravançarái era uma estrutura antiga, quadrada, cercada por muros reforçados
de adobe, construído em torno de um espaço central aberto, onde os
animais da caravana ficavam abrigados. Uma extensão do muro
compreendia uma fortificação sem janelas, provida de seteiras para o
fogo de armas dos vigilantes. A entrada era por um único portão de
madeira reforçado.
O caravançarái de Tash Rabat havia sido construído no
século XI, e através dos séculos havia sido utilizado continuamente,
pois ficava à beira do deserto, perto de uma ravina onde vicejava o
capim e se acumulava água num pequeno lago, água do degelo dos
riachos que desciam das montanhas. Para lá tinham ido, como nossos
viajantes se dirigiam agora, milhares de caravanas em busca de
proteção para a noite. Quando se aproximaram do portão, o guia deteve
os camelos e foi examinar as condições e a segurança do ambiente.
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Um olhar sobre o Mundo
- Vamos dormir aqui? – perguntou Álvaro ao guia.
- Não! Só vamos comer aqui - veio a resposta imediata.
O guia entrou e começou a estender os tapetes no chão de
terra. Acendeu dois lampiões a gás cujo clarão incandescente iluminou
o teto alto do caravançarái, lançando sombras enormes nas paredes
mofadas. Os homens entraram no recinto, olhando atentamente para o
conjunto de paredes revestidas de gesso, o teto alto com abertura no
centro para entrada de luz.Vigas de madeira sustentavam a estrutura.
- Genghis Khan bem que podia entrar por aquela porta neste
instante – comentou Rodrigo.
- Ele esteve aqui. – Respondeu o guia. - Genghis Khan na sua
passagem pela Rota da Seda; quando vinha do deserto de Gobi seguindo em direção à Samarcanda, foi destruindo cidades, sem piedade,
torturando, matando e escravizando milhares de homens e mulheres.
Naquele momento compreenderam por que o guia havia
parado a caravana no caravançarái. Enquanto jantavam o vento ardente
amainou. Foi só depois da refeição que souberam para sua alegria, que
não dormiríam no caravançarái, mas prosseguiríam pelas montanhas,
no ar mais fresco e puro da noite.
- Seria apavorante pernoitar no caravançarái, onde os fantasmas dos mortos apareciam e gemiam à noite; ou seria o sibilar do vento
e o reflexo da luz da lua?- perguntavam-se os viajantes, amedrontados.
Subindo a Cordilheira Tien Shan a caravana chegou ao Passo
Torugart a 3752 metros de altitude, na fronteira de Quirguistão e China.
Ali ficava a alfândega. O guia da excursão, Almazbek Ahbad levou os
passaportes e documentos necessários para a autorização de entrada no
país. Demorou cerca de 3 horas para a liberação da licença.
A caravana foi autorizada a entrar na China. Seguiu por caminhos estreitos através de montanhas enfrentando precipícios e desfiladeiros, geleiras e rios turbulentos. As cordilheiras curvavam-se como
cimitarras no seu caminho. Os camelos trotavam vagarosamente,
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Um olhar sobre o Mundo
percorrendo uma média de 40 km por dia, salvo no deserto, onde toda a
viagem tinha que ser feita de noite, caminhando desde antes do
alvorescer até mais ou menos meio-dia, parando nos locais próprios
para descançar. Era interessante observar, enquanto o cameleiro tentava
manter os camelos enfileirados.
Álvaro descobriu que em cada dia de caminhada, algum dos
camelos ficava irritado, zangava-se com o cameleiro e tornava sua vida
infernal. O obstinado animal quando decidia, não se levantava ou não
se deitava, ou se afastava da caravana, gorgolejava, protestava insatisfeito. Para acalmar o animal o cameleiro Muthon tirava o turbante, a
camisa comprida, as calças largas, as sandálias, tudo, até ficar completamente nu.Então recuava e esperava,enquanto isso o camelo zangado
se aproximava e cheirava as roupas, então começava a escoicea-las
com violencia. Ele as mordia, pisoteava, cuspia e depois as arrastava
pela areia com a cabeça. Quando acabava de descarregar sua raiva,
afastava-se num passo majestoso, gorgolejando e grunhindo. Depois
que ele se ia, Muthon, recuperava as roupas, tornava a vesti-las e saia
atrás do camelo agora aplacado. Alcançava a cabeça dele, coçava-lhe o
pescoço, o animal gorgolejava amistosamente e os dois saíam andando
em direção da trilha.Os velhos cameleiros acreditam, que um camelo
guarda terríveis rancores.Quando se irritam por carga excessiva ou
maus tratos demonstram sua raiva emitindo gorgolejos e gemidos.
Os viajantes passaram por florestas cinzentas e lamentosas,
cujas árvores nuas e leitos secos dos rios indicavam os lugares onde
civilizações férteis tinham vivido e se extinguido. A altura das
montanhas com mais de 4.000 metros, atemorizava, seus picos cobertos
de gelo predominavam no horizonte, parecia impossível que algum ser
humano conseguisse transpô-las, quanto mais uma caravana de
camelos. Mas sob a liderança experiente do guia Almazdek Ahbad,
dirigiram-se de uma muralha sólida à outra e de algum modo havia
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sempre uma saída, às vezes uma garganta, outras vezes um vale
verdejante, que se abria para o leste.
A trilha era uma abertura estreita cavada entre as rochas.
Tendo descido por aquela garganta sinuosa e profunda durante cerca de
um quilômetro, saíram numa planicie baixa. Viam-se adiante diversas
árvores, sinais de vida e um pequeno oásis habitado, além do qual
ficava uma cidade antiga e uma grande extensão de água. Num pulo
todos desceram dos camelos e correram a toda velocidade para o lago.
Despiram-se rapidamente e entraram na água, para que seus corpos
abrasados absorvessem o liquido que haviam perdido com o calor.Os
cameleiros levaram os animais sedentos para beber.Com a sede
aplacada e o corpo arrefecido descançaram na sombra das ávores.
Depois seguiram por um planalto sem fim, sobre o qual
nenhuma árvore era visível, as pedras cobertas totalmente pela neve.
As florestas na faixa Alatau, mais baixa, são habitadas por tribos de
pastores que moram em yurtes e falam língua turca. A caravana
continuou andando, às vezes algum camelo da fila afundava nas areias
fofas de gipsita, que eram a grande armadilha do deserto, nessas
ocasiões todos se reuniam para salvar o animal. A caravana subia e
descia as dunas que se sucediam além do horizonte O mais
impressionante era o silêncio, o absoluto silêncio do deserto à noite.
Não havia insetos nem pássaros noturnos a chilrear, não havia nenhum
eco de vento, nem o som distnte do ribombar de um trovão.
O Taklamakan é o deserto mais quente, mais seco, o maior
deserto da China, situado na Bacia do rio Tarim, no Xinjiang Uygur
Região Autônoma, no noroeste da China. É ali que se encontra o
segundo ponto mais baixo da Terra. (primeiro é a Depressão do Mar
Morto em Israel com 422 m abaixo do nível do mar), a Depressão de
Turphan, situada no Vale do rio Tarim a 155 m abaixo do nível do
mar, é um dos lugares mais quentes, durante o verão atinge 57º Celsius.
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O deserto de Taklamakan se estende por 337.600 km², de
norte a sul da Região de Xinjiang Uygur. Dunas de areia cobrem cerca
de 85% do solo do deserto, algumas delas chegam a 200metros de
altura, fornecem material abundante para as maiores tempestades de
areia do mundo.O deslocamento de areia, pelas tempestades,
geralmente sopram para o leste sobre a China.As nuvens de poeira na
atmosfera podem dar a volta ao mundo. A poeira que cai sobre o
noroeste do Oceano Pacífico, pode trazer mudanças nos padrões
climáticos.O fato curioso é que o Taklamakan sendo um deserto
quente, várias vezes por ano se cobre de neve e as noites são gélidas.
Próximo de Turphan está o sitio arquelógico e as ruínas de
2.500 a.C.da antigamente florescente cidade de Jiaohe, a capital do
poderoso e próspero Império de Gushi. O Oásis de Turphan era
importante ponto de parada e abastecimento da Rota da Seda. A
caravana passava através do Oásis antes de chegar a Kashgar, aos pés
da Cordilheira Tien Shan, na China. É habitado pelas tribos Uygures
que se estabeleceram junto aos oásis de Turphan. Uma família uygur
hospedou os viajantes, permitindo que conhecessem seus costumes
únicos, tradições e sua culinária local. Canais subterrâneos de 2.500 km
de comprimento, escavados a mão pelos antigos habitantes, trazem a
água das Tien Shan para a população.Depois de muitos dias caminhando pelo deserto, a caravana chegou a afamada Cidadela de Kashgar.
A antiquissima Cidadela de Kashgar se tornou a encruzilhada
da Ásia. Dali partia a rota até Samarcanda, Ashgabat e Teerã, ou para o
sul, passando pela Cordilheira de Karakorum até a Índia. No final do
século XIV, o Oásis de Kashgar foi invadido pelos exércitos de Amir
Timur, época em que a islamização foi intensificada. Em 1755, foi
ocupado pelos chineses. A parte central de Kashgar é a cidade antiga
cheia de ruelas estreitas e tortuosas que levam à becos escuros, também a praças utilizadas como bazares. Aqui se localiza o Grande Bazar
Kashgar, a Mesquita Id Kah, construída em 1442, e o Mausoléu de
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Um olhar sobre o Mundo
Abakh Khoja edificado no ano de 1.640, o lugar mais sagrado para os
sufis em Xinjiang. A caravana com os camelos ficou ali por três dias.
Os homens e os animais ficaram descansando e refazendo as
energias. Foram conhecer os lugares históricos da Cidadela de Kashgar.
Depois a caravana seguiu adiante, para Ürümqi. Passou por raros
povoados, com gente estranha. Dormiam em caravançarais (grandes
abrigos gratuitos para caravanas), onde conheceram pessoas de outras
caravanas. Seguiram para frente pelo deserto por longas distâncias, sem
nenhum conforto básico, atravessando imensas montanhas, desertos,
um clima terrível, emboscadas e perigo de assaltos, mas nada disso
desanimou as pessoas tão diferentes que por ali se aventuraram.
Viajavam à noite quando o ar refrescava com o vento forte
que vinha das montanhas. A lua cheia surgiu brilhante iluminando o
céu. Agora estava bem acima do horizonte, um grande círculo de luz
que tornava possível a viagem pelo deserto, o luar refletindo-se nas
dunas como se fosse dia. Pela primeira vez na vida, os viajantes viram
miríades de estrelas brilhantes, faiscando no céu límpido, sem névoa,
sem poeira, sem poluição de qualquer natureza, era provávelmente o ar
mais puro e mais limpo, mostrava as estrelas como em nenhum outro
lugar. Pareciam enormes, desciam até o horizonte, de modo que,
parecia que algumas surgiam das dunas da areia.
A caravana entrou em terras uygure-chinesas, por labirintos
de colinas desoladas, desceram por vales amplos cortados por cursos
secos de água; atravessaram extensas planicies cobertas por altas dunas
de areia, onde o vento dançava e rodopiava, soprando forte, criando
arabescos na areia. A caravana era única coisa que se movia no terrivel
deserto de Taklamakan. Finalmente, após 38 dias de viagem, descançando por um ou dois dias, alimentando-se e dormindo em antigos
caravançarais ou acomodados em acampamentos, em yurtes, aos pés de
montanhas de 4.000 m de altitude, percorreram cerca de mil e duzentos
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quilômetros, balançando no lombo de camelos. Estavam exaustos, com
corpo todo dolorido, mas finalmente, chegavam à cidade de Ürümqi.
Urumqi, capital da Região Autônoma de Uygur Xinjiang, é
como uma esmeralda encravada no sopé das montanhas Tien Shan,
com uma população de 2,5 milhões de habitantes.A cidade impressiona
à primeira vista. Arranha-céus de vidro e concreto cercados por favelas,
a vida está em toda parte e a sua força motriz é o seu comercio
majestoso e milhares de pessoas nas ruas. Esta cidade graciosa é um
importante ponto ao longo da Antiga Rota da Seda levando à Ásia
Central bem como à Europa. A cidade situa-se a 60 km de distância do
elevado Pico Bogda de 5.445 m de altura com os cumes permanentemente nevados, oferecem uma visão fantástica. As colinas são cobertas
de pinheiros e os campos alternados de gramíneas e dunas de areia.
O clima na região é extremamente árido devido a intensa luz
solar, a temperatura varia muito, de dia faz muito calor e as noites são
gélidas.Os pontos turisticos mais famosos são as relíquias culturais, as
fantásticas paisagens naturais que incluem,Tianchi o “LagoCelestial”,
os Túneis Subterrâneos, as pastagens verdes do Sul, a Mesquita do Sul,
Mesquita de Tártaro, Museu Regional de Xinjiang, e compras no
Grande Bazar de Ürümqi,que é um emaranhado de corredores estreitos
onde se vende de tudo, há grande variedade de artesanato, tapetes,
chapéus estilo uygur, trajes étnicos, bordados e lindas esculturas de
jade,diferentes tipos de nozes e frutas secas, ervas medicinais, perfumes
e óleos aromáticos.Além disso,Ürümqi é uma cidade contrastante, uma
combinação harmônica das tradições orientais e ocidentais.
A cidade é servida pelo Aeroporto Internacional Diwopu
Ürümqi. Existem muitas opções de alojamento, bons hotéis, como
Hotel Lotus, Hotel China, Mirag B. Tower e muitos restaurantes. Por
indicação do guia da excursão hospedaram-se no Hotel Pulmann
Ürümqi, perto do aeroporto. Despediram-se dos viajantes que ficavam
na cidade de Ürümqi, do guia quirguiz Almazbek Ahbad e dos
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Um olhar sobre o Mundo
cameleiros. O guia ajudou os dois brasileiros a adquirir as passagens de
avião para Irkutsk, na Misteriosa Sibéria, o seu próximo destino.
Os dois pesquisadores ficaram ali sozinhos no jardim do hotel
Pulman, sob o luar enevoado, olhando a velha cidade de Urumqi, com
o Pico Bogda elevando-se ao sul e a imensidão da Ásia em torno deles.
À oeste estavam os ruidosos Bazares de Kashgar, o Passo de Torugart,
o rio Oxus, as planícies de Samarcanda.Ao sul os desertos intermináveis de Taklamakan e o estranho lago que desaparece no ar ao
aproximarem-se dele.Também alí estavam as cavernas e mosteiros das
Montanhas Flamejantes.O assentamento Tuek com as grutas milagrosas conhecido como “ Bezeklik, as Mil Cavernas de Buda”.
Era um momento de imensidão no qual podiam sentir a
vastidão da Ásia Central, aquela metade do mundo com um chaderi
sobre o rosto e a voz do muezim chamando para a oração.Tinha o seu
perfume próprio; naquele momento a noite clara e silenciosa com suas
estrelas cintilantes possuía um poder todo seu. Era o cheiro dos campos
gelados, o aroma indistinto dos bazares barulhentos e o cheiro doce dos
pinheiros que se escondiam atrás dos muros do jardim.No horizonte
projetavam-se altaneiras as Cordilheiras Tien Shan.
O grande sistema de Cordilheira Tien Shan começa no interior
da China, no norte da cidade de Kumul (Hami) a leste de Ürümqi no
deserto de Gobi chinês. As Tien Shan se estendem por 3.000 km, ao
longo da linha do horizonte, com os seus glaciares e picos escarpados
até o leste de Tahkent no Uzbequistão. Com 800 km de largura, situase ao norte e ao oeste do deserto de Taklamakan e diretamente ao norte
da bacia do Tarim, na região fronteiriça sul e sudeste do Cazaquistão,
Quirguistão e a Região Autônoma Uygur da China Ocidental.Toda essa
região resplandece de ouro, larnja e vermelho ao entardecer, enquanto o
Khan Tengri desponta no alto, como um giganatesco rubi, incrustado
em um céu turquesa escuro.Tien Shan tem a fama de possuir as montanhas mais distantes, desconhecidas e sedutoras do mundo.
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Na maior parte da região não existem estradas ou povoados e
um intervalo ou passo nas montanhas já é considerado uma aventura.
As montanhas da formação das Tien Shan, são Barlyk, Dzhungar AlaToo, Zailii Ala-Too, Talas Ala-Too, Ala-Too Terskey e Kyuengey
Ala-Too. O nome chinês ”Qilian” para Tien Shan, é derivado da lingua
Yuez-hi os povos pré-Xiong-nu. Na língua dos Uygures habitantes da
região, significa “Montanhas Celestiais”. O lado sul destas montanhas
se funde aos Montes Pamir no Tadjiquistão, e para o norte e leste
ligam-se às Montanhas Altai da Mongólia, e no norte do Paquistão se
juntam aos montes do Hindu Kush.O Tien Shan é uma parte do
cinturão orogênico do Himalaia, formado pela colisão das placas
tectônicas indiana e euro-asiática na Era Cenozóica.
O Pamir, um complexo sistema de montanhas, chamado pelos
persas de “Teto do Mundo”, é o principal vínculo orogênico da Ásia,
de onde partem as mais altas cordilheiras da Terra: o Himalaia, o
Karakorum, o Hindu Kush e o Tien Shan. A região é formada por
longas cadeias de montanhas que são separadas por amplos vales,
chamados de “Pamir”, e estende-se principalmente sobre os territórios
do Tadjiquistão, do Quirguistão e do Cazaquistão, atingindo também o
Paquistão e o Afeganistão.Reino de cabras e cavalos selvagens, o Pamir
possui alguns dos maiores glaciares do mundo e ainda vales pouco
conhecidos e montanhas que nunca foram escaladas.
Um fato intrigante e curioso é a construção de cidades fantasma no norte da China, região de Ordos, parte do deserto de Gobi que
pertence à China, na fronteira com a República da Mongólia. São vinte
cidades projetadas e seis já concluídas: Erenhot, Ordos, Bayan-noo-Er,
Zengzhou, Dantu e Xinyang.O projeto bilionário é financiado pelo
governo chinês.São cidades construídas com uma infra-estrutura planejada, moderna, para acolher 65 milhões de pessoas. Avenidas largas,
praças arborizadas, inúmeros prédios de apartamentos destinados certamente para albergar membros do governo e seus familiares e também
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cidadãos comuns.O curioso e que mesmo depois de concluídas as
cidades ainda estão vazias, não há habitantes. As construções
localizam-se no interior, longe da costa marítima A cidade de Ordos vai
hospedar os participantes da eleição da Miss Universo de 2012.
Rodrigo e Álvaro estavam fascinados pela idéia de ir conhecer as
cidades fantasma chinesas. Estavam tão próximos... Mas o fato que os
impedia de ir, era que não possuíam a licença necessária para visitá-las.
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