Reflexões sobre o Fracasso Escolar - Pedagogia
Transcrição
Reflexões sobre o Fracasso Escolar - Pedagogia
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS Departamento de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso Reflexões sobre o Fracasso Escolar: a Escola como um mundo afastado da vida Aluna: Rose Mary de Oliveira Hudson Orientador: João dos Santos Carmo São Carlos/SP 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS Departamento de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso Reflexões sobre o Fracasso Escolar: a Escola como um mundo afastado da vida Aluna: Rose Mary de Oliveira Hudson Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos. Orientado pelo Prof. Dr. João dos Santos Carmo, do Departamento de Psicologia, Centro de Educação e Ciência Humanas. São Carlos/SP Aos meus pais, e ao meu irmão, pela força e apoio, durante todo o processo desta conquista. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela oportunidade de poder concluir um curso superior. À minha família por ser meu porto seguro. Ao professor e amigo João, pela sua competência em me orientar e por acreditar no meu trabalho. Aos amigos que fiz na faculdade, e aos professores dos quais tive o privilégio de ser aluna. A árvore que não dá fruto É xingada de estéril. Quem Examina o solo? O galho que quebra É xingado de podre, mas Não havia neve sobre ele? Do rio que tudo arrasta Se diz que é violento, Ninguém diz violentas As margens que o cerceiam Bertold Brecht SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 6 METODOLOGIA ......................................................................................................... 8 CAPÍTULO 1: A ESCOLA E SEU DISTANCIAMENTO DA VIDA ......................... 10 CAPÍTULO 2: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR ......... 17 CAPÍTULO 3: APONTANDO RUMOS ..................................................................... 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 37 REFERÊNCIAS: ........................................................................................................ 40 RESUMO O fracasso escolar já é um assunto conhecido, recorrente de inúmeras discussões sobre o ensino, isto é, um discurso no âmbito social que por seu grau de importância e complexidade, é abordado como uma realidade social a ser encarada. Apesar do reconhecimento deste fato evidente nas escolas, o desafio não está na abordagem e discussão do fracasso em si, mas na forma de abordá-lo, ou seja, o que continua preocupante é a insistência nas mesmas análises superficiais e generalizadas que conceituam o fracasso como algo externo ao processo de ensino e à sua organização. Esta pesquisa procurou fazer um panorama histórico sobre o fracasso escolar, assim como as explicações dadas e as ideologias presentes nestas explicações, e diante disso, entender qual o processo que conduz os alunos a viver histórias escolares de fracasso. Com o caráter de pesquisa histórico-bibliográfica, buscamos apresentar sob a ótica dos autores abordados, que duas visões coexistem: a primeira que trata do fracasso escolar como algo inerente ao aluno e/ou família, a segunda, que entende o fracasso escolar como produto de relações historicamente determinadas. Observou-se no decorrer dessa pesquisa, que embora as situações de fracasso sejam reais e presentes no quadro escolar, existem propostas educacionais bem sucedidas que nos fazem crer nas possibilidades de ação, de uma escola dos sonhos possível. Palavras-chave: Fracasso Escolar, Realidade Social, Mecanismos de Seletividade, Cultura Escolar, Carência Cultural. ABSTRACT The school failure has already been a known subject, resulting from countless discussions about education. It means people approach this issue as a social reality to be faced for its complexity. The school has knowledge about this issue, but the challenge is not to discuss this issue, it’s how we discuss. It’s still a problem because they keep fixating on the same superficial opinions which make the issue something out of the education process. Analyzing this aspect, this research aims to look for a historical reason for this issue, explanations and the ideology used on each explanation. As a bibliographic-historical research and based on the researcher’s view, we look for showing two opinions coexist: the first one is about the school failure and the student and/or the family; the second one is about a historical aspect. We observe on this research the school failure is something real, but there are projects, which have been successful, and they make us believe there are possibilities we can have the school we have dreamed for. Key-words: School Failure, Social Reality, Selectivity Mecanisms, Education Culture, Culture Lack. 6 APRESENTAÇÃO O que se reconhece por um ambiente de aprendizagens? Salas de aula? Carteiras? Quadro negro? Algumas janelas? Para a sociedade, a escola é o âmbito cuja aprendizagem encontra seu lugar; e para a criança? O que ela entende por ambiente de aprendizagens? Para ela, qualquer lugar e horário são oportunos para se aprender algo novo, o mundo toma a forma de um mapa a ser explorado, sensações e descobertas fascinantes batem à porta; seja na relação com as pessoas, com o meio ambiente ou com outras culturas; tudo pode ser sentido, internalizado, vivido, porém, ao chegar à escola, esse mundo de explorações torna-se limitado e restrito. Na sala de aula, regras e normas são formuladas de maneira a domesticar os corpos vividos nas cadeiras, as carteiras em fileiras exigem uma postura alinhada e imóvel, e do professor uma única recomendação, “silêncio e atenção”. No interior das paredes da escola, o comportamento é vigiado, apenas certas atitudes, palavras, pensamentos e expressões são permitidos, ou seja, tudo que fuja à norma padrão, aos “ritos”, é julgado e condenado. Ao entrar na escola, a criança deixa do lado de fora, grande parte da sua criatividade, sagacidade, questionamento e vivências do cotidiano; ao adentrar os portões, a descoberta e o aprendizado tornam-se princípios desconexos, que só tornam a ter sentido no fim do dia, com o tocar do sinal. Esse contexto de educação nos permite refletir que o currículo formal com suas inúmeras limitações, a sala de aula, e o âmbito escolar com seus ritos aparentemente imutáveis contribuem de forma significativa para o fracasso escolar, pois "castram" a imaginação, curiosidade, criatividade e vivacidade que a criança possui; mas que dentro das paredes da escola perdem o sentido, escola e vida passam a ser realidades totalmente distintas e sem relação, ao invés de serem correlacionadas e interdependentes. Diante desses argumentos, essa pesquisa bibliográfica terá como linha norteadora, o posicionamento de refletir e discutir criticamente sobre as causas e possíveis soluções do fracasso escolar. Esse trabalho pretende apontar a necessidade que existe na identificação da criança com a escola, isto é, a importância do aluno encontrar significado em seus aprendizados, e que os mesmos façam sentido para ele e para a realidade em que vive; ou seja, de que maneira enxergar a criança como ela realmente é sem transformá-la em mais um número estatístico, mais um caso a ser analisado. 7 O intuito é procurar através de abordagens críticas e realistas aqui analisadas, refletir sobre as condições necessárias, para que haja uma reelaboração de conceitos, diante da escola que temos e daquela que gostaríamos de ter. Longe de apontar soluções milagrosas ou concepções que não passam de um discurso de boas intenções; o objetivo deste TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) é de fazer uma reflexão crítica acerca do fracasso escolar, ao abordar suas causas e consequências em diferentes perspectivas e âmbitos; sendo do ponto de vista político-social, fruto das contingências educacionais, sociais e econômicas; e do ponto de vista da exclusão, de crianças, famílias, professores e escolas, serem em grande parte, excluídos da oferta de condições minimamente desejáveis de ensino-aprendizagem. Um esboço dos capítulos a serem abordados, nos dará um panorama da proposta presente neste TCC. Capítulo 1: A escola e seu distanciamento da vida. Neste capítulo procuraremos refletir e ampliar as discussões acerca do tema do TCC. Capítulo 2: Algumas reflexões sobre o fracasso escolar. Neste capítulo procuraremos levantar algumas reflexões a respeito das causas do fracasso escolar, as condições que implicam sua manifestação, assim como as diversas explicações dadas ao fracasso escolar, e as ideologias presentes nessas explicações. Capítulo 3: Apontando rumos. Aqui serão discutidas as possibilidades de ação e o sonho de uma escola possível. Pensamos em relatar algumas experiências, como a escola aberta e a escola da ponte. Considerações Finais: Aqui faremos um remate das teorias, ideologias e conceitos abordados, assim como sugerir novas abordagens a serem consideradas em trabalhos semelhantes. O fracasso escolar apresenta-se por uma problemática que, não é de hoje abordada, questionada, estudada. O tema mostra-se intrigante, justamente por se tratar da instituição escolar, âmbito de múltiplas culturas e histórias de vida. Como característica, o fracasso escolar possui a presença da diversidade de histórias escolares mal sucedidas, únicas e peculiares entre si. Foram justamente essas particularidades que me intrigaram ao ponto de querer pesquisar e discorrer sobre o fracasso escolar. O que se considera por fracasso escolar? Quais são as causas do fracasso escolar, as condições que implicam sua manifestação? Foram os questionamentos que me instigaram e desafiaram a desenvolver este TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). 8 Outro questionamento que me acompanhou no decorrer dos meus estágios, foi a falta de identificação que a criança tem com a escola, muitas vezes, o aluno não se identifica com o conteúdo escolar, com a cultura da escola, com a maneira que a relação ensino-aprendizagem se desenvolve dentro da sala de aula, o que contribui para a formação do fracasso escolar. Diante dessas interrogações, o questionamento maior gira em torno de: será possível conceber um âmbito escolar onde os alunos sintam prazer em aprender os conceitos exigidos no currículo? Há maneiras de se tornar mais significativo e “identificatório” o aprendizado para a criança dentro da sala de aula? Existem experiências bem sucedidas nessa perspectiva de ensino? Descobriremos juntos no desenvolver da leitura. METODOLOGIA O trabalho aqui apresentado é de caráter bibliográfico. O intuito é obter através da literatura, informações sobre os aspectos políticos e pedagógicos que contribuíram e contribuem para a formação do fracasso escolar, e como a falta de identidade que o aluno tem para com a escola, pode resultar em desmotivação, desinteresse e evasão escolar. A reflexão proposta por essa pesquisa tem por objetivo, propiciar base e referência para uma posição critica diante do que temos condições de melhorar, transformar na escola e o que não passa de utopia. Este trabalho foi desenvolvido a partir do estudo de obras voltadas para a Educação, mais especificamente na vertente do fracasso escolar, dando ênfase para as obras de fundamento teórico e trabalhos acadêmicos, que tratam as causas, consequências, justificativas e possibilidades para a superação do fracasso escolar. Foram analisados artigos e obras que tratam dessa temática, ao questionar conceitos como fracasso escolar, cultura escolar, relações de poder, mecanismos de seletividade, a escola que reproduz o sistema através da padronização e a escola reflexiva que se constitui como âmbito de relações e aprendizagens multiculturais. Nessa perspectiva, é importante dizer que a presente pesquisa contou como suporte textos disponíveis na internet, especificamente, no site do SCIELO (Scientific Eletronic Library Online). As pesquisas encontradas reportam-se, à realidade do fracasso escolar, suas causas, consequência e justificativas dadas, assim como, do sucesso escolar, experiências bem 9 sucedidas e abordagens reflexivas que se apresentam como possibilidades de superação desse fenômeno social. Para a seleção das obras e trabalhos a serem analisados, foi usado como critério, a leitura de textos referentes ao fracasso escolar. Caso a primeira análise não contemplasse a pesquisa, novas leituras de outros trabalhos eram feitas, a fim de buscar os mesmos ou outros elementos relacionados ao tema. Em seguida, fizemos a leitura dos artigos e das obras que foram escolhidas por contemplar o tema e neste sentido, buscamos identificar os argumentos e/ou as perspectivas voltadas para o fracasso escolar, bem como a importância do questionamento crítico e reflexivo dessa temática. Os autores que serão utilizados como aportes teóricos para esse trabalho são, Vygotsky (1991), Vygotsky (2006), Patto (1993), Harper et al (1986), Freire (2005), Mercês e Sampaio (2004), Paro (2001), Alves (2009). 10 CAPÍTULO 1 A ESCOLA E SEU DISTANCIAMENTO DA VIDA Com o desenvolvimento do capitalismo industrial, o mundo passa por significativas transformações, a invenção da máquina e a revolução tecnológica tornam-se o ponto de partida para um processo de grandes transformações, voltado para novas tecnologias e centros de produção. No entanto, diante desse cenário revolucionador, a escola permanece reservada às elites. Segundo Harper et al (1986), com o desenvolvimento industrial, passa-se a exigir uma mão de obra especializada, no intuito de corresponder ao avanço científico e tecnológico pelo qual o mundo estava passando; assim, no que diz respeito ao ensino, isto é, em relação aos conteúdos escolares, um número maior de quadros técnicos ganha espaço no lugar das antigas disciplinas de fundo clássico e literário, ou seja, diante da mudança radical da sociedade, a escola é forçada a se modernizar. Diante desse quadro de inovações, há a necessidade de uma melhor instrução para a classe operária, isto é, um ensino mais consistente, de modo que os operários tivessem um mínimo de conhecimento, para sua inserção como mão de obra especializada na sociedade industrial e dessa maneira, nascem paralelamente, a escola dos ricos e a escola dos pobres. De acordo com Harper et al (1986), a coexistência desses dois conceitos de escola gera uma verdadeira segregação social, ou seja, o ensino das crianças provindas das classes populares é estruturado de forma que os alunos tenham condições de apenas cumprir a escola primária. Por outro lado, as crianças de classes abastadas seguem um caminho diferenciado, com um ensino estruturado, de qualidade, na qual são encaminhadas para acesso ao nível superior. Nessa perspectiva, o direito de acesso à educação, no que diz respeito à igualdade de oportunidades e frequentar uma mesma escola, torna-se gradativamente uma reivindicação de prioridade da população. Dessa maneira, o ensino público gratuito e obrigatório, diante desse quadro educacional, mostra-se como a melhor maneira de se alcançar uma verdadeira democratização no ensino. Segundo Harper et all, a expectativa da classe trabalhadora diante da democratização consistia no nascimento de uma escola transformadora, de um serviço público de acesso a todos; que fosse estabelecida como um instrumento de emancipação e de educação das classes menos favorecidas. Assim, diante das reivindicações da população, de forma gradual vai 11 sendo eliminado o sistema de duas escolas separadas, isto é, uma destinada aos ricos, e a outra para os pobres. Ainda de acordo com Harper et al (1986), a partir de então, os alunos partem da “largada” juntos, ou seja, começam seus estudos num mesmo tipo de escola, até o momento de passarem por uma seleção que os repartirão em dois grupos: de um lado os que alcançarão as universidades, e de outro, os que ingressarão em escolas técnicas e profissionais, ou seja, cursos mais curtos e menos valorizados. Harper et al nos leva a refletir perante os fatos apresentados, se de fato houve democratização na escola. E se houve? O que entendemos por democratização no ensino? De acordo com Harper, se entendermos democratização, como sendo a possibilidade de um maior número de alunos permanecerem na escola, e com isso consequentemente obter uma maior quantidade de diplomas, sim, houve democratização. No entanto, se entendermos democratização da escola, como a possibilidade de que alunos provindos de meios culturais e sociais diferentes tenham as mesmas chances de atingir o sucesso escolar, então, ainda há um longo percurso a seguir. A escola não é algo acabado, estático, mas sim um movimento constante de idéias, conflitos, culturas, transformações e relações sociais que interagem e se modificam dia a dia. Porém, o que muitas vezes sua cultura transparece, é a visão de um mundo à parte, padronizado e fechado em si, repleto de ritos e normas que grande parte das vezes, se mostram imutáveis. O âmbito escolar, com suas regras e especificidades acabam por adestrar o corpo dos alunos em prol de uma disciplina excessiva, e consequentemente adestram a imaginação e a criatividade da criança, ao impedí-la de responder suas indagações através da exploração física e intelectual. Diante do aluno, a escola se apresenta como um mundo imóvel e silencioso, onde muitas vezes é proibido trazer para a realidade da aula abordagens do dia a dia, isto é, o que não está incluído no currículo padrão da escola. A sala de aula, segundo Morais (1986), ocupa em nossa tradição escolar um lugar propício para o desenvolvimento da escolaridade. Para esse autor, ao longo da vida escolar do educando sua frequência em uma série de salas de aula, permite que ele seja considerado escolarizado; sendo assim, a sala de aula tem sido considerada um sinônimo de instrução. A sala de aula se constitui como um âmbito educacional na qual a interação entre pessoas, objetos e símbolos se faz presente, porém, esses contextos na maioria das vezes, não são abordados interdisciplinarmente ou relacionados de forma significativa com a realidade 12 dos alunos. “Não se aprende a fazer samba no colégio, disse o Noel Rosa, tendo suas razões, e nem nunca se viu a Didática lecionar matemática (ou geografia) no Mercado Modelo ou na Folia dos Santos Reis” (MORAIS, 1986. p.52). Na escola, dificilmente a cultura popular e as experiências sociais são requisitos na formulação de planejamentos ou currículos1, pois a escola tem sua cultura alicerçada em uma tradição metódica, regida por ritos e leis que se apresentam desconexos com o cotidiano do aluno, e com o que realmente lhe traz sentido e significância. “A Cultura Popular, ela não vai à escola, ou vai à escola da vida, cujas metas e projetos – sendo a vida mesma – nem confere diplomas, nem repete de ano a nenhum desses que têm sobrevivido” (MORAIS, 1986. p.52). A cultura popular e a sala de aula, de acordo com Morais, relacionam-se de forma desarmônica, tendo se excluído de forma mútua ao longo da nossa tradição educativa. A instituição escolar através das suas regras e leis interfere na relação de descoberta entre o aluno e o aprendizado, uma vez que impossibilita o desenvolver de experiências a serem adquiridas por meio das relações sociais, brincadeiras, contato com o meio ambiente, curiosidade, conhecimento, sentimentos, política, etc. Na escola, os papéis entre professor e aluno estão previamente determinados, o professor fala, o aluno ouve, o professor se movimenta pela sala, o aluno permanece sentado em silêncio, o professor sabe, o aluno está em constante processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, quando voltamos nossa reflexão e análise para as relações entre professor-aluno e ensino-aprendizagem, mais nos convencemos de que, conforme Freire (2005), essas relações caracterizam-se como sendo fundamentalmente “narradoras, dissertadoras (...) Narração e dissertação que implica um sujeito – o narrador – e objetos pacientes, ouvintes – os educandos” (FREIRE, 2005. p. 65). A partir do momento em que o conhecimento é abordado como algo narrado e estático, ele perde sua natureza existencial, isto é, sua essência da prática, de experiências vividas. No processo de ensino-aprendizagem, esse contexto torna-se ainda mais verdadeiro quando o conhecimento se apresenta de forma alheia à realidade do aluno. De acordo com Freire (2005), quando o professor se coloca como o sujeito/narrador no processo de aprendizagem e conduz o aluno para a condição de ouvinte, faz com que o conhecimento seja assimilado de forma mecânica. Dessa maneira, o aluno apenas recebe e memoriza o conteúdo, não havendo espaço para suas hipóteses ou questionamentos, posicionando-se assim, no que 1 É o conjunto de disciplinas propostas por uma grade curricular, onde estão presentes os conteúdos a serem ensinados na escola, juntamente com a definição dos objetivos a serem perseguidos no ensino. 13 Freire chama de “vasilhas” de depósito de conhecimento, na qual o educador “enche” com conteúdos. Segundo Harper et al (1986), dentro do currículo, a escola tende a tratar/ensinar todos de uma mesma maneira, e diante disso, espera-se uma resposta recíproca, isto é, que todos reajam/aprendam da mesma maneira, pois não só a metodologia é aplicada igual a todos, mas a explicação, os exemplos, o ritmo, o livro, e diante disso, espera-se que os alunos correspondam ao estímulo com uma atitude padrão, ou seja, que todos aprendam com os mesmos exemplos, que reajam aos mesmos estímulos, e adquiram o mesmo conhecimento. Ao invés do educador discutir o conteúdo com os alunos, ele repassa o conhecimento fazendo com que os mesmos memorizem e reproduzam. A essa concepção, Paulo Freire denomina de “educação bancária”. Na educação bancária, o aluno passa a assumir o papel de reprodutor do conhecimento e não o de criador do seu aprendizado, como diria Freire “expectador do mundo”. Perante isso, o educador deve buscar propiciar a “comunicação” entre o saber e o aluno, tendo como prerrogativa o conceito de que segundo Freire (2005), sua atuação como professor só se torna autentica quando este reconhece autenticidade no pensar do educando, direcionando-o a todo momento para a reflexão da realidade. Já quando o conhecimento é assimilado como uma via de mão única, isto é, o professor fala e o aluno apenas recebe o conteúdo, não há reciprocidade de aprendizagem, mas apenas um “depósito”, o educador “deposita” o conteúdo no educando e concebe a reprodução mecânica do mesmo como prova de aprendizagem, que muitas vezes não é adquirida de forma significativa. Nessa postura “bancária” de educação, segundo Paulo Freire, o conhecimento é visto como uma doação daqueles que julgam ter mais conhecimento intelectual que outros. No caso da relação professor-aluno, o professor sempre será aquele que irá ensinar, e o aluno o que irá aprender. Diante desse contexto, o conhecimento deixa de ser algo elaborado, construído, e passa a ser concebido e praticado como algo estático, comprometendo até mesmo a criatividade dos alunos. Na verdade, essa relação ensino-aprendizagem que se apresenta grande parte das vezes de maneira mecânica, constitui-se, segundo Freire, como “uma visão distorcida da educação, onde não há criatividade, não há transformação, não há saber” (FREIRE 2005, p.67). Em oposição à educação bancaria, Freire nos apresenta a educação problematizadora; nesta concepção, já não prevalece o ato de depositar, narrar ou transmitir conhecimentos e 14 valores, mas se coloca como exigência crucial no desenrolar da aprendizagem, a superação da relação autoritária educador-educando. É através da superação da educação bancária, que se é concebida uma nova relação educador-educando, isto é, na educação libertadora, uma nova concepção de educação entra em “cena”; a de um professor que não apenas educa, mas no processo de ensino é educado, e de um educando que não só aprende, mas no processo de aprendizagem educa. Dessa maneira, ambos se tornam parte de um processo de desenvolvimento e enriquecimento intelectual, pessoal e cultural. Freire resume da seguinte forma as reflexões apresentadas: “Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2005 p.79). Assim, diante do conceito de educação problematizadora, a postura do educador deve ser a de renovar, e trazer constantemente para a discussão crítica a relação ensinoaprendizagem. Ao assumir a postura de investigador crítico, o educador deve buscar, por meio do ensino, problematizar a realidade de forma que o aluno adquira subsídio para superar a alienação presente na sociedade, e assim libertar-se da anestesia que, segundo Freire, inibe seu poder criador, constituindo-se também como um investigador crítico, problematizador que desafia o mundo, e é desafiado a responder aos desafios da realidade. No âmbito escolar, dificilmente é feita essa busca pela reflexão crítica; pelo contrário, a escola se abstém muitas vezes do questionamento e reproduz a alienação, pois deixa de abordar o discurso político de forma libertadora e conscientizadora. Este quadro se faz presente na rotina da escola, onde é rara a comunicação do conteúdo escolar com a realidade cotidiana, tornando assim o ensino superficial e desconexo. Essa capacidade de desafiar e ser desafiado pela problemática da realidade é adquirida através da reflexão simultânea do individuo em relação a si e ao mundo, permitindo que o sujeito aumente seu campo de percepção, ao refletir sobre a forma de como percebe a si mesmo no mundo. A concepção e a prática “bancária” desconhecem o homem como um ser histórico, criador e contribuidor da sua história, cultura e, consequentemente, identidade. No entanto, a educação problematizadora, toma a historicidade dos homens como premissa, ao conceber a partir do caráter histórico, de que o homem não é, mas está sendo; isto é, são seres inacabados em constante aprendizagem e metamorfose de idéias, fazendo parte de uma realidade que sendo histórica, é igualmente inacabada. 15 Quando a criança insere-se no âmbito escolar ela traz consigo uma história, constituída de experiências de vida, atitudes, valores, princípios, ideais, hábitos de linguagem que constituem e refletem a cultura da sua família, ou seja, do meio social em que está inserida. O aluno deve ser valorizado diante das suas peculiaridades, experiências e conhecimento resultante de suas vivencias; porém, a escola não considera relevantes essas diferenças, e não leva em consideração histórias de vida, ritmos de aprendizagem, concepções; ou seja, ao invés da escola exaltar a bagagem cultural do aluno, e estipular como sendo este o ponto de partida para o desenvolver da relação ensino/aprendizagem, a escola anula as particularidades e padroniza. Harper et al (1986) aborda essa perspectiva, ao relatar que na escola, a vontade da criança e o seu conhecimento próprio são negligenciados, pois no que diz respeito à sua bagagem cultural, esta não é valorizada ou requisitada no seu processo de aprendizagem, no entanto, do portão para fora a criança se reencontra; pois, o que ela considera significativo, toma de volta seu sentido, ou seja, sua imaginação, criatividade, sagacidade, curiosidade e disposição têm seu espaço. A cultura escolar que em sua ideologia é elitista, isto é, eleva a cultura das classes privilegiadas, sendo que as crianças das classes mais favorecidas estão acostumadas desde pequenas com a linguagem que a escola exige. Já as crianças dos meios populares, sentem grande estranheza diante da linguagem e dos valores da escola, pois o ritmo escolar se apresenta quase ou totalmente diferente daquilo que são habituadas; sentindo-se ainda mais deslocadas pelo fato de não poderem trazer para a escola sua maneira de falar e suas experiências de vida dentro do seu contexto familiar, cultural e social. Esse sentimento de mal-estar experimentado pelas crianças das classes populares muitas vezes resulta em uma recusa pela escola, personificada em erros constantes, desatenção e descaso, que se mostram como os primeiros passos rumo ao fracasso escolar. A falta de motivação e incentivo ao aluno para com a construção do seu aprendizado o impulsiona a fazer por si só as relações entre a teoria e a prática, entre a escola e a vida. O aluno que ao adentrar a escola pensa em carros, motores, sexo, recordes, acontecimentos históricos, muitas vezes fica calado e desinteressado, pois não consegue fazer relações entre o que vivencia dia a dia e o conteúdo abordado nas disciplinas escolares. A atitude dos alunos passa então a ser mecânica e passiva, pois evita ao máximo a exposição, por receio da sua opinião ser considerada contrária ou errada no ponto de vista do professor. 16 A escola que deveria dar a mesma oportunidade a todos, e ser reconhecida como âmbito de aprendizagens para a vida, geradora de cidadãos críticos e reflexivos, atuantes ativos na sociedade, e que continuamente transformam e são transformados pelo mundo; age de forma contraditória ao reproduzir a desigualdade entre diferentes classes sociais. 17 CAPÍTULO 2 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR Neste capítulo, buscaremos com base em fundamentação teórica levantar algumas reflexões a respeito das causas do fracasso escolar, as condições que implicam sua manifestação e as diversas explicações dadas como justificativas para o insucesso do aluno na escola. Sem a pretensão de apresentar soluções definitivas, pretendemos abordar o assunto a partir de uma perspectiva crítico-reflexiva; no objetivo de buscar entender as ideologias presentes nessas explicações. Apesar de toda a boa vontade e de todo o esforço de alguns professores, a realidade é que o próprio funcionamento da escola é quem determina através dos resultados escolares, o lugar de cada aluno na escola, selecionando e eliminando os que não se adaptam. Diante desse contexto, diversas medidas são tomadas em termos de políticas públicas, porém tais políticas não sofrem continuidade, o que torna o abandono da escola algo crônico. Segundo Paro (2001), a reprovação escolar é parte integrante da realidade escolar, manifestando-se não só nos alunos retidos e “desistentes” que a escola produz, mas também no modo de agir e de pensar que perpassa as atividades escolares. Exemplo disso são as relações presentes em sala de aula, que são direcionadas para o cumprimento de seu papel de escola, isto é, possibilitar a passagem do aluno para a próxima série correspondente. No processo avaliatório, na grande maioria das vezes, o que a escola julga como necessário para que o aluno passe para o próximo nível de ensino, baseia-se no domínio do conhecimento exigido pelas disciplinas escolares, o gosto pelo saber e a apropriação da cultura como valor fundamental, são concebidos como complemento, pois o que vale realmente é o aprendizado do conteúdo estipulado no currículo. Paro (2001) faz uma análise crítica, ao dizer que em termos psicológicos e pedagógicos, a repercussão de uma reprovação escolar tem seus efeitos mais comprometedores na auto-estima e construção do saber de uma criança ou adolescente que está em seu processo de formação, do que para um estudante que apresenta um razoável desenvolvimento psicológico e social. A reprovação escolar, segundo Paro, acaba servindo como álibi para a incompetência da escola: 18 “(...) primeiro como cautela, para que não haja no próximo ciclo um aluno que não tenha competência para ai estar, segundo, como justiça feita ao aluno que não quis estudar, e finalmente, como garantia de qualidade para a escola que não terá para a próxima série um aluno que não consiga acompanhá-la”(PARO, 2001p. 68). Como solução imediata, a escola opta por reprovar, tendo por justificativa, o aluno como o único responsável pelo seu fracasso. Ora por não conseguir acompanhar o ritmo da sala, ora em forma de punição por um comportamento que foge aos padrões que escola exige. Na sua insuficiência em conseguir cativar a curiosidade do aluno, a instituição escolar acaba por não questionar as razões que a fazem não conseguir dar informações, cultura2, conhecimentos, para além do que o aluno já sabe. O fracasso escolar, de acordo com Paro (2001), não é proveniente de uma causa isolada, mas é produto de um conjunto de determinantes provindos de diversas naturezas. No que se refere às condições de trabalho do docente na escola, estas influenciam de forma direta no desencadeamento do fracasso escolar; pois as más condições de trabalho, o grande número de alunos para atender, o baixo salário, entre outros, contribui para que os educadores não possuam condições de realizar satisfatoriamente seu trabalho, tomando por medida a reprovação; impedindo dessa maneira, de passarem pela vergonha de serem chamados de incompetentes. Segundo Paro (2001), somente uma abordagem global do contexto da escola, poderá desvelar as circunstancias que determinam o fracasso escolar. Segundo Mercês e Sampaio (2004), o fracasso escolar não se explica apenas pela reprovação, acontece uma perda ainda mais relevante, caracterizada pela dissociação da relação ensino-aprendizagem, isto é, no distanciamento cada vez maior entre os alunos e o conhecimento que a escola pretende transmitir. Ainda segundo os autores, a escola tem por expectativa, que os alunos venham prontos, com pré-requisitos; como boas maneiras, disciplina para assistir e participar das aulas, hábitos de estudo, competência para ler e escrever bem; além de resolver seus problemas fora da escola (MERCÊS e SAMPAIO, 2004). Dessa maneira, quando a criança não atinge tais expectativas, o fracasso é tido como já esperado, pois o aluno foi pré-conceituado como difícil, desatento e despreparado para o desenvolvimento do trabalho escolar. Essas explicações de acordo com Mercês e Sampaio (2004) repetem-se em muitos casos; sendo a maneira genérica como esses casos são 2 Do latim cultura, cultivar o solo, cuidar. São as práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período. 19 abordados, demonstram que muitos alunos não conseguem acompanhar a concepção particularizada que o professor tem de bom aluno. A concepção de caráter homogêneo que o sistema escolar tem para com os alunos, ao concebê-los como um grupo de pessoas indiferenciadas, segundo os autores, não deixa margem para conhecer e acompanhar os alunos de forma personalizada e particularizada. Uma vez que se percebe uma recusa, ou uma impossibilidade criada na escola, para lidar com os fatores que prejudicam o avanço dos alunos na aquisição dos conteúdos propostos, ou o desinteresse e as dificuldades fazem parte da reação dos alunos; a escola posiciona-se de maneira que não há nada a ser feito, pois a qualidade do serviço oferecido não está em discussão (MERCÊS e SAMPAIO, 2004). Os autores citados determinantemente fazem uma crítica em relação ao discurso irrepreensível e inquestionável que a escola procura apresentar; que, de acordo com Mercês e Sampaio (2004) faz parte de um modelo de ensino-aprendizagem formulado para quase ninguém se encaixar, desenvolvendo o seguinte questionamento: Como incluir todos em um processo de ensino-aprendizagem eficiente e significativo, se neste só há espaço para o aluno idealizado e abstrato? “(...) É flagrante que se justifiquem altos índices de reprovação usando argumentos soltos, desligados das condições de realização do currículo, que incluem alunos reais. E ainda que sejam argumentos em torno de um modelo de excelência nas questões de raciocínio, tão valorizadas no conjunto das escolas, não garantem um trabalho efetivamente realizado nessa direção. Não garantem tampouco que os aprovadores estejam incluídos num grupo que efetiva o modelo, uma vez que a formação dos parâmetros não revela sua relação com o trabalho realizado com todos os alunos, mas com razões para reprovar esse grupo numeroso” (MERCÊS e SAMPAIO, p. 127, 2004). A escola faz a não adaptação do aluno às suas normas e regras como justificativa para o fracasso escolar. A excelência exigida pelos currículos desconsidera as particularidades, características, ao almejar um aluno platônico, irreal. O que se vê na escola segundo Mercês e Sampaio (2004) é uma perda de vínculos: “entre ensino e aprendizado, entre conteúdos e realidade circundante, entre alunos e proposta escolar” (p.138). Por essa razão, a falta de vínculos entre o aprendizado significativo na prática e o conteúdo escolar, torna-se um fator contribuinte para o surgimento do fracasso escolar, pelo fato do aluno não se identificar com o conteúdo lecionado, promovendo um 20 atendimento insatisfatório não só na relação ensino-aprendizagem, mas à comunidade escolar como um todo. O processo de aprendizagem nunca está por acabado, o conhecimento é múltiplo, evolui e enriquece a partir de novas experiências, por isso a aprendizagem adquirida no cotidiano do aluno, deve ser considerada e reconhecida como relevante para a formação do mesmo, pois através das relações do conhecimento científico com cotidiano, o educando passa a compreender melhor os fenômenos que os rodeia. Na escola, o progresso e o enriquecimento da aprendizagem acontecem de forma singular, de maneira que o aluno no decorrer de sua formação vivência experiências significativas para a construção de seus conceitos e princípios. O aluno adquire através da experiência escolar, o melhor do ambiente educativo, que assim como ele está em constante ampliação e desenvolvimento. No entanto, à medida que os alunos avançam nas séries escolares, o processo de ensino-aprendizagem, mostra-se cada vez mais monótono, o lúdico perde seu espaço para o conhecimento sistemático, e a sala de aula, cada vez mais se estabelece como um local pouco prazeroso e autoritário. Os alunos em meio a essa realidade são considerados pelos professores e pelo sistema escolar, como responsáveis pelo seu próprio “fracasso”, e pela falta de interesse, no que diz respeito à escola e o ensino que ela tem a oferecer. Alves e Pretto (2008) fazem uma reflexão crítica acerca desse contexto, quando se referem a esses aspectos que fazem parte do cotidiano da escola, como sendo sintomas que na verdade denunciam uma realidade explícita de que a escola passa por um processo de crise, e nesse contexto, vem à tona a denúncia de um sistema onde sua estrutura necessita ser repensada, isto é, é preciso repensar a escola como um todo, desde sua arquitetura ao currículo (ALVES E PRETTO, 2008). Segundo Caldas e Hubner (2001), à medida que os alunos crescem e avançam os anos escolares, parece haver uma considerável perda de interesse, pois para o aluno, a relação com a escola aos poucos deixa de ser interessante e prazerosa. Nessas condições, com os passar dos anos, o desânimo por parte dos alunos toma proporções preocupantes, no que diz respeito a se sentirem estimulados no decorrer de sua vida estudantil a explorar e construir novos conhecimentos. A falta de motivação e prazer do aluno em relação à escola, não ocorre de maneira repentina, mas em longo prazo comprometendo o desenvolvimento da aprendizagem escolar. De acordo com Caldas e Hubner (2001), a motivação está diretamente relacionada ao 21 ambiente, e isso traz a necessidade de prever e planejar situações antecedentes e conseqüentes ao processo de aprendizagem em sala de aula. A alegria em aprender, de acordo com Caldas e Hubner (2001), está associada à escola pelos alunos das séries inicias, sendo a partir disso, compreendido que à medida que as crianças crescem, a escola vai tendo menos desenvoltura em tornar o conhecimento agradável e interessante. A ausência da alegria nas séries mais adiantadas pode estar relacionada à concepção de que crescer envolve certa postura, de que trabalho só tem realmente seriedade se for “sério”, sem riso ou humor. Partindo das palavras de Oliveira (2005), para muitos professores, a dimensão afetivoemocional está intimamente relacionada ao sucesso ou fracasso escolar, que é frequentemente utilizada para explicar o não aprender, interpretando como carência, as diferenças culturais e problemas provindos de desigualdades socioeconômicas. Ao relacionar o fracasso escolar com problemas afetivos, a sua origem é detectada pelo professor na vida familiar das crianças. (OLIVEIRA, 2005) Entre esses problemas afetivos, destacam-se: “(...) Por um lado os maus-tratos em relação à criança, a rejeição e o desamparo por parte dos pais e o desentendimento entre os pais e, por outro lado, por decorrência dessa vida familiar precária, ressaltam a carência emocional, o medo, a agressividade, auto-imagem negativa e a falta de motivação” (OLIVEIRA, 2005, p. 190). Para Casali (2005), todo processo de conhecimento está vinculado às emoções, sensações, disposições, expectativas, interesses do aluno, mas a escola não tem dado a essa questão o valor proporcional da sua importância. Tudo é conhecimento, seja ele adquirido dentro ou fora da sala de aula, porém nós como educadores muitas vezes não consideramos essas aprendizagens relevantes para o processo educacional do aluno, ficamos presos às “receitas prontas” do ensino tradicional, e com isso “podamos” a possibilidade dos educandos de fazerem relações entre seu conhecimento prévio e o conhecimento cientifico adquirido na escola. O conhecimento só é adquirido e internalizado pelo aluno, quando faz sentido para o mesmo e apresenta significância, ou seja, quando o conteúdo a ser ensinado é estruturado e exposto de forma que o educando questiona sua teoria, expõe suas hipóteses e através da 22 experiência prática comprova por si mesmo a legalidade do conhecimento científico apresentado a ele. O ensino deve proporcionar ao aluno compreender o mundo que o rodeia, pois se apresenta como instrumento norteador que o situa como indivíduo, cidadão, ser histórico, ao descobrir através da educação o prazer de aprender, conhecer, descobrir o que está ao redor. Segundo Casali (2005, p.308), “a escola se mostra insensível aos corpos vivos dos estudantes que estão ali diante dela e dentro dela, todos os dias com suas emoções, vibrações sofrimentos ansiedades, euforias agressividades, depressões, sexualidade”. De acordo com Patto (1993) o fracasso escolar constitui-se por um processo psicosocial complexo. Segundo a autora, a explicação das dificuldades de aprendizagem escolar, articula-se com duas vertentes: das ciências biológicas e da medicina do século XIX, vista como organicista das aptidões humanas e carregada de racismo e elitismo; na qual repercutiu na elaboração de um discurso sobre os problemas de aprendizagem escolar e da própria política educacional. De acordo com a autora, os primeiros especialistas que trabalharam nos casos de dificuldade de aprendizagem escolar foram os médicos. O final do século XVIII e o século XIX, segundo Patto (1993), foram de grande desenvolvimento das ciências médicas e biológicas, especialmente na psiquiatria. Nesta época são datados rígidos diagnósticos com classificações de anormalidade; assim, quando os problemas de ensino e aprendizagem começaram a apresentar maior frequência, os alunos considerados anormais passaram a ser encaminhados para pavilhões especiais, destinados para os “duros de cabeça”, ou idiotas, anteriormente confundidos como loucos (PATTO, 1993). Ainda segundo a autora, a criação dessa categoria, possibilitou a condução do conceito de anormalidade dos hospitais para as escolas, isto é, os alunos que não conseguiam acompanhar o ritmo de aprendizagem dos demais colegas, passavam a ser diagnosticados como anormais, sendo a causa do seu fracasso procurada em alguma anormalidade orgânica. Muitas vezes, a explicação do rendimento escolar desigual recebeu principal contribuição dos instrumentos de avaliação das aptidões. De acordo com Patto, medir as aptidões naturais, isto é, medir o rendimento decorrente de uma disposição natural, tornou-se o grande desafio dos psicólogos na virada do século. Inicialmente, o quadro de avaliações médicas, feito pelos clínicos da época, onde apontava as características dos “anormais escolares” tornou-se durante os trinta primeiros anos do século XX, segundo a autora, praticamente sinônimo de avaliação intelectual; “nessa 23 época, os testes de QI adquiriram um grande peso nas decisões dos educadores a respeito do destino escolar de grandes contingentes de crianças” (PATTO, 1993 p.43). No entanto, no início do século XX, a incorporação de alguns conceitos psicanalíticos veio mudar a concepção decorrente das causas das dificuldades de aprendizagem. Com a influência da psicologia educacional, de anormal, a criança que apresentava problemas de aprendizagem escolar, passou a ser diagnosticada como criança problema (PATTO, 1993 p. 43). Os diagnósticos precocemente deferidos geram a naturalização de deficiências e déficits, ou seja, passa-se a introduzir no discurso escolar, que as causas das dificuldades em aprendizagem e insucesso escolar, são de responsabilidade do aluno e sua família. Por sua vez, a escola e os professores no intuito de se eximir da responsabilidade, se armam com discursos recheados de termos técnicos e científicos para explicar o fracasso do aluno (TDAH; DDA; dislexia; etc.), e como consequência geral, dentro do quadro escolar o problema se torna crônico. Amplia-se assim, a presença de possíveis problemas presentes no aluno, que supostamente explicariam seu fracasso, “as causas agora, vão desde as físicas até as emocionais e de personalidade, passando pelas intelectuais” (PATTO, 1993 p.45), sendo herdado das décadas de vinte e trinta, a prática de submeter a um diagnóstico médico, as crianças que não correspondessem às exigências da escola. Segundo a autora, os mais prováveis destinatários desses diagnósticos foram as crianças oriundas das classes trabalhadoras, que formaram o quadro de maior incidência do fracasso escolar. Assim, para explicar o menor rendimento, a psicologia utilizou-se da cultura para explicar as desigualdades sociais; passou-se assim, à afirmação da existência de culturas inferiores ou diferentes, isto é, ambientes culturais e sociais atrasados responsáveis por crianças desajustadas e problemáticas. Harper et al (1986), também aborda essa questão ao dizer que, a sociedade reproduz uma concepção de cultura na qual se é inculcado que a família com poucos recursos, tem sua cultura e os meios de expressão pobres, diante disso, é encarado com certa naturalidade o fato de não conseguirem acompanhar o ritmo da escola. Porém, essa alegação reforça o preconceito de que existe um déficit cultural intrínseco a toda uma classe social desprivilegiada, sendo, sua linguagem subjugada, aos alunos lhe são atribuídos incapacidade de raciocínio, e à família ou até mesmo à própria criança, a responsabilidade pelo fracasso escolar, sendo a escola e a sociedade isentos de qualquer encargo. 24 De acordo com Patto (1993), foi na convergência entre concepções racistas e biológicas sobre o comportamento humano, desigualdades sociais e um ideário político liberal, que foram geradas idéias que interferiram nos rumos da política, das pesquisas e das práticas educacionais. Segundo a autora, para entender o fracasso escolar, é preciso atentar para o fato de que o mesmo contém contradições presentes no centro do discurso educacional; dessa maneira, verificar como se manifestam nos dá elementos para desvendar não só a essência desse discurso, como para encaminhar hipóteses a respeito de seu papel na política educacional. “(...) Somente um ensino de boa qualidade - no qual um professor interessado e bem formado maneje o conteúdo do ensino levando em conta as especificidades do alunado, tanto no que se refere às características de sua faixa etária quanto às suas experiências culturais – pode garantir a eficiência” (PATTO 1993 p.121). Segundo Charlot (2000), o fracasso escolar, constitui-se como realidade social, porém não deve ser abordado como um objeto analisável, pois o fracasso escolar em si, de acordo com o autor não existe, o que existe são situações de fracasso, histórias escolares que terminam mal. Esses alunos, essas situações, histórias é que devem ser analisados (CHARLOT, 2000). Ainda segundo o autor, o fracasso escolar: “(...) é uma diferença: entre alunos, entre currículos, entre estabelecimentos (...) O aluno em situação de fracasso, ocupa no espaço escolar uma situação diferente da do aluno em situação de êxito – sendo essas posições avaliadas em termos de notas, indicadores de sucesso, anos de atraso, lugar em um sistema escolar hierarquizado etc.” (CHARLOT, 2000, p.17). O fracasso escolar além de ser analisado pelas situações entendidas como posição de fracasso é justificado muitas vezes pela origem social, ao alegar que o aluno nessas condições padece de deficiências socioculturais. Porém, de acordo com Charlot (2000), é necessário ressaltar que, o fracasso escolar pode sim ter “alguma coisa a ver” com as desigualdades sociais, mas esse não pode ser colocado como fator determinante do fracasso, essa visão generalista deixa de considerar que as causas para isso são múltiplas. Assim, crianças oriundas de famílias pobres e com baixo capital cultural, muitas vezes, já são consideradas como futuras fracassadas. Deve-se lembrar 25 então que o desempenho escolar não depende, somente, das características familiares, sendo que duas crianças pertencentes à mesma família, sendo os pais pertencentes a mesma posição social, podem obter resultados escolares muito diferentes. Portanto, além de analisar a posição dos pais do aluno, para a explicação do seu sucesso ou do seu fracasso escolar, é importante compreender a singularidade de cada um, sendo que os mesmos fatores podem influenciar de maneira diferente em cada criança. De acordo com Angelucci et al (2004), é possível abordar o fracasso escolar através de vertentes que compreendem tal realidade social das seguintes formas: como problema essencialmente psíquico, como problema meramente técnico; como questão institucional; como questão meramente política (ALGELLUCCI et al, 2004). Na vertente que concebe o fracasso escolar como problema psíquico, parte do princípio que o fracasso se deve a prejuízos da capacidade intelectual do aluno, decorrentes de “problemas emocionais”; Culpabilizando o aluno e sua família. “(...) Entende-se que a criança é portadora de uma organização psíquica imatura, que resulta em ansiedade, dificuldade de atenção, dependência, agressividade, etc., que causam, por sua vez, problemas psicomotores e inibição intelectual que prejudicam a aprendizagem escolar. Não se trata da tese tradicional de que as crianças das classes populares têm rendimento intelectual baixo por carência cultural, mas de afirmar uma inibição intelectual causada por dificuldades emocionais adquiridas em relações familiares patologizantes” (ALGELUCCI et al, 2004). Nessa perspectiva, de acordo com Angelucci (2004), os culpados pelo fracasso escolar são o aluno por apresentar comportamentos entendidos pela escola como deficiências cognitivas e emocionais e a família do mesmo, que é tida como a responsável por propiciar vínculos sociais e emocionais desestruturados, influenciando nas atitudes do aluno e levandoo ao fracasso. Outra vertente apontada por Angelucci et al (2004), se refere à perspectiva que concebe o fracasso escolar como efeitos de técnicas de ensino inadequadas, ou da falta de domínio da técnica correta pelo professor. Permanece presente nessa idéia: “(...) o pressuposto de que as crianças das classes populares trazem para a escola dificuldades de aprendizagem, mas o foco muda de lugar: não se localiza nos problemas individuais dos alunos, mas na técnica de ensino do professor. Nesse 26 sentido, leva-se em conta a escola na produção dos reveses da aprendizagem, mas reduzida a uma relação dual abstrata em uma escola abstrata, ou seja, desvinculadas da sociedade que as inclui” (ANGELUCCI et al, 2004 p. 60). Aqui a capacidade profissional é posta em dúvida, sendo revertida para o professor toda a responsabilidade do insucesso escolar. É um erro afirmar que a não aprendizagem do aluno ou as complicações em seu processo, deve-se única e exclusivamente à formação técnica dos professores, considerando que as causas do fracasso escolar, não provêm de individualidades, mas de diversos fatores, relacionados às políticas públicas, estrutura escolar e currículo. Ainda segundo Angelucci, diante da análise dos processos institucionais que levam à produção do fracasso escolar, deve-se considerar a escola como uma instituição social, que inserida em uma sociedade de classes regida pelo capital e interesses privatizantes, tem a própria política pública entre os determinantes do fracasso escolar, pelo fato de tais políticas assumirem reformas e projetos educacionais que sem continuidade fazem do fracasso escolar um problema crônico. Para que esse quadro seja revertido, é preciso que as políticas públicas assumam o compromisso de construir uma escola pública capaz de distribuir com mais igualdade, conhecimentos e habilidades que lhe cabem transmitir, assim como dar continuidade e profundidade às propostas governamentais na área da educação, por meio da adequada implementação de políticas educacionais “progressistas”, com especial ênfase na política de centros de aprendizagens, garantindo assim, a realização do objetivo final das reformas e projetos oficiais, que se constitui na reversão do fracasso escolar (ANGELUCCI et al, 2004). Por fim, há uma vertente que enfatiza a dimensão política da escola, ao abordar o fracasso escolar como questão política considerando a cultura escolar, cultura popular e relações de poder. Segundo Angelucci et al (2004), “(...) assim como as pesquisas que se debruçam sobre a lógica excludente da educação escolar, analisadas no item anterior, aqui também se compreende a escola como uma instituição social regida pela mesma lógica constitutiva da sociedade de classes. O foco, entretanto, incide nas relações de poder estabelecidas no interior da instituição escolar, mais especificamente na violência praticada pela escola ao estruturar-se com base na cultura dominante e não reconhecer - e, portanto, desvalorizar - a cultura popular” (ANGELUCCI et al, 2004 p. 62). 27 A escola é uma instituição social conduzida por uma lógica fundamentada na concepção de uma sociedade dividida em classes, tendo presente em seu interior, relações de poder estabelecidas na maneira que a escola é estruturada com base na cultura dominante em detrimento e desvalorização da cultura popular. Sendo assim, a cultura escolar nessa perspectiva de “seleção social”, contribui para o fracasso escolar ao conceber a idéia de que o aluno provindo das classes menos favorecidas chega à escola como portador de carência cultural. Diante disso, podemos dizer que em nossa sociedade, se vê a necessidade de um resgate da escola em todos os âmbitos e para isso, é fundamental propor um espaço reflexivo sobre a eficiência e o papel da escola na educação, e como isso reflete na formação do aluno como sujeito autônomo, crítico, atuante e transformador não só da realidade do seu meio social, mas do mundo. Para isso, a escola precisa romper com os mecanismos de seletividade, que ao julgar a cultura das classes dominantes como superior, contribuem para o fracasso escolar dos alunos das classes menos favorecidas, reconhecendo assim, que o fracasso não se deve tanto ao método, mas ao fato dos conteúdos estarem desconexos e distantes do meio social, cultural, isto é, da realidade do aluno concreto, real. 28 CAPÍTULO 3 APONTANDO RUMOS No capítulo anterior, procurou-se problematizar o conceito de fracasso escolar, questionando a noção de fracasso e oferecendo uma visão alternativa ao entendimento da questão. No presente capítulo, buscaremos como o próprio título sugere apontar rumos, ao discutir possibilidades de ação. Como objetivo norteador do capítulo, apresentaremos algumas teorias e políticas públicas, no objetivo de apontar possíveis intervenções promissoras, como também, relatar experiências bem sucedidas de ensino, no objetivo de desenvolver estratégias para conciliar nossa realidade com o sonho de uma escola possível. As condições em que o ser humano se desenvolve estão diretamente relacionadas ao contexto histórico e cultural que está inserido. O homem nasce e se desenvolve em meio a um ambiente histórico-cultural. Nessas condições, a construção do conhecimento desenvolve-se através da interação do sujeito historicamente situado com o ambiente sócio-cultural onde vive. A educação nessa perspectiva, durante o processo de ensino-aprendizagem deve tomar como referência toda a experiência de vida do aluno. (MARQUES e OLIVEIRA, 2005) Para Vygotsky (1991), o conhecimento constitui-se como linguagem na qual se apresenta como principal instrumento mediador no processo educacional, explicitando estreitas relações que ligam o pensamento humano à linguagem. Assim, à medida que os significados das palavras são estabelecidos socialmente, essa construção permite troca e comunicação da experiência individual e coletiva. A abordagem Vygotskyana, entende cultura como parte integrante da natureza do homem, sendo o conteúdo dessa experiência cultural-histórica, estruturado não somente nas coisas materiais, mas, principalmente, nas formas verbais de comunicação produzidas entre os homens. É através da linguagem que se dá a interiorização dos conteúdos, pois ela faz com que a natureza social das pessoas se torne também sua natureza psicológica (MARQUES e OLIVERA, 2005). De acordo com Vygotsky (1991), “um conceito não é uma formação isolada, fossilizada e imutável, mas sim uma parte ativa do processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento, e da solução de problemas” (VYGOTSKY, 1991 p.46). 29 O desenvolver da aprendizagem de um conceito, não ocorre em um único momento, pelo contrário, sua construção baseia-se em interações e situações consideradas significativas para o aluno. De acordo com Vygotsky (1991), no processo de ensino-aprendizagem, a aquisição de novos conceitos deve acontecer de maneira criativa e não mecanizada, pois segundo o autor, a memorização de palavras não leva por si só à formação de conceitos; para que o processo se inicie, é preciso que haja uma problemática que desafie o aluno a investigar e formular novos conceitos no intuito de superar tal problema (VYGOTSKY, 1991). De acordo com Gehlen, Auth e Auler (2008), partindo da significação conceitual com base na teoria de Vygotsky, existe a importância de que dentro de um processo de ensinoaprendizagem haja a retomada de conceitos, para que dessa forma, o conteúdo se faça significativo para os alunos e estes consigam expressar-se utilizando conceitos através da capacidade de compreensão. Nessa mesma linha de pensamento, Gehlen, Auth e Auler referem-se aos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) como ponto de partida no processo de ensino e aprendizagem; que consiste em valorizar os aspectos de domínio vivencial dos educandos, da escola e de sua comunidade imediata. Nos parâmetros curriculares faz-se referência à vivência, como o ponto de partida para a discussão de questões mais amplas, como problemas ambientais, globais, econômicos ou continentais (GEHLEN, AUTH e AULER, 2008). De acordo com Vygotsky (2006), o papel do professor consiste em fazer com que os alunos diante de uma situação, desenvolvam não uma única maneira de pensar, abordar, refletir, mas muitas maneiras particulares de pensar em campos, situações diferentes, pois o conhecimento de acordo com Vygotsky, não é necessariamente o conjunto de um determinado número de capacidades gerais, como observação, atenção, memória, etc., mas sim a soma de muitas capacidades diferentes (VYGOTSKY, 2006). Segundo Vygotsky (2006), no processo de aprendizagem, o que a criança é capaz de fazer com o acompanhamento dos adultos, chama-se Zona de Desenvolvimento Potencial (ZDP), sendo o que a criança no primeiro momento só faz com a ajuda dos adultos, ao avançar do seu processo de maturação poderá realizar sozinha. Nessa perspectiva, exercer a profissão de professor implica em assistir o aluno, proporcionando-lhe apoio e recursos, de modo que ele seja capaz de chegar a um nível mais elevado do que lhe seria possível sem ajuda. Não é, portanto, a instrução propriamente dita, mas a assistência; o que permite ao aprendiz manifestar seu potencial de forma completa. (FINO, 2001). 30 A escola tem por função educar para propiciar a realização de transformações em si mesma e na sociedade. Diante do atual contexto social da educação, para que alcance seu objetivo de formar um cidadão autônomo, competente e crítico, a formação educacional não deve limitar-se a uma simples relação de ensino-aprendizagem, mas diante da aprendizagem do aluno, procurar desenvolver todo um processo educativo desde a elaboração do currículo até as práticas de cunho pedagógico em sala de aula. Dessa maneira, de acordo com Marques e Oliveira (2005), a atividade a partir do processo de ensino-aprendizagem, passa a ser concebida como conjunta, articulada e determinada pela interação entre os envolvidos a partir do social. A escola como âmbito de relações e aprendizagens multiculturais, deve ter por princípio valorizar e reconhecer todas as culturas que se mostram presentes em seu espaço e o aluno ao adentrar na instituição traz consigo sua história de vida. Isto inclui seus princípios, crenças, aspirações, criação e bagagem cultural, ou seja, traz consigo todas as experiências e vivências, resultando em aprendizagens que se apresentam úteis e significativas em seu meio cultural e social. Segundo Vygotsky (2006), o processo de aprendizagem da criança inicia-se muito antes dela começar a freqüentar a escola; sendo suas experiências e vivências concebidas como bagagem de cultura e conhecimento. Diante dessa perspectiva, no processo de ensino-aprendizagem, mostra-se como fundamental articular as atividades pedagógicas à realidade sociocultural dos alunos, ao trazer para dentro da escola, o que o aluno considera significativo, para que diante disso seus interesses sejam adaptados às atividades pedagógicas, e assim perante um processo de aprendizagem coletiva, seja propiciada a construção de novos conhecimentos. Isso se torna possível, à medida que tomamos por ponto inicial as vivências do aluno dentro do contexto do seu desenvolvimento. Ao possibilitar que no desenvolver do processo de ensino-aprendizagem, ele se sinta seguro para manifestar sua curiosidade, levantar suas hipóteses e desenvolver sua criatividade, propiciando através dessa relação, a interação social e a articulação entre diferentes áreas do conhecimento. Nessa perspectiva, o professor pode contribuir, estabelecendo situações que valorizem as habilidades que os alunos possuem, pois quando apresentarem dificuldades no processo de aprendizagem, o professor poderá acreditar em sua capacidade, incentivando e auxiliando a superar o problema. Diante dessa construção de conhecimento, é fundamental que todo o contexto de atividade escolar esteja voltado à articulação pedagógica, no objetivo de contribuir para uma 31 reflexão prática, crítica e transformadora, isto é, uma oportunidade para que o aluno reflita sobre sua aprendizagem e a partir disso, possa fazer relações do conteúdo aprendido com sua vivência, gerando assim, a construção de novos conhecimentos e reflexões, servindo também para os professores como ferramenta pedagógica para futuros planejamentos. Diante disso, a partir da vivência dos alunos, o professor tem a ferramenta para desenvolver diferentes metodologias na explicação de um mesmo conteúdo, tomando por instrumento de ensino a cultura produzida historicamente, as situações problematizadas, para uma maior participação e engajamento no processo de aprendizagem, despertando através dessa relação, o interesse do educando em adquirir novos conhecimentos, e consciência sobre a realidade que vive, gerando através da sua ação, gerar a transformação. Porém, algo peculiar da curiosidade e do desejo de aprender presentes no aluno parece desaparecer das salas de aula, com o passar do tempo o encanto pela aprendizagem cede lugar para a obrigação de ser aprovado. Diante deste contexto, o papel do educador se faz imprescindível no planejamento de estratégias de ensino, que proporcione um ambiente positivo e agradável para a aprendizagem, contribuindo assim, para a permanência do interesse e motivação do aluno em relação ao ensino. A autora Oliveira (2005), faz menção da zona de desenvolvimento proximal proposto por Vygotsky (2006), na qual traz relevantes implicações para o trabalho do professor e aponta procedimentos e estratégias, como: “(...)*fazer junto com o aluno o que ele ainda não é capaz de fazer sozinho; *funcionar como a sua memória quando ele, por exemplo, alfabetizando, ainda não é capaz de se lembrar do som a que uma determinada letra corresponde; *recuperar para a criança, passo a passo, o sentido do texto lido quando ela, ainda muito presa ao trabalho de decodificação, tem dificuldade de relacionar o que é decodificado com o seu sentido; *indicar a ela quantas vezes forem necessárias e de formas variadas, o passos de um determinado calculo matemático, enquanto ela não é capaz de segui-los sozinha; *finalmente acreditar na criança, fazer para ela enquanto ela não sabe fazer; fazer junto com ela, enquanto o seu domínio da atividade ainda é instável; aos poucos ir criando as condições para que ela possa realizar a atividade de forma independente” (OLIVEIRA, 2005, p. 198). Ainda segundo Oliveira (2005), o trabalho com a zona de desenvolvimento proximal não influencia somente a esfera cognitiva. Compreende também o universo afetivoemocional, na medida que possibilita que, na relação, a criança: “(...)*seja olhada pelo outro, seja considerada por ele, seja foco de sua atenção; * possa sentir-se segura ao ter alguém que oriente os seus passos; 32 * possa estar acompanhada no enfrentamento dos medos e ansiedades que podem decorrer do não saber; * possa experimentar a satisfação e o prazer da realização adequada da atividade – ainda que, a principio, com ajuda; * enfim, possa ocupar, ela também o lugar de quem sabe” (OLIVEIRA, 2005, p. 199). . De acordo com Fino (2001), o aprendiz deve ser capaz de identificar o conhecimento, habilidades e valores que foram interiorizados, completando assim, a atividade de identificação que começou através do processo de interiorização, que não apenas o conhecimento e as habilidades cognitivas são interiorizados, mas também os valores interiorizados que lhe estão associados, ficando o estudante habilitado a iniciar um novo ciclo de aprendizagem a um nível cognitivo mais elevado. Ainda segundo o autor, todo processo envolve a tomada de consciência do aprendiz sobre o próprio conhecimento, e pode ser guiado pelo professor que confronta o aprendiz com as tarefas de reconhecimento apropriadas. Para que a escola se situe como um ambiente educacional contemporâneo e participativo, a integração sociedade e escola se faz necessária. Nesse propósito, experiências bem sucedidas na área educacional formam este quadro, exemplo disso está na proposta da EFA – Escola Família Agrícola, que se apresenta por um programa formado pela associação de famílias, pessoas e entidades que se unem para promover a formação integral e cidadã de adolescentes, jovens e adultos, juntamente com o desenvolvimento sustentável e solidário por meio da educação. • A EFA tem objetivo promover uma educação gratuita e de qualidade e diferenciada, de ensino médio integrado à formação profissional técnico em Agropecuária, e/ou outra área profissional. • Busca a promoção e o desenvolvimento sustentável, através da educação – formação de jovens, valorizando o espírito de solidariedade, respeitando o meio ambiente. • Tem por objetivo implementar uma formação global dos jovens, visando integrar uma educação com valores humanos, ambientais, técnico-científicos e artístico-culturais, visando garantir o futuro dos jovens com qualidade de vida. A EFA tem por princípio, a formação integral do ser humano, onde o jovem educando é colocado como sujeito de responsabilidades, comprometido com a participação social, os 33 valores da família e comunidade e é motivado e orientado a construir um Projeto Profissional para gerar trabalho e renda. A escola que sonhamos está no campo das experiências bem sucedidas; não sucedidas no sentido de perfeitas, mas bem sucedidas na idéia de propostas educacionais pautadas no objetivo de desestabilizar os ritos imutáveis da instituição escolar. Exemplo disso é a instituição portuguesa Escola da Ponte. Caracterizada por ser um espaço de peculiares características e partilhado por todos, a Escola da Ponte foge dos padrões tradicionais da escola. Sem separação de turmas ou campainhas que anunciem o fim de uma disciplina e o início da outra, sua proposta educacional não segue programas fechados ou padronizados, pelo contrário, todos contribuem e constroem o currículo através do coletivo, ajudando uns aos outros em um processo mútuo de aprendizagens. A metodologia de ensino adotada pela Escola da Ponte, segundo Alves (2001), caracteriza-se por um método onde os próprios estudantes são usados como recurso de instrução, ou seja, os alunos “ensinam” uns aos outros promovendo ciclos de aprendizagens. Esse compartilhamento de conhecimento mútuo propicia para o âmbito escolar, uma peculiar troca de experiências, culturas e idéias, enriquecendo assim, as relações sociais entre os alunos, e proporcionando uma reciprocidade maior de aprendizagens. Na Escola da Ponte, de acordo com Alves (2001), não há classes separadas por séries, ou professores específicos para cada matéria, ao invés disso, pequenos grupos são formados com interesse em comum por um assunto, em seguida, reúnem-se com uma professora, e ela estabelece juntamente com os alunos, um programa de trabalho de 15 dias, dando orientações sobre o que pesquisar e os locais onde pesquisarem. Assim, ao final de 15 dias, a professora e os alunos se reúnem novamente e avaliam o que aprenderam. Se o conteúdo que aprenderam satisfez a necessidade do grupo, este se dissolve, formando-se outro para estudar outro assunto. Todos se ajudam (ALVES, 2001). De acordo com Alves, “a aprendizagem e o ensino são um empreendimento comunitário, uma expressão de solidariedade. Mais que aprender saberes as crianças estão aprendendo valores” (ALVES, 2001 p.43). A relação ensino-aprendizagem, quando verdadeiramente eficaz, acontece de forma a satisfazer a experiência que está acontecendo no presente, somente aquilo que é extremamente importante é aprendido, ou seja, aquilo que é imprescindível no meio social do aluno, vital à experiência de vida da criança. Diante dessa perspectiva, questionamentos são levantados: Por que as crianças têm dificuldade de aprender na escola? Alves nos responde, “porque nas escolas o ensinado não vai colado à vida” (p.48). 34 O conteúdo proposto pelo currículo é composto de programas fechados, prontos, ordenadamente padronizados em si, que negligenciam a experiência vivenciada pela criança, isto é, não reconhece o seu meio social como canal de construção de conhecimentos, relevantes para o processo de aprendizagem. A criança deve apropriar-se do conhecimento como algo útil para sua realidade cotidiana, descobrindo através da aprendizagem, sua relevância e necessidade. A proposta se baseia em gerar “uma escola em que o ponto de referência não seja o programa oficial a ser cumprido (inutilmente!), mas o corpo da criança que vive, admira, encanta-se, espanta-se, pergunta, enfia o dedo, prova com a boca, erra, machuca-se, brinca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos inícios” (ALVES, 2001 p.55). A escola deve ser concebida como um ambiente educativo, cujo processo de ensino é continuamente enriquecido pelas manifestações de diferentes culturas, vivências e conhecimentos, tão presentes no ambiente escolar. Sendo assim, é preciso elaborar estratégias, no intuito de criar um ambiente educativo, um espaço permissivo para que o aluno levante suas hipóteses, exponha suas curiosidades e a partir das experiências adquiridas construa conhecimentos. Para que a escola seja eficaz em sua prática educacional, é preciso que se estabeleça como uma unidade multicultural, onde as idéias, perspectivas, experiências de vida não só dos alunos, mas como de toda comunidade escolar, sejam compartilhadas no intuito de melhorar a qualidade da escola e ampliar as possibilidades de aquisição de diferentes saberes. É preciso buscar, através de medidas educacionais conscientes, um ensino libertador, que permita o aluno romper do ensino mecânico, conteudista, fazendo do insucesso, sucesso escolar; ao procurar questionar e argumentar de forma crítica as causas que levaram a relação ensino-aprendizagem a não atingir seu objetivo, e não apontar culpados, ao se tentar justificar muitas vezes de maneira preconceituosa, superficial e simplista as causas do fracasso escolar. A escola como um todo precisa passar por mudanças, desde sua estrutura até o currículo, e para isso, é preciso abordar a educação a partir de uma perspectiva crítica e desenvolver políticas educacionais eficazes e de continuidade. Propostas do governo voltadas para a educação mostram que as políticas educacionais sob o critério de continuidade, são medidas eficazes para o desenvolvimento promissor da educação: 35 Alguns exemplos de Políticas Educacionais: • PROFA: Programa de Formação de Alfabetizadores. O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) constitui-se por um projeto da política de formação continuada da Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, em decorrência da reforma do ensino implantada no Governo Fernando Henrique Cardoso. O Programa consta de um curso voltado para o desenvolvimento de competências dos professores alfabetizadores na formulação de objetivos, conteúdos e metodologias de alfabetização, de acordo com a concepção construtivista de Emília Ferreiro, sob a coordenação de Telma Weisz; na qual visa, particularmente, o aprimoramento dos processos de ensino/aprendizagem da leitura e escrita dos alunos. O PROFA apresenta-se por um programa voltado para uma melhor formação dos professores alfabetizadores, visto que as primeiras séries do ensino fundamental apresentam as maiores incidência de repetição e evasão escolar. Sendo assim, apresenta-se por extrema importância, um corpo docente preparado para conduzir os alunos nessa e nas fases posteriores do ensino. • Parâmetros Curriculares Nacionais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. Por sua natureza aberta, os PCNs, configuram uma proposta flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se sobreporia à competência político-executiva dos Estados e Municípios, à diversidade sociocultural das diferentes regiões do país ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas. Por ter esta face flexível, o documento em questão permite uma maior inclusão de temas transversais, como meio ambiente sexo e cultura, possibilitando a relação do conteúdo escolar com o contexto social e cultural que o aluno vive, permitindo assim, uma maior identificação com o ensino. 36 A educação é um direito fundamental, universal e é dever do Estado programar políticas públicas que são as ferramentas para que se torne capaz de garantir sua qualidade social, bem como o acesso e permanência de todos; construir espaços de participação direta, indireta e representativa, nos quais a sociedade civil possa atuar efetivamente na definição, gestão, execução e avaliação dessas políticas públicas educacionais. É claro que como em toda proposta educacional, há a possibilidade de possíveis falhas, no entanto, estamos considerando aqui sua concepção de educação transformadora da realidade; isto é, o conceito de que a escola é o reflexo da vida e o aluno, seu protagonista. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da metodologia pedagógica presente nas escolas, a articulação entre as atividades escolares e a realidade sociocultural do aluno muitas vezes é negligenciada. O motivo dessa realidade está relacionado ao fato de que a escola em sua concepção de ensino, não apresenta vínculos com a vida. Ao longo do trabalho, várias perspectivas, concepções e abordagens foram feitas a respeito do fracasso escolar e suas implicações. Vimos que a falta de identificação do aluno para com a escola repercute de várias maneiras em sua aprendizagem, entre elas, a falta de vinculo entre o currículo e a experiência prática, onde o aluno não constrói ou elabora o conhecimento, mas o absorve de forma mecânica. Na sala de aula, a relação de ensino-aprendizagem, apresenta-se como uma via de mão única, em que o professor é visto como o portador do conhecimento e o aluno como um eterno aprendiz. Segundo Freire (2005), essa relação autoritária deve ser superada dando lugar a uma nova concepção de aprendizagem, onde o professor não apenas educa, mas aprende e o aluno não só aprende, mas também educa. Para que a aprendizagem se desenvolva de maneira significativa, vimos a importância fundamental que existe no fato do professor tomar as experiências do aluno, sua bagagem cultural como ponto de partida no processo de ensino-aprendizagem. Retomando as palavras de Rubem Alves (2001), no processo de ensino-aprendizagem, o aluno aprende aquilo que é vital para sua vida, isto é, o necessário para seu desenvolvimento social, cultural e intelectual, no entanto, tal processo de internalização, só acontece de forma significativa quando a vida escolar e quotidiana do aluno é articulada entre si, de modo que o conhecimento passa a ser algo não apenas transmitido, mas construído através das interações vividas no meio social. A ideologia da escola deve ser concebida, na idéia de construção de um saber que satisfaça as necessidades do viver cotidiano do aluno, ou seja, o que ele aprende e sabe faz sentido em seu contexto social; mas para isso, é preciso uma escola que busque através do seu programa curricular, desenvolver aprendizagens a partir da raiz do saber, ou seja, utilizar do questionamento crítico para construir o conhecimento a partir dos fatores que induziram a criação ou a realização de um determinado, objeto, fenômeno ou acontecimento histórico. Os programas escolares pelo quais os alunos são submetidos, muitas vezes são conteúdos dissociados da realidade do aluno, diante disso são logo esquecidos, não por 38 negligencia, mas por não encontrar sentido naquele aprendizado, o mesmo cai no esquecimento. O espaço da escola deve ser caracterizado como um ambiente lúdico, onde o saber nasce das experiências, do contado com o conhecimento a partir da vida. No entanto, temos plena consciência que isso é um processo educacional a longo prazo, estruturas precisam ser mexidas e conceitos revistos; contudo, pouco a pouco as coisas se movem, evoluem, se transformam. A escola de hoje, apesar de seus defeitos e precariedades, não é a mesma de dez anos atrás. Ela não está estática nem é imutável, pelo contrário, as transformações que a escola passa, são continuamente impulsionadas por conflitos, esperanças e tentativas alternativas de se melhorar o ensino. Ao longo desse trabalho, vimos os diferentes pontos de vista acerca do fracasso escolar, e as visões atreladas a essas perspectivas, buscamos também, apontar uma visão alternativa sobre a questão, apontando possíveis soluções e experiências bem sucedidas, que resultaram na realização de um sonho escolar que só era possível no mundo das idéias. Há muito ainda para se trilhar e conquistar, mas o imprescindível e fundamental já começou a ser feito, a consciência de que precisamos de mudança, a visão crítica e responsável frente ao que se é possível ser feito, e acima de tudo, o desejo e a ação de fazer e refazer diferente. Ao longo da reflexão presente neste trabalho, pudemos compreender que o fracasso escolar não é consequência de uma causa isolada, mas de diversos fatores que, associados a uma sociedade centralizada e hierarquizada, fazem da escola e seu sistema educacional, mais uma peça de um complexo mecanismo. O objetivo não é apontar culpados, mas sim analisar a questão de forma crítica, ao refletir que toda sociedade é co-responsável pela aprendizagem e desenvolvimento de suas novas gerações, e que para isso, estruturas educacionais e eficientes precisam ser elaboradas, com o objetivo de trazer para o sistema escolar, e consequentimente para o processo de ensino-aprendizagem, inovação e autonomia. Nosso intuito de abordar criticamente os conceitos aqui relatados foram de ampliar a reflexão e educar o nosso olhar perante a realidade do fracasso escolar. Reconhecemos que por se tratar de um assunto de grande amplitude e discussão social, merece ser aprofundado e questionado, por isso, deixamos nossa pequena contribuição, no propósito de inspirar futuros trabalhos nessa linha de pesquisa. 39 Diante das múltiplas perspectivas que podem contemplar esse tema, deixamos como sugestão de análise, o aprofundamento do conceito de fracasso escolar, no ponto de vista das relações sociais. Por exemplo, o que a escola, mais precisamente a aprendizagem desenvolvida dentro da sala de aula, precisa adquirir para fazer do fracasso, sucesso escolar? Como conquistar, cativar o aluno, da maneira como o âmbito escolar fora da sala de aula o faz? É sobre esses questionamentos que devemos refletir, ou seja, o que falta ser feito no objetivo de levar para dentro da sala de aula, a criatividade, a disposição e a sagacidade tão presentes no pátio na hora do recreio. Esperamos com o desenvolver dessa pesquisa, que novas aprendizagens e reflexões sejam concebidas, no intuito de contribuir para a prática docente, a construção de um novo olhar sobre o fracasso escolar. 40 REFERÊNCIAS: ANGELUCCI, C. B.; KALMUS. J.; PAPARELI, R.; PATTO, M.H.S.; O estudo da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022004000100004&lang=pt Acesso em: 22 jun 2009 ALVES, R. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. 9. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006. 120 p. ALVES, L. R. G.; PRETTO, N. Escola: um espaço de aprendizagens sem prazer? Revista Comunicação & Educação, s.l., n. 16, p. 29-35, s.d. CASALI, A. Educação Vital para a Escola. Brasil, vol. 23, n. 056, p. 297-315, mai. - ago. 2005. CALDAS, R. F. L.; HÜBNER, M. M. C. O desencantamento com o aprender na escola: O que dizem os professores e alunos, p. 71-82, 2001. CHARLOT, B. O “fracasso escolar”: um objeto de pesquisa inencontrável. In: CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: ARTMED, 2000. p. 1331. FINO, C. N. Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): Três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, Portugal, vol. 14, n. 002, 2001. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213 p. GEHLEN, S. T.; AUTH, M.A.; AULER, D. Contribuições de Freire e Vygotsky no contexto de propostas curriculares para Educação em Ciências. Revista Eletrônica de Enseñanza de las Ciencias, s.l., vol. 7, n.1, 2008. HARPER, B.; CECCON, C.; OLIVEIRA, M. D. de; OLIVEIRA, R. D. de; FREIRE, P. (apres.). “Cuidado, Escola!”: desigualdade, domesticação e algumas saídas. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. MARQUES, L. P.; OLIVEIRA, S. P. P. Paulo Freire e Vygotsky: reflexões sobre a educação. In: V COLÓQUIO INTERNACIONAL PAULO FREIRE. Recife, s.l., set. 2005. MERCÊS, M.; SAMPAIO, F. Um gosto amargo de escola: relações entre currículo, ensino e fracasso escolar. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2004. 255 p. OLIVEIRA, I. M. Dimensão Afetivo-emocional e relações de ensino. Revista da FACED, Bahia, n. 9, p. 1-15, 2005. PARO, V.H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001. p.58-155. PATTO, M. H. Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T.A. Queiroz, 1993. 185 p. 41 PEREZ, L.M.V. Os dramas do “não aprender”: fracasso, distúrbios ou oscilações cognitivas? In: ABRAMOWICZ, A; MOLL, J. (Orgs.). Para além do fracasso escolar. Campinas: Papirus, 1997. p. 145-159 TAVEIRA, A.S.N. Sala de aula – o lugar da vida? In: MORAIS, R. (Org); Sala de aula: que espaço é esse? 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1986. p. 51-58. VIGOTSKY, L. S. Linguagem Desenvolvimento e Aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2006. 228 p. VIGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 135 p. 42 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: DEMO, P. Qualidade docente e superação do fracasso escolar. In: SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L.S.B. (Orgs.). Desatando os nós da formação docente. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 23-47. GOHN, G. M. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v14n50/30405.pdf . Acesso em: 22 Agosto. 2009. SOUZA, C. T. R. A Educação não-formal e a escola aberta. http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/444_356.pdf. Acesso em 21 Agosto. 2008. Sites pesquisados: http://www.scielo.com.br http://www.cdcc.sc.usp.br/escolas/esterina/projeto_escola_aberta.html http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=escola aberta.html Lei de diretrizes e bases na Educação Nacional (LDB) http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Diretrizes_e_Bases_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_Naci onal Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf Programa de Formação de Alfabetizadores (PROFA) http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/id/29495066.html EFA – Escola Família Agrícola http://www.efabontempo.org.br/historico.htm Nome do arquivo: Diretório: Modelo: ULTIMA_VE.. C:\Users\Rosângela\AppData\Roaming\Microsoft\Modelo s\Normal.dotm Título: A escola não é algo acabado, estático, mas sim um movimento constante de idéias, conflitos, culturas, transformações e relações sociais que se interagem e modificam dia a dia Assunto: Autor: Eder Palavras-chave: Comentários: Data de criação: 15/12/2009 13:04:00 Número de alterações:17 Última gravação: 17/12/2009 13:15:00 Salvo por: Rose Tempo total de edição: 1.017 Minutos Última impressão: 17/12/2009 14:25:00 Como a última impressão Número de páginas: 45 Número de palavras: 13.835 (aprox.) Número de caracteres: 74.709 (aprox.)