Pedon nº 20 - SPCS - Sociedade Portuguesa de Ciência do Solo

Transcrição

Pedon nº 20 - SPCS - Sociedade Portuguesa de Ciência do Solo
índice
3. editorial
5. assembleias gerais da SPCS
7. eventos spcs
8. em memória
17. opinião: notas sobre agricultura sustentável
rejeição de organismos geneticamente modificados
de Ana M. Domingues
31. resumos de teses e dissertações
39. movimento de sócios
41. nota final
43. ficha de inscrição
editado pela Direcção da S.P.C.S.
O presente número do Pedon, embora dando sequência à numeração
anterior, apresenta, contudo, um carácter algo especial por dois motivos
principais: em primeiro lugar porque surge após um intervalo de tempo mais
alargado do que o habitual e, em segundo lugar, porque pretende marcar o
encerramento de um ciclo e o anunciar de um novo ciclo de edições.
Este modelo de Pedon foi iniciado em 1999, com o nº 13, coincidindo
com a decisão da ISSS – Sociedade Internacional da Ciência do Solo – se
transformar em IUSS – União Internacional das Ciências do Solo, que
acarretou também algumas alterações à vinculação das sociedades nacionais à
IUSS, deixando de existir sócios individuais a nível internacional, passando a
ser a SPCS (com toda a sua colectividade de sócios) a representar Portugal
junto da IUSS.
Assumiu-se, nessa altura, que, uma vez que o “Boletim” da ISSS
deixaria de ser distribuído em formato de papel aos sócios individuais de cada
país, o Pedon deveria assegurar, de alguma forma, a distribuição dessa
informação internacional. O Pedon passou, então, ao formato que o
caracterizou ao longo dos números seguintes, de boletim essencialmente
informativo, muito embora se considerasse que deveria constituir-se,
também, como “fórum de troca de ideias e opiniões, de divulgação de
conceitos e tecnologias, de discussão de políticas …”, ou seja, constituir “um
meio de discutir o uso do solo enquanto recurso natural e meio fundamental
de preservação da qualidade ambiental”, tendo sido feito, nessa altura, um
apelo expresso e directo aos sócios na concretização destes objectivos.
A intenção, nessa altura, de assegurar uma publicação semestral do
Pedon, não foi, porém, conseguida, tendo sido publicados apenas 6 números,
entre Maio de 2000 e Dezembro de 2005. A partir dessa data, em parte
devido às dificuldades logísticas e de falta de tempo das pessoas responsáveis
pela publicação, mas também devido à maior facilidade de divulgação dos
eventos e informações da Sociedade por via electrónica, a publicação do
Pedon foi sendo protelada e adiada indefinidamente.
Durante todo este período as contribuições dos sócios para o Pedon
revelaram-se também muito diminutas, com algumas honrosas excepções,
não obstante os repetidos apelos nesse sentido. Ainda assim, ao longo dos 6
números atrás referidos, foram sendo publicados dois artigos de opinião
(“Acerca das funções e da degradação do solo”, de Edgar C. Sousa, e “Da
‘política de solos’ a uma política de protecção do solo”, de Carlos Alexandre),
28 resumos de teses de mestrado e doutoramento, bem como diversos textos
de homenagem a sócios importantes entretanto falecidos, para além dos
novos estatutos da SPCS (publicados no nº 17, de Julho de 2003).
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No contexto actual, com a rapidez de divulgação por via digital, e em
que os sócios podem facilmente aceder aos Boletins e Newsletters da IUSS
através da página de internet, não faz sentido manter um Boletim informativo
de formato clássico para a divulgação desse tipo de informação.
Deste modo, o presente número pretende constituir-se como o ponto
de viragem de um segundo para um terceiro ciclo de edições do Pedon.
Conclui-se o seu formato de boletim da SPCS em suporte de papel e, com o
próximo número, abre-se um terceiro ciclo do Pedon com publicação apenas
em suporte electrónico.
No seu próximo e terceiro formato, o Pedon continuará a ter muitos
dos objectivos gerais que já tem na presente versão mas, para além da
diferença de suporte, pretende-se que venha a funcionar em articulação com
uma renovada página web da SPCS. Esta deverá ser o principal repositório de
informação da SPCS, podendo ser actualizada e receber contributos temáticos
dos sócios em qualquer momento, passando o Pedon a funcionar como uma
Newsletter simplificada, instrumento de alerta e de apelo a toda a comunidade
de potenciais interessados, onde se destaquem os tópicos e ocorrências de
maior relevo num dado período de tempo. Esses destaques devem remeter
para o sítio da SPCS, ou para outros sítios, onde se encontrará disponível a
totalidade do conteúdo em causa.
O presente número faz um breve balanço da actividade da SPCS e do
trabalho mais relevante dos seus sócios, com destaque para os resumos
recebidos de teses de doutoramento realizadas neste período, apresenta
textos submetidos e inclui um obituário sobre sócios de grande relevo que nos
deixaram entre 2005 e 2013.
Finalizamos este editorial com uma nota de espectativa e de esperança
quanto à abordagem dos problemas do recurso solo à escala global. Para tal
concorrem alguns marcos recentes de grande significado: i) aprovação na 68ª
sessão do Segundo Comité das Nações Unidas (a 6/12/ 2013) do dia
5/Dezembro como ‘Dia Mundial do Solo’ (World Soil Day) e da declaração do
ano de 2015 como ‘Ano Internacional dos Solos’ (International Year of Soils);
ii) aprovação pelo Conselho da FAO (entre 3 e 7/12/2012) da Global Soil
Partnership (GSP), actualmente já em actividade e que representa uma
iniciativa de grande potencial transformador da administração do solo à escala
global.
Estas iniciativas inéditas demonstram o reconhecimento da
dependência da humanidade do recurso solo e constituem também uma forte
motivação para todos os sócios da SPCS, bem como outros interessados,
prosseguirem nos seus esforços por uma melhor administração e por uma
gestão mais sustentável deste recurso vital para o País.
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Assembleias Gerais de 7 de Junho de 2006, em Lisboa
Nomeação de sócios honorários
Alfredo Teixeira Constantino
Ário Lobo de Azevedo
Edgar da Conceição e Sousa
Joaquim Quelhas dos Santos
José Vicente de Jesus de Carvalho Cardoso
Rui Pinto Ricardo
Eleição dos órgãos da Sociedade para o período 2006/2010
Direcção
Fernanda Miranda Cabral – Presidente
Carlos Alberto de Jesus Alexandre – Secretário
Fernando Manuel Girão Monteiro – Tesoureiro
Henrique Manuel Ribeiro – Vogal
Raquel Soveral Dias – Vogal
Assembleia Geral
Manuel Armando Valeriano Madeira – Presidente
Armindo Aires Afonso Martins – 1º secretário
Ernesto José Pestana de Vasconcelos – 2º secretário
Conselho Fiscal
Maria da Graça Serrão – Presidente
José Casimiro Martins – Relator
Luís Lopes dos Reis – Vogal
Assembleia Geral de 6 de Julho de 2010, em Lisboa
Eleição dos órgãos da Sociedade para o período 2010/2014
Direcção
Carlos Alberto de Jesus Alexandre - Presidente
Henrique Manuel Filipe Ribeiro - Secretário
Fernando Girão Monteiro - Tesoureiro
Fernanda Maria Miranda Cabral - Vogal
Raquel Soveral Dias Mano - Vogal
Assembleia Geral
Manuel Armando Valeriano Madeira – Presidente
Armindo Aires Afonso Martins – 1º secretário
Ernesto José Pestana de Vasconcelos – 2º secretário
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Conselho Fiscal
Manuel Frazão – Presidente
Amélia Castelo Branco – Relator
Luis F. C. Lopes dos Reis - Vogal
Assembleia Geral de 20 de Junho de 2014, em Lisboa
Eleição dos órgãos da Sociedade para o período 2014/2018
Direcção
Carlos Alberto de Jesus Alexandre - Presidente
Maria da Conceição Gonçalves - Secretário
Fernando Girão Monteiro - Tesoureiro
Henrique Manuel Filipe Ribeiro - Vogal
Tiago Ramos - Vogal
Assembleia Geral
Manuel Armando Valeriano Madeira – Presidente
Armindo Aires Afonso Martins – 1º secretário
Ernesto José Pestana de Vasconcelos – 2º secretário
Conselho Fiscal
Maria do Carmo Horta – Presidente
Amélia Castelo Branco – Relator
Luis F. C. Lopes dos Reis – Vogal
Assuntos Gerais
Para além da eleição dos órgãos da Sociedade, efectuada de quatro em quatro
anos, as Assembleias Gerais têm vindo a ser realizadas anualmente, como
estabelecido no ponto 2 do Artº 17º dos Estatutos, coincidindo em geral com
a realização dos Encontros Anuais da SPCS ou com os Congressos Ibéricos,
quando estes tiveram lugar em Portugal, para apreciação e aprovação do
Relatório e Contas da Direcção.
Nessas Assembleias Gerais têm sido também aprovadas as admissões de
novos sócios, sendo dado conta do movimento global de sócios ocorrido
durante o período que decorreu desde 2005 até à actualidade, através da lista
publicada no final deste Boletim.
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Durante o período que decorreu desde 2005 até à actualidade, a SPCS
organizou ou colaborou na organização dos seguintes eventos científicos:
2006 - II CICS - Congresso Ibérico da Ciência do Solo
13 a 17 de Junho, em Huelva (Espanha).
2007 - Encontro Anual da SPCS
O Solo, a Paisagem e o Uso da Terra
4 a 6 de Julho, em Vila Real, Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro
2008 - III CICS - Congresso Ibérico da Ciência do Solo
Uso do solo e qualidade ambiental num contexto de mudanças globais
1 a 4 de Julho, em Évora, Universidade de Évora
2009 - Encontro Anual da SPCS
8 a 10 de Julho, em Faro, Universidade do Algarve
2010 - IV CICS - Congresso Ibérico da Ciência do Solo
21 a 24 de Setembro, em Granada (Espanha)
2011 – não se realizou o Encontro Anual da SPCS
2012 - V CICS - Congresso Ibérico da Ciência do Solo
O solo suporte da produção alimentar, do meio ambiente e da
paisagem
6 a 10 de Setembro, em Angra do Heroísmo (Açores)
2013 - Encontro Anual da SPCS
Solo, produção agrária e sustentabilidade dos ecossistemas.
26 a 28 de Junho, em Oeiras, INIAV (ex-Estação Agronómica)
2014 - VI CICS - Congresso Ibérico da Ciência do Solo
Desafios e Oportunidades em Ciência do Solo
22 a 25 de Junho, em Santiago de Compostela (Espanha)
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JOSÉ MANUEL MAGALHÃES BASTOS DE MACEDO (1923-2005)
José M. M. Bastos de Macedo nasceu em Vale Formoso (Covilhã) no
dia 4 de Novembro de 1923.
Completou o curso liceal em 1941 e, após a realização de exame de
admissão, matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia (ISA), da
Universidade Técnica de Lisboa, havendo finalizado a parte escolar do Curso
de Engenheiro Agrónomo no ano lectivo de 1945/46. Efectuou a seguir o
respectivo tirocínio durante cerca de dois anos, no próprio ISA (cadeira de
Física Agrícola), sobre o estudo das argilas dos solos de Angola, apresentando
em 1948 o Relatório Final do Curso, que foi classificado com 19 valores, assim
tendo concluído a licenciatura com a classificação final de 14 valores.
Iniciou a carreira profissional logo após a conclusão da licenciatura,
em Novembro de 1948, como Segundo-Assistente do 2º Grupo de Disciplinas
do ISA, passando em Agosto de 1955 a Professor Extraordinário do mesmo
Grupo de Disciplinas, mediante concurso de provas públicas no qual foi
aprovado por unanimidade. Esteve ausente do ISA, em comissões de serviço,
desde Janeiro de 1963 até Junho de 1975. Foi nomeado Professor Catedrático
do ISA em Janeiro de 1979, tendo sido aposentado a seu pedido em Maio de
1990.
Nos doze anos fora do ISA, em comissões de serviço, esteve como
Director do Instituto de Investigação Agronómica de Angola (1963-1965) e
desempenhou funções docentes nos Estudos Gerais Universitários de
Moçambique/Universidade de Lourenço Marques (1965-1975). Aqui, começou
como Professor Extraordinário, passando a Professor Catedrático em Janeiro
de 1967, após concurso de provas públicas em que foi aprovado por
unanimidade, situação mantida até regressar ao ISA em 1975. Durante a sua
permanência nessa Universidade, desempenhou o cargo de Director dos
Cursos Superiores de Agronomia e Silvicultura, tendo sido homenageado por
duas vezes (em 1969 e 1971) pelo Corpo Docente e pelo Pessoal Técnico dos
Cursos, bem como por Agrónomos e Silvicultores dos Serviços e Empresas
ligados à Agricultura Moçambicana, em virtude de o reconhecerem como
“grande obreiro do ensino superior agronómico” em Moçambique e devido ao
“esforço desenvolvido na resolução dos problemas que levaram à efectivação
do novo edifício dos Cursos de Agronomia e Silvicultura”.
No ISA, teve à sua responsabilidade, até 1963, as aulas práticas das
disciplinas de Física Agrícola, de Mesologia e Meteorologia Agrícolas e de
Pedologia e Conservação do Solo, nesta última colaborando também nas aulas
teóricas a partir do ano lectivo de 1955/56; além disso, leccionou a matéria
sobre “Os Minerais de Argila e os Processos Pedogenéticos”, num Curso
Complementar de Pedologia realizado no ISA em 1958. Por outro lado, de
1959 a 1962, regeu a disciplina de Química Geral e Análise. Ao regressar ao
ISA (em 1975) ficou com a responsabilidade da disciplina de Mesologia e
Meteorologia Agrícolas, leccionando as matérias teóricas respeitantes ao Meio
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Terrestre e dando algumas aulas práticas; a partir do ano lectivo de 1986/87,
com uma reforma dos cursos do ISA, passou a ser o responsável da disciplina
de Mesologia (dando aulas teóricas e práticas) e no ano lectivo de 1989/90,
devido a nova reformulação dos curricula, regeu uma disciplina de Geoquímica
do Ambiente acabada de ser criada por proposta sua.
Orientou e dirigiu numerosos Relatórios Finais dos Cursos do ISA,
bem como estágios de vários técnicos de outros Organismos, sobretudo no
domínio da mineralogia do solo. Orientou também algumas teses de
doutoramento.
Na Universidade de Lourenço Marques, foi titular da disciplina de
Pedologia e Conservação do Solo e leccionou também, durante alguns anos,
Química Geral e Análise, ambas dos Cursos Superiores de Agronomia e
Silvicultura.
Em paralelo com a docência, dedicou-se à investigação, colaborando
até 1962 com a Missão de Pedologia de Angola e o Centro de Estudos de
Pedologia Tropical (uma e outro, estruturas pertencentes à ex-Junta de
Investigações Científicas do Ultramar) onde dirigiu a Secção de Mineralogia do
Solo. Na sua actividade de investigação desenvolveu as seguintes linhas
fundamentais relativamente aos solos das regiões tropicais: a) mineralogia
das fracções finas e semi-finas dos solos; b) química-física dos solos, em
particular no que respeita a problemas referentes à retenção, à distribuição e
ao comportamento do fósforo no solo; c) pedogénese.
Por outro lado, participou no reconhecimento e na cartografia
detalhada de solos em Angola, nas bacias do Cuanza e do Cunene e na região
da Cela, integrado na Missão de Estudos de Hidráulica Agrícola (1952) e, com
funções de chefia, na Brigada Agrológica da Cela (1955).
Em 1953 o Instituto de Alta Cultura concedeu-lhe uma bolsa de
estudo para Inglaterra, onde aprofundou os seus estudos sobre a retenção do
fósforo pelos óxidos de ferro, no Departamento de Física da Rothamsted
Experimental Station, sob a orientação do Dr. R. K. Schofield.
Apresentou número expressivo de comunicações a reuniões
científicas internacionais e nacionais, tendo participado directamente em
muitas delas, nalgumas das quais chefiou a delegação de Angola, de que fazia
parte.
Realizou vários colóquios sobre questões da Ciência do Solo.
É extensa a sua bibliografia científica, sendo muitos dos seus
trabalhos referidos com frequência em publicações estrangeiras e nacionais
sobre temas de Ciência do Solo. Os trabalhos publicados, em grande parte,
contribuíram de forma marcada para o desenvolvimento da Ciência do Solo
Tropical, tendo mesmo alguns deles carácter pioneiro no âmbito do estudo dos
solos do Continente Africano.
Publicou ainda vários trabalhos didácticos em relação com as matérias que leccionou, quer na Universidade de Lourenço Marques quer no ISA.
Pertenceu à Sociedade Internacional da Ciência do Solo e à
Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo.
RUI PINTO RICARDO
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ANTÓNIO AUGUSTO GUERRA RÉFFEGA (1935-2005)
António A. G. Réffega nasceu em Milhão (Bragança) no dia 14 de
Fevereiro de 1935.
Realizou o Curso de Engenheiro Agrónomo (ramo de Agricultura e
Pecuária) no Instituto Superior de Agronomia (ISA), tendo obtido em 1960 o
seu diploma com a classificação de 14 valores. No ano lectivo de 1958/59
frequentou, igualmente no ISA, todas as disciplinas do Curso Superior de
Agronomia Tropical, em que foi aprovado com a classificação de 15 valores.
Em 1973 obteve o grau de Doutor em Ciências Agronómicas pela Universidade
de Luanda, com distinção.
Iniciou a sua carreira profissional como Assistente de Investigação na
ex-Junta de Investigações Científicas do Ultramar (hoje Instituto de
Investigação Científica Tropical - IICT), trabalhando na Missão de Pedologia de
Angola, de 1960 a 1965. Desde 1965 até 1974 fez parte do corpo docente da
Universidade de Luanda (Angola) – Cursos Superiores de Agronomia e
Silvicultura –, primeiro como Assistente (1965-1973) e depois como Professor
Auxiliar (ano de 1973). Em Janeiro de 1974 transferiu-se para o Instituto
Politécnico de Vila Real (Trás-os-Montes e Alto Douro – Portugal),
desempenhando aí as funções de Presidente da respectiva Comissão
Instaladora e de Director. Transitou em 1975 para a Universidade de Évora,
onde permaneceu como Professor Extraordinário até finais de 1979. Em 1980,
como Professor Catedrático, foi convidado para a Universidade Nova de
Lisboa, passando aí a integrar o respectivo corpo docente na qualidade de
Professor Titular de Cadeira da Faculdade de Ciências e Tecnologia, na Área
das Ciências do Ambiente, situação em que se manteve até à sua aposentação
no ano de 2001; continuou, todavia, a dar apoio à Universidade, a título
gracioso, até ter falecido. Simultaneamente com a docência, a partir de 1984,
ocupou o cargo de Vice-Presidente do IICT, funções que desempenhou até à
data da aposentação.
Em paralelo com semelhante carreira profissional, assessorou
durante oito anos (1974-1982) o Ministério da Educação em questões do
ensino superior. Por outro lado, quando faleceu, era o Representante de
Portugal, na OCDE, do Ensino Superior Agrícola, o Representante Nacional nos
Programas de Investigação STD e INCO2 da União Europeia e Membro do
Grupo de Trabalho responsável pelo Programa de Acção Nacional da
Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação.
Dedicou-se à investigação – como Assistente da Junta de
Investigações Científicas do Ultramar e, também, ao longo de toda a sua
carreira docente –, exerceu de forma activa a docência universitária e, além
disso, ainda conseguiu dispor de tempo para a gestão científica e para se
ocupar com questões do ensino superior em Portugal.
A actividade de investigação respeitou à Ciência do Solo (dirigida
sobretudo para os solos das regiões tropicais), nomeadamente em relação
com: Carta Geral dos Solos de Angola, bem como cartas de solos semidetalhadas e detalhadas; taxonomia pedológica; mineralogia do solo;
micromorfologia e micromorfometria dos solos; pedogénese.
Como professor universitário ensinou principalmente Pedologia,
Conservação do Solo, Mesologia e Meteorologia Agrícolas, Climatologia e
Poluição dos Solos. A sua actividade docente decorreu sobretudo na
Universidade Nova de Lisboa, na Universidade de Évora e na Universidade de
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Luanda (Angola); também dispensou colaboração ao Instituto Superior de
Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa), à Universidade Aberta de Lisboa
e às Escolas Superiores Agrárias. Além do ensino, orientou várias teses de
doutoramento no domínio da Pedologia.
Enquanto Vice-Presidente do IICT, além de se ocupar com os
problemas de gestão científica do Organismo (que muito o absorveram),
coordenou e colaborou num grande número de projectos de investigação
(nacionais e internacionais) como, por exemplo, Agro-Ecologia e Vegetação de
São Tomé e Príncipe, Parques Naturais da Guiné-Bissau, Sistemas de
Produção e Desenvolvimento Agrícola da Amazónia (Brasil), Preservação e
Gestão dos Recursos Naturais no Vale do Zambeze (Moçambique, Zâmbia e
Zimbabwe).
Como assessor do Ministério da Educação teve a seu cargo a
implantação no País da rede do ensino superior politécnico no domínio agrícola
e trabalhou no sentido da abertura de novas Universidades.
Publicou para cima de uma centena de trabalhos: a maioria de
investigação; em menor número, de divulgação científica e técnica; uns
quantos, para fins didácticos; e também, alguns deles, sobre problemas
relativos ao ensino superior agrário. Do mesmo modo, escreveu vários artigos
para jornais e revistas sobre temas pedológicos e agrícolas.
Presidiu à Comissão Técnica que supervisionou e acompanhou a
execução do projecto referente à Cartografia dos Solos do Nordeste de
Portugal, a cargo do Consórcio Coba-Agroconsultores.
Proferiu algumas conferências e palestras. Realizou numerosas visitas
de estudo e de trabalho, no País e no Estrangeiro.
Pertenceu
às
seguintes
Sociedades
Científicas:
Sociedade
Internacional da Ciência do Solo, Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo,
Sociedade de Ciências Agrárias de Portugal, Sociedade Portuguesa de
Microscopia Electrónica e Liga para a Protecção da Natureza.
RUI PINTO RICARDO
JOSÉ VICENTE JESUS DE CARVALHO CARDOSO (1923-2010)
Carvalho Cardoso, concluiu o curso de Engenheiro Agrónomo em
1945, com a nota mais alta do seu curso (16 valores), tendo sido convidado
imediatamente para a equipa chefiada pelo Engº Agrónomo Luís de Sequeira
Bramão no Departamento de Pedologia da EAN.
Fez parte da 1º equipa encarregue da elaboração da Carta de Solos
de Portugal, na escala 1/25 000, de que tinham saído as folhas de Almoster
(1942), Fráguas (1943), Pernes Pombalinho (1944), tendo o então recémformado Carvalho Cardoso participado na elaboração da folha de Bombarral
(1949).
Nessa altura estavam no trabalho de campo, para além do chefe de
Departamento Sequeira Bramão, os colegas Sacadura Garcia, Mateus Nunes,
Alfredo Cluny, Sacramento Marques, Emídio Durão, Melo Sampaio, Neves
Taborda, Videira de Castro, Faustino Fernandes, Ramos Telhada, Pádua de
Carvalho, para além do Carvalho Cardoso.
Os trabalhos de campo eram assessorados pelo trabalho de
laboratório, onde estavam na altura Orlando de Azevedo, Câmara de Freitas,
Godinho Gouveia, António Teixeira, Salema Veiguinha, Antunes da Silva e
Ferreira Malha.
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Nessa época áurea da Pedologia em Portugal, a Pedologia na Estação
Agronómica Nacional, era chefiada pelo Luís de Sequeira Bramão, e rivalizava
com o ISA onde a Pedologia tinha igualmente um lugar de destaque, chefiada
então pelo Professor Doutor Botelho da Costa, com ênfase na física do solos e
cartografia e na Pedologia tropical, incluída no Centro de Investigação
Científica Algodoeira, nos trabalhos da Junta de Investigação do Ultramar e
depois na Missão de Pedologia de Angola, Centro de Estudos de Pedologia
Tropical da Junta de Investigação do Ultramar.
O colega Carvalho Cardoso logo no início do seu trabalho no
Departamento de Pedologia da EAN, foi enviado para “Iowa State Unieversity”
nos Estados Unidos da América, para se especializar em Classificação e
Cartografia de Solos, tendo obtido aí o seu Doutoramento.
É dessa época, a primeira polémica politico/científica, que muito
prejudicou a Pedologia em Portugal e na qual o colega Carvalho Cardoso
participou. De facto em 1947, o Chefe de Departamento Luís de Sequeira
Bramão, com o apoio do então Director da Estação Agronómica Nacional
Professor António Sousa da Câmara, tentaram criar um “Serviço Especial
Permanente” para, no espaço previsível de 20 anos, elaborar a carta dos solos
de Portugal, numa escala de 1:25.000.
Para isso foi elaborada uma proposta de Lei pelo Professor Emídio
Silva, proposta aceite pela Câmara Corporativa, e cujo debate foi iniciado na
então Assembleia Nacional. Em 1948 o Departamento de Pedologia foi visitado
pelo Professor Mário de Figueiredo, Líder da Assembleia Nacional para
embargar a proposta de Lei da Carta dos solos de Portugal.
De facto, o cientista emérito Professor António Câmara cometeu um
erro politico grave quando, na Assembleia onde era então Deputado, defendeu
a necessidade da elaboração da Carta de Solos de Portugal como base
científica para se puder efectuar uma reforma Agrária.
Tal foi suficiente para que a cartografia de solos e os trabalhos de
campo fossem interrompidos, esse sector fosse retirado do Departamento e
da própria Estação Agronómica Nacional, o que amputou o Departamento e
levou o Chefe de Departamento de solos Luís de Sequeira Bramão a sair do
Departamento e do país, passando a chefiar o Departamento o colega
Fernando Câmara de Freitas.
Em 1950 foi então no Plano de Fomento Agrário criado um sector
para a elaboração da carta de solos, base científica do Ordenamento Agrário,
e futuro Centro Nacional de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (o
CNROA)
Carvalho Cardoso mantém a ligação entre o Departamento e a
cartografia de solos no CNROA, tendo neste intervalo publicado 8 trabalhos
científicos.
A partir de 1858 foi iniciada a colaboração entre o Departamento de
Solos e a Missão de Estudos do Ultramar, tendo o pessoal do Departamento
passado a exercer funções de orientação e de formação de especialistas e a
colaboração em vários projectos entre os quais se contam o reconhecimento
dos solos de S. Tomé e Príncipe onde o colega Carvalho Cardoso trabalhou (5
trabalhos publicados).
A partir do fim dos anos 50 passa a trabalhar no CNROA, na
elaboração da carta de solos de Portugal, passando a partir de 1958 a orientar
a Carta dos solos de Portugal e a Carta de Capacidade de uso do Solo.
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Em 1961 foi aberto concurso para Investigador na Área da Pedologia
tendo concorrido 3 Investigadores oriundos do Departamento, entre os quais
o Colega José de Carvalho Cardoso, na altura no CNROA, concorreu.
Do trabalho apresentado a concurso resultou entre outros a
publicação (1965 - Os Solos de Portugal. Sua Classificação e Génese. I- A Sul
do Rio Tejo. DGSA, SEA).
De 1979 a 1987 foi nomeado Director da Estação Agronómica
Nacional, acumulando com a função de Deputado à Assembleia da República
até 1987, tendo interrompido as funções directivas da Estação Agronómica no
período em que teve funções Governativas (de 10 de Janeiro de 1980 a 8
Janeiro de 1981- Secretario de Estado do Fomento Agrário, e de 8 de
Setembro de 1981 a 9 de Junho de 1983).
Em Julho de 1987 foi eleito para o Parlamento Europeu onde se
manteve até 1994.
No período em que dirigiu os destinos da EAN, instituição desde há
muito enfrentava grandes dificuldades, desenvolveu várias actividades que
projectaram a Instituição na vida rural de que destaco de forma notável os
PIDR do Baixo Mondego e o PIDR da Cova da Beira, sector Investigação,
programas em que participei activamente.
Pela primeira vez, que eu tenha conhecimento, os projectos foram
programados de forma integrada para dar resposta aos problemas de uma
dada região, desde o estudo dos solos, à tecnologia do solo (não lavoura,
etc.), à fertilização, à escolha de variedades, aos sistemas culturais e
rotações, aos problemas de sanidade vegetal, aos problemas da produção
animal, aios aspectos florestais etc.
Ainda aceitou integrar nos projectos de investigação os problemas
ambientais tal como aconteceu quando nos projectos do arroz, sua tecnologia,
aceitou integrar a conservação das espécies cinegéticas e a conservação de
zonas húmidas, etc.
Estes programas foram acompanhados por debates de integração dos
vários projectos e debates dos investigadores, por “dias abertos” em que se
receberam os agricultores, etc.
Ainda me lembro dos dias abertos no “Taveiro” na “Quinta do Canal”,
integrado no PIDR do Baixo Mondego, e os dias abertos nos Lamaçais, e dos
resultados obtidos na difusão face aos agricultores.
Se hoje existe a “Beira Baga” se deve ás colecções de pequenos
frutos existentes nos Lamaçais, se a sementeira directa funciona em algumas
regiões se deve aos trabalhos no Taveiro, na Quinta do Canal, se a fertilização
e as variedades de milho foram alteradas, também se deve à divulgação
(extensão) feita pelos nossos colaboradores que nos ajudavam nos ensaios e
a quem os agricultores iam perguntar o que fazíamos nos vários ensaios.
A sensibilidade mostrada pelo colega Carvalho Cardoso, a capacidade
de integrar e de programar para resolver os problemas do mundo rural, devese ao facto de não ser apenas um cientista, um especialista de génese e
cartografia, mas ser um agricultor, um dirigente das ONGs de Agricultura, das
cooperativas (Adega Cooperativa da Vermelha, onde era proprietário,
Cooperativa de frutas do Cadaval, da Caixa de Crédito Agrícola do Cadaval, da
FENACAM - Federação Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo; da
CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Portugal,
etc.) conhecedor dos problemas reais.
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Igualmente a sua tentativa de resolver os problemas do mundo
Rural, levou-o a uma actividade politica activa através do seu partido, quer
na actividade autárquica, quer no Parlamento, quer no Parlamento Europeu,
quer como membro executivo na governação.
Foi esse mesmo conhecimento do mundo real, dos problemas que
informou a sua acção como dirigente da actividade de Investigação e que o
levou quer à participação activa dos PIDR, quer a levar os cientistas de vários
Departamentos e Instituições, a visitas conjuntas de campo e a debates
internos de coordenação entre os vários projectos, quer à organização de
“dias abertos” para debate com os agricultores e suas organizações.
Igualmente, foi no sentido de abrir a Instituição EAN ao exterior que
organizou dias abertos por departamento, com sessões públicas e que
organizou em 1986 as comemorações dos 50 anos da EAN, e publicou um
sumario dos 50 anos de actividade.
Não posso deixar de referir uma história, passada comigo, que
reflecte bem a sua forma de encarar a investigação, a carreira científica ao
serviço da tutela e em especial a forma como a ciência deve ser encarada.
Devo referir, que as nossas ideias políticas sempre foram
antagónicas, mesmo no que respeita à política científica, mas que tal não
impede de manifestar a minha consideração, amizade e respeito.
Politicamente o colega Carvalho Cardoso foi Membro da Câmara
Corporativa no Governo do Prof. Marcelo Caetano (na chamada Primavera
Marcelista) era da Comissão de Economia e Finanças, aderiu ao Partido do
Centro Democrático e Social (CDS) após a revolução de Abril, quando eu era
dirigente do MDP (Movimento Democrático Popular) e depois do Partido
Socialista.
Quanto à politica científica a visão que tinha do INIA (na altura
INIAER) era a visão napoleónica, apologista da estrutura Administrativa,
Burocrática pesadíssima, com a criação de um Serviço Central, com um
planeamento centralizado e de grande peso administrativo, enquanto eu era
apologista da manutenção das Instituições existentes na altura e a
constituição apenas de um Conselho Científico, acompanhado de um
Secretariado (2 a 3 pessoas) que distribuíssem as verbas, dirigissem a politica
de Investigação e monitorizassem os trabalhos numa visão Anglo – Saxónica.
Muitos debates tivemos quando no período revolucionário fui adjunto
do Ministro da Agricultura. A História é a seguinte:
Carvalho Cardoso depois de sair do Governo em 1986 participou na
preparação do projecto CORINE “Soil Erosion Risk and Important Land
Resources in the Southern Regions of European Community. An Assessment
to Evaluate and Map the Distribution of Land Quality and Soil Erosion Risk” do
Programa Europeu CORINE, com a colaboração dos colegas Bailim Piçarra,
Pereira Gomes e mais 3 jovens recém-formados. Este projecto, liderado pela
Itália (A. Giordano) e em que participava a Espanha (Roquero de Laburu - na
altura presidente da Sociedade Espanhola da Ciência do Solo), a Grécia (N.
Yassuglu), aFrança (Bonfils), etc. etc. Tinha a fina flor da pedologia europeia.
Eu já era chefe de Departamento de Solos (a partir de 1983), mas
era apenas Investigador Principal, responsável pelo bom andamento dos
projectos a cargo de Departamento. Em 1987, Carvalho Cardoso foi eleito
para o Parlamento Europeu, o colega Bailim morreu, o colega Pereira Gomes
sofria de claustrofobia de forma extrema, não podendo viajar de avião e havia
uma reunião (a 1ª reunião) do projecto em Bruxelas dentro de 10 dias.
14
Telefonei para o Carvalho Cardoso para Bruxelas, a perguntar o que
fazer, uma vez que ele era o responsável pelo projecto. A sua resposta
reflecte a sua visão da carreira e do papel dos investigadores.
Perguntou-me se eu iria concorrer para a vaga de Investigador
Coordenador em Pedologia que iria abrir a breve prazo. Tendo dito que sim,
disse-me textualmente:
A função de um Investigador Coordenador é Coordenar os trabalhos
na sua área, isto é na Pedologia. Ou és capaz de coordenar e podes ser
coordenador, ou não és capaz de sair da tua especialidade – génese do solo e
comportamento dos metais pesados - e abarcar a qualidade do solo e o risco
de erosão, coordenando, ou eu como futuro membro do júri chumbo-te na
prova pois serei certamente arguente.
Depois disse-me, tens a chave do meu gabinete, em cima de
secretaria no cesto estão todos os documentos do projecto, no meio está um
conjunto de bibliografia que separei para que nestes 10 dias que faltam para a
reunião te prepares para Bruxelas. Tu és capaz e tenho confiança que te vais
safar.
Para ele um Investigador, quando passa a fase do Doutoramento tem
que deixar de ser meramente um especialista e tem que ser capaz de orientar
outros investigadores e coordenar programas de investigação, para o que tem
que ter uma visão alargada
Sendo um adversário politico, mesmo um adversário quanto à visão
da organização e administração da Ciência era um cientista, tinha uma visão
da agricultura Nacional, das suas necessidades e do que se deveria estudar
para resolver os problemas, era efectivamente um CIENTISTA, um HOMEM
dos Solos que muita falta nos faz, um bom amigo a quem muito devo.
EUGÉNIO SEQUEIRA
ALFREDO FERNANDES TEIXEIRA CONSTANTINO (1926-2011)
O Eng.º Alfredo Fernandes Teixeira Constantino nasceu em Murça –
Vila Real (província de Trás-os-Montes) a 2 de Novembro de 1926 e faleceu
em Lisboa no dia 8 de Fevereiro de 2011 (tendo a idade de 84 anos).
Frequentou o Liceu Nacional de Camilo Castelo Branco, em Vila Real,
onde concluiu em 3 de Julho de 1945 o Curso Complementar de Ciências dos
Liceus obtendo a Classificação de 18 valores. Entrou para o Instituto Superior
de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa) no ano lectivo de 1945/46,
tendo-se matriculado no Curso de Engenheiro Agrónomo; terminou a parte
escolar do Curso no ano lectivo de 1949/50. Estagiou no Laboratório de
Entomologia Agrícola e Florestal (Instituto Superior de Agronomia) no domínio
da Entomologia Agrícola, sendo orientador o Prof. Carlos Manuel Leitão Baeta
Neves. Apresentou e discutiu perante um Júri o Relatório Final de Curso em 5
de Fevereiro de 1952, com o título “O Gorgulho do Feijão (Acanthoscelides
obtectus Say). Contribuição para o seu estudo em Portugal”, o qual foi
classificado com 19 valores; ficou licenciado nessa data (recebendo o título de
Engenheiro Agrónomo) com a classificação final de 16 valores.
Iniciou a actividade profissional no Serviço de Reconhecimento e
Ordenamento Agrário (SROA), trabalhando no reconhecimento e na
cartografia dos Solos de Portugal a Sul do Rio Tejo desde 1952 a 1956. Em
1956 constituiu uma equipa pedológica com os Eng.os Agr.mos Amílcar Lopes
15
Cabral, Alberto Castanheira Diniz e Rui de Azevedo Vaz, a qual procedeu ao
reconhecimento e à cartografia detalhada de solos da Fazenda Agrícola do
Cassequel (Lobito-Angola) com vista à sua recuperação para a produção da
cana-de-açúcar. Depois deste primeiro estudo de solos manteve-se em Angola
a trabalhar no mesmo domínio, chefiando até 1960 a equipa acima referida. A
seguir, constituiu o gabinete de estudos GABINETE A.T. CONSTANTINO e
Colaboradores que continuou os estudos de solos em Angola, inclusive após a
independência da Colónia (até 1984), os quais foram levados a cabo em todas
as Companhias Açucareiras e a seguir a estes estenderam-se às áreas do
café, do algodão, da banana, da aptidão para o regadio e da exploração agroflorestal. Simultaneamente desenvolveu estudos similares em Moçambique,
sobretudo no domínio da cartografia de solos e da aptidão dos solos para o
regadio e para a cultura da cana-de-açúcar e do tabaco. No mesmo período
coordenou actividades de cartografia de solos e da aptidão para o regadio no
Brasil, bem como na Guiné e em Cabo Verde.
Na década de 60 efectuou alguns estudos de cartografia de solos em
Portugal Continental, mas foi a partir de 1975 que passou sistematicamente a
proceder ao estudo dos solos do País (Continente e Região Autónoma da
Madeira); em cerca de 120 trabalhos visou a cartografia detalhada ou semidetalhada e a aptidão de solos de áreas de regadios e de outra índole. Em
1985 criou uma Empresa a que deu o nome de Agroconsultores Lda e, então,
direccionou a partir de meados da década de oitenta a sua actividade principal
para a cartografia geral dos solos de Portugal continental (cerca de 44,3 % da
respectiva área) na escala 1.100 000. Na sequência de concursos
internacionais foi, então, o responsável pela execução da Carta dos Solos e
Carta do Uso Actual da Terra e Carta da Aptidão da Terra do Nordeste de
Portugal (Trás os Montes e Alto Douro) de 1986 a 1991, das Cartas de Solos e
da Aptidão da Terra de Entre - Douro e Minho de 1992 a 1995, e das Cartas
de Solos e da Aptidão da Região Interior – Centro de 2002 a 2005. Nestes
estudos aplicou a Legenda da FAO, a Legenda da FAO Revista e o sistema da
WRB, respectivamente, bem como a metodologia da land evaluation;
simultaneamente coordenou a execução da Carta de Solos e da Aptidão da
Terra (na escala 1:25 000) da área considerada com aptidão agrícola de Entre
- Douro e Minho de 1994 a 1999.
No âmbito da cooperação internacional, colaborou em actividades da
FAO apoiando e avaliando estudos de solos na Rondónia, estudos
agropedológicos relacionados com a reabilitação da produção cafeeira (em
Angola) e o plano de trabalho para a cartografia e classificação de solos (na
República Árabe do Iémen); no mesmo período foi consultor da FAO no
âmbito de estudos realizados em Cabo Verde e na Guiné.
O Eng.º Alfredo Constantino foi uma figura marcante no estudo e na
cartografia dos solos de Portugal e das ex-colónias; essa actividade foi sempre
associada a estudos de avaliação do uso solo. Foi um pedologista de grande
saber e de vasta capacidade de aplicação da Ciência do Solo. A sua
personalidade caracterizou-se pela simplicidade, recusando qualquer
projecção mediática. Foi sempre um esteio importante dos eventos científicos
da SPCS, tanto pela sua presença activa como pelo suporte material às
diferentes realizações. Em suma, foi uma personalidade cujo labor no âmbito
da Ciência do Solo não deve ser esquecido.
RUI PINTO RICARDO & MANUEL A. V. MADEIRA
16
Notas sobre Agricultura Sustentável
Rejeição de Organismos Geneticamente Modificados
Ana M. Domingues
(Engª Agrónoma, Instituto de Investigação Científica Tropical)
1. O solo como recurso natural não renovável
O solo é a camada superficial da crosta terrestre formada por
partículas minerais e orgânicas, água, ar e organismos vivos específicos.
Constitui um recurso natural primordial à vida, estendendo-se até uma
profundidade muito reduzida da superfície do planeta. E, é considerado um
recurso não renovável, pois os processos de pedogénese requerem em média
um centenário para formar um único centímetro de espessura de solo. Porém,
a explosão demográfica e o desenvolvimento económico desenfreado, que se
verificam actualmente, incrementaram os riscos de degradação intensa e
acentuaram as exigências de racionalização do uso antropo-ecológico e socioeconómico deste suporte edáfico fundamental o solo [Alexandre, 2005].
Também,
as
alterações
climáticas
aumentam
a
sua
vulnerabilidade,
especialmente no tocante à erosão e contaminação acidental [Wiki, 2010].
A sustentabilidade implica a busca contínua dos melhores resultados
produtivos, em termos humanos e ambientais, no presente e no tempo futuro.
Frequentemente, nos países em desenvolvimento é muito problemática a
situação vivida pelas populações dramaticamente carentes de alimentos, o
que impõe pertinentes desafios de sustentabilidade à Agricultura moderna
[Altieri, 1994]. O teor de matéria orgânica do solo foi considerado o factor
chave da fertilidade do solo a médio e longo prazo [Swift & Woomer, 1993],
observando Rattan Lal (ref. in [Keerthisinghe et al., 2003]) que em África o
esgotamento da matéria orgânica nos solos das regiões tropicais atinge
normalmente 70% num período de dez anos de cultivo. Tem sido dada ênfase
ao apoio tecnológico adequado à lavoura e foram apontadas medidas
agronómicas tendentes à conservação do solo e águas naturais, com fixação
de carbono no solo e biomassa, reduzindo a sua concentração na atmosfera
17
[MADRP, 1999]. Os incentivos à rega e à fertilização azotada foram
considerados
agronómica
os
factores
sustentável
fertilização, sobretudo
fundamentais
[Keerthisinghe
ao
et
incremento
al.,
2003].
da
No
produção
entanto,
a
azotada e fosfatada, quando excessiva provoca
poluição, pelo que se impõe uma criteriosa aplicação de adubos e correctivos
[MADRP, 1997]. Nos três parágrafos seguintes são analisados exemplos
concretos focados na fertilização azotada.
Tomateiro
Faixas com gramíneas
Sistema radicular muito
profundante de feijão
arroz (V. umbellata)
Figura 1 – A consociação de milho (Zea mays L.) e feijão arroz (Vigna
umbellata (Thunb.) Ohwi & H. Ohashi) permite estabilizar os solos, em
zonas montanhosas do Norte do Vietnam (à esquerda em cima). Estes
agricultores mostram o sistema radicular do feijoeiro (à esquerda em
baixo). A delimitação por sebes arbustivas e arbóreas de tomateiro
(Lycopersicon esculentum Miller) tutorado, instalado segundo as curvas de
nível, permite a conservação do solo (à direita em cima). A cultura de
hortícolas em parcelas delimitadas por faixas de gramíneas, as quais
exercem funções de filtração de água e nutrientes e, de modo económico e
pouco trabalhoso, tende à formação de terraços naturais, reduz o
aparecimento de sulcos de erosão hídrica e conserva a terra fina (à direita
em baixo). Fontes: (da esquerda) Cairns, M., Hairiah, K. & Burgers, P. Indigenous fallow management. Fotografias de Klaus Prinz e Nguyen Tuan
Hao; respectivamente, em cima e em baixo;
(da direita) Agus, F.; Van
Noordwijk, M. & Verbist, B. - Soil and water conservation. Fotografias de
Umi Haryati e Fahmuddin Agus, respectivamente, em cima e em baixo
[WAC, -].
18
Na Província de Shandong (China), às produções básicas de trigo, no
Outono-Inverno, e de milho, no Verão, associaram-se o algodoeiro e o
cebolinho, entre outras hortícolas, num intensivo sistema agrícola com grande
utilização de mão-de-obra [Zhen et al., 2006]. Devido à elevada densidade
demográfica, a média de distribuição de terras agrícolas chegou a 0,10
hectares (ha) per capita. Contribuíram para a fertilidade do solo as pesadas
adubações mineral (N-P-K) e orgânica (estrumes animais), a incorporação dos
restolhos das culturas e, após o algodoeiro, um curto pousio regenerador das
terras. No trigo a adubação ascendeu a 375 kg N mineral/ ha e 150 kg
estrume/ há, enquanto o rendimento médio foi de 5475 kg de grão/ ha.
Naquele contexto, foi detectada elevada concentração de nitratos na água
subterrânea, frequentemente igual ou superior a 71-80 mg/ L. Foram
preconizadas diversas medidas de racionalização dos meios de produção
[Zhen et al., 2006] nomeadamente do factor laboral, da adubação mineral e
da irrigação, bem como o incremento da criação de gado e o aumento da
estrumação em todas as culturas, a inclusão de leguminosas nas rotações, e a
integração de novas técnicas agronómicas adequadas, de modo a aumentar as
produções agrícolas, a melhorar a fertilidade do solo e a beneficiar o bemestar das comunidades rurais.
Num outro estudo sobre a dinâmica de agro-químicos das camadas
superficiais para as mais profundas dos solos da região ribatejana (Portugal),
em cultura de milho, foi aplicado o total de 200-300 kg N mineral/ ha e, logo
após a emergência das plantas, a atrazina (exclusivamente ou em mistura
com outro herbicida) doseando 0,5 kg de substância activa/ ha [Cerejeira et
al., 2000], para controlo da competição por água, nutrientes e luz pelas
infestantes. Foi concluído ter havido acumulação do herbicida nos primeiros
dez centímetros do solo, na linha de vegetação (com baixa concentração na
entrelinha), tendo as concentrações de resíduos diminuído ao longo do tempo
devido a processos de degradação e de percolação ao longo do perfil do solo,
devido à rega e precipitação. No entanto, cerca de 22% das 225 amostras de
água subterrânea captadas apresentaram teores de nitrato entre 25 e 50 mg/
L e 36% ultrapassaram 50 mg/ L. Estas concentrações de nitrato representam
os valores máximos recomendável (VMR = 25 mg NO3-/ L) e admissível (VMA
19
= 50 mg NO3-/ L) estabelecidos na legislação portuguesa vigente para águas
destinadas ao consumo humano [Decreto-Lei nº 236/ 98] enquanto em águas
para rega o VMR é de 50 mg NO3-/ L. Os autores [Cerejeira et al., 2000]
alertaram para o perigo de reacção daqueles contaminantes no sistema
digestivo,
com
a
produção
de
N-nitroso-atrazina,
composto
azotado
genotóxico e carcinogénico para os animais de sangue quente. Efectivamente,
os aquíferos constituem reservatórios de água doce para consumo diário das
populações,
sendo
muito
grave
a
sua
contaminação
com
poluentes
persistentes.
Noutro estudo [Carranca et al., 1999] realizado no distrito de Elvas
(Portugal), foi efectuado o balanço azotado em cultura de trigo, de sequeiro,
em Luvissolo Háplico, onde se realizaram três aplicações de 60 kg N/ ha
(adubação de fundo com
15
NH415NO3 e mais duas de cobertura com ureia-15N
ou Ca(15NO3)2). A absorção de azoto pela planta variou muito ao longo dos
três anos deste estudo (sucessivamente 87, 254 e 218 kg N/ ha). A adsorção
de
amónio
nos
colóides
do
solo,
os
quais
apresentam
carga
predominantemente negativa à sua superfície, dependeu no presente caso do
teor de montmorilonites do solo. No primeiro ano, em condições de limitação
hídrica, ocorreriam perdas por volatilização de amoníaco das plantas,
enquanto nas duas campanhas seguintes se observou a mobilização de
reservas azotadas acumuladas sobretudo nos 30 cm superficiais do solo
(originadas pelo adubo marcado, não esgotado, e por resíduos culturais
remanescentes no terreno). No solo ocorreria, também, a oxidação do
amónio, desnitrificação e a volatilização de compostos NOx quimicamente
reactivos e de N2 inerte. Por outro lado, teriam ocorrido perdas de nitrato quer
por percolação, quer por escorrimento superficial devido à baixa taxa de
infiltração do solo, nos períodos chuvosos Outono-Invernais do segundo e do
terceiro anos. Nos três anos, as perdas do azoto marcado aplicado
contabilizaram-se entre 0 e 55%, correspondendo a 0-99 kg N/ ha,
evidenciando grande variação anual [Carranca et al., 1999].
Sob o ponto de vista ecológico, as barreiras vivas ripícolas, as
sebes arbustivas e arbóreas delimitantes dos campos de cultura e a
estratificação
de
culturas
distintas
segundo
as
curvas
de
nível
são
fundamentais na conservação do solo e da biodiversidade, sobretudo da fauna
20
do solo. Também, a ocupação sucessiva, com rotações adequadas, pode
melhorar o controlo de pragas e doenças, o aproveitamento dos factores de
produção e, por outro lado, retardar ou restringir mecanicamente os fluxos de
nutrientes no solo para evitar a contaminação de lençóis freáticos e águas
superficiais [MADRP, 1997 e 1999]. São especialmente importantes as
práticas de culturas intercalares para adubação verde ou forragem, de
cobertura morta (mulching) nas entrelinhas, de consociações e de sistemas
agroflorestais.
A
policultura
(com
presença
de
culturas
diferentes
simultaneamente, sejam misturadas nas pequenas parcelas de terreno ou,
eventualmente mais extensivamente, em faixas alternadas), privilegiando as
espécies vegetais perenes, permite a ocupação contínua no espaço e ao longo
do tempo [Altieri, 1994]. As discrepâncias proporcionadas sob os pontos de
vista físico e bioquímico, quer na parte aérea, quer em profundidade no
sistema radicular aumentam a produtividade global e contribuem para a
conservação do solo. As descontinuidades promovidas poderão contribuir para
o melhor controlo de doenças e pragas. As pastagens naturais e semeadas,
perenes ou inseridas em rotações, permitem uma utilização pouco intensiva
em condições edafo-climáticas limitantes, contribuindo para a melhoria das
características do solo e ambiente em geral. O sistema radicular fasciculado
das gramíneas (Poaceae) favorece a formação de agregados estáveis no solo.
A simbiose de leguminosas (Fabaceae) com bactérias do género Rhizobium
permite a fixação de azoto atmosférico e sua disponibilização para as culturas
presentes ou seguintes na rotação.
Em solos ácidos, os ácidos orgânicos exsudados por raízes permitem
a quelatização de catiões, como o Al3+, frequentemente existentes em
concentração elevada e tóxica para a maioria das plantas, permitindo ainda a
mobilização de fosfatos presentes, mas precipitados e inacessíveis, e a
redução de compostos férricos de reduzida solubilidade. Em particular, a
utilização de variedades geneticamente melhoradas pelo Homem associa as
vantagens ecológicas, bem adaptadas às condições edáficas limitantes, à
melhoria da produtividade agrícola [Foy, 1993].
Na luta pela redução da poluição ambiental de origem agrícola é de
salientar a produção integrada das culturas, incluindo medidas eficientes na
sua protecção integrada [Amaro, 2008]. Potencialmente interessantes são a
21
introdução de espécies vegetais alelopáticas, contendo fitoncidas (ou seja,
substâncias
naturalmente
produzidas
por
plantas
e
activas
contra
microrganismos) e compostos repelentes de insectos junto às culturas ou,
alternativamente, a utilização de formulações com pesticidas naturais [Matos,
2000]. Também, a luta biológica contra pragas e doenças, recorrendo aos
inimigos naturais das culturas tem menor risco de toxicidade para a fauna
benéfica do solo [Wardle et al., 2004], a qual é indispensável aos ciclos
biogeoquímicos da água e dos elementos nutrientes.
Leucaena
Coqueiro
Gliricidia
Cafeeiro
Mandioca
Hortícolas
Figura 2 – Um sistema agroflorestal na Indonésia, onde coqueiros (Cocus
nucifera L.) e gliricídias (Gliricidia sepia (Jacq.) Kunth ex-Walp.) ensombram
cacaueiros (Theobroma cacao L.), enquanto nos níveis inferiores existem
mandioca (Manihot esculenta Crantz), pimentos (Capsicum annum L.) e
outras culturas herbáceas alimentares (à esquerda). Várias plantas locais
são simbiontes capazes de fixar o azoto atmosférico (como, por exemplo,
numerosas espécies arbóreas das famílias Fabaceae, Betulaceae ou
Casuarinaceae), fornecendo forragem para o gado, enquanto este produz
estrume para a cultura de milho, em Timor (à direita). Fonte: Cairns, M.,
Hairiah, K. & Burgers, P. - Indigenous fallow management. Fotografias à
esquerda e à direita, respectivamente, de Meine van Noordwijk e Tony
Djogo [WAC, -].
22
Por outro lado, somente através da diversificação da produção agroalimentar pode ser alcançada a almejada sustentabilidade dos agricultores
directamente envolvidos na produção. A diversidade de alimentos disponíveis
localmente constitui uma condição necessária à segurança alimentar regional,
bem como à obtenção de dietas equilibradas indispensáveis ao bom estado
nutricional e saúde das populações, sobretudo em solos caracterizados por
muito
baixas
ou
altas
concentrações
de
micronutrientes
e
elementos
potencialmente nocivos [Abrahams, 2002]. Realmente, a satisfação das
necessidades alimentares de seres humanos adultos nunca poderá limitar-se
ao consumo de um único alimento como, por exemplo, o “arroz dourado” com
o endosperma enriquecido com β-caroteno [Potrykus, 2001]. Finalmente, o
balanço positivo do sistema agrícola, tendencialmente sustentável, depende
de decisões adequadas e é conferido pela segurança económica permitida por
diversificado conjunto de culturas lucrativas, destinadas à subsistência familiar
e/ ou ao mercado, local e regional (de culturas básicas, como a cerealífera ou
de hortícolas) e, em certos casos, internacional (por exemplo, de cacaueiro).
2. Rejeição de organismos geneticamente modificados
(OGM) em Agricultura
Os transgenes são genes estranhos ao genoma da planta, geralmente
retirados
de
organismos
arbitrariamente
escolhidos
e
casualmente
“enxertados”, através de metodologias defectivas da Genética Molecular, nos
cromossomas das células vegetais [WGGE, 2005]. As células transformadas,
possuindo múltiplas cópias do transgene devido à sua amplificação, são
seleccionadas e, posteriormente, em condições laboratoriais condicionadas e
estritamente controladas, são destinadas a formar calli, os quais são
multiplicados in vitro, originando plantas transgénicas ou geneticamente
modificadas (GM). Destas plantas GM, são, posteriormente, seleccionadas
secções que são multiplicadas massivamente obtendo-se diferentes clones de
milhares de plantas GM idênticas, as quais se multiplicam para obter sementes
GM usadas em monoculturas agrícolas ou são directamente transplantadas
formando florestas GM extensivas, exibindo propriedades potencialmente
interessantes, como a resistência a um herbicida [Salema, 1999]. São
seguidamente apresentadas duas hipótese pertinentes no âmbito da poluição
23
dos solos e águas, superficiais e subterrâneas, devido à utilização de plantas
GM.
HIPÓTESE I. Hipoteticamente, no genoma de células radiculares e da
parte aérea das culturas GM, individualizar-se-iam in vivo “unidades
destacadas de ácido desoxiribonucleico” (“UD ADN”) – cadeias simples
ou duplas de ADN, muito reactivas bioquimicamente, relativamente pequenas
com dezenas a centenas de milhar de bases nucleotídicas, incluindo o
transgene e outros elementos externos, originários do ADN inserido, e, ainda,
sequências vizinhas de nucleótidos da planta hospedeira que se ligariam, as
quais
constituiriam
partículas
instáveis
e
com
capacidade
infecciosa
(semelhantes às fracções nucleotídicas virais). Desde o núcleo duma célula
vegetal transformada activa (ou em desagregação), aquelas “UD ADN”
atravessariam a carioteca, o plasmalema e a parede celular, acompanhando
os fluxos celulares e apoplásticos. As “UD ADN” poderiam eventualmente ser
inseridas deslocalizadamente no genoma in vivo. Daí surgirem diferentes
expressões genotípicas numa mesma planta GM ao longo do seu crescimento
(quimeras). Ocorrendo livremente as “UD ADN” reactivas das culturas GM
poderiam ser transmitidas para outros sistemas biológicos, como micorrizas,
fungos fitopatogénicos ou plantas parasitas que estabelecem ligações génicas
com o hospedeiro. Poderiam ainda ser absorvidos e veiculados no ambiente
por pragas fitófagas.
Naturalmente, porções mais ou menos longas das cadeias do ADN
permanecem intactas, embora a maioria do ADN vegetal seja degradada no
interior das células mortas, sendo aquelas libertadas no solo onde integram a
matéria vegetal morta húmida e persistem, adsorvidas em colóides minerais e
orgânicos [Ceccherini et al., 2003]. Algumas porções de ADN são assimiladas
(por exemplo, através de endocitose) por espécies de Eubacteria ou Archaea.
Não sendo efectivamente digeridos pelo sistema enzimático microbiano,
podem ser rapidamente integradas no genoma microbiano (transformação ou
transdução, quando o processo é mediado por bacteriófagos), onde iniciam
activamente a sua transcrição – processo designado por transferência
horizontal de genes (THG).
24
No caso das culturas transgénicas (onde ocorre efectiva expressão
fenotípica forçada pela associação de regiões promotoras), as “UD ADN”
integradas confeririam as características, possivelmente exacerbadas, da
expressão directa do transgene (1) ou, indirectamente, do(s) gene(s)
externos “arrastados” do dador (2), de sequências de ADN do hospedeiro
vegetal GM (3) ou, ainda, eventualmente, novas características resultantes da
co-integração
dessas
“UD
ADN”
no
genoma
microbiano
(4).
Como
consequência, possivelmente, aumentaria a virulência do agente microbiano
receptor para os seus hospedeiros habituais ou desenvolver-se-ia patogenia,
geralmente associada aos organismos dadores do transgene, no sistema
biológico receptor, habitualmente não patogénico (em ambos os casos,
constituiriam
nucleotídicas
microrganismos
de
transformados,
características
semelhante
às
incluindo
as
sequências
virais,
com
capacidade
infecciosa e capazes de produzir situações de lisogenia). Assim, surgiriam
situações patológicas produzidas pela “UD ADN”, por exemplo, em Escherichia
coli, bactéria entérica que se encontra normalmente presente em elevado
número nos intestinos de espécies animais.
As probabilidades de destaque nas células vegetais e de co-integração
no
genoma
procariótico
das
“UD
ADN”
não
são
quantificáveis,
mas
previsivelmente são ambas tanto mais elevadas quanto maior for o número de
células geneticamente modificadas presentes no solo e maior a diversidade de
transgenes.
A
consubstanciação
no
genoma
hospedeiro
transformado
dependeria da natureza e, possivelmente, da própria eficiência do “promotor”
(criteriosamente seleccionado com o fim de, independentemente do local
imprevisível do genoma onde se insere, induzir a forte expressão do
transgene em quaisquer condições, sobrepondo-se ao genótipo selvagem
(inicial) exclusivo da espécie Eucariota, com uma estrutura fina complexa,
basicamente
caracterizada
por
cromossomas
lineares
delimitados
pela
carioteca). Dependeria da diversidade e actividade microbiana do meio,
especificidade
e
competência
dos
microrganismos
presentes.
Ainda,
dependeria das condições envolventes, como a temperatura e o tempo de
contacto entre o material vegetal proveniente de OGM e os microrganismos
envolvidos.
25
Naturalmente,
as
comunidades
microbiológicas
são
ubíquas,
diversificadas e muito prolíferas, onde ocorrem continuamente múltiplos
processos de THG. As THG podem ocorrer entre quaisquer micróbios activos,
por vezes envolvidos em interacções simbióticas com Eucariotas [Melcher,
2001], residentes ou casualmente presentes nos solos, nos meios aquosos, no
ar envolvente [Whitfield, 2005], ou localizados normalmente em grande
número em determinados orgãos do corpo de animais. Frequentemente,
existem entre 5 e 10 mil espécies diferentes de microrganismos por grama de
solo [Wardle et al., 2004], constituindo o meio edáfico um verdadeiro
bioreactor, gigantesco e aberto.
Devido ao perfazimento biotecnológico, a frequência de sequências
de
ADN
inseridas
por
transgénese
nos
genomas
das
populações
microbiológicas circundantes das culturas GM tenderá a aumentar, desde que
confira vantagens selectivas relativamente aos tipos selvagens, iniciando a
proliferação de novas estirpes especialmente activas.
HIPÓTESE II. Pelo fornecimento de forragem proveniente de plantas
GM a gado ruminante seriam induzidas “infecções” em microrganismos do
reticulo-rúmen pelas “UD ADN”, segundo proposto na referida hipótese I.
Estes microrganismos modificados espontaneamente in vivo metabolizariam
irregularmente as suas proteínas, eventualmente produzindo priões ou
polipéptidos anómalos com capacidade auto-catalítica, que seriam assimilados
pelas paredes do estômago dos animais. Esses microrganismos modificados
causariam directamente patogenia e, indirectamente, os priões propagariam a
doença através do contacto com as fezes ou com a carne de animais
enfermos.
Naturalmente, a água gravitacional arrasta os agentes e as partículas
com capacidade infecciosa que estão presentes à superficie, frequentemente
adsorvidos em partículas coloidais, para camadas mais profundas do solo
húmido. Deste modo, podem ocorrer contaminações e THG em lençóis
freáticos, ou em cursos de água e zonas marinhas litorais. Segundo as
hipóteses avançadas, a característica inserida por ou derivada da transgénese
poderia
26
ser
propagada
rápida,
indelével
e
ocultamente,
intra-
e
interespecíficamente, em Procariotas e possivelmente mais raramente em
Eucariotas (por infecção ou transfecção), em qualquer ambiente favorável ao
processo. As perturbações ambientais provocadas pela Agricultura, nunca
foram
tão
irregulares,
imprevisíveis,
incontroláveis
e
irreversíveis,
conformando uma nova natureza contaminante: a POLUIÇÃO GENÉTICA DA
BIOSFERA PELOS OGM libertados, irresponsavelmente, no ambiente [Garcia,
2001].
Os Agricultores familiares, detentores de conhecimentos tradicionais,
os Agricultores convencionais praticantes de sistemas intensivos ou industriais
livres de OGM e os Agricultores alternativos adeptos da Agricultura Orgânica
sentem-se ameaçados e opõem-se, firmemente, à introdução de culturas
transgénicas em zonas vizinhas das suas parcelas de terreno, atribuindo aos
OGM graves prejuízos da integridade varietal e qualitativa das suas produções
e da ecologia dos solos, bem como o aparecimento de infestantes invasoras
resistentes aos herbicidas [Silva, 1999]. Mas, são os Povos Nativos,
possuidores
de
sabedoria
ancestral
praticantes
de
sistemas
agrícolas
ecológicos, que refutam vigorosamente a perda irreversível dos seus valores
naturais e dos seus direitos, apontando constantemente como condição
necessária à vida em abundância a abolição total de OGM no ambiente
[WGGE, 2005].
3. Recurso ao Melhoramento Estritamente Mendeliano
A
Genética
Mendeliana
ou
Clássica
permite
obter
variedades
melhoradas através de cruzamentos de progenitores compatíveis que incluem
sucessivas
selecções
artificiais
das
descendências.
Possui
metodologias
próprias desenvolvidas nos bem definidos contextos próprios, resultando
produtos nos quais se conjugam influências a todos os níveis, nomeadamente:
molecular (das fracções de ADN nuclear, mitocondrial e cloroplástico do
genoma integral), citológico, fisiológico (dos tecidos, órgãos e globalidade do
organismo individual),
edafo-climático e
interacções
locais).
biológicas
O
biótico (relativo às diversificadas
fenótipo
efectivamente
expresso
pelo
indivíduo depende das potencialidades genéticas, num determinado meio
envolvente. A harmonização com os critérios produtivos, ainda que arbitrários
por selecção artificial, é unicamente realizada após a formação do propágulo.
27
Aqui as técnicas científicas de identificação da Biologia Molecular podem
orientar vantajosamente os seleccionadores de modo a garantir a presença do
gene desejado na descendência natural a eleger em posteriores cruzamentos.
Os processos de Melhoramento clássico ou convencional de plantas
têm resultados com probabilidades previsíveis e, embora lentos, garantem a
adaptação a condições ambientais limitantes ao desenvolvimento vegetal e
desfavoráveis à produção agrícola economicamente viável [Foy, 1993],
conferem resistência com base genética alargada a pragas e doenças,
permitem a obtenção de características qualitativas especiais multigénicas e
aumentam os rendimentos unitários das culturas, mesmo ultrapassando os
valores alcançados pelos progenitores, segundo potenciado pelo vigor híbrido.
A
hibridação
de
espécies
vegetais
botanicamente
próximas
ocorre
espontaneamente, tem sido utilizada pelo Homem com muito sucesso
agronómico [Farooq & Azam, 2007] e, embora envolva problemas particulares
(como,
por
exemplo,
frequentemente,
a
infertilidade
dos
híbridos),
invariavelmente, valida as regras da hereditariedade dos caracteres dos
progenitores cruzados, ditadas pelas Leis de Mendel.
Por outro lado, a enxertia de um órgão somático destacado de
variedade fruteira especial, realiza-se desde tempos imemoriais sobre um
tronco ou ramo, anatomicamente diferenciado, de planta viva do mesmo
género
ou
botanicamente
afim.
Seguramente
permite
a
obtenção
de
resultados reprodutíveis, de acordo com as características do material de
origem, como diferentes qualidades de fruto numa mesma planta. Pode ser
utilizada para conferir à planta características particulares da parte radicular,
como
porta-enxerto
resistente
a
certa
doença
ou
praga.
A
enxertia
convencional mantém a estabilidade genética dos materiais envolvidos, o que
não acontece na “enxertia molecular” dum transgene numa célula hospedeira,
a qual se multiplica ocorrendo “deslocalizações” do trangene nas células filhas,
devido a instabilidade genética.
A Agricultura induz sempre, deliberada ou inadvertidamente e em
maior ou menor intensidade, alterações aos ecossistemas naturais. No
entanto, a preservação da Biodiversidade e a conservação dos Ecossistemas
(particularmente os recursos naturais não renováveis que constituem os solos
28
de aptidão agrícola e os aquíferos), pela aplicação de tecnologias não
poluentes e holisticamente integradas, adaptadas a cada caso, convergem no
único caminho seguro para aumentar as produções agrícolas e permitir o
desenvolvimento sustentável dos Povos.
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30
TESES E DISSERTAÇÕES
Ermelinda Lopes Pereira
INFLUÊNCIA DO FREIXO NO MICROCLIMA, NAS CARACTERÍSTICAS DO SOLO
E DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES, E NA VEGETAÇÃO HERBÁCEA DE
LAMEIROS DO NORDESTE DE PORTUGAL
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia Agronómica no
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (2004)
No presente estudo procedeu-se à caracterização das áreas sob e fora do
coberto arbóreo de freixo através da: monitorização de parâmetros climáticos,
do fluxo de nutrientes e matéria orgânica, das características do solo, da
caracterização e quantificação da vegetação herbácea. Além disso, avaliou-se
o efeito da sombra e da adição de nutrientes na biomassa aérea e subterrânea
da vegetação herbácea, bem como da respectiva composição química.
As áreas sob coberto apresentaram uma redução da quantidade de
precipitação, de radiação e das amplitudes térmicas do ar e do solo. Os
valores de pH, teores de C e N orgânico e de nutrientes foram mais elevados
nas áreas próximas do tronco da árvore, devendo-se essencialmente ao
contributo do escorrimento ao longo do tronco, gotejo e queda da folhada.
As condições microclimáticas e pedológicas sob coberto modificaram a
produção e composição das herbáceas. As áreas sob coberto apresentaram,
em geral, menor produção de matéria seca, maior predomínio de gramíneas e
menor número de espécies do que as localizadas fora do mesmo. Os teores de
nutrientes das herbáceas foram, de um modo geral, superiores nas áreas sob
coberto.
([email protected])
Henrique Manuel Filipe Ribeiro
A FERTILIZAÇÃO AZOTADA DE PÉS-MÃE DE Eucalyptus globulus LABILL. ssp.
globulus: EFEITO NA PROPAGAÇÃO VEGETATIVA POR ESTACAS CAULINARES
E ESTABELECIMENTO DE INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia Agronómica no
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (2004)
Com o objectivo de estudar o efeito da fertilização azotada de pés-mãe de
Eucalyptus globulus Labill. ssp. globulus na propagação vegetativa por estacas
caulinares foi conduzido, durante 3 anos, um ensaio com 2 clones desta
espécie (HD161 e CN5) aos quais se aplicaram 5 soluções nutritivas com
diferentes concentrações de azoto (50, 100, 200, 400 e 800 mg L-1).
A aplicação de níveis crescentes de azoto conduziu a: i) um aumento da
produção de biomassa; ii) um aumento da produção de estacas; iii) um
aumento do enraizamento das estacas obtidas. Contudo, a optimização do
enraizamento ocorreu para níveis de azoto inferiores aos necessários para
31
obter a produção de biomassa mais elevada. O teor foliar de azoto, a leitura
SPAD na folha e o teor de azoto no caule (indicadores do estado nutricional
azotado) apresentaram uma resposta à fertilização azotada de natureza
assimptótica com coeficientes de determinação superiores a 90% quando se
procedeu ao ajustamento do modelo de Mitscherlich modificado. O indicador
teor de nitratos no caule apresentou uma resposta de natureza sigmoidal.
Com base nos resultados da produção de estacas e do enraizamento, foi
possível estabelecer como gama de valores adequados os teores foliares de
azoto entre 29 e 34 g kg-1 no primeiro ano de crescimento dos pés-mãe e
entre 25 e 30 g kg-1 nos anos seguintes. Relativamente à leitura SPAD, os
valores entre 44 e 48 no primeiro ano e entre 41 e 47 nos anos seguintes
poderão ser considerados como adequados para os dois clones em estudo.
([email protected])
Alberto Macedo de Azevedo Gomes
ANÁLISE ESPAÇO – TEMPORAL DE PARÂMETROS QUÍMICOS EM
COMPARTIMENTOS DO CICLO DE NUTRIENTES EM MONTADOS DE SOBRO.
RELAÇÃO COM O ESTADO VEGETATIVO DOS SOBREIROS
Dissertação original para efeitos de acesso à categoria de Investigador
Auxiliar, da Carreira de Investigação do INIAP, Estação Florestal Nacional
(2004)
A alteração de características dos solos, nomeadamente de fertilidade,
decorrentes das práticas culturais e sistemas de uso sob coberto, têm vindo a
afirmar-se como um dos factores de predisposição dos ecossistemas "Montado
de sobro" para o progressivo declínio vegetativo e decréscimo da sua
produtividade. O diagnóstico foliar tem sido utilizado como método de
avaliação do estado de nutrição dos povoamentos florestais, através da
associação da composição mineral das folhas com os parâmetros de produção,
os indicadores do estado sanitário das árvores e as características do solo. A
aplicação de tais metodologias a espécies esclerófilas mediterrâneas é
complexa devido à própria natureza destas últimas. Têm vindo a ser
desenvolvidos estudos para o sobreiro (Quercus suber) nesta área, embora se
encontrem ainda numa fase inicial. A observação da evolução destes aspectos
nos sobreiros em diferentes condições edafo-climáticas é necessária à
percepção do seu funcionamento e compreensão do complexo puzzle que esta
espécie insere.
Neste sentido, efectuou-se uma avaliação espaço-temporal do teor de
nutrientes nas folhas de sobreiros (N, P, Na, K, Ca e Mg), em montados
localizados em duas estações edafológicas distintas: em Leptosolos Dístricos
de xistos do Carbónico e em Cambisolos Êutricos de arenitos do plioceno. A
evolução dos teores de nutrientes nas folhas foi analisada do ponto de vista
da sua associação com o complexo de troca do solo, com a estrutura dos
povoamentos e com o grau de desfoliação das árvores. Foi efectuado o cálculo
do teor anual de nutrientes restituídos ao solo pela queda de biomassa aérea.
O estudo desenvolveu-se de duas maneiras: uma primeira em que se
analisaram as relações entre os factores no conjunto dos dois montados e
uma segunda em que se compararam as evoluções independentemente em
cada montado.
32
Os resultados apontam para uma clara diferenciação das relações entre
variáveis em cada montado, verificando-se ocorrência de estados de nutrição
distintos e específicos para cada montado.
([email protected])
Maria do Carmo Simões Mendonça Horta Monteiro
LA DISPONIBILIDAD DE FÓSFORO EVALUADO POR EL MÉTODO DE OLSEN EN
SUELOS ÁCIDOS DE PORTUGAL: SIGNIFICADO AGRONÓMICO Y AMBIENTAL
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Agronomia, no ramo de
Edafologia e Ambiente na Universidade de Córdoba, Espanha (2005)
Present day freshwater eutrophication is mainly attributed to non point source
pollution from agricultural land. Analytical methods for soil P evaluation are
diverse and have mainly been used for agronomic purposes. Therefore, it is
difficult to compare results and establish guide-lines aiming at a common
policy to assess the risk of P loss in environmental and agronomic terms.
The aim of the present dissertation is to evaluate the capability of the
worldwide-known Olsen method to estimate P availability for agronomic and
environmental purposes.
32 agricultural soils were used, chosen as characteristic of different
Portuguese regions. The basic properties and P chemical forms of these soils
were determined. Phosphorus dynamics was evaluated by both 6-day long
sorption experiments and by desorption kinetics. The latter was determined by
Cl− form resin bag. Further P desorption experiments were carried out: a pot
experiment with plants until exhaustion of soil P (to evaluate P phytoavailability); using a diluted electrolyte with different soil:solution ratios
(1:100, 1:1000, 1:10000) simulating P transfer from soil to drainage water
(1:100), runoff water (1:1000) and freshwater (1:10000).
The Olsen method has proved capable of evaluating desorbable phosphorus
(P) with agronomic (phyto-available P) and environmental significance.
However, in order to reach this last purpose some P mobility related soil
properties need to be included in the evaluation procedure through a multiple
regression model. Actually, P transfer from soil to water seems to be
controlled by a partition between adsorbed and precipitated P forms in soil.
This partition seems to be influenced by the solid phase properties namely P
adsorption active surfaces such as Fe and Al /hydroxides. The presence of
these adsorption surfaces favours P adsorption rather than phosphate
precipitation. Phosphate enhances P mobility from soil to water, particularly in
low soil:solution ratios.
The soils used in this study showed low to medium P sorption and buffer
capacity. Moreover, short term (24 hours) evaluation done by resin bag
extraction, revealed that these soils had a high capacity to desorb P. This
further suggests high soil potential to desorb P. Over 50 mg kg−1 of Olsen P
there is a significant increase in desorption capacity in this soils. This value
can be considered high by agronomic standards, though the Olsen method has
no agronomic calibration for theses soils.
Low to medium P adsorption capacity and easiness of P loss at not too high
values of Olsen P require careful agricultural management of these soils.
([email protected])
33
Maria Regina Rodrigues de Sousa Botelho de Gusmão Valério
Menino
EFICIÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DO AZOTO EM JOVENS LARANJEIRAS ‘LANE
LATE’ ENXERTADAS EM CITRANJEIRA ‘CARRIZO’, NA CAMPINA DE FARO
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia Agronómica no
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (2005)
Efectuou-se um estudo da resposta à adubação azotada, em fertirrega gotaa-gota, e da dinâmica do 15N no sistema solo-planta, num pomar de
laranjeiras ‘Lane Late’ enxertadas em citranjeira ‘Carrizo’, num solo arenoso
no Algarve, durante os primeiros cinco anos após transplantação para o local
definitivo. Concluiu-se que: i) a dotação óptima de N na fertirrega poderá
situar-se, ao longo dos cinco primeiros anos, a níveis, sucessivamente, de
10, 15, 80, 120 e 160 g N por árvore, sem compromisso da potencialidade
do pomar e com uma maior eficiência de utilização do fertilizante azotado; ii)
os valores óptimos da concentração do N foliar aqui determinados, expressos
em g N kg-1 PS, estão em conformidade com um ajuste logarítmico
(N=34,7-7,4 log (x), x = anos após transplantação), correspondendo para os
primeiros cinco anos os valores de 34,7, 32,5, 31,2, 30,2 e 29,5; iii) no 1º
ano, a eficiência de utilização do fertilizante azotado foi de 6%, no 2º ano,
situou-se entre 20% e 24% e, no 3º ano, foi superior a 31%; iv) no final do
3º ciclo vegetativo, a contribuição do N aplicado nesse ano totaliza cerca de
40% do N total nos órgãos formados no próprio ano (folhas, ramos, raízes e
frutos).
([email protected])
Jorge Manuel da Silva Delgado Nunes
INTERACÇÃO SOLO - ÁRVORE ISOLADA EM MONTADOS DE AZINHO (Quercus
rotundifolia Lam.): PROCESSOS FUNDAMENTAIS
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Biologia na Universidade
de Évora (2005)
Os componentes dos ciclos de nutrientes em montados de Quercus
rotundifolia Lam., relacionados com a precipitação foram estudados na região
de Évora, de Novembro de 1996 a Dezembro de 2000. A precipitação bruta, o
gotejo a diferentes distâncias do tronco e o escorrimento ao longo do tronco
das árvores foram quantificados de modo contínuo, sendo colhidas amostras
semanalmente para se proceder à respectiva caracterização química. Mediu-se
de modo contínuo a radiação fotossintéticamente activa, a radiação solar
global e a temperatura do solo sob e fora da acção do coberto de Quercus
rotundifolia , bem como sob a acção do estrato arbustivo. Estudaram-se
características físicas e químicas do solo sob a influência da copa de Quercus
rotundifolia e fora dela, em sistemas em que as árvores apresentam grande
espaçamento entre si. Além disso, também se avaliaram as quantidades das
camadas orgânicas. As amostragens foram efectuadas a várias distâncias do
tronco das árvores, segundo a direcção dos pontos cardeais. A transformação
do azoto foi examinada nas áreas sob e fora do coberto de Quercus
rotundifolia, avaliando-se a disponibilidade do N no campo, usando a técnica
da mineralização sequencial in situ, e em laboratório por meio de incubações
34
aeróbias e anaeróbias. O efluxo de CO2 do solo foi igualmente avaliado no solo
dessas áreas. A produção da vegetação herbácea sob e fora da acção da copa
de Quercus rotundifolia foi quantificada durante dois anos.
Verificou-se um acréscimo da concentração das espécies iónicas no gotejo em
relação à precipitação bruta, o qual foi ainda mais manifesto no escorrimento
ao longo do tronco. Paralelamente observou-se uma diferenciação horizontal
da concentração das espécies iónicas, patente no decréscimo significativo da
concentração de todas elas com o aumento da distância ao tronco. Os fluxos
médios anuais de Ca, Mg, Na, K, N-NH4+, N-NO3-, P, Cl e S-SO42- na
precipitação bruta foram, respectivamente, 3,5, 1,8, 8,7, 4,0, 0,8, 2,8, 2,1,
17,9 e 3,9 kg ha-1; os valores respeitantes ao gotejo atingiram 21,1, 6,5,
22,4, 38,4, 1,4, 4,2, 5,4, 54,2 e 7,1 kg ha-1. Os fluxos inerentes ao
escorrimento ao longo do tronco variam com a área, em torno do tronco da
árvore, susceptível de ser influenciada por esta solução.
A intercepção pela copa de Quercus rotundifolia da radiação solar global e da
radiação fotossintéticamente activa, atingiu valores entre 75 a 90 %
consoante a época do ano. A temperatura do solo fora da acção da copa das
árvores foi em geral superior à das áreas sob a copa, chegando a relação
entre elas a ser de duas vezes durante o Inverno.
A massa das camadas orgânicas decresceu significativamente das distâncias
mais próximas (3,83 t ha-1) do tronco para a distância correspondente ao
limite da projecção da copa das árvores (1,77 t ha-1), bem como em relação
às distâncias situadas para além deste (0,45 t ha-1). A massa volúmica
aparente à profundidade 0-5 cm no solo do sob coberto diferenciou-se
significativamente, da observada no solo das áreas fora deste. O teor de
humidade do solo à superfície tendeu por um lado, a decrescer mais
rapidamente nas zonas fora da acção da copa das árvores e, por outro, a
restabelecer-se mais rapidamente nestas mesmas áreas. Os teores do solo em
C orgânico e N foram significativamente mais elevados nas áreas sob as copas
das árvores do que naquelas fora da influência destas. Tendência semelhante
foi apresentada pelo teor de bases de troca (Ca, Mg e K) e de K e P
extractáveis. Estes teores, bem como os de C orgânico e N, decresceram da
proximidade do tronco para o limite da projecção vertical da copa. O Mg de
troca e o valor de pH não apresentaram qualquer diferenciação devido à
presença das árvores.
A mineralização do N do solo ocorreu principalmente na profundidade 0-10
cm, tendo sido significativamente superior nas áreas do sob-coberto, do que
nas áreas fora deste. A mineralização acumulada de N foi de 128,62 kg ha-1
no solo das áreas fora da copa e de 166,69 kg ha-1 nas áreas do sob coberto.
O efluxo de CO2 do solo nas áreas do sob coberto de Q. rotundifolia foi cerca
do dobro do efluxo registado nas áreas fora da acção da copa.
A produção anual média de biomassa herbácea foi de 343,10 g m-2 nas áreas
fora do coberto de Q. rotundifolia, de 109,34 g m-2 nas áreas do sob coberto,
de 124,59 g m-2 com radiação reduzida artificialmente. Os teores em N, P, K,
Mg, Mn e Ca da biomassa herbácea foram em geral superiores nos
tratamentos com redução de radiação.
A presença de árvores de Quercus rotundifolia Lam, modifica as condições das
físicas, químicas e biológicas das áreas do sob coberto, criando ilhas de
fertilidade e qualidade do solo relativamente às áreas circundantes, criando a
necessidade de uma gestão criteriosa das áreas de montado.
([email protected])
35
António Canatário Duarte
POLUIÇÃO DIFUSA ORIGINADA PELA ACTIVIDADE AGRÍCOLA DE REGADIO, À
ESCALA DA BACIA HIDROGRÁFICA
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Agronomia, na
Universidade de Córdoba, Espanha (2006)
A crescente preocupação pelos problemas ambientais causados pela
actividade agrícola, particularmente a poluição da água, motiva a repensar a
gestão dos sistemas agrícolas e a definir códigos de boas práticas agrícolas.
Além da importância da monitorização e controlo dos meios aquáticos que
recebem os contaminantes, os modelos de simulação apresentam-se como
ferramentas bastante úteis na previsão de impactes. Este estudo propôs-se
estudar a poluição difusa da água superficial originada pela actividade agrícola
de regadio, à escala da bacia hidrográfica, no que respeita ao azoto, sais e
sedimentos. A bacia hidrográfica seleccionada para este estudo (189 ha)
localiza-se no Aproveitamento Hidroagrícola de Idanha-a-Nova, e tem como
culturas principais de regadio o tabaco, o milho e o sorgo, e como culturas de
sequeiro, a aveia. A compreensão do comportamento hidrológico da bacia é
fundamental para entender a dinâmica dos contaminantes. O comportamento
hidrológico durante a estação de rega mostrou-se muito sensível às práticas
de rega, particularmente a frequência e dotações de rega. Durante a estação
da chuva, o modelo hortoniano domina os processos de escoamento gerado
na bacia, sendo a teor de humidade do solo decisivo na magnitude das
situações de ponta. A água derivada para a bacia de estudo durante as
campanhas de rega apresentou-se de muita boa qualidade relativamente aos
parâmetros estudados (azoto, condutividade eléctrica e sedimentos), não se
constatando uma degradação significativa da sua qualidade quando restituída
ao meio hídrico. No decorrer da estação da chuva, a qualidade da água que é
drenada da bacia depende da conjugação de eventos de precipitação e
escoamento intensos e da disponibilidade dos contaminantes no solo. Não se
obteve nenhuma relação estatística aceitável entre a concentração dos
contaminantes na água e o caudal que os transporta para fora da bacia, tanto
na estação da chuva como na da rega, exceptuando as situações de ponta em
que o grau de correlação depende das condições vigentes na bacia. Por outro
lado, a dependência da carga contaminante diária do volume de escoamento,
como outra forma de analisar a dinâmica dos contaminantes, mostrou-se
fortemente influenciada pela solubilidade dos contaminantes na água. Com
vista à aplicação de um modelo de simulação à bacia hidrográfica de estudo, e
perante uma multiplicidade de modelos hidrológicos que simulam a poluição
difusa, seleccionamos a modelo AnnAGNPS pela sua relativa facilidade de
utilização e suficiente rigor das aproximações usadas. Como exercício prévio à
aplicação do modelo AnnAGNPS e para uma conveniente configuração
topográfica e hidrológica da bacia de estudo, concluímos que um modelo
digital de elevação do terreno com resolução vertical de 1 metro é suficiente
para contemplar a topografia da bacia e para definir a rede de drenagem
natural existente, sendo a resolução vertical de 5 metros insuficiente para o
mesmo propósito. A razoável proximidade dos dados de escoamento
observados, na estação hidrológica instalada, e dos dados simulados pelo
modelo AnnAGNPS, indica este modelo como uma boa ferramenta de previsão
da hidrologia da bacia de estudo. Não obstante, a proximidade das duas
36
categorias de dados relativos aos sedimentos não se mostrou tão satisfatória,
sendo mesmo pouco satisfatória relativamente ao azoto (nitrato). É provável
que um esquema experimental de registo contínuo daqueles contaminantes,
permita o apuramento de melhor proximidade entre os dados observados e
simulados. Pela forma como se distribui espacialmente o escoamento na bacia
de estudo, deduz-se que a topografia do terreno e a cobertura do solo são os
factores que mais influenciam o volume médio de escoamento. A produção e
arrastamento de azoto (nitratos) por unidade de área e de tempo,
evidenciaram uma dependência da distribuição espacial do escoamento, não
se verificando tão claramente o mesmo relativamente aos sedimentos, dado
que apenas uma parte do volume de escoamento tem energia suficiente para
destacar e arrastar os sedimentos.
([email protected])
Pedro Manuel Sousa Lopes
METODOLOGIAS DE CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MODELO DE SIMULAÇÃO
CLIMÁTICA CLIGEN DE APOIO À MODELAÇÃO DE PERDA DE SOLO
Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia do Solo e da
Água na Universidade de Évora (2006)
Os objectivos deste trabalho são a calibração e validação do modelo de
simulação climática CLIGEN de apoio ao modelo de previsão de erosão do solo
WEPP.
Para a realização deste trabalho foram utilizados os dados meteorológicos
recolhidos no posto meteorológico e na estação experimental de erosão de
solo da Escola Superior Agrária de Castelo Branco.
Para comparação dos dados simulados pelo CLIGEN com os dados
observados, fez-se correr o modelo por um período de cem anos, sendo os
resultados obtidos comparados estatística ente com os observados.
Verificou-se que o CLIGEN simula bem os valores médios de precipitação
mensal, precipitação diária máxima mensal, precipitação média em dia
chuvoso, número de dias de precipitação mensal, mas não os respectivos
desvios padrão e distribuição em termos de percentis.
Quando se faz correr o modelo CLIGEN com os parâmetros separadamente de
anos secos e de anos chuvosos, há melhorias no desempenho do modelo.
Foi feita uma proposta de alteração do código do CLIGEN, com desactivação
do controlo de qualidade da geração dos números aleatórios pelo CLIGEN e
com uma rotina que permite determinar estocasticamente se um ano é seco
ou chuvoso.
Verificou-se que com esta alteração se conseguiram melhorias no
desempenho do CLIGEN, nomeadamente em termos de uma melhor
representação da variabilidade.
Posteriormente procedeu-se à validação do modelo com as alterações
propostas com um novo conjunto de dados meteorológicos recolhido num
clima semelhante, tendo-se verificado que o modelo com as alterações
propostas tem um desempenho satisfatório.
([email protected])
37
Daniela Valente Simões dos Santos
TRANSFERÊNCIAS HÍDRICAS E COMPORTAMENTO DO AZOTO EM SISTEMAS
ALTERNATIVOS DE MOBILIZAÇÃO DO SOLO. APLICAÇÃO DO MODELO OPUS
NA GESTÃO DA FERTIRREGA EM CONDIÇÕES DE DRENAGEM LIVRE E NA
PRESENÇA DE TOALHA FREÁTICA
Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia Agronómica no
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (2006)
O elevado número de zonas vulneráveis identificadas em Portugal e no resto
da Europa nas últimas décadas são o reflexo inequívoco dos processos
poluentes decorrentes de uma inadequada gestão da água e azoto. A
modelação das transferências hídricas e movimento de solutos, como o azoto,
representa uma ferramenta primordial na previsão dos efeitos de diferentes
práticas de gestão dos referidos factores num determinado sistema de
produção agrícola, podendo contribuir para a definição de políticas de
recuperação e prevenção de novas zonas vulneráveis.
O presente trabalho desenvolveu-se no Vale do Sorraia, onde se destacam
duas manchas de solo, cujas transferências hídricas e de solutos são bastante
distintas: os aluviossolos modernos não-calcários de textura mediana,
profundos e de drenagem deficiente devido à presença de toalha freática
superficial, permanecendo alagados durante a estação chuvosa e os solos
litólicos não-húmicos de arenitos grosseiros, que se encontram mais elevados,
com boa drenagem. Na mancha dos solos de aluvião foram realizados os
balanços hídrico e de azoto em dois sistemas alternativos de mobilização do
solo em canteiros de nível cultivados com milho-grão: mobilização
convencional e mobilização reduzida. Na mancha de solos arenosos, também
foram realizados balanços hídrico e de azoto num sistema de produção tradicional na região, cultivado com milho para forragem, regado por aspersão.
Realizou-se uma caracterização hidrodinâmica completa in situ e em
laboratório, bem como uma caracterização do comportamento do azoto in
situ, o que permitiu estimar as taxas de mineralização, absorção e perdas de
azoto para a atmosfera por análise comparativa entre tratamentos com
presença ou ausência de cultura e azoto. Identificaram-se e quantificaram-se
diferenças de estrutura do solo, de comportamento hidrodinâmico e do azoto
entre os dois sistemas alternativos de mobilização do solo.
As informações retiradas das observações e registos realizados foram
essenciais ao processo de calibração dos parâmetros do modelo determinístico
Opus que integra as diferentes componentes de gestão de um sistema
agrícola ao nível da parcela. Identificaram-se vários “pontos fracos” no
modelo quando aplicado a um sistema de produção com características
hidrodinâmicas tão peculiares como as apresentadas pelos solos de aluvião,
cujas transferências hídricas são fortemente influenciadas pela sazonalidade
da toalha freática. Alguns foram ultrapassados com as alterações introduzidas,
decorrentes do estudo realizado, permanecendo ainda limitações ao nível da
caracterização do comportamento do azoto.
Os resultados de calibração foram satisfatórios nas componentes
hidrodinâmicas para os dois sistemas de produção estudados, mas
manifestamente insuficientes nas componentes relativas ao azoto, ficando
identificadas as razões de tais deficiências como contributo para uma futura
melhoria do modelo na predição de tais processos.
([email protected])
38
A SPCS dá as boas vindas aos novos sócios aprovados nas Assembleias
Gerais que tiveram lugar desde a saída do último Pedon:
Em 2007
340
CORDOVIL, Cláudia M. S.
341
MALHEIRO, Aureliano Natálio Coelho
342
PERDIGÃO, Maria Adelaide Homem
343
QUEDA, Ana Cristina Ferreira da Cunha
Em 2008
344
FARROPAS, Lídia Maria Tavares
345
ALMEIDA, Ana Filipa da Silva Botelho
346
MARTINS, Maria do Rosário Caeiro
347
SERAFIM, António Marcelino Palma de Borja
348
FANGUEIRO, David
349
GAMA, Florinda Maria Martins
Em 2009
350
ALVARENGA, Paula Maria da Luz Figueiredo (Estudante)
351
SAAVEDRA, Teresa Maria Rego
352
SANTOS, Erika S.
353
JONES, Nádia Manuela (Estudante)
354
CANDEIAS, Mª da Fé dos Santos Ramos Correia
356
DUARTE, Amilcar Manuel Marreiros
357
PEDRAS, Celestina Maria Gago
358
DUARTE, Inês Guedelha Rebelo Marques
359
CRUZ Houghton, Cristina Mª N. S. Vilhena
360
CARNEIRO, João Paulo Baptista
361
MELO, José Vanzeler
362
FERNANDES, Eliana D. D. (Estudante)
Em 2011
363
ANTUNES, Carla Maria Rolo
Em 2012
364
RODRIGUES, Ana Raquel M. S. Felizardo (Estudante)
365
PENA Baldaia, Selma Beatriz de Almeida Nunes (Estudante)
366
INÁCIO, Maria Manuela da Silva
Em 2013
367
BARRONA, João Filipe Boiões (Estudante)
368
LOPES da FONSECA, Inês de Figueiredo Mascarenhas
Em 2014
369
PARELHO, Carolina Paulo Furtado de Medeiros (Estudante)
370
RAMOS, Tiago Cunha Brito
39
Sócios cessantes, durante o mesmo período, por falecimento, falta de
pagamento de quotas ou desistência:
Em 2005
120
SIMÕES, Ana Maria Oliveira
160
VIDEIRA DA COSTA, A.S.
169
PACHECO, Cecília C. Alves
297
CARDOSO, Ana Salomé D. M. Vale
Em 2006
42
MAYER GONÇALVES, M.A. (Falecido)
57
SANCHES FURTADO, A.F.A.
103
GUSMÃO, M. Regina L.B.
300
MACHADO, Inês Mª I. Aleixo Teixeira (Estudante)
Em 2007
295
COELHO, Sebastião Teixeira
297
CARDOSO, Ana Salomé D. M. Vale
Em 2008
54
RAMOS, Firmino M.
113
RAMOS DO VALE, Rui
127
CORREA DE SEPÚLVEDA, Isabel
129
MESQUITA, M. Eulália R.
150
PISCO, Joaquim M.C.
164
DUARTE, M. Luísa Saraiva
183
VICENTE, J.M.
184
GOMES, Adjuto
193
FERNANDO, Rui Marçal Campos
194
BRITO RAMOS, J. António Sequeira
207
SANTOS, Regina Esteves
211
MILHO DA CONCEIÇÃO, Francisco A. (Falecido)
220
FURTADO, Alexandre José
222
ANDRADE, Anabela
224
CARVALHO, António Jesus
228
FARIA, Cristiano
229
TEIXEIRA, Daniela
230
ESTEVES, David Ferreira
231
PEREIRA, Eloi
233
BERNARDO, Isabel Sofia
236
SILVA, José Manuel
238
PALAS, Luis Miguel
239
FELGUEIRAS, Mafalda
240
SAMPAYO, Manuel Mello
241
GANDAREZ, Marco
242
BRANCO, Mª Isabel Linhares
245
PINTO, Paulo Jorge
246
DI NUNZIO, Sérgio
247
GUERREIRO, Isabel Mª Raposo
249
SOARES, Sérgio Bernardo Pereira
251
PIRES, Levi Manuel G. Roçadas
40
252
253
256
274
298
SILVA, Marcos H. Pinto da
AZEVEDO FONSECA, Susana Cristina M.
CABRITA, Rui Jorge Lúcio
MIRA da SILVA, Luis
VIEIRA, Sara Amaral
Em 2010
25
CARVALHO CARDOSO, José.V.J. (Honorário, Falecido)
203
SOUTO, Rodolfo Ferreira
304
DE VARENNES, Amarilis
326
SILVA, Luis Leopoldo de Sousa
336
ALEXANDRE, Patrícia Malico de Mello (Estudante)
355
RODRIGUES, Pedro
Em 2011
180
CONSTANTINO, Alfredo F.T. (Honorário, Falecido)
Em 2012
69
VIEIRA E SILVA, José Maria dos Anjos
218
TORRES, Maria Odete Pereira
273
HILÁRIO, Luís Filipe Mendes (Estudante)
302
SEQUEIRA BRAGA, Maria Amália
314
MELO E ABREU, José Paulo Mourão
338
NOGUEIRA, Clotilde da Conceição Ferreira
356
DUARTE, Amílcar Manuel Marreiros
Em 2014
347
SERAFIM, António Marcelino Palma de Borja
O Pedon - Boletim Informativo da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo tem, como principal objectivo, proporcionar aos seus sócios uma informação
actualizada e, tanto quanto possível, rápida.
Pretende-se que o Pedon seja, também, um meio de comunicação e debate
de ideias entre os sócios da SPCS. Por esse motivo, estamos igualmente
empenhados em publicar artigos de opinião, ou pontos de vista, dos
interessados, sobre assuntos que se julguem relevantes, declinando,
naturalmente, qualquer responsabilidade em relação ao seu conteúdo.
Embora terminando aqui esta fase/formato, solicita-se a todos os sócios da
SPCS, e a outros leitores do Pedon, que continuem a enviar-nos informações
que julguem de interesse, as quais passarão a ser incluídas na página da
SPCS, ou no novo formato de newsletter.
41
Sociedade
Portuguesa da
Ciência do Solo
DIRECÇÃO
Presidente: Carlos Alberto de Jesus Alexandre
Secretário: Maria da Conceição Gonçalves
Tesoureiro: Fernando Girão Monteiro
Vogal: Henrique Manuel Filipe Ribeiro
Vogal: Tiago Ramos
MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
Presidente: Manual Armando Valeriano Madeira
1º Secretário: Armindo Aires Afonso Martins
2º Secretário: Ernesto Pestana de Vasconcelos
CONSELHO FISCAL
Presidente: Maria do Carmo Horta
Relator: Amélia Castelo Branco
Vogal: Luís Lopes dos Reis
EDITORES DO PEDON
Nuno Renato Cortez
Henrique Manuel Filipe Ribeiro
S.P.C.S.
Instituto Superior de Agronomia
Departamento de Recursos Naturais, Ambiente e Território
Tapada da Ajuda
1349-017 Lisboa
Direcção: 21 365 3270, [email protected]
Tesoureiro: 21 365 3268, [email protected]
Editores do Pedon: 21 365 3293, [email protected]
42
Ficha de inscrição de sócio na SPCS
(esta ficha pode ser fotocopiada ou recortada e enviada para a SPCS)
À Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo
Nome
(1)
:___________________________________________________
Títulos académicos e profissionais:______________________________
Instituição onde trabalha ou estuda:_____________________________
________________________________________________________________
Morada para onde pretende ser contactado:_______________________
________________________________________________________________
Telefone: __________________
Fax: _________________________
E-mail: _________________________________________________________
Especialidade no campo das Ciências do Solo:_____________________
________________________________________________________________
Solicita admissão como sócio Colectivo / Singular(2) da Sociedade Portuguesa da
Ciência do Solo (SPCS). Assinale aqui _____ se for Estudante(3).
Data: ___/ ___/ _______
Assinatura
_________________________________________________________________
(1)
- Sublinhar os apelidos que deseja inscritos na lista de sócios
- Riscar o que não interessa
(3)
- Os sócios estudantes deverão apresentar anualmente prova dessa qualidade
Quotas mínimas, a pagar anualmente até ao dia 15 de Janeiro:
Sócio colectivo 275,00 €; sócio singular 20,00 €; sócio estudante 10,00€
___________________________________________________________________________________
(2)
Para Uso da Direcção
Admitido como sócio na reunião da Assembleia Geral realizada em

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