mecanismos de formação de pite em caldeiras de
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mecanismos de formação de pite em caldeiras de
23º Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore Rio de Janeiro, 25 a 29 de Outubro de 2010 MECANISMOS DE FORMAÇÃO DE PITE EM CALDEIRAS DE PROPULSÃO NAVAL DE MÉDIA PRESSÃO. Mauricio Sanches Garcia Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro Resumo: Analisando os equipamentos utilizados em processos industriais, as caldeiras são, sem dúvida, de importância estratégica para o desempenho desejado da instalação. Dada esta importância das caldeiras para a operação das industrias que necessitam de vapor, deve se evitar as causas de suas falhas. Dentre todas as falhas que podem ocorrer nos geradores de vapor, os processos corrosivos figuram entre as principais causas de indisponibilidade deste tipo de equipamento, pela exigência da qualidade da água de alimentação e do meio ambiente em que trabalha. Estes parâmetros são ainda mais relevantes quando as caldeiras são de propulsão naval. Este trabalho apresenta os mecanismos que originam um tipo bastante comum de corrosão encontrada em caldeiras e em vários componentes do sistema de vapor, conhecida por Pite ou Corrosão Puntiforme. Inicialmente, através da equação de Nernst e do Diagrama de Pourbaix são apresentadas as influências do potencial elétrico e da alcalinidade da água na corrosão do ferro. Posteriormente serão explicados o mecanismo da corrosão eletroquímica e a análise morfológica, comparando diferentes agentes corrosivos, como o oxigênio e o cloreto. Finalmente, a teoria apresentada será aplicada em estudo de caso de avaria em tubo de caldeira de propulsão naval de média pressão (600 psi), com superaquecedor. 1 – Introdução O aumento do nível da concorrência presente no ambiente empresarial e a busca por excelência têm alavancado inúmeras transformações no sistema de produção. O uso de novas tecnologias busca fornecer ferramentas de análise e controle de ativos industriais. Neste contexto de mundo globalizado e de crescente incentivo à competitividade, a qualidade se estabeleceu como pré-requisito para a sobrevivência das empresas. Alguns autores observam que um desempenho eficaz e efetivo de todos os processos produtivos depende de sistemas confiáveis que operem no seu melhor nível projetado. As falhas além de tornar indisponíveis os equipamentos, representam custos elevados de manutenção e de parada da planta, bem como comprometem de forma significativa a imagem das empresas. Analisando os equipamentos utilizados em processos industriais, as caldeiras são, sem dúvida, de importância estratégica para o desempenho desejado da instalação. Dada esta importância das caldeiras para a operação das industrias que necessitam de vapor, deve se evitar as causas de suas falhas. Dentre todas as falhas que podem ocorrer nos geradores de vapor, os processos corrosivos figuram entre as principais causas de indisponibilidade deste tipo de equipamento, pela exigência da qualidade da água de alimentação e do meio ambiente em que trabalha. Esta contribuição apresenta os mecanismos que originam um tipo bastante comum de corrosão encontrada em caldeiras e em vários componentes do sistema de vapor, conhecida por Pite ou Corrosão Puntiforme. Inicialmente, através da equação de Nernst e do Diagrama de Pourbaix é apresentada a influência do potencial elétrico e da alcalinidade da água na corrosão do ferro. 1 Posteriormente serão explicados o mecanismo da corrosão eletroquímica e a análise morfológica, comparando diferentes agentes corrosivos, como o oxigênio e o cloreto. Finalmente, a teoria apresentada será aplicada em estudo de caso de avaria em tubo de caldeira aquatubular de média pressão, com superaquecedor. 2 – Mecanismos de Corrosão A ferrugem é o oxido de ferro hidratado, que apresenta a seguinte formulação: Fe2 O3 + H2 O (1) Em termos técnicos, a oxidação é entendida como o ganho de oxigênio por uma substância. E a redução é a retirada do oxigênio de uma substância. Caso estes fenômenos sejam analisados em termos de movimentação de elétrons, observa-se o seguinte potencial iônico dos materiais, em termos de elétrons: + Fe → Fe² + 2e (oxidação do ferro, há perda de elétrons) Cl2 + 2e → 2Cl¯ (redução de cloro, há ganho de elétrons) Caso o ferro atue em meio ácido, tem-se a seguinte equação de oxi-redução: + Fe + 2H → Fe² + H2¯ Uma maneira simples de verificar a influência do potencial iônico e do pH do meio na corrosão do ferro é através do Diagrama de Pourbaix. Neste diagrama é possível prever as condições onde se terá corrosão, imunidade ou passivação do ferro. Os gráficos foram levantados para a temperatura de 25º C e sob a pressão de uma atmosfera entre o ferro e a água. No diagrama de Pourbaix, os parâmetros de potencial de eletrodo são representados para os vários equilíbrios, em relação ao potencial de eletrodo padrão de hidrogênio (EH) e pH em coordenadas cartesianas, tendo EH como ordenada e pH como abscissa. A Figura 1, representa esquematicamente equilíbrio eletroquímico e pH relativo ao ferro em presença de solução aquosa. Figura 1 – Diagrama de equilíbrio eletroquímico e pH relativo ao Fe em presença de solução aquosa. As reações que só dependem do pH são representadas por um conjunto de retas paralelas ao eixo das ordenadas. Já as reações que só dependem do potencial (EH) são representadas por um conjunto de paralelas do eixo das abscissas. E as reações que dependem do pH e do potencial são representadas por um conjunto de retas inclinadas. Deve se ter em mente que as equações destas retas decorrem da aplicação da equação de Nernst às reações em questão. Com a utilização da equação de Nernst é possível determinar potenciais diferentes do potencial padrão em função da concentração. A equação de Nernst é dada por: E =E°- RT. Ln a(est.Red.) nF a(est. Oxid) Onde: (2) E – Potencial observado em Volts (V). 0 E – Potencial padrão. R – Constante dos gases perfeitos (R = 8,314 -1 -1 JK mol ) T – Temperatura em graus Kelvin (T = 298 K (25ºc)) F – Constante de Faraday – (F =96.500 Coulombs) n – Número de elétrons envolvidos (recebidos ou cedidos) a (est. Red) – Atividade do estado reduzido da espécie; a (est. Oxid) – Atividade do estado oxidado da espécie; Podemos ainda transformar o logaritmo neperiano em logaritmo decimal, introduzindo o fator 2,303. 2 Logo a equação (2) pode ser escrita como: 0 E = E - 8,314 . 298 * 2,303 log a(est. Red) n . 96500 a(est. Oxid) 0 E =E - 0,0591 * log a(est. Red) n a(est. Oxid) (3) Nesta equação verifica-se que a concentração de determinado metal influencia no potencial iônico da solução. No diagrama de Pourbaix estão representados graficamente os vários equilíbrios químicos e eletroquímicos que podem existir entre o metal e água. O diagrama da Figura 1 define regiões onde o ferro está dissolvido principalmente sob a 2+ +3 forma de íons (Fe , Fe ) e regiões onde o metal é estável sob a forma de uma fase sólida. Observa-se que quando há somente íons + H em solução (não há substâncias gasosas ou substâncias dissolvidas), a família de retas paralelas inclinadas em relação ao eixo das abscissas tem coeficiente angular igual à – 0,0591 V/pH. O diagrama de Pourbaix tem como limitação, o fato de não poder ser usado para prever a velocidade de reações de corrosão, pois representam condições de equilíbrio. As duas linhas paralelas a e b de inclinação igual à – 0,0591 V/pH representam as condições de equilíbrio das reações eletroquímicas, conforme abaixo. Abaixo da linha a correspondente à pressão de uma atmosfera, a água tende a se decompor por redução gerando H2. + 2H + 2e → H2 ou 2H2O + 2e → H2 + 2OH linha a Acima da linha b a água tende a se decompor por oxidação gerando O2. + 2H2O → O2 + 4H + 4e Entre as linhas a e b é o domínio da estabilidade termodinâmica da água. As linhas tracejadas 1’, 2’, 3’, 4’ representam os limites de predominância relativa dos corpos dissolvidos. Por exemplo à linha 4’ representa as condições de igualdade 2+ 3+ de atividade das espécies Fe e Fe na reação. Fe 3+ + e ↔ Fe 2+ 2+ Abaixo da linha 4’ o íon ferroso Fe predomina 3+ e acima desta, os íons férricos Fe são predominantes. As linhas 13 e 17 separam o domínio de estabilidade relativa dos corpos sólidos considerados Fe, Fe3O 4 e Fe2 O3. E as linhas 20, 23, 26 e 28 representam as condições de equilíbrio entre corpos sólidos e corpos dissolvidos para concentrações (log (M) = 0, 2, -4 e –6) e são chamados de linhas de solubilidade de composto considerado. O diagrama potencial-pH, figura 1, define regiões onde o ferro está dissolvido, 3+ principalmente sob a forma de íons (Fe , 2+ Fe e HFeO2 ) e regiões onde o metal é estável sob a forma de uma fase sólida tal como o metal puro. Se o pH e o potencial de eletrodo na interface metal/solução são tais que 2+ correspondem à região onde os íons Fe são estáveis, o ferro se dissolverá até que a solução atinja a concentração de equilíbrio indicada pelo diagrama. Esta dissolução é a corrosão do metal. Na região inferior do diagrama o metal é estável, imune à corrosão. As seguintes conclusões podem ser apreendidas sobre o comportamento do ferro em soluções aquosas isentas de oxigênio: 1-O ferro tem um potencial de elemento que se situa abaixo da linha a, o que implica na possibilidade de desprendimento de hidrogênio. 2-Em pH ácido e a pH fortemente alcalinos, o + ferro se corrói com a redução de H . 3-A pH compreendido entre 9,5 e 12,5, aproximadamente, o ferro tende a transformarse em Fe3O4 com desprendimento de hidrogênio. Neste caso há proteção por passivação, proteção anodica. O metal será recoberto por um filme de óxido estável (Fe3O4 ou Fe2O3). Segundo o potencial e o pH está passivação poderá ser perfeita ou imperfeita. Será imperfeita caso ocorra corrosão nos pontos fracos do filme passivador. Esta proteção pode ser perigosa em meios contendo íons agressivos como Cl , pois a corrosão generalizada é mais fácil de controle e de diagnóstico do que a corrosão localizada, causada pelo cloreto. 4-A proteção catódica do ferro por corrente impressa ou anodo de sacrifício, corresponde no diagrama, a abaixar o potencial do metal para um valor dentro do domínio de imunidade do ferro. Basta manter o potencial da estrutura 3 abaixo das linhas 23, 13 ou 24 do diagrama, segundo o pH do meio. Podemos simplificar o diagrama de Pourbaix, apresentando a regiões de corrosão, imunidade e passividade, detalhadas nas conclusões através da figura 2, prevista para um metal puro imerso em água pura. Figura 4 - Corrosão alveolar generalizada em tubo de aço carbono . Figura 5 – Corrosão por pite em tubo de aço inoxidável AISI 304. Figura 2 – Diagrama de Pourbaix simplificado 3 – Formas de corrosão Este trabalho procura explicar o mecanismo de um tipo especifico de corrosão, chamada de corrosão por Pite, ou “Pitting Corrosion” (Inglês), ou “Picadura” (Espanhol) ou “Piqûre” (Francês). As formas de corrosão podem ser apresentadas em função da aparência do ataque e das diferentes causas e seus mecanismos. A característica pela morfologia auxilia no esclarecimento do mecanismo e na aplicação de medidas de proteção. A corrosão alveolar se processa na superfície metálica produzindo sulcos ou escavações semelhantes a alvéolos, conforme ilustrado nas Figuras 3 e 4, apresentando fundo arredondado e profundidade geralmente menor que o seu diâmetro. Já os Pites ou corrosão puntiforme, a corrosão se processa em pontos ou em pequenas áreas localizadas na superfície metálica, sob a forma de cavidades que apresentam o fundo em forma angulosa e profundidade geralmente maior do que o seu diâmetro, conforme Figura 5. Alguns autores, como SHREIR (1978). utilizam os termos: “pites arredondados” e “pites angulares” ou puntiformes, não citando a corrosão alveolar e a corrosão em placas. Pois alguns processos corrosivos podem ser difíceis de caracterizar a morfologia da cavidade, se estão sob a forma de placas alvéolos ou pites. O mais importante é a determinação das dimensões dessas cavidades, a fim de se verificar a extensão do processo corrosivo. Para pites considera-se: • O número de pites por unidade de área. • O diâmetro. • A profundidade Existe uma metodologia para avaliação de pites que consiste em seccionar o pite selecionado, polir e medir a profundidade, ou com auxilio de micrometro ou com auxilio de microscópio. Usualmente procura-se medir o pite de maior profundidade ou é tirado o valor médio de 5 pites com maiores profundidades. À relação entre o valor do pite de maior profundidade (Pmp) e o valor médio (Pm) dos 5 pites dá-se o nome de fator de pite (Fpite). Quando mais este fator aproxima-se de 1(um) haverá maior incidência de pite com profundidade próximas. Fpite = Pmp Pm (4) Pode se verificar as várias formas de pites segundo a American Society for Testing and Materials (ASTM), na figura 6. Figura 3 - Corrosão alveolar em tubo de aço carbono. 4 Figura 6 – Forma de pites segundo a ASTM. Conforme o procedimento descrito pode-se medir a profundidade do pite com auxilio de microscópio. Em caso de tubos em caldeira ativa, a utilização de endoscopia industrial com cabeçote ultra-sônico, possibilita esta análise sem o corte do tubo. Figura 7 – Profundidade do pite medida com microscópio 4 – Mecanismo Eletroquímico A corrosão que ocorre em caldeiras é predominantemente eletroquímica. Neste tipo os elétrons são cedidos em determinadas regiões e recebidos em outras, conforme uma pilha de corrosão. Neste processo podem-se verificar três etapas principais: 1) O processo anódico que seria a passagem dos íons para a solução. 2) O deslocamento dos elétrons e íons. Aqui ocorre a transferência dos elétrons das regiões anódica para as catódicas pelo circuito metálico e difusão de ânions e cátions na solução. 3) Processo catódico – recepção de elétrons, na área catódica pelos íons ou moléculas existentes na solução. Os processos anódicos e catódicos são rigorosamente equivalentes: a passagem de um cátion para o anólito (solução entorno do anodo) é acompanhada de uma descarga simultânea de um cátion no católito (solução em torno do catodo). Esse fenômeno não produz acumulo de eletricidade . A intensidade do processo de corrosão pode ser avaliada tanto pelo número de cargas de íons que passam à solução no anodo como pelo número de cargas de íons que se descarrega no catodo, ou ainda pelo número de elétrons que migram do anodo para o catodo . Tomando por exemplo um metal M , qualquer, as reações são: Reação anodica: oxidação do metal M. M +n M + ne (5) + Reação catódica: redução do íon H (meio ácido) + nH + ne n2H2 (6) Pela equação (6) conclui-se que a corrosão eletroquímica será tanto mais intensa quanto menor o valor de pH, ou seja, teor elevado de + H e, quanto maior a concentração de oxigênio do meio corrosivo . A ação do oxigênio é bastante interessante caso não haja oxigênio presente, a reação catódica se processa com velocidade muito pequena e, como conseqüência o processo anódico também é lento. Neste caso o hidrogênio pode ficar absorvido na superfície do catodo, polarizando a pilha com redução do processo corrosivo. Entretanto em meio aerado, tem-se o oxigênio presente, ocorrendo a sua redução e não havendo a polarização do hidrogênio, e aqui se tem à aceleração do processo corrosivo. No caso de caldeiras marítimas, os fosfatos são adicionados à caldeira para a decantação dos sais de cálcio e magnésio oriundos da água do mar na forma de lama, sendo retirada posteriormente por extrações de fundo. A lama é proveniente da reação química entre o fosfato e material em suspensão, que entra na caldeira através da água de alimentação, e as partículas sólidas produzidas pela reação química do tratamento da água com o cálcio, magnésio, e o ferro, entre outros, aglomerados na água da caldeira. Neste tipo de método, a condutividade elétrica da água da caldeira, bem como o índice de íons cloretos, são utilizados para o monitoramento do nível de contaminantes em suspensão e dissolvidos na água, estabelecendo a necessidade da realização de extrações de superfícies. 5 Tabela 1 – limites recomendados Parâmetros NAVSEA Ashland pH 0,1 – 1,0 epm ---- ----- 90 a 130 Alcalinidade parcial (ppm) 10 - 40 20 – 40 Condutividade (µmho/cm) ≤ 500 ≤ 700 Cloretos (ppm) ≤ 35.5 ≤ 40 ----- 0.01 Feed water Proprety 0-2068 Kpa (0-300psig) Ferro (ppm) 2075-3103 Kpa (301- 450 psig) 3110-4137 Kpa (451 – 600 psig) Fosfatos (ppm) Dissolved oxygen (ppm O2) Belfore < < 0.007 < 0.007 adding 0.007 chemical Oxygen scavenger Total Iron ppm Fe < 0,1 < 0,05 < 0,03 (as Fe) Total coper ppm < 0.05 < 0.025 < 0.02 Cu (as cu) Total hardness < 0.03 < 0.03 < 0.02 ppm (as Caco2) PH at 25 8.38.3-10,0 8.3-10,0 0 0 C(77 F) 10,0 Chemicals for preNS NS NS boiler system NonVolatile <1 <1 < 0.5 toc ppm (as O2) Oily matter <1 <1 < 0.5 ppm A qualidade da água da caldeira, bem como da água de alimentação da planta de geração de vapor, é primordial para a sua conservação e de todo o sistema de condensado e vapor, estando os seus limites estabelecidos por diversas normas e fabricantes de produtos químicos, conforme a Tabela 1 o quadro abaixo, para caldeiras de média pressão: O código ASME recomenda os seguintes limites para caldeiras industriais, de acordo com as pressões de trabalho. A tabela 2 apresenta estes limites. Tabela 2 – Limites recomendados pelo Código ASME 5 - Problemas de corrosão Os problemas de corrosão são resultado da ação do oxigênio e do efeito do pH, alto ou baixo em componentes metálicos e do potencial iônico do sistema, incluindo os tubos da caldeira, os tubulões de vapor e coletores, que são de aço carbono. A corrosão também pode ocorrer da alcalinidade excessiva da água da caldeira. Este ataque cáustico é mais comum de ocorrer com formação de depósitos, onde elevada concentração local de hidróxidos não permite o correto resfriamento da região, criando zonas aquecidas no interior dos tubos. O ataque corrosivo pode ocorrer tanto em regiões que precedem a caldeira, bem como em seções após a caldeira, pois ambos são construídos de aço carbono. A corrosão pode resultar na perda de metal, estas situações quando atingem mais de 50% da espessura do tubo podem levar a uma falha catastrófica. A corrosão em linhas de vapor e condensados, localizados após a caldeira, pode ocasionar vazamentos que conduzem em perda de condensado, situação que exige aumento da demanda de energia, água e produtos químicos. Além de criar uma situação insegura a tripulação. Para manter a água ácida é necessário aumentar os íons hidrogênio ou diminuir os íons hidroxila. Quando o íon magnésio, na água em alta temperatura, entra em contato com a hidroxila a solução torna-se ácida. Esta reação é dada por: ∆ Mg2 + 2HOH → Mg(OH)2↓+ 2H+ (7) O hidróxido de magnésio precipita como depósito e o íon hidrogênio, agora em excesso torna a água ácida. Este fenômeno ocorre quase que exclusivamente quando há contaminação por água do mar, devido a 6 grande quantidade de magnésio na água do mar. A acidez na água da caldeira provoca a dissolução da camada apassivadora de Fe3O4, permitindo um ataque ainda maior no metal da caldeira. 0 Fe +2H 2+ 2+ →Fe +H2 (8) Para manter a água alcalina é necessário ou aumentar os íons hidroxila ou diminuir os íons hidrogênio na água da caldeira. Quando mais íons hidroxila estão disponíveis na água da caldeira do que os necessários para reagir com o disodifosfato para formar o trisodifosfato, o excesso de hidroxila irá concentrar-se em regiões propícias a corrosão, como poros ou descontinuidades superficiais. A concentração de hidroxilas nestas regiões causa corrosão e perda de material do tubo da caldeira. As reações químicas que ocorrem são: a) Dissolução da camada protetora de magnetita: Fe3O4+4NaOH→ 2NaFeO2 +Na2FeO2 + 2HOH (9) Fe + 2NaOH → Na2FeO2 + H2 (10) Uma condição de pH excessivamente alto na água da caldeira pode ocorrer, geralmente, por dois motivos: adição, em excesso, de soda caustica (NaOH), durante o tratamento químico, ou contaminação com água não tratada. A água não tratada possui grande quantidade de bicarbonato, em comparação com a água do mar. Na caldeira o bicarbonato se dissolve de acordo com a equação (11) abaixo: ∆ HCO 3 → CO2↑ + OH + - CO2+ HOH → H2CO3 → H + HCO 3 (12) O íon hidrogênio deixa ácido o condensado. Tanto o íon hidrogênio e o íon bicarbonato entram na água da caldeira. ∆ + + H +HCO3 → H + OH +CO2 →HOH + CO2 (13) O dióxido de carbono recircula no sistema e torna o condensado ácido novamente. Este condensado ácido causa corrosão de todo sistema de condensado e alimentação e é particularmente perigoso na presença de oxigênio dissolvido. Os produtos da corrosão do sistema de condensado e alimentação são então carregados para a caldeira aonde contribuem para a formação de lama. 5.1– Oxigênio dissolvido b) Reação com o metal base: 0 o bicarbonato oriundo tanto da água do mar, como da água não tratada do cais, forma não apenas íons hidroxila, como também dióxido de carbono. O dióxido de carbono carregado com o vapor se dissolve e reage com o vapor formando hidrogênio e íons bicarbonato, conforme abaixo: (11) O íon hidroxila aumenta o pH enquanto que o dióxido de carbono, um gás, é carregado pelo vapor. A corrosão oriunda da soda caustica pode ser tão severa quanto à corrosão ácida. Chama-se de corrosão caustica, apesar da soda caustica não ser a única origem dos íons hidroxila. O principal exemplo de corrosão caustica é o pite em curvas inferiores dos tubos da cortina dágua. A contaminação por bicarbonato também causa a formação de ácidos, não na caldeira, mas no vapor. De acordo com a equação (11), A água em contato com o ar irá conter uma quantidade de oxigênio dissolvido que é dependente da pressão e da temperatura. A Tabela 3 apresenta a quantidade de oxigênio dissolvido em volume de água. Verifica-se que o oxigênio é mais facilmente dissolvido em água a baixas temperaturas. A pressão na qual a superfície liquida está submetida também influencia a solubilidade do oxigênio, que cresce com a pressão externa. Quando o oxigênio dissolvido entra na água da caldeira ele causa, inicialmente, uma corrosão localizada e o desenvolvimento de pite no metal do feixe tubular. O oxigênio (O2) dissolvido na água da caldeira irá reagir com o ferro (Fe) existente nas partes metálicas do lado da água da caldeira em pontos da superfície que funcionam como anodos. O ferro irá se dissolver e formar uma substancia chamada de hidróxido de ferro (“ferrous hydroxide”) [Fe(OH)2]. Uma quantidade de hidróxido de ferro é transformada em oxido de ferro hidratado (Fe2O3H2O). A mistura do oxido de ferro com o oxido de ferro hidratado, na reação, é desidratada formando o oxido de ferro, de coloração escura, conhecida como magnetita (Fe3O4). O oxido de ferro preto sofre uma mudança na sua composição em uma nova reação com o oxigênio, na qual resulta em um oxido de ferro de coloração avermelhada (Fe2O3). A figura 8 apresenta 7 aspectos morfológicos deste fenômeno. Como o ataque do oxigênio continua por um período de tempo, o ferro existente no metal base é dissolvido e uma crosta de oxigênio ativo é formada em vários pontos da superfície metálica. O aparecimento de diversos tubérculos na superfície do metal é característico do ataque do oxigênio ativo, figura 9. O tubérculo possui uma casca dura de coloração marrom – avermelhada. Esta casca está criando a atmosfera necessária para o surgimento de pite no metal da caldeira, figura 10 e 11. Pode ocorrer apenas um ponto de ataque isolado ou pontos de ataque espalhados por toda a superfície. Porem quando um tubérculo de oxigênio ativo se forma, a corrosão naquele ponto continua mesmo quando a causa de contaminação por oxigênio dissolvido é identificada e sanada. O ph da água da caldeira também influencia na concentração de oxigênio dissolvido da caldeira. Quando o ph da caldeira diminui além dos limites recomendados, a severidade do ataque por oxigênio dissolvido aumenta. Muito cuidado deve ser tomado com as caldeiras, que por motivos diversos, mantêm seu lado de água aberto para a atmosfera pois nesta situação estão sujeitas a corrosão, caso as superfícies estejam úmidas, ou ainda se a própria umidade do ar atmosférico na região for alta. Durante o período de hibernação das caldeiras, caso se opte pela conservação úmida, é necessário adicionar produtos sequestrantes de oxigênio na água pois, nesta situação o material continua sujeito à corrosão por oxigênio. Tabela 3 – Solubilidade do oxigênio em função da pressão e da temperatura Figura 8 – Aspecto do tubérculo Figura 9 Ataque de oxigênio dissolvido Figura 10 – Ação da corrosão - Pite Figura 11 – Pite e tubérculo A presença de oxigênio nos sistemas de vapor, condensado e água de alimentação também causa corrosão generalizada em materiais como aço, ferro, cobre, níquel e, até em ligas metálicas. Como o ciclo de vapor é considerado como um sistema fechado, salvo as drenagens e o suplemento de água, os produtos da corrosão dos componentes do sistema que compõem o ciclo de vapor são conduzidos até a caldeira, onde contribuem para a formação de depósitos como lama. Esta situação pode ser mais prejudicial quando temos condensado ácido. 5.2 – Presença do íon cloreto Devido a grande quantidade de cloretos presentes na água do mar, este elemento é usado preferencialmente como indicador de contaminação da água da caldeira pela água do mar. O cloreto é um íon agressivo que causa a dissolução da camada protetora de magnetita do metal da caldeira e inibe a sua formação. O cloreto também ataca a superfície metálica com a ocorrência de pite devido à corrosão. O íon sulfeto tende a inibir o efeito destrutivo do cloreto, quando este apresenta 8 pequenas quantidades na superfície dos tubos geradores de vapor. O cloreto é danoso a instalação por causar corrosão em componentes de aço inoxidável do sistema de propulsão. O aço inoxidável sob tensões quando sujeito ao cloreto e ao oxigênio sofre uma ruptura de seus cristais. Quando há contaminação da água da caldeira pela água do mar a concentração de cloretos aumenta. Este íon pode ser conduzido pelo vapor saturado do tubulão superior para o superaquecedor da caldeira, onde se depositará nas superfícies dos tubos. Se o superaquecedor for composto de tubos de aço inoxidável, como ocorre freqüentemente, o processo corrosivo tem inicio ocasionando a falha dos tubos. Os componentes dos sistemas da propulsão também podem ser afetados pelos íons cloreto. As figuras 12 e 13 apresentam casos de avarias em componentes do sistema de vapor, que apesar de serem feitos de materiais nobres, foram atacados. Caso o dessuperaquecedor apresente um vazamento, a água da caldeira contaminada de cloretos alcança vários sistemas do ciclo de vapor e de água. Uma vez estando o sistema contaminado é necessária uma limpeza para a remoção da contaminação. Figura 12 – Pite em palhetas de turbina a vapor Figura 14 – Pite Figura 15 – Aspecto geral da região Esta morfologia é diferente da morfologia apresentada pelo oxigênio dissolvido ou pelo íon cloreto, conforme pode ser verificado nas Figuras 14 e 15. A corrosão em caldeiras é um processo eletroquímico que pode se desenvolver nos mais diferentes meios: ácido, neutro e básico. Caso haja no meio a presença do oxigênio, pode-se fazer uma distinção relativamente à agressividade do processo corrosivo: meio ácido aerado é o de maior gravidade e o básico não aerado o de menor gravidade. As reações são representadas a seguir, para o meio acido: Fe + 2H + 2e + Fe + 2H Figura 13 – Pite em palhetas de turbina 6 – Estudo de Caso O presente trabalho tem como objetivo identificar os mecanismos que originaram a falha de um tubo de caldeira marítima, conforme pode ser observado nas figuras 14 e 15 abaixo. 2+ Fe + 2e 2 H 2+ Fe + H2 (14) O meio ácido acelera o processo corrosivo, provocando uma corrosão do tipo uniforme. Os contaminantes principais são ácido carbônico e + sais que se hidrolisam produzindo íon H , como o cloreto de magnésio, cloreto de cálcio, sulfato de magnésio e o cloreto ferroso. • Para o meio básico aerado ou neutro: Fe 2+ Fe HOH + ½ O2 + 2e + 2e 2OH - 9 +2 Fe + 2OH 3 Fe (OH)2 - Fe (OH)2 Fe3 O4 + 2H2O + H2 • Na ausência do oxigênio em temperaturas acima de 220°C ferro é ferrodinamicamente instável, ocorrendo à reação: 3Fe + 4H2O Fe3 O4 + 4H2 Observe que o Fe3O4, chamada de magnetita apresenta colorações escuras, semelhantes à encontrada na avaria. O tubo em questão é o ASTM A 192, tubo sem costura trefilado a frio, que possui em sua composição química, o Carbono (0,18 a 0,06 %), o Manganês (0,63 a 0,27 %), Fósforo e Enxofre (máx. 0,035 %) e o Silício (max. 0,25 %). O aço carbono é um material normalmente usado em caldeiras, seu comportamento é plenamente satisfatório, mesmo sabendo que é ferro-dinamicamente instável à água, a elevadas temperaturas. A razão de bom comportamento é a formação da camada protetora de magnetita , Fe3O4, altamente protetora ao aço nas condições de operação das caldeiras. Quando por alguma circunstancia os tubos deixam de ser totalmente protegidos, a corrosão resultante toma a forma de ataque localizado do tipo pite, Figura 16. processo corrosivo. Esta característica é marcante na amostra. Tubos falhados em decorrência do processo corrosivo apresentam depósitos pesados de magnetita não protetora sobre ou junto às falhas, enquanto o aço ao lado se mantém nas condições normais de trabalho de uma caldeira. Normalmente estas falhas apresentam-se na zona mais quente da caldeira, sendo que nas caldeiras áquatubulares a parte mais atingida é o lado do tubo virado para a fornalha. 7 –Conclusões Os processos corrosivos são inerentes ao meio, que caso tenha potencial elétrico, oriundo dos sólidos em suspensão ou da alcalinidade alta ou baixa, irá causar corrosão conforme observado no diagrama de Pourbaix. A qualidade da água de alimentação da caldeira é fator determinante da confiabilidade e da manutenibilidade da instalação a vapor. A manutenção dos parâmetros recomendados, quer por normas técnicas, quer por fabricantes de tratamentos químicos é fundamental para a conservação perfeita do ciclo de vapor. Negligenciar as recomendações técnicas significa avarias sucessivas da instalação com alto custo de manutenção, indisponibilidade do bem e baixa moral do pessoal envolvido. 8 – Referências Bibliográficas Boiler Water/Feedwater Test and Treatment Manual – S9086 –GX-STM –020/CH–220; CHAUDIERES 27 EMM/MAT/EP; Boiler TECHNICIAN 3 & 2 – Navedtra 12140; Figura 16 - mostra de depósito preto de forma laminar. O produto da corrosão se acumula na forma de um depósito preto de forma laminar que é espesso se comparado com o filme protetor da magnetita. Estudando a camada protetora de magnetita pode-se afirmar que consiste em 2 partes: tomando a perlita como ponto de partida, a camada interna desse filme é compacta, de espessura uniforme, e cresce na interface aço-magnetita, por migração para o interior de íon oxigênio. Simultaneamente, os cátions de ferro migram para a parte externa e formam uma camada externa de magnetita cristalina, menos aderente. A forma laminar de magnetita, no pite ou alvéolo, é uma característica deste Boiler Chapter 221– S9086–GY–STM –010; Industrial Water Treatment Operation and Maintenance UFC 3-240-13FN; e Shipboard Water Treatment Manual – Drew Ameroid Marine. SHREIR, L.L. Vol. I – Corrosion of Metals and Alloys, Wiley-Interscience, New York, 1978. GENTIL, Vicente – Corrosão - 5ª Edição, Ed. LTC, Rio de janeiro, 2008. 10