a prática do assistente social na atualidade

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A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATUALIDADE:
A SALA DE ESPERA COMO ALTERNATIVA NOS ESPAÇOS DO PLANTÃO
JOSY RAMOS DE OLIVEIRA AMADOR
Mestre em Serviço Social pela UERJ. Professora da Universidade Veiga de Almeida (UVA) em Cabo
Frio/RJ. Assistente Social da Prefeitura Municipal de Armação dos Búzios/RJ
Resumo: O presente trabalho analisa a realidade do plantão do Serviço Social tendo como referência o
projeto ético-político profissional do Serviço Social, expresso no Código de Ética profissional, na lei que
regulamenta a profissão, bem como nas diretrizes curriculares da ABEPSS. A partir deste projeto, entendemos
o plantão como um espaço de atuação desafiante para os profissionais comprometidos com a construção de
práticas democráticas e coletivas, tais como a sala de espera. Assim, o objetivo do presente trabalho é o de
analisar teoricamente o espaço do plantão enquanto sendo propício para o desenvolvimento de alternativas de
ação, mais comprometidas com a população usuária dos serviços institucionais; buscando através das ações
cotidianas efetivar os princípios e diretrizes preconizados no Código de Ética profissional
Palavras-chave: Plantão. Projeto ético-político. Sala de espera
Abstract: The present work analyses the duty reality ethical-political project of the social work, express in
the professional ethics cód, in the law that regulates the profession, such as in the ABEPSS curricular
guidelines. Through this project, we understand the duty as a defying space of acting to the professionals
compromised with the construction of democratic and colletive pratices such as the reception room. So, the
present work aim is of analyse theorically tre duty space while being favorable to the action alternatives
denelop-being favorable to the action alternatives denelopment more eudangered to population usurer of the
works; searching though daily deeds, to carry the principles and guidelines recommended in the professional
ethics code.
Keywords: Duty. Ethical-Political Project. Reception Room
Um dos limites por nós considerado no modelo de intervenção profissional no
plantão, refere-se a uma não abordagem da totalidade dos problemas sociais apresentados
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ao Serviço Social, ou seja, individualizava-se o problema, não considerando sua dimensão
totalizante.
O Assistente Social se insere em uma realidade complexa e contraditória,
encontrando em sua prática limites para uma atuação diferenciada daquela instituída
tradicionalmente. Cabe ao Assistente Social refletir sobre este fazer burocrático, tendo
como eixo norteador o projeto político-profissional do Serviço Social, para então
vislumbrar novas alternativas profissionais.
Os grupos de sala de espera, devem objetivar romper com a rotina burocrática e
imediatista dos atendimentos no plantão; ampliando a participação dos usuários nos
programas e serviços institucionais, criando, assim, um novo espaço de atuação profissional
alternativo na rotina do plantão.
Como podemos observar, a prática do Assistente Social no plantão tem inúmeros
limites e obstáculos para um agir comprometido com os princípios e diretrizes do Código
de Ética Profissional. No entanto também traz possibilidades para uma prática inovadora e
diferenciada daquela tradicionalmente instituída no âmbito institucional. Marilda Iamamoto
(2001) ao analisar tal questão afirma que:
“(...) um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é
desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho
criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no
cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo".(2001:20)
Assim o desafio do Assistente Social nos dias de hoje é desenvolver propostas de
trabalho criativas e inovadoras, que sejam capazes de concretizar direitos sociais da
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população usuária. Dessa forma podemos dizer que nossa perspectiva de ação tinha
enquanto objetivo, a busca pela efetivação dos direitos sociais dos usuários na saúde
pública, visando a ampliação dos canais de participação no âmbito institucional.
Acreditamos que a quantidade dos atendimentos realizados no âmbito do plantão
inviabiliza um atendimento de qualidade junto aos usuários pelos Assistentes Sociais; pois
com a grande rotatividade dos usuários no plantão, o trabalho reflexivo de cunho coletivo
acaba não sendo priorizado pelos profissionais. Assim, o plantão é considerado um espaço
para atendimentos emergenciais das demandas no âmbito institucional.
Tal fato vai de encontro ao que preconiza o Código de Ética do Assistente Social em
seu 10º princípio: “Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e
com o aprimoramento intelectual na perspectiva da competência profissional.”
Acreditamos que é de fundamental importância ao profissional do Serviço Social ter
clareza dos seus direitos e deveres preconizados no Código de Ética Profissional. No
entanto só a clareza não basta para a conquista de condições dignas de trabalho. Como
ressalta o Código em seu art. 7º no que tange a relação com as instituições empregadoras:
“Constituem direitos do Assistente Social: a) dispor de condições de trabalho condignas,
seja em entidade pública ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício
profissional.”
Na busca de garantir uma prática diferenciada, cabe ao profissional desenvolver no
seu exercício profissional cotidiano, a prática da pesquisa junto à população usuária, para
melhor conhecer o perfil dos usuários do plantão bem como melhor conhecer a realidade
onde atuam; objetivando identificar os limites e possíveis alternativas ao Serviço Social nos
espaços sócio-ocupacionais.
Karel Kosik ao analisar tal questão afirma que:
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“(...) a realidade não se apresenta aos homens à primeira vista, sob o aspecto de um objeto
que cumpre intuir, analisar e compreender teoricamente (...) apresenta-se como o campo
em que se exercita a sua atividade prático-sensível, sobre cujo fundamento surgirá a
imediata intuição prática da realidade.” (1985:10)
Assim, vemos que uma análise da realidade contemporânea, identificando seus
limites mas, também, as alternativas de trabalho que procurem concretizar direitos sociais,
é uma condição fundamental para os Assistentes Sociais que buscam pela consolidação do
Projeto ético-político nos espaços do plantão. Pois como preconiza o Código de Ética
Profissional, é dever do Assistente Social nas suas relações com os usuários:
“(c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários.”
Devemos ressaltar que após a criação dos grupos de sala-de-espera com os usuários
do plantão, houve um aumento significativo da procura por programas e serviços
institucionais; o que acarretou, por conseguinte, aumento no número de vagas nos
programas institucionais, tais como: programa de aleitamento materno, da criança e do
adolescente e programa de gestantes.
Com as reflexões que eram feitas no horário do plantão, buscávamos o apontamento
de estratégias coletivas junto aos usuários e a direção da unidade, objetivando algumas
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mudanças, tais como: o aumento do número de vagas nos programas, aumento de consultas
nas especialidades médicas, aumento de medicamentos na farmácia básica, entre outros.
A falta de salas para realizar os grupos foi identificada como um dos maiores limites
para a realização trabalho. Devido a ausência de espaço físico na instituição, as reuniões
eram realizadas no pátio onde os usuários esperavam o momento da consulta médica, ou
embaixo de uma árvore que lá havia.
No início resistimos em fazer as reuniões num espaço como aquele, realizando junto
à direção várias abordagens, objetivando mostrar a importância de um trabalho como
aquele. Mirian Veras Baptista (1995) traz uma importante contribuição a nossa reflexão
quando afirma que:
“O problema da rotina não está portanto nela própria – ela é algo necessário – mas no
fato de ela ser imposta como um fim, em detrimento do real enfrentamento das questões e
do processo de criação e renovação de conhecimentos e práticas.” (1995:118)
Atualmente muitos profissionais vêem o trabalho cotidiano como um grande
obstáculo que lhes impede a um exercício profissional comprometido com o projeto éticopolítico. No entanto cabe ao Assistente Social, sem a pretensão de uma postura messiânica,
racionalizar esse fazer burocrático e pontual, vislumbrando alternativas de ação coletivas
para o cotidiano da instituição onde se insere.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ASSISTENTE SOCIAL: ética e direitos – coletânea de leis e resoluções, CRESS, 7ª Região/RJ, junho/2006.
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KOSIK, Karel. O mundo da pseudoconcreticidade. In: Dialética do concreto. ed. Paz e Terra, 3ª ed. 1985.
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agosto de 1950.
Recebido: 04/05/2009
Aceito: 12/08/2009
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