a contribuição da arte com seu significado - NUPEA
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a contribuição da arte com seu significado - NUPEA
A CONTRIBUIÇÃO DA ARTE COM SEU SIGNIFICADO HISTÓRICO, SOCIAL E CULTURAL NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PEDAGOGO Valmir da Silva Autor - Acadêmico curso Pedagogia da UFSM/RS [email protected] RESUMO Este trabalho pesquisa qualitativa propõe investigar o significado e a relevância da arte na formação profissional, na reflexão e nas práticas pedagógicas do professor pedagogo. Pois, durante minha graduação no Curso de Licenciatura em Pedagogia, percebi como a arte é rica em conteúdos e conhecimentos. Descobri que o artista que constrói as diversas formas que vemos quando olhamos, incita nossa imaginação, constituindo assim, um encontro com a arte que poderá mudar significativamente o modo de ver e perceber o mundo e as coisas a nossa volta. Acredito que a arte faz pensar sobre fatos e acontecimentos, que nos envolvem e mudam muitas vezes, o rumo da nossa história. Neste trabalho, apresentarei algumas reflexões existentes no mundo da arte para que o educador possa pensar em sua prática pedagógica, desenvolvendo com os sujeitos, características sensíveis potencilizadoras as mudanças culturais, sociais e principalmente aos valores éticos e estéticos em nossa sociedade. Para justificar alguns pensamentos teóricos utilizei autores como, Adorno (1995ª), Gonçalves (2004), PCN (1995), buscando reconstruir assim, o universo educativo da arte enquanto produtora de cultura e saber num olhar reflexivo formador da autenticidade, do entendimento educacional. Nesse sentido, acredito na força inovadora da interpretação de conceito e valores éticos e estéticos, possibilitando uma ação pedagógica que vise à transformação social educativa dentro de uma perspectiva formativa e emancipatória tanto do professor quanto do aluno. A CONTRIBUIÇÃO DA ARTE COM SEU SIGNIFICADO HISTÓRICO, SOCIAL E CULTURAL NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PEDAGOGO O professor e a arte: uma relação “par” no processo de formação “A arte é que liberta o homem das amarras do sistema e o coloca como um ser auto-crítico, autônomo e consequentemente, humano” (Adorno, 1995ª). Como acontece hoje o ensino de arte no contexto das escolas? Penso que esta é uma questão difícil de responder. Vai depender da concepção de arte que cada educador tem e do contexto em que está atuando. Foi pensando nisso, que resolvi escrever este artigo para problematizar esta questão. Creio que não podemos mais considerar o ensino de arte como objeto de autoexpressão, cujo papel do professores resume-se a simplificar o contato espontâneo do aluno com materiais expressivos e aplicações de técnicas produtivas e reprodutivas. Ensinar e aprender arte pressupõe um intenso diálogo do professor e do aluno, com o objeto reconhecido como produto da cultura. Neste sentido, a problemática inicial no desenvolver dos conhecimentos a partir da obra de arte, reside, por um lado, na constatação da situação de precariedade conceitual e metodológica de grande parte dos professores tanto da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio quando colocados na condição de responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem da arte. Por outro lado, bem se sabe que a carência de programas de capacitação continuada em arte para professores específicos, assim como, aos especialistas com formação particular em arte, desfavorece e desqualifica o desenvolvimento de conteúdos de arte assim como, as bases teóricas e metodológicas do ensino da arte no espaço escolar. Mas não se pode ignorar a mudança de paradigma no ensino de arte que está evidenciada e amparada nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de arte. Ela é concebida como objeto de conhecimento que guarda as suas particularidades e similaridades com as outras áreas, tendo em comum com a ciência o fato de resultar da “ação criadora do homem” na busca de atender à sua necessidade de significação da vida, juntamente com “as relações sociais, políticas e econômicas, sistemas filosóficos e éticos, que formam o conjunto das manifestações simbólicas da humanidade” (PCN, 1997, p. 16). Neste sentido, a emancipação do professor e a transformação do ensino da arte, passam a fazer parte de um projeto mais amplo de desenvolvimento e formação do ser humano. Pois a partir de sua prática pessoal, o professor tem a possibilidade de exercitar sua autonomia, criatividade e criticidade, apontando assim, novos horizontes frente às possibilidades de transformação. 2 Além disso, penso que o educador precisa ser consciente que vivenciamos um momento histórico no qual se acredita que o ser humano, está perdendo a ilusão ou a esperança que a liberdade possa ser alcançada e reconhecida no fundamento mútuo e na aceitação do outro. Neste sentido, acredito que a arte pode se revelar como instância primeira de contato com a totalidade de uma sociedade cada vez mais seduzida pela tecnologia, pela cópia e pelos valores financeiros. Os artistas que compõem o meu trabalho de pesquisa procuram de certa forma, a partir de suas obras, reconstruir essa totalidade interferindo no espaço cotidiano dos sujeitos, mostrando que o processo de libertação está no próprio indivíduo. Bogomir Ecker com a instalação de orelhas vermelhas nas árvores do parque, chama o público que por ali passa, a refletir sobre muitas questões, como, por exemplo, a comunicação, as relações pessoais e interpessoais do sujeito com o outro e com a natureza etc. Diante disso, como o professor poderia trabalhar estas manifestações artísticas em sala de aula interpretando e dando significados a partir do cotidiano de seus alunos? Na condição de educador, defendo assim como Adorno, que a arte deve constituir a base da formação do sujeito. Penso que trabalhar os aspectos humanos da formação docente relativos à interioridade e a subjetividade do ser humano, pode contribuir significativamente para romper com métodos tradicionais de ensino, pois, a ressignificação do espaço escolar em sintonia com o tempo criativo e com a escuta sensível, pode transpor a dimensão temporal e construir o desenho de formação do aluno e do professor. Colocando-os frente à interioridade do simbólico através do pedagógico e do resgate da história de vida de cada um. Segundo Severino (2002), os diferentes olhares para a formação docente, apresentados no seu livro, “Formação Docente: Rupturas e Possibilidades” indicam uma nova formação que vai além da teórico-disciplinar, uma formação que compreende a interioridade humana, a história pessoal seja ela numa dimensão simbólica, temporal ou tecnológica. Assim, o cotidiano da escola desde o Ensino Fundamental até a Universidade caracteriza-se como cenário de inúmeras pesquisas, proporciona importantes reflexões para quem pretende estudar a formação docente nas diversas áreas. A partir deste trabalho de pesquisa, e de algumas reflexões, acredito e vejo muitas possibilidades do educador juntamente com a escola, contribuírem significativamente através da arte, no seu processo de formação docente e com o desenvolvimento das potencialidades do educando. A Linguagem da arte 3 Na concepção de Paviani, a arte é mais que uma linguagem, é a forma originária da linguagem, nela nasce a linguagem. Ela funda aquilo que permanece porque diz o essencial. Por isso, não é difícil constatar que ela corresponde a uma necessidade natural. Enquanto linguagem e conhecimento, a arte é um modo de criar, organizar e reorganizar a realidade cotidiana. Se as vezes, ela dá a impressão de perturbação a ordem, é porque está reordenando as coisas, as relações, as instituições. Segundo ele, “a arte também pode se limitar a reproduzir literalmente a realidade trivial e imediata do cotidiano”, (2003 p. 21), Introduz-se nela modificações, com o objetivo de proporcionar novas experiências sensíveis e perceptivas. No interior do objeto, por exemplo, pode-se oferecer uma variedade de detalhes: sinais luminosos, sinais móveis, etc. O espectador pode mesmo ingressar no interior do objeto e, através de movimentos manuais...experimentar novas sensações, novas experiências estéticas...Com a superação da categoria de obra tradicional, procura-se intervir na realidade, modificando-a, formando uma nova consciência crítica, tornando-a objeto de reflexão e de uma nova sensibilidade. Os fenômenos do mundo circundante passam a existir (...) (PAVIANI 2003 p. 21 – 22). Nesse sentido, a arte rompe barreiras do tempo, do espaço e das culturas em direção a novos horizontes, a novas experiências e sensações. Faz dos objetos verdadeiras representações do cotidiano e da vida da sociedade. No contemporâneo, ela surge com muita força e estilos. Dentro desta perspectiva de transformação da arte, existem na Alemanha, exemplos muito importantes de artistas os quais pesquisei especialmente para orientar meu trabalho. Eles são considerados representantes de uma nova geração de escultores alemães que influenciaram o resto do mundo. Com certeza, devido a influência destes artistas dos anos cinqüenta, o período dos anos noventa, até o presente, está caracterizado pela linguagem formal, ironia e refinamentos versáteis, criando repertório com esculturas espaciais, instalações etc. Entre os artistas aclamados internacionalmente e representados na Documenta de Kassel1, estão alguns protagonistas dessa caminhada na história da arte da escultura na Alemanha. São alguns deles: Bogomir Ecker, Stephan Balkenhol, Franka Hörnschemeyer e Rolf Bergmeier. Além de representarem uma nova geração de artistas na Alemanha a partir da década de 50, interpretam uma forma de arte absolutamente individual e sem alterações, seus trabalhos são de grande notoriedade no mundo. Além de inspirarem e influenciarem artistas com seus estilos, provocam a imaginação e revelam as diversas faces do cotidiano, envolvendo o público num profundo questionamento e espanto. Foi pela relevância e grandeza dos artistas que escolhi suas respectivas obras, pois, cada um deles, a partir da 1 A maior exposição de arte contemporânea do mundo que surgiu nas ruínas do Museu Fridericianum, em Kassel, o primeiro projeto arquitetônico de museu público construído na Europa, em 1779, e parcialmente destruído nos bombardeios de novembro de 1944. Em meio à cidade destruída pela guerra, era grande a fome de arte, quando o artista Arnold Bode fundou a "Documenta", em 1955. 4 escultura, da instalação e da intervenção desenvolveram trabalhos ímpares, porém, a linguagem de cada obra converge em um ponto comum, a realidade cotidiana da sociedade. As obras em meio a esta realidade desafiam cada indivíduo, a descobrir o significado que cada uma delas possa representar para sua vida. Bogomir Ecker (1950) criou e instalou orelhas vermelhas nas 14 árvores no Jenisch Park em Hamburgo na Alemanha, foi para sua conveniência, uma encenação poética. Um desafio na busca de sentido para cada sujeito que por ali passasse e interagisse. O artista pode estar neste momento instigando o indivíduo a refletir sobre a sua condição humana de escutar de se relacionar com o outro e com a natureza. Bogomir Ecker criou inúmeras esculturas e instalações que manifestam o seu fascínio com os fenômenos de comunicação e da tecnologia. Dessa forma, o artista confronta formas simples remanescentes de peças e objetos quotidianos com formas naturais. Ecker mostra objetos, intervenções, aparelhos e protótipos, um verdadeiro arsenal de máquinas e outros implementos como meios de comunicação. De certa forma, todos ligados ao cotidiano social. Figura 02 (Bogomir Ecker, 1950) Stephan Balkenhol (1938) pertence a um dos renomados grupos representantes da escultura figurativa na Alemanha. Quando Balkenhol esculpiu as figuras em madeira de carvalho de mais de 2m de altura e as pintou, ele criou manifestações de “calma estóica”2 Segundo o artista, as suas esculturas não contam histórias. Nelas há algo secreto. Não competindo a ele 2 Filosofia do estoicismo que suportavam as adversidades com calma e dignidade. 5 revelá-lo, mas ao espectador descobri-lo. Que segredos guardam estas figuras? E qual a relação delas com o cotidiano de cada indivíduo na sociedade contemporânea? Qual o significado da relação desproporcional da obra com o sujeito? São questões inquietantes que proporcionam um momento de estranhamento e reflexão. Será que as desproporcionalidades destas obras podem fazer o espectador refletir sobre possíveis situações sociais em que cada indivíduo se coloca em relação ao outro? Figura 03 - 04 (Stephan Balkenhol, 1938) Franka Hörnschemeyer (1958) projetou uma intervenção espacial para o Parlamento Alemão em Berlim que podia ser vista no pátio norte da Paul-Löbe-Haus. O resultado é um complexo entrelaçamento de cercas de metal formando um labirinto. Para o observado, este trabalho abre inúmeras perspectivas num espectro linear de formas. Uma escultura espacial com cinco aberturas instigando a idéia de labirinto inesperado e ao mesmo tempo de proteção. A obra se contrasta com as áreas públicas na qual está instalada, que pode representar segurança, mas que também podem ser ameaçadoras. As estruturas da rede que criam espaços leves e transparentes abrem muitas possibilidades de pontos de vista, de modo que, qualquer um que entrar no labirinto, não terá a impressão de estar num grande espaço confinado. Mais um artista que nos faz refletir sobre nossa relação com os espaços que ocupamos e seus significados em nossa vida. 6 Figura 05 - 06 (Franka Hörnschemeyer, 1958) Rolf Bergmeier (1957) criou objetos de teia "óleo e madeira", que forma um cubo orgânico de ramos de árvores unidos e pintados a óleo, desenvolvem uma própria dinâmica que tornou criações naturais autônomas de uma leveza sacral. A atualidade dos trabalhos de Rolf Bergmeier explica a aceitação da sua arte. Ele trabalha com material natural sob a forma de cubos. Desta forma mostra um emocionante e respeitoso diálogo com o espaço e a natureza. Suas obras provocam no ser humano, idéias de espaço e unidade. O artista consegue, de certa forma, uma considerável atenção dos indivíduos estimulando-os a formação de conceitos e representações. Nesse sentido, que relação pode se fazer da obra de Rolf com o espaço, a natureza e o homem? Figura 07 – 08 (Rolf Bergmeier, 1957) Compreender a multiplicidade, as significações e as manifestações culturais da arte como elementos fundamentais para o exercício da tolerância, da humanização e da criticidade, é, do 7 ponto de vista pedagógico, um dever de todo educador. Pois o processo de desenvolvimento humano acontece pelas vidas que se entrelaçam com as experiências significativas, descobrindo nessas relações, às virtudes, os vícios, os valores e o ideal de vida do sujeito. Rolf Bergmeier, com seu trabalho de formas entrelaçada, também nos remete a esta perspectiva. A contribuição da arte com seus significados na formação do professor Segundo Paviani, há sem duvidas, uma arte do passado e uma arte do presente. Uma e outra têm relações diferentes com a realidade. A tradição ocidental oferece uma arte mais objetiva quanto ao significado do mundo externo, mais uniforme nos estilos. A arte atual perpassa pelo elemento da subjetividade, não se contenta em observar o real, ao contrário, procura decompô-lo e arranjá-lo como um novo objeto, uma outra realidade. Para ele, o homem enquanto artista realiza seu compromisso político, produzindo obras de arte autenticas, isto é, denunciadora da situação do homem no mundo. A obra engajada pressupõe o artista engajado. Não existe uma arte exclusivamente política, antes de ser política precisa ser artística. Seu caminho não pode ser da direita ou da esquerda, mas o cominho do homem concreto, do homem histórico. Seu objetivo visa o desenvolvimento da consciência individual e coletiva, mesmo quando essa expressão é predominantemente mágica, mítica ou cognitiva. Como não é possível uma arte apolítica, também é inviável uma arte que pretenda ser exclusivamente política. Ela é conseqüência, das realizações das condições materiais de produção. Se fosse possível entende-la como simples representação, estaríamos desvirtuando a natureza e os fins que lhes são próprios, estaríamos reduzindo-a a mero instrumento de manipulação. Ao contrário, sua força política não está na manipulação, mas na mobilização, isto é, na capacidade de tornar as pessoas mais livres e conscientes de seu papel social e histórico. Nesse sentido, admirar um quadro, uma escultura ou mesmo uma instalação pode ser bem mais do que um momento de prazer e reflexão, este momento pode aguçar nossa sensibilidade estética e ética levando o indivíduo a estabelecer uma abordagem auto-crítica do mundo e das coisas que o cerca. Podemos considerar a arte um acontecimento social, suplantando o belo em direção a sustentabilidade da relação existente entre a linguagem e o espectador. Para o filosofo Adorno (1995a), a arte liberta o homem das amarras do sistema e o coloca como um ser humano, crítico e emancipado. Penso que cada filósofo da arte conceberá sua própria idéia 8 de arte, e a partir dela, voltará sua reflexão filosófica, de preferência sobre aquelas que lhe parecerem mais paradigmáticas. Do mesmo modo, a criança, o adolescente, o jovem e o adulto poderão fazer esta abordagem, mas para isso ele precisa que lhe dêem a oportunidade de compreensão de conceito, assim como, experienciar o contato com a arte. É nessa perspectiva que vejo a importância da arte na formação do educador pedagogo. Segundo Gonçalves, (2004), o filósofo que solidificou o método de compreensão do conceito da arte mediante o fenômeno histórico, foi Hegel com a estética hegeliana. Para Paviani (2003), o princípio originário da arte, segundo Hegel, está no homem, e, é a consciência que ele tem de si próprio, a qual é obtida pela teoria e pela práxis, ao conhecer-se a si mesmo no desenvolvimento da natureza, que se constitui na essência das coisas, reconhecendo-se nas obras que realiza. Nesse sentido, a arte é uma manifestação distinta de outros modos, como a Política, a Moralidade, a Religião. Mais especificamente a obra de arte possui um modo de existir próprio situado entre a percepção sensível e a abstração racional. Não consome o objeto como na percepção sensível, nem procura a idéia pura em sua generalidade, como na abstração racional. A arte cria intencionalmente imagens distintas a representar idéias, isto é, mostra a verdade através de formas sensíveis. O artista manifesta-se imaginariamente. Não executa suas obras apenas guiado por regras nem só reflexivamente como o cientista. O espírito tem consciência de si mesmo e só pode representar sensivelmente a Idéia que percebe. Há, portanto, uma coexistência da Idéia e da Forma. Nisso constitui-se a essência da arte. Nessa perspectiva, Hegel analisa a forma corporal humana do deus grego da plástica clássica, revelando alguns detalhes surpreendentes em relação à Forma corporal, exatamente para provar que a arte bela não é imitação, mas sim, o que ele chama de "idealização". Por outro lado, esse perfeito realismo não é pura imitação, porque ele é constituído por meio de um processo de formação da própria idealidade ou do que Hegel denomina de idealização do sensível. As diferentes representações da arte em cada cultura e época da história da humanidade estão amalgamadas de criticidades, significados, emoções, valores culturas, etc. Na obra “O Moisés” de Claus Sluter exposta no poço de Abadias de Champmoll em Dijon na França, pode se perceber um estilo barroco que revela o gosto pelas curvas e a personificação da imagem do homem. Ao visualizá-la, da-se um sentido maior às palavras de Hegel no texto de Gonçalves., 9 “A matéria sensível do corpo do deus grego esculpido é o mármore, imediatamente a matéria mais bruta existente, a mais dura, a mais fria, a mais imediatamente distinta do corpo orgânico do homem vivo. Entretanto, o fascínio desperto por essas imagens concretas está exatamente no profundo caráter ilusionista que elas nos oferecem, ao nos possibilitarem superar a apreensão sensível imediata da pedra e imaginar, no corpo de mármore, o mesmo calor e maciez de um corpo humano”. (Apud Gonçalves 2004 p.52,53). Figura 01 (O Moisés – Claus Sluter) Século XIV Descrição poética de uma obra que personaliza a estrutura humana como ser sensível, pode-se fazer uma analogia da relação do homem com a natureza, a rudez da pedra fria com a sensibilidade do homem, ao mesmo tempo as característica de ambos se fundem numa perspectiva quase que indescritível de força e sensibilidade. Pois a rudez da pedra da formas sensíveis ao homem que por sua vez tem o poder e a força de transformar a pedra em sua imagem e semelhança, dando-lhe aspecto de sensibilidade. Que tipo de relação pode se fazer dessa obra “O Moisés” de Claus Sluter com as dos artistas alemães deste trabalho? Penso que, justamente a superação do conceito de arte. Nesse sentido, acredito que o olhar contemporâneo à arte contemporânea insere-a como objeto ambivalente, enquanto atua como estímulo à consciência, isto é, uma intencionalidade de decifrar ou formar conceitos sobre o objeto que pode vir a revelar inquietações do cotidiano, que mesmo depois de desvelado, continuará sendo realidade. E, sob outro olhar, passa a ser arte. Assim, qualquer objeto identificado com a realidade e não estruturado esteticamente pode adquirir importância estética. A arte passa a ser simplesmente a junção cultural de qualquer coisa 10 intervindo na realidade material com o objetivo de se expressar. Os artistas Bogomir Ecker, Stephan Balkenhol, Franka Hörnschemeyer e Rolf Bergmeier fazem,e muito bem essa intervenção material na realidade cotidiano da sociedade. Mas, como acontece a concretização da obra dentro de um determinado contexto histórico/social? Segundo Fedeli, (2003), para que estas obras se concretizem, o artista precisa do objeto, este pode ser achado ou escolhido. Nos dois casos, os objetos são em seguida modificados, ganhando um aspecto enigmático ou aterrorizante, podendo ainda o artista por meio do objeto, assumir uma postura crítica, complacente ou neutra em relação à sociedade. Nesta perspectiva, a arte pode ser considerada também um retrato de cada época da história humana, revelando suas tragédias, amores, conquistas, feitos, etc. A arte pode ser considerada uma forma de marco na transformação do homem, assim como, uma leitura de fatos e acontecimentos sociais e políticos da humanidade. Nesse sentido, a arte pode ser definida como estilo, expressão, filosofia, etc., por meio de símbolos, arranjos, pinturas etc. Considerações finais Para os educadores Pedagogos, e especialistas em arte fica o desafio de perceber e dar significação a arte como possibilidades de formação e transformação no contexto escolar. Pois, ela vai, e está muito além da mera reprodução em folhas de caderno e datas históricas e eventos comemorativos. A arte tem um significado muito maior no sentido de conceitos e transformação social. Ela pode contribuir no desenvolvimento cognitivo, social e humano da criança, do jovem e do adulto. Mas, para isso acontecer é fundamental que o educador tenha consciência dessa importância da arte como possibilidades na formação e na emancipação do sujeito. Nesse sentido, a formação do educador pedagogo assim como os demais especialistas, deveria ter como requisito básico a arte como mediadora na interpretação e reflexão da vida cotidiana do sujeito. Barbosa (2005 p. 43) nos dá subsídio para justificar a obra de arte como instrumento de formação e auxílio ao aluno na perspectiva de entender algo do lugar e tempo que a obra está situada e seu significado no contexto social. Pois, segundo a autora, nenhuma forma de arte existe no vácuo, parte do significado de seu contexto. E a estética, esclarece as bases teóricas para julgar a qualidade do que é visto, assim como a relação entre arte e conhecimento. 11 Referências Bibliográficas ADORNO,W.T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995ª. BRASIL/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. FEDELI, Orlando. In: Filosofia e Escultura na Idade Média. Visitado em 05/02/2008. Disponível em: http://www.montfort.org.br. GONÇALVES, Márcia C.F. A Morte e a Vida da Arte. KRITERION, Belo Horizonte, n° 109, Jun/2004, p. 46-56. PAVIANI, Jayme. Estética Mínima. Porto Alegre: ed. EDIPUCRS, 2003. REVERBEL, Olga. OLIVEIRA, Sandra R. Ramallo. Vamos Alfabetizar com Jogos Dramáticos? Atividades Básicas. Porto Alegre: Kuarup LTDA, 1989p. SEVERINO, Antônio Joaquim; FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Orgs.). Formação docente: rupturas e possibilidades. Campinas, SP: Papirus, 2002. 222 p. 12