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Ediçao I- Março de 2015 N°23
VISCONDATA E A UNIVERSIDADE
REPORTAGEM: A CIÊNCIA DO VESTIBULAR
O Visconde MARÇO 2014 -
SUMARIO
COLABORE VOCÊ TAMBÉM COM
EDITORIAL
USP, Crises e Rupturas
ACONTECE NA USP
VISCONDATA
CAVC FALA
CAIXA
O Álcool e a segurança na USP
A universidade
Ano novo, gestão nova
Prestação de contas CAVC
BRASIL E DAÍ
A crise de abastecimento
PAPO DE EMPREENDEDOR
Envie textos, imagens, sugestões e críticas para
[email protected].
REPORTAGEM
A ciência do vestibular e a FUVEST 2015
QUEBRANDO A ROTINA
Para saber mais, acesse:
www.ovisconde.com
Play the call: Transformar o mundo pode ser uma brincadeira
VISCONDE RECRUTA
Arte na adversidade
Olhar para a USP é olhar para a sociedade paulista
A FEA TAMBEM É
PÉROLAS
O MUNDO LÁ FORA
EXPEDIENTE - O
ESPAÇO ABERTO*
PESQUISAS ECONÔMICAS
Visconde
CONSELHO EDITORIAL
Ana Carolina Fouto
Andrei Armino Laskievic
Danilo Oliveira Imbimbo
Isabela Isper Rocha
João Pedro Fabra
Matheus Rezende Dias
Nina Amora Souza
Vítor Araújo Hallack
EDITORAÇÃO
Sobre os ataques na França
IMPRESSÃO
Uma visão concorrencial sobre o setor de petróleo no Brasil
AGENDA CULTURAL
ENRETENIMENTO
CRUZADINHA
CRÔNICA Beira-mar
SOBE E DESCE
TÚNEL DO TEMPO A experiência universitária: Um alerta aos novatos
ENVIE SUAS SUGESTÕES, TAMBÉM PARA UM DE NOSSOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS!
/OVISCONDE
- O Visconde MARÇO 2014
[email protected]
*Os textos da seção Espaço Aberto são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não refletemOa Visconde
opinião doMARÇO
Centro Acadêmico
2014 -
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EDITORIAL
EDITORIAL
USP, Crises e Rupturas
Começado o ano de 2015, inicia-se um
novo ciclo n’O Visconde. Agora sob a gestão de
nova chapa, a Desenredo, tentaremos dar nossa
contribuição para a melhoria do periódico feano.
Dentre todas as motivações que nos levaram a optar pelo tema Universidade, tendo enfoque principalmente na nossa USP, como o primeiro tema
do ano, três merecem ser destacadas. A primeira é,
sem sombra de dúvidas, o fato de contarmos com
cerca de 600 ingressantes, que ainda estão descobrindo sobre o que se trata, afinal, nossa Universidade de São Paulo. Esperamos que os textos dessa
edição tornem mais fácil a compreensão a respeito da Universidade e seus desafios.
Já a segunda motivação é a própria situação crítica pela qual passamos. Nem mesmo quem
está chegando agora ficou alheio ao momento de
4 - O Visconde MARÇO 2014
crise, tamanho o destaque dado pela mídia durante o ano passado. Assim, torna-se essencial a discussão profunda do que é a UNIVERSIDADE, seja
ela como espaço de construção de ideias e ciência,
como espaço de lazer e convivência e sua função
para com a sociedade.
Tratando-se especificamente da USP, os
dois anos anteriores - 2013 e 2014 - foram bastante turbulentos e as perspectivas também não são
alentadoras. No ano de 2013, último da Gestão
Rodas, a democratização da USP voltou a ser um
tema amplamente debatido após a deflagração de
uma greve estudantil. A paralisação teve início
após a tentativa do reitor de decidir em uma reunião do Conselho Universitário qual seria o modelo das eleições dos dirigentes. Os alunos tinham as
eleições diretas para reitor como uma das princi-
pais reivindicações, dentre algumas outras.
Pode-se dizer, ainda, que o princípio da Democracia não é um dos mais respeitados em nossa Universidade. Sua Estrutura de Poder conta com baixa
participação de alunos e funcionários para realizar
diversas decisões, desde as mais cotidianas, até as
escolhas mais estruturantes. Para além disso, a “influência” da sociedade civil através da indicação
do reitor pelo governador do estado também não
parece estar dando grandes resultados. Por fim, o
próprio ingresso na USP, tratado em nossa reportagem especial, ainda tende a favorecer grupos já
privilegiados socialmente.
Já no ano de 2014 diversas outras pautas
surgiram. Veio a público a crise financeira para
qual a Gestão Rodas nos havia conduzido de forma
acelerada e que ainda vivenciamos a duras penas na
Gestão Zago. A proposta de não reajustar salários
do então novo reitor fez com que outra greve fosse
deflagrada. Essa, porém, veio a se tornar a mais longa na História da USP com 118 dias e apoiada pelas
três entidades representativas: Adusp, Sintusp e
DCE. O final da greve ocorreu com a conquista do
reajuste por parte dos professores e funcionários.
Afora todas as greves, outra questão torna-se cada vez mais latente: o combate às opressões. A
denúncia dos casos de estupro na Medicina e a atuação dos coletivos locais possibilitou a instalação de
uma CPI na Assembleia Legislativa sobre o tema.
Dessa forma, a situação crítica da universidade é reafirmada por casos de violência e acidentes trágicos
como do garoto encontrado morto na raia.
A terceira motivação para escolha do tema
é a mesma que nos levou à ampliação de nosso Editorial e está nos próprios objetivos de nossa gestão.
Esperamos, acima de tudo, fazer com que o Centro Acadêmico seja cada vez mais enxergado como
uma entidade legítima na construção política e que
essa se aproxime da maioria dos alunos. Por isso,
apesar de conturbado, acreditamos ter sido muito
frutífero esse começo de ano com um debate entre
Sintusp, Reitoria, DCE e CAVC; um diálogo com o
reitor sobre as principais questões da Universidade
e a nota do Coletivo Histéricas com grande repercussão no grupo de Facebook FEA USP, apontando
para um espaço mais amplo de diálogo, que esperamos expandir ao longo do ano. Também buscando
tais objetivos, nos posicionaremos constantemente
enquanto gestão sobre os temas que julgarmos relevantes, esperando estimular a aproximação dos
alunos nos espaços de decisão da entidade, como
em assembleias e votações.
Por fim, conseguimos notar nesse início de
ano uma possível mudança de postura que parece
ter se iniciado em nosso ambiente. Sabemos todos
que nossa universidade é elitista e seus ambientes
são majoritariamente homofóbicos e machistas.
Por isso mesmo, discutir tais assuntos, assim como
fazer aquilo que está a nosso alcance para enfrentá-los é um primeiro passo fundamental. Nesse sentido, as discussões a respeito do Teatro dos Bixos,
com a publicação de posicionamentos dos coletivos Histéricas e FEA Society e depois da própria
AAAVC (responsável pela organização da Gincana
dos Bixos) marcam uma postura de enfrentamento
às opressões importante para nossa faculdade.
Desejamos a todos um bom começo de ano!
O Visconde MARÇO 2014 -
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ACONTECE NA USP
O ÁLCOOL E A
SEGURANÇA NA USP
2014 foi um ano conturbado para a Universidade de São Paulo. Além das costumeiras greves, outros eventos fizeram voltar as atenções da
mídia à USP. Talvez o mais impactante tenha sido
o sumiço – depois confirmado como morte por
ingestão de drogas – de Victor Hugo Marques dos
Santos, estudante do SENAC, em uma festa organizado pelo Grêmio Politécnico. Outras tragédias,
como o atropelamento de 5 pessoas, em meados
de agosto, no campus da Cidade Universitária, reforçaram a inexorável necessidade de um debate
contundente em relação à segurança na Universidade. Os principais
veículos midiáticos, como de praxe,
não hesitaram em decretar como
responsável por esses episódios a
prática de festas e a constante presença de bebidas alcoólicas no campus universitário.
A pergunta que deve ser
respondida para a aprimoramento da segurança: a presença de bebidas alcoólicas
no campus é prejudicial ou não? Para o Conselho
Gestor da USP, órgão criado em 2014, que contém
a participação de representantes de diversas unidades, essa resposta é sim. No final do ano passado
foi aprovado um documento que explicitava a proibição da venda de álcool e a realização de grandes
festas. Segundo o Conselho, “só serão autorizados
eventos festivos que tenham compatibilidade com
a vida universitária, em locais que comportem o
público esperado, que não interfiram nas atividades essenciais à universidade e reúnam, majoritariamente, pessoas da comunidade da USP”.
6 - O Visconde MARÇO 2014
A FEA, assim como diversas outras unidades, cumprirá à risca as decisões deliberadas no
Conselho Gestor. Em dezembro do ano passado, a
Comissão Técnico Administrativa (CTA) se posicionou veemente a favor da proibição e extinguiu
consumo de álcool, em festas, na Vivencia e no
Sweden. Forçados a acatar as decisões da diretoria, os alunos se vêem, no momento, sem muitas
alternativas. O Comitê Gestor já declarou que haverá pena estudantil para aqueles que organizarem
e promoverem festas que não cooptarem com as
adequações previstas.
Os estudantes, sem voz o suficiente para reinvindicações, estão
incapacitados de reverter a situação atual. Com uma imagem que
vem sendo denegrida a cada episódio problemático e com uma crise
financeira eminente, a reitoria
transfere a responsabilidade aos
alunos. Ao invés de promover o debate sobre a segurança e, junto com o corpo discente, achar soluções viáveis, prefere escamotear
o problema através de medidas autoritárias, que
nada mais são do que resoluções superficiais, voltadas a opinião externa. O show de horrores, promovido pela mídia, não pode diminuir a importância da USP na sociedade, tampouco limitar o poder
dos alunos nas deliberações. Neste ano de 2015,
com a entrada de novos alunos, será fundamental
uma maior articulação dos centros acadêmicos,
pressionando a reitoria para reconsiderar sua postura. Os estudantes não podem perder mais espaço
nas decisões sobre sua própria universidade.
O Visconde MARÇO 2014 -
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A
L
A
F
C
V
A
C
Ano Novo, Gestão Nova
Admnistrativa:
Além de ser uma grande conquista do
CAVC, a Vivência também é uma fonte de renda
alternativa para a entidade. Para mantê-la funcionando, é preciso controlar seu abastecimento,
pesquisar novos produtos, decidir preços e analisar as diferentes demandas de seus frequentadores. Como muitos sabem, a Vivência é recente
na nossa faculdade e, por isso, ainda precisa de
diversas implementações. Entre elas um aumento da área coberta, novos móveis, criação de um
depósito, entre outras coisas. Assim, trabalhamos para que nos próximos anos o projeto possa
ser concluído para a Vivência ser um espaço de
grande conforto para os alunos.
Para que tudo isso seja possível, o Centro Acadêmico está sempre correndo atrás de
novos parcerias. A Diretoria Administrativa se
responsabiliza por procurar patrocínios que não
apenas nos ajudarão a terminar as implementações da Vivência, mas que também colaborarão
com outros projetos do CAVC, com destaque
para o Resgate Histórico, livro que será publicado sobre a história do centro acadêmico feano.
Finalmente, a gestão do CAVC Idiomas
é uma das partes mais importantes do trabalho
desta diretoria. A empresa, criada em 1989, tem
como objetivo fornecer aos alunos a oportunidade de cursar novas línguas com um ensino de
qualidade e preço acessível. Además, ela tem papel essencial nos projetos do Centro Acadêmico
pois ajuda financiando os diversos eventos internos promovidos por outras diretorias.
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- O Visconde MARÇO 2014
Mobilização:
Durante a formação da Desenredo, as
discussões tocaram repetidamente na questão do
engajamento FEAno e na necessidade de se ampliar o contato com o dia a dia da política universitária. Pensando nisso, decidimos pela criação de
uma diretoria, a de Mobilização, que se encarregasse especificamente dessa tarefa. Uma das nossas frentes de atuação está na promoção de um
acúmulo amplo a partir das questões que envolvem a vivência universitária, avançando para o
âmbito da cidade e do país, através de diferentes
ciclos de debates.
Fiquem atentos pois o primeiro ciclo, que
tem como tema a Universidade, se inicia já no
começo de março! Partiremos da aparência do
problema, analisando o que salta aos olhos da sociedade através da mídia com “Greve, Porrada e
Bomba: Como fazer uma universidade pública?”,
para em seguida penetrar sua essência em “Saber
que cada um tem na USP o seu lugar: O que significa ser público e democrático?”. Em “Fechou, e
olha onde a gente chegou: Qual a história da democracia na USP?” estenderemos nossa análise
por uma perspectiva histórica.
E como não poderia faltar na FEA, “A
USP atoladinha: Financiamento da Universidade” discutirá alternativas para a atual crise financeira. Fecharemos o ciclo com “O que eu quero
é ser feliz: O que significa ser engajado na Universidade?”, trazendo representantes de diversas
correntes do Movimento Estudantil para discutir
o sentido de suas atuações para a transformação
da realidade concreta.
Sociocultural:
A Diretoria Sociocultural é responsável
por promover a integração entre os FEAnos e a
inserção em debates de assuntos de grande importância para o cidadão. Para isso foi planejado
para a semana dos bixos um pedágio solidário
junto com o FEA Social.
Já para o mês de março organizaremos o
Fórum Felipe Ramos de Paiva onde ocorrerá debate sobre segurança no campus com profissionais da área. Além deste também teremos o Sebo
CAVC para facilitar a venda de livros entre os
alunos. Na vivencia teremos sarau e happy hour
que acontecerão todo mês, assim como o Clube
de Cinema nas salas da FEA.
Para abril, alem dos eventos mensais,
também teremos a Semana da Arte com oficinas,
intervenções, exposições e muito mais.
A Diretoria Sociocultural (ou só sócio
para os íntimos) tem reuniões semanais abertas a
todos os FEAnos que quiserem participar tanto da
idealização quanto da realização dos projetos.
Eventos:
Hey guys!!! Início de semestre e eventos
já está a mil! Trouxemos logo de cara a festa de
matrícula mais inesperada, simplesmente com a
Letras e a História! Logo depois, brilhamos na tão
tradicional cervejada do Imperador marcando a
semana dos bixos e bixetes. E no meio de tantas
aulas, feriados e tudo o mais, teremos a SPRING
BREAK SUNSET! Uma festa diferente de tudo o
que a galera da FEA está acostumada!
Acadêmica:
A Desenredo traz uma novidade substancial em relação à gestão anterior Síntese no
que diz respeito à diretoria voltada aos assuntos
acadêmicos da FEA. No lugar da Diretoria de Graduação, trazemos para o CAVC a Diretoria Acadêmica, que tem a missão de manter o trabalho
referente à graduação, mas também ampliar suas
fronteiras de atuação. É função da diretoria zelar
pelo manutenção da qualidade dos cursos da FEA
e aprimorar a experiência acadêmica dos alunos,
com monitorias, grupos de estudo, banco de textos e provas, além de todo tipo de evento que possa complementar a formação recebida em sala de
aula.
Será tarefa também da Diretoria Acadêmica fazer a ligação entre os estudantes e a Direção
da faculdade, através da articulação de Fóruns de
Representantes Discentes e Reuniões periódicas
com os Representantes de Classe.
A diretoria pretende também familiarizar o feano com o universo das pesquisa acadêmicas, através de workshops para pesquisas de
Iniciação Científica e workshops com alunos de
pós-graduação da FEA.
E, por fim, tomaremos como missão a
promoção e divulgação dos encontros nacionais de
estudantes da áreas correspondentes aos cursos da
FEA, como o ENECO, ENEAD, ENECIC e ENEAT.
FEAnos e FEAnas, fiquem atentos à divulgação dos nossos eventos, pois eles começam
já em Março.
Visconde:
A diretoria do Visconde começa o ano
com o espírito e energias renovadas, iniciando
com o tema UNIVERSIDADE, pauta de muitas
discussões midiáticas no ano de 2014, principalmente de nossa Universidade, a USP. Já na próxima edição abordaremos a CIDADE DE SÃO
PAULO, assunto que envolve a todos no sentido
mais amplo. Sendo assim contamos com a ajuda
de todos, mandem textos, crônicas, artes e etc.
Quanto mais conjunta e diversa, a construção se
torna mais rica e interessante!!
O Visconde MARÇO 2014 -
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- O Visconde MARÇO 2014
O Visconde MARÇO 2014 -
R$ 55.194,90
R$ 4.525,82
R$ 4.399,82
R$ 126,00
R$ R$ R$ 34.018,55
Outros...................................................................................................R$ 12.101,10
Dívidas com outras entidades......................................................R$ 240,00
Locação de armários........................................................................R$ 425,00
Entradas de Eventos.........................................................................R$ 7.179,00
Vendas Vivência.................................................................................R$ 4.257,10
Sub Total - Entradas ......................................................R$ 56.232,38
R$ 20.963,14
R$ R$ R$ 20.000,00
R$ 963,14
R$ 306,50
R$ 306,50
R$ R$ R$ R$ R$23.621,54
R$ 23.496,00
R$ 40,00
R$ R$ 85,84
R$ R$ -
R$ 45.267,58
R$ 11.249,03
Repasses............................................................................................. R$ 29.160,92
Repasse entidade estudantil.........................................................R$ Repasse AAAVC..................................................................................R$ Intermédio para entidade estudantil.........................................R$ 22.160,92
Devolução para o CAVC Idiomas.................................................R$ 7.000,00
Diretorias.............................................................................................R$ 6.668,00
Eventos..................................................................................................R$ 6.668,00
Administrativa....................................................................................R$ Acadêmica...........................................................................................R$ Sociocultural........................................................................................R$ Mobilização..........................................................................................R$ Outros...................................................................................................R$2.949,10
Projeto Resgate Histórico................................................................R$ Devolução de locação de armário.............................................. R$ 360,00
Multa sobre dívida trabalhista......................................................R$ 2.500,00
Tarifas e Impostos Bancários ........................................................ R$ 89,10
Amortizações de dívidas.................................................................R$ Erros e Omissões................................................................................R$ -
Sub Total - Saídas ....................................................................... R$ 40.269,65
Resultado do Período .................................................................R$ 15.962,73
R$ 4.713,70
R$ R$ R$ -
Vivência...............................................................................................R$ 910,05
Custeio de estoque...........................................................................R$ 910,05
Manutenção Vivência.......................................................................R$ -
Resultado acumulado .................................................................R$ 15.962,73
R$ 376,40
R$ R$ R$ R$ R$ R$ 196,60
R$ 179,80
Despesas Admninistrativas....................................................... R$ 581,58
Doações................................................................................................R$ Serviços de informática...................................................................R$ Serviços diversos................................................................................R$ 115,00
Papelaria e xerox................................................................................R$ 205,10
Hospedagem de website e email - Locaweb...........................R$ 81,68
Telefone - Claro...................................................................................R$ TV - Sky..................................................................................................R$ 179,80
SAÍDAS
R$ 27.981,20
R$ R$ 25,00
R$ 27.956,20
R$ -
R$ 8.530,00
R$ 700,00
R$ 7.830,00
Patrocínios..........................................................................................R$ 15.666,00
Makis..................................................................................................... R$ Outros patrocínios............................................................................R$ 15.666,00
R$ 27.784,21
R$ 23.070,51
R$ 32.124,39
R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ -
R$ 25.310,05
R$ 23.640,05
R$1.670,00
R$ R$ R$ -
R$ 5.289,94
R$ R$ R$ R$ 5.289,94
R$ 1344,60
R$ 1344,60
R$ -
R$ 179,80
R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ 179,80
R$ 500,00
R$ 500,00
R$ -
R$ 22.000,00
R$ 22.000,00
R$ R$ -
R$ 5.000,00
R$ R$ R$ 5.000,00
Repasses..............................................................................................R$ 7.660,48
Repasse CAVC Idiomas.....................................................................R$ Repasse c/c Santander................................................................. R$ Intermédio para Entidade Estudantil.........................................R$ 7.660,48
Fev/2015
R$4.713,70
R$ 4.405,00
R$ 308,70
Jan/2015
R$15.962,73
R$ 15.435,93
R$ 526,80
Dez/2014
Saldo Inicial ......................................................................................R$ 20.804,80
CC CAVC................................................................................................R$ 20.440,00
Dinheiro em Caixa.............................................................................R$ 364,80
ENTRADAS
PRESTAÇÃO DE CONTAS
.
.
brasil e dai
brasil e dai
A CRISE DE ABASTECIMENTO
Quando escrevo, o nível do reservatório
do Sistema Cantareira está em 7.1% de sua capacidade total (já consumidos os dois volumes mortos), um ligeiro aumento em comparação com a
semana passada. Certamente, na data de publicação deste texto, este número já terá mudado (para
um digito maior se tivermos sorte). Há tempos em
que vivemos esta catarse coletiva, parecida com
uma corrida de cavalos ou com qualquer outro
jogo de aposta: “hoje o Cantareira subiu 0.1 pontos
percentuais”, “subiu 0.2”, “permaneceu estável”.
O acompanhamento do nível dos reservatórios já
virou algo cotidiano para o paulistano.
Paradoxalmente, o recurso mais imprescindível à vida do ser humano, um dos mais abundantes em nosso país está em grande escassez em São
Paulo. A cidade dispõem de grande abundância
hídricas: dois grandes rios que cortam a cidade, diversas represas, mananciais e o maior aquífero do
mundo logo abaixo de nós. Infelizmente parte des-
12 - O Visconde MARÇO 2014
mentação de técnicas na indústria e na agricultura
para diminuir o consumo, mantendo ou quem
sabe aumentando a produtividade do uso de recursos hídricos. Dentre elas podemos citar a irrigação
por gotejamento, pouco usada no Brasil devido ao
alto custo de implementação (apesar de ser muito mais eficiente) e o reuso da água no âmbito industrial e doméstico que já vem sendo estimulado
pela Sabesp.
Várias outras técnicas estão sendo usadas
e pensadas para reverter a situação. Já foi falado
em um possível terceiro volume morto, redução da
pressão da água nos canos, despoluição de corpos
d’água, usar fontes hídricas do Rio de Janeiro, dessalinizar a água do mar e o famigerado (e já real)
racionamento. Além das diversas gambiarras feitas pela população buscando a economia de água
que vemos todos os dias nos jornais.
Infelizmente, a situação não é exclusiva
de São Paulo, várias outras cidades do Sudeste vem
sofrendo com a seca. As principais represas do Rio
de Janeiro e de Belo Horizonte, Paraibuna e Serra
Azul, já utilizaram suas cotas do volume morto.
Outro fator preocupante: vários dos reservatórios que abastecem as metrópoles citadas fazem
parte de complexos hidrelétricos. Um dilema
fatal surge para a administração pública: como
alocar o restante da água? As termoelétricas já
foram acionadas para suprir o défict de geração
de energia, juntamente com um grande aumento
na conta para o consumidor e o racionamento já
está sendo usado em diversas cidades, ocorrendo
casos extremos como o da cidade de Itu no qual
ele durou 10 meses.
Temos sorte em viver em um dos países
com a maior abundância de recursos hídricos no
mundo. Talvez passado esta crise, comecemos a
tratar a água como o que ela verdadeiramente é:
um recurso escasso e de imensa valia tanto para
a economia quanto para a sobrevivência e funcionamento da sociedade, que tentemos melhorar a
gestão dos recursos hídricos em todas as esferas do
poder e, quem sabe, não surjam grandes esforços
acadêmicos em relação à Economia da Água.
tes recursos estão inutilizáveis devido à poluição
(rios Tietê e Pinheiros e respectivos córregos além
da represa Billings) e ainda são pouco explorados,
caso do aquífero Guarani.
Os fatores naturais como a não ocorrência
do El Niño ano passado e a diminuição nas massas
de ar carregadas oriundas da Amazônia que descarregam no Sudeste - os chamados rios voadores
- juntamente com a má administração pública dos
recursos hídricos tornaram a atual situação possível. Diversas vezes foi apontado que esta seca já estava prevista anos atrás. Cidades como Nova York,
que no século passado passou por uma crise semelhante a nossa atual, planejam seu abastecimento
de água para os próximo 50 anos.
Sabemos que a totalidade dos recursos hídricos não é usada apenas para o uso doméstico,
que representa apenas 10% do total no Brasil. Então, seria muito mais eficiente focar na diminuição da perda de água por vazamentos e na impleO Visconde MARÇO 2014 -
13
PAPO EMPREENDEDOR
PAPO EMPREENDEDOR
PLAY
THE
CALL
Transformar o mundo pode ser uma brincadeira
O encontro foi marcado para as 22 horas de uma segunda-feira. O local, conhecido
como “base”, ficava em uma das desconhecidas ruas do Pacaembu. A equipe d’O Visconde
foi recebida num clima de muita descontração
pelo empreendedor social Pedro Limeira, economista de formação, 27 anos, na casa coletiva
da equipe do Play The Call, movimento extremamente ambicioso e apaixonante que busca
mobilizar 2 bilhões de pessoas em quatro anos.
O projeto, conta Pedro, tem como principal objetivo salvar o mundo através das crianças, algo
que soa num primeiro momento como ingenuidade, só num primeiro momento. A estrutura do projeto demonstra por si que a transformação é possível se seguir princípios simples,
diretos e objetivos e contar, é claro, com uma
equipe multidisciplinar altamente qualificada.
Tendo isso em vista, Edgard Gouveia,
idealizador do movimento, começou a se questionar como seria feita essa mobilização e chegou a conclusão fundamental de que para articulações em massas é necessário seguir um
modelo que seja rápido, de graça e divertido
(fast, free and fun).
O Play The Call nascia, então, como um
“game”, que de maneira resumida cria missões
que devem ser cumpridas e gradativamente aumentam seu nível de dificuldade. O público-alvo tem 8 a 18 anos de idade e para dar sentido
ao seu engajamento, foi criada uma espécie de
ViscondeNOVEMBRO
MARÇO 2014
2014
14 --OOVisconde
mito/lenda que conta uma história, dando formato para a “brincadeira”.
Basicamente, esse mito funciona como
uma alavanca de start para entrar no projeto e
conta uma história sobre um grande “chamado
cósmico”: os seres mais importantes de todas as
dimensões (água, fogo, terra e ar), que são super
heróis, foram acionados para ajudar o planeta.
Para participar do jogo é necessário “renascer”
como simples ser humano, mas com algumas
exigências: esquecer quem você era, quais eram
seus poderes, de onde você veio, e até qual é sua
missão. Conforme o participante vai se desen-
volvendo no jogo, lembranças de sua antiga
vida são ativadas e ele terá três missões principais: desenvolver seus “super-poderes”; organizar-se em grupos, ressaltando a importância da
coletividade; convencer os outros a realizarem
ações práticas, colocando a mão na massa.
Por trás dessa grande brincadeira, está
se estruturando uma plataforma inovadora e
complexa que conta com profissionais altamente qualificados de todas as áreas. Em São
Paulo, o ambiente de trabalhao não poderia
ser aquele escritório tradicional na Faria Lima
ou na Paulista. As atividades são desenvolvidas
numa casa no Pacaembú, denominada “base”,
onde moram dez pessoas (algumas de nacionalidades diferentes) com perfis diversos que entraram de cabeça no projeto e dedicam a maior
parte do seu tempo a esse propósito. A casa funciona de acordo com os valores do movimento,
é pautada na “gift economy”. Tudo que existe
na casa é fruto de ações coletivas e de doações
de pessoas que realmente acreditam na transformação que o projeto pode causar.
Hoje, o projeto está sendo testado em
um “closer beta” e tem apresentado excelentes resultados. O movimento conta com embaixadores e apoiadores em mais de 27 países,
espalhados por todos os continentes e o principal desafio é validar se o modelo atual é o mais
correto, mas a equipe se mostra otimista já que
sempre há muito planejamento na estrutura.
O que o leitor deve se perguntar agora
é: mas como mobilizar os 2 bilhões de pessoas?
A resposta é simples: através das crianças. No
caso, 30 milhões de crianças. Esse é o número
estimado para transformar o mundo. E como
essas crianças vão convencer todo o resto a entrar nessa brincadeira? Cada uma vai repassar a
mensagem para o macro-ambiente em que está
inserida de forma gradual. Com o avanço das
missões, as crianças vão sendo forçadas a buscar ajuda coletiva para realizar algumas delas, e
é ai que se torna imprescindível o apoio de colegas, família, vizinhos, escola, etc. Se chega a um
ponto em que é impossível realizar uma tarefa
sem a força coletiva, como por exemplo, plantar
mil árvores até o final do mês.
Como Edgard Gouveia fala, quando
uma dessas crianças bater à sua porta pedindo ajuda para concluir alguma dessas missões,
ajude-a de alguma maneira. Por esses motivos
o Play The Call quer mostrar que transformar
o mundo pode, sim, ser uma brincadeira. Uma
brincadeira fácil, de graça e divertida.
O Visconde MARÇO 2014 -
15
REPORTAGEM
REPORTAGEM
A CIÊNCIA DO VESTIBULAR E A
FUVEST 2015
Aproveitando o tema Universidade
abordado nesta edição, O Visconde mergulha em
uma discussão delicada, um tabu o qual pouco é
discutido apesar de tanto impactar a vida de várias
pessoas: o vestibular.
Todos os estudantes de graduação que
estão na USP passaram por esse processo e devem
conhecer como ele funciona. Há diferentes
abordagens a respeito dos princípios por ele
valorizados, sua eficácia e seus resultados e essa
reportagem tentará abordá-los, além de esmiuçar
os motivos da diminuição do número de inscrições
na Fundação Universitária para o Vestibular 2015.
Em entrevista à Época, em 2004, o recémfalecido escritor Rubem Alves, ex-pró-reitor de
graduação da Unicamp e defensor de um método
de seleção que consiste em uma espécie de sorteio
para o ingresso nas universidades, definiu o
16 - O Visconde MARÇO 2014
vestibular como “uma grande perda de tempo, de
dinheiro, de inteligência e de conhecimento.” De
fato, o vestibular é uma ferramenta de seleção que
preza a meritocracia em relação ao desempenho em
algumas provas e ao mesmo tempo contraditória na
supervalorização desse justo princípio, uma vez que
apenas é requerida a conclusão do ensino médio
para o ingresso nas universidades, não se levando
em consideração o desempenho dos candidatos
nessa mesma etapa do ensino.
Esse método por ele defendido não se trata
de um mero sorteio. O educador propunha que
houvesse esse processo dentre todos os candidatos
a vagas, que deveriam ser aprovados em um
exame nacional realizado ao final do colegial,
que verificaria “se os alunos atingiram um ponto
mínimo exigido”, sendo que quem nele fosse
reprovado poderia refazê-lo, e os alunos poderiam
se inscrever em todos os anos que desejassem,
o que acabaria com “o sofrimento psicológico
dos alunos, que têm a autoimagem destruída”,
inclusive alegando que trataria-se de um sistema,
ainda que um tanto injusto, mais correto do que o
atual modelo.
Outro método por muitos defendidos é
o utilizado em universidades estadunidenses, no
qual se é considerado, também, o desempenho dos
inscritos durante o ensino médio, algo que, apesar
de ser sujeito a certas arbitrariedades em alguns
casos, condiz com a forte cultura da meritocracia do
país em questão.
O modelo atual adotado no Brasil encontrase em uma situação cômoda. Apesar de seus defeitos,
trata-se, em uma maneira positivista de se analisar
e reforçada pelos sistemas de cotas, como um
processo em que todos possuem as mesmas chances
de serem bem sucedidos e com a qual as instituições
já estão acostumadas e já há toda uma logística que
atende aos seus requisitos (principalmente com os
famosos “cursinhos” pré-vestibulares, que movem
muito dinheiro). No entanto, o que se observa é
um sistema em que já está estaticamente provado
(60 % dos alunos da Universidade de São Paulo
poderiam pagar uma mensalidade de R$ 2.600,00)
que aqueles que possuem recursos para estudar em
universidades, faculdades e centros universitários
particulares conseguem as vagas nas instituições
de ensino público gratuito, que, a priori, são
sustentadas pelo propósito, também, de que os
que não possuem esses recursos possam, assim
como os outros, ter acesso a um ensino superior
de qualidade. Apesar de haver diversos cursos e
diferentes dificuldades de ingresso entre eles,
é importante ter em mente o perfil das pessoas
que prestam o vestibular e, talvez ainda mais
importante seja, daquelas que conseguem passar
nele e garantem as tão almejadas vagas.
Retrospectiva do número de inscrições da
FUVEST desde 1998, com realce na recente queda
Fonte: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.
php/2014/11/greve-nao-justifica-queda-de-30-mil-
inscritos-na-fuvest/; Infográfico: Thiago Quadros
Nessa última edição da FUVEST houve
141.888 inscritos para 12.077 vagas, o que resultou
em uma relação de 11,75 candidatos por vaga. O que,
como já dito e visível no infográfico acima, mais
surpreendeu a opinião pública em relação a esses
números foi a expressiva queda nas inscrições, de
17,5% em comparação aos 172.037 candidatos do
processo de seleção para o ano passado. Nessa edição
anterior, essa estatística foi um recorde histórico
para esse famoso vestibular, mas isso não ofusca o
fato de que esse último processo tenha sido o com
menos inscritos nos últimos 4 anos, algo no mínimo
inusitado, vide a curva ascendente que se observava
ao longo desse período. Alguns possíveis motivos
foram a greve de 2014 e a crise financeira pela qual a
Universidade passa, assim como as outras unidades
estaduais, a Estadual de Campinas, a Unicamp, e a
Estadual Paulista, a Unesp, que também passaram
por greves no ano passado.
Com a greve das 3 categorias, professores,
funcionários e estudantes, no último ano (a maior
da História da USP) e a greve parcial de alunos
em 2013 também influenciando esse cenário,
motivo alegado pela Pró-Reitoria da Universidade
para o ocorrido, e a ausência de boas perspectivas
para o futuro próximo da Universidade por conta
de seus graves problemas financeiros, muitos
daqueles que prestam os diversos vestibulares se
vêem desmotivados a entrar na universidade que é
considerada como a melhor do país.
A princípio, por essa perspectiva, era de
se esperar que as notas de corte abaixassem, uma
vez que os vestibulandos que optaram por não
prestar a FUVEST (mais provável), foram aqueles
que possuem recursos suficientes para pagar as
mensalidades de instituições de ensino superior
particulares. Como se sabe, esses são os que
geralmente costumam obter as melhores notas na
disputa pelos cursos mais concorridos, já que não
necessitam frequentar o deficiente ensino médio
público do país e podem arcar com os custos de bons
cursos preparatórios para vestibulares. No entanto,
O Visconde MARÇO 2014 -
17
Arte na
adversidade
REPORTAGEM
o que se observou foi um não aguardado aumento
em grande parte das notas de corte da 1ª fase, algo
ainda mais impressionante se considerarmos que
houve muitas alegações de que foi um processo
mais difícil do que de costume. Tal resultado pode
ter sido fruto do diferente mecanismo utilizado
para as cotas nesse último processo, algo já
previsto pela Pró-Reitoria de Graduação da USP,
uma demanda já de tempos de movimentos sociais
e coletivos, uma vez que até o último processo
vestibular a Fundação propiciava o benefício
máximo apenas para aqueles que obtivessem mais
de 60 acertos dentre as 90 questões da 1ª fase,
enquanto nesse último, para todos que acertassem
mais de 27 (requisito mínimo para qualquer
candidato passar à 2ª fase).
Na FUVEST 2015, os benefícios concedidos
a partir do Inclusp (Programa de Inclusão Social)
e do Pasusp (Programa de Avaliação Seriada)
foram desde 12% (disponível àqueles que cursaram
o ensino médio na rede pública) à 25% (para
os autodeclarados pretos, pardos ou indígenas
participantes do Pasusp). O valor médio de
bonificação para os ingressantes de 2014 foi de 9%.
Apesar disso, há outras explicações
que não necessariamente vão de encontro às
já mencionadas. Essas partem do fato de que
Unicamp e Unesp, que, como já mencionado,
também passaram por greves no ano passado e se
encontram em delicada situação financeira, não
18 - O Visconde MARÇO 2014
só obtiveram um aumento nesse número como
também alcançaram recordes históricos, com a
Estadual Paulista, inclusive, ultrapassando pela
primeira vez a marca de 100 mil inscritos. Elas
também partem do fato de que as greves de 2013
e de 2011 não induziram uma queda nas inscrições
para as edições de 2014 e 2012 da FUVEST.
Outro ponto de vista é a leitura de que há
mais possibilidades hoje para os vestibulandos, não
só na grande São Paulo, com alguns cursos da Unifesp
e UFABC, por exemplo, mas também por conta dos
programas federais de ingresso à universidade, como
o Prouni (Programa Universidade para Todos), Fies
(Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior) e o Sisu, abrindo as portas de instituições
privadas para aqueles que possuem menos dinheiro e
de diferentes instituições de ensino superior brasileiras.
Estabelecido esse cenário, é possível
enxergar um declínio no prestígio da Universidade
considerada como a melhor do Brasil. Também é
visível a existência de alternativas, viáveis ou não,
em relação ao atual modelo de vestibular adotado
no Brasil. A discussão acerca do sistema vigente é
pouco corriqueira fora do ambiente universitário,
sem o estabelecimento de diferentes visões por parte
do debate público, sem um mínimo e necessário
questionamento, que não necessariamente
precisaria acarretar em mudanças drásticas, mas no
esclarecimento de seu significado e de sua eficiência
em alcançar os objetivos por ele aspirados.
Instituto de Artes. Unicamp. Barão Geraldo. Campinas. O calor, escaldante. Uma vermelhidão ardida tinge peles jovens que caminham ou
pedalam entre árvores e casarões, fadigados pelo
peso dos livros e da responsabilidade crescente. Tênis gastos, havaianas sujas, olhos semicerrados ou
cobertos por lentes escuras, suor e riso.
O Instituto de Artes teve início em 1970
como Escola de Música. A estrutura é precária. O
prédio que abriga os jovens artistas é “provisório”
há mais de vinte anos e nada parece ser feito no
sentido de que isso mude. Negligenciados pela reitoria da Universidade, os alunos sofrem com recursos extremamente escassos.
Um exemplo claro desse negligenciamento é a falta de espaço para os alunos de dança e artes cênicas ensaiarem. Reclusos no que chamam de
“barracão”, distante da sede da unidade, a situação
das salas de ensaio, bem como dos materiais disponíveis para ambos os cursos, é decepcionante. Além
disso, artes plásticas e midialogia sofrem com falta
de material, as paredes do prédio são inadequadas
à prática musical, e não há acessibilidade.
Ainda assim, frente a todas as adversidades ligadas ao preconceito contra o estudo de artes,
os alunos atingem feitos incríveis em termos artísticos e criativos. Os alunos de artes cênicas criam
e interpretam de forma inigualável peças de teatro
que fazem rir e chorar, como foi a peça adaptação
de O Cortiço de Aluísio Azevedo, por exemplo,
apresentado pela Cia. Histriônica de Teatro, composta por alunos. Com um formato irreverente no
qual vários atores interpretam um mesmo personagem no palco ao mesmo tempo, a companhia
conquistou, não só o público de Campinas, como
também o de São Paulo e Lisboa, em Portugal. O
curta-metragem “A estrutura da bolha de sabão”,
baseado no conto homônimo de Lygia Fagundes
Telles e produzido por estudantes da Midialogia foi
selecionado para participar do Festival de Cannes
quebrando a rotina
na mostra Short Film Corner, para citar apenas
dois exemplos.
Visando o fomento à produção artística
e contribuição com a sociedade, destaca-se o Festival do Instituto de Artes: O FEIA é um evento
de difusão cultural que acontece em Setembro na
cidade de campinas. A iniciativa surgiu em 2000,
organizada por estudantes dos Institutos de Artes
e Arquitetura da Unicamp, com o apoio dessa universidade. Celebrando em 2014 sua décima quinta
edição, é composto pelas áreas de artes visuais,
midialogia, música, artes cênicas e dança (podendo receber, eventualmente, atividades de outros
institutos), as quais busca contemplar, com suas
atividades, integralmente.
A programação (gratuita a toda a comunidade) possui oficinas, palestras, apresentações de
música, dança, teatro, exibições de filmes e vídeos.
Além disso, há também performances, intervenções, exposições artísticas e festas (o único item da
programação que não é gratuito).
Os estudantes se mobilizam durante todo
o ano para organizar um festival abrangente e interessante, levan do nomes de destaque no meio
artístico para performances, como foi o caso do
cantor Tom Zé, e para palestras e oficinas, além de
estimularem a participação dos universitários em
todo o tipo de atividade, de forma que há espaço
para o jovem artista se expressar e transmitir todo
o seu conhecimento.
A arte pulsa através das paredes de PVC.
Ainda que sufocante, a visão do céu azul de tom sem
igual traz um sorriso aos lábios dos que sabem que
o dia será maravilhoso, os que deitarão na sombra
fresca de uma árvore com os amigos e rirão até perder a hora, os que tomarão um suco-do-dia com suas
últimas moedas e os que matarão aula para tomar
uma cerveja no Marambar. Discute-se política, economia, discute-se arte. É um ambiente estimulante
de produção artística e mobilização estudantil.
Há sempre um lugar para ir, há sempre uma pressa
meio sossegada. As testas suadas e havaianas sujas
se esforçam em uma situação quase sempre adversa, e dela arrancam arte, quase que à força. E que
arte. E quanta arte.
O Visconde MARÇO 2014 -
19
VISCONDE RECRUTA
VISCONDE RECRUTA
Olhar para a USP é olhar
para a sociedade paulista
Não é de hoje que ouvimos falar da
injustiça social da propalada meritocracia
dos vestibulares, especialmente da nossa tão
memorável FUVEST. Uma meritocracia de fato
seria aquela na qual todos os concorrentes a um
número limitado de vagas tivessem exatamente
as mesmas condições de acesso às mesmas formas
de preparação e sustento no momento inicial da
disputa. Mas nós sabemos que este cenário, dito
por alguns como utópico, não é o cenário real.
Pessoas que conseguem pagar pela educação básica
e secundária e pessoas que conseguem pagar por
um bom cursinho pré-vestibular saem muito na
frente daqueles que não têm condições de pagar
por nada disso.
Some-se a esta diferença de acesso simples
à educação a possibilidade familiar do sustento de
um estudante para que ele possa se dedicar aos
estudos de forma exclusiva. Esta não é a situação
da maior parte das famílias no Brasil. Muitas vezes,
crianças precisam sair da escola e ir trabalhar para
que ajudem no custeio básico da família, como
pagamento de contas ou de aluguel. Isto faz toda
a diferença, pois aquele que consegue estudar
de forma exclusiva leva vantagem na disputa,
ganhando mais alguns metros imaginários nesta
corrida que é o vestibular da FUVEST. Porém, esta
característica não é exclusiva do sistema vestibular,
sendo também observada dentro da USP. O regime
de créditos e de optativas obrigatórias privilegia
aqueles que conseguem apenas estudar, que
acabarão a faculdade no período ideal calculado,
sem correr o risco da jubilação.
Tentemos agora imaginar um fenótipo
para os dois padrões. Imaginaremos um branco da
20
- O Visconde MARÇO 2014
classe média ou da classe média alta e um negro,
pobre e morador, provavelmente, de algum bairro
periférico da cidade. Desnecessário dizer que o
branco da classe média é, via de regra, aquele que
consegue estudar o dia inteiro e levar vantagem na
corrida da meritocracia, enquanto que o negro e
pobre é aquele que, novamente, via de regra, precisa
trabalhar para colaborar no sustento e estuda em
escolas sucateadas do sistema público, saindo
muitos passos atrás nesta tão injusta corrida.
Esta linha de raciocínio nos leva agora
a pensar nos motivos de este ser o cenário das
sociedades brasileira, paulista e uspiana. Fomos
uma colônia portuguesa, de 1500 a 1822, e um país
escravista, de 1500 a 1888, quando foi proclamada
a Lei Áurea, resultado de uma luta muito forte
do movimento abolicionista, tendo também
colaborado a crise econômica que o país vivia
por causa do mercado de escravos. Neste período
de quase 400 anos, a quase totalidade da mão de
obra escrava foi negra africana. Homens, mulheres
e crianças que foram brutalmente arrancados
de seus territórios para servir de forma escrava a
donos de terras. Foi um tempo em que o negro valia
menos, muito menos, do que a terra. Era posse, era
mercadoria sujeita à lei de oferta e demanda, tão
conhecida dos meus colegas da FEA.
Com a promulgação da Lei Áurea, foi
necessário, de alguma forma, incluir o negro na
sociedade comum. Mas, sem o apoio do Estado,
não foi uma ação bem sucedida. De mercadoria, o
negro passou a ser visto como cidadão de segunda
ordem, não tendo direito às mesmas coisas que os
brancos, que sempre foram vistos como superiores.
Aos negros, ficou como direito apenas trabalhar
nos mesmos trabalhos que antes, com uma
remuneração extremamente baixa, e o direito a
habitar em cortiços e favelas, preferencialmente
longe das vistas da sociedade branca e limpa, tão
favorecida pelo Estado.
De maneira a perpetuar estas relações de
poder é que o governo de São Paulo, há 24 anos nas
mãos do PSDB, escolhe seus reitores. A professora
da FFLCH Marilena Chauí explicou com perfeição
o lugar de onde fala o reitor. A conclusão da
professora é que o reitor fala como uma marionete
do governador e de seus colegas, que têm, desde
a fundação do PSDB, um interesse no projeto
neoliberal, com foco nas privatizações. Isto é
facilmente comprovado quando se lê a teoria da
dependência, do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. Não causa espanto a governador ou a
reitor que a Universidade passe pela crise que
passa. É o resultado esperado para o objetivo de
privatização total da USP, podendo assim deixar
de lado as “balelas” da esquerda e cobrar a tão
sonhada mensalidade. Como a USP é pública,
tem um compromisso, ainda que apenas nominal,
com a promoção da redução das desigualdades
socioeconômicas. Sendo privada, não haveria
mais esta necessidade. É desta forma que devemos
enxergar a situação da USP atualmente. Não
é uma ocorrência isolada de má gestão do exreitor João Grandino Rodas, nem uma questão de
austeridade de Marco Antônio Zago. São questões
programáticas, estratégicas, que servem aos
interesses daqueles que apoiam o PSDB e o projeto
de sociedade privada.
Diante deste cenário, é pertinente que
imaginemos possibilidades de políticas públicas
para a redução das desigualdades e para a inclusão
real do negro na sociedade. O sistema de cotas
raciais não é, do meu ponto de vista, eficaz, uma vez
que, na prática, estimulou ainda mais o ranço entre
brancos e negros. Vejo o sistema de cotas raciais
como parcialmente responsável pela enxurrada
de discursos de ódio, sempre inflamando o “nós
contra eles”, independente de quem sejamos nós
e de quem sejam eles. Uma justificativa possível
é a de que toda mudança na estrutura social do
poder incomoda àqueles que têm o poder e estão
deixando de tê-lo. Esta justificativa me leva a
pensar que não, não é possível a correção das
injustiças no plano de curto prazo. Desta forma,
creio que a solução resida na melhora significativa
da qualidade do ensino de base federalizado, nas
cotas sociais até que a educação de qualidade surta
efeito e nos programas maciços de transferência
de renda, tão transformadores na última década.
A construção de uma Pátria Educadora é dever de
cada um de nós.
Ulysses Szajnbok de Faria – Estudante de
Jornalismo na ECA/USP – Membro da gestão
Pode Chegar e Não Pára! do CALC 2015
O Visconde MARÇO 2014 -
21
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A FEA TAMBEM E
A FEA TAMBEM E
FEA SOCIAL COMPLETA 1 ANO DE EXISTÊNCIA
A FEA Social agradece ao CAVC e ao Visconde a oportunidade de escrever sobre nossa trajetória até aqui.
Em nossa pesquisa de imagem, realizada
no final do ano passado, identificamos que muitos
FEAnos enxergam a entidade como fechada e ausente no meio universitário. Logo, esperamos que
este seja o primeiro passo para o aprimoramento
da relação FEA Social - FEAno, e também para
nossa maior transparência e envolvimento com os
alunos, de forma a atingirmos nossos objetivos de
obter um maior alcance no meio universitário.
No primeiro aniversário da FEA Social, temos lindas histórias para contar. Trabalhamos com ONGs
que atendem a diversos segmentos da população.
Os nossos projetos de assessoria foram dirigidos às
ONGs: APAM , ABRAZ, Bê-a-Bá do cidadão, Instituto Íris, Operaçao Arco-Íris e Projeto Travessia.
Essas buscam impactar a vida de pessoas em situações diversas: mulheres em situações instáveis,
com apoio e capacitação; pacientes de Alzheimer
e suas famílias, com assistência; crianças e suas
famílias, com capacitação ao pleno exercício da cidadania por meio de atividades participativas; deficientes visuais, por meio do treinamento de cães
guias que permitem uma maior acessibilidade;
crianças hospitalizadas, com palhaços tornando o
dia-a-dia mais leve; e por fim, crianças em situação
de risco, com a garantia e defesa de seus direitos.
Respectivamente.
Também trabalhamos com projetos pilotos como o CAOS e o CREN; A consultoria CAOS
Focado é especializada em Inovação e, por meio de
seu Centro de Inovações na comunidade Vila Nova
Esperança (VNE), têm colocado à disposição dos
moradores ferramentas que os ajudem a descobrir
suas próprias capacidades de criação. O papel da
FEA Social tem sido de prestar consultoria direta
aos moradores da VNE que buscam usar suas habilidades e conhecimentos para gerarem algum impacto positivo e direto na Vila, além de estimular
neles o empreendedorismo. O CREN – Centro de
22 - O Visconde MARÇO 2014
Recuperação e Educação Nutricional é uma organização sem fins lucrativos que atende crianças socialmente vulneráveis, atuando no combate e prevenção
à situação de má nutrição. A FEA Social, juntamente
com estudantes intercambistas do HEC Paris (École
des Hautes Études Commerciales de Paris), prestou
uma consultoria à ONG, na qual se estudou a viabilidade em transformá-la em Negócio Social, a fim de
se reverter a atual situação de 80% do financiamento
proveniente da prefeitura de São Paulo.
Já na nossa segunda área core, Eventos, realizamos diversas parcerias com entidades (CAVC,
FEA Júnior, Liga de Mercado Financeiro, Bateria S/A,
Atlética AAAVC), sendo o primeiro o Pedágio Solidário na semana de recepção em conjunto com o CAVC.
Também tivemos dois Atos Voluntários com a Júnior
e um aberto a toda a comunidade Uspiana, que permitiram aos alunos, mesmo que de forma pequena,
um primeiro contato com o voluntariado. Esperamos
que neste ano consigamos fazer muito mais!
Dentro dos eventos ligados diretamente à
área feana de atuação, realizamos o Impacto 2.5, introduzindo na FEA o conceito de “Negócio Social”.
Esta modalidade de negócio, ao mesmo tempo em
que é viável economicamente por meio de suas próprias atividades e faz parte do espaço empresarial,
também é geradora de impacto e se propõe a buscar
solução a uma questão social. Exemplos dessas empresas fora da curva são Yunus&Youth, VIVENDA e
GREENTEE.
Vemos que, em um ano de entidade nos já
alcançamos muito, contudo esperamos nos próximos
anos irmos além e envolvermos mais pessoas com a
causa social.
Afinal, permitir que todos possam estar #fazendoadiferença para melhorar o mundo é o que nós
mais desejamos. Muito obrigado a todas as entidades
e pessoas que tem nos acompanhado! A FEA Social
espera que seja um ano incrível para todos nós!
Rafael S. Koraicho
Diretor de Marketing da FEA Social
MATRÍCULA, TROTE E FEA ♥ FFLCH
No último dia 11 de fevereiro, tivemos um
momento único e inesquecível na vida dos recém
ingressantes da Universidade de São Paulo, o dia da
matrícula na USP.
O dia começou cedo para a maioria dos
membros das entidades FEAnas, que se preparavam
para apresentar suas entidades para os novos ingressantes.
Neste ano foi feito algo totalmente diferente do que
vinha ocorrendo nos últimos anos e com a presença
da Vivência - que no ano de 2014 estava inviável a ser
usada - pode-se fazer uma linda festa para os bixos
e bixetes da FEA-USP. Foi preparada uma festa em
protesto as últimas proibições da diretoria FEAna
ao consumo de bebidas alcoólicas em nosso espaço
de vivência universitária. Dessa forma, o CAVC promoveu shows de bandas dos próprios alunos e ainda
contou com a presença da grande Bateria S/A para
levantar o astral dos calouros e calouras da FEA-USP. Além disso contou com muitos comes e bebes,
tinta para pintar os bixos, dentre outras coisas para
a promoção da diversão e integração nesse momento
único para cada um.
A Festa da Matrícula foi um sucesso, bixos
e bixetes de diversos outros cursos, sem ser da FEA,
apareceram no nosso espaço para dar uma olhada
no que estava ocorrendo. Além disso, com a ajuda da
Comissão de Veteranos em conjunto com o CAVC,
não foi relatado nenhum caso de abuso ou trote for-
çado por parte dos veteranos.
Mas o dia estava ainda longe do fim e o melhor estaria por vir. A Choque de Monxtros, festa
promovida pelo CAVC em parceria com o CAELL
e CAHIS - centros acadêmicos da Letras e História,
respectivamente - no Quadrado das Letras agitou a
noite USPiana no dia do trote aos novos ingressantes
e cumpriu bem, e muito, seu papel. A parceria ousada
foi um sucesso e promoveu uma integração incrível
entre os “novos veteranos” que nunca antes alguém
havia imaginado, em resumo, foi HISTÓRICO.
Infelizmente, apesar de todas as recomendações e avisos contra atos machistas e homofóbicos, houve relatos de ambas situações no evento. Felizmente, ambos foram controlados rapidamente e
as providências foram tomadas para que não fossem
repetidos tais atos.
Mesmo assim, a festa movimentou a Cidade Universitária e reuniu os mais diferentes cursos
e faculdades, gente de todo lugar (ECA, POLI, FEA,
FAU, FFLCH, IME, etc etc), todos juntos em prol da
vivência universitária, dado que as festas nada mais
são do que um espaço de integração e confraternização que também faz parte do âmbito universitário.
A festa conseguiu cumprir seus grandes objetivos principais, recepcionar de maneira única os
novos calouros e de mostrar para aqueles que ainda
acreditam que as festas são um grande problema,
que estas não o são.
O Visconde MARÇO 2014 -
23
- O Visconde MARÇO 2014
O Visconde MARÇO 2014 -
o mundo la fora
o mundo la fora
SOBRE OS ATAQUES NA FRANÇA
Em 7 de Janeiro de 2015, a sede do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris sofreu um ataque terrorista de
autoria do Estado Islâmico. Doze pessoas foram mortas, 2 policias e outros 10 membros do próprio jornal.
A repercussão do evento foi imediata e a cobertura do atentado durou vários dias, englobando a perseguição aos atiradores e os posteriores protestos do povo francês. O mundo mobilizou-se e as redes sociais
fervilharam com posts sobre o assunto. Logo surgiu-se o refrão “Je suis Charlie” em apoio às vítimas do
massacre que ecoou através da internet.
Houve também diversas declarações de
autoridades, como a de Marie Le Pen, líder do partido Frente Nacional da extrema-direita francesa, “a
nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de
vida. Foi a eles que a guerra foi declarada” Frases
como essa incitaram diversos comentários avessos
ao islamismo na França, culminando no dia 11 de Janeiro em uma das maiores passeatas da história da
França levando 4 milhões de pessoas às ruas.
Na passeata estavam presentes diversos líderes
mundiais, dentre eles Benjamin Netanyahu, François Hollande e Mahmoud Abbas. Muitos atentaram ao fato de diversos desses líderes serem famosos em seus países pela intolerância e pela repressão
sobre as minorias étnico-religiosas, chamando para
uma reflexão sobre a hipocrisia e a opressão dos
grandes governos.
Generalizar o extremismo do Estado Islâmico para toda a religião do Islão é o maior erro de
todos. É tomar como dado que todos os muçulmanos são violentos e intolerantes, que sua religião
prega a violência e o extermínio de ideias contrárias. Tal fato é a base para a intolerância e para a segregação das minorias já tão afetadas pelo processo
de exclusão social, político e econômica. Na França,
10% da população é de origem islâmica e certamente pagará o preço pelos atos de extremismo no jornal Charlie Hebdo.
A intolerância está presente nos dois lados,
a hipocrisia e a falta de tolerância rondam e alimen-
26 - O Visconde MARÇO 2014
tam o ódio pelas minorias, e no caso francês não é
nada diferente. O discurso de grande parte da população da França já se transformou em xenofobia
clara. O islamismo é a toda hora taxado de violento
e intolerante, enquanto, na verdade, apenas uma
pequena parcela radical que não representa nem de
longe a totalidade dos muçulmanos é que deveria
levar a culpa. Não é o Islão que deve ser atacado, e
sim o Estado Islâmico e qualquer outra organização
violenta e repressora, independente de religião ou
orientação política.
Hollywood ajuda pouco nesse aspecto:
nas últimas edições do Oscar filmes como Sniper
Americano, A Hora Mais Escura e Guerra ao Terror foram aclamados pela crítica e pela Academia,
principalmente por tratarem a luta contra os terrorista como um ato heroico e de puro extermínio
do islamismo. Outras produções como a série Homeland do canal Showtime oferecem vislumbres
de reflexão ao pautar a situação de ambos os povos
atingidos pelo extremismo religioso. A situação de
prisioneiros de guerra americanos convertidos para
o islamismo e o recente uso de drones para bombardeio de áreas suspeitas em abrigar terroristas,
causando em muitos casos e morte de milhares de
inocentes, são usadas na série para criar uma crítica
que, apesar de certas vezes ser bem sutil, é muito
válida e importante para a atual conjuntura que estamos presenciando.
Há também o recém-lançado documentário Timbuktu que retrata com maestria como a população da cidade homônima, no Mali, sofre com
30
as proibições dos terrorista locais e como se dá sua
luta diária pela liberdade.
Nesta discussão toda, também esbarra-se
na questão da regulação midiática. Muitos confundem a liberdade de expressão com a liberação
de qualquer tipo de discurso, inclusive aquele puramente de ódio, e é aqui que precisamos definir
uma barreira: a censura repressiva e repreensiva. A
primeira ocorria, por exemplo, em nossa ditadura:
ideias contrárias entendidas como perigosas pelo
governo eram censuradas e retiradas de circulação.
Apenas o que convinha ao governo militar era publicado. Já a segunda procura inibir qualquer tipo
de manifestação de ódio, tentando sempre difundir
a diversidade cultural, evitando, assim, a incitação
à violência.
Talvez umas das maiores barreiras das
democracias atuais seja promover a tolerância entre seu povo. Facilmente, a falta de conhecimento
público sobre o islamismo e toda a conjuntura do
terrorismo do novo milênio acabam por criar um
medo de toda a religião do Islã, e, rapidamente, esse
medo transforma-se no ódio coletivo que percebemos tão facilmente ao nosso redor.
O Visconde MARÇO 2014 -
27
ESPACO ABERTO
ESPACO ABERTO
LUTA CONTRA O AUMENTO DAS TARIFAS
O CURSINHO FEA-USP
E O VESTIBULAR
Foi em um momento de sensações contrastantes, o pesar da derrota e a euforia da fundação da Universidade de São Paulo, que Sergio
Milliet disse, “De São Paulo, não sairão mais guerras civis anárquicas, e sim uma revolução intelectual e científica suscetível de mudar as concepções
econômicas e sociais dos brasileiros”. Contudo,
oitenta anos passados e o que se percebe é a manutenção da elite social, como, majoritária na elite
intelectual. E, nesse mar de problemas e crises que
a comunidade uspiana vive, acabamos por esquecer um dos maiores empecilhos, que deveria deixar
boquiabertos e pasmados todos os grandes pensadores da sociedade, a dificuldade das classes mais
baixas em ingressar na USP.
Com um processo seletivo extremamente meritocrático e um sistema de ensino público
deixado em um profundo limbo, chamado popularmente de “ao Deus dará”, jovens (porque jovem
é um estado de espirito) repletos de sonhos e ambições vêem-se impedidos de, ao menos, tentar
realizá-los, pois, deparam-se diante de uma esfinge, chamada vestibular, que lhes faz uma série de
enigmas (decifra-me ou devoro-te), que não sabem
responder, pois, suas escolas não tinham professor
de matemática, ou algo assim. É exatamente, nestes pilares que se baseia a luta diária de cursinhos
populares, como o Cursinho FEAUSP, a injustiça
do sistema e a ambição de pessoas desfavorecidas,
e a vontade delas de berrar na cara da sociedade:
“Sim, nós podemos”.
O Cursinho FEAUSP consolidou-se como
um dos maiores cursinhos populares de São Paulo, quiçá do país. Administrado, e não lecionado,
pelos próprios FEAnos, transformou-se em uma
referência, com um processo seletivo com mais de
1700 candidatos e um alto índice de aprovação. Em
2013 tivemos 111 aprovações. Em 2014, 141 aprovações, sendo 24 delas na USP. Em 2015, 25 aprovações
apenas na USP (parcial até o dia 06\02). Destes,
três são FEAnos, Natanael da Silva Rosado, Kaique
Gonçalves e Edivaldo Leite. Ainda é um trabalho
pequeno, ainda mais se levarmos em conta, o sistema opressor em que estamos mergulhados e que,
apenas, 25% dos ingressantes na USP em 2014, tinha até 3 salários mínimos. Contudo, são muitas as
vidas que nós e todos os cursinhos populares, conseguimos mudar. E, esta é a beleza deste trabalho,
ajudamos a realizar sonhos, a dar uma nova esperança, que havia sido tolhida (ou nunca existiu) por
um sistema patriarcal e elitista.
Edivaldoo Leite
Ciências Contábeis - FEA
Kaique Gonçalves
Administração - FEA
28 - O Visconde MARÇO 2014
Coordenação Cursinho FEAUS
Do momento que escrevo esse texto, não é
possível dizer ao certo os acontecimentos que estão
por vir. Espero que o leitor não o encontre tão desatualizado quando de sua publicação, mas é uma
esperança vã, dado que o ritmo de acontecimentos
políticos do primeiro mês de 2015 está tão frenético que nem parece que passaram-se somente 31
dias. Grandes mudanças no panorama geral político-econômico sacodem nosso dia-a-dia e não apenas aumentam as tiragens e audiência dos jornais
como também afetam nosso bolso e em especial
dos trabalhadores.
Após a reeleição de Dilma Roussef (PT)
para a presidência, muito do que havia sido dito
em campanha eleitoral não foi cumprido. A nomeação de um banqueiro para o ministério da fazenda
e de uma latifundiária do agronegócio para ministra da agricultura foi um prelúdio do que estava
para acontecer. Já presenciamos cortes de dezenas
de bilhões das verbas destinadas à população e o simultâneo aumento do juros para a dívida pública,
sendo que 90% dela é de propriedade de grandes
bancos. Além, é claro, da crise no abastecimento de
água engendrada pelo descaso dos governos do Sudeste, que atinge em especial São paulo, mas também Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em face a tantos ataques, tivemos algumas experiências que mostraram como resistir. No
ABC, na grande São Paulo, fábricas da Volkswagen,
Ford e Mercedes foram paralisadas por greves e um
grande ato com mais de 15 mil pessoas obrigou os
patrões negociarem. Os 800 demitidos da Volks foram reintegrados após 11 dias de greve e essa vitória
inspirou a todos no país: Demitiu, Parou! Só lutando podemos vencer as políticas de austeridade!
Estive neste ato do ABC. Estive também
nos (até agora) 6 atos que tiveram contra o aumento da tarifa. O próximo será sexta feira (06/02). Em
geral as passeatas estão se mantendo em um número elevado. De acordo com a polícia entre 1000
e 5000. De acordo com o MPL (Movimento Passe-Livre), que está convocando os atos, entre 10.000 e
30.000 pessoas.
Os atos contam com muitas entidades,
coletivos, chapas de centro acadêmico e de sindi-
catos, além de partidos políticos. Também contam
com uma adesão de muitos independentes, que
adotam uma das colunas ou mesmo transitam entre
várias. Também estão presentes os ambulantes, com
suas águas, cervejas e capas de chuva. Jornalistas da
grande mídia e de mídias alternativas e até repórteres internacionais estiveram presentes.
É um mar de gente e quem vai pela primeira vez, tem uma experiência incrível. Em princípio,
ouve-se baterias antes mesmo de se chegar a ver as
pessoas. Depois, vemos gente de vermelho, de amarelo, de verde, laranja, preto e toda uma sorte de cores. É notável que cada um compõe uma coluna, com
suas faixas, bandeiras, dizeres e nomes.
Além dos que lá estão para tentar influenciar na política e garantir que os problemas econômicos não recaiam sob as costas dos trabalhadores,
tem um bloco que vem uniformizado e pronto para
o confronto. Em geral estão de preto, com máscaras
e parecem estar dispostos a ir para o enfrentamento
a qualquer momento. Eles são a tropa de choque. A
polícia está em todos os atos, às centenas e as vezes
milhares de soldados.
Eles aparecem com seus caveirões, viaturas e ônibus. Também com seus helicópteros.
Tentam nos intimidar. Não é raro vê-los atacando
milhares de manifestantes sob a declaração de que
reagiram à alguma suposta pedra. Suas ações não
são a de quem quer garantir a segurança das pessoas. Eles praticam verdadeiros crimes nos atos,
como quando soltaram gás lacrimogênio dentro
do metrô e ambientes fechados. Muitos da própria
polícia tiveram problemas com isso além da população em volta que não entendia porque apanhava.
Por isso cada vez mais cresce dentro da própria polícia o sentimento de desmilitarização.
Mas se o papel da polícia é fazer com que
a passagem aumente para que se mantenha a arrecadação necessária para pagar os altos lucros das
máfias dos transportes, o papel da população é o de
voltar para as ruas, para mostrar que aprendemos a
lição: só a luta muda a vida, e suas bombas não vão
sufocar nossos sonhos!
Marcel Giglio, 3º ano de Administração
O Visconde MARÇO 2014 -
29
^
ESPACO ABERTO
PESQUISAS ECONOMICAS
UNIVERSIDADE, A MELHOR FASE DA VIDA
A felicidade de abrir o site da FUVEST e
ver seu nome na lista de aprovados é indescritível.
A partir desse momento você se torna um aluno da
melhor universidade do Brasil, a USP, e, por consequência, irá conviver com pessoas de todo o país,
todas as classes sociais, e toda a diversidade que há
aqui. O sentimento de se tornar um universitário
pode ser inesquecível, mas, com certeza, viver esse
período será muito melhor.
Com a universidade surgem muitas novidades, tais como festas e viagens, mas também muitas
responsabilidades, como acompanhar o curso e conseguir se formar. Mas, mesmo com tudo isso, o que
realmente importa nesse momento é aproveitar ao
máximo o que a USP tem a oferecer de melhor: a diversidade entre seus alunos e professores.
Uma vez que entrar na universidade significa, na
maioria dos casos, ter tido a chance de frequentar
uma ótima escola, uma consequência natural desse
processo é que os universitários constituam um grupo menos plural e mais homogêneo. Mas, mesmo
com essa tendência a elitizar as universidades públicas, verifica-se que isso ocorre em menor frequência
na USP.
A USP, por ser a maior universidade do
país, agrega estudantes de todas as classes sociais,
crenças, etnias e vontades. Não há a menor dúvida
que, em um lugar como esse, aprender a lidar com o
diferente seja o maior dos benefícios para a vida de
um cidadão. Em meu ver, a USP não é apenas uma
formação acadêmica de alta qualidade, mas também
um espaço no qual torna-se possível ser um alguém
realmente inserido em um contexto que agrega gente de todo tipo.
Como ex-vestibulanda e agora universitária, acredito que as minhas ansiedades para a universidade sejam semelhantes às de meus colegas
calouros. É cabível dizer que o ânimo para conhecer pessoas novas, ir a festas e jogos universitários é
enorme, mas que ao mesmo tempo uma insegurança
nos ronda, uma vez que estamos entrando em uma
nova fase da vida. A universidade representa o começo de um momento em que você passa a decidir seu
futuro, e o principal: fazer o que gosta.
Com certeza a USP será muito mais do que
qualquer calouro pode imaginar, sonhar e querer.
Agora, o importante é aproveitar todas as oportunidades que virão e fazer do ambiente universitário
algo construtivo, pois com certeza esses serão os melhores anos da vida de cada um dos novos uspianos.
Marcela Picarelli – Bixete Economia Diurno
UMA VISÃO CONCORRENCIAL SOBRE
O SETOR DE PETRÓLEO NO BRASIL
Cleveland Prates¹
Desde pequeno ouço dizer que a
Petrobrás é um orgulho nacional e que o petróleo é
um patrimônio brasileiro. Estes slogans, criado durante o segundo governo Vargas, serviu de base para
que os nacionalistas da época, inclusive com forte
apoio dos militares, alterassem a Constituição Federal de 1946, que permitia a participação do capital
estrangeiro nas atividades de exploração mineral,
inclusive do petróleo. Assim, em 3 de outubro de
1953, foi aprovada a Lei n° 2004 que criou a Petróleo
Brasileiro S.A. (Petrobras) e instituiu o monopólio
estatal da exploração, do refino e do transporte.
Este monopólio só começou a ser questionado a partir 1995, quando da aprovação da Emenda
Constitucional No 9, que modificou o artigo 177 da
Constituição Federal, acabando com a distinção entre (i) empresa brasileira e (ii) empresa brasileira de
capital nacional e terminou o tratamento preferencial dada à segunda. Em termos práticos, a discussão
sobre alterações do setor partiu de um estudo realizado à época por uma consultoria que desenhou
quatro cenários para o governo: (i) desmonopolização, com abertura para a entrada de novas empresas; (ii) reestruturação parcial, com a venda de 1/3 da
capacidade de refino e das reservas de petróleo e gás
da Petrobrás; (iii) reestruturação abrangente, com a
proposta de venda de 50% da capacidade de refino e
das reservas de petróleo e gás da Petrobrás, além da
venda de participações majoritárias em certos terminais marítimos e dutos; e (iv) uma combinação de
1- Sócio-Diretor da PezcoMicroAnalysis, coordenador do curso de MBA de Regulação de Mercados da FIPE e professor
- O Visconde MARÇO 2014
de microeconomia do curso de Direito da FGV-Law.
O Visconde MARÇO 2014 - 31
ESPACO ABERTO
uma reestruturação abrangente com a privatização
da empresa. A opção à época foi a desmopolização,
fundamentalmente devido a restrições de ordem
política. Assim, o processo se completou legalmente
com a aprovação, em 1997, da Lei do Petróleo (lei n°
9.478) e a criação da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), cujo objetivo foi quebrar o monopólio da Petrobrás (apesar de preservar o monopólio da união)
e estimular a concorrência no setor.
Neste novo modelo reconheceu-se, acertadamente, que a oferta do produto petróleo não se
caracterizaria como um bem público[2] e que, em
algumas etapas da cadeia produtiva (principalmente
a exploração/produção e distribuição), não teríamos
a presença de monopólios naturais[3]. Em outras
palavras, no novo cenário pressupunha-se a concorrência em alguns segmentos, notadamente na
Exploração/Produção (E&P) e na distribuição, com
perspectivas de se estender para a área de refinarias.
Ademais, a ANP seria a responsável por corrigir as
falhas de mercado (regulando tarifas, questões relacionadas à assimetria informacional e, em certa medida, ao meio ambiente), além de criar e coordenar
modelos competitivos para concessões em áreas de
E&P e para ampliação de redes de distribuição e gás.
ESPACO ABERTO
Ainda neste novo cenário o CADE teria o papel de
analisar contratos que implicassem concentrações
econômicas excessivas e punir eventuais condutas
anticompetitivas. Este arcabouço institucional seria responsável por induzir a concorrência e elevar
os níveis de eficiência no setor, de maneira a que o
consumidor final se beneficiasse com maior oferta
de produtos e menores preços.
Passadas quase duas décadas da implantação do então novo modelo, o que se observa é que os
resultados não foram o esperado. Tomado o conjunto da cadeia produtiva (inclusive na infraestrutura
para importação e transporte), o nível de concentração até aumentou, garantindo um elevado poder
de mercado para a Petrobrás. Em parte isso ocorreu
pela crença de que a manutenção da mesma estrutura à época não implicaria problemas para a concorrência. Na realidade, uma análise mínima de sua
posição no mercado já indicava que ela teria fortes
incentivos para adotar praticas anticompetitivas, o
que, por si só, já desestimularia a entrada de novas
empresas no mercado, que pudessem contestar sua
posição[4] . Fato é que a Petrobrás consolidou seu
monopólio na refinação de petróleo, por meio de
aquisições, e verticalizou-se para várias distribuido-
2-Os públicos são aqueles que incorporam duas características fundamentais: (a) a não rivalidade no consumo, que
em última instância indica que para uma dada quantidade de oferta de um determinado bem, um consumidor extra
não afeta a utilidade dos outros consumidores; e (ii) a não exclusão, que equivale dizer que é economicamente inviável
excluir aqueles que se recusam a pagar pelo consumo do bem. Um bom exemplo disso é o caso da iluminação pública,
citado em livros de microeconomia.
3- De maneira resumida, um segmento de uma indústria é um monopólio natural se é mais eficiente (eficiência produtiva) ter uma única empresa produzindo do que duas ou mais.
32 - O Visconde MARÇO 2014
ras de gás; particularmente vale lembrar os casos da
CEG e CEG-Rio.
Também contribuiu para o problema a polí
tica de preços discricionária adotada pela Petrobrás,
que, submetida à política macroeconômica do governo
e a decisões gerenciais no mínimo duvidosas, distorceu os sinais de mercado e desestimulou novos investimentos no setor; culminando, inclusive, com efeitos
colaterais indesejáveis sobre o mercado de etanol.
Finalmente, no setor de E&P, a manutenção do domínio da Petrobrás está em grande medida
associada às assimetrias de informação criadas ao
longo dos anos sobre o real valor das reservas a serem licitadas e exploradas, fruto do monopólio estatal que perdurou por anos. Neste contexto, a maioria
dos potenciais competidores procurou evitar o que
se conhece na literatura econômico como a “maldição do vencedor”[5] , abdicando de uma participação
mais agressiva nas várias rodadas ou procurando se
associar à própria Petrobrás nos seguidos leilões. A
situação que já não era animadora piorou com a mudança recente do marco regulatório[6] , que instituiu
o modelo de partilhas no lugar do de concessões em
áreas estratégias, fundamentalmente o pré-sal. No
novo regime, as empresas devem “concorrer” pelo
direito explorar as novas regiões necessariamente
em parceria com a Petrobrás. Tal alteração, além de
impor onerosos custos à Petrobrás, e consequentemente ao governo (nós, contribuintes), enterra de
vez qualquer possibilidade de estimular a competição neste segmento de mercado.
Assim chegamos hoje a um ponto de termos
um monopólio sobre domínio público, que, por absurdos políticos cometidos, e contrariando a lógica
econômica, está descapitalizado e sem condições de
fazer frente aos investimentos propostos pelo modelo atual. Reforce-se que tais investimentos, que já seriam naturalmente de altíssimo risco, tendem a ser
muito mais complicados em um contexto de baixa
do preço internacional do petróleo e de todos os problemas de governança vivenciados por uma empresa
com características eminentemente estatal.
Este cenário só indica que já passou da
hora de revisitar os estudos realizados na década
de 90, e avaliar de uma maneira menos emotiva o
contexto atual, de forma a adotar um modelo efetivamente competitivo no setor, que gere reais benefícios à sociedade. Uma possibilidade, que me parece a mais racional, seria retomar a ideia de adotar
a privatização com uma reestruturação abrangente.
Esta decisão envolveria vender a empresa em partes, estimulando a concorrência onde fosse factível,
desverticalizando segmentos mais propícios a gerar problemas anticompetitivos (notadamente no
transporte via dutos e na distribuição de gás), além
de reforçar os mecanismos regulatórios e de defesa
da concorrência. Este caminho teria ainda a vantagem de minimizar o custo de oportunidade que o
Estado incorre ao ter que investir pesadamente em
um setor de alto risco, sabendo-se que a demanda
da sociedade é mais premente para a realização de
investimentos em outros setores, tais como saúde,
educação e segurança.
Seja qual for a escolha do modelo futuro,
está mais do que na hora da sociedade empreender
uma discussão mais transparente e menos visceral,
que evite influências de marketing político difundido por grupos de interesses, e que ponha de maneira clara na mesa os benefícios e perdas associadas à
manutenção da estrutura atual.
4- De maneira resumida, um segmento de uma indústria é um monopólio natural se é mais eficiente (eficiência produtiva) ter uma única empresa produzindo do que duas ou mais.
5- Na última década, inclusive, houve relatos e questionamento de prática de subsídio cruzado no segmento de refinarias e de discriminação de preços no uso do gasoduto Brasil-Bolívia.
6- A maldição do vencedor ocorre quando vencedores de leilões sistematicamente adquirem objetos à venda por um
valor maior do que o seu valor real. No caso de exploração de petróleo, o problema seria o de que, dados os riscos de não
saber a priori o que se encontrará em determinada área, o retorno obtido pode não ser suficiente para cobrir os custos
de exploração e prospecção ao longo do tempo.
Para maiores detalhes, ver Lei 12.351/2010 e Lei 12.276/2010.
O Visconde MARÇO 2014 -
33
AGENDA CULTURAL
PICASSO E A
MODERNIDADE ESPANHOLA
A exposição conta com 90 obras e deixa clara
a influência de Picasso na Arte Moderna da Espanha.
A mostra também apresenta a trajetória do gênio, até
sua obra mais famosa, a Guernica, que representa a
Guerra Civil Espanhola, além de sua relação com outros artistas espanhóis, como o próprio Dalí.
QUANTO?
Catraca Livre
WAKING UP IN
NEWS AMERICA
A exposição traz um dos nomes mais reconhecidos da fotografia experimental, Robert Heine-
ONDE?
Museu da Imagem e Som
Catraca Livre
tes até por volta das 7hrs da manhã.Funciona por meio
de comandas individuais a melhor pedida é a cerveja (a
garrafa sai por volta de 6 reais). Além disso, o bar oferece
um clima altamente convidativo e uma ótima música no
ambiente. O espaço pequeno e intimista do bar faz a casa
passar um ar de muita simplicidade e uma cara de porão.
Até 12 de abril
ONDE?
~
Lapeju Bar, Rua Frei Caneca, 892
Um dos artistas mais comentados no Dividida por núcleos temáticos, tem o objetivo de
passar pela mente de um dos maiores criadores
e gênios da humanidade da época renascentista:
Leonardo da Vinci (1452-1519).São mais de 40 peças
e 10 instalações interativas responsáveis por essa
ruptura na história.
ONDE?
Sesi-SP, Avenida Paulista, 1313, Metro Trianon-Masp
MARÇO 2014
34- O- Visconde
O Visconde JUNHO 2014
QUANTO?
Catraca Livre
QUANDO?
Até 10 de maio
SAMBA-ROCK, BLACK E MPB
Na noite badalada da Bela Vista, o bar Lapeju
reúne Samba-Rock, Black Music, Funk e muita MPB. O
bar que esquenta a partir das 23hrs e prende seus clien-
QUANDO?
A NATUREZA DA INVENCAO
´
LEONARDO DA VINCI
QUANDO?
Até 8 de junho
cket, que agora ganha uma sala inteira no MIS
pra expor seu trabalho. O interessante é o enfoque dessa exposição, que são os meios de comunicação e o poder da televisão.
O visitante terá a oportunidade de mergulhar no
universo do fotógrafo e em seus pensamentos.
QUANTO?
ONDE?
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB),
Rua Álvares Penteado,
112 - Centro
QUANTO?
QUANDO?
5 reais mulher, 10 reais homem
Quarta a Domingo, a partir das 21hrs
LOLLAPALOOZA
O festival já consagrado no mundo volta ao
Brasil pelo quinto ano consecutivo. Se nas outras edições, haviam nomes como Pearl Jam, Foo Fighters,
Arctic Monkeys, The Killers e Muse, nesse ano de 2015
vem mais contido, em uma pegada mais pop eletro,
entretanto, sem deixar o velho rock’n roll de lado. O
festival traz bons nomes, como Robert Plant, Calvin
Harris, Jack White, Foster The People entre outros.
Pra saber o Line-Up completo: http://www.
lollapaloozabr.com/line-up-2015
QUANTO?
De 170 a 660 reais
ONDE?
Autódromo de Interlagos. Avenida
Senador Teotônio Vilela, 261
QUANDO?
28 e 29 de março
O Visconde JUNHO 2014 O Visconde MARÇO 2014 -
39
35
quebrando a rotina
LÓGICA
ENTRETEnIMENTO
Um casal foi ao casamento da filha. O juiz perguntou a jovem: “Filha quantos anos você tem?”
A jovem respondeu: “Tenho a metade da idade de minha mãe”.
O juiz virou-se para a mãe da jovem e perguntou: “Quantos anos a senhora tem?”
A mulher respondeu: “Sou 10 anos mais nova do que meu marido”.
O juiz virou-se para o marido da senhora e perguntou-lhe: “Quantos anos o senhor tem?”
O Homem respondeu. A soma das nossas três idades é igual a um século
Quais são as idades da mãe, do pai e da filha?
36 - O Visconde MARÇO 2014
ViscondeMARÇO
MARÇO2015
2014- - 37
OO
Visconde
CRONICA
Cruzadinha
Beira-mar
Venta. Muito. Talvez por isso a noite
seja clara. Como pode a noite ser clara, se é
negra por definição? É pela luz da lua e das estrelas - como são visíveis as estrelas por aqui!
- que a noite pode, enfim, trazer em si a qualidade que deveria ser só de seu irmão, Dia. E
a claridade da grande lua ilumina, também, a
negritude do mar - reza a lenda que os reflexos
prateados sobre as águas são, na verdade, os
cabelos de Iemanjá, senhora das águas, esposa
e mãe dos homens do mar.
É justamente o lar de tais homens que
quebra a linha tênue que separa a noite negra
do mar negro - como pode haver separação entre duas negritudes? Mar e noite se fundem.
Veja! Quem será dono daquele barquinho?
Aquele, ali, que bóia com tanta calma sobre
os mistérios que carregam as águas do mar.
Quem será ele? Tem uma esposa? Filhos?
Hei de confessar que os invejo. Sim,
invejo a todos os donos de barquinhos que
flutuam por aí. O mar é grandioso e não há
pessoa alguma no mundo que possa explicar
a sensação de pequenez diante dele. Por isso
invejo os homens do mar: tem coragem o bastante para enfrentar o abismo que os cerca.
38 - O Visconde
MARÇO 2014
Abismo, sim senhor: não são léguas de profundidade suficientes para definir o mar. Este
guarda toda a beleza e todo o perigo existentes
por aí.
Quem será o dono daquele barquinho? Não importa. Carrega com ele, assim
como todos os homens do mar, uma certeza
inabalável: sua paixão pela imensidão azul das
águas. Sim, pois é apenas a paixão que pode
calar o medo inerente da vastidão do mar. Paixão essa que os homens da terra não poderão
nunca compreender: os ofícios daqui, que não
lhes oferecem maiores perigos, jamais serão
suficientes para aqueles que foram gerados e
nasceram nas águas.
E agora percebi, o barquinho tem um
nome: Clara. Clara, sua esposa, sua amada.
Que deve estar sempre aflita por seu homem
- tem medo dos perigos das águas traiçoeiras.
Decidi-me: quero um barco com meu nome.
Mas não quero ser esposa. Quero ser mulher
do mar.
Thais Haddad
5º período - Economia
O Visconde MARÇO
MARÇO2014
2014--
39
SOBE
• Calouros/as: Enfim saiu a tão esperada lista do vestibular mais concorrido do país
e com ela, 590 rostos novos para a FEA.
• Regionais: Com o início da temporada 2015 de futebol, começam também os campeonatos regionais,
destaque para o Paulistinha e o trio de ferro paulista (Palmeiras, Corinthians e São Paulo).
• Choque de Monstros: Foi bonito foi, foi insano foi!!! Na festa mais
inexperada da USP, deu FEA ♥ FFLCH.
• Rio de Janeiro: A cidade maravilhosa e uma das mais importantes do
país completa em 2015, 450 anos.
40-- O Visconde
MARÇO 2014
• 5 dias sem Água, 2 com:s Apear da volta das chuvas, a preocupação continua no dia a dia para saber se os níveis das represas estão subindo ou não.
Preparem-se, a caça a água vai começar.
• Álcool: Depois de tirarem a mesinha e nossas festas, a diretoria resolveu
abolir por tempo indeterminado aquela queridíssima breja na vivência.
• Economia: Últimas previsões dos índices de crescimento de 2015
não são nada otimistas, crescimento inferior a 0,3%. Sra. Presidenta terá muito trabalho e encontrará uma oposição muito forte pela
frente nos próximos 4 anos.
• SPIDER: Depois de um ano fora do octógono, Anderson Silva vence duas vezes em uma noite, uma Ao
Vivo na TV paga e outra Ao
Vivo na Rede Globo e é pego
no anti-dopping pelo uso de
esteróides. Que mancada!
DESCE
O Visconde MARÇO 2014 - -41
TUNEL DO TEMPO
A EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA:
Um alerta aos novatos - Março 2011
A lista da FUVEST saiu. Mãe, corre aqui.
Aquela sensação de euforia. Passei, porra!!!
Passada a euforia do resultado, leva um certo tempo para a ficha cair. Uma sensação estranha
de alegria e insegurança nos arrebata: E agora? Virei
gente? Ainda não.
O Mundo mudou. Saímos do colégio, é
hora de nos distanciarmos dos amigos que- bem ou
mal- cultivamos desde o jardim de infância e sempre
foram vizinhos de bairro ou do mesmo grupo de estudos. A casa caiu. Mas como toda nova experiência,
a vivência universitária traz uma série de incertezas
e eu vejo duas maneiras de encará-las: De contas ou
de frente.
A primeira opção é simplesmente fugir das
novidades que te esperam e comparecer apenas às
aulas escapando de eventos sociais, dos eventos sociais, dos bares e botecos, que agora farão parte do
dia-a-dia, e dos jogos universitários com seus porres
homéricos. Talvez você consiga ler toda a bibliografica indicada pelo seu professor no 1ºdia de aula. Talvez você faça isso, mas realmente acho que o conceito de Universidade vai muito além, como o próprio
nome sugere: um universo de oportunidades.
Por outro lado, você pode encarar os desafios de frente e entrar de cabeça nessa aventura,
a começar pelo Trote Solidário. Cara...não passar
pelos rituais mais banais como raspar a cabeça ou
acentar que pintem sua cara é simplesmente inaceitável. Sou contra qualquer tipo de agressão nos
Trotes, mas você precisa comemorar a sua façanha
de ter entrado na FEA USP para dar o devido valor
à sua conquista.
Aceitado o desafio, é hora de se reinventar.
Aproveite o fato de estar entrando num mundo no
qual ninguém sabe que você era o NERD que sentava na primeira fileira da sala, o boçal que só perdeu
42 - O Visconde
MARÇO 2014
o BV no 3º ano ou o desenturmado que passou os
três anos do colegial sem amigos. Esse “recomeço”
permite que você se infiltre em qualquer grupo ou
comunidade da faculdade que você sempre sonhou,
com a possibilidade de fazer novas amizades sem
pré-conceitos sobre sua pessoa e pegar até aquela
potencial líder de torcida que você nunca imaginou
sequer tocar. Você pode inventar as histórias mais
cabeludas sobre seu passado (até forjar uma susposta perda da virgindade) que ninguém checará a veracidade dos fatos.
E isso tudo é apenas o deslumbramento do
primeiro ano. Mas relaxe que, se você perdeu a chance no início, pode muito bem aproveitar da alcunha
de “veterano” para enganar uma nova leva de bixos e
bixetes desavisados a todo ano que se passa. Só fique
atento para que as máscaras não caiam antes do pessoal realmente acreditar em você
Minha dia para os novos ingressantes (bixos
burros e virgens) é: Aproveitem esses 4,5 ou 6 anos
como se fossem os seus últimos, Os conhecimentos
e experiências adquiridos durante esse periodo são
muito mais valiosos para seu futuro que sua preocupação boba em não ficar de reaval. Viva cada detalhe.
Faça com que suas lembranças sejam positivas, que
você tenha vivido momentos inesquecíveis e feito
amigos para a vida toda. Isso tudo sem esquecer que
voce nunca mais encontrará festas OPEN BAR por
R$50,00 ou menos.
Após a formatura as responsabilidades só
aumentam, portanto, experimente tudo que a vida
universitária pode te proporcionar. Amadureça,
chegue ao final da graduação, olhe para trás e sinta:
“Agora sim, SOU gente”.
Guilherme Marques- “Coca”
FEA - Administração
Formado em 2010
O Visconde MARÇO 2014 -
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- O Visconde MARÇO 2014