Conferência do Dr. Helmut Renders

Transcrição

Conferência do Dr. Helmut Renders
1
Educación metodista: formación ciudadana global y dignidad de vida, perspectivas teológicas1
Helmut Renders
Saúdo as autoridades aqui presentes,
as crianças, os adolescentes e os/as idosos/as;
as mulheres e os homens,
leigos/as, pastores/pastoras, e bispos/as;
professores/as, diretores/as e reitores/as.
Nosso tema durante os próximos 60 minutos é “Educação Metodista: educação para
a cidadania global e dignidade da vida, perspectivas teológicas”.
Nossa tarefa é, pois, de natureza doutrinária, profética e pastoral:
a) Em consulta à herança teológica metodista, nós devemos identificar e desafiar ou
desmistificar e desconstruir aqueles elementos – inclusive da própria teologia –
que dificultam, se não impedem, uma educação metodista no horizonte da cidadania global e da dignidade da vida;
b) Em conversa com a herança teológica metodista, nós devemos identificar e/ou
valorizar aqueles aspectos – inclusive da própria teologia – que sustentam, se não
estimulam, uma educação metodista em prol da cidadania global e dignidade da
vida.
A tradição teológica metodista tem mostrado na história que ela tem estas três competências e que, em certos momentos, era capaz não somente de correr atrás dos acontecimentos, mas indicar direções e mostrar pioneirismo. O que se escuta hoje muito – “Os
tempos são difíceis”; “Que tempo difícil para ser um metodista, uma metodista!”; “Que
tempo difícil de ser professor/a metodista!” – vale para todos os tempos nos quais os
1
Contexto primeira fala de três: II - Educación metodista: formación ciudadana global y dignidad de vida,
perspectivas teológicas; III - Oportunidades, posibilidades y desafíos de la Educación Metodista en la
gestión de una la ciudadanía plena para el logro de la dignidad humana [I - Educação Metodista: educação
para a cidadania global e dignidade da vida, perspectivas teológicas / II - perspectivas pedagógicas; III Oportunidades, possibilidades e desafios da Educação Metodista na gestão de uma cidadania plena para
atingir a dignidade humana]; tempo: 1h15min.
2
metodistas se destacaram. Porque, se eu reparo bem, eram, são e serão justamente os
tempos desafiadores até difíceis os tempos de contribuições significativas dos/as metodistas para o mundo. Wesley não temeu tempos difíceis, mas os metodistas com cabeça
abaixadas e braços cruzados.
Diante dos desafios, Wesley procurava companheiros e companheiras com
Mentes abertos!
Corações abertos!
E Braços abertos!
Nos termos de John Wesley:
Metodistas são amigos/as de todos e inimigos/as de ninguém.
Em seguida, eu proponho desenvolver as solicitadas perspectivas teológicas cruzando o tema dessa conferência com esta afirmação: Metodistas são amigos/as de todos e
inimigos de ninguém. Por ela me parecer conter aqueles elementos de que se precisa
para poder imaginar, saber promover e, finalmente, querer realizar a cidadania global e
a dignidade da vida: um horizonte amplo, um compromisso claro e uma fundamentação
forte.
Em A superação da inimizade pela amizade: do resgate de uma teologia da cruz
wesleyana não mérito-sacrifical ou da acolhida incondicional, revisito a base soteriológica da expressão Metodistas são amigos/as de todos e inimigos de ninguém e mostro
o fato esquecido de que se trata de uma opção soteriológica bíblico-teológica especialmente prestigiada nas missões latino-americanas da Igreja Metodista Episcopal, Sul.
Entendo eu o resgate dessa perspectiva como fundamental para enfrentar lógicas méritosacrificais de construir o mundo.
Em A ética do amor ao inimigo e a hospitalidade como amor para com o estrangeiro
(philoxenia): exemplos de uma ética não mérito-sacrificais e da acolhida incondicional,
lembro que este elemento novo da ética de Jesus, depois traduzido entre outros, para
uma atitude hospitaleira com o estrangeiro ou incondicionalmente aberto ao estranho,
favorece e sustenta a cidadania global como encontro aberto e corresponsável.
A superação da inimizade pela amizade: do resgate de uma teologia da cruz wesleyana não mérito-sacrifical ou da acolhida incondicional
Quem acha que a afirmação Metodistas são amigos/as de todos e inimigos de ninguém seja expressão de uma concepção idealista do ser humano, da história ou da vida,
ainda não assumiu uma perspectiva teológica. Em termos bíblico-teológicos, a expres-
3
são pertence unicamente à doutrina da salvação, mais precisamente, como uma das teorias da expiação à teologia da cruz. A expressão Metodistas são amigos/as de todos e
inimigos de ninguém leva-nos diretamente a um dos centros da teologia cristã. E isso
será necessário: porque quem procura promover a cidadania global e a dignidade da
vida precisa de uma âncora muito forte. Ou, eventualmente, até uma segunda âncora.
Vou então percorrer não o caminho comumente escolhido e construir o argumento a
partir da antropologia teológica, a afirmação do ser humano como imagem de Deus,
fundado na graça proveniente de Deus, dom gratuito de Deus para toda a humanidade.
Isso seria a primeira âncora. Temos algo ainda mais central e essencial, a teologia da
cruz para construir nosso argumento.
Por que em nenhum outro lugar se expressa de forma tão radical, universal, desinteresseira e comprometida a atitude do Deus Pai, mediante do Filho e através do Espírito,
em relação ao cosmo. Na cruz, em Cristo, Deus desafia qualquer inimizade humana que
exclua, classifique e desclassifique inclusive por uma meritocracia que transforma a
vida em sacríficios sem fim. Na cruz, em Cristo, Deus revela sua mente divina aberta,
seu coração divino aberto, seus braços divinos abertos.
Este evento da morte de Cristo na cruz como evento que sinaliza, sedimenta e libera
toda esta dedicação e abertura divina, é também designado como expiação2 e já foi entendido em diversas formas.3 Distinguem-se em sequência cronológica:
1. A expiação como conquista de méritos:
a. Por Cristo diante de Deus (Irêneo de Lyon / 130-202 d.C.);
b. Direitos do bem-estar e da prosperidade reclamáveis (Oral Roberts e
Benny Hinn, etc.),
2. A expiação como resgate:
a. Modelo do pagamento de um resgate para o diabo (Orígenes / 185243 d.C.)
2
Consultando dicionários teológicos contemporâneos o termo parece estar fora da moda. Cf. BORTOLLLETO FILHO, Fernando. Dicionário brasileiro de teologia. São Paulo: ASTE 2008 não contém o
verbete “expiação”, mas “salvação”, em que o tema é mencionado em relação ao tema da “maldição da
cruz”. O silêncio se estende às obras católicas, ecumênicas e pentecostais. Cf. BEREJUNG, Angelika;
FREVEL, Christian (rgs.). Dicionário de termos teológicos fundamentais do Antigo e do Novo Temstamento. Tradução: Monika Ottermann. São Paulo: Edições Loyola, 2011; LOSSKY, Nicholas. MÍGUEZBONINO, José; POBEE, John S. et al. Dicionário do movimento ecumênico. Tradução: Jaime Clasen.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005; ARAUJO, Isael de. Dicionário de movimento pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2007.
3
JENNINGS, JR, Theodore W. Transforming atonement: a political theology of the cross. Minneapolis:
Fortress, 2009. p. 217, lembra a tipologia proposta por Gustav Aulen e apresenta uma lista um pouco mais
concentrada: “The Greco-Lutheran ransom theory, the Western view associated with Anselm and Calvin
of substitutionary satisfaction, and the Abelardian and liberal perspective termed `moral influence´”.
4
b. Modelo do Christus Victor como resgate dos tiranos do mundo (Gustaf E. H. Aulén4 / 1879-1977).
3. A expiação com ato jurídico:
a. O apagar da ira de Deus pelo sacrifício humano (Anselmo de Cantuária / 1093-1109);
b. A morte de um substituto apaga os pecados do substituído (Calvino /
1515-1565 d.C.).
c. Junto a este grupo ainda Hugo Grotius (1583-1645), especialista em
negociação de contratos de paz internacionais, que afirmou que Cristo
não morreu em lugar do ser humano, mas a seu favor.
4. A expiação como declaração performativa do amor e da amizade divina:
a. A teoria da influência moral (Abelardo / 1079-1142 d.C.);
b. A teoria da declaração do amor (Albrecht Ritschl5 / 1822-1889);
c. A compreensão da superação da inimizade pela amizade6;
5. A expiação como martírio7:
a. Teologia da Libertação
b. Acidente da história (Albert Schweitzer)
Para nós é agora importante localizar nossa tradição. Falamos brevemente sobre John
Wesley, a partir do estudo contemporâneo que inicia com a obra de John Deschner em
1961 com reflexos em autores contemporâneos e muito lidos na América Latina como
Kenneth J. Collins.8
4
AULÉN, Gustaf. A fé cristã. São Paulo: ASTE, 2002.
Albrecht Ritschl. La doctrina cristiana de la justificación y de la reconciliación.. 3 vol. 1870-1874.
Edições em alemão e inglês.
66
Veja SALVATI, G. M. “Expiação”. In: Lexicon: dicionário teológico enciclopédico. Tradução: João
Paixão Netto; Alda de Anunciação Machado. São Paulo: Edições Loyola, 2003. p. 284: Ele destaca “A
dignidade incomensurável daquele que se ofereceu e o amor ilimitado que o sustentou conferem um valor
absoluto e definitivo à expiação de Cristo”.
7
Por exemplo na teologia católica. Veja SCHENKER, Adrian. “Expiação”. In: LACOSTE, Jean-Yves
(supervisão). Dicionário crítico de teologia. Tradução: Paulo Meneses et al. Edições Loyola, 2004. p.
709-712, lemos: “A mediação de Cristo Jesus para reconciliar os homens com Deus funda-se em sua
morte como martírio, não sobre a expiação”; Assim também SALVATI, G. M. “Expiação”. In: p. 284285: Ele destaca “a paixão e morte de Jesus como sacrifício de expiação que obtém a salvação do mundo”
(p. 284). A igreja antiga [...] evoca em inúmeras ocasiões o sacrifício dos mártires como oferta que expia
os pecados da humanidade.”
8
Livros recentes sobre a doutrina Metodista não comentam a teologia da cruz ou supostas preferências na
escolha da teoria da expiação. Cf. CAMPBELL, Ted A. Methodist Doctrine: the essentials. Nashville,
TN: Abingdon Press: 1999; CAMPBELL, Dennis M.; LAWRENCE, William B.; RICHEY, Russel
(eds.). Doctrines and disciplines. Nashville, TN: Abingdon Press, 1999 [Coletânea United Methodist and
American Culture, vol. 3]; MARSH, Clive; BECK, Brian; SHIER-JONES, Angela et al. Unmasking
Methodist Theology. New York / London: Continuum, 2004.
5
5
Deschner identificou três tendências em Wesley: a promoção da teoria da satisfação
da ira de Deus, a promoção da teoria da substituição penal e uma versão anterior à teoria
do Christus Victor.9 Kenneth J. Collins segue Deschner parcialmente e afirma que Wesley teria interpretado a morte de Jesus como uma morte sacrificial nos termos de Anselmo10 e como substituição penal nos termos de Calvino. Ele vai mais longe e afirma
que isso seria o consenso da pesquisa wesleyana contemporânea em geral,11 além de
identificar ainda traços da posição de Orígines12. Em oposição a Dunning, que insiste
que o Novo Testamento não conhece uma teologia da punição de Jesus, mas do sofrimento de Jesus, Collins afirma: “Nos, porém, vamos argumentar que a promulgação da
intepretação da teoria da substituição penal por Wesley não seja somente apropriada,
mas, de fato indicial para sua teologia em geral”.13 Outro caminho toma Theodore Jennings, que revisita a teoria da expiação em busca de um paradigma transformador.14
Jennings procura desenvolver uma teologia da cruz não cúmplice do antijudiasmo e
capaz de responder questionamentos da teologia feminista ou feminina. Ele levanta a
seguinte pergunta: Deus deseja ou quer intencionalmente a morte do filho?15 Ao longo
do texto irá afirmar que eu chamo em meu texto a necessidade da superação do paradigma mérito-sacrifical:
9
“Man´s sin is primarily an offense against God Himself. Not the victorious devil, not the damaged image of God in man, not the unfulfilled law and man´s lost righteousness, not the word in bondage, but the
wrath of God puts alienated man under the sentence of death. […] … alongside the judicial scheme of
thought, there is also in Wesley a pervasive tendency to view Christ´s work […] in terms of the military
metaphor: Christ is a king who has won and wins victory for us over sin and evil.” DESCHNER, John.
Wesley´s Christology: an interpretation. With a new forward by the author. Grand Rapids, Michigan:
Zondervasn Publishing House, 1988. p. 68 e 116.
10
“Indeed, from the vantage point of the New Testament authors, the sacrificial death of Christ is so crucial that much of the material of the Gospels is taken up with the last twenty-four hours of Jesus´ life”.
COLLINS, Kenneth J. The theology of John Wesley: Holy love and the shape of grace. Nashville, TN;
Abingdon Press, 2007. p. 99. “It should be evident by now that Wesley´s thought in this context, as he
cites the Anglican material, is reminiscent of that of Anselm in his […] classic Cur Deus Homo.”
COLLINS, Kenneth J. The theology of John Wesley: Holy love and the shape of grace. Nashville, TN;
Abingdon Press, 2007. p. 101
11
“… it is not surprising to learn that a broad agreement exists in the secondary literature that Wesley´s
satisfaction view of the atonement is best comprehended in terms of penal substitution. Langford, for
example, notes that from John Wesley to Richard Watson, the theme of Jesus’ substitutionary death as a
means of satisfying the justice of god was central in Methodist theology […].”COLLINS, Kenneth J. The
theology of John Wesley: Holy love and the shape of grace. Nashville, TN; Abingdon Press, 2007. p. 102.
12
COLLINS, Kenneth J. The theology of John Wesley: Holy love and the shape of grace. Nashville, TN:
Abingdon Press, 2007.p. 100.
13
“We, however, will make the case that Wesley’s promulgation of a penal substitutionary interpretation
of the atonement is not only appropriate but also is actually indexical to his overall theology”. COLLINS,
Kenneth J. The theology of John Wesley: Holy love and the shape of grace. Nashville, TN; Abingdon
Press, 2007.p. 103.
14
JENNINGS, JR, Theodore W. Transforming atonement: a political theology of the cross. Minneapolis:
Fortress, 2009.
15
JENNINGS, JR, Theodore W. Transforming atonement: a political theology of the cross. Minneapolis:
Fortress, 2009, p. 13. “Does God desire or intend the suffering and death of the Son?
6
Não é por acaso que, enquanto esta morte é vista como segundo a vontade de Deus, que estruturas promotoras-da-morte legitimam-se pela
referência a esse Deus. Um Deus que deseja a morte de seu “Filho”
não pode salvar-nos. Seria um Deus que mata o que ama, a fim de salvar a si mesmo, a sua “justiça”, a sua glória, a sua reputação.16
O que eu gostaria de dizer com este pequeno parágrafo é que, a partir de Deschner,
sedimentou-se na pesquisa norte-americana do pós-guerra até contemporânea uma ênfase da interpretação da cruz que tem muito a ver com que eu também encontro como
opinião geral entre alunos e alunas de teologia no Brasil, e isso independente de sua
confissão ou denominação: a dominância da chave hermenêutica católica ou calvinista
na interpretação da cruz de Cristo. O com as palavras de Jennings:
... Ainda existem muitos protestantes, quase certamente a maioria, que
supõem que algo como a visão de satisfação substitutiva da expiação é
a ortodoxa ou visão tradicional, qualquer desvio que indica concessões
inaceitáveis para a incredulidade17
Já aquela soteriologia que corresponde à frase Metodistas são amigos/as de todos e
inimigos de ninguém, a teologia da reconciliação paulina como teologia da superação
da inimizade humana pela amizade divina parece estar em falta.
Pode ser que nos países da América Central, como no caso de México, contribuíram
para esta preferência provavelmente também aspectos das tradições pré-cristãs: O
... padrão de sacrifício e merecimento também fazia parte do relacionamento entre a humanidade os deuses, cujos segredos eram conhecidos pelos sacerdotes astecas. [...] Se os deuses sacrificaram o seu sangue pela recriação do mundo, então na reencenação dos atos divinos
os seres humanos também tinham de oferecer o seu sangue.18
Eu não nego que Anselmo ou Calvino aparecem em Wesley, especialmente no segundo artigo da religião, e com eles as teorias que interpretam a cruz ou na base da teoria da satisfação da ira de Deus ou na base da substituição penal19.
16
E isso significa,
“... It is not accidental that so long as this death is viewed as willed by God, then death-dealing structures legitimate themselves by reference to this God. A God who will the death of his `Son´ cannot save
us. That is the God who kills what he loves in order to save himself, his ‘justice’, his glory, his
reputuation.” Confere JENNINGS, JR, Theodore W. Transforming atonement: a political theology of the
cross. Minneapolis: Fortress, 2009. p. 215.
17
JENNINGS, JR, Theodore W. Transforming atonement: a political theology of the cross. Minneapolis:
Fortress, 2009. p. 218. Consta esta posição também entre os cristãos estadunidenses: “... there are still
many Protestants, almost certainly the majority, who suppose that something like the substitutionary
satisfaction view of atonement is the orthodox or traditional view, any deviation from which indicates
unacceptable concessions to unbelief”.
18
GONZÁLEZ, Ondina E.; GONZÁLEZ, Justo L. Cristianismo na América Latina: uma história. São
Paulo: Vida Nova, 2010.
19
Por exemplo na Igreja do Nazareno: “O que Jesus Cristo fêz em obediência aos preceitos da lei, e o que
êle sofreu em satisfação à penalidade dela, constituem a base do nosso perdão e da nossa justificação,
7
com certeza, que Metodistas precisam lidar no seu interior com teologias que seguem
lógicas sacrificais, isto quer dizer com teologias que insistem na morte de alguém para
que possam imaginar a salvação e a sanidade. O que eu questiono que seja a única leitura aceita, conforme proposto por Collins ou ortodoxa, segundo Deschner. Antes, porém,
de mostrar as razões para esta rejeição, precisamos abrir ainda mais uma segunda frente.
Identifico uma segunda teoria da expiação em nosso meio que se opõe à afirmação
Metodistas são amigos/as de todos e inimigos de ninguém. Ela apareceu somente a
partir da década 60 do século vinte e introduziu em nossas igrejas uma nova versão da
teoria de mérito em forma da teologia da prosperidade.20 De longe tematicamente vinculada com a teologia de mérito de Irineu, trata-se de uma teologia bastante moderna enquanto se refere a um direito humano conquistado pela cruz a ser reclamado diante de
Deus. Se eu tiver razão com a minha análise, enfrenta hoje a defesa da cidadania global
e da dignidade da vida um problema sério justamente por esta preferência soteriológica
dupla no metodismo: a ênfase no sacrifício ou a ênfase no mérito.
Eu parto da compreensão que teologias que focam sacrifícios e méritos não são somente incapazes de articular algo como a cidadania global e a dignidade da vida, mas,
muitas vezes, elas vão posicionar-se contra a cidadania global e a dignidade da vida.
Porque a lógico sacrifical não acredita em justiça ou misericórdia sem sacrificio, 21 e a
lógica meritocrática não acredita em justiça e misericórdia sem mérito. Ambos não acreditam na graça universal ou no amor incondicional. As teologias sacrificiais e meritocratas promovem, pela própria natureza, hierarquizações, diferenciações e exclusões
de uma forma incorrigível.22 No caso de Anselmo de Cantuária, isso fica muito claro:
ele é o teólogo dos conquistadores normandos que trazem um novo sistema econômico:
o feudalismo. A sua teologia da honra ferida de Deus, que requer a morte como recompensa, é nada mais nada menos do que uma tradução direta das relações feudais reais na
perante de Deus”. BINNEY, Amos R. Compéndio de teologia: contendo uma sinopse das evidências,
doutrinas, moral, e instituições do cristianismo. Campinas, SP: Editora Nazarena, [s.a.]. p. 104.
20
Cf. PIOEDRA, Arturo. “Teologia da graça e teologia da prosperidade; a tentativa inacabada da concretização da fé cristã.” In: BATISTA, Israel (rg.). Graça, cruz e esperança na América Latina. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2005. P. 12-154.
21
Cf. o importante estudo de GIRARD, René. O Sacrifício. São Paulo: É Realizações, 2011; HINKELAMMERT, Franz. Sacrificios humanos y sociedad occidental. Lucifer y la bestia. San José: DEI 1998;
HINKELAMMERT, Franz. Hacia una economía para la vida. San José DEI, 2006; RUBIO, David Sanchez. “Sobre a racionalidade econômica eficiente e sacrifical, a barbárie mercantil e a exclusão dos seres
humanos concretos e a natureza” In: Estudos Juridicos Unesp, vol. 17, n. 26, p. 2-16 (2013). Disponível
em: < http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/1267/1161 >. Acesso em: 20 jul. 2015.
22
Confere: BOWLES, Samuel; DURLAUF, Steven N.; HOFF, Karla. Poverty Traps. Princeton, NJ:
Princeton University Press, 2006; BOWLES, Samuel; DURLAUF, Steven N.; HOFF, Karla. Meritocracy
and Economic Inequality. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2000.
8
esfera da relação entre Deus e a humanidade: ferir a honra do senhor do feudo foi sempre pago pela morte.23
Agora precisa-se veementemente contestar que a teologia sacrifical ou a teologia do
mérito sejam as únicas teologias relevantes ou tradicionalmente presentes ou futuramente desejáveis na teologia metodista norte-americana ou latino-americana. Temos raízes e
experiências no passado que representam nada menos do que verdadeiras revoluções
contra a matriz mérito-sacrifical que, atualmente, esquecemos ou não promovemos.
Então, é a tarefa da teologia resgatar essas perspectivas alternativas em busca de horizonte novos. Eu encontrei estas perspectivas contestadoras da matriz mérito-sacrifical
em textos do passado e especialmente, talvez deverá surpreender alguns, em textos doutrinários ou oficiais das missões e igrejas metodistas da língua espanhola e da língua
portuguesa, parcialmente, em textos metodistas dos Estados Unidos.
Como primeiro exemplo, apresento um texto de 1956, originalmente escrito em
1951. Repare-se como neste manual de membresia para crianças ou adolescentes se
refere aos inimigos, ao pecado, ao sofrimento e ao amor:
Deus poderia ter salvo o Seu Filho, bem como fazer com que o plano
dos inimigos de Cristo falhasse. Deus, porém, não força os homens,
nem mesmo para salvar o seu Filho muito amado. Mostrou, porém,
aos homens, através da morte de Jesus, quão terrível é o pecado. / E,
através de Jesus, Deus mostrou aos homens o quanto ama os Seus filhos. Enquanto Jesus sofria nas mãos de homens pecadores, até a morte de cruz, Deus sofria também pelos seus filhos pecadores. Deus buscou-os com amor a fim de ajudá-los, de chamá-los a si de salvá-los
dos seus pecados.24
O que nós encontramos aqui não é Anselmo nem Calvino, mas a teologia da reconciliação paulina, que destaca a superação da inimizade humana pela amizade divina ou
pelo amor de Deus. É esta a teologia da cruz que dá origem à frase Metodistas são amigos de todos e inimigos de ninguém. É esta a teologia da cruz que garante a profunda
radicalidade da afirmação Metodistas são amigos de todos e inimigos de ninguém. É
23
Conferir as respectivas passagens em: RIEGER, Joerg. Christ & empire: from Paul to postcolonial
times. 1st. ed. Minneapolis: Fortress Press, 2007. Versão em língua portuguesa: Cristo e Império: de
Paulo aos tempos pós-coloniais. São Paulo: Paulus, 2009; Cf. também o parágrafo “O céu feudal” em
HINKELAMMERT, Franz. A maldição que pesa sobre a lei: as raízes do pensamento crítico em Paulo de
Tarso. São Paulo: Paulus, 2012. p. 179-180.
24
JONES, Mary Alice. O que significa ser membro da Igreja Metodista? Guia para meninos e meninas
candidatos à profissão da fé. Tradução: Albertina Damasceno e Nilda Trindade. São Paulo: Junta Geral da
Educação Cristã, 1956. p. 22-23. [Original: Membership manual of the Methodist Church for boys and
girls. Nashville, TN: Methodist Publishing. House, 1951]. EU esperava algo também no famoso texto de
Camargo, mas ele não trata do tema. CAMARGO, Gonzalo Báez. Genio y Espiritu del Metodismo Wesleyano. Casa Unida de Publicaciones (Mexico), 2 ed., 1981. O texto reúne falas de 1951.
9
esta a teologia da cruz que representa a razão última do posicionamento Metodistas são
amigos de todos e inimigos de ninguém: a morte da cruz sinaliza o amor em sua maior
radicalidade: o amor para com o inimigo.
Em nenhum outro lugar fica a substituição da teologia sacrificial pela teologia paulina da reconciliação mais evidente do que numa mudança do texto do segundo artigo da
religião nas missões espanholas e portuguesas.25
Quadro um: as edições em língua portuguesa
188826 [até 1898]
191027 até hoje
Quadro dois: As edições em língua espanhola
25
Apresentamos estas mudanças doutrinárias pela primeira vez em RENDERS, Helmut. “To Reconcile
Us to His Father”: A Unique Translation of the Second Article of Religion of the Methodist Church in
Brazil and Three Other Lusophone Countries”. In: Methodist Review, vol. 5, p. 25-51 (2013).
26
Igreja Methodista Episcopal do Sul, As doutrinas e disciplina da Igreja Methodista do Sul 1888: Edição Portuguesa, eds. J. L. Kennedy, J. W. Wolling, and J. W. Tarbaux. Rio de Janeiro: Typ. Aldina de A.
J. Lamourreux & Co. 79, Rua de Sete de Setembro, 1888. p. 2.
27
Egreja Methodista Episcopal, Sul, Doutrinas e disciplina da Egreja Methodista, Sul, 1910: edição
brasileira. p. 2.
10
189128
192629
O que significa esta diferença? A afirmação de que Deus precisa ser reconciliado conosco articula a ideia que o problema a ser superado seria a inimizade de Deus – no
caso, a sua honra ferida, e sua ira resultante disso. Isso representa a teoria da satisfação
da ira de Deus de Anselmo de Cantuária. A afirmação que a humanidade precisa ser
reconciliada articula a compreensão que a cruz de Cristo foca na inimizade humana.
Esta afirmação clássica da teologia paulina não é sacrifical nem meritocrata e se tornou
uma ênfase das missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Interessantemente, não
há sequer um artigo, comentário ou estudo sobre esta “anomalia” doutrinária, somente
uma ampla documentação de uma discussão sobre o segundo artigo da religião e, finalmente, da negação da modificação desse artigo nos Estados Unidos, ou seja, nos Cânones em língua inglesa.30
O que traz esta modificação ao nosso tema? A ideia da cidadania global e da promoção da dignidade da vida em termos mais amplos requer a superação de lógicas e discursos classificadores e exclusivistas no sentido da sacralização de sistemas políticos
econômicos ou sociais31. O Deus que sinaliza pela cruz e morte de Jesus, o Cristo, sua
28
Iglesia Metodista Episcopal del Sur, Doctrinas y disciplina de la Iglesia Metodista Episcopal del Sur,
1891.Nashville, TN: Casa de Publicaciones de la Iglesia Metodista Episcopal del Sur, 1891. p. 8.
29
Iglesia Metodista Episcopal del Sur, Doctrinas y disciplina de la Iglesia Metodista Episcopal del Sur,
1926. Nashville, TN: Casa de Publicaciones de la Iglesia Metodista Episcopal del Sur, 1927. p. 16.
30
Em termos qualitativos, a rigorosa distinção entre os dois modelos deixou a existir em 1968 na criação
da Igreja Metodista pela inclusão dos textos doutrinários da Igrejas dos Irmãos que seguia também o
modelo paulino.
31
A teologia europeia tinha um outro inimigo número um – as ideologias e a sacralização de projetos
humanos. Cf. José Míguez Bonino que “Traditional Protestant theology – and much Roman Catholic
post-Vatican II thought, which follows a parallel line – is so concerned with the prevention of any
“sacralizing of human projects and ideologies that this to some of us result in emptying human action of
all theological meaning. […]” Uma ideologia que “justifies and sacralizes social relations in the capitalist
bourgeois order” [MÍGUEZ-BONINO, José. “Wesley´s doctrine of sanctification from a liberationist
11
escolha de enfrentar, desafiar e superar a inimizade mortal da humanidade pela vulnerabilidade e autodoação, é um Deus que dá esperança, que mostra um amor incondicional
e que constrói as bases de uma fé diferentes.
A ética do amor ao inimigo e a hospitalidade como amor para com o estrangeiro
(philoxenia): exemplos de uma ética não mérito-sacrificais e da acolhida incondicional
Até agora argumentamos que uma forma única e muito específica de se relacionar
com o mundo, a afirmação Metodistas são amigos/as de todos e inimigos/as de ninguém tem:

Primeiro, em sua origem, uma preocupação soteriológica diretamente vinculada a uma interpretação distinta da teologia da cruz e,

segundo, encontrou uma surpreendente valorização nas missões latinoamericanas da Igreja Metodista Episcopal do Sul.
Entretanto, sabemos que há igualmente outro argumento bíblico-teológico significativo para entendermos o significado da afirmação Metodistas são amigos de todos e
inimigos de ninguém. Este segundo argumento parte da tradição da chamada fonte Q
preservada pelos evangelhos de Mateus e de Lucas. Nela trata-se do mandamento do
amor ao inimigo. Veja como este trecho em Mateus 5 é enraizado na ideia da filiação e
perfeição divina:
44
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos
maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos
céus; [...]
48
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos
céus.
Antes de ir para Wesley, lembramos como Dietrich Bonhoeffer reconectou este texto
com a teologia da cruz:
Cada ofensa da parte do inimigo nos unirá ainda mais com Deus e
com o inimigo. Toda perseguição fará com que o inimigo se aproxime
mais da reconciliação com Deus, tornando o amor cada vez mais invencível. Como se torna invencível o amor? Jamais perguntando pelo
que o inimigo lhe contribui, mas, unicamente pelo que Jesus fez. O
amor ao inimigo leva o discípulo ao caminho da cruz e à comunhão
com o Crucificado. Com a certeza de ser levado a este caminho, cresce também a certeza da invencibilidade do amor, a certeza de vencer o
perspective.” In: RUNYON, Theodore (ed.). Sanctification and Liberation. Liberation theologies in the
light of the Wesleyan Tradition. Nashville, TN: Abingdon Press, 1981. pp. 49-63].
12
ódio do inimigo, pois não se trata do próprio amor. É unicamente o
amor de Cristo que foi à cruz por seus inimigos e que, na cruz, por eles ourou. Em face da morte de Jesus Cristo na cruz, os discípulos reconhecem que também eles contavam entre os inimigos vencidos pelo
seu amor. Esse amor abre os olhos ao discípulo, para que reconheça
no inimigo o irmão, para proceder com ele como procede com o irmão. Por quê? Por viver exclusivamente do amor daquele que o tratou
como irmão, aceitando-o quando era seu inimigo e atraindo-o para
dentro de sua comunhão como a seu próximo. O amor abre ao discipulado a visão de tal maneira que vê também o inimigo incluído no amor
de Deus, que vê o inimigo sob a cruz de Jesus Cristo. [...] O amor de
Deus busca o inimigo, carente do amor, que julga digno do amor.32
Todos sabemos que este texto, escrito originalmente em 1937 com o título Nachfolge, o que significa literalmente Seguimento ou O seguir, foi produzido como manual
espiritual para os seminaristas de um Seminário Teológico luterano clandestino em um
ambiente altamente hostil a ideias como a cidadania global ou a dignidade da vida sem
exceção. Bonhoeffer traduz para mim o que John Wesley disse na sua época quando
afirmou: Metodistas são amigos/as de todos e inimigos/as de ninguém.
Vamos então investigar como o tema aparece nos escritos de John Wesley.33 O aspecto da corresponsabilidade para com um mundo, inclusive um mundo hostil habitado
por inimigos, é um aspecto marcante já na sua Coleção de orações modelo para cada
dia da semana de 1733.34 Neste guia de oração, aparece o tema da intercessão para os
inimigos sete vezes, inclusive nas duas orações da abertura e do fechamento da semana.
Obviamente trata-se de uma realidade que requer uma resposta dentro do espírito salvífico defendido por John Wesley.
Envia o teu abençoado espírito para o coração dessa nação pecaminosa e faça-nos um povo santo: desperta o coração do nosso soberano,
da família real, do clero, da nobreza [...] para que eles sejam felizes
instrumentos em tuas mãos, promotores das tuas boas obras; sê generoso para com as universidades, com a nobreza rural e a gente comum
destas terras [...] conceda que as suas dificuldades na fé lhes proporcionem paciência [...]. Muda os corações de meus inimigos e dá-me a
graça de perdoá-los, assim como tu nos perdoas pela obra de Cristo.35
32
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 10ª ed. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2004. p. 90-91.
Cf. parte do texto em seguida em RENDERS, Helmut. “O metodismo nascente como movimento: elementos, mentalidades e estruturas de um cristianismo militante. In: Caminhando, vol. 9, n. 1 [15], p. 121136 (jan. / jun. 2005). Disponível em: < https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/CA/issue/view/92 >. Acesso em: 20 jul. 2015.
34
WESLEY,John. A collection of forms of prayer for ever y da y in the week, Bristol, 1733.
35
WESLEY, John. A collection of forms of prayers for every day of the week. Bristol, 1742, p. 8.
33
13
Oração de manhã
Oração da noite
Domingo Gentios; nação; igreja estado; univer- Criação; amigos; família; inimigos;
sidades; família; inimigos;
Humanidade; nação; povo; igreja;
2ª-feira
governadores e hierarquia religiosa;
família e inimigos;
Todos as nações;
Igreja; clero; príncipes cristãos; rei;
3ª-feira
família real; instituições de caridade;
pobres (diversos tipos);
Humanidade; príncipes cristãos; povo; Povo; família real; pobres;
4ª-feira
universidades; família;
Toda a raça humana; gentios; Judeus; Toda a humanidade; príncipes cristãos;
5ª-feira
Igreja Católica; nação; governador; rei; família real; clero; parlamentos;
clero; instituições de ensino religioso; universidades; familiares; amigos; socipobres; prisioneiros; escrupulosos de edade; perseguidos pela fé; prisioneiros;
mais; doentes físicos e lunáticos; pos- inimigos;
sessos; amigos e inimigos;
Toda a humanidade; gentios; igreja Todo mundo; todos os cristãos; todos os
6ª-feira
católica; os inimigos do rei; família governadores; nosso rei; clero; universireal; parlamentos; aristocracia rural; dades; doentes; aflitos;
universidades; instituições diaconais;
doentes; família; amigos;
Raça humana; Igreja Católica; clero; Todos os seres humanos; igrejas; nação;
Sábado
rei George; família real; universida- rei George; família real; conselheiros do
des; nobreza; pai e mãe; aflitos (prisi- rei; nobreza; magistrados; universidaoneiros, doentes, oprimidos); inimi- des; aristocracia rural; inimigos.
gos.
No cotidiano da pregação, o tema aparece da seguinte forma: “Chegamos em St. Ives ao redor das duas de madrugada. Às cinco horas eu preguei sobre ‘Ame seus inimigos’ e, em Gwennap, à noite, sobre ‘Todos os que praticam a vontade de Deus em Cristo Jesus sofrerão perseguições’36. O motivo do amor para com o inimigo37 que persegue
entrou também na descrição do Caráter de um metodista (Parágrafo 9) e define – a perfeição cristã – por representar a conformidade com Cristo38. Nos seus sermões, Wesley
fala do amor ao inimigo pela primeira vez no sermão 2, O quase-cristão:
És feliz em Deus? [...] Está escrito em teu coração este mandamento:
“O que ama a Deus, ame também a seu irmão?” Amas, pois, a teu
próximo como a ti mesmo? Amas todos os seres humanos, mesmo a
teus inimigos, aos inimigos de Deus, como à tua própria alma, e como
Cristo te amou?39
36
Diário de John WESLEY, 22 de junho de 1745.
Palavras do campo semântico inimigo encontram-se 446 vezes nas obras de Wesley.
38
WESLEY, John. Um breve relato da perfeição cristã. 1777, parágrafos 10,15 (5), e Q. 38 (1) [último
conselho].
39
WJW, vol. 1, 1741, p. 141 – sermão 2, §III.9 [The almost Christian]: “Are you happy in God? Is he
your glory, your delight, your crown of rejoicing? And is this commandment written in your heart, ‘That
he who loveth God love his brother also?’ Do you then love your neighbour as yourself? Do you love
every man, even your enemies, even the enemies of God, as your own soul? As Christ loved you?”
37
14
A vontade e a capacidade de praticar o amor ao inimigo é aqui critério de ser cristão
ou a distinção do quase-cristão do cristão verdadeiro! A superação da inimizade pela
amizade, também como superação do mal pelo bem ou do mal pela benevolência, Wesley articula em diversos momentos. Uma aplicação refere-se à relação entre as confissões. Segundo Wesley, a benevolência leva ao respeito e à tolerância da diversidade
cristã, sendo que as “palavras do Jesus manso e benevolente” impedem o uso da palavra
como “veneno” “inflamando nos corações de cristãos um contra o outro”.40 A superação
do espírito de odeio ou da inimizade entre irmãos encontra Wesley em Paulo: “Mas,
como este espírito pode marcar um discípulo ou ainda um ministro do Jesus benevolente! O St. Paulo obtinha um temperamento melhor, quando se alegrava sempre que Cristo
era pregado, mesmo por aqueles que eram seus inimigos pessoais.”41 A superação da
inimizade pela benevolência é sempre um ministério resultante do dom de Deus42, que
alimenta a perseverança e esperança quando não somos imediatamente capazes de desarmar a lógica e as angústias daquele e daquela “...quem foi ensinado a preferir sacrifício em vez de misericórdia”43.
Para Wesley, transparece na capacidade de amar ao
inimigo o cristão verdadeiro e maduro:
Se vocês não amarem a Deus, e toda a humanidade, vocês não foram
renovados na imagem de Deus; vocês não foram santos como eu sou
santo. [...] Sua alma não é sedenta por coisa alguma na terra, a não ser
apenas pelas coisas de Deus, do Deus vivo. Ele tem muito amor para
com toda a humanidade, e está sempre pronto a dar sua vida por seus
inimigos. Apenas aquele que, neste espírito, faz o bem a todos os homens, deverá entrar no reino dos céus; e aquele que sendo por esse
motivo menosprezado e rejeitado pelos homens, sendo odiado, repro-
40
WESLEY, John. Explanatory Notes upon the New Testament, 1754. p. 5 – Introdução, §9: “But my
own conscience acquits me […] having written one line with a purpose of inflaming the hearts of Christians against each other. God forbid that I should make the words of the most gentle and benevolent Jesus
a vehicle to convey such poison.”
41
WESLEY, John. Explanatory Notes upon the New Testament, 1754. p. 119 – Mc 9 .38: “And we forbad
him, because he followeth not us – How often is the same temper found in us? How readily do we also
lust to envy? But how does that spirit become a disciple, much more a minister of the benevolent Jesus!
St. Paul had learnt a better temper, when he rejoiced that Christ was preached, even by those who were
his personal enemies. But to con fine religion to them that follow us, is a narrowness of spirit which we
should avoid and abhor.”
42
WESLEY, John. Explanatory Notes upon the New Testament, 1754. p. 399 – Rm 13 .14: “But put ye on
the Lord Jesus Christ – Herein is contained the whole of our salvation. It is a strong and beautiful expression for the most intimate union with him, and being clothed with all the graces which were in him. The
apostle does not say, Put on purity and sobriety, peacefulness and benevolence; but he says all this and a
thousand times more at once, in saying, Put on Christ.”
43
WESLEY, John. Explanatory Notes upon the New Testament, 1754, p. 225 – Jo 5.15: “Let us not wonder then, if our good be evil spoken of: if even candour, benevolence, and usefulness, do not disarm the
enmity of those who have been taught to prefer sacrifice to mercy.”
15
vado, e perseguido, regozija-se e está `extremamente feliz´, sabendo
em quem ele tem crido.44
Na aplicação prática, o tema reaparece também nos discursos antibélicos: “Oh, amor
pelo dinheiro. A raiz de todo mal. [...] Ame a Deus, ame seu próximo. Ame seu inimigo.”45 Que Wesley traduziu este apelo em um ministério de cuidar prisioneiros da guerra
franceses é do conhecimento comum.
Amar o inimigo é o aspecto mais radical do princípio fundamental: amar a humanidade. Para nosso tema, a busca de uma perspectiva teológica wesleyana capaz de orientar e sustentar a cidadania global e a dignidade da vida abre todas as portas necessárias.
Segundo John Wesley, Deus ama a humanidade, ou, na expressão tanto de John como
de Charles Wesley, Deus é, simplesmente, o “amigo das vidas”. 46 Parte deste amor à
humanidade é também a capacidade de reconhecer virtude em pessoas de outra matriz
religiosa ou não religiosa, pessoas às quais Wesley se refere como “santos do mundo”.47
Uma forma de vivenciar o amor à humanidade potencialmente hostil era a hospitalidade. A palavra grega philoxénia é composta por philos, o amor fraternal, e xenos, o
estrangeiro. A acolhida do estrangeiro na própria casa era um ato oposto à xenofobia, o
medo de estrangeiros ou o ódio aos estrangeiros. O termo aparece pela primeira vez na
lista de dons e ministérios de Paulo segundo Romanos 12.13 e 1 Coríntios 4.12, depois
em 1 Pedro 4.9, Tito 1.8; 3.2, Lucas 6.27 e Mateus 25.35, ou seja, em textos da “segunda geração”, 80 d.C. adiante. Nessa época, a philoxenia é descrita como virtude essencial do episcopado (Tt 1.8 e 3.2), como algo que deve ser preservado (Heb 13.2a). Finalmente, apresenta-se o próprio Messias como um xenos rejeitado ou alimentado, vestido
e visitado (Mt 25.35). Em termos gerais, Wesley acolhe Mateus 25.35 na sua reinterpretação das obras de misericórdia e obras de piedade, amplamente introduzida na teologia
44
1247 WJW, vol. 1, 1740, p. 691-692 – sermão 33, §I.5 e §II.1 [Upon the Lord’s sermon on the mount,
XIII]: “…ye were not lovers of God and of all mankind; ye were not renewed in the image of God. Ye
were not holy as I am holy. […] His soul is athirst for nothing on earth, but only for God, the living God.
He has bowels of love for all mankind, and is ready to lay down his life for his enemies. He loves the
Lord his God with all his heart, and with all his mind and soul and strength.32 He alone shall enter into
the kingdom of heaven who in this spirit doth good unto all men; and who, being for this cause despised
and rejected of men, being hated, rep roached, and persecuted, `rejoices and is exceeding glad ´, knowing
in whom he hath believed…”
45
WESLEY, JOHN. Arminian Magazine, vol. 5, p. 40, n. 1 (jan. 1782). The cause and cure of war: “O
love of money! Root of evil! […] Love God. Love your neighbours. Love your enemies.”
46
Veja a expressão Lover of souls e lover of mankind nos sermões, nas cartas e nas canções e no seguinte
título: WESLEY, John. The desideratum: or electricity made plain and useful. By a lover of mankind and
of common sense. 1760 (6 edições até 1791).
47
WESLEY, John. Farther appeal to men of reason and religion, 1745. In: WESLEY, John. The Bicentennial Edition of Works of John Wesley, vol. 11. [Appeals & Open letters]; Oxford: Clarendon, 1983, p.
316 (§ III.35).
16
anglicana, e transversal nas obras de Wesley.48 Raramente, Wesley substituiu “obras de
misericórdia” por “obras de caridade” – talvez com base de William Law
49
–, ou usa
“obras de necessidade”50 ou “obras de benevolência”51. Wesley transforma, então, de
certo modo a própria philoxenia em um elemento fundamental da piedade metodista
mendiante das Regras Gerais.
Nelas, as obras de misericórdia compõem sua primeira parte (deixar o mal, fazer o
bem)52 e as obras de piedade, a segunda (observar as ordenanças de Deus). Apesar disso, Wesley nunca estabeleceu uma única ordem entre as obras de misericórdia e as obras de piedade; diferentemente, ele enfatiza sua vinculação: “O amor a Deus leva naturalmente a obras de misericórdia; da mesma forma, o amor ao próximo leva a obras de
piedade.”53 A falta de um dos dois impede a perfeição e o crescimento na graça.54Atrás
de tudo isso, aparece uma antiga tradição espiritual. O paralelo entre “obras de caridade” e “obras de misericórdia”, ainda carrega em si a memória da antiga compreensão de
que a virtude da caritas deveria ser desdobrada pelas seis, mais tarde sete ou quatorze
obras de misericórdia. Veja, por exemplo, a lista no sermão 26 de 1747:
... as obras de caridade, tudo quanto dermos, falarmos ou fizermos que
aproveite a nosso próximo e de que outros homens recebam qualquer
auxílio, seja em seu corpo, seja em sua alma. Alimentar os famintos,
vestir os nus, abrigar ou dar assistência aos peregrinos, visitar os enfermos ou presos, confortar os aflitos, instruir os ignorantes, reprovar
os maus e exortar e animar os que fazem o bem...55
Nesta lista, Wesley não somente cita as seis obras de misericórdia segundo Mt 25.3146, mas também cita aquelas obras de misericórdia que se chamam as pastorais, nas
48
Veja a lista em WJW, vol. 1, 24 abr. 1767, p. 343, rodapé 65 – sermão 14, §I.13 [The repentance of
believers].
49
William LAW. Serious Call, capítulo 2, “ For how is it possible for a man that intends to please God in
the use of his money, and intends it because he judges it to be his greatest happiness; how is it possible
for such a one, in such a stat e o f mind to bury his money in needless, impertinent finery , in covering
himself or his horses with gold, whilst there are any works of piety and charity to be done with it, or
any ways of spending it well?” (grifo deste autor). Em Wesley, veja WJW, vol. 2, 1760, p. 247 – sermão
48, §II.6 [Self denial], traz a rara distinção entre obras de caridade e obras de piedade. Veja também
WJW, vol. 1, 1748, p. 573 – sermão 26, §2 [Upon our Lord’s sermon on the mount, VI], onde as expressões obras de caridade e obras de misericórdia encontram-se lado a lado .
50
WJW, vol . 3, 1730 , p . 273-274 – sermão 139, § II.2 e §III.2.3 [On the sabath].
51
WJW, vol . 3, 24 jun. 1741, p . 395 -396 – sermão 150, §I.5 [Hipocrasy in Oxford].
52
Herança d a ética profética, veja Am 5.14-15 e 9 .4; Is 1.17 e 7.15-16; Jr 13 .23.
53
WJW, vol. 3, 11 set. 1775, p. 191 – sermão 84, §III.5 [The important question]: “…love of God naturally leads to works of piety, so the love of our neighbour naturally leads all that feel it to works of mercy.
54
WJW, vol . 2, 1760 , p . 247-248 – sermão 48 , § II.6 [Selfdenial].
55
1205 WJW, vol . 1, 1748 , p . 573 – sermão 26, §I.1 [Upon the Lord ´s sermon on the mount, VI].
17
quais Wesley somente não menciona “aguentar e perdoar”. Tudo isso seria segundo
Wesley fazer bem ao xenos.
A distinção entre “obras de misericórdia” e “obras de piedade” seria, então, menos a
distinção entre um cuidado com o corpo e a “alma”, mas a distinção entre a responsabilidade da comunidade com as vidas dos outros na sua integralidade e a vida da comunidade em relação ao Deus vivo, usando os meios da graça estabelecidos por ele. Há mais
um ponto importante que sustenta esta compreensão, quando, em suas Notas explanatórias sobre o Novo Testamento, Wesley corrige as traduções bíblicas da sua época e comenta no sermão Sobre a caridade as razões de forma detalhada. Wesley rejeita a tradução de agape por caridade, introduzida, segundo ele, em 1649, ou seja, durante o governo puritano de Cromwell, por reduzirem o ágape a “atividade externa com um significado pouco além de dar esmolas”.56 Para Wesley, o capítulo 13 da Epístola aos Coríntios fala do “amor da benevolência, de uma boa vontade carinhosa em favor de cada
alma criada por Deus”,57 ou seja, de uma atitude geral que estabelece relações.
O tema da amizade como forma de se relacionar com o mundo encontra-se também
em textos metodistas latino-americanos. Na citação em seguida, o tema parte de um
livro de Washington Gladden, pioneiro do Evangelho Social:58
56
WJW, vol. 3, 15 out. 1784, p . 294, s ermão 91 , §I.1 [On charity]: “…the ill effects of it remain to this
day; and these may be observed not only among the poor and illiterate; not only thousands of common
men and women no more understand the word charity than they do the original Greek, but the same miserable mistake has diffused itself among men of education and learning. Thousands of these also are misled thereby, and imagine that the charity treated o f in this chapter refers chiefly, if not wholly, to outward
actions, and to mean little more than almsgiving. I have heard many sermons preached upon this chapter,
particularly before the University of Oxford. And I never heard more than one wherein the meaning of it
was not totally misrepresented .But had the old and proper word 'love' been retained, there would have
been no room for misrepresentation.” Podemos, porém, levantar a pergunta: Por que Wesley usou p ara o
sermão 91 o título “ On charity” em vez de “On love”? Talvez seja pelos costumes d a época, mas não
consideramos esta resposta realmente satisfatória.
57
WJW, vol. 3, 15 out. 1784, p. 295 – sermão 91, §I.2 [On Charity]: “…a love of benevolence, of tender
goodwill to all the souls that God has made.”
58
GLADDEN, Washington. “A summa da religião”. In: Expositor Cristão [Redatores: A Cardoso de
Fonseca e J. M. Landser], vol. 25, n. 6, p. 4 (10 fev. 1910). A citação é do livro GLADDEN, Washington.
Recollections. New York: Houghton Mifflin & Co, 1909. p. 429.
18
IGME,S. Expositor Cristão, 1910.
Finalmente, deve-se falar da teologia da reconciliação no Credo Social e Plano para
a Vida e Missão da Igreja Metodista [no Brasil]. Segundo estes textos, a reconciliação
em Cristo – como superação da inimizade humana pela amizade divina cria “uma nova
ordem de relações na História”59, “vence barreiras entre irmãos e destrói toda forma de
discriminação entre os homens”60, é “a fonte da justiça, da paz e da liberdade entre as
nações”61 e que “todas as estruturas e poderes da sociedade são chamados a participar
dessa nova ordem”, especialmente “num tempo em que países desenvolvem armas nucleares, químicas e biológicas, desviando recursos ponderáveis de fins construtivos e
pondo em risco a humanidade”.62 Além disso a reconciliação, a superação da inimizade
59
CS/II. 4: Cremos que o Deus único estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, criando uma nova
ordem de relações na História, perdoando os pecados dos homens e encarregando-nos do ministério da
reconciliação.
60
CS/III.5.a: Deus criou os povos para constituírem uma família universal. Seu amor reconciliador em
Jesus Cristo vence barreiras entre irmãos e destrói toda forma de discriminação entre os homens. A Igreja
é chamada a conduzir todos a se receberem e a se afirmarem uns aos outros como pessoas em todas as
suas relações na família, na vizinhança, no trabalho, na educação, no lazer, na religião e no exercício dos
direitos políticos.
61
CS/III.5b: A reconciliação do mundo em Jesus Cristo é a fonte da justiça, da paz e da liberdade entre as
nações; todas as estruturas e poderes da sociedade são chamados a participar dessa nova ordem. A Igreja
é a comunidade que exemplifica essas relações novas do perdão, da justiça, e da liberdade, recomendando-as aos governos e nações como caminho para uma política responsável de cooperação e paz.
62
CS/III.5c: A reconciliação das nações se torna especialmente urgente num tempo em que países desenvolvem armas nucleares, químicas e biológicas, desviando recursos ponderáveis de fins construtivos e
pondo em risco a humanidade.
19
pela amizade, desafia também a falta de amor ao próximo63 e faz parte da sinalização do
reino de Deus64.
Precisamos ficar muito atentos a esta questão. As nossas teologias de expiação, enquanto destacam a importância do sacrífico ou do mérito, têm poucos recursos para articular a dignidade da vida sem distinção, porque ambas não conseguem dignificar toda a
vida com a radicalidade necessária.
Quem entende que Deus, na cruz em Jesus Cristo, se revela radicalmente aberto para
a humanidade, e o próprio Jesus, na cruz se revela como radialmente aberto para Deus,
terá uma base firme para proclamar a dignidade da vida sem restrição e do modo universal. Porque a reconciliação na Cruz é o anúncio da superação da inimizade do cosmo
e de cada criatura para com Deus, seja por atos, mera indiferença ou desconhecimento,
pela amizade radical do Emanuel, do Deus conosco.
Considerações finais
E ficaria muito feliz se as nossas escolas e universidades metodistas sabiam traduzir a afirmação Metodistas são amigos/as de todos e inimigos/as de ninguém em clara
distinção de propostas baseadas em lógicas não mérito-sacrificiais. Para chegarmos lá
juntos e juntas, as Igrejas Metodistas, como mantenedoras das Instituições Metodistas,
devem fazer a tarefa de casa, isto é, revisitar as próprias perspectivas teológicas e testar
até que ponto elas dão sustento à proposta de um povo Metodistas, amigo de todos e
inimigo de ninguém. Há uma discussão ampla na educação sobre a meritocracia que
requer nossa atenção.65
63
CS/III.5d: A reconciliação do homem em Jesus Cristo torna claro que a pobreza escravizadora em um
mundo de abundância é uma grave violação da ordem de Deus; a identificação de Jesus Cristo com o
necessitado e com os oprimidos, a prioridade da justiça nas Escrituras, proclamam que a causa dos pobres
do mundo é a causa dos seus discípulos.
64
PVM/4: O propósito de Deus é reconciliar consigo mesmo o ser humano, libertando‐o de todas as
coisas que o escravizam, concedendo‐lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e do
poder do Espírito Santo, a fim de que, corno Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico,
sinais concretos do reino de Deus.
65
YOUNG. M.. The Rise of the Meritocracy. New Jersey: Transaction, 1958; KARABEL, J.. The Chosen: The Hidden History of Admission and Exclusion at Harvard, Yale, and Princeton. New York:
Houghton Mifflin. 200; KOZOL, J.. The Shame of the Nation: The Restoration of Apartheid Schooling in
America. New York: Broadway Books. 2005; McNAMEE, S. & MILLER, R.. The Meritocracy Myth.
New York: Rowman & Littlefield. Mill, J. S. 2009; GUINIER, Lani. The Tyranny of the Meritocracy:
Democratizing Higher Education in America. Beacon Press, 2015; AZEVEDO, Jose Clovis de Meritocracia: o novo nome da exclusão. In: Consciência Crítica, vol. 1, p. 8-13 (out. 2010). Disponível em: <
http://www.cpers15nucleo.com.br/publicacoes/revista_edicao_outubro_2010%5B1%5D.PDF >. Acesso
em: 20 jul. 2015.
20
Finalmente, conseguimos somente articular a defesa incondicional da dignidade de
vida e da cidadania global como intercâmbio corresponsável e correspondente, se nós
sabemos sonhar, imaginar, vivenciar e ensinar até a superação da inimizade pela amizade. Para que sejamos Metodistas, amigos/as de todos e inimigos de ninguém, capazes de uma ética do amor ao inimigo e da hospitalidade como amor para com o estrangeiro.