sendo por Mairs aleijado nancy
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sendo por Mairs aleijado nancy
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 1 COMO PLANEJAR O FUTURO - trecho de texto da gerontóloga Nancy Breitenbach, norte americana radicada na França, que estudou com muita dedicação as condições de vida de pais idosos de pessoas com deficiência intelectual. Extraído e traduzido de seu texto” Parallels in Ageing”. traduzido do inglês e redigitado em S.Paulo por Maria Amélia Vampré Xavier, da Rede de Informações Área Deficiências Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, Fenapaes, Brasília,(Diretoria para Assuntos Internacionais), Carpe Diem, SP, Sorri Brasil, SP, Rebrates, SP, Inclusion InterAmericana e Inclusion International, em 24 de agosto, 2008 Há bem mais que um ano temos nos inserido no grupo de pessoas, pais de filhos com deficiências adultos e profissionais renomados na área das deficiências, sob a coordenação sempre amistosa e competente do amigo Tuca Munhoz, que forma o chamado Fórum de Residências Inclusivas. Temos avançado muito nesses vinte e tantos meses, procurando estudar a possibilidade de instalação de residências inclusivas, ou seja, de locais em que pessoas com deficiência intelectual que estão envelhecendo possam viver sua vida em anos adiantados com muita dignidade e respeito às suas muitas necessidades. Este é um dos lados da moeda: o outro lado, que vimos abordando nestas últimas semanas, diz respeito a um fato bastante esquecido: qual é a situação real dos pais, de modo especial às mães, como sempre as maiores cuidadoras, quando sentem que a velhice chegou, suas forças físicas e intelectuais começam a falhar e continuam a lutar como fizeram em sua juventude, com todas as suas forças, procurando orientar, confortos, prestar cuidados muitas vezes de dar banho, de vestir, de cuidar de modo geral de uma pessoa que não é mais a criança de anos atrás mas uma pessoa adulta, portanto, pesada e, freqüentemente, com problemas de saúde semelhantes aos dos pais. A nós, como membros que somos á muitos anos de Inclusion International, a organização mundial de famílias com um filho com deficiência intelectual, o assunto nisso diz respeito direto, já que atravessamos o período da juventude, quando nossos filhos eram pequenos, os anos da maturidade quando eram adolescentes e jovens adultos, e estamos convivendo com eles com seus Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 2 cinqüenta e tantos anos de vida, a maioria, precisamente quando começam a perder se é que não perderam boa parte de sua funcionalidade enquanto cidadãos, melhor dizendo na execução do trabalho que lhes foi delegado e em seu comportamento social. É pensando em tantos companheiros, de tantos países, com preocupações e tarefas muito semelhantes às que executamos diariamente, que damos prosseguimento a estas reflexões: “Presentemente, o planejamento“visando pessoas mais velhas com deficiência intelectual” tende a se aproximar do dia em que os pais não mais estarão por perto. “Na Austrália e outros países adiantados é dada muita atenção a fatores tangíveis, concretas, como a renda futura com que poderá contar a pessoa com deficiência, onde irá morar, bem como medidas legais tais como a feitura de testamentos, procurações, planejamento de custódias, etc. “Estas considerações são inteiramente legítimas, mas necessariamente não respondem às necessidades de famílias de todos os níveis da sociedade. O que é mais importante: essas considerações passam longe daquilo que os pais cuidadores precisam a fim de continuar cumprindo sua tarefa antes que chegue sua hora de desaparecer. O que os pais mais idosos precisam hoje, perguntamos: “Os profissionais têm a tendência de pensar que o que os prestadores de cuidados mais velhos precisam é de “alívio“ ou colocação da pessoa deficiente em tempo integral longe de casa ou mesmo a remoção temporária do adulto com deficiência intelectual do lar a fim de que o pai ou mãe possa “descansar”. E começam a agir, organizando serviços que dêem alívio temporário aos pais o que em inglês se chama” respite care.”. “É verdade que o fato de que o filho “ passe noites fora de casa” preenche duas necessidades: “ Dormir fora “ a fim de que tanto o filho adulto como o pai(os pais) aprendam a existir separadamente dentro de uma atmosfera positiva. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 3 “Cuidado “de emergência”, ou seja, que haja um local a que a pessoa com deficiência intelectual possa ser levada caso haja um problema de doença de um dos pais, ou ambos, ou da mãe, em que o pai saiba que o filho está sendo cuidado adequadamente em sua ausência forçada pelas circunstâncias. “Porém, isto não é necessariamente o que os pais precisam em primeiro lugar. Um período de“ férias”, o que produz a suspensão temporária de cuidados, precisa ser programado antecipadamente, e uma programação rígida pode ser incompatível com as necessidades de famílias que vivem de um dia para outro. Além disso, separar a unidade famílias com certa precipitação pode ser algo traumático, especialmente se elimina uma ou outra razão de viver da outra pessoa. “Cuidadores idosos que não podem imaginar vivendo sem ter o filho ao lado, podem precisar experimentar outros apoios “mais suaves” primeiramente”. Paremos por aqui hoje, para digerirmos tudo que foi dito, tudo de emoção que envolve o relacionamento entre pais e filhos. Há muitos anos, os pais de um homem com deficiência intelectual, hoje na casa dos cinqüenta, que eram pessoas de posse, decidiram doar uma área de sua grande fazenda para que ali se instalasse uma moradia que desse amparo a pessoas como seu filho, quando eles mesmos não mais estivessem por perto. Muita gente foi consultada, lembramo-nos de ter visitado o local com especialistas dos Estados Unidos e de outras regiões e ouvido suas observações de aprovação, etc. Mas, por estranho que possa parecer, os pais de pessoas deficientes adultas iam visitar as residências, então em fase de acabamento, muito bem construídas, um projeto muito bem elaborado, mas não se entusiasmavam, diziam “Se um dia eu morrer, gostaria que meu filho morasse aqui” e iam embora sem tomar qualquer atitude de apoio. Tratava-se de um conjunto de casas muito bem projetadas, com todo o conforto, mas claro que sua manutenção implicava em que os pais teriam de pagar uma mensalidade de certa forma elevada para que os filhos ali morassem. Só isso já excluiria grande número de famílias porque os salários no Brasil são muito baixos, e se existem dois ou três outros irmãos, como a Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 4 família vai arranjar sei lá R$ 2.000,00 – R$ 3.000,00 mensais, daí para cima, para custear as despesas do filho com deficiência? Esse é o grande e assustador problema que assola e atemoriza os pais idosos, a certeza de que por mais que tenham trabalhado na vida não conseguiram juntar o suficiente para pagar uma moradia desse tipo, não obstante a enorme dedicação dos pais que a planejaram, movidos pelo desejo de compartilhar com outros pais suas esperanças, suas alegrias, pois essas também existem. Então, tudo se resume a uma questão de dinheiro? Sim, é verdade. Não que as famílias mais ricas sejam mais felizes do que as menos favorecidas, mas quando se tem dinheiro tem-se algumas benesses: por exemplo, um motorista particular que leve a pessoa com deficiência intelectual aonde precisar ir, a possibilidade de ter a ajuda de fisioterapeutas se for o caso, ou de psicólogos ou fono-audiólogos quando isso se fizer necessário. Tudo isso custa dinheiro, serviços públicos de saúde, especialmente que atendam a pessoas com deficiências são raros, em geral de má qualidade, e ainda a família espera um ano para marcar uma consulta para o filho que precisa de suporte, de apoio extra. Dá para viver com alegria enfrentando todos esses problemas para atender necessidades imperiosas? Diante disso, onde colocar a angústia dos pais? Por ora, ficamos aqui. Já tivemos um filho morando numa residência mantida pela APAE a que pertencíamos e sabemos dos ganhos que havia: uma disciplina mais rígida do que a de casa que não tem qualquer rigidez porque numa casa comum gente chega, gente sai, gente almoça quando almoça em qualquer hora e tudo isso tem horário num local estabelecido para acolher pessoas com deficiência, ou outra qualquer limitação. Esse, como dizemos, é o lado positivo da moeda, mas e o outro? Nosso filho gosta de seus pais e irmãos, gosta de saber que em sua casa gente chega, gente sai sem estar cumprindo horário ou qualquer outra exigência. Há em nossas casas uma informalidade simpática: revistas em cima de móveis, gente que telefona vez por outra, enfim, a vida do dia a dia de todas as famílias. As mais pobres demonstram maior capacidade de tolerar desafios difíceis, talvez porque a vida sendo tão dura como realmente é, quando se tem pouco dinheiro aceitamos de boa vontade a contribuição de vizinhos, de amigos, onde fica o nosso orgulho se a precisão é grande? Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 5 Como a residência mantida pela APAE da capital de S.Paulo foi fechada por ser considerada muito dispendiosa, o que é verdade mesmo, nosso filho teve ganhos importantes voltando para nossa casa modesta. Passou a ser figura imprescindível em casa, quando fica doente não precisamos falar com nenhuma coordenadoria, já tomamos as providências que tomamos quando se trata de doença em QUALQUER pessoa da família. Salta aos olhos que Ricardo se desenvolveu muito melhor estes últimos anos do que quando permanecia grande parte do tempo vivendo com pessoas com deficiências como as dele. Então as APAEs não devem ser estimuladas a montar residências? Nossas entidades têm um grande espírito de solidariedade e sabemos de APAEs no interior do Maranhão, por exemplo, e no interior do estado do Rio Grande do Sul que até muito generosamente ofereceram um lugar ao Ricardo caso um dia venha a perder um dos pais ou ambos. Com a idade que temos hoje essa possibilidade pode ocorrer a qualquer momento, mas somos profundamente gratos a esses parceiros de luta que, mesmo sem pedirmos, nos dizem que nosso filho ficará vivendo feliz em uma residência de sua APAE. Que Deus abençoe os amigos apaeanos! O assunto é riquíssimo e precisa de muito mais troca de informações. Voltaremos a debater outros aspectos de nossos problemas de pais idosos. redigitado em S.Paulo por Maria Amélia Vampré Xavier, da Rede de Informações Área Deficiências Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de S.Paulo, Fenapaes, Brasília (Diretoria para Assuntos Internacionais) e entidades parceiras em 24 de agosto, 2008.