a importância do jogo na educação infantil

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a importância do jogo na educação infantil
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FERNANDA MOTTA LOPES NASCIMENTO
GRASIELA SOARES DA SILVA
KEYLLA ALVARENGA RIBETTI
A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao programa de
Graduação em Pedagogia da Escola Superior de
Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial
para obtenção do grau em Licenciatura Plena
em pedagogia.
Orientadora: Vânia Rosa Rodrigues
SERRA
2011
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FERNANDA MOTTA LOPES NASCIMENTO
GRASIELA SOARES DA SILVA
KEYLLA ALVARENGA RIBETTI
A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Pedagogia da Escola
Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Licenciatura plena em Pedagogia.
Aprovado em
de Julho de 2011
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________
Prof.ª Vânia Rosa Rodrigues
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Orientadora
__________________________________________
Coord.ª Carina Sabadim Veloso
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Membro 1
__________________________________________
Prof.ª Rosimar Alves Macedo
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Membro 2
3
Dedicamos a todos aqueles sorriram,
choraram, vivenciaram a construção da nossa
monografia e nos deram força e acreditaram
que o nosso sucesso seria possível.
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Ao bom Deus, pelo dom da vida, que
possibilitou-nos o prazer de construir a nossa
existência. Aos nossos pais, irmãos,
namorados, marido e toda a nossa família, que
com carinho e apoio, não mediram esforços
para ajudar a vencer mais uma linda etapa em
nossa vida. A Orientadora Vânia pela
paciência, e incentivo e que não mediu esforço
para nos ajudar. A todos os professores que
passaram por nossa vida acadêmica que nos
deixaram lições de vida. E às minhas amigas,
pelos momentos de alegria, de dificuldades e
cansaço que compartilhamos.
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“Soubéssemos nós adultos preservar o brilho e
o frescor da brincadeira infantil, teríamos uma
humanidade plena de amor e fraternidade.
Resta-nos, então, aprender com as crianças”
Monique Deheinzelin
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RESUMO
O desenvolvimento deste trabalho tem como objetivo compreender a importância do jogo
para o desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil. É incontestável o fato de que
os professores que atuam na área educacional, necessitam do uso dos jogos em suas atividades
cotidianas. Através do lúdico, a criança desenvolve habilidades cognitivas, facilitando seu
crescimento nos aspectos físicos, cognitivo, motor e social. Por meio dos jogos, a criança tem
maior facilidade de se expressar, imitar e ouvir as pessoas com que convive, com isso, ela
estará entendendo as formas de se comunicar. Para isso, buscou-se através da pesquisa
bibliográfica, analisar as principais ideias dos mais renomados autores sobre o assunto.
Considerando que não há prática eficaz sem a presença da teoria, é válida as considerações
feitas por alguns importantes pesquisadores como Piaget, Dewey e Frobel, tendo como ponto
de partida os jogos como ação essencial no processo de ensino-aprendizagem. É necessário
que o educador conheça os princípios básicos e a utilização do lúdico para trabalhar
especificamente as dificuldades dos alunos, aplicar e acompanhar todo o processo. O ato de
brincar é mais do que uma simples recreação, é uma necessidade que a criança tem em
compreender o mundo ao seu redor. O jogo possibilita a criança se movimentar, criar,
imaginar, ver e de sentir. Ela está experimentando o mundo pela primeira vez, por isso ela
precisa e quer viver tudo com intensidade, aprendendo todo o dia uma coisa nova.
PALAVRAS-CHAVE: Lúdico. Educador. Cognitivo. Brincar
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................8
2. METODOLOGIA...........................................................................................................9
3. REFERÊNCIAL TEÓRICO.....................................................................................10
3.1. CONCEITO DE INFÂNCIA..............................................................................10
3.2. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFÂNCIA................................18
3.3. CONCEPÇÃO DE JOGO...................................................................................23
3. 3.1 CARACTERÍSTICAS DOS JOGOS....................................................................25
3.3.2. TIPOS DE JOGOS...............................................................................................29
3.4. BREVE HISTÓRICO DOS JOGOS................................................................34
3.5. O JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL.........................................................40
3.5.1. O JOGO NA EDUCAÇÃO
SEGUNDO PIAGET, DEWEY E FROBEL........................................................42
3.5.2. O PROFESSOR COMO
MEDIADOR NO JOGO.......................................................................................45
3.6. A CONTRIBUIÇÃO DO JOGO NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA.......................................................................................................................50
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................53
5.REFERÊNCIAS..............................................................................................................55
5.1 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................56
5.2 WEBGRAFIA.....................................................................................................................58
5.3 PESQUISA PERIÓDICA...................................................................................................59
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1. INTRODUÇÃO
O presente estudo parte do interesse em alcançar um entendimento sobre importância do jogo
na educação infantil, sendo este fundamental para o desenvolvimento da criança, nos aspectos
cognitivos, afetivos, sociais, físio-motores, na oralidade e criatividade.
Partindo dessa concepção o jogo na educação infantil, é considerado auxiliar na construção
cognitiva, não que seja empregado de forma aleatória, mas como parte do processo. É no jogo
que a criança se expressa e recria representações do mundo concreto com a finalidade de
entendê-lo. Nos jogos e brincadeiras dirigidas ou espontâneas, as crianças aprendem a
conviver, a repartir, relaciona-se e respeitar os outros, estimula o sonho, dá prazer e cria
espaço para a imaginação e a criatividade. Sendo assim o ato de jogar ajuda a criança a tornarse mais tarde adultos maduros e capazes de solucionar desafios.
É importante que o professor conheça os jogos, suas alternativas de exploração e suas
especificidades, assim como o histórico social da criança com as quais esteja trabalhando, a
fim de se realizar uma pesquisa eficiente e que propicie resultados confiáveis que possam
estabelecer novos rumos no trabalho pedagógico. É dever do educador, compreender o
sucesso da utilização dos jogos e brincadeiras na sala de aula.
O objetivo geral desse trabalho é compreender a importância do jogo para o desenvolvimento
e aprendizagem nas crianças de educação infantil. Para tanto, é necessário percorrer sobre
alguns caminhos para entender melhor esse processo, tais como: o conceito de infância,
percorrendo sobre um breve histórico da educação infantil; concepção de jogo, as
características e os tipos de acordo com alguns autores, o jogo na educação infantil,
compreender melhor o jogo na educação segundo autores renomados como Piaget, Dewey e
Frobel, o professor como mediador do jogo, e por fim o jogo como ferramenta no
desenvolvimento da criança no processo ensino aprendizagem.
Tendo como objetivo específico analisar o papel do jogo no desenvolvimento da criança na
educação infantil, identificar os pontos mais relevantes nos aspectos cognitivos, social, motor,
afetivo e criativo; identificar que tipos de jogos contribuem melhor para o desenvolvimento da
criança, tendo como referência as leituras bibliográficas.
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2. METODOLOGIA
Tendo em vista o fato de que a pesquisa visa discutir a importância do jogo na educação
infantil a opção metodológica desse trabalho será a pesquisa bibliográfica que segundo Ferrão
(2008, p 103) “é baseada na consulta de todas as fontes secundárias relativas ao tema que foi
escolhido para a realização do trabalho”. As pesquisas foram feitas tendo como norte autores
estudiosos no assunto como: Friedmann, Kishimoto, Kami, Piaget, Vygotsky, Froebel e
Dewey.
O trabalho foi desenvolvido através de seguintes passos metodológicos: seleção bibliográfica,
classificação dos livros, fichamentos dos livros, artigos, revistas e textos, análise das
informações. A classificação da pesquisa é exploratória, conforme Gil (1996, p 45)
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode se
dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias
ou a descoberta de intuições.
Sendo assim, neste trabalho de pesquisa pretendemos trazer contribuições aos professores de
educação infantil, que desenvolvem trabalhos utilizando os jogos, desenvolvendo um trabalho
significativo e de qualidade.
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REFERÊNCIAL TEÓRICO
3.1. CONCEITO DE INFÂNCIA
Para entender a importância do jogo na Educação Infantil é necessário, primeiramente,
entender o contexto da infância na sociedade e suas concepções, fazendo um breve passeio
sobre a história da educação infantil. A criança deve ser entendida de forma diferente de um
adulto, tanto por sua idade como pela sua maturação. As diferenças são notáveis quanto ao
comportamento, sentimentos e entendimento do mundo.
O entendimento de infância veio sendo moldado com o passar dos anos. De acordo com
Almeida (2004), há maneiras diferentes de entender a infância, e as noções variam de acordo
com a realidade de cada sociedade em determinada época.
A ideia de infância não existiu sempre. Até o século XII, aproximadamente, havia um
desconhecimento dessa etapa de vida porque em geral as crianças viviam muito pouco, devido
a infecções e doenças. A partir do século XVI teve um aumento da expectativa de vida, pois
diminuiu a taxa de mortalidade infantil.
O sentimento de infância, a ideia, a representação da infância, todos esses fenômenos
surgiram na civilização, muito vagarosamente e ligados a motivos os mais surpreendentes.
Segundo Áries (1981), a aparição da criança como uma categoria social se dá lentamente
entre os séculos XII e XVII, o autor destaca esse fator através do estudo de temas metafísicos
religiosos presentes na iconografia medieval. Inicialmente a criança aparece em símbolos
religiosos para representar anjos e o menino Jesus, depois a infância da Virgem Maria e dos
outros santos. Nos séculos XV e XVI, a criança aparece em retratos reais que são encontrados
inicialmente nas esfinges funerárias.
Conforme o Autor:
O aparecimento do retrato da criança morta no século XVI marcou, portanto, um
momento muito importante na história dos sentimentos. Esse retrato seria
inicialmente uma efígie funerária. A criança no inicio não seria retratada sozinha, e
sim sobre o túmulo de seus pais. (ÁRIES, 1981, p.23)
Áries (1981) diz que, até o início da época moderna não existia o conceito de infância esse
período era considerado como período de transição, ou seja, a criança tinha uma infância
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curta, sua passagem era pouco valorizada. Foi a partir do século XVII que a criança começou
a ser valorizada e ter o seu próprio espaço nas imagens por ele analisadas. A partir desse
século o sentimento de infância e os cuidados com a moral da criança surgiam com a chegada
da burguesia começando dos nobres da sociedade, para os mais pobres.
Para o Autor:
Isso sem duvida significa que os homens dos séculos X – XI não se detinham diante
da infância, que esta não tinha para eles interesse, nem mesmo realidade. Isso faz
pensar também que no domínio da vida real, e não mais apenas no de uma
transposição estética, a infância era um período de transposição estética, a infância
era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo
perdida. (ÁRIES, 1981, p. 52)
A infância nos séculos X – XI não tinha interesse nem mesmo realidade, era algo ultrapassado
que não se dava importância cujas lembranças eram perdidas, a infância começava a ter um
período de transição e transposição estética.
A ideia da infância como um período particular somente se consolidou no século XVII,
acompanhada da elaboração de uma teoria filosófica sobre a especificidade infantil, que
tornou possível o posterior aparecimento de uma psicologia da criança e de seu
desenvolvimento. Assim, para Áries (1981), a descoberta da infância começa no século XIII e
evolui no XIV e XV, tornando-se significativo nos fins do século XVI e durante o XVII.
Segundo Nunes; Silva:
A criança passou a ser considerada detentora de sentimento, já que o índice de
mortalidade era alto e, de certa forma as crianças não tinham nenhuma importância
social proeminente, o que explicaria o cuidado emergente em preocupações com
higiene e vacinação que começam aparecer tão somente nos séculos finais da Idade
Média, revelando uma mudança lenta na indiferença anterior para mesma. (2000,
p.21)
Com o passar dos séculos a criança passou a ser considerada detentora de sentimento, não se
dava importância a ela e com isso o índice de mortalidade era alto, não se preocupava com a
higiene e nem com a vacinação e no final da idade media começou a ter uma mudança lenta
na forma de pensar.
Segundo Ariés (1978), as crianças eram consideradas um “adulto em miniatura”. Tinham que
se vestir com trajes de adultos, porém em tamanho redizido. Na modernidade, a criança deixa
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de ocupar lugar como resíduo da vida comunitária adulta e passa a ser percebida como ser
inacabado e carente, portanto individualizado. Os quadros artísticos datados dessa época
citam um texto de 1602, que traduz o pensamento daquele tempo em relação à preocupação
dos pais quanto à educação das crianças.
O autor considera que:
Os pais que se preocupam com a educação de suas crianças merecem mais respeito
do que aqueles que se contentam em pô-los no mundo. Eles lhes dão não apenas a
vida, mas uma vida boa e santa. Por esse motivo, esses pais têm a razão em enviar
seus filhos, desde a mais tenra idade, ao mercado da verdadeira sabedoria (o
colégio), onde eles se tornarão os artífices de sua própria fortuna. (ÁRIES, 1978, p.
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Na modernidade os pais passam a se preocupar somente com a educação de seus filhos, os
enxergavam como uma fonte de renda, pois davam educação para que tivessem uma vida
melhor, onde se tornarão os artífices de sua própria fortuna.
O sentimento afetivo pela criança era sem importância, não se tinha muitos cuidados, pois de
acordo com Áries (1981 p.56) como as crianças morriam em grande número a infância era
tida como uma fase sem importância e não fazia sentido fixar sua memória na lembrança.
Kramer evidencia que:
A valorização e o sentimento atribuídos à infância nem sempre existiram da forma
como hoje são concebidas e difundidas, tendo sido modificadas a partir de mudanças
econômicas e políticas da estrutura social. Percebe-se essas transformações em
pinturas, diários de família, testamentos, igrejas e túmulos, o que demonstram que a
família e escola nem sempre existiram da mesma forma. (1995, p.17)
Os sentimentos e a valorização à infância nem sempre existiram da forma como hoje são
concebidas, estavam em processo de mudança. Conforme a política e a economia iam
mudando poderia se perceber que começava a aparecer pinturas.
Surgiram dois sentimentos novos em torno da criança, segundo Áries (1981), no meio
familiar surge os mimos, pois via na criança a sua ingenuidade uma coisinha engraçadinha,
motivo de distração e relaxamento para adulto, e outro pelos moralistas e educadores de
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século XVII que viam na criança interesse psicológicos e preocupação com a formação do seu
caráter e da moral, a partir deles que foi inspirada toda educação.
Entre os estudiosos na área do desenvolvimento da criança, temos Piaget (1989) que dentre
tantos outros estudos que desenvolveu, se dedicou a descobrir como o ser humano pensa, por
que a criança raciocina diferente do adulto evoluído e apresenta pensamento próximo ao do
adulto primitivo. Segundo o autor para a explicação do fenômeno é necessário acompanhar o
desenvolvimento mental da criança.
Piaget (1989) acreditava que a infância é considerada um período particular do processo de
formação do pensamento, que só se completa na idade adulta, logo, o centro de seus estudos é
o desenvolvimento do conhecimento, com base na biologia, ou seja, estudos de
epistemologia-genética.
Assim como Piaget, Heller (1989) segue essa mesma concepção que vê o homem como um
ser que é fruto de sua vida em sociedade. Seus modos de perceber, de representar, seu
funcionamento psicológico, a capacidade de expressar seus sentimentos em relação ao mundo,
ao outro e a si mesmo, se constitui nas relações sociais.
Conforme o autor:
O homem participa da vida cotidiana em todos os aspectos de sua individualidade,
de sua personalidade. Nele, coloca-se me funcionamento todos os seus sentidos,
todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus
sentimentos, paixões, idéias, ideologias. (HELLER,1989, p.16-17)
O homem é fruto de sua vida em sociedade, tem capacidade de expressar seus sentimentos,
age a partir de seus próprios pensamentos.
Segundo Kishimoto (1997) a imagem de infância é vista pelos adultos por meio de dois
processos: o primeiro está associado a todo um contexto de valores e absorção da sociedade e
o segundo fala sobre a percepção dos próprios adultos, que relembra do seu tempo de criança,
assim a imagem de infância se reflete no contexto atual dos adultos.
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Como pesquisadora contemporânea, Kishimoto (1997) acrescenta que o comportamento
infantil é moldado de acordo com a imagem de criança veiculada em formação da
personalidade, é requerida também com o auxilio de concepções psicológicas e pedagógicas,
que reconhece o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do
conhecimento infantil.
Para Kishimoto:
A infância é, também, a idade do possível. Pode-se projetar sobre ela a esperança de
mudança, de transformação social e renovação moral. A infância é portadora de uma
imagem de inocência: de candura moral, imagem associada à natureza primitiva dos
povos, um mito que representa a origem do homem e da cultura. (1997, p.19)
A infância é um período em que podemos projetar sobre a criança esperança de mudança de
transformação, pois nela podemos ver a sua inocência, onde os adultos podem moldar e fazer
com que a possa ter uma infância com princípios e valores, fazendo com que ela não perca a
melhor fase que o ser humano possa ter.
O RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil) (1998, p.21, v 1) mostra
como a criança vem sendo vista atualmente no Brasil, afirmando que as crianças possuem
uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um
jeito muito próprio. Assim, durante o seu processo de construção do conhecimento, as
crianças utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem
ideias e hipóteses originais sobre aquilo que procuram desvendar.
Para o referido documento:
A concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente
vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem
mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por
exemplo, em uma mesma cidade existem diferentes maneiras de se considerar as
crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem do grupo étnico do
qual fazem parte. Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um
cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de
vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras
crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da
sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. (RCNEI,
1998, p.19, v 1)
A resolução CNE\CEB nº 20\ 2009 homologado no DOU de 09 de dezembro de 2009 institui
no art. 4º as Diretrizes Curriculares Nacionais para educação infantil onde as propostas
pedagógicas que deverão considerar a criança, apresentam a visão que o:
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(...) centro do planejamento curricular, sujeito histórico e de diretos que nas
interações, relações e pratica cotidianas de vivência, constrói sua identidade pessoal
e coletiva, ao brincar, imaginar, fantasiar, observar, experimentar, narrar, questionar
e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
A criança deve ter uma infância em que ela possa contribuir sua identidade pessoal e coletiva
como, por exemplo: ao brincar, imaginar, fantasiar, observar e experimentar, para que tenha
uma vida em sociedade e produzir sua cultura.
Muitas crianças brasileiras, porém, condicionadas pela classe social são obrigadas ao trabalho
infantil. São negadas possibilidades dignas para se desenvolver, como educação de qualidade,
proteção, afeto e liberdade como prevê a constituição de 1988 Art. 227 que dá garantia por
meio de decreto seus direitos dentro da sociedade.
A lei ressalta que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(BRASIL, 1988, p.29, 227)
Percebe-se que desde Froebel (2001) o criador do jardim de infância em 1837, o jogo livre é
adotado, assim como por Dewey (1965) um dos orientadores do movimento da Escola Nova,
esta responsável pela divulgação do jogo como fator importante para a educação, pois nessa
concepção o brincar surge como elemento indispensável para a aprendizagem.
Veiga (2004) diz que, para compreender a infância em determinado contexto histórico é
indispensável a busca de conhecimento e entendimento de cada etapa da vida da criança. É
preciso compreender porque os adultos passaram a reconhecer e perceber a criança de forma
diferente, e em que momento da vida social dos adultos ocorreu, e com que objetivos o tempo
social da infância foi fixado e diferenciado. Para autora, o momento de distinção entre as
gerações foram essenciais para o comportamento de classe social, que vieram acompanhadas
da ampliação das produções sobre a infância e a criança como objeto de conhecimento.
O que se pode inferir acerca desses sentimentos é que, historicamente, eles aparecem como
complementares, perpetuando um conceito de infância ligado à ideia de essência infantil, a
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sua materialidade, suas reais condições sociais. Dessa forma a ideia de criança e infância
universais acaba por se manter, desconsiderando as várias infâncias e crianças, condicionadas
pelas adversidades de existência.
Para Kramer 1995 tal concepção, originaria da Idade Média, tem perpetuado a ideia de
infância única, um ideal de criança abstrato, mas concretizado na infância burguesa,
mascarando, assim, a realidade social.
Independente da construção de infância que nos deparamos é imprescindível que não
esqueçamos que as crianças são seres singulares, provenientes dos mais diversos cenários
sociais e culturais, herdeiros de novas concepções de família.
No documento:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com
os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais,
estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e
saudáveis. (RCNEI, 1998, v.1, p.23)
Educar não é só colocar na escola. Significa também proporcionar situações de cuidado,
brincadeiras e aprendizagens orientadas. Os pais devem trabalhar em conjunto com a escola,
fazendo assim com que a criança tenha bons relacionamentos e melhor formação.
Para Arroyo (1996) a ideia de infância é dinâmica e vem crescendo em termos de relevância
social, entretanto como ela antecede a idade adulta, no que se refere ao tempo cronológico
acaba por permitir certa contradição entre a natureza biológica e o papel social ocupado pela
criança nas diferentes culturas.
Se por um lado a ideia de criança está relacionada a uma etapa do desenvolvimento que
antecede à idade adulta, contraditoriamente a infância está permeada por significações
ideológicas que determinam o seu papel na sociedade em que vive. A ideia de infância só tem
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sentido, portanto, se percebida de acordo com as relações de produção da sociedade em
determinada época.
Daí a necessidade de tratarmos a criança como ser que se desenvolve dentro de um contexto
determinado e contribuir para cultura de sua época histórica.
Diante dessa nova perspectiva de infância, a educação de crianças pequenas, em nosso país,
clama por atitudes que superem as práticas e concepções excludentes e impeditivas de que
nossas crianças tenham acesso aos bens conquistados pela humanidade e possam ser
respeitadas com sujeito de direito.
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3.2. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Para compreender o jogo na educação infantil, vamos fazer um breve comentário sobre sua
história. Na antiguidade, a educação infantil era feita pela família e igrejas e com o passar dos
anos essa forma de educar foi se modificando. No entanto a Educação Infantil nasceu da
necessidade de obtenção de cuidados das crianças enquanto as mães trabalhavam.
Depois do século XVI as escolas que existiam eram dirigidas pela igreja e reservadas para
instruir pequenos grupos, principalmente meninos. De acordo com Áries (1981) nessa época
ainda não havia preocupação com a educação da infância, pois não havia distinção de idades e
nem divisão de classes.
Com o surgimento dos colégios de caridade de século XVII abrem as portas tanto para
pequenos burgueses nobres, como classes populares. A igreja perde o poder e a burguesia fica
responsável pelo assistencialismo social. A partir do século XVIII, as famílias burguesas não
aceitam que seus filhos se misturem com a classe popular, então a escola única foi substituída
pela criação da escola primária e secundária que se diferenciava pela classe social: o colégio
secundário é prolongado com formação de ensino técnico para o burguês e a escola primária
com ensino curto e prático voltado para formação de mão de obra do povo.
A partir dessa divisão a sociedade passa a se preocupa com a formação da criança para a vida
adulta, pois a figura ideal era o homem burguês, que tinha sucesso, mas para se obter o que
tanto se desejava deveria ter acesso à educação e está exigia certa condição financeira, a
criança era inserida na escola visando o trabalho e a aquisição de bens.
Para o autor:
As aspirações educacionais aumentam à proporção em que se acredita que a
escolaridade poderá representar maiores ganhos, o que provoca frequentemente a
inserção da criança no trabalho simultâneo à vida escolar (...). A educação tem um
valor de investimento a médio ou logo prazo e o desenvolvimento da criança
contribuirá futuramente para aumentar o capital familiar. (KRAMER, 1995, p.23)
A partir do século XVIII a educação para crianças era vista como um valor de investimento a
médio ou longo prazo, os pais se preocupavam em colocar seus filhos nas escolas para que,
futuramente aumentar o capital familiar.
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Segundo Áries (1981) por conta da diferença entre a escola popular e a burguesa, a popular
não durou muito tempo e tornou-se ineficaz, por conta desses problemas foram criados
programas compensatórios, pois na visão de infância dos burgueses todas as crianças são
iguais, porém, como as classes menos favorecidas não correspondia ao padrão estabelecido
pela sociedade, por isso precisavam ser compensadas.
Ao longo do século a creches e pré-escola formaram conceito de cuidado e para guardar as
crianças, devida a prática de instituições formadas pelas igrejas e famílias da alta sociedade
que prestava assistência e caridade as crianças pequenas.
Nesse período, os pioneiros da educação pré- escolar, como Convênios, Rousseau, Pestalozzi,
Decroly, Froebel, entre outros, buscavam descobrir formas de eliminar as punições físicas e
estabelecer bases para um ensino mais centrado na criança. Embora enfatizassem propostas
diferentes entre si, esses autores tinham em comum o reconhecimento de que as crianças
tinham necessidades e características próprias e diversas à dos adultos.
No Brasil as primeiras creches chegaram por volta do século XX a partir da Revolução
Industrial, em meados de 1971 com a formulação da Lei n. 5.692, na qual definiu que os
sistemas receberiam crianças em idade inferior a sete anos para iniciarem uma vida escolar
em escolas maternais ou jardins de infância. As mães operárias também conquistaram o
direito à instalação de creches assistencialistas e salas de amamentação nas indústrias em que
trabalhavam. Segundo Kuhlmann Jr (1998) a educação compensatória era tida, não como
beneficio para seus filhos, mas sim como uma dádiva filantrópica.
Segundo o autor:
(...) As concepções educacionais vigentes nessa instituições mostravam
explicitamente preconceituosas, o que acabou por cristalizar a idéia de que, em sua
origem, no passado, aquelas instituições teriam sido pensadas como lugar de guarda
de assistência, e não de educação. (KUHLMANN; JUNIOR, 1998, p.166)
As concepções que tinham no século XX eram que as instituições serviam para guarda de
assistência a criança e não lugar para ensinar seus filhos, as professoras eram vistas como
babás.
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A partir de 1970, devido ao crescimento acelerado das indústrias, o tema creches passou a ser
considerado de interesse pelos setores oficiais. Por volta de 1979, houve um movimento de
luta por creches, que reivindicava a participação do Estado na criação de redes públicas de
creches.
Na década de 1980, houve um avanço considerável com relação à Educação infantil. Nesse
período, discutiu-se a função de creche/pré-escola, de forma a universalizar a ideia de que a
educação da criança pequena é importante, independentemente de sua origem social. Assim,
estabeleceu-se, na Constituição Federal de 1988, a creche e a pré-escola como direito da
família e dever do Estado.
Para o autor:
Também em relação à creche no Brasil, temos apontado tal perspectiva política.
Apenas quando segmentos de classe média foram procurar atendimento em creche
para seus filhos é que esta instituição recebeu força de pressão suficiente para
aprofundar a discussão de uma proposta verdadeiramente pedagógica,
compromissada com o desenvolvimento total e com a construção de conhecimento
pelas crianças pequenas. (OLIVEIRA, 2008, p 18)
No Brasil a creche só teve mudança quando a classe média foi procurar atendimento em
instituições para seus filhos. Nesse período as creches começaram a receber auxilio do
governo para se manter e ser um local verdadeiramente pedagógico.
Com a constituição de 1988 a educação passa a ser direito de todos e dever do Estado, da
família e da sociedade. Sendo incluída na política educacional, tornou-se um referencial na
busca e avanço nas soluções para superar as práticas de um ensino assistencialista ou
preparatório para as séries seguintes. Nesta perspectiva a criança passa a ser vista como um
ser social, histórico, pertencente a uma determinada classe social e cultural.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 vem reforçar uma base maior
para educação infantil com primeira etapa da educação básica. (Art. 29) com a finalidade de
desenvolvimento da criança ate seis anos de idade. Reconhecendo que a educação começa nos
primeiros anos de vida.
A lei define como:
A educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos
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físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade. (BRASIL, 1996, p.134,29)
A educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus
aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social e que a escola trabalhe em conjunto com a
família e a comunidade para que ajam bons adultos no futuro.
Determina também que na Educação Infantil, a avaliação far-se-á mediante acompanhamento
e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental.
A educação infantil no Brasil vem tomando novo sentido, pois a LDB 9394\ 96 deu um prazo,
que foi dezembro de 1999, para que a creche ou pré-escola se tornasse oficialmente a primeira
etapa da educação básica. Mas, ate chegar aqui a Educação Infantil vem sofrendo um grande
processo de mudança.
A educação para crianças pequenas nas instituições infantis então, segundo o RCNEI deve
contemplar de forma integrada os cuidados, as brincadeiras e a aprendizagem que vão
contribuir para desenvolver suas capacidades físicas, afetivas, emocionais, cognitivas e
sociais.
As escolas de educação infantil devem apresentar-se como lugares diferentes do ambiente
familiar e diferentes também da escola, aquela voltada para crianças. A publicação pelo MEC,
do RCNEI (1998), tem por finalidade a melhoria da qualidade e a equalização do atendimento
às instituições de educação infantil, uma vez que o referencial pressupõe um educador
qualificado, que respeite o potencial de cada criança, dando procedimento com estimulo a
cada resposta individual e inserindo junto às mesmas a participação familiar.
Kramer (1998) afirma que a proposta pedagógica é um caminho, não é um lugar. Esse
caminho deve ser construído e tem uma história que precisa ser contada, assim faz-se
necessário um olhar diferenciado, principalmente no que se refere ao currículo, que deve ter
como base a ideia de produção do conhecimento na experiência escolar.
22
Por essa razão, a experiência de educação das crianças, desde a educação infantil, implica a
existência de um currículo. As mudanças que ocorrem com as crianças durante a infância são
muito importantes e esse direito à infância não lhes deve ser negado.
Em fim o acolhimento, a segurança, a sensibilidade, o gosto pela emoção, dando lugar à
curiosidade, ao desafia, tudo isso precisa fazer parte da educação infantil, o que resultará no
direito da criança viver sua infância na forma mais plena, levando-a, assim, a vivenciar todas
as experiências que fazem parte desse momento, que é tão instigante para o adulto e
interessante e desafiador para a criança.
23
3.3. CONCEPÇÃO DE JOGO
O jogo tem fundamental importância para a criança. Ela aprende a se expressar, a viver em
sociedade, a compartilhar, a respeitar, tudo isso brincando. Além de valores, a criança
aprimora as habilidades físicas como o ato de correr e psicológicas, como lidar com as
emoções.
De acordo com Friedmann (1996. p 14):
O jogo implica para a criança muito mais do que o simples ato de brincar. Através
do jogo, ela está se comunicando com o mundo e também está se expressando. Para
o adulto o jogo constitui um “espelho”, uma fonte de dados para compreender
melhor como se dá o desenvolvimento infantil. Daí sua importância.
Com o jogo, a criança alcança sua visão própria do mundo, ela entende o mundo ao seu redor
e também se comunica com ele. Assim, pode-se usar o jogo como canal de diálogo entre o
adulto e a criança.
Importa que o jogo possa ser usado como ferramenta para professores e pais compreenderem
e trabalharem as dificuldades específicas de cada criança. Sirva também, para que ela
aprimore as habilidades humanas e aprenda os signos da sociedade através dos brinquedos.
Conforme Rizzi e Haydt (2004, p. 5):
Jogar é uma atividade natural do ser humano. Ao brincar e jogar, a criança fica tão
envolvida com o que está fazendo, que coloca na ação seu sentimento e emoção. O
jogo, assim como a atividade artística, é um elo integrador entre os aspectos
motores, cognitivos e sociais. Por isso, partimos do pressuposto de que é brincando e
jogando que a criança ordena o mundo a sua volta, assimilando experiências e
informações e, sobre tudo, incorporando atividade e valores.
É fácil entender os sentimentos e observar o comportamento da criança enquanto ela brinca. O
ato de brincar é tão espontâneo e natural da criança que ela nem percebe que está expondo
aquilo que ela sente e pensa. Por ele a criança tem a possibilidade expressar seus
pensamentos, seus medos e alegrias, involuntariamente. E é assim também que ela se
desenvolve socialmente.
24
Da mesma forma que Rizzi e Haydt (2004), Kami (1991) tem a mesma discussão sobre os
objetivos do desenvolvimento social da criança com bases num programa piagetiano, “[...] de
acordo com Piaget, a interação social é indispensável tanto para o desenvolvimento moral
quanto para o cognitivo [...]” Kami (1991, p 38).
Ao descrever o jogo [...] analisa apenas os produzido pelo meio social, apontando as
características: o prazer, o caráter “não sério”, a liberdade, a separação dos
fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício ou representativo e sua
limitação no tempo e no espaço. (HUIZINGA apud KISHIMOTO, 1997 p. 23)
O jogo também é um fruto da sociedade, sendo assim, são inevitáveis os conceitos e valores
que por ele são transmitidos. O jogo tem características de diversão, liberdade, porém sem
esquecer das regras que devem ser seguidas.
Chama-se de jogo, o trabalho espontâneo, esforço não imposto, voluntário, porém com regras.
Pode-se afirmar que o jogo é a forma prazerosa do trabalho, pois ao mesmo tempo em que a
criança joga e se diverte, também aprende e se desenvolve. Mas para se obter resultados
positivos, deve haver necessidade de um acompanhamento pedagógico e direcionado, pois é
um processo de atividades prolongado.
Piaget (1978), ainda em seus estudos, enfatiza que a criança assimila o mundo à sua maneira,
sem compromisso com a realidade. A interação que a criança faz com o objeto independente
da natureza do mesmo, pois ela tem uma determinada compreensão do mundo ao seu redor.
Para entendermos melhor o que é jogo, temos a definição de Antunes apud Neves et all.
(2009. P. 27):
A palavra jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que significa
gracejo. Em seu etimológico, portanto, expressa um divertimento, brincadeira,
passatempo sujeito a regras que devem ser observadas quando se joga. Significa
também balanço, oscilação, astúcia, ardil, manobra.
É importante o fato de que o jogo é uma brincadeira que segue regras que devem ser seguidas
e também a observação. Para que haja o desenvolvimento cognitivo ou motor, o professor
deve estar dirigindo e organizando o jogo.
Para compreender melhor a concepção sobre o jogo de Piaget, deve se esclarecer dois
conceitos: acomodação e assimilação. Acomodação é o processo pelo qual a criança modifica
seu estágio mental em resposta a demandas externas: como exemplo o ato da criança colocar
25
o dedo na boca e sugar, lançar objetos ao chão se tonam ajustes dos movimentos e das
percepções aos próprios objetos. Já a assimilação é o processo pelo qual a criança incorpora
elementos do seu mundo externo ao seu próprio esquema. Como exemplo: Quando a criança
quer morder alguma coisa, ela entende que primeiro ela deve segurar. Friedmann (1996, p 26)
Piaget define a assimilação e acomodação como:
[...] uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são
mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade
com o estado precedente, isto é sem serem destruídas, mas simplesmente
acomodando-se á nova situação. [...] chamaremos acomodação (por analogia com os
“acomodatos” biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob a
influência de situação exteriores (meio) ao quais se aplicam. (1996, p 13)
É através desse processo que a criança vai construindo
no seu mundo os sistemas de
significação, constituem na primeira forma de saber do ser humano, sendo a significação o
resultado da possibilidade da assimilação. O balanço entre a assimilação e a acomodação é
chamado de adaptação.
3. 3. 1 CARACTERÍSTICAS DOS JOGOS
Podemos caracterizar o jogo de faz de conta, que estimula a criatividade e as interações
sociais da criança. Morais (1988), ao estudar o faz-de-conta com crianças pré-escolares
concluiu que a realidade do cotidiano, diante do fantástico mundo da ficção, parece menos
interessante, por isso a necessidade de fantasia, para tornar o mundo real, mais prazeroso e de
simples compreensão para a criança. Conforme Vygotsky apud Serisara (2002, p. 124):
[...] os processos criadores encontrados desde os primeiros anos da infância se
refletem basicamente em suas brincadeiras os jogos e são produto de um tipo de
impulso criativo, entendido como aquele que possibilita ao sujeito reordenar o real
em novas combinações.
Por meio dos contos de fadas, lendas e parábolas, as crianças assimilam de forma mais
simples, temas que podem ser delicados para a compreensão da criança. Assim como Lúria
(1990), Piaget (1978), Freud (1976) e Vygotsky (1887), afirmam que o jogo de fantasia
possibilita observar a origem dos devaneios na fase adulta. Como se os contos fossem um
modelo das ações que as crianças iram praticar quando adultas.
Conforme Friedmann (1999. P.27), Piaget distingue três estruturas que caracterizam o jogo
infantil: o jogo de exercício, o simbólico e o de regra: “Os jogos de exercícios têm como
26
finalidade o próprio prazer do funcionamento: por exemplo, quando a criança empurra uma
bola, vai atrás dela, volta e recomeça, ela faz por mero divertimento”. Friedmann (1996, p.28)
O jogo de exercício é importante para o desenvolvimento da coordenação motora da criança,
sua lateralidade e fortalecimento dos músculos.
A fase dos jogos de exercício é a fase que vai desde o nascimento até o aparecimento da
linguagem, momento este que a criança conhece o mundo por meio de seus sentidos, através
de exercícios com movimentos simples e repetitivos como agitar os braços, sacudir objetos,
emitir sons, caminhar, correr etc. E a partir do momento que a criança satisfaz a sua
necessidade de alcançar um objetivo, de realizar um movimento ultrapassar um obstáculo e
que começa a falar , o jogo do exercício diminui, dando por fim a satisfação plena da criança
e da natureza sensório-motora.
A segunda característica de jogo conforme Piaget é o jogo simbólico. Segundo Friedmann
(1996. p 29): “O simbólico implica a representação de um objeto ausente (comparação entre
um elemento dado e um imaginado) e uma representação fictícia, na medida em que implica a
representação. Aparece durante o segundo ano de vida”. Friedmann (1996, p 29). O jogo
simbólico consiste em brincadeiras imaginárias e que vêem da criatividade da criança.
Essa fase é o segundo período do desenvolvimento da criança, com o surgimento da idade vai
aparecendo formas novas de símbolos lúdicos. Como exemplo ao brincar de faz de conta, a
criança expressa uma visão de mundo de forma simbólica; quando emite um som de um
brinquedo, quando imita o som de outra pessoa; quando ao pegar uma folha ela finge estar
lendo um jornal. A criança nesse momento tende a reproduzir relações que predominam no
seu meio e assimila dessa maneira a realidade e a maneira de se auto- expressar. Entre os 7- 8
anos aos 11-12 anos o simbolismo decai e começa a aparecer com mais freqüência os
desenhos e trabalhos manuais.
Para Elkonin (1998), o jogo simbólico constitui mais do que um objeto da própria atividade,
um expressivo gesto acompanhado pela fala. No entanto para Vygotsky (1987), o ato de
brincar é a criação de uma situação imaginária pela criança e o brincar preenche necessidades
que mudam de acordo com a idade.
27
O seguinte conceito de jogo são os jogos de regras. Esse tipo de jogo, conforme Piaget é uma
combinação sensório-motora e intelectual formalizado de acordo com objetivos que se
pretende alcançar: competir, melhorar o desempenho e aprender algo definido, com isso
ocorre no jogo à união da cooperação e da autonomia, que continua durante toda a vida.
Como exemplo: jogar bola, corrida, xadrez. O jogo de regra se caracteriza pela existência de
um conjunto de leis impostas pelo grupo, gerando competição entre os participantes, esse jogo
vai tendo mais evidencia na vida da criança quando abandona a fase egocêntrica
possibilitando desenvolver os relacionamentos afetivo-sociais.
Para a autora Friedmann (1996, p 32), “A regra supõe, necessariamente, relações sociais ou
interindividuais. A regra é uma regularidade imposta pelo grupo e sua violação constitui uma
falta. [...] a regra é o elemento novo que resulta da organização coletiva das atividades lúdicas
[...]”. Assim também é no jogo infantil, as regras devem ser obedecidas e quem as
desobedecer está sujeito a uma punição. Mesmo com a presença de regras e punições, o jogo
de regra não deixa de ser divertido e prazeroso para as crianças.
A respeito das características dos jogos, Vygotsky apud Friedmann (1996, p 35), afirma que:
Sugere como característica que define o jogo, o fato de que, nele, uma situação
imaginária é criada pela criança (isso é verdade tanto na brincadeira sócio-dramática
como também nos jogos de regras). O brincar da criança é imaginação em ação. [...]
outra característica é a natureza das regras da brincadeira: não existe atividade lúdica
sem regras [...].
O autor considera o jogo com duas características básicas: imaginação e regras. A imaginação
é a capacidade da criança de criar situações, personagens e lugares que a possibilite brincar.
As regras é uma estrutura para que o jogo possa ser organizado e desenvolvido. Sem essas
duas concepções não se pode considerar o jogo.
Vygotsky defende a necessidade de incentivar e motivar a criança no momento do jogo,
propondo situações imaginárias. Situações estas que contém regras de comportamento, que
não precisam ser explícitas. Friedmann (1996, p 36), acredita que o jogo é muito importante
no desenvolvimento cognitivo e no processo de criar situações imaginárias e no
desenvolvimento abstrato, porém, para que o jogo aconteça, a criança precisa ter a imaginação
e a criatividade aflorada. Para isso, ela deve ter algo em que se inspirar, ou melhor, se
28
espelhar. Assim, vemos que a criança tem a necessidade de imitar. Como afirma Vygotsky
(1979. p 26):
No desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira
importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro
e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará
amanhã sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação.
É a partir do ato de imitar que os adultos (ou até mesmo outras crianças) estão fazendo, é que
a criança começa a ter uma visão de mundo e a criar o seu próprio mundo imaginário.
O jogo sendo espontâneo faz com que a criança desenvolva exercícios plenos da imaginação,
de planejar, de fazer representações e desenvolver situações e papeis do cotidiano. Como
exemplo brincar de casinha. E as regras contidas no jogo são parte integrante no jogo
simbólico, momento este em que a criança ensaia o comportamento e as atividades dos
adultos tornando assim algo significativo para a sua vida.
O jogo pode ser também, um meio da criança absorver os símbolos sociais característicos de
cada cultura. Como por exemplo, a boneca para as meninas e o carrinho para os meninos.
Essa forma de brincar estimula as meninas para a prática doméstica e os meninos para o
trabalho. Para Brougére (2004, p. 8):
Mas o brinquedo possui outras características, de modo especial a de ser um objeto
portador de significados rapidamente identificáveis: ele remete a elementos legíveis
do real ou do imaginário das crianças. Nesse sentido, o brinquedo é dotado de um
forte valor cultural, se definimos a cultura como conjunto de significações,
produzidas pelo homem. Percebemos como ele é rico de significados que permitem
compreender determinada sociedade e cultura.
É através do brinquedo, dos jogos e da forma de brincar que a criança absorve os conceitos de
cada cultura. Um exemplo disso são os jogos da África, que são diferentes dos jogos de
Portugal, que por sua vez são diferentes dos jogos do Brasil. Cada região tem seus jogos
conforme sua economia, sua religião e crenças.
Conforme aponta Kishimoto (1997, p.24): “a liberdade de ação do jogador, a separação do
jogo em limites de espaço e tempo, a incerteza que predomina o caráter improdutivo de não
criar nem bens nem riqueza e suas regras”. O autor propõe o jogo como uma ação voluntária
29
da criança, quando ela brinca não está preocupada com a aquisição de conhecimento e nem
com o desenvolvimento, ela simplesmente brinca.
3.3.2 OS TIPOS DE JOGOS
O Jogo é um estímulo que desafia a criança na busca de soluções para tarefas que lhe são
apresentadas, dessa forma a atração do jogo esta sempre em desafio constante. Os brinquedos
e jogos constituem em objetos privilegiados na educação das crianças, podendo ser das mais
diversas origens, matérias, formas, tamanhos e cores. Podendo ser industrializados e
produzidos pelas crianças em determinados jogos.
O professor faz a escolha e seleção de acordo com a faixa etária da criança e a necessidade do
momento, com esses recursos podem ser trabalhados diversos projetos com jogos auxiliando
assim o desenvolvimento e o processo de ensino aprendizagem nas crianças. Com isso o
professor deve relacionar cada tipo de jogo a ser dado conforme a necessidade a ser
desenvolvida.
Kamii, (1991, p.50) divide os jogos em oito grupos:
1.
Alvo:
Os jogos de alvo são aqueles que se encontra em situações como: derrubar, arremessar,
empurrar, rolar, chutar e assoprar. São jogos com o intuito de acertar o alvo arremessado, se
tornando excelente meio de trabalhar as relações espaciais e a de coordenação perceptivomotora, como exemplo: arremesso em pernas de cadeira, boliche e coloque o rabo no burro;
2.
Corrida:
Os jogos de corrida implicam uma tarefa que exige coordenação entre duas pessoas ou mais,
os limites de espaço e tempo se tornam variados, como: corrida de colher, corrida sobre as
mãos;
3.
Perseguição:
Os jogos de perseguição são jogos em que uma criança corre para pegar a outra, e foge para
não ser pega. A criança com quatro anos já começa a entender as intenções desse tipo de
30
jogo. Exemplo: gato e rato e lobo mal. “As estratégias que a criança desenvolve para fugir
de um perseguidor ou para perseguir exigem que elas percebam o ponto de vista do seu
oponente para fazer aquilo que ele não espera, pegando-o de surpresa”. Kami (1991, P. 65);
4. Esconder:
Os jogos de esconder são aqueles em que a criança esconde um objeto em um determinado
lugar e as outras crianças terão que encontrar. Exemplo mais conhecido a brincadeira de
esconde-esconde;
5. Adivinhação:
O jogo de adivinhação é aquele em que a criança tenta descobrir o objeto, a partir de
adivinhação e pistas que podem ser sonoras, visuais com movimento corporal e verbais
como exemplo: estátua, mímica e detetive. Os jogos de adivinhação são estimulantes no
desenvolvimento cognitivo e desafiador no processo de racionalização;
6. Comandos verbais:
Os jogos de comando verbais são jogos simples de fácil entendimento para as crianças, e tem
a função de auxiliar na linguagem das crianças. Como exemplo um jogo conhecido por todas
as crianças, coelhinho sai da toca;
7. Cartas:
O jogo de cartas pode ser jogado como baralho comum, desenhos ou números, sendo valor
cognitivo do jogo como: reconhecimento, percepção e desafio que exige atenção e rapidez;
8. Tabuleiro:
Os jogos de tabuleiro são classificados a partir do tipo de ação que requerem dos jogadores,
os jogos mais conhecidos são: bingo de número ou de letras, ludo e corrida na trilha. “Na
medida em que dependem de estratégias, servem de estímulo para as crianças pensarem em
alternativas de ação e imaginarem o que seu adversário poderá fazer”. Kami (1991, P.102)
Há vários tipos e classificações de jogos. Esses tipos de jogos foram estudados por vários
autores. Assim como a autora Friedmann (1996, P.86) que também classifica os jogos em
doze tipos:
31
1. Fórmulas de escolha:
A fórmula de escolha nada mais é do que as preliminares antes de um jogo. Jogo este que
pode incluir ou eliminar uma criança do grupo. É um jogo que promove a interação social, a
afetividade, cognição e a linguagem. Como exemplo: o jogo em cima do piano.
2. Jogos de perseguir, procurar e pegar:
São jogos em que a criança utiliza a agilidade, rapidez e o desempenho físico, tendo como
objetivo perseguir a outra criança, para obter a vitória. Esse jogo trabalha a área cognitiva,
social e criativa, como exemplo o jogo caça ao tesouro;
3. Jogos de correr e pular:
São jogos em que a crianças tem de se movimentar, sair do lugar, como exemplo a corrida de
obstáculo que desenvolve a coordenação físico-motora e a social;
4. Jogos de atirar:
São jogos em que é preciso lançar objetos a determinadas distâncias, pode se jogar em grupo
ou individual, como exemplo: a famosa amarelinha, que tem como objetivo desenvolver a
área físio-motora, cognitiva, afetiva e social;
5. Jogos de agilidade, destreza e força:
São jogos com regras e que requer alguma prática para seu aprimoramento, como exemplo o
cabo de guerra, que desenvolve a área físio-motora e social;
6. Brincadeira de roda:
A cantiga de roda é o momento de diálogo, socialização, tendo a música como principal
elemento, através deste a criança se movimenta, fala e representa. Como exemplo: ciranda
cirandinha uma música que ao interpretada vai propiciar a criança na área físico-motora,
linguagem, social e afetiva;
7. Jogo de adivinhar e pegar:
São jogos que estimulam o raciocínio lógico e estimula a área afetiva e social, linguagem e
cognição, como exemplo: a brincadeira o gato mia.
32
8. Prendas:
São jogos em que a criança estipula castigo ou prêmios, ações a serem realizadas e resultados
a serem obtidos. Como exemplo jogo das prendas e mestre mandou: jogos que desenvolvem
na criança a linguagem, afetividade, o cognitivo a área fisio-motora.
9. Jogos de representação:
São jogos que as histórias específicas são representadas através de diálogo, por meio de
memorização e mímica corporal. Como exemplo: a mímica, uma pessoa através de gestos vai
fazer representações para a outra adivinhar, promovem o desenvolvimento da linguagem,
físio-motora, afetiva, social e cognitiva.
10. Jogos de faz de conta:
São jogos em que a criança usa a imaginação, constituem uma atividade sozinha ou em grupo,
por meio de representações de diferentes formas, com essas representações a criança passa a
perceber e compreender o mundo em sua volta. Como exemplo: brincar de casinha, de escola,
de mamãe e papai, de super-heróis, etc. Esse tipo de jogo promove o desempenho físico,
cognitivo, afetivo, social e linguístico, além de estimular a criatividade e a compreensão da
realidade.
11. Jogos com brinquedos construídos:
São jogos que requerem a construção de um objeto ou brinquedo pelas crianças ou pelos
adultos. Jogos que estimulam a criatividade, a cognição, físio-motora, afetiva e social, como
exemplo: a pena de pau.
12. Jogos de salão:
São jogos mais sedentários, coletivos, realizados em espaços fechados, requer maior
habilidade mental do que física. Como exemplo: telefone sem fio, que estimula a criatividade,
linguagem, e a área perceptivo-motor.
A prática pedagógica com o uso dos jogos pode ser baseada e desenvolvida tendo como fonte
as pesquisas dos estudiosos sobre o assunto. Para entender melhor o processo de ensino e
aprendizagem por meio dos jogos, é válido a prática em conjunto com a teoria.
33
Portanto, cada professor pode elaborar seu acervo de jogos e materiais a serem usados no
âmbito escolar. Jogos estes que deve ser de acordo com o objetivo proposto para melhor
desenvolvimento e aprendizagem da criança. Dessa forma o professor ao escolher um jogo
deve levar em consideração os aspectos, características e tipos de cada jogo.
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3.4. BREVE HISTÓRICO DOS JOGOS
Enquanto fato social, o jogo assume a imagem que cada sociedade lhe atribui. De acordo com
a época e o lugar, os jogos admitem significados distintos. Da mesma forma de que os valores
da sociedade se transformam o jogo também se transforma.
Conforme Friedmann (1996. p 20):
Deve ser dado destaque à qualidade de transformação do jogo: a atividade lúdica é
muito viva e caracteriza-se sempre de transformações e não pela preservação dos
objetos, papéis ou ações do passado das sociedades, como tem sido colocado pro
diversos pesquisadores.
Deve-se levar em conta o fato de que o jogo usado há anos atrás, hoje, pode não fazer mais o
mesmo sentido para as crianças.
Por conta disso, é preciso considerar a realidade da criança para se aplicar o jogo adequado.
Da mesma forma, Kishimoto (2002), também considera que é relevante considerar a cultura
local e os valores sociais. Para o autor, “É necessária a existência do social, de significações a
partilhar, de possibilidades de interpretação, portanto, de cultura, para haver jogo”
(KISHIMOTO, 2002, p. 30).
Sem a cultura, o jogo não tem significado, sendo que uma das finalidades do jogo é educar
para viver bem em sociedade. Conforme Cerisara, (2002. p 125): “[...] tanto a atividade lúdica
quanto a atividade criativa surgem marcadas pela cultura e mediadas pelos sujeitos com quem
a criança se relaciona.” Ou seja, é impossível considerar o jogo fora do contexto histórico e
social, sendo que este é uma herança passada de gerações em gerações, porém que se
modifica com o tempo e o espaço.
De acordo com Rizzi & Haydt (2004), a atividade de brincar sempre esteve presente no
homem, considerando que este possui habilidade criativa e necessidade de diversão. Um dos
nomes que a raça humana recebe além de Homo sapiens, é Homo ludens, ou seja, a
capacidade de dedicação ao que é lúdico. Sendo assim a capacidade de jogar característica da
natureza do homem. Rizzi & Haydt (2004. P.8) afirma que: “O ato de jogar é tão antigo
quanto o próprio homem, pois este sempre manifestou uma tendência lúdica, isto é, um
35
impulso para o jogo. [...] Nesta perspectiva, o jogo ultrapassa a esfera da vida humana, sendo,
portanto, anterior à cultura”.
Na Antiguidade, a criança não era compreendida com um ser que necessita de jogo. O jogo é
uma ação natural do ser humano, considerado que o homem é um ser dotado da capacidade de
criar e imaginar. Não é preciso ferramentas ou algum estímulo para que o homem brinque. Ele
já é lúdico desde o princípio.
A concepção de jogo, nem sempre foi como entendemos hoje. Antes do período do
Romantismo, a brincadeira era vista como algo desnecessário, se levado em conta o fato de
que, naquela época, a criança não era compreendida como um ser que necessita de ludicidade.
Da mesma forma afirma Brougère (2002, p. 21). “Antes das novas formas de pensar nascidas
do Romantismo, nossa cultura parece ter designado como „brincar‟ uma atividade que se opõe
a „trabalhar‟ [...] caracterizada por sua futilidade e oposição ao que é sério.” O ato de brincar
era considerado fútil pelos adultos, que tinha como foco principal de todos apenas o trabalho.
Na antiguidade, crianças de todas as idades e adultos participavam, juntos das mesmas
brincadeiras. Essa era uma forma vista de aproximar os laços de afetividade e promover a
união (WAJSKOP, 1995). Entende-se então, que as crianças não tinham jogos próprios para
sua idade, elas tinham que se contentar com as brincadeiras estipuladas pelos adultos. Assim
como cita Duflo apud Neves et all (2009, p. 28):
Não que antes (na Antiguidade) não se tivesse jamais falado sobre ele e que não
houvesse nenhuma página dedicada ao assunto. Simplesmente o jogo era posto de
lado, ao lado do divertimento e assimilado, por isso, às coisas que não tem
verdadeira importância e às quais não devemos dar muita atenção.
Os jogos naquela época, não eram desconsiderados como práticas necessárias e sérias. Eram
vistos como coisas sem importância e esquecidas.
De acordo com Ariés (1981), por volta do século XIV ao século XVII, as crianças em média
de sete anos de idade, eram submetidas a uma rotina árdua de estudos e leitura, obrigando os
pequenos a abandonarem suas brincadeiras e seguirem uma vida de responsabilidades. De
forma que relata a história do Delfim francês Luis XIII:
36
Tenta-se então fazê-lo abandonar os brinquedos da primeira infância, essencialmente
as brincadeiras das bonecas: não deveis mais brincar com esses brinquedinhos, nem
brincar de carreteiro: agora sois um menino grande, não sois mais criança”. Ele
começou a aprender a montar cavalo, a atirar e a caçar. (ARÍES, 1981, p.87)
Consequentemente, a respeito da presença de crianças e adultos nos mesmos jogos,
levantaram-se críticas feitas pela Igreja e pelos moralistas da época, que viam os jogos sendo
de vícios e prazeres carnais, decidiu-se proibir as crianças de praticar certas atividades que
antes eram normais.
Segundo conta Falkenbach (1999, p. 2):
Eles eram admitidos indiscriminadamente pela grande maioria, ao mesmo tempo
condenados de forma absoluta, devido a sua imoralidade, por uma elite poderosa.
Nesse contexto, os jogos foram classificados numa ordem binária: maus e bons ou
proibidos e recomendados.
Desde então, os jogos começaram a ser separados entre, aqueles que são bons para a
preservação da moral da criança e aqueles que são maus. Mas não era somente a elite que
interferia na aplicação dos jogos, as críticas vinham também da igreja, que condenava os
jogos imorais praticados pelos adultos e crianças.
Segundo Neves (2004), a relação da religião com o lúdico permaneceu até a Idade Média. O
jogo era usado como forma de sacrifício e representa uma oferenda de energia, expressada
pela dança, pela mímica e pelo teatro. No calendário havia datas festivas como o carnaval e
jogos competitivos.
Conforme escreveu Neves (2009), a respeito da relação jogo/trabalho, o filósofo Aristóteles,
contempla o jogo diferente da maioria da época. Ele vê o lúdico como uma
complementaridade ao trabalho. Da mesma forma, São Tomás de Aquino, acredita que o lazer
é uma forma diferente de seguir a palavra divina e orientar o homem ao trabalho.
O Romantismo constrói um novo lugar para a criança e seu jogo, e tem como representantes
grandes filósofos e educadores que consideram o jogo como conduta espontânea e livre
instrumento de educação da pequena infância. De acordo com Neves et all (2009, P. 29):
Para que se pudesse enunciar a ideia do jogo como valor educativo, uma evolução
no pensamento se fez necessária. Essa mudança foi provocada pela obra de Jean-
37
Jacques Rousseau [...] e plenamente afirma na qualidade do pensamento filosófico
na Alemanha do fim do século XIX e início do XX.
Através do filósofo Rousseau, a sociedade começou a perceber a necessidade de um ambiente
lúdico para a criança. Através dessa concepção, o jogo passou a ser usado também na prática
educativa, como meio de ensino.
Neves (2009), relata que Rousseau acreditava que a natureza pura e boa, original do seu
humano, deveria ser preservada, contra a corrupção da sociedade. Foi esse pensamento que
influenciou o pensamento da educação pedocêntrica, ou seja, uma educação especial para as
crianças. As ideias de Rousseau inspiraram pedagogos como Besedow, que propunha
atividades divertidas na aprendizagem.
Ainda Piletti (1987) diz que Durante a mesma época, Goeth e Schiller, também na Alemanha,
eram especialmente sensíveis ao componente imaginativo nos jogos das crianças e suas
implicações no comportamento adulto, especialmente no que diz respeito à produção artística.
Schiller desenvolveu uma teoria sobre a natureza do jogo e Goeth ressaltava o relacionamento
com sua mãe como uma inspiração para contos e fantasias.
O filósofo alemão Kant, por volta do século XVIII, promove o jogo como objeto de ciência.
Ele iniciou um estudo sobre o jogo e sua relação com a arte, seu papel na sociedade no que se
refere ao conceito de “atividades inúteis”. Seus pensamentos influenciaram também o poeta e
filósofo Schiller. Conforme Kant apud Duflo (199, p. 57):
Por meio do jogo a criança aprende a coagir a si mesma, a se investir em uma
atividade duradoura, a conhecer a desenvolver as forças de seu corpo. Em geral, os
melhores jogos são aqueles nos quais aos exercícios de habilidade acrescentam-se
exercícios dos sentidos.
Começou aí o estudo do jogo e sua importância para o desenvolvimento da criança. Kant
estudava o jogo como forma de desenvolvimento físico-motor, emocional e psicológico da
criança.
O conceito de jogo no Brasil tem uma característica folclórica, baseada nas raízes brasileiras.
As brincadeiras brasileiras têm origem nas culturas indígenas, negras, italianas e portuguesa,
que por sua vez também é uma mistura de tradições européias, como relata Kishimoto (1993).
38
O jogo veio para o Brasil junto com sua colonização, em 1500, porém seu caráter era mais
literário, incluindo contos e lendas, parlendas, adivinhações, superstições e festas típicas.
Kishimoto (1993, p. 20):
Em virtude da ampla miscigenação étnica a partir do primeiro grupo de colonização,
fica difícil precisar a contribuição específica de brancos, negros e índios nos jogos
tradicionais infantis atuais no Brasil. Mas é possível, em alguns casos, efetuar um
estudo, especialmente em contextos onde o predomínio dessas etnias é muito
grande, como nos engenhos de açúcar ou nas tribos indígenas espalhadas pelo país,
no fim do século passado e começo deste.
Assim como o brinquedo é fruto da cultura local, no Brasil não poderia ser diferente. A
cultura brasileira é uma mistura de culturas de todas as partes do mundo, logo, há os mais
variados tipos de brinquedos.
Conforme Kishimoto (2010), um dos brinquedos que até hoje estão presentes no Brasil é a
pipa, introduzida pelos portugueses no estado do Maranhão, no século de XVI, porém sua
origem é oriental. Consta também no folclore brasileiro, a lenda da mula-sem-cabeça, da cuca
e do bicho papão, que foram trazidos pelos portugueses e espanhóis. Como brinquedos foram
trazidos o pião, a bolinha de gude, a amarelinha, o jogo de saquinho, cama de gato, gamão e
xadrez.
Segundo Kishimoto (2010), a influência da cultura negra nos jogos brasileiros é obscura, pois
não se tem conhecimento certo dos jogos dos negros antes do século XIX. Porém sabe-se que
a cultura africana sofreu grande influência dos povos europeus. Há também registros sobre a
necessidade de unir os negros aos outros povos para evitar as rebeliões. Por conta disso, sabese mais sobre os contos e lendas africanos.
A principal característica da brincadeira na cultura indígena é o contato com a natureza. Era
comum ver crianças brincando nos rios, correndo na mata atrás de animais. Porém, as crianças
indígenas também tinham brinquedos. Em algumas tribos, as índias faziam para seus filhos
brinquedos de barro como bodoque, animais, bonecas na maioria do sexo feminino, porém
sem forma humana.
Na infância indígena, não se vê o castigo nem o sermão, conforme cita Kishimoto (1993, p.
62) “As crianças indígenas não eram castigadas nem reprimidas. Logo, pouco lhes restava do
39
proibido: encantos e descobertas que podiam se transformar em traquinagens infantis.” Em
vista disso, podemos caracterizar a infância indígena sendo uma infância de liberdade para
poder descobrir e criar.
40
3.5 O JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Cada dia na vida de uma criança é cheio de atividades e de novas situações de aprendizagem,
ela aprende vivenciando determinadas situações do dia a dia, experimentando, fazendo novas
descobertas, agindo, isso faz com que se construa seu conhecimento a partir da leitura que faz
do mundo em sua volta e da sua realidade.
Quando o professor introduz um jogo, a criança passa por uma fase de adaptação e
reconhecimento, sendo interessante que ela o faça livremente, de forma que seja explorado
todas as suas potencialidades. O jogar implica ação, dessa forma se torna uma atividade rica
em estimulação e provoca na criança uma aprendizagem significativa de forma espontânea e
natural. O jogo é essencial na educação infantil, ele estimula o desenvolvimento motor e
mental da criança. Segundo Marcelino:
O jogo é um recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem espontânea
e natural. Estimula a crítica, a criatividade, a socialização, sendo, portanto,
reconhecido como umas das atividades mais significativas - senão a mais
significativa - pelo conteúdo pedagógico social. (2001, p.74).
Na educação infantil o jogo tem o papel de estimulação, de levar a criança a entrar em contato
com a realidade, contribui para o desenvolvimento sócio afetivo da criança e para a formação
de valores e experiências que acompanharão para a vida toda.
Zacharias (2006), diz que, quando a criança joga é o momento em que libera e canaliza suas
energias e fantasias, se tornando uma grande fonte de prazer. Portanto o jogar tem como
objetivo facilitar e assimilar a aprendizagem do aluno, tornando mais significativa e concreta,
é muito mais do que o ato de brincar, ele constitui como forma de compreender como se dá o
desenvolvimento infantil.
MIRANDA (2001, p 14) aponta cinco categorias no uso dos jogos em sala de aula nas séries
iniciais, que interessam no processo educativo: a socialização que surge como dimensão base
na hora do jogo; a cognição propondo o desenvolvimento integrado das potencialidades; a
afeição, ou seja, sentimento de carinho, amizade, apego relação professor aluno; motivação
onde o professor tem o papel de motivar a criança na hora do jogo; e por fim a criatividade.
41
Para Winnicot:
O jogo é a melhor maneira da criança comunicar-se, ou seja, um instrumento que ela
possui para relacionar-se com outras crianças. Brincando, a criança aprende sobre o
mundo que a cerca e tem a oportunidade de procurar a melhor forma de integrar-se a
esse mundo que já encontra pronto ao nascer. (1975, p.78)
O jogo propicia à criança a comunicação e a socialização no âmbito escolar, com essa
interação vai beneficiar no crescimento social e pessoal.
O uso do jogo em sala de aula requer uma atenção, no sentido de explorar o que irá ser feito,
sendo importante direcionar para quem, onde e para qual realidade a ser dirigido, o ato de
brincar proporciona a construção do conhecimento de forma natural e agradável, auxiliando
na socialização e no desenvolvimento da autonomia. Cunha (2001, p.14)
No entanto “Negrine (1994, p.20) afirma com bases em estudos realizados que a criança
quando chega à escola, traz toda uma bagagem de aprendizagem e desenvolvimento, que é
construída a partir de suas vivências, grande parte por meio da atividade lúdica.
O lúdico, em sua perspectiva simbólica, significa que as atividades são modificadas e
históricas, uma relação entre a pessoa que faz e aquilo que é feito ou pensado é uma forma de
projeção de desejos, sentimentos e valores, que expressam possibilidades cognitivas ou
modos de incorporar o mundo e a cultura que vive. Macedo (2005, p.20).
De acordo com Macedo (2005, p.24) os trabalhos com jogos, no que se refere aos aspectos
cognitivos, visam contribuir para que as crianças possam adquirir conhecimentos e
desenvolver suas habilidades e competências e oferecer um rico arsenal de possibilidades,
contribuindo para a construção de relações sociais, cuja direção é aprender a considerar
limites e agir de forma respeitosa com as pessoas.
Conforme Rizzi, Haydt (2004, p.13) “O Jogo é um atividade que tem valor educacional
intrínseco. (...) “jogar educa, assim como viver educa (...), além desse valor educacional o
jogo vem sendo usado com recurso pedagógico”. A autora sita algumas razões para usar o
jogo como recurso pedagógico: o jogo corresponde a um impulso natural das crianças, de
satisfazer a necessidade interior; o jogo é envolvimento, é emoção e isso faz com que torne a
atividade mais motivacional; o jogo mobiliza os esquemas mentais, o jogo aciona e ativa as
42
funções psiconeurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento; o jogo como
fonte integradora da várias dimensões da personalidade afetiva, motora e cognitiva.
3.5.1 O JOGO NA EDUCAÇÃO SEGUNDO PIAGET, FROBEL E DEWEY
É fundamental considerar os conceitos dos estudos feitos na área da educação para poder
compreender melhor a importância dos jogos para o desenvolvimento cognitivo e físico da
criança. Para isso, não se pode falar de desenvolvimento sem falar de alguns dos principais
pesquisadores da educação como Piaget, Froebel e Dewey que influenciaram outros muitos
estudiosos e mantém suas idéias ativas até os dias de hoje.
Sir Jean William Fritz Piaget, nasceu no ano de 1896 na Suíça. Licenciado em Ciências
Naturais em 1915, busca fazer uma ligação entre o biológico e o lógico. Passou a estudar a
psicologia infantil, buscando entender o funcionamento da lógica mental da criança e a
comparando com a do adulto. Piaget até hoje é considerado o maior expoente do estudo do
desenvolvimento cognitivo. (PALANGA ,2001, p. 13).
De acordo com o autor, o jogo e as brincadeiras mobilizam esquemas mentais: estimula o
pensamento, a ordenação de tempo e espaço, integrações, várias dimensões afetivas, sociais,
motoras e cognitivas, favorecendo a aquisição de condutas e desenvolvimentos de habilidades
como coordenação, destreza, rapidez, força e concentração.
A atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, o jogo não é
apenas uma forma de gastar energia entretenimento, mas sim de contribuir e enriquecer o
desenvolvimento intelectual da criança. Segundo o autor:
O jogo é, portanto, sob as duas formas essenciais de exercícios sensório motor e de
simbolismo, na assimilação da rela atividade própria, fornecendo a esta seu alimento
necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por
isso, os métodos ativos da educação das crianças exigem todos que se forneça às
crianças um material conveniente, afim de que, jogando elas cheguem a assimilar as
realidades intelectuais que sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil.
(PIAGET, 1976, p. 16)
A criança ao jogar absorve a realidade que a cerca, para ela desenvolver as suas habilidades
motoras e cognitivas é necessário material adequado a faixa etária da criança.
43
O jogo e a brincadeira são veículos que une a vontade e o prazer durante a realização de uma
atividade, é o momento em que as regras são criadas, a socialização se fazendo presente. É a
hora em que a criança exercita a parte física através dos movimentos e a mente a partir do
raciocínio ao desenvolver o jogo. Com essa perspectiva o ensino por meio lúdico cria
ambiente gratificante e atraente servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da
criança.
Em contra partida, o filósofo do período romântico, Friedrich Froebel, viveu no ano de 1782 a
1852, na Alemanha. Seus estudos eram baseados na liberdade de expressão natural da criança
por meio de brincadeiras. O discurso de Froebel se baseia o conceito de que para se haver o
desenvolvimento da humanidade, é preciso antes, libertar a ação natural do seu humano.
Assim, a criança poderá “aprender a agarrar com suas próprias mãos, andar com os próprios
pés, encontrar e observar com os próprios olhos” (FROEBEL apud KISHIMOTO 2002, p. 58)
Kishimoto (1993) a partir de seus estudos, Froebel desenvolveu 2 tipos de metodologias para
colocar em prática suas teorias. É chamado de dons. O primeiro se consiste no uso de
materiais como bola, cubo, varetas e anéis. Esses objetos devem estar sob o controle da
jardineira (que atualmente, é a professora). A segunda metodologia são as atividades
simbólicas como músicas, histórias e movimentos corporais, com o intuito de “liberar a
criança para a expressão das relações que estabelece sobre os objetos e situações do seu
cotidiano.
Segundo Kishimoto (1993), sobre a ideia de evolução do cognitivo por meio da liberdade de
expressão, profissionais da área de educação, influenciados por Froebel, utilizam objetos
como bola, cilindro o cubo em suas atividades, além de músicas e atividades cantadas como
imitação de animais. Esse tipo de exercício possibilita à criança o conhecimento espontâneo
sobre os “elementos do ambiente”.
A prática pedagógica deve estar baseada nos estudos teóricos. Porém, muitos educadores
usam a brincadeira, mais precisamente, o conceito liberdade de Froebel, inadequadamente. É
usado sem considerar que a criança deve absorver os conhecimentos que aquele objeto traz, e
que cada criança tem um tempo determinado de assimilação de informações.
Ainda a autora:
44
Ao transmitir as formas de manipulação dos materiais froebelianos parece que o
professor em muitos casos esquece-se de garantir o ponto mais importante da
pedagogia froebeliana, dar um tempo necessário para a livre exploração dos
materiais. (KISHIMOTO, 1993. p. 103)
O professor ao organizar um jogo deve estar atento ao tempo para a manipulação dos objetos
conforme a teoria froebeliana, esse tempo é necessário para a criança explorar o material a ser
jogado, conhecer, tocar e observar, sendo assim auxilio no processo de desenvolvimento da
aprendizagem.
Os estudos de Froebel foram de fundamental importância para o conceito de desenvolvimento
cognitivo e motor da criança. Por meio de brincadeiras ele percebe que, ao se relacionar com
os sons e objetos, a criança conhece o mundo ao seu redor através dos símbolos e sons e o
próprio corpo através dos objetos e exercícios musculares.
Em relação à prática escolar e à respeito do estudo do jogo, Amaral (2002) cita que Dewey
acreditava que o jogo é “espontâneo e inevitável”, ou seja, sempre presente na prática. Porém,
a maioria dos pesquisadores não se preocupa em estudar e entender as concepções e
importância do jogo acaba sendo tão comum ao ponto de passar despercebido pelo foco de
estudo.
Se observarmos as brincadeiras mais comuns das crianças, veremos que elas são, na maioria
das vezes, uma representação da vida adula. Como por exemplo, a menina gosta de brincar de
casinha, de boneca, e o menino gosta de brincar de soldado, de carrinho. De acordo com
Dewey, essas representações são nada mais do que a “necessidade que a criança tem de
imitar” a vida adulta, tendo como reflexo o exemplo dos pais. Mais o brincar aparece como
fator social e ferramenta de transmissão de valores, conforme Amaral (2002).
Porém, assim como as crianças aprendem coisas boas, também aprendem coisas más. Por
isso, Dewey enfatiza a necessidade do jogo nas escolas como forma de ensinar boas idéias e
bons ideais. Portanto, para que a criança absorva valores bons para ela viver em harmonia
com a sociedade, é preciso utilizar na escola os mesmos jogos de “imitação” da vida adulta
que a criança pratica em casa.
Segundo Amaral:
45
Para evitar que a criança fixe hábitos indesejáveis, as escolas, principalmente os
jardins de infância, devem usar dentro do horário escolar os mesmos tipos de jogos
que são exercitados fora da escola, não somente como método de tomar o trabalho
interessante para a criança, mas pelo valor educacional das atividades envolvidas,
permitindo oferecer às crianças ideias e ideais corretos e adequados sobre a vida
quotidiana. (2002, p. 100)
As escolas de educação infantil devem oferecer jogos que se assemelhem com a realidade da
criança, para que se torne mais interessante e atrativo, permitindo a criança fazer ligações com
o dia a dia.
Porém, o autor ressalta que o objetivo não é impor certas ideias, mas sim para selecionar
aquilo que convém saber a criança para viver na comunidade, pois “a vida social da criança é
a base do desenvolvimento infantil e a escola deve dar oportunidade para exprimir em suas
atividades a vida em comunidade” (DEWEY apud KISHIMOTO, 2002, p. 100). É preciso
unir a vida social da criança, juntamente com as atividades pedagógicas usando o interesse
que a criança tem em brincar. Para isso, o professor deve manusear os recursos de forma
sábia, almejando os objetivos propostos através da ludicidade.
3.5.2. O PAPEL DO PROFESSOR COMO MEDIADOR NO JOGO
Enquanto as crianças jogam muitas vezes não têm consciência do que aprendem naquele dado
momento, do que foi exigido delas para realizar os desafios. O professor ao mediar um jogo
deve fazer um registro e com isso fazer com que os alunos reflitam sobre suas ações e assim
permitindo o professor perceber se eles observaram, aprenderam se apropriaram dos aspectos
mais relevantes que foram estabelecidos como metas ao planejar o jogo escolhido.
Para o referido documento:
A intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças,
oferecendo-lhes material adequado, assim como um espaço estruturado para brincar
permite o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacionais
infantis. Cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de
maneira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os
temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de
construção, e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas emoções,
sentimentos, conhecimentos e regras sociais. RCNEI (1998, p. 29, V1)
O uso de material e espaço adequado auxilia para enriquecimento da aprendizagem para a
criança, e o professor como mediador deve propor variedades de jogos que estimulem a
coordenação motora e mental, além da criatividade e socialização.
46
De acordo com Kami (1991, P.5) os critérios para um bom jogo ser útil no processo
educacional deve levar as seguintes considerações: o professor deve propor algo interessante e
que seja de caráter desafiador para as crianças resolverem, deve permitir que as crianças se
auto avaliem quanto a seu desempenho, e permitir que todas as crianças participem do jogo.
São critérios a serem relevados na hora da escolha de um jogo pelo professor.
A autora ainda afirma que:
O valor do conteúdo de um jogo deve ser considerado em relação ao estágio de
desenvolvimento em que se encontra a criança. (...) á maneira como a criança obtém
conhecimento e raciocina; isso poderá ser inferido pelo professor através da leitura”
do comportamento da criança, (...) (KAMI ,1991, p.6)
Para cada fase da criança existe um tipo de jogo específico que propicia no seu
desenvolvimento, por isso é importante o professor conhecer o material a ser utilizado e não
jogar somente por jogar e sim jogar para se alcançar um objetivo.
O professor ao escolher um jogo deve se preocupar com o conteúdo a ser ensinado, não jogar
somente por jogar e sim por um objetivo a ser realizado que é a aprendizagem. Deve conhecer
o comportamento das crianças conforme suas etapas de desenvolvimento que segundo Piaget
(1967), se divide em quatro estágios:
* Estágio sensório- motor que vai de 0 a 2 anos de idade é a fase sem representações ou
pensamentos, tudo o que a criança pega leva a boca, a criança brinca sozinha e ainda não tem
noções de regras;
* Estágio pré-operatório de 2 a 7 anos de idade é a fase em que a criança interioriza os
esquemas, ela já adquiriu a noção de regras e já começa a jogar com outras crianças o faz-deconta, é a fase do egocentrismo e dos “por quês”;
* Estágio das operações concretas dos 7 aos 12 anos, a criança já possui nessa idade uma
organização mental integral, é a fase em que a criança já possui noção de tempo, espaço,
velocidade; aprendeu as regras e faz utilização dela em jogos como futebol, damas, dominó e
outros, já sabem brincar em grupos;
47
* Estágio das operações formais de 12 anos em diante, a criança nessa fase pensa usando a
lógica, buscando soluções a partir de hipóteses se tornando aptas a aplicar o raciocínio lógico
em todas as classes de problemas.
Para cada fase do desenvolvimento cognitivo da criança existe um estágio conforme Piaget,
estágios este que vão amadurecendo conforme a idade. É com base nesses estágios que o
professor deve basear os tipos de jogos e materiais que irá manusear com as crianças.
Conforme Kishimoto:
O jogo é a construção do conhecimento, principalmente, nos períodos sensório-motor
e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu
espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção de causalidade, chegando à representação
e, finalidade, à lógica.” As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois
querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos
quanto emocionais. (1997, p.96)
Nos períodos sensório-motor e pré-operatório, é fase em que a criança está construindo o
conhecimento, sendo fundamental oferecer nessa idade materiais que estimulem a criança, o
professor deve estar atento aos tipos de jogos para essa faixa etária.
É fundamental a postura do professor diante das considerações sobre o jogo, é nesse momento
que tem a oportunidade de interagir com as crianças, de constituir um vínculo com o aluno
transmitindo um clima de segurança, sendo um momento de comunicação, afetividade,
desejo, emoção e ação voluntária, um momento em que as crianças vão resolver problemas,
com a finalidade de adquirir noções de cooperação e socialização.
Segundo a visão de Almeida (1987), a criança vai ter a consciência de alguém se preocupa
com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo e que seja capaz de dar-lhe
as mãos para construir com ela uma nova história e uma sociedade melhor.
De acordo com Kishimoto:
O educador pode desempenhar um importante papel no transcorrer das brincadeiras
se consegue discernir os momentos em que deve só observar, que deve intervir na
coordenação da brincadeira, ou em que deve integrar-se como participante da
mesma. (1998, p.134)
48
O professor na mediação de um jogo deve mesclar momentos de orientar e dirigir o processo,
com outros momentos em que as crianças sejam responsáveis pelo processo de organização,
dando-lhe autonomia e possibilitando uma melhor interação. Durante essas interações
proporcionadas pelos jogos, é garantido o respeito mútuo entre o mediador e a criança, em um
clima afetivo, sendo assim a criança tem a oportunidade construir seu conhecimento social,
físico e cognitivo, com isso estrutura a sua inteligência e a interação com o meio.
Segundo Kami (1991, p.11) Deve se analisar a participação de todas as crianças que jogam, e
perceber a capacidade de envolvimento das crianças no jogo de acordo com o nível de
desenvolvimento, sendo assim a participação da criança vai depender de seu nível de
desenvolvimento.
O professor deve sempre observar a participação e a reação das crianças durante o jogo.
Perceber como elas se organizam, como agem e se comportam sozinhas ou no grupo,
permitindo o conhecimento dos seus alunos para melhor direcionamento das atividades. Cabe
ao professor desenvolver objetivos e metas traçados, o que se espera alcançar com
determinados jogos, assim ele apresenta didática mais adequada para ajudar o desempenho de
suas tarefas.
Para Rizzi, Haydt
O jogo supõe relação social, supõe interação. Por isso, a participação em jogos
contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade,
cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e
grupal. (2004, P.15)
É através do jogo que a criança aprende o valor do agir em grupo de ajudar uns aos outros em
busca de um objetivo único; o espírito de competição como desejo de superação de si próprio,
como forma de aperfeiçoar habilidades e colaboração. É de fundamental importância o
professor preparar a criança o jogo sadio, em que se deve ter o respeito e a consideração pelo
adversário.
“O fato de perder torna-se quase intolerável para algumas crianças, dando origem a cenas de
choro e até mesmo de agressão”. Rizzi; Haydt (2004, p 15) O educador deve estar preparado
para lidar com essa situação, conscientizar a criança o espírito de cooperação e de trabalho em
49
conjunto, sendo assim a criança precisa de um apoio para saber lidar com vitórias e derrotas,
saber perder esportivamente sem se sentir diminuída ou menosprezada.
Outra variável a ser mediado pelo professor é o preparo do ambiente onde o jogo vai ser
realizado, que deve levar em considerações o espaço, preparado com antecedência no intuito
de estimular o as potencialidades da criança. Cada tipo de jogo tem seu espaço e momento
adequado para atender melhor a necessidade da criança que deve ser estimuladas e motivadas
e com isso respeitar o tempo necessário para amadurecerem. É importante a organização do
espaço, como forma de incentivar na criança a necessidade de jogar, visando facilitar a
escolha do jogo.
O uso do jogo em sala de aula requer uma atenção, no sentido de explorar o que irá ser feito,
sendo importante direcionar para quem, onde e para qual realidade a ser dirigido, o ato de
brincar proporciona a construção do conhecimento de forma natural e agradável, auxiliando
na socialização e no desenvolvimento da autonomia. Cunha (2001, p.14)
A autora considera que:
O Educador deve definir, previamente, em função das necessidades e dos interesses
do grupo e segundo seus objetivos, qual é o espaço de tempo que o jogo irá ocupar
em suas atividades, no dia-a-dia. Deve definir também os espaços físicos onde esses
jogos irão se desenvolver: dentro da sala de aula, no pátio ou em outros locais.
(FRIEDMANN, 1996, p.70)
Contudo o professor deve preparar com antecedência o material a ser utilizado na hora do
jogo, requisito básico fundamental na organização deste e com isso garantir que os objetivos
propostos nas atividades desenvolvidas sejam alcançados. Para isso é preciso que se faça um
planejamento cuidadoso para que não se perca a oportunidade de desenvolver o conhecimento
nas crianças, sendo necessário fazer uma pesquisa para avaliar o valor pedagógico dos jogos,
propiciando recursos enriquecedores para melhor obtenção de informações relacionadas às
crianças.
50
3.6. A CONTRIBUIÇÃO DO JOGO NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA
O jogo é considerado importante no desenvolvimento da criança porque através dele a criança
constrói o seu mundo e sua realidade, beneficiando no desenvolvimento da linguagem, no
desenvolvimento físio-motor e no desenvolvimento moral. E através do jogo pode se
encontrar respostas, ainda que provisória, para perguntas que não se sabe responder,
preenchendo na criança esse vazio (FRIEDMANN, 1996, p. 66). Da mesma forma, Ribeiro
(1997. P. 9) destaca a importância do lúdico para o desenvolvimento das habilidades nas
crianças:
A Educação Lúdica, de maneira espontânea e agradável, coloca a criança em
situação de ser guiada em seus impulsos instintivos. Encorajar, orientar e
desenvolver as manifestações instintivas da criança é auxiliar o desenvolvimento
oportuno de sua inteligência, apurar suas emoções, fortalecer sua vontade, sua
individualidade e sua sociabilidade.
Segundo o autor, chama-de de impulsos instintivos, a vontade que a criança tem de se
movimentar, correr e pular, é parte essencial de seu desenvolvimento. Porém é preciso
estimular esses “impulsos instintivos”, orientar a forma correta de se brincar, para que a
criança possa continuar a se desenvolver.
A criança tem a necessidade de correr, de pular, de escalar. Isso já é natural do ser humano, é
uma herança do homem primitivo. Segundo coloca Ribeiro (1997), as atividades
desenvolvidas pelas crianças, são remetidas à cavalgada, fuga, perseguição, a criança tem
prazer em perseguir “um gato ou uma galinha, cavalgar em um cabo de vassoura!”.
Essas brincadeiras são fruto da vida primitiva, onde o homem caçava, se escondia do inimigo,
subia em árvores e montava em animais. Por isso não é bom privar a criança dos jogos que
são tão necessários e já naturais para a criança, pois eles têm uma função especial para sua
vida. Com isso, Ribeiro (199, p. 10) considera que : “Os jogos fazem parte das atividades
sociais e atendem às necessidades de socialização do ser humano. Através de jogos
sabiamente dirigidos, esses e outros impulsos poderão ser atendidos de maneira salutar.”
Ribeiro (1997), aponta o jogo como uma necessidade social de homem. Da mesma forma,
para Friedmann (1988, p.30), “as brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural,
51
traduzindo valores, costumes, formas de pensamento e ensinamento”. Naturalmente, os pais,
professores e comunidade, querem que as crianças aprendam virtudes como saber se
comportar, ser responsável, ter equilíbrio, ser organizado, ou seja, aprendam para a vida em
sociedade.
É preciso ensinar estas virtudes de forma prazerosa e com uma linguagem que a criança
entenda. Referindo-se ao desenvolvimento das competências e valores sociais por meio dos
jogos, o referido documento condiz:
[...] educar significa, proporcionar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com
os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, adquirindo assim
conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. E neste processo também,
a educação auxiliará o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas,
contribuindo assim na formação de criança felizes e saudáveis. RCNEI (1998, p. 19,
v1)
O RCNEI (1998) é claro quando descreve o ato de educar como um ato de cuidado,
brincadeira e aprendizagem. O aprender social e cultural se estende ao desenvolvimento
afetivo, emocional, estético e ético. Segundo Friedmann (1996, p. 65): “O jogo oferece,
muitas vezes, a possibilidade de aprender sobre solução de conflitos, negociação, lealdade e
estratégias, tanto de cooperação como de competição social”, que também são conceitos
necessários que permite à criança o acréscimo de habilidades necessárias na vida em
coletividade.
Quando se fala de desenvolvimento social, falamos também da linguagem materna. É através
das brincadeiras que a criança aprende a se relacionar, ela aprende a linguagem local e as
formas de comunicação, as entonações da voz e a emoção através do ouvir. De acordo com
Bruner (apud BROUGÉRE, 1998, p. 194): “[...] poder afirmar que é sua atitude lúdica que
permite, em grande parte, à criança dominar o milagre da linguagem [...] A aprendizagem da
língua materna é mais rápida de inscrita em um contexto lúdico”. Volta ao conceito de que,
com o lúdico, a criança assimila os conteúdos de maneira mais fácil e rápida.
O jogo se faz importante na educação infantil porque através dele a criança constrói uma
visão de mundo, absorve os valores da sociedade, tendo o jogo como uma das formas mais
52
naturais de fazer a criança entrar em contato com a realidade. Friedmann (1996, p.66) destaca
a importância do jogo em quatro partes:
 Desenvolvimento da linguagem: A linguagem é uma forma de se comunicar e se
expressar; um meio, de interagir socialmente, é a forma básica no processo de
desenvolvimento. Por meio da linguagem que se desenvolve a imaginação e a
criatividade;
 Desenvolvimento afetivo: A afetividade está ligada no processo de construção do
conhecimento e é ela que vai influenciar o caminho da criança na escolha de seus
objetivos;
 Desenvolvimento físio-motor: A exploração do corpo e do espaço levam a criança a se
desenvolver, sendo o jogo um meio básico para promover o desenvolvimento físicomotor;
 Desenvolvimento moral: É um processo de construção que vem de dentro para fora,
em que a criança constrói sua própria regra moral.
Os jogos podem ser um caminho para se entender os mais profundos problemas e medos das
crianças. De acordo com Macedo (1997, p. 146), todo o ser humano tem a necessidade de um
tempo para pensar, colocar as ideias no lugar para poder enfrentar as diversidades. O autor
chama esse tempo livre de “ócio digno” ou “folga”. Conforme descreve em seu livro: “A
construção de um saber pode ser considerada produto de um „ócio digno‟, ou seja, de um
espaço e de um tempo para pensar. No contexto do jogo, a criança pode encontrar esse ócio
digno. Por isso a importância do jogo, para o desenvolvimento dela”.
Contudo essa técnica pode ser usada também por professores, para compreender as
necessidades da criança e intervir usando os jogos. Com as brincadeiras, a criança se sente
mais a vontade para se abrir e contar aquilo que a aflige. Em geral, os jogos na Educação
Infantil, contribuem muito para o desenvolvimento da criança de diferentes formas. Ele tem
sua importância além dos fatores aparentes, seus resultados podem vir à curto ou longo prazo.
Por conta disso, é preciso paciência do educador, pois cada criança se desenvolve há seu
tempo e tem um jeito próprio de demonstrar as melhoras.
53
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante esta pesquisa, foi abordado um breve histórico a respeito do surgimento e os
conceitos que cercam a Educação Infantil desde seu princípio. O conceito de infância também
ganha um foco importante, pois este se torna necessário para entender e atender as
necessidades educativas nesta faixa etária.
Temos visto que as noções de Educação infantil foram mudando ao longo dos tempos devido
às teorias de diversos autores como Froebel, Dewey e Rousseau, que revolucionaram a prática
pedagógica e a concepção das necessidades infantis.
O conceito de infância também sofreu alterações com o passar do tempo. A criança passa a
ser vista como um ser que também é portador de direitos, que possue habilidades que vão se
desenvolvendo ao longo da vida, que vê e entende o mundo de uma maneira singular.
Diversos educadores acreditam que o currículo das séries iniciais tem fundamental
importância para o crescimento das competências das crianças pequenas. São nesta fase que
se aperfeiçoam todos os parâmetros de socialização e da construção da personalidade.
Devendo nessa fase ser dada importância aos aspectos afetivos, emocionais, físicos cognitivos
e sociais de forma integrada para promoção de experiências significativas, essenciais para o
futuro da criança.
O uso do jogo para o desenvolvimento da criança deve ser estimulada desde pequena. Deve
ser instigada a criatividade, a imaginação e a curiosidade da criança, para que ela possa
ampliar as possibilidades de brincadeiras e desenvolver seus próprios ideias.
A aprendizagem de conceitos mais complexos se torna simples quando ensinado brincando.
O jogo é considerado uma ferramenta e forma prazerosa de ensinar e aprender, é um ato
natural da criança, além de oferecer a possibilidade do aprimoramento do raciocínio lógico,
psicológico, emocional, social e físico-motor.
A prática educacional do jogo unido à teoria pode servir para o professor intervir também nas
dificuldades individuais de cada aluno. Por meio da brincadeira, a criança expressa os
54
sentimentos inexpressíveis, aqueles que não têm palavras para expressar. O lúdico é uma
forma divertida e natural da criança expor suas dificuldades, seus medos e necessidades. Com
os jogos, a criança se senta mais à vontade e não se intimida, dando ao professor a
possibilidade de intervenção.
Portanto é necessário considerar o papel do professor ao elaborar os jogos pedagógicos. Os
jogos devem ser sempre dirigidos, não se pode deixar a criança brincando sozinha sem uma
observação de seus pontos fracos e fortes, e é preciso o máximo de atenção aos sinais dados
pelas crianças. Deve se ter também, o conhecimento das fases de desenvolvimentos das
crianças para poder aplicar os jogos apropriados de acordo com as necessidades e capacidades
de cada um.
A Educação Infantil, no decorrer de toda a sua trajetória, teve consideráveis avanços, porém
muito ainda tem que refletir, pesquisar e discutir quanto às possibilidades e desafios para as
propostas de educação referentes à prática educativa utilizando os jogos.
É preciso que haja mudança na postura por parte da escola e dos professores, para que busque
sempre a melhor maneira de ensinar, proporcionando assim, que os jogos sejam vistos não só
como recreação, mas também como um recurso essencial para a construção e prática da
cidadania.
Enfim é por meio dela que a criança vai compreender e interagir com o mundo do qual faz
parte, permitindo realizar com desembaraço as atividades que colaboram para o crescimento
pessoal, intelectual e ainda capacitá-la a agir de forma ativa e crítica na sociedade.
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