O GOSPEL DA RENASCER EM CRISTO E A MARCHA PARA JESUS:
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O GOSPEL DA RENASCER EM CRISTO E A MARCHA PARA JESUS:
56 O GOSPEL DA RENASCER EM CRISTO E A MARCHA PARA JESUS: mídia e espetáculo. Gabriel de Melo Pontes* Resumo O artigo versa sobre o processo de legitimação da música gospel que se verificou no interior do campo evangélico brasileiro a partir de 1990, mediante os esforços da Igreja Renascer em Cristo (IRC); de modo mais específico, reflete sobre o fenômeno da espetacularização do culto dentro deste contexto, partindo-se da realidade dos shows gospel, nomeadamente, a partir da Marcha para Jesus, o mais expressivo evento de música gospel no Brasil. Discute-se a relevância dos mega eventos religiosos espetacularizados ao estabelecimento do gospel brasileiro, a influência midiática no processo de consolidação destes eventos, bem como as transformações no ethos e na práxis religiosa evangélica no interior do campo, especialmente no que se refere à consolidação de um modelo cúltico espetacular, fenômeno compreendido como reflexo de desafios históricos e concretos operantes sobre este grupo social na (pós-) modernidade. Palavras-chave: Música gospel; Espetáculo; Marcha para Jesus. Abstract The article deals with the process of legitimation of gospel music that was found inside the Brazilian evangelical field since 1990, through the efforts of Igreja Renascer em Cristo (IRC); more specifically, it reflects on the phenomenon of spectacularization of the cult in this context, starting from the reality of the gospel shows, namely, from the March for Jesus, the most expressive gospel music event in Brazil. It discusses the relevance of mega religious events spectacularized to the establishment of the Brazilian gospel, about the media influence in the process of consolidation of these events, as well as transformations in the ethos and evangelical religious practice within the field, especially with regard to consolidation a spectacular cultic model, a phenomenon understood as a reflection of historical and concrete challenges of this social group in (post-) modernity. Keywords: Gospel music; Show; March for Jesus. * Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e formado em Tecnologia e Gestão de Eventos pela Faculdade de Tecnologia Ipiranga (FATEC). Lattes: http://lattes.cnpq.br/2019507442401874. E-mail: [email protected] PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 57 INTRODUÇÃO No cosmo sagrado atual, instituições religiosas têm se resignificado e incorporam ao seu universo sagrado elementos e práticas tradicionalmente considerados profanos, com a finalidade de alcançar maior número de fiéis e ampliar sua esfera de domínio, tendo em vista maior número de espaços da vida social. Recrudesce a procura dos grupos religiosos pela satisfação dos desejos dos indivíduos e de públicos específicos, o que resulta, frequentemente, na redefinição dos limiares entre sagrado e profano e no rompimento com fronteiras tradicionais. Através da apropriação cada vez mais recorrente de conhecimentos e técnicas de mercado, abre-se espaço para o desenvolvimento de novos “produtos”, nisto que se pode denominar de customização da fé. Nas ultimas décadas, este processo de resignificação e maior diálogo com as tendências sociais tem sido uma realidade no universo do pentecostalismo brasileiro, principalmente a partir de 1990, quando houve inserção da música gospel no meio evangélico brasileiro, mediante os esforços da Igreja Renascer em Cristo, sendo que, desta conjuntura resultou tanto a fundação de um ethos religioso particular, que propiciou o surgimento de uma nova identidade do fiel evangélico, quanto a formação de um complexo mercado com características peculiares. Os agentes institucionais, valendo-se de técnicas do mercado, como alto profissionalismo e propondo abertura à tendências da cultura do mundo globalizado, propiciaram ao gospel espantosa aceitação do laicato e da sociedade e um dos resultados desta maior abertura às tendências da sociedade atual foi o estabelecimento de um modelo cúltico, com grandes semelhanças com espetáculos seculares, mais especificamente, eventos de entretenimento de amplo destaque na mídia regidos pela lógica do mercado. Em face desta conjuntura, este artigo tem por objetivo compreender o processo de legitimação da música gospel que se verificou no interior do campo evangélico brasileiro a partir dos 1990, mediante os esforços da Igreja Renascer em Cristo (IRC), a partir de uma análise da Marcha para Jesus, evento realizado anualmente em São Paulo desde 1993 por esta instituição religiosa, com ramificações por outras cidades do Brasil e do exterior. PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 58 Foi através da Igreja Renascer em Cristo (doravante, IRC) - igreja neopentecostal fundada oficialmente em 1986 pelo casal Estevam e Sônia Hernandes - que, ainda nos anos 1990, ocorreu um fato expressivo no interior do campo evangélico brasileiro: a abertura definitiva para a popularização de gêneros musicais considerados profanos por vários segmentos evangélicos e sua consolidação no Brasil (CUNHA, 2004, p. 141), legitimando o que veio a ser conhecido como música gospel ou música cristã contemporânea ou ainda, música religiosa moderna (CUNHA, 2004, p. 116). O gospel consolidou-se entre um público consumidor composto, em sua maioria, por jovens entre 15 e 30 anos, provenientes das mais variadas denominações evangélicas, como as denominações protestantes históricas, pentecostais clássicas e, obviamente, das igrejas neopentecostais (DOLGHIE, 2005, p. 74), sendo que qualquer canção que falasse de Deus, independentemente do estilo musical adotado passou a ser considerada como música gospel, desde o rock até o baião (DOLGHIE, 2005, p. 70). Aline Barros, uma das mais consagradas artistas da música gospel do Brasil, em entrevista ao autor durante coletiva de imprensa assim se expressou sobre este crescimento: “Hoje a gente conseguiu, com esse crescimento, com essa qualidade, um alcance muito grande no meio da nossa sociedade de uma forma geral, mas principalmente os jovens, já que se tem conseguido atrair os jovens para a casa de Deus, num louvor que se faz dentro da igreja, que hoje [...] vem com muito mais força do que há alguns anos atrás.. então, a gente tem começado a entender, a perceber algumas coisas.. mudamos algumas estratégias para que a gente pudesse realmente alcançar algumas pessoas específicas, alguns grupos específicos - não são nem pessoas, mas são grupos específicos, na nossa sociedade, na nossa nação”. Apesar da música gospel ter se legitimado através dos esforços da IRC, não se pode esquecer que a música evangélica brasileira, já há tempos, atravessava por sensíveis mutações. No Brasil, ainda nas décadas de 1950 e 1960 houve a inserção de ritmos e estilos mais populares e distantes da hinódia tradicional protestante em decorrência da influência das chamadas instituições para-eclesiásticas (DOLGHIE, 2005, p. 71). Inspiradas em movimentos norte americanos, como o Movimento de Jesus, algumas dessas instituições ganharam muitos adeptos na década de 1970, principalmente jovens, caracterizando-se pela proposta de um culto mais informal e de um estilo alternativo de música (CUNHA 2004 p. 137). Já se encontrava então arado o terreno para a semeadura do gospel, cujos frutos seriam colhidos não apenas no âmbito religioso; por detrás deste projeto, estava o objetivo de se criar um produto musical de nível altamente profissional PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 59 capaz de fazer concorrência com a música secular e alcançar a sociedade como um todo, não apenas um público evangélico. Em depoimento à revista CCM Brasil Magazine, o entrevistado justifica porque optou trabalhar com o “segmento” (termo usado pela revista) gospel: Eu acho que dentro do sentimento que tinha no nosso coração, nós passamos a observar algumas coisas e, juntamente com o bispo Abbud, começamos a olhar o conceito de música gospel. Na época, até o Nelsinho Motta (produtor musical e apresentador do programa Manhattan Connection, do Canal GNT) já falava que um dos fenômenos que poderia concorrer em termos musicais, depois de alguns outros fenômenos como o rock, o sertanejo e algumas outras coisas, poderia ser o gospel, porque ele tinha características de alcançar o mercado e atender à sociedade como um todo. E então nós partimos agressivamente para isso. (FOFFU, 1999, p. 26 apud DOLGHIE, 2005, p. 75-76, grifo nosso) O gospel estabeleceu um mercado, através de um segmento musical externo, porém ao mesmo tempo concorrente ao secular. Se por um lado ele atingiu um mercado secular e se tornou um produto como outro qualquer, não deixou, todavia, de suprir demandas religiosas reprimidas dentro do protestantismo (DOLGHIE, 2005, p. 98) e aqui reside sua complexidade. Ele também se constitui por assim dizer, em um produto cultural híbrido (CUNHA, 2004), em que coexistem o novo enquanto novas tendências musicais e performáticas - e o velho – no que tange à manutenção de um mesmo tipo de discurso religioso e moral (DOLGHIE, 2007, p. 18). Em resumo, pode-se afirmar que o gospel brasileiro se estabeleceu como produto ancorado pela música e disseminado por meio de estratégias de marketing habilmente elaboradas por um líder religioso portador de formação e experiência profissional na área (CUNHA, 2004, p. 143). Este fato, por sua vez, é um indicativo da constatada presença de uma mentalidade empresarial na gestão da referida instituição religiosa: Muito do sucesso da Renascer pode ser creditado às suas políticas comunicacionais, onde o marketing desempenha um papel importante. As estratégias são viabilizadas com a assessoria de apoio de uma equipe profissional, contando com o aval de pesquisas de mercado realizadas por empresas especializadas. As campanhas organizadas pela Renascer são produzidas por agências de criação e propaganda que atuam no mercado secular e que são de propriedade de evangélicos, geralmente membros da igreja. Todo o complexo Renascer é controlado por uma mentalidade empresarial e sua administração é feita através de princípios da racionalidade administrativa e gerencial modernas. De acordo com Hernandes, a marca da Renascer é o profissionalismo (SIEPIERSKI, 2001, p. 96). Ora, dentre as estratégias de marketing utilizadas para a consolidação do PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 60 gospel no Brasil esteve o investimento pesado em ações estratégicas de marketing, principalmente em grandes eventos espetacularizados (CUNHA, 2004, p. 115), sendo o de maior destaque a Marcha para Jesus, realizado anualmente em São Paulo 1 desde 1993: o consumo da produção musical é o “carro chefe” deste mercado religioso e este consumo encontrou sua expressão máxima em grandes eventos. A promoção de eventos religiosos espetaculares consiste em uma característica intrínseca da instituição religiosa em questão; a mesma faz uso da terminologia, emprego não limitado ao evento em apreço: A Igreja Renascer em Cristo desenvolve anualmente inúmeros eventos como as gravações do Renascer Praise, ministério de louvor da igreja que já lançou 13 CD's e 7 DVD's, com destaque para o álbum gravado em Israel, onde se tornou no primeiro grupo musical a fazer um espetáculo em uma arena a céu aberto em Jerusalém. Nas últimas edições gravadas no estádio municipal do Pacaembu em São Paulo, a platéia superou as 60 mil pessoas, e contou com uma mega estrutura de som, palco e luz e um imenso coral de 12 mil vozes (PORTAL IGOSPEL, 2014, grifo nosso). A Marcha, na realidade ocorreu originalmente em 1987, em Londres (Inglaterra), tendo sido fundada por Roger Foster, Graham Kendrick, Gerald Coates e Lynn Green. Em 1989, mas de 45 localidades marcharam juntas em todo o Reino Unido, inclusive em Belfast (capital da Irlanda), onde 6 mil católicos e protestantes se reuniram; neste dia 200 mil cristãos se reuniram em toda a nação, fato que se repetiu em 1990 e 1991. No início da década de 1990, a Marcha veio a se tornar um evento de proporções continentais, ocorrendo em toda a Europa e, a partir de 1992, começou a chegar também a outros países como América, África e Ásia. Assim, o evento se espalhou para diversas nações, chegando ao Brasil em 1993, sendo o seu referencial simbólico, o episódio bíblico da travessia do Mar Vermelho dos hebreus comandados por Moisés durante a busca da Terra Prometida, ocasião em que YAWHE ordena ao líder que fale para o povo marchar (SIEPIERSKI, 2001 p. 177). A primeira edição brasileira foi realizada em São Paulo, no Vale do Anhangabaú e reuniu cerca de 350 mil pessoas e contou com amplo uso de trios elétricos e shows de grupos dos mais variados gêneros, como axé, samba, pagode, pop, entre outros. Nos anos 2000, as versões da Marcha para Jesus já começam a contar milhões de expectadores e, desde então, a serem encerradas com mega shows e com “muitos discursos, dentre eles, de vários políticos” (SIEPIERSKI, 2001 1 O evento ocorre também em outras centenas de cidades brasileiras e estrangeiras. PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 61 p. 178). Neste evento – no qual, segundo o apóstolo e fundador Estevam Hernandes, tem-se o objetivo de declarar à sociedade o senhorio de Jesus Cristo -, os participantes são orientados a percorrer um trajeto pré-estabelecido ao som de músicas gospel e trios elétricos, até a concentração em um local final, onde então se inicia um show com artistas renomados deste segmento musical. A forte presença dos rituais religiosos em espaço público sinaliza a crescente importância que as igrejas vêm obtendo na esfera social e política nos dias atuais, para além do âmbito religioso. Conforme Birman (2003, p. 236), “são múltiplas as imagens que fazem de rituais religiosos no espaço público uma expressão espetacularizada da importância social, política e religiosa que esta nova Igreja passou a deter no país”. Ora, a representatividade da Marcha foi tamanha que obteve reconhecimento oficial pelo poder público; com o apoio de políticos cristãos como Marcelo Crivella e Bispo Gê, a Marcha foi integrada ao calendário oficial do País desde setembro de 2009, ocasião em que a Lei Federal 12.025 foi sancionada pelo então presidente Lula. O próprio Bispo Gê, comentando este fato em entrevista ao autor, afirmou que o público evangélico se constitui em parcela significativa da sociedade brasileira e, portanto, deve procurar sim tornar seus valores públicos; este processo, de acordo com o líder, confere maior legitimidade à fé evangélica: “[...] Hoje nós somos trinta por cento, ou quase, de uma população. Nós temos uma expressão muito grande, sendo trinta por cento da população, nós temos uma importância, nós temos de colocar aquilo que são valores nossos também no calendário nacional; temos no calendário várias outras festas que são festas religiosas, pode até dizer que tem um aspecto cultural, mas ela é e tem uma conotação, e nós também temos direito, somos cidadãos brasileiros e temos direito a isso. Esse é um lado, que eu acho que é um lado mais político/social. E tem o lado espiritual, porque, de certa forma, nós sabemos o quanto é importante ter um referencial de Deus na data do Brasil, um referencial de Jesus, um conceito espiritual, numa marca aprovada pelo presidente; a maior autoridade da nossa República consentiu que a Marcha para Jesus fizesse parte do Calendário. Eu creio em um lado espiritual, que isso é de uma importância muito grande, espiritualmente falando”. No dia 15 de outubro de 2013, o evento chegou também a Israel, mais exatamente na Galileia, norte do País, conforme noticiou o site Uol Notícias em 17/10/2013, em uma matéria em vídeo com a legenda “Marcha para Jesus invade Israel e sela apoio com governo local”. De acordo com o vídeo, esta Marcha contou com a presença de 400 a 500 pessoas e o ministro do turismo israelense, Uzi Landau, também esteve na Marcha e trocou elogios com os líderes da IRC. PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 62 Esta ampla aderência do público, a mega estrutura utilizada, o grande interesse de políticos e o reconhecimento oficial do poder público, confirmam as amplas proporções e o destaque que este mega evento alcançou. Para se compreender este processo, é preciso considerar, dentre outros fatores, a importância e os efeitos da propaganda agressiva realizada em várias modalidades da mídia, sem perder de vista que as estratégias foram múltiplas, conforme se vê: Muitas foram as estratégias de “ativação” desse produto [o gospel]. O uso de canais de comunicação em massa, como rádio e TV, o patrocínio de shows ao vivo, de mega-shows em estádios com bandas gospel internacionais, gravações e lançamentos de CDs etc., colocaram definitivamente a música gospel em contato com o público-alvo: o jovem. A instauração do mercado deu-se por completo. Os agentes internos desse mercado mostram a satisfação com os resultados obtidos e denotam um movimento que não tem mais retrocesso no Brasil (DOLGHIE, 2005, p. 76). De fato, a busca por estabelecer um forte setor de comunicação é uma característica determinante dentro da IRC desde o seu início, que ela mesma justifica: Um outro braço importante da igreja é o ministério de comunicação. Entendendo ser a comunicação uma eficaz ferramenta de evangelização, a igreja Renascer desde sua fundação vem investindo com muito esforço e dedicação de seus líderes e membros no desenvolvimento de um projeto de rádio, televisão, internet e mídia impressa. São inúmeros os testemunhos de vidas alcançadas pelas 24 horas de programação da Rede Gospel de Televisão, da Rede Gospel de Rádio, do Portal iGospel, ou jornal Gospel News. A programação da Televisão parte da cabeça de rede que fica em São Paulo. O canal da geradora é o 53 UHF que tem seu sinal distribuído para São Paulo e adjacências através da grande torre 'Deus é Fiel', erguida em 2004 entre as avenidas Paulista e Consolação - centro financeiro mais importante da cidade. Para o restante do país, a Rede Gospel chega por meio de retransmissoras afiliadas e através da programação a cabo. Esses veículos levam uma palavra de esperança, cura, transformação para os quatro cantos do Brasil e também do mundo (através da internet, do Portal iGospel e da banda de satélite). Diariamente centenas de milhares de lares são edificados pelas histórias emocionantes de vidas antes entregues à depressão, afundadas no vício, enfermas na alma, no corpo e no espírito, sem perspectiva e sem futuro, mas depois totalmente restauradas pelo poder da fé (PORTAL IGOSPEL, 2014). Por meio de suas mídias oficiais como a rádio Gospel FM (90.1 FM), a Rede Gospel de Televisão (53 UHF), a Revista da Marcha, o site da Marcha e o portal IGospel, a Igreja Renascer procura persuadir o público de que a Marcha é um evento grandioso e consagrado, amplamente noticiado pela mídia e de importância internacional, a fim de elevar o status do evento. Tais elementos se observam, por PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 63 exemplo, na descrição feita sobre a edição de 2011, farta de adjetivações: Denominada "A Marcha da Fé", em 2011 a Marcha para Jesus levou milhões de pessoas às ruas, sendo considerada a maior marcha da história. Neste ano a Marcha teve um grande impacto na mídia, sendo noticiada pelo mundo inteiro como a maior manifestação evangélica do planeta (CAMARGO, 2013, grifo nosso). De acordo com Cunha (2004, p. 215) “mídia é espetáculo e mercado; expor a fé por intermédio dos meios de comunicação social é relacioná-la diretamente ao espetáculo e ao mercado”. Ora, apesar de toda a celebração religiosa comportar elementos de espetáculo - dos rituais de sacrifício em religiões ameríndias à liturgia ortodoxa, assim como os vitrais e a exuberância dos templos góticos, o que se assiste de novo é justamente a amplitude midiática, conforme salienta Klein (2005, p. 151). Este processo, por sua vez, relaciona-se diretamente à tecnologização da vida humana e, de alguma forma, acaba por contribuir para a promoção e consolidação de uma cultura de massas que se encontra relacionada aos mega espetáculos e a alterações nas formas de relação com o sagrado: A tecnologização da vida do homem passa a ser amparada, pautada e construída junto ao desenvolvimento dos media, media estes vistos no seu aspecto funcional de servir como novos suportes da informação e também como promotores da cultura de massas. De mediadores, os media passam a invadir o espaço privado deste homem; essa invasão e onipresença são elementos fundamentais para o entendimento da contemporaneidade e do cenário do surgimento dos megaeventos (...) esses fenômenos afastam o homem da experiência do sagrado, que é presencial e pressupõe a coparticipação direta (CONTRERA e MORO, 2008, p. 3, grifo nosso). A definição de espetáculo desenvolvida por Guy Debort (1997, p. 14) sintetiza bem esta ideia: “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”. Para Debort, o espetáculo se estabelece a medida que o comportamento e a vida social passam a se desenvolver por mediação imagética; ele é uma visão de mundo objetivada, uma realidade materialmente traduzida e sua origem e reprodução se encontra no modo de produção vigente, ou seja, os conteúdos são orientados pelos fins do sistema existente - o consumo: Sob todas as suas formas particulares de informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto do entretenimento, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e no seu corolário – o consumo. A forma e o conteúdo do espetáculo são a justificação total das condições e dos fins do sistema existente (DEBORT, 2003, p. 15). PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 64 A este conceito de espetacularização, pode-se acrescentar outro sentido, a partir da ideia de que “os componentes litúrgicos são substituídos por elementos de cena e o ritual cede lugar ao espetáculo” (KLEIN, 2005, p. 164). Abumanssur (2005, p. 116), analisando este fenômeno dentro das reuniões em igrejas do movimento neopentecostal, entende que: A ideia de culto como serviço religioso dirigido a um deus é quase estranha às reuniões dos neopentecostais. Nas convocações feitas aos crentes não se usa a palavra culto e os encontros são realizados com vistas às carências e demandas dos frequentadores da Igreja. A necessidade que tem o pastor de deambular enquanto prega, visando a cativar e manter a atenção do ouvinte e envolvê-lo no clima do teatro que se desenvolve, exige não um púlpito, mas um palco. A tribuna de onde fala o pregador resume-se a um suporte para a Bíblia, que quando não está fixado em uma das laterais do palco, é móvel, podendo ser posto e disposto conforme o desenvolvimento da reunião. Já no entendimento de Campos (1997, p. 72), considerado uma grande autoridade acadêmica no assunto: Não é mero acaso que grande parte dos templos “iurdianos” e de outros grupos pentecostais, como a Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus e outros, sejam antigos e desativados cinemas ou outras casas de espetáculos. Porque para a realização de seus cultos, exige-se, além do palco, todo um conjunto de aparelhos eletrônicos, tais como mesa de som, microfones, altofalantes, luzes, amplificadores de som, aparelhos musicais e outros mais, bem como um amplo espaço para a acomodação da plateia. No decorrer da encenação, há deslocamento de pessoas, movimentos corporais, formação de filas e realização de procissões internas. A importância e necessidade da abordagem acima apresentada justifica-se no fato de que a vocação para o espetáculo afirma-se, inicialmente, justamente no templo: A vocação para o espetáculo presente nas concepções religiosas, sociais e políticas do Pentecostalismo no Brasil afirmou-se, de início, pela preferência nunca desmentida em fazer de antigos cinemas, teatros e casas de shows espaços religiosos e ganhou mais alcance quando a conexão entre o palco, o púlpito e o espaço virtual se transformou definitivamente no seu modelo de atuação (BIRMAN, 2003, p. 235). O modelo de culto espetacular fundamenta-se no deslocamento da centralidade cúltica da prédica para a música, que por sua vez assume uma nova função no culto: a de evocar e despertar emoções (DOLGHIE, 2007, p. 16). Aqui cabe uma breve citação de Jean-Paul Willaime (2002, p. 53-54) que analisa a estetização enquanto expressão da mutação contemporânea do religioso e a sua influência sobre a prédica protestante: PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 65 Em um período mais caracterizado pelo indiferentismo religioso do que pelo ateísmo, pelo agnosticismo prático do que por concepções alternativas do mundo, os serviços de culto podem tornar-se ocasiões um tanto quanto exóticas em que são evocadas as questões fundamentais da condição humana; ocasiões em que se buscaria menos uma resposta, uma doutrina do que uma evocação cerimonialmente bem construída, dos mistérios da vida. A prédica pode ternar-se um poema e o pregador pode ser suplantado pelo oficiante, o celebrante [...] “A liturgia se torna estética, escreve Michel de Certeau. Ela não é mais verdadeira (pensável) nem eficaz (operatória), mas é talvez bela – bela como uma festa, como um canto, como um silêncio, como um efêmero êxtase de comunhão coletiva”. Esta estetização e ritualização do religioso convém maravilhosamente a uma civilização da imagem – são de um excelente rendimento televisual – e se articulam com as tendências no sentido de individualização e da privatização do sentido religioso. Nesse sentido, em relação ao processo de espetacularização do culto, atribuise importância central à performance dos “artistas da música gospel”, que resultam muitas vezes em uma expectação contemplativa por parte do público nos shows/eventos que realizam. Dolghie (2012, p. 72) destaca que, com auxílio da mídia, gravadoras e rádios evangélicas, os artistas contribuem decisivamente para o estabelecimento e fomento do mercado gospel, compreendendo-os como os novos sacerdotes da fé e do mercado fonográfico evangélico. Com efeito, a autora destaca: O visual e estereótipo das novas bandas gospel, acompanhando os gêneros populares, aproxima-se e se confunde com os de bandas seculares. O estabelecimento de um mercado muda o modo de tratamento dos antigos e fiéis músicos religiosos: eles são agora artistas e profissionais na área, embora a subjetividade religiosa ainda se faça notar (DOLGHIE, 2005, p. 96). Por esta razão, dentre as principais consequências da inserção do gospel no campo evangélico brasileiro, está o fato de que estes artistas passaram a ser conhecidos e comentados nos moldes dos artistas seculares e a transformação dos espetáculos gospel em programas de lazer (CUNHA, 2004, p. 117). Ressalte-se o entendimento de alguns intelectuais para quem a participação individual tende a se transformar em “algo meramente decorativo e perdido no meio da massificação do culto” (CAMPOS, 2011, p. 521) nesses contextos, cedendo lugar para a admiração de performances e dos espaços onde se realizam, tal qual ocorre nos espetáculos seculares. Nestes termos, o espetáculo, enquanto contemplação decorre da compreensão etimológica e cultural do termo. No aspecto etimológico, espetáculo é a junção do verbo latino spectare acrescido do substantivo speculum e, no sentido cultural, denota uma representação visual ritualizada ou previamente concebida, uma imitação ou demonstração de arte, no sentido geral da habilidade, dirigida aos PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 66 sentidos visuais e/ou auditivos, intentando causar a admiração de um público, os expectadores (GIARETTA; MACENA, 2011, p. 46-47). Cunha (2004, p. 216) argumenta que o pentecostalismo gospel, num sentido lato, não só privilegia a mídia, como cede igualmente grande espaço para a técnica e tecnologia em seus megaeventos e que todos os equipamentos de suporte ao culto-espetáculo, como sistemas de luz e som, são meticulosamente elaborados para garantirem a fidelidade do público. A forma como se dá a ambientação da Marcha, no que se refere à necessidade de uma mega estrutura para a sua realização, bem como de grande profissionalismo e técnica, tal qual ocorre com os grandes espetáculos seculares, apontam para esta direção: Para que haja um evento de excelência na grandeza que representa a Marcha, é necessário que tenha toda uma estrutura física e espiritual para que o evento seja um sucesso. Para isso existe a organização da Marcha que se divide em coordenadorias a fim de realizar com excelência o trabalho e as funções que lhes são delegadas debaixo da orientação do organizador e presidente da Marcha para Jesus Apóstolo Estevam Hernandes. Para um bom desempenho, a coordenação da Marcha realiza reuniões de pré evento nos órgãos públicos (subprefeitura, CONTRUR, etc.); elabora croquis e laudos técnicos; faz o acompanhamento e a revisão para aprovação do alvará; realiza o acompanhamento dos check lists e coordenadorias, solicita sugestões e melhorias, além de muitas outras coisas (CAMARGO, 2013). Ainda em uma análise desta relação gospel-espetáculo no contexto religioso contemporâneo, é possível refletir ainda, partindo-se do pressuposto que o consumo e o entretenimento são pilares da sociedade (pós) moderna, sobre o fato de que o mercado de shows gospel vem crescendo exponencialmente nos últimos anos, tal qual sucede ao setor de eventos e de entretenimento musical no Brasil2, conforme destacou o próprio produtor das três primeiras edições da Marcha, Samuel Modesto em entrevista ao autor: “Hoje nós vivemos um período muito bom de eventos no Brasil, o entretenimento, a música, os shows... o Brasil entrou hoje numa rota de shows internacionais muito boa. E o gospel também está vindo nesse mesmo balanço, nesse mesmo crescimento”. CONSIDERAÇÕES FINAIS O fenômeno da espetacularização do culto em shows gospel neopentecostais e a legitimação do gospel brasileiro precisa ser analisado no contexto das principais 2Segundo recentes pesquisas, o Brasil recentemente alcançou o segundo lugar no ranking do mercado de shows na América Latina. Sua escolha como sede de megaeventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em parte explica o grande crescimento. PONTES, Gabriel de Melo. O gospel da Renascer em Cristo e a Marcha para Jesus. n. 1, jan. - jun. 2015, p. 56-68. INTEGRATIO, v. 1, 67 características da religião pós-moderna, como pluralidade, desinstitucionalização, dessacralização, individualismo e a manifestação de cultos mais apropriados aos novos tempos. Tal legitimação surgiu da busca por uma religião mais aberta à sociedade, mais flexível e moderna, que dialoga com o meio social, imerso na cultura de consumo; ela foi o agente “catalisador” do desenvolvimento de novas estratégias evangelísticas, como o desenvolvimento de cultos “mais apropriados aos novos tempos” por parte da instituição que legitimou o gospel no Brasil. Fatores como o alto profissionalismo e tecnologia avançada na elaboração da música e na operacionalização do evento cúltico, a formação e manutenção de um mercado muitas vezes autônomo à religião, o uso agressivo dos mass media, o gerenciamento eclesiástico do tipo empresarial e a formação profissional dos agentes produtores e líderes religiosos envolvidos no processo foram fatores presentes no âmago do surgimento dos shows gospel neopentecostais midiatizados e do processo de espetacularização do culto abordado, como aponta a realidade da Marcha para Jesus. Em face destes acontecimentos, torna-se cada vez mais complexa a categorização quanto ao que seja litúrgico e não litúrgico, sagrado e profano e deixa até mesmo certa penumbra no conceito do que vem a ser o culto evangélico. De igual modo eles conduzem à dificuldades quanto à conciliação (ou diferenciação) entre estratégia proselitista e lucro. Não há dúvidas de que, se por um lado o gospel atingiu um mercado secular e se tornou um produto como outro qualquer, não deixou, todavia, de suprir demandas religiosas reprimidas dentro do protestantismo (DOLGHIE, 2005, p. 98). Estas e outras questões correlatas ficam, assim, abertas a novas contribuições, sendo que as mesmas poderão ser contempladas em pesquisas futuras. REFERÊNCIAS ABUMANSSUR, Edin Sued. Os pentecostais e a modernidade. In: PASSOS, João Décio (Org.). Movimentos do Espírito: matrizes, afinidades e territórios pentecostais. São Paulo: Paulinas, 2005. BIRMAN, Patrícia. Imagens Religiosas e Projetos para o Futuro. 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