Sumário - Primeira Linha
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Sumário - Primeira Linha
Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano VII • Nº 25 • Segunda jeira • Julho, Agosto e Setembro de 2002 A luita é o único caminho Editorial O vigéssimo quinto aniversário das primeiras eleiçons democráticos-burguesas após a ditadura franquista, que encenárom e “legitimárom” a nova forma que adopta a exploraçom de classe e a opressom nacional e de género no espaço simbólico-material de acumulaçom e expansom capitalista denominado Espanha, manifesta, de um lado, o seu esgotamento interno, mas também a firme vontade do regime de perpetuar o sistema, e de outro, a decisom de destacados sectores da classe trabalhadora, das naçons periféricas e das mulheres, de superar esta situaçom. O capitalismo espanhol aproveitou o mês de Junho para realizar umha intensa campanha propagandística de exaltaçom e apologia dumha “democracia”, apresentada como modélica, superadora das divisons sociais de um longínquo passado, onde a igualdade de oportunidades, o progresso, e a modernizaçom do país, devem ser motivo de orgulho para a cidadania. Assim, coincidindo com o final do semestre da presidência da UE, Aznar, tentou capitalizar mediaticamente a projecçom pública da Cimeira Europeia de Sevilha, mas todo saiu mal: a greve geral foi um êxito, a ETA lançou umha audaz ofensiva, e a manifestaçom antiglobalizaçom na capital anadaluza foi novamente massiva. Os principais partidos sobre os que se alicerça o virtual pluralismo político que tolera o capital, -PP e PSOE-, também coincidírom no diagnóstico clónico da boa saúde da democracia espanhola, apesar da lacra do terrorismo, assim como o conjunto de forças da esquerda reformista de ámbito estatal (IU) ou autonómico, além do nacionalismo burguês catalám. A literatura política empregada nom tem variado neste quartel de século, tam só se produzírom leves mudanças terminológicas adaptadas às alteraçons sociológicas da estrutura de classes e aos novos rumos do imperialismo a escala internacional. Esta aparente satisfaçom que transmite a oligarquia descansa nos letais acordos para a classe trabalhadora, a liberdade das naçons galega, basca, catalá, canária, bem como a perpetuaçom da dominaçom patriarcal, atingidos com o reformismo espanhol e com as burguesias da Catalunha e Euskal Herria entre 1974-1979, na chamada Transiçom, que supujo a prolongaçom do franquismo com umha nova máscara denominada democracia. Mas, vinte e cinco anos após as eleiçons de 15 de Junho, a realidade é bem diferente à que apresenta a TV e os corruptos políticos do sistema. A greve geral do passado 20 de Junho e as nove anteriores realizadas na Galiza, as intensas reivindicaçons nacionais, o ascenso dos protestos sociais, o desenvolvimento do movimento antiglobalizaçom, a incorporaçom de radicalizados sectores da mocidade trabalhadora e estudantil à luita, som expressons do paulatino incremento do mal-estar existente. O regime é consciente disto. Também o reformismo espanhol e autonomista. Perante umha situaçom económica delicada, em que a crise estrutural do modo de produçom capitalista a nível internacional está a provocar sérios problemas de estabilidade nos mercados internacionais, -agravado com as contínuas fraudes de multinacionais como Enron ou Wordlcom-, Espanha responde como vem fazendo nos últimos séculos: incrementando a repressom e intensificando o seu racista e chauvinista nacionalismo. A aprovaçom da lei de partidos políticos, a iminente ilegalizaçom de Batasuna, a criminalizaçom das reivindicaçons nacionais; a reforma laboral permanente e a anunciada modificaçom da legislaçom sobre direito a greve; o recorte das anémicas liberdades, o controlo social, a impuni- Sumário 3 Portugal: O feminismo ainda nom começou. Ana Barradas 4-5 Alargar e intensificar a luita. Por umha greve geral de 48 horas em outono. Comité Central de Primeira Linha 6 Apontamentos para umha filosofia do subsistema carcerário. Domingos Antom Garcia 7 25 de Abril: O proletariado deixou escapar a crise de poder. Francisco Martins Rodrigues 8 Lei fascista espanhola contra a internet. Justo de la Cueva 2 Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 EDITORIAL dade policial e incremento dos maus tratos e torturas; a lei do botelhom e criminalizaçom da juventude; a obscena manipulaçom e censura dos meios de comunicaçom; as xenofobas políticas sobre imigraçom; configuram parte das medidas da generalizada involuçom fascistizante que estám aplicando os aparelhos do Estado espanhol, sob a direcçom do PP, ante a crise estrutural do capitalismo. Perante esta situaçom só há duas alternativas: claudicar ou resistir. O autonomismo social-democrata galego optou pola primeira. A incorporaçom à vida política institucional cristalizada na ceia de Beiras e Fraga em Dezembro, vem de somar-se o esclarecedor Manifesto Bóveda, apresentado solenemente a 28 de Junho em Bonaval, onde o BNG, sem ambigüidades nem complexos, reafirma a sua lealdade à Espanha das autonomias e satisfaçom polo papel desempenhado na consolidaçom do actual sistema institucional vigente. A pequena burguesia, com a cobardia que a caracteriza, tem conduzido nos últimos anos o Bloco aos parámetros políticos-ideológicos imprescindíveis para a sua expansom e reproduçom social. Mas frente à lógica pactista que, com vinte e cinco anos de atraso, tem incorporado a sua direcçom com a passividade da filiaçom, acha-se a alternativa de resistência e luita em que se situa o conjunto do MLNG. A festa da democracia espanhola coincide com o primeiro aniversário da criaçom de NÓS-Unidade Popular. Um ano de rodagem compartilhado, de intervençom social comum, de debates e análises conjuntos, entre centos de militantes independentistas e de esquerda, som insuficientes para poder valorizar na sua justa medida o cumprimento dos objecti- vos perseguidos, mas sim constatam o acertado do processo iniciado em 1999 com a unidade de acçom, a posterior criaçom de entidades políticas unitárias comarcais, o salto qualitativo encetado com o Processo Espiral e a posterior ANC de que nasceu a Unidade Popular e em que estamos integrad@s @s comunistas galeg@s. O Dia da Pátria de 2002 tem lugar numha conjuntura complexa a nível estatal e internacional, com umha realidade social contraditória e adversa, mas também com um panorama político nacional praticamente clarificado e umha onda ascendente de luitas operárias, nacionais e populares. Frente às forças do regime, nas suas variantes espanholas ou autonómicas, frente às diversas alternativas da oligarquia e da pequena burguesia, frente as demagógicas promesas reiteradamente incumpridas de mais emprego, bem-estar, futuro, no cada vez mais desprestigiado espectáculo eleitoral; frente ao incremento das políticas de isolamento e criminalizaçom; é necessário manter firmeza e confiança no projecto revolucionário. Embora os esforços investidos, a dureza do coerente e conseqüente compromisso diário, nom se visibilizem, nem materializem, -mais alá de discretos e modestos avanços-, sabemos que nom som baldios, mas sim imprescindíveis para a meio prazo gerir com êxito a acumulaçom de forças, a introduçom social, as estrategias de luita, a nova cultura política anti-sistémica, que agora sementamos. Só existe umha alternativa real para atingir umha sociedade alicerçada na justiça, a liberdade, e a igualdade: a luita organizada das massas. Este é o único caminho para superar o amargo presente e evitar continuarmos a perder direitos e conquistas sociais. A burguesia espanhola e a sua subsidiária burguesia galega tem iniciado umha ofensiva em todos os ámbitos para manter, e mesmo incrementar, a sua taxa de ganho à custa das trabalhadoras e dos trabalhadores, das naçons e as mulheres. E somos unicamente nós, @s que podemos pará-los, com o imenso potencial de força da nossa classe, ligado e inserido numha estratégia de libertaçom nacional e emancipaçom de género. Nengum político profissional, nengum burocrata dos corruptos sindicatos maioritários, nengumha alternativa de inócuas e inofensivas terceiras vias, pretende acabar com a exploraçom e a opressom, tam só suavizála, compartilhando os privilégios que lhe concedem. Adiante com a libertaçom nacional e social de género. PUBLICIDADE Cervantes, 5 baixo VIGO TENDA NATURISTA Produtos naturais e biològicos, o melhor para corpo e mente, o mais sam em alimentaçom e higiene Rua Pitelos 26 tf+fax: 981 577 484 Local Social Libros Galegos e sobre Galicia Libro Portugués Tel.: 981 566 980 Tel./Fax: 981 571 373 Rúa Nova, 36 • Santiago Zona dos Viños. A ESTRADA Santiago -A Coruña Rua Noreas, 5 LUGO LUGO A continuaçom reproduzimos a intervençom nas VI Jornadas Independentistas Galegas da camarada comunista portuguesa da Política Operária Ana Barradas. Por razons de espaço nom nos foi possível a ediçom completa do texto, polo que animamos às leitoras e leitores interessad@s a consultar na nossa página web a totalidade da intervençom, junto da dos outros camaradas que também intervinhérom nas Jornadas. As luitas das portuguesas sempre se enquadrárom na luita geral e quase nunca fôrom canalizadas para a defesa dos interesses específicos da emancipaçom feminina. O PCP, os anarco-sindicalistas e outros ensinárom as suas filiadas a delegar nos homens a defesa dos seus direitos, com o argumento de que, umha vez instaurada umha ordem social mais justa, eles seriam tomados em consideraçom. Entretanto, elas deveriam servir de suporte e apoio à luita principal contra a exploraçom e nom acirrar as contradiçons secundárias entre sexos. Idealizou-se um quadro de homens e mulheres proletários irmanados nas luitas polo trabalho e polo pam, em que se iam forjando relaçons novas entre companheiros iguais. Ignorava-se o peso da opressom patriarcal anterior ao capitalismo e reforçada por este. Ninguém se perguntava como podia ser vitoriosa a luita anticapitalista enquanto metade dos explorados é oprimida pola outra metade. O lugar subalterno da mulher era tomado como natural. Assim se educárom geraçons de militantes e de mulheres que sinceramente acreditavam ser seu dever submeter-se a estas orientaçons, bem reveladoras do chauvinismo machista que sempre permeou as classes trabalhadoras. Quando, a partir dos anos 60, a mulher entrou em massa no mercado de trabalho, muito se alterou na consciência do seu papel como assalariada. Nessa altura os partidos poderiam ter feito umha inflexom, corrigindo a sua indiferença aos novos problemas que se colocavam, mas tudo ficou na mesma. Chegadas ao 25 de Abril, as trabalhadoras fôrom das primeiras a lançar-se espontaneamente à conquista de mais direitos. A 28 de Abril, mulheres de um bairro de barracas de Lisboa ocupárom colectivamente as primeiras casas e, apesar de intimadas polas polícia e polos soldados, recusárom-se a sair. Outras ocupaçons se seguírom (Bairro 2 de Maio) e o movimento alastrou. A 30 de Abril formou-se o Movimento de Libertaçom da Mulher (MLM), que reivindicou a contracepçom e o aborto livres e gratuitos. Na fábrica Messa, as mulheres destacárom-se na luita polo caderno reivindicativo e polo fundo de greve. A luita da Timex levou as operárias a ocupar as instalaçons. No campo, a manifestaçom em Alcácer do Sal exigindo a prisom dos latifundiários contou com a combatividade de muitas mulheres. Estes som apenas alguns exemplos. Ocupaçons de casas e locais de trabalho, greves, manifestaçons de rua e luitas várias fôrom as formas encontradas polas mulheres para alcançarem direitos que de outra forma lhes seriam negados. Com a formaçom do MLM, assistimos também às primeiras e tímidas manifestaçons feministas que, quase sempre à margem dos partidos, procuravam propagandear e valorizar a ideia da emancipaçom da mulher em geral. Essas acçons simbólicas de vanguarda fôrom imediatamente isoladas e estigmatizadas como “pequeno-burguesas” e só os mais radicalizados vírom nelas formas de luita a apoiar. O que de mais importante se deve reter dessa experiência do 25 de Abril é que os períodos revolucionários tenhem um papel único em dar passos para afrouxar a subjugaçom da mulher, porque as próprias mulheres, aproveitando o momento de desordem e abertura, se sentem impelidas a ocupar posiçons de vanguarda na luita polos seus direitos. Terminada a crise revolucionária, a luita de massas foi refluindo e os partidos políticos de esquerda absorvêrom a militáncia das mulheres, retirando-lhes autonomia para luitar por questons próprias e pulverizando todas as organizaçons femininas, dissolvidas no conjunto das restantes frentes. As únicas excepçons fôrom o MDM (do PCP) e a UMAR (da UDP) – esta até com um programa bastante avançado – que, no entanto, passárom a estar ao serviço das campanhas gerais do partido, diluindo-se o seu carácter emancipalista. A liturgia que se passou a associar aos rituais deprimentes do 8 de Março é bem o retrato do estado de desmoralizaçom a que se chegou. A verdade é que nunca chegou a haver realmente um programa de luita das mulheres pola sua emancipaçom. O actual e lamentável estado de cousas parece ter tendência a reforçar-se. Ana Barradas Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 OPINIOM 3 Portugal: O feminismo ainda nom começou Enquanto isto, a grande massa das trabalhadoras está entregue a si própria. As formas de acçom e organizaçom que vigoram em todos os partidos exercem um efeito de rejeiçom sobre as mulheres em geral; a estas, por sua vez, repugna qualquer tipo de associaçom com formaçons políticas que as ignoram ou desprezam. Se fossem incentivadas a participar, neutralizariam de certo modo os seus comportamentos de autocensura, relacionados com as tarefas que tenhem a cargo na vida privada (tratar dos filhos e da casa, prestar apoio ao marido, etc.) Mas hoje a política nom é umha actividade que poda ser exercida por todas. Continua reservada às que disponhem de recursos como tempo livre, auxílio doméstico, capacidade de organizaçom, etc. E assim se perpetua um ciclo vicioso. E, no entanto, o programa dos revolucionários tem de passar pola conquista das mulheres para os pontos gerais da luita e pola sua identificaçom activa com propostas programáticas e de acçom que as integrem, lhes digam directamente respeito e que fagam com que se revejam nessa luita. Entretanto, a luita das mulheres só poderá adquirir maioridade se elas conseguirem reunir-se em torno de objectivos comuns pontuais como: salário igual para trabalho igual, luita por melhores condiçons de vida, contra o desemprego, contra a dupla jornada de trabalho, descriminalizaçom incondicional do aborto, fim à luita contra a violência sexista, ou outras igualmente abrangentes. Para isso tenhem de passar por cima das barreiras dos seus guetos partidários, que lhes cerceiam a capacidade de se identificarem com as outras mulheres. Seria depois possível eleger um núcleo que colocasse à discussom umha proposta de programa de emancipaçom em volta de objectivos conducentes à acçom comum, sem que isso impedisse cada umha de continuar a militar por causas mais gerais onde muito bem entendesse. modernizou e aperfeiçoou, adaptando-o à sua própria dinámica e à indústria moderna. Mas nom vírom que a família é o primeiro lugar de opressom, de organizaçom do controlo da sexualidade e da capacidade reprodutiva da mulher através da qual o marido, a sociedade e o Estado continuam a exercer a sua autoridade, mesmo depois da entrada da mulher no processo produtivo. Marx e Engels salientavam que o desenvolvimento do capitalismo, baseado no sistema fabril, traria profundas mudanças à vida das pessoas, especialmente à vida das mulheres. Trabalhando em fábricas e inseridas na produçom social, organizadas colectivamente, teriam mais independência e capacidade de luitar polos seus direitos. Concluírom que a base material para a existência da família e, portanto da opressom feminina, tendia a desaparecer. O que impedia as mulheres de beneficiarem desta situaçom era o facto de a propriedade permanecer nas maos de uns poucos. No socialismo, polo contrário, a sociedade tomaria conta das muitas funçons que hoje pesam sobre as mulheres. Com efeito, a revoluçom bolchevique de 1917 produziu umha igualdade nunca antes vista. Graças em especial à extraordinária acçom de Alexandra Kollontai, nomeada comissária do povo, o divórcio, o aborto e o recurso a métodos contraceptivos tornárom-se acessíveis a todas. A educaçom das crianças tornou-se responsabilidade da sociedade. Iniciou-se a utilizaçom colectiva de restaurantes, lavandarias e creches comunitárias. Tudo isto dava às mulheres maior possibilidade de escolha e de controlar as suas vidas. Estes avanços estavam no entanto condenados, como estava a própria revolu- O feminismo e o marxismo Há um facto inegável que condiciona toda a luita feminista: as mulheres estám irremediavelmente divididas entre si dentro do sistema capitalista, polo lugar de classe que ocupam. Como trabalhadora, a mulher explorada é adversária da burguesa na arena da luita de classes. O discurso do género, hoje tam em voga, tem vindo a obscurecer este dado fundamental que, à luz dos princípios marxistas, deve ser reposto. Também segundo esta óptica, há que insistir na ideia de que a luita pola libertaçom da mulher, sendo umha tarefa feminina, precisa do apoio de toda a classe trabalhadora. É que o marxismo clássico, ainda que tenha desvendado a origem da opressom da mulher, ignorou alguns aspectos essenciais da problemática da condiçom feminina: por exemplo, nom reconheceu o valor económico do trabalho doméstico da mulher, como umha actividade pola qual a força de trabalho é gerada e reposta todos os dias como parte indispensável do processo de acumulaçom capitalista. Marx e Engels tivérom o mérito de identificar o patriarcado como um sistema antigo de opressom que o capitalismo A coluna partida, óleo sobre tela, de Frida Khalo, 1944 çom. A fome, a guerra civil, a desarticulaçom da classe trabalhadora e o fracasso da revoluçom europeia significárom a derrota do socialismo na própria Rússia. A marcha para a igualdade foi interrompida e deu-se um retrocesso que repujo quase todos os valores patriarcais, agora em nome da classe operária e da “pátria socialista”. Crítica ao feminismo burguês Criticamos sem reservas as tendências actuais do feminismo nos países imperialistas, praticamente circunscrito aos meios académicos de intelectuais e institucionalizado nas associaçons e ONGs especializadas – estas entregues a burocratas profissionalizadas e sem expressom de massas. A perda de características progressistas e o reformismo e oportunismo cada vez mais acentuado só servem para criar oportunidades a algumhas na democracia burguesa em que o grosso das mulheres nom se sente representada. Contudo, as revolucionárias nom podem deixar de apontar também as vantagens dos muitos estudos que se venhem produzindo na área dos estudos do género e da teoria feminista e que estám praticamente ausentes da elaboraçom teórica dos partidos comunistas. Esses estudos tornam mais visível a desigualdade da mulher e proporcionam umha polémica que procura entender o problema para lá dos marcos do capitalismo e em termos de classe. Cabe-lhes às revolucionárias, desmistificar a ideia corrente de que a emancipaçom feminina se vai fazendo gradualmente, com camadas cada vez mais amplas de mulheres a equipararem-se aos homens em termos de trabalho e representaçom social e política. Nom só essa equiparaçom é irreal, já que a globalizaçom acentua a desigualdade a nível mundial em termos de exploraçom laboral, da pauperizaçom, da exclusom social e da repartiçom de rendimentos, como se reforçam os papéis tradicionais: apesar de a mulher trabalhar tanto ou mais do que o homem, é este que continua a definir o rumo da família e das instituiçons em geral. O facto de haver quem classifique o feminismo como “bandeira da elite intelectualizada” que na luita pola libertaçom feminina nom reconhece a existência de classes e de interesses próprios dessas classes leva muitos partidos de esquerda a desprezar e a combater a organizaçom das mulheres, negando a sua especialidade e combatendo as suas iniciativas. Ao comportar-se como se entre a classe operária e no partido nom existisse opressom e violência sobre as mulheres, revelam as suas disposiçons de continuar a oprimir a mulher. Quer isto dizer que tem de haver um feminismo “geral”, sem cor de classe? nom, é essencial que nom se esbatam as diferenças entre as burguesas e as proletárias. Assim como há feminismos que se encarregam da luita pola igualdade da mulher burguesa face ao homem burguês, também o feminismo revolucionário terá de se ocupar sobretudo daquilo que interessa às trabalhadoras exploradas como elemento decisivo da luita geral do proletariado. Estes dous feminismos podem e devem colaborar em pontos concretos que sejam comuns a todas, assim como podem e devem trabalhar isoladamente naquilo em que se oponham entre si. Inclusivamente o feminismo pode ter pon- tos de contacto com a luita por direitos iguais dos homossexuais, dos imigrantes e outras minorias discriminadas. Mas importa sobretudo denunciar a desvalorizaçom que se fai da luita das mulheres quando a equipárom à dessas minorias. A sua causa vale por todas, representa os interesses de umha maioria em todo o mundo e é a que mais brada aos céus, polo estado a que ficou reduzida a condiçom feminina: a opressom negou à mulher os direitos humanos mais elementares e bestializou-na. A emancipaçom das mulheres é obra das próprias mulheres Hoje, sem nengumha perspectiva de revoluçom a curto prazo, a libertaçom feminina continua a ser umha utopia. Nem mesmo nos países capitalistas mais avançados, em que as mulheres participam plenamente no mercado de trabalho, os seus direitos à igualdade estám acautelados. Só se pode concluir que a emancipaçom do género nom depende da benevolência dos homens evoluídos, mas da revolta em massa delas próprias. A criaçom de organizaçons de mulheres fai pois todo o sentido e é mesmo umha necessidade. A prova é que foi a formaçom desse movimento específico de mulheres que permitiu compreender a subjectividade e anacronismo da opressom, a conexom entre as relaçons pessoais e a organizaçom política (“o pessoal é político”), as componentes da nova consciência feminista, etc. À luz da evoluçom das últimas décadas e sobretudo dos tempos mais recentes, em que surge em primeiro plano a defesa quase exclusiva dos interesses de umha minoria de mulheres de estratos médios ou médio-altos e se abandonam ou se defendem mal as causas comuns a todas as classes, como é o direito ao aborto e a luita contra a violência, umha das tarefas mais prementes de um movimento revolucionário que surja será libertar-se da tutela dessas camadas privilegiadas e separar águas segundo critérios de classe. Nada de útil será feito se esse movimento nom for tornado popular, no sentido em que deverá orientar-se em primeiro lugar para as mulheres mais oprimidas e ocupar-se das causas que lhe som próprias e lhes interessam directamente. Para enumerar apenas alguns dos pontos de um programa radical: a trabalho igual, salário igual; acçom afirmativa em todas as instáncias cívicas, sindicais e laborais, com especial ênfase na luita polo fim de toda a discriminaçom nos locais de trabalho; socializaçom das tarefas domésticas e dos cuidados infantis e de saúde; direito incondicional ao aborto e à maternidade assistidos. E a lista poderia continuar indefinidamente. Assim haja vontade por parte dos comunistas de deitar maos à obra. As operárias têxteis que luitam por conservar os postos de trabalho, as mulheres de Setúbal que se sujeitam a ser condenadas polos tribunais por terem abortado, as esposas espancadas que tivérom de fugir de casa com @s filh@s e que andam por aí ao deus-dará, as operárias que todos os meses tenhem de apresentar ao patrom um teste de gravidez negativo, sem o que nom podem conservar o posto de trabalho, som as mulheres do meu país que precisam de ser tidas em conta na luita pola emancipaçom feminista. Os seis gémeos madeirenses que morrêrom do primeiro ao último para respeitar a vontade de Deus som mais um exemplo aflitivo do respeito católico pola vida e da campanha furiosa que a direita anda a fazer polo chamado “direito à vida”, na previsom do próximo debate sobre a interrupçom voluntária da gravidez. O caso da jovem que matou o filho à nascença com a conivência do marido, marido esse que depois a denunciou, provocando a sua detençom e futuro julgamento, enquanto ele próprio continua em liberdade, devia ser matéria de campanha de intervençom das dirigentes das associaçons femininas. A vida das mulheres concretas mostra a distáncia entre a lei e a vida, a discriminaçom aberta ou subtil das mulheres no trabalho, na família, a perpetuaçom de preconceitos ligados à maternidade e à condiçom biológica das mulheres, ou a invençom de novos modelos e estereótipos ligados à mulher de sucesso. As contradiçons do quotidiano da actuaçom política das mulheres e as suas dificuldades na experiência da militáncia podem ser amplamente superadas pola energia libertada pola luita colectiva por reivindicaçons sociais concretas, quase sempre arrancadas à força de umha persistente pressom sobre as instituiçons. A entrada de milhons de mulheres na luita activa polos seus direitos dará um enorme impulso à luita geral da humanidade trabalhadora polo fim do capitalismo. Comité Central de Primeira Linha 4 Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 ACTUALIDADE Rotundo êxito da greve geral contra o capitalismo, o fascismo e o impe Alargar e intensificar a luita. Por um Os resultados da greve geral do 20J no nosso país, -a décima que se realiza na Galiza desde a instauraçom da democracia burguesa espanhola-, fôrom um rotundo êxito polo massivo seguimento do paro, mas especialmente pola elevada participaçom nas 16 manifestaçons celebradas em diferentes pontos da geografia nacional. Mais de 300.000 trabalhadores e trabalhadoras, jovens, mulheres, reformad@s, ocupárom as ruas da Galiza, na autêntica maré vermelha de Junho, contra a reforma laboral e a política sócio-laboral do PP. A massiva resposta da classe operária e do conjunto dos sectores populares superárom sobradamente as expectativas das centrais sindicais e das organizaçons que, como Primeira Linha e o conjunto das entidades do MLNG, aderimos a esta jornada de luita contra a ofensiva de Espanha e do capital. A inactividade foi praticamente completa na indústria, o transporte, os portos e a construçom, e muito elevada no sector serviços. Apesar das ameaças e coacçons patronais, das advertências da Junta da Galiza por boca de Fraga, dos abusivos “serviços mínimos”, da criminalizaçom realizada polo governo espanhol, da intoxicaçom da maioria dos meios de comunicaçom públicos e privados, do desprestígio do sindicalismo reformista, da repressom policial, 85% d@s trabalhadores/as galeg@s secundárom a greve. Primeira Linha considera imprescindível valorizar na sua justa medida estes dados por quanto devem ser enquadrados na particular morfologia da estrutura de classes da Galiza umha sociedade pouco urbanizada e sem um proletariado industrial desenvolvido- e mantendo como referente comparativo o seguimento atingido na greve geral nacional de 15J de 2001. Embora milhares de trabalhadores/as, basicamente do sector serviços (empregad@s do pequeno comércio, grandes superfícies comerciais, hospedaria, limpeza) e de pequenas empresas dos mais variados ramos, que representam a maioria desses 36% de contratos eventuais e precários, sem direitos laborais, cativ@s da ditadura da patronal, -basicamente jovens, mulheres, e imigrantes-, nom pudessem exercer livremente o exercício da greve, até a intervençom dos piquetes; embora o partido e estruturas de poder do governo mantivessem umha agressiva oposiçom à greve mediante umha forte campanha de desmobilizaçom e criminalizaçom, e as forças reformistas e autonomistas tentassem com o oportunismo que as caracteriza manter umha ambigüidade calculada de matizado e prudente apoio (PSOE e BNG); amplíssimos sectores do povo trabalhador galego fôrom conscientes da necessidade de frear a ofensiva da burguesia contra os direitos laborais e democráticos. Esta greve geral foi um plesbiscito popular em que a maioria da populaçom dixo nom à política do PP. Esta greve geral, de continuar e aprofundar nas medidas de pressom, pode marcar o princípio do fim da era popular no governo espanhol. As mais de trescentas mil pessoas que enchêrom as ruas das principais cidades e vilas do país, -no que foi umha espectacular demonstraçom de força operária e popular, do mal-estar generalizado das classes populares-, exprimírom sem as interferências da cada vez mais limitada e involucionista democracia burguesa, a necessidade de parar a ofensiva neoliberal da bloco de classes dominante espanhol e dos seus aliados regionalistas. Embora as cúpulas sindicais procurassem umha greve ordenada, institucional e respeitosa com a legalidade vigente, dezenas de barricadas, centenares de sabotagens, milhares de pintadas, caracterizárom o desenvolvimento da jornada, contribuindo para o êxito do 20J. Confrontos em Ferrol, no Morraço, Ponte-Vedra, Vigo, e outros pontos do país, provocados pola violência policial e as provocaçons da patronal, nom lográrom evitar o paro no conjunto dos meios e produçom. Manipulaçom do governo espanhol A burguesia, perante os resultados evidentes da greve, optou por contradizer a realidade aplicando um guiom previamente desenhado consistente em negar o seu êxito. Assim, desde a madrugada, o ministro-portavoz do governo espanhol, ao mais puro estilo goebbelsiano, cifrou o seguimento na Galiza em menos de 17%, cifras que se mantivêrom invariáveis ao longo da jornada. Até hoje esta é a estratégia adoptada pola oligarquia para evitar modificar os planos involucionistas da sua ofensiva global contra a classe trabalhadora, as mulheres e os povos do Estado espanhol. Mas as espectaculares manifestaçons que acompanhárom a greve na Galiza, e também noutras partes do Estado, estám a dificultar enormemente a intoxicaçom informativa, embora a prática totalidade dos meios de comunicaçom públicos e privados continuem a bombardear estas teses. Fraga, além de realizar umha intensa campanha contra a greve nas semanas prévias, qualificou como dia nefasto e lamentável e de fracasso absoluto o 20J. Umha vitória que se pode transformar em derrota O 20J verificou-se a existência dum invisível, soterrado, e generalizado malestar entre a imensa maioria da populaçom galega que emergiu com força e clareza. Embora o governo espanhol venha de manipular os critérios de elaboraçom do inquérito de populaçom activa (EPA) para suavizar a realidade, embora assistamos a umha acelerada concentraçom de capital e incremento da taxa de ganho da grande burguesia, na Galiza o desemprego incre- mentou em 36.700 pessoas no primeiro trimestre deste ano; a capacidade de poupança das famílias galegas caiu 6% entre Janeiro e Março, situando-nos no terceira “comunidade autónoma” que menos consome; o incremento da eventualidade, especialmente entre a mocidade e as mulheres, continua em ascenso; a pobreza continua a subir. Mas este panorama, cada dia mais sentido pola imensa maioria do povo, vai acompanhado pola outra cara da moeda. A burguesia galega incrementará em 78 milhons de euros anuais a sua taxa de ganho com a aplicaçom do decretaço. Simultaneamente ao indecente anúncio realizado por Inditex nas semanas prévias ao 20J sobre o incremento de vendas de 28% atingido no primeiro trimestre, cum lucro de mais de 32%, situando-se em 66.8 milhons de euros (11.114 milhons de pts), @s trabalhadores/as de Zara Logística saiam à rua para solicitar o desbloqueio da negociaçom colectiva e um incremento salarial de 5%, sobre umha base de 106.000 pts. A propaganda oficial de España va bien, a ofensiva ideológico-propagandística da burguesia espanhola, mediante a sistemática criaçom e renovaçom de cortinas de fume: mundiais de futebol, Operaçom Triunfo, e resto dos renovados e constantes mecanismos de alienaçom como os apelos patrióticos à defesa do prestígio internacional de Espanha por mor da cimeira de Sevilha, fôrom insuficientes pa- ra neutralizar o 20J. A paulatina queda no nível de vida das massas populares, incrementada com a entrada do euro, o desemprego, a precariedade laboral, a falta de expectativas para a juventude, o medo a um incerto futuro, a insegurança que geram as medidas neoliberais com os seus ataques à educaçom, sanidade, pensons e instrumentos de protecçom social, o incremento da marginalizaçom e exclusom social; unido à política autoritária e repressiva que caracteriza o segundo governo de Aznar, cristalizou de forma organizada, mas também espontaneamente, nesta jornada de luita. O clima dos dias prévios prognosticava umha greve amplamente secundada, mas nom era perceptível a dimensom real da imensa válvula de escape em que se converteu o protesto. As grandes manifestaçons de cidades como Ourense ou Lugo, com umha classe trabalhadora reduzida e desestruturada, sem tradiçom de luita, evidenciam o sentir geral de amplos sectores populares. Mas, a diferença da greve geral de 1988 que logrou a retirada, na semana seguinte, do plano de emprego juvenil que pretendia aplicar o PSOE, o 20J ainda nom logrou a retirada da reforma. Hoje a burguesia acha-se objectiva e subjectivamente mais fortalecida, e o movimento operário arrasta umha crise sem precedentes, perplexo e desconfiado dum sindicalismo conciliador e pactista. O PP aparentemente age como se a greve fracassasse, insistindo nas A greve nas principais comarcas do país O Berço Mais de 2.000 trabalhadores/as da comarca secundárom a manifestaçom central realizada em Ponferrada diante do prédio administrativo do governo espanhol. A greve foi maioritariamente secundada na minaria, construçom, nos polígonos industriais, no sector metalúgico e químico. Nos principais núcleos urbanos como Cacabelos, Bembibre e Ponferrada, o comércio e a hospedaria estivo praticamente paralisado. Nesta cidade um piquete de mais de 100 pessoas percorreu durante a noite as ruas logrando que o Carrefour nom abrisse as portas. A excepçom foi Vila Franca do Berço onde o seguimento foi menor. Diferentes comércios, entidades bancárias e o local de Canal 4 TV de Ponferrada sofrêrom diferentes sabotagens. Compostela A greve foi total na indústria do polígono do Tambre, o transporte, a limpeza e a Universidade. O seguimento foi praticamente absoluto no comércio e hospedaria, salvo em Hipercor. Um piquete de trescentas pessoas, com umha ampla e determinante presença de militantes da esquerda independentista, desde as 00 horas do dia 20 percorreu a cidade fechando os poucos estabelecimentos de hospedaria abertos. Destacou a rotura de vidros em dous bares da rua do Franco e nalguns locais do Ensanche, barricadas e queima de contentores nas entradas da cidade, a realizaçom de centenas de pintadas e dezenas de sabotagens, entre os que salienta a queima da tenda Stradivarius (Inditex) e o ataque com cócteis molotov a Bankinter, e a rotura de montras de entidades bancárias e imobiliárias. Lavacolha estivo paralisada até primeiras horas da tarde. Na manifestaçom, que superou as previsons mais optimistas, centos de pessoas secundárom o cortejo de NÓS-Unidade Popular. Corunha Apesar da violência física utilizada polas unidades antidistúrbios da polícia espanhola, o seguimento foi do 100% na indústria, 98% no transporto, 95% nas mercadurias e 70% na Universidade. O jornal La Opiniom nom se editou e La Voz de Galicia saiu com umha ediçom única frente à dúzia habitual. Fôrom numerosas as sabotagens: diversos comércios e faculdades fôrom siliconadas, três automóveis cruzados cortárom o tránsito desde primeiras horas da manhá na avenida de Alfonso Molina, dificultando a circulaçom. Na zona da Palhoça houvo rotura de vidros de montras e espalhárom-se caricas de garrafas com pregos. Também se produzírom roturas de painéis informativos, queima de contentores de lixo em diversos pontos da cidade, de valados de obra no Graxal, e nos polígonos industriais de Agrela e Sabom o tránsito foi cortado com barricadas de pneus incendiados. Em Sigrás partírom-se os vidros de dous autocarros de Sucasa. Além da pressom policial, o principal incidente foi a tentativa de atropelamento realizada por um furagreves contra um piquete nos acessos a Sabom. O paro foi completo nas grandes empresas como Alcoa, EMESA, ISOLUX, PERFIALSA, La Toja, no polígono de Sabom, e maioritário em Agrela (onde funcionou o mercado central de frutas) e Pocomaco. Também foi total no porto e na estaçom de autocarros. Tam só descolárom dous voos de Alvedro. Inditex, Carrefour e El Corte Inglés foi fechado pola acçom dos piquetes, bem como o pequeno comércio, mas algumhas grandes superfícies comerciais como o Haley do Bastiagueiro permaneceu aberto, embora sem clientes, entre um forte dispositivo policial. Destaquemos ainda que o concelho de Oleiros fijo greve. Mais de 50.000 trabalhadores/as assistírom à manifestaçom convocada pola CIG-CCOO-UGT, cifra que nom tem precedentes nesta comarca. NÓS-UP assistiu com cortejo próprio. A manifestaçom da CUT-CGT-CNT nom deu reunido mais que 50 pessoas. Lugo O paro foi masssivo na construçom, transporte, nos polígonos industriais do Ceao (90%), Louzaneta (80%), e das principais vilas: Monforte (95%), Rábade (75%), Castro de Ribeiras de Lea (75%). Também fechárom Cementos Cosmos de Sárria, PEBOSA de Quiroga, Alumina-Aluminio e a prática totalidade das insdústrias da Marinha, asssim como o porto de Burela, onde tivo lugar umha manifestaçom de mais de 4.000 pessoas. Em Lugo, fôrom detidos dous membros dum piquete quando tentavam fechar um restaurante. Realizárom-se multidom de pintadas e pequenas sabotagens contra estabelecimentos e pequenas indústrias. NÓS-UP assistiu com faixa própria à manifestaçom que percorreu o centro de Lugo. Ourense A realizaçom dumha das mais numerosas manifestaçons da história da cidade exprime abertamente o desenvolvimento da greve em toda a “província”. O paro foi total nos polígonos industriais de Pereiro de Aguiar e Sam Cibrao das Vinhas, destacando o fechamento de COREN, no transporte, e a construçom, e muito elevado no sector serviços, destacando no comércio e hospedaria. O sector pizarreiro de Valdeorras também parou massivamente, a excepçom de Cafersa, onde os operários fôrom fechados com cadeado e chave pola patronal.. Carvalhinho, Ginzo de Límia, Ribadávia, Valdeorras e Verim também aderírom massivamente ao paro. Tanto no Barco quanto em Verim houvo manifestaçons, de 500 e 2.000 trabalhadores/as simultaneamente. Destacou a realizaçom de numerosas pintadas, cortes de estradas com barricadas de pneus incendiados, a queima centos de exemplares de “La Region”, o jornal da direita local, numha das artérias principais de Ourense, bem como as tentativa de um segurança privado de atropelar membros dum piquete no polígono de Sam Cibrao, e o fechamento dos centros comerciais Pontevelha e Carrefour por accçom dos piquetes. As entidades do MLNG portavam umha faixa conjunta na manifestaçom. Ponte-Vedra ENCE, TAFISA, o porto de Marim, o polígono do Campinho, a construçom secundárom totalmente o paro, enquanto Carrefour, Froiz, Gadis, Caixanova, e pequenas empresas tivérom que fechar após a passagem dos piquetes, conformados por algo mais de 200 trabalhadores/as das três centrais maioritárias que começárom a agir desde as 5 da manhá entre um numeroso cordom policial. Também a greve foi secundada em Clesa e Calvo de Caldas de Reis. O primeiro incidente importante tivo lugar às 10 da manhá num supermercado Gadis quando, após umha das constantes provocaçons policiais, tentou-se reter um operário da construçom e membro da DN de NÓS-UP, que posteriormente foi agredido e detido num novo incidente no prédio administrativo da Junta da Galiza. Mais de 400 trabalhadores/as concentrárom-se diante do edifício exigindo a sua liberdade e a imediata assistência médica. Após duas horas foi retirado polas traseiras com a cabeça coberta, conduzido à esquadra para posteriormente, antes de que a manifestaçom de mais de 15.000 pessoas chegasse à esquadra, ser libertado entre umha grande ovaçom. No final da manifestaçom, diante da Subdelegaçom do Governo, a entrada da faixa de NÓSUP foi recebida cum grande aplauso mencionando o secretário co- Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 ACTUALIDADE 5 erialismo espanhol. 20J, a maré vermelha da classe trabalhadora galega mha greve geral de 48 horas em outono falácias da sua propaganda fascista. Se os sindicatos espanhóis, -corruptos, burocratizados e parcialmente responsáveis por esta situaçom devida à política de concessom e pacto social que venhem praticando desde 1978-, se o sindicalismo galego, -que enferma praticamente dos mesmos males, embora com menor intensidade-, ao igual que no 15J do ano passado, nom mantenhem e incrementam as medidas de pressom e luita, e optam por continuarem a subordinar os interesses imediatos da classe trabalhadora aos interesses eleitorais dos partidos reformistas e social-democratas de que dependem (em Maio/Junho de 2003 há eleiçons municipais), a imensa potencialidade de combate e resistência deste emergente movimento de massas será baldio. Cumpre continuar no caminho encetado. Devemos configurar, estruturar umha estratégia de luita, evitar deixar cair e conduzir novamente o movimento operário à frustraçom das traiçons do reformismo, contribuindo para o despretígio da intervençom social, e portanto da organizaçom sindical e popular. É necessário atingir umha vitória, obrigar a burguesia a que retire o decretaço, e isto nom se consegue numha mesa de negociaçons, mas na rua. É necessário convocar umha greve geral de 48 horas depois do verao para pôr de joelhos Aznar e abrir um novo ciclo em que o movimento operário e popular de massas volte a ser um sujeito político recuperando a centrali- dade que lhe corresponde no combate contra o capital. A luita é o único caminho para poder defender-nos frente a ofensiva do capitalismo, o fascismo e o imperialismo espanhol. Dez greves gerais na Galiza Primeira. 14 de Fevereiro de 1984. Ámbito nacional. Convocada pola INTG contra a reconversom naval. Segunda. 12 de Julho de 1984. Ámbito nacional. Convocada pola INTG e CCOO contra a política económica do governo PSOE. Terceira. 29 de Novembro de 1984. Ámbito nacional. Convocada pola INTG e CCOO contra o desemprego. Quarta. 20 de Junho de 1985. Ámbito estatal. Convocada por CCOO contra a reforma das pensons. Quinta. 14 de Dezembro de 1988. Ámbito estatal. Convocada contra o Plano de emprego juvenil do PSOE, pola INTG e CXTG por um lado, e por CCOO e UGT por outro. Sexta. 2 de Abril de 1992. Ámbito nacional. Convocada pola CIG, CCOO, UGT e os sindicatos agrários em defesa dos sectores produtivos galegos. Sétima. 28 de Maio de 1992. Ámbito estatal e de meia jornada. Convocada pola CIG, CCOO e a UGT contra a reforma laboral e das pensons. Oitava. 27 de Janeiro de 1994. Ámbito estatal. Convocada pola CIG, CCOO, e a UGT contra a reforma laboral. Nona. 15 de Junho de 2001. Ámbito nacional. Convocada pola CIG e a UGT contra a reforma laboral e das pensons. Décima. 20 de Junho de 2002. Ámbito estatal. Convocada pola CIG, CCOO e a UGT contra a reforma das prestaçons por desemprego. A greve ao longo do país Mais de 300.000 trabalhadoras e trabalhadores galeg@s na rua nas 16 mobilizaçons realizadas na Galiza. O BARCO DE VALDEORRAS BURELA CEE COMPOSTELA CORUNHA FERROL LALIM LUGO MONFORTE OURENSE PONFERRADA PONTE-VEDRA RIBEIRA VERIM VIGO VILA-GARCIA DE AROUSA Achamo-nos num ciclo ascendente dumha nova vaga de luita de massas, que cumpre estrutura e fazer convergir. Cumpre agir com habilidade e visom de conjunto para aproveitar o reponte da parti- 500 4.000 300 20.000 50.000 25.000 250 15.000 1.000 20.000 2.500 15.000 3.000 2.000 150.000 7.000 marcal da CIG o sucedido horas antes e a posta em liberdade de Álvaro Franco. Posteriormente, um piquete de mais de 2.000 pessoas secundou o apelo sindical de deslocar-se a Carrefour, atingindo o objectivo apesar deachar-se custodiado por um importante contingente policial. O seguimento da greve foi de 100% na construçom e indústria, de 70% no comércio. Salnés O paro foi massivamente secundado pola indústria conserveira, o transporte, a limpeza e o comércio. Em Vila-Garcia de Arousa tivo lugar a maior mobilizaçom operária desde a guerra civil. Trasancos A manifestaçom realizada em Ferrol, mais de 25.000 pessoas, foi a maior desde as mobilizaçons contra a reconversom industrial da década de oitenta. A greve iniciou-se às 22 horas quando 40 pessoas, entre elas militantes da esquerda independentista, paralisárom a actividade de LAGASA, que conta um sindicato vertical e com umhas duras condiçons laborais d@s trabalhadoras/es. Daqui partiu umha dúzia de piquetes móveis que paralisárom as obras da auto-estrada, primeiro em Neda e posteriormente em Silheda, sob a atenta mirada da Guardia Civil, que anotou as matrículas dos carros. Os polígonos do Rio do Poço e da Gándara nom tivérom actividade nengumha. Nas Pontes tampouco funcionárom os parques da Penapurreira e Os Airios. Em ENDESA só trabalhou umha das duas turmas de serviços mínimos. A greve foi total nos estaleiros IZAR Fene e IZAR Ferrol. As principais empresas industriais da comarca: MEGASA, Pull & Bear, Megasider, Poligal ou Indipunt nom registárom qualquer actividade. A imensa maioria do comércio de Ferrol, Fene, As Pontes e Narom fechou as portas. Um Froiz do bairro de Canido sofreu a rotura dos vidros, e a maioria dos supermercados da comarca aparecêrom com as fechaduras inutilizadas e com pintadas denunciando a precariedade laboral, assim como Telepizza, Pizza Mobil e diversas empresas. O Mercado de Carança e o Central secundárom a greve, tam só houvo incidentes com os furagreves no de Recimil. Nom circulou o transporte urbano, e da estaçom de autocarros de Ferrol nom saiu nem entrou nengum veículo. Destacou a sabotagem que sofreu um comboio de FEVE ao receber diversos impactos de arma de fogo quando se achava no apeadeiro das Ferrarias, entre Júvia e Sam Sadurninho. Tampouco houvo serviço de limpeza. Às 10 horas, a maioria dos piquetes que operávam na comarca concentrárom-se perante o hipermercado Alcampo, no polígono da Gándara, custodiado por um grande número de polícias. Perante a negativa da direcçom de fechar e impedir umha assembleia de trabalhadores/as, realizou-se umha tentativa de entrar por parte d@s concentrad@s. Resaltemos que o quadro de pessoal fixo secundara a greve e só estavam trabalhando @s eventuais. Tenhem lugar diversas cargas policiais e confrontos entre o piquete e as forças repressivas com o saldo de três delegados sindicais feridos de diversa consideraçom. Na “batalha” lançárom-se pedras contra a polícia e fôrom queimados pneus, madeiras e parte dos carrinhos da compra. Após o final da manifestaçom, que contou com um numeroso cortejo de NÓS-UP, mais de 300 pessoas dirigírom-se ao centro comercial, rompendo parte dos vidros e realizando pintadas na fachada. Vigo O seguimento foi praticamente total em todos os sectores da comarca, destacando no sector naval e pesqueiro, em Citroën e nas grandes superfícies comerciais como El Corte Inglés, que fechárom pola primeira vez. O jornal El Faro de Vigo nom saiu à rua. Os polígonos e zonas de alta concentraçom industrial (Porrinho, Mos) estavam totalmente paralisados, os piquetes só tivérom que intervir naquelas empresas com maior taxa de eventualidade laboral. Foi elevadíssima a incidência no pequeno comércio e hospedaria durante toda a noite e manhá do dia 20 (à volta de 75%) recuperando um certro grau de actividade durante a tarde mais sem albiscar a “normalidade”. Milhares de trabalhadores/as e jovens secundárom as quatro convocatórias de piquetes que praticamente nom tivérom que intervir pois o centro da cidade estava totalmente paralisado, salvo alguns locais nocturnos da zona de Churruca. Um numeroso piquete da CIG percorreu as principais artérias de Vigo realizando pintadas nas sedes das multinacionais e lançando petardos. Durante as primeiras horas da noite a polícia espanhola identificou o piquete da CUT-CGT ao completo requisando diverso material. Às quatro da madrugada os piquetes voltárom a concentrar-se no caminho do Caramuxo, zona industrial que foi completamente paralisada. Posteriormenet sed espregárom por toda a comarcaboqueando porats e atacando autocarros, mobiliário urbano e entidades bancárias. Após horas de acçom constante, mais de 500 trabalhadores/as de todo o espectro sindical percorrem Beiramar comprovando que a indústria naval continuava fechada, para posteriormente percorrer novamente o centro da cidade fechando os poucos estabelecimentos que com atitude provocadora continuavam abertos, atacando entidades bancárias, imobiliárias, até confluir na manifestaçom convocada pola CIG-CCOO e a UGT. Dezenas de montras de bancos, asseguradoras, cafetarias, e imobiliárias fôrom partidas polas fisgas dos piquetes. Às 11 da manhá, partiu a manifestaçom convocada pola CUT e a CGT com perto de 2.000 pessoas. Às 12.30 mais de 150.000 pessoas percorrem o centro de Vigo na manifestaçom convocada pola CIG-CCOO-UGT. NÓS-Unidade Popular assistiu com faixa própria às duas convocatórias. cipaçom juvenil nas luitas, -do movimento estudantil anti-LOU, ao movimento anti-globalizaçom-, incorporando milhares de jovens trabalhadores/as na luita sindical. Devemos impedir que o PSOE, o BNG e resto de forças reformistas fagocitem a resposta operária e popular. Temos que impossibilitar que as potencialidades de vitória se transformem mais umha vez numha derrota pola cobardia, o oportunismo e a traiçom das burocráticas e corruptas direcçons sindicais, que só pretendem capitalizar eleitoralmente o mal-estar popular, e perpetuaur os seus privilégios como parte consubstancial do regime. A esquerda independentista A participaçom do MLNG na greve foi destacável. O seu carécter político e global, nom restringido exclusivamente à retirada do decretaço, tal como focárom os sindicatos e organizaçons reformistas, foi a visom que se tentou introduzir no movimento de massas. NÓS-UP considerou correctamente que o 20J “deve ser concebido como umha grande jornada de luita obreira e nacional polos direitios laborais da classe trabalhadora, contra o fascismo, polas liberdades individuais e colectivas da Galiza”. Mediante umha impactante campanha de agitaçom e propaganda e umha activa participaçom nos piquetes e nas mobilizaçons, a esquerda patriótica anticapitalista foi quem de deixar a sua impronta naquelas comarcas onde possui maior incidência e introduçom. As frustradas tentativas de isolamento praticadas nalgumhas zonas e os choques com o reformismo exprimírom sobre o terreno, constatárom empiricamente, duas formas antagónicas de intervir socialmente. O autonomismo social-democrata versus a esquerda independentista. A velha prática da conciliaçom e colaboraçom, e a da luita coerente. Quanto custa despedir um alvanel? Antes da reforma do INEM. Trabalhador/a da construçom com contrato de obra e salário bruto mensal de 901 (150.000 pts). Leva 11 meses trabalhando e a empresa despede-o sem que tenha finalizado a obra objecto do contrato. Sem outra causa, qualquer juiz do Social declararia o despediemnto improcedente. Antes de 27 de Maio, @ trabalhador/a recorreria o despedimento e teria direito aos seguintes cobramentos: 240.000 pts de indemnizaçom de 45 dias por ano trabalhado; 525.000 pts de salários de tramitaçom de três meses (tempo médio desde o despedimento até umha sentença laboral); 160.000 pts em quotizaçons à Segurança Social da sua empresa durante esses três meses; 122.000 pesetas/mês durante quatro meses de prestaçom por desemprego do INEM. Depois da reforma do INEM. No mesmo caso, com o mesmo salário e idêntico despedimento improcedente, o citado operário da construçom só mantém o direito à indemnizaçom (240.000 pts). Que direitos perde? Perde as 525.000 pts de salários de tramitaçom e as 160.000 pts de quotizaçons correspondentes. Mas também perde o direito à prestaçom por desemprego (488.000 pts) já que o INEM exige um mínimo de um ano trabalhado e foi despedido aos 11 meses (antes somava 14 meses, com os três meses à espera de julgamento). O alvanel teria cobrado até agora 1.413.000 pts polo seu despedimento improcedente. Agora só cobrará 240.000 pts. Vigo Vigo Compostela Corunha Ponte-Vedra Ponferrada Ourense Ferrol Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 OPINIOM O sistema capitalista di garantir os direitos e liberdades quando o que fai é auto-reproduzir-se suspendendo os mesmos 1. O cárcere tem umhas funçons formais (proclamadas, manifestas, recolhidas nas leis) das quais cabe salientar as de <<reeducar e reinserir socialmente>>. A experiência, que tod@s temos, d@s reingressad@s em prisom, da dificuldade, ou mais bem impossibilidade!, d@s excarcerad@s para incorporarem-se ao mundo do trabalho, das enfermidades contraídas na cadeia, da apropriciaçom polos poderes públicos de assinalar aos reclus@s como <<lumpem>>… conduz-nos facilmente a perceber o fracasso das mesmas e apreciar o seu verdadeiro carácter legitimador, ideológico, de ocultamento… 2. Outrossi umhas funçons sociais para estabelecer umha identidade entre delinqüência e infracçom penal e tornar legítimo o Estado perseguidor e sancionador como garante da segurança d@s cidadaos/as (funçom simbólica); e de face a umha <<reeducaçom dessocializadora>> (digo bem!), produzindo delinqüentes adaptados ao presídio, bodes expiatórios da necessidade dumha delinqüência habitual que reproduza e justifique as relaçons de exploraçom (funçom instrumental)… 3. Também umhas funçons políticas no que di respeito ao que denominam <<estratégia antiterrorista>>, de eliminaçom de movimentos de resistência armada… (outra vez um instrumento de) e assim mesmo de controlo e previsom da desobediência civil –em contra de insubmissos, okupas, objectores/as fiscais…- (de novo umha funçom simbólica)… Que ninguém ouse pôr em questom o sistema capitalista-militarista!!... 4. Um dos grandes paradoxos do subsistema “penitenciário?” radica na pretensom formalista de tornarse garante de direitos e liberdades ao tempo que se autorreproduz suspendendo esses direitos e liberdades, sendo incompatível com a saúde física e mental e provocando a desidentificaçom e anulaçom como pessoas… 5. Um último ponto para indicar a toda a pressa como se está a mundializar o modelo americano: a tentativa de arreigar umha <<política de toleráncia zero>> de qualquer infracçom, por mínima que poda ser, e mesmo suspeita (que o delito nom se estenda!); umha cultura de controlo vulneradora do direito à intimidade (sistemas de videovigiláncia para erradicar das cidades, dim eles, a delinqüência. Curiosa maneira de mudar em público a vida privada, ao tempo que fam esforços ímprovos para privatizar todo o público!); umha cultura assim mesmo da <<excepcionalidade jurídica>>, de viver em permanente estado de emergência (leis anti-terroristas, incomunicaçom d@s detid@s, mais permissividade nos métodos policiais, extraterritorializaçom…); a teórica inexistência de pres@s polític@s num sistema declarado democrático; a represson, criminalizaçom, dos movimentos antiglobalizadores; a tendência a avistar no cárcere umha soluçom ao desemprego e umha indústria a privatizar… Os delitos som para Émile Durkheim violaçons do código moral básico que a sociedade considera sagrado e produzem em conseqüência um castigo Para aprofundar no problema do castigo voltei a repassar alguns dos grandes clássicos da Sociologia, servindo-me principalmente das reflexons de David Garland num livro do ano 1990, traduzido para o espanhol em 1999 sob o título de “Castigo y sociedad moderna. Un estudio de teoría social”. E o primeiro desses autores, para muit@s o fundador da Sociologia Moderna, seria Émile Durkheim que, preocupado com o fenómeno da integraçom social, distingue as sociedades primitivas das sociedades modernas. Nas primeiras existe umha solidariedade mecánica, fruto das crenças compartilhadas, mais ao industrializar-se e mudar-se em urbes, ao fazer-se complexas, a crescente divisom do trabalho social destrui essa coesom, desintegra moralmente. As sociedades modernas estam cheias de conflitos e a força é um factor importante para evitar a fratura social. Apesar de todo, pensa que umha nova ordem social aparecerá nas sociedades avançadas, umha D. Antom Garcia 6 Apontamentos para umha filosofia do subsistema carcerário solidariedade orgánica que restrinja o individualismo. Som clássicas as suas páginas sobre os suicídios egoístas, altruístas e anónimos como disfunçons e disrupçons sociais e também as dedicadas às cerimónias religiosas que interpreta como reforço dos valores comunitários. A puniçom infere-se da violaçom de normas sagradas. O crime aproxima as consciências honradas que reclamam umha acçom punitiva. O que mudam som as formas: passaria-se dumha criminalidade religiosa nas sociedades primitivas a umha criminalidade humana nas sociedades modernas. Esta última iria dirigida às pessoas e à sua propriedade. E também se passaria de castigar com lapidaçom, mutilaçom ou tortura a ser mais “indulgentes!” e confinar o réu / a ré… Nada se está a dizer das múltiplas páginas que escreve sobre os rituais da penalidade, do Estado castigador como instituiçom especializada que detém o monopólio da violência, das emoçons populares, dos procedimentos rotineiros que servem para moderar as paixons morais… Estamos pois a ser em excesso simplificadores, mas como poderia evitar-se nestas escassas linhas?... De certo que poderia receber um bom número de críticas por dar um salto das sociedades mais antigas às contemporáneas, por nom ter comentado as formas internas de castigo, etc., etc., mas o que se queria destacar é o carácter ético, ideológico, das penas e como indicou assim mesmo que os rituais religiosos, a família, a educaçom e o intercámbio económico, entre outros, tenhem funçons semelhantes. Trataria-se de interiorizar a coerçom, aderir voluntariamente às normas para suprimir os instintos egoístas, libertar-se da tirania dos próprios impulsos e assumir os ideais sociais. O paradoxo de viver a coacçom como obriga e como benefício. A visom de classe e nom o contraste entre idealismo e materialismo seria o que separa a tradiçom marxista do durkheimismo Umha citaçom um tanto longa do livro antes citado de David Garland servirá para resumir as teses de diferentes estudos marxistas à volta do castigo: “1. Como aparato ideológico e de repressom controlado polo Estado, a penalidade cumpre umha funçom em conflitos sociais e estratégias de dominaçom mais amplos. Juntamente com as funçons sociais para controlar o delito opera como um instrumento do exercício do poder dumha classe sobre outra. 2. Às avessas, estas pugnas ideológicas, políticas e económicas, moldeiam a definiçom do castigo e estruturam as suas categorias com o propósito de que os sistemas penais harmonizem com os objectivos políticos e os compromissos ideológicos do bloco governante. 3. A penalidade está intimamente ligada à esfera legal e define-se segundo as formas e os princípios legais. Na medida em que o direito é um sistema de despregadura ideológica, o castigo contribui para legitimar as suas funçons e os seus efeitos. Por meio da penalidade o poder e a violência do Estado podem articular-se em formas legais que assegurem a aprovaçom popular. 4. O castigo guarda relaçom com outras políticas sociais, particularmente com aquelas que se ocupam d@s pobres e as suas condiçons de vida, tais como a legislaçom para prestar ajuda aos/às pobres, o trabalho social, a segurança social e a regulaçom do mercado laboral. 5. Os sistemas penais estám definidos sobretodo pola situaçom das classes baixas e as estratégias que para o efeito instrumentam as elites governantes. O castigo é um elemento nodal das medidas de política social e vigiláncia de cara a controlar os/as pobres e manejar os grupos problemáticos. Portanto, as medidas penais dependeram nom só dos patrons de criminalidade –vinculados por sua vez com as condiçons de vida dos grupos marginais e a sua relaçom com outras classes sociais-, senom principalmente da percepçom que tem a classe governante a respeito dos/das pobres como um problema social e as estratégias para abordá-lo. Estas formas de tratamento podem assumir o aspecto de atençom e caridade, ou de coerçom e controlo, mas a sua inserçom dentro de estratégias de governo de maior envergadura é a chave para compreendê-las. O que surpreende destes cinco pontos é que, se bem procedem de análises marxistas e neomarxistas, em modo algum se sujeitam a esse quadro de referência. Nom dependem especificamente de argumentos marxistas, como acontece com a teoria do mais-valor, a supremacia da economia ou a determinaçom da consciência social polo ser social, como tampouco empregam unicamente conceitos ou termos marxistas. Por descontado que presumem a divisom em classes, as estratégias de dominaçom e um Estado aliado com os interesses do bloco governante, por mais que outros quadros de referência sociológicos partilham assim mesmo estas premissas; tal é o caso de Weber, Foucault e Elias.” Nom há tempo para espraiar-se a respeito do mercado laboral e a demografia como condicionantes da penalidade, e como esta funciona ao modo de auxiliar coercitivo do mercado laboral para que @s trabalhadores/as tenham umha vida sossegada, regular e industriosa e se submetam ao fado das classes baixas; tampouco para ver como o cárcere imita a disciplina de fábrica; ainda menos para anotar como se castiga esse <<exército industrial de reserva>>… Autores como Rusche, Kirchkeimer, Pashukanis, Melosi ou Pavarini ficam engolid@s nessa generalidade chamada tradiçom marxista… Bem pouco para explicar como os interesses particulares se disfarçam numha linguagem universal… Contodo, aí ficam, como ideas sobre as que matinar, o poder da classe dominante, o cárcere como instrumento político de legitimaçom, a puniçom como umha forma de ocupar-se do lumpemproletariado, a repressom por vezes suave e outras brutal, embora sempre com dependência, obediência, submetimento e desigualdade… Linhas bem escassas e que despacham à ligeira a economia política do castigo e o castigo como controlo de classe e como ideologia. Do livro citado de David Garland A noçom de arqueologia é umha boa forma de caracterizar o seu método: esclarecer como se articulam os saberes numha época determinada, mas nom como os conteúdos dumha ciência, além de como o sub-solo que a possibilita. Denominava o anterior como <<episteme>> e buscava o enfrentamento com a visom tradicional, com as ideias assentadas (princípio de inversom), patentear as rupturas (princípio de LIVROS Actuel Marx, nº 29. Critique de la propriété, Presses Universitaires de France, Paris 2001, 218 pág. É umha revista, de periodicidade bianual, que se dirige a um extenso público de diferentes matérias: filosofia, economia, direito, história, ciências sociais, arte, cultura em geral. A colecçom “Actuel Marx Confrontations” é outra janela do seu programa. Organiza assim mesmo anualmente um Congresso Marx Internacional e possui um suplemento electrónico multilíngüe em que se pode encontrar informaçom sobre as actividades anteriores, participar numha tribuna de discussom, informar-se de recursos... No Conselho de Redacçom figuram vultos conhecidos do leitor galego como Georges Labica ou Michael Löwy. A situaçom na Internet é www.u-paris10.fr/ActuelMarx/ Retornando ao número em questom, assinalemos que no “dossier” escrevem economistas (Christian Barrère, Jean-Claude Delaunay, Frédéric Lordon), juristas (Ludovic Hennebel, Roland Ricci), um politólogo (Tony Andréani) e um filósofo, o director da revista, Jacques Bidet. O triunfo do liberalismo quer submeter todo à apropriaçom privada e entre os novos objectos apropriáveis destacam as tecnologias da vida e as da informaçom. E o movimento socialista fundado na ideia de apropriaçom social dos meios de produçom e de troca, de serviços públicos e bens comuns, de condiçons essenciais de vida garantidas universalmente, acha-se radicalmente interpelado. Onde as suas conquistas, as suas perspectivas, as suas íntimas convicçons? Vem de patentear os renovados jogos da ideologia, do dinheiro e do poder... Fora do “dossier” as “Interventions” de Frédéric Neyrat sobre a economia política em Marx como meio de acçom para pensar doutro jeito a política; as de Jean-Marc Lachaud e Nicolas Romeas a respeito da funçom crítica da arte; a de Jean-Pierre Sarrazac em volta dum teatro crítico e público; e Emmanuel Renault que fai umha análise crítica do livro de Ève Chiapello e Luc Boltanski sobre “o novo espíritu do capitalismo”. Também aparecem críticas de livros, etc... Um esforço por romper a filosofia unidimensional do Capital. (Domingos Antom Garcia) Boaventura de Sousa Santos. A crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência, Edições Afrontamento, Porto 2000, 374 páginas. Este é o primeiro volume dumha tetralogia. Seguirá um segundo sobre O Direito da Rua: Ordem e Desordem nas Sociedades Subalternas (onde pesquisará a respeito das luitas pola sobrevivência, pola ordem e pola dignidade em sociedades dominadas pola exclusom). Um terceiro, Os Trabalhos de Atlas: Regulação e Emancipação na Redopolis (no que enfrentará a globalizaçom hegemónica à contra-hegemónica, os dominantes frente aos oprimidos). O quarto, O Milénio Órfão: Para um Futuro da Cultura Política, proporá umha reinvençom do comunitário, umha expansom dos espaços públicos, umha democracia de alta intensidade, combinando o local, o nacional e o global. Voltando ao primeiro: procede a umha crítica do paradigma da modernidade ocidental ao tempo que se ocupa da análise dos paradigmas emergentes e das suas possibilidades emancipatórias, investigando as subjectividades individuais e colectivas exploradoras de tais possibilidades. A intençom do autor nom é a de estabelecer umha nova teoria social das sociedades capitalistas do sistema-mundo, aliás ”desteorizar a realidade social” para abrila à utopia. O colapso da ordem ou da desordem existente nom implica retornar à barbárie; ao contrário, é a oportunidade de construir um novo sentido comum, próprio de seres humanos e que, lembrando as palavras de Marx no Prólogo á Contribuiçom à Crítica da Economia Política (1859), ponha fim à pré-história em que estamos instalados. Este primeiro volume tem três partes: umha primeira em que descreve a crise da ciência e do direito estatal modernos; umha segunda com vistas a identificar os limites de representaçom (ou o que vem a ser o mesmo: elaborar unha epistemologia da cegueira e perguntar-se porque as novas formas de “adequaçom cerimonial” nom regulam nem emancipam); e umha terceira onde esculca as estruturas poliédricas do poder e revisita, ampliando muito as propostas utópicas apresentadas em Pela Mão de Alice (1994) por romper a filosofia unidimensional do Capital. (Domingos Antom Garcia) discontinuidade), atender as singularidades (princípio de especificidade) e ver mais que o significado do discurso as condiçons em que se produz (princípio de exterioridade). Foi edificando, até a sua morte em 1984, umha <<filosofia do Poder>> escrutando as suas redes… Fale-se de louc@s ou falese de pres@s… há que dizer que umha sociedade distingue-se melhor pol@s que marginaliza, exclui, encerra…, que pol@s que aprova e reconhece… A contracapa da ediçom em espanhol de “O Panóptico” exprime bem a nu o anterior. Eis em versom parafrástica: o cárcere é um laboratório de condutas, opaco para a sociedade, embora transparente para @s profissionais (médic@s, psiquiatras, pedagog@s, criminólog@s…); nele podem ensaiar-se toda a classe de técnicas de controlo; é um espaço de experimentaçom de técnicas totalitárias com um controlo milimétrico e umha vigiláncia sem intermitências. O panópticon é umha maquinaria para pres@s, doentes, louc@s, estudantes, trabalhadores/as… Um resumo, por força parcial, leva-nos a evidenciar como se ocupa de desentranhar o funcionamento interno do próprio aparelho, as tecnologias do poder penal e as suas operaçons ao tempo que questiona as formas de Poder e de Racionalidade. Explica como se trata de punir a alma, que tem o corpo em prisom (em contra da tradiçom platónico-cristá), atrapado. As Luzes que descobrírom as liberdades inventárom as disciplinas… Pretende-se manejar o corpo para aceder à alma, à mente, que é a morada dos hábitos. A prisom nom descobre, fabrica delinqüentes, é um instrumento mais de controlo da classe trabalhadora no que se liga Poder com Tecnologia… Pode-se criticar a Foucault por fazer umha análise excessivamente centrada em termos de poder e racionalidade (esta última na acepçom weberiana da gaiola de ferro do capitalismo) e nom considerar devidamente a legalidade, a cultura, os elementos irracionais, sentimentais… Ser em excesso instrumentalista e nom advogar suficientemente por explicaçons plurifactoriais, nom automáticas… Nom existem só normas de obediência, assim mesmo de alfabetizaçom, limpeza, saúde, responsabilidade?... Talvez nom descreva apropriadamente os agentes do poder com as suas contradiçons (funcionári@s divers@s com interesses específicos…) e talvez as suas interpretaçons históricas podam ser duvidosas, esquecendo-se demasiado do passado e sesgando o presente, mas aí está a sua potente explicaçom dos poderes polivalentes, escorregadios, subtis, que experimentam e subjugam. Eis essa utopia “democrática”, tam presente, de domínio suave, ou nom tanto, esse panóptico (a visom total, o controlo omnímodo) em que se passou do moral ao técnico (modificar as condutas), do juízo à terapia, do religioso ao científico… Para concluir: um convite a ler Norbert Elias No que di respeito à cultura penal, apontemos que temas como a justiça, o delito, as formas religiosas, as atitudes em relaçom com a idade, a raça, a classe, o género, etc., nom se desenvolvem de forma endógena, fam parte dum contexto cultural mais amplo. Assim mesmo que, por mais que vaiam ligadas a práticas materiais, nom som um mero reflexo das mesmas (evitar o determinismo económico), tenhem a sua própria dinámica interna. Todo isso está em Elias: o problema das mentalidades, das sensibilidades, das especificidades, disso que chama civilizaçom (com certeza nom etnocêntrica), dos modais construidos que passam a ser naturais, dos assuntos de consciência… O papel dos signos e símbolos penais no contexto mais dilatado do discurso autoritário… Como se constroem as identidades, como se define o normal frente ao descarreirado… Problemas de institucionalizaçom… E um longo etc. Nom estaria por demais que nos projectos de investigaçom das Universidades de Galiza houvesse um espaço para esquadrinhar na situaçom dos nossos cárceres e também que outras instáncias (Partidos, Sindicatos, Movimentos Alternativos…) prestassem atençom a toda essa gente marginalizada e recluida. Acontecerá que as classes médias satisfeitas colaboram de bom grau, mesmo con prazer, com as classes altas e vem de marcar a distáncia com o lumpem do que em muitos casos procedem, discurseiam com radicalidade mas aguardando que nada mude? Que se passa com as classes trabalhadoras e com as infraclasses, por que se oculta, invisibiliza, a miséria, por que nom se produzem mais reacçons em contra do Capital ? Isso fica para outra ocasiom. WEB Tiago Matos Silva. País de Abril. Filhos de Novembro. Memória do 25 de Abril. Dinossauro Edições, Lisboa 2002. 174 páginas. Transmite-se hoje a ideia de que Portugal tivo umha ditadura “branda”, com um único opositor (Humberto Delgado), com umha polícia política que “nom era tam má como as outras”, um colonialismo de “bons patrons”, umha guerra colonial “de brincadeira” e até um ditador (Marcello Caetano) que queria acabar com a ditadura. Como seria de esperar, este país de excepçom democratizou-se com umha revoluçom de um só dia, pola acçom de um só homem (Salgueiro Maia) e, depois de um breve período de confusom causada por perigosos esquerdistas, “entrou nos eixos” normais de umha democracia parlamentar ocidental, rumo ao progresso e à paz social. Tiago Matos Silva resolveu investigar a veracidade desta história e recolhe aqui os testemunhos de pais e filhos de diversas áreas ideológicas. Com as suas próprias conclusons. www.primeiralinha.org Primeira Linha estreou no passado 31 de Maio o seu sítio web oficial, caracterizado pola grande quantidade de conteúdos e a contínua actualizaçom dos mesmos. O sítio conta com algumhas secçons fixas como a dedicada à documentaçom relativa à vida partidária, que inclui textos aprovados polos diversos organismos do nosso Partido; a dedicada ao vozeiro impresso Abrente, que desde agora contará com umha ediçom digital; um espaço destinado a informar sobre a actualidade do MLNG; e um outro com algumhas ligaçons políticas e sociais de interesse da perspectiva independentista e comunista, tanto da Galiza como do mundo. A totalidade de secçons do nosso sítio está já em funcionamento, embora reste acrescentar alguns conteúdos, labor que se está a realizar de maneira progressiva. Especial relevo tem a criaçom da Biblioteca Marxista em Galego, que inclui a versom digital de grandes obras do marxismo, e que já disponibiliza às pessoas que a visitam por cima da vintena de obras de Marx, Engels, Lenine, Ché, Mao, Ho, Trotsky, Rosa Luxemburg e outras figuras destacadas que vem publicada pola primeira vez os seus textos na Galiza e em galego. Além disso, também as obras publicadas pola Abrente Editora contam com versom digital para a sua consulta directa on line. As actualizaçons dos conteúdos som constantes, com notícias de actualidade, textos teóricos e testemunhos gráficos de interesse. Animamos portanto a visitar este novo espaço de socializaçom do nosso projecto político com freqüência, o que permitirá manter-se ao dia sobre a actividade d@s comunistas independentistas da Galiza. Primeira questom, que surge com freqüência: Porque é que umha revoluçom tam pujante e que despertou tanta esperança foi tam facilmente derrotada? A nossa resposta é: porque nom chegou a ser revoluçom. Sem dúvida, o movimento popular do 25 Abril é o maior acontecimento da história moderna de Portugal: fim da ditadura fascista e das guerras coloniais, novos direitos para @s assalariad@s, nacionalizaçons, reforma agrária... Por primeira vez na nossa história o povo fijo tremer os ricos com as ocupaçons de empresas, terras e casas, as experiências de autogestom e controle operário, a liberdade de greve, a iniciativa nas ruas, as moçons dos plenários, o saneamento de fascistas... As criaçons do movimento de massas enriquecêrom o movimento revolucionário português e internacional. Nós, @s comunistas da Política Operária, somos discípul@s desse grande movimento que revitalizou a nossa formaçom marxista. Mas por isso mesmo é nosso dever observá-lo com grande exigência crítica nos seus pontos fortes e fracos. Para que o 25 de Abril tomasse a envergadura de umha revoluçom autêntica teria que inverter as relaçons entre as classes. Ora, detonado por um golpe militar, o movimento de Abril mantivo-se sempre sob a autoridade do Exército. Foi isso que permitiu que, dezanove meses mais tarde, este intervinhesse em sentido oposto e roubasse ao povo o que tinha ganho. Os trabalhadores e as trabalhadoras consentírom que o novo poder democrático poupasse os fascistas, só tomárom a gestom de empresas quando abandonadas polos patrons, pedírom sempre a legitimaçom das suas acçons ao MFA e nunca recorrêrom à violência –o “terror anarco-populista” é umha invençom da burguesia-. A ideia da necessidade de conquistar o poder estivo sempre excluída para o proletariado, mesmo o mais avançado. Toda a audácia popular foi ainda tímida. Assim, apesar de amputada das colónias e privada da couraça protectora do salazarismo, a burguesia pudo superar com êxito o delicado momento da sua modernizaçom. A actual arrogáncia da burguesia e a resignaçom do proletariado nom som fruto da derrota da revoluçom, mas de nom ter havido revoluçom. Aliás, grande milagre seria que houvesse umha revoluçom e umha contra-revoluçom com duas dezenas de mortos. Tivemos sim umha crise revolucionária que, devido à imaturidade política do proletariado, se deixou sufocar sem chegar a desenvolver plenamente as suas potencialidades. Quando umha parte da esquerda portuguesa evoca romanticamente a “revoluçom dos cravos” ela exalta no 25 Abril, nom o que ele tivo de avançado mas o que tivo de atrasado. Sonha com umha “revoluçom” pacífica, capaz de levar todo o povo unido a provocar umha miraculosa rendiçom do poder. Isso nom existe. A revoluçom de que a nossa sociedade está grávida só se poderá realizar através de umha convulsom aguda e violenta. Como de resto bem se viu polo comportamento das classes durante o vacilante ensaio de 74-75. Segunda questom: Mas, ao pôr fim à ditadura e ao império colonial, o movimento popular nom demonstrou a sua grande envergadura e maturidade revolucionária? Nós dizemos que o contributo do nosso movimento foi auxiliar; o principal actor dessas transformaçons nom estivo em Portugal mas em África. Esquece-se freqüentemente que a ditadura de Salazar foi desejada e durante décadas apoiada nom só pola grande burguesia mas pola massa da pequena burguesia e mesmo por extensos sectores dos empregados e operários. De outro modo seria impossível umha ditadura manter-se quase meio século no poder com um nível de repressom relativamente baixo (e quando digo “baixo” nom estou a minimizar os crimes odiosos do salazarismo mas a pô-los em comparaçom com o franquismo, por exemplo). A resistência operária e popular conduzida polo Partido Comunista nunca cessou mas foi quase sempre localizada. O crescimento da oposiçom ao regime foi extremamente lento. Por dificuldades do movimento operário mas também porque os “democratas”, como eram chamados, hesitavam em passar à acçom. Receavam o vazio de poder. Tinham mais medo do povo do que do fascismo. Os 16 anos da I República tinham mostrado como era difícil manter a ordem neste país, nom por o proletariado ser especialmente forte mas por a burguesia ser fraca. Foi preciso a guerra colonial estender-se ano após ano com a perspectiva da derrota à vista para o movimento antifascista ganhar boa parte da populaçom. Foi só nos últimos cinco anos, quando o regime, gasto, se abeirava do fim, por nom ser capaz de sair da ratoeira das guerras coloniais, que se generalizárom as greves e a oposiçom à ditadura se estendeu a camadas mais vastas da pequena burguesia e do semiproletariado, da Igreja, até de parte da alta burguesia. O progressismo desses sectores só despertou quando vírom as guerras coloniais perdidas. Daí o consenso universal em torno do golpe dos capitáns, que leva tanta gente a maravilhar-se com esta revoluçom sem tiros e sem sangue. O 25 de Abril foi realmente belo mas nom esqueçamos que os cravos em Lisboa fôrom pos- Francisco Martins Rodrigues Nº 25. Julho, Agosto e Setembro de 2002 INTERNACIONAL 7 25 de Abril: O proletariado deixou escapar a crise de poder Intervençom de Francisco Martins nas VI JIG síveis graças aos tiros, ao sangue e aos sacrifícios dos povos africanos, ao longo de treze anos de umha luita desigual. Terceira questom: Mas nom é um facto que o MFA e os governos provisórios adoptárom umha série de medidas sociais avançadas que apontavam para o socialismo? O MFA era um conglomerado de tendências políticas das mais diversas que queriam basicamente fazer a transiçom da ditadura fascista para umha democracia burguesa. As oscilaçons e contradiçons no seu interior levárom-no a realizar eleiçons um ano depois do 25 de Abril, quando ainda nom se tinha atrevido a desmantelar toda a estrutura herdada do fascismo e a massa retardatária predominava. O resultado era previsível: três quartos dos eleitores votárom no centrodireita e na direita (PS e PPD), tirando legitimidade a partir daí às iniciativas do movimento popular que a esquerda apoiava. As eleiçons só deveriam ter lugar depois de a ordem tradicional ser revolvida pola revoluçom e de novas relaçons sociais ganharem a hegemonia. Ao ceder às pressons das potências imperialistas e da burguesia para mostrar o seu “respeito pola democracia”, o MFA ditou o seu suicídio e a derrota d@s revolucionári@s. No imediato, é certo, pareceu ter acontecido o contrário. O MFA nom podia naquele momento entregar o governo ao PS porque isso significaria criar um conflito de proporçons imprevisíveis com o movimento popular avançado. Além disso, o golpe spinolista fracassado de 11 Março provocara umha viragem à esquerda nas assembleias do MFA. O comando das operaçons caiu assim durante algumas semanas nas maos dos adeptos do “socialismo militar”. Para fazer face às pressons contraditórias da direita (sabotagem, fuga de capitais e ameaça de descalabro económico) e da esquerda (ocupaçons, plenários, manifestaçons), o MFA lançou-se na aceleraçom da “revoluçom” por cima: nacionalizaçons, lei da Reforma Agrária, lei do arrendamento rural, imposiçom de um pacto aos partidos sob o lema da “aliança Povo/MFA”, “poder popular”, “via socialista”... Com estas medidas, que pugérom a burguesia a bradar que se queria “implantar o comunismo”, Vasco Gonçalves procurava conquistar apoio popular contra a direita mas mantendo o controlo dos acontecimentos nas maos dos militares. Tivo a reacçom clássica dos “moderados” em período de crise do poder: o Estado “socialista” tornava-se o fiel depositário da propriedade burguesa enquanto durasse a crise; e com os órgaos de “poder popular” sob a autoridade do MFA dava-se umha aparência de satisfaçom aos revolucionários, evitando o pior. Porém, os gonçalvistas subestimavam a reacçom da direita. Fortes da sua vitória eleitoral, apoiadas polo imperialismo, todas as correntes burguesas, do PS e da maioria do MFA à Igreja e aos fascistas declarados, passárom ao ataque, em verdadeira histeria, com os atentados bombistas e os incêndios do ELP e do MDLP no Centro e Norte do país, mas também com grandes manifestaçons, como as de 18-19 Julho. No Verao estava em marcha um grande movimento de massas contra-revolucionário apoiado no terrorismo e as fileiras da esquerda começárom a vacilar e a reduzir-se. Depois que o pronunciamento de Tancos fijo cair o governo de Vasco Gonçalves, a direita, cada vez mais segura de si, encaminhou o conflito para o desenlace. O êxito fácil de mais do golpe militar de 25 de Novembro denuncia a rede de cumplicidades que lhe abriu caminho. O que fijo a impotência do PCP, da ala esquerda do MFA e da generalidade da chamada “esquerda revolucionária” foi a incapacidade para subir a parada, para dar à direita a resposta mais enérgica que a nova situaçom exigia: para desarticular a frente “ordeira”, que ia do PS aos fascistas, seria preciso libertar a iniciativa das massas, apelar à revolta dos pobres, castigar os bombistas –mas isso seria a terrível “desordem”. Faziam-se grande manifestaçons “para meter medo à direita” quando eram precisas outras for- Noa Rios Bergantinhos mas de coacçom para paralisar a instabilidade da pequena burguesia e separá-la da campanha reaccionária. Mesmo a ala otelista do MFA que se definiu como última esperança da esquerda era igualmente impotente. Otelo oscilava, como sempre fijo, entre as proclamaçons arrojadas e os gestos dúbios (o pior de todos, a reintegraçom do fascista Jaime Neves, saneado polos seus soldados). Os mais activos defensores desta corrente nom sabiam como abrir espaço entre as duas grandes forças –gonçalvistas dum lado e “Grupo dos Nove”, do outro. Tinham umha crença ingénua nos órgaos de “poder popular” descentralizados, sob tutela dos oficiais; na prática, viam no namoro aos oficiais “revolucionários” a chave da conquista do poder através de um golpe militar das esquerdas, armadilha a que acabárom por ser levados polas provocaçons da direita. O movimento popular chegou a Novembro desnorteado por falta de estratégia própria. Quarta questom: Se nom havia condiçons para umha revoluçom socialista e para o poder popular, para quê radicalizar as reivindicaçons, levando o proletariado para um impasse e correndo o risco de provocar umha contra-revoluçom sangrenta? O PCP nom tivo razom ao acusar os marxistas-leninistas de imaturidade e aventureirismo? Primeiro, há que esclarecer que nós nom inventámos palavras de ordem radicais: acompanhámos as exigências d@s operári@s mais combativ@s, das mulheres dos bairros pobres, dos soldados, dos assalariados agrícolas. A nossa inesperada influência resultou disso mesmo: de irmos ao encontro do estado de espírito da vanguarda. E a vanguarda tinha razom; perante umha crise do poder, aúnica táctica sensata e responsável dos explorados e exploradas é abrir o mais possível o rasgom, arrancar o máximo de concessons, para ver até onde se pode chegar. Ficar na expectativa é suicida. Naturalmente, esse comportamento da vanguarda nom é seguido de imediato pola grande massa, inclusive dos operários. A primeira reacçom desta é desaprovar, assustar-se e recuar perante essas “loucuras”. Mas em período de crise revolucionária, quem tem que indicar o ritmo e criar os factos consumados é a minoria de vanguarda. Só ela habitua os espíritos a perceber que chegou a hora de deitar abaixo as velharias. Só pola audácia a vanguarda vai tomando consciência de si própria, ganha a confiança da massa e se educa para futuros confrontos. Sabia-se, dadas as condiçons internacionais e a juventude do nosso movimento, que nom tínhamos a revoluçom socialista ao nosso alcance. Mas todo o que se avançasse ajudava a desmantelar a ordem tradicional, com a sua carga asfixiante de abuso patronal, tirania burocrática, estupidez clerical, caciquismo, machismo, chauvinismo, conformismo, ignoráncia –todo o peso de umha sociedade que nom fijo umha grande revoluçom burguesa e foi passando ao capitalismo por pequenas etapas. Se algum saldo positivo ficou apesar de tudo do 25 Abril, foi graças ao comportamento radical da vanguarda. Além disso, quando se critica o “excesso de ambiçom dos radicais” esquece-se que o prolongamento da crise poderia ter acelerado a agonia do franquismo. Se em vez da manobra liberalizante de 78 a Espanha tivesse conhecido um levantamento antifascista por reflexo da crise portuguesa, as possibilidades revolucionárias na Península teriam dado um enorme salto em frente. Quinta questom: Porque nom procurárom os marxistas-leninistas a unidade com o PCP contra o avanço da direita? Nom era o PCP a principal força política no movimento operário e popular? Era, sem dúvida. Único partido implantado nas massas e com umha longa resistência à ditadura, o PCP ganhou desde a primeira hora a hegemonia no movimento popular. Por isso mesmo tínhamos que luitar contra ele. Deixem-me exemplificar com alguns factos: um mês após o 25A, um dirigente do PCP (com longos anos de prisom e clandestinidade) foi expulso de umha assembleia de trabalhadores dos CTT por dizer que a sua greve era “útil à reacçom”; o PCP estivo contra a exigência surgida na rua de “nem mais um só soldado para as colónias” porque isso enfraquecia o novo governo nas negociaçons com a guerrilha; quando começárom as ocupaçons de empresas, o Avante deitava água na fervura assegurando que “o investimento estrangeiro tem ainda vastas possibilidades de umha vantajosa e larga retribuiçom”; em Setembro de 74, quando os operários dos estaleiros navais atravessárom Lisboa numha combativa manifestaçom polo saneamento dos fascistas, o PCP organizava umha manifestaçom de homenagem a Spínola, para tentar apaziguá-lo; Cunhal, como ministro de Estado, assinou umha lei antigreve que nom chegou a ser aplicada devido ao repúdio d@s trabalhadores/as; após o 28 Setembro, para baixar a temperatura das massas, o PCP lançou a campanha por “um dia de trabalho para a Naçom”; o PCP condenou o cerco popular ao congresso dos fascistas do CDS, no Porto, como “um acto desordeiro”; no 7 Fevereiro, com milhares de operários a protestar nas ruas de Lisboa contra a entrada no Tejo de umha esquadra da NATO, um dirigente do PCP veio à televisom difamar a manifestaçom e pedir um “acolhimento amistoso” aos marinheiros americanos; no decurso do golpe spinolista de 11 de Março, quando os “esquerdistas” acudiam ao quartel atacado e saqueavam a casa de Spínola, o PCP ordenava aos seus membros a máxima contençom para nom agravar as desinteligências entre os militares; no Verao de 75, o PCP desaprovou a greve dos operários do República contra os jornalistas social-democratas; desaprovou a manifestaçom de apoio aos jornalistas de esquerda da Rádio Renascença, despedidos pola Igreja, proprietária da estaçom; condenou como “provocaçom” o assalto popular à embaixada de Espanha em Setembro, quando Franco assassinou cinco antifascistas... Situaçons destas repetírom-se vezes sem conta. Para estar ao lado do avanço popular tínhamos que estar contra o PCP. Isto nom foi surpresa. Desde os anos 40 o PCP apostara na mobilizaçom d@s trabalhadores/as como força de choque ao serviço de umha queda controlada do fascismo. Luitador incansável contra o fascismo, Cunhal constituíra-se há muito prisioneiro da democracia burguesa, à qual hipotecara o seu futuro. Por isso mesmo, a burguesia exigiu logo no primeiro dia a sua participaçom no poder, para o ter como refém e garante da manutençom da ordem. Foi o que ele fijo ao aplicar, após o 25 de Abril, umha estratégia dupla: impulsionar as acçons de massas como capital para negociar umha normalizaçom democrática, onde o lugar do seu partido estivesse assegurado; e portanto opor-se às acçons “excessivas” que poderiam assustar o MFA e enfurecer a burguesia. À medida que a tensom subiu, no Verao Quente, o PCP foi obrigado a radicalizar a linguagem para nom deixar @s operári@s passarem para a extrema esquerda, mas nom mudou de estratégia. Foi assim que, em fim de Agosto aderiu à FUR (Frente de Unidade Revolucionária) onde havia vários grupos da extrema esquerda, para sair cinco dias depois logo que negociou um compromisso com os militares conspiradores. Em Novembro esta táctica dupla tinha chegado ao extremo: grandes manifestaçons como o cerco à Assembleia da República polos operários da construçom enquanto decorriam conversaçons secretas para garantir a legalidade do partido depois do golpe. Com o maior desplante, Cunhal veio mais tarde deitar as culpas da derrota para cima do movimento que ele próprio ajudou a fazer abortar. Sexta questom: Se @s marxistas-leninistas estavam com a vanguarda porque fôrom incapazes de orientar o movimento de forma mais positiva? Os M-L estavam completamente impreparados para as tarefas que lhes cabiam. A possibilidade de levar a cabo umha insurreiçom antifascista, fazendo da queda da ditadura o início de umha revoluçom autêntica, tinha sido defendida em 1964 polo CMLP, o primeiro grupo marxista-leninista. Fôrom aí lançados os alicerces ideológicos para umha ruptura com o reformismo e para umha nova corrente comunista portuguesa. Todavia, nos dez anos decorridos até ao 25 de Abril, a implantaçom d@s marxistas-leninistas no proletariado progrediu muito lentamente. Tivérom um papel positivo na luita contra as guerras coloniais e pouco mais. O 25 de Abril pujo a nu o tremendo atraso da nossa corrente. Faltava-nos umha linha política que clarificasse o rumo ao movimento de massas e nos afirmasse como real alternativa à esquerda do PCP. A desproporçom entre as perspectivas abertas pola crise de poder e a pequenez dos grupos era tal que os activistas deixavam-se ir à deriva dos acontecimentos do dia-a-dia, agindo por instinto. Faltava-nos consistência organizativa; só no Verao de 74 alguns grupos começárom a negociar a unificaçom, numha corrida contra o tempo, quando todos os esforços deviam ser virados para o movimento de massas. Estas desvantagens fôrom agravadas polo equívoco político em que assentava a corrente ML, em resultado das contradiçons em que se debatiam o PC da China e o PT da Albánia. Alguns grupos faziam, em nome do marxismo-leninismo, um ataque ao PCP e à URSS muito semelhante ao da burguesia, de tal modo que vinhérom a tornar-se colaboradores activos da ofensiva reaccionária no Verao-Outono de 75. A ruptura na corrente M-L entre a verdadeira e a falsa esquerda tardou demasiado e esta confusom sob a mesma bandeira de tendências comunistas e social-democratas desacreditou os “M-L” junto d@s operári@s de vanguarda e dificultou-lhes a desagregaçom da influência operária do PCP. A isto somava-se umha errada concepçom de Partido. Formados na escola estalinista, os M-L tomavam por sinais de “vigor bolchevique” o medo ao debate, as fórmulas dogmatizadas, o burocratismo organizativo, o revolucionarismo declamatório. Pior ainda, no desejo de ser reconhecidos internacionalmente, abdicárom da sua autonomia e submetêrom-se à tutela de autoproclamados “representantes do movimento comunista internacional” (na realidade oportunistas), o que viria a ter um resultado desastroso no partido, formado justamente a seguir ao 25 de Novembro. Mas essa é já outra história. Sétima e última questom: Pode dizer-se que a insuficiente unidade popular perdeu o movimento de 25 de Abril? Eu diria antes que faltou a unidade popular esclarecida e combativa e sobrou a unidade popular confusa e conciliadora. Faltou um corte entre os interesses revolucionários do proletariado e os interesses da burguesia “progressista”, que só queria apoiar-se no povo para modernizar o capitalismo. Por falta de independência política, @s trabalhadores/as deixaram-se “enrolar”. Se virmos o comportamento do conjunto da classe burguesa ao longo da década de 70 é perfeitamente nítido o esquema clássico: para passar dum regime para o outro, a burguesia “democrática” apoiou-se primeiro no povo contra o fascismo para a seguir se aliar aos fascistas contra o povo. O produto desta astuta manobra em duas fases foi a podre Democracia capitalista que nos governa. Com o 25 de Abril aprendemos na prática a velha liçom leninista: para conseguir centrar eficazmente o fogo no inimigo principal, há que distinguir os interesses do proletariado dos da camada burguesa que lhe fica mais próxima –a pequena burguesia. A trajectória do PCP, como mais tarde a do PC(R), resultou da ausência dessa distinçom. De resto, nas duas últimas décadas, o alinhamento da pequena burguesia portuguesa tem vindo a modificar-se: o capitalismo penetra em todos os poros da sociedade, abatem-se as velhas barreiras entre o capital nacional e o capital estrangeiro, as oportunidades de negócio e de consumo abrem novos horizontes para esses sectores em termos profissionais, culturais, etc. A ánsia de justiça social e a paixom patriótica que mobilizavam boa parte da pequena burguesia no tempo do fascismo evaporárom-se. O esvaziamento das fileiras da extrema esquerda, em paralelo com o esclerosamento do PCP, correspondem assim à debandada da parte “esclarecida” da pequena burguesia. Ao reorganizar-se, o movimento comunista deverá ter presente que, à medida que a luita anticapitalista se vai desenhando com maior nitidez como o objectivo directo do proletariado, mais difícil é contar com o apoio da pequena burguesia, mais vital é assumir os interesses próprios do proletariado. Há agora quem diga que “os portugueses ficárom vacinados contra o esquerdismo”. Estou plenamente convicto, polo contrário, de que, sob o aparente esquecimento actual, as experiências avançadas de democracia proletária vividas em Portugal estám inscritas na memória colectiva. Ressurgirám forçosamente amanhá, numha nova situaçom de crise de poder. Haverá entom que levá-las à sua conseqüência: o derrube e expropriaçom da burguesia. Intervençom de Francisco Martins nas VI Jornadas Independentistas Galegas. Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589. www.primeiralinha.org Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha Fotografia: Antom Garcia, Andrés Panaro, Noa Rios Bergantinhos. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: Carmen Aurora Seijas. Imprime: Litonor S.A.L. Feche de ediçom: 9 de Julho Justo de la Cueva Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] Tirage: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impreso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997 Lei fascista espanhola contra a internet Os páxaros voam. Os peixes movem-se na água. As vacas dam leite. Porque está na sua natureza respectiva voarem, moverem-se na água e darem leite. Os regimes fascistas promulgam leis fascistas. Também porque está na sua natureza, predito e prescrito no seu ADN. Porque estám genético-estruturalmente determinados a fazé-lo. O regime actual da Espanha do Rei que Franco nomeou é um regime fascista. É só a metamorfose nazifascista da Espanha do sanguinário ditador genocida que Franco foi. Que conserva sob o seu disfraz aparencial de nojenta borboleta “democrática” os espantosos elementos nazifascistas do asqueroso verme do franquismo. Há que explicar isso aos galegos e galegas que padecem como presidente o velho fascista que foi ministro de Franco, jactou-se de que o Conselho de Ministros de que formava parte assassinasse o herói comunista Grimau e persiguisse Bergamín por denunciar as torturas aos mineiros asturianos? No passado 27 de Junho de 2002, o Pleno do Congresso dos Deputados espanhol aprovou umha lei fascista. A Lei de Serviços da Sociedade da Informaçom e Comércio Electrónico. Caracteriza os governantes fascistas da Espanha do Rei que Franco nomeou mostrarem a sua congénita estupidez ao fabricarem siglas. Um desses estúpidos congénitos colaboradores de Felipe González pariu a muito adequada sigla MULA (que nomeia um animal estéril) para designar nos anos 80 o Mando Unificado da Luita Antiterrorista. Outro estúpido congénito colaborador de Aznar pariu a sigla LSSI para esta lei sem cair na conta de que atraiçoa a sua oculta natureza. LSSI, vale dizer as SS na Internet. SS [Schutzstaffel]: o Esquadrom de proteccçom de Hitler e dos hierarcas nazis que se mutou na polícia e os guardiáns dos campos de concentraçom e na peça chave da política nazi de conquista e extermínio. Um Estado fascista é um Estado Sem DIREITO. Um Estado em que as leis som arbitrárias e contradim as suas pomposas proclamaçons de direitos e de garantias dos cidadaos. A Espanha de Franco era um Estado fascista porque as leis fascistas que promulgava violavam umha e outra vez os direitos “constitucionais” proclamados no Fuero de los españoles. A Espanha do Rei que Franco nomeou é também um Estado fascista assim. As suas leis arbitrárias violam umha e outra vez a Constituiçom (já revesgada de seu) de 1978. A LSSI fai também isso. Supom umha clara violaçom da configuraçom constitucional dos direitos fundamentais à Liberdade de Expressom e Informaçom (art. 20), assim como da Privacidade, Intimidade e Segredo das Comunicaçons (art. 18) e em todo o caso carece do rango necessário para afectar a estes direitos fundamentais pois, conforme o art. 81 da Constituiçom, a sua tramitaçom deveria ter seguido os trámites da Lei Orgánica. Além do mais, invade competências de outras entidades e poderes públicos convertindo de novo os Estatutos de Autonomia em papel molhado, em grosseiras burlas que mentem competências para as naçons e regions do Estado espanhol que logo arrebatam leis fascistas como esta. Como lei fascista que é, constitui umha falsificaçom desde a sua mesma origem. Mente que se promulga para cumprir umha exigência legal da Uniom Europeia. Mente que se trata de traspor a legislaçom espanhola à directiva 2000/31/CE sobre comércio electrónico, sobre comércio pola Internet. MAS NENGUM ARTIGO dessa directiva fala da informaçom através da Internet, que é ao que se dedica com mal empregado entusiasmo a LSSI. A LSSI é umha tentativa fascista desesperada por introduzir a censura na Internet. Por controlar o fornecimento de informaçom atacando a liberdade de expressom na Rede. Por introduzir graves riscos para a intimidade d@s internautas a quem converte em supostos culpdos violando assim outra vez a Constituiçom espanhola de 1978 na fulcral defesa que o seu texto fai da suposiçom de inocência. Tentativa desesperada porque a Internet é incensurável. As webs que corram risco de serem clausuradas ou massacradas com as absurdamente desorbitadas multas que a LSSI possibilita EMIGRARÁM dos servidores situados no Estado espanhol. Mas a LSSI é um experimento. De novo a Espanha do Rei que Franco nomeou converte-se em campo de provas para a vaga de fascistizaçom que os Estados Unidos e a Uniom Europeia estám cavalgando. Trata-se dumha tentativa de controlo político da Internet que nom tem precedentes em nengum país ocidental. Trata-se de tentar um “despejo no ciberespaço”. Nom se pode impedir que umha web esteja publicada na Internet. O governo fascista espanhol fracassou há uns meses quando tentou impedir que a Associaçom Contra a Tortura tivesse publicada na Internet a listagem dos polícias e guardas civis torturadores que tinham sido condenados ou estavam processados por torturas. Acobardou para que a fechasse o servidor espanhol que tinha alojada a web com a ameaça dumha multa multimilionária, mas a Internet reagiu e, em vez de umha, florescêrom dúzias de edicions daquela web em servidores solidários de vários continentes. A LSSI aumenta a facilidade para repetir chantagens económicas similares mas, aliás, inicia o experimento de tentar exercer controlo sobre a Internet atacando legalmente as pessoas físicas que estám sob a autoridade do Estado espanhol. No passado mês de Abril, umha esmagadora maioria de 460 votos a favor, nengum contra e 3 abstençons opujo-se no Parlamento Europeu ao bloqueio do acesso a páginas web como forma de regular a Rede. Opujo-se a que os Estados podam obrigar os Fornecedores de Serviços da Internet (ISP) a restringirem a entrada a determinadas webs. Mas a Uniom Europeia dos Quinze Tiranos (os Chefes de Estado e de Governo que componhem o Conselho Europeu que antidemocraticamente acaparam o poder executivo, legislativo e judicial da UE num órgao para o que ninguém os elegeu e que ninguém controla) é muito pouco de fiar. A Presidência espanhola da UE durante o primeiro semestre do 2002 tem atingido outro êxito fascista: no 30 de Maio de 2002, o Parlamento da Uniom Europeia decidiu, em discrepáncia com a directiva sobre protecçom de dados de 1997 e desestimando as recomendaçons do Comité para os direitos civis do próprio Parlamento, APROVAR o armazenamento de dados de todas as nossas ligaçons telemáticas (telefone, telemóvil, fax, chats, internet) sem que existam provas de delito. Deste modo, outorga-se aos Estados membros da UE a potestade de aprovarem le¡s nacionais sobre o armazenamento de dados digitais, ou manter as existentes fazendo caso omisso da Directiva da UE. Precisamente um dos PIORAMENTOS que a tramitaçom parlamentar da LSSI tem logrado sobre o seu já mal texto inicial foi imposto polo ministério do Interior ao obrigar aos fornecedores de serviços da Internet a armazenar os dados de tráfico de todos os usuários durante um ano. O regime fascista da Espanha do Rei que Franco nomeou ataca assim fascistamente na Internet aos/às internautas que tenhem a desgraça de serem os seus súbditos. A torpe e ineficaz gestom do Governo de Aznar tem convertido a Espanha no penúltimo país da UE pola sua taxa de acesso à Internet. Em vez de trabalhar por lograr a emigraçom dos seus e das suas súbdit@s ao ciberespaço (impedindo por exemplo que o preço da ligaçom ADSL espanhola seja com a portuguesa a mais cara da Europa) Aznar preocupa-se com facilitar o controlo d@s internautas pola Polícia espanhola. Pola mesma Polícia espanhola que no franquismo a GESTAPO ensinou a torturar “cientificamente”, essa mesma Polícia espanhola que tem visto condecorar por Aznar o seu membro torturador Melitón Manzanas, agente colaborador da GESTAPO. A cabra vai para o monte (e desfilar com a Legión). A Espanha fascista fijo umha lei fascista contra a Internet. Novidades 4€ 6€ 18 €
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