a relação entre intimidade conjugal e bem

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a relação entre intimidade conjugal e bem
A RELAÇÃO ENTRE INTIMIDADE CONJUGAL E BEM-ESTAR SUBJETIVO E
SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE MENTAL
Anne Caroline Gomes Moura (Aluna de Icv), Sandra Elisa De Assis Freire (Orientadora,
Depto de Psicologia – UFPI)
Introdução
Na clássica teoria do amor de Sternberg (1988), o autor descreve o relacionamento amoroso a
partir de três fatores: intimidade, paixão e decisão/compromisso. Para o autor a intimidade envolve “dar
e receber apoio emocional e outros comportamentos que proporcionam calor humano, da maneira que
se possa comunicar-se abertamente e honestamente, partilhar, sentir felicidade juntos, compreender
um ao outro e valorizar a pessoa amada”. Conforme Diener (1984), o nível de intimidade contribui de
forma significativa para o bem estar do indivíduo, pois quanto maior o nível de intimidade, mais o
indivíduo experiencia os afetos positivos do que os negativos, assim, contribui para a felicidade no
relacionamento. Portanto, compreende-se que a intimidade conjugal no casamento está diretamente
relacionado com o bem-estar. Muito embora, inúmeros casais vivam juntos em termos físicos e legais
se encontram emocionalmente separados (Bach & Wyden, 1991). Portanto, esse distanciamento
afetivo seria o responsável por manifestações emocionais e físicas graves, como depressão e ataques
cardíacos.
Metodologia
Amostra
Participaram desta pesquisa 210 pessoas casadas e heterossexuais residentes na cidade de
Parnaíba-PI, com idades variando de 19 a 69 (m=41, dp=10,6), sendo 48,2% do sexo masculino e
51,8% do sexo feminino. A amostra foi de conveniência (não probabilística). 69% se consideraram
católicos. 92,5% afirmou ser casada, com um tempo médio de casamento de 15,7 anos, 81% dos casais
disseram ter filhos. 22,9% concluíram o ensino médio, enquanto 22,9% afirmaram ter curso superior;
48,6% apresentou uma renda média de 1 a 3 salários mínimos.
Instrumentos
Utilizou-se quatro escalas, sendo estas a Personal Assessment of Intimacy in Relationships
(PAIR), Escala de Afeto Positivo e Afeto Negativo (PANAS Escala de Satisfação de Vida (ESV) e
Questionário de Saúde Geral (QSG-12).
Procedimentos
Foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí.
Posteriormente foi apresentado um termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi lido e assinado
por cada um dos participantes antes de responderem ao questionário. Foi enfatizado o caráter
confidencial e sigiloso da participação na pesquisa. Os questionários foram respondidos
individualmente, levando em média, 40 minutos para o seu preenchimento.
Análise de dados
Foi empregado o programa IBM SPSS. Sendo utilizado as estatísticas descritivas (medidas de
tendência central e dispersão, distribuição de frequência) para caracterizar a amostra, e a análise
correlação (r) Pearson.
Resultados e Discussão
Correlatos da intimidade conjugal, bem-estar subjetivo e saúde geral
Medidas
1. Int. Emocional e Sexual
2. Int. Intelectual
1
2
4
5
6
7
0,04
0,03
-0,04
0,46**
0,03
0,33**
0,21**
0,36**
3. Int. Social
-0,27**
-0,21**
4. Afetos Positivos
0,02
-0,16*
0,16*
0,10†
-0,34**
-0,04
0,09†
0,01
5. Afetos Negativos
6. Satisfação de Vida
7. Saúde Geral
3
-0,09
0,41**
0,11
-0,03
Nota: †p < 0,10, *p < 0,05, ** p < 0,01 (teste unicaudal).
No que se refere aos afetos positivos e negativos, observou-se que os afetos positivos se
correlacionaram direta e positivamente com a intimidade emocional e sexual (r = 0,50 p < 0,01), a
intimidade intelectual (r = 0,38, p < 0,01) e a intimidade social (r = 0,34, p < 0,01). Correlação inversa
foi observada com os afetos negativos e as três dimensões da intimidade: emocional e sexual (r = 0,37, p < 0,01), intimidade intelectual (r = -0,38, p < 0,01) e a intimidade social (r = -0,27, p < 0,01).
Portanto, a correlação direta e positiva encontrada entre os três construtos da intimidade (emocional e
sexual, intelectual e social) e os afetos positivos demonstram que quanto mais os cônjuges vivenciam
a intimidade em seu relacionamento mais eles tendem a apresentar o nível de afetos positivos
satisfatório. Já a correlação inversa foi observada com os afetos negativos e a intimidade revelando
que quantos menos os cônjuges vivenciam as dimensões da intimidade mais afetos negativos tendem
a manifestar. Tais achados podem ser corroborados pelo estudo de Kaplan (1977), demonstrando que
a intimidade, ou seja, comunicação franca de sentimentos, assim como uma livre troca recíproca de
informações, promovem o sentimento de felicidade nos cônjuges, que possibilita uma maior frequência
ou nível de afetos positivos (prazer, bem-estar, otimismo, resiliência, esperança, etc.), deste modo,
propicia a satisfação de vida do indivíduo (Sternberg, 1989; Scorsolini-Comin, 2009; Seligman, 2004;
Galinha, 2008)
Em se tratando da satisfação de vida, esta apresentou esta apresentou correlação positiva com
a intimidade emocional e sexual (r =0,39, p < 0,01) e a intimidade social (r = 0,22, p < 0,01); e correlação
positiva marginal com a intimidade intelectual (r = 0,28, p < 0,01). Revelando que quanto mais os
cônjuges desfrutam da intimidade em seu relacionamento mais eles tendem a apresentar um bom nível
de satisfação de vida. Balão (2012), afirma nesse sentido, que as relações onde encontram-se maiores
níveis de intimidade são relações mais saudáveis, pois promovem mais qualidade de vida e satisfação
para ambos os elementos da relação. Em um estudo realizado por Schlösser (2014), que objetivou
realizar a comparação entre cônjuges satisfeitos e insatisfeitos, verificou-se que a satisfação aumenta
quando o parceiro vivencia as dimensões da intimidade no relacionamento amoroso.
Por fim se observou correlação negativa entre a intimidade emocional e sexual (r = -0,46, p <
0,01), a intimidade intelectual (r = -0,38, p < 0,01) e a intimidade social (r = -0,22, p < 0,01) e a saúde
geral.
Foi observado também no presente estudo uma correlação negativa entre os construtos da
intimidade e a saúde geral, assinalando que quanto mais intimidade compartilhada entre o casal, menor
o índice de problemas de saúde mental. Corroborando com o estudo realizado por Santos e Comin
(2010), apontando que quanto menos os casais vivenciam a intimidade, mais afetos negativos tendem
a serem manifestos, deste modo, contribuindo para que as relações maritais sejam insatisfatórias, e
ocasionando o aumento do risco de os cônjuges apresentarem psicopatologias, de estarem expostos
à incidência de doenças mentais, físicas, de cometerem suicídio e de mortalidade em função de
doenças em geral, entre outras.
Conclusão
Todos os fatores da intimidade conjugal, do bem-estar subjetivo mostraram-se correlacionados
entre si, assim como também com o fator da saúde mental. Evidenciando que a intimidade conjugal,
contribui para a felicidade do indivíduo e influencia significativamente na saúde mental. Nesse sentido,
os resultados desta pesquisa podem ser úteis para aqueles que trabalham com a terapia de casal e
familiar, uma vez que estes profissionais podem se utilizar de um conhecimento cientifico para o
desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficientes no que tange ao relacionamento amoroso de
um modo geral.
Palavras-chave: Intimidade conjugal. Bem-estar subjetivo. Saúde mental.
Referências
Bach, G. R. & Wyden, P. (1991). O inimigo intimo: Como brigar com lealdade no amor e no casamento.
São Paulo: Summus
Diener, E. (1984). Subjective well-being. Psychological Bulletin, 95(3), 542-575.
Balão, T. S (2012). Intimidade e satisfação na conjugalidade. Dissertação de mestrado integrado em
psicologia. Universidade do porto faculdade de psicologia e de ciências da educação.
Galinha, I. & Ribeiro, P. J.L. (2005). História E Evolução Do Conceito De Bem-Estar Subjectivo.
Psicologia, Saúde & Doenças, 6 (2), 203-214.
Kaplan, H. S. (1977). A nova terapia do sexo. Rio Janeiro: Nova Fronteira.
Santo, M. A. & Scorsolini-Comin F., (2010). Teoria e Pesquisa. Satisfação Conjugal: Revisão Integrativa
da Literatura Científica Nacional. , Vol. 26 n. 3, pp. 525
Schlösser, A. (2014). Pensando Famílias.Interface entre Saúde Mental e Relacionamento Amoroso .
18(2), dez. (17-33.
Scorsolini-Comin, F. (2009). Casar, verbo (in)transitivo: Conjugalidade, bem-estar subjetivo e satisfação
conjugal na perspectiva da psicologia positiva. Dissertação de Mestrado. Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP.
Seligman, M. E. P. (2004). Felicidade autêntica: usando a nova psicologia positiva para a realização
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Sternberg, R. (1987). Liking versus loving: A comparative evaluation of theories. Psychological Bulletin
, 102, pp. 331-345.
Sternberg, R. J. (1988). El Triangulo del amor: Intimidad, passión y compromisso.
Apoio: Universidade Federal do Piaui - UFPI

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