Versão PDF - Portal Cana Online

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Versão PDF - Portal Cana Online
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Março · 2016
C Á E N TRE N ÓS
DIVULGAÇÃO: USINAS ITAMARATI
O setor sucroenergético sob a ótica feminina
Avanço tecnológico nas máquinas agrícolas derruba necessidade
da força física e abre espaço para a contratação de mulheres
A
participação feminina na agroindústria
sucroenergética ainda é muito pequena, calcula-se em torno de 15%. Mas
a tendência é aumentar, afinal 60% das vagas
nas universidades são ocupadas por mulheres.
“Elas são maioria nas graduações e nos mestrados e são mais capacitadas. As empresas
precisam buscar talentos e não podem se dar
ao luxo de não atrair essas mulheres”, diz Ana
Paula Malvestio, Sócia e Líder de Diversidade
& Inclusão na PwC Brasil.
Além da maior qualificação, fatores
como automação e mecanização no campo reduzem a necessidade da força física nas
operações sucroenergéticas, o que derruba
um grande obstáculo à contratação da mão
de obra feminina.
Esta edição especial da CanaOnline é
em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, 8 de Março. Não só a matéria de capa,
mas a edição inteira abre espaço para o tema:
o setor sucroenergético sob a ótica feminina. Da agrícola à indústria, destacamos a contribuição da mulher para o desenvolvimento
sustentável do setor.
A agroindústria sucroenergética necessita de mão de obra qualificada, as mulheres
estão se qualificando mais que os homens e o
avanço tecnológico dispensou a exigência de
força física para o desenvolvimento de muitas
práticas, como a operação de máquinas.
Então, o que ainda explica a baixa presença feminina no setor?
Será preconceito?
Se for, é melhor as empresas reverem
seus conceitos, porque aquelas que não conseguirem transpor essa barreira e não desenvolverem uma gestão aberta à diversidade,
estão fadadas a morrer.
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
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ÍN D I C E
Capa
Ah, essas mulheres!
Holofote
Soluções Integradas
-O setor sucroenergético
sob a ótica feminina
– como e onde melhorar?
-África: a última fronteira agrícola
-Meiosi com AgMusa™
é a solução perfeita
para reduzir os custos
com o plantio da cana
-Inscrições para o 3° Desafio
CanaMáxima vão até 31 de março
Sustentabilidade
Economia
-A cana-de-açúcar pode deixar
o Brasil mais sustentável
-Safra 2016/17 poderá definir quem
continua no setor sucroenergético
Tendências
Amiga da Cana
Logística
-Uma mulher de muitas paixões
-O olhar feminino
faz muita diferença
Capa
-As mulheres na Raízen
-As mulheres na Biosev
-As mulheres na Guarani
-As mulheres na Usinas Itamarati
Marketing
-Elas fazem da cana um show
Tecnologia Industrial
-Tempo curto para a manutenção
Gestão
-As belas também
são feras
Cana Substantivo
Feminino
Nordeste
-Pré-programação do V Encontro
Cana Substantivo Feminino
-Cana faz rotação com
cará e batata-doce
Editores:
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
Redação:
Adair Sobczack
Jornalista
[email protected]
Leonardo Ruiz
Jornalista
[email protected]
Marketing
Regina Baldin
Comercial
Gilmar Messias: (16) 3446-6877
[email protected]
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Editor gráfico
Thiago Gallo
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CanaOnline é uma publicação
digital da Paiva& Baldin Editora
H O LOFOTE
Marcador metabólico
N
as pesquisas com cana-de-açúcar,
Estamos atualmente em fase de validação
nesta pesquisa.
Camila Caldana, bióloga e
a biotecnologia é uma ferramen-
pesquisadora do Laboratório
ta que pode contribuir muito. Esta cultu-
Nacional de Ciência e Tecnologia
ra, do ponto de vista agronômico e pro-
do Bioetanol (CTBE/CNPEM)
dutivo, é das plantas que mais conseguem
converter energia solar em bioprodutos
ou em sacarose. Tem um grande potencial. Mas na prática o produtor quer alcançar níveis de produção cada vez melhores.
Por exemplo, quer ter planta com patamares de açúcar altos. Mas a cana tem potencial de produção maior do que o que te-
Confiabilidade
dos dados
O
Controle de Qualidade é uma área
que lida muito com documentação.
Então, creio que o segredo é alinhar o dis-
mos hoje e a biotecnologia pode ajudar
curso e aquilo que está no papel à prá-
a otimizar esse potencial. No CTBE traba-
tica. Tem uma frase de Henry Ford que
lho, juntamente com alguns parceiros, no
diz que Qualidade é fazer o certo quan-
desenvolvimento de uma nova forma de
do ninguém está olhando. Então, é isso
marcador que pode contribuir com esse
que sempre procuro passar para a minha
objetivo. Buscamos o marcador molecular
equipe. Um ambiente de usina é muito di-
metabólico, que é como se fosse uma im-
nâmico e o Controle de Qualidade tem
pressão digital do metabolismo. Todas as
que ser o exemplo. Tem sempre que fa-
características de acúmulo de biomassa e
zer o certo, pois os números que produ-
de sacarose, que são as mais importantes
zimos irão servir de base para a tomada
para o produtor, dependem do metabolis-
de decisão. Para aprimorar o nosso tra-
mo da planta. Tentamos usar esta tecnolo-
balho, buscamos sempre nos atualizar,
gia de marcador de modo que se consiga
principalmente em relação às no-
predizer a performan-
vas tecnologias na área de me-
ce no campo de de-
dição. Há tecnologias que já
terminada varieda-
são comuns em outros seto-
de ainda quando
res, mas é agora que estão
é pequena. Desta
sendo implementadas nas
forma, podemos
usinas. E temos que
encurtar o me-
estar sempre aten-
lhoramento de
tos para buscar
cana-de-açúcar
essas melhorias
convencional.
que irão pro-
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H O LOFOTE
porcionar mais confiabilidade nos nossos
e maior conhecimento sobre o setor em
dados e trazer mais retorno para a empre-
que atua, com o máximo de transparência
sa. Garantir a confiabilidade dos dados é
e credibilidade!
o nosso maior desafio, uma vez que os
Monica Santos, gerente de
nossos processos ainda envolvem muitas
comunicação da Siamig
(Associação das Indústrias
pessoas.
Wannessa Dutra, gestora de Controle
Sucroenergéticas de Minas Gerais)
de Qualidade do Grupo Jalles Machado
Profissionalização
e planejamento
Comunicação
de qualidade
P
O
setor tem que se profissionalizar. Se
ara fazer um bom trabalho na área de
comunicação, seja em qualquer setor,
pensarmos
em
profissionalização
do produtor como gestor ou empresá-
é necessário um conhecimento profun-
rio agrícola, tem que ter um bom planeja-
do e monitoramento do que ocorre. Des-
mento e boa gestão de custos. Em termos
sa forma, o comunicador estará prepara-
de tecnologia agrícola, já estamos num
do para atender todas as demandas que
bom patamar. Temos variedades responsi-
aparecem, seja no atendimento à Gran-
vas, lançadas com responsabilidade pelos
de Imprensa, Imprensa Especializada, pro-
institutos de pesquisa, a parte de ambien-
dução de artigos, trabalhos sobre o setor
te de produção que está sendo mapeada
que possam dar visibilidade às realiza-
etc. Enfim, a necessidade de avanços em
ções, participação em palestras e eventos.
tecnologia agrícola para cana já foi des-
Falo mais do ponto de vista do trabalho
perta há alguns anos. Mesmo as-
que realizo em uma instituição sindical,
sim o produtor tem dificulda-
a SIAMIG, e por isso com uma grande vi-
de grande de fazer a gestão da
são institucional e setorial. É preci-
propriedade agrícola – fluxo de
so, também, que o comunicador
caixa, gerenciamento de profis-
tenha muita sensibilidade para
sionais capacitados, treina-
entender as necessidades de co-
mento de funcionários
municação das diversas áreas
etc. Vejo que a gestão
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envolvidas, seja ambien-
é o grande gargalo,
tal, jurídica, trabalhista,
tanto para as gran-
administrativa, no sen-
des indústrias como
tido de contribuir para
para os produtores,
o
principalmente para
desenvolvimento
Março · 2016
o médio e pequeno módulo agrícola. Se
zante e dos resíduos com valor nu-
pensarmos em produtividade e redução
tricional. Nenhuma perda poderá
de custos, temos nas mãos uma ferramen-
ser tolerada. Assim, espera-se
ta importante de ganho de competitivida-
um melhor manejo da vinha-
de para o produtor e para o setor como
ça e da torta de filtro, dis-
um todo.
tribuindo esses resíduos de
Renata Morelli, gerente de Tecnologia
forma a economizar ao má-
Agrícola e Inovação da Coplana
ximo os fertilizantes minerais. Análises de solo e técnicas de agricultura de precisão deverão racionalizar
Há muito a ganhar
ao longo do ciclo
A
vançou muito a nutrição em cana-de
-açúcar. Ocorre que o sistema de pro-
dução é dinâmico: adicionamos novas formas de plantar, novas formas de preparar
o solo, às vezes com sulcos profundos, às
vezes sem preparo do solo, com plantio
direto. Deixamos a palha sobre o solo, incluímos novas máquinas, mudamos espaçamentos, sulcos duplos, canteiros, mudas pré-brotadas. Ou seja, a adubação tem
que acompanhar essas mudanças do sistema de produção. Para algumas dessas
mudanças são necessários experimentos
o uso de fertilizantes minerais, aplicando
doses maiores apenas onde for necessário
e respeitando as diferenças do terreno. O
conhecimento do canavial, dos ambientes
de produção e das variedades ajudará na
decisão de quanto, como e quando aplicar os fertilizantes. Os ganhos que o produtor poderá obter são uma somatória de
pequenos ganhos e economias conseguidos ao longo do ciclo.
Raffaella Rossetto, pesquisadora
científica da APTA (Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios – polo de
Piracicaba) e do Programa de Cana-deaçúcar do Instituto Agronômico (IAC)
de adubação, atualizando o requerimento
de novas variedades mais produtivas, com
o manejo adequado. Temos muita tecnologia, fertilizantes especiais, fertilizantes foliares, produtos enraizadores, hormônios,
mas muitas vezes não sabemos como fazer
o melhor uso dessas tecnologias e, nesse
Fomento à presença
das mulheres
C
om relação à posição da mulher no
mercado de trabalho, toda a socieda-
de tem que evoluir, e em todas as ativida-
sentido, vejo que o setor poderia melhorar
des econômicas. É verdade que as mulhe-
bastante. Neste setor, as novas tendências
res têm despontado e conquistado espaço.
dizem respeito à máxima redução de cus-
Inclusive têm buscado muita capacitação.
tos e ao maior aproveitamento do fertili-
As pesquisas mostram que elas já se qua-
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H O LOFOTE
lificam mais que os homens hoje em dia. A
e necessita urgentemente reduzir seus cus-
mulher está buscando conhecimento. O se-
tos de produção. Dessa forma, aumentar a
tor sucroenergético, em especial, tem que
produtividade deve ser o foco da gestão das
aproveitar que essa mulher está cada vez
usinas. A mão de obra deve ser um item im-
mais qualificada. Isso é positivo para
portante para se alavancar, seja com auto-
elas e também para as companhias.
mação, seja com maior eficiência e eficácia
Afinal, estudos indicam que a che-
nos processos agrícolas. Há muitos obstá-
gada de mulheres a cargos de alta
culos que se interpõem, como as exigências
liderança resulta em crescimen-
trabalhistas e regulamentações crescentes,
to para a empresa. Mas para o se-
algumas sem quaisquer nexos, e também
tor sucroenergético avançar ain-
os paradigmas de gestores e executivos do
da mais em relação ao que já
nosso setor. Mesmo assim, sou muito oti-
evoluiu até agora, tem que
mista da evolução que poderemos atingir
continuar buscando essa população femi-
num curto espaço de tempo. Justamente
nina que está disposta a se qualificar e a
por isso, estou criando uma empresa, a ETA,
aproveitar as oportunidades, continuando
especializada em tecnologias úteis e baratas
a incentivá-las a se capacitarem. Além de
para aumentar a eficiência no setor sucroe-
abrir espaço para elas em cargos de lide-
nergético e no agronegócio em geral. Nos-
rança. Temos que fomentar cada vez mais
so primeiro lançamento, que deverá ocorrer
a presença da mulher nas nossas empresas.
em mais alguns meses, será um controlador
Alessandra Rosa Abrahão
eletrônico de tratores que avisará ao mesmo
Orlando, gerente de Recursos
tempo o operador da máquina e o celular
Humanos para Área de Etanol,
dos responsáveis no caso de quaisquer ine-
Açúcar e Bioenergia da Raízen
ficiências e irregularidades que aconteçam
na operação. A ideia é que os operadores
participem de forma mais efetiva da gestão
Inovações para
enfrentar a queda
de produtividade
A
credito que o setor sucroenergético,
na sua parte agrícola, deve avançar em
operacional e tenham maior disciplina, resultando em eficiência, eficácia e qualidade.”
Tereza Peixoto, PhD em agronomia
e diretora da ETA (Eficiência e
Tecnologia para o Agronegócio)
inovações e soluções tecnológicas para enfrentar a persistente queda de produtividade que vivenciamos desde o fim da década passada. A indústria da cana está inserida
em um cenário de elevada competitividade
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TE N D ÊN CIAS
Apostar na África como
futura grande produtora
de alimentos não é zebra
África:
a última fronteira agrícola
DE ACORDO COM ESTUDOS ANALISADOS PELA PWC,
O CONTINENTE AFRICANO POSSUI IMPORTANTES
RECURSOS PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
Daniela Coco1 e Luiz Barbosa2
O
aumento da população mundial
são sobre os recursos alimentares do mun-
e o crescimento da urbanização
do. A grande questão é: como alimentar
têm colocado uma grande pres-
uma população que se torna maior a cada
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Março · 2016
dia e que, gradativamente, deixa o campo
passando de produtora de alimentos para
consumidora?
bilhões, de acordo com o Banco Mundial.
Além disso, enquanto a média de
crescimento populacional no mundo no
A resposta dessa pergunta leva o
período de 2010 a 2050 deve ser de 0,8%
mundo a se preocupar com a Segurança
ao ano, na maioria das nações africanas os
Alimentar que, de acordo com a definição
níveis estimados são superiores a 2%. Já a
do Banco Mundial, compreende “o acesso
taxa de urbanização no mundo deve cres-
por parte de todos, todo o tempo, à quan-
cer 14,7%, entre 2010 e 2050, enquanto na
tidade suficiente de alimentos para levar
África esse crescimento deve ser na ordem
uma vida ativa e saudável”.
de 20%, segundo as Nações Unidas.
Os países buscam garantir um de-
Desse modo, fica evidente que a Áfri-
terminado nível de autossuficiência ali-
ca terá que aumentar a sua produção de
mentar para depender o menos possível
alimentos nos próximos anos e, de acordo
do comércio internacional de alimentos.
com estudos analisados pela PwC, o con-
A África, em especial, é consciente de que
tinente possui importantes recursos para
a sua situação atual exige mais atenção.
isso, como disponibilidade de terras, água
Hoje, o continente é bastante dependente
em abundância e mão de obra abundan-
das importações de alimentos para suprir
te. A África Subsahariana, por exemplo, é
o seu abastecimento, com um déficit anu-
uma das regiões com maior potencial de
al na balança comercial agrícola de US$ 35
expansão de terras agrícolas no mundo. A
Alto crescimento populacional
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TE N D ÊN CIAS
região conta com cerca de 400 milhões de
hectares de terras agricultáveis, localizadas em clima tropical e com precipitações
anuais médias variando entre 800 e 1.200
mm. Atualmente, menos de 10% dessa
área é utilizada para agricultura, de acordo com o Banco Mundial.
Embora os solos dessa região sejam,
em geral, de baixa fertilidade, eles podem
ser corrigidos, propiciando assim excelentes níveis de produtividade, a exemplo
do que aconteceu recentemente no Brasil,
nas regiões de fronteira agrícola do Mara-
A África é bastante dependente
das importações de alimentos
para suprir o seu abastecimento
nhão, Piauí e Tocantins.
Portanto, o que de fato merece aten-
por potencializar os recursos existentes e
ção na África são as políticas de fomen-
transformar o continente em um impor-
to à agricultura, que serão responsáveis
tante player global, capaz de suprir a sua
demanda interna e também
auxiliar no abastecimento
de outras regiões.
É neste contexto que
surgiram os chamados “corredores (ou ilhas) agrícolas”,
cuja ideia central é identificar
regiões com potencial agrícola e traçar estratégias de
desenvolvimento específicas
para cada uma delas. Este
plano já está em andamento
em alguns países, como Nigéria, Angola, Gana, Moçambique, Zâmbia e Tanzânia.
A África necessita de políticas
de fomento à agricultura
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Uma das contribuições
do Brasil à África é
a transferência de
conhecimento agrícola
Vale ressaltar que o
plano já deu certo em outras partes do mundo, como
os pampas argentinos, a estepe russa, a planície norte
-americana e o desenvolvimento do Cerrado brasileiro.
Hoje, o Cerrado é a maior região agrícola do Brasil, mas,
até meados de 1960, sua produção era pe-
mento em terras, transferência de conhe-
quena. Investimentos em pesquisa, desen-
cimento, internacionalização de empresas,
volvimento de tecnologias, aliados ao me-
exportação e abertura de mercados, são al-
lhoramento da infraestrutura e apoio dos
gumas das possibilidades de negócios para
setores público e privado, foram essen-
empresas e investidores brasileiros. Assim,
ciais para transformar a região.
o Brasil tem condições de participar mais
ativamente do desenvolvimento da agri-
O desenvolvimento
agrícola da África traz
boas oportunidades
também para o Brasil
cultura na África e contribuir não somente
na geração de benefícios para o continente, como também para a expansão da fronteira agrícola e da agricultura global.
A África, desse modo, é muito comparada ao Brasil pela semelhança em termos de clima, solo e topografia. A expectativa é que a agricultura africana
testemunhe uma transformação ao longo das próximas duas décadas, da mesma
forma como ocorreu no Brasil nos últimos
quarenta anos.
O desenvolvimento agrícola da África
traz, portanto, boas oportunidades também
para o Brasil. Produção agrícola, investi-
Gerente de
Agribusiness da PwC
Brasil, Engenheira
Agrônoma com
especialização
em lácteos
1
Gerente de
Agribusiness da PwC
Brasil, especialista
em inteligência de
mercado e cooperação
internacional agrícola
2
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SU S T E NTABILIDAD E
A cana-de-açúcar pode deixar
o Brasil mais sustentável
NOS CANAVIAIS ESTÃO ADORMECIDAS TRÊS USINAS DE BELO MONTE;
ESSA ENERGIA LIMPA EQUIVALE A MAIS DE 13.000 MEGAWATTS MÉDIOS
Da esquerda para direita: Mauro Cardoso - Ceo Zanini Renk, Carlos Dinucci - Diretor
Presidente Usina São Manoel, Sérgio Nicoletti - Diretor Superintendente Usina São
Manoel, e Marcos Martins - Coordenador de Vendas Bioenergia Zanini Renk
N
a última década muito se falou
apostando todas as suas fichas na explo-
sobre sustentabilidade. O tema
ração do pré-sal, apesar de ser o detentor
foi pauta de discussões entre pa-
da maior quantidade de energia renová-
íses desenvolvidos em busca de consenso
vel por km² do mundo. Recentemente, na
para reduzir os fortes impactos ambien-
reunião da COP-21, em Paris, o mundo se
tais que têm afetado o clima do planeta.
propôs a ser, o mais rápido possível, neu-
O Brasil vem na contramão deste processo
tro em carbono. Esta grande vitória para o
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A bioeletricidade apresenta a maior vantagem entre todas as formas
de geração que estão atualmente disponíveis em larga escala
planeta deverá, no médio e longo prazos,
e gradativa na matriz energética brasileira.
obrigar países e organizações a aumentar
Essas mesmas barreiras deverão
suas eficiências energéticas em todos os
ser superadas para que a bioeletricida-
seus processos econômicos.
de, energia limpa e renovável, produzida
É verdade que muitas transforma-
a partir da queima de resíduos da cana-
ções ocorreram nos últimos anos em fa-
de-açúcar (bagaço e palha) em caldeiras
vor da sustentabilidade. Dentro do con-
de alta pressão tenha uma participação
texto do setor sucroenergético, mudanças
mais efetiva na matriz. O Brasil pode ge-
consideráveis ocorreram e grandes lutas
rar mais de 13.000 megawatts médios de
foram travadas para qualificar o etanol
energia limpa, o que equivale a três usi-
como combustível renovável no mundo
nas de Belo Monte. A vantagem ambiental
todo. Apesar dos avanços em promover
em relação às usinas termelétricas movi-
o etanol internacionalmente, ainda exis-
das a óleo combustível é a maior entre to-
tem várias barreiras a superar como a cria-
das as formas de geração que estão atu-
ção de políticas internas de longo prazo
almente disponíveis em larga escala. Além
para inserir a biomassa de forma definitiva
disso, trata-se de uma fonte típica de ge-
17
SU S T E NTABILIDAD E
ração descentralizada, que se interliga aos
rando a falta de recursos e todas as incer-
troncos principais do sistema elétrico e
tezas advindas de um mercado ainda não
que pode implementar tecnologia para
regulamentado. Algumas usinas merecem
uma geração distribuída.
destaque especial pelos trabalhos e conquistas, como a Usina São Manoel, eleita
O setor investe para ser
cada vez mais sustentável
pela revista Globo Rural a campeã em sustentabilidade no ano de 2015.
Apesar de todos os revezes causados
A base do modelo de negócios da
pela falta de políticas e regulamentações,
Usina São Manoel é sua gestão focada no
o setor sucroenergético tem se preparado
aumento da eficiência com foco na redu-
para atender todas as exigências ambien-
ção dos custos de produção. O diferencial
tais para minimizar seus impactos. Um
da São Manoel é a preocupação com as
exemplo importante foi a introdução da
pessoas. Já faz parte da cultura da empre-
mecanização da colheita da cana que até
sa os consideráveis investimentos anuais
há pouco tempo era queimada, liberando
em treinamentos, visando a conscientiza-
monóxido de carbono e partículas na at-
ção para um resultado sustentável.
mosfera. Investimentos em tecnologias e
O caminho trilhado foi longo. Des-
capacitação de pessoas foram necessários,
de sua fundação, a usina investe em proje-
permitindo reduzir consideravelmente a
tos sociais e publicou seu primeiro balan-
colheita manual da cana-de-açúcar em di-
ço social em 2007, seguindo os padrões
versos estados brasileiros.
de sustentabilidade do Global Reporting
É notável a evolução do setor sucro-
Initiative (GRI), que contempla indicadores
energético na busca por tornar seus pro-
econômicos, sociais, ambientais e de go-
cessos cada vez mais sustentáveis, seja em
vernança. A usina estruturou uma área de-
sua lavoura, indústria ou gestão, conside-
dicada à sustentabilidade responsável por
É preciso criar políticas
internas de longo prazo para
inserir a biomassa de forma
definitiva e gradativa na
matriz energética brasileira
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dar o suporte necessário aos gestores em
seus processos.
Práticas sustentáveis foram adotadas como a reutilização de 96% de toda
água utilizada no processo industrial. Com
essa indicação, a usina tem indicadores de
0,7m3 de água por tonelada de cana. Os
investimentos em sustentabilidade na atual safra foram de R$ 15 milhões, representando 16,7% do total de investimentos realizados na usina.
A moagem da São Manoel na safra
2016/17 será de 4,3 milhões de toneladas
de cana, mas a usina tem planos de aumentar sua capacidade de moagem para
4,5 milhões de toneladas de cana na sa-
Relatório de Sustentabilidade da
Usina São Manoel seguindo os
padrões de sustentabilidade do
Global Reporting Initiative (GRI)
fra 2017/18.
Tecnologia de ponta contribui
para a sustentabilidade
da São Manoel
nini Renk, a tecnologia dos acionamentos
Investimentos importantes em tec-
celente performance em diversas usinas
nologias de ponta são realizados pela Usi-
no Brasil e no exterior. Estamos fazendo as
na São Manoel para viabilizar o aumento
primeiras trocas dos rolamentos após 18
de produtividade e a disponibilidade ope-
anos de uso, sem intervenções nos redu-
racional de seus processos. Um exemplo é
tores”, afirma Cardoso.
Torqmax® é patenteada. “Os acionamentos operam há mais de 20 safras com ex-
a modernização do processo de moagem
O próximo passo do plano de inves-
da cana-de-açúcar da usina, em que qua-
timentos da São Manoel é a modernização
tro ternos de moendas de 90” já são acio-
de sua unidade de cogeração de energia.
nados pela tecnologia consagrada dos redutores Torqmax® da Zanini Renk.
O cuidado com as áreas de preservação permanentes localizadas dentro da
Esta tecnologia revolucionária é re-
usina é outro diferencial da Usina São Ma-
conhecida mundialmente pela confiabili-
noel, que investiu nos últimos sete anos
dade operacional deste equipamento. De
R$ 3,2 milhões na recuperação de 100%
acordo com Mauro Cardoso, Ceo da Za-
de suas áreas verdes.
19
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
Meiosi com AgMusa™ é a
solução perfeita para reduzir os
custos com o plantio da cana
DE ACORDO COM PRODUTOR, SISTEMA POSSIBILITA REDUÇÃO
EM TORNO DE R$ 2 MIL POR HECTARE NO PLANTIO DE CANA
Participantes do Dia de Campo AgMusa em Meiosi conferem o sistema
Leonardo Ruiz
“E
u dou um Fusca Zero para
da, a Belo Horizonte, localizada em Jabo-
quem encontrar falhas de plan-
ticabal, SP, para o 3º Dia de Campo Ag-
tio na linha de mudas com Ag-
Musa™ em Meiosi, organizado pela BASF
Musa™ na minha área de Meiosi.” O de-
em parceria com a Coplana - Cooperativa
safio foi proposto pelo produtor Ismael
Agroindustrial.
Perina Jr, que abriu as portas de sua Fazen-
20
Ao longo do evento, que reuniu cer-
Março · 2016
Perina:
“AgMusa em
Meiosi é joia!”
ca de 200 participantes, Perina apresen-
práticas agronômicas. Por isso, comemora
tou os resultados que vem obtendo com a
a parceria com a BASF no desenvolvimen-
adoção do sistema AgMusa em Meiosi. Pe-
to do sistema de plantio do AgMusa™ em
rina busca a excelência da produção. Com
Meiosi (Método Interrotacional Ocorren-
uma área de 480 hectares com cana, sua
do Simultaneamente). Perina foi pioneiro
média de produtividade é superior a 100
em adotar o sistema de Meiosi, plantan-
toneladas por hectare e há talhões com
do as mudas AgMusa™ com o amendoim.
cana já no oitavo corte e que produzem
Há quatro anos, ele plantou duas ruas
85 toneladas por hectare.
com MPB com o intuito de cobrir outras
A estratégia para alcançar esses ín-
10 onde havia amendoim. Porém, a quali-
dices é unir inovações tecnológicas com
dade das mudas e o solo propício fizeram
Dia de Campo promovido pela BASF e pela Coplana reuniu cerca de 200 participantes
21
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
com que o sistema superasse as expectativas: uma única linha de cana gerou mudas para 11 ruas.
De lá para cá, as vantagens foram
ampliadas, entre elas, a taxa de multiplicação, que, para o produtor, é o segredo
do negócio. Na área demonstrada durante o Dia de Campo, a taxa de multiplicação esperada é de 1 para 16, sendo que
já existem outras áreas onde o número
é ainda maior: 1 para 20. “Quanto maior
for a proporcionalidade, mais barato fica
e mais lucro sobra no final do mês. É voltar a plantar cana do jeito que ela deve ser
plantada”, afirma Perina.
Já entre os benefícios decorrentes da
utilização das mudas AgMusa™ nesse sistema estão: a redução de custos na forma-
Área de AgMusa em Meiosi com soja
ção de viveiros e implantação do canavial
comercial; maior velocidade na introdu-
mudas e formação de canavial comercial
ção de novas variedades; incremento de
com viveiro de mudas de alta qualidade.
sanidade (menor risco da ocorrência de
Ao tombar essa cana sadia em solos
doenças como raquitismo e escaldadura);
revigorados por outras culturas, o desem-
eliminação de riscos de transporte e intro-
penho é turbinado. As leguminosas, com
dução de pragas (Sphenophorus levis) via
destaque para o amendoim, feijão e soja,
são as preferidas dos
produtores por sua
capacidade de fixar
nitrogênio direto da
atmosfera, por sim-
Área de AgMusa
em Meiosi com
amendoim e cana
tombada na linha
22
Março · 2016
biose, além de promover uma renda extra
tores que adotarem a Meiosi juntamen-
no caixa. Porém, as plantas denominadas
te com o sistema MPB terão redução nos
“Adubos Verdes”, como a Crotalária, estão
custos de plantio em até R$ 2 mil por hec-
ganhando espaço dentro do setor cana-
tare, devido ao menor uso de mudas, ren-
vieiro devido às suas características reci-
tabilidade auxiliar na cultura intercalar e
cladoras, recuperadoras, protetoras, me-
maior quantidade de cana entregue à usi-
lhoradoras e condicionadoras de solo. No
na. “Em uma área de 10 hectares, são R$
dia de campo na fazenda Belo horizonte o
20 mil a mais no bolso.”
visitante pode conferir a Meiosi com essas
diversas opções.
Tem que namorar a área
Para melhorar ainda mais o resulta-
Economia que chega a
R$ 2 mil reais por hectare
do e a redução de custos de plantio, o sis-
O produtor Ismael Perina afirma que
AgMusa™ precisa de carinho. Tem que na-
vê a Meiosi como uma chance de virada,
morar a área, como afirma Ismael Perina.
principalmente para os pequenos e mé-
“Deve-se usar produtos de qualidade, fa-
dios produtores. “O agricultor que possui
zer roguing e realizar uma adubação mais
dois ou três alqueires por ano para plan-
parcelada.”
tema de Meiosi com Mudas Pré-Brotadas
tar e entrega para a usina fazer essa ope-
Durante o Dia de Campo, o técnico
ração, irá passar o ciclo inteiro sem lucro,
agrícola da Fazenda Belo Horizonte, Agui-
por conta do custo que será cobrado. Des-
naldo Carlos Siqueira, explicou aos parti-
sa forma, se ele quiser se manter no negó-
cipantes os procedimentos realizados para
cio, não poderá abrir mão desse sistema.”
a correta implantação e manutenção das
Além de possuir um canavial sadio e
produtivo, Perina salienta que os produ-
Mudas Pré-Brotadas.
Ele salienta que tudo começa com
um preparo de solo diferenciado, aonde são deixados canteiros para receber as
Perina fala sobre Redução
no valor do plantio
com o sistema
muda pré-brotada
AgMusa em Meiosi:
é de pelo menos 2
mil reais por hectare
mudas, visando obter um bom pegamento e evitar bolsões de ar. Na Fazenda, o espaçamento escolhido foi de 60 cm e as variedades utilizadas foram as: RB 96-6928,
RB85-5156 e CTC 4.
Na hora do plantio, foi utilizada a
plantadora de AgMusa™, desenvolvida
pela BASF especialmente para esta finali-
23
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
Área de AgMusa em
Meiosi com feijão e a
cana tombada na linha
dade. A máquina, adaptada para o plan-
colocando na pinça que realiza o plantio.
tio semimecanizado de cana e que realiza
Outras duas pessoas caminham ao
a sulcação e toda a operação de adubação
lado da máquina para retirar as bande-
e aplicação de defensivos, é acoplada no
jas do suporte e colocá-las no saca-mu-
sistema de três pontos de um trator. Além
das para que as mudas fiquem soltas, fa-
do operador do trator, duas pessoas vão
cilitando o posterior manuseio. Essas
sentadas retirando as mudas da bandeja e
mesmas duas pessoas podem, ainda, co-
Área com MPB AgMusa na fazenda Belo Horizonte:
sanidade e alta taxa de pegamento
24
Março · 2016
Após o plantio das mudas, um tra-
Produtores
conferem, de perto,
plantadora de
AgMusa da BASF
durante 2° dia de
campo AgMusa™
em Meiosi
tor ou um caminhão entra na área, aplicando de 4 a 5 litros de água por planta.
“Fazemos isso para garantir o vigor inicial
e o desenvolvimento das plantas”, explica
Aguinaldo Carlos Siqueira.
Ele afirma, ainda, que 20 dias antes
da desdobra são realizados alguns levantamentos para verificar o número de ge-
brir possíveis falhas do processo, utilizan-
mas por metro linear a fim de saber se ha-
do a matraca para deixar o plantio perfei-
verão gemas suficientes para fechar a área.
to na área. A velocidade da plantadora é
“Fazemos também testes de porcentagem
de 2 km/h e o rendimento médio é de 2 a
de germinação, em que coletamos alguns
3 ha/dia.
colmos por acaso e os colocamos numa
Vale ressaltar que a disponibilização de uma plantadora faz parte da po-
caixa de brotação. No ano passado, registramos quase 100% de brotação.”
lítica da BASF, de não entregar apenas a
muda, mas um sistema completo, que vai
Alta taxa de multiplicação
garantir o sucesso da tecnologia. Porém, a
Durante o Dia de Campo AgMusa™
máquina é disponibilizada pela BASF ape-
em Meiosi, o gerente de Novos Negócios
nas para plantios acima de cinco hectares.
da BASF, Nilton Degaspari, fez a seguinte
Para áreas menores, recomenda-se utili-
pergunta aos presentes: Quantos hectares
zar a matraca, que requer quatro pessoas
de plantio são feitos a partir de um hecta-
para fazer um hectare por dia. Perina ob-
re de cana nos sistemas convencionais de
serva que não há dificuldade neste plan-
plantio manual e mecanizado? As respos-
tio manual.
tas foram de 1 para 4 no mecanizado e 1
para 10 no manual. “Aqui nós falamos de
Confira os detalhes
da Meiosi com
MPB (muda prébrotada) realizada
na fazenda Belo
Horizonte, em
Jaboticabal, SP
1 para 16 e com possibilidades de 1 para
20”, disse Degaspari.
Esse, aliás, foi um dos motivos que
levaram o produtor Delson Luiz Palazzo a
investir no Sistema de Meiosi em sua propriedade. No início, a taxa de multiplicação era de 1 para 8. Atualmente, esse número é de 1 para 14. “Comecei essa nova
25
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
“Aqui nós falamos de 1 para 16 e com possibilidades de 1 para 20”, disse Degaspari
técnica há dois anos e só tenho visto ga-
enças. Dessa forma, é possível obter um
nhos até o momento.” Este ano, o produ-
canavial com uma produtividade diferen-
tor plantou 50 hectares de Meiosi, sendo
ciada em relação ao sistema convencional
que a expectativa para os próximos anos
é fazer 100% da área de reforma com essa
tecnologia. “Com isso, acredito que ganharei em produtividade, saindo das atuais 110 toneladas por hectare de média e
atingindo 120 t/ha.”
Delson Luiz Palazzo, que também é
presidente da Socicana (Associação dos
Fornecedores de Cana de Guariba) e diretor financeiro da Coplana, afirma que
o ganho de qualidade obtido com esse
sistema é muito grande. “Com ele, você
planta com a certeza de que está utilizando um material vigoroso, com tratamento térmico, sem pragas de solo e sem do-
26
Delson Luiz Palazzo: “No início, minha
taxa de multiplicação era de 1 para 8.
Atualmente, esse número é 1 para 14”
Março · 2016
que vínhamos utilizando há décadas.”
tecnologia. “Embora esteja bem divulgada
Além do ganho em qualidade, Pa-
no mercado, para o produtor tem que ficar
lazzo ressalta, também, os ganhos finan-
claro que é uma bela ferramenta para di-
ceiros. “A redução nos custos de implan-
minuir custo, garantir qualidade e aumen-
tação do canavial passam a ter ainda mais
tar a produtividade.”
importância dentro do momento eco-
Para Gil, cultivar mudas pré-brotadas
nômico financeiro que o setor atravessa
em sistema de Meiosi é a tendência do se-
No sistema de Meiosi, a cana-muda sai da linha de cana direto para a linha de plantio,
sem necessidade de transporte, como observaram os participantes do Dia de Campo
atualmente.”
tor. “O produtor que quiser ficar no negó-
Presente no Dia de Campo, o geren-
cio, buscando eficiência e produtividade,
te comercial da Coplacana (Cooperativa
tem que partir para as mudas pré-brota-
dos Plantadores do Estado de São Paulo),
das e para a Meiosi, porque formar mu-
Marcelo Alex Gil, afirma que é importante
das com qualidade é o alicerce do negó-
para os produtores e técnicos das entida-
cio, buscando alta produtividade desde a
des ampliarem o conhecimento sobre essa
implantação do canavial.”
27
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
“Não adianta encher o
sulco de plantas ou mudas”
De acordo com Nilton Degaspari, no
passado, era comum encher o sulco de
planta ou de muda. “Muitos ainda falavam,
com orgulho, que seus canaviais pareciam
repolhos, o que não adiantava nada, pois,
dessa forma, os brotos competem entre si
por água e nutrientes e acabam morrendo, fazendo com que, na hora da colheita, sobrem apenas 12 colmos por metro”,
afirma.
Segundo José Marcos Paro a quantidade
de gemas por metro caiu de 18 no
plantio mecanizado para 10 na Meiosi
Já no sistema de Meiosi, Degaspari observa que a quantidade de nove ge-
a quantidade de gemas por metro caiu
mas por metro é mais do que o suficiente.
de 18 no plantio mecanizado para 10 na
“Mesmo assim, a possibilidade de falhas
Meiosi. “Já utilizamos esse sistema há três
é mínima, pois a porcentagem de brota-
anos e só vejo benefícios até agora. Além
ção será de, no mínimo, 90%.” Na Fazenda
do custo mais atrativo, consigo, também,
Belo Horizonte o número de toneladas de
um canavial com muito mais qualidade.”
cana no sulco por hectare caiu de 25 para
4,5 t/h.
Outra vantagem apontada por Paro
é a velocidade de multiplicação. “Agora
Outro produtor que se beneficiou da
é possível fazer a primeira multiplicação
menor quantidade de cana dentro do sul-
com uma cana de 5 a 6 meses. No plan-
co de plantio foi o José Marcos Paro, da
tio convencional, demoraria o dobro de
Agropecuária Irmãos Paro. Segundo ele,
tempo.”
Marcelo Alex Gil:
“O produtor que quiser
ficar no negócio,
buscando eficiência
e produtividade, tem
que partir para as
mudas pré-brotadas
e para a Meiosi”
28
Março · 2016
Inscrições para o 3° Desafio
CanaMáxima vão até 31 de março
CTC E BASF LANÇAM 3° DESAFIO CANAMÁXIMA. AÇÃO VISA INCENTIVAR
O SETOR A BUSCAR A MÁXIMA PRODUTIVIDADE DOS CANAVIAIS.
INSCRIÇÕES PELO SITE: WWW.DESAFIOCANAMAXIMA.COM.BR
Canavial com alta produtividade é a meta do CanaMáxima
Leonardo Ruiz
N
o final do ano passado, duran-
dalidade Cana-soca”, campanha inovado-
te o 14º Seminário Produtividade
ra idealizada pelo Centro de Tecnologia
e Redução de Custos da Agroin-
Canavieira (CTC), em parceria com a BASF.
dústria Canavieira, realizado pelo Grupo
O Projeto, lançado em 2014, sur-
IDEA, em Ribeirão Preto, SP, quatro usinas
giu decorrente do fato de que, enquanto
foram consagradas campeãs do “1° Desa-
a produtividade de culturas como milho
fio CanaMáxima Mais Produtividade - Mo-
e soja cresceu de forma relevante ao lon-
29
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
Vencedores do 1º Desafio CanaMáxima CTC-BASF: Raizen-Jataí,
Araporã Bioenergia, Delta Sucroenergia e UMOE Bioenergy
go dos últimos anos, a da cana-de-açúcar
a cana realmente pode mais. “Em 2015,
não tem refletido este crescimento, seja
contamos com a participação das princi-
por fatores operacionais, financeiros e/ou
pais usinas do Brasil, sendo que os resul-
climáticos. “O Desafio CanaMáxima tem
tados obtidos foram impressionantes. As
como objetivo criar um ambiente que esti-
áreas inscritas apresentaram produtivida-
mule as equipes técnicas dos participantes
des muito superiores às médias regionais,
a desafiar seus conhecimentos, utilizar as
demonstrando o potencial de uso de no-
ferramentas tecnologicamente avançadas
vas variedades e outras tecnologias já dis-
disponíveis e incentivar o desenvolvimen-
poníveis no mercado”, relata Pavani. A 2ª
to de práticas de cultivo inovadoras, que
edição do CanaMáxima foi voltada para a
possibilitem conquistar a máxima produti-
Cana-Planta e também contou com a par-
vidade dos canaviais, com sustentabilida-
ticipação de 39 unidades.
de e rentabilidade”, afirma o líder de produto do CTC, Alan Pavani.
3º desafio CanaMáxima
Ao todo, o 1° CanaMáxima reuniu
A terceira edição do “Desafio de Pro-
39 participantes, que conseguiram multi-
dutividade da Cana - CanaMáxima - CTC/
plicar suas produtividades e mostrar que
BASF - Soca da Safra 2015/16” trará gran-
30
Março · 2016
des novidades, entre elas, a participação
tivos (cana, citros e amendoim) da BASF.
de produtores de cana que possuem con-
Entre os produtores rurais, unidades
trato vigente com o CTC. O líder de pro-
sucroenergéticas da região Centro-Sul e
duto do CTC, Alan Pavani, explica o moti-
seus respectivos representantes técnicos,
vo de adicionar uma modalidade voltada
a expectativa é que, neste ano, a Campa-
aos fornecedores. “Esses produtores são
nha conte com mais de 100 participantes.
responsáveis por, aproximadamente, 30%
Pavani ressalta que não existirá diferença
da produção de cana no Brasil. Dessa for-
alguma entre produtores e usinas. As re-
ma, eles também enxergam a necessidade
gras para os dois serão as mesmas. “Com
de aumentar rapidamente a produtividade
o objetivo de dar destaque e incentivar a
em suas áreas.”
participação de fornecedores de cana, nós
“Os fornecedores de cana-de-açú-
apenas dividimos as modalidades e ire-
car cada vez mais apostam em inovação e
mos incentivar a competição. É uma corri-
tecnologia para crescer e queremos apre-
da pela tecnologia.”
sentar a eles todas as possibilidades que a
E essa corrida funcionará da seguin-
combinação de variedades CTC com pro-
te maneira. Primeiramente, os interessa-
dutos BASF pode oferecer”, comenta Ca-
dos devem preencher completamente o
rulina Oliveira, gerente de marketing cul-
formulário de inscrição no site: www.desa-
Carulina e Alan: trabalhando para a máxima produtividade dos canaviais
31
SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS
fiocanamaxima.com.br até 31 de Março de
ses) e estágio de corte, resultando, por-
2016. Após a confirmação de participação,
tanto, na produtividade oficial do partici-
é preciso voltar ao site e preencher o for-
pante, dada em TAH (toneladas de açúcar
mulário de Manejo, Colheita e Resultados.
por hectare). “A utilização dos fatores de
Essa etapa começa no dia 1° de abril e vai
ajuste visa trazer a produtividade de todos
até 31 de Outubro.
os participantes para uma mesma base de
Com relação à aferição dos dados,
o líder de produto do CTC explica que as
comparação e será calculada exclusivamente pelo CTC.”
produtividades obtidas nas áreas colhidas
Os vencedores de cada categoria/mo-
serão corrigidas pelos fatores de ajuste de
dalidade serão reconhecidos pelo CTC e pela
ambiente climático (chuva e temperatura),
BASF durante evento de importância para o
ambiente edafo (tipo de solo), idade (me-
setor, que acontecerá no final de 2016.
O Desafio não permite irrigação com água, mas a fertirrigação com vinhaça é liberada
32
Março · 2016
As regras do 3° Desafio CanaMáxima
Categoria Power
Cana-Soca de CTC14, CTC9001, CTC9002 ou CTC9004M
Requisitos obrigatórios:
•Cana soca de 1º corte de cana de 18 meses, de 2º ou de 3º cortes.
•Data do corte em 2015: Entre 01/maio até 31/outubro.
•O posicionamento de época de colheita e ambiente de produção deverá seguir a recomendação regional do CTC para as variedades CTC14, CTC9001,
CTC9002 ou CTC9004M. É essencial que o participante consulte o RTV do CTC
para saber se o posicionamento da variedade está correto na sua área inscrita.
•Utilizar ao menos um produto BASF, podendo ser o fungicida Opera e/ou
o herbicida Heat. Para a utilização de outros produtos, o participante deverá consultar o RTV da BASF para mais informações.
•Área mínima: 10 ha.
Categoria Value:
Cana-Soca de CTC4 ou CTC20
Requisitos obrigatórios:
•Cana-soca de 1º corte de cana de 18 meses, de 2º ou de 3º cortes.
•Data do corte em 2015: Entre 01/maio até 31/outubro.
•Apenas ambientes A, B ou C são permitidos.
•O posicionamento de época de colheita e ambiente de produção deverá
seguir a recomendação regional do CTC para as variedades CTC4 e CTC20. É essencial que o participante consulte o RTV do CTC para saber se o posicionamento da variedade está correto na sua área inscrita.
•Utilizar ao menos um produto BASF, podendo ser o fungicida Opera e/ou
o herbicida Heat. Para a utilização de outros produtos, o participante deverá consultar o RTV da BASF para mais informações.
•Área mínima: 10 ha.
33
E CON OMIA
Safra 2016/17 poderá
definir quem continua
no setor sucroenergético
TÉCNICOS DA MBF ESTIMAM QUE A MOAGEM DA SAFRA 2016/17
SERÁ DE 630 MILHÕES DE TONELADAS, INCLUÍDOS OS 28 MILHÕES
DE TONELADAS DE CANA-BISADA DA SAFRA 2015/16
É muito arriscado achar que a safra terá muito mais de
600 milhões de toneladas de cana para processar em 2016/17
Andréia Moreno, da MBF Agribusiness
A
inda é cedo para afirmar, mas
A declaração é do diretor da MBF Agribu-
2016 pode ser um ano que ficará
siness, Marcos Antonio Françóia.
marcado pela definição de quem
Segundo ele, economicamente é o
fica ou não no mercado de açúcar e etanol.
ano da retomada para muitos grupos que
34
Março · 2016
O déficit mundial de açúcar já era previsto em 2014
estão fazendo a lição de casa, renegocian-
Para o especialista, o setor sucroe-
do o passivo e até mesmo para alguns
nergético, tão criticado até setembro de
grupos que ingressaram com o pedido de
2015, entra agora para o mesmo radar de
recuperação judicial e estão conseguindo
especialistas e investidores, que há tempo
se ajustar às exigências aprovadas nas as-
vislumbravam uma retomada para 2015 -
sembleias de credores. “Com investimen-
afinal, o déficit mundial de açúcar já era
tos na manutenção da lavoura, conjugado
previsto em 2014, porém ofuscado por di-
com a carência e o alongamento do passi-
versos fatores comerciais. “Os reflexos po-
vo e, muitas vezes, redução na taxa de ju-
sitivos somente se iniciaram no último tri-
ros e no saldo devedor, muitas empresas
mestre de 2015, mas com perspectiva de
já estão ganhando uma nova chance de
durar. Sendo assim, é o ano para as em-
recuperação econômica, pois os indicado-
presas que não têm elevadas exigências fi-
res de preço, inclusive os já praticados, ilu-
nanceiras no curto prazo e possuem pro-
minam o reflexo positivo dos planos eco-
dutos disponíveis para venda, fazerem
nômicos projetados”, diz.
caixa e retomarem a estabilização econô-
35
E CON OMIA
mica. Nesse sentido, há um movimento
por parte das instituições financeiras em
retomar as negociações, reavaliando os
planos de negócios que as empresas estão
propondo, porém, exigindo muito mais rigor técnico nas projeções.
Perspectivas de produção – Para os
técnicos da MBF, que além da especialidade em projeções econômica e gerenciamento de custos de produção convivem
diariamente no campo e na indústria, as
estimativas de moagem estão em 630 milhões de toneladas, para a nova safra, porém nesse número está parte da cana bisada da safra 15/16, estimada em torno de
Françóia: cana-bisada traz dúvidas
28 milhões de toneladas. “É uma estimativa que somente terá fundamentos mais
te da cana bisada na safra atual é matéria
plausíveis no final de fevereiro, pois muitas
-prima que trocou de ponto de moagem,
unidades continuam processando a cana,
ou seja, que saiu de usinas desativadas
diminuindo a estimativa de cana-bisada”.
ou sem condições financeiras para hon-
“Há uma confusão de números, onde
rar os compromissos com os fornecedo-
soma-se cana bisada com cana de produ-
res, passando para as empresas que estão
ção na safra e reproduz-se relatórios ou
em melhores condições econômicas, mas
informações sobre aumento de produti-
que devido ao fator clima, não consegui-
vidade nas lavouras. Sim, há aumento de
ram processar essa cana adicional.
produtividade, pois uma pequena parce-
Na entressafra, algumas usinas terão
la do setor conseguiu investir na reno-
poucos dias de parada, ou nada, antes de
vação e nos tratos culturais, porém pou-
iniciar a moagem da nova safra. Por isso,
co em expansão. Mas é muito arriscado
o especialista acredita que há dúvidas
achar que a safra terá muito mais de 600
do volume de cana bisada, ou do quanto
milhões de toneladas para processar em
será processado na safra atual. “Uma dú-
2016/17, além do que vier de cana-bisada,
vida que preocupa, pois somente será sa-
que somando-se, poderá chegar a 630 mi-
nada com um planejamento sério e com
lhões de toneladas”, revelam.
divulgação correta dos números da safra”,
Na opinião de Françóia, grande par-
36
finaliza.
Março · 2016
37
A M I G A DA CAN A
Uma
mulher
de muitas
paixões
ENCANTO PELA TERRA, PELA ARTE
DE DAR AULA, PELO COMPROMISSO
COM A COMUNIDADE ... E ATÉ POR
PROMOVER A BOA E VELHA CACHAÇA.
É A HISTÓRIA DE MUITAS PAIXÕES DA
PESQUISADORA MÁRCIA MUTTON
Clivonei Roberto
M
ineira de Sacramento, Márcia
Justino Rossini Mutton é de família de produtores rurais. Os
avós produziam cachaça e os pais se dedicavam a grãos, café e leite. Ela lembra que,
Márcia Mutton: ao passar no concurso na
Unesp de Jaboticabal, poderia dar aula,
fazer pesquisa e ter contato com o produtor
rural, fazendo extensão com a comunidade
quando pequena, adorava o período de
férias porque a família passava um tempo
Mais tarde foi parar numa cidade
na fazenda. “Ao observar a rotina rural, o
grande, Ribeirão Preto, para concluir o co-
que chamava a minha atenção era a pos-
legial, mas o encanto que sentia pelo mun-
sibilidade de usar recursos presentes no
do rural a influenciou na hora de decidir
campo para produzir alimento e manter o
pela carreira a seguir: Ciências Agrárias.
equilíbrio da cidade.” Esta lógica, de tirar
Passou no vestibular da Unesp (Univer-
da terra o sustento que mantém a vida ur-
sidade Estadual Paulista) de Jaboticabal,
bana, a fascinava.
onde concluiu a graduação em 1979.
38
Março · 2016
Miguel Mutton, Márcia e alunos durante visita, em Lençóis Paulista, ao produtor Luiz
Carlos Dalben, pioneiro no recolhimento de palha para produção de energia
Na faculdade trabalhou muito com
área, em que enxergava grande potencial.
milho, mas quis o destino colocar outra
Já formada e dando aulas, Már-
cultura, a cana-de-açúcar, em seu cami-
cia aproveitou que abrira uma vaga para
nho. Ela voltou para Ribeirão Preto para
professor de tecnologia de açúcar e ál-
fundar o curso técnico de açúcar e álcool
cool na Unesp. Voltava para Jaboticabal
de uma universidade privada. E se apaixo-
em 1981, mas agora não mais como alu-
nou. “Toda minha carreira construí traba-
na. “Aquela oportunidade me possibilitou
lhando no setor sucroenergético, desde o
dar aula, fazer pesquisa e ter contato com
início de minha trajetória profissional.”
o produtor rural, fazendo extensão com a
Mas analisando bem, seu envolvi-
comunidade.”
mento com a cana-de-açúcar é anterior.
Ela poderia colocar em prática um
Como sempre quis morar e trabalhar per-
compromisso que sempre teve ao lon-
to da família, estagiou durante a gradua-
go de sua trajetória acadêmica. “Sempre
ção em várias usinas da região de Ribeirão
gostei de fazer a ponte entre os proble-
Preto, como Martinópolis, Santa Lídia, São
mas práticos e trazê-los para dentro da
Carlos. Já acumulava conhecimento nesta
universidade para estudar e devolver uma
39
A M I G A DA CAN A
Márcia com alunas em
destilaria na cidade
de Pirassununga, SP
solução para a comunidade.
Assim entregamos uma resposta e essa é a função social da universidade, além
de qualificar profissionais.”
Sempre atenta à realidade do produtor, no mestrado Márcia se debruçou
sobre o efeito da queima no
manejo e no armazenamento da cana-de-açúcar, levando em consideração as características tecnológicas da
matéria-prima que chega à
indústria.
Mais tarde, ela mudouse para Piracicaba para
fazer o doutorado, tendo a sorte de ter o professor José Paulo Stupiello como orientador.
Com sua ajuda, ela foi
uma das primeiras pesquisadoras do país a estudar a influência das
impurezas vegetal e mineral dentro da indús-
Com alunos em aula
realizada em vinícola na
região de Louveira, SP
40
Março · 2016
tria sucroenergética. “Principalmente com
Trabalhos como esses atestam por-
o avanço da colheita mecanizada, o fato
que Márcia Mutton é das pesquisadoras
de termos levantado esse tema foi mui-
que mais se dedicam a conhecer e aper-
to importante para o setor e continuamos
feiçoar o casamento, nem sempre perfei-
envolvidos com esse assunto.”
to, entre agrícola e indústria na agroindús-
Nos anos de 1980, ela quantificou e
tria canavieira.
avaliou o impacto das impurezas sobre a
matéria-prima. Estudo que trouxe gran-
Investimento em pesquisa
de contribuição à agroindústria canaviei-
Márcia Mutton também está envol-
ra, inclusive ao indicar a necessidade de
vida em pesquisas voltadas ao etanol 2G.
aperfeiçoamento do sistema de pagamen-
“Nessa área, temos atualmente dois tra-
to de sacarose que era feito na época.
balhos sendo conduzidos envolvendo re-
Ela cita outros trabalhos aos quais se
dedicou, como o pioneirismo em estudar
síduos do bagaço, do sorgo e de outras
biomassas.”
o reflexo do ataque da cigarrinha-das-raí-
No entanto, ela concorda que a
zes à cana-de-açúcar sobre o processo de
agroindústria canavieira precisa de mais
fabricação do açúcar e do álcool.
pesquisas com etanol de primeira ge-
Fardo de palha na
indústria; nova
realidade que Márcia
acompanha de perto
41
A M I G A DA CAN A
A pesquisadora durante
palestra que realizou
no Congresso da Atalac
na Colômbia, em 2012
ração.
“Temos
garga-
los tecnológicos que não
estão
equacionados
e
precisariam ser mais bem
trabalhados.”
Ela acredita que, no
médio e longo prazo, o
setor terá grandes quebras de paradigmas a partir de novas tecnologias.
Mas ainda falta uma boa caminhada para
quando teve a oportunidade de acompa-
isso. Na sua visão, o país ainda não acordou
nhar pesquisas e processos de produção
para a necessidade de mais investimentos
de cachaça e etanol. Mas essa aproxima-
governamentais em pesquisas nessas áre-
ção foi tão marcante que, mesmo depois
as. “Não obtivemos a evolução que poderí-
de retornar a Jaboticabal, continuou sen-
amos por falta de investimento. Para o país
do procurada por produtores de cachaça
é estratégico. Investir em pesquisas vai avi-
que tinham problemas com a produção.
zinhar pra gente um futuro melhor.”
“Todo mundo tinha pesquisa em etanol, mas no caso da cachaça percebemos
Especialista em cachaça
que há particularidades, detalhes no pro-
A partir da preocupação em conectar
cesso de produção que merecem carinho,
os trabalhos feitos na universidade com a
pesquisa diferenciada.” A necessidade de
realidade, Márcia Mutton ofereceu – e ain-
aprofundar os conhecimentos nessa área
da oferece – grande contribuição a um
foi desperta quando os produtores da be-
subproduto da cana-de-açúcar que nem
bida procuraram a universidade, segundo
sempre foi valorizado: a cachaça. Nessa
ela.
área, por exemplo, avaliou o uso da pró-
Márcia motivou a organização, em
polis no controle da cachaça orgânica e a
1991, em Jaboticabal, de uma reunião que
aplicação de biomoléculas.
foi um divisor de águas para a indústria da
O interesse por este produto veio
cachaça no país. “Convidamos produto-
do período em que morou em Piracicaba,
res de Minas Gerais e São Paulo e também
42
Março · 2016
os principais pesquisadores no assunto
bre a cachaça a fim de torná-la um produ-
para exatamente estudar e discutir o pro-
to brasileiro visto com outros olhos.”
cesso de produção da bebida.” Cerca de
A iniciativa, que começou com certo
250 pessoas lotaram o auditório. O fruto
ceticismo, ganhou corpo. Várias institui-
da reunião foi uma publicação sobre pro-
ções começaram a fazer pesquisa na área.
dução de cachaça – “Aguardente de Cana:
Paralelamente, a Apex (Agência Brasilei-
Produção e Qualidade” - que é referência
ra de Promoção de Exportações) fez uma
até hoje.
pesquisa com os 50 produtores brasilei-
Antes, de maneira geral, a cachaça
ros de cachaça de maior representativida-
era tida como uma bebida de segunda ca-
de com o objetivo de identificar os garga-
tegoria. Mas depois isso mudou. Reuniões
los técnicos que impediam que a bebida
bianuais passaram a acontecer. Minas Ge-
ganhasse o mercado externo.
rais despontou como um grande produ-
“Fizemos vários cursos a fim de qua-
tor, entre outras regiões do país. “Passa-
lificar os produtores para que produzis-
mos a trabalhar em temas como produção
sem uma cachaça de qualidade. A inten-
e qualidade, além de estimular a socieda-
ção era resolver problemas que a bebida
de a quebrar o preconceito que existia so-
tinha, avaliando tanto do ponto de vista
Com o marido Miguel, à sua direita, e com o amigo José Paulo
Stupiello, presidente da STAB, no congresso Atalac - Tecnocaña
43
A M I G A DA CAN A
Márcia com o marido,
Miguel Mutton (de
camisa clara), e os filhos:
Matheus (Engenheiro
de Computação) e
Michele (Psicóloga)
da produção da cana,
do processo industrial e
das características organolépticas para que tivéssemos um produ-
150, 157 de ATR, hoje falamos de médias
to final de qualidade.”
inferiores a 130”, lamenta.
Aquela articulação deixou um lega-
Um quadro que, segundo ela, é desa-
do para a cachaça no Brasil. Tanto que ain-
fiador, e exige que agrícola e indústria se
da hoje parte dos parâmetros utilizados
organizem e tomem ações contundentes.
pelos órgãos federais nesta área é fruto
Mas como? Várias ações devem ser discu-
daquele trabalho.
tidas e implementadas. “Às vezes a solução pode ser simples, como reduzir a ve-
O impacto das impurezas
locidade da colhedora. Já o preço de não
Nos últimos anos, principalmente
se preocupar com isso pode ser alto. Jogar
com o processo acelerado de mecanização
cana com muita impureza na usina dificul-
dos canaviais, houve uma mudança de pa-
ta o processo industrial.”
radigmas. “Olhamos para máquina como
Neste caso, quando a matéria-prima
sendo a grande solução para o setor, para
chega à indústria, pode-se até adicionar
a dificuldade de mão de obra, mas a qua-
insumos para minimizar os impactos, mas
lidade da matéria-prima foi muito influen-
acaba refletindo na cor do açúcar, no cus-
ciada”, salienta.
to do processo, exige retrabalhos, há des-
A professora destaca que o setor, no
passado, tinha teores muito menores de
gaste maior dos equipamentos. Será que
vale a pena?
impurezas. Mas na proporção que cresceu
a mecanização da colheita, houve o au-
Uma “mãe” exigente
mento desse problema, e no sentido con-
Márcia é casada com o engenheiro
trário houve a queda do índice do ATR.
agrônomo Miguel Ângelo Mutton, que ela
“Um tempo atrás tínhamos uma média de
conheceu durante a graduação, nos anos
44
Março · 2016
de 1970. Na época, ele era de outra turma
do de trabalho. Nossa equipe acaba sendo
e não surgiu nada entre ambos. Mas tudo
uma grande família, e eu me realizo acom-
mudou durante a pós-graduação, quando
panhando cada um deles.”
começaram a cursar uma disciplina juntos.
Para Márcia, a dedicação à vida aca-
Eles tiveram um casal de gêmeos.
dêmica é muito gratificante. Mas assegu-
Nenhum dos dois filhos enveredou para
ra: se o aluno quer ser orientado por ela,
a área dos pais, mas isso não é problema
tem que ter disposição para trabalhar e ser
para ela, até porque se realiza “contribuin-
cobrado constantemente, como acontece
do com a formação dos alunos, que tam-
no mercado de trabalho. “Isso faz parte da
bém são ‘meus filhos’”.
construção do profissional. E os projetos
Prova disso é o grande número de
que desenvolvemos, muitos em parceria
orientações ao longo da carreira: são 40
com empresas, exigem responsabilidade.
dissertações de mestrado e mais de 10
Além disso, mostro que a sociedade espe-
doutorados. Já como orientadora de tra-
ra o resultado das pesquisas de cada um.
balhos de graduação, entre iniciação cien-
O produtor de cana, por exemplo, espera a
tífica e de conclusão de cursos, ela já
resposta dos nossos estudos, por isso não
acompanhou mais de 100 alunos. “Falo
podemos errar.”
que são meus filhos também, pois passa-
Ela é exigente, mas pelo jeito os uni-
mos a conviver por vários anos juntos. A
versitários entendem a importância dessa
gente dá conselho, me contam problemas
postura. Tanto que há uma fila de espera
e conflitos e depois comemoramos quan-
de alunos ansiosos para terem suas pes-
do conseguem uma colocação no merca-
quisas orientadas pela professora Márcia.
Ao lado das “mães” (sogra, à esquerda, e mãe, à direita)
45
C A PA
Ah, essas mulheres!
NEM MESMO AS GRANDES MÁQUINAS SÃO
OBSTÁCULOS PARA A ASCENSÃO FEMININA
Na Biosev Unidade Santa Elisa, 20 mulheres atuam na área de mecanização agrícola
Luciana Paiva e Clivonei Roberto
É
necessário ter força física, disponi-
Estas são algumas das exigências que por
bilidade muitas vezes para trabalhar
muito tempo foram impostas pelo merca-
à noite, disposição para encarar jor-
do de trabalho do agronegócio.
nada de trabalho exaustiva, em alguns ca-
Características que, somadas ao fato
sos morar em alojamentos e a liberdade
de o meio rural ser mais conservador que
de seguir os períodos de safra Brasil afora.
o urbano, limitam a participação da mu-
46
Março · 2016
47
C A PA
lher no segmento. Sabe-se que esse ce-
Mas é possível calcular que muito
nário está em transformação. A mecaniza-
desse território ainda está para ser con-
ção e automação praticamente aboliram a
quistado pelas mulheres. Tomando por
força bruta das tarefas realizadas no cam-
base a agroindústria canavieira, que além
po. A maior qualificação feminina e o fato
da área agrícola, engloba indústria, logísti-
de ocuparem 60% dos bancos universitá-
ca, mercado, pesquisa e tecnologia, calcu-
rios, até mesmo em cursos considerados
la-se que o setor empregue direta e indi-
“mais para homens”, como Agronomia,
retamente dois milhões de pessoas, sendo
contribuem para a abertura das porteiras
que, segundo estimativas não muito apro-
do mundo agro para as mulheres.
fundadas, as mulheres ocupam 15% des-
Ainda não há números corretos so-
sas vagas.
bre a quantidade de mulheres que atuam
no agronegócio brasileiro. Breve isso irá
Pura emoção
mudar, pois a ABAG (Associação Brasileira
A presença feminina nas usinas é
do Agronegócio) e a PwC irão realizar uma
mais comum nas áreas administrativas, re-
pesquisa nacional para apurar a participa-
cursos humanos, comunicação, assistência
ção feminina no campo.
social e laboratórios. Mas onde a atuação
Vanilza, motorista de rodotrem, e Luciana, operadora de
máquinas, há cinco anos trabalham na Biosev-Santa Elisa
48
Março · 2016
Quando rodotrem só
trafega pelos carreadores
da usina, transporta até
110 toneladas de cana
da mulher tem chamado mais a atenção
ela mede pouco mais de um metro e meio
é no comando de caminhões e máquinas
de altura, como é o caso de Vanilza Gon-
agrícolas. É porque as pessoas se espan-
çalves Barbosa Gomes, que trabalha há
tam ao vê-las dominando, por exemplo,
cinco ano na Biosev, unidade Santa Elisa,
“um bruto”, como os motoristas chamam
em Sertãozinho, SP, e atua como motoris-
carinhosamente os rodotrens.
ta de rodotrem.
Não é para menos, o rodotrem quan-
Vanilza, que é da cidade de Pitan-
do só trafega pelos carreadores da usina
gueiras, vizinha da usina, conta que apesar
transporta até 110 toneladas de cana. Já
quando pega estradas fora da propriedade, a carca máxima deve ser de 94 toneladas, é preciso respeitar a lei. Mesmo assim,
quando esse “bruto” se aproxima da gente, arrepia pela imponência, pela força, parece um touro.
Vanilza fala
sobre a emoção
de ser motorista
de Rodotrem
Assim fica difícil imaginar que uma
mulher consegue controlar essa fera e conduzi-la perfeitamente, ainda mais quando
49
C A PA
de ser balconista, sempre gostou muito de
volante, e na Pitangueiras Açúcar e Álcool teve a oportunidade de se aperfeiçoar e
passar a dirigir perua e ônibus. Mas foi na
Biosev que recebeu treinamento que a capacitou a dirigir o rodotrem. Atividade que
As máquinas
possuem
tecnologia de
ponta e muito
conforto
“ama de paixão e é pura emoção”.
A emoção não está só ao volante,
mas também pelo reconhecimento por dirigir uma máquina dessas. Vanilza conta
res e máquinas agrícolas era rotina para
que uma vez, após manobrar o caminhão
Luciana. Mesmo assim, ela nunca se aven-
carregado próximo a uma frente de ope-
turou a conduzir o trator da família, por
rários que recapeavam uma estrada, ao
exemplo, apesar de ter curiosidade. Mas
verem a perfeição da condução e perce-
acabou se especializando em depilação
berem que era uma mulher que dirigia o
e designer de sobrancelhas, atividades
rodotrem, os homens tiraram o capacete,
que passou a exercer em sua cidade, Pi-
colocaram no chão, a aplaudiram e lhe de-
tangueiras, isso até há cinco anos, quando
ram vivas. “Foi muita emoção, voltei para
se inscreveu em um processo seleção na
casa muito feliz com a minha profissão.”
Biosev Unidade Santa Elisa. Foi aprovada
e recebeu treinamento e capacitação para
Amor à primeira vista
operar máquinas agrícolas. A função a en-
O pai de Luciana Claudia Pioto é pro-
cantou desde o primeiro momento. “Foi
dutor de cana. Então conviver com trato-
paixão à primeira vista”, comenta.
Luciana realiza operações como preparo de solo e traciona transbordos durante a safra
50
Março · 2016
51
C A PA
Na Usina Santa Vitória, 22 mulheres ocupam posições na área de mecanização
Assim como o caminhão dirigido por
res atuam em diferentes área. Atualmente
Vanilza, as máquinas, os tratores operados
a empresa conta com 143 colaboradoras,
por Luciana apresentam alta tecnologia.
que representam aproximadamente 11%
Não é necessária força para conduzi-los,
do quadro de funcionários.
são muito confortáveis, até mais que car-
Em funções de liderança na SVAA,
ros, afirmam elas. Luciana, a bordo des-
8,2% são mulheres, que ocupam cargos
sas grandes máquinas, realiza operações
de supervisão de Desenvolvimento Agro-
como preparo de solo e traciona transbor-
nômico, Desenvolvimento Organizacional,
dos durante a safra.
gestão de Laboratório, líder da área de
De acordo com Jean Fábio da Silva,
Controle de Pragas, dentre outros.
supervisor de operação agrícola da Biosev
Já 62 colaboradoras da companhia
Santa Elisa, a unidade conta com 20 mu-
estão no departamento agrícola, sendo
lheres na área de mecanização agrícola.
que 22 no setor de mecanização, onde os
Jean salienta que além de realizarem o tra-
cargos são historicamente e predominan-
balho com muita qualidade, as mulheres
temente ocupados por homens. Elas tra-
cuidam das máquinas com mais carinho,
balham na operação de máquinas agrí-
dando menos manutenção. Está nos pla-
colas (trator, colhedora e plantadora), na
nos da Biosev aumentar o número de mu-
direção de veículos de grande porte (mo-
lheres na área de mecanização agrícola.
toristas de comboio e rodotrem) e manutenção agrícola (mecânica de motores e
Na Usina Santa Vitória
as mulheres representam
aproximadamente 11%
do quadro de funcionários
de máquinas agrícolas).
Na Usina Santa Vitória (SVAA), lo-
ra de transbordo e hoje é motorista de
calizada em Santa Vitória, MG, as mulhe-
52
Uma delas é Vandereza Conceição
Rodrigues Franco, 39 anos, que entrou
na SVAA há quatro anos como operadorodotrem.
Março · 2016
Ela está acostumada a quebrar para-
Vandereza entrou na usina como
digmas por onde passa. Antes de surgir a
motorista de transbordo, o que já era uma
oportunidade na usina, era motorista de
grande conquista. Mas ela não sabia que
caminhão de coleta de lixo na cidade de
estava sendo avaliada, até que foi infor-
Santa Vitória. “Fui a primeira mulher nes-
mada que poderia desenvolver bem o pa-
se cargo na empresa, e abri portas para
pel de motorista de rodotrem. Aceitou o
que outras fossem contratadas. Mas de-
desafio de cara.
pois me senti realizada quando entrei na
usina”, diz.
Nem se intimidou com o tamanho
da composição. “No transbordo eu já pu-
Nunca teve problema de discrimi-
xava duas trelas, com 33 metros incluindo
nação na empresa. Ao contrário. “Quan-
o cabeçalho. Já o rodotrem tem 30 metros
do entrei, ficava me perguntando se da-
de cumprimento.”
ria conta, achava que era um cargo apenas
A rotina do trabalho não é fácil. Che-
para homens, mas não foi difícil me adap-
ga na usina por volta de 5h30 da manhã,
tar. Percebi que o mito que existia estava
quando entra numa van que a deixa onde
na minha cabeça.”
o rodotrem está operando. “Ao chegar, te-
Vandereza está acostumada a quebrar paradigmas onde trabalha
53
C A PA
Joelma: manutenção
de máquinas
agrícolas exige
disposição para estar
sempre aprendendo
mos o primeiro contato com o
parceiro que informa sobre a
frente de serviço, sobre o trajeto do caminhão, sobre como
está o equipamento. Aí abro o
informativo, faço o ckeck-list,
verifico os pneus para ver se
terei algum problema no trajeto”, explica.
mos ignorar, senão pode ocorrer algum
“Olho tudo com cautela para ter uma boa
acidente mais tarde com a gente ou com
viagem”, completa. Com tudo pronto, é só
o próximo motorista.”
seguir caminho.
Casada há 18 anos e com dois filhos,
Ela nunca deixa de estar devidamen-
ela nunca ouviu reclamação do marido por
te paramentada com os equipamentos de
desempenhar uma função normalmente
proteção (EPIs) oferecidos pela usina. “No
ocupada por homens. “Ele confia em mim
que diz respeito à segurança, a mulher é
e fica até orgulhoso quando ouve de co-
mais precavida. Se vê uma trinca, logo de
imediato informa seu superior. Não podeVandereza e Joelma:
fazendo bonito
na Santa Vitória
54
Março · 2016
nhecidos elogios sobre a coragem de sua
Mecânico. De auxiliar, passou para Mecâ-
mulher em dirigir um rodotrem.”
nica de Máquinas Agrícolas.
Na SVAA, Joelma está há um ano e
Fazer o que gosta
meio. Trabalha na maior parte do tempo
Já Joelma Lemes, 33 anos, leva a
com manutenção em motores hidráulicos
competência feminina a outra área da
e atua na oficina em reparo de colhedoras,
SVAA normalmente ocupada por homens:
plantadoras, trator etc. A jornada de tra-
Mecânica de Máquinas Agrícolas.
balho tem início com o Diálogo Diário de
Com dois filhos para criar, Joelma
Segurança, em que o líder se reúne com a
sabe que precisa aproveitar bem as opor-
equipe para conversar sobre segurança no
tunidades que surgem. Na usina, ela tra-
trabalho. A partir daí, coloca seus EPIs e
balhava na área de irrigação, quando ficou
inicia o tratamento dos motores e as ativi-
sabendo do curso de mecânica básica. O
dades que forem surgindo ao logo do dia,
serviço lhe chamou a atenção, fez o curso
sempre em sintonia com toda a equipe de
e logo ingressou na função de Auxiliar de
Manutenção.
Usina Furlan montou turma
com 27 mulheres em curso de
operação de colhedoras de cana
55
C A PA
Ana Paula: “Temos mais
cuidado com a máquina
e com o canavial”
“Para trabalhar com a
manutenção dos motores
hidráulicos é necessário ter
muito cuidado, pois são sensíveis à falta
as mulheres têm muito a oferecer ao setor.
de higienização, por exemplo. O trabalho
Na empresa, há profissionais do sexo fe-
com a manutenção de máquinas agríco-
minino trabalhando no departamento mé-
las exige, acima de tudo, que o mecânico
dico, de controle de frota, de química in-
goste do que faz, tenha disposição e von-
dustrial, de administração etc.
tade, e esteja sempre aprendendo”, relata
A Furlan virou notícia em 2013 quan-
Joelma. Para ela, buscar o conhecimento
do formou uma turma composta apenas
é essencial para um mecânico. “É funda-
por mulheres no curso de colhedora, con-
mental trabalhar com atenção e cuidado,
siderando a dificuldade de encontrar ho-
sempre procurando aprender aquilo que
mens na região dispostos a manejar as
não se sabe, perguntar aos mais experien-
máquinas. Ao todo, 27 mulheres foram
tes e ter humildade para crescer.”
capacitadas para operação de colhedo-
Ela afirma que nunca passou por ne-
ra de cana, e outras 10 para operação de
nhum tipo de discriminação por ser mu-
trator transbordo. Segundo a diretoria da
lher e trabalhar na área. Diferente disso,
empresa, a montagem de uma turma ape-
pois sempre recebe ajuda dos colegas que
nas com mulheres tinha a expectativa de
têm paciência em ensinar e contribuir no
ter um público que recebesse capacitação
dia a dia de trabalho. Ainda mais na en-
específica, além do interesse da compa-
tressafra, quando o volume de serviço au-
nhia em ter mulheres atuando nessa área,
menta. “Nesse período a atividade é in-
por conta do zelo que há por parte de-
tensificada, pois o maquinário está em
las na operação do equipamento, o que
manutenção para iniciar a próxima safra.”
permite reduzir as quebras e aumentar a
produtividade.
“Amo tudo isso,
é gratificante”
mulheres não está mais na empresa, ou foi
Situada em Santa Bárbara d’Oeste,
deslocada para outros postos. Mas algu-
SP, a Usina Furlan é um exemplo de com-
mas se adaptaram bem ao trabalho com
panhia sucroenergética que acredita que
máquinas agrícolas e ganharam destaque
56
No entanto, parte daquele grupo de
Março · 2016
na empresa. É o caso de Ana Paula Mazuchi, 29 anos.
Quando chega à colhedora, Ana imediatamente faz o check-list. Marca o horá-
“Mulheres têm um trabalho diferen-
rio que entra no equipamento, registra o
ciado, somos mais cuidadosas, operamos
horímetro do motor, o elevador. Assinala a
com maior atenção e delicadeza”, afirma
hora em que começa a trabalhar, em que
Ana Paula. “Temos mais cuidado com a
termina e indica se o equipamento precisa
máquina e com o canavial.”
de manutenção. Lembra ainda que no iní-
De acordo com ela, para uma mulher
cio de cada expediente é preciso olhar o
desempenhar um bom trabalho na opera-
óleo, a água e dar uma geral na máquina.
ção de colhedoras precisa, antes de tudo,
Ana Paula não se desespera quan-
conhecer bem do funcionamento e da re-
do estoura alguma mangueira. Sabe o que
gulagem da máquina. “Tem que tirar ar do
deve ser feito. Também substitui com tran-
sistema quando necessário, colher na al-
quilidade as dez faquinhas da colhedora.
tura ideal, tem que andar corretamente na
“Para isso, gastamos cerca de meia hora, o
rua de cana, sem deixar cana pra fora. Para
que tem que ser marcado na ficha.”
o serviço ficar bem feito, temos que redu-
Outro procedimento também im-
zir as perdas ao máximo, mas pra isso a
portante é dar uma olhada no canavial
colhedora tem que estar bem regulada.”
sempre que chega para a operação. “Al-
Em sua opinião, no dia a dia com a
guns cortadores manuais cortam uma
máquina é fundamental a limpeza e orga-
rua para iniciarmos o trabalho em um ta-
nização da cabine. “Todo dia temos que
lhão. Logo que abrimos a rua já é possí-
lavar os vidros para termos boa visibilida-
vel saber como está a cana, se o trajeto
de. Além disso, coloco tapete no banco e
tem curva, se a cana está deitada ou não.
no assoalho, e sempre uso um pano para
limpar onde suja.”
“Se a cana estiver deitada, é importante colher
no sentido em que está caída, para não ficar
um serviço mal feito”, aconselha Ana Paula
57
C A PA
Caso esteja deitada, é importante colher
para mulheres, ficou interessada. “Primei-
no sentido em que a cana está caída pra
ro fiquei curiosa. Era uma máquina cheia
não ficar um serviço mal feito. Isso é im-
de detalhes. Aí me perguntei se iria con-
portante também para não perder a visão
seguir controlar um equipamento daque-
da rua”, explica. Além disso, ela destaca
le tamanho apenas segurando um joysti-
que quando a máquina chega à cabecei-
ck. Tive um pouco de medo, mas fui em
ra, é preciso tomar cuidado com a mano-
frente com determinação”, relata. “E quan-
bra para não prejudicar o equipamento e
do fiz essa mudança de emprego, meu sa-
o canavial. “Alguns classificam esse tra-
lário melhorou muito”, comemora.
balho como de homem, mas as mulheres
Ana Paula trabalhou por três safras
também são capazes. Eu amo tudo isso, é
na Furlan, mas nesta entressafra teve que
muito gratificante.”
mudar-se com seu filho para São Carlos
Ana Paula gosta de trabalhar na cabi-
por motivos familiares, mas está tentando
ne da colhedora. É um espaço confortável
voltar a trabalhar na operação de colhe-
e, segundo ela, menos estressante do que
dora em alguma usina da região. “É disso
na época em que trabalhava no supermer-
que gosto e aprendi a fazer muito bem.”
cado. Quando ficou sabendo de um curso para operação de colhedoras voltado
“Mulher tem que correr atrás”
Em Minas Gerais, encontramos outra mulher que opera com destreza uma
colhedora de cana. Funcionária do Grupo
Coruripe - Unidade Limeira do Oeste, Lucimar Silva Oliveira, 39 anos, entende que
para ser um bom profissional nessa tarefa
precisa estar disposto a aprender um pouco mais a cada dia.
Mas para mulher o fardo é ainda
mais complicado. “Existe certo preconceito, mas não da equipe da usina, que é
muito correta, mas no dia a dia da cidade.
Pensam que por trabalharmos ‘no meio do
mato’, com outros homens, que a coisa é
bagunçada, mas não é. E isso atrapalha”,
Lucimar: “sempre que entro na colhedora,
vejo o tipo de cana para controlar velocidade
e calibrar a máquina na altura certa”
58
relata Lucimar, que é casada, mas nunca
teve problema com o marido pela função
Março · 2016
“Se a cana estiver em pé, posso ir um pouco mais rápido, mas
se estiver caída, tem que diminuir a velocidade”, diz Lucimar
que exerce. “Ele também trabalha na usina
sempre prestando muita atenção no divi-
e tem muito orgulho do que faço.”
sor de linha. Precisa estar no ponto cer-
No setor sucroenergético, Lucimar
to para não ficar cana no chão. Se esti-
já trabalhou com caminhão, transbordo e
ver tudo bem, vemos a cana entrando na
desde 2010 lida com colhedora de cana,
boca da máquina certinho e isso é a maior
não se importando se o turno é de dia ou
satisfação.”
à noite. “Quando chego pra trabalhar, pri-
Para Lucimar, o mais difícil na ope-
meiro dou uma volta para ver se está tudo
ração com a colhedora é quando tem que
ok e vejo o tipo de cana para controlar ve-
colher à noite um canavial muito deitado.
locidade e calibrar a máquina na altura
“Fica difícil ver a rua da cana. Aí temos que
certa”.
ter certa prática, conhecimento. Por isso,
Ela relata que a característica do ca-
quanto maior a experiência, melhor para a
navial influencia na velocidade da opera-
qualidade da operação.” Mas nada que ela
ção com a colhedora. “Se estiver em pé,
não tire de letra.
posso ir um pouco mais rápido, mas se es-
“Mulher tem que correr atrás. Temos
tiver caída, tem que diminuir a velocidade,
que mostrar que podemos trabalhar de
59
C A PA
Elaine: “gosto do meu trabalho [na colheita mecanizada] e
pretendo continuar estudando para crescer mais na empresa”
igual pra igual com o homem”, afirma Lu-
Ela ingressou na Jalles Machado em
cimar, que já está na contagem regressiva
2011, quando se interessou em fazer um
para o início da próxima safra em Limeira
curso de operação de máquinas agrícolas
do Oeste, previsto para 1o de março.
pela empresa. De imediato, saiu contratada. “Já trabalhei em outros empregos na
Protagonismo também
no Centro-Oeste
cidade, mas aqui me adaptei muito bem
O Grupo Jalles Machado – detentor
tunidade para as mulheres em todas as
de duas usinas em Goianésia, GO - tam-
áreas, principalmente no preparo de solo,
bém aposta na competência feminina para
plantio e colheita. Gosto muito do meu
o desempenho das mais variadas funções,
trabalho e pretendo continuar estudando
inclusive na operação de máquinas agrí-
para crescer mais na empresa.”
e pretendo continuar. A empresa dá opor-
colas. Quem comemora a oportunidade
Pelo que se vê, as máquinas não são
que teve na empresa é a operadora de co-
obstáculos para a ascensão das mulheres
lhedora Elaine Rodrigues Silva, 27 anos.
no setor sucroenergético.
60
Março · 2016
As mulheres na Raizen
MAIOR GRUPO SUCROENERGÉTICO DO PAÍS VALORIZA A
DIVERSIDADE E ABRE OPORTUNIDADES PARA AS MULHERES
EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM OS HOMENS
As mulheres têm aproveitado as oportunidades que
surgem na Raízen porque estão cada vez mais capacitadas
Clivonei Roberto
C
oncentração,
disciplina,
cuida-
panhia sucroenergética do país, a Raízen.
do com os detalhes. As habilida-
Não é à toa que, ao longo dos últimos
des e características da mulher são
anos, a presença da mulher em cargos de
cada vez mais valorizadas pela maior com-
administração na companhia cresceu 40%,
61
C A PA
considerando as 24 unidades do Grupo.
de alta liderança resulta em crescimen-
A companhia está sintonizada com
to para a empresa”, destaca Alessandra
um estudo divulgado recentemente pelo
Rosa Abrahão Orlando, gerente de Recur-
Instituto Peterson que mostra que empre-
sos Humanos para a Área de Etanol, Açú-
sas com pelo menos 30% de funções de
car e Bioenergia da Raízen. “Nossa em-
liderança ocupadas por mulheres podem
presa acredita que quando a mulher faz
elevar em até 15% o lucro, na compara-
parte da decisão da companhia traz ou-
ção com aquelas em que as mulheres não
tro viés importante na tomada de deci-
estão em cargos de liderança. O levanta-
são”, acrescenta.
mento mostra que os maiores ganhos são
Se atualmente pesquisas acadêmi-
obtidos pelas organizações quando as
cas constatam os benefícios delas para o
mulheres estão em posições executivas,
mundo corporativo, não é de hoje que a
como diretoria-financeira.
Raízen valoriza a mão de obra feminina,
Ou seja, dar oportunidade para as
enxergando-a como uma importante fon-
mulheres chegarem ao topo é vantajo-
te de preenchimento de funções. “A mu-
so para as organizações. “Estudos mos-
lher é base da captação de todas as vagas
tram que a chegada de mulheres a cargos
na empresa”, afirma Alessandra, revelan-
Profissionais da Raízen prestigiam o Encontro Cana Substantivo Feminino:
busca de informação e network fazem parte da qualificação
62
Março · 2016
Alessandra: “Estudos mostram que a chegada de mulheres a
cargos de alta liderança resulta em crescimento para a empresa”
do que o Grupo acredita que é preciso
contemplar a diversidade na formação do
time de empregados.
lher se destaque”, diz.
Elas são presença marcante na área
de recursos humanos do Grupo. Considerando este departamento nas 24 unida-
Competência reconhecida
des, elas ocupam 80% dos cargos. RH é
E as mulheres estão presentes em to-
uma área em que as mulheres, tradicional-
dos os departamentos da Raízen, ocupan-
mente, são maioria nas usinas. Mas confor-
do os mais diversos cargos, sendo que em
me o tempo passa, elas rompem padrões
algumas funções elas já são maioria.
e ocupam funções que sempre foram ma-
Exemplo vem da área de laboratório
joritariamente masculinas. E sempre que
industrial. Elas ocupam 59% do quadro de
se prontificam a estes postos, apresentam
funcionários dos laboratórios das 24 uni-
alto nível de capacitação. O que chama
dades. “Mulher combina muito com essa
a atenção de Alessandra é que elas têm
área pela concentração, detalhismo, disci-
procurado cursos de graduação que nun-
plina”, afirma Alessandra.
ca foram comuns para mulheres - como
Já na área de exportação de açúcar,
os de engenharia -, o que reflete em uma
elas também são maioria: 58% do total
mudança no mercado. Tanto que são cada
de funcionários. “Esta é uma área comer-
vez mais numerosas nos processos sele-
cial, de negócio, que fecha resultado para
tivos para os cargos de engenheiro e de
a empresa, o que não impede que a mu-
técnico de açúcar e etanol, por exemplo,
63
C A PA
A Raízen tem a preocupação de que homens e mulheres
tenham um salário justo correspondente à função que ocupam
disputando de igual pra igual pela vaga
ras de colhedoras por conta do cuidado
com os homens.
que têm com a máquina, pela responsa-
“Isso demonstra que estão buscando
bilidade e pela qualidade do serviço que
cada vez mais fazer carreira em outras áre-
executam. “Além disso, elas prezam pela
as, inclusive dentro do setor, não se con-
segurança, são disciplinadas e têm foco.”
tentando apenas a cargos em que a presença feminina sempre foi comum, como
Capacitadas
RH e Administração”, analisa Alessandra.
As mulheres têm ocupado espaço
No
departamento
agrícola,
por
em todas as áreas das unidades, de modo
exemplo, as profissionais apresentam óti-
geral. Mas não porque existe uma cota a
mos resultados. E ocupando variados car-
ser cumprida para que isso aconteça. É
gos, desde supervisão agrícola, até postos
que elas têm aproveitado as oportunida-
mais operacionais, como na operação de
des que surgem porque estão cada vez
colhedoras e de tratores. “Temos inclusive
mais capacitadas. “Vemos muitas mulhe-
preferência por mulheres como operado-
res fazendo parte das salas de formação
ra de colhedora, até porque quem ocupa
de mão de obra”, lembra Alessandra.
essa função na Raízen deve ser um opera-
Segundo a gerente de RH, a Raízen
dor mantenedor”, relata Alessandra, expli-
tem adotado indicadores que mostram a
cando que, de modo geral, os supervisores
evolução e o crescimento da mulher na
agrícolas elogiam o trabalho das operado-
companhia. “Isso é foco da empresa. Que-
64
Março · 2016
remos sempre mostrar casos de sucesso
Elas na indústria
de mulheres. Afinal, nada melhor do que
Na Raízen, as mulheres estão presen-
apresentarmos cases de mulheres bem su-
tes tanto na área agrícola como na indus-
cedidas para que elas, cada vez mais, se
trial, inclusive ocupando funções de des-
apropriem de seu papel na companhia.”
taque. Um exemplo vem da unidade de
No entanto, ela sublinha que não há
Dois Córregos, onde Isabel Silva Junquei-
diferenciação entre homens e mulheres na
ra assumiu, em meados de 2015, a gerên-
empresa. A cobrança é a mesma indepen-
cia industrial.
dente do sexo do profissional, assim como
Na companhia há onze anos, Isabel
o reconhecimento pelos resultados apre-
credita a ascensão dentro da empresa à
sentados. “Além disso, a Raízen tem a pre-
sua dedicação e também à sede contínua
ocupação de que homens e mulheres te-
por formação, que sempre foi sua prio-
nham um salário justo correspondente à
ridade. Formada em Engenharia Quími-
função que ocupam. Se tenho alguém
ca pela Universidade Federal de Uberlân-
operando uma máquina, ele terá o salá-
dia, ela fez três especializações ao longo
rio correspondente a essa função, não im-
destes onze anos: em gestão sucroener-
portando se é homem ou mulher. Isso é
gética, gestão ambiental e gerenciamento
uma questão de equidade e ética”, obser-
de projetos. “A Raízen valoriza e incentiva
va Alessandra.
quem investe na profissionalização. Além
disso, a empresa tem programas que visam a capacitação do colaborador”, relata Isabel.
Antes de assumir a gerência da Unidade de Dois Córregos, ela trabalhou por
seis anos como supervisora de produção. Escalar este degrau, para ela, foi uma
grande vitória profissional. “Acredito que é
importante quando a empresa dá oportunidade, mas a carreira é fruto da responsabilidade do profissional, que precisa ter
foco, determinação, tem que traçar estratégias para poder chegar onde almeja.”
Por isso, não teve dificuldade para
Isabel: “A Raízen valoriza e incentiva
quem investe na profissionalização”
se adaptar às responsabilidades exigidas
de uma gerente industrial. E que são mui-
65
C A PA
Edilene:
“Hoje não sou
supervisora
de colheita
porque sou
mulher, mas
porque tenho
competência
para estar
nessa função”
tas. “Tenho que dividir a maior parte do
Além disso, o setor passou por uma trans-
meu tempo entre planejamento e gestão
formação significativa e com evolução dos
de pessoas”, afirma Isabel, citando ainda
processos na automação, o que permitiu
a atenção despendida ao funcionamen-
mais o ingresso delas. Por isso, não vejo
to redondo da indústria, à manutenção, à
impedimento para a contratação de mu-
melhoria de processos.
lheres na área industrial.”
Segundo ela, estas tarefas, de grande responsabilidade, podem ser desem-
Elas na agrícola
penhadas muito bem por uma mulher, as-
Assim que concluiu a Faculdade de
sim como por um homem. “O que pode
Agronomia pela Unesp (Universidade Es-
diferenciar é a capacitação, a dedicação, a
tadual Paulista) de Botucatu, Edilene Mar-
persistência.”
lei Costa já começou a trabalhar numa área
Isso também vale para a equipe que
que sempre teve afinidade: mecanização
comanda, que também é constituída por
agrícola. Desde abril de 2015 ela ocupa a
algumas mulheres. Embora sejam mi-
função de supervisora de CCT (Corte, Car-
noria, elas não deixam a desejar aos ho-
regamento e Transporte) da Raízen – Uni-
mens pelo compromisso, pela dedicação.
dade Tamoio.
Em sua opinião, elas enriquecem o espaço
No dia a dia ela prova que este car-
de trabalho pela capacidade de enxergar
go, embora seja normalmente ocupa-
o detalhe, pela visão analítica, pelo desejo
do por homens, é tirado de letra por uma
de aprender mais e pela facilidade nas re-
profissional do sexo feminino. Afinal, “mu-
lações interpessoais.
lher combina bem onde ela quiser combi-
“Tem até mulher desempenhando
nar. Não existe nenhuma limitação”, avisa
bem funções que exigem esforço físico.
Edilene. “Basta ter competência para exer-
66
Março · 2016
cer determinado cargo. Hoje não sou su-
Esse planejamento ela realiza em conjun-
pervisora de colheita porque sou mulher,
to com outras áreas, como de transporte e
mas porque meu gerente enxerga que te-
agronômica. “Ao decidirmos o local a ser
nho competência para estar nessa função”,
colhido e quando colher, tenho abaixo de
dispara.
mim os meus líderes, que são gestores de
O cargo de supervisão de CCT exige
responsabilidade. “Todo dia, quando acor-
operação. Repasso para eles todas as informações necessárias para o trabalho.”
do, já levanto com o compromisso de que
É muito importante que a mensagem
tenho que entregar na usina um volume
transmitida à equipe seja clara. Não po-
determinado de cana. Tem uma indústria
dem pairar dúvidas. Por isso, a comunica-
esperando matéria-prima para moer.”
ção tem que ser rápida, assertiva e próxi-
Outra atribuição crucial que cabe a
ma. “O meu diferencial como líder é saber
Edilene é o de gerenciamento de custos. É
liderar a minha equipe para obter suces-
importante porque a agrícola tem que con-
so. Aí sim é possível ser um bom líder. Por
trolar o custo da entrega da cana à indús-
este motivo, não adianta tentar liderar o
tria. “Não adianta disponibilizar a matéria
pessoal com distanciamento, como se fos-
-prima se o custo não está condizente.”
sem robôs. O líder tem que estar próximo
Segundo Edilene, “não há motivo
dos colaboradores.” E este é exatamente
para haver restrição à mulher em ocupar
um dos pontos positivos da mulher, na vi-
diferentes cargos, inclusive na área agríco-
são de Edilene. “Conseguimos compreen-
la”. Ao contrário. Elas são mais atenciosas
der mais fácil as pessoas.”
do que os homens. “Exemplo são as mu-
Para ela, é fundamental para um lí-
lheres operadoras, motoristas. São mais
der despertar confiança na sua equipe
cuidadosas com a operação e com a má-
para que as tarefas diárias sejam bem exe-
quina. Têm atenção redobrada e se anteci-
cutadas. Agora se um liderado não cum-
pam a problemas.”
priu com a sua parte, Edilene fica aten-
Como supervisora de CCT, Edilene é
ta. Como ela tanto opera colhedora como
responsável pelo planejamento da colhei-
trator, e conhece os detalhes da operação,
ta. Define toda a sequência de fazendas
sabe avaliar quando um liderado está fa-
nas quais os equipamentos vão operar.
lando a verdade ou não.
A comunicação rápida, assertiva e próxima reflete positivamente no campo
67
C A PA
As mulheres na Biosev
SEGUNDO MAIOR GRUPO SUCROENERGÉTICO DO MUNDO, A BIOSEV,
DIVULGAÇÃO BIOSEV
ESTABELECEU UM GRUPO DE TRABALHO DE VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE
Na safra 2014/15, as mulheres respondem por 7% do total dos funcionários da Biosev
N
a safra 2014/2015, a Biosev, se-
e pelo Nordeste com 3%.
gundo maior grupo sucroener-
Recentemente, a Biosev estabeleceu
gético do mundo, contou com
um grupo de trabalho de Valorização da
15.243 funcionários, sendo que 7% desse
Diversidade, com a participação de pro-
total eram mulheres. De acordo com a em-
fissionais de diversos setores da empre-
presa, ao analisar suas unidades em ope-
sa (Recursos Humanos, Responsabilida-
ração (são 11 – duas no Nordeste, três no
de Social, Comunicação, Auditoria, Saúde
Centro-Oeste e seis no Sudeste), a região
e Tributário). O desafio inicial desse gru-
Centro-Oeste empregou o total de 10,7%
po, que dentre as atribuições está avaliar a
mulheres, seguido pelo Sudeste com 6,8%
questão de gênero dentro da companhia,
68
Março · 2016
DIVULGAÇÃO BIOSEV
Ainda levando em
consideração a
safra 2014/2015,
observa-se que 18%
das mulheres na
empresa ocupavam
cargos de gerência
mulheres a decidir se manter no merca-
Programa Anual
de Treinamento
do de trabalho e, em especial, na Biosev.
Formação e capacitação de seus co-
Além disso, com a ajuda das prefeituras
laboradores são pautas de investimento
das cidades em que atua, a empresa busca
da Biosev, com uma média de 35 horas de
entender quais questões regionais podem
treinamento por empregado no ano. Por
influenciar para a atração e permanência
meio do Programa Anual de Treinamen-
de mulheres trabalhando na companhia.
to, a empresa realiza cursos para promo-
é mapear as razões que podem levar as
Em paralelo, a Biosev também busca
ver a conscientização sobre atitudes se-
boas práticas e oportunidades de parceria
guras, qualidade, capacitação técnica para
para desenvolver ações específicas para o
atividades específicas e a aquisição de
período de gestação e retorno da licen-
conhecimento.
ça maternidade (de 0 a 3 anos de idade
Ainda levando em consideração a
da criança). Uma vez superado o diagnós-
safra 2014/2015, observa-se que 18% das
tico das motivações, questões culturais e
mulheres na empresa ocupavam cargos
das oportunidades, o objetivo da empre-
de gerência, 11% de alta liderança (supe-
sa é traçar um plano de trabalho estrutu-
rintendência e diretoria) e 10% estavam
rado, e influenciar na atração da mão de
em cargos de supervisão. Apesar dos da-
obra feminina.
dos relativos à safra 2015/2016 não esta-
69
C A PA
Formação e capacitação
de seus colaboradores
são pautas de
investimento da Biosev
DIVULGAÇÃO BIOSEV
rem fechados, pois a safra ainda está em curso,
nota-se um aumento da
quantidade de mulheres
em cargos de liderança,
com os indicadores preIndustrial na unidade Estivas, no Polo Nor-
ta com uma mulher na Superintendência
deste. Além disso, a direção de Recursos
de um Polo Agroindustrial (Lagoa da Pra-
Humanos e Jurídica da Biosev são ocupa-
ta – MG) e outra que assumiu a Gerência
das por mulheres.
DIVULGAÇÃO BIOSEV
liminares. Pela primeira vez a Biosev con-
Biosev quer saber as razões que podem levar as mulheres a decidir
se manter no mercado de trabalho e, em especial, na empresa
70
Março · 2016
DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL
As mulheres
na Guarani
SEJA NA ÁREA INDUSTRIAL OU NA AGRÍCOLA, O
NÚMERO DE COLABORADAS FEMININAS AUMENTA
CADA VEZ MAIS NAS SETE UNIDADES DO GRUPO
Leonardo Ruiz
E
m 2011, a vida de Daiane Porto Targão, na época recém-formada em
Agronomia pela Universidade Fede-
ral do Paraná, sofreu uma virada de 180°.
Ela saiu da vida agitada de Curitiba rumo a
Maureen é gestora
de empacotamento
de açúcar da Unidade
Cruz Alta e comanda
uma equipe com mais
de 100 trabalhadores,
sendo 12 mulheres
Olímpia, uma pequena cidade do interior
paulista, de pouco mais de 50 mil habi-
que deixar minha cidade natal para traba-
tantes, mas que abriga umas das maiores
lhar em outro lugar.”
empresas do setor sucroenergético nacio-
Atualmente no cargo de gestora au-
nal: a Unidade Agroindustrial Cruz Alta, da
tomotiva II, Daiane é uma das 612 colabo-
Guarani Tereos Açúcar e Energia Brasil.
radoras do sexo feminino que integram as
Naquele ano, ela se inscreveu em um
sete unidades industriais da Guarani. Nú-
dos programas de trainee do Grupo. Após
mero esse que representa 7,52% do to-
várias etapas do processo seletivo, Daiane
tal. Embora pareça pequeno, esse valor, na
foi escolhida, dentre centenas de jovens,
verdade, pode ser considerado gigantesco
para trabalhar na área de tratos culturais
dentro de um setor que, majoritariamen-
da Usina. Ela conta que a mudança de um
te, sempre foi muito masculino. “As mu-
estado para outro foi tranquila, pois esse
lheres estão conquistando o seu espaço
já era um de seus objetivos. “Como esco-
em todos os setores da economia, inclusi-
lhi Agronomia, eu sabia que, um dia, teria
ve naqueles tradicionalmente masculinos,
71
DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL
C A PA
Ao todo, o Grupo Guarani
possui 612 colaboradoras
do sexo feminino, que
totalizam 7,52% do total
como o sucroenergético”, afirma a gerente
ve para diminuir a desigualdade de gêne-
de comunicação corporativa do Grupo Te-
ro. “Além disso, não existe preconceito por
reos, Béatrice de Toledo Dupuy.
parte das companhias. Sabemos que am-
Segundo ela, um agronegócio me-
bos os sexos podem desempenhar a mes-
nos manual e mais tecnológico abriu no-
ma atividade, exceto aquelas que exigem
vas frentes de trabalho, o que ajudou na
um pouco mais de força física.”
inserção de mais mulheres. “Esse segmento mais unissex se reflete, inclusive, no
Colocando a mão na massa
mundo acadêmico, pois o número de En-
Na turma de Agronomia de Daiane
genheiras Agronômicas está em constan-
Porto Targão, na Universidade Federal do
te crescimento.”
Paraná, dentre os 66 alunos, 12 eram do
Quando perguntada se, num futuro
sexo feminino. “Porém, nas usinas de ca-
próximo, o número de mulheres e homens
na-de-açúcar fica difícil encontrar essas
trabalhando nas áreas agrícolas e indus-
mulheres, pois a grande maioria vai para a
triais das usinas poderia ser equivalen-
área de pesquisa.”
te, Béatrice respondeu que sim, pois, para
Já Daiane foi na contramão. Seu pri-
ela, o desenvolvimento intelectual é a cha-
meiro trabalho na Guarani, ainda como
72
Março · 2016
DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL
trainee, foi na área de tratos culturais,
onde era responsável por desenvolver e
implantar o sistema de ERP (enterprise resource planning). Esse tipo de programa é
utilizado para coletar, armazenar e gerenciar dados dentro de uma empresa.
Em uma área de tratos culturais, por
exemplo, o software pode auxiliar no planejamento e controle das operações agrícolas, verificação da eficiência dos processos e controle de insumos. “Essa foi uma
grande atividade que desenvolvemos junto à equipe de campo e às outras unidades do Grupo, que, anteriormente, faziam
grande parte do controle de campo em
cadernos próprios, sendo o sistema existente restrito ao controle de algumas operações executadas na área.” Segundo ela,
quando a implantação foi finalizada, todos
já estavam adaptados ao novo processo
Béatrice: “As mulheres estão conquistando o
seu espaço em todos os setores da economia,
inclusive naqueles tradicionalmente
masculinos, como o sucroenergético”
e à nova metodologia de trabalho. “Essa
tecnologia trouxe grandes benefícios para
lhar com processos de melhorias nas ope-
a área”, afirma.
rações agrícolas e de produção. Após um
Após a finalização do contrato de
ano, passou para a posição de gestora au-
trainee, Daiane foi efetivada para traba-
tomotiva II, cargo que ocupa até o momento. Nesse novo
desafio, ela tem como
DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL
tarefa
gerir,
junta-
mente com a equipe
Daiane é gestora
automotiva II e comanda,
juntamente com a
equipe de RH, a área
de treinamento técnico
automotivo e operacional
das unidades do Grupo
73
C A PA
de Recursos Humanos, a área de treina-
ções básicas em suas máquinas. “Após a
mento técnico automotivo e operacional
capacitação em sala de aula, esses opera-
das unidades do Grupo.
dores passam a ser instruídos em campo
“Todos os anos, mais de duas mil
pela equipe interna de multiplicadores ca-
pessoas são capacitadas em operações
pacitados para desenvolver esta ativida-
técnicas em todas as unidades da Guara-
de”, explica Daiane.
ni. Ao RH cabe a gestão de todos os trei-
E dentre todos os alunos, é possí-
namentos, já a equipe com a qual trabalho
vel encontrar algumas mulheres que, se-
é responsável pelos treinamentos técnicos
gundo a gestora automotiva, se destacam
que acontecem na teoria e na prática. Es-
pela atenção aos detalhes. “Nas manuten-
tes sempre alinhados com a necessidade
ções básicas, as mulheres conseguem exe-
de cada operação e gestão, visando atin-
cutar as atividades igualmente ou até me-
gir o máximo de colaboradores sem afetar
lhor do que os homens. Além disso, nunca
a nossa produção diária.”
aconteceu de chegar uma mulher e falar
Um dos carros-chefes, atualmente,
está sendo um treinamento especial aos
que não está conseguindo acompanhar os
treinamentos.”
Com relação a trabalhar em uma
que eles próprios possam fazer manuten-
área composta, basicamente, por homens,
FERDINANDO RAMOS FOTOGRAFIA
operadores de colhedoras de cana, para
Daiane acompanha o treinamento dos operadores de colhedoras de cana,
para que eles próprios possam fazer manutenções básicas em suas máquinas
74
Março · 2016
BANCO DA DADOS INTERNET
A motorista Rosimeire Samuel trabalha na Unidade São José
transportando colaboradores para atividades no campo
Daiane conta que tinha medo de não con-
dia de serviço. Mas não dá tempo para um
seguir realizar as atividades, mas que se
cochilo antes de começar o turno, porque
surpreendeu com o respeito obtido. “To-
seu trabalho começa ali mesmo, na frente
dos os colaboradores me respeitam mui-
da sua casa.
to e são extremamente abertos para con-
Rosimeire trabalha como motoris-
versas. Eles expõem suas ideias, ouvem e
ta de transporte de colaboradores. Dessa
sempre são muito construtivos para o meu
forma, todos os dias, no mesmo horário, o
aprendizado e para o processo em que de-
motorista do turno da noite passa em sua
senvolvemos em conjunto.”
casa para que ela assuma o volante. Dali,
ela deixa o colega em casa e parte para o
De levantamento de
pragas para motorista
de colaboradores
município paulista de Barretos, a 20 km de
A jornada de Rosimeire Samuel co-
e levá-los para mais um dia de serviço nos
meça às 05h da manhã, quando uma van
sua cidade, Colina, para buscar uma equipe de trabalhadores da Unidade São José
canaviais da empresa.
da Unidade São José, da Guarani, passa
Mas a rotina de Rosimeire nem sem-
em sua casa para pegá-la para mais um
pre foi assim. Sua história na Guarani co-
75
C A PA
meçou em 2009, porém, em uma área diferente. Naquela
época, ela integrava a equipe de levantamento de pragas
da Unidade. “Fiquei durante três anos nesse serviço, mas eu
não estava totalmente satisfeita, pois além de ser um trabalho pesado, ficava debaixo do sol o dia todo”, conta.
Assim, quando surgiu uma vaga de motorista na Usina, Rosimeire não pensou duas vezes. “Eu pedi uma oportunidade para meu gestor e ele disse que me daria. Depois disso, fui numa autoescola para tirar habilitação na categoria D.”
No início, a motorista conta que sentiu medo de como
os trabalhadores reagiriam quando vissem que uma mulher
faria o transporte. “Felizmente, nada de ruim aconteceu.
Muito pelo contrário. A grande maioria sempre me apoiou,
inclusive me dando dicas no começo, quando eu não tinha
muita experiência.”
Desde então, Rosimeire conta que só tem motivos para
sorrir. “Estou muito satisfeita com meu cargo. Meu salário aumentou, eu trabalho mais tranquila, confortável e num horário muito bom. Não tenho do que reclamar”, relata.
Gestora da área industrial
Das 612 colaboradas do Grupo Guarani, 39,54% estão na área industrial. Uma delas é Maureen Vaccari Grassi, gestora de empacotamento de açúcar da Unidade Cruz
Alta. Natural de São José do Rio Preto, SP, ela é formada em
engenharia de alimentos pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) - Campus de São José
do Rio Preto.
Maureen iniciou sua trajetória no Grupo na área de
Sistema de Gestão da Qualidade. “Após um ano e meio
como trainee, fui efetivada na mesma área, ficando ali por
mais dois anos e meio.” Já em janeiro de 2014, ela foi promovida para a área industrial a fim de trabalhar com foco
na certificação de segurança de alimentos. “Nessa época,
minha principal função foi ajudar na coordenação do proje-
76
Março · 2016
FERDINANDO RAMOS FOTOGRAFIA
to de implementação da FSSC 22000 no processo industrial,
sistema de gestão de segurança dos alimentos, utilizado
em todos os países para garantir um produto com qualidade, seguro e livre de contaminações aos consumidores.”
Desta forma, durante seis meses, enquanto a área de
sistema de gestão da qualidade dava suporte burocrático
na obtenção da certificação, Maureen auxiliava na implementação prática na indústria, adequando os processos de
acordo com os requisitos da norma de segurança dos alimentos. “O foco era garantir a ausência de contaminação
nas etapas de produção do produto, por meio da elaboração de procedimentos, treinamentos, registros e adequação das instalações e dos equipamentos.”
Após esse período, Maureen foi para a área de empacotamento de açúcar, sendo, atualmente, gestora. Hoje,
nesse setor, trabalham cerca de 100 pessoas, sendo 12 mulheres. “A área de processo industrial é ainda muito masculina. Na gestão, por exemplo, sou a única mulher. As outras
gestoras se encontram nas áreas administrativas e de suporte ao processo, como controle de qualidade e melhoria
contínua. Já na operação em si, apenas no meu setor existem mulheres atuando”, afirma.
Segundo ela, isso ocorre porque a área industrial possui muitas operações manuais, que demandam grandes esforços físicos. “Por isso, preferimos colocar as mulheres nas
operações que já são semiautomatizadas.”
Maureen afirma que, desde o início, nunca encontrou
empecilhos por ser uma mulher no segmento canavieiro.
“Pelo contrário. Todos sempre me respeitaram. É claro que
devemos ter postura adequada dentro da empresa, saber
Na parte operacional
industrial da Unidade
Cruz Alta, a área de
empacotamento de
açúcar é a única a
contar com mulheres
separar o lado profissional do pessoal, se comunicar corretamente com as pessoas, saber ouvir, demonstrar respeito e
trabalhar de acordo com os objetivos da empresa, com foco
em resultados. Fazendo isso, o tratamento recebido será o
mesmo, independente do gênero.”
77
C A PA
As mulheres na Usinas Itamarati
A EMPRESA BUSCA APROVEITAR SEMPRE O POTENCIAL
DE CADA UM, INDEPENDENTE DO GÊNERO. MAS TEM
UM OLHAR DE INCLUSÃO DO PÚBLICO FEMININO
Clivonei Roberto
A
mulher é cada vez mais protagonista na Usinas Itamarati (UISA),
localizada em Nova Olpimpia, MT.
Segundo a gerente de Recursos Humanos,
Cinthia Xavier Martins de Lima, a empresa busca aproveitar sempre o potencial de
cada um, independente do gênero. “Mas
temos um olhar de inclusão do público
feminino, procurando investir em qualificação das mulheres antes da contratação
para que possam concorrer em igualdade
de condições com os homens, principalmente nos cargos operacionais.”
O tema ganha destaque na Semana
da Mulher UISA, período em que “discutimos e comemoramos a evolução e o papel da mulher na sociedade e no mercado
de trabalho”, e na Semana Socioambiental, quando “temas de valorização e inclu-
Cinthia: as mulheres têm maior
tempo de estudo e visão ampla
por conta de suas multitarefas
são da mulher também são tratados”, relata Cinthia.
Atualmente a UISA tem 213 mulheres no
A gerente percebe que as profissio-
quadro fixo, ocupando tanto cargos admi-
nais participam cada vez mais dos pro-
nistrativos e operacionais, tanto na indús-
cessos seletivos, se qualificam bastante e
tria como na agrícola. Atualmente a Ita-
se preparam para o mercado de trabalho.
marati possui 15 mulheres em cargos de
78
Março · 2016
SAULO HARUO OHARA
Jocelia dos Santos Saes,
operadora de processo
de extração de caldo,
no setor de Descarregamento
e Mesas Alimentadoras
da Usinas Itamarati
liderança, desempenhando funções como
rais, aprendizes, almoxarifes, comprado-
de gerentes, supervisoras, coordenadoras
ras, frentistas etc”, enumera Cinthia.
e analistas líder (sênior).
Neste setor, segundo ela, a mulher
pode trabalhar em qualquer função, des-
Características peculiares
de que ela seja selecionada e esteja qua-
Para Cinthia, as mulheres têm carac-
lificada. Mas lembra que a mulher ainda
terísticas peculiares, como disposição para
é apontada como a principal responsá-
se qualificar mais, acumulando maior tem-
vel pelos cuidados com os filhos e afa-
po de estudo, além de dedicação, sensibi-
zeres domésticos. “Cabe às empresas te-
lidade, organização e uma visão mais am-
rem um novo olhar sobre essas mulheres,
pla por conta de suas multitarefas. Não é
apoiando suas necessidades pessoais e
à toa que “as mulheres vêm conquistando
sociais, incentivando-as a irem em frente e
um maior espaço no mercado de trabalho”.
a se qualificarem continuamente. A Usinas
E no setor sucroenergético não po-
Itamarati vem tentando fazer a sua parte
deria ser diferente. “Temos mulheres en-
neste processo de mudança e inclusão.”
genheiras, biólogas, psicólogas, pedagogas,
advogadas,
relações
públicas,
administradoras, contadoras, operadoras de máquinas agrícolas, motoristas de
carreta e veículos leves, mecânicas, secretárias, enfermeiras, técnicas de enfermagem, técnicas de segurança, operadoras
de processos industriais, trabalhadoras ru-
Bruna Franciele Modena,
supervisora de Controle, Processos
e Qualidade da Usinas Itamarati
79
GE S TÃ O
As belas também são feras
ALÉM DE BONITAS E SIMPÁTICAS, AS PROFISSIONAIS DA PWC SÃO
INTELIGENTES, ESPECIALIZADAS E BATEM UM BOLÃO SOBRE O
AGRONEGÓCIO. A EMPRESA INVESTE PARA RETER ESSES TALENTOS
Parte da equipe de profissionais da PwC em Ribeirão Preto
PricewaterhouseCoopers (PwC) é
A
Ana Paula Malvestio, Sócia e Líder
uma rede de firmas presente em
de Diversidade & Inclusão na PwC Brasil,
157 países com mais de 208 mil
explica que a maior participação femini-
profissionais que se dedicam a prestar ser-
na reflete a realidade das universidades,
viços de alta qualidade em auditoria, con-
onde 60% das vagas são ocupadas por
sultoria tributária e de negócios. As firmas
mulheres. “Elas são maioria nas gradua-
da rede PwC recrutam anualmente, em
ções e nos mestrados e são mais capacita-
todo o mundo, cerca de 20 mil jovens gra-
das. As empresas precisam buscar talentos
duados da geração do Milênio ou Y (nasci-
e não podem se dar ao luxo de não atrair
dos entre 1980 e 1995), metade dos quais
essas mulheres”, diz Ana.
são do sexo feminino. No Brasil, a PwC tem
Porém, mesmo com os avanços para
5.300 profissionais, sendo que 50% são
a equidade de gênero, ainda há muitas
mulheres.
disparidades. “Apesar do grande número
80
Março · 2016
Ana Paula, sócia, Líder de
Diversidade & Inclusão e
Líder em Agribusiness para o
Brasil e Américas, na PwC
mostra que a presença de
mulheres em cargos de liderança deve aumentar com
as profissionais da geração
Y no mercado de trabalho, já
que elas apresentam um foco
mais profissional — até 2020,
as mulheres desse grupo etáde mulheres qualificadas, apenas 4,3% dos
rio serão 25% da mão de obra mundial.
principais executivos entre as 250 maiores
Ana concorda que o contexto está
empresas brasileiras são do sexo femini-
mudando, mas salienta ser fundamental
no”, salienta Ana. Segundo ela, essa dis-
os setores públicos e privados desenvol-
crepância é mais perceptível em cargos
verem políticas para reter esses talentos e
mais altos. As mulheres estão particular-
possibilitar que ocupem posições de lide-
mente sub-representadas em posições de
rança. De acordo com o estudo da PwC,
gerência executiva, que é o primeiro pas-
as mulheres da geração Milênio têm como
so para promoções a níveis hierárquicos
característica um retorno muito rápido,
mais elevados. “Como apenas
14% desses cargos são ocupados por mulheres, não surpreende que, no ranking de importantes companhias do país,
encontremos somente nove
CEOs do sexo feminino”, diz a
Sócia da PwC.
Pesquisa da própria PwC
Lia: horário flexível de
trabalho é fundamental
81
GE S TÃ O
ou seja, são capazes de buscar milhões de
do sexo feminino. Em junho de 2015, a
respostas em minutos. Não é uma gera-
empresa assinou o termo de compro-
ção que está ligada a processos que du-
misso aos Princípios de Empoderamen-
rem mais de um dia ou semanas. Para essa
to das Mulheres ou WEPs (Women’s Em-
geração é essencial os feedbacks sobre a
powerment Principles), promovido pela
carreira, elas necessitam de trabalhar além
ONU Mulheres. “Valorizamos um ambien-
do agora e pensar no futuro.
te equilibrado entre gêneros porque acre-
O estudo também aponta que as
profissionais estão mais propensas a pro-
ditamos que isso faz o nosso negócio mais
dinâmico e melhor”, diz Ana.
curar empregadores que ofereçam políti-
O escritório da PwC em Ribeirão Pre-
cas de diversidade e equidade de gêneros,
to, SP, conta com 150 profissionais, e 50%
82% julgaram essas diretrizes como importantes em
um ambiente de trabalho. Essas mulheres possuem forte
afinidade com o meio digi-
Analélia exalta
a opção de seis
meses de licença
maternidade
oferecida
pela PwC
tal, conseguem se adaptar a
qualquer local de trabalho e
a todas as tecnologias. Outro
dado importante é que 20%
das entrevistadas afirmaram
que desistiriam ou adiariam
uma promoção em troca de
horários mais flexíveis de trabalho. E 97% das entrevistadas entendem
são do sexo feminino. É em Ribeirão que
que é importante ter uma vida profissional
a empresa mantém o seu Centro de inte-
equilibrada com a pessoal.
ligência do Agronegócio. Ana Paula, que
também é a líder de Agribusiness para o
PWC reforça a importância
da diversidade na empresa
Brasil e Américas, conta em sua equipe
Mas, internamente, a PwC também
ciais. Entre as ações empregadas pela em-
precisa aumentar a participação das mu-
presa para reter esses talentos está a de
lheres nas funções de liderança, pois, mes-
horários mais flexíveis de trabalho, como
mo representando 50% dos profissionais
a possibilidade de dois dias na sema-
da empresa, apenas 10% dos sócios são
na trabalhar em casa. Ana Paula, que tem
82
com várias mulheres nas funções geren-
Março · 2016
“É comum ouvirmos piadinhas
machistas”, diz Carem
25 anos de PwC, observa que muitas mulheres abrem mão de cargos de liderança
porque desejam ser mães, e se as empresas não adotarem uma gestão que ofereçam condições para que suas funcionárias
realizem esse desejo, vão perdê-las.
A colombiana Lia Fonseca é contadora, está há 10 anos no Brasil, há nove na
completar 1 ano, as mamães também têm
PwC e ocupa a função de gerente sênior.
a opção de reduzir a carga horária sema-
Lia tem uma filha e, segundo ela, o horá-
nal de 40 para 30 horas (com redução de
rio flexível oferecido pela empresa foi fun-
salário). Além de diminuir a quantidade de
damental para que continuasse suas ativi-
viagens nesse período.
dades após ser mãe. “Isso é ótimo, porque
e profissional. E, assim, temos mais con-
Lidando com
barreiras inconscientes
dições de desenvolver um bom trabalho e
Mas, e os homens que trabalham na
fica mais equilibrado o lado esposa, mãe
crescer na empresa”, diz Lia.
Por lei, a licença maternidade é de
PwC são favoráveis a esta política dirigida
às mulheres?
quatro meses, mas na PwC é de seis me-
“Existem aqueles que fazem umas
ses. Um pouco antes de ser mãe, Analé-
piadinhas, ou dão umas indiretas quando
lia Galhardo, advogada, gerente na área
saio mais cedo. É preciso deixar claro que
de Assistência Fiscal e há quase dez anos
o fato de trabalhar em casa, ou não fazer
na PwC, achou que quatro meses de licen-
horas extras, não significa que estou tra-
ça maternidade seriam o suficiente. “Esta-
balhando menos, o importante é o resul-
va totalmente enganada. Nada como ser
tado que trago para a empresa. A mulher é
mãe para aprender, é incrível como dois
focada, não fica com brincadeirinhas, não
meses na vida de um bebê fazem diferen-
perde tempo. Posso trabalhar um perío-
ça”, salienta.
do menor no escritório, mas produzo mais
Ana Paula explica que na PwC a fun-
e com melhor qualidade. No entanto, al-
cionária pode optar por quatro ou seis me-
guns homens não mudam a postura ma-
ses de licença maternidade e até a criança
chista nem frente aos resultados. Alguns
83
GE S TÃ O
“Já tive cliente que
não quis ser atendido
por mim, porque
sou mulher. E outro
que preferiu o meu
trabalho ao de um
homem”, conta Tacia
chegam a dizer que: ‘se você conseguiu
foram criados assim, e as mães desses ho-
esse resultado positivo em menor tem-
mens têm grande responsabilidade sobre
po, é porque está com pouco trabalho. Dá
isso, pois não os ensinam a ser menos ma-
mais serviço para ela’. Eles podem dizer
chistas, a dividir tarefas, a ver que homens
em tom de brincadeira, mas no fundo re-
e mulheres devem ter os mesmos direitos,
flete o que estão pensado”, diz Lia.
as mesmas oportunidades. Mas acredito
Analélia concorda que a menor carga
que o filho, por exemplo da Analélia, será
horária no escritório ou trabalhar em casa
diferente, porque ela o está educando de
são fatores que possibilitam ficar mais pró-
outra forma”, comenta Ana Paula, obser-
xima aos filhos, mas não significa que as
vando que na PwC a licença paternidade
profissionais negligenciam o trabalho. A
é de 10 dias, ao invés de cinco. E trabalhar
executiva observa que, se os pais fossem
em casa durante dois dias na semana é um
mais participativos na criação dos filhos, as
benefício para mulheres e homens.
mulheres não teriam de se sacrificar tanto.
mens se conscientizaram que ser pai é ser
Profissionalismo e jogo
de cintura para enfrentar o
machismo do agronegócio
responsável por 50% da criação do filho,
O agronegócio responde por 90% da
o fardo para as mulheres ficará mais leve.
carteira de clientes da PwC de Ribeirão. O
“Hoje, eles fazem 5%. Pai que busca filho
meio rural é considerado mais machista,
na escola é raro. Quando vez ou outra tro-
com tradições arraigadas. Mas as meninas
cam frauda ou dão mamadeira, são con-
de forma profissional, com classe e habili-
siderados heróis. E mesmo os menos pre-
dade, além de desenvolver o trabalho, en-
conceituosos, tem hora que resvalam, é
caram as situações desagradáveis. “Sim, o
que existem barreiras inconscientes. Eles
setor é bem machista. Exige jogo de cin-
Ana Paula, que é mãe de duas meninas, salienta que, no dia em que os ho-
84
Março · 2016
tura, pois, principalmente, no início sempre ouvimos piadinhas e sentimos que há
desconfiança de que iremos dar conta do
recado. Precisamos ter atitudes firmes e
mostrar nosso trabalho”, diz Carem Siqueira, supervisora de Auditoria, formada em
Administração e Contabilidade e há quase
oito anos na PwC.
Tacia Munhoz é formada em Tecnologia da Informação e Gerente de Risk Assurance e também está há quase oito na
PwC. Sobre o machismo dos produtores
rurais, ela lembra que já teve um cliente
“O agronegócio vai precisar se acostumar
com a presença feminina, pois será cada
vez mais constante”, observa Ana Carolina
que não a atendia porque ela era mulher.
“Ele se negava, só atendia o meu colega
feminina. Mas em compensação, tive ou-
de trabalho. Não confiava na competência
tro cliente, que ao perceber o meu trabalho, dispensou o meu colega e só quis ser
atendido por mim. Gostou tanto do resultado que até me convidou para trabalhar
na empresa dele.”
“Podem não acreditar, mas o setor de
mercado financeiro é muito mais machista que o de agronegócio”, afirma Lara Moraes, formada em economia e Analista Sênior de Inteligência de Mercado na PwC há
quase cinco anos. Lara, que foi analista de
investimento, viveu na pele o meio competitivo e até agressivo dos operadores da
bolsa. Então, para ela, o meio agro é até
tranquilo.
Quem está bem acostumada ao
agronegócio, pois nasceu e foi criada no
meio, é a agrônoma Ana Carolina Palaz-
“Podem não acreditar, mas o setor de
mercado financeiro é muito mais machista
que o de agronegócio”, afirma Lara Moraes
zo, Analista do Centro PwC de Inteligência
em Agronegócio, onde atua há 18 meses.
85
GE S TÃ O
Natural de Jaboticabal,
SP, Ana Carolina é de família de produtores rurais
e ao conferir a realidade do campo, as condições da lavoura, a resposta da produção, abastece
com informações e análises seus colegas de trabalho e também os clientes, para as tomadas de
decisão.
As profissionais da PwC veem um cenário
melhor para o setor, mas lamentam que o
socorro já chegou tarde para muitas empresas
Ana Carolina diz que
o agronegócio vai precisar se acostumar
com que o quadro em 2016 seja melhor.
com a presença feminina, pois será cada
Mas Ana Paula observa que, para muitas
vez mais constante. Carem concorda e diz
empresas, o socorro veio tarde e que, das
que na última seleção para contratação de
86 empresas em recuperação judicial no
trainee na PwC, as mulheres já ocuparam
setor poucas conseguirão se salvar. “O en-
51% e que os homens selecionados cos-
dividamento é muito alto”, ressalta Carem.
tumam desistir da vaga com maior facili-
“Essas empresas não irão trocar de mão,
dade. Ana Paula explica que isso acontece
irão fechar, pois o país não gera confian-
porque a faixa etária dos trainees é entre
ça para os investidores, tanto os de fora
19 e 24 anos. Como a mulher amadurece
como os do setor não estão interessados
mais cedo, nesta idade ela já é mais com-
por comprar usinas”, completa Ana Paula.
prometida, mais focada. Tacia diz que na
Para o desenvolvimento do setor, Ana
sua área de ciência da computação as mu-
Carolina destaca a contribuição das novas
lheres estão se destacando por apresenta-
tecnologias, como a muda pré-brotada
rem maior capacidade de relacionamento.
(MPB). Já Analélia observa que com o alto
valor do dólar, está muito barato comprar
Elas e o setor sucroenergético
no Brasil, o que vai incrementar a expor-
E como estas especialistas estão en-
tação de commodities agrícolas. Para as
xergando o cenário sucroenergético? Para
profissionais da PwC, a crise da China não
Lia, os melhores preços dos produtos do
vai afetar o consumo de alimentos naque-
setor, a volta parcial da Cide e a manuten-
le país. “E com o menor estoque mundial
ção do preço em alta da gasolina, fazem
de açúcar, o apetite dos chineses por nosso produto continuará grande”, diz Lara. O
86
que adoçará o caixa das usinas brasileiras.
Março · 2016
N O R D ESTE
Elisabeth: “o segredo para se ter uma boa
matéria-prima é o cuidado com a cana”
NA PARAÍBA, MÃE E FILHA CONCILIAM A PRODUÇÃO
DE CANA E DE ALIMENTOS COM SUSTENTABILIDADE
Cana faz rotação com
cará e batata-doce
Clivonei Roberto
E
lisabeth Lundgren lida com cana-de
cia foi um verdadeiro doutorado em cana.”
-açúcar desde que casou, em 1982,
O tempo passou, Elisabeth separou-
quando foi morar no engenho da fa-
se do marido há cerca de dez anos, mas
mília de seu ex-marido, na Mata Sul de
não abandonou a paixão pela cultura ca-
Pernambuco. O primeiro contato com a
navieira. Na propriedade rural que herdou
cultura não foi muito bom. “Sou filha de
da família, no Município de Conde, na Pa-
agricultores, mas estava acostumada com
raíba, passou a colocar em prática tudo o
outras lavouras, como coco, cará, inhame,
que tinha aprendido sobre a cultura e so-
frutas. Por isso, minha primeira impressão
bre agricultura, cultivando uma área de
do canavial foi de uma cultura muito rústi-
280 hectares.
ca, de colheita feia.”
Atualmente, aos 60 anos de idade,
Mas rapidamente mudou de opinião.
ela formalizou uma empresa familiar com
Começou a conhecer os detalhes da cultu-
o casal de filhos. Mas por enquanto é a fi-
ra, até porque o sogro falava o tempo todo
lha quem está seguindo o legado da mãe.
daquela tal cana-de-açúcar. “A cada procedimento que tomava no campo ele con-
Produtividade duplicou
tava pra gente, quando plantava, quando
Mesmo antes de separar-se, Elisabe-
colhia, quando adubava. Aquela experiên-
th já se dedicava aos negócios da fazenda.
87
N O R D ESTE
Teste com Microgeo: busca por novas tecnologias é prioridade
“Desde que deixamos de arrendar a pro-
Queiroga Cavalcanti, 31 anos.
priedade e viramos fornecedor de cana
Ao ouvir o entusiasmo de Nathalie
para a destilaria, cuido da parte burocráti-
ao falar sobre a produção canavieira, pelo
ca. No Nordeste as esposas dos produto-
jeito o futuro do negócio da família está
res sempre estão ajudando muito os ma-
em boas mãos. Ela conta que cresceu con-
ridos nesta parte, porque eles não dão
vivendo com a cana-de-açúcar. “A primeira
conta de cuidar disso e também da pro-
vez que fui com meu pai acompanhar um
dução”, relata. A contabilidade e a folha
plantio, fiquei impressionada. Mas o que
de pagamento da fazenda sempre ficaram
sempre me encantou é o fato de ser maté-
sob sua responsabilidade
ria-prima usada para a produção de vários
Mas desde que assumiu o contro-
produtos, como para a alimentação, ener-
le do negócio, além de continuar lidando
gia, ração animal.” Na família, Nathalie –
com a “papelada” e as repartições públi-
que é formada em Arquitetura com Mes-
cas, também acompanha toda produção
trado em Engenharia Civil - é pelo menos
de perto. Para isso, conta principalmente
a terceira geração de mulheres que labu-
com a ajuda da filha, Nathalie Lundgren
tam na produção de cana-de-açúcar.
88
Março · 2016
Na verdade, Elisabeth sabia que tra-
das prioridades é fazer uma boa adubação
zer a filha para a gestão seria um grande
da área, mas sempre a partir da análise do
impulso ao negócio. “Minha mãe sempre
solo. “O nosso solo precisa dessa atenção.
teve uma visão muito inovadora, bus-
Mas além da adubação certa, fazemos ir-
cando o que havia de melhor em adubo,
rigação, aplicamos herbicida de qualida-
equipamentos, saúde do trabalhador. Mas
de. Sempre fiz minha socaria com produto
quando cheguei tentei trazer mais tecno-
bom. Para mim, o segredo para se ter uma
logia”, diz a filha.
boa matéria-prima é o cuidado que se tem
Recentemente ela implantou um sis-
com a cana”, diz Elisabeth.
tema de mapeamento da propriedade,
A Asplan (Associação dos Plantado-
que facilita a gestão do negócio. “No sis-
res de Cana da Paraíba) e a Universidade
tema tenho a idade de cada área, a varie-
Federal Rural de Pernambuco estão reali-
dade que está plantada e várias outras in-
zando um mapeamento para definir o per-
formações. Antes não havia
muito controle.”
Sob o comando de mãe
O solo da
propriedade é
muito arenoso
e filha, a produtividade da fazenda praticamente duplicou.
“Até 2008, produzíamos 7 mil
toneladas de cana, hoje produzimos por volta de 15 mil
toneladas (safra 2014/15).”
Toda cana produzida por
Elisabeth e Nathalie é entregue ao Grupo Biosev – Destilaria Giasa. Na safra atual fornecerão um volume de 13 mil
toneladas, 2 mil toneladas a
menos do que no ciclo anterior. A seca foi dura.
O segredo é
o cuidado com a
cana
Para viabilizar a produção de cana-de-açúcar, uma
89
N O R D ESTE
O plantio de alimento em
rotatividade com cana só é
viável nas áreas com irrigação
fil do solo da fazenda. “Estamos em uma
testando é o microgeo. “Uma aduba-
área de tabuleiro. Queremos ver como
ção que trabalha diretamente com os
está a condição nutricional das nossas
micronutrientes do solo, permitindo o
áreas. Afinal, não adianta jogar produtos,
melhor enraizamento e combatendo a
tratar o solo de uma forma se ele não vai
compactação.”
responder da melhor maneira.”
Uma tecnologia que Nathalie está
Embora o regime pluviométrico seja
satisfatório, até porque a propriedade está
Milho é uma das culturas plantadas em áreas de renovação
90
Março · 2016
na Zona da Mata paraibana, irrigar tam-
aptas à realidade da região.
bém é fundamental para atingir bons ní-
Nathalie diz que é muito curiosa. Está
veis de produtividade. Elas utilizam do
sempre buscando mais informações para
método de aspersão, captando água de
aplicar na fazenda. “O resultado de fazer-
uma grande lagoa que há na fazenda.
mos tudo certo e inovarmos é que hoje a
Mas Nathalie está atenta a novas so-
Giasa diz que o melhor índice de ATR da
luções de irrigação. Pretende implantar a
destilaria é da minha área”, comemora a
tecnologia de gotejamento em toda pro-
matriarca da família.
priedade no futuro. Atualmente insta-
É a Destilaria que se responsabiliza
lou na área um experimento de irrigação
pela colheita dos canaviais de Dona Elisa-
por gotejo – um projeto que já é realidade
beth, que é feita manualmente. Ela é des-
na Índia. Trata-se de uma mangueira feita
confiada quanto à qualidade da mecaniza-
com material reciclável (pneu) que permi-
ção do corte da cana. “Minha propriedade
te tanto a irrigação como a retirada do ex-
é plana, mas meu solo é muito arenoso. E
cesso de água.
o que se tem são máquinas grandes que
Atualmente ela está buscando infor-
prejudicam a cana. Abalam as raízes, com-
mações sobre a tecnologia de plantio por
pactam o solo, estragam a socaria. Esse
mudas pré-brotadas, que tem sido já im-
é meu medo”, diz Elisabeth, que comple-
plantada por algumas usinas paraibanas.
ta: “Até hoje não chegaram num sistema
No entanto, aponta como demanda mais
de colheita tão suave como a mão do ho-
urgente o desenvolvimento de variedades
mem”. Sem contar que a colheita da cana
absorve muita mão de obra na região.
Para obter bom desempenho agríco-
Dona Elisabeth e Nathalie
mostram que é viável
plantar alimento nas áreas
de descanso de cana-deaçúcar, como a macaxeira
la, mãe e filha contam com o suporte técnico oferecido pela Asplan, onde dona Elisabeth é suplente do Conselho Fiscal.
91
N O R D ESTE
Na última colheita de batatadoce, foram colhidas 14 toneladas
por hectare de duas variedades
diferentes: siciliana e paulistinha
Produção de alimento
Rotação de cultura é uma estratégia
fundamental para Nathalie e dona Elisabeth. Como o solo é pobre, arenoso, a rotação enriquece a terra e acaba sendo uma
fonte de renda importante, uma vez que
elas não abrem mão de plantar alimentos
nas áreas de descanso.
“Utilizamos cará São Tomé, batata-
do. “E o bom é que o cronograma do cará
doce, macaxeira, milho, mas estas culturas
combina certinho com o da cana-de-açú-
viabilizamos nas áreas que têm irrigação”,
car”, comenta Nathalie.
conta Nathalie. Outra cultura que já ado-
“Como minha mãe sempre diz, nós
taram no passado em rotatividade com
mexemos com agricultura acima de tudo,
a cana foi o mamão, que ainda é utiliza-
somos produtores. Ela brinca que produ-
da por produtores da região. “O mamão
zir cana é cultura de preguiçoso, porque
deixa volume de matéria orgânica. Nes-
as culturas de rotação exigem mais cui-
tes talhões, a produtividade sempre era
dado e acompanhamento apurado, além
maior.” Além disso, Nathalie está estudan-
de maior volume em irrigação e mais mão
do uma parceria para plantar outra cultu-
de obra.” Nathalie lembra que a renda ob-
ra em rotação com cana: a soja. “É impor-
tida nas áreas plantadas com alimento é
tante sempre ‘abrir a cabeça’ para outras
importante para dar suporte a outros in-
possibilidades.”
vestimentos feitos na propriedade. A área
Na última colheita de batata-doce, elas colheram 14 toneladas por hecta-
de renovação anual da fazenda gira entre
15% a 20%.
re de duas variedades diferentes: siciliana
Ela reconhece que não é fácil domi-
e paulistinha. Já o cará, que foi plantado
nar tudo sobre o setor sucroenergético,
em 8 hectares, está prestes a ser colhido. E
“mas vamos, aos poucos, nos apropriando
esperam isso com ansiedade, porque este
de conhecimento. Depois que pega jeito,
produto está com bom preço no merca-
vai no automático”. Também sempre busca
92
Março · 2016
conselhos do pai, que continua produzin-
No futuro, Nathalie vai dar sequência
do cana na Mata Sul de Pernambuco. Uma
à produção de cana da família, mas sem-
região onde, nas áreas mais acidentadas, o
pre agregando novos projetos tanto volta-
canavial já tem dado lugar a outras cultu-
dos para a produção canavieira como para
ras, como ao eucalipto.
o cultivo de alimentos.
Renda obtida com as áreas plantadas com alimento é importante
para dar suporte aos investimentos feitos na propriedade
93
N O R D ESTE
Área verde
A fazenda preserva mata de 320 hectares
U
m dos orgulhos de dona Elisabeth é a área verde que mantém em sua
propriedade, que está a 50 km de João Pessoa e a 17 km da praia de Jacumã. Ao todo são 320 hectares. Assim que assumiu a fazenda por he-
rança proibiu que se cortasse qualquer árvore da área e iniciou o reflorestamento
e a proteção das nascentes. “Fiz questão de proteger tudo aquilo porque quem
planta cana-de-açúcar tem que gostar da natureza e da terra.”
Para Nathalie, a filosofia de sua mãe é um belo exemplo de que é possível conciliar meio ambiente com produção. Ela não quer preservar porque gosta das orquídeas que encontra na vegetação. É uma visão sustentável, uma vez
que a manutenção da mata é importante para a proteção das nascentes, e a água
que vem da vegetação é utilizada para a irrigação da lavoura. Além disso, a manutenção do equilíbrio ambiental é importante para a preservação do bioma local e do microclima.
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Março · 2016
95
LO G Í S TICA
O olhar feminino
faz muita diferença
ROSANA ZUMSTEIN, GESTORA DE UMA DAS PRINCIPAIS
OPERADORAS LOGÍSTICAS DO SETOR SUCROENERGÉTICO
Rosana A. S. Zumstein: “não fiquei parada na arquibancada
da vida. Fui à arena, briguei e fiz o meu melhor”
Clivonei Roberto
A
pesar da crise política e econômi-
muito a oferecer para a recuperação do
ca nacional, o setor sucroenergé-
PIB (Produto Interno Bruto) e para dar vi-
tico mostra a sua força e impor-
sibilidade e credibilidade internacional ao
tância estratégica para o mercado, tanto
Brasil. Também é uma opção de investi-
na produção de açúcar e etanol, como de
mento, com grande potencial de cresci-
bioeletricidade. A indústria da cana tem
mento, geração de empregos, tecnologia
96
Março · 2016
Time de mulheres da TransEspecialista
e recursos para nação.
sobreviver à crise dentro do que é nossa
Mesmo com a retração da deman-
política de missão, visão e ética, manten-
da, a TransEspecialista (TE), empresa es-
do a qualidade, agregando cada vez mais
pecializada em logística de suprimentos,
valor ao nosso produto”, acrescenta.
que atua nos principais players do mer-
Gerir um negócio com movimento
cado, comemora a recuperação gradativa
tão expressivo em períodos de recessão
do setor e a superação dessa cadeia pro-
na economia nacional é desafiador. Diante
dutiva. “Percebemos que os clientes con-
das dificuldades do mercado, vêm à tona
tinuam comprando e investindo. Alguns
as habilidades que Rosana desenvolveu
já comemoram os números positivos do
ao longo da carreira, incluindo 14 anos no
último ciclo”, analisa Rosana A. S. Zums-
sistema financeiro, além de outras experi-
tein, diretora administrativa e financeira
ências importantes, na antiga Zanini e no
da TransEspecialista.
Grupo Balbo.
A empresa dirigida por Rosana man-
“Muitas vezes o homem, diante das
tém o foco na qualidade. “Não é porque
adversidades, precisa enxergar a floresta e
o mercado está em crise que vamos leilo-
não a árvore. A TransEspecialista precisou
ar nossos fretes ou assumir um compor-
fazer alguns ajustes em 2015, mas sem-
tamento predatório. Definimos que vamos
pre mantendo a valorização das pessoas
97
LO G Í S TICA
como base, com foco em manter o padrão
nino. Trabalham conosco pessoas que têm
de atendimento ao cliente e o compromis-
comprometimento com o cliente e amor
so com os funcionários, seguindo a filoso-
pela nossa empresa, sendo do sexo mas-
fia da instituição.”
culino ou feminino”, diz Rosana.
O critério é o
comprometimento
Quando a logística
é uma missão
Hoje a TransEspecialista é a principal
Rosana está acostumada com o mun-
operadora logística do setor sucroenergé-
do dos transportes desde pequena. Sabe
tico. Sediada em Sertãozinho, SP, tem fi-
das dificuldades e riscos da atividade. E
liais espalhadas por todo o estado de São
desde a criação da empresa, ombro a om-
Paulo, além de Goiás e Mato Grosso do
bro com o seu irmão, Ricardo Amadeu da
Sul. Possui em seu quadro de funcioná-
Silva, busca soluções logísticas como dife-
rios 55 mulheres. “Elas são profissionais de
rencial de competitividade.
aço e de flores, fortes guerreiras que con-
Desde o seu primeiro emprego, na
tribuem muito para o sucesso da empre-
Zanini Comércio Internacional, na década
sa. Não temos uma política específica para
de 80, ela lembra do seu foco na qualidade
contratação de profissionais do sexo femi-
e na obsessão por fazer bem feito, quan-
“Trabalham conosco pessoas que têm competência,
sendo do sexo masculino ou feminino”, diz Rosana
98
Março · 2016
Rosana e o
irmão, Ricardo
Amadeu, uniram
suas experiências
para criar a
TransEspecialista
do “avançou nos estudos para desbravar
do trabalho, mas ela sempre estava lá se-
novos horizontes”. Trabalhou na Prefeitura
gurando as pontas.”
de Sertãozinho, no Grupo Balbo e fez car-
Apesar da grande admiração e res-
reira no banco Nossa Caixa, até ingressar
peito pela mãe, que era do lar, Rosana
como diretora financeira da TransEspecia-
queria independência profissional e finan-
lista. Na época a empresa, fundada pelo ir-
ceira. Almejava conquistas, planejava evi-
mão, ganhava corpo e precisava desenvol-
tar os sufocos que viu sua família passar
ver a área financeira e CSC.
quando eram crianças. “Hoje posso dizer
“É como se toda experiência que
que não fiquei parada na arquibancada
acumulamos fosse voltada para a nos-
da vida. Fui na arena, briguei e fiz o meu
sa missão. Viemos de uma família de pai
melhor.”
caminhoneiro e aos poucos fomos sen-
Rosana tem orgulho de sua trajetória.
do construídos pela vida para, lá na fren-
“E hoje tenho satisfação de ver tantas mu-
te, fundarmos uma operadora logística”,
lheres guerreiras, mais de 50 mulheres de
conclui.
fibra, trabalhando conosco. Mães e meninas que fazem a diferença. Mulheres mui-
O legado da Dona Neusa
to estratégicas para a nossa instituição.”
Embora o interesse pelo transporte e
Ela quer fazer do legado da família
pela logística seja herança do pai, Rosana
exemplo para os seus dois filhos, Thales
destaca a importância de sua mãe na tra-
e Letícia, e também para as pessoas que
jetória da família. “Ela foi fundamental na
os rodeiam. “Tenho grande confiança nas
nossa formação.” Mesmo com 1,40 m de
nossas diretrizes e escolhas. Minha expec-
altura e pesando 42 kg, dona Neusa sem-
tativa é de sempre poder ajudar a socie-
pre se agigantou diante dos desafios da
dade e o setor em que atuamos, geran-
família. “Ela foi nosso pilar. Muitas vezes
do empregos e soluções logísticas cada
nosso pai passava semanas fora por causa
vez mais inovadoras e sustentáveis”, finaliza Rosana.
99
MAR K E TIN G
Elas fazem da cana um show
CONHEÇA O TIME FEMININO QUE ORGANIZA OS SEMINÁRIOS DO GRUPO IDEA
Somente em 2015, os eventos do Grupo IDEA tiveram 3 mil inscritos
Clivonei Roberto
D
ois dias intensos de difusão de
um dos seis eventos do calendário.
conhecimento, apresentação de
Os eventos do grupo IDEA, há duas
tecnologias, networking. E no fi-
décadas, levam conhecimento, informa-
nal de cada evento, aplausos. O nível de
ções, debates e novidades aos profissio-
satisfação dos participantes dos seminá-
nais do setor. “Ao longo do ano, visito em-
rios do Grupo IDEA é sempre alto. Não é
presas, converso com profissionais e vou
à toa que, mesmo em tempos difíceis para
descobrindo e garimpando onde estão as
o setor, continuaram atraindo centenas de
novidades que interessam ao setor e iden-
participantes todo ano. Somente em 2015,
tificando os melhores especialistas que
os eventos tiveram cerca de 3 mil inscritos,
podem abordar cada assunto”, conta Dib
com uma média de 500 pessoas em cada
Nunes, diretor do Grupo IDEA e respon-
100
Março · 2016
101
MAR K E TIN G
sável pela definição da programação de
nha que subir ao palco para apresentar o
cada seminário.
“show”.
Mas, para ele, o êxito dos even-
Segundo ele, não coloca apenas mu-
tos está além disso: “Devo 90% do suces-
lheres na organização dos eventos, mas dá
so à equipe do Grupo IDEA, comandada
preferência a elas pela qualidade do tra-
pela minha filha, Andrea Nunes. O traba-
balho que desenvolvem. “Elas pensam nos
lho dela à frente da área de marketing da
detalhes, e para quem organiza um even-
empresa me dá sustentação muito gran-
to, prestar atenção em todos os pontos e
de”, diz.
detalhes é fundamental”, diz Dib, embo-
Dib Nunes: “Devo 90% do sucesso à equipe do Grupo IDEA,
comandada pela minha filha, Andrea Nunes”
Dib tem uma equipe basicamente
ra lembre que a equipe também é com-
formada por mulheres que deixam tudo
posta por um homem, o economista Jor-
pronto. “Considero o fato de não ter que
ge Gonçalves.
me preocupar com arte, com contratos,
Mas não tem como negar: são elas
com vendas um grande alívio. E o sucesso
que estão à frente da organização do
está aí, sobrando mais tempo para que me
espetáculo.
dedique às minhas consultorias”, sublinha
Dib. Fica praticamente tudo encaminhado
Visão estratégica
para que, no dia do evento, ele apenas te-
Andrea Nunes, gerente de Marketing
102
Março · 2016
do Grupo IDEA, lembra que os cinco even-
rios e as ações da consultoria por meio de
tos mais antigos da empresa já são tradi-
um serviço especializado de assessoria de
cionais no setor e surgiram por demanda
imprensa, tanto junto aos profissionais do
do mercado, que ressentia da carência de
setor como para os meios de comunica-
eventos técnicos voltados à cana-de-açú-
ção. Além disso, o IDEA disponibiliza um
car. “São eventos de nicho, bem focados
clipping de notícias, que é enviado dia-
nesse setor, com conteúdos técnicos e
riamente para o mailing da empresa. Um
bem práticos para o dia a dia da usina e
próximo passo, previsto para este ano, é
do produtor de cana”, salienta.
a reformulação do website, visando ofere-
Na área de comunicação, Andrea fica
cer mais conteúdos e facilitar a navegação.
mais no campo estratégico. Uma das novidades que implantou é um projeto de
marketing de conteúdo. “Ao longo do ano,
produzimos muito conteúdo de alto nível,
tanto nos eventos como na consultoria.
Acreditamos que essas informações não
Conheça
o minuto Idea
podem ficar presas dentro de casa. Surgiu
a ideia de criarmos ferramentas para compartilhar esse conteúdo que temos e que
são divulgados nos nossos eventos, tanto
conhecimento técnico como análises de
conjuntura e de mercado.”
Comunicação
Dentro deste conceito, surgiu o Mi-
A outra filha de Dib, Juliana Nunes, é
nuto IDEA, para o qual, em cada evento,
a responsável pela criação de materiais de
palestrantes que abordaram temas interes-
comunicação para os eventos do Grupo
santes são entrevistados. São produtores,
IDEA. “Sou responsável pela criação dos
profissionais de usinas, consultores, exe-
layouts de todas as peças que produzi-
cutivos de empresas. O objetivo é trans-
mos para a divulgação dos eventos (malas
mitirem em um ou dois minutos uma sín-
diretas, e-mails marketing, folders, ban-
tese do que apresentaram no seminário.
ners, anúncios etc); pela comunicação du-
Todo vídeo do Minuto IDEA é coloca-
rante os eventos (programas, cenário, cre-
do à disposição no canal do IDEA no youtu-
denciais etc) e pela comunicação após os
be, e depois é divulgado no site da empre-
eventos (fact sheet, agradecimentos, certi-
sa ou pelas mídias sociais da CanaOnline.
ficados etc)”, relata.
O Grupo também divulga os seminá-
Juliana reconhece que não é possível
103
MAR K E TIN G
ousar muito na divulgação dos eventos.
Twitter, postando as principais notícias do
“Como são bem técnicos, é preciso manter
setor, do canal do Grupo IDEA no YouTu-
certa seriedade na elaboração do mate-
be e da página do Seminário de Biomas-
rial. Além disso, quando assumi a área na
sa no Facebook. Ainda temos como obje-
empresa, os layouts já eram trabalhados
tivo aumentar a nossa presença nas redes
em cima de muito verde (da cana) e mui-
sociais neste ano; então cabe a mim a par-
ta imagem de canavial, o que é bem difí-
te gráfica da comunicação nas redes”, re-
cil de ser mudado. Mas aos poucos estou
lata Juliana.
implantando um novo estilo, que pode ser
Para ela, o fato de a organização dos
percebido nas últimas campanhas do Se-
eventos do Grupo IDEA estar praticamen-
minário de Biomassa e do Seminário so-
te nas mãos de um time feminino faz mui-
bre Produtividade & Redução de Custos.”
ta diferença. “As mulheres têm maior sen-
As duas irmãs trabalham em sinto-
sibilidade para lidar com situações mais
nia para que tudo saia conforme o que foi
delicadas da empresa.” Afirma que têm um
planejado. Tanto que, neste ano, para po-
jeito especial de se comunicarem, o que
tencializar a divulgação dos eventos, as
faz com que o trato com o público seja
duas começaram a trabalhar com as redes
diferenciado. “Colocamos nosso carinho
sociais. “Cuido do canal do Grupo IDEA no
e jeito para fazer com que todos se sin-
Da esquerda para a direita, Fernanda, Juliana, Lívia e Patrícia:
o segredo do sucesso está na dedicação e talento das meninas do IDEA
104
Março · 2016
As meninas
preparam o
palco para o Dib
comandar o show
tam bem-vindos, confortáveis e bem tra-
pre nos deparamos com diversos proble-
tados. Sem contar que as mulheres con-
mas, como prazos distintos para paga-
seguem desempenhar várias tarefas ao
mento e recebimento.”
mesmo tempo, coisa que sempre acaba-
Um dos grandes problemas que o
mos tendo que fazer durante um evento”,
Grupo IDEA tem enfrentado é o aumento
afirma Juliana.
dos custos para a organização dos eventos.
“O setor de eventos vem crescendo demais
Financeiro
em todo o país. Então, independente se
Para Patrícia Pereira, gerente admi-
tem crise no setor sucroenergético ou não,
nistrativa-financeira do Grupo IDEA, o su-
os fornecedores de eventos estão sempre
cesso dos eventos da empresa está no
aumentando seus valores. Ano após ano
trabalho em equipe e na valorização do
nós lutamos com acréscimos que variam
participante. “Ao organizar, nos colocamos
de 10% a 40% em nossos custos”, comenta
no lugar de quem vem participar de cada
a gerente administrativa-financeira.
evento, ou seja, trabalhamos o conteúdo e
“Como não podemos repassar esse
fazemos o melhor pensando no profissio-
aumento para nossos patrocinadores, nem
nal que se inscreve”, explica.
para os nossos visitantes, então o maior
Mas para que tudo saia redon-
desafio tem sido a negociação com for-
do, uma área muito sensível em qual-
necedores, para que possamos continu-
quer evento é a financeira, exatamente a
ar crescendo nossos eventos e sem nunca
que fica sob a responsabilidade de Patrí-
perder a qualidade e a credibilidade”, afir-
cia. “Trabalhar com dinheiro é muito com-
ma Patrícia.
plicado. Cada empresa, seja patrocinadora, participante ou fornecedora, tem suas
Operacional
próprias regras financeiras. Por isso, sem-
Responsável pela área operacional,
105
MAR K E TIN G
Tudo precisa estar impecável no dia do evento
Fernanda Queiroz, coordenadora de even-
disponíveis para cada evento, prepara as
tos do Grupo IDEA, tem uma equação in-
pastas e crachás dos participantes.
falível para que tudo saia bem em cada
seminário: “tranquilidade, dedicação, mui-
E quando chega o dia do evento,
tudo tem que estar impecável.
ta organização e respeito”. Considerando
- Os palestrantes precisam estar
que cada atividade tem muitos detalhes,
bem informados sobre o horário de cada
para serem encaminhados antes, durante
apresentação e tempo de duração de sua
e depois, um check-list completo de todos
palestra.
os afazeres contribui muito para que se tenha visão do todo. Além disso, antecipar-
- O balcão de credenciamento e distribuição de pastas deve ser eficiente.
se é uma das receitas mais importantes
- O equipamento audiovisual e os
para se evitar desgastes e diminuir erros.
microfones têm que estar funcionando
Por isso, a construção de cada seminário
adequadamente.
começa bem antes do evento em si.
- A logística do coffee break tem que
Fernanda se preocupa com a estru-
ser perfeita para não atrapalhar o crono-
tura dos seminários. Sabe das peculiarida-
grama do evento e garantir um tempo
des de cada operação, faz previsões para o
para o networking dos participantes.
coffee break, determina se a formação do
- O recinto que vai receber o público
auditório será só de cadeiras ou de cadei-
deve estar bem organizado, com boa visi-
ras com mesas, sabe quantas pessoas ca-
bilidade independente da posição que se
bem em cada espaço, adéqua os recursos
ocupe no auditório.
106
Março · 2016
- Já o material de divulgação dos pa-
atuar quando escolheu fazer a faculdade
trocinadores e apoiadores também tem
de Administração de Empresas: a organi-
que estar bem posicionado.
zação de eventos, “que requer muito mais
“A nossa equipe é pequena, e por
do que conhecimento financeiro”.
isso o trabalho em conjunto se torna ainda
Ou seja, trabalhar na organização
mais importante. Os objetivos e as metas
dos eventos do Grupo IDEA é uma verda-
são comuns, e ficam mais fáceis de serem
deira escola. Mais ainda para quem parti-
alcançadas se todos os departamentos es-
cipa dos seminários. “As pessoas procuram
tiveram alinhados”, observa Lívia Pereira,
os nossos eventos principalmente em bus-
do Departamento Administrativo da em-
ca de conhecimento, de novidades e de
presa, que nos eventos é responsável pelo
alguma solução. Nosso sucesso vem exa-
atendimento e controle de inscrições.
tamente por conseguirmos manter as pes-
Para Lívia, participar da preparação
soas sempre ligadas ao Grupo IDEA por
dos seminários ajudou a enxergar o vasto
meio da divulgação de informações im-
campo de uma área que não pensou em
portantes e novidades”, pontua Lívia.
Agenda de eventos para 2016
VEJA ABAIXO OS EVENTOS DO GRUPO IDEA PROGRAMADOS PARA 2016:
18º Seminário de Mecanização & Produção de Cana:
- 30 e 31 de março de 2016 no Centro de Eventos Taiwan;
15º Herbishow:
- 11 e 12 de maio no CCRP (Centro de Convenções de Ribeirão Preto);
12º Insectshow:
- 13 e 14 de julho no CCRP;
2º Seminário sobre Biomassa da Cana-de-Açúcar & Cia:
- 10 e 11 de agosto no CCRP;
10º Grande Encontro de Variedades de Cana:
- 28 e 29 de setembro no CCRP;
15º Seminário sobre Produtividade & Redução de Custos na Agroindústria Canavieira:
30 de novembro e 01 de dezembro no CCRP.
107
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
Tempo curto para a manutenção
COM UMA SAFRA QUASE ININTERRUPTA, É IMPORTANTE QUE AS
UNIDADES PLANEJEM CORRETAMENTE SUAS AÇÕES PREVENTIVAS E
DIVULGAÇÃO GRUPO SANTA TEREZINHA
CORRETIVAS PARA NÃO FICAR NA MÃO DURANTE O PRÓXIMO CICLO
Na Unidade Ivaté, os dois primeiros meses de 2016 foram reservados para a manutenção
Leonardo Ruiz
N
o Centro-Sul, o último e os pri-
uma situação atípica. A grande incidência
meiros meses de cada ano são
de chuvas ao longo do ano passado dei-
reservados para a entressafra nas
xou muita cana em pé, muitas unidades
usinas de cana-de-açúcar. Esse período,
optaram por continuar o processamento,
que geralmente vai de dezembro a março,
estendendo a moagem até os primeiros
é dedicado para avaliações e reparos nos
meses de 2016. Embora seja relativamen-
maquinários e equipamentos a fim de que
te positiva do ponto de vista financeiro,
tudo esteja funcionando 100% quando a
essa opção deve ser feita com cautela, já
nova safra chegar.
que as manutenções de entressafra são vi-
Porém, o atual ciclo foi marcado por
108
tais para que não haja nenhuma surpresa
Março · 2016
quando a nova safra começar.
“Tradicionalmente, as manutenções na en-
Na Unidade Ivaté, do Grupo Santa
tressafra são realizadas de forma preven-
Terezinha, localizada na cidade paranaen-
tiva e corretiva, anualmente, sendo um fa-
se de mesmo nome, o processo de pro-
tor de maior segurança. No entanto, para
dução foi interrompido na última sema-
aqueles equipamentos que sofrem maior
na de dezembro. Em função das previsões
desgaste por abrasão, como o setor de ex-
de chuva para o mês de janeiro, a Empre-
tração e caldeiras, o risco de parada por
sa viu que não seria viável manter a ope-
deficiência na manutenção é maior, o que
ração em função da elevação de custos e
poderá acarretar queda da produtividade
queda na produtividade. “Dessa forma, os
e maior custo em caso de quebras.”
meses de janeiro e fevereiro foram reser-
E são esses equipamentos, segundo
vados para a manutenção”, afirma a geren-
a gerente industrial, que devem ter suas
te industrial da Unidade, Elenilda Apareci-
manutenções priorizadas quando a Usina
da Trazzi Rodrigues.
tiver que enfrentar uma entressafra mais
curta. “No caso da moenda, em função do
va possível, pois um curto espaço de tem-
alto desgaste, a manutenção deve ser pri-
po entre as safras, ou a falta dele, impacta
vilegiada no refrisamento de camisas; na
severamente nas manutenções industriais.
recuperação de martelos, facas, rodetes,
DIVULGAÇÃO GRUPO SANTA TEREZINHA
Para ela, essa opção é a mais asserti-
Revestimentos criam uma camada de proteção nos equipamentos industriais,
impedindo a infiltração de substâncias corrosivas e ataque químico ao metal
109
DIVULGAÇÃO QUIMATIC TAPMATIC
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
Bomba de água com fuligem em ferro fundido
bombas; na inspeção preventiva de eixos
Protegendo a indústria
e na manutenção de correntes da mesa de
Não é segredo para ninguém que a
alimentação e das esteiras de arraste.”
situação atual do setor canavieiro não é
Ainda de acordo com Elenilda, os
das melhores. Dessa forma, é importante
equipamentos de geração de energia, que
que as usinas adotem, nesses períodos de
também sofrem com a abrasão, como tur-
manutenção, as melhores estratégias pos-
binas, redutores, geradores e internos das
síveis, para que o processo seja feito com
caldeiras (tubulações), também devem
eficiência e com o menor custo possível.
contar com atenção redobrada nesse pe-
Dados divulgados pelo fabricante de
ríodo. “Com essas manutenções em pon-
especialidades químicas Quimatic Tapma-
tos mais críticos do processo, a Usina será
tic apontam que, durante uma entressafra,
capaz de moer de forma ininterrupta até o
é possível conquistar uma economia de
final do próximo ciclo.”
até 80% ao substituir a compra de equipa-
110
Março · 2016
111
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
mentos novos pela manutenção, seja ela
preventiva ou corretiva.
seus vapores.
Outro tipo de produto bastante utili-
Segundo a empresa, vários equipa-
zado nas usinas canavieiras é o fundo con-
mentos desgastados e danificados podem
vertedor, que converte a ferrugem das es-
ser completamente recuperados. Desta
truturas metálicas em um fundo pintável
maneira, eles ganham uma nova vida útil,
que dispensa a aplicação de outros fundos
que costuma durar por até duas novas sa-
e deixa a superfície pronta para receber a
fras, quando então serão reavaliados para
demão de tinta de acabamento.
um novo reparo ou troca definitiva.
Já as resinas podem recuperar outros
As bombas, roscas transportadoras
equipamentos desgastados e corroídos.
e outros equipamentos que sofrem com
Fáceis de aplicar e altamente resistentes
após a cura, os produtos preenchem trincas e furos, devolvem os formatos originais das
Daniela Lewkowitz:
economia de até 80%
com a manutenção
peças e formam uma nova camada protetora de alto valor
agregado.
desgaste abrasivo do bagaço da cana, pe-
A engenheira química da Quimatic
dras e arraste de sólidos envolvidos no
Tapmatic, Daniela Lewkowitz, afirma que a
processo, por exemplo, podem receber a
utilização desses revestimentos é de gran-
aplicação de um revestimento industrial
de valia para o setor sucroenergético. “A
que irá aumentar, significativamente, sua
procura por esse tipo de produto aumen-
resistência à abrasão. Já as bombas, tan-
tou consideravelmente nos últimos anos,
ques, peneiras, roscas transportadoras, es-
principalmente por ser uma solução que
palhadores e válvulas podem ter sua vida
reduz os custos de manutenção optan-
útil prolongada, pois o revestimento irá
do pela recuperação em vez da compra
proporcionar uma excelente resistência
de novos equipamentos e componentes
ao ataque corrosivo da cana, inclusive de
mecânicos.”
112
Março · 2016
C AN A SU BSTAN TIVO FE MI NI NO
PRÉ-PROGRAMAÇÃO V ENCONTRO
CANA SUBSTANTIVO FEMININO
V ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO
10 DE MARÇO DE 2016, NO CENTRO DE CANA DO IAC, EM RIBEIRÃO PRETO, SP
WWW.CANASUBSTANTIVOFEMININO.COM.BR
WWW.FACEBOOK.COM/CANA.SUBSTANTIVO.FEMININO
8h00 às 8h45 – retirada das credenciais
- Ana Carolina Velasco, Gerente de Rela-
8h45 – abertura
cionamento do GIFE - Grupo de Institutos
9h00 às 10h30 – A sustentabilidade ga-
Fundações e Empresas, confirmada
nha espaço na gestão empresarial – das
- Cristiane Lourenço, Gerente de Desen-
ações socioambientais à boa empresa
volvimento Sustentável e Parcerias na
para trabalhar
Cadeia de Valor da Bayer CropScience,
Abertura e Mediação – Maria Luiza Bar-
confirmada
bosa, diretora da TerraGrata Consulto-
10h30 às 11h00 – café
ria e Consultora de Sustentabilidade da
11h00 às 13h00 – Debate: O setor sucro-
União da Indústria de Cana-de-Açúcar
energético sob a ótica feminina – como
(Unica); confirmada
e onde melhorar - da área agrícola ao
Debatedoras:
mercado externo
113
C AN A SU BSTAN TIVO FE MI NI NO
Abertura e mediação – Luciana Paiva,
Debatedoras:
editora da revista CanaOnline
- Elizana Baldissera Paranhos, agricultora
Debatedoras:
de Capão Bonito, SP, vencedora da região
- Alessandra Orlando, gerente de Consul-
Sudeste do País do Desafio de Máxima
toria de RH da área de Etanol, Açúcar e
Produtividade da Soja (2014), realizado
Bioenergia da Raízen; confirmada
pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB)
- Béatrice de Toledo Dupuy, Gerente de
confirmada
Comunicação Corporativa da Tereos Gua-
- Mirela Gradim, Superintendente da Co-
rani; confirmada
plana - Cooperativa Agroindustrial, Guari-
- Danila Passarin, pesquisadora do Centro
ba, SP; confirmada
de Tecnologia Canavieira (CTC); confirmada
- Paula Bellodi Santana, produtora de
- Elis Santos, da DEAG, Documentação e
cana, noz macadâmia e gado, Jaboticabal,
Trâmites Aduaneiros; confirmada
SP, confirmada
- Maria Paula Curto, Diretora de Recursos
15h30 - Café
Humanos da Biosev; confirmada
16h00 às 17h40 - Princípios de Empo-
- Priscilla Valerio de Almeida, Diretora Ad-
deramento das Mulheres, iniciativa da
ministrativa da Agrícola Volta Grande, Pi-
ONU Mulheres e do Pacto Global criada
racicaba, SP; confirmada
para incentivar a igualdade de gênero e
-
Márcia
Rossini
Mutton,
professo-
o empoderamento da mulher no traba-
ra da FCAV – Unesp de Jaboticabal, SP,
lho e nas comunidades
confirmada
Abertura e mediação – Ana Paula Mal-
13h00 às 14h00 – Brunch
vestio, Sócia e Líder em Diversidade da
14h00 às 15h30 – Debate: O agronegó-
PwC, confirmada
cio sob a ótica feminina – como e onde
Palestrantes:
melhorar
- Danieli Tassi Simioni Gemael, gerente de
Abertura e Mediação: Mônika Berga-
Divisão na Itaipu Binacional, confirmada
maschi, ex-secretaria da Agricultura e
- Carla Pires, Grupo Odebrecht; confirmada
Abastecimento do Estado de São Pau-
- Pedro Mizutani, vice-presidente de Açú-
lo e atual presidente-executiva do Ins-
car, Etanol e Energia da Raízen - confirmado
tituto Brasileiro para Inovação e Sus-
18h00 – Show com Grupo Todos Nós
tentabilidade no Agronegócio (Ibisa);
– Pedro Mizutani, Vice-Presidente da -
confirmada
Raízen confirmado
INSCREVA-SE GRÁTIS AQUI
www.canasubstantivofeminino.com.br
114
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