Versão PDF - Portal Cana Online
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1 2 Março · 2016 C Á E N TRE N ÓS DIVULGAÇÃO: USINAS ITAMARATI O setor sucroenergético sob a ótica feminina Avanço tecnológico nas máquinas agrícolas derruba necessidade da força física e abre espaço para a contratação de mulheres A participação feminina na agroindústria sucroenergética ainda é muito pequena, calcula-se em torno de 15%. Mas a tendência é aumentar, afinal 60% das vagas nas universidades são ocupadas por mulheres. “Elas são maioria nas graduações e nos mestrados e são mais capacitadas. As empresas precisam buscar talentos e não podem se dar ao luxo de não atrair essas mulheres”, diz Ana Paula Malvestio, Sócia e Líder de Diversidade & Inclusão na PwC Brasil. Além da maior qualificação, fatores como automação e mecanização no campo reduzem a necessidade da força física nas operações sucroenergéticas, o que derruba um grande obstáculo à contratação da mão de obra feminina. Esta edição especial da CanaOnline é em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, 8 de Março. Não só a matéria de capa, mas a edição inteira abre espaço para o tema: o setor sucroenergético sob a ótica feminina. Da agrícola à indústria, destacamos a contribuição da mulher para o desenvolvimento sustentável do setor. A agroindústria sucroenergética necessita de mão de obra qualificada, as mulheres estão se qualificando mais que os homens e o avanço tecnológico dispensou a exigência de força física para o desenvolvimento de muitas práticas, como a operação de máquinas. Então, o que ainda explica a baixa presença feminina no setor? Será preconceito? Se for, é melhor as empresas reverem seus conceitos, porque aquelas que não conseguirem transpor essa barreira e não desenvolverem uma gestão aberta à diversidade, estão fadadas a morrer. Luciana Paiva [email protected] Clivonei Roberto [email protected] 3 ÍN D I C E Capa Ah, essas mulheres! Holofote Soluções Integradas -O setor sucroenergético sob a ótica feminina – como e onde melhorar? -África: a última fronteira agrícola -Meiosi com AgMusa™ é a solução perfeita para reduzir os custos com o plantio da cana -Inscrições para o 3° Desafio CanaMáxima vão até 31 de março Sustentabilidade Economia -A cana-de-açúcar pode deixar o Brasil mais sustentável -Safra 2016/17 poderá definir quem continua no setor sucroenergético Tendências Amiga da Cana Logística -Uma mulher de muitas paixões -O olhar feminino faz muita diferença Capa -As mulheres na Raízen -As mulheres na Biosev -As mulheres na Guarani -As mulheres na Usinas Itamarati Marketing -Elas fazem da cana um show Tecnologia Industrial -Tempo curto para a manutenção Gestão -As belas também são feras Cana Substantivo Feminino Nordeste -Pré-programação do V Encontro Cana Substantivo Feminino -Cana faz rotação com cará e batata-doce Editores: Luciana Paiva [email protected] Clivonei Roberto [email protected] Redação: Adair Sobczack Jornalista [email protected] Leonardo Ruiz Jornalista [email protected] Marketing Regina Baldin Comercial Gilmar Messias: (16) 3446-6877 [email protected] [email protected] Editor gráfico Thiago Gallo Aproveite melhor sua navegação clicando em: Vídeo Fotos Áudio Link Entre em contato: Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista CanaOnline serão muito bem-vindas: Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22 Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SP Telefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074 Email: [email protected] www.canaonline.com.br CanaOnline é uma publicação digital da Paiva& Baldin Editora H O LOFOTE Marcador metabólico N as pesquisas com cana-de-açúcar, Estamos atualmente em fase de validação nesta pesquisa. Camila Caldana, bióloga e a biotecnologia é uma ferramen- pesquisadora do Laboratório ta que pode contribuir muito. Esta cultu- Nacional de Ciência e Tecnologia ra, do ponto de vista agronômico e pro- do Bioetanol (CTBE/CNPEM) dutivo, é das plantas que mais conseguem converter energia solar em bioprodutos ou em sacarose. Tem um grande potencial. Mas na prática o produtor quer alcançar níveis de produção cada vez melhores. Por exemplo, quer ter planta com patamares de açúcar altos. Mas a cana tem potencial de produção maior do que o que te- Confiabilidade dos dados O Controle de Qualidade é uma área que lida muito com documentação. Então, creio que o segredo é alinhar o dis- mos hoje e a biotecnologia pode ajudar curso e aquilo que está no papel à prá- a otimizar esse potencial. No CTBE traba- tica. Tem uma frase de Henry Ford que lho, juntamente com alguns parceiros, no diz que Qualidade é fazer o certo quan- desenvolvimento de uma nova forma de do ninguém está olhando. Então, é isso marcador que pode contribuir com esse que sempre procuro passar para a minha objetivo. Buscamos o marcador molecular equipe. Um ambiente de usina é muito di- metabólico, que é como se fosse uma im- nâmico e o Controle de Qualidade tem pressão digital do metabolismo. Todas as que ser o exemplo. Tem sempre que fa- características de acúmulo de biomassa e zer o certo, pois os números que produ- de sacarose, que são as mais importantes zimos irão servir de base para a tomada para o produtor, dependem do metabolis- de decisão. Para aprimorar o nosso tra- mo da planta. Tentamos usar esta tecnolo- balho, buscamos sempre nos atualizar, gia de marcador de modo que se consiga principalmente em relação às no- predizer a performan- vas tecnologias na área de me- ce no campo de de- dição. Há tecnologias que já terminada varieda- são comuns em outros seto- de ainda quando res, mas é agora que estão é pequena. Desta sendo implementadas nas forma, podemos usinas. E temos que encurtar o me- estar sempre aten- lhoramento de tos para buscar cana-de-açúcar essas melhorias convencional. que irão pro- 7 H O LOFOTE porcionar mais confiabilidade nos nossos e maior conhecimento sobre o setor em dados e trazer mais retorno para a empre- que atua, com o máximo de transparência sa. Garantir a confiabilidade dos dados é e credibilidade! o nosso maior desafio, uma vez que os Monica Santos, gerente de nossos processos ainda envolvem muitas comunicação da Siamig (Associação das Indústrias pessoas. Wannessa Dutra, gestora de Controle Sucroenergéticas de Minas Gerais) de Qualidade do Grupo Jalles Machado Profissionalização e planejamento Comunicação de qualidade P O setor tem que se profissionalizar. Se ara fazer um bom trabalho na área de comunicação, seja em qualquer setor, pensarmos em profissionalização do produtor como gestor ou empresá- é necessário um conhecimento profun- rio agrícola, tem que ter um bom planeja- do e monitoramento do que ocorre. Des- mento e boa gestão de custos. Em termos sa forma, o comunicador estará prepara- de tecnologia agrícola, já estamos num do para atender todas as demandas que bom patamar. Temos variedades responsi- aparecem, seja no atendimento à Gran- vas, lançadas com responsabilidade pelos de Imprensa, Imprensa Especializada, pro- institutos de pesquisa, a parte de ambien- dução de artigos, trabalhos sobre o setor te de produção que está sendo mapeada que possam dar visibilidade às realiza- etc. Enfim, a necessidade de avanços em ções, participação em palestras e eventos. tecnologia agrícola para cana já foi des- Falo mais do ponto de vista do trabalho perta há alguns anos. Mesmo as- que realizo em uma instituição sindical, sim o produtor tem dificulda- a SIAMIG, e por isso com uma grande vi- de grande de fazer a gestão da são institucional e setorial. É preci- propriedade agrícola – fluxo de so, também, que o comunicador caixa, gerenciamento de profis- tenha muita sensibilidade para sionais capacitados, treina- entender as necessidades de co- mento de funcionários municação das diversas áreas etc. Vejo que a gestão 8 envolvidas, seja ambien- é o grande gargalo, tal, jurídica, trabalhista, tanto para as gran- administrativa, no sen- des indústrias como tido de contribuir para para os produtores, o principalmente para desenvolvimento Março · 2016 o médio e pequeno módulo agrícola. Se zante e dos resíduos com valor nu- pensarmos em produtividade e redução tricional. Nenhuma perda poderá de custos, temos nas mãos uma ferramen- ser tolerada. Assim, espera-se ta importante de ganho de competitivida- um melhor manejo da vinha- de para o produtor e para o setor como ça e da torta de filtro, dis- um todo. tribuindo esses resíduos de Renata Morelli, gerente de Tecnologia forma a economizar ao má- Agrícola e Inovação da Coplana ximo os fertilizantes minerais. Análises de solo e técnicas de agricultura de precisão deverão racionalizar Há muito a ganhar ao longo do ciclo A vançou muito a nutrição em cana-de -açúcar. Ocorre que o sistema de pro- dução é dinâmico: adicionamos novas formas de plantar, novas formas de preparar o solo, às vezes com sulcos profundos, às vezes sem preparo do solo, com plantio direto. Deixamos a palha sobre o solo, incluímos novas máquinas, mudamos espaçamentos, sulcos duplos, canteiros, mudas pré-brotadas. Ou seja, a adubação tem que acompanhar essas mudanças do sistema de produção. Para algumas dessas mudanças são necessários experimentos o uso de fertilizantes minerais, aplicando doses maiores apenas onde for necessário e respeitando as diferenças do terreno. O conhecimento do canavial, dos ambientes de produção e das variedades ajudará na decisão de quanto, como e quando aplicar os fertilizantes. Os ganhos que o produtor poderá obter são uma somatória de pequenos ganhos e economias conseguidos ao longo do ciclo. Raffaella Rossetto, pesquisadora científica da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – polo de Piracicaba) e do Programa de Cana-deaçúcar do Instituto Agronômico (IAC) de adubação, atualizando o requerimento de novas variedades mais produtivas, com o manejo adequado. Temos muita tecnologia, fertilizantes especiais, fertilizantes foliares, produtos enraizadores, hormônios, mas muitas vezes não sabemos como fazer o melhor uso dessas tecnologias e, nesse Fomento à presença das mulheres C om relação à posição da mulher no mercado de trabalho, toda a socieda- de tem que evoluir, e em todas as ativida- sentido, vejo que o setor poderia melhorar des econômicas. É verdade que as mulhe- bastante. Neste setor, as novas tendências res têm despontado e conquistado espaço. dizem respeito à máxima redução de cus- Inclusive têm buscado muita capacitação. tos e ao maior aproveitamento do fertili- As pesquisas mostram que elas já se qua- 9 H O LOFOTE lificam mais que os homens hoje em dia. A e necessita urgentemente reduzir seus cus- mulher está buscando conhecimento. O se- tos de produção. Dessa forma, aumentar a tor sucroenergético, em especial, tem que produtividade deve ser o foco da gestão das aproveitar que essa mulher está cada vez usinas. A mão de obra deve ser um item im- mais qualificada. Isso é positivo para portante para se alavancar, seja com auto- elas e também para as companhias. mação, seja com maior eficiência e eficácia Afinal, estudos indicam que a che- nos processos agrícolas. Há muitos obstá- gada de mulheres a cargos de alta culos que se interpõem, como as exigências liderança resulta em crescimen- trabalhistas e regulamentações crescentes, to para a empresa. Mas para o se- algumas sem quaisquer nexos, e também tor sucroenergético avançar ain- os paradigmas de gestores e executivos do da mais em relação ao que já nosso setor. Mesmo assim, sou muito oti- evoluiu até agora, tem que mista da evolução que poderemos atingir continuar buscando essa população femi- num curto espaço de tempo. Justamente nina que está disposta a se qualificar e a por isso, estou criando uma empresa, a ETA, aproveitar as oportunidades, continuando especializada em tecnologias úteis e baratas a incentivá-las a se capacitarem. Além de para aumentar a eficiência no setor sucroe- abrir espaço para elas em cargos de lide- nergético e no agronegócio em geral. Nos- rança. Temos que fomentar cada vez mais so primeiro lançamento, que deverá ocorrer a presença da mulher nas nossas empresas. em mais alguns meses, será um controlador Alessandra Rosa Abrahão eletrônico de tratores que avisará ao mesmo Orlando, gerente de Recursos tempo o operador da máquina e o celular Humanos para Área de Etanol, dos responsáveis no caso de quaisquer ine- Açúcar e Bioenergia da Raízen ficiências e irregularidades que aconteçam na operação. A ideia é que os operadores participem de forma mais efetiva da gestão Inovações para enfrentar a queda de produtividade A credito que o setor sucroenergético, na sua parte agrícola, deve avançar em operacional e tenham maior disciplina, resultando em eficiência, eficácia e qualidade.” Tereza Peixoto, PhD em agronomia e diretora da ETA (Eficiência e Tecnologia para o Agronegócio) inovações e soluções tecnológicas para enfrentar a persistente queda de produtividade que vivenciamos desde o fim da década passada. A indústria da cana está inserida em um cenário de elevada competitividade 10 Março · 2016 11 TE N D ÊN CIAS Apostar na África como futura grande produtora de alimentos não é zebra África: a última fronteira agrícola DE ACORDO COM ESTUDOS ANALISADOS PELA PWC, O CONTINENTE AFRICANO POSSUI IMPORTANTES RECURSOS PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Daniela Coco1 e Luiz Barbosa2 O aumento da população mundial são sobre os recursos alimentares do mun- e o crescimento da urbanização do. A grande questão é: como alimentar têm colocado uma grande pres- uma população que se torna maior a cada 12 Março · 2016 dia e que, gradativamente, deixa o campo passando de produtora de alimentos para consumidora? bilhões, de acordo com o Banco Mundial. Além disso, enquanto a média de crescimento populacional no mundo no A resposta dessa pergunta leva o período de 2010 a 2050 deve ser de 0,8% mundo a se preocupar com a Segurança ao ano, na maioria das nações africanas os Alimentar que, de acordo com a definição níveis estimados são superiores a 2%. Já a do Banco Mundial, compreende “o acesso taxa de urbanização no mundo deve cres- por parte de todos, todo o tempo, à quan- cer 14,7%, entre 2010 e 2050, enquanto na tidade suficiente de alimentos para levar África esse crescimento deve ser na ordem uma vida ativa e saudável”. de 20%, segundo as Nações Unidas. Os países buscam garantir um de- Desse modo, fica evidente que a Áfri- terminado nível de autossuficiência ali- ca terá que aumentar a sua produção de mentar para depender o menos possível alimentos nos próximos anos e, de acordo do comércio internacional de alimentos. com estudos analisados pela PwC, o con- A África, em especial, é consciente de que tinente possui importantes recursos para a sua situação atual exige mais atenção. isso, como disponibilidade de terras, água Hoje, o continente é bastante dependente em abundância e mão de obra abundan- das importações de alimentos para suprir te. A África Subsahariana, por exemplo, é o seu abastecimento, com um déficit anu- uma das regiões com maior potencial de al na balança comercial agrícola de US$ 35 expansão de terras agrícolas no mundo. A Alto crescimento populacional 13 TE N D ÊN CIAS região conta com cerca de 400 milhões de hectares de terras agricultáveis, localizadas em clima tropical e com precipitações anuais médias variando entre 800 e 1.200 mm. Atualmente, menos de 10% dessa área é utilizada para agricultura, de acordo com o Banco Mundial. Embora os solos dessa região sejam, em geral, de baixa fertilidade, eles podem ser corrigidos, propiciando assim excelentes níveis de produtividade, a exemplo do que aconteceu recentemente no Brasil, nas regiões de fronteira agrícola do Mara- A África é bastante dependente das importações de alimentos para suprir o seu abastecimento nhão, Piauí e Tocantins. Portanto, o que de fato merece aten- por potencializar os recursos existentes e ção na África são as políticas de fomen- transformar o continente em um impor- to à agricultura, que serão responsáveis tante player global, capaz de suprir a sua demanda interna e também auxiliar no abastecimento de outras regiões. É neste contexto que surgiram os chamados “corredores (ou ilhas) agrícolas”, cuja ideia central é identificar regiões com potencial agrícola e traçar estratégias de desenvolvimento específicas para cada uma delas. Este plano já está em andamento em alguns países, como Nigéria, Angola, Gana, Moçambique, Zâmbia e Tanzânia. A África necessita de políticas de fomento à agricultura 14 Março · 2016 Uma das contribuições do Brasil à África é a transferência de conhecimento agrícola Vale ressaltar que o plano já deu certo em outras partes do mundo, como os pampas argentinos, a estepe russa, a planície norte -americana e o desenvolvimento do Cerrado brasileiro. Hoje, o Cerrado é a maior região agrícola do Brasil, mas, até meados de 1960, sua produção era pe- mento em terras, transferência de conhe- quena. Investimentos em pesquisa, desen- cimento, internacionalização de empresas, volvimento de tecnologias, aliados ao me- exportação e abertura de mercados, são al- lhoramento da infraestrutura e apoio dos gumas das possibilidades de negócios para setores público e privado, foram essen- empresas e investidores brasileiros. Assim, ciais para transformar a região. o Brasil tem condições de participar mais ativamente do desenvolvimento da agri- O desenvolvimento agrícola da África traz boas oportunidades também para o Brasil cultura na África e contribuir não somente na geração de benefícios para o continente, como também para a expansão da fronteira agrícola e da agricultura global. A África, desse modo, é muito comparada ao Brasil pela semelhança em termos de clima, solo e topografia. A expectativa é que a agricultura africana testemunhe uma transformação ao longo das próximas duas décadas, da mesma forma como ocorreu no Brasil nos últimos quarenta anos. O desenvolvimento agrícola da África traz, portanto, boas oportunidades também para o Brasil. Produção agrícola, investi- Gerente de Agribusiness da PwC Brasil, Engenheira Agrônoma com especialização em lácteos 1 Gerente de Agribusiness da PwC Brasil, especialista em inteligência de mercado e cooperação internacional agrícola 2 15 SU S T E NTABILIDAD E A cana-de-açúcar pode deixar o Brasil mais sustentável NOS CANAVIAIS ESTÃO ADORMECIDAS TRÊS USINAS DE BELO MONTE; ESSA ENERGIA LIMPA EQUIVALE A MAIS DE 13.000 MEGAWATTS MÉDIOS Da esquerda para direita: Mauro Cardoso - Ceo Zanini Renk, Carlos Dinucci - Diretor Presidente Usina São Manoel, Sérgio Nicoletti - Diretor Superintendente Usina São Manoel, e Marcos Martins - Coordenador de Vendas Bioenergia Zanini Renk N a última década muito se falou apostando todas as suas fichas na explo- sobre sustentabilidade. O tema ração do pré-sal, apesar de ser o detentor foi pauta de discussões entre pa- da maior quantidade de energia renová- íses desenvolvidos em busca de consenso vel por km² do mundo. Recentemente, na para reduzir os fortes impactos ambien- reunião da COP-21, em Paris, o mundo se tais que têm afetado o clima do planeta. propôs a ser, o mais rápido possível, neu- O Brasil vem na contramão deste processo tro em carbono. Esta grande vitória para o 16 Março · 2016 A bioeletricidade apresenta a maior vantagem entre todas as formas de geração que estão atualmente disponíveis em larga escala planeta deverá, no médio e longo prazos, e gradativa na matriz energética brasileira. obrigar países e organizações a aumentar Essas mesmas barreiras deverão suas eficiências energéticas em todos os ser superadas para que a bioeletricida- seus processos econômicos. de, energia limpa e renovável, produzida É verdade que muitas transforma- a partir da queima de resíduos da cana- ções ocorreram nos últimos anos em fa- de-açúcar (bagaço e palha) em caldeiras vor da sustentabilidade. Dentro do con- de alta pressão tenha uma participação texto do setor sucroenergético, mudanças mais efetiva na matriz. O Brasil pode ge- consideráveis ocorreram e grandes lutas rar mais de 13.000 megawatts médios de foram travadas para qualificar o etanol energia limpa, o que equivale a três usi- como combustível renovável no mundo nas de Belo Monte. A vantagem ambiental todo. Apesar dos avanços em promover em relação às usinas termelétricas movi- o etanol internacionalmente, ainda exis- das a óleo combustível é a maior entre to- tem várias barreiras a superar como a cria- das as formas de geração que estão atu- ção de políticas internas de longo prazo almente disponíveis em larga escala. Além para inserir a biomassa de forma definitiva disso, trata-se de uma fonte típica de ge- 17 SU S T E NTABILIDAD E ração descentralizada, que se interliga aos rando a falta de recursos e todas as incer- troncos principais do sistema elétrico e tezas advindas de um mercado ainda não que pode implementar tecnologia para regulamentado. Algumas usinas merecem uma geração distribuída. destaque especial pelos trabalhos e conquistas, como a Usina São Manoel, eleita O setor investe para ser cada vez mais sustentável pela revista Globo Rural a campeã em sustentabilidade no ano de 2015. Apesar de todos os revezes causados A base do modelo de negócios da pela falta de políticas e regulamentações, Usina São Manoel é sua gestão focada no o setor sucroenergético tem se preparado aumento da eficiência com foco na redu- para atender todas as exigências ambien- ção dos custos de produção. O diferencial tais para minimizar seus impactos. Um da São Manoel é a preocupação com as exemplo importante foi a introdução da pessoas. Já faz parte da cultura da empre- mecanização da colheita da cana que até sa os consideráveis investimentos anuais há pouco tempo era queimada, liberando em treinamentos, visando a conscientiza- monóxido de carbono e partículas na at- ção para um resultado sustentável. mosfera. Investimentos em tecnologias e O caminho trilhado foi longo. Des- capacitação de pessoas foram necessários, de sua fundação, a usina investe em proje- permitindo reduzir consideravelmente a tos sociais e publicou seu primeiro balan- colheita manual da cana-de-açúcar em di- ço social em 2007, seguindo os padrões versos estados brasileiros. de sustentabilidade do Global Reporting É notável a evolução do setor sucro- Initiative (GRI), que contempla indicadores energético na busca por tornar seus pro- econômicos, sociais, ambientais e de go- cessos cada vez mais sustentáveis, seja em vernança. A usina estruturou uma área de- sua lavoura, indústria ou gestão, conside- dicada à sustentabilidade responsável por É preciso criar políticas internas de longo prazo para inserir a biomassa de forma definitiva e gradativa na matriz energética brasileira 18 Março · 2016 dar o suporte necessário aos gestores em seus processos. Práticas sustentáveis foram adotadas como a reutilização de 96% de toda água utilizada no processo industrial. Com essa indicação, a usina tem indicadores de 0,7m3 de água por tonelada de cana. Os investimentos em sustentabilidade na atual safra foram de R$ 15 milhões, representando 16,7% do total de investimentos realizados na usina. A moagem da São Manoel na safra 2016/17 será de 4,3 milhões de toneladas de cana, mas a usina tem planos de aumentar sua capacidade de moagem para 4,5 milhões de toneladas de cana na sa- Relatório de Sustentabilidade da Usina São Manoel seguindo os padrões de sustentabilidade do Global Reporting Initiative (GRI) fra 2017/18. Tecnologia de ponta contribui para a sustentabilidade da São Manoel nini Renk, a tecnologia dos acionamentos Investimentos importantes em tec- celente performance em diversas usinas nologias de ponta são realizados pela Usi- no Brasil e no exterior. Estamos fazendo as na São Manoel para viabilizar o aumento primeiras trocas dos rolamentos após 18 de produtividade e a disponibilidade ope- anos de uso, sem intervenções nos redu- racional de seus processos. Um exemplo é tores”, afirma Cardoso. Torqmax® é patenteada. “Os acionamentos operam há mais de 20 safras com ex- a modernização do processo de moagem O próximo passo do plano de inves- da cana-de-açúcar da usina, em que qua- timentos da São Manoel é a modernização tro ternos de moendas de 90” já são acio- de sua unidade de cogeração de energia. nados pela tecnologia consagrada dos redutores Torqmax® da Zanini Renk. O cuidado com as áreas de preservação permanentes localizadas dentro da Esta tecnologia revolucionária é re- usina é outro diferencial da Usina São Ma- conhecida mundialmente pela confiabili- noel, que investiu nos últimos sete anos dade operacional deste equipamento. De R$ 3,2 milhões na recuperação de 100% acordo com Mauro Cardoso, Ceo da Za- de suas áreas verdes. 19 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS Meiosi com AgMusa™ é a solução perfeita para reduzir os custos com o plantio da cana DE ACORDO COM PRODUTOR, SISTEMA POSSIBILITA REDUÇÃO EM TORNO DE R$ 2 MIL POR HECTARE NO PLANTIO DE CANA Participantes do Dia de Campo AgMusa em Meiosi conferem o sistema Leonardo Ruiz “E u dou um Fusca Zero para da, a Belo Horizonte, localizada em Jabo- quem encontrar falhas de plan- ticabal, SP, para o 3º Dia de Campo Ag- tio na linha de mudas com Ag- Musa™ em Meiosi, organizado pela BASF Musa™ na minha área de Meiosi.” O de- em parceria com a Coplana - Cooperativa safio foi proposto pelo produtor Ismael Agroindustrial. Perina Jr, que abriu as portas de sua Fazen- 20 Ao longo do evento, que reuniu cer- Março · 2016 Perina: “AgMusa em Meiosi é joia!” ca de 200 participantes, Perina apresen- práticas agronômicas. Por isso, comemora tou os resultados que vem obtendo com a a parceria com a BASF no desenvolvimen- adoção do sistema AgMusa em Meiosi. Pe- to do sistema de plantio do AgMusa™ em rina busca a excelência da produção. Com Meiosi (Método Interrotacional Ocorren- uma área de 480 hectares com cana, sua do Simultaneamente). Perina foi pioneiro média de produtividade é superior a 100 em adotar o sistema de Meiosi, plantan- toneladas por hectare e há talhões com do as mudas AgMusa™ com o amendoim. cana já no oitavo corte e que produzem Há quatro anos, ele plantou duas ruas 85 toneladas por hectare. com MPB com o intuito de cobrir outras A estratégia para alcançar esses ín- 10 onde havia amendoim. Porém, a quali- dices é unir inovações tecnológicas com dade das mudas e o solo propício fizeram Dia de Campo promovido pela BASF e pela Coplana reuniu cerca de 200 participantes 21 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS com que o sistema superasse as expectativas: uma única linha de cana gerou mudas para 11 ruas. De lá para cá, as vantagens foram ampliadas, entre elas, a taxa de multiplicação, que, para o produtor, é o segredo do negócio. Na área demonstrada durante o Dia de Campo, a taxa de multiplicação esperada é de 1 para 16, sendo que já existem outras áreas onde o número é ainda maior: 1 para 20. “Quanto maior for a proporcionalidade, mais barato fica e mais lucro sobra no final do mês. É voltar a plantar cana do jeito que ela deve ser plantada”, afirma Perina. Já entre os benefícios decorrentes da utilização das mudas AgMusa™ nesse sistema estão: a redução de custos na forma- Área de AgMusa em Meiosi com soja ção de viveiros e implantação do canavial comercial; maior velocidade na introdu- mudas e formação de canavial comercial ção de novas variedades; incremento de com viveiro de mudas de alta qualidade. sanidade (menor risco da ocorrência de Ao tombar essa cana sadia em solos doenças como raquitismo e escaldadura); revigorados por outras culturas, o desem- eliminação de riscos de transporte e intro- penho é turbinado. As leguminosas, com dução de pragas (Sphenophorus levis) via destaque para o amendoim, feijão e soja, são as preferidas dos produtores por sua capacidade de fixar nitrogênio direto da atmosfera, por sim- Área de AgMusa em Meiosi com amendoim e cana tombada na linha 22 Março · 2016 biose, além de promover uma renda extra tores que adotarem a Meiosi juntamen- no caixa. Porém, as plantas denominadas te com o sistema MPB terão redução nos “Adubos Verdes”, como a Crotalária, estão custos de plantio em até R$ 2 mil por hec- ganhando espaço dentro do setor cana- tare, devido ao menor uso de mudas, ren- vieiro devido às suas características reci- tabilidade auxiliar na cultura intercalar e cladoras, recuperadoras, protetoras, me- maior quantidade de cana entregue à usi- lhoradoras e condicionadoras de solo. No na. “Em uma área de 10 hectares, são R$ dia de campo na fazenda Belo horizonte o 20 mil a mais no bolso.” visitante pode conferir a Meiosi com essas diversas opções. Tem que namorar a área Para melhorar ainda mais o resulta- Economia que chega a R$ 2 mil reais por hectare do e a redução de custos de plantio, o sis- O produtor Ismael Perina afirma que AgMusa™ precisa de carinho. Tem que na- vê a Meiosi como uma chance de virada, morar a área, como afirma Ismael Perina. principalmente para os pequenos e mé- “Deve-se usar produtos de qualidade, fa- dios produtores. “O agricultor que possui zer roguing e realizar uma adubação mais dois ou três alqueires por ano para plan- parcelada.” tema de Meiosi com Mudas Pré-Brotadas tar e entrega para a usina fazer essa ope- Durante o Dia de Campo, o técnico ração, irá passar o ciclo inteiro sem lucro, agrícola da Fazenda Belo Horizonte, Agui- por conta do custo que será cobrado. Des- naldo Carlos Siqueira, explicou aos parti- sa forma, se ele quiser se manter no negó- cipantes os procedimentos realizados para cio, não poderá abrir mão desse sistema.” a correta implantação e manutenção das Além de possuir um canavial sadio e produtivo, Perina salienta que os produ- Mudas Pré-Brotadas. Ele salienta que tudo começa com um preparo de solo diferenciado, aonde são deixados canteiros para receber as Perina fala sobre Redução no valor do plantio com o sistema muda pré-brotada AgMusa em Meiosi: é de pelo menos 2 mil reais por hectare mudas, visando obter um bom pegamento e evitar bolsões de ar. Na Fazenda, o espaçamento escolhido foi de 60 cm e as variedades utilizadas foram as: RB 96-6928, RB85-5156 e CTC 4. Na hora do plantio, foi utilizada a plantadora de AgMusa™, desenvolvida pela BASF especialmente para esta finali- 23 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS Área de AgMusa em Meiosi com feijão e a cana tombada na linha dade. A máquina, adaptada para o plan- colocando na pinça que realiza o plantio. tio semimecanizado de cana e que realiza Outras duas pessoas caminham ao a sulcação e toda a operação de adubação lado da máquina para retirar as bande- e aplicação de defensivos, é acoplada no jas do suporte e colocá-las no saca-mu- sistema de três pontos de um trator. Além das para que as mudas fiquem soltas, fa- do operador do trator, duas pessoas vão cilitando o posterior manuseio. Essas sentadas retirando as mudas da bandeja e mesmas duas pessoas podem, ainda, co- Área com MPB AgMusa na fazenda Belo Horizonte: sanidade e alta taxa de pegamento 24 Março · 2016 Após o plantio das mudas, um tra- Produtores conferem, de perto, plantadora de AgMusa da BASF durante 2° dia de campo AgMusa™ em Meiosi tor ou um caminhão entra na área, aplicando de 4 a 5 litros de água por planta. “Fazemos isso para garantir o vigor inicial e o desenvolvimento das plantas”, explica Aguinaldo Carlos Siqueira. Ele afirma, ainda, que 20 dias antes da desdobra são realizados alguns levantamentos para verificar o número de ge- brir possíveis falhas do processo, utilizan- mas por metro linear a fim de saber se ha- do a matraca para deixar o plantio perfei- verão gemas suficientes para fechar a área. to na área. A velocidade da plantadora é “Fazemos também testes de porcentagem de 2 km/h e o rendimento médio é de 2 a de germinação, em que coletamos alguns 3 ha/dia. colmos por acaso e os colocamos numa Vale ressaltar que a disponibilização de uma plantadora faz parte da po- caixa de brotação. No ano passado, registramos quase 100% de brotação.” lítica da BASF, de não entregar apenas a muda, mas um sistema completo, que vai Alta taxa de multiplicação garantir o sucesso da tecnologia. Porém, a Durante o Dia de Campo AgMusa™ máquina é disponibilizada pela BASF ape- em Meiosi, o gerente de Novos Negócios nas para plantios acima de cinco hectares. da BASF, Nilton Degaspari, fez a seguinte Para áreas menores, recomenda-se utili- pergunta aos presentes: Quantos hectares zar a matraca, que requer quatro pessoas de plantio são feitos a partir de um hecta- para fazer um hectare por dia. Perina ob- re de cana nos sistemas convencionais de serva que não há dificuldade neste plan- plantio manual e mecanizado? As respos- tio manual. tas foram de 1 para 4 no mecanizado e 1 para 10 no manual. “Aqui nós falamos de Confira os detalhes da Meiosi com MPB (muda prébrotada) realizada na fazenda Belo Horizonte, em Jaboticabal, SP 1 para 16 e com possibilidades de 1 para 20”, disse Degaspari. Esse, aliás, foi um dos motivos que levaram o produtor Delson Luiz Palazzo a investir no Sistema de Meiosi em sua propriedade. No início, a taxa de multiplicação era de 1 para 8. Atualmente, esse número é de 1 para 14. “Comecei essa nova 25 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS “Aqui nós falamos de 1 para 16 e com possibilidades de 1 para 20”, disse Degaspari técnica há dois anos e só tenho visto ga- enças. Dessa forma, é possível obter um nhos até o momento.” Este ano, o produ- canavial com uma produtividade diferen- tor plantou 50 hectares de Meiosi, sendo ciada em relação ao sistema convencional que a expectativa para os próximos anos é fazer 100% da área de reforma com essa tecnologia. “Com isso, acredito que ganharei em produtividade, saindo das atuais 110 toneladas por hectare de média e atingindo 120 t/ha.” Delson Luiz Palazzo, que também é presidente da Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba) e diretor financeiro da Coplana, afirma que o ganho de qualidade obtido com esse sistema é muito grande. “Com ele, você planta com a certeza de que está utilizando um material vigoroso, com tratamento térmico, sem pragas de solo e sem do- 26 Delson Luiz Palazzo: “No início, minha taxa de multiplicação era de 1 para 8. Atualmente, esse número é 1 para 14” Março · 2016 que vínhamos utilizando há décadas.” tecnologia. “Embora esteja bem divulgada Além do ganho em qualidade, Pa- no mercado, para o produtor tem que ficar lazzo ressalta, também, os ganhos finan- claro que é uma bela ferramenta para di- ceiros. “A redução nos custos de implan- minuir custo, garantir qualidade e aumen- tação do canavial passam a ter ainda mais tar a produtividade.” importância dentro do momento eco- Para Gil, cultivar mudas pré-brotadas nômico financeiro que o setor atravessa em sistema de Meiosi é a tendência do se- No sistema de Meiosi, a cana-muda sai da linha de cana direto para a linha de plantio, sem necessidade de transporte, como observaram os participantes do Dia de Campo atualmente.” tor. “O produtor que quiser ficar no negó- Presente no Dia de Campo, o geren- cio, buscando eficiência e produtividade, te comercial da Coplacana (Cooperativa tem que partir para as mudas pré-brota- dos Plantadores do Estado de São Paulo), das e para a Meiosi, porque formar mu- Marcelo Alex Gil, afirma que é importante das com qualidade é o alicerce do negó- para os produtores e técnicos das entida- cio, buscando alta produtividade desde a des ampliarem o conhecimento sobre essa implantação do canavial.” 27 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS “Não adianta encher o sulco de plantas ou mudas” De acordo com Nilton Degaspari, no passado, era comum encher o sulco de planta ou de muda. “Muitos ainda falavam, com orgulho, que seus canaviais pareciam repolhos, o que não adiantava nada, pois, dessa forma, os brotos competem entre si por água e nutrientes e acabam morrendo, fazendo com que, na hora da colheita, sobrem apenas 12 colmos por metro”, afirma. Segundo José Marcos Paro a quantidade de gemas por metro caiu de 18 no plantio mecanizado para 10 na Meiosi Já no sistema de Meiosi, Degaspari observa que a quantidade de nove ge- a quantidade de gemas por metro caiu mas por metro é mais do que o suficiente. de 18 no plantio mecanizado para 10 na “Mesmo assim, a possibilidade de falhas Meiosi. “Já utilizamos esse sistema há três é mínima, pois a porcentagem de brota- anos e só vejo benefícios até agora. Além ção será de, no mínimo, 90%.” Na Fazenda do custo mais atrativo, consigo, também, Belo Horizonte o número de toneladas de um canavial com muito mais qualidade.” cana no sulco por hectare caiu de 25 para 4,5 t/h. Outra vantagem apontada por Paro é a velocidade de multiplicação. “Agora Outro produtor que se beneficiou da é possível fazer a primeira multiplicação menor quantidade de cana dentro do sul- com uma cana de 5 a 6 meses. No plan- co de plantio foi o José Marcos Paro, da tio convencional, demoraria o dobro de Agropecuária Irmãos Paro. Segundo ele, tempo.” Marcelo Alex Gil: “O produtor que quiser ficar no negócio, buscando eficiência e produtividade, tem que partir para as mudas pré-brotadas e para a Meiosi” 28 Março · 2016 Inscrições para o 3° Desafio CanaMáxima vão até 31 de março CTC E BASF LANÇAM 3° DESAFIO CANAMÁXIMA. AÇÃO VISA INCENTIVAR O SETOR A BUSCAR A MÁXIMA PRODUTIVIDADE DOS CANAVIAIS. INSCRIÇÕES PELO SITE: WWW.DESAFIOCANAMAXIMA.COM.BR Canavial com alta produtividade é a meta do CanaMáxima Leonardo Ruiz N o final do ano passado, duran- dalidade Cana-soca”, campanha inovado- te o 14º Seminário Produtividade ra idealizada pelo Centro de Tecnologia e Redução de Custos da Agroin- Canavieira (CTC), em parceria com a BASF. dústria Canavieira, realizado pelo Grupo O Projeto, lançado em 2014, sur- IDEA, em Ribeirão Preto, SP, quatro usinas giu decorrente do fato de que, enquanto foram consagradas campeãs do “1° Desa- a produtividade de culturas como milho fio CanaMáxima Mais Produtividade - Mo- e soja cresceu de forma relevante ao lon- 29 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS Vencedores do 1º Desafio CanaMáxima CTC-BASF: Raizen-Jataí, Araporã Bioenergia, Delta Sucroenergia e UMOE Bioenergy go dos últimos anos, a da cana-de-açúcar a cana realmente pode mais. “Em 2015, não tem refletido este crescimento, seja contamos com a participação das princi- por fatores operacionais, financeiros e/ou pais usinas do Brasil, sendo que os resul- climáticos. “O Desafio CanaMáxima tem tados obtidos foram impressionantes. As como objetivo criar um ambiente que esti- áreas inscritas apresentaram produtivida- mule as equipes técnicas dos participantes des muito superiores às médias regionais, a desafiar seus conhecimentos, utilizar as demonstrando o potencial de uso de no- ferramentas tecnologicamente avançadas vas variedades e outras tecnologias já dis- disponíveis e incentivar o desenvolvimen- poníveis no mercado”, relata Pavani. A 2ª to de práticas de cultivo inovadoras, que edição do CanaMáxima foi voltada para a possibilitem conquistar a máxima produti- Cana-Planta e também contou com a par- vidade dos canaviais, com sustentabilida- ticipação de 39 unidades. de e rentabilidade”, afirma o líder de produto do CTC, Alan Pavani. 3º desafio CanaMáxima Ao todo, o 1° CanaMáxima reuniu A terceira edição do “Desafio de Pro- 39 participantes, que conseguiram multi- dutividade da Cana - CanaMáxima - CTC/ plicar suas produtividades e mostrar que BASF - Soca da Safra 2015/16” trará gran- 30 Março · 2016 des novidades, entre elas, a participação tivos (cana, citros e amendoim) da BASF. de produtores de cana que possuem con- Entre os produtores rurais, unidades trato vigente com o CTC. O líder de pro- sucroenergéticas da região Centro-Sul e duto do CTC, Alan Pavani, explica o moti- seus respectivos representantes técnicos, vo de adicionar uma modalidade voltada a expectativa é que, neste ano, a Campa- aos fornecedores. “Esses produtores são nha conte com mais de 100 participantes. responsáveis por, aproximadamente, 30% Pavani ressalta que não existirá diferença da produção de cana no Brasil. Dessa for- alguma entre produtores e usinas. As re- ma, eles também enxergam a necessidade gras para os dois serão as mesmas. “Com de aumentar rapidamente a produtividade o objetivo de dar destaque e incentivar a em suas áreas.” participação de fornecedores de cana, nós “Os fornecedores de cana-de-açú- apenas dividimos as modalidades e ire- car cada vez mais apostam em inovação e mos incentivar a competição. É uma corri- tecnologia para crescer e queremos apre- da pela tecnologia.” sentar a eles todas as possibilidades que a E essa corrida funcionará da seguin- combinação de variedades CTC com pro- te maneira. Primeiramente, os interessa- dutos BASF pode oferecer”, comenta Ca- dos devem preencher completamente o rulina Oliveira, gerente de marketing cul- formulário de inscrição no site: www.desa- Carulina e Alan: trabalhando para a máxima produtividade dos canaviais 31 SOLU Ç ÕE S IN TE GRADAS fiocanamaxima.com.br até 31 de Março de ses) e estágio de corte, resultando, por- 2016. Após a confirmação de participação, tanto, na produtividade oficial do partici- é preciso voltar ao site e preencher o for- pante, dada em TAH (toneladas de açúcar mulário de Manejo, Colheita e Resultados. por hectare). “A utilização dos fatores de Essa etapa começa no dia 1° de abril e vai ajuste visa trazer a produtividade de todos até 31 de Outubro. os participantes para uma mesma base de Com relação à aferição dos dados, o líder de produto do CTC explica que as comparação e será calculada exclusivamente pelo CTC.” produtividades obtidas nas áreas colhidas Os vencedores de cada categoria/mo- serão corrigidas pelos fatores de ajuste de dalidade serão reconhecidos pelo CTC e pela ambiente climático (chuva e temperatura), BASF durante evento de importância para o ambiente edafo (tipo de solo), idade (me- setor, que acontecerá no final de 2016. O Desafio não permite irrigação com água, mas a fertirrigação com vinhaça é liberada 32 Março · 2016 As regras do 3° Desafio CanaMáxima Categoria Power Cana-Soca de CTC14, CTC9001, CTC9002 ou CTC9004M Requisitos obrigatórios: •Cana soca de 1º corte de cana de 18 meses, de 2º ou de 3º cortes. •Data do corte em 2015: Entre 01/maio até 31/outubro. •O posicionamento de época de colheita e ambiente de produção deverá seguir a recomendação regional do CTC para as variedades CTC14, CTC9001, CTC9002 ou CTC9004M. É essencial que o participante consulte o RTV do CTC para saber se o posicionamento da variedade está correto na sua área inscrita. •Utilizar ao menos um produto BASF, podendo ser o fungicida Opera e/ou o herbicida Heat. Para a utilização de outros produtos, o participante deverá consultar o RTV da BASF para mais informações. •Área mínima: 10 ha. Categoria Value: Cana-Soca de CTC4 ou CTC20 Requisitos obrigatórios: •Cana-soca de 1º corte de cana de 18 meses, de 2º ou de 3º cortes. •Data do corte em 2015: Entre 01/maio até 31/outubro. •Apenas ambientes A, B ou C são permitidos. •O posicionamento de época de colheita e ambiente de produção deverá seguir a recomendação regional do CTC para as variedades CTC4 e CTC20. É essencial que o participante consulte o RTV do CTC para saber se o posicionamento da variedade está correto na sua área inscrita. •Utilizar ao menos um produto BASF, podendo ser o fungicida Opera e/ou o herbicida Heat. Para a utilização de outros produtos, o participante deverá consultar o RTV da BASF para mais informações. •Área mínima: 10 ha. 33 E CON OMIA Safra 2016/17 poderá definir quem continua no setor sucroenergético TÉCNICOS DA MBF ESTIMAM QUE A MOAGEM DA SAFRA 2016/17 SERÁ DE 630 MILHÕES DE TONELADAS, INCLUÍDOS OS 28 MILHÕES DE TONELADAS DE CANA-BISADA DA SAFRA 2015/16 É muito arriscado achar que a safra terá muito mais de 600 milhões de toneladas de cana para processar em 2016/17 Andréia Moreno, da MBF Agribusiness A inda é cedo para afirmar, mas A declaração é do diretor da MBF Agribu- 2016 pode ser um ano que ficará siness, Marcos Antonio Françóia. marcado pela definição de quem Segundo ele, economicamente é o fica ou não no mercado de açúcar e etanol. ano da retomada para muitos grupos que 34 Março · 2016 O déficit mundial de açúcar já era previsto em 2014 estão fazendo a lição de casa, renegocian- Para o especialista, o setor sucroe- do o passivo e até mesmo para alguns nergético, tão criticado até setembro de grupos que ingressaram com o pedido de 2015, entra agora para o mesmo radar de recuperação judicial e estão conseguindo especialistas e investidores, que há tempo se ajustar às exigências aprovadas nas as- vislumbravam uma retomada para 2015 - sembleias de credores. “Com investimen- afinal, o déficit mundial de açúcar já era tos na manutenção da lavoura, conjugado previsto em 2014, porém ofuscado por di- com a carência e o alongamento do passi- versos fatores comerciais. “Os reflexos po- vo e, muitas vezes, redução na taxa de ju- sitivos somente se iniciaram no último tri- ros e no saldo devedor, muitas empresas mestre de 2015, mas com perspectiva de já estão ganhando uma nova chance de durar. Sendo assim, é o ano para as em- recuperação econômica, pois os indicado- presas que não têm elevadas exigências fi- res de preço, inclusive os já praticados, ilu- nanceiras no curto prazo e possuem pro- minam o reflexo positivo dos planos eco- dutos disponíveis para venda, fazerem nômicos projetados”, diz. caixa e retomarem a estabilização econô- 35 E CON OMIA mica. Nesse sentido, há um movimento por parte das instituições financeiras em retomar as negociações, reavaliando os planos de negócios que as empresas estão propondo, porém, exigindo muito mais rigor técnico nas projeções. Perspectivas de produção – Para os técnicos da MBF, que além da especialidade em projeções econômica e gerenciamento de custos de produção convivem diariamente no campo e na indústria, as estimativas de moagem estão em 630 milhões de toneladas, para a nova safra, porém nesse número está parte da cana bisada da safra 15/16, estimada em torno de Françóia: cana-bisada traz dúvidas 28 milhões de toneladas. “É uma estimativa que somente terá fundamentos mais te da cana bisada na safra atual é matéria plausíveis no final de fevereiro, pois muitas -prima que trocou de ponto de moagem, unidades continuam processando a cana, ou seja, que saiu de usinas desativadas diminuindo a estimativa de cana-bisada”. ou sem condições financeiras para hon- “Há uma confusão de números, onde rar os compromissos com os fornecedo- soma-se cana bisada com cana de produ- res, passando para as empresas que estão ção na safra e reproduz-se relatórios ou em melhores condições econômicas, mas informações sobre aumento de produti- que devido ao fator clima, não consegui- vidade nas lavouras. Sim, há aumento de ram processar essa cana adicional. produtividade, pois uma pequena parce- Na entressafra, algumas usinas terão la do setor conseguiu investir na reno- poucos dias de parada, ou nada, antes de vação e nos tratos culturais, porém pou- iniciar a moagem da nova safra. Por isso, co em expansão. Mas é muito arriscado o especialista acredita que há dúvidas achar que a safra terá muito mais de 600 do volume de cana bisada, ou do quanto milhões de toneladas para processar em será processado na safra atual. “Uma dú- 2016/17, além do que vier de cana-bisada, vida que preocupa, pois somente será sa- que somando-se, poderá chegar a 630 mi- nada com um planejamento sério e com lhões de toneladas”, revelam. divulgação correta dos números da safra”, Na opinião de Françóia, grande par- 36 finaliza. Março · 2016 37 A M I G A DA CAN A Uma mulher de muitas paixões ENCANTO PELA TERRA, PELA ARTE DE DAR AULA, PELO COMPROMISSO COM A COMUNIDADE ... E ATÉ POR PROMOVER A BOA E VELHA CACHAÇA. É A HISTÓRIA DE MUITAS PAIXÕES DA PESQUISADORA MÁRCIA MUTTON Clivonei Roberto M ineira de Sacramento, Márcia Justino Rossini Mutton é de família de produtores rurais. Os avós produziam cachaça e os pais se dedicavam a grãos, café e leite. Ela lembra que, Márcia Mutton: ao passar no concurso na Unesp de Jaboticabal, poderia dar aula, fazer pesquisa e ter contato com o produtor rural, fazendo extensão com a comunidade quando pequena, adorava o período de férias porque a família passava um tempo Mais tarde foi parar numa cidade na fazenda. “Ao observar a rotina rural, o grande, Ribeirão Preto, para concluir o co- que chamava a minha atenção era a pos- legial, mas o encanto que sentia pelo mun- sibilidade de usar recursos presentes no do rural a influenciou na hora de decidir campo para produzir alimento e manter o pela carreira a seguir: Ciências Agrárias. equilíbrio da cidade.” Esta lógica, de tirar Passou no vestibular da Unesp (Univer- da terra o sustento que mantém a vida ur- sidade Estadual Paulista) de Jaboticabal, bana, a fascinava. onde concluiu a graduação em 1979. 38 Março · 2016 Miguel Mutton, Márcia e alunos durante visita, em Lençóis Paulista, ao produtor Luiz Carlos Dalben, pioneiro no recolhimento de palha para produção de energia Na faculdade trabalhou muito com área, em que enxergava grande potencial. milho, mas quis o destino colocar outra Já formada e dando aulas, Már- cultura, a cana-de-açúcar, em seu cami- cia aproveitou que abrira uma vaga para nho. Ela voltou para Ribeirão Preto para professor de tecnologia de açúcar e ál- fundar o curso técnico de açúcar e álcool cool na Unesp. Voltava para Jaboticabal de uma universidade privada. E se apaixo- em 1981, mas agora não mais como alu- nou. “Toda minha carreira construí traba- na. “Aquela oportunidade me possibilitou lhando no setor sucroenergético, desde o dar aula, fazer pesquisa e ter contato com início de minha trajetória profissional.” o produtor rural, fazendo extensão com a Mas analisando bem, seu envolvi- comunidade.” mento com a cana-de-açúcar é anterior. Ela poderia colocar em prática um Como sempre quis morar e trabalhar per- compromisso que sempre teve ao lon- to da família, estagiou durante a gradua- go de sua trajetória acadêmica. “Sempre ção em várias usinas da região de Ribeirão gostei de fazer a ponte entre os proble- Preto, como Martinópolis, Santa Lídia, São mas práticos e trazê-los para dentro da Carlos. Já acumulava conhecimento nesta universidade para estudar e devolver uma 39 A M I G A DA CAN A Márcia com alunas em destilaria na cidade de Pirassununga, SP solução para a comunidade. Assim entregamos uma resposta e essa é a função social da universidade, além de qualificar profissionais.” Sempre atenta à realidade do produtor, no mestrado Márcia se debruçou sobre o efeito da queima no manejo e no armazenamento da cana-de-açúcar, levando em consideração as características tecnológicas da matéria-prima que chega à indústria. Mais tarde, ela mudouse para Piracicaba para fazer o doutorado, tendo a sorte de ter o professor José Paulo Stupiello como orientador. Com sua ajuda, ela foi uma das primeiras pesquisadoras do país a estudar a influência das impurezas vegetal e mineral dentro da indús- Com alunos em aula realizada em vinícola na região de Louveira, SP 40 Março · 2016 tria sucroenergética. “Principalmente com Trabalhos como esses atestam por- o avanço da colheita mecanizada, o fato que Márcia Mutton é das pesquisadoras de termos levantado esse tema foi mui- que mais se dedicam a conhecer e aper- to importante para o setor e continuamos feiçoar o casamento, nem sempre perfei- envolvidos com esse assunto.” to, entre agrícola e indústria na agroindús- Nos anos de 1980, ela quantificou e tria canavieira. avaliou o impacto das impurezas sobre a matéria-prima. Estudo que trouxe gran- Investimento em pesquisa de contribuição à agroindústria canaviei- Márcia Mutton também está envol- ra, inclusive ao indicar a necessidade de vida em pesquisas voltadas ao etanol 2G. aperfeiçoamento do sistema de pagamen- “Nessa área, temos atualmente dois tra- to de sacarose que era feito na época. balhos sendo conduzidos envolvendo re- Ela cita outros trabalhos aos quais se dedicou, como o pioneirismo em estudar síduos do bagaço, do sorgo e de outras biomassas.” o reflexo do ataque da cigarrinha-das-raí- No entanto, ela concorda que a zes à cana-de-açúcar sobre o processo de agroindústria canavieira precisa de mais fabricação do açúcar e do álcool. pesquisas com etanol de primeira ge- Fardo de palha na indústria; nova realidade que Márcia acompanha de perto 41 A M I G A DA CAN A A pesquisadora durante palestra que realizou no Congresso da Atalac na Colômbia, em 2012 ração. “Temos garga- los tecnológicos que não estão equacionados e precisariam ser mais bem trabalhados.” Ela acredita que, no médio e longo prazo, o setor terá grandes quebras de paradigmas a partir de novas tecnologias. Mas ainda falta uma boa caminhada para quando teve a oportunidade de acompa- isso. Na sua visão, o país ainda não acordou nhar pesquisas e processos de produção para a necessidade de mais investimentos de cachaça e etanol. Mas essa aproxima- governamentais em pesquisas nessas áre- ção foi tão marcante que, mesmo depois as. “Não obtivemos a evolução que poderí- de retornar a Jaboticabal, continuou sen- amos por falta de investimento. Para o país do procurada por produtores de cachaça é estratégico. Investir em pesquisas vai avi- que tinham problemas com a produção. zinhar pra gente um futuro melhor.” “Todo mundo tinha pesquisa em etanol, mas no caso da cachaça percebemos Especialista em cachaça que há particularidades, detalhes no pro- A partir da preocupação em conectar cesso de produção que merecem carinho, os trabalhos feitos na universidade com a pesquisa diferenciada.” A necessidade de realidade, Márcia Mutton ofereceu – e ain- aprofundar os conhecimentos nessa área da oferece – grande contribuição a um foi desperta quando os produtores da be- subproduto da cana-de-açúcar que nem bida procuraram a universidade, segundo sempre foi valorizado: a cachaça. Nessa ela. área, por exemplo, avaliou o uso da pró- Márcia motivou a organização, em polis no controle da cachaça orgânica e a 1991, em Jaboticabal, de uma reunião que aplicação de biomoléculas. foi um divisor de águas para a indústria da O interesse por este produto veio cachaça no país. “Convidamos produto- do período em que morou em Piracicaba, res de Minas Gerais e São Paulo e também 42 Março · 2016 os principais pesquisadores no assunto bre a cachaça a fim de torná-la um produ- para exatamente estudar e discutir o pro- to brasileiro visto com outros olhos.” cesso de produção da bebida.” Cerca de A iniciativa, que começou com certo 250 pessoas lotaram o auditório. O fruto ceticismo, ganhou corpo. Várias institui- da reunião foi uma publicação sobre pro- ções começaram a fazer pesquisa na área. dução de cachaça – “Aguardente de Cana: Paralelamente, a Apex (Agência Brasilei- Produção e Qualidade” - que é referência ra de Promoção de Exportações) fez uma até hoje. pesquisa com os 50 produtores brasilei- Antes, de maneira geral, a cachaça ros de cachaça de maior representativida- era tida como uma bebida de segunda ca- de com o objetivo de identificar os garga- tegoria. Mas depois isso mudou. Reuniões los técnicos que impediam que a bebida bianuais passaram a acontecer. Minas Ge- ganhasse o mercado externo. rais despontou como um grande produ- “Fizemos vários cursos a fim de qua- tor, entre outras regiões do país. “Passa- lificar os produtores para que produzis- mos a trabalhar em temas como produção sem uma cachaça de qualidade. A inten- e qualidade, além de estimular a socieda- ção era resolver problemas que a bebida de a quebrar o preconceito que existia so- tinha, avaliando tanto do ponto de vista Com o marido Miguel, à sua direita, e com o amigo José Paulo Stupiello, presidente da STAB, no congresso Atalac - Tecnocaña 43 A M I G A DA CAN A Márcia com o marido, Miguel Mutton (de camisa clara), e os filhos: Matheus (Engenheiro de Computação) e Michele (Psicóloga) da produção da cana, do processo industrial e das características organolépticas para que tivéssemos um produ- 150, 157 de ATR, hoje falamos de médias to final de qualidade.” inferiores a 130”, lamenta. Aquela articulação deixou um lega- Um quadro que, segundo ela, é desa- do para a cachaça no Brasil. Tanto que ain- fiador, e exige que agrícola e indústria se da hoje parte dos parâmetros utilizados organizem e tomem ações contundentes. pelos órgãos federais nesta área é fruto Mas como? Várias ações devem ser discu- daquele trabalho. tidas e implementadas. “Às vezes a solução pode ser simples, como reduzir a ve- O impacto das impurezas locidade da colhedora. Já o preço de não Nos últimos anos, principalmente se preocupar com isso pode ser alto. Jogar com o processo acelerado de mecanização cana com muita impureza na usina dificul- dos canaviais, houve uma mudança de pa- ta o processo industrial.” radigmas. “Olhamos para máquina como Neste caso, quando a matéria-prima sendo a grande solução para o setor, para chega à indústria, pode-se até adicionar a dificuldade de mão de obra, mas a qua- insumos para minimizar os impactos, mas lidade da matéria-prima foi muito influen- acaba refletindo na cor do açúcar, no cus- ciada”, salienta. to do processo, exige retrabalhos, há des- A professora destaca que o setor, no passado, tinha teores muito menores de gaste maior dos equipamentos. Será que vale a pena? impurezas. Mas na proporção que cresceu a mecanização da colheita, houve o au- Uma “mãe” exigente mento desse problema, e no sentido con- Márcia é casada com o engenheiro trário houve a queda do índice do ATR. agrônomo Miguel Ângelo Mutton, que ela “Um tempo atrás tínhamos uma média de conheceu durante a graduação, nos anos 44 Março · 2016 de 1970. Na época, ele era de outra turma do de trabalho. Nossa equipe acaba sendo e não surgiu nada entre ambos. Mas tudo uma grande família, e eu me realizo acom- mudou durante a pós-graduação, quando panhando cada um deles.” começaram a cursar uma disciplina juntos. Para Márcia, a dedicação à vida aca- Eles tiveram um casal de gêmeos. dêmica é muito gratificante. Mas assegu- Nenhum dos dois filhos enveredou para ra: se o aluno quer ser orientado por ela, a área dos pais, mas isso não é problema tem que ter disposição para trabalhar e ser para ela, até porque se realiza “contribuin- cobrado constantemente, como acontece do com a formação dos alunos, que tam- no mercado de trabalho. “Isso faz parte da bém são ‘meus filhos’”. construção do profissional. E os projetos Prova disso é o grande número de que desenvolvemos, muitos em parceria orientações ao longo da carreira: são 40 com empresas, exigem responsabilidade. dissertações de mestrado e mais de 10 Além disso, mostro que a sociedade espe- doutorados. Já como orientadora de tra- ra o resultado das pesquisas de cada um. balhos de graduação, entre iniciação cien- O produtor de cana, por exemplo, espera a tífica e de conclusão de cursos, ela já resposta dos nossos estudos, por isso não acompanhou mais de 100 alunos. “Falo podemos errar.” que são meus filhos também, pois passa- Ela é exigente, mas pelo jeito os uni- mos a conviver por vários anos juntos. A versitários entendem a importância dessa gente dá conselho, me contam problemas postura. Tanto que há uma fila de espera e conflitos e depois comemoramos quan- de alunos ansiosos para terem suas pes- do conseguem uma colocação no merca- quisas orientadas pela professora Márcia. Ao lado das “mães” (sogra, à esquerda, e mãe, à direita) 45 C A PA Ah, essas mulheres! NEM MESMO AS GRANDES MÁQUINAS SÃO OBSTÁCULOS PARA A ASCENSÃO FEMININA Na Biosev Unidade Santa Elisa, 20 mulheres atuam na área de mecanização agrícola Luciana Paiva e Clivonei Roberto É necessário ter força física, disponi- Estas são algumas das exigências que por bilidade muitas vezes para trabalhar muito tempo foram impostas pelo merca- à noite, disposição para encarar jor- do de trabalho do agronegócio. nada de trabalho exaustiva, em alguns ca- Características que, somadas ao fato sos morar em alojamentos e a liberdade de o meio rural ser mais conservador que de seguir os períodos de safra Brasil afora. o urbano, limitam a participação da mu- 46 Março · 2016 47 C A PA lher no segmento. Sabe-se que esse ce- Mas é possível calcular que muito nário está em transformação. A mecaniza- desse território ainda está para ser con- ção e automação praticamente aboliram a quistado pelas mulheres. Tomando por força bruta das tarefas realizadas no cam- base a agroindústria canavieira, que além po. A maior qualificação feminina e o fato da área agrícola, engloba indústria, logísti- de ocuparem 60% dos bancos universitá- ca, mercado, pesquisa e tecnologia, calcu- rios, até mesmo em cursos considerados la-se que o setor empregue direta e indi- “mais para homens”, como Agronomia, retamente dois milhões de pessoas, sendo contribuem para a abertura das porteiras que, segundo estimativas não muito apro- do mundo agro para as mulheres. fundadas, as mulheres ocupam 15% des- Ainda não há números corretos so- sas vagas. bre a quantidade de mulheres que atuam no agronegócio brasileiro. Breve isso irá Pura emoção mudar, pois a ABAG (Associação Brasileira A presença feminina nas usinas é do Agronegócio) e a PwC irão realizar uma mais comum nas áreas administrativas, re- pesquisa nacional para apurar a participa- cursos humanos, comunicação, assistência ção feminina no campo. social e laboratórios. Mas onde a atuação Vanilza, motorista de rodotrem, e Luciana, operadora de máquinas, há cinco anos trabalham na Biosev-Santa Elisa 48 Março · 2016 Quando rodotrem só trafega pelos carreadores da usina, transporta até 110 toneladas de cana da mulher tem chamado mais a atenção ela mede pouco mais de um metro e meio é no comando de caminhões e máquinas de altura, como é o caso de Vanilza Gon- agrícolas. É porque as pessoas se espan- çalves Barbosa Gomes, que trabalha há tam ao vê-las dominando, por exemplo, cinco ano na Biosev, unidade Santa Elisa, “um bruto”, como os motoristas chamam em Sertãozinho, SP, e atua como motoris- carinhosamente os rodotrens. ta de rodotrem. Não é para menos, o rodotrem quan- Vanilza, que é da cidade de Pitan- do só trafega pelos carreadores da usina gueiras, vizinha da usina, conta que apesar transporta até 110 toneladas de cana. Já quando pega estradas fora da propriedade, a carca máxima deve ser de 94 toneladas, é preciso respeitar a lei. Mesmo assim, quando esse “bruto” se aproxima da gente, arrepia pela imponência, pela força, parece um touro. Vanilza fala sobre a emoção de ser motorista de Rodotrem Assim fica difícil imaginar que uma mulher consegue controlar essa fera e conduzi-la perfeitamente, ainda mais quando 49 C A PA de ser balconista, sempre gostou muito de volante, e na Pitangueiras Açúcar e Álcool teve a oportunidade de se aperfeiçoar e passar a dirigir perua e ônibus. Mas foi na Biosev que recebeu treinamento que a capacitou a dirigir o rodotrem. Atividade que As máquinas possuem tecnologia de ponta e muito conforto “ama de paixão e é pura emoção”. A emoção não está só ao volante, mas também pelo reconhecimento por dirigir uma máquina dessas. Vanilza conta res e máquinas agrícolas era rotina para que uma vez, após manobrar o caminhão Luciana. Mesmo assim, ela nunca se aven- carregado próximo a uma frente de ope- turou a conduzir o trator da família, por rários que recapeavam uma estrada, ao exemplo, apesar de ter curiosidade. Mas verem a perfeição da condução e perce- acabou se especializando em depilação berem que era uma mulher que dirigia o e designer de sobrancelhas, atividades rodotrem, os homens tiraram o capacete, que passou a exercer em sua cidade, Pi- colocaram no chão, a aplaudiram e lhe de- tangueiras, isso até há cinco anos, quando ram vivas. “Foi muita emoção, voltei para se inscreveu em um processo seleção na casa muito feliz com a minha profissão.” Biosev Unidade Santa Elisa. Foi aprovada e recebeu treinamento e capacitação para Amor à primeira vista operar máquinas agrícolas. A função a en- O pai de Luciana Claudia Pioto é pro- cantou desde o primeiro momento. “Foi dutor de cana. Então conviver com trato- paixão à primeira vista”, comenta. Luciana realiza operações como preparo de solo e traciona transbordos durante a safra 50 Março · 2016 51 C A PA Na Usina Santa Vitória, 22 mulheres ocupam posições na área de mecanização Assim como o caminhão dirigido por res atuam em diferentes área. Atualmente Vanilza, as máquinas, os tratores operados a empresa conta com 143 colaboradoras, por Luciana apresentam alta tecnologia. que representam aproximadamente 11% Não é necessária força para conduzi-los, do quadro de funcionários. são muito confortáveis, até mais que car- Em funções de liderança na SVAA, ros, afirmam elas. Luciana, a bordo des- 8,2% são mulheres, que ocupam cargos sas grandes máquinas, realiza operações de supervisão de Desenvolvimento Agro- como preparo de solo e traciona transbor- nômico, Desenvolvimento Organizacional, dos durante a safra. gestão de Laboratório, líder da área de De acordo com Jean Fábio da Silva, Controle de Pragas, dentre outros. supervisor de operação agrícola da Biosev Já 62 colaboradoras da companhia Santa Elisa, a unidade conta com 20 mu- estão no departamento agrícola, sendo lheres na área de mecanização agrícola. que 22 no setor de mecanização, onde os Jean salienta que além de realizarem o tra- cargos são historicamente e predominan- balho com muita qualidade, as mulheres temente ocupados por homens. Elas tra- cuidam das máquinas com mais carinho, balham na operação de máquinas agrí- dando menos manutenção. Está nos pla- colas (trator, colhedora e plantadora), na nos da Biosev aumentar o número de mu- direção de veículos de grande porte (mo- lheres na área de mecanização agrícola. toristas de comboio e rodotrem) e manutenção agrícola (mecânica de motores e Na Usina Santa Vitória as mulheres representam aproximadamente 11% do quadro de funcionários de máquinas agrícolas). Na Usina Santa Vitória (SVAA), lo- ra de transbordo e hoje é motorista de calizada em Santa Vitória, MG, as mulhe- 52 Uma delas é Vandereza Conceição Rodrigues Franco, 39 anos, que entrou na SVAA há quatro anos como operadorodotrem. Março · 2016 Ela está acostumada a quebrar para- Vandereza entrou na usina como digmas por onde passa. Antes de surgir a motorista de transbordo, o que já era uma oportunidade na usina, era motorista de grande conquista. Mas ela não sabia que caminhão de coleta de lixo na cidade de estava sendo avaliada, até que foi infor- Santa Vitória. “Fui a primeira mulher nes- mada que poderia desenvolver bem o pa- se cargo na empresa, e abri portas para pel de motorista de rodotrem. Aceitou o que outras fossem contratadas. Mas de- desafio de cara. pois me senti realizada quando entrei na usina”, diz. Nem se intimidou com o tamanho da composição. “No transbordo eu já pu- Nunca teve problema de discrimi- xava duas trelas, com 33 metros incluindo nação na empresa. Ao contrário. “Quan- o cabeçalho. Já o rodotrem tem 30 metros do entrei, ficava me perguntando se da- de cumprimento.” ria conta, achava que era um cargo apenas A rotina do trabalho não é fácil. Che- para homens, mas não foi difícil me adap- ga na usina por volta de 5h30 da manhã, tar. Percebi que o mito que existia estava quando entra numa van que a deixa onde na minha cabeça.” o rodotrem está operando. “Ao chegar, te- Vandereza está acostumada a quebrar paradigmas onde trabalha 53 C A PA Joelma: manutenção de máquinas agrícolas exige disposição para estar sempre aprendendo mos o primeiro contato com o parceiro que informa sobre a frente de serviço, sobre o trajeto do caminhão, sobre como está o equipamento. Aí abro o informativo, faço o ckeck-list, verifico os pneus para ver se terei algum problema no trajeto”, explica. mos ignorar, senão pode ocorrer algum “Olho tudo com cautela para ter uma boa acidente mais tarde com a gente ou com viagem”, completa. Com tudo pronto, é só o próximo motorista.” seguir caminho. Casada há 18 anos e com dois filhos, Ela nunca deixa de estar devidamen- ela nunca ouviu reclamação do marido por te paramentada com os equipamentos de desempenhar uma função normalmente proteção (EPIs) oferecidos pela usina. “No ocupada por homens. “Ele confia em mim que diz respeito à segurança, a mulher é e fica até orgulhoso quando ouve de co- mais precavida. Se vê uma trinca, logo de imediato informa seu superior. Não podeVandereza e Joelma: fazendo bonito na Santa Vitória 54 Março · 2016 nhecidos elogios sobre a coragem de sua Mecânico. De auxiliar, passou para Mecâ- mulher em dirigir um rodotrem.” nica de Máquinas Agrícolas. Na SVAA, Joelma está há um ano e Fazer o que gosta meio. Trabalha na maior parte do tempo Já Joelma Lemes, 33 anos, leva a com manutenção em motores hidráulicos competência feminina a outra área da e atua na oficina em reparo de colhedoras, SVAA normalmente ocupada por homens: plantadoras, trator etc. A jornada de tra- Mecânica de Máquinas Agrícolas. balho tem início com o Diálogo Diário de Com dois filhos para criar, Joelma Segurança, em que o líder se reúne com a sabe que precisa aproveitar bem as opor- equipe para conversar sobre segurança no tunidades que surgem. Na usina, ela tra- trabalho. A partir daí, coloca seus EPIs e balhava na área de irrigação, quando ficou inicia o tratamento dos motores e as ativi- sabendo do curso de mecânica básica. O dades que forem surgindo ao logo do dia, serviço lhe chamou a atenção, fez o curso sempre em sintonia com toda a equipe de e logo ingressou na função de Auxiliar de Manutenção. Usina Furlan montou turma com 27 mulheres em curso de operação de colhedoras de cana 55 C A PA Ana Paula: “Temos mais cuidado com a máquina e com o canavial” “Para trabalhar com a manutenção dos motores hidráulicos é necessário ter muito cuidado, pois são sensíveis à falta as mulheres têm muito a oferecer ao setor. de higienização, por exemplo. O trabalho Na empresa, há profissionais do sexo fe- com a manutenção de máquinas agríco- minino trabalhando no departamento mé- las exige, acima de tudo, que o mecânico dico, de controle de frota, de química in- goste do que faz, tenha disposição e von- dustrial, de administração etc. tade, e esteja sempre aprendendo”, relata A Furlan virou notícia em 2013 quan- Joelma. Para ela, buscar o conhecimento do formou uma turma composta apenas é essencial para um mecânico. “É funda- por mulheres no curso de colhedora, con- mental trabalhar com atenção e cuidado, siderando a dificuldade de encontrar ho- sempre procurando aprender aquilo que mens na região dispostos a manejar as não se sabe, perguntar aos mais experien- máquinas. Ao todo, 27 mulheres foram tes e ter humildade para crescer.” capacitadas para operação de colhedo- Ela afirma que nunca passou por ne- ra de cana, e outras 10 para operação de nhum tipo de discriminação por ser mu- trator transbordo. Segundo a diretoria da lher e trabalhar na área. Diferente disso, empresa, a montagem de uma turma ape- pois sempre recebe ajuda dos colegas que nas com mulheres tinha a expectativa de têm paciência em ensinar e contribuir no ter um público que recebesse capacitação dia a dia de trabalho. Ainda mais na en- específica, além do interesse da compa- tressafra, quando o volume de serviço au- nhia em ter mulheres atuando nessa área, menta. “Nesse período a atividade é in- por conta do zelo que há por parte de- tensificada, pois o maquinário está em las na operação do equipamento, o que manutenção para iniciar a próxima safra.” permite reduzir as quebras e aumentar a produtividade. “Amo tudo isso, é gratificante” mulheres não está mais na empresa, ou foi Situada em Santa Bárbara d’Oeste, deslocada para outros postos. Mas algu- SP, a Usina Furlan é um exemplo de com- mas se adaptaram bem ao trabalho com panhia sucroenergética que acredita que máquinas agrícolas e ganharam destaque 56 No entanto, parte daquele grupo de Março · 2016 na empresa. É o caso de Ana Paula Mazuchi, 29 anos. Quando chega à colhedora, Ana imediatamente faz o check-list. Marca o horá- “Mulheres têm um trabalho diferen- rio que entra no equipamento, registra o ciado, somos mais cuidadosas, operamos horímetro do motor, o elevador. Assinala a com maior atenção e delicadeza”, afirma hora em que começa a trabalhar, em que Ana Paula. “Temos mais cuidado com a termina e indica se o equipamento precisa máquina e com o canavial.” de manutenção. Lembra ainda que no iní- De acordo com ela, para uma mulher cio de cada expediente é preciso olhar o desempenhar um bom trabalho na opera- óleo, a água e dar uma geral na máquina. ção de colhedoras precisa, antes de tudo, Ana Paula não se desespera quan- conhecer bem do funcionamento e da re- do estoura alguma mangueira. Sabe o que gulagem da máquina. “Tem que tirar ar do deve ser feito. Também substitui com tran- sistema quando necessário, colher na al- quilidade as dez faquinhas da colhedora. tura ideal, tem que andar corretamente na “Para isso, gastamos cerca de meia hora, o rua de cana, sem deixar cana pra fora. Para que tem que ser marcado na ficha.” o serviço ficar bem feito, temos que redu- Outro procedimento também im- zir as perdas ao máximo, mas pra isso a portante é dar uma olhada no canavial colhedora tem que estar bem regulada.” sempre que chega para a operação. “Al- Em sua opinião, no dia a dia com a guns cortadores manuais cortam uma máquina é fundamental a limpeza e orga- rua para iniciarmos o trabalho em um ta- nização da cabine. “Todo dia temos que lhão. Logo que abrimos a rua já é possí- lavar os vidros para termos boa visibilida- vel saber como está a cana, se o trajeto de. Além disso, coloco tapete no banco e tem curva, se a cana está deitada ou não. no assoalho, e sempre uso um pano para limpar onde suja.” “Se a cana estiver deitada, é importante colher no sentido em que está caída, para não ficar um serviço mal feito”, aconselha Ana Paula 57 C A PA Caso esteja deitada, é importante colher para mulheres, ficou interessada. “Primei- no sentido em que a cana está caída pra ro fiquei curiosa. Era uma máquina cheia não ficar um serviço mal feito. Isso é im- de detalhes. Aí me perguntei se iria con- portante também para não perder a visão seguir controlar um equipamento daque- da rua”, explica. Além disso, ela destaca le tamanho apenas segurando um joysti- que quando a máquina chega à cabecei- ck. Tive um pouco de medo, mas fui em ra, é preciso tomar cuidado com a mano- frente com determinação”, relata. “E quan- bra para não prejudicar o equipamento e do fiz essa mudança de emprego, meu sa- o canavial. “Alguns classificam esse tra- lário melhorou muito”, comemora. balho como de homem, mas as mulheres Ana Paula trabalhou por três safras também são capazes. Eu amo tudo isso, é na Furlan, mas nesta entressafra teve que muito gratificante.” mudar-se com seu filho para São Carlos Ana Paula gosta de trabalhar na cabi- por motivos familiares, mas está tentando ne da colhedora. É um espaço confortável voltar a trabalhar na operação de colhe- e, segundo ela, menos estressante do que dora em alguma usina da região. “É disso na época em que trabalhava no supermer- que gosto e aprendi a fazer muito bem.” cado. Quando ficou sabendo de um curso para operação de colhedoras voltado “Mulher tem que correr atrás” Em Minas Gerais, encontramos outra mulher que opera com destreza uma colhedora de cana. Funcionária do Grupo Coruripe - Unidade Limeira do Oeste, Lucimar Silva Oliveira, 39 anos, entende que para ser um bom profissional nessa tarefa precisa estar disposto a aprender um pouco mais a cada dia. Mas para mulher o fardo é ainda mais complicado. “Existe certo preconceito, mas não da equipe da usina, que é muito correta, mas no dia a dia da cidade. Pensam que por trabalharmos ‘no meio do mato’, com outros homens, que a coisa é bagunçada, mas não é. E isso atrapalha”, Lucimar: “sempre que entro na colhedora, vejo o tipo de cana para controlar velocidade e calibrar a máquina na altura certa” 58 relata Lucimar, que é casada, mas nunca teve problema com o marido pela função Março · 2016 “Se a cana estiver em pé, posso ir um pouco mais rápido, mas se estiver caída, tem que diminuir a velocidade”, diz Lucimar que exerce. “Ele também trabalha na usina sempre prestando muita atenção no divi- e tem muito orgulho do que faço.” sor de linha. Precisa estar no ponto cer- No setor sucroenergético, Lucimar to para não ficar cana no chão. Se esti- já trabalhou com caminhão, transbordo e ver tudo bem, vemos a cana entrando na desde 2010 lida com colhedora de cana, boca da máquina certinho e isso é a maior não se importando se o turno é de dia ou satisfação.” à noite. “Quando chego pra trabalhar, pri- Para Lucimar, o mais difícil na ope- meiro dou uma volta para ver se está tudo ração com a colhedora é quando tem que ok e vejo o tipo de cana para controlar ve- colher à noite um canavial muito deitado. locidade e calibrar a máquina na altura “Fica difícil ver a rua da cana. Aí temos que certa”. ter certa prática, conhecimento. Por isso, Ela relata que a característica do ca- quanto maior a experiência, melhor para a navial influencia na velocidade da opera- qualidade da operação.” Mas nada que ela ção com a colhedora. “Se estiver em pé, não tire de letra. posso ir um pouco mais rápido, mas se es- “Mulher tem que correr atrás. Temos tiver caída, tem que diminuir a velocidade, que mostrar que podemos trabalhar de 59 C A PA Elaine: “gosto do meu trabalho [na colheita mecanizada] e pretendo continuar estudando para crescer mais na empresa” igual pra igual com o homem”, afirma Lu- Ela ingressou na Jalles Machado em cimar, que já está na contagem regressiva 2011, quando se interessou em fazer um para o início da próxima safra em Limeira curso de operação de máquinas agrícolas do Oeste, previsto para 1o de março. pela empresa. De imediato, saiu contratada. “Já trabalhei em outros empregos na Protagonismo também no Centro-Oeste cidade, mas aqui me adaptei muito bem O Grupo Jalles Machado – detentor tunidade para as mulheres em todas as de duas usinas em Goianésia, GO - tam- áreas, principalmente no preparo de solo, bém aposta na competência feminina para plantio e colheita. Gosto muito do meu o desempenho das mais variadas funções, trabalho e pretendo continuar estudando inclusive na operação de máquinas agrí- para crescer mais na empresa.” e pretendo continuar. A empresa dá opor- colas. Quem comemora a oportunidade Pelo que se vê, as máquinas não são que teve na empresa é a operadora de co- obstáculos para a ascensão das mulheres lhedora Elaine Rodrigues Silva, 27 anos. no setor sucroenergético. 60 Março · 2016 As mulheres na Raizen MAIOR GRUPO SUCROENERGÉTICO DO PAÍS VALORIZA A DIVERSIDADE E ABRE OPORTUNIDADES PARA AS MULHERES EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM OS HOMENS As mulheres têm aproveitado as oportunidades que surgem na Raízen porque estão cada vez mais capacitadas Clivonei Roberto C oncentração, disciplina, cuida- panhia sucroenergética do país, a Raízen. do com os detalhes. As habilida- Não é à toa que, ao longo dos últimos des e características da mulher são anos, a presença da mulher em cargos de cada vez mais valorizadas pela maior com- administração na companhia cresceu 40%, 61 C A PA considerando as 24 unidades do Grupo. de alta liderança resulta em crescimen- A companhia está sintonizada com to para a empresa”, destaca Alessandra um estudo divulgado recentemente pelo Rosa Abrahão Orlando, gerente de Recur- Instituto Peterson que mostra que empre- sos Humanos para a Área de Etanol, Açú- sas com pelo menos 30% de funções de car e Bioenergia da Raízen. “Nossa em- liderança ocupadas por mulheres podem presa acredita que quando a mulher faz elevar em até 15% o lucro, na compara- parte da decisão da companhia traz ou- ção com aquelas em que as mulheres não tro viés importante na tomada de deci- estão em cargos de liderança. O levanta- são”, acrescenta. mento mostra que os maiores ganhos são Se atualmente pesquisas acadêmi- obtidos pelas organizações quando as cas constatam os benefícios delas para o mulheres estão em posições executivas, mundo corporativo, não é de hoje que a como diretoria-financeira. Raízen valoriza a mão de obra feminina, Ou seja, dar oportunidade para as enxergando-a como uma importante fon- mulheres chegarem ao topo é vantajo- te de preenchimento de funções. “A mu- so para as organizações. “Estudos mos- lher é base da captação de todas as vagas tram que a chegada de mulheres a cargos na empresa”, afirma Alessandra, revelan- Profissionais da Raízen prestigiam o Encontro Cana Substantivo Feminino: busca de informação e network fazem parte da qualificação 62 Março · 2016 Alessandra: “Estudos mostram que a chegada de mulheres a cargos de alta liderança resulta em crescimento para a empresa” do que o Grupo acredita que é preciso contemplar a diversidade na formação do time de empregados. lher se destaque”, diz. Elas são presença marcante na área de recursos humanos do Grupo. Considerando este departamento nas 24 unida- Competência reconhecida des, elas ocupam 80% dos cargos. RH é E as mulheres estão presentes em to- uma área em que as mulheres, tradicional- dos os departamentos da Raízen, ocupan- mente, são maioria nas usinas. Mas confor- do os mais diversos cargos, sendo que em me o tempo passa, elas rompem padrões algumas funções elas já são maioria. e ocupam funções que sempre foram ma- Exemplo vem da área de laboratório joritariamente masculinas. E sempre que industrial. Elas ocupam 59% do quadro de se prontificam a estes postos, apresentam funcionários dos laboratórios das 24 uni- alto nível de capacitação. O que chama dades. “Mulher combina muito com essa a atenção de Alessandra é que elas têm área pela concentração, detalhismo, disci- procurado cursos de graduação que nun- plina”, afirma Alessandra. ca foram comuns para mulheres - como Já na área de exportação de açúcar, os de engenharia -, o que reflete em uma elas também são maioria: 58% do total mudança no mercado. Tanto que são cada de funcionários. “Esta é uma área comer- vez mais numerosas nos processos sele- cial, de negócio, que fecha resultado para tivos para os cargos de engenheiro e de a empresa, o que não impede que a mu- técnico de açúcar e etanol, por exemplo, 63 C A PA A Raízen tem a preocupação de que homens e mulheres tenham um salário justo correspondente à função que ocupam disputando de igual pra igual pela vaga ras de colhedoras por conta do cuidado com os homens. que têm com a máquina, pela responsa- “Isso demonstra que estão buscando bilidade e pela qualidade do serviço que cada vez mais fazer carreira em outras áre- executam. “Além disso, elas prezam pela as, inclusive dentro do setor, não se con- segurança, são disciplinadas e têm foco.” tentando apenas a cargos em que a presença feminina sempre foi comum, como Capacitadas RH e Administração”, analisa Alessandra. As mulheres têm ocupado espaço No departamento agrícola, por em todas as áreas das unidades, de modo exemplo, as profissionais apresentam óti- geral. Mas não porque existe uma cota a mos resultados. E ocupando variados car- ser cumprida para que isso aconteça. É gos, desde supervisão agrícola, até postos que elas têm aproveitado as oportunida- mais operacionais, como na operação de des que surgem porque estão cada vez colhedoras e de tratores. “Temos inclusive mais capacitadas. “Vemos muitas mulhe- preferência por mulheres como operado- res fazendo parte das salas de formação ra de colhedora, até porque quem ocupa de mão de obra”, lembra Alessandra. essa função na Raízen deve ser um opera- Segundo a gerente de RH, a Raízen dor mantenedor”, relata Alessandra, expli- tem adotado indicadores que mostram a cando que, de modo geral, os supervisores evolução e o crescimento da mulher na agrícolas elogiam o trabalho das operado- companhia. “Isso é foco da empresa. Que- 64 Março · 2016 remos sempre mostrar casos de sucesso Elas na indústria de mulheres. Afinal, nada melhor do que Na Raízen, as mulheres estão presen- apresentarmos cases de mulheres bem su- tes tanto na área agrícola como na indus- cedidas para que elas, cada vez mais, se trial, inclusive ocupando funções de des- apropriem de seu papel na companhia.” taque. Um exemplo vem da unidade de No entanto, ela sublinha que não há Dois Córregos, onde Isabel Silva Junquei- diferenciação entre homens e mulheres na ra assumiu, em meados de 2015, a gerên- empresa. A cobrança é a mesma indepen- cia industrial. dente do sexo do profissional, assim como Na companhia há onze anos, Isabel o reconhecimento pelos resultados apre- credita a ascensão dentro da empresa à sentados. “Além disso, a Raízen tem a pre- sua dedicação e também à sede contínua ocupação de que homens e mulheres te- por formação, que sempre foi sua prio- nham um salário justo correspondente à ridade. Formada em Engenharia Quími- função que ocupam. Se tenho alguém ca pela Universidade Federal de Uberlân- operando uma máquina, ele terá o salá- dia, ela fez três especializações ao longo rio correspondente a essa função, não im- destes onze anos: em gestão sucroener- portando se é homem ou mulher. Isso é gética, gestão ambiental e gerenciamento uma questão de equidade e ética”, obser- de projetos. “A Raízen valoriza e incentiva va Alessandra. quem investe na profissionalização. Além disso, a empresa tem programas que visam a capacitação do colaborador”, relata Isabel. Antes de assumir a gerência da Unidade de Dois Córregos, ela trabalhou por seis anos como supervisora de produção. Escalar este degrau, para ela, foi uma grande vitória profissional. “Acredito que é importante quando a empresa dá oportunidade, mas a carreira é fruto da responsabilidade do profissional, que precisa ter foco, determinação, tem que traçar estratégias para poder chegar onde almeja.” Por isso, não teve dificuldade para Isabel: “A Raízen valoriza e incentiva quem investe na profissionalização” se adaptar às responsabilidades exigidas de uma gerente industrial. E que são mui- 65 C A PA Edilene: “Hoje não sou supervisora de colheita porque sou mulher, mas porque tenho competência para estar nessa função” tas. “Tenho que dividir a maior parte do Além disso, o setor passou por uma trans- meu tempo entre planejamento e gestão formação significativa e com evolução dos de pessoas”, afirma Isabel, citando ainda processos na automação, o que permitiu a atenção despendida ao funcionamen- mais o ingresso delas. Por isso, não vejo to redondo da indústria, à manutenção, à impedimento para a contratação de mu- melhoria de processos. lheres na área industrial.” Segundo ela, estas tarefas, de grande responsabilidade, podem ser desem- Elas na agrícola penhadas muito bem por uma mulher, as- Assim que concluiu a Faculdade de sim como por um homem. “O que pode Agronomia pela Unesp (Universidade Es- diferenciar é a capacitação, a dedicação, a tadual Paulista) de Botucatu, Edilene Mar- persistência.” lei Costa já começou a trabalhar numa área Isso também vale para a equipe que que sempre teve afinidade: mecanização comanda, que também é constituída por agrícola. Desde abril de 2015 ela ocupa a algumas mulheres. Embora sejam mi- função de supervisora de CCT (Corte, Car- noria, elas não deixam a desejar aos ho- regamento e Transporte) da Raízen – Uni- mens pelo compromisso, pela dedicação. dade Tamoio. Em sua opinião, elas enriquecem o espaço No dia a dia ela prova que este car- de trabalho pela capacidade de enxergar go, embora seja normalmente ocupa- o detalhe, pela visão analítica, pelo desejo do por homens, é tirado de letra por uma de aprender mais e pela facilidade nas re- profissional do sexo feminino. Afinal, “mu- lações interpessoais. lher combina bem onde ela quiser combi- “Tem até mulher desempenhando nar. Não existe nenhuma limitação”, avisa bem funções que exigem esforço físico. Edilene. “Basta ter competência para exer- 66 Março · 2016 cer determinado cargo. Hoje não sou su- Esse planejamento ela realiza em conjun- pervisora de colheita porque sou mulher, to com outras áreas, como de transporte e mas porque meu gerente enxerga que te- agronômica. “Ao decidirmos o local a ser nho competência para estar nessa função”, colhido e quando colher, tenho abaixo de dispara. mim os meus líderes, que são gestores de O cargo de supervisão de CCT exige responsabilidade. “Todo dia, quando acor- operação. Repasso para eles todas as informações necessárias para o trabalho.” do, já levanto com o compromisso de que É muito importante que a mensagem tenho que entregar na usina um volume transmitida à equipe seja clara. Não po- determinado de cana. Tem uma indústria dem pairar dúvidas. Por isso, a comunica- esperando matéria-prima para moer.” ção tem que ser rápida, assertiva e próxi- Outra atribuição crucial que cabe a ma. “O meu diferencial como líder é saber Edilene é o de gerenciamento de custos. É liderar a minha equipe para obter suces- importante porque a agrícola tem que con- so. Aí sim é possível ser um bom líder. Por trolar o custo da entrega da cana à indús- este motivo, não adianta tentar liderar o tria. “Não adianta disponibilizar a matéria pessoal com distanciamento, como se fos- -prima se o custo não está condizente.” sem robôs. O líder tem que estar próximo Segundo Edilene, “não há motivo dos colaboradores.” E este é exatamente para haver restrição à mulher em ocupar um dos pontos positivos da mulher, na vi- diferentes cargos, inclusive na área agríco- são de Edilene. “Conseguimos compreen- la”. Ao contrário. Elas são mais atenciosas der mais fácil as pessoas.” do que os homens. “Exemplo são as mu- Para ela, é fundamental para um lí- lheres operadoras, motoristas. São mais der despertar confiança na sua equipe cuidadosas com a operação e com a má- para que as tarefas diárias sejam bem exe- quina. Têm atenção redobrada e se anteci- cutadas. Agora se um liderado não cum- pam a problemas.” priu com a sua parte, Edilene fica aten- Como supervisora de CCT, Edilene é ta. Como ela tanto opera colhedora como responsável pelo planejamento da colhei- trator, e conhece os detalhes da operação, ta. Define toda a sequência de fazendas sabe avaliar quando um liderado está fa- nas quais os equipamentos vão operar. lando a verdade ou não. A comunicação rápida, assertiva e próxima reflete positivamente no campo 67 C A PA As mulheres na Biosev SEGUNDO MAIOR GRUPO SUCROENERGÉTICO DO MUNDO, A BIOSEV, DIVULGAÇÃO BIOSEV ESTABELECEU UM GRUPO DE TRABALHO DE VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE Na safra 2014/15, as mulheres respondem por 7% do total dos funcionários da Biosev N a safra 2014/2015, a Biosev, se- e pelo Nordeste com 3%. gundo maior grupo sucroener- Recentemente, a Biosev estabeleceu gético do mundo, contou com um grupo de trabalho de Valorização da 15.243 funcionários, sendo que 7% desse Diversidade, com a participação de pro- total eram mulheres. De acordo com a em- fissionais de diversos setores da empre- presa, ao analisar suas unidades em ope- sa (Recursos Humanos, Responsabilida- ração (são 11 – duas no Nordeste, três no de Social, Comunicação, Auditoria, Saúde Centro-Oeste e seis no Sudeste), a região e Tributário). O desafio inicial desse gru- Centro-Oeste empregou o total de 10,7% po, que dentre as atribuições está avaliar a mulheres, seguido pelo Sudeste com 6,8% questão de gênero dentro da companhia, 68 Março · 2016 DIVULGAÇÃO BIOSEV Ainda levando em consideração a safra 2014/2015, observa-se que 18% das mulheres na empresa ocupavam cargos de gerência mulheres a decidir se manter no merca- Programa Anual de Treinamento do de trabalho e, em especial, na Biosev. Formação e capacitação de seus co- Além disso, com a ajuda das prefeituras laboradores são pautas de investimento das cidades em que atua, a empresa busca da Biosev, com uma média de 35 horas de entender quais questões regionais podem treinamento por empregado no ano. Por influenciar para a atração e permanência meio do Programa Anual de Treinamen- de mulheres trabalhando na companhia. to, a empresa realiza cursos para promo- é mapear as razões que podem levar as Em paralelo, a Biosev também busca ver a conscientização sobre atitudes se- boas práticas e oportunidades de parceria guras, qualidade, capacitação técnica para para desenvolver ações específicas para o atividades específicas e a aquisição de período de gestação e retorno da licen- conhecimento. ça maternidade (de 0 a 3 anos de idade Ainda levando em consideração a da criança). Uma vez superado o diagnós- safra 2014/2015, observa-se que 18% das tico das motivações, questões culturais e mulheres na empresa ocupavam cargos das oportunidades, o objetivo da empre- de gerência, 11% de alta liderança (supe- sa é traçar um plano de trabalho estrutu- rintendência e diretoria) e 10% estavam rado, e influenciar na atração da mão de em cargos de supervisão. Apesar dos da- obra feminina. dos relativos à safra 2015/2016 não esta- 69 C A PA Formação e capacitação de seus colaboradores são pautas de investimento da Biosev DIVULGAÇÃO BIOSEV rem fechados, pois a safra ainda está em curso, nota-se um aumento da quantidade de mulheres em cargos de liderança, com os indicadores preIndustrial na unidade Estivas, no Polo Nor- ta com uma mulher na Superintendência deste. Além disso, a direção de Recursos de um Polo Agroindustrial (Lagoa da Pra- Humanos e Jurídica da Biosev são ocupa- ta – MG) e outra que assumiu a Gerência das por mulheres. DIVULGAÇÃO BIOSEV liminares. Pela primeira vez a Biosev con- Biosev quer saber as razões que podem levar as mulheres a decidir se manter no mercado de trabalho e, em especial, na empresa 70 Março · 2016 DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL As mulheres na Guarani SEJA NA ÁREA INDUSTRIAL OU NA AGRÍCOLA, O NÚMERO DE COLABORADAS FEMININAS AUMENTA CADA VEZ MAIS NAS SETE UNIDADES DO GRUPO Leonardo Ruiz E m 2011, a vida de Daiane Porto Targão, na época recém-formada em Agronomia pela Universidade Fede- ral do Paraná, sofreu uma virada de 180°. Ela saiu da vida agitada de Curitiba rumo a Maureen é gestora de empacotamento de açúcar da Unidade Cruz Alta e comanda uma equipe com mais de 100 trabalhadores, sendo 12 mulheres Olímpia, uma pequena cidade do interior paulista, de pouco mais de 50 mil habi- que deixar minha cidade natal para traba- tantes, mas que abriga umas das maiores lhar em outro lugar.” empresas do setor sucroenergético nacio- Atualmente no cargo de gestora au- nal: a Unidade Agroindustrial Cruz Alta, da tomotiva II, Daiane é uma das 612 colabo- Guarani Tereos Açúcar e Energia Brasil. radoras do sexo feminino que integram as Naquele ano, ela se inscreveu em um sete unidades industriais da Guarani. Nú- dos programas de trainee do Grupo. Após mero esse que representa 7,52% do to- várias etapas do processo seletivo, Daiane tal. Embora pareça pequeno, esse valor, na foi escolhida, dentre centenas de jovens, verdade, pode ser considerado gigantesco para trabalhar na área de tratos culturais dentro de um setor que, majoritariamen- da Usina. Ela conta que a mudança de um te, sempre foi muito masculino. “As mu- estado para outro foi tranquila, pois esse lheres estão conquistando o seu espaço já era um de seus objetivos. “Como esco- em todos os setores da economia, inclusi- lhi Agronomia, eu sabia que, um dia, teria ve naqueles tradicionalmente masculinos, 71 DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL C A PA Ao todo, o Grupo Guarani possui 612 colaboradoras do sexo feminino, que totalizam 7,52% do total como o sucroenergético”, afirma a gerente ve para diminuir a desigualdade de gêne- de comunicação corporativa do Grupo Te- ro. “Além disso, não existe preconceito por reos, Béatrice de Toledo Dupuy. parte das companhias. Sabemos que am- Segundo ela, um agronegócio me- bos os sexos podem desempenhar a mes- nos manual e mais tecnológico abriu no- ma atividade, exceto aquelas que exigem vas frentes de trabalho, o que ajudou na um pouco mais de força física.” inserção de mais mulheres. “Esse segmento mais unissex se reflete, inclusive, no Colocando a mão na massa mundo acadêmico, pois o número de En- Na turma de Agronomia de Daiane genheiras Agronômicas está em constan- Porto Targão, na Universidade Federal do te crescimento.” Paraná, dentre os 66 alunos, 12 eram do Quando perguntada se, num futuro sexo feminino. “Porém, nas usinas de ca- próximo, o número de mulheres e homens na-de-açúcar fica difícil encontrar essas trabalhando nas áreas agrícolas e indus- mulheres, pois a grande maioria vai para a triais das usinas poderia ser equivalen- área de pesquisa.” te, Béatrice respondeu que sim, pois, para Já Daiane foi na contramão. Seu pri- ela, o desenvolvimento intelectual é a cha- meiro trabalho na Guarani, ainda como 72 Março · 2016 DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL trainee, foi na área de tratos culturais, onde era responsável por desenvolver e implantar o sistema de ERP (enterprise resource planning). Esse tipo de programa é utilizado para coletar, armazenar e gerenciar dados dentro de uma empresa. Em uma área de tratos culturais, por exemplo, o software pode auxiliar no planejamento e controle das operações agrícolas, verificação da eficiência dos processos e controle de insumos. “Essa foi uma grande atividade que desenvolvemos junto à equipe de campo e às outras unidades do Grupo, que, anteriormente, faziam grande parte do controle de campo em cadernos próprios, sendo o sistema existente restrito ao controle de algumas operações executadas na área.” Segundo ela, quando a implantação foi finalizada, todos já estavam adaptados ao novo processo Béatrice: “As mulheres estão conquistando o seu espaço em todos os setores da economia, inclusive naqueles tradicionalmente masculinos, como o sucroenergético” e à nova metodologia de trabalho. “Essa tecnologia trouxe grandes benefícios para lhar com processos de melhorias nas ope- a área”, afirma. rações agrícolas e de produção. Após um Após a finalização do contrato de ano, passou para a posição de gestora au- trainee, Daiane foi efetivada para traba- tomotiva II, cargo que ocupa até o momento. Nesse novo desafio, ela tem como DIVULGAÇÃO GUARANI TEREOS AÇÚCAR E ENERGIA BRASIL tarefa gerir, junta- mente com a equipe Daiane é gestora automotiva II e comanda, juntamente com a equipe de RH, a área de treinamento técnico automotivo e operacional das unidades do Grupo 73 C A PA de Recursos Humanos, a área de treina- ções básicas em suas máquinas. “Após a mento técnico automotivo e operacional capacitação em sala de aula, esses opera- das unidades do Grupo. dores passam a ser instruídos em campo “Todos os anos, mais de duas mil pela equipe interna de multiplicadores ca- pessoas são capacitadas em operações pacitados para desenvolver esta ativida- técnicas em todas as unidades da Guara- de”, explica Daiane. ni. Ao RH cabe a gestão de todos os trei- E dentre todos os alunos, é possí- namentos, já a equipe com a qual trabalho vel encontrar algumas mulheres que, se- é responsável pelos treinamentos técnicos gundo a gestora automotiva, se destacam que acontecem na teoria e na prática. Es- pela atenção aos detalhes. “Nas manuten- tes sempre alinhados com a necessidade ções básicas, as mulheres conseguem exe- de cada operação e gestão, visando atin- cutar as atividades igualmente ou até me- gir o máximo de colaboradores sem afetar lhor do que os homens. Além disso, nunca a nossa produção diária.” aconteceu de chegar uma mulher e falar Um dos carros-chefes, atualmente, está sendo um treinamento especial aos que não está conseguindo acompanhar os treinamentos.” Com relação a trabalhar em uma que eles próprios possam fazer manuten- área composta, basicamente, por homens, FERDINANDO RAMOS FOTOGRAFIA operadores de colhedoras de cana, para Daiane acompanha o treinamento dos operadores de colhedoras de cana, para que eles próprios possam fazer manutenções básicas em suas máquinas 74 Março · 2016 BANCO DA DADOS INTERNET A motorista Rosimeire Samuel trabalha na Unidade São José transportando colaboradores para atividades no campo Daiane conta que tinha medo de não con- dia de serviço. Mas não dá tempo para um seguir realizar as atividades, mas que se cochilo antes de começar o turno, porque surpreendeu com o respeito obtido. “To- seu trabalho começa ali mesmo, na frente dos os colaboradores me respeitam mui- da sua casa. to e são extremamente abertos para con- Rosimeire trabalha como motoris- versas. Eles expõem suas ideias, ouvem e ta de transporte de colaboradores. Dessa sempre são muito construtivos para o meu forma, todos os dias, no mesmo horário, o aprendizado e para o processo em que de- motorista do turno da noite passa em sua senvolvemos em conjunto.” casa para que ela assuma o volante. Dali, ela deixa o colega em casa e parte para o De levantamento de pragas para motorista de colaboradores município paulista de Barretos, a 20 km de A jornada de Rosimeire Samuel co- e levá-los para mais um dia de serviço nos meça às 05h da manhã, quando uma van sua cidade, Colina, para buscar uma equipe de trabalhadores da Unidade São José canaviais da empresa. da Unidade São José, da Guarani, passa Mas a rotina de Rosimeire nem sem- em sua casa para pegá-la para mais um pre foi assim. Sua história na Guarani co- 75 C A PA meçou em 2009, porém, em uma área diferente. Naquela época, ela integrava a equipe de levantamento de pragas da Unidade. “Fiquei durante três anos nesse serviço, mas eu não estava totalmente satisfeita, pois além de ser um trabalho pesado, ficava debaixo do sol o dia todo”, conta. Assim, quando surgiu uma vaga de motorista na Usina, Rosimeire não pensou duas vezes. “Eu pedi uma oportunidade para meu gestor e ele disse que me daria. Depois disso, fui numa autoescola para tirar habilitação na categoria D.” No início, a motorista conta que sentiu medo de como os trabalhadores reagiriam quando vissem que uma mulher faria o transporte. “Felizmente, nada de ruim aconteceu. Muito pelo contrário. A grande maioria sempre me apoiou, inclusive me dando dicas no começo, quando eu não tinha muita experiência.” Desde então, Rosimeire conta que só tem motivos para sorrir. “Estou muito satisfeita com meu cargo. Meu salário aumentou, eu trabalho mais tranquila, confortável e num horário muito bom. Não tenho do que reclamar”, relata. Gestora da área industrial Das 612 colaboradas do Grupo Guarani, 39,54% estão na área industrial. Uma delas é Maureen Vaccari Grassi, gestora de empacotamento de açúcar da Unidade Cruz Alta. Natural de São José do Rio Preto, SP, ela é formada em engenharia de alimentos pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) - Campus de São José do Rio Preto. Maureen iniciou sua trajetória no Grupo na área de Sistema de Gestão da Qualidade. “Após um ano e meio como trainee, fui efetivada na mesma área, ficando ali por mais dois anos e meio.” Já em janeiro de 2014, ela foi promovida para a área industrial a fim de trabalhar com foco na certificação de segurança de alimentos. “Nessa época, minha principal função foi ajudar na coordenação do proje- 76 Março · 2016 FERDINANDO RAMOS FOTOGRAFIA to de implementação da FSSC 22000 no processo industrial, sistema de gestão de segurança dos alimentos, utilizado em todos os países para garantir um produto com qualidade, seguro e livre de contaminações aos consumidores.” Desta forma, durante seis meses, enquanto a área de sistema de gestão da qualidade dava suporte burocrático na obtenção da certificação, Maureen auxiliava na implementação prática na indústria, adequando os processos de acordo com os requisitos da norma de segurança dos alimentos. “O foco era garantir a ausência de contaminação nas etapas de produção do produto, por meio da elaboração de procedimentos, treinamentos, registros e adequação das instalações e dos equipamentos.” Após esse período, Maureen foi para a área de empacotamento de açúcar, sendo, atualmente, gestora. Hoje, nesse setor, trabalham cerca de 100 pessoas, sendo 12 mulheres. “A área de processo industrial é ainda muito masculina. Na gestão, por exemplo, sou a única mulher. As outras gestoras se encontram nas áreas administrativas e de suporte ao processo, como controle de qualidade e melhoria contínua. Já na operação em si, apenas no meu setor existem mulheres atuando”, afirma. Segundo ela, isso ocorre porque a área industrial possui muitas operações manuais, que demandam grandes esforços físicos. “Por isso, preferimos colocar as mulheres nas operações que já são semiautomatizadas.” Maureen afirma que, desde o início, nunca encontrou empecilhos por ser uma mulher no segmento canavieiro. “Pelo contrário. Todos sempre me respeitaram. É claro que devemos ter postura adequada dentro da empresa, saber Na parte operacional industrial da Unidade Cruz Alta, a área de empacotamento de açúcar é a única a contar com mulheres separar o lado profissional do pessoal, se comunicar corretamente com as pessoas, saber ouvir, demonstrar respeito e trabalhar de acordo com os objetivos da empresa, com foco em resultados. Fazendo isso, o tratamento recebido será o mesmo, independente do gênero.” 77 C A PA As mulheres na Usinas Itamarati A EMPRESA BUSCA APROVEITAR SEMPRE O POTENCIAL DE CADA UM, INDEPENDENTE DO GÊNERO. MAS TEM UM OLHAR DE INCLUSÃO DO PÚBLICO FEMININO Clivonei Roberto A mulher é cada vez mais protagonista na Usinas Itamarati (UISA), localizada em Nova Olpimpia, MT. Segundo a gerente de Recursos Humanos, Cinthia Xavier Martins de Lima, a empresa busca aproveitar sempre o potencial de cada um, independente do gênero. “Mas temos um olhar de inclusão do público feminino, procurando investir em qualificação das mulheres antes da contratação para que possam concorrer em igualdade de condições com os homens, principalmente nos cargos operacionais.” O tema ganha destaque na Semana da Mulher UISA, período em que “discutimos e comemoramos a evolução e o papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho”, e na Semana Socioambiental, quando “temas de valorização e inclu- Cinthia: as mulheres têm maior tempo de estudo e visão ampla por conta de suas multitarefas são da mulher também são tratados”, relata Cinthia. Atualmente a UISA tem 213 mulheres no A gerente percebe que as profissio- quadro fixo, ocupando tanto cargos admi- nais participam cada vez mais dos pro- nistrativos e operacionais, tanto na indús- cessos seletivos, se qualificam bastante e tria como na agrícola. Atualmente a Ita- se preparam para o mercado de trabalho. marati possui 15 mulheres em cargos de 78 Março · 2016 SAULO HARUO OHARA Jocelia dos Santos Saes, operadora de processo de extração de caldo, no setor de Descarregamento e Mesas Alimentadoras da Usinas Itamarati liderança, desempenhando funções como rais, aprendizes, almoxarifes, comprado- de gerentes, supervisoras, coordenadoras ras, frentistas etc”, enumera Cinthia. e analistas líder (sênior). Neste setor, segundo ela, a mulher pode trabalhar em qualquer função, des- Características peculiares de que ela seja selecionada e esteja qua- Para Cinthia, as mulheres têm carac- lificada. Mas lembra que a mulher ainda terísticas peculiares, como disposição para é apontada como a principal responsá- se qualificar mais, acumulando maior tem- vel pelos cuidados com os filhos e afa- po de estudo, além de dedicação, sensibi- zeres domésticos. “Cabe às empresas te- lidade, organização e uma visão mais am- rem um novo olhar sobre essas mulheres, pla por conta de suas multitarefas. Não é apoiando suas necessidades pessoais e à toa que “as mulheres vêm conquistando sociais, incentivando-as a irem em frente e um maior espaço no mercado de trabalho”. a se qualificarem continuamente. A Usinas E no setor sucroenergético não po- Itamarati vem tentando fazer a sua parte deria ser diferente. “Temos mulheres en- neste processo de mudança e inclusão.” genheiras, biólogas, psicólogas, pedagogas, advogadas, relações públicas, administradoras, contadoras, operadoras de máquinas agrícolas, motoristas de carreta e veículos leves, mecânicas, secretárias, enfermeiras, técnicas de enfermagem, técnicas de segurança, operadoras de processos industriais, trabalhadoras ru- Bruna Franciele Modena, supervisora de Controle, Processos e Qualidade da Usinas Itamarati 79 GE S TÃ O As belas também são feras ALÉM DE BONITAS E SIMPÁTICAS, AS PROFISSIONAIS DA PWC SÃO INTELIGENTES, ESPECIALIZADAS E BATEM UM BOLÃO SOBRE O AGRONEGÓCIO. A EMPRESA INVESTE PARA RETER ESSES TALENTOS Parte da equipe de profissionais da PwC em Ribeirão Preto PricewaterhouseCoopers (PwC) é A Ana Paula Malvestio, Sócia e Líder uma rede de firmas presente em de Diversidade & Inclusão na PwC Brasil, 157 países com mais de 208 mil explica que a maior participação femini- profissionais que se dedicam a prestar ser- na reflete a realidade das universidades, viços de alta qualidade em auditoria, con- onde 60% das vagas são ocupadas por sultoria tributária e de negócios. As firmas mulheres. “Elas são maioria nas gradua- da rede PwC recrutam anualmente, em ções e nos mestrados e são mais capacita- todo o mundo, cerca de 20 mil jovens gra- das. As empresas precisam buscar talentos duados da geração do Milênio ou Y (nasci- e não podem se dar ao luxo de não atrair dos entre 1980 e 1995), metade dos quais essas mulheres”, diz Ana. são do sexo feminino. No Brasil, a PwC tem Porém, mesmo com os avanços para 5.300 profissionais, sendo que 50% são a equidade de gênero, ainda há muitas mulheres. disparidades. “Apesar do grande número 80 Março · 2016 Ana Paula, sócia, Líder de Diversidade & Inclusão e Líder em Agribusiness para o Brasil e Américas, na PwC mostra que a presença de mulheres em cargos de liderança deve aumentar com as profissionais da geração Y no mercado de trabalho, já que elas apresentam um foco mais profissional — até 2020, as mulheres desse grupo etáde mulheres qualificadas, apenas 4,3% dos rio serão 25% da mão de obra mundial. principais executivos entre as 250 maiores Ana concorda que o contexto está empresas brasileiras são do sexo femini- mudando, mas salienta ser fundamental no”, salienta Ana. Segundo ela, essa dis- os setores públicos e privados desenvol- crepância é mais perceptível em cargos verem políticas para reter esses talentos e mais altos. As mulheres estão particular- possibilitar que ocupem posições de lide- mente sub-representadas em posições de rança. De acordo com o estudo da PwC, gerência executiva, que é o primeiro pas- as mulheres da geração Milênio têm como so para promoções a níveis hierárquicos característica um retorno muito rápido, mais elevados. “Como apenas 14% desses cargos são ocupados por mulheres, não surpreende que, no ranking de importantes companhias do país, encontremos somente nove CEOs do sexo feminino”, diz a Sócia da PwC. Pesquisa da própria PwC Lia: horário flexível de trabalho é fundamental 81 GE S TÃ O ou seja, são capazes de buscar milhões de do sexo feminino. Em junho de 2015, a respostas em minutos. Não é uma gera- empresa assinou o termo de compro- ção que está ligada a processos que du- misso aos Princípios de Empoderamen- rem mais de um dia ou semanas. Para essa to das Mulheres ou WEPs (Women’s Em- geração é essencial os feedbacks sobre a powerment Principles), promovido pela carreira, elas necessitam de trabalhar além ONU Mulheres. “Valorizamos um ambien- do agora e pensar no futuro. te equilibrado entre gêneros porque acre- O estudo também aponta que as profissionais estão mais propensas a pro- ditamos que isso faz o nosso negócio mais dinâmico e melhor”, diz Ana. curar empregadores que ofereçam políti- O escritório da PwC em Ribeirão Pre- cas de diversidade e equidade de gêneros, to, SP, conta com 150 profissionais, e 50% 82% julgaram essas diretrizes como importantes em um ambiente de trabalho. Essas mulheres possuem forte afinidade com o meio digi- Analélia exalta a opção de seis meses de licença maternidade oferecida pela PwC tal, conseguem se adaptar a qualquer local de trabalho e a todas as tecnologias. Outro dado importante é que 20% das entrevistadas afirmaram que desistiriam ou adiariam uma promoção em troca de horários mais flexíveis de trabalho. E 97% das entrevistadas entendem são do sexo feminino. É em Ribeirão que que é importante ter uma vida profissional a empresa mantém o seu Centro de inte- equilibrada com a pessoal. ligência do Agronegócio. Ana Paula, que também é a líder de Agribusiness para o PWC reforça a importância da diversidade na empresa Brasil e Américas, conta em sua equipe Mas, internamente, a PwC também ciais. Entre as ações empregadas pela em- precisa aumentar a participação das mu- presa para reter esses talentos está a de lheres nas funções de liderança, pois, mes- horários mais flexíveis de trabalho, como mo representando 50% dos profissionais a possibilidade de dois dias na sema- da empresa, apenas 10% dos sócios são na trabalhar em casa. Ana Paula, que tem 82 com várias mulheres nas funções geren- Março · 2016 “É comum ouvirmos piadinhas machistas”, diz Carem 25 anos de PwC, observa que muitas mulheres abrem mão de cargos de liderança porque desejam ser mães, e se as empresas não adotarem uma gestão que ofereçam condições para que suas funcionárias realizem esse desejo, vão perdê-las. A colombiana Lia Fonseca é contadora, está há 10 anos no Brasil, há nove na completar 1 ano, as mamães também têm PwC e ocupa a função de gerente sênior. a opção de reduzir a carga horária sema- Lia tem uma filha e, segundo ela, o horá- nal de 40 para 30 horas (com redução de rio flexível oferecido pela empresa foi fun- salário). Além de diminuir a quantidade de damental para que continuasse suas ativi- viagens nesse período. dades após ser mãe. “Isso é ótimo, porque e profissional. E, assim, temos mais con- Lidando com barreiras inconscientes dições de desenvolver um bom trabalho e Mas, e os homens que trabalham na fica mais equilibrado o lado esposa, mãe crescer na empresa”, diz Lia. Por lei, a licença maternidade é de PwC são favoráveis a esta política dirigida às mulheres? quatro meses, mas na PwC é de seis me- “Existem aqueles que fazem umas ses. Um pouco antes de ser mãe, Analé- piadinhas, ou dão umas indiretas quando lia Galhardo, advogada, gerente na área saio mais cedo. É preciso deixar claro que de Assistência Fiscal e há quase dez anos o fato de trabalhar em casa, ou não fazer na PwC, achou que quatro meses de licen- horas extras, não significa que estou tra- ça maternidade seriam o suficiente. “Esta- balhando menos, o importante é o resul- va totalmente enganada. Nada como ser tado que trago para a empresa. A mulher é mãe para aprender, é incrível como dois focada, não fica com brincadeirinhas, não meses na vida de um bebê fazem diferen- perde tempo. Posso trabalhar um perío- ça”, salienta. do menor no escritório, mas produzo mais Ana Paula explica que na PwC a fun- e com melhor qualidade. No entanto, al- cionária pode optar por quatro ou seis me- guns homens não mudam a postura ma- ses de licença maternidade e até a criança chista nem frente aos resultados. Alguns 83 GE S TÃ O “Já tive cliente que não quis ser atendido por mim, porque sou mulher. E outro que preferiu o meu trabalho ao de um homem”, conta Tacia chegam a dizer que: ‘se você conseguiu foram criados assim, e as mães desses ho- esse resultado positivo em menor tem- mens têm grande responsabilidade sobre po, é porque está com pouco trabalho. Dá isso, pois não os ensinam a ser menos ma- mais serviço para ela’. Eles podem dizer chistas, a dividir tarefas, a ver que homens em tom de brincadeira, mas no fundo re- e mulheres devem ter os mesmos direitos, flete o que estão pensado”, diz Lia. as mesmas oportunidades. Mas acredito Analélia concorda que a menor carga que o filho, por exemplo da Analélia, será horária no escritório ou trabalhar em casa diferente, porque ela o está educando de são fatores que possibilitam ficar mais pró- outra forma”, comenta Ana Paula, obser- xima aos filhos, mas não significa que as vando que na PwC a licença paternidade profissionais negligenciam o trabalho. A é de 10 dias, ao invés de cinco. E trabalhar executiva observa que, se os pais fossem em casa durante dois dias na semana é um mais participativos na criação dos filhos, as benefício para mulheres e homens. mulheres não teriam de se sacrificar tanto. mens se conscientizaram que ser pai é ser Profissionalismo e jogo de cintura para enfrentar o machismo do agronegócio responsável por 50% da criação do filho, O agronegócio responde por 90% da o fardo para as mulheres ficará mais leve. carteira de clientes da PwC de Ribeirão. O “Hoje, eles fazem 5%. Pai que busca filho meio rural é considerado mais machista, na escola é raro. Quando vez ou outra tro- com tradições arraigadas. Mas as meninas cam frauda ou dão mamadeira, são con- de forma profissional, com classe e habili- siderados heróis. E mesmo os menos pre- dade, além de desenvolver o trabalho, en- conceituosos, tem hora que resvalam, é caram as situações desagradáveis. “Sim, o que existem barreiras inconscientes. Eles setor é bem machista. Exige jogo de cin- Ana Paula, que é mãe de duas meninas, salienta que, no dia em que os ho- 84 Março · 2016 tura, pois, principalmente, no início sempre ouvimos piadinhas e sentimos que há desconfiança de que iremos dar conta do recado. Precisamos ter atitudes firmes e mostrar nosso trabalho”, diz Carem Siqueira, supervisora de Auditoria, formada em Administração e Contabilidade e há quase oito anos na PwC. Tacia Munhoz é formada em Tecnologia da Informação e Gerente de Risk Assurance e também está há quase oito na PwC. Sobre o machismo dos produtores rurais, ela lembra que já teve um cliente “O agronegócio vai precisar se acostumar com a presença feminina, pois será cada vez mais constante”, observa Ana Carolina que não a atendia porque ela era mulher. “Ele se negava, só atendia o meu colega feminina. Mas em compensação, tive ou- de trabalho. Não confiava na competência tro cliente, que ao perceber o meu trabalho, dispensou o meu colega e só quis ser atendido por mim. Gostou tanto do resultado que até me convidou para trabalhar na empresa dele.” “Podem não acreditar, mas o setor de mercado financeiro é muito mais machista que o de agronegócio”, afirma Lara Moraes, formada em economia e Analista Sênior de Inteligência de Mercado na PwC há quase cinco anos. Lara, que foi analista de investimento, viveu na pele o meio competitivo e até agressivo dos operadores da bolsa. Então, para ela, o meio agro é até tranquilo. Quem está bem acostumada ao agronegócio, pois nasceu e foi criada no meio, é a agrônoma Ana Carolina Palaz- “Podem não acreditar, mas o setor de mercado financeiro é muito mais machista que o de agronegócio”, afirma Lara Moraes zo, Analista do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio, onde atua há 18 meses. 85 GE S TÃ O Natural de Jaboticabal, SP, Ana Carolina é de família de produtores rurais e ao conferir a realidade do campo, as condições da lavoura, a resposta da produção, abastece com informações e análises seus colegas de trabalho e também os clientes, para as tomadas de decisão. As profissionais da PwC veem um cenário melhor para o setor, mas lamentam que o socorro já chegou tarde para muitas empresas Ana Carolina diz que o agronegócio vai precisar se acostumar com que o quadro em 2016 seja melhor. com a presença feminina, pois será cada Mas Ana Paula observa que, para muitas vez mais constante. Carem concorda e diz empresas, o socorro veio tarde e que, das que na última seleção para contratação de 86 empresas em recuperação judicial no trainee na PwC, as mulheres já ocuparam setor poucas conseguirão se salvar. “O en- 51% e que os homens selecionados cos- dividamento é muito alto”, ressalta Carem. tumam desistir da vaga com maior facili- “Essas empresas não irão trocar de mão, dade. Ana Paula explica que isso acontece irão fechar, pois o país não gera confian- porque a faixa etária dos trainees é entre ça para os investidores, tanto os de fora 19 e 24 anos. Como a mulher amadurece como os do setor não estão interessados mais cedo, nesta idade ela já é mais com- por comprar usinas”, completa Ana Paula. prometida, mais focada. Tacia diz que na Para o desenvolvimento do setor, Ana sua área de ciência da computação as mu- Carolina destaca a contribuição das novas lheres estão se destacando por apresenta- tecnologias, como a muda pré-brotada rem maior capacidade de relacionamento. (MPB). Já Analélia observa que com o alto valor do dólar, está muito barato comprar Elas e o setor sucroenergético no Brasil, o que vai incrementar a expor- E como estas especialistas estão en- tação de commodities agrícolas. Para as xergando o cenário sucroenergético? Para profissionais da PwC, a crise da China não Lia, os melhores preços dos produtos do vai afetar o consumo de alimentos naque- setor, a volta parcial da Cide e a manuten- le país. “E com o menor estoque mundial ção do preço em alta da gasolina, fazem de açúcar, o apetite dos chineses por nosso produto continuará grande”, diz Lara. O 86 que adoçará o caixa das usinas brasileiras. Março · 2016 N O R D ESTE Elisabeth: “o segredo para se ter uma boa matéria-prima é o cuidado com a cana” NA PARAÍBA, MÃE E FILHA CONCILIAM A PRODUÇÃO DE CANA E DE ALIMENTOS COM SUSTENTABILIDADE Cana faz rotação com cará e batata-doce Clivonei Roberto E lisabeth Lundgren lida com cana-de cia foi um verdadeiro doutorado em cana.” -açúcar desde que casou, em 1982, O tempo passou, Elisabeth separou- quando foi morar no engenho da fa- se do marido há cerca de dez anos, mas mília de seu ex-marido, na Mata Sul de não abandonou a paixão pela cultura ca- Pernambuco. O primeiro contato com a navieira. Na propriedade rural que herdou cultura não foi muito bom. “Sou filha de da família, no Município de Conde, na Pa- agricultores, mas estava acostumada com raíba, passou a colocar em prática tudo o outras lavouras, como coco, cará, inhame, que tinha aprendido sobre a cultura e so- frutas. Por isso, minha primeira impressão bre agricultura, cultivando uma área de do canavial foi de uma cultura muito rústi- 280 hectares. ca, de colheita feia.” Atualmente, aos 60 anos de idade, Mas rapidamente mudou de opinião. ela formalizou uma empresa familiar com Começou a conhecer os detalhes da cultu- o casal de filhos. Mas por enquanto é a fi- ra, até porque o sogro falava o tempo todo lha quem está seguindo o legado da mãe. daquela tal cana-de-açúcar. “A cada procedimento que tomava no campo ele con- Produtividade duplicou tava pra gente, quando plantava, quando Mesmo antes de separar-se, Elisabe- colhia, quando adubava. Aquela experiên- th já se dedicava aos negócios da fazenda. 87 N O R D ESTE Teste com Microgeo: busca por novas tecnologias é prioridade “Desde que deixamos de arrendar a pro- Queiroga Cavalcanti, 31 anos. priedade e viramos fornecedor de cana Ao ouvir o entusiasmo de Nathalie para a destilaria, cuido da parte burocráti- ao falar sobre a produção canavieira, pelo ca. No Nordeste as esposas dos produto- jeito o futuro do negócio da família está res sempre estão ajudando muito os ma- em boas mãos. Ela conta que cresceu con- ridos nesta parte, porque eles não dão vivendo com a cana-de-açúcar. “A primeira conta de cuidar disso e também da pro- vez que fui com meu pai acompanhar um dução”, relata. A contabilidade e a folha plantio, fiquei impressionada. Mas o que de pagamento da fazenda sempre ficaram sempre me encantou é o fato de ser maté- sob sua responsabilidade ria-prima usada para a produção de vários Mas desde que assumiu o contro- produtos, como para a alimentação, ener- le do negócio, além de continuar lidando gia, ração animal.” Na família, Nathalie – com a “papelada” e as repartições públi- que é formada em Arquitetura com Mes- cas, também acompanha toda produção trado em Engenharia Civil - é pelo menos de perto. Para isso, conta principalmente a terceira geração de mulheres que labu- com a ajuda da filha, Nathalie Lundgren tam na produção de cana-de-açúcar. 88 Março · 2016 Na verdade, Elisabeth sabia que tra- das prioridades é fazer uma boa adubação zer a filha para a gestão seria um grande da área, mas sempre a partir da análise do impulso ao negócio. “Minha mãe sempre solo. “O nosso solo precisa dessa atenção. teve uma visão muito inovadora, bus- Mas além da adubação certa, fazemos ir- cando o que havia de melhor em adubo, rigação, aplicamos herbicida de qualida- equipamentos, saúde do trabalhador. Mas de. Sempre fiz minha socaria com produto quando cheguei tentei trazer mais tecno- bom. Para mim, o segredo para se ter uma logia”, diz a filha. boa matéria-prima é o cuidado que se tem Recentemente ela implantou um sis- com a cana”, diz Elisabeth. tema de mapeamento da propriedade, A Asplan (Associação dos Plantado- que facilita a gestão do negócio. “No sis- res de Cana da Paraíba) e a Universidade tema tenho a idade de cada área, a varie- Federal Rural de Pernambuco estão reali- dade que está plantada e várias outras in- zando um mapeamento para definir o per- formações. Antes não havia muito controle.” Sob o comando de mãe O solo da propriedade é muito arenoso e filha, a produtividade da fazenda praticamente duplicou. “Até 2008, produzíamos 7 mil toneladas de cana, hoje produzimos por volta de 15 mil toneladas (safra 2014/15).” Toda cana produzida por Elisabeth e Nathalie é entregue ao Grupo Biosev – Destilaria Giasa. Na safra atual fornecerão um volume de 13 mil toneladas, 2 mil toneladas a menos do que no ciclo anterior. A seca foi dura. O segredo é o cuidado com a cana Para viabilizar a produção de cana-de-açúcar, uma 89 N O R D ESTE O plantio de alimento em rotatividade com cana só é viável nas áreas com irrigação fil do solo da fazenda. “Estamos em uma testando é o microgeo. “Uma aduba- área de tabuleiro. Queremos ver como ção que trabalha diretamente com os está a condição nutricional das nossas micronutrientes do solo, permitindo o áreas. Afinal, não adianta jogar produtos, melhor enraizamento e combatendo a tratar o solo de uma forma se ele não vai compactação.” responder da melhor maneira.” Uma tecnologia que Nathalie está Embora o regime pluviométrico seja satisfatório, até porque a propriedade está Milho é uma das culturas plantadas em áreas de renovação 90 Março · 2016 na Zona da Mata paraibana, irrigar tam- aptas à realidade da região. bém é fundamental para atingir bons ní- Nathalie diz que é muito curiosa. Está veis de produtividade. Elas utilizam do sempre buscando mais informações para método de aspersão, captando água de aplicar na fazenda. “O resultado de fazer- uma grande lagoa que há na fazenda. mos tudo certo e inovarmos é que hoje a Mas Nathalie está atenta a novas so- Giasa diz que o melhor índice de ATR da luções de irrigação. Pretende implantar a destilaria é da minha área”, comemora a tecnologia de gotejamento em toda pro- matriarca da família. priedade no futuro. Atualmente insta- É a Destilaria que se responsabiliza lou na área um experimento de irrigação pela colheita dos canaviais de Dona Elisa- por gotejo – um projeto que já é realidade beth, que é feita manualmente. Ela é des- na Índia. Trata-se de uma mangueira feita confiada quanto à qualidade da mecaniza- com material reciclável (pneu) que permi- ção do corte da cana. “Minha propriedade te tanto a irrigação como a retirada do ex- é plana, mas meu solo é muito arenoso. E cesso de água. o que se tem são máquinas grandes que Atualmente ela está buscando infor- prejudicam a cana. Abalam as raízes, com- mações sobre a tecnologia de plantio por pactam o solo, estragam a socaria. Esse mudas pré-brotadas, que tem sido já im- é meu medo”, diz Elisabeth, que comple- plantada por algumas usinas paraibanas. ta: “Até hoje não chegaram num sistema No entanto, aponta como demanda mais de colheita tão suave como a mão do ho- urgente o desenvolvimento de variedades mem”. Sem contar que a colheita da cana absorve muita mão de obra na região. Para obter bom desempenho agríco- Dona Elisabeth e Nathalie mostram que é viável plantar alimento nas áreas de descanso de cana-deaçúcar, como a macaxeira la, mãe e filha contam com o suporte técnico oferecido pela Asplan, onde dona Elisabeth é suplente do Conselho Fiscal. 91 N O R D ESTE Na última colheita de batatadoce, foram colhidas 14 toneladas por hectare de duas variedades diferentes: siciliana e paulistinha Produção de alimento Rotação de cultura é uma estratégia fundamental para Nathalie e dona Elisabeth. Como o solo é pobre, arenoso, a rotação enriquece a terra e acaba sendo uma fonte de renda importante, uma vez que elas não abrem mão de plantar alimentos nas áreas de descanso. “Utilizamos cará São Tomé, batata- do. “E o bom é que o cronograma do cará doce, macaxeira, milho, mas estas culturas combina certinho com o da cana-de-açú- viabilizamos nas áreas que têm irrigação”, car”, comenta Nathalie. conta Nathalie. Outra cultura que já ado- “Como minha mãe sempre diz, nós taram no passado em rotatividade com mexemos com agricultura acima de tudo, a cana foi o mamão, que ainda é utiliza- somos produtores. Ela brinca que produ- da por produtores da região. “O mamão zir cana é cultura de preguiçoso, porque deixa volume de matéria orgânica. Nes- as culturas de rotação exigem mais cui- tes talhões, a produtividade sempre era dado e acompanhamento apurado, além maior.” Além disso, Nathalie está estudan- de maior volume em irrigação e mais mão do uma parceria para plantar outra cultu- de obra.” Nathalie lembra que a renda ob- ra em rotação com cana: a soja. “É impor- tida nas áreas plantadas com alimento é tante sempre ‘abrir a cabeça’ para outras importante para dar suporte a outros in- possibilidades.” vestimentos feitos na propriedade. A área Na última colheita de batata-doce, elas colheram 14 toneladas por hecta- de renovação anual da fazenda gira entre 15% a 20%. re de duas variedades diferentes: siciliana Ela reconhece que não é fácil domi- e paulistinha. Já o cará, que foi plantado nar tudo sobre o setor sucroenergético, em 8 hectares, está prestes a ser colhido. E “mas vamos, aos poucos, nos apropriando esperam isso com ansiedade, porque este de conhecimento. Depois que pega jeito, produto está com bom preço no merca- vai no automático”. Também sempre busca 92 Março · 2016 conselhos do pai, que continua produzin- No futuro, Nathalie vai dar sequência do cana na Mata Sul de Pernambuco. Uma à produção de cana da família, mas sem- região onde, nas áreas mais acidentadas, o pre agregando novos projetos tanto volta- canavial já tem dado lugar a outras cultu- dos para a produção canavieira como para ras, como ao eucalipto. o cultivo de alimentos. Renda obtida com as áreas plantadas com alimento é importante para dar suporte aos investimentos feitos na propriedade 93 N O R D ESTE Área verde A fazenda preserva mata de 320 hectares U m dos orgulhos de dona Elisabeth é a área verde que mantém em sua propriedade, que está a 50 km de João Pessoa e a 17 km da praia de Jacumã. Ao todo são 320 hectares. Assim que assumiu a fazenda por he- rança proibiu que se cortasse qualquer árvore da área e iniciou o reflorestamento e a proteção das nascentes. “Fiz questão de proteger tudo aquilo porque quem planta cana-de-açúcar tem que gostar da natureza e da terra.” Para Nathalie, a filosofia de sua mãe é um belo exemplo de que é possível conciliar meio ambiente com produção. Ela não quer preservar porque gosta das orquídeas que encontra na vegetação. É uma visão sustentável, uma vez que a manutenção da mata é importante para a proteção das nascentes, e a água que vem da vegetação é utilizada para a irrigação da lavoura. Além disso, a manutenção do equilíbrio ambiental é importante para a preservação do bioma local e do microclima. 94 Março · 2016 95 LO G Í S TICA O olhar feminino faz muita diferença ROSANA ZUMSTEIN, GESTORA DE UMA DAS PRINCIPAIS OPERADORAS LOGÍSTICAS DO SETOR SUCROENERGÉTICO Rosana A. S. Zumstein: “não fiquei parada na arquibancada da vida. Fui à arena, briguei e fiz o meu melhor” Clivonei Roberto A pesar da crise política e econômi- muito a oferecer para a recuperação do ca nacional, o setor sucroenergé- PIB (Produto Interno Bruto) e para dar vi- tico mostra a sua força e impor- sibilidade e credibilidade internacional ao tância estratégica para o mercado, tanto Brasil. Também é uma opção de investi- na produção de açúcar e etanol, como de mento, com grande potencial de cresci- bioeletricidade. A indústria da cana tem mento, geração de empregos, tecnologia 96 Março · 2016 Time de mulheres da TransEspecialista e recursos para nação. sobreviver à crise dentro do que é nossa Mesmo com a retração da deman- política de missão, visão e ética, manten- da, a TransEspecialista (TE), empresa es- do a qualidade, agregando cada vez mais pecializada em logística de suprimentos, valor ao nosso produto”, acrescenta. que atua nos principais players do mer- Gerir um negócio com movimento cado, comemora a recuperação gradativa tão expressivo em períodos de recessão do setor e a superação dessa cadeia pro- na economia nacional é desafiador. Diante dutiva. “Percebemos que os clientes con- das dificuldades do mercado, vêm à tona tinuam comprando e investindo. Alguns as habilidades que Rosana desenvolveu já comemoram os números positivos do ao longo da carreira, incluindo 14 anos no último ciclo”, analisa Rosana A. S. Zums- sistema financeiro, além de outras experi- tein, diretora administrativa e financeira ências importantes, na antiga Zanini e no da TransEspecialista. Grupo Balbo. A empresa dirigida por Rosana man- “Muitas vezes o homem, diante das tém o foco na qualidade. “Não é porque adversidades, precisa enxergar a floresta e o mercado está em crise que vamos leilo- não a árvore. A TransEspecialista precisou ar nossos fretes ou assumir um compor- fazer alguns ajustes em 2015, mas sem- tamento predatório. Definimos que vamos pre mantendo a valorização das pessoas 97 LO G Í S TICA como base, com foco em manter o padrão nino. Trabalham conosco pessoas que têm de atendimento ao cliente e o compromis- comprometimento com o cliente e amor so com os funcionários, seguindo a filoso- pela nossa empresa, sendo do sexo mas- fia da instituição.” culino ou feminino”, diz Rosana. O critério é o comprometimento Quando a logística é uma missão Hoje a TransEspecialista é a principal Rosana está acostumada com o mun- operadora logística do setor sucroenergé- do dos transportes desde pequena. Sabe tico. Sediada em Sertãozinho, SP, tem fi- das dificuldades e riscos da atividade. E liais espalhadas por todo o estado de São desde a criação da empresa, ombro a om- Paulo, além de Goiás e Mato Grosso do bro com o seu irmão, Ricardo Amadeu da Sul. Possui em seu quadro de funcioná- Silva, busca soluções logísticas como dife- rios 55 mulheres. “Elas são profissionais de rencial de competitividade. aço e de flores, fortes guerreiras que con- Desde o seu primeiro emprego, na tribuem muito para o sucesso da empre- Zanini Comércio Internacional, na década sa. Não temos uma política específica para de 80, ela lembra do seu foco na qualidade contratação de profissionais do sexo femi- e na obsessão por fazer bem feito, quan- “Trabalham conosco pessoas que têm competência, sendo do sexo masculino ou feminino”, diz Rosana 98 Março · 2016 Rosana e o irmão, Ricardo Amadeu, uniram suas experiências para criar a TransEspecialista do “avançou nos estudos para desbravar do trabalho, mas ela sempre estava lá se- novos horizontes”. Trabalhou na Prefeitura gurando as pontas.” de Sertãozinho, no Grupo Balbo e fez car- Apesar da grande admiração e res- reira no banco Nossa Caixa, até ingressar peito pela mãe, que era do lar, Rosana como diretora financeira da TransEspecia- queria independência profissional e finan- lista. Na época a empresa, fundada pelo ir- ceira. Almejava conquistas, planejava evi- mão, ganhava corpo e precisava desenvol- tar os sufocos que viu sua família passar ver a área financeira e CSC. quando eram crianças. “Hoje posso dizer “É como se toda experiência que que não fiquei parada na arquibancada acumulamos fosse voltada para a nos- da vida. Fui na arena, briguei e fiz o meu sa missão. Viemos de uma família de pai melhor.” caminhoneiro e aos poucos fomos sen- Rosana tem orgulho de sua trajetória. do construídos pela vida para, lá na fren- “E hoje tenho satisfação de ver tantas mu- te, fundarmos uma operadora logística”, lheres guerreiras, mais de 50 mulheres de conclui. fibra, trabalhando conosco. Mães e meninas que fazem a diferença. Mulheres mui- O legado da Dona Neusa to estratégicas para a nossa instituição.” Embora o interesse pelo transporte e Ela quer fazer do legado da família pela logística seja herança do pai, Rosana exemplo para os seus dois filhos, Thales destaca a importância de sua mãe na tra- e Letícia, e também para as pessoas que jetória da família. “Ela foi fundamental na os rodeiam. “Tenho grande confiança nas nossa formação.” Mesmo com 1,40 m de nossas diretrizes e escolhas. Minha expec- altura e pesando 42 kg, dona Neusa sem- tativa é de sempre poder ajudar a socie- pre se agigantou diante dos desafios da dade e o setor em que atuamos, geran- família. “Ela foi nosso pilar. Muitas vezes do empregos e soluções logísticas cada nosso pai passava semanas fora por causa vez mais inovadoras e sustentáveis”, finaliza Rosana. 99 MAR K E TIN G Elas fazem da cana um show CONHEÇA O TIME FEMININO QUE ORGANIZA OS SEMINÁRIOS DO GRUPO IDEA Somente em 2015, os eventos do Grupo IDEA tiveram 3 mil inscritos Clivonei Roberto D ois dias intensos de difusão de um dos seis eventos do calendário. conhecimento, apresentação de Os eventos do grupo IDEA, há duas tecnologias, networking. E no fi- décadas, levam conhecimento, informa- nal de cada evento, aplausos. O nível de ções, debates e novidades aos profissio- satisfação dos participantes dos seminá- nais do setor. “Ao longo do ano, visito em- rios do Grupo IDEA é sempre alto. Não é presas, converso com profissionais e vou à toa que, mesmo em tempos difíceis para descobrindo e garimpando onde estão as o setor, continuaram atraindo centenas de novidades que interessam ao setor e iden- participantes todo ano. Somente em 2015, tificando os melhores especialistas que os eventos tiveram cerca de 3 mil inscritos, podem abordar cada assunto”, conta Dib com uma média de 500 pessoas em cada Nunes, diretor do Grupo IDEA e respon- 100 Março · 2016 101 MAR K E TIN G sável pela definição da programação de nha que subir ao palco para apresentar o cada seminário. “show”. Mas, para ele, o êxito dos even- Segundo ele, não coloca apenas mu- tos está além disso: “Devo 90% do suces- lheres na organização dos eventos, mas dá so à equipe do Grupo IDEA, comandada preferência a elas pela qualidade do tra- pela minha filha, Andrea Nunes. O traba- balho que desenvolvem. “Elas pensam nos lho dela à frente da área de marketing da detalhes, e para quem organiza um even- empresa me dá sustentação muito gran- to, prestar atenção em todos os pontos e de”, diz. detalhes é fundamental”, diz Dib, embo- Dib Nunes: “Devo 90% do sucesso à equipe do Grupo IDEA, comandada pela minha filha, Andrea Nunes” Dib tem uma equipe basicamente ra lembre que a equipe também é com- formada por mulheres que deixam tudo posta por um homem, o economista Jor- pronto. “Considero o fato de não ter que ge Gonçalves. me preocupar com arte, com contratos, Mas não tem como negar: são elas com vendas um grande alívio. E o sucesso que estão à frente da organização do está aí, sobrando mais tempo para que me espetáculo. dedique às minhas consultorias”, sublinha Dib. Fica praticamente tudo encaminhado Visão estratégica para que, no dia do evento, ele apenas te- Andrea Nunes, gerente de Marketing 102 Março · 2016 do Grupo IDEA, lembra que os cinco even- rios e as ações da consultoria por meio de tos mais antigos da empresa já são tradi- um serviço especializado de assessoria de cionais no setor e surgiram por demanda imprensa, tanto junto aos profissionais do do mercado, que ressentia da carência de setor como para os meios de comunica- eventos técnicos voltados à cana-de-açú- ção. Além disso, o IDEA disponibiliza um car. “São eventos de nicho, bem focados clipping de notícias, que é enviado dia- nesse setor, com conteúdos técnicos e riamente para o mailing da empresa. Um bem práticos para o dia a dia da usina e próximo passo, previsto para este ano, é do produtor de cana”, salienta. a reformulação do website, visando ofere- Na área de comunicação, Andrea fica cer mais conteúdos e facilitar a navegação. mais no campo estratégico. Uma das novidades que implantou é um projeto de marketing de conteúdo. “Ao longo do ano, produzimos muito conteúdo de alto nível, tanto nos eventos como na consultoria. Acreditamos que essas informações não Conheça o minuto Idea podem ficar presas dentro de casa. Surgiu a ideia de criarmos ferramentas para compartilhar esse conteúdo que temos e que são divulgados nos nossos eventos, tanto conhecimento técnico como análises de conjuntura e de mercado.” Comunicação Dentro deste conceito, surgiu o Mi- A outra filha de Dib, Juliana Nunes, é nuto IDEA, para o qual, em cada evento, a responsável pela criação de materiais de palestrantes que abordaram temas interes- comunicação para os eventos do Grupo santes são entrevistados. São produtores, IDEA. “Sou responsável pela criação dos profissionais de usinas, consultores, exe- layouts de todas as peças que produzi- cutivos de empresas. O objetivo é trans- mos para a divulgação dos eventos (malas mitirem em um ou dois minutos uma sín- diretas, e-mails marketing, folders, ban- tese do que apresentaram no seminário. ners, anúncios etc); pela comunicação du- Todo vídeo do Minuto IDEA é coloca- rante os eventos (programas, cenário, cre- do à disposição no canal do IDEA no youtu- denciais etc) e pela comunicação após os be, e depois é divulgado no site da empre- eventos (fact sheet, agradecimentos, certi- sa ou pelas mídias sociais da CanaOnline. ficados etc)”, relata. O Grupo também divulga os seminá- Juliana reconhece que não é possível 103 MAR K E TIN G ousar muito na divulgação dos eventos. Twitter, postando as principais notícias do “Como são bem técnicos, é preciso manter setor, do canal do Grupo IDEA no YouTu- certa seriedade na elaboração do mate- be e da página do Seminário de Biomas- rial. Além disso, quando assumi a área na sa no Facebook. Ainda temos como obje- empresa, os layouts já eram trabalhados tivo aumentar a nossa presença nas redes em cima de muito verde (da cana) e mui- sociais neste ano; então cabe a mim a par- ta imagem de canavial, o que é bem difí- te gráfica da comunicação nas redes”, re- cil de ser mudado. Mas aos poucos estou lata Juliana. implantando um novo estilo, que pode ser Para ela, o fato de a organização dos percebido nas últimas campanhas do Se- eventos do Grupo IDEA estar praticamen- minário de Biomassa e do Seminário so- te nas mãos de um time feminino faz mui- bre Produtividade & Redução de Custos.” ta diferença. “As mulheres têm maior sen- As duas irmãs trabalham em sinto- sibilidade para lidar com situações mais nia para que tudo saia conforme o que foi delicadas da empresa.” Afirma que têm um planejado. Tanto que, neste ano, para po- jeito especial de se comunicarem, o que tencializar a divulgação dos eventos, as faz com que o trato com o público seja duas começaram a trabalhar com as redes diferenciado. “Colocamos nosso carinho sociais. “Cuido do canal do Grupo IDEA no e jeito para fazer com que todos se sin- Da esquerda para a direita, Fernanda, Juliana, Lívia e Patrícia: o segredo do sucesso está na dedicação e talento das meninas do IDEA 104 Março · 2016 As meninas preparam o palco para o Dib comandar o show tam bem-vindos, confortáveis e bem tra- pre nos deparamos com diversos proble- tados. Sem contar que as mulheres con- mas, como prazos distintos para paga- seguem desempenhar várias tarefas ao mento e recebimento.” mesmo tempo, coisa que sempre acaba- Um dos grandes problemas que o mos tendo que fazer durante um evento”, Grupo IDEA tem enfrentado é o aumento afirma Juliana. dos custos para a organização dos eventos. “O setor de eventos vem crescendo demais Financeiro em todo o país. Então, independente se Para Patrícia Pereira, gerente admi- tem crise no setor sucroenergético ou não, nistrativa-financeira do Grupo IDEA, o su- os fornecedores de eventos estão sempre cesso dos eventos da empresa está no aumentando seus valores. Ano após ano trabalho em equipe e na valorização do nós lutamos com acréscimos que variam participante. “Ao organizar, nos colocamos de 10% a 40% em nossos custos”, comenta no lugar de quem vem participar de cada a gerente administrativa-financeira. evento, ou seja, trabalhamos o conteúdo e “Como não podemos repassar esse fazemos o melhor pensando no profissio- aumento para nossos patrocinadores, nem nal que se inscreve”, explica. para os nossos visitantes, então o maior Mas para que tudo saia redon- desafio tem sido a negociação com for- do, uma área muito sensível em qual- necedores, para que possamos continu- quer evento é a financeira, exatamente a ar crescendo nossos eventos e sem nunca que fica sob a responsabilidade de Patrí- perder a qualidade e a credibilidade”, afir- cia. “Trabalhar com dinheiro é muito com- ma Patrícia. plicado. Cada empresa, seja patrocinadora, participante ou fornecedora, tem suas Operacional próprias regras financeiras. Por isso, sem- Responsável pela área operacional, 105 MAR K E TIN G Tudo precisa estar impecável no dia do evento Fernanda Queiroz, coordenadora de even- disponíveis para cada evento, prepara as tos do Grupo IDEA, tem uma equação in- pastas e crachás dos participantes. falível para que tudo saia bem em cada seminário: “tranquilidade, dedicação, mui- E quando chega o dia do evento, tudo tem que estar impecável. ta organização e respeito”. Considerando - Os palestrantes precisam estar que cada atividade tem muitos detalhes, bem informados sobre o horário de cada para serem encaminhados antes, durante apresentação e tempo de duração de sua e depois, um check-list completo de todos palestra. os afazeres contribui muito para que se tenha visão do todo. Além disso, antecipar- - O balcão de credenciamento e distribuição de pastas deve ser eficiente. se é uma das receitas mais importantes - O equipamento audiovisual e os para se evitar desgastes e diminuir erros. microfones têm que estar funcionando Por isso, a construção de cada seminário adequadamente. começa bem antes do evento em si. - A logística do coffee break tem que Fernanda se preocupa com a estru- ser perfeita para não atrapalhar o crono- tura dos seminários. Sabe das peculiarida- grama do evento e garantir um tempo des de cada operação, faz previsões para o para o networking dos participantes. coffee break, determina se a formação do - O recinto que vai receber o público auditório será só de cadeiras ou de cadei- deve estar bem organizado, com boa visi- ras com mesas, sabe quantas pessoas ca- bilidade independente da posição que se bem em cada espaço, adéqua os recursos ocupe no auditório. 106 Março · 2016 - Já o material de divulgação dos pa- atuar quando escolheu fazer a faculdade trocinadores e apoiadores também tem de Administração de Empresas: a organi- que estar bem posicionado. zação de eventos, “que requer muito mais “A nossa equipe é pequena, e por do que conhecimento financeiro”. isso o trabalho em conjunto se torna ainda Ou seja, trabalhar na organização mais importante. Os objetivos e as metas dos eventos do Grupo IDEA é uma verda- são comuns, e ficam mais fáceis de serem deira escola. Mais ainda para quem parti- alcançadas se todos os departamentos es- cipa dos seminários. “As pessoas procuram tiveram alinhados”, observa Lívia Pereira, os nossos eventos principalmente em bus- do Departamento Administrativo da em- ca de conhecimento, de novidades e de presa, que nos eventos é responsável pelo alguma solução. Nosso sucesso vem exa- atendimento e controle de inscrições. tamente por conseguirmos manter as pes- Para Lívia, participar da preparação soas sempre ligadas ao Grupo IDEA por dos seminários ajudou a enxergar o vasto meio da divulgação de informações im- campo de uma área que não pensou em portantes e novidades”, pontua Lívia. Agenda de eventos para 2016 VEJA ABAIXO OS EVENTOS DO GRUPO IDEA PROGRAMADOS PARA 2016: 18º Seminário de Mecanização & Produção de Cana: - 30 e 31 de março de 2016 no Centro de Eventos Taiwan; 15º Herbishow: - 11 e 12 de maio no CCRP (Centro de Convenções de Ribeirão Preto); 12º Insectshow: - 13 e 14 de julho no CCRP; 2º Seminário sobre Biomassa da Cana-de-Açúcar & Cia: - 10 e 11 de agosto no CCRP; 10º Grande Encontro de Variedades de Cana: - 28 e 29 de setembro no CCRP; 15º Seminário sobre Produtividade & Redução de Custos na Agroindústria Canavieira: 30 de novembro e 01 de dezembro no CCRP. 107 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL Tempo curto para a manutenção COM UMA SAFRA QUASE ININTERRUPTA, É IMPORTANTE QUE AS UNIDADES PLANEJEM CORRETAMENTE SUAS AÇÕES PREVENTIVAS E DIVULGAÇÃO GRUPO SANTA TEREZINHA CORRETIVAS PARA NÃO FICAR NA MÃO DURANTE O PRÓXIMO CICLO Na Unidade Ivaté, os dois primeiros meses de 2016 foram reservados para a manutenção Leonardo Ruiz N o Centro-Sul, o último e os pri- uma situação atípica. A grande incidência meiros meses de cada ano são de chuvas ao longo do ano passado dei- reservados para a entressafra nas xou muita cana em pé, muitas unidades usinas de cana-de-açúcar. Esse período, optaram por continuar o processamento, que geralmente vai de dezembro a março, estendendo a moagem até os primeiros é dedicado para avaliações e reparos nos meses de 2016. Embora seja relativamen- maquinários e equipamentos a fim de que te positiva do ponto de vista financeiro, tudo esteja funcionando 100% quando a essa opção deve ser feita com cautela, já nova safra chegar. que as manutenções de entressafra são vi- Porém, o atual ciclo foi marcado por 108 tais para que não haja nenhuma surpresa Março · 2016 quando a nova safra começar. “Tradicionalmente, as manutenções na en- Na Unidade Ivaté, do Grupo Santa tressafra são realizadas de forma preven- Terezinha, localizada na cidade paranaen- tiva e corretiva, anualmente, sendo um fa- se de mesmo nome, o processo de pro- tor de maior segurança. No entanto, para dução foi interrompido na última sema- aqueles equipamentos que sofrem maior na de dezembro. Em função das previsões desgaste por abrasão, como o setor de ex- de chuva para o mês de janeiro, a Empre- tração e caldeiras, o risco de parada por sa viu que não seria viável manter a ope- deficiência na manutenção é maior, o que ração em função da elevação de custos e poderá acarretar queda da produtividade queda na produtividade. “Dessa forma, os e maior custo em caso de quebras.” meses de janeiro e fevereiro foram reser- E são esses equipamentos, segundo vados para a manutenção”, afirma a geren- a gerente industrial, que devem ter suas te industrial da Unidade, Elenilda Apareci- manutenções priorizadas quando a Usina da Trazzi Rodrigues. tiver que enfrentar uma entressafra mais curta. “No caso da moenda, em função do va possível, pois um curto espaço de tem- alto desgaste, a manutenção deve ser pri- po entre as safras, ou a falta dele, impacta vilegiada no refrisamento de camisas; na severamente nas manutenções industriais. recuperação de martelos, facas, rodetes, DIVULGAÇÃO GRUPO SANTA TEREZINHA Para ela, essa opção é a mais asserti- Revestimentos criam uma camada de proteção nos equipamentos industriais, impedindo a infiltração de substâncias corrosivas e ataque químico ao metal 109 DIVULGAÇÃO QUIMATIC TAPMATIC TE C NOLOGIA IN D U STRIAL Bomba de água com fuligem em ferro fundido bombas; na inspeção preventiva de eixos Protegendo a indústria e na manutenção de correntes da mesa de Não é segredo para ninguém que a alimentação e das esteiras de arraste.” situação atual do setor canavieiro não é Ainda de acordo com Elenilda, os das melhores. Dessa forma, é importante equipamentos de geração de energia, que que as usinas adotem, nesses períodos de também sofrem com a abrasão, como tur- manutenção, as melhores estratégias pos- binas, redutores, geradores e internos das síveis, para que o processo seja feito com caldeiras (tubulações), também devem eficiência e com o menor custo possível. contar com atenção redobrada nesse pe- Dados divulgados pelo fabricante de ríodo. “Com essas manutenções em pon- especialidades químicas Quimatic Tapma- tos mais críticos do processo, a Usina será tic apontam que, durante uma entressafra, capaz de moer de forma ininterrupta até o é possível conquistar uma economia de final do próximo ciclo.” até 80% ao substituir a compra de equipa- 110 Março · 2016 111 TE C NOLOGIA IN D U STRIAL mentos novos pela manutenção, seja ela preventiva ou corretiva. seus vapores. Outro tipo de produto bastante utili- Segundo a empresa, vários equipa- zado nas usinas canavieiras é o fundo con- mentos desgastados e danificados podem vertedor, que converte a ferrugem das es- ser completamente recuperados. Desta truturas metálicas em um fundo pintável maneira, eles ganham uma nova vida útil, que dispensa a aplicação de outros fundos que costuma durar por até duas novas sa- e deixa a superfície pronta para receber a fras, quando então serão reavaliados para demão de tinta de acabamento. um novo reparo ou troca definitiva. Já as resinas podem recuperar outros As bombas, roscas transportadoras equipamentos desgastados e corroídos. e outros equipamentos que sofrem com Fáceis de aplicar e altamente resistentes após a cura, os produtos preenchem trincas e furos, devolvem os formatos originais das Daniela Lewkowitz: economia de até 80% com a manutenção peças e formam uma nova camada protetora de alto valor agregado. desgaste abrasivo do bagaço da cana, pe- A engenheira química da Quimatic dras e arraste de sólidos envolvidos no Tapmatic, Daniela Lewkowitz, afirma que a processo, por exemplo, podem receber a utilização desses revestimentos é de gran- aplicação de um revestimento industrial de valia para o setor sucroenergético. “A que irá aumentar, significativamente, sua procura por esse tipo de produto aumen- resistência à abrasão. Já as bombas, tan- tou consideravelmente nos últimos anos, ques, peneiras, roscas transportadoras, es- principalmente por ser uma solução que palhadores e válvulas podem ter sua vida reduz os custos de manutenção optan- útil prolongada, pois o revestimento irá do pela recuperação em vez da compra proporcionar uma excelente resistência de novos equipamentos e componentes ao ataque corrosivo da cana, inclusive de mecânicos.” 112 Março · 2016 C AN A SU BSTAN TIVO FE MI NI NO PRÉ-PROGRAMAÇÃO V ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO V ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO 10 DE MARÇO DE 2016, NO CENTRO DE CANA DO IAC, EM RIBEIRÃO PRETO, SP WWW.CANASUBSTANTIVOFEMININO.COM.BR WWW.FACEBOOK.COM/CANA.SUBSTANTIVO.FEMININO 8h00 às 8h45 – retirada das credenciais - Ana Carolina Velasco, Gerente de Rela- 8h45 – abertura cionamento do GIFE - Grupo de Institutos 9h00 às 10h30 – A sustentabilidade ga- Fundações e Empresas, confirmada nha espaço na gestão empresarial – das - Cristiane Lourenço, Gerente de Desen- ações socioambientais à boa empresa volvimento Sustentável e Parcerias na para trabalhar Cadeia de Valor da Bayer CropScience, Abertura e Mediação – Maria Luiza Bar- confirmada bosa, diretora da TerraGrata Consulto- 10h30 às 11h00 – café ria e Consultora de Sustentabilidade da 11h00 às 13h00 – Debate: O setor sucro- União da Indústria de Cana-de-Açúcar energético sob a ótica feminina – como (Unica); confirmada e onde melhorar - da área agrícola ao Debatedoras: mercado externo 113 C AN A SU BSTAN TIVO FE MI NI NO Abertura e mediação – Luciana Paiva, Debatedoras: editora da revista CanaOnline - Elizana Baldissera Paranhos, agricultora Debatedoras: de Capão Bonito, SP, vencedora da região - Alessandra Orlando, gerente de Consul- Sudeste do País do Desafio de Máxima toria de RH da área de Etanol, Açúcar e Produtividade da Soja (2014), realizado Bioenergia da Raízen; confirmada pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) - Béatrice de Toledo Dupuy, Gerente de confirmada Comunicação Corporativa da Tereos Gua- - Mirela Gradim, Superintendente da Co- rani; confirmada plana - Cooperativa Agroindustrial, Guari- - Danila Passarin, pesquisadora do Centro ba, SP; confirmada de Tecnologia Canavieira (CTC); confirmada - Paula Bellodi Santana, produtora de - Elis Santos, da DEAG, Documentação e cana, noz macadâmia e gado, Jaboticabal, Trâmites Aduaneiros; confirmada SP, confirmada - Maria Paula Curto, Diretora de Recursos 15h30 - Café Humanos da Biosev; confirmada 16h00 às 17h40 - Princípios de Empo- - Priscilla Valerio de Almeida, Diretora Ad- deramento das Mulheres, iniciativa da ministrativa da Agrícola Volta Grande, Pi- ONU Mulheres e do Pacto Global criada racicaba, SP; confirmada para incentivar a igualdade de gênero e - Márcia Rossini Mutton, professo- o empoderamento da mulher no traba- ra da FCAV – Unesp de Jaboticabal, SP, lho e nas comunidades confirmada Abertura e mediação – Ana Paula Mal- 13h00 às 14h00 – Brunch vestio, Sócia e Líder em Diversidade da 14h00 às 15h30 – Debate: O agronegó- PwC, confirmada cio sob a ótica feminina – como e onde Palestrantes: melhorar - Danieli Tassi Simioni Gemael, gerente de Abertura e Mediação: Mônika Berga- Divisão na Itaipu Binacional, confirmada maschi, ex-secretaria da Agricultura e - Carla Pires, Grupo Odebrecht; confirmada Abastecimento do Estado de São Pau- - Pedro Mizutani, vice-presidente de Açú- lo e atual presidente-executiva do Ins- car, Etanol e Energia da Raízen - confirmado tituto Brasileiro para Inovação e Sus- 18h00 – Show com Grupo Todos Nós tentabilidade no Agronegócio (Ibisa); – Pedro Mizutani, Vice-Presidente da - confirmada Raízen confirmado INSCREVA-SE GRÁTIS AQUI www.canasubstantivofeminino.com.br 114 Março · 2016 115