emblemática mariana no convento de são francisco de salvador

Transcrição

emblemática mariana no convento de são francisco de salvador
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
EMBLEMÁTICA MARIANA NO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DE SALVADOR, BAHIA, E SEUS MODELOS EUROPEUS1 Rubem Amaral Júnior2
107
RESUMO – Trata-se da identificação dos esquecidos modelos europeus do século XVIII de oito
painéis anônimos a óleo sobre madeira de temática emblemática mariana sobre invocações da Litania
Lauretana na Capela do Capítulo do Convento de São Francisco da cidade de Salvador, Bahia, um
dos mais ricos conjuntos de arte colonial do Brasil. Procede-se à comparação dos painéis com as
respectivas fontes impressas, isto é, as ilustrações do livro Elogia Mariana (Augsburgo, 1732),
redesenhadas por Thomas Scheffler e gravadas por Martin Engelbrecht a partir de gravuras originais
de Augusto Casimiro Redelio, pondo em evidência a grande influência destas na arte barroca
religiosa ibero-americana e referindo outros exemplos. Citam-se argumentos desenvolvidos por
historiadores de arte sobre a possível autoria dos painéis, os quais apontam para o dominicano
francês Fr. Estevão do Loreto Joassar, que professou na Ordem Beneditina no convento do Rio de
Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE – Emblemática Mariana, Convento de S. Francisco, Litania Lauretana,
Thomas Scheffler, Martin Engelbrecht.
ABSTRACT – This work deals with the identification of the forgotten 18th century European
models of eight oil paintings on wood panels of Marian emblematic images on invocations of the
Lauretan Litany in the Chapter Chapel at St. Francis Convent of the city of Salvador, Bahia, one of
the richest complexes of colonial art in Brazil. It proceeds to compare the panels with their
respective printed sources, i. e., the illustrations of the book Elogia Mariana (Augsburg, 1732),
redrawn by Thomas Scheffler and engraved by Martin Engelbrecht after original engravings by
1 O presente trabalho foi apresentado originalmente no VI Congresso Internacional da Sociedade Espanhola de
Emblemática, em Gandía (Espanha), em outubro de 2007, e publicado em Rafael García Mahíques e Vicent F. Zuriaga
Senent (Eds.), Imagen y Cultura. La interpretación de las imágenes como Historia cultural, Valencia, Generalitat Valenciana, 2008,
pp. 203-216 (Biblioteca Valenciana).
2 Rubem Amaral Jr., pesquisador independente, Embaixador aposentado, é bacharel em Direito pela Universidade
Federal do Ceará, diplomado pelo Instituto Rio Branco e pelo Curso de Altos Estudos do Ministério das Relações
Exteriores. É sócio da Society for Emblem Studies de Glasgow e da Sociedade Espanhola de Emblemática de Cáceres
(membro do Comitê Consultivo) e colaborador e membro do Comitê Científico de Imago. Revista de Emblemática e Cultura
Visual, editada pela SEE.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
August Casimir Redel, stressing the great influence exerted by them on the Ibero-American religious
baroque art and referring other examples of it. It quotes arguments developed by art historians about
the possible authorship of the panels, which point towards the French Dominican friar Estevão do
Loreto Joassar, who professed in Rio de Janeiro.
KEYWORDS – Marian emblematic images, St. Francis Convent, Lauretan Litany, Thomas
Scheffler, Martin Engelbrecht.
Introdução
A Igreja e o Convento de São Francisco da cidade do Salvador constituem um dos mais ricos
conjuntos artísticos da época colonial do Brasil em suas diferentes manifestações: talha dourada,
torneados, imagens, pintura, azulejaria, mobiliário e alfaias. O convento atual teve sua construção
iniciada em 1686, e a igreja em 1708.3 (COHEN, 1992)
Do ponto de vista específico da emblemática aplicada, esse monumento é extremamente
significativo, particularmente em virtude da importantíssima série de trinta e sete painéis de azulejos
portugueses do claustro térreo, baseada no livro de Otto van Veen (Otto Vênio) Theatro Moral de la
Vida Humana y de toda la Philosophia de los Antiguos y Modernos, conforme identificado pela primeira vez,
108
modernamente, por Fr. Pedro Sinzig, em 1933, no livro Maravilhas da Religião e da Arte na Egreja e no
Convento de São Francisco da Baía4, sobre os quais muito se tem escrito.
Salvador, capital do Estado da Bahia, foi fundada em 1549 para ser a sede do Governo Geral do Brasil, posição que
manteve até 1762, quando a capital da colônia foi transferida para o Rio de Janeiro. Foi também a sede do primeiro
bispado do Brasil, criado em 1551, elevado a arcebispado em 1676. O arcebispo da Bahia é primaz do Brasil.
4 Cf., entre outros: SINZIG, O.F.M., Fr. Pedro. Maravilhas da Religião e da Arte na Egreja e no Convento de São Francisco da
Baía. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro - Boletim, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1934, pp. 170-219;
OTT, Carlos F. “Os Azulejos do Convento de São Francisco da Bahia”, In: Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, N.º 7 (1943), Rio de Janeiro, MES, pp. 7-34; PINHEIRO, Silvanisio. Azulejos do Convento de S. Francisco
da Bahia, Salvador, Livraria Turista, 1951, I Parte, pp. 1-71; SEBASTIÁN LÓPEZ, Santiago. Emblemática e Historia del
Arte, Madrid, Cátedra, 1995, pp. 263-76 (Arte. Grandes Temas); id. “Arte iberoamericano”, In: Summa Artis, XXIX
(1985), pp. 185-91; id., “La edición española del ‘Theatro Moral de la Vida Humana’ y su influencia en las artes plásticas
de Brasil y Portugal”, In: As Relações Artísticas entre Portugal e Espanha na Época dos Descobrimentos, coordenação de Pedro
Dias, Minerva, Coimbra, 1987, pp. 381-406; SIMÕES, João Miguel dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500-1822),
Lisboa, Gulbenkian, 1965, pp. 129-39; PAIS, Alexandre Nobre. “O Theatro Moral de la Vida Humana no Convento de São
Francisco da Bahia”, In: Oceanos, Lisboa, N.º 36/37 (Out. 1998/Mar. 1999), pp. 100-24; SILVA, Maurício Paranhos da.
“Les Azulejos du Couvent de Saint François à Bahia”, In: Journal de Genève, 19/12/1959; UREÑA PRIETO, Maria
Helena de Teves Costa. “Horácio no Brasil”, In: Miscelânea de Estudos Lingüísticos, Filológicos e Literários In Memoriam Celso
Cunha, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995, pp. 677-98. Segundo Fr. Pedro, a biblioteca do Convento possuía um
exemplar do Theatro Moral. Devido ao estado de deterioração do volume, não foi possível identificar a edição. A obra
original de Vênio era o Q. Horati Flacci Emblemata ou Emblemata Horatiana, publicada em Antuérpia em 1607.
3
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Mas não é este o único exemplo de influência de livro de emblemas na decoração desse
edifício. Muito menos conhecidos são oito painéis sobre invocações da Virgem Maria, de diferentes
formatos e dimensões, pintados a óleo sobre tábuas e inseridos em elaboradas molduras de madeira
dourada em estilo rococó, existentes em três paredes da impressionante Sala ou Capela do Capítulo,
cuja fonte iconográfica não fora até hoje recuperada5.
109
Figura 1
Painel Virgo fidelis
(foto Sergio Benutti)
Os painéis marianos da Sala do Capítulo
Na obra acima referida6, Fr. Pedro descreve-os minuciosamente, inclusive transcrevendo as
respectivas inscrições, exceto de dois deles, que lhe pareceram indecifráveis, devido ao seu
Os quadros em questão não têm despertado muita atenção dos estudiosos. Primeiramente, por não serem todos de
excepcional qualidade; em segundo lugar, por sua existência ser pouco divulgada. Estão em trâmite, atualmente, no
Ministério da Cultura, projetos para revitalização da igreja e do convento, nos quais se inclui a restauração das referidas
pinturas.
6 SINZIG. op. cit., pp. 275-80. À p. 224, o autor informa as dimensões da capela: 10,60 m de largura por 6,55 m de
fundo e 4 m de alto. Os painéis devem ter todos cerca de 110 cm de altura, com exceção do que está numa sobreporta,
5
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
obscurecimento. Qualificando-os embora como «um tanto fracos», considerou que “interessam
altamente pelo assunto” e que,
Se, em outro lugar, é lícito recusar telas que
não correspondam às altas exigências da arte,
não é lícito abstrair do assunto, quando se
trata de painel para igreja ou capela, pois, em
primeiro lugar, é o assunto que lhe justifica a
exposição permanente. (ibidem, p. 276)
E conclui que,
Neste sentido, os organizadores da
maravilhosa capela não podiam ser mais
felizes. As telas, por eles escolhidas, são a
interpretação dos louvores de Maria, em
particular da Ladainha Lauretana. (ibidem, p.
276)
Mas não chegou a dar com seus esquecidos
110
modelos.
Carlos Ott, um dos maiores especialistas em
pintura colonial da Bahia, que admitia, em 1993,
que “ainda ficam para serem identificados vários
painéis das paredes da Sala do Capítulo do
Convento de São Francisco”, concorda com a
avaliação
de
Fr.
Pedro,
considerando-os
“geralmente pintura medíocre”, destacando porém
entre eles um com a invocação Causa nostrae
Figura 2
Virgo fidelis
(reproduzido, mediante autorização, do exemplar do
Elogia Mariana da Bayerische StaatsBibliothek, Munique,
Calch. 245).
laetitiae, representando músicos, cada um tocando um instrumento; e diz que o que está tocando
flauta, é uma figura muito bem executada. Finalmente, qualifica-o de “uma composição excelente e
que terá cerca de 75 cm. Os painéis maiores terão cerca de 260 cm de largura, e os menores cerca de 110 cm, exceto o de
cima da porta, que terá cerca de 120 cm. Não me foi possível averiguar as dimensões exatas.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
única na Bahia” (OTT, 1993, p. 45). Géo-Charles, que a eles refere-se muito sucintamente, reputa-os
em geral "bastante bons", singularizando o mesmo mencionado por Ott e o correspondente à
invocação Virgo Fidelis. (GÉO-CHARLES, 1956, p. 94)
Os modelos europeus
No seguimento de minhas pesquisas sobre emblemática portuguesa (Cf.: AMARAL JR.,
2005), ocorreu-me buscar a fonte imagética, que, à falta de bibliografia facilmente acessível, eu
supunha ainda esquecida, da grande série de painéis de azulejos marianos setecentistas da Igreja de
Jesus de Setúbal (Portugal), originalmente dezoito e atualmente quatorze, por numa reforma terem
sido desmontados quatro, de cujos materiais desconhece-se o paradeiro. Nesse empreendimento,
obtive êxito de forma independente, apenas para verificar, ao final, que o mesmo já havia sido feito e
divulgado, quinze anos atrás, pelo especialista português José António Falcão, no V Simpósio
Hispano-Português de História da Arte (Valhadolide, 1989), e que também era do conhecimento do
professor espanhol Santiago Sebastián, que encorajou o preparo da comunicação. (Cf. FALCÃO,
1990, pp. 103-12)
111
Figura 3
Painel Vas insigne devotionis
(foto S. Benutti)
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
A fonte redescoberta é Elogia Mariana7,
editada em 1732, em Augsburgo, com imagens
concebidas
por
Augusto
Casimiro
Redel
(Redelio), redesenhadas por Thomas Scheffler e
gravadas em cobre por Martin Engelbrecht.
Contém cinquenta e nove gravuras, sendo duas
correspondentes à página de título e ao pósfrontispício, as cinquenta e seis invocações
originais da Litania Lauretana e, no final, Dignare
me laudare te Virgo sacrata8. Versões primitivas dos
emblemas de Redel, talvez desenhadas e gravadas
por ele próprio, haviam sido editadas na mesma
cidade, em 1700, ilustrando o extenso livro Elogia
Mariana Ex Lytaniis Lauretanis Deprompta, do
capuchinho
Isaaco
Oxoviensi
(Isaac
von
Ochsenfurth), no qual, entretanto, o nome do
112
emblemista não é mencionado nem na página de
título nem no texto, e a custo pode-se lê-lo no
canto inferior esquerdo da gravura do pósFigura 4
Vas insigne devotionis
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB)
frontispício9. Segundo se declara na folha de rosto
desta edição, já haviam elas sido concebidas e
Elogia Mariana olim à A. C. Redelio Belg. Mechl: S.C.M.L.P. concepta Nunc devotæ Meditationi fidelium ad augmentum cultus Bmæ
Virg: Deiparæ inventa et delineata per Thomam Scheffler, et aeri incisa à Martino Engelbrecht Chalcographo Augustano. Cum Priv. Sac.
Cæs. Maj. A.º 1732. Agradeço às Senhoras Edith Schipper e Helga Tichy, da Bayerische StaatsBibliothek, o gentil e
eficiente processamento de meus pedidos de cópia dessa obra (cota Calch. 245) e da licença para reprodução das
estampas aqui utilizadas.
8 Rogatória que tradicionalmente acompanha a antífona Ave Regina Cælorum e que consta haver sido pronunciada por João
Duns Escoto diante de uma imagem da Virgem Maria, pedindo-lhe ajuda para a defesa que ia fazer do mistério da
imaculada concepção.
9 OXOVIENSI, P. F. Isaaco. Elogia Mariana Ex Lytaniis Lauretanis Deprompta, Ac Sacro Poëmate Rythmico, Biblicis Sententiis, ac
Figuris, solidis sanctorum Patrum effatis, ac variis probatorum Auctorum Discursibus; Quæ omnia In Annonationibus post quælibet
Poëmata apponuntur ad longum luculenter explanata. Opus non solum fovendæ devotioni erga Beatissimam Virginem peropportunum, sed
etiam Panegyricis de Eadem sermonibus efformandis accommodatissimum. Auctore ... Capucino Concionatore, Cum variis figuris æreis, jam
olim ingeniosè inventis, nunc denuò cum additione novorum Versuum excusis, & ad singula Elogia concinnè accommodatis. Cum Licencia
Superiorum, & Privilegio Cæsareo. Augustæ Vindelicorum [Augsburgo], Apud Joann. Philippum Steudnerum. Typis Antonii
Nepperschmidii, 1700.
7
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
gravadas antes, com outros versos, mas não consegui descobrir nenhuma outra referência à sua
publicação anterior.
Embora não tenha sido incluída nas bibliografias de livros de emblemas de Mario Praz (1939)
113
Figura 5
Painel Consolatrix afflictorum
(foto S. Benutti)
e John Landwehr (1972), a série de Redel é uma emblematização da ladainha de Nossa Senhora, em
que cada invocação da Litania Lauretana é apresentada como um emblema, com as três partes
canônicas: no alto, uma complexa pictura que a simboliza visualmente; logo abaixo, a invocação,
seguida de seu anagrama, à guisa de inscriptio; e, ao pé, um epigrama de quatro versos, como subscriptio,
tudo em latim.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
A
Wolfenbütteler
Digitale
Bibliothek (WDB) da Herzog August
Bibliothek disponibiliza, entre os livros de
emblemas, o texto integral do Elogia
Mariana
de
Ochsenfurth
(quinhentas
páginas). A Biblioteca do Estado da Baviera
digitalizou somente as ilustrações, junto
com outras obras de emblemática mariana,
no seu projeto Digitalisierung von ausgewählten
Emblembüchen der frühen Neuzeit. Neste
último, a resenha introdutória, reproduzida
de Sinnbilder Welten (1999, pp. 28-29), diz
que também foi traduzido para o alemão e
editado em 1703 como Marianische EhrenTitlen10, e informa que é herdeira da Asma
114
poetica coligida pela Congregação Mariana de
Linz
em
1636.
Acrescenta
que
a
similaridade formal com o emblema é feita
em três momentos, como expusemos acima.
Não obstante, considera muito duvidoso se
tal tipo de correspondência formal em si já
é o bastante para tipificar as ilustrações
como emblemáticas. Curiosamente, não faz
Figura 6
Vas insigne devotionis
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB)
nenhuma referência à participação de Redel.
Foi incluída por Cornelia Kemp no artigo “Emblem” do Marienlexikon11.
OXOVIENSIS, Isacco, Marianische Ehren-Titlen. In der Lauretanischen Lytaney begrieffen: Vnd in gebundener Redens-Arth, durch
Sentenz und Figuren der Göttlichen Schrifft, kräfftige Aussprüch der Heiligen Vätter ... gründlich erklähret, und aussgeleget ..., Wüzburg,
1703.
11 KEMP, Cornelia: artigo “Emblem”, In: BÄUMER, Remigius e SCHEFFECZYK, Leo (eds.), Marienlexikon, 6 vols., St.
Ottilien, 1998-1994, vol. 2, 333. Outro exemplo notável do gênero é o Litaniæ Lauretanæ de Franz Xaver Dornn, em latim
Franciscus Xaverius Dornn (Augsburgo, Johann Baptist Burckart, 1750), ilustrado com gravuras dos irmãos Joseph
Sebastian e Johannes Baptist Klauber, o qual mereceu diversas edições, em latim, alemão, castelhano, francês e italiano. É
10
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Figura 7
Painel Vas honorabile
foto S. Benutti).
115
Parece-me inegável a intenção emblemática de Augusto Casimiro Redel nesta série, tendo ele
sido autor de outros três livros de emblemas: Annus Symbolicus (s.a., c. 1695), Apophtegmata Symbolica
(s.a.) e Anatomia Spiritualis Nominum Sanctorum (1696), todos impressos em Augsburgo12.
bem conhecida a difusão dos modelos dos Klauber pela Espanha, Nova Espanha, Nova Granada e o Alto Peru. O
mesmo pode-se dizer em relação a Portugal e Brasil. Cf. CASTILLO Y UTRILLA, María José del. “Iconografía de la
Letanía Lauretana según Dornn”, In: Cuadernos de Arte e Iconografía. Revista Virtual de la Fundación Universitaria Española, t. II
- 3 (1989). <http://www.fuesp.com/revistas/pag/cai0327.html> (15.03.2007); OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de.
O Rococó Religioso no Brasil e seus antecedentes europeus, São Paulo, Cosac & Naify, 2003, pp. 94 e 151; id., “Gravuras Europeias
e o Aleijadinho”, In: O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural), 10, junho, 1979, N.º 436, Ano III, pp. 3-4; RETA, Martha,
“Elogia Mariana. Imágenes visuales y poéticas en loor de la Virgen”, In: Guadalupe arte y liturgia. La sillería de coro de la
colegiata. Vol. II, Zamora, Mich., El Colegio de Michoacán-Museo de la Basílica de Guadalupe, 2006, pp. 359-79;
SEBASTIÁN LÓPEZ, Santiago, “La influencia germánica de los Klauber en Hispanoamérica”, In: Boletín del Centro de
Investigaciones Históricas y Estéticas, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Universidad Central de Venezuela, Caracas, 14
(1972), pp. 61-74; id., Contrarreforma y barroco, Madri, Alianza, 1989, p. 215 (Alianza Forma, 21); SMITH, Robert C. André
Soares: arquitecto do Minho, Lisboa, Horizonte, 1973; id., Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, escultor Beneditino do século
XVIII, 1.º vol., Lisboa, Gulbenkian, 1972.
12 PRAZ, cit., pp. 135-6; LANDWEHR, cit., N.º 489-91. Publicou também: Litaniæ Lauretanæ (Augsburgo, s.a., c. 1695),
no mesmo estilo do Elogia Mariana, isto é, invocação, anagrama e epigrama, mas sem ilustrações (muitos dos anagramas
coincidem totalmente com os do Elogia Mariana, ou constituem ligeiras variantes), destinada a rogativas pela vitória do
Imperador Leopoldo I na luta contra os turcos; Het leven van den H. Rumoldus (Malines, 1680); Octo Bona Omina Ex
Beatissimo Patre Alexandro Octavo (Augsburgo, 1689), Vita et miracula S. P. Benedicti (id., 1694), ilustrada com vinte e seis
gravuras, e Funiculus triplex (id., 1696).
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
As
informações
disponíveis
sobre
Redel
(também grafado Ridel, lat. Redelius) nas fontes biobibliográficas correntes são escassas. Nasceu em
Malines (Bélgica) em 1656 e faleceu em 1687 ou 1705,
em lugar ignorado. Foi sacerdote, pregador, confessor e
(estranhamente) rabino, bem como hagiógrafo, poeta
laureado,
pintor
paisagista
da
escola
flamenga,
emblemista, desenhista e gravador. Foi aluno de Jean le
Seive o jovem e de Corn Huysmans. Residiu depois na
Alemanha. Visitou o Tirol e Roma e enlouqueceu em
168713.
Descrição dos painéis à luz dos modelos
Dado que boa parte da pintura religiosa
brasileira da época colonial seguiu modelos europeus
encontrados em conhecidos livros de gravuras que
116
reproduziam obras dos grandes artistas14, ou foi
executada por artistas vindos da Europa ou com
materiais dela importados (COHEN, op. cit., III 3),
Figura 8
Vas honorabile
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB)
minha familiarização com a edição de 1732 do Elogia
Mariana permitiu-me posteriormente relacionar aos
13 BÉNÉZIT, Emmanuel. Dictionnaire des Peintres, Sculpteurs, Dessinateurs et Graveurs, [Paris], Gründ, 1960; PIRON,
Constant-Fidèle-Amand. Algemeene levensbeschrijving der mannen en vrouwen van Belgie, Malines, Olbrechts, 1860-1862;
NEEFFS, Emmanuel. Histoire de la peinture e de la sculpture à Malines, Gand, Vanderhaeghen, 1876; VAN DER
BRANDEN, F. Jos e FREDERIKS, J.G. Biographisch woordenboek der Noord- en Zuidnederlandsche letterkunde, Amsterdam,
Veen, 1888; Académie Royale des Sciences, des Lettres et des Beaux-Arts de Belgique. Biographie nationale, Bruxelas, Thiry,
1866-1938; THIEME, Ulrich e BECKER, Felix (eds.). Allgemeines Lexikon der Bildenen Künstler von der Antike bis zur
Gegenwart, Leipzig, Seemann, 1907-1950. Agradeço a Christian Hogrefe, da Herzog August Bibliothek Wolfenbüttel, a
amabilidade do envio de cópia da Litaniæ Lauretanæ e dos dados biográficos de Redel.
14 LEVY, Hannah. “Modelos Europeus na Pintura Colonial”, In: Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
N.º 8 (1944), Rio de Janeiro, MES, pp. 7-66 (Não se refere à Bahia); OTT, Carlos. “A pintura na Bahia, 1549-1850”, In:
ALVES, Marieta et alii. História das Artes na Cidade do Salvador, Publicação da Prefeitura Municipal do Salvador
Comemorativa do IV Centenário da Cidade, 1967, p. 75 (Evolução Histórica da Cidade do Salvador, IV); SOBRAL, Luís
de Moura. “Ut Pictura Poesis: José de Anchieta e as Pinturas da Sacristia da Catedral de Salvador”, In: O Território do Barroco
no Século XXI. Revista Barroco, 18, Número-Simpósio, 1997/2000, Ouro Preto/Belo Horizonte, Fundação Flávio
Gutierrez, 200, pp. 209-46.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
emblemas de Redel as descrições de Fr. Pedro Sinzig dos painéis da Sala do Capítulo do Convento
de São Francisco de Salvador, e as fotografias de quatro deles (SINZIG, op. cit. p. 15)15, em preto e
branco, embora nestas, por sua pouca nitidez, não se possa distinguir os epigramas transcritos no
texto. A maior parte dos painéis reproduz quase exatamente as imagens do livro, ressalvadas
diferenças de estilo e resultantes da transformação de estampas monocromáticas para pinturas a
cores. As poucas modificações derivam ou da redução das gravuras aos formatos dos quadros ou da
adaptação de certas cenas a circunstâncias da Ordem Franciscana. Ao contrário das gravuras, que são
mais altas que largas, alguns painéis, retangulares, são mais largos do que altos; os demais são
octogonais alongados. Daí a necessidade de um rearranjo das figuras, suprimindo elementos nas
extremidades verticais e preenchendo com outros os espaços acrescentados nas horizontais.
Empreendamos o percurso na companhia de Fr. Pedro, deixando à parte o altar consagrado a N. S.
da Saúde e os dois painéis que o ladeiam, os quais não têm relação com os demais, e começando pela
parede lateral do lado da epístola, indicando as principais alterações introduzidas nos painéis em
relação às gravuras16.
O 1º painel (fig. 1), no início dessa parede, corresponde à 30ª invocação da ladainha atual,
Virgo fidelis, gravura nº 30 de Redel (fig. 2)17. Fr. Pedro, equivocadamente, identificou-o com a 47ª
117
invocação, Auxilium christianorum. No painel, em forma de octógono ligeiramente oblongo,
acrescentaram-se, ao alto, quatro cabecinhas de querubins e, na lateral esquerda, uma caravela; no
batel à direita, aparecem três pessoas em vez de apenas uma. Suprimiram-se, à esquerda, as duas
personificações de ventos soprando sobre o mar e, na extremidade inferior, a cruz e o labirinto do
mundo, do qual aparece apenas o arco superior. Tudo o mais reproduz perfeitamente a gravura,
inclusive o epigrama18.
Tiradas por Fr. Philiberto Gilles.
Agradeço à Comunidade Franciscana da Bahia a permissão para fotografar os painéis de que trata a presente
comunicação, bem como ao fotógrafo Sergio Benutti, de Salvador, a colaboração na obtenção da referida licença e o
excelente trabalho realizado. Na comparação a que procederei em seguida, por limitação de espaço não efetuarei a
interpretação da simbologia empregada por Redel nos seus emblemas.
17 A coincidência entre os números de ordem atuais das invocações reproduzidas e os números das gravuras é meramente
acidental e decorre de haverem sido incluídas na numeração destas as gravuras da página de título e do pós-frontispício,
já que posteriormente sete novas invocações foram inseridas por outros papas entre as cinquenta e seis aprovadas em
1601 por Clemente VIII, atingindo hoje 63.
18 Est Illæsa fides, quam spondes VIRGO FIDELIS.
Te quondam fidam, fido, videre fide,
Dum Labyrintho hujus mundi, FULGORI DIEI.
Extrahar, & moriens nulla pericla feram.
15
16
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Figura 9
Painel Vas spirituale
(foto S. Benutti).
118
O 2º painel, no centro da mesma parede (fig. 3), corresponde à 36ª invocação atual, Vas
insigne devotionis, nº 36 de Redel (fig. 4). O grupo central da pintura reproduz quase exatamente o da
gravura, com a figura da Virgem mais próxima a terra, forçando o deslocamento lateral dos
adoradores. No painel, por ser bastante mais largo que os que o ladeiam, foram acrescentadas mais
um rapaz em cada extremidade, e revoadas de querubins ladeando Maria. Todo o resto reproduz
fielmente a gravura19.
O 3º painel (fig. 5), último dessa parede, corresponde à 46ª invocação atual, Consolatrix
afflictorum, nº 46 de Redel (fig. 6). Foram reduzidas de três para dois de cada lado de Maria os
querubins. Por ser octogonal quase equilátero o painel, a figura da Virgem com o Menino Jesus está
mais próxima ao solo, o que forçou a supressão de uma cidade em chamas e de um campo semeado
19
O epigrama, que Fr. Pedro não conseguiu decifrar, diz o seguinte:
VAS est DEVOTUM cælis devotio fulgens,
unde pluit Pietas germinat omne bonum.
MARIA rorante novus ruit imber olympo,
quo NOS VITA et mors IUNGIT amore DEO.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
de cruzes, existentes na área central da gravura; tudo o mais é reproduzido fielmente, inclusive o
epigrama20.
O 4º painel (fig. 7), de grande largura,
na parede oposta ao altar e à direita de quem
entra na capela, corresponde à 35ª invocação
atual, Vas honorabile, nº 35 de Redel (fig. 8). Na
pintura,
foi
suprimido
o
triângulo
da
Santíssima Trindade resplandecente acima da
cabeça
de
Maria
e
acrescentadas
duas
cabecinhas de querubins no alto à direita. As
três figuras de reis da direita não trazem
coroas, sendo que a da primeira está
depositada no solo; suprime-se uma pequena
cabeça na extremidade; à esquerda, as figuras
de papa, cardeal e bispo foram substituídas
pela de um frade, provavelmente s. Francisco
119
de Assis, e três sacerdotes. Tudo o mais se
conforma
com
o
modelo,
inclusive
o
epigrama21.
O 5º painel (fig. 9), da mesma largura
do anterior e à esquerda da porta de entrada,
corresponde à 34ª invocação atual, Vas
spirituale, nº 34 de Redel (fig. 10). Aqui as
modificações
são
mais
notáveis,
pois
acrescentam-se, do lado direito, outro bispo
AFFLICTI CONSOLATRIX dum nubila pellis,
Tristitiæ, cordi jubila mille paris.
Mors FOCUS, unda aër minitatur terra ruinam,
Per te mox FLUXIT CLAMOR et omne malum.
21 Virgineæ Matri submittite colla, Monarchæ,
Debet HONORARI, VAS ab amore DEI.
AH mihi Virgo VENI, corque hoc virtutibus imple,
SOLABOR vitiis dum vacuatus ero.
20
Rubem Amaral Júnior
Figura 10
Vas spirituale
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB).
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
atrás da figura do santo bispo ajoelhado (s. Bernardo) e, do lado esquerdo, um cardeal e um bispo
franciscano, cujos chapéu e mitra estão depositados no chão. Para Fr. Pedro, o frade ajoelhado à
direita da Virgem seria um santo cardeal franciscano, provavelmente s. Boaventura. Todo o resto do
painel reproduz fielmente o modelo e respectivo epigrama22.
120
Figura 11
Painel Refugium peccatorum
(foto S. Benutti).
22
Cernite quale Bernardo Virgo propinat
Ex vota illius, dum mera mella fluunt.
Nam VULTU ASPIRAT VAS SPIRITUALE refertum
Deliciisque poli, Divitisque soli.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
O 6º painel (Fig. 11), um octógono ligeiramente oblongo, primeiro da parede, lateral do lado
do Evangelho, segundo Fr. Pedro não tem título tirado da Ladainha Lauretana, mas outro muito
expressivo: Haec mihi asylum. Na realidade,
corresponde à 45ª invocação atual, Refugium
peccatorum, nº 45 de Redel (fig. 12), onde
também aparece aquela frase circundando a
auréola da Virgem. Acrescentaram-se no painel
seis cabecinhas de querubins ladeando Maria.
Suprimiu-se o grande rosário disposto em
forma de coração em frente ao grupo central. A
figura
feminina
ajoelhada
à
direita
foi
substituída por uma masculina, com pequena
barba. Tudo o mais, inclusive o epigrama,
reproduz a gravura fielmente23.
O 7º painel (fig. 13), no centro dessa
parede, é quase duas vezes e meia mais largo
121
que os que o ladeiam e corresponde à 33ª
invocação atual, Causa nostræ lætitiæ, nº 33 de
Redel (fig. 14). A figura da Virgem está mais
próxima ao chão, provocando o afastamento
das demais para os lados. O flautista que, na
gravura, fica exatamente no centro do conjunto,
bem debaixo de Maria e apenas de meio corpo
Figura 12
Refugium peccatorum
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB).
23
Tu Patrona rei tu PECCATORIS ASYLUM,
Anchora tuta salo præsidiumque solo.
Inde PIE hanc Animæ CUM FRUCTU jure ROGATE
Vestra hæc protectrix ante Tribunal erit.
Rubem Amaral Júnior
por estar atrás do órgão, passa para o extremo
esquerdo da pintura, já de corpo inteiro.
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Acrescentaram-se ao alto sete cabecinhas de querubins. Os dois alaúdes foram substituídos por
violões. Tudo o mais é reprodução fiel do modelo24.
O 8º e último painel (fig. 15), um octógono oblongo na sobreporta que dá para a antiga
sacristia, situada ao canto, corresponde à 44ª invocação atual, Salus infirmorum, nº 44 de Redel (fig.
16). Tudo se ajusta ao modelo, exceto pela inclusão do Menino Jesus no regaço de Maria e a
supressão do dossel do leito, do vaso no canto inferior esquerdo e da frase que, na gravura, vai da
boca do enfermo em direção à Virgem: In Regionem vivorum25.
122
Figura 13
Painel Causa nostræ lætitiæ
(foto S. Benutti).
O epigrama que Fr. Pedro não decifrou é o seguinte:
Dicite Cultores MARIANI dicite CAUSA
NOSTRÆ LÆTITIÆ Causa salutis AVE,
Cantemus Læti VIA LACTEA TOTA SERENA EST
Nam stygias tenebras dissipat hocce melos.
25 Trecho do versículo 9 do Salmo 116 (114): Ambulabo coram Domino in regione vivorum, o qual também aparece numa
antífona gregoriana: Placebo Domino in regionem vivorum. O epigrama é o seguinte:
Certa SALUS INFIRMORUM sacra crescit in Hortis
Contra vim mortis Virgo MARIA tuis.
Hoc sæclum nox est. ROS FIRMIS candida LUNA,
qua fulgente æger sanus abire potest.
28
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Hipóteses sobre a autoria
dos painéis
Infelizmente, nada se sabe
ao certo acerca do(s) autor(es) dos
painéis, quem os encomendou ou
doou, e a época de sua instalação,
pois nada consta sobre eles no Livro
dos
Guardiães26,
em
que
se
registravam as obras e aquisições
realizadas
na
gestão
da
cada
guardião. Como esclarece Carlos
Ott:
123
aos Guardiães do Convento de São
Francisco (...) importava, apenas, que a
posteridade soubesse que esta ou
aquela obra de vulto fora feita no
período
de
suas
respectivas
administrações. Só prestavam contas
aos superiores maiores da comida e
bebida consumidas pelas comunidades;
as obras de construção e de arte
corriam por conta dos benfeitores, não
se prestando contas. Assim, as obras
dos
Conventos
são
quase
exclusivamente
de
artistas
desconhecidos ou foram atribuídas
posteriormente e, muitas vezes,
arbitrariamente, a mãos hábeis das
quais outras igrejas se ufanavam de
possuir obras artísticas. (OTT, op. cit. p. 70)
Figura 14
Causa nostræ lætitiæ
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB).
26 Livro dos Guardiães do Convento de São Francisco da Bahia (1587-1862), Pref. e notas de Frei Venâncio Willeke, O.F.M., Rio
de Janeiro, MES-IPHAN, 1978 (Publicações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 28).
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
124
Figura 15
Painel Salus infirmorum
(foto S. Benutti).
Não obstante, Ott, no livro anteriormente citado, aduz que tudo indica ter sido autor do
quadro Causa nostræ lætitiæ Frei Estêvão do Loreto Joassar. (ibidem, p. 21 e 45) Esse pintor, calígrafo,
arquiteto, engenheiro de fortificações e cartógrafo nascido em Saint Charmond (França) em ano
incerto do século XVII, tendo chegado ao Rio de Janeiro em 1713, professou na Ordem de S. Bento
nessa cidade e trabalhou para a mesma nos mosteiros do Rio e de Olinda, tendo falecido neste
último em 1745. Atuou também na Bahia entre 1737 e 1741. (SILVA-NIGRA, 1950, pp. 179-194)
Ott diz ter encontrado documentos que comprovam sua atividade em Salvador como engenheiro,
mas não se referem a pinturas por ele eventualmente ali executadas. Concorda com d. Clemente da
Silva-Nigra (ibidem, p. 192), que lhe atribuiu a autoria dos trinta e dois painéis do teto em caixotões da
Capela do Capítulo do Convento de São Francisco com a representação de virgens mártires (OTT,
op. cit., p. 21), cujas identidades, aliás, Fr. Pedro Sinzig havia estabelecido individualizadamente. A
hipótese de d. Clemente baseou-se na «grande identidade de traços e de cores» que julgou haver com
os quadros deste pintor existentes na igreja de São Bento do Rio de Janeiro(SINZIG, op. cit., p. 274).
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Como já vimos, Ott atribui também a
suas mãos o painel representando a
invocação Causa nostræ lætitiæ, de que
tanto exaltou a qualidade, e cuja
fotografia em preto e branco reproduz
(OTT, op. cit., pp. 19-21), mas dizendo
representar Nossa Senhora padroeira
dos músicos, desprezando, portanto, a
identificação feita por Fr. Pedro e
deixando entrever que não percebeu
que os oito painéis de assunto mariano
constituíam uma unidade temática
derivada da Litania Lauretana.
Por outro lado, o mesmo Ott
considera bem provável que alguns dos
numerosos
125
quadros
existentes
no
Francisco
sejam
anônimos
Convento
da
de
São
autoria
do
português Antônio Simões Ribeiro,
natural de Lisboa, que se sabe ter
trabalhado na Bahia, em 1735, na
abóbada da capela-mor da Santa Casa
Figura 14
Salus infirmorum
(reprod. autorizada do Elogia Mariana da BSB).
e, no ano seguinte, na Sala dos Vereadores
da Prefeitura, tendo falecido em Salvador
em 22/09/1755. (OTT, op. cit., p. 87)
Fr. Antônio de Santa Maria Jaboatão (1695-1779), no Novo Orbe Seráfico Brasilico
(JABOATÃO, 1859, p. 262), concluído pouco antes de 1758, cuja primeira parte foi publicada em
Lisboa em 1761, na segunda parte, só publicada no Rio de Janeiro em 1859, refere-se
perfunctoriamente, sem individualizá-las, às pinturas da Sala do Capítulo: “Tem [...] forro de
molduras, com payneis de bom pincel, como tão bem pelas paredes”. Havendo sido publicadas em
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
1732 as gravuras de Redel tomadas por modelo, pode-se situar a feitura dos painéis no espaço que
iria desde uns poucos anos depois dessa data, ou seja, o tempo que levaria o livro para chegar da
Alemanha ao Brasil, e alguns anos anteriores à conclusão do livro de Jaboatão. Considerando-se este
período, qualquer dos dois pintores sugeridos poderia ter sido o autor dos painéis marianos. Mas a
devoção de Fr. Estêvão a N. S. do Loreto, manifestada no seu nome religioso, representaria um
ponto a seu favor, a influenciar inclusive a escolha do tema. Talvez fosse ele o possuidor do
exemplar do Elogia Mariana que serviu como fonte iconográfica. A popularidade da Ladainha
Lauretana ou Loretana remonta ao Santuário da Anunciação em Loreto (Itália), para onde, segundo a
tradição, anjos teriam trasladado a casa em que morou a Virgem Maria. Daí a razão de o pósfrontispício do Elogia Mariana trazer, na metade superior, a cena da Anunciação e, na inferior, a figura
de uma casa cuja fachada é constituída por blocos gravados com as invocações da ladainha dirigidas a
Maria.
Outros painéis ibero-americanos baseados nos mesmos modelos
Àparte o modelo comum, não parece haver nenhuma relação de dependência entre as
pinturas marianas do Convento de São Francisco de Salvador e os azulejos de mesmo tema da Igreja
126
de Jesus de Setúbal, acima referidos, cuja data de instalação também é incerta. Ademais dos
diferentes meios plásticos empregados e do número de painéis, somente três das invocações
coincidem em ambas séries: Vas insigne devotionis, Vas spirituale e Salus infirmorum, os dois últimos
desaparecidos do conjunto sadino27.
Santiago Sebastián identificou os modelos de uma série da cinquenta enormes telas que
decoram os meios arcos da parte alta das paredes perimetrais do recinto da Catedral de Cuzco que o
pintor Marcos Zapata realizou em 1755 seguindo as gravuras do Elogia Mariana28. Por sua vez, Juan
M. Monterroso Montero, que alude incidentalmente aos azulejos de Setúbal, declara que a leitura
O Prof. José António Falcão, na sua atrás citada comunicação (p. 109), sem indicar a fonte, dá notícia da existência, na
nave lateral, do lado do Evangelho, em uma Igreja de São Francisco das Chagas da cidade da Bahia, de um painel de
azulejos do mesmo tipo de um dos de Setúbal, correspondente à 7.ª invocação da ladainha, Fili Redemptor Mundi Deus,
Miserere Nobis, gravura 9 de Redel, do qual não conseguiu fotografia. Não me foi possível identificar esse templo.
28 SEBASTIÁN LÓPEZ, Santiago. Contrarreforma y barroco, ibid.; MESA, José de e GISBERT, Teresa. Historia de la Pintura
Cuzqueña, t. 1, Fundación Augusto N. Wiese, Banco Wiese Ltdo., Lima, 1982, pp. 210-11. Agradeço ao Embaixador do
Brasil em La Paz, Frederico Cezar de Araujo, a obtenção de cópia do trecho deste livro sobre os quadros da catedral.
27
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
final dos emblemas da capela de Nossa Senhora dos Olhos Grandes da Catedral de Lugo deve passar
pelo confronto com as gravuras existentes no mesmo livro29.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Académie Royale des Sciences, des Lettres et des Beaux-Arts de Belgique. Biographie nationale,
Bruxelas, Thiry, 1866-1938.
AMARAL JR., Rubem. Emblemática Lusitana e os Emblemas de Vasco Mousinho de Castelbranco, 3.ª ed.,
Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2005.
BÉNÉZIT, Emmanuel. Dictionnaire des Peintres, Sculpteurs, Dessinateurs et Graveurs, [Paris], Gründ, 1960.
CASTILLO Y UTRILLA, María José del. “Iconografía de la Letanía Lauretana según Dornn”, In:
Cuadernos de Arte e Iconografía. Revista Virtual de la Fundación Universitaria Española, t. II - 3 (1989).
<http://www.fuesp.com/revistas/pag/cai0327.html> (15.03.2007).
COHEN, Regina. A Ordem Franciscana. Igreja e Convento de São Francisco de Salvador, Bahia, Rio de
Janeiro, Pontifícia Universidade Católica, 1992 (Monografia policopiada elaborada para o Curso de
Especialização em História da Arte e da Arquitetura no Brasil).
127
FALCÃO, José António. “Azulejaria Setecentista do Real Convento de Jesus de Setúbal. Alguns
Aspectos Históricos e Iconográficos”, In: Relaciones Artísticas entre la Península Ibérica y América. Actas
del V Simposio Hispano-Portugués de Historia del Arte (11-13 Mayo 1989), Valhadolide, Universidad de
Valladolid, 1990, pp. 103-12.
GÉO-CHARLES. L'art baroque au Brésil, Paris, Les Éditions Inter-Nationales, 1956.
JABOATÃO, Fr. Antônio de Santa Maria. Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Chronica dos Frades Menores da
Provincia do Brasil, Parte Segunda (Inedita) impressa por ordem do Instituto Historico e Geografico
Brasileiro, Vol. I, Rio de Janeiro, Typ. Brasiliense de Maximiano Gomes Ribeiro, 1859.
KEMP, Cornelia. artigo “Emblem”, In: BÄUMER, Remigius e SCHEFFECZYK, Leo (eds.),
Marienlexikon, 6 vols., St. Ottilien, 1998-1994, vol. 2, 333.
29 MONTERROSO MONTERO, Juan M. “Un ejemplo de emblemática mariana. La capilla de Nuestra Señora de los
Ojos Grandes de la Catedral de Lugo”, In: BERNAT VISTARINI, Antonio - CULL, John T. (eds.), Los días del Alción.
Emblemas, Literatura y Arte del Siglo de Oro, Barcelona, J.J. de Olañeta, UIB e College of the Holy Cross, 2002, p. 434
(Medio Maravedí, 4).
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
LANDWEHR, John. German Emblem Books 1531-1888. A Bibliography, Utrecht, Haentjens Dekker &
Gumbert - Leide, A. W. Sijthoff, 1972.
LEVY, Hannah. “Modelos Europeus na Pintura Colonial”, In: Revista do Serviço do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, Nº8 (1944), Rio de Janeiro, MES, pp. 7-66.
Livro dos Guardiães do Convento de São Francisco da Bahia (1587-1862), Pref. e notas de Frei Venâncio
Willeke, O.F.M., Rio de Janeiro, MES-IPHAN, 1978 (Publicações do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, 28).
MESA, José de e GISBERT, Teresa. Historia de la Pintura Cuzqueña, prol. de Guillermo Lohmann
Villena, t. 1, Fundación Augusto N. Wiese, Banco Wiese Ltdo., Lima, 1982.
MONTERROSO MONTERO, Juan M. “Un ejemplo de emblemática mariana. La capilla de
Nuestra Señora de los Ojos Grandes de la Catedral de Lugo”, In: BERNAT VISTARINI, Antonio CULL, John T. (eds.), Los días del Alción. Emblemas, Literatura y Arte del Siglo de Oro, Barcelona, J.J. de
Olañeta, UIB e College of the Holy Cross, 2002, p. 434 (Medio Maravedí, 4).
NEEFFS, Emmanuel. Histoire de la peinture e de la sculpture à Malines, Gand, Vanderhaeghen, 1876.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. O Rococó Religioso no Brasil e seus antecedentes europeus, São
Paulo, Cosac & Naify, 2003.
128
── “Gravuras Européias e o Aleijadinho”, In: O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural), 10, junho,
1979, Nº436, Ano III, pp. 3-4.
OTT, Carlos. História das Artes Plásticas da Bahia (1550-1900), vol. 3, Pintura, Bahia, 1993.
── “A pintura na Bahia, 1549-1850”, In: ALVES, Marieta et alii. História das Artes na Cidade do
Salvador, Publicação da Prefeitura Municipal do Salvador Comemorativa do IV Centenário da Cidade,
1967 (Evolução Histórica da Cidade do Salvador, IV).
── “Os Azulejos do Convento de São Francisco da Bahia”, In: Revista do Serviço do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, Nº7 (1943), Rio de Janeiro, MES, pp. 7-34.
OXOVIENSI, P. F. Isaaco. Elogia Mariana Ex Lytaniis Lauretanis Deprompta, Ac Sacro Poëmate Rythmico,
Biblicis Sententiis, ac Figuris, solidis sanctorum Patrum effatis, ac variis probatorum Auctorum Discursibus; Quæ
omnia In Annonationibus post quælibet Poëmata apponuntur ad longum luculenter explanata. Opus non solum
fovendæ devotioni erga Beatissimam Virginem peropportunum, sed etiam Panegyricis de Eadem sermonibus
efformandis accommodatissimum. Auctore ... Capucino Concionatore, Cum variis figuris æreis, jam olim ingeniosè
inventis, nunc denuò cum additione novorum Versuum excusis, & ad singula Elogia concinnè accommodatis. Cum
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
Licencia Superiorum, & Privilegio Cæsareo. Augustæ Vindelicorum [Augsburgo], Apud Joann. Philippum
Steudnerum. Typis Antonii Nepperschmidii, 1700.
PAIS, Alexandre Nobre. “O Theatro Moral de la Vida Humana no Convento de São Francisco da
Bahia”, In: Oceanos, Lisboa, Nº36/37 (Out. 1998/Mar. 1999), pp. 100-24.
PINHEIRO, Silvanisio. Azulejos do Convento de S. Francisco da Bahia, Salvador, Livraria Turista, 1951.
PIRON, Constant-Fidèle-Amand. Algemeene levensbeschrijving der mannen en vrouwen van Belgie, Malines,
Olbrechts, 1860-1862.
PRAZ, Mario. Studies in Seventeenth-Century Imagery, vol. 2. Bibliography, Londres, The Warburg
Institute, 1939.
REDELIO, A.C. Elogia Mariana olim à A. C. Redelio Belg. Mechl: S.C.M.L.P. concepta Nunc devotæ
Meditationi fidelium ad augmentum cultus Bmæ Virg: Deiparæ inventa et delineata per Thomam Scheffler, et aeri
incisa à Martino Engelbrecht Chalcographo Augustano. Cum Priv. Sac. Cæs. Maj. A.º 1732.
RETA, Martha, “Elogia Mariana. Imágenes visuales y poéticas en loor de la Virgen”, In: Guadalupe arte
y liturgia. La sillería de coro de la colegiata. Vol. II, Zamora, Mich., El Colegio de Michoacán-Museo de la
Basílica de Guadalupe, 2006, pp. 359-79.
ROIG Y TORRENTÓ. “Influencia de los grabados de los hermanos Klauber en la capilla de la
129
Mare de Deu deis Xolls en Sant Lorenç de Morunys - Lérida”, In: Archivo Español de Arte, Nº221
(1983), pp. 1-18.
SEBASTIÁN LÓPEZ, Santiago. Emblemática e Historia del Arte, Madrid, Cátedra, 1995 (Arte. Grandes
Temas).
________ “La edición española del ‘Theatro Moral de la Vida Humana’ y su influencia en las artes
plásticas de Brasil y Portugal”, In: As Relações Artísticas entre Portugal e Espanha na Época dos
Descobrimentos, coordenação de Pedro Dias, Coimbra, Minerva, 1987, pp. 381-405.
________ “Arte iberoamericano”, In: Summa Artis, XXIX (1985), pp. 185-91.
── Contrarreforma y barroco. Lecturas iconográficas e iconológicas, Madrid, Alianza, 1981 (Alianza Forma,
21).
── “La influencia germánica de los Klauber en Hispanoamérica”, In: Boletín del Centro de Investigaciones
Históricas y Estéticas, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Universidad Central de Venezuela,
Caracas, 14 (1972), pp. 61-74.
SILVA, Maurício Paranhos da. “Les Azulejos du Couvent de Saint François à Bahia”, In: Journal de
Genève, 19, dezembro, 1959.
Rubem Amaral Júnior
REVISTA LUMEN ET VIRTUS
ISSN 2177-2789
VOL. I
Nº 3
DEZ/2010
SILVA-NIGRA, O.S.B., D. Clemente Maria da. Construtores e Artistas do Mosteiro de S. Bento do Rio de
Janeiro, Salvador, Beneditina, 1950.
SIMÕES, João Miguel dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500-1822), Lisboa, Gulbenkian,
1965.
SinnBilderWelten. Emblematische Medien in der Frühen Neuzeit. Ed. de HARMS, Wolfgang, HESS, Gilbert
e PEIL, Dietmar em conjunto com DONIEN, Jürgen. Katalog der Ausstellung in der Bayerischen
StaatsBibliothek München 11.8.-1,10.1999, Munique, 1999.
SINZIG, O.F.M., Fr. Pedro. Maravilhas da Religião e da Arte na Egreja e no Convento de São Francisco da
Baía. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro - Boletim, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,
1934.
SMITH, Robert C. André Soares: arquitecto do Minho, Lisboa, Horizonte, 1973.
── Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, escultor Beneditino do século XVIII, 1.º vol., Lisboa,
Gulbenkian, 1972.
SOBRAL, Luís de Moura. “Ut Pictura Poesis: José de Anchieta e as Pinturas da Sacristia da Catedral de
Salvador”, In: O Território do Barroco no Século XXI. Revista Barroco, 18, Número-Simpósio, 1997/2000,
Ouro Preto/Belo Horizonte, Fundação Flávio Gutierrez, 200, pp. 209-46.
130
THIEME, Ulrich e BECKER, Felix (eds.). Allgemeines Lexikon der Bildenen Künstler von der Antike bis
zur Gegenwart, Leipzig, Seemann, 1907-1950.
UREÑA PRIETO, Maria Helena de Teves Costa. “Horácio no Brasil”, In: Miscelânea de Estudos
Lingüísticos, Filológicos e Literários In Memoriam Celso Cunha, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995, pp.
677-98.
VAN DER BRANDEN, F. Jos e FREDERIKS, J.G. Biographisch woordenboek der Noord- en
Zuidnederlandsche letterkunde, Amsterdam, Veen, 1888.
Rubem Amaral Júnior