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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
VANESSA FERRAZ LEITE
TECNOLOGIAS DO CUIDADO NO COTIDIANO: DESCRIÇÕES
SOIOTÉCNICAS DE COMPUTADORES QUE HABITAM UMA
PEDIATRIA
CUIABÁ – MT
2012
VANESSA FERRAZ LEITE
TECNOLOGIAS DO CUIDADO NO COTIDIANO: DESCRIÇÕES
SOIOTÉCNICAS DE COMPUTADORES QUE HABITAM UMA
PEDIATRIA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação – Mestrado - em Estudos
de
Cultura
Contemporânea
da
Universidade Federal de Mato Grosso
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Estudos de Cultura
Contemporânea na Área de concentração:
Estudos Interdisciplinares de Cultura.
Linha
de
Pesquisa:
Epistemes
Contemporânea.
Orientação da Prof.ª Drª.
Cristina Gomes Galindo.
CUIABÁ – MT
2012
Dolores
Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso
L533t
Leite, Vanessa Ferraz.
Tecnologias do Cuidado no Cotidiano: descrições
sociotécnicas de computadores que habitam uma pediatria /
Vanessa Ferraz Leite. -- Cuiabá (MT): Instituto de Linguagens/
IL, 2012.
300 f.: il. ; 30cm.
Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea). Universidade Federal de Mato Grosso.
Instituto de Linguagens. Programa de Pós - Graduação em
Estudos de Cultura Contemporânea.
Orientadora: Profª. Drª. Dolores Cristina Gomes Galindo.
1. Tecnologias do Cuidado 2. Estudos sociotécnicos.
3. Computadores. 4. Enfermagem Pediátrica.
I. Título.
CDU:
616-083-053.2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
DISSERTAÇÃO APRESENTADA PARA DEFESA À COORDENAÇÃO DO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA
CONTEMPORÂNEA
Aprovada: 27/06/2012
______________________________________________________
Prof. Dr. RICARDO PIMENTEL MÉLLO
Examinador Externo (Universidade Federal do Ceará - UFC)
______________________________________________________
Profª. Drª. ROSA LÚCIA ROCHA RIBEIRO
Examinadora Interna (Faculdade de Enfermagem – UFMT)
______________________________________________________
Profª. Drª. DANIELA BARROS DA SILVA FREIRE ANDRADE
Suplente (Departamento de Psicologia – UFMT)
______________________________________________________
Profª. Drª. DOLORES CRISTINA GOMES GALINDO
Orientadora (ECCO/UFMT)
CUIABÁ – MT
2012
Ofereço este trabalho:
aos meus pais, Neide e Anízio;
aos meus irmãos, Marcelo, Thiago e Walmir;
às crianças e adolescentes hospitalizados;
à Enfermagem, e aos meus queridos Mestres!
AGRADECIMENTOS
À sombra de um pé de Ipê amarelo da Universidade Federal de Mato Grosso, redijo os
meus sinceros agradecimentos a todos aqueles com quem estive durante minhas longas
andanças, e que, de alguma forma, ajudaram-me a compor este trabalho; ou melhor, a
materializar, a fazer um ―inédito viável‖ ganhar vida em linhas.
... A minha orientadora Profa. Dra. Dolores Galindo, o meu muito obrigado por me
escolher como orientanda, pela condução desse estudo com paciência e consenso com meu
Curso de origem (Enfermagem), concomitante às conexões a novos saberes; e por me manter
firme ao meu sonho de ser uma professora-pesquisadora-enfermeira diferenciada: aquela que
saiba pensar com as confusões das práticas cotidianas.
... Aos colegas, amigos e colaboradores do Grupo de Pesquisa Tecnologias, Ciências e
Contemporâneo (TECC). Obrigada pelas sugestões, pelas conversas, pelos empréstimos de
livros, pela colaboração para compras de livros dentro e fora do país, pelas trocas de
experiências, pelos estudos em coletivo: um verdadeiro Laboratório de experimentações
metodológicas! Andréa Basílio, Anny Rodrigues, Ângela Coradini, Claudia Wanessa Rocha
Poletto, Daniele Milioli, Diego Larrea, Dolores Galindo, Estêvão Cabestré, Hassen Zardetti,
Leihge Rondon, Morgana Moura, Patrícia Souto, Renata Vilela, obrigada a todos vocês, e a
todos que vieram posteriormente – como Anna Natale, Bruna Tondin e Leonardo Sousa!
Wuldson Marcelo, um assíduo colaborador do grupo, os meus sinceros agradecimentos,
pois leu atentamente minha dissertação, fazendo sugestivas indicações de correções textuais!
... Aos amigos e grandes colegas que reconheci no ECCO. Obrigada pela cumplicidade
e parceria: Albília Almeida, Claudia Wanessa, Diego Larrea, Glorinha Iamasaki, Maira
Jeannyse e Wuldson Marcelo.
... À Banca Examinadora, pela disponibilidade e pelo cuidado com que avaliaram a
minha dissertação ainda na qualificação. Acatei muitas das sugestões de vocês: Dolores
Galindo, Ricardo Pimentel Méllo e Rosa Lúcia Rocha Ribeiro! E aos suplentes: da
qualificação, Leonardo Lemos, e da defesa, a professora Daniela Freire. Obrigada!
... Aos professores do ECCO. Não me esquecerei das aulas das professoras Dolores,
Lúcia Helena, Ludmila, Maria Thereza, Patrícia Osório, e dos professores Yuji Gushiken e
José Leite.
... À dedicação e acolhida do secretariado do ECCO: Diego e Évila. Valeu!
... Ao pessoal da limpeza do 2º piso do IL: o café na copa ganhou do que é feito nas
cantinas do IL e IE! Obrigada!
... À Faculdade de Enfermagem (FAEN)/ UFMT e ao Grupo de Pesquisa em
Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC) por continuarem presente em minha jornada. Em
especial, pelos professores que me presenteou como referência, tanto por competência e
idoneidade. Em especial, eu faço coro de agradecimentos para vocês: Aldenan Ribeiro, Maria
Aparecida Vieira, Rosa Lúcia Ribeiro e Solange Salomé. Mestras, vocês moram em meu
coração!
... Aos Educadores e amigos do EIC- hospitais, agora, Programa Cuidar Brincando com
quem vivenciei os melhores momentos de atuação hospitalar junto às crianças hospitalizadas:
inesquecível Profª. Norma Machado, atendente Alenir, Allan, Aline Nogueira, Amanda
Arraes, Anne Siqueira, Beluci Bianca, Carolina Rocha, Cícero Penha, Claudia Granjeiro,
Daniela Portela, Débora Medeiros, Enfª Antônia, Enfª Francisca, Enfª Juliene Lima, Enfª
Marta Cury, Eliza Britto, Fabiana Almeida, Flávia Campos, Flávia Ferreira, Heidy Hellebrant,
Jackeline Brito, Jackeline Félix, Jenifer Sene, Juliana Leonel, Juliana Lima, Juliana Rizzini,
Karen Araújo, Laura Barbosa, Laura Padilha, Sirlene Guimarães, Shai Lima, Luana Dal
Cortivo, Maria Barros, Mercilene Barbosa, Michele Pereira, Mona Lisa Carrijo, Kelly
Kachniasz, Profª. Cláudia Martins, Prof. Clóvis, Profª. Fátima Ramalho, Tamires Ponce,
Técnica de enfermagem Ana longo, Técnica de enfermagem Anaíza, Técnica de enfermagem
Cristina, Técnica de enfermagem Elizabeth/Beth, Técnica de enfermagem Ivete, Técnica de
enfermagem Juscelia, Técnica de Enfermagem Vera, Thaís Resende, Thaís Stranieri, Thaís
Trigueiro, Vanessa Silva, Wesney Martins/The Cat, Wilson/ ULA... A todos, muito
obrigada!! Desculpem-me se me esqueci de algum nome – é que um dia éramos alguns, hoje
somos muitos! E, com certeza, à professora e psicóloga social Mírian Sewo, por ser uma
referência em formação e luta social para o grupo!
... À Superintendência, à Diretoria de Enfermagem do HUJM e Coordenação do
Programa Cuidar Brincando, pois sem os créditos de vocês esta pesquisa não teria acontecido!
... Às crianças e adolescentes hospitalizados, seus familiares e aos profissionais de
Enfermagem da Clínica Pediátrica do HUJM! Vocês são especiais! Minha escolha como
causa. São por vocês que luto, quem defendo! Vejo-os como integrantes do cotidiano das
práticas do cuidado. E se respeito as entidades não/humanas de uma pediatria, respeito
também, as humanas porque juntas compõem relações vívidas, conexões de cuidado!
... Ao acaso, por ter me levado a topar com uma senhora artífice bonsaísta, uma paciente
renal crônica, e que ao me contar a sua história de vida enquanto fazia diálise, apresentou-me
também, a arte de confeccionar bonsais tanto como sua profissão, quanto também uma parte
vigorosa de seu tratamento físico, mental e espiritual. Uma verdadeira aula de espécie
companheira, de uma companhia que auxilia no cuidado. Obrigada!
... Aos meus amigos dos tempos de Universidade: Arthur Carvalho, Jacqueline Navarro,
Layana Melo, Leíse Grayce, Maria José Lima, Priscila Costa, Priscila Gonçalves, Willams
Blank. E, claro, Ana Maria, a ―culpada‖ por ter me indicado o EIC – Hospitais como uma
Extensão Universitária, por apostar que teria tudo a ver comigo. Eternamente grata!
... À galera da República do ―seu Rai‖. Valeu! Onde convivi com um coreano, uma
canadense, um português, e com uma diversidade de brasileiros. Coisa de república
universitária. Saudades de nossos bons e maus momentos de convivência. Aprendi muito com
vocês: aos irmãos Fernando (Morcegão) e Katiane, aos gêmeos Jânio e Jakeline Moura, a
Paulo Ghizoni, à Marilda Zucci, à Letícia Soares e, aos Thiagos (Portuga, Thiaguinho e
Ferraz/cafezinho). Que todos estejam bem! E aos proprietários da República: ―seu‖
Raimundo, e, seus filhos Wandeléia e Michel. Nordestinos, gente do bem!
... Aos meus amigos Hugo Monteiro e Grazyelle Yuri. Obrigada pelo apoio. Pela
disponibilidade de tempo, uma vez que me ajudaram na busca de livros para estudar para a
prova de mestrado.
... Aos meus amigos de infância e adolescência, meus primeiros contatos, círculos de
amizade sincera, aqueles de época de jogos de interclasses, dos desfiles de 7 de Setembro, dos
passeios de bicicleta, das apresentações de coral, das brincadeiras e conversas bobas, dos
encontros de finais de semana e férias e, dos estudos: Ailon Filho, Arthur Emílio, Camyla
Piran, Fabiana Lima, Fabien Harumy, Joel Roberto (que não está entre nós), à Flaviane, Núbia
Rodrigues, Nathália, Patrícia Cristine, Augusto Mário, Ana Vanessa, os irmãos Júlio César
Reider e Vanusa Reider, Shinarley, Thadeu Deluque, Jarbas, às irmãs Tania e Tatiane Ferreira
e seu irmão Renato, Wagno e William Caxito (galera do ISM, vocês foram importantes em
minha formação!). Não posso me esquecer de exemplos de pessoas: Frei Matheus e Frei
Maurício. Holandeses que deixaram os países baixos para se dedicarem ao nosso! Obrigada
pela influência. Aprendi Matemática e ter gosto por outras culturas com Frei Maurício. E,
confesso que as noções de mosaico saíram das paredes do colégio Instituto Santa Maria, assim
como das pinturas e artesanatos confeccionados pelo Frei Matheus.
... Aos meus bons amigos e vizinhos de bairro, de rua: dona Aninha, seu João, seus
filhos Roseli, José e Ricardo. Ao seu Casemiro e dona Isabel e seus filhos Lidu, Luli e Darci.
À Cida e Altamir. Obrigada! Vocês são todos cúmplices de minha boa e gostosa infância de
cidade pequena – interiorana.
... Aos meus primos Augusto César, Kleber, Larissa, Rapahel, Vania, Waldson, Wagner,
Willian (são muitos!), tios (Ana Déa, Benedito, Edson, Joanita, José, Maria, Marilice, Nilza),
padrinhos (Enio e Julieta) e minha avó paterna (Estevina, mulher de fibra, com 95 anos de
idade de pura lucidez), ao meu avô paterno Joaquim Monteiro (que não está mais entre nós) e
avô materno Benedito e avó materna Maria do Carmo (que também não está mais entre nós).
Foram com vocês que convivi lado a lado os meus primeiros dezessete anos de vida em
Cáceres. Obrigada pela acolhida em Cuiabá: padrinho Henrique e madrinha Regina e seus
filhos Renata, Rejane e Rodrigo (primos queridos!), bem como a irmã de meu padrinho, a tia
Natalina. O meu muito obrigado às minhas primas-amigas-irmãs Cristiane e Geane, meu
primo Roney e meus tios Eduarda e Agnaldo (que não está entre nós), que me acompanharam
nos meus primeiros anos fora de casa.
... Obrigada pela cuidadosa presença de minha madrinha Lucylene Ramsay, uma grande
amiga de minha mamãe e seu esposo Césio Antunes. E, pelas orações de minha madrinha de
consagração Iolanda Pires (a ―irmã Ana Laura‖, sempre se lembrando de mim em suas
orações em qualquer lugar do mundo onde esteja). Às tias tortas, irmãs de tio/padrinho Ênio:
Iolete e Marilene Pires: tias, que cuidado tiveram comigo durante minhas andanças por
Curitiba! Obrigada!
... À minha base de formação, que amo incondicionalmente: meus pais Neide e Anízio,
exemplos de luta e perseverança. Aqueles que acreditaram que o melhor caminho para nós,
seus filhos, seguirem seria o da educação, dos estudos, dos livros, do trabalho e, do bom
caráter. Obrigada por me ensinarem amar a natureza e as pessoas! E aos meus irmãos Thiago
e Walmir, meus anjos tortos de ontem, hoje e sempre, obrigada! Ao meu irmão primogênito
Marcelo, com quem não pude conviver, mas que sempre esteve presente nas lembranças de
meus pais. Irmão que não conheci e que me fez pensar em cuidados de crianças hospitalizadas
em um país pobre pela primeira vez. Obrigada por me despertar as primeiras inquietações
sobre cuidado na infância!
... À companhia dos animais, plantas e objetos nos meus momentos de recolhimento,
oração-meditação: minhas gatinhas de estimação; meus Bonsais de Ipês amarelos e o som de
um móbile (anunciador de mudanças da direção dos ventos), obrigada! Estes também me
ensinaram muitas coisas sobre estar conectada com Deus, com as forças da Natureza, com as
altas vibrações do Universo.
... Enfim, a Deus e ao Universo, porque percebi que foram estes que me proporcionaram
as melhores companhias, amizades e que me fizeram compreender as causas que valeriam a
pena abraçar ao longo desta jornada, e, a entender que esta não termina aqui. E, sinceridade,
agradeço por conspiram a meu favor constantemente, e serem pacientes diante de tantos
pedidos que fiz e faço a vocês! Obrigada!
EPÍGRAFE
O cuidado de um corpo múltiplo subverte barreiras entre corpo e práticas cotidianas
(Annemarie Mol, 2002a).
LEITE, Vanessa Ferraz. Tecnologias do Cuidado no Cotidiano: descrições sociotécnicas
de computadores que habitam uma pediatria. Cuiabá. Dissertação (Mestrado em Estudos
de Cultura Contemporâneo). Universidade Federal de Mato Grosso, 2012.
RESUMO
Este trabalho se insere no âmbito interdisciplinar das Pesquisas em Ciência, Tecnologia e
Sociedade (CTS) em diálogo com a Enfermagem e a Psicologia Social. Trata-se de estudos
sociotécnicos, os quais se caracterizam pela ênfase nas descrições de arranjos sociomateriais,
compostos por actantes humanos e não/humanos que se traduzem nas práticas de cuidado ou
tecnologias de cuidado. A pesquisa objetivou estudar as Tecnologias do Cuidado de uma
pediatria, especialmente as provenientes da relação computadores-criança hospitalizada, e
seus efeitos de modulação de afetos, espacialidades e Humanização em Saúde por
artefatualidades nas crianças, famílias e equipe envolvida. Para isso, em um primeiro
momento, estudamos cuidado na prática; objetos sociotécnicos do cuidado que estão
articulados à noção de arranjos sociomateriais. Abordamos espacialidades e modulação de
afetos como interferências. Discorremos sobre modulação de afetos em conexão à
humanização em saúde por artefatualidade. Conceituamos tecnologias e tecnoculturas do
cuidado. Em uma segunda etapa, descrevemos a elaboração do método praxiográfico, ou seja,
da concepção do tipo etnográfica que enfatiza os diversos desempenhos das Práticas de
cuidado no cotidiano hospitalar. Em um terceiro momento, descrevemos a história do
Hospital Escola de nossa escolha. Em uma quarta ocasião, contamos sobre os locais por onde
andamos, o que fizemos, com quem conversamos e o tempo despendido para tais atividades.
Mostramos, através de Desenhos Praxiográficos, os lugares e objetos que compuseram cada
prática do cuidado realizada pelos computadores na brinquedoteca, no Laboratório de
Informática e na enfermaria. Em uma quinta etapa, fazemos descrições da brinquedoteca onde
os computadores vivem. Mostramos alguns efeitos produzidos pelos computadores que
habitam a brinquedoteca. Enfatizamos as espacializações e modulações de afetos encontradas.
Mostramos as vinculações de espacialidades e modulações de afetos aos efeitos de
Humanização em Saúde por artefatualizações. Em um sexto momento, na enfermaria,
enfocamos os efeitos produzidos por dois Netbooks sobre o leito de duas crianças
hospitalizadas (espacialidades e modulação de afetos). Descrevemos também os efeitos de
Humanização em Saúde por artefatualidades encontrados. Quanto às considerações finais, o
Cuidado na Prática no cotidiano da pediatria nos permitiu refletir, a partir dos computadores,
sobre como os objetos sociotécnicos e arranjos de cuidado podem dizer não de uma, mas de
diversas Tecnologias do cuidado. Contribuímos para os estudos e práticas de Cuidado em
Enfermagem ao trazermos uma concepção de cuidado não/antropocêntrica, porém, não
desumana. Propomos oficinas educativo-estéticas para apresentar o modo de narrar a nossa
pesquisa.
Palavras - chave: Cuidado, Tecnologias, Enfermagem Pediátrica, Psicologia Social.
LEITE, Vanessa Ferraz. Technologies of Care in Daily Routines: sociotechnical
descriptions of computers that inhabit a pediatrics department. Cuiabá. Dissertation
(Master Degree in Contemporary Cultural Studies). Federal University of Mato Grosso, 2012.
ABSTRACT
This work falls within the scope of an interdisciplinary research in Science, Technology and
Society (STS) in dialogue with the Nursing and Social Psychology. Those are sociotechnical
studies, which are characterized by an emphasis on descriptions of sociomaterials
arrangements composed of human and nonhuman actants which are reflected in the care
practices or care technologies. The research aimed to study the Technologies of a pediatric
care, especially about the technologies from the relationship computers - hospitalized child,
and the effects of modulation of affect, spatialities and Health Humanization artefactualities in
children, families and team involved. To do this, at first, we studied care in practice,
sociotechnical objects of care, those articulated to the notion of sociomaterials arrangements.
We approach spatialities and modulation of affects as interference. We discourse modulation
of affect in connection with the Health in the Humanization artifactualities. We conceptualize
tecnocultures and technologies of care. In a second moment, we describe the development of
the praxiography method, in other words, the type of design that emphasizes ethnographic
performances of the various practices of care in the hospital routine. In a third time, we
describe the history of the teaching hospital of our choice. In a fourth time we tell about the
places where we walk, we did, we talked and the time spent for such activities. We show
through Praxiographics Drawings, places and objects comprising each care practice
performed by computers on the playroom, the Computer Laboratory and in the ward. In a fifth
time, we make a description of the playroom where the computers live. We show some effects
produced by computers that inhabit the playroom. We show some effects produced by
computers that inhabit the playroom. We emphasize the affections, spatializations and
modulations that were found. We show the linkages between spatialities and modulation
affects and the effects of Health Humanization by artifactualizations. In a sixth time in the
infirmary, we focus on the effects produced by two Netbooks on the bed of two hospitalized
children (spatialities and modulation of affect). We also describe the effects of Health
Humanization by artifactualities found in pediatrics. As for final consideration Care in
Practice in daily pediatric allowed us to think, from computers, about how objects
sociotechnical and care arrangements can tell, not one, but several Technologies of Care. We
contribute to the study and practice of Nursing Care, by bringing a non-anthropocentric
concept of care, but not inhuman. We propose educational-aesthetic workshops to provide the
way of narrating our research.
Key - words: Care, Technologies, Pediatric Nursing, Social Psychology.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA Nº.1: bloquetes para pavimentação ecológica ........................................................129
FIGURA Nº. 2: corredor ao lado da pediatria ........................................................................129
FIGURA Nº. 3: pátio em reforma ..........................................................................................130
FIGURA Nº. 4: blocos de cimento retirados .........................................................................130
FIGURA Nº. 5: tênis com barro vermelho .............................................................................130
FIGURA Nº. 6: sobre pedregulhos ........................................................................................131
FIGURA Nº. 7: estacionamento .............................................................................................131
FIGURA Nº. 8: estacionamento 2 ..........................................................................................132
FIGURA Nº. 9: desenho praxiográfico da brinquedoteca .....................................................135
FIGURA Nº. 10: desenho praxiográfico do Laboratório de Informática ..............................136
FIGURA Nº. 11: desenho praxiográfico da enfermaria ........................................................137
FIGURA Nº. 12: porta de vidro (visão da brinquedoteca) .....................................................140
FIGURA Nº. 13: porta de vidro (visão do refeitório) ............................................................140
FIGURA Nº. 14: pia da brinquedoteca ..................................................................................142
FIGURA Nº. 15: cercadinho e barraca ..................................................................................142
FIGURA Nº. 16: puffs em blocos ..........................................................................................142
FIGURA Nº. 17: televisão 1 e criança deitada ......................................................................143
FIGURA Nº. 18: televisão 2 e videogame .............................................................................143
FIGURA Nº. 19: aparelho de DVD e rádio ...........................................................................143
FIGURA Nº. 20: caixa de brinquedos ....................................................................................143
FIGURA Nº. 21: estante de livros ..........................................................................................143
FIGURA Nº. 22: Laboratório de Informática ........................................................................144
FIGURA Nº. 23: depósito de brinquedos sujos .....................................................................144
FIGURA Nº. 24: quadros murais do Laboratório de Informática ..........................................145
FIGURA Nº. 25: jardim de inverno (visão superior) .............................................................145
FIGURA Nº. 26: jardim de inverno (solo) .............................................................................145
FIGURA Nº. 27: estante de brinquedos .................................................................................146
FIGURA Nº. 28: baú de madeira para brinquedos ................................................................146
FIGURA Nº. 29: atividade de informática e cidadania .........................................................147
FIGURA Nº. 30: tapete da brinquedoteca .............................................................................148
FIGURA Nº. 31: propés nos pés de estudantes .....................................................................149
FIGURA Nº. 32: propés e calçados na estante ......................................................................150
FIGURA Nº. 33: propés e calçados (estante do refeitório) ....................................................151
FIGURA Nº. 34: almotolia ....................................................................................................151
FIGURA Nº. 35: brinquedos (estante da brinquedoteca) .......................................................153
FIGURA Nº. 36: computador (Laboratório de Informática) .................................................153
FIGURA Nº. 37: Carlos e o computador ...............................................................................156
FIGURA Nº. 38: criança, pai e computadores .......................................................................162
FIGURA Nº. 39: bola .............................................................................................................163
FIGURA Nº. 40: jardim de inverno .......................................................................................164
FIGURA Nº. 41: criança, computador e pai (laboratório de informática) .............................165
FIGURA Nº. 42: enfermaria dos lactentes e pré-escolares ....................................................179
FIGURA Nº. 43: placa de identificação .................................................................................180
FIGURA Nº. 44: leito com lençol com estampas de bichinhos .............................................180
FIGURA Nº. 45: Netbook ......................................................................................................181
FIGURA Nº. 46: poltrona ......................................................................................................182
FIGURA Nº. 47: Carlos e o computador recluso ...................................................................183
FIGURA Nº. 48: Boneco Ben10 com tapa olho, sobre o leito, ao lado do Netbook
.................................................................................................................................................194
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS: Acquired immunodeficiency syndrome
AVC: Acesso Venoso Central
AVP: Acesso Venoso Periférico
CEP: Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos
CNPq: Conselho Nacional de Pesquisa
CONANDA: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
COREN – MT: Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso
CPP: Cuidado Progressivo dos Pacientes
CTS: Ciência, Tecnologia e Sociedade
ECCO: Estudos de Cultura Contemporânea
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente
FAEN: Faculdade de Enfermagem
HUJM: Hospital Universitário Júlio Müller
HU – USP: Hospital Universitário da Universidade de São Paulo
NPT: Nutrição Parenteral Total
ONG: Organização Não Governamental
PIBIC: Programa de Bolsa de Iniciação Científica
PICC: Peripherally Insert Central Venous Catheter
PNH: Programa Nacional de Humanização
PSF: Programa de Saúde da Família
SUS: Sistema Único de Saúde
SVD: Sonda Vesical de Demora
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TICs: Tecnologias da Informação e Comunicação
UFMT: Universidade Federal de Mato Grosso
USP: Universidade de São Paulo
UTI: Unidade de Terapia Intenso
SUMÁRIO
Introdução ...............................................................................................................................18
Capítulo 1 – Tecnologias do cuidado: reflexões e pesquisas ..............................................30
1.1. O Cuidado na Prática ....................................................................................................32
1.2. Arranjos sociomateriais e objetos sociotécnicos ..........................................................36
1.3. Tecnologias ou práticas de cuidado ..............................................................................45
1.4. Interferências: espacialidades e modulações de afetos em práticas de cuidado
..............................................................................................................................................52
1.5. Modulação de afetos e interferências nas espacialidades .............................................56
1.6. Conexões entre modulação de afetos, espacialidades e Humanização hospitalar
..............................................................................................................................................65
Capítulo 2 – Uma Praxiografia do Cuidado .....................................................................77
2.1. Saberes localizados e multiplicidades ..........................................................................81
2.2. Incidentes Críticos ........................................................................................................87
2.3. Incidentes Críticos e os Incidentes Mosaicos ...............................................................89
2.4. Sobre a ética dialógica ..................................................................................................92
2.5. Sobre interrupções das entrevistas e conversas ............................................................97
Capítulo 3 – Um Hospital Escola ..........................................................................................98
3.1. O Hospital Universitário Júlio Müller e os primórdios da assistência na pediatria
............................................................................................................................................100
3.2. A pediatria atual: ensino e pesquisa, os projetos de extensão e a brinquedoteca
............................................................................................................................................110
3.2.1. O Programa Cuidar Brincando ................................................................................116
3.3. Algumas reflexões que nos levaram a escolher a pediatria e alguns de seus objetos
sociotécnicos para estudos .................................................................................................123
Capítulo 4 – As andanças pela Pediatria ...........................................................................126
4.1. Desenho Praxiográfico ..................................................................................................134
Capítulo 5 – Computadores que Cuidam I – A Brinquedoteca .......................................139
5.1. Espacialidades ............................................................................................................147
5.2. Computadores que cuidam e Modulação de afetos ....................................................160
5.3. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização ............................................169
5.3.1. Acolhimento ............................................................................................................169
5.3.2. Autonomia ...............................................................................................................170
5.3.3. Corresponsabilidade e protagonismo ......................................................................173
Capítulo 6 – Computadores que Cuidam II – A Enfermaria ..........................................177
6. 1. Enfermarias dos bebês ...............................................................................................179
6.2. Enfermaria 104 ...........................................................................................................179
6.3. Enfermaria 105 ...........................................................................................................180
6.4. Apresentando os cuidadores sociotécnicos ................................................................181
6.5. Netbooks que cuidam de Carlos .................................................................................183
6.6. Netbooks que cuidam de Lucas ..................................................................................190
6.7. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização ............................................196
6.7.1. Acolhimento ............................................................................................................197
6.7.2. Autonomia ...............................................................................................................198
6.7.3. Corresponsabilidade e protagonismo ......................................................................199
7. Considerações finais .........................................................................................................201
8. Referências ........................................................................................................................206
9. Apêndices ..........................................................................................................................223
10. Anexos .............................................................................................................................289
18
INTRODUÇÃO
19
A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva,
um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é o tratar
da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito
de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes (Poema A arte da
Enfermagem, Florence Nightingale).
Certa vez, a Dama da Lâmpada , Florence Nightingale, escreveu um poema, A arte
1
da Enfermagem (NIGHTINGALE, 1946), no qual declara que os gestos e trabalho que
envolvem a arte de cuidar do corpo humano são tão belos e rigorosos quanto a arte de se
pintar uma tela artística ou de esculpir uma estátua. Para ela, a arte de cuidar seria mais
fascinante em decorrência de seus efeitos estéticos estarem vinculados à manipulação de uma
entidade viva, enquanto a pintura de um quadro e o esculpir de uma estátua estariam restritas
apenas à fabricação de algo inerte, bem como à fixação de sensações neste algo considerado
morto. Para nós, como pesquisadoras em sociomaterialidades hospitalares, ao compor o nosso
próprio processo de pesquisa, percebemos um profícuo movimento de dilatação fronteiriça da
1
Florence Nightingale é precursora da Enfermagem Moderna. Antes dela, a enfermagem era exercida por
leigos e/ou religiosas, ela deu caráter científico à profissão, principalmente no que diz respeito à necessidade de
formação para exercícios profissionais. Foi uma enfermeira britânica que ficou famosa por ser a pioneira no
tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Criméia (1854-1856), conflito iniciado entre turcos e
otomanos, que acabou posteriormente envolvendo França e Inglaterra. Florence ficou conhecida na história pelo
apelido de "A Dama da Lâmpada", pelo fato de servir-se deste instrumento para auxiliar na assistência aos
feridos durante a noite. Para os feridos cuidados por ela e sua equipe, a Lâmpada acesa era simétrica à esperança,
e, para as que exerciam o trabalho da enfermagem, a Lâmpada correspondia à liderança e aprendizagem.
Florence foi reconhecida também pelas contribuições para a melhoria das condições sanitárias dos hospitais
militares. É reonhecida como uma mulher notável, por sua paixão pela matemática, especialmente estatística, e
de como esta paixão desempenhou um papel importante em seu trabalho. O fato de ser mulher denotava, em seu
dia a dia, enfrentar a hierarquia e hostilidade de médicos homens e demais militares a cada passo para efetivar as
reformas necessárias no sistema hospitalar. Como por exemplo, as condições das locações dos soldados; estes
ficavam deitados no chão bruto, rodeados por insetos e ratos. Assim como as operações efetuadas em condições
anti-higiênicas presenciadas por ela quando chegou a Scutari (principal hospital britânico de campo). Teve que
enfrentar inimigos difíceis, neste caso as doenças como cólera e tifo, as mais comuns nos hospitais militares.
Tais condições aumentavam em setes vezes as chances de soldados feridos morrerem de uma doença hospitalar
do que no campo de batalha. Enquanto esteve na Turquia a Dama da Lâmpada coletou dados e organizou um
sistema de manutenção de registros, fazendo desses dados uma ferramenta para melhorar as condições dos
hospitais civis e militares. Seu conhecimento matemático foi útil para se valer das informações coletadas para o
cálculo das taxas de mortalidade nos hospitais. Apesar de ter trabalhado em poucos hospitais, sua facilidade com
a matemática, bem como seu conhecimento em filosofia e em educação, estes associados às suas noções sobre
arquitetura hospitalar e realidades geográficas (por ter viajado muito, bem como por ter conhecido o trabalho de
diversos hospitais), fizeram-na analisar e refletir apuradamente os relatórios de suas práticas hospitalares e do
ambiente dos hospitais locais. A equipe de Florence interviu na alimentação servida, na lavanderia/rouparia e na
manutenção das estruturas das enfermarias. Diante da Guerra, considerada uma hecatombe, frente aos
despreparo e desorganização para assistir tantos feridos, a deterninação dessa enfermeira, vinculada a sua
maneira de gerenciar e liderar, levou-a a ser reconhecida e respeitada pelos britânicos, pelos soldados que cuidou
e inclusive pela então Rainha Vitória. Ao passo que revolucionou as concepções sobre ser mulher e sobre as
práticas da enfermagem como profissão (BASSI, 2002; KRUSE, 2006; LOPES & SANTOS, 2010).
20
concepção de Nightingale. E, melhor ainda, de subversão de qualquer barreira entre o
inorgânico e o orgânico, assim como entre o não/humano e o humano.
Recordamo-nos de Florence Nightingale, aqui, não com o intuito de evocá-la ao longo
de nosso trabalho, mas porque a enfermeira britânica nos instigou a pensar o Cuidado no
contemporâneo, ou melhor, no cuidado de um corpo múltiplo (MOL, 2002a), que a nosso ver
compreende relações entre humanos e não/humanos, contribuintes para o cuidado dos
humanos (apesar dessa não ter sido a sua intenção ao falar sobre a importância da água fresca,
da circulação do ar, da higiene, da alimentação para o reestabelecimento do corpo), que
podem ser flagrados em Notes on Nursing: what it is, what it is not (NIGHTINGALE, 1898).
E foram justamente às exigências desta multiplicidade, que nos fez mudar o enfoque de
nossos estudos.
A princípio, nossa pesquisa de mestrado se deu pela vontade e curiosidade de estudar
crianças hospitalizadas e sua relação com modos alternativos de cuidado, mais
especificamente sobre a vinculação de crianças hospitalizadas com computadores e sua
Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs). Entretanto, logo percebemos que para tal
investigação deixaríamos de lado um mundo sociomaterial que compõe as atividades de
informática e cidadania, além das performances de outros objetos sociotécnicos, habitantes
dos espaços da brinquedoteca2 e de uma enfermaria da pediatria, contribuintes para o cuidado
desencadeado pela relação computador-criança hospitalizada. Os quais, por sua vez, são
capazes de modular afetos e reordenar espacialidades locais. Sendo assim, passamos a
enxergar novas possibilidades de estudo. De certa forma, já não poderíamos lidar com a
coletividade heterogênea da pediatria como meros instrumentos engessados, cristalizados. Ou
mesmo, como refere Sennett (2009), o aperfeiçoamento do trabalho só é possível por meio da
cooperação entre homens e máquinas. Para o nosso contexto, seria o de reconhecer que existe
uma diversidade de entidades morando na pediatria. Pois há habitantes não/humanos se
relacionando com humanos na clínica, que são relevantes para o cuidado das crianças
hospitalizadas.
Mas por que inserir uma bomba de infusão na abertura da Introdução ao invés de um
computador? Não foi por acaso essa inserção – essa que aparecerá novamente no início do
capítulo um. Como parafernália médico hospitalar, a bomba foi flagrada por nós não apenas
2
Para maiores informações sobre a trajetória acadêmica da Mestranda, consultar Memorial Descritivo
(APÊNDICE C), o qual se encontra na seção de apêndices.
21
realizando suas funções esperadas: conexão à rede venosa de uma criança (que não aparece na
foto por conta do sigilo de imagens), assim como a programação digital para infundir uma
solução em determinada vazão. Mas também aparece em meio a uma diversidade
sociomaterialidades do refeitório das crianças, que, de certa forma, nos provocaram
interferências locais. E tais interferências contribuíram para o nosso pensar sobre os efeitos
provenientes da relação computadores-criança hospitalizada, esses como compositores de
tecnologias de cuidado. A bomba de infusão, um possível estudo posterior? Potencialmente
sim!
A nossa dissertação faz um diálogo interdisciplinar entre Enfermagem, Psicologia
Social e Estudos Sociotécnicos. Insere-se no âmbito do grupo ―Tecnologias, Ciências e
Contemporâneo‖ (TECC), na linha de pesquisa ―Práticas e políticas de acesso a saberes e
tecnologias‖. Encontra-se alocada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de
Cultura Contemporânea (ECCO) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
vinculada à linha de pesquisa ―Epistemes Contemporâneas‖. O ECCO/UFMT tem como
objetivo sondar, rastrear, perseguir, descrever, avaliar e criticar as inúmeras transformações
sociais e culturais provocadas pelos novos processos que surgem tanto no âmbito global
quanto local, ou mesmo os que se encontram em uma instância transnacional.
Nosso objetivo geral foi estudar as Tecnologias do cuidado, em especial, às ligadas a
computadores de uma brinquedoteca, que estão presentes na unidade de internação pediátrica
de um Hospital Público e seus efeitos de modulação de afetos e espacialidades, que
contribuem para Humanização em Saúde por artefatualidades nas crianças, familiares e
equipe envolvida. Focalizamos nosso estudo na vida cotidiana de uma unidade pediátrica por
acreditarmos que seja possível pesquisar os múltiplos efeitos de transformações sociais,
tecnológicas e culturais vinculados às reordenações que resultam em ―habitabilidade‖,
proporcionadas pela ―oficina do fazer‖ promovida pelas Práticas de cuidado. Esta noção
encontra-se constantemente imbricada às modulações de afetos e efeitos de Humanização em
Saúde por artefatualidades.
Apesar da disponibilidade de obras sobre os Estudos Sociotécnico no Brasil
(LATOUR, 1994; 1997; 2000; 2001; 2008; LATOUR & WOOGAR, 2002; MOL, 2007),
entendemos que a sua abordagem não é tão comum para diversas áreas, entre elas as das
22
Ciências Humanas (como psicologia), assim como da Saúde (Enfermagem). Por isso, segue
algumas noções de termos que serão constantemente retomados ao longo da dissertação:

Actantes se referem às entidades não inertes, ou seja, a elementos que realizam
actâncias (ações) (LATOUR, 1994);

Objeto sociotécnico do cuidado compreende todo elemento, seja ele humano ou
não/humano, capaz de se relacionar, haja vista suas fricções relacionais, ou ainda, suas
recalcitrâncias que produzem alguns efeitos notáveis (LEITE; GALINDO, 2010);

Arranjo sociotécnico é um conjugado momentâneo de objetos sociotécnicos, o qual é
capaz de alterar espaços e modular afetos (Ibid);

Interferência é um tipo de mediador de ações (actâncias) produzidas por um coletivo
sociotécnico. Esse coletivo pode ser constituído por humanos e não/humanos. Mas a
relevância está em dizer que a relação conjugada por estes não configura dominância de uma
das partes. Havendo sim a produção de alguém ou algo ―a mais‖, de transformações, notada
como efeito (LATOUR, 2001);

Espacialidades são as reordenações espaciais provocadas pelas interferências no
ambiente hospitalar no qual foram instaladas. Ou ainda, são efeitos das recalcitrâncias dos
arranjos sociotécnicos, ou melhor, de objetos sociotécnicos que ao se relacionarem
transformam, modificam um local ou um momento, não precisando, necessariamente, estarem
alocados ou terem construídos quatro paredes para que ocorram. Porém, são capazes de mudar
essas quatro paredes. Não são eternas, mas suas intensidades as materializam como momentos
eternos (RODRIGUES; GALINDO; LEITE, 2011);

Modulação de afetos é outro efeito de interferências das tecnologias e de seus objetos
sociotécnicos de cuidado, ou seja, efeito emitido das relações entre humanos ou entre
humanos e não/humanos, ou ainda, entre não/humanos, com potência para amenizar dor,
angústia, medo, promover enfrentamentos, motivar aceitação, promover segurança, aflorar
raiva, assim como configurar situações de esforço físico, de cansaço, mal-estar (LEITE;
GALINDO; GAMBÁ; RODRIGUES; ZARDETTE, 2011).
Neste estudo será enfatizada a alteração de ambiências e modulação de afetos, que traz
consigo uma noção de social, não no sentido comum desta palavra, uma vez que não será,
23
necessariamente, um humano efetivando relações sociais, mas poderá vir a ser um não vivente
ou qualquer orgânico não/humano que se mostre social. Por isso, fala-se de uma técnica que é
social, já que se relaciona, coparticipa, atua, faz (LEITE; GALINDO; GAMBÁ;
RODRIGUES; ZARDETTE, 2011);

Performances ou enactments, como prefere Mol (2002a), referem-se não apenas a
encenações, o que seria esperado por um ator diante de determinado cenário, mas esta vai
além; considera relevante a encenação de um ator, mas adiciona uma noção de atuação, ou
ainda, declarações. No final, porém, prefere manter a grafia em inglês enactments, ou utilizar
performances, observando sempre a noção da palavra enactments/to enact. Para o nosso
trabalho, adotamos Performances [enactments], sempre em associação;

Tecnologias do Cuidado ou Práticas do Cuidado se referem ao modo como objetos
sociotécnicos e seus arranjos, em articulação, transformam as práticas em saúde, enfim, o
serviço prestado ao usuário ao longo de seu enfrentamento aos diferentes problemas de saúde.
Sendo, portanto, mais amplo que discutir tecnologias como equipamentos modernos ou novos
(LEITE; GALINDO; MACHADO; MOURA; RODRIGUES, 2011);

Tecnoculturas do Cuidado é uma expressão simétrica à ―Lógica do Cuidado‖
encontrada nos estudos de Mol (2008). Neste trabalho, entretanto, a escolha por Tecnoculturas
do Cuidado deve-se ao fato destas se encontrarem mais próximas da noção de Promoção de
Saúde, onde as composições tecnológicas que cuidam, ou ainda, os arranjos sociotécnicos de
cuidado deste estudo, podem ou não estarem vinculadas às entidades que configuram, ao
mesmo tempo, racionalidade, objetos, técnicas e afetividades;

Sociomaterialidades compreendem não apenas as materialidades que envolvem a
tecnociência, isto é, a ciência das técnicas, mas também todas as demais materialidades, que
ao se articularem, mesmo sendo de ontologias (realidades) distintas, até mesmo notadas como
incoerentes ao estarem juntas, efetivam transformações. Dessa maneira, poderá ser encontrado
no
texto
o
termo
sociotécnico,
mas
muitas
vezes,
colidirá
com
a
palavra
―sociomaterialidades‖ (HARAWAY, 1995; LAW & MOL, 1995; SPINK, 2003; SPINK,
2009).
Os critérios para a configuração de nosso estudo foram aplicados conforme as
necessidades que surgiram. Para a construção deste processo de pesquisa descrevemos os
24
instrumentos fabricados e as reflexões teóricas utilizadas. Lembrando que os instrumentos
nunca são meras ferramentas inertes feitas para se aplicar, elas, em conjugação com o homem,
cooperam e podem modificar as metas que se tem em mente (LATOUR, 1994; SENNETT,
2009).
Segundo Law (1992), a sociedade é uma rede heterogênea, constituída não apenas de
humanos, mas de efeitos relacionais entre diversos elementos de ontologias distintas. Nela, os
actantes, sem distinção de relevância, atuam, isto é, são protagonistas. Isso quer dizer que
consideramos a importância do homem do mesmo modo que de suas produções, criações, em
outros termos, dos seus objetos, de suas técnicas, de suas práticas, de suas máquinas, de suas
ambientações; porém, sem a pretensão de igualá-los, bastando-nos apenas os inserir em uma
mesma trama sociotécnica. Os estudos sociotécnicos, portanto, propõem uma valorização de
simetria de atuação. Arranjos ao invés de hierarquias ou oposições (SIMONDON, 1958;
LATOUR, 2001; LATOUR & WOOLGAR, 1997; LATOUR, 2001; LAW & MOL, 2002).
Por se tratar de um trabalho sobre ―descrições sociotécnicas de computadores que
habitam uma pediatria‖, anunciamos que trabalhamos com a noção de ―habitar‖, ―morar‖ e
―visitar‖ vinculadas a espécies humanas ou não/humanas (HARAWAY, 2004) ao longo do
nosso texto. Segundo Ferreira (2009) e Houaiss (2009), ―habitar‖ compreende ocupar como
residência, tornar habitável onde se reside, tornar habitado. Simetricamente, ―morar‖ refere-se
a viver, habitar, ter residência, ou ainda pode reportar-se a se encontrar, achar-se. E ―visitar‖ é
um verbo transitivo que pode ser entendido como ―ir ver‖ alguém em casa ou noutro lugar
onde esteja (visita médica), por cortesia, dever ou afeição.
As noções sobre ―habitar‖ e ―morar‖ encarnam uma temporalidade topológica
derivada de transformações em decorrência de estarem ligadas a uma estadia mais envolvente,
com o estabelecimento de vínculos. Portanto, não tão ligadas à permanência prolongada ou
curta no local. Apesar de, na maioria das vezes, morar ou habitar compreenderem permanecer
no local. Já a noção de ―visita‖, revela-se como uma relação sem vínculos,
descompromissada, porém capaz de transformar uma temporalidade topológica passageira
(FERREIRA, 2009; HOUAISS, 2009).
Em nosso estudo os computadores da brinquedoteca moram ou habitam o espaço da
pediatria. E, assim como os profissionais da equipe de saúde, a variedade de computadores
(Netbooks) também visitam os quartos-enfermarias, isso através do deslocamento para estes
lugares ou através de efeitos que emitem quando auxiliam nos cuidados das crianças. Como
25
os efeitos produzidos se mostraram relevantes, uma vez que alcançam outras localidades da
pediatria (posto de enfermagem, jardim de inverno, refeitório, corredor, rouparia, etc.), a
noção de visita que adotamos é transformadora, apesar de ser passageira. Acatamos as noções
de morar e habitar porque também são promotoras de ―vínculos transformadores‖ (LATOUR,
2000). Desse modo, prendemo-nos à intensidade das relações estabelecidas, logo, não tão
dependente do tempo das relações estabelecidas entre computadores e crianças na
brinquedoteca ou nas enfermarias sobre o leito das crianças.
Sobre ―praxiografia‖ o estudo de Mol (2002a) enfatiza o momento em que as atuações
das Práticas de cuidado acontecem, isto é, quando se encontram em exercício. Refere-se às
ontologias múltiplas das entidades; seria o estar diante do modo como estas se fabricam,
como se constroem, como atuam ou promovem intervenções. Abrindo possibilidades de
discussão sobre uma destas fricções contemporâneas de escolha, mas de um modo que esta se
mostre em trama, como se entrelaça, como se faz, compõe-se, ou seja, essa pesquisa em
estudos sociotécnicos apresenta as redes técnicas e sociais como são, dentro da qual, todos são
importantes: ―os seres humanos e os não/humanos‖ (LATOUR, 1994; MOSER & LAW,
2001; LAW & MOL, 2002; HARAWAY, 2011), levando sempre em consideração as suas
respectivas origens ontológicas (MOL, 2007).
A dissertação tem como ambiente uma pediatria e toma dois espaços contextuais
como ponto de partida para o estudo das Tecnologias do Cuidado ligadas à relação
computador-crianças hospitalizadas: o projeto de Informática e Cidadania e a Brinquedoteca
Hospitalar. Entretanto não nos atrelamos a esses espaços, passamos por eles (uma vez que
fazem parte da proposta inicial), do mesmo modo que de uma das enfermarias da pediatria.
Com este trabalho pretendeu-se colaborar para reflexão sobre o cuidado atravessado por
objetos, técnicas e tecnologias na clínica pediátrica, incorporando-se a uma preocupação
largamente presente na enfermagem que concerne simultaneamente ao incremento do cuidado
na vida diária da pediatria e à garantia de direitos das crianças hospitalizadas (DIAS &
MOTTA, 2004; MITRE & GOMES, 2004; RAMALHO, 2007; BRITO et al, 2009; RIBEIRO
et al, 2009; FONTES et al, 2010; LEMOS et al, 2010).
Os capítulos são separados por imagens-mosaico que derivam de montagens
provenientes de objetos sociotécnicos habitantes da pediatria de nosso estudo. Não nos
restringimos às imagens de computador-criança por flagrarmos outras entidades não/humanas
contribuindo para pensar cada um dos capítulos de nossa pesquisa.
26
Na primeira imagem-mosaico, inserimos fotografias de diversos objetos localizados
em diferentes lugares da pediatria, com o intuito de incitar pensamentos sobre as inúmeras
possibilidades de arranjos sociotécnicos do cuidado. Deixamos como destaque a bomba de
infusão, pois esta foi flagrada no refeitório infundindo solução de eletrólitos em uma criança
em meio a outras entidades não/humanas, como mesas, cadeiras, brinquedos e propés.
Na segunda imagem-mosaico, trazemos fotografias de várias superfícies que requerem
manipulação, que são ao mesmo tempo complexa e simples. Portanto, incluímos desde fotos
de materiais que exigem grandes habilidades técnicas como os de emergência, bem como
fotografias daquelas que requerem ações aparentemente simples: pegar e segurar o fone do
telefone público, empurrar uma cadeira de rodas, segurar e prensar um copo para enchê-lo d‘
água enquanto se inclina e segura uma garrafa térmica com a água desejada, pegar a vareta
enquanto brinca, rabiscar e pintar uma folha de papel, lavar as mãos ou aplicar álcool nas
mãos e friccioná-las, o segurar uma criança para pesar na balança, assim como identificar no
mapa as localizações geográficas de postos de saúde. Ficando em destaque uma fotografia
onde há como superfícies, um termômetro, uma caneta e um livro de registro, com a intenção
de intensificar que até mesmo a noção de grafar algo interpela actâncias de objetos e mãos.
Na terceira imagem-mosaico, misturamos aparelhagens convencionais de ambiente
hospitalar, como rede e entradas/saídas de ar comprimido, oxigênio, vácuo, caixa de descartes
de perfuro-cortantes com objetos nada convencionais encontrados na pediatria, como cadeira
de fio para descanso no posto de enfermagem, desenho colorido na porta de acesso à sala de
procedimentos. E, como destaque, temos uma fotografia na qual o pedido de silêncio não se
cala frente às escalas de serviço, dos informativos, pelo contrário, ganha uma voz tênue em
meio a um coração de pelúcia e um desenho de um menino bastante alegre,
concomitantemente à mensagem que deseja passar.
Na quarta imagem-mosaico, damos ênfase para o chão, para os pés. Por esse motivo
selecionamos recortes de várias fotografias nas quais o olhar estivesse direcionado para baixo.
A fotografia das bailarinas como destaque foi com a menção de pensarmos nos passos, nas
andanças, como contribuintes da configuração das superfícies topográficas pesquisadas.
Na quinta imagem-mosaico, elencamos fotografias de aparatos não médicos
hospitalares como brinquedos, lixeiro decorativo, uma mangueira utilizada para lavar
brinquedos no jardim de inverno, fones de ouvidos utilizados na sala de informática em meio
27
a fotografias de cuidadores médicos hospitalares como as bombas de infusão, soros
fisiológicos armazenados na sala de procedimentos. Enfatizamos a criança que brinca com o
computador com a intenção de apresentar esta relação como uma desencadeadora de múltiplas
conexões sociotécnicas de cuidado.
Na última imagem-mosaico, temos em destaque objetos que potencializaram a relação
entre crianças e Netbooks. A fotografia do Netbook sobre o leito de uma enfermaria foi
intencionalmente recortada e alargada para destacar que o computador portátil e a diversidade
de interpelações que ele desencadeia também são contribuintes para o cuidado da criança
hospitalizada.
No capítulo um, intitulado “Tecnologias do cuidado: reflexões e pesquisas”,
mostramos que o trabalho encontra-se inserido no campo interdisciplinar dos estudos
sociotécnicos, também nomeado Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
Destacamos a sua ênfase nas descrições de arranjos sociomateriais compostos por actantes
humanos e não/humanos que, em nosso estudo, traduzem-se nas práticas de cuidado ou
tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos (MOSER & LAW, 2001; MOL, 2002a; MOL,
2002b; LAW, 2004; MOSER, 2005; SORENSEN, 2007; CALLON, 2008). Falamos sobre
―Cuidado na prática‖; procuramos conceituar ―objetos sociotécnicos do cuidado‖, estes
articulados à noção de ―arranjos sociomateriais‖; conceituamos tecnologias para chegarmos à
noção de ―tecnologias do cuidado‖ ou de ―práticas de cuidado‖; abordamos às interferências
promovidas por Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar, como espacialidades e
modulação de afetos; e, por fim, discorremos sobre ―modulação de afetos em conexão à
humanização em saúde‖, que nos permitiram falar sobre efeitos de Humanização em Saúde
por artefatualidades.
No capítulo dois, nomeado “Uma Praxiografia do Cuidado”, descrevemos a
elaboração do método que confeccionamos para a presente pesquisa. Expomos a sua
aproximação com o cotidiano das práticas, no qual o desafio foi ter habilidades para imprimir
imagens através de palavras, ou melhor, que fosse competente para mostrar as minúcias do
que se vivencia e a experiência em campo (SENNETT, 2009). Mostramos que na produção
deste trabalho se considerou as múltiplas atuações dos objetos sociotécnicos que apareceram
no cotidiano da pediatria do Hospital Escola como insumos para a tessitura de um escopo
teórico-metodológico. Especificamente, trabalhamos as descrições das diversas versões
emitidas pelas entidades que compõem as Tecnologias do Cuidado no cotidiano. Contamos o
28
motivo da adoção da noção de praxiografia, ou seja, de uma concepção do tipo etnográfica
que enfatiza os diversos desempenhos das Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar, a partir
dos estudos da pesquisadora Annemarie Mol, os quais transpõem os paradigmas que
provocam separações entre entidades orgânicas ou inorgânicas, humanas ou não/humanas,
que compreendem performances [enactments] múltiplas de seus objetos sociotécnicos, que
são atravessados por várias formas de coordenação, sendo enfatizadas as de adição e a de
calibração (MOL, 2002a). Falamos sobre os instrumentos construídos e que compuseram a
pesquisa: diário de campo (andanças/itinerário) e inventário dos objetos. Discorremos sobre o
nome eleito para cada momento de práticas presenciadas, ou seja, sobre incidentes mosaicos,
derivados dos incidentes críticos, conforme estudos de Galindo (2002). Tecemos também uma
reflexão sobre os Saberes locais (HARAWAY, 1995). E para finalizar o capítulo, pensamos a
Ética em pesquisa com seres humanos e refletimos sobre algumas contradições da Lei nº. 196
do Conselho Nacional de Saúde quanto à avaliação de pesquisas realizadas por estudiosos em
Ciências Humanas e áreas da Saúde (MENEGON, 2003) como a Enfermagem. Fazemos
também a descrição das características dos participantes da pesquisa.
No capítulo três destacamos o Hospital Júlio Müller como o lugar de nossas andanças.
Por isso, nomeou-se este segmento de estudo de “Um Hospital Escola.” Procuramos contar
uma versão da ―história‖ do hospital a partir de actantes provenientes de fragmentos de
notícias documentadas em sites ―regionais‖ e relatos verbais consentidos por uma professora,
que destacam momentos de transformações administrativas e prediais do hospital, mais
especificamente, da pediatria. Não só descrevemos brevemente a história do hospital, sobre os
primórdios da relação entre recreação, ludicidade e cuidado, como também deixamos algumas
reflexões sobre ensino e pesquisa na pediatria, bem como as interferências da brinquedoteca
no cotidiano dessa ala de assistência à criança, além de apresentarmos o motivo da escolha da
pediatria para a realização de nossos estudos. O capítulo deixa em aberto diversas
possibilidades para estudos posteriores.
No capítulo quatro, que chamamos de “As andanças pela Pediatria”, descrevemos
os locais por onde a pesquisadora principal da pesquisa andou, o que fez, com quem
conversou, o tempo despendido para tais atividades. Contamos sobre a indumentária
composta para realizar suas andanças. Fazemos uma reflexão sobre as andanças no campo de
pesquisa ser um processo iniciado antes mesmo de adentrarmos a pediatria, ou melhor, ser
anterior a nossa entrada no hospital. Mostramos, através de Desenhos Praxiográficos, os
29
lugares e objetos que compuseram cada prática do cuidado realizada pelos computadores na
enfermaria 105, assim como no Laboratório de Informática da Brinquedoteca.
No capítulo cinco, intitulado “Computadores que cuidam I – A Brinquedoteca”,
fazemos uma breve descrição da brinquedoteca onde vivem. Em seguida, mostramos alguns
efeitos produzidos pelos computadores que habitam a brinquedoteca. Mais especificamente,
sobre os ―Computadores que não saem do Laboratório de informática‖. Por conseguinte,
enfatizamos as espacializações do tipo: biossegurança, companhia e entretenimento;
organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço. Sobre modulações de afetos
do tipo: motivação, desmotivação; contentamento, descontentamento. Por fim, as vinculações
de espacialidades e modulações de afetos aos efeitos de Humanização em Saúde por
artefatualizações (acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo).
No capítulo seis, nomeado “Computadores que cuidam II – A enfermaria”,
descrevemos as enfermarias da pediatria; em seguida, evidenciamos os efeitos produzidos
pelas práticas de cuidado de dois Netbooks sobre o leito de duas crianças. Em destaque, temos
efeitos de espacialidades, modulações de afetos e Humanização em Saúde por artefatualidades
de modo ora próximos ora distintos entre os dois meninos cuidados pelos computadores
portáteis. Entre os efeitos destacados temos espacialidades do tipo: clínica; biossegurança;
companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço.
Estas se ligam com modulação de afetos do tipo: motivação, desmotivação; contentamento,
descontentamento. Por fim, Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades:
acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo.
Por fim, nas “Considerações finais”, o Cuidado na Prática, topologicamente localizado
na pediatria deste estudo, nos permitiu refletir sobre como os objetos sociotécnicos e arranjos
de cuidado podem dizer não de uma, mas de diversas Tecnologias do cuidado. Fazemos um
exame sobre como as pesquisas sociotécnicas contribuem para os estudos e práticas de
Cuidado em Enfermagem, porém em uma concepção de cuidado não/antropocêntrica. Como
pesquisamos com crianças, acompanhantes e equipe em uma perspectiva sociotécnica,
propomos, como um dos desdobramentos de nossos estudos, o compartilhamento do texto da
pesquisa na forma de oficinas sociotécnicas educativo-estéticas (GALINDO et. al., 2012).
30
CAPÍTULO 1
TECNOLOGIAS DO CUIDADO: REFLEXÕES E PESQUISAS
E, de repente, me vejo entre homens, animais e objetos falantes.
31
O trabalho se insere no campo interdisciplinar dos estudos sociotécnicos, conhecido
também como Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), caracterizados pela ênfase
nas descrições de arranjos sociomateriais compostos por actantes humanos e não/humanos,
que, em se tratando do nosso estudo, traduzem-se nas práticas de cuidado ou tecnologias de
cuidado e objetos sociotécnicos (LAW, 1997; MOL, 2002a; MOL, 2002b; LAW, 2004;
SORENSEN, 2007; CALLON, 2008).
Tendo em vista a composição de nossas reflexões ao trabalharmos noções teóricas,
procuramos envolver cenas do dia-a-dia em que ocorrem conformações de diversos elementos
sociomateriais e sociotécnicos que podem corroborar para a efetivação do cuidado, sejam eles
matérias de jornais ou resultados de pesquisas com as quais dialogamos.
Inicialmente falamos sobre o ―Cuidado na prática‖ apresentando alguns estudos
sociotécnico para nos ajudar a conceituar ―cuidado‖, tentando aproximá-los de alguns estudos
da Saúde Coletiva, bem como de textos científicos da Enfermagem que falam sobre
ressignificação e ciborguização em saúde, para pensarmos Cuidado como vinculado a um
emaranhado de sociomaterialidades. Em um primeiro momento, conceituamos ―objetos
sociotécnicos do cuidado‖ via ilustrações provenientes de resultados de pesquisas realizadas
com uma diversidade de sociomaterialidades, ora não tão próximas ao ambiente hospitalar ora
próximas, ou mesmo, inseridas no ambiente hospitalar, ficando a noção de ―arranjos
sociomateriais‖ atrelada à ―tradução‖ da composição, assim como ao contexto em que
inserirmos os ―objetos sociotécnicos‖, cujos efeitos conferidos correspondem às interferências
no curso das práticas cotidianas.
Em uma segunda etapa, conceituamos tecnologias, e, em seguida, estendemos o
conceito, de modo a chegarmos à noção de ―tecnologias do cuidado‖ ou ―práticas de
cuidado‖; também partimos de diversos modos de cuidar, através dos quais emergem
concepções de tecnologias ou práticas de cuidado, conceito-base que integra os conceitos de
―objetos sociotécnicos do cuidado‖ e ―arranjos sociotécnicos‖.
Para abordamos as interferências promovidas pelas Práticas de cuidado no cotidiano
hospitalar, foram necessárias, primeiramente, incitarmos um diálogo entre pesquisadores das
sociomaterialidades e das humanidades para apresentarmos algumas noções referentes às
espacialidades ou reordenações de espaços; a seguir, tratamos de afetações a partir do
32
discurso psicológico em Vinciane Despret, haja vista que possui afinidades com os trabalhos
que realizamos sobre os efeitos de modulação de afetos produzidos pelas Tecnologias do
Cuidado e seus objetos sociotécnicos do cuidado.
Por fim, falamos sobre modulação de afetos em conexão à humanização em saúde.
Apresentamos os vários modos de ocorrência do acoplamento da modulação de afetos a uma
―lógica do cuidado‖, isto é, Tecnoculturas do Cuidado, onde os Efeitos de Humanização em
Saúde configuram articulações de agenciamentos3 sociomateriais, os quais nos permitem
pensar nos princípios da Política Nacional de Humanização (PNH) e como se efetivam de
maneiras alternativas.
1.1. O Cuidado na prática
Em The Logic of Care: Health and the problem of patient Choice (2008), Mol tem o
cuidado como foco de estudos empíricos, porém, prende-se ao cuidado em saúde e aos atores
em estudos das sociomaterialidades hospitalares. O que a pesquisadora procura enfatizar é
uma lógica do cuidado (como uma maneira de valorizar e fortalecer o campo de pesquisa em
cuidado da saúde), acreditando que tal proposta seja possível por intermédio da tradução das
práticas de cuidado por meio de palavras, pois ao descrevê-las nota-se que no cotidiano,
mesmo estas não sendo racionais, não exatas, não purificadas, passam a ser visualizadas de
uma forma lógica.
Essa noção de lógica do cuidado, conforme retrata a pesquisadora, seria a evocação
de um discurso, mas uma evocação de discurso das práticas via as ações que promovem. E,
diante de qualquer cenário que o cuidado venha compor, o discurso se revela como um
processo, dentro do qual, pacientes e profissionais, por exemplo, vão produzindo juntos uma
determinada lógica do cuidado. Essa noção faz com que haja o desprendimento das
habilidades e competências exigidas das pessoas como meta a se alcançar. Ao invés disso,
destaca-se o modo de vida diária das pessoas em meio às inconstâncias cotidianas (MOL,
2008).
3
Noção de agenciamento: são possíveis agências, ou melhor, desdobramentos, variações ou potências múltiplas
de um único objeto, isto é, seriam as inúmeras atuações e formas como este objeto se configura, de acordo com
as circunstâncias em que se encontra não se prendendo a sua função ou forma original (GALINDO et al, 2009).
33
A lógica que Mol (2008) busca destacar rende-se às incertezas, àquilo que não se pode
controlar. Ou ainda, vincula-se a promoção, a uma estabilização parcial em vez de promessas
de uma cura total. Enfim, fala-se de uma lógica que sugere possibilidades de lidar, de
conviver com determinadas condições, como é o caso das condições crônicas de saúde4
citadas no estudo. Mostra a necessidade do paciente de se engajar, enfrentar a situação para
que essa possa ser modulada, de tal forma que seja sustentável e tolerável a convivência
diante de minúcias não esperadas e que passam a compor o cotidiano da pessoa. A lógica do
cuidado se faz ao longo de uma relação colaborativa, de proximidade, de modo mútuo e
continuado entre profissionais de saúde e pacientes. Ressaltando também que se compreende
como atores do cuidado, tanto às pessoas como às tecnologias que as rondam. Desta maneira,
o intuito, é descrever o cuidado como uma ―lógica do cuidado‖, sobrepondo qualquer
alienação sobre este.
No Brasil, no contexto do Sistema Único de Saúde, práticas de cuidado não são atos
de bondade, mas atos que asseguram direitos, materializando diretrizes de humanização. O
termo ―humanização‖ pode conduzir, como alertou Ayres (2004), a equívocos atribuídos a
uma polarização humano versus máquina; ao primeiro, sendo atribuída afetividade, calor,
aconchego, e à última, confere-se a exterioridade, a frieza, o estatuto de um mal necessário
que garante a sobrevivência, mas que desumaniza.
Recorrendo aos repertórios históricos da literatura sobre ―cuidado‖ (MOL; MOSER;
POLS, 2010), o termo traz como ranço a vinculação à caridade e à bondade, do qual a saúde
tem buscado se desvencilhar. Por isso, questiona-se, como se encontra a relevância do
cuidado, como esta vem sendo pensada?
Inicialmente, é sabido que a tradição iluminista celebrou a mente, elegendo-a como
unidade racional, deixando de lado a dor, o corpo e seus prazeres. Como resquícios dessa
tradição sobre a ciência, o corpo era relevante apenas em laboratórios, onde, a partir de
mensurações, o objetivam, o explicavam e tencionavam fazê-lo mais ―interessante‖. Do
contrário, à comunidade acadêmica desinteressavam-se as confusões, os ruídos da respiração
ofegante, assim como o ato de engolir, falar, gritar ou quaisquer necessidades corporais que
inferissem ―fraquezas‖ ou ―descontroles‖ ao corpo humano. Estes eram vinculados à
4
Condição crônica de saúde/chronic disease condition, refere-se ao modo de vida levado por uma pessoa a partir
do momento em que se comprova que está com uma doença sem cura total. Compreende a convivência com
tipicidades de uma ou mais doenças há mais de três meses. São doenças crônicas: hipertensão, diabetes, câncer,
alcoolismo, tabagismo, etilismo, malária, DST/AIDS (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2007).
34
necessidade de cuidado, sendo assim, para o meio universitário ―cuidado‖ se revelava como
uma prática tediosa, por isso, de pouco interesse intelectual. Ou pior ainda, o cuidado
dificilmente se configurava como algo que pudesse ser estudado, estando atrelado, desse
modo, à esfera privada, sem nenhuma propensão entre os estudiosos de que esse viesse à tona,
ou melhor, a ser compartilhado, de que fosse inserido nos predomínios públicos (MOL,
2008).
Os estudos sociotécnicos contribuem para a releitura do mundo artefatual hospitalar
como promotores de humanização. Os estudos sociotécnicos do cuidado reforçam a
importância de que todo o processo terapêutico produzido junto ao paciente deve transpor a
dicotomia entre humanos e máquinas (LATOUR, 1994). Termômetros e máscaras de
oxigênio, exames laboratoriais e câmeras de vídeo são todos bem-vindos. A capacidade de
cuidar é uma habilidade que atravessa a vinculação entre artefatos, técnicas, práticas,
ambientes e pessoas, além de afetos (MOSER, 2005; MOL, 2008; MOL; MOSER; POLS,
2010; LEITE; GALINDO; MACHADO; MOURA; RODRIGUES, 2011; LEITE; GALINDO;
GAMBÁ; RODRIGUES; ZARDETTE, 2011).
Em A textualização de corpos doentes através de imagens: uma das lições da UTI
contemporânea e Ressignificações do humano no contexto da “ciborguização”: um olhar
sobre as relações humano-máquina na terapia intensiva (2003; 2005), as pesquisadoras
Vargas e Meyer discutem o processo de ciborguização de membros da equipe de enfermagem
de uma Unidade de Terapia Intensiva, confirmando que tanto o humano quanto as máquinas
encontradas no setor são significados culturalmente e esses significados são produzidos
discursivamente de maneiras específicas. Isto é, as pesquisadoras se certificaram ao estudar
alguns materiais pedagógicos (protocolos e manuais de assistências) do setor (compreendidos
como parâmetros bem definidos para a prestação de cuidados), que tais significados podem se
revelar ambíguos em determinadas circunstâncias. E por conta disso, mesmo diante de
padronizações, assim como de polaridades/dicotomias estabelecidas na UTI, o hibridismo
aparece. Surge de tal modo que acaba compondo ressignificações locais, as quais fazem com
que as fronteiras entre natural e não natural, entre orgânico e inorgânico se desintegrem.
Criando, desse modo, oportunidades para pensar na possibilidade de se des-cristalizar aquilo
que foi concebido como ―rotineiro‖, ou ainda, como ―padrão‖ da enfermagem de Unidade de
Terapia Intensiva.
35
Eis que há mudança nos manuais de enfermagem diante da tecnobiomedicina, da
bioeletrônica e da informática. Ao se perceber mudanças significativas na abordagem da
enfermagem, via modos diversificados de monitoração de pacientes, o saber fazer cuidado em
saúde diante do hibridismo homem-máquina, faz com que a enfermagem ―ciborgue‖
questione o que vem a ser humano no contemporâneo? É o caso de produção de imagens de
corpos doentes e de sua decodificação através de um complexo sistema de monitoramento no
qual se conectam, de diferentes maneiras e com diferentes efeitos, corpos doentes, máquinas e
corpos de profissionais da enfermagem (VARGAS & MEYER, 2003; 2005).
A concepção sociotécnica convida-nos a olhar para a pediatria do nosso estudo, de
modo que levemos em consideração as movimentações dos corredores da pediatria, para se
notar as enfermarias, a brinquedoteca, o parquinho, o laboratório de informática, as salas de
procedimentos, o corpo do paciente ou mesmo as mãos dos profissionais de saúde. Porque,
mesmo as artes mínimas do cuidado, como um curativo e os objetos técnicos do cotidiano
local, têm potencialidades para performar múltiplos efeitos de humanização (LATOUR,
1994).
É a pediatria, entendida como arranjo múltiplo, cenário local das pequenas práticas de
movimentação e atuação das parafernálias sociotécnicas dentro de um hospital, que nos
chama atenção, pois entendemos que estão diretamente ligadas à Humanização em Saúde
(BENEVIDES & PASSOS; 2005; SOUZA & MENDES, 2009). O nosso desenho em
composição compreende descrever performances de sociomaterialidades que transformam e
reordenam
espacialidades,
que
modulam
afetos
na
pediatria.
Em
especial,
as
sociomaterialidades que se encontram alocadas e em trânsito na unidade pediátrica do
Hospital Universitário, provenientes da brinquedoteca, assim como as envolvidas com as
atividades de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas.
As práticas de cuidado são uma forma de ingressar no universo de articulação entre a
garantia de direitos e o cotidiano. Mol, Moser e Pols, em Care in practice: On tinkering in
Clinics, Homes and Farm (2010), declaram que Cuidado e Tecnologias hospitalares se
encontram imbricados. Desse modo, a contribuição para às efetivações dos direitos do
paciente estão adstritas ao relacionamento entre Cuidado e práticas em pediatria; logo nem
distantes nem separados, no entanto, os mesmos se apresentam coesos.
36
1.2. Arranjos sociomateriais e objetos sociotécnicos
A noção de arranjos [arrangements] sociomateriais é de interesse para a nossa
pesquisa, pois nos leva a entender o dia-a-dia das Práticas de cuidado alocadas na clínica
pediátrica. Com esse conhecimento, abre-se o cenário para a atuação de uma diversidade de
entidades [entities] que ―habitam‖ em um único local (HARAWAY, 1995; LAW & MOL,
1995; LAW, 2004; MOSER, 2005; CALLON, 2008).
Na vida cotidiana, temos diversos elementos heterogêneos, isto é, objetos
sociotécnicos, também nomeados como mesclas, quase objetos, ―actantes‖, sendo
identificáveis por suas ações ou performances. São ―ontologias de ação‖ que, em decorrência
de suas múltiplas atuações, podem reverberar pontualmente, ou melhor, em uma esfera micro,
ou conectar dimensões sociais, políticas e econômicas etc. (LATOUR, 1994; LAW, 1997;
LAW, 2004).
Os objetos sociotécnicos se constituem como entidades híbridas capazes de mediar,
conectar e vincular; são simétricos, ou seja, não fazem distinção entre dicotomias caras à
tecnociência moderna, tais como natureza e sociedade, ou ainda, humanos e não/humanos.
Nos arranjos, as fronteiras entre humanos e não/humanos estão em constante definição, por
isso, a opção pelo termo arranjo, que deixa clara a instabilidade que no termo rede pode ser
obscurecida (HARAWAY, 1995; LATOUR, 1994).
Tanto a composição como o contexto no qual objetos sociotécnicos estão inseridos,
carecem de uma tradução em arranjos. Neste sentido, evita-se a tendência de naturalizá-los ou
racionalizá-los, colocando-os apenas como alvo do estudo das ciências naturais, ou de
socializá-los, tomando-os como simples componentes do cenário da vida humana. No
cotidiano
contemporâneo,
proliferam
objetos
sociotécnicos
híbridos
que
são,
simultaneamente, sociais, naturais e técnicos (LATOUR, 2008; FONSECA et al, 2008).
Como definir o que chamamos de objetos sociotécnicos? Para efeito deste trabalho,
objetos sociotécnicos são unidades de ―devires‖, em outras palavras, estão sempre em
transformação. Os objetos, em meio aos arranjos, resultam de esgotamentos e de saturações.
Dessa maneira, são arranjos de heterogeneidades, multiplicidades que se dão como
intermediários entre o informe e a matéria. Tal caracterização faz com que os objetos se
37
mantenham, com diferenças entre graus de estabilidade, em uma abertura a rearranjos. Por
isso, podemos falar em uma ―construção da técnica‖, em um ―processo de criação híbrido‖, na
medida em que algumas propriedades dos objetos não remetem nem à pura matéria, nem à
pura forma, mas encontram-se em um nível intermediário (DAMASCENO, 2007; FONSECA
et al, 2008).
Objetos sociotécnicos são mais do que instrumentos. A forma que adquirem está
diretamente ligada aos modos como são postos em funcionamento e às maneiras como se
agenciam com humanos e outras artefatualidades (FONSECA et al, 2008). Vejamos um relato
de pesquisa sobre objetos sociotécnicos. Em Care and killing tensions in veterinary practice
(2010), Law considerando uma epidemia no Reino Unido, narra múltiplas performances de
cuidado de animais. A partir de palavras e fotografias propõe quatro ―objetos do cuidado‖ que
correspondem a versões de práticas diante da paradoxal tensão entre cuidar e matar animais.
O autor os divide para finalidades didáticas, mas enfatiza que tais ―objetos‖ encontram-se
imbricados no cotidiano, pois se traduzem em arranjos sociotécnicos. Os veterinários
preocupam-se com a sedação dos animais, em separar os animais doentes dos sadios,
vinculando a prática de criação de animais à noção de negócio. Os fazendeiros, da sua parte,
sentem-se afetados e veem a morte dos animais com os quais convivem como perdas
nominais. Falam de traumas, dores, nostalgias desencadeadas diante do sacrifício dos animais
que criaram e cuidaram. Já o pesquisador procura manter uma relação de cuidado com cada
um dos agentes envolvidos, que varia da indiferença do negócio à dor de perder um animal
querido. Os epidemiologistas, por sua vez, tomando como base os grandes números, mesclam
a morte, o sacrifício dos animais à dimensão da saúde coletiva e econômica, indagando-se
sobre quais animais devem ser sacrificados, a extensão do raio de contaminação e assim por
diante. Vemos que se trata, aparentemente, de um único animal, mas que nas distintas
performances de cuidado, adquire versões diferenciadas, ganha multiplicidade.
Nota-se que o episódio referente às performances de cuidado de ―um animal‖ se
configura por meio da composição de vários elementos, ou seja, quase sempre os
desempenhos de cuidado são provenientes de um coletivo. E esses diversos arranjos
heterogêneos, mostram-se como infiltrações e interferências em dispersão, levando ao
entendimento de que estes ―andam‖, sobretudo, acompanhados, nunca isolados, trazendo
consigo modos e modulações de outras entidades. Esse evento compõe a transmutação de uma
homogenia, mostra o rompimento com a noção de que cada elemento ou conglomerado deve
38
estar cada um no seu canto. Por sua vez, as coreografias efetuadas por esses arranjos,
revelam-se capazes de provocar reverberações pontuais e locais e, ao mesmo tempo, afetarem
algumas dimensões, como a esfera social, cultural, política e econômica (LAW, 1997; LAW
& MOL, 2002; MOL, 2007).
Em This is not an object (2003), Law & Singleton também descrevem as múltiplas
versões desencadeadas por um ―objeto do cuidado‖, ou melhor, por uma entidade não
humana, o álcool, que põe em andamento diversas atuações. Os autores discutem as
performances a partir de uma série de condições e problemas parcialmente conectados que se
desencadeiam nas pessoas que consomem álcool e adquirem doença hepática. Considerando
distintas formas de tratamento, observam que as conexões das performances de cada paciente
com problemas hepáticos por etilismo incluem desde a papelada de plano de cuidado que se
preenche aos objetos, passando pelas tecnologias às práticas, técnicas e atuação da equipe
multiprofissional. Concluem que, ao falar da doença hepática, não se está lidando com um
objeto inerte, subjugado a um conjunto específico de sintomas. Chamam a esse objeto de
sociotécnico, dada a sua multiplicidade de performances e difícil apreensão de ―objetos fogo‖,
cujas chamas variam na medida em que entram em contato com o ar.
Essas chamas variam de tal modo que se conformam como um processo híbrido em
que seres orgânicos e outros seres inorgânicos criam um terceiro meio que por si só é instável.
Consequentemente, a concretização, como organização autônoma da matéria inorgânica,
ganha uma autonomia histórica diferente da dos homens que os fabricaram (NEVES, 2007).
Law & Singleton (2003) comentam que construir um roteiro, desenhar um mapa com
o intuito de descrever as instalações e locais por onde os pacientes circulam em decorrência
das exigências e necessidades ligadas às condições e problemas desencadeados pela doença
hepática alcoólica, exige paciência. Haja vista que muitos dos locais por onde passam
simplesmente não se correlacionam diretamente, mas mantém uma relação parcial, às vezes
de maneira pouco consistente. A perseguição das recalcitrâncias requer a consideração das
inconstâncias provenientes das possíveis ―versões‖. Logo, as performances sempre correm o
risco de se mostrarem aparentemente desarticuladas, ao mesmo tempo em que configuram
rastros de entidades atuantes. Law & Mol (1999) argumentam que os arranjos sociomateriais
são conformações que se constituem de modo interativo e que fora de suas interações deixam
de existir, pois simplesmente não ativam realidade alguma.
39
Em Política ontológica: algumas ideias e várias perguntas (2007), Mol relata a
história de diversas versões da anemia. Questionando-se sobre o que seria a anemia diante de
controvérsias investigativas, a pesquisadora sugere entendê-la (para poder tratá-la) como uma
entidade que possui múltiplos modos de investigação, uma vez que a variedade de
agenciamentos que atrai a revela como um elemento intermediário, que é social e material ao
mesmo tempo, proveniente de arranjos em instabilidade. Para o presente estudo, a
pesquisadora apresenta apenas três performances, ou seja, desempenhos da anemia, deixando
aberta a possibilidade de se estudar outras variantes. Como informa Latour (1994),
permanecem as mais resistentes, ou ainda, as recalcitrantes.
Como primeira versão da anemia, Mol (2007) descreve o seguinte relato clínico: há
um paciente no consultório, este se queixa de tonturas e cansaço ao médico. O médico
questiona-o perguntando sobre quando e como os sintomas se manifestaram. Seguindo sua
atuação, o médico se aproxima do paciente e manipula as suas pálpebras com o intuito de
verificar a coloração. Como indagações há: estão brancas? Vermelhas? Muito ou pouco? Qual
coloração tem a pele? A investigação sobre a versão ―clínica‖ da anemia acaba sendo
composta por arranjos que incluem técnicas e protocolos, os quais propiciam conexões ao
discurso do doente, do médico e, concomitantemente, às traduções sobre as observações
referentes ao segmento exterior do corpo do paciente, que estão relacionadas com a anemia. O
que se examina é o modo como a ―clínica da anemia‖ se coreografa. Obtém-se como resposta
que a anemia é simétrica a um conjunto de sintomas visíveis, que se articula com as queixas
do doente.
Já para o segundo desempenho da anemia, ―temos a anemia laboratorial‖ ou ―anemia
estatística‖. Para esta versão, interessa-nos mostrar que em qualquer hospital as rotinas
laboratoriais fabricam outras coisas. Ou seja, os arranjos de objetos sociotécnicos laboratoriais
resultam em novas entidades. Para a pesquisa produzida por Mol (2007), a anemia se mostra
equivalente ao baixo nível de hemoglobina no sangue de uma pessoa. Como rotina, o sangue
tirado das veias humanas é, em seguida, introduzido em algumas máquinas capazes de
constituírem números correspondentes a cada amostra acoplada a elas. O resultado gerado é
comparado a um padrão de normalidade para a hemoglobina. Entretanto, a pesquisadora
ressalta que há diferentes maneiras de definir o padrão para um nível normal de hemoglobina.
Lembrando-se do método estatístico, o qual implica reunir dados relativos a uma população,
sendo o padrão de normalidade estipulado a partir de alguns segmentos padrões para desvios
40
em relação à média da população, são caracterizadas com anemia às pessoas cujos testes
sanguíneos revelarem um nível de hemoglobina inferior ao padrão da norma.
Na terceira e última atuação se ativa a ―anemia fisiopatológica‖. Esta provoca uma
investigação que relacionada ao individual de cada paciente, mostra a demarcação da linha do
nível sustentável de hemoglobina para transporte correto de oxigênio pelo corpo, assim como
para o reconhecimento do nível anormal que pode surgir, que, ao contrário, é demasiado
baixo, insustentável (MOL, 2007).
Como conclusão indaga-se: como as três se relacionam? Pois nos manuais tendem a
ser descritas como coisas ligadas, dando a entender que tais aspectos se referem a um desvio
único. Supõe-se que um nível de hemoglobina, excessivamente baixo para transportar
oxigênio dos pulmões aos outros órgãos de um indivíduo em quantidades que os permitam
abastecer (fisiopatologicamente), fique deslocado do normal, do que é estabelecido por
cálculos assentados em dados populacionais (estatísticos), e que se manifestam através de
sintomas que incomodam de modo tão intermitente o paciente fazendo com que este procure
apoio médico (clínico) o mais rápido possível. Na prática, porém, as coisas não funcionam
necessariamente desta forma. Porque pode acontecer de haver pessoas que não tenham
tonturas, nem pálpebras brancas e, no entanto, os seus níveis de hemoglobina assemelhar-se a
níveis desviantes quando mensurados. Ou podem estar relacionados a órgãos em que pessoas
não tenham oxigênio, pois os seus níveis de hemoglobina decaíram, contudo, se mantiveram
dentro do padrão de normalidade. O que quer dizer que, efetivamente, as três formas de
diagnosticar a ―anemia‖ indicam coisas diferentes, uma vez que os objetos de cada arranjo da
anemia (das variáveis técnicas, por exemplo) não se sobrepõem necessariamente entre si
(Ibid.).
Vale ressaltar que as performances da anemia estão atreladas a um fenômeno que é
bastante politizado – a diferença sexual. No caso da relação entre as práticas clínicas e
laboratoriais, torna-se ainda mais embaraçado durante o instante em que se estabelecem os
padrões pelos quais passarão a ser distinguidos como normal e/ou patológico. Estes padrões
não são informações com uma prática clínica e laboratorial, são partes dessas práticas. Como
exemplo, a partir da norma estatística se tem elementos normativos; tais elementos são
constituídos pelos níveis de hemoglobina. Inclui-se aí, por exemplo, cem homens, mulheres,
grávidas e crianças de diferentes grupos de idade. Porém, também é possível que estas
41
questões se dissolvam e que passem a ser mais uma viragem para o repertório teórico,
tornando-se, desse modo, outras formas de se investigar o presente (MOL, 2007).
Em Regions, Networks and Fluids: anaemia and Social Topology (1994), Mol & Law
também têm a anemia como uma das entidades em arranjo. Entretanto, o enfoque aqui recai
sobre pressupostos topológicos que envolvem o desempenho de proximidade e de diferença
social para com as ―localidades‖ de onde se encontram a anemia. Argumentam que o ―social‖
não ocorre como se fosse uma única forma espacial, pelo contrário, performam-se a partir de
repetições e de modos topológicos heterogêneos.
Como efeito de exemplificação, os pesquisadores partem de algumas práticas
cotidianas, aproveitando-se de estudos sobre a maneira pela qual os médicos tropicais lidam
com a anemia, explorando três topologias sociais diferentes. As questões iniciais são: onde
está a sua anemia agora? Onde encontrá-la? Está nos pulmões, nas pernas, no cérebro?
Questionamentos um pouco estranhos, não? Fica claro que a anemia espalha-se pelo corpo
humano a partir de uma variedade de conexões de vasos, veias, capilares e artérias, pois são
por esses espaços que o sangue percorre e atinge todos os órgãos do paciente. O sangue, desse
modo, tem por função armazenar células que são responsáveis por manter os órgãos vivos e
em funcionamento. Até aqui estamos apreciando a atuação de um anatomista, isto é, aquele
que disseca e estuda as reentrâncias de um corpo (MOL & LAW, 1994).
Entretanto, diante da recalcitrância topológica da anemia, a pesquisa mostrou a
necessidade de o anatomista ir além, passando a exercer habilidades topológicas, ou seja,
realizar uma investigação que levasse em consideração não apenas as dimensões e incidentes
alocados na ―pessoa-paciente-corpo‖, mas também, revelar a localização e as dimensões
sociais que estão fora do corpo, que são fortemente ativadas por conta das espacialidades
produzidas pela anemia. Diferente da anatomia, a topologia não localiza objetos a partir de
coordenadas dadas; pelo contrário, articula-as com diferentes regras para obter localizações
por meio de sistemas de coordenadas variadas e de arranjos alternativos, incorporando
atividades de ―mapeamento‖ para se estudar as diferenças entre distintos lugares. A topologia,
em poucas palavras, amplia as possibilidades matemáticas levando-a rumo a outro mundo,
que, neste caso, transpõem as restrições matemáticas euclidianas. Portanto, intuito do estudo
foi o de realizar um estudo empírico, que considerasse a vinculação da anemia às teorias
sociais (MOL & LAW, 1994).
42
Vejamos as três topologias em estudo. Para cada caso (topológico), nota-se a
conformação de arranjos específicos. De interesse para nossos estudos, restringimos à noção
de topologia, a qual poderá ser vista neste estudo, que se configura de modo distinto a cada
instante (MOL & LAW, 1994).
Na primeira atuação, tem-se a revelação de que há ―regiões‖ em que os objetos são
colocados em agrupamentos e as fronteiras são desenhadas ao redor de cada um desses
grupos. Aqui, como já comentado, prefere-se localizar a anemia na superfície do mundo, ao
invés de tentar encontrá-la no corpo. Em uma pesquisa quantitativa nos Países Baixos, houve
variações dos números para a caracterização da anemia. Em ―países tropicais‖ a anemia é
causada por muitos fatores, envolvendo muitas pessoas, sendo a doença com maior número de
incidências. Enfocando os estudos em países africanos, não significa que seja tão óbvio
comparar a anemia como entidade atuante na África com a anemia encontrada na Holanda. O
que se notou nos estudos é que a anemia em países africanos refere-se à má-nutrição. Assim,
se falamos de uma doença tropical, na realidade, estamos falando de uma doença nutricional.
Na África, a anemia é mais frequente que na Holanda, além de ser mais severa. Pois na
Holanda os hospitais que admitem pessoas com anemia, quase sempre atendem casos
relacionados a acidentes ou em decorrência de algum procedimento cirúrgico. Vale ressaltar
que o nível de hemoglobina no mundo não é único. Há regiões em que há mais pessoas com
anemia que outras. Através da noção topológica, percebe-se a complexidade de se definir um
desenho exato das fronteiras regionais. Por isso, as delimitações topológicas dos Países
Baixos e países africanos referentes aos casos de anemia ficam cada vez mais difíceis de
distinguir, já que o nível de hemoglobina na África e na Holanda é baixo, logo, há
necessidade de se descobrir a possibilidade de se criar um mapa regional da anemia. Este
mapa procura representar uma homogeneidade do campo dividido em regiões onde a anemia é
abundante e em outra escassa, possibilitando, dessa maneira, construir uma versão social em
que o espaço denota exclusividade de estudo. Por meio de uma organizada divisão, o aqui ou
o ali – cada lugar – fica localizado em um lado da fronteira. A anemia está tanto dentro quanto
fora dos espaços criados. O que é similar está próximo, e o que é diferente está em outro lugar
(Ibid.).
Quanto à segunda topologia, caracteriza-se por conformar ―redes‖. E estas declaram
que a distância se apresenta com a função de relacionar elementos e se referem, também, a um
ponto de partida, através do qual é possível se diferenciar da variedade relacional. Criar um
43
mapa regional é estressante quanto às semelhanças entre as regiões, assim como as diferenças
referentes às fronteiras. Mas também compreende números que revelam o nível de
hemoglobina, e números demandam medidas. Contudo, ao contrário do que se pensa, medir
nível de hemoglobina não é fácil. Requer maquinário. Além de conhecimento para lidar com a
tecnologia que concentra. Na Holanda existe em todos os seus laboratórios um medidor fotoelétrico, o qual é caro e ao mesmo tempo parece ser um simples dispositivo que compreende
muitas práticas genéricas. Mas, e quanto à África?
Pensando a partir da realidade do
continente, ao invés de criar um mapa regional, há a necessidade de construir uma rede para
mensurar o nível de hemoglobina. E que este arranjo tenha em sua composição pessoas com
habilidades para mensurar o nível de hemoglobina, assim como o maquinário. Deduz-se que
seja como o trabalho de criação de números e gerações de espaços homogêneos sem que as
noções de confecção e de fronteiras se tornem possíveis. A rede compreende uma série de
elementos com relações bem definidas entre eles. Fica claro que os elementos da rede podem
ser maquinários ou gestos. No espaço da rede, a proximidade não é métrica, o aqui e o lá não
são objetos ou atributos que estejam dentro ou fora do sistema de fronteiras. Proximidade,
pelo contrário, faz com que a identidade da semiótica5 se modele (MOL & LAW, 1994).
Redes coexistem e elas podem interconectar-se umas as outras. Os pesquisadores
realçam e lembram que o diagnóstico clínico não é variante; pois, na realidade, elementos
mudam, modificam-se na maneira em que suportam juntos às variantes de um lugar a outro. O
móvel não restringe a mover, mas a ser mutável também. Por isso abre mais possibilidades
para a defesa da existência de outros tipos de espaços sociais, já que consideram um possível
terceiro espaço, isto é, de uma ―espacialidade fluídica‖. Para o terceiro espaço, os lugares não
são nem delimitados por fronteiras, nem ligados através de relações estáveis; em vez disso, as
entidades podem ser semelhantes e diferentes em locais distintos, em espaços fluídos. Além
disso, elas também podem se modificar sem uma criação diferenciada. Como no caso da
Holanda, aonde as pessoas que vão até o consultório de um clínico geral não passam por todos
os tipos de testes de laboratório de consulta médica. O nível de hemoglobina holandês, por
exemplo, é apenas medido depois que as pessoas tenham relatado suas queixas. Assim, a
clínica precede ao laboratório. A ―escuta‖ das queixas – as histórias revelam a tontura,
cansaço e respiração curta do paciente – é um elemento crucial da clínica na Holanda. Na
5
Neste trabalho adotamos a noção de Semiótica material estudada e defendida pelos pesquisadores em Ciência,
Tecnologia e Sociedade (CTS). A Semiótica material compreende os efeitos provenientes das relações
estabelecidas entre entidades não/humanas, ou entre humanas e não/humanas – consideradas tão potentes quanto
os efeitos provenientes das relações entre humanos e humanos (HARAWAY, 1995; LAW, 1997).
44
África é diferente. Os médicos tropicais dizem que suas práticas africanas não questionam os
pacientes quanto suas queixas. As especificidades, caso ocorram, acabam não chegando a
aparecer. Correlacionado a essa situação, há o problema da língua. Como diz um médico
holandês, o médico não fala a língua local e o paciente não fala holandês. Felizmente, o
médico e a enfermeira falam inglês. A tradução continua. Isto faz com que surjam lentos
progressos. Mas nesse ínterim, o problema da língua contribui para exacerbar problemas na
rotina cotidiana, durante a urgência e nas consultas ambulatoriais, momentos em que as
queixas do paciente poderiam confirmar a anemia e, consequentemente, partes da realidade
(MOL & LAW, 1994).
Em um espaço fluídico não é possível determinar com exatidão identidades e
ordenamentos de um ou de todos os espaços. O mesmo pode-se dizer quanto à distinção entre
o lado de dentro e o de fora para qualquer que seja o local. As semelhanças e diferenças locais
são compostas por uma série de obscuras variações. Para a lógica do objeto fluídico não é
diferente, e, ligado a este, as alterações fluídicas não compreendem apenas à simples
permutações de elementos. Um mundo fluídico é um mundo de misturas. Mesclas que às
vezes podem ser separadas, mas nem sempre é necessário que isso aconteça. Então em que se
diferem os espaços dos que estão em rede? Para coisas em rede, tem-se a noção de que as
coisas devem estar juntas, havendo dependência uma da outra, diferindo do fluídico, pois para
tal mundo, não existe um ponto de passagem obrigatória. Este é sem local, sem centro, sem
vigias, sem centros de tradução. Em decorrência disso, entende-se que muitos elementos
quando vistos individualmente são compreendidos como supérfluos. A diferença dentro de
um espaço fluídico não é, necessariamente, feita de fronteiras. É móvel. O espaço fluídico
nem sempre é compreensível como uma rede é. Para um elemento fluídico cada um informa
ao outro, mas de modo que eles possam continuamente se alterar. Por isso, compreende-se
que as três topologias têm pontos de imbricação. Elas coexistem. Entretanto, as variações
dentro das regiões são amplas e fixas, enquanto que para espaços fluídicos são os arranjos que
conformam tudo e todos são variáveis. (MOL & LAW, 1994).
Dessa maneira, para fins de síntese, definimos ―objetos sociotécnicos do cuidado‖
como resultantes de efeitos relacionais de ―arranjos sociomateriais‖ que interferem no curso
de práticas cotidianas. A estes, conferimos o potencial de mediar e vincular [attachement]6
6
Designa o que comove, transforma e que coloca em movimento. Portanto, há que atentar para os bons vínculos,
ou seja, para o que estes vínculos produzem, bem como para quais efeitos decorrem de tais alianças, arranjos;
uma vez que maus vínculos não mobilizam nada e ninguém (LATOUR, 2000).
45
entidades intermediárias, de outra forma, aquelas que são concomitantemente sociais e
materiais. No caso do nosso estudo, os objetos sociotécnicos a serem analisados
correspondem àqueles presentes, topologicamente falando, pelos espaços de uma unidade
pediátrica que estão diretamente vinculados à prestação de cuidados às crianças e
adolescentes em atendimento (LATOUR, 2001).
1.3. Tecnologias ou práticas de cuidado
Os estudos que serão elencados a seguir contribuíram para pensarmos nas Práticas de
cuidado encontradas no cotidiano hospitalar, permitindo a sua compreensão como arranjos
que se confeccionam no dia-a-dia das práticas hospitalares (MOL, 2002a; LAW, 2004; MOL,
2008). As Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar nos convidam a refletir sobre as
diversas entidades promotoras de potentes modos de cuidar, ao mesmo tempo, que nos
indicam o seu caráter contingente. São possuidoras de objetos que não são inertes, pelo
contrário, são compostas por artefatos que se conectam entre si, assim como se ligam às
pessoas, produzindo efeitos de humanização, por isso, podem ser nomeados como objetos
sociotécnicos de cuidado (MOL, 2008). Podem ser provenientes, também, de minúcias ou da
ativação de formas criativas e inventivas de cuidar (AYRES, 2004).
No cotidiano hospitalar da enfermagem pediátrica, no que se refere às situações de
média e alta complexidade, é visível a insustentabilidade de qualquer dicotomia entre ordem
artefatual e ordem orgânica, uma vez que assistir uma clientela pediátrica que necessita de
cuidados mínimos, alta-dependência, intermediários, semi-intensivos a intensivos, 7 em
decorrência do quadro de cronicidade e gravidade, coloca os profissionais diante de uma
relação íntima com uma variedade de tecnologias (BRASIL, 2007; PERROCA, 2008;
ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009; DINI et al, 2011). E, principalmente, porque a
classificação em cuidados pediátricos não se encontra definida, nem validada (DINI et al,
2011).
7
No Brasil, o sistema de classificação de pacientes foi abordado pela primeira vez em 1972, como um conceito
de Cuidado Progressivo dos Pacientes (CPP), ou seja, como uma forma de organizar o cuidado médico e de
enfermagem de acordo com o grau de enfermidade e cuidado requerido. Passando constantemente por um
processo de reavaliação, haja vista, a variação das necessidades para cada categoria a ser cuidada (PERROCA,
2008, DINI et al, 2011).
46
Segundo Ferreira (2009), o termo ―técnica‖, etimologicamente, vem do grego techné,
que significa habilidade e arte. Podemos ainda acrescentar o ato de fabricar, produzir, fazer ou
construir (KOERICH et al, 2006). E, quanto ao termo ―tecnologia‖, conforme Nietsche &
Leopardi (2000); Koerich et al (2006), compreende uma ampla conotação e se refere às
técnicas, métodos, procedimentos, ferramentas, equipamentos e instalações que permitem a
concretização e aquisição de um ou diversos insumos. Nesta concepção, a tecnologia atende
tanto à categoria de produto (equipamentos, instalações físicas, ferramentas, instrumentos,
materiais) como de processos (constituição de técnicas, instrumentos metodológicos, escalas e
procedimentos).
Pesquisadores como Merhy, em Em busca de ferramentas analisadoras das
Tecnologias em Saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo
trabalho em saúde (2007), dividem as tecnologias em leve, leve-dura e dura. Ou seja, são
classificadas como leve quando falamos de relações, acolhimento, gestão de serviços; levedura quando nos referimos aos saberes bem estruturados, como o processo de enfermagem; e
dura quando envolvem os equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, as normas. Segundo
Ayres (2000); Arone e Cunha (2007), devemos ter cuidado com a conceituação de tecnologias
como instrumentos, para que o cuidado em enfermagem não se limite a um mero tecnicismo.
Desse modo, falar sobre Tecnologias de Cuidado não é discutir tecnologias como
equipamentos modernos ou novos, mas de como se articulam às práticas em saúde a serviço
do usuário para enfrentar os diferentes problemas de saúde (KOERICH et al, 2006; MOL,
2008; MOL; MOSER; POLS, 2010; ROCHA et al, 2008; DINI et al, 2011).
No cuidado de Enfermagem, tecnologias e humanos estão interligados, pois as
formações sociotécnicas, ao se relacionarem com o humano, são responsáveis pelos efeitos de
manutenção da vida humana e de promoção de saúde (LATOUR, 1994; BARNARD &
SANDELOWSKI, 2001; MOL, 2002a; MOL, 2002b; MOL, 2008). Por este motivo,
definimos Tecnologias do Cuidado como dispositivos 8 que conjugam objetos sociotécnicos e
que, por algum momento de tensão, compõem uma ambiência de cuidado, que são as
8
Noção foucaultiana para ―dispositivos‖ equivale às ―tecnologias do cuidado‖ enquanto conjunto multilinear de
―objetos sociotécnicos‖ com uma finalidade estratégica que pode variar, derivando em novos arranjos. Essas
linhas não ficam delimitadas, muito menos envolvem sistemas homogêneos por sua própria conta, como objeto,
sujeito ou linguagem etc., mas seguem direções, traçam processos que estão sempre em desequilíbrio, em tensão,
e que ora se aproximam ora se afastam um do outro ou provocam fusão ou fissão entre todos (FOUCAULT,
2000).
47
ambientações produzidas por determinados dispositivos e seus consecutivos objetos
sociotécnicos promotores de modulações de afetos. Desse modo, consideramos que envolvem
actâncias múltiplas, nem sempre coerentes entre si e cujo estudo requer atenção às
performances que produzam ou desfaçam realidades (MOL, 2002b; MOL; MOSER; POLS,
2010). Logo, Práticas de cuidado compreendem tecnologias de cuidado e objetos
sociotécnicos do cuidado, não podendo ser reduzidas a um ou a outro (MOL, 2008).
Vejamos alguns estudos que se situam como pesquisas sobre Práticas de cuidado. Em
Care: putting practice into theory (2010), Mol, Moser e Pols descrevem os cuidados
efetivados por fazendeiros para com os animais de suas fazendas. Trazem para a discussão as
práticas de cuidados de animais de uma fazenda holandesa nos anos sessenta, onde os animais
eram submetidos a diferentes cuidados – alguns animais tinham cuidados individualizados e
ganhavam nomes, enquanto outros não. Alguns eram abatidos, outros não. Ulteriores tinham
entrada garantida na casa da família, centenas de outros não. E, para países ocidentais, até
aquele momento, mesmo diante da inexistência de uma declaração universal dos direitos dos
animais, ou seja, de princípios éticos favoráveis à boa convivência entre homens e animais, já
se notava a rica e complexa relação entre ambos. E, a saber, também se inclui a questão
econômica nessa densa relação de vínculos afetivos, pois, considerando que a família
dependia economicamente de seus animais, não havia como excluir da importância de
cuidado aqueles com os quais se relacionava (MOL; MOSER; POLS, 2010).
No trabalho On recognation, caring and dementia (2010), a pesquisadora Taylor
relata a sua experiência com o quadro de demência por Alzheimer em sua mãe, na qual o
cuidado prestado estava estritamente ligado a um reconhecimento. Sendo assim, as
relevâncias passaram a estar relacionadas a questionamentos inversos, como por exemplo: ao
invés de perguntar se ela ―me‖ reconhece como sua filha, passa a questionar se ―eu‖ ou ―nós‖
a reconhecemos? A autora descreve e mostra como busca ―pistas‖ afetivas (a voz, o sorriso)
que a façam reconhecer sua mãe em meio à progressiva modificação provocada pela
degeneração cognitiva.
Em face à descrição, é notável a alta complexidade e ―baixa densidade tecnológica‖
utilizada pela filha-pesquisadora. São habilidades que transcendem o palpável, que se
materializam por meio de feições e gestos de rememoração. Uma abordagem, que até então,
circula em nível de atenção primária do cuidado (BRASIL, 2007), mas que não nos impede de
utilizá-la para o cuidado em saúde em média e alta complexidade, haja vista o entendimento
48
de nossa equipe de estudo sobre ―complexificação‖ em tecnologias do cuidado (LAW &
MOL, 2002).
As ações efetivadas pela filha-pesquisadora correspondem ao que Gane & Haraway
(2009) nomeiam de Tecnologia de Pensar. Em entrevista, Haraway foi interpelada sobre o
significado de Tecnologias de Pensar? Ela respondeu o questionamento através de uma
ilustração complexificante. Ou seja, disse crer que o ato de ―treinar‖ sua cadela é uma
Tecnologia de Pensar.
Segundo Haraway (Gane & Haraway 2009), tanto ela como treinadora, quanto a
cadela como aprendiz, são provocadas e motivadas a mudarem; isto porque a prática exige
que ambas foquem uma na outra para avançarem, uma vez que estão diante de uma
experiência nova; por conta disso, seria impossível de se fazer algo isoladamente, ou melhor,
sozinhas, separadas. A pesquisadora complementa dizendo que esse ―fazer‖ compreende a
um fazer de maneira regrada, que se liga a jogar um jogo específico com regras eventuais que
permitem jogar ou inventar algo novo, algo que transponha a comunicação funcional, que crie
algo aberto.
Não bastando, Gane & Haraway (2009) ampliam o exemplo ilustrativo ligado a
viventes não/humanos, pois argumentam que Tecnologias de Pensar, na verdade, é
exatamente o que o ―brincar‖ significa: um jogo que possibilita um espaço suficientemente
seguro para fazer algo que seria perigoso de outra maneira. Ao falar sobre o modo de brincar
dos cães, Haraway comenta que estes sabem que quando ―deitam‖ fazem seu parceiro fazer
algo que não conseguiriam se não tivessem ―deitados‖. O que ocorre, a partir da ação, é o
estabelecimento de um sinal meta-comunicativo com o seu parceiro (quem o treina) de que é
um momento que não é necessário atacá-lo, porque reciprocamente não haverá ataque. Há um
reconhecimento entre ambos.
A leitura que obtêm (treinador e cão) diz respeito à criação de um espaço livre e
instigante, no qual os jogadores acabam fazendo coisas que os constituem como seres
diferenciados do que eram anteriormente. Conforme a pesquisadora, brincar é realmente
interessante, e os humanos estão longe de serem os únicos que brincam. E a brincadeira como
parte do treinamento é, de certa forma, uma Tecnologia de Pensar, porque nos faz acessar a
material-semiose de uma maneira diferente e nos leva a pensar sobre ligações e invenções.
49
Em parte, devido a este pensar em Tecnologias de Pensar ser diminuto. Por isso, Haraway
acredita que as práticas do tipo etnográficas também são Tecnologias de Pensar. Acredita que
quase todos os projetos de conhecimento que sejam sérios podem ser Tecnologias de Pensar,
na medida em que refazem seus participantes. Tecnologias rearranjam o mundo para
determinados propósitos, mas vão além da função e do propósito para algo aberto, algo que
ainda não é (GANE & HARAWAY, 2009).
Sobre os estudos em Care and its values: good food in the nursing home (2010), Mol
revela não um final feliz [happy end] ou um ―bom‖ desfecho, mas nos sugere caminhos
alternativos para se perceber como, por exemplo, uma ―boa‖ comida vincula uma série de
―bons‖ modos de cuidar da individualidade de um idoso que mora em casa de repouso.
Nossa reverência recai sobre o processo de preparo da comida que uma das
pesquisadoras do estudo fez questão de acompanhar de perto, pois ―visitou‖, ou melhor,
aprendeu como se come e bebe ao habitar uma casa de repouso. Isto significa que o estudo
toma como cenário de análise o modo como o valor nutricional é acatado por cada idoso. Para
isso, coube investigar a relação entre cada refeição (café, almoço, lanche, jantar) com a
habilidade de ingesta do idoso. Portanto, em seguir as práticas diárias da ―boa comida‖ que é
preparada, servida e que é, por fim, ingerida pelos idosos da casa de repouso – perambular
pela cozinha, pela enfermaria e notar como a comida é processada pela boca do idoso (se a
comida tem que ser triturada ou se é de densidade líquida ou com textura tipo pasta). Ou
ainda, se é atrativa pelo odor ou pela coloração. Investiga-se o tipo de talher que costumam e
podem utilizar para manipular as refeições. Não bastando, denota-se relevante aprender sobre
o tipo de bebida que gostam e tem condições de ingerir (MOL, 2010).
Sobre o grau de dependência do idoso quanto a essa habilidade diária, faz-se
necessário observar o envolvimento de cada um dos assistentes responsáveis por produzir e
servir cada idoso para se obter uma sutil percepção sobre os motivos que levam algumas
enfermeiras e assistentes de enfermagem a gastarem parte de seu tempo olhando ou
auxiliando um idoso durante as refeições. E, a partir do que é servido, notar os sentidos e
sensações mais aguçados neste: visão? Olfato? Ou se a comida que se sente motivado a
ingerir está relacionada com ―boas‖ lembranças ou por ser típica da cultura local (holandesa).
E, como comentado, de estar diante do enfrentamento do que é inesperado, dos conflitos entre
o que é apreciado pelo idoso e o valor nutricional da comida que se espera que ele consuma,
50
mas que, às vezes, não coincidem. Enfim, estar frente-a-frente com finais imperfeitos, poucos
felizes, em meio a tensões ou perante a iminência de uma separação de interesses; portanto, de
saber lidar com modos diferentes de se eleger o que vem a ser uma ―boa‖ comida, de lidar
com a multiplicidade que esta comporta, já que a refeição se mostra como um evento social,
bem como se conecta a uma forma de acolhimento (MOL, 2010).
López et al., em How to become a guardian angel: providing safety in a home
telecare servisse (2010),
descrevem os cuidados em saúde prestados domiciliarmente a
idosos e seus familiares. Portanto, através da tele-assistência em saúde, se possibilita o
exercício de autonomia dos idosos, assim como comodidade e conforto, pois permanecem em
casa, além de garantir segurança e o atendimento imediato ao idoso, despreocupando a sua
família.
Ainda destacamos Moser e Law, pois em “Making Voices”: New Media Technologies,
Disabilities, and Articulation (2001) exploram uma história sobre deficiências e uma
tecnologia. Ou melhor, falam da multiplicidade emitida pelas Novas Mídias Tecnológicas
quando em articulação com pessoas com alguma deficiência degenerativa. A contribuição do
estudo se assenta em discorrer como essa multiplicidade pode facilitar que pessoas consigam
conviver com suas deficiências, uma vez que o artefato permite que pessoas gravemente
incapacitadas possam falar ou agir por si mesmas de maneira que de outra forma não seria
possível. A pesquisa também está vinculada à noção de afetividade material, pois os múltiplos
efeitos de afetações partem da relação estabelecida entre um sistema computacional e pessoas.
O artefato do trabalho se chama Roltalk, o qual performa afetividades de maneiras
específicas. Roltalk refere-se a um sistema de computador integrado, composto por hardware
e software, para uso de pessoas com uma diversidade de deficiências. Ele comanda uma séria
de funções – por exemplo, permite ao usuário expressar suas necessidades e desejos quanto
orientar a movimentação de sua cadeira de rodas ou através de um controle de ambiente,
permitindo-lhe também abrir a porta de casa. Ou simplesmente ―dizer‖, por meio de
comandos, que deseja ficar sozinho, assim como ―confessar‖ que esteja cansado. Possibilita
também que o usuário expresse satisfação por estar escutando sua música preferida, mesmo
sem emissão de palavras pelo sistema (Roltalk em silêncio) (MOSER & LAW, 2001).
O interesse pelo sistema, em parte, está ligado ao menu, por articular o Roltalk aos
usuários. Mas também é atrativo porque determinadas afetações são consideradas
51
particularmente importantes para pessoas com perdas de habilidades, ou para pessoas que tem
interesse pelo desenvolvimento das Novas Mídias Tecnologias (Ibid.).
Entretanto, o Roltalk desperta estímulos para estudos devido as suas limitações.
Porque tais limitações, de certo modo, inferem afetividades singulares aqueles que utilizam o
sistema. O que os pesquisadores concluíram é que se deve evitar uma história excessivamente
otimista, que enfatize o poder do Roltalk quanto a gerar uma discriminada autonomia a seus
usuários. Mas também há que se poupar o sistema de descrições excessivamente pessimistas.
Em especial aquelas que apontam a incapacidade do Roltalk para entender as demandas de
conversas fluídicas ou de expressão verbal; desse modo, tendo como opção, uma ―verdade‖
mediana. Ou melhor, a ―verdade‖ em que indivíduos competentes são ora autônomos, ora
dependentes. E, em diferentes momentos, são ativos ou passivos quando articulado com o
Roltalk (MOSER & LAW, 2001).
Outro tópico da conclusão desse estudo refere-se à utilização da expressão
―articulação‖ ao invés de ―dar voz‖, porque as descrições da pesquisa provaram que ―dar voz‖
é um termo um pouco injusto. Este implica que uma pessoa tem uma voz e está simplesmente
esperando para expressá-la – o que nem sempre acontece. Enquanto ―vozes‖, ou como foi
denominado ―articulações‖, cria uma lógica emergente e do tipo ―como-ciborgue‖, ou ainda
―uma vida do estilo ciborgue‖, na qual uma companhia se estabelece entre humanos e
não/humanos para que o humano possa se expressar ou escolher por permanecer em silêncio.
Por isso, falar é um modo de articulação, mas apenas um tipo. O que os pesquisadores
notaram é que há várias outras maneiras ―de falar‖ – o que acontece a partir das articulações,
ou até mesmo das resistências (silêncio) (Ibid.).
Contribuição importante também advém das reflexões de Mol em Cutting Surgeons,
Walking Patients: some Complexities Involved in Comparing (2002b). Nessa pesquisa, a
autora descreve práticas de cuidado. A partir de seus estudos, Mol compara a prática terapia
do caminhar com a prática cirúrgica, sendo duas formas de tratamento para pessoas com
claudicação (obstrução) de artérias e veias de membros inferiores. Aponta como é
fundamental levar em consideração as particularidades de cada paciente quando se fala de
formas diferentes de tratamento, ou melhor, sobre o efeito que cada uma delas pode beneficiar
pacientes distintos. Alerta sobre a relevância de se incluir a técnica de dialogar (típico da
terapia do caminhar) na prática de investigação do processo saúde-doença do paciente. Chama
atenção para a importância de se comunicar ao paciente que haverá melhoras após a cirurgia
52
ou após a prática da terapia do caminhar, entretanto, não necessariamente apresentará uma
cura total, pois esta, em muitos casos, não acontece.
As tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos, não necessariamente arranjados
sob a configuração de dispositivos, participam da produção de práticas de cuidado compostas
por modulação de afetos. Práticas de cuidado se materializam e se traduzem em conjuntos de
operações sociotécnicas imiscuídas de afetos (MOL, 2002a; MOSER, 2005; MOL; MOSER;
POLS, 2010; MANN et al, 2011; DESPRET, 2011).
Em pediatria, as práticas de cuidado são mais visíveis quando falamos em crianças
cujas vidas dependem diretamente de tecnologias assistivas. No entanto, se inserem também
em situações nas quais as crianças necessitam de acolhimento em enfermarias quando se
veem instadas a regularizar condições de saúde a partir de intervenções clínicas ou cirúrgicas
(BRASIL, 2007; LEITE & CUNHA, 2007; GAVAZZA et al, 2008; ALVES; DESLANDES;
MITRE, 2009; FROTA et al, 2010).
A mobilização de objetos sociotécnicos e de tecnologias para manutenção da vida são
uma constante no cotidiano de crianças hospitalizadas. Práticas de cuidado são complexas e se
imbricam, inclusive, com questões éticas referentes à fronteira legal entre a morte e o morrer,
ou seja, em discussões sobre a permanência ou retiradas dos cuidados sociotécnicos e sobre
manter e sustentar a vida de crianças terminais ou de pacientes portadores de alguma
anormalidade genética (CANTOR, 1987; GARROS, 2003; BRASIL, 2007).
1.4. Interferências: espacialidades e modulação de afetos em práticas de cuidado
Ao falarmos de interferências mencionamos um tipo de mediador de ações (actâncias)
que é produzido por um coletivo sociotécnico. Esse coletivo pode ser constituído por
humanos e não/humanos. Mas a relevância está em dizer que a relação conjugada não
configura dominância de uma das partes. Mas a produção de alguém ou algo ―a mais‖, de
transformações notadas como efeito (LATOUR, 2001).
Em On becoming disabled and articulating alternatives: the multiple modes of
ordering disability and their interferences (2005), é possível perceber como as interferências
53
acontecem no cotidiano. Ou melhor, Moser descreve os efeitos das interferências produzidas
por determinadas tecnologias, os quais as fazem eficientes cuidadores de pacientes em
condições de perdas de habilidades motoras. Mostrando, portanto, que as tecnologias
contribuem para o cuidado, pois possibilitam múltiplas maneiras de se ordenar perdas de
habilidades ocasionadas por acidentes automobilísticos.
Vertemos para as espacialidades e modulações de afetos como efeitos. Sendo assim,
aludem às ações promovidas por entidades sociotécnicas para reordenações de espaços, ou
melhor, as novas espacialidades em determinadas ambientações relacionadas à modulação de
afetos dos usuários e equipe envolvidos (LAW & MOL, 2001; DESPRET, 2011). As
interferências nas espacialidades, bem como a modulação de afetos, podem, segundo nossos
estudos, aparecer constritas aos cuidados prestados em saúde. Entendemos modulação de
afetos em ambiências como resultado de interferências das tecnologias e de seus objetos
sociotécnicos de cuidado.
Para nossos estudos, com o intuito de evitar polaridades, a palavra interferência vem
imbricada à espacialidade, estabelece-se entre elas uma relação de interdependência. Para
chegar a essa conexão passamos por alguns estudos sobre os conceitos de espaço, lugar
encontrado nos estudos da Geografia da Infância antes de penetrarmos nos estudos de
pesquisadores em sociomaterialidades.
Um grupo de pesquisa no Brasil, com sede na Universidade Federal Fluminense
(UFF), tem como foco de estudos os conceitos de Espaços, Lugares, Territorialidades onde a
infância é vista, ao realizar uma ocupação topográfica, como um constructo social e cultural.
Por isso falam desses conceitos como componentes de uma Geografia da Infância, na qual a
criança se revela como protagonista, ou seja, como um artefato social que imprime sua
história ao produzi-la em um lugar (SARMENTO, 1997; 1999; 2009; LOPES &
VASCONCELLOS, 2006). Temos como intuito configurar um diálogo com o conceito de
―espaço‖, no momento que este se verte em ―lugar‖ da infância (TUAN, 1987); (LOPES &
VASCONCELLOS, 2006). Segundo esses pesquisadores, espaço se faz ao se materializar
como um lugar, isto é, quando passa a ser habitável, identificado e reconhecido por quem o
habita. Retomando Tuan (1983), o ambiente habitável, o lugar, é locus que vem da
consequência de uma relação de afeto com uma pessoa. Esse instante de conjugação entre
espaço-lugar, ou seja, o elo entre pessoas e espaço físico (TUAN, 1983); (LOPES &
VASCONCELLOS, 2005) aproxima-se da noção de reordenações de espaços, ou ainda, de
54
espacialidades, conforme estudos de pesquisadores em sociomaterialidades Lopez (2005);
López & Sánchez-Criado (2009); Schillmeier & Domènech (2009).
Schillmeier e Domènech (2009) convidam para pensar as entidades das práticas do
cuidado ligadas a uma prática do espaço. Convida-nos para repensar práticas do cuidado na
sociedade contemporânea. Como ilustração, trazem a noção de que ―habitat‖ interfere no
cotidiano; por isso, os autores assinalam que se deve perceber o habitat como uma entidade
que cuida e requer cuidado. Logo, é preciso falar em habitabilidade como cuidado (dwelling
as caring).
Para os pesquisadores, habitabilidade do cuidado se configura via sociomaterialidades
e através de relacionamentos estabelecidos entre coletivos heterogêneos, que são um arranjo
de humanos e não/humanos. Ao se pensar espacializações do cuidado como uma arte do
habitar, que constantemente relaciona uma extensa heterogenia sociomaterial, fala-se de
Cuidado como uma arte, por conta de performar ―o estar no lar‖ através de reordenações
corporais, emocionais, tecnológicas, lugares com elevadas especificidades, conectados a
modos complexos, geralmente frágeis e delicados das sociomaterialidades em atuação.
Frisando a noção de Habitabilidade, temos o significado de viver em meio às coisas
(SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009).
―Estar em casa‖ e ―sentir-se em casa‖ configuram simetrias (próximos) quando
utilizamos meios com potências para dissolver as delimitações de fronteiras. Para os
pesquisadores, não basta apenas à instalação de um aparelho com competências em
Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC) na casa de um idoso que permita a
comunicação com seus familiares, seria preciso à incorporação de toda a sociomaterialidade
que compreende o ―serviço de tele-assistência‖, pois se fala de novas espacialidades nas quais
se encontram juntos o público e o privado. Isso significa que o que seria restrito às
particularidades de quatro paredes passa a transitar também pelo espaço público (LÓPEZ &
SÁNCHEZ – CRIADO, 2009); (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009).
Portanto seria possível repensar os processos de reordenação de corpos, mentes,
emoções, tecnologias. E, tendo esses como elementos que se arranjam, é possível pensar em
suas performances [enactments] como promotoras de uma arte da habitabilidade, isto é, como
potentes re-configuradores de espaços, os quais se transformam em habitat familiares
(SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009).
55
As espacialidades resultantes podem configurar ―habitabilidade‖. É essa noção em
espacialidades que nos interessa. A habitabilidade é entendida por nós como uma ambiência
que propicia aproximações, um espaço que configura relações de familiaridade. Ou ainda,
como um lugar que tem dimensões e uma topologia que é reconhecido por quem o hospeda,
que o tem como um lar, por conta de deixar quem o habita mais que confortável, à vontade
para intervir sobre este, transformando-o em um habitat (LÓPEZ & SÁNCHEZ – CRIADO,
2009); (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). Ou como argumenta Sarmento (1997; 1999;
2009), sociólogo da Infância, modificar um espaço compreende torná-lo um lugar mais
habitável e justo.
Galindo (GALINDO et al, 2009) contribui para pensar espacialidades vinculadas à
interferências . De acordo com os seus estudos em refugos urbanos, é possível perceber que as
sociomaterialidades que chegam ao centro de reciclagem promovem concomitantemente
reordenações espaciais e interferências, ficando perceptível que as espacialidades e
interferências produzidas pelos refugos no local pesquisado se constituíram de maneira
singular. Ou seja, que os agenciamentos que emergiram de algumas materialidades em
destaque no local – como, por exemplo, o ferro – transformaram um espaço através de
relações singulares estabelecidas, produzindo, portanto, novas ambiências, novos lugares.
Temos desse modo, a ocorrência de reordenações espaciais via materiais que, por algum
momento, transpuseram suas funções originais, ou ainda, desembrulharam-se de sua função
inicial.
A preferência por adotar a noção de ―espacialidades‖ como simétrica à ―interferência‖
justifica-se pelo fato da confecção de novos lugares – ou das reordenações de espaços em
espacialidades –, além de ambiências relacionais, que sempre acontecerão quando há
―interferências‖. Segundo Law (1997), o ponto relevante é que espacialidade não é algo dado,
muito menos cristalizado, ou uma parte da ordem de outras partes. Pelo contrário, é potência
para várias versões. No caso de nosso trabalho, reordenações acontecem no ato da fabricação
de tecnologias do cuidado, ocorrem em meio aos arranjos de objetos sociotécnicos do
cuidado, fugindo a fixação de espaços, ou seja, da delimitação de um lugar, como se esperaria
classicamente, conforme a concepção Euclidiana.
56
1.5. Modulação de afetos e interferências nas espacialidades
Compomos uma trajetória que corresponde à constituição do saber sobre modulação
de afetos, para assim entendê-la como interferência nos espaços do hospital. Portanto, a seguir
aprofundaremos um pouco mais a temática ―afetos‖ e o motivo que nos levou a adotar a
concepção de afetos ao invés de emoções.
Pretendemos nos aventurar pela complexa ―geografia‖ dos afetos. Seria uma tentativa
vibrátil de elucidar e ampliar os movimentos de uma afetividade que se faz e refaz
continuamente, se exterioriza e interioriza a todo instante, de tal modo que o interno tem o
externo e o externo tem o interno. Isto é, são próximos, encontram-se juntos. E esta afetação
compreendendo um interno-externo seria nada mais nada menos que diagramas que se
constituem momentaneamente e que em seguida se desfazem. Estão incluídos nesses
diagramas não apenas noções abstratas, aquilo que não é palpável, mas também elementos
materiais que de algum modo acabam materializando o que é sensível (SIMONDON, 1958;
DESPRET, 2004; DAMASCENO, 2007).
E por isso são convidativos para se pensar as fronteiras éticas e culturais sobre o que
seriam afetos. Para se pensar na afetação como algo que se esparrama e se infiltra entre as
fissuras e dobras da pele, não se limitando ao coração ou ao cérebro, mas nesses, entre esses,
bem como em/entre todos os órgãos e sistemas que compõem, e desses em relação a tudo com
que se diagramam; o que no campo dos Estudos Sociotécnico se chama de arranjos de
sociomaterialidades capazes de provocar interferências, produzindo assim, reordenações
espaciais e modulações de afetos. (SIMONDON, 1958; DESPRET, 2004; DAMASCENO,
2007).
Sendo assim, escolhemos conceituar ―afetos‖ a partir de estudos sobre subjetividade
em Vinciane Despret. Em princípio, Despret (2011) propõe uma releitura dos clássicos em
subjetividades, e, a partir destes, propõe a reformulação do termo ―emoções‖, uma vez que o
considera restritivo; a seguir fala sobre afetos como um conceito mais amplo; por fim,
enfatiza sua escolha (a qual adotamos) por noção de afeto, por este ser aberto e porque a
incorpora, ao invés de segregar a noção de emoções.
57
Em uma concepção ocidental, as emoções estariam atreladas depreciativamente ao
gênero minoritário (mulheres), assim como aos vulneráveis, o que inclui não apenas mulheres,
mas também crianças e idosos. São identificadas como emissoras de irracionalidade,
subjetividades, como pontos de fraquezas e de subordinação declarados por aqueles que não
escapam a manifestação de afeto. Seriam as responsáveis por congregar ―sensibilidade‖
apenas aos espaços familiares ou privados, enquanto os espaços públicos estariam vinculados
à razão. Estariam, também, ligadas ao caótico, enfim, sempre associadas a alguma
característica negativa. O conceito de emoções sofreu com constantes ataques dicotômicos,
pois as emoções sempre estiveram ligadas às múltiplas contradições. Aproveitando-se disso,
constitui-se de um sistema de relações de poder que se alimenta do controle das emoções. As
emoções, desse modo, estariam atreladas à sociedade, e, por conta disso, se encontrariam
vinculadas à política, ou seja, à relação de afiliação e de aliança – por conseguinte, adstritos à
noção de normalidade e desvio. É dito, também, que nossas emoções são ―vida‖, por isso
devemos valorizá-las, já que correspondem ao núcleo mais autêntico de uma pessoa
(DESPRET, 2011).
A polaridade entre natural e social é arriscada. É preferível tentar refletir a partir de
uma concepção sobre as multiplicidades, isto é, de buscar entender como parte das emoções
os ―desvios‖ e as ―anormalidades‖, e de uma noção não depreciativa ou de subordinação.
Logo, não devemos apenas cultivar uma experiência de paixão que se defina como ―evento
fora de controle‖, mas como ―modos‖ do transbordamento passional, e, em decorrência disso,
podemos ser induzidos ao transbordamento e essa indução será reconhecida como uma
verdade (Ibid.).
Em Das emoções-visões aos afetos-versões: uma crítica do discurso psicológico em
Vinciane Despret (2008), Vianna, Sánchez-Criado e Gómez-Soriano deixam ainda mais clara
a diferente concepção separatista do projeto modernista sobre ―emoções‖ em relação à noção
conectiva da ―modulação de afetos‖ estudadas por feministas e demais pesquisadoras e/ou
pesquisadores ligadas (os) à defesa de uma ciência aberta, de percepção parcial, de estudos
localizados, favoráveis à pesquisa dos ―afetos‖ como ―objetos‖ não tão frágeis, e sim como
―potentes objetos‖ a se investigar, aceitando-os como híbridos proliferativos fabricados no
cotidiano.
Portanto, em uma concepção modernista, ―as emoções‖ encontram-se atreladas à
―visão‖ e, concomitantemente, esta à noção machista em estudos que se vertem em
58
observações dicotômicas, nos quais, hegemonicamente, há aquele que julga e aquele que é
julgado, onde um é sempre subordinado ao outro, ou seja, onde há o estabelecimento de
polarização de lados. Já em relação à concepção feminista, a ―modulação de afetos‖ está
vinculada às ―versões‖. E, como dito anteriormente, atribui-se a esta a noção de composição,
conexão, arranjos, bem como de ―maneiras diversas‖ ou ―formas múltiplas‖ sobre como as
―emoções‖ se apresentam, por isso insistimos em nomeá-las de ―afetos‖, ―modulação de
afetos‖.
Vale ressaltar que ―emoções-visões‖ remetem a imposições ou rechaçamentos,
enquanto ―afetos-versões‖ estão ligados a sugestões, assim como a noção de contar algo. E
ainda, a versão é construída, a ela não se atribui uma verdade absoluta, mas uma forma de
devir (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008).
Esse conceito de afeto – a emoção como a efetiva interlocução do sujeito com o seu
entorno – aliado ao conceito de versão – a multiplicidade de formas de
conhecimento e modos de vida que surgem quando nos permitimos (especialmente
nós, investigadores) ser afetados – que dá a Vinciane Despret as ferramentas
necessárias para colocar sob suspeita o discurso de uma ciência purificada, objetiva.
(VIANNA; SÁNCHE-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008: 05).
O trabalho Perhaps tears should not be counted but wiped away on quality and
improvement in dementia care (2010), de Moser, ilustra bem a modulação de afetos por meio
de tecnologias de cuidado mediadas pelo uso de uma câmera. Moser argumenta que registros
em vídeo de pacientes com demência, em situações de atendimento por enfermeiras, podem
produzir afetos que sem a câmera não adquiriam realidade. De quais modulações de afetos
fala a autora? De pequenos gestos, expressões faciais, movimentos que tornam expressivos os
pacientes com os quais a equipe de enfermagem possuía dificuldade de comunicação. Ao
considerar as minúcias da vida diária dos pacientes, mudanças foram produzidas não só na
modulação de afetos, mas na aquisição de habilidades, tais como retomar a operacionalidade
das mãos a ponto de voltar a escovarem sozinhos os seus próprios dentes. As enfermeiras, que
tiveram a oportunidade de presenciar as evoluções dos pacientes participantes do método de
uso de câmeras de vídeo, comentam que pareciam estar diante de ―outras pessoas‖.
Parafraseando Despret (2011), as pessoas permitem serem ―induzidas‖ por transbordamentos
afetivos a partir de conexões que estabelecem com determinados acontecimentos, como é o
caso das comemorações pelas minúcias (a exemplo, escovar os dentes) conquistadas. As
experiências mediadas pela câmera, que do ponto de vista tradicional poderiam ser lidas como
59
―induzidas‖, não podem levar a conclusão que os afetos que produzem são menos
―verdadeiros‖: são modos de se relacionar, por consequência, verossímeis e reais.
Para complementar, Vianna, Sánchez-Criado e Gómez-Soriano (2008) falam como o
―modo de fazer ciências‖, a partir da realidade localizada produzida por afetações (a exemplo,
as comemorações das minúcias do estudo supracitado), tem se convertido, entre integrantes da
comunidade científica, em ―objetos‖ caros e de desejo, tornando-se, desse modo, assuntos de
estudos que em nada lembram algo que seja barato, piegas e muito menos semelhante a algo
desajeitado.
Os estudos de Moser (2010) propiciam também a introdução da discussão sobre locus
de afetos, debatido, também, na pesquisa sobre discursos psicológicos em Vinciane Despret,
por Vianna, Sánchez-Criado e Gomez-Soriano (2008).
Como já comentado, aos olhos do projeto modernista as emoções seriam um
―inimigo‖ que requer controle; entretanto, para os estudiosos em sociomaterialidades, as
afetações são atratores preciosos, já que se encontram em arranjos com outras entidades, em
intercâmbio com diversos elementos, por isso são exóticos, instigam curiosidade, e, de fato,
exalam esperança, pois estão sempre a disposição para novos acoplamentos (VIANNA;
SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Enfim, são puras possibilidades, já que
em Moser (2010) a realidade do cuidado foi modulada, isto é, habilidades e afetações
positivas foram alcançadas por pacientes com demência a partir de um simples gesto de
motivação, através da simples reinvenção da utilização de imagens captadas por uma câmera.
Prosseguido os estudos referentes às interferências provocadas por tecnologias do
cuidado e seus objetos sociotécnicos do cuidado, faz-se necessário comentar alguns estudos
de discursos em Despret nos quais há a possibilidade de pensar modulações de afetos como
algo mutável, como eventos que se fabricam no dia-a-dia, localmente e de maneiras distintas,
portanto, desvinculados de padrões pré-estabelecidos (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO;
GÓMEZ-SORIANO, 2008).
Inicialmente, pesquisadores neo-darwinistas defendiam a existência de seis emoções
básicas e universais (tristeza, raiva, felicidade, surpresa, asco e medo) (EKMAN, 1993), que
estariam atreladas às conformações emocionais de ―adaptação‖, com funções préestabelecidas, com a justificativa de que ajudariam a melhorar a sobrevida de um indivíduo no
60
coletivo em que vive. Tais conformações remetem a padrões faciais, expressões de rosto
habituais e utilizáveis na difusão ou decodificação de mensagens entre pessoas. Em
configuração, elas seriam pontos de partida básicos por meio dos quais se articulam o fluxo de
comunicação. Estes seis padrões seriam acionados na determinação de estados polares de
comportamento ou ―disfunções adaptativas‖, estando um dos polos (disfuncional ou normal,
adequado ou inadequado) em destaque em momentos alternados (VIANNA; SÁNCHEZCRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008).
Do trabalho produzido por Vianna, Sánchez-Criado e Gomez-Soriano (2008), o que
nos importa neste momento é destacar que não há apenas seis ―emoticons‖. Os pesquisadores
discutem os programas de computador para Bate-papo online. Mais especificamente, a
existência de signos faciais utilizados em conversações via Internet, e que vem, na maioria
das vezes, com uma legenda explicativa e interpretativa, na qual se atribuem e se efetivam
sentidos apenas em termos pragmáticos. Por isso questiona-se, em meio às inconstâncias e em
decorrência do intenso estado de coisas, a existência de uma gramática pré-definida de gestos
e sua atribuição emocional (de ―conteúdo‖ ou ―referência‖ emocional). E há uma
complexificação afetiva, pois surgem novos emoticons e até mesmo a criação de funções que
permitem que cada pessoa desenhe suas próprias figuras emocionais. Desta forma, os
emoticons do Bate-papo estariam participando da produção de novas formas conectivas do
―repertório afetivo‖.
Em uma concepção sociomaterial, este estudo nos permite abrir uma discussão ainda
maior, que leva aos estudos sobre ―afetos‖ como entidades que devem se desvencilhar do
encarceramento que as restringem ao mundo ―orgânico‖, ―vivente‖, pois que estão em arranjo
com outras entidades, ou seja, fazem parte de um repertório que inclui não só o orgânico
como também o mundo ―inorgânico‖, ―não vivente‖, esteja esse mundo vinculado às
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) ou às demais sociomaterialidades que o
rodeia, como os próprios criadores dos emoticons, os computadores em rede, os esboços de
criação, assim como a razão que motiva alguém a utilizar um emoticons, isto é, se caracterizar
como tal, ou a criar semelhante ou próximo do que está sentindo ou deseja sentir (LÓPEZ,
2005).
É por esse motivo que retomamos Vinciane Despret, uma vez que a autora nos faz
pensar em maneiras de subverter a padronização ou a fixação de um discurso psicológico
dominante sobre emoção, de se desconectar da noção de ―visão‖ e de partir rumo à defesa da
61
afetividade como um evento de multiplicidade, como versões que se arranjam e que são
resultados de interferências sociomateriais locais. Portanto, a ―realidade‖, assim como os
afetos, pode variar – não apenas de forma passiva ou reativa diante de situações e contextos,
já que as situações e contextos envolvidos não são constantes, não seguem um padrão, não são
tão imutáveis como se apresentam e como parecem ser (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO;
GÓMEZ-SORIANO, 2008; DESPRET, 2011).
No cotidiano, práticas de cuidado se encontram conectadas às variações das
espacialidades. Vejamos o caso da bomba d‘água instalada em comunidades carentes do
Zimbábue, com o objetivo de reduzir as vítimas por bactérias, como a E. coli, decorrentes da
precariedade, da escassez de água, por conseguinte da falta de higiene. Como interferência há
reordenação das espacialidades da comunidade devido à necessidade de manutenção das
peças que fazem a bomba d‘água funcionar. Em virtude da distante localização das
comunidades em relação aos centros urbanos foram geradas impossibilidades para a contínua
manutenção da bomba d‘água. Em contrapartida, os integrantes das comunidades se
mobilizaram como verdadeiros artífices e, através de improvisos, foram substituindo as peças
da bomba d‘água por pedaços de madeira ou qualquer outro fragmento que se acoplasse à
bomba com o intuito de fazê-la funcionar (DE LAET & MOL, 2000).
Ainda que não seja o foco da pesquisa levada a cabo pela equipe, observamos que a
inclusão da bomba d‘água no cotidiano das comunidades do Zimbábue provoca modulação de
afetos. Os usuários manifestam felicidade em acessar água limpa, assim como os engenheiros
mostram-se entusiasmados ao se depararem com a bomba d‘água que os surpreende por
funcionar, justamente, por ser pouco sofisticada e passível de ajustes pela comunidade (Ibid.).
A relação não se define de maneira homogênea, mas como uma armação de
coafetação, que, de certa forma, fez com que os usuários da bomba se mobilizassem e
manifestassem suas potencialidades, criatividade e habilidades para que novas versões da
bomba d‘água se manifestassem. Neste caso, temos a bomba que leva os engenheiros a se
entusiasmarem, pois confrontam uma nova versão do artefato que criaram em decorrência da
manutenção inusitada que a faz funcionar. Assim como a nova versão da bomba tira
expressões de alegria e satisfação das comunidades, já que conseguiram manter a obtenção de
água limpa para todos que tem acesso ao equipamento (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO;
GÓMEZ-SORIANO, 2008).
62
Interferências provocam efeitos (modulação de afetos) que não tem a ver com uma
totalidade prefixada do mundo. Seria desse modo, aquilo que podemos nomear de uma
relação de coafetação mútua, sendo, nesse sentido, todas aquelas interferências que veiculam
ou estão ligadas às experiências ou práticas diárias. Podemos, assim, chamar ―afetos‖ de uma
multiplicidade de elementos em constante fazer-se, causar-se e afetar-se. Recordemos a
multiplicidade da bomba d´água. Esta, assim como as artes, se mostra conspirando a favor de
uma ecologia afetiva, ou melhor, para a constituição de um repertório afetivo, sendo, de modo
concomitante, adepta à construção de versões de mundos possíveis (VIANNA; SÁNCHEZCRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008).
A reconfiguração põe à prova a declaração de que não encontramos essências no
início do caminho, mas entidades heterogêneas estabilizadas, construídas por intermédio de
práticas e pela mediação de elementos que passam além e ao longo das formas canônicas
(referente ao pensamento ocidental) de atribuir segregações ―ao mundo‖ (LATOUR, 1994).
As ferramentas que compõem as Práticas de cuidado advêm da vida diária, estando
submetidas não a métodos, protocolos ou configurações previamente estabelecidas, mas aos
acontecimentos momentâneos. Assumimos a responsabilidade de constantes visitas ao ateliê,
ao laboratório, à funilaria ou qualquer estabelecimento de criação, para um contínuo
acompanhamento dos momentos de quando ocorrem as reformulações, as performances
múltiplas dos objetos sociotécnicos do cuidado e a própria reconfiguração do método de
criação. Estamos falando de um estabelecimento criativo, no qual as interferências
sociomateriais são consideradas peças-chave para a confecção dos efeitos de modulação de
afetos e reordenação de espacialidades que estão por vir (LATOUR, 1994; HARAWAY,
1995; DE LAET & MOL, 2000; LAW, 2004; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZSORIANO, 2008; HARAWAY, 2011).
Retomamos a noção de epistemologia política, pois esta nega em seu estatuto político
qualquer forma de controle (HARAWAY, 1995; SÁNCHEZ-CRIANDO, 2005; VIANNA;
SÁNCHE-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Preferimos aceitar que as formas de
conhecimento nos encharcam de afetos, nos transformam, inventam-nos, engendram-nos,
como também permitem que participemos de todas essas ações junto a tais achados. Seria
apenas uma questão de pensá-los e perscrutar o modo como eles nos desafiam e nos
interrogam (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008).
63
A pesquisadora Vinciane Despret fala de um processo de constituição e reconstituição
constante de tradições, no qual as emoções seriam uma espécie de obra de arte em que uma
metafísica de imanências a constituiriam como veículo e conteúdo de uma tradição. Sendo
assim, da mesma maneira que construímos nossos mitos, inventamos através deles, ou ainda,
fabricamos nossas emoções para que elas nos fabriquem (DESPRET, 2004; SÁNCHEZCRIADO, 2005). Não é diferente em um ambiente hospitalar.
Pesquisas sobre tele-assistência domiciliar revelam que as interferências que
produzem modulações de afetos também estão vinculadas às reordenações de espaços. As
papeladas, o funcionamento de equipamentos tais como impressoras, a velocidade da Internet,
o cabo de fibra ótica se mostram tão essenciais quanto às atendentes que devem estar prontas
para responder ao chamado de um idoso usuário do serviço (SCHILLMEIER &
DOMÈNECH, 2009; LÓPEZ & TOMAZ-CRIADO, 2009): ―Tornar-se um guardião‖ de
usuários idosos que requer serviços de tele-assistência que em nada lembra os anjos etéreos
(LÓPEZ, 2010).
A atuação desses guardiões está muito mais próxima das imagens dos arranjos
sociotécnicos fabricados que marcam o cotidiano de qualquer unidade pediátrica: enfermeiras
com brinquedos, enfermeiras assistindo através de animais9, desenvolvendo ludoterapia,
convidando os pacientes para prática de Yoga 10, assim como instalando frascos de
medicamentos ou uma hidratação endovenosa (soro fisiológico) ou, simplesmente,
distribuindo abraços de conforto, conversando e transportando conversações de um a outro
9
A Terapia Assistida por Animais (TAA) tem sido utilizada como mais um suporte no tratamento de algumas
doenças, mostrando uma série de efeitos benéficos em pacientes psiquiátricos, adultos, crianças hospitalizadas e
idosos. Embora a prática com animais tenha sido comentada como tratamento no Século XIX, a introdução desta
nos espaços hospitalares aconteceu apenas no ano de 1962, ano em que se encontraram documentos contendo
registros sobre os benefícios em humanos que tiveram animais como parte da terapia enquanto hospitalizados
(PEREIRA; PEREIRA; FERREIRA, 2007).
10
A palavra Yoga tem origem no sânscrito ―yuj‖ que significa comunhão, união, junção. Yoga consiste em um
método de autorregulação consciente que conduz à integração física, mental e espiritual e possibilita relação
harmônica do homem com o meio que o rodeia. A execução de exercícios de Yoga proporciona mudanças e
benefícios no funcionamento de todo o organismo e permite melhora das funções psíquicas, tanto cognitivas
como emotivas, melhorando a memória, reduzindo tensões, a depressão, a ansiedade e a irritabilidade. Essa
prática também traz benefícios para o tratamento de doenças de ordem psíquica, tais como neuroses, estados
psicóticos e pré-psicóticos, e melhora de sintomas relacionados ao estresse, promovendo relaxamento e maior
sentimento de autodomínio. Além disso, os exercícios de Yoga podem melhorar a coordenação psicomotora e os
processos de atenção e concentração (GONZÁLEZ, 1998; ELIADE, 2009). No Brasil, desde 2003, o Yoga é
reconhecido pelo Ministério da Saúde como uma Prática Complementar de Saúde (BRASIL, 2006; SIEGEL &
BARROS, 2010).
64
membro da família (SADALA; ANTONIO, 1995; ANDRADE & PEDRÃO, 2005;
PEDROSA et al, 2007; PEREIRA;PEREIRA; FERREIRA, 2007).
É possível traçar um paralelo entre a política e a cientificidade dos afetos com os
afazeres diários confeccionados por uma ―guardiã que não é etérea‖. Isto é, as ações de
cuidado efetivadas por uma enfermeira são fabricadas continuamente. E, por conta dessas
atividades que realizam, bem como em decorrência dos aliados que conquistam dia após dia,
fica declarado que o cerne ―epistemológico‖ depende inevitavelmente da incorporação de
humanos (políticos, sociais), não/humanos (materiais, naturais) e elementos discursivos
(textos, ―significações‖), sendo todos integrantes de um grande conglomerado sociotécnico
(LATOUR, 2001).
Os afetos vinculados às ações realizadas pelas enfermeiras, devido aos arranjos que
continuamente constituem, acabam por renunciar às sanções que as pré-definem. Neste caso,
epistemologicamente seria transpor os ícones como ―auras‖, ―asas aladas‖, ―auréola‖ ou
qualquer outro adorno que remeta a ―anjos‖ como o único signo cultural que valha para
configurar as emoções que emanam dos afazeres das enfermeiras. Estas, em verdade,
dependem inevitavelmente de processos originados a partir de suas ações sociotécnicas
habituais, e, portanto, necessitam de uma noção para a função que realizam como guardiãs ou
heroinas que, deste modo, vá além das concepções de ―devoção‖, ―sacerdócio‖ ou ―dom‖,
assim como não as restrinjam a adjetivos de sublimação, como ―pureza‖ e ―bondade‖, ou
serem confundidas com entidades ―etéreas‖11. Por isso não é possível que fiquem atreladas
apenas ao ato de ―emocionar‖, sendo melhor ―deixar-se afetar‖. Esta última remete a um
processo que continuamente se constitui a partir de formas distintas de se cultivar relações e
remete às maneiras que se tem de constituir os corpos e mundos cambiantes (LATOUR, 1994;
HARAWAY, 1995; LÓPEZ, 2010; DESPRET, 2011).
Por fim, não há um despojamento ou ―des-apaixonar-se‖ do mundo, pelo contrário,
trata-se justamente de permitir o ato da vinculação e, portanto, deixarem-se afetar por todas as
entidades que estão em volta (HARAWAY, 1995; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO;
GÓMEZ-SORIANO, 2008). Essa proposta permite pensar em distinções mais férteis, em que
as guardiãs, ao ―sobrevoarem‖ e ―flutuarem‖ sobre novos ―ares‖ (conhecimentos), promovam
11
Tais adjetivos são inspirados na religiosidade de Florence. Esta que era vista como uma “mulher gentil”, que
foi “chamada por Deus”, conforme descrições encontradas online na página Florence Nightingale Museum
(http://www.florence-nightingale.co.uk/cms/index.php/media-centre/florence-biography).
65
novos modos de lidar com as interferências cotidianas, nos quais as enfermeiras-guardiãs são,
na realidade, meandros, entidades que se mesclam, ainda que interfiram e se deixem interferir
com uma infinidade de outros elementos partidários das Tecnoculturas de cuidado.
1.6. Conexões entre modulação de afetos, espacialidades e Humanização hospitalar
O Sistema Único de Saúde (SUS) como política pública carece ser pensado com suas
fronteiras para além do Estado, com o intuito de que haja uma articulação simétrica entre o
interior e seu exterior. Mas devemos considerar que o SUS é uma política que tem seu fulcro
no Estado a partir de políticas de governo. O Sistema tem como desafio se consolidar como
política pública através da produção de saúde encarnada nas práticas dos trabalhadores e
usuários. Entretanto, há necessidade do Humaniza SUS se situar no limiar da máquina de
Estado, cujas idiossincrasias tendem a capturar e amortecer exatamente aquilo que permite e
justifica a presença da PNH no SUS: sua natureza instituinte e desviante (PASCHE, PASSOS,
HENNINGTON, 2011).
Assim, a Política Nacional de Humanização (PNH) se apresenta como um importante
marco de referência para a construção de práticas de saúde que efetivamente respeitem o
cidadão em seus valores e necessidades. Todavia, é necessário que se avance e se amplie o
senso de cidadania do povo brasileiro, que em muitas situações resigna-se aos maus tratos e
ao desrespeito. Saúde digna é direito e compromisso do usuário e dever do Estado, que
precisa garantir a oferta de atenção de acordo com as necessidades de saúde da população.
Mas a amplitude desta missão não pode ser alcançada sem a mobilização das forças sociais
que se agenciam para além do Estado. Ao dever do Estado e das equipes de governo soma-se
o do fomento da autonomia dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de
saúde, multiplicando os agentes do direito e do dever (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON,
2011).
Uma aposta nesse sentido é que a PNH sirva como estratégia de mobilização social,
não apenas de denúncia e de reivindicação de direitos, mas de afirmação de um modo de
construção de alternativas de enfrentamento dos desafios que a saúde tem pela frente e que
considera as diferenças e singularidades. Um modo de fazer que permita que os sujeitos
entrem em contato para se afetarem mutuamente, para produzirem acordos que nos
66
transformem a cada dia em uma sociedade mais justa e fraterna (PASCHE, PASSOS,
HENNINGTON, 2011).
O Sistema Único de Saúde (SUS) estabeleceu uma política pública de saúde que visa
integralidade, universalidade, aumento da equidade e incorporação de novas tecnologias e
especialização de saberes (BRASIL, 2007). O termo humanização, que orienta a Política
Nacional de Humanização (PNH), apresenta um caráter polissêmico, que conduz a diferentes
objetivos, métodos e formas de trabalho (SOUZA; MENDES, 2009).
A PNH é o resultado de um conjunto heterogêneo de tecnologias e dispositivos
necessários à configuração e fortalecimento de redes de saúde. De um lado, no documentomarco desta política, enfatiza-se o termo diante da construção de um conceito abstrato, tecnoburocrático, distante da realidade diária, muitas vezes genérico, bem como atravessado por
especialidades engessadas; por conseguinte, pouco útil no que se refere às práticas realizadas
no cotidiano dos serviços (DESLANDES, 2005; BRASIL, 2006). De outro, pode-se
argumentar que a polissemia dos conceitos que orientam o SUS é uma possibilidade de
estabelecimento de horizontes mais do que práticas concretas, abrindo a possibilidade de
constantes reinvenções (AYRES, 2004).
Em uma primeira leitura, humanizar remete ao humano. Como pensá-lo simétrico a
uma composição artefatual que reordena emoções, ou melhor, constituída de objetos
sociotécnicos do cuidado com competência de modulação de afetos? Os princípios
norteadores da Política de Humanização passam, necessariamente, por uma rede artefatual
heterogênea, um conglomerado de objetos sociotécnicos (LATOUR, 1994, LAW, 2004).
Humanizar no cotidiano das práticas é deparar-se com aquilo que no projeto de construção da
modernidade foi delegado ao polo oposto ao humano.
Como argumenta Latour (1994), é necessário adotar uma larga escala de entidades
heterogêneas como aptas para transpor o ―projeto de modernidade‖, que se constitui de
operações de ―purificação‖, ou melhor, compreende separação das estâncias representativas
do mundo: de um lado a natureza, do outro o social; como consequência, de um lado a razão,
do outro a emoção. Enfim, de um lado o homem, do outro as tecnologias, as práticas e as
técnicas.
67
Em Atendimento de média e alta complexidade no SUS (BRASIL, 2007) e no
documento O SUS de A à Z (BRASIL, 2009), as Tecnologias do Cuidado podem ser
identificadas atuando na assistência de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar,
as quais contemplam ―redes de complexidades‖, onde as ações e procedimentos articulam um
elenco de responsabilidades, serviços e procedimentos relevantes para a garantia da
resolutividade e integralidade da assistência ao cidadão. Entende-se por ―média
complexidade‖ a atenção em saúde que está relacionada ao nível de atendimento formado por
ações e serviços que visam a atender aos principais problemas de saúde e agravos da
população, cuja prática clínica demande disponibilidade de profissionais especializados e o
uso de recursos tecnológicos de apoio diagnóstico e terapêutico. E compreendemos ―alta
complexidade‖ como as que envolvem tecnologias do cuidado de última geração (de ponta) e,
muitas vezes, são de alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços
qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde.
A Humanização é, assim, um arranjo conectivo, não sendo suficiente visualizá-lo em
níveis e estruturas fixas. Apesar de centrarmos nossa atenção nas modulações de afetos como
simétricas à humanização hospitalar, sabemos que as Tecnologias do Cuidado, e os objetos
sociotécnicos do cuidado que as promovem, podem atravessar todos os níveis de atenção. Em
meio às tensões e incertezas, a humanização que efetiva a expressão ―Sistema Único de Saúde
que dá certo‖ (AYRES, 2004) é proveniente de atitudes, técnicas, práticas criativas e
inventivas, baseadas em alternativas competentes, haja vista que reordenam ambientações
hospitalares a ponto de colecionar efeitos como as modulações de afetos quando pensamos em
processo saúde-doença.
Em uma revisão de pesquisas sobre o tema, verificamos ilustrações de traduções das
modulações de afetos em meio aos processos de ―acolhimento‖, ―autonomia‖,
―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖, princípios que norteiam as políticas de humanização
em saúde. Há que se levar em consideração a explanação para cada um destes princípios
separadamente apenas para efeitos didáticos, uma vez que podem coexistir em
interdependência e, do mesmo modo, podem atuar individualmente.
No âmbito da literatura pediátrica temos o trabalho Desafios da humanização no
contexto do cuidado da enfermagem pediátrica de média e alta complexidade, no qual as
autoras analisam situações cotidianas que propiciam ou dificultam relações de acolhimento e
autonomia, mostrando, também, situações e ambientações em que o protagonismo e a
68
corresponsabilidade são expressos na relação entre enfermagem, usuários e seus
acompanhantes, através de técnicas, práticas, interesses e competências profissionais
(ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009).
É possível notar que esse cotidiano se constitui de um conglomerado artefatual
responsável pela materialização de princípios presentes e defendidos pela PNH. Encontramos
uma permeabilidade entre o técnico e o não técnico no cenário do cuidado. Nos meandros
existentes nas relações entre a equipe, os pacientes e acompanhantes, encontramos vários
eventos referentes à modulação de afetos via articulações momentâneas entre objetos
sociotécnicos do cuidado.
A expressão ―acolhimento‖ compreende todo um arranjo sociotécnico que envolve
recepção de pessoas no serviço de saúde. Ou seja, compreende a utilização de tecnologias do
cuidado, como, por exemplo, o escutar terapêutico das queixas dos pacientes já na chegada ao
hospital, responsabilizando-se integralmente por eles e lhes permitindo expressar suas
preocupações, angústias, e, ao mesmo tempo, instituindo limites necessários, garantindo desta
maneira, atenção resolutiva e a articulação com os outros serviços de saúde para a
continuidade da assistência (BRASIL, 2006).
Compreender a conexão entre o princípio norteador ―acolhimento‖ e as modulações
de afetos no cotidiano é entender que a equipe, os pacientes e seus acompanhantes se
encontram vinculados a um conjunto de técnicas: banhos e troca de curativos, administração
de dieta, procedimentos invasivos, os medicamentos, maquinários, novos termos, palavras e
as sensações de dor e sofrimento. E dependendo do modo como esses eventos acontecem, as
reordenações que eles promovem se tornam decisivas quanto à ocorrência ou não de
aproximação entre os atores, ou seja, reordenações e/ou modulações que levem a melhor
aceitação ou menor estranhamento da criança e do adolescente para com o ambiente
hospitalar (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009).
Percebe-se que há uma reflexão quanto à necessidade de se pensar em um projeto
terapêutico, através do qual se compõe e se considere a família e seus saberes, assim como as
tecnologias a prestação de cuidados à criança e ao adolescente internados em uma unidade
pediátrica (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Enfim, de se considerar as diversas
tecnologias do cuidado e seus objetos sociotécnicos que compõem as Práticas de cuidado do
local descrito.
69
Oliveira et al, em O processo de trabalho da equipe de enfermagem na UTI neonatal e
o cuidar humanizado (2006), mostra que a noção de ―acolhimento‖ é desconhecida por
muitos profissionais de enfermagem, haja vista que muitos desconhecem que o que realizam
está vinculado a um processo de trabalho. E, apesar da enfermagem brasileira estar
produzindo satisfatoriamente em termos de pesquisa acerca da humanização do cuidado,
ainda há muito que se esclarecer em vista às especificidades dos locais e quanto à clientela
que assiste, bem como estudar as características de quem integra esta equipe.
Segundo os pesquisadores, a humanização da assistência de enfermagem na Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal (UTI - Neonatal) do estudo pauta-se no cuidado voltado para
recém-nascidos e sua família. Fala-se de um encontro entre o cuidador e quem é cuidado. Esse
encontro ocorre por meio de um fio condutor que é proveniente do acolhimento. Apesar de
poucos compreenderem como se dá o acolhimento, em entrevistas muitos profissionais de
enfermagem comentaram que o que realizam como trabalho da área está relacionado com o
que aprenderam na universidade ou no curso técnico. Aliado a esses tópicos, falam sobre suas
práticas cotidianas, ou seja, os saberes técnicos que efetivam no dia-a-dia. Incluindo como um
desses saberes, a habilidade da escuta sensível, a qual facilita a integralidade de tecnologias
que se têm disponíveis às necessidades do recém-nascido e de seus familiares (OLIVEIRA et
al, 2006).
A reportagem Árvore construída12, publicada no jornal online intitulado ―Circuito
Mato Grosso‖, pode nos mostrar e nos instigar a pensar sobre ―acolhimento‖, assim como
ilustrar um modo alternativo de Práticas de cuidado a partir da prática de criação de
―bonsais‖. Plantas cultivadas ―a chineses e a japoneses‖ em meio a maquinários de diálises, a
corpos em hemodiálise que interagem com vidas não humanas, mãos que se mostram como
verdadeiras artífices, como fabricantes de esperança, de concentração, de redutores de
estresse, produtores de hormônios do equilíbrio do humor. Aqueles que seguram e conversam
com as miniaturas de árvores permitem que as máquinas de diálise trabalhem, façam o serviço
de seus rins com menos resistência. O pequeno grande mundo produzido a partir da interação
que efetiva com quem o fabrica ou cultiva-o, não percebe o tempo passar, não fica limitado a
12
A pesquisadora responsável por esta dissertação, a fim de entender melhor a “construção” de uma árvore
Bonsai entrou em contato com a bonsaísta através da equipe do CTR. Foi visitá-la em um dia de diálise.
Conversando com ela enquanto esta dialisava, puderam construir um diálogo de saberes sobre o artífice trabalho
de se confeccionar Bonsais. A árvore de bandeja ficou considerada como uma companhia (HARAWAY, 2011)
pela paciente, e o manejo da planta ficou considerado por ambas (pesquisadora e paciente) como um modo de
cuidar em saúde.
70
um espaço estéril, cheio de rotinas do local. Devolve a confiança, traz a luminosidade dos
raios de sol para dentro do CTR. Enfim, reconstitui a vontade de interagir com aqueles que
estão a sua volta.
Quanto ao princípio de ―autonomia‖, no seu sentido etimológico, significa ―produção
de suas próprias leis‖ ou ―faculdade de se reger por suas próprias leis‖. Ou seja, aquele que é
capaz de construir regras de funcionamento para si e para o coletivo. Pensar os indivíduos
como sujeitos autônomos é considerá-los como protagonistas nos coletivos de que participam
como corresponsáveis pela produção de si e do mundo em que vivem (BRASIL, 2006).
Acoplando as políticas de humanização em saúde à concepção sociotécnica dos
efeitos de modulação de emoções, observamos que o princípio da ―autonomia‖ está
relacionado com a apropriação do espaço e dos cuidados realizados nas crianças pelas mães.
O maior tempo e acompanhamento das crianças pelas mães faz com que estas se apropriem do
espaço, adquirindo conhecimentos e habilidades de cuidado (ALVES; DESLANDES;
MITRE, 2009).
Sobre o princípio de ―autonomia‖, em Oliveira et. al. (2007) fala-se do constante risco
de fragmentação ou parcelamento do cuidado em UTI neonatal, pois muitas vezes a equipe se
esquece de que estão cuidando de uma criança que precisa ser preparada para reacender um
vínculo afetivo com algum responsável por ela ou com qualquer ente familiar, em especial,
seus pais. Faz-se necessário, nestes casos, a conciliação dos saberes da equipe aos
saberes/fazeres da família no processo de cuidado do recém-nascido. Muitos dos profissionais
de enfermagem, mesmo em meio à fragmentação do cuidado, enfatizam que, sempre que
possível, incluem os familiares do recém-nascido nas ―trocas de fralda‖, na ―realização do
banho‖ ou os convida para auxiliar na pesagem da criança.
Quanto à prática de bonsais, apesar de não ser a primeira intenção da autora, é
possível realizar uma reflexão sobre o princípio de ―autonomia‖. Enquanto aguarda todo o
processo dialítico, aquele que tem em suas mãos uma bandeja contendo um bonsai tem a
oportunidade de retomar a responsabilidade de cuidar de algo, tomar decisões ou questionar
sobre o modo de cuidar da arvorezinha, que, simetricamente, denota um modo de cuidar, de
sugerir como cuidar de si, assim como a ter como uma companheira caseira nas seções de
diálise (JORNAL CIRCUITO MATO GROSSO, 2011).
71
Sobre ―protagonismo‖, temos a ideia de que a ação, a interlocução e a atitude dos
sujeitos ocupam lugar central nos acontecimentos e no processo de produção da saúde, e
também diz respeito ao papel de sujeitos autônomos, protagonistas e implicados no processo
de produção de sua própria saúde (BRASIL, 2006). A partir dos estudos de Alves, Deslandes
e Mitre (2008), protagonismo esteve relacionado com o tempo de internação de uma criança e
com a consideração do conhecimento comportamental que a mãe tinha sobre sua filha. Essa
situação a fez observar a necessidade de chamar uma fisioterapeuta. Portanto seria necessário
considerar esse saber da mãe. Ou melhor, favorecer uma negociação que facilite aos
familiares serem protagonistas do cuidado da criança hospitalizada, que suas opiniões sejam
acatadas. E, indiretamente, essa aproximação entre equipe e familiares são modos de transpor
lacunas, pois, no caso citado, a mãe identificou a necessidade de uma atenção maior da equipe
para com a criança.
Neste caso, o protagonismo precisou ser considerado, já que para muitos poderia ser
levada a sério a existência de um antagonismo entre a família e a equipe. No que se refere ao
protagonismo da criança, a sua presença ocorreu em várias situações do estudo relacionado
com o ato de brincar, do interagir com brinquedos, proporcionado por um projeto implantado
na ala pediátrica do hospital no qual foi realizada a pesquisa em questão (ALVES;
DESLANDES; MITRE, 2009).
Por último, a ―corresponsabilidade‖. Esta, para humanização em saúde, compreende a
conexão entre usuário, gestor e trabalhador/equipes de saúde, e devem ser considerados, a
perspectiva de ações inter-setoriais, a rede social de que o usuário faz parte, o vínculo usuárioequipamento de saúde e a avaliação de risco/vulnerabilidade (Ibid.).
Para as sociomaterialidades de uma micro realidade
das
práticas,
a
―corresponsabilidade‖ se apresenta como uma dificuldade a se transpor, uma vez que traz à
tona um paradoxo no gerenciamento artefatual que compõe as técnicas de cuidados, ou seja, a
princípio, o conhecimento técnico e sua realização ficavam restritos à equipe. E quando os
cuidados se vinculam aos pacientes e seus familiares afloram conflitos, pois há um aumento
no risco de erros, havendo a necessidade de uma re-interação, da reflexão sobre os
procedimentos e do aumento da atenção aos cuidados delegados, já que ocorre uma
dependência de maior gerenciamento da equipe para com as técnicas desenvolvidas pelos
acompanhantes e pacientes (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009).
72
Segundo Oliveira et al (2007), por meio da ativação do ―protagonismo‖ e
―corresponsabilidade‖ entre os pares interessados pelo cuidado, há o fomento e o aumento do
grau de vínculos afetivos, além da participação e o interesse de familiares, assim como da
própria equipe, por gerar uma ambiência de valoração do trabalho, ao passo que permite a
atuação de atores até então vistos como secundários: saberes comuns dos familiares, interação
afetiva entre os profissionais e a relação afetiva destes para com a criança que cuidam e seus
familiares.
Sobre ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖ em meio às práticas de bonsai no setor
de diálise (Centro de Tratamento Renal), descrita na reportagem Árvore construída (JORNAL
CIRCUITO MATO GROSSO, 2011), percebe-se um ―concerto‖: máquinas que dialisam,
enfermeiros e médicos que transitam pelo setor com o intuito de prestar seus afazeres,
poltronas que são preparadas para confortar os pacientes para as horas de diálise, práticas e
técnicas de punções realizadas nos pacientes que se mesclam com as mãos construtoras de
árvores de bandeja. A corresponsabilidade se apresenta com a manipulação de bonsai, ou seja,
a partir do momento que cuida de algo, o paciente, indiretamente, se faz responsável por seu
cuidado. Seria mais ou mesmo assim: cuido de quem cuida de mim, pois é semelhante à ação
de cuidar de mim. Ou ainda, tenho ao meu lado um companheiro de seções de diálise, por
quem me responsabilizo.
Trazemos para nos ajudar a pensar de modo alternativo os ―afetos‖ imbricados à
humanização em saúde, o estudo The Logic of Care: Health and the problem of patient
Choice (MOL, 2008). Em sua pesquisa, Mol trabalha com a expressão ―Promoção em Saúde‖
[Improving in Health] em vez de ―Humanização em Saúde‖. Essa expressão de escolha foi
acatada em seu país de origem (Holanda). Segundo a pesquisadora, esse conceito possibilita
concatenar os mais diversos saberes localizados. O que pode contribuir e ajudar a pensar a
Humanização em Saúde no Brasil.
A maneira como a Promoção em Saúde acontece vincula uma Lógica do Cuidado.
Como essa concepção foge à clássica lógica descrita como saber objetivo, duro, exato e
valorado porque foram testados e aprovados em um laboratório (MOL, 2008), preferimos
adotar a expressão Tecnocultura do Cuidado.
Esta, como uma Lógica do Cuidado, tem como característica não se render a uma
prática de normalização e de controle do corpo. Tecnocultura do Cuidado, inclusive, tem
73
como peculiaridade o desprendimento da nostalgia quando permeia as articulações de pessoas
e tecnologias hospitalares. E, através da observação de hábitos diários, a pesquisadora mostra
que é notável a mutualidade que emana da relação entre tecnologias e pessoas. A pesquisa
ainda descreveu como se configuram os arranjos que fluem dos contos das pessoas com
condições crônicas de saúde que participaram do estudo (MOL, 2008).
Ao falar sobre uma Tecnocultura do Cuidado, Mol faz uma reflexão sobre a expressão
―o bom cuidado‖, configurando-o atrelado à Promoção em Saúde. Por isso, a pesquisadora
mostra que o bom cuidado coexiste com outras lógicas, assim como com as negligências e
erros, não devendo se esperar uma linearidade temporal dessa disposição; é caracterizado,
também, por não ser óbvio e não se cristalizar, muito menos se deixar capturar pelo
racionalismo demandado pela academia; e, em específico, compreende validar um estudo,
validar argumentos, conforme exigências dos parâmetros científicos. Entretanto, a
Tecnocultura do Cuidado, como algo relevante a ser estudado, mostra-se como ciência ao
articular experiências particulares/casos/contos dos pacientes a textos filosóficos.
Para exemplificar, trazemos o cuidado de pacientes com diabetes estudados por Mol
(2008). Isto é, incidentes cotidianos que mostram a Tecnocultura do Cuidado na prática,
aonde a vida diária de pacientes tiveram significativas alterações pancreáticas e, por
conseguinte, viram-se obrigados a conviver com a não produção ou não produção suficiente
de insulina para controle do nível de açúcar na corrente sanguínea.
A versão de Humanização em Saúde que temos, a partir de Tecnoculturas do Cuidado,
permite, de modo nunca neutro, analisar a qualidade de vida de pacientes com alguma
condição crônica de saúde. Essa ―lógica‖ reconhece a articulação de uma diversidade de
entidades sociomateriais que se arranjam e, por conta disso, reordenam espacialidades, assim
como as potencialidades de modulação de afetos. Por ser multidimensional e heterogênea, a
Lógica do Cuidado proposta por Mol (2008), que aqui chamamos de Tecnocultura do
Cuidado, põe em xeque as dicotomias, não aceitando classificações entre práticas boas ou más
de cuidado, mas sim de um ajuste em que o cuidado sugerido articule a ambas, já que para
esta lógica as fronteiras encontram-se terminantemente indefinidas.
Assumem-se também as possibilidades de erros e acertos como um conjugado, uma
vez que não está livre de fricções e conflitos diários. E, como não se segmenta a Lógica do
74
Cuidado, revela-se impregnada de política, assim como de ética. Desse modo, permite a
conexão entre diversas noções de estilos diferentes de julgamentos provenientes dos
pacientes, que são ao mesmo tempo clientes e cidadãos. Privilegiando, deste jeito, tanto os
direitos individuais quanto os coletivos (MOL, 2008).
Para a Promoção em Saúde, isto é, para as ―Tecnoculturas do Cuidado‖, a conversa
em consultório é um momento relevante, pois permite a exposição das concepções do
paciente, facilita uma aproximação, a inteiração dos fatos e de ficar diante dos conflitos e
complicações, e ainda possibilita trocas de ideias, a transmissão ao paciente de algumas
palavras de conforto. Essa conversa compreende um modo de acolhimento. No cotidiano, é
através dessa conversa que os pacientes e profissionais da saúde olham e analisam em
parceria os resultados de exames laboratoriais na tela do computador ou em qualquer
impresso (Ibid.).
Tecnoculturas do Cuidado mostram que, muitas vezes, a aderência do paciente a
determinado tratamento (a exemplo, hormonal ou cirúrgico) depende dessa interação inicial.
Ao paciente não houve a negação de autonomia, porém, diante de várias situações de
enfrentamento e de decisões para se tomar, a pesquisa revela que foi necessário repensar a
noção de autonomia como algo que esteja associada ao apoio dos profissionais de saúde e dos
familiares (aos seus questionamentos e as sugestões sobre que caminho o paciente deve
seguir), evitando, ao máximo, imposições. A pesquisadora enfatiza a reflexão sobre
autonomia, utilizando como exemplo os casos de pacientes com limitações mentais. A partir
destes casos, mostra que a ―autonomia‖ não pode ser atribuída apenas à família, ou seja, ser
jogada toda a responsabilidade de tomada de decisões para a família e para o paciente. Tal
situação requer que os profissionais participem, estejam juntos, cooperem, auxiliem, sugiram,
indiquem alternativas e modos de tratar (Ibid.).
Como a Promoção de Saúde acompanha os passos dos pacientes ativos, e como não é
neutra, os esforços despendidos para ―inventar‖ algo que contribua para a qualidade de vida
de pacientes com alguma condição crônica de saúde, revela também as nuances que
comportam a produção de uma técnica, tecnologia ou até mesmo as drogas (MOL, 2008).
Também perpassa pela moral, como por exemplo, traz a tona situações que correspondem a
refletir sobre estar ou não de acordo com o fato dos produtos a serem utilizados pelo paciente,
assim como os sugeridos pelo profissional de saúde, estarem associados ao sacrifício de
75
algum animal em teste. Esclarecimentos, aconselhamentos quanto à decisão para se inserir em
procedimentos e invenções, que, muitas vezes, a pessoa será a primeira a testar. Segundo a
pesquisa, em meio ao emaranhado vivenciado por quem tem uma condição crônica de saúde,
como no caso da diabetes, observa-se uma ligação com a aprendizagem, assim como interesse
em aprender sobre as técnicas que terá que utilizar no dia-a-dia, incluindo cuidados
específicos, como o cuidado da pele danificada pelas inúmeras aplicações de insulina,
resultando no cuidado com o descarte de materiais biológicos (seringas de insulina, por
exemplo). Não bastando, todo esse processo tem por trás o esforço individual (físico,
psicológico, emocional) do inventor que busca novidades, tecnologias que venham amenizar o
cotidiano das pessoas que tem alguma condição crônica de saúde (MOL, 2008).
Em outras palavras, a partir da Lógica do Cuidado descrita por Mol (2008),
percebemos que o cuidado imbrica uma série de eventos, conexões de objetos sociais e
técnicos. Por isso, pensamos nessa Lógica como Tecnoculturas do Cuidado. E, por conta dos
arranjos sociomateriais que produzem, é que se notou que permitem transcender a noção de
―cura‖, pois há ―Tecnoculturas do Cuidado‖ em associação, haja vista que articulam os
hábitos de vida diária de uma pessoa às questões biomédicas em vez de separá-las. Logo, se
vinculam às intervenções ligadas às necessidades básicas da vida diária – em que o paciente
muitas vezes está sem condições alguma de realizá-las – e são percebidas junto às atribuições
médicas (como por exemplo, as alterações fisiopatológicas, ou seja, o quadro clínico,
laboratorial, assim como farmacológico, ou ainda, epidemiológico), que se apresentam
imbricadas às tecnologias inventadas para uso do paciente.
A Lógica do Cuidado/Tecnoculturas do Cuidado possibilita uma reflexão
praxiográfica dos princípios do SUS, ao considerar, como integrantes da Promoção de Saúde,
os erros e as incoerências encontradas no meio do caminho de uma prática a ser efetivada.
Ampliando, portanto, as possibilidades para lidarmos com a polissemia da PNH em campo de
prática (BENEVIDES & PASSOS; 2005), ao sugerir que é preciso conviver e acompanhar
cotidiana e localmente (HARAWAY, 1995) como a PNH se configura. A noção de
Tecnoculturas do Cuidado conecta-se à presença e ao envolvimento de um coletivo
heterogêneo (CALLON, 2008), assim como se aproxima das afetações que fabricam o
homem, arraigadas à política (DESPRET, 2004).
76
Em Enacting death in the intensive care unit: medical technology and the multiple
ontologies of death (2009), Hadders explora várias maneiras de performances da morte em
saúde de uma pessoa acoplada a um ventilador mecânico (como tratamento) em casos de
pacientes paliativos internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Exploram-se as
práticas médicas em um exercício. Enfocam-se as intervenções médicas e performances de
saúde dentro das práticas de saúde. Associa-se, de modo cuidadoso, como as técnicas médicas
fazem com que a morte seja algo crítica, relativa, tangível, visível, conhecida e real. Ou seja,
implica perceber as alterações que as práticas em ação produzem sobre a concepção de morte.
Estamos falando, portanto, do conhecimento do objeto, indo além da funcionalidade deste.
Para o reconhecimento de um processo de Promoção em Saúde [Improving Health] na
Humanização em Saúde, é preciso perceber que as Práticas de cuidado conjugadas às pessoas
em condições crônicas de saúde, emitem uma extensa lógica em cuidado, a qual precisa ser
revelada para que uma pessoa venha a conviver bem com sua condição até o fim da vida,
assim como com aqueles que se encontram com ela nesse emaranhado sociotécnico (MOL,
2008).
Desse modo, somos conduzidos a pensar em uma humanização hospitalar
não/antropocêntrica, isto é, de artefatualidades como simétricas a efeitos de humanização.
Neste caso, carregados de afetações que reordenam espaços e vice-versa. Desfazendo as
dicotomias instituídas pelo hábito (SPINK, 2003), vinculamos nossa análise a um estudo de
arranjos sociomateriais localizados, no qual encontramos o ―humano‖ sendo permeabilizado
pelo ―não/humano‖, ou melhor, ―objetos sociotécnicos do cuidado‖ em relacionamento, mas
mantendo sempre as distinções ontológicas (LAW & MOL, 2001; MOL, 2007; DESPRET,
2008; LATOUR, 2008).
77
CAPÍTULO 2
UMA PRAXIOGRAFIA DO CUIDADO
As mãos de um pesquisador praxiográfico parecem ampliar o seu olhar metodológico.
78
Neste segmento temos como objetivo principal descrever a elaboração do método
confeccionado para a presente pesquisa, a partir do que se experimentou e se vivenciou em
campo. Latour (2008) adverte que o pesquisar é um processo cujos parâmetros não precedem
a construção do método, pois este segue um percurso próprio.
Em se tratando da produção de um método que se aproxime do cotidiano das práticas,
o desafio, conforme Sennett (2009: 115), é o de ―sermos hábeis o bastante para imprimir
imagens através de palavras‖, e que estas últimas, quando empregadas, sejam competentes o
bastante para mostrar as minúcias daquilo que fazemos. Para o autor, um Artífice insistente
soluciona problemas ―fazendo‖ algo. Ou melhor, o Artífice contorna erros ou falhas quando
se engaja em entender que o ato de fazer concebe o ato de pensar.
Ainda segundo Sennett (2009), o que o Artífice confecciona pode ser sim um
sinônimo de orgulho, uma vez que foi mérito dele. No entanto, o seu trabalho de artífice não
pode cegá-lo, mas ser luz para contínua reflexão ética sobre o que está fazendo. Ou conforme
os estudos de Haraway (2004), que as descrições do que realizamos possam compor
imagens13 que configurem as ações ou os eventos efetuados pelos objetos sociotécnicos
estudados, permitindo que os mesmos se mostrem situados e localizados, ou seja, que se
mostrem possuidores de uma topologia.
Para essa estudiosa, as descrições são potentes aliadas das sociomaterialidades.
Haraway alerta que, mesmo no caso da imagem descrita convencer alguns, para muitos a sua
configuração pode vir a levantar questionamentos, chegando a ser cogitado, inclusive, o grau
de sua veridicidade e inventividade (GAEN & HARAWAY, 2009).
Estamos constantemente buscando formas alternativas para pensar as práticas de
pesquisa do cotidiano. Por isso, a nossa praxiografia permite proximidades com a noção de
figuração trabalhada por Haraway (2004). As figurações das práticas cotidianas permitem
pensar sobre as múltiplas realidades, uma vez que não estamos buscando uma verdade
absoluta, muito menos questionar o que é real ou não é real. E, mesmo diante dessa
multiplicidade, estas não são alienantes, nem dão vidas a monstros ou quaisquer anomalias;
não é esse o nosso interesse, e sim o de nos conduzir a um cotidiano não tão visitado, que
13
Utilizamos a metáfora de Mosaico apenas com o intuito de mostrar que os recortes dos incidentes em estudo
compõem uma imagem que lembra um Mosaico.
79
incitem contínuas reflexões sobre actâncias de elementos não viventes, não/humanos, tão
relevantes quanto os humanos, mas que por conta do antropocentrismo acabam passando
despercebidos.
Conforme o trabalho de Mol (2002a), as descrições são ―lentes de aumento‖ capazes
de mostrar aquilo que foi vivenciado em campo, de tal maneira, que é sensível perceber os
movimentos e ações de cada entidade estudada, ou seja, as descrições revelam que cada
entidade estudada não se cristaliza e nunca está só. São múltiplas, relacionam-se, configuram
topologia, podendo se arranjar com humanos e, na mesma medida, com não/humanos.
Para Spink (2003), não há múltiplas formas de coleta de dados, mas múltiplas formas
de conversar com as materialidades e sociabilidades em que buscamos entrecruzá-las,
juntando os fragmentos para ampliar as vozes, argumentos, fotografias e possibilidades
presentes. Na produção deste trabalho foram consideradas as múltiplas atuações dos objetos
sociotécnicos que apareceram no cotidiano da pediatria do Hospital Escola como insumos
para a tessitura de um escopo teórico-metodológico.
Especificamente, trabalhamos as descrições das diversas versões emitidas pelas
entidades que compõem as Tecnologias do Cuidado no cotidiano. Para isso, adotamos a noção
de praxiografia, ou seja, de uma concepção do tipo etnográfica que enfatiza os diversos
desempenhos das Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar (MOL, 2002a).
O conhecimento da praxiografia transpõe os paradigmas que provocam separações
entre entidades orgânicas ou inorgânicas, humanas ou não/humanas. Busca ser um caminho
metodológico que favorece a coexistência entre actantes heterogêneos. Isto é, a ontologia de
cada objeto que compreende uma prática não se trata de ontologia cristalizada, única, mas de
versões, porque são decorrentes de muitas fricções entre os objetos ou simples adições,
configurando assim, uma nova prática, enfatizando que cada prática é múltipla, ela não é
fragmentada. Compreendendo, desse modo, performances [enactments] múltiplas de seus
objetos sociotécnicos, atravessados por várias formas de coordenação, cada uma com padrões,
tradução, posição, adição, inclusão e distribuições. Neste trabalho, enfatizamos que
exercitamos a organização dos incidentes em estudos a partir da noção de coordenação, que é
a adição por discrepância e não discrepância, assim como, coordenação por calibração (MOL,
2002a).
80
A primeira forma de coordenação por adição refere-se a acréscimos de relações. Ela se
apresenta em duas variedades. Uma das formas de adição projeta um objeto comum por trás
dos vários outros elementos que compõem uma nova relação. Se as projeções não se
sobrepõem, uma delas é feita para prevalecer. Uma relevância temporária é estabelecida e a
discrepância entre as relações são explicadas. A segunda forma de adição isenta-se de
preocupações quanto às discrepâncias. Não sugere que as relações tenham um objeto em
comum. Em vez disso, tomam as relações como sugestões para ação: uma relação ruim pode
ser motivo para seguir determinada ação; duas ou três relações desse gênero dão mais razões
para seguir a ação (MOL, 2002a).
Uma segunda forma de coordenação é aquela da calibração das relações. Se os efeitos
de uma ação foram ouvidos como se cada um falasse por si sozinho, eles podem ficar
confinados em diferentes paradigmas. A questão se diferentes efeitos dizem a mesma coisa ou
se dizem algo diferente não seria respondível – de fato mal poderia ser perguntada. A
possibilidade de se negociar entre elementos distintos só surge graças aos estudos de
correlação que ativamente os tornam comparáveis um com o outro. A ameaça da
incomensurabilidade é combatida na prática se estabelecendo medidas comuns. Estudos de
correlação permitem a possibilidade (nunca sem atrito) de traduções (Ibid.).
A Praxiografia consiste em um ―fazer metodológico‖ no qual o pesquisador em
exercício, encontra-se inserido no cotidiano da pesquisa, das Tecnologias do Cuidado e de
seus objetos sociotécnicos. Estamos falando de uma ―maneira de investigar‖, isto é, de um
―modo de olhar‖ os actantes em pesquisa. Mas, diferentemente das perspectivas de
observação que supõe o observador, a Praxiografia supõe uma pessoa que na posição de
pesquisadora transita pelo local em estudo, participa de algumas de suas atividades, conversa
com as pessoas que por ali circulam e descreve as práticas do local que a chamou atenção.
Caracteriza-se por uma ênfase em acompanhar as práticas e seus efeitos (MOL, 2002a).
A Praxiografia contempla o entendimento das necessidades de se visualizar não
apenas rastros, mas a intensidade de como as movimentações de "actantes" selecionados para
o estudo se dão (LATOUR, 1994), haja vista que as Tecnologias de Cuidado e seus objetos
sociotécnicos estão em constante movimentação, conectando-se e se vinculando. Por isso, a
Praxiografia, pela sua atenção a essa intensidade, mostra-se um aporte metodológico
fundamental para lidarmos com as confusões, as bagunças cotidianas (MOL, 2002a; LAW,
2004).
81
A Praxiografia prevê a impossibilidade de fixar ―actantes‖, pois estes são entendidos
como entidades inconclusas, abertas a novas conexões em decorrência da potencialidade em
transformação que possuem. Tal postura metodológica pressupõe uma atenção constante às
performances dos ―actantes‖ (MOL, 2002a; LAW, 2004; LATOUR, 2008).
Aliando a Praxiografia como postura metodológica ao recurso dos incidentes críticos,
isto é, aos nossos incidentes mosaicos, definimos que é aquilo que descrevemos não é
representativo de uma série maior de eventos. São entendidos como eventos-chave que podem
ilustrar aspectos que se deseja investigar, possibilitando micro-análises de determinadas
práticas em estudo. Descrevemos pontos de acesso a arranjos – ―instantâneos‖ de modulações
–, pois, de outra maneira, suporíamos uma concepção realista acerca da produção de
conhecimento. Tendo em vista o caráter não representativo das situações analisadas, essas
serão organizadas como fragmentos que não apresentam conexão causal entre si. Tratamo-las
como fragmentos e como partes, pois não supomos qualquer totalidade a ser recomposta
(GALINDO, 2003; GALINDO et al, 2009).
2. 1. Saberes localizados e multiplicidades
Para Mol (2007) não existe uma só realidade, mas uma multiplicidade delas. E, para
falarmos de uma realidade, não basta a colocarmos no plural, como se fosse vários olhares,
vários pontos de vista acerca de uma mesma realidade, como se fosse o bastante para dar
conta desta multiplicidade. Para a pesquisadora, a multiplicidade não pode soar como uma
simetria de pluralidade; por pluralidade se aproximar de perspectivismo, não ajuda muito na
compreensão do que seria a realidade, que, em última instância, seria Una. Falar da realidade
como múltipla depende de outro conjunto de metáforas, ou seja, faz-se necessário deixar o
perspectivismo e o construcionismo de lado e adotar a concepção de intervenção e
performances, já que estas sugerem uma realidade que é feita e performada e não tanto
observada.
Em Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da
perspectiva parcial (2005), Haraway, ao falar sobre realidade, defende a concepção desta ser
múltipla, e por conta disso, seus atores e agentes não tolerarem demarcação de terrenos,
82
territórios ou de serem impressos como meros fragmentos inertes em uma tela. São como
sugere Mol (2007), entidades abertas, inconclusas, como as autodenominam a própria
tecnologia e política.
Por isso, nesta dissertação fizemos existir diversas movimentações entre teorias
conectadas ao cotidiano das sociomaterialidades que habitam o local em estudo. Quando
―performados‖, quando se declaram [enacting], os objetos sociotécnicos que habitam a
pediatria não são apresentados como uma realidade dada, mas sim proliferam suas versões de
materialidades que compreendem práticas de cuidado, que passam a existir, são criações que
provém de um processo de produção, de montagem.
Desse modo, a escrita deste texto não se pretende um todo coerente, mas um composto
de incidentes mosaicos localmente compreensíveis. Fazemos existir um arranjo no qual a
teoria e a experiência não se separam; pelo contrário, fabricam-se conjugadamente. É preciso
sublinhar que o modo como essas descrições foram montadas declara a escolha feita por nós,
para assim mostrarmos performances [enactments] de certa realidade, de um determinado
saber local (HARAWAY, 1995; MOL, 1999).
Colocar-nos diante do ato de conhecer implica em fabricação, burilagem,
remontagem, além de uma permanente reinvenção de um método que venha do próprio
cotidiano em estudo, isto é, dos arranjos sociotécnicos; e, por isso, que contempla a sua
metamorfose, coletividade heterogênea, inconstância e multidimensão não totalizante
(HARAWAY, 1995; STENGERS, 2002).
Estas particularidades põem em xeque o modo de fazer ciência, de produzir
conhecimento, até então enraizado no projeto iluminista, que é ao mesmo tempo racionalista e
positivista. Sendo assim, entender o objeto como um composto de incidentes musivos,
proveniente de arranjos, de conexões, que leva a erosão de conceitos tidos como ―pontos de
passagem obrigatórios‖ da pesquisa científica moderna: sujeito e objeto, pesquisador inerte e
distante, generalização e totalização, confirmação de uma verdade científica etc.
(STENGERS, 2002; GERGEN & GERGEN, 2006).
Haraway (1995) e Despret (2004) convidam-nos a pensar na possibilidade de
construção de um conhecimento que se aproxime de um saber localizado, capaz de respeitar a
multidimensão e coletividade, bem como a complexidade do que se investiga. Estamos
83
falando de um conhecimento que ―dá‖ voz ao híbrido, ao tido como ―frágil‖, ―afetivo‖. Como
diria Latour (1994), ―ouvir‖ ou ser ―porta-voz‖ daquilo que foge a purificação ou qualquer
reducionismo idealizado pela ciência moderna.
Segundo Stengers (2002), pesquisadores afiam suas armas e vão à luta, em defesa de
sua verdade ameaçada. Que verdade seria essa? No Ocidente, a ciência fala de verdades, ou
melhor, em um conjunto de parâmetros que validam e certificam o conhecimento produzido,
para que este seja um ―produto‖ exato, reto. Porém, escondem em seus porões as contínuas
barbáries: testes em animais, que são dissecados e esquartejados em vida. Exalta-se e
padroniza-se a figura do cientista como aquele que salva o mundo através de invenções
imediatistas e totalizantes. Esquece-se de comemorar o processo do produzir ciência, que em
si não é nada imediato. Perde-se a oportunidade de celebrar a vida nos estabelecimentos de
pesquisa, e até mesmo a vida em meio ao processo de morte-morrer14, assim como os
contínuos e vívidos arranjos sociotécnicos encontrados no cotidiano de um laboratório ou em
qualquer lócus de estudo, de investigação, enfim, de pesquisa. À vida, resta apenas o silêncio.
Tornando solene, entretanto, a obsessão pela autópsia e necropsia de órgãos e a observação de
células e de moléculas de modo descolado do mundo, sem percebê-los como componentes de
um arranjo social (HARAWAY, 1995; STENGERS, 2002; MOL, 2002a; DESPRET, 2004;
HARAWAY, 2011).
No cotidiano de nossa pesquisa, uma das enfermeiras compartilhou:
Tem sido uma constante luta. Por vários motivos. Primeiro, nós funcionários do
Hospital Universitário (HU) estamos passando por uma fase de desmotivação. Não
pelo serviço que temos que realizar, mas pelo descaso, pelas angústias que tem
acontecido no sistema como um todo. Então, assim, está faltando muito material, está
faltando muitos equipamentos. Materiais que vem de má qualidade, e que você luta,
que você briga para que se mude. Você fica aguardando a anuência de outros setores
quanto a mudar o material, por conta do material não servir, por estar dando muito
problema. Aí você fica na insistência até que alguém lá de cima (da administração)
nos atenda. Alguém para nos ajudar está sendo muito mais complicado a cada dia. O
mesmo acontece quando você pede um material X. Equipamentos, nós trabalhamos
sem equipamentos de emergência de verdade. Temos falta de alguns materiais em
14
Segundo um estudo de enfermagem, este processo teria múltiplas concepções, entre elas, a que seria resultante
de uma construção social, histórica e cultural (SILVA; RIBEIRO; KRUSE, 2009). Segundo Menezes (2010), o
processo morte-morrer é um processo que vincula um ―morrer bem‖, ―com dignidade‖. Fala-se também, da
produção de uma morte humanizada, e que esta passou atualmente a ser objeto da atenção de profissionais de
cuidados paliativos. Revelando que o processo interpela pela necessidade de uma assistência espiritual aos
doentes e a seus familiares. Onde o tema sobre o processo da morte está envolto por dilemas que se apresentam,
na prática, entre todos os envolvidos (médico- paciente-familiares-equipe). Os quais parecem estar vinculados à
diferentes valores e religiões.
84
situações de emergência para a criança aqui. Não que não fazemos a assistência,
fazemos... Fazemos tudo o que pudemos pela criança. Mas se eu e minha equipe
tivéssemos os equipamentos certos, no momento certo e na hora certa, não
passaríamos pela angústia, que muitas vezes passamos. Por quê? Porque está faltando
materiais para que o nosso trabalho fosse melhor realizado. A angústia seria menor.
Então, essa falta de equipamento, essa falta de estrutura física no hospital. A
manutenção das coisas. Então, isso é o que leva a muitos funcionários a ficarem
extremamente desmotivados. Enquanto eu não estou. Digamos que eu esteja numa
fase assim, da minha vida que eu estou vivendo o hospital. Vivendo o hospital
plenamente. Até brinquei esses dias com o pessoal que a minha vida hoje é a pediatria
do Hospital. Eu estou aqui no Estado única e exclusivamente para trabalhar no
Hospital Escola. Então, eu tenho um gás para sentar, para correr atrás das coisas, para
tentar resolver os problemas da clinica. Ao mesmo tempo, a me colocar no lugar das
mães das crianças para tentar entender a família, a criança, para assim realizarmos a
assistência dessa criança, dessa família. Mas nem sempre é assim com os demais
colegas, que muitas vezes não são exclusivos, ou não se colocam como exclusivos do
hospital. (Andanças 14 – Enfermeira Tamires).
Desafios para se fazer pesquisa em meio à carga horária, escassez de materiais, dupla
ou tripla jornada de trabalho, mudanças necessárias para a real efetivação da carga horária de
serviço de 12 X 60 horas15, falta de engajamento científico generalizado ou de se perceber em
um composto tecnocultural. Entretanto, a enfermeira Tamires16 acende uma luz, quando ela
mesma identifica na pediatria:
(...) graças ao incentivo de docentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Pública, muitas das técnicas de enfermagem fizeram nível superior, e, apesar de não
exercê-los, o experimento de se realizar uma pós-graduação, já faz um diferencial
entre as funcionárias, bem como desta clínica em relação às demais. Esta é uma das
clínicas com funcionárias com menos falta, onde as prescrições de enfermagem são
realizadas pelas enfermeiras utilizando, inclusive o sistema de prontuário eletrônico,
e, a seguir, os impressos são checados corretamente pelas técnicas de enfermagem.
Assim, como a constante participação de professores com projetos dentro da
pediatria desde sempre. Estas são consideradas pela Enfermeira Tamires, como
verdadeiras parceiras da equipe de enfermagem da Pediatria! (Andanças 14 –
Enfermeira Tamires).
A presente pesquisa aposta em um modo de construção de um método que se distancia
da investigação urgente, que produza rupturas com a ―velha‖ rotina arraigada à hegemonia
masculina e machista de se fazer pesquisa, ou de separatismos entre o ―fazer ciência‖ e ―não
ciência‖, inaugurada pela modernidade (HARAWAY, 1995). Contrariando, portanto, o
pensamento moderno, a pesquisa se desenvolve na tentativa de configurar uma praxiografia
15
Refere-se à redução de carga horária de 40 para 30 horas semanais do Projeto de Lei 2295/2000 (site:
http://www.portaldaenfermagem.com.br/30-horas.asp), que regulamenta a Jornada dos Profissionais de
Enfermagem. Na prática seria trabalhar 12 horas e folgar dois dias. Foi adotada pela reitoria da Universidade
junto com o Conselho Gestor do HU.
16
Nome fictício, com o intuito de manter o sigilo da participante da pesquisa.
85
dos arranjos sociotécnicos, tendo este objeto como um permanente produtor de eventos
(MOL, 2002a).
Trazemos conosco instrumentos (descrições das visitas de campo como um aparato,
inventários dos objetos seguidos, atividades das idas e vinda à pediatria), assim como aparatos
particulares (óculos de sol e de grau, mochila, chapéu, blusa de manga longa – que serão
melhores declarados no capítulo 4) para deslocamento e trabalho em campo e também para
nos ajudar na montagem de nossos incidentes.
Fizeram parte de nossos instrumentos de campo: diário de campo para anotação
descritiva de nossas andanças (APÊNDICE D), gravador digital e as entrevistas, máquina
fotográfica e fotografias, um mapa de atividades (por onde andei, com quem eu falei, o que fiz
e por quanto tempo) (APÊNDICE A); para análise construímos um inventário dos objetos
(funções iniciais e funções diversas efetivadas por cada objeto) (APÊNDICE B) e Desenhos
do tipo Praxiográficos, que serão descritos no capítulo das ―Andanças pela Pediatria‖. Nas
narrativas de cada ―andança‖, cada objeto perseguido ficou nomeado conforme dia de
andança e linhas que falam sobre ele (ex: Itinerário 1, Linha 2 a 4: IT.1. L2-L4) para recortes
e análises, passando à nomeações definitivas: Andanças nº x, quando houve apenas descrições
ou Andanças nº y, mais nome fictício do participante, quando houve fala de um participante
da pesquisa. O mapa das andanças, o inventário dos objetos e os desenhos praxiográficos são
instrumentos que foram montados após conversarmos com o grupo TECC sobre as primeiras
experiências de campo, lidando com as ―incoerências ou bagunças sociotécnicas‖ que
acontecem no cotidiano da pediatria (LAW, 2004). Enfatizamos que estes foram de suma
importância para a composição da narração de nossa pesquisa.
As descrições foram compostas de modo a explicitar os diversos incidentes críticos,
isto é, os diversos atores que se encaixam de modo único, as múltiplas partes que se
aproximam e se conectam de maneira ímpar. Já não nos restringimos à superfície de uma tela
ou à arte de pintar quadros, parafraseando o poema escrito pela enfermeira Florence
Nightingale (NIGHTINGALE, 1946), mas sim de ―praxiografarmos‖ incidentes mosaicos17,
17
Para saber mais sobre Arte do Mosaico: O Mosaico, conhecido também como técnica musiva, é uma
montagem de pequenos fragmentos de materiais como pedras, azulejos de várias cores, pastilhas, cacos de vidro
– os mais usados –, conchas, papéis, botões, plásticos, couros, grãos de alimentos e outros mais, denominados
tesselas, sobre planos anteriormente dispostos para este fim, resultando em figuras. A expressão ―mosaico‖
provém do grego ―mouseîn‖, mesma raiz que originou o termo ―música‖, o que mantém um ritmo, é também a
mesma raiz da palavra ―musas‖. A prática musiva é proveniente da antiga Grécia e do Império romano. Seu
86
ou seja, de juntarmos recortes de descrições, as quais configuram ilustrações das ações de
cuidado. Declaram-se não apenas na superfície de um corpo, ou em uma tecnologia, mas em
uma superfície híbrida entre ambos.
Sendo assim, temos como atravessamento as potencialidades dos incidentes
críticos/incidentes mosaicos. É a partir destes apostamos na construção de ilustrações capazes
de configurar as performances18 [enactments] das Práticas de cuidado que habitam a pediatria
do estudo. Encontramos muitas possibilidades e formas de estudar as Tecnologias do cuidado
(MOL, 2002a).
Esta constatação nos levou a entender que nosso objeto de pesquisa possui uma
especificidade que se traduz por um contínuo movimento, ou seja, por um constante processo
de confecção. As Práticas de cuidado envolvem articulações, as quais podem se processar ora
intencionalmente ora ao acaso, fazendo com que sejam verdadeiras produtoras de múltiplas
realidades locais (HARAWAY, 1995), portanto, arranjos locais, singulares, nunca neutros,
propósito técnico é de ocupar superfícies diversas, como tetos, chão, pisos, paredes e também, atualmente,
esculturas. Por serem muito duradouros, os mosaicos são chamados de pinturas para a eternidade. Os próprios
sumérios deram início a esta prática na Mesopotâmia, por volta de 3.000 a.C. Suas produções tinham influências
do modo como se confeccionava tapete, por isso eram simétricas a estes, sendo muitas vezes do tipo
geométricas. Os mosaicos são encontrados especialmente na Itália, no Egito, na Macedônia – hoje ocupada pelos
territórios da Grécia, Iugoslávia e Bulgária –, China e outros países. Uma era histórica que muito cultivou a
técnica musiva foi o Renascimento, período no qual se destaca a edificação da Basílica de São Pedro.
Posteriormente o artista catalão Gaudi rompeu com as convenções desta técnica e foi o responsável pela criação
dos mosaicos em Barcelona. Exemplos de mosaicos são os resgatados nas ruínas de Conímbriga, provavelmente
compostos em II d.C., em Portugal, antigo domínio da Roma Antiga; os da villa romana de Torre de Palma, mais
ou menos do mesmo período, também em terras portuguesas. No Brasil, temos o calçadão de Copacabana,
podemos encontrar numa possível combinação de pisos e azulejos em algumas casas. E, até mesmo, em certas
gravuras do holandês M. C. Escher (BIGGS, 2004). Ainda no Brasil, segundo o jornalista e mosaicólogo
Gougon, o Mosaico é confeccionado por indígenas utilizando penas, reconhecidos como ―arte plumária‖ na
forma de cocares, mantos e ornamentos. Os povos pré-colombianos usaram pedras como topázios, esmeraldas,
turquesa e também madrepérolas para revestir caveiras, objetos cerâmicos, objetos de madeiras em forma de
serpente e artefatos variados. (http://mosaicosdobrasil.tripod.com/).
18
A pesquisadora se identifica como uma filósofa do empirismo, por isso como termo alternativo para estudar
casos empíricos, adotou o termo enactment. Utilizando dentro da teoria ator rede, ela lança mão do termo
enactment para contar sobre como os objetos e entidades se fazem real dentro das práticas hospitalares. O termo
enactment descreve como as entidades são constituídas através de complexas relações em redes de atores e
actantes, humanos, bem como agentes não/ humanos. A palavra ―performance‖ tem várias conotações que a
prende a necessidade de encenar algo estudado previamente, a um possível roteiro a ser seguido, requer um palco
onde algumas entidades ficam em destaque em detrimento de outras. Mas se a palavra ―performance‖ for
substituída por ―enactment‖, obtemos uma metáfora que permite que todas as entidades de um enredo atuem com
toda a sua potência, sem bastidores, não havendo uma realidade escondida a ser revelada. Esta seria uma palavra
que não sugere uma totalidade em demasia. Da língua inglesa enactment possibilita dizer que nas práticas
cotidianas, os objetos são enacted. Essa palavra não tem uma tradução fiel para o português que se aproxime do
que se pretende para os estudos praxiográficos. Mas em si, ela deve ser lida de modo que leve a entender que as
práticas estejam acontecendo, que os objetos se mostrem declarantes, atuantes, arranjando-se, relacionando-se.
Também sugere que, no ato, e apenas lá naquele local e naquele momento, algo está sendo enacted. Por isso,
quando falarmos em perfornances, é necessário aproximá-la da noção de enactment (MOL, 2002b).
87
sendo também, duvidosos em determinado momento. E, por conta da identificação destas
características, não podem ser descritos como genéricos ou totalizantes. Em face às ações que
nos apresenta, resta-nos descrever as variações e seus diferentes ordenamentos (MOL, 2002a).
2.2. Os Incidentes Críticos
O que seriam incidentes críticos? Estes podem ser definidos como eventos que dão
visibilidade às diferentes posições de atores sociais situados em uma controvérsia e às
possibilidades de negociação entre eles. As controvérsias são momentos privilegiados para
visualizar os atores humanos e não/humanos situados em redes, uma vez que rompem o
habitual exigindo que os diferentes atores se posicionem e sejam posicionados pelos demais.
Estamos chamando de controvérsias a contestação de sentenças ou fatos tidos como
verdadeiros, que mobilizam atores, arregimentam recursos e participam da construção de fatos
(LATOUR, 2000). Simétrico ao termo, preferimos utilizar incoerências, por estarmos lidando
com entidades de ontologias distintas, que, por determinado momento, conjugam e promovem
múltiplas performances [enactments] (MOL, 2002a; MOL, 2007).
Quando se trata de performances, entra em cena um ator coletivo, um ator-rede, que
em nosso estudo chamamos de actante ou objeto sociotécnico, o qual não pode ser reduzido
nem aos atores individuais nem aos arranjos sociotécnicos que compõem. A noção de rede
aqui, apesar de ser utilizada por Galindo (2002), foi repensada por nós, da qual temos
percepção do risco em adotá-la. Esta compreende conjunções heterogêneas, porém, traz
consigo uma imagem clássica de redes como algo organizado, facilmente visualizado. E, no
entanto, as sociomaterialidades constituem arranjos, que, na maioria das vezes, são
incoerentes,
inicialmente
bagunçados,
inesperados
(LAW,
2004;
SPINK,
2009).
Assemelham-se às redes por possuírem múltiplas entradas e por serem caracterizadas pela
presença de subconjuntos restritos que apresentam fatores e relações de interferências entre si
(LAW, 2000). Os arranjos se tornam visíveis por meio de incidentes que nos conduzem não
por um emaranhado de fios e nós, mas por conexões, por intensidades que os atores técnicos e
sociais compõem.
E, como referido por Galindo (2002), ao longo de uma controvérsia – no nosso caso,
referente às incoerências – as posições dos atores se definem por aquilo que fazem, sendo
88
considerados atores tanto os humanos como os não/humanos. As controvérsias ou
incoerências correspondem a estudarmos os momentos de intensidade das relações que
sustentam os arranjos sociotécnicos, conferindo-lhes uma aparente autonomia: atores, ações e
conexões.
Galindo (2002) apoia-se em estudos da Psicologia Discursiva para compreender as
controvérsias, ou, como preferimos chamar, as incoerências. Segundo a pesquisadora, as
incoerências requerem que saibamos mais sobre as posições de pessoas, assim como de
não/humanos. Ela recupera a noção de posicionamento, e, em seguida, amplia-a no sentido de
incluir também atores não/humanos, contemplando às materialidades que também participam
dos arranjos relacionais. No dia-a-dia, as pessoas descobrem a dimensão e a aplicação das
regras apenas quando as colocam em prática, descobrindo que tais regras podem não ser
adequadas quando aplicadas; podendo funcionar, inclusive, de maneira insuficiente. Eis o
momento em que as regras podem vir a gerar estranhamentos em relação à organização
habitual do cotidiano. Nota-se que estão sendo negociados novos posicionamentos na relação.
O momento ideal para estudar as posições dos atores em exercício, os Incidentes, seria
quando o fluxo cotidiano habitual se rompe. Ou seja, nos momentos de reordenações, de
modulações, ou ainda, no instante em que houve alguma transformação.
Há várias possibilidades para o emprego de incidentes críticos como recurso na
pesquisa, e para exemplificação, mencionaremos os estudos de Galindo (2002) e Bernardes
(2004). Um incidente crítico pode ser uma mobilização de atores em torno de determinados
fatos científicos ou políticas públicas na área da saúde, como foi encontrado em Galindo
(2002), que visou analisar o uso de dados científicos como argumentação. Em seu trabalho, os
incidentes críticos foram definidos como eventos-chave que ilustram aspectos que se deseja
investigar, funcionando como possibilidades de micro-análises para vislumbrar processos de
construção de sentido sobre determinado acontecimento. Portanto, incidentes críticos em seu
estudo são ilustrações.
Bernardes (2004) buscou analisar documentos de domínio público a partir dos
discursos encontrados durante a pesquisa. Mais especificamente, examinou o debate atual
sobre a formação em Psicologia no Brasil. Trabalhou com os incidentes críticos como modo
de seleção dos documentos para análise. Como auxiliares para a identificação de incidentes
críticos, o autor contatou os profissionais envolvidos na discussão sobre a formação em
89
Psicologia, os quais o auxiliaram na identificação dos incidentes. O emprego de incidentes
críticos por Bernardes foi para identificar documentos cuja produção levaria à resolução de
controvérsias ou de qualquer incoerência.
Nos dois exemplos citados, a análise de incidentes críticos não coincide com o estudo
dos grandes eventos ou documentos considerados importantes; pode coincidir com momentos
ou documentos que, do ponto de vista da história de uma área, pareçam mesmo banais. E é
isto que nos interessa, pois nosso estudo é pontual, focalizado e localizado; seriam ações que
habitualmente passariam despercebidas, já que são corriqueiras mesmo insignificantes no
local. A essas insignificâncias demos o nome de cacos narrativos ou incidentes mosaicos.
Como veremos mais a frente, a conjugação destes compuseram diversos mosaicos, as
Tecnologias do Cuidado (GALINDO, 2003; BERNARDES, 2004).
Em função desse processo de seleção e montagem dos incidentes críticos, Galindo
(2003: 09) sugere três cuidados metodológicos:
1. evitar que os eventos selecionados sejam tomados como representativos de uma série
maior de eventos. Estes podem apenas ser vistos como ilustrativos de um certo processo de
construção de sentido, mas não representam, o que exigiria uma análise de significância;
2. os critérios utilizados para seleção de cada evento crítico devem ser expostos com
clareza, deixando ao leitor margem para crítica. Não havendo critério inequívoco para sua
seleção, o rigor repousa na visibilidade do processo de interpretação;
3. o uso de tal recurso é indicado, sobretudo, quando se pretende fazer micro-análises dos
eventos selecionados. Pode funcionar como um momento de desfamiliarização inicial ou
constituir o foco do trabalho.
2.3. Incidentes Críticos e os Incidentes Mosaicos
Incidentes críticos referem-se à identificação de momentos tensos, porém tais
momentos são concernentes aos estudos de fragmentos em destaques de documentos em
estudo.
Quando falamos em estudar incidentes mosaicos, estamos falando de uma derivação
dos incidentes críticos, a partir dos quais estudamos fragmentos, instantes efusivos das
performances das sociomaterialidades que habitam uma determinada topologia; neste caso,
90
estamos falando de estudos pós-descritivos de sociomaterialidades do cuidado com os quais
trombamos ao andarmos pela pediatria.
Então, partindo de algumas características dos incidentes críticos, bem como da noção
de montagem de imagens proveniente da geometria e topologia da prática musiva, temos os
incidentes mosaicos. Incidentes que compreendem os estudos de arranjos de objetos
sociotécnicos que, de certo modo, ao se conectarem se apresentam como configuradores de
tecnologias do cuidado. E, a cada instante, essas conexões são inéditas, e assim como os
mosaicos, configuram imagens impares e incidentes críticos. Os incidentes mosaicos
compreendem a potencialidade de transposição de tensões entre objetos sociotecnicos, e ao
final dessa resolução, levam a uma mediana estabilidade, como a configuração inédita de uma
tecnologia do cuidado; produção de seu próprio roteiro, sinalização das tecnoculturas que são
fabricadas a partir de suas performances/declarações [enactments].
Aos incidentes críticos entende-se que podem estar vinculados documentos ou
acontecimentos que pareçam insignificantes do ponto de vista histórico. Para os incidentes
mosaicos, buscamos analisar praxiograficamente as actâncias de objetos sociotécnicos que se
mostram fabricantes de cuidado. Neste caso, promoção de saúde a partir de modulação de
afetos e reordenações das espacialidades (GALINDO, 2002).
Como os Incidentes Mosaicos são uma derivação dos Incidentes Críticos, fizemos, a
seguir, uma relação de proximidades entre ambos com o intuito de mostrar uma continuidade
dos Incidentes Críticos nos Incidentes Mosaicos ao invés de apontar oposições entre eles.
1.
Os Incidentes Críticos trabalham com pontos de ―controvérsias‖ em documentos ou
eventos selecionados. Já nos Incidentes Mosaicos passamos a buscar as ―incoerências‖ das
práticas diárias nos Diários das andanças (pós-descrições);
2.
Para os Incidentes Críticos os eventos estudados, composto por humanos e
não/humanos, são denominados ―ilustrações‖ ou presentificações. Nos Incidentes Mosaicos
permanecemos com a denominação ―descrições‖, ―incidentes‖, também compostos de
humanos ou não/humanos;
3.
Os Incidentes Críticos consideram os humanos, assim como os não/humanos, como
entidades ―actantes‖, de ―ação‖, ou ainda, que performam. Para os Incidentes Mosaicos,
91
seguimos realizando a utilização desses termos. Entretanto, Performance passou a ser
utilizada com mais cautela, sempre com a noção de [Enactment];
4.
Em Incidentes Críticos, trabalhou-se muito com a noção de ―desembrulhar redes‖,
com a noção de ―dobras‖, haja vista a tentativa de superar a noção clássica de redes. Sendo
assim, nos Incidentes Mosaicos demos continuidade nos estudos que consideram rede uma
noção um pouco arriscada; por isso, preferimos adotar as seguintes palavras: arranjos,
conjugações, encaixe por aproximação, ligações, conexões;
5.
Tanto para Incidentes Críticos quanto para Incidentes Mosaicos, conforme comentado
anteriormente, mantemos o cuidado em lidar com ―a não representação de um todo; são
análises de significâncias‖;
6.
Como derivação dos Incidentes Críticos, os Incidentes Mosaicos também são
acontecimentos, ligações ou conexões ―momentâneas‖, são vínculos transformadores;
7.
São ―mutáveis‖;
8.
Realizam ―ruptura com o habitual‖;
9.
São provenientes do Cotidiano, dos saberes localizados;
10.
São multidimensionais, mas nos Incidentes Mosaicos adicionamos a noção de
―topologia‖, ―geografia‖;
11.
Ambos trazem a noção de ser necessário lidar com os eventos, com os objetos, com as
práticas cotidianas em estudo como entidades ―não familiares por alguns instantes‖;
12.
Nos Incidentes Críticos trabalhamos com ―microanálises de documentos e eventos‖, já
nos Incidentes Mosaicos permanecemos com ―microanálises‖. Entretanto, ―microanálises‖ de
versões de um mesmo objeto (objeto conhecido), que em arranjo tem como efeitos de
interferências: modulação de afetos e/ou reordenação de espacialidades (habitabilidade).
Surgindo também incidentes emissores de Efeitos do tipo Humanização em Saúde por
artefatualidades, o que nos permitiu estudar as diretrizes de Humanização em Saúde:
acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo;
92
13.
Para os Incidentes Críticos, o pesquisador e seus auxiliares realizaram coletas de
fragmentos dos eventos e documentos que aparentemente seriam ―insignificantes‖. Nos
Incidentes Mosaicos também permanecemos trabalhando com algo pontual, aparentemente
insignificante, porém, os ―incidentes‖ são provenientes de uma confecção do tipo ―artesanal‖.
Por isso adicionamos a noção de ―artífice‖, de um artífice do tipo ―mosaicista‖, pois trabalha
com mosaicos, ainda que textuais. Este que pacientemente burila as minúcias entendidas
como ―insignificantes‖.
2.4. Sobre a ética dialógica
Nossa pesquisa encontra-se fundamentada em uma ética dialógica, a qual considera a
competência ética dos envolvidos; a possibilidade de estabelecimento de parcerias e de uma
relação de confiança entre o pesquisador e os interlocutores; a busca pelas relações de poder
horizontais; e a garantia do anonimato como condição de possibilidade para o
desenvolvimento da pesquisa. Trata-se, portanto, de um compromisso no qual se pensa
pesquisa como uma prática social; há a preocupação em se garantir a visibilidade dos
procedimentos de busca de incidentes e análise destes. E, por fim, se aceita a dialogia como
intrínseca à relação que se estabelece entre pesquisador e participantes (SPINK &
MENEGON, 1999).
Sendo assim, nesta pesquisa além de seguirmos a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996) – pois foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) de um Hospital Universitário de uma Universidade Pública, estando o parecer
aprovado, sob o protocolo nº 079/ CEP-HU/ 2011 (ANEXO C) – mantivemos o compromisso
conforme os itens aprovados pelo CEP vinculados a uma ética dialógica. Foram os seguintes
aspectos respeitados: sigilo e confidencialidade, critérios de exclusão e inclusão que lidam
com a especificidade da pesquisa com crianças internadas, assim como os termos de
consentimento dirigidos aos cuidadores e equipe de saúde.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi apresentado em
linguagem acessível a todas as pessoas antes do início das atividades que envolveram as
descrições praxiográficas, sendo explicitados os objetivos, método e aplicações dos
resultados.
93
O termo de consentimento é um documento recomendado por declarações
internacionais, códigos de ética e resoluções e leis específicas, para ser utilizado na
prática cotidiana em saúde e na realização de pesquisas envolvendo seres humanos
(MENEGON, 2004: 845).
Aproveitamos para pensar sobre o Termo de Consentimento, uma vez que a literatura
consultada aponta que existem diferentes compreensões sobre determinadas práticas a se
pesquisar e, que muitas vezes, as exigências do CNS 196/96 não contemplam as necessidades
das pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, assim como as realizadas pela Enfermagem,
pois que esta última produz trabalhos que se aproximam ou encontram-se vinculados às
Ciências Humanas e Sociais. Tais exigências têm concepção racional, que, geralmente, são
voltadas para as Ciências Exatas e Biomédicas, as quais acabam forçando os estudos das
Ciências Humanas e Sociais e da Enfermagem, às adequações de terminologias e escrita para
poder realizar pesquisas envolvendo seres humanos, por exemplo, ao realizarem um estudo de
caso (MENEGON, 2003).
Por isso, de um lado, o Termo de Consentimento significa um processo que humaniza
as relações, tanto por significar respeito pela autonomia de pacientes como por se constituir
em proteção aos profissionais, emergindo assim como uma estratégia de gestão das relações e
das técnicas empregadas. Por outro lado, é compreendido como uma prática ambígua e
problemática, cujas dificuldades parecem aumentar com a complexidade do aparato
biomédico empregado, principalmente ante a assinatura de um documento, pois não estão
incólumes às falhas quanto às questões que envolvam as complexificações biomédicas. Em
especial, no que se refere à separação do psicossocial e as tecnologias, as quais,
paradoxalmente, encontram-se constantemente vinculadas, contrariando as dicotomias dos
Termos de Consentimento atual. Portanto sugerimos, ao empregá-la em nosso trabalho,
repensar a documentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, já que temos
como intuito buscar melhores documentações éticas, cuja principal preocupação da mesma,
seja entender as linguagens sociais utilizadas nos trabalhos, com atenção especial à linguagem
dos riscos e suas implicações para a relação entre humanos e tecnologias estudadas
(MENEGON, 2003).
Para cada categoria (Cuidador e Equipe de saúde) foi apresentada um TCLE
específico (ANEXOS A e B). Sobre a autorização da criança, foi feita de maneira prescritiva,
94
de modo oral, permitindo-lhe a recusa de continuar participando em qualquer momento da
pesquisa. Às crianças alfabetizadas, permitimos, inclusive, assinar o termo do Cuidador,
sendo o documento, portanto, de valor para ambos, criança e cuidador. Uma cópia ficou em
posse do pesquisador e outra do sujeito participante da pesquisa. Pensamos na manutenção da
relação com os participantes da pesquisa, o sigilo e a confidencialidade quanto à identidade
dos sujeitos da pesquisa, que será garantida por meio da preservação do anonimato durante a
análise e publicações subsequentes. Além disso, nas publicações e apresentações, os sujeitos
receberão codinomes que não evoquem seus nomes originais e/ou as iniciais dos mesmos.
Ficamos à disposição dos participantes quanto ao acesso em qualquer etapa do estudo
ao que estava sendo realizado, do mesmo modo aos profissionais responsáveis pela pesquisa
para esclarecimento de eventuais dúvidas, assim como foram informados de que poderiam
desistir de participar ou ceder informações a qualquer momento da realização da pesquisa.
A pesquisa realizou-se com um total de 23 participantes. E, referente à equipe de
saúde, temos: uma (1) professora-enfermeira; três (3) enfermeiras; uma (1) atendente de
enfermagem com desvio de função para limpeza de mobiliário; uma (1) auxiliar de
enfermagem com desvio de função atuando como recreadora da brinquedoteca; e sete (7)
técnicos de enfermagem. Das enfermeiras participantes, duas eram do período diurno e uma
do período noturno. Ainda sobre os integrantes das equipes de saúde, duas (2) técnicas de
enfermagem trabalhavam no período noturno, e as demais no período diurno. Sobre o número
de acompanhantes (cuidadores) e crianças tivemos cinco (5) cada.
Sobre os cuidadores que participaram de nosso estudo, constituíram-se de pais ou
responsáveis, que estiveram acompanhando uma criança hospitalizada na pediatria. E eram
maiores de 18 anos, podendo ser ou não alfabetizados. Aos selecionados foi relevante a
compreensão da língua portuguesa. Como critérios de participação ou não dos cuidadores
convidados para a pesquisa vale salientar:

Foram incluídos pais ou responsáveis que participaram ou acompanharam a criança
hospitalizada em atividades na brinquedoteca ou no projeto de informática e cidadania, que
consentiram previamente assinando o Termo de Consentimento Livre e esclarecido;
95

Para seleção dos cuidadores ou responsáveis foi utilizado como critério a presença
destes por períodos continuados nos cuidados, sendo excluídos aqueles que participaram
apenas incidentalmente.
Foram entrevistadas quatro mães (4), houve uma conversa informal com um pai, o
qual delegou a responsabilidade da assinatura do termo a sua esposa. Além de realizada uma
conversa e entrevista com um pai de uma criança adotiva. Sendo 29 anos a idade do
responsável mais novo e 51 anos a do mais velho. Na maioria, donas de casa, dependentes do
cônjuge, ou trabalhadores assalariados.
Referente às crianças que participaram da pesquisa, incluímos crianças de ambos os
sexos; as idades não ficaram previamente definidas, mas verificamos que participaram
crianças de 1 ano e 7 meses à 13 anos de idade, que estiveram hospitalizadas na pediatria do
Hospital Universitário (HU), e que cujos pais e/ou responsáveis consentiram em seu ingresso
na pesquisa. As com idade escolar, muitas vezes com alguma condição crônica de saúde,
encontravam-se afastadas da escola.
Em sua maioria, os participantes da pesquisa foram crianças com alguma condição
crônica de saúde, em destaque para as crianças com alguma modalidade de alteração renal,
por exemplo: Síndrome Nefrótica. Assim como crianças com problemas pulmonares crônicos.
As demais crianças estiveram ligadas à cirurgia de remoção e/ou correção ou procedimentos
invasivos do tipo biópsia.
Sobre o tempo de internação, variaram entre 8 a 62 dias sequenciais. As crianças
foram respeitadas quanto ao seu direito de recusar a participação na pesquisa mesmo existindo
um consentimento prévio dos cuidadores e responsáveis. Ao serem questionadas sobre a
participação na pesquisa, algumas crianças permitiram observações e que seus acompanhantes
falassem sobre elas, entretanto, negaram-se a conversa ou entrevista gravada. Uma criança
apenas consentiu entrevista, conversa informal e observações, tanto dela quanto de sua mãe.
Vale ressaltar que antes da realização de qualquer atividade de pesquisa com as crianças, a
equipe de saúde responsável foi consultada sobre a presença da pesquisadora no local para a
atividade específica, neste caso, o convite para a pesquisa, para a realização de entrevistas
gravadas e conversas ou observações.
Como critérios para participação na pesquisa, elencamos os seguintes:
96

Participaram apenas as crianças hospitalizadas na pediatria do HU que acessaram a
―Brinquedoteca‖ e/ou participaram das atividades do ―Projeto Informática e Cidadania‖;

Não participaram da pesquisa crianças que não estiveram internadas, ou seja, que
apenas visitaram temporariamente o local, bem como aquelas que estiveram sob o cuidado
ambulatorial.
Pensando no bem-estar da criança, nenhuma foi retirada de sua rotina, e procuramos
não interferir nas práticas de cuidado hospitalar. As atividades de pesquisa realizadas foram,
preferencialmente, em presença dos pais e/ou responsáveis. Não houve nenhuma
intercorrência de saúde; entretanto, acessamos o campo de pesquisa ciente de que isto poderia
ocorrer.
Da equipe de saúde foram incluídas na pesquisa as técnicas da equipe de
enfermagem que trabalham na pediatria em atividades de atenção à saúde de crianças
hospitalizadas e que acessam os serviços da brinquedoteca e/ou do Projeto Informática e
Cidadania. Como critérios de inclusão e exclusão, utilizamos os seguintes:

Participaram da pesquisa apenas técnicas de enfermagem vinculadas à Pediatria e que
atenderam as crianças que acessaram a ―Brinquedoteca‖ e/ou o Projeto Informática e
Cidadania;

Não participaram alunos de graduação presentes na Unidade Pediátrica.

Não participaram funcionários de outros setores que não tinham vínculo com
atividades da Brinquedoteca e/ou do Projeto Informática e Cidadania.
Sobre as técnicas de enfermagem:
Equipe diurna – Uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, possui curso de
esteticista, porém não exerce; uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, possui
formação em Biologia, porém não exerce; uma funcionária com vínculo efetivo e único HU,
sem formação superior, mas trabalha na área alimentícia como autônoma (venda de
marmitas); há uma funcionária com vínculo por contrato com HU e possui vínculo com o
Estado, que também trabalha no Hospital Psiquiátrico do município; há três funcionárias
97
sendo uma com formação em nível superior e duas que não são exclusivas do HU; há uma
funcionária com vínculo efetivo e único HU, mas que já tem aposentadoria (por serviço
anterior na enfermagem); há outra funcionária, sem formação superior, com vínculo com HU
por contrato e único; há uma funcionária que cursa Enfermagem, possui vínculo efetivo HU e
Estado; e há uma funcionária com graduação em enfermagem, que, porém não exerce a
titulação, atuando como técnica de enfermagem com vínculo efetivo e único HU.
Equipe noturna – Há uma funcionária com vínculo efetivo e único HUJM, possui
formação em direito, mas não exerce por não ter passado na Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB); outra com formação em pedagogia, mas não exerce, é efetiva do Estado; há uma
funcionaria que é efetiva do HUJM e também trabalha no Estado; há uma outra funcionária
que é efetiva HU, mas que trabalha no Hospital e Pronto Socorro do Município tendo vínculo
neste também – no entanto, não foi possível saber se possui formação em nível superior ou
não; há outra funcionária que é efetiva HU e que trabalha no hemocentro (Estado), sendo
efetiva deste – também não obtivemos informações sobre sua formação extracurricular; a
pediatria também possui uma funcionária efetiva e aposentada pelo Estado, finalizando o
último semestre de enfermagem, com vinculação única com HU; possui uma funcionaria com
formação em Assistência Social, que, entretanto, não exerce a profissão na qual é graduada;
há duas funcionárias contratadas, vínculo único, cursando enfermagem, sendo que uma tem
vínculo com um município próximo; e, por fim, uma funcionária aposentada como pedagoga
pelo Estado.
2.5. Sobre interrupções das entrevistas e conversas
Houve necessidade de interrompermos imediatamente nossas atividades apenas diante
da falta de funcionários na Clínica, e após conversar com as enfermeiras do plantão, privamos
pelos cuidados da Clínica Pediátrica lotada, não realizando entrevistas com a equipe de
enfermagem no período, aproveitando para fazer entrevistas com cuidadores de crianças
estáveis, situações mais frequentes no período noturno. E, como a pesquisadora responsável
por esse trabalho de pesquisa é enfermeira, pôde, inclusive, compreender as minúcias e
prioridades, as conturbações da clínica, conforme suas competências como profissional de
saúde em enfermagem.
98
CAPÍTULO 3
UM HOSPITAL ESCOLA
À medida que documentos e conversas gravadas nos contam de um hospital, sentimo-nos mais
curiosas para andar por seus espaços e conhecer os seus objetos sociotécnicos do cuidado.
99
O Hospital
Universitário Júlio Müller (HUJM) e a assistência diferenciada
encontrada em sua pediatria serão contados brevemente neste capítulo. Tomamos como
actantes desta história, fragmentos de entrevistas e informativos encontrados em sites do
Hospital Universitário, da Universidade Federal de Mato Grosso, da Acessoria de
Comunicação do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso e do Conselho Regional de
Mato Grosso (COREN-MT), portanto, páginas ―regionais‖ online, assim como trabalhos que
descrevem versões sobre o contexto do período de implantação do hospital, bem como
incidentes orais provenientes de uma conversa 19 concedida por uma professora-enfermeira
sobre sua vivência no hospital e na pediatria, que aconteceu, segundo ela, um pouco após o
contrato de cessão do Hospital à Universidade Federal de Mato Grosso. A seguir, destacamos
algumas narrativas da docente e enfermeira que nos situam sobre os primórdios da pediatria,
ou melhor, sobre sua estrutura física, administrativa e assistencial, que desde o início
configuravam um sonho em cuidados de enfermagem quando comparada à que existia na
Santa Casa de Misericórdia, hospital onde também trabalhou. Mais à frente, selecionamos
incidentes reflexivos da fala da professora-enfermeira que descrevem a ala pediátrica atual
como um lugar onde ensino e pesquisa coexistem com o cuidado de enfermagem.
Como conclusões, as quais coincidem com os nossos interesses em pesquisar alguns
dos objetos sociotécnicos (os computadores) que habitam a pediatria, trouxemos incidentes
descritos pela professora que falam sobre pesquisa, projetos, enfim, do papel da academia no
hospital, na pediatria, em meio às práticas de cuidados. A estas, associamos informações
extraídas da página da UFMT, além de algumas reflexões de artigos científicos que falam
sobre o Programa de Extensão Cuidar Brincando, a respeito da conquista da construção da
nova brinquedoteca (RIBEIRO, 2008; RIBEIRO et al, 2010; RIBEIRO, 2012), a qual
percebemos como um espaço aberto e múltiplo, evidenciando-se como uma potencializadora
do cuidado prestado à criança hospitalizada, assim como aos adultos – como pais e os
próprios profissionais de saúde que a frequentam (GALINDO et al, 2009; 2012).
19
A entrevista/conversa com a professora-enfermeira da FAEN/UFMT, conforme Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), foi cedida e encontra-se na íntegra na sessão de apêndices, mais especificamente,
refere-se ao Apêndice E “Andanças/Itinerário extra”. Ficou intitulada como “Andanças extras”, pois corresponde
a sugestões posteriores provenientes da Banca examinadora da defesa desta dissertação.
100
3.1. O Hospital Universitário Júlio Müller e os primórdios da assistência na pediatria
O Hospital Júlio Müller nasce nos anos cinquenta do século XX, durante o período da
Campanha Nacional contra Tuberculose, tendo suas obras concluídas apenas na década
seguinte. No entanto, após sua finalização, ainda não cumpria a função de escola, mas de
hospital que tratava pacientes com quadro clínico de tuberculose (FERREIRA, 2003).
Durante a gestão do reitor Benedito Pedro Dorileo, em 1982, como conta o professor
Eduardo De Lamonica Freire20 (HUJM, 2006), a Universidade Federal de Mato Grosso se viu
pressionada pelas necessidades de melhora da qualidade dos estágios oferecidos por seus
cursos de saúde.
Em conversa com a professora-enfermeira da FAEN/UFMT, uma versão sobre o
início do HUJM nos é revelada:
Olha, eu não estava na época do acontecido, mas sei, o que se falava era que houve
uma paralisação, uma manifestação, uma movimentação dos estudantes. Os
estudantes de medicina estavam próximos para ir para campo e estavam sem lugar
para estagiarem, não havia um hospital. E, a enfermagem e a nutrição estagiavam na
Santa Casa e no Hospital Geral. Então o que eu sei é que os alunos de medicina
estavam perto de iniciar o internado e não tinham hospital apropriado e que os
comportasse. Aí os alunos fizeram uma pressão para que vissem o mais rápido
possível um hospital. Talvez tenham acontecido outros movimentos a favor da
construção de um hospital escola, não sei dizer ao certo. Acatado a necessidade de
um hospital, aí vieram às questões políticas, o acordo, o envolvimento da reitoria,
diante da realidade postada pelos alunos. Houve também uma pressão e exigência
para o hospital ser dentro do campus, muita gente defendia que fosse construída no
campus. Mas o que sei é que na época não foi possível, pelo tempo, aproveitando de
uma estrutura pronta do Estado (Andanças extras – professora-enfermeira).
O Hospital Escola, segundo o professor Eduardo De Lamonica Freire (HUJM, 2006),
foi criado por conta das dificuldades na oferta de estágio para os estudantes dos cursos de
saúde por parte da Universidade Pública. Até aquele momento, a realidade dos hospitais do
município de Cuiabá não condizia com as necessidades pedagógicas para ensinoaprendizagem em saúde. Nesse período, os hospitais conveniados, nos quais eram realizados
20
Foi o 1º Diretor da Faculdade de Ciências Médicas (1979/1983), Sub-Reitor Acadêmico (1983/1984), Reitor
(1984/1988), Chefe do Departamento de Clínica Cirúrgica (1990/1992), Diretor Superintendente do HUJM
(1992/1994).
Professor
Adjunto
IV
do
Departamento
de
Clínica
Cirúrgica
(http://200.17.60.196/hujm/site/institucional/default.asp?menu=institucional&submenu=historico).
101
os estágios dos Cursos de Enfermagem e Nutrição, assim como o primeiro ciclo
profissionalizante do Curso de Medicina, não proporcionavam uma ambiência ideal para o
exercício pedagógico em saúde, pois apresentavam dificuldades administrativas no que se
referia aos interesses acadêmicos. Ou seja, não disponibilizavam acesso aos seus ambulatórios
(porque eram utilizados por médicos não docentes) e não dispunham de prontuários e
registros de internação organizados para sustentar um apoio de boa qualidade ao ensino.
Outro empecilho referia-se ao corpo clínico ser composto de docentes e não docentes. Essa
heterogeneidade não tinha um teor positivo, mas negativo, pois os não docentes resistiam
quanto a dividir seus espaços com alunos e professores, a ponto de dificultar o acesso dos
estudantes aos leitos de internação e ao acompanhamento de alguns procedimentos.
Conforme segmento ―Apresentação‖ (2006) do site do HUJM, Freire revela que foi
feito um acordo entre o reitor e o governador do Estado, que compreendia um contrato a
cessão do Hospital Júlio Müller estipulado em 20 anos, consolidando, dessa forma, um
decreto (Decreto Nº 2045 de 14/09/1982) no qual firmava que o hospital passaria a ser
administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso ao invés da Secretaria do Estado de
Saúde. O Hospital foi reconstruído e ampliado pelo Governo do Estado, por intermédio
financeiro da até então Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO).
Sua inauguração aconteceu no dia 31 de julho de 1984, operando, a princípio, as suas
atividades com cerca de 80 leitos, distribuídos pelas áreas de clínica médica, clínica cirúrgica,
ginecologia e obstetrícia e pediatria. Passando, ao longo do tempo, por ampliações e
instrumentalização. Desde os seus primórdios, o HUJM como Hospital Escola já contava com
o apoio de atendimento ambulatorial, pronto atendimento, serviço de imagem (radiologia e
ultrassom), laboratório clínico e UTI neonatal. Na década de 2000 passou a oferecer, também,
atendimento de UTI de adultos (HUJM, 2006).
Falas da professora-enfermeira nos trazem informações a respeito da nova composição
da equipe do hospital, em especial, a equipe da pediatria, que segundo ela, era formada
exclusivamente por professores que conquistaram umas das vagas do concurso realizado pela
Universidade Federal de Mato Grosso, e que, desde o início, se envolveram com a
configuração administrativa, pensaram junto a Sistematização de Enfermagem.
102
[...] teve um concurso no início do ano realizado pela UFMT, em janeiro de 1984, e
quem entrou, eu falo do pessoal da pediatria (Andanças extras – professora –
enfermeira) [...] Esse pessoal que entrou nessa época, eles fizeram todo um preparo
antes do funcionamento. Então elaboraram os manuais de normas e rotinas. Tudo era
feito junto, pessoal da medicina e enfermagem, serviço social e nutrição. Porque na
época, todos os profissionais que foram para o Júlio Müller eram só professores. No
Júlio Müller não tinha técnico administrativo. Então houve um grande concurso para
professores e esses professores é que foram para o hospital escola. E foram ele que
pensaram o Júlio Müller como Hospital Escola. Então, quando eu entrei a pediatria
já era um lugar que estava funcionando há trinta dias. Já tinham as equipes
(Andanças extras – professora-enfermeira).
O que se esperava do Hospital Escola era uma transposição do que se tinha, até o
momento, como modelo de serviços hospitalares, que, de certa forma, já sofria modificações
em hospitais das redondezas com a presença das enfermeiras egressas da UFMT (ALMEIDA,
2010).
Em meio às mudanças trazidas pelo HUJM, a professora-enfermeira confessa que
várias vezes chegou a comparar a assistência que prestava no Hospital Escola com a que
realizava na Instituição Santa Casa de Misericórdia, local que conhecia, já que durante sua
graduação havia estagiado lá, e onde estava trabalhando. Questionava as minúcias exigidas no
HUJM, ao atender poucas crianças em uma pediatria que não faltava nada (ao contrário da
Santa Casa, onde ela cuidava de muitas crianças e havia muitas falhas, carências e apenas ela
de enfermeira, sendo a assistência prestada praticamente por atendentes). Por várias vezes –
por conta da assistência de enfermagem implantada antes de sua entrada no hospital – a
professora-enfermeira comenta que foi tratada como uma estranha, como alguém que não
sabia nada sobre crianças. Entretanto os depoimentos da professora-enfermeira nos revelam
que, aos poucos, o número de crianças foi crescendo, o perfil delas mudando, uma vez que o
pronto-atendimento infantil por muito tempo ficou funcionando dentro da pediatria. O que a
levou a reconhecer a relevância de uma Sistematização de Assistência de Enfermagem, que
antes ela não conseguiu exercitar, pois era precária a assistência na Santa Casa.
Sistematização que tinha mais a ver com o que pensava para efetivar a especialidade em
pediatria que fizera, que a levou a perceber a importância da recreação como parte da
assistência a uma criança hospitalizada, assim como marca o início da presença das mães/ou
acompanhante, que desconhecia na Santa Casa. Das comparações negativas primordiais,
portanto, agradece saudosamente por ter participado da construção do começo de um sonho.
103
E eu me lembro assim ... Que pra mim o início foi um choque. Não gostei. Eu estava
vindo da Santa Casa, eu era a única enfermeira da Santa Casa, lá eu atendia 60
crianças, era muito trabalho, muito trabalho mesmo. E, de repente eu vou para o
Júlio Muller e encontro 8 crianças internadas. E era muita gente para cuidar de
pouca criança. E uma exigência muito grande. Eu ficava de manhã na Santa Casa e à
tarde eu ia para lá, para o Júlio Müller. E eu dizia assim que na Santa Casa eu saía
com as pernas que não me aguentavam, mas minha cabeça leve. E no Júlio Müller
era o contrário. Porque como era muita gente que queria fazer o melhor possível,
acabavam fazendo tudo exageradamente. Tudo era exagerado. E então, de repente,
tinha uma criança que insistia em ver alguma coisa de errado nela, e eu me lembrava
das crianças lá da Santa Casa, numa situação terrível. Então, nas primeiras semanas
de trabalho, eu fiquei assim, meio que revoltada por causa do excesso de zelo por
aquelas crianças, e enquanto aquelas outras 60 que estavam lá (Santa Casa), estavam
praticamente jogadas. E no Júlio Müller pessoas preocupadas com detalhes, um
exagero de detalhes. Claro que eram importantes, mas pela realidade que eu
conhecia, eu achava que ali tinha muita gente, muito exagero para cuidar de poucas
crianças. Uma criança só, e não podia olhar diferente, que estava um monte de gente
em cima. Então foi um choque. Já cheguei e o pessoal já tinha pensado as normas e
rotinas. E, eu chegando, eu era uma pessoa de fora que estava chegando, me
tratavam como se eu não conhecesse nada de cuidado de crianças. A única coisa que
senti é que me respeitavam era porque além de eu ser especialista, sabiam que eu
vinha de experiência de pediatria em outro hospital. Mas havia situações que vinham
me questionar porque determinada criança havia morrido, queriam que eu
respondesse o motivo. Questionando porque eu havia deixado morrer. Às vezes, eu
mudava o berço do lugar, no dia seguinte já vinham me perguntar por que tinha
mudado o berço do lugar, já que o berço tinha que ficar na posição anterior à
mudança. Porque eles haviam pensando nas enfermarias, na distribuição de berços e
em suas disposições. Então o início foi muito difícil para mim lá. Eu achava que a
hora não passava, que não era tanto serviço assim. Mas com o tempo foi mudando, o
perfil das crianças atendidas foram mudando. Assim como o tipo de assistência
prestada, a estrutura da pediatria também. Foi ficando muito mais complexo, né. O
pronto atendimento infantil chegou a funcionar por muito tempo dentro da pediatria.
Sobre a questão da recreação, sempre houve uma preocupação que esta acontecesse.
Isso desde o início. Mas assim, nós sempre fizemos atividades com as crianças. Mas
foi apenas com a entrada da Nilzalina (professora de educação física) que esta
preocupação ganhou espaço. Quando Nilza chegou, ela fez a diferença, porque ela
veio para a recreação, mas nunca foi um trabalho só realizado pela professora. O
diferencial foi que quando todas as pessoas que entraram na pediatria (enfermeiros)
tinham especialização pela UNESP (Escola Paulista de Enfermagem), era um curso
de mais 1000 horas, éramos especialistas mesmo! Éramos especialistas em pediatria.
Então essa questão da criança, os pediatras também eram bastante competentes.
Éramos muito jovens. Eu lembro de todo mundo com uma faixa etária de 24 a 30
anos. Aí eu falo que naquela época foi um sonho sendo realizado, estávamos
ajudando a pensar um hospital. Estávamos com um hospital em mãos. Nossa! Foi
um sonho! Dou graças a Deus de ter participado disso tudo. Tudo era muito certinho.
Tudo funcionado direitinho (Andanças extras – professora-enfermeira). Só que na
Santa Casa era um lugar onde só havia atendentes. Era precária a realidade, mas só
que assim, dentro da realidade daquela época. Mas a gente fazia, veja só, para você
ter uma ideia, a gente atendia as crianças das enfermarias, que estavam sem 96
acompanhantes, crianças que ficavam sozinhas. Tinham enfermarias de 8 leitos, olha
só, oito bebês. Agora você imagina o que é você passar um plantão, só de uma
enfermaria com 8 crianças, né? E você passar plantão de todas as enfermarias
lotadas. Então as meninas já passavam dizendo: ―este tá bem, este tá bem e, este está
com febre...‖. E eu chegava na porta, assim e ficavam três atendentes à noite, com
30 crianças em cima e 30 crianças embaixo. Então eu lembro que chegava e dizia,
―aquele ali não pode ficar sem soro, porque senão vai desidratar. E aquele não pode
ter febre porque vai ter convulsão‖. Eu tinha que priorizar a prioridade da prioridade.
Entendeu, porque eu sabia que através dos meus alertas de passagem de plantão, eu
sabia que aquela criança ali, as meninas, se a criança perdesse veia, elas iriam pegar
logo, né? Então assim, eram muitas crianças. Não ficavam mães, são aquelas
104
histórias, de criança morrer, de abandonos de crianças por famílias que moravam
longe ou chegavam tarde pela distância para poder saber da criança, já que não
podiam permanecer. E, mesmo naquela época tinha uma professora, mas ela só
assistia televisão, o que quero dizer é que ela não se envolvia com a equipe, com a
assistência das crianças inteiramente. Ah, a Francisca, a enfermeira Francisca já
trabalhava lá, mas ela começou na pediatria da Irmã Iracema, outra instituição. Mas
era ela, assim como eu, a gente tinha essa preocupação, essa coisa de brincar, de
inventar brincadeiras com as crianças. Isso a gente fazia lá na pediatria, com as
crianças maiores. O nosso maior problema eram as criança que ficavam sozinhas.
No Júlio Müller já começou com a presença das mães. No outro hospital, no Geral,
já tinha as mães também. Na Santa Casa eram visitas diárias. E aí, quando eu
comecei, a gente começou a deixar, a incentivar as mães das crianças mais graves
ficarem. Aos poucos as mães começaram a ficar lá dentro. Porque naquela época,
para você entender, o perfil epidemiológico era diferente, era relevante a diarreia,
mais que pneumonia ainda. Eu não sei se a diarreia acabou, ou se o tratamento de
reidratação oral realmente resolve essa questão da não desidratação da criança, mas
eu acho que é isso mesmo, aí os modos de acessar o serviço de saúde diferenciou.
Porque o que acontecia, a criança desidratava. Qual era a conduta? Dieta zero,
entendeu? E, em casa, era orientado não dar dieta, então a criança chegava muito
desidratada. E não existia soro de hidratação oral. Então só hidratávamos as crianças
apenas com terapia intravenosa. Então a criança ficava o tempo todo com o soro.
Não existia, por exemplo, o scalp heparinizado, o scalp de manutenção. Então toda a
criança com antibiótico ficava constantemente com a hidratação venosa. Porque não
existia nem aqui, nem no país mesmo, porque isso chegou bem depois, a prática de
colocar heparina, ou de salinizar o acesso venoso para não precisar ficar
constantemente com o soro, no caso que não havia necessidade de ficar com essa
hidratação. O que dificultava a liberdade para brincar. Se tinha que tomar
antibiótico, ela ficava o tempo todo com esse soro conectado a veia. Então assim,
naquela época, scalp, só tinha agulhas, eram materiais de luxo. A gente recebia dois
scalps estéreis para a noite. A gente deixava dentro do vidro, armazenado num
solvente (Andanças extras – professora-enfermeira). [...] O que se falava muito era
hepatite, tinha muito caso de transmissão de hepatite. Casos de AIDS surgiram
depois, mesmo assim, a gente nem tinha noção dela (Andanças extras – professoraenfermeira). No Júlio Müller era um sonho de consumo. Era tudo estéril, tudo
certinho. Só não havia seringa dessas de agora, eram de vidros esterilizados, mas
acho que isso era em todo o país, não havia chegado essa tecnologia para gente
mesmo, essa coisa de material descartável foi surgindo bem depois. Mas no Júlio
Müller nunca faltou material. Hoje tem faltado, mas naquela época não (Andanças
extras – professora-enfermeira).
O HUJM surgiu como um novo horizonte, pois ofereceria o que Hospitais das
redondezas do município, quiçá do estado, não estavam preparados, naquele momento, para
disponibilizar: refinamento das técnicas de enfermagem por ter poucas enfermeiras
graduadas; ensino-aprendizagem em saúde hospitalar ligados aos saberes e práticas empíricas,
de modo a transformar e tornar mais apurados estes últimos, obtidos por muitos atuantes em
saúde sem formação universitária; assim como também foi considerado a abertura para o
mercado de trabalho, já que o HUJM requisitaria de profissionais para atuar na administração
e assistência à saúde, incluindo os profissionais recém-formados das áreas de saúde, muitos
deles graduados pela UFMT (MOREIRA & RAMOS, 2004).
105
Com a criação do Hospital Escola surgiu o momento para o reconhecimento da
enfermagem. Segundo Moreira e Ramos (2004), nos dois primeiros séculos de sua criação, o
trabalho de enfermagem não pareceu impactante e tampouco se ressaltou méritos para o seu
reconhecimento, quer no âmbito hospitalar ou do espaço coletivo. Havia um absoluto silêncio
e anonimato das categorias de enfermagem em seus espaços de trabalho. Em face ao ensinoaprendizagem, as noções de pesquisa vieram a ser mais profundas com a vinculação de uma
instituição de saúde a uma de cunho universitário.
Pode-se, de acordo com Moreira e Ramos (2004), inferir que com a inauguração de
um Hospital Escola, o trabalho de enfermagem no espaço urbano de qualquer município traz
mudanças. Abre possibilidades para sensíveis melhorias e transformações, pois desloca o eixo
da enfermagem, que, às vezes, está centrada em atividades puramente tecnicistas, restritas a
atividades caritativas e de abnegação ou dependente de uma racionalidade capitalista,
subjugada às classes burguesas e dominantes.
O Hospital Universitário é, até hoje, conforme argumenta De Lamonica Freire
(HUJM, 2006), um hospital essencialmente público, que atende plenamente apenas pacientes
referenciados pelo SUS, via Central de Regulação, ou pelo Hospital e Pronto Socorro do
Município. Também foi o primeiro hospital, ao longo de anos, a tratar na região onde se
localiza, tanto em regime ambulatorial quanto em regime de internação, pacientes portadores
do vírus HIV (mesmo nos anos em que a doença era vista pela sociedade mundial como um
flagelo e, por isso, os ―tratavam‖ com segregação). Destaque-se que essa atuação – de
relevância social – só ocorreu graças a uma equipe multiprofissional de médicos, enfermeiros
e pessoal de apoio que compunham o corpo clínico do HUJM. Atualmente, continua
expandindo os leitos e seus serviços oferecidos em articulação com o SUS.
O Hospital serve de campo de estágio de alta qualidade para os estudantes de
Medicina, Nutrição, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia e Serviço Social entre outros.
Desde o início dos anos 90, com a aprovação da Comissão Nacional de Residência Médica, o
Hospital Universitário serve de apoio fundamental para os Programas de Residência Médica
em Clínica Médica, Cirurgia Geral, Obstetrícia e Ginecologia, Anestesiologia, Pediatria, entre
outros, credenciados e sob a responsabilidade da Faculdade de Ciências Médicas (HUJM,
2006).
No HUJM os investimentos em ensino-aprendizagem continuaram. Nos últimos anos da
106
década de 2000, o curso de especialização em ―Residência Integrada Multiprofissional em
Saúde do Adulto e do Idoso em Condição de Hospitalização Clínica e Cirúrgica‖ comporta
docentes e discentes de enfermagem, psicologia e serviço social (COREN – MT, 2009).
A professora-enfermeira fala sobre suas expectativas pela residência multidisciplinar
que irá inserir na pediatria alunos de áreas diferentes, com previsão para as seguintes áreas:
enfermagem, psicologia e serviço social. Será uma residência com enfoque hospitalar, mas
que contemplará também estágios em Programas de Saúde da Família (PSFs).
Estamos pensando em uma residência onde alunos de áreas diferentes estarão
presentes na pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer
cobrar deles esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa,
hidratada, cabelo limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos,
das necessidades recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer
massagem na criança para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso?
É cuidado! O que acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e
chega lá na prática, não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, queixas
da apatia da enfermagem a ponto de se questionar para que enfermagem, por que
não intervém pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no
diferencial da residência multidisciplinar. Que seja mais que uma especialização
onde as pessoas vejam o problema no corpo da criança, e que através dela os alunos
percebam as alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo que precisa ser
tratado, que o foco seja em todas as necessidades da criança (Andanças extras –
professora-enfermeira).
O Hospital Escola, desde sua inauguração, passou por diversas obras. Entretanto,
elencamos aqui apenas às dos últimos setes anos. A seguir algumas das alterações que a
estrutura hospitalar sofreu: a construção das salas e de auditório como um anexo didático ao
hospital; ampliação e informatização da biblioteca setorial; inserção do hospital em estudos
via recursos para construção de uma ala para vídeo conferência (tele-medicina); construção de
um novo CME; sala de pesquisa da enfermagem do HUJM; construção de uma nova ala
administrativa para centralização das diferentes coordenações dos diferentes serviços que
movem o hospital; construção de uma sala para realização de atividades de Humanização no
centro do hospital; implantação do Sistema de Gestão de Saúde MV 21; reforma do jardim do
hospital; construção de um novo lactário; reformas na lavanderia e em várias enfermarias;
implementações e investimentos foram empregados nas UTIs do hospital; e novos
21
Linha de Sistemas de Informação e Serviços. Os softwares desenvolvidos pela MV padronizam e integram
processos, garantindo a transformação de dados em informações (http://www.mv.com.br/mv/ ).
107
ambulatórios foram construídos enquanto outros reformados (LEITE, 2011a).
Incidentes da exposição da professora declaram que mudanças prediais sempre
aconteceram no hospital; em específico, uma das alterações que fez grande diferença foi a
decisão de professores e do pessoal da pediatria, juntamente com a diretoria do hospital, de
ampliar a pediatria com um ―quintal‖. A partir da construção acentuaram a convergência da
importância de um espaço de recreação à assistência prestada à criança hospitalizada e seus
familiares. Pelo ―quintal‖ veio à possibilidade de acesso a um lugar que ficasse fora das
enfermarias. A seguir, esse espaço foi complementado com brinquedos do tipo ―parquinho‖.
Concomitantemente, vieram ―festinhas comemorativas‖ – um incentivo de professores, depois
de alunos de diversos cursos da UFMT, bem como a equipe da pediatria. Aos poucos, o
ambiente foi ficando ―agradável‖, devido às parcerias citadas, como também aos alunos de
escolas secundaristas. Foi criado um pequeno espaço no quintal para a recreação das crianças,
onde uma professora de educação física passou a ser referência para a equipe, uma ―actante‖
que conseguia conectar a equipe ao mundo das crianças através de intervenções com
brinquedos. Esta conseguia se articular tanto com as crianças hospitalizadas como também
realizar atividades com adultos hospitalizados. Junto à professora, por um longo período de
tempo, passou a trabalhar uma docente cedida pela Secretaria de Educação, surgindo assim, a
Classe Hospitalar. As falas da professora rememoram momentos cotidianos que enfatizam a
relevância daquele espaço, da ―conquista‖ do quintal para o dia-a-dia das crianças, equipe,
familiares. Assim, lembra-se do momento de conquista do quintal, da porta fechada a aberta,
das conversas à noite, do coqueiro (xodó), da melancia que apareceu no quintal, da
amenização das brigas e conflitos entre as crianças, familiares e equipe, das queixas sobre a
sensação de estarem em uma prisão após o quintal – o que se exacerbaram com a construção
atual da brinquedoteca. A respeito do belo espaço, ela destaca a climatização, o adeus aos
mosquitos, enfim, a configuração de espacialidades onde as crianças brincam, mães se
distraem, descansam, conversam, aprendem, acompanham seus filhos. A esse espaço, frisa
que, em certo momento, eram poucas pessoas que se envolviam com as questões de
recreação; entretanto, com a inserção de projetos e pesquisas mais incisivos, a pediatria
passou a ser frequentada por muita gente. Houve um aumento no número de pessoas para
cuidar das crianças, que diferentemente do início da implantação do hospital, já não são tão
poucas assim.
108
Sempre houve reformas, construções, modificações no HU, na pediatria. Sempre
aconteceram mudanças desde o período em que eu entrei no hospital. Por exemplo,
ali na pediatria, onde é o refeitório das crianças hoje, onde há uma porta de vidro
que leva a brinquedoteca, ali era uma parede com uma porta que dava para o
―quintal‖, ou melhor, que dava para parte de fora do prédio do Júlio Muller. Então,
no início, aquela porta permanecia fechada. Entendeu? Quando a gente abria a porta,
a gente ficava ali, porque a porta dava para fora do hospital. Então, a criança só
tinha o refeitório. Então, eu lembro que, uma vez, eu conversando com a Marta, uma
pediatra que já morreu, né. ―- Marta, a gente podia fazer um quintal aqui, né?‖ E, ela
estava no departamento de pediatria, e ela disse: ―- Mas é mesmo, né! Vamos
fazer?‖. Eu falei: ―- Porque se a gente fizer um quintal aqui, a gente pode deixar essa
porta aberta. Aí as crianças podem sair aqui para fora, fica mais fácil deixar elas
virem para cá.‖ Aí o que aconteceu, ela mandou fechar esse espaço, ficamos com um
quintal. A porta já permanecia aberta. Depois construíram uma salinha no quintal,
onde a Nilzalina (professora de educação física) e depois a Maria de Fátima
(professora da Classe Hospitalar) trabalhava com as crianças a parte educativa, a
recreação. E, há dois anos atrás, é que conseguiram, com apoio financeiro... É que
construíram essa linda brinquedoteca. Mas eu fico imaginando, se a gente não
tivesse tido a ideia de construir o quintal, aquela estrutura da parte administrativa, da
farmácia, vinha até ali na nossa porta. Então, quando a gente fez o quintal, a gente
ampliou a pediatria. Como a Marta era chefe de departamento, a coisa ficou bem
mais fácil. Naquela época, tudo que a gente pedia a gente conseguia com uma
facilidade maior. Isso do quintal foi mais ou menos antes de eu sair para o mestrado,
nos anos noventa. Então quando a gente cercou, a gente tinha essa possibilidade de
manter a porta aberta. Eu lembro que a gente tinha um coqueiro que era xodó (risos).
Depois arrancaram o coqueiro, diziam que ia cair coco na cabeça dos outros (risos),
eu fiquei brava por arrancarem, mas depois eu entendi. Então à noite o pessoal
ficava ali fora. E se não estou enganada, foi a pediatria Marta que também conseguiu
aqueles brinquedos para o parque que fixaram no quintal. Sempre as pessoas
pensavam nessa coisa de entretenimento, mas o mais importante foi ter definido,
conquistado e cercado aquele espaço. Porque se a gente não tivesse feito isso, tenho
certeza que não seria da pediatria. Ah, não posso esquecer de contar da melancia
(risos). O que aconteceu, pareceu um pé de melancia, e aí surgiu uma melancia. Só
que ela cresceu fora da grade. Aí a gente colocou uma placa lá dizendo que não
podiam pegar porque era da pediatria, das crianças da pediatria. Mas não sei quem
foi, no Natal, eu cheguei lá e tinham pego a melancia, roubaram a melancia. Eu acho
que essa melancia nasceu de alguma criança que fez coco ali, e que tinha uma
semente (risos). Pode ser. E sobre o entretenimento em si, acho que a professora de
educação física é referência para a recreação com as crianças, a professora Áurea
Christina da enfermagem era quanto às festas, a Maria de Fátima era quanto às
atividades educativas, havia enfermeiras e técnicas que se envolviam também. Eu
lembro que eu trazia os alunos da Escola Livre Porto para cantar, fazer festas, como
a festas juninas, eram alunos envolvidos com o grêmio da escola. A gente vinha,
nossos filhos se envolviam também, tenho foto de meus meninos dançando festa
junina lá, eu tenho fotos minhas e da professora Rosa com as filhas dela também.
Eles (alunos) contavam histórias, brincavam com as crianças, entendeu? Então,
naquela época, era pouca gente que se envolvia, apesar de tudo (Andanças extras –
professora-enfermeira). Não é que pararam de ir (alunos da escola Livre Porto), é
que essa coisa de fazer atividades no hospital ampliou muito na pediatria, então,
começou a ter gente demais, por isso. A Medicina Veterinária tinha uma época
caninoterapia, mas isso foi bem recente e logo parou. Aí vieram os projetos, as
pesquisas, enfim, muitas pessoas. Na realidade nossas pesquisas sempre foram
voltadas e preocupas com a questão do exercício da Humanização em todos os
sentidos, a começar com a possibilidade da criança poder brincar (Andanças extras –
professora-enfermeira).
Ainda sobre as modificações prediais, as mudanças não pararam. Podemos destacar a
109
pavimentação do pátio externo e a construção da área de lazer da pediatria (brinquedoteca),
como já descrevemos através de falas da professora-enfermeira. E estas estão entre os
primeiros passos dados quanto à construção de seu novo complexo em outra localidade. A
nova configuração predial do HUJM terá 38 mil metros quadrados e abrigará 250 leitos. Será
o segundo maior hospital do Estado (JORNAL 24HORAS NEWS, 2011).
Vale ressaltar que o Hospital Escola vem passando por reformulações estruturais e de
equipamentos, mas também administrativas22, como declaram, a seguir, os incidentes de fala
da professora-enfermeira, ao dizer ser importante a academia se envolver com essas questões,
pois podem mudar acentuadamente o modo de gerir um Hospital Escola. O que não é um fato
isolado, haja vista que essas incertezas assolam todos os Hospitais Escolas de Universidades
Federais. A reformulação administrativa tem gerado expectativas internas e externas ao
HUJM. Ou seja, tanto para a comunidade do Hospital (funcionários, estudantes e professores),
como para a sociedade (os usuários do serviço).
Não posso esquecer de falar... A academia ajuda a pensar essa nova forma de
gerenciamento que vem por aí, que afeta diretamente a pediatria, os cuidados. Será
uma empresa que poderá descaracterizar ou não o hospital como Escola, que poderá
tirar desse lugar a característica de ensino e pesquisa, proveniente de uma luta lá do
inicio dos anos 80, no caso do HUJM. (Andanças extras – professora –enfermeira).
22
Reformulações administrativas de estância Federal referem-se à Ebserh. Esta foi criada pela Lei nº. 12.550,
sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no último dia 15 de dezembro e publicada no dia 29 de dezembro de
2011 no Diário Oficial da União. O Estatuto Social da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) será
responsável por administrar os recursos financeiros e humanos dos hospitais universitários das Instituições
Federais de Ensino Superior. Vinculada ao Ministério da Educação e sediada em Brasília (DF), a Ebserh será
uma empresa pública de personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, com capital social inicial
R$ 5 milhões. A Ebserh tem por finalidade a prestação de serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar,
ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, ―inseridos integral e exclusivamente no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS)‖. Prestará também serviços de apoio à geração do conhecimento em pesquisas
básicas, clínicas e aplicadas nos hospitais universitários federais. O estatuto prevê, ainda, que a empresa
observará as diretrizes e políticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, além de ser orientada ―pelas políticas
acadêmicas estabelecidas no âmbito das instituições de ensino com as quais estabelecer contrato de prestação de
serviços‖ (BRASIL, 2011).
110
3.2. A pediatria atual: ensino e pesquisa, os projetos de extensão e a brinquedoteca
A seguir, destacamos falas da professora-enfermeira elucidativas no que concerne a
atuação da academia frente ao novo perfil epidemiológico de crianças hospitalizadas, sobre as
novas tecnologias que passaram a ser exigidas pelo cuidado destas. Encontramos nas falas
incidentes preocupações da professora-enfermeira referente aos pontos nos quais há falhas da
academia, assim como as conquistas contempladas através das ações de ensino e pesquisa. As
narrativas mostram que a professora-enfermeira exercita questionamentos, pesquisas junto à
equipe de enfermagem, realçam a constante feitura de pesquisas voltadas para o brincar, mas
essas atividades a lembram que o que acontece na brinquedoteca deve acontecer
proporcionalmente com as outras formas de cuidado que há na pediatria, ou seja, pesquisas
sobre os novos tipos de maquinários, medicamentos que estão entrando na pediatria e que
geram questionamentos, exigem treinamentos, capacitações. Os incidentes declaram a defesa
do modelo biomédico23 pela professora-enfermeira, ou melhor, apontam que sua defesa está
vinculada ao modelo biomédico, que não pode ser forçado a contemplar todas as necessidades
de um corpo; sendo esses convidativos para pensarmos em um cuidado que proporcione
espaço para o pensamento biomédico, assim como para outros modos de cuidar que venham
compreender que uma criança tem um corpo múltiplo, que exige banho, trocas, uma vez que
pode vir a cheira mal, pois transpira, secreta, excreta substâncias, pode acumular sujeiras. Este
corpo precisa de carinho, afago, abraço, beijos, palavras de conforto, de um lugar que
contribua para o seu bem-estar; necessita de medicamentos; e precisa brincar e estudar. As
narrativas não falam de um cuidado integral, elas questionam o cuidado integral, caso venha a
deixar de lado as concepções biomédicas. Destacam-se, como já foi evidenciado em sessões
anteriores, que há expectativas frente à residência multidisciplinar com atuação na pediatria.
Os incidentes dão margem para pensarmos em uma Humanização em Saúde, que no cotidiano
estão envolvidas com uma diversidade de entidades que contribuem para o cuidado.
Olha, a gente, eu, nesse caso, tenho muita preocupação. Sempre fazemos pesquisa lá
na pediatria. E sempre, como eu já disse, vinculada a humanização, trazendo em
pauta os direitos da criança, a questão do brincar. Nossas pesquisas sempre foram
voltadas para esse lado, né? Hoje, o que eu vejo de problema, o que tem me
23
O que é modelo biomédico? Trata-se de uma concepção da medicina moderna que compreende o corpo
humano como um templo de entidades patológicas. E, conforme tal concepção, o corpo doente necessita ser
tratado através de intervenções curativas (KOIFMAN, 2001).
111
preocupado, é que o perfil epidemiológico mudou muito. É outro. Antes era diarreia.
Com isso também veio o avanço muito grande de tecnologias, de medicações nem se
fala. Então naquela época a gente calculava a quantidade de gotejamento
manualmente, hoje é digital, você tem a bomba de infusão de agulha, aquela outra
bomba de infusão para frascos. Tudo digital. Que facilita e muito o nosso trabalho,
mas que requer, precisa de uma habilidade muito grande para manipular, não pode
ser qualquer um. Uma coisa que me inquieta e que já falei que nos dias de meus
plantões que se eu ver, eu vou retirar é monitor, desses de multiparametros. Porque
se for para deixar ele ligado para ficar apitando a noite inteira, e apenas falar para a
mãe ficar apertando quando o barulho incomodar, para interrompê-lo, ele então, não
servirá de nada, não estará fazendo o papel dele. Não é apenas ensinar a mãe e
deixar ele apitando e ela mexendo com o botão. Porque o monitor, qual o papel
dele? É o de alerta! E se a criança, por exemplo, está saturando 80%, a gente sabe
que é uma saturação ruim, mas que para essa criança é o ―normal‖ dela, e não vamos
fazer nada, por que então não programar para o monitor alertar em 75%? Por que
não reprogramar o monitor? Não pode acostumar com o barulho do monitor
apitando. Não pode, porque ele é um alerta! Aí o residente diz que não vai fazer
nada, então porque deixar o aparelho ligado? Não tem lógica! Ele tem que funcionar
de modo que me auxilie a intervir no momento certo, caso contrário não serve para
parâmetros de nada. A mesma coisa a bomba de infusão, se apita, significa que algo
está errado. E, aí falam que a bomba está dando problema mesmo, então não pode
usar! Não está certo! E se eu deixo apitando, não dou atenção para isso, é muito
arriscado. Essa coisa de fazer medicamentos como o aciclovir 24 na criança, sem
paramentos corretos, é muito perigoso, ela é um medicamento teratogênico! Tem
princípios de um quimioterápico, é citotóxico 25. E o pessoal de enfermagem
preparando. Fazendo de conta que nada está acontecendo. E é aí o papel da
academia, e que tem falhado. E, não vejo isso há um tempo atrás, quando eu
comecei, porque as coisas eram tão simples. Você só passava sonda nasogástrica,
enteral, os antibióticos não eram como esses de hoje que tem semelhança a
quimioterápicos, são vesicantes26. Não existia risco de preparar medicamentos como
hoje. Sem contar que antes os problemas eram agudos. As crianças internavam, e
tinha dois caminhos apenas: ou ela se recuperava e recebia alta ou ela morria. Uma
criança com fibrose cística morria antes de completar oito anos. Hoje não, a gente
tem adultos com fibrose cística 27, sobreviveram! E, todas essas crianças renais, elas
vivem a base de tratamentos farmacológicos fortíssimos, além da possibilidade de
diálise. Eles estão vivendo a custo de drogas pesadas (Andanças extras – professoraenfermeira). Se a criança com uma Síndrome Nefrótica28 faz tratamento com
24
É um medicamento antiviral (BRASIL, 2008).
25
São medicamentos que provocam lesões em células cancerígenas como também atingem as células sadias de
uma pessoa (CAMARGO, 2000).
26
Referem-se a medicamentos que provocam lesões de pele (bolhas, necroses) (CAMARGO, 2000).
27
Também conhecida como Mucoviscidose, é uma doença genética autossômica (não ligada ao cromossoma x)
recessiva (que são necessários para se manifestar mutações nos 2 cromossomas do par afetado) causada por um
distúrbio nas secreções de algumas glândulas, nomeadamente as glândulas exócrinas (glândulas produtoras de
muco). O organismo não consegue eliminar o excesso de muco produzido pelas glândulas. Embora o sistema de
transporte mucociliar não se encontre afetado pela patologia, ele vai ser incapaz de transportar uma secreção
assim tão viscosa. Devido a essa incapacidade vai haver uma maior acumulação de muco, conduzindo ao
aumento do número de bactérias e fungos nas vias, o que vai ser muito prejudicial, podendo levar mesmo a uma
infecção crônica nos pulmões. É uma situação grave que pode também afetar o aparelho digestivo e outras
glândulas secretoras, causando danos a outros órgãos como o pâncreas, o fígado e o sistema reprodutor
(WINKELSTEIN, 2006, p. 824).
28
Refere-se a um conjunto de alterações, onde o estado clínico alterado inclui proteinúria maciça,
hipoalbunemia, hiperlipidemia e edema. O distúrbio pode ocorrer como: doença primária conhecida como
idiopática, nefrose de infância ou síndrome nefrótica por lesões mínimas. A doença proveniente de um distúrbio
secundário compreende uma manifestação clínica após ou associada a lesões glomerulares de origem conhecida
112
corticóides para resolver o problema dela, ele acaba também tendo que cuidar das
complicações que essa medicações trazem, como é o caso do desenvolvimento da
síndrome de cushing29. E aí a gente está lidando com isso, então a enfermagem
precisa de respaldo. Então hoje eu vejo que a pesquisa que a gente tem feito tem que
estar associado a todas essas tecnologias que estão inseridas lá dentro da pediatria. E
se você me perguntar como eu me sinto lá dentro, eu vou te responder que eu me
sinto presente, eu me sinto parte da equipe, me sinto enfermeira da pediatria. A
ponto de, se houver uma reunião para discutir qualquer tema e eu não for chamada
para participar, eu vou ―derrubar‖ a casa. Eu sou plantonista e eu me sinto
enfermeira da pediatria. E como enfermeira da pediatria, eu quero participar das
tomadas de decisões. Então, há tempo atrás, e isso nós vamos apresentar num
fórum... A questão do aciclovir. A equipe preparando, o pessoal fazendo a
medicação. Bom, eu disse que não iria interromper a terapia que a criança já estava
realizando. Então como lá estava dizendo que era para enfermeiro preparar, eu fui
preparar. Porque há um tempo atrás tinha uma menina que era técnica de
enfermagem na equipe, uma jovem, que eu me preocupei, fui perguntar a ela sobre
como estava a questão de ter filho, ela me disse que estava sem tomar
anticoncepcional para ter filhos. Aí eu tomei a decisão de que ele saísse por um
tempo da pediatria enquanto eu preparava a medicação. Usei capote, fiz a
medicação. Depois liguei para a diretoria para questionar sobre esse tipo de
medicamento que estavam expondo a equipe. Falei com a enfermeira Marta por
telefone. Ela me disse que procurou e leu na bula e disse que não tinha nada
dizendo. Mas quando eu li, vi lá: este medicamento deve ser preparado nas mesmas
proporções que se prepara um medicamento quimioterápico. Pronto! Não tem mais
nem o que discutir! Então é potencialmente perigoso, né? Aí falei para Marta por
telefone, vou fazer um levantamento aqui (no computador do posto de enfermagem)
na Internet bem rápido, sobre as leis, aí quando ela viu aquilo, ela tirou xérox e
levou na diretoria para dizer que não seria mais feito. O diretor disse: ―Que história é
essa, como assim vocês não vão fazer, já que isso é feito até em posto de saúde, e
vocês não vão fazer? Vocês não vão preparar? Como assim?‖ Aí foi mostrado para
ele as leis, todas as referências que diz sobre isso. Dizia que é teratogênico, que é
isso e mais aquilo e que a gente queria as condições necessárias para mexer com
esse medicamento. Comentei ainda depois com ele: me admira muito o senhor, um
sanitarista, achar que a nossa equipe poderia correr o risco preparando essa
medicação assim. Aí ele disse que não sabia disso. Só que quando a gente foi falar
com o pessoal da medicina. Eles disseram que a gente tinha que fazer, já que a
criança precisava do medicamento. Okay, certo. Aí fomos à farmácia, e ela me traz
liofilizado para gente fazer, e dissemos que não íamos fazer! Sem condições alguma
para parar! Aí esse medicamento na pediatria. Pressão de um lado, medico quer que
prepara, do outro, farmácia só disponibiliza o pó em frasco para preparação. A
equipe sendo forçada a fazer. Eu disse: gente, não vamos preparar! Vamos ter que
resolver, é um problema institucional. A farmácia não tem, a medicina lavou as
mãos, só que eu não vou preparar! O que que aconteceu? O diretor mandou comprar
o frasco em sistema fechado. Até que se adeque a ala de preparo de medicamentos
para preparo desse tipo de medicamentos. Resolvido. Então, eu acho que é esse o
tipo de presença da academia na pediatria. Por exemplo, quinta me ligaram para
dizer que estão prescrevendo aquele medicamento, um composto híbrido, o
anticorpo monoclonal. Ele é um anticorpo homogêneo produzido por uma célula
híbrida, uma espécie de clone de linfócito B descendente de uma só e única célula
mãe e uma célula plasmática tumoral. Ela simula o sistema imune do paciente para
atacar as células oncogênicas e previne seu crescimento bloqueando os receptores
específicos da célula. É sintetizado em laboratório, em ratos em fusão com celular
ou presumida. E, o terceiro modo de ocorrer está relacionado a uma forma congênita herdada como um distubio
autossômico recessivo. Esse distúrbio caracteriza-se por permeabilidade glomerular aumentada a proteínas
plasmática, que resulta em grande perda urinária de proteínas (HOCKENBERRY, 2006, p.995.)
29
Compreende uma desordem hormonal provocada pelo excesso do hormônio cortisol no sangue, o que leva
inchaço generalizado na pessoa. Tipicamente, fica com o rosto edemaciado (HOCKENBERRY, 2006, p. 1076 1077).
113
de humanos, é um composto que ao agir em células específicas dá efeito muito
devastador na criança. E as meninas preocupadas em como preparar, se elas iam ou
não preparar. As meninas ligaram para mim. Pediram que eu estudasse sobre isso,
dizendo que não entenderam a bula, que estavam preocupadas com os efeitos de
algo que era parecido com quimioterápicos. Pediram para eu estudar e ir falar para
elas. Eu acho que é esse o papel da academia. A gente ser referência para essas
questões de resolvermos juntos, pesquisando essas dúvidas. No trabalho sobre
aciclovir, eu coloquei nome do pessoal da pediatria, porque elas fizeram, elas
participaram da pesquisa, entende. Acho que esse é o papel, veja, como não é difícil
escrever com a equipe. Isso é humanização também! Aí eu me questiono sobre o
cuidado integral. O que é o cuidado integral, se a gente deixar totalmente essas
questões que são tidas como biomédicas de lado? A parte técnica, isso também faz
parte da humanização, está junto com a recreação, com a educação, não dá para
desfazer dela. Está acontecendo ali. Aí eu te pergunto, o ser humano é composto de
quê? Ele não tem corpo? Ele não tem ferida? Ele não tem piolho? Ele não tem
sujeira? Ele não tem necessidades fisiológicas? Ele não tem assadura? Se eu pensar
nisso eu sou biomédica? E quem mete a mão na ferida? Como é que se abre a
barriga de uma pessoa para tirar um câncer? Isso não faz parte da integralidade
também? Acho que nós não podemos esquecer que o modelo biomédico tem
relevância sim. Às vezes escuto alunos falando: eu odeio o modelo biomédico!
Coisas que aprendem lá no primeiro ano do curso. E eu na oportunidade respondo,
como assim? O modelo biomédico tem sim importância, ele não pode ser
descartado! É através dele que avançamos em muitas, a enfermagem tem vida a
partir dele. Entretanto, o que temos que pensar é que ele sozinho não dá conta de
outras particularidades do cuidado! O que não se pode pensar é que o modelo
biomédico venha responder a tudo! Você entendeu? Por isso eu digo que eu adoro o
modelo biomédico, eu amo o modelo biomédico (risos). Quando eu falo de PICC30,
eu estou falando de alta tecnologia, requer horas de práticas, requer muito estudo de
anatomia, fisiologia. O que para criança significa menos estresse com punções,
significa menos gastos! Isso está vinculado ao modelo biomédico e eu não vou
gostar disso? Temos que voltar sim para essas tecnologias sim! Mas também
lembrar do quê? Do cuidado com o curativo, de treinar todo o pessoal para cuidar, e
quem mais competente para fazer isso? Eu acho que ainda é a enfermagem (risos).
Então, isso é ser ignorante, não aceitar isso é uma tremenda ignorância, e as pessoas
estão muito ignorantes. O que é o PICC? É um cateter periférico que tem acesso a
uma via central do corpo da criança e que, diferentemente de uma dissecção venosa,
você não perde a veia. Da mesma forma, é cuidado denso o cuidado da pele de uma
criança. Não dá para enfermagem se desfazer da relevância de um banho bem
tomado, da cavidade oral higienizada, cabelo bem cortado, unhas bem feitas,
orelhinhas limpas, nariz sem secreção, as partes íntimas sem assadura. É
inadmissível criança com marca de esparadrapo, eu fico doente com isso. Gente, um
óleo no algodão, num instante você retira. Trocas de cadarço de traqueostomia,
aspiração. Você vai esperar o fisioterapeuta para fazer isso? Claro que ele tem uma
técnica que só ele conhece que, junto com a aspiração, fará um melhor efeito. Mas
se ele não está por ali, você vai esperar para aspirar? Sendo que é algo comum para
ambas as profissões. Daqui a pouco então, o fisioterapeuta vai estar dando banho, e,
saindo com maior qualidade, pronto, mais uma vez enfermagem perdendo espaço,
porque fica parando para pensar o que é ou não pertencente às suas competências.
Então, se não tiver fisioterapeuta, eu não vou trocar o cadarço, limpar a cânula? Por
favor, a enfermagem pode muito bem fazer! Não dá para negar da importância
também da cama bem arrumada, dos quartos limpos e arejados. São por essas
questões que estamos lutando pela residência multidisciplinar na pediatria. Estamos
pensando numa residência onde alunos de áreas diferentes estarão presentes na
pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer cobrar deles
esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa, hidratada, cabelo
30
Do inglês Peripherally Insert Central Venous Catheter. Ou seja, Cateter venoso Central de inserção periférica.
Um enfermeiro habilitado pode fazer esse procedimento, conforme a Legislação do Exercício Profissional de
Enfermagem (PEDREIRA, 2008, p 206).
114
limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos, das necessidades
recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer massagem na criança
para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso? É cuidado! O que
acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e chega lá na prática,
não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, queixas da apatia da
enfermagem, a ponto de se questionar para que enfermagem, por que não intervém
pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no diferencial da
residência multidisciplinar. Que seja mais que uma espacialização onde as pessoas
vejam o problema no corpo da criança, e que através dela, os alunos percebam as
alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo que precisa ser tratado, que o
foco seja em todas as necessidades da criança (Andanças extras – professoraenfermeira).
O próximo trecho entoa pequenos eventos reflexivos nos quais a professoraenfermeira questiona a quantidade de brinquedos em excesso sobre o leito estarem ou não em
harmonia com as propostas dos projetos e ações de entretenimento e educação da
brinquedoteca; interroga se em determinadas situações de negociação com as crianças
hospitalizadas, a equipe não estaria em dissonância com a autoridade dos pais; interpela a
respeito de se checar a necessidade da criança permanecer no leito, conforme a
farmacoterapia em curso, já que permanecer no leito também é uma intervenção importante, é
um modo de cuidar por conta de determinados medicamentos, que provocam efeitos de
alteração hemodinâmica; e pondera com momentos que realmente a medicação possa permitir
transladar para a brinquedoteca e se não haverá alterações significativas. Todos esses
pequenos eventos elucidados pela fala da professora-enfermeira nos fazem pensar sobre
Humanização em Saúde.
Lembro de um plantão que, quando eu cheguei, encontrei as crianças com
brinquedos sobre a cama. Não há problemas quanto a isso, mas o que me preocupou
foi o excesso de brinquedos na cama, não pode ser assim. Tem que rever as
propostas dos projetos, das ações que são provenientes da brinquedoteca. Pensar
nessas ações que acontecem numa pediatria, não numa escola. É diferente.
Precisamos lembrar que na escola o professor é a autoridade, mas na pediatria, é a
mãe, a gente tem que pensar sempre na mãe como alguém que será a referência para
a criança fora do hospital. Então temos que pensar nisso, na autonomia da mãe.
Precisamos pensar no modo como negociamos com a mãe, nunca deixá-la de lado,
ou do responsável. Outra questão que também é inerente à humanização, e que, às
vezes, rompemos, é questão de que algumas medicações precisam sim ser realizadas
no leito, porque precisa de monitoramento. É o caso da albumina 31. É no leito! Isso
31
A albumina humana é um expansor do volume plasmático do sangue. Sendo assim, é a parte proteica do
sangue e atua mantendo a pressão coloidal osmótica no plasma capilar (é o equilíbrio desta pressão que mantém
o sangue dentro dos vasos sanguíneos. Quando alterada, pode ser percebida através de edemas/inchaços pelo
corpo. Isso significa que aconteceu um extravasamento de líquidos para os tecidos). É indicada para hipovolemia
(pouco volume na corrente sanguínea); queimadura; hipoproteinemia (quadro proteico reduzido). Efeitos
colaterais: aumento da salivação; febre; náusea; urticária; vômito; calafrios; efeitos variáveis na pressão
sanguínea (podendo aumentar assim como diminuir bruscamente); respiração e batimentos cardíacos. Esta
115
quer dizer que é importante ele ficar na cama sim. E, mesmo se for quatro horas,
mas é importante. Não pode ser visto por nós como algo que seja negativo para o
tratamento, faz parte do tratamento. A criança está internada para se tratar. E aí eu
digo que isso não quer dizer que seja mais importante que ir à brinquedoteca, de
forma alguma. Porque, lá vamos nós ao modelo biomédico (risos). Também é
humanização! É importante nesse momento! Depois ela vai poder fazer as outras
coisas, ninguém está ali para ir contra isso, pelo contrário. Acho que essas coisas
vão se resolvendo aos poucos, na conversa, porque estamos a favor da humanização
do cuidado. Temos que pensar, já de início, que a pediatria não é escola. É uma
pediatria para cuidados de crianças hospitalizadas. Temos que pensar que os pais
precisam participar dos cuidados, precisam se mostrar autoridade frente ao cuidado
de seu filho, junto a este e conosco da equipe. A gente não pode romper com essa
autoridade dos pais, não estou falando em autoritarismo, veja bem, estou falando em
autoridade. Estou falando daqueles que seguirão com as crianças em sua educação e
cuidados lá fora (Andanças extras – professora-enfermeira).
A nova brinquedoteca, segundo a professora-enfermeira, é um sonho realizado, um
direito efetivado. Contudo, conforme já expomos em incidentes anteriores, com ela vieram
questionamentos. Os eventos a seguir declaram interpelações quanto à necessidade de diálogo
e pesquisas sobre as possíveis interferências das sociomaterialidade da brinquedoteca sobre a
vida da criança e de seus familiares.
Olha só... Acho que a palavra que me preocupa se chama ―excesso‖. Sou totalmente
a favor da brinquedoteca, é uma conquista nossa, lá da época do quintal, depois com
a salinha funcionando, aí com as festinhas, assim como as atividades de projetos de
nossas pesquisas. O que é necessário agora é pensar essa nova estrutura, esse novo
espaço da brinquedoteca, conversar melhor sobre as ações ligadas à brinquedoteca,
aos projetos que tem lá, dos alunos que se envolvem com isso tudo. Pensar com
carinho mesmo. É algo nosso, mas que às vezes é bom ver, de repente, até pesquisar
como é que está sendo esse impacto sobre as crianças, quais os valores dessa criança
agora. Claro que não somos influência total, mas tenha certeza, que nossas ações
individuais mexem sim com as crianças, com os valores das crianças, contribuindo
ou não para a estrutura familiar dessas crianças. Por isso falo, vale a pena
conversamos mais sobre os ―exageros‖. Porque esses dias eu vi uma criança com um
comportamento rústico com a mãe e, essa criança não era assim. Como eu disse,
nem tudo vem da pediatria, mas, de alguma forma, a pediatria, todos nós, as coisas
que são feitas lá, tudo o que vivenciam, as coisas que disponibilizamos para elas
provocam influências nelas. Será que não estaríamos mimando essas crianças (veja!
mimando no mau sentido, não no bom, porque também há um bom mimo, a gente
sabe disso)? O que temos que buscar é questionar coletivamente, buscando
ponderamentos (Andanças extras – professora-enfermeira). Claro que sim! Quando
eu falo de brinquedos falo de algo que defendo muito, brincar e brinquedo são
importantes para as crianças. Mas me questiono de caixa e mais caixa de
brinquedos, de lápis, de papéis sobre a cama da criança. Para mim isso é exagero!
Em casa a gente não faz isso! A criança não dá conta de brincar com tudo isso!
Porque já está acontecendo de crianças rejeitarem presentes de terceiros porque não
era de marca, o que é isso então? Onde é que ela está aprendendo esse tipo de
alternativa. A gente conhece seus espaços de interação, que é restrito, ela convive
solução intravenosa pode ser encontrada com várias designações comerciais dentre elas; Albumax,
albuminar20%, Blaubimax,Beribumi ou Plasbumin 20 (GOLDENZWAIG, 2012).
116
nesse ambiente da pediatria e em casa praticamente. Não estou colocando culpa na
brinquedoteca, na pediatria, em nós, não é isso, mas estou me questionando, sobre o
nosso papel, sobre nosso modo de apresentar a brinquedoteca e as suas ações a essa
criança? É este tipo de preocupação que tenho. Que tipo de criança, então, estamos
ajudando a criar? Não estou dizendo que ela não tenha direito a essas coisas. Mas,
de repente, pesquisar, como eu já disse, verificar junto às mães sobre essas crianças
que passaram por lá como é que é e está em termos de brinquedos, em termos de
aceitação de seu lugar de origem. Se não estamos mimando essas crianças e
enviando elas para casa e provocando desestruturas familiares. Não nos esquecendo
do agravante, retorno para casa de uma criança doente. Repito, isso não tem nada a
ver com brinquedoteca. Tem a ver com nossas ações ao apresentar os brinquedos de
um modo que incentive a busca de coisas de marca, por exemplo. Porque antes do
espaço que conquistamos, antes de espaço lindo que temos hoje, que tínhamos eram
enfermarias escuras, as mães falavam que parecia estarem numa prisão. E, hoje, eu
vejo mãe conversando no jardim, mãe dormindo nos puffs, mães brincando com seus
filhos, mães assistindo filmes com seus filhos. Já não escuto ninguém reclamar da
pediatria e compará-la a uma prisão. Nossa! Antes tinha muita briga, confusão,
porque não havia o que fazer, ficava mais fácil para as pessoas se estressarem e
iniciarem uma briga entre filhos, entre mães e filhos, mães e mães. E, mesmo com
o quintal, não era fácil, porque lá fora era quente, tinha mosquito. Agora a gente tem
um espaço enorme, climatizado, cheio de brinquedos, televisões, revistas, jogos,
banheiros, pias para lavar as mãos, salas com computadores. Muitas atividades para
se envolverem. As mães vão para os quartos para dormir, porque passaram maior
parte do tempo se distraindo na brinquedoteca. Os quartos são climatizados, são
melhores iluminados. Houve uma melhora significativa na estrutura da pediatria,
que vem refletindo muito bem na internação, no tratamento da criança e na
convivência desta e de seus familiares com as rotinas do lugar. O único
questionamento que faço é repensar em como estamos apresentando a brinquedoteca
a essas crianças, aos seus familiares. Porque não há uma filosofia da pediatria, não
há mais valores da pediatria, isso acaba vindo de cada um de nós. Então, como isso
está sendo passado para as crianças? Isso é um problema nosso! Isso vem do modo
como acionamos, individualmente, os espaços, os objetos! Não é culpa apenas da
pediatria, da brinquedoteca, dos projetos. Acho que isso é o nosso papel, a academia
precisa repensar constantemente a pediatria como um lugar de ensino e pesquisa, e
agora a trabalhar com esses excessos também. A brinquedoteca é nosso sonho
realizado. Ela tem muito a nos ensinar (Andanças extras – professora-enfermeira).
3.2.1. O Programa Cuidar Brincando
O Programa Cuidar Brincando, criado em 2008, é uma atividade que está vinculada à
Área de Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Mato Grosso. O Programa tem como objetivo promover os direitos
de crianças e adolescentes hospitalizados e suas famílias por meio de atividades lúdicas,
lúdico-terapêuticas e educativas, que atenda tanto os pacientes e seus familiares quanto os
trabalhadores da Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (RIBEIRO, 2008).
O Programa se fundamenta em teorias, práticas, tecnologias, legislações e
metodologias que auxiliam a construção da autonomia e cidadania dos usuários de saúde, em
117
especial das crianças, adolescentes e de seus familiares. Dentre os fundamentos, destacam-se
a Pedagogia de Paulo Freire, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 32, os Direitos da
Criança e do Adolescente hospitalizados – Resolução CONANDA nº41 de 17/10/199533 e o
Sistema Único de Saúde (RIBEIRO, 2008).
Articula seis projetos: (1) o projeto Escola de Informática e Cidadania para crianças
hospitalizadas; (2) Pediatria em Rede; (3) Brinquedo Terapêutico; (4) Biblioteca Livre; (5)
Terapia Comunitária para familiares de crianças hospitalizadas; e (6) Comitê de Defesa da
Criança hospitalizada (Ibid.).
O primeiro foi o precursor do Programa de Extensão, sendo que seu início se deu no
ano de 2003, com o nome de Projeto Escola de Informática e Cidadania para crianças
hospitalizadas (EIC-Hospitais). O mesmo foi criado por meio de uma parceria entre o Comitê
para a Democratização da Informática do Paraná, o HU de nosso estudo e um Hospital
Universitário do Estado do Paraná, mediante a qual foram implantadas Escolas de Informática
e Cidadania nas unidades pediátricas dos dois hospitais. O projeto foi inovador e inédito, por
utilizar a informática como uma ferramenta para o desenvolvimento de atividades lúdicoterapêuticas e educativas para crianças e adolescentes hospitalizados e por promover a
interatividade entre crianças dos hospitais envolvidos, possibilitando a construção de
conhecimentos e a promoção da inclusão digital. Os demais projetos foram criados
paulatinamente a partir de 2005, sendo que em 2008 foram articulados em forma de um
Programa (Ibid.).
O programa conta com a participação da comunidade acadêmica da Universidade
Federal, com a atuação de alunos provenientes de diversas áreas. Já atuaram no Programa,
alunos dos cursos de biologia, medicina, pedagogia, economia, computação, enfermagem e de
psicologia. Presentemente, os alunos atuantes são da enfermagem, psicologia e computação.
Junto a eles, há professores que divulgam e apoiam o Programa, incentivando acadêmicos a
participarem das atividades do Programa de alguma maneira. Contam com a parceria de um
professor vinculado à Secretaria da Comunicação da Universidade desde 2010, o qual articula
com o Programa de Extensão, mais precisamente o subprojeto Biblioteca Livre, que passou a
32
33
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Refere-se ao Estatuto da criança e do adolescente (BRASIL, 1990).
Resolução nº. 41 de outubro de 1995. Refere-se aos direitos da criança e do Adolescente hospitalizados
(BRASIL, 1995).
118
acontecer em parceria com a ideia da Inclusão literária desenvolvida pelo professor em
questão (RIBEIRO, et al 2010).
Há diversos professores da Faculdade de Enfermagem (nem todos ligados à área da
criança e do adolescente) que contribuem para as atividades referentes à Terapia Comunitária
para funcionários, crianças e seus familiares – atividades que acontecem no jardim de inverno
da Pediatria (Ibid.).
Sobre a Pediatria em rede, o subprojeto conta com a parceria da pediatria do Hospital
Universitário da Universidade de São Paulo (USP), que está vinculado à UFMT onde o
Hospital Universitário tem sua sede. E, através desta parceria, as crianças hospitalizadas do
HUJM de nossa pesquisa entram em contato com crianças hospitalizadas de outra região do
país. A parceira que representa a pediatria do HU-USP é uma psicopedagoga bastante
empenhada nos estudos sobre a atuação de recreadores e sobre brinquedoteca (Ibid.).
O Brinquedo Terapêutico se iniciou em 2010, após aprovação do projeto, com campo
de atuação no hospital do HUJM, em especial na pediatria, assim como na Pediatria, UTI
pediátrica e neonatal de um Hospital e Pronto Socorro do Município de Cuiabá. Em principio,
compreendeu a capacitação através de cursos teóricos, seguidos de práticas no campo
hospitalar, com distribuição de uma maleta para cada setor participante para realizar o preparo
das crianças antes da punção venosa. Contou com a participação de uma professora de uma
Universidade de Belo Horizonte e outras duas professoras de Universidades Públicas de São
Paulo, mais especificamente ligadas a um grupo de estudos do brinquedo (Ibid.). E, por fim, o
Comitê de Defesa da Criança hospitalizada que conta com alguns parceiros, entre eles a
Promotoria de Infância e Juventude do município, o Conselho Tutelar e Professores do
Instituto de Educação e de Enfermagem da UFMT, a qual o Hospital Escola encontra-se
vinculado. Entretanto, o Comitê não se restringe ao HUJM, atuando em qualquer instituição
hospitalar pública com o intuito de defender os direitos das crianças e adolescentes
hospitalizados que muitas vezes são violados (Ibid.).
Da enfermagem atuam principalmente os alunos bolsistas da professora coordenadora
do programa. E proveniente da psicologia, há atuação intensa de alunas bolsistas orientadas
por professoras da área que se interessam em desenvolver atividades na pediatria. Realizando
atividades (reciclagem de materiais, técnicas de leitura com as crianças) paralelas às
atividades do Programa, atuaram em atividades do Projeto de Extensão (informática e
119
cidadania), inclusive participando das reuniões e capacitações promovidas pelo grupo, além
de interagirem com os integrantes, uma vez que se encontram cadastradas no grupo virtual do
Programa, constituindo-se relevantes parceiros para pesquisas (LEITE, 2011a).
Quanto aos alunos da computação, estiveram presentes nos primeiros três anos da
então Escola de Informática e Cidadania, atuando como educadores e pesquisadores mediante
a parceria estabelecida entre as coordenadoras do projeto ―Escola de Informática e Cidadania
para crianças hospitalizadas‖ com professoras da computação. Os alunos da computação
retornaram ao Programa de modo pontual no final de 2009, após uma apresentação do
―Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖. Essas apresentações aos
alunos da Ciência da Computação ficaram mais elaboradas, passando de convites e
divulgações em lugares e momentos informais a lugares e momentos formais. O Programa
voltou a ser divulgado no Departamento de Computação em 2010, e, em 2011, retornando a
ter como fulcro estratégico os alunos da computação, assim como uma das professoras do
Departamento da Computação, justamente a que coordena e ministra a disciplina semestral
intitulada ―Tecnologia e Sociedade‖ (LEITE, 2011b).
Essa professora apoia, é ―Amiga‖ do programa, e por isso aproveita sua disciplina
para articular com as atividades de informática e cidadania do Cuidar Brincando; desse modo,
influencia e incentiva a participação de seus alunos na pediatria. Os alunos que assistem à
aula sobre Tecnologia e Sociedade – e vinculada à aula a apresentação do programa – atuam
em parceria com o Programa de Extensão reciclando computadores, ministrando pequenos
cursos, como por exemplo, ―Noção de como trabalhar no computador utilizando o Linux 34‖
(Ibid.).
Além destes alunos, há também aqueles considerados seguidores do programa, ou
melhor, os voluntários que se interessam e aderem às atividades na pediatria já no início do
curso de enfermagem, da psicologia ou da computação, após assistirem a apresentação do
Programa e a divulgação realizada pelas veteranas à comunidade de enfermagem no início da
34
Na realidade, os alunos de computação instalaram o Ubuntu nos computadores do Laboratório de Informática.
Segundo Carmo do Val (2010) muita gente confunde o Linux com o sistema operacional, entretanto, o GNU/
Linux é o kernel do sistema operacional. O kernel é o componente central da maioria dos sistemas operacionais e
serve de ponte entre o sistema operacional (o que vemos na tela) e o hardware (as peças do computador). O
Ubuntu, assim como o Mandriva, o Fedora, o CentOS e outros, são sistemas operacionais confeccionados a
partir da solidez do kernel do Linux. Sendo assim, o Ubuntu, não é o Linux. De um modo genérico, o Linux é o
coração do Ubuntu. A filosofia do Ubuntu compreende criar um sistema operacional e uma série completa de
aplicações exclusivamente compostas de Software Livre e Código Fonte Aberto.
120
semana dos calouros. Outros meios de divulgação são o site da Universidade e impressos.
Vale ressaltar, que todos os alunos participantes como educador ou como voluntários do
programa sob outra função recebem certificações ou declarações de participação, os quais são
gerados pelos professores vinculados às atividades desenvolvidas no Programa ou são
confeccionados para aqueles cadastrados no SIGProg 35, como integrantes do Programa
(LEITE, 2011b).
A área de recreação teve um investimento de R$ 186.467,03 do Poder Público para a
construção e ampliação, a qual foi inaugurada em fevereiro de 2011. A iniciativa proveio de
uma equipe que representava o projeto que ―Abraçou‖ o Hospital em 2008. Entretanto, essa
pôde ser efetivada apenas em 2010, com a concretização do investimento. A proposta teve o
apoio profissional de docentes da Faculdade de Enfermagem da UFMT, em especial quanto à
compra e instalação dos móveis, computadores, brinquedos pedagógicos, escorregador,
balanços e gangorras. O novo espaço da brinquedoteca, cerca de oitenta metros quadrados de
área, conta com laboratório de informática e classe hospitalar; há televisão e videogame; foi
organizado um espaço para os bebês; sendo edificado conjuntamente à brinquedoteca um
jardim de inverno; e somou-se cerca de 80 metros quadrados para a nova ala de recreação
(JORNAL DA UFMT, 2011; ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO DE MATO GROSSO, 2011).
A ludicidade sempre esteve presente na pediatria do HUJM, pois onde há criança,
certamente haverá brinquedos. No entanto, é importante destacar que no HUJM a ludicidade
fez parte do cotidiano, como declarado na fala da professora-enfermeira, desde o início do
hospital, mas de forma intencional. Aqueles (as) jovens que iniciaram o hospital em 1984, e
compuseram a equipe da pediatria, trouxeram desde o princípio a ludicidade como um valor e
como parte do cuidado (RIBEIRO, 2012).
Havia mobilização de ludicidade especialmente na pediatria, quando a ―tia‖,
professora de educação física, chegava. Ela era recreadora e pessoa de referência em lazer no
ambiente, como já comentado anteriormente, não apenas para as crianças, mas também para
os adultos. Ela sempre foi uma parceira no cuidado às crianças, e quando foi proposta a
35
O Sistema de Informação e Gestão de Projetos (SIGProj) tem como objetivo auxiliar o planejamento, gestão,
avaliação e a publicização de projetos de extensão, pesquisa, ensino e assuntos estudantis desenvolvidos e
executados nas universidades brasileiras. O SIGProj está sendo desenvolvido por pesquisadores e alunos de
várias universidades brasileiras (formando uma comunidade SIGProj) sob a coordenação do Ministério da
Educação (BRASIL, 2011).
121
inserção do Projeto EIC-Hospitais na pediatria, negociou-se com a ―tia‖ um cantinho da
pequena brinquedoteca, conhecida como ―Salinha‖; assim, um espaço foi disposto para cinco
reformados Pentium 236. Hoje, o que parece corriqueiro, nada de mais – computadores para
brincar –, era, minimamente, motivo para diversas observações, como:
―Mas nem o pessoal do hospital tem acesso a computadores e à internet, agora as
crianças da pediatria já têm?; mas e a infecção cruzada?; mas as crianças não
estragariam esses computadores em pouco tempo?; mas e a manutenção?; mas quem
vai cuidar?; como assim, uma lan house no hospital?; mas, afinal, para que
computadores para as crianças?‖ (RIBEIRO, 2012).
Conforme as reflexões de Ribeiro (2012) vieram às pesquisas que mostraram os
benefícios dos computadores como um recurso a mais para entretenimento das crianças. O
―Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖, alocado no espaço da
brinquedoteca, portanto, confirma que a Faculdade de Enfermagem da Universidade vem
contribuindo para a efetivação da ampliação da brinquedoteca, pois, desde 2004, compreende
uma ação estratégica favorável à efetivação dos direitos da criança hospitalizada quanto à
garantia de um espaço para brincar e ter continuidade de seu processo de aprendizado
cognitivo e intelectual, conforme preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e
pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. E, no decorrer de sua
existência, diversos trabalhos vinculados ao Projeto de Informática e Cidadania para crianças
hospitalizadas, que tiveram cunho avaliativo, confirmaram a relevância dessa ação de
extensão e pesquisa: favoreceram o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das crianças e
efetivaram possibilidades de expressão e verbalização das angústias, dos anseios e das
necessidades físicas e emocionais. As crianças, envolvidas no projeto, compararam o tempo
em que ficaram restritas ao leito com o tempo que vivenciaram no projeto, e todas que
participaram do projeto qualificaram-no como algo que as beneficiavam, as auxiliavam na
percepção da própria doença e que pode levá-las a se recuperar mais rapidamente. Para os
trabalhadores da pediatria, o projeto tornou a criança mais receptiva ao tratamento e aos
profissionais que cuidam dela, modificou o ambiente, trouxe alegria, otimismo, favoreceu a
comunicação, a socialização, a recuperação e a inclusão digital. O espaço da Escola de
Informática e Cidadania, diferentemente do ambiente das enfermarias, proporcionava
vivências e atividades que incentivavam e possibilitavam a interação, a troca de ideias, a
36
Microprocessador fabricado pela empresa Intel em 1997.
122
conversa, o estabelecimento de amizades e a cooperação entre as crianças, fazendo com que
elas não sentissem tanto a hospitalização. As repercussões da interatividade proporcionadas
pelo projeto (chats, e-mails, redes sociais, navegação na Internet) mostraram que as crianças
hospitalizadas tiveram a oportunidade de ―sair‖ do isolamento do hospital e interagir com
pessoas importantes e que estavam distantes, mantendo o vínculo interrompido pela
internação; além disso, a interatividade permitiu a ampliação de sua rede de relacionamento,
efetivando novas amizades, em especial com outras crianças internadas nos hospitais
participantes do projeto (RIBEIRO et al, 2003; RIBEIRO et al, 2004; OLIVEIRA et al, 2004;
CONSSETIN et al, 2004; MARTINS; PEREIRA, 2005; MARTINS; SASAKE, 2005;
MARTINS et al, 2006; RIBEIRO et al 2005; RIBEIRO; SEWO, 2005; OLIVEIRA et al,
2005; BORGES et al, 2005; RIBEIRO, 2006; BARROS; VIEIRA; RIBEIRO, 2006; LEITE;
VIEIRA; RIBEIRO, 2006; LEITE et al, 2007; LEITE, 2007b; LEITE & RIBEIRO, 2007;
SEWO, RIBEIRO, VIEIRA, 2007; LEITE & RIBEIRO, 2008; RIBEIRO et al, 2010).
Como já mencionado, em 2008, o Projeto de Informática e Cidadania passou a ser um
Programa de Extensão e pesquisa. E este, após ganhar autonomia da Organização NãoGovernamental (ONG) vinculada à Democratização da Informática, solidificou suas ações
não apenas através das atividades de informática e cidadania, mas de outras práticas com sede
na brinquedoteca da pediatria do HUJM, bem como por meio de atividades que se estendem
para outras localidades institucionais, isto é, além do hospital universitário, estando
vinculadas às práticas de cuidar de crianças e adolescentes hospitalizados e de seus familiares
(RIBEIRO, 2008).
A professora e enfermeira responsável pelo Programa de Extensão Cuidar Brincando,
especialista em Enfermagem Pediátrica e doutora em Enfermagem em Saúde Pública, diz
acreditar que o espaço da brinquedoteca incentiva o desenvolvimento dos pacientes e
possibilita a oportunidade de se relacionarem com outras crianças e com a família,
favorecendo, dessa forma, o processo de recuperação da criança hospitalizada. Para a
professora e enfermeira, a Brinquedoteca faz parte do Programa de Extensão, pois é uma
atividade de extensão do curso de Enfermagem da Universidade e da Enfermagem Pediátrica
do HU (JORNAL DA UFMT, 2011ab).
O HUJM, conforme entrevista de uma médica pediátrica do hospital, atende crianças
em que a média de período de internação varia entre um a cinco meses. Sendo os diagnósticos
mais frequentes: imunodeficiência adquirida e congênita, cirurgia pediátrica (de reparo de
123
defeito da face), fibrose cística, assim como abuso sexual agudo (violência sexual contra
crianças). A equipe conta com especialista em adolescente, cardiologista, assim com há uma
UTI neonatal. Informa também que a pediatria, atualmente com 27 anos, tem capacidade para
20 leitos, estando ativos 14 deles37. Mantém a característica de atender a maioria dos casos
que tem procedência interiorana. E, para todo caso de internação, o procedimento inicial é o
de investigação diagnóstica, para então ser encaminhado para tratamento específico
(JORNAL DA UFMT, 2011a).
Para a coordenadora do Programa de Extensão, em decorrência do longo período de
hospitalização, a brinquedoteca veio para melhorar o dia-a-dia das crianças e de seus
acompanhantes (JORNAL DA UFMT, 2011ab).
3.3. Algumas reflexões que nos levaram a escolher a pediatria e alguns de seus objetos
sociotécnicos para estudos
Em ―Algumas reflexões sobre as relações entre crianças, cidades e brinquedotecas‖,
Galindo et al (2010) nos convida a pensar o espaço da brinquedoteca como um lugar não
homogêneo, como um ambiente múltiplo, por onde transita uma heterogeneidade
sociomaterial. E por conta dessas variações de espacialidades e diversidade de elementos que
ali se encontram, a brinquedoteca torna-se um objeto científico atrativo para pesquisas
científicas.
Conforme Galindo et. al. (2010; 2012), a brinquedoteca pode ser compreendida como
um espaço múltiplo, aberto, onde é potencial de entretenimento para as práticas lúdicas
vinculadas ao universo infantil. Entretanto, devido à multiplicidade de eventos que uma
brinquedoteca pode desencadear, decorrente da porosidade de suas fronteiras para com outros
saberes localizados, que por ali se espalham, percebe-se que é possível encontrar não apenas o
mundo infantil, lúdico e de entretenimento, como há uma mescla deste com o mundo do
adulto.
37
Em entrevista, uma das enfermeiras participantes de nossa pesquisa confirmou as informações obtidas no site
da Universidade. No site, encontramos informações sobre a demanda atendida pelo hospital e o número de leito
contratualizados e, por isso, ativos, 14 leitos. Assim como a relevância da nova brinquedoteca para as crianças e
adolescentes hospitalizados no HUJM.
124
O que nos faz pensar na atuação e nos trânsitos dos profissionais de saúde que passam
pela brinquedoteca, assim como o modo como adultos que cuidam (responsáveis pelas
atividades programadas no local) as efetivam; do mesmo modo perceber como aqueles que
acompanham os que são cuidados utilizam o espaço da brinquedoteca, que muitas vezes pode
estar ou não ligadas ao entretenimento, ao lúdico. Não deixando de lado os embates de adultos
com crianças, isto é, as crianças criam os seus espaços, às vezes subvertendo o que foi
produzido pelo adulto, ou melhor, confeccionam novos lugares com ranhuras próprias, com
suas fissuras típicas, em meio a contradições específicas delas, enfim, do jeito mais adequado
ao mundo delas. Lembrando que os adultos também produzem ranhuras, fissuras e
contradições típicas deles (GALINDO et al, 2010).
Alguns estudos apontam para a existência de diversos tipos de brinquedotecas, assim
como de diferentes alocações às quais ficam atreladas (VECTORE & KISHIMOTO, 2001;
MAGALHAES & PONTES, 2002; WANDERLIND, 2006; DRUMMOND et al, 2008;
OLIVEIRA & GEBARA, 2010). Entretanto, a de nosso interesse, restringe-se aos espaços e
espacialidades da brinquedoteca hospitalar de unidade pediátrica (RODRIGUES; LEITE;
GALINDO, 2011).
Diante das complexas entidades envolvidas nas ações e mobilizações administrativas,
arquitetônicas, políticas, educacionais e científicas interpeladas pelos Cursos de saúde da
Universidade Federal de Mato Grosso para se conquistar um Hospital Escola (décadas de 70 e
80), e na própria pediatria, conforme contam os incidentes textuais encontrados em sites,
artigos científicos e falas cedidas, não tivemos a presunção de estudar todas as
sociomaterialidades que estas possam assumir, mas nos restringir, neste momento, a
potencialidade dos computadores, não só como entretenimento, mas como objetos
sociotécnicos que contribuem para o cuidado na pediatria. Por isso nosso foco permaneceu
apenas restrito a alguns incidentes de sociomaterialidades que habitam a pediatria, ou seja, de
buscarmos e seguirmos ações marcantes de alguns objetos sociotécnicos que se encontram
localmente situados (em especial, computadores que moram na brinquedoteca e visitam
enfermarias).
Portanto, a nossa pesquisa se restringe à clínica pediátrica como lócus de escolha, por
perceber que ―pequenas ações locais‖ de objetos sociotécnicos que ―vivem‖ no hospital
possuem uma complexa ontologia que carece ser estudada. Não bastando, a escolha da clínica
pediátrica foi intencional, já que tem em funcionamento práticas de ensino, pesquisa e
125
extensão a todo vapor. Por conta disso, nossos estudos partiram de algumas atividades do
―Programa de Extensão Cuidar Brincando‖, mais especificamente, as atividades de
Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas que acontecem na brinquedoteca, que se
declaram espalhadas pela pediatria e se caracterizam como habitantes, moradoras da pediatria.
O nosso estudo se conecta as parafernálias – ou mesmo as práticas e tecnologias
ligadas às materialidades médicas cirúrgicas do ambiente hospitalar de média e alta
complexidade – e transita entre os brinquedos originados da inventividade e da criatividade,
ou melhor, provenientes do reaproveitamento de materiais (oficinas de confecção de
brinquedos). Nelas também estão incorporados os brinquedos tradicionais industrializados
(carrinhos e bonecas) e os eletrônicos (computadores e videogames). No Projeto ―Informática
e Cidadania para crianças hospitalizadas‖ (EIC-Hospitais), por sua vez, utiliza-se de
computadores e de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para transportar a
criança hospitalizada, via Internet, para um mundo que transpõe os muros do hospital (LEITE;
VIEIRA; RIBEIRO, 2006). Em todos esses contextos as tecnologias e arranjos sociomateriais
possuem extrema relevância para o cuidado.
Sendo assim, ao longo de nosso percurso, ou seja, as idas e vindas à pediatria, tivemos
como atravessamentos para as investigações, e em seguida para as análises, os seguintes
contextos: 1) as práticas na brinquedoteca e 2) atividades do Projeto Informática e Cidadania
para crianças hospitalizadas.
126
CAPÍTULO 4
AS ANDANÇAS PELA PEDIATRIA
Andanças: nada mais são que reinvenções de caminhos conhecidos.
127
As andanças (itinerários) pela pediatria ocorreram durante um período de três meses,
entre Outubro e os primeiros dias do mês de Dezembro de 2011. Foram 17 visitas, não
sequenciais. O tempo das andanças variou de 3 a 8 horas, portanto, cada visita não
contemplou às 12 horas de um plantão hospitalar. O contexto de estudo foram os espaços da
Unidade Pediátrica do Hospital Universitário, como já apresentado anteriormente. Houve três
sessões fotográficas da pediatria para compor nosso trabalho, duas durante os três meses de
pesquisa (entre Outubro e Dezembro) e a última adicionada um mês depois (em Janeiro de
2012). Posteriormente foi preciso retirar a foto, uma vez que houve algumas mudanças
significativas e imediatas na pediatria. Como exemplos, pode-se citar a inserção de um
computador mais potente na sala de repouso da enfermeira e a mudança da decoração do
posto de enfermagem.
A cada espaço da unidade visitado, a intensidade variou conforme o tempo que a
pesquisadora permaneceu no local ou com quem conversou e o que fez; estando às atividades
realizadas ligadas às ações dos objetos sociotécnicos da brinquedoteca e do Projeto
Informática e Cidadania, revelaram-se vinculadas, ou acontecendo paralelamente, a outras
atividades do Programa de Extensão ou da Brinquedoteca, assim como a outras Práticas
diárias que acontecem na pediatria.
Para chegar ao campo das Tecnologias do Cuidado, a própria pesquisadora principal
deste trabalho teve que se relacionar com uma diversidade de aparatos sociotécnicos por conta
das condições climáticas da região: calor constante, intensos raios solares. Na prática,
significou proteger sua pele com filtro solar, cobrir seu corpo com uma camiseta de manga
comprida, óculos escuros, andar com um tênis confortável, por fim, experimentou a utilização
de um chapéu de palha, e para hidratação do corpo optou-se pelo constante consumo de água
mineral. Indumentária que experimentou aos poucos e que acabou por ser uma necessidade
cotidiana ao longo dos trânsitos que realizou até chegar ao hospital. Entendemos por produção
sociotécnica os processos de conhecimento que inscrevem e materializam o mundo através de
formas (HARAWAY, 2004).
Percebemos que não dá para descolarmos a pesquisadora dos objetos sociotécnicos
que interpelam junto a ela enquanto anda, conversa, participa, atua no hospital e na pediatria.
No que concerne a sua apresentação ao ingressar no hospital, atores e actantes arranjam-se
constantemente, simultaneamente. A pesquisadora escolheu manter-se à paisana, pois que
128
optou por não utilizar jaleco branco. Essa decisão por deixar o jaleco branco de lado foi com o
intuito de evidenciar que a pesquisadora principal deste trabalho não era uma nova integrante
da equipe de enfermagem, assim como evitar incitar qualquer hierarquia ou poder (status)
entre a pesquisadora com relação à equipe, crianças e seus familiares. E quanto à
identificação, isto é, para ser reconhecida como aluna da Universidade à qual o hospital está
vinculado, bem como educadora do Programa de Extensão, optou por utilizar o crachá da
instituição. Decisão que se tornou premente ao perceber que reduziria as resistências e gasto
de tempo no portão de entrada do estacionamento, junto aos guardas de uma empresa
terceirizada, distintos daqueles que ficam na porta de entrada dos fundos do hospital. Em seus
momentos de chegada à pediatria, por maior proximidade com o local da descida do ônibus
ou das caronas que pegou, teve que caminhar por um campo de obras, já que as áreas externas
dos fundos do hospital estavam em meio à pavimentação3839.
O que a incitava passar pelo local era a movimentação de obras, e porque passar por
ali fazia parte do cotidiano da maioria das pessoas que trabalham no hospital, haja vista que a
entrada dos fundos compreende um acesso de carros de funcionários, docentes e discentes
legalmente identificados. A pesquisadora preferiu ingressar no hospital pelo fundo ao invés de
entrar pela porta da frente, o que, convencionalmente, visitantes fariam, ficando, assim, mais
próxima da ala Administrativa do Hospital e da Clínica Pediátrica. Percebendo-se, desse
modo, como um híbrido educadora/pesquisadora, como um actante vinculador entre Hospital
Escola e Universidade.
Como paisagem, um estacionamento (Figuras nº. 7 e 8) em reformas, no qual avistou
muita terra vermelha sobreposta por sobras de frondosas mangueiras. Como som de fundo,
britadeiras misturadas com o tintilar de martelos, esguichos de tintas na ala de consertos de
38
A empreitada que é realizada com recursos da Secretaria de Transportes e Pavimentação Urbana Construções
desde março. São 13.448,23 m² de pavimentação em concreto e bloquetes, calçadas e meios-fios. As benfeitorias
junto ao Hospital Universitário Júlio Müller, administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso, garantem
mais saúde, acessibilidade e qualidade de internação a todos os pacientes. O projeto de pavimentação atende
totalmente as normas técnicas e de acessibilidade. Optou-se pela necessidade da pavimentação de partes em
concreto e partes em bloquetes ecológicos (que não impermeabilizam o solo) devido à utilização dos
estacionamentos. Dos sete estacionamentos, três são de acesso a caminhões de até 30 toneladas; um de
caminhões de até 15 toneladas; e outros três de veículos leves. O projeto original não previa a construção de
rampas de acesso nem a tubulação para passagem de cabos de fibra ótica para a modernização e adequação do
setor de informática do Hospital. Em virtude desses acréscimos foi necessário aditivar a obra que chegou a R$
1,8 milhão, orçada inicialmente em R$ 1,5 milhão. A inclusão, agora, desses tópicos compreendeu preservar o
pavimento contra danos futuros (http://www.sinfra.mt.gov.br/TNX/conteudo.php?sid=1&cid=2020).
39
Em decorrência das obras, o estacionamento fora deslocado para outro espaço próximo ao hospital. Mesmo
assim, alguns funcionários, professores e alunos ou visitantes permaneceram estacionando carros e motocicletas
próximos ao portão dos fundos do estacionamento (LEITE, 2011a).
129
equipamentos e maquinários. Ao longe, ainda na primeira visita, próximo ao anexo didático
(salas de aula, auditório e biblioteca setorial do complexo hospitalar), principiava o que
durante 17 visitas foi se aproximando do portão dos fundos: amontoados de bloquetes
ecológicos (Figura nº.1), cinzas dos blocos de cimento (Figura nº. 4) e bloquetes ecológicos
no pátio em reforma (Figura nº.3), que, aos poucos, foram se infiltrando e se mesclando com a
terra vermelha que a recepcionara a priori.
Antes de alcançar à calçada, à grama e à
falta de sombra, o caminho para a pediatria (em
destaque) era o desnível de solo, a sombra das
mangueiras, o vermelho da terra; esta última
passou a acompanhar a pesquisadora várias
vezes. A princípio, o vermelho chegou a
incomodá-la, pois o percebeu como camadas de
terra impregnadas em seus tênis (Figuras nº. 5 e
6) ao chegar à porta dos fundos do hospital,
Figura nº.1 - bloquetes para pavimentação
ecológica
necessitando limpá-los no carpete de entrada do
portão, após o corredor ao lado da pediatria
(Figura nº.2). O que motivou a pesquisadora a
andar com cautela sobre a terra vermelha, e, nos
raros momentos de chuvas, sobre o barro
vermelho, para não levar consigo um excesso de
sujeira.
Figura nº. 2 – corredor ao lado da pediatria.
Adentrei ao hospital pela porta dos fundos. Dia
de calor, abafado, suor escorrendo pelo corpo.
Cumprimentei os guardas. Um deles me perguntou sobre
o meu vínculo com o hospital. Expliquei que era
estudante da Universidade a qual pertence o HU e que
tinha pessoas me esperando na Pediatria (Andanças 2)
(continua).
130
Desculparam-me pelo questionamento, dizendo
que não havia porteiro na porta dos fundos do
hospital por isso a abordagem na porta da
garagem. Disse não ter problemas. Área externa
do hospital em construção (pavimentação do pátio
dos fundos do hospital), por isso muita terra
vermelha nos calçados. Retirei meus óculos de sol
e blusa de manga.. Pensei em retirar o meu crachá
de educadora do Programa de Extensão, mas
pensei em não utilizar no hospital por hora. Mas
como não havia ninguém na porta (como já
haviam me dito no portão de entrada) (Andanças
2) (continua).
Figura nº. 3 – pátio em reforma.
tive que percorrer todo o corredor externo, sair na
rua da entrada do hospital, para pegar um crachá
na entrada. Pensei em utilizar o crachá do
programa nas próximas visitas para não ter
problemas de identificação, já que eu queria
continuar adentrando pelos fundos. Resolvido o
problema do crachá, fui para a pediatria
(Andanças 2).
Figura nº. 4 – blocos de cimento retirados
.
Ficou salientado na portaria que a referida pesquisadora é aluna de Pós-Graduação da
Universidade, à qual o HU se encontra vinculado, atua como educadora no Projeto
Informática e Cidadania, assim como já havia estagiado na pediatria e trabalhado
anteriormente na Brinquedoteca como bolsista.
Portanto, encontrou-se livre para atuar
na
pediatria
sob
a
autorização
da
Superintendência, Diretoria de Enfermagem e
Coordenação do Programa Cuidar Brincando
para a realização da pesquisa. Para essa
pesquisa pôde contar com documentos de
ciência e autorização dos responsáveis pelos
Figura nº. 5 – tênis com barro vermelho
projetos (ANEXOS D, E, F e G).
131
Sendo necessária a utilização do crachá pela educadora, por conter informações que a
vinculam às atividades da pediatria e da Universidade (Pós-graduação).
Apresentei-me na Coordenação [Diretoria] 40 de Enfermagem como aluna de PósGraduação, falei da aprovação do meu projeto mostrando o parecer do Comitê de
Ética do HU, os TCLE e uma cópia do projeto. Expliquei sucintamente o projeto,
falando de meu objetivo, minha metodologia e o que eu espero produzir através
desse trabalho em andamento para os presentes na coordenação no dia. Receberamme muito bem, desejaram-me muita sorte no trabalho que desejo realizar (Andanças
1) (continua).
Aproveitei para deixar um folder sobre o
Programa de Pós-Graduação – Mestrado – com a
coordenadora para fins de compressão de que seria
a Pós Graduação que se refere um Programa
proveniente da Interdisciplinaridade dos estudos
em Cultura. Ao me despedir, orientaram me ir à
Coordenação de Enfermagem em Pediatria,
representação direta da enfermagem na Clinica
Pediátrica. Assim o fiz, fui até a sala da Chefia
Imediata da Pediatria. Percorri todo o Hospital até
chegar à Chefia, ao adentrar a porta da chefia
imediata, nem me apresentei e já haviam me
reconhecido. Falei sobre o motivo que me levava
até ali, refiz a apresentação que havia feito na
Coordenação de Enfermagem, (Andanças 1)
(continua).
Figura nº. 6 – sobre pedregulhos.
dizendo para eu ir à pediatria e que estariam ligando para
lá a fim de informar que eu, a partir de então, estaria indo
e andando pela clinica com o intuito de pesquisar sobre
Práticas de cuidado da pediatria e que estaria realizando
apresentação dos TCLE para entrevistas e observação de
crianças, equipe de enfermagem e familiares interessadas
em participar do meu trabalho. Fui para a Clínica
Pediátrica, andei novamente todo o corredor do HU. Bom,
chegando à Pediatria. Fiz um de meus hábitos
costumeiros, abrir a porta da sala de repouso da
enfermagem, local que também é utilizado durante o
período diurno por professores e alunos da enfermagem
que estagiam na clínica (Andanças 1). (continua).
Figura nº. 7 – estacionamento
Cumprimentei a professora com um abraço, pois esta já me conhecia, apresentoume aos seus alunos como ―enfermeira Padrão‖, estes me cumprimentaram também.
A professora quis saber o motivo de minha presença na clínica, comentei que estava
iniciando minha pesquisa de campo referente à minha dissertação de mestrado. Ela
40
Adição posterior nossa.
132
me disse que estava na clínica há duas semanas com esses alunos do 7º semestre,
estavam estagiando, realizando cuidados e medicações no período matutino (das
7h00 às 13h00). Despedi momentaneamente, comentei que ia me apresentar à
enfermeira da clinica para informar o motivo que me trazia a clínica (Andanças 1).
Andando pelo corredor, notei bastante movimento, conversei com um aluno de
enfermagem que estava no nono semestre, período de internato urbano, como
costumamos chamar. Encontrei com a fisioterapeuta do setor, percebi os outros
alunos da professora perambulando pela clínica desenvolvendo suas atividades,
pessoal do banco de leite entregando mamadeiras, residente de medicina
conversando com a equipe de enfermagem sobre internação de paciente, sobre
mudança de prescrição de uma criança, técnicas de enfermagem preparando
medicação junto com aluno da enfermagem, secretária trazendo pedidos feitos pela
enfermagem, limpeza levando materiais para o expurgo, crianças no quarto e no
refeitório, crianças na brinquedoteca, crianças com seus acompanhantes e
educadores na sala de informática (Andanças 1) (continua).
Novamente, cumprimentos de algumas técnicas
que já me conheciam. Andando por toda a
pediatria para ter uma noção geral, retornei ao
posto de enfermagem (Andanças 1). No posto,
logo passou a professora de enfermagem [...]
Ela comentou que a Enfermeira Tamires estava
em procedimento, mas logo conversaria comigo
[...] 10 minutos em frente do posto, um interno
de enfermagem puxou conversa, mais 5
minutos e, pronto, vi a Tamires que saia com
uma criança nos braços, de uns 11 meses, que
vinha da sala de procedimento indo em direção
ao quarto de lactentes, ao lado do posto, foi
(Andanças 1) (continua)
Figura nº.8 – estacionamento 2
possível vê-la colocando a criança no berço, pois essa ala dos bebês tem janelas de
vidro transparente que permitem visualizar tudo lá dentro e vice-versa (Andanças 1).
Ela conversou um pouco comigo, perguntando-me em que ela podia me ajudar e, se
possível, o que eu também poderia contribuir e sorriu. Parou no corredor e pediu que
eu falasse que ela aguardaria, sem problema algum. Falei sucintamente do meu
objetivo, que eu já havia ido às demais chefias de enfermagem. Ela se interessou
dizendo que estaria à disposição para o que eu precisasse para a efetivação de minha
pesquisa de campo. Pediu licença apenas para lavar as suas mãos. Frisei que
inicialmente estaria realizando uma conversa com a equipe, para verificar se na
equipe dela haveria alguma interessada. Sugeri uma apresentação em Power Point
no posto de enfermagem mesmo. Entretanto, ela disse que seria melhor individual e
durante o horário próximo do almoço, pois era um dia atípico, teve que puncionar
duas crianças lactentes com acesso venoso muito difícil e que demandou metade de
sua manhã, e, nesse dia, ainda, havia alunos de enfermagem, crianças internando,
alegou estar muito corrido. Comentou comigo de como estava o funcionamento do
cuidado: seguem uma escala mensal, que contém 3 equipes diurnas e 3 noturnas,
carga horária é de 12 por 60 recentemente implantada [...] falou que há enfermeiros
visitadores, enfermeiros que circulam, esses ajudam quando vão à clinica, há uma
enfermeira voluntária [...] Após sua explanação, aceitei a proposta de realizar a
conversa individual ou em dupla, conforme fossem ficando com um tempo livre.
Estratégia que passei a utilizar com as demais equipes (diurno ou noturno)
(Andanças 1).
133
Segundo P.Spink (2003), o pesquisador não sai a campo, pois o campo não é um lugar
específico, delineado, separado, distante, ou seja, o campo compreende os produtos sociais e
suas relações, são composições de materialidades e sociabilidades que se interconectam das
mais diversas formas e maneiras. Por isso acreditamos que a pesquisa já estava se compondo
há mais tempo, e constatamos que seus eventos, a posteriori, já na pediatria, transitaram,
movimentaram-se e não se restringiram apenas à ala da Brinquedoteca e à sala de Informática
e Cidadania ou enfermarias, mas já se construía nas conversas, nos estudos realizados, nos
lugares onde esteve a pesquisadora, sempre a pensar nas Tecnologias do Cuidado encontradas
na pediatria.
Na pediatria andamos por todos os lugares, com o intuito de nos deparar com os
efeitos produzidos pelos computadores cuidadores que habitam esta ala de internação.
Quem diria que uma pesquisa sobre computadores moradores e visitantes de uma
pediatria, assim como sobre a diversidade de objetos que a eles se arranjam, aleatória ou
intencionalmente, revelariam múltiplas espacialidades do cuidado! Quem diria que descrever
conjugações incoerentes de objetos sociotécnicos traria a tona vibrantes momentos em que há
modulação de afetos! Surpresos quanto a essas possibilidades? De certo modo, sim. Não pelas
possibilidades de arranjos em si, pois a literatura em sociomaterialidades e sobre tecnociência
já nos anunciava sobre tal acontecimento, mas por presenciar in locu conexões inéditas se
fazendo, se dizendo na prática. Aparentemente sutis, delicadas, mas ao se conectarem,
tornaram-se fortes, intensas, sendo capazes de imprimir novas ambiências e produzir
modulação de afetos. Enfim, efeitos que se revelam como cuidado.
Andando pela pediatria encontramos 18 computadores que estão distribuídos por
diversos locais, com funções específicas. Específicas? É o que se esperava em princípio,
entretanto, notamos que essas especificidades são múltiplas, transcendendo as funções iniciais
para as quais os computadores foram atribuídos. Estes que são da pediatria ficaram intitulados
de ―moradores‖ ou ―visitantes‖. De todos os computadores que visitamos, escolhemos apenas
alguns, por conta da intensidade das relações que estabelecemos com tais computadores
portáteis, assim como por nos depararmos com instantes em que sinalizaram como
coparticipes de Tecnologias do Cuidado.
Quais seriam os computadores moradores? Como entender os computadores como
actantes que habitam, que moram em algum lugar, o que seria isso? Em princípio os
134
identificamos como computadores que são patrimônio do hospital. Estes foram encontrados
na sala de repouso da enfermagem, no posto de enfermagem, na sala de prescrição médica, no
laboratório de informática, ou deslocados desse local para as mesas da brinquedoteca e para as
camas ou poltronas do quarto-enfermaria (os Netbooks). Porém, enfatizamos nossos estudos
em uma das enfermarias e, obviamente, na brinquedoteca e no Laboratório de Informática. E
o foco de nosso estudo foram os efeitos (espacialidades, modulações de afetos e Humanização
em Saúde por artefatualidades) produzidos pelos computadores que moram na brinquedoteca,
na sala de informática, assim como os Netbooks que visitam as enfermarias da pediatria.
4. 1. Desenhos praxiográficos
Os Desenhos Praxiográficos são composições topológicas de cuidado, ou melhor, são
aproximações ou interligações entre os diversos espaços da pediatria com as habitações dos
computadores via interpelações (exigências) da relação computador-criança. Cada Desenho
Praxiográfico revela que não são apenas os computadores as entidades em actância, mas todas
com as quais estes se relacionam, tendo como efeitos as reordenações de espacialidades e
modulação de afetos, que, por fim, são contribuintes da Promoção em Saúde daqueles que
utilizam o computador. Portanto, nossos desenhos praxiográficos se enfocaram nos lugares
onde encontramos os computadores (fixos ou portáteis) relacionando-se com crianças
hospitalizadas. Em destaque, temos os da brinquedoteca, da sala de informática e da
enfermaria 105, que não configuram plantas de arquiteturas. Enfatizamos que nossos
desenhos praxiográficos acabam não dando conta de algumas entidades, que, devido às
interpelações da relação computador-criança, se mostram transpondo os muros do Hospital
Escola.
Na Brinquedoteca, temos um desenho praxiográfico (Figura nº. 9), no qual a topologia
constituída é proveniente da interpelação de computadores do Laboratório de Informática
adjuntos aos brinquedos e demais objetos que ali moram ou visitam. O acesso aos diversos
objetos da pediatria, ou ainda, aos lugares da pediatria onde se encontram, acontece por meio
das exigências dos computadores fixos ou portáteis (desinfecção, limpeza, adentrar ao local
com sapatilhas, realizar flexões corporais para colocar as sapatilhas ou testar a fiação de
computadores que ficam embaixo das bancadas, lavagem das mãos ou fricção com álcool,
135
realização de curso básico de informática na Universidade, são algumas das exigências
declaradas). Temos então objetos sociotécnicos transitando pela pediatria, a princípio, por
causa de computadores que cuidam de crianças hospitalizadas. Conforme citado
anteriormente, há computadores fixos assim como portáteis na brinquedoteca, entretanto, este
desenho praxiográfico é resultado das actâncias adjuntas aos computadores reclusos.
O desenho praxiográfico da brinquedoteca nos permite exercitar a montagem de uma
coerência proveniente das mess (LAW, 2004) dos computadores fixos. E, apesar das
espacialidades, em um determinado instante, serem provenientes de actâncias dos
computadores reclusos, os demais brinquedos e objetos que se conectam aos computadores,
conforme as interpelações (exigências) junto às crianças hospitalizadas, não ficam
dependentes dos computadores fixos para agir, não competem com os computadores para se
destacar ou parecerem relevantes, melhor que isso, eles aparecem como adições que
contribuem para configurar topologias do cuidado.
Vejamos o desenho praxiográfico da brinquedoteca:
Figura nº.9– desenho praxiográfico da brinquedoteca
A todo instante, como indicado no desenho praxiográfico referente às interpelações de
computadores reclusos (fixos) e crianças, temos objetos, como propés e tapete, conectando o
136
refeitório à brinquedoteca, à sala de informática. A rouparia se liga aos computadores via
coero, flanela. E, dentro da própria brinquedoteca, há objetos que, a princípio, não tem nada a
ver com os computadores, mas que logo passam a atuar, a contribuir para o cuidado
proporcionado pelos computadores. Na brinquedoteca encontramos objetos, cadeiras, ar
condicionados, que acabam fazendo parte dos arranjos de cuidado desencadeados pelos
computadores. São copartícepes, por isso fazem parte deste desenho praxiográfico.
Quanto ao desenho praxiográfico do Laboratório de Informática (Figura nº 10), ficou
configurado conforme as interpelações de computadores reclusos, simétrico ao desenho
praxiográfico da brinquedoteca; uma vez que ambos descrevem o atravessamento do corredor,
visitam a sala de materiais e equipamentos, necessitam passar pelo posto de enfermagem,
adentrar algumas vezes nas enfermarias, ir até à rouparia, encontram-se na flexão do corpo no
refeitório, aparecem no deslocamento de compressas, inseridos no álcool 70%, no molho de
chaves, propés, hampers. Lembrando que tais interpelações transpuseram os muros do
hospital, como foi o caso da necessidade da recreadora fazer um curso básico de informática
para contribuir com a efetivação da relação computador-criança hospitalizada. Assim como
flagramos a necessidade de manutenção da Internet pelo pessoal do Central de Processamento
de dados (CPD) do Hospital Escola. É constante a participação de pais e educadores no
laboratório de informática.
Vejamos o desenho praxiográfico da sala de informática:
Figura nº. 10 – desenho praxiográfico do Laboratório de Informática
137
O desenho praxiográfico mostra que as articulações incitadas pelos computadores
reclusos à sala de informática, apesar de se deslocarem momentaneamente a brinquedoteca e
seus objetos à posição de colaboradores, assim como acontece no desenho praxiográfico da
brinquedoteca, permanecem declarantes [enacts]. Dentro do laboratório de informática, os
computadores fixos interagem com uma almotolia41 de alcool 70% que já se encontrava no
local. Juntos com as cadeiras, encontramos-os provocando interferências na relação entre
criança e computador, assim como na de pai e computador (esta relação também foi flagrada),
fones de ouvido, armários, informativos no quadro mural, além de objetos visitantes como
Notebook, celular, gravador digital. Todos cúmplices do cuidado das crianças hospitalizadas.
Por último, temos o desenho praxiográfico da Enfermaria 105 (Figura nº 11), por onde
os computadores portáteis se deslocam. Como ênfase, há conexões estabelecidas entre estes e
o refeitório das crianças, a brinquedoteca, o jardim de inverno, a sala de materiais e
equipamentos, assim como o Laboratório de informática da pediatria. São as interpelações da
relação computador-criança que ativam a cada instante conexões com determinados objetos,
sendo tais interligações as responsáveis pela topografia de cuidado proporcionada pelos
Netbooks.
A seguir, o desenho praxiográfico da enfermaria:
Figura nº. 11 – desenho praxiográfico da Enfermaria.
41
Recipiente para armazenamento de álcool a 70% (gel, líquido); antissépticos com sabão ou sem sabão, às
vezes para veselina. Possui um bico fino que se conecta ao corpo do recipiente após esse ser girado/roqueado.
138
Dentro da enfermaria, os Netbooks, ao se relacionarem com as crianças em repouso
sobre o leito, interpelam conexões entre elementos não hospitalares e hospitalares. Cama,
boneco de pano (Ben 10), extensão de borracha, almotolia com álcool, pendrive com
joguinhos, hampers configuram topologias de cuidado na enfermaria. Por isso, muitos desses
aparecem no desenho praxiográfico da enfermaria. O intuito foi grafar apenas aquele
momento, haja vista que outros poderão acontecer, porém, de modos diferenciados.
139
CAPÍTULO 5
COMPUTADORES QUE CUIDAM I: A BRINQUEDOTECA
O mouse e mãos transpiram diversão. Não se importam com o cateter
sobre agulha salinizado e a tala de PVC.
140
Na pediatria, para termos acesso aos espaços da Brinquedoteca, foi necessário
percorrermos primeiramente um corredor de extensão mediana; o qual nos presenteou com
configurações de ambiências concomitantemente silenciosas e ruidosas ou uma mais
proeminente, por alguns instantes, que a outra. As quais dificilmente configuraram
ambiências estáticas. Haja vista que nos levou à configuração de flashes de cuidado nas
enfermarias, na sala de procedimento, dentro da sala de equipamentos e materiais, na
rouparia, na sala de repouso da enfermagem, inserido no posto de enfermagem, na sala de
repouso dos técnicos de enfermagem, dentro do expurgo, assim como no refeitório das
crianças e, por fim, na Brinquedoteca.
Neste capítulo, especificamente,
mostraremos alguns efeitos de cuidado
produzidos
pelos
computadores
que
habitam a brinquedoteca de nosso estudo.
A princípio faremos uma breve descrição
da brinquedoteca onde os computadores e
demais brinquedos moram.
Figura nº. 12 – porta de vidro (visão da
Brinquedoteca).
Após o refeitório há uma porta de
vidro (Figura nº.12 e 13) que abre
bilateralmente. A porta tem informativos
do tipo: ―Tire os sapatos!‖ e ―É proibido
entrar com alimentos‖.
A brinquedoteca é um amplo
espaço com ar climatizado através de dois
Figura nº. 13 – porta de vidro (visão do refeitório).
aparelhos de ar condicionado, iluminação
com 10 lâmpadas fluorescentes no teto e a coloração da parede da brinquedoteca alterna
amarelo, branco e vermelho. O local possui brinquedos de todos os tipos, tamanhos, formas,
materiais, textura, coloração. A maior parte dos brinquedos é de plástico, o que permite
141
lavagem com sabão e água, e há alguns eletrônicos que possibilitam desinfecção42 com álcool
a 70%43. Há também os artesanais,44 que são brinquedos para as crianças levarem para casa;
porém, não podem ser comunitários, por não permitirem lavagem e por ser impossível realizar
desinfecção com álcool a 70%.
A brinquedoteca tem um cercadinho colorido à esquerda da porta de vidro, onde se
encontra um tatame (colchonete) para as crianças menores brincarem com bolas. Nesse
cercado há uma barraca com uma face de cachorro, que contém bolas coloridas (Figura nº.
15). O cercado é colorido de azul e vermelho. Ao lado dele (esquerda) há uma janela
transparente com grades que possibilita a visualização tanto do quarto 107 quanto da
brinquedoteca. Em frente à janela tem uma pia (Figura nº. 14) com um ejetor de sabão líquido
e um porta-toalhas de papel fixado à parede, que está ao lado da torneira. A parede dessa pia
compreende um dos banheiros da brinquedoteca.
42
Desinfecção, limpeza, lavagem e antissepsia: são procedimentos médico-cirúrgicos distintos. Desinfecção
compreende retirada de organismos infecciosos do tipo que estejam sobre objetos, equipamentos, aparatos
não/humanos em geral. Limpeza é um modo mais brando de retirada de organismos infecciosos de aparatos
não/humanos, bem como de superfície humana. Lavagem, água corrente associada a algum produto emoliente
(sabão neutro, clorexidina 2%, hipoclorito, degermante 1% iodo). Denomina-se antissepsia ao conjunto de
medidas empregadas com a finalidade de destruir ou inibir o crescimento de microrganismos existentes nas
camadas superficiais (microbiota transitória) e profundas (microbiota residente) da pele e de mucosas, pela
aplicação de agentes germicidas, classificados como antissépticos. Geralmente utiliza-se álcool 70%, PVPI (iodo
tópico ou degermante), ainda clorexidina 2%, etc. (OPPERMANN, 2003).
43
Alcool 70%: é um desinfetante importante para o ambiente assistencial e um antisséptico excepcional, por
possuir características microbicidas direcionadas aos microrganismos mais frequentes neste meio, possui fácil
aplicabilidade, baixo custo e reduzida toxicidade. Produto que também aparece em textura gel. O álcool é
classificado como desinfetante de nível intermediário e devido à praticidade de uso, é encorajada a sua aplicação
na desinfecção de superfícies de mobiliários e equipamentos, termômetros, 16 diafragmas e olivas de
estetoscópios, bandejas de medicação, ampolas e frascos de medicamentos, fibra óptica de endoscópios. O uso
do álcool na desinfecção de mesas cirúrgicas e demais equipamentos pode reduzir o tempo de espera entre um
procedimento e outro. O álcool etílico e o isopropílico possuem atividade contra bactérias na forma vegetativa,
vírus envelopados (p.ex.: vírus causadores da influenza, das hepatites B e C, e da SIDA), microbactérias e
fungos. Não apresentam ação contra esporos e vírus não envelopados (p.ex.: vírus da hepatite A e Rinovírus),
caracterizando-se como desinfetante e antisséptico, porém sem propriedade esterilizante. Em geral, o álcool
isopropílico é considerado mais eficaz contra bactérias, enquanto o álcool etílico é mais potente contra vírus
(OPPERMANN, 2003).
44
Seria um tipo de low-tech, ou ainda, “brinquedos confeccionados” a partir de atividades propostas pela
recreadora. As crianças podem levar para casa, porque muitas vezes são brinquedos oriundos de papelão,
colagens, amarração de barbantes, sendo assim, inapropriados para uso coletivo, haja vista, que não permitem
lavagem ou desinfeção antes de outra criança utilizá-lo.
142
Figura nº. 14 – pia da brinquedoteca.
Figura nº. 15 – cercadinho e barraca.
Há dois banheiros, ambos contêm pia, vaso sanitário e chuveiro. Em um dos banheiros
está guardada a mangueira para lavagem dos brinquedos. No centro da brinquedoteca, temos
uma ala livre, mas que pode ser montada com blocos de puffs, tornando-se um local para
deitar ou sentar. Cada puff em bloco é de uma coloração (verde, laranja, azul, rosa, vermelho)
(Figura nº. 16).
Uma das paredes da brinquedoteca
tem janelas de vidro transparente em
formato circular que permitem visualizar o
lado de fora da pediatria, desse modo, os
passantes
veem
o
interior
da
brinquedoteca. Nessa parede há duas
estantes, uma maior e uma menor, onde
ficam
diversos
brinquedos,
entre
carrinhos, jogos de tabuleiro, peças de
montar, pega vareta, bonecas de todos os
tipos e tamanhos.
Figura nº. 16 – puffs em bloco.
143
Figura nº 17 – televisão 1 e criança deitada.
Figura nº. 18 – televisão 2 e videogame.
Existem
duas
televisões
na
brinquedoteca (Figura nº 17 e 18), cada uma
em um canto, uma específica para assistir o
que passa na televisão conectada a um
aparelho DVD (Figura nº. 19) e a outra apenas
para o videogame.
Figura nº. 19 – aparelho de DVD e Rádio.
A brinquedoteca também possui
caixas (Figura nº. 20) de madeira, de
coloração branca, montadas para guardar
brinquedos maiores. Localizam-se entre as
estantes de brinquedos.
Figura nº. 20 – caixa de brinquedos.
Há uma pequena estante de livros e
revistas (Figura nº 21) para leituras referentes
à literatura infantil ou a artesanato, revistas
sobre novelas ou programas de televisão e
revistas informativas.
Figura nº. 21 – estante de livros.
144
A brinquedoteca conta com duas salas para atividades específicas. Uma delas para as
atividades e práticas da Classe Hospitalar45, onde há cadeiras coloridas e mesinhas para
estudos. Possui climatização com ar condicionado, assim como a ala maior da brinquedoteca.
Há uma janela transparente em formato circular, com algumas gravuras coladas com o intuito
de trazer informações sobre o alfabeto para as crianças e diminuir a visão para o lado de fora e
vice-versa.
Já a sala do Laboratório de
Informática (Figura nº. 22) tem uma porta
de
vidro
transparente
com
abertura
bilateral, e no local encontram-se 8
computadores ligados à rede de internet.
Há também cadeiras coloridas e com
rodas para cada computador e duas sem
rodas, para quem está como educador se
Figura nº 22 – Laboratório de Informática.
sentar.
Encontra-se na sala armários para
guardar os materiais do Programa Cuidar
Brincando,
como
também
um
pequeno
cercado onde se coloca brinquedos novos e um
balde
grande
(Figura
nº
23)
para
armazenamento de brinquedos sujos.
Figura nº 23 – depósito de brinquedos sujos.
45
A criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que crianças
hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, também
têm necessidades educativas. Por isso Classe Hospitalar se refere ao acompanhamento do currículo escolar da
criança no hospital (BRASIL, 1994). Entre os 20 itens que se referem aos Direitos da Criança e do Adolescente
Hospitalizados encontra-se o de no 9, o qual preconiza: Direito a desfrutar de alguma forma de recreação,
programa de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar
(BRASIL, 1995).
145
O Laboratório possui um quadro
mural (Figura nº. 24) numa de suas paredes,
no qual pode se fixar pinturas realizadas
pelas crianças e alguns informativos e
recados
da
equipe
do
Programa
de
Extensão. Há álcool a 70% e compressas
que os educadores pegam na enfermaria
para
a
limpeza
e
desinfecção
dos
computadores.
Figuras nº. 24 – quadros murais do Laboratório
de informática.
No jardim de inverno (Figuras nº.
25 e 26) tem uma área azulejada onde
ficam o escorregador e alguns cavalinhos
de balanço, todos de plástico. Na parte
não azulejada, o jardim de inverno em si,
há uma armação de madeira com dois
balanços coloridos de plásticos, fixados
com cabo tipo corda.
Figura nº. 25 – jardim de inverno (visão superior).
Há algumas plantas, gramíneas,
sob a área dos balanços. A área externa é
visível
para
brinquedoteca
a
por
parte
conta
interna
das
da
portas
também serem de vidro e de abertura
bilateral. Na ala externa é possível ver a
movimentação
de
pessoas
saindo
e
entrando por conta de ser cercada com
gradeado. É possível visualizar os quartos
dos lactentes por causa de suas janelas,
.
entretanto, apenas quando estas ficam a-
Figura nº. 26 – jardim de inverno (solo).
146
bertas, porque não são transparentes
Portanto, a brinquedoteca possui topologias distintas, ou seja, espaços previamente
organizados para cada tipo de brinquedo. Possuem estantes para que alguns brinquedos
fiquem a mostra, mas também para proporcionar acesso fácil para as crianças e seus
acompanhantes.
No espaço da estante de brinquedos
(Figura
nº.
27)
encontram-se
bonecas,
carrinhos, jogos de tabuleiro, pega-vareta,
casinhas, algumas tupperware (vasilhames de
plástico) contendo blocos de montar de
inúmeros tamanhos, assim por diante, como já
comentado anteriormente. Os quais podem ser
espalhados
Figura nº 27 – estante de brinquedos.
pelas
crianças,
ou
melhor,
organizados a maneira delas.
Os brinquedos podem ser utilizados pelos educadores do Programa Cuidar Brincando,
pela recreadora ou qualquer profissional (fisioterapia, psicologia, equipe de enfermagem,
nutrição, etc.) ligado à pediatria, mesmo que não vinculado às atividades de extensão do
Programa, mas interessado em realizar alguma atividade com as crianças e os acompanhantes.
E para alguns brinquedos maiores,
digamos aqueles que ocupam espaços que
superariam os oferecidos pelas gazelas das
estantes, a brinquedoteca tem um espaço
específico. Trata-se de um tipo de baú de
madeira (Figura nº 28) que não tem tampa,
ou como nomeado anteriormente, caixas
grandes, que as crianças podem a qualquer
instante ter acesso aos brinquedos maiores
utilizando a sua própria força ou com
Figura nº. 28 – baú de madeira para brinquedos.
147
ajuda para fabricar o seu espaço de brincadeiras (LOPES & VASCONCELLOS, 2006). As
crianças podem ser ajudadas por um adulto (acompanhantes, recreadora, acadêmicos do
Programa de Extensão, equipe da clínica), ou ainda, por outra criança.
Agora nos ocuparemos dos computadores do Laboratório de Informática e Cidadania
e seus efeitos sociotécnicos de cuidado. Afinal, o que fazem dos computadores do Laboratório
de Informática e Cidadania cuidadores? São as interferências que promovem.
A partir de uma atividade de
informática e cidadania (Figura nº. 29),
notamos que há uma exigência de que os
computadores
diversidade
se
de
relacionem
entidades
da
com
uma
pediatria,
independente de sua localização topológica. E,
em decorrência dessa interpelação (exigência),
temos como efeitos
espacialidades
Figura nº. 29 – atividade de informática e
cidadania.
do
a
tipo:
conformação de
biossegurança;
ergonômica; controle; companhia e entrete-
nimento; organizacional; entrelaçamento de tempo e espaço. Além destas, há efeitos de
modulação de afetos, do tipo: contentamento, descontentamento e motivação. Assim
como efeitos de Humanização em saúde por artefatualidades: acolhimento, autonomia,
protagonismo e corresponsabilidade.
5.1. Espacialidades
Basta ativar os computadores da sala de informática para uma atividade prática, que
uma multiplicidade de vínculos transformadores se desencadeia. Por esse motivo
computadores que cuidam interpelam que educadores se dirijam à rouparia ou à sala de
148
equipamentos para obter materiais para realizar desinfecção (compressa, aventais, flanelas,
coeros e álcool a 70%), demandam a todos que os procurem, que, ao passarem pelo refeitório,
antes de entrarem na brinquedoteca, assim como no Laboratório de Informática e Cidadania,
retirem os calçados, coloquem propés (sapatilhas de pano) ou andem descalços pela
brinquedoteca e pela sala de informática e cidadania.
Na porta do refeitório há fixados, como já descrito no início das reflexões, lembretes
concernentes a não comer na ala da brinquedoteca e dos computadores. Assim, a própria porta
de vidro que fica entre o refeitório e a brinquedoteca passa a exercer função de estandarte para
avisos. Ainda no refeitório, em um de seus ―cantos‖, há um espaço (uma estante) para
armazenamento de propés limpos e sujos, com repartições para guardar sapatos, chinelos,
sandálias ou qualquer tipo de calçados dos interessados em entrar na brinquedoteca.
Já na entrada da brinquedoteca,
além dos cartazes, topamos com um tapete
(às vezes encontramos um de coloração
verde e marrom, outros dias encontramos
outro de coloração laranja e preto) com o
anúncio ―tire os sapatos‖ (Figura nº. 30).
Ou seja, o tapete tem outra função além de
limpar
a
sola
dos
sapatos,
como
comumente esperado.
Figura nº.30 – tapete da brinquedoteca.
Portanto, estar na brinquedoteca, assim como participar das práticas de informática
nos computadores, compreende conjugar uma ambiência harmoniosa, livre de infecção
hospitalar. Sendo assim, temos uma espacialidade de biossegurança 46 como efeito que
demarca os lugares por onde andam os arranjos dos computadores, ao passo que torna a sala
de informática segura e habitável, via objetos sociotécnicos, como tapete, propés, canto de
estante, anúncio na porta de vidro (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009).
46
O que seria biossegurança? Trata-se de um conjunto de medidas necessárias para a manipulação adequada de
agentes biológicos, químicos, genéticos, físicos (elementos radioativos, eletricidade, equipamentos quentes ou de
pressão, instrumentos de corte ou pontiagudos, vidrarias) dentre outros, para prevenir a ocorrência de acidentes e
consequentemente reduzir os riscos inerentes às atividades desenvolvidas, bem como proteger a comunidade e o
ambiente e os experimentos (OPPERMANN, 2003).
149
Os arranjos dos computadores encontram-se distribuídos pela pediatria. São
congregações de objetos diversos, os quais se deslocam de diferentes lugares para
colaborarem tanto para a limpeza e desinfecção dos computadores da Sala de Informática e
Cidadania quanto ao preparo do ambiente para as atividades, assim como para a manutenção
das máquinas durante e após as práticas. E, cada um desses objetos, como são actantes,
promovem interpelações próprias, e, mesmo colaborando com os ―Computadores moradores
do Laboratório de informática e cidadania‖, possuem as suas exigências particulares, mas, de
certa maneira, acabam alinhando-se por adição, mesmo que temporariamente discrepantes.
Isto é, uma das partes prevalece por um breve momento, neste caso, favorecendo a
espacialidade de biossegurança dos computadores que cuidam diante dos riscos de infecção
hospitalar (MOL, 2002a; LAW & MOL, 2001).
Sendo assim, temos compressas de ontologia múltipla (MOL, 2007), que uma vez
processadas na Central de Materiais de Esterilização (CME) são confeccionadas para limpar
feridas estéreis ou para ocluir feridas de grandes extensões, estejam tais feridas limpas ou
contaminadas. Em caso de compressas limpas, não estéreis, são bastante utilizadas para
auxiliar no banho, e acabam sendo usadas, também, como toalhas para limpeza e desinfecção
de mobílias hospitalares.
Para os computadores do laboratório é preciso procurar por
compressas limpas ou por trapos na lavanderia. Ou seja, exige-se do educador e da recreadora,
noções básicas sobre onde localizar as ―coisas‖ no hospital, assim como ter alguma noção de
biossegurança hospitalar para atuarem junto aos computadores, já que estamos falando de
efeitos de espacialidades do tipo biossegurança.
Os propés (Figuras nº 31, 32 e 33) são
outra
entidade
multifacetada.
Essas
sapatilhas, assim como os computadores,
devem
ser
espacialidade
encaradas
de
como
uma
biossegurança. Os
propés trazem consigo singularidades,
como por exemplo, a de compreender a
necessidade de obtê-los na rouparia ou
Figura nº 31 – propés nos pés de estudantes
150
lavanderia do hospital (nos dias em que estivemos na pediatria, sempre os encontramos). Não
houve necessidades de buscá-los.
Os propés da brinquedoteca são de
coloração vermelha. Além disso, exigem
constantemente do corpo de quem os coloca ou
os tira, pois obriga quem os usa a abaixar-se
para executar tais tarefas. E as flexões não
cessam, porque ao se sentar numa das cadeiras
do refeitório, abre-se para novas interpelações,
como a do uso ou não de uma cadeira do refeiFigura nº 32 – propés e calçados na estante
tório, ou de se agachar para calçá-los, bem como para retirá-los.
Ao final da utilização, tanto dos propés quanto das compressas, há necessidade de
descarte no hamper47 das enfermarias. E, a seguir, lavagens das mãos ou fricção com álcool
70%. Temos, portanto, um efeito de espacialidade do tipo biossegurança confluindo com
efeito de espacialidade do tipo ergonômica48. Este último leva o primeiro a ficar em risco,
visto que fica no limiar para ser desrespeitado, já que toma tempo, exige flexões corporais.
Assim como se exige lavagem das mãos após manipular sapatos e os pés descalços para entrar
ou sair da brinquedoteca. Na verdade, você toca os seus pés quando tira os sapatos. Pés que
estão sujos e são manipulados pelo toque.
47
Armazenador de panos sujos, contaminados. São de pano (vermelho), possui uma armação de ferro, tem
rodinhas para deslocamento.
48
Sobre ergonomia: estudo científico dos problemas relativos ao trabalho humano, e que devem ser levados em
conta na projeção de máquinas, equipamentos e ambiente de trabalho (HOUAISS, 2009).
151
Ao olhar para o armário de propés, percebo que
têm alguns deles já usados espalhados na parte de baixo
(nas gazelas inferiores do armário). Na parte superior
encontrei dois sacos de propés abertos, estes limpos sem
uso. Peguei um par. Tive que colocar minha mochila e meu
chapéu que estavam em minhas mãos na parte superior do
armário de propés e sapatos para, mais uma vez, me sentar
e colocar os propés sobre os meus tênis que estava
calçando. Com propés adentrei com meu material na
brinquedoteca. Atrás de mim vem entrando um pai com o
seu filho. Pai retirando o calçado do filho, a seguir,
colocando propés em seus próprios pés, entrou na
brinquedoteca. Nesse dia, a sala de informática pela manhã
estava fechada. Resolvi pegar as chaves para abrir a sala, a
princípio para guardar meus materiais, como também tinha
em mente fazer uma observação participativa, ou seja,
realizar uma atividade no computador com crianças no
laboratório de informática. (Andanças 15).
Figura nº. 33 – propés e calçados
(estante do refeitório).
No que se refere às almotolias de
álcool 70% (Figura nº.34), uma delas até
pode ficar na sala de informáticas e
cidadania. Entretanto, exige data de
validade para a sua constante troca a cada
sete dias e quem deve realizar isso,
necessariamente, são pessoas da equipe de
enfermagem,
ou
ainda,
a
pessoa
encarregada pela limpeza de móveis do
hospital, a secretária do posto de
Figura nº. 34 – almotolia.
enfermagem da pediatria ou a recreadora e acadêmicos do Programa de Extensão. Enfim,
pessoas da clínica que têm habilidades para manejo de transferência de álcool do reservatório
maior para as almotolias. Estas, segundo a responsável da limpeza de móveis da pediatria,
―são levadas, semanalmente, para o CME para realização de esterilização‖ (Andanças 8 Angelina).
Em se tratando de aventais para acompanhantes (pessoas visitantes), a pediatria os
disponibiliza.
As peças ficam armazenadas na rouparia da clínica. Geralmente, são de
coloração azul ou estampada, e os acompanhantes e visitantes são incentivados a utilizá-los, já
que são um modo de reduzir o translado de infecção de fora para dentro do hospital e viceversa. Os aventais são de pano, sendo descartados no hamper ao final do dia ou quando
152
apresentam sujidade. Do mesmo modo, é necessário o uso do material pelos pais e
acompanhantes no Laboratório de Informática.
Compressas, propés, almotolias, aventais são alguns dos elementos heterogêneos
convocados a todo instante para a composição de espacialidades do tipo biossegurança,
enquanto há translado pela brinquedoteca, quando se realiza práticas nos computadores e
ocorre movimentação na sala de informática.
Não bastando, os computadores necessitam de desinfecção constantemente, antes e
depois de sua utilização. Há que se lembrar, inclusive, das bancadas, das cadeiras, assim como
de todas as minúcias periféricas que o compõe (fone de ouvido, caixa de som, teclado,
mouse).
Em decorrência da distribuição topológica das entidades responsáveis pela conjugação
de uma espacialidade do tipo biossegurança, notamos que ocorre um atrelamento a uma
espacialidade do tipo organizacional (LAW, 1992), na medida em que todo o processo de
preparo, manutenção e fechamento da sala exigem que o educador ou recreadora, ou qualquer
pessoa autorizada, que acesse o ambiente, saiba onde localizar as coisas e com quem
conversar, para que, assim, as práticas de informática aconteçam.
Não se restringindo à limpeza e desinfecção dos lugares, deparamo-nos com a
espacialidade de controle. É preciso lembrar-se de uma constante exigência: quem pega as
chaves do laboratório não se relaciona apenas com as dificuldades de abrir a porta (tal tarefa
não é tão fácil assim), ela exige intensa aproximação dos dois lados das portas de vidro
transparentes, isso tanto para abri-la como para fechá-la. Entretanto, há outra dificuldade, ou
melhor, um cuidado: abrir a porta requer autorização. Porque a sala fica sob a
responsabilidade de apenas algumas pessoas, por isso, sua abertura fica restrita à recreadora,
educadores do Programa de Extensão ou por conta das enfermeiras da clínica, e com a
condição de ficar aberta somente no caso de haver acompanhamento de algum responsável ou
educador, não sendo possível a permanência de crianças sozinhas com os computadores. ―Os
brinquedos aparecem de várias formas, como carrinhos, jogos, bonecas, estes ficam na estante
(Figura nº 35), ou computadores que ficam na sala de informática. Estes ficam sobre a
responsabilidade da professora, da recreadora, dos alunos do Programa Cuidar Brincando‖
(Andanças 6 – Técnica de enfermagem Nina).
153
Figura nº 35 – brinquedos
(estante da brinquedoteca).
Figura nº 36 – computador (laboratório de Informática).
Os computadores, semelhantes ao da página anterior (Figura nº. 36), ainda se
articulam com outros objetos, moradores ou visitantes, como por exemplo: pendrives em geral
(porta memórias portáteis), cadernos, livros, notebook, netbooks, canetas, assim como uma
variedade de mãos que os manipulam, que podem ser manuseados pelas crianças,
educadores, acompanhantes, mas também pelo pessoal da enfermagem, da manutenção
predial, da Central de Processamento de Dados entre outros. Reúnem materialidades sociais
que vêm em visita ao hospital, outras provenientes da cibercultura, ou melhor, provenientes
da Internet, baixadas ou acessadas, compondo uma espacialidade de organizacional.
Os computadores dividem a moradia com informativos em papel e pinturas feitas à
mão que ficam anexadas no quadro mural do laboratório. Podemos também encontrar
brinquedos novos para reposições posteriores que, vez ou outra, dividem os espaços da
bancada dos computadores, por conta da constante organização e limpeza dos mesmos ou pela
simples retirada de teias de aranha ou de alguma traça que esteja insistindo em habitar o local
(com limpeza ou dedetização). Há momentos que interpelam com entidades que ficam fora da
pediatria, como foi o caso da necessidade da pesquisadora-educadora precisar ir ao setor
Central de Processamento de Dados (CPD) para desbloquear alguns sites para o projeto poder
atuar.
Estive com as meninas da escola de informática. Duas crianças em atividades
(entretenimento nos computadores). Fiquei com elas por alguns instantes,
conversamos. Aproveitei para verificar a situação das atividades e se tinha algum
problema para ser resolvido, comentaram que alguns sites estavam bloqueados,
como o Youtube e o Facebook e que tinham dois computadores que não estavam
conectando à Internet. Disse que verificaria o mais rápido possível a questão do
154
acesso à página do Youtube e Facebook na Central de Processamento de Dados
(CPD)49, a coordenadora do Programa de Extensão já havia comentado sobre esse
problema em reunião. Depois verificaria o problema da conexão (Andanças 10 –
descrições). [...] passei no setor administrativo, mais especificamente no setor CPD
para falar sobre a liberação de alguns sites que ainda estavam bloqueados na
brinquedoteca e que para as atividades seriam importantes enquanto manipulação
dos computadores (Andanças 16 - descrições). [...] compreenderam a necessidade de
acesso aos sites e que também acharam estranho o bloqueio, uma vez que já havia
recebido autorização para liberação, frente ao pedido da coordenadora do projeto de
informática da pediatria. Agradeci, reforçando para não esquecer de verificar isso
para o grupo, e caso necessitasse de outro pedido, o faria via sistema do hospital,
mas a pessoa com quem conversei disse que não haveria necessidade, pois já era
uma solicitação aceita (Andanças 16 – descrições).
Vale ressaltar que os computadores, ligados ou não à internet, configuram
espacialidades de companhia e entretenimento, pois podem ser utilizados por pais para
entretenimento e busca de informações na Internet sobre a doença de suas crianças, ou,
simplesmente, podem permanecer ao lado dos filhos. Como comentado, os arranjos que se
configuram compreendem muitos atuantes, denotando, desse modo, uma mescla do infantil
com o universo adulto (SARMENTO, 2005; TEDRUS, 1998; LEITE; GALINDO;
RODRIGUES, 2011).
Nos outros lugares visitados também notamos o universo infantil vinculado ao adulto,
contudo, materializando-se em prontuários, trabalhos científicos via planos de trabalhos, em
coloridos das paredes, nos objetos que enfeitam os locais. Enquanto que no laboratório
encontramos actâncias dos ―Computadores moradores do laboratório‖, aos quais as crianças
se vinculam sem ―reprensentes‖ ou ―porta-vozes‖ (LATOUR, 1994), do mesmo modo que na
brinquedoteca e enfermarias, espaços que visitamos e habitamos. Nessas ambientações os
―computadores moradores do laboratório‖ atuam como companheiros das crianças,
relacionando-se com elas por meio de atividades online (via Internet) ou não que envolvam
entretenimentos, assim como aulas planejadas pelos integrantes do Cuidar Brincando.
Diante do computador as crianças ―brincam‖ de poder tudo. O que Haraway (2009)
define como a possibilidade de realizar aquilo que de uma outra maneira poderia ser perigoso.
No caso de uma criança com condição crônica renal, há a possibilidade de brincar com jogos
que envolvam alimentação, nos quais ela pode ser um pizzaiolo (profissional que sabe fazer
muito bem pizzas), por exemplo, e escolher a quantidade de sal que quiser, ingerir a
49
Adição posterior nossa.
155
quantidade de gordura que desejar, assim como aprender um pouco mais sobre as
consequências reais de consumir essas ―proibições‖ no seu dia-a-dia.
Mãe brinca que seu filho não pode nem pensar em sal. Complementa dizendo que a
enfermeira Tamires falava para ele nem imaginar sal em sua comida, pois poderia
inchar. Lembra de um fato que ocorreu no laboratório de informática. Estava
brincando de fazer pizza a partir de um site online no computador. Dizendo que o
Matheus fez a pizza com tudo o que tinha direito e, sal, sem comentários, pizza com
o sal que ele quisesse (risos). Aí a enfermeira disse, ―olha só a pizza do Matheus,
lotada de sal‖. (risos). Completando: ―- você vai inchar desse jeito menino‖ (risos).
Ele deu uma gargalhada, dizendo que ali ele podia. (Andanças 8 – Mãe de Matheus).
Precisamos ressaltar que as atividades proporcionadas pelos educadores estiveram
abertas para a participação dos pais ou de qualquer outro acompanhante, pois é um direito,
assim como optar apenas por acompanhá-las. Não há problema algum na utilização dos
computadores pelos acompanhantes, na condição de não entrarem em sites inapropriados,
como já comentamos. A mãe de Matheus disse que pesquisou sobre medicamentos,
alimentação e a doença de seu filho.
Sempre diretamente com a enfermagem, medicina, mas também olhei na internet.
Sempre fui um pouco curiosa. Claro que já havia olhado na internet (no computador)
antes do tratamento, assustei, muita coisa não entendia, mas ao longo do tratamento,
e olhando novamente na internet (no computador da brinquedoteca, comenta ela
após a entrevista), já fazia sentido sim. Aprendi muita coisa no dia, e se eu não sei
muito, já estou muito próximo de saber sobre tudo do que o meu filho tem. E mesmo
sabendo que poderia ser algo que poderia me machucar, em especial para a gente
que é mãe, mas eu procurei saber, mesmo se eu fosse chorar eu ia atrás. (Andanças
12 – Mãe de Matheus).
A mãe de Matheus ainda comenta que as informações obtidas pela Internet, a
princípio, assustaram-na, já que não compreendia muitos dos termos médicos ligados à
Síndrome Nefrótica (doença renal crônica). Os dados coletados passaram a ser mais
proveitosos após convivência com a equipe da clínica e experiências cotidianas ao lado de seu
filho.
Sobre adultos e interpelações dos computadores do laboratório, temos outra
espacialidade do tipo companhia e entretenimento, os quais exigiram da recreadora noções
156
básicas de informática. Uma vez que trabalhando na brinquedoteca, após o desvio de função e
diante da constante procura das crianças para ter acesso aos computadores por meio dela, e
frente à inexistência de conhecimento sobre computador, a recreadora partiu em busca de um
curso de informática, para assim lidar com a tecnologia existente no laboratório. Após a
articulação dos computadores com a recreadora da pediatria, a moradia desses artefatos
computacionais foi transformada, haja vista que, a partir desta conexão, os saberes da
recreadora a respeito de informática contribuíram para uma melhor manipulação dos micros,
deixando a moradia dos computadores digna tanto para os próprios quanto para qualquer
aparato não/humanos, ou ―quanto para qualquer cidadão‖ (SARMENTO, 2007). Neste caso,
para as crianças, seus acompanhantes, bem como para a própria recreadora. ―De computação
eu fiz na Universidade, me matriculei no básico de informática‖ (Andanças 10 - recreadora).
Ainda sobre os ―Computadores moradores do laboratório‖, observamos o momento
em que a educadora passa a participar das atividades no Laboratório; tal experiência trouxe a
tona uma diversidade de objetos sociotécnicos que, em congregação com um dos
computadores do local, contribuiu para a configuração de Tecnologias do Cuidado no local
todo preparado para esse trabalho, pois que a configuração da educadora aconteceu dentro do
laboratório de informática.
E, através da relação Carlos e
computador (Figura nº. 37), ou ainda, em
meio às interferências da Tecnologia do
Cuidado confeccionada a partir desse
vínculo, foi possível notar como um dos
efeitos, a aceleração do tempo desta
criança de 8 anos de idade, cujo diagnóstico
médico
conclusivo
é
bronquite
obliterante, que o mantém há mais de uma
semana internado.
Figura nº. 37– Carlos e o computador
Temos, portanto, um entrelaçamento de tempo e espaço quando Carlos ―esquece‖ por um
tempo da doença, da hospitalização, deixando que o seu companheiro, o computador, brinque
com ele.
157
Durante a checagem dos computadores para verificar se estavam ou não ligados nas
tomadas, assim como em meio aos testes da internet, da verificação da vibração das caixas de
som e dos fones de ouvidos, temos uma espacialidade do tipo organização. Estando inclusa,
também, a averiguação das fiações que ficam abaixo das bancadas.
A educadora, com almotolia de álcool 70% que encontrou no local, teve que ir atrás de
compressas para realização da desinfecção do local. Ao conseguir as compressas realizou
desinfecção de todos os computadores, independente de todos serem ou não utilizados no dia.
Compressas limpas interagindo com mãos da educadora e álcool a 70%; a seguir, este
conjugado, agindo e se relacionando com as superfícies dos computadores e de seus
periféricos, realiza a limpeza das cadeiras. Nesse dia, o chão já havia sido desembaraçado da
sujeira pelo pessoal da limpeza. Acionando desse modo, concomitantemente, às
espacialidades do tipo organizacional e de biossegurança e às do tipo ergonômica, pois
mais uma vez notamos que são interpeladas flexões sobre o mobiliário, os computadores e as
cadeiras do recinto para desinfecção dos mesmos. Teve que se inclinar sobre as gavetas do
armário do Laboratório para ter acesso ao controle do ar-condicionado do local, assim como
manejar com seus dedos e punho o controle do ar-condicionado para manter a temperatura
agradável, já que a sala tem apenas a porta de vidro como entrada de ar. Mantive, assim, a
porta fechada.
Em meio a esse ―fazer‖, a educadora se conservou atenta a uma criança e seu pai,
possíveis educandos daquela manhã. E ao perceber que eles brincavam de futebol no jardim
de inverno, aguardou que interagissem com bola por mais tempo para, em seguida, chamá-los.
Ao entrarem na sala foi imediata a conexão entre criança e computador. Essa relação
possibilitou que mais uma atividade, assim como o jogo de futebol que efetivava com o pai e
a bola, compusesse efeitos de espacialidades do tipo entrelaçamento de tempo e espaço.
Nesse instante, a ―coordenação‖ passou para a relação entre computadores, criança e,
também, por conta da insistência da educadora, para o pai de Carlos. Até então, existia outro
arranjo sociotécnico do cuidado em atuação, onde a bola, o pai e a criança, por coordenação,
estavam alinhados se relacionando, que acabou rompido pela interferência do ―convite‖ para
participarem de uma atividade nos computadores.
Segundo Mol (2002a), a coordenação de entidades heterogêneas mobiliza uma noção
de ―social‖ no sentido que foge do comum da palavra, na medida em que não se restringe às
relações estabelecidas entre pessoas, instituições e a forma como elas funcionam ou a
158
sociedade e qualquer indício que tenha tendência a estar ligada a ordem social. Em vez disso,
trata-se de arranjos que contam sobre práticas e eventos. E, apesar de Carlos não perceber, por
alguns instantes, o computador prevaleceu. E foi por conta desse potencial para prevalecer,
que a educadora poupou o convite para a atividade no computador. Apesar de que o momento
configurado pela criança-pai-bola também era uma modalidade de Tecnologia do cuidado
relevante, pois declarou espacialidades do tipo companhia e entretenimento. Sendo assim,
a limpeza dos computadores, a organização da sala, como feituras para postergação de
atividade no computador foram interferências favoráveis para prolongar a relação composta
por Carlos, seu pai e a bola. Essa gerência do melhor momento para convidar Carlos e seu pai
para mexer no computador se refere a um efeito do tipo entrelaçamento de tempo e espaço.
Nota-se que há toda uma minúcia sociotécnica que em actância mostra-se promotora
de uma ambiência de entretenimento, que incentiva a presença e participação de seus
responsáveis tanto para apoiar e incentivar seus filhos a se relacionarem com o computador, a
se envolver com as atividades disponibilizadas pelo laboratório, assim como a utilizarem de
modo responsável os computadores ligados à rede da internet.
Nesse dia a sala de informática pela manhã estava fechada. Resolvi pegar as chaves
para abrir a sala, a princípio para guardar meus materiais, como também tinha em
mente fazer uma descrição participativa, ou seja, realizar uma atividade no
computador com as crianças no laboratório de informática. Deixei minhas coisas
sobre um pequeno armário que fica na brinquedoteca e fui até ao posto de
enfermagem ver a chave e avisar a enfermeira que eu estaria abrindo a sala de
informática para atividades com as crianças. Ao retornar, abri discretamente a sala,
sem perturbar a atenção de uma mãe que assistia DVD com sua filha, ambas
sentadas nos puffs da brinquedoteca e, no lado de fora, no jardim de inverno, pai e
filho brincando de bola (criança com punção salinizada no dorso da mão direita)
Decidi organizar o laboratório. Exercer a minha função de educadora no laboratório,
onde aquele maquinário exigia alguns cuidados. Ou seja, realizar desinfecção das
bancadas com álcool a 70% mesmo que nem todos os computadores fossem
utilizados. Realizado isso com a almotolia de álcool a 70% que encontrei no
laboratório, datada recentemente, menos uma semana de preenchimento. Atividades
no computador também exigiram desinfecção das cadeiras. Exigiram que eu ligasse
os computadores. Havia no mural do laboratório, a informação que dizia que dois
computadores não estavam conectando a rede, testei todos e verifiquei que havia
dois que não estavam realmente conectando a rede. Atividades no dia seriam mais
de entretenimento, procurei nos computadores por jogos instalados, acabei nem
mexendo com internet, esses foram instalados pelo pessoal da computação. Os testei
por alguns instantes. Entendi como funcionavam. Perceptível que eram
computadores novos. Deixei o ar condicionado ligado para manter temperatura
amena. Vendo que o menino brincava com o pai de bola, resolvi deixá-los
brincando. Aproveitei para abrir meu netbook para deixá-lo ligado - pretendia
repassar algumas fotos caso eu conseguisse tirar algumas de minha atividade.
Aguardei mais um tempo, aí sim, resolvi chamá-los, pai e a criança que jogavam
bola. O menino parou de jogar bola e veio com o pai no mesmo instante para a sala
159
de informática. Disse que poderia brincar no computador que tinha alguns jogos
interessantes para ele jogar. Ele quis. Era uma criança de 8 anos. Pedi para que
lavassem as mãos antes, aí pai e filho foram a pia lavar as mãos. As mãos pequenas
sobre mouse aparentemente feito para ele, pois era um mouse pequenino também. A
mão com o acesso salinizado, mão com tala de PVC movendo mouse. Perninhas e
pés descalços levitando quanto a distancia do chão, pois Carlos estava sentado numa
cadeira de escritório para pessoas maiores que ele. Era uma cadeira de escritório
colorida, de plástico, com rodinhas, e, de preferência, para os educadores se
sentarem. O pai estava querendo sair da sala, pedi que ficasse para brincar com o seu
filho. Ele disse que sim, mas disse que estava aguardando a mãe dele chegar, pois ia
trabalhar. Compreendi, mas disse para ele aproveitar um pouco com o filho dele ali
enquanto a mãe vinha. Ele consentiu acompanhando o seu filho. Logo me perguntou
se ele podia ligar e mexer num dos computadores. Disse que sim. Desde que não
acessasse sites com assuntos inapropriados. Ele compreendeu. (Andança 15 descrições). Não demora e a mãe do menino aparece. Deixei a família. Fiquei
mexendo no meu computador. Percebei que o pai do menino já estava quase saindo.
Cumprimentei a mãe. Conversei com ela. Ela revela que aquele lugar era tudo o que
o seu filho e seu esposo queriam para estarem (risos). Ela complementou dizendo
que eles jogam e brincam muito no computador que tem em casa, e se não é isso é
assistindo futebol (Andança 15 - descrições). O pai se despediu e saiu logo em
seguida. Pedi para que ele passasse álcool nas mãos antes de sair, este entendeu e
passou, saindo em seguida. Alertei e orientei a mãe sobre a conduta do uso do álcool
também, ela compreendeu. Fomos conversando. Perguntei para a mãe o que seu
filho tinha. A mãe comenta comigo que ele tem problema de pulmão, que fica com
muita falta de ar repentinamente – enquanto isso, Carlos brincava com os joguinhos
pedagógicos. Mouse e alguns dígitos do teclado manipulados por suas mãozinhas a
todo o momento, e, sonoridade saindo pelas caixinhas de som (Andança 15 descrições).
Os brinquedos da brinquedoteca, assim como a sala dos computadores, pedem muita
atenção, exigem do corpo de quem os manipulam. Não foi a toa que a enfermeira Tamires
comentou em entrevista que ―acadêmicos do Programa Cuidar Brincando são imprescindíveis
para o momento que a brinquedoteca está vivendo‖ (Andanças 14 – Enfermeira Tamires).
Estes, segundo ela, ―fazem parte de uma ação de Extensão e Pesquisa, fazem funcionar a
brinquedoteca, a sala dos computadores‖. O Programa Cuidar Brincando se vincula a
enfermagem e academia, atuando junto a uma equipe multiprofissional, buscando, desse
modo, congregar o pessoal que se reúne semanalmente nas terças-feiras, isto é com o pessoal
da medicina, serviço social, fisioterapia, nutrição. E, mesmo com a falta de uma (um)
psicóloga (o) específica (o) para o setor nesses últimos meses, Tamires revela que ―há alunos
de psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade, que participam das conversas em
reunião e procuram contribuir através de ações: acionando o conselho tutelar, aconselhando
pais, desenvolvendo atividades recreativas e pedagógicas com as crianças e seus familiares‖
(Andanças 14 – Enfermeira Tamires). Para o que dizemos, fundamentando-nos em Gane &
Haraway (2009), estão a fabricar espacialidades de organização a partir de uma Tecnologia
de Pensar.
160
A enfermeira Tamires complementa dizendo que ―na pediatria, as equipes são abertas,
sabem que estão trabalhando em um hospital escola e, por isso, sabem que estarão lidando
com alunos, tem conhecimento que haverá professor e seus alunos tentando colaborar com
estudos, com ações, como a do Programa Cuidar Brincando‖ (Andanças 14 – Enfermeira
Tamires).
Tamires diz que ela mesma tenta conciliar sua atuação no que considera lúdico com a
parte técnica, mas faz isso mais no final de semana, pois ao longo da semana a parte
administrativa toma muito tempo. Por isso, enfatiza que os acadêmicos são primordiais, são
soma. Mas há ações que não compete apenas aos alunos. Para ela, estes não estariam
realizando as atividades do Programa, como as atividades nos computadores ou casos que se
restrinjam à desinfecção dos brinquedos. Assim, Tamires alega que é necessária uma pessoa
específica para trabalhar no local. Ressalta também que há uma recreadora, mas por conta das
exigências do lugar e devido às condições de saúde dela, não consegue dar conta sozinha de
tudo.
[...] há momentos que não dá para você conciliar. Porque eu mesma, no meio da
semana, eu brinco com as crianças dizendo: gente hoje não dá! Tem criança que vem
até mim e diz: a tia abre a sala do computador. Eu tenho que ser verdadeira e dizer:
olha hoje não dá. Se eu estiver aqui no sábado ou no domingo, aí é possível, eu
consigo abrir a sala para vocês. - Por quê? Porque durante a semana eu sou
consumida pelo administrativo de uma forma maior. Já no sábado e domingo é
possível, é mais calmo. Fica mais light administrativamente falando, então, é o
momento que você consegue dar atenção ao lúdico, eu tenho conseguido fazer desse
modo (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). E, nós não podemos estar exigindo que
os acadêmicos do Programa fiquem fazendo essas atividades [lavagem e desinfecção
terminal dos brinquedos],50 pois seria pedir para que eles fizessem coisas que não é
do Programa Cuidar Brincando. Vez ou outra a gente tem que falar para parar: Parô!
Hoje é dia de parar. Aí a gente chama à senhora da limpeza de leitos para ajudar,
porque a nossa recreadora não está tendo, realmente, mais condições para estar
fazendo isso. Porque o ideal é realizar a desinfecção terminal semanal e, sempre que
necessário, dos brinquedos, do chão (Andanças 14 – Enfermeira Tamires).
5.2. Computadores que cuidam e Modulação de afetos
Concomitante as espacialidades produzidas pelos computadores da brinquedoteca,
temos também uma modulação de afeto do tipo motivação; contentamento e
50
Adição posterior nossa.
161
descontentamento (MOL; MOSER; POLS, 2010; MOL, 2010; MOSER; 2010; TAYLOR,
2010; DESPRET, 2011).
Identificamos artefatualidades que modulam afetos do tipo motivação enquanto
contribuintes para espacialidades de biossegurança, haja vista que se encontram vinculados
ao incentivo do uso de propés, aventais, avisos fixados na porta de vidro, tendo como
estratégia, portanto, a coloração, frases curtas e formato: aventais estampados ou azuis e
propés personalizados para a brinquedoteca de coloração vermelha; assim como a utilização
de um tapete verde ou laranja, no formato de um pé, no qual há o alerta para a retirada dos
calçados. Já o balde para depósito de brinquedos sujos é verde e possui uma identificação
direta que se refere a ―deposite aqui os brinquedos sujos‖.
A gente criou uma caixa de depósito de brinquedos, onde coloco os brinquedos que
vejo que a criança usou, brincou com ele. Tendo uma quantidade grande de
brinquedo eu trago para fazer a desinfecção e coloco no lugar.(Andanças 10 Recreadora).
Quanto às espacialidades efetivadas pelas práticas de entretenimento e atividades
planejadas, obtivemos modulações de afetos do tipo contentamento. Como os
computadores da sala de informática, diferentes de um notebook, netbook ou qualquer
aparelho aproximado, são maiores e dependentes de uma gama de parafernálias periféricas,
tornam-se moradores fixos do laboratório, portanto, não se deslocam do local. Mesmo assim,
os efeitos como a modulação de afetos que produzem, com quem interage com eles, são
notáveis, isto é, da relação criança, pai e computadores (Figura nº. 38 e 41) o contentamento
se materializa no rosto das crianças, no entusiasmo de como falam dos computadores, e nas
falas de seus pais, satisfeitos em perceber que seus filhos estão sendo ―bem cuidados‖: ―Eu
assim gostei muito de tudo. Principalmente, o cuidado que elas têm com ele, né? E, eu acho
que para gente que é mãe, que está aqui com o filho acompanhando, às vezes pode até
maltratar a gente, mas tratando bem o filho da gente é essencial, né?‖
162
Sobre
as
espacialidades
de
companhia e entretenimento referente à
possibilidade
dos
pais
utilizarem
os
computadores, também esteve vinculada à
modulação de afetos do tipo contentamento,
outras vezes por motivação. Haja vista que o
acesso à sala permite, conforme o informativo
fixado na porta da sala de informática, que a
criança seja acompanhada por seus pais ou
responsável, como também possibilita que
quem esteja com a criança se divirta tanto com
seus filhos como utilizando o computador para
Figura nº38 – criança, pai e computadores.
uma atividade de escolha.
Desse modo, temos uma convivência entre o mundo infantil e adulto na
brinquedoteca, no qual adultos também brincam (GALINDO et al, 2010, 2012). No caso do
pai de Carlos, como já descrito anteriormente, a alternativa recaiu sobre ―o jogo de sinuca‖.
A mãe de Matheus utilizou o computador para pesquisas nos momentos em que esteve
com seu filho hospitalizado. E, sendo assim, motivada pela vontade de querer saber mais
sobre as condições crônicas renais, buscou informações na Internet. Entretanto, relembramos
que tais informações obtidas via Internet vieram a ser melhor aproveitadas após sua
convivência com a equipe da pediatria, deixando de ser assustadora como comenta:
[...] olhei na internet. Sempre fui um pouco curiosa. Claro que já havia olhado na
internet (no computador) antes do tratamento, assustei, muita coisa não entendia,
mas ao longo do tratamento, e olhando novamente na internet (no computador da
brinquedoteca), já fazia sentido sim. Aprendi muita coisa no dia a dia, e se eu não
sei muito, já estou muito próximo de saber sobre tudo do que o meu filho tem
(risos). E mesmo sabendo que poderia ser algo que poderia me machucar, em
especial para a gente que é mãe, mas eu procurei saber, mesmo se eu fosse chorar eu
ia atrás (no computador) ou com a equipe (médicos, nutricionistas e as enfermeiras)
da clínica (Andanças 12 – Mãe de Matheus).
A sala de informática é um espaço onde se tem o poder do ―fazer de conta‖, onde se
pode tudo o que não é admitido na ―vida real‖. Retomando a ―brincadeira do pizziaolo, fazer
163
pizza com condimentos salgados‖. Nesta flagramos que o computador permite simular a
alimentação que a criança adora, mas que precisa evitar devido a não ser ―boa‖ (MOL, 2010)
para a sua condição crônica renal. É o caso de Matheus que brinca em um joguinho online de
fazer pizzas, com tudo o que ele tem direito, e mostra para a enfermeira, provocando-a ao
dizer que estava comendo uma pizza com todo o sal e gordura que o agrada. Eis, portanto,
uma modulação de afetos do tipo contentamento vinculada às espacialidades de
companhia e entretenimento, configuradas durante uma atividade de informática. Sua mãe
mostra contentamento pelas atividades promovidas pelos educadores, uma vez que ajudou seu
filho a lidar com o estilo de vida que poderia levar a partir das exigências da doença, como a
situação de provar ou consumir a alimentação com mínimo ou nenhum sal de cozinha através
da visualização e da experimentação pelo ―toque das pontas de seus dedos‖ no teclado
(MANN et al, 2011).
Mãe brinca que seu filho não pode nem pensar em sal. Complementa dizendo que a
enfermeira Tamires falava para ele nem imaginar sal em sua comida, pois poderia
inchar. Lembra de um fato que ocorreu no laboratório de informática. Estava
brincando de fazer pizza a partir de um site online no computador. Dizendo que o
Matheus fez a pizza com tudo o que tinha direito e, sal, sem comentários, pizza com
o sal que ele quisesse. (risos). Aí a enfermeira disse: olha só a pizza do Matheus,
lotada de sal. (risos). Completando: ―- você vai inchar desse jeito menino‖ (risos).
Ele deu uma gargalhada, dizendo que ali ele podia. (Andanças 8 – descrições). As
meninas da enfermagem, dos computadores, as técnicas, as atividades na
brinquedoteca, no computador também ajudaram a criar oportunidades de conversas,
explicações, brincadeiras para enfrentamento da comida sem sal, que era complicado
para ele. Para saber que seria assim a alimentação dele para ele não inchar [...]
(Andanças 12 – Mãe de Matheus).
Temos também modulação de afetos do
tipo motivação vinculada às espacialidades
entrelaçamento de tempo e espaço. E como se
configurou? Ao notar que a relação de
contentamento, ou melhor, a modulação de
afetos do tipo contentamento e motivação
entre uma criança, seu pai e uma bola (Figura nº
39) acontecia no jardim de inverno, do lado da
área externa da brinquedoteca, a Educadora,
como já havíamos comentado, decidiu postergar
Figura nº. 39 – bola.
164
o convite para a atividade de entretenimento na sala de informática.
A prevalência para Tecnologia do
cuidado configurada no jardim de inverno
(Figura nº. 40) deve-se também a outra
espacialidade que potencialmente pode
conjugar companhia e entretenimento,
bem como entrelaçamento de tempo e
espaço.
Figura nº.40 – jardim de inverno.
Sendo assim, não apenas a criança brinca, mas também o pai enquanto o tempo passa.
Essa prática de cuidado foi respeitada, inclusive, pelas/para as conformações de
espacialidades de biossegurança e a organizacional, efeitos da atividade de informática e
cidadania.
Dessa forma, após a realização da limpeza, desinfecção de todos os aparatos da sala e
a organização dos demais objetos que compõe o laboratório, o convite foi efetuado. Havendo,
de imediato, a mudança da prevalência da prática de cuidado que acontecia no jardim de
inverno para a Tecnologia do cuidado da sala de Informática e Cidadania.
Vale ressaltar que a interrupção do ―jogo de bola‖ nos suscitou questionamentos.
Dissemos que o respeitamos, mas infelizmente, o convite feito para brincar no computador,
acabou interrompendo as relações pai-criança-bola estabelecidas em detrimento da atividade
que envolveria criança, computador, pai (Figuras nº 41). Aproximando-se mais de uma
competição: ―jogo de bola‖ X ―práticas no computador‖, na qual os computadores e suas
potencialidades auxiliariam mais e melhor no cuidado.
De certo modo, emitiu-nos uma Tecnologia do Pensar (GANE & HARAWAY, 2009),
e o veredicto final foi que atrapalhamos o ofegar compartilhado entre pai e filho, o
entretenimento com a bola. Galindo et al (2010) ao fazer reflexões sobre as relações entre
crianças, cidades e brinquedotecas, traz em uma de suas análises algumas experimentações de
165
oficinas com crianças que ―não deram certo‖, ou melhor, as crianças que participaram
contribuíram por assimetria aos adultos administradores da oficina para a reinvenção dela,
porque ao invés de seguirem o script previamente formulado pelos estudantes, as crianças
brincaram, divertiram-se mais livremente, com os fragmentos do cenário da oficina do que
com a oficina em si. Tais experiências permitiram repensar pesquisa com crianças, assim
como respeitar as relações que estas estabelecem com aquilo que consideram brinquedo,
brincadeira.
O que nos levou a ficar em alerta e estar mais sensíveis às assimetrias entre adulto e
criança, bem como à fugacidade dos momentos em que acontecem as configurações das
Tecnologias do cuidado. Porque se não dermos conta de percebê-las, as afogaremos, em
detrimento de nossos objetivos estabelecidos a priori.
Nesse dia, o foco seria descrever
alguma atividade de crianças junto aos
computadores. Por isso, a relação de
criança-pai-bola foi desfeita para dar lugar
à conexão criança-computador-pai (Figura
nº 41).
Com relação à modulação de afeFigura nº 41 – criança, computador, pai (laboratório
de informática).
tos do tipo motivação vinculada à espacialidade organizacional (arrumação local),
corresponde a um educador que esteja com vontade e à vontade. Ou seja, que queira e se
disponha a testar os computadores, a flexionar seu corpo para mexer nos periféricos do
computador que ficam sobre a mesa (fone de ouvido, caixas de som); assim como averiguar a
fiação que fica abaixo dos computadores, que esteja disposto a ir atrás de materiais
necessários para limpeza e desinfecção dos computadores e da parte superior das bancadas e
cadeiras, ir atrás do pessoal da limpeza para limpar chão e teto; procurar e conversar com
pessoal de manutenção predial ou do setor do CPD quando necessário; a se relacionar com o
pessoal da enfermagem para obter mais informações sobre as crianças e pais; e para ficar à
vontade, pois tanto a educadora quanto a recreadora necessitam ter noções de biossegurança,
166
topologia da pediatria e do hospital e precisam saber mexer no computador ou procurar por
aqueles do hospital que saibam. Vejamos novamente o incidente:
Aproveitei para verificar a situação das atividades e se tinha algum problema para
ser resolvido, comentaram que alguns sites estavam bloqueados, como o Youtube e
Facebook, que tinha dois computadores que não estavam conectando à internet.
Disse que verificaria o mais rápido possível a questão da acesso às paginas do
Youtube e Facebook na Central de Processamento de Dados (CPD) 51, a
coordenadora do Programa de Extensão já havia comentado sobre esse problema em
reunião. Depois verificaria o problema da conexão (Andanças 10 - descrições) [...]
passei no setor administrativo, mais especificamente no setor CPD, para falar sobre
a liberação de alguns sites que ainda estavam bloqueados na brinquedoteca e, que
para as atividades seriam importantes enquanto manipulação dos computador [...]
(Andanças 16 - descrições) [...] compreenderam a necessidade de acesso aos sites e,
que também achou estranho o bloqueio, uma vez que já havia recebido autorização
para liberação, frente ao pedido coordenadora do projeto de informática da pediatria
(Andanças 16 - descrições). Agradeci, reforçando para não esquecer de verificar isso
para o grupo, e caso necessitasse de outro pedido o faria via sistema do hospital, mas
a pessoa com quem conversei disse que não haveria necessidade, pois já era uma
solicitação aceita (Andanças 16 – descrições).
A recreadora se sentiu motivada pela necessidade de saber lidar com computadores,
ou seja, sentir-se à vontade quando uma criança pedisse que a acompanhasse no computador,
assim auxiliando-a sem muitas dificuldades. Foi o que a levou a fazer um curso de
informática básica, assim como a participar das capacitações de informática e cidadania
proporcionadas pelos alunos do Programa de Extensão aos novos educadores, não sendo tão
problemático para ela lidar com o ambiente hospitalar em si, visto que era técnica de
enfermagem, antes do desvio de função. Sendo assim, enfatizamos ao retomar a seguinte
declaração: ―de computação eu fiz na Universidade, me matriculei no básico de informática‖
(Andanças 10 - Recreadora).
Encontramos modulações de descontentamento ligadas à espacialidade de
ergonômica, porque a recreadora tem que lidar com atividades na brinquedoteca por conta da
idade e dos problemas na perna. Isso faz com que sinta desconforto nos membros inferiores e
na coluna, queixe de dor quando fica muito tempo em uma mesma posição ou sinta cansaço
quando precisa flexionar seu corpo para mexer com artefatualidades da brinquedoteca e da
sala de informática.
51
Adição posterior nossa.
167
O trabalho que eu poderia exercer passou a ser proporcional as minhas limitações
para andar. Por causa do meu problema no trabalho. Eu não consigo ficar mais que
duas horas em pé. E, seis horas sentada também me cansa, e prejudica meus pés,
incham, fico com dor na coluna. (Andanças 10 – Recreadora).
Temos também algumas modulações de afetos que se misturam. A mães de
Matheus e a de Pedro revelaram que, apesar de não ser uma vida fácil na pediatria, eles são
bem atendidos, e, associado a esse cuidado, em seus comentários, ao serem questionadas
sobre a brinquedoteca, falam sempre positivamente, não deixando de lado o interesse de seus
filhos pelo computador.
E Pedro, um garoto de 11 anos, com um quadro de diarréia crônica há cerca de um
ano, ligada a fortes dores abdominais, febre e fraqueza, contou já ter ficado internado no
hospital. Acrescenta lembrar-se da pediatria de 2007, onde a brinquedoteca era pequenina,
mas que mesmo assim continha computadores, e revela que agora tem um notebook em casa,
comprado por sua mãe. Pedro diz querer estudar para ser um profissional que trabalha com
computadores. E que, se já ―gostava‖ da brinquedoteca por causa dos computadores em 2007,
agora, com os novos, todos funcionando, com o espaço da brinquedoteca ampliado, está
melhor. É um lugar onde ele pode brincar, e ao qual se refere como ―legal para mim‖. E
confidencia que outros hospitais, nos quais já ficou internado, não são tão agradáveis, porque
não tinham nada com que brincar ou se distrair, como na pediatria em que está agora.
Não é a mesma coisa que minha casa, mas eu tenho um lugar para brincar, assisto,
mexo no computador, isso já é muito legal para mim (Andanças 10 Criança Pedro).
Eu já conhecia aqui antes, eu fiquei internado aqui bastante tempo atrás, acho que
foi em 2007. Não me lembro mais quem eram as professoras, mas já gostava daqui
por causa que já tinha computador. Passei a gostar de computador por causa daqui.
Eu ganhei um computador há pouco tempo de minha mãe. Quero estudar para
aprender tudo sobre computadores (Andanças 10 – Criança Pedro). [...] mas não
tinha espaço como aqui [o outro hospital onde ficou internado],52 não tinha coisa
para fazer, para distrair. Aqui o tempo passa rápido, no outro hospital parecia não
passar, não tinha computador, nada de videogame. (Andanças 10 - Criança Pedro).
A mãe de Matheus revela sentimentos que aparentemente seriam antagônicos, pois se
referem ao hospital, ou seja, à hospitalização que ocorreu para buscar a recuperação de seu
filho; entretanto, em meio ao cotidiano, acabou fazendo amizades, gostou do lugar, confessa
52
Adições posteriores nosso.
168
que sentirá falta, que terá saudades das pessoas que conheceu. A pediatria apresentando a
opção de um lugar para ela e seu filho brincar, se relacionar com outras crianças, com as
educadoras, com os brinquedos, fez com que se aproximassem, que tivessem afeto pela
brinquedoteca, contentamento pela estrutura sociotécnica que congrega (brinquedos, sala de
informática, educadores, práticas no computador), que, reciprocamente, os motivaram a lidar
melhor com a hospitalização.
A convivência foi benéfica para ele e para mim. Aprendemos muita coisa, fizemos
muitas amizades também. Tem muita coisa daqui que a gente vai levar para sempre
(olhos marejados com lágrimas, emocionada) (Andanças 12 – Mãe de Matheus) [...]
vou sentir falta, gosto daqui (Andanças 12 – Mãe de Matheus). Ah, as meninas
chamam para jogar, mas ele não curte muito videogame, ele vinha mais para o
computador, tinha ele, outras crianças internadas que brincavam no computador, aí
as meninas do computador criaram um Messenger para ele. E ele ficou mais
envolvido com isso, porque em casa a gente também tem internet, e ele gosta disso.
Ele gosta de jogo no computador alguns do videogame. Era o que ele mais curte [...]
(Andanças 12 – Mãe de Matheus).
Apresentamos entre o ―gostar daqui‖, a ―vida não ser fácil na pediatria‖, ―diarréia
crônica‖, ―internação após fortes dores abdominais e febre‖, ―eu já estive aqui antes‖, ―é legal
para mim‖, ―sentir saudades, falta das amizades feitas no hospital‖ algumas modulações de
afetos, uma vez que congregam descontentamentos e contentamentos que convivem. Estas
vinculadas às espacialidades de entrelaçamento de tempo e espaço, bem como de
companhia e entretenimento, declaradas nas frases em destaque.
Law (2004) fala de uma convivência confusa, bagunçada, enfim, de incoerências
sociais, emocionais e tecnológicas. Enquanto Despret (2011) remeteria essas incoerências às
afetações, que vão se ajeitando, mas com uma estabilidade momentânea. Mol (2008) diria que
tais modulações congregadas compreendem uma Lógica do Cuidado, ou seja, as actâncias
sociotécnicas negociam suas afetações confessadas, em meio às incertezas desencadeadas
pelas condições crônicas e o apaziguamento proporcionado pelas Tecnologias do cuidado
vinculadas ao diálogo, assim como às atividades na brinquedoteca, entre elas, às ligadas aos
computadores.
169
5.3. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades
Os ―Computadores moradores do laboratório‖, como objetos sociotécnicos do local,
ligados ao Programa de Extensão, ou ainda, componentes da brinquedoteca, mostram-se
emissores de efeitos de Humanização em Saúde, pois efetivam as diretrizes da Política de
Humanização do SUS: ―acolhimento‖, ―autonomia‖, ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖.
Mas como se dão? Os efeitos de Humanização em Saúde de nosso estudo consideram o
artefatual, sendo que brinquedos e computadores moradores ou visitantes da brinquedoteca
nunca serão percebidos como neutros, mas como potencializadores de uma qualidade de vida
para pacientes que terão que conviver com alguma condição crônica de saúde (LEITE &
GALINDO, 2010).
5.3.1. Acolhimento
A mãe de Henrique53 nos revela que a pediatria conforma conglomerados do cuidado
capazes de acolher adequadamente às crianças hospitalizadas e seus familiares. Para ela,
mesmo diante da preocupação quanto à gravidade da saúde de seu filho, assim como diante
dos momentos deprimentes expressos por Henrique – por conta da saudade de entes familiares
e amigos –, eles foram bem recepcionados e permanecem sendo assistidos satisfatoriamente.
Atendo-nos à brinquedoteca e aos computadores, a partir do que a mãe de Henrique disse,
notamos que ambos contribuem para o cuidado através das espacialidades de companhia e
entretenimento que efetivam, do mesmo modo que às modulações de afetos do tipo
motivação e contentamento, mesmo diante das situações entendidas como ―íngremes‖. Os
computadores e demais entidades que se encontram em um arranjo sociotécnico
compreendem, portanto, à conjugação de tecnologias do cuidado que materializam uma
atenção alternativa e resolutiva para os momentos em que a criança e seus familiares precisam
passar o tempo, a qual requer uma articulação com outras localidades da pediatria e do
hospital para que haja uma continuidade de uma assistência (BRASIL, 2006), mesmo que tal
aconteça somente na brinquedoteca em frente de computadores.
53
Henrique é uma criança de 8 anos com condição crônica renal em investigação. Aguardando resultado de
biopsia renal para verificar o melhor tratamento.
170
A vida aqui na pediatria não é fácil porque a doença do meu filho é grave, é séria.
Mas a assistência médica é boa, a enfermagem, a higiene do hospital, todo
atendimento aqui no hospital é muito bom. É maravilhoso. A alimentação é boa
também. A brinquedoteca também é excelente, nela tem de tudo, tem bastante
brinquedo, brincadeiras, games, computador, mais as meninas e os rapazes que vem
brincar com as crianças no computador no domingo também são maravilhosos.
Então a assistência daqui é boa demais para a gente. Acho que ajuda muito no
desenvolvimento e recuperação da criança, né? (Andanças 13 – Mãe de Henrique).
Olha, tem dia que é difícil. Tem dia que fica deprimido, declara que está com
saudade do irmão. Saudades dos coleguinhas (Andanças 13 – Mãe de Henrique). [...]
aqui (brinquedoteca) tira da depressão, só da criança vir para cá parece que o dia
passa mais rápido (Andanças 13 – Mãe de Henrique).
Fazemos, portanto, um encontro entre o computador e diversos actantes como
cuidadores e quem é cuidado (a criança ou o seu acompanhante que se acoplam ao
computador para entretenimento ou estudos). E esse encontro ocorre por meio de um fio
condutor que é proveniente do acolhimento incentivado pelos educadores, ―as meninas e os
rapazes que brincam com as crianças no domingo‖ como se refere à mãe de Henrique.
Notamos que na brinquedoteca uma das maneiras de se efetivar acolhimento é através das
atividades no computador, que são práticas cotidianas, ou seja, são os saberes localizados e
técnicos que efetivam no dia a dia uma das topologias da pediatria.
Simetricamente à arte dos Bonsais, apesar de complexificações (MOL & LAW, 2002)
das distintas artefatualidades, como os computadores quando interagem com humanos, as
mãos se mostram como verdadeiros artífices, como fabricantes de múltiplas espacialidades –
adicionamos aqui mais uma: a do tempo que entrelaça o espaço. Em decorrência destas, a
criança e/ou o acompanhante se envolvem com textos, clicks no mouse, navegação na
Internet, sons emitidos pela caixa de som, e, com o intuito de entreter, aprendem algo a mais;
enfim, devido ao pequeno grande mundo produzido a partir da interação de ternura com quem
o fabrica, não percebe o tempo passar. Ou melhor, o tempo acaba sendo entrelaçado ao
espaço, ―o tempo passa mais rápido‖ como comentam muitas crianças e acompanhantes, não
ficando limitados ao espaço e às artefatualidades médico-hospitalares e às rotinas do local.
5.3.2. Autonomia
Mais uma vez a inserção da criança na brinquedoteca – a sua participação nas
atividades com o computador – é percebida pelas mães de Henrique e Pedro como lugares e
171
momentos onde seus filhos podem satisfazer suas próprias vontades, ou seja, efetivar sua
autonomia. Notamos que as mães sabem que o computador e a brinquedoteca reordenam
espaços, modulam afetos.
Do mesmo modo, são potentes produtores de efeitos de Humanização; neste caso,
efetivados pela ―autonomia‖. Sendo assim, quando as mães incentivam seus filhos a irem à
brinquedoteca, a participarem das atividades no computador, não estão apenas contribuindo
para que o computador, ou as demais atividades na brinquedoteca, os ―animem‖, faça o seu
―tempo passar mais rápido‖, mas possibilitando que seus filhos encontrem junto aos
computadores modos alternativos de serem capazes de construir suas próprias regras de
funcionamento, de compreensão de si, para poder lidar e se relacionar com o coletivo
(BRASIL, 2006) heterogêneo da pediatria.
E pensar em Henrique e em Matheus como crianças autônomas é considerá-los,
concomitantemente, como actantes que protagonizam junto aos computadores e à
brinquedoteca da pediatria. Logo, como objetos sociotécnicos que se arranjam com os
computadores, e, deste conglomerado sociotécnico, temos como efeito uma Humanização em
saúde, na qual humanos e não/humanos se encontram imbricados. (MOL, 2008).
Correlacionando às políticas de Humanização em Saúde à concepção sociotécnica de
efeitos de Humanização, efeitos de modulação de afetos, assim como reordenações de espaços
(espacialidades), observamos que o princípio da ―autonomia‖ é simétrico à apropriação do
espaço pelas crianças. Assim como sentir-se no controle de sua vida, de seus cuidados –
mesmo sobre a interferência de um adulto responsável por elas – quando ela brinca, quando
ela manipula o computador.
É fundamental para a autonomia da criança as espacialidades companhia e
entretenimento, mas também a de entrelaçamento de tempo e espaço, haja vista que,
quanto mais tempo e acompanhamento das crianças pelas mães, mais estas se apropriam da
noção de relevância da brinquedoteca para a recuperação de seus filhos, pois adquirem
conhecimentos e habilidades para lidar com as necessidades das crianças, por isso sabem
quando motivá-los a andar, a participar das atividades da brinquedoteca (ALVES;
DESLANDES; MITRE, 2009).
172
O mesmo acontece com a criança sobre si. Sarmento (2007) fala da necessidade da
criança imprimir suas vontades. Mol (2008) descreve uma Lógica do Cuidado, ou melhor,
uma Promoção de Saúde, a partir da qual o paciente não decide sozinho sobre o seu cuidado,
mas participa, negocia, com a equipe de saúde e seus acompanhantes. O que mantém a
criança autônoma, mas inserida em uma autonomia segura, junto aos adultos.
Aí eu falo para ele vir para cá (brinquedoteca), eu converso com ele, falo para ele
que vai passar. Às vezes ele vem para o videogame, porque nem tem vontade de ir
para o computador. Ele não é de conversar com as crianças, ele não é de conversar
bastante, eu é que conversava mais com as crianças, com as outras mães. Ele só
conversa mais com as pessoas que ele pega um pouco de intimidade. E nisso a
brinquedoteca também ajuda bastante, cria momentos para as crianças estarem
juntas. E aqui (brinquedoteca) tira da depressão, só da criança vir para cá, parece que
o dia passa mais rápido. Ele está contando os dias (para ir embora) e nisso a
brinquedoteca ajuda também (Andanças 13 – Mãe de Henrique). Aí eu o chamei
para vir para cá, para andar um pouco, motivado pelos computadores ele veio. Ele
sempre que interna não pensa duas vezes em vir para a brinquedoteca por causa dos
computadores (Andanças 10 - Mãe de Pedro). Para ele assim como para qualquer
criança que precisar ficar internada é muito importante para animá-los
(brinquedoteca)54, para não ficar só deitado. E quando o meu filho vem para cá ele
fica mais animado, mesmo estando fraco, ele encontra ânimo para brincar, se alegra.
Caso contrário ficaria deitado, tenho certeza. Porque ele confessa isso para mim,
anda lentamente, mas que se movimenta para a brinquedoteca. Ele vem para cá para
assistir televisão também, gosta de jogar dominó comigo, ou dama também. Mas
gosta mesmo é de mexer no computador (Andanças 10 - Mãe de Pedro).
O computador contribui para uma autonomia segura, a qual extrapola o risco de
fragmentação. Já na brinquedoteca, as atividades no computador reordenam espaços, onde
tanto crianças como seus pais ou responsável por elas possam participar, ajudando a fortalecer
os vínculos entre pais e filhos. Há, dessa maneira, através das atividades com computador ou
na brinquedoteca, uma conciliação entre os saberes/fazeres destes com os da equipe de saúde,
educadores, recreadora.
A criança que se conecta ao computador enquanto aguarda o término da
hospitalização configura arranjos sociotécnicos. Através dos arranjos a criança tem a
oportunidade de transpor o tempo, a dor, a saudade, a rotina hospitalar e de exercitar sua
autonomia ao poder brincar. E, ao inserirmos os computadores de uma brinquedoteca como
um objeto que age, coopera para o cuidado, estamos pondo em xeque, segundo Mol (2008), as
dicotomias, não aceitando, inclusive, classificações entre práticas boas (equipe de saúde) e
54
Adição posterior nossa.
173
más (concepções da mãe, da criança) de cuidado, mas mostrando que o cuidado é composto
de ambos, já que para esta lógica da Promoção em Saúde, as fronteiras entre saberes/fazeres
se encontram terminantemente indefinidas.
5.3.3. Corresponsabilidade e protagonismo
A princípio, como conta a recreadora, as atividades com computadores restringiam-se
as educadoras do projeto, que, conforme as exigências dos computadores, tinham acesso a
eles por conta de suas atribuições de educadoras e por fazerem parte do projeto de Extensão,
assim como também haviam passado por uma capacitação para lidar com crianças acopladas a
computadores. Entretanto, conforme o aumento da demanda de crianças querendo realizar
atividades nos computadores, e muitas vezes os educadores não cobriam todos os dias, tanto a
professora da Classe Hospitalar da época55 quanto à recreadora passaram a ser cobradas pelas
crianças; uma vez que conviviam com a professora e a recreadora, aproveitavam para pedir
para brincar nos computadores. Em negociação, as crianças passaram a realizar primeiro as
atividades da Classe Hospitalar e, num segundo momento, as atividades de Informática e
Cidadania.
A partir de então, por conta destas e de outras atividades, a recreadora (foi desviada de
função, de técnica de enfermagem para recreação) se viu obrigada a fazer diversos cursos,
entre eles, o de computação.
No que diz respeito às atividades planejadas ou de entretenimento com computadores,
como já mencionado, a recreadora esteve constantemente relacionada com espacialidades do
tipo ergonômica, de organização ou de biossegurança. Aqui, enfatizamos a espacialidade
ergonômica (pois esses impõem exigências ao corpo daquele que os limpa, faz a desinfecção,
realiza testes de seus periféricos) vinculada a modulações de afetos do tipo
descontentamento, contentamento ou motivação. Todos são confluentes para a efetivação
de corresponsabilidade e protagonismo tanto da recreadora quanto da acoplagem entre
crianças e computadores.
55
A recreadora contou sobre o início de sua atuação na brinquedoteca no ano de 2007. Antes da reforma da
brinquedoteca, cuja época existia apenas o Projeto de Informática e Cidadania para crianças Hospitalizadas.
174
[...] comecei ajudando as meninas do computador, mais a abrir a sala e tomar conta
das crianças que brincavam no computador nos momentos em que as meninas do
computador não estavam em atividades (Andanças 10 - Recreadora). Aqui elas
brincam, vão para o computador, conversam com outras pelo computador (Andanças
10 - Recreadora) - Quanto o curso de informática quando você viu que tinha que
fazer? Aconteceu o seguinte, pela manhã elas tinham horário de estudos com a
professora da Classe Hospitalar, mas acabava pedindo para ir para o computador. O
que fizemos foi um acordo, fariam as atividades da professora Iná e depois iam para
outras atividades no computador. Mas em dias que não tinha educador do Projeto de
Informática e Cidadania sobrava para mim, elas me cobravam para abrir a sala,
pediam para a professora da Classe Hospitalar também. E não podíamos abrir a sala
sem um educador para acompanhar a criança, ia contra os objetivos do Projeto. Aí
eu me vi mais uma vez obrigada a fazer um curso sobre informática, e fiz.
(Andanças 10 - Recreadora).
Protagonismo para Humanização em Saúde compreende, neste caso, à ação de uma
recreadora para que a conexão entre criança e computadores se efetive. Sendo assim, o
vínculo usuário-equipamento de saúde só aconteceu a partir do estabelecimento da viabilidade
dos acoplamentos sociotécnicos proporcionado pela recreadora (ALVES; DESLANDES;
MITRE, 2009).
Para as sociomaterialidades de realidade pontual das práticas, a Corresponsabilidade
se apresenta como uma dificuldade da recreadora em transpor a sua falta de conhecimento
sobre computadores, diante da cobrança das crianças, visto que esta trouxe à tona um
paradoxo no gerenciamento artefatual que compõe as técnicas da utilização de computadores.
Ou seja, a princípio, o conhecimento técnico e sua realização ficavam restritos aqueles que
sabiam mexer nos computadores, como as educadoras. E quando a responsabilidade de lidar
com crianças e computadores começou a exigir da recreadora, os conflitos afloraram. Junto a
essas exigências, aumentaram o risco de travamento do computador, provocações de erros,
desconfigurações, já que essa não dominava o computador com propriedade. Houve, por esse
motivo, a necessidade de uma re-interação, por a recreadora ser alguém também responsável
pelos computadores. Como ela mesma comenta: ―E não podíamos abrir a sala sem um
educador para acompanhar a criança, ia contra os objetivos do Projeto‖ (Andanças 10 –
Recreadora).
E, à medida que foi se inteirando através do curso, no dia a dia das práticas com os
computadores,
fomentou
seus
vínculos
com
a
informática,
desvinculando-a
do
descontentamento. Passou, então, a mostrar-se motivada, contente com a sua função de
recreadora, assim como de educadora (quando liga os computadores para as crianças e as
acompanha); o que ocasionou o aumento do grau de vínculos afetivos, além de sua
175
participação e o interesse em auxiliar as crianças e/ou acompanhantes a mexerem no
computador, passando a gerar uma ambiência de valoração de seu trabalho, ao passo que foi
se vendo como protagonista, como corresponsável por uma assistência, como as práticas nos
computadores que criam espacialidades de companhia e entretenimento à criança que
brinca no computador, aos acompanhantes e para si própria.
Eu acho a vida aqui um pouco difícil. Tem 28 anos que trabalho aqui. Mas o difícil
foi que tive um acidente e um problema a seguir na perna. Passei pela perícia
médica, que desviou a minha função, não fiquei satisfeita. Porque fiquei sem função
definida. Fui jogada para lá e para cá, fiquei perdida por conta do hospital (as
coordenações do hospital) não saber onde me colocar para trabalhar. O trabalho que
eu poderia exercer passou a ser proporcional as minhas limitações para andar. Por
causa do meu problema no trabalho. Eu não consigo ficar mais que duas horas em
pé. E, seis horas sentada também me cansa, e prejudica meus pés, incham, fico com
dor na coluna. A minha vinda para a brinquedoteca é por conta de não ter outro lugar
para ficar. Bom, agora tudo bem, agora eu trabalho, desenvolvo atividades com as
mães, (Andanças 10 - Recreadora) [...] Também com as crianças maiores, incluindo
as crianças que ficam em leitos das enfermarias, as que estão em isolamento. Está
incluso em minhas atividades diárias o brincar com a criança, tenho que desenhar
com ela, ou mexer no computador, atividades que as deixem satisfeita enquanto
hospitalizadas (Andanças 10 - Recreadora).
A corresponsabilidade se apresenta também com o aprendizado que a levou a
manipulação do computador com maior presteza, ou seja, a partir do momento que fez o
curso, indiretamente, a recreadora se responsabilizou por sua atual função no hospital. Seria,
mais ou mesmo, assim: ―aprendo a lidar com os computadores, e, estes e eu, poderemos
cuidar melhor das crianças que nos procuram. Ou ainda, tenho ao meu lado um companheiro
de trabalho que é o computador, e eu me responsabilizo por ele, já que me foi permitido ter
acesso a eles para que as crianças possam realizar atividades nos momentos em que não há
educadores do Cuidar Brincando‖.
Como não se segmenta a Promoção em Saúde/Lógica do Cuidado, a mesma se revela
impregnada de política, assim como de ética. Desse modo, permitem a conexão entre diversas
noções de estilos de julgamentos provenientes dos pacientes, de seus familiares, da
recreadora, equiparadamente, considerando todos, antes de tudo, como cidadãos. E é sabido
que ao cidadão competem deveres e atribuem-se direitos. Podemos enfatizá-los nos fazeres da
recreadora: ao se mostrar ―obrigada‖ a fazer um curso de informática para poder assistir
melhor às crianças frente ao computador. Desse modo, com a qualificação de seus afazeres e
saberes a respeito de computadores, a recreadora ―vendeu‖ às crianças e acompanhante –
176
como clientes – uma assistência de qualidade. É relevante que as crianças e acompanhantes
sejam considerados clientes e cidadãos, independente do serviço que utiliza, seja esse público
ou privado, já que de uma maneira ou de outra, alguém está pagando pelo serviço prestado.
Tais noções são simétricas à modulação de afetos do tipo contentamento pela recreadora,
efetivando tanto os direitos individuais quanto os coletivos da criança, de seu acompanhante
quando se acoplam a um artefato (MOL, 2008) da brinquedoteca, como os computadores e
práticas de entretenimento e/ou pedagógicas.
Os ―Computadores moradores do laboratório de informática‖ participam da montagem
das Tecnologias do Cuidado da pediatria, não sendo um ―novo‖ modo de proporcionar
―benevolência‖, de se fazer ―altruísmo‖ ou de se pregar ―salvadorismo‖ pela recreadora ou
pela equipe de enfermagem (MOL; MOSER; POLS, 2010). São somente objetos
sociotécnicos que vinculam afetos, que contribuem para a melhora da criança hospitalizada,
que aproximam os pais de seus filhos e motivam a participação de pais no cuidado, estimulam
habilidades individuais e coletivas das crianças hospitalizadas. Portanto, esses objetos
sociotécnicos veiculam práticas educativas, imprimem metodologias, uma pedagogia própria,
cuidados singulares, por isso, falamos de afetos de um modo não clássico (DESPRET, 2011),
já que nos referimos a afetos provenientes de uma relação entre crianças, acompanhantes e
uma recreadora por um computador. E que, ao mesmo tempo, se encontram impregnados de
políticas públicas (Humanização em Saúde) e de uma ética de ensino e pesquisa (do Programa
Cuidar Brincando) e profissional (o desvio de função da funcionária e a necessidade de
aprender a mexer com computadores), que se espalham e atravessam o cotidiano da pediatria
(BRASIL, 2006).
177
CAPÍTULO 6
COMPUTADORES QUE CUIDAM II: A ENFERMARIA
O computador ofega junto com os pulmões e conexões de oxigênio, enquanto mãos e olhos de um
menino questionam o travamento do joguinho do Yoshi.
178
Por conta de nossas andanças pela pediatria pudemos visitar ou morar em algumas
das enfermarias, por isso, descreveremos cada uma delas. Entretanto, neste capítulo daremos,
especificamente, destaque à enfermaria das crianças maiores. A nossa escolha se deu pelo fato
de ter sido moradia de objetos que estiveram em densa atividade. Em destaque, temos os
seguintes objetos atuantes: leito, multiparâmetro, glicosímetro, medicamentos, cateter tipo
óculos, entrada-saída de oxigênio/ar comprimido/vácuo, extensões, tala de PVC, cateter sobre
agulha, avental, compressas limpas, hamper, álcool a 70%, frasco umidificador, todos
considerados aparatos médicos-hospitalares. E, comumente, quando em arranjo, espera-se que
sejam fabricantes de Tecnologias do cuidado, aparentemente específicas à prática médica. No
entanto, tais objetos se revelam artífices de espacialidades e de modulações de afetos, não
apenas por executarem suas funções específicas, mas pela aptidão de produzirem ontologias
distintas das esperadas, assim como de se vincularem a outros objetos sociotécnicos do
cuidado não médico-hospitalares, levando a consumar os efeitos de reordenações de espaço e
de modulação de afetos, como também os efeitos de Humanização em Saúde por
artefatualidades.
Neste caso, os efeitos emitidos foram provenientes do relacionamento com
Computadores do tipo Netbooks56, assim como coero, flanela, lençóis, pia, boneco, joguinhos
(softwares).
56
Netbook é um termo usado para descrever uma classe de computadores portáteis tipo subnotebook, com
dimensão pequena ou média, peso-leve, de baixo custo e geralmente utilizados apenas em serviços baseados na
internet, tais como navegação na web e e-mails (HOUAISS, 2009).
179
6.1 Enfermarias dos bebês
São duas enfermarias de lactentes
e pré-escolares (Figura nº. 42). Possuem
vidro transparente, poltronas para cada
leito montado, com regulagem de posição.
Possuem berços com grades reguláveis,
entradas/saídas para ar comprimido, vácuo
e oxigênio para cada berço. Uma das
enfermarias
apresenta
paredes
algumas infiltrações e desgastes.
com
Figura nº.42 – enfermaria e lactentes
e pré-escolares.
A coloração dos quartos é verde claro (coloração padrão para todas as enfermarias).
Ambas possuem janelas com abertura bilateral para o lado de fora, vidro pintado de
branco para manter a privacidade ou restringir raios solares enquanto fechadas; cada leito tem
uma mesinha. Para cada quarto há uma garrafa térmica com água que é preenchida pela
Nutrição diariamente. Possuem hastes (suporte de soro) para infusão de medicamentos. Existe
um banheiro central, estratégico para o uso das duas enfermarias. Contém uma balança
digital, pia de mármore, armário, porta sabão líquido, porta papel toalha. Ambas possuem
porta gel alcoólico, o qual se encontra na saída de cada uma das enfermarias. São climatizadas
por meio de ar condicionado, sendo que cada uma possui um ar condicionado.
6.2. Enfermaria 104
Este quarto é ocupado pelas ―meninas‖ maiores. Possui quatro leitos, referente a cada
leito ativo, temos uma garrafa térmica e quatro conjuntos de entradas/saídas (vácuo, ar
comprimido, oxigênio). É um quarto climatizado através de ar condicionado. Não possui
janelas. Há um banheiro comunitário específico para quem fica nesse quarto.
180
6.3. Enfermaria 105
Trata-se do quarto dos ―meninos‖
maiores, que está identificado com uma
placa (Figura nº. 43) na porta. É
semelhante ao quarto feminino, porém um
pouco menor. Possui 4 leitos, 4 poltronas,
uma garrafa térmica e 4 conjuntos de
entradas
(vácuo,
ar
oxigênio).
Climatizada.
comprimido,
Sem
janelas.
Banheiro comunitário específico para
quem fica nesse quarto.
Imagem nº. 43 – placa de identificação.
A partir de agora passaremos a discorrer sobre os incidentes que aconteceram no
quarto-enfermaria 105. Neste notamos espacialidades, modulações de afeto e efeitos de
Humanização em Saúde que se consumam sobre o leito das crianças em atividades com os
Netbooks.
Em circulação pela enfermaria
dos
meninos,
primeiro
nos
momento,
deparamos,
num
com
leito
um
referenciado por Pedro como um ―lugar
para doentes [...] é cansativo ficar só
deitado‖.
Ou
espacialidade
modulação
seja,
produzindo
clínica,
de
bem
uma
como
afeto
do
tipo
descontentamento,
e
efeitos
Humanização
em
de
Saúde,
“acolhimento”, já que se configura num
leito limpo, com lençóis com estampas
(Figura nº. 44).
Figura nº. 44 – leito, lençol com estampas de bichinhos.
181
Em um segundo momento, com o Netbook do Laboratório de Informática sobre a
cama, Pedro declara-a como múltipla. Por isso, escrevemos ―cama‖ no plural ―cama (s)‖, em
decorrência das actâncias desencadeadas pela relação estabelecida entre criança e computador
portátil sobre a superfície do leito, que, por conta disso, interpela multiplicidades da cama.
Simetricamente, também temos Netbook (s) no plural, haja vista as suas múltiplas versões ao
habitarem o leito das crianças. Percebemos por diversas vezes que suas variações levaram a
cuidar das crianças no leito, por conta de restrições clínicas, de maneiras diversas. Ao passo
que também puderam se conectar a outros espaços (topologias) da pediatria através de
articulações sociotécnicas. Esses nos renderam uma larga descrição das espacialidades,
modulação de afetos e efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades (MOL, 2007).
6.4. Apresentando os cuidadores sociotécnicos
Na mesma enfermaria 105, diversos arranjos configurados a partir de dois Netbooks
pertencentes ao ―Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖, produzem
potentes Tecnologias do cuidado capazes
de modularem afetos. Ao lado, temos
Carlos brincando com um Netbook, que,
ao brincar com o menino, cuida (Figura
nº. 45).
Figura nº. 45 – Netbook.
182
Os Netbooks são utilizados em
atividades fora do Laboratório diante da
necessidade de se desenvolver atividades nas
mesas da brinquedoteca, ou como na maioria
das vezes acontecem, sobre as poltronas
(Figura nº. 46) das enfermarias e em cima da
cama.
Figura nº. 46 – poltrona.
Computadores portáteis têm sido fiéis companheiros de entretenimento de crianças
hospitalizadas. Sendo uma ―entidade mais‖, como diria Latour (2001) – por seus conjugados
serem eficientes auxiliares na prática do cuidado em enfermagem na clínica pediátrica –
também são atrativos devido a sua praticidade, uma vez que são pequenos e leves, permitindo,
desse modo, que crianças menores os manipulem, carregue-os, teclem ou deslizem os dedos
sobre o touch57 dos computadores portáteis sem muitos empecilhos. E mostram-se vigorosos
fabricantes de espacialidades e modulação de afetos por ciberespaço, como já acontece no
Laboratório de Informática da Brinquedoteca (LEITE; RIBEIRO; VIEIRA, 2006; LEITE &
GALINDO, 2010), com a possibilidade de implantação de Internet sem fio (Wireless) na
Pediatria ou através de Internet móvel.
As atividades com Netbooks transformaram o leito em um local mais agradável. Ir
até o leito, como já previamente comentado, leva os Netbooks a transitarem por topologias
distintas, ou seja, a se deslocarem por lugares onde acontecem atividades diversificadas;
lugares, de certo modo, incoerentes em relação àqueles ligados a computadores (LAW, 2004).
Uma vez que os Netbooks passam pela brinquedoteca, atravessam o refeitório, e, por fim,
ingressam no corredor da pediatria, chegando a um destino de atividades, aparentemente
distante dos balcões do Laboratório de informática: as enfermarias.
Se os computadores reclusos já apresentam suas exigências e mobilizam uma
diversidade de elementos, ou seja, congregam uma espacialidade organizacional para
compor seu arranjo do cuidado, com os Netbooks, que se deslocam para realizarem visitas,
pois também são moradores do laboratório de informática, não é tão diferente assim.
57
Superfície do Netbook sensível ao toque.
183
As Tecnologias do Cuidado vinculadas aos computadores sobre o leito emitem os
seguintes efeitos: espacialidades do tipo – clínica, companhia e entretenimento,
biossegurança, ergonômica e organizacional; quanto às modulações de afetos, encontramos
as do tipo – contentamento, descontentamento, motivação e desmotivação; e, referente os
efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidade, temos em destaque – acolhimento,
autonomia, corresponsabilidade e protagonismo.
6.5. Netbooks que cuidam de Carlos
O início dos cuidados prescritos
para Carlos acontece a partir do instante
em que interferências provocadas por sua
doença, bronquite obliterante, configuram
uma espacialidade do tipo clínica, já que
o desconforto por causa da falta de ar o
faz pedir para ir ao seu quarto, levando a
interromper as atividades na sala de
Informática
e
Cidadania,
ou
seja,
finalização da relação entre Carlos e o
Figura nº. 47 – Carlos e computador recluso.
computador recluso (Figura nº. 47). Portanto, nesse momento, as interpelações ligadas ao
quadro clínico da criança falaram mais alto, fazendo com que esta se desacoplasse do
computador do Laboratório de Informática.
Não demorou muito e ele disse estar cansado, querendo ir para o quarto. A mãe
frisou: ―- isso é a falta de ar que ele já esta sentindo‖ (Andanças 15 – Mãe de Carlos)
[...] Lucas desceu da cadeira com a ajuda da mãe, indo direto para o colo dela. Disse
que eu iria vê-lo lá no leito dali mais um pouco de tempo. Disse para a mãe que
poderia ver uma bala de O2, se ele precisasse, era só ela falar, nem precisaria ir para
o leito. Mas não quiseram, acharam melhor ir para a cama (Andanças 15 –
descrições).
184
A educadora sugeriu uma bala de oxigênio para continuar as atividades na sala, que,
de certa maneira, tornaria as atividades no computador mais prevalente58 às interpelações da
doença (MOL, 2002a). Entretanto, não conseguira convencê-lo. A partir de então, percebe-se
que a criança se desvincula (desacopla) do computador por conta de se sentir incomodada
com a falta de ar, e, concomitantemente, por causa do cansaço que acarreta à sua caixa
torácica e ao músculo diafragmático. Temos, portanto, uma modulação de afeto do tipo
desmotivação por desconforto provocada pela falta de ar. Assim, a doença prevaleceu
temporariamente onde outros objetos sociotécnicos da enfermaria interpelaram de modo
mais intenso, entre eles: a rede de oxigênio como suporte de O2, a cama diante da necessidade
de se confortar um corpo que pedia por uma suplementação de oxigênio.
Entretanto, como as demais crianças estavam na companhia da televisão, a educadora
percebeu que deveria investir nas atividades com crianças no leito. E, somado à existência de
Netbooks, a ideia de utilizá-los no leito foi potencializada. Principalmente porque permitiria
uma atuação pareada com a rede de O2 e pulmão da criança, já que Carlos pôde brincar um
pouco mais, porém, dessa vez, sobre o leito. Os Netbooks contribuíram ao produzir uma
espacialidade do tipo organizacional, concomitantemente à de biossegurança. Isso porque
atravessando o convite à criança para brincar no leito, do mesmo modo que permeando o
deslocamento do computador portátil para a sala de informática, como organizar o ambiente
para o computador ―brincar‖ com a criança no leito, diversas entidades sociotécnicas são
mobilizadas.
[...] por ver que as outras estavam assistindo televisão com suas mães, lembrei dos
Netbooks do Programa de Extensão. Peguei-os, realizei desinfecção. Deixei tudo
pronto. Fui até o posto, falei para a enfermeira que brincaria com as crianças no
leito, se haveria algum problema ou não. Disse que não. Que poderia, deveria sim
realizar as atividades. Perguntei em seguida de pano para cobrir a cama, bem como
um avental para eu colocar, já que não estava utilizando jaleco. Orientou-me pegar
na rouparia da clínica (Andanças 15 - descrições).
A noção de afetividade, que evocamos nesse momento, permitiu-nos circunscrever e
explorar os meandros de uma complexa ―geografia‖ de outro efeito do tipo modulação de
58
Noção de Coordenação por adição do tipo discrepante refere-se a um das formas de adição (add upp) que
projeta um objeto comum por trás dos vários outros elementos que vem a compor uma nova relação. Se as
projeções não se sobrepõem, uma delas é feita para prevalecer. Uma relevância momentânea é estabelecida e a
discrepância na relação deve ser explicada (MOL, 2002b).
185
afeto do tipo contentamento, diante da possibilidade da criança poder receber oxigênio no
lugar onde ela sugeriu (a cama), assim como permanecer brincando.
Então temos contentamento como um efeito de transformação visível e que foi
montado. Porque este se materializa através da fabricação de uma ambiência onde as
conexões entre diversas entidades acontecem por meio de um manejo intencional ou não
intencional. Sendo assim, já no quarto, a criança se encontrava no colo da mãe, ambas
sentadas em uma poltrona oferecida pelo hospital. Carlos conectado à rede de oxigênio por
meio de uma extensão típica para pacientes com dificuldades respiratórias. Portanto,
confortado através de uma espacialidade do tipo clínica e organizacional montada no seu
quarto, através de conexões entre sua cama e a rede de oxigênio fixada na parede anexa a sua
cama.
Extensão de borracha conectada, de um lado, a frasco umidificador, este contendo
soro fisiológico a 0,90%, conectado a rede de O2 com fluxômetro a 2 ml/min. Do
outro lado, borracha conectada a cateter de O2 tipo óculos a narinas da criança, com
O2 fluindo pelas vias aéreas superiores, inferiores, enfim, fluindo pela circulação
sanguínea de Carlos. Enquanto este brinca com o computador, o qual está ligado à
rede de energia do hospital. Nesse dia, as baterias dos netbooks estavam
descarregadas (Andanças 15 - descrições).
No momento da oferta da companhia de um Netbook à criança, esta se encontrava
envolta por uma espacialidade do tipo companhia e entretenimento proporcionada por uma
tecnologia visitante, ou seja, pelo celular de sua mãe, que acoplada à criança (Carlos) auxiliou
no cuidado. Juntos estavam convivendo com as parafernálias médico-hospitalares que,
simetricamente à acoplagem com o celular, contribuíram com o cuidado da criança, haja vista
a oferta de oxigênio suplementar. Ambas prevaleceram59 juntas, tanto a Tecnologia do
Cuidado não médico-hospitalar quanto a médico-hospitalar, ou ainda, interferências por
espacialidades do tipo clínica e a espacialidade do tipo companhia e entretenimento
habitando o mesmo lugar. Configurando, conjuntamente, modulações de afeto do tipo
contentamento.
59
Coordenação por adição do tipo não discrepante (MOL, 2002a).
186
Já estava com cateter O2 nas narinas, brincava com o celular da mãe, estava
escutando música (Andanças 15 - descrições). A mãe dele comentou que seria o
computador [Netbook] dele por hora, seria um computador temporariamente dele.
(risos). Ele consentiu com a cabeça. A mãe complementou dizendo que seria um
alívio para o celular dela que já estava para descarregar e que seu filho até então não
parava de escutar música nele (Andanças 15 - descrições).
Mas com a apresentação do Netbook, a companhia dos vídeos e das músicas emitidas
pelo celular foi deixada de lado. A criança preferiu brincar com os jogos instalados no
computador portátil. Constituindo aí, uma nova reordenação espacial de companhia e
entretenimento. Sobre o leito, portanto, permaneceu uma espacialidade do tipo clínica e
outra de companhia e entretenimento promovida por uma parafernália não médicohospitalar que mora e transita pela pediatria, mas que continuam modulando afeto do tipo
contentamento.
As pequenas mãos de Carlos manipulam os teclados do netbook. Dedos deslizam,
teclam, chegando até vibrar os dedos por conta de cada novidade na tela, cada local
em que descobriam com o Super Mário e o Yoshi (o amigo de aventuras do Mário)
(Andanças 15 - descrições).
A cama já não é apenas ―... para doentes [...]‖, um ―lugar que cansa‖ (Andanças 10),
como a criança Pedro se refere ao leito. A cama emite outra ontologia, continua com a função
de receber alguém doente, porém no caso da cama de Carlos, bem como na de Lucas (outro
menino que descreveremos a seguir), é vibrante, movimentada, atrativa, não sendo apenas um
lugar para se deitar, dormir, realizar procedimentos médicos, mas para se brincar estando ou
não descompensado pela doença. E isso acontece porque a esta se vincula outros coletivos que
são múltiplos, abertos, heterogêneos, como os Netbooks. Diferentemente da cama
―experienciada‖ por Pedro, ou seja, promotora de espacialidades clínicas (em uma concepção
negativa) por estar vinculada à modulação de afeto do tipo descontentamento, na cama de
Carlos prevalece o colorido, a estampa dos lençóis faz sentido, é alegre, divertida, uma vez
que são realçadas pelas práticas com Netbooks. Sendo assim, junto às adições dos lençóis, os
computadores, de modo não discrepante,60 contribuem para fabricação de espacialidade do
tipo companhia e entretenimento para crianças com condições crônicas de saúde.
60
Coordenação por adição do tipo não discrepante - A segunda forma de adição vem sem preocupações quanto
às discrepâncias. Não sugere que as relações têm um objeto em comum. Em vez disso, tomam as relações como
187
As tecnologias do Cuidado promovidas pelos Netbooks estão nos permitindo acessar
as discrepâncias e não discrepâncias coordenadas pelos arranjos sociotécnicos que cuidam
de modo alternativo por vinculações entre humanos e não/humanos, assim como os
acoplamentos entre humanos e humanos, não/humanos e não/humanos. Desse modo,
podemos repensar a afetividade vinculada aos Netbooks, crianças, familiares e profissionais
como algo não abstrato ou impalpável, mas como afetação que se materializa por intermédio
de elementos sociomateriais, configurando na prática o que é tocante, ou melhor, o que é
sensível. Estes nos convidam a refazer as fronteiras éticas e culturais, onde os feitos não são
apenas iminentes aos humanos, mas socialmente materializados por relações heterogêneas
(LAW & MOL, 1992; LATOUR, 2001; MOL, 2002a; DESPRET, 2011).
Assim para Carlos temos uma afetação do tipo sociomaterial, pois que a modulação
de afetos através do sorriso da criança, ou seja, o seu contentamento, está ligada aos
instantes em que suas mãozinhas e olhares se voltam para a tela do Netbook despertados pela
sonoridade emitida por seus joguinhos (softwares instalados).
Carlos está ligado a materialidades distintas, como o próprio Netbook, cateter,
fluxômetro e a extensão de borracha, que configuram juntos uma Tecnologia do cuidado. Essa
Prática do Cuidado nos faz pensar na afetação como algo que também se esparrama e se
infiltra entre as fissuras e dobras da pele (da criança), não se limitando ao coração ou ao
cérebro, mas em/entre esses e em/entre todos os órgãos e sistemas que o compõe, inclusive
seus pulmões, e desses em relação a tudo com que diagramam sobre a cama e com todas as
topologias que esta Prática fricciona, chega a acessar (DESPRET, 2004; DAMASCENO,
2007). Ou ainda, trata-se de uma Tecnocultura do Cuidado, que em meio a momentos de
tensão ou simples adição de artefatos, compusera ambiências de cuidado, ou melhor,
topologias do cuidado, que modularam afetos, mediante o envolvimento de objetos atuantes e
múltiplos nem sempre coerentes entre si, mas que se prenderam por meio de performances
[enactments] que produziram, ou desfizeram realidades sobre o leito hospitalar, referentes ao
cuidado de uma criança hospitalizada (LAW, 1997; MOL, 2002a; MOL; MOSER; POLS,
2010).
Assim o cateter O2 não incomoda Carlos nem a cama o entedia ou considerada apenas
um lugar seguro por conta da rede de oxigênio que tem por perto. Do mesmo modo, como
sugestões para ação: uma relação boa pode ser motivo para seguir determinada ação; duas ou três relações boas
dão mais razões para seguir a ação (MOL, 2002b).
188
ficar entre quatro paredes do quarto-enfermaria não compreende ficar distante da
brinquedoteca ou da sala de informática e cidadania, uma vez que seu corpo manteve um
encontro marcado com a brinquedoteca, com a Sala de Informática, mesmo atrelado à
superfície de sua cama.
Assim, temos ―afetos‖ como elementos que devem se desvencilhar do encarceramento
que as restringem ao mundo ―orgânico‖, do ―vivente‖, pois estão em arranjo com outras
entidades, como os próprios criadores dos Netbooks, os seus softwares, dos joguinhos,
daqueles que tiveram a ideia de inserir computadores no ambiente hospitalar para serem
utilizados por crianças hospitalizadas como aparato pedagógico ou de entretenimento, bem
como à conexão a outros artefatos, como é o caso de cateter de O2 tipo óculos, extensão de
borracha, fluxômetro, o próprio O2 e a rede por onde circula o oxigênio, que possibilitam a
oxigenioterapia à criança, mantendo sua estabilidade orgânica enquanto brinca (LÓPEZ,
2005; GÓMEZ-SORIANO, 2008; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO, 2008; DESPRET,2011).
Por isso, para ficarem sobre a cama, atuando como companhias de crianças restritas ao
leito, os netbooks requerem lençóis, interpelam por uma espacialidade organizacional.
Sendo assim, exigem álcool 70%, compressas e hamper por perto, interagindo aí, com
diversas entidades, espaços. É proveniente disto o encanto do computador, pois não agiu
sozinho, mas na companhia de compressas limpas, lençóis e flanelas, cabo de energia elétrica
conectada à rede elétrica, já que sua bateria estava descarregada. Permitindo-nos, sim,
participar e apreciar, ao mesmo tempo, da montagem de uma ambiência de cuidado.
Concomitantemente, ocorreu entre elas a constante atenção para que as atividades
fossem efetuadas livres de infecção cruzada. Exigindo a configuração de uma espacialidade
do tipo biossegurança, visto que a superfície da cama interpelou por isolamento por meio de
lençóis, coero ou fraldas de pano, assim como por uma prévia desinfecção do Netbook e de
seus cabos de energia; não sendo suficiente, a lavagem das mãos aconteceram a todo instante
na pia. Assim como a antissepsia através de álcool 70% – ora pressionando a almotolia com
álcool a 70%, ora pressionando os porta-géis alcoólicos, uma vez que as mãos da educadora e
das crianças61 tocavam o computador a todo o momento.
61
A prática com Carlos aconteceu concomitantemente com a de outra criança (Lucas), ambos internados no
mesmo quarto.
189
Levei uma almotolia álcool a 70% para passarem em suas mãos (Andanças 15 descrições). Passei álcool em minhas mãos mais uma vez – este hábito, eu percebi
que foi o que mais fiz ao estar entre os dois meninos. Próximo à porta do quarto
deles tinha um porta-gel 70% álcool. Ora era esse que eu usava, ora era o álcool
líquido em uma almotolia que eu havia levado até lá e deixado por perto
estrategicamente (Andanças 15 - descrições).
As atividades com o computador promoveram uma espacialidade do tipo
entrelaçamento de tempo e espaço, pois houve um aceleramento do tempo, ―passou mais
rápido‖ (Andanças 15 – criança Carlos). Assim como interpelaram mais uma vez por uma
espacialidade organizacional ao solicitaram por uma aproximação de diversos saberes e
práticas, entre eles: o básico de informática, noções de infância, biossegurança, práticas e
postura pedagógica, assim como o simples ato de conversar para convencer a criança da
relevância do lanche em relação ao Netbook, já que havia brincado e aquele horário passaria a
ser dedicado à alimentação.
Brincou por mais uns 10 minutos. Já estava no horário do lanche. Foi então que
decidi que a brincadeira no computador parasse, pois tinha que comer. A mãe
reforçou que ele precisava parar para se alimentar. Ela lembra que ele e o pai,
quando começam a brincar de videogame vão até tarde, inclusive, se deixar
esquecem de se alimentar. Foi então que falei que havia um lanche gostoso
chegando. Ele pareceu entender e parou de brincar. Pedi as mãos dele, ele não
entendeu, eu ri e disse que era para passar álcool novamente, ele entendeu e
estendeu as duas mãos. Passei em uma, a outra apenas nas pontas dos dedos, por
causa da tala de PVC+ velcro com pano com estampa de bichinhos. Em seguida
retirei o netbook, apliquei álcool 70%, o mesmo fiz com o cabo de energia
(Andanças 15 - descrições).
Não bastando, devido à exigência do computador portátil e os diversos elementos a ele
arranjados, os corpos de quem o prepara para atividades e de quem brinca sobre o leito com
ele, pede pela configuração de uma espacialidade do tipo ergonômica. Ambos, criança e
educador ou um responsável (mãe), precisam se movimentar; os educadores ou responsáveis
devem flexionar suas articulações ao colocar ou retirar propés para ter acesso à morada
(Laboratório de Informática) das máquinas, para segurá-las, limpá-las, fazer a desinfecção,
assim como deslocá-las para outras topologias. Enquanto a criança flexiona seu corpo, suas
pernas, vertendo sua cabeça em direção à tela do computador, mexendo seus dedos sobre o
teclado e touch.
190
Peguei-os [Netbooks], realizei desinfecção. Deixei tudo pronto. Fui até o posto, falei
para a enfermeira que brincaria com as crianças no leito, se haveria algum problema
ou não. Disse que não. Que poderia, deveria sim realizar as atividades. Perguntei em
seguida de pano para cobrir a cama, bem como um avental para eu colocar, já que
não estava utilizando jaleco. Orientou-me pegar na rouparia da clinica (Andanças 15
- descrições). Coloquei mais uma vez os propés e adentrei à brinquedoteca. Abri a
sala de informática. Passei álcool novamente nos dois netbooks, em seus cabos de
energia e os guardei (Andanças 15 - descrições). O pequeno Carlos sentado de
pernas cruzadas sobre o leito, quem o visse, parecia estar na posição para meditação.
Digamos que, de certa forma, era um modo de fazer meditação: concentrado no
joguinho, na realidade, estava centrado em seu direito de brincar, enquanto junto a
esse arranjo estava à conexão de oxigênio, cooperando ao complementar O2 para o
corpo de Carlos (Andanças 15 - descrições).
Sua mãe, no entanto, permanece na poltrona descansando; ela que por muitas vezes
desloca-se carregando o filho em seu colo, como aconteceu ao levá-lo da Brinquedoteca para
o quarto-enfermaria: "Carlos seguiu para a enfermaria no colo de sua mãe‖ (Andanças 15 –
descrições). E, no momento em que seu filho brincava no leito, ela aproveitou para se sentar
na poltrona e mexer no celular, o qual estava sobre o domínio da criança até a chegada do
computador portátil. Já para o educador ou o responsável pelos computadores, o intuito é o de
convergir e articular todas as exigências do computador portátil para que possa se deslocar
com segurança até uma enfermaria para realizar algumas de suas potencialidades sobre o
leito, junto à criança hospitalizada. Portanto, esse enquanto software, teclado, dígitos,
sonoridade, ou seja, enquanto espacialidade de companhia e entretenimento, assim como
moduladores de afetos do tipo contentamento e motivação, permite que a criança brinque.
6.6. Netbooks que cuidam de Lucas
Para a singularidade de Lucas, assim como vimos em Carlos, descrevemos apenas
alguns efeitos locais (realizados na Pediatria), pois nesse dia não utilizamos rede de internet
do hospital para conexão62, ou seja, não foi possível verificar efeitos provenientes de
interferências do ciberespaço – apesar de nos ter instigado a pensar sobre elas futuramente.
Sendo assim, através do Netbook, mantivemos entretenimento a partir de jogos e atividades
que foram previamente instalados.
62
A Internet do Hospital não tem Wireless (WiFi) disponível para a Pediatria, funciona por meio de pontos de
rede que precisam de autorização para serem utilizadas. Como exemplo (sala de prescrição médica, o posto de
enfermagem e o Laboratório de Informática).
191
As ferramentas sociotécnicas que contribuem para a composição de Tecnologias do
Cuidado correspondem, simetricamente, à emissão de efeitos e, como já descrito, destacamos
os de espacialidade, modulação de afetos e efeitos de Humanização em Saúde. Estes, tanto no
caso de Carlos como de Lucas, advieram de inconstâncias de coletivos heterogêneos
compostas por artefatualidades médico-hospitalares e/ou não médico-hospitalares, que não se
restringem às submissões, métodos, protocolos ou configurações previamente estabelecidas,
mas aos acontecimentos momentâneos (CALLON, 2008; MOSER & LAW, 2001).
Esses arranjos do cuidado nos convocam a um constante re-fazer ou recomeçar, assim
como a um contínuo acompanhamento dos momentos de quando ocorrem essas reformulações
e das múltiplas performances [enactments] dos objetos sociotécnicos que compuseram cada
ação de cuidado e da própria reconfiguração de como se planejou agir (LAW & MOL, 1992;
LATOUR, 1994; HARAWAY, 1995; DE LAET & MOL, 2000; LAW, 2004; VIANNA;
SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008).
No caso do interesse do menino Lucas em participar das atividades no leito, interpelou
reordenação de espaço, sendo esta reordenação do tipo organizacional ligada às práticas
de cuidado com computadores no leito, o que não era tão esperado. A reordenação, segundo
Latour (1994), põe à prova o manifesto de que não encontramos essências em uma prática ou
evento, como é o caso de um Netbook que se acopla ao menino Lucas, enquanto ele brinca no
leito hospitalar. Ou seja, Tecnologias do Cuidado são confeccionadas a partir do que se tem
em mãos; e, referente a um Netbook, promulgado [enacted] como um cuidador, é uma
entidade que auxilia no cuidado de um menino sobre o leito, se articulando a vários outros
objetos sociotécnicos que se encontravam disponíveis nos lugares próximos à enfermaria,
para lidar e manejar os possíveis conjugados configurados pelo inesperado evento.
Voltei ao quarto-enfermaria e perguntei a [Carlos] se queria brincar com o
computador no leito. Consentiu na hora (Andanças 15 - descrições). Entretanto,
outro menino, o que estava com a vendagem em um dos olhos [Lucas], escutou e
também quis na hora (Andanças 15 - descrições). Surpresa, eu [...] perguntei para a
mãe dele se [Lucas] poderia brincar. Ela deixou (Andanças 15 - descrições).
Como a educadora estava com os dois Netbooks preparados, ou seja, com atividades e
joguinhos instalados, acabou acontecendo sem empecilhos à composição de uma
espacialidade organizacional, assim como de uma espacialidade de biossegurança – já que
192
estavam limpos e com a desinfecção feita, significando que emitiam segurança. Portanto, tais
espacialidades somaram-se, possibilitando que a educadora reordenasse suas ações,
proporcionando a Lucas que brincasse.
As espacialidades do tipo organizacional e a do tipo biossegurança se declararam
[enactment] por conta do acoplamento entre Lucas e o Netbook, bem como no momento do
desacoplamento das entidades e de uma diversidade de elementos que compunham com elas
tais espacialidades, apesar da montagem das espacialidades entre Lucas e o Netbook acontecer
concomitantemente com as da cama ao lado. Isto é, paralelamente à fabricação das
espacialidades provenientes do acoplamento e desacoplamento de Carlos e o outro Netbook da
Brinquedoteca, as exigências foram singulares para cada arranjo sociotécnico. Sendo assim,
as espacialidades de organização e de biossegurança em meio a eventos praticamente fixos,
ou melhor, permeadas por móveis – imutáveis63–, como: abrir e fechar o Laboratório, transitar
entre Laboratório de informática, brinquedoteca, refeitório, corredor, posto de enfermagem,
circular pela enfermaria, deslocar até a rouparia, lavagem das mãos, aplicação de álcool nas
mãos, utilização de avental, coero como forro protetor para o leito, realização de desinfecção,
realizar descarte dos materiais no hamper e guardar os Netbooks limpos e com desinfecção
feita. Vale ressaltar que a utilização de avental foi apenas para manter o corpo da educadora e
seus microorganismos limitados a ela, haja vista que transitar entre as duas crianças com o
mesmo avental, exigiu distanciamento do corpo da educadora das crianças e do leito que
ocupavam.
No entanto, outras conexões foram responsáveis por moldar e manter as
singularidades das espacialidades de organização e a de biossegurança [enactments], dos
acoplamentos e desacoplamentos de Lucas e o Netbook: a conexão inicial se deu a partir da
não intencionalidade; sobre o coero isolamento, ficou o Netbook e um boneco de pano da
criança; a antissepsia de Lucas abrangeu as duas mãos, pois não estava com acesso, ao
contrário de Carlos que estava com tala e acesso salinizado, sendo realizada antissepsia
completa em uma das mãos e apenas nas pontas dos dedos da mão com fixador de acesso
venoso periférico. Quanto ao desacoplamento, aconteceu no instante em que a criança, o
Ben10, a mãe, os chinelos e suas malas receberam a visita de um familiar que chegara para
buscá-los; acelerando a retirada de todas as materialidades que estavam sobre o leito, na
63
São todos os tipos de transformações que materializam uma entidade em um signo, um arquivo, um
documento, um pedaço de papel, um traço, permitindo novas translações e articulações ao mesmo tempo em que
mantêm intactas algumas formas de relação (LATOUR, 2001: 350).
193
medida em que os seus moradores temporários iam se despedindo. O Netbook, sozinho, com
desinfecção realizada, temporariamente permaneceu envolto por um saco plástico sobre a
poltrona, onde a mãe de Lucas estava sentada, aguardando o momento de a educadora
terminar as práticas com a outra criança, para ser levado para o armário do Laboratório de
Informática.
[...] lembrei dos Netbooks do Programa de Extensão. Peguei-os, realizei desinfecção.
Deixei tudo pronto (Andanças 15 - descrições) [...] voltei à rouparia, peguei os
panos, coloquei o avental, passei pelo quarto dele, coloquei nas camas, sala de
informática. Fui para a sala de informática, abri novamente, peguei os Netbooks,
fechei a sala e fui para o quarto (Andanças 15 – descrições). Porque tive que ligar e
arrumar um de cada vez. Levei uma almotolia álcool a 70% para passarem em suas
mãos (Andanças 15 - descrições). Em seguida eu recolhi o Netbook, passei álcool
com uma compressa. Deixei sobre a poltrona, já envolvido com um plástico.
Desprezei o pano (flanela no hamper do quarto). Passei álcool em minhas mãos mais
uma vez, este hábito, eu percebi que foi o que mais fiz ao estar entre os dois
meninos. Próximo à porta do quarto deles tinha um porta-gel 70% álcool. Ora era
esse que eu usava, ora era o álcool líquido em uma almotolia que eu havia levado até
lá e deixado por perto estrategicamente (Andanças 15 - descrições). Guardei, deixei
junto com o outro, a seguir desprezei os panos no hamper. Peguei os Netbooks, fui
guardá-los no Laboratório de informática (Andanças 15 - descrições).
As particularidades clínicas de Lucas estavam em sua vedação ocular direita; este
havia realizado uma cirurgia de correção de hemangioma64 recentemente, conforme foto
mostrada com entusiasmo pela mãe. A fotografia mostrava uma anomalia infraorbital65 do
lado direito da face, que fora corrigida através de práticas de cirurgia e sanado qualquer
problema vascular futuro. O retrato compôs uma Tecnologia do Cuidado cujo efeito
modulador de afeto mais relevante se vinculou a contentamento da mãe e de seu filho, frente a
uma espacialidade clínica de pós-cirúrgico.
64
Refere-se a um tipo de tumor cutâneo benigno que envolve capilares de margens bem definidas, mas também
pode envolver vasos mais profundos de bordas não tão bem definidas. Embora muitos dos hemangiomas não
requeiram tratamentos devido a sua alta taxa de involução espontânea, a terapia pode ser necessária para corrigir
a obstrução da visão e das vias aéreas (ASKIN & WILSON, 2006).
65
Noções de anatomia: região fica na base de cada olho.
194
Apesar de sua, a espacialidade
configurada pela fotografia e pelo póscirúrgico, logo é deixada de lado, vindo a
tona a espacialidade do tipo companhia e
entretenimento
promovida
por
seu
parceiro de aventuras: o boneco de pano
Ben10 com tapa olho (Figura nº. 48). Este,
a
princípio,
um
simples
boneco
industrializado, inspirado num desenho
animado, mostra-se múltiplo, haja vista
que o boneco também estava com uma
Figura nº.48 – Boneco Ben10 com tapa olho, sobre o
leito, ao lado do Netbook.
vedação em seus olhos, um esparadrapo intencionalmente colocado no boneco por uma das
técnicas de enfermagem a pedido da criança.
Sendo assim, Lucas e seu amigo Ben10 possuíam uma simetria, o boneco era
singularmente ―o amigo‖ do Lucas, ―companheiro‖ do Lucas (HARAWAY, 2011). E,
acoplado ao menino, se fez Tecnologia do Cuidado, emissor de efeito de modulação do tipo
motivação estabelecido pela simetria.
E, ao aceitar as atividades no leito com o Netbook, ―o amigo‖ do Lucas mostrou-se tão
relevante, que o computador só foi aceito definitivamente após uma negociação.
Vale ressaltar que houve atrito de consentimento diante da cogitação de escolher entre
ambos, mas que foi resolvida ao deixar o boneco ao lado. Sendo assim, não houve
prevalência, já que a espacialidade e a modulação de afetos promovidos pelo boneco não
foram substituídas.
Mol (2002a) denomina situações como essa de coordenação por
Calibração66, visto que ambos promovem espacialidades de companhia e entretenimento
paralelamente, ou seja, sem se articularem, e não é uma simples adição, pois aconteceram
66
Coordenação por calibração - Uma segunda forma de coordenação é aquela da calibração das relações. Se os
efeitos de uma ação foram ouvidos como se cada um falasse por si sozinho, eles podem ficar confinados em
diferentes paradigmas. A questão se diferentes efeitos dizem a mesma coisa ou se dizem algo diferente não seria
respondível – de fato mal poderia ser perguntada. A possibilidade de se negociar entre elementos distintos só
surge graças aos estudos de correlação que ativamente os tornam comparáveis um com o outro. A ameaça da
incomensurabilidade é combatida na prática se estabelecendo medidas comuns. Estudos de correlação permitem
a possibilidade (nunca sem atrito) de traduções.
195
atritos, os quais necessitaram de uma tradução do evento envolvendo ambos, diferenciando-se
do evento envolvendo Carlos e o Netbook – o momento em que a conexão de oxigênio estava
acontecendo no leito, pois neste caso, apenas se adicionaram, não houve atritos, nem teve
necessidade de negociações.
As interpelações do Netbook no leito de Lucas ora se aproximaram das interpelações
que aconteceram no leito de Carlos, ora se tornaram totalmente diferentes. Mas deve-se
ressaltar que tanto os arranjos no leito de Carlos, como os configurados no leito de Lucas,
mantiveram-se paralelos, sem interferirem um no outro.
Exemplo de aproximações entre ambos temos a espacialidade do tipo organização
efetivada sobre a superfície da cama de Lucas, que também foi feito utilizando,
improvisadamente, um coero; entretanto, ao lado do computador, vale lembrar, permaneceu
um objeto sociotécnico, como já descrito, o boneco ―amigo‖ do menino.
O momento de Lucas era de pós-operatório, já com alta hospitalar assinada. Ele estava
apenas ―descansando‖, ou melhor, brincando no leito com o seu boneco, e, agora, na
companhia do Netbook, aguardando um parente buscar a ele e sua mãe.
Segundo sua mãe, o menino estava com proposta de retorno para avaliação de rotina,
após sete dias de alta hospitalar, isto é, para a semana seguinte. Ao lado de sua cama, seu
chinelo o aguardava, na escadinha sua mala e de sua mãe estavam prontas para a partida,
esses compunham uma espacialidade de organização, simétrica à alta hospitalar do tipo
previamente avisada. A mãe, por perto, com o papel da alta hospitalar na mão, ora se sentava
na poltrona ora se aproximava da criança, do Netbook e do boneco, para incentivar e vibrar
por cada fase que o ―Mário e o Yoshi‖67 passavam, graças às habilidades de seu filho.
A mãe do menino Carlos conversava com ele e ele comentava com ela sobre o jogo
do Mário. Não só a mãe do lado, como também o seu boneco não saiu de perto dele,
um companheiro de aventuras (Andanças 15 - descrições). Até um conhecido do
menino (Andanças 15 – descrições) [...] chegar e falar que estava na hora de ir
embora [...] (Andanças 15 – descrições). Perguntei se havia gostado de brincar, ele
consentiu com a cabeça e, a seguir, com a ajuda da mãe sentou-se a beira da cama,
colocou seus chinelos que estava sobre a escadinha e, a seguir, desceu. A mãe pediu
para ele me agradecer e se despedir. O mesmo o fez de um modo especial, pois
puxou o Ben10 da cama para junto de si e em seguida disse um ―tchau‖, foi sucinto
(Andanças 15 - descrições). A mãe me agradeceu, cumprimentou apertando a minha
67
Software instalado nos Netbooks. Refere-se a um jogo de videogame desenvolvido pela empresa japonesa
Nintendo (www.nintendo.com/ ).
196
mão, dizendo que ele voltaria na semana seguinte para avaliação médica. O
conhecido dos dois pegou a mala e saiu na frente, em seguida o menino e a senhora
(a mãe dele) (Andanças 15 – descrições).
Sendo assim, tanto a expectativa da alta hospitalar quanto à companhia do boneco,
assim como os joguinhos no computador, conjugaram uma espacialidade de companhia e
entretenimento junto à mãe e filho, como também configuraram efeitos de espacialidades do
tipo entrelaçamento de tempo e espaço, uma vez que fizeram com que o tempo se
acelerasse, passasse mais rapidamente. Essa Tecnologia do Cuidado também fora responsável
por modular afetos do tipo motivação e contentamento pelo momento vivido. Haja vista que
motivou o desencadeamento de expressões de alegria e satisfação da mãe e da criança.
Quanto à mãe, não necessariamente brincou, mas o tempo também passou para ela pelo
simples fato de ver seu filho se divertindo, realizando atividades, após uma cirurgia recente.
Havendo, desse modo, modulação de afetos e reordenação de espaço para mãe. A mãe se
comportava como uma torcedora que permanecia ao lado de seu filho para incentivá-lo e
vibrar junto a ele (com o menino conectado às parafernálias não médicas), enquanto
aguardavam o momento de irem embora (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZSORIANO, 2008).
6.7. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização
Assim como os ―Computadores não portáteis que moram no Laboratório de
Informática da brinquedoteca‖, os Netbooks também são objetos sociotécnicos locais, ou seja,
ligados ao Programa de Extensão, ou ainda, componentes da brinquedoteca, mas que se
deslocam da Sala de Informática para os leitos, para as poltronas das enfermarias ou, como já
mencionado, para as mesas da brinquedoteca. Em ação, foram capazes de efeitos de
Humanização em Saúde, uma vez que efetivaram as diretrizes da Política de Humanização
do SUS: ―acolhimento‖, ―protagonismo‖, ―corresponsabilidade‖ e ―autonomia‖, durante as
atividades realizadas distintamente no leito com Carlos e Lucas.
197
6.7.1. Acolhimento
Quando Carlos brincava com os jogos do Netbook sobre o leito, ou seja, no lugar
escolhido por ele para estar, exerceu sua autonomia, mas também foi bem acolhido, visto que
havia na pediatria artefatos que possibilitaram que ele brincasse no leito. Não sendo diferente
para Lucas, pois que a pesquisadora-educadora tinha em mãos outro Netbook pronto para ser
utilizado, que estava limpo, com desinfecção realizada, com jogos instalados. Os Netbooks,
assim como os computadores que não saem do Laboratório de Informática, conjugaram
tecnologias do cuidado que permitiram a materialização de uma atenção alternativa e
resolutiva para os momentos nos quais as crianças precisaram passar o tempo, necessitaram
brincar, mesmo estando restritas ao leito. Os Netbooks requeriram uma articulação com outras
localidades da pediatria e do hospital para que houvesse a continuidade de uma assistência
(BRASIL, 2006) na enfermaria sobre o leito, que não esteve diretamente relacionada a uma
prática médica.
Portanto, proporcionaram confecções de espacialidades, assim como modelações de
afetos em constante conjunção com pelo menos uma das diretrizes da Política de
Humanização em Saúde, neste caso, enfatizamos efeitos ligados ao acolhimento.
As interpelações do Netbook o configuram como um cuidador desde o momento em
que se acoplou às crianças que estavam sobre o leito. E essa conjugação ocorreu apenas
através do consentimento das crianças, assim como pela disponibilidade de uma educadora,
porta-vozes dos Netbooks, bem como pela motivação de pais ou responsáveis, porta-vozes das
crianças. Notamos que na enfermaria um dos modos de se acolher a criança hospitalizada é
através das atividades com o computador. Tais atividades são fazeres e saberes singulares à
Pediatria do Hospital Universitário.
Simetricamente à Terapia Assistida por Animais (TAA) (PEREIRA; PEREIRA;
FERREIRA, 2007), levando em consideração as complexificações (MOL & LAW, 2002) das
artefatualidades, como os Netbooks quando interagiram com humanos, configuraram uma
relação de amizade e companheirismo. E, tanto para a relação que Carlos estabeleceu com o
Netbooks, quanto a que Lucas estabeleceu, os acoplamentos favoreceram a fabricação de
múltiplas espacialidades – sendo relevante na maior parte das vezes a do tipo entrelaçamento
de tempo e espaço e companhia e entretenimento. E, em decorrência destas, a criança e/ou
198
o acompanhante se envolveram com os jogos, com a possibilidade de touch, com as teclas do
teclado, com a sonoridade emitida e com o intuito de entreter, não percebendo o tempo passar.
Ressaltamos que a relação estabelecida entre Lucas e um dos Netbooks, não rompeu o seu
laço de amizade estabelecido com o boneco Ben10. O menino manteve os dois ao seu lado.
6.7.2. Autonomia
Não fugindo ao que aconteceu entre crianças e os ―Computadores que não saem do
Laboratório de Informática‖, notamos que Lucas e Carlos quando manipularam ―os seus
Netbooks‖, mesmo sobre a atenção de um adulto, a autonomia se fez via espacialidades, assim
como vinculada à modulação de afetos. Portanto, apesar de terem sido estudadas em tópicos
separados no Capítulo cinco, tais efeitos podem se encontrar juntos e correlacionados às
políticas de Humanização em Saúde por meio de artefatualidades.
Por isso quando Carlos escolheu ir para o leito devido à falta de ar, mesmo tendo a
bala de oxigênio como uma opção para permanecer na sala de informática, sua escolha foi
ouvida e respeitada, o que levou a efetivação de sua autonomia. Pôde permanecer brincando
com ―o seu computador temporário‖, como sua mãe referiu ao Netbook. Do mesmo modo, a
escolha de Lucas por permanecer sobre o leito com os dois brinquedos, tanto com o Ben10
quanto com o Netbook, foi consentida. Sendo assim, as crianças, puderam satisfazer suas
vontades, efetivar a autonomia via artefatualidades, a qual também revelou as performances
[enactments] da criança. E para Carlos, ainda surgiu uma terceira opção, a de permanecer
brincando sobre o leito com um Netbook enquanto recebia complementação de oxigênio
(BRASIL, 2006).
Relembrando, Lucas se acoplou ao computador portátil enquanto aguardava alguém
que viria buscá-lo e a sua mãe. Em meio a esse arranjo sociotécnico, a criança e sua mãe
tiveram a oportunidade de transpor o tempo que ainda os prendiam ao hospital. Enquanto para
Carlos o tempo e o espaço da pediatria ainda permanecerão com ele, assim como os
momentos de desconforto abrupto pela falta de ar, a dor ligada às novas punções, a saudade,
as normas. Por isso, o brincar, a possibilidade de negociações foram as razões que o fizeram
uma criança autônoma. E quando um computador portátil foi deslocado da sala dos
computadores para a superfície dos leitos de Carlos e Lucas, cada computador se acoplou a
199
uma criança; as quais passaram a compor arranjos sociotécnicos distintos, que, por simetria,
cooperaram para o cuidado, enfatizando a autonomia de coletivos heterogêneos em Saúde.
Mantendo efetivo em ambos os casos a diretriz ―autonomia‖, ou seja, um dos modos de se
emitir Humanização em saúde via artefatualidades.
6.7. 3. Corresponsabilidade e protagonismo
As atividades com Netbooks, como nas demais do Laboratório, se restringiram às
pessoas envolvidas com o Programa de Extensão, algumas enfermeiras e a recreadora, que
conforme as exigências dos computadores portáteis tinham acesso às chaves da sala de
informática, aos computadores, por conta do comprometimento com o subprojeto do
Programa, ou seja, com o Projeto de Informática e Cidadania. Assim como reuniam as
pessoas que já haviam passado por uma capacitação para lidar com crianças acopladas a
computadores, o que inclui os que permanecem na sala de informática, como também os
Netbooks. Como em um dia em que havia apenas uma educadora para lidar com as atividades
de Informática, ela teve que fechar a sala enquanto atendia as crianças no leito, indo ao
Laboratório apenas para pegar as artefatualidades necessárias para as atividades no leito.
Os computadores portáteis exigem dos educadores espacialidades do tipo
organizacional, haja vista que tiveram que saber onde não só os Notebooks estavam
guardados, mas também onde encontrar os outros elementos necessários, a saber, com quem
conversar e perguntar como conseguir os elementos que precisavam para compor a
espacialidade de companhia e entretimento – como aconteceu de uma das educadoras ir ao
posto e perguntar onde encontrar avental e ―panos‖ para cobrir a cama e, em seguida, compor
uma ambiência para brincar sobre o leito, assim como ordenar um espaço livre do risco de
contaminação cruzada. Por isso, interpelam à educadora, noções e biossegurança e a
responsabilidade de ensinar a criança e o acompanhante tais noções, de incentivar que
passem álcool gel em suas mãos antes e após lidar com os computadores.
As práticas com computadores portáteis exigem flexões corporais, que não se
restringem à emissão de espacialidades do tipo organização ou de biossegurança, mas
também do tipo ergonômica, que se encontram ligados à flexão corporal daquele que os
200
limpam, faz a desinfecção e os carregam. Espacialidade que se encontra vinculada às
modulações de afetos do tipo motivação do educador quanto a efetivar seu trabalho, assim
como presenciar sorrisos das crianças que lidam com os computadores; do mesmo modo, se
encontra vinculado ao contentamento da criança por poder brincar. Não fugindo ao que
acontece com os demais computadores do Laboratório de Informática, com os Netbooks há
confluência para a efetivação da corresponsabilidade e de protagonismo tanto pelo
educador, que organiza uma ambiência segura e agradável para a criança brincar, o que
potencializa o protagonismo e corresponsabilidade das artefatualidades, como pelas
crianças. Enquanto o computador auxiliar no cuidado requererá cuidados do educador, das
crianças, dos outros profissionais da clínica e dos acompanhantes ou responsáveis.
201
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Cuidado na Prática, topologicamente localizado nos espaços de uma pediatria, nos
permitiu refletir a respeito de um Cuidado de Enfermagem contemporâneo, o qual não estaria
mais restrito à benevolência ou ações promovidas por figuras angelicais ou santas,
despedimo-nos, portanto, definitivamente do ranço iluminista. Também nos oportunizou
pensar em uma Enfermagem ciborgue, ou melhor, flagramos uma Enfermagem na qual
humanos e não/humanos (o que inclui outras entidades, não só as máquinas) compõem
―espécies de companhia‖ que configuram cuidado. Ainda incitou-nos a ativar, de certa forma,
as Notas de Enfermagem [Notes on Nursing] escritas por Florence Nightingale, e percebê-las
a partir de estudos sociotécnico, como preocupações sobre como intervir na vida diária das
práticas de cuidado, com o intuito de promover a saúde das pessoas. Sendo assim, pudemos
compreender, da perspectiva de nossos estudos, que os objetos sociotécnicos e arranjos de
cuidado provenientes da relação computador-criança hospitalizada pode dizer, não de uma,
mas de diversas Tecnologias do cuidado. E que estas não se excluem, e podem, ao contrário,
serem complementares.
Adotamos a praxiografia como recurso metodológico por enfatizar as diversas
performances [enactment] nas práticas de cuidado. Incorporamos ainda a noção de artífices
que nos ajudou a entender o ofício do mosaicista – mosaicistas pesquisadoras de incidentes do
tipo mosaico, ao compormos, juntamente com inventário dos objetos/mapas, diários,
andanças/itinerários, desenhos praxiográficos e fotografias, que foram de grande relevância
para a nossa pesquisa, para as nossas análises.
A partir da presente pesquisa apostamos em um modo de edificação de um método
que se distanciasse da investigação urgente. Esta conseguiu produzir rupturas com a ―velha‖
rotina arraigada à hegemonia masculina e machista de se fazer pesquisa, bem como dos
separatismos entre o ―fazer ciência‖ e ―não ciência‖, inaugurada pela modernidade.
Contrariando, portanto o pensamento clássico, a nossa pesquisa se efetivou, pois conseguimos
configurar uma praxiografia dos arranjos sociotécnicos de computadores, tendo estes objetos
como permanentes produtores de eventos.
202
No capítulo ―Um Hospital Escola‖, compomos de certa forma, uma versão do
Hospital pelo qual andamos. A composição aconteceu, portanto, através de ―actantes‖ como
documentos online, falas de uma professora-enfermeira entrevistada, bem como reflexões
concedidas, os quais declaram que na pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller, o
cuidado sempre esteve ligado intencionalmente à atividade recreativa, o que foi fortalecido,
segundo os incidentes de nossos estudos sociomateriais, por pequenas atitudes, conversas de
corredores, e a seguir, potencializado pelos projetos de pesquisa e extensão da UFMT. Entre
eles, o Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. Este, que se tornou
atrativo para os nossos estudos sociotécnicos, principalmente porque alguns de seus
componentes, os computadores, aos se relacionarem com crianças, demonstram-se potentes
objetos sociotécnicos recreativos, mas também se declaram como fiéis entidades que auxiliam
no cuidado.
Com relação à seção das ―As Andanças pela pediatria‖, ressaltamos que os desenhos
praxiográficos transbordam uma planta arquitetônica, ou melhor, não correspondem à planta
de arquitetura da pediatria. Esses derivam dos itinerários de nossas caminhadas pela pediatria,
ao seguirmos pistas de objetos sociotécnicos, em nosso caso, pelas intensidades das
performances momentâneas dos computadores que se relacionaram com crianças
hospitalizadas. E, a escolha de adentrar pelos fundos do hospital, foi uma necessidade de
buscar argumentos que nos vinculassem como um híbrido (pesquisadora/educadora)
conectivo entre a Universidade e o Hospital Escola.
No capítulo ―Computadores que cuidam I‖, notamos que as Tecnoculturas do Cuidado
se deram através de relação estabelecida entre ―computador fixo-criança hospitalizada‖. Ou
seja, este vínculo foi o responsável pelo desencadeamento de diversos arranjos sociotécnicos
do cuidado, cúmplices da Promoção de Saúde de uma criança hospitalizada.
Discorremos, dessa maneira, enquanto exercitávamos a organização dos eventos por
coordenação do tipo adição, sobre alguns efeitos produzidos pelos computadores que habitam
a brinquedoteca. Além disso, enfatizamos as espacializações configuradas nos instantes que as
artefatualidades colaboravam para cuidar da criança. Quando necessários incidentes mosaicos
foram repetidos com a intenção de ampliar as reflexões ou revelar que outros efeitos estariam
acontecendo ao mesmo tempo. Em destaque temos os seguintes efeitos: biossegurança,
companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço.
203
E sobre modulações de afetos, pudemos descrever os do tipo: motivação, desmotivação;
contentamento; descontentamento. Discutimos também vinculações de espacialidades e
modulações de afetos aos efeitos de Humanização em Saúde por artefatualizações
(acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo). Sendo assim, através do
acoplamento computador-criança hospitalizada, o laboratório de informática se transformou
em um lugar onde a criança tem o poder do ―fazer de conta‖, onde ela pode fazer tudo o que
não é admitido na ―vida real‖. Acompanhantes declararam que a brinquedoteca e a sala de
informática conectada a ela compreendem lugares e momentos onde seus filhos podem
satisfazer suas próprias vontades, ou seja, efetivar sua autonomia. Pudemos flagrar rupturas
com as rotinas hospitalares, ou melhor, a actância da criança-computador como
desencadeadora de tecnologias de cuidado, que se declarou como contribuinte para a criança
hospitalizada lidar e se relacionar com o coletivo heterogêneo da pediatria, bem como
negociar com adultos o seu cuidado. Assim como nos deparamos com o entrelaçamento de
tempo e espaço, também promovido pela relação computador-criança hospitalizada, que
colaborou para ―o tempo passar mais rápido‖.
As confusões cotidianas em meio às interferências de afetações (as provenientes das
incertezas clínicas de uma criança) foram se ajeitando, mas vale dizer de uma estabilidade
momentânea. Em nossos estudos, entendemos que reordenações de espacialidades e
modulação de afetos configuram uma Lógica do Cuidado, ou melhor, Promoção de Saúde.
Isto é, as actâncias sociotécnicas negociaram suas afetações confessadas, apaziguando-as via
Tecnologias do cuidado, neste caso, atravessadas pelas interpelações da relação computadorcriança.
No capítulo ―Computadores que cuidam II‖, enquanto exercitávamos a organização de
eventos por coordenação do tipo adição, assim como por coordenação do tipo calibração,
voltamo-nos para os efeitos produzidos pelas práticas de cuidado de dois Netbooks sobre o
leito de duas crianças, com ênfase nas espacialidades, modulações de afetos e Humanização
em Saúde. Novamente, ressaltamos que alguns dos incidentes mosaicos que montamos foram
repetidos, mas com o propósito de ampliar nossas reflexões. As espacialidades configuradas
foram: clínica; biossegurança; companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica;
entrelaçamento de tempo e espaço. As quais se ligaram com modulação de afetos do tipo:
motivação, desmotivação; contentamento; descontentamento. Descrevemos também os
Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades: acolhimento, autonomia,
corresponsabilidade e protagonismo. Deparamo-nos, portanto, com computadores móveis se
204
relacionando com meninos em descanso no leito de uma enfermaria. Tivemos a oportunidade
de estudar os meandros de uma ―geografia‖ complexa das modulações de afetos e
espacialidades efetivadas pela relação estabelecida entre computador móvel-criança. Assim
como pudemos coparticipar da transformação da superfície de um leito hospitalar em uma
cama a partir das interpelações provenientes da relação estabelecida. Portanto, trombamos
com diversos coletivos heterogêneos em cada leito, que a partir das exigências da conexão
Netbook-criança hospitalizada, compuseram diferentes tecnologias do cuidado.
Frisamos que tais reordenações de espacialidades com interferências de modulações
de afetos se declararam contribuintes para a Promoção em Saúde [ Improving in Health] de
modos singulares e momentâneos. Entretanto, poderão se efetivar com distinção das
primeiras, ou simplesmente não provocarem nenhuma interferência.
Em uma releitura de duas distinções caras ao cuidado em saúde – a primeira condiz
com tecnologias leves, leve-duras e duras e a segunda sobre tecnologias diferenciadas por
níveis de complexidade – propomos pensar que as propriedades variam a depender do modo
como performam: uma mesma tecnologia pode ser leve, leve-dura ou dura. Práticas cotidianas
ou tecnologias, aparentemente insignificantes (GALINDO et. al, 2009), são complexas e
simples ao mesmo tempo dependendo de como performam (MOL & LAW, 2002).
O incremento do cuidado na vida diária concomitante à garantia de direitos das
crianças hospitalizadas em pediatrias são preocupações constantes na enfermagem. Nesta
pesquisa não deixamos estas inquietações de lado, entretanto, fomos conduzidas a pensá-las
de modo sociotécnico, de uma maneira que fugisse aquilo que é ―instituído pelo hábito‖
(SPINK, 2003) da vida diária, ou seja, refletir de um modo não/antropocêntrico as práticas em
enfermagem nas quais a distinção entre humanos e não/humanos é apenas uma das formas de
falar sobre complexificações sociotécnicas em cuidado, porque flagramos objetos
sociotécnicos, arranjos e tecnologias como integrantes de reordenações de espacialidades,
modulação de afetos e da Promoção em saúde. Com as crianças, percebemos que o cuidado
não se encontra na superfície do corpo, nem em uma tecnologia, mas na híbrida superfície do
cotidiano.
Durante a pesquisa, as crianças hospitalizadas, os acompanhantes e equipe foram
parceiros de pesquisa. Sendo assim, propomos como um dos desdobramentos de nossos
estudos, compartilharmos com eles o texto da pesquisa, ou melhor, o modo como narramos
205
nosso trabalho na forma de oficinas sociotécnicas educativo-estéticas (GALINDO et. al,
2012), abrindo a novos trabalhos e multiplicidades.
206
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223
APÊNCIDES
224
APÊNDICE A
MAPA DE VISITAS E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Nº. de
visitas
Data
Por onde andou?
O que fez?
Com quem conversou?
Por quanto
tempo?
18/out sala de coordenação de enfermagem; sala de
V1
chefia imediata de enfermagem pediátrica;
corredores
do
hospital;
Pediatria
(brinquedoteca; laboratório de informática;
posto de enfermagem; sala de repouso da
enfermeira; enfermarias de adolescentes;
lactentes; sala de procedimentos, jardim de
inverno; expurgo; apresentação do projeto;
conversa, distribuição e recolhimento de
assinaturas de termos da equipe de
enfermagem; visita geral a pediatria
observações e descrições gerais; brinquei no
balando com uma criança
apresentação
do
projeto;
conversa,
distribuição e
recolhimento de assinaturas de
termos
da
equipe
de
enfermagem;
visita geral a
pediatria;
observações
descritivas em geral; brinquei
no balando com uma criança
coordenação de enfermagem; chefia imediata de enfermagem;
enfermeira da clinica técnicas de enfermagem; alunos de
enfermagem; professora de enfermagem do 7 semestre;
alunas de psicologia aluno de mestrado em educação infantil;
alunos de enfermagem do nono semestre; crianças
8:30 às 13:30
225
V2
brinquedoteca; posto de enfermagem;
20/out laboratório de informática; repouso das
técnicas de enfermagem; repouso de
enfermeira; refeitório; corredor da pediatria
apresentação do projeto;
conversa,
distribuição e recolhimento de assinaturas de
termos da equipe de enfermagem; visita
geral a pediatria observações e descrições
gerais
apresentação
do
projeto;
conversa,
distribuição
e
recolhimento de assinaturas de
termos
da
equipe
de
enfermagem; visita geral a
pediatria;
observações
descritivas em geral.
enfermeira do setor; técnicas de enfermagem; professora de
enfermagem; alunos de enfermagem;
8:45 às 12:30
técnicos de enfermagem; enfermeira
V3
brinquedoteca; posto de enfermagem;
laboratório de informática; repouso de apresentação
do
projeto;
21/out enfermagem; refeitório; jardim de inverno; conversa,
distribuição
e
corredor da pediatria
recolhimento de assinaturas de
termos
da
equipe
de
enfermagem;
sala de repouso da enfermeira; posto de
enfermagem; brinquedoteca; posto de
enfermagem; laboratório de informática;
refeitório; jardim de inverno; corredor da
pediatria
V4
25/out
apresentação
do
projeto;
conversa,
distribuição
e
recolhimento de assinaturas de
termos
da
equipe
de
enfermagem; entrevista com
uma técnica de enfermagem
observações e descrições das
atividades dessa técnica
12:40 às 15:00
enfermeira; técnicas de enfermagem;
12:45 às 18:00
226
V5
V6
V7
visita minuciosa em todas as alas da descrições minuciosas de todas
alas
da
pediatria;
pediatria, inclusive sala dos médicos as
enfermeira; técnicos de enfermagem; mães e crianças.
observações
de
incidentes
(prontuários)
envolvendo
técnicos
de
enfermagem,
enfermeiras,
residentes
de
medicina;
crianças e acompanhantes;
observações
e
descrições
28/out
minuciosas.
enfermeira; técnicas de enfermagem; mães; crianças
sala
de
repouso
da
enfermeira;
brinquedoteca; posto de enfermagem; observações,
descrições
e
31/out refeitório; brinquedoteca; jardim de inverno; entrevista com uma técnica;
repouso de técnicos de enfermagem; visita específica, marcada com
corredor da pediatria
técnica de enfermagem
conversas;
observações,
sala de repouso da enfermeira; posto de descrições de técnicas de enfermeira; técnicas de enfermagem; mães; crianças
enfermagem; refeitório; brinquedoteca; enfermagem que participam da
laboratório de informática; jardim de pesquisa; entrevista com um
das técnicas que participam de
inverno; corredor da pediatria;
pesquisa
03/nov
10:00 às 19:00
15:00 às 17:00
12:50 às 17:00
V8
sala de repouso da enfermeira; posto de
enfermagem; refeitório; brinquedoteca;
04/nov laboratório de informática; jardim de
inverno; corredor da pediatria; expurgo;
isolamentos
enfermeira; técnicas de enfermagem; crianças; mães; limpeza
conversas;
observações; de mobiliário
descrições; entrevista com uma
atendente de enfermagem com
desvio de função (desinfecção
de mobiliário da pediatria)
13:00 às 17:30
227
V9
V10
V11
V12
sala de repouso da enfermeira; posto de
enfermagem; refeitório; brinquedoteca;
06/nov laboratório de informática; jardim de
inverno; corredor da pediatria; enfermaria de
adolescentes; enfermaria de lactentes
sala de repouso da enfermeira; posto de
enfermagem; refeitório; brinquedoteca;
laboratório de informática; jardim de
inverno; corredor da pediatria; enfermaria de
adolescentes;
apresentação
de
projeto, enfermeira; crianças; mães; professora de enfermagem do 7
conversa e apresentação de semestre de enfermagem; mães; crianças;
termo e coleta de assinaturas de
interessados da equipe e de
crianças e acompanhantes;
observações; descrições
apresentação
de
projeto,
conversa e apresentação de
termo e coleta de assinaturas de
interessados da equipe e de
crianças e acompanhantes;
observações e entrevista com
11/nov
duas das técnicas participante
da pesquisa e com uma criança;
uma mãe
conversa,
observações
e
sala de repouso da enfermeira; posto de descrições
de
incidentes
enfermagem; refeitório; brinquedoteca; específicos no refeitório, jardim
laboratório de informática; jardim de de inverno e brinquedoteca.
inverno; corredor da pediatria
mães; crianças; enfermeira;
18/nov
técnicas de enfermagem;
sala de repouso da enfermeira; posto de
enfermagem; refeitório; brinquedoteca;
24/nov jardim de inverno; corredor da pediatria;
enfermaria de adolescentes;
17:00 às 21:00
mães; crianças; enfermeira; técnicas de enfermagem;
recreadora; alunas de psicologia vinculadas ao Programa de
Extensão
9:00 às 17:00
mães; crianças; enfermeira; técnicas de enfermagem;
conversa,
observação; mães; enfermeiras (circulante e do setor); professora de
entrevista com uma das técnicas enfermagem; crianças; limpeza; limpeza de mobiliário;
participante
da
pesquisa; estudantes de enfermagem; técnicas de enfermagem
fotografias da brinquedoteca
17:00 às 20:30
18:00 às 21:00
228
coordenação de arquitetura; coordenação
infraestrutura; coordenação de enfermagem;
biblioteca setorial;sala de repouso da
enfermeira; posto de enfermagem; refeitório;
brinquedoteca; jardim de inverno; corredor
da pediatria; enfermaria de adolescentes;
V13
30/nov
V14
posto de enfermagem; sala de materiais e
equipamentos;
enfermarias;
refeitório;
brinquedoteca;
laboratório
de
informática;
jardim
01/dez
de
inverno;
busca de material referente a
história do hospital; busca da
planta da pediatria antiga e
atual; conversa; observações e
entrevista com uma mãe após
apresentação
de
projeto,
assinatura
do
termo
de
consentimento; apresentação do
projeto, assinatura do termo por
uma enfermeira; marcado dia
de
entrevista
com
duas
enfermeiras;
Marcado para buscar cópia de
material do histórico do
hospital com responsável por
acervo na biblioteca setorial;
marcado
entrevista
com
professorea enfermeira sobre
histórico do hospital e pediatria;
visita ao site do HU para mais
informações do histórico do
hospital
mães; pais; crianças; enfermeira do setor; nutricionista;
secretariado da biblioteca, coordenação de arquitetura;
secretariado geral da ala de coordenações; trabalhadores do
setor de manutenção predial – estrutura física do hospital;
professora de enfermagem; mães, crianças; limpeza; pessoal
da nutrição; limpeza de mobiliário; técnicas de enfermagem;
enfermeiras (circular; enfermeira do setor do plantão,
enfermeira de outro dia de plantão)
conversas;
fisioterapeuta; professora; enfermeiras (do setor e circulante);
observações;>descrições;
alunos de enfermagem; pais; mães; crianças; limpeza;
apresentação de projeto, termo de nutrição; secretária; limpeza de mobiliário
consentimento para mae; coleta de
assinatura; entrevista com mãe;
fotografias
09:30 às 14:30
12:20 às 16:30
229
Posto de enfermagem; >enfermarias; sala de
repouso de enfermeira; corredor; brinquedoteca;
sala de informática e cidadania; jardim de
inverno; refeitório; isolamento; rouparia da
clinica;
sala
de
materiais;
sala de procedimento; sala de prontuário
(prescrição médica)
V15
03/dez
corredores do hospital; refeitório das crianças;
brinquedoteca; Posto de enfermagem; Setor
administrativo; CPD; Quartos –enfermarias;
biblioteca setorial; Posto de enfermagem
V16
06/dez
conversas;
observações,
descrições;
apresentação
de
projeto, apresentação de termos e
coleta
de
assinaturas
de
acompanhantes; rastreamento de
diagnóstico médico de pacientes
participantes
da
pesquisa;
desenvolvi
atividades
como
educadora do Programa de
Extensão, atuando com crianças na
sala de informática e no leito
(atividades de entretenimento no
PC convencional e no leito); iniciei
construção de inventário de
brinquedos e materiais que compõe
arranjos de tecnologias do cuidado;
verifiquei
funcionamento
do
sistema em que enfermeria realiza
prescrição
e
evolução
de
enfermagem;
verifiquei
as
restrições dos sites para verificar
com CPD liberação (youtube.com,
por exemplo); tirei fotografias
comemoração de despedida de
algumas educadoras do programa
de
extensão;
observações
descritivas de práticas de técnicas
de enfermagem e enfermeira; visita
ao CPD para verificação de
permissão
de
acesso
a
determinados sites pelo grupo de
extensão que encontravam-se
bloqueados.
mães; pais; crianças; enfermeira do setor; nutricionista; com
pessoal do Programa de Extensão via e-mail (despedida das
primeiras alunas de psicologia que participaram do programa);
8:30 às 16:15
alunas de psicologia; mestranda da educação; enfermeira
voluntária; professoras do sétimo semestre de enfermagem;
enfermeira do setor; pessoal do CPD; pessoal do setor de
arquitetura e infraestrutura; bibliotecários; pessoal da
educação continuada; recreadora; pessoal da limpeza; técnicas
9:15 às 15:00
230
de enfermagem; fisioterapeuta; mães e crianças hospitalizadas
V17
repouso da enfermeira; enfermarias posto de entrevista;
observações; enfermeira; pais e mães das crianças; crianças técnicos de
enfermagem; brinquedoteca; sala de informática; apresentação do projeto; coleta de
enfermagem; alunas de psicologia
08/dez jardim de inverno
assinatura; conversa com as
meninas da psicologia
9:00 às 14:00
231
APÊNDICE B
INVENTÁRIO DE OBJETOS SOCIOTÉCNICOS
Objetos
Lençóis
Botas de cano
longo
Portão
68
Características e funções
determinadas68
Características e funções diversificadas
Incidentes
mosaicos
(Dia de andanças - IT)
(Linhas - L)
Forro, aquecer, isolante, protetor. Peça que Com estampa que serve com atrator para a criança brincar; peça que IT.1.L122-L124; IT. 6.L134cobre ou envolve o colchão de uma cama.
compõe a brincadeira de esconder sobre o lençol; é utilizado para L136;
IT.14.L517-L521;
sobrepor a cama para colocar materiais de entretenimento sobre esta IT.16.L133-L135
(netbook; joguinhos como dominó; cartas, etc.)
Proteção dos pés e pernas para trabalho de
limpeza.
Compõe a indumentária do pessoal da limpeza, o que distingue IT.14.L517-L521; IT.17.L9dos sapatos dos acompanhantes e equipe de saúde da clínica, L13
lembra que lugares estão sendo limpados.
Limite entre estar dentro ou fora de diversos Local de aquecimento para entrada da pesquisadora; conversas
setores do hospital, divisória, proteção. informativas; trocas de indumentárias.
Porta grande, geralmente gradeado que dá
acesso à uma área envolta por muros ou
cercas.
Nesta seção consultamos dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2009; HAOUAISS, 2009).
IT.7.L8-L10
232
Solo, assento, pavimentação.
Terra (visitante
externo)
Conjunto de duas lentes para compensar
defeitos visuais, montado em armação
própria com duas hastes que se prendem á s
Óculos
orelhas. Óculos de sol: proteção ocular do
(visitante
sol; acessório. Óculos de grau: para leitura,
externo)
um acessório para melhorar visão durante
estudos.
Vestimenta, acessório.
Camiseta/blusa
(visitante
externo)
Identificação dos locais; algumas tem
função de placa de homenagem; placa de
Placas de
apoio material ou financeiro. Encontramos
identificação de PVC, metal; madeira, ou ainda de TNT.
Grudando nos pés da pesquisadora, compôs o seu cominho de
escolha para entrada ao hospital pelo lado em obras. Parte
momentânea da indumentária da pesquisadora.
IT.2.L14;
Indumentária que compõe momentos distintos da pesquisadora
IT.2.L15; IT.13.L8-L24;
(antes de adentrar a pediatria - sol, e, após adentrar a pediatria - IT.14.L7-L13; IT.15.L9-L12
grau).
Compõe a indumentária da pesquisadora (proteger contra os IT.10. L7-L9; IT.13.L8-L24
raios solares).
;IT.14.L7-L13; IT.15.L10L12
Função de atrativos para crianças, acompanhantes ou para IT.1.L123-L124;IT.11.L210agradar a qualquer um que acesse a pediatria, por isso, L216
apareceram como decorativas, algumas apareceram com o
formato de Desenhos (golfinho rosa) ...
233
Portas
Divisória, privacidade, limites entre lugares. camuflagem para crianças que brincam de esconder atrás dela;
De metal, de madeira, de vidro transparente. estandarte para fixar informativos que condizem com a
numeração do quarto da pediatria; caracteriza a entrada, dos
fundos, frente, garagem,do hospital. Na pediatria, há portas de
vidro transparente; estas permitem visualizar e acompanhar
quem esta do outro lado com maior precisão e segurança e
mostrar-se presente para os que estão por ali; sua transparência
possibilita visualizar a movimentação; serve de quadro mural
para anexar informativos (sobre os projetos que funcionam,
retirada de sapatos); proibição de entrada de alimentos no
local.
IT.1.L102; IT.1.L123-L124;
IT.1.L218-L220; IT. 1.L256L257; IT. 1.L270; IT. 2.L12;
IT. 2.L59; IT. 4.L14;
IT.4.L17-L18; IT.6.L7-L15;
IT. 7. L139 – L141; IT.8. L
25 – L33; IT. 8. L212 –
L220;
IT.11.L13-L16;
IT.11.L161-L163;
IT.13.L42-L46; IT.14.L88L92; IT.14.L517-L521;
IT. 1.L102; IT. 4.L106L107; IT.5.L89-L101; IT. 8.
L83 – L88; IT.9. L177l180;
IT.11.L15-L16;
IT.11.L220-L227;
IT.15.L44—L46;
Copos
Utilizado como recipiente para beber
líquido,alimentos semilíquidos. Os mais
comuns foram os copos descartáveis, estes
apareceram em destaque no posto de
enfermagem. Disponibilizado também pela
copa do hospital para uso no refeitório ou
nos quartos. De vidro e plástico não
descartável
foram
encontrados
para
consumos particulares no repouso das
técnicas. Pode ser encontrado como "copo
do umidificador" que precisa ser preenchido
com soro fisiológico até a marca indicada ou
o frasco aspira que após uso ou
preenchimento, precisa imediatamente ser
lavado para reposição.
Descartável do posto de enfermagem, para armazenar e
deslocar medicamentos via oral; de vidro, de plástico não
descartável no repouso das técnicas de enfermagem compõe os
momentos de descanso, de distanciamento momentâneo do
posto e dos cuidados. Os descartáveis levam a adentrar ao
posto na maioria das vezes, aparece em meio a momentos de
descanso na cadeira de fio do posto, final de alguma prática,
final de atividades, despedidas, ou troca de ideias sobre
Assistência de enfermagem, prescrição. Aparece como um
conector entre copa/cozinha do hospital via carrinho de
refeições ao posto, quartos e refeitório das crianças. Compõe
um ambiente de refeição; consumo de alimento.
234
Acessos à tubulações de ar comprimido; É uma companhia, pois convive com as crianças que
oxigênio; vácuo ao conectar-se em um necessitam de complementação de o2. E, em meio a atividades
fluxômetro, frascos e extensões de borracha. de informática sobre o leito, ajuda a cuidar, ao interagir não só
com extensões de borracha, frascos, fluxômetros, como
Entradas/saídas
também com rede de energia, netbook, superfície da cama,
com lençóis, joguinhos instalados, mãos, dedos, tala, cateter
sobre agulha.
Assento ou banco para uma só pessoa, com Constituem espaços (descanso no posto; hora de alimentação
costas e algumas vezes com braços.. Há de ou conversas no refeitório; no laboratório de informática; na
vários tipos no setor: de fio, com rodas, brinquedoteca para atividades, para conversas de mesa,
encosto de madeira infantil e adulto, cadeira cadeiras
de
banho).
convencional,
cadeira
de
alunos, São companhias que podem circular (do laboratório para a
Cadeiras
cadeira de plástico.
brinquedoteca, ou jardim de inverno) ou ficar restrito nos
lugares (posto); crianças sentadas nas cadeiras altas (para
adultos) requerem auxilio de outra pessoa para a criança
descer.
Pequeno saco, de couro, plástico, pano, Compõe a indumentária da pesquisadora. Acompanha ela em
habitualmente usado para carregar dinheiro suas andanças.
Bolsas
e miudezas.Armazenamento de objetos para
(visitantes
deslocamento, um acessório de mão.
externo)
IT.1.L93-L94 IT.16.L135137; IT.15.L155 – L159
IT.1.L102;
IT.4.L54;
IT.11.L161-L163;
IT.11.L169L209;IT.11.L210L216;IT.15.L68-L69;
IT.15.L84-L88; IT.15.L109L117;
IT.16.L24-L27;
IT.17.L106
IT. 15.L13-L14
235
Remate de metal ou madeira, de fôrma
arredondada ou piramidal, para ornamento
de móveis e outros objetos, ou por onde se
pega para abrir ou empurrar portas, por
exemplo.
Maçaneta
Entretenimento, meio para se obter diversas
informações tanto para adulto quanto para
criança.
Televisões
Crachá
(visitante)
Compõe situações, como a de ligar a pesquisadora às IT.1.L36; IT. 8. L253 – L259
memórias de suas vivências antigas na clinica ao adentrar a
sala de repouso da enfermeira (afetações); neste local, sua
função ao ser manipulada (empurrada) também virou um ato ,
pois de empurrar a maçaneta da porta teve como fim da
expectativa de encontrar alguém conhecido do outro lado.
Segurar e empurrar ou abrir algo que leva a outras
espacialidades, não apenas a outro espaço, mas a um lugar de
adultos que se conversa sobre crianças.
Configura uma comunhão entre adultos e crianças ao ter que assistir
o mesmo canal de escolha. Quando ligada a vídeo game, constitui
lugares de entretenimento, as crianças passam o tempo, distraem
para aguardar procedimentos, aproximam pais e filhos ao brincarem
juntos na televisão com video game ou assistindo à canais de
televisão.Nos quartos isolamentos, ampliam a dimensão de
isolamento, pois as televisões que ficam anexadas à parede também
compões ambiências de passagem de tempo, permeia interações,
compõe entretenimento. Na brinquedoteca, as televisões também
estão ligadas a determinados momentos que precisam ser
obedecidos, pois lembram as normas da pediatria, como o caso dos
horários que podem ser ligadas.
Espécie de insígnia que fixa num local do corpo Atrator de crianças; vincula atividades com criança; vincula hospital
(na roupa) onde fique visível a identificação.
a universidade; companheiro de quem o utiliza, neste caso, a
pesquisadora-educadora.
IT.1.L244-L246; IT.5.L49-L57;
IT. 6.L115 - L117; IT. 6.L177L181; IT. 7.L63-L67; IT. 7.
L119 – L120; IT.8 L15 – L18;
IT. 9. L24 – L28; IT.9.85;
IT.10.L42-L54;
IT.10.L294L303;
IT.10.L620-L626;
IT.10.L702-L704; IT.11.L74L79;
IT.11.L89-L96;
IT.12.L16-L19;
IT.12.L109L112;
IT.4.L72-L78
IT2.L15-L21;
IT.2.L19;
IT.7.L8-L10; IT.8.L7 -L9;
IT.10.L7-L9;
IT.13.L8-L24;
IT.14.L7-L13; IT.15.L10-L12;
IT.16.L11-L24
236
Da brinquedoteca; dos alunos, dos professores; Companheiros dos alunos, das crianças, dos educadores, dos
da pesquisadora. São fonte de entretenimento, profissionais da clínica. Muitos que identificamos moram na IT. 15.L13-L14
informações.
brinquedoteca, mas também visitam os leitos das crianças,
assim como os brinquedos o fazem. São incentivadores da
aproximação da relação maes/pais e filhos hospitalizados.
Livros
Cadernos
Hampers
Da pesquisadora, dos alunos; crianças e, estes É um companheiro que ao configurar espaços para pintura, rabiscos,
são Locais para anotações, desenhar. Podendo esboços, enfim, para entretenimentos ou para um pensar educativo,
serem visitantes o moradores da pediatria.
tanto individual como em grupo ou junto com um educador ou pais
(no caso das crianças), mas também acabam, ao mesmo tempo que
se declararam companheiros, também passearam pelo leito da
criança e mesas da brinquedoteca, dividiram espaço com livros,
brinquedos e computadores.
Armazenador de panos sujos, roupas
contaminadas. É composto de um saco de pano e
possui uma armação de ferro, e,tem rodinhas
para deslocamento.
IT.9. L23-L24; IT.11.L20L24; IT.13.L-105- L107;
IT.14.L30-L37; IT.14.L63—
L66; IT. 15.L13-L14
São ligantes de espaços, já que muitas vezes os panos sujos da IT.12.L651-L667; IT.17.L143brinquedoteca tem que ser descartadas nos hampers dos quartos. São L145;
IT.15.L176-177;
alertas sobre a necessidade de incorporar noções de biossegurança, IT.15.L189-L190
em especial, para as mãos de quem desloca com materiais sujos ou
contaminado até eles precisam serem lavadas. Um armazenador de
material utilizado nas atividades na brinquedoteca, superfície do
leito, no laboratório de informática.
237
Estantes
Propés
Vídeogame
Armazenar, organizar. Encontramos na clínica:
para propés, para livros, para brinquedos, para
medicamentos; rouparia, equipamentos médicohospitalares.
São armazenadoras de roupas, aonde crianças,
acompanhantes e profissionais vão para buscar
tais materiais, específicos para as necessidades
(coero, saco de hamper, capote fraldas,
camisolas, conjunto camisa-shorts, aventais,
lençóis, propés...).
É apoio para criança que está com mobilidade de membros inferiores
prejudicadas, para bebês que estão aprendendo a se deslocar.
Configuram espaços, habitações de determinados objetos, reordenam
e compõe ambientações distintas, dependendo da relação que
estabelece com as pessoas que as acessam, e seus interesses quanto
os objetos que armazenam; locais para se desbravar, haja vista os
tipos de materiais que armazenam; Compositoras de momentos de
autonomia para a criança e para a família ao pegar um propé, um
livro, um brinquedo, estando estes a altura de sua estatura.
Cobradoras de flexões, inflexões, quando armazenam coisas que
ficam acima ou abaixo da altura das pessoas.
Isolar os pés, evitar infecção cruzada pelos pés são recepcionistas e acompanhantes dos educadores, pais , crianças
que transitam pela pediatria, pelo hospital, pelo para adentrar a brinquedoteca. São utilizados para brincar de
lado externo do hospital e, que tem acesso a deslizar/ escorregar nos espaços da brinquedoteca. Como são
lugares estéreis como o centro cirúrgico.
grandes para os pés das crianças menores, ora ficam saindo de seus
pés, ora ficam no pé. Compõe espaços que se dão fora da
brinquedoteca, ou melhor, ficam na fronteira questionadora entre
acessar ou não acessar a brinquedoteca com propés ou descalços?
Também são aquecedores, pois aquecem os pés dos que não podem
ficar com os pés no chão gelado. Ligam à enfermarias onde há
Hampers para serem desprezados nestes. Cobra de quem os utilizam:
realização de inflexões e flexões para colocá-los.
Jogo que usa uma tela de monitor e um controle É uma estratégia para realização de um procedimento (puncionar,
eletrônico.
aceitar medicação); uma troca, distração enquanto espera medicação
em acesso venoso terminar (mostrou-se um subversor espaçotempo); configura espaços para se brincar sozinho ou em coletivo; é
um conjugador entre mães e filhos; são amplificadores do local,
neste caso, a brinquedoteca.
IT.11.L150-L160; IT.1.L248L250; IT.4.L79; IT. 5.L25L27; IT.8. L70-L76;IT.10.L88L90;
IT.10.L326-L330;
IT.11.L25-L48;
IT.11.L150L160
IT.2.L50; IT.7.L21-L23; IT.
7.L86-L97; IT.8. L 12-L14; IT.
8. L212 – L220; IT.9. L23-L24;
IT.10.L60-L68;
IT.11.L16L19;
IT.11.L124-L141;
IT.11.L169-L209; IT.13.L-105L107;
IT.13.L71-76;
IT.14.L30-L37;
IT.14.L63—
L66;
IT.15.L52-L54;
IT.15.L47-L48;
IT.15.L189L196; IT.15.L201; IT.16.L50L52;
IT.17.L113-L114;
IT.17.L134-L136; IT.17.L143L145
IT.1.L244-L246; IT.2.l69-L70;
IT.4.L72-L78; IT.4.L350-L351;
IT. 7.L28-L30; IT. 7.L30-L32;
IT. 7.L55-L63; IT.7.L82-L85;
IT. 7.L86-L97; IT. 7. L135L138; IT. 8.L16 – L18; IT. 8.
L122 – L125; IT.10.L654L656;
IT.10.L743-L745;
238
Display video
(Dvd)
Aparelho para assistir vídeos fílmicos, musicais,
desenhos.
São divisória. Abertura a meia altura de paredes
que liga o lado interno ao lado externo. Permite
claridade, circulação de ar.
Janelas
Notebook e
netbook
Notebook é um computador portátil. Netbook é
uma variação mais simples do computador. São
de fácil manuseio e mobilização. São pequenos e
práticos. Com função de conexão via internet;
produções textuais, em vídeos, fotos, gráficos,
pinturas; permite entretenimento. Alguns podem
IT.11.L83-L88;
IT.12.L109L112;
IT.12.L152-L166;
IT.12.L388-L397; IT.13.L204L213;
IT.14.L74-L75;
IT.15.L181-L187
Configura momentos de decisões, onde crianças e adultos que IT.1.L244-L246; IT.14.L517mexem no aparelho, manipulam os DVD para se escolher de algo L521; IT.15.L60-L62
para assistir, negociam; crianças; acompanhantes e profissionais, ao
escolherem um canal, compõe um espaço de entretenimento típico
de cada DVD assistido.
Se vidro transparente: acompanhar quem está do outro lado com
IT1.L156-L156;
IT.1.L233maior precisão e segurança; brincar de fazer bichinhos invisíveis
L234; IT.5.L34-L41; IT.5.L77sobre o vidro (fazendo sonoridade no vidro, movimentos com a mão, L88;
IT.
15.L14-L16
;
caras e bocas); não sair do alcance da visão da criança. Se de vidro IT.16.L85-L91;
IT.16.141opaco permite ficar escutando ruídos externos, vozes, imaginando
L143
quem poderia estar do outro lado. Com vidro transparente permite
interação como destacado. É um objeto sociotécnico que aproxima
espaços, contribui para um cuidado a distancia, contribui para
segurança da criança e familiares, apesar de retirar privacidade. Com
o vidro pintado, fica opaco, vira um protetor da luz do sol externo e
privacidade quando necessário, há algumas em alguns quartos onde
as tem não abrem, deixando quem está do lado de dentro ouvir
alguns rumores externos e imaginar quem e o que está se passando
do outro lado. Muitas das janelas são de vidro transparente e não
abrem, permitindo isolar o quarto para ligar o ar condicionado, tendo
contribuições das janelas que abrem e fecham (tanto as com vidro
transparente ou não).
Os netbooks e notebook do programa: são Cuidadores que se IT. 6.L49-L55; IT. 6.L174deslocam até o leito da criança restrita a este espaço; são brinquedos L176;
IT.
7.L238-L241;
e brincadeiras para/da/com a criança acamada (pós-cirúrgico, IT.11.L20-L24;
IT.14.L63—
isolamento, fraqueza generalizada, instabilidade generalizada, ou L66;
IT.15.L77-L78
que está restrita ao leito por conta de alguma medicação que requer IT.15.L117-L199
uma séria monitoração de sinais vitais) ou simplesmente, numa IT.15.L135-L199
239
ser de alunos de professores, acompanhantes situação corriqueira, aguarda a alta hospitalar; é um bom
e/ou crianças, ou do programa de Extensão companheiro que se agrega facilmente a outras materialidades, como
Cuidar Brincando.
mãozinhas de crianças pequenas e com atadura, tala; parafernália
que protagoniza junto com criança, acompanhante e equipe; na
pediatria requer desinfecção, utilização de lençóis ou flanela no leito
quando cuida sobre o leito; muitas vezes requer presença de um
educador do projeto, acompanhante ou alguém da equipe, caso a
criança não saiba mexer nestes; é um uma entidade que contribui
para alfabetização digital e computacional, ja´que a acessa ao mundo
das TICs; requer retirada de parafernálias ao final das atividades;
desinfecção lavagem ou passar álcool a 70% nas mãos de todos os
participantes que mexeram no netbook ou notebook que estava com
determinada criança. É um companheiro, um cuidador, mas também
permite ser tomado como da criança provisoriamente. Em alguns
momento, foi relevante este se agregar a bateria, o que permitiu que
este efetivasse, ligado a rede de energia quando a bateria não estava
carregada, brincar, cuidar. São subversores de espaço tempo. Os
computadores de professores, alunos e pesquisadora foram flagrados
como companheiros de reuniões, de estudo, de jogos de ideias, na
maioria das vezes sem o uso de internet, mas vinculado à
informações de armazenadores como pendrives.
IT.15.L150-L152
IT.15.L152-L159
L176
IT.15.L183-L192
IT.15.L193-L196
IT.15.L172-
IT.1.L216;
IT.2.L23-L24;
IT.1.l288-L289;
IT.1.L291;
IT.10.L628 – L631
240
Estes referem-se aos computadores fixos.
Permitem conexão via internet; produções
textuais, em vídeos, fotos, gráficos, pinturas;
entretenimento; requerem manutenção continua;
permitem aperfeiçoamentos razoáveis via
periféricos
e
software.
Encontramos
computadores fixos no repouso da enfermeira,
na sala de prescrição médica, no posto de
enfermagem e no laboratório de informática da
brinquedoteca.
Computadores
Entretenimento e demais produções coletivas e individuais com as
crianças hospitalizadas; motivador de deslocamento da criança do
quarto; pesquisa de informações pelas crianças ou familiares
responsáveis por estas (medicamentos de auto-custo; sobre a
doença); compõe uma espacialidade que se aproxima de um lugar
conhecido (familiar, caseiro, doméstico); realização de atividades
educativas; interação via internet com familiares e com outras
crianças hospitalizadas no hospital universitário da USP via projeto
paralelo ao do Informática e Cidadania, o que é intitulado Pediatria
em rede; motivador de socialização com crianças hospitalizada com
ela; aproximação de familiares e da equipe; ameniza necessidade de
hospitalização; brinquedo e brincadeira da criança hospitalizada;
parafernália que protagoniza junto com criança, acompanhante e
equipe; requer desinfecção continua; requer lavagem com água e
sabão ou passar álcool a 70% nas mãos da criança; requer presença
de um educador do projeto, acompanhante ou alguém da equipe;
apresentação ou acesso ao mundo das tics; tomado como seu
provisoriamente; computadores integram a equipe multiprofissional;
as atividades no laboratório de informática agregam alunos de vários
cursos, necessidade de monitores-educadores; capacitação para lidar
com crianças no hospital; na brinquedoteca associado à amplitude do
local; um dos alteradores de espacialidades (cama que se transforma
em ambiente de brincadeira); é motivo para quer ser internado
rapidamente (novidades no local); é recepção da pediatria para as
crianças já na internação; utilizado para pesquisa; confecção de
conhecimento mútuo; aproxima pessoa; articula-se com outras
materialidades.
IT.1.L42; IT.1-L60; IT.1.L78L79; IT.1.L90; IT.1.L104L107; IT.1.L314; IT.2.L163;
IT.4.L71-L78; IT.4.L252-L257;
IT.4.L262-L263;
IT.4.L351;
IT.4.L385-L386; IT.5. L28L33; IT. 6.L49-L55; IT.6.L57L69; IT.6.L72-L75; IT.6.L102L107; IT. 6.L115 - L121.; IT.
6.L166-L176;
IT.7.L15-L17;
IT. 7.L238-L241; IT. 7.L254L262; IT.9.L56-L68; IT. 9.
L166 – L175; IT. 9.L177-L182;
IT.10.L14-L21; IT.10.L60-L68;
IT.10.L139-L164; IT.10.L280L293;
IT.10-L356-L357;
IT.10.L358-L366; IT.10.L358L369;
IT.10.L475
–L487;
IT.10.L610-L618; IT.10.L620L626;
IT.10.L706-L707;
IT.10.L713-L718; IT.10.L743L745;
IT.10.L743-L745;
IT.11.L161-L163; IT.12.L152L166;
IT12.L310-L316;
IT.12.L388-L397; IT.12.L399L415;
IT.12.L439-L457;
IT.12.L494-L501; IT.13.L204-
241
Cadeiras com
rodinhas
Haste com
rodinhas
Parapeito
Bolas
L213;
IT.
13.L147-L156;
IT.13.L24L-L27; IT.14.L329L336;
IT.
15.L12-L14;
IT.15.L68-L69; IT.15.L64-L70;
IT.15.L72-L75; IT.15.L96-L97;
IT.15.L102-L103; IT.15.l150L159;
IT.15.L179-L183;
IT.15.L192-L201; IT.15.L202L203;
IT.16.L59-L85;
IT.16.L153-L156; IT.17.L13L17;
IT.17.L22-L34;
IT.1.L251-L255
IT.1.L251-L255
Assento
com
maior
facilidade
movimentação; ajuste de altura.
para de plástico o que facilita a lavagem com água e sabão ou aplicação
de álcool a 70%; girar na cadeira; com ajustes de altura brincar de
elevar ou abaixar a cadeira; assento de criança e de seu
acompanhante ao seu lado (aproximação).
suporte de soro para fácil deslocamento
Deslocamento facilitado de algo pesado.>brincar de empurrar a haste IT. 4.L58; IT. 4.L67-L69; IT.
que geralmente encontra-se com bomba de infusão; 4.L78; IT. 7.L30-L32; IT.
Responsabilidade dos acompanhantes de empurrar haste da criança. 7.L71-L85; IT. 7.L75-L85;
IT.7. L102-L111; IT. 7. L108L111; IT.11.L236-L266; IT.
14.L65-L73
Parede de apoio que se eleva mais ou menos à Espaço de troca de ideias, conversas, encontro. Morada de IT.1.L88
altura do peito.
prontuários de prescrição, telefone, exames laboratoriais.
Objeto, geralmente esférico, para ser atirado,
batido, chutado, empurrado, carregado, rolado
ou arremessado, dependendo do jogo em que
está sendo usada. As bolas podem ser duras ou
macias, maciças ou cheias de ar. Muitos esportes
importantes são jogados com bola. Entre eles
está o futebol. De todos os tamanhos e
coloração, material e textura.
Brincadeira de jogos que une familiares à criança que se recupera,
que precisa de se movimentar, que não tem restrição de movimentos
bruscos; podendo ser utilizada no leito, sentando-se com a criança no
chão para brincar de agarrar e jogar; algo que a criança morde; pode
ser utilizada em seções de fisioterapia ligada a especificidades
fisioterapeutas; subversão de tempo-espaço; brinquedo tomado como
seu provisoriamente.; jogo de basquete, em cesta imaginarias
(constituição com as mãos, baldes...); induz a construção imaginaria
IT.1.L88
IT. 7.L75-L85; IT.7. L235 –
L238; IT.9.L87-L98;
IT.10.L507-L508; IT.10.L658L668; IT.11.L118-L123;
IT.12.L162-L166; IT12.L310L316; IT.12.L388-L397;
IT.15.L60-L63
242
Móbile
Aparato móvel, composto de elementos
suspensos, perfeitamente equilibrados, que se
movimentam com a passagem do ar.
Reproduz
as
formas
humanas,
predominantemente a feminina e a infantil. As
bonecas industriais podem ser confeccionadas
com diferentes materiais, acompanhando a
evolução das novas tecnologias. É um brinquedo
associado às meninas, no entanto, existem
versões de bonecos direcionados aos meninos,
guardando ambos, como elemento essencial para
a sua caracterização, as formas que lembram a
humana, ou humanizada. As bonecas (os)
Bonecas(os) diferenciam-se de outros tipos de bonecos que
industrializada representam outras formas de vida, como
e artesanais animais do mundo real (bichos de pelúcia como
ursos ou um coração de pelúcia), do mundo da
fantasia, da literatura, do cinema ou do
imaginário popular.Bonecas (os) artesanais são
brinquedos confeccionados manualmente para
crianças se divertirem, diferentemente de um toy
arts, que seriam de carater expositivos
(brinquedos para adultos), uma recordação,
decorativo ( é o caso das bonecas russas de
porcelana); as (os) bonecas (os) artesanais são
de origem de diversos materiais, de
de traves para gol (com outros materiais); compõe uma espacialidade
de entretenimento; de vínculos/mediações; podem ser enfeite, como
os de enfeite de natal. Sendo assim, podem ser brilhosos, chamarem
atenção de crianças pelo brilho e coloração. Entretenimento, compõe
uma espacialidade que reduz o estresse.
Lúdico para a criança que passa por algum procedimento médico
cirúrgico (passagem de cateter central); alivia tensão para o
acompanhante que presencia procedimento e quer manter contato
com seu filho sem muita tensão (interage com o bebe mexendo no
móbile suspenso).
Criança dormir abraçada; conversa com a boneca sobre a internação;
conta suas historias de vida para a criança; faz teatrinho com as
bonecas; boneco terapêutico, usado para catarse das crianças
(preparo para exames, procedimentos cirúrgicos, punções venosas);
são arremessados pelas crianças; são utilizados pela para descontar
raiva, pois a criança bate na boneca; são brinquedos provisórios,
emprestados; um dos responsáveis pelas alterações de espacialidades
(cama-leito); compõe, portanto, vária modos de relação de afetos. Os
bonecos no formato de ―papai Noel‖, compõe uma espacialidade de
data festiva cristã. Bonecas artesanais:Produções provenientes de
criatividade; produto de trabalho apresentado por uma artesã local
como atividade a ser desenvolvida pelos interessados; Uma atividade
com finalidades artesanais, concentração; subversão espaço-tempo;
brincadeira aberta; como produto final para enfeitar a clinica, ser
levada como lembrança e para futuras multiplicações do
aprendizado; para venda para compra de mais materiais para se
trabalhar na clinica; Terapêutico como simulador de um
procedimento (punção, cirurgias); serve para arremesso (desconta
na boneca); algo com o brigar com a boneca; Companheiro de
aventuras como o Ben10 que divide espaço com o netbook num
momento que uma criança aguarda para ir embora (alta hospitalar).
Um simples coração de pelúcia que mora no posto de enfermagem
com a função de "pedir silencio", não sendo apena algo decorativo.
IT.5.L82-L88;
IT.1. L 116-L117; IT. 4.L80;
IT.4.L102-L105;
IT.4.L190L194; IT.6.L18-L19; V4.L102L105; IT. 4.L359; IT.6.L44L49;
IT.
6.L49-L51;
IT.10.L171-L175; IT.10.L337L342;
IT.10.L507-L508;
IT.11.L118-L123; IT.12.L504L509; IT.12.L542-L551; IT.
14. L304 – L318; IT.15.L29L31;
IT.15.L32-L36;
IT.15.L139-L143; IT.15.L159L163;
IT.15.L166-l174
IT.17.L17-L21;
IT.17.L139L143
243
reaproveitados, como pedaço de pano, linhas, Há o caso do estetoscópio com bichos de pelúcia (algo animado),
tintas.
que compõe espacialidades que afetaram não só a criança, mas
também outros profissionais - ameniza tensões, aproxima.
Motoca
Máscaras
Gorro
Pequeno veículo de três rodas, dotado de pedais, desloca-se pela brinquedoteca, jardim de inverno e refeitório e
que se usa para transporte de pequenas cargas.
corredores da pediatria; redobra a atenção do cuidador quando a
Espécie de velocípede de três rodas.
criança quer andar de moto e está com punção conectada a bomba de
infusão fixada em uma haste de metal (um balé).
Passar o tempo, entretenimento; compõe uma brincadeira móvel.
Educativas, companhia de alunos, professores, profissionais da
clinica, acompanhantes e pacientes.
Proteção pessoal para inalação. Protege contra Educativas, companhia de alunos, professores, profissionais da
partícculas grandes, gotículas. Há máscaras para clinica, acompanhantes e pacientes.
proteção pessoal de partículas provenientes de
aerossóis (com carvão ativado...).
IT. 7.L71-L77; IT. 7.L71-L78;
IT. 7.L98-L100; IT. 7. L100L111; IT.7. L102-L111;
IT.11.L150-L160
IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 –
L159; IT.14.L320-329;
IT.16.L106-L113
IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 –
L159;
IT.14.L320-329;
IT.16.L106-L113
Isolar os cabelos; evitar contaminação pessoal; Acompanham alunos, profissionais da clinica, professores. Colorido
proteção pessoal. Podem ser coloridos, brancos. com estampas que subvertem o branco; atrator para as pessoas que
Descartáveis ou de pano próprio dos interagem com o profissional de saúde, isso tanto para criança
profissionais.
quanto para o adulto.
IT. 6.L138-L141; IT.11.L169L209;IT.14.L320-329;
IT.16.L106-L113
244
Há de dois tipos de bombas na pediatria: infusão
de
frascos
e
outra
de
seringa;
Podem funcionar ligados a rede elétrica ou a
bateria;
Infusão de medicações minuciosas em crianças.
Controle digital.
Bombas de
infusão
Maquinários
(externo)
Preferência para uma das enfermeiras participantes da pesquisa. Essa
acredita que tem mais controle do que o sistema virtual recentemente
implantado... Promove espacialidade de gestão hospitalar. Articula
espaços da pediatria com outras localidades do hospital
(manutenção;
CME,
CPD,
administrativo,
farmácia).
São companheiras; As para infusão de soluções em frascos podem se
anexar em haste pelo peso, é possível deslocar e manter em
funcionamento; no caso das bombas de seringa, necessitam ficar
sobre um aporte, na maioria das vezes, numa mesa, esta não permite
deslocamento da criança; bateria descarregando requer novo
deslocamento, interpela outras relações, outras ambiências, faz com
quem utilize a bomba preocupe-se com o carregamento da bateria
para não atrasar medicação ou hidratação em curso. Quando
desconectada da criança (termino de medicamentos ou por não
precisar mais dela devido finalização de terapia com determinado
medicamento que necessitava dela, é sinônimo de liberdade,
possibilidade de a criança ter acesso a outras companhias, seja esta
humana ou não humana, que a permita brincar, deslocar com maior
facilidade, sem tantas preocupações, ou sem muitas restrições, pois
dependendo da medicação, por mais que a bomba permita
deslocamento, as medicações que alteram sinais vitais as restringem
ao leito).
IT. 1.131; IT. 1.L137-L138;
IT. 1.L169-L171; IT. 4.L58L61; IT. 4.L68-L69; IT.
4.L88-L89; IT.5.L86-L88;
IT. 7.L30-L32; IT. 7.L71L85; IT. 7.L75-L85; IT. 7.
L108- L111; IT. 7 . L194 –
L198; IT. 8 L48- L50; IT. 8.
L102 – L107; IT. 8. L108–
L120; IT. 8. L127 - L131;
IT. 8. L161 – L164 IT. 9.L37
– L48; IT. 9 L69 – L76;
IT.10.L42-L54; IT.10.L70L78;
IT.10.L510-L514;
IT.10.L610-L618;
IT.12.L71-L99; IT.12.L651L667;
IT.13.L28-L30;
IT.14.L51-L62 ; IT. 14.L65L73; IT.14- L390 – L397;
IT.16.L91-L99; IT.16.L105L106;
IT16.L113-L127;
IT.17.L39-L40; IT.17.L45L47
Máquinas robustas utilizadas em pavimentações Atuam em outras localidades (pátio do hospital). Porém interferem IT.10.L79-L87
(tratores, máquinas para mistura para produção na pediatria através dos ruídos, barulhos que conseguem se propagar
de cimento, britadeiras, escavadeiras, caçambas, e serem ouvidos no jardim da brinquedoteca.
caminhões).
245
Seringas
Talheres
Bandejão
Equipo
Há seringas que armazenam volumes de 1, 3, 5,
10 e 20ml. Pequena bomba portátil, geralmente
de vidro ou de plástico, usada para injeções ou
extração de líquidos.Infusão se de soluções,
soros, água destilada. Geralmente para via
endovenosas, mas também ajuda para infusão
enteral, oral. Requer certa habilidade na sua
manipulação.
Aparatos para se alimentar.
Compõe ambientes de relações sociotécnicas. Esta inclui mãos, IT. 9.L37 – L48
conhecimentos, ideias, prescrições, legislações; habilidades;
técnicas; receio; medo; dor. Também vincula outras entidades como
medicamentos, equipos, veias, cavidade oral ou sondas enterais,
horários; duplas vias; luvas de procedimento, agulhas, cateter sobre
agulha.
Compõe os momentos de alimentação que aproximam as mães ou
acompanhantes às crianças que possuem coordenação motora
alterada pela doenças ou ainda, por ainda não possuírem habilidade
de movimentos finos das pontas dos dedos.
Recipiente para se alimentar, é metálico.
Compõe os momentos de alimentação que aproximam as mães ou
acompanhantes às crianças que possuem coordenação motora
alterada pela doenças ou ainda, por ainda não possuírem habilidade
de movimentos finos das pontas dos dedos. Assim como compõe
momentos de conversas com o pessoal da copa do hospital, bem
como com outras crianças e mães/acompanhantes que conversam
sobre a aceitação da dieta, falam sobre a dieta,falam sobre suas
vidas.
Conexão para infusão de líquidos/soluções Compõe ambiências de cuidado, acompanha o paciente. Interage
endovenosos, enteral.
com diversas entidades materiais enquanto contribui com a
ambiência de cuidado.
IT.8 L83- L88 ; IT.13.L8-L24
IT. 9 L28 – L31; IT.11.L169L209; IT.13.L8-L24
IT. 4.L59-L61; IT. 8. L102 –
L107
246
Frascos
Talas
Avental
Almotolias
Compressas
Comporta soluções; pós; gel; soros; dietas. Pode Acompanham as crianças, acompanhante, pesquisadora, educadores IT.4.L94-L95; IT. 9 L69 – L76
ser de plástico ou vidro. Às vezes requer no cuidado junto ao computador portátil sobre o leito, os lençóis da
conexão com equipo, extensões de borracha, cama.
acesso à veia ou via enteral, ou ainda septo
nasal, respectivamente. Fazem companhia,
contribuindo no cuidado: mãos (álcool gel ou
liquido); alimentação (dietas); medicamentos
endovenosos. Aerossóis, aporte de oxigênio.
Fixar acesso venoso; imobilizar local de punção, Tala ergonômica de pvc + capa de pano (criação recente de alunos e
evitar perda de acesso venoso periférico.
enfermeiros da universidade); é colorida; fácil para remoção; reduz
gastos com esparadrapos; é mais arejado; a tala de papelão +
esparadrapo (criação de enfermeiros); relaciona-se com mouses na
brinquedoteca.
Isolar. Há coloridos e estampados, azul, verde.
Há de pano, como também de TNT de coloração
branco. com manga (capote para casos de
pacientes em isolamento de contato), ou sem
manga (sem tanto risco de transmissões por
contato).
Recipiente para armazenamento: álcool a 70%
(gel, líquido); PVPI; degermante; sabão;
vaselina
Compressas estéreis -para curativos, estancar
sangramento de feridas limpas, estéreis.
Compressas limpas – feridas limpas ou
contaminadas.
IT.4.L94-L95; IT. 9 L69 – L76
IT. 7.L44-L49; IT. 7 L302L312; IT. 8 L83 – L88; IT.11
L25-L48;
IT.15.L83-L84;
IT.15.L183-L187; IT.16.L101L103
Chama atenção das crianças a coloração. na maioria das vezes IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 –
causou boa aderência, sem momentos de desagrados. Deslocamentos L159;
IT.15.L135-L136;
para ter acesso a eles. Assim como estes permitem acesso as IT.15.L191; IT.17.L123-L127
crianças. Constituem novos espaços. Transpõe fronteiras ao mesmo
tempo que isola.
Promove trânsitos e interação entre espaços distintos (brinquedoteca IT.1.L124-L125;
IT.1.L234com enfermaria, por exemplo). Composição de um ambiente de L235; IT.1.L262-L264; IT. 8.
biossegurança.
L235 – L239; IT.15.L65-L69;
IT.15.L139; IT.15.L75-179
Limpar computador, netbooks antes de serem utilizados e após IT. 1.L264-L265; IT.15.L135serem utilizados também, limpar mesas onde realizam atividades L136
com as crianças, e refeições também.
IT.15.L175 –L176
247
Cateter sobre
agulha
Ventilador
mecânico
Nebulizador
Sapatos
(visitantes
externos)
Poltronas
Introdutório cânula flexível sobre agulha
Numeração
24
para
crianças.
Provoca
dor,
medo
acesso às veias periféricas. Há de vários calibres requer técnica para sua introdução. Quando retirado definitivamente,
refere-se a possível alta hospitalar, melhoras, menos remédios,
redução de dependência de medicamentos pelo corpo; maior
participação da criança e de seus pais no cuidado, por passarem a
depender de medicamento via oral, ou outras formas de cuidados.
IT. 1.L124-L125; IT.4.L59L61;
IT.4.L65-L69;
IT.4.L85-L86; IT. 7 L. 285 –
L 298; IT.10.L510-L514;
IT.11.L25-L48; IT.11.L124L141; IT.12.L651-L667
Equipamento para respiração complexa de Em criança requer atenção para valores pequenos, para uma IT.10.L516-L523
pacientes graves.
programação bem diferente do adulto; gera uma tensão naqueles que
não sabe mexer; exige experiência e noções para manipulá-lo.
Umidificador para o trato respiratório superior..
É um Pulverizador que dispersa líquidos,
soluções ou suspensões em gotículas numa
espécie de névoa; usado para inalações, visando
a fins terapêuticos.
Envolve os pés; proteção; conforto; isolamento
dos pés.
Requer noções para manipulá-lo e também para ensinar a criança e IT.10.L516-L523
seus manipularem; compreendem mascaras menores para crianças.
Na entrada do hospital exigiu que a pesquisadora o limpasse; na IT.4.L62; IT.7.L21-L23; IT.
brinquedoteca; retirado, por se suspeito de contaminação; visitante, 7.L86-L97; IT.8.L7-L9; IT. 8.
ou envolvido com propés.
L51-L60; IT. 8. L212 – L220;
IT.
8.
L212
L220;
IT.11.L169-L209; IT.15.L49L52
Um tipo de cadeira estofada, confortável para Transforma-se em um Brinquedo do tipo balanço para a criança que IT5.L34-L41; IT. 5.L73-L76;
sentar e/ou se deitar.
se assenta nestas e balança fazendo movimentos para frente e para IT. 7. L121- L126; IT. 9. L112
trás quando sai do leito e prefere a poltrona. Para me que aguarda a –
L140;
IT.13.L36-L42;
criança que brinca ou faz algum procedimento sobre o leito, a IT.14.L37-L39; IT.14.L50-L51;
poltrona constitui com a mãe que mexe no celular uma "estação de IT.15.L31-L32
espera", é assento para netbooks, cabos e/ ou outras materialidades IT.15.L176-L177
limpos.
248
Parâmetros para padrões dos sinais vitais (r,pa,
proveniente, muitas vezes da UTIN, é um cuidado educativo, pois a
fc) e mensura saturação da circulação sanguinea. enfermagem permite que a criança experimente como se controla os
seu parâmetros brincando, ao mesmo tempo que aprende a fazer o
Monitor
tão falado auto cuidado; é uma companhia que ameniza a angustia
multiparametro
das crianças instáveis, ou que estejam recebendo medicamentos que
(visitante)
alteram sinais vitais, enquanto esta aguarda no leito.
Cercados
IT.1.L132-L134; IT.5.L82-L88;
IT. 7. L 168 – L176; IT. 7 .
L194 – L198; IT. 8 L48- L50;
IT. 8. L102 – L107; IT. 8.
L108– L120; IT.9.L37 – L48;
IT. 9. L 208 – L216;
IT.12.L292-L308; IT.14- L390
– L397; IT.16.L91-L99
Isolar, proteger, separar, limitar espaços, um Brinquedo, uma distração ao ser saltada pelas crianças( com ajuda de IT1.L232-L232;
IT1.L270;
modo de materalizar fronteiras.
suas mães, ou por si só), é um lugar-limite, onde algumas pessoas IT1.L271-L272; IT. 7.L75-L85;
param para avistar sobre ou através deste, o lado de fora.
IT. 7.L75-L85; IT.9. L87-L98
Aferir pressão arterial.
Esfigmo
Sofá
Tatame /
colchonete
Colchões
Assento.
espécie de colchão fino utilizado para as
crianças deitarem ou sentarem. O da
brinquedoteca é encapado com um plástico para
facilitar limpeza, desinfecção.
IT.4.L192-L194; IT. 6.L18-L19
brinquedo para criança se aproximar do seu quadro (verificar os seus
paramentros) auxiliado pelas técnicas de enfermagem.
suporte para mochilas e materiais de alunos, professores, ponto de IT.1.L43; IT.1.280-281; IT.
espera para entrevistas referentes a pesquisa (à espera de alguém).
15.L13-L14
é uma base para o cercadinho/chiqueirinho para crianças pequenas IT1-L230-L232; IT. 6.L177ficarem livres do risco de se machucarem. É um isolante para evitar L181; IT. 9. L24 – L28;
o contato direto com o chão frio. Objeto que é retirado do cercadinho IT.12.L19-L29
para compor práticas da fisioterapia. Não só crianças, como adultos
deitam sobre o colchonete.
Utilizado para sentar, deitar. Os do hospital são Contribuem na constituição de uma ambiência de cuidado, seja este IT. 8. L178 - 181
encapados com plástico. Precisam ser lavados; composto apenas por materiais médico-hospitalares, ou na presença
realização de limpeza, ou desinfecção.
de materiais não médicos hospitalares. A princípio espera-se que
constituam junto com lençóis, cama, um ambiente enfadonho, que
lembre dor, medo, doença, procedimentos, entretanto, também
vinculam brincadeiras, compreendendo um ponto de encontro com
visitas do netbooks, auxiliando, portanto, no cuidado em meio a
entretenimento e práticas educativas que permitam que a criança
participe do seu próprio cuidado.
249
Mesas
Paredes
Molho de
chaves
Suportes ou lugares para sobreposição de algo
. Encontramos as seguintes mesas:Bancada de
preparo de medicamento - mármore mesa
bancada para computadores do posto de
enfermagem – madeira; mesa móvel-mayo-;
mesa visitante – cme-; mesa nutrição –móvel;
mesa visitante- banco de leite; mesa grande da
brinquedoteca –madeira - para realização de
pinturas, atividades com os maiores, suporte
para materiais de atividades, conversas com os
adultos; mesa pequena da brinquedoteca; para
atividades com os menores, suporte para;
materiais para realização de atividades; mesa da
sala de repouso de enfermagem; mesa de
refeição das crianças (pequena); mesa de
refeição das crianças (maior); mesa de
prescrição médica.
Divisórias, delimitações.
Compõem ambientes de entretenimentos, estudos, conversas,
trabalho em meio à sobreposição de materiais e/ ou alimentos.
Constituem espacialidades educativas, lúdicas, entretenimento,
assim como de biossegurança já que exigem limpeza, desinfecção,
portanto, exigem de pessoas e materiais para mantê-las organizadas e
limpas.
Pode compor ambiente familiar, pode compor ambiente pouco
familiar, dependendo das relações estabelecidas nos lugares da
pediatria. Podem ser transpostas por subjetividades. De colorações
diversificadas, dependendo do local da pediatria, compõem
ambiencias de cuidado por práticas médicos hospitalares ou, que
muitas vezes, mesmo desbotadas, foram potencializadas ao se
mesclarem com práticas não médico hospitalares, com o intuito de
reduzir medo, dor, das crianças e pais.
Conjunto de chaves especificas para abrir e Acesso apenas aos responsáveis, configura uma ambiencia de
fechar os espaço da brinquedoteca e laboratório responsabilidade e de controle. É um objeto que conecta as crianças
de informática
e educadores à sala de informática, por isso é guardada em um lugar
específicos para que aqueles que participam do projeto o encontre.
IT. 1-L42; IT.1.L99-L100;
IT.1.L115-L116;
IT.1.L174;
IT.1.L252;
IT.1.L280;
IT.1.L309-L310;
IT 2.L58;
IT.5.L30-L33; IT.5.L65-L71;
IT. 6.L19-L21; IT. 7. L121L126; IT. 8. L122 – L125; IT.
8. L127 – L131; IT.8. L161 –
L164; IT. 8. L253 – L259;
IT.9. L23-L24; IT.10. L25;
IT.10.L280-L293; IT.11.L161L163;
IT.11.L210-L216;
IT.13.L-105- L107;
IT.
15.L13-L14;
IT.15.L37-L41;
IT.15.L41-L46; IT.16.L24-L27;
IT.16.L44-L45
IT.16.L101-L103
IT.12.L531-L539
IT.2.L57; IT.2.L107-L108;
IT.7.L22-L25; IT.15.L54-L60;
IT.15.L201
IT..17.L111-L112
250
Chapéu
(visitante
externo)
Mochila
(visitante)
Assoalho
Proteção facial, proteção sol, refrigeração Faz parte da indumentária da pesquisadora, campanheiro da IT.13.L8-L24;IT.14.L7-L13;
IT.14.L30-L37;
diante do calor.
educadora-pesquisadora.
Utilizada por alunos, professores, integrantes da
equipe
multiprofissional,
paciente
e
acompanhantes para guardar, armazenar objetos.
Pode possuir compartimentos menores laterais
ou sobrepostos ao compartimento central (saco),
na maioria das vezes, possui alças reguláveis .
Faz parte da indumentária da pesquisadora, uma companhia de
estudos reflexivos; compõe um ambiência de visita (adere ao corpo
na chegada e na saída da clinica; desacopla do corpo, ao ser
manipulada, ao constitituir uma ambiencia de chegada na pediatria,
na brinquedoteca).
Assoalho seria sobre o que se pisa, a base de
sustenção para os pés. Pode ser do tipo:
piso, azulejo, cimento, solo com terra e
gramado.
Na pediatria quando é piso, azulejo (parte interna) compõe
ambiencias de limpeza, desinfecção, aonde o pessoal da limpeza se
envolve nos cuidados deste, para assim, juntos cuidarem das crianças
que brincam sobre o piso, azulejo da brinquedoteca, como destaque.
Este não somente é pisado, deitam-se sobre ele, é sobreposto por
inúmeros materiais que não só o de limpeza, como também o de
entretenimento. Sobre as pisadelas, exigem a retirada de sapatos,
apenas aceitam pés descolados limpos ou com propés, assim como
pés calçados, mas envolto com as sapatilhas (propés).
IT.15.L9-L12; IT.15.L49-L52
IT.16.L11-L24; IT.16.L50-L52
IT.17.L31-L34
IT.1.145-L147;
IT.2.L55L57;IT.2.L186; IT. 8. L7 – L9;
IT. 9. L22- L23; IT.10.L91L94;
IT.11.L20-L24;
IT.11.L236-L266; IT.13. L140;
IT.13.L131-L133;
IT.14.L7L13;
IT.14.L30-L37;
IT.15.L49-L52;
IT.15.L200L201
IT.16.L50-L52
IT.17.L31-L34
IT.13.L131-L133
251
Lugar para aconchego dos bebês; possuem
grades móveis para proteção de traumas por
quedas; são de metal; a cabeceira pode ser
elevada se for necessário.
Berços
Chupetas
(visitante)
Bacias
/banheiras
Jogos de
dominó
Jogos de
tabuleiro
Blocos de
montar
Configuram ambiencias de cuidado a partir de sua relação com as
mãos (de acompanhantes e técnicos e enfermeiros) e esforços
daqueles que queiram levantar ou baixar suas grades laterais,
asseguram nao só segurança para queda como também
compreendem, através desse movimentar das grades, um momento
de ludicidade, pois chama atenção da criança, para algumas crianças,
esse movimento é pura brincadeira; às vezes precisa de ajuda dos
pais para mexer com a grade. Relacionam-se com chupetas,
carrinhos de Rx, com móbiles suspensos, mamadeiras, conexões de
oxigênios, cateter do tipo óculos, angustias de mães, profissionais de
saúde.
Objetos
industrializados
utilizados
para Muito utilizado em pediatria nos momentos de estresse da criança
estimular o sugar, distrair a criança até a que passa por procedimentos que incomodam, geram dor, fome
próxima alimentação.
(jejum), falta de alguém que a criança gosta e está sentindo falta.
Recipiente para banho. Há de plástico ou metal. Ambiência de entretenimento; biossegurança; higienização. Interage
com ou está entre diversas entidades não/ humana ou humanas, para
cuidar da humana, em destaque sua utilização na "hora do banho",
porém também utilizado para armazenamento, está inserida como
um dos objetos do arranjo da troca de curativos.
Jogos de peças ratângulares. Joga-se em mais de Interações, passar tempo; entretenimento, compor ambiente de
uma pessoa.
brincadeira, de competição.
IT.1.L155-L156;
IT.5.L77L101; IT. 8. L127 - L131; IT. 9.
L34 – L37; IT. 9. L112 – L140;
IT.16.L133-L135
IT.16.L137
IT.17.L47-L48
IT.17.L49
IT.5.L77-L101
IT. 8. L127 - L131; IT. 8. L187
–
L191
; IT.16.L137
IT. 8. L102 – L107; IT.10.L60L68;
IT.10.L620-L626;
IT.10.L654-L656; IT.10.L658L668;
IT.10.L702-L704;
IT.10.L731-L732; IT.12.L388L397
Jogos de estratégia, dama, para brincar em Cuidadores utilizados para passar o tempo, aproximam as crianças, IT.10.L620-L626; IT.10.L654dupla.
aproximam as crianças e seus familiares.
L656;
IT.10.L658-L668;
IT.17.L22-L28
Bloquetes coloridos de plástico que possibilitam Incentivam as crianças a andarem; se deslocar; a transitar pela IT.4.L80
múltiplas montagens.
brinquedoteca.
IT.17.L22-L28
252
Blocos coloridos funcionais para se sentar, utilizado pelas acompanhantes como apoio para assistir televisão IT. 1.L238; IT. 1.L240-L242;
enquanto o filho dorme no colo; utilizados em conjunto para compor IT. 4.L63-LL69; IT. 4.L79; IT.
além de decorar o local.
uma base para as mães deitarem para dormir após refeições;
utilizado para crianças menores de 3 anos brincarem sobre eles na
companhia das mães, educadores ou pessoal da equipe de saúde,
viram traves para lances de bolas; são apoio para crianças que estão
aprendendo a andar.
4.L83-L86;
IT.4.L115;
IT4.L206; IT. 6.L177-L181; IT.
7.L28; IT. 7.L36-L41; IT. 7.
L115 – L118; IT. 8 L16 – L18;
Puffs em bloco
IT.8 L62 -L64; IT.9. L87-L98;
IT.10.L88-L90; IT.11.L25-L48;
IT.11.L65-L73;
IT.11.L220L227;
IT.13.L102-L105;
IT.13.L61-L63; IT.15.L60-L62;
IT.17.L116-L123
Ejetor que armazena sabão líquido para assepsia ATRATOR para criança pequena, quando apresentado como algo IT. 1.L235
das mãos.
que se bate, se empurra para ter acesso ao sabão, na companhia dos
pais ou de algum responsável; faz parte do arranjo da lavagem das
Porta sabão
mãos, é um contribuinte para o cuidado via técnicas educativas de
líquido
assepsia (biossegurança).
Ejetor que armazena alcool gel. Encontra-se
fixado pelos corredores a uma altura para ser
acessado por adultos. Requer pressão para o gel
ser disponibilizado. Precisa de reposição. É uma
Porta álcool gel outra opção de armazenagem de álcool 70%,
neste caso, de sua variação gel, para assim,
alternar com álcool líquido que fica armazenado
em almotolias.
Aparato de entretenimento; as crianças brincam
de deslizar. Possui uma escada de um lado e do
outro uma inclinação para deslizamento.
Escorregadores
Insere-se nos arranjos de biossegurança, mas também nas IT. 5.L20-L24; IT. 8. L235 –
espacialidades de cuidado via entretenimento, já que levar os L239; IT.15.L175-177
netbooks para as crianças, a educadora também se divertia com o ato
de alternar a assepsia de suas mãos com o alcool 70% quanto alcool
gel do porta gel dos corredores. é educativo via atitudes envolta por
ações de diversões e brincadeiras.
Crianças brincam, passam o tempo não apenas escorregando, mas
brincando de subir pela parte de deslizamento. Crianças se
encontram ao brincarem no escorregador. O escorregador não é fixo,
pode ser puxado e empurrado pelas crianças e adultos para dentro da
brinquedoteca ou para fora (jardim de inverno).
IT.1.L265; IT.8. L 25 – L33;
IT. 9. L100 –
L111;
IT.11.L108-L117; IT.11.L142L147; IT.12.L19-L29
253
Balanços
Balançar. Balanços de plástico, com cordas,
ficam na área externa da pediatria. Existe
também na pediatria no formato de cavalo, de
solo.
Móbile para comunicação.
Celular
(visitante)
Conexão de o2, ar comprimido, vácuo.
Extensão de
borracha
Confecção através de pedrinhas para artesanato.
Miçangas
Lixeiras
Barraca
Entretenimento sozinho ou coletivo, liga pessoas, uma para empurrar
outra para ser balançada, compõe histórias inventadas.Vira avião; é
um passa tempo; amplia a brinquedoteca; os balanços no formato de
cavalos são facilmente manipulados pelas crianças no solo, estas os
tem como companhia, os puxam para todos os lados, tanto para
dentro da área central da brinquedoteca, como também para o jardim
de inverno (na parte azulejada, onde estes deslizam com facilidade).
Aparelhos visitantes, não pertencem a clinica; distração para
crianças; acompanhantes de acordo com as suas funcionalidades
(vídeo, câmera; internet) ou apenas ligar para conversar com alguém;
acompanhantes de muitos profissionais da clínica.
IT. 1.L265; V1.L266-L267;
IT.1.L267; IT. 1.L267; IT.
2.L73-L83; IT. 4.L72-L78;
IT.8. L 25 – L33; IT. 9. L100 –
L111;
IT.11.L108-L117;
IT.11.L142-L147
IT.4.L235-L236; IT.12.L460L492; IT.13.L63-L69; IT.
14.L76; IT.14.L97-L100;
IT.15.L127-L132
IT.15.L145-l146
Relaciona, convive com crianças que necessitam de o2. Conecta, de IT.15.L146-L159
um lado ao umidificador, fluxometro e as entradas/saídas de, neste
caso de o2; na outra ponta, conecta-se ao cateter o2. Fricciona-se e
se sobrepõe o leito. Acompanha o netbook, flanelas, mãos das
crianças. Permite filtragem de o2 pelos pulmões, complementação de
o2 para repassar para as células do corpo da criança.
Atividades para as pessoas que ficam internadas; é minucioso o catar IT.4.L243; IT.10.L171-L177;
das pedrinhas, o organizar destas; relaciona e interpela por diversas IT.10. L372-L376
entidades sociomateriais para cada confecção.
Lixeira para lixo comum e lixo hospitalar, Compreende um ambiente de higienização, educativo, IT. 7. L121- L126
conforme coloração dos sacos (saco preto lixo biossegurança. Relaciona-se com não/ humanos e humanos.
comum, branco lixo hospitalar, risco biológico).
Proteção, dormitório, privacidade,
para acampamento
Esconde – esconde
armazenamento de bolas de plástico
IT1.L231-L232; IT4.L72-L78;
IT. 7.L75-L85; IT. 7.L75-L85;
IT.9. L87-L98
254
Armazenamento, guardar algo.
alocação de brinquedos; divisão de espaços (entre videogame e IT.4.L72-L78; IT.8. L70televisão convencional); configuram um espaço para habitação e L76;
IT.10.L326-L330;
organização dos brinquedos maiores; exigem inflexões e flexões IT.11.L25-L48
para mobilizar o que está guardado dentro deles no chão
Banho, lavar algo banheiro da sala de repouso
de enfermagem; banheiro enfermarias;
banheiro da brinquedoteca; banheiro dos
isolamentos; banheiro das técnicas
Escoar água. Lavagem de mãos, materiais,
banho.
Encontrados na sala de repouso de enfermagem,
enfermarias, posto de enfermagem, banheiros,
ala de isolamentos, não há na sala de
procedimento, não há no refeitório, encontrado
na brinquedoteca, nos banheiros da
brinquedoteca, no banheiro do repouso dos
técnicos de enfermagem, no expurgo.
Cada cama possui uma escadinha para a criança
poder subir até o nível do leito
lavagem de brinquedos. Ambiência de entretenimento; banho; IT.1.L238; IT. 8. L149 –L152
passar o tempo; higienização.
Para absorção de secreção e contenção de
extravasamentos de secreções; isolamento;
descartar em lixos próprios.
Envolver curativo; contenção de curativos
oclusivos; trocadas quando sujas.
Trocada quando suja (curativo); utilizado para limpeza de superfície, IT.15.L32-L36
estofamento de acessos venosos para reduzir abrasões.
Baú
Chuveiro
Pias
Escadinhas
Gaze
Faixa/atadura
Ambiências educativas; de entretenimento; biossegurança. Relaciona IT.1.L116;
IT.1.L168;
mãos, com sabão, papel toalha, água, tempo para antissepsias. Ou IT.1.L236-L237; IT. 8. L127 –
para encher algo, molhar algo.
L131
Utilizada como acento, exigindo limpeza tanto para relação com os IT.15.L31-L32;
IT.15.L166pés quanto para se sentar. No caso do sentar, muitas vezes necessitou L170; IT.17.L67-L68
de um guardanapo de papel como forro.
Utilizado como ―assento‖ de malas e sacolas. Divide espaço com
chinelos, sapatos.
Convive com o corpo de pacientes, com outros materiais. Compõe IT.15.L32-L36
um ambiente de cuidado com o corpo das crianças. Lembra que o
lugar envolvido por ela precisa de cuidado.
255
Calçado aberto.
Chinelos
Revistas
Tapetes
Companhia de pacientes, pais, profissionais. São retirados ou IT. 9. L49 – L54; IT.10. L372envoltos por propés quando se adentra a brinquedoteca. Podem ser L376;
IT.10.L377-L388;
visitantes. São bases para confecção de artesanato, ou melhor, IT.11.L169-L209;
chinelos enfeitados. São bases para terapia artesanal, para passar o
tempo. É um entretenimento, é educativo. Proporciona
relacionamentos entre os participantes das atividades artesanais.
Articula e se relaciona com agulhas, linhas, miçangas. Também se
relaciona com a sola do pé das pessoas, com suor, com sujeira,
poeira que acumula nele, à medida que seus donos movimentam-se
na pediatria. Requer limpeza. Pode ser envolvido por propés quando
adentra a brinquedoteca, ou tirado e guardado na estante do
refeitório. Vira brincadeira quando a criança brinca de deslizar.
Fonte
de
informações.
Entretenimento; Companhia. Compõe ambiências para passar tempo. Aproximação IT. 8. L102 – L107
artesanato; gibis; educativo. Saúde, beleza.
de pessoas. Motivador de deslocamento para obtê-las.
Para limpar os pés, secar os pés. De pano, Na brinquedoteca podem ser confeccionado com barbante,
IT. 8. L7 – L9;IT.10. L372artesanato, comprado (industrializado, de pano artesanato para passar o tempo, para promover ambiente de relações, L376; IT.10.L377-L388
ou de plástico, TNT).
exige atenção, dedicação, envolve diversas entidades sociomateriais
(agulhas, barbantes, revistas como modelos, mãos, ideias). Há
também tapetes industrializados com frase informativa indicando
para ser retirado os calçados antes de adentrar a pediatria. Lembrete
de cuidados, risco que seria o pé, o sapato sujo para as crianças e
demais pessoas que freqüentam a brinquedoteca, principalmente as
crianças hospitalizadas.
Tapete da entrada do hospital, parada para se apresentar, colocar
crachá, retirar indumentária de proteção solar. Limpar os pés. Tapete
apresentação do nome do Hospital
256
Toalhas
Malas
(visitante)
De papel ou de pano. Para secar. Enxugar as Toalhas de papel: Sobrepor superfície para sentar (superfície da IT.10. L36-L40;IT. 15.L17mãos; superfícies. De pano proveniente do escadinha);
L19;
IT.15.L31-L32;
artesanato para uso pessoal.
Toalha de pano: são fabricadas pelas mães, é um entretenimento, IT.17.L67-L68
ajuda a passar o tempo; arte das mãos que faz companhia das mães;
o bordado das toalhas motiva relacionamento com outras pessoas;
esse relacionamento envolve outras entidades, como agulhas, linhas;
movimentos das mãos.
Armazenamento de objetos; roupas. Geralmente
possui alças para transporte. Pode ser de couro,
plástico, tecido. Há de diversos tamanhos e
coloração...
De madeira ou metal. Com gaveta ou porta ou
sem. Armazenamento, organização.
Armários
Registrar imagens, momentos.
Câmera
Emissoras de som.
Caixinhas de
som
Acompanha pacientes; familiares... Ocupa alguns espaços nas IT.14.L39-L43; IT.15.L31-L32;
―redondezas‖ da cama dos pacientes.
IT.16.L137-L138
Compõe espaços para guardar medicamentos, materiais de escritório
ou informática. Guardar propés, sapatos. Constitui espaços IT.11.L236-L266; IT.13.L121pedagógicos, ou de armazenamento de coisas ou objetos de alunos, L125; IT.14.L30-L37;
IT.15.L47-L48; IT.15.L49-L52;
professores ou profissionais (morada de visitantes).
IT.15.L58-L60
Entretenimento, as crianças brincam, se divertem ao fazerem poses, IT.12.L19-L29
pedirem para serem fotografadas; compor o ambiente da pediatria
via imagens fotográficas.
Na brinquedoteca. Emissão de sons. Volume regulável.Volume IT.15.L105-L108
controlado pelas crianças em acordo com os educadores. Muito
requisitado pelas crianças ou acompanhantes durante atividades com
jogos, historinhas infantis, musicas. Relacionam-se com mãos, talas,
equipos, melodias, músicas, jingles...
257
Mangueira
Pilhas
Ar
condicionado
Camas
Cano de borra como extensão para levar água Conecta-se improvisadamente à torneira do banheiro através de um IT. 8. L149 –L152
um lugar um pouco mais distante do local, adaptador para lavar os brinquedos no lado de fora da brinquedoteca.
torneira.
Reúni pessoas, objetos. Compõe ambiências de entretenimento,
educativa, limpeza e higienização e biossegurança.
Tipo
de
bateria
por
parafernálias Restringe lavagens de brinquedos que as possui, pois podem ser IT.10.L250-L253
industrializadas; podem ser recarregadas ou danificados por oxidação (pilha e o tipo de funcionamento esperado
substituídas.
pelo brinquedo);
Manutenção de temperatura amena: Sala de
repouso, sala de procedimentos, sala de
prescrição medica, enfermarias, posto de
enfermagem, brinquedoteca, laboratório de
informática, classe hospitalar, repouso dos
técnicos de enfermagem, isolamentos de
enfermagem.
Deitar, descansar, dormir, esticar o corpo.
Proporciona espacialidade de temperatura amena para descansos nos
puffs, diante da TV, dos jogos. Permite uma aproximação de muitas
pessoas num lugar, uma interação sobre uma temperatura de
conforto.
IT. 1.L114-L115; IT. 1. L252L255; IT. 4.L55-56; IT. 6.L26L27; IT. 7. L139 – L141;
IT.11.L108-L117; IT.11.L236L266;
IT.14.L30-L37;
IT.15.L75-L76
Cama pode ser monótona, as crianças hospitalizadas querem sair
dela, a brinquedoteca é um escape do quarto, da cama. Mas também,
os Leitos- cama são sinônimos de brincar sobre, inclinações,
desníveis.
Cama da enfermagem é para armazenar mochilas de alunos,
professores, notebook, é assento para conversas de pesquisa, de
conversar
aleatórias;
Camas dos técnicos, são assentos para conversas aleatórias, lanches
da tarde; relaciona-se com diversas parafernálias hospitalares, com
excreções e secreções corporais.
IT.1.L43;
IT.
2.L84-L86;
IT.4.L264-L265;
IT.4.L357;
IT.5.L89-L101; IT.6.L29-L36;
IT.6.L72-L73; IT. 6.L134L136; IT. 6.L172-L173; IT.
6.L174-L176; IT. 6.L177-L181;
IT. 6.L182-L184; IT. 7. L201 –
L206; IT. 7. L222- L234; IT. 8
L48- L50; IT. 8 . L97 – L101;
IT. 8. L102 – L107; IT. 8.
L108– L120; IT. 8. L127 –
L131; IT.8. L161 – L164; IT.8.
L167 – L173; IT. 8. L178 –181;
IT.10.L42-L54;
IT.10.L100L118;
IT.10.L139-L164;
IT.10.L280-L293; IT.10.L510-
258
L514;
IT.10.L610-L618;
IT.10.L765-L767; IT.12.L161L289;
IT.12.L651-L667;
IT.15.L109-L117; IT.15.L153L159;
IT.15.L166-l174;
IT.16.L127-L133; IT.16.L133L135
IT.16.L138-L149;
IT.17.L138-L139
Armazenador de água filtrada.
Bebedouro
Carrinhos
Tem vários tipos de elementos na clinica que
recebe o nome de carrinho: brinquedos para
Entretenimento. De todos os tamanhos,
coloração, diversidade de rodas, material,
brinquedo industrializado com funções préestabelecidas (caminhão de boi, carro de corrida,
trator, carreta, caminhão com caçamba,
bombeiro),
há
de
armazenamento,
procedimentos
de
emergência.
Há de limpeza; Há de raio X.
No posto de enfermagem acesso apenas de pessoas autorizadas.
Acesso ao posto. Cria momento de diálogo, interpela necessidade de
copo para consumo da água. Molha o chão quando com problemas,
precisa ser reposto.
Os de brinquedo - De mão; de bebê; bombeiro, etc... Incentivam
deslocamento das crianças para a brinquedoteca, ou pode acontecer o
contrário, podem se deslocar para os quartos/para o leito das
crianças; faz a criança ficar alegre; faz o tempo passar; Jogar,
arremessar, colocar na boca, falar com ele; fantasia outra função que
não a de carros (avião, carro que anda na parede); tomar com seu
brinquedo; motivos para a criança se deslocar; querer andar pela
brinquedoteca. Os de procedimento - de emergência... Serve de
suporte para outros elementos não só da emergência (ferramenta de
mecânico), divide espaço com computadores, cadeiras,
medicamentos, quadros murais. Os de LIMPEZA – pessoal da
limpeza circula pela pediatria (corredor); sempre fica próximo da
porta do expurgo. Interpela que móveis saiam dos seus lugares de
origem quando compõem os momentos de lavagem, limpezas. De
Rx- perambula pela pediatria e seus quartos quando há necessidade
de confirmação de algum procedimento que adentre a cavidade do
trato gastrointestinal ou endovenoso que se possa fazer no quarto.
No caso de uma criança em isolamento de contato, suas placas
precisam ser isoladas com plásticos, o carrinho é manobrado por um
técnico, mas no quarto interage com corpo da criança, com redes
IT.1.L101
IT.1.L104-L107;
IT.1.L243L244; IT.5.L62-L64; IT.5.L77L88; IT.6.L49-L51; IT.8. L70L76;
IT.10.L507-L508;
IT.11.L169-L209; IT.17.L103L106;
IT.17.L107-L110;
IT.4.L81;
IT.4.L358;
IT.15.L29-L31
259
elétricas do local, com o berço, com a ansiedade da mãe, com a
expectativa dos profissionais de saúde que aguardam confirmação de
um cateter picc, conforme algumas das descrições encontradas.
Pega vareta
Quebra cabeça
Jogo de varetas coloridas. Exige concentração, Companhia que contribui para cuidado (não médico), passar tempo.
leveza nas mãos, paciência.
Passa tempo onde o objetivo é montar uma Relaciona-se com mãos, aproxima pessoas. Faz companhia IT. 1.L243-L244; IT. 7.L41imagem ou uma paisagem.
IT.10.L60-L61;
para pessoas. Interpela por superfícies planas para poder se L44;
IT.10.L658-L668
configurar com imagem. Ajuda preencher o tempo das pessoas.
Ressuscitador, conversor cardiológico.
Divide espaços com pessoas e outras parafernália num quarto a IT.1.L106-L107
frente do posto. Encontra-se separado do carrinho de
emergência por ser ―espaçoso‖. Mas acaba ficando num quarto
estratégico, em frente ao posto.
De jogos de boliches.
Boliches – estas são companhias de entretenimento que fazem com IT.9. L87-L98
que seja composto um arranjo de crianças, adultos, chão, bola, puffs.
Ajuda a passar o tempo, a aproximação das pessoas que nela
encontram-se atraídas pela ambiência estabelecida por elas. Emite
contentamento. Aceitação.
Armazenar bebidas.
Utilizado improvisadamente para organizar brinquedos; separar IT.10.L216-L217
brinquedos limpos dos sujos.
Desfibrilador
Garrafas
Engradado de
bebidas
IT.1.L244; IT. 8. L108– L120
260
Termômetro
Estetoscópio
Quadros
Jalecos
(visitante)
Verificar temperatura corpo (axilar, oral ou anal) Brincadeira quando colorido, com estampas e formatos IT.4.L187; IT. 8. L108– L120
requer desinfecção.
variados.Brincadeira dependendo do movimento que se faz, os
ruídos que se enfatiza durante o procedimento (bip-bip). Brincadeira
e educativo quando o profissional permite que a criança ou o
acompanhante o utilize e saiba os parâmetros tidos como ótimos
para cada caso e o que se espera no geral.Passível de queda, cai no
chão e precisou ser realizada desinfecção antes de novo uso.
Também conhecido como fonendoscópio, é um Estetoscópio com bichos, um atrativo para criança e adultos,
IT.4.L102-L105;
IT.4.L190instrumento utilizado por diversos profissionais, subverte a seriedade e função especifica do artefato
L194; IT.6.L18-L19;
como médicos e enfermeiros, para amplificar
Um brinquedo educativo e de entretenimento, com ou sem bichinhos
sons corporais, entre eles: bulhas cardíacas;
de pelúcia, quando é dado para a criança manipulá-lo para se
ruídos adventícios; ruídos Hidroaéreos.
auscultar.
Expositores para Informativos
de como
Auscultar
os
pulmões,
bulhas
cardíacas,avaliação física, nomenclatura do
corpo no exame físico, avaliação intestinal e ou
qualquer achados ligados à doença. Informativos
de palestras, cursos, etc. Há quadros do tipo
Figuras, gravuras de artes.Anexo de nomes de
pessoas
conhecidas,
personalizado;
Aniversariantes do mês; Decoração; indicativo
de religiosidade cristã. Artes infantis.
Configuram espacialidades educativas que convergem pensamentos IT.1.L43-L47; IT.1.L97-L99;
diversos, espaços estes específicos da equipe de saúde da clinica ou IT.2.L40; IT.5.L17-L20; IT.
de outras equipes. Há quadros onde as crianças e familiares ajudam a 5.L17-L21; IT.11.L210-L216
compor, que seriam as de desenhos, agradecimentos, portando,
quadros de autoria dos usuários da pediatria, a partir de
entretenimento ou espacialidades educativas. Há também a
configuração de ambiencias, a principio apenas expositivas, como
quadros de teor artísticos, mas apelativos para religiosidade, que
para alguns compreendem e interfere como atuantes do cuidado, mas
que para outros, de outras religiões nao configuram ou não interfere
em nada (não houve comentários de desagrado também).
Proteção, pessoal da saúde.
Estampas, com botões coloridos = atratores, compondo uma
ambiência de entretenimento, aproximação. De confiança,
potencializa a ruptura com a dor. (potencializa, mas não é garantia,
pois depende de atitudes, ações). Conectada ao corpo de um aluno,
professora ou profissional de saúde da clínica. Configura ambiência
de dor, medo de branco. identificação quando bordado com nome e
profissão; compõe a indumentária dos profissionais de saúde, o que
IT.1.L62-L65; IT.4.L76-L77;
IT.4.L78;
IT.6.L85-L86;
IT.10.L502-L504; IT.12.L113L135; IT.14.L320-329
261
inclui alunos e professores. Companheiro de plantão. Configura
ambiências de proteção em biossegurança.
Mamadeiras
Prontuários
Gramado
Cesta de
basquete
Recipiente com uma ponta de borracha para É brinquedo na boca da criança, relação entre criança, mãe, nutrição, IT.1.L66; IT. 9. L34 – L37;
sucção de Alimento líquido
enfermagem, pessoal do banco de leito, prontuário, nomes, tipo de IT.11.L89-L96;
IT.15.L44—
dieta, tipo de leite oferecido.
L46
Informações do paciente; Dividido em dois, um
fica com a enfermagem = prescrições
multiprofissional. Outro fica com a medicina –
evolução médica. Reuni-se tudo na alta
hospitalar do paciente e, durante a necessidade
de se obter informações multiprofissional para
se propor mudanças de prescrição alimentação,
medicações, procedimentos.
Mediador de conversas, centraliza informações provenientes de
vários profissionais; através deste, vários locais da pediatria ou de
fora da pediatria circulam. Potencia não só para arquivo de dados,
mas de modos de cuidar das crianças, que não se restringem aos
cuidados médico-hospitalares.
IT.1.L67-L72; IT.4.L104-L107;
IT.7.L15-L17;
IT.16.L143-L149;
IT.16.L84-L85; IT.17.L50-L52
Trata-se de um assoalho vivo, ou melhor, Contribuem para ao cuidado ao compor uma área externa
IT. 1.L269; IT.4.L301-L302
composto por gramíneas (capim). Encontra-se diferenciada do lado interno da pediatria. Esta exige, requer cortes
na área externa da pediatria.
ou ser aparada para manter uma aparencia de jardim; Os da
brinquedoteca da pediatria requerem também a retirada de propés,
pedindo que utilizem calçados como chinelos, ou se descalço , mas a
seguir a lavagem dos pés.
aparato que compreende um aro e uma rede que
IT.1.L266-L268
o envolve. É um alvo para os jogadores do jogo Reúne pais e filhos, compõe ambiência de entretenimento, ajuda a
de basquetebol. Está fixado no jardim de passar o tempo. É composta por relações de pessoas e objetos, atos,
inverno.
emoções, clima, temperatura externa.
262
Assentos encontrados no posto de enfermagem
para o secretariado e pessoal da equipe de
enfermagem, na brinquedoteca, no jardim de
inverno. São de madeiras.
Bancos
Enfeite natalino da
nascimento de cristo
Celebra As crianças brincam com os enfeites, com os picas-piscas. Bolas
brilhantes, coloridas, os presépio. Compõe um ambiente festivo. É
Árvore de natal
entretenimento, quando crianças aproximam dela. É para passar o
tempo. Destaca-se no período noturno.
Introdutório para infusão de medicamentos Compõe ambientes de terapia farmacológica; biossegurança; compõe
endovenosos para compor soluções de uso também ambiências de incomodo, dor, ansiedade e medo
enteral; de diversos diâmetros. Agulhas de (agulhinhas). Crianças em condições crônicas já conhecem muito
crochê, tricô.
bem a agulhas. Algumas lembram muito de experiência de dor e
Agulhas
desagrado,
medo,
das
sucessivas
―furadas‖.
Agulhas de tricô e crochê acompanham mãos, compõe uma
ambiência de entretenimento; de relacionamentos entre pessoas e
coisas.
Utilizar em pinturas, desenhar, rabiscar, Distração, atividades paras as crianças internadas, alguns
Caixa de lápis,
rascunhar.
acompanhantes; um dos materiais que alteram a espacialidade da
canetas, giz de
cama das crianças restritas ao leito.
cera
festa
cristã.
No jardim de inverno configuram ambiencias de conversas,
comemorações, atividades para passar o tempo, e, como está do lado
de fora da pediatria, permite arejar e esquecer do ambiente
hospitalar, permite contato com uma movimentação externa, com o
ar e raios de sol, tanto para as crianças, seus pais ou pessoal da
equipe de enfermagem ou visitantes; No posto de prescrição são
bancos altos utilizados para sentar-se a frente do computador para
prescrição de enfermagem , como também trocar ideias, arranjam-se
com telefones, bebedouros, cadeiras de fio, configurando momentos
de cuidados da equipe, ou troca de ideias para cuidado da criança via
ações médico - hospitalares, como não hospitalares (trocas de ideias
entre o pessoal do cuidar brincando quando passam por lá para pegar
as chaves ou beber água). São empurrados ou retirados pelo pessoal
da limpeza, compondo com estes, os dias de desinfecção terminal.
IT.1.L103; IT.2.L60; IT.7.L15L17; IT.8. L 25 – L33; IT.8 L34
– L37; IT.11.L97-L107;
IT.11.L124-L141; IT.12.L29L37; IT.12. L58-L59
IT.15.L202-L203
IT.11.L236-L266
IT. 7 L302- L312; IT.10. L36L40; IT.10.L171-L177; IT.10.
L372-L376; IT.10.L443-L450;
IT.10.L510-L514; IT.11.L59L64; IT.12.L531-L539
IT.4.L357; IT.10.L139-L164;
IT.11.L20-L24; IT.13.L80-L84;
IT.13.L73-L76; IT.14.L30-L37;
IT.14.L63—L66
263
Iluminação .
Composição de ambientes de interação através da iluminação dos IT.11.L236-L266; IT.12.L60lugares onde as pessoas se encontram; lâmpadas natalinas compõem L62
um ambiente festivo, iluminado.
Gravar som, conversas, entrevistas.
Compõe a indumentária da pesquisadora.
Cateter agulhado (dispositivo para infusão de
substâncias parenterais, introdutório é de metal),
cateter sobre agulha (dispositivo para infusão de
substâncias parenterais, introdutório é de metal,
mas o que fica é uma cânula flexível de
plástico), cateter de oxigênio (para conforto
respiratório, um complemento de oxigênio);
cateteres de biopsia.
Cuidadores possibilitam medicação por via endovenosa, via IT.5.L86-L88; IT.5.L89-L101;
inalação. Convivem, acompanham as crianças, acompanhantes, as IT.12-L361-L374; IT.14.L84práticas da enfermagem; requer explicações, conversas, são L87
mediadores de cuidados, tratamentos, geram estresses, dor, medo,
raiva, expectativas.
Lâmpadas
Gravador
digital
(visitante)
Cateteres
Bala de o2
Permite suporte de o2 distante da fonte de o2 Opção de oxigênio ambulante, um visitante das localidades da IT.5.L89-L101;
IT.12.L651por alguns minutos. Possibilita deslocamento.
pediatria. Às vezes é aceito ou rejeitado pelas crianças que L667;IT.15.L109-L117
necessitam dela.
Periférico
de
computadores.
Diferentes
tamanhos. Há visitantes e moradores. Há vários
no posto, nas salas de enfermagem, na medicina
e na sala de informática.
Mouse
IT.13.L-105- L107; IT.12. L58L59 IT.13.L80-L84; IT.13.L70L83; IT.14.L30-L37
Os da brinquedoteca interagem com crianças, educadores, pais. As IT.15.L82-L83; IT.15.L83-L84;
mãos das crianças geralmente pequenas são privilegiadas por mouses IT.15.L105-L108
novos (pequenos). Mãos com tala, com soro, interagem com mouses.
Interagem também com noticias, jogos na internet... No posto
interagem com prescrições, medicamentos, pessoas, mesas, telefone,
papéis, mouse pad, experiências, mãos... Nas salas de repouso de
enfermagem interagem com alunos, professores, enfermeiros, papéis,
livros, canetas, experiências, mãos... Na sala de prescrição médica,
interagem com professores, alunos, livros, experiências, estudos,
páginas da internet...
264
Armazenar, guardar, organizar.
Armário do repouso de enfermagem, armário da sala de
procedimento, armário de enfermarias de lactentes, armários do
posto de enfermagem, armários da sala de materiais e equipamentos,
armário da brinquedoteca, do laboratório de informática, repouso das
técnicas de enfermagem. Do tipo gazela para medicamentos,
materiais de procedimento.
Cano flexível, um condutor que possui um Faz companhia de crianças, pais, profissionais de saúde e diversas
lúmen. Pode conduzir líquidos.
entidades não humanas, como soluções medicamentosas, conecta-se
a veias, ou a conexões enterais.
IT.1.L107-L109;
IT.1.L124L125; IT.1.L172-L173
Micropore, esparadrapo, crepe E TEGADERM. Companhia do corpo do paciente; relaciona-se com diversos objetos
Aderem, fixam, protegem, isolam.
da pediatria; relaciona-se com cateter sobre agulha, gazes, talas,
equipos. Compõe tecnologias atuais ou antigas desenvolvidas pela
enfermagem (tala de papelão). Aderência incomoda quando retirada.
Vincula momentos de desconforto quando ligado às punções, trocas
de curativos. Como também momentos de alegria, interações na
troca. Configuram momentos de cuidado, por higienização,
isolamento, biossegurança e educação. Às vezes requer flexões, por
Fitas aderentes
isso ambiências de ergonomia.Compõe uma ambiência de cuidado,
que envolve técnicas, objetos, sentimentos, tempo, toque, conversa,
afagos, beijos. Esparadrapo:Relaciona-se constantemente com as
talas de papelão ou de PVC; cateter sobre agulha.
IT.1.L172-L173; IT. 7. L102 –
L111; IT. 7 L302- L312;
IT.11.L25-L48;IT.15.L32-L36;
IT.16.L100-L101; IT.16.L106L113
Armários
Equipos
dispositivo para pesar para crianças, bebês e
adultos.
Balanças
IT. 7.L64-L85;
IT.7. L102-L111; IT.7.L158L166
Compõe uma ambiência, cuidando do peso, cria um momento de IT.1.L134-L135
conversa, observação de textura de pele, coloração, ambiência de
contato. Relacionamentos entre superfícies, pés, mãos, antissepsia,
números,
papeletas,
anotações,
canetas,
alimentações,
medicamentos, aleitamento...
265
Geladeiras
Roupa do
hospital
Glicosímetro
Armazenamento refrigerado. Encontrado no Posto, repouso das técnicas de enfermagem, são utilizadas para
posto de enfermagem e no quarto de repouso dos armazenamento de medicamentos, para alimentos, respectivamente.
técnicos de enfermagem.
Ambiências diferenciadas para medicamento, cuidado de
medicamentos via temperatura para preservá-los para serem
ministrados nas crianças. No repouso, aproxima-se de um cuidador
caseiro, onde se armazena alimentos e líquidos para consumo nos
horários de repouso/descanso e confraternização da equipe de
enfermagem.
IT.1.L107-L109; IT.10.L592L597
Uso específico de paciente internado, para evitar Compõe a indumentária de um paciente; relaciona-se com excretas e IT.12.L161-L289
contaminações, infecções; identificar pessoas secreções pacientes poupam gastos de roupas domésticas.
como paciente; diversas cores, estampas;
tamanhos variados
Medidor eletrônico de glicemia no sangue.
Brinquedo, entretenimento quando se relaciona com crianças como IT.12.L292-L308
participante de seu cuidado. É um mediador de conversa entre
criança e profissional de saúde; estabilizador de estresses.
Proteção de excreções; roupa de baixo.
Ambiências de cuidado da pele, contato/toque, conversas, IT.4.L159
higienização, observação de textura da pele, coloração, relação de
superfícies, atritos, odores, desconforto e conforto.
É de pano macio, coloridos utilizado para Relaciona-se com computadores, com camas, com bateria, com IT.15.L135-L136; IT.15.L176envolver crianças após banho, sobrepor hampers durante atividade no leito com crianças que ficam sobre o 177
Coero - flanela superfície para as crianças.
leito enquanto descansa, aguarda por alguém, realiza medicamentos,
receber suplemento de oxigênio. Isola para evitar contaminação.
Fralda
266
Folhas
Impressora
Luvas
Calculadora
Telefones
Folha em branco para impressão; folhas Distração, atividades para as crianças e alguns acompanhantes; IT. 4.L246; IT.10.L139-L164;
impressas (de prescrição; balanço hídrico; configura ambiências de entretenimento, passa o tempo; aproxima IT.10.L280-L293; IT.13.L73memorandos, etc.), recados formais.
pessoas, interpela relações com várias entidades não humanas (lápis, L76
giz de cera, apontadores, mesas, cadeiras...).Criações préconfeccionadas ou não, a lápis, canetas, ou apenas pintura que tem
papel educativo ou de entretenimento.
Impressora ou dispositivo de impressão é um
periférico que, quando conectado a um
computador ou a uma rede de computadores,
tem a função de dispositivo de saída, no caso da
função específica do posto de enfermagem,
impressão de textos de prescrições de
enfermagem.
É uma vestimenta que cobre as mãos, punho e
parte do antebraço. Proteção – estéril para
procedimentos estéril
e limpos; as de
procedimento, são usadas para práticas simples
do dia a dia.
No posto de enfermagem convivem com os pés, pernas, cadeiras, IT. 1.L100; IT.16.L59-L85
bancadas, telefones, parapeito. São utilizados para imprimir, mas não
apenas textos formais como prescrições, são utilizados para
imprimir informativos de festivas, cronograma de aniversários,
fotografias, desenhos.
É um dos dispositivos de telecomunicações
desenhados para transmitir sons por meio de
sinais elétricos nas vias telefônicas, agora
vinculados também à Internet, tem outras
funções múltiplas por aqueles que usam
celulares, por exemplo. Tem como função
Telefone do posto = está vinculado à uma lista que contém dicas
para a sua utilização para manter a formalidade, não haver demora
ao ser utilizado... Celular é um aproximador de mundos distantes,
utilizados como entretenimento por visitantes ou pessoal da equipe
de saúde, assim como por pacientes também. É um companheiro que
auxilia no cuidado da criança hospitalizada, quando este reduz a
Conectores de ambu (reservatório) ou para envolver ou guardar
/armazenar algum objeto; balão, são atratatores para as crianças
menores, viram brinquedos; seus fragmentos que viram garrote para
puncionar veias.
IT. 1.L131; IT.6.L138-L141;
IT. 8. L155 – L159; IT. 8. L253
– L259; IT.10.L125L133;IT.11.L169-L209;
IT.14.L320-329;
IT.16.L106-L113
Calculadora é um dispositivo para a realização Configura uma estratégia de aproximação da enfermeira à criança. A IT.16.L87-L91; IT.16.L91-L99
de cálculos numéricos.
criança enquanto se encanta e brinca com a calculadora no pescoço
da enfermeira (amarrada com um fio), permite que a enfermeira à
avalie suas condições físicas.
IT. 1.L88; IT.9.L177 – L181;
IT.10.L638-L646; IT.12.L29L37;
IT.13.L22-L27;
IT.16.L65-L66
267
Teclados do
computador
Baldes
estabelecer ligações, contatos. Os tipos
encontrados na pediatria: móvel, fixo no posto;
orelhão.O do posto é Utilizado por enfermeiras,
técnicos,
alunos,
professores,
médicos,
fisioterapeutas, nutricionistas, coordenação,
secretária...
Não
pelos
acompanhantes,
familiares... Há telefone de alunos, pacientes,
acompanhantes, professores, profissionais de
multiprofissionais. Existem também o Orelhão,
telefone público, que fica no corredor da
pediatria.
saudade, ao aproximá-la a seus familiares, ao ajudar passar o tempo,
ao permitir que ouça música. O orelhão, ainda usado, também é um
companheiro que contribuem para o cuidado. Também requerem
limpeza e desinfecção para que não venha a prejudicar o cuidado,
portanto, também precisam ser cuidados.
Teclados de computador é um tipo de periférico
utilizado pelas pessoas para a entrada manual no
sistema de dados e comandos do computador.
Possui teclas representando letras, números,
símbolos e outras funções, baseado no modelo
de teclado das antigas máquinas de escrever. Os
teclados mais comuns são projetados para a
escrita de textos e inserção de comandos de
sistema. Juntamente ao mouse, é uma das
principais interfaces entre o computador e o
utilizador.Encontrados nos Computadores do
posto; sala de repouso da enfermagem; sala de
prescrição médica, brinquedoteca (computadores
e netbooks da sala de informática). Podem ser
moradores ou visitantes (celulares, notebooks,
netbooks).
Balde para armazenamento específico para
líquidos.
Relacionando-se com mãos, livros, cabos de energia e de fibra ótica, IT.15.L105-L108; IT.15.L152livros, talas, medicamentos, internet, prescrições, brinquedos, jogos L159
e atividades online ou software instalados, conhecimentos,
experiências , compõe arranjos de cuidado que transpõe suas teclas.
Contribui na composição não só de dados analítico, porque ao serem
manipulados pela equipe de saúde, bem como pela criança, juntos
cuidam em meio à essas relações estabelecidas. Os computadores
que cuidam requerem limpeza para evitar contaminação (este
cuidado é bastante intenso na brinquedoteca)... os teclados que
cuidam transitam, circulam, ―andam‖ pela pediatria (netbooks) e
celulares das pessoas que trabalham ou que estão internadas, ou
visitando o lugar.
Coletor de brinquedos sujos; muitas vezes, na ação de guardar os IT.8 L77 – L81; IT. 8. L149 –
brinquedos sujos, são feitas de modo a brincar de arremesso à L152; IT.10.L230-L238
distancia; como possui uma identificação que diz que é um balde de
deposito de brinquedos sujos, usados pelas crianças acaba sendo um
268
Oxímetro de
pulso
Dispositivo que mede indiretamente a
quantidade de oxigênio no sangue de um
paciente. Em geral é anexado a um monitor, para
que se possa ver a oxigenação em relação ao
tempo. A maioria dos monitores também mostra
a freqüência cardíaca.
selecionador de brinquedos em boas ou não boas condições para
brincar com as crianças.
Companheiros de crianças instáveis, ou recebendo infusões que IT. 9.L37 – L48; IT.14- L390 –
alteram frequência cardíaca, assim como saturação. Compõe com as L397
crianças uma ambiencia de cuidado não só focado à patologia, como
também, junto com a equipe e criança e familiares, constituem uma
ambiencia educativa, participativa, todos são atores.
269
APÊNDICE C
MEMORIAL DESCRITIVO
Durante a minha graduação comecei a me interessar por pesquisa de modo progressivo,
foi aos poucos. Inicialmente, em novembro de 2004, era apenas voluntária do Projeto
de extensão EIC – Hospitais (Escola de Informática e Cidadania para crianças
hospitalizadas), ofertado pela Faculdade de Enfermagem da UFMT. Minha atuação era
como educadora do projeto implantado na sala de recreação da pediatria do Hospital
Universitário Júlio Müller (HUJM).
O projeto, em principio, contava com a parceria da Organização Não Governamental
Comitê para Democratização da Informática do Paraná (CDI-PR), sendo esta uma
concentradora de computadores doados por empresas, bem como recicladora dos
mesmos e, em seguida, distribuidora desses para suas Escolas de Informática e
Cidadania (EICs). Para a EIC- Hospital do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM),
o CDI-PR repassou, em sua inauguração (fevereiro de 2004), cinco computadores
pessoais e quatro notebooks. E, inicialmente, essa ONG também era responsável pela
capacitação dos educadores-voluntários de suas EICs, incluindo os que compreendiam
as EIC-hospitais: EIC-Hospital do HUJM, com sede em Cuiabá/MT; EIC- Hospital do
Hospital do Oeste do Paraná (HUOP), com sede em Cascavel/PR, EIC-Hospital do
Hospital do Trabalhador (HT), com sede em Curitiba/PR. O meu contato com essas
parcerias ocorreu em março de 2005, ao me contemplarem para ser uma das
representantes do grupo de Mato Grosso para participar do encontro em Curitiba. Seria
este o primeiro encontro com os parceiros EIC-hospitais. Essa oportunidade permitiu
que eu entrasse em contato com educadoras que realizavam atividades próximas as que
eu desenvolvia no HUJM, apesar de realidades distintas. Foi também uma oportunidade
para a capacitação junto ao CDI-PR.
E, após esse encontro, e já atuando como voluntária por nove meses, e,
concomitantemente, mantendo um bom coeficiente acadêmico nas disciplinas ofertadas
pelo quarto semestre da Faculdade de Enfermagem, fui indicada para ser bolsista de
Iniciação Científica (Bolsa PIBIC/CNPq) de uma das professoras de Enfermagem do
sétimo semestre (Área da saúde da Criança e do Adolescente), sendo esta também uma
coordenadora do projeto. Logo passei a ser educadora e uma iniciante em pesquisa. E, a
proposta que já havia sido discutida no encontro das EICs envolvidas com crianças
hospitalizadas era de iniciar chats/bate-papos entre as crianças internadas nessas
instituições via internet; a minha pesquisa, após conversa com minha orientadora, seria
proveniente dessas interatividades. Passei a desenvolver as atividades dirigidas para
atuar junto às crianças como eu sempre fazia e como era preconizado pelo projeto, mas
reservando um dia da semana para a interatividade/chat/bate-papo conforme combinada
270
entre os hospitais parceiros com dia e horário acordados entre os educadores das três
EIC-Hospitais.
Em 2006, a minha permanência como bolsista foi decisão das coordenadoras, o que me
permitiu continuar com as atividades de pesquisa, bem como de extensão até o ano de
2007, tendo apenas modificado a orientadora. Sendo assim, de 2005 a 2007, pude
participar diretamente das etapas de pesquisa envolvendo crianças e adolescentes
hospitalizados que participavam da interatividade via internet, do mesmo modo das
atividades lúdico-pedagógicas entre crianças e computadores. Permeando a isso, tive a
oportunidade de desenvolver relatórios, resumos e resumos estendidos, participar de
eventos científicos locais, regionais e nacionais, assim como tive a oportunidade de
ajudar na organização de oficinas de informática e cidadania para formação de novos
educadores. Coincidindo a finalização da minha experiência como bolsista PIBIC/CNPq
com o término de minha graduação em setembro de 2007.
Em novembro de 2007, recebi proposta de permanecer como bolsista pelo Grupo de
Pesquisa em Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC) ao qual o EIC-Hospitais estava
vinculado. Entretanto, seria como bolsista de terceiro grau, apoio técnico, bolsa ofertada
pela Fundação de Amparo à pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT). Atuando como
apoio técnico da pesquisa intitulada ―Ambiência hospitalar‖, de 2008 a 2009. Através
desta tive contato com a parte de organização e estruturação de um ambiente para os
integrantes das pesquisas dentro do Hospital Universitário Júlio Müller, sendo esta
bolsa um modo de me manter financeiramente e, ao mesmo tempo, não perder ligação
com o meio acadêmico.
Nesse ínterim, mantive minhas atividades como voluntária do EIC-Hospitais, o
qual em 2008 passou a ser chamado de Programa Cuidar Brincando após ampliar suas
atividades e se emancipar do CDI-PR. No ano de 2008, assumi a responsabilidade de
ser uma das formadoras de novos educadores. E, como os meus estudos em Paulo Freire
haviam se aprofundado ainda em meio ao período de bolsista do EIC-Hospitais, passei a
participar da organização de oficinas semestralmente, não parando, mesmo com as
atividades de apoio técnico junto ao GPESC e mesmo já atuando como enfermeira
assistencial – uma vez que sabia que dali sairia meus futuros estudos em pesquisa em
tecnologias, políticas e acessibilidade e crianças hospitalizadas – senti-me instigada, o
que me fez permanecer, enfim, o que me prendeu ao Programa Cuidar Brincando.
E, com o ambiente acadêmico como foco, assim como também me interessava muito
voltar a estudar tecnologias (resquícios do EIC), passei a ler sobre o assunto. E, durante
minha atuação como apoio técnico, professores me incentivaram a retomar meus
estudos, neste caso, buscar uma Pós-Graduação em Mestrado. E, foi uma dessas
professoras que me apresentaram folders dos programas de Pós-Graduação – Mestrado
no final de 2008: um sobre Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) e outro sobre
Educação. Após me interessar pelo programa de Pós Graduação – Mestrado – Estudos
de Cultura Contemporânea, sugeriram-me que eu fizesse algumas disciplinas especiais
271
oferecidas pelo ECCO para me inteirar mais do que seria essa Pós-Graduação.
Matriculei-me em uma disciplina no primeiro semestre de 2009, mais especificamente
―Tópicos especiais em comunicação e mediações culturais‖, ministrada pelo professor
Dr. Yuji Gushiken. Meu foco até então era Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) vinculada ao ambiente hospitalar, a criança hospitalizada, ao cuidado de
enfermagem. Cursando a disciplina comecei a pensar no pré-projeto para o mestrado.
Mantive o foco em TICs.
E, apresentei ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea,
em outubro de 2009, o pré-projeto de pesquisa intitulada ―Interconexões: motivando
relações colaborativas para a criação de um espaço online que eleve o potencial de
cuidado mútuo entre os sujeitos que componham o cotidiano da pediatria do Hospital
Universitário Júlio Müller (HUJM)‖. Após aprovação por meio de processo seletivo,
matriculei-me no dia 01º de março de 2010 – matrícula nº 35208 –, e minha orientação
ficou sob os cuidados da Profa. Dra. Dolores Cristina Gomes Galindo.
Durante todo o primeiro ano do mestrado, fiz as disciplinas conforme orientação de
minha orientadora, percebidas como necessárias para preencher a carga horária de 360
horas (ver disciplinas cursadas). Acabei me matriculando em algumas disciplinas extras
por suas relevâncias, em especial: Tópicos especiais em Epistemes Contemporânea I,
com o subtítulo ―Caminhando com Donna Haraway pelo fantástico mundo das
tecnologias: ciborgues, ratos, cachorros e outras figuras de borda‖. Disciplina
ministrada pela Profa. Dra. Dolores Cristina Gomes Galindo, cuja proposta da ementa
referia-se a explorar o universo teórico e imaginativo da bióloga e filósofa feminista
Donna Haraway.
Ao longo do percurso de estudos no ambiente de mestrado, a pesquisa foi ganhando um
novo norte, enfocando em um estudo empírico sobre as sociomaterialidades hospitalares
que cuidam, em vez de concentrar apenas nas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), sem deixá-las completamente, haja vista que encontravam- se
juntas. Nesse ínterim, portanto, fui apresentada a novos autores, estes encontrados em
sua maioria apenas em inglês ou espanhol por serem literaturas européias, portanto,
sendo mínimos os artigos com versões traduzidas para o português. Estudando esses
pesquisadores, passei a articulá-los à literatura brasileira sobre brinquedotecas, crianças
hospitalizadas, humanização em saúde, com o intuito de realizar uma reflexão sobre
cuidado em saúde de um modo não/ antropocêntrico, mas como um evento em arranjos
com diversas entidades, sendo estas humanas ou não. A minha orientadora me
apresentou algumas de suas produções em formato de artigo, capítulo de livros, todos
referentes à sociomaterialidades de brinquedotecas que ela já havia produzido. O que
me ajudou a me aproximar da literatura de cunho europeu que eu estava estudando até
então em meio às disciplinas que me encontrava matriculada, mais especificamente as
ministradas por ela e outros professores ligados à linha de pesquisa em Epistemes
Contemporâneas.
272
Os estudos se intensificaram através de estudos em dupla, sugestão de minha
orientadora. Assim, ainda no primeiro ano de mestrado, passei a estudar com outra
mestranda, com a qual, apesar de falarmos de lugares diferentes, tinha em comum o
foco nos estudos, além da orientadora e os autores das sociomaterialidades para analisar.
Passamos a estudos com um grupo maior, isto é, em colaboração, ao iniciar as
atividades do Grupo de Pesquisa ―Tecnologias, Ciência e Contemporâneo‖ (TECC) em
maio de 2011, no qual eu me encontrava inserida, por ser o grupo coordenado por
minha orientadora. Fizeram parte de minhas atividades no grupo, a leitura de textos,
pesquisa e rastreamento de artigos, compartilhamento de experiências sobre minhas
vivências como enfermeira, bem como sobre o meu processo de redação dos meus
textos e resumos, assim como do projeto de pesquisa, bem como da própria dissertação.
Os estudos em dupla permaneceram, alternando as duplas, para maior envolvimento de
todos com a pesquisa de cada um. Através do mestrado e do TECC, amadureci meu
pensar em pesquisa, meu pensar científico. Atravessamentos possibilitados pelo TECC
foram possíveis, ou seja, também pude continuar o exercício de ter e manter interação
interinstitucional com outros alunos e pesquisadores via internet e presencialmente,
sendo alguns vinculados à UFMT, campus Cuiabá ou Rondonópolis, outros à PósGraduação da PUC-SP, não bastando, tive contanto com pesquisadores da Universidade
Federal do Ceará, assim como a um discente, pós-graduando da Universidade Federal
de Pernambuco.
Além disso, exerci a função de tutora de alunos de graduação (graduandos de
Psicologia) ligados ao grupo de pesquisa. Tendo como norte das reuniões desse minigrupo, textos referentes às Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar (textos
previamente selecionados e indicados por minha orientadora, bem como textos que eu já
havia rastreado e fichados, e que já haviam sido aprovados pela orientadora).
Ao longo dos dois anos de mestrado participei de diversos eventos. A princípio, como
ouvinte em dois: I Simpósio da Rede Centro-Oeste de Arte, Cultura e Tecnologias
Contemporâneas - Rede CO3, realizado em Cuiabá - MT e em Curitiba - PR, na
Conferência Internacional sobre Redes Sociais (CIRS) e Conferência Internacional
de Cidades Inovadores (CICI), durante o ano de 2010. Ainda em 2010, com apoio da
PROPG/UFMT, tive a oportunidade de participar do evento ABRAPSO 2010, o qual
aconteceu na Universidade de Taubaté (UNITAU) em Taubaté/São Paulo. Nesse
evento, pude interagir com outros pós-graduandos, pesquisadores, além de apresentar
um resumo em formato pôster, Performances de objetos sociotécnicos: humanizações
e artefatualizações em saúde. Essa produção me permitiu trocar ideias sobre
humanização em saúde a partir da interação entre humanos e artefatualidades
hospitalares. Nesse mesmo evento, também participei de um grupo de trabalho, no qual
falei sobre, Sensações, um objeto sociotécnico e uma adolescente: tecnoestética em
uma pediatria. Em que o assunto era a relação de alteridades distintas, ou seja, a
relação de uma adolescente e a sua bolsa de colostomia, como esta última conectada a
primeira produzia diversas sensações. Pude conversar sobre produção de subjetividade a
partir da relação humano e não/ humano.
273
Durante o primeiro semestre de 2011, participei como coautora do trabalho,
Interferências e Espacialidades: uma brinquedoteca hospitalar. Este foi apresentado
em grupo de trabalho (GT) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador/BA.
Esse trabalho (resumo) permitiu que eu estudasse e me aprofundasse mais em noções
sobre interferências e espacialidades, colaborando muito para a confecção de meu
projeto de pesquisa, bem como para a produção de minha dissertação.
Durante o segundo semestre de 2011 pude apresentar outro resumo em formato pôster,
na Semana Integrada de Psicologia de Mato Grosso. O título do trabalho era Práticas
de Humanização em saúde numa pediatria: um computador e suas performances.
Eu como enfermeira pude trocar ideias com psicólogos e outros profissionais
participantes do evento. Houve também a oportunidade de atuar junto aos alunos da
tutoria, que me ajudaram na produção e elaboração do texto sob a orientação de minha
orientadora.
A seguir, participando da II Semana Acadêmica da UFMT, pude apresentar as
reflexões que defendo em minha dissertação. Onde pude apresentar o ambiente de
pesquisa de campo na qual realizarei minhas pesquisas.
Tive a oportunidade de estar em meio às discussões do GT 17 “Infância” do
Seminário de Educação que aconteceu na UFMT. Paralelamente a esse Evento,
participei como ouvinte do Seminário Infância, promovido pelo Grupo de Pesquisa em
Psicologia da Infância (GPPIN).
Participei de dois trabalhos que foram apresentados no evento Nacional da ABRAPSO
2011 que aconteceu em Recife, mais precisamente, na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Um foi em formato mesa redonda, cujo título era Interlocuções
sobre performatividades em práticas cotidianas de cuidados em saúde. Esse
trabalho me permitiu interagir com alunos de pós-graduação da UFPE. Confeccionei um
resumo estendido em coletivo. Sendo os participantes da mesa: eu, uma acadêmica de
psicologia da UFMT – campus Rondonópolis e um mestrando em Psicologia Social da
UFPE. A partir deste estudo pude apresentar uma experiência sobre modulações de
afetos numa pediatria, tendo sociomaterialidades como potentes cuidadores de uma
criança com um quadro avançado de anorexia nervosa infantil. O qual me permitiu
pensar sobre modulações de afetos de uma maneira não clássica.
Ainda para a ABRAPSO 2011 tive outro trabalho em formato pôster, no qual fui
inserida como coautora, cujo titulo: Práticas de Humanização em saúde numa
pediatria: um computador e suas performances. Esse foi apresentado por um dos
alunos de graduação vinculado ao minigrupo de estudos sobre Práticas de cuidado no
cotidiano hospitalar. O presente trabalho foi premiado entre outros apresentados em
formato pôster.
Participei como ouvinte do I Seminário Diálogos de Saberes: conhecimentos
indígenas e pesquisa científica. O qual me possibilitou pensar em diversidades de
274
saberes, sobre saberes localizados e situados em ruptura com a noção dicotômica entre
saberes não - científicos e científicos em saúde.
Vale ressaltar que minhas atividades como colaboradora da Extensão da Faculdade de
Enfermagem, Programa Cuidar Brincando, continuaram. Uma vez que mantive o meu
interesse em vincular pesquisa ao ambiente de extensão proporcionado pela academia
participando como instrutora das oficinas de formação de novos educadores em
Informática e Cidadania, mantendo ―o método Freireano‖ para desenvolver tais oficinas.
As atividades de Informática e Cidadania associam- se a um dos subprojetos do
Programa Cuidar Brincando, sendo esse um de meus objetos de pesquisa.
Ao longo de todo esse processo, entre várias tentativas com acertos e erros, várias
experimentações com ou sem sucesso, o foco de meus estudos foi ficando cada vez mais
claro. Levando, por fim, o meu trabalho de pesquisa a abarcar o máximo possível de
ideias sobre uma nova concepção em Cuidado em Saúde, esta vinculada a arranjos
sociomateriais de uma pediatria, de sua brinquedoteca e das atividades ligadas ao
Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. Conseguimos alcançar um
conceito denso capaz de abarcar o título a priori escolhido Tecnoculturas do Cuidado no
Cotidiano: objetos sociotécnicos que habitam uma pediatria; entretanto, como
enfocamos nas descrições dos ―computadores que cuidam‖, a dissertação ficou
intitulada de ―Tecnologias do cuidado no cotidiano: descrições sociotécnicas de
computadores que habitam uma pediatria‖.
A postura metodológica adotada foi: Praxiografia do Cuidado. Esta proveniente de
estudos do cuidado na prática encontradas principalmente nos trabalhos da pesquisadora
empírica e filósofa Annemarie Mol. E, a partir das leituras desta autora e demais autores
próximos a ela, isto é, pertencentes ao campo de pesquisa em Ciências, Tecnologias e
Sociedade, o propósito foi de conciliar a pesquisa proposta às disciplinas cursadas, para
exercitar e esclarecer os motivos da escolha da praxiografia como postura metodológica.
Como nossos ―Incidentes‖ ficaram próximos à imagem de um ―mosaico‖, adotamos
esta imagem apenas como uma metáfora, e, quem sabe para futuros estudos vir produzir
uma metodologia a partir do processo de montagem de um mosaico. Sobre incidentes,
foi necessário aprender sobre a noção de Incidentes Críticos (GALINDO, 2003).
Para o delineamento da pesquisa em Práticas de cuidado hospitalar, foi necessário
estudar as práticas do cuidado para se chegar a um conceito para objetos sociotécnicos,
arranjos sociotécnicos e tecnologias do cuidado ou práticas do cuidado, conceitos-base
que sustentam a minha dissertação. O percurso traçado procurou coexistir a literatura
em estudo com o cotidiano das práticas, tecnologias e técnicas selecionadas para o
estudo, enfim, para o entendimento destas em exercício, em movimento.
Lembrando que o grupo de pesquisa TECC me ajudou e colaborou muito para uma
tradução apurada dos textos em inglês (em sua maioria) e textos em espanhol. Ou seja,
os integrantes do grupo de pesquisa colaboraram intensamente para que a leitura e
entendimento das obras dos seguintes pesquisadores em destaque fossem possíveis:
275
Annemarie Mol, Bruno Latour, Donna Haraway, Daniel Lòpez, E. Sorensen; Ignunn
Moser; J. Taylor; John Law, Jeannette Pols; Michael Schillmeier; Miquel Domènech;
Tomás Sánchez-Criado; Vicky Singleton. Em virtude da relevância dos artigos e livros
da Annemarie Mol, para se pensar a metodologia desta dissertação, como também para
fulcro de um pensar crítico sobre a Política de Humanização em Saúde, a maioria dos
textos desta pesquisadora, citados ao longo deste trabalho, foram impressas mantendo
sua longa extensão. Por isso, vale ressaltar que a não síntese textual foi proposital.
E entre as disciplinas cursadas, as que seguem foram decisivas para o que se pretendia
nesta dissertação: Tópicos especiais em Epistemes Contemporâneas II, com o subtítulo,
―tecnoculturas, performatividade e subjetivação: pesquisas e estudos sociotécnicos‖.
Essa disciplina me permitiu aproximar dos estudos da Annemarie Mol e John Law sobre
performances em sociomaterialidades. Levando-me também a esclarecimentos quanto
ao conceito de tecnologias, assim como a visualizar esse conceito inserido no cotidiano
das práticas de cuidado em saúde. Não bastando, conduziu-me a compreensão da
subjetividade emitida pelos elementos não/ humanos quando vinculados/ligados a um
humano, isto é, a simetria dos não/ humanos com os humanos em determinados
momentos. E a disciplina Tópicos especiais em Epistemes Contemporâneas III, com o
subtítulo ―Serres e Latour: interfaces, articulações e assimetrias‖ foi bastante relevante,
pois me esclareceu pontos da pesquisa que poderiam ser questionados, que poderiam
fragilizar o que se pretendia estudar. Já que me ajudaram a pensar sobre a noção de
―redes‖, uma vez que abordam profundamente a concepção da Teoria Ator-rede.
Em todo esse processo, percebi-me como uma enfermeira que partiu de sua insistência
em querer estudar as tecnologias que permitiam acesso, na prática, aos direitos das
crianças hospitalizadas e seus familiares ao cuidado em saúde. Por conta de minha
curiosidade e interesse, em seguida com apoio de minha orientadora, acabei desaguando
em uma área de pesquisa interdisciplinar em cultura, neste caso, das tecnologias
hospitalares que vinculam cuidado. Portanto, passei de estudante e enfermeira a uma
enfermeira-educadora, que pesquisa e estuda as culturas das práticas de cuidado
produzidas pela enfermagem no ambiente hospitalar. E concomitantemente, permaneci
atuante através de atividades colaborativas junto à atividade de extensão e pesquisa
oferecida pela Faculdade de Enfermagem da UFMT, bem como enfermeira assistencial
em meio a essas práticas, técnicas e tecnologias de cuidado, ou seja, das práticas de
cuidado ligadas ao hospital, à enfermagem, que sempre, desde o inicio, ainda na
graduação de enfermagem, chamavam-me à atenção.
276
APÊNDICE D
FRAGMENTO DE UM DIA DE ANDANÇAS
277
APÊNDICE E
Andanças/Itinerário Extra
Entrevista/conversa na íntegra com uma Professora - Enfermeira
1.1. Conte para mim sobre sua relação e vivência com o hospital Júlio Müller e a
pediatria.
2Vamos conversar (risos). Eu entrei no hospital em 84. Hospital Escola foi inaugurado
3no final de julho, dia 20. E, eu entrei um mês depois, dia 20 de agosto. É, teve um
4concurso no início do ano, em janeiro e, quem entrou, eu falo do pessoal da pediatria.
5Como a Mara Regina, Marta José, tem a Cida Gaíva. Esse pessoal que entrou nessa
6época, eles fizeram todo um preparo antes do funcionamento. Então elaboram os
7manuais de normas e rotinas. Tudo era feito junto, pessoal da medicina e enfermagem,
8serviço social e nutrição. Porque na época, todos os profissionais que foram para o
9Júlio Müller eram só professores. No Júlio Müller não tinha técnico administrativo.
10Então houve um grande concurso para professores e esse professores é que foram
11para o hospital escola. E foram eles que pensaram o Júlio Müller como hospital
12escola.Então, quando eu entrei a pediatria já era um lugar que estava funcionando há
13trinta dias. Já tinham as equipes. E eu me lembro assim que pra mim o início foi um
14choque. Não gostei. Eu estava vindo da Santa Casa, eu era a única enfermeira da
15Santa Casa, lá eu atendia 60 crianças, era muito trabalho, muito trabalho mesmo. E,
16de repente eu vou para o Júlio Müller e encontro 8 crianças internadas. E era muita
17gente para cuidar de pouca criança. E uma exigência muito grande. Eu ficava de
18manhã na Santa Casa e à tarde eu ia para lá, para o Júlio Müller. E eu dizia assim,
19que na Santa Casa eu saía com as pernas que não me aguentavam, mas minha cabeça
20leve. E no Julio Muller era o contrário. Porque como era muita gente que queria fazer
21o melhor possível, acabavam fazendo tudo exageradamente. Tudo era exagerado. E,
22então de repente tinha uma criança que insistiam em ver alguma coisa de errado nela,
23e eu me lembrava das crianças lá da Santa Casa, numa situação terrível. Então, nas
24primeiras semanas de trabalho eu fiquei assim, meio que revoltada por causa do
25excesso de zelo por aquelas crianças, e, enquanto aquelas outras 60 que estavam lá
26(Santa Casa), estavam praticamente jogadas. E no Júlio Müller pessoas preocupadas
27com detalhes, um exagero de detalhes. Claro que eram importantes, mas pela
28realidade que eu conhecia, eu achava que ali tinha muita gente, muito exagero para
29cuidar de poucas crianças. Uma criança só, e, não podia olhar diferente, que estava
30um monte de gente encima. Então foi um choque. Já cheguei e o pessoal já tinha
31pensado as normas e rotinas. E, eu chegando, eu era uma pessoa de fora que estava
32chegando, me tratavam como se eu não conhecesse nada de cuidado de crianças. A
33única coisa que senti é que me respeitavam era porque além de eu ser especialista,
34sabiam que eu vinha de experiência de pediatria em outro hospital. Mas havia
35situações que vinham me questionar porque determinada criança havia morrido,
278
36queriam que eu respondesse o motivo. Questionando porque eu havia deixado morrer.
37Às vezes, eu mudava o berço do lugar, no dia seguinte já vinham me perguntar
38porque tinham mudado o berço do lugar, já que o berço tinha que ficar na posição
39anterior à mudança. Porque eles haviam pensando nas enfermarias, na distribuição de
40berços e em suas disposições. Então o inicio foi muito difícil para mim lá. Eu achava
41que a hora não passava, que não era tanto serviço assim. Mas com o tempo foi
42mudando, o perfil das crianças atendidas foram mudando. Assim como o tipo de
43assistência prestada, a estrutura da pediatria também. Foi ficando muito mais
44complexo, né? O pronto atendimento infantil chegou a funcionar por muito tempo
45dentro da pediatria. Sobre a questão da recreação, sempre houve uma preocupação
46que esta acontecesse. Isso desde o inicio. Mas assim, nós sempre fizemos atividades
47com as crianças. Mas foi apenas com a entrada da professora e mestre em educação
48física, a Nilzalina, é que esta preocupação ganhou espaço. Quando ela chegou, ela fez
49a diferença, porque ela veio para a recreação, mas nunca foi um trabalho só realizado
50pela Nilza. O diferencial foi que quando todos as pessoas que entraram na pediatria
51(enfermeiros), tinham especialização pela UNESP (escola paulista de enfermagem),
52era um curso de mais 1000 horas, éramos especialistas mesmo! Éramos especialistas
53em pediatria. Então essa questão da criança, os pediatras também bastante
54competentes. Éramos muito jovens. Eu lembro de todo mundo com uma faixa etária
55de 24 a 30 anos. Aí eu falo que naquela época foi um sonho sendo realizado,
56estávamos ajudando a pensar um hospital. Estávamos com um hospital em mãos.
57Nossa! Foi um sonho! Dou graças a Deus de ter participado disso tudo. Tudo era
58muito certinho. Tudo funcionado direitinho. E aí quando a Nilza entrou ela tinha
59aquela preocupação em fazer recreação com as crianças, mas ela também sempre
60pensava em fazer algo com os adultos, em não abandoná-los. Não me lembro
61exatamente de quando ela entrou, mas que desde o princípio ela ficou lotada na
62gerencia de enfermagem, sobre responsabilidade da enfermagem. Também me
63lembro da professora Áurea, a Áurea foi outra. Foi ela que começou com a história
64das comemorações, das festas de aniversário das crianças foi a professora Áurea
65Christina quando ainda era da pediatria. A Áurea foi a responsável para dar esse tom
66de festa. Já havia a recreação estabelecida, o brinquedinho garantido. A professora
67dava jeito no bolo, nas bolas, agilizava tudo. A gente cantava parabéns, foi ela quem
68deu esse tom de festa mesmo, de arranjar tudo o que uma festa de aniversário precisa.
69Temos a enfermeira Francisca também gostava de mexer muito com isso, e o pessoal
70da pediatria, que entrava, embarcava nisso. Até orquestra elas conseguiam para as
festas.
71Mas e o hospital escola, como ele nasce?
72Olha, eu não estava na época do acontecido, mas sei, o que se falava era que houve
73uma paralisação, uma manifestação, uma movimentação dos estudantes. Os
74estudantes de medicina estavam próximos para ir para campo e estavam sem um
75hospital adequado para estagiarem, não havia um hospital escola. E, a enfermagem e
76a nutrição estagiavam na santa casa e no hospital geral. Então o que eu sei é que os
279
77alunos de medicina estavam perto de iniciar o internado e não tinham hospital. Aí os
78alunos fizeram uma pressão para que vissem o mais rápido possível um hospital.
79Talvez tenham acontecido outros movimentos acontecendo a favor da construção de
80um hospital escola, não sei dizer ao certo. Acatado a necessidade de um hospital, aí
81vieram as questões políticas, o acordo, o envolvimento da reitoria, diante da realidade
82postada pelos alunos. Houve também uma pressão e exigência para o hospital ser
83dentro do campus, muita gente defendia que fosse construída no campus. Mas o que
84sei é que na época não foi possível, pelo tempo, aproveitando de uma estrutura pronta
85do Estado.
86Como era a estrutura da pediatria?
87Bom eu vou falar primeiro da pediatria da Santa casa. Enquanto aluna fiz estágio na
88pediatria da Santa Casa. Lá as crianças eram distribuídas em dois andares. No
89primeiro andar ficavam as crianças maiores, e no segundo ficavam os bebês.
90A Santa Casa era referência para você?
91É porque a Santa Casa foi o meu primeiro emprego. Mas antes de eu ir trabalhar lá,
92eu estagiei lá, eu fazia sete horas por dia e ia para lá todos os finais de semana. Só
93que na Santa Casa era um lugar onde só havia atendentes. Era precária a realidade,
94mas só que assim, dentro da realidade daquela época. Mas a gente fazia, veja só, para
95você ter uma ideia, a gente atendia as crianças das enfermarias, que estavam sem
96acompanhantes, crianças que ficavam sozinhas. Tinham enfermarias de 8 leitos, olha
97só, oito bebês. Agora você imagina o que é você passar um plantão, só de uma
98enfermaria com 8 crianças, né? E você passar plantão de todas as enfermarias lotadas.
99Então as meninas já passavam dizendo: ―este tá bem, este tá bem e, este está com
100febre...‖. E eu chegava na porta, assim e ficavam três atendentes à noite, com 30
101crianças encima e 30 crianças embaixo. Então eu lembro que chegava e
102dizia:‖aquele ali não pode ficar sem soro, porque senão vai desidratar. E aquele não
103pode ter febre porque vai ter convulsão‖. Eu tinha que priorizar, a prioridade da
104prioridade. Entendeu? Porque eu sabia que através dos meus alertas de passagem de
105plantão, eu sabia que aquela criança ali, as meninas, se a criança perdesse veia, elas
106iriam pegar logo, né? Então assim, eram muitas crianças. Não ficavam mães, são
107aquelas histórias, de criança morrer, de abandonos de crianças por famílias que
108moravam longe ou chegavam tarde pela distancia para poder saber da criança, já que
109não podiam permanecer. E, mesmo naquela época tinha uma professora, mas ela só
110assistia televisão, o que quero dizer é que ela não se envolvia com a equipe, com a
111assistência das crianças inteiramente. Ah, a Francisca, a enfermeira Francisca já
112trabalhava lá, mas ela começou na pediatria da Irmã Iracema, outra instituição. Mas
113era ela, assim como eu, a gente tinha essa preocupação, essa coisa de brincar, de
114inventar brincadeiras com as crianças. Isso a gente fazia lá na pediatria, com as
115crianças maiores. O nosso maior problema eram as crianças que ficavam sozinhas.
116E no Júlio Müller?
280
117No Júlio Müller já começou com a presença das mães. No outro hospital, no Geral,
118já tinha as mães também. Na Santa Casa eram visitas diárias. E aí, quando eu
119comecei, a gente começou a deixar, a incentivar as mães das crianças mais graves
120ficarem. Aos poucos as mães começaram a ficar lá dentro. Porque naquela época,
121para você entender, o perfil epidemiológico era diferente, era relevante a diarreia,
122mais que pneumonia ainda. Eu não sei se a diarreia acabou, ou se o tratamento de re123hidratação oral realmente resolve essa questão da não desidratação da criança, mas
124eu acho que é isso mesmo, aí os modos de acessar o serviço de saúde diferenciou.
125Porque o que acontecia, a criança desidratava. Qual era a conduta? Dieta zero,
126entendeu? E, em casa, era orientado não dar dieta, então a criança chegava muito
127desidratada. E não existia soro de hidratação oral. Então só hidratávamos as crianças
128apenas com terapia intravenosa. Então a criança ficava o tempo todo com o soro.
129Não existia, por exemplo, o scalp heparinizado, o scalp de manutenção. Então toda a
130criança com antibiótico ficava constantemente com a hidratação venosa. Porque não
131existia nem aqui, nem no país mesmo, porque isso chegou bem depois, a prática de
132colocar heparina, ou de salinizar o acesso venoso para não precisar ficar
133constantemente com o soro, no caso que não havia necessidade de ficar com essa
134hidratação. O que dificultava a liberdade para brincar. Se tinha que tomar
135antibiótico, ela ficava o tempo todo com esse soro conectado á veia. Então assim,
136naquela época scalp era raro, só tinha agulhas, scalps eram materiais de luxo. A
137gente recebia dois scalps estéreis para a noite. A gente deixava dentro do vidro,
138armazenado num solvente.
139Não se falava em AIDS? Em doenças transmissíveis?
140Não. O que se falava muito era hepatite, tinha muito caso de transmissão de
141hepatite. Casos de AIDS surgiram depois, mesmo assim, a gente nem tinha noção
142dela.
143E no Júlio Müller?
144No Júlio Müller era um sonho de consumo. Era tudo estéril, tudo certinho. Só não
145havia seringa dessas de agora, eram de vidros esterilizados, mas acho que isso era
146em todo o país, não havia chegado essa tecnologia para gente mesmo, essa coisa de
147material descartável foi surgindo bem depois. Mas no Júlio Müller nunca faltou
148material. Hoje tem faltado, mas naquela época não.
149Conte-me mais sobre as modificações prediais da pediatria.
150Sempre houve reformas, construções, modificações no HU, na pediatria. Sempre
151aconteceram mudanças desde o período em que eu entrei no hospital. Por exemplo,
152ali na pediatria, onde é o refeitório das crianças hoje, onde há uma porta de vidro
153que leva a brinquedoteca, ali era uma parede com uma porta que dava para o
154―quintal‖, ou melhor, que dava para parte de fora do prédio do Julio Muller. Então,
155no inicio, aquela porta permanecia fechada. Entendeu? Quando a gente abria a
281
156porta, a gente ficava ali, porque a porta dava para fora do hospital. Então, a criança
157só tinha o refeitório. Então, eu lembro uma vez eu conversando com a Marta, uma
158pediatra que já morreu, né? ―-Marta, a gente podia fazer um quintal aqui, né?‖ E, ela
159estava no departamento de pediatria, e ela disse: ―-mas é mesmo, né. Vamos fazer?‖.
160Porque se a gente fizer um quintal aqui, a gente pode deixar essa porta aberta. Aí as
161crianças podem sair aqui para fora, fica mais fácil deixar elas virem para cá. Aí o
162que aconteceu, ela mandou fechar esse espaço, ficamos com um quintal. A porta já
163permanecia aberta. Depois construíram uma salinha no quintal, onde a professora
164Nilzalina e depois professora Maria de Fátima trabalhavam com as crianças a parte
165educativa, a recreação. E, há dois anos atrás, é que conseguiram, com apoio
166financeiro, construíram essa linda brinquedoteca. Mas eu fico imaginando, se a
167gente não tivesse tido a ideia de construir o quintal, aquela estrutura da parte
168administrativa, da farmácia, vinha até ali na nossa porta. Então, quando a gente fez o
169quintal, a gente ampliou a pediatria. Como a Marta era chefe de departamento, a
170coisa ficou bem mais fácil. Naquela época, tudo que a gente pedia a gente conseguia
171com uma facilidade maior. Isso do quintal, foi mais ou menos antes de eu sair para o
172mestrado, nos anos noventa. Então quando a gente cercou, a gente tinha essa
173possibilidade de manter a porta aberta. Eu lembro que a gente tinha um coqueiro que
174era xodó (risos). Depois arrancaram o coqueiro, diziam que ia cair coco na cabeça
175dos outros (risos), eu fiquei brava por arrancarem, mas depois eu entendi. Então a
176noite o pessoal ficava ali fora. E se não estou enganada, foi a Marta que também
177conseguiu aqueles brinquedos para o parque que fixaram no quintal. Sempre as
178pessoas pensavam nessa coisa de entretenimento, mas o mais importante, foi ter
179definido, conquistado e cercado aquele espaço. Porque se a gente não tivesse feito
180isso, tenho certeza que não seria da pediatria. Ah, não posso esquecer de contar da
181melancia (risos). O que aconteceu,apareceu um pé de melancia, e aí surgiu uma
182melancia. Só que ela cresceu fora da grade. Aí a gente colocou uma placa lá dizendo
183que não podiam pegar porque era da pediatria, das crianças da pediatria. Mas não sei
184quem foi, no Natal, eu cheguei lá e tinham pegado a melancia, roubaram a melancia.
185Eu acho que essa melancia nasceu de alguma criança que fez coco ali, e que tinha
186uma semente, risos. Pode ser. E sobre o entretenimento em si, acho que a Nilza é
187referencia, a professora Áurea com as festas, a professora Maria de Fátima com a
188classe hospitalar, a enfermeira Francisca e as técnicas da pediatria se envolviam
189também. Eu lembro que eu trazia os alunos da Escola Livre Porto para cantar, fazer
190festas, como a festas juninas lá, eram alunos envolvidos com o grêmio da escola. A
191gente vinha, nossos filhos se envolviam também, tenho foto de meus meninos
192dançando festa junina lá, tem a Rosa com as filhas dela também. Eles contavam
193histórias, brincavam com as crianças entendeu. Então, naquela época, era pouca
194gente que se envolvia, apesar de tudo.
195E por que a Escola livre porto pararam de ir?
196Eles eram do grêmio da escola. Não é que pararam de ir, é que essa coisa de fazer
197atividades no hospital ampliou muito na pediatria, então, começou a ter gente
282
198demais, por isso. Veterinária tinha uma época caninoterapia, mas isso foi bem
199recente e logo parou. Aí vieram os projetos, as pesquisas, muitas pessoas. Na
200realidade nossas pesquisas sempre foram voltadas e preocupas com a questão do
201exercícios da Humanização em todos os sentidos, a começar com a possibilidade da
202criança poder brincar.
203Por falar nisso, como é que você percebe vocês como enfermeira, mas também
204como professora, a inserção da pesquisa e extensão na pediatria?
205Olha, a gente, eu, nesse caso, tenho muita preocupação. Sempre fazemos pesquisa lá
206na pediatria. E sempre, como eu já disse, vinculada a humanização, trazendo em
207pauta os direitos da criança, a questão do brincar. Nossos pesquisas sempre foram
208voltadas para esse lado, né? Hoje, o que eu vejo de problema, o que tem me
209preocupado, é que o perfil epidemiológico mudou muito. É outro. Antes era diarreia.
210Com isso também veio o avanço muito grande de tecnologias, de medicações nem
211se fala. Então naquela época a gente calculava a quantidade de gotejamento
212manualmente, hoje é digital, você tem a bomba de infusão de agulha, aquela outra
213bomba de infusão para frascos. Tudo digital. Que facilita e muito o nosso trabalho,
214mas que requer, precisa de uma habilidade muito grande para manipular, não pode
215ser qualquer um. Uma coisa que me inquieta e que já falei que nos dias de meus
216plantões que se eu ver eu vou retirar é monitor, desses de multiparametros. Porque
217se for para deixar ele ligado para ficar apitando a noite inteira, e apenas falar para a
218mãe ficar apertando quando o barulho incomodar, para interrompê-lo, ele então, não
219servirá de nada, não estará fazendo o papel dele. Não é apenas ensinar a mãe e
220deixar ele apitando e ela mexendo com o botão. Porque o monitor, qual o papel
221dele? É o de alerta! E se a criança, por exemplo está saturando 80%, a gente sabe
222que é uma saturação ruim, mas que para essa criança é o ―normal‖ dela, e não vamos
223fazer nada, por que então não programar para o monitor alertar em 75%? Por que
224não reprogramar o monitor? Não pode acostumar com o barulho do monitor
225apitando. Não pode, porque ele é um alerta! Aí o residente diz que não vai fazer
226nada, então porque deixar o aparelho ligado? Não tem lógica! Ele tem que funcionar
227de modo que me auxilie a intervir no momento certo, caso contrário não serve para
228parâmetros de nada. A mesma coisa a bomba de infusão, se apita, significa que algo
229está errado. E, aí falam que a bomba está dando problema mesmo, então não pode
230usar! Não está certo! E se eu deixo apitando, não dou atenção para isso, é muito
231arriscado. Essa coisa de fazer medicamentos como o aciclovir na criança sem
232paramentos corretos, é muito perigoso, ela é um medicamento teratogênico! Tem
233princípios de um quimioterápico, é citotóxico. E o pessoal de enfermagem
234preparando. Fazendo de conta que nada está acontecendo. E é ai o papel da
235acadêmica, e que tem falhado. E, não vejo isso há um tempo atrás, quando eu
236comecei, porque as coisas eram tão simples. Você só passava sonda nasogástrica,
237enteral, os antibióticos não eram como esses de hoje que tem semelhança a
238quimioterápicos, são vesicantes. Não existia risco de preparar medicamentos como
239hoje. Sem contar que antes os problemas eram agudos. As crianças internavam, e
283
240tinha dois caminhos apenas: ou ela se recuperava e recebia alta ou ela morria. Uma
241criança com fibrose cística morria antes de completar oito anos. Hoje não, a gente
242tem adultos com fibrose cística, sobreviveram! E, todas essas crianças renais, elas
243vivem a base de tratamentos farmacológicos fortíssimos, além da possibilidade de
244diálise. Eles estão vivendo a custo de drogas pesadas. Se a criança com uma
245síndrome nefrótica faz tratamento com corticóides para resolver o problema dela, ele
246acaba também tendo que cuidar das complicações que essa medicações trazem,
247como é o caso do desenvolvimento da síndrome de cushing. E aí a gente está
248lidando com isso, então a enfermagem precisa de respaldo. Então hoje eu vejo que a
249pesquisa que a gente tem feito tem que estar associado à todas essas tecnologias que
250estão inseridas la dentro da pediatria. E se você me perguntar como eu me sinto lá
251dentro, eu vou te responder que eu me sinto presente, eu me sinto parte da
252equipe, me sinto enfermeira da pediatria. A ponto de, se houver uma reunião para
253discutir qualquer tema e eu não for chamada para participar, eu vou ―derrubar‖ a
254casa. Eu plantonista e eu me sinto enfermeira da pediatria. E como enfermeira da
255pediatria, eu quero participar das tomadas de decisões. Então, há um tempo atrás, e
256isso nós vamos apresentar num fórum. A questão do aciclovir. A equipe
257preparando, o pessoal fazendo a medicação. Bom, eu disse que não iria
258interromper a terapia que a criança já estava realizando. Então como lá estava
259dizendo que era para enfermeiro preparar, eu fui preparar. Porque há um tempo atrás
260tinha uma menina que era técnica de enfermagem na equipe, uma jovem, que eu me
261preocupei, fui perguntar a ela sobre como estava a questão de ter filho, ela me disse
262que estava sem tomar anticoncepcional para ter filhos. Aí eu tomei a decisão de que
263ele saísse por um tempo da pediatria enquanto eu preparava a medicação. Usei
264capote, fiz a medicação. Depois liguei para a diretoria para questionar sobre esse
265tipo de medicamento que estavam expondo a equipe. Falei com a Marta por
266telefone. Ela me disse que procurou e leu na bula e disse que não tinha nada
267dizendo. Mas quando eu li, vi lá: este medicamento deve ser preparado nas mesmas
268proporções que se prepara um medicamento quimioterápico. Pronto! Não tem mais
269nem o que discutir! Então é potencialmente perigoso, né? Aí falei para Marta por
270telefone, vou fazer um levantamento aqui (no computador posto de enfermagem) na
271internet bem rápido, sobre as leis, aí quando ela viu aquilo, ela tirou xérox e levou
272na diretoria para dizer que não seria mais feito. O diretor disse: que história é essa,
273como assim vocês não vão fazer, já que isso é feito até em posto de saúde, e vocês
274não vão fazer? Vocês não vão preparar? Como assim? Aí foi mostrado para ele as
275leis, todas as referências que diz sobre isso. Dizia que é teratogênico, que é isso e
276mais aquilo e que a gente queria as condições necessárias para mexer com esse
277medicamento. Comentei ainda depois com ele: me admira muito o senhor, um
278sanitarista, achar que a nossa equipe não poderia correr o risco preparando essa
279medicação assim. Aí ele disse que não sabia disso. Só que quando a gente foi falar
280com o pessoal da medicina. Eles disseram que a gente tinha que fazer, já que a
281criança precisava do medicamento. Okay, certo. Aí fomos á farmácia, e ela me traz
282o liofilizado para gente fazer, e dissemos que não íamos fazer! Sem condições
284
283alguma para parar! Aí esse medicamento na pediatria. Pressão de um lado, medico
284quer que prepara, do outro, farmácia só disponibiliza o pó em frasco para
285preparação. A equipe sendo forçada a fazer. Eu disse: gente, não vamos preparar!
286Vamos ter que resolver, é um problema institucional. A farmácia não tem, a
287medicina lavou as mãos, só que eu não vou preparar! O que que aconteceu? O
288diretor mandou comprar o frasco em sistema fechado. Até que se adeque a ala de
289preparo de medicamentos para preparo desse tipo de medicamentos. Resolvido.
290Então, eu acho que é esse o tipo de presença da academia na pediatria. Por exemplo,
291quinta me ligaram para dizer que estão prescrevendo aquele medicamento, um
292composto híbrido, o anticorpo monoclonal. Ele é um anticorpo homogêneo
293produzido por uma célula híbrida, uma espécie de clone de linfócito B descendente
294de uma só e única célula mãe e uma célula plasmática tumoral. Ela simula o sistema
295imune do paciente para atacar as células oncogênicas e previne seu crescimento
296bloqueando os receptores específicos da célula. É sintetizado em laboratório, em
297ratos em fusão com celular de humanos, é um composto que ao agir em células
298específicas dá efeito muito devastador na criança. E as meninas preocupadas em
299como preparar, se elas iam ou não preparar. As meninas ligaram para mim. Pediram
300que eu estudasse sobre isso, dizendo que não entenderam a bula, que estavam
301preocupadas com os efeitos de algo que era parecido com quimioterápicos. Pediram
302para eu estudar e ir falar para elas. Eu acho que é esse o papel da academia. A gente
303ser referência para essas questões de resolvermos juntos, pesquisando essas dúvidas.
304No trabalho sobre aciclovir, eu coloquei nome do pessoal da pediatria, porque elas
305fizeram, elas participaram da pesquisa, entende? Acho que esse é o papel, veja,
306como não é difícil escrever com a equipe. Isso é humanização também! Aí eu me
307questiono sobre o cuidado integral. O que é o cuidado integral, se a gente deixar
308totalmente essas questões que são tidas como biomédicas de lado? A parte técnica,
309isso também faz parte da humanização, está junto com a recreação, com a educação,
310não dá para desfazer dela. Está acontecendo ali. Aí eu te pergunto, o ser humano é
311composto de que? Ele não tem corpo? Ele não tem ferida? Ele não tem piolho? Ele
312não tem sujeira? Ele não tem necessidades fisiológicas? Ele não tem assadura? Se eu
313pensar nisso eu sou biomédica? E quem mete a mão na ferida? Como é que se abre a
314barriga de uma pessoa para tirar um câncer? Isso não faz parte da integralidade
315também? Acho que nós não podemos esquecer que o modelo biomédico tem
316relevância sim. Às vezes escuto alunos falando: eu odeio o modelo biomédico!
317Coisas que aprendem lá no primeiro ano do curso. E eu na oportunidade respondo:
318como assim? O modelo biomédico tem sim importância, ele não pode ser
319descartado! É através dele que avançamos em muitas coisas, a enfermagem tem vida
320a partir dele. Entretanto, o que temos que pensar é que ele sozinho não dá conta de
321outras particularidades do cuidado! O que não se pode pensar é que o modelo
322biomédico venha responder a tudo! Você entendeu? Por isso eu digo que eu adoro o
323modelo biomédico, eu amo o modelo biomédico (risos). Quando eu falo de PICC,
324eu estou falando de alta tecnologia, requer horas de práticas, requer muito estudo de
325anatomia, fisiologia. O que para criança significa menos estresse com punções,
285
326significa menos gastos! Isso está vinculado ao modelo biomédico e eu não vou
327gostar disso? Temos que voltar sim para essas tecnologias sim! Mas também
328lembrar do que? Do cuidado com o curativo, de treinar todo o pessoal para cuidar, e
329quem mais competente para fazer isso? Eu acho que ainda é a enfermagem, risos.
330Então, isso é ser ignorante, não aceitar isso é uma tremenda ignorância, e, as pessoas
331estão muito ignorantes. O que é o PICC? É um cateter periférico que tem acesso a
332uma via central do corpo da criança e, que diferentemente de uma dissecção venosa,
333você não perde a veia. Da mesma forma, é cuidado denso o cuidado da pele de uma
334criança. Não dá para enfermagem se desfazer da relevância de um banho bem
335tomado, da cavidade oral higienizada, cabelo bem cortado, unhas bem feitas,
336orelhinhas limpas, nariz sem secreção, as partes intimas sem assadura. É
337inadmissível criança com marca de esparadrapo, eu fico doente com isso. Gente, um
338óleo no algodão, num instante você retira. Trocas de cadarço de traqueostomia,
339aspiração. Você vai esperar o fisioterapeuta para fazer isso? Claro que ele tem uma
340técnica que só ele conhece que junto com a aspiração, fará um melhor efeito. Mas se
341ele não está por ali, você vai esperar para aspirar? Sendo que é algo comum para
342ambas as profissões. Daqui a pouco então, o fisioterapeuta vai estar dando banho, e,
343saindo com maior qualidade, pronto, mais uma vez enfermagem perdendo espaço,
344porque fica parando para pensar o que é ou não pertencente às suas competências.
345Então se não tiver fisioterapeuta eu não vou trocar o cadarço, limpar a cânula? Por
346favor, a enfermagem pode muito bem fazer! Não dá para negar da importância
347também da cama bem arrumada, dos quartos limpos e arejados. São por essas
348questões que estamos lutando pela residência multidisciplinar na pediatria. Estamos
349pensando numa residência onde alunos de áreas diferentes estarão presentes na
350pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer cobrar deles
351é esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa, hidratada,
352cabelo limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos, das
353necessidades recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer massagem
354na criança para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso? É cuidado!
355O que acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e chega lá na
356prática, não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, pais queixando da
357apatia da enfermagem a ponto de se questionar para que enfermagem, se não
358intervém pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no
359diferencial da residência multidisciplinar. Que seja uma espacialização onde as
360pessoas vejam o problema no corpo da criança, e, que através dela os alunos
361percebam as alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo precisa ser
362tratado, que o foco seja em todas as necessidades da criança. Lembro de um plantão
363que quando eu cheguei encontrei as crianças com brinquedos sobre a cama. Não há
364problemas quanto isso, mas o que me preocupou foi o excesso de brinquedos na
365cama, não pode ser assim. Tem que rever as propostas dos projetos, das ações que
366são provenientes da brinquedoteca. Pensar nessas ações que acontecem numa
367pediatria, não numa escola. É diferente. Precisamos lembrar que na escola o
368professor é a autoridade, mas na pediatria, é a mãe, a gente tem que pensar sempre
286
369na mãe como alguém que será a referencia para a criança fora do hospital. Então
370temos que pensar nisso, na autonomia da mãe. Precisamos pensar no modo como
371negociamos com a mãe, nunca deixá-la de lado, ou do responsável. Outra questão
372que também é inerente à humanização, e, que às vezes rompemos, é questão de que
373algumas medicações precisam sim ser realizadas no leito, porque precisa de
374monitoramento. É o caso da albumina. É no leito! Isso quer dizer que é importante
375ele ficar na cama sim. E, mesmo se for quatro horas, mas é importante. Não pode ser
376visto por nós como algo que seja negativo para o tratamento, faz parte do
377tratamento. A criança está internada para se tratar. E ai eu digo que isso não quer
378dizer que seja mais importante que ir à brinquedoteca, de forma alguma. Porque, lá
379vamos nós ao modelo biomédico, risos. Também é humanização. É importante
380nesse momento! Depois ela vai poder fazer as outras coisas, ninguém está ali para ir
381contra isso, pelo contrário. Acho que essas coisas vão se resolvendo aos poucos, na
382conversa, porque estamos a favor da humanização do cuidado. Temos que pensar, já
383de inicio, que a pediatria não é escola, é uma pediatria para cuidados de crianças
384hospitalizadas. Temos que pensar que os pais precisam participar dos cuidados,
385precisam se mostrar autoridade frente ao cuidado de seu filho, junto a este e conosco
386da equipe. A gente não pode romper com essa autoridade dos pais, não estou
387falando em autoritarismo, veja bem, estou falando em autoridade. Estou falando
388daqueles que seguirão com as crianças em sua educação lá fora.
389Você tem preocupações quanto essa movimentação dos brinquedos pela
390pediatria?
391Olha só, acho que a palavra que me preocupa se chama ―excesso‖. Sou totalmente a
392favor da brinquedoteca, é uma conquista nossa, lá da época do quintal, depois com a
393salinha funcionando, aí com as festinhas, assim como as atividades de projetos de
394nossas pesquisas. O que é necessário agora é pensar essa nova estrutura, esse novo
395espaço da brinquedoteca, conversar melhor sobre as ações ligadas à brinquedoteca,
396aos projetos que tem lá. Dos alunos que se envolvem com isso tudo. Pensar com
397carinho mesmo. É algo nosso, mas que às vezes é bom ver, de repente até pesquisar
398como é que está sendo esse impacto sobre as crianças, quais os valores dessa criança
399agora. Claro que não somos influencia total, as tenha certeza, que nossos ações
400individuais mexem sim com as crianças, com os valores das crianças, contribuindo
401ou não para a estrutura familiar dessas crianças. Por isso falo, vale a pena
402conversamos mais sobre os ―exageros‖. Porque esses dias eu vi uma criança com
403um comportamento rústico com a mãe e, essa criança não era assim. Como eu disse,
404nem tudo vem da pediatria, mas de alguma forma, a pediatria, todos nós, as coisas
405que são feitas lá, tudo o que vivenciam, as coisas que disponibilizamos para elas
406provocam influencias nelas. Será que não estaríamos mimando essas crianças (veja,
407minando no mau sentido, não no bom, porque também há um bom mimo, a gente
408sabe disso)? O que temos que buscar é questionar coletivamente, buscando
409poderamentos.
287
410È possível a interconectar os modelos de cuidados?
411Claro que sim! Quando eu falo de brinquedos falo de algo que defendo muito,
412brincar e brinquedo são importantes para as crianças. Mas me questiono de caixa e
413mais caixa de brinquedos, de lápis, de papeis sobre a cama da criança. Para mim isso
414é exagero! Em casa a gente não faz isso! A criança não dá conta de brincar com tudo
415isso! Porque já está acontecendo de crianças rejeitarem presentes de terceiros porque
416não era de marca, o que é isso então? Onde é que ela está aprendendo esse tipo de
417alternativa. A gente conhece seus espaços de interação, que é restrito, ela convive
418nesse ambiente da pediatria e em casa praticamente. Não estou colocando culpa na
419brinquedoteca, na pediatria, em nós, não é isso, mas estou me questionando, sobre o
420nosso papel, sobre nosso modo de apresentar a brinquedoteca e as suas ações a essa
421criança? É este tipo de preocupação que tenho. Que tipo de criança então, estamos
422ajudando a criar? Não estou dizendo que ela não tenha direito a essas coisas. Mas de
423repente pesquisar, como eu já disse, verificar junto as mães sobre essas crianças que
424passaram por lá como é que é e está em termos de brinquedos, em termos de
425aceitação de seu lugar de origem. Se não estamos mimando essas crianças e
426enviando elas para casa e provocando desestruturas familiares. Não nos esquecendo
427do agravante, retorno para casa de uma criança doente. Repito, isso não tem nada a
428ver com brinquedoteca. Tem a ver com nossas ações ao apresentar os brinquedos de
429um modo que incentive a busca de coisas de marca, por exemplo. Porque antes do
430espaço que conquistamos, antes de espaço lindo que temos hoje, que tínhamos eram
431enfermarias escuras, as mães falavam que pareciam estarem numa prisão. E, hoje eu
432vejo mãe conversando no jardim, mãe dormindo nos puffs, mães brincando com
433seus filhos, mães assistindo filmes com seus filhos. Já não escuto ninguém reclamar
434da pediatria e compará-la a uma prisão. Nossa! Antes tinha muita briga, confusão,
435porque não havia o que fazer, ficava mais fácil para as pessoas se estressarem e
436iniciarem uma briga entre filhos, entre mães e filhos, mães e mães. E, mesmo com
437o quintal não era fácil, porque lá fora era quente, tinha mosquito. Agora a gente tem
438um espaço enorme, climatizado, cheio de brinquedos, televisões, revistas, jogos,
439banheiros, pias para lavar as mãos, salas com computadores. Muitas atividades para
440se envolverem. As mães vão para os quartos para dormir, porque passaram maior
441parte do tempo se distraindo na brinquedoteca. Os quartos são climatizados, são
442melhores iluminados. Houve uma melhora significativa na estrutura da pediatria,
443que vem refletindo muito bem na internação, no tratamento da criança, e na
444convivência deste e de seus familiares com as rotinas do lugar. O único
445questionamento que faço é repensar em como estamos apresentando a brinquedoteca
446a essas crianças, aos seus familiares. Porque não há uma filosofia da pediatria, não
447há mais valores da pediatria, isso acaba vindo de cada um de nós. Então, como isso
448está sendo passado para as crianças? Isso é um problema nosso! Isso vem do modo
449como acionamos, individualmente, os espaços, os objetos! Não é culpa apenas da
450pediatria, da brinquedoteca, dos projetos. Acho que isso é o nosso papel, a academia
451precisa repensar constantemente a pediatria como um lugar de ensino e pesquisa, e,
288
452agora a trabalhar com esses excessos também. A brinquedoteca é nosso sonho
453realizado. Ela tem muito a nos ensinar. A pensar no respeito do sono da criança e do
454familiar, de tal modo que não os acordem para ações que poderiam muito bem feitas
455no inicio do plantão ou na hora que a criança e sua mãe acordassem. Poxa! A gente
456vai embora, as crianças e as mães/ ou acompanhantes vão continuar internados.
457Entendeu? Depende do modo como você aborda a criança, a mãe, também, se é
458importante fazer a medicação. Esse é o valor da academia, a gente ajuda a repensar
459o modo como estamos cuidando. Agora com a possibilidade da residência então.
460Com alunos de áreas diferentes 24 horas. Estaremos formando residentes com
461enfoque na criança hospitalizada com dois anos de estudos teórico -prático. Não
462posso esquecer de falar, a academia ajuda a pensar essa nova forma de
463gerenciamento que vem por aí, que afeta diretamente na pediatria, nos cuidados,
464será uma empresa, que poderá descaracterizar ou não o hospital como Escola, que
465poderá tirar desse lugar a característica de ensino e pesquisa, proveniente de uma
466luta lá de 1984, nos anos oitenta, no caso do HUJM.
289
ANEXOS
290
ANEXO A
Universidade Federal de Mato Grosso
INSTITUTO DE LINGUAGENS – IL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA
CONTEMPORÂNEA-ECCO
Termo de Consentimento livre e esclarecido (TLCE)
(CUIDADOR)
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa
intitulada: ―Tecnoculturas do cuidado no cotidiano: objetos sociotécnicos que habitam
uma pediatria‖, sob a responsabilidade da pesquisadora Vanessa Ferraz Leite,
portadora do RG 13705822 SSP/MT e do CPF 957478771-00 regularmente
matriculada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea (ECCO) vinculado ao Instituto de Linguagens da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT).
Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de permitir a pesquisa,
que será realizada na Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), assine
ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra do
pesquisador responsável. Podendo desistir de participar em qualquer momento. Em
caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em relação com o pesquisador ou com
a instituição que realiza assistência. Havendo dúvida você poderá procurar o Comitê
de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal
de Mato Grosso, no endereço: Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário
Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso. UFMT, Campus Cuiabá.
Primeiro piso do Bloco CCBS I. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. CEP:
78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 36158254.
O objetivo desta pesquisa é estudar alguns objetos, práticas, técnicas e
tecnologias que estão presentes na pediatria do Hospital Universitário Júlio
Müller e os efeitos afetivos que produzem nas crianças e equipe envolvidas. Sua
participação nesta pesquisa consistirá em ser entrevistado (a) e observado (a),
enquanto acompanhante de alguma criança internada e que participa das atividades na
brinquedoteca e/ou no Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas.
291
As entrevistas serão conversas, por isso, sem um roteiro previamente fixado. Em sendo
abertas, as entrevistas partem apenas de uma pergunta-disparadora: ―Vamos conversar
sobre a vida aqui na Pediatria?‖
Os dados serão gravados, na sequência serão digitados. Após leituras dos dados, estes
serão cruzados com a literatura em estudo, com o intuito de produção de trabalhos
científicos. As análises serão compartilhadas com você, o envolvido na pesquisa, com o
propósito de inclusão de sua impressão na pesquisa.
Você não correrá risco algum. Os benefícios para você serão: identificação dos efeitos
que alguns objetos, tecnologias, práticas e técnicas produzem na criança que você
acompanha, ao longo do dia a dia de hospitalização. Consequentemente, as
contribuições para a efetivação do direito da criança hospitalizada, assim como, para a
humanização dos cuidados em saúde, a partir de sua relação com os objetos, técnicas,
tecnologias e práticas hospitalares.
Os dados referentes a sua pessoa serão confidenciais e é garantido o sigilo de sua
participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados serão
divulgados em trabalhos científicos, porém fazendo-se uso de nomes fictícios, de forma
a não possibilitar sua identificação ou da criança que você acompanha.
Você receberá uma cópia desse termo onde tem o meu nome, telefone e endereço
(pesquisadora responsável) e da instituição na qual me encontro matriculada, para que
você possa me localizar a qualquer tempo. Meu nome, como citado anteriormente, é
Vanessa Ferraz Leite. Endereço para a minha localização: Rua Dr. Euricles Mota, Bairro
Jardim Guanabara, nº 01, complemento – 173. CEP: 78010-715, Cuiabá/Mato Grosso.
Carteira de Identidade: 13587022 SSP/MT. Telefone: (65) 3627-3590. e-mail:
[email protected]. Endereço da Instituição responsável: Instituto de Linguagens
(IL)/Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea
(ECCO)/UFMT. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. Sala 38 IL. CEP: 78060900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 3615-8428. Fax.: (65) 3615.8413.
Considerando os dados acima, CONFIRMO que estou sendo informado por escrito e
verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação em formato de
trabalhos científicos, AUTORIZO publicação.
Eu_________________________________idade:______
sexo:_________Naturalidade:_________________portador(a) do documento RG
Nº:______________declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha
participação na pesquisa e concordo em participar.
Assinatura do participante:
__________________________
292
Assinatura do pesquisador principal:
_____________________________________
Testemunha*
_______________________________________
* Testemunha só é exigido caso o participante não possa por algum motivo, assinar o
termo.
Data (Cidade/dia mês e ano) ____________ ___ de ______________de 20___
293
ANEXO B
Universidade Federal de Mato Grosso
INSTITUTO DE LINGUAGENS – IL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA
CONTEMPORÂNEA-ECCO
Termo de Consentimento livre e esclarecido (TCLE)
(Equipe de saúde)
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa
intitulada: ―Tecnoculturas do cuidado no cotidiano: objetos sociotécnicos que
habitam uma pediatria‖, sob a responsabilidade da pesquisadora Vanessa Ferraz
Leite, portadora do RG 13705822 SSP/MT e do CPF 957478771-00
regularmente matriculada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos
de Cultura Contemporânea (ECCO) vinculado ao Instituto de Linguagens da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de permitir a
pesquisa, que será realizada na Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller
(HUJM), assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua
e a outra do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não terá nenhum
prejuízo em relação com o pesquisador ou com a instituição onde realiza
assistência. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de
Mato Grosso, no endereço: Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso. UFMT,
Campus Cuiabá. Primeiro piso do Bloco CCBS I. Avenida Fernando Corrêa da
Costa, n. 2367. CEP: 78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 36158254.
O objetivo desta pesquisa é estudar alguns objetos, práticas, técnicas e
tecnologias do cuidado que estão presentes na pediatria do Hospital
Universitário Júlio Müller e os efeitos afetivos que produzem nas crianças e
equipe envolvidas. Sua participação nesta pesquisa consistirá em ser
entrevistado (a) e observado (a). As entrevistas serão conversas, por isso, sem
um roteiro previamente fixado. Em sendo abertas, as entrevistas partem apenas
de uma pergunta-disparadora: ―Vamos conversar sobre a vida aqui na Pediatria?‖
294
Os dados serão gravados, na sequência serão digitados. Após leituras dos dados,
estes serão cruzados com a literatura em estudo, com o intuito de produção de
trabalhos científicos. As análises serão compartilhadas com você, o envolvido na
pesquisa, com o propósito de inclusão de sua impressão na pesquisa.
Você não correrá risco algum. Os benefícios para você serão: identificação dos
efeitos que alguns objetos, tecnologias, práticas e técnicas produzem em você, ao
longo do seu dia a dia de trabalho na clínica junto às crianças hospitalizadas.
Consequentemente, as contribuições para a efetivação do direito da criança
hospitalizada, assim como, para a humanização dos cuidados em saúde, a partir de
sua relação com os objetos, técnicas, tecnologias e práticas hospitalares.
Os dados referentes a sua pessoa serão confidenciais e é garantido o sigilo de sua
participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados
serão divulgados em trabalhos científicos, porém fazendo-se uso de nomes fictícios,
de forma a não possibilitar sua identificação.
Você receberá uma cópia desse termo onde tem o meu nome, telefone e
endereço (pesquisadora responsável) e da instituição na qual me encontro
matriculada, para que você possa me localizar a qualquer tempo. Meu nome, como
citado anteriormente, é Vanessa Ferraz Leite. Endereço para a minha localização:
Rua Dr. Euricles Mota, Bairro Jardim Guanabara, nº 01, complemento – 173. CEP:
78010-715, Cuiabá/Mato Grosso. Carteira de Identidade: 13587022 SSP/MT.
Telefone: (65) 3627-3590. e-mail: [email protected]. Endereço da Instituição
responsável: Instituto de Linguagens (IL)/Programa de Pós-Graduação em Estudos
de Cultura Contemporânea (ECCO)/UFMT. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n.
2367. Sala 38 IL. CEP: 78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 3615-8428.
Fax.: (65) 3615.8413.
Considerando os dados acima, CONFIRMO que estou sendo informado (a) por
escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação em
formato de trabalhos científicos, AUTORIZO publicação.
Eu_________________________________idade:______
sexo:_________Naturalidade:_________________portador(a) do documento RG
Nº:______________declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha
participação na pesquisa e concordo em participar.
Assinatura do participante:
_____________________________
295
Assinatura do pesquisador principal:
______________________________________
Testemunha*
______________________________________
* Testemunha só é exigido caso o participante não possa por algum motivo, assinar o
termo.
Data (Cidade/dia mês e ano) ____________ ___ de ______________de 20___
296
ANEXO C
297
ANEXO D
298
ANEXO E
299
ANEXO F
300
ANEXO G