Desenvolvimento de um arado de discos em miniatura para

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Desenvolvimento de um arado de discos em miniatura para
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.29, n.2, p.68-72, 2014.
ISSN - 0101-756X - DOI: http://dx.doi.org/10.12722/0101-756X.v29n02a03
DESENVOLVIMENTO DE UM ARADO DE DISCOS EM MINIATURA
PARA AUXÍLIO NO ENSINO DE SUAS REGULAGENS
Rogério de A. Almeida1, Rafael C. R. de Araujo2, Jorge W. Barbosa3 & Márcia S. Martins4
RESUMO
O presente trabalho objetivou o desenvolvimento de um arado de discos com finalidade didática, para auxiliar os alunos na
aprendizagem prática de suas regulagens. Foi desenvolvido um arado em miniatura (escala 1:3,6) que permite a realização de
todas as regulagens existentes no arado original. O arado foi testado em aulas práticas da disciplina de Mecanização Agrícola,
proporcionando aos alunos a simulação das regulagens, de forma simples, rápida e segura, e em ambiente protegido (laboratório).
PALAVRAS-CHAVE: aula prática, preparo de solo, aração
DEVELOPMENT OF A MINIATURE DISC PLOW
TO HELP TEACHING ITS SETTINGS
ABSTRACT
This study aimed to develop a disc plow with didactic purpose, to assist students in practice learning of its settings. A miniature
plow (Scale 1:3,6) that allows the realization of all the existing settings in the original plow was developed. The plow was tested
on practical classes in the discipline of Agricultural Mechanization, providing students with the simulation of adjustments,
simple, fast and secure, and in a protected environment (laboratory).
KEY WORDS: practical class, soil tillage, plowing
Dr. Prof. Dep. Engenharia de Biossistemas. Escola de Agronomia, UFG. E-mail: [email protected]
Acadêmico de Agronomia, UFG. E-mail: [email protected]
3
Técnico Mecânico. Laboratório de Mecanização Agrícola, UFG. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica de Agronomia, UFG. E-mail: [email protected]
1
2
Desenvolvimento de um arado de discos em miniatura para auxílio no ensino de suas regulagens
INTRODUÇÃO
No processo de ensino aprendizagem, as aulas práticas
podem despertar curiosidade e, consequentemente, o interesse
do aluno em aprender (BORGES, 2002). As aulas práticas
servem de estratégia e podem auxiliar o professor a retomar
um assunto já abordado em sala de aula, aprofundando o
conhecimento ou construindo com seus alunos uma nova
visão sobre um mesmo tema (LEITE et al., 2008) e podem
ajudar no desenvolvimento de conceitos científicos, além
de permitir que os estudantes aprendam como abordar
objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para
problemas complexos (LUNETTA, 1991). Na percepção dos
alunos, a aula prática permite “tirar dúvidas que ficaram na
aula teórica”, “por em prática a teoria” e “adquirir confiança”
(LEITE et al., 2008). Assim, as aulas práticas constituem-se
em ótima ferramenta para despertar o interesse dos alunos em
aprender e o professor pode elaborar atividades práticas cada
vez mais construtivas. Hodson (1998) afirma que a própria sala
de aula pode se tornar um ambiente de prática, por meio do
deslocamento de materiais para seu interior.
Na disciplina de Mecanização Agrícola, dos cursos de
Agronomia, os estudantes conhecem e aprendem operar/
regular vários implementos de preparo de solo. Dentre eles
o arado de discos, que tem por funções controlar as plantas
daninhas e propiciar ao solo melhores condições de aeração,
infiltração e armazenamento de água e homogeneização da
fertilidade (SANTOS, 2012).
Os constituintes do arado, seus princípios de funcionamento
e as possibilidades de regulagens são apresentados em aula
teórica. Em seguida, realiza-se uma aula prática, em que os
alunos têm a oportunidade de conhecer o implemento, testar
regulagens e avaliar seus resultados.
Após a aula prática, espera-se que o aluno tenha assimilado
o conhecimento específico, o que nem sempre ocorre, por
ser muita informação de uma só vez. O aluno deve aprender
como se faz o acoplamento do arado, sua centralização e seu
nivelamento (longitudinal e transversal) e como e onde se
regulam os ângulos horizontal e vertical dos discos, a largura
de corte e a pressão e o ângulo da roda-guia (GRANDI, 1997).
Os alunos que após as aulas ainda tiverem alguma dúvida
quanto às regulagens do arado, assim como os alunos que por
algum motivo tenham faltado à aula prática, deveriam ter uma
segunda oportunidade, o que normalmente não é possível, uma
vez que trator, tratorista e implementos são muito demandados
e não se encontram disponíveis aos alunos fora do dia e horário
da aula prática.
O presente trabalho objetivou o desenvolvimento de um
arado de discos com finalidade didática, para auxiliar os alunos
na aprendizagem prática de suas regulagens.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Mecanização
Agrícola, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de
Goiás, sendo confeccionado um arado de discos em miniatura
(escala 1:3,6), tendo como modelo um arado hidráulico fixo de
quatro discos.
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Foi utilizado material simples, barato e de fácil acesso.
Os discos e a roda guia foram confeccionados com chapas
metálicas (0,5 mm de espessura). Os pedestais e o chassi
foram confeccionados com tubos de ferro e barras metálicas.
Para simular o terceiro ponto e os niveladores dos braços do
levante hidráulico foram utilizados esticadores para arame, do
tipo olhal duplo.
Para dar sustentação ao arado miniatura foi confeccionada
uma estrutura metálica vertical, que foi parafusada em uma
mesa pequena, dotada de um sistema que simula o levante
hidráulico do trator (com local para acoplamento do terceiro
ponto do arado miniatura e braços do sistema de lavante, para
acoplamento do arado pela barra transversal). A movimentação
(levante) do arado se dá por meio de uma alavanca, que
suspende os braços do sistema de levante hidráulico, auxiliada
pelos esticadores para arame (que funcionam como niveladores
dos braços).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O arado em miniatura (Figura 1) permitiu a realização
de todas as regulagens existentes no arado original, utilizado
como modelo. Foi testado em aulas práticas da disciplina
de Mecanização Agrícola, proporcionando aos alunos a
simulação das regulagens, de forma simples, rápida e segura, e
em ambiente protegido (laboratório). As regulagens, conforme
orientado por Balastreire (1987) e Grandi (1997), são realizadas
manualmente, com o auxílio de duas chaves fixas (8 e 11 mm).
Figura 1. Arado em miniatura acoplado ao sistema de
levante, acionado manualmente por uma alavanca
Acoplamento e nivelamento. O arado é acoplado ao
sistema de levante hidráulico do trator (três pontos), que
na miniatura é acionado manualmente por uma alavanca
(Figura 1). O nivelamento longitudinal é realizado mediante
o alongamento ou encurtamento do terceiro ponto, girando
sua parte central. De forma análoga efetua-se o nivelamento
transversal, atuando nos niveladores dos braços do sistema de
levante hidráulico (Figura 2).
Largura de corte. A largura de corte do arado é regulada
afrouxando-se as quatro porcas que fixam a barra transversal
no chassi e empurrando o arado a partir de sua parte posterior,
para a direita ou esquerda (Figuras 3 e 4), o que ocasiona a
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Figura 2. Detalhe dos braços de nivelamento longitudinal
(terceiro ponto) e transversal (braços inferiores)
Figura 5. Cavilha pra trás (menor largura)
Figura 3. Arado com a menor largura de corte
Figura 6. Cavilha pra frente (maior largura)
Figura 4. Arado com a maior largura de corte
rotação do eixo da barra transversal, movimentando a cavilha
do lado direito para trás (ao diminuir a largura) ou para frente
(ao aumentar a largura) (Figuras 5 e 6).
Roda guia. A roda guia tem a função de neutralizar o
empuxo lateral do arado. Sua regulagem se dá mediante a
liberação (Figura 7) e o giro (Figura 8) de seu eixo, o que
ocasionará alteração no alinhamento (Figuras 9 e 10) e na
inclinação da roda guia, uma vez que seu eixo é soldado
inclinado.
Ângulo horizontal. O ângulo horizontal do disco é formado
pelo plano que contém sua borda e a linha de tração do trator.
Possui três valores, normalmente entre 40º e 50º. Quanto menor
esse ângulo, o disco tende a girar mais, diminuindo o esforço
Figura 7. Detalhe da liberação do eixo da roda
Figura 8. Detalhe do giro do eixo da roda guia
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de tração e a profundidade e comprometendo o tombamento
de leiva. Sua regulagem se dá afrouxando um dos parafusos
que fixam o pedestal do disco ao chassi, removendo o segundo
parafuso, alterando o ângulo e recolocando o parafuso (Figuras
11 e 12).
Ângulo vertical. O ângulo vertical do disco é formado
pelo plano que contém sua borda e uma linha perpendicular
ao solo. Situa-se entre 15º e 25º. Quanto menor esse ângulo,
mais o disco tende a penetrar no solo. De outro lado, estando
Figura 12. Detalhe da fixação do pedestal do disco
ao chassi no maior ângulo horizontal
o disco mais deitado (maior ângulo), o tombamento de leiva
é mais suave, reduzindo o desmoronamento. Sua regulagem
se dá afrouxando um dos parafusos que fixam o suporte do
disco ao pedestal, removendo o segundo parafuso, alterando o
ângulo e recolocando o parafuso (Figuras 13 e 14). Veja que no
arado em miniatura o segundo parafuso será inserido em um
novo orifício.
Figura 9. Roda guia com ângulo menor
Figura 10. Roda guia com ângulo maior
Figura 11. Detalhe da fixação do pedestal do disco
ao chassi no menor ângulo horizontal
Figura 13. Detalhe da fixação do pedestal do disco ao chassi
no maior ângulo vertical
Figura 14. Detalhe da fixação do pedestal do disco
ao chassi no menor ângulo vertical
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CONCLUSÃO
O arado em miniatura proporcionou aos alunos a
possibilidade de simulação das regulagens de um arado, de
forma simples, rápida e segura, e em ambiente protegido
(laboratório).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. São Paulo:
Manole, 1987. 307 p.
BORGES, A. T. Novos rumos para o laboratório escolar de
ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.19, n. 3,
p. 291-313, dez. 2002.
GRANDI, L. A. O prático: máquinas e implementos agrícolas.
Lavras: FAEPE. Volume 1. 1997. p. 5-40.
HODSON, D. Becoming critical about practical work:
changing views and changing practice through action
research. International Journal of Science Education, v.20,
n.6, p. 683-694, 1998.
LEITE, A. C. S.; BORGES SILVA, P. A.; RIBEIRO VAZ, A.
C. A importância das aulas práticas para alunos jovens e
adultos: uma abordagem investigativa sobre a percepção
dos alunos do PROEF II. Ensaio Pesquisa em Educação em
Ciências, v. 7, n. 3, 2008. 16 p.
LUNETTA, V. N. Actividades práticas no ensino da Ciência.
Revista Portuguesa de Educação, v. 2, n. 1, p. 81-90, 1991.
SANTOS, J. L. Mecanização Agrícola. Apostila. Instituto
Formação. Barra da Estiva, BA, 2012.
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