O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE E SUA CONDUTA DIANTE

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O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE E SUA CONDUTA DIANTE
O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE E SUA CONDUTA
DIANTE DA CRISE DE KOSOVO, MASSACRE DE
COLUMBINE E O 11 DE SETEMBRO DE 2001
Inês Cristina dos Santos
Mestranda em Ciências Sociais pela UNESP-Marília. Membro do Grupo de Pesquisa Cultura
e Política do Mundo do Trabalho e do Grupo de Estudos do Pensamento Político Brasileiro e
Latino-Americano
Resumo: O presente artigo analisa o papel dos Estados Unidos da América (EUA) como
representante da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no ataque ao Kosovo,
intervenção esta que foi denominada por Hobsbawm como o divisor entre os séculos XX e
XXI, ou seja: a intervenção inaugurou o século XXI. Além desta intervenção analisaremos a
política do medo instalada nos cidadãos estadunidenses, questão abordada por Michel Moore
em seu documentário: Tiros em Columbine e a posição do país da América do Norte quando do
ataque ao World Trade Center – símbolo do Imperialismo.
Palavras-chave: EUA; OTAN; Kosovo; Segurança internacional; Imperialismo.
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MASSACRE DE COLUMBINE E O 11 DE SETEMBRO DE 2001
INTRODUÇÃO
‘Esta é uma nação conduzida por um líder com dois alfabetos, três línguas, quatro
religiões, cinco nacionalidades, que vivem em seis repúblicas, com sete vizinhos,
num país com oito minorias nacionais. (Marechal Tito). (AGUILAR, 2003, p.70)
No que se refere à guerra da Iugoslávia nosso foco é o que diz respeito à posição dos EUA no
conflito.
Para esta análise contaremos com os elementos apresentados no livro “A guerra da
Iugoslávia: Uma década de crise nos Bálcãs” de Sérgio Aguilar1 em especial no capítulo A
crise do Kosovo: Intervenção da OTAN e a UNMIK, embora também possamos utilizar outros
apontamentos da obra quando se fizer necessário.
O nosso interesse em fazer esta análise começou quando já do prefácio do livro nos são
colocadas às questões que reforçam nosso esforço em analisar o papel da OTAN e os interesses
estadunidenses no conflito. “Patrocinado pelos EUA2 e endossado pela Europa, o Acordo de
Dayton, serviu para colocar na mesa de negociações as partes em conflito para discutir e
resolver (...)” (BRIGADÃO, 2003, p. 13). Já nesta citação fica clara a questão do envolvimento
direto do país da América do Norte.
O acordo de Dayton foi proposto em 1995, ou seja, quatro anos após o início do conflito.
Segundo a BBC “O acordo foi assinado em 21 de novembro de 1995, depois de três semanas de
negociações entre os líderes da Bósnia, da Croácia e da Sérvia, com intermediação do governo
americano3, na época sob o presidente Bill Clinton” (BBC, 22 de Novembro de 2005). Na
verdade, esta data não está correta, os acordos foram estabelecidos em 21 de Novembro de
1995, constituindo um documento de 150 páginas, 11 anexos e 102 mapas, mas, a data de
assinatura do acordo é 14 de Dezembro de 1995, em Paris.
Em decorrência deste acordo a ONU passa a ter “duas responsabilidades principais” são
elas: “a coordenação da assistência humanitária e a liderança nas ações relativas a refugiados
e desalojados; e o auxílio às partes envolvidas no cumprimento da lei” (AGUILAR, 2003, p.
177).
1 Doutor em Historia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP - Assis/SP),
mestre em Integração Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), especialista em
História das Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Estratégias de
Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), e graduado em Ciências Militares pela
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Atualmente é Professor Assistente Doutor do Departamento
de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP - Campus de
Marília/SP. Foi observador da ONU na United Nations Peace Force (UNPF), na Bósnia Herzegovina, e na United
Nations Transitional Administration for Eastern Slavonia (UNTAES), na Croácia, durante a guerra civil na antiga
Iugoslávia. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Contemporânea e História das Relações
Internacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: segurança internacional, conflitos e resolução de
conflitos, direito internacional dos conflitos armados e operações de paz.
2 Grifo nosso
3 Grifo nosso
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Mais uma vez, temos outro ponto relevante no livro ora referenciado. Clóvis Brigadão4
nos instiga: “Aguilar, interpreta o acordo como a ‘dependência da ONU em relação aos
EUA. A Guerra só terminou {...} quando os norte-americanos resolveram5, motivado por
interesses políticos internos, tomar posição mais enérgica no conflito’”. (BRIGADÃO, 2003,
p. 13-14)
Importante ressaltar que os fatos descritos neste livro partem da análise de quem esteve
“envolvido” diretamente na guerra. Aguilar foi integrante da missão de paz pela ONU, na exIugoslávia, entre os anos 1995 e 1996, ou seja, justamente quando da assinatura do acordo
supracitado e quando se tentou efetiva-lo.
Para chegar às causas da guerra da ex-Iugoslávia o autor faz uma retrospectiva histórica,
e traz os elementos que levaram “a terra dos eslavos do sul” ao conflito de 1991. Com o objetivo
de nos atermos ao recorte que colocamos neste artigo não vamos discorrer sobre estes fatos
históricos.
A ordem cronológica com o qual o autor trabalha nos traz os elementos que embasam
nossa “tese” de que apesar da assinatura do acordo em 1995, a guerra (de fato) não terminou. Os
conflitos continuaram, e os EUA pela primeira vez na história, e após um período de “pretensa
paz” – 1989-1999 – que compreende o período pós-guerra fria e o ataque a Kosovo, usa a
OTAN de maneira adversa a da sua criação que era de um órgão que tinha como objetivo a
defesa dos países aliados de possíveis ataques do bloco socialista à época: a URSS.
No que diz respeito ao papel da OTAN e a legitimidade da ação no Kosovo, além do
livro de Aguilar, nos pautaremos no artigo “A intervenção militar da Otan na Iugoslávia como
um ponto de inflexão no quadro das relações internacionais pós-guerra fria – dois coelhos
numa cajadada só: o desrespeito ao direito internacional e o soterramento de uma segurança
europeia independente6” de Carlos Henrique Luiz Ferreira7.
Para reforçar nosso argumento de que medidas distintas são tomadas quando o conflito
é “na casa do vizinho ou dentro da própria casa”, nos pautaremos na análise feita por Michael
Moore nos documentários: Tiros em Columbine e Fahrenheit: 11 de Setembro. No primeiro,
Moore faz a relação entre a política do medo instituída pelos governantes dos EUA aos seus
4 Cientista Político e especialista em Paz e Segurança Internacional é Diretor Adjunto do Centro de Estudos das
Américas (Universidade Cândido Mendes) e membro do Programa de Estudos Políticos da universidade do Estado
do Rio de Janeiro.
5 Grifo nosso
6 Artigo originalmente publicado na Revista Brasileira de Estudos Estratégicos, Universidade Federal Fluminense,
vol. 1 - n°2/ 2009.
7 Mestre e Doutor pelo Departamento de Ciência Política da USP. Professor Dr. do Programa de Pós-Graduação
em Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista PRODOC/CAPES/MEC
[email protected].
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cidadãos bem como o incentivo ao porte de arma. No documentário existe um trecho em que
é relacionado o evento de Columbine em 20 de Abril de 1999 ao ataque da OTAN a comando
do presidente Bill Clinton no Kosovo e termina com cenas do atentado ao World Trade Center,
o que nos permite avançar e apontar as políticas de Segurança Internacional tomadas pelo país
norte-americano após o 11 de Setembro de 2001. Usaremos também outros artigos produzidos
sobre os temas elencados.
O CONFLITO DO KOSOVO E A OTAN.
O Conflito no Kosovo é um dos tantos outros que fizeram parte da “guerra da Iugoslávia”. Na
verdade, como vemos no livro de Aguilar, todos os conflitos se deram por motivos distintos
e causas históricas. A causa destes eventos pode ser compreendida, inclusive pela análise do
Marechal Tito, transcrita no início deste trabalho.
Analisando essencialmente o conflito do Kosovo, conforme Aguilar, “Em 1995, os
albaneses tentaram colocar o problema do Kosovo na pauta do Acordo de Dayton, o que foi
bloqueado por Milosevic”. Esse bloqueio não foi impensado, a comunidade internacional
também não fez questão de resolver o problema naquele momento, pois “Se a questão da
autonomia do Kosovo fosse colocada em discussão, poderia não se chegar a um acordo, o que
inviabilizaria a paz, a exemplo das tentativas anteriores que haviam falhado”. Este contexto
é importante para notarmos que não era simples resolver os problemas do território. O Acordo
de Dayton teve como prioridade “naquele momento o fim da guerra na Croácia e na Bósnia”
(AGUILAR, 2003, p. 215).
Durante o conflito iniciado em 1991, surgiu o Exército de Libertação de Kosovo – ELK,
este grupo tinha como meta lutar pela independência da “província”. Tratava-se de um grupo
radical, que passou a agir de forma regular e com extrema violência a partir de 1996. Conforme
dados informados em 1999 estima-se que o exército kosovar já tinha em torno de três mil
militantes.
Não obstante todo o conflito faz-se necessário lembrar que durante o período de 1991
a 1995 houve uma limpeza étnica na região, e este fato foi um dos mais falados pela mídia.
Lembremos que apesar desta “limpeza” não houve intervenção direta das Organizações
Internacionais. Foram quatro anos de intenso genocídio até os EUA entrarem no conflito para
“tentarem” um acordo, que de toda forma não atendia e não pretendia resolver todas as questões
relacionadas ao conflito.
Uma série de eventos, desde o embargo de armamento à Iugoslávia em 1998 pela ONU,
bem como a determinação de que o país devia retirar a polícia especial do Kosovo cessando a
hostilidade que afetavam os civis, não impediu a morte de mais de 2 mil albaneses e a fuga de
outros 200 mil até o início de 1999.
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Percebe-se então, que a Resolução da ONU de nº 1160 não teve eficácia, e em setembro
de 1998, ou seja, seis meses após esta resolução outra é divulgada pelo CSNU – Conselho de
Segurança das Nações Unidas, que determinava que a Iugoslávia “adotasse medidas concretas
para resolver o problema político e autorizasse o monitoramento da OSCE8” (AGUILAR,
2003, p. 217).
Neste período entre 1998 e 1999 foram tentados vários acordos de paz, entretanto dada
a complexidade do conflito, os planos de paz não abarcavam as reivindicações de todos os
elementos envolvidos.
Estima-se que as forças armadas da Iugoslávia tinham em seu efetivo cerca de 135 mil
homens, sendo que deste quadro, 40 mil homens aproximadamente estiveram participando do
conflito no Kosovo. Além do efetivo das forças armadas participaram do conflito os grupos
paramilitares Tigres de Arkan e Águias Brancas – os responsáveis pela limpeza étnica realizada
nas regiões da Bósnia e da Croácia, conforme dissemos anteriormente.
Sobre a intervenção da OTAN, Aguilar informa:
Com o impasse nas negociações e o prosseguimento da ação do exército iugoslavo
contra os guerreiros do EKL e a população da província, os dirigentes da OTAN
decidiram, no final de março, iniciar o bombardeio aéreo na Iugoslávia, ativando
a chamada Operação Força Aliada – Operation Allied Force (AGUILAR, 2003,
p. 219).·.
A Rússia se colocou contra a intervenção da OTAN e exigiu o fim dos ataques bem
como a retomada das negociações para o Kosovo, mas, este “pedido” foi rejeitado por doze
votos a três, sendo favoráveis tão somente a própria Rússia, a China e a Namíbia, o Brasil e a
Argentina, lamentavelmente, votaram contra.
Durante a operação, foram realizadas mais de 35 mil missões aéreas. Os bombardeios
destruíram não apenas pontos militares atingiram escolas, rodovias e emissoras de rádio e
TV. “Assim, travou-se uma batalha paralela, na mídia e na Internet, onde ambos os lados
procuraram obter vantagens: a OTAN, mostrando o problema dos refugiados para justificar os
bombardeios” – se é que este elemento justifica algo, e, “os iugoslavos, apresentando erros dos
mesmos e seus efeitos na população civil para tentar mobilizar a opinião pública” (AGUILAR,
2003, p. 221).
Entretanto a ação da OTAN tinham motivos muito mais consistentes que a questão do
Kosovo como explica Ferreira:
(...) para os EUA a intervenção da OTAN, para além das justificativas oficiais, era
fundamental, por dois motivos ligados à questão da segurança:
8 Organização para Segurança e cooperação na Europa.
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1) A OTAN precisava agir, visto que era uma organização nascida no período da
Guerra Fria e, desde o seu surgimento, nunca havia efetuado uma ação armada; e
2) Essa intervenção era um alento para os EUA pois dificultaria a efetivação da
Política Externa de Segurança Comum (PESC) da União Europeia, que previa
a possibilidade do estabelecimento de forças armadas conjuntas europeias
(independentes da OTAN).”(Cf. FERREIRA, 2009)
Aqui começa a nossa análise conjunta do conflito com a questão da legitimidade da ação
da OTAN por intermédio da imposição do país estadunidense.
Conforme Aguilar, “A opinião pública, principalmente a americana9, ficou mais
sensível aos ataques quando os erros nos bombardeios tornaram-se mais frequentes e cenas de
civis mortos foram divulgadas com mais intensidade na TV sérvia” (AGUILAR, 2003, p. 222).
Apesar da questão do apoio ou não dos demais países e da opinião pública da população
estadunidense, os EUA estavam mais interessados em mudar o papel da OTAN no cenário
internacional. O conflito no Kosovo possibilitaria um novo momento na história da OTAN. De
alguma forma, dentro das Relações Internacionais e do Direito Internacional, percebeu-se que
o papel da ONU foi posto de lado para ser substituído pela intervenção da OTAN.
Não obstante, o protagonismo das Nações Unidas foi interrompido em 1999 com
o “episódio” Kosovo. O caso Kosovo foi o primeiro conflito internacional no qual
uma série de Estados (nucleados na OTAN) abandonaram o Direito Internacional
e a ordem há pouco estabelecida. Abria-se assim um perigoso precedente no
período. Esse precedente deu margens para outras ações que seguiram a mesma
lógica, se não jurídica, prática: fazer guerra “cuando se dá la gana” (numa feliz
expressão castelhana). (Cf. FERREIRA, 2009)
Como vimos pelas considerações de Aguilar, os EUA justificavam a ação da OTAN
devido ao genocídio que estava ocorrendo na região, bem como a questão dos refugiados.
Entretanto, se os genocídios, ou seja, a limpeza étnica se deu entre 1991 a 1995, porque somente
em 1999 se resolveu apelar para os ataques da OTAN?
No que se refere à análise do Direito Internacional se apreende um grande problema
“Dessa maneira temos um problema jurídico. Conforme a Convenção do Genocídio e o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, podemos interpretar que a ação da OTAN possa
ter sido legal”. Entretanto há de se observar que “ao mesmo tempo, temos a Carta da ONU
que dispõe que: toda ação armada empreendida contra um outro país (salvo legítima defesa)
deve ter autorização do CSONU, o que não ocorreu nesse caso. Chegamos a um impasse” (Cf.
FERREIRA, 2009)
Esse impasse é em seguida analisado e Ferreira conclui que “Dessa maneira, o argumento
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do genocídio (Convenção e Pacto) invocado para justificar a intervenção da OTAN não pode
ser considerado válido, legal, tendo em vista os artigos 5310º e 10311º da Carta da ONU. Existe
a prevalência da Carta sob a Convenção e o Pacto”. (Cf. FERREIRA, 2009)
De qualquer modo, como aqui estamos analisando o que concerne à questão do Direito,
sabemos que muitas vezes existem dúvidas ou interpretações distintas sobre o assunto, isso
também é levado em consideração na análise de Ferreira: “Mesmo assim, de acordo com o
Direito Internacional, uma eventual dúvida no que concerne à interpretação dos textos
internacionais deve ser levada ao órgão competente; nesse caso, a Corte Internacional de
Justiça”. (Cf. FERREIRA, 2009)
Entretanto, avaliando a questão do Direito Internacional, Ferreira nos coloca que antes
da ação da OTAN, se houvesse dúvida na legitimidade ou não da ação, a Corte Internacional
de Justiça deveria ter sido acionado, e, após uma decisão desta, proceder-se-ia ou não com o
“ataque”.
Ferreira esclarece:
Encerrado esse ponto, cumpre ainda ressaltar que a invalidade legal da ação
empreendida pela OTAN na Iugoslávia em 1999 tem também outras nuances no
que tange propriamente ao Direito Internacional. Para citar apenas uma, que se
impõe por sua claridade, trazida à literatura especializada por Luigi Ferrajoli: a
ilegalidade da ação frente à própria Carta constitutiva da Aliança. O autor afirma
que a Carta é clara em seus princípios de natureza: a OTAN é uma aliança militar
defensiva, de contra-ataque, por assim dizer, e que, portanto, não poderia ter
realizado um ataque. Ou seja, o próprio estatuto jurídico da OTAN não permitiria
o empreendimento de uma ação militar que não fosse defensiva. (Cf. FERREIRA,
2009)
Assim, é imperativo firmar que a ação da OTAN foi ilegítima, inclusive no que diz
respeito ao Direito Internacional, e, as ações do país imperialista sempre se pautaram naquilo
que “eles” acreditam. Como dizer que os EUA são democráticos, que é legítimo o “direito” deste
país levar a “democracia” ao restante do mundo, e, querer mudar inclusive a cultura oriental
com base no que eles acreditam ser a cultura do ocidente, ou seja, a cultura estadunidense? A
imposição de seu modo de ser, pensar, agir não é exatamente o que eles (EUA) denominam
como ditadura? Afinal, quando os EUA impõem para os demais países o que eles acreditam ser
o “modelo ideal” de vida, estão sendo democráticos?
10 Artigo 53 – 1- O conselho de Segurança utilizará, quando for o caso, tais acordos e entidades regionais para
uma ação coercitiva sob a sua própria autoridade. Nenhuma ação coercitiva será, no entanto, levada a efeito de
conformidade com acordos ou entidades regionais sem autorização do Conselho de Segurança (...).
11 Artigo 103- No caso de conflito entre as obrigações dos Membros das Nações Unidas, em virtude da presente
Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas
em virtude da presente Carta. (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS E ESTATUTO DA CORTE INTERNACIONAL
DE JUSTIÇA)
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Ainda sobre a questão do Direito Ferreira discorre:
na efetivação de um ato (como foi a intervenção) contrário ao Direito Internacional
no cenário internacional, automaticamente abre-se a possibilidade de que isso se
repita como algo “normal”, como um exemplo de possibilidade de ação. Cabe
lembrar mais uma vez que no período pós-Guerra Fria, que tem seu início em
1989/1991, a intervenção da OTAN na Iugoslávia foi o primeiro ato desrespeitando
a Carta das Nações Unidas. Isso vale dizer que esse ato abriu as portas para a
continuidade de marcar atos ilegais como “atos normais” e “atos necessários”,
desacreditando, portanto, o ordenamento jurídico internacional. (Cf. FERREIRA,
2009)
Nossa intenção ao elencar a ilegalidade do ataque das forças da OTAN no Kosovo,
além da análise do conflito é o de mostrar que os EUA têm suas próprias leis, e, que eles a
alteram quando necessário para continuar na posição de país hegemônico, pois, “Um dos pontos
fundamentais da política externa estadunidense a partir da Segunda Guerra Mundial foi uma
inserção ativa na ordem internacional e na construção de sua hegemonia”. É óbvio que o país
da América do Norte não abrirá mão desta posição facilmente. Ainda “Vale recordar que boa
parte dos estadunidenses prefere uma postura de política externa mais isolacionista, olhando
“mais para dentro do que para fora”. Entretanto de alguma forma, pela política do medo ou
outro elemento isto mudou e, Foi principalmente após as duas grandes guerras que os EUA
solidificaram sua vocação “para fora” (que de certo modo já estava exposta em 1823 na
Doutrina Monroe). (Cf. FERREIRA, 2009)
Com efeito, os argumentos de Ferreira embasam nossa “tese” de que o país imperialista
usará todas as “armas” que forem necessárias para manter-se forte hegemonicamente. A questão
do poder está fundamentalmente ligada ao pensamento dos governantes e de boa parte da
população dos EUA.
Do nosso ponto de vista, não há dúvida de que uma das motivações da OTAN
para atacar a Iugoslávia, além das justificativas oficiais e outras não-oficiais,
foi manter a segurança europeia no seio da OTAN, fazendo com que o aparelho
militar dos EUA tenha acesso facilitado a informações militares europeias e que
tropas estadunidenses marquem presença e utilizem as bases da OTAN em solo
europeu.(Cf. FERREIRA, 2009)
Justificada a ilegalidade do ataque da OTAN, voltamos e encerraremos a análise das
consequências desta ação.
Aguilar aponta que antes do referido ataque, “Milosevic acenou diversas vezes para um
Acordo de Paz” (AGUILAR, 2003, p. 222), no entanto face ao número de exigências da OTAN
este acordo não foi possível. Face todos os acontecimentos, mais um fato inédito historicamente
– Milosevic foi o primeiro chefe de estado em exercício a sofrer uma ação penal internacional
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com a imputação da culpabilidade pela campanha de limpeza étnica. Com toda a pressão
sofrida, em Junho de 1999 foi assinado um acordo que permitia a presença militar da OTAN no
território do Kosovo, este acordo também estabelecia que a força de segurança no país fosse de
responsabilidade da OTAN, e que qualquer outra forma militar deveria deixar a província e que
o ELK deveria ser “desmilitarizado”.
Após este acordo, a ONU12 volta a fazer o seu papel no Kosovo em uma missão que
se chamou United Nations Interin Administration Mission in Kosovo – UNMIK. O custo para
reconstruir o Kosovo foi de aproximadamente “740 milhões de dólares ao ano, por um prazo
de 3 anos. Já com relação a Iugoslávia, estudos apontaram que serão necessários pelo menos
45 anos para que ela retorne aos níveis econômicos de 1989” (AGUILAR, 2003, p. 231)
TIROS EM COLUMBINE13 E FAHRENHEIT – 11 DE SETEMBRO14.
Analisamos o papel dos EUA e da OTAN no Kosovo, entretanto, é relevante saber o que
ocorria no país da América do Norte enquanto estavam engajados na luta para fazer justiça aos
responsáveis pelo genocídio na Iugoslávia.
Para tanto recorremos ao documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine, haja
vista que muitas vezes as imagens são mais profundas do que qualquer palavra. É assim que
Moore começa seu documentário: “20.04.1999 – O presidente bombardeou mais um país cujo
nome não sabíamos pronunciar”, e parte para outra cena em que ele informa que “Havia visto
um anúncio no jornal local de Michigan que dizia que abrindo uma conta no Banco North
Country você ganhava uma arma”. Moore entra no banco diz que pretende abrir qualquer
modalidade de conta que lhe possibilite ganhar a arma, e, após perguntas irrelevantes da
atendente sai da “agência bancária” com um rifle nas mãos.
Após estas duas cenas, enfim começa o documentário que pretende mostrar o modo
como os estadunidenses tratam a questão das armas, ele – Moore – vai a barbearia cortar o
cabelo com o rifle que ganhou e compra munição para a arma. Na sequência passa a entrevistar
estadunidenses, inclusive membros de uma milícia de Michigan que foram responsáveis por
um atentado em Oklahoma tendo como resultado a morte de 168 pessoas, mostra ainda que a
cidade de Virgin, Utah sancionou uma lei que obriga todos os residentes a terem armas. Até os
cegos podem ter armas.
12 Sobre outros problemas enfrentados pela ONU na guerra da Iugoslávia assistir ao filme: A Informante que
trata de um dos maiores escândalos da história envolvendo a ONU, Kathy Bolkovac (Rachel Weisz) é uma policial
esforçada que aceita trabalhar para as Nações Unidas como pacificadora na Bósnia, que passa por uma reconstrução
pós-guerra. Seus desejos de ajudar na reconstrução de um país devastado são destruídos quando ela fica face a face
com a dura realidade: uma vasta rede de corrupção e tráfico sexual que é encoberta pela ONU.
13 Oscar de melhor documentário de longa-metragem em 2003.
14 O filme foi premiado no Festival de Cannes de 2004, obtendo a Palma de Ouro.
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O objetivo de Moore é tentar fazer um paralelo com o incentivo do uso de armas nos
EUA a política do medo divulgada pelas TV’s do país e a relação dos EUA com o mundo. Para
isso, ele elenca historicamente:
- 1953: EUA derrubam Massadeq – primeiro ministro do Irã... EUA colocam Shah como ditador;
- 1954: EUA derruba Arbenz, presidente da Guatemala, 200 mil civis são mortos;
- 1963: EUA apoiam assassinato do presidente sul vietnamita Dieim;
- 1963-1975: Exército americano mata 4 milhões na Ásia;
- 11 de Setembro de 1973: EUA armam um golpe de estado no Chile, o presidente
democraticamente eleito Salvador Allende é assassinado, o ditador Augusto Pinochet assume,
5 mil chilenos são assassinados;
- 1977: EUA apoiam o governo militar de El Salvador, 70 mil salvadorenhos e 04 freiras
americanas são mortos;
- 1980: EUA treinam Bin Laden e terroristas para matar soviéticos, a Cia dá à eles US$ 3
bilhões;
- 1981: Governo de Reagan treinam e financiam contras. 300.000 nicaraguenses são mortos;
- 1982: EUA dão a Saddan Husseim armas para matar iranianos;
- 1983: Casa Branca, secretamente, dá armas ao Irã para matar iraquianos;
- 1989: O agente da Cia, Manuel Noriega, presidente do Panamá desobedece as ordens de
Washington, EUA invadem o Panamá e derrubam Noriega, 3 mil civis panamenhos são mortos;
- 1990: Iraque invade o Kuwait com armas americanas;
- 1991: EUA entram no Iraque, Bush reempossa o ditador do Kuwait;
- 1991 até hoje (quando do documentário): aviões americanos bombardeiam o Iraque, a ONU
estima que 500 mil crianças iraquianas morrem devido aos bombardeios e as sanções;
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- 2000-01: EUA dão ao Afeganistão dos talibãs US$ 245 milhões;
- 11 de Setembro de 2001: Osama Bin Laden mata 3 mil pessoas com técnicas da Cia15.
- O documentário continua mostrando o orgulho do país em ter participado dos conflitos
históricos, em uma das cenas é focalizado um avião com uma placa em que se lê que este foi
usado no natal de 1972 para matar vietnamitas.
- Na sequência Moore vai direto ao ponto:
- 20.04.1999 – O maior bombardeio americano – 22 mísseis da OTAN caem no vilarejo de
Bogutovac. Bombas são lançadas nas áreas residenciais do vilarejo.
- É mostrada a cena do presidente Bill Clinton informando aos estadunidenses da ação no
Kosovo, volta a cena 01 hora depois dele na rede de televisão falando do evento em Columbine.
Todo o restante do documentário, Moore passa entrevistando pessoas para tentar entender
o que houve em Columbine, mostra a questão do porte de arma. Nos Estados Unidos da América
os cidadãos acreditam que eles próprios têm que se defender sem esperar “justiça” do estado.
Moore pergunta às pessoas o porquê o país é tão violento, e, as respostas são as mais distintas.
Muitos acreditam que a história sangrenta do país é o motivo real da violência. Entretanto
Moore coloca as questões históricas da Alemanha, China, Japão e mostra em números que estes
países têm um número ínfimo de assassinatos por arma de fogo, e, que o país com maior número
de mortes é os EUA.
Seria então o excesso de armas com civis? Moore vai ao Canadá e compara os dois
países. No Canadá as pessoas também tem acesso fácil às armas, mas, o número de assassinatos
é insignificante, quase nenhum. A resposta dos canadenses a violência dos vizinhos é que os
estadunidenses querem resolver tudo em duelos, com a arma, não pensam e deixam para lá, a
questão é a da honra. Os filmes hollywoodianos mostram um pouco desta questão, se pararmos
aqui para pensarmos na quantidade de filmes que legitimam o assassinato este artigo viraria
um livro, mas, os filmes produzidos nos EUA são vistos mundialmente, e, nem por isso os
japoneses – maiores consumidores de filmes – saem matando as pessoas.
Moore encontra na política do medo perpetrada pelas redes de TV a explicação para
15 Moore não cita no documentário algo relevante para a História do Brasil que é o apoio direto dos EUA no Golpe
militar de 1964, existem vários artigos e livros publicados sobre o assunto, e, recentemente temos o documentário
O dia que durou 21 anos escrito e dirigido por Camilo Tavares e narrado pelo jornalista Flávio Marques, que
também assina o roteiro. O documentário é uma co-produção da TV Brasil com a Pequi Filmes e resgata a história
do golpe militar de 1964, desnuda os bastidores e a participação dos Estados Unidos na empreitada.
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a angústia que sofrem os estadunidenses. Lá (como aqui no Brasil) os programas de maior
audiência são aqueles que mostram os crimes. E, apesar de o índice de assassinatos terem
diminuídos em dado momento, a mídia continuou sua busca incessante pelos eventos sangrentos.
Ora, além dos “fatos” ocorridos no país, as séries produzidas remetem as pessoas a pensar nos
assassinos em série. Algumas delas: Criminal Minds, CSI – Nova York, CSI – Miami, CSI, Law
and Order (de todos os tipos)...
No livro A enciclopédia de Serial Killers, Michael Newton já no prefácio indica
“Entender o problema e desenvolver soluções possíveis de serem aplicadas é importante nos
Estados Unidos (que, com menos de 5% da população mundial, produziu 84% de todos os serial
killers conhecidos desde 1980)”. (NEWTON, 2008, p.11)
Se a análise de Moore tem consistência, podemos fazer um paralelo com a questão
da política do medo discutida por Aguilar, também ele usa um capítulo de sua obra para falar
sobre o assunto, e, enumera algumas pessoas que imputam à política do medo o resultado dos
acontecimentos na guerra da Iugoslávia. Aguilar diz que durante o governo de Tito, “Essa
política do medo teria mantido os iugoslavos unidos” (AGUILAR, 2003, p. 270). Entretanto,
“a morte de Tito com seu carisma e o fim da União Soviética, alteraram a concepção do Estado
para os iugoslavos. Acabaram, também com alguns dos medos que os mantinham unidos”
(AGUILAR, 2003, p. 271)
A análise de Aguilar mostra alguns equívocos estratégicos durante o governo de Tito que
culminaram nas crises analisadas no livro. Para Aguilar “O quadro piorou quando a sociedade
percebeu que também não tinha um líder – papel desempenhado por Tito – para criar um novo
projeto”.
Desta forma, se a política do medo vivida na Iugoslávia serviu, por algum tempo, para
uni-los, a política do medo vivida pelos estadunidenses estão levando-os a crises muito sérias.
Não obstante o medo perpetrado pela mídia, a crise financeira de 200816 desperta atenção. Mas,
parece que o país não está disposto a voltar seu olhar “para dentro”, continuam a olhar “para
fora”, com as últimas notícias do incentivo dos EUA para Israel atacar o Irã antes das eleições
para presidência em 2012.
Para fechar esta questão usamos a observação de Aguilar
Ficou patente, também a dependência da ONU em relação aos EUA. A guerra
só terminou a partir de um acordo, quando os norte-americanos resolveram,
motivados também por interesses políticos internos, tomar posição mais enérgica
no conflito. Ao final das negociações o presidente Clinton, candidato a
reeleição, surgiu como o grande líder que conseguiu o fim da guerra.
(AGUILAR, 2003, p. 285)
16 Sobre a crise estadunidense de 2008, existem vários livros que falam sobre a questão da bolha e analisam os
aspectos que levaram ao “boom”. Indicamos aqui o documentário “Inside Job” dirigido por Charles Ferguson,
ganhador do Oscar de 2011.
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Nosso intuito em falar sobre o documentário de Michael Moore, Fahrenheit: 11
de Setembro é também o de questionar a “democracia estadunidense” como já citamos
anteriormente.
O filme começa mostrando o escândalo da eleição presidencial nos EUA em 2000. A
fraude levou ao poder o presidente George W. Bush quando os números apontaram que a vitória
foi, de fato, de Al Gore, mas, o senado norte-americano vergonhosamente compactuou com a
fraude.
Nos primeiros meses de sua “administração”, Bush presidente empossado “ilegalmente”
e sem o apoio popular, passou meses em férias, até o ataque às Torres Gêmeas em 11 de Setembro
de 2001. “Presidente da Guerra” como foi intitulado ele sai da sua toca para aproveitar-se do
evento e se autopromover. Entretanto, como mostra Moore tudo é um grande engodo, imagens
são sobrepostas de matérias divulgadas antes e depois do atentado e mostram claramente a série
de mentiras em que se baseou Bush na sua corrida para o petróleo. Uma das questões mais
relevantes é o fato de antes das eleições sua assessoria ter informado que o Iraque não teria
condições de construir e ter armas de destruição em massa, e, depois, usar este argumento – o
Iraque estava escondendo armas – para iniciar seus ataques.
Outra questão relevante no documentário é a questão do nacionalismo. Moore entrevista
uma mãe que informa com orgulho que toda sua família em algum momento da História dos
EUA se alistaram e serviram às forças armadas estadunidense. Entretanto é chocante ao final
do documentário o sofrimento desta mulher patriota ao receber a notícia da morte do filho que
estava no Iraque por uma Guerra que pretendia somente atender aos interesses particulares do
Presidente e daqueles que de fato ele representava. Isto ficou extremante claro em seu discurso:
“É impressionante a turma que está aqui hoje. Os ricos e os mais ricos ainda! Algumas pessoas
chamam vocês de elite. Eu os chamo de ‘minha base’”. (MOORE, 2004, p. 113)
O documentário tem uma linguagem clara e objetiva. Moore quer mostrar o discurso
falastrão de Bush, seus interesses pessoais e sua carreira política sempre pautada em fraudes e
acordos com os donos do petróleo no Oriente Médio. Já no documentário: Tiros em Columbine
é citada a quantia em dinheiro doada aos talibãs em 2000-01, mesmo ano do atentado.
Aproveitando-se do atentado, o imperialismo estadunidense mais uma vez se impõe ao
mundo como os donos do poder.
Vale lembrar aqui de um pequeno documentário divulgado na Internet com as cenas
do atentado e sob o título: Nós não esqueceremos, e, a reposta do mundo à eles com outro
breve curta com as cenas dos ataques comandados pelos EUA em que se mostram incontáveis
números de mortos com o título: Nós também não esqueceremos.
De alguma forma, dado o nacionalismo dos estadunidenses no início da Guerra, até os
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soldados em sua “ingenuidade” acreditavam que estavam levando a democracia ao mundo. Em
entrevista com um soldado no Iraque este afirma: “Nós precisamos... Como diz o velho ditado,
conquistar os corações e as mentes das pessoas. Este é o nosso trabalho. Nós temos de... Trazer
os ideais de democracia e liberdade ao país e mostrar a eles que os americanos estão aqui
para... governar o Iraque” (MOORE, 2008, p. 107).
Trata-se mesmo de levar a democracia ao mundo? Segundo Barry Reingold em entrevista
no documentário ele afirma que quando em conversa com alguns amigos sobre o atentado e
sobre a crueldade de Bin Laden sua resposta foi: “É, mas ele nunca vai ser tão cretino quanto
Bush, que bombardeia o mundo inteiro para lucrar com o petróleo”. (MOORE, 2008, p. 73).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo neste artigo foi o de mostrar o papel dos EUA em eventos que mudaram
a história mundial, tanto no que concerne ao seu papel como membro da ONU pelas análises
de Aguilar, como do desrespeito ao Direito Internacional com a mudança de estratégia no que
se referia ao papel da OTAN antes do ataque ao Kosovo explicitado por Ferreira. Também foi
central nesta discussão mostrar que o interesse Imperialista é particular, ditatorial e se podemos
afirmar “fascista”, conclusões que chegamos ao ver os documentários de Moore.
As regras após o 11 de Setembro de 2001 foram claras, desrespeitou-se mais uma vez
qualquer tratado assinado anteriormente, o objetivo agora era o de propor uma “nova ordem”
que atendesse apenas e exclusivamente os interesses do país centro do capitalismo mundial.
Terminamos este artigo com o discurso, na íntegra, de Bush em 20 de Setembro de 2001,
no Congresso dos EUA. Nosso objetivo com isso é reafirmar nossa posição de que os interesses
estadunidenses estão e sempre estarão acima dos interesses do mundo, seja no que diz respeito
às Relações Internacionais, ao Direito Internacional ou qualquer “elemento” que se tenha como
obstáculo ao país norte-americano levar a cabo seus interesses.
Senhor presidente da Câmara, senhor presidente interino do Senado, membros
do Congresso e caros americanos: Em situações normais, presidentes vêm a
essa Câmara para falar do estado da União. Hoje à noite, isso não é necessário.
O estado do país já foi mostrado pelo povo americano. Vimos a coragem dos
passageiros, que enfrentaram terroristas para salvar outras pessoas no solo,
passageiros como um homem excepcional chamado Todd Beamer. Por favor,
ajudem-me a dar as boas-vindas à sua mulher, Lisa Beamer. Vimos o estado de
nossa União na persistência das equipes de resgate, trabalhando além da exaustão.
Vimos o desfraldar de bandeiras, o acendimento de velas, a doação de sangue, as
preces em inglês, em hebraico e em árabe. Vimos a decência de pessoas amáveis
e generosas, que fizeram da dor de estranhos a sua própria.
Caros concidadãos, nos últimos nove dias, o mundo todo viu o estado de nossa
União e ela é forte. Hoje à noite, somos um país que acordou para o perigo e foi
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chamado para defender a liberdade. Nossa dor transformou-se em raiva, e a raiva
em determinação. Se conseguiremos trazer nossos inimigos à Justiça ou levaremos
a justiça a nossos inimigos, a justiça será feita. Agradeço o Congresso por sua
liderança num momento tão importante. Toda a América ficou emocionada na
noite da tragédia ao ver republicanos e democratas, em conjunto nos degraus do
Capitólio, cantando “God Bless America”. E vocês fizeram mais do que cantar,
vocês agiram ao liberar US$ 40 bilhões para reconstruir nossas comunidades
e pagar as necessidades de nossos militares.
Presidente Hastert e líder da minoria Gephardt líder da maioria Daschle e senador
Lott agradeço por sua amizade, por sua liderança e pelo serviço que prestaram a
nosso país. E, em nome do povo americano, agradeço o mundo pelo forte apoio. A
América jamais esquecerá o som de nosso hino nacional sendo tocado no Palácio
de Buckingham, nas ruas de Paris e no Portão de Brandemburgo em Berlim. Não
esqueceremos as crianças sul-coreanas rezando em frente à nossa embaixada em
Seul nem as orações feitas numa mesquita do Cairo. Não esqueceremos momentos
de silêncio e dias de luto na Austrália, na África e na América Latina.
Também não esqueceremos os cidadãos de 80 nações que morreram ao lado de
nossos cidadãos. Dúzias de paquistaneses. Mais de 130 israelenses. Mais de 250
cidadãos da Índia. Homens e mulheres de El Salvador, do Irã, do México e do
Japão. E centenas de cidadãos britânicos. A América não tem nenhum amigo tão
verdadeiro como o Reino Unido. Mais uma vez, estamos lado a lado numa grande
causa. O premiê britânico atravessou o Atlântico para mostrar sua unidade de
propósito com a América. E, hoje à noite, damos as boas-vindas a Tony Blair.
Em 11 de setembro, inimigos da liberdade cometeram um ato de guerra contra
nosso país. Os americanos já conheceram guerras, mas, nos últimos 136 anos,
foram guerras em solo estrangeiro, exceto num domingo em 1941. Os americanos
sofreram perdas em guerras, mas não no centro de uma grande cidade numa
manhã tranqüila. Os americanos conheceram ataques surpreendentes, mas nunca
anteriormente contra milhares de civis. Tudo isso caiu sobre nós num único dia
e a noite caiu num mundo diferente, um mundo no qual a liberdade está sendo
atacada.
Os americanos têm muitas perguntas hoje à noite. Os americanos estão
perguntando: quem atacou nosso país? As pistas que amealhamos nos dirigem
a uma coleção de organizações terroristas difusas chamada Al Qaeda. Eles
são os mesmos assassinos indiciados pelos ataques às embaixadas americanas
na Tanzânia e no Quênia. Também são responsáveis pelo atentado a bomba ao
U.S.S. Cole. Al Qaeda é para o terror o que a máfia é para o crime. Mas seu
objetivo não é ganhar dinheiro. Seu objetivo é refazer o mundo e impor suas
crenças radicais a pessoas do mundo todo. Os terroristas praticam uma forma
marginal de extremismo islâmico, que foi rejeitada por acadêmicos muçulmanos
e pela maioria dos clérigos muçulmanos um movimento marginal que perverte os
ensinamentos pacíficos do islã. A diretiva dos terroristas os leva a matar cristãos
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e judeus, a matar americanos e a não separar os militares dos civis, incluindo
mulheres e crianças. Esse grupo e seu líder uma pessoa chamada Osama Bin Laden
estão ligados a várias outras organizações em diferentes países, incluindo o Jihad
Islâmico egípcio e o Movimento Islâmico do Uzbequistão. Há milhares desses
terroristas em mais de 60 países. Eles são recrutados em suas próprias nações
e em suas vizinhanças. São levados a campos em locais como o Afeganistão,
onde aprendem as táticas do terror. Eles são mandados de volta a seus países ou
enviados a outros países do mundo para planejar o mal e a destruição. A liderança
da Al Qaeda tem grande influência no Afeganistão e apóia o regime do Taleban,
que controla a maioria do país. No Afeganistão, vemos a visão de mundo da Al
Qaeda. O povo do Afeganistão tem sido brutalizado muitos estão morrendo de
fome, e muitos outros fugiram. As mulheres não podem freqüentar escolas. Você
pode ser preso por possuir um aparelho de TV. A religião só pode ser praticada
conforme ditada por seus líderes. Um homem pode se preso, no Afeganistão, se
sua barba não for longa o suficiente.
Os EUA respeitam o povo do Afeganistão, somos atualmente sua maior fonte de
ajuda humanitária, mas condenamos o regime do Taleban. Ele não apenas reprime
seu próprio povo, mas também ameaça pessoas em todos os lugares ao patrocinar,
abrigar e fornecer terroristas. Ajudando assassinos, o regime do Taleban comete
assassinatos. E, hoje à noite, os EUA fazem as seguintes exigências ao Taleban:
Entregar às autoridades americanas todos os líderes da Al Qaeda que se escondem
em seu território. Libertar estrangeiros incluindo cidadãos americanos que vocês
prenderam injustamente e proteger jornalistas estrangeiros, diplomatas e pessoas
que trabalham com ajuda humanitária. Fechar imediatamente e permanentemente
todos os campos de treinamento de terroristas existentes no Afeganistão e entregar
todos os terroristas e todas as pessoas que os apoiam a autoridades competentes.
Dêem aos Estados Unidos acesso total aos campos de treinamento terrorista
para que possamos verificar se eles não estão mais em operação. Essas
demandas não estão abertas a negociação ou discussão. O Taleban deve agir e
agir imediatamente. Eles vão entregar os terroristas ou eles vão compartilhar sua
sina.
Hoje eu também quero falar diretamente aos muçulmanos de todo o mundo: nós
respeitamos a sua fé. Ela é praticada livremente por milhões de americanos e por
milhões mais em países que a América considera amigos. Seus ensinamentos são
bons e pacíficos, e aqueles que cometem males em nome de Allah blasfemam o
nome de Allah. Os terroristas são traidores de sua própria fé, tentando, de fato,
sabotar o próprio islã. O inimigo da América não são os nossos muitos amigos
muçulmanos; não são os nossos numerosos amigos árabes. Nosso inimigo é uma
rede radical de terroristas e cada governo que a apóia. Nossa guerra contra o
terror começa com a Al Qaeda, mas não é lá que ela termina. Ela não vai
acabar até que cada grupo terrorista de alcance global tenha sido encontrado,
parado e derrotado.
Americanos estão perguntando: por que eles nos odeiam? Eles odeiam o que
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nós vemos aqui mesmo nessa câmara um governo eleito democraticamente.
Os líderes deles são auto-indicados. Eles odeiam as nossas liberdades, nossa
liberdade de religião, nossa liberdade de expressão, nossa liberdade de voto
e de associação e de discordar um do outro. Eles querem derrubar governos
existentes em muitos países como Egito, Arábia Saudita e Jordânia. Eles querem
expulsar Israel do Oriente Médio. Eles querem expulsar cristãos e judeus de
enormes áreas da Ásia e da África. Esses terroristas não matam apenas para
acabar com vidas, mas para tumultuar e acabar com um estilo de vida. Com cada
atrocidade eles esperam que a América se torne temerosa, retraindo-se do mundo
e abrindo mão de nossos amigos. Eles se colocam contra nós porque nós estamos
em seu caminho. Não nos enganamos com as suas pretensões à piedade. Já vimos
o seu tipo antes. Eles são os herdeiros de todas as ideologias assassinas do século
20. Ao sacrificar vidas humanas a serviço de sua visão radical a de abandonar
todos os valores exceto a busca pelo poder, eles trilham o caminho do fascismo,
nazismo e do totalitarismo. E eles trilharão esse caminho até o fim, até onde ele
termina: na cova não identificada das mentiras descartadas.
Americanos estão se perguntando: Como vamos lutar e vencer essa guerra?
Nós vamos direcionar todos os recursos sob nosso controle todos os meios de
diplomacia, todas as ferramentas de inteligência, todos os instrumentos de
aplicação da lei, toda influência financeira e toda arma de guerra necessária para
a desorganização e derrota da rede global de terror. Essa guerra não vai ser
como a guerra contra o Iraque há uma década, com sua decisiva libertação
de território e rápida conclusão. Não vai se assemelhar à guerra aérea em
Kosovo há dois anos, onde tropas terrestres não foram usadas e nem um único
americano foi perdido em combate. Nossa reação envolve muito mais do que
retaliação instantânea e ataques isolados. Americanos não devem esperar uma
batalha, mas sim uma campanha extensa, diferente de qualquer outra que nós já
vimos. Ela pode incluir ataques dramáticos, visíveis na televisão, e operações
secretas, sigilosa até mesmo no sucesso. Nós vamos cortar o financiamento dos
terroristas, jogar um contra o outro, fazê-los correr de um lugar para o outro até que
não haja mais refúgio ou descanso. E nós vamos perseguir nações que ofereçam
ajuda ou abrigo seguro para o terrorismo. Cada nação, em cada religião, tem
de tomar uma decisão agora. Ou estão conosco ou estão com os terroristas.
Desse dia em diante, qualquer nação que continue a proteger ou sustentar terrorismo
vai ser considerada pelos Estados Unidos como um regime hostil. Nossa nação
foi colocada em alerta: não estamos imunes de um ataque. Nós vamos tomar
medidas defensivas contra terrorismo para proteger os americanos. Hoje, dezenas
de departamentos e agências federais, assim como governos estaduais e locais,
têm responsabilidades que afetam a segurança interna. Esses esforços devem ser
coordenados no nível mais alto. Portanto hoje à noite eu anuncio a criação de
um cargo de nível ministerial que responderá diretamente a mim o Escritório de
Segurança Interna. Essas medidas são essenciais. Mas a única forma de derrotar o
terrorismo, uma ameaça ao nosso modo de vida, é detê-lo, eliminá-lo e destruí-lo
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onde ele venha a crescer. Muitos serão envolvidos nesse esforço, desde agentes
do FBI a operadores de inteligência e os reservistas que chamamos para serviço
ativo. Todos merecem o nosso obrigado e todos recebem as nossas preces. E hoje,
a algumas milhas do edifício danificado do Pentágono, eu tenho uma mensagem
para os nossos militares: estejam prontos. Eu coloquei as Forças Armadas em
alerta, e há um motivo. A hora quando a América agirá está chegando, e vocês nos
deixarão orgulhosos.
Entretanto, isso não é apenas a luta da América. E o que está em jogo não é apenas
a liberdade da América. Essa luta é mundial. Essa luta é da civilização. Essa é a
luta de todos que acreditam em progresso e pluralismo, tolerância e liberdade. Nós
pedimos a todas as nações que se juntem a nós. Nós pediremos, nós precisaremos
da ajuda de forças policiais, serviços de inteligência e sistemas bancários em
todo o mundo. Os Estados Unidos estão agradecidos que muitas nações e muitas
organizações internacionais já responderam com simpatia e com apoio. Nações
da América Latina à Ásia, à África, à Europa, ao mundo islâmico. Talvez a Carta
da Otan reflita melhor a atitude do mundo: o ataque a um é o ataque a todos. O
mundo civilizado está se alinhando com a América. Eles entendem que, se esse
terror seguir impune, suas próprias cidades, seus próprios cidadãos possam ser os
próximos. Terror não respondido pode não só trazer prédios abaixo, também pode
ameaçar a estabilidade de governos legítimos. E nós não o permitiremos.
Americanos estão perguntando: o que está sendo esperado de nós? Eu peço que
vocês vivam suas vidas e abracem seus filhos. Eu sei que muitos cidadãos
têm medos hoje à noite e eu os peço para ficarem calmos e resolutos, mesmo
em face de uma ameaça contínua. Eu peço que vocês sustenham os valores
da América e lembrem por que tantos vieram para cá. Nós estamos em uma
luta pelos nossos princípios e a nossa primeira responsabilidade é de viver de
acordo com eles. Ninguém deve ser apontado para receber tratamento injusto
ou palavras desagradáveis por causa de sua ascendência étnica ou por seu credo
religioso. Eu peço que vocês continuem a apoiar as vítimas dessa tragédia com
as suas contribuições. Aqueles que desejarem doar podem ir a uma fonte central
de informação, http://libertyunites.org, para encontrar os nomes dos grupos
oferecendo ajuda direta em Nova York, Pensilvânia e Virgínia.
Os milhares de agentes do FBI que agora estão trabalhando nessa investigação
podem precisar de sua cooperação, e eu peço que vocês a dêem. Eu peço a sua
paciência, com os atrasos e inconveniências que podem acompanhar uma segurança
mais rígida, e com a sua paciência no que será uma longa luta. Eu peço a sua
participação contínua e confiança na economia americana. Terroristas atacaram
um símbolo da prosperidade americana. Eles não tocaram a sua fonte. A América
é bem-sucedida por causa do trabalho duro, da criatividade e do empreendimento
do seu povo. Essas foram as verdadeiras forças de nossa economia antes do dia 11
de setembro, e elas são as nossas forças hoje.
Finalmente, por favor sigam rezando pelas vítimas do terror e suas famílias, por
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aqueles em uniforme e por nosso grande país. As orações nos consolam na tristeza
e ajudarão a nos fortalecer para a jornada à nossa frente. Nesta noite eu agradeço
aos americanos pelo que vocês já fizeram e pelo que farão. E, senhoras e senhores
do Congresso, eu agradeço a vocês, seus representantes, pelo que já fizeram e
farão juntos.
Nesta noite enfrentamos novos e inesperados desafios nacionais. Nos uniremos
para melhorar a segurança aérea, expandir dramaticamente o número de
seguranças nos vôos domésticos e tomar novas medidas para impedir seqüestros.
Nos uniremos para promover a estabilidade e manter nossas companhias aéreas
voando com assistência direta durante essa emergência. Nos uniremos para dar
aos órgãos de segurança as ferramentas adicionais necessárias para perseguir o
terror aqui em nosso país. Nos uniremos para fortalecer nossa inteligência para
conhecermos os planos dos terroristas antes de eles agirem e os encontrarmos
antes de atacarem. Nos uniremos para tomar as medidas para fortalecer a economia
americana e mandar nosso povo de volta ao trabalho. Nesta noite nós recebemos
aqui dois líderes que personificam o extraordinário espírito de Nova York: o
governador George Pataki e o prefeito Rudolph Giuliani. Como um símbolo da
fibra americana, minha administração trabalhará com o Congresso e esses dois
líderes para mostrar ao mundo que reconstruiremos Nova York.
Após tudo o que aconteceu, todas as vidas tiradas e todas as possibilidades e
esperanças que morreram com eles, é natural indagar se o futuro da América
é um futuro de medo. Alguns falam de uma era do terror. Sei que há lutas pela
frente e perigos a enfrentar. Mas este país irá definir nossa época, não ser definido
por ela. Enquanto os EUA forem determinados e fortes, essa não será uma era
de terror; essa será uma era de liberdade, aqui e em todo o mundo. Sofremos
muitos danos e grandes perdas. E em nossa dor e raiva encontramos nossa missão
e nosso momento. A liberdade e o medo estão em guerra. O avanço da liberdade
humana a grande conquista de nosso tempo e a grande esperança de sempre agora
depende de nós. Nossa nação, a geração atual, eliminará uma ameaça de violência
de nosso povo e de nosso futuro. Uniremos o mundo por essa causa, com nosso
esforço e nossa coragem. Não cansaremos e não falharemos. Minha esperança
é que nos próximos meses e anos a vida retornará quase ao normal. Voltaremos
a nossas vidas e rotinas, e isso é bom. Até a dor desaparece com o tempo. Mas
nossa determinação não deve passar. Cada um de nós lembrará o que aconteceu
naquele dia, e com quem aconteceu. Lembraremos do momento em que a notícia
chegou, onde estávamos e o que fazíamos. Alguns lembrarão de uma imagem
de fogo ou uma história de resgate. Alguns de memórias de um rosto ou uma
voz desaparecida para sempre. E eu carregarei isso. É o crachá de um homem
chamado George Howard, que morreu no World Trade Center tentando salvar
outras vidas. Foi dado a mim por sua mãe, Arlene, como um memorial orgulhoso
para o seu filho, isso me lembra das vidas que terminaram e de um objetivo que não
termina. Eu não esquecerei essa ferida em nosso país ou aqueles que a infligiram.
Não desistirei, não descansarei nessa luta pela liberdade e segurança do povo
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americano17.
O curso desse conflito é desconhecido, mas seu final é certo. Liberdade e medo,
justiça e crueldade, sempre estiveram em guerra, e sabemos que Deus não é neutro
entre eles. Caros cidadãos, enfrentaremos violência com justiça paciente, seguros
de que a nossa causa é justa e confiantes na vitória futura. Em tudo que está a
nossa frente, que Deus nos dê sabedoria, e que Ele zele pelos Estados Unidos da
América. Obrigado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Acordo que acabou com Guerra da Bósnia faz 10 anos. 22 nov. 2005. Disponível em <http://
www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/11/051122_bosniadaytoncg.shtml>.
Acesso
em 10 ago. 2012.
AGUILAR, Sérgio. A guerra da Iugoslávia: uma década de crise nos Bálcãs. São Paulo:
Usina do Livro, 2003.
BRIGADÃO, Clóvis. Introdução de A guerra da Iugoslávia: uma década de crise nos
Bálcãs. Rio de Janeiro, p. 9-19. Dez 2002. In: AGUILAR, Sérgio. A guerra da Iugoslávia: uma
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FERREIRA, Carlos Henrique Ruiz. A intervenção militar da OTAN na Iugoslávia como
um ponto de inflexão no quadro das relações internacionais pós-guerra fria – dois
coelhos numa cajadada só: o desrespeito ao direito internacional e o soterramento de
uma segurança europeia independente. Disponível em <http://www.cedep.ifch.ufrgs.br/otan.
pdf.> Acesso em 10 ago. 2012.
MOORE, Michael. O livro oficial do filme Fahrenheit 11 de Setembro. São Paulo: W11,
2004.
NEWTON, Michael. A enciclopédia de Serial Killers: Um estudo de um deprimente
fenômeno criminoso, de “Anjos da Morte” ao Matador do “Zodíaco”. 2.ed. São Paulo:
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Discurso de Bush no congresso dos EUA no dia 20 de setembro. Folha de São Paulo, 21
de Setembro de 2001. Disponível em <http://bresserpereira.org.br/Terceiros/TerrorWTC/BushSet21-Discurso.pdf>. Acesso em 18 ago. 2012.
17 Todos os grifos do discurso são nossos
Anais do X Seminário de Ciências Sociais - Tecendo diálogos sobre a pesquisa social
Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais
22 a 26 de Outubro de 2012
459
INÊS CRISTINA DOS SANTOS
OTAN ordena ataque à Iugoslávia. 24 março 1999. Disponível em <http://www1.folha.uol.
com.br/fsp/mundo/ft24039912.htm>. Acesso em 19 ago. 2012.
FILMOGRAFIA CITADA
A informante. Larysa Kondracki (Alemanha/Canadá, 2010).
Fahrenheit: 11 de Setembro. Michael Moore (EUA, 2004)
Inside Job. Charles Ferguson (EUA, 2010)
O dia que durou 21 anos. Camilo Tavares (Brasil, 2011)
Tiros em Columbine. Michael Moore (EUA, 2002)
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22 a 26 de Outubro de 2012
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