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FACULDADE CIMO
CURSO DESIGN E NEGÓCIOS DA MODA
JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA
QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA!
Belo Horizonte
2008
JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA
QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA!
Monografia apresentada à Faculdade CIMO – Centro
Integrado de Moda, de Belo Horizonte, como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design de
Moda.
Orientadora: Professora Fabiana Ballesteros
Belo Horizonte
2008
JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA
QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA!
Monografia apresentada à Faculdade CIMO – Centro Integrado de Moda, de Belo Horizonte, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Design de Moda.
Orientadora: Professora Fabiana Ballesteros
Aprovada em: ____/ ____/ _______
Heloísa Aline de Oliveira (Coordenadora)
Faculdade Cimo – Centro Integrado de Moda
Fabiana Ballesteros (Orientadora)
Faculdade Cimo – Centro Integrado de Moda
Belo Horizonte
2008
Aos meus pais,
Luiz Antônio da Silva e Josina Moreira Guedes Silva,
pela eterna dedicação.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que a todo instante batalharam por mim, apoiando em tudo que eu
precisei.
Aos vários amigos, que caminharam ao meu lado, ou simplesmente figuraram, todos,
sem exceção, contribuíram, cada um ao seu modo e ao seu alcance, com momentos gloriosos que serão lembrados sempre. Agradeço o apoio, as gargalhadas, os e-mails trocados e
principalmente a compreensão pelas ausências. Alguns, preciso agradecer especialmente:
Felipe, Maria Emília, Daniel, Jean, Lucia, Luiz Felipe, Marcello; por cada minuto dedicado
às minhas dificuldades, curiosidades, dúvidas, insatisfações; mas principalmente por acreditarem tanto em mim.
Às minhas madrinhas, por me ouvirem sempre que precisei falar, e me aconselharem
sempre que precisei de um rumo.
Às novas amigas que fiz durante o curso, foram tantos encontros e desencontros, amizades e discussões que nos fizeram fortes, e amigas.
Aos professores, só tenho a parabenizar, mas só àqueles que participaram, se doaram e
se importaram, não se deixando apodrecer na inércia. Especialmente à Fabiana Ballesteros
por ter sido mais que uma orientadora, mas sim amiga e entusiasta, não só durante esse
trabalho final de graduação, mas em todos os outros momentos em que precisei de alguma
orientação.
Se esqueci algum nome, em particular, saibam que agradeço a todos os que passaram,
ou àqueles que ficaram em minha vida, vocês, sem exceções, tiveram uma participação
relevante em mais essa caminhada.
“Eu quero é conviver! A grande arte não é viver, é conviver”!
(Elke Maravilha)
RESUMO
Este trabalho busca estudar as múltiplas vertentes dos cadernos Feminino e Feminino &
Masculino do jornal Estado de Minas, no que se refere à moda mineira; de lá buscar uma
notícia que se transforme no foco deste. Assim sendo, Elke Maravilha é a personalidade
escolhida para homenagear a sociedade mineira e os 80 anos do Jornal Estado de Minas.
Mesmo não sendo brasileira de nascimento, veio para cá aos 6 anos de idade e desde então vive no Brasil, salvo alguns poucos anos de sua juventude que visitou vários outros países do mundo morando dentro de um carro, e se considera de coração mineiro, brasileiro. A
vida e os feitos de uma mulher que carrega várias etnias, heranças de quase todo o mundo,
em um só corpo, servem de ponto de partida para o planejamento e desenvolvimento de
uma coleção de calçados. Para tal buscou-se o universo pessoal dessa fantástica mulher
de 63 anos de idade, suas origens, sua família, sua história, seus gostos e costumes para
construir uma base sólida de pesquisa.
Palavras-chaves:
Elke Maravilha; Grunnup; calçados.
SUMÁRIO
1. CAPÍTULO I
13
1.1
13
Introdução
2 CAPÍTULO II
14
2.1
Elke Giorgierena Grunnup Evremides
14
2.2
Mulher Maravilha
17
2.3 Mulher caleidoscópica
19
2.4
Elke: do Sagrado ao Profano
24
2.5
Mulher extra-vagante
27
3
CAPÍTULO III
28
3.1
Influências e referências
28
3.1.1
Os vikings
28
3.1.2
Os gregos
33
3.1.3
Os negros e o candomblé
35
3.1.3.1 O início
35
3.1.3.2 Os orixás
36
8
4
CAPÍTULO IV
39
4.1
Projeto
39
4.1.1
Briefing
39
4.1.2.1 Fichas técnicas
46
4.1.2.2 Embalagem
49
4.1.3
Resultados
49
5
CAPÍTULO V
56
5.1
Conclusão
56
6
Bibliografia
57
7
Apêndice
59
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Elke entre seus pais Liezelotte Von Sonden e Gerge Grunnupp, com 1 ano e meio de idade.
14
Figura 2 – “Vim com 6 anos para o Brasil. Meu pai lutou na guerra da Finlândia, quando minha mãe estava
grávida de mim. Tenho até hoje a faca que ele usou na batalha.”
15
Figura 3 – Elke era apaixonada com o aspecto frisado do cabelo das negras após a retirada das tranças.
Gostou tanto que afirma utilizar o penteado tipo Black Power antes, até, dos próprios negros.
16
Figura 4 – “(...) você não vê que é uma loura pintada de negro, você vê uma negra ai! Olha a expressão! Não
é simplesmente uma pintura.”
17
Figura 5 – Ao lado de Pedro de Lara, jurados do Cassino do Chacrinha.
18
Figura 6 – Ao lado de Chacrinha, a quem, carinhosamente, chamava de Painho.
18
Figura 7 – Elke foi Glamour Girl de Eduardo Cury, em Belo Horizonte.
19
Figura 8 – Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, preso, torturado e morto durante a ditadura Militar no Brasil. 20
Figura 9 – “Entrei na prisão cidadã brasileira naturalizada e saí de lá apátrida. Eles tomaram meus documentos. Não é um documento que vai me dizer quem eu sou, eu sou brasileiríssima e pronto. (...) Nessa situação,
viajei duas vezes com passaporte amarelo da ONU para apátridas.(...) Tenho passaporte alemão há cerca de
dez anos, é bem mais confortável. Poderia ter pedido anistia, mas seria pedir desculpas, reconhecer erros
que não cometi.”
19
Figura 10 – Com o olho roxo escondido pelo chapéu usado de lado, Elke criou um artifício para esconder a
marca que apanhou do namorado, sem perder a classe e o estilo.
22
Figura 11 – Elke Maravilha (à dir.) interpreta cantora alemã em filme sobre Zuzu Angel, com Patrícia Pillar
como Zuzu e Luana Piovani como Elke Maravilha.
23
Figura 12 – Elke dividiu o palco com a funkeira Deize Tigrona, as cantoras líricas Adélia Issa e Lucila
10
Tragtenberg no musical Luar Trovado.
24
Figura 13 – Cartaz do mais recente espetáculo de Elke Maravilha: Do Sabrado ao Profano.
25
Figura 14 – Acompanhada por músicos, Elke canta em cinco idiomas e declama poesias para falar do sagrado e do profano.
26
Figura 15 – Página do Jornal Estado de Minas que serviu de ponto de partida para o projeto.
39
Figura 16 – Cartela de cores.
42
Figura 17 – Alguns materiais que compõe a cartela de materiais.
42
Figura 18 – Painel de público-alvo.
43
Figura 19 – Painéis de referência/ inspiração.
45
Figura 20 – Linha Grécia - modelo ref. G8.002.
46
Figura 21 – Linha Copacabana - modelo ref. C8.003.
47
Figura 22 – Linha Copacabana - modelo ref. C8.003.
48
Figura 23 – Linha Grécia - Ref. G8.005. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
49
Figura 24 – Linha Grécia - Ref. G8.001. Painel (croqui e desenho técnico).
49
Figura 25 – Linha Grécia - Ref. G8.002, 003 e 004. Painel (croqui e desenho técnico).
50
Figura 26 – Linha Copacabana - Ref. C8.002. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
51
Figura 27 – Linha Copacabana - Ref. C8.001. Painel (croqui e desenho técnico).
51
Figura 28 – Linha Copacabana - Ref. C8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico).
52
Figura 29 – Linha Bantu - Ref. B8. 001. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
53
Figura 30 – Linha Bantu - Ref. B8.002. Painel (croqui e desenho técnico).
53
11
Figura 31 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico).
54
Figura 32 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico).
55
12
1. CAPÍTULO I
1.1
Introdução
O tema deste trabalho incentiva a pesquisa histórica através da exploração do Caderno
Feminino & Masculino no que se refere à moda mineira, às grifes, aos criadores, à cultura e
às personalidades da sociedade mineira que foram importantes para a moda, assim como
o próprio Jornal Estado de Minas. Uma homenagem ao jornal que, em 2008, completa 80
anos, representando o papel de mídia difusora, mais importante, tanto de moda como um
todo. Nada mais justo para um Trabalho Final de Graduação em Design e Negócios da
Moda.
Várias pesquisas, diretamente no Caderno Feminino & Masculino, foram feitas até surgir uma entrevista com uma personalidade um tanto excêntrica do cenário mineiro: Elke
Maravilha. A partir daí foram feitas buscas de outras fontes, em outros meios de comunicação, revistas, vídeos, internet, entre outras, na tentativa de reconstruir a história dessa
personagem, suas referências culturais, atuações profissionais, gostos, opiniões, peculiaridades de uma mulher de mil faces.
Esse trabalho se propõe explorar aspectos culturais, religiosos, iconográficos e estéticos
da persona de Elke Maravilha. Estudaremos, a seguir, alguns pontos de sua descendência
familiar, o contexto em que chegou ao Brasil e veio morar em Minas Gerais, os trabalhos
que desenvolveu ao longo da vida, sua condição de apátrida, seu espetáculo mais recente,
Do Sagrado ao Profano, que apresenta uma temática inquietante.
A família de Elke, suas histórias surpreendentes, seus trabalhos na televisão, cinema e
teatro e sua vida são vistas no segundo capítulo desta obra.
As crendices do povo vikings, alguns mitos gregos - citados por Elke como sendo os que
se relacionam muito bem com a sociedade atual, Eco e Narciso - e finalmente, os orixás e
o Candomblé são citados no terceiro capítulo.
Já no quarto capítulo é possível ler, passo a passo, a respeito do planejamento e desenvolvimento da coleção de calçados proposta desde o início.
Como se pode perceber o trabalho permeia a multiplicidade de referências, influências e inspirações e resulta em formas novas para vestir e adornar os pés de mulheres
exigentes.
13
2 CAPÍTULO II
2.1
Elke Giorgierena Grunnup Evremides
Figura 1 - Elke entre seus pais Liezelotte Von Sonden e Gerge Grunnupp, com 1 ano e meio de idade.
Fonte: http://revistatpm.uol.com.br/galeria_v2.php?foto=1&galeria_id=2
Elke Grunnupp nasceu em São Petesburgo, Rússia – antiga Leningrado, ainda como
União Soviética – no dia 22 de fevereiro de 1945. Seu pai, George Grunupp, era prisioneiro político na Sibéria – foi considerado traidor da pátria, na Rússia, ao lutar ao lado da
Finlândia contra sua anexação pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
Venceu a guerra, mas foi perseguido pelo regime stalinista – e fugiu para encontrar Elke
junto de sua mãe, Liezelotte Von Sonden, na França. Porém, chegando lá, foi preso novamente, porque os franceses eram aliados da União Soviética. Para não voltar para sua terra
natal, George fugiu novamente, e dentre os três países que recebiam imigrantes na época,
a Nova Zelândia, o Canadá e o Brasil, escolheu o Brasil.
Mas por que o Brasil? Eu perguntei isso ao meu pai e ele disse que o Brasil é o
melhor país do mundo, de infinitas possibilidades, onde as raças convivem como se
fossem uma só. Qual é a infinita possibilidade real? Aí eu percebi que ele quis dizer
que aqui o judeu se dá com árabe e vão juntos ao centro de macumba! Não é uma
maravilha?! Isso é a infinita possibilidade.
14
Figura 2 – “Vim com 6 anos para o Brasil. Meu pai lutou na guerra da Finlândia, quando minha mãe estava
grávida de mim. Tenho até hoje a faca que ele usou na batalha.”
Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html
Vieram de navio para a Ilha das Flores, Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Ficaram de
quarentena, como todos os imigrantes, para fazer exames médicos (atestar a segurança
quanto à doenças trazidas do exterior) e só poderiam sair quando arrumassem um emprego. George Grunupp publicou em um jornal, que circulava no país em inglês, Brasil Harold,
um anúncio se oferecendo para trabalhar no campo, pois gostaria de terminar os estudos
de agronomia. Pessoas interessadas no anúncio, de colônias alemãs e russas, apareceram
para buscá-los, porém, George não quis ir. Ele pensava que esses colonos não viviam nem
no seu país de origem, da época em que saíram de lá, nem no Brasil contemporâneo, e
ele estava disposto a virar brasileiro quando escolheu vir para cá. George costumava dizer:
“Olha, não leva a mal, mas eu vim para o Brasil. Quero virar brasileiro. Não quero ficar como
vocês, com um pé lá e outro cá...”. Assim sendo ficou aguardando, até surgir algum convite
mais interessante. Algum tempo depois um senhor de Minas Gerais procurou o Sr. Grunupp,
a partir do anúncio no jornal, oferecendo-lhe uma oportunidade para cuidar de sua fazenda abandonada, a Fazenda Cubango, no interior do estado, Itabira do Mato Dentro; mas
se apresentou um tanto quanto duvidoso sobre o interesse da família estrangeira em ficar
junto a negros, naquela terras. Mas o Sr. George Grunupp prontamente aceitou: “Problema
nenhum, viraremos negros”.
Chegando em Itabira, Elke se assustou com os negros, tinha medo pois não os conhecia,
nunca tinha visto. Seu pai explicou que não havia necessidade de temer, que os negros
eram iguais a eles, não havia nenhuma diferença, e que eles iriam precisar daquela gente,
15
da sabedoria deles quanto àquele lugar novo, nova terra, novo país, novos costumes; sendo assim, levou-a, à força, para a casa deles; chorando, Elke ficou, depois de apanhar
bastante do pai que não admitiu tal comportamento; à tarde foi difícil tirá-la de lá. Elke se
apaixonou por aquele povo e declara que são mais fortes, física e espiritualmente, que os
brancos.
Ficava fascinada vendo as negras desfazerem as tranças, o cabelo crespo e bastante
ouriçado a encantou. “Eu falava pra elas que elas tinham um cabelo maravilhoso e elas
diziam que cabelo bom era o meu, fininho, lisinho.” Posteriormente, Elke adotou o visual de
cabelos volumosos e frisados, e afirma ter usado o penteado tipo black power muito antes
dos próprios negros.
Figura 3 - Elke era apaixonada com o aspecto frisado do cabelo das negras após a retirada das tranças.
Gostou tanto que afirma utilizar o penteado tipo Black Power antes, até, dos próprios negros.
Fonte: www.elkemaravilha.com.br
Devido à essa convivência com o povo negro e sua cultura na infância, Elke criou uma
admiração imensa, e garante que:
(...) eu [Elke] tive muito privilégio de ser criada no meio de negros. É um privilégio
porque além de ser mais fortes, física e espiritualmente, que a gente, o negro adoça
né?! Uma sorte, o Brasil tem muita sorte! O negro nem tanto (...)
16
Seu senso estético é altamente influenciado pela cultura e aparência negra. Isso fica
muito claro ao se deparar com um uma, das várias imagens que cobrem a parede de seu
apartamento quarto-sala-cozinha no Leme, Rio de Janeiro, em que aparece pintada de
preto; Elke afirma que é possível ver uma negra na foto.
Figura 4 – “(...) você não vê que é uma loura pintada de negro, você vê uma negra ai! Olha a expressão!
Não é simplesmente uma pintura.”
Fonte: Revista Key 2ª edição
2.2
Mulher Maravilha
O nome original é Elke Giorgierena Grunnupp Evremides, mas seu pai, George Grunupp,
retirou o “Giorgierena” de seu sobrenome, quando ainda criança, devido à uma confusão que
sempre acontecia, acabava virando um trocadilho com um palavrão em russo - Giorgierna
por Giorgovna, e “GOVNA” em russo significa “merda”.
Elke é um termo viking e significa “alce”; essa cultura representa uma influência bem
maior que apenas o nome de Elke Maravilha, como veremos mais a frente.
Em 1972, o produtor Haroldo Costa conversou com Elke pelo telefone, convidando-a
para participar do programa Buzina do Chacrinha - no qual apresentava calouros, distribuía
17
abacaxis e perguntava “Vai para o trono, ou não vai?” -, como jurada de um concurso de
calouros.
Figura 5 - Ao lado de Pedro de Lara, jurados do Cassino do Chacrinha.
Fonte: http://gutocapucho.zip.net/arch2008-02-01_2008-02-29.html
(...) um dia tocou o telefone com alguém me convidando para ir no programa do
Chacrinha. Eu não conhecia porque não via televisão, mas aceitei. Então perguntei
a um amigo sobre como era o tal programa e ele me disse que era um programa de
auditório que tinha um apresentador que tocava uma buzina o tempo todo. Achei
legal, comprei uma buzina e entrei lá buzinando; o Painho se encantou comigo e eu
com ele. Foi assim que começou!
Figura 6 - Ao lado de Chacrinha, a quem, carinhosamente, chamava de Painho.
Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html
18
Já trabalhando na televisão, Elke ganhou o apelido, Maravilha, do jornalista Daniel Mas,
em 1973. As pessoas começaram a usar, até que ela mesma começou a se apresentar
como Elke Maravilha.
2.3 Mulher caleidoscópica
Elke começa a trabalhar aos doze anos de idade, em 1957, por ordem de seu pai. Ela
diz ter ficado muito triste se sentindo rejeitada, mas obedeceu à ordem e foi a mais jovem
professora de francês da Aliança Francesa e de inglês da União Cultural Brasil – Estados
Unidos. Aprender outras línguas foi um “hobby” incentivado pelo pai, que lhe ensinou várias; hoje Elke domina nove idiomas: português, alemão, italiano, espanhol, russo, francês,
inglês, grego e latim.
Gente eu chorei dois dias, me senti tão rejeitada. (...) Claro que ele continuou me
dando casa e comida, mas foi só para mim...sabe! (...) um ótimo empurrão(...).
Aos dezesseis era Glamour Girl em Belo Horizonte.
Figura 7 - Elke foi Glamour Girl de Eduardo Cury, em Belo Horizonte.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Elke.jpg
19
Na realidade, eu nunca soube o que queria ser quando crescesse. Até hoje não
sei, confesso. Agora: eu sempre soube o que eu não queria, graças a Deus! Meu
primeiro marido, Alex, um grego - eu já casei oito vezes. Eu chegando no Rio, bom: em
que vou trabalhar? Porque eu já tinha sido bibliotecária, em Atibaia. Era bibliotecária
e professora da Alliance Française. Em Minas (...) dava aulas particulares de latim.
Também de alemão. Fui tradutora e intérprete na Siemens. Depois, fui secretária
da Western Telegraph Company, uma firma inglesa de telegramas. Fui bancária
também. (...) Saí de casa pra viajar pra Europa. Peguei 20 dólares que eu tinha,
peguei um navio. Eu tinha 20 anos. O Alex, eu conheci no navio.
Aos vinte e quatro anos começou como modelo para o Guilherme Guimarães. Alex,
seu marido na época, era redator da revista Manchete, ficou sabendo que o Guilherme
Guimarães, o maior costureiro da época, ia dar um desfile. Ele levou Elke até a porta do
edifício de Guilherme, que a atendeu, experimentou uma roupa em seu corpo e lhe disse
a data de prova final do look e do desfile. Assim ficou combinado. No dia marcado, Elke se
preocupou:
Dei de cara com (...) a Vera [Barreto Leite] era ‘manequim vedette’ de Coco
Chanel. Depois, dei de cara com a Camille, ‘manequim vedette’ de Guy Laroche. Me
veio a consciência, né? Ah, sabe de uma coisa? Não sei fazer isso que elas fazem,
vou do meu jeito. Aí eu ria na passarela, eu não sabia tirar casaco direito, tirava do
meu jeito. Disseram que eu inovei. Inovei nada, é que eu não sabia mesmo.
Conta às gargalhadas.
Conheceu Zuzu Angel em 1970 no Jambert (cabeleireiro), e foi sua primeira modelo.
Eram muito amigas, mas Elke desfilou pouco para Zuzu. Elke acompanhou todo o drama
dela a respeito do sumiço de seu filho, Stuart Angel, e assistia às cenas de Zuzu vestida
de preto nas ruas abordando as pessoas e dizendo o que tinha acontecido a seu filho.
Figura 8 – Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, preso, torturado e morto durante a ditadura Militar no Brasil.
Fonte: http://bp3.blogger.com/_jaQNBOZhD8E/R6SiRdBEtmI/AAAAAAAADEo/qn2HAVbZP80/s1600-h/zuzuangel23.jpg
20
No aeroporto Santos Dummont, uma vez, Elke viu, espalhados pelo saguão, uns cartazes
que colocavam o nome de Stuart Angel como procurado da polícia – uma estratégia usada na época para livrar a culpa, pela morte e sumiço do corpo, dos órgãos de segurança.
Esbravejando contra a hipocrisia da atitude, Elke rasgou os cartazes e foi então detida e
encaminhada ao DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) onde ficou presa por seis
dias. Foi liberada com a ajuda da amiga Zuzu.
Figura 9 – “Entrei na prisão cidadã brasileira naturalizada e saí de lá apátrida. Eles tomaram meus documentos. Não é um documento que vai me dizer quem eu sou, eu sou brasileiríssima e pronto. (...) Nessa
situação, viajei duas vezes com passaporte amarelo da ONU para apátridas.(...) Tenho passaporte alemão
há cerca de dez anos, é bem mais confortável. Poderia ter pedido anistia, mas seria pedir desculpas, reconhecer erros que não cometi.”
Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html
Elke recapitula sua trajetória desde que chegou ao Brasil com seis anos de idade até a
chegada no Rio de Janeiro em 1969:
“É, viemos para o Brasil, primeiro Itabira, depois Acesita, Valadares, Jaguaraçu,
Atibaia, Bragança Paulista, depois voltamos para Minas Gerais, Belo Horizonte,
depois Porto Alegre. Fiquei três anos em Porto Alegre, depois fui morar um ano na
Alemanha, onde fui tradutora e intérprete, na Alemanha, pra Siemens. (...) Depois
morei um ano na Grécia, que virou minha paixão. (...) Depois eu morei um ano e
meio dentro de um carro, dentro de um Citroen, e eu não sei dirigir. (...)Não, não sei
dirigir, consciência. (...) Então eu morei dentro de um carro, do meu primeiro marido,
um ano e meio, pra conhecer tudo né. Aí depois viemos para o Brasil de novo, Porto
Alegre, mais dois meses em Porto Alegre e Rio de Janeiro, fim em 69.”
É rainha dos gays e dos presidiários. Em 1986, atuou de forma tão memorável como a
dona de um bordel, em Memórias de um Gigolô (minissérie dirigida por Walter Avancini,
21
exibida pela Rede Globo), que foi convidada a ser madrinha da Associação das Prostitutas
do Rio de Janeiro.
Rebobinando imagens antigas da tevê vemos Elke, antes dos 30 anos de idade, já com
as roupas e adereços que lhe deram fama, como jurada do Cassino do Chacrinha - a quem
ela, dengosa, chamava de Painho. Só dava nota dez aos calouros.
Figura 10 - Com o olho roxo escondido pelo chapéu usado de lado, Elke criou um artifício para esconder a
marca que apanhou do namorado, sem perder a classe e o estilo.
Fonte: http://blogdomaximo.zip.net/arch2008-02-10_2008-02-16.html
Elke nos conta que em sua aparência nunca buscou prezar pelo belo, mas sim mostrar
o que realmente ela é.
Um dia (por volta dos 18 anos) eu acordei de manhã, fui no meu armário e vi que
só usava preto. Eu pensei: “Nada disso”. Peguei uma calça e rasguei toda, botei
uma meia roxa, enchi a cara de batom, desgrenhei o cabelo e fui para a rua. Levei
porrada (de pessoas que se incomodaram com sua aparência). Meu dente entrou
pelo lábio, tenho a marca até hoje. Fui parar no (hospital) Miguel Couto. Mas pior
foi tomar cuspida na cara, como aconteceu em Ipanema. É difícil ser a primeira, a
ousar, a usar esse visual. Atualmente não assusto mais, mas tem gente que acha
que sou travesti. Agrado as minorias.
No decorrer dos anos se transformou em uma exímia conhecedora e consumidora/ criadora de perucas, maquiagem e adereços excêntricos, para se auto-transformar em um carro alegórico, como ela mesma já chegou a se intitular. Quando questionada sobre o porquê
22
de tamanha extravagância, Elke utiliza de uma só frase para tentar explicar: “Quem sabe
um dia eu consiga fazer de mim mesma uma obra de arte”. E afirma ser exatamente aquilo,
tal qual se apresenta, “eu sempre fui assim. Não sei ser de outro jeito”.
Elke também foi jurada do Show de Calouros, do Sílvio Santos, e depois comandou um
programa próprio no SBT. Compôs o elenco da novela Luz do Sol (Record, 2007) ao lado
de Luíza Tomé, Paloma Duarte, Leonardo Brício, Zezé Mota, entre outros nomes importantes da dramaturgia nacional, vivendo uma russa, chamada Urânia, que tinha uma iguana
de estimação. Há tempos atrás, em 1973, ela viveu a Sofia da minissérie A volta de Beto
Rockfeller, na TV Tupi. Além de ser a estrela absoluta do curta Elke no País das Maravilhas,
fez uma participação em Zuzu Angel, de Sérgio Rezende, como Liezelotte, uma cantora
alemã da noite, que interpreta uma canção alemã “In den kasernen” (nos quartéis) – Luana
Piovani a interpreta, nesse filme. Em 1999, Elke fez Xuxa Requebra. E teve atuação marcante em 1981, no filme Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco.
Figura 11 - Elke Maravilha (à dir.) interpreta cantora alemã em filme sobre Zuzu Angel, com Patrícia Pillar
como Zuzu e Luana Piovani como Elke Maravilha.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/inde30102005.shl
Mas é na década de 70 que sua figura não saiu das telonas. Participou de Os Pastores
da Noite, dirigido por Marcel Camus, em 77; Tenda dos Milagres, de 1976, com direção de
Nelson Pereira dos Santos; Xica da Silva, filmado em 74 por Cacá Diegues; Gente que
transa, do mesmo ano, uma chanchada com direção e roteiro de Sílvio de Abreu; O Rei do
Baralho (de 72, dirigido por Júlio Bressane, com Grande Otelo e Wilson Grey); Quando o
carnaval chegar, de Cacá Diegues; Os machões, de 71, direção de Reginaldo Faria, com
ele, Erasmo Carlos e Flávio Migliaccio no elenco. Sua estréia no cinema foi com a chanchada Barão Otelo no barato dos Milhões, com Grande Otelo, Dina Sfat e Pelé. O filme, de
23
1970, dirigido por Miguel Borges, representou o Brasil no Festival de Cinema de Teerã.
A lista de filmes é grande, ainda podemos citar Elke Maravilha contra o Homem Atômico,
de Gilvan Pereira, em 1978; Tanga, deu no New York Times, do Henfil, feito em 1987, e
A noiva da cidade, de Alex Viany, com trilha de Chico Buarque e Francis Hime. No teatro,
tem as experiências recentes com Gerald Thomas - no musical Luar trovado, inspirado
no Pierrot Lunaire, de Schönberg (o diretor a convidou para seu próximo espetáculo, uma
remontagem de Vestido de Noiva, do dramaturgo Nelson Rodrigues). E estrela o musical
Elke - do sagrado ao profano, direção e concepção de Rubens Curi.
Figura 12 – Elke dividiu o palco com a funkeira Deize Tigrona, as cantoras líricas Adélia Issa e Lucila
Tragtenberg no musical Luar Trovado.
Fonte: http://www.erikapalomino.com.br/erika2006/lifestyle.php?m=3764
2.4
Elke: do Sagrado ao Profano
Por que as pessoas e culturas que se dizem sagradas, têm que renegar o
profano? Por que as pessoas ou culturas que são profanas, precisam rejeitar o
sagrado? E onde começa um e termina o outro, já que todos nós somos sagrados
e profanos?
O espetáculo, dirigido por Rubens Curi, tenta remontar a velha discussão sobre Deus e
o Diabo, a santidade e a profania. Nele, Elke, interpreta canções em cinco idiomas – russo, grego, alemão, espanhol e português -, poemas, e ainda conta histórias da sua vida.
Ela não chega a ser, propriamente, uma boa cantora, porém cria no palco uma atmosfera em que acontecimentos inesperados despencam a cada minuto. Logo no começo do
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espetáculo, canta algo do folclore mineiro, e leva o espectador a se perguntar em que lugar
do planeta ele veio parar, ou de que planeta é a pessoa que está no palco, ou ambos. Mas
imediatamente começa a contar histórias surpreendentes, que aos poucos dissipam o estranhamento, como nos explica SANCHES (2008).
Figura 13 - Cartaz do mais recente espetáculo de Elke Maravilha: Do Sabrado ao Profano.
Fonte: www.elkemaravilha.com.br
No repertório podemos ouvir Sueli Costa e Cacaso (Dentro de Mim Mora um Anjo); Antonio
Nóbrega e Wilson Freire (Quinto Império); folclore mineiro (Potpourri mineiro); D.Progodine
& Inah Bangel (Noites de Moscou – em russo); folclore alemão (In Den Kasernen), Mikis
Theodorakis (Agapi Mou – em grego); Villa Lobos e Mario de Andrade (Viola Quebrada);
Norberto Lopez, Daniel Maccaferri, Leandro Ferro e Paulo Cardoso (Primavera); Falcão
(Holliday Foi Muito); Atahualpa Yupanki (Guitarra Digamelo Tu – em espanhol); folclore
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afro-brasileiro (Oxum), Cezar Altai (Insônia Night Club); Titãs (Lugar Nenhum). E ainda
textos de Carlos Drummond de Andrade (Elegia); Konstantin Kavafis (Fui); Etienne de La
Boetie (Tirania - texto da idade média, século XVI); São João Evangelista (Apocalipse);
Cecília Meireles (Cântico I); Cairo Trindade (Caso Perdido).
Com essa variedade de estilos Elke propõe uma discussão sobre o que é sagrado e o
que é profano de forma artística, em um espetáculo musical. As fronteiras entre essa separação maniqueísta são colocadas em cheque.
“Deus é o poeta, mas a música é de Satanás.” (Machado de Assis – Dom Casmurro).
Nesse trecho de Machado de Assis, publicado em 1899, podemos perceber que essa já é
uma discussão antiga; nesse caso Machado apresenta uma postura cética, que também é
discutida em diversos outros livros seus, uma visão pessoal, para a questão proposta pelo
espetáculo: o Diabo é o avesso de Deus, Deus é o avesso do Diabo, e eles são o mesmo,
como define bem Bernardo.
O show não pretende acalourar a discussão, nem a dar por finalizada, mas reunir conceitos, posturas e idéias diversas a seu respeito.
Figura 14 - Acompanhada por músicos, Elke canta em cinco idiomas e declama poesias para falar do sagrado e do profano.
Fonte: http://dykerama.uol.com.br/src/?mI=3&cID=55&iID=1604&nome=Elke_Maravilha
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2.5
Mulher extra-vagante
“Eu sou muitas pessoas em 24 horas.”
Elke Grunnup, ou Maravilha, possui uma variedade enorme de referências culturais.
Desde sua família – pai russo, mãe alemã, vó mongol, vô azerbaijani –, seu nome de origem viking - “Meu nome, Elke, é uma palavra usada pelos vikings. Significa alce, animal
chifrudo.” –, sua infância no interior de Minas Gerais entre negros, suas viagens pelo mundo, entre outras.
Amor, nunca fui uma pessoa de entrar em sistema, eu navego em todas. Por
isso que me deram, outro dia, uma frase do Álvaro de Campos, o heterônimo do
Fernando Pessoa: ‘Eu ergo em cada canto de minh´alma um altar a um deus diferente’. (...) Já viajei muito, perdi a conta dos países pelos quais passei. Trago comigo a Europa inteira, conheço até os países que nem aparecem no mapa. Mas, fora
o Brasil, só outros três me fascinam: Grécia, Bolívia e Japão.
Elke afirma que tem uma relação com o misticismo muito aguçada: “Em casa, tenho pelo
menos uma menção a cada religião do mundo e sou tudo isso.” Cristo, Oxalá, Buda, Oxalufã,
Maomé, Oxossi, São Francisco, Ossaim, Dalai Lama, Oxum, Nelson Mandela, Ogum,
Alexandre o Grande, Xangô, Clementina de Jesus, Nanã, Tupã, Oba, Itamar Assumpção,
Seu Zé Pilintra, Michelangelo, Logunedé, Krishna, Oxumaré, Madre Tereza de Calcutá,
Iemanjá, Zumbi dos Palmares, Iansã...Viva o espírito de Elke!
Gosto de candomblé, de umbanda. Sou de Xangô e de Nanã, a velha Nanã
Buruquê. Sou da velha... A cultura negra é tribal. O negro continua tribal, as
comunidades são tribais. E eu gosto muito de tribo. E adoro, adoro, adoro os
sertanejos. Fui criada em Minas, lá começa o sertão. O sertanejo me parece um
cactus. Você descasca, ele é tão doce, saboroso. Alimenta. Sou apaixonada pelos
sertanejos. Gosto muito de vir ao Nordeste, aqui tem um gênio em cada esquina.
Gosto de ir em lugares que me ensinem alguma coisa. Sou uma turista diferente,
detesto shopping. Agora, sentar e ouvir o que as pessoas têm pra me contar, como
as pessoas vivem, o jeito como elas interagem, me encanta. O Norte também é
muito interessante, o Amazonas é um absurdo. Gente, os deuses moram lá no
Amazonas ainda... Que, de resto, o Ceará é maravilhoso mas os deuses já fugiram
daqui, né? Os deuses já fugiram do Rio de Janeiro, já fugiram de Minas Gerais, os
deuses já fugiram. É o Amazonas, só. Fico arrepiada (...). E arrepio bom, nossa
senhora! Tô falando e me arrepio. O que é aquilo? O mundo inteiro está de olho
no Amazonas, porque eles querem, até eu que sou mais boba quero. Mas deixa na
mão do caboclo. O caboclo não é predador.
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Sou meio panteísta. Todos os deuses que estiveram no meu alcance, eu os tenho
em casa, em imagem ou simbologia ou energia. Porque penso que não foi Deus
que criou a gente à sua imagem e semelhança, nós é que criamos Deus à nossa
imagem e semelhança. Você vê: povos violentos criaram um deus mais violento;
povos mais mansos criaram um deus mais manso. Depois que Moisés inventou
esse Deus que nem cara tem, é complicado...Um deus só é igual a um partido só,
é ditadura, né? Gosto muito da mitologia grega porque ela explica exatamente tudo
do ser humano.
Na tentativa de abordar essas influências religiosas que atuam na vida de Elke Maravilha,
nos próximos capítulos falaremos resumidamente sobre a mitologia viking e grega – que
possuem um panteão vasto e, aparentemente, apresentam traços de similaridade. Mas é
importante notar que não existe uma relação mais estreita entre essas duas culturas que
viveram em ambientes e épocas distintas – e ainda tentaremos abordar alguns pontos sobre os Orixás do Candomblé.
3
CAPÍTULO III
3.1
Influências e referências
3.1.1
Os vikings
A mitologia viking, nórdica, germânica ou escandinava, se refere aos mitos (origem, desenvolvimento e significação), crenças e costumes dos povos (os Fineses, os Teutões - ou
Teutos - e os Escandinavos propriamente ditos) que viveram na região ao extremo norte da
Europa, a península Escandinávia, em tempos antigos e medievais, por volta do século VIII
a.C. (FIGUEIREDO, 2000).
Os nórdicos acreditavam que a terra era como um enorme disco liso onde existiam, não
claramente definidos, os territórios de cada povo. Os deuses viviam em Asgard, que tinha o
acesso dado através do arco-íris, a ponte de Bifrost, os gigantes moravam em Jotunheim Casa dos Gigantes - , a morada dos mortos (Niflheim – terra governada pela deusa Hel), as
minas dos anões (Nidavellir), o repouso dos elfos luminosos – conhecidos como Ljósálfar
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(Alfheim) e dos elfos escuros (Svartalfheim), entre outros povos.
Quando colocamos acima a falta de fronteiras claramente definidas nos referimos à terras que se sobrepõem e muitas vezes designam o mesmo espaço físico, pois diferentemente de outras mitologias, os vikings não traçaram esses limites por mares, oceanos ou
rios. Assim sendo podemos identificar a existência de nove mundos principais na mitologia
nórdica: Ásgarðr (Asgard - o céu dos Vikings), Miðgarðr (Midgard - mundo dos homens),
Jötunheimr (Jotunheim – Casa dos gigantes), Vanaheimr (Vanaheim - repouso dos Vanir),
Álflheimr (Alfheim - repouso dos elfos luminosos), Svartalfaheimr (Svartalfheim - repouso
dos elfos escuros), Nidavellir (as minas dos anões), Muspellheimr (Musphelhein - mundo de
fogo), e Niflheim (Niflheim - o mundo das névoas) .
Os nórdicos contavam que no início do planeta só existia Ginungagap e que passado
muito tempo surgiu, ao sul, uma terra quente, de brasas e chamas de fogo, Musphelhein,
e ao norte uma região fria, de gelo, neve e ventos, Niflheim (LANGER, 2006). Até que os
elementos do norte e do sul se chocaram em Ginungagap e nasceu, de um bloco de gelo
derretido, um gigante primordial, Ymir, que dormiu durante muitas eras. Suas gotas de suor
originaram outros seres. Do gelo também surgiu uma vaca gigante, Audumbla, que com seu
leite alimentava Ymir através de quatro rios que se formou. Audumbla também fez surgir
o primeiro deus, Buro, se alimentando e lambendo o gelo de Ymir. Buro é pai de Borr, que
por sua vez é pai de Odin, e seus irmãos, Vili e Ve, os primeiros Æsir – exite três clãs de
divindades vikings: os Æsir, os Vanir e os Iotnar; sendo que a separação entre os Æsir e os
Vanir é relativa, pois na mitologia os dois se reconciliaram após uma enorme guerra, ganha
pelos Æsir.
A religião viking era bastante complexa, buscava explicar, assim como a Mitologia Grega,
fenômenos e reações inexplicáveis, mas se baseava no princípio de estimular o povo a melhorar de vida; tal qual, afirma Figueiredo (2000) as doutrinas protestantes do século XVI.
A concepção de paraíso e inferno é bem parecida com a católica: o paraíso, ou Walhalla
como era chamado pelo povo viking, era um lugar banhado de sol, de clima ameno e solo
fértil, enquanto o inferno, ou Hel, era coberto pela noite eterna, gélido e de terras estéreis.
Observando essas concepções, é possível perceber que o Hel (nome que inspirou nos ingleses a palavra Hell, que em inglês quer dizer Inferno) era bem semelhante à Escandinávia,
no Círculo Polar Ártico, onde em boa parte do ano, as pessoas são submetidas à chamada
noite eterna, e em outras épocas, o sol nasce à meia-noite, o que incentivava o povo a buscar terras mais quentes, férteis e onde o sol dividisse espaço com a noite.
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Movidos pela busca do paraíso os nórdicos partiam rumo à novas terras, com o objetivos
de colonizá-las, deixando para trás a idéia de que o Walhalla/paraíso era para os corajosos
que se atrevessem a tentar explorar o desconhecido, aos desbravadores, movendo todo o
povo nessa incessante busca de dominar novos territórios; fazendo assim, serem conhecidos em toda a Europa como povos bárbaros, conquistadores, grandes colonizadores.
Uma particularidade da religião viking, conhecida como Ásatrú, ou Vanatrú, é a ausência
de templos, os cultos eram localizados em locais que proporcionassem contato direto com
a natureza, longe da civilização (cachoeiras, bosques, lagos, florestas).
Os nórdicos acreditavam em vários deuses, sempre ligados à forças da natureza. O
panteão viking é bastante vasto e tenta se adaptar às necessidades de seu povo, se mostrando uma religião bastante evoluída (FIGUEIREDO, 2000). Abaixo segue uma lista com
os principais nomes do Asgard:
• Odin era o principal Deus Viking. Ele governava Asgard e também Midgard. Senhor da
Magia, da Morte e da Guerra, empunhava a lança Gungnir, que nunca erra o alvo. Também
era o Protetor dos Estadistas (governantes) e dos Poetas. Segundo o Horóscopo Viking
(que diz as características do Deus que rege o dia do seu nascimento), Odin se mantinha
informado sobre os acontecimentos em toda a parte através de seus dois corvos, Hugin
(Pensamento) e Munin (Memória), que vigiavam o mundo e contavam tudo o que se passa
e o que já se passou no mundo. O possível análogo de Odin na mitologia Grega é Zeus,
por se tratar do Deus dos deuses.
• Frigg era a esposa de Odin e deusa da Fertilidade. Suas possíveis análogas na Mitologia
Grega são Era, por se tratar da mulher de Zeus e por ser a Deusa dos Partos, ou Gaia, por
se tratar da Mãe Terra, a Fertilidade em pessoa.
• Thor é com certeza o Deus mais conhecido do Ásatrú devido ao desenho animado “Thor:
o Deus do trovão”. Thor era, além de Deus do Trovão, também Deus da chuva, do relâmpago e da vingança. Ele era o melhor entre todos os guerreiros de Asgard. Empunhando
seu mítico martelo de pedra chamado Mijollnir, ele era invencível em qualquer batalha. O
possível análogo de Thor na Mitologia Grega é Apolo, por ser filho de Zeus, assim como
Thor é filho de Odin, além disso, Apolo é o Deus do Sol, e Thor também é Deus de entidades celestes.
• Loki também é filho de Odin, irmão de Thor, era um Deus curioso, por ter, ao mesmo
tempo, o Bem e o Mal sob seu domínio.
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• Tyr era o Deus dos Guerreiros e do Combate (não da Guerra). Era o líder do exército dos
deuses. Seu possível análogo na Mitologia Grega é Marte, o Deus da Guerra.
• Frey trata-se de um dos principais Deuses do Ásatrú. Ele é o Rei dos Duendes e o Deus
masculino da Fertilidade.
• Freya é irmã de Frey, é a Deusa do Amor e da Magia.
• Heimdal é o porteiro de Asgard, ele guarda a única forma de acesso ao Reino dos deuses: a ponte de Bifrost.
• Njord é o senhor dos Mares, por isso é um Deus muito importante para os Vikings, exímios navegadores; era também o Protetor dos Marinheiros e Pescadores.
• Idun é Deusa da Saúde, possuía uma caixa de madeira mágica, onde guardava um
infinito número de maçãs as quais tinha a obrigação de servir a todos os deuses, todos os
dia. Essas maçãs é que lhes garantiam a força e a eterna juventude. Na Mitologia Grega
existia a crença de que os deuses se mantinham fortes e jovens porque comiam Ambrósio
e bebiam Néctar todos os dias, servidos por Dionísio/ Baco, o Deus do Vinho, por isso ele
é o possível análogo de Idun.
• Nornes são um clã de deusas, como afirma o horóscopo viking, responsáveis pela guarda e preservação da árvore Yggdrasill (Uma árvore mágica que dividia a terra, nas profundezas das suas raízes moravam os anões, ao redor de seu caule estava o mundo dos
homens e, acima de suas folhas, estava a terra dos deuses – Asgard). As três irmãs deveriam mantê-la longe das vistas dos homens e fazer chover hidromel (bebida alcoólica a
base de mel fermentado, típica dos Vikings) sobre suas raízes todos os dias, para que ela
nunca morresse, o que seria o fim do mundo. Outra função das Nornes é controlar a sorte,
o azar e a providência. Urd era a irmã mais velha e vivia olhando para trás, por cima do
ombro; é a Deusa do Passado. Verdandi é bem jovem e gosta de olhar para o chão; é a
Deusa do Presente. Já de Skuld, não se pode precisar a idade, pois ela vive enrolada em
panos negros e com um capuz na cabeça, além disso, ela leva um pergaminho nas mãos,
pergaminho esse que contém os segredos do Futuro, do qual ela é a Deusa.
• Dvalin é o Senhor dos Anões, além de ser o Deus do mundo subterrâneo.
• Valkyrias são entidades femininas, mensageiras e guerreiras de Odin, que aparecem
para os guerreiros que estão prestes a morrer nas batalhas. Apenas estes podem vê-las,
para os demais elas são invisíveis. Elas têm a missão de conduzir os mortos até Walhalla
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ou Hel.
Vários outros mitos também povoavam o imaginário viking (como anões, gigantes, dragões, duendes, elfos, gnomos e muitos outros) e hoje transitam em universos fantásticos, como os RPG’s (Dungeons and Dragons ou Dragonlance), livros como os de J. R. R.
Tolkien (O Senhor dos Anéis), séries e desenhos (Asterix, Cavaleiros do Zoodíaco, Thor: o
Deus do Trovão, entre outros).
De acordo com Figueiredo (2000), os anões nórdicos, não são exatamente como conhecemos hoje os homens de estatura mais baixa, são seres mitológicos criados por eles; se
apresentam exatamente como o estereótipo do viking atual: utilizam elmos com chifres, botas, roupas peludas e um machado. Os nórdicos acreditavam que os anões eram imortais
e viviam embaixo da terra.
Os gigantes são seres muito especiais na mitologia escandinava, fazem parte dos mitos
de outras culturas, mas têm o papel importante de serem o ser primordial dos vikings, Ymir.
Possuem o dom de metamorfose, e a eles são atribuídos os fenômenos meteorológicos
mais violentos (LANGER, 2006).
Já os dragões fazem parte de um mito muito mais antigo, em torno de cinco mil anos antes de Cristo, na China, que tentava explicar a origem de ossadas enormes de dinossauros.
De forma desconhecida, esse mito viajou pelo tempo e pelo Oriente até atingir as terras
européias; e os dragões, tal qual conhecemos hoje, como sendo os seres mais poderosos,
e portanto, mais temidos no mundo, são os do imaginário Viking, e não chinês.
Outros seres que habitam a mitologia nórdica são os Duendes, sabotadores natos, que
gostavam de roubar coisas e escondê-las dos homens, representam um papel semelhando
ao Saci Pererê no folclore brasileiro; enquanto os Elfos eram seres bem parecidos com
os humanos, porém menores, com orelhas pontudas e poderes especiais, invocados para
ajudar ou prejudicar as pessoas.
E, por fim, os Gnomos, bem parecidos com os duendes, eram bons, protetores da natureza, dos animais e das florestas, e guardiões de um pote de ouro de Asgard.
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3.1.2
Os gregos
“Falo que meu primeiro país hoje é o Brasil e o meu segundo país é a Grécia. (...) Que aquela
terra sábia me coma!”
(Elke Maravilha)
Os mitos gregos estão por toda parte ainda hoje. Essas narrativas, que um dia povoaram não só a imaginação como também a vida cotidiana de todo um povo, perduraram no
tempo e ainda hoje fascinam escritores, cineastas, escultores, psicólogos, antropólogos,
etc. Pode-se fazer delas o uso mais variado, mas é curioso que guardam, em si e por si
mesmas, um interesse inabalável para os leitores comuns, pessoas que sempre sentirão
prazer em mergulhar na poesia de deuses nada perfeitos, cheios de defeitos muito humanos, ninfas que definham de amor por mortais, heróis que redimem a humanidade, vozes
encantadoras de sereias, monstros brutos de um olho só, derrotados pela inteligência do
homem. Os estudiosos podem tentar analisar os mitos como forma primitiva de explicação
racional do universo, como ciência ingênua e rudimentar; outros podem vê-los como projeção de nossa vida inconsciente, entre tantas outras tentativas de menosprezá-lo, mas ele
sobrevive inatingível, com o impacto de sua força narrativa. “O mito é o nada que é tudo”, já
disse Fernando Pessoa, criador de mitos, como todo poeta. (VASCONCELLOS, 1998)
Os gregos antigos diziam que seus deuses tinham as mesmas paixões, defeitos e qualidades dos homens, por isso estavam sempre envolvidos em aventuras, características que
definem o sentido da palavra mitologia, do ponto de vista da fabulosa história dos deuses,
semideuses e heróis da Antiguidade greco-romana. Os próprios gregos moldaram seus
deuses e, ao contrário das outras mitologias, tinham deuses humanizados, fazendo do céu
um ambiente familiar. As divindades principais habitavam o Monte Olimpo e formavam a
corte de Zeus (maior e mais poderosa das doze divindades gregas do Olimpo, o Júpiter
dos romanos), o deus supremo. Além das muitas divindades secundárias, havia também
os semideuses, deuses ilegítimos, filhos de deuses com mortais, que por isso dependiam
dos deuses. Dentro desses conceitos religiosos bem diversificados, cabia uma verdadeira
democracia de pensamentos, desde os materialistas até os que acreditavam no julgamento
após a morte. Esta evolução ocorreu durante cerca de 25 séculos, desde o segundo milênio
a. C., até o fechamento das escolas pagãs pelo imperador bizantino Justiniano (329 a.C.).
(FERNANDES).
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Bom ela [a psiquiatra Drª Anizia da Silveira] dizia isso. Que eu era uma sacerdotisa
dionisíaca! Não sei, nunca perguntei [o que quis dizer com essa citação] a ela, mas,
bom, vamos dizer: Dionísio, vamos começar por Dionísio. Dionísio era o deus dos
prazeres, que pro latino é Baco, é Dionísio. Deus do teatro.(...) Sabe, então Dionísio
o Deus do teatro, o Deus da tragédia.
• Dinísio - Dioniso, Diónisos ou Dionísio - Deus grego equivalente ao romano Baco, especificamente deus do vinho, das festas, do lazer, do prazer, do pão e mais amplamente da
vegetação, um dos mais importantes entre os gregos e o único deus filho de uma mortal.
Tenho a impressão de que agora estamos atrelados ao mito de narciso e Eco.
Narciso, aquele belíssimo, que se apaixonou por si mesmo. Ficou: eu, eu, eu, eu,
eu, eu sou o máximo e fudeu o mundo. Não tem gente assim? Enquanto Eco era
apaixonada por Narciso. Ela, ao contrário, não olhou para si. E, como os deuses
gregos eram sábios, castigaram ela por causa disso. Colocaram ela entre as
montanhas e repetindo só os “finalmentes”. Você repara que tem muita gente que é
eco. Editaram certas coisas e estão repetindo que nem papagaio. Lobotimizados.
Para explicar o mito de Eco e Narciso, segue abaixo um trecho do texto de Vera Lúcia
Soares:
Pelo mito ficamos sabendo que Narciso era filho do rio Cefiso e da ninfa Liríope,
nome que lembra uma flor, o Lírio. Pois bem, dessa união do rio com a flor do
Lírio nasceu o jovem Narciso, considerado o mais belo dos mortais. De uma beleza
nunca vista, Narciso tornou-se a paixão de todas as jovens da Grécia. Até mesmo
as ninfas, divindades ligadas aos elementos da natureza e conhecidas por sua
formosura, estavam irremediavelmente presas à beleza de Narciso. E, dentre estas,
Eco uma jovem ninfa conhecida por sua tagarelice.
Zeus, o imortal deus do Olimpo gostava de dar suas escapadas amorosas pelo
mundo dos mortais, atrás de belas jovens. Casado com a ciumenta Hera que o
vigiava constantemente, pediu à ninfa Eco que distraísse sua esposa com sua
conversa, enquanto ele descia à terra para mais um de seus encontros amorosos.
Hera, que não era boba e conhecia o marido que tinha, percebeu a artimanha e
castigou a ninfa, condenando-a a não mais falar: repetiria tão-somente os últimos
sons das palavras que ouvisse.
Mas, era verão e a jovem ninfa estava apaixonada por Narciso, que partira com
alguns companheiros para uma caçada nos bosques. Sem se deixar ver, Eco seguia
o amado, ansiando por ele. Acariciando o amado com seu olhar, Eco perscrutava-o
intensamente, como que querendo sorvê-lo aos turbilhões, tentando captar o
segredo daquele sentimento, daquela paixão.
Alheio aos sentimentos despertados em Eco e tendo-se afastado dos amigos,
Narciso começou a gritar por eles ouvindo em resposta o som de sua própria voz
a ecoar pelas montanhas afora… A apaixonada ninfa, castigada pela Deusa Hera,
não podia falar! Eco ouvia a voz de seu amado, mas não podia lhe falar e, sem a
possibilidade do encontro, entristecida, sentindo-se rejeitada por Narciso, a jovem
deixou de se alimentar, definhando até transformar-se em uma rocha. Capaz apenas
de repetir os derradeiros sons do que ouvia. As demais ninfas, condoídas com a
sorte de Eco e irritadas com o que consideravam uma insensibilidade por parte de
Narciso, pediram vingança a Nêmesis. E a deusa da justiça distributiva o condenou
a amar um amor impossível.
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Numa tarde de verão Narciso, sedento, aproximou-se da límpida fonte de
Téspias para mitigar a sede. Debruçando-se sobre o lago que formava um espelho
imaculado, ele viu-se refletido nas águas e apaixonou-se pela própria imagem. Não
conseguindo mais se afastar da própria imagem, morreu de inanição, tal qual a
ninfa Eco. Em seu lugar foi encontrada uma delicada flor amarela, com o centro
circundado de pétalas brancas. Era o Narciso.
3.1.3
Os negros e o candomblé
“O candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrário da maioria das religiões.”
(Pierre Verger)
Os navios negreiros que chegaram entre os séculos XVI e XIX traziam mais do que africanos para trabalhar como escravos no Brasil Colônia. Em seus porões, viajava também
uma religião estranha aos portugueses. Considerada feitiçaria pelos colonizadores, ela se
transformou, pouco mais de um século depois da abolição da escravatura, numa das religiões mais populares do país.
Segundo o IBGE, em 1988, 0,6% dos chefes de família (ou cônjuges) seguiam cultos
afrobrasileiros. Um levantamento do Instituto Gallup de Opinião Pública, no mesmo ano,
indicou que candomblé ou umbanda era a religião de 1,5% da população. São índices ridículos se comparados à multidão que lota as praias na passagem de ano, para homenagear
Iemanjá, a orixá (deusa) dos mares e oceanos; mas a gerente de pesquisa do IBGE, Elisa
Callaux, explica que os próprios fiéis evitam assumir, por medo do preconceito.
Vamos conhecer agora um pouco dos mitos, ritos e entidades do Candomblé.
3.1.3.1 O início
No começo não havia separação entre o Orum (O céu dos orixás) e o Aiê (a Terra dos
humanos). Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que certa vez, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O branco
imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum (Senhor do Céu, Deus
Supremo).
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Olorum irado com a sujeira e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro
divino e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao céu
dos orixás e retornar de lá com vida; e os orixás também não podiam vir ao Aiê com seus
corpos.
Isoladas dos humanos as divindades entristeceram-se. Os orixás tinham saudades de
suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar-se com
Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à
Terra. A condição imposta por Olodumare, foi que os orixás teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Oxum, recebeu de Olorum um encargo: preparar os mortais para receberem em seus
corpos os orixás. Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. De seu
sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou-as, cobriu de tecidos e laços,
perfumou com ervas seus corpos, enfeitou seus colos com colares de contas, entre outros
acessórios. Finalmente ficaram prontas para os deuses.
Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs.
Enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, cantavam, davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Finalmente os orixás podiam de novo conviver com os mortais, e ficaram felizes.
Estava inventado o candomblé. (MANUELA)
3.1.3.2 Os orixás
Segundo a tradição, os deuses do candomblé têm origem nos ancestrais dos clãs africanos, divinizados há mais de cinco mil anos. Acredita-se que tenham sido homens e mulheres capazes de manipular as forças da natureza, ou que trouxeram para o grupo os conhecimentos básicos para a sobrevivência, como a caça, o plantio, o uso de ervas na cura de
doenças e a fabricação de ferramentas.
Os orixás estão longe de se parecer com os santos cristãos. Ao contrário, as divindades
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do candomblé têm características muito humanas: são vaidosos, temperamentais, briguentos, fortes, maternais ou ciumentos; enfim, têm personalidade própria. Cada traço da personalidade é associado a um elemento da natureza e da sua cultura: o fogo, o ar, a água,
a terra, as florestas e os instrumentos de ferro.
Na África Ocidental, existem mais de duzentos orixás, mas, na vinda dos escravos para
o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no
país está reduzido a dezesseis. E, mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda
cultuados: os outros quatro Obá, Logunedé, Ewa e Irôco raramente se manifestam nas festas e rituais. (CAMPOLIM, 1995)
Segue abaixo um pouco sobre cada um desses doze orixás.
• Exu é o senhor dos caminhos, caminhos que levam e trazem, e fazem as pessoas se
encontrarem ou distanciarem-se. É quem faz com que os ritos sejam cumpridos, principal
responsável pela ligação do mundo espiritual ao mundo material. É o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Exu é vaidoso e viril. Se tratado com consideração, reage mostrando-se serviçal e prestativo. Esquecer de lhe fazer oferendas, por
outro lado, significa esperar dele uma reação à altura. Por essa razão, Exu, talvez, seja o
mais humano dos Orixás, nem completamente mau, nem completamente bom. É o intermediário entre os homens e os deuses. Exú foi, erradamente, sincretizado pelos primeiros
missionários católicos como diabo cristão devido a esses fatores.
• Ogum é o Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. Sabe trabalhar com metal e, sem
sua proteção, o trabalho não pode ser proveitoso.
• Oxossi é o deus da caça e o grande patrono do candomblé brasileiro.
• Obaluaiê é o médico dos pobres. É Deus da peste, das doenças da pele e posto, atualmente, como Deus da AIDS.
• Oxum é a divindade dona das águas doces (rios, fontes e lagos). É também deusa do
ouro, do jogo de búzios e do amor. É senhora da fertilidade, da gestação e do parto, é a
protetora das crianças, cuida dos recém-nascidos, lavando-os com suas águas e folhas
refrescantes. Vaidosa, é a mais bela das divindades e a própria malícia da mulher-menina.
Assim sendo também é conhecida como a deusa da vaidade, sendo vista como uma orixá
jovem e bonita, mirando-se em seus espelhos e abanando-se com seu leque.
• Iansã (Oyá) é senhora dos ventos, das tempestades, dos raios e do Rio Niger – que em
37
Ioruba chama-se “Odo Oyá” – e dona da alma dos mortos.
• Ossaim é a divindade das folhas medicinais e liturgias. Todas as ervas, chás, folhas e
vegetação pertencem a ele; é quem desperta, através das palavras mágicas (ofós), os poderes das folhas. Usa esses segredos no preparo de poções que curam.
• Nana (Nana Buruku) - o termo nanã significa raiz, aquela que se encontra no centro da
terra - é uma orixá muito antiga e por isso muito respeitada e reverenciada. É considerada
uma das mais antigas divindades das águas. Não das águas turbulentas de alto mar, como
Yemanjá, nem das águas calmas dos rios, reino de Oxum, mas das águas paradas dos
lagos e dos lamacentos pântanos, que lembram as águas primordiais que havia no mundo
antes de sua criação.
• Oxumaré é o senhor do exótico e do mistério. No ciclo “vida e morte”, ele também está
presente. É simbolizado pelo arco-íris e pela cobra mordendo a própria cauda, numa atitude que representa o ciclo vital: vida, morte e renascimento.
• Yemanjá - o nome Yemanjá vem da tradução do iorubá “Mãe cujos filhos são peixes”
- tem seu domínio nas profundezas das águas dos mares e dos oceanos. É a mãe de
todos os orixás e representada com seios volumosos, simbolizando a maternidade e a
fecundidade.
• Xangô é viril, atrevido e justiceiro. De personalidade muito forte, deus do raio, do trovão,
da justiça e do fogo. É um orixá temido, respeitado e violento, porém justiceiro. Costuma
se dizer que Xangô castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores.
• Oxalá - “O grande orixá” – ocupa uma posição única e incontestável, o mais importante orixá e o mais elevado do panteão africano, o mais alto do panteão Yorubá, abaixo de
Olodumaré, é o dono da argila e da criação. Oxalá é o pai de todos os deuses africanos,
grande chefe da ciência espiritual, Deus purificador.
38
4
CAPÍTULO IV
4.1
Projeto
4.1.1
Briefing
• Tema do projeto: “Estado de Minas e a Moda: 80 anos de história”.
Figura 15 – Página do Jornal Estado de Minas que serviu de ponto de partida para o projeto.
Fonte: Jornal Estado de Minas. Caderno Feminino & Masculino. 31/07/2005.
39
• Sub-Tema pessoal: QUE MARAVILHA: Elke, a apátrida de Itabira!
Apátrida de Itabira
Elke, mulher maravilha, russa grega afegã de Dakar, diamante, safira.
Elke, mulher maravilha, índia ninja titã néctar lixia guavira iara curupira urtiga vampira
Elke, mulher maravilha, orixá do Irã nó, manjar, lúcida que delira
Elke, mulher maravilha, albina catalã pop star mineira da Síria curió corruíra orquídea baunilha
Elke, mulher maravilha, galega talismã ímpar, par, brilha quanto fervilha
Elke, mulher maravilha, pisciana bambã verbo amar, musa culta caipira Clementina da vila, antídoto de
ziquizira
Elke, mulher maravilha, loba tcham-tcham-tchã milenar, luz de farol de milha
Elke, mulher maravilha, Pomba Gira, Iansã Iemanjá, Maria Padilha aranha, armadilha, bruxa que fada vira
Elke, mulher maravilha, imã elo elã singular Oxum, versus mentira
Elke, mulher maravilha, prussiana no afã de doar apátrida de Brasília Guairá, Altamira, pra acabar
apátrida de Itabira
(Itamar Assunção)
• Linhas de pesquisa:
- Elke Grunupp e suas origens (pai russo, mãe alemã, vô azerbaijani – que nasceu no
Azerbaijão –, vó mongol, além da descendência viking):
“E gosto muito dessa brincadeirinha de misturar culturas. Numa produção,
misturo viking com Tailândia, com África Negra, com Marrocos, com Brasil, com
tudo, e fica bom.”
- Elke Maravilha jurada de calouros:
“(...) Haroldo Costa. Ele era produtor do Chacrinha. Eu não o conhecia, nem
conhecia o Chacrinha. Ai ele ligou para mim, me perguntou se eu não queria ser
jurada do Chacrinha, falei quero; tá, então tá. Desliguei o telefone e virei ‘Meu Deus
e agora o que eu faço lá?!’ ”.
- O costume de customizar:
“Sempre dou uma mexida nas roupas, sempre fiz o que se chama customizar.
Eu gosto de bordar, sou prendada, uai!”
• Conceito
Falar de moda, significa falar de espetáculo, show, maravilhas...e falar de maravilha implica falar em uma pessoa que tem maravilha no próprio nome: Elke Maravilha.
40
Com seu porte de rainha, alta, loura, vestida de forma sempre extravagante, sem sombrancelha, mas com sombras que, de forma fantástica, delineiam bem os olhos, cheia de
apostos carinhosos – criança, amor, coração – pele européia, delicada, a boca, bem desenhada, o batom ultrapassando o limite dos lábios. Rainha dos gays, dos presidiários e das
prostitutas, Elke até parece um travesti. E com eles se identifica pelo amor ao exagero, à
irreverência. A coragem sem medida.
A voz sedutora, bem modulada, Elke vai contando suas histórias. Após ouvi-la falando,
mesmo que por uma só vez, é impossível não ouvi-la, a cada palavra lida.
Elke é assim, linda, loura, louca, fantástica, inspiradora!
• O produto
- Segmento: calçados
- Filosofia: os princípios que foram observados para a construção do projeto são os
seguintes
Estética → estilo/ forma
Funcionalidade → função/ semiótica
Usabilidade → ergonomia/ ergo-design
Design emocional → direcionado para o usuário
Embalagem → armazenamento/ transporte/ estética
Produtividade → eficiência produtiva/ rendimento
Custo → produto/ produção
- Formas: extremos; bicos quadrados, quinados, finos e longos;
- Saltos que seguem até o traseiro (alongam e dão idéia de maior altura) ou fachetados
com o mesmo visual; finos ou grossos de acordo com o perfil do calçado;
- Plataformas altíssimas, geométricas e também fachetadas;
- Canos altos e baixos;
- Gápeas envolvendo o solado (alongam e dão idéia de maior altura), recortes, franjas
ou pedrarias/ ferragens;
41
- Cores: roxo, preto, branco, azul royal e turquesa, cinza cimento, marrom esverdiado,
verde mar, e algumas variações.
Figura 16 - Cartela de cores.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
- Matérias: tecidos, couros/ sintéticos¹ (texturas molhadas, rústicas e escovadas, lisas,
estampas pequenas ou grandes), botões forrados, ferragens foscas, pedras grandes e vistosas, tecidos (veludo molhado, emborrachados);
Figura 17 - Alguns materiais que compõe a cartela de materiais.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
¹ Os sintéticos precisam ser cuidadosamente escolidos, pois devem apresentar um bom acabamento, sem aparência de plástico.
42
• Público-alvo
Figura 18 - Painel de público-alvo.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
- Quem são? Mulheres, economicamente ativas, pertencentes à classe A e B, de 35 a
50 anos.
- Onde trabalham? São grandes empresárias, mulheres independentes que ocupam
cargos de grande responsabilidade. Trabalham em diversas áreas de atuação, mas em
funções que exijam, sempre, sólida formação acadêmica, somada à vasta experiência no
mercado.
São mulheres que trabalham em escritórios que unem aspectos tradicionais e vanguardistas, o trabalho bem feito a modernidade; onde os funcionários transmitem uma imagem
formal e casual o suficiente para aliar confiança, segurança e leveza.
- Quais ambientes freqüentam? Mulheres que trabalham muito mas buscam formas de
não serem absorvidas somente pelo trabalho. Praticam alguma atividade física, musculação, Pilates, caminhada, podem até participar de equipes esportivas variadas, desde lutas
à jogos.
Possuem uma vida social também equilibrada; procuram conhecer novos restaurantes,
casas de massas, cafés, etc, mas não são baladeiras, gostam de curtir uma reunião informal na casa de parentes ou amigos mais íntimos. Saem sempre acompanhadas, é difícil
encontrá-las sozinhas. Um cinema também pode ser um programa interessante, até mesmo durante a semana.
Frequentemente saem às compras. E é na busca de roupas, acessórios, calçados e
badulaques diferentes que se encaixa o produto: uma tentativa de resolver a monotonia
43
do trabalho diário, com um produto diferente, divertido, carregado de história, que foge da
banalidade.
As linhas foram desenhadas para essas mulheres. Os rasteiros – linha Copabana -, para
aquelas que preferem um calçado leve, e à vontade; os de salto e bico fino – linha Grécia ficam reservados àquelas que não abrem mão do tradicional, mas anseiam por novidades;
e por fim o salto plataforma – linha Bantu – reservada àquela mulher ousada, que deseja
chocar o visual, contrapondo o clássico, para trabalhar, com ou ousado e forte para os momentos de lazer.
- E o estilo? Espírito sempre jovem, mas consciente da idade, experiências vividas e
posição social. Desapegadas aos rótulos, de estilo bastante moderno que permita uma fácil
integração, não importando sexo, crença ou opção sexual; visão cosmopolita.
Admiradores de música e literatura, incentivadora do design nacional.
Pesquisadoras/ curiosas sedentas por informações de universos distintos fazendo uso
constante das tecnologias disponíveis para tal (rádio, internet, celular).
4.1.2
Desenvolvimento
O desenvolvimento da coleção QUE MARAVILHA: Elke, a apátrida de Itabira! buscou
suas fontes de inspiração na vida da própria Elke Maravilha, sua vinda para o Brasil, suas
influências e referências, como foi possível ler nos primeiros capítulos.
A estilização da tradicional espora usada por sertanejos no interior de Minas Gerais e
características do estilo country podem ser percebidas em algumas sutis linhas que foram
reformuladas para manter as referências mas não copiá-las. Fotos da juventude de Elke
serviram de base para recriar o clima e transformar as formas para cubrir e calçar os pés.
Aspectos de seu gosto pessoal para a moda, como as botas, os saltos, a customização,
foram aproveitados para contextualizar e conceituar as peças da coleção.
As características psicológicas foram as principais referências, serviram de inspiração
para a criação das principais silhuetas da coleção, a escolha das cores, também seguiu
esse guia e finalmente, os materiais; foram escolhidos com base no senso estético de Elke,
não que ela goste muito dos artigos, ferragens e acessórios escolhidos, mas é o que seu
espírito nos sugere; buscamos uma forma de reinterpretar essa mulher, um novo olhar sobre Elke Maravilha.
44
Figura 19 – Painéis de referência/ inspiração.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
45
4.1.2.1 Fichas técnicas
• Linha Grécia (ref. G8.002): todo confeccionado em tafetá dublado este modelo possui
um fechamento com fita de veludo, porém com a frente sem cobertura; cano alto até o
joelho; pequeno bico fechado para dar segurança no calce; e três pares de tiras fixas cruzando no peito do pé.
Figura 20 - Linha Grécia - modelo ref. G8.002.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
46
• Linha Copacabana (ref. C8.003): confeccionado em tafetá dublado, com a frente do
cano em malha (malharia tubular), o modelo abaixo possui abertura traseira para o calce e
fechamento em velcro.
Figura 21 - Linha Copacabana - modelo ref. C8.003.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
47
• Linha Bantu (ref. B8.005): calçado confeccionado, totalmente, em camurça, somente o
solado e o salto é que são fachetados em tecido, tafetá. O cano é removível, preso apenas
por botões de pressão por baixo do solado, próximo ao salto; é completamente viável o uso
dessa peça somente como tamanco, dispensando o cano.
Figura 22 - Linha Copacabana - modelo ref. C8.003.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
48
4.1.2.2 Embalagem
Para acondicionar os calçados foi desenvolvida uma embalagem diferenciada que contemple os aspectos de praticidade e beleza, aliados ao conceito desenvolvido. Para tal foi
utilizado o mesmo fechamento de uma gaveta, uma caixa para colocar os calçados, fechada por uma espécie de encaixe, sem tampa, como tradicionalmente conhecemos as caixas
de sapato.
Figura 23 – Modelo de caixa
Fonte: foto de arquivo pessoal.
4.1.3
Resultados
Elke possui cerca de 60 pares de botas em seu guarda-roupa, de todas as cores, brancas, verdes, pretas, vermelhas, azuis, roxas, entre várias outras que podemos imaginar;
assim as pernas se tornam o principal foco desta coleção. O amor pelo exagero reforça a
dualidade extremista da personagem, canos altos ou curtos foram os eleitos. O ecleticismo
reina!
Os conceitos estéticos que nos inspiram, tangem culturas; contemplam orixás, deuses
do Olimpo, anões, gnomos, elfos entre outras entidades vikings. Um mix mitológico. Assim
surgem texturas holográficas, que fingem ser o que não são, com cores que nos enganam,
assim como as estórias. Os materiais que melhor traduzem essa linguagem são os tafetás,
cetins e shantungs. A camurça aparece, com sua opacidade e aspereza, para contrapor
todo esse brilho e sofisticação.
Acompanhando o padrão estético da figura/tema dessa coleção, a variedade de estilos,
da fôrma clássica, ao solado imponente guiam e celebram o estilo Elke de ser: linda, loura,
louca, fantástica, inspiradora!
49
Figura 24 – Linha Grécia - Ref. G8.005. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
Figura 25 – Linha Grécia - Ref. G8.001. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
50
Figura 26 – Linha Grécia - Ref. G8.002, 003 e 004. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
51
Figura 27 – Linha Copacabana - Ref. C8.002. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
Figura 28 – Linha Copacabana - Ref. C8.001. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
52
Figura 29 – Linha Copacabana - Ref. C8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
53
Figura 30 – Linha Bantu - Ref. B8. 001. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto.
Fonte: foto de arquivo pessoal.
Figura 31 – Linha Bantu - Ref. B8.002. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
54
Figura 32 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico).
Fonte: foto de arquivo pessoal.
55
5
CAPÍTULO V
5.1
Conclusão
O objetivo principal desse trabalho foi estudar a vida e os feitos de Elke Maravilha; sua
trajetória de vida, suas influências de família, seu universo profissional e seu senso estético,
para conseguir conhecimento teórico o suficiente para o planejamento e desenvolvimento
de uma coleção de moda.
Como pode se perceber nos últimos capítulos, o objetivo foi alcançado com êxito. A produção de três, dos quinze modelos criados, valida o conhecimento prático sobre o produto
de moda, aqui, calçados. As formas desenvolvidas passam a idéia e o clima da mulher/
tema desse trabalho, comprovando que toda a pesquisa bibliográfica realizada serviu sim,
como bom suprimento de informações para a criação.
56
6
Bibliografia
• Blog de Pedro Alexandre Sanches, disponível em: <http://pedroalexandresanches.
blogspot.com/2008/12/ciclo-elke.html>.Acesso 16/12/2008, às 19:02.
• Blog Gregos & Bahianos, disponível em: <http://mtroi.blog.uol.com.br/arch2006-0701_2006-07-31.html>. Acesso em03/11/2008, às 23:11.
• Blog Marion Velasco, disponível em: <http://empilhamento.blogspot.com/2007/08/entreextra-vagante-e-mtica.html>. Acesso em 14/1/2008, às 14:34.
• Blog Os Perturbados, disponível em: <http://www.perturbados.blogger.com.
br/2004_05_02_archive.html>. Acesso em 24/09/2008, às 21:05.
• Desciclopédia, a enciclopédia livre de conteúdo que qualquer um pode editar, disponível
em: <http://desciclo.pedia.ws/wiki/Elke_Maravilha>. Acesso em 23/09/2008 às 20:10.
• Homepage da revista eletrônica de história Klepsidra, disponível em:
klepsidra.net/klepsidra2/vikings.html>, acesso em 10/11/2008, às 11:32.
<http://www.
• Homepage da Revista IstoÉ GENTE, disponível em: <http://www.terra.com.br/
istoegente/363/entrevista/index.htm>. Acesso em 27/08/2008, às 16:29.
• Homepage da Revista Quem, disponível em: <http://revistaquem.globo.com/
Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html>. Acesso em 26/11/2008, às 18:30.
• Homepage da Revista TPM – Trip Para Mulheres, disponível em: <http://revistatpm.uol.
com.br/galeria_v2.php?galeria_id=2>. Acesso em em 27/08/2008, às 16:57.
• Homepage do jornal O Povo, disponível em: <http://www.opovo.com.br/opovo/
vidaearte/718138.html>. Acesso em27/08/2008, às 21:08.
• Homepage do programa Por Aí, produzido pela Rede TV, disponível em: <http://
programaporai.blogspot.com/2008/09/curiosidades-de-elke-maravilha.html>. Acesso em
10/11/2008, às 23:02.
• Mix Brasil, maior portal GLS do Brasil, disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/mp/
upload/noticia/3_51_68634.shtml>. Acesso em 29/09/2008, às 16:48.
• Portal Candomblé, o mundo dos orixás, disponível em: <http://ocandomble.wordpress.
com/>. Acesso em28/11/2008, às 14:44.
• Portal da Revista Superinteressante, 1995, edição 88 Matéria de Sílvia Campolim.
Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/1995/conteudo_114499.shtml#top>.
Acesso em 28/11/2008, às 14:43.
• Portal Dica de Teatro, disponível em: <http://www.dicadeteatro.com.br/index.
php?local=2=&id=982>. Acesso em 29/set./2008, às 16:43.
• Portal Sampacentro, disponível em: <http://sampacentro.terra.com.br/textos.
asp?id=325&ph=3>. Acesso em 26/11/2008, às 14:53.
• Portal Sua Pesquisa, disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historia/vikings/>.
Acesso em 10/11/2008, às 20:13.
57
• Portal
Tribuna
Pop,
disponível
em:
<http://www.parana-online.com.br/
colunistas/207/45442/>. Acesso em 10/11/2008, às 18:35.
• Site Undersoul, vida e morte pelo underground, disponível em: <http://br.geocities.com/
undersoulbr/materia/vikings_parte1.htm>. Acesso em, 27/08/2008, às 16:26.
• Wikiquote, a coletânea de citações livre, disponível em: <http://pt.wikiquote.org/wiki/
Elke_Maravilha>. Acesso em 27/08/2008, às 16:45.
• Youtube, compartilhador de vídeos na internet. Gravação do programa Em Revista, série
sobre Maravilhas, disponível em: <http://www.youtube.com/user/alexmadruga>. Acesso
em 27/08/2008, às 18:32.
• Youtube, compartilhador de vídeos na internet. Vídeo da Série Constituindo, produzida
pela TV Senado em comemoração aos 20 anos da Constituição Cidadã, disponível em:
<http://br.youtube.com/watch?v=qTf5ERSG1ig>. Acesso em 27/11/2008, às 14:34.
• VASCONCELOS, Paulo Sergio de. Mitos Gregos. Ed.Objetivo. São Paulo, 1998
58
7
Apêndice
YEMANJÁ
água
leuqe e espada
sábado
transparente, verde ou azul claro
branco e azul
porco, cabra e galinha
peixes do mar, arroz, milho, camarão com côco
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
fogo
machado duplo (oxé)
quarta-feira
branco e vermelho
branca e vermelha, com coroa de latão
galo, pato, carneiro e cágado
amalá (quiabo com camarão seco e dendê)
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
fogo
adaga e iruexim (rabo de búfalo)
quarta-feira
Vermelho grená ou marrom escuro
vermelha
cabra e galinha
milho branco, arroz, feijão e acarajé
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
ferro
ada (dois facões)
terça-feira
azul marinho
azul, verde, vermelho ou amarelo
galo, bode avermelhado
feijoada, xinxim, inhame
OGUM
(OYÁ)
IANSÃ
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
XANGÔ
Quadro indicativo de algumas características importantes dos principais orixás.
59
OXUM
milho branco, xinxim de galinha, ovos, peixes de água doce
NANÃ
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
terra
ibiri (cetro de palha e búzios)
sábado
branco, azul e vermelho
branca e azul
cabra e galinha
milho branco, arroz, feijão, mel e dendê
OXUMARÉ
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
água
cobra de metal
quinta-feira
amarelo e verde
azul claro e verde claro
bode, galo e tatu
milho branco, acarajé, côco, mel, inhame e feijão com ovos
OXOSSI
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
floresta
rabo de cavalo e chifre de boi
quinta-feira
azul claro
azul ou verde claro
galo e bode avermelhados e porco
milho, peixe de escamas, arroz, feijão e abóbora
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
fogo
ogó (um bastão adornado com cabaças e búzios)
segunda-feira
vermelho e preto
vermelho e preto
bode e galo
farofa com dendê, feijão, inhame, água,mel e aguardente
EXU
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
água
abebê (leque espelhado)
sábado
amarelo ouro
amarelo ouro
cabra, galinha, pomba
60
OSSAIN
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
matas
cetro de ferro com a imagem de um pássaro – oguê .
quinta-feira
branco rejado de verde
branco e verde claro
galo e carneiro
feijão, arroz, milho vermelho e farofa de dendê
OBALUAIÊ
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
terra
cacará (feixe de palha e búzios)
segunda-feira
preto e vermelho ou vermelho, branco e preto
vermelha e preta, coberta por palha
galo, bode e porco
pipoca, feijão preto, farofa e milho, com muito dendê
OXALÁ
elemento:
símbolo:
dia da semana:
colar:
roupas:
sacrifício:
oferendas:
ar
aoparoxó (cajado de alumínio com adornos)
sexta-feira
branco
branca
cabra, galinha, pomba, pata e caracol
arroz, milho branco e massa de inhame
61

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