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FACULDADE CIMO CURSO DESIGN E NEGÓCIOS DA MODA JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA! Belo Horizonte 2008 JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA! Monografia apresentada à Faculdade CIMO – Centro Integrado de Moda, de Belo Horizonte, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design de Moda. Orientadora: Professora Fabiana Ballesteros Belo Horizonte 2008 JULIANA ROMUALDO GUEDES SILVA QUE MARAVILHA: ELKE, A APÁTRIDA DE ITABIRA! Monografia apresentada à Faculdade CIMO – Centro Integrado de Moda, de Belo Horizonte, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design de Moda. Orientadora: Professora Fabiana Ballesteros Aprovada em: ____/ ____/ _______ Heloísa Aline de Oliveira (Coordenadora) Faculdade Cimo – Centro Integrado de Moda Fabiana Ballesteros (Orientadora) Faculdade Cimo – Centro Integrado de Moda Belo Horizonte 2008 Aos meus pais, Luiz Antônio da Silva e Josina Moreira Guedes Silva, pela eterna dedicação. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que a todo instante batalharam por mim, apoiando em tudo que eu precisei. Aos vários amigos, que caminharam ao meu lado, ou simplesmente figuraram, todos, sem exceção, contribuíram, cada um ao seu modo e ao seu alcance, com momentos gloriosos que serão lembrados sempre. Agradeço o apoio, as gargalhadas, os e-mails trocados e principalmente a compreensão pelas ausências. Alguns, preciso agradecer especialmente: Felipe, Maria Emília, Daniel, Jean, Lucia, Luiz Felipe, Marcello; por cada minuto dedicado às minhas dificuldades, curiosidades, dúvidas, insatisfações; mas principalmente por acreditarem tanto em mim. Às minhas madrinhas, por me ouvirem sempre que precisei falar, e me aconselharem sempre que precisei de um rumo. Às novas amigas que fiz durante o curso, foram tantos encontros e desencontros, amizades e discussões que nos fizeram fortes, e amigas. Aos professores, só tenho a parabenizar, mas só àqueles que participaram, se doaram e se importaram, não se deixando apodrecer na inércia. Especialmente à Fabiana Ballesteros por ter sido mais que uma orientadora, mas sim amiga e entusiasta, não só durante esse trabalho final de graduação, mas em todos os outros momentos em que precisei de alguma orientação. Se esqueci algum nome, em particular, saibam que agradeço a todos os que passaram, ou àqueles que ficaram em minha vida, vocês, sem exceções, tiveram uma participação relevante em mais essa caminhada. “Eu quero é conviver! A grande arte não é viver, é conviver”! (Elke Maravilha) RESUMO Este trabalho busca estudar as múltiplas vertentes dos cadernos Feminino e Feminino & Masculino do jornal Estado de Minas, no que se refere à moda mineira; de lá buscar uma notícia que se transforme no foco deste. Assim sendo, Elke Maravilha é a personalidade escolhida para homenagear a sociedade mineira e os 80 anos do Jornal Estado de Minas. Mesmo não sendo brasileira de nascimento, veio para cá aos 6 anos de idade e desde então vive no Brasil, salvo alguns poucos anos de sua juventude que visitou vários outros países do mundo morando dentro de um carro, e se considera de coração mineiro, brasileiro. A vida e os feitos de uma mulher que carrega várias etnias, heranças de quase todo o mundo, em um só corpo, servem de ponto de partida para o planejamento e desenvolvimento de uma coleção de calçados. Para tal buscou-se o universo pessoal dessa fantástica mulher de 63 anos de idade, suas origens, sua família, sua história, seus gostos e costumes para construir uma base sólida de pesquisa. Palavras-chaves: Elke Maravilha; Grunnup; calçados. SUMÁRIO 1. CAPÍTULO I 13 1.1 13 Introdução 2 CAPÍTULO II 14 2.1 Elke Giorgierena Grunnup Evremides 14 2.2 Mulher Maravilha 17 2.3 Mulher caleidoscópica 19 2.4 Elke: do Sagrado ao Profano 24 2.5 Mulher extra-vagante 27 3 CAPÍTULO III 28 3.1 Influências e referências 28 3.1.1 Os vikings 28 3.1.2 Os gregos 33 3.1.3 Os negros e o candomblé 35 3.1.3.1 O início 35 3.1.3.2 Os orixás 36 8 4 CAPÍTULO IV 39 4.1 Projeto 39 4.1.1 Briefing 39 4.1.2.1 Fichas técnicas 46 4.1.2.2 Embalagem 49 4.1.3 Resultados 49 5 CAPÍTULO V 56 5.1 Conclusão 56 6 Bibliografia 57 7 Apêndice 59 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Elke entre seus pais Liezelotte Von Sonden e Gerge Grunnupp, com 1 ano e meio de idade. 14 Figura 2 – “Vim com 6 anos para o Brasil. Meu pai lutou na guerra da Finlândia, quando minha mãe estava grávida de mim. Tenho até hoje a faca que ele usou na batalha.” 15 Figura 3 – Elke era apaixonada com o aspecto frisado do cabelo das negras após a retirada das tranças. Gostou tanto que afirma utilizar o penteado tipo Black Power antes, até, dos próprios negros. 16 Figura 4 – “(...) você não vê que é uma loura pintada de negro, você vê uma negra ai! Olha a expressão! Não é simplesmente uma pintura.” 17 Figura 5 – Ao lado de Pedro de Lara, jurados do Cassino do Chacrinha. 18 Figura 6 – Ao lado de Chacrinha, a quem, carinhosamente, chamava de Painho. 18 Figura 7 – Elke foi Glamour Girl de Eduardo Cury, em Belo Horizonte. 19 Figura 8 – Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, preso, torturado e morto durante a ditadura Militar no Brasil. 20 Figura 9 – “Entrei na prisão cidadã brasileira naturalizada e saí de lá apátrida. Eles tomaram meus documentos. Não é um documento que vai me dizer quem eu sou, eu sou brasileiríssima e pronto. (...) Nessa situação, viajei duas vezes com passaporte amarelo da ONU para apátridas.(...) Tenho passaporte alemão há cerca de dez anos, é bem mais confortável. Poderia ter pedido anistia, mas seria pedir desculpas, reconhecer erros que não cometi.” 19 Figura 10 – Com o olho roxo escondido pelo chapéu usado de lado, Elke criou um artifício para esconder a marca que apanhou do namorado, sem perder a classe e o estilo. 22 Figura 11 – Elke Maravilha (à dir.) interpreta cantora alemã em filme sobre Zuzu Angel, com Patrícia Pillar como Zuzu e Luana Piovani como Elke Maravilha. 23 Figura 12 – Elke dividiu o palco com a funkeira Deize Tigrona, as cantoras líricas Adélia Issa e Lucila 10 Tragtenberg no musical Luar Trovado. 24 Figura 13 – Cartaz do mais recente espetáculo de Elke Maravilha: Do Sabrado ao Profano. 25 Figura 14 – Acompanhada por músicos, Elke canta em cinco idiomas e declama poesias para falar do sagrado e do profano. 26 Figura 15 – Página do Jornal Estado de Minas que serviu de ponto de partida para o projeto. 39 Figura 16 – Cartela de cores. 42 Figura 17 – Alguns materiais que compõe a cartela de materiais. 42 Figura 18 – Painel de público-alvo. 43 Figura 19 – Painéis de referência/ inspiração. 45 Figura 20 – Linha Grécia - modelo ref. G8.002. 46 Figura 21 – Linha Copacabana - modelo ref. C8.003. 47 Figura 22 – Linha Copacabana - modelo ref. C8.003. 48 Figura 23 – Linha Grécia - Ref. G8.005. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. 49 Figura 24 – Linha Grécia - Ref. G8.001. Painel (croqui e desenho técnico). 49 Figura 25 – Linha Grécia - Ref. G8.002, 003 e 004. Painel (croqui e desenho técnico). 50 Figura 26 – Linha Copacabana - Ref. C8.002. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. 51 Figura 27 – Linha Copacabana - Ref. C8.001. Painel (croqui e desenho técnico). 51 Figura 28 – Linha Copacabana - Ref. C8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico). 52 Figura 29 – Linha Bantu - Ref. B8. 001. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. 53 Figura 30 – Linha Bantu - Ref. B8.002. Painel (croqui e desenho técnico). 53 11 Figura 31 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico). 54 Figura 32 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico). 55 12 1. CAPÍTULO I 1.1 Introdução O tema deste trabalho incentiva a pesquisa histórica através da exploração do Caderno Feminino & Masculino no que se refere à moda mineira, às grifes, aos criadores, à cultura e às personalidades da sociedade mineira que foram importantes para a moda, assim como o próprio Jornal Estado de Minas. Uma homenagem ao jornal que, em 2008, completa 80 anos, representando o papel de mídia difusora, mais importante, tanto de moda como um todo. Nada mais justo para um Trabalho Final de Graduação em Design e Negócios da Moda. Várias pesquisas, diretamente no Caderno Feminino & Masculino, foram feitas até surgir uma entrevista com uma personalidade um tanto excêntrica do cenário mineiro: Elke Maravilha. A partir daí foram feitas buscas de outras fontes, em outros meios de comunicação, revistas, vídeos, internet, entre outras, na tentativa de reconstruir a história dessa personagem, suas referências culturais, atuações profissionais, gostos, opiniões, peculiaridades de uma mulher de mil faces. Esse trabalho se propõe explorar aspectos culturais, religiosos, iconográficos e estéticos da persona de Elke Maravilha. Estudaremos, a seguir, alguns pontos de sua descendência familiar, o contexto em que chegou ao Brasil e veio morar em Minas Gerais, os trabalhos que desenvolveu ao longo da vida, sua condição de apátrida, seu espetáculo mais recente, Do Sagrado ao Profano, que apresenta uma temática inquietante. A família de Elke, suas histórias surpreendentes, seus trabalhos na televisão, cinema e teatro e sua vida são vistas no segundo capítulo desta obra. As crendices do povo vikings, alguns mitos gregos - citados por Elke como sendo os que se relacionam muito bem com a sociedade atual, Eco e Narciso - e finalmente, os orixás e o Candomblé são citados no terceiro capítulo. Já no quarto capítulo é possível ler, passo a passo, a respeito do planejamento e desenvolvimento da coleção de calçados proposta desde o início. Como se pode perceber o trabalho permeia a multiplicidade de referências, influências e inspirações e resulta em formas novas para vestir e adornar os pés de mulheres exigentes. 13 2 CAPÍTULO II 2.1 Elke Giorgierena Grunnup Evremides Figura 1 - Elke entre seus pais Liezelotte Von Sonden e Gerge Grunnupp, com 1 ano e meio de idade. Fonte: http://revistatpm.uol.com.br/galeria_v2.php?foto=1&galeria_id=2 Elke Grunnupp nasceu em São Petesburgo, Rússia – antiga Leningrado, ainda como União Soviética – no dia 22 de fevereiro de 1945. Seu pai, George Grunupp, era prisioneiro político na Sibéria – foi considerado traidor da pátria, na Rússia, ao lutar ao lado da Finlândia contra sua anexação pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Venceu a guerra, mas foi perseguido pelo regime stalinista – e fugiu para encontrar Elke junto de sua mãe, Liezelotte Von Sonden, na França. Porém, chegando lá, foi preso novamente, porque os franceses eram aliados da União Soviética. Para não voltar para sua terra natal, George fugiu novamente, e dentre os três países que recebiam imigrantes na época, a Nova Zelândia, o Canadá e o Brasil, escolheu o Brasil. Mas por que o Brasil? Eu perguntei isso ao meu pai e ele disse que o Brasil é o melhor país do mundo, de infinitas possibilidades, onde as raças convivem como se fossem uma só. Qual é a infinita possibilidade real? Aí eu percebi que ele quis dizer que aqui o judeu se dá com árabe e vão juntos ao centro de macumba! Não é uma maravilha?! Isso é a infinita possibilidade. 14 Figura 2 – “Vim com 6 anos para o Brasil. Meu pai lutou na guerra da Finlândia, quando minha mãe estava grávida de mim. Tenho até hoje a faca que ele usou na batalha.” Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html Vieram de navio para a Ilha das Flores, Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Ficaram de quarentena, como todos os imigrantes, para fazer exames médicos (atestar a segurança quanto à doenças trazidas do exterior) e só poderiam sair quando arrumassem um emprego. George Grunupp publicou em um jornal, que circulava no país em inglês, Brasil Harold, um anúncio se oferecendo para trabalhar no campo, pois gostaria de terminar os estudos de agronomia. Pessoas interessadas no anúncio, de colônias alemãs e russas, apareceram para buscá-los, porém, George não quis ir. Ele pensava que esses colonos não viviam nem no seu país de origem, da época em que saíram de lá, nem no Brasil contemporâneo, e ele estava disposto a virar brasileiro quando escolheu vir para cá. George costumava dizer: “Olha, não leva a mal, mas eu vim para o Brasil. Quero virar brasileiro. Não quero ficar como vocês, com um pé lá e outro cá...”. Assim sendo ficou aguardando, até surgir algum convite mais interessante. Algum tempo depois um senhor de Minas Gerais procurou o Sr. Grunupp, a partir do anúncio no jornal, oferecendo-lhe uma oportunidade para cuidar de sua fazenda abandonada, a Fazenda Cubango, no interior do estado, Itabira do Mato Dentro; mas se apresentou um tanto quanto duvidoso sobre o interesse da família estrangeira em ficar junto a negros, naquela terras. Mas o Sr. George Grunupp prontamente aceitou: “Problema nenhum, viraremos negros”. Chegando em Itabira, Elke se assustou com os negros, tinha medo pois não os conhecia, nunca tinha visto. Seu pai explicou que não havia necessidade de temer, que os negros eram iguais a eles, não havia nenhuma diferença, e que eles iriam precisar daquela gente, 15 da sabedoria deles quanto àquele lugar novo, nova terra, novo país, novos costumes; sendo assim, levou-a, à força, para a casa deles; chorando, Elke ficou, depois de apanhar bastante do pai que não admitiu tal comportamento; à tarde foi difícil tirá-la de lá. Elke se apaixonou por aquele povo e declara que são mais fortes, física e espiritualmente, que os brancos. Ficava fascinada vendo as negras desfazerem as tranças, o cabelo crespo e bastante ouriçado a encantou. “Eu falava pra elas que elas tinham um cabelo maravilhoso e elas diziam que cabelo bom era o meu, fininho, lisinho.” Posteriormente, Elke adotou o visual de cabelos volumosos e frisados, e afirma ter usado o penteado tipo black power muito antes dos próprios negros. Figura 3 - Elke era apaixonada com o aspecto frisado do cabelo das negras após a retirada das tranças. Gostou tanto que afirma utilizar o penteado tipo Black Power antes, até, dos próprios negros. Fonte: www.elkemaravilha.com.br Devido à essa convivência com o povo negro e sua cultura na infância, Elke criou uma admiração imensa, e garante que: (...) eu [Elke] tive muito privilégio de ser criada no meio de negros. É um privilégio porque além de ser mais fortes, física e espiritualmente, que a gente, o negro adoça né?! Uma sorte, o Brasil tem muita sorte! O negro nem tanto (...) 16 Seu senso estético é altamente influenciado pela cultura e aparência negra. Isso fica muito claro ao se deparar com um uma, das várias imagens que cobrem a parede de seu apartamento quarto-sala-cozinha no Leme, Rio de Janeiro, em que aparece pintada de preto; Elke afirma que é possível ver uma negra na foto. Figura 4 – “(...) você não vê que é uma loura pintada de negro, você vê uma negra ai! Olha a expressão! Não é simplesmente uma pintura.” Fonte: Revista Key 2ª edição 2.2 Mulher Maravilha O nome original é Elke Giorgierena Grunnupp Evremides, mas seu pai, George Grunupp, retirou o “Giorgierena” de seu sobrenome, quando ainda criança, devido à uma confusão que sempre acontecia, acabava virando um trocadilho com um palavrão em russo - Giorgierna por Giorgovna, e “GOVNA” em russo significa “merda”. Elke é um termo viking e significa “alce”; essa cultura representa uma influência bem maior que apenas o nome de Elke Maravilha, como veremos mais a frente. Em 1972, o produtor Haroldo Costa conversou com Elke pelo telefone, convidando-a para participar do programa Buzina do Chacrinha - no qual apresentava calouros, distribuía 17 abacaxis e perguntava “Vai para o trono, ou não vai?” -, como jurada de um concurso de calouros. Figura 5 - Ao lado de Pedro de Lara, jurados do Cassino do Chacrinha. Fonte: http://gutocapucho.zip.net/arch2008-02-01_2008-02-29.html (...) um dia tocou o telefone com alguém me convidando para ir no programa do Chacrinha. Eu não conhecia porque não via televisão, mas aceitei. Então perguntei a um amigo sobre como era o tal programa e ele me disse que era um programa de auditório que tinha um apresentador que tocava uma buzina o tempo todo. Achei legal, comprei uma buzina e entrei lá buzinando; o Painho se encantou comigo e eu com ele. Foi assim que começou! Figura 6 - Ao lado de Chacrinha, a quem, carinhosamente, chamava de Painho. Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html 18 Já trabalhando na televisão, Elke ganhou o apelido, Maravilha, do jornalista Daniel Mas, em 1973. As pessoas começaram a usar, até que ela mesma começou a se apresentar como Elke Maravilha. 2.3 Mulher caleidoscópica Elke começa a trabalhar aos doze anos de idade, em 1957, por ordem de seu pai. Ela diz ter ficado muito triste se sentindo rejeitada, mas obedeceu à ordem e foi a mais jovem professora de francês da Aliança Francesa e de inglês da União Cultural Brasil – Estados Unidos. Aprender outras línguas foi um “hobby” incentivado pelo pai, que lhe ensinou várias; hoje Elke domina nove idiomas: português, alemão, italiano, espanhol, russo, francês, inglês, grego e latim. Gente eu chorei dois dias, me senti tão rejeitada. (...) Claro que ele continuou me dando casa e comida, mas foi só para mim...sabe! (...) um ótimo empurrão(...). Aos dezesseis era Glamour Girl em Belo Horizonte. Figura 7 - Elke foi Glamour Girl de Eduardo Cury, em Belo Horizonte. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Elke.jpg 19 Na realidade, eu nunca soube o que queria ser quando crescesse. Até hoje não sei, confesso. Agora: eu sempre soube o que eu não queria, graças a Deus! Meu primeiro marido, Alex, um grego - eu já casei oito vezes. Eu chegando no Rio, bom: em que vou trabalhar? Porque eu já tinha sido bibliotecária, em Atibaia. Era bibliotecária e professora da Alliance Française. Em Minas (...) dava aulas particulares de latim. Também de alemão. Fui tradutora e intérprete na Siemens. Depois, fui secretária da Western Telegraph Company, uma firma inglesa de telegramas. Fui bancária também. (...) Saí de casa pra viajar pra Europa. Peguei 20 dólares que eu tinha, peguei um navio. Eu tinha 20 anos. O Alex, eu conheci no navio. Aos vinte e quatro anos começou como modelo para o Guilherme Guimarães. Alex, seu marido na época, era redator da revista Manchete, ficou sabendo que o Guilherme Guimarães, o maior costureiro da época, ia dar um desfile. Ele levou Elke até a porta do edifício de Guilherme, que a atendeu, experimentou uma roupa em seu corpo e lhe disse a data de prova final do look e do desfile. Assim ficou combinado. No dia marcado, Elke se preocupou: Dei de cara com (...) a Vera [Barreto Leite] era ‘manequim vedette’ de Coco Chanel. Depois, dei de cara com a Camille, ‘manequim vedette’ de Guy Laroche. Me veio a consciência, né? Ah, sabe de uma coisa? Não sei fazer isso que elas fazem, vou do meu jeito. Aí eu ria na passarela, eu não sabia tirar casaco direito, tirava do meu jeito. Disseram que eu inovei. Inovei nada, é que eu não sabia mesmo. Conta às gargalhadas. Conheceu Zuzu Angel em 1970 no Jambert (cabeleireiro), e foi sua primeira modelo. Eram muito amigas, mas Elke desfilou pouco para Zuzu. Elke acompanhou todo o drama dela a respeito do sumiço de seu filho, Stuart Angel, e assistia às cenas de Zuzu vestida de preto nas ruas abordando as pessoas e dizendo o que tinha acontecido a seu filho. Figura 8 – Zuzu Angel e seu filho Stuart Angel, preso, torturado e morto durante a ditadura Militar no Brasil. Fonte: http://bp3.blogger.com/_jaQNBOZhD8E/R6SiRdBEtmI/AAAAAAAADEo/qn2HAVbZP80/s1600-h/zuzuangel23.jpg 20 No aeroporto Santos Dummont, uma vez, Elke viu, espalhados pelo saguão, uns cartazes que colocavam o nome de Stuart Angel como procurado da polícia – uma estratégia usada na época para livrar a culpa, pela morte e sumiço do corpo, dos órgãos de segurança. Esbravejando contra a hipocrisia da atitude, Elke rasgou os cartazes e foi então detida e encaminhada ao DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) onde ficou presa por seis dias. Foi liberada com a ajuda da amiga Zuzu. Figura 9 – “Entrei na prisão cidadã brasileira naturalizada e saí de lá apátrida. Eles tomaram meus documentos. Não é um documento que vai me dizer quem eu sou, eu sou brasileiríssima e pronto. (...) Nessa situação, viajei duas vezes com passaporte amarelo da ONU para apátridas.(...) Tenho passaporte alemão há cerca de dez anos, é bem mais confortável. Poderia ter pedido anistia, mas seria pedir desculpas, reconhecer erros que não cometi.” Fonte: http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html Elke recapitula sua trajetória desde que chegou ao Brasil com seis anos de idade até a chegada no Rio de Janeiro em 1969: “É, viemos para o Brasil, primeiro Itabira, depois Acesita, Valadares, Jaguaraçu, Atibaia, Bragança Paulista, depois voltamos para Minas Gerais, Belo Horizonte, depois Porto Alegre. Fiquei três anos em Porto Alegre, depois fui morar um ano na Alemanha, onde fui tradutora e intérprete, na Alemanha, pra Siemens. (...) Depois morei um ano na Grécia, que virou minha paixão. (...) Depois eu morei um ano e meio dentro de um carro, dentro de um Citroen, e eu não sei dirigir. (...)Não, não sei dirigir, consciência. (...) Então eu morei dentro de um carro, do meu primeiro marido, um ano e meio, pra conhecer tudo né. Aí depois viemos para o Brasil de novo, Porto Alegre, mais dois meses em Porto Alegre e Rio de Janeiro, fim em 69.” É rainha dos gays e dos presidiários. Em 1986, atuou de forma tão memorável como a dona de um bordel, em Memórias de um Gigolô (minissérie dirigida por Walter Avancini, 21 exibida pela Rede Globo), que foi convidada a ser madrinha da Associação das Prostitutas do Rio de Janeiro. Rebobinando imagens antigas da tevê vemos Elke, antes dos 30 anos de idade, já com as roupas e adereços que lhe deram fama, como jurada do Cassino do Chacrinha - a quem ela, dengosa, chamava de Painho. Só dava nota dez aos calouros. Figura 10 - Com o olho roxo escondido pelo chapéu usado de lado, Elke criou um artifício para esconder a marca que apanhou do namorado, sem perder a classe e o estilo. Fonte: http://blogdomaximo.zip.net/arch2008-02-10_2008-02-16.html Elke nos conta que em sua aparência nunca buscou prezar pelo belo, mas sim mostrar o que realmente ela é. Um dia (por volta dos 18 anos) eu acordei de manhã, fui no meu armário e vi que só usava preto. Eu pensei: “Nada disso”. Peguei uma calça e rasguei toda, botei uma meia roxa, enchi a cara de batom, desgrenhei o cabelo e fui para a rua. Levei porrada (de pessoas que se incomodaram com sua aparência). Meu dente entrou pelo lábio, tenho a marca até hoje. Fui parar no (hospital) Miguel Couto. Mas pior foi tomar cuspida na cara, como aconteceu em Ipanema. É difícil ser a primeira, a ousar, a usar esse visual. Atualmente não assusto mais, mas tem gente que acha que sou travesti. Agrado as minorias. No decorrer dos anos se transformou em uma exímia conhecedora e consumidora/ criadora de perucas, maquiagem e adereços excêntricos, para se auto-transformar em um carro alegórico, como ela mesma já chegou a se intitular. Quando questionada sobre o porquê 22 de tamanha extravagância, Elke utiliza de uma só frase para tentar explicar: “Quem sabe um dia eu consiga fazer de mim mesma uma obra de arte”. E afirma ser exatamente aquilo, tal qual se apresenta, “eu sempre fui assim. Não sei ser de outro jeito”. Elke também foi jurada do Show de Calouros, do Sílvio Santos, e depois comandou um programa próprio no SBT. Compôs o elenco da novela Luz do Sol (Record, 2007) ao lado de Luíza Tomé, Paloma Duarte, Leonardo Brício, Zezé Mota, entre outros nomes importantes da dramaturgia nacional, vivendo uma russa, chamada Urânia, que tinha uma iguana de estimação. Há tempos atrás, em 1973, ela viveu a Sofia da minissérie A volta de Beto Rockfeller, na TV Tupi. Além de ser a estrela absoluta do curta Elke no País das Maravilhas, fez uma participação em Zuzu Angel, de Sérgio Rezende, como Liezelotte, uma cantora alemã da noite, que interpreta uma canção alemã “In den kasernen” (nos quartéis) – Luana Piovani a interpreta, nesse filme. Em 1999, Elke fez Xuxa Requebra. E teve atuação marcante em 1981, no filme Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco. Figura 11 - Elke Maravilha (à dir.) interpreta cantora alemã em filme sobre Zuzu Angel, com Patrícia Pillar como Zuzu e Luana Piovani como Elke Maravilha. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/inde30102005.shl Mas é na década de 70 que sua figura não saiu das telonas. Participou de Os Pastores da Noite, dirigido por Marcel Camus, em 77; Tenda dos Milagres, de 1976, com direção de Nelson Pereira dos Santos; Xica da Silva, filmado em 74 por Cacá Diegues; Gente que transa, do mesmo ano, uma chanchada com direção e roteiro de Sílvio de Abreu; O Rei do Baralho (de 72, dirigido por Júlio Bressane, com Grande Otelo e Wilson Grey); Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues; Os machões, de 71, direção de Reginaldo Faria, com ele, Erasmo Carlos e Flávio Migliaccio no elenco. Sua estréia no cinema foi com a chanchada Barão Otelo no barato dos Milhões, com Grande Otelo, Dina Sfat e Pelé. O filme, de 23 1970, dirigido por Miguel Borges, representou o Brasil no Festival de Cinema de Teerã. A lista de filmes é grande, ainda podemos citar Elke Maravilha contra o Homem Atômico, de Gilvan Pereira, em 1978; Tanga, deu no New York Times, do Henfil, feito em 1987, e A noiva da cidade, de Alex Viany, com trilha de Chico Buarque e Francis Hime. No teatro, tem as experiências recentes com Gerald Thomas - no musical Luar trovado, inspirado no Pierrot Lunaire, de Schönberg (o diretor a convidou para seu próximo espetáculo, uma remontagem de Vestido de Noiva, do dramaturgo Nelson Rodrigues). E estrela o musical Elke - do sagrado ao profano, direção e concepção de Rubens Curi. Figura 12 – Elke dividiu o palco com a funkeira Deize Tigrona, as cantoras líricas Adélia Issa e Lucila Tragtenberg no musical Luar Trovado. Fonte: http://www.erikapalomino.com.br/erika2006/lifestyle.php?m=3764 2.4 Elke: do Sagrado ao Profano Por que as pessoas e culturas que se dizem sagradas, têm que renegar o profano? Por que as pessoas ou culturas que são profanas, precisam rejeitar o sagrado? E onde começa um e termina o outro, já que todos nós somos sagrados e profanos? O espetáculo, dirigido por Rubens Curi, tenta remontar a velha discussão sobre Deus e o Diabo, a santidade e a profania. Nele, Elke, interpreta canções em cinco idiomas – russo, grego, alemão, espanhol e português -, poemas, e ainda conta histórias da sua vida. Ela não chega a ser, propriamente, uma boa cantora, porém cria no palco uma atmosfera em que acontecimentos inesperados despencam a cada minuto. Logo no começo do 24 espetáculo, canta algo do folclore mineiro, e leva o espectador a se perguntar em que lugar do planeta ele veio parar, ou de que planeta é a pessoa que está no palco, ou ambos. Mas imediatamente começa a contar histórias surpreendentes, que aos poucos dissipam o estranhamento, como nos explica SANCHES (2008). Figura 13 - Cartaz do mais recente espetáculo de Elke Maravilha: Do Sabrado ao Profano. Fonte: www.elkemaravilha.com.br No repertório podemos ouvir Sueli Costa e Cacaso (Dentro de Mim Mora um Anjo); Antonio Nóbrega e Wilson Freire (Quinto Império); folclore mineiro (Potpourri mineiro); D.Progodine & Inah Bangel (Noites de Moscou – em russo); folclore alemão (In Den Kasernen), Mikis Theodorakis (Agapi Mou – em grego); Villa Lobos e Mario de Andrade (Viola Quebrada); Norberto Lopez, Daniel Maccaferri, Leandro Ferro e Paulo Cardoso (Primavera); Falcão (Holliday Foi Muito); Atahualpa Yupanki (Guitarra Digamelo Tu – em espanhol); folclore 25 afro-brasileiro (Oxum), Cezar Altai (Insônia Night Club); Titãs (Lugar Nenhum). E ainda textos de Carlos Drummond de Andrade (Elegia); Konstantin Kavafis (Fui); Etienne de La Boetie (Tirania - texto da idade média, século XVI); São João Evangelista (Apocalipse); Cecília Meireles (Cântico I); Cairo Trindade (Caso Perdido). Com essa variedade de estilos Elke propõe uma discussão sobre o que é sagrado e o que é profano de forma artística, em um espetáculo musical. As fronteiras entre essa separação maniqueísta são colocadas em cheque. “Deus é o poeta, mas a música é de Satanás.” (Machado de Assis – Dom Casmurro). Nesse trecho de Machado de Assis, publicado em 1899, podemos perceber que essa já é uma discussão antiga; nesse caso Machado apresenta uma postura cética, que também é discutida em diversos outros livros seus, uma visão pessoal, para a questão proposta pelo espetáculo: o Diabo é o avesso de Deus, Deus é o avesso do Diabo, e eles são o mesmo, como define bem Bernardo. O show não pretende acalourar a discussão, nem a dar por finalizada, mas reunir conceitos, posturas e idéias diversas a seu respeito. Figura 14 - Acompanhada por músicos, Elke canta em cinco idiomas e declama poesias para falar do sagrado e do profano. Fonte: http://dykerama.uol.com.br/src/?mI=3&cID=55&iID=1604&nome=Elke_Maravilha 26 2.5 Mulher extra-vagante “Eu sou muitas pessoas em 24 horas.” Elke Grunnup, ou Maravilha, possui uma variedade enorme de referências culturais. Desde sua família – pai russo, mãe alemã, vó mongol, vô azerbaijani –, seu nome de origem viking - “Meu nome, Elke, é uma palavra usada pelos vikings. Significa alce, animal chifrudo.” –, sua infância no interior de Minas Gerais entre negros, suas viagens pelo mundo, entre outras. Amor, nunca fui uma pessoa de entrar em sistema, eu navego em todas. Por isso que me deram, outro dia, uma frase do Álvaro de Campos, o heterônimo do Fernando Pessoa: ‘Eu ergo em cada canto de minh´alma um altar a um deus diferente’. (...) Já viajei muito, perdi a conta dos países pelos quais passei. Trago comigo a Europa inteira, conheço até os países que nem aparecem no mapa. Mas, fora o Brasil, só outros três me fascinam: Grécia, Bolívia e Japão. Elke afirma que tem uma relação com o misticismo muito aguçada: “Em casa, tenho pelo menos uma menção a cada religião do mundo e sou tudo isso.” Cristo, Oxalá, Buda, Oxalufã, Maomé, Oxossi, São Francisco, Ossaim, Dalai Lama, Oxum, Nelson Mandela, Ogum, Alexandre o Grande, Xangô, Clementina de Jesus, Nanã, Tupã, Oba, Itamar Assumpção, Seu Zé Pilintra, Michelangelo, Logunedé, Krishna, Oxumaré, Madre Tereza de Calcutá, Iemanjá, Zumbi dos Palmares, Iansã...Viva o espírito de Elke! Gosto de candomblé, de umbanda. Sou de Xangô e de Nanã, a velha Nanã Buruquê. Sou da velha... A cultura negra é tribal. O negro continua tribal, as comunidades são tribais. E eu gosto muito de tribo. E adoro, adoro, adoro os sertanejos. Fui criada em Minas, lá começa o sertão. O sertanejo me parece um cactus. Você descasca, ele é tão doce, saboroso. Alimenta. Sou apaixonada pelos sertanejos. Gosto muito de vir ao Nordeste, aqui tem um gênio em cada esquina. Gosto de ir em lugares que me ensinem alguma coisa. Sou uma turista diferente, detesto shopping. Agora, sentar e ouvir o que as pessoas têm pra me contar, como as pessoas vivem, o jeito como elas interagem, me encanta. O Norte também é muito interessante, o Amazonas é um absurdo. Gente, os deuses moram lá no Amazonas ainda... Que, de resto, o Ceará é maravilhoso mas os deuses já fugiram daqui, né? Os deuses já fugiram do Rio de Janeiro, já fugiram de Minas Gerais, os deuses já fugiram. É o Amazonas, só. Fico arrepiada (...). E arrepio bom, nossa senhora! Tô falando e me arrepio. O que é aquilo? O mundo inteiro está de olho no Amazonas, porque eles querem, até eu que sou mais boba quero. Mas deixa na mão do caboclo. O caboclo não é predador. 27 Sou meio panteísta. Todos os deuses que estiveram no meu alcance, eu os tenho em casa, em imagem ou simbologia ou energia. Porque penso que não foi Deus que criou a gente à sua imagem e semelhança, nós é que criamos Deus à nossa imagem e semelhança. Você vê: povos violentos criaram um deus mais violento; povos mais mansos criaram um deus mais manso. Depois que Moisés inventou esse Deus que nem cara tem, é complicado...Um deus só é igual a um partido só, é ditadura, né? Gosto muito da mitologia grega porque ela explica exatamente tudo do ser humano. Na tentativa de abordar essas influências religiosas que atuam na vida de Elke Maravilha, nos próximos capítulos falaremos resumidamente sobre a mitologia viking e grega – que possuem um panteão vasto e, aparentemente, apresentam traços de similaridade. Mas é importante notar que não existe uma relação mais estreita entre essas duas culturas que viveram em ambientes e épocas distintas – e ainda tentaremos abordar alguns pontos sobre os Orixás do Candomblé. 3 CAPÍTULO III 3.1 Influências e referências 3.1.1 Os vikings A mitologia viking, nórdica, germânica ou escandinava, se refere aos mitos (origem, desenvolvimento e significação), crenças e costumes dos povos (os Fineses, os Teutões - ou Teutos - e os Escandinavos propriamente ditos) que viveram na região ao extremo norte da Europa, a península Escandinávia, em tempos antigos e medievais, por volta do século VIII a.C. (FIGUEIREDO, 2000). Os nórdicos acreditavam que a terra era como um enorme disco liso onde existiam, não claramente definidos, os territórios de cada povo. Os deuses viviam em Asgard, que tinha o acesso dado através do arco-íris, a ponte de Bifrost, os gigantes moravam em Jotunheim Casa dos Gigantes - , a morada dos mortos (Niflheim – terra governada pela deusa Hel), as minas dos anões (Nidavellir), o repouso dos elfos luminosos – conhecidos como Ljósálfar 28 (Alfheim) e dos elfos escuros (Svartalfheim), entre outros povos. Quando colocamos acima a falta de fronteiras claramente definidas nos referimos à terras que se sobrepõem e muitas vezes designam o mesmo espaço físico, pois diferentemente de outras mitologias, os vikings não traçaram esses limites por mares, oceanos ou rios. Assim sendo podemos identificar a existência de nove mundos principais na mitologia nórdica: Ásgarðr (Asgard - o céu dos Vikings), Miðgarðr (Midgard - mundo dos homens), Jötunheimr (Jotunheim – Casa dos gigantes), Vanaheimr (Vanaheim - repouso dos Vanir), Álflheimr (Alfheim - repouso dos elfos luminosos), Svartalfaheimr (Svartalfheim - repouso dos elfos escuros), Nidavellir (as minas dos anões), Muspellheimr (Musphelhein - mundo de fogo), e Niflheim (Niflheim - o mundo das névoas) . Os nórdicos contavam que no início do planeta só existia Ginungagap e que passado muito tempo surgiu, ao sul, uma terra quente, de brasas e chamas de fogo, Musphelhein, e ao norte uma região fria, de gelo, neve e ventos, Niflheim (LANGER, 2006). Até que os elementos do norte e do sul se chocaram em Ginungagap e nasceu, de um bloco de gelo derretido, um gigante primordial, Ymir, que dormiu durante muitas eras. Suas gotas de suor originaram outros seres. Do gelo também surgiu uma vaca gigante, Audumbla, que com seu leite alimentava Ymir através de quatro rios que se formou. Audumbla também fez surgir o primeiro deus, Buro, se alimentando e lambendo o gelo de Ymir. Buro é pai de Borr, que por sua vez é pai de Odin, e seus irmãos, Vili e Ve, os primeiros Æsir – exite três clãs de divindades vikings: os Æsir, os Vanir e os Iotnar; sendo que a separação entre os Æsir e os Vanir é relativa, pois na mitologia os dois se reconciliaram após uma enorme guerra, ganha pelos Æsir. A religião viking era bastante complexa, buscava explicar, assim como a Mitologia Grega, fenômenos e reações inexplicáveis, mas se baseava no princípio de estimular o povo a melhorar de vida; tal qual, afirma Figueiredo (2000) as doutrinas protestantes do século XVI. A concepção de paraíso e inferno é bem parecida com a católica: o paraíso, ou Walhalla como era chamado pelo povo viking, era um lugar banhado de sol, de clima ameno e solo fértil, enquanto o inferno, ou Hel, era coberto pela noite eterna, gélido e de terras estéreis. Observando essas concepções, é possível perceber que o Hel (nome que inspirou nos ingleses a palavra Hell, que em inglês quer dizer Inferno) era bem semelhante à Escandinávia, no Círculo Polar Ártico, onde em boa parte do ano, as pessoas são submetidas à chamada noite eterna, e em outras épocas, o sol nasce à meia-noite, o que incentivava o povo a buscar terras mais quentes, férteis e onde o sol dividisse espaço com a noite. 29 Movidos pela busca do paraíso os nórdicos partiam rumo à novas terras, com o objetivos de colonizá-las, deixando para trás a idéia de que o Walhalla/paraíso era para os corajosos que se atrevessem a tentar explorar o desconhecido, aos desbravadores, movendo todo o povo nessa incessante busca de dominar novos territórios; fazendo assim, serem conhecidos em toda a Europa como povos bárbaros, conquistadores, grandes colonizadores. Uma particularidade da religião viking, conhecida como Ásatrú, ou Vanatrú, é a ausência de templos, os cultos eram localizados em locais que proporcionassem contato direto com a natureza, longe da civilização (cachoeiras, bosques, lagos, florestas). Os nórdicos acreditavam em vários deuses, sempre ligados à forças da natureza. O panteão viking é bastante vasto e tenta se adaptar às necessidades de seu povo, se mostrando uma religião bastante evoluída (FIGUEIREDO, 2000). Abaixo segue uma lista com os principais nomes do Asgard: • Odin era o principal Deus Viking. Ele governava Asgard e também Midgard. Senhor da Magia, da Morte e da Guerra, empunhava a lança Gungnir, que nunca erra o alvo. Também era o Protetor dos Estadistas (governantes) e dos Poetas. Segundo o Horóscopo Viking (que diz as características do Deus que rege o dia do seu nascimento), Odin se mantinha informado sobre os acontecimentos em toda a parte através de seus dois corvos, Hugin (Pensamento) e Munin (Memória), que vigiavam o mundo e contavam tudo o que se passa e o que já se passou no mundo. O possível análogo de Odin na mitologia Grega é Zeus, por se tratar do Deus dos deuses. • Frigg era a esposa de Odin e deusa da Fertilidade. Suas possíveis análogas na Mitologia Grega são Era, por se tratar da mulher de Zeus e por ser a Deusa dos Partos, ou Gaia, por se tratar da Mãe Terra, a Fertilidade em pessoa. • Thor é com certeza o Deus mais conhecido do Ásatrú devido ao desenho animado “Thor: o Deus do trovão”. Thor era, além de Deus do Trovão, também Deus da chuva, do relâmpago e da vingança. Ele era o melhor entre todos os guerreiros de Asgard. Empunhando seu mítico martelo de pedra chamado Mijollnir, ele era invencível em qualquer batalha. O possível análogo de Thor na Mitologia Grega é Apolo, por ser filho de Zeus, assim como Thor é filho de Odin, além disso, Apolo é o Deus do Sol, e Thor também é Deus de entidades celestes. • Loki também é filho de Odin, irmão de Thor, era um Deus curioso, por ter, ao mesmo tempo, o Bem e o Mal sob seu domínio. 30 • Tyr era o Deus dos Guerreiros e do Combate (não da Guerra). Era o líder do exército dos deuses. Seu possível análogo na Mitologia Grega é Marte, o Deus da Guerra. • Frey trata-se de um dos principais Deuses do Ásatrú. Ele é o Rei dos Duendes e o Deus masculino da Fertilidade. • Freya é irmã de Frey, é a Deusa do Amor e da Magia. • Heimdal é o porteiro de Asgard, ele guarda a única forma de acesso ao Reino dos deuses: a ponte de Bifrost. • Njord é o senhor dos Mares, por isso é um Deus muito importante para os Vikings, exímios navegadores; era também o Protetor dos Marinheiros e Pescadores. • Idun é Deusa da Saúde, possuía uma caixa de madeira mágica, onde guardava um infinito número de maçãs as quais tinha a obrigação de servir a todos os deuses, todos os dia. Essas maçãs é que lhes garantiam a força e a eterna juventude. Na Mitologia Grega existia a crença de que os deuses se mantinham fortes e jovens porque comiam Ambrósio e bebiam Néctar todos os dias, servidos por Dionísio/ Baco, o Deus do Vinho, por isso ele é o possível análogo de Idun. • Nornes são um clã de deusas, como afirma o horóscopo viking, responsáveis pela guarda e preservação da árvore Yggdrasill (Uma árvore mágica que dividia a terra, nas profundezas das suas raízes moravam os anões, ao redor de seu caule estava o mundo dos homens e, acima de suas folhas, estava a terra dos deuses – Asgard). As três irmãs deveriam mantê-la longe das vistas dos homens e fazer chover hidromel (bebida alcoólica a base de mel fermentado, típica dos Vikings) sobre suas raízes todos os dias, para que ela nunca morresse, o que seria o fim do mundo. Outra função das Nornes é controlar a sorte, o azar e a providência. Urd era a irmã mais velha e vivia olhando para trás, por cima do ombro; é a Deusa do Passado. Verdandi é bem jovem e gosta de olhar para o chão; é a Deusa do Presente. Já de Skuld, não se pode precisar a idade, pois ela vive enrolada em panos negros e com um capuz na cabeça, além disso, ela leva um pergaminho nas mãos, pergaminho esse que contém os segredos do Futuro, do qual ela é a Deusa. • Dvalin é o Senhor dos Anões, além de ser o Deus do mundo subterrâneo. • Valkyrias são entidades femininas, mensageiras e guerreiras de Odin, que aparecem para os guerreiros que estão prestes a morrer nas batalhas. Apenas estes podem vê-las, para os demais elas são invisíveis. Elas têm a missão de conduzir os mortos até Walhalla 31 ou Hel. Vários outros mitos também povoavam o imaginário viking (como anões, gigantes, dragões, duendes, elfos, gnomos e muitos outros) e hoje transitam em universos fantásticos, como os RPG’s (Dungeons and Dragons ou Dragonlance), livros como os de J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis), séries e desenhos (Asterix, Cavaleiros do Zoodíaco, Thor: o Deus do Trovão, entre outros). De acordo com Figueiredo (2000), os anões nórdicos, não são exatamente como conhecemos hoje os homens de estatura mais baixa, são seres mitológicos criados por eles; se apresentam exatamente como o estereótipo do viking atual: utilizam elmos com chifres, botas, roupas peludas e um machado. Os nórdicos acreditavam que os anões eram imortais e viviam embaixo da terra. Os gigantes são seres muito especiais na mitologia escandinava, fazem parte dos mitos de outras culturas, mas têm o papel importante de serem o ser primordial dos vikings, Ymir. Possuem o dom de metamorfose, e a eles são atribuídos os fenômenos meteorológicos mais violentos (LANGER, 2006). Já os dragões fazem parte de um mito muito mais antigo, em torno de cinco mil anos antes de Cristo, na China, que tentava explicar a origem de ossadas enormes de dinossauros. De forma desconhecida, esse mito viajou pelo tempo e pelo Oriente até atingir as terras européias; e os dragões, tal qual conhecemos hoje, como sendo os seres mais poderosos, e portanto, mais temidos no mundo, são os do imaginário Viking, e não chinês. Outros seres que habitam a mitologia nórdica são os Duendes, sabotadores natos, que gostavam de roubar coisas e escondê-las dos homens, representam um papel semelhando ao Saci Pererê no folclore brasileiro; enquanto os Elfos eram seres bem parecidos com os humanos, porém menores, com orelhas pontudas e poderes especiais, invocados para ajudar ou prejudicar as pessoas. E, por fim, os Gnomos, bem parecidos com os duendes, eram bons, protetores da natureza, dos animais e das florestas, e guardiões de um pote de ouro de Asgard. 32 3.1.2 Os gregos “Falo que meu primeiro país hoje é o Brasil e o meu segundo país é a Grécia. (...) Que aquela terra sábia me coma!” (Elke Maravilha) Os mitos gregos estão por toda parte ainda hoje. Essas narrativas, que um dia povoaram não só a imaginação como também a vida cotidiana de todo um povo, perduraram no tempo e ainda hoje fascinam escritores, cineastas, escultores, psicólogos, antropólogos, etc. Pode-se fazer delas o uso mais variado, mas é curioso que guardam, em si e por si mesmas, um interesse inabalável para os leitores comuns, pessoas que sempre sentirão prazer em mergulhar na poesia de deuses nada perfeitos, cheios de defeitos muito humanos, ninfas que definham de amor por mortais, heróis que redimem a humanidade, vozes encantadoras de sereias, monstros brutos de um olho só, derrotados pela inteligência do homem. Os estudiosos podem tentar analisar os mitos como forma primitiva de explicação racional do universo, como ciência ingênua e rudimentar; outros podem vê-los como projeção de nossa vida inconsciente, entre tantas outras tentativas de menosprezá-lo, mas ele sobrevive inatingível, com o impacto de sua força narrativa. “O mito é o nada que é tudo”, já disse Fernando Pessoa, criador de mitos, como todo poeta. (VASCONCELLOS, 1998) Os gregos antigos diziam que seus deuses tinham as mesmas paixões, defeitos e qualidades dos homens, por isso estavam sempre envolvidos em aventuras, características que definem o sentido da palavra mitologia, do ponto de vista da fabulosa história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade greco-romana. Os próprios gregos moldaram seus deuses e, ao contrário das outras mitologias, tinham deuses humanizados, fazendo do céu um ambiente familiar. As divindades principais habitavam o Monte Olimpo e formavam a corte de Zeus (maior e mais poderosa das doze divindades gregas do Olimpo, o Júpiter dos romanos), o deus supremo. Além das muitas divindades secundárias, havia também os semideuses, deuses ilegítimos, filhos de deuses com mortais, que por isso dependiam dos deuses. Dentro desses conceitos religiosos bem diversificados, cabia uma verdadeira democracia de pensamentos, desde os materialistas até os que acreditavam no julgamento após a morte. Esta evolução ocorreu durante cerca de 25 séculos, desde o segundo milênio a. C., até o fechamento das escolas pagãs pelo imperador bizantino Justiniano (329 a.C.). (FERNANDES). 33 Bom ela [a psiquiatra Drª Anizia da Silveira] dizia isso. Que eu era uma sacerdotisa dionisíaca! Não sei, nunca perguntei [o que quis dizer com essa citação] a ela, mas, bom, vamos dizer: Dionísio, vamos começar por Dionísio. Dionísio era o deus dos prazeres, que pro latino é Baco, é Dionísio. Deus do teatro.(...) Sabe, então Dionísio o Deus do teatro, o Deus da tragédia. • Dinísio - Dioniso, Diónisos ou Dionísio - Deus grego equivalente ao romano Baco, especificamente deus do vinho, das festas, do lazer, do prazer, do pão e mais amplamente da vegetação, um dos mais importantes entre os gregos e o único deus filho de uma mortal. Tenho a impressão de que agora estamos atrelados ao mito de narciso e Eco. Narciso, aquele belíssimo, que se apaixonou por si mesmo. Ficou: eu, eu, eu, eu, eu, eu sou o máximo e fudeu o mundo. Não tem gente assim? Enquanto Eco era apaixonada por Narciso. Ela, ao contrário, não olhou para si. E, como os deuses gregos eram sábios, castigaram ela por causa disso. Colocaram ela entre as montanhas e repetindo só os “finalmentes”. Você repara que tem muita gente que é eco. Editaram certas coisas e estão repetindo que nem papagaio. Lobotimizados. Para explicar o mito de Eco e Narciso, segue abaixo um trecho do texto de Vera Lúcia Soares: Pelo mito ficamos sabendo que Narciso era filho do rio Cefiso e da ninfa Liríope, nome que lembra uma flor, o Lírio. Pois bem, dessa união do rio com a flor do Lírio nasceu o jovem Narciso, considerado o mais belo dos mortais. De uma beleza nunca vista, Narciso tornou-se a paixão de todas as jovens da Grécia. Até mesmo as ninfas, divindades ligadas aos elementos da natureza e conhecidas por sua formosura, estavam irremediavelmente presas à beleza de Narciso. E, dentre estas, Eco uma jovem ninfa conhecida por sua tagarelice. Zeus, o imortal deus do Olimpo gostava de dar suas escapadas amorosas pelo mundo dos mortais, atrás de belas jovens. Casado com a ciumenta Hera que o vigiava constantemente, pediu à ninfa Eco que distraísse sua esposa com sua conversa, enquanto ele descia à terra para mais um de seus encontros amorosos. Hera, que não era boba e conhecia o marido que tinha, percebeu a artimanha e castigou a ninfa, condenando-a a não mais falar: repetiria tão-somente os últimos sons das palavras que ouvisse. Mas, era verão e a jovem ninfa estava apaixonada por Narciso, que partira com alguns companheiros para uma caçada nos bosques. Sem se deixar ver, Eco seguia o amado, ansiando por ele. Acariciando o amado com seu olhar, Eco perscrutava-o intensamente, como que querendo sorvê-lo aos turbilhões, tentando captar o segredo daquele sentimento, daquela paixão. Alheio aos sentimentos despertados em Eco e tendo-se afastado dos amigos, Narciso começou a gritar por eles ouvindo em resposta o som de sua própria voz a ecoar pelas montanhas afora… A apaixonada ninfa, castigada pela Deusa Hera, não podia falar! Eco ouvia a voz de seu amado, mas não podia lhe falar e, sem a possibilidade do encontro, entristecida, sentindo-se rejeitada por Narciso, a jovem deixou de se alimentar, definhando até transformar-se em uma rocha. Capaz apenas de repetir os derradeiros sons do que ouvia. As demais ninfas, condoídas com a sorte de Eco e irritadas com o que consideravam uma insensibilidade por parte de Narciso, pediram vingança a Nêmesis. E a deusa da justiça distributiva o condenou a amar um amor impossível. 34 Numa tarde de verão Narciso, sedento, aproximou-se da límpida fonte de Téspias para mitigar a sede. Debruçando-se sobre o lago que formava um espelho imaculado, ele viu-se refletido nas águas e apaixonou-se pela própria imagem. Não conseguindo mais se afastar da própria imagem, morreu de inanição, tal qual a ninfa Eco. Em seu lugar foi encontrada uma delicada flor amarela, com o centro circundado de pétalas brancas. Era o Narciso. 3.1.3 Os negros e o candomblé “O candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer as pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrário da maioria das religiões.” (Pierre Verger) Os navios negreiros que chegaram entre os séculos XVI e XIX traziam mais do que africanos para trabalhar como escravos no Brasil Colônia. Em seus porões, viajava também uma religião estranha aos portugueses. Considerada feitiçaria pelos colonizadores, ela se transformou, pouco mais de um século depois da abolição da escravatura, numa das religiões mais populares do país. Segundo o IBGE, em 1988, 0,6% dos chefes de família (ou cônjuges) seguiam cultos afrobrasileiros. Um levantamento do Instituto Gallup de Opinião Pública, no mesmo ano, indicou que candomblé ou umbanda era a religião de 1,5% da população. São índices ridículos se comparados à multidão que lota as praias na passagem de ano, para homenagear Iemanjá, a orixá (deusa) dos mares e oceanos; mas a gerente de pesquisa do IBGE, Elisa Callaux, explica que os próprios fiéis evitam assumir, por medo do preconceito. Vamos conhecer agora um pouco dos mitos, ritos e entidades do Candomblé. 3.1.3.1 O início No começo não havia separação entre o Orum (O céu dos orixás) e o Aiê (a Terra dos humanos). Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras. Conta-se que certa vez, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum (Senhor do Céu, Deus Supremo). 35 Olorum irado com a sujeira e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra. Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao céu dos orixás e retornar de lá com vida; e os orixás também não podiam vir ao Aiê com seus corpos. Isoladas dos humanos as divindades entristeceram-se. Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra. A condição imposta por Olodumare, foi que os orixás teriam que tomar o corpo material de seus devotos. Oxum, recebeu de Olorum um encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás. Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás. Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou-as, cobriu de tecidos e laços, perfumou com ervas seus corpos, enfeitou seus colos com colares de contas, entre outros acessórios. Finalmente ficaram prontas para os deuses. Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, cantavam, davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam. Finalmente os orixás podiam de novo conviver com os mortais, e ficaram felizes. Estava inventado o candomblé. (MANUELA) 3.1.3.2 Os orixás Segundo a tradição, os deuses do candomblé têm origem nos ancestrais dos clãs africanos, divinizados há mais de cinco mil anos. Acredita-se que tenham sido homens e mulheres capazes de manipular as forças da natureza, ou que trouxeram para o grupo os conhecimentos básicos para a sobrevivência, como a caça, o plantio, o uso de ervas na cura de doenças e a fabricação de ferramentas. Os orixás estão longe de se parecer com os santos cristãos. Ao contrário, as divindades 36 do candomblé têm características muito humanas: são vaidosos, temperamentais, briguentos, fortes, maternais ou ciumentos; enfim, têm personalidade própria. Cada traço da personalidade é associado a um elemento da natureza e da sua cultura: o fogo, o ar, a água, a terra, as florestas e os instrumentos de ferro. Na África Ocidental, existem mais de duzentos orixás, mas, na vinda dos escravos para o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no país está reduzido a dezesseis. E, mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda cultuados: os outros quatro Obá, Logunedé, Ewa e Irôco raramente se manifestam nas festas e rituais. (CAMPOLIM, 1995) Segue abaixo um pouco sobre cada um desses doze orixás. • Exu é o senhor dos caminhos, caminhos que levam e trazem, e fazem as pessoas se encontrarem ou distanciarem-se. É quem faz com que os ritos sejam cumpridos, principal responsável pela ligação do mundo espiritual ao mundo material. É o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Exu é vaidoso e viril. Se tratado com consideração, reage mostrando-se serviçal e prestativo. Esquecer de lhe fazer oferendas, por outro lado, significa esperar dele uma reação à altura. Por essa razão, Exu, talvez, seja o mais humano dos Orixás, nem completamente mau, nem completamente bom. É o intermediário entre os homens e os deuses. Exú foi, erradamente, sincretizado pelos primeiros missionários católicos como diabo cristão devido a esses fatores. • Ogum é o Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. Sabe trabalhar com metal e, sem sua proteção, o trabalho não pode ser proveitoso. • Oxossi é o deus da caça e o grande patrono do candomblé brasileiro. • Obaluaiê é o médico dos pobres. É Deus da peste, das doenças da pele e posto, atualmente, como Deus da AIDS. • Oxum é a divindade dona das águas doces (rios, fontes e lagos). É também deusa do ouro, do jogo de búzios e do amor. É senhora da fertilidade, da gestação e do parto, é a protetora das crianças, cuida dos recém-nascidos, lavando-os com suas águas e folhas refrescantes. Vaidosa, é a mais bela das divindades e a própria malícia da mulher-menina. Assim sendo também é conhecida como a deusa da vaidade, sendo vista como uma orixá jovem e bonita, mirando-se em seus espelhos e abanando-se com seu leque. • Iansã (Oyá) é senhora dos ventos, das tempestades, dos raios e do Rio Niger – que em 37 Ioruba chama-se “Odo Oyá” – e dona da alma dos mortos. • Ossaim é a divindade das folhas medicinais e liturgias. Todas as ervas, chás, folhas e vegetação pertencem a ele; é quem desperta, através das palavras mágicas (ofós), os poderes das folhas. Usa esses segredos no preparo de poções que curam. • Nana (Nana Buruku) - o termo nanã significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra - é uma orixá muito antiga e por isso muito respeitada e reverenciada. É considerada uma das mais antigas divindades das águas. Não das águas turbulentas de alto mar, como Yemanjá, nem das águas calmas dos rios, reino de Oxum, mas das águas paradas dos lagos e dos lamacentos pântanos, que lembram as águas primordiais que havia no mundo antes de sua criação. • Oxumaré é o senhor do exótico e do mistério. No ciclo “vida e morte”, ele também está presente. É simbolizado pelo arco-íris e pela cobra mordendo a própria cauda, numa atitude que representa o ciclo vital: vida, morte e renascimento. • Yemanjá - o nome Yemanjá vem da tradução do iorubá “Mãe cujos filhos são peixes” - tem seu domínio nas profundezas das águas dos mares e dos oceanos. É a mãe de todos os orixás e representada com seios volumosos, simbolizando a maternidade e a fecundidade. • Xangô é viril, atrevido e justiceiro. De personalidade muito forte, deus do raio, do trovão, da justiça e do fogo. É um orixá temido, respeitado e violento, porém justiceiro. Costuma se dizer que Xangô castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. • Oxalá - “O grande orixá” – ocupa uma posição única e incontestável, o mais importante orixá e o mais elevado do panteão africano, o mais alto do panteão Yorubá, abaixo de Olodumaré, é o dono da argila e da criação. Oxalá é o pai de todos os deuses africanos, grande chefe da ciência espiritual, Deus purificador. 38 4 CAPÍTULO IV 4.1 Projeto 4.1.1 Briefing • Tema do projeto: “Estado de Minas e a Moda: 80 anos de história”. Figura 15 – Página do Jornal Estado de Minas que serviu de ponto de partida para o projeto. Fonte: Jornal Estado de Minas. Caderno Feminino & Masculino. 31/07/2005. 39 • Sub-Tema pessoal: QUE MARAVILHA: Elke, a apátrida de Itabira! Apátrida de Itabira Elke, mulher maravilha, russa grega afegã de Dakar, diamante, safira. Elke, mulher maravilha, índia ninja titã néctar lixia guavira iara curupira urtiga vampira Elke, mulher maravilha, orixá do Irã nó, manjar, lúcida que delira Elke, mulher maravilha, albina catalã pop star mineira da Síria curió corruíra orquídea baunilha Elke, mulher maravilha, galega talismã ímpar, par, brilha quanto fervilha Elke, mulher maravilha, pisciana bambã verbo amar, musa culta caipira Clementina da vila, antídoto de ziquizira Elke, mulher maravilha, loba tcham-tcham-tchã milenar, luz de farol de milha Elke, mulher maravilha, Pomba Gira, Iansã Iemanjá, Maria Padilha aranha, armadilha, bruxa que fada vira Elke, mulher maravilha, imã elo elã singular Oxum, versus mentira Elke, mulher maravilha, prussiana no afã de doar apátrida de Brasília Guairá, Altamira, pra acabar apátrida de Itabira (Itamar Assunção) • Linhas de pesquisa: - Elke Grunupp e suas origens (pai russo, mãe alemã, vô azerbaijani – que nasceu no Azerbaijão –, vó mongol, além da descendência viking): “E gosto muito dessa brincadeirinha de misturar culturas. Numa produção, misturo viking com Tailândia, com África Negra, com Marrocos, com Brasil, com tudo, e fica bom.” - Elke Maravilha jurada de calouros: “(...) Haroldo Costa. Ele era produtor do Chacrinha. Eu não o conhecia, nem conhecia o Chacrinha. Ai ele ligou para mim, me perguntou se eu não queria ser jurada do Chacrinha, falei quero; tá, então tá. Desliguei o telefone e virei ‘Meu Deus e agora o que eu faço lá?!’ ”. - O costume de customizar: “Sempre dou uma mexida nas roupas, sempre fiz o que se chama customizar. Eu gosto de bordar, sou prendada, uai!” • Conceito Falar de moda, significa falar de espetáculo, show, maravilhas...e falar de maravilha implica falar em uma pessoa que tem maravilha no próprio nome: Elke Maravilha. 40 Com seu porte de rainha, alta, loura, vestida de forma sempre extravagante, sem sombrancelha, mas com sombras que, de forma fantástica, delineiam bem os olhos, cheia de apostos carinhosos – criança, amor, coração – pele européia, delicada, a boca, bem desenhada, o batom ultrapassando o limite dos lábios. Rainha dos gays, dos presidiários e das prostitutas, Elke até parece um travesti. E com eles se identifica pelo amor ao exagero, à irreverência. A coragem sem medida. A voz sedutora, bem modulada, Elke vai contando suas histórias. Após ouvi-la falando, mesmo que por uma só vez, é impossível não ouvi-la, a cada palavra lida. Elke é assim, linda, loura, louca, fantástica, inspiradora! • O produto - Segmento: calçados - Filosofia: os princípios que foram observados para a construção do projeto são os seguintes Estética → estilo/ forma Funcionalidade → função/ semiótica Usabilidade → ergonomia/ ergo-design Design emocional → direcionado para o usuário Embalagem → armazenamento/ transporte/ estética Produtividade → eficiência produtiva/ rendimento Custo → produto/ produção - Formas: extremos; bicos quadrados, quinados, finos e longos; - Saltos que seguem até o traseiro (alongam e dão idéia de maior altura) ou fachetados com o mesmo visual; finos ou grossos de acordo com o perfil do calçado; - Plataformas altíssimas, geométricas e também fachetadas; - Canos altos e baixos; - Gápeas envolvendo o solado (alongam e dão idéia de maior altura), recortes, franjas ou pedrarias/ ferragens; 41 - Cores: roxo, preto, branco, azul royal e turquesa, cinza cimento, marrom esverdiado, verde mar, e algumas variações. Figura 16 - Cartela de cores. Fonte: foto de arquivo pessoal. - Matérias: tecidos, couros/ sintéticos¹ (texturas molhadas, rústicas e escovadas, lisas, estampas pequenas ou grandes), botões forrados, ferragens foscas, pedras grandes e vistosas, tecidos (veludo molhado, emborrachados); Figura 17 - Alguns materiais que compõe a cartela de materiais. Fonte: foto de arquivo pessoal. ¹ Os sintéticos precisam ser cuidadosamente escolidos, pois devem apresentar um bom acabamento, sem aparência de plástico. 42 • Público-alvo Figura 18 - Painel de público-alvo. Fonte: foto de arquivo pessoal. - Quem são? Mulheres, economicamente ativas, pertencentes à classe A e B, de 35 a 50 anos. - Onde trabalham? São grandes empresárias, mulheres independentes que ocupam cargos de grande responsabilidade. Trabalham em diversas áreas de atuação, mas em funções que exijam, sempre, sólida formação acadêmica, somada à vasta experiência no mercado. São mulheres que trabalham em escritórios que unem aspectos tradicionais e vanguardistas, o trabalho bem feito a modernidade; onde os funcionários transmitem uma imagem formal e casual o suficiente para aliar confiança, segurança e leveza. - Quais ambientes freqüentam? Mulheres que trabalham muito mas buscam formas de não serem absorvidas somente pelo trabalho. Praticam alguma atividade física, musculação, Pilates, caminhada, podem até participar de equipes esportivas variadas, desde lutas à jogos. Possuem uma vida social também equilibrada; procuram conhecer novos restaurantes, casas de massas, cafés, etc, mas não são baladeiras, gostam de curtir uma reunião informal na casa de parentes ou amigos mais íntimos. Saem sempre acompanhadas, é difícil encontrá-las sozinhas. Um cinema também pode ser um programa interessante, até mesmo durante a semana. Frequentemente saem às compras. E é na busca de roupas, acessórios, calçados e badulaques diferentes que se encaixa o produto: uma tentativa de resolver a monotonia 43 do trabalho diário, com um produto diferente, divertido, carregado de história, que foge da banalidade. As linhas foram desenhadas para essas mulheres. Os rasteiros – linha Copabana -, para aquelas que preferem um calçado leve, e à vontade; os de salto e bico fino – linha Grécia ficam reservados àquelas que não abrem mão do tradicional, mas anseiam por novidades; e por fim o salto plataforma – linha Bantu – reservada àquela mulher ousada, que deseja chocar o visual, contrapondo o clássico, para trabalhar, com ou ousado e forte para os momentos de lazer. - E o estilo? Espírito sempre jovem, mas consciente da idade, experiências vividas e posição social. Desapegadas aos rótulos, de estilo bastante moderno que permita uma fácil integração, não importando sexo, crença ou opção sexual; visão cosmopolita. Admiradores de música e literatura, incentivadora do design nacional. Pesquisadoras/ curiosas sedentas por informações de universos distintos fazendo uso constante das tecnologias disponíveis para tal (rádio, internet, celular). 4.1.2 Desenvolvimento O desenvolvimento da coleção QUE MARAVILHA: Elke, a apátrida de Itabira! buscou suas fontes de inspiração na vida da própria Elke Maravilha, sua vinda para o Brasil, suas influências e referências, como foi possível ler nos primeiros capítulos. A estilização da tradicional espora usada por sertanejos no interior de Minas Gerais e características do estilo country podem ser percebidas em algumas sutis linhas que foram reformuladas para manter as referências mas não copiá-las. Fotos da juventude de Elke serviram de base para recriar o clima e transformar as formas para cubrir e calçar os pés. Aspectos de seu gosto pessoal para a moda, como as botas, os saltos, a customização, foram aproveitados para contextualizar e conceituar as peças da coleção. As características psicológicas foram as principais referências, serviram de inspiração para a criação das principais silhuetas da coleção, a escolha das cores, também seguiu esse guia e finalmente, os materiais; foram escolhidos com base no senso estético de Elke, não que ela goste muito dos artigos, ferragens e acessórios escolhidos, mas é o que seu espírito nos sugere; buscamos uma forma de reinterpretar essa mulher, um novo olhar sobre Elke Maravilha. 44 Figura 19 – Painéis de referência/ inspiração. Fonte: foto de arquivo pessoal. 45 4.1.2.1 Fichas técnicas • Linha Grécia (ref. G8.002): todo confeccionado em tafetá dublado este modelo possui um fechamento com fita de veludo, porém com a frente sem cobertura; cano alto até o joelho; pequeno bico fechado para dar segurança no calce; e três pares de tiras fixas cruzando no peito do pé. Figura 20 - Linha Grécia - modelo ref. G8.002. Fonte: foto de arquivo pessoal. 46 • Linha Copacabana (ref. C8.003): confeccionado em tafetá dublado, com a frente do cano em malha (malharia tubular), o modelo abaixo possui abertura traseira para o calce e fechamento em velcro. Figura 21 - Linha Copacabana - modelo ref. C8.003. Fonte: foto de arquivo pessoal. 47 • Linha Bantu (ref. B8.005): calçado confeccionado, totalmente, em camurça, somente o solado e o salto é que são fachetados em tecido, tafetá. O cano é removível, preso apenas por botões de pressão por baixo do solado, próximo ao salto; é completamente viável o uso dessa peça somente como tamanco, dispensando o cano. Figura 22 - Linha Copacabana - modelo ref. C8.003. Fonte: foto de arquivo pessoal. 48 4.1.2.2 Embalagem Para acondicionar os calçados foi desenvolvida uma embalagem diferenciada que contemple os aspectos de praticidade e beleza, aliados ao conceito desenvolvido. Para tal foi utilizado o mesmo fechamento de uma gaveta, uma caixa para colocar os calçados, fechada por uma espécie de encaixe, sem tampa, como tradicionalmente conhecemos as caixas de sapato. Figura 23 – Modelo de caixa Fonte: foto de arquivo pessoal. 4.1.3 Resultados Elke possui cerca de 60 pares de botas em seu guarda-roupa, de todas as cores, brancas, verdes, pretas, vermelhas, azuis, roxas, entre várias outras que podemos imaginar; assim as pernas se tornam o principal foco desta coleção. O amor pelo exagero reforça a dualidade extremista da personagem, canos altos ou curtos foram os eleitos. O ecleticismo reina! Os conceitos estéticos que nos inspiram, tangem culturas; contemplam orixás, deuses do Olimpo, anões, gnomos, elfos entre outras entidades vikings. Um mix mitológico. Assim surgem texturas holográficas, que fingem ser o que não são, com cores que nos enganam, assim como as estórias. Os materiais que melhor traduzem essa linguagem são os tafetás, cetins e shantungs. A camurça aparece, com sua opacidade e aspereza, para contrapor todo esse brilho e sofisticação. Acompanhando o padrão estético da figura/tema dessa coleção, a variedade de estilos, da fôrma clássica, ao solado imponente guiam e celebram o estilo Elke de ser: linda, loura, louca, fantástica, inspiradora! 49 Figura 24 – Linha Grécia - Ref. G8.005. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. Fonte: foto de arquivo pessoal. Figura 25 – Linha Grécia - Ref. G8.001. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 50 Figura 26 – Linha Grécia - Ref. G8.002, 003 e 004. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 51 Figura 27 – Linha Copacabana - Ref. C8.002. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. Fonte: foto de arquivo pessoal. Figura 28 – Linha Copacabana - Ref. C8.001. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 52 Figura 29 – Linha Copacabana - Ref. C8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 53 Figura 30 – Linha Bantu - Ref. B8. 001. Painel (croqui e desenho técnico) e calçado pronto. Fonte: foto de arquivo pessoal. Figura 31 – Linha Bantu - Ref. B8.002. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 54 Figura 32 – Linha Bantu - Ref. B8.003, 004 e 005. Painel (croqui e desenho técnico). Fonte: foto de arquivo pessoal. 55 5 CAPÍTULO V 5.1 Conclusão O objetivo principal desse trabalho foi estudar a vida e os feitos de Elke Maravilha; sua trajetória de vida, suas influências de família, seu universo profissional e seu senso estético, para conseguir conhecimento teórico o suficiente para o planejamento e desenvolvimento de uma coleção de moda. Como pode se perceber nos últimos capítulos, o objetivo foi alcançado com êxito. A produção de três, dos quinze modelos criados, valida o conhecimento prático sobre o produto de moda, aqui, calçados. As formas desenvolvidas passam a idéia e o clima da mulher/ tema desse trabalho, comprovando que toda a pesquisa bibliográfica realizada serviu sim, como bom suprimento de informações para a criação. 56 6 Bibliografia • Blog de Pedro Alexandre Sanches, disponível em: <http://pedroalexandresanches. blogspot.com/2008/12/ciclo-elke.html>.Acesso 16/12/2008, às 19:02. • Blog Gregos & Bahianos, disponível em: <http://mtroi.blog.uol.com.br/arch2006-0701_2006-07-31.html>. Acesso em03/11/2008, às 23:11. • Blog Marion Velasco, disponível em: <http://empilhamento.blogspot.com/2007/08/entreextra-vagante-e-mtica.html>. Acesso em 14/1/2008, às 14:34. • Blog Os Perturbados, disponível em: <http://www.perturbados.blogger.com. br/2004_05_02_archive.html>. Acesso em 24/09/2008, às 21:05. • Desciclopédia, a enciclopédia livre de conteúdo que qualquer um pode editar, disponível em: <http://desciclo.pedia.ws/wiki/Elke_Maravilha>. Acesso em 23/09/2008 às 20:10. • Homepage da revista eletrônica de história Klepsidra, disponível em: klepsidra.net/klepsidra2/vikings.html>, acesso em 10/11/2008, às 11:32. <http://www. • Homepage da Revista IstoÉ GENTE, disponível em: <http://www.terra.com.br/ istoegente/363/entrevista/index.htm>. Acesso em 27/08/2008, às 16:29. • Homepage da Revista Quem, disponível em: <http://revistaquem.globo.com/ Quem/0,6993,EQG1043568-2157-1,00.html>. Acesso em 26/11/2008, às 18:30. • Homepage da Revista TPM – Trip Para Mulheres, disponível em: <http://revistatpm.uol. com.br/galeria_v2.php?galeria_id=2>. Acesso em em 27/08/2008, às 16:57. • Homepage do jornal O Povo, disponível em: <http://www.opovo.com.br/opovo/ vidaearte/718138.html>. Acesso em27/08/2008, às 21:08. • Homepage do programa Por Aí, produzido pela Rede TV, disponível em: <http:// programaporai.blogspot.com/2008/09/curiosidades-de-elke-maravilha.html>. Acesso em 10/11/2008, às 23:02. • Mix Brasil, maior portal GLS do Brasil, disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/mp/ upload/noticia/3_51_68634.shtml>. Acesso em 29/09/2008, às 16:48. • Portal Candomblé, o mundo dos orixás, disponível em: <http://ocandomble.wordpress. com/>. Acesso em28/11/2008, às 14:44. • Portal da Revista Superinteressante, 1995, edição 88 Matéria de Sílvia Campolim. Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/1995/conteudo_114499.shtml#top>. Acesso em 28/11/2008, às 14:43. • Portal Dica de Teatro, disponível em: <http://www.dicadeteatro.com.br/index. php?local=2=&id=982>. Acesso em 29/set./2008, às 16:43. • Portal Sampacentro, disponível em: <http://sampacentro.terra.com.br/textos. asp?id=325&ph=3>. Acesso em 26/11/2008, às 14:53. • Portal Sua Pesquisa, disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historia/vikings/>. Acesso em 10/11/2008, às 20:13. 57 • Portal Tribuna Pop, disponível em: <http://www.parana-online.com.br/ colunistas/207/45442/>. Acesso em 10/11/2008, às 18:35. • Site Undersoul, vida e morte pelo underground, disponível em: <http://br.geocities.com/ undersoulbr/materia/vikings_parte1.htm>. Acesso em, 27/08/2008, às 16:26. • Wikiquote, a coletânea de citações livre, disponível em: <http://pt.wikiquote.org/wiki/ Elke_Maravilha>. Acesso em 27/08/2008, às 16:45. • Youtube, compartilhador de vídeos na internet. Gravação do programa Em Revista, série sobre Maravilhas, disponível em: <http://www.youtube.com/user/alexmadruga>. Acesso em 27/08/2008, às 18:32. • Youtube, compartilhador de vídeos na internet. Vídeo da Série Constituindo, produzida pela TV Senado em comemoração aos 20 anos da Constituição Cidadã, disponível em: <http://br.youtube.com/watch?v=qTf5ERSG1ig>. Acesso em 27/11/2008, às 14:34. • VASCONCELOS, Paulo Sergio de. Mitos Gregos. Ed.Objetivo. São Paulo, 1998 58 7 Apêndice YEMANJÁ água leuqe e espada sábado transparente, verde ou azul claro branco e azul porco, cabra e galinha peixes do mar, arroz, milho, camarão com côco elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: fogo machado duplo (oxé) quarta-feira branco e vermelho branca e vermelha, com coroa de latão galo, pato, carneiro e cágado amalá (quiabo com camarão seco e dendê) elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: fogo adaga e iruexim (rabo de búfalo) quarta-feira Vermelho grená ou marrom escuro vermelha cabra e galinha milho branco, arroz, feijão e acarajé elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: ferro ada (dois facões) terça-feira azul marinho azul, verde, vermelho ou amarelo galo, bode avermelhado feijoada, xinxim, inhame OGUM (OYÁ) IANSÃ elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: XANGÔ Quadro indicativo de algumas características importantes dos principais orixás. 59 OXUM milho branco, xinxim de galinha, ovos, peixes de água doce NANÃ elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: terra ibiri (cetro de palha e búzios) sábado branco, azul e vermelho branca e azul cabra e galinha milho branco, arroz, feijão, mel e dendê OXUMARÉ elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: água cobra de metal quinta-feira amarelo e verde azul claro e verde claro bode, galo e tatu milho branco, acarajé, côco, mel, inhame e feijão com ovos OXOSSI elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: floresta rabo de cavalo e chifre de boi quinta-feira azul claro azul ou verde claro galo e bode avermelhados e porco milho, peixe de escamas, arroz, feijão e abóbora elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: fogo ogó (um bastão adornado com cabaças e búzios) segunda-feira vermelho e preto vermelho e preto bode e galo farofa com dendê, feijão, inhame, água,mel e aguardente EXU elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: água abebê (leque espelhado) sábado amarelo ouro amarelo ouro cabra, galinha, pomba 60 OSSAIN elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: matas cetro de ferro com a imagem de um pássaro – oguê . quinta-feira branco rejado de verde branco e verde claro galo e carneiro feijão, arroz, milho vermelho e farofa de dendê OBALUAIÊ elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: terra cacará (feixe de palha e búzios) segunda-feira preto e vermelho ou vermelho, branco e preto vermelha e preta, coberta por palha galo, bode e porco pipoca, feijão preto, farofa e milho, com muito dendê OXALÁ elemento: símbolo: dia da semana: colar: roupas: sacrifício: oferendas: ar aoparoxó (cajado de alumínio com adornos) sexta-feira branco branca cabra, galinha, pomba, pata e caracol arroz, milho branco e massa de inhame 61