dossiê técnico - SBRT

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dossiê técnico - SBRT
DOSSIÊ TÉCNICO
Modelagem Técnica do Calçado
Mauri Rubem Schmidt
SENAI-RS
Centro Tecnológico do Calçado
Agosto
2007
DOSSIÊ TÉCNICO
Sumário
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3
2 OBJETIVOS.............................................................................................................................. 3
3 SISTEMAS DE MEDIDAS PARA CALÇADOS........................................................................ 3
3.1 Dados históricos .................................................................................................................. 4
3.2 Sistema Ponto Francês Brasil............................................................................................. 4
3.2.1 O comprimento no Sistema Ponto Francês.................................................................... 4
3.2.2 Comprimento real.............................................................................................................. 5
3.2.3 O perímetro no Sistema Ponto Francês.......................................................................... 5
3.3 Sistema Ponto Inglês ........................................................................................................... 5
3.3.1 Comprimento no Sistema Ponto Inglês .......................................................................... 6
3.3.2 Largura no Sistema Ponto Inglês .................................................................................... 6
3.4 Sistema Ponto Americano................................................................................................... 6
3.4.1 Comprimento no Sistema Ponto Americano .................................................................. 7
3.4.2 Largura no Sistema Ponto Americano ............................................................................ 7
4 A FÔRMA.................................................................................................................................. 8
4.1 Funções da fôrma na construção de um calçado............................................................. 8
4.2 Tipos de fôrma conforme a articulação ............................................................................. 8
4.3 Tipos de fôrma conforme o sistema de montagem .......................................................... 8
4.4 Fabricação de uma fôrma.................................................................................................... 9
5 O CORPO-DE-FÔRMA............................................................................................................. 9
5.1 A importância do corpo de fôrma....................................................................................... 9
5.2 A confecção do corpo-de-fôrma em Sistema CAD ........................................................... 9
5.3 Materiais para a extração do corpo-de-fôrma ................................................................... 9
5.4 A planificação ....................................................................................................................... 9
5.5 O corpo-de-fôrma médio ................................................................................................... 10
6 DESENHO DO CALÇADO ..................................................................................................... 10
7 LINHAS BÁSICAS.................................................................................................................. 10
7.1 Passos preliminares .......................................................................................................... 10
7.1.1 Determinação da linha do meio do calcanhar .............................................................. 11
7.1.2 Determinação do comprimento real da fôrma.............................................................. 12
7.1.3 Deslocamento do comprimento real para a linha do meio da gáspea....................... 13
7.1.4 Marcação do ponto 30 .................................................................................................... 13
7.1.5 Marcação do ponto 20 .................................................................................................... 13
7.2 Pontos e Linhas Básicas ................................................................................................... 14
7.2.1 Ponto A – Ponto de elevação ......................................................................................... 14
7.2.2 Ponto B - Ponto do alto dorso do pé............................................................................. 14
7.2.3 Ponto C – Ponto de costado .......................................................................................... 15
7.2.4 Ponto D – Ponto da boca da gáspea ............................................................................. 15
7.2.5 Ponto E – Ponto auxiliar ................................................................................................. 15
7.2.6 Ponto F – Ponto da altura do calcanhar........................................................................ 16
7.2.7 Ponto G – Ponto do comprimento do salto .................................................................. 16
7.2.8 Ponto H – Ponto do topo da fôrma ................................................................................ 18
7.2.9 Ponto I – Ponto do meio do bico ................................................................................... 18
7.2.10 Ponto J – Ponto da altura lateral ................................................................................. 18
7.2.11 Ponto L – Ponto do meio do calcanhar....................................................................... 18
8 TIPOS DE CALÇADOS .......................................................................................................... 19
________________________________________________________________________________________
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8.1 Modelos básicos ................................................................................................................ 19
9 MODELAGEM DE UM CALÇADO MASCULINO .................................................................. 19
9.1 Características do modelo inglês ..................................................................................... 19
9.2 Modelagem.......................................................................................................................... 20
10 MODELAGEM DE UM CALÇADO FEMININO .................................................................... 21
10.1 Caracterização do modelo decotado.............................................................................. 21
10.2 Desenho ............................................................................................................................ 21
10.3 Modelagem........................................................................................................................ 21
11 MODELAGEM DE UM MOCASSIM ..................................................................................... 23
11.1 Técnica de construção das peças .................................................................................. 23
12 MODELAGEM DE BOTAS ................................................................................................... 25
12.1 Construção do cano......................................................................................................... 25
13 MODELAGEM DE TÊNIS ..................................................................................................... 26
13.1 O design ............................................................................................................................ 26
13.2 Sistemas de construção .................................................................................................. 26
13.3 Desenho e modelagem .................................................................................................... 27
14 FORROS E AVIAMENTOS................................................................................................... 27
14.1 Avesso............................................................................................................................... 27
14.2 Capa de salto .................................................................................................................... 28
14.3 Sobrepalmilha................................................................................................................... 28
14.4 Palmilha interna................................................................................................................ 28
15 A PALMILHA ........................................................................................................................ 29
15.1 Palmilha de montagem .................................................................................................... 29
15.2 Reforço da palmilha ......................................................................................................... 29
15.3 A alma na palmilha de montagem .................................................................................. 29
16 SOLAS .................................................................................................................................. 30
17 FICHA TÉCNICA .................................................................................................................. 30
18 ESCALA DE MODELOS ...................................................................................................... 30
19 ENCAMINHAMENTOS TÉCNICOS ..................................................................................... 30
Referências ............................................................................................................................... 31
Anexos ...................................................................................................................................... 31
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DOSSIÊ TÉCNICO
Título
Modelagem técnica de calçados
Assunto
Fabricação de calçados de couro
Resumo
Apresenta uma visão geral sobre modelagem técnica de calçados. São abordados temas
relativos a sistemas de medidas, fôrmas, corpo-de-fôrma, desenho e desenvolvimento técnico,
caracterização de modelos básicos e encaminhamentos técnicos.
Palavras-chave
Calçado; design; modelagem
Conteúdo
1 INTRODUÇÃO
A modelagem técnica responde diretamente por muitos processos do desenvolvimento de um
calçado. Como exemplo, pode-se citar a definição da ficha técnica do produto, a adequada
construção das peças, de gabaritos, de matrizes, a aprovação de fôrmas, a escala das peças e
diversos encaminhamentos que preparam a passagem de um modelo pela produção.
A produção de calçados se caracteriza pela grande diversidade de modelos, materiais e
sistemas de fabricação. Além destas questões relacionadas ao produto, o calçado veste uma
parte muito importante e complexa do corpo humano – o pé.
Com consumidores cada vez mais informados e críticos na avaliação de produtos, o
conhecimento técnico torna-se condição básica para as empresas.
2 OBJETIVOS
Apresentação da metodologia e de fundamentos teóricos para modelagem técnica de calçados
com uma breve descrição da modelagem do modelo inglês.
3 SISTEMAS DE MEDIDAS PARA CALÇADOS
Uma curiosidade que todos tem é de saber qual a medida do seu pé e qual o significado do
número marcado no calçado. Pelo presente estudo, pode-se esclarecer estas e outras
curiosidades, como, saber a numeração correspondente de calçados do mercado Americano e
Europeu.
Os sistemas de medidas foram sendo criados com o objetivo de estabelecer padrões técnicos
e comerciais dos calçados.
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3.1 Dados históricos
Historiadores estimam que o calçado começou a ser usado a mais de três mil anos. Por muito
tempo, o calçado foi usado unicamente como proteção. Também já foi peça do vestuário com
a função de mostrar a importância social das pessoas. Nestes tempos cada cliente era
atendido de forma muito particular, com calçados sob medida.
Com a evolução das relações comerciais e o surgimento de um mercado mais formal, sentiu-se
a necessidade de estabelecer padrões nas medidas das fôrmas e por conseqüência dos
calçados.
No inicio do século XX foram criados os Sistemas Inglês e Francês. Depois destes, surgiram
várias interpretações e novos sistemas, sendo que os mais importantes são:
•
•
•
•
•
•
Sistema Ponto Francês;
Sistema Ponto Inglês;
Sistema Ponto Americano;
Sistema Ponto Centímetro;
Sistema Contramarca;
Sistema Mondopoint.
3.2 Sistema Ponto Francês Brasil
O Sistema Ponto Francês Brasil é uma das variações do Sistema Ponto Francês original. Ao
contrário do Ponto Francês que expressa o comprimento médio da fôrma, no Brasil, o número
da fôrma e do calçado expressam o seu comprimento mínimo, ou comprimento real.
3.2.1 O comprimento no Sistema Ponto Francês
1 ponto = 6,66 mm. Este valor de 1 ponto francês equivale a 1/3 de 20 mm ou 2/3 de 10mm
(FIG. 1).
Figura 1 – Progressão de 1 Ponto Francês
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado
Isto significa que, é de 6,66 mm a diferença de um número do calçado ao seu próximo número,
dentro de uma escala.
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3.2.2 Comprimento real
O comprimento real de uma fôrma é determinado a partir da multiplicação do número da fôrma
pelo valor de um ponto francês.
Comprimento real = nº da fôrma X 6,66 mm.
Exemplo:
Comprimento real = nº 35 x 6,66 mm
Comprimento real = 233,1 mm
Esta medida é marcada sobre o eixo da palmilha, sentido calcanhar-bico.
3.2.3 O perímetro no Sistema Ponto Francês
O perímetro é medido na região metatarsiana, sendo uma das dimensões de controle das
fôrmas.
O perímetro varia de uma fôrma para outra, de acordo com a Largura Referencial atribuída à
mesma. O sistema francês não identifica o perímetro do calçado. Se fôrmas ou o calçados
tivessem a largura referencial identificada, teríamos situações como 35/8, 40/10, etc., onde o
segundo nº indica justamente a largura referencial.
A variação dimensional ou progressão da escala é de 5,0mm.
Existe uma fórmula para determinar o perímetro e a largura referencial de uma fôrma:
Perímetro (P) = Nº da fôrma + Largura referencial
------------------------------------------2
Exemplo:
Perímetro = nº 35 + 8
-----------2
Perímetro = 21,5 cm ou 215 mm
3.3 Sistema Ponto Inglês
Este sistema foi desenvolvido na Inglaterra e assim fundamentou suas medidas em proporções
de uma polegada, que equivale a 25,4 mm.
O valor de 1 ponto inglês equivale ao valor da fração de 1/3 de polegada, ou seja 8,46 mm.
Este valor, no entanto, é uma progressão de valor elevado para atender consumidores
exigentes. Por isto, o sistema estabeleceu o meio ponto, o que significa uma grade maior de
numerações. O valor do meio ponto inglês é o equivalente a 4,23 mm.
A numeração indicada na fôrma e no calçado indicam o comprimento médio (aproximado), pois
está incorporado um suplemento, que tem seu padrão estabelecido de acordo com o perfil do
bico. Calçados com bico fino terão comprimento maior que o identificado e quando o bico for
mais arredondado ou em sandálias de bico aberto, o comprimento será menor que o marcado
no calçado.
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Outra característica importante do Sistema Ponto Inglês é o uso de uma letra para indicar a
largura referencial da fôrma e do calçado.
3.3.1 Comprimento no Sistema Ponto Inglês
Para analisar uma fôrma ou para calcular o comprimento de qualquer número, deve-se seguir
uma sistemática de cálculos, especialmente elaborado para este sistema de medidas.
Comprimento = (A + B + C) X D
Onde:
Comprimento = comprimento médio da fôrma (incluído o suplemento)
A = constante nula
B = primeira numeração
C = segunda numeração
D = valor de 1 ponto inglês
Exemplo:
Cálculo do comprimento médio de uma fôrma nº 5
C. Md. = (A + B + C) X D
C. Md. = (12 + 13 + 5) x 8,46 mm
C. Md. = 30 x 8,46 mm
C. Md. = 253,8 mm
Para o cálculo do comprimento mínimo deve-se diminuir 1,5 pontos.
3.3.2 Largura no Sistema Ponto Inglês
A progressão na largura (perímetro) no sistema ponto inglês também está relacionada à
polegada, na fração de 1/4, correspondendo a 6,35 mm.
A largura é identificada na fôrma e no calçado através de letras, sendo elas A – B – C – D – E –
F – G – H. Na fórmula de cálculos, o perímetro inicial precede a largura referencial A.
A fórmula para cálculo é a seguinte:
Pi = (A + B + C) X D + E
Onde:
Pi = Perímetro inicial
A = constante nula
B = primeira numeração
C = segunda numeração
D = valor da progressão no perímetro
E = constante fixa no valor de 10 mm
3.4 Sistema Ponto Americano
O sistema ponto americano foi desenvolvido a partir do sistema ponto inglês. Portanto, 1 ponto
americano mede 8,46 mm. A meia numeração também é muito comum, o que permite a
compra de calçados mais ajustados ao tamanho do pé.
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O grande diferencial deste sistema para outros está na diferenciação na tabela de numeração
para os calçados femininos, masculinos e infantis. Para cada um destes grupos foi definida
uma constante nula para iniciar a tabela de numeração, sendo 8 pontos nulos para a tabela
feminina, 9 pontos nulos para a tabela masculina e 9,75 pontos nulos para a tabela infantil.
3.4.1 Comprimento no Sistema Ponto Americano
Diferente do Sistema Ponto Inglês, a numeração no Sistema Ponto Americano representa a
medida mínima que uma fôrma deve ter. Assim, o comprimento total de uma fôrma será a
soma do comprimento indicado pelo seu número e mais a medida do suplemento, este
variando de acordo com o formato do bico.
Para calcular e analisar o comprimento de uma fôrma americana, deve-se primeiro caracterizar
a que linha se destina: feminina, masculina ou infantil, porque o sistema americano adota
diferentes bases para determinação do comprimento, conforme segue:
C. Mn. = (A + B + C) X D
Onde:
C. Mn. = Comprimento mínimo
A = constante nula conforme linha
B = primeira numeração
C = número da fôrma
D = valor do comprimento de um ponto americano
O valor da constante nula varia de acordo com a linha a que se destina:
Feminina = 8 pontos
Masculino = 9 pontos
Infantil = 9,75 pontos
Exemplo de cálculo do comprimento mínimo(real) de uma fôrma Nº 6B do sistema ponto
americano feminino:
C. Mn. = (8 + 13 + 6) X 8,46 mm
C. Mn. = 27 X 8,46 mm
C. Mn. = 228,42 mm
3.4.2 Largura no Sistema Ponto Americano
A progressão na largura (perímetro) no sistema ponto americano é de ¼ de polegada, o que
corresponde a 6,35 mm.
A largura é identificada na fôrma e no calçado através de letras, sendo elas AAA – AA - A – B –
C – D – E – EE. Na fórmula de cálculos, o perímetro inicial precede a largura referencial AAA.
A fórmula para cálculo é a seguinte:
Pi = (A + B + C) X D + E
Onde:
Pi = Perímetro inicial
A = constante nula
B = primeira numeração
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C = segunda numeração
D = valor da progressão no perímetro
E = constante fixa no valor de 10 mm
Exemplo de cálculo do perímetro de uma fôrma nº 6B americana feminina:
Pi = (A + B + C) X D + 10 mm
Pi = (8 + 13 + 6) X 6,35 mm + 10 mm
Pi = 27 X 6,35 mm + 10 mm
Pi = 171,45 mm + 10 mm
Pi = 181,45 mm
PAAA = Pi + 6,35 mm
PAAA = 187,8 mm
PAA = PAAA + 6,35 mm
PAA = 194,15 mm
PA = PAA + 6,35 mm
PA = 200,5 mm
PB = PA + 6,35 mm
PB = 206,85 mm
4 A FÔRMA
A fôrma é desenvolvida a partir das medidas médias do pé humano, considerando as
características de cada grupo de consumidores e tipo de calçado a ser fabricado. Assim,
temos fôrmas para calçados masculinos, fôrmas para calçado feminino fechado, fôrma para
calçado feminino aberto (sandália), fôrma para abotinados, fôrmas para bota de cano alto,
fôrmas para linha bebê, fôrmas para calçados infantis, fôrmas para calçados esportivos e
muitas outras categorias.
4.1 Funções da fôrma na construção de um calçado
O modelista utiliza a fôrma para adequar o desenho à estrutura anatômica e biomecânica do
pé. O fabricante de calçados utiliza a fôrma nos procedimentos de montagem e acabamento.
Nos tempos atuais, a fôrma pode ter um tempo de uso bastante reduzido, porque a fôrma tem
um vínculo direto com o visual de um calçado e a moda é dinâmica na apresentação de novas
propostas de fôrmatos de bicos, perfis e alturas de salto.
4.2 Tipos de fôrma conforme a articulação
É importante saber como se comportará o calçado na desenfôrmagem. Sandálias e chinelos
geralmente não oferecem qualquer dificuldade para tirar a fôrma do calçado montado. Já
calçados masculino e botas podem dificultar muito a saída da fôrma do calçado. Para estes
casos são produzidas fôrmas com articulações, que tem a propriedade de diminuir seu
comprimento e fazer o movimento de saída no processo de desenfôrmagem.
4.3 Tipos de fôrma conforme o sistema de montagem
Nos processos de montagem, a fôrma pode necessitar de uma proteção especial para evitar
seu desgaste ou mesmo para contribuir no processo de montagem do cabedal com pregos
(tacheado). Assim, podemos ter fôrmas com chapa de metal, fôrmas com meia chapa de metal
ou mesmo fôrmas sem chapa, sendo estas indicadas para montagens do tipo ensacado ou
quando a montagem é feita unicamente com adesivos.
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4.4 Fabricação de uma fôrma
Até mesmo as fôrmas de plástico (polietileno) são produzidas em processos que envolvem
corte e torneamento. O conjunto de metais para o mecanismo da articulação é inserido na
fôrma antes do torneamento final. Os acabamentos no perfil do calcanhar e bico, bem como a
colocação de tubo, chapa e referenciamentos são os últimos processos executados na
fabricação de uma fôrma.
5 O CORPO-DE-FÔRMA
O corpo-de-forma é a representação bidimensional da forma. Portanto, ao extrair o corpo-deforma e fazer a sua planificação o volume ou a altura deve ser absorvido no comprimento e
largura.
5.1 A importância do corpo de fôrma
A correta construção do corpo-de-fôrma permite que o cabedal tenha um bom caimento sobre
a fôrma. A selagem perfeita do calçado sobre a fôrma e a conseqüente adequação ao pé
dependem muito da precisão do corpo-de-fôrma.
O corpo-de-fôrma deve ser testado sobre a fôrma. Caso necessário, devem ser feitos ajustes,
para que o mesmo molde perfeitamente sobre a fôrma.
5.2 A confecção do corpo-de-fôrma em Sistema CAD
Diversos fornecedores de sistemas CAD/CAM oferecem boas soluções em seus programas
para planificar e ajustar o corpo-de-fôrma. Pelo CAD a planificação e os ajustes são realizados
por processos e critérios matemáticos.
5.3 Materiais para a extração do corpo-de-fôrma
Vários tipos de materiais podem ser usados no processo de extração e planificação do corpode-fôrma. Além da variedade de materiais, os Sistemas CAD é uma alternativa prática e de
grande precisão e agilidade para quem dispõem desta tecnologia. Entre os materiais
destacam-se: papel vegetal, fita crepe, fita branca (mágica), papel contact, placas de material
termoconfôrmado, laminados e tecidos.
A fita crepe, em diversas larguras, é o material de maior uso. Como vantagens pode-se
destacar a agilidade do processo, a praticidade e uma boa qualidade na transferência das
dimensões para o plano.
5.4 A planificação
Para cada tipo de material, dos citados anteriormente, pode ser definida uma técnica de
planificação. Uma questão básica é que a fôrma é planificada em dois lados (externo e
interno). No uso de fita crepe, fita mágica e papel contact a planificação é processada conforme
descrição abaixo:
• Encapar a fôrma;
• Riscar as linhas do meio do calcanhar e da gáspea (ver também desenho do calçado);
• Tirar as sobras de material da quina inferior e da chave da fôrma;
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•
•
•
•
•
•
Marcar a linha AC (ver linhas básicas);
Fazer as marcações para talhar o corpo-de-fôrma no processo de planificação;
Destacar as laterais do corpo-de-fôrma, cuidando para que o mesmo não sofra
defôrmações;
Colocar as laterais sobre a mesa e faz-se os corte de planificação;
Planificar as laterais sobre uma cartolina, tendo o cuidado para não deformá-las.
Também devem ser evitadas rugas. As alterações de medidas devem ser mensuradas
para que possam ser compensadas;
Recortar e identificar as laterais de corpo-de-fôrma.
Figura 2 – Corpo-de-fôrma extraído da fôrma.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
5.5 O corpo-de-fôrma médio
A finalidade da confecção do corpo-de-fôrma médio é de padronizar medidas, linhas, contornos
e até peças de uma coleção. A padronização se estende para a área de montagem, o
contorno do perfil do meio do calcanhar e o traçado da linha do meio da gáspea.
6 DESENHO DO CALÇADO
O desenho do calçado sobre a fôrma ou corpo-de-fôrma exige que se tenha muito
conhecimento da anatomia e fisiologia do pé. As medidas do calçado precisam respeitar
fundamentos técnicos, que proporcionam condições básicas para um desenho esteticamente e
tecnicamente adequado.
7 LINHAS BÁSICAS
Todo e qualquer modelo deve respeitar alguns pontos importantes também para oferecer ao
calçado um calce adequado. Estes fundamentos, orientações e pontos são apresentados
através de uma metodologia denominada Linhas Básicas.
7.1 Passos preliminares
Antes de iniciar a marcação dos pontos e linhas básicas, é necessária a execução dos
seguintes passos preliminares:
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Determinação da linha do meio da gáspea. Para determinar esta linha, as etapas são as
seguintes:
•
•
•
Marcar o ponto do meio do bico, baseado no eixo da palmilha:
Marcar o ponto do meio da região da chave, na parte anterior;
Riscar o meio da gáspea, unindo os pontos centrais.
Figura 3 – Linha do meio da gáspea
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.1.1 Determinação da linha do meio do calcanhar
Para determinar esta linha, as etapas são as seguintes:
•
•
Marcar o ponto do meio do calcanhar, localizado entre os eixos da palmilha e do salto;
Marcar a linha do meio do calcanhar, unindo os pontos centrais.
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Figura 4 – Linha do meio do calcanhar.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.1.2 Determinação do comprimento real da fôrma
O comprimento real é medido sobre o eixo da palmilha na fôrma. O valor do comprimento real
é determinado de acordo com cada um dos sistemas de medidas.
Figura 5 – Marcação do comprimento real.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
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7.1.3 Deslocamento do comprimento real para a linha do meio da gáspea
O comprimento real marcado sobre o eixo da palmilha, deve ser copiado para a linha do meio
da gáspea numa linha perpendicular à base e identificado pelo ponto R.
Figura 6 – Marcação do comprimento real.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.1.4 Marcação do ponto 30
O ponto 30 é marcado sobre a linha do meio do calcanhar, da quina inferior sentido região da
chave. Ele indica a parte mais proeminente da fôrma e é calculado da seguinte maneira:
Número da fôrma menos 5 mm
Exemplos:
Nº 35 – 5 mm = 30 mm
Nº 39 – 5 mm = 34 mm
Figura 7 – Ponto 30.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.1.5 Marcação do ponto 20
O ponto 20 é marcado 10 mm abaixo do ponto 30, ou seja, número da fôrma menos 15 mm,
marcado sobre a linha do meio do calcanhar da quina inferior da fôrma, sentido região da
chave.
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Figura 8 – Ponto 20
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado SENAI
7.2 Pontos e Linhas Básicas
7.2.1 Ponto A – Ponto de elevação
Para determinar este ponto, os procedimentos são os seguintes:
•
•
Medir pela lateral externa da fôrma, do ponto 30 até o ponto R, e marcar um ponto em
2/3 desta medida, identificando provisoriamente com o ponto X.
Posicionar a fita métrica num ângulo de 90º em relação à linha do meio da gáspea,
fazendo coincidir com o ponto X.
Figura 9 – Marcação do ponto A.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.2.2 Ponto B - Ponto do alto dorso do pé
Este ponto é marcado a partir da determinação do ponto A, sobre a linha do meio da gáspea,
sentido região da chave. A medida entre os pontos A e B depende do nº da fôrma. Para um nº
35, o valor é de 60 mm. Nos números acima ou abaixo, a variação é de 2mm para cada
número.
Exemplo de medidas do ponto B:
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nº 34 = 58 mm
nº 35 = 60 mm
nº 36 = 62 mm
7.2.3 Ponto C – Ponto de costado
O ponto C é marcado na região de maior largura da planta da fôrma. No lado externo, é
marcado na região central de encosto da fôrma, que deve ser posicionada num plano vertical,
com a chapa para cima e com uma inclinação de 45º.
Obs. 1: em fôrmas com salto na altura de até 10mm, o ponto C é marcado onde a fôrma deixa
de encostar no plano, sentido calcanhar-bico.
Obs. 2: o ponto C é transferido para o lado interno num ângulo de 90º em relação ao eixo da
palmilha.
7.2.4 Ponto D – Ponto da boca da gáspea
Como passo preliminar para a marcação deste ponto, deve-se traçar uma linha unindo os
pontos A e C. A medida média entre estes dois pontos, determina a posição do ponto D. Nos
modelos de calçados do tipo decotado é recomendável que o lado interno tenha o ponto
marcado em torno de 4 a 5 mais alto. Isto melhora o calce e o visual do calçado no pé.
Figura 10 – Marcação do ponto D.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.2.5 Ponto E – Ponto auxiliar
O ponto auxiliar é marcado em duas etapas, descritas abaixo:
•
•
Traçar uma linha paralela à linha AC, partindo do ponto B;
Marcar o ponto E na extremidade inferior da linha paralela.
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Figura 11 – Marcação do ponto E.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
7.2.6 Ponto F – Ponto da altura do calcanhar
É marcado sobre a linha do meio do calcanhar, da quina da fôrma, sentido região da chave.
Para determinar a altura em calçados masculinos, somar o número da fôrma mais 20mm.
Exemplos:
Nº 39 + 20 mm = 59 mm
Nº 40 + 20 mm = 60 mm
Para determinar a altura em calçados femininos, somar o número da fôrma mais 18 mm.
Exemplos:
Nº 35 + 18 mm = 53 mm
Nº 36 + 18 mm = 54 mm
Obs. 1:Esta medida deve ser a altura livre dentro do calçado. Quando é inserida uma palmilha
interna espessa, de EVA, látex ou PU, a espessura correspondente deve ser compensada na
marcação do ponto F.
Obs. 2: Sandália, tênis e calçados casuais devem receber uma remarcação do ponto F,
deixando-o mais alto, de acordo com as características de cada modelo.
7.2.7 Ponto G – Ponto do comprimento do salto
Para determinar o comprimento do salto, é necessário que se defina a sua altura. Uma
maneira prática de saber a altura do salto, é fazendo uso de um utensílio, denominado
“escadinha”, conforme figura abaixo:
Figura 12 – Medição da altura do salto.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
A fôrma é colocada sobre uma superfície plana, levantando o calcanhar até que o ponto de
apoio e o afastamento atinjam a posição ideal.
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Tabela 1 – Relação do afastamento do bico em relação à altura do salto
ALTURA DO SALTO
AFASTAMENTO DO BICO
10 mm
13 mm
20 mm
12 mm
30 mm
11 mm
40 mm
10 mm
50 mm
9 mm
60 mm
8 mm
70 mm
7 mm
80 mm
6 mm
90 mm
5 mm
100 mm
4 mm
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Obs. 1: estes valores são indicativos, podendo variar de acordo com a flexibilidade da sola,
finalidade de uso do calçado ou ainda por exigência individual do cliente.
Obs. 2: o ponto de apoio fica localizado entre 66 e 68 % do comprimento real da fôrma, medido
sobre o eixo da palmilha, sentido calcanhar-bico.
Após estabelecida a altura do salto da fôrma, pode-se calcular o comprimento do salto. Para
saltos de 40 mm de altura, o comprimento referencial é de ¼ do comprimento real. Nos
calçados femininos com saltos acima de 40 mm, o comprimento diminui até 8 mm. Em
calçados com saltos abaixo de 40 mm de altura, o comprimento aumenta até 8 mm, conforme
tabela abaixo:
Tabela 2 – Variação do comprimento do salto em relação à altura do salto
ALTURA DO SALTO
COMPRIMENTO DO SALTO
0 mm
¼ menos 8 mm
80 mm
¼ menos 8 mm
70 mm
¼ menos 6 mm
60 mm
¼ menos 4 mm
50 mm
¼ menos 2 mm
40 mm
¼ do comprimento real
30 mm
¼ mais 2 mm
20 mm
¼ mais 4 mm
10 mm
¼ mais 6 mm
05 mm
¼ mais 8 mm
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Exemplo: Determinação do comprimento do salto de uma fôrma nº 35 com altura 60 mm:
Comprimento do salto = (comprimento real : 4) – 4 mm
Comprimento do salto = (233,1 mm : 4) – 4 mm
Comprimento do salto = 54,27 mm
O valor é marcado sobre o eixo do salto, sentido calcanhar-bico. A partir desta marcação é
traçada uma perpendicular, transferindo assim a dimensão do comprimento do salto para a
quina da fôrma e definindo o Ponto G.
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Figura 13 – Marcação do comprimento do salto.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Obs. 1: Saltos em material expandido devem ter dimensões maiores, para que o peso seja
distribuído sobre uma área maior.
7.2.8 Ponto H – Ponto do topo da fôrma
O ponto H é marcado na parte mais alta da fôrma sobre a linha do meio da gáspea, na região
da chave.
7.2.9 Ponto I – Ponto do meio do bico
É o ponto que define o meio do bico, marcado na extremidade frontal da linha do meio da
gáspea.
7.2.10 Ponto J – Ponto da altura lateral
Para determinar a posição deste ponto, devem-se traçar linhas unindo os pontos D-F e outra
unindo B-L. O ponto J é marcado no cruzamento destas linhas. Este ponto tem uma
importância grande na definição da linha lateral, pois o maléolo (tornozelo), 5 a 10 mm acima
do mesmo, é uma região muito sensível no aspecto conforto.
7.2.11 Ponto L – Ponto do meio do calcanhar
É o ponto marcado na quina da fôrma, no meio do calcanhar.
Figura 14 – Fôrma com as linhas básicas.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
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8 TIPOS DE CALÇADOS
Uma das características mais marcantes da indústria calçadista é a grande variedade de
modelos ofertados ao mercado. Milhares de modelos de calçados são postos em produção
todos os anos por fábricas dos cinco continentes. Porém, toda esta ampla gama de opções
pode ser classificada em pouco mais de uma dezena de grupos de modelos. Do ponto de vista
da modelagem técnica, os modelos são classificados de acordo com as suas características de
traçado e de desenvolvimento. Por isso, são denominados modelos básicos. Em cada nova
coleção estes modelos básicos recebem um incremento, uma idéia inovadora que lhes atribui
um estilo renovado.
8.1 Modelos básicos
De acordo com a caracterização acima, os principais modelos básicos são:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Modelo inglês;
Modelo napolitano;
Modelo decotado;
Modelo sapatilha;
Modelo chanel;
Modelo sandália feminina;
Modelo sandália masculina;
Modelo sandália de dedo;
Modelo huaraches;
Modelo esporte com elástico;
Modelo casual com pala e atacador;
Modelo casual com elástico;
Modelo mocassim;
Modelo bota;
Modelo abotinado;
Modelo tênis.
Dos modelos básicos listados, alguns são tipicamente masculinos, outros femininos e a muitos
destes são modelos desenvolvidos para ambas as linhas.
9 MODELAGEM DE UM CALÇADO MASCULINO
Das várias opções de modelos básicos masculinos, segue abaixo uma breve descrição de
modelagem de um modelo inglês.
9.1 Características do modelo inglês
O modelo inglês é caracterizado pela sobreposição da gáspea às laterais na região de
elevação da fôrma. Suas peças básicas são a gáspea, as laterais e a lingüeta.
Tradicionalmente, o modelo inglês apresenta peças secundárias, tanto na gáspea como na
lateral, sendo elas: biqueira, traseiro e vista de ilhós.
A definição complementar de clássico ou casual depende do design. Materiais e construção
influenciam fortemente nesta caracterização.
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Figura 15 – Modelo clássico inglês.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
9.2 Modelagem
As etapas de modelagem, no processo manual, são as seguintes:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Desenvolver a fôrma adequada para o modelo;
Destacar o modelo da palmilha;
Confeccionar o corpo-de-fôrma médio;
Encapar o lado externo da fôrma (opção fita crepe);
Determinar os pontos e linhas básicas;
Desenhar o modelo inglês;
Planificar o corpo-de-fôrma;
Ajustar o corpo-de-fôrma com o modelo;
Preparar o corpo-de-fôrma para a extração das peças;
Destacar as peças;
Identificar as peças.
As peças são destacadas seguindo procedimentos simples. Normalmente não são usados
pontos de rotação, pois as peças são planas. A emenda na região de elevação da fôrma
propicia este procedimento simplificado. Para ilustrar a construção de peças deste modelo,
observe as duas figuras abaixo.
Gáspea
Figura 16 – Molde da gáspea.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
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Lateral
Figura 17 – Molde da lateral.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
10 MODELAGEM DE UM CALÇADO FEMININO
Das opções tipicamente femininas, o mais comum deles é o modelo decotado. Na seqüência é
descrito o processo de desenvolvimento do referido modelo.
10.1 Caracterização do modelo decotado
Este modelo básico se caracteriza pela liberdade que oferece ao dorso do pé. Em modelos
decotados clássicos, o desenho segue a linha definida pelos pontos de elevação, boca da
gáspea e da altura do calcanhar.
O modelo exige uma construção exata e bem constituída. Em saltos mais altos, o modelista
técnico deverá ter muito cuidado na definição de componentes como, reforço da palmilha, tipo
e conformação da alma, estrutura do contraforte, conformação da palmilha de montagem,
fixação e qualidade do salto e conforto de todo o conjunto.
10.2 Desenho
O desenho do modelo decotado pode ser no estilo mais tradicional, com poucas emendas.
Mas, o modelo aceita muitas variações, tanto na definição da linha da boca da gáspea, como
na possibilidade de compor o modelo com muitas peças.
A parte interna do pé é mais alta em pelo menos três estruturas. São elas: maléolo, arco
elevação do enfranque e cabeça do 1º metatarsiano (joanete). Por isto, é aconselhável
tecnicamente e esteticamente melhor, que a lateral interna seja desenhada 4mm mais alta, na
região da boca da gáspea.
10.3 Modelagem
As etapas de modelagem, no processo manual, são as seguintes:
•
•
•
Desenvolver a fôrma adequada para o modelo;
Destacar o modelo da palmilha;
Confeccionar o corpo-de-fôrma médio;
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•
•
•
•
•
•
•
•
Encapar o lado externo da fôrma (opção fita crepe);
Determinar os pontos e linhas básicas;
Desenhar o modelo decotado;
Planificar o corpo-de-fôrma;
Ajustar o corpo-de-fôrma com o modelo;
Preparar o corpo-de-fôrma para a extração das peças;
Destacar as peças;
Identificar as peças.
Observa-se que as etapas de modelagem técnica podem ser iguais em todos os modelos. No
entanto, peças específicas fazem a diferença nos diversos modelos básicos.
No modelo decotado, a construção da peça da gáspea inteira exige um cuidado e
conhecimento técnico aprimorado.
É comum usar pontos de rotação (giros) para viabilizar a sua extração ou para melhorar o
aproveitamento de material. As figuras apresentadas a seguir ilustram a aplicação de um giro
para fechar a peça e conseqüentemente economizar material.
Figura 18 – Extração da gáspea com ponto de giro.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Figura 19 - Giro na gáspea para o melhor aproveitamento de material.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Na modelagem do forro é aconselhável aproveitar o procedimento de rotação feito na gáspea,
fazendo os ajustes da peça, conforme ilustração abaixo.
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Figura 20 – Forro da gáspea.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
11 MODELAGEM DE UM MOCASSIM
Do ponto de vista da modelagem técnica, o mocassim é um calçado singular. Enquanto outros
tipos de calçados, tem as suas peças construídas da região superior para a região inferior, o
mocassim tem a gáspea construída da região inferior sentido região superior. Devido a este
fato, as rugas decorrentes da união da gáspea com a pala, costumam ficar visíveis na parte
superior das laterais frontais da gáspea.
11.1 Técnica de construção das peças
A gáspea e a pala do mocassim são destacadas após uma seqüência de rotações dos
gabaritos externo e interno das partes citadas.
A pala deve se confôrmar à elevação da fôrma sem sofrer alterações no comprimento e
largura. Uma linha reta, simulando a linha do meio da gáspea, é a base e orientação para os
giros (rotações) do gabarito externo e interno destacados da fôrma.
Figura 21 - Extração da peça com pontos de giro.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
A gáspea tubular ou semi-tubular também é destacada após a extração dos gabaritos externos
e internos do modelo. A base e orientação para os giros (rotações) é o modelo da palmilha.
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Figura 22 – Posição inicial das laterais e palmilha.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Após as rotações, a gáspea é ajustada de acordo com a característica do modelo, podendo ser
tubular, semi-tubular ou falso mocassim.
Figura 23 – Gáspea para modelo tubular.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
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Figura 24 - Gáspea para modelo semi-tubular.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
12 MODELAGEM DE BOTAS
A principal característica de uma bota é o prolongamento do corpo-de-forma para a construção
do denominado cano. Sua altura é variável, do tornozelo até o joelho ou logo acima deste.
A variação na altura do cano determina a classificação de bota, podendo ser abotinado, bota
de cano curto, bota de cano médio ou bota de cano alto.
Outra caracterização de uma bota é quanto aos recursos de calce, podendo ser com atacador,
com elástico, com zíper ou mesmo bota de cano inteiriço.
12.1 Construção do cano
Uma orientação segura para a construção do cano de bota é usar como referência o perímetro
da região metatarsiana do pé.
Para determinar o grau de inclinação do cano a principal referência é a altura do salto da
fôrma.
Tanto para a altura, a largura e a inclinação do cano da bota pode-se determinar um gabarito
padrão, previamente testado e aprovado.
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Figura 25 – Plano inicial do corpo-de-forma com prolongamento para cano alto.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
13 MODELAGEM DE TÊNIS
O tênis e os calçados esportivos somam uma grande fatia do mercado de calçados. O público
jovem concentra a maior fatia de consumo, mas é um produto capaz de atender a todas as
idades e classes sociais. Além disso, é usado por homens e mulheres, pratica de esportes ou
para momentos de laser.
13.1 O design
Inovação, design e tecnologia são termos muito ligados ao mundo dos tênis. Pode-se dizer
que no tênis são aplicadas as tecnologias desenvolvidas para os calçados de alta perfôrmance
e do tênis são tiradas idéias para o desenvolvimento de calçados de conforto e laser. Um
exemplo desta transferência são os “sapatênis”.
13.2 Sistemas de construção
O tipo de montagem deve se adequar às exigências do calçado. Para determinadas condições
de uso o ideal poderá ser a montagem com palmilha, proporcionando mais estabilidade e
firmeza na estrutura de construção. Para outras linhas, o conforto, a flexibilidade e a leveza
podem ser os requisitos.
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Assim, vários sistemas de montagem são trabalhados nas diferentes linhas de tênis, como por
exemplo: a montagem com palmilha, o sistema ensacado com palmilha costurada em overlock,
o sistema tubular e os sistemas mistos.
A gama de opções para solado também é muito grande. A diversidade está no tipo de material
e no seu processo de fixação. São usados materiais plásticos, borrachas sintéticas e borrachas
naturais. A fixação poderá ser com processos de colagem, injeção direta ou vulcanização.
13.3 Desenho e modelagem
A grande possibilidade de inovar no desenho do tênis é mais uma das características deste
estilo. Um traçado básico pode ser traçado seguindo a orientação da figura abaixo.
Figura 26 – Desenho básico de gáspea.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
A modelagem das peças no tênis podem aplicar princípios de outros modelos, como por
exemplo, simetria nas peças e modelagem de peças para montagem com elevação. O
comportamento dos materiais no processo de fabricação deve ser bem analisado porque
poderá influenciar no dimensionamento das peças.
14 FORROS E AVIAMENTOS
Algumas peças são comuns a uma grande quantidade de modelos de calçados. De uma gama
bem maior, foram selecionados para uma breve caracterização o avesso, a capa de salto, a
sobrepalmilha e a palmilha interna.
14.1 Avesso
O avesso exerce funções muito importantes no calçado. O nível de conforto tem relação direta
com este componente.
A umidade do pé deve ser absorvida pelo forro, e o avesso, sendo parte deste conjunto deve
ter a capacidade de exercer esta função.
O avesso também deve ter a propriedade de contribuir para uma adaptação do calçado ao pé.
Para atender seus propósitos, torna-se importante a escolha do material e a modelagem
técnica da peça. Após a confôrmação do avesso junto ao contraforte, o calçado deve se ajustar
ao pé, proporcionando conforto e um adequado conjunto biomecânico.
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Em calçados sem forro ou forro colarinho, o avesso deve cobrir totalmente o contraforte e mais
uma margem de segurança de 10mm. Caso o forro seja inteiro, o desenho do avesso é
determinado de acordo com as orientações abaixo:
•
Sobre a quina inferior da fôrma, marcar um ponto médio com avanço de 10mm da
medida L para E. Sobre a linha superior do desenho do calçado, marcar um ponto com
a média anterior menos 10mm.
Figura 27 – Determinação do avesso.
Fonte: Centro Tecnológico do Calçado, 2007.
Ao destacar a peça, o modelista deve considerar a redução do diâmetro interno do conjunto do
forro em relação ao cabedal e fazer esta adequação no tamanho do avesso.
14.2 Capa de salto
A capa de salto é um revestimento do salto, podendo ser de couro cabedal, fachete ou outro
laminado.
Assim como é feita a extração do modelo da palmilha e do corpo-de-fôrma, também o corpo do
salto precisa ser planificado. Desta planificação é feita a modelagem da capa de salto, com os
aumentos adequados ao comportamento do material e o devido acabamento nas bordas do
salto.
No processo de planificação do corpo-do-salto podem ser usadas fitas adesivas. Outra técnica
prática é marcar o contorno do salto sobre uma cartolina. Nas duas situações, é importante
determinar a simetria da peça. Na seqüência é determinado o aumento nas bordas e
identificada a peça.
14.3 Sobrepalmilha
A sobrepalmilha é colocada sobre a palmilha de montagem visando propiciar um bom visual
interno, valorizando o calçado. Para atingir tal objetivo, deve-se escolher um material
adequado e usar muita criatividade para apresentar a peça no interior do calçado.
Em calçados abertos a forração da palmilha pode ser feita com a junção de várias peças, como
debrum, biqueira e sobrepalmilha.
14.4 Palmilha interna
Em tempos de calçados da era “comfort” é importante caracterizar a palmilha interna como
opção para a função de uma sobrepalmilha. O desenvolvimento de calçados mais confortáveis
consolidou o uso de palmilhas internas. Estas peças são inseridas no calçado após a sua
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fabricação podendo apresentar espessuras especiais. Por isto é muito importante elaborar um
adequado projeto de produto, para evitar retrabalho na modelagem.
15 A PALMILHA
A palmilha é construída de acordo com as características e necessidades de um modelo. A
fabricação de calçados com o sistema de montagem colada, tacheado ou mesmo ponteado faz
uso de um tipo de palmilha tradicional, conforme caracterização abaixo:
15.1 Palmilha de montagem
Na extração do modelo da palmilha de montagem são utilizados materiais e técnicas
similares aos do corpo-de-fôrma. No desenvolvimento das fôrmas pode ser requisitado o
modelo da palmilha junto à indústria de fôrmas.
Para evitar o deslocamento da palmilha durante o processo de montagem, a área do modelo
da palmilha na região da planta pode ser diminuída em frações de milímetro.
Já a região interna do enfranque pode ser levemente chanfrada, para selar a palmilha à fôrma
e ao pé.
Na fabricação de palmilhas de montagem são usados inúmeros tipos de materiais. Para cada
tipo de calçado pode ser escolhido um material adequado, procurando sempre garantir
estrutura de construção e capacidade do pé em realizar seus movimentos.
15.2 Reforço da palmilha
A finalidade deste componente é reforçar a estrutura da palmilha nas regiões do enfranque e
do salto.
O reforço deve ser usado em calçados com salto, exceto saltos do tipo Anabela e cepas. Para
cada altura são indicados materiais e composições específicos. Em calçados de salto alto
deve ser usado reforço de papelão rígido e bem compactado, para também garantir uma
adequada fixação e base para a alma.
O comprimento do reforço é estabelecido na proporção de 62 % do comprimento real da fôrma.
Para calçados com salto superior a 40 mm deve-se aumentar o comprimento em 1,8 mm para
cada 10mm acima da altura padrão. Também o ângulo de inclinação fica mais perpendicular ao
eixo da palmilha com a elevação da altura do salto. Portanto, o reforço em calçados de salto
alto tem mais comprimento e ângulo diferenciado.
15.3 A alma na palmilha de montagem
Também a escolha da alma depende da altura e construção do calçado. As almas de aço são
indicadas para saltos femininos altos, enquanto que os de arame são indicados para calçados
com saltos baixos. Calçados caseiros e de saltos muito baixos podem até mesmo empregar
almas de plástico. A largura, espessura e ranhura da alma também dependem da altura e
características do calçado.
A alma é fixada no reforço da palmilha, tendo como base o eixo do salto. A peça é rebitada no
reforço, que após isso é colado na palmilha de montagem.
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16 SOLAS
A variedade de solas para calçados é muito grande. O desenvolvimento e a produção de
solados é um grande segmento dentro do elo de fabricação de calçados. A modelagem técnica
dos departamentos de desenvolvimento tem uma ocupação mais direta com a construção de
peças para os solados denominados de pré-fabricados.
Uma característica é comum a todos os tipos de solados: a precisão no dimensionamento das
peças. Esta exigência e a redução do tempo de desenvolvimento fortalece o uso, cada vez
mais comum, de sistemas CAD/CAM e de prototipagem rápida.
17 FICHA TÉCNICA
A ficha técnica de um produto começa a ser elaborada já no momento do esboço do modelo.
Durante o processo de desenvolvimento, os materiais e os procedimentos de fabricação vão
sendo definidos e a ficha técnica recebe as infôrmações com as quais os setores de
planejamento e de produção irão trabalhar.
18 ESCALA DE MODELOS
Escala é um meio manual, mecânico ou eletrônico pelo qual se reproduz a peça original em
proporção de ampliação ou de redução.
Para a escala é necessário determinar o comprimento e o perímetro da fôrma, bem como a
progressão do comprimento da palmilha e a progressão do perímetro. Para saber a progressão
correta, o modelista deve identificar o sistema de medidas usado para o desenvolvimento e
escala da fôrma.
A escala na peça será proporcional a sua dimensão em relação ao comprimento e perímetro da
fôrma.
19 ENCAMINHAMENTOS TÉCNICOS
Durante e após o desenvolvimento técnico de um modelo, são executados vários
procedimentos que possibilitam a adequada produção do mesmo.
Cada modelo poderá necessitar de encaminhamentos muito particulares, mas em geral são os
seguintes:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Desenvolvimento e aprovação da fôrma;
Aprovação do teste de calce;
Desenvolvimento e aprovação dos materiais;
Aprovação do modelo;
Definição da ficha técnica;
Confecção de gabaritos de produção;
Encaminhamento e aprovação de matrizarias;
Escala do modelo;
Aprovação do teste de escala;
Navalhamento do modelo;
Marcação das fôrmas de produção.
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Conclusões e Recomendações
A modelagem técnica exige muita observação e atenção ao desenvolver os modelos. Na
construção das peças, o grande desafio para o modelista é o de administrar as passagens do
tridimensional para o bidimensional e vice-versa.
Quanto mais complexo se apresentar um modelo, maior a exigência técnica e maior deverá ser
a capacidade de superar desafios através do conhecimento, da habilidade e de experiências
acumuladas.
Referências
AMAT AMER, J.M. Tecnologia del calçado: primer grado de formacion profissional. Alicante:
INESCOOP, 1975. 295 p.
CLARKE, Jane Ed. Manual of shoemaking. Bristol: Clarks, 1980. 337 p.
FUCHSEL; DOMKE; STANKE. Warenkunde für den schuheizel-handel. [S. L.: s. n.], 1985.
301 p.
GRUNY, Philipp. Der Leisten; eine abhandlung für den schuhtechniker. Heidelberg: A
Huthig, 1964. 90 p.
SCHLACTER, A. Schuh. Leder und schuhzubehor. [S.l.]: H. Stam-Koln-Parz, 1987. 303 p.
SCHMIDT, Mauri Rubem, Modelagem Técnica de Calçados. 3ª ed. Rev. e atual. Novo
Hamburgo: Centro Tecnológico do Calçado SENAI, 2005. 398 p
SENAI. RS. Confeccionador de calçados. Porto Alegre, 1978. (CBS, 8).
WISHELM, Albert. Tips for shoe production. Heidelberg: A. Huthig, 1985. 156 p. (Design,
1).
Anexos
ANEXO 1 – Normas Técnicas
O conforto é um aspecto primordial na escolha de um calçado. Um conjunto de normas
técnicas descrevem a metodologia para a realização dos ensaios para determinar o índice de
conforto do calçado. As normas são as seguintes:
ABNT NBR 14834 – Conforto do calçado – Requisitos e métodos de ensaio;
ABNT NBR 14835 – Calçados – Determinação da massa;
ABNT NBR 14836 – Calçados – Determinação dinâmica da distribuição da pressão plantar;
ABNT NBR 14837 – Calçados – Determinação da temperatura interna;
ABNT NBR 14838 – Calçados – Determinação do comportamento da componente vertical da
força de reação do solo;
ABNT NBR 14839 – Calçados – Determinação dos ângulos de pronação do calcâneo durante a
marcha;
ABNT NBR 14840 – Calçados – Determinação dos níveis de percepção do calce.
Nome do técnico responsável
Mauri Rubem Schmidt
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Nome da Instituição do SBRT responsável
SENAI-RS / Centro Tecnológico do Calçado
Data de finalização
22 ago. 2007
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