Convention and Visitor Bureau - Mais de um Século de Sucesso! A

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Convention and Visitor Bureau - Mais de um Século de Sucesso! A
Convention and Visitor Bureau - Mais de um Século de Sucesso!
A história da origem dos CVB’s é tão antiga quanto curiosa! Pelo que se sabe, no final
do século XIX, antes mesmo da linha de montagem criada por Henry Ford em Detroit para a
produção em série dos automóveis da marca, começasse a chamar a atenção de empresários
de outros estados e países pelo sucesso obtido com o aumento da produtividade e
racionalização dos custos de produção, introduzindo o conceito de economia de escala, a
cidade de Detroit, fundada por Jean De La Mothé Cadillac, já era famosa como uma das mais
ativas produtoras de fogões e móveis de cozinha do país! Isso já lhe garantia um fluxo de
visitantes enorme, numa prévia do que estava para acontecer em termos de revolução
conceitual na forma como o turismo era entendido até então.
Detroit, aliás, sempre foi uma cidade com grande apelo turístico e de economia
poderosa. Já no início de 1896, muitos homens de negócios das mais variadas cidades
chegavam a Detroit para participar de convenções, congressos e reuniões de trabalho. Os
hotéis, restaurantes, táxis, bares e boates viviam abarrotados de gente animada com muita
propensão para gastar! A cidade já começava a evidenciar certa vocação para o turismo de
negócios naquele final de século.
Foi num desses dias, mais precisamente no dia 06 de fevereiro de 1896, que Milton
Carmichael, um jornalista recém chegado de Indiana, ligado ao Partido Republicano, veio
trabalhar no The Detroit Journal, um dos principais periódicos da época, e escreveu o texto
que reproduzimos abaixo, e que pode ser considerado o estopim para a fundação do primeiro
convention bureau do mundo! Chamamos a atenção para a acurada visão estratégica
demonstrada por Carmichael, falecido em 1948, evidenciada na aparente simplicidade do
texto, o qual, após uma análise mais cuidadosa, revela uma modernidade difícil de entender
em pleno século XIX:
Relíquia histórica: capa da edição de 06 de Fevereiro de 1896 onde saiu o artigo de
Carmichael:
“...Ao longo dos últimos anos Detroit construiu fama de cidade de
convenções. Visitantes vêm de milhares de quilômetros de distância para
participar de eventos empresariais. Fabricantes de todo o país usam nossa
hotelaria para promover reuniões onde discutem os temas de seus
interesses, mas tudo isso sem que haja um esforço por parte da
comunidade, nem uma ação que vise dar-lhes algum apoio durante sua
estadia entre nós. Eles simplesmente vêm para Detroit porque querem ou
precisam. Será que Detroit, através de um esforço conjunto, não
conseguiria garantir a realização de 200 ou 300 convenções nacionais ao
longo do próximo ano? Isso significaria a vinda de milhares e milhares de
pessoas de todas as cidades americanas, e elas gastariam milhares de
dólares no comércio local, beneficiando a população da cidade.”
Com esta nota aparentemente inocente, Carmichael conseguiu despertar o interesse
de alguns empresários e comerciantes membros da Câmara de Comércio e do Clube dos
Fabricantes, os quais, em reuniões com hoteleiros, agentes de venda do sistema ferroviário e
outros comerciantes, decidiram, em encontro acontecido no Hotel Cadillac, fundar uma
organização para promover, de forma ordenada e conjunta, um esforço contínuo para atrair
mais convenções para a cidade. Assim surgia o The Detroit Convention and Businessmen’s
League, ou Liga de Convenções e Homens de Negócio de Detroit, primeiro nome da entidade
que em 1907 passou a adotar a denominação de Detroit Convention & Tourists Bureau. Nessa
época, o convention tinha um pouco menos de 20 empresas associadas, mas a ideia vingou e
começou a dar frutos em outras cidades dos Estados Unidos e até do exterior. Em 1915 havia
12 outros conventions, cujos representantes se encontraram em Detroit para formar a
organização que hoje é a IACVB – International Association of Convention & Visitors Bureaux,
entidade que reúne centenas de CVB’s do mundo todo.
O surgimento do primeiro convention do mundo, como vimos, foi motivado por um
singelo artigo de jornal que questionava a passividade dos empresários locais com relação aos
benefícios da vinda de visitantes para a cidade. Mas, na verdade, esse artigo questionava
muito mais que isso. Se for interpretado adequadamente, o pensamento de Carmichael
continha o embrião do associativismo no setor de turismo. O que ele queria dizer de fato, é
que os empresários deveriam para de promover a concorrência predatória entre seus
empreendimentos, olhando cada um para seus próprios interesses, e privilegiar uma visão
global do mercado, atuando de forma coletiva em favor do desenvolvimento econômico da
cidade como um todo, atitude a qual, na visão do jornalista, acabaria por beneficiar cada um
dos participantes.
No fundo, Carmichael promovia ali as vantagens de se colocar o bem comum acima do
bem privado, ou seja, incentivava o associativismo em favor da comunidade como um todo.
Mas Carmichael não era ingênuo. A mensagem subliminar que ele passou, era de que, é muito
melhor ter um negócio, qualquer que seja e de que tamanho for, numa economia forte,
vigorosa, em crescimento, do que lutar para manter uma empresa em funcionamento numa
economia estagnada ou em declínio, Resumindo, ajudando a manter a economia aquecida,
você estará ajudando o seu próprio negócio. Está aí a gênese de todos os convention bureaux,
agir no fomento da economia local, para beneficiar os negócios de todos os associados.
Entretanto, um fato histórico ajudou a dar visibilidade mundial à cidade de Detroit, e
vai ficar, para sempre, ligado à história dos conventions. Naquele mesmo ano de 1896, Charles
B. King saiu de sua loja em St. Antoine dirigindo uma carruagem sem cavalos, movida por um
motor de dois tempos, num fato inédito que marcaria o início do surgimento da indústria
automobilística que, até hoje, é a marca de Detroit. Era a primeira vez que um automóvel era
dirigido pelas ruas da cidade e o autor dessa façanha, Charles King, que chegou a ter
dificuldades com as autoridades locais por sua ousadia, coincidentemente, foi um dos
fundadores do convention de Detroit.
Evidentemente, as coisas não foram tão fáceis como alguns podem imaginar. Quando
Carmichael falou em investimento, em gastar dinheiro para trazer gente de fora,
imediatamente algumas vozes mais conservadoras alegaram que seria um desperdício aplicar
recursos próprios num projeto tão mirabolante. Segundo essa corrente, caberia às autoridades
locais investir na vinda de visitantes e na captação de eventos. Mas a visão estratégica do
jornalista, que insistia em defender que cabia à comunidade empresarial se unir e não ficar
esperando a iniciativa do poder público acabou por prevalecer. A independência financeira e a
ausência de qualquer ingerência política são, até hoje, um dos traços mais marcantes dos
conventions em todo o mundo.
Como se vê, Carmichael já enfrentava lutas delicadas naquela época, inclusive uma
que durou mais de 50 anos, que foi o empenho pela construção de um centro de convenções
de grande porte, capaz de abrigar eventos como o Detroit Auto Show, maior orgulho da
poderosa indústria automobilística que se formou no município.
Num boletim de 1913 o convention alertava que, devido à falta de espaço adequado, a
cidade perdera cerca de 3.500 grandes eventos nos últimos seis anos. Por incrível que pareça,
essa é uma situação que ainda aflige alguns conventions mundo afora, principalmente no
Brasil, mas, como podemos constatar, é uma reivindicação que, se não tem dado muitos
resultados prática, pelo menos conta com uma considerável herança histórica.
Com todos os problemas, no entanto, os empresários de Detroit, liderados pelo
jornalista Carmichael, acabaram por formatar o conceito que viria a dar origem ao primeiro
convention do mundo funcionando-nos mesmos moldes dos de hoje – o London Convention &
Visitors Bureau, fundado, já com essa denominação e características, em 1905.
Desde então muita coisa mudou, o turismo cresceu e ganhou importância estratégica
para muitos países. Transformou-se em produto de exportação, atividade geradora de
emprego e renda, assumiu status de impulsionador do desenvolvimento e ganhou as páginas
de economia dos principais meios de comunicação. Entretanto, a idéia de entidades agindo no
apoio à captação de eventos e na divulgação dos atrativos turísticos de uma cidade ou região
para aumentar o fluxo de visitantes, vem sendo consolidada nos cinco continentes, foi
ganhando corpo, e hoje, existem mais de 1000 conventions espalhados pelo mundo!
No Brasil, a história dos CVB’s é muito mais recente. Na verdade, apenas em 1983
surgiu a primeira iniciativa com a fundação do São Paulo Convention & Visitors Bureau, nosso
pioneiro. Logo em seguida, em 1984, o Rio de Janeiro criava seu bureau para explorar melhor o
enorme potencial daquele destino mundialmente consagrado. Seguiram-se Florianópolis,
Blumenau, Brasília, Petrópolis, Fortaleza, Joinville e Belo Horizonte, mas, é curioso perceber
que, em 1997, cento e um anos após a criação do primeiro convention do mundo, e quatorze
anos passados da fundação do primeiro do Brasil, existiam apenas oito CVB’s no Brasil. Nos
oito anos seguintes esse número foi multiplicado por sete e, em 2005, já existiam mais de 55
entidades em todo o território nacional.
Toda essa movimentação em torno dos convention bureaux tomou corpo com a
criação, em 1998, do Fórum Brasileiro de CVB’s, depois transformado em Federação Brasileira
de Convention & Visitors Bureaux, presidida por João Luiz dos Santos Moreira, executivo
especialista em planejamento estratégico e turismo de negócios. A partir daí, e com a criação,
no início do governo Lula, do Ministério do Turismo, o setor foi fortalecido e está presente em
todos os níveis de decisão do turismo brasileiro. O presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz,
é ele mesmo oriundo do sistema de CVB’s, pois foi diretor do pioneiro SPCVB. A equipe que
montou para dirigir a Embratur foi composta por profissionais emprestados de vários CVB’s do
Brasil, como Vera Sanches, ex-CVB de Brasília, Jeanine Pires, ex-CVB de Recife, Karin Carvalho,
ex-CVB de Curitiba, Vaniza Schüller, ex-CVB de Porto Alegre e Ney Humberto Neves, ex-CVB do
Rio de Janeiro, para ficar apenas nos mais conhecidos. A FBCVB e o próprio sistema brasileiro
de CVB’s ficaram tão conhecidos e assumiram tamanha importância estratégica, que se
transformaram no principal parceiro da Embratur e do Ministério do Turismo na promoção
comercial do Brasil no exterior. Paralelamente, a FBCVB é co-responsável pelos constantes
recordes batidos pelos indicadores do turismo brasileiro nos últimos anos. A Federação, entre
outras atividades, está presente na montagem e comercialização dos estandes do Brasil nos
mais de 40 eventos do setor ao redor do mundo, e encabeça o Programa de Combate ao
Turismo Sexual Infantil, empreendido recentemente pelo Ministério do Turismo.
Se não há como negar a importância dos conventions na articulação dos arranjos
produtivos locais, é importante perceber que essa importância se deve, em grande parte, à
compreensão de que nossas entidades são as mais representativas de toda a cadeia produtiva
do turismo, justamente por serem fiéis aos princípios enunciados por Milton Carmichael em
1896, integrando horizontalmente os setores interessados no desenvolvimento econômico dos
destinos através do turismo.
Em todo esse processo, que, como se vê, já dura mais de um século, precisamos
destacar exatamente o peso da cadeia produtiva do turismo de negócios como impulsionador
do deslocamento das discussões em torno de convention bureaux, da área de lazer e
entretenimento para a área de economia. Percebe-se nitidamente, nesse deslocamento, um
ganho qualitativo e estratégico difícil de imaginar alguns anos atrás.
De fato, ao agirem no apoio à captação de eventos, os conventions acabam
impactando, direta ou indiretamente, uma série de atividades que não estão,
necessariamente, ligadas ao turismo. Empresas que prestam serviços auxiliares em eventos,
como segurança, limpeza, gráficas, recepcionistas, tradução simultânea, transporte,
floriculturas, shows, buffets, restaurantes, casas noturnas, shoppings, táxis, enfim, um
universo calculado em mais de cinquenta atividades que, somadas, ajudam a compor a base da
economia do turismo que, calcula-se, seja responsável por cerca de 8% do PIB nacional.
Evidentemente, para se chegar a esse número, é preciso incluir na conta o
faturamento das empresas que, temporariamente, se juntam à atividade turística em si, ainda
que de forma indireta, para formar a dita Economia do Turismo. Assim, quando uma
construtora, por exemplo, está levantando um hotel, passa a integrar a economia do turismo.
Seguindo o mesmo raciocínio, quando o hotel encomendar à indústria têxtil a compra dos
suprimentos de cama, mesa e banho de que vai precisar, fará com que este passe a somar
pontos para a economia do turismo. O mesmo acontece com a indústria cerâmica ao fornecer
as louças de que o hotel vai precisar, e assim por diante, num círculo virtuoso que espalha
benefícios por toda a cadeia produtiva regional.
Foi movimentando essa roda da fortuna que os CVB’s conseguiram desviar o foco de
discussão da área do interesse turístico para a do desenvolvimento econômico. Hoje, no Brasil,
os mais de 50 CVB’s existentes, são mais solicitados pelos cadernos de economia dos jornais do
que pelos tradicionais veículos do trade turístico, embora, é claro, um bom convention bureau,
deva representar com bastante propriedade todo o trade turístico local. Evidentemente, indo
muito, além disso, os conventions modernos e mais atuantes têm sua base de representação
bastante ampliada, conseguindo uma abrangência que lhes dá legitimidade para discutir,
propor e executar políticas regionais de turismo e influenciar as autoridades na condução dos
investimentos no setor, com reflexos muito positivos na atividade econômica das regiões ou
cidades que representam.
Por fim, ao agrupar-se em torno da Federação Brasileira de Convention & Visitors
Bureaux, entidade que já representa mais de 45 diferentes conventions, o setor tende a
crescer em importância e peso político, agindo como caixa de ressonância de uma atividade
que é responsável por um faturamento de 37 bilhões de reais anuais (3,1% do PIB), que
emprega quase três milhões de pessoas e recolhe 4,2 bilhões de reais em impostos com a
realização de 320 mil eventos por ano.
São números, qualquer que seja o ângulo adotado para análise, que não podem ser
ignorados por nenhuma política nacional de turismo, e que, por si só, atestam a pujança do
setor e o acerto de Milton Carmichael, quando, lá nos idos de 1896 em Detroit, quase que sem
querer, deu origem ao conceito que hoje é reconhecido mundialmente como receita de
sucesso para o fomento da atividade econômica e do turismo de negócios, os Convention &
Visitors Bureaux.
A atuação destas entidades no Brasil é tão nova e abrangente que ainda se discute sua
verdadeira missão e prioridades. Mesmo entre os dirigentes de CVB’s, ainda não há consenso
sobre qual deva ser a linha de atuação quando se trata de captação de eventos, por exemplo.
Entretanto, defendemos a ideia de que os CVB’s devem, prioritariamente, trabalhar no apoio
às captações, e não liderar o processo. Isso se explica em grande parte pelas características do
próprio mercado. Quando se quer captar um congresso médico, por exemplo, é necessário,
primeiro, envolver a entidade médica representativa da especialidade, convencê-la a
apresentar a candidatura daquela regional para sediar o congresso nacional da especialidade
médica que representa. Sem esse apoio, sem essa vontade política, o convention estaria
passando por cima daquele a quem cabe promover o evento, e a chance de fracasso seria
enorme. Como trazer para a nossa cidade, por exemplo, o Simpósio Nacional de Cardiologia, se
não tivermos a concordância do Conselho Regional de Cardiologia? Por isso dizemos que é
competência da entidade médica ou de classe captar o evento.
Evidentemente, tomada essa decisão que é quase sempre político/corporativa, essa
entidade vai precisar do apoio do convention para defender essa candidatura. Afinal, é o
convention o especialista na infraestrutura de eventos da cidade. É o convention o especialista
no banco de dados de informações de atendimento ao turista, é ele que conhece e promove
os atrativos turísticos, que conhece como ninguém os pontos fortes e as fraquezas do destino.
É por isso que achamos mais correto dizer que os conventions apoiam a captação de eventos,
ainda que, por vezes, sejam obrigados a tomar a iniciativa de motivar a entidade médica ou de
classe a apresentar a candidatura, mostrando-lhes as chances de vencer e os benefícios que o
evento poderá trazer para todos os envolvidos e para o destino candidato.
Se não entendermos esta dinâmica, fica difícil administrar as expectativas das
empresas que se associam aos conventions como mantenedoras. O CVB não tem obrigação de
agir diretamente para incrementar os negócios do seu mantenedor, isso deve ser uma
consequência de um planejamento de longo prazo e resultado do trabalho contínuo de um
bom convention. Nós agimos na promoção do destino e no incentivo à economia regional
através do fomento do turismo de negócios, mas não podemos deixar que se estabeleça uma
relação direta, de causa e efeito, nas atividades deste ou aquele mantenedor. Conventions,
acima de tudo, fazem marketing de destino. Conventions são ferramentas de marketing que
integram horizontalmente os setores interessadas em posicionar uma cidade ou região como
sede de eventos e feiras, viagens de incentivo, negócios e destino de lazer.
Vale ressaltar o pensamento de Carmichael: vamos trabalhar juntos para desenvolver
a economia local, e com isso, todo mundo terá benefícios. Ajude uma entidade que promove
o desenvolvimento econômico, para que você possa ter um negócio num mercado em
crescimento e daí tirar suas possibilidades de lucro e sucesso.
Em resumo, e para ser fiel ao espírito carmichaeliano, antes de perguntar o que o
convention da sua cidade pode fazer pelo seu negócio, você precisa avaliar o que o seu
negócio pode fazer para ajudar o convention a melhorar a economia da cidade e o seu poder
de atratividade para eventos, negócios e turismo. Agindo assim, você aumenta as chances de
sucesso do trabalho do convention, e prova ter visão estratégica ao priorizar o bem coletivo
em detrimento do privado. Já é um bom começo, Milton Carmichael, ficaria orgulhoso de ver
até onde foram suas idéias originais.
Autor Rui Carvalho
Diretor Executivo do Campinas e Região Convention & Visitors Bureau
Diretor de Comunicação da Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureaux
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