Obrigatoriedade dos Air Bags - Jose Aurelio Ramalho 03

Transcrição

Obrigatoriedade dos Air Bags - Jose Aurelio Ramalho 03
Ano VIII
nº 86
Março 2009
Informativo Perkons
Notícia o
Trânsit
em
CTB em debate
O informativo de fevereiro de 2008
discutiu as propostas que constavam do
anteprojeto de lei, apresentado pelo Ministério da Justiça no início daquele ano, que altera o Código de Trânsito Brasileiro em 19 artigos e acrescenta nove.
O anteprojeto foi submetido à consulta pública, obteve modificações e foi
apresentado como Projeto de Lei nº
2.872/08 pelo Dep. Carlos Zarattini. Em
março de 2008, foi encaminhado a comissões da Câmara dos Deputados.
Em novembro foi feita uma audiência
pública para discutir as alterações no
CTB e no último dia 5 de março foi publicado o parecer da Relatora da Comissão de Viação e Transporte, Dep. Rita
Camata (PMDB-ES).
Em geral, o parecer aprova o endurecimento da lei, aponta o excesso de
velocidade como “uma das mais significativas infrações à incidência dos acidentes de trânsito” e aprova que o uso
de qualquer dispositivo anti-radar esteja
sujeito à multa. Quanto ao reajuste das
multas, ao invés de ser em 63,97%, propõe um reajuste de acordo com o índice
oficial de correção da inflação observado desde abril de 2002, quando o UFIR
foi substituído por valores em real.
O PL será ainda analisado pelas
Comissões de Finanças e Tributação e
de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovado, seguirá para apreciação do Plenário. As medidas têm potencial de diminuir os acidentes, desde que
sejam aplicadas com rigor.
Boa Leitura!
Expediente
Informativo digital da Perkons S.A. Notícia em
Trânsito - disponível em www.perkons.com
Coordenação: Maria Amélia Marques Franco
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Redação: Daniela Fúcio - Mtb 6353/PR
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Projeto e diagramação: Idaura Lobo Dias
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Dica
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agenda
Informação e educação para o trânsito.
Confira os eventos e cursos para abril:
> 15 a 17 - Curso de Tecnologia de Pavimentos - Construção,
Qualidade e Casos de Obras, da ABPv. Informações: www.abpv.org.br.
> 28 a 30 - 16ª Reunião de Pavimentação Urbana, no Minascentro, em
Belo Horizonte. Informações: [email protected].
> 29 e 30 - Seminário Nacional de Trânsito, no Centro de Convenções
Arquiteto Rúbens Gil de Camilo, em Campo Grande/MS. Informações:
www.antp.org.br.
PERKONS EM DESTAQUE
Crianças de Callao se mobilizam pelo trânsito
O município de Callao, na região metropolitana de Lima, no
Peru, está sensibilizando a população para os problemas de segurança e fluidez do trânsito, para
ver o número de acidentes de
trânsito cair ainda mais. Callao
inovou como a cidade peruana
com o mais completo programa de
monitoramento eletrônico de trânsito e reduziu em mais de 75% os
acidentes nas principais avenidas.
Como parte desse programa
de humanização do trânsito, o
Consórcio Trânsito Cidadão, do
qual a Perkons faz parte, promoveu capacitações no Peru, apresentando experiências brasileiras
em programas de comunicação e
educação de trânsito; levou a oficina da Ong Criança Segura para
capacitação de voluntários; patrocinou a criação de um espaço de
aprendizado com jogos educativos - a cidade Chimpum; e lançou
o www.educacionytransito.com.
Durante as férias escolares,
crianças participaram de atividades lúdicas na cidade Chimpum.
Em fevereiro, 110 crianças fizeram parte de um concurso de pintura e desenho na praça. Enquan-
to aguardavam o julgamento, curtiram a banda de músicos e um
show artístico infantil, da Polícia
Nacional do Peru. No mesmo
mês, foi feito um concurso de cartazes e uma caminhada na qual as
crianças participantes exibiram
seus trabalhos. Denominada “Somos Callao, protegiendo la vida,
respetando las normas de tránsito”, a passeata mobilizou 380
pessoas e teve como objetivo sensibilizar a população para o bom
comportamento no trânsito.
A queda no número de acidentes e atropelamentos em Callao
impressiona: de 6.805 em 2006
caiu para 3.123 em 2007 e 1.780
em 2008. “Esta cidade é um exemplo de como boa vontade e ações
planejadas que contemplam educação e fiscalização trazem resultados”, observa José Mario de Andrade, diretor de negócios internacionais da Perkons.
Crianças peruanas participam de atividades lúdicas.
ENFOQUE
Manutenção das placas de sinalização sai cara e esbarra em questões sociais
Recentemente, jornais cariocas publicaram que a cidade perde anualmente pelo menos 33 mil
placas com vandalismo. A manutenção das cerca de 100 mil placas de sinalização e regulamentação da cidade custa por ano mais
de R$ 1 milhão. Um terço das danificações acontece por algum ato
de vandalismo. Na capital paulista, a coisa não é muito diferente.
Segundo a CET – Companhia de
Engenharia de Tráfego, a cidade
tem 391.700 placas. A média de
reposição anual é de 14.400 placas – 90% por deterioração e as
demais pelo desaparecimento por
possível furto. Outras 15.800 são
implantadas por ano. Com um
custo médio de R$ 75 por placa,
soma-se um gasto anual de R$
2.265.000.
Segundo o prof. Hugo Sandim, chefe do Departamento de
Engenharia de Materiais da USPLorena, a escolha do material da
placa é importante, porque envolve preço, durabilidade e maior ou
menor possibilidade de furto. Para
sinalizações que ficarão expostas
em ruas e rodovias, ele afirma que
o uso do aço galvanizado e pintado ainda é a melhor opção. “O alumínio é mais duradouro, por não
sofrer com corrosão, mas é mais
caro e está mais suscetível a furtos”, diz. O polímero (o plástico é o
material mais conhecido da família dos polímeros), segundo ele,
degrada mais rápido pela incidência de raios solares. Em caso
de instalações nas proximidades
do mar, o alumínio mostra-se mais
vantajoso, mesmo chegando a
custar até 20 vezes mais que o
aço, devido à corrosão rápida.
Sandim lembra que não existem
materiais eternos, todos têm sua
vida útil, e por isso precisa haver
um programa de manutenção de
placas de sinalização. “Há placas
com mais de vinte anos instaladas
no Brasil! A falta de manutenção
pode ocasionar acidentes, sendo
especialmente perigoso para um
motorista não familiarizado com a
estrada, e nós pagamos impostos
para haver esta manutenção”, afirma. Questionado sobre que ações poderiam diminuir vandalismos e furtos, ele sugere que se
trabalhe a conscientização com
crianças de oito a dez anos, a punição para os que forem flagrados
cometendo o crime e repressão
aos ferros-velhos. “Estes são coniventes e até cúmplices de uma
série de pequenos furtos ao comprarem material sem preocupação com a procedência”, diz. Ele
cita como exemplo a própria rua
em que mora, na qual em uma
ocasião todas as casas dos três
quilômetros de extensão da rua tiveram seus números furtados,
pois eram feitos de bronze ou de
alumínio. “Temos conhecimento
que muitos vendem estes materiais para comprar drogas”, lamenta Sandim. “O poder público
poderia utilizar materiais melhores para sinalização se não esbarrasse nestas questões sociais”.
Além dos prejuízos financei-
ros e diminuição da segurança
viária por deficiências de sinalização vertical, o advogado Fernando Silvério, presidente da
Abradevimutran (Associação Brasileira de Defesa das Vítimas de
Multas de Trânsito), lembra questões legais que envolvem o tema.
“Quando uma placa é ilegível ou
inexistente, uma pessoa pode ser
induzida a erro ou se envolver em
um acidente. Nestes casos, a culpa do Estado é objetiva porque
pode haver negligência na engenharia de tráfego, que deve cuidar
de sua manutenção”, explica. Ele
aconselha que nestas situações a
pessoa prejudicada pode tirar fotografias da cena, juntamente de
um jornal do dia, para auxiliar na
defesa em um processo.
Vandalismo em placas de sinalização traz consequencias
financeiras e legais.
Números
5,6%
811
7,7
é o percentual de crianças de 0 a 12 anos no total de mortos por acidentes de trânsito registrados no Brasil em
2007. Em 2000 este índice era de 8,2% e em 2004 havia caído para 4,9%. Em 2007, 10.501 crianças ficaram
feridas em acidentes de trânsito e 400 crianças foram vítimas fatais. (fonte: Denatran)
pessoas foram flagradas acima do limite de velocidade de 80km/h no Anel Rodoviário de Belo Horizonte em
apenas dez horas de operação de um radar móvel pela Polícia Militar Rodoviária (PMR). Isso corresponde a
81 notificações por hora ou 1,3 por minuto. (fonte: O Tempo)
é o índice de mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes registrado na Austrália. No Brasil, este índice
está em 18,7. (fonte: Agência Saúde e Department of Infras tructure, Transport, Regional Development and
Local Government - Austrália - 2008)
Opinião
A questão da obrigatoriedade dos air-bags
Como centro de pesquisa especializado em segurança viária, o
CESVI BRASIL (Centro de Experimentação e Segurança Viária) é
totalmente a favor do uso de sistemas como ABS e air-bag, recursos
tão importantes para evitar acidentes ou, pelo menos, minimizar
seus efeitos. No entanto, a questão da obrigatoriedade não nos
parece o melhor caminho, pelas
consequências econômicas com
as quais montadoras e consumidores teriam de arcar.
A opção ideal ainda é a conscientização. Em alguns países europeus, quase a totalidade da frota
sai de fábrica com esses recursos,
ainda que não haja uma legislação
que obrigue esta implantação. É o
próprio consumidor, ciente de sua
importância, que transforma em
item de série o que seria um diferencial. Todas as montadoras deveriam, pelo menos, facilitar o acesso a esses itens, como na oferta, como opcional, de um “pacote
de segurança”, com ABS e airbag, mas sem a inclusão de itens
caros de conforto, como ar-condicionado, CD-player, bancos de
couro, etc. Paralelamente, é necessário contarmos com programas de conscientização, que informem o consumidor sobre a importância e o uso correto dos sistemas de segurança.
O Cesvi Brasil tem atuado para
ampliar a conscientização tanto
do consumidor quanto da iniciativa privada e do poder público em
relação à importância de se contar
com sistemas de segurança para
reduzir os índices de acidentes de
trânsito no País. Exemplo disto é o
levantamento que permitiu identificar a efetividade do air-bag, apontando sua real contribuição
para atenuar fatalidades e lesões
em colisões.
Os profissionais da área de Se-
gurança Viária do CESVI realizaram a análise do impacto potencial em termos de redução de fatalidades e feridos e do impacto econômico associado às vítimas evitadas. Conclusões do estudo:
No Brasil, considerando apenas
os condutores de automóveis e
camionetas, o potencial do airbag poderia contribuir para manter a vida de, aproximadamente,
490 pessoas que hoje morrem no
trânsito (1,4% das 35 mil vítimas
fatais), ou evitar ferimentos em
mais de 10 mil pessoas, proporcionando um impacto econômico
positivo de cerca de 315 milhões
de reais por ano.
E nem precisamos chegar ao
air-bag para constatar a relevância da conscientização quanto ao
uso de sistemas de segurança.
Considerando os índices médios
de uso do cinto adotados neste levantamento, de 82,7% nas rodovias e 75,2% nas cidades, a cada
aumento de 10% de adesão ao
uso do cinto, temos potencial para
salvar mais de 1600 vidas, com
um impacto econômico associado
de 156,6 milhões de reais por ano.
Infelizmente, hoje no País, esta
conscientização ainda está longe
de ser uma realidade. É o que demonstra outra pesquisa realizada
pelo Cesvi, dessa vez analisando
a forma como as concessionárias
oferecem o sistema ABS a seus
clientes. Este importante recurso
evita o travamento das rodas no
caso de frenagens de emergência, mantendo a dirigibilidade e
permitindo que o motorista desvie
de um obstáculo à frente.
A pesquisa foi realizada com
um “comprador oculto”, que entrava em contato com as concessionárias demonstrando interesse
por veículos que, segundo a divulgação das próprias montadoras,
têm o ABS disponível para com-
pra como opcional. Infelizmente, o
trabalho concluiu que essa oferta,
por parte do vendedor, quase nunca é espontânea.
Apenas 7% das concessionárias citaram espontaneamente o
ABS como opcional dos veículos
comentados, e 62% só lembraram
de falar sobre o ABS quando questionados especificamente se o sistema é opcional nos veículos.
Mais alarmante: 19% dos vendedores abordados afirmaram que
os veículos não têm ABS como opcional (quando, segundo a divulgação da montadora, têm).
Ou seja, nem quem vende os
veículos demonstra conscientização quanto à importância dos recursos de segurança. Num país
tão sem cultura de segurança no
trânsito, a obrigatoriedade de implantação de air-bag de série nos
veículos tende a encontrar muita
dificuldade de aceitação. Além
disso, as consequências econômicas (que inclui o provável repasse do custo dos sistemas ao preço
final do carro, encarecendo o produto e dificultando a venda) não
podem ser ignoradas. A informação de qualidade, sendo divulgada não com campanhas esporádicas, mas com programas sistemáticos de conscientização, no nosso modo de ver, é o melhor caminho para que o foco do consumidor, na hora de optar por um modelo de veículo, esteja também
voltado para a segurança que o
automóvel é capaz de proporcionar. Só assim evoluiremos na
questão sem passar pela discutível decisão pela obrigatoriedade.
José Aurelio Ramalho,
diretor de operações do CESVI BRASIL
*Os artigos para a Seção Opinião podem ser encaminhados ao
e-mail [email protected].
Os textos publicados não refletem, necessariamente, a opinião
deste Informativo.
FRASE
O índice de acidente com idoso é muito reduzido; ele apresenta um comportamento urbano educado e pratica
muito bem a direção defensiva. Excluí-lo da carteira de habilitação é retirar a individualidade e o direito de ir e vir.
Dr. Nelson Antonio Tombini, médico especialista em Traumatologia e Ortopedia e em Medicina de Tráfego, em sua participação
no Chat Perkons “Idoso no Trânsito”. O bate-papo completo pode ser conferido no site www.perkons.com.