plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio piranhas-açu
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plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio piranhas-açu
República Federativa do Brasil Dilma Vana Rousseff Presidenta Ministério do Meio Ambiente Izabella Mônica Vieira Teixeira Ministra Agência Nacional de Águas Diretoria Colegiada Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente) Dalvino Troccoli Franca João Gilberto Lotufo Conejo Paulo Lopes Varella Neto Superintendência de Administração, Finanças e Gestão de Pessoas (SAF) Luís André Muniz Secretaria-Geral (SGE) Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica (SGH) Mayui Vieira Guimarães Scafura Valdemar Santos Guimarães Procuradoria-Geral (PGE) Superintendência de Usos Múltiplos e Eventos Críticos (SUM) Emiliano Ribeiro de Souza Joaquim Guedes Correa Gondim Filho Corregedoria (COR) Elmar Luis Kichel Superintendência de Implementação de Programas e Projetos (SIP) Auditoria Interna (AUD) Ricardo Medeiros de Andrade Edmar da Costa Barros Chefia de Gabinete (GAB) Superintendência de Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (SAG) Horácio da Silva Figueiredo Júnior Luiz Corrêa Noronha Coordenação de Gestão Estratégica (CGE) Superintendência de Gestão da Informação (SGI) Bruno Pagnoccheschi Sérgio Augusto Barbosa Coordenação de Articulação e Comunicação (CAC) Antônio Félix Domingues Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR) Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares Superintendência de Regulação (SRE) Rodrigo Flecha Ferreira Alves Superintendência de Fiscalização (SFI) Flavia Gomes de Barros AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANHAS-AÇU Brasília - DF 2014 © 2014, Agência Nacional de Águas (ANA). Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T. CEP: 70610-200, Brasília-DF. PABX: (61) 2109-5400 | (61) 2109-5252 Endereço eletrônico: www.ana.gov.br Comitê de Editoração João Gilberto Lotufo Conejo Reginaldo Pereira Miguel Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares Ricardo Medeiros de Andrade Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho Mayui Vieira Guimarães Scafura Secretária-Executiva Equipe editorial Supervisão editorial: Elaboração dos originais: Revisão dos originais: Produção: Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução de dados e de informações contidos nesta publicação, desde que citada a fonte. Catalogação na fonte - CEDOC/Biblioteca A265p Agência Nacional de Águas (Brasil). Plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu / Agência Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2014. 312 p.: il. ISBN: xxx-xx-xxxx-xxx-x 1. Planos de recursos hídricos 2. Piranhas-Açu, Rio, Bacia 3. Corpos hídricos superficiais, Enquadramento I. Agência Nacional de Águas (Brasil) II. Título CDU 556.18(815.1) COORDENAÇÃO E ELABORAÇÃO Agência Nacional de Águas Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR) Coordenação Geral Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares Coordenação Executiva José Luiz Gomes Zoby - Gerente de Planos de Recursos Hídricos Edgar Gaya Banks Machado - Gestor do Contrato Equipe Técnica Ana Catarina Nogueira Célio Bartole Pereira Flávio Hadler Tröger João Augusto Bernaud Burnett Letícia Lemos de Moraes Marcela Ayub Brasil Marcelo Pires da Costa Márcio de Araújo Silva Márcio Tavares Nóbrega Renata Bley da Silveira de Oliveira Teresa Luisa Lima de Carvalho Thiago Henriques Fontenelle Wagner Martins da Cunha Vilella Colaboradores Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR) Claudio Bielenki Junior Daniel Izoton Santiago Elizabeth Siqueira Juliatto Gonzalo Álvaro Vázquez Fernandez Laura Tilmann Viana Marcelo Luiz de Souza Roberto Carneiro de Morais Superintendência de Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (SAG) José Carlos de Queiroz Giordano Bruno Bomtempo Marco Antônio Mota Amorim Mariana Rodrigues Lírio Nelson de Freitas Rosana Mendes Evangelista Viviani Pineli Alves Superintendência de Gestão da Informação (SGI) Márcio Bomfim Pereira Pinto Superintendência de Regulação (SRE) André Raymundo Pante Bruno Collischonn Luciano Meneses Cardoso da Silva 1 Introdução O território brasileiro é dividido em doze regiões hidrográficas, estabelecidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, entre as quais se destaca a região Atlântico Nordeste Oriental, que possui 286.802 km2 (3% do território brasileiro) e abrange a maior parte das áreas dos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, incluindo cinco capitais. Situada na região Nordeste do país, essa região se caracteriza em termos de recursos hídricos por apresentar uma conjugação negativa de fatores que desafiam a gestão: elevada demanda de água (principalmente para abastecimento humano e irrigação) e alta carga poluidora de esgotos domésticos associadas à baixa disponibilidade hídrica, característica do clima semiárido, em que muitos rios são intermitentes. É nesse contexto que se insere a bacia do rio Piranhas-Açu, a maior bacia formadora da região hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental (15% da área) que abrange partes dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. Seu território divide-se entre os Estados da Paraíba (60%) e do Rio Grande do Norte (40%) e nela estão localizados importantes municípios como Patos/PB, Souza/PB, Caicó/RN, Assú/RN e Macau/RN. Totalmente inserido em território semiárido, a bacia apresenta chuvas concentradas em poucos meses do ano e um padrão de forte variabilidade interanual que ocasiona a alternância entre anos de pluviosidade regular e anos de prolongada escassez hídrica, que produzem secas prolongadas. O rio Piranhas-Açu, como a maioria dos rios do semiárido nordestino, à exceção do rio São Francisco e do Parnaíba, é um rio intermitente em condições naturais. Sua perenização ocorre através de dois reservatórios de regularização construídos pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS: Curema-Mãe d’Água, na Paraíba, e Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte. Cabe destacar o caráter estratégico da bacia do rio Piranhas-Açu para as duas unidades da federação abrangidas, pois esses reservatórios correspondem às suas principais fontes hídricas, responsáveis inclusive pelo atendimento de demandas externas, que estão associadas a bacias adjacentes. Além de doadora de água, a bacia atua como receptora, no caso da transposição do rio São Francisco, e possui um marco regulatório que estabelece vazão de entrega na fronteira estadual entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Cabe ressaltar que graças à associação dos grandes reservatórios com outros de menor porte, estão estabelecidas na bacia importantes atividades econômicas que incluem, entre outras, a agropecuária, inclusive com a fruticultura irrigada, a mineração com destaque para o petróleo, e a aquicultura, notadamente a produção de camarão. Essa economia regional está vinculada a importantes centros urbanos, entre os quais podemos destacar Caicó e Assú e Macau, no Rio Grande do Norte, e Patos, Cajazeiras e Sousa, na Paraíba. Numa região de características semiáridas, como na bacia do rio Piranhas-Açu, a sustentabilidade do uso da água é especialmente importante, pois representa um fator limitante para o desenvolvimento socioeconômico da população. O histórico de períodos de seca prolongada associada a eventos de inundações dessa região marca profundamente a convivência do homem com o território que ocupa. Na perspectiva de enfrentar o desafio de assegurar à sociedade água em qualidade e quantidade adequada, de utilização racional e integrada dos recursos hídricos com vistas ao desenvolvimento sustentável e de realizar a prevenção e defesa contra eventos hidrológicos críticos, foi estabelecida a Política Nacional de Recursos Hídricos por meio da Lei nº 9.433 de 1997. Os fundamentos dessa política apresentam forte rebatimento sobre a bacia do rio Piranhas-Açu, cabendo destacar os seguintes aspectos: em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; a gestão deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades. Esses elementos compõem o pano de fundo para orientar a aplicação de um dos principais instrumentos da gestão da água, previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos. O “Plano de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu” – PRH Piranhas-Açu, elaborado no período de 2012 a 2014, que visa essencialmente compatibilizar a disponibilidade hídrica em termos qualitativos e quantitativos com as demandas de água. Para isso, busca articular os diversos atores sociais, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da melhoria da qualidade de vida na bacia hidrográfica. Cumpre ressaltar que a construção do PRH é um processo complexo que exige capacidade técnica e institucional para se estabelecer em bases sólidas. Nessa perspectiva, o instrumento deve ser compreendido inicialmente como a oportunidade de organizar e integrar o conhecimento disperso, traduzindo-o e reconstruindo-o de forma contextualizada e global, por meio de uma abordagem multidisciplinar. Em um segundo momento, com base nessa forte base de dados e informações técnicas, o PRH oferece um espaço de amplo debate sobre as necessidades de melhoria na gestão de água. Nessa atividade, o Comitê de Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu – CBH Piancó-Piranhas-Açu assume papel de protagonista como espaço para construção de um diálogo amplo com o envolvimento de poder público, sociedade civil e usuários de água. Vale ressaltar que o PRH Piranhas-Açu buscou promover a participação pública em três vertentes. A primeira envolveu o acompanhamento dos trabalhos pela Câmara Técnica de Planejamento Institucional - CTPI, que é formada por membros e representantes de membros do CBH. A segunda se relacionou a série de reuniões públicas e a terceira foi conduzida diretamente pelas discussões travadas no CBH Piancó-Piranhas-Açu. Em um terceiro momento, as discussões realizadas ao longo desse processo de elaboração do PRH convergem para um conjunto de propostas concretas para a transformação da realidade dos recursos hídricos na bacia. Para que essas ações possam se concretizar será necessário o comprometimento coletivo dos atores estratégicos envolvidos na gestão dos recursos hídricos, elemento imprescindível para o sucesso do PRH. Cumpre salientar que esse é o primeiro PRH elaborado na bacia e deve ser compreendido como um instrumento contínuo e dinâmico com visão de longo prazo. Para tal, o PRH possui um caráter adaptativo, ou seja, deve ser sistematicamente avaliado e ter sua trajetória ajustada durante a sua execução, de modo a conviver com as incertezas de natureza política, econômica e social a que estará submetido. Por fim, o PRH Piranhas-Açu foi construído para constituir um documento de referência para o CBH Piranhas-Açu, os Órgãos Gestores de Recursos Hídricos da Paraíba e do Rio Grande do Norte e demais componentes do Sistema de Gestão de Recursos Hídricos na gestão efetiva dos recursos hídricos da bacia. Essas responsabilidades são, por sua natureza, compartilhadas em várias dimensões e os esforços devem ser orientados na direção de estabelecer parcerias para sua execução, concentrando energias em torno de objetivos comuns. Antecedentes A elaboração do PRH Piranhas-Açu se insere num contexto de discussões a respeito da gestão integrada das águas da bacia, envolvendo União e Estados, que se iniciaram há cerca de uma década atrás. Nesse período, se destacam o estabelecimento de um marco regulatório para o rio principal e o processo de mobilização dos atores da sociedade local com envolvimento em recursos hídricos que culminou na constituição do CBH Piancó-Piranhas-Açu. Cabe destacar que essas iniciativas estão inseridas no marco da gestão das águas do país, a Política Nacional de Recursos Hídricos, promulgada no ano de 1997, bem como nas políticas estaduais de recursos hídricos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, ambas de 1996. Em um breve histórico cabe inicialmente registrar que, no segundo semestre de 2003, se iniciaram as ações de gestão na bacia com o desencadeamento pela Agência Nacional de Águas – ANA de um processo de articulação institucional junto aos Órgãos Gestores dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte e o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS, visando à estruturação de uma proposta de gerenciamento integrado do Sistema Curema-Açu, que parte do açude Curema-Mãe D’Água até a foz do rio Piranhas-Açu, na cidade de Macau. Essa iniciativa se deveu à constatação de que a soma das vazões de água outorgadas, acrescida dos novos pedidos protocolados na ANA, superava a disponibilidade de água para determinados trechos do rio Piranhas-Açu. O processo de articulação institucional foi formalizado, em fevereiro de 2004, através de convênio de integração firmado entre a ANA, o Estado da Paraíba, com a interveniência da Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais (SEMARH) e da Agência de Águas, Irrigação e Saneamento (AAGISA), e o Estado do Rio Grande do Norte, com a interveniência da Secretaria dos Recursos Hídricos (SERHID) e do Instituto de Gestão das Águas (IGARN), e o DNOCS. Para executar as ações previstas no Convênio de Integração foram criados o Grupo Técnico Operacional (GTO) e o Grupo de Articulação Institucional (GAI). O GTO visava fornecer suporte técnico ao processo com a responsabilidade de definir e implementar o marco regulatório com a regularização de usuários. Entre as atribuições desse grupo eram previstas: definição e implementação da alocação anual de água com a participação dos usuários; definição da sistemática de monitoramento quantitativo e qualitativo dos principais reservatórios e do vale perenizado e de manutenção do sistema de informações sobre recursos hídricos; a definição e implementação de sistemática integrada de fiscalização; definição da sistemática de atualização cadastral e do modelo de suporte à decisão; proposição de convênios entre a ANA e os Estados visando à operação dos açudes e suporte à gestão de recursos hídricos. O GAI, composto por dirigentes das instituições envolvidas, possuía poder deliberativo para aprovar a proposição de marco regulatório e subsidiar o GTO na definição do plano de regularização e ordenamento dos usos e na gestão dos recursos hídricos do Sistema Curema-Açu. Cabe registrar que ainda em 2003 foi iniciada campanha de cadastramento de usuários com a utilização de formulário único. Essa ação contou com recursos materiais e humanos próprios dos Estados e o apoio do DNOCS, que apoiou as atividades no entorno dos dois grandes reservatórios do sistema. Ao final dos trabalhos foram cadastrados 2.678 usuários, sendo 1.634 usuários na Paraíba e 1.044 no Rio Grande do Norte. Em dezembro de 2004, foi assinada pelos governadores dos Estados e as direções da ANA e do DNOCS o “Marco Regulatório do Sistema Curema-Açu”, Resolução nº 687/2004/ANA, que representou o marco formal do processo de negociação para ordenamento do uso dos recursos hídricos. Com base numa visão da evolução das demandas de água no horizonte de planejamento de 10 anos, foi estabelecida a alocação de água entre 6 trechos do sistema e dos respectivos usos em cada um. Também foi definida uma vazão de passagem da Paraíba para o Rio Grande do Norte, a sistemática de regularização dos usuários de água do sistema, a implantação de uma rede de monitoramento quantitativo-qualitativo e os índices de eficiência mínima para projetos de irrigação. É importante ressaltar que a resolução apresenta validade até 2014 e prevê que, no caso de aprovação do plano de recursos hídricos da bacia pelo comitê de bacia, a resolução seria adequada às prioridades de uso e à alocação de água definidas no plano. Como consequência do Convênio de Integração e do Marco Regulatório, a ANA celebrou com a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba - AESA e o Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte convênios de cooperação que foram iniciados em 2005 e tinham previsão original de conclusão em 2007. Após a realização de aditamentos, os prazos foram estendidos, respectivamente, para 2008 e 2009. Os objetos específicos desses convênios foram a regularização de todos os usuários através da concessão de outorgas ou de certificados de dispensa de outorga no caso de usos considerados insignificantes, a implementação da gestão participativa por meio da criação do Grupo de Acompanhamento do Marco Regulatório (GAMAR) e do processo anual de alocação de água, e o apoio às demais ações de gestão previstas no Marco Regulatório, como atualização cadastral, monitoramento e fiscalização. Vale destacar que o GTO e GAI apresentavam a responsabilidade de estabelecer as diretrizes operacionais em consonância com o Convênio de Integração. Para desenvolvimento das atividades foram estabelecidos escritórios nas cidades de Patos e Assú, tendo sido criado um Grupo Técnico de Monitoramento (GTM) para ampliação do monitoramento de qualidade e quantidade de água realizado nos trechos do Marco Regulatório. O GAMAR, constituído na perspectiva de envolver representantes dos órgãos de governo e dos usuários, embora tenha realizado reuniões, não concretizou seu objetivo de promover anualmente o processo de alocação negociada de água. No âmbito das ações dos convênios de integração e de cooperação na bacia, foram iniciadas as tratativas para criação do comitê de bacia. Esse processo foi desencadeado em 2005 e culminou com a publicação do Decreto do Presidente da República, em novembro de 2006, que criou o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu. Com o objetivo de prestar suporte operacional ao processo instalação do CBH, a diretoria provisória criou um Grupo de Apoio formado por representantes do poder público, usuários e sociedade civil que, em outubro de 2007, delineou a estratégia a ser seguida nesse processo. Finalmente, em setembro de 2009, ocorreu a instalação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu. Cabe ressaltar que a sua denominação foi posteriormente adequada, em outubro de 2011, com o acréscimo de “Piancó”, resultando em Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas-Açu. Vale destacar que, desde 2010, os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte optaram por reconhecer o CBH Piancó-Piranhas-Açu como comitê único integrante do arcabouço institucional estadual, respectivamente. Tal fato não representa qualquer sobreposição ou preeminência da legislação federal sobre as estaduais na bacia. Cada uso da água e ação continua sujeito à legislação vigente no domínio onde está localizado. Contudo, significa que a instância participativa dos Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos dos três entes federativos, União, Estado da Paraíba e Estado do Rio Grande do Norte será o CBH. No mesmo ano da sua instalação, por meio da Deliberação n° 05/2009, o CBH Piancó-PiranhasAçu aprovou a sua Agenda Plurianual de Atividades: 2010-2013, que apresentava, em sua programação, as etapas necessárias para elaboração dos termos de referência e acompanhamento da contratação e da elaboração do PRH Piranhas-Açu. Finalmente, por meio do Ofício n° 003/2010 - DC, de 08 de fevereiro de 2010, a Diretoria do CBH solicitou à ANA a elaboração do PRH. Posteriormente, em reunião da Câmara Técnica de Planejamento Institucional do Comitê da Bacia (CTPI), realizada nos dias 24 a 26 de março em Caicó, foram definidas as bases iniciais para a elaboração dos termos de referência para contratação do estudo. Além de membros da CTPI, a reunião contou com a participação de representantes da ANA, DNOCS, Órgãos Gestores de Recursos Hídricos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, dentre outros, cabendo à ANA a responsabilidade de elaborar os termos de referência e, subsequentemente, a contratação dos serviços técnicos para elaboração do referido PRH. Estrutura do Relatório O PRH Piranhas-Açu está subdividido em nove capítulos que sistematizam as principais informações e o conjunto de intervenções propostas para a bacia hidrográfica. O capítulo 2, Metodologia e Bases de Dados, apresenta as etapas de elaboração do PRH e as principais fontes de dados consultadas. O capítulo 3, Diagnóstico, apresenta os dados e informações que caracterizam a bacia que foram organizados e produzidos na primeira etapa de elaboração do PRH. São abordados aspectos físico-bióticos, socioeconômicos e institucionais, assim como a condição atual da infraestrutura hídrica, relacionando-a à disponibilidade e demandas hídricas atuais, sem perder de vista os principais problemas relacionados à qualidade da água na bacia. No capítulo 4, Prognóstico, são avaliados cenários futuros de qualidade e quantidade de água na bacia para os horizontes de 2017, 2022 e 2032. Essa análise se baseia nas projeções das demandas atuais e nas obras de ampliação da disponibilidade de água e da infraestrutura, tais como o aporte de água a partir do Projeto de Integração do Rio São Francisco – PISF, a construção de novos reservatórios e a ampliação da rede de adutoras. Além disso, são avaliadas as cargas poluidoras e sua relação com os serviços de saneamento. Em seguida, o capítulo 5, Intervenções e Investimentos, organiza e detalha as intervenções propostas pelo PRH Piranhas-Açu para compatibilizar o uso múltiplo e sustentável dos recursos hídricos na bacia. O programa de investimentos, estruturado em ações estruturais e não estruturais, é apresentado com a indicação de objetivos, metas, custos, potenciais fontes de recursos associados e indicadores de monitoramento. São apresentados ainda os principais eixos estruturantes de aplicação dessas intervenções para alcance das metas do PRH. O Capítulo 6, Diretrizes para Implementação dos Instrumentos de Gestão, aborda as diretrizes e recomendações para a aplicação dos instrumentos de gestão de recursos hídricos, notadamente a fiscalização e a outorga, associados à proposta de um novo marco regulatório de alocação da água na bacia e da proposta de enquadramento dos corpos hídricos superficiais. O capítulo conta ainda com recomendações aos setores de usuários de recursos hídricos, governamental e sociedade civil, visando à compatibilização das suas atividades com a implementação do PRH. O capítulo 8, Arranjo Institucional e Estratégia de Implementação, fornece os elementos necessários para orientar e organizar os atores estratégicos na gestão dos recursos hídricos da bacia, de modo a criar uma estrutura organizacional capaz de empreender as ações necessárias para viabilizar a execução das ações propostas pelo PRH. O capítulo 9 apresenta as principais conclusões do PRH Piranhas-Açu e o capítulo 10, as referências bibliográficas citadas ao longo do documento. 2 Metodologia A construção do planejamento de recursos hídricos da bacia do rio Piranhas-Açu foi orientada pelas dimensões participativa e técnica. No aspecto participativo, buscou envolver os atores da bacia e construir um acordo para orientar a gestão dos recursos hídricos. Na dimensão técnica, compreendeu três etapas inter-relacionadas: diagnóstico, prognóstico e plano de ações. Etapas de Elaboração A etapa de diagnóstico se concentrou na coleta, análise e sistematização de dados secundários produzidos por diferentes órgãos e instituições, assim como dados sobre projetos, estudos e planos setoriais de interesse. Além disso, contou com a realização de um sobrevoo de reconhecimento aéreo na bacia que forneceu subsídios para a elaboração, a partir de imagens de satélite, do mapa de uso e ocupação do solo. A escala de trabalho adotada foi 1:250.000. Compreendeu uma descrição e avaliação da condição natural e antrópica da bacia com a finalidade de construir um quadro de referência sobre ampla diversidade de temas estratégicos relacionados à gestão de recursos hídricos. Especial ênfase foi dada à caracterização dos recursos hídricos em termos de disponibilidade, demanda e qualidade e os principais problemas e conflitos associados. Cabe destacar que a caracterização dos corpos hídricos superficiais considerou 52 açudes estratégicos com capacidade de acumulação superior a 10 hm³. A etapa seguinte, de prognóstico, caracterizou-se pela concepção de cenários de desenvolvimento para os horizontes de planejamento previstos – anos de 2017, 2022 e 2032 –, para os quais se estimou as demandas de água que foram confrontadas com a disponibilidade hídrica futura. Nessa análise, foram prospectadas as medidas necessárias para compatibilizar a qualidade e quantidade de água com as demandas futuras. Essa compatibilização considerou três alternativas: incrementar a oferta por meio de intervenções estruturais, tais como a construção de novos reservatórios e a transposição de águas da bacia do São Francisco; reduzir progressivamente as demandas por medidas de racionalização do uso da água; e controlar a poluição, de modo a melhorar a qualidade da água, tais como tratamento e reuso de águas residuárias. Na análise, inicialmente elaborou-se o cenário tendencial, construído a partir das tendências de evolução das demandas hídricas ao longo dos últimos 10 anos e da implantação das obras de infraestrutura hídrica atualmente previstas. Ou seja, o tendencial considera que as políticas e situações permanecerão naturalmente como estabelecidas no diagnóstico. Adicionalmente, outros dois cenários – normativo e crítico – foram estabelecidos com base na conjugação de fatores, respectivamente, positivos ou negativos para a gestão dos recursos hídricos. As alternativas de compatibilização entre disponibilidades e demandas, bem como entre os interesses internos e externos à bacia, considerados esses cenários e fontes internas e externas. Nas análises de oferta e demanda hídrica do diagnóstico e prognóstico foi utilizado o programa Acquanet, sistema de suporte a decisão desenvolvido pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Com seu apoio foram planejadas as intervenções propostas pelo PRH Piranhas-Açu, especialmente as regras de alocação de água. A etapa final, correspondente ao plano de ações, propõe um conjunto de metas e diretrizes para que a visão de futuro da bacia – a realidade desejada – seja gradualmente construída nos horizontes de curto, médio e longo prazo. São apresentadas intervenções organizadas, classificadas basicamente como intervenções estruturantes e não estruturantes que estão distribuídas em programas, subprogramas e ações. Essas ações consideram aspectos financeiros e orçamentários, sendo acompanhadas de cronograma físico-financeiro com possíveis fontes de recursos identificadas nos orçamentos federal e estaduais para dar sustentabilidade financeira ao PRH. Além disso, são apresentados indicadores para acompanhar a consecução de suas metas. No conjunto de ações propostas pelo PRH Piranhas-Açu destacam-se a alocação de água, a proposta de enquadramento dos corpos hídricos superficiais e o aperfeiçoamento do arranjo institucional. De forma complementar, são apresentadas recomendações aos setores usuários de recursos hídricos. A atualização do marco regulatório, revisão da alocação de água, visa assegurar o atendimento das demandas atuais e futuras da bacia com o estabelecimento de vazões de entrega de água na divisa estadual. A proposta de enquadramento dos corpos hídricos, por sua vez, visa definir metas de melhoria da qualidade de água. Essas duas abordagens orientam o conjunto de diretrizes para aplicação dos instrumentos de gestão, notadamente a outorga e a fiscalização. Adicionalmente, na perspectiva de tornar o PRH um instrumento efetivo de gestão dos recursos hídricos, foram avaliadas as alternativas de arranjo institucional dos atores estratégicos da bacia para viabilizar sua execução efetiva. A essa análise foi acrescentado um roteiro de implementação do PRH com a identificação de prazos requeridos para as intervenções previstas e suas relações de precedência, de modo a estabelecer um cronograma físico de implantação. Acompanhamento das Atividades O processo de participação pública na elaboração do PRH Piranhas-Açu ocorreu segundo três vertentes. A primeira corresponde ao acompanhamento bimestral das atividades realizado pela Câmara Técnica de Planejamento Institucional – CTPI, formada por representantes e membros indicados pelo CBH Piranhas-Açu. A câmara exerceu funções de apoio e acompanhamento técnico, tendo sido realizados XX encontros que aconteceram nas cidades de Patos, Assú e Caicó. A segunda forma de participação se deu por meio de reuniões públicas em que foram apresentados os resultados alcançados, esclarecidas dúvidas e recebidas sugestões. As rodadas de reuniões ocorreram ao final das etapas de diagnóstico e do plano de ações nas seguintes cidades indicadas pela Diretoria do CBH: Patos, Cajazeiras, Assú e Caicó (duas em cada estado da bacia). Ao final, foram realizados 8 eventos nos meses de agosto de 2013 e xx de 2014. A terceira frente de discussões foi conduzida diretamente pelo CBH Piancó-Piranhas-Açu com a finalidade de ampliar a disseminação de informações e favorecer o debate dos assuntos relacionados ao PRH. Ao total, foram realizadas XX reuniões. Por fim, cabe destacar que, paralelamente ao processo de participação pública, foram realizadas reuniões técnicas para aprofundamento dos temas estratégicos relacionados à gestão na bacia visando à construção de acordos. Esses eventos tiveram lugar nas dependências da AESA, SEMARH e ANA, tendo ocorrido XX encontros. 3 Diagnóstico 3.1 Aspectos Gerais Localização Situada na região semiárida do Nordeste brasileiro, entre as coordenadas geográficas 38° 75’ e 36° 17’ de longitude oeste e 5° 06’ e 7° 83’ de latitude sul, a bacia hidrográfica do rio PiranhasAçu possui área de drenagem de 43.683 km² que está parcialmente inserida nos Estados da Paraíba (60%) e do Rio Grande do Norte (40%) (Figura 2). Os principais acessos à bacia a partir de Natal/RN são as rodovias BR-406, BR-304 e BR-226, enquanto que a partir de João Pessoa/PB destaca-se como via de acesso a BR-230 (Figura 3). Divisão Político-Administrativa A bacia possui 147 municípios, dos quais 47 pertencem ao Estado do Rio Grande do Norte e 100 ao Estado da Paraíba (Figura 3). Desse total, 132 municípios têm sua sede dentro dos limites da bacia. A tabela 1 apresenta a distribuição dos municípios da bacia entre as unidades da federação. Figura 2 – Localização da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu. Tabela 1 – Participação das unidades da federação na bacia. Unidade da Federação Área da bacia nos Estados Área dos Estados situada na bacia Número de Municípios (km²) (%) (%) Total Com sede na bacia Paraíba 25.948 59,4 46,1 100 93 Rio Grande do Norte 17.735 40,6 33,4 47 39 43.683 100 147 132 Total Figura 3 – Divisão político-administrativa da bacia do rio Piranhas-Açu. Hidrografia e Reservatórios Estratégicos O rio Piranhas-Açu atravessa os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, onde alcança o Oceano Atlântico, próximo a cidade de Macau. Apresenta duas nascentes conforme o critério que se adota. Sob o aspecto geográfico, ela está localizada no município de Bonito de Santa Fé, na fronteira entre Paranaíba e Ceará (Figura 4). Quando se adota o critério da maior área de drenagem, conforme indica a Resolução no 399, a nascente se localiza na Serra de Piancó e o rio Piancó passa a ser o corpo hídrico principal. Na descrição abaixo foi adotado o primeiro critério. Na Paraíba, o rio Piranhas forma um sistema hidrográfico constituído em seus alto e médio cursos pelas bacias dos rios do Peixe e Piancó e parte das bacias dos rios Espinharas e Seridó. Esses quatro rios são seus principais afluentes – o primeiro, pela margem esquerda, e os três últimos, pela margem direita. Ainda na Paraíba, recebe contribuição de cursos d’água de menor porte: na sua margem direita, destacam-se os riachos Campos, Cachoeira, da Corda e do Trapiá, e, na margem esquerda, os riachos Paraguai, Solidão e Tamanduá. No Rio Grande do Norte, o rio Piranhas adentra pelo município de Jardim de Piranhas, recebe as águas dos rios Espinharas e Seridó e cruza a região central do Estado. Ao passar pela barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o rio Piranhas passa a se chamar Piranhas-Açu. No contexto do clima semiárido, é importante destacar que os rios que formam a bacia hidrográfica são intermitentes. O armazenamento de água para atendimento dos diversos usos é assegurado por diversos reservatórios, tendo sido identificados 52 açudes de caráter estratégico (capacidade de acumulação próxima ou superior a 10 hm³) que conjuntamente alcançam 5.658,7 hm³. Os reservatórios Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte, o Curema-Mãe D’Água e Engenheiro Avidos, na Paraíba, correspondem a cerca de 70% da capacidade de armazenamento da bacia. Esses reservatórios são responsáveis pela perenização de trechos de rio a jusante (Figura 4) nos quais se desenvolvem diversos usos da água. A dominialidade dos rios e reservatórios da bacia hidrográfica é apresentada na Figura 5. Essa mescla de corpos de responsabilidade dos Estados e da União demonstra a importância da gestão integrada entre os órgãos gestores de recursos hídricos com atuação na bacia. Unidades de Planejamento Hidrológico A bacia foi subdividida em 11 unidades de planejamento hidrológico – UPHs para fins de sistematização dos dados do PRH (Figura 4). Foram adotados os seguintes critérios na sua definição: hidrografia, presença de reservatórios de grande porte e unidades de gestão adotadas pelos Estados. A caracterização das UPHs, no que se refere às suas áreas, percentual que ocupam na bacia, número de municípios abrangidos e sedes municipais encontra-se na Tabela 2. Tabela 2 – Unidades de planejamento hidrológico Área (Km²) Área (%) N° de Municípios N° de Sedes Rio principal Piancó 9.207 21,1% 41 30 Piancó Alto Piranhas 2.562 5,9% 19 8 Piranhas Peixe 3.428 7,8% 23 17 Rio do Peixe Espinharas 3.291 7,5% 28 13 Espinharas Médio Piranhas Paraibano 2.894 6,6% 24 11 Piranhas-Açu Seridó 9.923 22,7% 44 29 Seridó Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 2.245 5,1% 14 6 Piranhas-Açu Médio Piranhas Potiguar 3.536 8,1% 19 5 Piranhas-Açu Paraú 974 2,2% 8 2 Paraú e Piranhas-Açu Pataxó 1.954 4,5% 11 5 Pataxó e Piranhas-Açu Bacias Difusas do Baixo Piranhas 3.668 8,4% 15 6 Piranhas-Açu Bacia 43.683 100 147 132 UPH A UPH Peixe situa-se no extremo noroeste do Estado da Paraíba. O rio do Peixe, com área de drenagem de 3.428 km², tem suas nascentes na Serra do Padre, no município de Uiraúna, e deságua no rio Piranhas, no município de Souza. A UPH Alto Piranhas corresponde à área dominada pelo alto curso desse rio. Situa-se no extremo oeste do Estado da Paraíba e drena uma área de 2.562 km². As três UPHs seguintes abrangem, de montante a jusante, trechos perenizados do rio Piranhas-Açu: UPH Médio Piranhas Paraibano drena área de 2.894 km²; a UPH Médio Piranhas Paraibano/Potiguar possui área de 2.245 km²; e a UPH do Médio Piranhas Potiguar com 3.536 km². A UPH Piancó situa-se no extremo sudoeste do Estado da Paraíba, tendo como fronteiras o Ceará a oeste, Pernambuco ao sul, as UPHs Alto e Médio Piranhas ao norte e a UPH Espinharas a leste. Possui área de 9.207 km² e tem o rio Piancó como seu rio principal. Seus principais afluentes são os rios Jenipapo e Gravatá e os riachos de Santana, Minador, Canoas, Vermelho, Maria e Verde. A UPH Espinharas tem o rio homônimo como principal e ocupa área de 3.291 km². O rio Espinharas é formado a partir da confluência dos rios do Cruz e Farinha, próximo à cidade de Patos/PB. A UPH Seridó envolve áreas dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte e abrange uma área de drenagem de 9.923 km². Tem como rio principal o rio Seridó, cuja nascente se localiza no sapé da Serra dos Cariris ou Serra do Alagamar, no município paraibano de Cubati. Figura 4 – Hidrografia, reservatórios estratégicos e unidades de planejamento hidrológico. Figura 5 – Dominialidade dos corpos hídricos superficiais e gestão dos reservatórios estratégicos. A jusante do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves situam-se três UPHs: a do rio Paraú, afluente da margem esquerda do rio Piranhas-Açu, tem área de 974 km²; a do rio Pataxó, afluente da margem direita, possui 1.954 km² e a UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas, situada na foz do rio PiranhasAçu, tem 3.668 km². 3.2 Características Físico-Bióticas Clima A bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu apresenta os tipos climáticos A (clima tropical) e B (clima árido), segundo a classificação de Köppen. O clima tropical ocorre na parte alta da bacia, em porções das UPHs Piancó, Alto Piranhas e Peixe, enquanto o árido predomina no restante. As chuvas na bacia são concentradas nos meses de fevereiro a maio e caracterizam-se pela alta variabilidade interanual. Sua distribuição espacial mostra um padrão de aumento do litoral para o interior da bacia (Figura 6) com valores mais baixos, da ordem de 500 mm/ano, nas UPHs Bacias Difusas do Baixo Piranhas e Seridó, e mais altos, cerca de 1.100 mm/ano, na UPH Piancó. A bacia apresenta altas taxas de evaporação, que acarretam perdas significativas das reservas de água, contribuindo assim para o déficit hídrico na bacia. Com base nas normais climatológicas de cinco estações (quatro situadas no interior da bacia), a evaporação média Piché é de 2.338 mm/ano e a evapotranspiração, segundo os métodos de Hargreaves e Penman-Monteith, da ordem, respectivamente, de 1.620 mm/ano e 1.786 mm/ano. As maiores taxas ocorrem, de modo geral, no período de agosto a janeiro. Geologia, Geormorfologia, Solos e Recursos Minerais As unidades geológicas e feições geomorfológicas da bacia do rio Piranhas-Açu guardam estreita relação entre si e condicionam a ocorrência dos solos e de importantes recursos minerais. No contexto geológico regional da bacia, predominam amplamente rochas ígneas e metamórficas, representadas por gnaisses, xistos, migmatitos e granitos, que fazem parte da Província Borborema . Essas unidades formam o embasamento cristalino e datam do pré-Cambriano, mais de 550 milhões de anos. Nesse contexto merece destaque a ocorrência de tungstênio (scheelita) na região do Seridó que foi uma ativa província mineral tendo sido a principal produtora de concentrados desse mineral no País, ao lado de intensa atividade garimpeira, principalmente ligada à exploração de minerais de pegmatito (MMA, 2001). As rochas sedimentares estão distribuídas principalmente nas bacias fanerozóicas (idades inferiores a 550 milhões de anos) Potiguar e do Rio do Peixe, e nas formações cenozóicas (menos de 65 milhões de anos) Barreiras e Serra dos Martins. Além disso, depósitos quaternários (menos de 1,8 milhões de anos) distribuem-se por toda a bacia na forma de aluviões e coberturas detrítico-lateríticas. A bacia sedimentar Potiguar ocorre no norte da bacia, correspondendo a importantes áreas das UPHs Bacia Difusas, Pataxós e Paraú. A bacia é formada por arenitos da formação Açu que estão sobrepostos por calcários da formação Jandaíra. Destacam-se nessa região a exploração de petróleo e gás das formações sedimentares Pendências e, principalmente, Açu, que ocorre principalmente nos municípios de Pendências e Alto Rodrigues, e de calcários como insumo à construção civil. Nas planícies aluviais existe a exploração de argilas para construção civil e, no estuário do rio PiranhasAçu e planície flúvio-marinha, a exploração de sal. A bacia sedimentar do rio do Peixe está situada no setor ocidental da bacia, em porções das UPHs Peixe e Alto Piranhas, e inclui as formações Sousa, Rio Piranhas e Antenor Navarro. A primeira, mais argilosa, é formada por siltitos e folhelhos e as duas últimas, mais arenosas, são formadas por arenitos grossos a conglomeráticos. A Formação Barreiras recobre localmente a Formação Jandaíra, pertencente à bacia sedimentar, e a Formação Serra dos Martins ocorre em pequenas áreas de exposição diretamente sobre o embasamento cristalino. Figura 6 – Isoietas da precipitação média na bacia do rio Piranhas-Açu. Sob o aspecto geomorfológico, o embasamento cristalino corresponde principalmente à Depressão Sertaneja e, localmente, ao Planalto Borborema. A primeira é caracterizada por topografia plana a levemente ondulada com altimetrias inferiores a 400 m, e a segunda, restrita à região sudeste da bacia, possui formas mais aguçadas, convexas e tabulares. Nas áreas sedimentares, distinguem-se o domínio Superfície Cárstica, relacionado à Formação Jandaíra, e Chapadas Altas associadas à Formação Serra dos Martins. Na zona litorânea, na foz do rio Piranhas-Açu, dunas, praias e depósitos flúvio-marinhos correspondem ao domínio geomorfológico Planície Litorânea (figura 7). Os solos predominantes na região do embasamento cristalino são o luvissolo crômico e o neossolo litólico, seguidos do argissolo vermelho-amarelo (Figura 8). Esses solos são desfavoráveis à agricultura, limitando a expansão agrícola em suas áreas de ocorrência. Nas áreas das bacias sedimentares, são várias as unidades pedológicas existentes, com predominância de planossolo nátrico e vertissolo cromado na área da Bacia do Rio do Peixe, cambissolo háplico na área da Formação Jandaíra, latossolos sobre as formações Açu e Barreiras, neossolo quartzarênico na planície aluvial do rio Açu e gleissolo sálico na zona litorânea. Figura 7 – Relevo e geomorfologia da bacia do rio Piranhas-Açu. Figura 8 – Solos da bacia do rio Piranhas-Açu. Biomas, Biodiversidade, Desertificação e Áreas Protegidas Predomina amplamente na bacia o bioma Caatinga, com exceção feita aos ambientes costeiros. O bioma apresenta, na bacia, três fitofisionomias: savana-estépica florestada, savana-estépica arborizada e savana-estépica parque. A vegetação remanescente de Caatinga ocupa 63% da área da bacia. Cumpre ressaltar que, em função da produção de lenha, o bioma vem sofrendo sérios impactos ambientais, resultando em significativa redução de recurso florestal, com reflexos socioeconômicos. Cabe destacar a região do Seridó, que foi diagnosticada como a mais atingida pelo processo de desertificação (MMA, 2005). O Núcleo de Desertificação do Seridó (figura 9) ocupa 4.094 km² do território do Rio Grande do Norte e cerca de 85% da população se concentra nas áreas urbanas dos sete municípios que o compõem: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó e Parelhas. Em alguns setores, as condições de desertificação já se encontram praticamente irreversíveis, com solos fortemente erodidos em face dos sistemas de manejo rudimentar que têm sido praticados na agropecuária, da deficiente condição de proteção da vegetação e da exposição a condições climáticas agressivas (MMA, 2001). Figura 9 – Municípios que compõem o núcleo de desertificação do Seridó. Um aspecto importante a acrescentar, em relação ao uso do solo na bacia, é a pequena quantidade e a reduzida área ocupada pelas unidades de conservação, conforme mostra a tabela 3. A categoria das unidades de proteção integral ocupa apenas 4.360 hectares, o que representa apenas 4% da área das unidades de conservação existentes na bacia. 3.3 Uso e Ocupação do Solo A ocupação da bacia iniciou-se no período colonial, com o desenvolvimento da atividade pecuária para suprir as necessidades da produção de cana-de-açúcar no litoral. A necessidade de força animal para o funcionamento dos engenhos e fornecimento de alimento para a crescente população da zona açucareira forçou o desenvolvimento da atividade pecuária no interior (ADESE, 2011). O declínio da pecuária se deveu à existência de extensos períodos de estiagem, especialmente a seca de 1790 a 1793 que dizimou os rebanhos bovinos. A partir do século XVIII, a produção de algodão despontou como alternativa econômica importante, pois já era comercializada para o exterior e a cultura resistia aos períodos de estiagem. Com a grande seca de 1877 a 1879, a cotonicultura ganha destaque, consolidando a produção do algodão mocó, variedade conhecida pela sua fibra longa e de alta qualidade requisitada pelas indústrias têxteis (MORAIS, 1999 apud ADESE, 2011). Em virtude da crescente procura, a alta cotação do algodão no mercado internacional fez com que a atividade ultrapassasse a posição assumida pelo açúcar tempos atrás. Durante o século XIX até quase o final do século XX, o binômio algodão e gado fortaleceu a economia da região do Alto e Médio Piranhas, notadamente na zona das Várzeas de Souza e no Seridó. Assim, cidades como Cajazeiras/PB, Souza/PB, Pombal/PB, Patos/PB e Caicó/RN ganharam impulso como sedes de usinas locais e de multinacionais do algodão. No início de 1930, a mineração desponta no Seridó, quando compradores alemães começam a adquirir minerais extraídos de pegmatitos. Na década seguinte, inicia-se a exploração da scheelita, minério de tungstênio, muito utilizado na época para fabricação de utensílios de guerra (SEPLANRN. IICA, 2000, v.1). Assim, concomitante ao apogeu do ciclo agrológico, na década de 1940-1950, desponta o centro produtor dos minérios de pegmatito e tungstênio, que são explorados principalmente nos municípios de Acari - Açude Gargalheiras (Marechal Dutra) e em Currais Novos pelo Grupo Votorantim, na UP do Seridó. Tabela 3 – Unidades de Conservação na bacia do rio Piranhas-Açu. UF Nome da UC Município Categoria Tipo Responsabilidade Área (ha) Legislação RN Seridó Serra Negra do Norte ESEC Proteção Integral Federal 1.166 Decreto 87.222 de 31/05/82 RN Cabugi Angicos Parque Ecológico Proteção Integral Estadual 2.120 Decreto 14.813 de 16/03/00 RN Açu Assú FLONA Uso Sustentável Federal 215 Portaria 245 de 18/07/01 RN Faz. Salobro Jucurutu RPPN Uso Sustentável Particular 756 Portaria 052/94-N RN Ser Nativo Acarí RPPN Uso Sustentável Particular 154 Portaria 109/96-N RN Stoessel de Brito Jucurutu RPPN Uso Sustentável Particular -- Portaria 52 de 20/05/94 RN Dunas do Rosado APA Uso Sustentável Estadual 16.594 Em criação RN Carnaúbas APA Uso Sustentável 100.111 Em criação PB Vale dos Dinossauros Souza MNAT Proteção Integral Estadual (Sudema) 40 Decreto 23.832 de 27/12/02 PB Engenheiro Ávidos Cajazeiras Parque Ecológico Proteção Integral Municipal 182 Lei Municipal 1.147/GP-97 de 29/08/97 PB Pico do Jabre Maturéia e Mãe d'Água PE Proteção Integral Estadual (Sudema) 852 Decreto 23.060 de 19/06/02 PB Faz. Tamanduá Santa Teresinha RPPN Uso Sustentável Particular 235 Portaria 110/98-N de 30/07/98 PB Major Badú Lobeiro Catingueira RPPN Uso Sustentável Particular 186 Portaria 109/01 Areia Branca e Porto do Mangue Assú, Afonso Bezerra, Alto do Rodrigues, Carnaubais, Ipanguaçu e Pendências Siglas: APA – Área de Proteção Ambiental; ESEC – Estação Ecológica; Flona – Floresta Nacional; MNAT – Monumento Natural; PE – Parque Estadual; RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural Fonte: CNIP - Centro Nordestino de Informações sobre Plantas, IDEMA/RN. Na década de 1970, a atividade mineradora viveu seu apogeu trazendo prosperidade à região do Seridó, sendo este período considerado o melhor do seu desenvolvimento, sequenciado pelo seu declínio devido ao alto custo de produção e baixo preço no mercado externo devido à concorrência chinesa na década de 1980 (ADESE, 2008). Além disso, no final dos anos 1980 com a chegada do bicudo, praga de difícil controle nas condições da região e depois com a abertura do mercado nacional às importações subsidiadas de países da Ásia nos anos 1990, a cultura do algodão entrou. Com o declínio da cotonicultura e da mineração, a bacia encontra novamente na pecuária a alternativa econômica para superar as adversidades que se abateram sobre a região. A reestruturação da pecuária na bacia abriu possibilidades para o cultivo de outros animais como os caprinos e ovinos, cujos rebanhos vêm aumentando ano a ano motivado pela sua adaptabilidade aos modestos recursos disponíveis no sertão, mercado consumidor em crescimento e incentivos governamentais. Dessa forma, a atividade outrora desenvolvida apenas por pequenos produtores com pouca disponibilidade de área para produção de bovinos passou a ser uma alternativa e uma nova atividade a ser explorada na região (ADESE, 2011). A reestruturação da pecuária abriu possibilidades para o cultivo de outros animais, como os caprinos e ovinos, motivados pela sua adaptabilidade aos recursos disponíveis no sertão, mercado consumidor em crescimento e incentivos governamentais. A cultura do camarão surgiu na bacia como alternativa econômica para as salinas, desativadas no período crítico da mineração. Entre 1978 e 1988, porém, houve um declínio na atividade. A partir de 1996, com a introdução da espécie Litopenaeus vannamei e a entrada no mercado de ração de melhor qualidade, além do domínio do ciclo de reprodução nos laboratórios nacionais, a atividade passou a ganhar impulso com o crescimento da produção. Sob o aspecto da infraestrutura hídrica, merecem destaque as décadas de 30 e 70. Na década de 1930, são construídos reservatórios estratégicos com destaque para os açudes Curema-Mãe d’Água e Itans. A perenização do rio Piranhas propiciou o estímulo à criação de um centro de irrigação no município de São Gonçalo e o estabelecimento do primeiro polo de fruticultura do Nordeste. Ganhou força, ainda nesta época, o pioneirismo da piscicultura continental em bases de tecnologia avançada para a época. Outro marco importante foi a construção do açude Armando Ribeiro Gonçalves, na década de 1970, durante o auge do programa de irrigação do DNOCS. Nas terras a sua jusante, foi criado o Projeto Baixo Açu, que criou outro polo de fruticultura na região. Nesse contexto, a agricultura irrigada foi adotada como estratégia de desenvolvimento regional, pelo governo federal, através do DNOCS, e, mais recentemente, pelos governos estaduais por meio da criação de outros perímetros irrigados. Esse histórico de ocupação da bacia influenciou diretamente o padrão de uso e ocupação atual do solo. A maior parte da bacia é ocupada por caatingas aberta (58,1%), seguido de caatinga densa (18,2%). As áreas ocupadas por irrigação abrangem cerca de 54.385 hectares, enquanto as áreas de aquicultura e salineiras ocupam 120 km2 na bacia (tabela 4 e figura 10). Tabela 4 – Padrões de uso e ocupação do solo na bacia. Padrões de uso e ocupação Km² % Caatinga Densa 7.951 18,2% Caatinga Aberta 25.364 58,1% Solo Exposto 7.523 17,2% 544 1,3% 1.328 3,0% Dunas 75 0,2% Aquicultura / Salinas 120 0,3% Petróleo 14 0,03% Água 587 1,3% Área Urbana 177 0,4% 43.680 100 Irrigação Agricultura Total Figura 10 – Uso e ocupação do solo na bacia do rio Piranhas-Açu (2012) 3.4 Caracterização Socioeconômica Demografia e Urbanização A bacia do rio Piranhas-Açu apresenta um padrão demográfico similar ao do país, no qual os municípios apresentam aumento da população associada à redução da taxa de crescimento ao longo dos anos. Além disso, o crescimento da população total e urbana acontece em contraposição à diminuição da população rural. Em 1970, a população urbana da bacia representava cerca de 35% do total e a rural, 65%, totalizando 1.054.769 habitantes. Posteriormente, em 2010, a população alcançou 1.406.808 habitantes, dos quais 69% estão em centros urbanos e 31% em áreas rurais (Figura 11). Os municípios mais populosos em cada Estado são: Patos, com 100.674 habitantes, e Sousa, com 65.803 habitantes, na Paraíba; Caicó, com 62.709 habitantes, e Assú, com 53.227 habitantes, no Rio Grande do Norte. A taxa média de crescimento populacional da bacia entre 1970-1980 foi de 1,11 a.a., e no período 2000-2010 foi reduzida a 0,61% a.a. A grande maioria dos municípios (73%) possui menos de 10.000 habitantes, enquanto apenas treze municípios (9%) registram população total maior que 20.000 habitantes. Figura 11 – Série histórica da população total da bacia do rio Piranhas-Açu População total da bacia 1.450.000 1.250.000 1.050.000 850.000 650.000 450.000 250.000 1970 1980 1991 Total Urbana 2000 2010 Rural Fonte: IBGE Atividades Econômicas O Produto Interno Bruto (PIB) total da bacia totalizou, em 2011, R$ 9,870 bilhões assim distribuídos: 68% do setor serviços, 19% indústria, 6% agropecuária e 7% na forma de impostos. Analisando a evolução do PIB de 2007 a 2010, constata-se um crescimento contínuo na bacia (Figura 12). O discreto valor alcançado pelo setor agropecuário vem sendo compensado pelos valores do setor industrial e, principalmente, de serviços, que detém a maior parcela do PIB total. Figura 12 – Evolução do PIB e seus componentes para a bacia do rio Piranhas-Açu 12.000.000 9.870.845 10.000.000 PIB ( x 1.000 R$ ) 8.712.388 7.597.748 8.000.000 7.031.117 6.093.781 6.000.000 5.495.554 4.000.000 2.000.000 0 2006 Serviços 2007 Indústria 2008 Agropecuário 2009 2010 Impostos 2011 Total O município de maior PIB é Patos/PB, na UPH de Espinharas, seguido de Souza/PB, Caicó/RN, Cajazeiras/PB e Macau/RN. Em relação ao PIB per capita, a média é de R$ 7.015,8. Como referência, os valores dos Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba são, respectivamente, de R$ 11.396,1 e R$ 9.410,2. Os maiores valores per capita registrados são em Porto do Mangue, Macau, Alto do Rodrigues e Pendências, municípios potiguares contemplados com arrecadações significativas decorrentes de indústrias instaladas no território municipal e/ou com royalties resultantes de extração mineral e de petróleo. O setor industrial da bacia compreende essencialmente a exploração mineral, especialmente de sal, petróleo e gás. Complementa esse quadro, a produção têxtil, localizada principalmente em São Bento/PB, e os setores de curtumes, cerâmica, laticínios e aquicultura, notadamente a produção de camarão. As areias e argilas, utilizadas principalmente na construção civil, são as substâncias mais amplamente extraídas na bacia, sendo exploradas em quase todas as UPHs. A UPH Seridó se destaca na atividade minerária em função do volume e da variedade, 17 substâncias distintas, que resultaram, em 2011, na produção de 837 mil toneladas de minério (DNPM, 2010). Entre as substâncias exploradas, predomina a extração de pegmatitos, scheelita, tantalita, pedras semipreciosas (água marinha, berilo, turmalinas, etc.) e calcários para a produção de cimento e de aditivos agrícolas. Cabe destacar que no segmento ceramista, ao qual se associa a exploração de argila, destacam-se o Polo do Baixo Açu, formado pelos municípios de Itajá, Ipanguassu, Alto do Rodrigues, Pendências e Assú, e, principalmente o Polo Seridó, com destaque para os municípios de Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Jardim do Seridó e Cruzeta (ADESE, 2008). O município de Macau/RN, localizado na UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas, respondeu, em 2009, por 35% da produção de sal do Estado do Rio Grande do Norte (IDEMA, 2010). Essa produção é viabilizada pelas altas temperaturas, ventos secos, intensa evaporação e prolongada estação de estiagem. A extração de petróleo e gás natural é uma atividade de grande importância na bacia e na economia do Rio Grande do Norte em função dos royalties. Entre janeiro e setembro de 2012, esses valores alcançaram cerca de R$ 147 milhões (ANP, 2012). Entre os 15 municípios potiguares produtores, 9 pertencem à bacia: Alto do Rodrigues, Areia Branca, Açu, Carnaubais, Macau, Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema (IDEMA, 2005). Apesar da produção de petróleo e gás vir decrescendo continuamente desde 2000, o Rio Grande do Norte foi, em 2012, o maior produtor de petróleo em terra, ocupando a quarta posição em produção marítima e terceiro lugar no ranking nacional de produção total (ANP, 2012). O setor agropecuário apresenta importante papel na economia regional, ocupando expressiva área de 2,8 milhões de hectares em que estão concentradas a criação de animais (55%) e a agricultura, que se divide entre lavouras temporárias (36%) e permanentes (5%) (IBGE, 2006). As áreas de produção florestal (3%) e horticultura e floricultura (1%) são menos expressivas. Em relação à agricultura, as culturas temporárias que ocupam a maior área cultivada na bacia são o feijão (44%) e o milho (43%), que são seguidos pelo arroz (3%) e mandioca (4%) (IBGE, 2010). Entre as culturas permanentes, a castanha-de-caju ocupa a maior área (73%), com destaque para a banana (8%), o côco-da-baía (6%), sisal (5%) e manga (4%). A bananana, côco-da-baía e manga têm os maiores volumes de produção, quando se trata de lavouras permanentes, e demonstram a vocação da bacia para o cultivo de frutas. As UPHs com maior produção agrícola são Alto Piranhas, Peixe, Piancó, Seridó e Pataxó. A pecuária é a grande atividade econômica sertaneja, com a criação de bovinos e caprinos para a produção de carne e leite, além da criação de asininos para a montaria. A avicultura se destaca fortemente ultrapassando a marca de 2 milhões de animais, seguida pela criação de bovinos com 967 mil cabeças. Ovinos, caprinos e suínos aparecem na seqüência com 391 mil, 270 mil e 113 mil cabeças, respectivamente (IBGE, 2011). Destacam-se, na atividade, a UPH Seridó, em especial os municípios de Caicó e Currais Novos, e a UPH Piancó, municípios de Princesa Isabel e Piancó. Na atividade agrícola, merece destaque a produção irrigada, que nasceu da necessidade de promover o desenvolvimento regional do Nordeste. Na bacia, a irrigação representou importante alternativa econômica, a partir dos anos 70, em face do declínio da produção de algodão causada pela disseminação da praga do bicudo. Auxiliados pelo governo federal, por meio do DNOCS, e pelos governos estaduais, foram instalados perímetros irrigados e incentivado o desenvolvimento da irrigação privada. A área irrigada na bacia, extraída a partir do mapa de uso e ocupação do solo, alcança 54.385 hectares em 2012. Os dados do IBGE (2006), obtidos por meio da censo agropecuário, indicavam, em 2006, uma área de 32.715 hectares distribuídos da seguinte forma em função do método de irrigação: 56% por aspersão, 22% por gravidade (13% com inundação e 9% de sulcos), 9% por localizado (inclui gotejamento e microaspersão entre outros) e 13% por outros métodos. As áreas agrícolas irrigadas, denominadas difusas, estão localizadas principalmente nos solos aluviais dispersos em toda a bacia e ao longo dos principais rios perenizados pelos grandes reservatórios, nos quais se cultivam gêneros alimentícios e pastagens. Os perímetros públicos, administrados pelo DNOCS e SEDAP, representam a irrigação chamada de concentrada e estão distribuídos nos solos de origem sedimentar no Baixo Açu, a jusante da barragem Armando Ribeiro Gonçalves (UPHs Pataxó e Bacias Difusas do Baixo Piranhas), e nos vertissolos da bacia do rio do Peixe (UPH do Peixe). Merece destaque a região do Baixo Açu na qual ocorre expansão da agricultura irrigada em grandes lotes empresariais, onde se cultiva principalmente banana. A Tabela 3.4 apresenta os perímetros irrigados que constituem a chamada irrigação concentrada. Os principais perímetros irrigados são descritos a seguir: A aquicultura e pesca concentram-se principalmente nas UPHs Bacias Difusas do Baixo Piranhas, Seridó e Piancó. A importante participação da UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas remete à forte participação da carcinicultura na região litorânea nos municípios de Macau, Carnaubais, Pendências, Porto do Mangue, Alto do Rodrigues e Ipanguaçu. Iniciada de forma pioneira no litoral oriental potiguar, em áreas anteriormente ocupadas por salinas, a carcinicultura teve considerável expansão na região com a introdução da espécie exótica L. vannamei, a partir da década de 1990, que representou o marco inaugural do cultivo comercial em larga escala e tornou o Rio Grande do Norte o maior produtor nacional (MPA, 2010). Lavouras Temporárias: Milho e Feijão Área Plantada (ha) 125.000 105.000 85.000 65.000 45.000 25.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Milho 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2009 2010 2011 2012 2010 2011 2012 Feijão Lavouras Permanentes: Castanha-de-Cajú Área Plantada (ha) 120.000 110.000 100.000 90.000 80.000 70.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Castanha de Cajú Lavouras Permanentes: Banana e Côco-da-Baía Área Plantada (ha) 5.500 5.000 4.500 4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Côco-da-Baía 2007 2008 Banana 2009 Tabela 5 – Perímetros irrigados existentes na bacia do rio Piranhas-Açu. Perímetro Município UPH Área Irrigável (ha) Área implantada (ha) Total Várzeas de Sousa São Gonçalo Eng.º Arcoverde Gravatá Piancó I Sousa e Aparecida Marizópolis e Sousa Condado Nova Olinda e Pedra Branca Pombal, Coremas, Cajazeirinhas Administração Fonte Hídrica Sistema de Irrigação Familiar Alto Piranhas 5.000 1.000 SEDAP Alto Piranhas 3.046 2.404 1.975 DNOCS Médio Piranhas 279 279 279 DNOCS Piancó 940 200 -- SEDAP Piancó 543 249 -- SEDAP Complexo Curema-Mãe d'Água Açudes Eng. Ávidos e São Gonçalo Açude Eng. Arcoverde e 53 poços amazonas Barragem Saco (Caldeirão) Rio Piancó perenizado pelo Sistema CuremaMãe d'Água Rio Piancó perenizado pelos Açudes Santa Inês, Serra Vermelha, Video, Piranhas, Poço Redondo, Vazante e Bruscas Rio Piancó perenizado pelos Açudes Santa Inês, Serra Vermelha, Video, Piranhas, Poço Redondo, Vazante e Bruscas Microaspersão e gotejo Gravidade e microaspersão Gravidade, irrigação localizada Microaspersão e gotejo Boaventura, Diamante, Ibiara e Itaporanga Piancó 1.000 1.000 -- SEDAP Piancó III Itaporanga e Piancó Piancó 750 300 -- SEDAP Ipanguaçu, Alto do Rodrigues e Afonso Bezerra Pataxó/Bacias Difusas do Baixo Piranhas 6.000 5.168 1.330 DNOCS Açude Eng. Armando Ribeiro Gonçalves Aspersão e pivô central Cruzeta Seridó 196 138 138 DNOCS Açude Cruzeta Gravidade Itans Caicó Seridó 107 89 89 DNOCS Açude Itans Gravidade Sabugi Caicó Seridó 403 384 384 DNOCS Açude Sabugi Gravidade e aspersão Cruzeta Fontes: DNOCS 2012, BNB 2012, CBH Piranhas Açu, (2012). Banana, coco e sorgo Fruticultura Fruticultura, tomate, entre outros Microaspersão e gotejo Piancó II Baixo - Açu (DIBA) Culturas Aspersão Aspersão e microaspersão Fruticultura, tomate e feijão Tomate, mamão, feijão e milho Feijão, algodão, milho e abóbora Feijão, algodão, milho e abóbora 3.5 Infraestrutura hídrica e panorama atual da seca Historicamente, o açude é a principal solução adotada pelo poder público para lidar com o problema da seca no Nordeste brasileiro e a principal estratégia para o transporte temporal da água, enquanto as adutoras viabilizam seu transporte no espaço. Os sistemas produtores de água podem ser diferenciados entre os sistemas integrados, que atendem a mais de um município a partir do mesmo manancial, e sistemas isolados, que abastecem apenas um município. Na bacia do rio Piranhas-Açu, devido às restrições de mananciais para o atendimento da população, é muito comum o emprego de sistemas integrados para o abastecimento. Aproximadamente 45% das sedes municipais são atendidas por esse tipo de sistema. A figura 16 apresenta as fontes de abastecimento das sedes urbanas dos municípios da bacia. Podese observar que 66% das cidades têm como mananciais de abastecimento os reservatórios estratégicos, seja captando diretamente nessas barragens (59 sedes) ou em rios perenizados, que tem seus fluxos controlados por esses reservatórios (29 sedes). Também se podem observar as grandes adutoras da bacia. O sistema Coremas/Açu, formado pelo rio Piranhas-Açu e pelos açudes Curema-Mãe d’Água e Armando Ribeiro Gonçalves, é responsável pelo abastecimento de 51 cidades, por meio das adutoras Coremas Sabugi e São Bento, na Paraíba, e dos sistemas adutores Jerônimo Rosado, Sertão Central Cabugi, Serra de Santana, Médio Oeste e Manoel Torres, no Rio Grande do Norte, além do atendimento aos sistemas isolados de cidades localizadas às margens do rio. Fora da calha do sistema Coremas/Açu, podemos citar outros importantes sistemas integrados: Adutoras Capivara, Carneiro e São Gonçalo na Paraíba e a Adutora Acari/Currais Novos, no Rio Grande do Norte. A Tabela 6 apresenta os sistemas adutores integrados existentes na bacia do rio Piranhas-Açu. Destacam-se as adutoras Jerônimo Rosado, Médio-Oeste e Sertão Central Cabugi que fazem transferências de vazões para municípios externos à bacia (na porção potiguar) e a adutora do Cariri, que abastece dez municípios do Estado da Paraíba, sendo três localizados na borda leste da bacia, e tem sua captação no Açude Boqueirão (Epitácio Pessoa), localizado na bacia hidrográfica do rio Paraíba. Figura 16 – Fontes hídricas dos municípios e localização das principais adutoras. Tabela 6 – Sistemas integrados da bacia do rio Piranhas-Açu. Adutora UF Captação Cidades beneficiadas Acari Currais Novos RN Aç. Marechal Dutra (Gargalheiras) Acari e Currais Novos Capivara PB Aç. Capivara Carneiro PB Aç. Carneiro Capoeira PB Aç. Capoeira Santa Teresinha e São José do Bonfim Coremas/Sabugi PB Aç. Curema/Mãe d'Água, Jatobá I, Farinha, Capoeira, Eng° Arcoverde, São Mamede (Jatobá III), Viados e Santa Luzia São Bentinho, Condado, Malta, São José de Espinharas, Patos, Santa Gertrudes (distrito de Patos), São Mamede, Santa Luzia, Várzea, São José do Sabugi, Quixaba, Cacimba de Areia, Passagem, Areia de Baraúna e Salgadinho Lagoa do Arroz PB Aç. Lagoa do Arroz São Bento PB Rio Piranhas São Gonçalo PB Aç. São Gonçalo Sousa e Marizópolis Picui-Frei Martinho PB Aç. Várzea Grande Frei Martinho, Picuí e Nova Palmeira Cariri PB Serra de Santana RN Aç. Epitácio Pessoa (Boqueirão), no rio Paraíba Aç. Armando Ribeiro Gonçalves Boa Vista*, Boqueirão*, Cabaceiras*, Cubati, Juazeirinho*, Olivedos*, Pedra Lavrada, Seridó, Soledade* e Sossego* Florânia, São Vicente, Lagoa Nova, Tenente Laurentino, Bodó e Cerro Corá* Piranhas Caicó (Manoel Torres) RN Rio Piranhas São Fernando, Caicó, Timbaúba dos Batistas Jerônimo Rosado RN Rio Piranhas Mossoró* e Serra do Mel* Médio-Oeste RN Aç. Armando Ribeiro Gonçalves Sertão Central Cabugi RN Canal Pataxó Pendências Macau RN Rio Piranhas Joca Claudino (Santarém), Bernardinho Batista e Poço Dantas, Poço de José de Moura, Uiraúna, Vierópolis, Lastro e São Francisco Lagoa, Jericó, Mato Grosso, Bom Sucesso e Brejo dos Santos Santa Helena, Bom Jesus, Cachoeira dos Índios e São João do Rio do Peixe São Bento, Brejo do Cruz e Belém do Brejo do Cruz Almino Afonso*, Janduís*, Messias Targino*, Paraú, Patu*, Triunfo Potiguar e Augusto Severo* Angicos, Fernando Pedroza, Pedro Avelino, Lajes*, Caiçara do Rio dos Ventos*, Riachuelo*, Pedra Preta*, Jardim de Angicos* Pendências, Macau, Guamaré* (*) Sedes localizadas fora da bacia do rio Piranhas Açu. Os municípios de São José do Brejo do Cruz, na UPH Médio Piranhas Paraibano Potiguar, e Tenório, na UPH Seridó não possuem ligação com a rede geral de abastecimento. Por esse motivo, ambos apresentam alternativas para abastecimento de água de suas populações. São José do Brejo do Cruz é abastecido por meio de carro-pipa, e Tenório, por meio de chafariz público ou abastecimento coletivo de água, com a população deslocando-se de casa para buscar a água em baldes. Os serviços de abastecimento de água, que incluem produção e distribuição, são prestados predominantemente pelas companhias estaduais de saneamento – CAGEPA, na Paraíba, e CAERN, no Rio Grande do Norte. As concessionárias estaduais são também responsáveis pela operação dos sistemas integrados. Entre os 132 municípios com sedes na bacia, 23 são atendidos diretamente pelas prefeituras, dos quais 21 estão localizados na Paraíba e apenas dois no Rio Grande do Norte. Esse conjunto de sedes urbanas atendidas diretamente por prefeituras representa um desafio para a garantia da oferta de água na bacia, pois são municípios de pequeno porte, com capacidade institucional limitada, apesar da simplicidade operacional dos sistemas de abastecimento de água utilizados. Desde o ano de 2012, a região Nordeste enfrenta uma seca severa que além de impactar a zona rural, atingiu também o abastecimento de muitas sedes urbanas. A partir de então, os órgãos estaduais responsáveis pelos setores de recursos hídricos e saneamento, juntamente com o Governo Federal, representado pela ANA e Ministérios do Planejamento, Integração Nacional, Cidades, Saúde e Defesa, em um trabalho de articulação coordenado pela Casa Civil e denominado Operação Seca, passaram a avaliar a situação do abastecimento de água e a propor ações para minimizar os efeitos da seca nos municípios do semiárido brasileiro. O grupo de técnicos da Operação Seca tem acompanhado a situação dos municípios do semiárido de forma permanente, e sua avaliação é feita em função da garantia de oferta de água para o abastecimento, de forma a subsidiar a proposta de ações estratégicas para o enfrentamento da seca. Nesse processo, é importante a participação dos Estados e Municípios, no sentido de validar as informações levantadas e possibilitar a tomada de decisão. Diversas ações emergenciais vêm sendo realizadas e planejadas nas sedes afetadas. Entre elas, destaca-se a distribuição de água por meio de carros pipas, a perfuração de novos poços e a construção de adutoras de engate rápido. Inicialmente, a distribuição de água por carro pipa era realizada somente na área rural, mas com o agravamento da seca no decorrer do ano de 2013, essa operação passou a atender também à população da área urbana, em cidades de até 4.000 habitantes. As adutoras de engate rápido apresentam durabilidade de até dez anos e são removíveis. Os prazos de construção podem diminuir de um ano para apenas um mês, e o fato de não estar enterrada permite que seja implantada sem a necessidade de projeto específico, bastando apenas informações de topografia. Nos primeiros meses de 2014, uma adutora de engate rápido de 11 km, com captação na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves foi construída para o atendimento da cidade de Jucurutu/RN. Atualmente, o Ministério da Integração avalia a construção de doze novas adutoras de engate rápido na bacia do rio Piranhas-Açu, sendo sete na UPH Piancó, duas na UPH Médio Piranhas Paraibano e uma nas UPHs Seridó, Peixe e Espinharas. Com o objetivo de priorizar o abastecimento humano, a ANA também adotou algumas ações regulatórias emergenciais em 2013, como a redução da vazão de defluência (saída) de água dos reservatórios e a fixação de dias alternados para captação de água em rios e açudes para atividades produtivas. Foram estabelecidas regras de restrição de uso no rio Piranhas-Açu e nos açudes Curema-Mãe d’Água, Engenheiro Ávidos, São Gonçalo, Itans e Santa Inês. Entre as demais ações colocadas em curso na bacia, destaca-se a batimetria dos açudes CuremaMãe d´Água, a fim de verificar o nível de sedimentos e a consequente capacidade real de armazenamento de volume de água. O levantamento apontou um volume 27% inferior ao volume verificado em dezembro de 2012. Os açudes, que formam um complexo, pois se interligam por um canal quando atingem determinada cota, atualmente estão separados devido ao baixo nível da água nos reservatórios. O panorama da seca que atinge atualmente o semiárido pode ser verificado na avaliação dos boletins referentes aos reservatórios, publicados pela ANA, a partir de informações fornecidas pela AESA/PB, SEMARH/RN e DNOCS. Dos 48 reservatórios monitorados, 35 chegaram ao fim do ano de 2013, com menos de 20% da capacidade de armazenamento. A figura 17 apresenta a criticidade do abastecimento das cidades da bacia, segundo as informações da Operação Seca. Pode-se observar que as UPHs mais críticas são as do Seridó, Espinharas e Peixe, e que 32% das sedes municipais estão com o sistema de abastecimento em colapso ou em racionamento e 26% com o abastecimento em alerta, totalizando 58% das sedes da bacia com problema no abastecimento de água. Ressalta-se que a maioria dos municípios que tem sua captação no trecho perenizado do PiranhasAçu, entre as barragens Curema-Mãe d´Água e Armando Ribeiro Gonçalves, está em situação crítica, como por exemplo, os municípios atendidos pelas adutoras Coremas Sabugi e Manoel Torres, que abastecem Patos/PB e Caicó/RN, respectivamente. Para a garantia do abastecimento urbano seria interessante que a captação de água seja realizada, preferencialmente, por adução direta de reservatórios. Figura 17 – Criticidade do abastecimento de água nas sedes urbanas (2014). Em relação às condições dos sistemas produtores e dos mananciais de abastecimento, no estudo do ATLAS Brasil, elaborado em 2010, foram analisados os mananciais e sistemas de produção das 5.565 sedes municipais brasileiras. No diagnóstico desse estudo, foram consideradas duas questões primordiais: a capacidade do manancial existente em permitir a extração de água para atender a demanda de água atual (ano 2005) e futura (ano 2015) e a capacidade da infraestrutura hídrica de produção de água (captação, adutoras, estações elevatórias e estação de tratamento de água) de suportar essas demandas. Os resultados daquele estudo, juntamente com as informações consolidadas pela Operação Seca, possibilitaram um mapeamento dos mananciais e da infraestrutura hídrica para os municípios da bacia (Figura 18). As sedes municipais foram classificadas da seguinte maneira: Vulnerável, quando a captação de abastecimento está localizada no trecho perenizado do rio Piranhas-Açu, entre as barragens Curema-Mãe d´Água e Armando Ribeiro Gonçalves; Sem garantia hídrica, sedes em que o estudo do Atlas identificou a necessidade de um novo manancial, ou sede em que o abastecimento encontra-se em racionamento, colapso ou alerta; Ampliação do sistema produtor, sedes que não apresentam problema no abastecimento de água, e que o estudo do Atlas apontou a necessidade de ampliação de unidades do sistema produtor; Abastecimento satisfatório, sedes que não apresentam criticidade no seu abastecimento e qualificadas como satisfatória pelo trabalho do Atlas Brasil, ou seja, quando nem o manancial nem a infraestrutura hídrica existente apresentavam obstáculos ao atendimento das demandas de água atual e futura. Conforme pode ser observado na figura 18, 24 sedes (18%) podem ter seu abastecimento comprometido, por terem captação em trechos perenizados. Estas foram classificadas como vulneráveis. Além disso, 50 sedes (38%) têm seu abastecimento sem garantia hídrica, as quais necessitam de novos mananciais e/ou de ações de gestão para evitar o comprometimento da fonte hídrica de abastecimento. Os 42 municípios em situação satisfatória para o atendimento da demanda de 2015e os 16 municípios que requerem apenas ampliação de seus sistemas produtores encontramse em condição mais favorável. Figura 18 – Situação das sedes urbanas em relação ao abastecimento de água (2014). 3.6 Esgotamento Sanitário Para a elaboração do diagnóstico da coleta e tratamento de esgoto sanitário, foram utilizadas informações da CAERN, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS 2011 (MCid, 2013) e do Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água (ANA, 2010). A Tabela 7 apresenta os índices de coleta e tratamento de esgotos das sedes urbanas da bacia. Tabela 7 - Índices urbanos de coleta e tratamento de esgotos por UPH. UPH Nº de sedes municipais % população atendida por rede coletora % população atendida por rede coletora e tratamento % fossa séptica (*) Bacias Difusas do Baixo Piranhas 6 62,1 62,1 11,3 Pataxó 5 0,3 0,3 12,5 Paraú 2 0,0 0,0 4,7 Médio Piranhas Potiguar 5 18,3 18,3 11,7 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 7 6,7 6,7 7,4 Seridó 28 27,0 27,0 4,0 Peixe 17 31,2 11,6 5,4 Médio Piranhas Paraibano 11 0,0 0,0 3,8 Espinharas 13 13,5 12,5 2,5 Alto Piranhas 8 0,0 0,0 1,1 Piancó 30 6,7 6,7 4,9 132 18,2 15,2 5,4 Bacia (*) Solução individual com tratamento. Pode-se observar que a situação da bacia, em relação ao esgotamento sanitário, é bastante crítica, uma vez que apenas 18% da sua população urbana tem atendimento por rede exclusiva para a coleta de esgoto. A grande maioria dos municípios tem sistemas mistos de coleta, quando os coletores de águas de chuva ou galerias pluviais são utilizados também para o transporte do esgoto sanitário. Apenas 27 cidades tem rede exclusiva para a coleta de esgoto. No entanto, somente 16 têm cobertura de rede coletora de esgoto superior a 50%. A UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas apresenta o maior índice de atendimento por rede coletora de esgoto. Nas UPHs Pataxó, Paraú, Médio Piranhas Paraibano e Alto Piranhas não existem municípios que tem redes exclusivas para a coleta de esgotos sanitários. Os sistemas de tratamento de esgoto são tão ou mais importantes que a própria existência da rede coletora. A ausência de tratamento dos esgotos coletados implica despejo dos efluentes sanitários nos sistemas hídricos da bacia. Das 27 cidades que coletam esgotos, duas não tratam os esgotos coletados (Sousa/PB e Mãe d’Água/PB) e uma (Poço de José de Moura/PB) trata apenas 17%. As demais (24 cidades) tratam 100% dos esgotos coletados, principalmente por meio de lagoas de estabilização pelo sistema lagoa facultativa e de maturação. Com relação à fossa séptica, foram consultadas as informações do Censo 2010, do IBGE. Esse tipo de solução, ainda que longe do desejável, implica redução do lançamento dos dejetos em valas a céu aberto, fossas secas e em corpos d´água, o que ameniza os impactos ambientais decorrentes da falta de rede coletora e tratamento de esgoto. Destaca-se que nos municípios pequenos e médios, as soluções individuais são comumente utilizadas, podendo ser adequadas no contexto em que se inserem. As UPHs Pataxó, Médio Piranhas Potiguar e Bacias Difusas do Baixo Piranhas são as unidades com os maiores índices de atendimento por fossa séptica. 3.7 Cargas Poluidoras Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) As estimativas da carga orgânica poluidora pelo lançamento de esgotos domésticos foram realizadas considerando a população urbana existente nas UPHs e a geração per capita de 54 g/hab.dia para Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO. Com base na carga de DBO total produzida nas áreas municipais pertencentes às UPHs, estimaramse as cargas orgânicas remanescentes, assumindo-se os seguintes abatimentos para a carga orgânica dos efluentes gerados (Figura 19): 0% de remoção para o efluente gerado em áreas servidas por rede coletora, com ausência de tratamento; 40% de remoção quando o efluente é disposto em sistema de tratamento do tipo fossa séptica/sumidouro; 20% de abatimento quando o efluente não é disposto em fossa séptica e não é coletado por rede coletora de esgoto. Nos casos em que o efluente coletado é tratado, foram consideradas no cálculo de abatimento as informações sobre a eficiência de remoção de matéria orgânica dos sistemas de tratamento (Tabela 8). Para os casos em que não existem informações acerca da eficiência dos sistemas de tratamento, adotou-se o índice de 80% de remoção. Tabela 8 – Eficiência média de remoção de DBO (%) nos municípios do Rio Grande do Norte que possuem estação de tratamento de esgoto (ETE). Município Tipo de Tratamento Eficiência média na remoção de DBO (%) Alto do Rodrigues Lagoas de estabilização 63 Caicó Lagoas de estabilização 91 Carnaubais Lagoas de estabilização 92 Florânia Lagoas de estabilização 81 Jucurutu Lagoas de estabilização 92 Lagoa Nova Lagoas de estabilização 88 Macau Lagoas de estabilização 91 Pedro Avelino Lagoas de estabilização 90 Pendências Lagoas de estabilização 89 Fonte: CAERN (2013). As estimativas das cargas orgânicas de DBO provenientes de efluentes domésticos são apresentadas a seguir, para cada UPH. As maiores cargas orgânicas de efluentes domésticos são lançadas nas UPHs Seridó, Piancó e Peixe, as quais somadas correspondem a cerca de 7,6 mil ton/ano de DBO, ou 56% da carga orgânica remanescente total lançada nos corpos de água da bacia. Tabela 9 – Estimativa da carga orgânica em termos de DBO – produzida, abatida e remanescente – dos efluentes domésticos, por UPH. DBO total (ton/ano) DBO Abatida (ton/ano) DBO Remanescente (ton/ano) 990 589 401 Pataxó 1.304 295 1.008 Paraú 109 23 86 Médio Piranhas Potiguar 593 198 395 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 1.026 264 762 Seridó 4.657 1.722 2.935 Peixe 2.807 677 2.131 Médio Piranhas Paraibano 1.197 249 949 Espinharas 2.526 703 1.823 695 141 554 3.318 830 2.488 19.222 5.690 13.532 UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas Alto Piranhas Piancó Total Figura 19 – Carga orgânica remanescente nas sedes urbanas. Fósforo As estimativas da carga de fósforo remanescente do lançamento de esgotos domésticos foram realizadas considerando a população urbana existente nas UPHs, aplicando-se a geração per capita de 1g P/hab.dia. Com base na carga total produzida nas UPHs, estimaram-se as cargas remanescentes, assumindo-se os seguintes abatimentos: 0% de remoção para os efluentes gerados em áreas servidas por rede coletora, com ausência de tratamento; 20% de remoção quando o efluente é disposto em sistema de tratamento do tipo fossa séptica/sumidouro; Nos casos em que o efluente coletado é tratado, foi considerado uma remoção de 20%. 20% de abatimento quando o efluente não é disposto em fossa séptica e não é coletado por rede coletora de esgoto. A Tabela 10, a seguir, apresenta as estimativas das cargas remanescentes de Fósforo provenientes de efluentes domésticos para cada UPH. As maiores cargas remanescentes foram observadas nas UPHs Seridó, Piancó e Peixe. Somadas, essas cargas correspondem a cerca de 162 ton/ano ou 56% da carga remanescente total lançada nos corpos de água da bacia. Tabela 10 – Estimativa das cargas remanescentes de Fósforo (P). P (ton/ano) Abatido (ton/ano) Remanescente (ton/ano) Bacias Difusas do Baixo Piranhas 18,3 3,7 14,7 Pataxó 24,1 4,8 19,3 Paraú 2,0 0,4 1,6 Médio Piranhas Potiguar 11,0 2,2 8,8 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 19,0 3,8 15,2 Seridó 86,2 17,2 69,0 Peixe 52,0 8,4 43,6 Médio Piranhas Paraibano 22,2 4,4 17,7 Espinharas 46,8 9,3 37,5 Alto Piranhas 12,9 2,6 10,3 Piancó 61,4 12,3 49,2 356,0 69,1 286,9 UPH Total Figura 19 – Carga orgânica remanescente nas sedes urbanas. 3.8 Disponibilidade Hídrica A bacia do rio Piranhas-Açu dispõe de recursos hídricos que sustentam o desenvolvimento socioeconômico regional. A disponibilidade superficial está diretamente associada à capacidade de armazenamento e de regularização de vazões proporcionada pelos reservatórios presentes na bacia. A disponibilidade subterrânea, por sua vez, é influenciada predominantemente pelos condicionantes geológicos. Disponibilidade Hídrica Superficial A disponibilidade hídrica superficial da bacia foi definida com base nas vazões regularizadas dos 52 reservatórios estratégicos. O açude Vazante, embora tenha capacidade de 9,1 hm³, foi incluído, pois sua eficiência hidrológica, representada por sua vazão regularizada, supera a de muitos outros reservatórios com maior capacidade de acumulação presentes na bacia. Inicialmente, no estudo da disponibilidade hídrica superficial natural, foi empregado o modelo chuva-vazão SMAP – Soil Moisture Accounting Procedure (LOPES et. al 1981, 1982) para geração, em base mensal, das vazões afluentes aos reservatórios estratégicos da bacia. Em seguida, foi realizada a simulação operacional dos reservatórios com a determinação das curvas de capacidade de regularização de vazão e as curvas de permanência de vazão com o emprego do programa SIMRES – Simulador de Reservatórios, desenvolvido na Universidade Federal do Ceará pelos professores José Nilson Bezerra Campos e Ticiana Studart. O estudo hidrológico considerou dados de precipitação e vazão de janeiro de 1962 a dezembro de 2009, totalizando 48 anos. Vazões Naturais A disponibilidade hídrica natural foi determinada para a seção exutória de cada UPH na bacia (Tabela 11). O modelo chuva-vazão SMAP-M foi calibrado para a estação fluviométrica de Piancó, considerada como aquela que melhor representa o deflúvio médio natural na bacia por não sofrer influência de açudagem significativa a montante. As curvas de permanência demonstram que, para níveis de garantia acima de 80%, as vazões são praticamente nulas. Os rendimentos hidrológicos na bacia variam entre 6,7% (UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas) a 15,1 % (UPH Alto Piranhas) (Tabela 3.5). As UPHs Piancó, Peixe, Alto Piranhas e Médio Piranhas Paraibano apresentam rendimentos hidrológicos similares, da ordem de 14%, enquanto as UPHs potiguares, de maneira geral, apresentam valores inferiores. As UPHs do Seridó e Piancó, embora se equivalham em tamanho de área de drenagem, apresentam rendimentos hidrológicos bastante diferenciados, respectivamente de 14,7% e 6,9%. Tabela 11 – Sumário global da disponibilidade hídrica natural nas UPHs. Área (km²) Precipitação Média Anual (mm) Lâmina Média Escoada Anual (mm) Rendimento Hidrológico (%) Vazão Natural Média Anual (m³/ano) Piancó 9.207 922,8 135,7 14,7 39,6 Alto Piranhas 2.562 937,3 141,0 15,1 11,5 Peixe 3.428 919,4 123,4 13,4 13,4 Espinharas 3.291 738,1 72,6 9,8 7,6 Médio Piranhas Paraibano 2.894 907,8 133,9 14,8 12,3 Seridó 9.923 638,7 43,9 6,9 13,8 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 2.245 810,4 95,1 11,7 6,8 Médio Piranhas Potiguar 3.536 728,4 69,8 9,6 7,8 Paraú 974 686,4 55,0 8,0 1,7 Pataxó 1.954 586,3 65,1 11,1 4,0 Bacias Difusas do Baixo Piranhas 3.668 590,5 39,3 6,7 4,6 UPH Vazões Regularizadas As capacidades de regularização dos reservatórios estratégicos foram estimadas para garantias de 90, 95 e 99%, com vistas a determinar a considerar as faixas normalmente empregadas para gestão dos recursos hídricos. A disponibilidade hídrica superficial da bacia, com garantia de 95%, é da ordem de 38,6 m³/s, que representa um volume anual regularizável de 1.235 hm³/ano (Tabela 12). As UPHs com menor disponibilidade hídrica são as do Pataxó e Bacias Difusas do Baixo Piranhas, enquanto as de maior valores correspondem ao Piancó (13,7 m³/s) e Médio Piranhas Potiguar (17,8 m³/s), significativamente influenciadas pela presença dos reservatórios Curema-Mãe d´ Água e Armando Ribeiro Gonçalves. Cabe destacar que a maioria dos reservatórios estratégicos da bacia foi objeto de estudo de vazões regularizadas em estudos anteriores: o Projeto de Integração das Águas do Rio São Francisco (2000), o Plano Estadual da Paraíba (2005) e o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte (1998). Os resultados desses estudos hidrológicos realizados na bacia também são apresentados como referência no Anexo XX. Embora tenham utilizado metodologias diferentes e séries temporais de dados distintas, os números globalmente são compatíveis com os valores obtidos neste trabalho. Tabela 12 – Vazões regularizadas por açude e UPH. UPH Estado Capacidade Máxima de Acumulação (hm³) Vazões Regularizadas e Garantias (m³/s) Q99% Q95% Q90% Piancó Curema-Mãe d'Água Saco Cachoeira dos Cegos Jenipapeiro (Buiú) Bruscas Condado Santa Inês Piranhas Queimadas Timbaúba Bom Jesus II Serra Vermelha I Cachoeira dos Alves Canoas Poço Redondo Vazante Catolé I PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB PB 1.358,0 97,5 71,9 70,8 38,2 35,0 26,1 25,7 15,6 15,4 14,2 11,8 10,6 45,6 62,8 9,1 10,5 1.918,7 8,50 0,68 0,23 0,64 0,32 0,18 0,12 0,21 0,07 0,10 0,06 0,07 0,08 0,40 0,22 0,12 0,11 12,09 9,60 0,73 0,34 0,69 0,37 0,20 0,12 0,24 0,07 0,10 0,06 0,08 0,10 0,43 0,29 0,13 0,11 13,66 10,53 0,77 0,35 0,73 0,40 0,26 0,14 0,26 0,09 0,11 0,07 0,10 0,11 0,46 0,34 0,15 0,12 14,98 PB PB PB 255,0 44,6 17,6 317,2 1,60 0,43 0,02 2,05 1,76 0,50 0,03 2,29 1,96 0,52 0,04 2,52 PB PB PB 80,2 13,0 37,7 130,9 0,46 0,02 0,38 0,86 0,51 0,03 0,36 0,90 0,56 0,03 0,30 0,90 PB PB PB 53,5 25,7 17,5 96,7 0,25 0,07 0,04 0,35 0,35 0,13 0,04 0,52 0,39 0,14 0,05 0,58 PB PB 21,5 15,8 0,04 0,02 0,08 0,04 0,10 0,06 TOTAL UPH PIANCÓ Alto Piranhas Engº Ávidos São Gonçalo Bartolomeu I TOTAL UPH ALTO PIRANHAS Peixe Lagoa do Arroz Pilões Capivara TOTAL UPH PEIXE Espinharas Capoeira Farinha Jatobá I TOTAL UPH ESPINHARAS Seridó Várzea Grande São Mamede Santa Luzia Boqueirão de Parelhas Itans Sabugi Passagem das Traíras Marechal Dutra Cruzeta Carnaúba Esguincho Dourado Caldeirão de Parelhas PB RN RN RN RN RN RN RN RN RN RN 12,0 85,0 81,8 65,3 48,9 40,0 35,0 25,7 21,6 10,3 10,0 472,9 0,00 0,25 0,22 0,22 0,49 0,13 0,10 0,04 0,10 0,00 0,05 1,66 0,00 0,30 0,35 0,33 0,67 0,19 0,17 0,06 0,10 0,03 0,06 2,38 0,00 0,38 0,51 0,46 0,69 0,26 0,25 0,11 0,17 0,05 0,07 3,11 PB PB PB 31,3 30,6 17,7 79,6 0,17 0,06 0,00 0,23 0,18 0,13 0,00 0,31 0,20 0,15 0,02 0,37 PB PB PB PB 39,2 26,4 16,6 16,3 98,5 0,06 0,03 0,00 0,06 0,15 0,06 0,07 0,01 0,12 0,26 0,10 0,11 0,02 0,15 0,38 RN RN 2.400,0 12,4 2.412,4 15,00 0,00 15,00 17,77 0,03 17,80 19,24 0,04 19,28 RN RN 76,4 11,4 87,8 0,25 0,00 0,25 0,27 0,01 0,28 0,33 0,03 0,36 RN 24,4 24,4 0,06 0,06 0,09 0,09 0,12 0,12 RN 19,8 19,8 5.658,7 0,07 0,07 32,77 0,09 0,09 38,57 0,11 0,11 42,70 TOTAL UPH SERIDÓ Médio Piranhas Paraibano Carneiro Engº Arcoverde Riacho dos Cavalos TOTAL UPH MÉDIO PIRANHAS PARAIBANO Médio Piranhas Paraibano/Potiguar Baião Tapera Santa Rosa Escondido TOTAL UPH MÉDIO PIRANHAS PARAIBANO/POTIGUAR Médio Piranhas Potiguar Armando Ribeiro Gonçalves Rio da Pedra TOTAL UPH MÉDIO PIRANHAS POTIGUAR Paraú Mendubim Beldroega TOTAL UPH PARAÚ Pataxó Pataxós TOTAL UPH PATAXÓ Bacias Difusas do Baixo Piranhas Boqueirão de Angicos TOTAL UPH BACIAS DIFUSAS DO BAIXO PIRANHAS TOTAL DA BACIA Disponibilidade Hídrica Subterrânea Na bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu foram individualizados oito sistemas aquíferos principais, distribuídos em compartimentos geológicos diversos e divididos nos tipos fissural e poroso, conforme apresentado na tabela 12 e no mapa de aquíferos (Figura 20). O tipo fissural inclui os aquíferos designados genericamente de cristalinos, associados às rochas ígneas e metamórficas, em que não existem espaços entre os grãos (p.e. xisto, quartzito, granito ou basalto) e onde a água ocupa os espaços representados por fissuras ou fraturas, juntas, falhas e, em casos particulares, vesículas. É neste domínio que se enquadra a maior parte das rochas existentes na bacia, que formam o típico aquífero cristalino, ocupando aproximadamente 87% da área. O domínio fissural inclui ainda os aquíferos fissuro-cársticos, formados em rochas carbonáticas, em que, além do fraturamento, existem feições de dissolução da rocha. É neste conjunto que se enquadra o aquífero Jandaíra, formado pelos calcários da formação homônima, inserido no contexto geológico da bacia sedimentar Potiguar. O tipo poroso inclui os aquíferos que contêm água nos espaços entre os grãos constituintes da rocha e são representados pelas rochas sedimentares consolidadas (por exemplo, arenito e folhelho) e pelos sedimentos inconsolidados (por exemplo, areia e argila). Esse domínio engloba os sistemas aquíferos das bacias sedimentares fanerozóicas Potiguar (aquífero Açu) e Rio do Peixe (aquíferos Sousa, Antenor Navarro e Rio Piranhas), além das coberturas cenozóicas representadas pelas formações Barreiras, Serra dos Martins e aluviões. Para a caracterização das captações de água subterrâneas dos diferentes aquíferos, foi consultado o Sistema de Informações de Águas Subterrâneas – SIAGAS (CPRM, 2013). O resumo estatístico dos poços por aquífero é apresentado na tabela 13. 59 Tabela 12 – Aquíferos da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu. Tipo de Aquífero Contexto Geológico Depósitos Litorâneos Depósitos Aluvionares Formações Cenozóicas Indiferenciadas Sistemas Aquíferos Descrição (adaptado de CPRM, 2007) Mangue (não aquíferos) Dunas Aluvionar sobre bacia sedimentar e aluvionar sobre cristalino Aquíferos livres de extensão variável, formados por sedimentos clásticos não consolidados de idade quaternária que recobrem as rochas mais antigas. A depender da espessura e da razão areia/argila podem ser produzidas vazões significativas. Exploração por meio de poços rasos, sendo, contudo, bastante comum que os poços tubulares localizados neste domínio captem água dos aquíferos subjacentes. Qualidade das águas é, em geral, boa. Aquíferos livres ou confinados de extensão regional e espessura, limitados, de idade cretáceo-quaternária, formados por sedimentos clásticos consolidados, areno-argilosos. Aquíferos livres ou confinados formados por sedimentos clásticos consolidados, predominantemente argilosos e localmente areníticos. Aquífero livre ou confinado formados por sedimentos clásticos consolidados predominantemente arenosos. Em termos hidrogeológicos, este aquífero têm alta favorabilidade para o armazenamento de água subterrânea e constitui o mais importante reservatório da bacia. Aquíferos associados às zonas fraturadas de dissolução, representados por metassedimentos e calcários. Qualidade química das águas apresenta dureza e salinidade elevadas. Aquíferos restritos às zonas fraturadas, representados por litologias predominantemente de idades paleoproterozóicas a neoproterozóicas: rochas metaígneas, basicamente granitoides, gnaisses, granulitos, migmatitos, e básicas/ultrabásicas; rochas metassedimentares, que reúnem xistos, filitos, quartzitos e ardósias; e rochas metavulcânicas diversas. A ocorrência de água é condicionada por fraturas, o que se traduz por aquíferos heterogêneos, descontínuos e de pequena extensão. As vazões produzidas por poços são pequenas e a água é, na maior parte das vezes, salinizada. Coberturas detrítico-lateríticas Barreiras Poroso Depósitos tipo Barreiras Bacia Sedimentar do Rio do Peixe Serra dos Martins Rio do Peixe (Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas) Açu Bacia Sedimentar Potiguar Fissuro-cárstico Fissural Jandaíra Complexos ígneos e metamórficos da Província Borborema Cristalino 60 Figura 20 – Aquíferos da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu. 61 Tabela 13 – Resumo estatístico dos poços da bacia do rio Piranhas-Açu. Sistema Aquífero Rio do Peixe Açu Livre Açu Confinado Jandaíra Cristalino Mínimo 3,4 3,3 5,1 284 18 2,1 Média 41 48,3 73 541 71 43,8 Mediana 34 50 70 525 70 47 Máximo 300 200 376 841 130 180 No de poços 126 1432 264 5 60 4.796 Mínimo 0,2 0,05 0,3 5,8 0,3 0,02 Média 1,7 3,6 27,4 34,1 6,2 2,7 Mediana 1,2 2,5 8 30,1 4,8 1,8 Máximo 5 45 225 69,2 23 18 Desvio Padrão 1,2 4 48 33 5 3,2 No de poços 24 693 143 4 51 1292 Mínimo 159 163 232 - 772 1,5 Média 3.509 1.238 1.459 - 3.862 2.155 Mediana 2.370 1.016 753 - 2.736 1.180 Máximo 14.280 10.920 12.620 - 15.210 55.000 No de poços 85 1.097 165 - 17 3.237 NE médio (m) 19 11 25,1 36,8 71 6,6 ND médio (m) 55 23 28,2 11,4 70 24,8 0,1 (11 medidas) 0,4 (145 medidas) 8,2 (59 medidas) 0,9 (4 medidas) 0,8 (38 medidas) 0,4 (610 medidas) 136 1.440 271 5* 60* 4.869 Vazão (m3/h) Profundidade (m) Serra dos Martins Capacidade Específica média (m3/h/m) No de poços Consultados MÍN= Mínimo, MÁX= Máximo, N= Número de medidas, NE= Nível estático, ND= Nível Dinâmico, C.E.=Condutividade Elétrica. O aquífero Açu corresponde à porção inferior da formação de mesmo nome, sendo constituído de arenitos predominantemente grosseiros a conglomeráticos na base, passando a arenitos médios na porção intermediária e arenitos mais finos no topo. Aflora ao longo de uma faixa marginal na bacia sedimentar do Potiguar, porção em que se caracteriza como um aquífero tipicamente livre, embora ocorram situações de semi-confinamento (CPRM/UFRN, 2007). Além da faixa de afloramento, o aquífero ocorre em todo o restante da bacia Potiguar capeado pela formação Açu Superior e pelos calcários Jandaíra, porção em que se caracteriza como aquífero confinado, com a posição do seu topo variando entre 100 a 400 m de profundidade. 62 O aquífero Açu livre apresenta um aumento do potencial hidrogeológico de sul para norte, ou seja, da região próxima ao contato com o embasamento cristalino em direção à região de contato com a formação Jandaíra (CPRM/UFRN, 2007). Nesse sentido se dá o fluxo subterrâneo, o aumento das espessuras da formação Açu de aproximadamente 100 para 280 m, o incremento das espessuras saturadas de aproximadamente 10 a 140 m, da condutividade hidráulica e da transmissividade e a diminuição da salinidade. A vazão média dos poços cadastrados no SIAGAS (CPRM, 2013) é de 27,4 m3/h, valor muito superior à vazão média de 10,2 m³/h apresentada por CPRM/UFRN (2007). A vazão mediana, de 8 m3/h, caracteriza melhor o potencial de produção do aquífero. Em relação à porção confinada do aquífero Açu, a análise do cadastro de poços mostrou vazões mais elevadas em relação à porção aflorante do aquífero, com média de 34,1 m3/h e mediana de 30,1 m3/h. A profundidade do topo da formação Açu aumenta de sul para norte, variando entre 44 e 230 m, com as melhores vazões ocorrendo onde o topo da formação Açu é mais profundo. O aquífero Jandaíra corresponde à porção superior da formação homônima, sendo formada de calcários e dolomitos com intercalações de siltitos, folhelhos e argilitos. Apresenta-se como uma camada sub-horizontal com espessuras variando entre 50 e 250 m, sendo o limite de profundidade definido pela inexistência de fraturas e cavernas abaixo dos 300 m, bem como perdas de circulação, segundo experiência dos perfuradores. A produção dos poços do aquífero Jandaíra é extremamente variável em função da elevada heterogeneidade, típica dos aquíferos cársticos. Os dados do cadastro de poços do IPT/SIC (1982), com 478 medidas disponíveis de vazão, mostram uma variação da vazão específica de 1 a 48,0 m3/h/m, com 75% dos casos no intervalo de 1 a 6,20 m3/h/m. No âmbito do mesmo estudo, a transmissividade variou entre 2,8 x 10-3 a 3,3x 10-3 m2/s em 88% dos poços. Na bacia, os poços possuem vazão média de 6,2 m3/h, demonstrando um potencial hidrogeológico mais baixo em relação às áreas mais bem estudadas do aquífero, como a bacia vizinha do rio Apodi, aonde as vazões dos poços são bastante altas, com média de 62 m3/h (ANA, 2010). O aquífero Barreiras é reconhecido regionalmente como um aquífero importante, abastecendo a maior parte das cidades do litoral leste do Rio Grande do Norte, principalmente a capital Natal, onde 70% do abastecimento é feito por águas deste aquífero em conjunto com o dunas. No entanto, seu potencial não é homogêneo e, embora existam poucos estudos na região da bacia Piranhas-Açu, as informações disponíveis para o aquífero na bacia sedimentar Potiguar indicam um potencial muito baixo ou quase nulo, com constituição predominantemente argilosa (SERHID/RN, 1998), espessura baixa, entre 5 e 38 m, e caráter predominantemente não-saturado (ANA, 2010; Diniz 63 Filho et al., 2008). Na bacia, a formação Barreiras foi considerada não saturada, não possuindo, desta forma, comportamento de aquífero. O aquífero Serra dos Martins é um aquífero poroso, livre, de pequena extensão, formado de arenitos médios a conglomeráticos assentados discordantemente sobre o embasamento cristalino. Apesar da constituição litológica favorável ao acúmulo de água, o potencial hidrogeológico é considerado muito pequeno e a oferta do sistema não é compatível com demandas como a do abastecimento urbano, sendo a sua vocação natural o suprimento de pequenas demandas (SECTMA/AESA (2006). As vazões são muito baixas, com média de 1,7 m3/h, e as salinidades muito altas, com média de 2.392 mg/L para os sólidos totais dissolvidos. Os aquíferos da bacia sedimentar do Rio do Peixe são denominados Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas, os quais correspondem às formações geológicas de mesmo nome. O aquífero Antenor Navarro é formado predominantemente por arenitos grossos a conglomeráticos (imaturos), contendo níveis de conglomerados e de arenitos médios a finos. O aquífero Sousa é restrito às seções arenosas do pacote sedimentar da formação Sousa, formado predominantemente de siltitos e folhelhos, o que lhe atribui localmente característica de aquífero confinado. O aquífero Rio Piranhas é composto predominantemente por arenitos grossos a conglomeráticos com intercalações de arenitos médios a finos e siltitos. Por toda a bacia, ocorrem ainda extensos depósitos aluvionares quaternários constituídos por sedimentos arenosos, conglomeráticos, bem como, localmente, porções argilosas. Os poços localizados na bacia do Rio do Peixe possuem uma vazão média a baixa, de 3,6 m3/h. Porém, acredita-se no potencial para poços mais produtivos a profundidades maiores que a rede atual (profundidade média de 48 m), pois, segundo informações repassadas por representante da Petrobrás, poços de exploração da empresa mostraram intervalos arenosos com melhores características permoporosas em profundidade geralmente superiores a 200 m. O aquífero aluvionar ocorre em duas situações distintas (SERHID, 1998), nas regiões cristalinas e sedimentares. De um modo geral, os aluviões na região do cristalino são pouco desenvolvidos, com largura de 50 a 400 m, espessura média de 7 m e poços tubulares rasos, raramente produzindo vazões acima de 10 m3/h. A transmissividade média é de 1,75 x 10-2 m2/s, a condutividade hidráulica de 3,9 x 10-5 m/s e porosidade específica de 15%. Destacam-se, em importância hidrogeológica, os aluviões da bacia do rio Piancó, da bacia do rio Seridó e do trecho médio da calha do rio Piranhas (CPRM, 1998). Nas regiões sedimentares, o aquífero aluvionar é, em geral, mais largo, mais espesso e comporta poços de produtividade mais alta. Destaca-se o aquífero aluvionar do vale do rio Açu, na bacia sedimentar Potiguar (SERHID, 1998), com espessuras que podem atingir mais de 200 m e alguns poços com vazões superiores a 100 m3/h. 64 O aquífero cristalino, por sua vez, é composto por rochas ígneas e metamórficas de diferentes graus de metamorfismo, a exemplo de granitos, gnaisses, xistos e migmatitos, sendo o meio aquífero representado pelas fraturas dessas rochas. Apresenta potencial hidrogeológico muito baixo e, em geral, salinidade das águas elevada. Os poços cadastrados apresentam vazão média de 2,7 m3/h e suas águas apresentam maior salinidade na porção oriental da bacia, onde a média pluviométrica é menor. Apesar do potencial hidrogeológico baixo, o aquífero cristalino tem se revelado muitas vezes como a solução para o abastecimento rural e de inúmeras pequenas comunidades. Reservas Explotáveis A disponibilidade hídrica subterrânea é definida como o volume de água do aquífero obtido obtida pela diferença entre a reserva renovável e a disponibilidade efetiva. As reservas renováveis de águas subterrâneas correspondem às variações sazonais no armazenamento, resultado das infiltrações de águas meteóricas nos períodos chuvosos e de descarga nos períodos de estiagem. Levando-se em conta que é o volume que se renova anualmente, pode ser admitida como referência para a definição do limite de explotação. Neste plano, as reservas renováveis foram calculadas a partir das áreas de recarga dos aquíferos e de estimativas, com base em dados da literatura, da parcela da precipitação pluviométrica anual que infiltra e efetivamente chega aos aquíferos livres. No caso dos aquíferos aluvionares, foram considerados somente os dados de reserva disponíveis na literatura (Santos, 1976/ 1977; SERHID/RN, 1998; CPRM, 1998), uma vez que a escala dos mapas geológicos existentes não se mostraram razoáveis para a obtenção de suas áreas de ocorrência. A disponibilidade efetiva é definida como o volume de água subterrânea efetivamente explotado, estimado por meio levantamento das captações existentes, em funcionamento, na área do aquífero considerado. Para a estimativa da disponibilidade efetiva foi utilizado o Atlas Digital dos Recursos Hídricos Subterrâneos (CPRM, 2005), por ser o único que apresenta dados sobre o regime de bombeamento dos poços. Os resultados por UPH estão apresentados na tabela 14. A UPH Bacias Difusas do Alto Piranhas apresenta a maior disponibilidade hídrica em razão de abranger os aquíferos mais importantes, o Açu e o Jandaíra. Em seguida, destaca-se a UPH Peixe que inclui a maior parte da bacia sedimentar do rio do Peixe. 65 Tabela 14 – Disponibilidade hídrica subterrânea por UPH. Área (km²) Reserva renovável (hm³/ano) Disponibilidade Efetiva (hm³/ano) Disponibilidade Hídrica (hm³/ano) Piancó 9.207 53,9 10,3 43,6 Alto Piranhas 2.562 22,7 4,3 18,4 Peixe 3.428 59,2 16,1 43,2 Espinharas 3.291 20,6 5,5 15,0 Médio Piranhas Paraibano 2.894 18,0 2,5 15,5 Seridó 9.923 73,5 19,5 54,0 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 2.245 12,2 1,7 10,5 Médio Piranhas Potiguar 3.536 24,2 1,8 22,4 Paraú 974 7,6 0,6 7,0 Pataxó 1.954 38,4 7,5 30,9 Bacias Difusas do Alto Piranhas 3.668 127,6 12,6 115,0 43.683 457,8 82,3 375,5 UPH TOTAL Cabe ressaltar que os valores estimados são indicativos iniciais, os quais os órgãos gestores estaduais de recursos hídricos irão calibrar ao longo do tempo, à medida da ampliação do conhecimento dos aquíferos, das reservas em uso, bem como da interação entre aquíferos e rios. 3.9 Qualidade da Água A qualidade das águas apresenta grande importância porque influencia diretamente os usos múltiplos e a saúde da população. De modo geral, os recursos hídricos da bacia são condicionados pelo clima, geologia, tipos de solos e regime hidrológico. As águas superficiais, em especial, sofrem forte influência dos processos antrópicos, tais como o uso e ocupação do solo de forma inadequada, o lançamento de esgotos domésticos e industriais, as drenagens urbana e agrícola, entre outros. Os recursos subterrâneos são relativamente menos influenciados por esses processos, guardando estreita relação com os condicionantes geológicos. Águas Superficiais O diagnóstico da qualidade das águas dos 50 açudes e dos trechos de rios monitorados foi elaborado com base nos dados de monitoramento realizado pela SUDEMA/PB, entre 2007 e 2011, e pelo IGARN/RN, entre 2008 e 2011. Na Paraíba, foram coletadas e analisadas amostras no período chuvoso de 2007 a 2009 e no período seco de 2007 a 2011. No Rio Grande do Norte, foram coletadas e analisadas amostras nos períodos chuvosos de 2008 a 2011 e seco de 2010 (Figura 21). 66 A partir dos dados disponíveis, foram calculados o Índice de Qualidade de Água – IQA – e o Índice de Estado Trófico – IET. Figura 21 – Períodos de monitoramento da qualidade da água na bacia Perído Chuvoso PB RN Período Seco PB RN 2007 2008 2009 2010 2011 Períodos com monitoramento Períodos sem monitoramento Situação da Qualidade da Água na Bacia do Piranhas-Açu a) Demanda bioquímica de oxigênio - DBO5,20 Os valores médios de DBO5,20 apresentam-se acima do limite estabelecido para águas de classe 2 (5 mg/L) em 14 pontos (28%) e de classe 3 (10 mg/L) em 5 (10%) desses pontos (Figura 22), localizados no RN, nas UPHs do Seridó, Pataxós, Paraú e Baixo Piranhas. Nos açudes paraibanos Cachoeira dos Alves, Carneiro, Catolé II, Condado e Serra Vermelha, que apresentaram valores médios de DBO abaixo de 5 mg/L, foram observadas concentrações superiores a este limite em pelo menos uma coleta. Cabe acrescentar que não foi observado um padrão bem definido de variação sazonal na demanda bioquímica de oxigênio, mas em pouco mais da metade dos açudes as concentrações tenderam a serem maiores no período chuvoso do que no período seco. b) Coliformes termotolerantes As concentrações médias de coliformes termotolerantes estão dentro dos limites estabelecidos para águas doces classe 1 ou 2 em quase todos os açudes. As únicas exceções são os açudes Engenheiro Avidos e Riacho dos Cavalos com concentrações médias de coliformes iguais a 1.265 e 1.328 UFC/100mL, respectivamente. Os açudes São Mamede, Santa Luzia, Jatobá e Carneiro também apresentam concentrações de coliformes superiores a 1.000 UFC/100mL em pelo menos uma coleta. Cumpre ressaltar que as elevadas concentrações de coliformes foram observadas nesses seis açudes sempre no período chuvoso. A poluição dos açudes por esgotos domésticos é concentrada no período chuvoso, quando há escoamento dos rios intermitentes e carreamento dos poluentes para os 67 açudes. Além dos esgotos domésticos, a criação extensiva de animais também é uma fonte potencial de coliformes termotolerantes para os corpos d’água da bacia. c) Fósforo total As concentrações de fósforo total apresentam-se acima do limite estabelecido para águas doces de classe 2 (0,03 mg/L) em 45 dos 50 açudes monitorados. Em 40 açudes, os valores de fósforo total superam o limite de 0,05 mg/L, estabelecido para classe 3. Concentrações de fósforo total acima de 0,05 mg/L são consideradas críticas para deflagrar o processo de eutrofização artificial em reservatórios de regiões semiáridas (Thornton & Rast 1993). Assim, a maioria dos açudes da bacia encontra-se com elevada carga de fósforo e, portanto, em condições extremamente propícias para desenvolver florações de algas. d) Índice de qualidade de água – IQA Na bacia do rio Piranhas-Açu, os valores médios de IQA observados mostram que 88% dos açudes amostrados possuem água com qualidade considerada boa e 12% possuem água classificada como ótima. Os açudes paraibanos Capoeira, Carneiro, Catolé II, Condado, Escondido, Farinha, Pilões, Riacho dos Cavalos, Santa Luiza e Várzea Grande apresentam valores de IQA inferiores a 51 em pelo menos uma coleta. Portanto, a qualidade da água desses açudes foi considerada regular em algumas ocasiões. Cabe destacar que o IQA não deve ser interpretado como um indicador completo da qualidade das águas, pois considera apenas o uso da água para abastecimento e ignora padrões de qualidade de água para outros fins (CETESB, 2003). As classes ótima (IQA de 80 a 100), boa (52 a 79) e regular (37 a 51) são consideradas apropriadas para tratamento convencional visando ao abastecimento público, enquanto as condições ruim (20 a 36) e péssima (menor que 19) são consideradas impróprias para tratamento convencional, sendo necessários tratamentos mais avançados (CETESB, 2008). e) Índice de estado trófico – IET Os resultados do IET médio, na bacia do Piranhas-Açu, permitem classificar 31 pontos (62%) como hipereutróficos, 4 pontos (8%) como supereutróficos, 4 pontos (8%) como eutróficos e 10 pontos (20%) como mesotróficos (Figura 22). O IET foi calculado conforme propõe Lamparelli (2004) com base apenas na concentração de fósforo total, já que a concentração de clorofila a não é monitorada na maioria dos pontos de amostragem da bacia. O resultado do IET assim calculado deve ser entendido como uma medida do 68 potencial de eutrofização, pois o fósforo atua como o principal agente causador do processo. O significado das classes do IET é apresentado na tabela 15, abaixo. Tabela 15 – Classes do Índice de Estado Trófico (IET) e seu significado. f) Cianobactérias As florações de cianobactérias tóxicas são muito frequentes em mananciais de abastecimento de água da bacia (Costa et al. 2006, Mosca 2008, Vasconcelos et al. 2011). Em estudo realizado nos açudes Armando Ribeiro Gonçalves, Boqueirão de Parelhas, Gargalheiras, Itans, Passagem das Traíras e Santo Antônio, foram constatadas altas densidades de cianobactérias potencialmente produtoras de toxinas (Eskinazi-Sant´Anna et al. 2006). Resultados similares também foram encontrados nos açudes Baião, Bruscas, Cachoeira dos Cegos, Carneiro, Condado, Coremas Mãe d´água, Engenheiro Avidos, Jenipapeiro, Lagoa do Arroz e Saco (Vasconcelos et al. 2011). No Estado do Rio Grande do Norte, o IGARN realiza o monitoramento da densidade de cianobactérias nos açudes Cruzeta, Gargalheiras, Beldroega, Pataxós, Santo Antônio, Itans, Boqueirão de Parelhas e Passagem das Traíras, que são utilizados para abastecimento humano. À exceção do açude Pataxós, todos os demais reservatórios amostrados apresentaram densidade de cianobactérias muito elevada, excedendo o limite estabelecido para águas doces de classe 2, que é de 50.000 cél./mL. Geralmente esses reservatórios apresentam dominância de espécies potencialmente tóxicas, como Cylindrospermopsis raciborskii. 69 g) Metais pesados Os resultados mostram que as concentrações médias de cobre dissolvido e chumbo total em todos os açudes estiveram acima dos limites máximos permitidos para águas doce classe 2. Os cinco açudes que apresentam média de concentração de cobre acima de 0,2 mg/L estão localizados na região do Seridó: Boqueirão de Parelhas, Cruzeta, Esguicho, Dourado e Mulungu. Os dados de monitoramento apontam que a eutrofização é o maior problema de qualidade de água na bacia. Praticamente todos os açudes apresentam altas concentrações de fósforo. A sua origem está relacionada na bacia ao lançamento de esgotos sem tratamento, à criação extensiva de animais e às atividades agrícolas. Cabe ressaltar que as estações de tratamento de esgoto na bacia possuem eficiências muito baixas na remoção desse nutriente. Além disso, contribui ainda para o processo a implantação do cultivo de peixe em tanques-rede. Em açudes da Paraíba, Vasconcelos et al. (2011) identificaram que há um crescente aumento das concentrações de fósforo e de clorofila a na água e demonstraram que a implantação de cultivo de peixe em tanques-rede também é um fator relacionado ao aumento da eutrofização. O processo de eutrofização é favorecido de forma geral na região do semiárido em função de alguns aspectos: longo tempo de residência da água; formato dendrítico dos reservatórios; pouca profundidade dos reservatórios; balanço hídrico negativo; acúmulo de sais e nutrientes; alta vulnerabilidade associada a chuvas torrenciais e ao carreamento de sedimentos; água alcalina; e temperaturas elevadas. A eutrofização compromete o atendimento aos usos prioritários da água, abastecimento humano e dessedentação animal. Alguns trabalhos já identificaram, tanto nos açudes da Paraíba quanto do Rio Grande do Norte, que a abundância e a dominância de cianobactérias potencialmente tóxicas são maiores na época de estiagem. Em condições de águas quentes, sem renovação, sem estratificação e onde o fósforo não é limitante, a redução do volume do açude, e consequente redução da profundidade, pode ser fator determinante para a ocorrência de florações especificamente de cianobactérias potencialmente tóxicas. Apesar de efeitos agudos serem raramente observados na população humana é preciso que o efeito crônico seja melhor avaliado na bacia já que, além do potencial de exposição direta pelo consumo da água, há exposição indireta através, por exemplo, da ingestão de peixes. O atendimento aos critérios de monitoramento previstos na Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde é essencial para garantir a qualidade da água para o consumo humano. 70 Além disso, cabe destacar que a presença de valores mais altos de DBO, coliformes e turbidez no período de chuvas reforça o entendimento de que a qualidade dos açudes na bacia é influenciada pela poluição difusa e a lavagem dos leitos dos rios que recebem os esgotos. Por fim, é relevante destacar a ocorrência de metais, principalmente nos açudes utilizados para abastecimento, situação que pode comprometer seriamente a saúde da população e deve receber especial atenção no sentido da identificação das fontes e melhoria do monitoramento. Esse monitoramento se justifica por duas razões: em locais com grande escassez de água, onde a população não tem acesso à rede de abastecimento, busca-se esse recurso no reservatório mais próximo, mesmo que não tenha qualidade para consumo humano; os metais podem causar prejuízos aos organismos aquáticos e/ou se acumular em sua biomassa, sendo ingeridos (através dos peixes, por exemplo) pelas populações humanas (Eskinazi-Sant´Anna et al., 2006). 71 Figura 22 – Índice do Estado Trófico (IET) e Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). 72 Águas Subterrâneas A bacia do rio Piranhas-Açu não dispõe de rede de monitoramento da qualidade das águas dos aquíferos. A caracterização dos recursos hídricos subterrâneos foi possível através da consulta a estudos realizados e dados de salinidade disponíveis no SIAGAS. A salinidade é uma variável importante para caracterizar a qualidade da água subterrânea na bacia, pois representa, em alguns casos, um fator limitante para o uso, em especial o abastecimento humano. Os dados disponíveis na bacia mostram uma correlação, especialmente para o aquífero cristalino, entre salinidade, expressa como sólidos totais dissolvidos – STD, e precipitação, ou seja, recarga de aquífero (Figura 23). A maior parte das amostras, que corresponde a 67%, são classificadas como “aptas ao uso humano”, uma vez que possuem STD abaixo de 1000 mg/L. Há um crescimento dos sólidos totais dissolvidos de oeste para leste (Figura xx), que pode ser relacionado com a distribuição espacial da pluviometria na bacia. Na porção ocidental, onde a média anual de precipitação pluviométrica é de aproximadamente 850 mm, a maioria dos poços possui teores de STD entre 500 e 1.000 mg/L. Na parte oriental, na qual a média pluviométrica é de aproximadamente 650 mm, a maioria dos poços possui teores de STD entre 1.000 e 3.000 mg/L. Nas regiões mais secas, como no sudeste das UPHs Seridó e Bacias Difusas do Baixo Piranhas, os valores de STD são geralmente superiores a 3.000 mg/L. Na área aflorante do aquífero Açu, a salinidade das águas varia de baixa a alta e diminui no sentido de sul para norte, no sentido do contato com o aquífero cristalino em direção ao aquífero Jandaíra (CPRM/UFRN, 2007). A condutividade elétrica - CE varia de 198,6 a 6490,0 µS/cm, com média de 1.181,9 µS/cm. O STD se situa entre 101,0 e 3.450,0 mg/L, com média de 597,9 mg/L. O cloreto, por sua vez, apresenta valores entre 14,8 e 2.244,2 mg/L, com média de 302,2 mg/L. Na porção confinada do aquífero Açu, o sentido do crescimento da salinidade é oposto (Teixeira, 2002), com concentrações de cloreto de sódio (NaCl) variando de 300 a 1.400 mg/L de sul para norte, ou seja, no sentido do litoral. A qualidade das águas do aquífero Jandaíra foi estudada por Stein et al. (1998) em 3 diferentes áreas na bacia sedimentar Potiguar: Mossoró, Assú e Macaú. Os valores de CE apresentam média de 5.924 µS/cm, dureza total média de 2.295 mg/L (águas muito duras) e média de sólidos totais dissolvidos de 3.536 mg/L (moderadamente salobras) com maior salinidade nas áreas mais próximas da linha da costa. Na área de Assú, a única situada na bacia do rio Piranhas-Açu, os teores 73 Figura 23 – Sólidos Totais Dissolvidos nas águas subterrâneas da bacia do rio Piranhas-Açu. 74 médios se apresentaram menores, com valores médios de CE de 1.707 µS/cm, de dureza total de 615 mg/L e de STD de 970 mg/L. A qualidade das águas subterrâneas na bacia sedimentar do Rio do Peixe é abordada no estudo da CPRM/UFCG (2007), que obteve condutividade elétrica (C.E.) média de 964,3 µS/cm, dureza total média de 146, 9 mg/L e média de sólidos totais dissolvidos de 623,2 mg/L. Conclusões As questões centrais envolvendo a qualidade das águas na bacia, que podem afetar seriamente o atendimento aos usos e a saúde da população, estão relacionadas à poluição orgânica, poluição por nutrientes e eutrofização, florações de bactérias e a contaminação por metais pesados. Os baixos índices de saneamento, associados à baixa disponibilidade hídrica, tornam a poluição orgânica um grave problema na bacia que afeta a qualidade das águas superficiais e a saúde da população. O lançamento de esgotos sem tratamento ainda contribui para acentuar o problema da eutrofização. Em relação à poluição por nutrientes e eutrofização, os resultados de monitoramento do fósforo mostram que praticamente todos os açudes apresentam altas concentrações de fósforo. Os baixos níveis de tratamento dos esgotos, a criação extensiva de animais e as atividades agrícolas são as maiores fontes de fósforo para os açudes. As estações de tratamento de esgoto na bacia são, na maioria, sistemas de tratamento secundário simplificados que possuem uma eficiência muito baixa na remoção desse nutriente. Em açudes da Paraíba, Vasconcelos et al. (2011) identificaram que há um crescente aumento das concentrações de fósforo e de clorofila a na água e demonstraram que, além das fontes supracitadas, a implantação de cultivo de peixe em tanques-rede também é um fator relacionado ao aumento da eutrofização. No entanto, o monitoramento realizado pela Paraíba não contempla o parâmetro clorofila a, o que dificulta a avaliação dos efeitos da condição eutrófica nos açudes paraibanos. A existência de condições muito favoráveis para o desenvolvimento das florações de cianobactérias no semiárido, associada ao aporte de nutrientes, torna o controle da eutrofização dos açudes um tema central para a qualidade das águas na bacia. Alguns trabalhos já identificaram, tanto nos açudes da Paraíba quanto nos do Rio Grande do Norte, que a abundância e a dominância de cianobactérias potencialmente tóxicas são maiores na época de estiagem (Vasconcelos et al. 2011; Costa et al. 2009). Em 20 açudes da Paraíba foi identificado que na época seca mais da metade 75 deles apresentaram concentrações de microcistina acima do limite permitido pela Resolução Conama no 357/05. Na época chuvosa apenas 20% dos reservatórios apresentaram microcistina na água (Vasconcelos et al. 2011). Também já foi demonstrado que em condições de águas quentes, sem renovação, sem estratificação e onde o fósforo não é limitante, a redução do volume do açude, e consequente redução da profundidade, pode ser fator determinante para a ocorrência de florações especificamente de cianobactérias potencialmente tóxicas do gênero Cylindrospermopsis (NaselliFlores 2003). Sendo assim, as regras de operação dos reservatórios também são importantes no contexto do controle das florações. Apesar de efeitos agudos serem raramente observados na população humana é preciso que o efeito crônico seja melhor avaliado já que, além do potencial de exposição direta pelo consumo da água, há exposição indireta através, por exemplo, da ingestão de peixes. As formas e as consequências da exposição da população humana às cianotoxinas ainda não são muito estudadas no Brasil. Nesse contexto, o atendimento aos critérios de monitoramento previstos na Portaria no 2914/2011 do Ministério da Saúde é essencial para garantir a qualidade da água para o consumo humano. A contaminação por metais, principalmente nos açudes utilizados para abastecimento, é um problema grave que pode comprometer seriamente a saúde da população usuária na bacia e deve receber especial atenção no sentido da identificação das fontes e melhoria do monitoramento. A contaminação por metais deve ser monitorada com atenção, por duas razões: em locais com grande escassez de água, onde a população não tem acesso à rede de abastecimento, a água dos açudes é utilizada mesmo que não tenha qualidade para consumo humano; os metais podem se acumular na biomassa dos organismos aquáticos podendo ser ingeridos pelas populações humanas em altas concentrações (Eskinazi-Sant´Anna et al. 2006). 3.10 Demandas e Usos da Água Além do levantamento realizado no âmbito deste PRH, outros estudos e projetos desenvolvidos anteriormente na bacia também estimaram a demanda hídrica, entre os quais se podem destacar os Planos Estaduais de Recursos Hídricos da Paraíba (PERH/PB), em 2006, e do Rio Grande do Norte (PERH/RN), em 2012, além dos estudos do Projeto de Integração do rio São Francisco (PISF). Os estudos dos planos estaduais indicam uma demanda total de 31,6 m³/s, enquanto os estudos do PISF indicaram uma demanda de 25,3 m³/s. Neste plano, os cálculos das demandas hídricas foram feitos considerando os municípios que estão inseridos total e parcialmente na bacia. Logo, a população urbana dos municípios que não possuem sede na bacia não foi considerada para fins de cálculo da demanda hídrica para abastecimento 76 humano urbano. Por outro lado, consideraram-se as demandas para abastecimento dos municípios que estão fora da bacia, mas dependem de adutoras que captam em seus reservatórios estratégicos, como a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, por exemplo. A avaliação das demandas para todos os usos foi realizada por meio das metodologias convencionais empregadas em estudos de planejamento de recursos hídricos, à exceção da demanda para aquicultura, que foi obtida por meio dos cadastros e outorgas dos órgãos gestores, dadas as limitações de estimativas com base em outra metodologia. As vazões de retirada correspondem à água captada dos corpos hídricos, enquanto as vazões de consumo correspondem à água efetivamente consumida considerando o coeficiente médio de retorno dos diferentes usos (Tabela 16). Tabela 16 – Taxas de retorno da água conforme o uso. Agricultura Irrigada Pecuária Aquicultura Indústria Abastecimento Urbano Abastecimento Rural 20% 20% 90% 80% 80% 50% A demanda de água (vazão de retirada) para atendimentos dos diversos usos presentes na bacia é de 41,4 m³/s, enquanto a vazão de consumo totaliza 23,8 m³/s (57,5% da retirada). Setorialmente, a atividade de irrigação representa demanda de 27,2 m³/s, ou seja, 65,7% da demanda total de consumo da bacia ( 77 Figura ). A segunda maior demanda, com participação de 23,6%, é a do setor de aquicultura, em especial devido à carcinicultura desenvolvida na UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas. A demanda de retirada para abastecimento humano responde por 7,6% do total. 78 Figura 24 – Composição relativa das demandas hídricas setoriais (vazões de retirada e de consumo) Consumo Retirada 7,6% 1,5% 1,6% 4,1% 0,6% 3,3% 0,5% Abastecimento Humano 23,6% Pecuária Irrigação Industrial Aquicultura 65,7% 91,6% As UPHs que apresentam as maiores demandas hídricas são as seguintes: UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas (11,2 m³/s), devido ao uso de aquicultura, que requer cerca de 75% desse valor, e UPH Seridó (5,93 m³/s), devido à atividade de irrigação, que requer por volta de 82% do total (Tabela 17 e Figura 15). Excetuando-se a UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas, observa-se que a agricultura irrigada é o uso com a demanda mais expressiva em todas as UPHs. A demanda para abastecimento humano é bastante significativa nas UPHs Médio Piranhas Potiguar e Espinharas. Tabela 17 – Demandas (vazões de retirada) por UPH. Abastecimento Humano (m³/s) Pecuária (m³/s) Irrigação (m³/s) Industrial (m³/s) Aquicultura (m³/s) Total (m³/s) Piancó 0,49 0,13 3,04 0,02 1,14 4,82 Alto Piranhas 0,20 0,04 4,36 0,02 0,02 4,64 Peixe 0,40 0,05 2,91 0,05 0,02 3,43 Espinharas 0,36 0,05 0,55 0,07 0,00 1,02 Médio Piranhas Paraibano 0,23 0,05 2,44 0,03 0,11 2,86 Seridó 0,65 0,16 4,85 0,27 0,00 5,93 Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 0,13 0,04 1,41 0,06 0,00 1,63 Médio Piranhas Potiguar 0,33 0,04 0,42 0,04 0,04 0,87 Paraú 0,04 0,01 0,12 0,01 0,00 0,18 Pataxó 0,10 0,02 4,63 0,04 0,04 4,84 Bacias Difusas do Baixo Piranhas 0,23 0,03 2,47 0,07 8,38 11,18 Total 3,16 0,61 27,20 0,67 9,75 41,39 UPH 79 Figura 15 – Proporção das demandas de retirada por UPH. Piancó Alto Piranhas Peixe Espinharas Médio Piranhas Paraibano Seridó Médio Piranhas Paraibano/Potiguar Médio Piranhas Potiguar Paraú Pataxó Bacias Difusas do Baixo Piranhas 0% Irrigação 10% 20% Aquicultura 30% 40% Abastecimento Humano 50% 60% Pecuária 70% 80% 90% 100% Industrial Usos da água na bacia do rio Piranhas-Açu Os principais usos da água identificados na bacia são a irrigação em perímetros irrigados do DNOCS (Tabela 5), a carcinicultura no Baixo-Açu e as transposições para abastecimento humano. Em relação aos usos não consuntivos, ocorre na bacia a geração de energia elétrica a partir da Usina Curemas, suprida pelo reservatório Curema/Mãe-d’Água, e constituída por duas unidades geradoras de 1.760 kW, o que perfaz um total de 3.520 kW. A usina atende a 20 cidades por meio de 440 km de linhas de transmissão. A seguir são descritos os principais usos da água na bacia: Abastecimento Humano As demandas hídricas de abastecimento humano na bacia são divididas em abastecimento humano urbano e abastecimento humano rural. A metodologia de cálculo da demanda hídrica para o abastecimento humano urbano é baseada na multiplicação da população urbana do município com sede na bacia pela sua demanda hídrica per capita (l/hab.dia). Os valores foram calculados com base nos dados do Censo Populacional do IBGE (2010) e nos índices de consumo per capita projetados no Atlas Nordeste: Abastecimento Urbano de Água (ANA, 2006), que já considera, como perdas físicas dos sistemas, uma taxa de 40% para todos os municípios. Para a zona rural, a demanda hídrica humana foi obtida pela multiplicação da população rural pela demanda rural per capita de 100 l/hab.dia (ANA, 2003 apud ONS, 2005). Para aqueles municípios que não possuem suas áreas políticas totalmente inseridas na área de contribuição da bacia, foi feita 80 uma ponderação da população rural do município, de acordo com o percentual de área inserida na bacia. A demanda para abastecimento humano total (urbana e rural) é de 2,94 m³/s para retirada e de 0,74 m³/s para consumo. Esse valor considera, também, a demanda dos sistemas adutores que exportam água para municípios externos à bacia. A UPH Seridó aparece com as maiores demandas hídricas humanas totais de retirada (0,6 m³/s) e de consumo (0,14 m³/s), seguida pelas UPHs Piancó e Peixe. Destaca-se que a porção paraibana da bacia responde por 65% da demanda hídrica de retirada para abastecimento humano, por conter a maior parte da população da bacia (63,8%). Pecuária Predomina na bacia a criação de galináceos, bovinos, caprinos e ovinos. A estimativa de demanda hídrica para dessedentação animal considerou o número efetivo de rebanhos por município e a demanda unitária para cada espécie de animal, com base na informação obtida pelos dados do Censo Agropecuário do IBGE (2006). A demanda hídrica foi estimada por meio da variável BEDA (Bovino-Equivalente para Demanda de Água), que estabelece a equivalência do consumo de água entre as diversas espécies de animais. Para tanto, considerou-se a demanda hídrica unitária do bovino igual a 50 l/dia. A demanda para dessedentação animal é de 0,61 m³/s para retirada e de 0,12 m³/s para consumo. A UPH Seridó aparece com as maiores demandas hídrica de retirada (0,16 m³/s) e de consumo (0,03 m³/s). Destaca-se a “bacia leiteira do Seridó”, composta por importantes municípios potiguares, como Caicó, Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, entre outros. Agricultura Irrigada A agricultura irrigada é umas das principais atividades econômicas da bacia e responde pela maior parte da demanda hídrica total (cerca de 80%), com uma área ocupada de 54.385 ha, segundo o mapeamento realizado com a utilização de imagens de satélite. Incentivada como uma estratégia de desenvolvimento regional adotada pelo Governo Federal, por meio da implantação de perímetros irrigados nas bacias gerenciadas pelo DNOCS, também foi adotada pelos governos dos dois Estados, com a implantação de perímetros irrigados estaduais. Dessa forma, observam-se na bacia dois modelos de irrigação: a irrigação concentrada, representada pelos perímetros irrigados patrocinados pelos governos Federal ou Estadual e também por algumas propriedades privadas detentoras de grandes áreas, e a irrigação difusa, representada por pequenas 81 áreas irrigadas privadas, em pequenas e médias propriedades, disseminadas em toda a bacia, especialmente ao longo dos trechos perenizados de rios e no entorno da bacia hidráulica dos reservatórios. A UPH Pataxó conta com a maior área irrigada, totalizando 8.371 ha, por concentrar o perímetro do Baixo-Açu (DIBA) e a área irrigada da empresa Delmonte. Na porção paraibana da bacia, destacase a UPH Alto Piranhas, com 4.104 ha de área irrigada, pela presença dos perímetros das Várzeas de Sousa e de São Gonçalo. Neste plano, foram analisadas as práticas de irrigação adotadas na região, tanto pelos perímetros irrigados quanto pela irrigação difusa, e optou-se por assumir uma demanda específica de 0,50 l/s/ha, que associada à área mapeada resulta em uma demanda hídrica total para irrigação de 27,2 m³/s. Há uma predominância da irrigação nas UPHs Seridó, Pataxó, e Alto Piranhas, em função de áreas de irrigação concentradas públicas ou privadas. Indústria A estimativa da demanda hídrica para o setor industrial na bacia do rio Piranhas-Açu foi realizada considerando-se os cadastros das federações das indústrias dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, FIEP e FIERN, respectivamente. Dessa forma, a demanda da bacia é de 0,66 m³/s, com consumo de 0,13 m³/s. A UPH Seridó concentra cerca de 40% da demanda industrial da bacia. Pesca e Aquicultura A pesca é realizada de forma artesanal na bacia, devido às precárias condições socioeconômicas das regiões onde estão os açudes, bem como pela diversificação de espécies e sua abundância, que dificulta a uniformização da captura caracterizando essa atividade como de subsistência (MMA, 2001). A atividade de aquicultura na bacia ocorre tanto em tanques-rede quanto em viveiros escavados e a produção é voltada para a criação de peixes e camarões. Do ponto de vista da demanda, apresenta importância a produção em viveiros escavados, pois requerem a retirada de água de um corpo hídrico. A demanda hídrica para aquicultura na bacia é de 9,74 m³/s, definida com base nos cadastros e outorgas dos órgãos gestores de recursos hídricos. A carcinicultura é o principal segmento usuário e está concentrada na UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas, destacando-se os municípios potiguares de Carnaubais (2,9 m³/s), Macau (2,5 m³/s), Pendências (1,7 m³/s) e Porto do Mangue (1,3 m³/s). 82 Turismo O turismo associado aos recursos hídricos não tem expressão na bacia. Cabe registrar, entretanto, a ocorrência de fontes termais, aos quais são atribuídas propriedades medicinais, da Estância Brejo das Freiras, localizada no município de São João do Rio do Peixe, na Paraíba. 3.11 Balanço entre Demandas e Disponibilidade Hídrica O balanço hídrico apresentado aqui é do tipo concentrado e considera os totais globais de demandas atuais e a oferta disponível de águas superficiais e subterrâneas nas UPHs. Sua metodologia de cálculo para a bacia foi obtida a partir do cômputo das evoluções das demandas e das disponibilidades hídricas para as UPHs. Realizaram-se três balanços hídricos, uma vez que se dispõe de valores de disponibilidades hídricas superficiais com vazões de garantia de 90%, 95% e 99%. Os balanços estão apresentados na tabela 18, assim como as disponibilidades hídricas totais por UPH utilizadas para o seu cálculo. Observa-se que, para os três níveis de garantia, apenas as UPHs Piancó, Médio Piranhas Potiguar e Paraú tiveram as demandas atendidas. Nas demais UPHs as demandas não foram atendidas. 83 Tabela 18 – Balanço hídrico na bacia do rio Piranhas-Açu. UPH Disponibilidade Hídrica Total (m³/s) Q99% Q95% Q90% Piancó 12,09 13,66 14,98 Alto Piranhas 2,05 2,29 Peixe 0,86 Espinharas Demandas Hídricas* (m³/s) Balanço Hídrico (m³/s) Demandas/Disponibilidades Q99% Q95% Q90% Q99% Q95% Q90% 4,82 7,27 8,84 10,16 39,8% 35,3% 32,2% 2,52 4,64 -2,59 -2,35 -2,12 226,1% 202,4% 183,9% 0,90 0,90 3,43 -2,57 -2,53 -2,53 398,4% 380,7% 380,7% 0,35 0,52 0,58 1,02 -0,67 -0,50 -0,44 292,7% 197,0% 176,7% Médio Piranhas Paraibano 0,23 0,31 0,37 2,86 -2,63 -2,55 -2,49 1244,1% 923,0% 773,4% Seridó 1,66 2,38 3,11 5,93 -4,27 -3,55 -2,82 357,2% 249,1% 190,7% Médio Piranhas Paraibano/Potiguar 0,15 0,26 0,38 1,63 -1,48 -1,37 -1,25 1088,2% 627,8% 429,6% Médio Piranhas Potiguar 15,00 17,80 19,28 0,87 14,13 16,93 18,41 5,8% 4,9% 4,5% Paraú 0,25 0,28 0,36 0,18 0,07 0,10 0,18 70,8% 63,2% 49,1% Pataxó 0,06 0,09 0,12 4,84 -4,78 -4,75 -4,72 8058,7% 5372,5% 4029,4% Bacias Difusas do Baixo Piranhas 0,07 0,09 0,11 11,18 -11,11 -11,09 -11,07 15971,9% 12422,6% 10163,9% *Demandas abastecimento humano, industrial, irrigação e dessedentação animal, obtidas por estimativa. Aquicultura obtida pelos cadastros. 84 3.10 Eventos Críticos A bacia apresenta ocorrências de eventos críticos, sejam secas ou cheias, com maior predomínio das primeiras. As condições de sobrevivência da população e as atividades socioeconômicas são afetadas diretamente por esses eventos, o que demonstra a vulnerabilidade da região. Os eventos críticos estão associados à variabilidade climática da bacia, que pode ser representada por meio da precipitação. Estações das UPHs Seridó e Piancó foram selecionadas, os dados diários entre os anos de 1962 e 2012 foram acumulados anualmente e as anomalias anuais calculadas (Figura 26). A anomalia é a diferença entre a chuva observada no ano e a média do período estudado. Dessa forma, valores próximos a zero indicam que o ano em questão apresenta valor próximo à média histórica, valores positivos indicam anos de precipitação acima da média histórica e anomalias negativas mostram a condição contrária. Os resultados mostram períodos comuns de anomalias negativas em 1981-1983, 1991-1993 e 1998-1999 e 2012, enquanto os anos de 1964, 1967, 1974, 1977, 1985 e 20082009 apresentam chuvas acima da média histórica, ou seja, anomalias positivas. A grande variabilidade da precipitação pode ser observada não apenas pela variação interanual de uma mesma estação, mas também espacialmente. Como exemplo, observa-se que o ano de 2004 apresentou precipitação próxima da média histórica na UPH Seridó, enquanto na UPH Piancó os valores são bastante superiores. Para caracterizar a ocorrência de eventos críticos na bacia foram utilizadas as informações extraídas do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (UFSC/CEPED, 2011a,b) que compilou registros de desastres ocorridos no Brasil entre 1991 e 2010. As ocorrências nos anos de 2011 e 2012 foram contabilizadas a partir dos decretos estaduais para os estados de calamidade pública (Figura 27). Inicialmente, cabe comentar que a escassez hídrica se exprime através das estiagens e secas. A estiagem é um fenômeno menos intenso e de duração menor, ocorrendo quando há uma irregular distribuição das chuvas e diminuição dos índices pluviométricos abaixo da normal climatológica (Castro, 2003). Apesar de menor magnitude, a estiagem afeta diretamente o setor agrícola. A seca, por sua vez, é uma estiagem prolongada no tempo e no espaço, com impactos mais amplos. As secas se misturam com a história da bacia e da região Nordeste. Existem registros da sua ocorrência desde o século XVI. No século passado, podem ser citadas as secas de 1951-1953, 1979-1983, 19911993 e 1997-1999. As secas e estiagens afetam todos os municípios da bacia. As UPHs Seridó, Médio Piranhas Potiguar e Pataxó concentram os municípios com maiores ocorrências de secas e estiagens entre 1991 e 2012 (Figura 27). Destacam-se os municípios de Bodó/RN, Santana dos Matos/RN e Pedra Lavrada/PB, 85 pertencentes às UPHs Médio Piranhas Potiguar e Seridó, com 15 ocorrências cada, seguidos de São Mamede/PB e São José do Sabugi/PB, localizados na UPH Seridó, com 14 ocorrências cada. A sequência de anos secos e a não recuperação dos reservatórios causam sérias restrições aos usuários de água na bacia. Os grandes reservatórios, como o Armando Ribeiro Gonçalves e o Curema-Mãe d´Água, apresentaram, por exemplo, queda brusca em seus volumes armazenados a partir do ano de 1998, recuperando-se apenas em 2004, ano de ocorrência de cheias. Os reservatórios de menor porte, que não são interanuais, são especialmente impactados em anos de seca. Essa situação é bastante evidenciada no atual momento, frente à ocorrência da seca dos últimos três anos (2011-2013) no qual diversos municípios da bacia apresentaram problemas no abastecimento de água. As inundações, por sua vez, são fenômenos naturais relacionadas a índices pluviométricos elevados, que podem ter grandes impactos se associadas à ocupação irregular das planícies de inundação ou ainda à impermeabilização do solo. São identificados os dois tipos de inundações na bacia do rio PiranhasAçu (UFSC/CEPED, 2011a,b). As inundações bruscas estão relacionadas às chuvas intensas e concentradas em certa área e período de tempo. Nesses casos, em geral ocorrem os alagamentos, que são águas que não escoaram e estão acumuladas nas ruas e avenidas. Já as inundações graduais estão relacionadas às chuvas contínuas de maior abrangência. A fim de enfrentar o problema das inundações na bacia foram construídas algumas obras. Como exemplos podem ser citados o açude Engenheiro Ávidos construído na década de 30 para o controle das cheias do rio Piranhas e o açude Mendobim, que teve sua construção concluída em 1972 para o controle das cheias do rio Paraú. Nos anos de 1991 a 2012, foram registradas 211 notificações na bacia das quais aproximadamente 55% foram de inundações bruscas e 45% de inundações graduais. O ano de 2004 registrou a maior quantidade de ocorrências, seguido pelos anos de 2008 e 2009. Os municípios que mais registraram ocorrências foram Bernardino Batista, Poço Dantas e Ipanguaçu. 86 -200 São Mamede Ouro Branco Currais Novos Açude Cruzeta Caicó São Fernando Jardim de Piranhas 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 MAINARA 2002 2001 2000 1999 PIANCÓ 1998 1997 1996 BONITO DE SANTA FÉ 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 ITAPORANGA 1988 1987 1986 1985 1984 NOVA OLINDA 1983 1982 1981 1980 1979 PRINCESA ISABEL 1978 1977 1976 1975 1974 JURU 1973 1972 1971 CONCEIÇÃO 1970 1969 1968 1967 1966 1965 1964 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1984 1983 1982 1981 1980 1979 1978 1977 1976 1975 1974 1973 1972 1971 1970 1969 1968 1967 1966 1965 1964 1963 1962 -200.0 1963 1962 Anomalias (mm) Anomalias (mm) (a) 1800.0 1600.0 1400.0 1200.0 1000.0 800.0 600.0 400.0 200.0 0.0 -400.0 -600.0 -1000.0 -800.0 SERRA GRANDE (b) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 -400 -600 -800 Patos Figura 26 – Anomalias de precipitação nas UPHs Piancó (a) e Seridó (b). 87 Figura 27 – Municípios com ocorrências de secas e estiagens (1991-2012). 88 Outra fonte importante de informação sobre inundações na bacia foi elaborado pela ANA em parceria com os órgãos gestores de recursos hídricos do Rio Grande do Norte e da Paraíba (ANA, 2011). Os resultados apontam que, em termos de extensão e alta vulnerabilidade, o trecho final do rio PiranhasAçu situado à jusante do açude Armando Ribeiro Gonçalves (UPH Bacias Difusas do Baixo Piranhas) é o mais crítico (Figura 28). Cabe também mencionar o trecho do rio entre os municípios de Marizópolis e Sousa (UPH Peixe). Almeida e Cuellar (2008) avaliaram o impacto das chuvas do ano de 2008 sobre o rio Piranhas-Açu a jusante do açude Armando Ribeiro Gonçalves. Resultados preliminares mostraram grandes perdas nas áreas de agricultura alagadas (5.800 ha) e naquelas de aquicultura (5.000 ha). Com relação ao setor salineiro, todos os marnéis de cristalização e pré-concentradores foram atingidos. O Rio Grande do Norte não conseguiu manter o suprimento dos clientes europeus e teve suas exportações de banana reduzidas em quase 48% da quantidade e do valor, no período de janeiro a agosto de 2008, em relação aos mesmos meses de 2007. 3.12 Gestão de Recursos Hídricos e Atores O sistema de gestão de recursos hídricos envolve a atuação integrada de conselhos de recursos hídricos, comitês de bacia, órgãos gestores de recursos hídricos e agências de água com vistas à implementação dos instrumentos de gestão. A figura 29 apresenta o sistema de gerenciamento de recursos hídricos da bacia do rio Piranhas-Açu, cumprindo destacar que o CBH não possui agência de bacia. A participação da sociedade na gestão de recursos hídricos materializa-se nos “parlamentos de águas”, ou seja, nos comitês de bacias. O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Piancó-Piranhas-Açu – CBHPPA foi criado dentro deste princípio no ano de 2006, sendo composto por 40 membros titulares e respectivos suplentes. Seus componentes estão assim distribuídos: poder público (13 membros, 32%), usuários de água (16 membros, 40%) e sociedade civil (11 membros, 28%). 89 Fonte: Adaptado de ANA (2011) Figura 28 – Trechos de rios sujeitos a enchentes e inundações. 90 Figura 29 – Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Piranhas-Açu. É importante destacar que, desde 2010, os Estados optaram por reconhecer o CBH-PPA como comitê único integrante do arcabouço institucional estadual. No âmbito do CBH-PPA, a Câmara Técnica de Planejamento Institucional – CTPI – foi instalada com o objetivo de elaborar a proposta de planejamento estratégico, assim como estabelecer procedimentos para o seu acompanhamento. A ANA atua na esfera federal, sendo responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e pela coordenação da gestão compartilhada e integrada desses recursos. Na esfera estadual, os órgãos gestores de recursos hídricos são a Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia - SERHMACT/PB, a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba – AESA, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH/RN e o Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte – IGARN. Na Paraíba, a SERHMACT é responsável pela implantação e implementação das ações inerentes ao comando, à coordenação, à execução, ao controle e à orientação normativa das atividades concernentes à 91 ciência, à tecnologia, à inovação, ao meio ambiente e aos recursos naturais. A AESA tem como objetivo geral o gerenciamento dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais de domínio do Estado da Paraíba, das águas originárias de bacias hidrográficas localizadas em outros Estados que lhe sejam transferidas através de obras implantadas pelo governo federal e, por delegação, de águas de domínio da União que ocorrem em território do Estado da Paraíba. No Rio Grande do Norte, a SEMARH é o órgão executor, coordenador e formulador da política de recursos hídricos e da política de meio ambiente. O IGARN é a entidade responsável pela gestão técnica e operacional dos recursos hídricos, cabendo-lhe apoiar, técnica e operacionalmente o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos. A tabela 19 apresenta um panorama geral da situação atual da implementação dos instrumentos de gestão previstos pela Política Nacional e pelas Políticas Estaduais de Recursos Hídricos. Tabela 19 – Situação atual da implementação dos instrumentos de gestão na bacia. Âmbito Instrumentos de Gestão Sistema de Informação Planos de Recursos Hídricos Plano de Sub-Bacia Outorga Enquadramento Cobrança União Sim Sim Não Sim Não Não RN Sim Sim Não Sim Não Não PB Sim Sim Sim Sim Sim Não* * Cobrança aprovada no Estado. Inicialmente cabe comentar que os órgãos gestores dispõem de sistemas de informação em recursos hídricos que se encontram em estágio inicial de desenvolvimento tanto ao nível federal quanto estadual. O Plano Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba foi elaborado em 2006 e o Plano Estadual do Rio Grande do Norte em 1998. O Estado da Paraíba conta ainda com o Plano das sub-bacias dos rios Peixe, Alto Piranhas e Piancó, desenvolvido em 1997. A outorga de direitos de uso dos recursos hídricos, instrumento que assegura ao usuário o direito de utilização da água, que é bem de domínio público, está implementada na bacia sendo emitida de acordo com a dominialidade do corpo d’água. A ANA utiliza, em geral, a vazão com garantia de permanência em 95% do tempo (Q95%) para análise dos pedidos de outorga. A Paraíba e o Rio Grande do Norte 92 adotam a vazão com garantia de permanência em 90% do tempo (Q90%) e o limite outorgável é de 90% da vazão de referência. O enquadramento dos corpos hídricos superficiais está implementado apenas na porção paraibana da bacia, que adota a classe 2 para todos os corpos d’água. A cobrança pelo uso da água bruta também está estabelecida somente na Paraíba, regulamentada pelo Decreto no 33.613/2012. Além dos atores que integram o sistema de gerenciamento de recursos hídricos, merecem destaque na bacia o Departamento Nacional de Obras contra as Secas – DNOCS e as companhias estaduais de saneamento. O DNOCS tem como objetivo desenvolver políticas nos campos de beneficiamento de áreas e obras de proteção contra as secas e inundações, irrigação, radicação de população em comunidades de irrigantes ou em áreas especiais abrangidas por seus projetos. A instituição executou obras de infraestrutura hídrica relevantes na bacia, entre as quais destacam-se os reservatórios CuremaMãe D’água e Armando Ribeiro Gonçalves, e as áreas irrigadas de São Gonçalo e Baixo Açu. Além disso, possui coordenadorias estaduais (PB e RN) e escritórios de campo na bacia (Coremas, São Gonçalo e Assu). A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte – CAERN e a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA, por sua vez, são responsáveis pelos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Cabe ressaltar que, embora esses atores estratégicos tenham claramente definidas suas áreas de atribuição na esfera da gestão de recursos hídricos, efetivamente verifica-se que historicamente prevalece uma atuação desarticulada desses entes na bacia. Como resultado desse processo, observa-se a execução de ações que muitas vezes se revelam superpostas, pouco eficientes e, em algumas situações, conflituosas. Essas questões apresentam rebatimentos diretos sobre a gestão da água, tais como a deficiência nas informações hidrológicas, especialmente das redes de monitoramento, a dificuldade de articulação na operação dos reservatórios e a deficiência na implementação dos instrumentos de gestão previstos na política de recursos hídricos. Atores Estratégicos A gestão de recursos hídricos, que historicamente era de responsabilidade apenas do poder público, vem evoluindo e incorporando cada vez mais a participação de atores sociais. Na bacia do rio Piranhas-Açu, 93 a situação não é diferente, pois, além das instituições estratégicas acima descritas, existe um conjunto amplo de atores que desenvolvem atividades que são direta ou indiretamente relacionadas à questão da água. Para a implementação de uma gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos é importante identificar os atores com destacada atuação na bacia. Para isso, eles foram avaliados segundo a relevância do papel desempenhado na gestão de recursos hídricos na bacia, tendo sido adotada a metodologia adotada em ANA (2011). A análise resultou na identificação e avaliação de 767 atores que compõem o poder público, os usuários de água e a sociedade civil (Figura XX). Os principais atores estratégicos nesses segmentos são comentados a seguir. Na esfera do poder público, buscou-se analisar os principais entes governamentais da administração direta e indireta com atuação na bacia e responsabilidade pela implementação de políticas públicas afetas aos setores usuários e/ou a proteção dos recursos hídricos e do meio ambiente. Assim, foram identificadas 209 entidades, sendo 28 no nível federal, 23 no estadual e 158 no municipal. No segmento federal, destacam-se o Ministério das Cidades – Mcidades, a Fundação Nacional da Saúde – FUNASA, ambas com atuação na área de saneamento, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, especialmente relacionado ao licenciamento ambiental. No segmento do poder público estadual, cumpre ressaltar a atuação das seguintes entidades: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba – EMATER/PB; Instituto de Assistência Técnica e 94 Extensão Rural do Rio Grande do Norte – EMATER/RN; Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca – SEDAP/PB; Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca – SAPE/RN; Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. – EMEPA; Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN – EMPARN; Superintendência de Administração do Meio Ambiente – SUDEMA/PB; e Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – IDEMA. Entre as instituições representativas do poder público municipal, merecem destaque a Federação das Associações de Municípios da Paraíba – FAMUP e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Norte – FAMURN. As organizações da sociedade civil são importantes atores no processo participativo e descentralizado de gestão dos recursos hídricos na bacia compondo um segmento heterogêneo. De um total de 288 entidades identificadas, 266 são organizações não governamentais – ONGs, 18 são organizações técnicas e de ensino e pesquisa e 4 são organizações extrativistas. No âmbito das ONGs, merecem destaque: Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE; Fundação Seridó; Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários – SEAPAC; SOS Sertão; e Organização Potiguar de Arte, Cultura, Desportos e Meio Ambiente – CARNAÚBA VIVA. A ADESE desenvolve as ações de apoio ao CBH Piancó Piranhas-Açu por meio de termo de parceria com a ANA. Entre as organizações técnicas e de ensino e pesquisa, cumpre ressaltar a atuação das seguintes universidades, institutos e associações de classe: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN; Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN; Universidade Federal do Semiárido – UFERSA; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB; Universidade Estadual da Paraíba – UEPB; Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba – CREA/PB e do Rio Grande do Norte – CREA/RN. O segmento de usuários de água foi avaliado com base nos usos cadastrados e outorgados na bacia registrados nos bancos de dados dos órgãos gestores de recursos hídricos. A distribuição dos representantes desse segmento, que tem 270 representantes, é a seguinte: 101 são de abastecimento humano, 14 de pecuária, 38 da indústria, 70 da irrigação, 37 da aquicultura e 10 definidos como outros usos. 95 Dentro do setor de usuários da água, cabe ressaltar a irrigação, que é o principal consumidor de água na bacia e possui representantes dos setores público e privado. Vale destacar como atores estratégicos o DNOCS, responsável pela maior parte dos projetos e perímetros de irrigação na bacia, e a Secretaria do Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (SEDAP/PB), que opera o Perímetro Várzeas de Sousa. Entre os atores com alta relevância detentores de expressivas áreas irrigadas, cumpre ressaltar a Finobrasa Agroindustrial S.A, Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda, Associação do Distrito de Irrigação do Baixo Assú – DIBA, Finobrasa Agroindustrial S.A e Associação dos Irrigantes do Perímetro Irrigado Cruzeta – Apicruz. Adicionalmente, a bacia tem contado com a atuação dos Ministérios Públicos Federal e Estaduais (PB e RN) que, de acordo com sua área jurisdicional, atuam separadamente ou conjuntamente. Diagnóstico Integrado A análise dos diversos elementos que compõem o diagnóstico permite identificar temas relevantes que nortearão as ações de gestão propostas pelo PRH Piranhas-Açu. Os principais aspectos identificados são: Falta de articulação interinstitucional que resulta na falta de sinergia das ações de gestão de recursos hídricos entre os atores estratégicos da bacia. Essa questão apresenta rebatimentos diretos na aplicação dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos e na operação dos reservatórios; Baixa participação social na gestão da água, manifestada, por exemplo, no reduzido número de comissões gestoras de açudes instaladas e na ausência de ações de alocação de água; Necessidade de revisão da alocação de água, tendo em vista os novos dados sobre demanda e disponibilidade hídrica gerados para a bacia e o fim da validade do marco regulatório em vigor que tem vigência até 2014; Uso inadequado do solo nos meios urbano e rural resultando no aporte de cargas poluidoras difusas aos rios açudes, bem como o assoreamento desses corpos hídricos; Comprometimento da qualidade das águas pelas cargas poluidoras difusas e pontuais, essa última associada principalmente aos baixos níveis de esgotamento sanitário, resultando em poluição orgânica, eutrofização, ocorrência de florações de cianobactérias e ocorrência de metais pesados nos açudes; Necessidade de busca de alternativas para o lançamento de esgotamento sanitário, em especial pelo reuso de água, tendo em vista a limitada capacidade de assimilação de cargas poluidoras em função da intermitência dos rios; 96 Deficiência de dados e informação sobre as cargas poluidoras difusas que alcançam os corpos hídricos; Vulnerabilidade aos eventos extremos, secas e enchentes, que geram impactos sociais e econômicos nas zonas rural e urbana; Vulnerabilidade dos mananciais e dos sistemas de abastecimento de água das cidades, que está sendo evidenciada no período atual de seca em curso; Desperdício de água associado a perdas nas redes de abastecimento urbano e à adoção de métodos de irrigação pouco eficientes (sulco e inundação); Baixa disponibilidade de dados de qualidade e quantidade de água, que reflete as deficiências das redes de monitoramento quali e quantitativo em termos de número de pontos e de descontinuidade (falhas) na amostragem; Deficiência no conhecimento do potencial hidrogeológico dos aquíferos com maior potencialidade hídrica situados nas bacias sedimentares. 97