Tecnologia simples e sustentável A adubação

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Tecnologia simples e sustentável A adubação
Manejo adequado da
Lagarta-do-Cartucho nas
plantações de milho
9 771806 810001
Sanidade vegetal
Selaria
Processo produtivo
de selas para montaria
Adubação verde
tecnologia simples e sustentável
O uso de adubo verde nas lavouras é alternativa eficiente para o produtor
melhorar a fertilidade do solo e aumentar a produção de diversas culturas,
contribuindo para o sucesso da atividade agrícola
Revista Produz - Ano XI l Nº 102 l 2015 l R$ 12,90
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Fotos: Arquivo
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Adubação verde:
técnica para aumentar a produção
Com características que promovem melhorias físicas,
químicas e biológicas do solo, os adubos verdes
representam uma excelente opção para reduzir custos e
fomentar a atividade agrícola
Por Jordana Gomes
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Foto: Arquivo
A
adubação verde é a inclusão de biomassa vegetal
não decomposta ao solo para adubação, recuperação ou preservação da produtividade do mesmo.
Assim, são usadas plantas que apresentam rápido crescimento. O cultivo delas pode ser realizado na mesma área ou em
áreas vizinhas e após seu ciclo vegetativo são incorporadas
ou deixadas sobre o solo. A técnica pode ser utilizada na
plantação de três formas distintas. São elas:
- Em pré-cultivo ou rotação de culturas: quando são
utilizadas antes ou depois de uma cultura para melhorar o
solo e em seguida realizar a plantação;
- Em consórcio: o plantio do adubo verde pode ser realizado de forma conjunta ou na parte final do ciclo da cultura comercial. Neste caso, a espécie de adubo verde escolhida
não deve ser trepadeira, já que, ao ganhar altura, dificultará
os tratos culturais e promoverá redução da área fotossintética da outra cultura, reduzindo a sua produtividade. Esta
alternativa é relevante para pequenos estabelecimentos rurais, pois ajuda no aproveitamento dos recursos naturais e do
espaço físico para o cultivo das espécies;
- Cultivo em faixas: quando se cultivam faixas de leguminosas perenes ou semiperenes, separando talhões de
culturas e as leguminosas são podadas periodicamente para
adubar as culturas.
Em geral, a adubação verde é bastante utilizada para a
produção de hortaliças folhosas, como couve, coentro, cebolinha e alface, pois estas espécies tem grande exigência por
nitrogênio. Assim, a adição de biomassa foliar de leguminosas nos canteiros duplica ou triplica a produção das hortaliças. “Neste caso, as plantas de adubadeiras são cultivadas em
algum local do sítio e no momento da floração são podadas
e trituradas. Em seguida, são misturadas por incorporação
ao substrato que constitui os canteiros”, explica o engenheiro
agrônomo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA), Luiz Augusto Gomes de Souza.
Outras culturas como o café, o cacau, a cana-de-açúcar
e as frutíferas também adotam a tecnologia, sendo que as
leguminosas são plantadas em linhas dentro da área de produção e são podadas com regularidade. O produto da poda
é depositado nas entrelinhas fornecendo cobertura ao solo e
transferindo os nutrientes para os cultivos principais quando a biomassa se mineraliza.
Esse tipo de adubação é constituído por folhas, ramos,
flores, frutos, que após o manejo, por meio da roçada, são
utilizados na cobertura ou incorporados ao solo para serem mineralizados e fornecerem nutrientes às plantas de
importância econômica.
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A adubação verde é uma prática de simples adoção nos
agrossistemas. O maior desafio é o conhecimento dessa técnica. Ao contrário das práticas de compostagem, onde a reposição de nutrientes é feita após a decomposição da matéria
orgânica, a adubação verde é a adição de biomassa fresca,
principalmente folhas. “Se a biomassa for triturada, o mais
usual é que seja incorporada ao substrato dos canteiros. Se
não foi triturada é uma eficiente forma de cobertura do solo,
protegendo-o da erosão e criando uma liteira inspirada na
que existe nas florestas,” acrescenta Luiz Augusto.
Antes de implantar a técnica é necessário conhecer as espécies recomendadas e também se informar em como adquirir sementes. Além disso, recomenda-se escolher as plantas
leguminosas herbáceas e arbustivas.
Vantagens
São vários os benefícios obtidos com a adoção dessa
prática agrícola milenar. A entrada de material vegetal no
solo, por exemplo, promove melhorias físicas, químicas e
biológicas nas áreas de baixa produtividade ou degradadas,
colaborando para o crescimento da porosidade do terreno,
da capacidade de infiltração e da retenção de água. Essa
contribuição de material orgânico aumenta a disponibilidade de nutrientes, principalmente nitrogênio e fornece
alimento e energia para os microrganismos. Um dos fatores que favorece a adubação verde é que através da decomposição das folhas os nutrientes são reciclados, tonando-se
disponíveis para o cultivo quando a biomassa vegetal se
mineraliza no solo.
Além disso, a prática atua no controle biológico por conservação, por meio de modificações da população de insetos
predadores, parasitos e hiperparasitos, funcionando ainda
como fonte de recursos alimentares e abrigo para inimigos
naturais de pragas, controlando as fitomoléstias de solo.
Também contribui para o aumento da diversidade no sistema de produção. Tal diversidade funcional ajuda a manter a
população de pragas e inimigos naturais em equilíbrio.
Na agricultura, a adubação verde consiste em um recurso renovável, que incorpora matéria orgânica no solo e,
principalmente, nitrogênio derivado do processo de Fixação
Biológica de N2 do ar atmosférico (FBN), contribuindo
para a sustentabilidade da unidade de produção.
Segundo informações do engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Ednaldo Araújo, essa
técnica também contribui para o controle do mato; estimula
Citros em consórcio com a
leguminosa feijão-de-porco
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Curso de adubação verde
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Puerária
o aumento da população de insetos benéficos, contribuindo para a polinização das flores; oferece proteção ao solo
quanto à erosão hídrica; eleva o teor de matéria orgânica no
solo; auxilia na atenuação de efeitos relacionados às variáveis
climáticas e ajuda na manutenção da diversidade funcional
nas unidades de produção. “A adubação verde proporciona
melhoria nos aspectos agronômicos, ocasionando aumento
de produtividade das culturas e manutenção da capacidade
produtiva do solo ao longo do tempo”, afirma.
Manejo
Crotalária
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Para conseguir alcançar o máximo dos benefícios que a
adubação verde proporciona, o produtor deve adotar alguns
cuidados visando o bom estabelecimento das plantas adubadoras. Primeiramente, assim como qualquer outra cultura,
antes do plantio é fundamental realizar uma análise do solo.
A calagem, a fosfatagem e a recomendação de adubação de
plantio variam entre as espécies e devem ser realizadas quando necessário, e no caso de sistemas orgânicos, deve-se utilizar os produtos permitidos.
Em relação ao cultivo, ele pode ser feito por sementes,
que podem ser aplicadas a lanço ou também formar as mudas em sistemas tradicionais. Para as espécies mais lenhosas,
a produção de mudas antes do plantio é o sistema de produção mais recomendado. Muitos tipos de adubo verde são
anuais e precisam ser cultivados regularmente. Outros são
perenes e precisam ser podados de maneira frequente.
A utilização de adubos verdes no período de inverno vem
se tornando comum, mas a utilização de espécies de verão
ainda é feita por um número reduzido de agricultores no sul
do País. As altas temperaturas e chuvas que ocorrem durante
o verão permitem alta produção de biomassa, incorporação
de nitrogênio e ciclagem de nutrientes. Assim, a introdução
de leguminosas de verão em sistemas de consórcio ou de rotação de culturas pode incorporar quantidades significativas
de nitrogênio aos sistemas de produção. Existe ainda a possibilidade de associar essa forma de adubação com sistemas de
plantio direto. A formação de grande quantidade de palhada
favorece a proteção do solo e dificulta o estabelecimento de
plantas invasoras.
“Há períodos específicos para o plantio de adubação verde, e por isso as plantas são divididas entre verão e inverno.
Há opção para os dois. É muito específico, e conforme a situação entra uma ou outra espécie de adubo verde, que seja
mais recomendável. O objetivo final dessas plantas é a interrupção do ciclo de pragas, doenças e nematoides, trazendo
economia em defensivos químicos, que são responsáveis pela
maior fatia do custo de produção”, define José Aparecido
Donizeti Carlos, engenheiro agrônomo e diretor comercial
da Piraí Sementes.
Espécies adequadas
A espécie escolhida deve possuir crescimento acelerado,
apresentar boa produção de sementes sem dormência, rus-
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ticidade e colonizar rapidamente solos pobres. A produção
de biomassa vegetal deve ser alta e estes vegetais devem ser
eficientes no controle de plantas daninhas. Outra característica importante para a seleção das espécies é a presença de
raízes profundas, que podem retirar nutrientes de camadas
do solo onde as raízes de culturas tradicionais não conseguem chegar.
As cultivares ideais para a adubação verde é da família
das leguminosas, já que elas possuem maiores teores de nitrogênio nas folhas. Assim, elas compõem um dos principais
e mais importantes grupos de plantas. Segundo informações
da Embrapa Agrobiologia, as leguminosas incorporam as
bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, transferindo-o para
as plantas. Elas também estimulam a população de fungos
micorrízicos, microrganismos que aumentam a absorção de
água e nutrientes pelas raízes.
Os benefícios trazidos pela associação entre leguminosas e bactérias fixadoras de nitrogênio podem ser obtidos
através de práticas como a inoculação de sementes no momento do plantio. O inoculante tem bactérias específicas
para cada espécie de leguminosa, assim não pode ser usado
em outras espécies. É importante evitar o uso de fertilizantes
minerais nitrogenados ou de agrotóxicos junto às sementes
inoculadas, pois essas substâncias podem ser tóxicas para as
bactérias fixadoras.
Os nutrientes fundamentais para o desenvolvimento
das plantas para completarem o seu ciclo de vida, em maior
quantidade, precisa de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,
magnésio e enxofre. Em menor quantidade, é necessário cloro, boro, zinco, cobre, ferro, molibdênio e manganês. Como
a matéria orgânica vegetal incorpora todos esses nutrientes
em sua formação, quando ela se decompõe, entrega de volta esses nutrientes para o solo e assim se tornam disponíveis
para outras plantas.
Distribuídas mundialmente nos trópicos úmidos, nas
regiões temperadas, nas zonas áridas, na vegetação de altitude ou montanhosa, nas savanas e nas terras baixas, as espécies dessa família têm diversos hábitos de crescimento: são
árvores, arbustos, cipós e ervas, sendo encontradas nos mais
variados ambientes. Estimativas mundiais sobre a biodiversidade das leguminosas indicam mais de 19 mil espécies,
que estão classificadas em três subfamílias: Caesalpinioideae, Mimosoideae e Faboideae, dependendo do tipo de flor.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA), calcula-se que no Brasil, 15 % de tais
cultivares crescem nos diferentes ecossistemas, pois foram
registrados 198 gêneros e 3.100 espécies.
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Na agricultura brasileira, as espécies de leguminosas
mais empregadas na adubação verde são: mucuna-preta, feijão-de-porco, puerária, crotalária, entre outras. Aquelas que
crescem espontaneamente nas propriedades agrícolas também podem ser aproveitadas para esse fim. Sobre as espécies
mais comuns é possível frisar as seguintes características:
- Crotalária: é um grupo variado de espécies eficientes
na recuperação de solos degradados e algumas têm origem
americana. Além disso, é cultivada para o controle de nematoides em solos infestados, inviáveis para a produção de
muitas hortaliças. Após o cultivo, a capacidade produtiva de
solo se restabelece com a redução da população de nematoides. A espécie fixa até 450 kg/ha/ano de nitrogênio e produz
cerca de 30 t/ha de fitomassa verde. Não podem ser usadas
como forrageiras já que possuem alguns alcaloides tóxicos
para animais e para os homens nas sementes. Entretanto por
serem plantas arbustivas de crescimento excepcional são cultivadas como adubos verdes na região tropical.
- Mucuna-preta (Mucuna pruriens var. utilis): fundamental para captação de nitrogênio, também ajuda na recuperação de solos degradados. A quantidade de biomassa
pode chegar a 50 toneladas por hectare de matéria fresca, o
que repõe a matéria orgânica perdida pelo manejo do solo
contribuindo para sua recuperação. É uma espécie tropical
de origem americana, que tem muitas variedades, sendo que
a mais conhecida apresenta sementes negras.
- Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis): é uma planta agrícola de origem asiática. É anual e precisa ser cultivada regularmente, produzindo vagens brancas que contém
grandes sementes. É muito eficaz em solos pobres e também
serve de alimento para as criações. É uma leguminosa muito
vigorosa e útil em qualquer agrossistema tropical.
- Puerária (Pueraria phaseoloides): também de origem
asiática, é introduzida em toda a região tropical. Tem crescimento indeterminado e é muito manejada em pomares frutíferos, fazendo a cobertura do solo. Entretanto, precisa ser
podada regularmente, já que tem uma tendência de usar as
plantas como suporte e ascender sobre as copas. É uma boa
alternativa para solos bem drenados e para recuperação de
solos degradados.
Segundo informações de José Aparecido Donizeti Carlos, o produtor tem feito o uso incorreto na aplicação das
Crotalárias-spectabilis e ochroleuca, pois o mesmo só vai
semear as coberturas após o plantio do milho, quando a probabilidade de insucesso é grande devido à falta de umidade
para a germinação e desenvolvimento dos adubos verdes.
O especialista acrescenta que para conseguir um bom
Mucuna
resultado na soja é recomendado semear as crotalárias logo
após a colheita da mesma, quando ainda se tem segurança de
umidade suficiente para garantir a germinação e desenvolvimento dos adubos verdes.
O melhoramento genético no País ainda não alcançou
nem as espécies agrícolas de interesse econômico, exceto
aquelas dos cultivos de commodities que alcançam mercados externos. “Felizmente os biomas brasileiros possuem
elevada diversidade em espécies e isso faz com que frequentemente novas espécies sejam apontadas com potencial para
adubação verde”, pontua Luiz Augusto.
Além da crotalária, feijão-de-porco, o feijão-guandu,
feijão-caupi e a mucuna-preta, algumas leguminosas arbóreas tem sido também indicadas como plantas adubadoras,
pois resistem às podas regulares e com isso a biomassa foliar
se renova. Na Amazônia, dentre estas espécies estão o ingá-cipó, a leucena, o sabiá e a palheteira.
Uma pesquisa realizada na Amazônia Central tem
dado atenção para a seleção de plantas já existentes no ambiente agrícola, ensinando os agricultores a identificar essas espécies espontâneas que podem ser aproveitadas como
plantas adubadoras. Isso contribui para a conservação e
preservação das espécies que são somente podadas e que
depois se recuperam.
O interesse dos produtores em relação à adubação verde
vem aumentando, segundo José Aparecido, devido às dificuldades que eles encontram para baixar custos de produção. Além disso, com esse tipo de adubo esses produtores
têm a oportunidade de produzir de forma mais sustentável.
Os resultados obtidos com adubação verde associada à
produção de hortaliças têm sido o ganho de produtividade
e economia de nitrogênio, pois as leguminosas fixam o elemento, dispensando gastos com o adubo. “O mais importante de tudo isso é que, quando se coloca adubo verde na
sucessão de uma cultura comercial tem-se a redução de pragas, doenças e nematoides, resultando em menor custo na
cultura a seguir”, expõe José Aparecido. Ele informa, ainda,
que a adubação verde é indicada para todas as culturas, sem
exceção, mas em hortaliças o resultado é mais evidente.
Considerações
De acordo com dados da Embrapa Agrobiologia, os
técnicos devem esclarecer para os produtores rurais que as
vantagens arrecadadas pela adubação verde nem sempre são
imediatas, repercutindo de forma mais evidente em médio e
em longo prazo. No entanto, esses benefícios são diferentes,
pois influenciam nos aspectos dos agroecossistemas, com
um efeito superior ao da adubação mineral nitrogenada.
Ainda é necessário estudar sobre a utilização de leguminosas herbáceas tropicais, pois em muitas regiões é fundamental a escolha de espécies mais apropriadas para aquelas
condições edafoclimáticas. Também é importante buscar estratégias de manejo que permitam aumentar a sincronização
entre a liberação de nutrientes pelos resíduos das leguminosas e a demanda desses nutrientes pela cultura principal.
O sucesso da adoção da adubação verde depende do esclarecimento de tais pontos, associado à formação de áreas
cultivadas com adubos verdes para a produção de sementes.
Assim será possível potencializar os benefícios como o aumento da sustentabilidade nos agroecossistemas. P
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