PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DE Bougainvillea

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PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DE Bougainvillea
PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DE Bougainvillea spectabilis Willd POR
ESTAQUIA COM ADIÇÃO DE ÁCIDO INDOLBUTÍRICO
Vanessa Padilha Salla 1,2, Amanda Pacheco Cardoso Moura1,2, Daniela Fernanda Zulian1, Rosângela Aparecida
Botinha Assumpção3, Daniela Macedo de Lima 4
Resumo
O objetivo foi avaliar o enraizamento de estacas de Bougainvillea spectabilis com a adição de diferentes
concentrações de ácido indolbutírico. O experimento foi conduzido na UTFPR-DV, no período de Julho a
Setembro de 2011. Estacas foram confeccionadas a partir de ramos semi-lenhosos com de 10 cm de
comprimento, corte em bisel na base e reto acima da gema axilar, com superfície foliar reduzida a metade. As
bases das estacas foram imersas em soluções alcoólicas (50%) de diferentes concentrações de AIB (0, 1000,
2000 e 3000 mg L-1), por 10 segundos. O plantio foi realizado em tubetes de 53 cm³ contendo vermiculita de
granulometria fina. O experimento foi inteiramente casualizado com 4 tratamentos e 4 repetições de 16 estacas
por parcela. Aos 60 dias foram avaliadas as variáveis: porcentagem de estacas enraizadas, com brotações, mortas
e vivas, número e comprimento de raízes e número de brotações por estaca. As estacas de B. spectabilis
apresentaram baixas porcentagens de enraizamento. As estacas não responderam à aplicação de AIB até a
concentração 3000 mg L-1. Os elevados índices de sobrevivência das estacas aos 60 dias permitem inferir que a
permanência no leito de enraizamento por maior período de tempo pode resultar em maior porcentagem de
enraizamento.
Palavras chaves: três-marias, auxina, enraizamento.
VEGETATIVE PROPAGATION OF Bougainvillea spectabilis Willd CUTTING
IN ADDITION WITH IBA
Abstract
The objective was the rooting of Bougainvillea spectabilis cuttings with the addition of different concentrations
of IBA. The experiment was conducted at UTFPR-DV in the period July to September 2011. Cuttings were
made by semi-hardwood branches with size of 10 cm, diagonal cut on the base and straight above the axillary
bud to leaf surface by half. Then the base of the cuttings were immersed for 10 seconds in alcoholic solutions
(50%) with different concentrations of IBA (0, 1000, 2000 and 3000 mg L-1) and planted in tubes of 53 cm³
containing vermiculite fine grained. The experiment was completely randomized with four treatments and four
replications of 16 cuttings per plot. At 60 days following variables were evaluated: percentage of rooted cuttings,
budding, cuttings dead and alive, number and root length and number of shoots per cutting. Cuttings of B.
spectabilis had low rooting percentages. The cuttings have not responded to the application until the
concentration of IBA 3000 mg L-1. The high survival rates of cuttings at 60 days allow us to conclude that
staying in bed rooting for a longer period of time can result in a higher percentage of rooting.
Keywords: três-marias, auxin, rooting.
INTRODUÇÃO
Originária do Brasil e pertencente à família Nyctaginaceae, a primavera (Bougainvillea spectabilis
Willd.), também conhecida como três-marias ou flor-de-papel, buganvília, é considerada uma espécie rústica,
sendo pouco exigente em cuidados. Suas são flores coloridas embora não sejam exatamente as flores, e sim
brácteas (folhas modificadas) que envolvem as verdadeiras flores, que são pouco vistosas e amareladas. (FLOR
NO MEU JARDIM, 2010).
Esta família é composta por espécies com porte de ervas, arbustos, árvores ou lianas, suas folhas são
alternas ou opostas, simples e não possuem estípulas, suas inflorescências, são cimosas em geral e suas flores
podem ser vistosas ou não, sendo que no caso do gênero Bougainvillea possuem em torno de suas flores brácteas
vistosas. A família Nyctaginaceae possui distribuição pantropical com um total de aproximadamente 30 gêneros
e 400 espécies, só no Brasil ocorrem em torno de 10 gêneros e 70 espécies. Muitas são as espécies com potencial
ornamental pertencentes a esta família como é o caso das primaveras (Bougainvillea sp.) e a maravilha
(Mirabilis japala) (SOUZA; LORENZI, 2008).
1
Acadêmico(a) do curso de Engenharia Florestal, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos (UTFPR-DV).
Bolsista da FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA/UTFPR – Brasil.
3
Matemática, Doutora, UTFPR-DV, Estrada para Boa Esperança, km 04, Dois Vizinhos – PR. [email protected].
4
Bióloga, Doutora., UTFPR-DV, Estrada para Boa Esperança, km 04, Dois Vizinhos – PR. [email protected].
2
STUMPF (2010) relatou que quando adulta, a primavera pode atingir de 5 a 10 m de altura, sendo um
arbusto de fácil adaptabilidade a qualquer clima e resistente a mudanças de temperatura. As folhas são ovais
acuminadas de textura fina e as flores são pequeninas de cor branca-amarelada envolvidas por três brácteas
coloridas apresentando colorações branca, rosa claro, coral, carmim, púrpura, alaranjada e amarelo ouro,
formando grande inflorescência nas pontas dos ramos.
A propagação de três-marias pode ser feita por meio de estaquia de ramos podendo estes serem tratados
com reguladores vegetais e colocados em diferentes substratos mantidos úmidos e também por meio da técnica
de alporquia (STUMPF, 2010).
A propagação vegetativa por meio de estaquia apresenta algumas vantagens, pois é uma técnica simples
com custo baixo, proporcionando assim a produção de um elevado número de mudas em um curto espaço de
tempo,bem como a uniformidade das mudas e redução do período de juvenilidade das mudas produzidas
(HARTMANN et al., 2002). Porém esta técnica mostra algumas desvantagens quando se trata da obtenção de
material de propagação viável, no que se diz respeito à boa capacidade de enraizamento e posterior adaptação a
campo (FERRARI et al., 2004).
De acordo com FACHINELLO et al. (1994) e HARTMANN et al. (2002) a propagação vegetativa
apresenta inúmeras vantagens quando comparada a propagação por meio de sementes, isso porque a técnica é
considerada de baixo custo, rápida e simples, podendo obter muitas plantas de uma única planta-matriz em um
curto período de tempo. As novas plantas (mudas) são uniformes e possuem as mesmas características da planta
doadora, reduzindo com isso o período de juvenilidade das plantas produzidas.
De uma maneira geral, a propagação vegetativa se constitui numa ferramenta técnica de extrema
importância, permitindo a reprodução fiel dos indivíduos que apresentem características desejáveis de adaptação
às condições adversas de arborização de ruas, ou seja, que resistam as condições de baixa compactação ou
aeração do solo, às pragas e doenças à poluição do ar (XAVIER et al., 2003). Pela dificuldade de se encontrar
materiais puros com as características desejáveis ou ideais para um bom substrato, busca-se misturar vários
materiais ou produtos, com intuito de melhorar suas propriedades químicas e físicas (SANTOS et al., 2000).
Associada a essa técnica, a miniestaquia de plântulas recém aclimatizadas ou em produção pode ser uma forma
de reduzir os custos de produção (BANDINELLI, 2009).
Entre as várias estratégias adotadas para o método da estaquia, destacam-se aquelas relacionadas às
práticas culturais da planta-matriz, como controle fitossanitário e adubação, armazenamento prévio ao
enraizamento das estacas e à aplicação de reguladores de crescimento, que são estimulantes para o sucesso do
enraizamento adventício de estacas. Assim, o sucesso do enraizamento depende da temperatura, dos patógenos,
da umidade relativa, do genótipo e das condições de crescimento da planta-matriz bem como a época de coleta
das brotações destinadas ao processo de estaquia (GOULART; XAVIER, 2008).
A formação de raízes em estacas ocorre a partir de modificações morfológicas e fisiológicas dos
tecidos. O início do processo ocorre pela desdiferenciacão de algumas células adultas que retornam à atividade
meristemática e originam um novo ponto de crescimento que pode diferenciar células em primórdios de raízes
que crescem conectados com um novo sistema vascular e rompem o córtex e a epiderme da estaca
(FACHINELLO et al., 2005).
Este trabalho teve por objetivo avaliar o enraizamento de três-marias, com a adição de diferentes
concentrações de ácido indolbutírico.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos,
no período de Julho a Setembro de 2011, nas dependências do laboratório de Fitossanidade e da casa-devegetação do Viveiro Florestal.
O material de propagação utilizado é procedente de uma árvore matriz do Câmpus Dois Vizinhos, da
qual ramos semi-lenhosos foram coletados no período da manhã e acondicionados em um recipiente com água.
Estacas foram preparadas estacas com t 10 cm de comprimento, corte em bisel na base e reto acima da gema
axilar, sendo a superfície foliar reduzida pela metade. As bases das estacas foram imersas em soluções alcoólicas
(50%) de diferentes concentrações de AIB (0, 1000, 2000 e 3000 mg L-1) por 10 segundos. O plantio foi
realizado em tubetes de 53 cm³ contendo vermiculita de granulometria fina. As bandejas foram mantidas em
casa-de-vegetação com três irrigações diárias de 15 minutos.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro
repetições de 16 estacas por parcela. Aos 60 dias após o plantio foram avaliadas as variáveis: porcentagem de
estacas enraizadas, vivas não enraizadas, com brotações e mortas, número e comprimento médio de raízes
formadas por estaca (cm) e número médio de brotações por estaca.
Para testar a homogeneidade das variâncias utilizou-se o teste de Bartlett. Para a comparação de médias,
os dados foram submetidos ao teste Tukey ao nível de 5% de significância. Para a realização da análise
estatística foi utilizado o programa ASSISTAT 7.6 beta, licenciado pelo Professor Doutor Francisco de Assis
Santos e Silva, Departamento de Engenharia Agrícola do CTRN, Universidade Federal de Campina Grande,
Paraíba, Brasil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à porcentagem de estacas enraizadas não foi constatada diferença significativa ente as
concentrações de AIB testadas (Tabela 1). No entanto, verificou-se o dobro da porcentagem de enraizamento
(40,62%) para o tratamento 2000 mg L-1 , quando comparado à testemunha (20,31%), o que demonstra que a
aplicação de auxina promoveu o enraizamento de três-marias.
Mindêllo Neto et al. (2005), em estudos realizados com oito cultivares de nectarineiras (Armking,
Branca, Colombina, Fla-72, Mara, Sunblaze, Sunred e Sunrip), observaram que não houve diferença quanto a
porcentagem de enraizamento , entre as cultivares e as concentrações de AIB (0, 1000, 2000 e 3000 mg L-1)
utilizadas. Os melhores percentuais de enraizamento foram obtidos com as cultivares Armking, Branca, Fla-72,
Sunred e Sunrip (de 30 a 35%), e os piores resultados foram observados nos cultivares Colombina e Sunblaze
(abaixo de 10%), o que demonstrou que a diferença de potencial de enraizamento em diferentes genótipos pode
influenciar no processo de emissão de raízes. Em trabalho realizado por Caldatto et al. (2002), com a aplicação
de AIB na estaquia de quaresmeira no inverno (junho), obtiveram resultados de enraizamento (37,50%) na
testemunha considerados razoáveis, não havendo diferença significativa entre tratamentos de 0, 1000, 2000 e
3000 mg L-1 de AIB testados.
Tabela 1 – Porcentagem de estacas enraizadas, número e comprimento médio de raízes formadas por estaca de B.
spectabillis. UTFPR, Dois Vizinhos – PR, 2011.
Table 1 – Percentage of rooted cuttings, number and average length of roots per cutting B. spectabillis. UTFPR,
Dois Vizinhos - PR, 2010.
Concentração AIB (mg L-1)
EE (%)
NR
CRE (cm)
0
20,31 a
4,71 a
8,32 a
1000
35,93 a
4,48 a
6,02 ab
2000
40,62 a
5,21 a
5,95 ab
3000
39,06 a
7,82 a
5,34 ab
Média
33,98
5,55
6,41
CV (%)
44,18
36,29
18,59
Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
EE = estacas enraizadas; NR = número médio de raízes por estaca; CRE = comprimento médio de raízes por
estaca; CV = coeficiente de variação.
Para o número médio de raízes não houve diferença significativa entre os tratamentos testados, embora,
numericamente, foi possível verificar um aumento considerável no número de raízes para os tratamentos 2000
(5,21) e 3000 mg L-1 (7,82) (Tabela 1). Segundo Fachinello et al. (1994) a utilização de reguladores de vegetais
como auxinas, tem a finalidade de aumentar a porcentagem de enraizamento, bem como, acelerar sua iniciação e
aumentar o número e qualidade das raízes, o que não foi verificado neste experimento, pois a variável número
médio de raízes por estaca não foi influenciada pelos tratamentos aplicados.
A média geral para esta variável foi de 5,55 raízes por estaca, estes resultados são corroborados por
Yamamoto et al. (2010), em experimento com estacas de goiabeira (Psidium guajava L.) tratadas com AIB, no
qual a espécie apresentou em média 5,73 raízes por estaca. Pescador et al. (2007) também alcançaram resultados
semelhantes com pariparoba (Piper mikanianum (Kunth) Steud var. mikanianum), os quais obtiveram
aproximadamente 5,00 raízes por estaca com aplicação de 1000 mg L-1 de AIB, em substrato vermiculita.
Os resultados obtidos no presente trabalho corroboram os de diversos autores, ao realizarem
experimentos de estaquia com a aplicação de AIB, como Martins et al. (2001) em estudo com a espécie de
jambeiro-rosa Syzygium malacensis), Althaus-Ottmann et al. (2006) com a espécie manacá, (Brunfelsia uniflora
(Pohl.) D. Don), Bortolini et al. (2008) e Nienow et al. (2010) em experimentos com quaresmeira (Tibouchina
sellowiana (Cham.) Cogn.). Em contrapartida, outros estudos revelaram a influência do AIB nesta variável,
como é o caso de Pio et al. (2005), que relataram resultados positivos pela adição do regulador, sendo a
concentração 3000 mg L-1 responsável pela obtenção de maior número de raízes emitidas (10,00) em oliveira
(Olea europaea L.). Mayer et al. (2008), em estudos sobre o enraizamento de estacas de caliandra (Calliandra
brevipes) utilizando 0 mg L-1, 500 mg L-1, 1000 mg L-1, 1500 mg L-1 e 2000 mg L-1 de AIB, observaram maior
número de raízes em presença do regulador vegetal, obtendo 5,00, 9,00, 8,00, 8,00 e 10,00 raízes por estaca,
respectivamente.
Em relação ao comprimento médio de raízes por estaca também não foi obtida diferença estatística entre
os tratamentos, entretanto, o melhor resultado foi observado para a testemunha (8,32 cm), enquanto que para o
tratamento 3000 mg L-1 verificou-se o menor comprimento médio de raízes (5,34 cm) (Tabela 1). Lima et al.
(2011) obtiveram médias semelhantes entre os tratamentos testados em estacas de espinheira-santa (Maytenus
muelleri Schwacke), tendo a testemunha se mostrado numericamente maior (3,07 cm) aos tratamentos com AIB,
para em experimento realizado na primavera. Já Bortolini et al. (2007) verificaram o maior comprimento médio
de raízes por estaca com a utilização de 500 mg L-1 de AIB para a espécie Kudzu (Pueraria lobata (Willd)
Owhi) em experimento realizado no outono. Isso mostra que esta variável é dependente de vários fatores que
variam de acordo com a espécie, época do ano dentre outros, sendo necessários estudos mais aprofundados com
a espécie em questão.
Rocha et al. (2004) obtiveram, com aplicação de AIB (0, 1000, 2000 e 3000mg L-1), médias para o
comprimento de raízes de 7,1 cm, 2,0 cm e 2,6 cm para estacas de espirradeira (Nerium oleander L.) das
variedades rosa simples, rosa dupla e branca, respectivamente. Já Cunha et al. (2012) encontraram resultados de
aproximadamente 1 cm, 1,5 cm e 2,5 cm para a espécie de canelinha (Croton zehntneri Pax et Hoffm), nas
concentrações 1000, 2000 e 3000 mg L-1, respectivamente.
Os resultados obtidos neste experimento com a espécie B. spectabillis demonstraram que o emprego de
AIB apresentou resultados inversamente proporcionais aos esperados. Contudo, Oliveira (2002) afirmou que a
utilização de reguladores vegetais, além de induzir a formação de raízes, pode antecipar o processo de
enraizamento, com isto a estaca tem a possibilidade de permanecer por maior período de tempo no substrato,
havendo estímulo para seu crescimento. O autor ainda afirma que o AIB teria um efeito indireto sobre a variável
em questão, indicando que o uso de auxina pode manifestar efeito ou não nesse caso.
Juntamente com a porcentagem de enraizamento, as variáveis número e comprimento médio de raízes
por estaca são de extrema importância para o vigor das mudas a serem transplantadas para o campo (CAMPOS
et al., 2005). A sobrevivência das mudas a campo depende da qualidade do sistema radicial, sendo a presença de
raízes numerosas e bem desenvolvidas determinantes nesse processo (REIS et al., 2000; LIMA et al., 2006;
LIMA et al., 2011).
A sobrevivência das estacas foi elevada, sendo numericamente maior para a testemunha (73,44%),
todavia, não sendo verificada diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 2). Estes dados divergem
daqueles obtidos por Betanin e Nieow (2010), com a espécie corticeira-da-serra (Erythrina falcata Benth.), para
a qual os autores obtiveram aos 64 dias uma média de sobrevivência de 30,60%, com aplicação das mesmas
concentrações de auxina testadas em três-marias. Almeida et al. (2008) relataram resultados de sobrevivência de
estacas de jambeiro vermelho (Syzygium malaccense L) semelhantes aos verificados neste trabalho, com médias
de 59,31%, 59,58% e 44,30% nas concentrações 0, 1000 e 3000 mg L-1, respectivamente.
Os elevados índices de sobrevivência verificados em todos os tratamentos testados, bem como as baixas
taxas de mortalidade, podem indicar um atraso no enraizamento das estacas dessa espécie, ou ainda que a
permanência no leito de enraizamento por maior período de tempo resultaria em maior porcentagem de
enraizamento das mesmas (LIMA et al., 2006). Estes resultados obtidos para três-marias provavelmente estão
relacionados aos fatores ligados a planta matriz como teores de carboidratos, idade, condições fisiológicas, bem
como nutrição mineral (MATIAS et al., 2007), sendo necessários, portanto, novos estudos com esta espécie,
nestas e em outras condições, para obtenção de informações sobre as características fisiológicas e de técnicas de
propagação vegetativa para a produção de mudas da mesma.
Tabela 2 – Porcentagem de estacas vivas, porcentagem de estacas mortas, porcentagem de estacas com brotações
e número médio de brotos por estaca de estacas de B. spectabillis. UTFPR, Dois Vizinhos – PR, 2010.
Table 2 – Percentage of live cuttings, percentage of dead cuttings, percentage of cuttings with leaves and number
of leaves per cutting cuttings of B. spectabillis. UTFPR, Dois Vizinhos - PR, 2010.
Concentração AIB (mg L-1)
EV (%)
EM (%)
EB (%)
NBE
0
73,44 a
6,25 a
93,71 a
7,73 a
1000
57,81 a
6,25 a
93,75 a
8,07 a
2000
53,12 a
6,25 a
93,75 a
8,04 a
3000
53,13 a
7,81 a
92,12 a
13,92 a
Média
59,38
6,64
93,33
9,44
CV (%)
24,97
70,59
5,02
13,92
Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
EV = estacas vivas; EM = estacas mortas; EB = estacas com brotações; NBE = número médio de brotações por
estaca; CV = coeficiente de variação.
Para a porcentagem de estacas mortas foram observados baixos índices para a espécie, não havendo
diferença estatística significativa entre os tratamentos, sendo a maior mortalidade observada para a concentração
3000 mg L-1 (7,81 %) (Tabela 2). Em estudos realizados por Bortolini (2010), com Kudzu (Pueraraia lobata
(Willd) Ohwi), a testemunha atingiu o maior índice de mortalidade (57,29%), diferindo significativamente dos
tratamentos 500 mg L-1 (37,50%) e 1500 mg L-1 (31,77%). Para Machado (2005), em estudo com porta-enxerto
de videira ‘VR043-43’ (Vitis vinifera x Vitis rotundifolia), a percentagem de estacas mortas foi menor na
ausência de AIB (2,5 %), enquanto que a maior concentração da auxina (3000 mg L-1) ocasionou maior índice de
mortalidade (43,80%).
Quanto à percentagem de estacas com brotações não houve diferença significativa entre as
concentrações testadas, com uma média geral de 93,33%, (Tabela 2). Já para FRANZON et al. (2004) em
estudos com estacas de goiabeira-serrana (Acca sellowiana Berg.) de 12 e 18 cm de comprimento, verificou que
para a porcentagem de estacas de ambos os comprimentos não houve diferença estatística significativa entre as
concentrações de AIB testadas (0, 2000, 4000 ou 8000 mg L-1). Porém, ele observou que houve uma maior
tendência em ocorrer brotações com estacas de 12 cm de comprimento, na presença 2000 mg L-1 de AIB,
ressaltando que concentrações de auxina mais elevadas poderiam ocasionar efeitos fitotóxicos.
Em relação ao número médio de brotações não houve diferença estatística (Tabela 2), entretanto, foi
observada a tendência de formação de maior número de brotações para a concentração 3000 mg L-1 (13,92), a
qual diferiu numericamente dos demais tratamentos, sendo constatada a formação de quase o dobro de brotações
nesse tratamento, quando comparado à testemunha (7,73).
CONCLUSÃO
Levando-se em consideração as condições em que o presente trabalho foi realizado, conclui-se que:
As estacas de três-marias apresentaram baixas porcentagens de enraizamento.
As estacas não responderam à aplicação de AIB até a concentração 3000 mg L-1.
Os elevados índices de sobrevivência das estacas aos 60 dias permitem inferir que a permanência no
leito de enraizamento por maior período de tempo pode resultar em maior porcentagem de enraizamento.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Fundação Araucária/UTFPR – Brasil
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