VIH/SIDA - Associação da Hotelaria de Portugal

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VIH/SIDA - Associação da Hotelaria de Portugal
Dezembro 2015 | Nº21 | Mensal | Este jornal é gratuito, pelo que não pode ser comercializado | Diretora-geral: Ana Gaspar
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VIH/SIDA
Os primeiros casos de SIDA foram diagnosticados em
Portugal há 32 anos. Nestas três décadas muito mudou:
hoje é uma doença crónica e a generalidade da população
sabe quais são as vias de transmissão do VIH e as formas
de o evitar. No entanto, anualmente surgem cerca de
1.400 novos casos. Igualmente importante é combater a
descriminação que persiste. Pág.8
Iniciar as refeições com sopa ou salada
é uma boa opção
Manter o músculo ativo é essencial
para o tratamento
Bacalhau com natas, rabanadas e bolo-rei
são algumas das iguarias mais apreciadas
pelos portugueses no natal. Nesta altura é
comum exagerar na alimentação e nas bebidas, sendo o aumento de peso, descontrolo
dos valores de tensão arterial e má disposição as principais consequências. Pág.6
Desconhecida por grande parte da
população, esta é uma doença crónica,
inflamatória e degenerativa que afeta
o sistema nervoso central. Surge
habitualmente no adulto jovem, entre
os 20 e os 40 anos, e deixa o portador
dependente do seu cuidador. Pág.12
EXCESSOS ALIMENTARES
NAS ÉPOCAS FESTIVAS
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A ESCLEROSE MÚLTIPLA CAUSA
INCAPACIDADE PRECOCE
BREVES
APLICAÇÃO PARA DISPOSITIVOS
MÓVEIS AJUDA-A A AMAMENTAR
O início do aleitamento materno pode ser complexo para algumas mães. A Medela, empresa líder no desenvolvimento e produção de produtos para o aleitamento, lançou uma aplicação
para dispositivos móveis MyMedela, que orienta os pais antes,
durante e depois do parto e lhes fornece um guia prático para
tornar a experiência do aleitamento materno mais satisfatória.
Os profissionais da Medela afirmam que, apesar de a mãe ter
de regressar ao trabalho pouco tempo depois do parto, com
planificação, é possível combinar com êxito trabalho e aleitamento. A nova aplicação ajuda a melhorar a qualidade de vida
das mães de bebés lactantes.
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FICHA TÉCNICA
Esta edição é de distribuição gratuita,
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As opiniões, notas e comentários são da exclusiva
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Parcerias
SUPERALIMENTOS ESTIMULAM
A IMUNIDADE NATURAL DO ORGANISMO
Existem alimentos que, pela sua riqueza nutricional, são excelentes aliados no reforço do sistema imunitário. Devido ao seu elevado teor em vitaminas, minerais e antioxidantes, o açaí, o camu
camu, a erva de trigo ou goji, são eficazes no fortalecimento
das defesas naturais do organismo, tornando-se especialmente
úteis nesta época do ano para prevenir gripes e constipações.
Introduzidos regularmente na alimentação, estes superalimentos
aumentam a imunidade e previnem as infeções. Incluídos em
batidos, iogurtes, leite ou misturados em sopas, tornam-se um
complemento prático e saboroso que constitui uma opção saudável para a alimentação diária.
AUTORIDADES DE SAÚDE ALERTAM PARA PROBLEMA DA RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS
Utilizados para combater infeções bacterianas, os antibióticos
contribuíram para a redução dramática da mortalidade. No entanto, a sua eficácia encontra-se hoje altamente ameaçada pela
crescente presença de bactérias resistentes, que os tornam ineficazes. A resistência aos antibióticos tem um enorme impacto
na saúde pública, causando maior mortalidade e infeções mais
agressivas. Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde calcula que
um em cada dez doentes contraia uma infeção nas unidades de
saúde nacionais, muito acima da média da União Europeia. Para
estes números contribuem a má utilização dos antibióticos e as
práticas de diagnóstico e profilaxia desadequadas. O problema
deve-se essencialmente à prescrição, consumo excessivo e inadequado de antibióticos.
PORTUGAL TEM TAC
MAIS POTENTE DO MUNDO
O Hospital Lusíadas Lisboa é o primeiro hospital do país a disponibilizar um aparelho inovador de TAC (tomografia computorizada) que permite um diagnóstico mais rápido e seguro de
várias doenças. Este novo equipamento possibilita a realização
de uma TAC em crianças sem necessidade de sedação, na
maioria das vezes, e está adaptado a doentes com fibrilhação
auricular, arritmias ou próteses. Para além de único em Portugal,
este equipamento é o segundo na Península Ibérica (o primeiro
está em Barcelona) e junta-se aos apenas 30 que existem em
toda a Europa.
Créditos: Thinkstock
EDITORIAL | DEZEMBRO 2015
A INFEÇÃO POR VIH EM PORTUGAL E AS METAS PARA 2020 E 2030
Nos últimos anos, a epidemia de VIH em Portugal tem conhecido uma evolução francamente positiva traduzida, sobretudo, no menor número de novos casos e no diagnóstico mais precoce da infeção.
Contudo, esta evolução ainda não é suficiente para, também em Portugal, alcançarmos as metas definidas pela ONUSIDA
para 2020: diagnosticar 90% das pessoas infetadas, tratar 90% das pessoas diagnosticadas e assegurar que 90% das
pessoas em tratamento têm a infeção controlada. Se o conseguirmos nos próximos cinco anos, então teremos condições
para, até 2030 e de acordo com aquela organização, conseguirmos o segundo objetivo: eliminar a infeção por VIH como
uma ameaça à saúde pública.
É nesta perspetiva que, em Portugal, o PN VIH/SIDA tem impulsionado o diagnóstico cada vez mais precoce da infeção
por VIH (em diferentes contextos e abrangendo quer a população em geral quer as populações chave), aprovou a indicação de tratamento de todas as pessoas infetadas, independentemente do seu estado imunológico e que começou a
abordar, institucionalmente, novas perspetivas de prevenção da transmissão da infeção por VIH assegurando, simultaneamente, a todos que o solicitam, a distribuição gratuita de material preventivo da transmissão do VIH.
“Prevenir sempre, diagnosticar cedo, tratar todos” foi o tema da Conferência realizada em Lisboa no mês de novembro
mas tem de ser, sobretudo, o caminho a seguir para alcançar aqueles objetivos. Este caminho tem de ser percorrido com
todos os que desenvolvem a sua atividade nesta área, envolvendo todas as pessoas infetadas ou afetadas pela infeção
por VIH e sem deixar ninguém para trás porque assumimos que alcançar “zero discriminação” constitui um pilar da nossa
atuação e um elemento crítico de sucesso em relação às metas acima referidas.
Se procedermos desta forma, acredito que conseguiremos alcançar objetivos definidos para 2020 e, em 2030, Portugal
também será um país onde a infeção por VIH já não constituirá uma ameaça à saúde pública.
António Diniz | Diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA
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OPINIÃO | MEDICAMENTOS
DIABETES MELLITUS : A AVALANCHE
QUE PARECE NÃO PARAR
A Diabetes configura uma condição
com importantes e graves
implicações sociais, económicas
e humanas. Considerando a
população diabética diagnosticada
em Portugal, os custos totais
associados a esta doença
ascenderam, em 2014, aos 862
milhões de euros.
duas a quatro vezes superior para desenvolver doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares e arteriais periféricas é por si só revelador da grandeza deste verdadeiro
problema de saúde pública.
No limite, caso todos os doentes diabéticos portugueses
estivessem de facto diagnosticados e devidamente tratados, os custos totais associados à doença atingiriam
a inimaginável soma de mil e quinhentos milhões euros,
o que ascenderia a 0,9% do PIB português ou 10% da
despesa total do país em Saúde. Não obstante, o subdiagnóstico representa uma muito maior preocupação.
As complicações da Diabetes, apesar de potencialmente
fatais e responsáveis por uma deterioração significativa
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Os dados recolhidos pelo Observatório Nacional da Diabetes contribuem para que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) conclua
que Portugal é o país da Europa com a mais alta taxa de
prevalência desta doença, estimando-se que esta mantenha uma tendência de crescimento durante os próximos anos.
A Diabetes configura uma condição com importantes
e graves implicações sociais, económicas e humanas.
Considerando a população diabética diagnosticada em
Portugal, os custos totais associados a esta doença ascenderam, em 2014, aos 862 milhões de euros.
Para estes números tem contribuído não apenas o aumento da cobertura assistencial, com mais doentes
diagnosticados e tratados, mas sobretudo um aumento
significativo dos gastos com medicamentos nos últimos
anos, em que foram disponibilizadas novas e mais dispendiosas opções farmacológicas para o controlo da
doença. Efetivamente, o incremento dos custos dos antidiabéticos orais e insulinas tem sido muito significativo, observando-se um crescimento de 260% na última
década. Em 2014, os encargos do Sistema Nacional de
Saúde (SNS) com fármacos antidiabéticos superaram os
200 milhões de euros, constituindo mesmo o subgrupo
farmacoterapêutico com maiores encargos para o SNS.
Perante estes dados, e especialmente considerando a
tendência de crescimento da prevalência, facilmente se
compreende que a Diabetes retenha sobre si por estes
dias muitos dos holofotes mediáticos, não representasse
pois uma das mais sérias ameaças à sustentabilidade
financeira do SNS.
Esta propalada ameaça é tão mais alarmante quando o
Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes
nos revela que existirão aproximadamente 400 mil doentes por diagnosticar, calculando-se também que surjam
em Portugal cerca de 55 mil novos casos de Diabetes
por ano. Será ainda muito relevante referir que, em 2014,
a hiperglicemia intermédia atingiu 27,2% da população
portuguesa com idades entre os 20 e 79 anos, o que
ultrapassa os dois milhões de pessoas que apresentam
um risco elevado de desenvolver Diabetes. O facto de as
pessoas que sofrem de diabetes apresentarem um risco
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Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Diabetes Mellitus é uma condição que resulta de deficiências na secreção e/ou na ação da
insulina que se caracterizam pela ocorrência de hiperglicemia crónica, com distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas.
A doença representa um grave problema de saúde pública em Portugal, com uma prevalência estimada de 13,1% na população com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos. Quer isto dizer que, em 2014, o nosso país contava com mais de um milhão de doentes diabéticos.
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Créditos | Thinkstock; Oficiais
da qualidade de vida dos doentes, podem evoluir de forma assintomática. A persistência de elevados níveis de glucose
no sangue conduz a lesões nos tecidos de vários órgãos, as quais são mais evidentes nos rins, olhos, nervos periféricos e sistema vascular, podendo redundar em neuropatia, retinopatia, nefropatia e doença cardiovascular.
Dados da OCDE indicam que a taxa de hospitalizações por descompensação/complicações da Diabetes observada
em Portugal é bastante inferior à dos restantes países europeus, o que deixa transparecer que, embora pese o desafio
acrescido que representa uma prevalência da doença tão elevada, o sistema de saúde português estará a “tratar bem”
os doentes diagnosticados.
A primeira parte do caminho está feita! Contudo, sabendo-se que os custos da gestão das complicações da diabetes
crescem exponencialmente com a fase de diagnóstico da doença, é fundamental a adoção de medidas que promovam
o investimento na sua deteção precoce, que estará necessariamente associada à prevenção da ocorrência de complicações, a face mais marcante do impacto económico que a diabetes aporta.
Por outro lado, a capacitação do doente, a monitorização adequada dos parâmetros clínicos, a implementação de
estratégias de prevenção (como campanhas educativas em ambiente escolar) ou a implementação do tratamento
farmacológico mais indicado, constituem um grupo de medidas que embora associadas a um aumento direto da
despesa, permitirão porventura alcançar benefícios significativos na saúde dos doentes e marcar um elevado impacto
na redução dos custos globais associados à diabetes, travando assim a avalanche galopante que os números que
caracterizam esta patologia têm vindo a transmitir.
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OPINIÃO | CARDIOLOGIA
“DESMAIOS”: SINAIS DE ALERTA!
A maioria dos “desmaios” são episódios síncopais: perdas de consciência resultantes de uma hipoperfusão (diminuição da circulação
sanguínea) cerebral global e transitória. As síncopes caracterizam-se por serem episódios súbitos, de curta duração e com uma recuperação
completa e espontânea. No entanto, é importante fazer uma avaliação médica de modo a verificar a presença da história familiar ou qualquer
outra característica de risco.
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outra “doença do coração” previamente diagnosticada)
implica um risco acrescido.
A síncope que surge no doente deitado; no contexto de
esforços físicos (sobretudo durante, mas também logo
após o esforço) ou que é precedida de palpitações (sensação do coração a bater descompassado e/ou rápido)
implicam um risco acrescido.
Os doentes com um episódio sincopal devem fazer um
ECG. Este exame, simples e de rápida execução, pode
em alguns casos determinar a causa da síncope, mas
pode, sobretudo, ajudar na estratificação do risco de
morte súbita em doentes com episódios sincopais.
A presença de taquicardia ventricular não mantida, bloqueios bifasciculares; outras perturbações da condução
intraventricular; bradicardia sinusal inadequada; bloqueio
sino-auricular; pré-excitação; intervalo QT longo ou QT
curto; padrão de Brugada ou alterações sugestivas de
displasia arrtimogénica do ventrículo direito implicam um
risco acrescido.
Num doente com um episódio sincopal, a presença de
qualquer uma destas características de risco é um sinal
de alerta e deve motivar uma avaliação médica urgente.
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Os doentes com um episódio sincopal
devem fazer um ECG. Este exame,
simples e de rápida execução, pode
em alguns casos determinar a causa
da síncope, mas pode, sobretudo,
ajudar na estratificação do risco
de morte súbita em doentes com
episódios sincopais.
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As síncopes têm três grandes causas:
1. A síncope cardíaca resulta da presença de alterações estruturais (por exemplo, apertos valvulares) ou do
ritmo cardíaco (demasiado rápido ou lento) que condicionam uma redução do volume de sangue bombeado
pelo coração e consequente redução da pressão arterial, diminuição da perfusão cerebral e perda de conhecimento.
2. A síncope reflexa (ou neuromediada) inclui um conjunto heterogéneo de condições caracterizadas por uma
desregulação intermitente dos reflexos cardiovasculares
responsáveis pela manutenção da circulação sanguínea. Esta desregulação surge em resposta a um evento
desencadeante e resulta numa dilatação do leito vascular (vasodilatação) e/ou redução da frequência cardíaca
(bradicardia), com consequente queda da pressão arterial (por exemplo, a síncope que ocorre com a dor ou a
tirar sangue).
3. A síncope secundária por hipotensão ortostática
(queda da pressão arterial quando um indivíduo se coloca de pé) resulta de um defeito crónico dos reflexos cardiovasculares (por exemplo, nos doentes com diabetes e
envolvimento neurológico) ou de uma redução marcada
do volume intravascular (por exemplo, numa perda de
sangue importante). Nestes casos, quando o doente se
levanta verifica-se uma queda progressiva da pressão
arterial e da perfusão cerebral até à perda de conhecimento.
Nos doentes jovens com síncope reflexa, o prognóstico,
em termos de mortalidade, é excelente e sobreponível à
dos doentes sem episódios sincopaís.
Na síncope por hipotensão ortostática existe uma duplicação da mortalidade. Estes doentes têm doenças
graves associadas e pensa-se que o aumento da mortalidade deve-se não à síncope em sí, mas à presença
destas patologias.
Já a síncope cardíaca, que ocorre em doentes com alterações cardíacas estruturais ou doenças elétricas primárias, deve ser encarada como um possível prenuncio de
morte súbita cardíaca, sendo extremamente importante
detetar e tratar precocemente estes doentes de modo a
minimizar o risco associado.
Existem dados de fácil recolha referentes à história familar e pessoal do doente com síncope; ao contexto da
síncope e no eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações
que podem apontar para a presença de uma síncope
cardíaca e, como tal, alertar para um risco acrescido de
mortalidade.
A presença de uma história familiar de paragem cardíaca reanimada com sucesso ou morte súbita cardíaca
precoce (abaixo dos 45 anos) implicam um risco acrescido de morte súbita cardíaca nos doentes com síncope.
A presença de doença cardíaca prévia (antecedentes de
enfarte do miocárdio; problemas nas válvulas cardíacas;
um coração que não “bombeia” eficazmente ou qualquer
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OPINIÃO | PEDIATRIA
TRATAMENTO REVOLUCIONÁRIO
PARA A DOENÇA PILONIDAL
SACROCOCCÍGEA
Duas vezes mais frequente no sexo masculino, a doença pilonidal sacrococcígea afeta cerca de 0,7% da população mundial, sendo mais
comum nos adolescentes. Independentemente da apresentação, causa significativa mobilidade, com perda de muitos dias de escola.
A cirurgia minimamente
invasiva da doença pilonidal
sacrococcígea tem uma
morbilidade muito reduzida
com um excelente
pós-operatório.
A doença pilonidal parece ser
mais frequente em pessoas
com excesso de peso, com
muito pelo corporal, que
estão sentadas várias horas
por dia, com falta de higiene
e casos na família.
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Descrita há mais de 200 anos, foi durante a Segunda
Guerra Mundial que o termo “doença pilonidal” se generalizou, uma vez que causou milhares de hospitalizações
entre os soldados, nomeadamente nos condutores dos
jipes.
A etiologia da doença pilonidal sacrococcígea continua
por esclarecer. Inicialmente, pensava-se que teria uma
origem congénita. Atualmente, a teoria mais aceite é a
de que se trata de uma doença adquirida a partir da obstrução dos folículos pilosos da região sacrococcígea.
A doença pilonidal parece ser mais frequente em pessoas com excesso de peso, com muito pelo corporal,
que estão sentadas várias horas por dia, com falta de
higiene e com casos na família.
A doença pilonidal manifesta-se geralmente por dor e
tumefação na área sacrococcígea, muitas vezes com
aparecimento de um abcesso local. Nos casos crónicos,
desenvolve-se uma fístula com secreção persistente
que, por vezes, é dolorosa. Seja qual for a apresentação,
é uma doença que causa significativa morbilidade, com
perda de muitos dias de trabalho ou de escola.
O tratamento é cirúrgico e reserva-se para os casos
sintomáticos. A cirurgia tem como objetivos eliminar
a drenagem, obter a cura o mais rapidamente possível e reduzir o risco da recidiva. No entanto, não há
atualmente um consenso quanto à melhor cirurgia.
As cirurgias clássicas incluem a exérese do quisto com ferida aberta ou com encerramento primário.
A primeira opção terá como vantagem um menor risco de
recidiva e a segunda opção poderá permitir um regresso
mais rápido ao quotidiano (três ou quatro semanas), à
custa de um grande risco de recidiva e de infeção.
Há cerca de um ano, foi descrita uma abordagem cirúrgica revolucionária para a doença pilonidal sacrococcígea
utilizando uma câmara de vídeo de reduzidas dimensões. De forma resumida, este instrumento de apenas
meio centímetro, é introduzido no interior do quisto. Um
pequeno canal de trabalho no seu interior permite a re-
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Créditos | Thinkstock; Oficiais
moção dos pelos, a excisão do quisto e dos seus trajetos laterais e a sua ablação por eletrocoagulação. Tudo isto é
realizado utilizando apenas um pequeno orifício na pele. As vantagens desta técnica são enormes: permite um excelente resultado estético (quase sem cicatriz) é praticamente indolor, não há necessidade de cuidados de penso no
pós-operatório e permite um regresso quase imediato às atividades do dia-a-dia. Ao contrário das técnicas cirúrgicas
descritas anteriormente, a cirurgia minimamente invasiva da doença pilonidal sacrococcígea tem uma morbilidade
muito reduzida com um excelente pós-operatório.
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INFORMAÇÃO | VIDA SAUDÁVEL
EXCESSOS ALIMENTARES
DAS FESTAS DE FINAL DE ANO
Bacalhau com natas, bolo-rei, rabanadas e azevias são algumas das iguarias mais apreciadas pelos portugueses no natal. Nas épocas
festivas é comum exagerar na alimentação e nas bebidas, sendo o aumento de peso uma preocupação. Luísa Trindade, nutricionista
do Hospital Lusíadas Porto, deixa algumas dicas que podem ajudá-lo a superar ou a conter excessos.
Por Joana da Silva Vieira
Que alimentos devemos evitar e dar primazia nesta
época?
Na minha opinião podemos comer com moderação sem
ter que evitar nenhum prazer da mesa. Devemos sim ter
o cuidado de introduzir os produtos hortícolas e a fruta
nas refeições, em forma de sopa, cozidos, grelhados,
salteados ou assados, a fim de evitar excessos alimentares. Lembre-se que a apresentação da comida é o nosso
primeiro estímulo. Assim sendo experimente colocar a
fruta laminada ou em espetadas, torna-se mais apetecível do que inteira.
Devemos ter o cuidado de
introduzir os produtos hortícolas
e a fruta nas refeições, em forma
de sopa, cozidos, grelhados,
salteados ou assados, a fim de
evitar excessos alimentares.
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Que consequências podem ter os excessos alimentares cometidos nas festas de finais de ano?
Aumento de peso, descontrolo dos valores de tensão
arterial, descontrolo glicémico nos diabéticos, má disposição, enjoo e enfartamento. No caso dos doentes renais
pode ser muito perigoso, por aumentar os níveis de fósforo e potássio.
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Como se pode colmatar esses excessos?
O exercício físico não deve ser descurado nesta altura e
é preciso ter em conta que os dias festivos são apenas
24 e 25 de dezembro e 31 e 1 de janeiro, ou seja, não se
deve fazer excessos durante todos os dias da semana.
As refeições intercalares ajudam-no a sentir-se mais saciado e com menos fome ao almoço e ao jantar, por isso
devem ser cumpridas rigorosamente.
RECOMENDAÇÕES PARA A CEIA DE NATAL
• Dê preferência ao bolo-rainha, em vez do tradicional bolo-rei, pois não tem as
frutas cristalizadas, contendo menos concentração de açúcar e alimentos funcionais como as oleaginosas;
• Inicie as refeições com uma boa entrada. Sopa ou salada são as melhores alternativas;
• Opte por refeições mais saudáveis e tente reduzir o açúcar e a gordura das
receitas originais;
• Cozinhe apenas em quantidades suficientes para as refeições desses dias, de
modo a não sobrar comida;
• Congele os restos dos bolos para evitar comer durante a semana inteira;
• Pare de comer quando se sente satisfeito.
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Aumento de peso, descontrolo dos valores de tensão arterial,
descontrolo glicémico nos diabéticos, má disposição, enjoo e
enfartamento, são algumas das consequências dos exageros
cometidos nas festas de final de ano.
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Que medidas devemos implementar para eliminar as
toxinas do organismo?
Atualmente, os batidos e sumos detox estão muito na
moda. Constituídos por fruta fresca e produtos hortícolas, estes dão oportunidade da pessoa consumir alimentos saudáveis e ingerir líquidos com mais frequência,
para que os filtros do nosso organismo, como o fígado
e os rins, possam espoliar os excessos. No entanto, não
nos podemos esquecer da importância de beber chás ou
infusões quentes no final das refeições como, por exemplo, gengibre fresco com pau de canela ou chá preto com
folhas de hortelã fresca. Estes são altamente digestivos
e confortam o estômago.
Que hábitos devem ser adotados para recuperar estes excessos?
Recomendo que a pessoa se mexa e faça pequenas refeições, várias vezes ao dia, para evitar o “pecado da
gula”, que todos temos quando estamos com fome e não
resistimos às tentações.
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ESPECIAL | VIH/SIDA
A nível mundial, em 2014 a transmissão sexual correspondeu a mais de 90% dos casos
DE EPIDEMIA A DOENÇA CRÓNICA
Há 32 anos eram diagnosticados em Portugal os primeiros casos de SIDA, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, causada pelo vírus
da imunodeficiência humana, VIH, que enfraquece o sistema imunitário, destruindo a capacidade de defesa em relação a muitas doenças.
Francisco Antunes, Professor Catedrático Jubilado e membro do Conselho Científico da Liga Portuguesa Contra a Sida traça o quadro da
doença na atualidade.
Por Teresa Frederico
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O tratamento está facilmente acessível a todos em
Portugal?
O tratamento é universal e gratuito. Atualmente está
recomendada a TARV a todos os infetados conhecidos
e é fundamental para o controlo da infeção/doença e
da epidemia (a transmissão da infeção por VIH é, substancialmente, reduzida num indivíduo com carga vírica,
sempre indetetável, ao longo do tempo). A adesão é um
fator crucial do sucesso, todavia persistem, ainda, barreiras que a dificultam ou perturbam, principalmente a
necessidade de idas frequentes aos hospitais para levantamento da medicação e, mais recentemente, por
razões não médicas, a substituição de regimes terapêuticos mais simples (por exemplo, de um comprimido/dia)
por outros mais complexos.
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Qual é, atualmente, a esperança média de vida de um
paciente com SIDA?
Nos países com bons níveis de cuidados de saúde
e com acesso universal à terapêutica antirretrovírica
(TARV), em que a expetativa de vida para a população
em geral é de 80 anos, num infetado com boa adesão
ao tratamento e com carga vírica indetetável sustentada
calcula-se que a sobrevida seja idêntica ou um pouco
menor, cerca de cinco anos.
Como é hoje o tratamento? Já é possível tomar um
número reduzido de fármacos diariamente?
Houve uma evolução, fundamentalmente, no sentido da
simplificação: de duas a três tomas de 12-28 comprimidos diários passou-se a uma toma de um comprimido/
/dia, podendo, no futuro, se a investigação em curso
atingir os resultados esperados, simplificar-se ainda
mais, com a administração de uma injeção em cada três
meses.
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Hoje a SIDA é uma doença crónica. Que fatores
contribuíram para isso?
Os progressos registados com a terapêutica para o
vírus da SIDA-VIH permitiram a supressão vírica mantida, com a consequente melhoria da função do sistema imunitário, redução dos novos casos de sida e da
mortalidade que lhe estava associada. A terapêutica
foi, assim, o fator de maior impacto na transformação
de uma doença rapidamente mortal para uma doença crónica. No entretanto, a melhoria da profilaxia das
infeções oportunistas, o aumento da experiência nos cuidados assistenciais aos infetados e o maior acesso aos
cuidados de saúde tiveram, particularmente, nos primeiros tempos da epidemia, o seu papel, com impacto na
sobrevida dos doentes.
A generalidade da população já tem informação
necessária sobre o VIH e a SIDA?
A população já tem a informação suficiente. No
entretanto, não é de mais insistir que a infeção por
VIH é de transmissão sexual, devendo ser incluída
nos programas de ensino sobre educação sexual, nas
escolas, antes da puberdade. Nos mais idosos, em que
o risco de transmissão se mantém, para além dos 50-60
anos, é necessário que se reforce o conhecimento sobre
a transmissão, diagnóstico e prevenção. Dado tratar-se
de uma doença estigmatizante, a discriminação é um
obstáculo ao diagnóstico, pelo que no rastreio devem
ser identificados locais discretos e métodos mais
simples e fiáveis, permitindo a autoavaliação.
Thinkstock
Que testes devem ser feitos e como?
Os testes rápidos de rastreio não permitem o diagnóstico definitivo. Um teste rápido positivo deve ser associado
a uma referenciação hospitalar imediata, de preferência
no próprio dia, por forma a assegurar a confirmação
laboratorial da infeção e o seu acompanhamento numa
unidade hospitalar. Deveria ser realizado, pelo menos,
uma vez na vida e sempre que haja comportamentos
de risco. O acesso aos testes rápidos de rastreio não se
deve limitar aos centros de saúde ou aos hospitais, devendo ser expandidos a locais de proximidade, fixos ou
móveis. Deste modo, a discrição e a confidencialidade
Foto Francisco Antunes por Ricardo Gaudêncio
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ESPECIAL | VIH/SIDA
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Acredita que, pelo facto de ser hoje uma doença crónica, algumas
pessoas levam menos a sério as precauções a ter?
A partir de 2000, um pouco por toda a Europa, particularmente em
homo e bissexuais, verificou-se um crescente abandono das medidas
de precaução recomendadas. As relações sexuais anais em determinadas condições – sem a proteção de preservativos, traumáticas, em
grupo, sob o efeito de metanfetaminas e de drogas inaladas – têm aumentado o risco de transmissão da infeção por VIH e de outras infeções
de transmissão sexual, incluindo a hepatite C.
Estigma e discriminação são hoje os principais obstáculos?
O estigma, a discriminação e outras violações dos direitos humanos,
em infetados por VIH, limitam o acesso aos cuidados de saúde. Atitudes
discriminatórias dificultam, também, o acesso aos testes voluntários de
diagnóstico e ao tratamento. A discriminação é um obstáculo à entrada
no mercado de trabalho – o desemprego é três vezes maior nos seropositivos para VIH do que é reportado nas taxas nacionais –, à segurança
social, aos seguros, à educação e à habitação. Três décadas depois do
registo dos primeiros casos de sida, os infetados por VIH continuam a
ser estigmatizados e discriminados, com impacto na sua saúde física e
mental, pior qualidade de vida, sendo marginalizados como membros
ativos da sociedade.
poderão ser melhor garantidas, levantando, assim, uma
das barreiras à sua utilização.
Em que grupos tem aumentado o VIH?
Até 2013, segundo os últimos dados da Direção-Geral
da Saúde, foram diagnosticados 48.657 casos de infeção por VIH, tendo havido, a partir de 2000, decréscimo
do número de novos casos diagnosticados e declínio
consistente dos casos de SIDA. Do total dos novos casos, a transmissão heterossexual corresponde a 62%;
entre homens que têm sexo com homens a 29%; mantendo-se a tendência de decréscimo entre os utilizadores de drogas injetáveis sendo, em 2013, de 6,9%.
Como acontece a evolução de seropositivo para
doente com SIDA?
Após o contágio, num espaço de algumas semanas, em
cerca de 50% dos casos, pode ocorrer um quadro clínico febril, que regride espontaneamente. Nesta fase a
carga vírica é muito elevada e, por esta razão, o risco de
transmissão de VIH é maior. O sistema imunitário reage
à infeção e consegue controlar, em certa medida, a replicação vírica, mas revela-se incapaz de eliminar o vírus do organismo. Assim, na maioria dos casos, durante
cerca de uma década, de infeção crónica, a replicação
vírica mantida, num seropositivo para VIH sem TARV,
provoca um desgaste no sistema imunitário que, há medida que os anos passam, é cada vez mais acentuado
até ao ponto em que as infeções latentes no organismo,
(contidas no indivíduo saudável pelo sistema imunitário), pela imunodeficiência grave se libertam e emergem
como doenças oportunistas, causadoras da SIDA. O
período de infeção crónica, que precede a SIDA é, em
regra, silencioso do ponto de vista clínico, mas o risco de
transmissão a um parceiro sexual mantém-se (ou através da partilha de agulhas e seringas, em utilizadores de
drogas injetáveis).
No entretanto, não é de mais
insistir que a infeção por VIH é
de transmissão sexual, devendo
ser incluída nos programas de
ensino sobre educação sexual,
nas escolas.
VIH/SIDA
NO MUNDO E EM PORTUGAL
• Segundo a UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/
SIDA), a nível mundial, em 2014, dos 36,9 milhões de infetados por VIH e dos
dois milhões dos novos casos, a transmissão heterossexual correspondeu
a mais de 90% dos casos.
• Em África são as mulheres jovens as mais afetadas; na Europa Ocidental os imigrantes e os homens que têm relações sexuais com homens; na
Europa Oriental os utilizadores de drogas injetáveis; no Sudeste Asiático
os trabalhadores de sexo; e nas Américas são, também, os homens que
têm relações sexuais com homens.
• No Mundo, em 2014, foram reportados 220 mil novos casos de infeções
em crianças (até aos 15 anos), a maioria devido à transmissão mãe-filho,
dos quais 86% na África Subsariana.
• Em Portugal, cerca de 90% dos novos casos de infeção por VIH foram de
transmissão sexual (hetero ou homossexual).
• Em Portugal, o teste para VIH faz parte do painel de exames complementares de diagnóstico na mulher grávida, estando indicada a TARV para todas
as seropositivas. De 2007 a 2013, foram diagnosticados 28 casos de transmissão mãe-filho resultantes, na maioria, do diagnóstico tardio, na altura
do parto ou, ainda, por má adesão da grávida à TARV.
• Em Portugal, as dádivas de sangue são rigorosamente controladas, sendo
o risco de transmissão de VIH, por esta via, praticamente nulo, assim como
pela utilização de agulhas e seringas, fora do contexto dos utilizadores de
drogas injetáveis. O problema da partilha de escova de doentes e lâminas
de barbear, como veículo de transmissão de VIH, não se põe em condições
normais da sua utilização.
DEZEMBRO 2015
9
ESPECIAL | VIH/SIDA
Liga Portuguesa Contra a SIDA celebra 25 anos
É PRECISO COMBATER O “VÍRUS SOCIAL”
A Liga Portuguesa Contra a SIDA (LPCS) nasceu em 1990, “da sociedade civil para a sociedade civil e da necessidade de (in)formar e criar
conhecimento sobre a problemática da infeção por VIH, combatendo o estigma e procurando ir ao encontro das necessidades dos seus
utentes e do Programa Nacional para a Infeção VIH e SIDA”, lembra Maria Eugénia Saraiva, sua Presidente e psicóloga clínica. Este é, portanto,
um momento de celebração mas há ainda muito a fazer.
Por Teresa Frederico
Trabalha na LPCS desde a fundação. Como foram
estes 25 anos?
Têm sido anos de muito trabalho e com a dedicação de
todos, voluntários, sócios e colaboradores e, claro, os
mecenas que nos têm ajudado a cumprir os objetivos
estatutários que traçámos quando nascemos. Ao longo
deste quarto de século, as iniciativas da LPCS e o seu
próprio crescimento estão associados às necessidades
identificadas nas áreas da formação, informação, apoio
e prevenção na sociedade portuguesa face à problemática do VIH e SIDA e outras infeções sexualmente transmissíveis (IST). Com a criação, em 1991, da Linha SOS
SIDA, fomos compreendendo melhor as necessidades
das pessoas infetadas e afetadas e desenvolvendo novas valências de apoio à comunidade [ver caixa].
Ainda há descriminação?
A população portuguesa revela já conhecimentos sobre
as vias de transmissão do VIH, estando mais desperta
para os comportamentos de risco e para como evitá-los. Mas temos que combater o desconhecimento porque muitas são as vezes em que nos deparamos não
só com pessoas a dizerem que já existe vacina como
também cura e aí está o grande desafio de adequar a
mensagem a segmentos da população onde o contágio
por VIH e SIDA tem aumentado (acima dos 50 anos),
mostrando que todos somos vulneráveis, incluindo os jovens que muitas vezes julgam que já sabem tudo e que
nos continuam a chegar com testes reativos. Apesar de
estar associado desde o início à comunidade das artes,
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Entretanto o VIH passou de “sentença de morte”
a doença crónica.
Em 1990, quando as pessoas chegavam à LPCS tinham,
na maior parte dos casos, acabado de receber um diagnóstico que era encarado como uma notícia devastadora
e destrutiva da sua vida. Hoje sentimos que, apesar de
continuar a ser um diagnóstico devastador, as pessoas
que vivem com a infeção por VIH e ou com SIDA, man-
tendo o apoio psicossocial que a LPCS lhes proporciona, acabam por encarar a doença como algo limitador
sim, mas que pode ser controlado desde que tenham
boa adesão à terapêutica e se sintam apoiadas emocionalmente. Creio que o mais difícil, atualmente, será conseguir lidar com o estigma social ainda muito enraizado
na sociedade face aos seropositivos para o VIH. E, é por
este motivo que também temos vindo a trabalhar para
combater este “vírus social” que, por vezes, é dramático.
devido à enorme vaga de infeções nos anos 70 e 80, o
vírus é totalmente “democrático” pois pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade, sexo, estrato
social, cor, religião ou orientação sexual, desde que
tenha comportamentos de risco. É nesse sentido que
temos envolvido diversas comunidades para ajudar a
diminuir o estigma social associado ao diagnóstico “seropositivo” para o VIH. Continuamos perante um “vírus
social” e não nos cansamos de referir que é, ainda hoje,
muito maior e mais “perigoso” que o vírus da infeção por
VIH.
A LPCS promove vários rastreios, não só ao VIH…
Ao longo do tempo, a LPCS mudou a estratégia de atuação uma vez que notámos que, apesar de a população
estar mais desperta para o VIH, não o está para outros
vírus e infeções sexualmente transmissíveis potenciadoras de reinfeções e, como tal, optámos por trabalhar tam-
O vírus é totalmente
“democrático” pois pode
afetar qualquer pessoa,
independentemente da idade,
sexo, estrato social, cor, religião
ou orientação sexual, desde que
tenha comportamentos de risco
Em cima: foto de Nuno Coimbra Newsfarma® | Imagem de Maria Eugénia Saraiva: foto de Jorge Correia Luís/JAS Farma®
10
DEZEMBRO 2015
ESPECIAL | VIH/SIDA
HISTÓRIA E
ATIVIDADES DA LPCS
• Foi fundada em 1990.
• Em 1991 surgiu a Linha SOS
SIDA 800 20 10 40, a única
a funcionar atualmente em Portugal e que procura dar respostas
às pessoas infetadas, afetadas
e preocupadas com o VIH e SIDA,
hepatites víricas e outras IST.
Condecoração da LPCS
como Membro Honorário
da Ordem de Mérito
bém para mudar este cenário. Desta forma, promovemos também o rastreio e diagnóstico precoce de outras
infeções como as hepatites víricas, o vírus do Papiloma
Humano (HPV) e outras infeções sexualmente transmissíveis.
Como é a situação em Portugal?
Dados da Direção-Geral
da Saúde referem que,
em 2013, foram diagnosticados 1.416 novos casos de VIH,
o que representou
um decréscimo de
13,7% face a 2012.
Se analisarmos os
dados desde 2002
verificamos
que
existe, quase todos os anos, uma
tendência para o
decréscimo de novos
casos, o que é bom.
Contudo, é necessário
ter em conta dois aspetos
importantes: cerca de 1.400
novos casos é um número
bastante significativo face à informação de que dispomos hoje em dia
e ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas diferentes entidades; e, considerando que os números apontam que é na faixa etária acima
dos 49 anos que a percentagem de novos casos tem
vindo a aumentar consideravelmente, temos de mudar a
forma de comunicar também para este grupo vulnerável
identificado e com o qual a LPCS tem vindo a trabalhar.
Aguardamos com expetativa os novos números que
serão apresentados em breve.
A prevenção é o mais fundamental?
Acreditamos que sim. É transversal a todos os projetos
que desenhamos, sendo essencial que tenhamos pre-
sente que todos somos vulneráveis ao VIH!
Que dificuldades sente a LPCS atualmente para
concretizar os seus objetivos?
A não abertura de concursos públicos
até à data, no sentido de a LPCS
poder dar continuidade ao trabalho desenvolvido em Lisboa e Odivelas, através dos
seus Centros de Atendimento e Apoio Integrado (CAAI) “Espaço
Liga-te”, em Lisboa,
e “Cuidar de Nós”,
em Odivelas, é bastante preocupante.
A maior dificuldade prende-se com
questões financeiras e a escassez de
recursos humanos.
Enquanto IPSS funcionamos com uma
base de voluntários
mas as pessoas vivem
tempos de grande precariedade e, por isso, falta-lhes
tempo para o poderem dar. As
motivações também mudaram
e hoje a SIDA não está na “moda”.
Nesse sentido, torna-se mais difícil a angariação de fundos.
Como vão ser comemorados os 25 anos?
Temos já algumas iniciativas definidas e outras em
desenvolvimento. Por exemplo, vamos fazer uma campanha de sensibilização e preparar uma conferência sobre
o VIH, as alterações ocorridas ao longo dos anos e a
mudança de paradigma na terapêutica. Mas, acima de
tudo, vamos continuar a trabalhar para dar Luta à SIDA
porque o nosso lema é “há quem pense que ter SIDA
significa perder o sentido da vida... e há quem acredite
que há sempre novos sentidos a descobrir.”
• Oferece apoios técnicos especializados (psicológico, social,
jurídico, nutricional, etc.), integrados nos Centros de Atendimento
e Apoio Psicossocial, em Lisboa
e Odivelas, e promove ações de
sensibilização e (in)formação.
• Em 2012 surgiu a Unidade Móvel
de Rastreios Saúde + Perto, com
uma equipa de técnicos especializados (médica, enfermeira, psicóloga e mediadores) que realiza
rastreios confidenciais e gratuitos ao VIH, hepatites víricas e outras IST. Abrange os concelhos de
Lisboa, Odivelas e Loures e funciona em articulação com centros
de saúde, hospitais, autarquias e
outras associações.
• Neste trimestre foi assinado um
protocolo com o Instituto Português de Oncologia para iniciar
o rastreio ao Vírus do Papiloma
Humano, de transmissão sexual
e que pode potenciar outras infeções.
• Mais informações em
www.ligacontrasida.org;
www.facebook.com/ligacontrasida
• Pode contribuir para a continuidade dos projetos através da
Linha Solidária 760 50 10 30 (0,60€
+ IVA).
DEZEMBRO 2015
11
INFORMAÇÃO | ESCLEROSE MÚLTIPLA
“Seria importante que as pessoas conhecessem melhor a doença e respeitassem mais os doentes”
ESCLEROSE MÚLTIPLA:
O QUE AINDA HÁ PARA MUDAR
Desconhecida por grande parte da população, a Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa que afeta o sistema nervoso central e causa incapacidade. A Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM) tem como principal missão melhorar a
qualidade de vida dos doentes e dos seus cuidadores, lutando diariamente pela sua integração na sociedade. Susana Protásio, membro da
associação, caracteriza a evolução da doença nos últimos anos e apela à solidariedade dos portugueses.
Por Joana da Silva Vieira
Ao longo de 31 anos de existência, a missão da SPEM tem tido componentes distintas, “começámos com uma
ausência de conhecimentos, medicação insuficiente e diagnóstico tardio. Hoje em dia as necessidades são totalmente diferentes, as valências aumentaram e estamos um passo mais à frente. Temos preocupações e prioridades
que na altura não nos podíamos dar ao luxo de ter” explica Susana Protásio. Apesar de ser confundida com uma
doença de terceira idade, a EM surge habitualmente no adulto jovem, entre os 20 e os 40 anos. “Gostávamos que
as pessoas respeitassem mais os doentes e que os vissem como cidadãos, com os mesmos direitos e possibilidades. É muito importante acabar com o preconceito e fazer chegar esta mensagem aos decisores nacionais, para
que integrem as necessidades das pessoas com esclerose múltipla nas suas decisões”, refere.
O dia-a-dia da associação
A SPEM é uma associação de âmbito nacional, feita essencialmente de voluntários. Tem 11 delegações espalhadas pelo país e, por isso, os seus serviços mudam
conforme as necessidades das pessoas dessas zonas.
A sede situa-se em Lisboa e tem uma rotina muito preenchida. “Proporcionamos apoio psicológico, jurídico e de
neuro-reabilitação. Para além da fisioterapia, terapia da
fala e de terapia ocupacional, temos também um serviço de apoio social de higiene ao domicílio e um serviço
de transporte, que vai buscar as pessoas a casa para
passarem o dia no nosso centro de atividades ocupacionais. Organizamos saídas com os voluntários e alguns
eventos como, por exemplo, a festa de celebração do Dia
Mundial da Esclerose Múltipla, no dia 5 de dezembro,
onde vão atuar algumas bandas e vai ser feita uma angariação de fundos. No final do mês preparamos a tradicional festa de natal com os doentes, seus familiares, vo-
luntários e amigos”, explica. A associação pretende
dar mais atenção aos cuidadores, porque apesar de
não terem a doença, acabam por ter todo o impacto
refletido na sua vida.
Mudança de paradigma
Como caracteriza a evolução da doença nos últimos
anos? “Muita coisa mudou. Em particular, o número
de doentes, a fase em que são diagnosticados e a informação disponível. A associação proporciona mais
serviços e tem uma relação estreita com a classe
médica (da qual faz parte um grupo de neurologistas
dedicados à EM) e de enfermeiros. Tem-se verificado
um esforço a nível internacional para encontrar soluções. De facto, já existem pistas de que estamos
no caminho certo para encontrar algo para a versão
progressiva da doença. Esta é uma mensagem de
esperança extremamente importante. A indústria
farmacêutica tem-se centrado em arranjar soluções
mais fáceis e menos penosas. Passámos da injeção
diária para uma série de alternativas mais fáceis e
medicamentos de toma oral”, explica. A doença é detetada casa vez mais cedo e até já existem casos pediátricos, situação que causa grande impacto psicológico para a criança e para a família. “É complicado
explicar a um adolescente entre os 12 e os 16 anos
que tem uma doença crónica, potencialmente incapacitante. Alguns miúdos desenvolvem depressões
gravíssimas. Hoje em
dia, já não podemos
dizer que esta é uma
doença que aparece
entre os 20 e os 30
anos”, revela.
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De facto, já existem pistas de
que estamos no caminho certo
para encontrar algo para a versão
progressiva da doença. Esta é
uma mensagem de esperança
extremamente importante.
Susana Protásio
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Ajudar: a palavra-chave
Qual é a realidade dos doentes que não estão ao abrigo
da associação? “Nem todas as pessoas que têm EM são
associados. Sabemos que existem muitos doentes que, por
diversas razões, não estão ligados à associação. No entanto, temos feito um esforço para chegar a todos e o grupo de
voluntariado “Energias Múltiplas” procura as pessoas que
estão mais isoladas, visita-as e proporciona-lhes um dia diferente”, garante. Susana Protásio considera que “os portugueses são pessoas preocupadas com as pessoas, mas às
vezes, faltam-nos o pragmatismo dos nórdicos. Nós temos
algo muito bom que é a parte emocional, mas em termos
de reprodutibilidade as coisas falham. Seria importante que
conhecessem melhor a doença e respeitassem os doentes. Muitos deles têm dificuldades de locomoção, mas só
pedem apoio quando precisam, pois gostam de gerir o seu
modo de andar. Temos de estar disponíveis e ajudar apenas
quando a pessoa pede. O tratamento da EM passa muito
pelo esforço, por manter o músculo e a cabeça a funcionar,
por isso não devemos protegê-los excessivamente, de forma a estimular a sua atividade”.
INCENTIVO À SOLIDARIEDADE
Susana Protásio, membro da SPEM, deixa uma mensagem aos portugueses, onde realça a importância da disponibilidade e do voluntariado.
“As pessoas são muito solidárias com acontecimentos dramáticos do
momento e a sua solidariedade também acaba por ser momentânea.
Deviam manter-se solidárias ao longo do processo que cada situação
necessita, assim teríamos mais voluntários a trabalhar connosco a título
regular. Normalmente, as pessoas oferecem-se para ajudar em situações pontuais e não querem ser voluntários a tempo inteiro.”
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12
DEZEMBRO 2015
INFORMAÇÃO | ESCLEROSE MÚLTIPLA
Manter o músculo ativo é essencial para o tratamento
LUTAR CONTRA UMA
DOENÇA IMPREVISÍVEL
Lúcio Ribeiro foi diagnosticado com Esclerose Múltipla (EM) em julho de 2006, com 30 anos de idade, mas foi aos 27 que a doença começou
a dar os primeiros sinais. Realizado e bem-sucedido profissionalmente, tinha uma vida ativa e uma empresa própria de equipamentos para
betão. A EM mudou o percurso dos seus projetos e deu-lhe a oportunidade de conhecer a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM),
onde hoje faz parte da direção. Tenta aproveitar cada momento ao máximo, porque nunca sabe de que forma vai acordar no dia seguinte.
Por Joana da Silva Vieira
Créditos | Thinkstock; Oficiais
Comecei a sentir um cansaço fora do normal,
parecia que estava a haver uma falha na
ligação do cérebro com a parte motora.
Eu sentia vontade de fazer mais,
mas o corpo não conseguia acompanhar.
Naquela noite não se conseguiu levantar para ir à casa de banho. A esposa apercebeu-se que não estava bem e levou-o ao hospital. Na triagem perguntaram-lhe se tinha bebido álcool ou consumido algum tipo de drogas, porque não se
conseguia manter em pé. O médico pôs a hipótese que a situação se devesse a um problema no ouvido interno, devido
ao desequilíbrio que sentia. No dia seguinte continuou fraco e ao almoço não conseguia movimentar os braços para
segurar os talheres. Voltou ao hospital e, depois de vários exames de despistagem, deu-se o veredito do diagnóstico.
“O Lúcio tem aqui uma esclerosezinha múltipla”, foi desta forma que recebeu a notícia pelo médico. Percebeu logo que
dali não vinha nada de bom, mas não fazia a mínima ideia em que consistia a doença. Os três primeiros meses de
adaptação foram os mais complicados e ficaram marcados pela pesquisa incessante na internet e pela necessidade
de compreender a patologia.
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Viver com Esclerose Múltipla
“No início não se sabia de que tipo de EM se tratava, só
depois de alguns exames se chegou à conclusão que
tinha a forma primária progressiva da doença. Não tenho
surtos, mas sinto a incapacidade a piorar de ano para
ano. Para estes casos não existem grandes tratamentos e confesso que não tenho notado grandes melhorias,
antes pelo contrário, noto um desenvolvimento cada vez
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maior. O ano passado não precisava de recorrer às canadianas e este ano já tenho o prémio de andar acompanhado por elas. Quando descobri que era portador de
EM tinha 30 anos, uma vida ativa, empresa própria, fazia
muito desporto e tinha planos futuros. O que tinha programado até àquela data tinha conseguido e foi a isso
que me agarrei. A verdade é que a doença foi progredindo e as coisas foram-se complicando”, desabafa.
A incapacidade de controlar a doença
Lúcio é portador de EM há nove anos e quisemos saber como descreve a evolução da patologia até agora.
“Começou por afetar a parte do equilíbrio, parece que
estamos sempre embriagados e, para levar as coisas na
brincadeira, às vezes até dizia que o vinho do almoço
andava estragado. Depois houve um atrofio ao nível da
marcha e tive que abrandar o ritmo. Na altura corria cerca
de dez a 12 quilómetros, andava de bicicleta, praticava
surf e pesca submarina. Comecei a sentir um cansaço
fora do normal, parecia que estava a haver uma falha na
ligação do cérebro com a parte motora. Eu sentia vontade de fazer mais, mas o corpo não conseguia acompanhar”, refere. Durante algum tempo tentou esconder
a doença das pessoas que o rodeavam, mas hoje considera imprescindível o apoio da família e dos amigos.
“As pessoas normalmente incentivam-me bastante, enviam-me mensagens privadas no facebook a perguntam
como estou. O apoio da minha família tem sido a 100%,
acompanham o desenvolvimento da doença e mostram
alternativas. Sempre fui muito autónomo e ao início era
difícil aceitar ajuda, mas agora já estou mentalizado que
sou dependente dos outros”, revela.
Ultrapassar as dificuldades do dia-a-dia
“Em casa consigo andar sem canadianas, porque já
conheço todos os pontos estratégicos, mas na rua a
situação é diferente. Das coisas que mais detesto ver
são pessoas a ocuparem os lugares para deficientes.
A nível arquitetónico temos a situação dos passeios e
escadas altas, que dificultam a nossa mobilidade.” Lúcio tenta manter-se ativo e tem noção da importância da
fisioterapia em casos como o seu. “Eu não faço por erro
meu, mas treino em casa. Comprei um ginásio completo
e faço alguns exercícios de musculação. Tento sempre
estar ativo e há dias com mais e menos dificuldade. Esta
é daquelas doenças em que uma pessoa nunca sabe
como acorda amanhã.” A doença traz- lhe dias melhores
e piores, mas tenta sempre manter-se positivo. Vive um
dia de cada vez e tem como maior prioridade as suas
filhas. “Independentemente de todos os treinos que faça
sinto que a minha incapacidade está a progredir. Tento
não me martirizar com isto, mas tenho plena noção que
um dia vou parar à cadeira de rodas. Já estou mentalizado para quando chegar a altura, vejo a evolução e não
antecipo uma coisa muita boa. Só peço que a parte mental se mantenha intacta para aguentar o que aí vem”,
desabafa o portador de EM.
A doença traz- lhe dias
melhores e piores, mas tenta
sempre manter-se positivo.
Vive um dia de cada vez e tem
como maior prioridade
as suas filhas.
DEZEMBRO 2015
13
OPINIÃO | FARMÁCIA
COMO PREPARAR UM NATAL
SAUDÁVEL E ECONÓMICO
À medida que o natal se aproxima, vamos sendo aliciados com propostas de presentes e iguarias pelas quais esperamos tanto tempo!
Só neste mês, só naqueles dois dias (ou até semanas) conseguimos compensar todo um ano sem bolo-rei, fatias douradas, sonhos, filhoses,
broas, azevias e demais doçarias tradicionais desta época. A quem cabe a tarefa de organizar a noite da consoada ou o dia de natal, sabe que
terá de proporcionar uma noite perfeita e bem recheada, que encha as medidas e as papilas gustativas de toda a família e amigos.
É nesta altura que começa a preocupação com o orçamento familiar e em como fazer crescer aquilo que não se semeia.
A decoração, a logística do jantar, as prendas e o menu podem tornar-se uma verdadeira dor de cabeça se não forem
planeados com a devida antecedência. Mas não se preocupe, um natal recheado não tem de significar um fim de ano
estragado! Para que tudo corra bem, deixo-lhe algumas sugestões de como poupar, com sabor e saúde.
Comprar com antecedência
À medida que se aproxima a época natalícia vamos observando a subida dos preços. O ideal é começar a criar
o cabaz de natal com alguns meses de antecedência,
visto que alguns produtos, como os frutos oleaginosos, o
bacalhau e o peru aguentam alguns meses devidamente
embalados e armazenados.
Se este ano não conseguiu antecipar as suas compras
de natal, então prepare o papel e o lápis e comece a
planear:
• Faça uma lista de compras com tudo o que necessita
para completar o seu natal, desde os ingredientes para a
refeição, assim como para as sobremesas;
• Dê uso aos folhetos de supermercado que diariamente
lhe chegam à caixa do correio e procure os produtos em
promoção;
• Compare os preços, organize as compras por supermercado e veja se a deslocação compensa a diferença
de valor que vai pagar.
Alimentos frescos vs conservas
O tradicional bacalhau com couves vem com tudo a que
tem direito, inclusive o grão-de-bico como acompanhamento. Substitua as leguminosas de conserva pelo grão
seco e cozinhe por 20 minutos, na panela de pressão,
após a demolha de 12h.
Este processo ajuda a eliminar parte dos componentes
anti-nutricionais, como por exemplo os fitatos, saponinas
e lectinas, que reduzem o seu valor nutricional por inibirem a absorção de diversos minerais como o cálcio,
magnésio e ferro.
Este processo também promove uma melhor digestibilidade, reduzindo a sua fermentação no intestino.
No que toca a frutas, prefira as frescas e da época às
enlatadas e opte por romãs, maçãs, laranjas ou até mesmo o ananás.
Pode incorporá-las em saladas de legumes, adornadas
com bagos de romã ou um puré de maçã reineta aromatizado apenas
com canela, como
acompanhamento
do prato de carne.
Se preferir deixar
para mais tarde,
sirva maçã assada com pau de
canela e gotas de
limão, sem adição
de açúcar.
a
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Por
Planear o menu
Pode começar por criar uma lista de convidados e estipular o valor máximo a gastar por cada pessoa. Dependendo do orçamento estabelecido, opte por refeições
que rendam e que sejam apelativas. Comece com um
creme de legumes e se tiver muitos comensais experimente, por exemplo, uma refeição de bacalhau escondido no forno, com batatas, couve e broa de milho no topo.
Se, por outro lado, a sua preferência recair na carne,
opte pela perna de peru desossada no forno, marinada
em sumo cítrico e acompanhada de um delicioso arroz
de açafrão. Na hora da confeção reduza o sal e o azeite
que adicionar.
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nas Farmácias H
Sobremesas e aperitivos
São muitos os doces que nos aliciam e tantos os salgados que aproveitamos para juntar à festa. Pense nos
doces de natal de que mais gosta e crie uma outra lista
com as sobremesas que gostaria de ter na mesa e que
agradam a toda a família.
Juntamente com os seus convidados, esclareça o que
cada um leva. O restante opte por fazer em casa.
Não só irá ter menos tentações na hora da sobremesa,
como conseguirá reduzir custos e melhorar o valor nutricional, ao reduzir o teor de açúcar e gordura adicionados
na confeção.
Ainda ficaram alguns doces por orientar? Então pare
para refletir um pouco sobre a verdadeira necessidade
de os incluir ou se, pelo contrário, passaria bem sem essas calorias extra. Por fim, prove e aprecie cada dentada
da sua sobremesa e modere as quantidades.
No final da festa distribua as sobras para que no dia seguinte não haja tentações. A sua saúde e a sua carteira
agradecem!
Mais importante de tudo, usufrua da companhia e tenha
um bom natal!
Pode começar por criar uma lista de
convidados e estipular o valor máximo
a gastar por cada pessoa. Dependendo
do orçamento estabelecido, opte por
refeições que rendam e que sejam
apelativas
Créditos | Oficiais; Thinkstock
14
DEZEMBRO 2015
HIPOGLICEMIA NOS ANIMAIS
Os sinais clínicos iniciam-se de acordo com a velocidade da descida do valor da glicose no sangue e, geralmente, manifestam-se quando
a glicemia é inferior a 45 mg/dl. Desde que os sintomas sejam reconhecidos a tempo, a hipoglicemia é fácil de ser tratada, sendo sempre
importante a avaliação do médico veterinário.
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A glicose é a principal fonte de energia dos seres vivos animais e vegetais. Trata-se de um monossacarídeo proveniente do produto final dos carbohidratos, não sendo encontrado em frutas e vegetais. Para que ocorra aproveitamento
desta fonte energética, é necessário que haja uma interação hormonal (Insulina e Glucagon), para que esta seja
absorvida e transformada em energia. A glicose é o principal substrato para a produção de energia na maioria dos
tecidos, sendo a única fonte energética para as células do cérebro. A hiperglicemia pós-prandial, isto é, o aumento dos
níveis de açúcares após uma refeição, induz a secreção de insulina e a diminuição de glucagon. A insulina estimula
a captação de glicose pelo tecido muscular, no qual a glicose é convertida num composto mais simples e de possível
utilização pelas células. O efeito da insulina é favorecer a conversão do excesso de glicose sanguínea em duas formas:
glicogénio (no fígado e músculo) e triacilgliceróis (no tecido adiposo). A insulina é secretada pelo pâncreas.
A hipoglicemia, “baixa de açúcar no sangue”, é definida quando a concentração de glicose sanguínea se encontra inferior a 60 mg/dl. Tal evento resulta no uso excessivo de glicose por células normais (hiperinsulinismo) ou neoplásicas,
anormalidades no metabolismo da glicose, deficiências hormonais, captação dietética inadequada de glicose, ou ainda, pela combinação destes mecanismos. Já a hipoglicemia iatrogénica (efeito colateral ou um resultado indesejável
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Por Marta Pinto, Médica Veterinária - Hospital Veterinário Montenegro | Tânia Rocha de Sousa, Médica Veterinária - Hospital Veterinário Montenegro
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O Tratamento de Emergência
da Hipoglicemia passa pela
imediata administração oral
de solução de glicose ou mel.
rem auxiliados rapidamente e, se tiverem diabetes, precisarão de tratamento médico. Geralmente, desde que os
sintomas sejam reconhecidos a tempo, a hipoglicemia é
fácil de ser tratada, mas é sempre importante a avaliação
do médico veterinário.
O Tratamento de Emergência da Hipoglicemia passa
pela imediata administração oral de solução de glicose
ou mel. Animais em colapso não devem ter grandes volumes de fluido forçado na boca, pois isso pode resultar
em pneumonia por aspiração. Aqui, é preferível esfregar
uma pequena quantidade de solução de glicose ou mel
na gengiva do animal, ou sob a sua língua. Este tratamento pode ser efetuado pelo proprietário, mas não dispensa avaliação pelo Médico Veterinário.
Habitualmente
os sintomas são
fome, inquietação,
tremor, ataxia,
desorientação,
convulsões e
coma.
causado por um tratamento) é uma complicação comum resultante da
administração excessiva de insulina em cães e gatos. Os sinais clínicos de hipoglicemia iniciam-se de acordo com a velocidade da descida
do valor da glicose no sangue e, geralmente, manifestam-se quando a
glicemia é inferior a 45 mg/dl, em ordem crescente de gravidade, são
fome, inquietação, tremor, ataxia, desorientação, convulsões e coma.
Alguns animais podem ficar apenas muito quietos e apáticos. À medida
que o seu batimento cardíaco e a sua respiração ficam mais lentos, os
animais com baixa de açúcar no sangue tornam-se fracos, sonolentos,
desorientados e cambaleantes. Podem começar a estremecer ou a sacudir-se, pender a cabeça, ter convulsões e, no pior dos casos, perder
a consciência e entrar em coma. Os animais podem morrer se não fo-
DEZEMBRO 2015
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