cortés e seu duplo:
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cortés e seu duplo:
Leitura Cortés e seu duplo: pesquisa sobre uma mistificação Livro demonstra que Diaz del Castillo foi criação do conquistador espanhol P resumido autor da Historia verdadera de la conquista de la Nueva España (História verídica da conquista da Nova Espanha), obra central sobre a expansão ultramarina espanhola publicada em 1632, Bernal Díaz del Castillo entrou para o panteão da literatura hispânica, entre Cid e Dom Quixote. Mas tal atribuição de autoria perde credibilidade à medida que os estudiosos desvendam os mistérios e lacunas de sua biografia. Em Cortés e seu duplo: pesquisa sobre uma mistificação, Christian Duverger tenta demonstrar, por meio da análise de farta documentação historiográfica, que Diaz del Castillo foi na verdade uma criação do conquistador espanhol Hernán Cortés, protagonista e verdadeiro autor do épico. Díaz del Castillo teria nascido na Espanha, morrido na Guatemala e participado de expedições fabulosas nas regiões do Panamá, Cuba e outras ilhas do Caribe. Em 1517, teria visitado a península de Iucatã e se engajado na empresa capitaneada por Cortés, participando dos fatos capitais da queda do império asteca, então com 18 milhões de habitantes. Duverger, no entanto, põe em dúvida essa trajetória e demonstra que o legítimo Díaz del Castillo dificilmente poderia ter escrito Historia verdadera por uma simples razão: “ele era provavelmente iletrado”. Além disso, o suposto autor do épico, de quem nunca se registrou uma só imagem, jamais foi biografado, mesmo depois de 250 anos da publicação de sua crô- nica, e a data de seu nascimento permanece desconhecida. O cultuado “escritor” Díaz del Castillo, sugere Duverger, não passa de uma criação do conquistador Cortés, que produzira obras anteriores e, à época, proibido de escrever pelo Rei Carlos V, bem poderia ter concebido um duplo. Christian Duverger, Editora Unesp, tradução de Ana Alencar, 380 páginas, R$ 58 Trechos “Tal personagem, tão ativo, tão inteligente, tão devotado, mereceria um cortejo de honras, um monte de medalhas, sua inscrição em todos os monumentos à coragem e ao heroísmo. Ora, seus contemporâneos guardam a seu respeito um silêncio ensurdecedor. Nenhuma linha, nem a menor menção a Díaz del Castillo nos escritos de Cortés!” “Com efeito, o tempo voa. O conquistador do México tem 58 anos. Decidido a não mais procurar aprovação oficial por sua missão cumprida, doravante sem ilusão sobre a política, não religioso o bastante para se voltar para Deus, Cortés se volta para a posteridade. Lucidamente orgulhoso, quer fixar a lembrança de sua vida na terra e esculpir sua estátua para a eternidade. Decide então escrever suas Memórias.” Sobre o autor Christian Duverger, historiador e arqueólogo, é especialista em Mesoamérica e professor na École des Hautes Études en Sciences. É autor de algumas das mais influentes obras sobre a expansão ultramarina espanhola e de uma das principais biografias de Hernán Cortés (Fayard, 2001). UnespCiência 45