Saiba mais - Prof. Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes
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Capítulo 57 Mecanismos de Falhas Assépticas dos Implantes Artroplásticos de Quadril Luiz Sérgio Marcelino Gomes - Mestre e Doutor em Ortopedia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da U.S.P. - Chefe do Serviço de Cirurgia e Reabilitação Ortopédico-Traumatológica de Batatais (SECROT-SP) - Chefe do Grupo de Quadril do Hospital e Maternidade Celso Pierro – PUC-Campinas (SP) Julio Paim Rigol - Médico Assistente do Grupo de Quadril do Pronto Socorro de Fraturas de Passo Fundo - Membro Associado da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ). I. II. III. Introdução Conceito e Classificação de Falha Tipos de Falhas III.1 Modos de falha III.2 Origem das Falhas III.3 Mecanismos de Falhas A) Mecanismos de Ruptura A1. Fratura A2. Fadiga A3. Fluência A4. Deformação Plástica Macroscópica B) Mecanismos de Desacoplamento B1. Impacto entre Elementos do Implante e/ou Ósseos B2. Falência da Contenção Óssea e/ou do Cimento B3. Traumático B4. Desequilíbrio de Partes Moles B5. Desacoplamento por Mecanismos Associados C) Mecanismos de Soltura C1. Falência de Suporte do Manto de Cimento C2. Falência do Suporte Ósseo C3. Falência combinada (1 e 2) C4. Falência da Fixação Biológica D) Mecanismos de Desgaste D1. Adesivo D2. Abrasivo D3. Oxidativo/Corrosivo D4. Desgaste por Impacto repetitivo e Fretagem E) Mecanismos envolvidos na gênese do Quadril Protético Doloroso sem Falha Aparente F) Mecanismos de Distopia Primária do Implante Protético III.4 Efeitos e Conseqüências das Falhas IV. V. Diagnóstico e Codificação de Falhas em Implantes Artroplásticos de Quadril IV.1 Diagnóstico e Codificação Pré-operatória IV.2 Diagnóstico e Codificação Pós-operatória Bibliografia e Referências Bibliográficas estática e cíclica, e ainda precisam resistir ao desgaste das diversas interfaces, ao mesmo tempo em que não 3-5 devem provocar reações adversas ao organismo . Porém não há até o momento um material que atenda, simultaneamente, a todas as exigências mecânicas, metalúrgicas, funcionais e biológicas necessárias para um implante protético perfeito. Cada biomaterial apresenta uma combinação de propriedades particulares, determinadas por sua estrutura, composição e processamento, que são benéficas em algumas situações, contudo podem ter um desempenho inferior e possíveis 6, limitações em outras condições específicas . Estas limitações tornaram-se patentes com o uso crescente deste procedimento, sobretudo em pacientes mais jovens, nos quais as situações de maior solicitação funcional e maior tempo em serviço dos implantes são 7,8 requeridas . Desta forma, aos benefícios clínicos e funcionais proporcionados pela ATQ, o tratamento de suas complicações igualmente se incorporou às atividades diárias do ortopedista. As falhas dos implantes, em algumas circunstâncias, estão associadas à destruição óssea progressiva e assim podem não só dificultar como também comprometer os resultados dos procedimentos reconstrutivos futuros (Fig.57.1A e B). I. Introdução A artroplastia total do Quadril (ATQ) se destaca entre outros procedimentos cirúrgicos, em função do grande sucesso clínico e da excelente relação custo/efetividade, proporcionando aos pacientes portadores de distúrbios destrutivos desta articulação a redução da dor, melhora 1, 2 da função e da qualidade de vida . Os implantes protéticos, utilizados neste procedimento, devem suportar os esforços oriundos da contração muscular, de forças inerciais, do suporte de carga Fig.57.1. Radiografia da Pelve, no plano frontal (A) e quadril esquerdo, no plano sagital (B), mostrando a falha na reconstrução protética do quadril esquerdo em uma paciente de 38 anos de idade. Observe a grande perda óssea femoral e acetabular. O manejo apropriado das falhas nas reconstruções protéticas do quadril requer a identificação precoce, e o entendimento das causas e mecanismos envolvidos em sua gênese. Contudo, com muita freqüência, os insucessos são relatados na literatura tendo como base apenas grupos inespecíficos, que contribuem muito pouco para o esclarecimento etiológico. Para o adequado reconhecimento dos mecanismos primários envolvidos na falha são necessários critérios mais definidos, e uma abordagem que leve em consideração, não só o diagnostico pré-operatório, mas que também padronize o conceito de falha e sistematize o processo de investigação. Nesta circunstância, a observação clínica e intraoperatória minuciosa, a análise macro e microscópica dos implantes removidos (explantes) e, em alguns 9 casos, a análise microestrutural são requeridas . Estas informações nos permitem avaliar o ambiente mecânico a que está sujeita a reconstrução protética, e também identificar os processos envolvidos na falência do implante para que, desta forma, seja possível diferenciar 10 causas de conseqüências . Neste capítulo incorporamos aos conceitos já amplamente descritos na literatura, a experiência de um dos autores (LSMG) na definição, detecção, análise, interpretação e tratamento das falhas dos implantes artroplásticos de quadril. Estes conceitos estão fundamentados em cerca de 25 anos de atuação como pesquisador na área de desenvolvimento e análise de falhas em implantes osteoarticulares, realizados em conjunto com diferentes profissionais da área de engenharia, física e química, em laboratórios de biomecânica do país e do exterior (Orthopaedic Biomechanics Laboratory, Midwest Orthopaedic Research Foundation, Minneapolis Medical Research Foundation and University of Minnesota, MN, USA; LAMEF- Laboratório de Metalurgia Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul RS; Laboratório de Engenharia Biomecânica da Universidade Federal de Santa Catarina SC; Fundação CERTI - Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras, Florianópolis, SC e Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, SP). II. Conceito e Classificação de Falha Consideramos que um implante apresenta uma falha patente quando sua função está comprometida, total ou parcialmente, seja em decorrência de fatores relacionados primariamente ao implante, ao material ou ao meio ambiente (mecânico ou biológico) adjacente, como também decorrente de fatores técnicos durante a implantação e de cuidados pós-implantação (mau uso), e que obrigatoriamente impliquem em nova intervenção 9 cirúrgica . Na ocorrência de fatores que possam predispor às falhas e re-intervenções futuras, denominamos 9,10 falha potencial . Quando um implante falha é preciso analisar como falhou, porque falhou e também seus possíveis efeitos e conseqüências. Desta forma devemos reconhecer a maneira como a falha se apresenta ou se manifesta (Modo); procurar determinar o local de sua ocorrência (Origem); identificar os processos envolvidos em sua gênese (Mecanismo); assim como as conseqüências 9,10 e efeitos associados . A Tabela 57.1 apresenta nossa abordagem para o diagnóstico, classificação, e codificação das falhas em implantes artroplásticos de quadril, desenvolvida e utilizada de maneira sistemática por um dos autores (LSMG) com vistas ao reconhecimento, identificação e planejamento cirúrgico dos procedimentos reconstrutivos. Evidentemente esta padronização não objetiva esgotar as inúmeras possibilidades de ocorrências Tabela 57.1. Modos, Origens, Mecanismos e Efeitos das Falhas de Implantes Artroplásticos de Quadril. e de mecanismos envolvidos no complexo processo de falência de implantes, mas tão somente orientar o profissional da área para o reconhecimento das situações mais encontradiças na prática cirúrgica. Como disposto na porção inferior do quadro, observamos que os processos de identificação, classificação e codificação das falhas devem ser feitos seqüencialmente pela observação clínica, funcional e de imagens, inspeção e avaliação visual (intra e pós-operatória), e laboratorial dos explantes, sempre que necessária. Com estas informações, o processo de codificação préoperatória pode ser realizado e, posteriormente alterado a partir do esclarecimento intra e pós-operatório dos mecanismos envolvidos na falha. ou biológica entre o implante e o meio adjacente (cimento ou osso). Nesta condição é necessário que previamente à falha, o implante apresente características que pressuponham o travamento mecânico, potencializado por mecanismos biológicos ou químicos como acontece entre o cimento e implantes texturizados, anatômicos ou pré-revestidos, ou ainda o travamento mecânico e biológico direto com o tecido ósseo, como nos componentes não cimentados. III. Tipos de Falhas III.1. Modos de Falhas. O Modo de falha diz respeito à maneira como a falha de um implante se apresenta (ou se manifesta) e se refere não somente à falência do material, mas sim do implante como um todo (falha do conjunto) e que, portanto envolve, além das características do material (composição, propriedades, processamento), a sua estrutura (modelo), sua relação com o meio adjacente (estabilidade em serviço do implante), assim como a técnica de implantação e utilização. O reconhecimento do modo de falha é o primeiro passo no processo de análise e pode ser detectado pelo exame clínico, de imagens ou avaliações funcionais préoperatórias. A ruptura (Modo I, Fig. 57.2A) se refere não só à efetiva falência mecânica do implante, manifesta por solução de continuidade, como também aos diferentes graus de deformação plástica macroscópica, que podem implicar em distúrbio da função do implante (ruptura funcional). O desacoplamento (Modo II, Fig.57.2B) diz respeito ao evento de natureza mecânica que se manifesta pela perda total ou parcial da estabilidade e/ou do contato entre duas superfícies opostas do implante, ou do implante em relação às estruturas adjacentes. Saliente-se que para o emprego do termo desacoplamento é necessário que não haja relação de adesão (química e/ou biológica) prévia entre os elementos da interface. Incluem-se neste Modo (II) o comprometimento da estabilidade entre os diferentes componentes do implante (como entre elementos da superfície articular, entre o colo protético e a cabeça modular, ou entre os elementos modulares de implantes não monolíticos), ou ainda do implante em relação ao cimento ósseo nos casos em que o implante não tenha relação de adesão mecânica com o cimento (como o 11-13 caso de hastes polidas, cônicas e sem colar) . Em contraposição ao desacoplamento, reservamos o termo soltura (Modo III, Fig.57.2C) para a situação de perda do travamento mecânico ou da adesão, química Fig.57.2. Diferentes Modos de falha dos Implantes Artroplásticos. (A): Ruptura, (B): Desacoplamento (luxação protética) (C): Soltura de haste femoral cimentada (seta) (D): Desgaste do Polietileno acetabular, (E): Distopia do implante femoral com violação do invólucro ósseo. Dentro deste conceito é preciso enfatizar que a migração precoce de um implante não cimentado, ou seja, antes da incorporação por osteointegração, é classificada como desacoplamento e não soltura. Para que haja soltura é preciso que previamente tenha havido uma condição de fixação mecânica ou por adesão (química e/ou biológica) entre os elementos da interface. O desgaste (Modo IV, Fig.57.2D) é caracterizado pela remoção contínua de material decorrente da movimentação relativa entre os vários componentes do implante ou entre o implante e o meio adjacente. Embora a osteólise (seja por metal, polietileno ou cimento acrílico) represente uma situação de falha iminente, ela ocorre freqüentemente como conseqüência do desgaste, da soltura ou da ruptura, não sendo, portanto considerada 14 um mecanismo primário de falha . Assim, estas situações (Modos de falha) representam a manifestação de diferentes respostas dos componentes protéticos aos ambientes mecânicos e/ou biológicos, que freqüentemente concorrem entre si para iniciar ou agravar o dano ao implante. A soltura de um componente protético pode predispor, em determinadas condições, ao desgaste do implante e, em função do ambiente (mecânico/biológico) resultante, podem levar à 6,15 ruptura do implante, ou à osteólise . Ainda que com baixa freqüência,o paciente submetido à ATQ, pode queixar-se de dor crônica na região da nádega, virilha ou coxa, sem que se consiga, contudo, determinar o mecanismo primário envolvido em sua gênese, seja a partir dos exames clínico ou subsidiários. Esta circunstância, que denominamos Quadril Protético Doloroso sem Falha Aparente (Modo V de falha), muitas vezes só é esclarecida a partir dos achados intra-operatórios, ou através da avaliação dos explantes. Por força do próprio conceito, incluímos ainda no Modo de falha, sob a denominação genérica de Distopia Primária do Implante Protético, os desvios do posicionamento ideal dos componentes protéticos, que podem predispor, ou simplesmente associar-se a outros modos de falhas (Fig.57.2E). Esta denominação restringe-se ao posicionamento do implante obtido no ato operatório e por isto não inclui a migração dos implantes, que pode ocorrer durante seguimentos mais tardios (distopia secundária) e que representam, na verdade, o efeito ou a conseqüência de outros diferentes mecanismos de falhas, observados durante o período em serviço do implante. Da mesma forma que os outros modos de falha descritos acima, a distopia dos implantes pode ser identificada por exame de imagens, quando analisada comparativamente ao posicionamento considerado adequado, segundo parâmetros já 16-20 estabelecidos pela literatura . entre os elementos de uma interface não constrita (superfície articular primária, Fig. 57.3A). Na interface semiconstrita admite-se movimentos discretos entre seus elementos constituintes, como o caso de migração protética distal, de até 1 mm/ano durante os primeiros 2-3 anos, no interior do manto de cimento, observado no caso de hastes cônicas, polidas 11,21, e sem colar . III.2. Origem das Falhas Uma vez diagnosticado o Modo de Falha, utilizamos ainda os recursos clínicos, funcionais e de imagens para identificarmos a procedência ou o local de manifestação (origem) da falha. É evidente que para cada modo especifico de falha, estão associadas diferentes localizações (ou origens) mais comuns. O modo de ruptura (Modo I) pode ocorrer nos elementos metálicos (haste femoral, componente acetabular metálico, ou componentes acessórios, como os parafusos e implantes metálicos de compensação de perda óssea); nos elementos poliméricos (Polietileno ou Cimento Acrílico); ou nos elementos cerâmicos, como a cabeça modular e implante acetabular protético ou ainda em implantes cerâmicos utilizados para compensação de perda óssea. As fraturas periprotéticas estão incluídas nas situações em que se observa a ruptura do elemento ósseo em regiões adjacentes ao implante. O Modo de Desacoplamento (Modo II) tem origem tipicamente entre as interfaces dependentes de contenção e estabilização primariamente mecânicas, sem a atuação de mecanismos químicos e/ou biológicos adicionais de fixação. Pode ocorrer entre interfaces não constritas, onde o movimento é desejado, como na superfície articular primária entre cabeça protética e superfície articular do implante acetabular. Na situação de desacoplamento desta interface caracteriza-se a instabilidade protética, sob a forma de luxação ou subluxação (tipo de falha IIA, ou seja, o desacoplamento Fig.57.3. Diferentes modos de desacoplamento ocorridos em (A): interface não constrita, sob a forma de luxação protética; (B): interface semiconstrita, manifesta por desacoplamento entre haste e cimento. Observe a demarcação radiotransparente (seta) que indica a intrusão do implante no manto de cimento; (C): interface constrita sob a forma de desacoplamento entre cabeça modular e cone da haste associada a luxação da articulação primária e (D); combinada, quando a luxação protética ocasionou a extrusão da haste femoral (o desacoplamento é observado em mais de uma interface). Este tipo de haste tem uma relação de superfície não aderida com o cimento adjacente e assim permite a acomodação, pelo princípio do encunhamento (migração restrita), no manto de cimento, e estabilizando-se pela tensão circunferencial resultante 11,13,15,22 (force-closed mechanism) . Deslocamentos maiores ou progressivos entre hastes polidas e cônicas e o manto de cimento podem caracterizar o desacoplamento (interface haste/ cimento, tipo de falha IIB, Fig. 57.3B). Na interface constrita o movimento não é esperado bem como é indesejável, como por exemplo, na interface entre a cabeça modular e o cone protético; entre o inserto de polietileno e cúpula acetabular metálica ou ainda entre porções modulares em implantes não monolíticos (tipo de falha IIC, Fig. 57.3C). Observe que a luxação da cabeça protética em relação ao componente acetabular bipolar é considerada um desacoplamento de interface constrita, uma vez que a cabeça protética é mantida por um acoplamento mecânico que impede a sua saída (anel de trava). Embora os tipos de falhas por desacoplamento, IIB e IIC, também possam apresentar instabilidade da articulação primária, os processos envolvidos na sua gênese são usualmente diferentes. Deste modo, esclarecemos que quando o desacoplamento da superfície articular primária for a causa de outro desacoplamento, a origem da falha é classificada como combinada (falha tipo IID, Fig. 57.3D). Por outro lado, quando a instabilidade da articulação primária for conseqüência do desacoplamento de interfaces semiconstritas ou constritas, caracterizamos a origem pela interface que ocasionou a instabilidade da articulação primária (como nas falhas tipos IIB e IIC). O modo de Soltura (tipo de falha III) refere-se à falha da interface em que seus elementos são unidos por acoplamento mecânico (superfícies aderidas) e adicionalmente por processos químicos e/ou biológicos, situação em que há uma verdadeira adesão inicial entre seus constituintes, previamente à falência da interface. Em relação à sua origem, a soltura pode ser notada nas interfaces cimento/implante (C/I, falha tipo IIIA, Fig. 57.4A), cimento/osso (C/O, falha tipo IIIB, Fig.57.4B,C,D), implante/osso (I/O, falha tipo IIIC, 57.5A,B,C) ou simultaneamente em mais de uma destas 3 interfaces (soltura combinada, falha tipo IIID). A soltura com origem na interface cimento/implante indica perda da adesão entre a haste femoral e o manto de cimento. Esta adesão mecânica pode ser obtida inicialmente por detalhes do modelo protético (hastes anatômicas), macroporosidades, microporosidades (hastes rugosas) ou pré-revestimento (PMMA). Nestes casos o acoplamento inicial é caracterizado pelo travamento mecânico ou químico entre haste e cimento. Assim, nas hastes rugosas ou com macroporosidades, o manto de cimento penetra nas ranhuras e promove o travamento mecânico do sistema. Nas hastes prérevestidas com PMMA existe adicionalmente uma adesão química entre o cimento e o pré-revestimento da haste. Do ponto de vista mecânico estas hastes estão sujeitas a um ambiente mecânico tipo shape-closed e 11,13,22 funcionam como uma viga composta . Especificamente para a interface cimento/implante, o componente acetabular apresenta baixa taxa de soltura ainda que em comparação com o componente femoral, talvez pelo fato do acetábulo estar sujeito principalmente aos esforços de compressão, enquanto que no componente femoral elevados esforços torcionais e de cisalhamento 23 estão presentes . A soltura da interface cimento/osso é uma das complicações que mais freqüentemente leva à cirurgia de revisão do implante. O diagnóstico radiográfico de soltura de componentes cimentados fundamenta-se nos achados descritos em capítulos específicos (59 e 60). Contudo, não é demais insistir na diferenciação entre as linhas radiotransparentes oriundas da soltura e aquelas oriundas do processo biológico de remodelação endosteal. A reação orgânica ao cimento se manifesta pela produção de uma neocórtex indistinguível radiografica24 mente do manto de cimento . Porém entre esta neo- córtex e a cortical externa, a espongiolização óssea, origina um aspecto radiográfico manifesto também por uma linha radiotransparente. Esta reação do organismo deve ser diferenciada da soltura, principalmente pelo fato de que, nesta última, as linhas radiotransparentes são progressivas e associadas com a formação de linhas escleróticas adjacentes. Estes achados dão suporte a 25 classificação de soltura proposta por Harris e McGann , que denominam implantes provavelmente soltos quando da ocorrência de uma linha radiotransparente contínua, ocupando toda a interface cimento/osso, e possivelmente soltos quando a linha radiotransparente é incompleta, ocupando de 50 a 99% da interface cimento/osso. Fig.57-4.Origem de soltura em implantes cimentados. (A): A demarcação radiotransparente progressiva na região proximal e lateral da haste (seta) indica soltura da interface entre o cimento e implante; (B); a demarcação circunferencial entre cimento e osso indica soltura do implante acetabular; (C); a soltura da haste femoral cimentada é representada pela demarcação progressiva do implante na interface cimento-osso, afinamento e irregularidade cortical e migração distal do manto de cimento (seta,C), (D): que pôde ser confirmada pela remoção cirúrgica do manto em peça única (quase que na sua totalidade,seta) Entretanto, uma vez que a relação entre linhas radiotransparentes e soltura nem sempre é real, outros critérios mais específicos de soltura devem igualmente ser observados, como a fratura ou migração progressiva do implante ou ainda a fratura do manto de cimento. Ao contrário da soltura da interface C/I, a soltura entre cimento e o osso adjacente é mais comum no implante acetabular. Com muita freqüência, sobretudo na soltura acetabular, o quadro clínico pode evoluir de maneira pouco sintomática, o que justifica o acompanhamento radiográfico periódico dos pacientes. A falha da interface implante/osso (falha tipo IIIC) se refere à soltura de implantes não cimentados. Radiograficamente um implante femoral não cimentado, adequadamente fixo, caracteriza-se pela presença de pontos ou trabéculas de união, (spot welds, observados mais comumente na porção distal da região de revestimento poroso), atrofia óssea proximal e hipertrofia óssea distal (Fig.57.5A). A soltura desta interface é manifesta pela presença de linhas de radiotransparência progressivas ao redor do implante e a formação de um pedestal ósseo na extremidade distal da haste. Denomina-se fixação fibrosa estável a condição em que não se observam evidências de soltura clínica ou radiográfica (linhas radiotransparentes ou formação de pedestal), porém os sinais de fixação também estão ausentes (spot welds, atrofia óssea proximal e hiper26 trofia óssea distal) . ausência de indícios que apontem especificamente para uma destas origens, qualquer ato cirúrgico deve ser postergado, e causas não relacionadas ao quadril (dor irradiada ou reflexa) devem ser consideradas. Para isto devemos considerar os diagnósticos diferenciais já discutidos em capítulos anteriores, sobretudo em relação à soltura femoral. Fig.57-6. Diferentes origens de desgaste de implantes protéticos, (A): entre superfícies articulares não constritas (primárias);(B e C): entre superfícies constritas (inserto acetabular e taça metálica; (D): entre cabeça metálica e osso acetabular ou combinada e (D e F): entre cabeça metálica e polietileno , que ao se romper permitiu o desgaste entre a cabeça e a taça metálica. Fig.57-5. Padrão de soltura da interface implante/osso em componentes não cimentados. (A): A haste fixa é caracterizada pela presença de pontos ou trabéculas de união, (spot weld, setas) observados mais comumente na porção distal da região de revestimento poroso, atrofia óssea proximal e arredondamento da região proximal-medial; (B): A soltura do implante acetabular é observada pela demarcação circunferencial do implante (seta grande), associada ao aumento da densidade óssea subcondral (cabeça de seta B) ou (C): migração (seta curva C) e ou demarcação do implante (seta reta C). Para o implante acetabular não cimentado, sinais óbvios de soltura são: a migração vertical do implante, a quebra de parafusos ou a liberação de fragmentos metálicos da superfície porosa. Não raramente ocorre o aumento de densidade reacional do osso subcondral (Fig.57.5B e C). A soltura combinada é diagnosticada quando da falha simultânea de mais de uma interface (falha tipo IIID). O modo de desgaste (tipo de falha IV) pode originarse nas superfícies articulares primárias (participantes do par tribológico, falha tipo IVA, Fig. 57.6A), nas superfícies articulares secundárias (por exemplo, na interface entre o inserto de polietileno e a taça acetabular metálica, falha tipo IVB, Fig.57.6B e C), nas superfícies que não deveriam articular-se entre si (cabeça femoral e osso pélvico ou taça metálica, falha tipo IVC, Fig.57.6D) ou ainda de forma combinada, quando mais de uma origem do desgaste está presente (falha tipo IVD, Fig.57.6E e F). Pacientes portadores de Quadril Protético Doloroso sem Falha Aparente (Modo V de falha) devem ser exaustivamente investigados quanto à possível origem (intra-articular ou extra-articular), uma vez que na O diagnóstico clínico de suspeição da soltura deve ser feito sempre que ocorrer dor em virilha, nádega (soltura acetabular) ou coxa (soltura femoral) no membro operado, em um paciente previamente assintomático. Tipicamente a dor relacionada à soltura se agrava com o suporte de carga e com a movimentação do quadril, particularmente às rotações, interna e externa, que possivelmente está ligada à rotação da haste no interior 23 do canal femoral . Quando a soltura ocorre precocemente no período pós-operatório, sem causa aparente, a infecção deve ser descartada. A marcha é freqüentemente antálgica e em estágios subseqüentes o sinal de Trendelemburg pode estar presente. O diagnóstico diferencial deve incluir doença ou hérnia discal degenerativa, estenose espinal adquirida, patologias abdominais, tumores ósseos e bursite trocantérica ou do ílio psoas. A Distopia Primária dos Implantes Protéticos, que ocorre durante o ato cirúrgico, pode ser originada por mau posicionamento do componente acetabular, femoral, componentes acessórios ou ancilares (como parafusos acetabulares, anéis de reforço etc.) ou envolver mais de um componente da substituição 16-20 protética (distopia combinada) . III.3. Mecanismos das Falhas Os mecanismos de falha se referem aos processos, principalmente mecânicos, eletroquímicos e biológicos, que estão envolvidos na gênese das falhas. A. Mecanismos de Ruptura: Os principais mecanismos que podem levar à ruptura do implante são: a fratura, a fadiga, e a fluência. A deformação plástica macroscópica do implante, embora se manifeste sem a solução de continuidade representa uma falência mecânica (ruptura funcional), o que leva à necessidade de sua substituição e, portanto é 10 considerada uma falha . A.1. Fratura: A ruptura do implante por fratura ocorre de maneira diferente caso o material seja dúctil ou frágil. A fratura dúctil ocorre em materiais que se deformam plasticamente antes de se romper (como os metais ou o polietileno), enquanto que na fratura frágil o material se 6 fratura sem deformação significativa (é o caso principalmente das cerâmicas e do cimento ósseo). Os materiais podem ser tenazes ou frágeis ou ainda alguma combinação dos dois, dependendo da deformação que podem suportar previamente à ruptura (Fig.577). Algumas resinas, incluindo o cimento ósseo, quando aquecidas podem alterar seu comportamento frágil para um comportamento mais tenaz, passando a apresentar uma região plástica definida, desde que ultrapassada uma determinada temperatura crítica chamada Temperatura de Transição Vítrea (Tgs). mento frágil. Estas propriedades devem ser consideradas quando de sua utilização em artroplastias, situação em que sua atuação como transmissor de esforços do implante aos tecidos adjacentes é requerida. Com características viscoelásticas o cimento pode fluir (ver fluência, abaixo A.3), e assim permitir a migração de implantes, muito embora a fluência no manto de cimento seja de pequena magnitude frente ao que se observa 27 em situações clínicas . Em artroplastias experimentais in vitro o cimento ósseo está sujeito a tensões muito próximas do seu limite de resistência quando em carregamento cíclico, circunstância em que a fluência, após um período de aumento rápido, tende a permanecer constante nos 11, 13 ciclos subseqüentes . Saliente-se, contudo que as propriedades mecânicas do cimento são dependentes de vários fatores como o peso molecular, proporção e constituição do monômero, características e concentração dos aditivos, temperatura, métodos de esterilização e técnica de manejo. Desta forma a utilização do cimento ósseo requer uma técnica adequada e racional dentro dos preceitos recomendados pelo fabricante, assim como do conhecimento dos fatores que possam alterar seu comportamento mecânico. A.2. Fadiga: Corresponde ao termo técnico utilizado na engenharia para descrever a falha de materiais sob carregamento cíclico, ou seja, submetidos a um carregamento de tensões variáveis ao longo do tempo. É sabido que o comportamento mecânico do material depende do tipo de carregamento a que está sujeito. A tensão que um material pode suportar ciclicamente é muito menor que a suportável em condições estáticas. Esta diminuição na carga máxima possível sob aplicação cíclica é atribuída ao fato do material não ser um sólido idealmente homogêneo. O limite de tensão que permite um número quase infinito de ciclos é 6 chamado de limite de resistência à fadiga (Fig. 57-8) . Fig.57-7. Diagrama Tensão/Deformação. O material frágil (1) não apresenta deformação plástica significativa e apresenta baixa tenacidade ou resistência ao impacto. O material dúctil (2) se deforma plasticamente antes de se romper e apresenta maior tenacidade. Nesta classificação reservamos o termo fratura, para a ruptura do material (solução de continuidade do implante) devido ao carregamento estático. Os metais apresentam tipicamente um comportamento dúctil e assim sua falência ocorre quase que exclusivamente por fadiga (ver abaixo). O cimento ósseo (PMMA), utilizado há cerca de 50 anos com o objetivo de acoplar implantes artroplásticos ao tecido ósseo adjacente, é uma resina acrílica resultante da polimerização do metacrilato de metila (MMA). Do ponto de vista mecânico o PMMA é um sólido com característica viscoelástica, de baixa rigidez (E= 2.3 GPa, comparado ao Eosso cortical:16 GPa, ECr-Co: 250 GPa). Porém quando comparado a outros polímeros (como por exemplo, o polietileno), apresenta grande rigidez e baixa ductilidade, e, portanto um comporta- Fig.57-8. Diagrama S-N típico para ligas de titânio, molibdênio e metais ferrosos em geral.. Observe que para elevadas tensões (δ) um pequeno número de ciclos (N) é suportado pelo material. Para tensões menores um maior número de ciclos é possível, até que para uma tensão crítica (tensão de fadiga- δf) define-se o limite de fadiga, como a tensão abaixo da qual o material suporta um número infinito de ciclos. Deste modo, em cada ciclo produzem-se pequenas deformações, não totalmente reversíveis, que podem evoluir para a formação de fissuras submicroscópicas, e assim para a ruptura do implante. A ruptura por fadiga está, portanto relacionada ao fato de, ao invés de se ter um comportamento elástico ideal e reversível do material têm-se na verdade uma deformação plástica não uniforme. À parte de sua composição química e microestrutural, vários outros fatores, que atuam através do mecanismo de concentração de tensões, podem interferir na resistência à fadiga de um implante artroplástico. Assim, mesmo um implante com adequada composição química, microestrutural e de design, pode sofrer fadiga quando sujeito às tensões localizadas de magnitude anormalmente elevadas (concentração de tensões). Imperfeições na superfície do implante, sob a forma de perturbações grosseiras (geométricas ou entalhes) ou mais discretas, como pequenos orifícios ou sulcos podem atuar como concentradores de tensões e assim predispor à fadiga do implante. Defeitos locais de composição, podem também sofrer deformações plásticas com cargas de menor magnitude, que inicialmente não causam a deformação do material como um todo, porém podem levar a fadiga do implante (Fig. 57.9A-E). Inclui-se, portanto, no conceito de viga em balanço, a falta de suporte ósseo ao implante, circunstância em que também se gera um ponto de engaste, como por exemplo após a osteotomia trocantérica estendida (suporte ósseo proximal inadequado), frequentemente utilizada em conjunto com hastes de fixação distal modulares. Fig.57-10. Ruptura de implante femoral por fadiga. (A): Observe a condição de viga em balanço gerada pela falta de cimentação na região proximal e lateral do implante. O ponto de engaste é representado pela seta. (B): Neste local (seta) observa-se a ruptura do implante. Nesta situação, a circunstância de concentração de tensões proximalmente, pode levar à fadiga das junções modulares. Assim, o local de fadiga do implante é variável e dependente da localização do ponto de engaste (Fig.57.11). Fig.57-9. (A):Haste femoral submetida à análise laboratorial.Observase a fratura na altura na transição dos 2/3 proximais com 1/3 distal. (B): Plano de fratura coincidente com a marcação de identificação. (C): Aspecto geral da fratura apresentando um intenso amassamento (seta) (D): Estrias de fadiga observadas em MEV. (E) : Micro trinca cuja origem coincide com a alteração micro-estrutural devida à marcação a laser. A marcação a laser impôs transformação da microestrutura austenítica em alta temperatura. A ocorrência de perturbações da superfície do implante ocasionadas por corrosão ou fretagem pode, igualmente, gerar pontos de concentração de tensões. O ambiente mecânico a que está sujeita a reconstrução protética é também importante para a sua resistência à fadiga. Nas situações em que o implante não apresente uma fixação adequada em toda sua extensão pode-se gerar um ambiente de viga em balanço (ou cantílever). Nesta condição, a transição entre a região fixa e a região em balanço (chamada ponto de engaste) fica sujeita a elevadas tensões, e assim predisposta à 15 fadiga (Fig.57.10A e B) . Desta forma, o suporte mecânico, seja por uma camada adequada de cimento ósseo, ou primariamente por tecido ósseo é condição determinante para a estabilidade e resistência mecânica dos elementos protéticos. Fig.57-11. Diferentes locais de ruptura de implantes femorais, dependentes dos pontos de engaste, no mecanismo de viga em balanço, também chamado cantílever (Cortesia Dr. Milton Valdomiro Roos, CEOP – Passo Fundo, RS). A.3. Fluência (Creep): Materiais biológicos (como o tecido ósteo-ligamentar) e alguns biomateriais (polietileno e cimento acrílico) têm suas propriedades mecânicas governadas pela sua característica viscoelástica, que lhes conferem uma curva tensão-deformação particular, e que se altera com a velocidade de aplicação do esforço. Do ponto de vista mecânico estes materiais continuam a se deformar mesmo quando submetidos ao carregamento constante (Fig.57.12A,B). Esta deformação plástica e progressiva dos materiais em condições de tensão constante é denominada fluência (creep ou 6,15 cold-flow na língua inglesa) . Fig.57-12. A característica viscoelástica do cimento ósseo permite que ao ser submetido ao carregamento constante (A), sofra deformação progressiva por fluência (B). Contudo, comparado ao polietileno, o PMMA, de maior rigidez (maior módulo de elasticidade), tem comportamento frágil e sofre menor deformação permanente por fluência (C). Embora tanto o polietileno como o cimento acrílico apresentem fluência quando submetidos ao carregamento estático ou cíclico, estes materiais diferem-se quanto à intensidade do processo de deformação permanente. O PMMA, de maior rigidez (maior módulo de elasticidade) tem comportamento frágil e sofre menor deformação permanente (fluência) quando comparado ao polietileno (Fig.57.12C). A viscoelasticidade origina também a propriedade de Relaxação de Tensão que se refere à diminuição do esforço necessário para manter 6 um determinado estado de deformação em um corpo . Em relação ao polietileno, o conhecimento da fluência é importante, por exemplo, para se avaliar o desgaste em substituições articulares protéticas. Quando calculamos o desgaste do polietileno na superfície articular protética através de medidas radiográficas, na verdade estamos considerando não só o desgaste real do polietileno, mas também sua deformação por fluência, esta de maior magnitude no primeiro ano após a artroplastia. A taxa de fluência é determinada em parte pela temperatura, de modo que o cimento acrílico, por exemplo, pode fluir em meio líquido à temperatura de 37ºC. Quanto ao cimento acrílico, em sua função de transmissão de carga na artroplastia, devemos considerar que as solicitações impostas provocam a interação de mecanismos de fluência e fadiga, que geram o acúmulo progressivo de danos ao manto de cimento. A fluência do cimento, contudo, reduz o nível de tensões no manto o que, a princípio pode diminuir o efeito de fadiga. O pico de tensões trativas pode ser reduzido pelo fenômeno de relaxação por fluência, e assim ocasionar a diminuição do processo de acúmulo de danos, que 11,13 é função da magnitude destes esforços de tração . 27 Segundo Verdonschot e Huiskes , a taxa de fluência decresce com o tempo, indicando que embora continue por um longo período, pode vir a ser insignificante em longo prazo. Quaisquer deformações permanentes no manto de cimento sejam por fadiga ou fluência, são consideradas indesejáveis, uma vez que podem permitir a migração distal excessiva do implante femoral. Esta observação é subsidiada pelos achados de migração excessiva do implante femoral associada a um tipo de cimento de baixo módulo de elasticidade (cimento de baixa rigidez). Os maus resultados observados com tal formulação 28 culminaram com sua retirada precoce do mercado . Vários autores propuseram a utilização de modelos protéticos de hastes femorais que possam tirar vantagem da fluência do manto de cimento e assim preconizaram o design cuneiforme que pode, por migração, se acomodar a este manto quando da sua 2,11,13,22,23,29,30 deformação . Para a otimização deste efeito, sugeriram ainda a diminuição do atrito entre haste e cimento e assim recomendam a utilização de hastes polidas. Quando da acomodação da haste ao cimento que fluiu, o design cuneiforme permite a compressão radial do manto, criando um novo ambiente mecânico mais estável. Experimentalmente constatou-se a migração protética decorrente da fluência, contudo de magnitude bastante variável e sensível ao tipo de acoplamento da interface 31 metal/cimento, e à formulação do cimento . Embora a migração distal máxima de 0,5 mm para hastes femorais seja atribuída à fluência, ela é responsável pela falha em fadiga da interface cimento/osso o que, conseqüentemente, pode levar à soltura do implante. A menor resistência mecânica do osso trabecular, adjacente ao cimento, pode permitir maiores deformações e a ocorrência de trincas no manto de cimento, contudo sua relevância ainda está por ser determinada. A.4. Deformação Plástica Macroscópica: Muito embora na deformação plástica não haja solução de continuidade do implante ela representa a deformação permanente do componente e, portanto determina uma ruptura funcional (Fig.57.13A-C). A deformação plástica ocorre também em pontos de concentração de tensões, e é frequentemente resultante de características da estrutura e composição do material assim como de suas propriedades mecânicas, como baixas dureza e rigidez. B. Mecanismos de Desacoplamento: Os mecanismos envolvidos no desacoplamento de implantes protéticos são dependentes da relação de estabilidade mecânica entre os diferentes elementos das interfaces e, portanto estão associados primariamente à origem deste modo de falha. No desacoplamento de interfaces não constritas (falha tipo IIA), a instabilidade protética, sob a forma de luxação ou subluxação, é a manifestação mais freqüente. Sua ocorrência pode ser devida ao mecanismo de impacto entre diferentes porções do implante (como entre o colo femoral e o componente acetabular) entre os componentes do implante e estrutu- Fig.57-13. Deformidade Plástica Macroscópica de Implantes. (A): Radiografia no plano frontal mostrando discreta deformidade plástica da haste femoral na região do foco de fratura do cimento ósseo. (B): Detalhe do explante mostrando a região da haste submetida às tensões de compressão (seta). (C): Cortesia Dr. Nelson Franco Filho que mostra radiografia n no plano frontal com deformidade plástica acentuada do implante femoral (seta) ao redor da região de não união de fratura periprotética diafisária. turas ósseas adjacentes (como entre o colo femoral protético e osteofitos acetabulares) ou entre estruturas ósseas como a que pode ocorrer entre o grande trocânter e a pelve. Na ausência de impacto patente, mecanismos traumáticos ou secundários ao desequilíbrio de partes moles frequentemente estão associados à instabilidade da reconstrução protética. Nas interfaces semi-constritas, onde movimentos discretos,como a fretagem, são observados, a magnitude do atrito é determinante para a ocorrência do desacoplamento, por exemplo, entre haste e cimento. Por outro lado nas interfaces constritas como ocorre entre o cone Morse e a cabeça modular protética ou entre o inserto acetabular e a taça metálica, o desacoplamento só irá ocorrer em virtude do comprometimento dos elementos responsáveis pela estabilidade do conjunto. B.1. Impacto (Entre elementos do implante e/ou estruturas ósseas): - Impacto Implante/Implante Para as interfaces não constritas, como a superfície articular primária, a instabilidade protética é mais frequentemente causada pelo conflito entre duas porções do implante. Neste caso a amplitude de movimentação da articulação protética, livre de contato entre porções do implante (folga ou clearance articular), está diminuída. Esta situação pode ocorrer em função de detalhes do design protético ou ainda pelo posicionamento do implante durante o ato cirúrgico. Uma característica importante do design protético é o offset céfalo-cervical, definido como a razão entre o diâmetro da cabeça protética em relação ao colo. Quando esta relação tem valor inferior a 2, a diminuição do clearance articular resultante aumenta o risco de impacto e, portanto de instabilidade protética (Fig.57.14). Desta forma cabeças de maior diâmetro não dotadas de extensões (skirt), e associadas aos colos trapezoidais são recomendadas, se resultarem em offset céfalo-cervical maior que dois. Esta relação, e não somente o valor absoluto do diâmetro da cabeça protética, deve ser considerada. Fig.57-14. Para um mesmo diâmetro externo de componente acetabular de mesmo design, a utilização de cabeças de diâmetro crescente (28mm, 32mm, 36mm e 40mm) proporcionam amplitude de movimentação respectivamente de 123º, 130º, 136º e 152º, até o impacto. A distância crescente a ser percorrida pela cabeça protética também é demonstrada (d1 e d2). d2).......................................................................................................... ................................................................................................................ ....................................................................................................... Neste sentido é de particular interesse o grande diâmetro da cabeça protética nas artroplastias de recapeamento, porém como o colo femoral (ósseo) remanescente apresenta também grande diâmetro, a relação céfalo-cervical deve ser cuidadosamente observada. Outra característica relevante do design protético é o formato da borda da superfície articular do componente protético, seja com respeito ao chanfro como também a presença de elevações localizadas. Detalhes do chanfro e da topografia das elevações das bordas do implante podem diminuir o clearance e assim predispor ao impacto com o colo protético adjacente. Fatores relacionados ao posicionamento dos implantes protéticos têm adicionalmente grande relevância na gênese do impacto. A lateralização, horizontalização e versão do implante acetabular e femoral durante o ato operatório podem também diminuir o clearance articular e predispor ao impacto e à instabilidade protética. Além da instabilidade protética, o impacto entre duas porções do implante pode ocasionar fratura do inserto acetabular cerâmico, metalose quando do impacto entre 2 porções metálicas e osteólise oriunda de partículas resultantes do desgaste por impacto. - Impacto Implante/Osso O conflito implante/osso pode ocorrer entre o colo protético e a borda acetabular nos casos em que o tecido ósseo remanescente da borda acetabular transcenda os limites da borda do implante. Neste caso, os osteófitos devem ser removidos, ou caso um componente acetabular sub-dimensionado ou excessivamente medializado tenham sido implantados, sua correção é imperativa. - Impacto Osso/Osso O conflito osso/osso está também intimamente ligado a fatores relacionados à técnica cirúrgica. A restauração do centro de rotação do quadril protético em relação ao seu offset e à sua altura promovem um clearance (folga) articular adequado. Contudo, o offset e o comprimento do membro diminuídos, podem predispor ao impacto do fêmur contra a pelve. De particular importância para a restauração do centro de rotação do quadril protético é o ângulo cervico-diafisário, uma vez que dele dependem tanto o offset quanto a altura do CR da cabeça 31 protética . Vários estudos têm demonstrado que hastes femorais com opção única de ângulo cérvico-diafisário são capazes de restaurar a topografia adequada do CR 32-34 em apenas 30-40% dos casos . B.2. Falência do Suporte Ósseo e/ou do Cimento Ósseo: Como já citado anteriormente, o mecanismo de desacoplamento da interface cimento/implante pressupõe um comportamento mecânico de superfícies não aderidas, como ocorre nas hastes polidas (rugosidade de superfície menor que 0.25 μm). Para o adequado esclarecimento deste mecanismo é preciso considerar que a mecânica da haste femoral cimentada prevê duas situações distintas: - a de interface não aderida entre a haste e o cimento como ocorre nos casos de hastes polidas (rugosidade de superfície menor que 0.25 micrômetros – μm) - ou de interface aderida como ocorre em hastes de superfície fosca (ou opacas, “matte finished”, com rugosidade entre 0.50 e 0.75 μm), hastes de superfície jateada (1.75 a 2.50 μm, “grit blasted”), ou ainda hastes com superfícies dotadas de macro-texturas ou design anatômico. No caso de hastes polidas, durante a cura, o cimento se molda às discretas irregularidades da superfície do implante, gerando um acoplamento mecânico que se comporta como uma interface não aderida, de baixo atrito. A solicitação mecânica pode originar discretos movimentos nesta interface que permitem, no caso de hastes cônicas, o assentamento deste implante no interior do manto de cimento, que por sua fluência se molda novamente à superfície polida do implante, provendo estabilidade mecânica através de tensões radiais. Esta acomodação da haste polida e cônica pode ser observada radiograficamente como uma linha radiotransparente, de poucos milímetros de espessura (< 2 mm), não progressiva, na região do “ombro” da haste súpero-lateralmente, denominada na língua inglesa debonding (Fig.57.15). Como conseqüência do baixo atrito, pouco ou nenhum dano é ocasionado ao manto de cimento, porém pequenas alterações da superfície do implante podem ser notadas, como por exemplo, o polimento adicional. Portanto, para hastes polidas e cônicas, o debonding é um achado precoce, não progressivo, que se estabiliza por volta do primeiro ano pós-operatório e que parece proteger a interface cimento/ osso de tensões elevadas de cisalhamento. Linhas radiotransparentes de maior espessura e progressivas estão associadas à instabilidade do implante e, portanto indicam falha potencial. Embora interpretada como uma acomodação da haste, permitida pela fluência do manto de cimento e do osso trabecular ad jacente ao cimento, alertamos que quaisquer deformações permanentes no manto de cimento, sejam por fadiga ou fluência, são consideradas indesejáveis , uma vez Fig.57.15. Radiografia ântero-posterior da pelve em um paciente submetido ao implante de haste cônica, polida e sem colar. Observe a demarcação na região do ombro da haste (Debonding -seta). Este achado, de espessura menor que 1-2mm e não progressivo denota somente a acomodação da haste no interior do manto de cimento, e assim não caracteriza um desacoplamento. que podem permitir a migração distal excessiva do implante femoral, caracterizando assim o desacoplamento (veja acima item A.3. Fluência). Em estudos 11,13 experimentais nós demonstramos , a exemplo de outros autores, a importância da estabilidade rotacional do implante femoral na migração protética. Implantes de menor rigidez (menor módulo de elasticidade, e menor preenchimento do canal medular proximalmente) produzem maiores tensões no manto de cimento e assim resultam no alargamento da cavidade, tanto em suas dimensões ântero-posterior como médiolateral. De fato, constatamos que a rotação da haste posteriormente precede a migração distal (Fig.57.16). Este alargamento pode ser maior que o permitido pela fluência do manto de cimento propriamente dito, uma vez que a fluência do osso esponjoso adjacente ao manto pode permitir o alargamento da cavidade nestes planos. Estas são constatações que justificam a caracterização deste evento como falta de suporte mecânico, seja do cimento ou do osso trabecular adjacente ao cimento. Conjecturamos que talvez este seja o real motivo para falhas mais precoces, caso se deixe osso esponjoso residual na região medial do fêmur proximal, sem ser preenchido por cimento ósseo. Além disto, este aspecto pode justificar a maior longevidade em hastes que possuam um grande preenchimento proximal da cavidade medular, ainda que com um manto de cimento de espessura não maior que 1-2milímetros (Paradoxo 35,36 Francês) . Fig.57-16. (A): Radiografia do quadril direito em projeção ânteroposterior em um paciente submetido ao implante de haste cônica, polida e sem colar. Observe que não existe sinal característico de debonding (seta). (B): A projeção sagital do quadril mostra, contudo o alargamento do manto de cimento femoral associado à retroversão da haste, que pode ser constatado pela presença de grande radiotransparência entre o manto de cimento e a face anterior da haste (Setas). Este fato indica que a rotação posterior precede a migração distal da haste. É notório ainda, o fato constatado em nossas 13 37 observações experimentais e clínicas que mostram a inexistência de debonding em hastes polidas e cônicas seguidas em média por 7,8 anos, em que o preenchimento proximal do fêmur pelo implante foi maior que 60%, e a cimentação classificada como grau 38 A ou B de Barrack et al . Estas observações dão suporte à nossa abordagem de fazer a diferenciação entre desacoplamento e soltura do implante (ver item C, Mecanismos de Soltura). Um tipo particular de desacoplamento de interfaces diz respeito aos implantes não cimentados, femoral ou acetabular, na interface implante/osso, em que na verdade a fixação biológica nunca foi obtida. Implantes não cimentados que não apresentem estabilidade imediata adequada, estão incluídos neste mecanismo de desacoplamento. Implantes femorais subdimensionados, ou componentes acetabulares e femorais implantados sem a técnica de acoplamento por pressão de contato (press-fit), podem predispor a não fixação biológica, ou ainda a fixação por tecido fibroso e não o tecido ósseo. Uma vez que estes implantes nunca estiveram adequadamente fixos pela osteointegração, acreditamos ser imprópria a utilização do termo soltura e assim preferimos a denominação desacoplamento.Esta situação ocorre principalmente na falta da estabilidade mecânica inicial do implante protético, que pode originar-se por inadequação técnica ou pela insuficiência de suporte ósseo. A osteointegração do implante requer condições de estabilidade mecânica, frequentemente obtida por press-fit, também chamada de interference-fit (quando o implante tem maior diâmetro que a cavidade criada para recebê-lo) ou por scratch-fit (quando somente a espessura do revestimento poroso ultrapassa o diâmetro da cavidade criada). No caso do exact-fit, implante e cavidade têm o mesmo diâmetro e, portanto mecanismos adicionais de estabilização devem estar presentes. Muito embora a falta de suporte ósseo, seja ela quantitativa (como na displasia do desenvolvimento, pós fratura do acetábulo, protrusão acetabular entre outros) ou qualitativa (pós-irradiação, doenças osteometabólicas ou congênitas, por exemplo), a causa mais freqüente da falha da osteointegração (desacoplamento) é de natureza técnica. A não obtenção de um assentamento adequado do implante metálico não cimentado junto a um leito ósseo sangrante dificulta ou, mais frequentemente impede a fixação biológica. A dificuldade técnica de um assentamento adequado do implante acetabular foi reportado 39 por Schwartz et al , que observaram um contato inadequado na interface implante/osso em 100% dos espécimes testados, ainda que em condições de laboratório e realizado por cirurgiões experientes. O diagnóstico do desacoplamento pode muitas vezes passar despercebido por longo tempo uma vez que os sintomas podem ser escassos, principalmente quando não associado à migração do implante (Fig.57.17). Fig.57-17. (A): Radiografia do quadril esquerdo em diferentes períodos de seguimento. O paciente não apresentava queixas clínicas significativas, exceto discreta dor na nádega ao levantar da posição sentada, que melhorava com a movimentação ulterior. (A): PO imediato mostrando assentamento inadequado do implante (seta) (B): 25 meses PO (C):62 meses pós PO, sem alterações significativas em relação ao PO Imediato. Aos 114 meses pode-se notar migração do componente acetabular, com desaparecimento da linha rádiotransparente (D). Observe o desgaste do polietileno, com migração superior da cabeça protética.(E): explante acetabular que não apresenta quaisquer sinais de osteo-integração F: Inserto de polietileno com desgaste na região superior e impressãso da cabeça do parafuso (G, seta) No caso de implantes femorais, o desacoplamento também é frequentemente ocasionado pela instabilidade mecânica resultante do implante de um componente subdimensionado. Os sintomas neste caso podem ser mais intensos e representados principalmente pela dor na coxa, de origem mecânica. Radiograficamente os sinais de osteointegração não estão presentes (já discutidos na origem das falhas). B.3. Traumático: A instabilidade das superfícies articulares primárias (não constritas) podem apresentar-se também sob a forma de luxação ou sub-luxação de origem traumática, ainda que na ausência de impacto repetitivo, por distopia dos implantes protéticos. Neste caso, traumatismos ou movimentos inadequados que levem a posições extremas, como a de flexão adução e rotação interna em pacientes submetidos à artroplastia primária por abordagem posterior, podem causar o desacoplamento da superfície articular. O desacoplamento de interfaces semi-constritas, como pode ocorrer entre a haste femoral polida e cônica e o manto de cimento, ocorre mais frequentemente, pela migração da haste no interior do manto de cimento. Porém em virtude desta superfície não aderida ter baixa resistência mecânica aos esforços de tração, quando sujeita ao arrancamento, por exemplo, durante a luxação protética, a haste pode se desalojar do manto de cimento (Fig. 57-3D), caracterizando assim um verdadeiro desacoplamento do implante. Esta complicação tem sido relatada na literatura com freqüência crescente para hastes femorais com estas características (force closed), de tal forma que alguns autores têm sugerido a aplicação de uma porção de cimento na região supero-lateral do implante, de modo a prevenir o arrancamento ou desalojamento traumático da haste 40 (desacoplamento) . As hastes femorais com características de interface aderida (shape closed) têm um comportamento mecânico distinto, que será abordado abaixo nos mecanismos de soltura. O desacoplamento entre interfaces constritas (como exemplo entre o inserto e o suporte metálico acetabular, entre cabeça modular e cone protético ou entre cabeça e anéis de retenção) pode ocorrer por traumatismo agudo ou também por impacto repetitivo. O desacoplamento entre cabeça modular e cone da haste em um componente bipolar, quando não há falha do anel de trava é um exemplo. Por outro lado a falha do anel de trava deste componente ocasiona o desacoplamento entre cabeça e o implante bipolar. Temos observado alguns casos de desacoplamento entre cabeça modular e cone protético, em pacientes referenciados, nos quais as dimensões entre os componentes são incompatíveis (Fig.57-18A e B). Embora neste caso devêssemos esperar uma interface constrita, temos na verdade uma interface semi-constrita. O impacto entre o colo da haste e o inserto de polietileno pode ocasionar o desacoplamento entre inserto e taça metálica. Neste caso, frequentemente ocorre a falha do mecanismo de trava do inserto, mais comum na primeira geração de implantes acetabulares não cimentados. Mecanismos inadequados de trava do inserto também podem transformar uma interface que originalmente deveria ser constrita, em uma interface semiconstrita, devido, sobretudo a movimentos rotacionais do inserto no interior da taça metálica. B.4. Desequilíbrio de partes moles : O desacoplamento, notadamente entre superfícies articulares não constritas, pode ser ocasionado pela falta de estabilização dinâmica da articulação protética. O mecanismo envolvido nesta tensão diferencial das partes moles periarticulares pode estar relacionado aos fatores dependentes da técnica cirúrgica ou design do implante, que resultem em offset medial inadequado, ou ainda a fatores dependentes do paciente como maior lassidão muscular (idosos, sexo feminino e número de Fig.57-18. Desacoplamento da interface entre cabeça protética e cone da haste femoral (interface constrita). Devido a incompatibilidade dimensional entre estes componentes (A, seta), ocorreu secundariamente o desacoplamento entre os componentes da superfície articular primária, não constrita (B). .................................................................................................................... .................................................................................................................... ............................................................................................ cirurgias prévias do quadril), comorbidades (distúrbios neurológicos e cognitivos, alcoolismo), fraturas por avulsão trocanteriana (traumática ou secundária à osteólise), impacto (já descrito acima), abordagem cirúrgica ou mau posicionamento dos implantes protéticos. B.5. Desacoplamento por Mecanismos Associados: Não raramente, mais de um mecanismo pode estar presente, simultaneamente, e assim determinar o desacoplamento de implantes protéticos. Quando um mecanismo isoladamente já é suficiente para ocasionar o desacoplamento ele é classificado como causa primária. Porém quando somente a associação de mecanismos é que tornam possível o desacoplamento, como por exemplo, quando do desalojamento da haste femoral do canal femoral durante a luxação protética, é que consideramos mecanismos associados. C. Mecanismos de Soltura: A soltura asséptica dos implantes protéticos do quadril é um evento de natureza primariamente mecânica, podendo ser agravado por fatores secundários sejam eles mecânicos ou biológicos. Os mecanismos de soltura variam em função da fixação do implante (cimentado ou não cimentado), do suporte ósseo ao implante, de seu design (polida, rugosa ou texturizada) e da técnica cirúrgica (posicionamento dos implantes). C.1. Falência do Cimento ósseo: Durante o seu período em serviço na artroplastia de quadril, o cimento ósseo está sujeito a tensões muito próximas ao seu limite de resistência e, portanto sujeito a falência por trincas e soltura na sua interface com o implante e o osso. Após a falência mecânica do manto de cimento, as trincas passantes, e/ou o espaço articular efetivo permitem o mecanismo de pressão hidrostática flutuante que, potencializado pela resposta orgânica aos detritos (debris) articulares, dão origem a reabsorção óssea 41 localizada e progressiva (osteólise) . A soltura da interface cimento/osso é a causa mais freqüente de revisão por soltura de implantes artroplásticos de quadril. Diferentemente do conceito de desacoplamento de hastes polidas, a falência do cimento na presença de hastes que apresentam superfície aderida com o manto adjacente, é considerada soltura da interface. As hastes que proporcionam superfície aderida com o cimento, de alto atrito (shape closed), como nas hastes de superfície fosca, jateada, pré-revestida, dotadas de macro-texturas ou de design anatômico, promovem a sobrecarga da interface cimento/osso e assim predispõe a soltura do cimento em relação ao osso adjacente. Além do mais, o atrito elevado e a aspereza da superfície, promovem danos consideráveis ao cimento e ao implante quando de sua soltura. A soltura de outros materiais interpostos entre o implante e o osso, como o revestimento de hidroxiapatita ou de metacrilato de metila, podem adicionalmente gerar uma interface de atrito elevado. Desta forma a migração e acomodação da haste no manto de cimento é um processo inerente às polidas, cônicas e sem colar, porém a migração na presença de hastes com superfície aderida deve ser considerada como soltura e, portanto falha do implante. Vários fatores têm sido associados à maior ou menor taxa de soltura das hastes femorais cimentadas. A espessura do manto de cimento (entre 2-5 mm) parece proteger o implante da soltura. O aumento da rigidez do implante (diminuição da ductilidade) diminui a sobrecarga ao manto de cimento, sobretudo em relação aos momentos flexurais e rotacionais. Assim, materiais de maior módulo de elasticidade e hastes com maior preenchimento proximal têm sido associados à menor taxa de 36,37,42, soltura . Segundo alguns autores, o preenchimento proximal é um fator de extrema importância na longevidade da reconstrução, mesmo que obtida às custas de um manto de cimento mais fino. Este 36 fenômeno, conhecido como Paradoxo Francês , tem justificado a utilização de hastes que permitem maior preenchimento das dimensões do fêmur proximal (>60%) e, portanto do canal medular, pelo implante 37 protético . A longevidade da fixação do implante acetabular cimentado é menor que a do componente femoral. Os motivos alegados para este fato estão relacionados à menor penetração do cimento no leito ósseo, ambiente mecânico e técnica cirúrgica inadequada. Achados histológicos de autópsia em componentes acetabulares bem fixos radiograficamente mostraram a interposição de membrana em quase toda extensão da interface cimento/osso, à exceção de escassos pontos focais de 24 contato direto entre cimento e tecido ósseo adjacente . A ausência de interdigitação no osso subcondral, na periferia do acetábulo, permite que o mecanismo de pressão hidrostática flutuante, potencializado pela presença de debris oriundos da superfície articular através do espaço articular efetivo, direcione estas partículas para o osso adjacente, através das regiões de pouca estabilidade da interface. O ambiente mecânico parece ter importância, uma vez que materiais para superfícies alternativas como o metal ou a cerâmica também produzem resultados inferiores quando cimentados. Ainda, a área exposta da superfície do acetábulo é bem maior que a femoral, o que a torna mais susceptível ao ingresso de detritos articulares (debris). C.2. Falência do suporte ósseo: Tanto os implantes cimentados como os não cimentados necessitam de suporte ósseo para sua estabilidade mecânica e funcional e, portanto para sua longevidade em serviço. A utilização do cimento ósseo requer o travamento mecânico do manto em osso esponjoso de boa qualidade. Estudos post-mortem de espécimes avaliados por histopatologia tridimensional, realizados por Draenert et 24 al , mostraram que em todos os casos nos quais o cimento penetrou adequadamente no osso esponjoso, as trabéculas resistiram à deformação quando do suporte de carga, e permaneceram vivas, sem sinais de reabsorção. Ao contrário, estas trabéculas encontraramse hipertrofiadas e reforçadas na sua estrutura lamelar concêntrica. Portanto as lamelas ósseas reforçadas pelo cimento apresentam maior rigidez e maior resistência à deformação. Por outro lado, nas regiões onde as trabéculas não foram envolvidas e reforçadas por cimento ósseo, as lamelas evidenciaram um processo de desmineralização e atrofia secundário à blindagem de tensões. Os autores enfatizam que hastes femorais cimentadas podem prover firme ancoragem se o osso esponjoso for preservado e as trabéculas circundadas por cimento ósseo. Esta condição está intimamente ligada à qualidade da técnica da cimentação. Implantes femorais cimentados realizados com a técnica de fresagem radial do canal medular, que pressupõe a remoção de todo o tecido ósseo esponjoso da superfície endosteal, não encontram estabilidade mecânica adequada e têm sido associados a falha precoce da interface cimento/osso. Realmente, Stone et 43 al encontraram 12% de falhas assépticas em apenas 68 meses de seguimento, em um tipo especifico de haste femoral cuja técnica cirúrgica preconizava a fresagem circunferencial do canal por meio de fresas flexíveis, que removiam todo o osso esponjoso do 44 interior do canal femoral. De fato Dohmae et al em estudos experimentais em fêmures de cadáver submetidos à cirurgia primária, primeira e segunda revisões, mostraram que a resistência ao cisalhamento da interface cimento/osso na primeira revisão foi somente 21% da obtida durante a cirurgia primária. Os autores discutem que a remoção de todo osso trabecular residual expondo o endósteo, que se apresenta polido, não produz o travamento adequado do manto de cimento e assim resulta em soltura precoce. Por estes motivos pessoalmente não indicamos hastes femorais cimentadas em pacientes com canais femorais anormalmente estreitos (Fig.57.19A) ou pós osteotomia proximal do fêmur (Fig.57.19B e C). No caso de fêmures com canais estreitos, a introdução do menor tamanho de haste cimentada requer uma fresagem radial que elimina todo o osso trabecular da cavidade medular, deixando o cimento ósseo sem um travamento mecânico adequado e simplesmente aposto ao endósteo. Fig.57-19. Situações em que a indicação de hastes femorais cimentadas é controversa. (A); Canais femorais extremamente estreitos nos quais a utilização de hastes cimentadas pressupõe a remoção do osso esponjoso. (B): Osteotomias femorais proximais podem provocar a corticalização do osso esponjoso, através de (C) verdadeiras barras ósseas que impedem a ancoragem do cimento. TM:Trocanter maior, FP: Fossa Piriforme, Tm: Trocanter menor e CM: Cavidade medular. Este fato talvez justifique também os melhores resultados de hastes não cimentadas em pacientes com anemia falciforme, uma vez que nestes pacientes, infartos múltiplos e a corticalização do osso trabecular, requerem a fresagem que resulta na remoção de todo o escasso osso esponjoso existente no interior do canal medular. Situação semelhante de corticalização do osso trabecular da cavidade medular do fêmur pode ocorrer após a osteotomia do fêmur proximal. Nesta condição a aposição do cimento ao osso cortical previne o travamento mecânico e a estabilidade do manto. O implante não cimentado deve, igualmente, ter uma relação de estabilidade com o tecido ósseo adjacente. A estabilidade imediata é condição necessária para a osteointegração. A utilização do conceito de acoplamento mecânico por pressão de contato (pressfit), fundamentado na viscoelasticidade do osso adjacente ao implante, requer a resistência mecânica adequada do invólucro ósseo cortical. A ocorrência de áreas osteolíticas de dimensões progressivas ao redor do implante, sejam devidas aos debris oriundos das superfícies articulares protéticas, ao cimento ou à fretagem do implante, podem iniciar o processo de soltura tanto de componentes cimentados ou não cimentados, uma vez que o suporte ósseo, nesta condição, fica comprometido. Muito embora a reabsor6,15 ção óssea progressiva (blindagem óssea ou stress shielding) ocasionada pela rigidez diferencial entre implante e osso represente uma condição de perda de densidade mineral óssea, a repercussão clinica para a instabilidade do implante não foi demonstrada. C.3. Falência da Fixação Biológica: Os implantes acetabulares de fixação biológica (não cimentados) revelaram bons e excelentes resultados clínicos aos 15 anos de seguimento, com algumas variações em função do design e material utilizado. Embora a taxa de desgaste tenha-se mostrado pouco superior a dos implantes cimentados, a incidência de soltura asséptica é menor. Sua utilização é também atrativa pelo fato de poder ser empregado em conjunto com superfícies articulares modulares alternativas como metal e cerâmica. Contudo há que se reconhecer algumas discrepâncias entre os resultados clínicos e a análise de componentes retirados de pacientes. Explantes removidos durante a cirurgia de revisão, com seguimento médio de 8 meses mostraram fixação biológica em apenas 16% (9 de 58 45 analisados) . Vários outros estudos confirmam este achado de fixação biológica ausente ou mínima em seguimentos de até 1 ano, acrescido do fato que quando se observa a fixação biológica, ela ocorre em cerca de apenas 15% da superfície do implante, notadamente ao redor de dispositivos de fixação, como parafusos, sendo o restante da área ocupada por tecido 46,47 fibroso denso . Por outro lado, explantes com boa função, prévia à autopsia, e com seguimentos maiores (38-50 meses) revelam maior área, porém ainda proporcionalmente pequena, de fixação biológica (cerca de 32%). Curiosamente estes estudos não revelaram correlação entre a presença de fixação biológica nos explantes e os achados radiográficos no que diz respeito às áreas de radiotransparência. Desta forma fica difícil definir se um componente acetabular não cimentado realmente soltou-se, ou se na verdade nunca esteve realmente adequadamente fixo por tecido ósseo. Em nossa experiência clínica temos analisado explantes removidos tardiamente (8-10 anos) em cirurgias de revisão para troca do inserto de polietileno, em pacientes pouco sintomáticos, e em que durante a cirurgia os componentes metálicos se mostraram soltos após a remoção dos parafusos, sem a presença de qualquer evidência de fixação biológica (Fig.57-17). A real soltura tardia de implantes acetabulares não cimentados, ou seja a destruição de trabéculas ósseas que possibilitaram a osteointegração prévia, é conjecturada na literatura como resultado da fratura por fadiga das trabéculas ósseas que penetram o implante, em virtude da condição de perda óssea ao redor do implante ocasionada por osteólise periprotética. Por outro lado o componente femoral não cimentado apresenta um percentual de fixação biológica mais reprodutível e consistente, ao redor de 65%, observado 48 pela análise de explantes . Da mesma forma que para os implantes acetabulares, os componentes femorais podem não apresentar osteointegração, como no caso de implantes subdimensionados, em que a estabilidade imediata é inadequada. Nesta circunstância, uma linha radiopaca ao redor de todo implante é observada radiograficamente, assim como a formação de uma área esclerótica ao redor da extremidade do implante (pedestal). Adicionalmente os sinais radiográficos de fixação biológica não são observados. A soltura tardia pode ser observada somente nos casos de osteólise periprotética, por mecanismo semelhante ao descrito para os implantes acetabulares não cimentados. Desta forma, uma vez ocorrida a fixação biológica, são raros os eventos que podem culminar com a sua soltura. O mais comum é a falta de fixação desde o momento da implantação do componente (desacoplamento). C.4. Falência combinada: A falência (soltura) do cimento ósseo ou do implante não cimentado pode associar-se ou levar à destruição óssea progressiva e assim ocasionar um suporte ósseo inadequado ao implante, agravando assim o processo de soltura e de comprometimento do estoque ósseo. D. Mecanismos de desgaste: O desgaste é uma conseqüência inevitável do movimento relativo entre duas superfícies opostas em contato, em que a remoção de material devido à ação mecânica pode gerar milhares de partículas nos tecidos adjacentes a cada ciclo de marcha. Na articulação protética o desgaste é determinado por diferentes mecanismos, em função do atrito e da lubrificação do 14 meio adjacente (Fig. 57.20A-C) . D.1. Desgaste Adesivo: Imperfeições do contorno ou da esfericidade da cabeça, como a decorrente da usinagem, podem determinar pontos de maior contato entre as 2 superfícies, regiões estas onde se formam verdadeiras ligações químicas entre as superfícies opostas. Com a movimentação, as partículas são transferidas para a superfície oposta ou dela arrancadas, gerando uma superfície áspera que amplifica o desgaste ulterior, e causando assim a formação de detritos articulares (Fig. 57.20A). Fig.57.20. Diferentes mecanismos de Desgaste. No desgaste adesivo (A), as forças de atração intermolecular promovem, durante a movimentação, o arrancamento de partículas da superfície. No desgaste abrasivo (B) um dos materiais, dotados de irregularidades funcionam como uma lixa sobre o material oposto.. No desgaste oxidativo (C), a fadiga na região de altas tensões de contato promovem a delaminação da superfície. . Neste mecanismo de desgaste, chamado adesivo ou por transferência, a intensidade da força de ligação entre átomos e moléculas das superfícies opostas tem grande influência, e pode ser uma importante fonte de partículas, como nas elevadas forças de atração entre elementos metálicos (ligação metálica) da articulação metal/metal, quando também a alta ductilidade promove maior adesão entre as superfícies em contato. À medida que o material é progressivamente removido dos pontos de maior contato, o conseqüente autopolimento da superfície diminui a intensidade do desgaste adesivo (Fig.57.22A). Este mecanismo é responsável pelo run-in da articulação metal-metal e pelo polimento do polietileno nas articulações protéticas com este material. D.2. Abrasivo (primário e por interposição ou 3º corpo); O mecanismo mais freqüente de desgaste é a abrasão, em que as asperezas superficiais funcionam como uma lixa ao contato com o elemento oposto. Esta ocorrência se justifica pelo fato de que, mesmo em implantes polidos e aparentemente lisos, o atrito pode ocorrer pelas irregularidades superficiais (rugosidade) em nível microscópico, cujo perfil pode ser avaliado por aparelhos como o rugosímetro (Fig.57.21A-C). Fig.57.21. (A):Superfície de cabeça metálica polida e aparentemente lisa a olho nu apresenta (B): à microsocopia, irregularidades ou asperezas em sua superfície cujo (C): perfil pode ser determinado e mensurado (em Ra- rugosidade média) por aparelhos como o rugosímetro. Fonte: Gomes LSM14. A abrasão, ocasionada pela rugosidade das superfícies do par tribológico, pode ser agravada pela presença de contaminantes no interior da articulação como fragmentos metálicos, ósseos ou de cimento ósseo (chamados de terceiro corpo), que irão promover maiores danos à superfície articular e assim ocasionar um desgaste rápido e progressivo (Fig.57.22 B,E,F). Este mecanismo (abrasão por terceiro corpo) é constatado em explantes pela presença de ranhuras e riscos na superfície articular protética. A abrasão é grandemente influenciada pelos biomateriais constituintes do par tribológico, uma vez que materiais mais duros, e com menor ductilidade mostram-se mais resistentes à abrasão por apresentarem menor desgaste e maior resistência ao dano superficial, como a articulação cerâmica/ cerâmica. D.3. Oxidativo e Corrosivo: -Oxidativo; A movimentação e o carregamento cíclicos entre as superfícies articulares podem iniciar a fadiga do material através de microtrincas que ao se propagarem promovem a delaminação de fragmentos para o interior do espaço articular. Este desgaste por fadiga gera, portanto partículas maiores que podem atuar como terceiro corpo ou mesmo ocasionar bloqueio articular. O polietileno é particularmente susceptível à formação de partículas devido à fadiga de contato que pode ocorrer pela combinação dos mecanismos de rolamento e deslizamento entre os elementos do par tribológico. No caso de rolamento, quando as tensões de contato ultrapassam o limite de fadiga do material, ocorre uma nucleação de fadiga na subsuperfície, e a propagação deste processo culmina no destacamento da partícula. No caso do deslizamento um elemento desliza em relação ao outro, provocando tensões cíclicas superficiais, que quando maiores que as tensões críticas, promovem a propagação do processo de fadiga e assim o destacamento de partículas. Este mecanismo é facilitado pela oxidação do polietileno (Fig.57.22C), uma vez que a conseqüente alteração de suas pro49 priedades mecânicas diminui sua resistência à fadiga . O desgaste pode ocorrer ainda por fenômenos triboquímicos conseqüentes às reações químicas entre as superfícies em contato e o meio adjacente. Na articulação Metal/Metal a remoção e formação alternadas da camada de óxido sobre as superfícies articulares (camada de passivação), liberam partículas no interior da articulação que são responsáveis pelo 50,51 desgaste oxidativo ou triboquímico. Todos os metais sofrem corrosão, em maior ou menor grau. A resistência à corrosão depende em grande parte da presença de uma camada natural de óxido estável e bem aderente ao substrato, camada de passivação, que protege a superfície do implante da ação dos fluidos biológicos adjacentes. Durante o processo de fabricação, os implantes são ainda submetidos à deposição adicional de óxidos em sua superfície. Esta camada de passivação pode ser removida por ação biológica ou mecânica. O teor adequado de Cromo, Níquel e Molibdênio aumenta a resistência à corrosão, enquanto o Manganês e o Nitrogênio dão estabilidade à estrutura austenítica do aço Inox e o Enxofre e Selênio facilitam o processo de fabricação (usinabilidade). A presença de maior teor de carbono pode aumentar a dureza e resistência do material em prejuízo da ductilidade e em caso de precipitação de carbonetos, predispor à sensitização (ou corrosão intergranular). D4. Impacto Repetitivo e Fretagem: Como já descrito no impacto implante/implante, o desgaste da borda do inserto da superficie articular protética ou da concha metálica pode ocorrer pelo impacto repetitivo entre os elementos protéticos (Fig.57.22D e E). Uma forma freqüente de impacto é o carregamento de borda (edge-loading). A introdução de ensaios com simuladores de quadril trouxe grande avanço às pesquisas experimentais, porém as articulações protéticas ensaiadas com este método ainda falhavam em reproduzir os danos observados em explantes. Mais 52 recentemente Lombardi et al confirmaram uma característica in vivo da cinemática articular protética em que, quando não solicitada em carregamento durante a marcha (fase de balanço), a cabeça femoral protética se desaloja parcialmente do implante acetabular. Com o carregamento subseqüente (fase de apoio) a cabeça volta a se alojar na cavidade, porém não sem antes impactar contra a borda superior do componente acetabular (edge loading – Fig.57.23A-D). Fig.57.22. Explantes de insertos acetabulares de polietileno mostrando o polimento (A e D), presença de 3º. Corpo (B e E Setas), oxidação (C seta), desgaste por impacto repetitivo (D e E setas) e falência catastrófica (F) A utilização desta característica cinemática nos ensaios em simuladores de quadril permitiu a reprodução dos danos mais encontradiços nos explantes (Fig.57.23E), incluindo o desgaste em faixa (stripe wear) 53 observado em cabeças das articulações C/C e M/M. Fig.57.23.(A) Em relação a sua posição durante o carregamento, (B) na fase de balanço ocorre o desalojamento parcial da cabeça femoral protética. (C) Quando do carregamento na fase de apoio, o assentamento é feito pela borda superior do acetábulo causando o impacto nesta região conhecido na literatura inglesa como edge-loading. (D) O desgaste na porção superior permite que mesmo após o assentamento, a cabeça seja dirigida superiormente. (E) Explante em que se visualiza o desgaste de todo o chanfro na porção superior do componente de polietileno (cabeças de seta) devido ao impacto na borda durante o realojamento da cabeça, comparado ao chanfro intacto na porção inferior (seta dupla) Fonte : Gomes LSM14. Fretagem (fretting): Por vezes o desgaste pode ser devido a micro-movimentos entre duas superfícies em contato, sujeitas a um carregamento cíclico que promove movimentos oscilatórios discretíssimos entre os corpos. Denominado por vezes como desgaste por agarramento ou gripamento, preferimos, embora não 15 totalmente adequado, utilizar o termo fretagem , como tradução do consagrado termo fretting da língua Inglesa. Este mecanismo de desgaste é frequentemente agravado por ações corrosivas. E. Mecanismos envolvidos na gênese do quadril protético doloroso sem falha aparente: Muito embora a artroplastia total do quadril seja um dos procedimentos ortopédicos de melhor relação risco e custo/efetividade, em algumas ocasiões nos deparamos com uma situação clínica de insucesso (falha), ocasionada por dor persistente, não associada à uma etiologia aparente, ou de difícil detecção ao exame inicial. Não raramente os mecanismos envolvidos neste tipo de falha só podem ser detectados pela análise simultânea de informações obtidas através da investigação clínica, laboratorial, de imagens, de achados operatórios e de análises dos explantes, sempre tendo como referência a etiologia e os mecanismos mais encontradiços nestas circunstâncias (Tabela 57.2). Evidentemente uma discussão detalhada sobre os processos e mecanismos patológicos envolvidos no quadril doloroso pós ATQ, foge ao escopo deste Capitulo, e o leitor deve se referir aos capítulos específicos para informações mais detalhadas. As causas extrínsecas (dor irradiada ou referida ao quadril), frequentemente são suspeitadas quando se procede a um interrogatório e exame físico adequados, e assim o diagnóstico pode ser confirmado por exames complementares pertinentes. Quando avaliamos as causas intrínsecas de dor, ou seja, a que tem sua origem sediada no quadril, um aspecto de grande relevância é distinguir entre processos assépticos e sépticos, pois deste fato irá depender a abordagem mais adequada e assim o prognóstico para a longevidade da reconstrução protética. Com o objetivo de determinarmos os processos envolvidos na falha utilizamos, em nosso serviço, uma abordagem que preconiza além da anamnese e exame físico pormenorizados, a distinção inicial entre: - os implantes que apresentam alterações radiográficas, ainda que discretas e/ou inconclusivas; - e os implantes sem nenhum tipo de falha aparente (Fig.57- 24). Em ambos os casos, nos baseamos na velocidade de hemossedimentação (VHS) e na proteína C reativa (PCR) em conjunto, como screening inicial, com um ponto de corte de 30mm (VHS) e 10 mg/dL(PCR), ou seja, quando os dois exames se situam abaixo destes valores, a infecção protética é causa muito pouco 54 provável da falha (valor preditivo negativo de 96%) . Assim, neste caso, quando associados ao exame clínico e radiográfico sugestivos de soltura não infectada, a revisão asséptica é efetuada, porém 4-5 culturas são colhidas intraoperatoriamente, como rotina. Caso VHS e PCR se encontrem aumentados, a aspiração, com controle fluoroscópico é efetuada. No líquido obtido é realizada a contagem total de leucócitos (ponto de corte 3.000 células/ml), percentual de polimorfonucleares (ponto de corte 80%). No caso de VHS e PCR aumentadas associadas a mais de 3.000 células brancas por mililitro, o valor preditivo positivo para infecção é 95%. Quando considerada somente a contagem diferencial associada à VHS e PCR, o valor preditivo positivo é 93%. Estes casos devem ser tratados, portanto como revisões sépticas. A cultura, ainda que colhida intraoperatoriamente, demanda um tempo maior para o processo decisório e apresenta um 55 falso positivo que varia entre 2.4% - 31.5% Para pacientes com implantes estáveis, VHS e PCR negativas, a investigação para causas extrínsecas deve ser efetuada. Porém, caso a VHS e PCR sejam positivas, a aspiração combinada com bloqueio anestésico da articulação deve ser realizado e assim se ambos são normais as causa extrínsecas devem ser reconsideradas. Caso ambos sejam positivos, a revisão séptica se impõe. A re-aspiração está indicada quando o bloqueio anestésico é positivo e a aspiração negativa. Concomitantemente, a síndrome de impacto femoroacetabular, sinovite e osteólise devem ser pesquisadas e, quando excluídas, a cintilografia trifásica com Tec99 associada ou não à cintilografia com Gálio é realizada. Na circunstância de positividade de qualquer uma das cintilografias, a re-aspiração está indicada. Embora controversa e com resultados contraditórios em relação a outros métodos de cintilografia atuais, persistimos com o uso da associação da técnica trifásica com tecnécio e Gálio, em virtude da sensibilidade, que pode justificar a realização de novos aspirados articulares, estes sim com maior especificidade. Mais recentemente, um quadro doloroso pós artroplastia total de quadril, tem sido associado ao par tribológico metal/metal quando da ocorrência de reações alérgicas ou de hipersensibilidade aos metais. Esta reação de hipersensibilidade do tipo IV ou tardia, mediada por linfócitos tipo T, faz com que o quadro histológico das falhas em relação aos outros biomateriais, mude de um padrão macrofágico para um quadro histológico linfocitário, que pode se estender, através do espaço articular efetivo, para os tecidos periarticulares, e à distância, através da corrente vascular e linfática. Fig.57.24. Algoritmo para a análise de falha em quadris protéticos dolorosos sem falha aparente. A distinção entre quadros sépticos e assépticos é de fundamental importância para a instituição do tratamento adequado. Esta reação linfocitária pode ocasionar na membrana sinovial, um quadro de sinovite proliferativa descamante que está frequentemente associado à dor de origem desconhecida, quando da utilização de superfícies protéticas metal/metal. Por outro lado, o infiltrado linfocitário pode se alojar no interior do tecido ósseo e predispor à soltura e mesmo à fratura do colo femoral nas substituições por recapeamento. A ocorrência do infiltrado linfocitário nas partes moles periarticulares está associada à formação de granulo56 mas e aos chamados pseudo-linfomas . F. Distopia primária do implante protético Denominamos distopia do componente protético à condição cirúrgica que resulte em um posicionamento do implante fora da topografia recomendada pela técnica cirúrgica convencional. Excluem-se deste conceito, portanto, as situações onde ocorra a migração pós-operatória dos implantes. Adotamos como padrão de topografia adequada do implante os relatos da literatura científica que a associam à maior longevidade da reconstrução articular 16-20 protética . Desta forma a distopia é sempre iatrogênica, ainda que intencional, como por exemplo, na implantação do componente acetabular em posição mais alta (elevação do centro de rotação do quadril ou high hip center). Por estes motivos a distopia do implante protético, embora não seja considerada uma falha patente, representa uma situação de falha potencial, predisponente ou associada a outros processos que podem evoluir para a falha patente da artroplastia. Quer para os componentes acetabulares ou femorais, a distopia pode ser classificada como desvios do alinhamento no plano transverso (superior e inferior) frontal (valgo/varo), sagital (antecurvato ou recurvato), intrusão, extrusão e versão (anterior ou posterior). Frequentemente, a distopia de componentes acessórios ou ancilares pode igualmente ser descrita como intrusão ou extrusão. A distopia do implante acetabular deve ser considerada em relação à posição adequada do centro de rotação do quadril. No plano transverso a distopia de posição superior é a mais freqüente. Sobretudo em pacientes portadores de seqüela de displasia do desenvolvimento do quadril, a tendência para implantação superior do componente é observada. Embora muitos autores aceitem o posicionamento superior (high hip center) , esta condição está associada à alterações da biomecânica do quadril, que podem promover maiores esforços e assim predispor à soltura do componente ou ao maior desgaste da superfície articular protética. Em patologias unilaterais o centro de rotação deve ser sempre comparado ao lado não afetado, aceitando-se como posicionamento adequado somente os desvios que se incluam dentro da margem de erro estatístico do 32 processo de mensuração radiográfica . No plano frontal e sagital a determinação de uma zona de segurança em relação à ocorrência de luxação protética preconiza a implantação do componente acetabular em 40º+10º de abdução e 15º+10º de anteversão. Ainda com relação à zona de segurança para a luxação protética, alguns autores relatam que a soma da anteversão acetabular e femoral seja aproximadamente 45º em homens e 40º em mulheres. Os mecanismos envolvidos na distopia do implante acetabular estão relacionados, dentre outros fatores, à anatomia própria do paciente e ao posicionamento do paciente para o ato cirúrgico. No posicionamento lateral do paciente, ainda que se usem dispositivos para a fixação da pelve, devemos considerar que a lordose lombar fisiológica diminui em cerca de 25º-30º, quando passamos da posição ereta para a posição operatória e assim, mesmo seguindo a orientação de 15º de anteversão, com o paciente ereto o implante terá situação de menor anteversão ou mesmo de retroversão. Esta condição é agravada pelo fato de que a inclinação anterior do paciente é muito comum no decúbito lateral, o que aumenta as chances de se implantar o componente acetabular em posição de menor anteversão que a desejada. Ainda, o posicionamento lateral do paciente resulta em adução da pelve (entre 10º-15º) o que resulta em uma tendência a se implantar o componente em posição mais vertical (abdução ou valgo). Em relação ao plano sagital o componente acetabular deverá ser posicionado radiograficamente, adjacente à gota de lágrima (imagem radiográfica em U). Preferimos esta última referência, quando bem distinguível radiograficamente, em detrimento da linha de Kohler que apresenta grande variação em função do posicionamento do paciente. O posicionamento mais lateral em relação à gota de lágrima caracteriza a extrusão do componente, e mais medial a sua intrusão. Componentes ancilares como os parafusos, quando utilizados, devem ser inseridos no quadrante pósterosuperior do acetábulo, evitando-se a coluna anterior. O componente femoral, em relação ao plano frontal e sagital, deve apresentar um posicionamento neutro em relação à cavidade medular e, portanto sem desvios em valgo/varo ou antecurvato/recurvato. Hastes cimentadas com mais de 5º de varismo estão associadas à maior taxa de revisão. O posicionamento em valgo é mais raro, pela limitação inerente do batente lateral do fêmur na região trocantérica. Os desvios no plano frontal se associam a deficiências do manto de cimento, que diminuem sua resistência mecânica e permitem com que mesmo pequenas trincas possam ser passantes (envolver toda a espessura do manto) e assim eliciar reações biológicas osteolíticas na interface cimentoosso. Cabe salientar que os centralizadores protéticos distais não garantem a implantação em alinhamento 57 neutro do componente femoral. Goldberg et al , em um estudo sobre o papel do centralizador no alinhamento do implante femoral, concluíram que os dispositivos centralizadores garantem somente um alinhamento adequado da haste em relação à cavidade criada pelo cirurgião. Assim, quando a cavidade é criada em varo, a extremidade da haste se choca contra a região anterolateral do fêmur e, desta forma, o centralizador se quebra e a haste implantada em varo origina uma camada de cimento fina ou ausente nas porções anterior e lateral da diáfise femoral (Fig.57.25A e B). produzido um alinhamento adequado dos implantes, 37,58 quer no plano frontal como sagital , garantindo assim um manto de cimento homogêneo ao redor do implante (Fig.57.26A-D). Fig.57.26. Ainda que com o uso de centralizadores, a cavidade formada pelo cirurgião produza um bom alinhamento no plano frontal (A), um recurvato da haste pode ser observado no plano sagital (B). Por outro lado a cavidade quando produzida em perfeito alinhamento com a cavidade medular, produz um excelente alinhamento da haste nos 2 planos mesmo que na ausência de centralizador distal (C e D). Fig.57.25. A curvatura sagital do fêmur promove um impacto da extremidade da haste com a cortical ântero-lateral (A), que provoca a quebra do centralizador (B-seta). Uma vez que a cavidade medular proximalmente ao istmo é retilínea e alinhada com a fossa piriforme (C), a utilização de fios guias que se ajustam a região do ístmo permite a centralização adequada do implante nos planos frontal e sagital (D e E). Por este motivo, desde 1998 incorporamos como rotina em nossa técnica cirúrgica, a utilização de fiosguia dotados de expansões de diâmetros progressivos em sua extremidade, que se ajustam ao istmo femoral e assim garantem a centralização da cavidade que irá ser 58 criada pelo cirurgião (Fig.57.25B-E) . Tão logo a cavidade seja instrumentada com o uso de raspas canuladas, os fios-guia são removidos e a cavidade preparada para cimentação a partir da introdução do restritor de cimento e lavagem pulsátil do tecido ósseo trabecular remanescente. Esta técnica tem O estado rotacional do implante femoral (anteversão ou retroversão) é de grande importância na estabilidade da reconstrução protética. Grande parte dos autores preconiza a implantação do componente entre 10-15º de anteversão. Na abordagem posterior, particularmente a associação de retroversão femoral e falta de anteversão acetabular é determinante da instabilidade. O posicionamento no plano transverso, sobretudo para hastes cônicas e sem colar deve considerar que existe uma relação adequada de preenchimento da cavidade medular pelo implante, e assim caso se implante o componente mais extruso ou intruso, esta relação não é estabelecida adequadamente com prejuízos para as tensões no manto de cimento proximal. De grande importância é o offset gerado pela implantação do componente femoral, uma vez que dele dependerá o equilíbrio de partes moles ao redor do quadril, assim como a magnitude das tensões de contato na superfície articular protética. Diminuição do offset femoral pode estar associada a maiores tensões e maior desgaste (Fig. 57.27 A e B). Fig.57.28. (A) Instrumentais e guias que determinam o ângulo cérvicodiafisário (a) orientam a restauração do offset (b), altura do C.R(c) da cabeça femoral e (B) determinam o local da osteotomia (cabeça de seta) podem ser de grande valor na reconstrução da cinética e cinemática do quadril protético Fig.57.27.Artroplastia bilateral do quadril realizada pelo mesmo cirurgião e mesmo tipo de implantes com 4 meses de intervalo entre os procedimentos. Resultados clínicos semelhantes com cerca de 4 anos pós–operatórios(A). Observe a verticalização do implante acetabular a direita, assim como a redução do offset (o) e clearance (c) femoral do mesmo lado . Com cerca de 7,5 anos pós-operatórios é possível observar o desgaste acetabular à direita, enquanto à esquerda nenhum desgaste significativo do polietileno pode ser notado(B) De difícil reprodução intra-operatória, a altura do centro de rotação da cabeça femoral e o offset, devem ser determinados a partir de guias que permitam, de modo preciso e reprodutível, restabelecer os parâmetros biomecânicos necessários à cinética e cinemática 32 adequada do quadril (Fig. 57.28 A e B). III.4. Efeitos e Conseqüências das Falhas Referem-se às possíveis conseqüências ocasionadas pela falha dos implantes. Estes efeitos podem atingir o implante diretamente, o tecido adjacente, ou ainda produzir efeitos regionais e/ou sistêmicos, através da reação orgânica metabólica, imunológica, neoplásica ou bacteriológica. Os Biomateriais podem ocasionar efeitos locais (tecidos adjacentes), remotos (órgãos à distância) ou sistêmicos, na dependência do tipo, quantidade, tamanho e toxicidade das partículas e substâncias liberadas, de sua resistência à corrosão e da resposta orgânica aos seus produtos. O organismo é bastante tolerante aos biomateriais, sobretudo em condições de estabilidade do implante. O PMMA enquanto um manto íntegro ao redor do implante promove uma interface com o osso, sem a interposição de membrana e sem sinais de reação inflamatória (osteointegração do cimento). A reação às partículas oriundas do desgaste do polietileno, quando menor que 0.9mm/ano, pode permitir uma sobrevivência da reconstrução protética em até 4,7,8 90% aos 10 anos de seguimento . Esta tolerância às partículas ocorre porque algumas semanas após a artroplastia forma-se uma pseudocápsula constituída na sua porção mais superficial por tecido fibroso onde se nota a presença de alguns macrófagos. Em condições habituais, as partículas formadas pelo desgaste são absorvidas pela pseudo-cápsula e em seu interior são fagocitadas pelos macrófagos. A fagocitose de partículas maiores requer a fusão de vários macrófagos (células gigantes multinucleadas) que resulta em verdadeiros granulomas de corpo estranho. Outro destino das partículas é o espaço perivascular linfático a partir do qual as partículas alcançam os vasos linfáticos, linfonodos regionais e, eventualmente os órgãos do sistema reticulo-endotelial, constituindo assim um mecanismo de limpeza, porém também de disseminação das partículas (Fig.57.29). Na dependência das características e toxicidade das partículas, ocorre a liberação de quimocinas (M-CSF e MCP-1) que recrutam células inflamatórias, Prostaglandinas (principalmente E2) e citocinas (Interleucina 1β e 6, fator de necrose tumoral α entre outros) que podem não só determinar a necrose dos macrófagos, como também iniciar a atividade osteoclástica, ou ainda levar à hapoptose do osteoblasto, com conseqüente necrose e osteólise. A disseminação de partículas ocorre também através do chamado espaço articular efetivo, tendo como meio de transporte o fluido articular, e assim as partículas podem alcançar o tecido ósseo adjacente, a 60 interface cimento-osso e a interface cimento metal . 41 Aspenberg e van der Vis postularam que a flutuação da pressão do líquido articular dentro do espaço articular efetivo ocasionada pelo carregamento cíclico, pode desencadear a reabsorção óssea (osteólise) pelo mecanismo da hapoptose do osteócito, processo este muito semelhante às erosões ósseas de vértebras ocasionadas por um aneurisma contíguo. O titânio é bem tolerado pelo organismo exceto em condições de instabilidade protética ou de contato direto com outros metais, ocasião em que sua baixa resistência ao desgaste leva à produção de um grande número de partículas de óxido de titânio (TiO2). preferem contraindicá-la em pacientes com insuficiência renal e mulheres em fase reprodutiva. Partículas cerâmicas, por sua estabilidade química (baixa reatividade), e, portanto grande resistência a corrosão, são muito bem toleradas pelo organismo. Dano aos materiais: em conseqüência do processo de falha, diferentes danos podem ser ocasionados aos implantes. A observação cuidadosa destas alterações da superfície do implante pode auxiliar na elucidação dos mecanismos envolvidos nas falhas. A erosão nos casos de corrosão por pites, polimento da haste de titânio ou do polietileno resultado do desgaste (ou sulcos e riscos produzidos pela abrasão), depósito de substâncias (incrustações) e sulcos são comumente observados (Fig.57.30, Fig.31A-D). Fig.57.29. Desenho esquemático do processo de reação orgânica às partículas de biomateriais. As partículas (pt) absorvidas pela pseudo cápsula (pc) sofrem a ação de macrófagos (M) recrutados a partir de células progenitoras (P) pela ação de quimocinas (MCP: monocyte chemoattractant proteins , M-CSF: Macrophage colony stimulating factor). Estas partículas ao se depositarem nos tecidos adjacentes produzem uma coloração escura denominada metalose, e intensa atividade inflamatória que resulta em soltura do implante e intensa osteólise (Fig.57.30A-D). Fig.57.30. (A) Radiografia pré-operatória mostrando intenso desgaste na porção superior do componente acetabular de implantes com 16 anos em serviço. (B e C): intensa metalose nos tecidos adjacentes ao implante.(D): Explantes mostrando a destruição do componente acetabular. Partículas metálicas, sobretudo os íons cromo, cobalto e níquel podem agir como haptenos e eliciar uma reação de hipersensibilidade tipo IV em indivíduos previamente sensibilizados. A toxicidade do Cobalto e Cromo tem sido motivo de preocupação, sobretudo em articulações metal/metal, onde uma grande quantidade destes íons é liberada e pode ser detectada no sangue (entre 5 a 10 vezes a concentração pré-operatória) e na urina em pacientes 60 submetidos a este procedimento . Embora vários estudos epidemiológicos não demonstrassem incidência aumentada de neoplasia ou outras 61 lesões em órgãos do sistema retículo-endotelial , e malformações fetais em pacientes submetidos ao implante de articulações metal/metal, alguns cirurgiões Fig.57-31. Explantes femorais mostrando regiões de polimento (A), incrustações (B), corrosão (C), riscos e sulcos (D). A avaliação pormenorizada da superfície do explante nos auxilia no difícil processo de esclarecimento dos mecanismos envolvidos na falha. IV. Diagnóstico e Codificação das Falhas em Implantes Artroplásticos de Quadril Um sistema de codificação de falhas assépticas dos implantes artroplásticos de quadril pode ter grande relevância desde que pressuponha critérios bem estabelecidos na definição, conceito e diagnóstico com base em achados clínicos e de exames complementares pré-operatórios, no sentido de orientar para as dificuldades técnicas e procedimentos mais adequados para o manejo destas falhas. Contudo, em virtude do fato de que estas falhas são muito frequentemente, relatadas na literatura tendo como base apenas grupos genéricos, pouca contribuição é dada para o esclarecimento etiológico. Assim o sistema de codificação deve permitir ajustes e complementos que levem em consideração não só o diagnóstico pré-operatório, mas que também padronize, sistematize e complemente a investigação através da observação intra-operatória minuciosa, da análise macro e microscópica dos implantes removidos (explantes) e, em alguns casos, da análise microestrutural. Somente desta forma podemos avaliar o ambiente mecânico a que está sujeita a reconstrução protética, e os processos envolvidos na falha para que assim possamos identificar e diferenciar causas de conseqüências. Adicionalmente a codificação deve ser de precisão aceitável, reprodutível e de fácil entendimento e aplicabilidade, o que nem sempre é uma tarefa de fácil execução para cirurgiões não familiares com as características interdisciplinares do processo de falha, que envolvem conceitos de ciência dos materiais, mecânicos, metalúrgicos, químicos, físicos, biológicos e de técnica cirúrgica especializada. A metodologia que utilizamos desde 1998, e descrita neste capítulo, tem-se mostrado bastante adequada a estes propósitos, contribuindo para o melhor entendimento dos intrincados mecanismos envolvidos na falha e assim capaz de possibilitar um procedimento cirúrgico que proporcione melhores resultados em longo termo. Contudo não é o objetivo desta codificação esgotar as infinitas possibilidades de ocorrências que se avolumam progressivamente com novas técnicas e materiais, mas sim contribuir não só para o reconhecimento e entendimento do processo de falha, mas também como ele pode influenciar a pesquisa e desenvolvimento de novos materiais, processos e técnicas. Às letras F e A acrescentam-se, sobrescrito, as letras cm, para os implantes cimentados, e nc para implantes não cimentados. Quando um componente não apresenta falha aparente sua notação será 0 (zero). Sempre iniciamos pelo componente femoral, inserindo o Modo de Falha (classificado de I a V), seguido pela Origem (A-D) e Mecanismo da Falha (1-5). Entre chaves são inseridos todos os efeitos ou conseqüências das falhas que possam ser observados pela avaliação préoperatória (a-m). A Distopia Primária do Implante protético, quando presente, deve ser inserida entre colchetes, ao final da codificação, e quando ausente inserimos a letra A (Fig. 57.33). Nesta situação, a cm notação F : I.A.2 b,d,f [B;2] , indica falha do implante cm femoral cimentado (F ), pelo modo de ruptura (I), originada na haste metálica (A), mais provavelmente pelo mecanismo de fadiga (2), o que foi confirmado pela análise do explante. Como conseqüência da falha podese observar a migração em varo da porção proximal do implante (b), a dismetria (d) e a violação do córtex lateral do fêmur proximal (f). Entre colchetes a letra B indica distopia do componente femoral, no caso sua inserção em varo (2), que pôde ser notada pela nc radiografia prévia à falha. Observe que a notação A 0.0.0 0 [C;4] significa que não foi detectada falha do implante acetabular não cimentado, porém durante sua inserção, o parafuso acetabular (C) ultrapassou o limite ósseo, intrudindo-se na pelve (4). IV.1. Codificação Pré-operatória A notação, que se baseia na classificação das falhas constante na Tabela 1, se inicia pela letra F: ou A: para nos referirmos especificamente ao componente Femoral ou Acetabular (Fig. 57.32). Fig.57-33. Codificação de falha em artroplastia de quadril (B), feita em comparação com a radiografia prévia à falha (A).. Ver texto para descrição detalhada. Fig.57-32. Padronização da notação para codificação das falhas de implantes artroplásticos. Sequencialmente se inserem o componente Femoral (F) ou Acetabular (A), o Modo de Falha (I a V), a Origem (AD), o mecanismo (1-5), todos os efeitos e conseqüências (a-m) e a presença ou ausência de implantes distópicos (A-D), com o mau posicionamento associado. Observe que, inicialmente, o modo e a origem da falha são codificados de acordo com os cinco diferentes grupos já discutidos neste capítulo, com base simplesmente na sua apresentação efetuada através do exame clínico, de imagens e de investigações complementares, quando realizadas. Importante ressaltar que esta notação se refere à causa principal ou primária da falha. Contudo, com alguma freqüência, mais de um modo de falha com sua origem específica, podem ser identificados na avaliação inicial pré-operatória (sobretudo em achados radiográficos). Nesta circunstância,quando outro modo e origem são igualmente chamativos ou evidentes ao exame inicial, eles devem ser inseridos entre parênteses, com sua codificação específica, logo após a notação do modo e origem da falha primária. Temos observado que raramente mais de um modo e origem adicionais de falhas são notados pré-operatoriamente e assim a falha principal e outra falha concomitante (Modo e Origem) são as situações mais encontradiças (Fig. 57.34). A seguir o provável mecanismo de falha é anotado, com base no modo e origem da falha primária, ou seja, somente para o Modo principal. Isto porque quando mais de um Modo estão presentes, os mecanismos envolvidos frequentemente estão relacionados entre si. Fig.57-34. Codificação da falha de reconstrução protética do Quadril. Ver texto ao lado. Desta forma, a notação: cm F : I.A.(III.D).2 a,b,d,f [A] se refere a falha do implante Femoral cimencm tado (F ) por ruptura (Modo I) evidenciada no corpo metálico (Origem A) de mecanismo provável por fadiga (posteriormente comprovada pela avaliação visual e microscópica do explante). Porém a soltura combinada das interfaces cimento/ osso e cimento /implante (III.D) também são observadas, (setas) devendo igualmente ser codificadas. Como conseqüência da falha observamos a presença de osteólise (a), migração protética (b), dismetria constatada no exame clínico (d) e violação do invólucro ósseo (f). No componente femoral não se observa distopia primária e, portanto usamos a notação [A]. A radiografia do implante acetabular mostra soltura da interface implante/osso (caracterizada pela migração superior e medial) Modo III Origem C, com falha de suporte ósseo (2). As conseqüências da falha são: osteólise acetabular (a), migração protética medial e superior (b), e violação do teto acetabular (f) e medial. Esta migração é provavelmente secundária e, portanto não caracteriza uma distopia durante a inserção. Como outro exemplo, a notação: Fnc: III.C.4 a,f [A], mesmo sem consulta às radiografias, podemos inferir que se refere a falha do implante Femoral não cimentado (Fnc) evidenciada por sua soltura (Modo III) na interface implante/osso (C, origem que nesta interface só pode se referir a um implante não cimentado) com falência da fixação biológica (4). A ocorrência de osteólise e perda do suporte ósseo do implante (a,f) nos indica a necessidade de reconstrução do batente ósseo e restauração do invólucro circunferencial do fêmur. A notação [A] indica que não houve distopia primária do implante, ou seja, seu posicionamento foi tecnicamente adequado durante o ato cirúrgico. Caso a osteólise, femoral e/ou acetabular, seja detectada na presença de implantes estáveis e sem falha aparente, devemos considerar, como já explicado anteriormente, que a osteólise é considerada como um efeito ou conseqüência de falha. Importante ressaltar que esta notação se refere à causa principal ou primária da falha. Nesta notação pré-operatória nem sempre a relação de causa e conseqüência pode ser estabelecida com precisão, e assim somente os achados nitidamente observados devem ser incluídos. Quando os processos envolvidos não são claros ou até desconhecidos, utilizamos a notação 0 (zero) para indicar esta condição. Portanto a osteólise isolada, na presença de implantes estáveis, femoral ou acetabular tem a seguinte codificação, respectivamente: - F : 0.0.0. a [ ]. A presença ou ausência de distopia deve ser informada. - A : 0.0.0 a [ ]. A presença ou ausência de distopia deve ser informada. Por vezes a falha pode não ser de fácil caracterização pelo cirurgião não habituado ao reconhecimento de falhas e dos tipos de implantes. Nestes casos específicos, o tipo de implante e de falhas poderão ser determinados mais facilmente durante o ato cirúrgico, detalhes estes que justificam uma nova codificação pós-operatória. IV.2. Codificação Pós-operatória As observações intraoperatórias do estado das estruturas periprotéticas e do implante, assim como a avaliação laboratorial dos explantes, muitas vezes são determinantes para uma caracterização mais correta dos processos envolvidos na falha da reconstrução articular. Por este motivo nova codificação deve ser feita pelo cirurgião após o ato cirúrgico, e caso persistam quaisquer dúvidas quanto à natureza da falha, exames complementares como os relacionados à infecção protética, ou a análise química e estrutural do explante, devem ser solicitados. V. Bibliografia e Referências Bibliográficas 1.Charnley J: Arthroplasty of the hip. Lancet. 1961;1:1129-1132 2.Charnley J. Low friction arthroplasty of the hip: theory and practice. 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