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Gestão cinegética de populações de ungulados Rita Tinoco Torres Segunda Reunião sobre Ungulados Silvestres Ibéricos Aveiro 15 Julho 2011 A CAÇA AO LONGO DOS TEMPOS Da Pré-história à Antiguidade a caça foi: • meio de sobrevivência • motivo frequente de pinturas rupestres • muito abundante • de quem a capturava A CAÇA AO LONGO DOS TEMPOS Da Antiguidade à Idade Média a caça foi : • uma actividade nobre exercida por reis e imperadores • representada em túmulos dos governantes e em grandes obras arquitectónicas e objectos de uso quotidiano • tema de crónicas, lendas e cantos • considerada res nullius A CAÇA AO LONGO DOS TEMPOS Da Idade Média até cerca séc. XX a caça foi: • praticada pela nobreza e clero • caça maior interdita ao povo • encarada como pretexto para grandes reuniões sociais A CAÇA AO LONGO DOS TEMPOS A caça na actualidade: “recurso natural renovável susceptível de uma gestão optimizada e de um uso racional conducentes a um produção sustentada, no respeito pelos princípios da conservação da Natureza e dos equilíbrios biológicos em harmonia com as restantes formas de exploração da terra” Artigo 3.º Lei de Bases Gerais da Caça Lei n.º 173/99 Caça importante actividade na sociedade e economia A utilização dos recursos da vida selvagem, se sustentável, é uma ferramenta de conservação importante porque os benefícios sociais e económicos derivados do seu uso, incentiva as pessoas para a sua conservação "We abuse land because we see it as a commodity belonging to us. When we see land as a community to which we belong, we may begin to use it with love and respect." Aldo Leopold 1887 – 1948 Considerado o pai da ecologia da vida selvagem “Game management is the art of making land produce sustained annual crops of wild game for recreational use” Caça © I. Ros © C. Fonseca Valor económico Valor estético GESTÃO CINEGÉTICA E BIODIVERSIDADE A cinegética tem sido, e continuará a ser, um largo incentivo para a gestão, restauro e criação do habitat de numerosas espécies. C.O’Gorman © C. Fonseca A CAÇA ORDENADA • Fonte de rendimento • Gera bases científicas • • • Fomento das populações cinegéticas e não cinegéticas Pesquisa no combate a doenças que afectam a vida selvagem e que podem ser transmitidas ao gado doméstico e ao ser humano Controlo de doenças e de danos no habitat através da diminuição de efectivos É um importante contributo para a conservação dos recursos naturais SE NÃO SE CRIAR RENDIMENTO DA CAÇA Êxodo rural Em Espanha, o sector da caça gera cerca de 6 mil milhões de euros. (Carlos Otero) Em Portugal, tem havido uma melhoria na gestão (i.e. ordenamento) dos recursos cinegéticos mas ainda insuficientemente geradora de receitas se a compararmos com as potencialidades por explorar. 1.2 mil milhões de euros!!! (J. Carvalho)© R. Torres Aumento das populações de ungulados silvestres Desempenham um papel importante nos ecossistemas Presas de vulneráveis predadores Prejuízos na agricultura Acidentes rodoviários © J. Sevcik Uma gestão efectiva das suas populações e dos seus impactos é importante © J. Sevcik © J. Stel © T. Barros © reservagredos © L. Quinta PORTUGAL 6 espécies selvagens de ungulados © T. Barros © reservagredos © L. Quinta © J. Stel Veado (Cervus elaphus) © L. Quinta o principal impulso de gestão é a caça; • as populações também são geridas para controlar os prejuízos na agricultura e silvicultura e também para a produção de carne; • em algumas regiões (N Portugal) o veado é considerado uma presachave do lobo e os objectivos de gestão estão claramente ligados à conservação deste predador. • Veado (Cervus elaphus) © L. Quinta ~ 15 000 – 20 000 veados (metade em cercados); • distribuído por todo o país mas as mais importantes populações localizam-se nas regiões transfronteiriças (ex. Contenda Barrancos, Tejo Internacional, Montesinho) e na serra de Lousã; • ~ 4 000 veados são caçados anualmente. • corÇo (Capreolus capreolus) © J. Stel gestão das populações está essencialmente direccionada para incentivar o aumento das populações actuais e o estabelecimento de novos núcleos populacionais; • no norte e centro de Portugal, a gestão do corço está intimamente ligada à conservação do lobo-ibérico. • corÇo (Capreolus capreolus) © J. Stel • ~ 3 000 – 5 000 corços; populações mais importantes localizam-se no norte do país; • a caça do corço é residual, ocorrendo em apenas 2 zonas de caça em Portugal. • gamo (Dama dama) © T. Barros a gestão do gamo está direccionada para caça e para fins recreativos; • a caça é realizada apenas em algumas regiões de Portugal (somente em cercados). • gamo (Dama dama) © T. Barros • ~ 500 em regime selvagem e ~ 2 500 em cercados; ~ 400 gamos são caçados anualmente (em cercados). • Javali (Sus scrofa) a gestão das populações de javalis é baseada principalmente na caça; • • ungulado mais caçado em Portugal; a sua caça está essencialmente relacionada com o controlo dos prejuízos nas culturas agrícolas. • 19 89 /1 99 0 19 90 /1 99 1 19 91 /1 99 2 19 92 /1 99 3 19 93 /1 99 4 19 94 /1 99 5 19 95 /1 99 6 19 96 /1 99 7 19 97 /1 99 8 19 98 /1 99 9 19 99 /2 00 0 20 00 /2 00 1 20 01 /2 00 2 20 02 /2 00 3 20 03 /2 00 4 20 04 /2 00 5 20 05 /2 00 6 20 06 /2 00 7 20 07 /2 00 8 20 08 /2 00 9 Javali (Sus scrofa) • nos últimos anos, a caça ao javali aumentou: 1989/90 ~ 423 e 2008/09 ~ 15 395; 18000 N.º de Javalis Abatidos 15000 15395 12000 9000 6000 3000 0 Épocas de Caça MuflÃo (Ovis ammon) a gestão das populações muflão é exclusivamente relacionada com a caça; • existem em alguns cercados de zonas de caça turística, no Alentejo e Tejo Internacional; • ~ 2 000 em Portugal e ~ 200 animais são caçados anualmente. • cabra montÊs (Capra pyrenaica victoriae) © reservagredos originalmente distribuída nas cadeias montanhosas, a Capra pyrenaica lusitanica extingui-se; • na década de 90, C. p. victoriae dispersou naturalmente de Espanha para as serras do Gerês, resultado de programas de reintrodução; • • primeiras observações datam de 1999; • ~ 75 indivíduos (2003). ESPANHA 8 espécies selvagens de ungulados © J. Stel © L. Quinta © J. Benzal © T. Barros © reservagredos Veado (Cervus elaphus hispanicus) © L. Quinta • ~ 800 000 indivíduos nos últimos 6 anos, ~ 70 000 machos foram caçados anualmente; • com ampla distribuição no centrosul de Espanha, com algumas populações no norte de Espanha; • Veado (Cervus elaphus hispanicus) © L. Quinta pertencem à subespécie Cervus elaphus hispanicus. Introduções de diferentes origens europeias, produziram mistura com as populações desta subespécie. • uma recente ameaça para a conservação do veado são as quintas de criação de veados (deer farming). • corÇo (Capreolus capreolus) © J. Stel a expansão das populações de corço foi acompanhada de um aumento no interesse dos caçadores nesta espécie; • a sua caça está também relacionada com o controlo dos impactos nas culturas agrícolas e dos acidentes rodoviários. • gamo (Dama dama) © T. Barros distribuição bastante dispersa principalmente devido às recentes introduções em diferentes regiões; • em muitas áreas, ocorre em simpatria com o veado, expulsando este das melhores áreas de alimentação. • Javali (Sus scrofa) mais abundante e com maior distribuição; • a quota anual é de ~ 150 000 indivíduos; • a sua caça está orientada para reduzir o impacto na caça menor (ex. perdiz e coelho), e no controlo dos estragos nas culturas agrícolas e acidentes rodoviários. • cabra MONTÊs (Capra pyrenaica) © reservagredos espécie nativa e inclui 2 subespécies: C. p. hispanica e C. p. victoriae; • ~ 50 000 indivíduos (10 000 C. p. victoriae); • • é o troféu mais valioso; • a quota anual é de ~ 1 500 indivíduos. cabra montÊs (Capra pyrenaica) © reservagredos ameaça: aumento local das densidades à aumento de susceptibilidade à doença; • outras ameaças: (i)fragmentação das populações (ii)desequilíbrio da proporção sexual à pode levar a altas densidades de fêmeas . • camurça (Rupicapra pyrenaica) espécie nativa e inclui 2 subespécies: R. p. parva e R. p. pyrenaica; • • ~ 50 000 indivíduos (R. p. pyrenaica) ~ 15 000 indivíduos (R. p. parva); ~ 2 000 indivíduos são caçados anualmente; • a gestão de camurças, em muitas áreas, está direccionada para controlar o avanço de várias doenças (ex. sarna sarcóptica, ceratoconjuntivite). • MuflÃo (Ovis ammon) • • • foi introduzido em 1954; ~ 15 000 exemplares (2000); considerado uma espécie exótica; legislação recente tende a promover a redução ou eliminação da sua presença na maioria das áreas. • ArruÍ (Ammotragus lervia) © J. Benzal 36 indivíduos foram introduzido em 1970 com fins cinegéticos; • • Em 1990: ~ 2 000 indivíduos; a sua expansão em algumas áreas pode levar à competição com espécies nativas como a cabra montês. • ArruÍ (Ammotragus lervia) © J. Benzal considerado um problema, especialmente nas regiões onde houve uma rápida expansão; • no futuro, a solução poderá passar por uma erradicação completa desta espécie. • O Homem afecta as espécies cinegéticas, provocando alterações tanto ao nível demográfico como genético. 1. Caça indiscriminada 2. Caça selectiva © R. Torres Seleccionados troféus Pressão orientada aos mais fortes © R. Torres Selecção contrária à selecção natural Selecção contra os animais mais vigorosos © J. Carvalho O Homem afecta as espécies cinegéticas, provocando alterações tanto ao nível demográfico como genético. 1. Caça indiscriminada 2. Caça selectiva © R. Torres Animais mais velhos Animais com características que não se quer manter na população © R. Torres Selecção a favor da selecção natural Selecção a favor dos animais mais vigorosos © J. Carvalho Gestão cinegética Gestão do habitat aumento da quantidade e qualidade de alimento disponível; • • Gestão das próprias populações • gestão de predação; • gestão demográfica; • gestão genética; • reintroduções. aumento dos pontos de água; instalação de culturas em clareiras dentro do mato; • • instalação de pedras de sal; • etc. Pergunta 1: espécies exóticas Representam um grande perigo ecológico. Devemos erradicar ou fazer uma gestão controlada? © P. López Pergunta 2: conservação dos ecossistemas A gestão cinegética ocorre em áreas de grande valor natural. Como gerir este frágil equilíbrio? © R. Torres Pergunta 3: caça selectiva Será necessário manter a acção da seleção natural para a conservação das espécies cinegéticas? Caça selectiva • • • reduz o tamanho da população; afecta a demografia das populações, alterando a estrutura etária e sexual; fragmenta as estruturas sociais. © Axarquía Viva Pergunta 4: alimentação suplementar Quais os riscos? Alimentação suplementar • • • mantém as densidades elevadas; aumenta a envergadura das hastes; aumenta a fertilidade e a condição corporal das fêmeas. • • • aumenta a agregação espacial das fêmeas; altera o ciclo biológico (ex. fêmeas de javali); aumenta a prevalência e transmissão de doenças. © T. Barros Pergunta 5: “herdades” de caça Herdades de “produção de espécies cinegéticas” E a preservação das características naturais das populações selvagens? © Fence & Hills Produção de espécies cinegéticas em habitats alterados © J. Sevcik Recursos naturais integrados num ecossistema © J. Sevcik Como favorecer uma gestão cinegética natural Investigação aplicada: desenvolver procedimentos de gestão adequados tanto para a caça como para a conservação Normas: promover a aplicação dos procedimentos adequados Certificação cinegética!! © J. L. Rodríguez Obrigada pela atenção!!! Vamos debater!! © J. Carvalho
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