O que configura uma Igreja Batista Tradicional? Os batistas

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O que configura uma Igreja Batista Tradicional? Os batistas
O que configura uma Igreja Batista Tradicional?
Os batistas obtiveram as suas marcas características através de demonstrações públicas
do seu contorno doutrinário durante o século 16. A posição teológica adotada pelos
seus membros foi, em princípio, de rompimento com o modelo oficial do catolicismo
romano ,em 1534, defendida por Henrique VIII, (o romanismo era um meio de alcance
de interesses particulares desse rei) sendo, por isso, os batistas, incluídos no chamado
grupo da reforma protestante. A reforma efetivada por esse monarca não foi notória
quanto aos aspectos da fé e doutrina. A
mudança dos fundamentos institucionais não
agradou muitas pessoas, que tinham maiores
expectativas quanto ao retorno ao modelo de
igreja neotestamentária. Esse grupo ficou
conhecido como "os puritanos". Por sua vez,
dentre os puritanos, uma parte não aceitava o
controle do estado sobre a igreja. A coroa, uma
vez que controlasse os destinos da igreja, em
nada diferiria do modelo romano. Por isso foram chamados
de separatistas. Considerados como contrários ao estado, e
debaixo de perseguição, fugiram para a Holanda. Ali, John
Smith (1570- 1612), seu principal líder, no ano de 1609
fundou em Amsterdan, uma congregação influenciado por
outros grupos ardentes por um retorno às Sagradas
Escrituras, dentre os quais estavam os anabatistas e os
menonitas. Os anabatistas eram reconhecidos pelo seu
modo radical em interpretar e viver princípios cristãos,
dentre os quais, o rebatismo de seus convertidos vindos do
catolicismo, através do batismo por imersão, admitido
somente a adultos, ou pessoas individualmente capazes de professar sua fé. Por sua vez,
os mesmos princípios eram aceitos pelos menonitas
(seguidores de Menno Simons, um padre católico
holandês, convertido ao cristianismo reformado e
anabatista pacifista), que também rejeitavam o batismo
infantil.
No ano de 1612 (três anos após a fundação da
congregação na Holanda), Thomas Helwys (c. 15501616) e outros membros da igreja fundada por Smith
voltaram à Inglaterra e fundaram, em Londres, a
Primeira Igreja Batista. Uma característica desses
primeiros batistas ingleses foi o batismo por efusão (ou
afusão), em que a água era derramada ou entornada
sobre a cabeça do batizando. Outro modelo, chamado
"fusão" é outra maneira possível de realizar um batismo, em que o neófito entra na
água sem submergir, mas também lhe é derramada água sobre a cabeça. Entretanto,
esta igreja recém-formada já detinha os outros traços distintivos dos batistas - a
aceitação da Bíblia como autoridade final em matéria de fé e prática, a salvação pela
graça mediante a fé somente, a separação entre a igreja e o Estado e o dever do
governo de garantir a liberdade de consciência e de culto.
Em 1633, Henry Jacob liderou um grupo em Londres, que defendia o batismo por
imersão. Esse grupo, enfatizava as doutrinas reformadas, tornando-se o segmento mais
influente dentro do movimento batista inglês. Esse grupo ficou conhecido como "os
batistas particulares", ou "batistas calvinistas", sendo o modelo característico e adotado
até hoje pela denominação. Esse grupo se multiplicou e distribui-se por todo o mundo,
chegando aos Estados Unidos da América. De lá
foram enviados os primeiros missionários para o
Brasil (William e Anne Bagby). No Brasil já eram
atuantes igrejas batistas em Americana e Santa
Bárbara (ambas em São Paulo), porém, atendiam
somente americanos residentes na região. Assim,
no ano de 1889 (277 anos após a fundação da
primeira igreja batista em Londres) o casal Bagby
fundou a Primeira Igreja Batista na cidade de
Salvador (na Bahia). Em 1907 (295 anos após a
fundação da igreja na Inglaterra), em
consequência da expansão dos batistas pelo Brasil,
foi organizada a Convenção Batista Brasileira.
Principais traços característicos dos batistas.
1. A Bíblia é nossa única regra de fé e prática (2Tm 3.16).
2. Ensinamos que a salvação é somente pela fé em Jesus (Ef 2.8-10).
3. Ensinamos e desenvolvemos o sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2.9)
4. Separamos a Igreja e Estado enfatizando a independência da igreja (Mt 22.21).
5. A autonomia de cada igreja local na forma de governo congregacional (Mt 18.17; At
6.1-6).
6. Praticamos a cooperação entre as igrejas de mesma fé e ordem para a expansão do
Reino de Deus (1Co 16.1-4).
7. Batizamos por imersão somente crentes que professam sua fé (At 8.36-39).
8. Rejeitamos o batismo infantil (Mt 28.19).
9. Consideramos o batismo e a Ceia do Senhor como símbolos de verdades espirituais
ensinados pela Bíblia, e não como sacramentos (Rm 6.4; 1Co 11.24-25).
10. Rejeitamos as doutrinas pentecostais especialmente no tocante ao batismo do
Espírito Santo, como uma "segunda bênção" acompanhado pelo dom de línguas (1Co
12.13,30).
Observações (como identificar uma genuína Igreja Batista tradicional)
1. Os batistas não são os seguidores de João Batista. Isso é mito, fruto de crendice
popular. João Batista nunca fundou nenhuma igreja. Sua atuação ministerial se ateve ao
cumprimento profético (Malaquias 3.1) de preparar o povo judeu para a vinda de Jesus
(O Messias). O papel de João e seus discípulos se limitou a preparar o caminho para a
vinda do Messias que é Jesus (Mt 3.1-3). Cumprido isso, João Batista encerrou seu
trabalho (Jo 3.30).
2. Os batistas não adotam a Teologia da Prosperidade. O equivocado ensino de que os
crentes de fé terão prosperidade material e livramento de doenças, não possui o menor
amparo bíblico. A Bíblia, como inspirada, inerrante, infalível e interpretável Palavra de
Deus, é clara em dizer que dificuldades físicas e financeiras alcançam tanto a crentes
como a incrédulos (Mt 19.23; Lc 16.22-23; Gl 4.13; Fl 2.25-27; 2Tm 4.20; Tg 2.5).
3. Os batistas não praticam o ecumenismo, nunca dividindo o púlpito ou compartilhando
ideias alheias à sua profissão de fé com grupos sectários (seitas) num único ambiente de
culto ou na vida cotidiana. Seitas são aquelas que ensinam de modo diferente às
sagradas escrituras. Sua interpretação, por ser divergente aos ensinos bíblicos, resulta
em modo de vida contrário ao proposto pela sã ortodoxia.
Como santidade, entendemos separação total para Deus; logo, não há a menor
possibilidade de comungar com aquilo que reputamos por desvios doutrinários.
4. Os batistas não praticam rituais praticados por igrejas neopentecostais, como:




quebra de maldição,
orações de poder ,
cultos de libertação espiritual ,
unção de objetos e pessoas. Superstições como estas não configuram fé cristã e
consequentemente, tiram o foco da verdadeira mensagem do evangelho (Mt
7.21-23; 2Tm 4.3-4; 2Pe 2.1-3).
5. Os batistas tradicionais não adotam liderança
eclesiástica diferente do modelo bíblico do Novo
testamento. Por isso, nossos líderes não são chamados
nem possuem atribuições de Apóstolos. Cremos que esse
dom ficou restrito ao primeiro grupo dos doze
selecionados por Jesus. Segundo a narrativa histórica do
livro de Atos, o modelo de liderança cristã migrou
paulatinamente para o modelo pastoral (Atos 15), tendo
como variantes os termos: pastor, bispo, presbítero e
ancião, descritos nas cartas do Novo Testamento. Como
corpo auxiliar contam-se apenas os Diáconos.
6. Os batistas tradicionais não praticam nenhum modelo de liturgia inovadora. Nossos
cultos são, na verdade, atribuídos ao único e verdadeiro Deus, que é merecedor da
adoração e honra. Sendo assim, não é correto dizer que o culto é nosso, mas uma
prerrogativa de divina. Nossas manifestações de apreço, adoração e louvor são formas
de serviço ordenadas pelo próprio Senhor desde os mais remotos tempos (Êxodo 3.18).
Por isso, os elementos de culto idealizados e ordenados pelo Senhor, permanecendo
inalterados, a saber, são: oração, pregação e cânticos espirituais . Conta-se ainda a estes
ritos, a livre contribuição financeira, como expressão de gratidão ( prerrogativa exclusiva
dos crentes). A manutenção dos ideais bíblicos somente pode ser realizada pelos seus
fiéis, através de atos de genuína expressão de alegria (2 Co 9.7).
Outras manifestações artísticas, tais como dança, coreografia, teatro, dentre outras são
bem vindas, e incentivadas, tendo em vista que a igreja é, também, uma corporação
social que deve desenvolver habilidades e integração entre os seus membros e a
população do seu contexto abrangente. Pode (e deve), portanto, para esse fim,
desenvolver encontros abertos ao público, em dias separados aos de culto formal, para
que a integração sociocultural seja realizada, com o fim de desenvolver tais aspectos.
Soli Deo Gloria
Daniel Remondini

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