Caderno de Musicalização

Transcrição

Caderno de Musicalização
C A D E R N O
D E
MUSICALIZAÇÃO
FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO
Presidente JOSÉ ROBERTO MARINHO
Secretário Geral HUGO BARRETO
Superintendente Executivo NELSON SAVIOLI
Gerente Geral de Patrimônio e Meio Ambiente SÍLVIA FINGUERUT
Gerente de Projetos LUCIA BASTO
Gerente de Educação, Implementação e Mobilização VILMA GUIMARÃES
Gerente de Implementação MARIA ELISA MOSTARDEIRO
Coordenação de Implementação Pedagógica RICARDO PONTES
FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
Diretor-Presidente JOSÉ PEDRO RODRIGUES DE OLIVEIRA
Diretor de Planejamento, Engenharia e Construção DIMAS FABIANO TOLEDO
Diretor de Produção e Comercialização de Energia Elétrica FABIO MACHADO RESENDE
C A D E R N O
D E
MUSICALIZAÇÃO
Diretor Financeiro JOSÉ ROBERTO CESARONI CURY
Diretor de Gestão Corporativa RODRIGO CAMPOS
Diretor de Relações Institucionais MARCOS GUIMARÃES DE CERQUEIRA LIMA
Superintendente da Coordenação de Responsabilidade Social GLEYSE MARIA COUTO PEITER
Assessora de Projetos e Ações Culturais MIRIAM DE AZEVEDO SÁ RÊGO
ELETRONORTE – CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A.
Diretor-Presidente ROBERTO GARCIA SALMERON
Diretor de Gestão Corporativa LOURIVAL DO CARMO DE FREITAS
Diretor Financeiro ASTROGILDO FRAGUGLIA QUENTAL
Diretor de Produção e Comercialização WADY CHARONE JÚNIOR
Diretor de Planejamento e Engenharia ADHEMAR PALOCCI
Diretor de Tecnologia MANOEL NAZARETH SANTANNA RIBEIRO
Superintendente de Comunicação Empresarial ISABEL CRISTINA MORAES FERREIRA
Gerente de Logística Administrativa DIJANE MARIA FREITAS DOS SANTOS
ELETROBRÁS – CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A.
Presidente SILAS RONDEAU CAVALCANTE
Departamento de Relacionamento com a Sociedade ODETE MARIA DA CUNHA BALDUINO
Divisão de Patrocínio CRISTINA GARCEZ
INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM
Presidente PAULO HERMANNY JOBIM
Consultor ANTONIO ADOLFO MAURITY SABOYA
APOIO TÉCNICO
WWF- BRASIL
APOIO
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Governo do Estado do Acre, Governo do Estado do
Amazonas, Governo do Estado de Goiás, Governo do Estado do Pará, Governo do Estado de Rondônia
RIO DE JANEIRO > ABRIL DE 2005
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
6
MÓDULO 1 - OS SONS DA AMAZÔNIA
9
OFICINA 1 | A ESCUTA
10
OFICINA 2 | A VIBRAÇÃO
13
OFICINA 3 | O OUVIDO
15
OFICINA 4 | OS SONS
19
ATIVIDADES COM O CD
20
MÓDULO 2 - OS SONS DO NOSSO CORPO
23
OFICINA 5 | OS SONS INTERNOS DO CORPO HUMANO
25
OFICINA 6 | SONS QUE FAZEMOS COM O CORPO
26
OFICINA 7 | OS SONS HUMANOS E A PAISAGEM SONORA
27
ATIVIDADES COM O CD
28
MÓDULO 3 - CANTANDO
31
OFICINA 8 | A RESPIRAÇÃO
32
OFICINA 9 | O SOM DA VOZ
34
OFICINA 10 | OS FONEMAS
36
OFICINA 11 | A LÍNGUA MALUCA
38
OFICINA 12 | OS MOVIMENTOS DA MELODIA
39
ATIVIDADES COM O CD
45
MÓDULO 4 - TOCANDO INSTRUMENTOS
49
OFICINA 13 | PESQUISANDO E CONSTRUINDO INSTRUMENTOS
50
OFICINA 14 | BRINCANDO COM OS INSTRUMENTOS
61
OFICINA 15 | CRIANDO ESTRUTURAS RÍTMICAS
62
OFICINA 16 | FAZENDO MÚSICA COM VOZES E INSTRUMENTOS
64
ATIVIDADES COM O CD
66
INTRODUÇÃO
As propostas contidas neste volume são um convite a todos os que desejam se aproximar
“aparelho interno” que nos possibilita usufruir todo o potencial musical que a nossa
da música como instrumento do desenvolvimento perceptivo, criativo, estético, emocional
imaginação explora nos sons.
e social. Seu leitor pode ser um músico profissional ou um professor de música, um
educador ou mesmo alguém simplesmente interessado no potencial educacional das
atividades musicais. Cada qual poderá utilizar o Caderno do modo que melhor se adequar
ao seu perfil e à sua formação; cada página deverá encontrar um leitor consciente e
O Módulo 2 é dedicado à pesquisa sonora no próprio corpo humano. É no corpo
que começa nossa experiência com os sons e é com o corpo como instrumento que
começamos a inventar e a praticar música.
criativo, que não terá muita dificuldade em multiplicar as idéias nela contidas e
No Módulo 3, especializamos esse uso enfocando a voz e o canto. Começamos pela
desenvolvê-las com o seu grupo.
exploração do funcionamento da emissão vocal e da respiração, para então explorar todo
O aprofundamento alcançado em cada atividade aqui apresentada pode manter-se no
nível da “brincadeira de beira de rio” ou chegar, alguns passos adiante, a “mergulhos em
águas mais profundas”. Isso vai depender da familiaridade que os leitores-usuários
possuírem ou adquirirem com a música e com os elementos musicais contidos em cada
atividade. Pensando nisso, elaboramos propostas que podem atender aos mais diversos
contextos sociais, possibilidades técnicas e interesses estéticos e educacionais.
O Caderno está dividido em quatro grandes seções que denominamos módulos. Embora
não haja obrigatoriedade de seguir, página a página, a ordem estabelecida, sugerimos
aos leitores, ao menos no primeiro contato com o Caderno, seu acompanhamento na
seqüência proposta. Desse modo, as inter-relações entre as atividades e os conceitos
nelas presentes poderão ser mais facilmente compreendidas.
As atividades do Módulo 1 visam, sobretudo, o desenvolvimento da sensibilidade para a
escuta. Não estamos falando apenas de audição, mas da escuta que seleciona, que
separa, que interpreta e cria algo com os sons. Nesse primeiro conjunto de atividades do
aparelho auditivo e o aprimoramento da escuta, adquirimos mais controle sobre o que
ouvimos. Passamos então a possuir mais do que simplesmente orelhas: temos agora um
o potencial dos sons das palavras. Por fim, ampliamos os recursos sonoro-musicais do
nosso corpo com a invenção e o emprego de instrumentos musicais, que é o tema do
Módulo 4. Nele propomos a construção de objetos-instrumentos de todos os tipos
e aproveitamos para empregá-los no desenvolvimento de vários parâmetros da estrutura
e da interpretação musicais.
Recomendamos aos leitores exercitarem e testarem com bastante antecedência os
procedimentos pertinentes a cada atividade aqui proposta, para que se sintam seguros e
confiantes ao realizar as atividades com o seu grupo. Isso vai permitir melhor avaliação
das possibilidades de cada experiência e facilitar as adaptações que quase sempre
precisamos fazer para adequá-la às nossas condições de trabalho.
Algumas das atividades propostas vão lhe chamar mais a atenção por já terem sido
de alguma forma experimentadas, por provocarem sua curiosidade ou por tratarem de
conceitos e ações já experimentados. Depois de selecionar a atividade a realizar com o
grupo, é preciso buscar o máximo de informações a respeito do assunto abordado.
Nesse momento, o que importa é a motivação. Bom trabalho!
1
OS SONS
da Amazônia
Da serenidade nas cabeceiras dos pequenos igarapés, no Acre, ao estrondo da grande onda – no
dialeto indígena poro’roka –, na chegada da floresta ao Atlântico acompanhando os rios Amazonas,
Araguari, Maiacaré e outros, observa-se um mesmo olhar, um mesmo espírito, uma mesma atitude
cultural naqueles que ali vivem e que usufruem a riqueza dessa imensa região em terrítório
brasileiro. Essa cultura tão uniforme, que interliga tantos povos amazônicos, só poderia mesmo ter
uma única raiz: o encantamento e o respeito dos nativos pela força da natureza. E é, portanto, dessa
magia natural que brotam os saberes da cultura amazônica e de sua estética, determinando os
materiais e as técnicas da tecelagem, delineando as formas dos objetos utilitários, as curvas e a
extensão da canoa, o ritmo e as sonoridades da fala, da música e da dança, a impressão das lendas,
a identidade da tradição oral.
Parte considerável da magia natural que envolve uma região como a amazônica tem origem em
seu universo sonoro. Isso porque tanto os ruídos acolhedores das águas serenas de um igarapé
quanto o barulho ensurdecedor da pororoca são sons que imaginamos. Não, não inventamos esses
sons; eles são apenas interpretados pelos nossos sentidos e identificados pela nossa mente.
Mas do que estamos falando, afinal? Falamos de vibração. O ar que nos rodeia é repleto de ondas
sonoras que por ele viajam o tempo todo. Essas ondas nascem de vibrações que ocorrem em todas
as coisas. As coisas não têm som, da maneira como têm, por exemplo, cor. Entretanto, quando são
agitadas, produzem ondas que se propagam principalmente pelo ar, podendo, a qualquer momento,
alcançar os nossos ouvidos. E quando chegam aos ouvidos, o cérebro traduz os efeitos dessas
ondas em sons. É nesse momento que começamos a imaginá-los, a tê-los em mente, e a dar algum
sentido a esses sons.
9 |
O F I C I N A 1 | A E S C U TA
S I L Ê N C I O E PA L AV R A ( T h i a g o d e M e l l o )
As atividades do Módulo 1 visam, sobretudo, o desenvolvimento da sensibilidade para a escuta.
Não estamos falando apenas de audição, mas da escuta que seleciona, que separa, que interpreta
e cria algo com os sons. Porém, antes mesmo de percebermos os sons, é preciso experimentar o
principal meio através do qual temos acesso ao universo sonoro: o ar.
O AR É CONCRETO? Podemos propor então um exercício simples, com o qual pretendemos fazer o
I
II
A couraça das palavras
Se mãos estranhas romperem
percebendo seu fluir como algo concreto (embora invisível), passando do interior de nossos corpos
protege o nosso silêncio
a veste que nos esconde,
para o meio ambiente. O ar nos envolve inteiramente, assim como os peixes estão envolvidos pela
e esconde aquilo que somos.
acharão uma verdade
outro ter a experiência de “sentir” o ar que o circunda. Proponha ao grupo tampar o nariz e a boca
e contar, mentalmente, até 10 ou 15. Então peça para começarem a soltar o ar calmamente,
água dos rios ou do mar.
em forma não revelável.
Que importa falarmos tanto?
(E os homens têm olhos sujos,
Apenas repetiremos.
não podem ver através.)
identificando cada um dos sons percebidos é essencial para o nosso desenvolvimento auditivo e
Ademais, nem são palavras.
Mas um dia chegará
musical. Isso porque usar os sons musicalmente é criar com eles algum tipo de organização, e só
Sons vazios de mensagem,
em que a oferenda dos deuses,
são como a fria mortalha
dada em forma de silêncio,
escuta desenvolvida nos capacita a uma melhor comunicação com as outras pessoas, nos torna
do cotidiano morto.
em palavra transfaremos.
mais aptos a compreender as diversas situações de vida e, por que não dizer, nos possibilita um
Como pássaros cansados,
melhor conhecimento do nosso meio ambiente.
que não encontraram pouso
E se porventura a dermos
certamente tombarão.
ao mundo, tal como a flor
Os sons do meio ambiente dão ao mundo uma textura de atividade permanente. Ou seja, pelo fato
de ouvirmos sem parar, em geral nem prestamos atenção na riqueza incalculável de sonoridades
que nos cercam todo o tempo. O exercício de ficar atento aos sons do ambiente em que estamos,
podemos organizar os sons se formos capazes de separá-los e combiná-los. Mas é claro que o
aprimoramento do sentido da audição não nos ajuda só a produzir e apreciar melhor a música. Uma
OUVINDO O QUE VEMOS. Proponha que façam uma lista dos sons que consideram mais agradáveis
e outra dos que acham mais desagradáveis; outra de sons “masculinos” e de sons “femininos”.
que se oferta – humilde e pura – ,
Listem e imitem os sons dos veículos. Listem e imitem os sons que se encontram em uma casa.
Muitos verões se sucedem:
teremos então cumprido
Proponha ao grupo desenhar os sons que eles ouvem em sua casa. Separe a turma em grupos e
o tempo madura os frutos,
a missão que é dada ao poeta.
proponha a dramatização sonora dos seguintes ambientes e eventos: sala de aula; recreio; a
branqueia nossos cabelos.
E como são onda e mar,
Mas o homem noturno espera
seremos palavra e homem.
floresta; o cais; a igreja; o salão de cabeleireiro; um encontro de meninas; uma reunião de rapazes.
a aurora da nossa boca.
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Peça ao grupo para conversar sobre o silêncio e os sons que “aparecem” na nossa cabeça, no
OFICINA 2 | A VIBRAÇÃO
nosso pensamento. Os mistérios fazem um som? É possível imaginar a voz de alguém? Como ficaria
a dramatização da poesia de Thiago de Mello?
Quando viajam pelo ar, as ondas sonoras são invisíveis, mas podemos visualizar de várias
maneiras a formação de ondas, quando provocamos vibração nas coisas.
ONDE ESTÁ O SILÊNCIO? Proponha andar pela escola à procura do silêncio. Avalie com o grupo
qual foi o local mais silencioso e o mais barulhento. Passe uma folha de papel pela classe,
PARA ONDE VÃO AS ONDAS? Vá com a turma até as margens de um rio calmo, um lago, uma represa,
silenciosamente. Sente-se em silêncio numa cadeira no centro da sala; divida a turma em grupos;
uma piscina – ou então encha um grande recipiente com água – e proponha jogar pequenos objetos,
leve as cadeiras para fora da sala. Observe qual grupo fez isto com mais silêncio.
como pedrinhas, uma por vez, de modo a atravessarem o espelho d’água. O efeito visual das ondas
que a partir disso se formam é muito ilustrativo do que ocorre na formação das ondas sonoras.
Podemos também constatar a existência da propagação das ondas numa outra experiência.
NO RASTRO DA ONDA SONORA. Recorte um pedaço de borracha de bolas de encher (balões
decorativos) e estique-o sobre uma fôrma de bolo ou um tabuleiro qualquer, fixando-o com elásticos
grandes. Em seguida, espalhe um pouco de açúcar ou de sal sobre a superfície da borracha
esticada. Segure acima dela uma assadeira, um outro tabuleiro ou uma lata qualquer de alumínio
com a boca voltada para baixo; bata no fundo com um objeto (uma colher de pau, por exemplo). Ao
batermos na assadeira, a fazemos vibrar e transmitir, através do ar, as ondas sonoras assim
produzidas. Como as ondas se propagam em todas as direções ao mesmo tempo, além de serem
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OFICINA 3 | O OUVIDO
captadas pelo nosso ouvido excitam também a borracha esticada, que passa a vibrar. Não vemos
COMO OUVIMOS OS SONS? As ondas sonoras alcançam nossas orelhas, atravessam o canal auditivo
nem a vibração do tabuleiro nem a da borracha, mas podemos ver os pequenos grãos deslizando
(que tem a entrada coberta de pêlos e cera, os quais ajudam a mantê-lo limpo) e atingem
sobre a sua superfície, impulsionados pela ação da vibração.
o tímpano, que é uma membrana circular, flexível e muito fina que vibra como uma pele de
tambor ou como a borracha esticada que preparamos na Atividade 2, ao receber as ondas sonoras.
TUDO VIBRA? Peça ao grupo para encostar os dedos no pescoço enquanto falam, cantam ou
O tímpano, por sua vez, faz vibrar, no ouvido médio, três ossículos – martelo, bigorna e estribo –
gritam. Ou encostar o dedo em uma corda de violão que esteja vibrando; ou desenhar as cordas do
que ampliam e intensificam as vibrações, conduzindo-as ao ouvido interno. O ouvido interno
violão vibrando. Ou mesmo desenhar o local onde se sente a vibração. Peça que coloquem a orelha no
ou labirinto consiste de um complexo sistema de canais que contêm um líquido aquoso.
chão, na parede, na porta e na janela, e ouçam; ou coloquem o ouvido nas costas de outra pessoa;
As vibrações do ouvido médio fazem com que esse líquido se mova e as extremidades dos nervos
pedindo que ela faça um som. Fiquem atrás de uma parede e observem as vozes dos colegas sem vê-
sensitivos, então, convertem esse movimento em sinais elétricos que são enviados ao cérebro,
los. Peça que experimentem cobrir as orelhas com as mãos e alterná-las, tampando e destampando.
representando as propriedades daquilo que entenderemos, em nossa imagem mental, como sons.
Que fechem os olhos, apontem com a mão direita um determinado som, e com a esquerda, um outro
Estudos recentes afirmam, inclusive, que existem grupos de neurônios (células nervosas)
som. Divida a turma em grupos e peça que um deles siga um determinado som, enquanto outro grupo
especializados em cada aspecto dos sons que o ser humano pode perceber. Fazer uma pesquisa
segue um segundo som, simultaneamente. Leve um dos participantes de olhos vendados de um lugar
sonora é uma boa idéia para conhecermos melhor o meio em que vivemos, tanto quanto para
para outro e peça que descubra onde está, apenas percebendo os sons do ambiente.
conhecermos melhor como reage o nosso ouvido a cada tipo de sonoridade.
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A PA R E L H O A U D I T I V O H U M A N O
OUVIDOS, ORELHAS, PAVILHÕES. Peça ao grupo para observar e desenhar, cada um, a orelha de
um colega, e para desenhar como imaginam o nosso ouvido por dentro. Proponha que tentem ouvir
os sons cobrindo as orelhas com as mãos. Proponha que, de olhos fechados, apontem com a mão
direita para a localização de sua voz, ou do orientador das atividades, que anda pela sala, realizando
os mais diversos sons vocais, contínuos ou intermitentes. Destaque um participante e, nas mesmas
condições, peça a todos para apontarem com a mão direita para a localização da voz do orientador
e com a mão esquerda, para a voz do colega, ambos se movimentando. Divida o grupo em duplas
e atribua a cada dupla o nome de um animal. Em seguida, peça que todos fechem os olhos e
caminhem pela sala de modo a se perderem do parceiro e tentarem se reencontrar. Peça que
observem-orelhas de animais e as comparem. Sugira aos participantes que desenhem figuras de
animais que possuam orelhas de tamanhos diferentes.
O grande e exposto tímpano da rã
fica atrás do olho
1 Osso
9
Bigorna
2 Músculo
10 Estribo
3 Pavilhão auricular
11 Canais semicirculares
4 Pêlos
12 Nervo auditivo
5 Cartilagem
13 Cóclea
6 Tímpano (ou membrana do tímpano)
14 Trompa de Eustáquio
7 Ouvido médio
15 Canal auditivo
8 Martelo
16 Ouvido interno
Pequena raposa de orelhas grandes que habita no deserto
do norte africano
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OFICINA 4 | OS SONS
Podemos classificar os sons em: naturais, que são os produzidos pelos movimentos da natureza,
tais como o som do bater das águas do rio, da chuva caindo, do vento mexendo os galhos das árvores,
ou dos animais; humanos, que são aqueles gerados por ações voluntárias do ser humano, como
bater uma porta, abrir uma torneira, digitar no teclado de um computador, falar, tocar instrumentos
musicais; e tecnológicos, próprios do funcionamento de máquinas e equipamentos eletrônicos, em
geral, tais como os sons dos eletrodomésticos, de telefones, de motores de barcos, etc.
VAMOS COLECIONAR OS SONS? Que tal fazer com o grupo uma pesquisa para colecionar os sons
que podem ser ouvidos na sala de aula ou na casa de cada um deles? Cada um poderá fazer a sua
coleção de sons e classificá-los. Proponha ao grupo escrever durante cinco minutos todos os sons
que estão ouvindo e classificá-los em naturais, humanos ou tecnológicos.
CRIANDO AMBIENTES SONOROS
(1)“Os pássaros cantavam no vôo e as bulhas (confusão de sons; barulho, ruído) das iererês dos
flamingos das araras das aves-do-paraíso nem me deixou escutar a sineta de bordo chamando pro
jantar” (Mário de Andrade, O turista aprendiz, p.60). Depois de ler este pequeno trecho, pergunte ao
grupo quais os sons, os barulhos e os ruídos de pássaros que eles conhecem. Faça uma pequena
dramatização sonora de um barco tocando uma sineta enquanto os pássaros fazem os sons ao seu
redor. Dê prosseguimento a esta dramatização em outro dia, sugerindo agora uma conversa entre
os pássaros, só com assobios, apitos e pios. Quem consegue fazer o assovio mais longo? Quem
consegue se comunicar através desse som?
(2)“Passava uma piracema de jaraquis, a água estava pipocando e os pescadores numa trabalheira
mãe” (Mário de Andrade, O turista aprendiz, p.76). Podemos fazer o som da água pipocando? Pegue
potes cheios de água e canudos, e faça a experiência com o grupo.
INVENTANDO NOVAS ORELHAS. Podemos brincar de experimentar novas “orelhas”. Peça a cada
participante (ou grupo) para fazer um funil de papel ou para cortar uma garrafa plástica de
refrigerante. Depois, peça para encostarem levemente o lado mais estreito daquele funil na entrada
das próprias orelhas. Será que o efeito do que ouvem é semelhante ao pretendido pelas pessoas
que colocam a mão na orelha em forma de concha para tentar ouvir melhor? E como fica o som do
relógio quando ouvido através de uma bola de encher? E dentro d’água, dá pra ouvir alguma coisa?
Encostando a orelha no chão também ouvimos alguma coisa? Isso deve ser suficiente para
comprovarmos que as ondas sonoras também se propagam em meios líquidos e sólidos. Uma boa
idéia é ensinar ao grupo a construir “telefones” e “estetoscópios”. Vamos lá?
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AT I V I DA D E S CO M O C D
Em todos os módulos propomos a escuta dirigida de algumas faixas de músicas contidas no CD TOM
DA AMAZÔNIA, com o fim de usá-las como pretexto para novas atividades de desenvolvimento sensorial
e musical. Embora seja esse repertório bastante rico e variado, podemos perceber várias relações entre
as obras de Tom Jobim e as de autores amazônicos, aqui reunidas. Além disso, é evidente a influência
dos elementos da natureza em todas essas músicas. E cada faixa pode ser ouvida de maneiras muito
diversas e criativas, explorando-se, em cada uma delas, aquilo que está mais relacionado com os
elementos musicais trabalhados em cada módulo do Caderno de Musicalização. Vamos ao trabalho?
FAIXA 7. RITMOS AMAZÔNICOS
Que som é esse do início da música? É um “som tecnológico”? É barulho de motor? Mas motor de quê?
Depois, ouvimos um som “atrás de tudo”. Parece com o que: um bicho gemendo, um apito de trem,
de navio?
FAIXA 8. CARIMGLOBALIZADO
O que é curupira?
Você poderia identificar os sons “naturais”, “humanos” e “tecnológicos” empregados nesta música?
Você pode imitá-los?
FAIXA 9. MATITA-PERÊ
O que é Matita-Perê?
Se no final da faixa, há aplausos, será que é música gravada “ao vivo”? O que é isso?
Escuta dirigida
FAIXA 1. A CHEGADA DOS CANDANGOS
Que momentos lhe parecem mais agradáveis ao longo da música?
O que você pode imaginar ao ouvi-la?
Você já assistiu a um show ao vivo? Então vamos fazer de conta que acabou uma música do show e
começamos a aplaudir. Como é que é?
FAIXA 11. A CORRENTEZA
Correnteza? Tem algum som na música, que lembra água caindo ou passando?
“Choveu uma semana”? A chuva produz muitos sons diferentes? Podemos imaginá-los, um a um?
FAIXA 2. O BOTO
…“o homem foi feito para voar”… essa imagem poética tem alguma relação com os sons da música
DICA
que você está ouvindo?
Na letra se menciona Cristina… podemos lembrar de outras músicas com nomes de pessoas? Vamos
Recomendamos aos professores e orientadores que exercitem e testem os procedimentos perti-
cantarolar alguns trechos delas?
nentes a cada atividade aqui proposta, com bastante antecedência, para que se sintam seguros e
FAIXA 3. PIPIRA
confiantes ao realizar as atividades com o seu grupo. Isso deve possibilitar inclusive uma melhor
Os sons da música nos fazem querer dançar? O tempo todo? Mas podemos dançar esta música
avaliação do potencial de cada experiência e facilitar as adaptações que quase sempre devemos
inteira de uma mesma forma?
fazer para adequar a atividade às condições de trabalho de cada um e de cada contexto social.
Você conhece a Pipira? Já dançou? Por que será que se chama “Pipira”?
FAIXA 4. SOM DA NATUREZA
Você acha que a música lembra alguns sons da natureza? Você pode indentificá-los?
Percebeu que a música acaba como começa?
FAIXA 5. BORZEGUIM
“Não quero fogo, quero água.” Podemos imaginar os sons relacionados ao fogo? E os provocados
pela água?
Perceba que sempre ligamos as coisas aos sons nelas produzidos ou por elas produzidos. Quando
lembramos de alguém, também associamos a figura imaginada da pessoa à sua voz. Se todos do
grupo fecharem os olhos, será que podem reconhecer pelo som qual é o objeto usado para produzi-lo?
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2
OS SONS
do nosso corpo
Ontem, no passeio de lancha, tivemos ocasião de visitar a tribo dos Pacaás Novos, bastante curiosa
pelos seus usos e costumes. Nem bem estávamos a um quarto de légua da tribo, já principiou nos
comovendo bem desagradavelmente um cheiro, mas tão repulsivo que só com muito trabalho consegui
vencer, e chegar até o mocambo. O conjunto arquitetônico se compunha da casa-grande e uma dúzia de
casinhas, muito semelhantes às de adobe e sapé do sul. Quando cheguei, uns curumins brincando no
trilho deram o alarme de maneira estranha, sem um grito. Saltavam movendo as perninhas no ar com
enorme rapidez e variedade de gestos pernis. Depois fugiram, indo esconder a completa nudez nos
casinhotos. Imaginei que era medo de gente branca, mas não era não: quando cheguei no terreno batido,
espécie de praça que os edifícios rodeavam, foi saindo das casas e me cercando sem a menor cerimônia
um mundo de homens e mulheres espantosamente trajados. Os curumins, esses então positivamente
me agrediram, me dando muitos pontapés da mais imaginável variedade.
(...) O traje deles, se é que se pode chamar aquilo de traje, era assim: estavam inteiramente nus e com
o abdome volumosíssimo pintado com duas rodelas de urucum, uma de cada lado. No pescoço, uma
corda forte de tucum sarapintado amarrava um tecido de curauá muito fino, ricamente enfeitado de
fitinhas de canarana e umas rendas delicadíssimas feitas com filamento de munguba. Com isso
formavam uma espécie de saiote que em vez de cair sobre os ombros e cobrir o corpo, se erguia
suspendido por barbatanas oscilantes tiradas dos peixes. Assim, esse saiote erguido para o céu tapava
por completo as cabeças dos índios, tendo apenas na frente, no lugar mais ou menos correspondente aos
olhos, um orifício minúsculo dando saída à visão. Por esse orifício percebi que, além do saiote, os índios
traziam a cabeça completamente envolta num pano muito sujo, de que não pude descobrir o material de
fatura, também convenientemente furado no lugar dos olhos. Além dessa estranha vestimenta, os
Pacaás Novos traziam os braços e as mãos completamente vestidos com mangas de peles de onça,
ou de tamanduá-membira, de lontra, de guará, etc. (...) Eu estava espantado, na contemplação de
semelhante vestimenta, quando, por causa do sol, senti cócegas no nariz desesperado com o cheiro e
soltei um colarzinho de espirros; pra que fui fazer semelhante coisa! As mulheres se retiraram fugindo
pro fundo das casas, fazendo imensos gestos com as pernas, que depois soube serem gestos de muita
reprovação. Os machos, porém, e a curuminzada, principiaram movendo os ombros e as barrigas com
tamanha expressão, que mesmo sem ajuda do intérprete percebi que tinham caído na risada. Porém nem
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um som se escutava. Riam com os ombros, com a barriga e as pernas. Aliás, os gestos que faziam,
principalmente com as pernas e os movimentadíssimos dedos dos pés eram tão expressivos em
pontapés e contorções, repito, de uma variedade inexaurível, que eu, bastante versado em línguas, falando
o alemão, o inglês, o latim e o russo com desenvoltura, além dos meus regulares conhecimentos de
francês, tupi, português e outras falas, logo me familiarizei com o idioma dos Pacaás e entendi muito do
que estavam pensando e se comunicando.
Então o intérprete principiou me explicando os costumes dos Pacaás. Falava muito baixinho,
desagradavelmente com a boca encostada no meu ouvido, mas mesmo assim os índios davam
demonstração de suportarem a custo a nossa conversa de cochicho. É que os Pacaás Novos diferem
bastante de nós. Para eles o som e o dom da fala são imoralíssimos e da mais formidável sensualidade.
As vergonhas e as partes não mostráveis dos corpos não são as que a gente considera assim. Quando
sentem necessidade de fazer necessidade, fazem em toda a parte e na frente de quem quer que seja, até
nos pés e pernas dos outros, sem a mínima hesitação, com a mesma naturalidade com que o nosso
caipira solta uma cusparada. Porém espirro, por exemplo, ou qualquer som de boca ou do nariz, isso
é barulho que a gente solta só consigo, eles consideram. De forma que se um Pacaá sente vontade
de espirrar, sai numa disparada louca, entra num mato solitário, mete a cabeça na mais folhuda
serrapilheira e espirra só, com muita educação. Consideram o nariz e as orelhas as partes mais
OFICINA 5 | OS SONS INTERNOS DO CORPO HUMANO
vergonhosas do corpo, que não deve mostrar a ninguém, nem pros pais, só marido e mulher, na mais
Uma parte dos sons produzidos no e pelo nosso corpo vem do que fazemos voluntariamente; outra
rigorosa intimidade. Escutar, pra eles, é o que nós chamamos de pecado mortal. Falar, pra eles, é
parte é de sons que o organismo produz por si só e involuntariamente em sua atividade cotidiana.
o máximo gesto sexual. (...) E quando um homem se apaixona por uma cunhã, os dois principiam com
Vamos começar a pesquisá-los?
assobiozinho da mais delicada sutileza, é o namoro. Um belo dia o namorado chega na casa do pai da
pequena e diz que veio pedir a voz dela. Se o pai concede, em seguida há um bacororô que dura de sete
EXPERIMENTANDO A SONORIDADE DO NOSSO CORPO. Tente escutar os sons que são produzidos
a setenta dias, conforme as posses do futuro marido, tudo em silêncio (...), o casal novo segue então
dentro do corpo do colega: na barriga, no peito, nas costas. Identifique os sons internos do corpo
pra sua casa e, de portas fechadas, calafetadas as fendas com penugem de passarinho, principia
que parecem produzidos por líquidos: corrente sangüínea, movimentos intestinais e estomacais,
numa falação que não acaba mais. No outro dia, ali por quando o sol está pra chegar no meio do
deglutição. Crie uma dramatização em que todos os participantes / personagens produzam sons
céu, os pais da noiva, só eles, chegam na porta do casal e sacudindo as paredes dão aviso de sua chegada.
com água dentro da boca: falando com a água, gargarejando, gritando, assoprando, etc. Proponha
Então, se a recém-casada bota a boca numa fendinha do adobe e solta um assobio, é que está
a outro grupo a representação de uma história com animais. Só com os sons de seus corpos
consumado o matrimônio. Em caso contrário, comem o marido.
deverão imitar os sons dos animais: as mãos imitando o trote e o galope de um cavalo, os lábios
(Mário de Andrade, O Turista aprendiz, p. 90-3)
imitando o relincho e o resfolego, e assim por diante. Proponha uma dramatização só com roncos:
ronco de gente dormindo, de alguém com gripe e nariz entupido, etc.
Assim como a história que Mário de Andrade narrou, várias atividades que usam os sons da boca
e do nariz são muito interessantes. É importante deixar o grupo rir à vontade antes de voltar à
COMO ISSO FUNCIONA? Convide para a construção de um novo “estetoscópio”, orientando o grupo
proposta. Podemos até mesmo aproveitar esse momento para pedir que observem as diferenças
a prender dois funis nas extremidades de uma mangueira fina. Peça que tentem ouvir, com o auxílio
entre as risadas de cada um. Todas as propostas sugeridas são abertas a respostas variadas,
do aparelho construído, os sons internos do corpo e dos objetos. Sugira ao grupo, por exemplo,
por isso, é muito importante que o orientador evite falar apenas que isso ou aquilo está errado,
apoiar um cabo de vassoura (ou outro objeto semelhante), com cuidado, em um relógio de pulso;
mas sim que sugira opções.
então peça para que verifiquem o que acontece quando encostam a orelha no cabo de vassoura.
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O F I C I N A 6 | S O N S Q U E FA Z E M O S C O M O C O R P O
usar a voz, como sibilos e assobios. Experimente todos os sons que fazemos com a boca aberta,
ainda sem usar a voz, como a arfagem e outros; e também todos os sons que conseguimos fazer
Os sons que produzimos voluntariamente com o nosso corpo são muito diversos e ricos. Podem,
inclusive, ser usados para criarmos música. Vamos começar a explorá-los e a desenvolver a nossa
usando a voz, mas sem pronunciar qualquer palavra; ou os sons que podemos fazer com as mãos,
como bater palmas, estalar os dedos. Bata a mão na perna, barriga, cabeça. Bata os pés.
habilidade para produzi-los.
A BRINCADEIRA DO ECO. Um participante fica no centro; o grupo senta de costas; quem está no
O CORPO É UM INSTRUMENTO MUSICAL? Sons de nariz: como respirar fundo, fazendo barulho, ou
centro deve propor idéias musicais utilizando sons do corpo; os demais devem imitá-lo, tentando
assoar o nariz. Sons de boca: experimente todos os sons que fazemos com a boca fechada, sem
reproduzir os elementos apresentados o mais igualmente possível. Peça para desenharem o
próprio nariz; as mãos; os sons que podem fazer com o seu corpo.
O F I C I N A 7 | O S S O N S H U M A N O S E A PA I S A G E M S O N O R A
OS SONS SÃO “TRANSPARENTES”? Solicite a um participante que leia um texto em voz alta para a
turma que deverá, intermitente e variadamente, atrapalhar o leitor, com gritos, assobios, vaias,
gargalhadas e imitações de sons tecnológicos. O som resultante da leitura, que será então
confundido por sons mais fortes e mais caóticos, não poderá ser alterado por quem está lendo, que
prosseguirá a leitura como se não houvesse interferências. Todas as vezes que os sons interferentes
cessarem, a voz do leitor tornará, naturalmente, a ser ouvida. Peça a um dos participantes para
reger a “orquestra” e o “solista”.
O importante educador musical canadense, Murray Schafer, em seu projeto Paisagem Sonora
Musical, realizou um primeiro estudo sistemático significativo sobre a poluição sonora em
ambientes rurais e urbanos. Ele demonstrou que era possível desenvolver instrumentos de combate
ao excesso de ruído ambiental, contribuindo assim para criarmos “paisagens sonoras” mais
adequadas a cada comunidade. Será que o ambiente sonoro da nossa escola, da nossa casa, do
nosso trabalho é poluído? Será que existem problemas dessa natureza na região em que vivemos e
trabalhamos? O que é possível fazer para criarmos ambientes acústicos melhores?
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AT I V I DA D E S CO M O C D
Escuta dirigida
IDÉIAS E CRIAÇÕES
Pesquisa sonora exclusivamente dedicada aos recursos corporais.
FAIXA 15. SONS COM O NARIZ
FAIXA 16. SONS COM A BOCA
FAIXA 17. SONS COM AS MÃOS
FAIXA 2. O BOTO
FAIXA 18. SONS COM O CORPO
O boto faz algum som? Você sabe imitá-lo? Nunca ouviu? Então tente imaginar como seria esse som
Criação coletiva de ambientes sonoros: lugares, paisagens, situações cotidianas, estados de
e o reproduza.
espírito, etc. Uma floresta, por exemplo.
“O sapo querendo entrar na festa”… e o som do sapo, como é?
FAIXA 19. IMITANDO A NATUREZA COM OS SONS QUE PODEMOS FAZER COM O
Você gostaria de mudar o som de algum bicho? Ele faz um som diferente do que você imaginava
NOSSO CORPO
para ele?
FAIXA 8. CARIMGLOBALIZADO
Tem barulho de chuva na música? De trovão? Tem som da natureza?
Você sabe imitar esses sons da natureza, usando apenas o seu corpo?
FAIXA 10. AMAZÔNIA
O que seria “a cara do Pará”?
Você já ouviu o uirapuru? Como é o seu som?
FAIXA 12. SIRIÁ
O que significa siriá?
DICA
O orientador não deve deixar de avaliar cada atividade com o grupo. Depois de realizada, procurando
sistematizar o que foi vivenciado e definindo como a atividade se relaciona ao conteúdo dos módulos
do livro e com os objetivos que pretendeu alcançar. Deve também avaliar o seu próprio potencial
frente às atividades que levará ao grupo, de modo a inserir suas próprias experiências e tornar seu
trabalho mais autêntico e rico.
Você ouviu as gargalhadas? Consegue ter um ataque de riso?
Quem consegue fazer a risada ou a gargalhada mais bonita? Uma risada de criança, de adulto, de
alguém bem velhinho, de bruxa, etc.
FAIXA 14. BANGZÁLIA
Esta é uma gravação ao vivo. O público parece que ficou bastante entusiasmado com os músicos e
por isso, além das palmas, podemos ouvir assobios ao final da música. Você sabe assobiar?
Somente com os lábios? Você se vale dos dedos para assobiar? Você usa algum assobio para se
comunicar com familiares ou amigos?
A partir desse Módulo vamos propor também um outro conjunto de atividades para realizarmos a
partir da escuta do CD TOM DA AMAZÔNIA: Idéias e criações. Cada uma das faixas do CD aqui
indicadas contém elementos sonoros e musicais que exemplificam as idéias principais a serem
realizadas. Entretanto, os leitores/ouvintes devem estar atentos para a necessidade de recriarem os
exemplos dados, a cada nova experiência com seus grupos. Somente essa atitude possibilita o
caminho seguro que vai da escuta e da compreensão ao desenvolvimento da criatividade.
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C A N TA N D O
A voz é o nosso principal instrumento de comunicação. É, inclusive, um dos principais traços de
desenvolvimento da espécie humana, em relação aos outros animais. E é, obviamente, um dos
nossos instrumentos musicais primordiais. Além das palavras e das frases que podemos transmitir
com a voz, ou seja, além dos conceitos que transmitimos ao utilizar a voz falando, muitos outros
usos vocais são igualmente expressivos, tais como o choro, a gargalhada e os vocalizes melódicos.
A voz revela muito da nossa personalidade e estado de espírito; são comuns os casos de pessoas
que tomam um susto muito grande ou que sofrem alguma experiência traumática e, em
conseqüência disso, “perdem a voz”. Mesmo sem enxergar a pessoa, podemos reconhecer, pela sua
voz, qual o sexo, se é criança, se é idoso, qual a sua região de origem, seu estado emocional, além
de outros traços mais subjetivos como personalidade, temperamento, etc.
“O ar dos pulmões vence a resistência das cordas (pregas) vocais tensas e em adução (formando
um canal), e nasce a voz. Em seguida, a voz vai encontrando na faringe o ar do ambiente até a boca.”
O que Eládio P. González está nos dizendo é que a voz se forma na garganta, provocada pela corrente
de ar vindo dos pulmões. Ou seja, o ar que expiramos força as pregas vocais (termo que vem sendo
usado em lugar de “cordas vocais”, uma vez que estas não têm aparência de cordas como as do
violão, por exemplo) fazendo-as, com o atrito resultante, vibrar e produzir ondas sonoras. Trata-se
do mesmo princípio utilizado na produção de som nos instrumentos musicais de sopro, nos quais
tanto os lábios (nos instrumentos com bocal, como o trompete) quanto as palhetas (instrumentos
com boquilha, como a clarineta) são postos a vibrar provocados pela passagem de uma corrente de
ar soprada pelo instrumentista.
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OFICINA 8 | A RESPIRAÇÃO
Para podermos produzir sons com a voz ou nos instrumentos musicais precisamos dominar a
respiração. Não possuímos um aparelho específico para a produção da voz. Usamos, por exemplo,
o ar – da respiração – para produzir a vibração na laringe, e a língua, os lábios e a mandíbula, – do
aparelho digestivo – para articular o som resultante daquela vibração. Na produção da voz estão
envolvidos, portanto, três sistemas: o aparelho respiratório, onde se armazena o ar e onde ele
circula; o aparelho fonador, no qual o ar se transforma em som ao passar pelas pregas vocais, na
laringe; e as cavidades de ressonância, onde o som se expande, adquirindo suas qualidades finais.
O aparelho respiratório compõe-se, simplificadamente, de nariz, traquéia, pulmões e diafragma.
Quando o ar entra pelo nariz recebe um tratamento especial: os pêlos fazem uma filtragem de
impurezas, retendo-as ou expulsando-as por meio de espirros; no seu percurso até os pulmões,
o ar é aquecido e umidificado. O diafragma é o músculo que separa os órgãos respiratórios dos
digestivos. Ele controla o fluxo de ar e será, por isso, fundamental na emissão da voz.
PESQUISANDO A RESPIRAÇÃO. Sugira ao grupo sentir, com as mãos, o fluxo de ar da respiração.
Peça aos participantes para compararem a inspiração e a expiração pelo nariz e pela boca,
descrevendo as diferenças. Proponha aos participantes observar quantas vezes inspiram em cada
minuto. Peça que observem quantas vezes por minuto o colega realiza uma respiração completa
(inspiração e expiração). Recomende que não forcem a inspiração e a expiração além dos seus
limites (isso só deve ser tentado quando estamos fazendo exercícios próprios para isso, com
objetivos específicos). Recomende que mantenham sempre o pescoço e os ombros bem relaxados.
UM POUCO DE GINÁSTICA. Proponha imaginar que se enche um saco de pipoca devagar (inspiração
ligada e contínua). Ao explodi-lo com as mãos, dele sai o ar violentamente (expiração cortada,
rápida e explosiva). Proponha a seguinte seqüência para o grupo: 1) inspiração nasal, suave, lenta,
profunda, silenciosa; 2) pausa; 3) expiração nasal, lenta, suave, prolongada. Outra seqüência:
1) inspiração nasal, suave, lenta, profunda, silenciosa; 2) pausa; 3) expiração bucal, soprando muito
suavemente, com os lábios em posição de assobio. Mais uma: 1) inspiração idêntica à anterior;
2) pausa; 3) expiração bucal em “A” afônico. O mesmo exercício pode ser feito, expirando “O” afônico.
MAIS UM POUCO DE GINÁSTICA. Proponha a seguinte seqüência: 1) inspiração rápida e profunda;
cheios de ar; 2) pausa; 3) expiração rápida e forte. Ou mesmo: 1) inspiração nasal rápida e profunda;
2) pausa brusca; 3) expiração sonora com a boca fechada, porém com os maxilares separados (tons
2) pausa; 3) expiração emitindo-se consoantes como “ssssss”, “zzzzzz”, “jjjjjjjjj” ou “xxxxxx”. E uma
médios). Ou então: 1) inspiração idêntica à anterior; 2) pausa; 3) expiração inicial com a boca
última idéia é: 1) inspiração idêntica à anterior; 2) pausa; 3) expiração contando em voz alta “1, 2, 3,
fechada, emitindo som médio; 4) finaliza com a boca aberta emitindo “mmmooommmooommm”.
4, 5, 6, 7, 8, 9, etc.”
Uma boa idéia é fazer: 1) pequenas inspirações rápidas pelo nariz até sentir que os pulmões estão
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OFICINA 9 | O SOM DA VOZ
Assim como vimos que o aparelho auditivo é um preciso receptor de ondas sonoras que serão
convertidas em sons pelo cérebro, o aparelho fonador é um sofisticado produtor e emissor de ondas
sonoras, formado pela laringe e pelas pregas vocais. Quando o ar passa pela laringe, no movimento
de inspiração e expiração, as pregas vocais se afastam uma da outra como portões, permitindo a
passagem livre do ar. Quando desejamos falar ou cantar, as pregas, agora juntas, exercem alguma
resistência ao ar expirado pela boca, que ao pressioná-las provoca vibração.
E X E M P LO D A M O V I M E N TA Ç Ã O D A S P R E G A S V O C A I S E D A S P O S I Ç Õ E S D A G LOT E
O QUE É QUE TEM NA BOCA? Peça aos participantes para contarem quantas palavras podem falar
sem respirar. Sugira-lhes sentir a ressonância ao colocarem a mão no peito quando falam. Peça a
cada participante que desenhe numa folha de papel o que imagina ser o interior do nariz, sua
comunicação com a boca e como são as pregas (cordas) vocais. Organize a turma em duplas, com
papel e lápis na mão, e peça que observem a boca aberta do colega. Solicite que coloquem a língua
para fora, a fim de que se possa enxergar a úvula. Peça, então, que todos falem ou cantem com a boca
aberta para que possam observar o movimento da úvula. Ao final, mostre esquemas dos aparelhos
respiratório e fonador, para que os participantes os comparem com os desenhos que fizeram.
Respiração normal
Respiração profunda
Voz cochichada
Fonação normal
COMO ISSO FUNCIONA? Imaginemos uma bola de encher, cheia. Segure-a com as duas mãos e
permita que o ar saia livremente: temos aí um caso semelhante à expiração livre, sem produção de
voz. Em seguida, torne a encher a bola e segure-a pelo bico, esticando-o para os lados com as duas
mãos. Observe que o ar encontra agora alguma resistência para escapar, produzindo som devido ao
movimento vibratório resultante.
As ondas sonoras produzidas pela vibração das pregas vocais são muito suaves, muito pouco intensas.
Esse som, portanto, precisa de amplificação, como a que as caixas de ressonância dão ao violão, ao
piano e a tantos outros instrumentos. A laringe, a faringe, a boca e o nariz cumprem esse papel no
corpo humano. A boca desempenha um papel importantíssimo, tanto na ressonância do som vocal
quanto no trabalho de articulação (produção dos diferentes fonemas que distinguem os sons da nossa
linguagem). A liberdade e a facilidade na articulação dependem em grande parte da posição e da
soltura dos órgãos da boca. Eles recebem as ondas sonoras produzidas na laringe e amplificadas
pelos ressonadores, e têm a missão de explorá-las em todas as suas possibilidades articulatórias.
A mandíbula deve estar livre de qualquer tensão, podendo assim descer e subir facilmente.
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OFICINA 10 | OS FONEMAS
Os fonemas consonantais são ruídos produzidos a partir de diferentes maneiras de obstruir
a passagem do ar acima da laringe, ou seja, depois que as ondas sonoras são produzidas nas
Os ressonadores inferiores são a traquéia, os brônquios, os pulmões, a caixa torácica e a parte
pregas vocais. Para perceber e comparar os sons das consoantes podemos experimentar produzi-
inferior da laringe. Sua ação é percebida durante a emissão da voz normal, porque a voz tem
los sem acompanhá-los da sonorização das pregas vocais. Quando falamos [p], costumamos
ressonância peitoral, o que se nota com clareza colocando-se a mão no peito. Os ressonadores
acompanhá-lo da vogal [ê]. Tente produzir o ruído do [p] sem a vogal. Perceba que usamos os lábios
superiores são a faringe, a cavidade bucal, a cavidade nasal e os seios paranasais, situados no
para provocar uma pequena “explosão” (consoante bilabial). Agora compare esse fonema com
interior dos ossos do rosto. O céu da boca é constituído pelo palato (ou palato duro), que tem a parte
os demais: [t], [s], [m], etc.
posterior ligada a um músculo chamado véu palatino (ou palato mole) cuja articulação determina
se um som será nasal ou oral, pois quando ele se levanta, o ar vai para a boca, e quando se abaixa,
IMITANDO COM A VOZ. Coloque a mão sobre a garganta; produza por 5 segundos o ruído do [s], já
o ar vai para o nariz. O outro lado do véu palatino é solto e a sua extremidade é a úvula.
experimentado anteriormente (sem vogal). Em seguida, faça novamente o [s] e durante a emissão, sem
Devemos ter muito cuidado com a língua, que da mesma forma que ajuda bastante o canto, pode
interrompê-lo, acrescente o som da vogal [i]. Perceba, então, que a garganta começa a vibrar, pois
atrapalhar quando não está sob total controle: calma e passiva para os sons sustentados, firme
nesse momento as pregas vocais entram em funcionamento e temos, propriamente, voz. Peça à turma
e viva para a articulação dos fonemas. A língua deve voltar sempre ao seu lugar habitual, que é
para escolher um pequeno texto, a fim de que cada participante imite uma voz diferente, por exemplo:
no “chão da boca” (fundo da mandíbula), com a ponta apoiada nos dentes incisivos inferiores.
homem, criança, mulher, velho, cantora de ópera, de rock, disquejóquei, locutor de rádio,
Se observarmos a língua do boi, à mesa, notaremos que sua base é uma grossa massa de carne
pessoa comendo chiclete, etc. Proponha brincadeiras com as mudanças de timbre da voz, por exemplo:
que serviu para dar sustentação à ponta, fina e livre.
voz de choro, voz apaixonada, com raiva, com medo, alegre, triste, agitada, calma, curiosa, de espanto, etc.
Vogal e consoante são termos que usamos para classificar as letras que representam os fonemas,
os sons da nossa linguagem. O que chamamos de vogais são fonemas em cuja emissão a cavidade
bucal se encontra inteiramente livre para a passagem do ar. Na língua portuguesa a base da sílaba
é a vogal. Empregamos o termo “consoante” para nos referirmos aos fonemas em cuja emissão um
ou mais obstáculos da cavidade bucal (lábios, língua, dentes, alvéolos, palato ou véu palatino) são
utilizados para impedir total (consoantes oclusivas) ou parcialmente (consoantes constritivas) a
passagem do ar. A aliteração consonantal (repetição consecutiva da mesma consoante) é muito
divertida; são os célebres “trava-línguas” que podem ser de grande utilidade no trabalho de
musicalização, se praticados sem excessos com os participantes.
O MOVIMENTO DA FALA. Para os fonemas vogais são empregadas posições diferentes dos órgãos
de articulação. Em português, as vogais orais são [a], [é], [ê], [i], [ó], [ô] e [u], e as nasais [an],
[en], [in], [on] e [un]. Experimente emitir a seqüência [a]-[é]-[ê]-[i] e perceba que somente a língua
vai modificando sua posição, aproximando-se progressivamente dos dentes incisivos inferiores.
Agora experimente a seqüência [a]-[ó]-[ô]-[u]. Nesse caso, a língua permanece imóvel e é o
ESCUTANDO AS PALAVRAS. Peça à turma para verificar e experimentar os sons (fonemas) de
movimento dos lábios, progressivamente mais fechados, que define a vogal. Proponha várias
diferentes palavras, começando com os próprios nomes dos participantes, observando, por
seqüências diferentes de vogais para os participantes executarem com rapidez. Peça para
exemplo, as palavras mais sonoras como pipoca, trovão, etc. Sugira que experimentem falar as
avaliarem quais foram as seqüências mais difíceis de falar. Por que foram difíceis? As vogais são
onomatopéias, para que pesquisem as palavras de som aquático, metálico, explosivo, áspero, etc.
muito diferentes, muito parecidas, usam somente o posicionamento de língua, somente de lábios,
Pedir ao grupo para inventar palavras diferentes, que não existem, para representar
misturam movimentos de língua e lábios?
lua, mar, céu, água, vento, etc.
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OFICINA 11 | A LÍNGUA MALUCA
distribui comunhão numa paródia regional curiosíssima em que se queixa da fome dos comungantes
imaginando que a hóstia é um pedaço de pirarucu.
Todo idioma tem a sua musicalidade. Ela é baseada nos contrastes de altura (grave e agudo) dos
Na cena casamento todos, padre imitou língua de sírio, pensando que imitava latim. Dá hóstia: — Esta
sons emitidos, de intensidade (forte e suave) ou na variação da velocidade com que dizemos essas
menina me mordeu! Pensava que era pedaço de peixe-boi! — Depois casamento, veio Carão, todos roda.
ou aquelas palavras e frases. Que tal inventarmos uma língua que se constitua mais a partir da
‘Ciranda vem chegando — Por morte do carão!’ (bis). Carão entra na roda e o caçador, de fora, procura matá-
emoção e das intenções de comunicação de sentidos do que a partir do uso de palavras codificadas?
lo. Dá tiro. Carão ferido. Padre critica: — Não quebre a cabeça do carão! (A Ciranda fizera possível evitar morte).
Vamos começar?
Para acabar vem a morte e salvamento dum animal ver no Bumba-meu Boi. Só que o boi, de pouca
freqüência no meio daquela gente ictiófaga é substituído pelo carão. Essa a parte mais viva da festa.
SENTINDO COM A VOZ. Divida a turma em dois grupos. Cada grupo deverá fazer uma lista de
Um caçador persegue o pássaro representado por um rapaz bem enfeitado no meio da roda. O caçador
sentimentos para que o outro grupo os represente. O grupo A escolhe um de seus membros por
está de fora e forceja para dar um tiro no carão enquanto o coro com idas e vindas em bate-pé procura
rodada para ir até o grupo B e saber, em segredo, qual o sentimento que deverá representar para
impedir o tiro. Afinal o carão morre, padre faz encomendação defunto. Mas é ressuscitado pelo padre que
que seus companheiros reconheçam. A representação só pode ser feita por meio de sons vocais,
bota a estola na cabeça do cadáver. Tudo dançado com palmas. Acompanhamento violão e cavaquinho.
sem a utilização de palavras conhecidas nem gestos, usando, pois, apenas os recursos expressivos
Ritmos sincopados. Blusas vermelhas debruadas de azul, turbantes com flores e plumas. Rostos pintados
da voz. O grupo A tem dois minutos para acertar qual é o sentimento representado. Na rodada
com urucum. E todos fazem a festa juntos e a Ciranda acaba. Depois saída da casa do Sr. Teófilo Nojes (não
seguinte, invertem-se os papéis.
entendo bem minha letra) com o canto da dança da dança-de-roda da ‘Ciranda, Cirandinha’ tradicional.
(Mário de Andrade, O Turista aprendiz, p. 97, 335-6)
Dentre as nossas festas populares, reisados, bois-bumbás, congos, maracatus, uma das menos
conhecidas é a Ciranda. No norte do Brasil, inda ela em alguns lugares e tive ocasião de assistir a uma
QUE LÍNGUA MAIS MALUCA! Em círculo, perguntar se alguém sabe falar uma língua estrangeira. Pedir
em ‘Caiçara’ – pouco além da cidadinha de Tefé, no Solimões. Havia iluminação por toda a parte e gente
para que essa pessoa fale alguma coisa, uma palavra, uma frase. Mais alguém? Como seria o sotaque
na rua. Então nos contaram que o lugar se chamava Caiçara e a animação era por causa da Ciranda que
de alguém que fala português? Alemão? Japonês? Quem consegue falar numa língua que não existe?
se ia realizar. Andamos um pouco mais e topamos com o bando de festeiros. Dois a dois, rapaz e moça,
Agora tente dar um recado para o grupo nessa língua; avise alguma coisa, conte uma história, etc.
eles marcham num bamboleio saltitado que nem o passo de marcha dos cordões cariocas, cantando em
coro uníssono a Ciranda-Cirandinha.
Seguiram até mais animados, berrando, religiosamente compenetrados, dirigidos por um tapuio
OFICINA 12 | OS MOVIMENTOS DA MELODIA
bancando padre. A vestimenta é berrante e gostosa de se ver. Chapéus inspirados nos cocares indígenas,
cheios de penas de arara, flores de papel e naturais; blusas e calções de cores claras, rosa, encarnado,
amarelo, verde, as mesmas cores cruas com que Tarsila abrasileirou tão sabiamente os quadros dela.
Quando o cordão chegou na casa dum sírio negociante de caucho, a Ciranda principiou. O reisado não
tem muita originalidade dramática não, inspira-se nas danças de roda infantil e no Bumba-meu-Boi. Os
É na subida do Madeira que encontro os índios Dó-Mi-Sol (o nome da tribo, por exemplo, eram os
dois intervalos ascendentes, que em nosso sistema musical, chamamos dó-mi-sol). É um paroara que
encontro cantando na terceira. Fica meu amigo e um dia pergunta se quero ver uma coisa. Me diz pedir
ao comandante uma parada logo ali adiante, na boca dum igarapé e me leva a conhecer o tal povo.
figurantes em roda, cantam e saracoteiam, esboçando um enredo vago sem continuidade. Uma
(...)É curioso que só tinham concepção de deuses do mal. Um deus bom, não possuíam. A mitologia
orquestrinha de violões e cavaquinhos acompanha as cantorias, ritmadas com força pela assistência
deles era francamente domonologia perversa como o diabo. Aliás, nesse povo tão cheio de bom-senso,
batendo palmas. Um ou dois cantores solistas, fazendo mais ou menos o papel do Histórico dos oratórios
o conceito do Bem era tão diluído ou indiferente que a bem dizer não existia. Tinham várias frases, com
clássicos, puxam os cantos, enquanto outros figurantes solistas representam dentro da roda o que o
modificações musicais sutis pra designar qualquer noção maléfica, mas pra designar a noção benéfica
Histórico vai contando.
contrária, quando possuíam, apenas uma frase única, genérica e geral. Assim, por exemplo, contei até
O enredo é uma barafunda, não possui o nexo e a legitimidade dramática do Boi-Bumbá. O padre, que
quarenta maneiras diferentes de dizer “tenho fome”, porém não tinham nenhuma expressão para indicar
é a figura principal, faz de elemento cômico da dança. Indaga dos amores das coristas; casa dos namorados;
o “estou satisfeito” ou “já não tenho fome”. Ora, esta era justamente uma das causas da grandeza dos
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índios Dó-Mi-Sol, pois tinham feito da vida um mal a conquistar, um demônio a abrandar. Eram, no fundo,
Quando a criança ouve de seus pais, parentes e amigos as melodias cantadas de certa maneira,
mas no fundo apenas ideal, uns incontentados. E disso lhes vinha ao mesmo tempo que uma atividade
ela não se preocupa em saber se está afinado ou não. Apenas repete o modelo. Em princípio, não
enormemente progressista, um conformismo a toda prova.
existem fatores físicos que determinem a desafinação de uma pessoa saudável e que a impeçam de
Para se perceber quanto era sensível esta noção pessimista da existência, basta lembrar a palavra que
aperfeiçoar sua habilidade de entoar e afinar, se ela praticar. É uma questão, sobretudo, de
principiada num determinado som mais grave, por meio do embalanço de um grupetto atingia a quinta supe-
treinamento e persistência. Como dissemos, a criança canta o que ouve: se ouvir um som de uma
rior. Notei logo nas primeiras horas que essa música era repetidíssima e quando lhes perguntei o sentido me
maneira, vai imitá-lo, e o desenvolvimento da afinação está diretamente ligado a esse exercício de
responderam que significava “inimigo”. Fiquei muito sarapantado, pois então pude realizar que era a música
ouvir sons com origem em outro lugar e reproduzi-los no seu próprio corpo.
com que todos se tratavam mutuamente, e pus minhas dúvidas ao intérprete. Este, coitado, não era muito sa-
Por isso, achamos importante a não-discriminação, a não-rejeição das crianças que ainda não
bido e principiou insistindo forte que o tal fraseio significava “inimigo” sim. Mas o filósofo, que estava ao lado,
conseguiram aperfeiçoar a habilidade de afinar. O prazer de “cantar junto” age psicologicamente na
escutando com paciência, principiou chilreando mansinho e o intérprete escutou, escutou e me esclareceu o
criança, que quando está na companhia de outras fica feliz, sente-se estimulada, sua auto-estima
caso. É que na língua dos Dó-Mi-Sol a intensidade da emissão, os fortes, os pianos, os crescendos e decres-
cresce, o que faz com que vá aos poucos escutando e percebendo o que é um “som afinado”. Porém
cendos não só davam variantes de significados às expressões, como as podiam modificar profundamente. Não
ocorre o contrário quando é discriminada. Sente-se diferente, rejeitada, sem ao menos saber o
fundamentalmente, porém. E este era o caso da palavra em discussão. Os Dó-Mi-Sol não tinham nenhuma
porquê, ou seja, sem que perceba e entenda quais as diferenças entre ela e as outras crianças. Com
palavra pra indicar o amigo, o companheiro, o chefe, o proprietário, o escravo, nada disso. Só tinham mesmo
toda a certeza, essa condição imposta, de desafinada, irá persegui-la por toda a vida. Quantas vezes
uma palavra pra designar a inter-relação entre os seres humanos do mesmo sexo e não da mesma família,
a criança escuta: “Coitada, é desafinada, canta igual à tia, não tem jeito”, “Pára de cantar, procura
e essa palavra era aquela “inimigo”. Mas se pronunciada em fortíssimo, por exemplo, sem deixar de significar
fundamentalmente inimigo, a palavra tomava as nuanças de conceituação do “chefe”, ao passo que, em
pianíssimo, significava “amigo”, sem por isso perder a noção preliminar de “inimigo”. A mim, logo de início,
desque botei atenção naquela semântica ativa, notei que todos me tratavam num mezzoforte que ia em
decrescendo, o que significava, mais ou menos “inimigo curioso desprezível por ser de raça inferior”. Mas no
fim das nossas relações já quase todos, com exceção de uns quatro ou cinco, me tratavam em pianíssimo com
tendência crescente, o que não deixou de me sensibilizar. (Mário de Andrade, O turista aprendiz, p.158-9)
A história que Mário de Andrade criou e nos contou tão espirituosamente baseia-se em nossa
capacidade de criar e perceber diferenças muito especiais nos sons que produzimos com a nossa voz.
Estamos falando da altura dos sons, aquela propriedade que faz os sons serem mais agudos (“finos”)
ou mais graves (“grossos”). A variação da altura dos sons é fundamental para expressar nossas idéias
e emoções quando falamos. Naturalmente, oscilamos do grave para o agudo e vice-versa, com o
intuito de tornar as nossas palavras e frases mais expressivas e interessantes para quem nos ouve.
Entretanto, quando cantamos, especializamos mais ainda esse “subir” e “descer” melódico da
voz. É sobre isso que Mário chamou a atenção em sua história. Os índios Dó-Mi-Sol “falam
cantando”. Quando falamos, normalmente não nos preocupamos em precisar a altura de cada som
emitido. Mas os Dó-Mi-Sol assim o fazem. Cada sílaba pronunciada vem enriquecida de uma altura
precisa, uma nota musical que podemos reconhecer comparando-a com as outras. E esse
movimento melódico, composto de “subidas” em direção ao mais agudo e de “descidas” para o
grave, determina o sentido do que se quer expressar. Haja afinação!
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outra coisa pra fazer!” ou “Esse menino não dá pra música, não tem ouvido”. Crescer com esses
DESENHANDO AS “MONTANHAS SONORAS”. Pedir ao grupo para escutar uma melodia cantada
comentários faz com que a criança acredite definitivamente no seu fracasso musical, o que pode
(ou mesmo alguém falando) e descrever, no ar, a trajetória da série de sons escutada. Propor que
ser evitado se encontrar no seu caminho pessoas que acreditam e compreendem as
façam numa folha de papel os desenhos (de sobe-desce) correspondentes a diferentes pequenas
flexibilidades da aprendizagem.
melodias cantadas em sala ou previamente gravadas. Escrever no quadro várias dessas “montanhas
sonoras” (desenho melódico) e pedir aos participantes para interpretarem o que escreveram,
CANTANDO EM VOGAIS. Ensaiar com os participantes uma canção. Pedir para prestarem
cantando. Levar o grupo a criar suas próprias “montanhas sonoras” e cantar os desenhos-
bastante atenção às alturas (notas) que formam a melodia. Propor, então, repetir cada frase,
partituras criados.
eliminando totalmente as consoantes, isto é, pronunciando somente as vogais da letra.
Discutir, em seguida, o resultado da experiência. Dividir a turma em duplas e pedir para
inventarem um idioma só com vogais e combinações de vogais, variando também as alturas.
BRINCANDO DE SUBIR E DESCER. Dramatizar uma lenda ou mito, apenas sonoramente.
Dramatizar sonora e corporalmente um eletrodoméstico para que a turma descubra qual foi.
Conversar com a turma sobre a altura do som (grave, médio e agudo). Sugerir que os
participantes coloquem a mão no pescoço para perceberem as modificações de ressonância
das pregas vocais nos sons graves, médios e agudos. Levar o grupo a experimentar
falar explorando alturas diferentes com a voz. Propor que conversem usando apenas uma
única altura (nota) da voz. Orientar os participantes a representarem os sons agudos,
apontando, por exemplo, para cima, os sons médios, para a frente, e graves, para baixo,
utilizando variados sons.
Os exemplos sonoros dessas montanhas estão no CD
MAIS AGUDO, MAIS GRAVE. Colocar a mão no pescoço e perceber as modificações das pregas
vocais quando se vai dos sons graves para os agudos. Dividir a sala de aula em país do som grave,
do médio e do agudo, onde as pessoas falam de acordo com o lugar que estão pisando. Fazer uma
roda, escolher uma música, cantar enquanto a roda gira, modificar o som da sua voz, dependendo
da região em que estiver. Grafar no quadro várias montanhas do som. Cantar o que está escrito.
Chamar os participantes para criarem sua montanha no quadro. Caminhar na ponta dos pés com
braços e mãos levantados quando ouvir uma música no registro agudo; caminhar normalmente
quando ouvir no médio; e de cócoras no grave.
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AT I V I DA D E S CO M O C D
DESTACANDO A MELODIA. Divida a turma em dois grupos. Cada grupo deverá fazer uma lista de
canções que conhece e gosta, para que o outro grupo as entoe. O grupo A escolhe um de seus
membros por rodada. Este vai até o grupo B saber, em segredo, qual canção deverá cantar para que
seus companheiros reconheçam. Porém ele só poderá vocalizar a melodia; não poderá dizer
nenhuma palavra nem fazer qualquer outro gesto ou som. O grupo A tem 1 minuto para acertar qual
é a canção interpretada. Na rodada seguinte, invertem-se os papéis.
Escuta dirigida
FAIXA 2. O BOTO
Quem está cantando? Voz feminina ou masculina? Tem os dois tipos?
“Desmaiar”? Como uma voz pode desmaiar?
FA I X A 4 . S O M DA N AT U R E Z A
Que voz está cantando bem no começo? É masculina ou feminina? É grave ou aguda? Parece com
voz de quem?
Depois entram duas vozes femininas, qual a diferença entre uma e outra?
FAIXA 5. BORZEGUIM
Quantas vozes estamos ouvindo nessa música?
Você percebe que as mulheres cantam um trecho e os homens respondem, fazendo um eco?
“Todo santo diaaaaaaaaaaa”. As cantoras fazem, nesse trecho, um som bastante longo. Depois, elas
cantam “em nome de Deeeeeeeeeus”; por quanto tempo você consegue sustentar um som longo?
FAIXA 8. CARIMGLOBALIZADO
“Maria, que dança é essa?” Nesse trecho a voz parece ter algum efeito especial? Você sabe imitar
uma voz que tenha esse som?
Você percebe que em alguns trechos o cantor faz uma melodia e em outros a voz é apenas falada?
Que tal você experimentar falar uma frase e em seguida cantá-la?
FAIXA 20. EXPERIMENTANDO UMA LÍNGUA MALUCA
Quando adquirimos mais fluência na “língua maluca” que experimentamos, já podemos até conversar
sobre qualquer assunto.
FAIXA 21. CONVERSANDO NA LÍNGUA MALUCA
“Montanhas sonoras” são criações sonoro-musicais que envolvem o exercício do reconhecimento
de uma forma sonora e de uma possível representação gráfica para ela. Constituiem-se de vários
elementos musicais, sobretudo da variação da altura do som e do tempo de permanência de cada
estado do evento sonoro. Alguns exemplos:
FAIXA 22. CANTANDO AS MONTANHAS SONORAS. MONTANHA SONORA A
FAIXA 23. MONTANHA SONORA B
FAIXA 24. MONTANHA SONORA C
FAIXA 25. MONTANHA SONORA D
FAIXA 26. MONTANHA SONORA E
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FAIXA 27. MONTANHA SONORA F
DICA
FAIXA 28. MONTANHA SONORA G
Devemos adquirir o hábito de beber água com regularidade durante a jornada de trabalho: é
A seqüência de faixas abaixo é dedicada à melodia inicial de Correnteza, de Tom Jobim e Jararaca,
aconselhável tomar um copo d’água a cada intervalo de aula, por exemplo, e, de preferência, na
e chama a atenção do ouvinte para alguns dos recursos utilizados pelos músicos para chegar à
temperatura natural. Quando ficamos roucos devido a algum excesso de trabalho, podemos ainda
versão final de uma canção apresentada ao público. Trata-se de uma melodia que bem metaforiza
fazer uma hidratação mais direta das pregas vocais. Basta, para isso, aproximarmos o rosto de um
o movimento das águas do rio, porque sobe, desce, sobe mais uma vez e, então, finalmente
copo com água fervente e inspirarmos o vapor algumas vezes, vocalizando, em seguida, o som de
desce para repousar.
alguma vogal, longamente. Além disso, após uma jornada de trabalho o professor deve habituar-se
FAIXA 29. MELODIA DE “CORRENTEZA”
a cumprir um tempo de repouso para a sua voz, como o de uma máquina que trabalha por horas
Quando deixamos de entoar o subir e o descer da melodia, permanece somente o seu movimento
seguidas e deve ser desligada periodicamente, a fim de manter sua eficiência. Um profissional que
rítmico.
necessita essencialmente da eficiência de sua voz, como é o caso do professor, deverá, pois, usá-la
FAIXA 30. “CORRENTEZA” SEM SEUS MOVIMENTOS MELÓDICOS
o mínimo possível durante o intervalo de tempo do trabalho para casa ou para uma outra atividade.
FAIXA 31. “CORRENTEZA” COM SONS MAIS AGUDOS
O que chamamos de “harmonia” começa a se tornar mais evidente para o ouvinte quando
sobrepomos as melodias.
FAIXA 32. A MELODIA E SUA VARIAÇÃO
Outras melodias podem ser criadas para acompanhar o mesmo texto.
FAIXA 33. OUTRA MELODIA UM POUCO DIFERENTE PARA “CORRENTEZA”.
Entretanto, nem todas as melodias soam bem quando cantadas ao mesmo tempo. Por isso, se o
leitor deseja criar com o seu grupo novas melodias para uma canção, deve criá-las ouvindo a já
existente, a fim de perceber a compatibilidade entre ambas.
FAIXA 34. A MELODIA JUNTO COM TOM JOBIM
Além do trabalho vocal, outros elementos integram os arranjos musicais. Dentre eles estão,
principalmente, os recursos advindos dos instrumentos musicais, que podem tanto “dialogar” com
as vozes quanto apenas apoiá-las ritmico-harmonicamente (na forma de acompanhamentos).
A seguir, ouvimos um pequeno arranjo reunindo as melodias já estudadas e um simples acompanhamento no violão e no piano.
FAIXA 35-36. TRÊS MELODIAS COM VIOLÃO E PIANO
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4
TOCANDO
instrumentos
Os instrumentos rígidos que produzem ondas sonoras com a vibração de seu próprio corpo, por
inteiro, são chamados de idiofones. Dentre eles podemos destacar as matracas, os guizos, os
chocalhos, os maracás, os bastões de ritmo, etc. Alguns desses instrumentos são tocados, isto é, o
som é produzido diretamente, enquanto os outros soam graças a movimentos indiretos que os
fazem vibrar. Entre as populações indígenas brasileiras temos, por exemplo, na primeira espécie, o
torokaná, na segunda, os colares e cintos de guizos.
Os instrumentos denominados membranofones são aqueles que soam pela vibração de uma
membrana neles distendida. São instrumentos do tipo do tambor. Conhecem-se duas espécies:
os abertos no fundo e os que possuem peles esticadas nas bordas superior e inferior (fundo).
Em geral, não são originários da cultura indígena. Os cordofones são instrumentos que soam
fazendo-se vibrar as cordas neles distendidas, seja friccionando-as, seja puxando-as ou nelas
batendo. Também não são muito difundidos entre os povos indígenas da Amazônia, e os mais
conhecidos são as violas.
Os instrumentos que soam a partir da incidência de ar no seu interior, quer por um orifício, quer
através de uma válvula, ou ainda os que são agitados no ar para vibrarem e produzirem ondas
sonoras, são denominados aerofones. Nessa classe estão os mais numerosos instrumentos
ameríndios. A variedade de trombetas, de flautas, de pios e assovios é enorme.
A criação de instrumentos musicais ou de simples fontes sonoras ocupa lugar central neste
módulo do livro. Procuramos propor sua construção com materiais de fácil aquisição, mas que produzam,
ao final, sons de boa qualidade, condição essencial para o desenvolvimento auditivo e musical que
se pretende. Os instrumentos aqui propostos variam desde simples idéias de construção
rudimentar até estruturas que exigem componentes mais delicados e trabalhosos. Estes últimos
têm seu procedimento básico de construção detalhado em texto ilustrado, a fim de facilitar sua
compreensão e incentivar a criação de variantes adequadas a cada circunstância de trabalho na
escola. Eles oferecem, em geral, qualidades sonora e expressiva especiais; entretanto os instrumentos
mais simples não precisam ter som ruim ou limitar o desenvolvimento musical das crianças. É
necessário buscar sempre, dentro das possibilidades de cada um, o melhor material e a confecção
mais cuidadosa; isso garantirá satisfação, durabilidade e eficiência na execução das atividades.
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de uns dois ou três metros de comprimento e quase dois metros de diâmetro. Possui três buracos
ligados por uma estreita fenda, e costuma ficar suspenso por estacas num buraco mais profundo
do que uma pessoa e feito para este fim.
Os sinais são dados batendo-se no trocano com um macete de cabeça de goma elástica, ou
envolvida em tiras de couro de anta, entre os dois buracos extremos, obtendo-se, de acordo com o
ponto em que se bate, sons diferentes. A combinação de número de golpes e espaçamento temporal
entre eles permite a transmissão de notícias por meio de pequenas frases, combinadas num código
de sinais bastante simples, mas suficiente para as necessidades locais.
COMUNICANDO COM INSTRUMENTOS. Organize o grupo sentado em círculo, cada um dos
participantes com um instrumento de percussão na mão. Siga as etapas: 1) Proponha que um deles
toque uma “mensagem” para um determinado colega, olhando para este, que deverá, em seguida,
respondê-la. 2) Proponha que um participante envie uma “mensagem” para outra, que deverá
Prato de bateria
Surdo de Escola de Samba
Cavaquinho
Saxofone
repassá-la para uma terceira, e assim por diante. 3) Proponha também que um participante assuma
o papel de chefe e execute algo bem curto, no seu instrumento, para ser imitado por todos os outros.
Um idiofone atritador é o catacá, que consiste de dois pedaços de tábua, ou mais comumente de
OFICINA 13 | PESQUISANDO E CONSTRUINDO INSTRUMENTOS
taboca, um dentado e outro não, que se toca fazendo passar mais ou menos rapidamente e com
CLASSIFICANDO OS OBJETOS-INSTRUMENTOS. Peça para cada participante trazer de casa um
Uanana, Cabeu e Carajá conhecem um curioso instrumento idiofone atritador que é um casco vazio
“som de bater”, um “som de soprar”, um “de chacoalhar”, “de raspar”, etc. Durante a aula, então,
de tartaruga, sobre o qual esfregam a mão untada de certa resina e obtêm um som que lhes serve
peça-lhes que denominem seus instrumentos como sendo de: corda, caso haja algum tipo de corda
de acompanhamento, parecendo, segundo Renato Almeida, com o “lamentoso coaxar dos sapos”.
mais ou menos força o pedaço liso sobre o dentado: uma espécie, portanto, de reco-reco. Os índios
posta em vibração de alguma maneira; sopro, caso haja algum tipo de tubo no qual o participante
projete o ar com o seu próprio sopro ou por meio de outra ação qualquer; ou percussão, caso haja
CO N S T R U I N D O U M R E CO - R E CO
um objeto atingido pelo corpo do participante ou com auxílio de outro objeto, por golpe, movimento
Corte um pedaço de bambu, mantendo um
de chacoalhar, arranhar, friccionar, etc.
nó em uma das extremidades (ou corte
um pedaço de madeira dura, que pode ser
INVENTANDO INSTRUMENTOS. Com sucata (de caixas de ovos a rodas de bicicletas) os participantes
de um galho de árvore descascado). Com uma
inventam instrumentos e lhes dão nomes. Depois, orientador e grupo, baseando-se na maneira
lima, serra ou cutelo faça entalhes em
como os inventores dos instrumentos dizem (e mostram) que os mesmos devem ser tocados,
carreira com espaçamento regular sobre
classificam-nos como de sopro, de corda, de percussão (de golpear, de chacoalhar, de raspar, etc).
o bambu (ou pedaço de madeira). Faça uma
vareta a partir de galhos de árvores como ipê,
O torokaná, que em português é conhecido nas formas trocano ou trocana, não é, propriamente,
pau-ferro ou outra de madeira bastante dura,
um instrumento musical, mas um instrumento de sinalização. Como o som do trocano, tanto de
com aproximadamente 30 cm. Experimente
manhã cedo quanto à noite, pode ser ouvido a quase dez quilômetros de distância, o instrumento é
também construir com o grupo reco-recos
usado para chamar as pessoas e comunicar à distância, e é empregado por quase todos os povos
com formas e materiais diferentes.
indígenas do Pará. Constitui-se de uma tora de madeira leve e sonora, inteiriça e escavada a fogo,
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Os chocalhos de várias espécies são também muito comuns entre os nossos índios. Há os usados
vários nomes. Consiste, mais comumente, numa cabaça oca colocada na extremidade de uma
como guizos, feitos de seixos, caroços de frutas, unhas de veado, javali e outros animais, colocados
vareta, cheia de pedrinhas, caroços ou sementes. Outras vezes é atravessado por um cabo de madeira,
ora em cachos ora enfiados em cordéis ou dispostos em bandas para serem usados como cintos.
apresentando-se com dois manípulos. Alguns maracás, ou maracas, são enfeitados com penas no
Os També os colocavam acima dos tornozelos, na forma de ligas com guizos de piquiá. Os Bororo
suporte e outros têm a cabaça ornada de desenhos.
também os usavam nos tornozelos ou nos joelhos; os Xavante os faziam com unhas de veado e
O maracá é considerado um instrumento mágico usado pelos pajés. Mas serve também para puxar
soavam a cada pulo. O aiapá é um chocalho feito de caroço de fruta de cipó e algumas vezes de
a dança. Ainda hoje nas pajelanças e até em catimbós, os curandeiros usam o maracá nos seus rituais,
casca de unha de veado, usado no dedo do pé direito pelos que puxam a dança ou mesmo na
reminiscência das danças-médicas em que, pela magia, se curavam os doentes.
extremidade de longas varas usadas para a marcação rítmica. Segundo Renato Almeida, o som
produzido pelos guizos durante os movimentos do corpo tem para os índios poder mágico, especial-
CONSTRUINDO UM MARACÁ. Esvazie um
mente quando feito por coisas enfeitiçadas, como dente de jaguar e de outros animais selvagens.
coco, tirando toda a sua água com um furo
em um dos três olhos de uma extremidade
PESQUISANDO AS FONTES SONORAS. Peça ao grupo para chacoalhar copos e potes diversos
e outro menor na outra extremidade. Serre
cheios de coisas diferentes (como água, arroz, chapinhas, etc), e, depois, compare os vários
o coco em duas metades e retire a polpa.
resultados, analisando cada um dos materiais usados na experiência. Proponha também a pesquisa
Talhe uma vareta para poder enfiá-la no
dos sons conseguidos ao soprar garrafas, canudos, bolas de encher, etc.
coco pelos dois orifícios. Derrame um
punhado de arroz na casca do coco já seco,
CONSTRUINDO CHOCALHOS. Para construí-los basta termos um recipiente como copos e garrafas
e cole as duas metades de modo que a
de plástico, latas de refrigerantes, frascos de iogurte ou bebidas afins, copinhos de filme fotográfico,
vareta entre com algum esforço e fique
fôrmas de empada ou qualquer outro recipiente de materiais diversos que possam receber grãos,
firme. Mantenha as duas metades fixadas
sementes, areia, pedrinhas ou qualquer outra coisa que produza bom efeito quando chacoalhada no
com elástico grosso até a cola secar
interior dos recipientes tampados uns contra os outros. Evidentemente, é bom que os recipientes
comple-tamente. Podem-se obter sono-
utilizados sejam idênticos, a fim de permitirem bom encaixe entre si, e devemos sempre buscar
ridades diferentes de acordo com o
a melhor combinação entre recipiente e recheio para conseguirmos o resultado sonoro mais
conteúdo do instrumento: feijão, milho,
interessante. Vários chocalhos são encontrados prontos na natureza, tais como a cabaça, as favas
lentilha, sementes de melão, de girassol,
de feijão, de flamboiã ou de vagem, o ouriço de castanha (como as do Pará), o ouriço de seringueira,
cascalho, conchas, etc.
frutos de palmeiras como o buriti, entre outros.
Outro tipo de chocalho pode ser construído com tampinhas (de metal) para garrafas, presas
Dentre os idiofones cabe citar ainda os bastões de ritmo chamados taquaras. Trata-se de um caule
num pedaço de madeira. Primeiramente, achate as tampinhas com um martelo até que todas
de cana de seis a sete palmos de comprimento, com diâmetro suficiente para passar um braço
se tornem discos. Em seguida, todas elas são furadas no centro com um prego bem grosso
dentro dele. Esse instrumento é dos Tupi-Guarani, mas se generalizou no Brasil, sendo encontrado
e superpostas num outro prego mais fino que será fixado num pedaço de madeira, sem, no entanto,
com vários nomes. É natural do norte do Amazonas e a sua ocorrência ao sul do grande rio se deve
prender demasiadamente as tampinhas para que possam se chocar umas com as outras ao
às migrações dos Tupi. Sua confecção parte de espécies de bambu e as dimensões e os ornamentos
chacoalharmos o instrumento. Com uma carreira de pequenas pilhas de tampinhas obtemos
variam. Alguns são fechados nas duas extremidades com cera e outros têm um cabo.
um instrumento bastante sonoro.
Esses bastões servem para marcar o ritmo da dança, soando surdamente quando batidos no chão.
Portanto, sua finalidade é acentuar uma das marcações da dança, garantindo sua regularidade. Há
Dentre os chocalhos o mais famoso, pela sua importância como instrumento nobre e sinal de
poder espiritual, é o maracá. Dele há muitas variantes, da mesma forma que o encontramos com
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também bastões de ritmo com maracás na parte superior, como os uarangás, dos Ipurucatá, feitos
de um só colmo da taquara, ou enfeitado de chocalhos, como o iuké, dos Uapixaná, de Rio Branco.
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CONSTRUINDO UM PAU-DE-CHUVA. O pau-de-chuva
era conhecido também o tambor que usam na guerra; tambores que fazem de um só pau que cavam
parece um chocalho, tem muitas semelhanças com eles
por dentro com fogo até ficarem com paredes bem finas. Supõe-se que eram batidos com uma
e pode até ser utilizado como chocalho. Entretanto, o pau-
baqueta. O ka é um tambor obtido pela distensão de uma pele sobre uma espécie de pilão.
de-chuva é empregado de modo diferente, ou seja, não é
chacoalhado. Vamos construí-lo? Corte um pedaço
CONSTRUINDO BONGÔS. Os bongôs (em geral, dois pequenos tambores) podem ser construídos
grosso de bambu seco, escolhendo o maior pedaço
com grandes canudos de papelão ou latas cilíndricas. Devem ter tamanhos diferentes, a fim de
possível entre dois nós, mantendo, assim, um nó em cada
produzirem alturas sonoras distintas. Corte pedaços de balão de borracha para fazer as membranas
extremidade. Sobre toda a extensão da vara e em forma
e fixe-as com elástico bem esticadas em uma das extremidades do tambor. Quanto mais largos ou
de espiral traspasse o bambu de lado a lado com uma
mais profundos os tambores, mais graves serão os sons obtidos.
verruma fazendo furos do diâmetro de pregos de 2 em 2
centímetros. Crave cada um dos pregos ao longo da vara
CONSTRUINDO TAMBORES. Podemos construir
e corte com um alicate o excesso de comprimento, para
tambores que podem afinar. Escolha uma lata
que a ponta fique rente ao bambu; em seguida esmague
grande, aberta em ambas as extremidades, e corte
a extremidade dos pregos com um martelo contra o
dois pedaços circulares (de diâmetro superior ao da
bambu, para fixá-lo bem. Fure o nó de uma extremidade
boca da lata) de toalha de plástico. Faça pequenos
para introduzir um punhado de milho (ou qualquer
orifícios no plástico, em volta de toda a borda dos
semente que possa cumprir a mesma função percussiva)
círculos preparados (com espaçamento regular de
e tape, a seguir, o furo com um pequeno pedaço de
cerca de 4 cm). Reforce os orifícios com arruelas
madeira ou rolha de cortiça. Os pregos podem ser substituídos por varetas de madeira com as
coladas ou costuradas (ou outro material adequado).
pontas coladas no bambu. O instrumento é utilizado inclinando-se suavemente a vara de bambu
Coloque os círculos plásticos sobre as bocas da
para se ouvir um som semelhante ao tinido da chuva.
lata e passe pelos orifícios uma corda de sisal
Pode-se também fazer o pau-de-chuva com um canudo de papelão, como o dos rolos de toalha
ou náilon, alternando orifícios dos dois círculos.
de papel ou maiores. Observe que os rolos possuem uma linha em forma de espiral que segue todo
Quanto mais esticada estiver a corda, mais tensão
o seu comprimento. Com uma chave de ponta (tipo furador) perfure, a partir de um ponto da linha
será dada nas membranas plásticas e mais agudo
espiral, o canudo até vazar o lado oposto. Proceda assim por toda a linha espiral em intervalos de
será o som do tambor.
até 2 cm. A seguir, introduza um palito em cada furo até saírem do lado oposto e ficarem apoiados
pelas paredes do canudo. Passe cola nesses pontos para fixar os palitos e, depois de secos, corte
Não há casos típicos de instrumentos de cordas entre os nossos índios. É outro caso, portanto, de
as sobras de palitos com um alicate ou tesoura. Faça duas tampas para o canudo e cole uma delas.
instrumentos que, se usados por povos indígenas, como é o caso das violas, não devem ser mais do que
Coloque um punhado de sementes no canudo e fixe a outra tampa. Caso não se possa usar os palitos,
instrumentos absorvidos, sobretudo, da cultura européia.
pode-se experimentar embolar um pedaço de arame e introduzi-lo no canudo antes das sementes.
INVENTANDO UMA VIOLA DE BOCA. Prenda um elástico nos dentes incisivos e estique-o para
Os tambores não são tão comuns entre os indígenas sul-americanos. Renato Almeida nos revela
frente. Você tem agora um instrumento de corda, pois o elástico forma duas cordas paralelas e a
que as pesquisas fazem crer que a maioria deles não é mais do que cópia dos tambores militares
boca será a caixa de ressonância que intensificará os sons produzidos por meio da vibração do
que os europeus trouxeram para a América do Sul, além dos modelos que vieram com os africanos.
elástico. A mão que sustenta o elástico tenso pode alterar a tensão e assim modificar a altura dos
O fato é que mesmo raros, os nossos índios tiveram tambores e os Bororo, por exemplo, os usavam
sons (quanto mais esticado, mais agudo serão os sons produzidos); a outra mão pode dedilhar as
nas cerimônias fúnebres. Eram fechados ao fundo e cobertos com pele curtida. Entre os Tupinambá
“cordas” do instrumento com ritmos variados.
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primento igual ao da altura medida (a tábua restante ficará, pois, reduzida em seu comprimento
final). Posicione perpendicularmente sobre a tábua principal (que será o braço do instrumento)
um dos pequenos pedaços serrados (que serão os apoios do braço) e o pregue/cole a cerca de 5 cm
da extremidade da tábua. Introduza o mesmo, já fixado, na vasilha, posicionando-o apoiado a uma
das paredes da mesma, a fim de determinar a posição em que o segundo pedaço será pregado à tábua,
isto é, apoiado à parede oposta da vasilha. Faça quatro entalhes, espaçados de 1 cm entre si, sobre
o pequeno bastão, extraído inicialmente da tábua, que vai funcionar como suporte para as cordas,
colando-o então sobre a tábua principal na mesma posição, mas na face oposta, em que foi fixado
o primeiro apoio do “braço” (distante, portanto, 5 cm de sua extremidade). Fixe com parafusos, em
linha, quatro cordas de arame ou náilon (ou até mesmo barbante de boa qualidade) na extremidade
da tábua próxima à vasilha e passe as cordas pelos entalhes do “cavalete” até alcançarem a
outra extremidade do “braço”. Fixe-as aí com quatro anéis, em diagonal (com espaçamento lateral
de 1 cm e longitudinal de 1,5 cm, aproximadamente) que servirão para tensioná-las (e afiná-las)
mediante movimento de torção.
OUTRAS VIOLAS COM ELÁSTICOS. Os instrumentos de elástico são fáceis de construir. Estique
quatro elásticos em torno de uma caixa de fósforos, e introduza sob as “cordas-elásticos” uma
Os zumbidores são instrumentos considerados aerofones livres, porque soam quando agitados no
pequena peça de papel cartão (ou outro material que sustente a pressão dos elásticos) cortado em
ar e não pelo sopro. São encontrados entre os Guaiacuru e existem também várias outras tribos que
forma de trapézio. O ângulo desse “cavalete” faz com que cada elástico fique esticado de forma
os conhecem, como os Bororo, em cujo meio são chamados aidje. Consiste num cabo pintado, ao qual
distinta, de modo que produza uma altura diferente. Para fazer um violão de caixa de sapatos, basta
está ligada por uma corda uma tabuazinha oblonga de madeira estreitando-se em direção à extremidade.
abrir um furo circular na tampa e esticar os elásticos sobre a caixa. O violão assim construído
Graças a um rápido movimento giratório, a tabuazinha cortando o ar produz um zumbido forte.
produz um som mais profundo e mais rico do que o dos pequenos modelos de caixas de fósforos,
porque a caixa de ressonância é maior e as cordas (elásticos) são mais compridas.
CONSTRUINDO UM ZUMBIDOR. Podemos construir um
zumbidor utilizando uma mangueira sanfonada, como as
CONSTRUINDO UM VIOLÃO. Prepare uma tábua
usadas para passar a fiação elétrica. O som é produzido
de 80 cm de comprimento por 5 cm de largura e
segurando-a em uma das extremidades e fazendo-a girar
1,5 cm de espessura e extraia dela um pequeno
com força e velocidade.
bastão, avançando apenas 1 cm de uma das
extremidades da tábua. A pequena peça possuirá,
As trombetas sempre foram comuns aos nossos índios que
portanto, as medidas: 1 X 5 X 1,5 cm. Escolha
as fazem mais comumente com a embaubeira, tanto que
uma vasilha quadrada ou redonda (como um pote
costumavam chamar essa árvore com o nome de “pau
de 1 litro de sorvete, ou 1/2 kg de margarina, ou
das trombetas”. É um vegetal oco propício ao fabrico de
embalagens para guardar comida em geral), que
tais instrumentos, embora também sejam empregados em
não tenha menos de 15 ou 20 cm de largura ou
grande escala o bambu e a taquara. As trombetas têm
diâmetro, a fim de servir de caixa de ressonância
embocadura ora na extremidade – e essas são as mais
do instrumento. Meça a altura da vasilha e serre,
antigas – ora na parte lateral do instrumento. Entre as
na ponta da tábua, dois pedaços com com-
trombetas cita-se a inúbia ou janúbia, que é o membítarará,
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dos Tupi, feito de dois pedaços de madeira forte e pesada, geralmente massaranduba que, ocados,
As flautas são por certo os instrumentos musicais prediletos dos ameríndios e se distribuem por
grudados um no outro e depois aperfeiçoados tomam a forma quase de um bilro de fazer renda. Os
todo o continente, em várias formas, de flautas propriamente ditas, de assovios, pios, etc. Trata-se
Parintintin usavam trombetas de bambu com uma das extremidades fechadas pelo próprio nó e
de um instrumento que consiste em geral num tubo cilíndrico, soprado numa extremidade ou em
tocavam soprando na abertura lateral quadrangular.
orifício lateral, sopro este que faz vibrar a coluna de ar nele contida. Entre os nossos índios o tipo
mais conhecido era a flauta vertical. Algumas flautas, sobretudo as ornadas com desenhos ou
As trombetas feitas com cascas de árvore são também conhecidas na região amazônica. Dentre elas
a mais importante é a trombeta de Jurupari instrumento sagrado para as festas desse demônio indígena,
gravuras, eram consideradas instrumentos sagrados e tinham poderes mágicos; eram vegetais ou
de ossos animais e algumas vezes de tíbias humanas.
o deus musical. Jurupari, é uma entidade sobrenatural dos índios, que foi apresentada como o Espírito
As flautas transversais com ou sem orifícios laterais são feitas a partir de variadas espécies. Entre
do Mal pelos missionários, mas na realidade é o grande legislador dos indígenas. Nasceu sem forma
os Piratini há uma feita com um bambu de um metro e meio, aproximadamente, e dividida em
corpórea e só a possuiu aos 15 anos. Por esse tempo uma epidemia havia dizimado os homens da tribo
duas partes pelos nós. Em cada parte há uma abertura quadrangular. Esse instrumento é tocado
e as mulheres eram dominadoras. Jurupari reuniu os varões no deserto e os instruiu na sua lei,
determinando que os homens só a deveriam conhecer depois da puberdade e após um período de
iniciação que os tornasse fortes para resistir às seduções femininas. Deu-lhes os seus instrumentos e
os fez tabus, como as suas leis, devendo ser punido com a morte quem desvendasse os segredos.
E igualmente punida a mulher que visse ou ouvisse os seus instrumentos. Essa morte, para os homens,
seria feita a curare, flecha ou cuidaru e, para as mulheres, que Jurupari proibiu de terem morte sangrenta, pelo veneno ou afogando-as. Por essa razão, as trombetas são sempre guardadas num igarapé,
simultaneamente por dois homens.
Algumas tribos tocavam flautas soprando-as pelo nariz, em virtude de terem o beiço ou os beiços
furados e com ornatos introduzidos. Dessas flautas nasais, temos dois tipos. Um, dos Caingang
Comé: um nó de bambu com uma série de ataduras e alguns orifícios. Os nós das extremidades têm
um pequeno buraco e há também nas extremidades dois orifícios laterais. O músico coloca-a junto
ao septo nasal, de lado, e a fraca corrente de ar saindo do nariz provoca o som da flauta. A força da
distante da maloca, donde são retiradas em ocasiões muito especiais. Quando vão se aproximando, as
corrente de ar faz variar a altura do som a tal ponto que os Caingang conseguem executar sobre
mulheres afastam-se para o mato ou para um rancho vizinho, e lá permanecem até o fim da cerimônia,
este instrumento melodias com mais de oito notas diferentes.
voltando somente depois que os instrumentos foram levados para o local de esconderijo.
(Renato Almeida, História da Música Brasileira, p.44-48)
A flauta de Pã, antiga sirinx, é um conjunto de tubos, nos quais a coluna de ar é vibrada pelo sopro
feito na abertura superior de cada um deles e que passa pelos lábios do executante, conforme o
movimento lateral dado ao instrumento com as mãos.
Não se trata de um só instrumento, mas de um grupo deles, pois são tocados aos pares, em geral
oito ou dez cornetas de bambu ou de talos ocos de palmeira, com bocal de barro. A trombeta maior
CONSTRUINDO UMA FLAUTA-DOCE. Corte um pedaço de sabugueiro de 15 cm. Com uma vareta
é um gomo de bambu, ao qual se junta um tubo, um pavilhão, feito de líber da palmeira paxiúba (na
fina retire a seiva para obter um tubo. Faça um entalhe oblíquo a 2 cm em uma das extremidades.
qual crêem os índios, que está encarnado um espírito humano) enrolado em espiral e sustido por
Corte um pequeno pedaço de vareta cilíndrico de forma que possa entrar no tubo com algum
duas talas laterais. Cada par de instrumentos produz uma nota distinta.
esforço. Talhe-o perpendicularmente, a fim de formar uma superfície plana de um dos lados, e
introduza-o na boca do
CONSTRUINDO UMA TROMBETA. Antes de tudo, devemos praticar a execução, num único tubo,
tubo próxima do entalhe.
de algumas notas distintas. Para isso, usaremos mangueiras. Podemos produzir sons com alturas
Tape a outra extremidade
diferentes, apenas variando sutilmente a pressão dos lábios, um contra o outro (variação da
com cortiça. Caso você
embocadura). Poderemos utilizar também uma peça encaixada na boca do tubo, sobre a qual
não obtenha um som
apoiaremos os lábios. Essa peça se chama bocal e pode ser, no nosso trompete de mangueira, um
satisfatório na primeira
pequeno funil de plástico ou peça modelada com material sintético (como “Durepox”). Tente obter
tentativa, modifique o en-
quatro ou cinco sons diferentes. Com algumas mangueiras o resultado será melhor do que com
talhe do tubo ou a super-
outras. Isso dependerá do material, do diâmetro e da extensão do tubo utilizado.
fície plana do pedaço de
vareta introduzido.
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CONSTRUINDO UMA FLAUTA DE PÃ. Corte
grave que o outro, para propor um jogo com o grupo: quando toca o som mais agudo, as crianças
oito pedaços de tubo de plástico em com-
andam pela sala, ao som do grave, param. É importante que o orientador utilize pelo menos dois
primentos diferentes, procurando afiná-los
pares de agudo e grave. Quando os participantes já estiverem familiarizados, pode-se tentar incluir
comparando a altura (nota) obtida com
uma altura média. O jogo então pode ser de pular para uma das três linhas paralelas marcadas no
as alturas da escala de um teclado ou outro
chão (agudo, médio e grave) — nesse caso, se for possível, use um teclado, violão ou flauta.
instrumento qualquer, lembrando sempre
que quanto mais comprido for o pedaço
ORGANIZANDO ORQUESTRAS. Pedir para que cada participante leve para a aula um “instrumento”
de tubo mais grave será o som que ele
de sopro (um objeto que seja utilizado por ela como tal), como apitos, por exemplo. Sentados em
produzirá. Para fazer vibrar a coluna de ar
círculo, a pedido do orientador cada participante mostra para os demais o seu som, e percebe, a
no interior dos tubos basta soprar numa das
seguir, as diferenças entre os sons que pode produzir com o seu instrumento e os sons dos instru-
extremidades do tubo, perpendicularmente. Depois de afinados os tubos, prenda-os com fita
mentos dos colegas. Em seguida o orientador pode sugerir agruparem os instrumentos apresentados,
adesiva, ordenados pela escala, da esquerda para a direita — do mais grave para o mais agudo.
pelo seu material: madeira, plástico, metal, etc, e propor que, em grupos, imitem os sons de “apitos”
que conhecem, como os das sirenes das fábricas, os de navio, de trem, os dos guardas de trânsito,
CONSTRUINDO UM SAXOFONE. Que tal fazermos um saxofone de papelão? Aproveite o cilindro de
os da natureza, como os passarinhos, e assim por diante. Depois, podem tentar, pacientemente, organizar
papelão dos rolos de toalha de papel e cubra uma das extremidades com papel celofane. A outra é
os vários sons numa escala de alturas, do mais grave para o mais agudo ou vice-versa. O orientador
apoiada na boca, de modo a vedar totalmente o tubo. Agora podemos emitir sons vocais no interior
não deve ter receio de não conseguir alcançar um resultado ideal com a escala construída, pois a
do tubo, a fim de serem “distorcidos” e criarmos o efeito timbrístico característico do saxofone.
escala resultante da atividade proposta já será fruto de grande exercício perceptivo.
É preciso experimentar seus melhores resultados.
Os pios e assovios são em geral usados originalmente para a caça e são feitos de madeira, de coco,
de folha de palmeira, de cana de pena, de taboca, de chifre ou de casca de caracol. Os Apinagé tinham
um pio de caça, imitando as aves, chamado buré e há um exemplar de pio de caça dos índios do Rio
Branco feito com um crânio de veado. Quanto a apitos, há vários exemplares, em geral imitando cantos
de aves. Os Apinagé têm um que imita marrecos. Os Canela imitam, com um apito, o canto dos galos.
Os Maué tinham um apito de taquara chamado mime. Há ainda tipos de apitos de osso e de cerâmica.
OFICINA 14 | BRINCANDO COM OS INSTRUMENTOS
CONVERSANDO POR INSTRUMENTOS. Um círculo: peça que conversem entre si através dos
instrumentos. Um de cada vez, com o orientador no centro, apontando. Quando apontar na direção
de uma pessoa, esta começa a tocar e só pára quando o dedo apontar em outra direção. Diálogo de
um em um, e com o grupo, como se fosse um debate.
SUBINDO E DESCENDO COM OS INSTRUMENTOS. O orientador pode usar objetos e instrumentos
(por exemplo, apitos, agogôs, palmas/tambor) que façam ao menos dois sons distintos, um mais
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OFICINA 15 | CRIANDO ESTRUTURAS RÍTMICAS
IMPROVISANDO COM INSTRUMENTOS. Para utilizar, de forma divertida e criativa, os instrumentos
inventados, marque uma pulsação regular (como a de um pêndulo, relógio, coração, respiração).
Solicite aos participantes, um por vez, que improvisem pequenos trechos musicais durante apenas
quatro pulsos. Assim, eles terão de conciliar a contagem do tempo com a boa realização de sua
invenção musical.
IMITANDO OS RITMOS. Colocar toda a turma de um lado da sala. Uma pessoa fica do lado oposto,
com duas claves (bastões) ou outro instrumento de percussão. Esta pessoa escolhe com os olhos
alguém do grupo. E encaminha-se na direção desta, elaborando, ao mesmo tempo, uma seqüência
rítmica regular com as claves, acompanhados de passos alternados ou consecutivos e movimentos
corporais que também se repetem. Cria-se assim uma pequena estrutura de gestos, passos e ritmos
que a outra pessoa deverá repetir e, para tanto, ficar extremamente atenta enquanto a primeira dirigese a ela. Quando chega diante da escolhida, entrega-lhe os bastões e esta repete toda a seqüência.
MEMORIZANDO E TOCANDO. Divida o grupo em dois ou quatro conjuntos que possuam os mesmos
instrumentos. Um primeiro conjunto, escolhido pelo orientador, deve inventar uma música para
um outro tentar imitá-la (reproduzi-la da mesma forma). O orientador pode determinar, de acordo
com o desenvolvimento da turma, que toque um instrumento de cada vez (em qualquer ordem) e
que cada um (não excedendo quatro tipos diferentes de instrumentos), na sua vez, toque de um a
três sons (mas em qualquer ritmo que quiser). O conjunto escolhido para repetir a música deve
ouvi-la de costas (o orientador pode também pedir que cada componente do conjunto que inventou
a música memorize bem o que fez, para, se necessário, poder repetir) e depois tentar tocá-la.
EXPERIMENTANDO A DINÂMICA DOS SONS. Falar “alto” e falar “baixo”. Falar gritando e sussurrando. Dividir a turma em dois grupos: um canta fortemente e o outro, suavemente. Ouvir os dois
em separado. Criar um sinal gestual para “forte” e um outro para “suave” na regência. Criar um
sinal gráfico para “forte” e um outro para “suave” na escrita musical. Executar da maneira mais
suave / mais forte o seu instrumento, a sua voz. Executar um instrumento ou usar a voz tocando ou
cantando progressivamente do mais suave para o mais forte e vice-versa. Escrever num papel qual
o som mais forte / mais suave que está ouvindo no momento.
ONDE ESTÁ O RITMO DO PULSO? Sentir o pulso. Andar livremente pela sala, ao ouvir um estímulo
andar no pulso proposto. Voltar a andar livremente. Cantar baixinho uma canção conhecida, andar no
seu pulso. Percutir o ritmo de uma canção, para que os alunos adivinhem a música apenas pelo ritmo.
QUE BATIDA DIFERENTE! Bater o próprio nome com palmas, após descobrir seu ritmo. Fazer um
jogo onde o número 1 = Ah!, 2 = 2 batidas de pés, 3 = 3 estalos de dedos, 4= 4 palmas. Realizar então
seqüências como: 1234, 2341, 3412. Sentar em círculo, uma pessoa no centro. Alguém inicia com
palmas ou usando algum instrumento, uma batida regular. Outra pessoa inicia uma batida diferente
e imediatamente o grupo acompanha para dificultar a percepção da pessoa do centro. Se esta
adivinhar quem iniciou o novo ritmo, troca de lugar com o outro.
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OFICINA 16 | FAZENDO MÚSICA COM VOZES E INSTRUMENTOS
A BRINCADEIRA DO RÁDIO. Todos juntos cantam uma canção conhecida. Combinar com o grupo que
ao sinal do orientador devem interromper o canto, como se estivessem desligando o rádio. Entretanto,
devem continuar pensando, ou melhor, cantando mentalmente a canção, na seqüência normal, para
que, a um novo sinal, possam prosseguir o canto como se o rádio fosse novamente ligado.
A CORRENTEZA
Antonio Carlos Jobim & Luiz Bonfá
arr. Paulo Jobim
LENDO PARTITURAS. Desenhar dois gráficos no quadro e cantar o ritmo representado por um
deles. Pedir, então, para os participantes dizerem qual deles foi executado. Em seguida, executar os
dois gráficos, explorando também diferenças de altura (agudo/grave) e intensidade (forte/suave),
intensidade, para depois começarem a morrer; movendo-se para cima (para o agudo) e caindo
serenamente (para o grave e suavemente); notas longas e graves, subitamente tornando-se curtas,
agudas e fortes, etc.
A VELOCIDADE DA MÚSICA. Cantar uma canção conhecida de todos, para caminhar no seu pulso,
percebendo seu andamento. Cantar, em seguida, outra canção, com andamento diferente, para
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ou rápido) de andamentos.
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ri - o Vai le - van - do_a - que - la
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feche os olhos. Pedir que mantenham o braço levantado enquanto puderem ouvir o som;
de cantores até que restem alguns poucos braços estendidos (provavelmente, aqueles
Zom - bando
9
com a boca fechada, o mais suavemente possível. Pedir, então, para que o restante do grupo
caso não ouçam mais, deverão abaixá-la. Retirar, progressivamente, participantes do grupo
G 74 ( 9)
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Cm a j 7 ( 6 )
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∑
D 7( 9)
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percebê-lo e compará-lo com o anterior. Discutir com o grupo sobre a diferença (lento, moderado
ESCONDENDO OS SONS. Chamar alguns participantes à frente e pedir para vocalizarem
D b 7 ( ##119 )
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du - ra
A
cor - ren - te - za
le -
F 7( # 11)
˙
le - vou,
dos participantes mais próximas dos cantores remanescentes). Realizar com a turma
seqüências de sons vocais, indicando-os, no quadro, com sinais representativos de intensidade
sonora e dinâmica.
INTERPRETANDO UMA CANÇÃO. Cantar uma canção, desenhando no quadro seu “esquema
formal” (seqüência de partes componentes, que se repetem e se alternam, tais como 1ª parte, 2ª
parte, refrão, introdução, etc.) e indicando também as intensidades (forte e suave) que o grupo
escolheu para cada parte da canção. Em seguida, escutar a gravação de um cantor interpretando a
mesma canção escolhida anteriormente, para que o grupo reconheça a dinâmica por ele realizada
e as diferenças de escolha em relação à interpretação do grupo.
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AT I V I DA D E S CO M O C D
FAIXA 14. BANGZÁLIA
Os sons da música lembram um trem?
O trem pára em algum lugar?
Escuta dirigida
FAIXA 1. A CHEGADA DOS CANDANGOS
Que tipo de conjunto instrumental nós ouvimos nessa música?
Dá para perceber que alguns instrumentos tocam o tema e, depois, outros o repetem?
Você consegue cantarolar este tema?
FAIXA 3. PIPIRA
Nessa faixa percebemos a ênfase nos instrumentos de sopro. Quais os instrumentos de sopro que
você conhece? É possível identificar algum deles nessa música?
Qual o instrumento que faz o solo que mais lhe agrada?
Tem percussão? Quantos instrumentos de percussão você conhece?
Consegue reconhecê-los auditivamente nesta faixa?
O andamento dessa música é rápido ou lento? É o mesmo na música inteira ou muda em algum trecho?
FAIXA 4. SOM DA NATUREZA
IDÉIAS E CRIAÇÕES
Qualquer objeto, de qualquer material pode se tornar um instrumento musical. Basta pesquisarmos
com atenção suas potencialidades.
FAIXA 37. UM NOVO INSTRUMENTO: A FOLHA DE PAPEL
Podemos escolher um determinado trecho musical para reproduzir com os instrumentos que inventamos. O importante é fazer a escolha adequada ao tipo de instrumento ou instrumentos inventados, para que o resultado final da atividade seja mais satisfatório.
FAIXA 38. TRECHO DA FAIXA 7
Depois de reconhecer os principais elementos musicais que compõem o trecho musical escolhido,
é só distribuí-los pelos participantes do grupo, formando, de preferência, subgrupos com dois a
quatro participantes para a execução de cada um dos elementos selecionados.
FAIXA 39. NOVO INSTRUMENTO
Começa com que tipo de instrumento: aerofone? Membranofone?
Qual o instrumento que faz o solo no meio da música?
FAIXA 9. MATITA-PERÊ
O acompanhamento dessa música é sinfônico? O que é “sinfônico”?
DICAS
Conversar sobre a ida ao teatro, ao museu, discutir acerca do que vão assistir, falar dos cantores,
O conjunto instrumental é uma banda? Uma fanfarra? Um regional? Uma orquestra?
do programa e do repertório, dos compositores das músicas apresentadas e de sua época. Mostrar
Seria o andamento dessa música muito variado? Você consegue falar correndo? E muito devagar?
alguma gravação afim, vídeos, recortes de jornais e revistas com entrevistas, pedir que façam
E cantar a mesma canção, ora rápido, ora lentamente?
pesquisa em casa, etc. Montar um painel na sala e completá-lo depois do espetáculo ou visita, com
FAIXA 10. AMAZÔNIA
os depoimentos e desenhos feitos pelas crianças sobre o que viram e ouviram. Existe uma grande
A música começa com voz, instrumento ou os dois juntos?
bibliografia de biografias de cantores e compositores famosos. Esta é uma ótima oportunidade para
Depois, entram mais instrumentos ou vozes?
ler com o grupo, o interesse cresce quando sabemos alguma coisa sobre quem e o que vamos ouvir,
A voz é grave ou aguda?
ou mesmo quem compôs.
Tem instrumentos de percussão?
É preciso ter o maior respeito com o gosto e a preferência de cada participante, na sua avaliação
FAIXA 12. SIRIÁ
após o concerto ou visita. Caso o participante não tenha gostado, discutir com ele sobre o porquê e
Os tambores que acompanham as vozes podem ser reproduzidos com latas? Vamos experimentar?
abrir a discussão para todo o grupo. Caso o participante não saiba dizer o porquê de sua opinião
FAIXA 13. RIO DO BRAÇO
desfavorável, não deve haver problema: simplesmente, dessa vez ele não gostou. Muitas vezes, após
Quantas vozes conduzem essa canção?
a visita à escola de música, ao museu, a ida ao concerto, ouvimos do participante que o que mais
E os instrumentos que se destacam? Será que tem um fagote no acompanhamento? Quem é que já
gostou foi de andar de ônibus, da ida ao banheiro, ou do hall de entrada do teatro e da escola.
tinha ouvido esse instrumento antes? E quem já viu um?
Entendemos que tudo isso faz parte da graça de sair do ambiente de costume, de variar um pouco.
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COORDENAÇÃO GERAL
Sílvia Finguerut
COORDENAÇÃO DE CONTEÚDO
Taiamã Consultoria Ambiental Ltda. - Marcia Panno
CRIAÇÃO, CONCEPÇÃO E REDAÇÃO
Adriana Rodrigues e Marcos Nogueira
PROJETO EDITORIAL E EDIÇÃO DE IMAGENS
19 Design | Heloisa Faria
PROJETO GRÁFICO E IDENTIDADE VISUAL
19 Design | Heloisa Faria
Claudia Berger
Ana Carolina Carneiro
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Pepê Schetino
ILUSTRAÇÕES
Mariana Massarani
19 Design, p.19
ILUSTRAÇÕES TÉCNICAS
Rômulo Lima, p.18 e 36
Adriana Rodrigues, p.45
REVISÃO FINAL
Sonia Cardoso
IMPRESSÃO
Ipsis Gráfica e Editora
Este Caderno faz parte do Kit do Projeto Tom da Amazônia, desenvolvido em conjunto por Fundação Roberto
Marinho, Instituto Antonio Carlos Jobim, Furnas Centrais Elétricas, Eletronorte e Eletrobrás.
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