a construção da realidade atualidade da doutrina espírita saúde
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a construção da realidade atualidade da doutrina espírita saúde
ICEB - Instituto de Cultura Espírita do Brasil / Rio de Janeiro Ano III - no 25 - Abril / 2011 - R$ 4,00 EDIÇÃO COMEMORATIVA DE TERCEIRO ANIVERSÁRIO ATUALIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA Cesar Perri SAÚDE MENTAL ALGUMAS REFLEXÕES Teresa Crisitina Cabral A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE Jorge Pedreira de Cerqueira Editorial D eus é uma não-novidade que, apresentada pela óptica espírita, transforma-se em profunda novidade. Não é uma pessoa física, não senta num trono, não tem humores, ora alegre e satisfeito, ora aborrecido e vingativo. O Deus espírita é presença integral em cada ponto, em cada não-ponto, do universo. É lei – sábia, justa, perfeita. É misericórdia – usa o tempo para curar nossas imperfeições. Sua criação é perfeita. Suas criaturas são imperfeitas, mas atraídas por Ele, inevitavelmente, para a perfeição. É o Pai, tão íntimo e tão difícil de compreender. O Absoluto, o Amor Integral. Relativos, nossa inteligência não O compreende, nosso sentimento não O alcança. Mas caminhamos para Ele, pois nós mesmos “somos deuses”. Criador da luz, do ritmo que dita o pulsar do coração, o canto das cigarras. Deus-cançãouniversal. Para quem quiser ouvir. E quem puder ouvir, será como criança alegre, revoluteando os braços, afinal feliz, afinal feliz! Deus é a questão inicial-fundamental da Doutrina Espírita, tratada de maneira invulgar pela nossa coordenadora Nadja do Couto Valle. Nos tempos que correm, de tanto progresso, de tantos avanços, de tantas conquistas, no limiar da Era da Regeneração, nossa Doutrina permanece atual? Deve ser modernizada? Há aspectos que mereçam nova abordagem? Nosso querido amigo Cesar Perri, que exerce importante atividade no movimento espírita nacional e internacional, tem muito a nos dizer, pois que vive como poucos, em muitos lugares do mundo, as novas realidades que surgem, às vezes como verdadeiros desafios à vivência espírita. De fato, os tempos novos, as novas gerações que chegam, indicam que a realidade é um processo, uma construção, um desafio. É preciso transitar de padrões definidos e aceitos para novas maneiras de ser, dita- das pelos cenários que se modificam com grande rapidez. Quebrar paradigmas é preciso. Aprendizes do Espiritismo, compreendemos a necessidade de mudar. No entanto, temos padrões éticos, de moralidade, dos quais não poderemos nos afastar. Não se trata de conservadorismo, nem de continuísmo. É preciso avaliar sempre. Quando não sabemos para onde queremos ir, qualquer caminho serve, dizem os especialistas em comportamento. Jorge Cerqueira estuda o tema, a partir da sua formação técnica, porém marcada pela visão humanística, característica de sua maneira de ser. Finalmente Teresa Cristina Cabral, com sua formação de psicóloga espírita, oferece-nos interessante abordagem sobre a saúde mental, sempre um desafio para nós mesmos que temos que aprender o usar o nosso livre-arbítrio na direção das leis de Deus, que Jesus sintetizou de maneira magnífica no “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Todas as vezes que nos desviamos desse roteiro, a saúde fraqueja. Boa leitura e um mês muito especial quando comemoramos os 154 anos de O Livro dos Espíritos e o 3o aniversário da nossa Revista. “O Deus espírita é presença integral em cada ponto, em cada não-ponto, do universo. É lei – sábia, justa, perfeita.” r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 3 No 25 – ANO III ABRIL 2011 Diretor Cesar Reis Coordenação Geral ÍNDICE Nadja do Couto Valle Editorial Cesar Reis ................................................................................................................................................................................. 03 Revisão Pelos Caminhos da Educação Teresa Costa Nadja do Couto Valle ................................................................................................................................................................. 05 Entrevista Jornalista Responsável Cesar Perri ................................................................................................................................................................................ 06 Yvon de Araújo Luz Lar Fabiano de Cristo Reg. 7939/29/84v Conhecendo as Unidades de Promoção Integral – Casa de Hercílio, em Machado / MG........................................................ 08 Diagramação e capa Rogério Mota Rogério Mota Colaboradoras Glória Magalhães Joalina Alcântara Memória do ICEB Acervo do ICEB ......................................................................................................................................................................... 09 Crônicas de Família Ana Guimarães.......................................................................................................................................................................... 10 A Construção da Realidade Jorge Cerqueira ..........................................................................................................................................................................11 A Visão Espírita de Deus Nadja do Couto Valle ................................................................................................................................................................ 12 Redação Spiritisma Vidmaniero pri Dio Rua dos Inválidos, 182 Centro - Rio de Janeiro/RJ Brasil ESPERANTO – Versão: Saulo Wanderley ............................................................................................................................... 14 E-mail: [email protected] Site: www.portaliceb.org.br Teresa Cristina Cabral ............................................................................................................................................................... 16 Encontro com Jesus Yasmin Madeira ......................................................................................................................................................................... 15 Espiritismo e Ciência – “Saúde Mental: Algumas Reflexões” Juventude Espírita / Certas Palavras Marcos Leite / Cesar Reis ......................................................................................................................................................... 17 Aconteceu Yvon Luz .................................................................................................................................................................................... 18 Distribuição Clube de Arte www.clubedearte.org.br Tiragem: 20 000 exemplares Segunda — 12:00h - Despertar Espírita - Yasmin Madeira Terça — 12:00h - Crônicas de Família - Ana Guimarães Quarta — 12:00h - Encontro com Jesus - Yasmin Madeira Quinta — 12:00h - Cultura Espírita - Assaruhy Franco e Cesar Reis RÁDIO RIO DE JANEIRO — 1400 Khz - A emissora da fraternidade Reprodução: Gráfica e Editora Stamppa Ltda. sintonize www.radioriodejaneiro.am.br Nadja do Couto Valle E m 1º de abril, as pessoas mentem! 6ª feira 13, nem pensar! Passar embaixo de escada, quebrar espelho, gato preto (que na Idade Média seriam bruxas transformadas), entornar sal na mesa/no chão, coceira na palma da mão etc. etc. são superstições que, pela sua natureza, estabelecem relação de causa e efeito estranha à lógica formal. Dizem respeito a certas ações, voluntárias ou não, como rezas, curas, feitiços, ritos mágicos, maldições e outros rituais e recursos como astrologia, magia, tarot, adivinhação, cartomancia etc., aos quais as pessoas recorrem com o intuito de se protegerem dos perigos da vida, revelando uma predisposição para o chamado pensamento mágico, e até para a preguiça mental. Historicamente, algumas áreas, como química e astronomia, saíram do terreno mágico, como alquimia e astrologia, tidas como de pseudociências. A superstição, que se opõe à razão/racionalidade e muitas vezes ao senso comum, estabelece uma relação causal entre acontecimentos e forças supranormais que influenciam o chamado destino, o poder invisível dos astros etc., contrariamente à razão, que analisa a relação entre eventos, suas causas imediatas e as leis naturais que as regem e/ou através de correlações para explicar os fenômenos. Com ela, o Espiritismo retirou tudo isso desse mundo mágico e trouxe para o terreno da plena racionalidade. Mas por que as pessoas têm esse tipo de crenças supersticiosas? Basicamente por predisposição à fantasia, por uma possível preguiça mental e duas importantes emoções: o medo e a ansiedade. Para satisfazer tais necessi- ICEB - Aulas e Palestras dades emocionais, as pessoas pagam o preço da falta de objetividade, embora saibamos que objetividade absoluta não existe. Tais crenças se viabilizam através das formas de comunicação humana: linguagem verbal, com palavras encantatórias, e linguagem não-verbal, com símbolos, gestos etc.; e identificam-se com arquétipos, dinamizando-os, recorrendo a artifícios para a excitação do inconsciente, como mandalas, mantras, atos simbólicos etc. Do ponto de vista da Educação, não se pode desconsiderar o papel e o estímulo da mídia, reforçando a predisposição para o mágico e para o fantástico, sobretudo no psiquismo infantil, fase em que são naturais tais predisposições. Esse estímulo – quando se superpõe aos que são pedagogicamente desenhados para garantir a evolução natural no desenvolvimento da criança – infunde medo, ansiedade e até mesmo uma espécie de preguiça mental e de descuido no campo da lógica, com efeitos negativos até a adultez. Muitos ritos, crenças, rituais e liturgias objetivam baixar o estado de alerta, de vigilância do indivíduo, ou nisso redundam, sobretudo em um estágio evolutivo em que o psiquismo exige relações no campo da concretude. A psicogenética de Jean Piaget nos alerta sobre o egocentrismo, estágio de infantilidade psíquica no qual a criança constrói explicações em função de suas experiências, considera que objetos existem em função dela, imita o comportamento dos adultos, o que nos remete à responsabilidade dos pais e adultos em torno delas, no sentido de inocularem crendices no psiquismo de seus filhos. Isso as tornará crianças e adultos heterônomos, dependentes e inseguros como, por exemplo, não sair de casa sem ler o horóscopo, e poderão manter, vida afora, as características de cunho infantil da imaginação e da fantasia (que podem ser usadas profissionalmente, sob o controle da razão, nas artes e outros campos de atuação). Essa influência adulta patrocina o pensamento não-lógico, que não trabalha a reversibilidade, a modificação das coisas, e não incentiva o levantamento de hipóteses próprio do pensamento indutivo, que a escola deve privilegiar como estratégia metodológica. Allan Kardec esclarece: “O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice.”1 “A evolução (...) impõe a instituição de novos costumes, a fim de que nos desvencilhemos das fórmulas inferiores, em marcha para ciclos mais altos de existência.”2 Referências: 1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 71. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Q. 555, Nota de Allan Kardec. Ver também q. 551 a 557. 2 XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. p. 97. Sábado - 13h30min às 17h15min. r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 5 Entrevista ATUALIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA Cesar Perri é diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), Secretário Geral do Conselho Federativo Nacional e membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional (CEI) RCE – Dizem que o que acontece nos EUA ressoa no mundo inteiro. Como está o Movimento Espírita americano? CP – Creio que não podemos generalizar a premissa para as várias áreas do conhecimento, inclusive em termos de Movimento Espírita internacional. Pode-se afirmar que a divulgação feita em inglês pode alcançar mais ampla circulação no mundo atual. Mas, independentemente desta colocação, o Movimento Espírita tem se expandido nos EUA. O Conselho Espírita dos Estados Unidos tem promovido várias ações para colaborar com o apoio e estímulo a muitos grupos que surgem e se organizam. O Conselho Espírita Internacional, que edita nos EUA a “Revista Espírita” (The Spiritist Magazine), tem editado vários livros traduzidos para o inglês e acaba de montar uma EDICEI-USA, em Miami. Inclusive, em 2010, ano do Centenário de Chico Xavier, a EDICEI lançou, em inglês, as obras “Chico Xavier. Medium of the century” (Chico Xavier. Médium do século), de autoria do jornalista britânico Guy Lyon Playfair e “Among brothers of other lands” (Entre irmãos de outras terras), de Chico Xavier e Waldo Vieira. Congresso Espírita Mundial, promovido pelo CEI e realizado em 2010, na Espanha, a pesquisadora americana Carol Bowman discorreu sobre seus estudos: “Pesquisas sobre reencarnação em crianças” e a EDICEI lançou, naquela oportunidade, o livro de autoria dela, traduzido para o espanhol: “Las vidas pasadas de los niños”. RCE – E na França, berço de Kardec, como vai o Movimento Espírita? CP – Temos acompanhado sobre a participação de espíritas em o surgimento de uma nova etapa tais pesquisas? para o Movimento Espírita francês. CP – O pioneiro na pesquisa Durante recente Reunião do CEI, sobre tais fatos, em nosso país, foi realizada em Valencia, recebemos Hernani Guimarães Andrade (1913- informações sobre a expansão, prin2003), fundador do Instituto Brasileiro cipalmente pelo interior do país, de de Pesquisas Psicobiofísicas em novos grupos e de várias ações reaSão Paulo. Há pesquisas sendo rea- lizadas pelo recente Conselho Espírita lizadas por membros da Associação Francês. Este edita o boletim eletrônico Médico-Espírita do Brasil. Em várias “Voie spirite” (www.conseil-spirite.fr). Na universidades brasileiras têm sido França, está sediada a Enciclopédia aprovadas dissertações de mes- eletrônica (Encyclopédie spirite): trado e teses de doutorado com www.spiritisme.net temas ligados ao Espiritismo e ao RCE – Faça um breve relato Movimento Espírita. Pessoalmente, sobre os esforços do CEI quanto à como sou oriundo do meio acadêdivulgação, especialmente na produmico e da pesquisa, considero muito ção de livros em outros idiomas. importante as pesquisas feitas por RCE – Fala-se muito em pes- não-espíritas, por pesquisadores CP – O CEI teve a triste consquisa universitária sobre reencar- neutros, para fins de validação dos tatação de que as obras de Kardec nação e mediunidade. Há notícias princípios. A propósito, durante o 6º não estavam disponíveis em vários Despertar Espírita na WEB - Sábado, 19h, na tvcei.com r e v i s t a Cultura Espírita – 6 / abril 2011 “O Conselho Espírita dos Estados Unidos tem promovido várias ações para colaborar com o apoio e estímulo a muitos grupos que surgem e se organizam.” “Temos acompanhado o surgimento de uma nova etapa para o Movimento países, e que a obra psicográfica de Chico Xavier era praticamente desconhecida em muitas nações. Desde 2005, o CEI vem trabalhando celeremente para traduzir e editar prioritariamente as obras de Kardec e de Chico Xavier, principalmente em inglês, francês, espanhol, alemão e russo. Durante o 6º Congresso Espírita Mundial foram lançadas várias obras da EDICEI (www.edicei.com) em vários idiomas, principalmente em espanhol. Na semana seguinte, em eventos realizados em Constanza e em Milão, foram lançadas obras da EDICEI, respectivamente, em alemão e italiano. Atualmente a EDICEI já dispõe de quase 150 livros em diversos idiomas. CP – Consideramos muito importante para o Movimento Espírita internacional o 6º Congresso Espírita Mundial, realizado em Valencia e promovido pelo CEI, contando com 1807 participantes, oriundos de 35 países, sendo que o maior número de inscritos era da Espanha (773). A TV CEI (www. tvcei.com.br) transmitiu ao vivo todo o evento, tendo registrado 13.044 acessos de 603 cidades, de 52 países, principalmente do Brasil, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Colômbia, Alemanha, Argentina e Guatemala. A Federação Espírita Espanhola foi entrevistada pelos periódicos: El País, El Mundo, Pronto, Periódico Información, Levante, e Revista Más Allá. Durante RCE – Comente a importância o Congresso realizou-se a 1ª Feira do Livro Espírita da Espanha. do Congresso da Espanha. Espírita francês.” “Desde 2005, o CEI vem trabalhando celeremente para traduzir e editar prioritariamente as obras de Kardec e de Chico Xavier, principalmente em inglês, francês, espanhol, alemão e russo.” Clube de Arte no Ar – Segunda-feira, 12h, na Rádio Rio de Janeiro 1400 AM r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 7 Lar Fabiano de Cristo Conhecendo as Unidades de Promoção Integral (01) CASA DE HERCÍLIO, em Machado/MG H ercílio da Silva Dias é o nome do patrono desta Unidade de Promoção Integral, fundada em 19/05/1975, escolhido por seu empenho em auxiliar todos os desafortunados com que se deparava. Ele era natural da cidade de Machado – MG, tendo nascido em 20/03/1906. Filho de Pedro Pereira Dias e de Balbina Josefina da Silva Dias, teve quatro irmãos: três homens (Eurico, Astrogildo, Plínio) e uma irmã (Hilda). O Sr. Pedro foi agricultor e possuía uma “gleba agrícola” no distrito de Caiana, em Machado. Hercílio fez seus primeiros estudos em Machado, mas completou o antigo 2º grau em Juiz de Fora, no Colégio Grambery. De novo em Machado, foi bancário. Ali conheceu Virgínia Carolina Nannetti com quem se casou em 27/12/29. Estava em Poço Fundo, como Gerente do Banco Machadense (atual Unibanco), quando seu pai faleceu. Depois da partilha da gleba deixada por este, Hercílio se viu dono das terras chamadas Cachoeira, para onde mudou sua residência, após deixar o Banco. Decorridos alguns anos de luta no campo, vendeu sua propriedade e comprou outra do mesmo tipo, entre Alfenas e Gaspar Lopes (MG), na qual viveu cinco anos. Necessitou vendê-la, então, devido aos prejuízos acumulados. Foi residir em Alfenas, para que os filhos pudessem estudar. Ali, até 1950, trabalhou para um espanhol, comerciante de gado. Depois, voltou a Machado, para uma chácara que comprara. Malsucedido de novo, Hercílio vendeu-a e foi morar na área urbana, passando a trabalhar em diversas fazendas. A essa altura, começou a apresentar-se bastante adoentado. Seu filho mais velho (Wagner Nanneti, ex-presidente da CAPEMI, falecido em 2004) transportou-o para o Rio de Janeiro, em busca de recursos médicos inexistentes em Machado. O diagnóstico que lhe fizeram foi de câncer no pulmão. Tendo melhorado um pouco, foi submetido à radioterapia, que lhe permitiu viver ainda durante três meses. Sofria muito. Pediu então par regressar a Machado, onde passou o Natal, tendo mesmo visitado algumas pessoas queridas durante a ligeira melhora obtida em janeiro/fevereiro de 71. Desencarnou em 18/03 daquele ano. Sua esposa lhe dera três filhos: Mari Aparecida, Wagner e Wander. Curiosamente, ele que fora sempre muito generoso e cheio de consideração para com os necessitados, e tanto se empenhou em atender a estes, acabou por nada deixar para a família. Hoje, a Casa de Hercílio é uma referência na cidade de Machado, no atendimento aos mais necessitados, atendendo a 65 famílias e 33 idosos, num total de 323 pessoas, da primeira infância à terceira idade. Atividades lúdicas e pedagógicas são oferecidas às crianças e adolescentes, além de oficinas de informática, música e violão. Na iniciação profissional destaca-se a produção de artigos da mais alta qualidade em ponto de cruz, vagonite, crochê, costura e lanofix. Crônicas de Família, com Ana Guimarães – Terça-feira, 12h, na Rádio Rio de Janeiro 1400 AM r e v i s t a Cultura Espírita – 8 / abril 2011 Acervo do ICEB A substituição de valores humanos é uma necessidade social e psicológica. O desgaste físico e mental, que é inevitável depois de certo tempo, exige necessariamente a recomposição dos quadros atuantes, a fim de que não haja interrupção ou solução de continuidade no ritmo de trabalho e rendimento. Tudo isto, como se sabe, está na ordem natural da vida e, portanto, a redistribuição ou mesmo a substituição de “obreiros na vinha do Senhor” não deve causar inquietação ou desalento em ninguém. É a “rendição da guarda”, quando é chegado o momento. Convém, no entanto, observar bem o fenômeno que está ocorrendo, pois o que se nota, em toda parte, em todas as coletividades – empresariais, recreativas, políticas, e assim por diante – sem excluir as próprias comunidades religiosas, é uma febre incontida de mudança, querendo alterar tudo, às vezes radicalmente, alijando capacidades prestantes ou deixando à margem pessoas, que, embora tenham passado da casa dos 50 ou 60 anos, pouco importa, ainda são eficientes, ainda têm energia, lucidez e equilíbrio para fazer muita coisa. E fazem mesmo. Neste particular, a situação é uma decorrência, até certo ponto, do impetuoso surto tecnológico do momento, criando uma espécie de hipertrofia dos valores novos. (...) Muita gente não sabe, entretanto, que a velhice, em última análise, é um “estado de espírito”, como disse um pensador. Há pessoas que estão chegando, se já não chegaram aos oitenta, mas continuam jovens de espírito, não se deixam esmagar psicologicamente pelo “peso dos anos”, não se sentem anuladas diante de quem quer que seja, ao passo que outras, bem mais moças, envelhecem antes do tempo, porque não têm vigor espiritual, já perderam o encanto da vida. O conceito de velhice, então, convém repetir, é realmente mais um “estado de espírito” do que uma contingência depressiva. Depende muito das reações individuais. Seja como for, a verdade nua e crua é que, atualmente, na vida prática, as pessoas de “mais idade” (nem chegam a ser velhas ...) ainda que estejam em boas condições de saúde, já não têm muitas possibilidades nesta “civilização tecnológica”. O mercado de trabalho em qualquer parte, hoje em dia, é mais para gente nova. (...) O movimento espírita, que é um movimento humano como tantos outros, embora voltado para o lado espiritual, também está sujeito a renovações. Seria contraproducente, contudo, fazer distinções ostensivas, e com preocupações anulatórias, entre “ala velha” e “ala moça”, abrindo faixas de antagonismo ou competição em nossas fileiras. Se há uma doutrina que não nos autoriza a levar ao pé-da-letra a noção de velho ou de moço, é exatamente o Espiritismo, por ser uma doutrina reencarnacionista. Não estão aí muitos adultos que pensam e procedem como “meninos terríveis”, enquanto muitos jovens nos dão exemplo de amadurecimento espiritual tanto nas ideias quanto nas atitudes? É ou não é verdade? Existe uma idade biológica, como existe uma idade mental, não há dúvida, mas as vivências do Espírito encarnado ultrapassam nossas estimativas de tempo, apesar de sabermos que, durante certa fase da existência, o Espírito sofre as influências e contenções naturais da organização somática, com toda a carga de hormônios e outros fatores de atritos. É uma experiência de adaptação. A idade real do Espírito, porém, tanto faz em corpo de jovem, como de ancião, é problema que escapa aos cálculos usuais (O Livro dos Espíritos – Q.78). A velhice do corpo nem sempre é indicio de envelhecimento espiritual. Quantos confrades que já estão na “idade provecta” e continuam trabalhando (...) como se fossem moços. Não podemos, portanto, trazer para a seara espírita as restrições que se fazem lá fora às pessoas mais idosas. Não! O próprio movimento espírita, no fim de tudo, seria o mais prejudicado. Exemplos não nos faltam. (...) O ideal não é dividir gerações, é unir, valorizar cada vez mais as aptidões, a experiência e as energias de duas gerações de idealistas, pois há muita gente de valor moral e intelectual, quer de um lado, quer do outro. Pelo fato de aparecerem, ali ou acolá, uns tantos jovens desarvorados, não se deve alimentar prevenção contra todos. Nossa juventude é uma juventude responsável e, por isso mesmo, não se confunde com as exceções comprometedoras. Ela é mal interpretada na maioria dos casos. Mas o valor da juventude não invalida o papel em que se situam figuras venerandas do movimento espírita, figuras que, já estando avançadas em idade, enfrentaram crises e aguentaram cargas pesadas, mas não caíram nem deixaram que as instituições caíssem. São confrades que, a todos os títulos, fazem jus ao respeito e à estima da coletividade espírita. E ainda se mantêm firmes, não “saíram de circulação”, oferecendo belo exemplo de perseverança. A reencarnação, felizmente, apaga as discriminações de idade entre nós, embora reconheçamos uma realidade biológica, com suas possibilidades e suas limitações. Há lugar para todos, pois a seara espírita é muito grande ... Deolindo Amorim – 29/02/1972 Encontro com Jesus, com Yasmin Madeira – Quarta-feira, 12h, na Rádio Rio de Janeiro 1400 AM r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 9 Ana Guimarães Crônicas de Família “Oh! Que saudade que eu tenho! Da aurora da minha vida. Da minha infância querida Que os anos não trazem mais.” (Gonçalves Dias) E m meio ao tumulto do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, eu a vi. Estava sentada numa cadeira de rodas, elegante no seu vestido azul e casaco de lã cinza. O cachecol escondia-lhe o colo e deixava em destaque o rosto ainda juvenil, apesar dos cabelos completamente nevados. De imediato, o pensamento voou e foi pousar nos idos da minha infância descuidada e feliz. E a revi fotografada nas páginas da minha recordação: não teria mais de 1,55m de altura, em cima dos sapatos de salto alto. Achava-a linda! Vivaz como um pássaro, circulava por toda a extensão do colégio do qual era diretora. Nada escapava aos seus olhos atentos. Reconhecia cada aluno chamando-o pelo nome (entre quatrocentas e quinhentas crianças). Era gentil e serena. E apesar de perder-se em meio aos educandos, pelo seu tamanho, era profundamente respeitada e amada. Tentei aproximar-me, mas a perdi de vista em meio ao tumulto. Então, dirigi-me ao voo anunciado naquela hora. Ao entrar no avião, agradável surpresa. Lá estava ela sentada na primeira fila de cadeiras... Não resisti, abaixei-me e segurei-lhe as mãos pequeninas e enrugadas, que tantas vezes acariciaram meus cabelos e secaram minhas lágrimas de criança travessa. − A senhora não vai se lembrar de mim. Fui aluna do Colégio Visconde de Cairu, onde a senhora era diretora. Um par de olhos serenos como os de uma criança me fixaram e um sorriso bom iluminou-lhe o rosto, enquanto falava suavemente: − Nunca me esqueço dos meus alunos... − declinou o meu nome. E a idosa mestra que mediava os cem anos de idade, deixou-me perplexa diante daquela memória. Reverenciar os berços e amparar as crianças é necessário, porém curvarmo-nos diante de uma cabeça nevada é imperativo e não podemos desconsiderar. Ali, diante dos meus olhos, estava alguém cuja vida foi um Evangelho de feitos junto à infância e à juventude, renunciando ao matrimônio para melhor servir e amar os filhos dos outros. Mesmo ignorando as razões, os porquês que conduziram a vida dos nossos idosos, tenhamos por eles solicitude e gratidão, entendamos terem sido os semeadores da primeira hora e os que plantaram as árvores que hoje nos dão frutos e sombra. Cultura Espírita, com Assaruhy Franco e Cesar Reis – Quinta-feira, 12h, na Rádio Rio de Janeiro 1400 AM r e v i s t a Cultura Espírita – 10 / abril 2011 Jorge Pedreira de Cerqueira A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE G osto de pensar no Espírito do homem como uma construção inacabada que evolui sempre e que, cada vez mais, torna-se portadora de beleza, harmonizando-se com a Criação. A evolução de sua percepção da realidade e a aquisição de valores éticos aprimorados, mais condizentes com a necessidade de convivencialidade e de alteridade, faz com que seu comportamento se modifique e que ele se torne não só mais fraterno, mas, sobretudo, incorpore esses valores em sua matriz instintiva, tornando-se um homem melhor, naturalmente sem que tenha consciência disso. Torna-se mais belo interiormente, sem aperceber-se desse fato. A construção do Espírito é, pois, um processo de aprendizagem contínua, de construção gradativa de sua própria realidade, de conhecimento de si mesmo, de aprimoramento contínuo de sua conduta. Evoluindo da conduta instintiva, passando pelas atitudes racionais até atingir a intuição, o homem caminha por um processo de ser e estar, num eterno vir a ser. Este processo de contínua aprendizagem assegura a sustentação de sua evolução e se desenvolve pelas experiências sucessivas que Deus lhe proporciona, pela misericórdia da reencarnação. Nos estágios inferiores, o homem tem baixa percepção de si mesmo e precisa ser adaptado ao padrão da lei natural, que lhe traz o constrangimento da dor diante dos desvios apresentados. Nos estágios superiores, o homem age por pura consciência, não necessitando ser constrangido e adaptado às dores provenientes da justiça de Deus. O homem foi criado para a felicidade e não para a dor. Quanto mais elevada sua consciência, maior sua responsabilidade perante o Criador. De acordo com o Irmão X, no livro Estante da vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier e publicado pela FEB, para aqueles que ainda não compreendem, isto é, têm percepção limitada de sua realidade, a justiça de Deus vem pelo alvará da “A construção do Espírito é, pois, um processo de aprendizagem contínua, de construção gradativa de sua própria realidade, de conhecimento de si mesmo, de aprimoramento contínuo de sua conduta.” rios em que vive: na família, no trabalho, na comunidade, na sociedade, nas organizações humanas, nas organizações religiosas, enfim, na relação com o mundo. É na convivência com o mundo material que o Espírito se ilumina, evolui, expande sua percepção e constrói sua realidade. A Lei de Deus é imutável. É Lei de amor, é Lei de justiça. Não existem exceções ou privilégios diante dela, apesar de haver misericórdia infinita na aplicação da justiça. Todos os seus filhos devem evoluir diante da aplicação dessa Lei. A misericórdia na aplicação da justiça permite que a dor-reparação adapte e eduque o homem, proporcionando-lhe aprendizado contínuo até que possa atingir o estado de angelitude, de consciência pura, de total conhecimento de sua realidade. A missão do homem na Terra é, pois, evoluir continuamente em espiritualidade, construindo gradativamente sua realidade, aprendendo a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, assegurando paz, equilíbrio e harmonia em todos os cenários em que ele gravita. Nesta missão estão implícitos dois grandes fatores que devem ser perseguidos e controlados pela ação do homem em seu caminho evolutivo: a necessidade de ter humildade e de agir com caridade. A humildade e a caridade são, pois, as virtudes que asseguram ao homem a paz interior, o equilíbrio e a harmonia com o Universo. misericórdia. Todavia para aqueles que já têm consciência de sua realidade e destinação, a misericórdia de Deus se faz sentir pela aplicação da justiça. A grande dificuldade e, por que não dizer, o grande desafio do homem para se tornar melhor a cada dia, é conviver na coletividade, enquanto encarnado, com os mais diferentes tipos de Espíritos, em diferentes graus de evolução. Essa é sua grande prova. Desenvolver Jorge Pedreira Cerqueira é administrador valores morais nos diferentes cená- de empresas e expositor espírita. r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 11 A inda como Professor Rivail, Allan Kardec já dispunha de preciosas anotações nas áreas da filosofia, das ciências e da religião, sobre a constituição geral do Universo, a vida além-túmulo e as leis morais, estando já praticamente pronto O Livro dos Espíritos. Em uma nevada noite de inverno de 1856, o amado Codificador se interrogava se devia começar pelas indagações filosóficas ou pelas conclusões científicas, vivendo o que Pascal (1625-1661) comentara sobre a última coisa que se decide ao fazer um trabalho: saber o que se deve colocar em primeiro lugar. Porque o conhecimento humano modifica-se ao longo do tempo, e ele não desejava escravizar o Espiritismo à exaltação do cérebro desatrelado do sentimento. Relatanos o Espírito Irmão X que, em prece comovente, o Codificador foi envolvido por raios de amor e, em sua intimidade profunda, ouviu “vigoroso apelo íntimo: — Não menosprezes a fé!... Não comeces a obra redentora sem a Bênção Divina!...”1 Foi assim que, “nimbado de luz”, consagrou o primeiro capítulo de O Livro dos Espíritos à existência de Deus. E a primeira pergunta espelha a natureza da Doutrina Espírita, declarada formalmente pelo Codificador como Filosofia Espiritualista no frontispício de O Livro dos Espíritos, que remonta à figura exponencial de Sócrates, missionário que preparou o caminho para a Mensagem de Jesus e do Espiritismo2. E a natureza da pergunta remonta aos diálogos que o filósofo grego desenvolvia, anotados por Platão, e que sempre buscavam a essência das coisas: “Que é Deus?”3 A visão espírita de Deus, pois, acompanha e anuncia a natureza racionalista da Doutrina, e a definição dada pelos Espíritos Orientadores da Humanidade a Kardec reafirma a identificação do pensamento socrático com essa revigoração das linhas teológicas. Responderam eles: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Para Sócrates, Deus é a Razão Perfeita, definição antecipada em cerca de dois e meio milênios, que privilegia a imaterialidade, r e v i s t a Cultura Espírita – 12 / abril 2011 a espiritualidade, ao tempo em que seus contemporâneos e antecessores buscavam uma physis, uma causa material do Universo, de toda a criação. Na Grécia clássica, o conhecimento é buscado pela via da indagação, como método, enquanto que o pensamento cristão considera que o conhecimento revelado não é passível de análise. Mas o Espiritismo, sendo cristão, “helenicamente”, faz tudo passar pelo crivo da razão, inclusive a fé. Assim, assume também Deus como objeto de conhecimento, ainda que com as ressalvas impostas pela própria razão, alargando os limites da extensão do conhecimento, que “diz respeito à possibilidade de podermos atingir o absoluto e a natureza íntima das coisas, inclusive Deus e a alma, como estatui o chamado dogmatismo de Platão e Hegel;(...)”4 Tendo-se revelado insuficientes as formulações filosóficas quanto as culturais e científicas, concluiu-se pela legitimidade da Sua existência a partir de quatro grupos de considerações, capazes de demonstrá-Lo de forma definitiva: cosmológicas (que tratam da estrutura do Universo – Deus é a Causa Única da sua própria causalidade, portanto é real, e tem condições de preexistir à Criação e sobreexistir ao sem-fim; aplicadas por Aristóteles e Tomás de Aquino); ontológicas, conhecidas como Argumento de Santo Anselmo (tratam do ser enquanto ser – Deus é perfeito em todos os Seus atributos e na própria essência, que explicam Sua existência, pois, se não fosse real, deixaria de ser perfeito); teleológicas (tratam do mundo como sistema de relações entre meios e fins – a beleza, a harmonia cósmica, a precisão matemática e estrutural da Criação, penetradas pelo pensamento humano, dão ao homem a conclusão única de que procede da existência de um Criador); morais (defendidas por Kant, que rejeita as anteriores, aceitas por Descartes, Spinoza e outros), tratam da presença de Deus, como Legislador Supremo, no homem, mediante sua responsabilidade moral e sua própria liberdade e inteligência. A Doutrina Espírita contempla esses grupos de conside- A Visão E rações, afirmando Deus como Causa Necessária, a um só tempo transcendente e imanente à Criação. A visão espírita de Deus lança novas luzes e redireciona o pensamento espiritualista, já desgastado com vertentes teológicas que passaram a ser inconsistentes perante os avanços, não por acaso, da ciência do século XIX, posto que estavam no Planejamento Superior, uma vez que soara no Infinito a hora de consubstanciar a promessa de Jesus de que nos enviaria “um outro Consolador”. A visão espírita de Deus é a culminância de um processo pelo qual evoluiu o psiquismo humano, transitando do temor dos povos primitivos, confundindo-O com a Sua Obra – postura que assumiu formulação racional, filosófica, no panteísmo: Deus é a Natureza – à posição de humanização, de antropomorfização da Divindade, que carreava os sentimentos e paixões próprios das limitações humanas, em típico fenômeno de transferência. Adorado pelos homens, foi destronado pela ciência que O substituiu pela deusa Razão, personificada por uma bailarina na Revolução Francesa em 1789, com argumentos de que essa ideia de Deus não tem fundamento, de que o sagrado, o irracional são uma tolice, de que a matéria explicaria o Universo, de que, com fulcro no Empirismo, somente as informações sensoriais mereceriam credibilidade, ensejando o positivismo, que dominou a paisagem filosófico-científica do século XIX, em nítido processo de desdivinização, descristianização e secularização do mundo moderno. Mas quanto mais esse mesmo processo se ateve e se atém à investigação da matéria, mais aproxima a ciência de Deus. A ideia de Deus – da Razão Perfeita para Sócrates, passando pela Ideia do Bem de Platão, Primeiro Motor de Aristóteles, Uno do Nadja do Couto Valle Espírita de Deus panteísmo de Plotino, à perplexidade de Santo Agostinho – “Se me perguntam o que é Deus, não sei; mas se não me perguntam, eu sei”, à Grande Máquina de Descartes e à Grande Mônada de Leibniz, passando por Paulo – In ipso vivimus, movemur et summus5, passando também pelo monismo de Fichte, Hegel e Schelling, por exemplo, até chegar à ideia de Deus no corpo da Doutrina Espírita, que patrocina a união da ciência e da fé, da religião e da razão, em pleno século que viu magnas conquistas em todos os campos do conhecimento, com destaque para o campo da física, com a fissão do átomo e os postulados de Einstein. Com o advento do paradigma quântico, que possibilita nova descrição de objetos científicos, o modelo mecanicista-materialista perde seu espaço e até mesmo sua consistência, pois os modelos quânticos promovem uma progressiva desmaterialização da física, o que vem dar atestado da ciência formal aos postulados da Doutrina Espírita, que trabalha com a imponderabilidade do espírito como realidade e de seu mundo, de forma abdutiva6, através de método racionalista, com rigor científico, concebido por Rivail/Kardec, especificamente para o trato das questões metafísicas, que classificamos como “positivismo metafísico” ou “positivismo transcendental”7. A ideia de que no Universo quântico palpita a Consciência Cósmica como elemento primordial, que constrói a realidade, encontra ressonância no universo do corpus doutrinário do Espiritismo: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, e está presente em todas as criaturas, mediante a Sua lei inscrita na consciência do homem8. É a imanência de Deus na criatura, pela via de Sua transcendência, Sua inteligência presente em Sua Lei: “acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas.”9, pois, quânticamente, a matéria é produto da consciência. A identificação dos postulados quânticos com a essência dos ensinamentos da Doutrina Espírita reafirma o que disse Jesus: “Meu pai até agora não cessa de obrar e eu também obro incessantemente”10 – como consciência una com o Pai. Ou seja, o gerador, o Criador/Pai de tudo, até agora não cessa de obrar, de criar tudo, na Causação Descendente, de que nos falam a Física Quântica e o físico Amit Goswami11, e Jesus mantém-se unido a Ele, à Consciência Suprema, à Consciência Cósmica Interconectada, mediante a abrangência dessa grande lei quântica, a da interconectividade. Por isso somos de Deus, como tudo é de Deus, porque nós, como tudo, d’Ele proviemos e d’Ele nos sustentamos. Hoje, neurocientistas descobrem no cérebro o God point, o ponto de Deus, inscrito na criatura12, o que nos leva a concluir que possa ser uma prova de que a consciência cria regiões cerebrais necessárias às atividades a serem desenvolvidas, segundo seu estágio evolutivo. A Doutrina Espírita não teme as novas conquistas e incorpora-as sem perder nada de sua substancialidade tanto teórica quanto prática, segundo o próprio Codificador asseverou, a respeito de sua natureza “essencialmente progressiva”, “que não pode ser contrária às leis de Deus”: “As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que formaram de Deus. (...) Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”13 A visão espírita de Deus, transcendente e imanente, como Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas, reafirma a Razão Perfeita de Sócrates, evoca a Ideia do Bem, de Platão, é confirmada pela física quântica, e espelha a definição de Jesus e de João: Deus é Pai e é Amor. Nadja do Couto Valle é professora universitária e expositora espírita. Referências: 1 XAVIER, Francisco Cândido. O primeiro capítulo. Pelo Espírito Irmão X. Reformador. p. 25, abril/1957. 2 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 102.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990. Introdução, item IV – Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo. 3 ____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 71. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Q. 1. 4 COUTO VALLE, Nadja do. Reflexões à luz do Espiritismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Edições ICEB, 2010. Capítulo 1, “Um olhar sobre Kardec”, p. 16. 5 Bíblia. N.T. Atos, 17:28. 6 A abdução, ou inferência hipotética, é o método que possibilita conhecimento novo, ou seja, é a forma de inferência que acrescenta algo ao conhecimento, ao postular a existência de um objeto e ao atribuir-lhe propriedades, formando teorias. O processo de busca completa-se com a indução, encontrando fatos confirmatórios das teorias. 7 COUTO VALLE, Nadja do. Id. Ibid. p. 18. 8 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 71. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Q. 621: “Onde está escrita a lei de Deus? Na consciência.” 9 Id. Ibid. Q. 27. 10 Bíblia. N.T. João, cap. 5, vers. 17. 11 GOSWAMI, Amit. O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material // com Richard E. Reed e Maggie Goswami. Tradução de Ruy Jungmann. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2008. (Série Novo Pensamento). 12 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Pode remeter-nos a um nexo com a q. 621: “A lei de Deus está escrita na consciência.” 13 KARDEC, Allan. A gênese. Tradução Guillon Ribeiro. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. Capítulo I, item 55. COUTO VALLE, Nadja do. Materialismo e espiritualismo na filosofia: culminâncias e sínteses. In: Em torno de Rivail: O mundo em que viveu Kardec. Bragança Paulista: SP, Lachâtre, 2004. p. 192-231. LIMA, Moacir Costa de Araújo. Consciência criadora. Porto Alegre, RS: AGE, 2010. r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 13 ESPERANTO Traduko: Saulo Wanderley SPIRITISMA VIDMANIERO PRI DIO L a spiritisma vidmaniero pri Dio kunportas novajn lumojn kaj þanøas la marþdirekton de la spiritualista penso, jam signife korodita en teologiaj fontoj kiuj fariøis senhavecaj antaý la progresoj, nehazardaj, de la scienco de la XIX jarcento, æar ili estis en la Supera Planado, konsiderante esti jam alveninta la horo por plenumi promeson de Jesuo: sendi al ni “alian konsolanton”. La spiritisma vidmaniero pri Dio estas la kulmino de procedo laý kiu evoluadis la homaanima-fenomenaro, ekde la timo de primitivaj popoloj, kiuj ØIN miksadis al Lia kreitaferoj – sinteno kiu gajnis racian, filozofian formon en la panteismo: Dio estas la naturo – øis la sinteno humaniga, antropoformiga de la Dieco, sinteno kiu kunportadis la sentojn kaj pasiojn propraj de la homaj limoj, ene al tipa fenomeno de transfero. Adorata de la homaro, estis sentronigita de la scienco kiu ØIN anstataýis per la Racio-Diino, personigata per baletistino en la Franca Revolucio, dum 1789, surbaze de argumentoj laý kiuj la ideo pri Dio ne havas fundamenton, laý kiuj la sankta-afero, la neraciaafero estas stulta¼oj, laý kiuj la materio klarigus la universon, laý kiuj, surbaze de la empiriismo, nur la sensaciaj informoj estas indaj je kredindeco, okazigante la pozitivismon, kiu regis sur la pejzaøo scienca-filozofa de la XIX jarcento, en klara procedo de maldiecigo, malkristanigo kaj laikanigo de la moderna mondo. Sed, ju pli tiu sama procedo sin ligis kaj ligas al la esplorado de la materio, des pli alproksimigas la sciencon al DIO. La ideo pri DIO – ekde la Perfekta Racio, laý Sócrates, pasante tra la Ideo de Bono, de Platão, Unua Motoro, de Aristóteles, Unu-eco de la Panteismo, de Plotino, al la perplekseco de Sankta Agostino – “Se oni demandas al mi: kio estas DIO? Mi ne scias, sed se oni ne demandas, mi scias”, al la Granda Maþino, de Descartes, al la Granda Monado de Leibniz, tuþante Paulo, la apostolo, – In ipso vivimus, movemur et summus5, ankaý tuþante la monismon de Fichte, Hegel kaj Schelling, kiel ekzemploj, estis profunde esplorita, tiu ideo pri DIO, øis atingi la ideon pri DIO de la Spiritisma Doktrino, kiu vere apogas la unuigon de fido kaj scienco, de religio kaj racio, øuste dum la jarcento kiu vidis grandajn konkerojn en æiuj konkampoj, reliefigante la kampon de la fiziko, per la atoma fisio kaj la postulatoj de Einstein. Je la alveno de la kvantuma paradigmo, kiu ebligas novan priskribon por la sciencaj celoj, la modelo mekanikisma-materiisma perdas sian spacon kaj eæ fariøas senesenca, æar la kvantumaj modeloj okazigas progresan senmateriigon en la fiziko, kaj tio estas favora atesto el la formala scienco por la Spiritisma Doktrino, kiu abdukcie6 klarigas kaj øustigas la realecon kvazaý nematerian de la spirito kaj de sia mondo, per racia metodo, sub scienca rigoro, rigoro konceptita de Rivail/Kardec, specife por pritrakti la metafizikajn demandojn, klasifitaj de ni kiel “pozitivismo metafizika” aý “pozitivismo transcenda”. La ideo laý kiu la Kosma Konscienco, kiel origina, primitiva elemento, vibras en la Kvantuma Universo, tia elemento konstruanta la realon, gajnas fortigon en la universo de la spiritisma doktrina konceptaro: “Dio estas la superpleja inteligento, unua kaýzo de æiaj aferoj” kaj æeestas en æia kreita¼o, per Sia leøo, enskribita en la homa konscienco8. Estas la imanenta æeesto de Dio en la kreita¼o, pere de Sia transcendeco, Sia inteligento æeestanta en Sia leøo: “sur la tuto Dio, la kreinto, patro de æiaj aferoj”9, æar kvantume, materio estas produkto de la konscienco. La identigo de la kvantumaj postulatoj al la esenco de la Spiritisma Doktrino reasertas tion, kion Jesuo diris: “mia patro, øis nun, ne haltis Sian konstruadon, kaj mi ankaý ne haltas mian konstruadon”10 – kiel konscienco unuigita al la Patro. Tiel estas, la generatoro, la Kreanto/Patro de æio, øis nun ne haltis sian kreadon, sian kreadon de æiaj aferoj, en descenda procedo de kreado, laý kiu parolas la kvantuma fiziko kaj la fizikisto Amit Goswami11; kaj Jesuo restas unuigata al Li, al la Superpleja Konscienco, al la Kosma Interkonektata Konscienco, per la amplekseco de tiu granda kosma leøo, la leøo de interkonektemeco. Pro tio ni apartenas al Dio, kiel æio apartenas al Dio, æar ni, kiel æio, devenas el Li, kaj nutriøas el Li. Nuntempe, neýrosciencistoj malkovras en la cerebro la God Point, punkto de Dio, enskribita en la kreita¼o12, kaj tio permesas al ni konkludi favore al la ebleco ke konscienco kreas cerebrajn regionojn kiuj estas necesaj al la aktivecoj disvolvigendaj, laý sia propra evoluadnivelo. La Spiritisma Doktrino ne timas novajn homajn konkerojn; ilin inkluzivas en øia konceptaro, nenion perdanta de tiaj konkeroj, rilate al siaj esencoj teoriaj kaj praktikaj, laý la aserto de Rival/Kardec, Kodiginto de tiu Doktrino, pri øia naturo “esence progresema”, naturo “kiu ne povas esti kontraýa al la Diaj leøoj”: “La malkovroj ICEB – Aulas de Esperanto – Sábado, 10h30min às 12h r e v i s t a Cultura Espírita – 14 / abril 2011 realigitaj de la scienco, esence kontraýe al Dion malaltigi, Øin glorigas; tiaj malkovroj, nure, detruas tion, kion la homaro edifis sur falsaj ideoj pri Dio. (...) Marþante flanke-æe-flanke kun la progreso, Spiritismo neniam estos superata, æar, se novaj malkovroj elmontrus al øi ian ajn eraron øian, pri ia ajn koncepto, øi sin modifus pri tia koncepto. Kaj se nova vero malvualiøos, Spiritismo akceptos tian novan veron.”13 La spiritisma vidmaniero pri Dio, transcenda kaj imanenta, Øin konsiderante kiel Superpleja Inteligento, Unua Kaýzo de æiaj aferoj, reasertas la Perfektan Racion de Sócrates, elvokas la Ideon pri la Bono, de Platão, estas konfirmata de la kvantuma fiziko, kaj spegulas la difinon el Jesuo kaj el João: Dio estas Patro kaj estas Amo. Nadja do Couto Valle estas universitata profesorino kaj spiritisma prelegistino. Referencoj: 1 XAVIER, Francisco Cândido. Unua æapitro. El la Spirito “Irmão X”. Spiritisma Revuo Reformatoro, paøo 25, aprilo/1957. 2 KARDEC, Allan. La Evangelio laý Spiritismo. Traduko de Guillon Ribeiro. 102a .eld. Rio de Janeiro: BSF, 1990. Enkonduko, itemo IV – Sócrates Kaj Platão, antaýuloj de la kristana ideo kaj spiritismo. 3 ____. La Libro de la Spiritoj. Traduko de Guillon Ribeiro. 71a. eld. Rio de Janeiro: BSF, 1991. Demando 1. 4 COUTO VALLE, Nadja do. Pripensado sub la Spiritisma Lumo. 2a. eld. Rio de Janeiro: Eldonoj ICEB, 2010. Æapitro 1, “Rigardo sur Kardec”, paøo 16. 5 Bíblia. N.T. Aktaro 17:28. 6 La abdukcio, aý poema inferenco, estas metodo kiu ebligas novan konon, tiel estas, inferenca maniero kiu inkluzivas ion al la kono, kiam postulas la ekzistado de objekto kaj kiam atribuas proprecojn al øi, produktante teoriojn. La seræa procedo kompletiøas per indukcio, trovante faktojn kiuj konfirmas la teoriojn. 7 COUTO VALLE, Nadja do. Id. Ibid. 8 KARDEC, Allan. La Libro de la Spiritoj. Traduko de Guillon Ribeiro. 71a. eld. Rio de Janeiro: BSF, 1991. Demando 621: “Kie estas skribita la Dia leøo? En la konscienco.” 9 Id. Ibid. Demando 27. 10 Bíblia. N.T. João, æap. 5, vers. 17. 11 GOSWAMI, Amit. La memkonscia universo: kiel la konscienco kreas la materian mondon // Kun Richard E. Reed kaj Maggie Goswami. Traduko de Ruy Jungmann. 2a. eld. São Paulo: Aleph, 2008. (Serio “Nova Penso”) 12 KARDEC, Allan. La Libro de la Spiritoj. Povas prezenti al nin rilaton kun la demando 621: “La Dia leøo estas enskribita en la konscienco.” 13 KARDEC, Allan. La Genezo. Traduko de Guillon Ribeiro. 25a. eld. Rio de Janeiro: BSF, 1982. Æapitro I, itemo 55. COUTO VALLE, Nadja do. Materiismo kaj Spiritualismo en la Filozofio: kulminoj kaj sintezoj. En: Pri Rivail: La mondo em kiu Kardec vivis. Bragança Paulista: SP, Lachâtre, 2004. paøo 192-231. LIMA, Moacir Costa de Araújo. Kreanta Konscienco. Porto Alegre, RS: AGE, 2010. BSF estas Brazila Spiritisma Federacio. Yasmin Madeira Encontro com Jesus N ão é muito comum as pessoas deterem-se em reflexões sobre o Calvário do Cristo. Ali nos deparamos com cenas tão terríveis e chocantes que preferimos nos deter na beleza de sua vida e ensinamentos. Nos momentos, porém, em que as dores e sofrimentos, nossos e dos nossos irmãos em humanidade, nos batem à porta da existência, o drama do Calvário nos atrai com um magnetismo diferente, como se o Cristo ali pusesse um código divino que, se compreendido, é capaz de rasgar as trevas e nos situar em uma dimensão celestial onde o sofrimento desaparece. Segundo estudiosos, a dor física tolhe a capacidade de raciocínio, limita a inspiração e o desenvolvimento de ideias complexas, permitindo que os instintos venham à tona. Já a dor emocional ativa a sensibilidade e permite que a criatividade se expresse para drenar a emoção perturbadora. Isso não ocorre, no entanto, com a ansiedade e a dor em níveis altos. Quando ocorrem, a memória fica obnubilada e se fecha a capacidade de pensar, de logicar. Com o Mestre, porém, tudo é diferente. Se o comportamento do Cristo nos conduz sempre a um estado de amorosa perplexidade (Lucas 2:47), as Suas últimas horas na Terra sintetizam, na prática, todo o Seu infinito amor. Ele, que nada tinha a expiar, no alto da cruz e no ápice da dor exclama: “Pai, perdoa-os por que eles não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Em meio a todo o cenário caótico, de sombra e de dor, Jesus evidencia a presença de alguém, que em tudo vive, que é Pai, Criador. Ali Ele é humilhado, provocado, seviciado, porém Sua mente se fixa na realidade da vida espiritual, onde encontramos as explicações das dores e sofrimentos da Terra e uma espontâneo quando ela é acionada. Repleto de Vida Interior, não obstante as dores acerbas, sai de si mesmo, situando Sua consciência sempre no amor ao semelhante e encontra forças para acolher o criminoso arrependido, crucificado ao Seu lado, que Lhe roga auxílio. Continuando em seu serviço de amor, mesmo crucificado ao madeiro, no auge do sofrimento, preocupa-se com Maria, Sua mãe, e a recomenda a João, o discípulo amado (João 19:27), em um conjunto poético de palavras que transbordam emoção. Alma irmã, querida (o) amiga (o), todos passamos por nosso Calvário particular. São ecos do passado e atendem às nossas necessidades educativas. O mundo exterior pode, nesses momentos, parecer sombrio por uma infinidade de razões, mas se você souber administrar as suas emoções mais tensas e organizar seus pensamentos, você não perderá suas conexões com a esfera espiritual, de onde brotam a paz e a felicidade verdadeiras. Identifique suas metas na presente existência, adequando-as à sua maturidade de agora, e não se perca em lamentações ou recordações do mal que lhe fizeram. Organize seu dia para o atendimento do bem, recuse-se a comentar o mal e focalize os pensamentos em Deus. Não tema. Todo o mal passa. Três dias após o Calvário, lá esta Ele, belo, nimbado de luz! fonte inesgotável de equilíbrio e paz. As dores físicas e emocionais não Lhe feriram a lógica e a consciência sempre desperta. Desfigurado pelas torturas, Ele já havia perdoado seus algozes porque compreendia as limitações daquelas consciências presas no entorpecimento das paixões. A compreensão Bibliografia: dos limites do outro é uma chave CURY, Augusto. O Mestre do amor. Rio de inequívoca para o perdão, que brota Janeiro: Sextante, 2010. ICEB – Curso sobre Doutrina Espírita – Sábado, 10h30min às 12h r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 15 Teresa Cristina Cabral SAÚDE MENTAL: ALGUMAS REFLEXÕES M uitas pessoas chegam ao meu consultório e dizem: tenho síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo, déficit de atenção, bipolaridade etc. Ou então trazem o “diagnóstico” que fizeram dos filhos, maridos, familiares, conhecidos. Essa situação me faz lembrar da sabedoria popular: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”! Investigando melhor, percebo que esses diagnósticos são efetuados através de pesquisa realizada em site famoso da internet, pela reportagem da TV ou da revista de referência nacional e quem sabe até internacional. Em um mundo tão desenvolvido, como ainda não inventaram uma “droga” para exterminar a dor do existir? Precisamos, urgentemente, encontrar um “diagnóstico” e um “tratamento medicamentoso”, de preferência com sabor agradável e que tenha efeito imediato! É da natureza humana buscar justificativa para tudo o que acontece, com o intuito de amenizar a culpa e diminuir a angústia. Apenas encontrar justificativas não nos faz assumir a responsabilidade por escolhas, muitas vezes equivocadas, que fazemos ao longo de nossas vidas. Também não propicia transforma- ção e mudança de atitude frente às adversidades do cotidiano. É pertinente à condição humana a capacidade de pensar, de refletir, de entrar em contato, de aprender e se desenvolver com a própria subjetividade. Precisamos olhar e encontrar o sentido, a finalidade do sofrimento e do existir humanos. Precisamos nos questionar: qual o significado da nossa existência? Qual a finalidade da nossa vida? Necessitamos, urgentemente, de um espaço de acolhimento, onde seja possível olhar para, e falar da – dor/sofrimento –, que permeia a existência de todos nós. Em hipótese alguma na condição de vítimas e mártires, mas como buscadores do autoconhecimento e do aperfeiçoamento ético e moral. Muitas vezes viver é doloroso, sim, mas, ao mesmo tempo, é a maior dádiva do Criador ofertada a cada um de nós! É a oportunidade preciosa do crescimento e desenvolvimento de nossa consciência ética e moral. Portanto, sinto que, hoje, falar em saúde mental é falar da capacidade de aprender a lidar com o sofrimento humano, próprio e do semelhante. Aceitar nossa fragilidade, limitação e impotência, não negar nossos sentimentos, mesmo os mais obscuros. Tem-se falado muito de doença e pouco de prevenção e obtenção da saúde mental, emocional e espiritual. Olhar para o nosso mundo interno pode ser desafiador, mas posso garantir que é muito enriquecedor. E, com certeza, vamos encontrar muitas preciosidades que estavam escondidas e outras que serão descobertas. Vamos nos surpreender com defeitos que só conseguíamos ver no nosso semelhante! Poderemos nos perceber mais fortes e criativos. Não estou negando que existam patologias. Elas existem, sim, e precisam ser diagnosticadas e tratadas, ADEQUADAMENTE, por profissionais qualificados e competentes. Também não estou negando a importância da tecnologia, em todas as áreas, em especial a internet, que trouxe acesso a tanta informação. Apenas me pergunto se conseguimos digerir e transformar em conhecimento e sabedoria essa quantidade de informações fragmentadas. Mas essa é outra reflexão, para outra oportunidade. Teresa Cristina Pereira Cabral é psicóloga clínica de orientação Junguiana, coligada às técnicas corporais de P. Sandor e expositora espírita. ICEB – Revista Cultura Espírita – Fale conosco: [email protected] r e v i s t a Cultura Espírita – 16 / abril 2011 Marcos Leite A IMPORTÂNCIA O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no assoalho da casa. Seu pai, que estava indo ao quintal para fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo, chama o menino para uma conversa. Zeca, de oito anos de idade, o acompanha desconfiado. Antes que seu pai dissesse alguma coisa, fala irritado: — Pai, estou com muita raiva. O Juca não deveria ter feito o que fez comigo. Desejo tudo de ruim para ele. Seu pai, um homem simples, mas cheio de sabedoria, escuta calmamente o filho que continua a reclamar: — O Juca me humilhou na frente dos meus amigos. Não aceito. Gostaria que ele ficasse doente sem poder ir à escola. O pai escuta tudo calado, enquanto caminha até um abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o acompanhou, calado. Zeca vê o saco ser aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer PERDÃO DO uma pergunta, o pai lhe propõe algo: — Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amiguinho Juca e cada pedaço de carvão é um mau pensamento seu, endereçado a ele. Quero que você jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou. O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra. O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertavam o alvo. Uma hora se passou e o menino terminou a tarefa. O pai, que espiava tudo de longe, se aproxima do menino e lhe pergunta: — Filho, como está se sentindo agora? — Estou cansado, mas estou alegre, porque acertei muitos pedaços de carvão na camisa — responde o menino. O pai olha para o filho, que fica sem entender a razão daquela brincadeira e, carinhoso, lhe fala: — Venha comigo até o meu quarto, quero lhe mostrar uma coisa. O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado na frente de um grande espelho onde pode ver seu corpo todo. Que susto! Só se conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos. O pai, então, lhe diz ternamente: — Filho, você viu que a camisa quase não se sujou; mas, olhe só para você. O mal que desejamos aos outros é como o que lhe aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com nossos pensamentos, a borra, os resíduos e a fuligem ficam sempre em nós mesmos. Lembre-se: cuidado com seus pensamentos; eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras; elas se transformam em ações. Cuidado com suas ações; elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus hábitos; eles moldam o seu caráter. Cuidado com seu caráter; ele controla o seu destino. Um grande abraço e até a próxima! Marcos Leite é jornalista, publicitário e coordenador do programa “Espaço Jovem”, veiculado pela Rádio Rio de Janeiro (1400 KHz AM / www.radioriodejaneiro.am.br) Certas Palavras METEMPSICOSE – do grego metempsykhosis; meta = mudança e empsykhos = alma. Significa a alma que muda para outro corpo. Fonte: COSTA MARTINS, Luís da. Verbum palavra. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Gayathri, 2011. p. 115. ICEB – Tels.: 0XX(21) 2224-1060 / 2224-0736 – [email protected] / [email protected] r e v i s t a abril 2011 / Cultura Espírita – 17 Yvon Luz ACONTECEU REABERTURA DO ANO LETIVO DO ICEB Com grande brilhantismo, no dia 12 de março, o Instituto de Cultura Espírita do Brasil, reabriu seu ano de atividades regulares. Retornamos ao nosso antigo endereço, na Rua dos Inválidos 182, no Centro do Rio de Janeiro. Nunca será demais registrar a imensa gratidão do ICEB aos irmãos do Conselho Estadual Espírita do Rio de Janeiro que, generosamente, cedem suas instalações não só para as aulas regulares do Instituto mas também as salas para atividades de administração. Foi um evento memorável. Magnífica a palestra de Ivone Ghiggino sobre O Livro dos Médiuns, nossa homenagem aos 150 anos dessa obra fundamental da Codificação. Luís da Costa Martins lançou seu último livro VERBUM PALAVRA, na tarde de autógrafos que mobilizou muitos dos seus admiradores. Belíssimas as contribuições de BETO, nosso querido e tradicional tecladista e de Anatasha Meckena, cantora, compositora, arranjadora de brilho invulgar. A palestra de Ivone pode ser encontrada no Portal do ICEB. DIFERENTES GERAÇÕES Interessante matéria foi publicada em www.twitter.com/revcobertura sobre conflito de gerações. Dizem os pesquisadores que a geração nascida entre 1946 e 1964 tinha como característica a permanência, por décadas, na mesma empresa; focada nos valores pessoais e no futuro, agiam por consenso. A geração X, dos nascidos entre 1965 e 1977, buscou qualidade de vida, tornando o mundo mais humano. Foi a geração que presenciou a chegada da internet e a busca do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Já a geração Y, dos nascidos entre 1978 e 1998, tem acesso à alta tecnologia, é extremamente conectada e utiliza plenamente a comunicação de massa, trabalhando em rede e fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. A geração Z, dos nascidos entre 1993 e 2010 é privilegiada, recebeu muita coisa pronta, com a interatividade digital desde a infância. São empreendedores, quebram paradigmas, têm senso crítico muito aguçado. Não é de surpreender se, um dia, uma criança de cinco anos bater à porta de uma empresa, pedindo emprego... O mundo caminha cada vez mais rápido. É o caso de perguntar: qual o papel do Espiritismo neste cenário desafiador do tempo novo, quando os espíritos dizem que já começou a Era da Regeneração? r e v i s t a Cultura Espírita – 18 / abril 2011