comparação da toxicidade de diferentes espécies animais

Transcrição

comparação da toxicidade de diferentes espécies animais
COMPARAÇÃO DA TOXICIDADE DE DIFERENTES ESPÉCIES ANIMAIS
UTILIZANDO ARTEMIA SALINA COMO REFERÊNCIA
Aline Flores da Silva
(2)
, Márcio Tavares Costa
Luciana de Mello Viana
(1)
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(5)
(3)
(1)
, Clarissa Del Rosso Barbosa
, Vanderlei Folmer
(4)
(6)
,
Trabalho executado com recursos CAPS.
Graduanda pelo curso de Lic. Ciências da Natureza; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS; [email protected].
Pós-graduando pelo PPG Bioquímica; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
Técnica de Laboratório - área Biologia; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
Graduanda pelo curso de Fisioterapia; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
Professor Orientador; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
RESUMO: O Bioma Pampa abriga diversas espécies com toxinas potentes, como a serpente Philodryas patagoniensis.
Embora tenha uma ampla distribuição no RS, as investigações voltam-se para ofídios de importância médica. Assim,
este trabalho visa determinar a DL 50 da peçonha de P. patagoniensis para Artemia salina. Bem como, comparar os
dados obtidos com outros trabalhos já realizados com o mesmo protocolo. Para tanto, realizou-se a captura,
identificação e ordenha da P. patagoniensis. Da peçonha coletada dosou-se proteínas por meio de espectrofotometria e
estabeleceu-se a DL50 com auxílio de um gráfico de regressão. Um levantamento bibliográfico possibilitou a comparação
da toxicidade entre diferentes espécies e a P. patagoniensis. Resultados apontam que a peçonha da serpente em
questão apresenta uma concentração proteica de 500 mil ppm e uma DL 50 de 1.192,77 ppm para A. salina. Cinco
trabalhos envolvendo seis espécies foram encontrados. Ao compararmos os mesmos, constatamos que o escorpião
Scorpionida Butulinus apresenta veneno mais concentrado em proteínas e a peçonha da serpente marinha Enhydrina
schistosa é a mais tóxica. De modo geral, houve dificuldade em encontrar estudos relacionados. Contudo, espera-se um
crescimento na área. E, portanto, o desenvolvimento de conhecimentos significativos para a sociedade.
Palavras-Chave: patagoniensis, peçonha, veneno, toxina, artêmia
INTRODUÇÃO
A utilização da Artemia salina como modelo animal para avaliação toxicológica tem se destacado
neste campo. O micro-crustáceo distingue-se na área pela facilidade no manuseio, baixo custo e sua
visualização a olho nu. Diversas publicações enfatizam a A. salina como modelo citotoxicológico. Muito
aproveitada para extratos vegetais, poucos compostos de origem animal envolvem as artêmias em seus
parâmetros tóxicos. Animais peçonhentos poderiam ter nestes micro-crustáceos um padrão de comparação.
No Bioma Pampa gaúcho existem diversas espécies com potentes toxinas. Entre elas está a
serpente Dipsadidae Philodryas patagoniensis, conhecida popularmente como papa-pinto. Apresenta dentição
opistóglifa e glândula Duvernoy, responsável pela produção de peçonha, a qual tem suas atividades
biológicas semelhantes às peçonhas do gênero Bothrops. Constitui-se de aproximadamente 90% de proteína,
em especial metaloproteinases (ROCHA; FURTADO, 2007).
Embora a papa-pinto tenha uma ampla distribuição no Rio Grande do Sul, as investigações voltamse para ofídios de importância médica. Assim, o trabalho visa determinar a dose letal mediana da peçonha
de P. patagoniensis sobre náuplius de A. salina. Bem como, comparar os dados obtidos neste trabalho
com outros que realizaram o mesmo protocolo utilizando venenos de animais diversos.
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
METODOLOGIA
Os procedimentos contam com a autorização da CEUA por meio do protocolo 031/2014. Assim
como do MMA / ICMBio pelo processo número 45691-1.
a. Captura, Identificação da espécie e ordenha
Realizou-se a captura de cinco espécimes de P. patagoniensis por meio de contenção física. A
identificação dos indivíduos se deu por comparação com bibliografias especializadas. E as ordenhas destes
espécimes foram realizadas mensalmente de acordo com o método de Ferlan et al. (1983).
b. Contagem de proteínas e dose letal mediana (DL50)
A dosagem de proteínas segue o protocolo espectrofotométrico de Bradford (1976), utilizando-se
albumina bovina para a curva de calibração. E para estabelecer a DL 50 utilizou-se o método de Meyer et
al. (1982). Neste último, foram realizados três ensaios em triplicata com diferentes concentrações - 1: 100;
1: 200; 1: 500; 1: 1000 e 1: 2000. Os dados foram utilizados na montagem de um gráfico de regressão.
c.
Levantamento bibliográfico para comparações
O levantamento bibliográfico verificou a existência de trabalhos que realizaram ensaios com venenos
animais baseados no protocolo de Meyer et al. (1982) para DL50. Na busca utilizou-se descritores que
sugerissem o protocolo nas plataformas Periódicos Capes, PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde; além do
Google Acadêmico. As medidas de concentrações foram convertidas em partes por milhão (ppm).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análises da mortalidade dos náuplius das artêmias após 24 horas de incubação resultaram em uma
curva logarítmica com coeficiente de determinação de 97,2% e que permitiu estipular a DL50 da peçonha
de P. patagoniensis em 1.192,77 ppm. Sua peçonha apresentou uma concentração proteica de 500 mil
ppm.
O levantamento
bibliográfico,
até
o
presente
momento,
encontrou
cinco
trabalhos publicados
envolvendo toxinas de animais, os quais passaram pelo protocolo de Meyer et al. (1982) para determinar
sua DL50. Envolvem a serpente marinha Enhydrina schistosa (DAMOTHARAN et al., 2015), o escorpião
Scorpionida Butulinus (NÚÑEZ, 2011), o gastrópode Conus Betulinus (SADHASIVAM et al., 2014), o bagre
Arius Maculatus (ABIRAMI et al., 2014) e as anêmonas do mar Stichodactyla mertensii e S. haddoni
(VEERURAJ et al., 2014). Assim, comparou-se a toxicidade entre estas espécies e a papa-pinto.
Os dados pesquisados não mostram correlação entre a concentração de proteínas sintetizadas pelos
animais e o grau de sua toxicidade. Ao ranquear os animais em ordem decrescente, temos: 1ª) a peçonha
da serpente marinha como a mais tóxica, seguida pelo; 2º) gastrópode; 3ª) anêmona S. mertensii; 4º)
escorpião; 5ª) anêmona S. haddoni; 6ª) papa-pinto; e 7ª) bagre. Quando consideramos a concentração
proteica de seus extratos, verificamos no escorpião a peçonha mais concentrada, seguido pelo bagre, papapinto, serpente marinha, anêmonas S. mertensii e S. haddoni, e o gastrópode. Os trabalhos encontrados
usaram o método de Lowry et al. (1951) na dosagem proteica, esse baseou-se em Bradford (1976).
Com limitações, identifica-se uma tendência dos venenos que se destacam por possuírem agentes
neurotóxicos como aqueles com uma toxicidade maior. Enquanto que, compostos basicamente constituídos
por agentes proteolíticos, hemolíticos, entre outros, apresentam uma toxicidade menor. Destaca-se que a
incubação, no trabalho do escorpião, perdurou por 48 horas, enquanto que no restante dos casos a
incubação foi de 24 horas. Assim, o escorpião não estaria na quarta colocação entre os mais tóxicos, mas
com uma toxicidade mais próximo ao bagre.
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O protocolo base para esta pesquisa se mostrou eficaz, não apenas no estabelecimento da DL 50
para P. patagoniensis, mas também ao possibilitar a comparação com outros estudos de forma fidedigna.
CONCLUSÕES
A diversidade de toxinas e venenos são consequência da biodiversidade e da especificidade
existente. Deste modo, diferentes compostos terão toxicidades distintas. Assim, nos estudos abordados, o
modelo com artêmias foi uma referência importante. Um parâmetro padrão básico que colocou a prova os
materiais oriundos dos mais diversos animais e, fez-se possível o confronto entre os mesmos.
Ao procurar compostos relacionados às artêmias é que percebemos a precariedade de estudos
publicados. Contudo, com a riqueza presente neste campo, deve-se esperar um crescimento de pesquisas
nesta área. E assim, paralelamente, o desenvolvimento de conhecimentos significativos para a sociedade.
REFERÊNCIAS
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Neurotoxin From Sea Anemone (Stichodactyla mertensii, S. haddoni). The Internet Journal of Toxicology, 5, 1-5, 2014.
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