difundindo os desafios hídricos

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difundindo os desafios hídricos
ANOS
DIFUNDINDO OS DESAFIOS HÍDRICOS
FAZENDO UM NOVO DECÊNIO DE SENSIBILIZAÇÃO
ISSN 1659-2697
5
ANO 6 | 2010 | N°10
5
ISSN 1659-2697
ANO 6 | 2010 | N°10
ANO 6 | 2010 | N°10
ANOS
DIFUNDINDO OS DESAFIOS HÍDRICOS
FAZENDO UM NOVO DECÊNIO DE SENSIBILIZAÇÃO
CONSELHO EDITORIAL
Beneditto Braga | Vice presidente do Conselho
Mundial de Água (WWC). Professor Titular da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Brasil
Maureen Ballestero | Vice-presidente da Assembléia
Legislativa da Costa Rica. Presidente da Global Water
Partnership (GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo
da GWP América Central.
Claudio Osorio | Assessor Regional em Redução de
Desastres, Iniciativa Água e Saneamento UNICEF TACRO
Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água,
Expo Zaragoza 2008
DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos
PRODUÇÃO EDITORIAL:
Satori Editorial | www.satoreditorial.com
EDITOR CHEFE | Boris Ramírez
EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo
DESIGN | Gerson Tung
REVISÃO | María del Mar Gómez
FOTO DA CAPA | Carmen Abdo
COLABORADORES
Rajendra Pachauri, Presidente da Cúpula
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas,
Prêmio Nobel da Paz 2007
Achim Steiner, Subsecretário e Diretor Executivo
do PNUMA
Mabel de Guillem, Diretora Executiva do Fórum Andino
de PVC
José Zaglul, Reitor da Universidade EARTH. Costa Rica
Luciana Antonello Xavier, Jornalista.
ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO |
Luis Alonso Ramírez
TRADUÇÃO | Elisa Homem de Mello e Candeias
FALE CONOSCO | [email protected]
Uma publicação promovida
pela Mexichem - Amanco
Agradecemos imensamente a todas as pessoas que de alguma forma ou de outra participaram e apoiaram a Revista Aqua Vitae durante estes 5 anos de trajetória. De maneira especial, agradecemos a Juan Pablo del Valle, Marise Barroso, Maureen Ballestero, Benedito Braga,
Claudio Osorio, Eduardo Mestre, Max Campos, Roberto Salas, Miguel Martí, Nidia Burgos,
Rocío Ballestero, Edgar Mata, Hosana Barquero, Erick Valdelomar, Marietta Rodríguez e a
todos os nossos leitores e fontes de informação na América Latina e no mundo.
2 AQUA VITAE
CONTEÚDO
16
06
CAPA
16
ECONOMIA
22
LEGISLAÇÃO
30
TECNOLOGIA
39
INTERNACIONAL
42
CULTURA
5 ANOS DIVULGANDO OS DESAFIOS HÍDRICOS
NA AMÉRICA LATINA
A Aqua Vitae estréia uma nova década com o compromisso de continuar sendo uma tribuna jornalística
atrelada a uma visão latino-americana, multisetorial e propositiva. Em homenagem a estes 5 anos,
fizemos um apanhado histórico de todas as publicações anteriores, oferecendo aos leitores um resumo
da sólida base de conteúdos, fotografias e pensamento atualizado na qual a Aqua Vitae se tornou.
RUMO A UMA ECONOMIA VERDE
Uma nova visão que promova o uso de energias limpas estimula a futura agenda econômica mundial.
Na AL, o destaque vai para os esforços realizados no Brasil e no México, segundo Achim Steiner,
Subsecretário Geral e Diretor Executivo do PNUMA.
LEI CHILENA GARANTE ÁGUA AOS SETORES MAIS VULNERÁVEIS
Uma das grandes virtudes desta iniciativa está na ampla participação de sua gestão. A normativa define claramente
os grupos que devem ter acesso garantido à água. Entrevista com Rodrigo Weisner, Diretor de Água do Chile.
SOLUÇÕES REGIONAIS INOVADORAS
"Flauta" é um novo dispositivo de pré-filtração para pequenas estações de tratamento de água, de fácil
instalação em localidades afastadas. O invento tem selo colombiano.
O ÊXITO ECONÔMICO DEVE IR ALÉM DO PIB
A riqueza de um país engloba vários elementos: o capital financeiro, o capital humano e o natural, onde a água
é essencial. Entrevista com Jean-Paul Fitoussi, presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas.
SELO PARA A ÁGUA
A água já não corre apenas nos rios, lençóis freáticos e outros ecossistemas. Graças ao Correio
Argentino, agora flui num selo que viaja pelo mundo.
39
PERSPECTIVA 05
CASOS 19
AMBIENTE 24
BREVES DO MUNDO 27
OPINIÃO 29
INICIATIVAS 32
39
ALTO PERFIL 34
CALENDÁRIO 46
42
PERSPECTIVA
4 AQUA VITAE
PERSPECTIVA
onstância. Transformação. Renovação. Estes são os três
pilares em que se baseia a Aqua Vitae, um projeto editorial audacioso que, há cinco anos, invade o cenário
latino-americano a fim de manter a construção do conhecimento, da reflexão e de propostas em relação aos temas hídricos e de saneamento.
C
Ao iniciarmos um novo decênio, com o simbolismo e os desafios
que este implica, olhamos com alegria para o passado, seguimos
estabelecendo as bases do presente e, entusiasmados, esperamos pelo futuro. O início do ano de 2010 é o marco ideal para
reforçar a inspiração necessária para enfrentar as mudanças e
comprometer-se com a tarefa humana de evoluir.
A Aqua Vitae é sinônimo de constância, já que desde 2005 está
comprometida em ser fonte de conteúdo informativo e fotográfico capaz de ajudar os representantes de diversos setores a encontrarem espaço numa tribuna aberta, livre e plural em
pensamento para manter a consolidação de um processo de sensibilização. Somos gratos a Amanco e ao Grupo Empresarial
Kaluz por entenderem esta constância e promoverem esta publicação, a qual, desde sua origem, trilha os caminhos de uma
uma visão multisetorial, propositiva e latino-americana que
abranja variedade de perspectivas.
A Aqua Vitae é sinônimo de transformação: assim como a água,
é um elemento que revitaliza e tem o enorme potencial natural,
econômico, sócio-cultural e educativo de construir pensamentos,
unificar esforços e enfrentar os desafios de um tema transcendental, a partir da perspectiva de um ente capaz de transformar o
mundo. Neste caminho, temos contado com o ciceroneamento
oportuno de personalidades mundiais no tema, como Beneditto
Braga, Maureen Ballestero, Claudio Osorio e Eduardo Mestre, os
quais fazem parte do Conselho Editorial destas 10 edições.
Queremos aproveitar para relembrar as edições anteriores, sobre
as quais nossa publicação revelou-se uma das mais atuais bases
de dados e informações a disposição de todos aqueles que, na
região e no mundo, estejam implicados neste processo de evolução humana em direção ao conhecimento e à sensibilização
do tema hídrico.
Iniciar um decênio é também o momento exato para retomar o fôlego e continuar explorando novas formas de ver o mundo e de interagir como seres humanos decididos a se tornar moldadores de
nossas vidas. Sendo assim, como marco desta comemoração, estamos organizando o lançamento do site www.aquavitae.com, disponibilizando a base de dados para todos, sem fronteiras.
Continuamos com a tarefa de traçar mudanças, seguindo os ensinamentos deixados pelo mestre Leonardo da Vinci em sua luta
constante, transformadora e renovadora do inacabado.
YAZMÍN TREJOS
Diretora - Aqua Vitae
AQUA VITAE 5
Propositiva. Multisetorial. Latino-Americana.
A Aqua Vitae é uma tribuna aberta e responsável, cujo objetivo é
conscientizar e sensibilizar sobre os temas Hídricos e de Saneamento
história começa com paixão, planejamento e compromisso. Assim foi o início da Aqua Vitae… uma inspiração nutrida pela força da convicção.
A
O caminho já estava escrito: tornar-se um meio de comunicação cujos eixos fundamentais fossem fixados na abertura
e na pluralidade, do ponto de vista multisetorial, propositivo e latino-americano, para que pudéssemos divulgar os
enormes desafios dos assuntos relacionados à água e ao saneamento básico.
Esses desafios também eram tangíveis. Difundir conhecimentos, experiências, aportes, conquistas. Combinar práticas, idéias, inovações. Compartilhar ações, habilidades,
aprendizados. Construir em conjunto com todos os setores
sociais da região a história sobre os temas hídricos e de saneamento.
A Aqua Vitae cresce porque consegue entender, convencer
e aglutinar muitas pessoas que vivem a água como sendo
6 AQUA VITAE
um protagonista fundamental na relação ambiental, econômica, social, cultural e educativa do ser humano. Ao longo
de cinco anos, a revista reúne o melhor do pensamento e
da ação de pessoas de toda a América Latina e do mundo,
pessoas que contribuem permanentemente para a busca da
consciência sobre o tema água.
Enquanto exercício jornalístico, a Aqua Vitae tem se dedicado a informar complexos conteúdos técnicos sobre a
água: artigos de qualidade com enfoques inovadores e alternativos, que se somam a imagens capazes de romper com
dogmas e teorias para mostrar a água de maneira moderna,
refrescante, aceitando o desafio de proporcionar ao leitor
uma experiência nova.
Em homenagem a estes cinco anos ininterruptos, nos permitimos fazer um apanhado geral destas publicações, oferecendo a você um resumo desta sólida base de conteúdos,
fotografias e pensamento atualizado, a qual a Revista Aqua
Vitae se tornou.
ÁGUA À DERIVA? APESAR DE
SUA RIQUEZA HÍDRICA, A
AMÉRICA LATINA POSSUI
PROBLEMAS DE QUANTIDADE
E QUALIDADE DE ÁGUA.
• A América Latina é uma das regiões mais ricas em
recursos hídricos do mundo. Quadro resumo, com
indicadores econômicos e de desenvolvimento hídrico
e de saneamento, da radiografia dos países da região
latino-americana.
• O marco legal do tema na região, que destaca os
modelos de gestão mistas Estado/Comunidade,
enfrenta processos de revisão. Cases sobre Bolívia,
Peru, Costa Rica e Uruguai.
• O CIDECALLI do México desenvolve programas para
aproveitar água pluvial nas irrigações e no consumo.
• Conquistas do projeto “Comunidades agrícolas
sustentáveis ao alcance do mundo globalizado”,
baseado nos conceitos de mini irrigação de
baixo custo.
• Empresas Públicas Municipais de Barranquilla
(Colômbia): case sobre participação privada em
prestação de serviços públicos de rede de esgoto e
saneamento básico.
• Desafios da ONU frente ao tema hídrico. Principais
desafios em matéria de cooperação técnica.
AQUA VITAE 1 / 2005
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Asit K. Biswas, Diretor do Terceiro
Mundo para o Centro de Administração Hídrica, sobre o
cumprimento dos Objetivos do Milênio (ODM) ligados à
água e saneamento.
• Opinião de Jaime Echeverría, Presidente de Economia
Ambiental sobre investimento em infra-estrutura e
tratamento de águas.
AQUA VITAE 7
INUNDAÇÕES: ALERTA PARA
O DESENVOLVIMENTO
• Impactos nos recursos hídricos da América Latina
por conta dos efeitos devastadores de inundações
e tormentas.
• Desafios regionais devido ao déficit em infra-estrutura
de tratamento de águas residuais.
• Case da América Central sobre processos de
participação e diálogo entre cidadãos e governantes
para a formulação de leis hídricas.
• Valor econômico da água. Pontos de vista dos
diferentes setores sociais.
• México promove sistemas de irrigação para pequenos
produtores agropecuários.
• O Projeto Yachan, no Peru, permite que famílias
desenvolvam e vendam produtos graças aos sistemas
de irrigação.
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Loïc Fauchon, Presidente do Conselho
Mundial da Água, sobre os desafios da administração
hídrica na América Latina.
• Reportagem sobre impactos hídricos após um desastre
natural, com Claudio Osorio, Assessor Regional da
Iniciativa OPS/OMS-Unicef para diminuição dos
desastres ligados aos serviços de água e saneamento.
• Artigo de Grethel Aguilar, Diretora da União Mundial
para a Natureza (UICN) para a Meso-América, sobre a
legislação da água e a participação social.
• Artigo de Zvia Leibler-Danon, Oficial de
Desenvolvimento e Cooperação Internacional de
CATHALAC, sobre tecnologias via satélite para manejo
hídrico e controle de desastres.
• Opinião do Diretor da Agência Nacional de Águas (ANA)
do Brasil, Benedito Braga, sobre a água e a energia
no país.
8 AQUA VITAE
AQUA VITAE 2 / 2006
FINANCIAMENTO DOS SERVIÇOS
DE ÁGUA E SANEAMENTO
• Condições e dificuldades para a participação de
empresas privadas em serviços hídricos. Projeto
Prinwass, da Universidade de Oxford.
• Cases de sucesso em Monterrey (México) e em
Puerto Cortés (Honduras) demonstram como ações
propositivas multisetoriais podem melhorar os serviços
de saneamento e abastecimento.
• Conclusões, conquistas e compromissos do IV Fórum
Mundial da Água 2006, realizado no México.
• Governabilidade e limitações do uso do recurso hídrico
na região.
• Matéria sobre como melhorar os serviços de
abastecimento hídrico em regiões de poucos recursos.
• Critérios técnicos e eficiência na irrigação aumentam
a eficiência do uso da água.
AQUA VITAE 3 / 2006
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Abel Mejía, Gerente da Unidade de Meio
Ambiente do Banco Mundial para AL, sobre modelos
financeiros de investimento em água e saneamento.
• Artigos de Andrei Jouralev - Oficial de Assuntos
Econômicos da Comissão Econômica para AL e Caribe
(CEPAL) - e de Miguel Solanes, Assessor Regional em
Direitos Hídricos e Regulamentação de Serviços,
sobre a governabilidade do setor na região.
• Artigos de Helvecio Mattana, Antonio Guerra e Omar
Cruz Rocha – membros da Associação Brasileira de
Irrigação e Drenagem, sobre a eficiência no uso da
água e na irrigação.
• Reportagem de Gordon Mc Granahan. Diretor do
Programa de Assentamentos Humanos do International
Institute for Environment Development fala sobre as
controvérsias entre prestadores de serviços de
saneamento básico, tanto no setor público
quanto privado.
• Opinião de Maureen Ballestero - Presidente da Global
Water Partnership (GWP) para a Costa Rica e membro
do Comitê Diretivo da GWP para a América Central –
sobre a definição e os usos dos leitos de rios.
AQUA VITAE 9
A ÁGUA NOS TRATADOS
DE LIVRE COMÉRCIO
• Tratados de livre comércio e sua relação com o
tema hídrico. Exemplos dos tratados do Peru,
Colômbia e México.
• Diante da escassez de água nas zonas urbanas, a
reciclagem hídrica se torna uma alternativa. O Brasil
avança nesta prática.
• O pagamento por serviços ambientais atinge seu ápice
na região latino-americana. Cases: México, Costa Rica
e Argentina.
• Aulas de ensino sustentável e holístico são
incorporadas nos programas educativos.
• América Central estabelece o Primeiro Convênio
sobre Água, na região.
• No combate às diarréias, produtos para desinfetar,
purificar e tornar a água potável.
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Abel Matami, Primeiro Ministro da Água
da Bolívia nomeado na AL, sobre a unificação de
políticas hídricas e a declaração da água como um
direito humano.
• Artigo de Jorge Cabrera – advogado especialista em
assuntos ambientais – sobre os princípios de
uma nova cultura hídrica na América Central.
• Opinião de Gian Carlo Delgado. O pesquisador da
Universidade Nacional Autônoma do México fala sobre
a água como sendo um tema de segurança nacional.
10 AQUA VITAE
AQUA VITAE 4 / 2007
DESAFIOS LIGADOS À
TRANSPARÊNCIA DO SETOR HÍDRICO
• A corrupção no setor hídrico da América Latina. Análise
especial por parte de Transparência Internacional,
Berlim (Alemanha).
• Tecnologia básica de saneamento ecológico (Ecosan):
o caso de San Juan Tlacotenco (México).
• O Sistema de Arrecifes Meso-americano é um projeto
que visa melhorar o ecossistema hídrico de quatro
países: Belize, Guatemala, Honduras e México.
• Estados Unidos e México enfrentam aspectos legais,
populacionais e produtivos em suas fronteiras com o
Río Grande.
• O Plano de Segurança Hídrica da OMS melhora a
qualidade hídrica da região.
• Na AL e no Caribe, 15% da superfície cultivada é
irrigada com água extraída de lençóis freáticos.
AQUA VITAE 5 / 2008
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Roberto Dobles, Ex-ministro do
Meio Ambiente da Costa Rica, sobre a relação dos
recursos hídricos com as políticas integrais de
sustentabilidade ambiental.
• Reportagem de Lloyd Timberlake, Diretor do Escritório
norte-americano do Conselho Mundial Empresarial
para o Desenvolvimento Sustentável, sobre aportes
empresariais no uso da água.
• Artigo sobre os mecanismos de luta contra as más
práticas do setor hídrico, escrito por Donal O'Leary,
Consultor de Transparência Internacional.
• Opinião dada por Eric Dickson - Especialista em Água
e Saneamento pelo Banco Mundial – sobre as
perspectivas da corrupção no setor hídrico.
AQUA VITAE 11
EXPO ZARAGOZA 2008. O MAIOR
EVENTO DA ÁGUA NO PLANETA
• Resultados, inovação, desafios e compromissos da
Expo Zaragoza 2008. O evento reuniu mais de 2 mil
especialistas, durante 93 dias.
• Portfólio de grandes projetos relacionados à água na
América Latina, capazes de combinar inovação,
cooperação e ações entre os países.
• Compromissos dos Dirigentes da Conferência
Ibero-Americana da Água em relação aos Objetivos do
Milênio (ODM) ligados à água e saneamento.
• Componentes dos mercados hídricos: ambientais,
legais, tarifários e administrativos.
• Diretiva do Marco da Água na Europa: uma legislação
referente ao tema água.
• Tecnologias avançadas: dessalinização, regeneração
de membranas e biotecnologias.
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com a Prêmio Nobel da Paz de 1992,
Rigoberta Menchú, sobre a visão maia da relação entre
água e natureza.
• Entrevista sobre os impactos nos sistemas hídricos
causados pelo aquecimento global feita com Rajendra
Pachaurí, Prêmio Nobel da Paz de 2007 e Presidente da
Cúpula Intergovernamental sobre Mudança Climática.
• Entrevista com Enrique Iglesias, Secretário Geral
Ibero-Americano, sobre os mecanismos de cooperação
no setor hídrico para a região.
• Reportagem de Luis Alberto Moreno, Presidente do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
sobre os desafios latino-americanos ligados à água e
saneamento.
• Entrevista com Marina Silva, Senadora e Ex-Ministra do
Meio Ambiente do Brasil, sobre a defesa da Amazônia
como um recurso hídrico brasileiro.
12 AQUA VITAE
AQUA VITAE 6 / 2008
AMÉRICA LATINA NO
CAMINHO DO SANEAMENTO
• Informe especial sobre resultados, conclusões e
compromissos da Primeira Conferência
Latino-Americana de Saneamento (LATINOSAN).
• Dados, estatísticas e recomendações do estudo
“Saneamento para o desenvolvimento. Como estamos
nos 21 países da América Latina e do Caribe?”
• Tecnologias de dessalinização da água do mar para
consumo humano e outros usos. Cases: México, Chile,
Peru e Brasil.
• Relação das áreas úmidas com o ciclo hídrico.
• A Declaração de Cali: instrumentos para legislar e
regulamentar o setor de saneamento básico.
AQUA VITAE 7 / 2009
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Ger Bergkamp, Diretor do Conselho
Mundial da Água, sobre a participação da América
Latina no V Fórum Mundial da Água, realizado em
Istambul (Turquia).
• Edgar Quiroga Rubiano, membro do Instituto de
Pesquisa e Desenvolvimento em Abastecimento de
Água, Saneamento Ambiental e Conservação da
Colômbia, escreve sobre pesquisas, tecnologias e
metodologias para melhorar o saneamento.
• Opinião de Patricio Cabrera Haro, Diretor de Projetos
da Fundação Futuro Latino-Americano, sobre a
Crise Hídrica, como efeito de uma
governabilidade deficiente.
AQUA VITAE 13
ÁGUA E SANEAMENTO COMO
DIREITO HUMANO: O GRANDE
DILEMA A SER ANALISADO
• V Fórum Mundial da Água em Istambul (Turquia). Um
dilema pendente: declarar a água e o saneamento
básico como um direito humano fundamental
ou como necessidade básica para todos os
seres humanos.
• Sistema de Informação da Água Potável e Saneamento
em Veracruz (México): tecnologia para tomar decisões.
• Pegada hídrica: indicador que mede o volume de água
usada para produzir bens e serviços.
• Artistas voltam seus olhares para os recursos hídricos
como motivo de inspiração: projeto regional Río Infinito
e grupo Aterciopelados, da Colômbia.
• Nova Lei Hídrica do Peru.
• Impactos e soluções da crise econômica e financeira
no setor hídrico.
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Julia Marton-Lefévre, Diretora Geral da
União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN), sobre a proteção das florestas como forma de
melhorar a qualidade da água.
• Entrevista com Miguel Angel Gurría, Secretário da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), sobre os mecanismos para se
continuar investindo em água.
• Daniel Zimmer, Diretor Associado do Conselho Mundial
da Água, fala dos países que melhoram suas
legislações e constituições em prol da água.
• Opinião de Eduardo Bonilla Rivera, Coordenador do
Programa Água Jovem do Comitê Regional de Recursos
Hidráulicos do Istmo Centro-Americano, sobre a
participação juvenil na região em assuntos ligados
à água.
14 AQUA VITAE
AQUA VITAE 8 / 2009
EFICIÊNCIA NA AGRICULTURA:
CHAVE PARA A SEGURANÇA
ALIMENTÍCIA NO MUNDO
• Crise Alimentícia: impactos importantes e indicadores
econômicos sobre o efeito do clima e o stress hídrico
na crise alimentícia.
• Conquistas e utilizações do Fundo Espanhol da Água
e do Saneamento para a América Latina.
• México e Brasil promovem legislações a favor dos
recursos hídricos.
• Case San Jerónimo de León (Nicarágua): exemplo
multisetorial de melhoria no acesso à água potável.
• Cinema e água. Filmes e documentários que inspiram
e denunciam.
• Tecnologias hídricas com selo latino-americano:
“atrapanieblas”, filtros de areia, imãs.
AQUA VITAE 9 / 2009
PENSAMENTO DE LÍDERES DA ÁGUA
• Entrevista com Letitia Obeng, Presidente da Global
Water Partnership, sobre as ações globais e pontuais
realizadas para melhorar o acesso aos serviços de
saneamento básico.
• O Diretor da Water Assessment and Advisory Global
Network (WASA-GN), Carlos Fernández-Jáuregui, dá
sua opinião sobre a água como um direito humano.
AQUA VITAE 15
ECONOMIA
RUMO A UMA
ECONOMIA
VERDE
Por ACHIM STEINER
Subsecretário Geral e Diretor Executivo do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
UMA NOVA VISÃO QUE PROMOVA O USO DE ENERGIAS
LIMPAS ESTIMULA A FUTURA AGENDA ECONÔMICA
MUNDIAL, POTENCIALIZANDO ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS
E PROMOVENDO A PROTEÇÃO, PRESERVAÇÃO E O
JÁ ESTÃO NO CAMINHO. NA AL, OS DESTAQUES VÃO PARA
BRASIL E MÉXICO.
16 AQUA VITAE
Fotos: Carmen Abdo
MELHORAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS. VÁRIOS PAÍSES
m resposta a atual crise, o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), juntamente com renomados economistas, lançou em 2009 o Global Green New
Deal ou Iniciativa de Economia Verde, que deverá ser visto
pelos historiadores como uma grande idéia.
E
blicos e privados em importantes setores como transporte, hídrico,
energético e produtivo.
A economia deve ser entendida como um caminho para a sustentabilidade e ser ajustada para este fim. O informe sobre as “Perspectivas Econômicas” da Organização para a Cooperação do
Desenvolvimento Econômico (OCDE), indica que os principais problemas ambientais podem ser abordados com um custo menor que
1% do PIB mundial em 2030.
- Coréia: Com um investimento de US$36 bilhões, o equivalente
a 3% do PIB, o país tem um potencial para criação de 1 milhão de
empregos antes de 2012. Serão investidos US$ 7 bilhões em transporte público; US$5,8 bilhões em conservação de energias em aldeias e escolas; US$10 bilhões na restauração de rios; US$1,7
bilhão em restaurações de florestas e US$690 mil em gestão de recursos hídricos.
As expectativas gerais são de que os múltiplos benefícios que
podem ser obtidos mediante a harmonização entre fluxos financeiros, decisões governamentais e investimentos adequados darão
bons sinais ao mercado, os quais desencadearão investimentos pú-
‘‘
- China. Espera-se que a China repasse mais de US$ 586 bilhões,
ou seja, pouco mais de 8% de seu PIB, para um pacote de incentivo fiscal. São esperados investimentos de US$ 140 bilhões nas
malhas ferroviárias e US$ 17 bilhões em energias renováveis com
baixo impacto nos ecossistemas hídricos.
- Estados Unidos. Um total de US$787 bilhões poderia ser investido
na “ecologização” da economia norte-americana, soma que inclui
US$18 bilhões para projetos em água potável, controle de inundações e restauração ambiental; US$ 4,5 bilhões para construção de
edifícios de escritórios federais com energia mais eficiente; US$30
milhões para uma rede elétrica inteligente, tecnologia avançada de
baterias e outras medidas de eficiência energética; US$20 bilhões
em incentivos fiscais para as energias renováveis e para a eficiência
energética nos próximos 10 anos.
‘‘
Na Cúpula da Organização das Nações Unidas sobre a crise financeira, realizada em junho de 2009, os governos concordaram em
avançar em sentido a uma economia verde, como parte da futura
agenda econômica. A idéia consiste em gerar pacotes de incentivo
a investimentos aportados em tecnologias limpas e ecológicas do
meio-ambiente, que ajudem na melhoria da administração de
todos os recursos naturais vitais como água, florestas, ar e terra.
Estes projetos incluem desde energias renováveis até energias inteligentes, transporte e sistemas de agricultura sustentáveis. Com
estas iniciativas será possível melhorar o uso dos recursos naturais
e aumentar a geração de empregos.
E o que têm feito ou como têm atuado alguns governos? Eis aqui
alguns exemplos:
A economia deve ser entendida como um caminho para
a sustentabilidade e ser ajustada para este fim.
AQUA VITAE 17
ESTÍMULOS NECESSÁRIOS
Um informe da OCDE, feito durante a reunião ministerial em Paris,
expôs outros casos de estímulos aos investimentos verdes em vários países. Na Austrália, por exemplo, cerca de €$ 5 bilhões são
utilizados em projetos para busca de energias limpas e no Canadá,
os investimentos representam 0,3% de seu PIB e estão voltados
para busca de tecnologias e infra-estruturas verdes.
Segundo este estudo, cerca de 40% do pacote de incentivo aos investimentos ambientais, realizados na França, inclui desenvolvimento e renovação da malha ferroviária, bem como investimentos
nos leitos de rios e em programas energéticos nos prédios públicos. Na Espanha, estão sendo desenvolvidos projetos ligados a
captura de carbono, sistemas de silvicultura e novas tecnologias
em energia e clima, com investimentos que representam 0,13%
do PIB do país.
Iniciativas nas chamadas economias em desenvolvimento estão surgindo, impulsionadas em parte pelos mercados de carbono existentes e pela necessidade de lutar contra a mudança climática, de
manter a segurança energética e de oferecer acesso à energia.
Em 5 de junho - Dia Mundial do Meio Ambiente - de 2009, o presidente mexicano, Felipe Calderón, anunciou que o México está
adquirindo voluntariamente o compromisso de reduzir as emissões
de gases do efeito estufa em 50 milhões de toneladas de carbono
anuais, o que significa cerca de 8% das que produz. Anunciou
ainda que, com o financiamento adequado, haverá locais onde a
redução poderá chegar a cerca de 16%.
Um apanhado geral do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do
Protocolo de Kyoto, realizado pelo Centro Riseo, mostra que mais
de 4,2 mil projetos ao redor do mundo estão em andamento ou
em diversas fases de implementação. O Chile, por exemplo, tinha
apenas 5 projetos verdes em 2004, atualmente conta com mais de
60 registrados ou em trâmites. Na Colômbia, não havia nada há
quatro anos e hoje o país tem 36 projetos.
O mesmo ocorre em países emergentes como a República Democrática do Congo, Madagascar, Mauricio, Moçambique, Mali e Senegal. No Quênia, por exemplo, onde está localizada a sede central
do PNUMA, ficou estabelecido gerar mais de 1.000 MW de energia geotérmica.
Para 2012, estima-se que os países do mundo desenvolverão mais
de 8 mil projetos de energia limpa, a fim de continuar protegendo
o meio ambiente e os recursos fundamentais como a água.
BRASIL VERDE
O Brasil continua sendo o campeão da economia verde. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estão
desenvolvendo um estudo, financiado pela Inglaterra, para elevar o potencial dos empregos verdes em alguns setores. O primeiro setor será o da construção civil. O objetivo é contribuir
com um amplo projeto e com a provisão de insumos para a estratégia de formação profissional no governo.
O Brasil teve uma dessas grandes idéias e a colocou em prática, apesar da desconfiança de alguns países da comunidade
internacional. Essa grande idéia foi o etanol, que junto com a
água, são os responsáveis por 50% da geração de energia no
país. Hoje, 20% da frota de 26 milhões de veículos usam motores bi-flex. Em maio passado, 88,7% dos automóveis novos
vendidos no Brasil eram movidos a bicombustível.
Num passo importante para a renovação de energias limpas,
recentemente, foi anunciado um programa para gerar de 30
mil a 40 mil MW em energia eólica, com o apoio de incentivos
e mecanismos de mercado. Além disso, o país conta, hoje, com
uma superfície total de uma superfície total de 800 mil hectares dedicadas à produção da agricultura orgânica, que engloba
15 mil pequenos produtores (68% no sul do país).
Já o Fundo Amazônia, com ênfase na gestão sustentável das
florestas, água e terra também pode ser considerado uma
grade idéia. A convocatória do governo para a redução de 50%
do desmatamento florestal, na próxima década, pretende reduzir em torno de 700 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, a metade das emissões totais do país, o que
também significa um compromisso muito importante.
Fonte: Informe do 3º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento
Sustentável - Sustentável 2009. Realizado em São Paulo, Brasil.
18 AQUA VITAE
CASOS
GAVIÃO QUE CANTA PARA
A ÁGUA
Uma comunidade indígena, localizada na
cordilheira de Talamanca (Costa Rica)
harmoniza tradições, modernidade e esforços multisetoriais para desenvolver
um sistema de captação e distribuição de
água potável de uma nascente, localizada
em suas montanhas sagradas.
Por BORIS RAMÍREZ
Fotos: Luis Alonso Ramírez
AQUA VITAE 19
CARACTERÍSTICAS DA COMUNIDADE
SITUAÇÃO INICIAL
Gavilán Canta (que em espanhol quer dizer Gavião Canta) é uma
reserva indígena estabelecida em 1977 e localizada em Bratsi de
Talamanca, na província de Limón, a 231 quilômetros da cidade
de San José (Costa Rica). A reserva tem uma população de 565
pessoas, incluindo crianças e adultos, pertencentes aos grupos
cabécar e bribri. Talamanca é um dos lugares que apresenta uma
das maiores biodiversidades na região do Caribe, já que seu clima
vai desde o tropical úmido da costa, passando pela floresta inundada até as frias planícies desabitadas, formadas por glaciais da
Cordilheira de Talamanca.
A comunidade, dadas as distâncias e condições topográficas, utilizava as águas correntes de um rio vizinho, tanto para consumo
humano como para uso agrícola, sem infra-estrutura nem condições de higiene. O trabalho de transportar água era uma responsabilidade das mulheres de Gavilán Canta, o que fazia com
que elas perdessem parte de seu tempo executando a tarefa, em
condições desfavoráveis. O esforço, muitas vezes, provocava
danos musculares. “Solicitamos esta ajuda, já que não tínhamos
água potável, com conseqüentes aparecimentos de doenças, por
isso nos sentimos muito contentes pelo que recebemos”, comentou Enrique Reyes, dirigente da comunidade.
A atividade econômica de Gavilán Canta é basicamente agrícola
de subsistência, com destaque para a plantação de banana. Para
se chegar à comunidade é preciso caminhar 2 horas desde o povoado mais próximo, chamado Shiroles, localizado nos limites de
uma frondosa reserva de florestas e rios. A maioria da população
caminha a pé, mas existem estradas de acesso para carros com
tração 4x4.
“Enquanto organização social devemos ter em mente que nosso
papel é fundamental para se conseguir acordos que beneficiem
os setores da população que mais necessitam destes tipos de
alianças para melhorar suas condições de vida”, afirmou Iván Ramírez, do Rotari Club de Cartago
COMO FOI RESOLVIDO
Uma chamada telefônica para solicitar informações sobre a construção de tubulações propiciou uma aliança multisetorial entre a
comunidade de Gavilán Canta, o Rotari Club da cidade de Cartago
e a empresa privada Amanco Tubosistemas da Costa Rica. Os rotarianos, que trabalham nessa comunidade desde 2008, firmaram
um acordo para construir um sistema adequado de condução de
água; a comunidade formou um Comitê de Água, que fixou uma
cota mensal de US$ 1,69 para a manutenção do projeto; e a
Amanco colaborou com o desenho do sistema de condução de
Gavião Canta é um exemplo de que a comunidade, a iniciativa privada e as
instituições podem obter avanços no setor hídrico
20 AQUA VITAE
Margareth Fernández Solís, Presidente do Comitê da Água
água, além de dar um desconto para o Rotari Club na compra dos
tubos e conexões e as aulas de capacitação técnica, bem como a
supervisão da instalação do material para a comunidade indígena
de Gavilán Canta.
“Para a Amanco, este tipo de aliança é parte da filosofia empresarial, que esta comprometida com o desenvolvimento integral nos
países onde opera, já que está vinculada a ações que promovem o
desenvolvimento social e econômico”, afirmou Luis Alonso Ramírez, promotor deste projeto.
Foi desenvolvido um sistema de captação de água em uma nascente situada montanha adentro, a 4 quilômetros da comunidade.
Além disso, estão sendo construídos tanques de armazenamento
e uma linha de distribuição de água potável em duas etapas para
o desenvolvimento do projeto total. A segunda etapa, que corresponde à construção dos tanques, deverá ser iniciada ainda no primeiro trimestre de 2010.
RESULTADOS
A construção deste sistema de armazenamento e distribuição
de água deixa importantes conquistas e ensinamentos:
- Estabelecimento de uma ação multisetorial que vincula comunidades, organizações e empresa privada a resultados eficientes.
- Desenvolvimento de um estudo técnico que, com informações
obtidas por meio de GPS, permitiu o desenho do sistema para
a condução de água, verificando-se o perfil hidráulico (estudo
para garantir que a água possa chegar desde a nascente até o
tanque e deste até as casas).
- Instalação de um tanque de 22 metros cúbicos para captação de
água da nascente, com previsão para uma bateria de mais quatro
tanques ainda neste ano, graças ao apoio da Fundação Kaluz.
- O sistema de tratamento hídrico garante a qualidade da água
para a população.
- A ampliação do aqueduto, mediante a instalação de quatro
tanques adicionais de armazenamento hídrico, garantirá uma
sobrevida útil de 20 anos ao mesmo .
- Capacitação técnica oferecida à comunidade indígena para a
instalação e manutenção da tubulação.
- Consolidação de um Comitê Hídrico para administrar as soluções de acesso à água. Numa primeira instância, deverá ser levado em conta 30 famílias para estender-se, em seguida, a um
número maior de moradores.
GANHAR - GANHAR
ESTE TIPO DE ALIANçA AJUDA A RESOLVER DESAFIOS COM OS QUAIS
AS COMUNIDADES SE DEPARAM EM RELAçãO AOS TEMAS HíDRICOS:
- Facilitar a atividade das mulheres, eliminando grandes esforços físicos que vêm sendo realizados para o abastecimento
de água.
- Assegurar o tratamento hídrico e incidir na qualidade de vida e saúde das pessoas.
- Promover, com exemplos, a participação multisetorial de comunidades, organizações e empresas privadas.
AQUA VITAE 21
LEGISLAÇÃO
LEI GARANTE ÁGUA A
SETORES VULNERÁVEIS
Uma das grandes virtudes desta iniciativa legal consiste em sua
gestão, caracterizada pela ampla participação de organizações
rurais de todo o país, bem como de grupos agrícolas e sociais
que tinham de ser fortalecidos.
Chile volta a provar que é possível
ordenar, regulamentar e garantir
o uso dos recursos hídricos com
base em legislações que, ajustadas às necessidades e à realidade, podem
oferecer respostas assertivas.
O
É nisto que consiste a nova normativa,
aprovada pela Câmara dos Deputados no
final de 2009. A lei restringe a outorga
de direitos hídricos (autorizações legais
para uso e extração de água para o setor
privado), privilegiando comunidades indígenas, sistemas de água potável rural
e pequenos camponeses e agricultores
22 AQUA VITAE
entre as regiões de Arica e Parinacota e
O’Higgins.
Esta nova lei vem corrigir o problema suscitado na raiz das modificações do Código de Águas, aprovadas em 2005, cujo
artigo transitório autorizava à Direção
Geral de Águas do Ministério de Obras
Públicas constituir direitos de aproveitamento permanente sobre águas subterrâneas, num volume de até 2 litros por
segundo entre as regiões de Arica e Parinacota e Metropolitana; e até 4 litros por
segundo no resto das regiões, sobre captações que houvessem sido construídas
Por BORIS RAMÍREZ
Fotos: Comisión Nacional de Riego, Chile
antes de 16 de junho de 2006.
As autoridades chilenas esperam que a
nova normativa impeça um desastre,já
que a lei de 2005 implicaria outorgar uma
grande quantidade de direitos hídricos em
regiões nas quais a água faltasse ou fosse
escassa, agravando a situação dos lençóis
freáticos desde Arica até O'Higgins.
O espírito da lei garante que grupos vulneráveis como agricultores, camponeses,
indígenas e os aquedutos rurais possam
ter assegurados seu acesso à água também para usos domésticos e produtivos.
RECONHECER DIFERENÇAS
Rodrigo Weisner, Diretor Hídrico do Chile, ampliou
os critérios desta lei em entrevista a Aqua Vitae.
O QUE FOI CORRIGIDO
O mais importante desta nova legislação é o
fato de estar baseada na busca dos equilíbrios
necessários entre os possuidores e proprietários de grandes direitos hídricos, impedindo
que eles especulem com tais direitos e fortalecendo uma justa distribuição de água, a fim de
potencializar a produção de pequenos grupos
de agricultores, camponeses e indígenas, cuja
produtividade é desenvolvida em menor escala
ou para subsistência.
Para deixar claro quem são os beneficiados
com esta reforma, a lei define de maneira mais
transparente os grupos que devem ter o acesso
garantido:
- Pequenos produtores agrícolas. São aqueles que exploram uma superfície de até 12 hectares de irrigação básica, cuja receita provém
da agricultura, e aqueles que trabalham diretamente na terra, seja qual for seu regime de
propriedade.
- Camponeses. São as pessoas que habitam e
trabalham no campo, cuja receita deriva da atividade silvícola ou agropecuária realizada de
forma pessoal, independente de sua qualidade
jurídica, sempre que suas condições econômicas não sejam superiores às de um pequeno
produtor agrícola.
- Indígenas. São os chilenos filhos ou pais indígenas, independente da natureza de sua filiação, até mesmo adotiva.
- Comunidades indígenas. Toda agrupação
de pessoas pertencentes a uma mesma etnia
indígena, provenientes de uma mesma árvore
genealógica e que reconheçam um chefe tradicional, possuam ou hajam possuído terras indígenas em comum e provenham de um
mesmo povoado antigo.
Esta nova legislação é uma espécie de compensação para os setores menos
privilegiados que requerem água para suas atividades produtivas?
Mais que isso: ela pretende manter na Constituição Política a água como um bem
nacional de uso público. Em nosso país, a água passou a ser um bem escasso e está
marcada por graves desequilíbrios por conta da distribuição irregular, motivo pelo
qual faz-se necessário um planejamento adequado dos recursos de uma bacia hídrica. De acordo com o Código de Águas de 1981 e com o Código Civil, as águas
são bens nacionais de uso público, o que implica que seu domínio pertence à Nação
e aos chilenos. No entanto, isto não está explícito em nossa Constituição. Portanto,
foi elaborada uma proposta de lei que pretende responder à grande quantidade e
variedade de problemas que afetam as bacias hidrográficas no país.
Esta normativa é uma forma de garantir que a água, enquanto recurso vital,
deve ser analisada do ponto de vista das necessidades dos diferentes usuários e de suas condições sócio-econômicas?
A reforma busca reconhecer as diferenças geográficas e de uso hídrico, de acordo
com o território onde se situa. Para isso, é expressamente imprescindível que existam
corporações ligadas às bacias hidrográficas capazes de incorporar todos os setores
afetados ou beneficiados e que, assim, sejam tomadas decisões de forma integradora
e global, de modo que o benefício de um setor não seja em detrimento de outros.
Quais as conquistas esperadas com esta legislação?
Buscamos elevar a nível constitucional o conceito hídrico como sendo um bem nacional de uso público, independente do estado da matéria (sólido, líquido e/ou gasoso); estabelecer a capacidade do Estado de reservar volumes de águas superficiais
ou subterrâneas quando exigidos pelos interesses gerais da Nação, pela segurança nacional, pela utilidade e salubridade públicas e pela conservação do patrimônio ambiental; estabelecer por lei o procedimento constitucional, bem como
reconhecimento, transferência, transmissão, renúncia, extinção, caducidade e perda
dos direitos dos particulares sobre as águas; estabelecer corporações administrativas
(que deverão ser órgãos públicos, com personalidade jurídica e patrimônio próprio),
ligadas a bacias hidrográficas, capazes de fortalecer e velar pela gestão integrada das
mesmas; e, por fim, estabelecer por lei a exploração e constituição de direitos de
aproveitamento hídrico, em conformidade com a diversidade geográfica e climática
do país, e a disponibilidade efetiva dos recursos hídricos.
A lei irá vigorar em algum momento para que famílias ou setores de baixa
renda tenham garantido valores menores e acesso à água?
Isto já está garantido desde 2005, com a reforma do código, realizada em 1981. Na
modificação em questão (Lei 20017) fica estabelecido que quando não existir outra
fonte de abastecimento para um setor, a água não pode ter outro destino senão a
provisão para a população.
A reforma deverá garantir água para as comunidades agrícolas
AMBIENTE
Em Copenhague
A última Cúpula Mundial sobre Mudanças Climáticas deixou um gosto amargo
na boca frente ao grande desafio de se enfrentar o aquecimento global e seus
impactos na Terra, nos seres humanos e na água
Por BORIS RAMÍREZ
al havia terminada a Cúpula da Organização das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em Copenhague (Dinamarca) e o primeiro a reclamar foi o próprio
clima: nevascas de grande impacto na Europa, Estados Unidos e
Canadá; profundas secas na África.
M
Na América Latina não foi diferente: inundações e chuvas incessantes. Em janeiro e fevereiro deste ano, São Paulo (Brasil) registrou
50 dias de chuva ininterruptos, as milenares ruínas de Machu Pichu
(Peru) ficaram ilhadas e a Cidade do México se tornou uma região
de desastres, enquanto na Argentina, no Equador e na Venezuela
foram registradas secas de grande magnitude.
24 AQUA VITAE
Os impactos destes eventos naturais, associados ao aquecimento
global, são uma enorme preocupação, segundo Rajendra Pachaurí
– Prêmio Nobel da Paz 2007 e Presidente da Cúpula Inter-Governamental sobre Mudança Climática –, que reconhece que estes
eventos naturais causam efeitos sobre os recursos hídricos a nível
global: "Temos que ter mais ações e menos distrações neste tema
que compromete o presente e o futuro da Humanidade″.
Embora a COP15 – realizada em dezembro de 2009 – tivesse como
objetivo fixar compromissos mundiais para a redução dos gases
causadores do efeito estufa, lamentavelmente, tais expectativas
não foram cumpridas.
Foto: Carmen Abdo
UM ACORDO DE CONTRASTES
Não é para menos. Os grandes países emissores de gases do
efeito estufa (China, Estados Unidos e índia) não chegaram a
nenhum consenso sobre a redução das emissões. O objetivo da
conferência, segundo seus organizadores, era “estabelecer um
acordo de cunho jurídico sobre o clima, válido em todo o
mundo e com vigência a partir de 2012”. Em longo prazo, o
objetivo seria reduzir mundialmente as emissões de CO2 em
pelo menos 50% até 2050. Para isso, os países deveriam estabelecer objetivos intermediários.
dos documentos oficiais da COP15. Entre os efeitos que podem
ser previstos, destacam:
Desta forma, os países industrializados deveriam reduzir suas
emissões até 2020, entre 25% e 40%, com relação aos níveis
de 1990, e deveriam alcançar uma redução entre 80% e 95%
para 2050.
- Menos gelo e neve: neste momento, os glaciais de todo o
mundo estão em processo rápido de degelo. O gelo está derretendo mais rápido do que o estimado no último informe do
IPCC. Nas áreas que dependem da água do degelo das montanhas pode haver secas e falta d’água potável. Segundo o IPCC,
até uma sexta parte da população mundial vive em regiões que
serão afetadas por estes problemas.
A responsabilidade pelo não cumprimento das metas do COP15
recai sobre estes três grandes países, que assinaram um acordo
político outorgando ajuda financeira aos países mais pobres,
para que enfrentem o aquecimento terrestre. Esse acordo não
inclui, no entanto, mais cortes nas emissões de gases. Comenta-se que, devido a seu peso político, também impediram
que a conferência tomasse medidas a respeito de um plano que
visa proteger as florestas tropicais do mundo, vitais para a
saúde do clima terrestre.
O que contrasta com a posição dos países da América Latina e
da União Européia, onde as metas de redução estão mais claras. Brasil e México deram a cara para bater em prol da região,
apoiando índices de redução que realmente ajudam a evitar os
impactos da mudança climática.
Os países ricos se comprometeram a aportar US$ 30 bilhões
durante os próximos três anos num fundo destinado ao combate do aquecimento global. O acordo prevê US$ 100 bilhões
por ano até 2020. “Isto não basta! Continuaremos lutando
pelo Planeta”, afirmou Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente do Brasil, ao reconhecer que seu país se compromete
com uma redução de até 39% das emissões, até 2020.
O México, enquanto organizador da próxima Cúpula, esperada
para 2010, deseja ter bases mais claras para atuar em direção
a um acordo final, definitivo e obrigatório, que deve ser o
marco para um novo caminho na luta contra os efeitos das mudanças climáticas. O país se compromete a baixar suas emissões até 2020 para 50%.
Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba se negaram a aceitar o
fato de que as grandes potências mundiais não se comprometeram com reduções mais drásticas, e batem o pé para que o
assunto continue em pauta.
ÁGUAS MORNAS
As autoridades mundiais mostraram estar bastante cientes à respeito dos temas hídricos e da mudança climática. “Muitos dos
efeitos do aquecimento global estão bem documentados e as
observações da vida real coincidem com as projeções mais
recentes. O difícil é prever o impacto com precisão”, relata um
- Mais secas e inundações: quando o clima se aquece, aumenta
a evaporação terrestre e marinha, causando secas em áreas
onde este aumento da evaporação não é compensado com
maiores precipitações. O vapor d’água adicional da atmosfera
deve voltar a cair em forma de precipitações, o que pode provocar inundações em outras partes do mundo.
- Mais exemplos de condições climáticas extremas: é muito provável que a alteração do clima cause mais ondas de calor, mais
casos de chuvas torrenciais e também um aumento no número
ou na intensidade destas tormentas.
- Aumento do nível do mar: o nível do mar sobe por duas razões: pelo degelo da neve e do gelo propriamente dito e pela dilatação térmica do mar. Esta última tem processo lento, mas até
mesmo um aumento de 2ºC na temperatura pode, com o
tempo, causar um aumento de quase 1 metro no nível do mar.
Devido à gravidade dos impactos no setor hídrico, por conta do
aquecimento global, autoridades mexicanas já sabem o que deverão discutir na próxima reunião COP16, para a qual já reivindicam a necessidade de se estabelecer um programa de adoção
global que inclua maior apoio dos líderes mundiais e de países
como Estados Unidos, China, Brasil e índia.
O objetivo é encontrar mecanismos que produzam uma redução drástica nas emissões mundiais para se manter o aumento
da temperatura global abaixo de 2ºC, levando em conta que o
desenvolvimento sócio-econômico e a erradicação da pobreza
são prioridades dos países em desenvolvimento.
REDUZIR… BAIXAR
Eis as metas propostas por alguns países para
contribuir com a redução dos gases de efeito
estufa, até 2020:
União Européia
20%
Brasil
39%
México
50%
Estados Unidos
80%
AQUA VITAE 25
EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO PER CAPITA
TONELADAS PER CAPITA (2007)
56,2
EMISSÕES DE
DIÓXIDO DE CARBONO
NO MUNDO
31.2
29,9
MILHÕES DE TONELADAS
DE CO2
19
18.1
16.7
CHINA E
ESTADOS UNIDOS
41,1%
15.8
12.7
10.9
10.1
MÉDIA
MUNDIAL
9.7 9.4
8.1 8.0
6.2
4,5
4.6
1.9
1.3
E
AU UA
ST
RÁ
LIA
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0.1
Fonte: Bajando Líneas, Argentina
O CALOR DO CLAMOR
O que foi dito por importantes líderes mundiais marca o caminho do que falta ser feito para controlar o aquecimento global.
Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos. “A história irá julgar a resposta de nossos atos para este desafio, porque se não
fizermos frente de maneira audaz, rápida e conjunta estamos arriscados a entregar para as futuras gerações uma catástrofe irreversível... todos os povos – nossa prosperidade, nossa saúde, nossa segurança – estão em perigo. E o tempo para reverter esta tendência está chegando ao fim (...). A humanidade demorou muitos anos para responder, ou até mesmo reconhecer, a magnitude da
ameaça do clima”.
Hu Jintao, Presidente da China. “Tentaremos a redução de emissões de CO2 por unidade do PIB, até 2020, em relação ao nível
registrado em 2005, bem como o desenvolvimento de energia renovável e nuclear, alcançando 15% de energia baseada em combustíveis fósseis”.
Manmohan Singh, Primeiro ministro da Índia. “Estamos dispostos a aprovar um plano nacional, mas não a assinar objetivos
(acordos) vinculantes de redução de emissões para combater um problema criado pelos países ricos”.
Luis Ignácio Lula da Silva, Presidente do Brasil. “Devemos encontrar um ponto comum que nos permita sair daqui (Copenhague), orgulhosamente dizendo aos quatro cantos do mundo que estamos preocupados em preservar o futuro do Planeta Terra sem
o sacrifício da sua principal espécie que são homens, mulheres e crianças que vivem neste mundo”.
Felipe Calderón, Presidente do México. “Os países devem estabelecer em Copenhague as bases para permitir a elaboração de um
futuro acordo definitivo, esperando que este novo tratado seja firmado no final de 2010, na Conferência sobre Mudanças Climáticas, que será realizada no México”.
26 AQUA VITAE
BREVES DO MUNDO
Para salvar o rio sagrado
O governo da índia, preocupado com a poluição do Ganges – o
rio sagrado dos hindus –, decidiu destinar parte dos recursos econômicos para o processo de limpeza do mesmo. O Rio é também
o responsável pelo sustento de centenas de milhares de pessoas.
"A situação é grave: existem áreas tão poluídas que não há sinais
de vida de nenhuma espécie. A contaminação e a exploração excessivas são os principais problemas do Rio", segundo o especialista Parikshit Gautam, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
O governo criou a Autoridade Bacia do Rio Ganges (NGRBA),
cuja missão é eliminar, até 2020, o esgoto doméstico e industrial
despejado no Ganges. O Ganges recebe, por dia, 3 bilhões de litros
de lixo, sendo que dois terços desta quantidade passam pelos leitos
sem nenhum tipo de tratamento.
As autoridades estimam ser necessário um investimento de
US$ 3,2 bilhões, nos próximos dez anos, para que se alcance a denominada “Missão Ganges Limpo", que já conta com o apoio do
Banco Mundial (BIRD).
A bacia do Ganges nutre um terço das terras que formam
parte da índia e sua passagem pelo país não apenas testemunha a
existência de civilizações milenares, mas também presta sustento a
uma em cada doze pessoas do mundo. Indo além, o Ganges representa muito mais que um rio: os hindus o consideram sagrado
e todos os anos milhões de pessoas peregrinam até ele alentadas
pelo fato de que suas águas, não apenas os purifica dos pecados,
mas também os liberta do ciclo das reencarnações.
Fonte: Agência EFE
Satélite estudará ciclo da água
O satélite franco-espanhol SMOS (Soil Moisture and Ocean Salinity), deverá auxiliar a elaborar as previsões meteorológicas e os
estudos sobre mudança climática, por meio do acompanhamento
do ciclo d’água. Este satélite foi fabricado na Rússia e lançado em
novembro de 2009. A missão foi desenvolvida pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (CNES) em parceria com o Centro para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial da Espanha
(CDTI) e com a Agência Espacial Européia (ESA).
Um foguete russo pôs em órbita o satélite, equipado com
a plataforma Proteus (fabricada pela Thales Alenia Space) e com
um radiômetro de onda. Estes dois equipamentos darão condições
para o SMOS fornecer dados destinados a estabelecer os primeiros
mapas da umidade do solo e da salinidade dos oceanos, contribuindo com mais dados para as pesquisas hídricas.
Unidade e salinidade são dois elementos significativos para
o ciclo da água e deverão contribuir para que os cientistas realizem
suas previsões meteorológicas com maior precisão e no futuro
avancem no conhecimento sobre a mudança climática. O CNES
destacou que esta missão, proposta pelo Centro de Estudos Espaciais da Biosfera da França, mostra o sucesso da cooperação européia no estudo da situação climática, graças aos diferentes
atores implicados: agências espaciais, cientistas e indústrias em
prol da busca por melhores soluções para o aproveitamento da
água na Terra.
Ação a favor do lago Michigan
O lago Michigan, localizado nos Estados Unidos, está sendo invadido por uma alga nativa conhecida como Cladophora. Nos últimos anos a espécie sofreu uma mutação e deixou de coexistir com
o ecossistema, tornando-se um “monstro verde”, capaz de contaminar a água potável e as praias, além de obstruir os canos industriais de Michigan.
"É fácil ver o que está ocorrendo. O difícil é compreender
por quê?", afirmou J. Val Klump, diretor do Instituto de Tecnologia
Aquática e Pesquisas Ambientais de Wisconsin. As principais suspeitas recaem sobre a mudança climática – que elevou a temperatura do lago e baixou os níveis de água – e as mudanças geradas
no ecossistema lacustre, criadas pelos invasores “mexilhões zebra”
e “mexilhões quagga”, milhares dos quais cobrem agora o fundo
do lago.
Não é a primeira vez que a Cladophora, cujo crescimento é
estimulado pelo fósforo e por outros nutrientes, se torna prejudicial.
A alga cresceu de maneira excessiva também durante as décadas de
1960 e 1970, até que o excedente de fósforo - produto derivado da
indústria e das residências - não foi mais jogado no lago. Com o
fósforo sob controle, a Cladophora também foi controlada, até
cinco anos atrás.
O governo de Barack Obama se comprometeu em aportar
US$ 5 bilhões, nos próximos dez anos, para recuperar os Grandes
Lagos. Os cinco Grandes Lagos ocupam 244 mil Km2, que se estendem pelos Estados Unidos e pelo Canadá, a apenas 2,4 mil Km
da plataforma gelada polar. Os lagos permitem a passagem de embarcações para o Oceano Atlântico e mantém algumas das mais
ricas reservas pesqueiras comerciais do mundo. Além disso, cerca de
40 milhões de pessoas obtém água potável destes reservatórios.
Fonte: Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável
Foto: SMOS
Fonte: Agência DPA (Deutsche Presse-Agentur)
AQUA VITAE 27
FUTUROS IMPACTOS NAS ÁGUAS DOCES POR
CAUSA DA MUDANÇA CLIMÁTICA
OS VOLUMES DOS RIOS DIMINUEM, DE FORMA QUE
A ATUAL DEMANDA DE ÁGUA NÃO ATENDERIA A ÀS
NECESSIDADES A PARTIR DE 2020 E OS HABITATS
DISPONÍVEIS PARA O SALMÃO SOFRERIAM REDUÇÃO.
A ÁREA INUNDADA EM BANGLADESH
DURANTE AS ENCHENTES AUMENTA EM
PELO MENOS 25% COM O AUMENTO
GLOBAL DE 2ºc NA TEMPERATURA.
O POTENCIAL
DAS USINAS
HIDRELÉTRICAS
DIMINUIRIA MAIS
DE 25% ATÉ 2070.
ATÉ 2050, A
REPOSIÇÃO
DOS LENÇÓIS
FREÁTICOS
DIMINUIRIA
MAIS DE 70%.
AUMENTO DE AGENTES
PATOGÊNICOS DEVIDO AO
AUMENTO DAS FORTES
CHUVAS EM REGIÕES SEM
OS DEVIDOS SERVIÇOS DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
E ESGOTO.
A DENSIDADE DOS
LENÇÓIS FREÁTICOS DE
ÁGUA DOCE NAS PEQUENAS
ILHAS DIMINUIRIA DE 25 A
10 METROS, DEVIDO O
AUMENTO DE 0,1 METRO
DO NÍVEL DO MAR.
Aumento relativo da recomposição dos lençóis freáticos
Diminuição relativa da recomposição dos lençóis freáticos
Fonte: Cúpula Inter-Governamental sobre Mudança Climática
OPINIÃO
RAJENDRA K. PACHAURI
Presidente da Cúpula Intergovernamental sobre
Mudança Climática. Prêmio Nobel da Paz 2007
EXIGÊNCIAS DO CLIMA
As consequências da mudança climática podem ser graves em várias
partes do mundo: resultariam em uma maior escassez de água e em
graves efeitos sobre os ecossistemas, além de ameaçar vidas e
propriedades com possíveis inundações nas regiões costeiras.
Nos dias de hoje, é urgente e essencial que o mundo se mobilize
diante da mudança climática. De fato, já não pode haver debates
acerca da necessidade de atuar, porque a Cúpula Inter-Governamental sobre Mudança Climática (PICC), que presido, estabeleceu
que a mudança climática é uma realidade inequívoca e muito além
de qualquer dúvida científica.
Os padrões de precipitação estão produzindo alterações, com uma
tendência a maiores níveis de chuvas nas latitudes superiores do
mundo e menores precipitações em regiões tropicais e subtropicais,
assim como no Mediterrâneo. A quantidade de casos de chuvas extremas também está aumentando, e se generalizando. Sem falar na
frequência e intensidade das ondas de calor, e nas inundações e
secas registradas.
Esta alteração de padrão e a intensidade das chuvas têm sérias implicações em várias atividades econômicas, bem como na preparação dos países para administrarem emergências, tais como
inundações costeiras de grande escala ou nevascas intensas.
Algumas partes do mundo são mais vulneráveis que outras a estas
alterações. A região ártica, em específico, está se aquecendo a um
ritmo três vezes maior que o resto do planeta. Os arrecifes de coral,
os grandes deltas (que incluem cidades como Xangai, Calcutá e
Daca) e os pequenos estados formados por ilhas também são extremamente vulneráveis ao aumento do nível do mar.
Entre outros efeitos negativos da mudança climática está também a
possível redução no rendimento das colheitas. Por exemplo, em alguns países africanos elas poderiam chegar a diminuir 50% até
2020. A mudança climática produziria uma maior escassez de água,
que até esta data poderia afetar entre 75 e 250 milhões de pessoas
somente na África.
Em geral, estima-se que as temperaturas deverão aumentar, até
2100, entre 1º C e 6,4º C. Para se situar com maior precisão nestes
cenários, o PICC concluiu que o mais provável é que o extremo inferior desta gama seja de 1,8ºC e o superior de 4ºC. Na estimativa
mais baixa, inclusive, as consequências da mudança climática poderiam ser graves em várias partes do mundo, o que incluiria uma
maior escassez de água, graves efeitos sobre os ecossistemas e
vidas, além de propriedades ameaçadas devido inundações nas regiões costeiras.
Pode haver ainda graves consequências para a saúde humana caso
a mudança climática não seja controlada. Especificamente, maior
morbidade e mortalidade como resultado das ondas de calor, inundações e secas. Mais ainda, mudaria a distribuição de algumas
doenças, tornando as populações humanas mais vulneráveis.
A necessidade de uma ação internacional surge de duas importantes
observações resultantes do trabalho do PICC. Primeira, se não diminuirmos as emissões de gases de efeito estufa será difícil reverter os
efeitos negativos da mudança climática, o que implicará mais dificuldades e, possivelmente, um risco de sobrevivência para a humanidade
e outras espécies. Segundo, os benefícios de reduzir a emissões de
gases são tão assustadores, que combinados com a perspectiva do
dano resultante da inatividade, faz-se necessário que o mundo desenhe uma resposta e um plano de ação internacional.
Considerando o desafio ao qual nos deparamos, cuja magnitude e
natureza foram claramente descritas pelo PICC, a Conferência de
Copenhague deve produzir um acordo multilateral que o aborde de
maneira adequada.
(Project Syndicate autorizou a publicação deste artigo)
A Aqua Vitae não emite opinião sobre os critérios expressados nesta seção,
mas está aberta a diferentes perspectivas em torno do manejo do recurso hídrico.
AQUA VITAE 29
TECNOLOGIA PARA TORNAR A ÁGUA POTÁVEL EM REGIÕES VULNERÁVEIS
SOLUÇÕES REGIONAIS
INOVADORAS
“Flauta” é o novo dispositivo de
pré-filtração para pequenas estações
de tratamento de água, de fácil
instalação em localidades afastadas.
O invento de selo colombiano evita o
uso de produtos químicos envolvidos
nos processos convencionais de
mistura rápida, mistura lenta,
floculação e sedimentação.
Por MABEL DE GUILLEM
Diretora Executiva, Fórum Andino do PVC
Foto: Guy Opdenbosch Gallegos
30 AQUA VITAE
TECNOLOGIA
tualmente, os indígenas Arhuacos, estabelecidos em
Kantinurwa - pequena aldeia colombiana localizada
em Sierra Nevada de Santa Marta, cuja população
atual não passa dos 300 habitantes - possuem água
potável graças a uma pequena estação de tratamento não contaminante, de baixo custo e rápida instalação, cujo dispositivo
central é um novo invento colombiano fabricado com tubos
de PVC.
A
Desenhada pelo engenheiro Guy Opdenbosch Gallegos, esta
estação não necessita de energia elétrica para operar e aproveita a energia hidráulica para manter o fluido da água tratada
nas diversas etapas do sistema, que incluem: unidades de captação, retirada de areia, clarificador, dispositivos de filtração
grossa e filtração fina, armazenamento em tanque para desinfecção e sistema de distribuição.
Para realizar a filtragem da água, a etapa mais importante
neste tipo de estação, Opdenbosch idealizou um ajuste de
areias de diversos tamanhos, dispostas no interior de uma série
de tubos de PVC conectados entre si segundo os parâmetros
hidráulicos do desenho. As areias, tecnicamente selecionadas,
funcionam como meio filtrante para clarificar a água que flui
através dos tubos. Assim, é possível obter uma água tão cristalina quanto a resultante de um sistema convencional, sem a
necessidade de usar produtos químicos nas etapas de tratamento anteriores à cloração. A água clarificada só requer,
então, a desinfecção final com cloro, para eliminar os elementos patogênicos que não podem ser retirados na filtragem.
O desenho dos dispositivos de filtragem, feitos a partir de tubos,
acessórios e válvulas, facilita o transporte dos materiais até regiões distantes e favorece a disponibilidade de plantas de tratamento mais econômicas para populações vulneráveis. Além
disso, os dispositivos podem ser instalados de forma mais rápida
que os sistemas convencionais, construídos em metal ou concreto, e sua simples operação e manutenção podem ser realiza-
das por qualquer pessoa local com um mínimo de treinamento.
Opdenbosch os chamou de “Flauta”, devido à analogia de sua
configuração tubular com a desse instrumento musical.
Por sua contribuição inovadora, sua importância social e seu
valor para responder a desafios chaves da sustentabilidade, o
desenho do dispositivo Flauta foi merecedor do Prêmio Crea
PVC 2009 para a “Melhor Solução de Engenharia”, outorgado
por empresas para trabalhos profissionais inovadores, na categoria “Construção e Infra-Estrutura Sustentável”.
O dispositivo está sendo apresentado para a comunidade acadêmica, no marco da “Cátedra Pavco” da Universidade dos
Andes, na Colômbia, visando promover a socialização do conhecimento incorporado no desenho e documentar, detalhadamente, as especificações técnicas necessárias para guiar sua
construção e operação. Assim, seria mais fácil colocar efetivamente esta tecnologia ao alcance de mais pessoas e comunidades, onde quer que seja necessário.
O CRIADOR
Guy Opdenbosch Gallegos é um engenheiro colombiano obcecado pelo manejo hídrico e com o sonho de tornar a água potável, utilizando a menor quantidade possível de produtos
químicos em seu tratamento. Consagrado acadêmico, inventor,
consultor e interventor de obras públicas, sua produção científica e intelectual engloba vários teoremas e equações de sua autoria, contribuições teóricas para a hidráulica de força e de
canais abertos, dezenas de documentos sobre assuntos relacionados e projetos originais em sua especialidade. Autor de “Leis
da Filtração em Areia”, construiu laboratórios de hidráulica e várias hidroelétricas na Colômbia, incluindo sua própria central doméstica, na fazenda cafeeira “Jirocasaca”, localizada na Sierra
Nevada de Santa Marta. Foi aí onde instalou e provou em uso,
durante anos, a primeira versão de sua “flauta”, em uma estação de tratamento capaz de abastecer de água potável os 400
colonos de sua fazenda.
ETAPAS DO TRATAMENTO DE ÁGUA FILTRADA NA FLAUTA
CAPTAÇÃO
RETIRADOR DE AREIA
CLORAÇÃO FINAL
SEDIMENTAÇÃO NATURAL
TAC (TANQUE DE ÁGUAS CLARAS)
FILTRAÇÃO RÁPIDA EM TORPEDO
FILTRAÇÃO FINA EM AREIA
QUALIDADES E VANTAGENS
A instalação de pequenas estações de tratamento, incorporando sistemas de filtragem nas “flautas”, pode beneficiar comunidades
carentes de redes e serviços de saneamento, garantindo a qualidade da água para o consumo humano e outros usos domésticos.
Entre as qualidades e contribuições mais destacadas deste sistema figuram:
- Tecnologia de simples aplicação e baixo custo, adaptável a regiões afastadas e populações vulneráveis.
- Eliminação do uso de produtos químicos desnecessários, permitindo clarificar a água até que fique cristalina o suficiente para
se proceder sua cloração final.
- Economia de recursos naturais, eficiência energética e menores pegadas de carbono, a partir de um desenho que viabiliza o
aproveitamento da energia hidráulica na operação da estação.
- Facilidade de instalação e manejo: o uso de tubos, acessórios e válvulas de diâmetros comuns, favorece uma rápida construção
em questão de dias, além de facilitar o transporte e a manipulação durante as obras.
- Tecnologia de construção transferível para pessoas com pouca formação, a partir de um treinamento mínimo.
- Impacto positivo como fator de progresso social, por conta das repercussões no melhorias sanitárias de comunidades que
carentes atualmente do serviço de água potável.
INICIATIVAS
SEMENTES PARA O FUTURO
Em 26 países do mundo, 200 mil árvores serão responsáveis pela
conscientização mundial na luta contra os efeitos da mudança climática
Por JOSÉ ZAGLUL
Reitor da Universidade EARTH, Costa Rica
este ano, o dia 5 de junho - Dia Mundial do Meio Ambiente - será, um marco na história da Universidade
EARTH, na Costa Rica. Para comemorar seu 20º aniversário, estudantes, professores, colaboradores, graduados e amigos, semearão, simultaneamente, 200 mil árvores em
mais de 26 países ao redor do mundo.
N
O evento “EARTH Semeia o Futuro” simboliza a esperança de uma
nova vida para o futuro, tratando-se de uma ação concreta e efetiva para alertar sobre os efeitos da mudança climática e tentar diminuí-los, bem como diminuir os gases do efeito estufa. Como
resultado do projeto, em torno de 6,8 mil toneladas de dióxido de
carbono serão fixadas todo ano.
A semente das árvores crescerá na Argentina, em Belize, Bermuda,
Bolívia, Brasil, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El
Salvador, Espanha, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras,
Indonésia, México, Moçambique, Nicarágua, Panamá, Peru, Paraguai, República Dominicana, Uganda e na Venezuela.
No dia 1º de março, foi lançado o site www.earthsiembraelfuturo.com,
trata-se de uma floresta virtual, onde os visitantes podem plantar
sementes, personalizar e cultivar sua árvore, virtual em uma floresta
online que será mantida ativa até o dia 5 de junho. Os visitantes
poderão selecionar até 15 espécies nativas do trópico para semear.
O legal será que, a cada 20 árvores virtuais plantadas, um patrocinador investirá recursos para que uma árvore de verdade seja plantada na Universidade EARTH, no dia do evento.
A divulgação do projeto e do site será feita por meio de uma campanha de mídia social, além de blogs para atrair a atenção dos jovens que queiram participar.
O Projeto “EARTH Semeia o Futuro” possibilita que empresas de
todo o mundo façam parte desta iniciativa mediante um aporte de
de US$ 15 mil, que lhes dá o direito de patrocinar uma das 15 espécies existentes na floresta virtual. Na contrapartida, A empresa
deve comprometer-se em fazer uma doação de US$ 5,00 (equivalente ao custo real de uma árvore) para cada 20 árvores virtuais da
mesma espécie semeadas durante o período, segundo as condições estabelecidas pela própria empresa, já que pode optar por
apoiar a campanha por um dia, uma semana ou mais, ou até atingir o equivalente a um montante pré-estabelecido.
Cada árvore da floresta virtual deverá incluir o nome e uma foto
(opcional) da pessoa que a plantou, bem como o país de origem da
pessoa e o logo do patrocinador.
Aqueles que participarem da Floresta Virtual obterão os seguintes
benefícios: posicionamento da marca em audiência internacional;
geração de vínculos entre interessados na conservação dos recursos naturais; presença nas redes sociais mais populares e nos blogs
mais visitados em, pelo menos, 26 países do mundo.
A EARTH é uma Universidade privada, internacional, sem fins lucrativos, voltada para educação em Ciências Agrícolas e o Manejo
Racional dos Recursos Naturais. A Instituição trabalha promovendo
o desenvolvimento sustentável do mundo, com especial ênfase
para a América Latina e o Caribe.
PINTAR O MUNDO DE VERDE
Esta atividade global permite que pessoas do mundo todo se tornem participantes ativos na ajuda ao Planeta.
Como participar? É fácil!
• Compre uma árvore virtual pelo site www.earthsiembraelfuturo.org.
• Semeie uma árvore virtual no site www.earthsiembraelfuturo.org. A cada 20 árvores virtuais um patrocinador doará uma árvore de
verdade para ser plantada pela Universidade EARTH, no dia da comemoração de seus 20 anos, quando haverá o plantio simultâneo
de árvores no mundo todo.
• Una-se a alguns dos eventos de plantio nos países indicados. Obtenha mais informações sobre o local exato no próprio site.
• Organize seu próprio plantio de árvores no dia 5 de Junho de 2010.
Mais informações: Éricka Pinto, Universidade EARTH, [email protected] Tel. (506) 2713-0024
32 AQUA VITAE
AQUA VITAE 33
ALTO PERFIL
SOMOS UMA
ALTERNATIVA
DE JUSTIÇA
HÍDRICA
Javier Bogantes,
Diretor do TLA, trabalha para fortalecer
este tribunal internacional, autônomo e
independente, criado para solucionar
controvérsias sobre sistemas hídricos na AL,
convivência com a natureza, desrespeito
à dignidade humana e aumentar a
solidariedade entre pessoas e organizações.
A incidência política do
Tribunal está relacionada
à capacidade de respaldar
um equilíbrio de poder
apropriado entre
cidadãos, setor privado
e instituições
governamentais em
todos os seus níveis.
Fotos: Tribunal Latinoamericano del Agua.
34 AQUA VITAE
ustiça alternativa diante da crise legal que impera. Segurança
ecológica. Educação e sensibilização para a proteção dos sistemas hídricos. Segurança hídrica e governo justo para e pela
água. Estes são os princípios defendidos, há dez anos, pelo Tribunal Latino-Americano da Água (TLA). Seu diretor, Javier Bogantes, afirma que a região priorizou “a compra de armamentos e a
construção de estradas, mas não a de rede de esgotos e o saneamento ou a renovação da rede de abastecimento”.
J
Este Tribunal foi criado para levar justiça alternativa diante
da crise legal vigente no que se refere à água. Isto significa
que a América Latina carece de uma legislação que proteja
os recursos hídricos?
Em matéria ambiental, existe na América Latina uma multiplicidade
de legislações, normas e regimentos que se propõem a regulamentar e proteger a sustentabilidade dos corpos de água. Grande
parte dessa legislação não passa de mera sucessão de pronunciamentos propositivos não acompanhados de mecanismos capazes
As sessões do TLA são abertas para toda a sociedade. Aqui sessão do TLA realizada no México
de efetivar a urgência de justiça existente
neles. Tais compêndios jurídicos reduzem-se
ao âmbito das legislações nacionais em detrimento de um verdadeiro marco regulatório de caráter regional. Acontece que, tanto
as bacias hidrográficas, lagos, rios e glaciais
quanto as causas de seu deterioramento
transcendem a incipiente categoria de Estado Nação e por isso requerem um tratamento integral e regional.
Quais os países latino-americanos que
têm pior nota em suas legislações hídricas e como podem melhorá-las?
A crise hídrica é, acima de tudo, uma crise
de gestão e de políticas públicas orientadas
mais para a produção e expansão urbana e
industrial, que para as políticas adequadas
ao tratamento de águas servidas e os
efluentes industriais. As águas naturais da
AL estão ficando poluídas. Se estudarmos as
legislações, veremos que em quase todos os
países existem ferramentas constitucionais e
legislativas que minimizam, de forma significativa, estes efeitos perniciosos. Em países
como México, Guatemala, El Salvador, Honduras e Peru faltam políticas de Estado. O
México conta com uma legislação exemplar
em matéria hídrica, mas está perdido num
labirinto de concorrências de multiplicidades
institucionais que, há um século ou mais, o
impedem de garantir a proteção hídrica.
Grande parte da população depende de
água engarrafada e milhares sofrem com
doenças ligadas à poluição hídrica. Argentina e Brasil não chegam a tanto, mas já se
vislumbra conflitos e impactos nocivos na
água em regiões onde as plantações de soja
avançam, em mineradoras e ao redor da
construção de complexos imobiliários. Nestes países, a legislação dá condições para se
estabelecer estratégias idôneas para se garantir a proteção e o acesso à água, sem necessidade de se privatizar tais serviços, seja
por meio de engarrafamento ou concessão
dos mesmos.
Em que o TLA se baseia para determinar
a existência de situações de injustiça,
usos e abusos hídricos na região?
Baseamo-nos em visitas a locais como El
Salto, em Guadalajara (México), onde milhares de pessoas adoecem por respirarem
vapores tóxicos do rio Santiago, contaminado por efluentes industriais; ou a Valdivia (Chile), onde quatro mil cisnes de
pescoço preto despencaram sobre tetos e
ruas, devido a um problema neurotóxico
causado pelo derramamento de uma produtora de celulose; ou quando escutamos
os testemunhos de habitantes de Catán
González, nos subúrbios de Buenos Aires
(Argentina), sobre a intoxicação contraída
após a ingestão de água contaminada; ou
ainda quando vemos o desespero dos camponeses do Valle del Siria (Honduras), sem
poder lutar contra a contaminação hídrica
gerada pelas mineradoras. Contrastes entre
regiões como La Victoria ou Vitarte, em
Lima (Peru), onde famílias não têm acesso à
água potável e a exclusiva zona de Miraflores, que desperdiça água com frivolidade.
O governo brasileiro pretende construir um
mega reservatório de água no rio Madeira,
que inundaria uma extensa região onde habitam povos com culturas ancestrais. Diante
destas e outras situações, é possível evidenciar que, através da problemática hídrica, se manifestam aspectos mais
profundos ligados à relação entre política e
justiça na América Latina. Atendemos mais
de 50 casos desde a primeira Audiência de
Julgamento, realizada em San José (Costa
Rica), há 10 anos. Também fizemos vários
fóruns, oficinas e audiências no México, na
América Central, na Colômbia, Peru, Chile,
Argentina e no Brasil. Na maioria dos casos,
fica evidente a ineficácia na aplicação de
leis, a arbitrariedade das políticas de desenvolvimento e a injustiça em relação a
quanto e como os governos privilegiam
mega projetos e poderosos investimentos
em detrimento da vulnerabilidade de muitas populações.
AQUA VITAE 35
JURISTA DA ÁGUA
Javier Bogantes, diretor do Tribunal Latino-Americano da Água, promove a garantia do aproveitamento da água como direito humano para o desfrute das gerações atuais e futuras.
• Jurista costariquenho nascido em 1956.
• Formado em Filosofia.
• Mais de 25 anos de experiência no campo da ecologia.
• Fundador e Diretor do Tribunal Latino-Americano da Água.
‘‘
‘‘
Na região latino-americana se prioriza a compra de armamentos e a
construção de estradas, mas não a de rede de esgotos e o saneamento
ou a renovação da rede de abastecimento.
Quem desrespeita mais as normas: os governos, as empresas ou as comunidades?
Existe diferença entre uma comunidade que
atira seus dejetos em um lago, por exemplo
(porque o Estado não oferece um serviço
adequado de saneamento e abastecimento), e uma empresa mineradora, cuja
água contaminada por cianureto desemboca em um rio. Além da natureza da fonte
de contaminação, a diferença está, com certeza, num tema ligado ao poder. Acontece
que as grandes corporações ou até as instâncias públicas possuem recursos econômicos e conexões políticas suficientes para
agilizar os trâmites chatérrimos da burocracia legal. As comunidades campesinas, indígenas, os pequenos distritos e muitos
habitantes das cidades não contam com tais
privilégios.
De que forma e com base em que fundamento jurídico atua o TLA? Quem
pode fazer uma denúncia neste tribunal?
A essência do Tribunal compreende a aplicação de uma ética substancial, implícita em
normas e princípios internacionais, para a
sustentabilidade hídrica. Lamentavelmente,
os preceitos surgidos com tais iniciativas não
tornam vinculantes e efetivo o cumprimento.
De acordo com o Manual de Procedimentos,
qualquer pessoa física ou jurídica, coletivo,
organização, instituição governamental ou
acadêmica identificada pode apresentar uma
denúncia diante deste tribunal.
Existe algum mecanismo de continuidade nos casos julgados? O TLA pode
AQUA
VITAE VITAE
36 AQUA
36
cobrar por danos causados?
A continuidade dos casos é feita de diferentes formas. Em primeiro lugar, o TLA realiza
fóruns de seguimento em distintos países,
onde é possível convocar um grande número de participantes e os meios de comunicação. Quando a situação dos casos
merece urgência, o TLA pode emitir pronunciamentos oficiais para gerar pressão
nas instâncias competentes. Não existe nenhuma instância supranacional que possa
cobrar danos em matéria ambiental, causados em estados soberanos.
Por quem são formados os comitês técnicos e de investigação que estudam as
denúncias apresentadas?
A organização interna parte da interação de
três componentes: Equipe de Gestão, Conselho Consultivo e Jurado. Soma-se a este
processo a participação de assessores que
apóiam trabalhos específicos, que vão desde
a análise científico-técnica até a comunicação. Algumas destas pessoas são:
- Enrique Beldarraín, epidemiologista cubano, precursor dos estudos em antropologia da medicina, Prêmio Nacional de
Ciências 2005.
-María Silvia Guillén, jurista salvadorenha
que exerceu cargo como diretora da Fundação de Estudos para a Aplicação do Direito.
-Philippe Texier, jurista francês, foi magistrado da Suprema Corte de Justiça da
França e Presidente do Comitê de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais das Nações
Unidas.
-Catharina Wesseling, epidemiologista e
pesquisadora holandesa-costariquenha, que
investigou os efeitos dos agroquímicos na
saúde humana por mais de 20 anos no Instituto Regional de Substâncias Tóxicas da
Universidade Nacional da Costa Rica.
- Augusto Willemsen, jurista guatemalteco
com ampla experiência no trabalho ligado
aos Direitos Humanos, atuou como redator
do Primeiro Informe das Nações Unidas
sobre Povos Indígenas.
Como o TLA sobrevive?
Mediante doações de agências internacionais, principalmente européias.
Um dos fundamentos do Tribunal é a segurança ecológica. Em termos políticos
se fala na AL de estados falidos. Existem
estados falidos em termos ambientais?
Quais são e de que maneira afetam o
uso e o acesso às fontes hídricas?
A complexidade das políticas e as contradições dentro dos Estados revelam que a aplicação dos valores e critérios ecológicos não
evidenciam conhecimento. Monoculturas,
mineradoras, devastação florestal desmedida, utilização de rios como depósitos de
efluentes industriais, agrícolas e urbanos são
privilegiados. Com quase 40% da riqueza
hídrica mundial, a AL tem extensas regiões
que carecem de água potável. Somente
14% das águas são tratadas. São priorizadas compra de armamentos e construção de
estradas, mas não a de rede de esgotos e o
saneamento ou a renovação da rede de
abastecimento. Centenas de milhares de
crianças morrem de doenças causadas por
O caso "Laguna Chihob" (Guatemala) foi apresentado ao juri por Lesvia Mutsante
AQUAAQUA
VITAE VITAE
37 37
água contaminada. O uso de agroquímicos
e o abuso de fertilizantes contamina com nitratos e organoclorados, organofosfóricos e
metais pesados regiões chaves para o abastecimento hídrico de muitas populações.
Trata-se da aplicação de um modelo errôneo
e perverso, que nos tem levado a uma crise
hídrica e sanitária pública. Bilhões de dólares
gastos com o tratamento de enfermidades
transmitidas através de água contaminada
poderiam ser evitados se houvesse maior
eficácia das leis e aplicação de políticas e estratégias menos inconsequentes com a proteção da vida.
Em quais casos o TLA sustenta a posição
de que a água – capaz de gerar muito
dinheiro e interesse - deve ser entendida como um direito e não como um
bem com fins lucrativos?
- Caso da represa La Parota (México) - um
projeto que encontra-se temporariamente
suspenso. Foi apresentado pelo Conselho de
Exilados e Comunidades Opositoras à represa "La Parota", contra a construção de
um projeto hidroelétrico proposto sobre o
rio Papagayo no Estado de Guerrero.
- Caso do rio Santiago (México). O rio recebe descargas do corredor industrial de El
Salto, na Zona Metropolitana de Guadalajara, através da represa “El Ahogado” e de
outras populações. Associações Civis denunciaram às autoridades federais e locais
(Secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Naturais, Organismo de Cuenca Lerma-Santiago-Pacífico, Secretaria da Saúde, Governo
de Jalisco, Comissão Estatal da Água e Saneamento e Secretaria da Saúde do Estado
de Jalisco) graves impactos à saúde dos habitantes de El Salto e Juanacatlán, em especial crianças, devido ao deterioramento e
contaminação da água.
- Caso da exploração mineira em Sipacapa
(Guatemala). O Centro Pluricultural para a
Democracia, o Centro para Pesquisa e Desenvolvimento Maia Sotz’il e o Pueblo Maya
Sipakapense denunciaram o Governo e a
Empresa Mineira Montana Exploradora da
Guatemala S.A. por sérios impactos causados pela extração do minério a céu aberto
na região.
- Caso da criação de tilápias no lago da
38 AQUA VITAE
Dentro das funções do TLA está a realização de fóruns
como este, realizado no México
Nicarágua. O Centro de Pesquisas de Recursos Aquáticos apresentou uma queixa contra os impactos provocados pelo cultivo
massivo da tilápia. A denúncia foi apresentada contra Mares Nicas Noruegos S.A.
- Caso da contaminação do Santuário Las
Cruces (Chile). O Movimento Ação Cidadã
pelos Cisnes, o Conselho de Lonko Pikunwijimaku, a comunidade indígena de Tralcao e a Associação Gremista de Armadores
de Valdivia denunciaram a empresa de Celulose Arauco y Constitución pelo dano causado ao rio Cruces e pela morte em massa
de cisnes de pescoço negro .
- Caso da mina Yanacocha (Peru). O agrupamento de Comunidades Campesinas
de Huambocancha e Yanacanchilla Alta
apresentou uma denúncia contra a maior
mina de ouro a céu aberto da América Latina, situada em Cajamarca. A denúncia
foi apresentada contra a empresa Minera
Yanacocha e aos Ministérios de Minas e
Energia, da Saúde e da Agricultura.
- Caso da privatização da água em El Alto de
Bolívia. Apresentado pela Federação de Juntas Vecinales de El Alto (FEJUVE), contra o
processo de privatização das águas para consumo humano por parte da empresa Aguas
del Illimani, subsidiária da francesa Suez.
Nos últimos cinco anos quais foram os
casos mais famosos e as resoluções mais
célebres?
Todos os casos que atendemos tem um alto
significado do ponto de vista da sustentabilidade hídrica e do Direito Humano à água.
De fato, um dos critérios para a seleção de
um caso é exatamente a magnitude do
dano ambiental causado, se esta causando
ou se pode causar. Alguns casos, como por
exemplo o de La Parota (México), Sipacapa
(Guatemala), rio Santiago (México) ou rio
Madeira (Brasil) tiveram uma maior cobertura da mídia, também por conta de seus
enormes impactos.
Foto: Leif Carlsson
INTERNACIONAL
O SUCESSO ECONÔMICO DEVE ESTAR ALÉM DO PIB
ÁGUA: FATOR VITAL NA
RECUPERAÇÃO MUNDIAL
‘‘
‘‘
Por LUCIANA XAVIER
A riqueza de um país engloba vários elementos:
o capital financeiro, o capital humano e o natural,
no qual água é essencial.
‘‘
Se tivermos noção correta do acesso (da população)
à água e outros recursos naturais que um país
possui, teremos um sistema melhor para medir
desenvolvimento e para entender se estamos
chegando perto de uma crise ou se estamos no
caminho do crescimento sustentável. Apenas
confiar nos números de crescimento é um erro.
É como o piloto que confia apenas no
piloto automático.
‘‘
recente crise financeira global expôs a fragilidade das
principais economias e deixou claro que é preciso repensar o modo como se avalia a prosperidade de um país.
Essa necessidade já existia antes da crise, mas deu um tom
de urgência à questão depois dela, pois os indicadores econômicos
existentes não foram capazes de sinalizar que havia algo errado no
mar de liquidez financeira mundial dos últimos anos.
A
Com isso, a palavra sustentabilidade passa a ter dimensão ainda
maior e a água começa a ocupar seu merecido lugar de destaque
no universo econômico. “A riqueza de um país engloba vários
elementos: o capital financeiro, o capital humano e o natural, no
qual água é essencial”, explica o economista francês, de origem
tunisiana, Jean-Paul Fitoussi, em entrevista por telefone, de Paris.
Fitoussi é presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE) e coordenador da comissão responsável por elaborar um estudo que mostra como se deve medir o
desenvolvimento econômico para além do PIB. Essa comissão foi
formada em fevereiro de 2008, a pedido do presidente da França,
Nicolas Sarkozy, que estava insatisfeito com os dados estatísticos
sobre a economia e sociedade disponíveis. Segundo a comissão,
“é hora de tirar a ênfase da medição da produção econômica e
colocá-la no bem-estar das pessoas”.
O grupo, chamado de Comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi, é liderado
por Fitoussi, pelo Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, presidente da comissão, e pelo economista indiano Amartya Sen, criador do IDH (índice de Desenvolvimento Humano), que atua como
conselheiro. Além deles, uma equipe de mais 22 economistas se
dedicou, durante 18 meses, a fazer o levantamento, de 296 páginas, intitulado Relatório da Comissão para Medição do Desempenho Econômico e Progresso Social.
40 AQUA VITAE
A comissão identificou os limites do PIB como indicador econômico e aponta caminhos mais abrangentes que possam unir riqueza da produção de uma economia e bem-estar da população.
Ou seja, não basta ter um Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento vigoroso, como é o caso da China. É preciso levar em conta
como se conseguiu chegar a esse PIB. Nesse aspecto, muitos do
que são admirados pela rápida expansão econômica acabam desapontando pelo alto custo pago pela população para que tal resultado seja atingido.
“A China tem esses números espetaculares de crescimento que o
governo apresenta, mas é um país ditatorial. Ela não pode ser um
modelo porque o crescimento real é conseguido à custa da destruição do capital humano”, afirma Fitoussi.
O relatório deixa claro que é preciso adaptar o modo de medição
de uma economia tendo em vista as mudanças estruturais inerentes a um processo de evolução das economias, onde qualidade
de vida passa a englobar aspectos cada vez mais complexos do
dia-a-dia. Logo, não se trata de excluir o PIB da medição do crescimento econômico, mas de expandir o alcance dos indicadores
atuais. Por exemplo, no lugar de se medir apenas emissões de poluentes, avaliar também qual a fatia da população que está mais
exposta a essas emissões ou saber quantas pessoas acabam morrendo mais rápido por causa da exposição à poluição. Ou, ainda,
quantas pessoas têm acesso à água.
“Se tivermos noção correta do acesso (da população) à água e outros
recursos naturais que um país possui, teremos um sistema melhor
para medir desenvolvimento e para entender se estamos chegando
perto de uma crise ou se estamos no caminho do crescimento sustentável. Apenas confiar nos números de crescimento é um erro. É
como o piloto que confia apenas no piloto automático”, diz.
A água é citada em inúmeras partes do relatório. Segundo o estudo, as condições do ambiente não são importantes apenas para
a sustentabilidade, mas também porque têm impacto imediato na
vida das pessoas. O acesso à água, por exemplo, também mostra
o grau de avanço de um país.
O relatório cita que melhorias em infraestrutura na oferta de água
em alguns países são responsáveis por praticamente eliminar
doenças associadas a agentes patogênicos como a cólera. “A
preocupação agora está na exposição ao chumbo presente na
água potável, resultado do transporte por meio de tubulação de
cobre e nas soldas usadas”, informa o estudo, acrescentando que
a regulação feita na Europa e Estados Unidos, restringindo os níveis de chumbo na água potável, tem levado à substituição gradual da tubulação existente.
Fitoussi disse esperar progressos no mundo nos próximos anos no
que diz respeito à medição do progresso de uma economia. Ele se
mostrou menos otimista, em relação à capacidade do mundo de
evitar crises financeiras como a atual, que é justamente a proposta
do relatório: achar caminhos que ajudem o mundo a evitar novas
crises e que levem a uma maneira de crescer que não leve em
conta apenas números, mas o ser humano. "Temo que não esteja
havendo ação coordenada no mundo suficiente para evitar ou nos
prevenir de outras crises", diz.
Para o economista, o mundo está em recuperação, mas ressalta que
esse processo será lento. "Levará muito tempo para recuperar o
que já perdemos", diz. Ele lembra que apesar de haver retomada,
o desemprego no mundo segue muito alto, a precariedade dos empregos aumentou, assim como a pobreza global.
Numa ação conjunta, explica, os países ricos deveriam estar destinando um porcentual dos pacotes de estímulo aos países com
menor capacidade para se reerguer. Isso até agora não ocorreu,
afirmou Fitoussi, e as causas desta crise continuam sobre a mesa.
Segundo ele, a proposta consta em outro estudo recente feito por
ele e Stiglitz para as Nações Unidas. “Se continuarmos com esse
jogo de não-cooperação, estaremos preparando terreno para a próxima crise”.
Segundo Fitoussi, o Brasil está em melhor posição e tem condições
de atingir um crescimento de PIB de 6% ou 7% nos próximos anos.
Mas ressalta que, para crescer com mais vigor, o Brasil tem que continuar avançando na redução das desigualdades sociais. "O Brasil
tem um longo caminho a percorrer. Ainda é um país com muita pobreza. Mas está na direção certa e não deveria se preocupar tanto
com a velocidade de crescimento e sim com a qualidade”.
Enquanto para Fitoussi a China não é exemplo a ser seguido, o Brasil, por sua vez, poderia ser incluído nos estudos da comissão. “O
Brasil poderia ser um exemplo. Primeiro, porque é uma democracia
e, segundo, porque aí há crescimento qualitativo, baseado na construção de políticas sociais”.
Foto: Carmen Abdo
AQUA VITAE 41
CULTURA
SELO PARA A ÁGUA
Por BORIS RAMÍREZ
“N
enhum recurso é mais básico que a água. Ela é
essencial para a vida, crucial para aliviar a pobreza, a fome, qualquer doença e é também crítica para o desenvolvimento econômico”.
Com base neste postulado da Organização das Nações Unidas, o
Correio Oficial da República Argentina rende homenagem à conscientização a favor da preservação do meio ambiente, tomando
como eixo principal a água.
A filatelia é uma cultura mundial. É a fixação, a arte, a paixão por
colecionar e classificar selos, envelopes e outros documentos postais. Nos selos fica representada parte da história nacional ou regional dos países mediante figuras de personagens ilustres,
monumentos, pinturas, flora, fauna, história postal e outros marcos a serem guardados na memória.
O hábito surgiu na Grã Bretanha, quando foram emitidos os primeiros selos, em maio de 1840. Desde então, se incentivou o interesse por colecionar selos, já que, algum dia, eles poderiam se
tornar uma curiosidade interessante.
Surgiu, assim, toda uma devoção por conservar e colecionar selos postais,
alguns dos quais chegam a custar uma fortuna por seu desenho, originalidade e mensagem, ou por sua raridade e antiguidade.
42 AQUA VITAE
Com uma história e trajetória de mais de dois séculos e meio,
os serviços postais na Argentina acompanharam o país em seu
desenvolvimento econômico, social, político e cultural. O Correio
Argentino dedica todos os anos uma emissão à preservação do
meio ambiente.
Em 2009, foram confeccionadas estampas que destacavam a necessidade de se cuidar da água. Foi incorporada também, pela primeira vez, uma “raspadinha”, que ao ser riscada apresentava a
seguinte mensagem: “cuidar da água salva o planeta e esta conquista está em nossas mãos”, tal como se explica em seu volante
filatélico.
O Correio Oficial Argentino decidiu ilustrar esta emissão pelo fato
da água ser um recurso essencial para a vida e crucial para o desenvolvimento econômico do Planeta. Desta forma, os Correios
somam esforços ao que vem sendo desenvolvido pelo Estado,
pelas empresas, por ONGs entre tantos outros setores, e tentam
conscientizar seus usuários acerca do uso responsável da água,
com o objetivo de resguardar o capital hídrico argentino.
Assim, a água continua sendo filtrada em diferentes atividades humanas, que pretendem divulgar suas mensagens e gerar conhecimento. Neste caso, a filatelia se transforma em um veículo
atraente, poderoso e capaz de fluir livremente pelo mundo.
EXPERIÊNCIA LÚDICA
Mariana Scotto, Chefe de Desenho da Filatelia do Correio Argentino, acredita que este selo é um aporte fundamental para se
continuar sensibilizando e, acima de tudo, informando sobre a
água, de maneira lúdica e prática.
Qual a razão do Correio Argentino dedicar uma emissão
com base no tema hídrico?
O plano de emissões do Correio Oficial da República Argentina
S.A. prevê vários selos fazendo referência à preservação do meio
ambiente, contribuindo, desta forma, para com a informação
sobre a problemática atual que se vive em relação aos recursos
naturais, neste caso a água.
Quais os resultados esperados?
A preservação deste recurso básico e vital exige uma ação em
conjunto de todos nós (população, empresas, Estado). Por meio
dos selos, esperamos conscientizar as pessoas para que, mediante
um consumo responsável e cuidadoso, seja possível preservar esta
valiosa fonte de vida.
A água já não corre apenas nos rios,
lençóis freáticos e outros ecossistemas.
Graças ao Correio Argentino, agora flui
num selo, que viaja pelo mundo levando
uma mensagem de educação e consciência
a favor dos recursos hídricos.
De que maneira a filatelia pode ajudar a promover a água?
Sendo um veículo cultural, os selos postais “viajam” pelo mundo
contando nossa história, nossa cultura e a realidade de cada país.
Estão à disposição de todos aqueles que queiram descobri-los
e conhecê-los, já que podem ser usados tanto para colecionar
quanto franquear os envios realizados na ordem nacional e
internacional.
Como foi o feedback dos usuários?
Esta peça postal, em particular, teve uma grande repercussão, já
que nem sempre podemos “aprender jogando”. Sua nova apresentação com o artifício da “raspadinha” permitiu ao público participar lúdica e ativamente.
CARACTERÍSTICAS POSTAIS
Desenho dedicado à água:
• Gotas d’água e dados, em porcentagem, de suas características no Planeta.
• Mão recebendo uma gota d’água, onde foi aplicada tinta prateada sobre uma laca setorizada, prevista para
realizar a raspadinha e encontrar a mensagem que completa a legenda “Cuidar da Água”.
Folha block:
- É dividida em três seções: “Como obtemos água?”, “Como usamos a água?” e “Usamos corretamente a água
que temos?”. Na parte superior lê-se “SOS Água”, simulando uma escrita com água, e na parte inferior, os diferentes processos da água para o consumo humano.
- Em oito quadros foram aplicadas tinta prateada sobre uma laca setorizada para simular o efeito d’água, que ao
serem raspadas completam as mensagens dos textos visíveis.
Referências:
• Tinta prata sobre laca setorizada – “raspadinha”
• Tamanho real: 300 x 100 mm
• Valor: $10 (2 selos x $ 5 cada um) Pesos argentinos.
EFEITOS DA MUDANÇA
CLIMÁTICA NO CICLO DA ÁGUA
CCOMPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA
RADIAÇÃO
SOLAR
H2O, CO2, CH2, N2O, O3, ETC.
AEROSSÓIS
NUVENS
CICLO HÍDRICO
VARIABILIDADE E
MUDANÇA CLIMÁTICA
EVAPORAÇÃO-PRECIPITAÇÃO
INTERAÇÃO
ATMOSFERA-GELO
RADIAÇÃO TERRESTRE
INTERCÂMBIO
DE CALOR
INDÚSTRIAS
MAR-GELO
TRANSPORTE
OCEANOS
CIRCULAÇÃO OCEÂNICA,
NÍVEL DO MAR,
BIOGEOQUÍMICA
44 AQUA VITAE
MUDANÇA EM USO
E COBERTURA DA TERRA
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Os
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CICLO DO CARBONO
AÇÕES E CONTRIBUIÇÕES
HUMANAS
ECOSSISTEMAS
CIDADES
VULCÕES
INTERATIVIDADE ENTRE
ATMOSFERA E BIOSFERA
CAPA DE GELO
GLACIAIS
VEGETAÇÃO
AGRICULTURA
SUPERFÍCIE DO TERRENO
RIOS
INTERATIVIDADE
VEGETAÇÃO-SOLO
AQUA VITAE 45
CALENDÁRIO 2010
SETEMBRO
21 A 24
ABRIL
21 A 23
17º CONFRESSO ARGENTINO DE SANEAMENTO
E MEIO AMBIENTE
Local: Buenos Aires, Argentina
Site: www.aidisar.org.ar
Organização: Associação Argentina de Engenharia
Sanitária e Ciências do Ambiente
PRIMEIRO CONGRESSO INTERNACIONAL DE
HIDROLOGIA DE GRANDES PLANÍCIES
Local: Ciudad de Azul, Argentina
Site: www.ihlla.org.ar
Organização: Universisdade Nacional do Centro
da Província de Buenos Aires, Comissão de Pesquisa
Científica de Província de Buenos Aires e do município
de Azul
SETEMBRO
22 A 24
JUNHO
06 A 09
WATER LOSS 2010
Local: São Paulo, Brasil
Site: www.acquacon.com.br
Organização: Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (SABESP) e Instituto
Mundial da Água
18º CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE
HIDROTRANSPORTE
Local: Rio de Janeiro, Brasil
Site: www.bhrconferences.com/Hydrotransport_18.aspx
Organização: BHR Group
OUTUBRO
11 A 13
JUNHO
16 A 19
CONFERÊNCIA DA HISTÓRIA DA ÁGUA 2010
Local: Delft, Países Baixos
Site: www.waterhistory2010.citg.tudelft.nl
Organização: Associação Internacional da História
da Água, Universidade Tecnológica de Delft e
Instituto da UNESCO de Educação para as Águas
CONFERÊNCIA HIDROLÓGICA 2010. MUDANÇAS
FÍSICAS E SOCIAIS DOS IMPACTOS HIDROLÓGICOS
Local: San Diego, Estados Unidos
Site: www.hydrologyconference.com/
Organização: Diário Hidrológico Elsevier, Instituto da
UNESCO de Educação para as Águas
NOVEMBRO
21 A 25
JULHO
05 A 07
CONFERÊNCIA NACIONAL DE JOVENS
PROFISSIONAIS DA ÁGUA.
Local: Sidney, Austrália
Site: http://www.iwa-ywpc.org/
Organização: Associação Australiana da Água e
Centro de Pesquisa da Água
XXI CONGRESO LATINOAMERICANO
DE HIDRÁULICA
Local: Punta del Este, Uruguai
Site: www.aidisar.org.ar
Organização: Faculade de Engenharia - UDELAR, Instituto de Mecânica de Fluídos e Engenharia Ambiental e
Associação Internacional de Engenharia e Investigações
Hidro-Ambientais.
DEZEMBRO
06 A 08
SETEMBRO
05 A 11
SEMANA MUNDIAL DA ÁGUA
Local: Estocolmo, Suécia
Site: www.worldwaterweek.org
Organização: Instituto Internacional da Água
de Estocolmo
46 AQUA VITAE
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE LENÇÓIS
FREÁTICOS TTRANSFRONTEIRIÇOS: DESAFIOS E
NOVAS PAUTAS
Local: Paris, França.
Site: www.isarm.net
Organização: Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura, Plano Hidrológico
Internacional, Associação Internacional de
Hidrogeólogos e Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente.
‘‘
‘‘
Uma das muitas coisas que aprendi
sendo presidente é que a água ocupa
um lugar predominante nos assuntos
sócio-políticos e econômicos de meu
país, de meu continente e do mundo
Nelson Mandela
Ex-presidente da África do Sul, Prêmio Nobel da Paz 1993
ARCOS
A Silvina Ocampo
¿Quién canta en las orillas del papel?
Inclinado, de pechos sobre el río
de imágenes, me veo, lento y solo,
de mí mismo alejarme: letras puras,
constelación de signos, incisiones
en la carne del tiempo, ¡oh escritura,
raya en el agua!
Voy entre verdores
enlazados, voy entre transparencias,
río que se desliza y no transcurre;
me alejo de mí mismo, me detengo
sin detenerme en una orilla y sigo,
río abajo, entre arcos de enlazadas
imágenes, el río pensativo.
Sigo, me espero allá, voy a mi encuentro,
río feliz que enlaza y desenlaza
un momento de sol entre dos álamos,
en la pulida piedra se demora,
y se desprende de sí mismo y sigue,
río abajo, al encuentro de sí mismo.
Octavio Paz, México
‘‘
‘‘
A água é o tesouro mais precioso do planeta e
aprender o máximo sobre ela é um assunto de
responsabilidade pessoal. Por meio de nossos
pensamentos, palavras, orações, de nossas
manifestações de gratidão e amor mútuo
contribuímos para a conscientização.
Que nosso entendimento sobre a água traga
paz ao mundo inteiro.
Dr. Masaru Emoto
AQUA VITAE 47
ANO 6 | 2010 | N°10

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