Alê -Boa noite, eu não conheço a todos e acho que

Transcrição

Alê -Boa noite, eu não conheço a todos e acho que
Alê
-Boa noite, eu não conheço a todos e acho que não nos conhecemos todos mas essa
intimidade vem surgindo com o tempo. Meu nome é Alê, sou artista plástico, trabalho
aqui no Ateliê Sustentável, trabalhamos questões relacionadas a produção artística e à
sustentabilidade. Muito bom tê-los aqui e espero tê-los muitas outras vezes pra trabalharmos
juntos. Hoje estamos dando continuidade ao processo de construir a república autônoma e pra
mim é muito interessante. Eu imaginava que a gente ia alcançar uma galera bacana mas tá
superando as expectativas, cada vez mais pessoas interessadas em debater uma utopia muito
interessante que é essa do espaço internacionalizado, da não-fronteira, de uma sociedade
que se auto-organiza e se auto-gere, acho que tudo isso tá no centro desse debate de construir
uma constituição e fazê-la valer em alguns territórios durante períodos determinados, é um
pouco o que a gente tá pensando, e particularmente "como a gente vai fazer isso?". Fazer
com que esses territórios sejam ocupados de uma forma adequada, como que a gente vai
fazer essa construção? Como vamos transar com outras pessoas de outros lugares, como a
gente internacionaliza um processo e ao mesmo tempo mantem seu caráter local? Em algum
momento tem um mecanismo paraestatal de gestão do estado, onde possamos incidir usando
o mesmo orçamento que o estado tem, como a gente usaria aquele orçamento, por exemplo?
Como a gente poderia estar trabalhando com a realidade de uma forma virtual, ou mesmo
existindo na própria realidade como um grupo que tá ocupando o local. Então esses encontros
têm servido pra gente acumular muitas idéias de tudo isso e esse vai ser fundamental pra que
a gente coloque tanto a parte do pensamento como da ação mais afinados e que a gente possa
sair daqui se conhecendo e compreendendo melhor o que cada um deseja dessa república,
dessa iniciativa, dessa união onde a gente tá declarando antes de tudo que somos cidadãos do
mundo e que onde quer que estejamos merecemos ser tratdos como iguais em qualquer lugar
do mundo. Não temos que estar submetidos a ser estrangeiros. Estamos abolindo esse termo
e isso é muito legal, porque estaremos em uma copa do mundo e se a gente tem um ponto que
a Copa do Mundo como momento estratégico, tático, enfim, de ação, a gente vai estar lidando
com gente do mundo inteiro, então precisamos engajá-las na nossa discussão. Acho que seria
bacana o Filipe dar uma lembrada sobre nosso último encontro e depois a gente faz aquela
roda onde cada um se posiciona e acumula o debate.
Filipe
-Maneiro, e acho que o mais legal desse papo é que cada vez mais novos grupos têm se
conectado a uma idéia que já vem circulando de maneira meio gasosa na cabeça de todo
mundo mas que a república canaliza bem que é uma forma prática de colocarmos uma série
de conceitos e experiências em contato, em comum, no período que vai ser foda, que é a Copa
do Mundo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, então todo esse espaço que o Alê fala acho que é
maneiro cada vez mais terem grupos chegando junto pra somar, enfim, então a gente fez uma
reunião na semana passada lá no apartamento do NINJA, com a mesma pegada da feijoada,
que tá inclusive institucionalizada na república todo sábado. É o prato nacional. Enfim, ficamos
lá trocando várias horas de idéia e surgiram várias questões. Conseguimos decupar ao menos
50 pontos que tão aqui a princípio dividido em algumas áreas de um campo mais conceitual,
um mais de produção, um mais de comunicação e outro de mobilização. Eu acho que vou dar
uma lida rápida, tem bastante coisa mas tá super conectado com o que a gente já tava falando
antes e enfim, estamos super conectados também. Serve como uma boa base.
[Leitura da ata]
Migueis (durante a leitura da ata)
-Tem um ponto a respeito do local que algumas pessoas preferem o aterro pelo tamanho, mas
a cinelândia é um ponto mais seguro então lá pode ser que seja melhor. Enfim, há uma série
de questões que ainda não estão resolvidas e quem tá chegando pode contribuir com esse
processo inteiro, não só com a questão do aterro, então podem ser incluídas ou excluídas as
coisas na medida em que for avançando.
Filipe
-Eu acho que é isso, a gente chamar cada vez mais pessoas, é um processo totalmente
aberto, tem um grande start dado, a gente tem uma puta oportunidade de uma janela global
na época da copa e que a gente precisa apresentar proposta, acho que o desafio disso tudo
é a criação, não dá pra gente se pautar em manifestações pela negação, a negação pela
negação, do impedimento, enfim, acho que a gente tem que trazer propostas e a república é
uma grande plataforma, um grande laboratório pra essas propostas. Não temos que pensar na
lógica do "isso" ou "aquilo", temos que estar na lógica do "e", que são as somas daquilo mais
aquilo mais aquilo outro, mais o que pensa aquele grupo, mais o que aquele coletivo faz, mais
o debate que tá colocado aqui, e isso tudo em consonância vai criar um ambiente cognitivo
do caralho, então acho que aqui é mais uma oportunidade de a gente ouvir e pensar idéias
que são relacionadas a isso, né? Acho que essas duas primeiras divisões são importantes, de
pensar o que é a república no campo conceitual e já ter uma noção prática daquilo que pode
ser feito, então, acho que o Catumbi tem uma grande expectativa de que a gente consiga com
todo o propósito da ocupação Eriksson Pires fazer uma parada foda. Então acho que é isso,
é a gente pensar. Pensar em programas que podem ser feitos ao vivo, em quais os sistemas
que a gente pode fazer, que é algo que já tá na mão, se a gente quisesse fazer um programa
amanhã já conseguiríamos armar.
[Voz desconhecida - 36min17s]
-Posso tirar uma dúvida? É a primeira reunião que tô participando e queria compreender
melhor o processo, o propósito, enfim. Pelo que eu entendi aqui, a galera tá reunida num
processo de constituir uma república autônoma e essa república seria um território de
autogestão, livre, nômada, internacional como ele disse, e eu queria entender melhor os
propósitos disso, como seria construído, vi mais ou menos ali, entendi que agora vocês querem
aproveitar o advento da Copa pra apresentar esse modelo pra apresentar pra essas pessoas
que tão aqui, aumentar a interação. Mais ou menos isso?
Filipe
-Acho que é isso, apresentar esse modelo é uma construção, o modelo que vai ser
apresentado é também esse debate que estamos fazendo. O que tem são várias provocações
que estão colocadas e como a gente em grupo com experiências de coletivo não soma isso
também numa experiência nova. O que vai ser essa república é o que vai ser construído.
[Voz desconhecida - 38 min]
-É uma construção de um pensamento, né, não é uma coisa demarcada, não é um território
com bandeira. Seria um Brasil ideal, assim…
[discussão ininteligível]
Migueis
-a idéia é estarmos em estado de utopia e buscarmos entre as pessoas que estiverem
individualmente dentro do processo nortes comuns do que nós pensaríamos, do que
acreditaríamos que pode ser bom pro Brasil
[Voz desconhecida 38min40s]
- um grande debate de um novo modelo diferente disso tudo que tá aí
Migueis
-e no final vai ser expedido um documento que é uma constituinte de nortes comuns desses
diversos segmentos que estarão lá dentro.
Peixoto
-Olha, hoje existe um gerador imediato ao poder do estado que é o ato de constituição.
Depois da Assembléia Nacional Constituinte se reunir, ela promulgar uma constituição. O
que vem antes disso? Uma assembléia. Enquanto o movimento é um movimento de reação e
reclamação e de ser contra, ele tem uma característica. A outra característica é isso que está
sendo proposto: vamos construir. Vamos sentar em assembléia, o momento principal, e aí eu
vou dizer: quer saber o que eu acho que é ordem pública? É a possibilidade de a gente ordenar
esse nosso diálogo. Quer saber o que eu acho de segurança pública? É todo planejamento que
vamos fazer pra instalar essa república autônoma, um lugar de expressão da cidadania que se
eu tenho autonomia na minha vida privada eu quero autonomia na minha publicidade porque
o que a gente tá fazendo é uma coisa pública e política e é isso que a gente tem que garantir,
que isso seja propagado.
[Voz desconhecida - 40min05s]
-Eu tô entendendo isso como uma grande intervenção na tentativa de discutir e construir um
modelo novo ou até de questionar esse modelo
[discussão com 3 a 4 falas diferentes sobrepostas]
Peixoto
-Zona autônoma tem uma coisa que o pessoal diz não saber se é possível porque todo lugar
tem um estado. Os caras encastelados vivendo de segurança, etc…
No dia anterior à promulgação da Constituição depois da Revolução Francesa os caras
fizeram o regime de terror. A perseguição pelo estado, então tem gente que diz: "mesmo que
tenha propiciado pra escrever uma constituição muito boa, esse processo cria um império,
concentra." E criou também um regime policial que tá até hoje, então vamos fazer uma
revolução permanente, são outros que falam. De qualquer maneira todo esse discurso, mesmo
liberal, que é mais conservador, fala que a gente precisa de uma ordem dos trabalhos dentro
da assembléia. Como a gente vai colocar no primeiro lugar da fila um assunto ou outro? Toda
essa parte de programação cultural, cada uma delas pode chamar uma pauta do que a gente
vai discutir nessa constituição, intervenção, filma, documenta, assembléia, decisão. Assembléia
precisa ou não precisa estar no mesmo lugar onde acontecer a ocupação? Ela pode ser virtual,
vai mais gente participar, pode estar lá ou não.
[Voz desconhecida - 41min56s]
-Tem bastante coisa que o Filipe falou nessa lista. Acho que tá chegando a Copa e não temos
muito tempo pra ficar pensando. Criamos aquele grupo Evangélicos Pacíficos, o Filipe e o
Migueis participaram, e a gente tentou cada semana fazer uma reunião e não chegamos a
lugar nenhum.
[Voz desconhecida - 42min21s]
-Fui eu quem criei aquele grupo, e na hora que estávamos conseguindo concatenar as coisas
teve o episódio da morte do cinegrafista e naquele momento aquilo deu uma reviravolta fudida.
Ficou estranho até nas ruas… a idéia tá lá, mas esfritou. Depois eu queria apresentar aqui hoje
uma outra idéia que tava discutindo com o Peixoto ali, uma intervenção…
[Voz desconhecida- 42min44s ]
-Eu só penso assim: se a gente tá focado na Copa, vamos fazer algo pensando na Copa. Se
tiver que discutir pós-copa e tal, discutiriamos, mas agora vamos focar nos eventos da Copa,
isso é muito mais importante do que ficar debatendo coisas que pra mim não vêm ao caso
agora no momento.
Alê
-Posso falar uma coisa? A gente tem dois mecanismos de fazer reunião. As vezes certas
dúvidas que a gente tem vão ser contempladas nas falas dos amigos. Eu sugiro que a gente
mantenha a circularidade na nossa reunião pra dar oportunidade de todo mundo falar e quando
chegar sua vez cada um coloca suas dúvidas no seu momento, porque assim a gente vai mais
rápido e contempla a todos. Cada um sabe que tem um tempo restrito pra falar. E na segunda
rodada a gente debate mais, deixa um pouco mais aberto, porque já teve esse círculo de
visões e a gente já se posicionou melhor.
Proença - OAB
-Oi, eu sou Proença, sou da OAB, também sou advogado, conheço algumas pessoas aqui
mas talvez não conheça a maioria. Bom, também tô vindo pela primeira vez mas a minha
sugestão seria… Eu vi aqui algumas pessoas que tavam ocupadas lá na cinelândia em 2011.
Não sei se todos estavam lá, e aí na falta de uma outra proposta a gente usar aqueles GT's e
aquelas divisões como base pra gente se orientar na hora de dividir as tarefas, dividir as áreas
de atuação, de constituição dos pilares dessa república. Vejo esse momento aqui como um
aprofundamento, uma radicalização daquele momento anterior, um momento inicial e tal. Acho
que a gente pode construir a partir da experiência que muitos aqui tiveram.
Vitor
-Acho muito massa vocês estarem nesse movimento aqui de se encontrar e construir, porque
de fato existe uma espécie de lacuna entre uma afirmação, digamos de uma resposta, de uma
insurgência radicalizada na rua que tá muito centrada no confronto, muito centrada no ataque
aos símbolos, e que tem a ver também, tá num contexto oportuno também, mas enfim, quem
vive esse processo acaba percebendo que existe um espontaneísmo, uma superficialidade
que é uma coisa da energia mesmo, do insurgir. A formação política ela tá muito na ação,
então a gente precisa compreender que aquela inconsequência juvenil às vezes que a gente vê
na manifestação e que as vezes a gente até de uma certa maneira não concorda, ela carrega
uma sistematização de perguntas talvez não tão elaboradas quanto essas que a gente seja
capa de fazer mas é um grito ali que tá se conectando com outros e que de uma certa maneira
infelizmente não encontra muita representatividade muito no que a gente faz, infelizmente.
Eu trabalho muito com jovens de algumas dessas áreas que a gente visa conectar nesses
momentos, essa juventude de manguinhos, maré, de várias atividades de guerrilha, enfim.
Mil coisas, assessoria jurídica, mapeamento, e a real é que é foda falar isso mas eu sinto que
a gente corre ainda numa espécie ainda de modelo que deveria ser constituído como outros
modelos fundamentalmente porque a gente não consegue muito conectar uma juventude que
faz um corpo interessante, aquela juventude que estávamos discutindo sobre os princípios,
que pensa uma coisa mas que depois pensa outra, e que é muito mais hiperconectivo que
aquele sujeitão sentado no sofá já cheio de preguiça de ouvir coisas novas, de ver streaming.
E a juventude é mais impulsiva. A provocação que eu deixo como possível contribuição aqui
é "em que momento a gente não vira um repositório de modelos pra grupos que têm ali seus
modelos também mas não sabem muito como se conectar? A grosso modo desconstruir o
papo de adulto, de militante, de movimento, ligado em tudo que tá acontecendo, que tem toda
a leitura geopolítica da questão, e como tocar essas sutilezas porque a real é que a gente vê
até mesmo por quem tá participando desse grupo, ele tem um certo perfil, uma faixa etária
mais ou menos e se a gente quer ser internacional, autônomo, sem fronteira, a gente tem que
questionar tudo, até a própria taxonomia da questão. Que tipo de comunicação ou códigos
vamos construir? Vamos cair no Catumbi pra um laboratório pára-quedas ou já vamos conectar
o que já existe? Tô usando como uma espécie de organicidade, porque eu imagino que todos
os que estão aqui participem de atividades, de construção, etc. Um pouco da fala do amigo até
me traz essa reflexão. Tem vários grupos, várias reuniões, como a gente reconhece com uma
certa humildade que não vai limitar e fazer uma vanguarda que reinventa algo que não é muito
possível de ser reinventado. Uma provocação muito importante é como a gente garante desde
o processo matriz…
Youssef
-Eu acho sensacional poder falar depois de você porque eu posso dizer que "faço minhas as
suas palavras". Eu quero acrescentar uma coisa: porque tem essa questão de juventude e
os velhos jovens, e isso vai além de faixa etária, vai pelo cansaço da vida, necessidade da
vida. O legal é o equilíbrio no meio, pois é genuíno a força dos jovens, mesmo que a gente
fique puto com algumas atitudes. Às vezes existe muito amor, muita vontade, muita novidade
girando em torno da cabeça das pessoas, aquele impulso do novo. Isso é genuíno, é forte, é
do caralho, porque é um amor e às vezes falta informação mesmo, isso é normal, a informação
se adquire com o tempo. E eu acho que essa república é uma necessidade de formar, gerar
informações e acho que ela se forma com pessoas se assimilando, discordando. Eu sempre
gosto de valorizar a diferença, e acho que a unidade está em questões de direitos, porque
como uniforme é terrível, ela é fascista. A diferença é incrível, e conseguir conviver é a luta da
humanidade. Mas na última vez eu me apresentei brincando que eu era Policial Militar, pois
estávamos discutindo a polícia. Mas a questão é que eu me apresentei porque quando a gente
fala sobre uma república sem fronteira, falamos de todo mundo. Uma coisa que me chamou a
atenção e eu queria questionar, é: dentro dele tiveram duas perguntas que eu tô na dúvida se
eu tô certo… Quem queremos que esteja lá? E isso é terrível, porque a gente sabe que somos
segregadores, pois a luta contra o preconceito, de saber conviver ela é quase eterna. E quando
falamos de república estamos lidando com o todo, não podemos ser excludentes, termos o
modelo ariano. E que a idéia não seja pela imposição e pela liberdade de a pessoa querer estar
bem com aquilo. Mais que idéia é uma execução de uma comunidade. Desconstruir e ter que
abrir mão pro outro é uma grande complicação, mas ainda é uma questão que vamos lidar.
Você falou sobre o Catumbi: está com completa razão, porque quando chegamos no Catumbi
somos totalmente de fora. E eu remeto ao que você falou, como transar com outra cidade? Só
aqui temos nações e cidades diferente, tem quase um Brasil aqui. Aqui já tem núcleos.
Filipe
-Acho que a proposta é essa, de fazer uso do que já existe
Youssef
-Eu quero comentar sobre o Catumbi. A gente chega, são pessoas de fora, etc. E a gente
tá ocupando uma área que as pessoas já têm uma história. Acho que um passo a mais
como experiência é a interação com o local. Isso é passo fundamental pra qualquer pessoa.
Por muitos anos os antropólogos foram mortos porque queriam estudar os esquimós e não
entendiam. A questão é entender e respeitar o que já existe. Tem que ter um diálogo. Muitos se
sentem invadidos, e não interagidos. Gerar disso um dia a dia de compromisso, respeito, pra
que isso seja feito e essa experiência gere conteúdo, outros núcleos, e aquilo seja, né…
Carol
Passando a palavra.
Daniel
-Eu acho assim gente, é a primeira feijoada que eu venho aqui do França. Conheço ele há
16 anos, desde a época do mata-mosquito que teve na cinelândia, que foi uma das maiores
ocupações que já tiveram, e lá eu o conheci, fiz amizade. É a primeira reunião que eu venho
aqui, tenho o maior prazer de estar aqui, entendeu? Mas eu acho assim: caralho, a copa tá
chegando. Se a gente ficar debatendo muito ninguém vai agir, entendeu? Eu acho do caralho,
cemitério, bacana. Como a gente vai fazer, vamos criar logo rapidinho? Daqui a pouco passa
a Copa e vai virar mais um ato "ah, nós queríamos fazer, mas não fizemos". Acho que esse é
o momento, entendeu? Vamos colocar as coisas de forma objetiva, vamos ser objetivos, é isso
que eu penso. É isso que tenho pra falar, assim.
Wilson - Ativista independente
-Meu nome é Wilson, algumas pessoas me conhecem aqui, também venho pela primeira vez,
dando um salve pra todo mundo. Tentar contribuir de alguma maneira pra que vivamos em um
mundo melhor, minha intenção aqui é essa. Eu tô querendo compreender melhor, acho que já
tô entendendo mais ou menos a proposta de vocês e eu queria saber se esse assunto aqui é
estanque a isso. Eu não poderia falar sobre outra coisa relacionada ao lance da Copa tá
chegando, ou se é o momento só de falar da república autônoma e não tem outro assunto.
Pode ser? Até porque, eu queria apresentar rapidinho porque vamos ter que sair rapidinho. É o
seguinte, eu acho isso do cacete, mas sobre isso o que eu tenho a dizer é o seguinte:
apresentar de uma forma mais simplificada, mais objetiva, numa linguagem mais simples, e
fazer mais rápido, como ele tá falando. Eu também concordo com o Daniel, apresentar a
proposta rápido, hoje mesmo, pra não deixar passar de hoje. O que vamos fazer na semana
que vem pra fechar uma agenda? Estabelecer tarefas e fazer. O que eu tinha a dizer é o
seguinte: a Copa tá aí, é um evento onde todos os olhos do mundo vão estar no Brasil, e é um
momento em que é fundamental e necessário que se façam manifestações e se demonstre
insatisfação com esse modelo que tá sendo colocado, com nosso governo, as coisas que tão
rolando… Não é pra não fazer, é pra fazer, é o momento de fazer, agora o seguinte. Eu já fiz
uma proposta uma vez, mas esse lance que ele tava falando ali é de um blocão dividido em
aulas, e a gente colocar 5 coletivos em cada aula. Estávamos desenvolvendo isso e houve
aquele episódio do Santiago, e a maioria das pessoas envolvidas era midiativista, aí ficou uma
coisa meio.. Isso foi uma coisa, o trabalho tá parado lá, se quisermos meter a mão. A minha
proposta é o seguinte, em razão disso, por conta do advento da copa, ser um momento onde
todos os olhos do mundo estão aqui e ser tão necessária uma demonstração e eu andei
pensando muito sobre o que a gente fez também e minha proposta é sempre fazer e tentar
usar a cabeça pra trabalhar com inteligência e fazer alguma coisa que se sobrepujasse à
repressão do estado, que driblasse, enfim. Essa idéia surgiu porque a atuação do Estado
estava funcionando, eles estavam conseguindo foder o movimento social, desestabilizar os
protestos, dividir todo mundo, tá funcionaodo. Eles vivem disso, eles têm um serviço de
inteligência pago pra ficar o dia inteiro pensando e trabalhando nisso, eles têm o poder, o
dinheiro, então a gente não adianta chegar e partir pro combate até porque a maioria não vai.
Não dá pra cobrar isso das pessoas que são pacíficos, que têm outra linha. Então pensando
nesse sentido, surgiu uma idéia: na Copa, de uma maneira irreprimível, legal, inteligente. Eu
não vou sair na porrada com um cara que tá de teaser, com choque, que têm 50 contra 1, o
outro tem fuzil escondido, etc. A mobilidade durante a Copa vai ser via terrestre. Podia fazer
uma carreata num dia do maior jogo do Maracanã, a final. Marca 3 eventos, um na Tijuca, outro
na Mangueira e outro na Vila Isabel, com 3 bairros circunscritos, e volta no Maracanã. Quem
tiver carro manda botar na rua, quem você conhece, vai todo mundo. 5 horas antes do jogo pra
dar um nó de 10, 20 km no trânsito da redondeza. E outra, a polícia vai dizer o que? Eles não
têm como guinchar todo mundo. Aí no meio dessa história podemos chamar vários grupos,
fazer pelada na rua, enfim, inventar coisas em cima disso. Todo o aparato envolvido no evento
não vai conseguir chegar, ou então vai atrapalhar muito, vai ser um inferno mesmo que eles
consigam. Aí vai surgir um monte de gringo perguntando o por que, e podemos criar nossa
narrativa. Isso era só uma proposta inicial, pensar em coisas que funcionem sem ter como a
polícia ou o estado fazerem nada.
[Voz desconhecida - 1h10min]
-A imprensa mundial tá chegando no Brasil. Ontem teve aquela manifestação no Largo do
Machado, e teve uns 40 moleques que queimaram o Pezão. Saiu na Folha hoje uma matéria
gigante. Você tem aquela molecada ali, tá andando com eles, e eles sem rumo. Aí você do
nada vira e diz: "Rolezinho no Shopping Botafogo pô, tá do lado. E a galera abraça, 'pô, partiu,
bora lá'. " Entendeu? Você tem como guiar a galera e vai sair na mídia. É uma insatisfação.
[Voz descnhecida - 1h10min56s]
Inclusive a idéia é fazer alguma coisa perto do Maracanã, né.
Youssef
-é uma coisa imediata, né, inclusive à história inteira da humanidade. Entende? As pessoas
tão procuando por ela pra falar a verdade, e aí vão surgindo… é sensacional. Essa molecada
tá vendo muita coisa e precisa de informações que abram os olhos dela, porque elas tão
despertando agora pra um monte de coisa. Isso é diário essa construção, é no dia a dia. Cada
uma dessas pessoas que tá aqui é um país, e que junta e forma um todo, mas é cada um em si
um indivíduo coletivo.
Duda
-Eu sou de Recife, morei aqui por dois anos, milito no movimento de dança. Voltei pra Recife,
participei de outras militâncias e voltei pra cá no último dia 10 e tô aqui duas vezes por semana
trabalhando com consciência corporal. Acredito que todo lugar de militância é um lugar onde
precisamos também nos ocupar, muitas vezes eu vejo as pessoas sem um lugar pra escoar
a angústia, ansiedade, indignação, e acho que precisamos escoar essas coisas pro chão, e é
um lugar necessário nesses lugares agora que estão sendo construídos. E tô nessa militância
corporal. Mas tem um monte de coisa, se quiser eu vou dizendo, mas é mais ou menos isso.
Verônica - mobilizadora do Ocupa Lapa, comissão do Reage Artista
-Boa noite, tô chegando aqui hoje pra entender o que vocês estão pleiteando não só pra Copa
mas também como legado sobre isso. Ouvi alguns de vocês e desde o ano passado envolvido
com coletivos e movimentos o que eu percebo é que muitas das ações são muito efêmeras e o
resultado é tambem efêmero, então o que permanece mesmo sobre cada ato que a gente se
propõe a realizar? E outra coisa que eu acho importante são as relações, então muitas vezes
desde o grupo da liberdade ou até mesmo no Ocupa Lapa o que me interessa muito é
conhecer as pessoas e tentar de alguma forma aprender com o pensamento delas ou me
modificar, modificar as pessoas ao redor. Me preocupa uma idéia que vem da sua parte e você
não tá pronto pra mobilizar ela, por exemplo, não tá aqui pra fazer acontecer porque não tem
tempo. Acho que a idéia que a gente traz a gente tem compromisso também de fazer com que
ela se realize. É um pouco também gerar esse filho, tem que estar gestando ele também. Aí eu
quero saber um pouco mais dessa república. Acredito que as próximas ações devem ser
pensadas não como uma coisa efêmera mas algo como legado. A gente tá articulando pra
Domingo que vem o Facerua que já acontece no Ocupa Lapa durante a programação. E o
próximo FaceRua vai ser no Méier, Domingo, e a gente vai falar sobre Segurança Pública. E
acho que a ação principal seria multiplicar o FaceRua e fazer disso um hábito na cidade. Isso
sim pode transformar a cidade pra daqui a 2, 3 anos, porque a Copa vai acontecer agora, vai
acabar e a gente precisa de um legado que fique, pra que as pessoas possam realmente ter o
hábito de se encontrar, de se conhecer e de conversar. Acho que com isso a gente tem uma
vitória inclusive contra a violência, sobre a participação política, enfim, aprender a se
comunicar, ouvir o outro, se expôr, dizer quem você é, de onde você vem, o que você pensa.
Então isso é um hábito que não faz mesmo parte do urbano, mas eu acho que a gente tem as
praças pra fazer acontecer e eu acredito muito mais na rua pra esse motivo. Não tanto pra
uma manifestação, um ato que cause simplesmente o caos pelo caos. Essa é minha opinião só
pra deixar claro. Eu acredito que precisamos mobilizar no sentido de discutir as questões,
então semana que vem o FaceRua é em parceria com o Ocupa Areia, que tava rolando todo
domingo no arpoador. Então a gente tá fazendo lá e em seguida uma festa. Debate seguido de
festa. E tem também próximo que a gente tá articulando, que é o FaceRua da Vila Autódromo,
por causa das remoções, etc. Eu dei uma olhada no que falaram semana passada e dei uma
olhada na ata do evento, e acho que ali já tinha demandas pra essa semana, de trazer novos
coletivos, articular a cidade como rede mesmo, eu acho que já vem pauta pra tá acontecendo
Filipe
-Que é o que tá acontecendo agora, né…
Voz desconhecida
Já acrescentou pessoas, mas acho que temos que partir também pra um lugar aberto onde as
pessoas possam ir chegando.
Verônica.
-Catumbi já vai ser assim, né, aberto, pras pessoas chegarem, acho que tem que mobilizar.
[Voz desconhecida - 1h20min23s]
-Eu queria só fazer uma réplica, porque você me citou ali, o ponto que você falou que eu
concordo veementemente e sempre foi preocupação minha é a efemeridade das intervenções
e o legado, o que fica de fato, de concreto. Acho que isso é uma coisa que deve ser pensada
realmente, porque nessa ebulição toda que rola desde junho, faz-se muita coisa e não fica
muita coisa. Com relação ao que você falou de eu lançar uma idéia aqui, eu me preocupo
sempre em fazer uma coisa que seja mais efetiva, minha preocupação é essa. Eu me propus a
fazer isso em uma outra ocasião e eu tomei as rédeas, criei os grupos, fui atrás do pessoal nas
manifestações, chamei o pessoal dos coletivos, fizemos algumas reuniões. eu me propus a…
e quase ninguém contribuiu, se mobilizou. Chegou uma hora que eu vi que tava fazendo tudo
sozinho e não tava andando muito e houve esse episódio da morte do cinegrafista e realmente
eu não tenho tempo, tenho 42 anos, sou casado, tenho uma vida pra tocar, uma casa pra
cuidar, tenho bens pra administrar, uma cachorra dentro de casa, sou casado, eu não posso
também ficar vivendo em função disso.
Voz desconhecida
-Tirando a parte dos bens acho que me identifiquei.
[discussão initeligível]
Alê
-Pessoal, pessoal, perdão interromper. Opa, preste atenção! Estamos aqui pra discutir a
república autônoma… (tan tan tan). A gente nem fez meia volta, é claro que temos momentos
assim mas vamos tentar deixar eles não fluirem tanto, pra gente dar oportunidade de todos
falarem e se expressarem porque esse é o ouro desse momento, ouvir todas as pessoas.
Isabel
-Eu morei fora muito tempo, morei faz um ano, tava começando as coisas em junho e tem
muita coisa pra ficar indignada, quero participar, fazer o que for possível, e esse é o espaço
que eu conheci gente que tá mobilizando e se organiza dessa maneira, tô interessada, tô aqui
pra conhecer.
Daniela, jornalista, cineasta, ativista
-Eu tava durante muitos anos envolvida com o Fórum Social Mundial, fui do comitê Rio, ganhei
uma experiência de militância com as questões do Fórum e participei do Reage Artista, enfim.
Conectar os movimentos de uma forma mais independente, enfim, e também de fazer as
conexões que acho super importantes, mas vim mais pra ouvir mesmo, saber o que tá rolando,
o que vocês estão pensando em fazer, entender um pouco aí dessa militância de vocês.
Felipe
-Acho assim, tem 9 meses de manifestações, de fato. De junho pra cá, 9 meses. Estamos
parindo literalmente toda uma indignação, da situação do Rio. Temos que pensar mais, refletir
mais, jogar as idéias, pensar nessa possibilidade de ser uma democracia horizontal, não ser
piramidal. É isso.
[Voz desconhecida feminina 1h26min28s]
-Eu também tenho filho, e acho que a gente tem que ter um ambiente pras crianças. É super
importante quem tem filho também, foi uma coisa que ano passado como mãe, eu gostaria
de criar esse ambiente pras crianças que vão a nossos encontros, e tal. Primeiro que elas já
crescem vendo isso, e segundo que a gente vai poder ficar em paz na hora aqui.
Alê
-A gente tá num processo de construção e até entender exatamente o que a gente tá
construindo, vai um tempo. É fundamental a gente saber isso. A gente tá fazendo um exercício
intelectual de criação, atividades, que vai ter ações performáticas e objetivas. Nosso legado
é o que a gente vai escrever disso, nossa constituição. Nosso legado é também que… a
efemeridade também gera produto, gera filmes, cria outras coisas. Como artista temos que
alargar o tempo das ações que as vezes duram só uma hora. De outra forma acredito no
legado de criar um sistema, lógica, de rede social pra gestão pública dos espaços. Aí você
adere ao espaço em que você vive e discute o que acontece ali. Como uma plataforma, um
aplicativo, enfim, por onde for melhor, que a gente a partir das nossas conexões que tenhamos
pessoas com capacidade de realizar isso. Ou que sabem dentro de grupos que nós não somos
só nós. Todo mundo tem sua rede, seja ela como ativista seja ela como só ela. Isso vai se
desenrolar em acontecimentos permanentes, porque quando você provoca a idéia do sistema
que te coloca como única opção de gestão essa forma representativa, a gente não tá fazendo
nada demais a não ser pensar como seria isso diferente. Claro que não é uma coisa prática
na hora da ocupação e sim uma inspiração, um grito de guerra. Mas a gente obviamente vai
estar sob as leis daquele país e vamos mudar isso simbolicamente, e não objetivamente.
Estamos dando o grito da independência e dizendo "prefiro ser cidadão do mundo, e não
quero ser cidadão brasileiro como pátria e sim como cultura", e aí que ela se torna uma idéia
internacional, planetária. Por a gente grita daqui e o cara da Colômbia vai ouvir e dizer "pô,
é verdade, cara". E se eu gerir minha cidade e meu bairro? E se as pessoas atuarem em
seus bairros a partir da comunicação? Isso a gente não tem muito poder de saber se vai ou
não acontecer, mas pode. Nesse momento nosso possível é criar um ambiente agradável de
reunião. Acho que a idéia de levar a reunião pra praça é ótima porque democratiza a presença
das pessoas e a gente tromba com o inusitado também. É importante nesse momento interno
a gente se fortalecer. Se quiser, se precisar podemos fazer outras reuniões aqui no ateliê, na
casa ninja, enfim.
Verônica
-Acho que as ações podem ser uma coisa só também. Por exemplo, o Face Rua pode ser uma
ação dessa república, junto com o Ocupa Lapa, junto com o Reage Artistas, unificar isso.
Alê
-É isso, é onde a gente se encontra e fala sobre o ponto mesmo que é em sistema. Claro
que na disputa política real a gente vai lá, existem os candidatos, enfim, como é que se
tenha. Na rua existem os micro-sistemas políticos. Tem o cara que resolve porque ele toma
as iniciativas, enfim. O mundo é político pra caralho, não adianta a gente chegar e dizer que
vamos catequizar ninguém politicamente. A gente só tá buscando formas alternativas de se
fazer política porque é resultado de uma mobilização não só desde junho mas desde que a
gente nasceu. O mundo tá em disputa, cara, a gente tá disputando ideologicamente o mundo
de uma forma ousada ao se reunir e ao criar uma forma de gestão que a gente prefira. Vai ser
um exercício lindo e maravilhoso pra gente fazer. Pra isso tem as ações pontuais, os grupos de
estudo, levar essa discussão pra rua, permitir que essa discussão permeie outros ambientes.
Podemos criar uma plataforma virtual pra democratizar virtualmente o acesso, não adianta a
gente querer achar que vamos fazer uma assembléia com 1 milhão de pessoas e a internet
permite que isso se espalhe mais. É um caminho muito interessante pra não nos tornamos um
robô também.
Verônica
A gente tá com uma idéia lá no Ocupa Lapa que é a Escola Livre de Ocupação do Espaço
Pública. E essa escola é livre a idéia principal é: a gente vai estar na FETEC segunda, e a
idéia - vamos apresentar isso pra ocupação - é ser uma base onde as pessoas possam se
encontrar. E agora você falando eu vi assim como poderia ser a grade dessa escola. Os atos
pontuais, os grupos de estudo, várias formas de ocupação. E inclusive nossa iniciativa lá pode
ser uma coisa também junto de todo mundo, porque eu acredito realmente que precisamos
estar mais unificado. Também é outra proposta que a gente tá começando agora, e pra mim
essa república autônoma me parece também uma coisa que se encaixa nessa idéia, de poder
continuar estudando sempre a ocupacão de espaço público. Gerada por quem? Por todos.
Voz desconhecida - 1h36min42s
-Eu tenho uma coisa, baseado no que a Duda falou, cada reunião que a gente junta pra discutir
isso é um passo da revolução, pra uma ação eficaz. A discussão de pensamento é uma coisa
que coexiste com as ações. As ações nascem disso. Tem uma coisa interessante que ele falou,
de ser junto com idéias, porque assim você tem consciência daquilo e de como vai chegar até
aquilo. Porque fórmulas mágicas tem milhões. Manifestações as pessoas estão totalmente
repetindo ações que uma hora deram certo mas sem se questionar. Se as pessoas tivessem
mantendo essas reuniões, esses desabafos, esse desestress. Isso é horizontalidade, as
pessoas vão se entendendo, se ouvindo. Elas adquirem consciência nas ações também.
Duda
Eu acho importante, acho que eu falo do diálogo do corpo. É massa a gente criar e
discutir pensamento, querendo dar o próximo passo, mas acho que temos uma educação
muito "cabeça e resto do corpo", separados. As idéias acontecem no corpo e a pele também
é cérebro, então eu preciso também dizer que o não-verbal e o corporal é um encontro muito
legal.
Voz desconhecida - 1h40min38s
-Antigamente não tinha mídia nem internet e como um bom Brechtiano eu acredito na
panfletagem e aproximação da comunidade. Trabalhei muitos anos com o Eriksson Pires, e a
gente fazia uma peça pra chamar os Plays da PUC. Naquela parte ali era muito faixa de gaza
antigamente, ainda existe um medo daquela área. Será que podemos chegar junto com essa
galera? É também chegar lá no tete a tete e mostrar o que tá acontecendo.
Filipe
-Acho que tem algumas coisas na agenda que tão situadas como próximo passo. O próprio
Face Rua que vai ser no domingo que vem no Méier, é no prazo de uma semana pra gente
somar com pessoas que podem falar, com a divulgação, com pessoas que podem se envolver
nessa discussão. Faz parte desse papo todo, porque é desmilitarização. Enfim, faz parte desse
ponto todo aí. É uma ação prática pra gente fazer em conjunto, entendeu?
Alê
-Houve uma pergunta aqui que é se vai ter ocupação prática. Uma das propostas da última
reunião é a gente propôr uma ocupação prática durante a copa do mundo declarando esse
espaço como espaço da república, ou seja, já tendo uma constituição desse lugar realizado
por esse work-in-progress que estamos agora. Existe essa idéia e a gente tá pensando como
realizar isso? E no escopo disso existe a própria realização da república, como a gente vai
chegar com essa idéia melhor entendida por todos nós e já com um registro que já comunique
as pessoas, seja vídeo, texto, áudio, enfim. Existe uma intenção sim de realizar uma ocupação.
O processo tá aberto, não estamos com nada pronto. A própria ocupação em si está em
desenvolvimento.
Voz desconhecida - Arquivo 2
-Faço parte de um grupo de pesquisa na UERJ e a gente tava com a proposta de fazer uma
plataforma acadêmica que chamaria PesquisaAção, que seria um trabalho pra juntar essas
provas e transformar esses dados produzidos por movimentos sociais em base acadêmica.
A gente abre uma plataforma na internet, uma página no facebook, e une todos os coletivos
pra mandarem informações e a gente vai aproveitar pra gente o que itneressa em termos de
assistência jurídica pra garantir que as manifestações aconteçam. Nossa luta é por direitos
humanos e proteção de todos nós. Acho que esse contato é importante, a gente produzir nossa
estatística, acadêmica, nossa produção.
Alê
Isso é base, né? Como vamos tomar decisões? Com base em informações. Então isso deixa
claro que tudo que foi falado aqui a gente precisa criar um banco de projetos pra entender o
que cada um ta fazendo e como isso pode ser articulado dentro dessa assembléia que a gente
tá formando.
João
-Meu nome é João, eu vim aqui pra fazer uma entrevista e tava rolando uma reunião. Conheço
algumas pessoas. Acho que é isso aí mesmo, e há uma necessidade de se comunicar, acho
que temos que pensar em estratégias que sejam um pouco além do que já foi utilizado. Pensar
por exemplo os territórios que vão ser ocupados que são vários, hotéis, imprensa estrangeira,
pontos turísticos, é importante pensar nesse mapeamento onde é possível que haja esse
tipo de manifestação que remeta ao todo da questão. Da república, da copa, da catarse
coletiva. Pra isso acontecer não precisa necessariamente de todas as pessoas participarem,
é importante haver esse pensamento da poética da comunicação, da manifestação urbana,
esse panfleto, do stencil, de uma performance, um muro com uma frase, enfim. Acho que não
é o caso de se pautar comunidades de eventos que reúnam a maiora dos coletivos e estar
concentrado e haver nomes e diálogo. Acho importante pautar o cotidiano e cada um de vocês
pode ficar como dever de casa o que poderia ou não se manifestar durante a copa que não
necessariamente dependesse de uma multidão, mas que a multidão pudesse estar em contato
com esse cotidiano, seja em santa tereza, nos arcos da lapa, no méier, as vezes esse tipo
de mensagem espalhada tenha um resultado que a gente não viu muito. As manifestações
trouxeram muito mais essa possibilidade de o geral das pessoas consumir informação não
somente, mas produzir conteúdo. Mais que liberdade política ganhamos essa visão, inclusive
com o passar do tempo a gente ouve uma divisão de idéias, de formas de agir, etc. Acho
que durante as manifestações usou muita lógica verbal, também, até hoje a gente ainda tá
nessa. Tem que ser artístico, tem que decodificar, interessante de ver. Agora tem uma faixa
que provavelmente teve o apoio de 3 ou 4 vereadores, que é o "Ditadura Nunca Mais". É
interessante ver independente do que for, manifestações públicas desse novo momento, sabe?
Entrei de gaiato aqui mas não tinha ouvido falar ainda. Mas imagino porque tem um histórico de
convergência de uns 10, 15 anos. Mas maneiro, porque introduziu já.
Alê
-Boto fé nessa coisa de ocupar os muros, e que a mensagem permanece. Isso é uma ação
foda. Dessa congregação de rua, não só o lambe.
Cacá
-Vim aqui hoje conhecer o coletivo, participar da feijoada. Eu sou ator e faço um trabalho
chamado "Andarilho". Fala dos excluídos. Dos textos do Brecht de 20 anos atrás, e toco em
vários assuntos que podem tocar bastante sobre o coletivo. Falo bastante sobre crack, sobre
chacina do vigário geral, enfim, posso sintetizar ele em 15 minutos e colocar ele pro próximo
evento, colocar a disposição. E fala muito de amor tambem.
Bruno, fotógrafo
-Primeira coisa, eu quero entender. essa república autônoma e a questão permanente me
intriga. Até quando ficaríamos com ela na melhor das hipóteses? Por exemplo, se a gente
consegue superar a copa, a gente continua? Qual seria o ponto, se já tá decidido, me parece
mais interessante a Lapa, até por já fazer a doideira dos arcos da Lapa, imagina ele todo
grafitado. Acho que a maior contribuição que posso fazer, além da idéia e da programação
que gostaria de participar também, mas acho que temos que saber pra onde a gente quer ir?
E me parece muito acertado, cada fala aqui se falou muito de compromisso, consolidação, sob
uma responsabilidade que talvez outras pessoas não tiveram até então e a gente tá tendo.
O compromisso de fazer isso. Se a gente entende pra onde a gente quer ir… uma coisa que
aprendi muito semana passada é que a gente tem que saber como evacuar. A gente sabendo
pra onde queremos ir temos que saber como e pra onde evacuar, e isso é uma questão um
pouco de legado também. E entender quando o cara dá uma idéia de já que as manifestações
tão tão vazias, são 11 pessoas fazendo panelaço na rua é uma puta manifestação. Mas
entender que se a gente tá falando de se organizar, eles também estão. Então a secretaria
também da prefeitura tá se organizando e temos que pensar coisas muito mais sofisticado,
e temos que apresentar dentro da complexidade que eles vão nos apresentar. Ali ninguém é
bomo. Então queria propôr de pensar nessa evacuação, saída, dentro da estratégica. Não seria
um Plano B pra desmotivar, seria mais pra gente se prevenir. Estamos muito na ordem do dia e
a gente acaba não planejando como proceder. A teoria é importante, mas ter o pramgmatismo
pode ser muito importante pra caminharmos. Seria isso, basicamente.
Filipe
Mas o processo acho que tem uma provocação nele de buscar rotas não só de fuga mas de
multiplicação é de que a própria república seja por natureza aberta, com essas tecnologias
sendo colocadas à disposição, pra que lá na frente quando a gente tiver pensando em sair já
tenham vários lugares ocorrendo ao mesmo tempo e talvez a gente nem precise sair. Mas ao
mesmo tempo a gente tem que ir fazendo o mais pragmático, que é ver o que tem, pra onde
vai, etc. Acho que esse processual, se a gente consegue pensar mais o como do que o pra
onde a gente tá indo vamos chegar em um lugar foda de qualquer jeito, entendeu? Não tem
erro. A gente abre, transmite 24 horas, começa a fazer as intervenções, comunicando, fazendo
as praças, os FaceRua, colocando mais gente em movimento, trazendo opinião, fazendo em
praça pública, essa parada já vai criando um processo que tira alguns encaminhamentos. Pra
chegarmos nele ainda precisamos de um debate ainda maior de tudo que ta sendo construido.
-proposta 1) Bruno, fotógrafo, apresenta a proposta de agregar mais gente ao conselho de
cultura pra que ele possa ser melhor utilizado e aproveitado pela sociedade civil
-proposta 2) linkar nos temas gerais de debate a Copa às Eleições, pra linkar uma idéia na
outra.
Mariana, gestora e produtora cultural e dança
-Caí de pára-quedas aqui hoje, tô vendo que tem uma galera super nova hoje também. Bom,
eu acho que o campo conceitual ele é sempre em construção mas foi bem colocado aqui na
reunião, ficou compreensível a idéia da república. Me corrijam se eu entendi mal: ela vai ter
uma ocupação física? Eu tenho uma característica muito forte de pensar estrategicamente por
conta do meu trabalho. Acho que pro projeto ser viável em pouco tempo, a minha idéia é que
sejam construídos grupos de trabalho imediato. Eu pensei em 3 divisões: uma no campo
estrutural, que são as pessoas que vão pensar os aspectos da ocupação física pra garantir que
aquilo aconteça; outro grupo voltado para essa ação como política. Acho uma ação politica de
ocupação fisica onde se pautem as ações que podem permanecer dentro disso tudo. O que o
movimento quer distribuir enquanto diálogo, enquanto ação real, enquanto construção de um
documento,e outro é o processo de comunicação, como isso vai chegar e acumular outras
pessoas. Eu me preocupo sinceramente, porque vejo que todos aqui têm uma característica
em comum. Somos ativistas, movimentos sociais, isso é muito claro dentro das pessoas que se
reúnem aqui. Mas se é uma nova proposta de vida, proposta coletiva a se pensar, um novo
mundo e nova maneira de sobreviver, eu sinto falta de: como vamos chegar até a elite carioca?
Até essas pessoas? Como eles vão participar desse debate? Não sei se é de interesse do
movimento, mas acho que se a gente quer construir uma nova maneira consciente de se
pensar em viver, acho que essas pessoas precisam estar acopladas a esse debate, ou vira um
movimento de exclusão a essas pessoas, e não um movimento coletivo. Essas pessoas
precisam se conscientizar mais do que estamos fazendo, se é pro bem coletivo. Enfim, acho
que eu sinto um pouco de… isso já tá muito preestabelecido e acho que seja bom pro
movimento coletivo. E esses grupos, na minha opinião, precisam acontecer não somente em
reuniões físicas, mas acho interessante a idéia do Alê de colocar isso em aplicativos digitais,
de as pessoas poderem se mobilizar através da internet. Então acho que é um meio eficiente
de ocupar o maior número de pessoas e os maiores estilos diferentes de vida pra uma nova
proposta de vida. Como a gente se projeta com um projeto muito vivo? Como modo de viver.
Não sei. Produzir novas ações e novos estilos de produção em relação ao estado que estamos
hoje, ultrapassados, restrito, enfim.
21min40s - Voz desconhecida
Só uma coisa: tudo que você falou está minimamente no radar, só tem uma questão que ficou
em aberto pra mim, se você pudesse esclarecer mais: quando você diz que eventualmente
trazer a elite carioca mais pra perto, pra essas pessoas participarem ou se conscientizarem.
Queria que você explicasse mais se pensar em alguma idéia. Em que condições isso seria?
Mariana
Porque eu vejo que esse movimento tá muito bem estabelecido de quem são as pessoas
que participam dessa nova visão de vida e de construção de coletivo. Eu não vejo como uma
coisa ruim porque as pessoas se formam por tribos. Mas eu acho que se a proposta é criar
um espaço de se discutir política, a gente não discute política só com grupo, discute com todo
mundo. A mudança tá a partir de todo mundo pensar em uma nova forma de viver, e esse é um
projeto muito sério. A gente tá propondo uma nova forma de organização social,e organização
não inclui um grupo apenas. Essas pessoas… acho que vocês entendem quando eu digo elite,
é a galera de direita, a galera que tá do outro lado. Acho que é uma forma d a gente pensar em
como trazer essas pessoas pra discutir com a gente, acho que não podemos dividir se não não
é um processo coletivo.
Carol
-Eu não sinto que são só essas pessoas excluídas, ou com pouco acesso a essa informação.
Eu cheguei aqui muito por acaso. Ampliando isso, existe um intervalo muito grande de pessoas
entre o Bolsonaro e as pessoas que estão aqui, e existe um espaço grande de pessoas que
poderiam estar aqui e não estão.
Mariana
Eu vejo as vezes que as pessoas são muito radicais ao diálogo senão não há construção. Se
torna um movimento radical.
[eu me sinto incapaz de dialogar com o bolsonaro]
Mas eu acho que se o diálogo se fechar não existe construção. O diálogo tem que ser
constante. Não dá pra excluir a participação de ninguém no utópico.
Voz desconhecida [25min28s]
Eu acho que tô tendo um pouco de dificuldade de entender: se vai ter uma conversa na rua,
aberta, com intervenções, na praça pública, como a gente vai excluir alguém? Mesmo que seja
o Bolsonaro.
Mariana
Mas eu falo isso do utópico, também. Porque eu vejo na pauta de vocês que tão muito bem
pautados os movimentos sociais, lideres de comunidade, isso pra mim é uma galera que já tá
proxima e é do movimento. Eu penso em como chegar na galera que tá do outro lado, mas eu
não sei como.
Voz desconhecida volta
Mas essa lista é uma lista de primeiro momento de possíveis e potenciais parceiros pra ajudar
a construir.
Mariana
Mas a proposta é ampliar a lista.
Voz desconhecida volta
Mas uma coisa é com quem você constrói e outra coisa é com quem você atua. Com quem
atua você não necessariamente precisa construir junto, eu posso atuar junto com alguém, mas
eu não consigo eventualmente chamar esse cara pra construir comigo.
Mariana
Mas não é uma construção que eu digo, é chegar o movimento. É a comunicação, é isso. É
ampliar a rede de comunicação pra que isso chegue até lá. Construir não, essas pessoas estão
muito distantes, mas a comunicação pode chegar até lá e que essas pessoas também recebam
essa mensagem de mudança.
Voz desconhecida - 29min25s
Eu acho difícil essa questão, pessoas de outra classe social. Aqui tem pessoas de varias
classes sociais mas a burguesia, o senso comum do RJ está mais preocupada com salário e
mercado do que em construir alguma coisa.
Mariana
Eu acho que a função do movimento é desconstruir essa ideologia, de mercado, classes, etc.
Peixoto
Eu queria falar uma coisa: no RJ tem mais de 300 lugares onde existem zonas autônomas da
lei. São impostas pela força do dono e lá não se pode discutir porque isso é controlado com
terror e com medo. É preciso exercer cidadania de forma plural como estamos fazendo agora.
Será possível uma zona autônoma pacífica? Sem uma tática militar nem de arma? Qual a
possibilidade? Porque nenhuma favela existe sem a outra, é o contexto dela que faz com o que
o estado não consiga ocupar todos os lugares com o número de policiais que eles precisam.
Levar em consideração uma manifestação que seja uma ocupação, ela tem que considerar
também que estejam existindo em outros pontos da cidade pra mobilizar essa tropa da polícia.
Porque a gente viveu a desmobilização, depois o samba, agora o carnaval, e agora começa o
futebol, mas antes do futebol tem uma ocupação militar pra preparar as eleições. Então chega
um momento de criação de um modelo pra exportar UPP pro Brasil inteiro, porque tá todo
mundo querendo. Então é nesse cenário que vamos fazer alguma coisa. Aí eu vou falar como
advogado: foi uma coisa que ganhou força a questão da segurança porque conseguimos
registrar muito, nós todos, até ajudaram os advogados também. E também dizer: olha, esse
momento da política precisa ser documentado, transmissão 24 horas. Ocupação começa com
uma transmissão 24 horas, 7 dias por semana. Então isso é que tem que rolar a primeira coisa,
e depois a gente dizer que o estado vai continuar agindo, como a gente faz? Então quando eu
digo pra gente mobilizar um rolêzinho em outro lugar pra polícia ir pra lá, ou a gente ocupar
aqui. Acho que permissão sinceramente eu não vou pedir ao estado pra fazer uma
manifestação que é contra o estado até, porque isso vai aparecer na discussão. Ah, então a
gente não pode criar um estado. Olha, por não ter um ato de constituição, de uma lei, que se
mantêm essas zonas autônomas militarizadas. Do lado do estado ou do lado de uma força do
tráfico. Então assim, vamos fazer uma pacífico? Tem alguma coisa que o Estado possa fazer
legalmente contra esse tipo de ocupação? Nada. Legalmente nada. Então sabemos que eles
vão fazer. Porque pegar o cara e levar pra delegacia, que eu vou te saquear, não pode. Eles
têm feito o que? Corrido pra cima do cara, entrado numa discussão, junta aquela muvuca, o
cara fala "diante do tumulto que se estabeleceu e citado por este rapaz, tive que trazer pra
delegacia senão ia ter um problema maior". Primeiro, ele não ta comentendo crime algum. Aí, a
gente vai e fala: "abuso policial, sequestro por parte do estado e se o senhor não quiser
registrar lhe processo por prevaricação". Só precisa desse filme e esse filme tem se repetido
em todas as manifestações desde o primeiro ato que tivemos notícias em 2013. Vamos ter um
grupo de advogados destacados pra acompanhar isso. No momento entre a colocação da
pessoa no carro e a chegada na delegacia é onde eles recebem ameaça, apanha, fica quatro
horas com terror psicológico, em contato com spray de pimenta na cara, cassetete. Esse filme
foi visto, então por que vão pra longe? Não da tempo de o advogado chegar, ele chegando eles
falam que tá tudo firmado. A gente tem que ter em vídeo porque geralmente quem fez a prisão
não tá lá. Nesses últimos tempos a gente precisa aprender que o Estado agiu com terrorismo
diante das manifestações, e reagiu com tática militar a um grito político. Dentro desse
propósito, vamos nos organizar, queria sugerir algumas comissões a mais. Vamos falar sobre
família, sobre meio ambiente, sobre o que for, temos que encher 24 horas de transmissão ao
vivo. A declaração disso, que é um movimento de comunicação, e de que não somos
separatistas, é de muita proposição. Sabe pra que? Vai fazer a ocupação que a gente faz. E
depois que o exército sair? Qual o modelo que as comunidades podem ter pra se autogerir. É
fundamental fazer isso aqui, temos uma estrutura e um apoio legal da CAARJ. Temos
experiências de produção do Fora do Eixo, do MST de segurança, temos vários exemplos pra
colocarmos conosco. Sequestro, ameaça, tortura, fraude policial e tudo que aconteceu até
agora, nada foi registrado. Os delegados não registram, e assim os promotores não olham.
Ninguém fala nada sobre isso, e é um problema. Temos que trazer também uma idéia de
Comissão da Verdade dentro desse contexto, atual, pra república. Se só a constituição de 88
funcionasse ia ser lindo, mas não acontece. É um livro de romance. Nós temos que escrever o
nosso.
Guilherme - Guia de turismo
Confesso que mudei pro Rio porque sou guia e tava animado com a copa. Mediante tudo que
está acontecendo eu broxei total, quero mais que o brasil perca pra ver se a galera acorda.
É por isso que eu tô desse lado aqui, eu acho que antes da copa e antes da minha profissão
temos que arrumar a casa primeiro. Por isso preferi estar desse lado. Eu acho uma iniciativa
muito maneira essa república autônoma mas fico pensando outras estratégias também, talvez
de começar pequeno. Nós fazendo, plantando a sementinha ali no vizinho, depois crescer,
ou simultaneamente. Sobre a comunicação, ela depende da gente que tá aqui e assim, por
exemplo, tentar ter o consentimento dessas pessoas no local onde se pretende montar isso.
Ah, vocês querem no catumbi? Chama a galera pra conversar. Enfim, vamos tentar articular
essa comunicação pra ter o maior número de aliados possíveis.
Peixoto
Desculpa te interromper. Mas todos os líderes que sejam favoráveis à intervenção das forças
armadas apoiem, e aqueles que não apoiaram sejam isolados das reuniões. Temos que
considerar muito bem, só fazer uma ação se for chamado, eu acho isso interessante. Eu acho
que vale tomar cuidado pq as vezes a gente chama uma plenária e ele fala "fechei com a
UPP". Fechar com a UPP hoje é fechar com a tortura, mão na bunda das meninas, com falta de
respeito todos os dias na invasão das casas das pessoas, arbitrariedades, colocando crianças
de 5 anos no caminhão e sumindo por aí. Vigiando as pessoas com carros, fotografando todo
mundo, restringindo acesso a informação, só entra repórter aliado, tem uma comissão de
imprensa do comando do exército que avalia e vê o que pode entrar e o que não pode. Se for
imagem pra tumultuar eles não botam, colocam apenas o texto. Queimaram pneu na taquara,
não tinha nenhuma foto. Só foi aparecer 6 horas depois pq um morador tirou e colocou na
rede. Esse é o ambiente que a gente vive na véspera da copa e um cenário de se prolongar
até depois de 2016. E tem um limite logístico que é o número de homens, os caras falaram de
trazer 4 mil homens pra cá, pra 123 mil habitantes. Isso dá 33 pessoas pra cada homem. Se
tivesse que adotar essa mesma proporção pra todo Rio de Janeiro teria que mobilizar 68% do
efetivo das forças armadas. Então a proporção é de 1 pra 400. Botar 1 pra 70 na UPP e agora
1 pra 33 na Maré. A gente tem que lidar com essa realidade, é um abuso total. Isso não vai
permanecer durante muito tempo porque custa muito dinheiro. E quando sair? Vai ter que sair,
isso não se mantém. Só se mantem com tortura e terror. Só assim, então acho que essa luta
que temos é onde a unica tatica é a discussão política, porque se formos disputar no ataque
a gente já perdeu. Na hora que os caras quiserem prender e torturar todo mundo vão fazer,
temos que aproveitar o momento enquanto ainda não fizeram. Por que a favela não tá falando?
Porque lá ta tendo tortura. As pessoas sairem da favela pra rua era novidade em 2013 por
causa do processo do amarildo. Isso não existe.
Voz feminina - 47min18s
Eu acho assim, essa plataforma que eu tinha citado de algumas universidades, tudo que vocês
tiverem de informação, denúncia, etc. Usar isso como ferramenta de denuncia de violação dos
direitos humanos. Temos a oportunidade de construir uma memória histórica enquanto em
ação.
Peixoto
O prazo é o tempo de o cara chegar na delegacia. Por isso temos que filmar as ações, pra que
provemos que o cara não tinha arma, não tinha mandato contra ele, ele não tava em flagrante e
foi abusado em abordagem. So isso já ajuda a mudar o conceito de segurança pública, o cara
que ta melhorando por melhorias de serviços, quer ter acesso, e tem que apanhar. Que porra é
essa? Qual o risco que esse cara coloca pra sociedade? Só essa imagem.
Verônica
Você aceita falar sobre isso lá no FaceRua semana que vem?
Peixoto
Com todo prazer. O principal é dizer que a polícia é a negação da política.
Uma coisa que eu acho que tem uma caracteristica grande nessa virada é a seguinte: esse
tipo de ato é muito mais uma manifestação de discursos públicos do que qualquer outra coisa.
Podemos tomar qualquer formato. Não tem palavra de ordem, panfleto, temos uma série de
atividades culturais. É diferente.
Veronica
Só pra dizer que também estamos levantando o Rodrigo, queremos levar alguém que mora na
Maré. A Carol que tem vindo aqui e que tem uma tese sobre auto de resistência e mais alguém
que poderíamos pessar. Facina estará lá.
Bel
Gente, se alguém precisar de tradução de texto relacionada a qualquer coisa, é só dizer.
Rebeca
Oi gente, sou a Rebeca, colaboradora do Fora do Eixo e do NINJA, porque a gente discute
esse projeto desde sempre, e desde sempre achei que ele era um projeto de maior potencial/
tesão dentro dos projetos que a gente trabalhava. Porque mistura ocupação pública com todas
essas coisas que vinham acontecendo desde sempre. Acho que 2013 foi tipo maio de 68, vai
ser um recorte na história que todo mundo vai olhar pra esse período onde todos vão olhar e
tentar entender o que tá acontecendo aqui, que expressões tão surgindo. Dentre essas utopias
que têm surgido desde junho, acho que todas elas têm espaço dentro da república ou das
repúblicas se existirem no plural. Isso é uma coisa, eu imagino mesmo as pessoas morando
mesmo na rua 24 horas por dia e fazendo daquele espaço um espaço vivo muito mais que um
espaço de trânsito. Acho que a segunda coisa é toda a questão da infra que existe e sempre
vai existir e pra um projeto de 90 dias concordo com todos que é ousado, demanda uma
satisfação e acho que é isso, todo mundo quiser falar.
Voz feminina desconhecida 55min50s
Só essa questão da coleta de provas, mais uma vez voltando ao assunto, que é uma coisa
importante, que pode ajudar os colegas a serem absolvidos, então é realmente importante que
a galera contribua e que espalhe pra todos com fotos, com vídeo. Essa é a principal arma que
temos nas ruas, filmar tudo, fotografar tudo, denunciar tortura, denunciar prisões abusivas. A
gente quer mapear e informar onde as pessoas foram presas e pra onde eles são levados.
Fazer um mapa disso e conseguinr entender a conjuntura que tá se passando e o estado tá
fazendo e é absolutamente ilegal. Prender o cara na cinlândia e levar o cara pra Bonsucesso
pro advogado não ter acesso, Isso é muito grave, pode prejudicar muita gente, então só fazer
essa campanha pra galera denunciar mesmo com foto e vídeo tudo que encontrar de errado
aí…
Carioca
Acho que é um pouco isso, cara, acho que o papo já deu uma dispersada, a feijoada tá mais
forte. Acho que a gente continua lá, né, e coleta o e-mail de todo mundo. Vamos fazer outra ata
daquela, com transcrição, e mandar via e-mail também.
Peixoto
Vamos fazer uma assembléia constituinte popular, internacional, um processo amplo. Ela não
tem território e não se propõe a ser soberana excluindo outras soberanias. Ela abarca várias
soberanias e repúblicas juntas.
Hevelin
Mas vai ocupar um espaço público?
Carioca
Sim, essa é a idéia. Vários espaços, e vai se chegar à república em si em pelo menos um
espaço.
Hevelin
Podemos propôr oficinas, debates.
Peixoto
Você quer um capítulo do que nessa constituição? Diga o nome do seu capítulo. Pronto. E
vai ter pessoas com capítulo parecido, e a gente vai juntando e sistematizando isso. Você
imagina? Editar um documento que foi escrito e teve opinião de 1 milhão de constituintes. Ele
não seria feito por uma assembléia constituinte e sim por 1 milhão e meio de constituintes.
Voz desconhecida 1h02min24s
Eu tô dando uma consultoria no estado, de liberdade religiosa, com plano. Uma coisa pequena,
consulta pública pela internet. 300 sugestões. É isso. Sistematizei, coordenei o grupo de
sistematização. 300 pessoas rápido. Tecnologia tem e a sociedade tá se mobilizando.
Carioca
Acho que um grande barato que estávamos falando também é como a gente faz a soma de
esforços no sentido de construir a plataforma. Mais necessariamente de como vão ser as
pautas, etc. Isso vem necessariamente da construção de outros grupos né, então nosso maior
esforço agora é na plataforma, porque ela uma vez construída vai conseguir trazer essas
pautas. É isso, são os mesmos parágrafos e lei que se somam, enfim.
Peixoto
Você vê como é importante uma linha do tempo separada, né.
Hevelin
Pô, tem que trazer uma galera da Permacultura, também, olha só esse espaço.
Carioca
Sim, mas aqui no ateliê já trabalha uma galera da cultura. Com artes plásticas, etc, mas uma
galera vem, dá oficinas.
Hevelin
Sim, mas pra vir uma galera de outros movimentos, de outros grupos, e tal.
[ininteligível]
França
-Acho que temos que chegar numa praça pública quando estivermos mais fortalecidos, senão
vamos chegar fragilizados. Acho que temos que fazer mais uma ou duas intervenções internas,
ver realmente qual é, fazer a pauta. Como vamos fazer isso? Organizar o horário, discutir antes
do almoço. Chegou uma porrada de gente mais cedo, comeu e meteu o pé.
Carioca
Acho que tem um lance com relação à dinâmica. Acho que mais que o fortalecimento do que
coisas assinadas é uma dinâmica orgânica. Acho que mais uma reunião aqui ou na Casa pode
ser legal. A gente faz no Catumbi dia 27 na praça e mais uma depois pra fechar.
Voz desconhecida 1min56s
Essa história do Eriksson tem um potencial imenso, quando ele morreu teve uma parada no
arpoador, outra na são salvador, outra na PUC, então é um nome muito agregador, que eu nem
imaginava quando conheci ele que tinha essa dimensão. Quando ele morreu tinha um monte
de amigos que já conheciam. Então acho que vai ser uma parada foda, quando colocar ter
minimamente uma galera estruturada. Eu imagino uma adesão imensa no Rio de Janeiro.
Alê
Eriksson foi um escritor, acadêmico, boêmio, poeta maldito, permeou bastante a cidade.
Morreu muito novo com 40 anos, e ele tem um livro chamado Cidades Ocupadas que antecipa
um pouco o movimento que a gente vive hoje de ocupações, etc. Então tem toda uma história
em torno dele interessante. Ele foi enterrado no cemitério do Catumbi, por isso a idéia de
transformar a praça em Eriksson Pires e construir ali um espaço tipo de interação, e tal,
pras pessoas usarem, pensarem, produzirem. Morreu em 2012, teve uma comoção muito
grande, de fato o Eriksson representa enquanto vida, a vida que ele teve, tudo, representou
essa juventude, essa nova sociedade, essa doideira do carioca, do brasileiro, do cidadão do
mundo. Eu concordo realmente que ele mereça essa homenagem póstuma e tal, enquanto
figura inspiradora, que a gente começa a fazer nossos heróis também dentro dessa história.
Nós começamos a construir aqui os nossos heróis também. Eriksson não era santo, era uma
figura lúcida que conseguiu produzir literatura em cima disso. Isso deve ser valorizado. Teve
toda uma história, a morte dele foi muito complexa. Ele teve pancreatite, teve uma dívida de
centenas de milhares de reais por conta disso, a galera se juntou pra pagar, enfim. Ele merece
ser conhecido, trazer a história dele. Acho que precisamos minimamente conhecer o cara.
Tive oportunidade de tomar algumas cervejas com ele, sempre noites muito bacanas, de muita
aprendizagem. Acho que vale a pena conhecer ele e o trabalho que ele produziu. Podemos
organizar a ação, distribuir tarefas. Acho que tem uma coisa importante, precisamos criar um
documento colaborativo e literária que explique o que é a república e o que é essa onda. Pra
facilitar pras pessoas entenderem melhor, e nós todos juntos vamos construir um texto mais
legal. Acho um bom texto pra semana, ter essa síntese, semana que vem vamos ver tudo
junto, a gente explica, não complica, etc. Na semana que vem a gente fecha o texto e parte pra
organizar a ação. O quanto a gente vai abrir o evento essa semana? E acho que temos que
manter a circularidade nas reuniões. Por mais que você tenha a idéia mais genial do mundo,
espera chegar sua vez, deixar o cara ir começo, meio e fim, sem cortar o raciocínio. A outra
coisa é o grupo ajudar a reunião a ficar mais objetiva se sentir que as pessoas tão perdendo
as idéias e tudo mais. Talvez na próxima possamos ter o bastão da fala pra ajudar a roda fluir.
Temos que respeitar a metodologia.
Próxima reunião:
-Feijoada: ateliê na próxima semana, com cronograma mais claro de atividades
-Encaminhamento: uma das reuniões ser dia 27 no Catumbi

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