O que você precisa saber para ficar de olho na água
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O que você precisa saber para ficar de olho na água
O que você precisa saber para ficar de olho na Projeto Copyright © 2007 Editora Fundação Brasil Cidadão Responsável pelo projeto: Fundação Brasil Cidadão Coordenação do Projeto: Maria Leinad Vasconcelos Carbogim Criação e texto: Cristine Pereira Negrão Silva Projeto Gráfico e Direção de Arte: Mauri de Sousa Fotos: Ciro Albano, Maurício Albano, Acervo Aquasis Apoio Técnico: Promosell Comunicação Patrocínio: Petrobras Ambiental Petrobras Todos os direitos reservados ao Projeto “De Olho na Água” Índice 5- Como usar essa cartilha 6- A água é a essência da vida 7- Capítulo 1 - Todos nós somos seres feitos de água 8- Planeta Terra, planeta das águas 10- Então temos água em abundância! 11- A água nos outros planetas do nosso Sistema Solar 12- Como a água surgiu no nosso planeta? 13- O ciclo das águas 14- A Vida no Planeta Terra surgiu na água, mas como isso aconteceu? 16- Hidrografia ou o estudo das águas 17- O rio é dividido em partes, denominadas elementos de um rio 20- As águas subterrâneas 22- As águas moldam a paisagem natural na Terra 24- O homem altera a forma do mundo natural 27- De que forma ocorrem as contaminações nos nossos recursos hídricos? 28- Capítulo 2 - Icapuí e seus Ecossistemas 30- Ecossistemas 36- O peixe-boi marinho também bebe água doce 42- Capítulo 3 - Projeto “De Olho na Água” em Icapuí 43- Estação Ambiental Mangue Pequeno 44- Tecnologias de baixo custo para captação de águas da chuva e tratamento biológico de esgotos domésticos 45- Monitoramento da qualidade da água no município 46- Poupar água. Não deixe essa conversa “ir por água abaixo” 48- Glossário 52- Referências consultadas Como usar essa cartilha Dicas para as escolas nas pesquisas de campo As dicas para as escolas nas pesquisas de campo, sugeridas no capítulo 2 dessa cartilha, são mais um recurso didático que pode ser utilizado por professores para complementar as aulas na escola. É importante que as viagens de campo tenham sempre um “Guia” que conheça bem a região, suas características ecológicas, sócio-econômicas e os impactos que estão ocorrendo. Organize as viagens de campo sempre nas horas mais frescas do dia, de forma a aproveitar a visita e evitar desconfortos por causa dos horários mais quentes. Ensine seus alunos a ver com os olhos, inicialmente. Plantas devem ser tocadas com cuidado porque algumas possuem espinhos ou são urticantes. Animais não devem ser ameaçados, perseguidos, encurralados ou apanhados. Deixe o guia mostrar e sugerir quais animais podem ser manuseados sem perigo para as crianças e desconforto para os animais. Absolutamente NENHUM animal deve ser morto ou coletado. Não permita que seus alunos joguem lixo no chão. Legendas Símbolos Significados Informações gerais Atividades de escrita Equipamentos básicos para os alunos: • Caderno (de preferência pequeno e com espiral, que é mais prático) • Lápis ou caneta para anotações de campo • 2 litros de água (no mínimo) • Alimentos leves (sucos, frutas e biscoitos) • Protetor solar • Óculos de sol • Repelente de insetos • Chapéu ou boné • Roupas claras e leves para usar na praia • Blusas de manga longa, calças, tênis e meias para andar em matas ou nos arredores de cursos d’água • Sapatos confortáveis • Mochila ou bolsa para carregar todo o material. Equipamentos básicos para o professor. Além dos equipamentos sugeridos acima, o professor também deve ter: • Celular (para efetuar alguma ligação que por ventura seja necessária) • Apito (para reunir e localizar alunos desgarrados) • Máquina fotográfica • Caixa de primeiros socorros • Mapas da região • Guias de fauna e flora para consulta dos alunos • Tábuas de maré*, quando a visita for à região litorânea • Essa cartilha. * Para Icapuí, utilize a tábua de maré para o Porto de Areia Branca Termisa, produzida pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm) 5 Iniciando a nossa conversa... Essa cartilha foi desenvolvida com intuito de trazer, de forma “resumida” e acessível, informações importantes sobre um recurso natural que está se tornando escasso e muito caro no Planeta Terra: a Água. Nosso planeta passou por tantas transformações ambientais negativas causadas pelo homem, que chegamos em um momento da nossa história que, ou paramos e tomamos consciência do nosso impacto no planeta, ou estaremos condenados à extinção. Ultimamente temos ouvido falar bastante sobre o aquecimento global e como ele vem alterando de forma drástica o clima em nosso planeta, causando secas extremas em alguns lugares, enchentes devastadoras em outros, aumento nos casos de doenças e extinção de muitas espécies de animais e plantas que não tivemos nem sequer a chance de conhecer. No entanto, pouco se fala sobre a crise de abastecimento de água no mundo. Estima-se que mais de 4 bilhões de pessoas - quase metade da população mundial - estarão vivendo em países com carência crônica de água por volta de 2050. A partir do conceito de “pensar globalmente e agir localmente”, a Fundação Brasil Cidadão criou o projeto “De Olho na Água”, patrocinado pela Petrobras dentro do Programa Petrobras Ambiental, para recuperar e proteger os recursos hídricos de Icapuí, no Ceará, evitando que este município chegue a uma situação dramática de falta d’água, como é o caso de outras populações no planeta. 6 a essência da vida A Vida se originou nos oceanos. A água é “Mater” e “Matrix”, Mãe e Meio. A Vida pôde deixar o oceano quando aprendeu a criar uma pele e levar a água consigo. Nós ainda somos animais aquáticos, só que agora nós temos água dentro de nós, não do lado de fora. Nós somos um aquário ambulante. Somos 20% de solução aquosa. Nós mantivemos a água do mar, nosso legado, guardada com cuidado. A concentração iônica do nosso sangue ainda reflete a concentração iônica do oceano primordial...A Vida, originada no oceano, só poderia ter construído seu maquinário a partir do que encontrava no meio que a circundava. Existiam três coisas: água, moléculas orgânicas (incluindo dióxido de carbono – CO2) e íons. O maquinário da Vida foi construído, organicamente, usando a água como meio. Albert Szent-Gyorgyi 1893-1986. Capítulo 1 - Todos nós somos seres feitos de água A substância ÁGUA A água (H2O) é uma substância extraordinária, com muitas propriedades estranhas e diferentes que são muito importantes para a vida do planeta Terra - vida esta que é baseada na água e adaptada a suas propriedades originais e incomuns. Algumas propriedades da água que nos são familiares: • É incolor. • Não possui gosto. • Não possui cheiro. • Dá a sensação de molhada. • Dissolve quase tudo. H O Ela existe em três estados: o líquido, o sólido, e o gasoso, e pode passar por cada um deles através do Ciclo da Água. Ela pode absorver uma quantidade grande de calor. Ela flui e corrói a superfície da terra. Move sedimentos para formar praias, margens e barras de rios. Ela dá forma a diversas moléculas em nosso organismo, que são vitais para a nossa sobrevivência. Ela é parte de cada organismo vivo no planeta. Sem ela estamos fadados a desaparecer da face da Terra. H A molécula de Água As propriedades únicas da água são resultado da sua estrutura química. Os dois átomos de hidrogênio se ligam a um átomo de oxigênio para dar uma forma de “V” com os átomos de hidrogênio em um ângulo de 105º. Quando os átomos de hidrogênio se ligam ao oxigênio, há o compartilhamento dos elétrons, gerando uma atração mútua entre esses, resultando numa forte ligação química conhecida como ligação covalente. 7 A água possui três estados físicos: o sólido, o líquido e o gasoso. Você saberia dar um exemplo para cada um destes estados? Sólido Líquido Gasoso n a l P a, planeta das r r e T á eta gua s Se pudéssemos viajar em um foguete até a lua e por um momento sentar no solo lunar e apreciar a visão do Planeta Terra, veríamos a encantadora imagem de um planeta azul formado na sua maior parte por água. De fato, 70% da superfície do nosso planeta são cobertos pelas águas dos oceanos e é por isso que muitas vezes a Terra é chamada de “Planeta Água”. 8 Oceano Ártico Oceano Atlântico Oceano Pacífico Oceano Índico Oceano do Sul O oceano envolve o globo e é dividido em quatro regiões principais: o Oceano Atlântico, Europa o Oceano Pacífico, o Oceano Índico e o Oceano Ártico. Alguns cientistas consideram as águas em torno do continente Antártico como um oceano África América do Sul separado, que seria o quinto oceano. Estes oceanos, Ásia embora distintos de algumas maneiras, são todos interconectados; a mesma água circula por todos eles. Se todos os continentes do mundo fossem Antártida agrupados em um canto da Terra, a vasta extensão do oceano poderia facilmente ser vista. Na realidade, naturalmente, os continentes não são agrupados como mostrado na figura, mas são espalhados por todo o globo terrestre. América do Norte 9 Então, temos água em abundância?!... Sim... e não. Nosso planeta possui bastante água, mas a água doce não é tão abundante e disponível para o nosso uso, como a princípio pensávamos. A Terra dispõe de 1,386 bilhão de km3 de água, aproximadamente. Quase toda essa água (97,5%) é salgada e é encontrada nos oceanos, lagos salgados e aqüíferos salinos, que são reservas de água subterrâneas. Os 2,5% restantes desse volume são de água doce. No entanto, 2/3 dessa água doce estão aprisionados na forma de gelo nas calotas polares, icebergs e solos permanentemente congelados. O 1/3 de água doce restante no nosso planeta encontra-se armazenada, na sua maior parte, nos aqüíferos subterrâneos, só podendo ser acessada através da perfuração de poços e cacimbas. Por fim, uma pequena quantidade é encontrada em lagos, lagoas, rios e cursos d’água superficiais. Por isso que dizemos que possuimos água doce em relativa abundância em nosso planeta. Para se ter uma idéia da quantidade de água doce aprisionada em forma de gelo, vamos dar uma olhada novamente no Mapa Mundi. Você vai reparar numa enorme área branca na parte debaixo do nosso planeta. Essa região é conhecida como Antártida. Ela é o quinto maior continente do planeta, com 98% da sua superfície cobertos por uma camada de gelo que mede 1,6 km de profundidade. A Antártida possui aproximadamente 90% do gelo de todo o planeta. Cerca de 70% da água doce da Terra encontram-se aprisionados nessa camada de gelo, indisponível para nosso uso! 10 A água nos outros planetas do nosso Sistema Solar A água é encontrada no nosso Sistema Solar em seus diversos estados físicos. Desde traços de vapor d’água no nosso Sol até oceanos congelados embaixo da superfície do planeta Marte e das luas de Júpiter (Europa e Ganimedes). Porém, até o momento, em nenhum outro planeta foi encontrada água em estado líquido na sua superfície – e em grande quantidade – como é encontrada na Terra. Dessa forma, podemos dizer que nosso planeta é único em todo o nosso sistema solar. 11 Como a água surgiu no nosso planeta? Bom, existem algumas idéias propostas pelos cientistas, chamadas de “teorias”. Uma das teorias mais aceitas seria que a água foi formada há bilhões de anos atrás, através de erupções vulcânicas. Naquela época não havia nenhum oceano e nem mesmo água em estado líquido e a Terra era tão seca quanto o solo lunar. A superfície do Planeta Terra era extremamente quente e coberta por vulcões em constante erupção. Os vulcões derramavam, junto com a lava, enormes quantidades de vapor. Aos poucos, esse vapor foi se concentrando ao redor da Terra, formando a atmosfera do nosso planeta. Mas a Terra começou a esfriar. E à medida que ela esfriava lentamente, o vapor que continha grandes quantidades de elementos químicos - dentre eles a água em estado gasoso - começou a esfriar também. A água se condensou em gotas de chuva, que começaram a cair. Essa chuva durou milhares de anos, enchendo aos poucos as grandes concavidades de nosso Planeta, dando origem aos primeiros mares, rios e lagos do mundo. Mas alguns cientistas acreditam que boa parte da água não tenha se originado apenas do vapor emanado pelos vulcões. Eles afirmam que nosso planeta, após a sua formação (há cerca de 4.5 bilhões de anos atrás), foi bombardeado por milhares de cometas vindos do nosso Sistema Solar e de sistemas solares vizinhos. Boa parte do núcleo desses cometas – que podiam pesar dezenas de toneladas – era formada por gelo. Ao se chocar com nosso Planeta, os cometas se destruíam. Seus núcleos de gelo derretiam e evaporavam e o vapor era incorporado à atmosfera do Planeta. 12 O ciclo das águas Os oceanos estão sempre perdendo e ganhando água, em um processo cíclico sem fim, denominado de Ciclo da Água ou Ciclo Hidrológico. Eles perdem água através do processo de evaporação, que acontece quando a água da superfície é aquecida pelo sol e soprada pelos ventos, formando pequenas partículas de água em estado gasoso, que são invisíveis. Estas partículas, denominadas de vapor d’água, sobem para a atmosfera, resfriando e formando as nuvens, num processo denominado condensação. Quando a temperatura esfria ainda mais, as partículas de água das nuvens se agrupam em gotas de chuva ou neve (se estiver muito frio) e caem de volta para a Terra. A chuva que cai na Terra (ou a neve derretida) escorre para os rios, que fluem de volta para o mar. Parte dela infiltra-se na terra, alimentando o lençol freático. A evaporação também acontece em outros corpos d’água, como os rios, lagoas, lagos, etc. Ciclo Hidrológico As plantas também participam do processo de evaporação, devolvendo à atmosfera a água captada por suas raízes, através do processo de Precipitação = 119.000 Raios solares evapotranspiração, que Geleiras ocorre em suas folhas. + Evapotranspiração Evaporação = 74.200 Dessa forma, podemos Rios e Lagos concluir que o volume Evaporação de água na Terra é fixo. 542.000 Precipitação Escoamento O mar nunca seca Infiltração e o ciclo se repete. Nível da água subterrânea Rio ou Lago Água subterrânea Interrace Água doce Água salgada Oceano Fonte: Boscardin Borghetti et al. (2004) Quando a água do mar evapora, torna-se doce porque não leva consigo os sais que se encontram dissolvidos nos oceanos. No entanto, 77% de todas as precipitações no mundo caem de volta no mar, voltando a ser água salgada. 13 A Vida no Planeta Terra surgiu na água, mas como isso aconteceu? Nosso planeta se formou há cerca de 6 bilhões de anos e a água há 4,5 bilhões. Mas a vida só surgiu na Terra há cerca de 3,5 bilhões de anos. Nessa época, elementos químicos essenciais para a vida eram encontrados dissolvidos em um oceano primitivo. Estes elementos, denominados de Biogênicos, eram: o Carbono (C), o Hidrogênio (H), o Oxigênio (O), o Nitrogênio (N), o Enxofre (S) e o Fósforo (P). Nosso oceano era tão rico nesses nutrientes que era chamado de “sopa primitiva”. Nossa atmosfera primitiva fina e pobre em oxigênio permitia a penetração dos fortes raios ultravioletas do sol, que literalmente “fritavam” a superfície terrestre. Sob estas condições nenhum organismo vivo poderia sobreviver aos raios ultravioletas que, em doses altas, esterilizam tudo. Dessa forma, cientistas acreditam que os elementos biogênicos, que deram origem à vida, podem ter se organizado em forma de organismos unicelulares nas regiões profundas dos oceanos. Mas era necessário que estes primeiros seres vivos se alimentassem de “algo”, para garantir sua sobrevivência, da mesma maneira que precisamos comer para obter energia para sobrevivermos. Nas águas profundas, onde nenhuma luz do sol chegava, parecia ser impossível produzir a energia necessária para sobrevivência através da fotossíntese. A Vida, porém, encontrou uma alternativa à fotossíntese, denominada de quimiossíntese. Nossos organismos primitivos ancestrais, quimiossintetizantes, conseguiram produzir, eles mesmos, o seu próprio alimento através de uma série de reações químicas. As substâncias necessárias para a produção dessas reações químicas foram encontradas próximas às “chaminés submarinas”. 14 Todas as plantas (terrestres e aquáticas), algas e algumas bactérias utilizam a energia do sol para produzir açúcares e outros nutrientes necessários para sua sobrevivência. Esse processo é chamado de fotossíntese. Porém, outros organismos vivos conseguem obter sua fonte de energia sem a necessidade da presença de luz solar. Esses organismos, chamados de bactérias quimiossintetizantes, obtêm seus açúcares através de reações químicas. Essas bactérias são a base da cadeia alimentar de muitos animais e plantas que vivem em águas profundas, como as plantas são a base da cadeia alimentar para uma série de animais herbívoros (comedores de plantas), que por sua vez são fonte de energia para animais carnívoros, inclusive o homem. Estas chaminés submarinas nada mais são do que pequenos vulcões em erupção encontrados no fundo do mar. Esses vulcões podem variar muito de tamanho e é normal acharmos que eles são sempre grandes e que derramam enormes quantidades de lava. De fato, alguns são assim. Mas existem vulcões menores, que mais se parecem chaminés, por onde sai água quente e tão rica em minerais dissolvidos que ela chega a ter a cor preta. Cientistas acreditam que as moléculas quimiossintéticas primitivas retiravam dessas águas as substâncias necessárias para fazer as reações químicas que produziam seu alimento. À medida que o tempo passava - e isso durou milhares de anos - esses organismos foram se aperfeiçoando. Muitas células se juntaram em “cadeias” ou “correntes” mais complexas, criando organismos multicelulares. Eles “aprenderam” como se copiar, e assim, deixar descendentes. Dessa forma a Vida se desenvolveu no nosso Planeta. A água foi a “Mãe”, que gerou e alimentou essa forma de vida primitiva, que por sua vez deu origem a todos os organismos que existem hoje: árvores, baleias, tatus, sapos, passarinhos, peixes, lagostas, caranguejos e, é claro, você e eu! Por isso podemos dizer que todos os seres vivos são feitos de água. Hoje em dia os oceanos são responsáveis por outro importante fator para manutenção da vida na Terra: eles albergam trilhões de bactérias azuis, denominadas de cianobactérias, que são as principais produtoras do oxigênio que respiramos. 15 Hidrografia ou o estudo das águas Agora que já aprendemos de onde viemos, vamos aprender um pouco mais sobre a água e como ela é estudada pelos homens. A Hidrografia é uma área da geografia física que estuda e classifica as águas do nosso planeta. As águas podem ser divididas em águas superficiais e águas subterrâneas. Águas superficiais As águas superficiais são classificadas de acordo com suas características em rios, córregos, lagos, lagoas e bacias hidrográficas. Um rio é uma corrente natural de água que flui. No Nordeste do Brasil existem rios perenes, que correm o ano inteiro, e rios temporários, que secam durante o período de estiagem. Um rio pode desaguar no mar, num lago ou em outro rio. O Córrego é uma denominação dada a uma corrente natural de água menor que um riacho, que por sua vez é menor que um rio. Um Lago seria uma depressão natural na superfície da Terra, que contém permanentemente uma quantidade variável de água e é alimentado por um rio. Já a Lagoa é uma porção de água cercada por terra por todos os lados, e não precisa ser necessariamente alimentada por um rio. 16 Você conhece algum corpo hídrico superficial no seu município? Saberia classificá-lo como rio, córrego ou lagoa? Então complete a atividade abaixo. Rio Córrego Lagoa O rio é dividido em partes, denominadas elementos de um rio Esquema de um rio com os seguintes elementos e suas definições: nascente, montante, jusante, foz, afluente, confluência, margem, leito. De todas essas classificações, talvez a que você esteja menos familiarizado é com o termo Bacia Hidrográfica. Mas antes que você torça o nariz para esse nome estranho e resolva passar para a próxima página, saiba que o seu significado é bastante simples e ela engloba todos os outros corpos d’água como rios, córregos e lagos. A Bacia Hidrográfica de um rio ou curso d’água nada mais é que o conjunto de terras que direcionam a água das chuvas para esse curso de água, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. As terras altas funcionam como se fossem um funil. Toda água que cai com a chuva escorre, no final, para um único rio ou lago, que está na parte mais baixa da bacia. 17 É por isso que um rio sempre corre de uma área mais alta para uma área mais baixa. Não falei que era simples! No entanto, a bacia hidrográfica de uma região é extremamente importante para as pessoas que moram nela, pois é daí que boa parte da água será utilizada para uso doméstico (beber, cozinhar, tomar banho, aguar as plantas), para irrigação de lavouras e para a indústria. O estudo da Bacia Hidrográfica também é útil para prever enchentes ou inundações quando há um volume muito alto de chuvas em uma determinada região. 18 O Ceará possui 11 Bacias Hidrográficas, como mostra o mapa abaixo. Você saberia responder em que Bacia Hidrográfica está o município de Icapuí? Pesquise onde o rio nasce e descubra porque ele é considerado o maior corpo hídrico em extensão do estado do Ceará. Oc ean oA tlân tico Estado do Ceará Bacias Hidrográficas Pa ra íb a Rio Gra nd ed oN ort e Piauí Fortaleza Pe rn am bu co Bacia Litorânea Bacia do Acaraú Bacia do Alto Jaguaribe Bacia do Baixo Jaguaribe Bacia do Banabuiú Bacia do Coreaú Bacia do Curu Bacia do Médio Jaguaribe Bacia do Poti Bacia do Salgado Bacia Metropolitana Elaborado e geoprocessado pelo DERAM-FUNCEME 19 As águas subterrâneas As águas subterrâneas são formadas a partir da infiltração da água da chuva no solo, num processo denominado de percolação. Em regiões onde existe pouca quantidade de água superficial disponível para uso humano, as águas subterrâneas são muito utilizadas para o abastecimento de casas, irrigação de lavouras e para a indústria. Essas reservas de águas subterrâneas recebem o nome de Aqüíferos. Nível potenciométrico Aqüífe ro livre Nível potenciométrico Aqüífero confinad o Embasame nto Poço não artesiano Poço comum Poço artesiano jorrante Existem determinados tipos de solos que são extremamente porosos, permitindo a penetração da água para as camadas mais profundas da terra. Esse tipo de solo é capaz de reter a água da chuva a determinadas profundidades e permitir que esta seja alcançada através de poços. Solos assim são encontrados em áreas de dunas, bacias sedimentares e áreas de várzea. À medida que a água penetra cada vez mais fundo na terra – e isso pode acontecer de forma muito vagarosa – ela vai sendo filtrada pelas partículas de areia. Por isso que as águas de um aqüífero são limpas. 20 Aqüíferos: reservas subterrâneas de água Na natureza existem, principalmente, dois tipos de aqüíferos: Aqüíferos livres (ou lençol freático). São os aqüíferos encontrados mais próximos da superfície. Geralmente são alcançados cavando-se cacimbas. À medida em que o buraco da cacimba vai sendo aprofundado, a água vai aflorando. Estes aqüíferos são os que possuem as maiores chances de serem contaminados por fossas negras, postos de gasolina que apresentem vazamentos nos seus tanques subterrâneos, pesticidas, fertilizantes e metais pesados. Aqüíferos confinados (ou artesianos). Geralmente são encontrados em uma profundidade maior que o aqüífero livre. Este tipo de aqüífero encontra-se aprisionado entre duas camadas de rochas, como uma fatia de queijo entre duas fatias de pão. Para se chegar até a água é necessário perfurar poços utilizando brocas. Poços assim são chamados de “poços artesianos”. 21 As águas moldam a paisagem natural na Terra A água era o principal elemento modificador da superfície terrestre antes de o homem começar a mudar o clima e a paisagem do Planeta Terr. Se tomarmos como exemplo um rio e todo o caminho que este percorre, desde sua nascente até o seu destino final, poderemos observar como ele interage com as terras ao seu redor, as modifica, carregando junto a memória dos lugares por onde passou. Nossa estória começa na nascente desse rio, que pode ser um lençol freático que aflorou, ou até mesmo o gelo derretido das montanhas durante a primavera. Nesse momento o nosso rio é um córrego pequeno, que corre devagar das terras mais altas onde nasceu para as terras mais baixas, ao longo da sua bacia hidrográfica. À medida que ele percorre as terras ele erode, desagrega e solubiliza as rochas, carregando consigo o material resultante dessa desagregação, que são os minerais. Ao longo do caminho ele encontra outros córregos que se juntam a ele, como uma grande rede de vasos sanguíneos que se conectam, ou galhos de uma árvore, que se entrelaçam. Cada novo córrego adiciona mais volume de água ao nosso córrego inicial, que agora se torna um rio. Quanto maior for o volume de água, mais veloz nosso rio desce, escavando o solo e construindo seu leito e suas margens. Ao longo de suas margens ele deposita os materiais dissolvidos das rochas, que fertilizam o solo e promovem o crescimento da vegetação. As árvores, arbustos e outras plantas menores sombreiam nosso rio, tornando-o mais frio. Quanto mais fria for a água, melhor, pois o oxigênio da atmosfera se dissolve mais rápido nas águas, permitindo que peixes e outros animais não morram. Folhas, galhos, frutos e sementes caem no nosso rio, tornando-se alimento para uma série de organismos. Bactérias decompositoras e insetos aquáticos decompõem essa matéria orgânica, liberando nitrogênio e fósforo, que em quantidades apropriadas são excelentes fertilizantes para as plantas das margens. 22 Nosso rio continua seu caminho. O tipo de solo encontrado em seu leito irá influenciar a sua turbidez, que seria a quantidade de sedimentos em suspensão nas águas. Se o leito for formado por areia, a quantidade de sedimentos que são transportados será grande, deixando nosso rio turvo. Se, por outro lado, o leito for constituído de pedras, a quantidade de sedimento será bem menor e nosso rio terá águas mais claras. Quando se aproxima do seu destino final, o mar, seu volume de água é enorme e carrega junto consigo nutrientes, que serão absorvidos pelas águas salgadas. Parte dele irá se depositar no fundo do mar, fertilizando o solo marinho e ajudando no crescimento de algas e capim-agulha, fontes de alimento para diversas espécies de animais, incluindo o peixe-boi marinho. Outra parte dos nutrientes será filtrada por camarões, caranguejos, siris, ostras e filhotes de peixes, que servirão mais tarde de alimento para animais maiores, como garças, maçaricos e peixes. Além dos nutrientes, nosso rio carreia consigo a areia que foi coletada ao longo do seu caminho. A areia será lançada no mar através do estuário ou desembocadura do rio. O mar, com suas correntes e marés, depositará novamente a areia na costa, formando e alimentando as praias. As areias das praias serão sopradas pelos ventos e moldadas em forma de dunas. Dessa forma, quando você estiver apreciando a beleza ímpar de uma duna no seu litoral, saiba que ela carrega em seus grãos a memória de um rio, que nasceu do seio da terra, cresceu córrego, passou por muitas terras, alimentou animais e plantas, permitindo que a vida florescesse ao longo do seu curso. 23 O homem altera a forma do mundo natural Infelizmente, a estória que contamos acima não mais existe. Poucos rios do mundo conservam seu traçado e composição química naturais. Quase todos foram represados, alguns sofreram desvios e cerca de 80% das águas superficiais do nosso planeta possuem algum tipo de contaminação provocada pelo homem. Alteramos tanto as condições naturais em nosso planeta, que criamos o que chamamos de “efeitodominó”, onde uma ação desencadeia uma série de efeitos negativos sucessivos para o homem e para os outros organismos vivos. O homem começou a alterar a paisagem que o cercava a partir do momento em que passou de um sistema de subsistência caçadorcoletor nômade para um sistema de subsistência agrícola. 24 Há cerca de 12 mil anos atrás, durante a pré-história, indivíduos de povos caçadores-coletores perceberam que os grãos que coletavam na natureza, quando enterrados, produziam novas plantas iguais às que os originaram. Essa prática permitiu o aumento da oferta de alimento para essas pessoas. Houve grupos de “agricultores” que se fixaram à terra em que plantavam, selecionando os grãos que davam safras maiores, que vinham de terras distantes ou eram mais resistentes a pragas. Esses grupos acumularam bens maiores e tiveram um aparente melhoramento do padrão de vida. Por outro lado, os grupos de “caçadores-coletores”, que continuaram utilizando-se de alimentos nativos de sua região, mantiveram um equilíbrio ecológico com o ambiente. Hoje ainda subsistem caçadores-coletores no Ártico e nas florestas tropicais úmidas, onde outras formas de subsistência não são possíveis. Nossas tribos indígenas foram grupos de caçadores-coletores e, ainda hoje, algumas delas conservam estes antigos costumes. Com a Revolução Industrial, nossa demanda por água aumentou terrivelmente. Para você ter uma noção do que estou falando, para cada 1kg de papel produzido, gastamos 324 litros de água. As indústrias criaram muitos empregos. Pessoas que trabalhavam no campo, na agricultura e pecuária começaram a migrar para as cidades, à procura de uma vida melhor e mais confortável. Com isso, os grandes centros urbanos incharam rapidamente e a oferta de água tratada e esgoto não mais conseguia suprir a população que crescia a cada ano. A falta de uma rede de esgotos adequada causava contaminação do lençol freático, utilizado para beber, tomar banho, lavar roupa, cozinhar e outras inúmeras atividades cotidianas. Como conseqüência, hoje em dia pagamos cada vez mais caro para trazer água de locais distantes, tratá-la e enviá-la para nossas residências 25 Em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, 70% do lixo que é produzido nas indústrias são despejados sem tratamento nas águas, poluindo nosso suprimento de águas superficiais e subterrâneas. Como conseqüência de nossa ignorância e avidez por dinheiro, estamos poluindo os nossos corpos hídricos superficiais e subterrâneos, envenenando-nos ou nos matando de sede lentamente. Aqüíferos que levaram milhares de anos para serem criados pelas águas da chuva estão com risco de secarem completamente nos próximos 10 anos. Calcula-se que cerca de 1 bilhão de pessoas não tenha acesso à água potável no mundo. É importante que você se lembre do que foi dito lá atrás, no Ciclo da Água: o volume de água na Terra é fixo, mas a população humana não pára de crescer. Cada vez que você dá descarga no vaso sanitário da sua casa, você gasta de 5 a 8 litros de água tratada. Em muitos lugares da África e da Ásia as pessoas precisam andar a pé 5 ou mais quilômetros para trazer para casa somente 5 litros de água não tratada, que vai ser utilizada para beber, cozinhar e lavar as roupas de uma família de, no mínimo, 5 pessoas. Você acha que esse volume de água é suficiente para todas essas atividades? 26 De que forma ocorrem as contaminações nos nossos recursos hídricos? De várias formas. O desenho abaixo mostra somente as mais comuns. Produtos Azotados e Sulfurosos Chuva ácida Recarga de águas de superfície e águas subterrâneas Efluentes urbanos Lago Pesticidas Fertilizantes Estação de Abastecimento de água Depósitos de produtos perigosos Lixeira Posto de gasolina Pecuária Fossa Séptica Furo Óleos e Derrame Gasóleos Escoamento Subterrâneo Migração da Contaminação Bem, agora que sabemos de todas essas informações sobre a água, vamos fazer um rápido estudo sobre o município de Icapuí e ver quais são os problemas relacionados à água na região. 27 Capítulo 2 - Icapuí e seus Ecossistemas Icapuí é um dos 19 municípios localizados na zona costeira do estado do Ceará. Ele é limitado ao norte pelo Oceano Atlântico, a leste pelo estado do Rio Grande do Norte, a oeste pelo município de Aracati e ao sul por Aracati e Rio Grande do Norte. Possui 64 km de litoral e tem uma grande diversidade de ecossistemas marinhos e terrestres. Um ecossistema é o conjunto formado pelos seres vivos dentro de um determinado ambiente e pela relação que se estabelece entre os seres vivos e esse ambiente. Por isso é dito que um ecossistema pode ter desde o tamanho de uma poça d’água (ou ser ainda menor!) até o tamanho de todo um oceano. Existem inúmeros tipos de ecossistemas, pois eles são característicos de uma determinada região, do seu clima, da quantidade de água, luz, ventos, tipo de solo e dos animais e plantas que são encontrados ali. 28 Nós estamos aqui! Todo tipo de ecossistema natural possui uma ou mais funções específicas, que beneficiam a Humanidade. Essa função é chamada de “Serviço do Ecossistema”. E quer saber o melhor disso tudo? A natureza não cobra nada pelo trabalho se o Homem também não alterar indiscriminadamente o ecossistema que presta o serviço. Os serviços podem ser: provisão, se o ecossistema produzir alimento e água; regulação, como controle do clima e de doenças; suporte, como ciclo de nutrientes e polinização de cultivos; cultural, como benefícios espirituais e recreacionais, dentre outros. Observe o mapa. Vamos empreender uma viagem a Icapuí, que será nossa sala de aulas ao ar livre. Prepare-se para mergulhar nos diversos ecossistemas que formam seu município e como estes fornecem uma série de benefícios à população da região. UNIDADES DE PAISAGENS HOMOGÊNEAS Planície Costeira de Icapuí Novembro de 2007 PRAIA BANCOS E FLECHAS DE AREIA BERMA APICUM MANGUE BANCO DE ALGAS / DELTA DE MARÉ DUNAS MÓVEIS DUNAS SEMIFIXAS DUNAS FIXAS TERRAÇO MARINHO HOLOCÊNICO TERRAÇO MARINHO PLEISCÊNICO PLANÍCIE FLUVIAL TABULEIRO FALÉSIAS PALEOFALÉSIAS LAGUNA LAGOAS COSTEIRAS Riachos/Córregos/Canais de maré FONTE: Imagem de satélite QuickBird, 2005 Geoprocessamento a partir de levantamento topográfico com GPS geodésico 29 Ecossistemas Tipo de Ecossistema: Bancos de Algas Descrição: Áreas marinhas (que geralmente são submersas, mas podem ficar descobertas nas marés secas ou marés de lua cheia ou nova) e que são cobertas por algas pardas, vermelhas e verdes. Podem crescer próximas a bancos de capim-agulha, formando bancos denominados “mistos”. Serviços do Ecossistema: • Produzem oxigênio para o ambiente marinho; • São usadas como áreas de alimento, proteção e crescimento de larvas, filhotes e juvenis de muitos tipos de animais marinhos importantes, dentre eles a lagosta; • São a base da cadeia alimentar marinha, servindo de alimento para diversos tipos de peixes, peixes-boi, tartarugas e outros animais herbívoros. 30 Fauna: Peixes-boi, peixes diversos, arraias, moréias, tartarugas, juvenis de lagosta, caranguejos, siris e polvos. Flora: Algas pardas, vermelhas e verdes. Dicas para uma viagem de campo da escola: • Visite o Banco Cajuais na maré seca e conheça o maior banco de algas do litoral do Ceará e o único delta de maré do Estado. • Visite o Projeto “Mulheres de Corpo & Algas”, de cultivo de algas vermelhas, da comunidade de Barrinha, e descubra mais informações sobre a biologia das algas e dos animais que a elas vivem associados. Tipo de Ecossistema: Bancos de Capim-agulha Descrição: Áreas marinhas (que geralmente são submersas, mas podem ficar descobertas nas marés secas ou marés de lua cheia ou nova) e que são cobertas por capim-agulha. São plantas de verdade, possuem flores e se reproduzem por polinização. Podem crescer próximas a bancos de algas, formando bancos denominados “mistos”. Serviços do Ecossistema: • Suas raízes “seguram” a areia, evitando que ela fique em suspensão e turve a água, aumentando dessa forma a claridade da água e permitindo que as algas façam a fotossíntese; • Produzem oxigênio para o ambiente marinho; • São ambientes altamente produtivos, sendo a base da cadeia alimentar marinha, juntamente com as algas. É o principal alimento do peixe-boi marinho em Icapuí; • São usadas como áreas de proteção e crescimento de larvas, filhotes e juvenis de muitos tipos de animais marinhos importantes, dentre eles a lagosta; • Protegem a linha da costa, evitando que ela seja erodida pelas marés de lua ou de ressaca. Fauna: Peixes-boi, peixes diversos, arraias, moréias, tartarugas; juvenis de lagosta, caranguejos, siris, polvos. Flora: Capim agulha, algas pardas, verdes e vermelhas. Dicas para uma viagem de campo da escola • Visite a Praia de Ponta Grossa na maré baixa e conheça os bancos mistos de capim-agulha e algas. Os bancos são tão abundantes e extensos que fazem com que essa praia seja uma das mais visitadas por peixes-bois, inclusive fêmeas com filhotes. Para observar os peixes-bois, dê preferência pela maré cheia e tente observá-los do alto da falésia com a ajuda de binóculos. • Outro lugar muito bom para ver bancos de capim-agulha é na região do Banco Cajuais, em frente à praia da Requenguela, na maré baixa. Existem verdadeiras piscinas naturais arredondadas, forradas de capim-agulha. Aproveite para ver (e não pegar!) os diversos tipos de animais que habitam essas piscinas de capim na maré baixa. 31 Tipo de Ecossistema: Praias Arenosas e Dunas Descrição: As praias arenosas e dunas são formadas a partir de sedimentos trazidos pelos rios, pelo mar e pelos ventos, e que são depositados nas praias ou soprados para o interior do continente. Serviços do Ecossistema: • São a principal área no litoral onde a água da chuva penetra no solo, alimentando o lençol freático, que irá abastecer os poços, fontes e olhos d’água. São áreas denominadas de recarga de aqüíferos porque eles literalmente são recarregados durante o período das chuvas; • Servem como um filtro, purificando a água que abastece o lençol freático. Fauna: Raposas, cassacos, ratos silvestres, cuícas, morcegos, maçaricos, vira-pedras, gaivotas, gaivotões, piru-piru, tetéus, martins32 pescadores, tiziu-da-praia, sabiá-branca, urubu-da-cabeça-preta, urubu-da-cabeçaamarela, urubu-da-cabeça-vermelha, carcará, coral falsa, cobra de caçote, cobra verde, cobra d’água, cobra-de-veado, sapos cururus, caçotes, jias, tijubinas, bico doce, calango. Flora: Cabeça de frade, mufumbo, salsada-praia, bredinho-da-praia, angélica, malva relógio, jatobá, copaíba, aroeira e plantas herbáceas. Dicas para uma viagem de campo da escola: • Visite as trilhas que percorrem o campo de dunas da Área de Proteção Ambiental (APA) de Ponta Grossa com um guia da região; • Conheça as dunas vegetadas de Ibicuitaba e do Córrego do Sal, no interior do município; • Ainda em Ponta Grossa, conheça o olho d’água doce, que é abastecido pelo lençol freático de Ponta Grossa. O olheiro está localizado na divisa dessa praia com a praia de Retiro Grande e fica descoberto na maré baixa. Tipo de Ecossistema: Manguezal Descrição: O manguezal ou mangue é um ecossistema costeiro de transição entre o ambiente terrestre e o marinho, estando sempre associado à desembocadura de um rio. Ele sofre a influência das marés e possui espécies vegetais que se encontram adaptadas à água salobra. São consideradas as áreas mais ricas e de maior produtividade no litoral, carregando matéria orgânica para o mar e fertilizando-o. Serviços do Ecossistema: • Os manguezais produzem 95% do alimento que é pescado pelo homem no mar; • São grandes “berçários” naturais para centenas de espécies de peixes, crustáceos, moluscos, aves e mamíferos que aqui encontram as condições ideais para reprodução, nascimento, criadouro e abrigo; • As árvores e raízes do manguezal protegem a costa da erosão do mar e das marés de ressaca; • As raízes do mangue funcionam como filtros naturais, retendo os sedimentos e limpando a água. Fauna: Peixes-boi, garças, martim-pescador, socó, bem-te-vi, galinha-do-mangue, tamatião, siricóia, sirizeira, maçaricos, maçaricões, sibitedo-mangue, mão-pelada (guaxinim), cassacos, raposas, macaco-prego, peixes (dezenas de espécies diferentes), búzios, taióbas, ostras, caranguejos-uçá, caranguejo chama-maré, camarões, aratú, cobras, lagartixas, aranhas. Flora: Mangue-vermelho, mangue-branco, mangue-preto ou siriúba, mangue-botão, bredo e algumas espécies de plantas herbáceas nas áreas mais secas do bosque. Dicas para uma viagem de campo da escola: • Faça uma visita guiada ao remanescente do Manguezal da Barra Grande, uma Área de Preservação Permanente (APP), e que se encontra ameaçada pelo desmatamento, construção de fazendas de camarão e pela poluição; • Aproveite para conhecer o viveiro de mudas de manguezal para reflorestamento, mantido na comunidade de Requenguela, e aprenda um pouco mais sobre a biologia das espécies que estão sendo cultivadas. 33 Tipo de Ecossistema: Mata de Tabuleiro de Porte Arbóreo e Arbustivo Descrição: As matas de tabuleiro representam a maior parte da cobertura vegetal do município. Elas podem ser formadas por árvores (porte arbóreo) ou por arbustos (porte arbustivo), e são encontradas espalhadas pelo município de forma fragmentada. Possuem esse nome porque crescem sobre os tabuleiros prélitorâneos. As matas de tabuleiro ocupavam o topo das falésias de Icapuí, antes de serem desmatadas para a implantação de fazendas de fruticultura, para a construção de casas, fabricação de carvão vegetal, etc. Serviços do Ecossistema: • As raízes das árvores e arbustos penetram no solo, tornando-o poroso à água da chuva que abastece o lençol freático da região; • A sombra produzida pela mata diminui o calor nas regiões próximas a esta; • As matas de tabuleiro produzem uma série de frutos sazonais, que servem de alimento para o homem e animais; • Também produzem madeira de qualidade, utilizada na construção de cercas, casas e outras edificações; • Produtos como raízes e cascas de árvores são utilizados para a fabricação de 34 remédios caseiros e chás; • As flores das plantas que compõem a mata fornecem pólen e néctar às abelhas, que por sua vez produzem mel, coletado pelo homem. Fauna: Mão-pelada (guaxinim), cassacos, raposas, macaco-prego, soim, veado, preá, morcegos, tatu, peba, gato-da-malha-grande, gato-da-malhapequena, seriema, carcará, carcarábranco, gavião, vem-vem, sabiá-branca, rolinha, teiú, tijubina, cobra de veado, cobra de cipó, coral falsa, aranhas, abelhas e outros. Flora: Cajueiro, aroeira, sabiá, pereiro, pau d’arco roxo, frei jorge louro, imburana, mandacarú, cabeça de frade, facheiro, feijão brabo, mufumbo, sipaúba, marmeleiro, pinhão, mangaba, catingueira, jucá, pau-ferro, podói, catanduba, joazeiro, dentre outros. Dicas para uma viagem de campo da escola: • Visite a região do Mundo Novo, onde existe a mais bem conservada mata de tabuleiro arbórea do município; • Não deixe de conhecer o viveiro de mudas de mata de tabuleiro, mantido na comunidade de Ponta Grossa, e que está sendo utilizado para reflorestamento do topo e das encostas da região. Tipo de Ecossistema: Matas Ciliares (Carnaubal) a oferecer água de melhor qualidade para a população a um menor custo; • As matas também produzem um ambiente sombreado e fresco, diminuindo o calor no seu entorno; • Ao sombrear rios e lagoas elas diminuem a evaporação desses recursos hídricos, aumentando a oferta de água para animais e o homem por um período mais prolongado; • As árvores oferecem uma série de produtos (frutos, cascas, sementes e troncos) que são de uso humano; • Oferecem abrigo e alimento para uma série de animais. Fauna: Mão-pelada (guaxinim), cassacos, Descrição: Matas ciliares é a designação geral dada à vegetação que ocorre nas margens de rios e outros mananciais, como as lagoas. Possui esse nome porque a vegetação da margem filtra o sedimento carregado pelo rio, impedindo que o mesmo fique assoreado, assim como os cílios filtram as partículas de poeira, protegendo os olhos. Em Icapuí, a mata ciliar encontrada ao longo da bacia do Córrego da Mata, Córrego do Sal e Córrego Manguinhos é o Carnaubal. raposas, peba, garças, pernilongos, seriema, carcará, carcará-branco, gavião, vem-vem, sabiá-branca, rolinha, teiú, tijubina, cágados, peixes, sapos, rãs e pererecas, cobra de veado, cobra de cipó, coral falsa, aranhas, abelhas e outros. Flora: Carnaúba, cajueiro, imburana, mandacarú, facheiro, feijão brabo, mangue botão, marmeleiro, pinhão, catingueira, catanduba, jurema branca, murici, joazeiro, dentre outros. Serviços do Ecossistema: Dicas para uma viagem de campo da escola: • As matas ciliares são extremamente importantes para a manutenção da qualidade da água em cursos de água superficiais como os rios. Muitos estados, como São Paulo, estão trabalhando na recuperação de matas ciliares ao longo dos rios que abastecem as cidades, de forma • Visite a região do Córrego da Mata, que é o único recurso hídrico superficial de Icapuí de porte significativo na região e que forma uma pequena bacia hidrográfica litorânea; • Visite o Arrombado e conheça essa lagoa perene que, há muitos anos atrás, era um rio que desaguava no mar. 35 O peixe-boi marinho também bebe água doce! Pode parecer mentira, mas o peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) precisa tomar água doce regularmente para poder sobreviver. Ele é considerado pelo Ibama como o mamífero marinho mais ameaçado de extinção no país. Existem menos de 500 indivíduos na natureza, distribuídos desde do estado de Alagoas até o estado do Amapá. O peixe-boi pode medir de 3 a 4 metros e pesar mais de 1.000 kg quando adulto. São animais de reprodução lenta, tendo um único filhote (raramente dois) por gestação, entre os meses de novembro a maio. A gestação dura cerca de 13 meses e o filhote é completamente dependente da mãe por 2 anos. São normalmente solitários, mas grupos de 4 ou mais animais podem ser vistos durante o período de acasalamento ou quando estão se alimentando. Sua distribuição, no nosso país, está condicionada à presença de estuários, baías e praias de águas calmas e rasas, grandes quantidades de capim-agulha e algas (pois ele é um animal herbívoro) e água doce. Icapuí possui todas essas características importantes para a manutenção da população de peixesbois, com exceção do estuário. O estuário da Barra Grande vem sofrendo uma série de pressões antrópicas, que se iniciaram com a atividade salineira na região na década de 70. De lá para cá, 75% do estuário foram desmatados e transformados em porto, salinas, tanques de camarão e seu rio virou um esgoto a céu aberto. Devido a essa degradação, o peixe-boi marinho não entra mais no estuário para ter seus filhotes e beber água. As únicas fontes de água doce disponíveis para a espécie 36 no município são os olhos d’água, conhecidos como olheiros pelos moradores do litoral. Os olheiros nada mais são do que fontes de água doce naturais, oriundas do aqüífero subterrâneo livre. Em algumas praias, o aqüífero rompe na superfície do fundo do mar, formando uma pequena fonte de água doce, denominada de ressurgência. Ressurgências assim são encontradas nas praias de Retiro Grande, Ponta Grossa, Picos, Tremembé e em Retirinho (Aracati). Mas essas fontes também estão ameaçadas pela diminuição do volume e contaminação do lençol freático, em virtude de uma série de impactos que vêm sendo causados aos recursos hídricos de Icapuí. Dessa forma, o peixe-boi marinho está sendo ameaçado pelos mesmos problemas que as comunidades do município estão enfrentando. Se as comunidades lutarem para melhorar e preservar a qualidade dos seus mananciais, conseqüentemente estarão ajudando o peixe-boi a não desaparecer de suas praias. Veja como a ação humana interfere no meio ambiente Você deve ter percebido que nos ecossistemas que descrevemos aqui existe um elemento comum a todos eles e você já sabe qual é: a água, seja ela doce, salobra ou salgada. Infelizmente o município de Icapuí não possui muitos recursos hídricos superficiais, que podem ser usados para abastecimento humano. Boa parte da água usada na região é oriunda dos aqüíferos subterrâneos livres. Porém, tanto os corpos hídricos superficiais quanto os aqüíferos subterrâneos encontram-se ameaçados pela contaminação ou sobreexploração, e isso causa uma série de efeitos negativos para a população. A partir de agora vamos analisar as ações humanas que estão causando o chamado “efeitodominó” de que falamos lá atrás, onde essas ações estão localizadas no espaço físico de Icapuí e quais conseqüências isso acarreta para a população do município e os ecossistemas dos quais ela depende. Ação Humana: construção de casas e outras edificações nas praias Ação Humana: destruição da vegetação natural Ação Humana: utilização de fossas negras nas casas PRAIAS ARENOSAS E DUNAS Efeito sobre o Ecossistema: impermeabilização do solo Efeito sobre o Ecossistema: infiltração do conteúdo da fossa no terreno Conseqüências para as comunidades: • Diminuição na quantidade de águas das chuvas que iriam penetrar no solo e recarregar o aqüífero subterrâneo livre; • Contaminação do aqüífero subterrâneo livre por coliformes fecais e, conseqüentemente, dos poços e olhos d’água abastecidos por este, causando doenças à população; • Entrada da água do mar no lençol freático e salinização dos poços próximos à praia e olhos d’água doce no mar. 37 Ação Humana: desmatamento para a construção de tanques de cultivo de camarão Ação Humana: desmatamentos e queimadas para a construção de casas, bares e outras edificações M Efeito sobre o ecossistema: impermeabilização do solo Efeito sobre o ecossistema: assoreamento do estuário A N G Efeito sobre o ecossistema: aumento da superfície de evaporação Diminuição do volume de água (e nutrientes, conseqüentemente) que chegam ao estuário e posteriormente ao mar. Menor oferta de alimento para animais e plantas estuarinos e marinhos PERDA DE BIODIVERSIDADE DE Conseqüências • Diminuição dramática na produção de peixes, caranguejos, siris, • Desemprego para pescadores e necessidade • Contaminação das águas do rio e do lençol freático livre com óleo e outros 38 Ação Humana: despejo de antibióticos, restos de ração e outros produtos dos tanques de cultivo de camarões para o mangue U E Z A Ação Humana: despejo de óleo (e outros tipos de resíduos) das embarcações na área do Porto da Barra Grande L Efeito sobre o ecossistema: desequilíbrio na quantidade de elementos químicos no meio ambiente Efeito sobre o ecossistema: impermeabilização da superfície de fotossíntese das folhas das árvores do mangue, algas e capim-agulha Crescimento exagerado de algas e plantas que roubam oxigênio da água Morte ou diminuição no crescimento desses organismos Ausência de oxigênio, alimento e abrigo para animais no ambiente estuarino e marinho PLANTAS E ANIMAIS DA REGIÃO para as comunidades lagostas e outros animais pescados ou coletados no mangue e no litoral; das famílias se mudarem para outras regiões; contaminantes, tornando a água inadequada para consumo humano ou de animais. 39 Ação Humana: desmatamento da vegetação natural para monocultura do cajú Ação Humana: utilização de fossas negras em algumas casas MATAS DE TABULEIRO Efeito sobre o Ecossistema: impermeabilização do solo Efeito sobre o Ecossistema: perda de biodiversidade de plantas e animais da região Efeito sobre o Ecossistema: contaminação do lençol freático Conseqüências para as comunidades: • Diminuição na quantidade de águas das chuvas que iriam penetrar no solo e recarregar o aqüífero subterrâneo livre; • Futuro racionamento de água em algumas regiões; • Empobrecimento dos solos; • Contaminação do aqüífero subterrâneo livre por coliformes fecais, causando doenças à população abastecida por poços; • Aumento do calor nas regiões desmatadas; • Perda de árvores e plantas de uso popular e medicinal; • Diminuição ou perda da produção de frutos e mel utilizados para consumo humano. 40 Ação Humana: desmatamento da vegetação natural plantação de culturas, boa parte delas fruticultura irrigada Ação Humana: bombeamento da água do lençol freático subterrâneo para irrigação Ação Humana: construção de barragens na montante do rio para lavoura e para o gado Ação Humana: utilização de agrotóxicos, pesticidas e fertilizantes indiscriminadamente CARNAUBAL (MATAS CILIARES) Efeito sobre o Ecossistema: alta velocidade de evaporação dos corpos de água superficiais Efeito sobre o Ecossistema: diminuição do lençol freático que abastece casas do município Efeito sobre o Ecossistema: perda de biodiversidade de plantas e animais da região, agrotóxicos, pesticidas e fertilizantes Conseqüências para as comunidades: • Diminuição na quantidade de águas das chuvas que iriam penetrar no solo e recarregar o aqüífero subterrâneo livre; • Futuro racionamento de água; • Empobrecimento dos solos; • Aumento do calor nas regiões desmatadas; • Aumento ou aparecimento de doenças; • Perda de árvores e plantas de uso popular e medicinal. 41 Capítulo 3. Projeto “De Olho na Água” em Icapuí O objetivo do Projeto “De Olho na Água”, da Fundação Brasil Cidadão, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, é contribuir com o gerenciamento desse recurso natural no município de várias maneiras: a. Conservação e recuperação de ecossistemas que sofrem forte pressão humana e que possuem grande influência sobre a qualidade de ambientes costeiros e marinhos; b. Promoção de práticas de uso racional dos recursos hídricos do município; c. Monitoramento da qualidade dos mananciais superficiais (lagoas, levadas e córregos) e subterrâneos (lençol freático livre) no município; d. Diagnóstico da paisagem do litoral de Icapuí, de forma a determinar ações e estratégias que visem a recuperação de ecossistemas e melhoria da qualidade de vida da população. Projeto 42 As áreas escolhidas para a implantação das ações do Projeto foram as comunidades de Ponta Grossa, Barrinha e Requenguela e o remanescente de manguezal da Barra Grande, conhecido como Mangue Pequeno. Estação Ambiental Mangue Pequeno O Manguezal da Barra Grande é considerado o ecossistema mais frágil e ameaçado no município. O objetivo do Projeto é conservar o remanescente que existe e recuperar as áreas degradadas pelas atividades do porto, das salinas e das fazendas de camarão, através da implantação dos seguintes equipamentos: • Centro de Referência: Construido próximo à praia de Requenguela, será o ponto de partida para as visitas guiadas à Estação Ambiental, além de local para a recepção de visitantes e turistas, para guarda de equipamentos e apoio aos técnicos e agentes ambientais. Terá espaço para cursos e treinamentos sobre novas tecnologias e gestão da água no município. • Viveiro de Mudas: Será construído junto ao Centro de Referência e servirá de banco de sementes com espécies nativas para refazer a cobertura vegetal de todo o mangue; • Passarelas Suspensas: Trilhas suspensas próximas à copa das árvores, passando por caminhos já existentes na área do mangue, de maneira a impactar o menos possível esse frágil ecossistema. Visitas monitoradas por guias locais permitirão conhecer a paisagem local através de um percurso com placas de sinalização explicando os aspectos ecológicos de animais e plantas que são encontrados na região; Mirante • Observatório da Vida Marinha: Além de posto de monitoramento da qualidade da água do mangue e mirante de observação, será ponto de apoio a projetos de proteção ao peixe-boi marinho e aves migratórias. Passarela suspensa Centro de referência e Viveiros de mudas na praia da Requenguela 43 Tecnologias de baixo custo para captação de águas da chuva e tratamento biológico de esgotos domésticos Captação de água da chuva por cisternas de ferrocimento Em áreas onde existe escassez de água, a captação de águas da chuva através de cisternas para consumo humano e animal é uma alternativa viável e de baixo custo. Cisternas são estruturas em forma de caixas d’água, construídas com ferrocimento ou outros materiais. Suas vantagens são inúmeras: é uma tecnologia fácil de aprender e de executar; pode ser construída em terrenos de difícil acesso; a água pode ser mantida na cisterna sem o perigo de contaminação. Cento e noventa e oito cisternas e sistemas de tratamento biológico de esgotos serão construídos, utilizando métodos empregados na Permacultura. Tratamento Biológico de Esgotos Domésticos Na permacultura, a água servida é classificada de duas formas: a água cinza e a água negra. A água cinza é a água de sai da cozinha, do chuveiro e de lavagens em geral. É a água que contém somente restos de comida, sabão e gordura, e não está contaminada com fezes. A água negra é aquela que vem das privadas e contém fezes e urina humanas. A construção de estruturas de tratamento, tanto da água cinza como da água negra, em casas que possuem um sistema de esgoto deficiente, diminuirá a contaminação do lençol freático superficial nessas comunidades. Suas vantagens são semelhantes àquelas descritas para as cisternas de ferrocimento, ou seja: baixo custo, fácil de aprender e executar, não emite mau cheiro, e a água tratada por esse sistema pode ser utilizada, posteriormente, para outros usos, como aguar o jardim. 44 Monitoramento da qualidade da água no município Será feito um monitoramento da qualidade de água dos mananciais superficiais (lagoas, levadas e córregos) e subterrâneos (lençol freático) no município. Todo mês, um agente ambiental da Fundação Brasil Cidadão irá coletar amostras de água de 42 pontos diferentes do município para serem feitas análises. O objetivo é saber em quais áreas existe ou não contaminação do corpo hídrico e que tipo de contaminação ocorre (se é por pesticidas, óleos, fezes humanas, etc.), para que seja combatida e resolvida. Diagnóstico ambiental da paisagem costeira de Icapuí Visa basicamente estudar o litoral do município de forma a determinar outras regiões impactadas pela ação humana, para determinar estratégias e ações futuras que deverão ser implementadas para conservação dos ecossistemas e melhoria da qualidade de vida das comunidades. MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DA TERRA Planície Costeira de Icapuí Novembro de 2007 FAIXA DE PRAIA BANCOS DE AREIA ZONA DE BERMA PLANÍCIE FLUVIOMARINHA (Carcinicultura e salinas) MANGUE DELTA DE MARÉ/BANCO DE ALGAS/PESCA/MARISCAGEM/CULTIVO DE ALGAS DUNAS MÓVEIS DUNAS SEMIFIXAS DUNAS FIXAS TERRAÇOS MARINHOS HOLOCÊNICOS (Coqueiral/Culturas de subsistência) TERRAÇOS MARINHOS PLEISCÊNICOS (Coqueiral/carnaubal/Culturas de subsistência) PLANÍCIE FLUVIAL (Pesca/vazantes) TABULEIRO PRÉ-LITORÂNEO (Mata de tabuleiro/agricultura/cajueiro) OUTROS FALÉSIAS VIVAS LINHA DE FALÉISAS MORTAS EDIFICAÇÕES VIAS PAVIMENTADAS ESTRADAS CARROÇÁVEIS CAMINHOS LAGUNA LAGOAS COSTEIRAS Riachos/Córregos/Canais de maré FONTE: Imagem de satélite QuickBird, 2005 Geoprocessamento a partir de levantamento topográfico com GPS geodésico FONTE: Imagem de satélite QuickBird, 2005 Geoprocessamento a partir de levantamento topográfico com GPS geodésico 45 Poupar água. Não deixe essa Existem outras ações simples, em prol do consumo racional de água, que podemos fazer em Icapuí e em outras regiões. Veja algumas delas e observe o quanto você pode economizar água! No banho: molhe-se, feche o chuveiro, se ensaboe e depois abra para enxaguar. Não fique com o chuveiro aberto. Reduzindo 1 minuto do seu banho com a torneira aberta, você pode economizar de 3 a 6 litros de água. Ao escovar os dentes: com apenas 1 copo d’água você consegue escovar os dentes e enxaguar a boca. Assim você economiza 3 litros de água. Na descarga: verifique se a válvula não está com defeito, aperte-a uma única vez e não jogue lixo e restos de comida no vaso sanitário. Na torneira: uma torneira aberta gasta de 12 a 20 litros por minuto. Se ela estiver pingando, irá gastar 46 litros por dia. Isto significa, 1.380 litros por mês. Feche bem as torneiras! Vazamentos: um buraco do tamanho da cabeça de um alfinete no encanamento desperdiça cerca de 3 mil litros por ano. Na caixa d’água: não a deixe transbordar e mantenha-a tampada. Na lavagem de louças: lavar louças com a torneira aberta o tempo todo desperdiça até 105 litros. Ensaboe a louça com a torneira fechada e depois enxágüe tudo de uma vez. 46 conversa "ir por água a baixo"! Regar jardins e plantas: no inverno, a rega pode ser feita dia sim, dia não, pela manhã ou à noite. Use mangueira com esguicho-revólver ou regador. Na lavagem da roupa: deixe para lavar a roupa da família toda de uma vez. Ao invés de jogar fora a água com sabão que foi usada para lavar, guarde-a em um recipiente e utilize para lavar o carro, lavar a calçada (após varrer), jogar na privada (como alternativa à descarga) ou lavar a casa. Faça a mesma coisa com a água do enxágüe das roupas. Na limpeza de quintal e calçada: use vassoura. Se precisar, utilize a água de lavagem de roupas. Participe dos projetos de proteção e recuperação de ecossistemas que estão sendo desenvolvidos em Icapuí. Entre em contato com a Fundação Brasil Cidadão e veja como ajudar. Incentive seus colegas de classe, amigos e vizinhos a fazerem o mesmo: quanto mais gente colaborar, mais você vai se beneficiar. Conheça seu município a fundo e aprenda a amá-lo: nós só aprendemos a amar e preservar aquilo que conhecemos. Incentive sua escola a realizar aulas fora da sala de aula, em viagens de campo, e conheça os diversos ecossistemas de Icapuí. 47 Glossário AGROTÓXICO Qualquer produto químico de ação tóxica empregado na agricultura, por exemplo, para matar insetos considerados pragas (inseticidas), ervas invasoras (herbicidas), fungos que geram doenças (fungicidas). Também chamados de defensivos agrícolas, pesticidas ou praguicidas. ASSOREAMENTO É o “entupimento” do corpo d’água, ou seja, fenômeno causado pela deposição de sedimentos minerais (como areia e argila) ou de materiais orgânicos. Com isso, diminui a profundidade do curso d’água e a força da correnteza. ATMOSFERA É uma fina camada que envolve alguns planetas, composta basicamente por gases e poeira, retidos pela ação da força da gravidade. No planeta Terra, a atmosfera não possui cheiro nem cor. BACIAS SEDIMENTARES É usado para se referir a uma área geográfica que exibe uma depressão, formando uma grande bacia que recebe os sedimentos provenientes das áreas altas que a circundam, os quais vão se acumulando e, à medida que vão sendo soterrados, são submetidos a um aumento de pressão e temperatura, formando gradualmente uma sucessão de camadas de rochas sedimentares. BACTÉRIAS DECOMPOSITORAS Veja Cadeia Alimentar. BARRAGENS Construções para regular o curso de rios, usadas para prevenir enchentes, aproveitar a força das águas como fonte de energia, acumular água para fins de irrigação ou para fins turísticos. Sua construção pode trazer problemas ambientais, como no caso de grandes hidrelétricas, por submergir terras férteis, muitas vezes cobertas por importantes florestas, ou/e por desalojar populações que vivem na área. 48 BIODIVERSIDADE Diversidade de espécies vivas: animais vertebrados e invertebrados, plantas, fungos, algas e microorganismos. Por estimativas conservadoras, haveria de 5 a 10 milhões de espécies no mundo; outras fontes indicam 30 milhões. Muitas espécies são condenadas à extinção devido à destruição dos hábitats, antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. CADEIA ALIMENTAR Série de organismos que transferem energia uns para os outros ao servirem de alimento. O primeiro organismo da Cadeia Alimentar é intitulado “produtor” (por exemplo: plantas que capturam energia do sol pela fotossíntese), os seguintes são consumidores (herbívoros comem plantas, carnívoros comem outros animais, e assim por diante). No final do ciclo vêm os decompositores (bactérias e fungos) que decompõem a matéria orgânica, formando o fertilizante que irá alimentar as plantas. COLIFORMES Bactérias ou seres unicelulares presentes em expressivas quantidades nas fezes humanas e de outros animais. A presença de coliformes na água é sinal de contaminação fecal, podendo causar enfermidades, como doenças de pele e hepatite. COMETAS São corpos celestes menores que um planeta, compostos principalmente por gelo, e que não possuem atmosfera. COMPOSIÇÃO QUÍMICA E BIOLÓGICA Proporção dos elementos químicos e de seres vivos (ou organismos) que são encontrados na água. CONTAMINAÇÃO Estado de uma substância afetada por uma impureza. DESAGREGAR É a ação de desunir, separar o que estava agregado ou reunido. DESMATAMENTO Também chamado desflorestamento, é a prática de corte, capina ou queimada que leva à retirada da cobertura vegetal existente em determinada área, em geral para fins de pecuária, agricultura ou expansão urbana. 49 ERODIR É a ação de desgaste das rochas pela água, vento ou geleira. ERUPÇÕES VULCÂNICAS É a atividade de ejeção, feita por um vulcão, de altas quantidades de poeira e gases na atmosfera. ESTIAGEM Também chamada de seca, é um fenômeno climático causado pela insuficiência de chuvas numa determinada região por um período de tempo muito grande. FAUNA Conjunto de espécies animais que vivem numa determinada área. FLORA Conjunto de espécies vegetais de um determinado ambiente ou área. MANANCIAIS Fontes de onde se tiram as águas para abastecimento. Podem ser superficiais ou subterrâneas. MONOCULTURAS É produção ou cultura agrícola de apenas um único tipo de produto agrícola (ex: soja). Está associada a grandes fazendas ou latifúndios. PERMACULTURA Significa cultura permanente. É um sistema de design para a criação de ambientes produtivos, sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. POLUIÇÃO Efeito que um agente poluidor produz em um ecossistema. Pode ser classificada em relação ao componente ambiental afetado (poluição do ar, do solo, da água), pela natureza do poluente (química, térmica, sonora, radioativa, visual) e pelo tipo de atividade (industrial, agrícola, doméstica). 50 POROSOS Uma superfície porosa é aquela que possui poros, que permite a passagem de sólidos ou líquidos através deles. ORGANISMO É um ser vivo. Pode ser um ser formado por uma única célula (denominado de organismo unicelular) ou por várias células (denominado de organismo pluricelular). Todos os organismos possuem características como movimento, respiração, alimentação, crescimento, reprodução e sensação (sensibilidade a estímulos externos). SEDIMENTOS É o detrito, originário de uma rocha que sofreu erosão, e que é transportado do seu local de origem até o seu local de deposição através da água ou do vento. SUBSISTÊNCIA Na agricultura, o termo é aplicado aos pequenos cultivos familiares, cujo produto é utilizado totalmente para a alimentação daquela família. Os excedentes da produção podem ser armazenados para próximas plantações (por exemplo, o milho), trocados com outros agricultores ou vendidos. SOLUBILIZAR Tornar-se solúvel. SUSPENSÃO Estado dos fragmentos de um sólido (por exemplo: sedimentos) que, misturados à massa de um líquido (por exemplo: um rio), não se dissolvem nele. VÁRZEA É o terreno plano às margens de um rio que, em época de enchente, é inundada com as águas deste último. VERANISTAS Pessoas que passam férias ou temporadas em lugares diferentes daqueles onde vivem habitualmente. 51 Referências consultadas Aquasis. A Zona Costeira do Ceará: Diagnóstico para a Gestão Integrada. Coordenadores Alberto Alves Campos... [et al.]. Fortaleza: AQUASIS, 2003. Aquasis & Fundação Brasil Cidadão. Esse Mar é Meu. Relatório Técnico Final apresentado à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, dentro do edital de Eco-desenvolvimento 2003. Fundação Brasil Cidadão. Aves costeiras de Icapuí. João Bosco Priamo Carbogim (Editor). 1ª Edição, Fortaleza, Ceará. Editora Fundação Brasil Cidadão, 2007. Lucia Legan. A escola sustentável: eco-alfabetizando pelo ambiente. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Pirenópolis, GO: IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, 2004. Robin Clarke & Jannet King. O Atlas da Água: o mapeamento completo do recurso mais precioso do planeta. São Paulo, Editora Publifolha, 2005. Vera Lessa Catalão & Maria do Socorro Rodrigues (organizadoras). Água como Matriz Ecopedagógica – um projeto de muitas mãos. Brasília, Edição do Autor, 2006. Páginas na Internet que você não pode deixar de visitar: http://www.aquasis.org Página da Organização Não-Governamental Aquasis – Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos, cuja missão é a conservação dos recursos naturais do Nordeste do Brasil. Dentre as ações desenvolvidas destacam-se os trabalhos de pesquisa e conservação do peixe-boi marinho no litoral leste do Ceará e os trabalhos de pesquisa de aves migratórias, ambas no município de Icapuí. Para saber mais sobre o peixe-boi, clique item “mamíferos marinhos”, do lado direito da página inicial, e em seguida no item “Introdução”. http://www.ana.gov.br/aguaecultura Página da Agência Nacional da Água – ANA, dedicada à cultura e à água, mantendo um Acervo de Manifestações sobre a Água na Cultura Brasileira, diversificado e interessante. Você encontra desde nomes indígenas ligados à água até letras de música, artes, tradições religiosas e produção acadêmica e científica. http://www.ecocentro.org/inicio.do Página do IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, organização estabelecida em 52 Pirenópolis, Goiás, para desenvolver oportunidades de educação e referências em sustentabilidade para o Brasil. O Ecocentro IPEC mantém um centro de referência em que desenvolve soluções práticas para os problemas atuais das populações brasileiras, incluindo estratégias de habitação ecológica, saneamento responsável, energia renovável, segurança alimentar, cuidado com a água e processos de educação de forma vivenciada. http://www.oaquiferoguarani.com.br/ Página completa sobre o Aqüífero Guarani, com interface de gráficos e desenhos. Muito didático e instrutivo para professores e alunos. http://recicloteca.org.br/agua/direitos.htm Página da Recicloteca – Centro de Informações sobre a Reciclagem e Meio Ambiente, com a Declaração Universal dos Direitos da Água, redigida pela Organização das Nações Unidas - ONU, em Paris, 1992. http://www.sg-guarani.org/microsite/pages/pt/info_aguas.php Página sobre águas subterrâneas e o aqüífero Guarani. Arquivos de apoio para docentes podem ser baixados na área de “Materiais” da barra de ferramentas horizontal. http://www.tryscience.org/pt/parents/se_1.html Página de atividades cientificas para crianças, que podem ser executadas em casa ou na escola. Experiências envolvendo Ciências da Terra, Ciências Biológicas, Matemática, Física, Química, Ciências Espaciais, Tecnologia, Ciências Sociais, Medicina e outros. Para acessar o conteúdo de experimentos, clique na palavra “Experimentos” que se encontra no alto da página, do lado direito da tela do micro. http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=3&pag=default.asp Página da organização não governamental Universidade da Água, voltada para a conservação deste recurso através da Educação Ambiental. http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal Página da Wikipedia, uma das maiores enciclopédias livres da Internet, em português. É só digitar a palavra que você procura na janela de “Busca” à esquerda da tela, clicar em “Pesquisar” e navegar. http://www.brasilcidadao.org.br Página da Fundação Brasil Cidadão, responsável pelo projeto De Olho na Água e outros projetos em Icapuí, principalmente com foco no desenvolvimento sustentável. http://www.acaatinga.org.br Página da Associação Caatinga, que desenvolve um amplo trabalho de conservação na Reserva Natural Serra das Almas. 53 O município de Icapuí, no litoral leste do Ceará, tem 64 km de costa e população aproximada de 20 mil habitantes, que sobrevivem da pesca, do turismo e da cultura de caju. Seus ecossistemas englobam campos de dunas, falésias, carnaubal, manguezal e o 2º maior banco de algas marinhas do Brasil, abrigam expressiva biodiversidade, incluindo o peixe-boi marinho, e são um importante local de alimentação, reprodução e refúgio de aves migratórias. Icapuí CEARÁ BRASIL “Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo”. Mahatma Gandhi Projeto Realização: Patrocínio: Aliança estratégica: Apoio: www.brasilcidadao.org.br - [email protected] - (85) 3268 2778