Diabesidade

Transcrição

Diabesidade
19º Curso NEDO Pós-Graduado de Endocrinologia
Diabesidade
Zulmira Jorge
Serviço Endocrinologia Diabetes e Metabolismo. H. Santa Maria
NEDO - Núcleo Endocrinologia Diabetes e Obesidade
Centro de Endocrinologia e Alimentação. H. Cuf Infante Santo
Assistente livre da FML
Diabesidade
Termo que conjuga as duas doenças epidémicas do
século XXI a nível mundial, especialmente entre as
sociedades ocidentais: Obesidade e Diabetes

Define a convergência entre ambas:
–
–
86 % dos indivíduos Diabéticos tipo 2 sofrem de excesso de peso ou
obesidade
A obesidade aumenta o risco de desenvolvimento de Diabetes tipo 2 em 3 a 7
vezes

Quanto maior o excesso de peso, maior o risco de DM tipo 2

Sugere que o tratamento da obesidade e da diabetes não podem
ser encarados em separado.
Epidemiologia da Diabesidade
Diabetes como epidemia crescente em todo o mundo
Projecções globais do número de pessoas com diabetes (grupo etário dos 20–79 anos), entre 2007–2025 (milhões)
28.3
40.5
+43%
Africa
Mediterrâneo Oriental
e Médio Oriente
Europa
América do Norte
América Central e do Sul
Sudeste Asiático
Pacífico Ocidental
World
2007:
246
2025:
380
Aumento:
53.2
64.1
+21%
24.5
44.5
+81%
16.2
32.7
+102%
67.0
99.4
+48%
46.5
80.3
+73%
10.4
18.7
+80%
+55%
Federação Internacional da Diabetes. Diabetes Atlas 3ª Edição (2008).
Disponível em: http://idf.firstserved.net/staging/index.asp. Último acesso em Março 2009
Em todo o mundo:
246 milhões de pessoas em 2007
380 milhões estimadas para 2025
aumento de 55%
Obesidade – Prevalência em Portugal
IMC (kg/ m2)
SPEO
1999 (%)
SPEO
2003-2005 (%)
Magro
<18,5
2,6
2,4
Normal
18,5-24,9
47,8
45,2
>25
49,6
52,4
25-29,9
35,2
38,6
Obesidade classe I
30,0-34,9
11,8
11,1
Obesidade classe II
35,0-39,9
1,8
2,1
Obesidade classe III
≥40
0,8
0,6
Classificação
Excesso de peso
Pré-obeso
Adap do Carmo et al. Overweight and obesity in Portugal: national prevalence in 2003-2005. Obes Rev 2008; 9: 11-9
Prevalência da Diabetes em Portugal
A Prevalência da diabetes verificada para a população portuguesa foi de
12,3%.
Em números totais o Estudo aponta para a existência de 983000
portugueses entre os 20 e os 79 anos com diabetes, dos quais 44% não
sabiam que eram portadores desta doença crónica.
Prevalência de Hiperglicemia intermédia 26%.
38,3% da população portuguesa sofrem de diabetes ou de
Hiperglicemia intermédia.
Diabetes: Factos e Números 2010.
Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes. Portugal
Epidemiologia da Diabesidade
Relação entre excesso de peso-diabetes tipo 2
Adaptado de Ciari, E. 2007
Epidemiologia da Diabesidade
Avaliação da obesidade
Índice
de massa
corporal
IMC > 30 : Obesidade
Perímetro
de cintura
Índice
cintura- anca
Epidemiologia da Diabesidade
Tipos de obesidade
Distribuição
ginóide ou
gluteofemoral
Obeso metabolicamente Saudável
Distribuição
andróide ou
abdominal
Gordura metabolicamente activa
DM2, HTA, dislipidemia, DCV
Epidemiologia da Diabesidade
Avaliação da obesidade
Perímetro da cintura (cm)

NIH (1998), SEEDO (2000)
perímetro de risco elevado:
–
–

>102 cm em homens
> 88 cm em mulheres
Federação Internacional de
Diabetes (2005) (IDF):
Critério de obesidade abdominal:
–
–
≥ 94 cm em homens
≥ 80 cm em mulheres
1. End Nutr 2010;57(10):479-485.
Epidemiologia da Diabesidade
Avaliação da obesidade
Perímetro da cintura (cm)
 Variável antropométrica
melhor correlacionada
com a quantidade de
tecido adiposo visceral
 Consiste na medida
antropométrica que
melhor prevê o
desenvolvimento de DM2
Carey et al. Am J Epidemiol 1997; 145: 614-619.
Epidemiologia da Diabesidade
Perímetro da Cintura entre 2003-2005
Mulheres (%)
Homens (%)
Total (%)
Risco aumentado
> 80 cm mulheres
> 94 cm homens
43,3
50,8
45,6
Risco muito aumentado
>88 cm mulheres
>102 cm homens
19,6
26,6
22,2
Adaptado de Carmo et al, 2006
Etiopatogenia da Diabesidade
Relação entre a obesidade e a DM2
O tecido adiposo:

não é um tecido inerte

possui numerosos receptores

segrega adipocitoquinas e
outras substâncias
metabolicamente activas
Etiopatogenia da Diabesidade
Relação entre a obesidade abdominal e a DM2
Adipócito visceral vs subcutâneo:




Apresenta maior tamanho
Mais resistente à insulina
Superprodutor de adipoquinas
pró-inflamatórias: TNF-alfa,
IL-6, resistina, leptina e PAI-1
Secreção de adiponectina diminuída
Obesity (2009)17,1976-78
Propriedades das adipocinas chave
Adiponectina Anti-aterogénico/antidiabético:
 na AIA
IL-6
 na AIA
TNFa
 na AIA
PAI-1
 na AIA
 células espumosas
 remodulação vascular
 sensibilidade à insulina  débito hepático da glucose
Pró-aterogénico/pró-diabético:
 inflamação vascular
 sinalização da insulina
Pró-aterogénico/pró-diabético:
 da sensibilidade à insulina nos adipócitos
Pró-aterogénico:
 risco atero-trombótico
AIA: adiposidade intra-abdominal
Marette 2002
Etiopatogenia da Diabesidade
Num trabalho de revisão de todos os estudos de análise da
interligação entre a inflamação, a obesidade e as
complicações associadas conclui-se que:
1.
Existe uma correlação positiva entre o TNF-alfa, a IL-6, o
PAI-1 e a dimensão do perímetro da cintura
2.
Existe uma correlação negativa entre a adiponectina e
níveis de adiposidade
3.
A resistina tem propriedades aterogénicas. Estimula a
síntese de outras citoquinas através de NF-kB.
4.
Os níveis de leptina em circulação são proporcionais à
massa gorda corporal. Portanto a perda de peso reduz
estes níveis.
Nutr Hosp 2007;22(5):511-27
Etiopatogenia da Diabesidade
Relação entre a obesidade abdominal e a DM2
Receptor
da Insulina
TEC. ADIPOSO
VISCERAL
TNF-alfa
fosforilação
Resistência à
insulina
+
Lípase
hormonasensível
lipólise
Leptina
Adiponectina
Resistina
AGL
Lipotoxicidade
Insulina
Piruvato
carboxilase
+
FÍGADO
MÚSCULO
PÂNCREAS
gliconeogénese
Morte
células
Resistência à insulina
Hiperglicemia
Glicemia basal
alterada
DM2
Efeitos cardiometabólicos adversos dos
produtos dos adipócitos
Lipase da lipoproteína
Agiotensinogénio
IL-6
Inflamação
Hipertensão
Insulina
TNF
Adipose
Resistina
tissue
Leptina
Adipsina
(Complemento D)
Adiponectina
Aterosclerose
AGL
Dislipidémia
aterogénica
Lactato
Inibidor activador
do plasminogénio-1
(PAI-1)
Trombose
Lyon 2003; Trayhurn et al 2004; Eckel et al 2005
Diabetes
Tipo 2
Diabesidade
Tratamento do obeso diabético
DILEMA
PROBLEMA
tratar a obesidade
ou a diabetes?
Não existem
fármacos antiobesidade
Alguns ADO
aumentam o peso
CONSENSO
perda de peso
= melhor controlo
metabólico
O controlo da obesidade constitui o ponto-chave
para o controlo da diabesidade
Av diabetol.2010;26:161-6
Av diabetol.2010;26:156-60
Diabesidade
Objectivos do controlo dos FRCV (ADA, 2011)
Objectivo do controlo
Hba1c (%)
<7
Glicemia basal e pré-prandial *
70-130
Glicemia pós-prandial *
< 180
Colesterol total (mg/dl)
< 185
LDL (mg/dl)
< 100
HDL (mg/dl)
>40 H; >50 M
Triglicéridos (mg/dl)
< 150
Tensão arterial (mmHg)
<130/80
Peso (IMC=Kg/m2)
IMC <25
Cintura (cm)
<94 H; <80 M
Consumo de tabaco
Não
* Glicemia capilar
Diabesidade
Tratamento habitual do obeso diabético
Tratamento
farmacológico
Actividade
física
Medidas
dietéticas
Diabesidade