Alto Grão, dieta que vai bem em confinamento pequeno
Transcrição
Alto Grão, dieta que vai bem em confinamento pequeno
E-MAILS PARA ESTA SEÇÃO: [email protected] NUTRIÇÃO Alto grão, dieta que vai bem em confinamento pequeno. Pesquisa mostra que o consumo de rações com elevado teor de concentrados resulta em bom desempenho animal Maristela Franco A s dietas com 80%-90% de concentrado, mais conhecidas como dietas de “alto grão”,podemperfeitamente ser usadas em pequenos confinamentos. Basta escolherformulaçõesadequadasàrealidadedoprodutoreficardeolhonoscustos. É o que indica um estudo realizado por Hélio Louredo da Silva, professor da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a empresa goiana Agrocria. Ele instalou 72 machos Nelore de 24 meses em baiascobertas,naFazendaExperimental Barreiro, distante 54 km de Goiânia, e forneceu-lhes oito diferentes dietas com alto teor de concentrado. Registrou ganho de 1,680 kg/cab/dia, na média dos tratamentos, com excelente conversão alimentar (5 kg de matéria seca por quilo de peso vivo). “Várias dessas rações podem ser utilizadas em pequenos confinamentos. Já havíamos testado três delas no primeiro semestre do ano passado e obtido ótimos resultados. Então, decidimos iniciar um segundo experimento, entre os dias 2 de setembro e 18 de novembro, para consolidar os dados obtidos e testar mais cinco dietas, contendo ingredientes novos,comosorgo,tortagordaecasquinha de algodão, de forma a ampliar as opções dos pecuaristas”, explica Louredo. Após21 diasde adaptaçãoe 77 de avaliação,osanimaisforamabatidos, apresen- 22 ❑ Ao testar oito formulações no arraçoamento de 70 animais Nelore, Hélio Louredo, da UFG, e Flávio Castro, da Agrocria, mediram, além do consumo, a variação na qualidade das carcaças. tando média de 55,38% de rendimento de carcaça. O custo de engorda ficou abaixo de R$ 50 por arroba, contra R$ 60 eatéR$70/@dasdietastradicionais,ricas em volumoso. DIETA DEMOCRÁTICA – Um dos principais ingredientes testados na pesquisa foi o milho-grão inteiro, usado em Algumas quatro formulações diferentes: formulações apenas com núdipensam cleo peletizado, compra de comnúcleomais de soequipamentos casquinha ja, com núcleo para mistura mais bagaço de cana in natura e com núcleo mais caroço de algodão. “As rações de milho-grão inteiro são bastante atrativas, por sua enorme praticidade. Além de garantir bom desempenho animal, elas são acessíveis. Podem ser chaDBO FEVEREIRO/2009 madasdedietasdemocráticas,poisestão ao alcance de qualquer produtor, incluídos os pequenos. Basta acrescentar um ou dois ingredientes ao milho e pronto. Não há necessidade de comprar equipamentos caros para mistura e distribuição do alimento. Trata-se também de uma dieta de oportunidade: se o preço do grão cai, confina-se; se sobe muito, parase imediatamente de confinar, sem ter de manterumaestruturacaraociosa”,explica Flávio Castro, técnico da Agrocria. O experimento da UFG avaliou ainda quatro dietas à base de sorgo, um cereal quase tão nutritivo quanto o milho, porém mais barato. Duas dessas dietas registraram os melhores resultados da pesquisa. Por um motivo simples: tinham maior teor de fibra digestível neutra (FDN) efetiva, devido ao bagaço de cana cru, que facilitou a adaptação dos animais ao cocho. O lote tratado com 50% de sorgo moído, 15% de bagaço, mais caroço de algodão, casca de soja e núcleo farelado propiciou um ganho de peso de 2,1 kg/cab/dia, a um custo bastante atrativo. A segunda melhor performance coube ao grupo alimentado com 60% de sorgo, 15% de bagaço, torta gorda de algodão (um resíduo da indústria de biodiesel) e núcleo farelado. Na média, esses animais ganharam 1,9 kg/cab/dia, porém a um custo maior (veja tabela). A presença do bagaço de cana fez grande diferença na pesquisa. Quando ele foi retirado das formulações à base de sorgo moído, os animais apresentaram os piores desempenhos do experimento. Os lotes tratados apenas com sorgo, casquinha (de soja ou algodão) e núcleo farelado ganharam 1,4 e 1,3 kg/cab/dia, respectivamente. Já a casca de algodão mostrou-se imprópria para dietas de alto concentrado, por ser pouco aproveitada pelos bovinos e sair quase incólume nas fezes. “A qualidade da fibra é fundamental nas rações de alto concentrado. Devemos escolher aquelas fisicamente efetivas, ou seja, que favorecem a mastigação, pois, ao mastigar, o animal produz saliva, um tamponante natural do rúmen, que ajuda a evitar acidose”, explica o professor. Durante o experimento, o comportamento ingestivo dos animais foi cuidadosamente observado, para se avaliar o tempo gasto na ruminação, que funciona como medida de “efetividade” da dieta. Por um período de 24 horas, 16 estagiários anotaram, a cada cinco mi- CONSUMO – RESULTADOS FINAIS DO EXPERIMENTO COM DIETAS DE ALTO CONCENTRADO (77 DIAS) TRATAMENTOS Inicial 02.09.2008 Peso Vivo (kg)1 Carcaça Quente Final 18.11.2008 Ganho Peso kg/cab/dia Rendimento (%) Ganho2 arrobas/ cab Consumo Diário Matéria Original (kg/cab/dia) Custos Dieta (R$/kg) Diária (R$/cab/ dia) Total (77 dias) R$/cab @ R$ 7,75 0,435 3,37 259,59 43,12 T1 – Milho inteiro e núcleo peletizado 361,9 484,2 1,588 56,02 6,02 T2 – Milho inteiro, casca de soja e núcleo peletizado 362,8 482,9 1,560 55,87 5,89 8,43 0,443 3,73 287,56 48,80 T3 – Milho inteiro, bagaço de cana e núcleo peletizado 366,7 499,7 1,727 54,82 6,04 10,81 0,410 4,43 341,27 56,51 T4 – Milho inteiro, caroço de algodão e núcleo peletizado 357,9 486,2 1,666 55,79 6,15 8,38 0,442 3,70 285,20 46,35 T5 – Sorgo, caroço de algodão, casca de soja e núcleo farelado 355,6 468,6 1,468 56,51 5,80 8,30 0,383 3,18 244,78 42,20 T6 – Sorgo, caroço de algodão, casca de algodão, mais núcleo farelado 346,3 449,9 1,345 54,38 4,77 8,47 0,362 3,07 236,09 49,53 T7 – Bagaço de cana, sorgo, caroço de algodão, casca de soja e núcleo farelado 367,4 529,2 2,101 54,79 7,08 11,67 0,347 4,05 311,81 44,02 T8 – Bagaço, sorgo, torta gorda de algodão e núcleo farelado 378,8 531,8 1,987 54,89 6,83 13,13 0,340 4,46 343,74 50,30 362,2 491,6 1,680 55,38 6,07 9,62 0,395 3,75 288,76 47,60 MÉDIA GERAL 1Peso vivo com jejum alimentar de 14 horas. 2Para o cálculo do ganho em @ foi considerado rendimento de carcaça inical de 50%. DBO FEVEREIRO/2009 23 NUTRIÇÃO nutos, todas as ações dos animais. ❑ Análise com Depois calcularam quanto tempo eles ficaram ingerindo alimentos, ruminando, ultrassom em animais vivos bebendo água e em ócio. Os lotes trataindicaram bom dos com alto concentrado e bagaço de nível de cana ficaram 24% do tempo ruminando, cobertura contra 10,2% daqueles que cosumiram de gordura dietas de milho inteiro e 4,9% dos que receberam somente concentrado, apesar de essa ração conter ingredientes fibrosos, como casca de soja, casca e caroço de algodão. Ou seja, o bagaço de cana demonstrou ser AVALIÇÃO DA QUALIDADE DA CARNE (ULTRASSONOGRAFIA) a fonte de fibra Fibra efetiva TRATAMENTOS A.O.L.1 (cm2) E.G.S2 (mm) M.A.R.3 (escore) mais “efetiva”. MILHO INTEIRO (T1, T2,T3, T4) 69,7 4,3 2,3 do bagaço de É importante lembrar, conALTO CONCENTRADO (T5, T6) 68,3 3,4 2,4 cana garante tudo, que o uso ALTO CONCENTRADO + BIN (T7, T8) 72,7 4,9 2,6 aumento de desse volumoso MÉDIA GERAL (8 TRATAMENTOS) 69,7 4,3 2,3 implica maior até 20% no 1A.O.L. = área de olho-de-lombo. 2E.G.S. = espessura de gordura subcutânea. 3M.A.R. = marmoreio consumo e, freganho de peso quentemente, maior custo de mentar menor do que os novilhos manti- equipe técnica da Designer Genes produção da arroba. No caso das dietas dos na instalação semi-coberta”, informa Technologies Brasil, empresa de testadas, a associação de milho-grão Louredo. Já a adaptação a pasto foi um Campo Grande, MS, mensurou, nos com bagaço mostrou-se pouco atrati- sucesso. “Trabalhamos com 26,7 animais vivos, a área de olho-de-lomva. Os animais engordaram 1,727 bois/ha, de forma a aproveitar toda a for- bo, a espessura de gordura subcutânea kg/cab/dia, mas comeram 10,8 kg de ragem disponível nos primeiros 21 dias e o grau de marmorização da carne. matéria original (MO) por cabeça/dia. de engorda. Depois, eles receberam “Decidimos utilizar a ultrassonografia Como se trata de uma dieta relativa- apenas ração. Nenhum animal refugou o porque os frigoríficos não estão permitindo fazer avaliação de carcaça após o mente cara (R$ 0,41/kg), o custo por ar- cocho”, salienta. abate. Alegam que esse procedimento roba disparou, chegando a R$ 56,51, contra R$ 43,12 do milho-grão com pel- QUALIDADE DE CARCAÇA – A pesquisa atrapalha a rotina da sala de desossa e lets, cujo consumo foi mais baixo (7,75 da UFG avaliou ainda quesitos relati- gera perdas. Para medir a área do olhokg de MO/cab/dia). Já a mistura de sor- vos à qualidade da carcaça. Com auxí- de-lombo, por exemplo, é preciso fago moído e casca de soja com bagaço lio de equipamentos de ultrassom, a zer um corte entre a 12ª e a 13ª costelas, justamente onde se encontra apresentou relação custo x o filé e o contra-filé, o que os benefício bastante positiva, torna impróprios para venda pois essa dieta é mais barata ao consumidor”, informa (R$ 0,34 o kg) e, apesar de os Flávio Castro. animais terem comido 11,6 kg As dietas de milho-grão inteiro são exclente opção A ultrassonografia no anide MO/cab/dia, tiveram gapara os produtores que não possuem instalações ou mal vivo foi a alternativa ennho diário de 2,1 kg/cab, reequipamentos para confinar e estão em regiões de contrada para avaliação das duzindo o custo da arroba pa- vocação agrícola, onde esse cereal é bem mais barato. ra R$ 44,02. carcaças. Os exames mostraNessas condições, não vale a pena usar bagaço de cana cru, “Esses dados mostram que que exige um misturador, além de aumentar o consumo e en- ram que todas as dietas garantia viabilidade de uma dieta de- carecer a dieta. ram bom acabamento, com no pende muito da conversão alimínimo 3 mm de gordura de mentar, ou seja, da quantidade cobertura, como os frigoríficos Caso o pecuarista tenha misturador e esteja próximo de quilos consumidos pelo exigem. Os melhores resultade uma usina de álcool, pode optar por dietas farelaanimal para ganhar um quilo dos foram obtidos nos lotes tradas contendo bagaço, pois esse volumoso facilita a de peso vivo. Esse índice, aliás, adaptação dos animais e melhora em 20% o ganho de peso. tados com dietas à base de sorvaria conforme a idade. Em ou- Lembrete: o sorgo deve ser moído para fornecimento aos go, bagaço de cana e ingretro experimento realizado para animais, por ser um grão mais duro e difícil de digerir. dientes concentrados. Eles verificar se a manutenção dos apresentaram, em média, 72,7 bovinos no pasto facilita sua cm3 de área de lombo e 4,9 mm Se optar por dietas fareladas e estiver perto de alguadaptação às dietas de alto de gordura de cobertura. As rama indústria de biodiesel que esmague caroço de alconcentrado, constatamos que ções de milho inteiro também godão, o produtor pode usar torta gorda. Além de ser os animais em testes, (já mais boa fonte de fibra, ela tem 28% de proteína bruta e 10% de se saíram muito bem nessa avaerados, com 30 meses de idade óleo, ótimo para acabamento de carcaças. É recomendável liação. “Mais um ponto a favor e peso inicial médio de 427 kg), fazer contratos antecipados com os fornecedores. das dietas sem volumoso”, saapresentaram conversão alilienta Castro.씱 Dicas práticas 1 2 3 24 DBO FEVEREIRO/2009
Documentos relacionados
Boi engorda bem com dietas sem volumoso
Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), decidiu desenvolver um trabalho específico nessa área, avaliando três tipos de rações: a primeira exclusivamente à base de sorgo moído, caroço de...
Leia mais