Cartilha - ilhagrande

Transcrição

Cartilha - ilhagrande
NOVAS MÍDIAS PELO
TURISMO DE BASE
COMUNITÁRIA
2016; 19 páginas; Rio de Janeiro - RJ
Autores: André Paz, Cristina Carvalho
Publicado: Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social,
Programa de Engenharia de Produção (PEP) do Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ............................................................................................
4
PERSPECTIVA GERAL .................................................................................
5
PROCESSO DE REALIZAÇÃO .................................................................
7
MAKING OFF: ILHA GRANDE .................................................................
9
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 17
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
4
APRESENTAÇÃO
A Ilha Grande é um dos principais destinos turísticos no estado do Rio de Janeiro,
Brasil, em função de suas praias, matas e áreas de proteção ambiental. O turismo
na Ilha é marcado pelas atividades e práticas de consumo de turismo de massa,
com implicações tanto positivas como negativas para o meio-ambiente e suas comunidades. No entanto, algumas iniciativas de base comunitária, desde hospedagens à restaurantes, se apresentam como alternativas mais sustentáveis. Diferente
do turismo de massa, nessas iniciativas há uma convivência entre os turistas e as
pessoas que hospedam, a relação vai além da interação estritamente comercial.
Em função dos vínculos comunitários, essas iniciativas acabam sendo mais preocupadas com as consequências sócio ambientais de suas atividades, sendo mais
sustentáveis. Além disso, trazem os empreendedores locais para as decisões das
comunidades e sobre seus rumos.
O Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social (LTDS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Rio de Janeiro (FAPERJ), realizou na Ilha Grande um webdocumentário, em parceria
com o projeto Voz Nativa, da ONG Terra Azul, que apoia o empreendedorismo de
jovens nas atividades do turismo. A equipe do projeto esteve com três guias locais
nas diversas praias, convivendo com as pessoas, se hospedando e comendo em
restaurantes, pousadas e campings. Nessa convivência, a equipe realizou oficinas
de vídeo com jovens, projetou vídeos nas diversas praias, fotografou e filmou personagens e suas histórias. O material foi utilizado para o desenvolvimento de uma
plataforma digital.
O webdocumentário “Ilha Grande: cada praia, uma ilha; cada ilha, uma história”
(ilhagrandewebdoc.website) é uma forma interativa, participativa e transmídia de
contar histórias da Ilha a partir de sites e mídias sociais na internet. Ele se justifica
como uma tentativa de empoderar as iniciativas de turismo de base comunitária.
Além de reconhecer a importância das iniciativas, o webdoc compartilha informações sobre os restaurantes, campings e pousadas comunitárias. A proposta é
que, por um lado, contar histórias que só temos acesso pela convivência com as
comunidades das praias. Por outro, disponibilizar as dicas para turistas interessados em viver esse tipo de experiência mais próxima das comunidades da Ilha.
Contar as histórias das Ilha incentiva os protagonistas das inciativas comunitárias,
traz reconhecimento e visibilidade. Além disso, os internautas que se interessem
por essas histórias são turistas em potencial que podem vir a visitar as iniciativas
nas diversas praias.
“Ilha Grande: cada praia, uma ilha; cada ilha, uma história” faz parte de um processo de desenvolvimento de uma tecnologia social que associa webdocumentário e
turismo de base-comunitária. Esse é o propósito mais amplo do projeto, conforme
é explicado no site que apresenta o projeto como um todo (ilhagrande.website).
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
Tecnologias Sociais (TS)
são técnicas, materiais e
procedimentos metodológicos
testados e validados e com
impacto social. São criadas a
partir de necessidades sociais,
com o fim de solucionar um
problema específico. Uma
tecnologia social sempre
considera a realidade local e
está, de forma geral, associada a formas de organização
coletiva, representando
soluções para a inclusão social
e melhoria da qualidade de
vida. Ver mais em Dagnino
(2004) e Lassance (2004).
5
O webdoc se insere em uma etapa que consiste na organização de saberes e
práticas passíveis de serem replicadas em projetos análogos, desde que haja
um processo de adaptação e desenvolvimento criativo de acordo com as circunstâncias específicas.
Esta cartilha tem justamente o objetivo de compartilhar a experiência de realização do
webdoc “Ilha Grande...” e apontar ferramentas utilizadas que podem ser replicadas
em projetos similares, na realização de plataformas voltadas para apoiar projetos de
turismo de base-comunitária. O texto principal apresenta as condições específicas
e as etapas de desenvolvimento do projeto, enquanto boxes, como acima, sobre
Tecnologia Social, aponta as ferramentas digitais e conceituais utilizadas. Cada ferramenta pode ser usada de diversas formas, cabe a cada projeto adaptar ao seu uso
em particular. As ferramentas digitais vão desde mídias, como fotografia e vídeo, a
sites e mídias sociais. As ferramentas conceituais vão de turismo de base comunitária, à desenvolvimento situado, passando pelas técnicas de engenharia de produção.
O caso da Ilha Grande não é em nenhum momento apresentado como um exemplo a ser replicado de forma semelhante, mas apenas uma experiência específica
na qual essas ferramentas foram utilizadas, que pode servir de referência para outros projetos análogos. Qualquer reutilização futura das ferramentas apresentadas
requer um esforço criativo que passa pela atenção às condições específicas das
circunstâncias, limites e possibilidades do novo projeto. A proposta da cartilha não
é apresentar um passo a passo específico de como se deve realizar um projeto análogo, mas narrar uma experiência que pode inspirar novos projetos e compartilhar
uma série de ferramentas que podem ser bastante úteis quando se trata de apoiar
iniciativas de turismo de base comunitária.
PERSPECTIVA GERAL
Nesta parte da cartilha, vamos apresentar os princípios que orientam a perspectiva geral sobre o turismo de base comunitária e as possibilidades de apoio para
uma plataforma digital. O Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social
(LTDS) trabalha a partir do que Abegão (2004) chamou de uma Engenharia de
Interesse Social (EIS). A implicação mais importante dessa perspectiva é buscarmos manter uma postura dialogal. Em outros termos, tentar, tanto no início como
em todas as etapas, escutar as necessidades e desejos daqueles daqueles que
estão no foco da ação e buscar a cooperação com os mesmos para a concepção
e realização dos projetos.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
A Engenharia de Interesse
Social (EIS) é a arte-ciência
que desenvolve a aplicação
de conhecimentos à criação e ao aperfeiçoamento
de estruturas ou formas de
convivência sociais, políticas
ou econômicas baseadas em
um referencial ético. Não
é mais uma engenharia. A
EIS representa uma postura,
uma intencionalidade e uma
atitude que embasam o modo
de conceber, projetar, implementar e operar a vasta gama
de engenhos humanos que
vão, inclusive, muito além
das áreas definidas atualmente
como engenharias, como no
caso do “Ilha Grande...”, que
trabalha inicialmente com
tecnologias da comunicação
digital. Essa postura pode ser
resumida como o primado
da escuta. Ou seja, a escuta
daqueles onde o projeto
acontece; o acolhimento de
suas carências, necessidades e
desejos; uma relação dialogal,
vinculante e vulnerável. Ver
mais em Abegão (2004)
6
A universidade ou qualquer outra instituição realizadora de projetos similares não
sabe, antes de escutar à comunidade quais são suas necessidades e desejos. A
partir da escuta, essas instituições podem sugerir e até coordenar projetos dialogais e participativos em cooperação com as comunidades. Elas não detêm as
soluções prontas para os problemas sociais vividos nas comunidades, mas podem
trazer ferramentas e práticas que podem ser úteis de acordo com as circunstâncias
de cada caso. Elas podem atuar como incentivadoras e facilitadoras de processos
de transformação de questões sociais, onde os protagonistas são os integrantes da
comunidade. Nesse sentido, a experiência em casos análogos pode ser bastante
útil. Foi assim que o LTDS atuou em parceria com o Voz Nativa, ao buscar realizar
um webdocumentário que apoiasse as iniciativas de base comunitária pré-existentes, após anos de trabalho com projetos na área e uma presença anterior na Ilha
Grande que possibilitou à escuta necessária para uma postura dialógica.
A postura dialogal está em acordo com a proposta de desenvolvimento situado
do economista marroquino Hassan Zaoual. Em geral, o desenvolvimento é visto
como um caminho único que supostamente deve ser seguido por todos os povos
e comunidades, onde os mais atrasados devem adotar os modelos dos mais adiantados – considerados desenvolvidos. Na perspectiva de Zaoual, entretanto, cada
comunidade concebe e direciona seu processo de desenvolvimento. Nesse sentido, seus integrantes precisam assumir um papel de protagonistas nesse processo
de ordem política, econômica e social.
Nas comunidades da Ilha Grande, podemos interpretar as iniciativas de turismo de
base comunitária como turismo situado, em sintonia com o desenvolvimento situado de Zaoual. Ou seja, essas iniciativas são concebidas em harmonia com o sítio
simbólico de pertencimento das comunidades e, por consequência, contribuem
para o empoderamento dos integrantes das comunidades no processo de decisão das orientações do processo de desenvolvimento. Não é possível dizer que o
turismo na Ilha Grande seja, como um todo, de base comunitária. Podemos questionar se em algumas comunidades da Ilha os serviços turísticos sejam de base
comunitária, como em Aventureiro e Parnaioca, por exemplo, ou mesmo Bananal.
Mas o foco do projeto “Ilha Grande...” não foi uma comunidade em particular, mas
o o conjunto de iniciativas espalhadas pelas diversas praias da Ilha que podem ser
identificadas como atividades de base comunitária.
O que chamamos de iniciativa de base comunitária? Em contraposição às atividades do turismo de massa, essas iniciativas são campings, pousadas e restaurantes marcados por algumas das seguintes caraterísticas. Os turistas têm uma
relação de convivência com os integrantes da comunidade e não apenas uma
interação meramente comercial. Os protagonistas (donos dos pequenos estabelecimentos ou principais funcionários) das iniciativas são pessoas vinculadas às
comunidades pela origem, relações pessoais ou por serem empreendedores comunitários. Os produtos e serviços são vinculados à cultura local: pratos típicos,
histórias, práticas artísticas e culturais, como festas, danças e pesca. Trata-se de
uma relação de proximidade e convivência com a cultura, história e práticas sócio
econômicas da comunidade, na qual há uma troca de experiências, das formas
de perceber, viver e sentir o mundo.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
Desenvolvimento Situado
Para Zaoual, os homens
vivem em sítios simbólicos
de pertencimento. Cada sítio
agrega crenças, mitos, valores,
experiências passadas, conhecimentos empíricos, técnicas,
práticas e hábitos. Falar em
desenvolvimento situado
significa que o desenvolvimento deve ser concebido
em sintonia com o sítio. O
sítio é a bússola do desenvolvimento situado. Cada forma
de desenvolvimento deve ser
ensejada em cada sítio – por
isso, chamado de desenvolvimento situado. Ver mais em
Zaoual (2006)
Empreendedorismo Comunitário é caracterizado
pelo uso de conhecimentos
e habilidades na criação de
iniciativas com geração de
valor social e que são viáveis
comercialmente. O empreendedor reconhece novas
oportunidades que sirvam
a essa missão, se engajando
num processo de inovação,
adaptação e aprendizagem
contínuo. Possui responsabilidade diante das necessidades
e os valores das pessoas e das
comunidades onde pretende
intervir. Para saber mais:
www.ashoka.org.br; Exemplo: redesdamare.org.br/
7
PROCESSO DE REALIZAÇÃO
Nesta seção apresentamos de forma simples ferramentas úteis para visualização
do processo de realização de projetos similares. A forma mais simples de representar o processo de realização de “Ilha Grande” é uma espiral (abaixo). A espiral é a
conjunção ao longo do tempo da repetição cíclica das práticas dialogais e a sequência linear das etapas do projeto. Ou seja, o processo de realização do projeto é
resultado da repetição de determinadas práticas ao longo das etapas de produção.
A experiência é o que podemos trazer desse processo. Esse conjunto de práticas e
etapas podem ser replicados em projetos análogas. Eles são uma metodologia de
engenharia de produção para projetos análogos, desde que seja adaptada para as
possibilidades de cada projeto.
TEMPO
CÍRCULO DIALOGAL
Podemos ver a postura dialogal apresentada pela Engenharia de Interesse Social (EIS) representada por
três práticas: escuta, improviso e experimentação. A
escuta remete para uma postura de observação da
realidade concreta, de atenção aos sinais, de acolhimento de suas necessidades, de cuidado com as
ações e suas consequências. Durante a primeira etapa
de concepção, a escuta tem papel maior, mas mesmo
durante todo o projeto - e mesmo depois de finalizada
as ações -, a escuta, a partir da perspectiva da EIS,
é a prática primordial. Diante da escuta, precisamos
responder. Ou seja, a cada escuta podemos oferecer
uma ação para qual precisamos manter duas práticas:
o improviso e a experimentação.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
8
Quanto mais exercitamos a capacidade de escuta em projetos comunitários, maior é
a possibilidade dele incorporar as características culturais e das comunidades participarem ou até mesmo adotarem e darem continuidade ao projeto por elas próprias.
Trabalhar com comunidade é lidar com outras pessoas e processos sobre as quais
não temos, e não devemos querer ter, o controle. Podemos no máximo contar com
parcerias. A realidade de cada comunidade tem suas especificidades. É, por natureza, muito dinâmica. Tem seus ritmos e processos próprios, independentes de nossas
ações. Por todas essas razões, mesmo em um projeto com linhas gerais previamente
planejadas, é preciso manter a prática do improviso. Não há respostas prontas ou
soluções pré-concebidas, é necessário criar e sugerir alternativas de ações para responder às dinâmicas específicas e imprevisíveis de cada caso. Improvisar é a forma
dialogal de responder às comunidades com a sugestão de ações.
O improviso, entretanto, não é mera intuição. Os improvisos são baseados na experiência e nas ferramentas disponíveis. Por outro lado, não há garantia que uma
resposta improvisada seja a solução para um problema ou necessidade identificados. Os improvisos apresentam respostas que são apenas possibilidades de
melhor encaminharmos das insuficiências, problemas, dificuldades ou necessidades escutadas. Apenas a partir da realização da ação improvisada e da observação (nova escuta) de suas implicações e consequências, podemos aprender com
as respostas dadas pela própria realidade da comunidade. Esse é o processo de
experimentação, onde podemos testar as ações improvisadas e acumular alguma
experiência, ou seja, algum conhecimento sobre suas implicações. Trata-se de saberes e conhecimentos tácitos, prático, capazes por vezes de ser replicados, mas
outras vezes não, inclusive sendo indizíveis.
A produção do projeto se divide em quatro etapas: concepção, planejamento, implementação e finalização. Essas etapas ocorrem de forma sequencial, mas não
têm suas fronteiras muito rígidas ou definidas. A concepção se concentra no início,
mas durante todas as etapas há momentos de reavaliação do projeto. O mesmo
acontece com o planejamento, que não se extingue ao começar a etapa de implementação, mas prossegue com repetidas reavaliações e acompanhamento. Por
sua vez, a implementação e finalização começam muitas vezes antes da etapa de
planejamento estar finalizada.
A concepção consiste basicamente em desenvolver a idéia do projeto. Nesse sentido, uma vez que se trata de um projeto em determinada circunstância sócio-cultural, é preciso aprofundar a escuta do círculo dialogal no sentido de compreender
bem o contexto e as necessidades que os atores locais colocam como predominantes. A partir dessa escuta, a concepção se desenvolve através do esboço do
projeto: público-alvo, as ferramentas a serem utilizadas, os produtos que podem
ser realizados com os recursos financeiros, humanos e tecnológicos que se dispõe.
A etapa de planejamento tem a importância de estabelecer a estratégia de realização do projeto. Aqui se define a relação entre o que se pretende fazer, como fazer
e com que meios fazer. Essa relação se torna concreta no estabelecimento dos
produtos do projeto, das metas do projeto ao longo do tempo, do encadeamento
das ações que são necessárias para realização dessas metas, do cronograma de
trabalho e do orçamento e administração dos recursos. A partir da definição desse
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
9
projeto inicial, o planejamento requer o acompanhamento constante do andamento
das ações e do cronograma. Isso requer, sobretudo em projetos participativos, reuniões constantes de reavaliação para se rever e adequar as ações e o cronograma
às constantes variações. Todo planejamento requer acompanhamento e reavaliação, mas, quando se trata de um projeto dialogal e participativo essa necessidade
é maior. A realização depende não apenas do trabalho da equipe do projeto, mas
das disponibilidades, prioridades e opções dos diversos atores e das infinitas variáveis da vida política de uma comunidade.
As reavaliações do planejamento são decorrentes da replicação do círculo dialogal
colocado anteriormente ao longo da etapa de implementação. Esta etapa consiste basicamente na execução das diversas ações necessárias para realização das
metas do projeto. Uma vez executadas as ações, temos a etapa de finalização,
que consiste no fechamento administrativo do projeto e na avaliação. No caso de
projetos participativos de comunicação, pode haver a necessidade da transferência
da plataforma ou do projeto para a administração e alimentação da comunidade.
MAKING OFF:
“ILHA GRANDE: CADA PRAIA, UMA
ILHA; CADA ILHA, UMA HISTÓRIA”
CONCEPÇÃO
O webdocumentário “Ilha Grande” foi pensado e implementado como uma aplicação de uma tecnologia social que vem sendo desenvolvida pelo LTDS na confluência de dois grupos de pesquisa: Turismo e Desenvolvimento Social e Imagens
Técnicas e Produção Cultural. Consiste na utilização das mídias digitais - com recursos audiovisuais e interativos – e de técnicas de engenharia de produção no
sentido do desenvolvimento de uma tecnologia social voltada para apoiar o turismo
de base comunitária. O projeto foi concebido a partir da confluência do potencial
ainda pouco explorado do webdocumentário com o diagnóstico das necessidades
das iniciativas de base comunitária na Ilha Grande. “Ilha Grande” foi realizado dentro de um projeto maior, chamado “Plataforma Saberes e Práticas”, cujo objetivo
era sistematizar, produzir e difundir, por meio de uma plataforma digital, técnicas e
conhecimentos em apoio ao fortalecimento dos serviços turísticos de base comunitária. O webdocumentário é a tecnologia social que unifica às técnicas.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
10
WEBDOCUMENTÁRIO
A confluência das tecnologias e mídias digitais com o desenvolvimento da internet
abriu caminho para o surgimento e disseminação de uma infinidade de plataformas
e ferramentas de comunicação. Algumas dessas plataformas e ferramentas têm
sido utilizadas como suporte para tecnologias sociais. O webdocumentário apresenta um imenso potencial nesse sentido. Nos últimos anos, surgiu uma ampla e
diversa gama de produções internacionais de narrativas interativas. O New York
Times chamou 2013 de o ano do interactive storytelling, em função da disseminação na web dos recursos interativos associados a formas de contar histórias que
integram textos, vídeos, fotografias e gráficos. Essas produções acontecem na interseção entre audiovisual, mídias digitais, arte interativa, games, instalação.
Não há um formato definido, as obras e suas propostas variam muito entre projetos
como Prison Valley (prisonvalley.arte.tv), Highrise (highrise.nfb.ca), Hollow (hollowdocumentary.com), La Vie a Sac (lavieasac.com). Alguns festivais internacionais de
cinema de prestígio já criaram seus prêmios e mostras de obras interativas, como
New Frontier (Sundance Film Festival), Storyscape (Tribeca Film Festival) e Doclab
(IDFA). As propostas e temáticas variam de Offshore (offshore-interactive.com) e
Remembrance of Things to Understand (webdoc.chrismarker.ca). A forma de interatividade e experiência do usuário são muito diferentes entre La Vie a Sac (lavieasac.com), Walking the Edit (walking-the-edit.net) ou Prison Valley (prisonvalley.arte.
tv). Apenas para citar dois exemplos, as estruturas narrativas e plataformas utilizadas de Hollow (hollowdocumentary.com) não condizem com as de Le défi des bâtisseurs (cathedrale.arte.tv). O processo de produção e recursos necessários para
se fazer FortMcMoney são absurdamente maiores que produções com software
livre como Ceci n’est Pas Embres (embres.ca).
Alguns pesquisadores internacionais propuseram questões e termos interpretativos
na tentativa de organizar essa diversidade, como as principais referências de Sandra
Gaundenzi (2012, 2013), Arnau Castells (2013, 2014). Em paralelo com a experimentação estética, os projetos requerem novas ferramentas, habilidades técnicas
e conhecimento de diferentes áreas, como do audiovisual, design e programação.
Talvez por isso a nova produção tem se concentrado em pólos criativos como na
França e Canadá, onde há uma intensa colaboração entre centros de pesquisa, universidades, realizadores e artistas. Em 2010, o canal francês France 2 criou ume série
de webdocumentários. Em dois anos, o National Film Board (NFB), no Canadá, principal realizador do mundo, já contava com mais de 30 títulos numa rubrica dedicada
a projetos interativos, dentre os quais o super premiado Highrise (highrise.nfb.ca),
Welcome to Pinepoint e Capturing Reality - referências internacionais. Em paralelo
ao NFB, universidades como Concordia University, UQAM, University of Montreal,
têm desenvolvidos centros de pesquisa e divulgação sobre a temática. Parte dessa
produção acontece em projetos de pesquisa e extensão universitária, assim como
em projetos sociais, dado o potencial de engajamento dessas novas mídias.
O cenário brasileiro não acompanhado essa produção internacional (Paz e Salles,
2015). Nos últimos anos, entretanto, a realização de um número cada vez maior de
projetos e suas repercussões sinalizam o crescente interesse na temática. Mas como
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
11
essas obras podem ser utilizadas como uma tecnologia social para apoiar as iniciativas de base comunitária? Certamente, não há por enquanto uma resposta objetiva a
essa questão, pois não há um formato definido de webdocumentário, muito menos
voltado para a temática do turismo de base comunitária. Há, entretanto, um conjunto
de referências que podem ser úteis para desenvolver webdocumentários para cada
circunstância e para lidar com questões específicas. Para conceber o webdoc “Ilha
Grande” foi preciso identificar qual necessidade das iniciativas de base comunitária
poderia ser abordada e em que sentido o webdoc poderia contribuir.
ILHA GRANDE
A Ilha Grande é a maior das ilhas do litoral de Angra dos Reis, reconhecida como área
de preservação ambiental desde a década de 1970. No século XX, a disponibilidade
de pescado levou a instalação de fábricas de produção de sardinha, mas a economia
da Ilha girava mesmo era em torno das atividades do presídio localizado em Dois
Rios, extinguido em 1994. Atualmente, as atividades econômicas locais giram em
torno do turismo, promovido principalmente a partir da década de 90. O turismo traz
benefícios para a população, mas também está associado a uma série de consequências negativas, associadas a um turismo de massa, como descrito anteriormente.
Com o crescimento do volume de turistas durante altas temporadas, por exemplo, há
períodos de sobrecarga de energia elétrica, água e alimentação, o que se soma ao
despejo irregular de lixo e esgoto. A atração de investimentos do setor turístico local e
a procura por moradias fixas ou de veraneio tem levado à especulação imobiliária na
Ilha, tornando ainda mais difícil a permanência de jovens nativos no local.
Apesar disso tudo, o fato é que, como dito anteriormente, a Ilha Grande é um
dos principais destinos turísticos no estado do Rio de Janeiro, em função de suas
praias, matas e áreas de proteção ambiental que encantam a todos que conhecem.
As iniciativas de base comunitária, entretanto, não são predominantes. Essas iniciativas se configuram como um modo de organização do turismo na escala local
na qual os grupos comunitários de pertencimentos se fortalecem e definem sua
inserção e interface com o mercado. E, assim, se coadunam com a perspectiva do
desenvolvimento situado (Zaoual, 2006). Mas elas enfrentam na Ilha uma série de
dificuldades, como problemas de infra-estrutura, de formação e informação e de
apoio para venda e comercialização de seus serviços, tendo assim dificuldades de
competir com o turismo de massa que entra, sobretudo, por Abrãao.
Nesse contexto, uma questão central se destaca: a necessidade de qualificação
profissional de jovens oriundos de localidades com raízes no modo de vida tradicional para atuarem como protagonistas no desenvolvimento de um turismo sustentável de base comunitária em suas localidades. A população jovem da Ilha carece
de um sistema de educação que o qualifique de maneira a colocá-lo em pé de
igualdade com as demais pessoas vindas “de fora”, oriundas de outros segmentos sociais e com maior articulação com o mercado turístico, se apropriando das
oportunidades na recepção do visitante da ilha. Nesse sentido que atuou o projeto
Voz Nativa (voznativa.eco.br). O Voz Nativa é focado principalmente em duas ações
que visam apoiar o protagonismo da juventude da Ilha grande nas atividades de
turismo: a edição de um jornal comunitário, chamado Voz Nativa; e o oferecimento
de uma série de cursos e oficinas voltados para o empreendedorismo no turismo da
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
A Comunicação comunitária é caracterizada pela
produção de conteúdo pelos
integrantes da comunidade,
sobre comunidade, para a
comunidade, distribuída a
partir de veículos que melhor
se identificam com a realidade
local. Esse tipo de comunicação tem como característica
identificar e transmitir os
interesses da comunidade
em que está inserida. Mais
informações: Observatório da
Comunicação Comunitária:
http://obscomcom.org/o-que-e-comunicacao-comunitaria/
Exemplo: Escola de Comunicação Crítica: http://www.
espocc.org.br/
12
Ilha. O jornal é um projeto de comunicação comunitária, feito pelos próprios jovens
da Ilha a partir de oficinas. Os cursos e oficinas buscam incentivar e facilitar o empreendedorismo situado, em sintonia com o desenvolvimento situado apresentado
anteriormente.
É nesse contexto que o webdocumentário “Ilha Grande” foi concebido, a partir dos
recursos e possibilidades trazidas pelo Voz Nativa. Como apoiar essas iniciativas
de base comunitária nesse contexto através de um webdocumentário? Essa é uma
questão que norteia a concepção e realização de “Ilha Grande”. As iniciativas de
base comunitária em sintonia com a busca por um desenvolvimento situado já
existiam e tinham uma série de dificuldades e desafios que vão muito além das
possibilidades de apoio do webdocumentário. Nesse sentido, foi preciso encontrar
um foco.
As iniciativas e base comunitária têm pouco reconhecimento dentro do turismo
na Ilha, assim em todo o Estado do Rio de Janeiro e do Brasil. Elas têm pouca
visibilidade para os turistas nos meios de comunicação, que praticamente desconhecessem sua existência. Era preciso tentar contribuir para se trazer visibilidade a
essas iniciativas tanto na Ilha Grande, como no Estado e no Brasil. Por outro lado,
não é qualquer turista que se interessa por uma experiência de turismo de base
comunitária. O turista que valoriza essa forma de turismo busca a convivência, o
compartilhamento e troca de experiências, a cultura e história local.
Durante todo processo de concepção, houve uma série de encontros dos coordenadores da equipe, junto com pesquisadores e equipe do Voz Nativa
e interlocutores das comunidades para a concepção e desenvolvimento da
proposta – uma etapa de intensa escuta aos atores no contexto da Ilha. Desses encontros e das pesquisas iniciais saíram a concepção da estratégia de
realização, as orientações básicas do formato da plataforma e dos mecanismos e as formas de divulgação dos conteúdos para os diferentes segmentos
de público-alvo do projeto.
O projeto Voz Nativa já implementava seus cursos e oficinas, o que disponibilizava uma série de recursos, pois parte desses cursos eram de fotografia, filmagem ou mídias sociais. Na verdade, um dos maiores desafios do Voz Nativa foi
a mobilização dos jovens para participarem nos cursos e oficinas e se engajarem
nas atividades turísticas de forma empreendedora. As oficinas de comunicação
social e mídias digitais (fotografia, filmagem, desing, mídias sociais, comunicação comunitária) tiveram uma grande aceitação e demanda pelos jovens, estando
entre as mais replicadas ao longo do projeto nas diversas praias da Ilha. Essas
oficinas também apresentaram resultado imediato para autoestima e entusiasmo
dos jovens no sentido do empreendedorismo e do turismo de base comunitária.
Essa constatação reforçou a importância das mídias digitais serem incorporadas às
técnicas e conhecimentos de engenharia de produção para o desenvolvimento do
webdocumentário.
Por outro lado, durante a execução do Voz Nativa, a proximidade com as iniciativas
de base comunitária tornou evidente a dificuldade de tais iniciativas se comunicarem com os turistas antes da chegada dos mesmos nas praias e depois do
período de visitação. O que implicava em uma dificuldade de comercialização e
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
13
divulgação “boca a boca”. Essa dificuldade é comum nos casos de TBC, mas na
Ilha Grande ainda é mais presente em função do distanciamento logístico entre as
praias e Abraão, porta de entrada mais comum dos turistas na ilha. Além disso, as
iniciativas de base comunitária têm pouco reconhecimento dentro do turismo na
Ilha Grande e uma visibilidade quase nula para os turistas nos meios de comunicação de massa.
A opção do projeto, portanto, foi desenvolver uma ferramenta que contribuísse ao
mesmo tempo para incrementar: a mobilização e engajamento dos jovens da Ilha
Grande, a visibilidade das iniciativas de base comunitária da Ilha Grande, o contato
dessas iniciativas com os turistas interessados, a autoestima das comunidades, a
visibilidade do turismo de base comunitária como um todo no país, a difusão das
ferramentas das técnicas e conhecimentos para serem replicadas por terceiros me
outros lugares do Brasil.
A opção do projeto “Ilha Grande” foi, portanto, tentar apoiar as iniciativas de base
comunitária organizando uma plataforma digital que congregasse os recursos de
mídias digitais como a fotografia e o vídeo, com o potencial das mídias sociais para
agenciamento dos jovens e divulgação do projeto em harmonia, dentro do possível,
com os princípios de comunicação comunitária. O webdocumentário buscaria, assim, contar de forma interativa histórias das diversas comunidades da ilha através
de fotos e vídeos; e divulgar as histórias pelas mídias sociais. Dessa forma, o projeto
poderia alcançar diferentes segmentos de público-alvo em função de seus diversos
propósitos: i. as comunidades da Ilha Grande, dando visibilidade às iniciativas de
base comunitária e contribuindo para autoestima e engajamento dos jovens; II. O
público em geral das histórias, incentivando os turistas a conhecerem as iniciativas
de base comunitária da Ilha Grande.
O objetivo era trazer visibilidade para as comunidades e suas histórias, para a riqueza possível que pode ter a convivência entre turistas e locais. Uma visibilidade
já direcionada para o tipo de espectador que poderia se interessar por turismo de
base comunitária. Por outro lado, o webdocumentário permite complementar as
histórias contadas com informações úteis para os espectadores interessados em
experimentar como turistas o turismo de base comunitária, através dos recursos
interativos e multimídias. Desde o começo, ficou claro a necessidade também das
histórias serem contadas por um viés estético mais sensível ao cotidiano, algo que
se aproxima da convivência do turismo de base comunitária. Esse viés viria a ser
explorado nas fotografias e filmagens.
ORIENTAÇÕES DO PLANEJAMENTO
O webdocumentário “Ilha Grande” é uma forma interativa de contar histórias da Ilha
a partir de um site na internet (ilhagrandewebdoc.website) e mídias sociais (Facebook e Instagram). Desde o início, a equipe optou que faria um site simples, onde
constariam um mapa da Ilha Grande, que teria acesso por hiperlinks a conteúdos
multimídias de cada praia (vídeos, fotos e textos), que contariam ao menos uma
história de cada praia e oferecia dicas para o turismo de base comunitária, ou seja,
as informações das iniciativas de base comunitária selecionadas.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
14
O primeiro desafio era selecionar que praias, personagens e histórias filmar e fotografar. Essas histórias seriam filmadas em formato de vídeo documentário. Foi quando
a equipe, paralelo às pesquisas junto dos atores locais, fez a opção estratégica de
escolher três guias turísticos comunitários que comungavam dos princípios do Turismo de Base Comunitária: João Pontes, Waldeck Tenório e Paes. Eles viriam a abrir as
portas das comunidades nas diversas praias da Ilha Grande, tornarem-se personagens do webdocumentário, e terem seus serviços de guia turístico divulgados.
A equipe decidiu que o conteúdo do webdocumentário seria divulgado por uma
página no facebook como principal forma de distribuição. Os vídeos seriam publicados como uma websérie documental periodicamente conforme ficariam prontos.
O processo de filmagem para a realização dos vídeos seria feito em viagens ao
redor das diversas praia da Ilha, nas quais seriam realizadas também projeções dos
vídeos já prontos e oficinas de vídeo e fotografia em parceria com o projeto Voz
Nativa. Essa opção permitiria não só reduzir os custos de realização dessas ações
como potencializar a divulgação do projeto e o engajamento e autoestima das comunidades que, ao se verem nas telas, acreditariam e apoiariam mais o projeto. A
equipe então fez uma planejamento e cronograma de ações e viagens pelas praias
da Ilha dentro as possibilidades financeiras e com o apoio dos parceiros que foram
envolvidos no projeto.
IMPLEMENTAÇÃO
A primeira etapa para implementar o projeto foi o desenvolvimento de uma identidade visual que conjugasse os princípios do projeto com as pretensões de divulgação para um público tão amplo e diversificado, de forma unificada e nas diferentes
frentes e ações do projeto. Sem esse trabalho, a página do facebook e o webdocumentário não teriam a força de divulgação e a sensibilidade estética necessárias
para os propósitos do projeto.
Logo em seguida, foi desenvolvido o site do webdocumentário, que consistiu no
desenvolvimento da narrativa, com seu roteiro interativo, e da arquitetura da informação e sua estrutura. Foi necessário todo um planejamento das atividades
para sincronizar a programação e interface gráfica com a produção dos conteúdos
audiovisuais e textuais. O desenvolvimento do webdocumentário, assim como de
toda a plataforma, requisitou a parte de programação da arquitetura de informação
e a parte da produção dos conteúdos gráficos, fotográficos e audiovisuais. O conteúdo de cada praia do webdocumentário foi divulgado de forma gradual e periódica pela página do Facebook.
Foi fundamental que o webdocumentário contasse com uma interface gráfica intuitiva, funcional e responsive – ou seja adaptada e acessível não apenas pelos
navegadores de computador, mas também por tablets e smart phones, uma vez
que a maior parte dos conteúdos acessados pela internet são por esses aparelhos,
sobretudo vídeos.
Para a realização do conteúdo de cada praia, a equipe fez uma ampla pesquisa
juntos com os atores locais e com os guias comunitários para selecionar os persoNovas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
15
nagens a serem filmados e as praias e inciativas a serem visitadas. Algumas praias
são mais próximas econômico e culturalmente de cidades do continente como
Angra, Mangaratiba ou Conceição do Jacareí, do que das outras praias da Ilha
Grande, daí o jargão na ilha - “Cada praia, uma ilha” – do qual derivou o nome do
webdocumentário: “Ilha Grande: cada praia, uma ilha; cada ilha, uma história”. As
viagens e visitas foram planejadas por grupo de duas/três praias. Algumas foram
revistadas por mais vezes que outras.
As viagens da equipe foram realizadas com os guisa comunitários, convivendo com
as pessoas, se hospedando e comendo em restaurantes, pousadas e campings.
Nessa convivência com as iniciativas de base comunitária, a equipe realizou oficinas de vídeo com jovens, projetou vídeos nas diversas praias, fotografou, filmou e
entrevistou personagens e suas histórias. Essa experiência foi fundamental para se
representar um tom estético similar nos vídeos e material fotográfico, assim como
para seleção das iniciativas e experimentação do turismo de base comunitária. Em
cada praia foram feitas filmagens de pelo menos dois personagens e entrevistas com
os mesmos, além de fotografias e filmagens do cotidiano da comunidade em geral.
Parte desse material foi utilizado para o desenvolvimento do webdocumentário.
Nas praias, a equipe fazia as oficinas com os jovens locais, que aprendiam a produzir seus próprios vídeos e fotografias. Ao mesmo tempo, os jovens ajudavam e
participavam da produção das filmagens da equipe para os vídeos do webdocumentário. Todo esse trabalho era importante para criar um clima de cooperação e
conseguir realizar um processo mais participativo. Pelas noites, a equipe do projeto
organizava projeções dos vídeos feitos pelos jovens nas oficinas e dos vídeos e
filmagens realizados pela equipe.
Após as filmagens, todo o material de fotográfico e audiovisual passou por uma decupagem, que separou as partes mais relevantes e mais apropriadas para os propósitos do webdocumentário. Neste momento que se definiu realmente quais seriam os personagens que teriam suas histórias editadas em vídeo. Os vídeos foram
então editados e finalizados de forma sequencial. A equipe de filmagem esteve em
12 praias, mas decidiu editar e finalizar o material de 9 delas. Para cada uma dessas praias, foi feito um vídeo sobre um personagem de destaque com uma história
envolvente: Adriana (Abraão); Preto (Banana); Tenório (Longa); Zenaide (Araçatiba);
João (Provetá); Fabinho (Aventureiro); Zaira (Parnaioca); Julio (Dois Rios); Waldeck
(Lopes Mendes). Os vídeos têm em uma estética sensível e cotidiana que busca
estar em sintonia análoga com a relação de convivência que os turistas têm nas
iniciativas de base comunitária. Além dos vídeos dos personagens de cada praia, o
webdocumentário tem mais 3 vídeos sobre os guias turísticos de base comunitária
escolhidos: Paes, Pontes e Waldec (O vídeo sobre Waldeck é o mesmo vídeo de
Lopes Mendes, praia turística, mas desocupada, portanto, sem comunidade). Os
vídeos terminam com uma vinheta com a logomarca do projeto, feito em animação
gráfica. Todo esse material foi incorporado pelo webdocumentário onde recebeu
o complemento dos textos e interações de acordo com as informações de cada
praia. Além disso, cada praia tem uma página na web informativa com as dicas das
iniciativas de base comunitária.
A equipe se dedicou a uma campanha de marketing digital do projeto no Facebook e
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
16
no Instagram. Para divulgar em meio ao público alvo potencialmente interessado em
turismo de base comunitária, a equipe pesquisou e identificou no Facebook organizações, redes e páginas na internet de grupos interessados tanto no turismo da Ilha
Grande como no turismo de base comunitária. A página do Facebook se tornou a
principal referência de chegada do projeto no público mais amplo e principal divulgador dos vídeos e notícias do webdocumentário. Em páginas do Facebook sobre TBC
e meio-ambiente, a equipe deu uma especial atenção para divulgação da página do
webdocumentário, como na página do Projeto Bagagem. A equipe também divulgou
e promoveu a página do Facebook junto a fóruns e grupos de discussão similares.
Como o webdocumentário também tinha um público-alvo mais amplo, de potenciais
turistas para as iniciativas de TBC da Ilha Grande, a página do Facebook também foi
promovida em páginas e grupos que cultuam, discutem ou compartilham conteúdos
como fotos, como a página “Ilha Grande – uma foto por dia”.
Em parceria com o Voz Nativa, a equipe lançou nas oficinas de fotografia e difundiu
na Ilha Grande para moradores e visitantes a campanha #Ilhagram. As pessoas foram
convidadas as postarem fotos sobre diversos temas da Ilha Grande na mídia social
de fotografia Instagram e marcarem suas fotos com #ilhagram. A equipe dos projetos
selecionava as melhores fotos e repostava no perfil Ilhagram. O Voz Nativa premiou
as melhores fotos selecionadas e ainda publicou um livro com uma seleção das fotos.
AVALIAÇÃO
A divulgação dos vídeos teve uma excelente recepção. Os vídeos foram feitos com
aproximadamente 3 minutos cada, justamente para serem divulgados pelas mídias
sociais, uma vez que vídeos mais longos não têm grande difusão nas plataformas
da internet. Os vídeos foram postados mais de uma vez e tiveram uma média de 20
mil visualizações no facebook. As visualizações variaram de 5 mil a 30 mil, dependendo do vídeo. O vídeo Din Din (provetá) teve centenas de milhares de visualizações. A recepção em geral do webdocumentário foi foi surpreendente.
A equipe do projeto como um todo ficou bastante satisfeita com os resultados alcançados e a repercussão do projeto. Pelo retorno que a equipe teve em conversas
e acompanhamentos da repercussão na Ilha Grande, dar essa visibilidade para as
histórias das comunidades de fato incentivou os protagonistas das inciativas de turismo de base comunitária. Além disso, os internautas que se interessem por essas
histórias são turistas em potencial que podem vir a visitar as iniciativas nas diversas
praias. A repercussão do projeto superou as expectativas. Nem todos que tiveram
contato com os vídeos e a página do Facebook serão turistas ou apoiadores do
TBC, mas a repercussão pela internet certamente contribuiu para fomentar a identidade do “Turismo de base comunitária”. A visibilidade das histórias e das iniciativas
de base comunitária trouxeram nas comunidades da Ilha Grande um destacado
aumento da autoestima e do entusiasmo e engajamento no TBC.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABEGÃO, Luis H.. Estudo sobre os Fundamentos para uma Engenharia de Interesse Social, Tese D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, 2002.
BARTHOLO, Roberto; SANSOLO, David Gruber; BURSZTYN, Ivan (Orgs). Turismo
de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2013.
DAGNINO, R.; BRANDÃO, F. C., & NOVAES, H. T. Sobre o marco analítico - conceitual da tecnologia social. In: Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 15-64, 2004.
FERREIRA, Helena C. H. A Dinâmica da Participação na Construção de Territórios
Sociais e do Patrimônio Ambiental da Ilha Grande-RJ. Tese de Doutorado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, 2010.
GAUNDENZI, Sandra (2013a). The Living Documentary: from representing reality to
co-creating reality in digital interactive documentary. Tese de Doutorado, Goldsmiths, University of GAUNDENZI, Sandra (2013b), “The Interactive Documentary as a
Living Documentary”. Revista Doc On Line, n. 14, disponivel em: http://www.doc.
ubi.pt/ , consultado em 31/05/2015. GIFREU, Arnau C. (2014), “El Documental interactivo en la estrategia de la multidifusión digital: evaluación del estado del arte en relación con la temática, las plataformas y la experiencia del usuario.”. Revista TELOS (Cuadernos de Comunicación
e Innovación), pp.1-11.
_____________ (2013), El Documental Interactivo: evolución, caracterización y perspectivas de desarrollo. Barcelona: UOCPress.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
_____________ (2010), The Interactive Multimedia Documentary: a proposed analysis model. Tese de Doutorado, Department of Communication, Pompeu Fabra University, 2010.
LASSANCE JR, A.; PEDREIRA, J. (2004). In: Tecnologias Sociais e Políticas Públicas In: In: Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro:
Fundação Banco do Brasil, 2004.
PAZ, André Fernandes; SALLES, Julia (2013), “Dispositivo, Acaso e Criatividade:
Por uma estética relacional do webdocumentário”. Revista Doc On Line, n. 14,
Agosto de 2013. Site: http://www.doc.ubi.pt/ PRADO, Rosane M. “Tensão no paraíso: Aspectos da intensificação do turismo na
Ilha Grande”. In: Caderno Virtual do Turismo nº 7. Rio de Janeiro: Instituto Virtual do
Turismo/COPPE/UFRJ, 2003.
ZAOUAL, Hassan. La crise du paradigme du développement. Critique des discours
critiques. Revue Tiers-Monde, Paris, tome XXV, n°100, 1984, p.829-836.
____________. Globalização e Diversidade Cultural. São Paulo, Cortez Editora, 2003.
ZAOUAL, Hassan. Do Turismo de massa ao turismo situado: quais as transições?
In: BARTHOLO, Roberto; SANSOLO, David Gruber; BURSZTYN, Ivan (Orgs). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de
Janeiro: Letra e Imagem, 2013. Pp.55-75.
Novas Mídias pelo Turismo de Base Comunitária
Realização
Parceria
Financiamento

Documentos relacionados