Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no
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Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Marcos Aurélio Borchardt Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira PORTO VELHO 2014 MARCOS AURÉLIO BORCHARDT Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação: Mestrado em Administração (PPGMAD) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) como requisito final para obtenção do título de Mestre em Administração. Linha de pesquisa: Gestão de Agronegócio e Sustentabilidade. Orientador: Prof. Osmar Siena, Dr. PORTO VELHO 2014 FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES B72dp Borchardt, Marcos Aurélio. Discurso organizacional sobre sustentabilidade no contexto do complexo hidrelétrico do Rio Madeira / Marcos Aurélio Borchardt . - Porto Velho, Rondônia, 2014. 139f.:il. Orientador: Prof. Dr. Osmar Siena Dissertação (Mestrado em Administração) - Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR 1. Administração. 2.Sustentabilidade – análise sociológica.3.Usina hidrelétrica Rio Madeira. I.Siena, Osmar.II.Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR.III. Título. CDU: 658:502.1 Bibliotecária Responsável: Carolina Cavalcante CRB11/1579 AGRADECIMENTOS Não sei se choro ou se rio, só sei que a trajetória foi longa. Muitos desafios e conquistas nestes últimos dois anos em que minha escolha pautou-se pelo saber através de um programa de mestrado. Imaginava que ao final me comportaria diferente daquele menino que sorria de tudo e brincava com tudo. Agora tenho que retornar para minha vida interrompida, mas aplaudida por todos aqueles que em mim confiaram esta responsabilidade: transferir conhecimento. Fiquei feliz ao acessar a rede social e ver que os povos indígenas estão buscando o seu lugar ao sol, porque se depender do contexto atual, provavelmente, não se terá mais notícias destes povos pioneiros do Brasil. Nesse sentido meu primeiro agradecimento vai para estes bravos cidadãos brasileiros, principalmente os que habitam na Amazônia cuja atenção parece ser bem reduzida em menos importante para as grandes organizações. Meus sinceros agradecimentos a todos os amigos que deixei em Sinop/MT, pra onde retorno com toda a felicidade do mundo, ao encontro de uma minha vida que floresce e cresce a passos largos, minha querida filha “Melissinha”. Aos meus amigos do Tapajós, da UFMT (professores Juliano, Paula, Luana, Mariana e demais), da família do Raul, obrigado pela receptividade no retorno a Sinop. A todos os amigos de Cuiabá/MT (Marcio e Pierre Farina) que nas idas e vindas me forneceram um pouso acolhedor aos moldes cuiabanos. Aos meus queridos amigos de Porto Velho/RO que não me abandonaram em momento algum. Algumas pessoas especiais fora do contexto do mestrado que ficavam ouvindo minhas aventuras nas leituras de Foucault e Bourdieu e colaboravam com pensamentos de teóricos importantes para minha compreensão de mundo. No contexto do mestrado, agradeço a todos pelo carinho e compreensão nestes 02 anos. Professor Dr. Osmar Siena, meus sinceros e profundos agradecimentos por toda transferência de conhecimento concedida no âmbito do PPGMAD/UNIR, nas orientações, no estágio de docência, no envolvimento com outros estudantes no sentido da pesquisa e da docência. A todos os professores das disciplinas e artigos, grande e forte abraço. Angelina Licório e Reginilde Lima e Jackson Baltazar, profundo agradecimento. Especialmente, quero deixar meu agradecimento para um grande amigo de infância: Bruno Martinelli Marangoni, que conhece um pouco da minha trajetória e luta, assim como ele o faz hoje, amigo, consegui! Devo-te muito por isso. Carinhosamente quero agradecer à Geanie, que me apoiou incondicionalmente nos últimos 18 meses, sabe o quanto és importante para mim! Aos familiares amados, Borchardt e Boostel, estaremos juntos neste e em outros verões. Por último, sucesso a todos do PPGMAD/UNIR, a todos da UFMT a todos da UNEMAT e SENAI, instituições que contribuem para o meu aperfeiçoamento como professor e como ser humano. “Portanto, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.” Matheus: 20; 16. BORCHARDT, Marcos A. Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração – PPGMAD, Porto Velho: UNIR, 2014, 139p. RESUMO O objetivo geral deste trabalho consistiu em caracterizar o discurso organizacional sobre sustentabilidade da Sociedade de Propósito Específico Santo Antônio Energia S.A. (SPE/SAE) e da Sociedade de Propósito Específico Energia Sustentável do Brasil S.A. (SPE/ESBR) no contexto das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira no município de Porto Velho/RO. O problema proposto vai de encontro à identificação das características do discurso Organizacional sobre sustentabilidade das Empresas do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. Em primeiro momento, buscou-se entendimento da teoria de sustentabilidade a partir da visão de Mebratu, das dimensões de Pearce, das dimensões de Sachs e dos paradigmas ambientais de Gladwin, K.K. A visão institucional, a visão acadêmica e a visão ideológica foram aproximadas das dimensões social, ambiental, ecológica, econômica, geográfica, cultural e política e também aos paradigmas ambientais através do tecnocentrism, ecocentrism e o sustentaicentrism. As propostas teóricas foram aproximadas para melhorar o entendimento da sustentabilidade enquanto discurso organizacional. Em segundo momento, elaborou-se um panorama das escolas de análise do discurso que guiaram a pesquisa para o caminho da escola de Análise Sociológica do Discurso (ASD), abordagem metodológica utilizada e sistematizada neste estudo, vinculada à Tradição Espanhola de Pesquisa Social Qualitativa. Epistemologicamente a pesquisa buscou entendimento no estudo da arqueologia do saber, teoria proposta no pós-estruturalismo de Michael Foucault e no poder simbólico do estruturalista Pierre Bourdieu. A metodologia utilizada foi definida como qualitativa de natureza descritiva do tipo pesquisa documental com análise “ASD”. Nos documentos organizacionais foram investigados e analisados textos e imagens do período de 2007 a 2014 com base em características do discurso sobre sustentabilidade das empresas pesquisadas. Entre os documentos analisados: diretrizes preliminares, relatórios do Ministério Público, programas básicos ambientais, relatórios de compensação social e ambiental, relatórios de sustentabilidade das empresas acionistas, notícias, releases, clipping e informativos das empresas responsáveis pela construção das usinas hidrelétricas. Ao todo, foram analisados 1327 documentos da SPE/ESBR e 183 documentos da SPE/SAE. A construção da análise e resultados da pesquisa deu-se pelas posições discursivas, os espaços semânticos e as configurações narrativas. Tanto a ESBR quanto a SAE orientam seu discurso sobre sustentabilidade para a divulgação dos Programas Básicos Ambientais - PBA’s’ não divulgando relatório de sustentabilidade. Através do programa de qualificação da mão-deobra “Programa Acreditar”, a Construtora Odebrecht S.A. – (SPE/SAE) capacitou mais de 92 mil pessoas até 2011. Constatou-se que o discurso da sustentabilidade está manifesto na maioria dos documentos analisados, mas por mais que as organizações se esforcem para declarar o seu discurso de sustentabilidade nas dimensões estudadas, o discurso das empresas é guiado pela dimensão econômica, caracterizada pelo paradigma tecnocentrico no qual as relações entre o desenvolvimento econômico e a natureza revelaram que a sustentabilidade é visto como uma relação de poder da economia sobre a natureza. Palavras-chave: Análise sociológica do discurso. Sustentabilidade. UHE rio Madeira. BORCHARDT, Marcos A. Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração – PPGMAD, Porto Velho: UNIR, 2014, 139p. ABSTRACT The aim of this study was to characterize the organizational discourse on sustainability of Special Purpose Company Santo Antônio Energia SA (SPE / SAE) and Special Purpose Company Sustainable Energy of Brazil SA (SPE / ESRB) in the context of the river hydropower plants Madeira in Porto Velho / RO. The proposed issue goes against the identification of Organizational speech features on sustainability of Hydroelectric Complex Business of Rio Madeira. First time, we sought to understand the sustainability theory from the Mebratu vision, the dimensions of Pearce, the dimensions of Sachs and environmental paradigms of Gladwin, KK The institutional vision, academic vision and the ideological vision were approximated to those social, environmental, ecological, economic, geographic, cultural and political and also environmental paradigms through tecnocentrism, ecocentrism and sustentaicentrism. The theoretical proposals were brought together to improve understanding of sustainability as an organizational discourse. Second time, we prepared an overview of discourse analysis of schools that have guided the search for the way to school of Sociological Discourse Analysis (DSA), methodological approach and systematic in this study, linked to the Spanish tradition of Qualitative Social Research. Epistemologically the research sought to understand the archeology of the study of knowledge, theory proposed in the Michael Foucault post-structuralism and symbolic power of the structuralist Pierre Bourdieu. The methodology used was defined as qualitative descriptive nature of the type documentary research with analysis "ASD". In organizational documents were investigated and analyzed texts and period 2007 to 2014 images based on speech characteristics about sustainability of the companies surveyed. Among the documents analyzed: draft guidelines, prosecutors reports, basic environmental programs, social and environmental compensation reports, sustainability reports of the shareholding companies, news, releases, clipping and information of the companies responsible for the construction of hydroelectric plants. In all, 1327 were analyzed documents of the SPE / ESRB and 183 documents of the SPE / SAE. The construction of the analysis and survey results gave up the discursive positions, narratives settings and semantic spaces. Both the ESRB as SAE guide his speech on sustainability for the dissemination of Basic Environmental Programs - PBA's' not disclosing sustainability report. Through the program believer out of hand labor qualification, the construction company Odebrecht SA - (SPE / SAE) trained more than 92,000 people by 2011. It was found that the discourse of sustainability is manifested in most documents analyzed, but more organizations strive to declare his speech sustainability dimensions studied, the discourse of business is guided by the economic dimension, characterized by technocentric paradigm in which the relationship between economic development and the nature revealed that sustainability is seen as a power relationship of the economy over nature. Key-words: Keywords: sociological discourse analysis. Sustainability. HPP Madeira. River. LISTA DE ABREVIATURAS ABNT AC ACD AD AHE ANA ANEEL APP ASD ATLAS T.I. BM&F BOVESPA CEBDS CHESF CMMAD CONAMA COOPJIRAU DP DS ED EIA EP ESBR FGV GEE GRI IBAMA IIED IEERS ISE ISO IUCN LA LI LO LP MDL MME MPE Associação Brasileira de Normas Técnicas Análise de Conteúdo Análise Crítica do Discurso Análise do Discurso Aproveitamento Hidrelétrico Agência Nacional de Águas Agência Nacional de Energia Elétrica Área de Preservação Permanente Análise Sociológica do Discurso Análise Qualitativa de Dados Bolsa de Mercadorias e Futuros Bolsa de Valores de São Paulo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável Companhia Hidrelétrica do São Franciso Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Conselho Nacional de Meio Ambiente Cooperativa de Produtores Rurais do Observatório Ambiental Jirau Diretrizes de Programas Desenvolvimento Sustentável Estação de Distribuição Estudo de Impacto Ambiental Estudos Preliminares Energia Sustentável do Brasil S.A. Fundação Getúlio Vargas Gases de Efeito Estufa Global Report Intiative Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis International Institute of Environment and Development Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Índice de Sustentabilidade Empresarial International Organization for Standardization União Internacional para a Conservação da Natureza Licenciamento Ambiental Licenciamento de Instalação Licenciamento de Operação Licenciamento Prévio Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Ministério de Minas e Energia Ministério Público do Estado de Rondônia NOS ONU PAC PBA PCH PNMA PNUMA PPGMAD RA RS RSA RSC RIMA SAE SENAI/RO SGA SGQ SIN SPE TBL TEO UHE UNIR WBCSD WCED WRI WWF WWF Operador Nacional do Sistema Organização das Nações Unidas Programa de Aceleração do Crescimento Programa Básico Ambiental Pequenas Centrais Hidrelétricas Politica Nacional do Meio Ambiente Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração Relatório Anual Relatório de Sustentabilidade Relatório Socioambiental Responsabilidade Social Corporativa Relatório de Impacto ao Meio Ambiente Santo Antônio Energia S.A. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Rondônia Sistema de Gestão Ambiental Sistema de Gestão da Qualidade Sistema Interligado Nacional Sociedade de Propósito Específico Tripple Botton Line Tecnologia de Gestão Odebrecht Usinas Hidrelétricas Universidade Federal de Rondônia World Business Council for Sustainable Development World Commission on Environment and Development World Resources Institute World Wide Fund for Nature The Future We Want LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Visões de Desenvolvimento Sustentável de Mebratu (1998). .............................................. 26 Figura 2 - Dimensões da sustentabilidade de Pearce (1993). ................................................................ 29 Figura 3 - Paradigmas ambientais de Gladwin, Kenelly e Krause (1995). ........................................... 31 Figura 4 - Visões aproximadas da sustentabilidade. ............................................................................. 35 Figura 5 - Sustentabilidade empresarial a partir das dimensões econômicas, sociais e ambientais. ..... 40 Figura 6 - Processo de Análise Sociológica do Discurso. ..................................................................... 52 Figura 7 - Teia de relações organizacionais para a sustentabilidade. .................................................... 54 Figura 8 - Esquema de procedimento e análise sociológica do discurso. ............................................. 61 Figura 9 - Análise do PBA do AHE Santo Antônio Energia – SAE. .................................................... 76 Figura 10 - Análise dos programas socioambientais da UHE Jirau. ..................................................... 78 Figura 11 - Análise comparativa do discurso da sustentabilidade. ....................................................... 79 Figura 14 – RS Furnas 2010 / 2011 – O Fio Que Nos Une. .................................................................. 91 Figura 15 - Furnas: Desenvolvimento econômico - RS 2012. .............................................................. 94 Figura 16 – Furnas – Obra em andamento x montagem x operação - RS 2013. ................................... 96 Figura 17 – CEMIG – Contexto rio Madeira - RS 2012/13. ................................................................ 99 Figura 18 – Odebrecht – Programa Acreditar e a obra da UHE-SAE – 2009/2010. .......................... 103 Figura 19 - Odebrecht – Evolução da UHE-SAE – 2011/2014. ......................................................... 105 Figura 20 – Estrutura organizacional simplificada – GDF Suez – RS 2008. ...................................... 107 Figura 21 - Análise do discurso de funcionários GDF SUEZ em 2010. ............................................. 109 Figura 22 - Estrutura organizacional GDF Suez RS 2011 .................................................................. 110 Figura 23 - Tecnologias de geração de energia sustentável - RS 2013. .............................................. 111 Figura 24 - Mapa de transmissão e distribuição Eletrobrás - RS 2011. .............................................. 115 Figura 25 – Discurso de sustentabilidade ecológica - RS 2012. ......................................................... 116 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Síntese da evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. ........................ 21 Quadro 2 - Lista de Princípios e Plano de Ação da Conferência de Estocolmo....................... 22 Quadro 3 - Matriz de Sustentabilidade. .................................................................................... 30 Quadro 4- Síntese das dimensões da sustentabilidade de Sachs. ............................................. 33 Quadro 5 - As novas dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs. .................. 34 Quadro 6 - Motivos para adoção e elaboração de Relatórios de Sustentabilidade. .................. 38 Quadro 7 - Resumo-tendências (tradições) dos modelos de AD. ............................................. 43 Quadro 8 - - Os passos essenciais no processo de investigação do discurso............................ 44 Quadro 9 - Trabalhos práticos iniciais em Análise Sociológica do Discurso. ......................... 48 Quadro 10 - Procedimentos de interpretação em ASD. ........................................................... 49 Quadro 11 - Procedimentos de análise em ASD. ..................................................................... 50 Quadro 12 - Aproximação dos níveis da ASD à Análise do Discurso. .................................... 51 Quadro 13 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme paradigmas de Gladwin Kenely e Krause........................................................................................................................ 62 Quadro 14 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme dimensões de Sachs. ......... 63 Quadro 15 - Termos e categorias discursivas iniciais da pesquisa. .......................................... 64 Quadro 16 - Coleta de dados – Documentos de 2007 – 2014. ................................................. 65 Quadro 17 - Organização e sistematização dos dados. ............................................................. 66 Quadro 18 - Contexto de viabilidade dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira....... 69 Quadro 19 - Algumas posições discursivas contrárias à realização da obra. ........................... 72 Quadro 20 - Resumo das condicionantes exigidas pelo IBAMA - LP 251/2007. .................... 74 Quadro 21 - Análise do discurso da ESBR e SAE – 2008-2014. ............................................. 82 Quadro 22 - Análise do discurso nos relatórios de Furnas de 2008-2014. ............................... 88 Quadro 23 - Análise do discurso nos relatórios da CEMIG de 2008-2014. ............................. 97 Quadro 24 – Análise do discurso da Odebrecht – 2007-2014. ............................................... 100 Quadro 25 – Análise do discurso da GDF Suez – 2007 a 2013. ........................................... 107 Quadro 26 - Análise do discurso da Eletrosul – Eletrobrás – 2008-2012. ............................. 113 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 13 1.1 Problema de Pesquisa ............................................................................................................... 14 1.2 Objetivos .................................................................................................................................... 16 1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................................ 16 1.3 Concepções e Pressupostos ....................................................................................................... 17 1.4 Justificativa ................................................................................................................................ 18 1.5 Vinculação com as Linhas de Pesquisa do PPGMAD ............................................................ 18 1.6 Organização da Dissertação ..................................................................................................... 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO ..................................................................................... 20 2.1 Sustentabilidade: Histórico e Conceito.................................................................................... 20 2.2 Visões de sustentabilidade ........................................................................................................ 25 2.3 Sustentabilidade Organizacional ............................................................................................. 36 2.4 Análise do Discurso ................................................................................................................... 41 2.5 Análise Sociológica do Discurso – ASD ................................................................................... 46 2.5.1 Análise Sociológica do Discurso Organizacional ................................................................ 52 2.5.2 Análise do Discurso da Sustentabilidade ........................................................................... 55 3 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 58 3.1 Método(s) Geral e Abordagem Metodológica ......................................................................... 58 3.2 Tipo de Pesquisa e Métodos de Procedimentos ...................................................................... 59 3.3 Paradigmas, Dimensões e Categorias do Discurso da Sustentabilidade .............................. 62 3.4 Tipos de Dados, Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados ................................... 65 3.5 Procedimentos para Organização dos Dados ......................................................................... 66 3.6 Procedimentos para Análise e Interpretação dos Dados ....................................................... 66 4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO ................................................................................. 68 4.1 Contextualização do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) do Rio Madeira........................ 68 4.2 Análise dos Planos Básicos Ambientais dos AHE ‘s’ ............................................................. 75 4.2.1 – Análise do Plano Básico Ambiental (PBA) – AHE Santo Antônio .................................. 76 4.2.2 – Análise do PBA da empresa Energia Sustentável do Brasil - ESBR ................................ 77 4.2.3 – Comparação do discurso da SAE e ESBR com base nos PBA’s’ ..................................... 79 4.3. Análise dos releases, notícias, informativos e clipping da SPE/ESBR e da SPE/SAE ........ 81 4.4 Análise dos Relatórios de Sustentabilidade............................................................................. 86 4.4.1 SAE - Furnas Centrais Elétricas – 2009 a 2013 ................................................................... 87 4.4.2 SAE - CEMIG - 2008 a 2013 ............................................................................................... 96 4.4.3 SAE - Odebrecht - 2008 a 2013 ........................................................................................... 99 4.4.4 ESBR - GDF Suez - Tractebel Energia - 2008 a 2013 ....................................................... 105 4.4.5 ESBR – CHESF- ELETROBRÁS - 2008 a 2011 .............................................................. 112 4.4.6 ESBR – Eletrosul-Eletrobrás – 2008 a 2012 ...................................................................... 112 4.5 Resultados e discussão com base na análise sociológica do discurso sobre sustentabilidade ......................................................................................................................................................... 120 5 CONCLUSÕES .............................................................................................................................. 124 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 128 13 1 INTRODUÇÃO Desenvolvimento é “[...] uma noção universalmente desejada que faz parte tanto da literatura especializada quanto do senso comum; traz em si a ideia de progresso, melhoria. Por isso, o mundo vem se transformando em nome do desenvolvimento [...]” (MONTIBELLERFILHO, 2008, p.50) e, a economia, sempre dominante nas decisões desenvolvimentistas, prevalece ao longo do processo histórico-evolutivo da humanidade. Sen (2004, p, 25) observa “[...] que desenvolvimento está fortemente ligado às liberdades considerando-as não apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais”. O contexto histórico do desenvolvimento aponta para as desigualdades passadas como responsáveis pela criação de um abismo civilizatório a partir da exploração das colônias pelas nações ricas e modernizadas (SACHS, 2008). “O ambiente renasce desse processo de extermínio, reclamando seu sentido estratégico no processo epistemológico e político de supressão das externalidades do desenvolvimento [...]”. (LEFF, 2008, p. 152). Desenvolvimento muitas vezes é utilizado como sinônimo de crescimento; no entanto, representam fenômenos diferentes. Desenvolvimento é um processo de mudanças sociais e econômicas que ocorrem numa determinada região e crescimento é um processo de mudanças de caráter predominantemente quantitativo, significando aumento em dimensão, volume e/ou quantidade. Nessa mesma linha de raciocínio, considera-se o crescimento econômico como o aumento da capacidade produtiva e da produção de uma economia, em determinado período de tempo (SIEDENBERG, 2006). A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de suas políticas e comissões, como a World Commission on Environment and Development (WCED) ou Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) tem buscado unificar o discurso sobre desenvolvimento, ampliando-o para o conceito de desenvolvimento sustentável (DS) à sustentabilidade. Assim, desde os anos 1970, a discussão sobre DS (caminho ou ações) para a sustentabilidade (capacidade de manter as gerações futuras), tem avançado em substituição ao desenvolvimento proposto pela economia clássica e neoclássica, pelo menos em termos de retórica. Embora os conceitos sejam distintos, a maioria dos autores (SACHS, 2008; BURZSTYN, 1994; CAMARGO, 2003) usa a expressão DS e a expressão sustentabilidade como sinônimo. A distinção entre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade reside no fato do DS (meio) ser considerado como a maneira pela qual se atinge a sustentabilidade (fim). 14 Neste contexto, as empresas, de forma voluntária ou por necessidade de manter uma imagem positiva junto à sociedade, foram incorporadas ao contexto proposto pela WCED. 1.1 Problema de Pesquisa Na perspectiva da sustentabilidade, o cenário organizacional e a relação entre os atores se caracteriza por um ambiente de alta complexidade de interações, inclusive em relação ao processo de comunicação. Nesta grande teia de relações é que se permeabilizam os discursos organizacionais. Via de regra, os discursos difundidos sobre sustentabilidade visam obtenção de vantagem competitiva e posicionamento na rede de relações. Nestas, as organizações que discursam pela sustentabilidade pretendem fazer com que as suas práticas sejam difundidas na rede de relacionamento, não como um padrão homogêneo onde as características de cada ator sejam desconsideradas; mas, como um fluido que emerge a cada relacionamento a fim de garantir a inovação, viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, integridade ambiental para as gerações atuais e futuras, além de relações harmoniosas que geram imagens positivas da sustentabilidade para as organizações (COELHO, 2012). Enquanto para alguns o discurso organizacional é o atestado do quão a empresa é sustentável, para outros a adoção de normas, procedimentos, orientações para a sustentabilidade não passa de mero e simples cumprimento da legislação. A compreensão do discurso organizacional passa pelo entendimento do Relatório de Sustentabilidade (RS) como um instrumento prático que está cada vez mais comum nos setores onde as pressões por medidas de proteção ambiental são capazes de estimular mudanças também nos sistemas de gestão. É possível verificar no RS o grau em que a empresa tratou os impactos ambientais causados por seus produtos e processos de produção, quanto foi dado de abertura para as partes interessadas se posicionarem e em que nível a gestão estratégica assume características ambientais relevantes (COELHO, 2012). O discurso midiático, por sua vez, apresenta-se principalmente sob 02 (duas) formas, sejam elas por meio das próprias organizações interessadas em promover via discurso escrito ou falado suas ações desenvolvidas ou a desenvolver em prol principalmente da sustentabilidade e por meio da imprensa, cujo objetivo é informar à sociedade o que se passa em níveis locais, regionais e globais no que tange a sustentabilidade. Os grandes empreendimentos brasileiros liderados por empresas de capital nacional e estrangeiro se utilizam das informações disponíveis em seus relatórios de sustentabilidade que 15 já foram auditados e avaliados por organismo internacional como, por exemplo, o Global Report Intiative (GRI). Algumas empresas elaboram relatórios socioambientais, outras elaboram relatório de gestão, e ainda aquelas empresas que acabam por utilizar relatórios de compensações sociais e ambientais. Em sua maioria os relatórios tendem a responder às exigências dos órgãos licenciadores e as demandas da sociedade na área onde está instalado o empreendimento. No geral as grandes empresas utilizam do discurso de sustentabilidade para informar de suas ações realizadas nos empreendimentos localizados em contextos específicos. No setor de energia tem se formado agrupamentos de empresas (pool) que discursam individualmente em seus relatórios e apresentam informações dos próprios empreendimentos, e de forma tímida dos empreendimentos que são acionistas. Estas empresas passam a fazer parte das Sociedades de Propósitos Específicos (SPE), como é o caso das empresas do complexo hidrelétrico do rio Madeira em Porto Velho/RO. O discurso da sustentabilidade em Porto Velho/RO no contexto das obras das barragens e inicio de operação/geração e distribuição de energia é influenciado pelo discurso dos usineiros: SPE Santo Antônio Energia S.A. (SAE) e SPE Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR), que têm afirmado o cumprimento das suas responsabilidades socioambientais por meio dos seus programas declarados institucionalmente. O discurso destas empresas vai de encontro ao acompanhamento dos órgãos ambientais como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e demais órgãos institucionais como Governo Federal, Estadual e Municipal, e o Ministério Público. Compreender o discurso é desnudar o que as organizações desejam que seja difundido na sociedade. Além disso, o discurso influencia o modo de pensar e agir da sociedade sobre determinada questão. Portanto, conhecer qual o discurso das organizações que desenvolvem projetos estratégicos é uma possibilidade de compreender o discurso não só da organização, mas também da sociedade como um todo. Diante deste cenário a pergunta que se coloca gira em torno do discurso de sustentabilidade das empresas administradoras e acionistas das usinas hidrelétricas do rio Madeira: Quais as características do discurso organizacional da sustentabilidade das Empresas no Contexto das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira? A pesquisa teve como foco os discursos sobre sustentabilidade das empresas do complexo SAE e ESBR do rio Madeira, por meio da análise dos relatórios de sustentabilidade ou relatórios similares, diretrizes organizacionais, programas de compensações sociais e ambientais (PBA ‘s’) e informativos institucionais, entre estes, as notícias e releases. Das 16 empresas acionistas foram analisados os relatórios de sustentabilidade, visto que este tipo de comunicação com a sociedade é uma prática comum no setor elétrico mundial. As duas usinas – a de Jirau e Santo Antônio – estão em construção no rio Madeira, no município de Porto Velho, estado de Rondônia, Brasil. Desde que ganharam o leilão para explorar o rio, entre 2007 e 2008, os empreendimentos tentam antecipar a conclusão das obras e fazem alterações ao projeto para aumentar a geração de energia. De um lado está a multinacional de origem francesa GDF Suez S.A, que comprou as ações da Construtora Camargo Correa S.A. e virou sócia majoritária da SPE/ESBR, responsável por Jirau. A ESBR também tem entre seus sócios a Eletrosul e a Companhia de Energia de Vale do São Francisco (Chesf), ambas pertencentes ao sistema Eletrobrás S.A vinculadas ao Ministério de Minas e Energia. Do outro lado, a SPE/SAE é liderada por Furnas-Eletrobrás (vinculadas ao Ministério de Minas e Energia), Odebrecht Energia S.A., Construtora Andrade Gutierrez S.A. e Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig) (subordinada ao governo de Minas Gerais). Os dois empreendimentos devem receber um montante total de mais de R$ 30 bilhões para construir e explorar uma estrutura capaz de gerar 6,9 mil megawatts, o equivalente a 6% de toda a energia produzida no país, suficiente para abastecer mais de 20 milhões de residências (O ECO, 2012). 1.2 Objetivos Os objetivos da pesquisa foram dispostos em objetivo geral e objetivos específicos. 1.2.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho consistiu em caracterizar os discursos organizacionais sobre sustentabilidade da SPE/SAE e da SPE/ESBR no contexto das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira no município de Porto Velho/RO. 1.2.2 Objetivos específicos Identificar o discurso acerca da sustentabilidade da SPE Santo Antônio Energia (SAE) e da SPE Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR); 17 Alinhar o discurso da SPE/SAE e SPE/ESBR ao discurso da sustentabilidade; Dimensionar a prática discursiva e o discurso dominante das organizações; Analisar os discursos das organizações participantes da SPE/SAE e SPE/ESBR. 1.3 Concepções e Pressupostos De acordo com Bauer e Gaskell (2010, p. 253) “[...] fazer uma análise do discurso implica questionar nossos próprios pressupostos e as maneiras como nós habitualmente damos sentido às coisas”. O uso da análise do discurso direciona o pesquisador para um viés interpretativo e construtivista, pois é parte do pressuposto de que o mundo social é historicamente construído a partir de práticas discursivas que conferem significado simbólico aos elementos das interações humanas. Essas práticas são respaldadas por relações de poder e reprodutoras delas (SOUZA; CARRIERI, 2014, p. 13). As concepções básicas que orientaram a pesquisa foram identificadas a partir das abordagens das escolas estruturalistas e pós-estruturalistas cujos principais contribuições para pesquisa são de Pierre Bourdieu (estruturalismo construtivista) e Michel Foucault que têm sido adotadas para discussão sobre poder, saber e, principalmente, discurso. Para complementar este arcabouço, tornou-se necessário convocar Enrique Leff cujas premissas estão baseadas tanto em Bourdieu quanto em Foucault, porém com um viés para as relações do campo ambiental, com foco no discurso da sustentabilidade (THIRY-CHERQUES, 2008; LEFF, 2008). Para Thyri-Cherques (2008), os estudos de Levi-Strauss, Barthes, Bourdieu e Foucault, são contribuições à Escola Estruturalista de Linguagem. Já Williams (2012) entende que Michel Foucault é um dos principais pós-estruturalistas que ao desenvolver seus próprios procedimentos para analisar principalmente “discurso”, promove a transição entre estruturalistas e pós-estruturalistas. Existe uma diversidade de pesquisas dentro da abordagem estrutural que se utiliza da Análise do Discurso (AD) (ALONSO, 2010). A AD iniciou como um método, isto é, “[...] uma aplicação dos conhecimentos sobre a linguagem à investigação de processos sociais [...]” e converteu-se “[...] em um conjunto de perspectivas genuínas, que ajudaram a transformar nossa concepção dos próprios processos sociais e da maneira de abordá-los.” (COELHO, 2012, p. 77). Dentre as abordagens de AD, nesta pesquisa optou-se por aquela difundida pela chamada escola de Madri, capitaneada principalmente por Conde (2009), Alonso (2010) e, recentemente no Brasil, por Coelho (2012) que é a escola denominada “Análise Sociológica 18 do Discurso” (ASD) cuja pretensão é aproximar elementos epistemológicos, metodológicos e técnicos da AD ao campo organizacional (COELHO; GODOY, 2011). 1.4 Justificativa A expansão do potencial energético brasileiro através da matriz hidrelétrica, principalmente no contexto amazônico, tem provocado: o deslocamento de comunidades locais ribeirinhas de seu ambiente natural; a degradação ambiental por alagamentos de grandes porções de florestas, a extinção de espécies exóticas de animais da Amazônia, entre eles os peixes, o desbarrancamento de encostas, bem como a perda da identidade e dos valores culturais dos povos atingidos; o aumento da violência em todos os sentidos baseados num suposto desenvolvimento aos moldes tradicionalmente capitalistas, economicistas, etc.. Os fatos ocorridos frente ao discurso observado sobre sustentabilidade colaboram para o interesse na pesquisa da análise do discurso de sustentabilidade no município de Porto Velho/RO onde estão operando as usinas hidrelétricas Santo Antônio Energia S.A. (SAE) e Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR). As pesquisas já desenvolvidas neste campo tanto em nível local como “Conflitos Socioambientais pela Construção das Usinas do Jirau e de Santo Antônio no rio Madeira em Porto Velho/RO” quanto nacional “Construção do discurso da sustentabilidade: uma prática de análise sociológica do discurso no campo organizacional” associadas à construção das usinas hidrelétricas em curso na Amazônia indica a necessidade de continuação das pesquisas sobre o discurso da sustentabilidade. 1.5 Vinculação com as Linhas de Pesquisa do PPGMAD A presente pesquisa foi desenvolvida na linha de pesquisa “Agronegócio e Sustentabilidade” do Programa de Pós Graduação Mestrado em Administração da Universidade Federal de Rondônia. Um dos seus objetivos é contemplar o desenvolvimento, produção, e disseminação de conhecimentos sobre as estruturas produtivas, as tecnologias, a competitividade, a cooperação. Os estudos consideram que a exigência para a busca de uma sociedade sustentável exige adaptabilidade e alinhamento das instituições de pesquisa e desenvolvimento com organizações voltadas aos sistemas produtivos e aos modelos de negócios visando à inovação e à sustentabilidade dos recursos amazônicos. 19 Desta forma, esta pesquisa foi direcionada para a análise do discurso organizacional nas empresas administradoras das usinas hidrelétricas do rio Madeira indo de encontro à sustentabilidade amazônica. 1.6 Organização da Dissertação A presente dissertação foi estruturada em cinco capítulos. O primeiro capitulo prioriza a importância da discussão evolutiva e conceitual do discurso de sustentabilidade. A partir da problemática, estabeleceu-se os objetivos geral e específicos. As concepções e pressupostos foram baseadas nas escolas estruturalistas e pósestruturalistas conforme apresentado neste item. A justificativa para a elaboração desta dissertação deu-se pela importância da continuação das pesquisas já realizadas tanto em nível local quanto em nível nacional. O segundo capítulo versa sobre o referencial teórico que foi dividido em dois temas principais: de um lado a sustentabilidade e de outro lado o discurso. O terceiro capítulo teve como objetivo estruturar os procedimentos metodológicos com vistas a facilitar a operacionalização do planejamento de pesquisa, coleta e organização dos dados, bem como a análise destes dados. Para tanto, tornou-se necessário estabelecer algumas dimensões e categorias de orientação ao pesquisador, bem como, os trabalhos práticos necessários para obtenção de resultados fidedignos e válidos para a análise do discurso sob a perspectiva da escola de Análise Sociológica do Discurso. Como ferramenta de auxílio à organização e análise dos dados optou-se pelo software de pesquisa qualitativa Atlas T.I. O quarto capítulo é referente aos resultados, análise e discussão. Por fim, no quinto capítulo foram apresentadas às conclusões e recomendações. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO O presente referencial teórico-empírico visa fornecer fundamentação para compreensão do problema de pesquisa, com base nas perspectivas dos autores que discutem paradigmas, visões, perspectivas e dimensões da sustentabilidade associado ao entendimento do discurso aplicado ao termo. Divide-se este capítulo em 02 seções: a primeira seção trata da origem do conceito de sustentabilidade, o conceito propriamente dito através de algumas visões, sustentabilidade organizacional e, Análise do Discurso, com ênfase na Análise Sociológica do Discurso (ASD) onde buscou-se as bases para entendimento do discurso organizacional e suas imbricações com o discurso da sustentabilidade. 2.1 Sustentabilidade: Histórico e Conceito Em fins de século XX, o crescimento da consciência da sociedade em relação à degradação do meio ambiente, em parte, foi decorrente do processo de desenvolvimento. O aprofundamento da crise ambiental, juntamente com a reflexão sistemática sobre a influência do ser humano neste processo, lançaram os desafios da sociedade atual (VAN BELLEN, 2004). Pesquisas ambientais atribuem a degradação ambiental como consequência da poluição industrial, no entanto, a degradação do solo, os riscos de poluição, desmatamento, podem ter sido sentidos desde a queda de Roma, bem como o Império Babilônico (MEBRATU, 1998). No contexto das transformações das últimas décadas, o conceito de desenvolvimento foi objeto de controvérsias e a abordagem tradicional considerava desenvolvimento e crescimento econômico como sinônimo (JACOBI, 2003). Fundamental para o debate da questão foram as organizações que nascem a partir dos anos de 1960, tais como World Wide Fund for Nature conhecida como WWF Green Peace, além da publicação de obras como o livro Silent Spring (1962) de Rachel Carlson, a criação pelas Nações Unidas de programas e comissões, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) e a realização das conferências de Estocolmo, Rio – 92 e subsequentes (CAMARGO, 2003). A CMMAD foi responsável pelo Relatório Bruntland (1987) também conhecido como Our Common Future (Nosso Futuro Comum) que relata avanços na direção de uma sociedade sustentável, mas também diversos problemas que assolaram os países no século XX, principalmente os problemas relacionados às questões ecológicas. Com o Relatório surge a 21 definição de DS mais difundida, também no âmbito dos estudos organizacionais, fundamentada nos pilares do crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. O relatório, entre outras questões, chega à conclusão de que era necessária uma mudança de base no enfoque do desenvolvimento, já que o planeta e todos seus sistemas ecológicos estavam sofrendo graves impactos negativos (JUSTEN; NETO, 2013; SICHE, et al. 2007). O Brasil sediou o Encontro Eco-92 (1992) que aprovou a Agenda 21 proposta pela ONU (CMMAD) onde se estabeleceu planos de ação ligados ao desenvolvimento sustentável para os 20 anos subsequentes. As avaliações ocorreram em 2002 e recentemente no Encontro Rio+20 (2012) com novos planos de ação a serem executados nos próximos anos. A discussão do conceito de desenvolvimento sustentável para a sustentabilidade em nível global até 1994 é apresentada com base na visão geral do pensamento de Mebratu (1998) no quadro 1. WCED – 1994 WCED 1987 PósEstocolmo 1972 PréEstocolmo – Estocolm 1972 o – 1972 Quadro 1 - Síntese da evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. 1. 2. 3. 4. 1. 2. 3. 1. 2. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 4. Fortes críticas ao sistema de produção; Esgotamento dos recursos naturais e destruição ambiental; Falha da economia tradicional no processo decisório político; Despertar humano para poluição global e a escassez de recursos ecológicos. Meio Ambiente Humano: meio ambiente e desenvolvimento – desenvolvimento “sem destruição” – “desenvolvimento ambientalmente saudável”. Surgimento do termo ecodesenvolvimento. Começa a se desenhar o conceito de D.S tornando-se necessário alterar a forma presente de desenvolvimento econômico. 1978 - Reconhecimento internacional que meio ambiente e desenvolvimento deveriam andar juntos. 1980 – World Wildlife + União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) – desenvolve conceito genérico de “conservação”: o termo “desenvolvimento sustentável” ainda não aparecia nos textos. Estabelecimento do termo “desenvolvimento sustentável” de acordo com kirkby, 1995. Limitações impostas pelo estado tecnológico e a organização social sobre a capacidade do ambiente para atender as necessidades presentes e futuras. Comissão de Bruntland – “Nosso Futuro Comum”. A partir dai todos passaram a adotar a expressão “desenvolvimento sustentável”; WCED acredita na definição e confia na sua sabedoria prática; Goldin e Winters (1995), Daly (1996), Tryzna (1995) Holmberg (1994) concordam que o termo “D.S” não representa o que deveria representar; A partir do Encontro Rio-1992, os países passaram a questionar o significado de “D.S”. Fonte: Adaptado de Mebratu, 1998. Para Mebratu, o Relatório de Estocolmo é composto por 24 princípios que orientam como os agentes e suas sociedades constituídas, sejam elas públicas ou privadas, deveriam agir de forma sustentável. De acordo com Afonso (2006, p. 21), na Conferencia de Estocolmo foram produzidos três documentos: a Declaração de Estocolmo, uma Lista de Princípios 22 (afirma possuir 26 princípios) e um Plano de Ação. A Lista de Princípios foi agrupada em 05 categorias conforme descrito no quadro 2. Quadro 2 - Lista de Princípios e Plano de Ação da Conferência de Estocolmo. Categorias Princípios Os recursos naturais devem ser resguardados e conservados; a capacidade terrestre de produção 1) de recursos renováveis deve ser mantida e os recursos não renováveis devem ser compartilhados. O desenvolvimento e a manutenção da qualidade ambiental devem se constituir em um só 2) objetivo, devendo ser oferecidos assistência e incentivo aos países em desenvolvimento para que promovam uma administração ambiental racional. Os países devem estabelecer padrões nacionais de administração e exploração de recursos que 3) também atendam aos princípios de cooperação internacional. Os níveis de poluição não devem exceder a capacidade de recuperação dos ecossistemas, 4) devendo ser especialmente evitada a poluição dos oceanos. Ciência, tecnologia e pesquisa devem oferecer novos métodos e instrumentos para a 5) conservação dos sistemas naturais. Apresentação de um conjunto de atividades internacionalmente coordenadas (109 recomendações em avaliação ambiental, administração ambiental e medidas de apoio) para Plano de desenvolver conhecimento científico a respeito das tendências de alteração ambiental, de seus Ação efeitos sobre a humanidade e sobre os recursos ambientais, e de técnicas de administração e planejamento para proteção e melhoria da qualidade ambiental. Fonte: Afonso, 2006, p. 21. A partir dos anos 80, países como o Brasil, intensificaram o alinhamento com os princípios e plano de ação da Conferência de Estocolmo e leis foram promulgados como, por exemplo, a Politica Nacional do Meio Ambiente que trata de questões de princípios, instrumentos e mecanismos de formulação e aplicação da política ambiental, além de determinar a obrigatoriedade da realização de avaliação de impacto ambiental para atividades potencialmente poluidoras. Neste contexto, exatamente em 1980, a Internacional Union Conservation of Nature and Natural Resoucers (IUCN) lança em mais de 40 países o texto “Estratégia Mundial de Conservação” conectando questões de população, pobreza, crescimento econômico, tecnologias inadequadas, conservação de energia e de matériasprimas, sistematizado em texto que orienta a organizações no sentido da busca pela sustentabilidade: “[...] atividades econômicas, processos sociais e conservação dos recursos ambientais” (AFONSO, 2006, p. 51). Em 1992, mais de 170 países se reúnem no Rio de Janeiro para participar do evento que seria o mais importante para a difusão do desenvolvimento sustentável em nível global. Depois de 20 anos da Conferência de Estocolmo (1972) acontecera o evento Eco-92 com uma extensa pauta acerca das problemáticas discutidas anteriormente por especialistas do mundo inteiro em questões ambientais, econômicas e sociais. 23 Importante característica do evento foi propor um período de conscientização dos povos das nações participantes sobre desenvolvimento sustentável, principalmente nos aspectos ambientais e sociais e que era possível ser sustentável ambientalmente e socialmente garantindo economicamente os resultados organizacionais e governamentais alcançados pelas nações e empresas. A disseminação de ações neste plano foi marcante nos 20 anos subsequentes. Os debates no evento Rio + 20 foram caracterizados por quatro grandes discursos sobre a política ambiental e desenvolvimentista ao longo dos últimos quarenta anos: sobrevivencialismo, resolução de problemas, sustentabilidade e radicalismo verde (WENCESLAU, ANTENAZA E CALMON, 2012). Do lado das Nações Unidas (ONU), o encontro Rio +20 a partir do qual foi elaborado o documento “The Future We Want” pela própria ONU (2012), tornou clara a posição de que as pessoas são o centro da sustentabilidade e de que há subordinação da natureza aos seres humanos. Há um apelo pela abertura por relações justas, equitativas e inclusivas. Em uma abordagem holística e integrada do desenvolvimento sustentável, defende-se que o crescimento econômico, a proteção ambiental e a justiça distributiva podem ocorrer simultaneamente (UNITED NATIONS, 2012). As implicações do evento Rio +20 para a sustentabilidade foi observada por Becker (2012, p. 10), que enfatizou a parceria entre grupos e atores em prol do bem comum, reconhecendo, porém, que países ricos e pobres possuem responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Este ponto foi bastante suavizado no documento final, mas fica clara a maior preocupação com a redução das diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Essa visão de mundo serve aos interesses geopolíticos dos países desenvolvidos, significando a abertura de novos mercados. Há interesse em ampliar o controle sobre as grandes reservas de recursos naturais dos países em desenvolvimento, pois a tecnologia para a expansão pertence aos países ricos (BECKER, 2012). No Brasil, as ações para a sustentabilidade englobam entre outras a produção de energia considerada limpa a partir de fontes renováveis, manutenção da floresta amazônica em condições naturais na sua maior parte, aprovação de um código florestal que obriga os produtores rurais a constituírem em suas propriedades reservas legais e áreas de preservação permanentes (APP), redução de emissão de gases poluentes nas indústrias e ainda nos veículos leves e pesados (BECKER, 2004). No entanto, o posicionamento de países de extrema pobreza denunciou o caráter apenas discursivo e retórico dos países em geral com relação à sustentabilidade, uma vez que as nações que assim se encontram não têm percebido 24 grandes avanços nas questões básicas necessárias à sobrevivência humana em seus países. Por exemplo, nos países da África, os desastres ecológicos e a degradação ambiental têm acontecido com frequência, aumentando a distância da proposta de sustentabilidade ao cotidiano dos seres humanos e respectivos ecossistemas. A utilização demasiada da expressão desenvolvimento sustentável para contextos organizacionais tem gerado confusões epistemológicas, paradigmáticas e teóricas a seu respeito. Não são raros os estudos em que se encontra um conceito desvinculado do contexto sobre o qual a pesquisa foi desenvolvida (MUNCK; SOUZA; SILVA, 2012). O conceito de desenvolvimento sustentável é polissêmico e apresenta abordagens diferenciadas, desde a biologia até a economia. Para se atingir a sustentabilidade, buscaria a almejada condição de manutenção, sobrevivência e harmonia de todas as formas de vida na terra, em contraposição a um padrão de desenvolvimento ecologicamente desequilibrado, economicamente instável e socialmente desigual. Desta forma, mais de 160 definições foram identificadas (JATOBÁ; CIDADE; VARGAS, 2009; VAN BELLEN, 2006; MEBRATU, 1998). Sustentabilidade quer dizer manutenção do sistema de suporte da vida significa comportamento em obediência às leis da natureza o significado da sustentabilidade que interessa à espécie humana consiste na manutenção, reposição e crescimento dos ativos de capital físico e humano, na manutenção das condições físicas ambientais dos constituintes do bem-estar, no fortalecimento da resiliência dos sistemas terrestres, capacitando-os a ajustar-se a choques e crises e ainda em evitar transferir dívidas de qualquer caráter, ecológicas ou financeiras, para gerações futuras (CAVALCANTI, 1995; 2012; SICHE et al., 2007). A base do conceito de sustentabilidade está na utilização dos serviços da natureza dentro do princípio da manutenção do capital natural, isto é, o aproveitamento dos recursos naturais dentro da capacidade de carga do sistema. Além disso, a noção de justiça social (redução das desigualdades sociais e direito de acesso aos bens necessários a uma vida digna) e aos valores éticos (compromisso com as gerações futuras) para garantir o que pode ser sustentado (NASCIMENTO, 2012; VAN BELLEN, 2004; SULAIMAN, 2011). Neste sentido, a sustentabilidade pode ser conceituada como estrutural ou conjuntural. O lado estrutural tem sentido diacrônico, trata do controle por parte dos agentes do trabalho de campo sobre os recursos fundamentais à sua própria reprodução e atende a uma primeira exigência do conceito operacional. A sustentabilidade conjuntural tem sentido sincrônico e trata do uso dos recursos já existentes na unidade produtiva e das relações destes com os sistemas de produção e o ambiente de modo geral (TAMBELLINI, 2009). Em geral o que se observa são duas posições extrema que orientam a definição de sustentabilidade. De um lado 25 os biocentrados e de outro os tecnocentrados. Mesmo que existam várias divergências entre os “verdes” e aqueles ditos “do mercado”, ambos parecem compartilhar de um mesmo desejo que é a sobrevivência da raça humana (MARCONATTO, et al, 2013). Como a sociedade global tornou-se, em sua maioria, dependente de uma economia de base industrial, esta mesma sociedade estará sempre beirando a insustentabilidade, se já não estiver inteiramente nela. Desta maneira a insustentabilidade é atribuída à economia de base industrial (GEORGESCU-ROEGEN, 1971; VEIGA, 2008; CAVALCANTI, 2012). Mesmo com um cenário desfavorável é possível enfrentar o desafio. Condições de mais ou menos insustentabilidade (ou sustentabilidade) dão alento à ideia de se encontrar saídas razoáveis para o desejo de progresso da humanidade ser concebidas. Entre elas, configurações que garantam equidade e articulação entre o global e o local nas áreas sociais (CAVALCANTI, 2012; JACOBI, 1999). Neste sentido, as visões de sustentabilidade que hoje ocupam espaços no debate acadêmico, organizacional e midiático não são neutras nem imutáveis, tendo seu significado variado ao longo do tempo, em sintonia com a dinâmica social, econômica e política que circunscreve as relações entre a sociedade e a natureza (JATOBÁ, CIDADE e VARGAS 2009). 2.2 Visões de sustentabilidade Para a presente discussão, optou-se por quatro contribuições específicas, sendo elas: a análise conceitual de Mebratu (1998) sobre desenvolvimento sustentável (neste caso adotado como sinônimo de sustentabilidade), as correntes paradigmáticas abordadas por Gladwin, Kenelly e Krause (1995) as dimensões de sustentabilidade discutidas por Pearce (1993) e as dimensões propostas por Sachs (2007). Assim como ocorrido na década de 1970, na década de 80 o conceito desenvolvimento sustentável também foi utilizado para apropriação do tema tecnologia. Nos fins da década de 1980, a influência do conceito aumentou significativamente em nível nacional e internacional no desenvolvimento de políticas, tornando-se elemento central dos documentos de política de governos, agências internacionais e organizações empresariais, pelo menos em termos de discurso (MEBRATU, 1998). Esta utilização alargou o discurso sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, resultando em uma ampla variedade de definições e interpretações. Diante desta variedade, Mebratu (1998) analisou a evolução do conceito de 26 desenvolvimento sustentável, suas e as interpretações sobre ele. Estas visões foram identificadas como visão institucional, visão ideológica e visão acadêmica que foram esquematizadas na figura 1 (MEBRATU, 1998). Figura 1 - Visões de Desenvolvimento Sustentável de Mebratu (1998). Fonte: Adaptado de Mebratu, 1998. A visão institucional foi apresentada a partir de três grandes grupos como representantes das diversas concepções: World Commission on Environment and Development (WCED, 1987) – Relatório Nosso Futuro Comum; International Institute of Environment and Development (IIED, 2001); e, World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 2001). Todas estas visões têm como elemento central a definição de desenvolvimento sustentável dada pela Comissão Brundtland e o conceito de “satisfação das necessidades”, sendo que as diferenças de interpretação são decorrentes das influências dos objetivos das instituições (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002). Mebratu (1998) atribui à visão institucional a vinculação do conceito de DS com a expressão eco eficiência, que considera crescimento econômico como essencial para melhorar o sustento dos pobres, sustentar o crescimento populacional, eventualmente estabilizar a população, para adoção de novas tecnologias como apoio, utilização para o processo de desenvolvimento três sistemas básicos: sistema biológico (ou energias mais limpas e produção de menos poluição. O IIED concebe como bases psicológicas), o sistema econômico e o sistema social, sendo que o desenvolvimento sustentável visa maximizar as metas na confluência dos três sistemas por meio de um processo adaptativo onde é fundamental o aumento do poder das pessoas para mudar seu próprio desenvolvimento, combinado com um nítido conhecimento dos limites ambientais (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002). Pelo lado da 27 WBCSD, os líderes de negócios estão comprometidos com o desenvolvimento sustentável e procuram satisfazer as necessidades sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002). Na visão ideológica, embora haja alguns fatores que indicam o surgimento de uma ideologia distinta verde, as visões ambientais têm origem nas ideologias clássicas: a teologia da libertação, o feminismo radical e o marxismo são os dominantes. O movimento ecofeminista surgido por volta de 1970 tem como preocupação as questões de opressão no sentido da raça, classe social, natureza e como o próprio nome traduz a discriminação pelo gênero feminino. Quando surgiu, esta visão pretendeu expor, desafiar e mudar as estruturas de poder dominante, nas relações de gênero e em termos de sistemas econômicos. O ecofeminismo aponta para as interconexões entre as preocupações feministas e ecológicas (MEBRATU, 1998). Pelo lado das crenças religiosas mais conhecidas da ideologia eco-teológica, as questões éticas sobre o amor e respeito por outras pessoas e a natureza não humana, reverência à Natureza que se torna o Corpo de Deus, ou ainda o tratamento que deveria ser dispensado ao vizinho (sentido de pessoa mais próxima) pelos quais deveria se tratar como gostaria de ser tratado. (MEBRATU, 1998). A ascensão do ambientalismo moderno na década de 1970 contribui para surgir um novo debate entre socialistas e ambientalistas que levou à evolução do conceito de eco-socialismo. Para Mebratu (1998) eco-socialismo baseia-se no pressuposto de que desenvolvimento capitalista sustentável, do ponto de vista ecológico é uma contradição em termos que não pode nunca ser realizados. Os ecossocialistas consideram a opressão capitalista como principal fonte da crise ambiental responsável pela insustentabilidade do planeta, principalmente em função das crises do sistema capitalista. Por outro lado, um grupo de cientistas sociais de países ricos como a Suécia, a Holanda, a Alemanha, a Noruega e o Japão desenvolveram um apelo pela Modernização Ecológica, considerada por eles uma versão mais elaborada do discurso do desenvolvimento sustentável. conhecida por ecocapitalimo (MEBRATU, 1998; LIMA, 2003). Assim, o ecocapitalismo pode ser entendido como uma proposta de reestruturação da economia política do capitalismo que se esforça em demonstrar a compatibilidade entre crescimento econômico e proteção ambiental, e a possibilidade de enfrentar a crise ambiental dentro dos marcos do capitalismo (LIMA, 2003, p. 105). Para compor a visão acadêmica, as respostas para a discussão da crise ambiental foram sintetizadas em três grandes grupos (MEBRATU Apud SIENA, 2002, p. 35): no primeiro 28 grupo, Economia ambiental, na perspectiva da economia neoclássica, considerando que o ambiente é subestimado, usado em demasia e degradado, propõe uma solução em dois estágios; determinar o preço do “material ambiental” de acordo com a curva da oferta e procura, identificando o nível ótimo ou apropriado da proteção ambiental, taxando a demanda ambiental e subsidiando o melhoramento do ambiente ou criar mercado para os bens ambientais através da permissão negociada entre firmas e consumidores; no segundo grupo está a Ecologia profunda, que considera a natureza como um sistema auto organizado que responde, altera e evolui no tempo por meio de um grande conjunto de variáveis quase estáveis; de acordo com esta visão, o ser humano busca se impor por meio de intervenções deterministas visando obter os produtos necessários; propõe, então, a substituição da hierarquia antropocêntrica pelo igualitarismo biocêntrico, considerando a fertilidade e diversidade da vida como um valor em si mesmo, não tendo o ser humano o direto de produzir sua redução, exceto para satisfazer suas necessidades básicas; e, no terceiro, a Ecologia social, que procura conciliar a visão reducionista da economia com a visão holística da ecologia profunda como uma forma de superar o atual dualismo predominante. O objetivo final da sustentabilidade é a plena integração dos sistemas naturais, econômicos e sociais, e isto poderia ser conseguido pela integração destes objetivos (pensamento linear). Ao contrário, as conclusões tiradas são baseadas no desenvolvido com base na abordagem holística-reducionista (MEBRATU, 1998). Ao discutir o conceito de sustentabilidade, Pearce (1993) trabalhou com a distinção entre a visão tecnocêntrica e a visão ecocêntrica. Para o referido autor, quanto mais próximo do tecnocentrismo mais fraca se torna a sustentabilidade (cornucopiana e adaptativa). O ecocentrismo busca a consolidação da dimensão ambiental (ecologia profunda e comunalismo). Estas dimensões são apresentadas na figura 2. 29 Figura 2 - Dimensões da sustentabilidade de Pearce (1993). Sustentabilidade Ecocentrismo (Ecologia Profunda / Comunalismo) Ambiental e Social Forte Econômica Tecnocentrismo Fraca Cornucopiana Adaptativa Fonte: Adaptado de Pearce, 1993. A sustentabilidade pressupõe um padrão de vida dentro dos limites da natureza, ou seja, deve se viver dentro da capacidade do capital natural. Este tipo de capital, sendo fundamental para a sobrevivência humana na Terra e as tendências que mostram uma população e consumo médio crescentes, com decréscimo simultâneo deste mesmo capital, leva Pearce (1993) a questionar quanto capital natural é necessário para manter o sistema. A discussão destas diferentes possibilidades é que origina os conceitos de sustentabilidade forte e fraca (VAN BELLEN, 2004). De acordo com Van Bellen (2004), as visões de sustentabilidade diferem também pela maneira como os diferentes componentes, humano e ecológico podem ser substituídos um pelo outro. As várias abordagens têm sido classificadas por economistas, inclusive Pearce (1993), de sustentabilidade fraca, sensível, forte e absurdamente forte. A sustentabilidade fraca não está preocupada com as partes, mas apenas com o todo ou a soma total do sistema; as partes, ou a redução das mesmas, podem ser substituídas por outras, ou o aumento destas. A qualidade ambiental pode declinar de maneira isolada, mas pode ser compensada pelo incremento na qualidade de vida humana. O incremento do capital humano pode compensar as perdas do capital natural. A sustentabilidade sensível diz respeito à manutenção do todo, fornecendo alguma atenção para as partes envolvidas. A sustentabilidade forte solicita a manutenção das partes do sistema, e do sistema como um todo, em boas condições; logo, nenhuma das partes do sistema pode ser substituída por outra e, em algumas versões, existe apenas uma limitada sustentabilidade dentro das partes. Na sustentabilidade muito forte, as partes devem ser mantidas integralmente ou intactas. Van Bellen (2006) apresentou uma matriz de sustentabilidade baseado em Pearce (1993) conforme o quadro 3. 30 Quadro 3 - Matriz de Sustentabilidade. TECNOCÊNTRICO ECOCÊNCTRICO Cornucopiana Adaptativa Comunalista Ecologia Profunda X Exploração de recursos, orientação pelo crescimento. Conservacionismo de recursos, posição gerencial. Preservacionismo de recursos. Preservacionismo profundo. Rótulo ambiental Economia antiverde, livre mercado. Economia verde, mercado verde conduzido por instrumentos de incentivos econômicos. Economia verde profunda. Economia steady-state, regulação macroambiental. Economia verde muito profunda, forte regulação para minimizar a tomada de recursos. Tipo de economia Objetivo econômico, maximização do crescimento econômico. Modificação do crescimento econômico, norma do capital constante, alguma mudança de escala. Crescimento econômico nulo, crescimento populacional nulo. Perspectiva sistêmica, saúde do todo (ecossistema), hipótese de Gaia e suas implicações. Reduzida escala da economia e da população. Imperativa mudança de escala, interpretação literal de Gaia. Estratégia de gestão Direitos e interesses dos indivíduos contemporâneos, valor instrumental na natureza. Equidade intra e intergeracional (pobres contemporâneos e gerações futuras), valor instrumental na natureza. Interesse coletivo sobrepuja o interesse individual, valor primário dos ecossistemas e valor secundário para suas funções e serviços. Bioética (direitos e interesses conferidos a todas as espécies), valor intrínseco da natureza. Ética Sustentabilidade muito fraca. Sustentabilidade fraca. Sustentabilidade forte. Sustentabilidade muito forte. Grau de sustentabilidade Fonte: Van Bellen, 2006, p. 26. Van Bellen (2006) concorda com Pearce (1993) e sugere a matriz que apresenta a sustentabilidade forte e fraca à sustentabilidade muito forte e muito fraca baseado na ética, na estratégia de gestão, tipo de economia e rótulo ambiental. A sustentabilidade muito fraca é resultado da posição cornucopiana (mais ao lado do tecnocentrico). No campo organizacional, visando estabelecer uma visão paradigmática na transição de desenvolvimento sustentável para a sustentabilidade, Gladwin, Kenelly e Krause (1995) compararam três correntes, sendo 31 o tecnocentrismo, ecocentrismo e o sustaincentrism (paradigma centrado na sustentabilidade). Após o lançamento do Relatório Brundtland pela WCED em 1987, foram identificadas definições alternativas de desenvolvimento sustentável como economias sustentáveis e sociedades sustentáveis, indicando que esses construtos estão infundidos de múltiplos objetivos e ingredientes o que faz permanecer confuso, elusivo, contestável e ideologicamente controverso (GLADWIN, KENNELLY E KRAUSE,1995). Na figura 03 estão resumidas as noções destes paradigmas. Figura 3 - Paradigmas ambientais de Gladwin, Kenelly e Krause (1995). Tecnocentrism Sustaicentrism Ecocentrism • Mão invisível do mercado - Adam Smith; • Reconciliação de posições científicas radicais; • Falhas dos tecno e ecocentristas; • Modelo para entender o desenvolvimento sustentável. • Ecologia profunda; • Ser humano acima da natureza; • Perspectiva econômica dominante nos sistemas ecológicos. • Reverência ao planeta; • Transcedental e preservacionista. Fonte: Adaptado de Gladwin, Kenelly e Krause, 1995. Gladwin, Kenelly e Krause (1995), ao comparar as 03 correntes à luz de abordagens organizacionais, entendem que o tecnocentrismo e o ecocentrismo são opostos, enquanto que a terceira, o sustaincentrism (centrado na sustentabilidade), representa uma proposição de compreensão de mundo mais flexível e aberta. A origem do paradigma “tecnocentrico” pode ser remetida à revolução científica do século XVII, com a emergência de uma teoria social liberal, da racionalidade da mão invisível proposta por Adam Smith e da tendência de privilegiar os seres humanos sobre a natureza. Essa perspectiva ainda se faz dominante contemporaneamente, uma vez que suas proposições são mais convidativas aos sistemas econômicos e aos modelos de gestão organizacionais. O tecnocentrismo tem sido rotulado de diversas formas, entre elas como cornucópias, expansionista, grande mania, ambientalismo superficial ou ainda sustentabilidade fraca. (GLADWIN, KENELLY E KRAUSE, 1995). O paradigma do tecnocentrismo é voltado para o domínio do homem sobre a natureza diante de um reducionismo mecânico onde o mercado resolve todos os problemas, guiado pela mão invisível de Adam Smith sendo capaz de se 32 autorregular. Seu pano de fundo é a economia tradicional clássica que tem como máxima a economia ambiental. O paradigma ecocentrismo é proveniente de uma filosofia que apregoa um estilo de vida que se conforme com a ordem da natureza, com a reverência ao planeta, assim como os movimentos transcendentalistas e preservacionistas. Sua principal marca é a ecologia profunda, que rejeita qualquer dominação humana sobre a natureza. O ecocentrismo tem sido referido como neomalthusianismo, preservação, estático, constante, a ecologia profunda ou no sentido oposto do tecnocentrismo é considerado como sustentabilidade forte (GLADWIN, KENELLY E KRAUSE, 1995). Neste paradigma encontra-se o homem como parte integrante da natureza. Sua percepção é holística radical, onde a máxima é a perspectiva preservacionista. No que diz respeito à ecologia profunda, fundada, no início dos anos 70, pelo filósofo e ecologista norueguês Arne Naess, no âmbito da Escola de Oslo, não há predomínio de qualquer perspectiva particular, tão somente a existência de um pensamento ecológico, que percebe o mundo vivo como uma rede inseparável de relações (JUSTEN; NETO, 2013). O paradigma centrado na sustentabilidade se interessa pelo desenvolvimento sustentável compreendido como um esforço dialético pelo qual a articulação de um olhar de mundo é percebida como uma tentativa de se buscar uma reconciliação entre posições científicas muito radicais. Dos paradigmas estudados, o sustaincentrism é a corrente que representa a sustentabilidade sendo reconhecido pela interdisciplinaridade, por consequência, assume, via de regra, uma postura epistemológica pluralista e conflitante (MUNCK, SOUZA E SILVA, 2012). Gladwin, Kenelly e Krause (1995) afirmam que tanto o tecnocentrismo quanto o ecocentrismo falham em oferecer uma base sobre a qual o desenvolvimento sustentável possa ser investigado. Estes paradigmas se apresentam muitas vezes de forma radical e isolada, logo, não conseguem sequer promover o desenvolvimento e, muito menos, preservar a natureza. O paradigma centrado na sustentabilidade assume uma responsabilidade de articular o conhecimento e as discussões por uma abordagem interdisciplinar, por meio da qual deve ser estabelecido um diálogo entre essas duas fortes perspectivas científicas e operacionalizado através de um modelo que melhor entenda e ainda promova o desenvolvimento sustentável. Sachs (1993, 2002, 2007, 2008) propôs que as perspectivas da sustentabilidade contemplam além das econômicas, sociais e ecológicas, as perspectivas denominadas por ele como cultural e espacial (territorial). Para Sachs deve haver uma distribuição territorial mais 33 adequada, com uma melhor configuração rural-urbana e assentamentos humanos mais humanos. Devem ser respeitados os valores ecossistêmicos, culturais e locais dos povos em geral. A sustentabilidade social está vinculada a uma melhor distribuição de renda com redução das diferenças sociais. A sustentabilidade econômica está vinculada ao fluxo constante de inversão pública e privada, além da destinação e administração correta dos recursos naturais. A sustentabilidade ecológica está vinculada ao uso efetivo dos recursos existentes nos diversos ecossistemas e, como um dos resultados, mínima deterioração ambiental. A sustentabilidade geográfica está ligada a uma espacialização rural-urbana mais equilibrada. A sustentabilidade cultural procura a realização de mudanças em harmonia com a continuidade cultural vigente (SACHS, 1993; MONTIBELLER-FILHO, 2008; HOGAN, 2005). Sachs (1993) parte do pressuposto que a sustentabilidade constitui-se num conceito dinâmico que leva em consideração as necessidades crescentes das populações em um contexto internacional em constante expansão. Neste período acredita que a sustentabilidade tem como base cinco dimensões principais, que são a sustentabilidade social, a econômica, a ecológica, a geográfica e a cultural. Montibeller-Filho (2008, p. 53) elabora uma síntese das cinco dimensões da sustentabilidade propostas por Sachs (1993) conforme estabelecido no quadro 4. Quadro 4- Síntese das dimensões da sustentabilidade de Sachs. Sustentabilidade social Redução substancial das diferenças sociais; Sustentabilidade econômica Alocação e gestão mais eficiente dos recursos; Sustentabilidade ecológica Uso dos mais variados ecossistemas com mínima deterioração; Sustentabilidade espacial e Relação mais equilibrada entre campo e cidade, evitar a geográfica concentração geográfica de populações; Sustentabilidade cultural Respeito aos ecossistemas, cultura e valores locais. Fonte: Adaptado de Montibeller-Filho, 2008. Ao prosseguir com suas pesquisas sobre sustentabilidade, Sachs (2002, 2007, 2008) acrescenta às dimensões da sustentabilidade a dimensão ambiental, a dimensão política nacional e a dimensão política internacional que são apresentadas no quadro 5 como as novas dimensões consideradas por Sachs (2007). 34 Quadro 5 - As novas dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs. TERMOS Ambiental CATEGORIAS - respeitar e aumentar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais. - democracia definida em termos de apropriação universal do conjunto dos direitos humanos; - um Estado desenvolvimentista capaz de implementar o projeto nacional em parceria com Político (nacional) todos os atores sociais interessados; - um grau razoável de coesão social. - eficácia do sistema de preservação de guerras da ONU, na garantia da paz e na promoção da cooperação internacional; - um pacote Norte-Sul de eco desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade (regras do jogo e compartilhamento da responsabilidade de favorecimento do parceiro mais fraco); - controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios; Político - controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio (internacional) ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas; proteção da diversidade biológica (e cultural); e gestão do patrimônio global, como herança comum da humanidade; - sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial de caráter de commodity da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade. Fonte: Adaptado de Sachs, 2007, p. 298. A sustentabilidade territorial (sinônimo de sustentabilidade geográfica) objetiva à eliminação de disparidades inter-regionais, a destinação igualitária de investimentos públicos e a conservação da biodiversidade pelo eco-desenvolvimento. A sustentabilidade no âmbito das políticas nacionais passaria por um nível razoável de coesão social, democracia e capacidade institucional do Estado em implantar um projeto nacional (SACHS, 2002). Com na aproximação das visões dos principais autores estudados, entre eles Mebratu (1998), Pearce (1993), Gladwin, Kennely e Krause (1995) e Sachs (1993; 2002; 2007; 2008) é possível propor uma perspectiva para subsidiar o processo de análise e de construção do discurso da sustentabilidade, conforme disposto na figura 4. 35 Figura 4 - Visões aproximadas da sustentabilidade. Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Munck, Souza e Silva, 2012. Ao alcance da ontologia, dos paradigmas e da epistemologia buscou-se aproximar as visões de sustentabilidade baseado nas características apresentadas neste referencial teórico. Esta colabora na identificação de como as organizações se utilizam do discurso da sustentabilidade no desenvolvimento de seus processos internos e externos. De um lado, na sobreposição dos interesses econômicos à natureza, característica da economia clássica. Do lado da natureza e sociedade, encontra-se a visão ideológica de Mebratu (1998) aproximada às dimensões ambientais, ecológicas e sociais (SACHS, 2007; PEARCE; 1993) representadas em contexto mais amplo pelo paradigma ecocentrism de Gladwin, Kennely e Krause (1995). Nesta aproximação busca-se harmonizar as visões destes autores relacionados à ideia de preservação ecológica e manutenção das vidas humanas na terra. Ao alcance da visão institucional (MEBRATU, 1998) que foi aproximada da dimensão econômica (PEARCE, 1993; SACHS, 2007) encontra-se o paradigma tecnocêntrico de Gladwin, Kennely e Krause (1995). Esta aproximação representa a visão de que os recursos naturais podem ser utilizados pelos agentes econômicos a qualquer custo, inclusive de perda dos sistemas ecológicos já ameaçados. 36 A sustentabilidade representada pela aproximação da visão acadêmica de Mebratu (1998) às dimensões de sustentabilidade de Pearce (1993) e Sachs (2007) foi associada ao paradigma centrado na sustentabilidade de Gladwin, Kennely e Krause (1995). A sustentabilidade no sentido etimológico e hermenêutico da palavra se torna adjacente à dimensão ecológica, social e econômica representando a aproximação epistemológica do discurso conceitual da sustentabilidade (MEBRATU, 1998; PEARCE, 1993; GLADWIN, KENNELY E KRAUSE, 1995; SACHS, 2007). Ao mesmo tempo, esta aproximação visa romper com o modo tradicional e fragmentado utilizado para realizar pesquisa no âmbito organizacional pela ausência de alinhamento das visões dos autores dos mais variados temas organizacionais (MUNCK; SOUZA; SILVA, 2012). 2.3 Sustentabilidade Organizacional No contexto organizacional, sistemas de crenças e quadros culturais são impostos e adaptados por atores e organizações individuais. Assim, os papéis são em grande parte determinados por estruturas maiores. As organizações sejam corporativas, governamentais ou sem fins lucrativos, adotam práticas de negócios não porque eles são eficientes, mas porque fornecem legitimidade aos olhos dos stakeholders, por exemplo, os credores, os reguladores do governo e acionistas para manter a confiança desses terceiros que muitas vezes encontramse mal informados em relação ao contexto organizacional (DIMAGGIO; POWELL, 2005). De acordo com Justen e Neto (2013), as discussões sobre sustentabilidade levam em conta o âmbito organizacional, uma vez que a organização é mediadora moderna entre o homem e a natureza. Logo, como valor empresarial, a sustentabilidade pode servir de instrumento de legitimação para as práticas que justamente geram o colapso ecológico, quando exercida no intento de mascarar o conjunto das externalidades negativas da atividade empresarial sobre o entorno ecológico. Neste sentido, ao partir de uma ação comunicativa, numa relação linguística travada entre sujeitos, não entre sujeito-objeto, a organização dotada de uma intersubjetividade capaz de realizar a emancipação humana via interação social pode ser transformadora do status quo organizacional. No entanto, o que se percebe da temática da sustentabilidade empresarial é uma roupagem pretensamente multidimensional, com conteúdo, porém, fortemente econômico, fato reforçado diante da carga epistemológica positiva e instrumental presente no mundo dos negócios (JUSTEN; NETO, 2013). 37 Do ponto de vista epistemológico, o resultado é a apropriação de uma perspectiva particular de sustentabilidade, de viés econômico e que trata as dimensões da sustentabilidade como, por exemplo, as dimensões ambientais, ecológicas, sociais, geográficas, culturais e políticas, como proposto por Sachs (2007; 2008), considerado os reflexos sob a dimensão econômica com vistas à preservação da rentabilidade econômico-financeira. Do ponto de vista dos paradigmas, Justen e Neto (2013) propõem duas abordagens que devem ser consideradas pelas empresas ao tratarem de sustentabilidade organizacional, sendo a ecologia profunda e a gestão social. Na ecologia profunda não há predomínio de qualquer perspectiva particular e sim a existência de um pensamento ecológico, que percebe o mundo vivo como uma rede inseparável de relações. A gestão social caminha com a possibilidade de gestão democrática e participativa, seja no espaço público ou privado. Do ponto de vista das organizações o que se percebe é o slogan da gestão verde, também conhecida como “lavagem verde cosmética” que se traduz em um processo organizacional amplo que aplica a inovação, redução de perdas, responsabilidade social e vantagens competitivas, aprendizagem e desenvolvimento, adoção de metas e estratégias ambientais que estejam totalmente integradas com as metas e estratégias da organização. No Brasil, uma das instituições que trata da sustentabilidade organizacional na perspectiva do conceito do Tripple Botton Line, norteadora da atuação das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental, foi o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) que é hoje uma referência empresarial da sustentabilidade tanto para as empresas quanto para os parceiros e governos. É reconhecido como o principal representante do setor empresarial na liderança de um processo de mudança: transformar o modelo econômico tradicional em um novo paradigma (CEBDS, 2014). Criado em 1997, O CEBDS foi responsável pelo primeiro Relatório de Sustentabilidade do Brasil, e, em 2008, ajudou a implementar em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o World Resources Institute ( WRI) a principal ferramenta de medição de emissões de gases de efeito estufa (GEE), denominado GHG Protocol. As empresas certificadoras consideram esta ferramenta uma metodologia importante para a identificação de uma organização com a sustentabilidade em nível global, uma vez que tanto a WRI quanto a World Business Concil Sustentabity Development (WBCSD) a utilizam e a reconhecem em todo mundo, sendo compatível com as normas da International Organization for Standardization (ISO). O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos, constituída como associação e capitaneada por grandes organizações, realiza 38 mobilização nacional em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país, com visão de longo prazo. Para o Instituto, a sustentabilidade deve resultar do esforço de toda a sociedade, do sistema político e da iniciativa privada. Para tanto, estimula e orienta o uso da norma ISO 26000 de 2011 com vistas a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) (INSTITUTO ETHOS, 2014). Para tornar suas operações mais sustentáveis, as empresas estabelecem um processo de elaboração de relatório de sustentabilidade para medir desempenhos, estabelecer objetivos e monitorar mudanças operacionais. Na visão da Global Report Intiative (GRI), um relatório de sustentabilidade é a plataforma fundamental para comunicar os impactos de sustentabilidade positivos e negativos bem como para obter informações que podem influenciar na política, estratégia e nas operações da organização de uma forma contínua (GRI, 2006). É possível constatar na própria GRI (2006) alguns dos motivos pelos quais as empresas relatam e utilizam o Relatório de Sustentabilidade estão listados no quadro 6. Quadro 6 - Motivos para adoção e elaboração de Relatórios de Sustentabilidade. Aumentar a compreensão sobre os riscos e oportunidades que elas enfrentam. Melhorar a reputação e a fidelidade à marca. Ajudar seus stakeholders a compreender os impactos de sustentabilidade e desempenho. Enfatizar a relação entre o desempenho organizacional financeiro e o não financeiro. Influenciar na estratégia e política de gestão em longo prazo e planos de negócios. Servir como padrão de referência (Benchmarking) e avaliação de desempenho de sustentabilidade com respeito às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias. Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relativas ao desenvolvimento sustentável. Comparar o desempenho organizacional interno e entre outras organizações. Conformidade com os regulamentos nacionais ou com os requisitos referentes à bolsa de valores. Fonte: Adaptado de Global Reporting Initiative, 2006. Variadas organizações utilizam relatórios de sustentabilidade, sendo o Global Reporting Initiative (GRI) o de maior aceitação pelas empresas, principalmente aquelas que possuem suas operações classificadas como de alto impacto ambiental e social, como por exemplo, as usinas hidrelétricas. Além do GRI, muitas organizações também fazem uso das normas ABNT/ISO 9001 e ABNT/ISO 14001 cujas certificações são recomendadas para estabelecer respectivamente o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) e Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Os organismos orientadores e certificadores possuem alinhamento com as dimensões da sustentabilidade, fazendo valer a necessidade de verificação caso a caso em cada 39 organização, se estas ao estabelecerem seus sistemas de gestão baseados em normas e relatórios de sustentabilidade, fazem dos seus discursos, práticas cotidianas que se estendem dentro e fora das empresas nas relações desenvolvidas com todos os seus stakeholders. Para Tinoco e Kraemer (2004 apud Coelho 2013, p. 2), os relatórios ambientais, também denominados de socioambientais ou suplementos ambientais, são entendidos como ferramentas com as quais as empresas contam para descrever e divulgar seu desempenho ambiental. Após a elaboração de relatórios de sustentabilidade as organizações buscam tornalos públicos, visam atender as preocupações das partes interessadas, de exigências legais e pressões internas da cadeia de suprimentos, de pares e da sociedade como um todo. No Brasil, a obrigatoriedade desses relatórios ambientais limita-se às empresas que possuem elevado potencial de degradação em relação ao meio ambiente (COELHO, 2013). A partir de 2011 empresas de grande porte passaram a adotar como orientação a norma ISO 26000 que aborda de forma mais ampla as questões relacionadas à Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Em função da rede de relacionamento dessas empresas, seus parceiros, principalmente fornecedores, tem buscado entender e aplicar em suas práticas as recomendações de uso da norma. De acordo com Tachizawa (2008, p. 138), no macroambiente, há significativa amplitude das forças ambientais que afetam todos os agentes no contexto da organização, em termos de variáveis econômicas; demográficas; físicas ecológicas; tecnológicas; político/legais; e socioculturais. Tais variáveis externas atuam em um grande macroambiente, com forças e megatendências que criam oportunidades e ameaças à organização; elas são consideradas incontroláveis, e a organização deve monitorar e interagir em seu processo de gestão ambiental e social. Neste sentido são elaborados e apresentados esquemas que orientam as organizações no contexto da sustentabilidade organizacional, por exemplo, o esquema elaborado a partir de Coral (2002) apresentado na figura 5. 40 Figura 5 - Sustentabilidade empresarial a partir das dimensões econômicas, sociais e ambientais. Fonte: Adaptado de Coral, 2002, p. 129. O modelo organizacional denominado sustentabilidade empresarial considera as dimensões econômica, social e ambiental interagindo a partir de algumas práticas que autorizem a sustentabilidade. Para as empresas, de uma forma geral as sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social se torna possível pela existência da sustentabilidade econômica. As demais dimensões da sustentabilidade proposta por Sachs (1993) como a cultural e geográfica acabam por ser incorporadas nas dimensões econômicas, ambientais e sociais. O processo de adequação às normas internacionais (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e SA 8000) colabora para a sustentabilidade empresarial, uma vez que envolve mudanças na estrutura organizacional em relação ao meio ambiente e à sociedade, procurando sempre retornos econômicos. As normas internacionais impulsionam a busca pela sustentabilidade nas organizações quando estes objetivos estão alinhados aos objetivos da empresa. A implantação destas normas internacionais realiza-se por meio do cumprimento dos requisitos normativos exigidos para a certificação, a partir do desenvolvimento de programas socioambientais, mudando culturalmente as ações da organização e dos colaboradores em termos mais sustentáveis. Porém, corre-se o risco de não deixar claro quais foram os impactos nas comunidades locais e no meio ambiente externo, positivos ou negativos a partir da implantação destas normas (ARAÚJO E MENDONÇA, 2008). 41 A grande questão que pesquisadores apontam em relação à sustentabilidade empresarial é o alcance de seu interesse econômico tendo como pano de fundo a sustentabilidade em todas as suas dimensões e paradigmas. Logo, é necessário aprofundar o estudo da sustentabilidade em nível de discurso organizacional e sua análise. 2.4 Análise do Discurso A análise do discurso é utilizada a partir de vários enfoques na pesquisa científica relacionado ao estudo de textos, de variadas tendências em países com tradição acadêmica em estudos de linguagem. Para caracterizar a análise do discurso em seu sentido amplo, Bauer e Gaskell (2010, p. 244) afirmam que, Análise de discurso é o nome dado a uma variedade de diferentes enfoques nos estudos de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em diferentes disciplinas. Estritamente falando, não existe uma única “análise de discurso”, mas muitos estilos diferentes de análise e todos reivindicam o nome. As tradições existentes seguem tendências de acordo com o perfil de seus grupos de pesquisadores e objetivos de analisar os discursos. As mais tradicionais são representadas por escolas europeias como, por exemplo, a escola francesa. No entanto, novas escolas interessadas no desenvolvimento de pesquisas organizacionais a partir da análise do discurso como a escola espanhola de Madri, colaboram para aumentar as possibilidades de praticar a analises do discurso. De acordo com Orlandi (2009, p. 15 apud COELHO, 2012, p. 77) a AD não trata da língua, nem da gramática, ainda que estejam vinculadas; versa, pois, sobre discurso. “O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando.”. Denominação da variedade de diferentes enfoques no estudo de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em diferentes disciplinas, a AD tem como base as teorias linguísticas que possibilitam compreender os múltiplos sentidos criados por meio da complexa trama dos atores que o realizam. Desvendar sua linguagem, suas palavras e frases para revelar os segredos subentendidos são algumas das contribuições da AD, além de penetrar nos implícitos ditos, que compõem o instrumental metodológico que perfaz o discurso (BALLALAI, 1989). De acordo com Iñiguez, (2004a p. 97): 42 A AD tornou-se uma perspectiva a partir da qual podemos analisar os processos sociais. Iniciou como um método, uma aplicação dos conhecimentos sobre a linguagem à investigação de processos sociais, e tornou-se em um conjunto de perspectivas genuínas, que ajudaram a transformar nossa concepção dos próprios processos sociais e da maneira de abordá-los. A Análise do Discurso (AD) possui origem e aplicação em diversas disciplinas do conhecimento, logo se apresenta como um vasto campo de investigação. Para Foucault (2008) a AD é um instrumento teórico e metodológico interdisciplinar, que permite a compreensão dos discursos de diferentes atores por meio de uma síntese metodológica. Algumas das principais tendências em relação aos modelos de Análise de Discurso (AD) que são entendidas como tradições nas abordagens para analisar discurso nas mais variadas áreas de pesquisa estão resumidas no quadro 7 (COELHO, 2012). 43 Quadro 7 - Resumo-tendências (tradições) dos modelos de AD. Tendências Americana Modelo(s) e principais precursores Modelo distribucional (Zellig Harris) Modelo trasformacional (Chomsky) Modelo tagmémico (Pike) Modelo pragmático da etnografia e da comunicação (Dell Hymes; Gumpers) Modelo da filosofia analítica, teoria dos atos da fala (Austin; Searle) Modelo de análise textual (M.K. Halliday) Modelo argumentativo (Stephen Toulmin) Modelo de análise discursivo, cultural e ideológico (Thompson – neohermenêutico; Giddens Britânica – neomaterialista) Modelo de análise pragmáticos-discursiva (Deborah Camerun) Modelo de análise crítica do discurso (Wodark e Meyer; Fairclough) Modelo argumentativo (Kellin, Zimerman; Kooperscmidt; e outros) Modelo psicoanalítico (Wilhem Reick; Theodoro Adorno) Modelo linguística textual (Petofi; Schmidt; e outros) Alemã Modelo pragmático (J. Habermas) Modelo hermenêutico (Gadamer) Modelo argumentativo e de implícito (Ducrot; Anscombre) Escola Francesa de Análise do Discurso (Pecheux; Robbin; Marcelesi, Gardin; Maudidier; Guespin; Maingueneau; Courtine; Charaudeau; e outros) Outros modelos de análise do discurso: a) da enunciação (Dubois; Recanati;Todorov; Francesa Kerbrati-Orecchioni; Benveniste; Mainguenaum; etc) b) da gramatologia (Derrida) Modelo hermenêutico (Paul Ricoeur) Modelo de semiótica narrativa (Greimas; Bhartes; Bremmond; Gennete; Kristeva; Rastier; Landowisky; Claude Duchete; etc) Modelo argumentativo (Periman – a nova retórica) Belga Modelo de semiótica narrativa aplicada ao discurso religioso (Grupo de Entrevernes) Modelo de análise argumentativa (Escola de Neuchatel - Grize e Vignaux) Suiça Modelo da linguística textual e de análise crítica do discurso (T. A . Van Dijk) Holandesa Modelo de análise textual (Wolfgan Dressler – ligado a aquisição da linguagem) Austríaca Modelo de análise do discurso/poder (Ruth Wodak e outros) Australiana Modelo de análise do discurso da mídia de massa (Hodge; Kress entre outros) Modelo desenvolvido na Polônia - aspectos de análise relacionados com a teoria de recepção Modelo de análise textual (formalistas russos) Europa Modelo de análise poética (Círculo de Praga) ocidental Modelo de análise discursivo-textual (derivados de Mikhail Bakhtin) Modelo de análise literário da Escola de Tartu. Fonte: Coelho, 2012, p. 81, adaptado de Haidar, 1998. A análise do discurso tem sido utilizada por diversas escolas e pesquisadores para se retratarem de temas recorrentes à sociedade. No entanto, em alguns casos não se busca maior conhecimento do que de fato seja um discurso e, qual a sua efetividade em um determinado campo. As tradições da análise do discurso de forma geral, porém, associam o uso da AD ao pós-estruturalismo representado por Michel Foucault (1971). O pós-estruturalismo rompeu com as visões realistas da linguagem e rejeitou a noção do sujeito unificado coerente que foi por longo tempo o coração da filosofia ocidental (BAUER E GASKELL, 2010). Para Foucault (2008, p. 43), uma das hipóteses de formação do discurso é por meio da regra deformação: 44 Chamaremos de regras deformação as condições a que estão submetidos os elementos dessa repartição (objetos, modalidade de enunciação, conceitos, escolhas temáticas). As regras deformação são condições de existência (mas também de coexistência, de manutenção, de modificação e de desaparecimento) em uma dada repartição discursiva. Assim, Foucault envolve a ciência, ideologia, teoria e domínio dos objetos para caracterizar a formação discursiva. Para compreender a formação do discurso em determinado campo, Foucault propõe que os elementos constitutivos desta formação desapareçam com o tempo. Como exemplo, o caso dos grandes desastres que ocorrem em várias partes do mundo, deixando populações desoladas, e com o passar do tempo, o discurso de ajuda que se faz necessário no pós-desastre se perde, restando populações completamente sem perspectivas de um futuro sustentado. No quadro 8 é apresentada uma proposta de orientação foucaultiana para procedimentos de análise do discurso. Quadro 8 - Os passos essenciais no processo de investigação do discurso. Item a) Passos essenciais Identificação das práticas discursivas e dos atos materiais (não discursivos) b) Determinação descontinuidades c) Análise (não interpretação) desses elementos d) Hermética e) Profundidade à amplitude f) Episteme, saber (distinção entre a “percepção”, o “saber”, o discurso geral ao nível das pessoas e das instituições; e o “conhecimento”, a elaboração teórica, o discurso científico ou que tem a pretensão à cientificidade) Dispositivo, poder h) das Fonte: Tiry-Cherques, 2008, p. 218-220. Características Onde não interessa a verdade (mas o que é dito) nem o sentido (mas o enunciado), o que implica em reconhecer os saberes existentes na regularidade (regras de formação) dos conceitos, dos objetos, das estratégias, das ações (práticas não discursivas) e das instituições a ele associados; Da emergência e do desaparecimento de conformações das subjetividades e da objetividade social expressa nos saberes (limiares epistemológicos das epistemes, dos dispositivos) em cada segmento (momento) descontinuo, fazendo aflorar os extratos acumulados, justapostos pelo tempo; Que se dá simultaneamente a cada identificação e a cada determinação e, sinteticamente, em um quadro explicativo da articulação entre a seriação dos discursos e as práticas não discursivas; Inacessível ao pesquisador comum, inconformismo com os métodos tradicionais derivados do marxismo, da fenomenologia e do estruturalismo, inventar novos procedimentos, novos termos para descobertas epistemológicas realizadas por Foucault; Temas como loucura, saber, poder, relações com o corpo. Estruturas do conhecimento e os modos de compreender se alteram segundo época e lugar; Arqueologia do saber procura marcar as mutações, explorar as distinções entre conceitos, objetos, estilos, teorias, as assimetrias, entre as formas de racionalidade que o sujeito humano aplica a si mesmo. Informa sobre uma coerência, sobre uma episteme em um período determinado. Não constituição do senso comum ou o bom-senso, mas sim as formas de pensar das pessoas (do paciente, não do médico, por exemplo); Abordagem genealógica derivada de Nietzsche, só há compreensão através do presente, as continuidades das práticas culturais que Foucault isola, identificando as descontinuidades evidenciadas em discursos-objeto. 45 A proposta de Foucault se apresenta como um quase roteiro metodológico para ser seguido, no entanto, como o próprio autor acredita que o pesquisador do discurso não deve se manter muito preso as estruturas metodológicas sem delas se perder, mas estar atento às questões de saber, a partir de um arquétipo que rompe com a proposta rígida de cientificidade praticada anteriormente às suas ideias de pesquisa. Portanto, o que se busca inicialmente é o entendimento das práticas discursivas e não discursivas (atos materiais), determinar as descontinuidades, ser profundo e amplo, hermenêutico (não ser um pesquisador comum, preso a processos epistemológicos tradicionais como o marxismo e a fenomenologia), enfim, conseguir perceber os mais variados discursos a partir do conhecimento, do saber geral, da ciência, elaboração teórica e a pretensão à cientificidade. A ênfase do processo de análise discursiva está nas relações de produção do sentido, no estudo dos discursos e suas determinações e motivações. O texto consiste apenas no alicerce dos diferentes discursos, como linhas de coerência simbólica com as quais os sujeitos representam e se representam, nas diferentes posições sociais (ALONSO, 1998; COELHO, 2012). Coelho (2012, p. 4), baseado em Godoi (2006) e Ferreira (2005), entende que o texto e o discurso, como categorias linguísticas distintas, precisam ser compreendidos em suas características diferenciais para permitir o entendimento do objeto e do modo de funcionamento da análise social do discurso, logo o texto é considerado, em sua materialidade, como uma peça com suas articulações, todas relevantes para a construção do sentido. O sentido torna-se evidente por um efeito ideológico que provoca no gesto de interpretação a ilusão de que um enunciado quer dizer o que realmente diz. No mesmo caminho da busca de entendimento dos textos discursivos, Faria (2007, p. 121) afirma que, [...] a compreensão do discurso não deve se limitar apenas a atos isolados da análise do discurso pontual em determinada situação presenciada. Deve haver uma análise longitudinal, no tempo (histórica) e no conteúdo conceitual do vocabulário utilizado (episteme e o ordenamento dos saberes). [...] O autor acredita que pesquisas realizadas em curtos intervalos de tempo podem não revelar o que realmente deveria revelar tornando necessário na análise de discurso pesquisar um maior intervalo de tempo, por exemplo, ano a ano até que sejam identificados padrões discursivos que sejam fidedignos do enunciado do texto e a mensagem que se quis transmitir. A Análise do Discurso nos estudos organizacionais brasileiros é entendida como uma metodologia com condições de revelar aspectos discursivos em relação ao contexto social, 46 considerado como um apanhado de regras que delimitam um determinado conjunto sociocultural de enunciados. Por meio do contexto e, ao relacioná-lo à linguagem, neste tipo de análise, procura-se ainda incorporar todo o universo simbólico que justifica e legitima as ações dos atores sociais (COELHO, 2012). Conforme Bauer e Gaskell (2010, p. 255), “[...] quando um analista de discurso discute o contexto, ele está produzindo uma versão, construindo o contexto como objeto, em outras palavras, a fala dos analistas de discurso não é menos construída, circunstanciada e orientada à ação que qualquer outra [...]”. Logo, ao se utilizar da análise do discurso, o que o analista realiza são leituras de textos e contextos garantidos de atenção cuidadosa aos detalhes existentes. Em síntese, comparado a outros estilos de análise que suprimem a variabilidade, ou simplesmente encobrem situações que não se adaptam à história que está sendo contada, a análise do discurso exige rigor, a fim de produzir um sentido analítico dos textos a partir da sua confusão fragmentada e contraditória (BAUER; GASKELL, 2010). 2.5 Análise Sociológica do Discurso – ASD A Análise Sociológica do Discurso (ASD) está vinculada à tradição espanhola de Pesquisa Social Qualitativista, principalmente no que tange às concepções de discurso, contexto e coerência (IBÁÑEZ, 1979, 1985; ORTÍ, 1993; MARTÍN CRIADO, 1991; DE LUCAS; ALONSO, 1998, 2002, 2012; ALONSO; CALLEJO, 1999; CONDE, 2009; RUIZ RUIZ, 2009, GODOI, 2005, 2006, 2009; GORDO, SERRANO, 2008). É representada e difundida pela chamada Escola de Madri, capitaneada principalmente por Conde (2009) e Alonso (2008; 2010). A abordagem ASD busca no estudo do campo trabalhar com imagens, sons e textos-documentos e seus respectivos contextos (COELHO, 2012). A Análise Sociológica do Discurso pode ser visualizada em 03 níveis básicos: 1) informacional-quantitativo; 2) estrutural-textual e 3) social-hermenêutica. Em relação à Análise de Conteúdo (AC), difundida principalmente a partir dos estudos de Laurence Bardin nos anos 70, que vem sendo bastante utilizada em pesquisa social, a escola ASD afirma que a AC está inserida no nível 1, informacional-quantitativo. Logo, existe uma vantagem em se utilizar a ASD em detrimento da AC. Considera-se que a segunda (AC) esteja contida na primeira (ASD) (COELHO, 2012). De acordo com Bauer e Gaskell (2010, p. 213), a AC apresenta algumas desvantagens em relação à analise do discurso quando utilizada em pesquisas sociais. Ela possui uma 47 tendência na focalização de frequências, com isso descuida do que é raro e do que está ausente. Para o autor existe na AC um problema de enfoque explicitado pelo questionamento sobre a atenção que o analista deve fornecer em relação ao texto analisado. A atenção deve ser voltada para o que está presente ou o que está ausente no texto (aquilo que foi omitido para não deixar claro o que realmente é). Mesmo fazendo ambas as coisas o viés da AC na análise de textos é para o presente. Algumas características da ASD são influenciadas por Foucault (1971) a partir dos seguintes aspectos (CONDE, 2009; COELHO, 2012): • Os discursos são produções e práticas sociais, não individuais, portanto, considera-se a produção do grupo, evitando considerar as variações pessoais fora de sua concepção como situação social; • Os discursos são produzidos a partir do conjunto de ligações, dos nós das relações sociais entre os sujeitos que falam; • Os discursos sociais formam um sistema estruturado, ordenado e hierarquizado; • A circulação dos discursos sociais responde a uma complexa rede de relações e conflitos sociais, ideológicos, simbólicos, longe de qualquer outro tipo de unilateralismo; • Existe uma diversidade de graus de cristalização e de circulação social dos distintos discursos sociais. A ASD trata de analisar fluxos simbólicos sociais e não somente palavras, sua característica principal de análise é a interdiscursividade do discurso social produzido em relação a outro discurso social. Além de realizar uma análise interna, a ASD trabalha com um discurso contextualizador, ou seja, toda interpretação somente se torna razoável quando situa o texto no contexto – processo chamado de contextualizar (ALONSO, 1998; 2002; COELHO, 2012). Em relação aos aspectos metodológico-técnicos da Análise Sociológica do Discurso, Coelho e Godoy (2013) orientam, com base em Conde (2009), que a análise sociológica do corpo do texto constitui o alicerce da investigação e determina como são estabelecidas as bases de construção do “sistema de discursos”. Para estes autores, o uso dos procedimentos depende do processo criativo e singular de cada pesquisa desenvolvida, o que não deve ser confundido com anarquia metodológica. Para fornecer uma orientação procedimental para a utilização da ASD em processos cujas etapas de operacionalização se tornem flexíveis às análises realizadas em cada pesquisa, Coelho e Godoy (2013) alertam que é necessário realizar trabalhos práticos iniciais, procedimentos de interpretação e procedimentos de análise em ASD. Para tanto se utilizam de 48 quadros explicativos informando o que é importante em cada destas etapas. Os trabalhos iniciais para a prática da ASD recomendados estão dispostos no quadro 09. Quadro 9 - Trabalhos práticos iniciais em Análise Sociológica do Discurso. Etapa(s) Preparação da análise dos textos Tarefas imediatamente posteriores ao trabalho de campo Transcrição literal Leitura ordenada do corpus do texto Preparação do trabalho de leitura Leitura literal do texto Separação entre a decomposição e a abordagem integral do texto Decomposição em unidades elementares Aproximação integral do texto Anotações do texto Trabalhos práticos iniciais de ASD Tarefas realizadas com base no caderno de campo: - Elaboração de um mapa de posições e identificação de pontos de conflito. - Identificação de temáticas significativas; de diferenças entre as entrevistas; de temas que não haviam despertado atenção; de correspondência ou ruptura das perguntas do roteiro. - Análise do contexto das entrevistas/grupo de discussão. - Análise do papel do entrevistador. - Elaboração de um gráfico (sociograma) para ordenar a leitura do texto de maneira sistemática, não meramente aleatória. - Realizar um pequeno escrito com as primeiras intuições, sensações, ideias e conclusões as entrevistas/grupo de discussão. - Procedimento básico para o trabalho de análise e associações dos deslocamentos, tensões, desenhos e expressões. - Inclusão de comentários, pausas, saídas, movimentos, intervenientes. - Realização de anotações para ler várias partes do texto de forma simultânea. - Releitura das transcrições. - Criação de uma ordem provisória de leitura das entrevistas/grupos de discussão. - A ordem pode ter sido estabelecida a partir das notas do caderno de campo ou de transcrição. - Sugestões de critérios: de acordo com desenho da posição social; com peculiaridades; com primeira intuição das posições discursivas. - Leitura idealmente “literal”, com atribuição de igual valor a cada expressão, seja óbvia ou não. - Mudança na maneira habitual de leitura. - Identificação de peculiaridades geradoras de pistas, sem buscar saturação de informações. - Decomposição e fragmentação do corpus do texto em unidades elementares de análise. - Realização posterior de uma síntese (aproximação analítica). - Aproximação do texto de forma global e integral. - Desenvolvimento posterior de um trabalho de análise particularizado e detalhado. (aproximação integrativa). - Realizadas desde primeiras tarefas práticas, em paralelo com a leitura dos textos. - Caracterização, classificação e codificação de conteúdos; marcação de expressões, insights, associações, hipóteses, elementos importantes. Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 11. No que diz respeito a pesquisas com documentos, estes trabalhos iniciais devem ser realizados a partir da preparação da análise dos textos, seguido de leitura ordenada do corpus do texto e leitura literal de cada documento. Ao decompor e fragmentar o corpus do texto em 49 unidades elementares é importante que se realize sínteses que podem partir de trechos discursivos do próprio texto e também da síntese que o analista desenvolve. As particularizações e detalhamentos das anotações ficam a critério de quem está analisando o texto. Para realizar a redação em ASD é importante que as anotações desde o início dos trabalhos de análise e de interpretação possibilitem o surgimento de características, códigos, insights e associações que aproximam a pesquisa aos seus objetivos. Uma vez estabelecido e realizado os trabalhos práticos iniciais recomenda-se seguir com os procedimentos de interpretação propostos por Coelho e Godoy (2011), relacionados no quadro 10. Quadro 10 - Procedimentos de interpretação em ASD. Etapa(s) Elaboração Conjecturas préanalíticas Validação Estilos discursivos Procedimento(s) de interpretação em ASD - Operação conjunta entre a dedução-indução científica e as intuições, conjecturas. - Realização de leitura aberta, atenta à literalidade e expressividade do texto, bem como, aos indícios e evocações neste trabalho. - Atenção à análise da dinâmica das entrevistas/grupo de discussão; ao contexto; aos trabalhos iniciais sobre as notas; aos objetivos da pesquisa. - Atrever-se a pensar e interpretar. - Não existem regras para fazer boas conjecturas, mas existem métodos para validá-las. - Análise da coerência e consistência do conjunto do texto com as conjecturas, com verificação do encaixe da consolidação das conjecturas, ou estabelecimento de novas conjecturas. - Análise das formas expressivas, idiossincráticas, singulares, enunciativas, dos giros expressivos, estilos narrativos e tipos de aproximação/construção discursiva de um fenômeno social em cada entrevista/grupo de discussão. Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 12. Por se tratar de análise de discurso, esta etapa é fundamental para o estabelecimento das conjecturas pré-analíticas de elaboração e validação das interpretações que se apresentam na pesquisa e posteriormente à identificação dos estilos discursivos. Terminados os procedimentos de interpretação que abrangem o trabalho do texto de maneira mais global, iniciam-se as etapas referentes aos procedimentos de análise que deverão resultar na elaboração de um texto escrito dos resultados que constroem, de forma narrativa, o sistema de discursos analisado na investigação. A interpretação e anotação colaboram para a produção de textos de alto nível, e, para que isso ocorra, também é importante destacar as etapas propostas no quadro 11. 50 Quadro 11 - Procedimentos de análise em ASD. Etapa(s) Procedimento (s) de análise em ASD Análise das posições discursivas - Perspectiva ou pontos de vista dos participantes sobre o tema. - Respostas às perguntas: Quem fala? Desde que posição se fala (lugar social)? - Guia geral para a análise e construção dos discursos. - Tensões, conflitos, diferenças de posições e de opiniões expressadas pelos participantes. - Respostas às perguntas: O que está em jogo no que se fala? O que se quer dizer com o que disse? - Geração de uma primeira hipótese sobre dimensões, eixos ou vetores dos textos. - Relaciona-se com a análise de posições discursivas, podendo ocorrer simultaneamente. - Configuração e delimitação dos principais conteúdos e suas materialidades verbais. - Análise dos atores semânticos, dos segmentos argumentativos e discursivos. - Respostas às perguntas: De que se fala? Como se organiza a fala? - Análise do uso da língua, dos discursos concretos dos participantes, e de como esse discurso se vincula ou se dissocia as diferentes formas de abordar o objeto de investigação. - Relaciona-se com o “campo semântico” - conjunto de unidades léxicas, dotadas de organização estrutural subjacente, consideradas como hipóteses de trabalho. - Análise dos desajustes e distâncias entre a análise das configurações narrativas e dos espaços semânticos, em função dos objetivos da pesquisa. Análise das configurações narrativas Análise dos espaços semânticos Relação entre configurações narrativas e espaços semânticos - Análise de temas, conteúdos, expressões que possam parecer desconexas, ilógicas, fora do lugar. - Associações: ligações sintagmáticas e afetivas, que dão indícios de ligações psíquicas Análise das inconscientes. Análise dos conflitos expressos nesse jogo. associações, - Deslocamentos: mudanças de temas, conteúdos, expressões, que assinalam uma posição deslocamentos e defensiva. Indicam conflito, freio, censura, repressão. condensações - Análise dos deslocamentos: existência de conflito, repressão ou censura. - Análise das condensações: interseções de várias cadeias associativas, entendidas como porta de entrada ao latente. - Podem ser utilizadas durante as etapas de análise e ajudam a: expressar, visualizar os Utilização de sistemas de discurso; sugerir a dimensão relacional e contextual dos conceitos gerados; representações criar e validar as conjecturas e as configurações narrativas. Explicitam a evolução no gráficas tempo das posições discursivas, das configurações narrativas e dos espaços semânticos construídos na pesquisa. - Trabalho de escrita narrativa que permite evidenciar as etapas anteriores, configurando Redação da ASD os discursos produzidos como resultados da pesquisa. Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 13. As etapas de análise são as mais importantes por se tratar do objeto fim da Análise Sociológica do Discurso. Busca-se analisar as posições discursivas, as configurações narrativas, os espaços semânticos bem como relacionar as configurações narrativas com os espaços semânticos. Posteriormente a utilização de representações gráficas é realizada e por fim a redação do texto final com base nas análises. Os quadros de orientação técnica para uso da ASD podem ser utilizados como geradores de processos criativos e não simplesmente como um roteiro ou manual de pesquisa (COELHO; GODOY, 2011). 51 A partir da contribuição de Alonso (1998) e Coelho (2012) comparam-se as principais características dos níveis 1, 2 e 3 da ASD quando aproximada à Análise do Discurso, conforme apresentado no quadro 12. Quadro 12 - Aproximação dos níveis da ASD à Análise do Discurso. Parâmetro de análise Informacional-quantitativo Estrutural-textual Social-hermenêutica a) Palavra Texto Discurso social b) Estatística textual e primeiro nível qualitativo (diferencial semântico) Análise internalista do texto Análise internalista e externalista c) Evidenciam-se indícios mais diretos para posterior interpretação Conjunto estruturado de signos Recuperação do sujeito no texto d) Exclui-se de maneira total qualquer de suas possíveis dimensões pragmáticas Materialização do discurso Análise contextual dos argumentos Análise de Conteúdo clássica Análise Semiótica e inclui grande parte da tradição francesa de AD Interpretação sociológica Exemplo Fonte: Coelho, (2012, p. 94). A principal característica é que, enquanto o nível 1 e 2 trabalham com ênfase nas mensagens que um determinado texto analisado possa fornecer, o nível social-hermenêutica está centrado no contexto. Uma vez que o contexto pode gerar o texto, pressupõe-se que o nível 3 possa incluir os níveis 1 e 2 de análise do discurso. Vale ressaltar que a ASD não se trata da Análise Crítica do Discurso (ACD), que se preocupa essencialmente com as mensagens do texto escrito (ALONSO, 2008; FLICK, 2009; COELHO, 2012). Ruiz Ruiz (2009) propôs um processo de Análise Sociológica do Discurso, conforme figura 6. 52 Figura 6 - Processo de Análise Sociológica do Discurso. Discurso como acontecimento singular; Plano de enunciação; Compreensão do discurso. Análise contextual Análise sociológica Discurso como informação, como ideologia ou como produção social; Plano de interpretação; Explicação (sociológica do discurso). Análise textual Discurso como objeto; Plano de enunciado; Caracterização do discurso. Fonte: Ruiz Ruiz, 2009, p. 6; Coelho, 2012, p. 94. No nível de análise textual (semântica do discurso) se analisa o texto em função do sistema da língua, por meio de uma cadeia sintagmática e paradigmática. No nível contextual de análise permite-se compreender o significado do discurso para os envolvidos em sua produção, focalizando, portanto, a interpretação dos discursos dos sujeitos envolvidos em situações sociais. Esse nível já constituiria, na classificação de Alonso, a ASD, no entanto, Ruiz Ruiz (2009) insere a necessidade do nível da interpretação sociológica, no qual só então seria finalizada a ASD. Na análise sociológica o planejamento da ASD passa necessariamente pelos três níveis, considerados como etapas essenciais. Para Ortí (1986), a distinção em três níveis, regiões ou estruturas sociais, tende a se constituir como objetivações teórico-práticas mediadoras da própria análise, que o autor chama de processo de construção sociológica da realidade social (COELHO, 2012). 2.5.1 Análise Sociológica do Discurso Organizacional O discurso organizacional vem ganhando especial atenção dos consumidores que além de divulgar as ações e as concepções da empresa, propõe-se alinhar todas as suas atividades administrativas, financeiras e de marketing à forma de relacionamento com seus públicos de 53 interesse e, principalmente, aos conceitos de responsabilidade socioambientais. Configura-se como a base da empresa, representa sua imagem, o seu apoio, a sua comunicação e a ideia que deseja transmitir, tanto interna como externamente (ALEDI FILHO, 2002). Os valores, a missão e a visão da organização pautam o seu discurso. Ele se estabelece e cria a identidade corporativa; confere interação aos negócios. Há um consenso sobre a elaboração de um discurso próprio e unificado que identifique o todo e cada uma de suas partes; é o discurso que cria a identidade. Ele é o principal meio pelo qual a empresa pode fazer com que seus públicos se identifiquem com a sua causa e se engajem em objetivos comuns e associados à corporação. Os discursos também podem ser apresentados pelas formas discursivas nas organizações. Estas formas levam em conta tanto um saber ideológico caracterizado por evidências doutrinárias, mensagens e discursos especulativos do lado dos problemas, quanto da enunciação de soluções prontas de reconhecimento de mundo e ao mesmo tempo de desconhecimento, por exemplo, se reconhece o que traz vantagem para a organização e se desconhece o que representa desvantagem. Estes discursos são classificados como discurso social comum, discurso ideológico propriamente dito, discurso democrático reflexivo, discurso mítico e discurso teleológico (FARIA 2007). A complexidade das relações entre os diversos atores organizacionais, institucionais e sociais, remete ao questionamento do quão difícil pode ser para uma organização praticar o que se difunde nos seus mais variados discursos. A complexidade na qual uma organização que se propõe a atuar com base no discurso da sustentabilidade, pode ser visualizada na rede de relacionamento da figura 7. 54 Figura 7 - Teia de relações organizacionais para a sustentabilidade. Fonte: Aledi Filho, 2002 apud Coelho, 2012, p. 36. De acordo com Coelho (2012), uma empresa se torna sustentável quando vai para além do discurso de produzir e vender, ao posicionar-se como um agente que promove o desenvolvimento sustentável da sociedade e das comunidades ao seu entorno. As perspectivas econômica e social com uma visão de sustentabilidade devem estar alinhadas à busca pela qualidade do desempenho organizacional. Portanto, a teia de relações entre a organização e os demais atores precede o discurso da sustentabilidade, fazendo com que as práticas sejam difundidas na rede de relacionamento, não como um padrão homogêneo onde as características de cada ator sejam desconsideradas, mas sim, como um fluido que emerge a cada relacionamento a fim de garantir a inovação, viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, integridade ambiental para as gerações atuais e futuras, além de relações harmoniosas que geram imagens positivas de sustentabilidade para as organizações. O discurso organizacional torna-se, portanto, um dos mecanismos pelo qual a organização cria uma realidade social, fundamentada na percepção ou na projeção de sua identidade, permitindo assimilar com clareza a organização como um fenômeno de linguagem. Desta forma, o discurso organizacional também se manifesta a partir de estruturas de informação baseadas em conceitos de mídias, como por exemplo, os sítios eletrônicos que 55 possibilitam a aproximação dos stakeholders da organização. Pelos canais de informação denominados em sua maioria de portal de imprensa, são disponibilizadas as noticias que refletem o discurso da organização, e ainda, vídeos, fotos, imagens colaboram para a representação simbólica do discurso das organizações. A análise das mídias está restrita a observações empíricas que não podem ser comprovadas, isto é, está limitada à análise com base nos efeitos visados e não nos efeitos efetivos; a esses restam apenas meras hipóteses (CHARAUDEAU, 2009). Desta forma, verifica-se que além das informações das ações empreendidas pelas organizações no sentindo da sustentabilidade, o discurso midiático organizacional pode se orientar pelo caminho da educação ambiental como proposto por Leff (2008) e educação social conforme orientado por Fergus e Rowney (2005), ambos tratados pelos autores como processos epistemológicos da sustentabilidade. 2.5.2 Análise do Discurso da Sustentabilidade O discurso da sustentabilidade utiliza a expressão sustentabilidade de forma indiscriminada e muitas vezes não representa o que de fato ocorre no campo. Por isso, é fundamental a análise e compreensão daquilo que as pessoas e as organizações divulgam sobre o assunto, a partir das discussões organizacionais e midiáticas. Nesse contexto, associado ao processo de globalização, o discurso da sustentabilidade é percebido como uma esquizofrenia discursiva e cega institucionalmente, sendo desprotegido de valores integradores de conhecimento através de um saber ambiental que é reduzido aos propósitos de instrumentalização tecnológica e econômica (LEFF, 2008, p. 234). Não é diferente com as organizações em determinados campos, onde a sua manifestação discursiva determina as formas como as relações com os diversos atores irão se estabelecer. O campo dos acontecimentos discursivos é considerado como um conjunto finito e efetivamente limitado das únicas sequências linguísticas que tenham sido formuladas (FOUCAULT, 2008, p. 30). No campo da sustentabilidade, com base em Bordieu (2003), podem ocorrer os processos de violência simbólica. Os atores envolvidos no campo podem apresentar fragilidades marcadas não somente pela luta de classes como propunha Marx, mas também pelo que Sachs (2008) considera como vítimas do processo histórico desenvolvido pela exploração capitalista onde a dimensão econômica predominou demasiadamente sobre as 56 demais dimensões, categorizada por ele como ambientais, ecológicas, sociais, culturais, geográficas e políticas. Desta forma, a violência simbólica é definida como agressão dissimulada, mascarada, invisível, esquecida na qual se supõe o desconhecimento da sua origem, das relações de força que a geraram, constituindo uma imposição à arbitrariedade julgada legítima dentro de cada campo; os ganhos de todos os tipos de capital tendem sempre para os agentes dominantes (Thyri-Cherques, 2008, p. 175). O poder exercido pelo lado mais forte da rede de relacionamento pode ser traduzido em violência simbólica quando seus agentes, por um lado, representam um poder de persuasão, decisão e controle e, pelo lado mais fraco estão os agentes que são os controlados ou dominados, que aceitam a violência como algo internalizado ao seu cotidiano. Como exemplo no campo dos conflitos agrários e sindicais, esta violência pode ocorrer, por exemplo, de trabalhadores rurais sem terra, povos indígenas, atingidos por barragens que sofrem por não terem forças de lutar com outros agentes públicos ou privados (entre eles, os latifundiários da questão agraria), os funcionários que se rebelam contra as construtoras por melhores condições de trabalho, do lado mais fraco. Quando os dominados pelos agentes mais fortes das forças simbólicas estão isolados no campo, acabam por aceitar as condições determinadas pelos dominantes que discursam em função dos primeiros como se a nova realidade traduzisse em melhorias na vida cotidiana, obrigando-os a acreditarem que o melhor para o seu grupo isolado foi realizado. A identidade do agente mais fraco passa a fazer parte do novo ambiente, inclusive do estilo de vida, como algo bem superior ao vivenciado anteriormente (Bourdieu, 2003, p. 124). Para Thiry-Cherques (2008, p. 178), o campo é caracterizado pelas relações de força resultantes das lutas internas e pelas estratégias em uso; sejam estratégias defensivas ou subversivas. Mas, também, pelas pressões externas, porque os campos se interpenetram e se inter-relacionam. O discurso da sustentabilidade e os conflitos reais de interesse se realizam como práticas discursivas, porém ainda não transformados em práticas não discursivas (atos materiais) e caminhos possíveis. A crise ambiental abre novos espaços de participação e de governabilidade democrática no desenvolvimento. O discurso da sustentabilidade se desdobra em um campo de teorias e práticas pela apropriação da natureza, onde a questão do poder e do poder no saber inscrevem estratégias do conhecimento e da educação ambientais associados à perda de alguns privilégios para que a qualidade de vida e os rumos do planeta terra sejam modificados pela sustentabilidade (AFONSO, 2006; LEFF, 2008; FOUCAULT, 2008). 57 A hermenêutica é a base para o processo epistemológico ambiental e consequentemente para a formação do discurso ambientalista cujo campo é heterogêneo e conflitivo onde se confrontam saberes e interesses nas dimensões, perspectivas, paradigmas e visões discursivas da sustentabilidade (GLADWIN, K.K., 1995; MEBRATU, 1998; SACHS, 2003; PEARCE, 1993; LEFF, 2008). A hermenêutica ambiental não é consenso internalizado nos variados discursos de sustentabilidade presentes na sociedade. A construção de um mundo sustentável baseado na diversidade cultural resultará no reconhecimento do saber e poder fecundos no presente se projetando para o futuro que vai além da elaboração de discursos acerca do tema. Tantos conceitos que geraram visões intrincadas em perspectivas, dimensões e paradigmas, não favorece compreensão única da sustentabilidade. De acordo com Leff (2008, p. 248), As distintas vertentes da sustentabilidade terão, pois, importantes repercussões sobre as estratégias e conteúdos da educação ambiental. Os efeitos sobre o processo educacional serão diferentes se a transição para a sustentabilidade global privilegiar os mecanismos do mercado para valorizar a natureza e a mudança tecnológica para desmaterializar a produção e limpar o ambiente, ou se ela se fundar numa nova ética e na construção de uma racionalidade ambiental. O saber no poder, efetivo no discurso da sustentabilidade quando aplicados, por meio de uma hermenêutica e epistemologia que garantam, principalmente, a memória e as identidades presentes e futuras de saber e racionalidade ambiental se efetivam quando formada por seres humanos dotados de conhecimento em educação ambiental que transcenda os atuais limites existentes nesta relação de saber e poder. (LEFF, 2008; BOURDIEU, 2003; FOUCAULT, 2008; THYRI-CHERQUES, 2008). Na órbita do saber ambiental, o campo discursivo da sustentabilidade não emerge único e exclusivamente do conhecimento, mas como um efeito da racionalidade econômica, científica e instrumental que torna o mundo em objetos se sobrepondo à natureza (LEFF, 2004). Esse campo discursivo compreende o real e as identidades culturais e não se estabelece em essência ao jogo de linguagens (discurso), precisa de ancoragem no real. Assim, as leis, limites da natureza, da cultura e do território se vinculam entre o que acontece na realidade juntos aos atores sociais que se apropriam da natureza de acordo com diferentes estratégias, conforme suas necessidades e/ou aspirações (LEFF, 2004). 58 3 METODOLOGIA 3.1 Método(s) Geral e Abordagem Metodológica Os paradigmas de pesquisa são discutidos a luz da ética, da epistemologia, da ontologia e da metodologia. As características básicas do positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e teoria participativa são relacionados com estes paradigmas. Denzin e Lincoln (2000 p. 183) discorrem sobre os paradigmas: [...] ninguém afirmaria que um único método – ou coleção de métodos – representa o caminho mais fácil para o conhecimento supremo. Na investigação de novos paradigmas, contudo, não é apenas o método que promete apresentar um conjunto de verdades embasadas no local ou no contexto, mas também os processos de interpretação. (Denzin & Lincoln, 2000 p. 183). A análise crítica em estudos organizacionais com base em novas dimensões, como o pós-estruturalismo de Foucault, a Teoria Crítica, o simbolismo de Bourdieu, o imaginário de Castoriadis e a teoria da complexidade de Morin, entre outros, são análises críticas não marxistas e que estudam as organizações do ponto de vista das relações de poder (COELHO, 2012). Por outro lado, o construtivismo, a hermenêutica e o interpretativismo, também analisados pelos estruturalistas (Bourdieu) e pós-estruturalistas (Foucault) são relacionados por Denzin e Lincoln (2000, p. 164) como ontologia relativista, de epistemologia transacional e uma metodologia dialética e hermenêutica. O pesquisador que emprega esse paradigma volta-se para a produção de interpretações reconstruídas do mundo social. Desta forma, o presente estudo adota como posicionamento epistemológico a teoria construtivista, cuja abordagem metodológica remete as escolas estruturalistas e pósestruturalistas, cujo método geral é a análise do discurso que está baseada no entendimento da hermenêutica (interpretação e compreensão de textos). O pós-estruturalismo caminha entre as margens da etnologia (Lévi-Strauss) e a psicanálise de Lacan, retomando os caminhos da história por Marx e Althusser e principalmente pela arqueologia do saber de Foucault, estabelecendo um caráter global das abordagens das ciências sociais (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1977). De acordo com Schmidt (2012, p. 11-12) “[...] a hermenêutica trata de teorias para interpretar textos corretamente.” e, O significado filosófico da hermenêutica hoje é determinado principalmente por Hans-Georg Gadamer em Verdade e método, que originalmente seria intitulado Os fundamentos da hermenêutica filosófica. O Editor achou que a palavra 59 “hermenêutica” não era conhecida o bastante para estar no título, por isso a outra opção foi escolhida. Para Gadamer, a hermenêutica é a teoria filosófica do conhecimento que afirma que todos os casos de compreensão envolvem necessariamente tanto interpretações quanto aplicação. Na interpretação de Schmidt sobre o uso da palavra hermenêutica verifica-se que de fato esta postura epistemológica tem sido pouco abordada nas pesquisas sociais, principalmente na área de gestão. A interpretação hermenêutica tende a captar os sentidos latentes e manifestos dos processos de interação social, que vai além das declarações convencionais. Estes sentidos são concretizados por um projeto de definição das estratégias dos atores envolvidos na investigação que é progressivamente objetivada para sua contextualização no conjunto de forças sociais que acompanham os sujeitos da investigação, o investigador e a própria investigação (ALONSO, 2013). Por isso, optou-se pela Análise Sociológica do Discurso surgida a partir da variante da hermenêutica denominada socialhermenêutica que, para Alonso (2013, p. 1), é uma tradição própria do conhecimento sociológico desde o primeiro momento de formação da sociologia interpretativista clássica. Esta tradição é diferente da atual desconstrução pós-moderna e sua ideia sobre o poder total do texto. A lógica da análise sociológica dos discursos - como análise compreensiva e interpretativa e como um tipo de trabalho específico - é quando comparado tanto às análises quantitativas de conteúdo quanto às análises estruturais de texto de origem linguística, o que a torna distinta das análises de discurso tradicionais (ALONSO, 2013). 3.2 Tipo de Pesquisa e Métodos de Procedimentos O método geral de pesquisa utilizado é o qualitativo, que é uma forte característica da escola de tradição espanhola de ASD, em que o termo qualitativista apresenta-se imbuída na sua denominação. A pesquisa qualitativa de acordo com Creswell (2007, p. 208) “[...] capta tanto perspectivas tradicionais quanto perspectiva defensiva, participatória e auto reflexivas mais recentes da mesma”. As principais características da pesquisa qualitativa são o ambiente natural em que as interações ocorrem face a face no decorrer do tempo, o pesquisador como instrumento fundamental, coletando os dados, examinando documentos, observando comportamentos, entrevistando os participantes, as múltiplas fontes de dados que são coletadas, a análise indutiva que constroem unidades de informações cada vez mais abstratas, o significado dos participantes cujo foco é o aprendizado destes e, principalmente o aprendizado sobre o problema através da emergência do projeto, da lente teórica, da 60 interpretação e do relato holístico que vão determinar a alta complexidade da pesquisa (CRESWELL, 2007). O campo qualitativo tornou-se uma das principais fontes de criação e de inovação no esforço da pesquisa científica. A pesquisa como processo relacional faz análise textual e propõe novas formas de análise, a exemplo da Análise Sociológica do Discurso (ASD) (DENZIN; LINCOLN, 2006; COELHO, 2012). Quanto aos fins a pesquisa possui caráter descritivo que exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Neste estudo optou-se pelo método de procedimento de pesquisa documental que para Siena (2007 p. 66), Este tipo possui características semelhantes àquelas referidas para pesquisa bibliográfica, diferindo desta em relação às fontes dos dados. A pesquisa documental é elaborada utilizando materiais (documentos, banco de dados, etc.) que não receberam tratamento analítico ou que podem ser reelaborados pelo pesquisador. O tipo de análise também depende dos objetivos da pesquisa e podem assumir formas diversas, desde a análise de conteúdo (perspectiva qualitativa ou quantitativa) até estudos essencialmente quantitativos. A pesquisa documental muitas vezes não é bem vista no meio acadêmico, uma vez que a tradição predominante no meio científico é de que toda pesquisa precisa de uma aplicação empírica (no cotidiano do campo estudado). Mesmo assim, como foi observado por Siena (2007) é possível realizar boas pesquisas principalmente no campo qualitativo a partir de documentos, com adoção de técnicas de análise como a análise de conteúdo e a análise do discurso. Bauer e Gaskell (2010) ao analisarem textos, som e imagens propuseram que o processo de documentação da pesquisa qualitativa deve levar em consideração os aspectos da fidedignidade e da validade dos dados. Logo existe uma preocupação em identificar indicadores de polissemia do texto no lado da fidedignidade e, do lado da validade, a garantia de que os códigos utilizados se refiram às palavras usadas no texto (validade semântica). Para tanto, ao se utilizar da pesquisa documental para analisar conteúdo e discurso o processo de documentação deve ser muito bem detalhado como propõem Bauer e Gaskell (2010, p. 206). “[...] A documentação detalhada do processo de codificação assegura uma prestação pública de contas, e serve para que outros pesquisadores possam reconstruir o processo caso queiram imitá-lo. A documentação é um ingrediente essencial da objetividade dos dados”. 61 Desta forma, foram investigados e analisados documentos organizacionais do período de 2007 a 2014, entre eles: relatórios de sustentabilidade, diretrizes dos programas de compensações (denominados Programas Básicos Ambientais), informativos, notícias e releases, clipping (divulgados pelas organizações) e estudos preliminares. O esquema prático de procedimentos e análise adotados para realização desta pesquisa pode ser visualizado pela figura 8. Figura 8 - Esquema de procedimento e análise sociológica do discurso. Problema de pesquisa: Quais as características do discurso organizacional da sustentabilidade das Empresas das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira? Posicionamento epistemológico: Teoria Construtivista Conjectura analítica Sistematização do método de Análise Sociológica do Discurso (ASD) Análise do discurso organizacional Posições discursivas; Espaços semânticos; Configurações narrativas. Posicionamento teórico: Sustentabilidade como discurso C o n s t r u ç ã o d i s c u r s o Fontes discursivas organizacionais: - Relatórios (RS); - Diretrizes (PBA); -Releases e notícias; -Estudos preliminares. Posicionamento metodológico: Análise Sociológica do Discurso (ASD) Organização/ setor estudado: empresas de energia elétrica Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Coelho, 2012. Como método de análise, a opção é pela abordagem metodológica “Análise Sociológica do Discurso” (ASD). Ao utilizar esta abordagem intentou-se priorizar o estudo no campo a partir de textos-documentos e seus respectivos contextos (COELHO, 2012), pois para entender e analisar os enunciados é necessário levar em consideração o contexto no qual 62 eles ocorrem: tanto discursivo quanto o “contexto interativo local”, sendo uma condição predominante na pesquisa qualitativa (FLICK, 2009, p. 298). O discurso não trata, especificamente, da língua ou da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem o objeto de estudo que interessa é o discurso e sua forma de produção de sentido. Assim, ao perseguir o desafio de construir interpretações, a análise do discurso parte do pressuposto de que um sentido oculto deve ser captado, o qual, sem uma técnica apropriada, permanece inacessível (ORLANDI, 1999). Foram reconstruídos oito anos da “história discursiva” – de 2007 até 2014 – das empresas de energia do rio Madeira acerca da sustentabilidade, com base em documentos que possibilitaram a construção do percurso semântico do tema sustentabilidade nestas organizações. 3.3 Paradigmas, Dimensões e Categorias do Discurso da Sustentabilidade Os conceitos e as visões, a evolução histórica, e o discurso da sustentabilidade, por meio dos teóricos que se fazem presentes neste estudo foram dispostos ao longo do trabalho com a finalidade de garantir respaldo ao posicionamento técnico. De acordo com Siena (2007, p. 95): “Definir um termo, categoria ou uma variável é expressar o seu significado e informar a maneira pela qual será realizada a mensuração (medida ou observação)”. A partir do referencial teórico foi possível definir os paradigmas e as dimensões, as categorias e as características observáveis do discurso da sustentabilidade das organizações pesquisadas. A definição do discurso da sustentabilidade foi baseada nos paradigmas de Gladwin, Kennely e Krause (1995) conforme descrito no quadro 13. Quadro 13 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme paradigmas de Gladwin Kennely e Krause. Paradigma Descrição Característica do discurso Tecnocentrism Visão econômica clássica “Econômico” Sustaicentrism Encontro das posições científicas radicais “Sustentabilidade” Visão ecológica profunda “Ecológico” Ecocentrism Fonte: Elaborado pelo autor. As visões discutidas por Mebratu (1998) colaboram com o paradigma da sustentabilidade. Ao lado do desenvolvimento econômico encontra-se a visão institucional capitaneada pelas Nações Unidas (ONU), enquanto do lado ecológico observa-se a visão ideológica representada pelos movimentos eco-feministas, eco-religiosos e eco-socialistas. A 63 visão acadêmica navega pela economia ambiental, ecologia profunda e ecologia social, representando o objetivo final da sustentabilidade enquanto discurso: a plena integração da natureza, economia e sistemas sociais pela integração destes objetivos (MEBRATU, 1998). Foi possível associar os paradigmas às dimensões da sustentabilidade propostas por Sachs (2003), que são orientadas para o objetivo e para o problema desta dissertação conforme apresentado na figura 8. No quadro 14 são apresentadas as seis dimensões, com suas respectivas descrições e as características relacionadas a cada dimensão com vistas ao discurso da sustentabilidade no processo de investigação da pesquisa. Quadro 14 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme dimensões de Sachs. Dimensão Descrição Sustentabilidade social Sustentabilidade econômica Redução substancial das diferenças sociais; Alocação e gestão mais eficiente dos recursos; Respeitar e aumentar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais; Uso dos mais variados ecossistemas com mínima deterioração; Relação mais equilibrada entre campo e cidade, evitar a concentração geográfica de populações; Respeito aos ecossistemas, cultura e valores locais. Sustentabilidade ambiental Sustentabilidade ecológica Sustentabilidade espacial e geográfica Sustentabilidade cultural Característica do discurso “Social” “Econômico” “Ambiental” “Ecológico” “Territorial” “Cultural” Elaborado pelo autor. Apoiado no estudo das dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008), o objetivo do conteúdo do quadro 14 foi identificar as características do discurso: social, econômico, ambiental, ecológico, territorial e cultural identificadas nos textos e imagens que representam o discurso da sustentabilidade das organizações pesquisadas. Alguns termos foram utilizados para a identificação de categorias prévias do discurso da sustentabilidade que orientaram o processo de coleta dos dados nos documentos analisados, bem como no processo de análise sociológica do discurso das empresas SPE/SAE e SPE/ESBR, conforme quadro 15. 64 Quadro 15 - Termos e categorias discursivas iniciais da pesquisa. PARADIGMA / DIMENSÃO Termos de pesquisa para identificação do discurso da sustentabilidade TECNOCENTRISMO SUSTENTABILIDADE ECOCENTRISMO Deslocamento populacional Comunidades assistidas continuamente (RSC) Preservação de reservas indígenas Reconfiguração urbana e rural Saúde, Educação, Segurança. Preservação da fauna e da flora Riscos civis Geração de emprego/renda Apoio a agroecologia Compensações financeiras Participação social (inclui movimentos organizados) Respeito às tradições locais Indenizações Participação pública Autonomia Obras públicas Desenvolvimento local Apoio a RESEX Fonte: Elaborado pelo autor. A partir do conteúdo dos quadros 13, 14 e 15, os textos coletados foram operacionalizados a partir da identificação das posições discursivas, espaços semânticos e configurações narrativas no contexto dos discursos analisados. Para realizar a operacionalização foram utilizados códigos. À medida que a leitura dos documentos foi sendo realizada e os padrões discursivos foram se repetindo, foram construídas funções discursivas, apresentadas na análise e nos resultados desta pesquisa. Bauer e Gaskell (2010, p. 209) alertam para os dilemas existentes entre a fidedignidade e a validade dos dados relacionados à codificação, [...] Uma codificação simplificada pode permitir resultados fidedignos, mas pouca informação. Por outro lado, uma alta fidedignidade é difícil de ser conseguida para uma codificação complexa, embora os resultados provavelmente sejam mais relevantes para a teoria e para o contexto prático. (Bauer e Gaskell, 2010, p. 209). Neste sentido, buscou-se com a codificação proposta nos quadros 13,14, e 15 utilizar uma codificação simplificada, e nos códigos incorporados ao longo das leituras uma codificação mais complexa em função dos padrões discursivos que foram surgindo o que favoreceu significativamente a busca por resultados relevantes tanto para o contexto teórico quanto para contexto prático da pesquisa. Além dos padrões discursivos, a escrita da redação final do texto de análise e resultados contou com recursos gráficos para melhor compreensão do discurso da sustentabilidade no espaço de tempo longitudinal como proposto por Faria (2007), Coelho e Godoy (2010). Em relação à analise do discurso, Bauer e Gaskell (2010, p. 248) apontam que depois da fidedignidade e da validade dos dados, uma terceira característica que deve ser uma preocupação do analista de discurso é com a função discursiva, vista como prática social. Os 65 atores sociais estão continuamente orientados pelo contexto interpretativo em que se encontram e constroem o discurso para que os outros atores possam se ajustar a esse contexto. A Análise Sociológica do Discurso (ASD) realizada apresentou todas estas características indicadas por Bauer e Gaskell (2010). As funções discursivas são utilizadas na ASD a partir dos padrões discursivos identificados pelos quais surgiram os posicionamentos discursivos que caracterizam o contexto analisado. 3.4 Tipos de Dados, Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados O procedimento de coleta de dados foi realizado mediante pesquisa documental por meio da leitura de relatórios de sustentabilidade, diretrizes dos programas de compensação (PBA ‘s’), notícias e releases organizacionais. O espaço temporal está compreendido entre 2007 e 2014. No quadro 16 estão descritos a quantidade e o tipo de documentos coletados. Quadro 16 - Coleta de dados – Documentos de 2007 – 2014. Nº ANO EMPRESAS UHE NOTÍCIA/ E.P. / R.S. R.A/RSA D.P. RELEASE/ PBA'S' CLIPPING TOTAL Energia Sustentável do ESBR 24 34 1233 14 1305 Brasil GDF Suez 2 2007-2014 ESBR 7 7 Tractebel Energia 3 2008-2012 Chesf - Eletrobrás ESBR 4 2 6 Eletrosul 4 2008-2012 ESBR 2 3 5 Eletrobrás 5 2008-2011 Eletrobrás ESBR 4 4 Santo Antônio 6 2012-2014 SAE 8 128 23 159 Energia Odebrecht 7 2007-2014 SAE 9 9 Participações 8 2007-2013 Furnas SAE 3 6 9 9 2008-2013 Cemig SAE 6 6 Ministério Público 10 2007-2014 12 12 Estadual 11 2007-2014 IBAMA 1 1 2007-2014 Total 26 52 34 1361 50 1523 Legenda: RS – Relatório de Sustentabilidade, R.A – Relatório Anual, R.S.A – Relatório Socioambiental, D.P. Diretrizes de Programas, E.P. – Estudos Preliminares, PBA‘S’ – Programas Básicos Ambientais. Fonte: Elaborado pelo autor. 1 2008-2014 Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados: acesso ao site das organizações, instituições e sítios eletrônicos, cujos relatórios, notícias e releases, diretrizes de programas de compensações organizacionais, documentos institucionais encontravam-se disponíveis. Os 66 documentos foram arquivados em ambiente adequado de acordo com a característica de cada documento. 3.5 Procedimentos para Organização dos Dados Para Bauer e Gaskell (2010, p. 251), textos de domínio público não precisam ser transcritos, como, por exemplo, artigos de jornais (notícias, releases e clipping) relatórios de uma companhia (relatórios de sustentabilidade), registros de debate parlamentar (audiências públicas), caso contrário a transcrição é fundamental. Dificuldades foram encontradas em localizar textos em determinados contextos, o que levou a decisão de organizar os dados de forma a garantir consultas constantes. Esta organização deu-se em forma de relatórios e redes gerados a partir do software ATLAS ti. Os dados foram estruturados por meio da adaptação dos procedimentos propostos por Cresswell (2007) e Flick (2007) valendo-se da sequencia apresentada no quadro 17. Quadro 17 - Organização e sistematização dos dados. Identificação dos Relatórios de Sustentabilidade, programas (PBA ‘s’), releases, notícias, estudos preliminares; Seleção e transcrição de trechos discursivos da Missão, Visão, Princípios, Valores, Crenças e b) Políticas. c) Leitura cética das transcrições e codificação para exame, realce e seleção dos focos de análise; Identificação de padrões discursivos e funções (que se repetem entre as empresas) das expressões d) associadas à sustentabilidade; e) Interpretação das unidades de significados presentes nos trechos analisados; f) Sistematização dos dados em arquivos manuais e eletrônicos. Exemplo Trecho do discurso - Padrões discursivos - Funções discursivas Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Coelho e Godoy, 2010, p. 77. a) Desta forma os dados foram organizados de tal forma que representassem o discurso da sustentabilidade captado nos documentos analisados. 3.6 Procedimentos para Análise e Interpretação dos Dados Para Creswell (2007, p. 216) “[...] a análise de dados qualitativos é conduzida concomitantemente com a coleta de dados, a realização de interpretações e a redação de relatórios”. À medida que os dados são coletados o pesquisador se posiciona diante de inúmeros dados que podem ser semelhantes, pertencentes a uma mesma categoria. No 67 entanto, à medida que o volume destes dados aumenta corre-se o risco de informações valiosas deixarem de ser processadas. Existem vários softwares disponíveis no mercado, porém nem sempre são os mais adequados para a finalidade a que a pesquisa se propõe. Em função das características desta pesquisa e as recomendações, optou-se por utilizar o software ATLAS.ti para auxiliar na realização dos procedimentos de análise dos dados (FLICK, 2007). A interpretação foi realizada a partir de representações gráficas elaboradas pelo autor e pelas redes de relacionamento geradas pelo software Atlas Ti durante a etapa de análise. Estas contribuíram para expressar e visualizar os sistemas de discurso; sugerir a dimensão relacional e contextual dos conceitos apresentados; criar e validar as conjecturas e as configurações narrativas. Além disso, colaboraram para explicitar a evolução no tempo das posições discursivas, das configurações narrativas e dos espaços semânticos construídos na pesquisa. A redação da análise e resultados constitui o trabalho de escrita narrativa permitindo evidenciar as etapas anteriores, configurando os discursos produzidos como resultados da pesquisa. O caminho da interpretação não deve conduzir a nenhuma arbitrariedade do pesquisador; a interpretação adquire sentido quando reconstrói, com relevância, o seu campo de forças sociais dando lugar a investigação, e quando a chave interpretativa é coerente com os próprios objetivos concretos da investigação, surge um duplo enfoque pragmático pragmática dos discursos sociais, pragmática da estratégia de investigação (Alonso, 2013). 68 4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO O processo de construção da ASD foi realizado conforme a proposta metodológica apresentada na figura 8 que, além das conjecturas analíticas necessárias para iniciar a construção da análise, utilizou-se da análise das posições discursivas, das configurações narrativas e dos espaços semânticos. Na análise das posições discursivas buscou-se responder as perguntas “quem fala? Desde que posição se fala?”. Da análise das configurações narrativas “o que está em jogo no que se fala? O que se quer dizer com o que disse?”. Na análise dos espaços semânticos “de que se fala? Como se organiza a fala?”. A relação entre as configurações narrativas e os espaços semânticos em função dos objetivos da pesquisa. Foram identificados trechos discursivos nos textos com características da sustentabilidade simétricos aos padrões e funções discursivas complementares às análises propostas com o uso de representações gráficas. Por fim, realizou-se a redação da ASD por meio de escrita narrativa que permitiu evidenciar as etapas anteriores, configurando os discursos produzidos como resultados da pesquisa referente aos 08 anos (2007-2014) das empresas das usinas hidrelétricas no contexto do rio Madeira. 4.1 Contextualização do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) do Rio Madeira Os estudos sobre os aproveitamentos hidrelétricos no Brasil, principalmente na Amazônia, têm sido realizados a partir de longos processos de licenciamento que inclui diversas fases que requer tanto a participação dos agentes públicos, representantes da sociedade, quanto a participação de agentes privados na elaboração, execução e operação, principalmente na geração e distribuição de energia elétrica. Por um lado, o governo brasileiro em nome do crescimento e desenvolvimento, a partir da garantia de geração de energia elétrica desenvolve sua agenda conforme as necessidades apontadas em estudos encomendados pelos seus próprios ministérios e referendados pelas agencias nacionais reguladoras. Por outro lado, as empresas tanto públicas quanto privadas, a fim de implementar o seu planejamento estratégico, se lançam a assumirem responsabilidades tanto com o governo brasileiro, quanto com a sociedade. De acordo com o Art. 1º, Inciso I, Resolução CONAMA nº 237 de 19/12/1997, o Licenciamento Ambiental é um procedimento administrativo obrigatório que precede a instalação, a ampliação e a operação de qualquer empreendimento ou atividade considerada 69 efetiva ou potencialmente poluidora ou que possa, sob qualquer forma, causar degradação ambiental. As principais diretrizes para a execução do licenciamento ambiental no Brasil são expressas na Lei nº 6.938/1981 e nas Resoluções CONAMA nº 001/1986 e nº 237/1997. Baseado no art. 10 da Lei 6.938 de 31/08/1981 e da Resolução CONAMA nº 237 de 19/12/1997, através do Licenciamento Ambiental, o órgão competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser observadas ao longo da implantação e operação do empreendimento, Este processo poderá ocorrer na esfera municipal, estadual ou federal. Na esfera federal, o licenciamento ambiental compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O processo de licenciamento ambiental consiste em 03 (três) etapas principais, as quais resultam na emissão das seguintes licenças ambientais: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO). Para solicitação de cada licença, o órgão ambiental competente define os estudos ambientais e documentos cabíveis, os quais deverão ser apresentados previamente pelo empreendedor. Os estudos necessários ao processo de licenciamento ambiental devem ser realizados por profissionais legalmente habilitados, a expensas do empreendedor. Baseado nestas informações, o órgão estabelece as condicionantes, específicas para cada etapa do licenciamento ambiental e que devem ser devidamente atendidas antes da solicitação da licença ambiental seguinte, e assim sucessivamente. Assim, é correto afirmar que as licenças ambientais podem ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade. Neste contexto e arcabouço normativo, as usinas hidrelétricas do rio Madeira foram constituídas a partir de um processo de estudos, elaboração, aprovação e licenciamento ambiental dos empreendimentos. As etapas iniciais que antecederam ao licenciamento ambiental para inicio das obras estão resumidas no quadro 18. Quadro 18 - Contexto de viabilidade dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira. 2002 2003 2005 Publicado no Diário Oficial da União o Despacho da ANEEL que aprova o Estudo de Inventário do Rio Madeira, contemplando os aproveitamentos hidrelétricos Santo Antônio e Jirau, elaborado por Furnas Centrais Elétricas e a Construtora Norberto Odebrecht (CNO); Furnas e CNO solicitam à ANEEL registro para elaboração dos estudos de viabilidade; ANEEL aceita o registro dos estudos de viabilidade realizados por Furnas e CNO; A ANEEL disponibiliza para consulta os estudos de viabilidade técnica e econômica e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) das usinas hidrelétricas Jirau (3.300 MW) e Santo Antônio (3.150 2006 MW). A Agência Nacional de Águas (ANA) declara a garantia de disponibilidade hídrica necessária à viabilidade do empreendimento; A ANEEL aprova os estudos de viabilidade e o IBAMA publica a Licença Prévia (LP), com 33 2007 condicionantes que devem ser cumpridas para a validade da LP. Fonte: Elaborado pelo autor com base no sitio eletrônico da ESBR, 2014. 70 A partir do fim do ano de 2006 ocorreu uma mobilização principalmente local e regional em torno do debate acerca dos aproveitamentos hidrelétricos no rio Madeira. O processo de licenciamento ambiental e discussão com a sociedade avançou a partir do ano de 2006 até o ano de 2008, período compreendido pelas consultas às comunidades locais, emissão da Licença Prévia (LP) e emissão da Licença de Instalação (LI). De acordo com o Ministério Público do Estado de Rondônia, no dia 27 de novembro de 2006 na cidade de Porto Velho/RO foi realizada uma das principais Audiências Públicas para providenciar o debate democrático acerca do complexo tema que envolveu o licenciamento ambiental dos Aproveitamentos Hidrelétricos (AHE‘s’) do rio Madeira. [...] Na sequencia, o Procurador-Geral discursou: “Embora a maioria não se aperceba disso, a reunião de hoje, secundada de tantas outras, será uma das mais importantes realizadas pelo Ministério Público do Estado de Rondônia”. Estamos fazendo história. Estamos delineando o futuro de todas as gerações desta parte do nosso País, desta parte do Planeta. (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2006, p. 1). Para validar as ações do processo de Licenciamento Ambiental, de acordo com seu regulamento, foi publicado o Edital de Convocação das Audiências Públicas em locais considerados estratégicos da área diretamente afetada. Além da capital Porto Velho, no mês de novembro de 2006 foram realizadas audiências publicas nas localidades de Jaci-Paraná, Abunã e Mutum-Paraná (distritos de Porto Velho). A cronologia dos acontecimentos consta no trecho discursivo extraído da ata da audiência em 27/11/2006, [...] Discorreu sobre o estágio de Licenciamento Ambiental do Projeto 2004/2005; aprovação pelo IBAMA dos Termos de Referência para o estudo ambiental 2003/2006; Elaboração do EIA-RIMA pela Construtora Leme Engenharia Fev a julho/2006; Pedidos de complementação pelo IBAMA Jul a Ago/2006; Entrega das complementações Junho/2006; Termo de Compromisso Ambiental entre MP/RO e a Odebrecht Set/2006; Aceitação pelo IBAMA do estudo ambiental Out/2006; 1ª versão do Relatório de Análise do Conteúdo do EIA/RIMA Nov/2006; Realização das Audiências Públicas, Estágio de Licenciamento Ambiental do Projeto; sobre as próximas etapas deferimento da licença prévia, que determina os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas licenças de instalação e operação; Realização do Leilão de energia; e por fim, Edital Público Elaboração do Plano Básico Ambiental – PBA, a ser aprovado pelo IBAMA, que pode ser submetido a audiências públicas; Obtenção da Licença de Instalação – LI. (COBRAPE, 2006, p. 1) O Ministério Público Estadual (MP/RO), em 26 de junho de 2006, assinou um Termo de Compromisso Ambiental (TCA) junto ao empreendedor, de modo a viabilizar o presente documento, com o apoio de um grupo de especialistas de notório conhecimento e especialidade nas áreas temáticas afetas aos empreendimentos. O resultado destes estudos e as 71 conclusões foram necessários para amparar e orientar as ações do MP em relação ao processo de licenciamento das obras e respectivas operações no Rio Madeira (COBRAPE, 2006). Enfatizo aos presentes o caráter pioneiro de que tal Termo de Compromisso Ambiental, que prima por ser o primeiro no país a atuar de forma preventiva, dando a conhecer ao EIA/RIMA referente ao empreendimento antes do início das obras. Permite-se assim que os ajustes sejam feitos, de modo a minimizar os danos ambientais, evitando-se desde logo, a majoração do impacto negativo no entorno e paralisações das atividades. (COBRAPE, 2006, p. 3) O estudo, encomendado pelo Ministério Público do Estado de Rondônia (MP/RO) e realizado pela Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE) em 2006, custeados pelas empresas Furnas Centrais Elétricas S.A. e Construtora Norberto Odebrecht S.A., objetivou análises críticas dos impactos que poderiam ser provocados pela implantação e operação dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira, à época denominada Santo Antônio e Jirau. O trecho discursivo que resume a função discursiva do MP/RO foi transcrito do documento da COBRAPE (2006, p. 37), De fato, o complexo das hidrelétricas é uma obra estratégica, envolvendo e desencadeando uma série de efeitos sobre as dimensões econômica, social, ambiental e institucional, conectando-se a uma lógica de desenvolvimento que, naturalmente, extravasa os limites do município de Porto Velho e do Estado de Rondônia, afinal implica na discussão da matriz energética nacional, nos planos e propostas de desenvolvimento econômico regional, na conexão territorial e logística (hidrovia, ferrovia, rodovia, aeroportos, etc.) e, essencialmente, nas diretrizes para a sustentabilidade da região amazônica. (COBRAPE, 2006, p. 37) Além de apontar para vantagens do ponto de vista da sustentabilidade nas suas dimensões econômica, social, ambiental e institucional, o estudo teve como premissa orientar as ações das empresas participantes dos empreendimentos tanto do ponto de vista da sustentabilidade quanto da geração de energia e integração regional. O processo de Licenciamento Ambiental, apoiado pelas audiências públicas são momentos importantes de consulta pública, através dos quais são colhidas as manifestações da sociedade sobre o empreendimento proposto. E é após as audiências públicas que o órgão licenciador recebe, durante determinado tempo estipulado por competência legal, demais questionamentos levantados além dos registrados quando da exposição do assunto. (COBRAPE, 2006) Nas audiências publicas, a exemplo da realizada em Porto Velho foi possível captar 2 posições discursivas que foram confrontadas nas falas dos participantes. Aqueles que estavam a favor da construção das usinas e aqueles que mesmo sendo contra reivindicavam a suspensão do processo de licenciamento ambiental por um período suficiente para que toda a 72 sociedade tivesse chance de aprofundar-se no conhecimento necessário para a tomada de decisão. O MP/RO em um de seus discursos, logo no inicio do encontro esclarece, Não há, por parte do Ministério Publico Estadual de Rondônia, nenhum interesse em inviabilizar a instalação do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, mas não se pode dele afastar o dever de conhecer os estudos realizados, as consequências ambientais e sócio-econômicas de sua instalação bem como a aplicação de medidas mitigadoras e compensatórias, visando a garantia de preservação do meio ambiente. Tanto assim é que o próprio termo de compromisso ambiental significa a cooperação mútua, entre quem realiza o EIA/RIMA e quem tem o dever de fiscalizar, já desde os estudos iniciais, a futura execução da obra, que segundo a revista EXAME de 20.06.06, repita-se da ordem de 20 bilhões de reais. (COBRAPE, p. 2) O discurso do MP/RO deixa bem claro o seu posicionamento favorável à realização dos empreendimentos, tanto que ao longo da audiência diversos questionamentos foram expostos na busca por esclarecimentos sobre a obra, com indagações diretas ao MP/RO de sua função social de defesa dos interesses do povo, e não dos interesses dos empreendedores, como pode ser observado nos trechos discursivos do quadro 19. Quadro 19 - Algumas posições discursivas contrárias à realização da obra. [...] Eu quero saber porque a população ribeirinha, ou seja, milhares de famílias devem, devem aceitar entregar suas terras, nas quais construíram suas vidas, e das quais dependem sua subsistência e cultura, por uma indenização que elas não sabem nem o quanto será? Onde estão os direitos humanos? Porque o povo que vive na Siomara da Costa margem do rio e que não entende essa linguagem técnica nem sequer foi visitado? Alves – Comunidade [...] Se há tanto risco de apagão, porque não investir então nas 23 usinas menores que juntas garantem a mesma quantidade de megawatts, exigem menos tempo de Maravilha (p. 16) construção, e já tem licença ambiental, portanto, menos impactos [...] Porque Porto, Porto Velho deve aceitar virar um canteiro de obras, perdendo sua identidade, a ferrovia Madeira-Mamoré, sua história, sendo o aspecto turístico fortemente afetado pela explosão de suas cachoeiras [...]? [...] Além das usinas atuais, de Santo Antônio e de Jirau, existem uma série de outros José Avelino Costa (p. empreendimentos muito grandes previstos aqui na área da Amazônia legal. [...] a pergunta é: o impacto sócio-ambiental de todos os empreendimentos não deveria ser 18) estudado em conjunto? Porque estudar cada um deles isoladamente pode acabar minimizando o que a gente tá deixando pras gerações futuras em termos, de alagamento de florestas, e etc.. Elaborado pelo autor com base em COBRAPE, 2006. O início precoce das obras configurou-se como um dos principais fatores para a necessidade de aprimorar a discussão sobre as usinas, tanto para os defensores do discurso contrário, quanto os defensores da realização dos trabalhos conforme cronograma do MME e dos empreendedores. O curto espaço de tempo de realização das audiências públicas (menos de 30 dias), concentrada no mês de novembro de 2006 causou desconfianças nos participantes. Mesmo assim, de a fala do Procurador-Geral do MP/RO, na relação MP e 73 sociedade foi de dever cumprido como representante do povo que assume o seu papel junto aos seus patrões, [...] Encerrados os questionamentos, Dr. Abdiel tomou a palavra: Como foi dito anteriormente, as, as cartas desse empreendimento não são, não são dadas, não foram criadas, regras pelo Ministério Público do Estado de Rondônia. Eu, eu penso que o simples fato de estarmos aqui ouvindo, inclusive acusações de coadjuvantes de empreendedores, mostra que essa é uma praça democrática. Mostra que todos aqui tem voz e estão sendo ouvidos. Até quem é lá de Maravilha, da comunidade Maravilha. Até quem é do outro lado do rio Madeira. Significa que nós estamos cumprindo o papel que nos cabe neste contexto. Em momento algum, nós dissemos que somos a favor ou contra o empreendimento. Nós somos, é, nos somos participantes, nos somos acurados personagens desse ônibus que queremos não perder a viagem. (COBRAPE, 2006, p. 21) A análise deste trecho discursivo define a posição discursiva do MP/RO no contexto inicial à construção dos empreendimentos hidrelétricos do rio Madeira. A hermenêutica do discurso pode ser vista sob várias perspectivas, mas, nesta pesquisa, o que se observa é a existência de fluxos simbólicos geradores de violência simbólica conforme proposto por Bourdieu (2003); Thiry-Cherques (2008). A forma de menção ao público participante, tanto do lado dos empresários locais, quanto do lado dos ribeirinhos é a prova que pouco adiantaria manifestações contrárias à certeza dos benefícios que as obras poderiam trazer para a cidade de Porto Velho. A LP 251/2007 foi concedida pelo então presidente substituto do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente - IBAMA, Sr. Benedito Alves Margarido Neto no dia 09 de julho de 2007 ao empreendedor Furnas Centrais Elétricas S.A. registrado no órgão licenciador sob o processo de nº 02001.003771/2003-25. A citação do documento está no trecho discursivo: Expedir a presente Licença Prévia ao: [...] relativa aos Aproveitamentos Hidrelétricos de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, estado de Rondônia, município de Porto Velho, com potências instaladas de 3.150 MW e 3.300 MW, e áreas dos reservatórios de 271,3 km² e 258 km², respectivamente. A obra é composta por dois barramentos a fio d'agua, duas casas de força, vertedouros e turbinas tipo bulbo. Esta licença Prévia é válida pelo período de 02 (dois) anos, a contar da presente data, estando sua validade condicionada ao cumprimento das condicionantes constantes no verso deste documento, que deverão ser atendidas dentro dos respectivos prazos estabelecidos, e dos demais anexos constantes do processo que, embora não transcritos, são parte integrantes deste documento. (IBAMA, 2007, p. 1) A LP é a principal referência para a finalização desta fase do processo de licenciamento ambiental, na qual se apresentaram as exigências a serem cumpridas nas etapas de elaboração dos Projetos de Engenharia e de elaboração do Plano Básico Ambiental, já na fase de Licenciamento de Instalação (LI). 74 As condicionantes estabelecidas na LP 251/2007 versam sobre uma série de questões a serem atendidas, conservadas, viabilizadas e monitoradas pelo empreendedor do AHE. Entre estas foram verificadas em forma de discurso a presença de padrões excessivamente ambientais e ecológicos, no entanto todas as dimensões da sustentabilidade foram de alguma forma contemplada, mesmo que não representasse as reais necessidades das populações que viriam a ser afetadas (atingidas) pelas instalações e operações. O resumo das condicionantes estabelecidas na LP 251/2007 do IBAMA estão descritas no quadro 20. Quadro 20 - Resumo das condicionantes exigidas pelo IBAMA - LP 251/2007. Dimensão Sustentabilidade social (Redução substancial das diferenças sociais) Sustentabilidade econômica (Alocação e gestão mais eficiente dos recursos) Sustentabilidade ambiental (Respeitar e aumentar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais) Sustentabilidade ecológica (Uso dos mais variados ecossistemas com mínima deterioração) Sustentabilidade geográfica (Relação mais equilibrada entre campo e cidade, evitar a concentração geográfica de populações) Sustentabilidade cultural (Respeito aos ecossistemas, cultura e valores locais) Fonte: Elaborado pelo autor Conteúdo das Condicionantes Comunicação social; Saúde pública; Compensação social; Recuperação da infraestrutura afetada; Programa ambiental para a construção; Sistema de gestão ambiental; Programa de compensação ambiental; Educação ambiental; Plano de conservação e uso do entorno do reservatório; Monitoramento do lençol freático; sismológico; hidrossedimentológico; climatológico; hidrobiogeoquímico; limnológico; das macrófitas aquáticas; Conservação e resgate da fauna; Desmatamento das áreas de influência direta; Conservação da ictiofauna; Apoio às populações indígenas; Remanejamento da população atingida; Programa de ações a jusante; Realocação da atividade garimpeira; Preservação do patrimônio paleontológico; Arqueológico; Préhistórico; Histórico; Lazer e turismo; Discurso “Social” “Econômico” “Ambiental” “Ecológico” “Territorial” “Cultural” Através do resumo elaborado da LP 251/2007 foi possível observar que a posição discursiva do IBAMA referente às condicionantes estabelecidas na licença prévia do AHE‘s’, contemplou exigências aos empreendedores que se enquadram no discurso das dimensões da sustentabilidade defendido por Sachs (2008). Do ponto de vista paradigmático de Gladwin, Kenely e Krause (1995) a posição discursiva do órgão licenciador (IBAMA) são bem mais claras e objetivas na visão natureza-sociedade, caracterizado por um discurso de sustentabilidade mais para o lado da ecologia e meio ambiente. O discurso em relação à sustentabilidade dos empreendimentos hidrelétricos, principalmente associado ao discurso que vem sendo exigido das empresas que participam de 75 grandes obras como no caso das realizadas no rio Madeira deu-se neste contexto, de um lado, pelo Ministério de Minas e Energia (MME) exigindo que a obra se desenvolvesse em consonância com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Do outro lado, o IBAMA e Ministério Público realizando a interação com a sociedade local determinando suas posições discursivas pautadas nas suas convicções e conhecimentos sobre o que deve ser garantido tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade local. O Ministério Público de Rondônia recomendou diversas ações relacionadas às dimensões ambiental, ecológica, econômica, social, cultural e territorial para garantir que na escolha pela realização das obras as comunidades atingidas, bem como os funcionários das empresas, a sociedade em geral e principalmente o meio ambiente fossem privilegiados, com vistas a garantir assim a sustentabilidade mais aceitável e necessária para a realização das obras. Em síntese, as práticas discursivas e as ações institucionais referentes aos empreendimentos hidrelétricos na fase de licenciamento para construção foram propostas com base na visão de especialistas familiarizados com os conceitos de sustentabilidade. As dimensões de Sachs (2008) estão presentes no documento analisado, com forte viés para as questões ambientais e sociais, porém todas as outras dimensões como a econômica, a ecológica, a territorial e a cultural também percorreram tanto o discurso do MP quanto o discurso dos especialistas contratados para elaborar o documento. 4.2 Análise dos Planos Básicos Ambientais dos AHE ‘s’ O Projeto Básico Ambiental (PBA) é o documento do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente - IBAMA que consiste em apresentar as orientações para a elaboração dos planos básicos ambientais apresentados pelos empreendedores dos aproveitamos hidrelétricos. Este documento consta em anexo à Licença Prévia (LP) 251/2007, concedida em 9 de julho de 2007. As exigências do IBAMA foram estipuladas em 33 condicionantes (LP 251/2007) com o conteúdo básico dos vários programas de monitoramento, mitigação e manejo social e ambiental para a garantia da sustentabilidade exigida pelo órgão licenciador para a aprovação da instalação das usinas hidrelétricas – UHE‘s’ no rio Madeira. Desta forma, no mês de fevereiro de 2008 os empreendedores apresentaram ao IBAMA os seus PBA‘s’ baseados nas condicionantes da Licença Prévia – LP 251/2007. Para caracterizar o discurso de cada empreendimento (AHE Santo Antônio e AHE Jirau), os documentos dos PBA ‘s’ foram inicialmente analisados de forma separada. Posteriormente 76 buscou-se comparar estes documentos para identificar os padrões discursivos e as respectivas funções discursivas de cada empreendedor como proposto por Coelho e Godoy (2011). 4.2.1 – Análise do Plano Básico Ambiental (PBA) – AHE Santo Antônio O projeto hidrelétrico do rio Madeira foi considerado um investimento prioritário no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Neste sentido, a pressão política sobre o órgão licenciador ocorreu pela aprovação da Licença de Instalação – LI, com vistas ao cumprimento do cronograma de conclusão do projeto e início das obras em setembro de 2008. O plano básico ambiental da usina Hidrelétrica de Santo Antônio foi denominado de Projeto Básico Ambiental e elaborado pela empresa Madeira S.A em fevereiro de 2008. A rede da figura 9 foi elaborada para associar os programas do PBA do AHE Santo Antônio às dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e ainda analisar o contexto do PBA – AHE Santo Antônio relacionado às condicionantes propostas na LP 251/2007 do IBAMA. Figura 9 - Análise do PBA do AHE Santo Antônio Energia – SAE. desmatamento direto {1-1} m. sismológico {1-1} uso entorno reservatório {1-1} m. lençol freático {1-1} m. climatológico {1-1} macrófitas aquáticas {1-1} == == == resgate da fauna {1-1} == Sustentabilidade ambiental {1-7} == SAE - PBA NOTÍCIAS {1-6} == == p. p. arqueológico {1-1} == == == c. ictiofauna {1-1} == == p.p pré-histórico e histórico {1-1} p. p. paleontológico {1-1} == Sustentabilidade econômica {1-2} == infra-estrutura afetada {1-1} == == Sustentabilidade cultural {1-5} == ações a jusante {1-1} == == Sustentabilidade ecológica {1-12} == compensação ambiental {1-1} == == == lazer e turismo {1-1} educação ambiental {1-1} == m. hidrossedim. {1-1} == == m. hidrobiogeoq. {1-1} s. gestão ambiental {2-1} m. limnológico {1-1} == == preservação fauna {1-1} p. ambiental de construção {2-1} Sustentabilidade geográfica {1-4} Compensação social {1-1} == == == == == Comunicação social {1-1} Saúde pública {1-1} Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do software Atlas T.I. atividade garimpeira {1-1} == Sustentabilidade social {1-4} populações indígenas {1-1} populações atingidas {1-1} 77 Em linhas gerais, os programas básicos ambientais elaborados pelo empreendedor no documento enviado ao órgão licenciador seguiram as condicionantes exigidas pela LP 251/2007. O discurso do empreendedor na elaboração do PBA seguiu o rigor do órgão licenciador. As denominações dos programas em sua maioria são idênticas às expressões que identificaram as condicionantes caracterizando que o discurso das empresas aproximou-se do padrão discursivo do IBAMA. Diante do contexto global do Projeto Básico, o PBA deveria fornecer detalhes suficientes para mostrar que todos os programas necessários de monitoramento, mitigação e minimização de impactos ambientais e sociais relacionados foram totalmente desenvolvidos, incluindo orçamentos e responsabilidades de implementação, de tal forma que, se a construção iniciasse em 2008, os melhores resultados para o empreendimento em termos ambientais e sociais seriam alcançados com pouca ou nenhuma modificação dos programas propostos. (FARREL, 2008). Naquele contexto, os 04 volumes do PBA da Madeira S.A. (SAE) apresentaram referências vagas sobre a possibilidade de desenvolvimento de novos programas futuros de monitoramento e manejo em longo prazo, tendo em vista que as ações do PBA se encerram em 2017. 4.2.2 – Análise do PBA da empresa Energia Sustentável do Brasil - ESBR O processo de elaboração e aprovação do PBA do aproveitamento hidrelétrico de Jirau foi realizado com vantagem em relação ao PBA do AHE Santo Antônio. O que reforça essa afirmação é o fato das condicionantes da Licença Prévia 251/2007 do IBAMA fazer referencia aos 02 empreendimentos, tanto o AHE Santo Antônio quanto o AHE Jirau. Desta forma os programas básicos ambientais do AHE Jirau foram realizados a partir de um “extenso” debate realizado anteriormente com os agentes públicos, com os empreendedores e com a sociedade local. Das 33 condicionantes estabelecidas na Licença Prévia os empreendedores elaboraram 34 programas básicos ambientais denominados programas socioambientais. Ressalta-se que os programas socioambientais seguiram a as exigências das condicionantes da LP do IBAMA. Ao contrário do PBA Santo Antônio Energia, os documentos analisados estão disponíveis no próprio sitio eletrônico (formato visualização) da Energia Sustentável do Brasil S.A, atualmente responsável pelo AHE de Jirau. 78 A Usina Hidrelétrica Jirau foi leiloada em 19 de maio de 2008 em pregão realizado pela ANEEL em Brasília. O Consórcio Energia Sustentável do Brasil, foi formado pelas empresas GDF Suez Energy South America Participações Ltda (50,1%), Camargo Corrêa (9,9%), Eletrosul (20%) e Companhia Hidroelétrica do São Francisco - Chesf (20%), vencedores do leilão pelo preço final de R$ 71,37 por megawatt-hora. Os programas socioambientais da ESBR empresa responsável pelo aproveitamento hidrelétrico de Jirau podem ser visualizados na figura 10: Figura 10 - Análise dos programas socioambientais da UHE Jirau. P. Conservação Ictiofauna {1-1} P. Conservação da Flora {1-1} P. Desmatamento Reservatório {1-1} == == == P.M. Climatológico {2-1} Sustentabilidade ecológica {11-12} == == == P.M. Lençol Freático {2-1} P.M. Hidrossedim. {2-1} P. Educação Ambiental {1-1} P.M.C. Macrófitas Aquáticas {1-1} P. Compensação Ambiental {1-1} == == == == P.R. Infraestrutura Atingida {1-1} == == == Sustentabilidade geográfica {3-5} == == P.R. Áreas Degradadas {1-1} P.A. Comunidades Indígenas {1-1} == == == P.M.A. Atividade Pesqueira {1-1} == P. Comunicação Social {1-1} P.R. Salvamento Ictiofauna {1-1} == == == P.U. Entorno Reservatório {1-1} P. Ambiental Construção {2-1} == == S. Gestão Ambiental {2-1} == == == P. Ações a Jusante {1-1} Sustentabilidade social {4-4} Sustentabilidade econômica {1-2} == Sustentabilidade ambiental {10-13} == == == Sustentabilidade cultural {3-4} P.M.P.P.I. Encostas e T. Marginais {1-1} == == == 35:1 == P.P.S. Patrimônio Arqueológico {1-1} P.A.D. Resgate da Fauna Silvestre {1-1} PBA - ESBR {1-6} P.I.M.S. Paleontológico {1-1} P.A.A. Lazer e Turismo {1-1} P.M. Sismológico {2-1} == == == P.M. Hidrobiogeoq {2-1} P.M. Limnológico {1-1} == == P.C. Fauna Silvestre {1-1} P.G. Ambiental e Patrimonial {1-1} P.G.T.D. Flutuantes Submersos {1-1} P.R. Populações Atingidas {1-1} P.A.D.M. Atividade Garimpeira {2-1} P. Compensação Social {1-1} P. Saúde Pública {1-1} Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do Atlas TI. A rede foi configurada a partir das dimensões de sustentabilidade propostas por Sachs (2008) e codificadas nesta pesquisa com o apoio do software Atlas TI. Conforme disponível no sítio eletrônico da ESBR (2014), os programas socioambientais da Usina Hidrelétrica Jirau foram formulados por uma equipe de especialistas multidisciplinares incluindo renomadas universidades, centros de pesquisa e empresas de consultoria. A consolidação do Projeto Básico Ambiental (PBA), documento que detalha as ações sociais e ambientais a serem desenvolvidas pela Energia Sustentável do Brasil na região de implantação do empreendimento, contou com a participação ativa das equipes do IBAMA, que colaboraram com o envio de importantes recomendações. (ESBR, 2014) 79 Os programas do PBA baseiam-se em princípios essenciais para a Energia Sustentável do Brasil: equidade, sustentabilidade, eficiência, processo decisório participativo e responsabilidade social. As ações buscam restaurar os meios de subsistência das populações, concentrando-se não apenas na mudança física, mas também na recuperação econômica e social das comunidades. O discurso da ESBR baseia-se no cuidado e no respeito com o meio ambiente em todas as atividades. (ESBR, 2014). 4.2.3 – Comparação do discurso da SAE e ESBR com base nos PBA’s’ O comportamento dos programas básicos da ESBR seguiu a tendência verificada na análise do PBA do AHE Santo Antônio. A diferença básica entre os programas de Santo Antônio e Jirau reside no fato da primeira apresentar 28 programas enquanto a segunda apresenta 34 programas, ambos com objetivo de responder às condicionantes da LP 251/2007 do IBAMA. No entanto, os questionamentos, ora pela sociedade civil, ora pelo MP/RO, e exigido pelas condicionantes do IBAMA caminharam lado a lado do paradigma predominante em grandes empreendimentos quando da elaboração e aprovação dos PBA‘s’ que foi pela visão – natureza-economia (discurso tecnocentrado). A análise destes discursos de sustentabilidade foi construída a partir da figura 11. Figura 11 - Análise comparativa do discurso da sustentabilidade. NATUREZA / SOCIEDADE IBAMA IBAMA EMPRESAS SUSTENTABILIDADE MP/RO EMPRESAS NATUREZA / ECONOMIA Fonte: Elaborado pelo autor. Posições discursivas Posições não discursivas MP/RO 80 A figura 11 esquematiza as visões de sustentabilidade presentes no discurso dos atores ESBR e SAE (empresas), Ministério Público Estadual (instituição mediadora) e IBAMA (órgão licenciador) frente ao PBA‘s’ dos empreendimentos hidrelétricos do rio Madeira. Neste contexto, os discursos podem ser apropriados aos interesses econômicos dos atores dominantes, tanto públicos como privados, onde o discurso dos dominados (sociedade e natureza), é registrado, porém, suprimido pelas vozes do desenvolvimento do país e pela suposta melhoria da qualidade de vida da população. Para Bourdieu (1998, p. 23) a diferença se torna signo de distinção se aplicada em principio de visão e de divisão que é o produto da incorporação da estrutura de diferenças objetivas. Através do contexto e, ao relacioná-lo à linguagem, na análise do discurso, procura-se ainda incorporar todo o universo simbólico que justifica e legitima as ações dos atores sociais (COELHO, 2012). Neste contexto, a etapa de licenciamento prévio foi aprovada, porém com todos os seus paradigmas mal definidos e a sustentabilidade sendo utilizada de forma apenas discursiva, com programas básicos ambientais enquadrados, mas, desarticulados às dimensões de Sachs (2008). Desta forma, garantiu o avanço da obra à etapa de licenciamento de instalação caracterizado pela emissão das Licenças de Instalação – LI do IBAMA que permitiram o início da construção das usinas hidrelétricas do rio Madeira ainda no ano de 2008. A usina hidrelétrica de Santo Antônio encerrou o processo de licenciamento prévio em 18 de agosto, data em que foi emitida por um prazo de 04 anos a licença de instalação ao empreendedor MESA S.A., responsável pelo AHE Santo Antônio. O processo registrado no IBAMA sob o nº 02001.000508/2008-99 autorizou a construção de uma usina hidrelétrica na Cachoeira de Santo Antônio, localizada a 7 km de Porto Velho. A LI de nº 540/2008 autorizou mediante o cumprimento das condicionantes em anexo a instalação de um projeto de potência instalada de 3.150, 40 MW, energia média de 2.200,13 MW, 44 turbinas tipo Bulbo, barramento com 2538 metros de comprimento e altura máxima de 30 metros. A Usina Hidrelétrica Jirau é leiloada em 19 de maio de 2008 em pregão realizado pela ANEEL em Brasília. No mês de agosto de 2008, o consórcio ESBR, recebeu a assinatura do Contrato de Concessão no Palácio do Planalto e realizaram Reunião Pública no município de Porto Velho, com participação das comunidades dos distritos de Mutum Paraná, Jaci Paraná, Embaúba, Abunã, Fortaleza do Abunã, Palmeiral e comunidades ribeirinhas. De acordo com a notícia veiculada no dia 20/05/2008 no site da ESBR: 81 O consórcio ESBR também cogita a instalação de mais que as 44 turbinas previstas, ficando com o ganho extra de energia. E para maximizar as vantagens, o consórcio já anunciou que a hidrelétrica entrará em operação em abril de 2012, oito meses antes do prazo fixado no edital (janeiro de 2013). Para isso, no entanto, depende de agilidade do IBAMA na expedição das licenças ambientais. "Queremos dividir em duas licenças de instalação. Uma para o canteiro, que esperamos seja concedida ainda em agosto deste ano, para início das atividades.” (ESBR, 2014) Em 14 de novembro de 2008, foi emitido pelo IBAMA, a Licença de Instalação (LI) nº 563/2008, autorizando a instalação do primeiro Canteiro de Obras do AHE Jirau, para somente em 03 de junho de 2009, receber a Licença de Instalação (LI) nº 621/2009, autorizando a implantação do AHE Jirau, com características semelhantes à usina de Santo Antôno: 44 turbinas tipo Bulbo e capacidade instalada de mais de 3 mil MW, porém com sua localização distante 120 km de Porto Velho. 4.3. Análise dos releases, notícias, informativos e clipping da SPE/ESBR e da SPE/SAE A análise de documentos informacionais como release, notícia, clipping e informativo, mesmo não fornecendo a mesma consistência de documentos institucionais, por exemplo, dos relatórios de gestão ou relatórios de sustentabilidade, apresentam material de densidade profunda quando se pretende analisar as características do discurso das organizações, como no caso deste artigo. Neste sentido estes documentos foram significativos para produzir os discursos sistematizados em forma de conteúdo conforme descrito no quadro 21. 82 Quadro 21 - Análise do discurso da ESBR e SAE – 2008-2014. ANO UHE 2008 ESBR 2009 ESBR 2010 ESBR 2011 ESBR 2012 ESBR 2012 SAE 2013 ESBR 2013 SAE 2014 ESBR 2014 SAE Características do discurso Vantagens de custo com leilão do empreendimento transferência de local. Diminuição de custo de 1 bilhão de reais; BNDES – Obra 75% financiada pelo BNDES. Sustentabilidade atribuída ao cumprimento dos programas de compensação social e ambiental. Texto: informar sobre a criação e as ações do comitê de sustentabi- lidade como responsável pela condução dos 33 programas sócio-ambientais; Investimento em Saúde e Segurança do Trabalho; Imagens: evidenciar as entregas das compensações sociais à comunidade. Informar sobre as ações do observatório ambiental de Jirau em Mutum Paraná. Discurso: Educação ambiental, cidade sustentável; Envolvimento da comunidade de Jaci Paraná, Mutum Paraná. Discurso: Entrega de 1300 casas na comunidade; Cumprir exigências socioambientais para receber outorga da agencia nacional das aguas: Populações indígenas são tratadas com indiferença. Informar sobre saúde. Discurso: Redução da malária com a aplicação de Mild's (equipamento de proteção a mosquitos), Compensação social em Nova Mutum - intensificação do uso do Observatório Ambiental Jirau com atividades à comunidade; Povos indígenas: mesmo padrão discursivo - retratar por obrigação Informar sobre o inicio do processo de comunicação com as partes interessadas; Parceria com a UNIR no levantamento da ictiofauna (discurso ecológico) do rio Madeira realizado desde 2009 com a identificação de 970 espécies, 40 novas espécies; Cumprimento do protocolo de intenções com a prefeitura de Porto Velho via compensações sociais concluídas através de 130 ações, por exemplo, do programa de apoio as atividades produtivas locais, saude publica através do programa de combate a malaria / economica: desenvolvimento do país através da geração de energia para mais de 40 milhões de brasileiros. Informar sobre saúde. Discurso: Redução da malária com a aplicação de Mild's, compensação social em Nova Mutum; Programa de comunicação sócial. Discurso: Divulgar o andamento da obra (economico); Programa de geração de renda a partir de área de preservação permanente – APP e reserva legal; Ações ligadas à Coopjirau como espaço de integração de saber ambiental e eventos culturais ligados a musica, teatro e dança com temas ambientais; Programa patrimônio arqueológico; Informar sobre valores investidos na execução da obra (16 bilhoes de reais); Valores gastos com compensações sociais (1,6 bilhão de reais). Presença por mais de 35 anos na região através do empreendimento e apoio as populações locais; Importância do estudo ictiológico no rio Madeira; Autorização da ONU através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL para gerar créditos de carbono; Apoio as atividades produtivas rurais e urbanas reassentamento rural mais humano com produção de alimentos e venda em feiras livres organizadas com o apoio da SAE; Programa de apoio as populações indígenas através da significativa (50%) diminuição dos casos de malária entre as populações indígenas com entrega de mais de 30 mil Milds; Assinatura do documento com ações a ser desenvolvidas com os povos Karipuna, Karitiana e Cassupá e também com a Fundação Nacional do Índio (Funai) Qualificação da mão-de-obra local (comunidade) em turismo - práticas discursivas e praticas não discursivas em consonância; Responsabilidade social; Parceria com o Senai na contratação de estagiários vários setores. Entrega de escolas, creches, postos de saúde, infraestrutura urbana através de compensações sociais; Discurso de isenção de responsabilidades frente aos impactos socioambientais causados pela enchente; Ações de filantropia para os desabrigados com doações de alimentos. Informar sobre o Programa de preservação do patrimônio histórico com apoio a revitalização do complexo estrada de MadeiraMamoré; Conservação da ictiofauna; Resgate da fauna (24 mil animais silvestres) no periodo de 2008 a 2011; Lançamento do livro "Peixes do Madeira" resultado da execução do PBA; Sustentabilida-de do empreendimento e das parcerias com instituições de ensino e pesquisa da UNIR e comunidades; Geração de energia no pós enchente com isenção de responsabilidade sobre os impactos. Fonte: Elaborado pelo autor. 83 A construção do discurso organizacional da SPE/ESBR e SPE/SAE que data do período em que os documentos encontraram-se disponíveis (2008 a 2014) foi caracterizada a partir das posições discursivas, configurações narrativas e espaços semânticos que foram guiados pelas dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e pelos paradigmas de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) conforme visualizado na representação gráfica da figura 12. Figura 12 – Construção do discurso em release, informativo, clipping e notícias da SPE/ESBR e SPE/SAE Fonte: Elaborado pelo autor. Do lado das dimensões de Sachs (2008) o que se observou na evolução longitudinal de 2008 a 2009 foi um discurso de sustentabilidade guiado pela dimensão econômica devido à necessidade da empresa ESBR justificar a sua existência enquanto organização constituída para propósito de construção da UHE Jirau e futura geração de energia. Além disso, esta dimensão é caracterizada pela necessidade de desenvolvimento do país através da geração de energia hidrelétrica. Em relação ao PBA as organizações tiveram que apresentar e iniciar a 84 sua execução que foram disponibilizados em releases, clippings e notícias nos anos seguintes. Por consequência, o paradigma de sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) que predominou foi o tecnocentrado. Em função da necessidade de manutenção da licença de construção e da licença de instalação da ESBR o período de 2010 a 2011 foi caracterizado pela divulgação do cumprimento das exigências do PBA representado pelas compensações sociais e ambientais por parte da ESBR. Neste sentido, naturalmente, o que se observou foi um aumento no volume de documentos publicados que, além da dimensão econômica foi constituído das dimensões social, ambiental e territorial que garantiram ao empreendedor uma melhor aproximação paradigmática centrada na sustentabilidade. O trecho discursivo de 02/02/2011 da ESBR ilustra esta aproximação: “Hoje esse é o nosso maior desafio, com objetivo de concluir a construção da barragem e gerar energia limpa em Jirau” [...]. Neste sentido diversas imagens foram produzidas para acompanhar tanto os relatórios de compensações quanto notícias, releases e clippings veiculados pela ESBR a cada ano como pode ser observado na figura 13. Figura 13 - Imagens-fotografias das entregas de compensações sociais – ESBR. Fonte: Boletim Especial das Compensações Sociais da UHE Jirau (2010, p. 1-7) Vale ressaltar que do ano de 2008 a 2011 não foram localizados documentos disponíveis no site da SPE/SAE sendo possível analisá-los somente a partir de 2012. Em 2012 observou-se que ambas as empresas divulgaram documentos baseados no PBA caracterizados por todas as dimensões de sustentabilidade, no entanto, foi verificado que 85 a ênfase em termos de paradigmas esteve mais ao lado do ecocentrismo. Esta característica deu-se em função dos programas de resgate da fauna silvestre, monitoramento ictiológico baseado principalmente no mapeamento das espécies de peixes do rio Madeira (SAE). Pelo lado da ESBR, a veiculação de notícias referentes ao programa de educação ambiental desenvolvido principalmente nas comunidades de Mutum Paraná e Jaci Paraná a partir da criação da COOPJIRAU. As análises dos documentos tanto da SPE/SAE quanto da SPE/ESBR de 2013 a 2014 foram caracterizadas por uma padronização no discurso baseado nas dimensões de sustentabilidade, por exemplo, na posição discursiva (quem fala) dos diretores das empresas que se comprometeram a atuar orientado pela visão de sustentabilidade nos próximos 35 anos, período legal em que as empresas devem permanecer nos empreendimentos. Outro discurso padronizado pela SAE e ESBR foi a conquista do registro na Organização das Nações Unidas (ONU) no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Neste sentido, o discurso organizacional da ESBR apresentou características muito semelhantes ao discurso da SAE. Por exemplo, no tocante ao programa de apoio às comunidades indígenas, o discurso é quase inexistente. Ao destacar o andamento (execução) da obra, tanto por parte da ESBR quanto por parte da SAE verificou-se que esta temática é mais importante que informar sobre as demais ações das usinas. Falar da grandiosidade da obra é uma característica semelhante nos discursos organizacionais, sempre homologados por agentes externos e, principalmente, pelas lideranças da empresa. No ano de 2014, (contexto da enchente histórica) as empresas assumiram no espaço semântico (de que se fala) uma configuração narrativa (o que está em jogo) como se não existisse nenhum dano à comunidade local, regional e internacional e se os mesmos se constatassem, não assumiria sua posição discursiva (quem fala) diante da situação caótica, se orientando somente por decisões judiciais. O que se observa é que as empresas não fizeram questão de reconhecer publicamente sua participação no contexto social e ambiental do rio Madeira, apenas noticiando sobre a geração de energia elétrica que está alinhado à dimensão econômica da sustentabilidade. Além do contexto da enchente histórica 2014, tanto SAE quanto ESBR prosseguiram veiculando informações nos seus respectivos canais de imprensa, por exemplo, o lançamento do livro Peixes do Madeira (parceria entre SAE e Universidade Federal de Rondônia – UNIR). Logo, do ponto de vista dos paradigmas de sustentabilidade percebeu-se uma evolução em 2013 para um discurso centrado na sustentabilidade de ambas as empresas, porém, os pouquíssimos documentos veiculados em 2014, evidenciaram que a SAE tentou 86 manter uma postura atuante no sentido da sustentabilidade enquanto a ESBR retornou à sua função discursiva de 2008 a 2009, onde predominou o paradigma tecnocentrado guiado pelos interesses econômicos dos seus acionistas. Diante da análise de release, informativo, clipping e notícias empreendidas depreendeu-se que a posição discursiva (quem fala) é representada principalmente pelos diretores das organizações, pelos seus funcionários e pela comunidade através dos ribeirinhos e sociedade em geral, permanecendo excluído o posicionamento discursivo dos povos indígenas. O espaço semântico foi orientado nestes documentos pela necessidade de tornar público o cumprimento do PBA cujos programas de compensações sociais e compensações ambientais são baseadas em dimensões da sustentabilidade de Sachs (2008) e os paradigmas da sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995). A principal configuração narrativa (o que está em jogo), objetivo deste estudo que é a sustentabilidade continua imiscuída nas práticas discursivas e não discursivas (atos materiais) das organizações SPE/ESBR e SPE/SAE, sendo que esta última mesmo ao apresentar uma plataforma de informação (canal de imprensa) menos estruturada que a primeira, tem se esforçado mais no sentido da sustentabilidade, principalmente da visão sociedade-natureza. 4.4 Análise dos Relatórios de Sustentabilidade Algumas pesquisas já foram realizadas com relatórios de sustentabilidade no Brasil. A análise destes relatórios a partir da ASD foi realizada em usinas hidrelétricas por Coelho (2012) na empresa Tractebel Energia S.A. que, inclusive, é integrante do grupo GDF SUEZ, maior acionista da UHE Jirau, denominada Energia Sustentável do Brasil (ESBR). Para Coelho (2012, p. 170), esta análise dos Relatórios de Sustentabilidade vai ao encontro dos dizeres de Voltolini (2009) ao revelar que, uma leitura minuciosa de tais relatórios reserva-se àqueles que a fazem por motivos profissionais; surgem ainda os que preferem não ler esses relatórios alegando que os textos não despertam interesse; outros julgam que os relatórios se tornaram enigmáticos pela excentricidade ou que são apenas autoelogiosos, com o intuito de destacar práticas com as quais as organizações almejam ser percebidas. As observações de Coelho (2012) foram verificadas nas análises das noticias, releases, clipping e programas básicos ambientais realizados nos itens anteriores desta dissertação. Além disso, não foram encontrados relatórios de sustentabilidade no site oficial ESBR e da 87 SAE. Logo, como estratégia complementar às análises já realizadas, analisou-se também os relatórios de sustentabilidade das empresas integrantes das usinas hidrelétricas em construção no rio Madeira. Estas empresas também participam em outros empreendimentos específicos, muitos destes já consolidados. Logo, os documentos analisados foram utilizados para obtenção de resultados que representassem o contexto das usinas do rio Madeira, como proposto pela escola de ASD (ALONSO, 2008). Pelo lado da SAE foram analisados os relatórios das empresas Furnas, CEMIG e Odebrecht. Do lado da ESBR a análise percorreu os relatórios de sustentabilidade da GDF Suez – Tractebel e sistema Eletrobrás (Eletrobrás, Chesf e Eletrosul). 4.4.1 SAE - Furnas Centrais Elétricas – 2009 a 2013 Criada em 28 de fevereiro de 1957, Furnas é uma sociedade anônima de economia mista, de capital fechado, que atua em geração, transmissão e comercialização de energia elétrica, em 15 Estados e no Distrito Federal. Tem como principal acionista a Centrais Elétricas Brasileiras S/A – Eletrobrás. |GRI 2.1, 2.5, 2.6| (Furnas-RS, 2013, p. 18). De acordo com a empresa, sua operação é mantida por uma estrutura pela qual passa mais de 40% de toda a energia consumida pelos brasileiros, garantindo o fornecimento energético a uma região que concentra 63% dos domicílios e 81% do PIB do País. Composto por 17 usinas hidrelétricas (nove próprias, duas em parceria com a iniciativa privada e seis sob a forma de Sociedades de Propósito Específico – SPEs), três parques eólicos em SPEs e duas térmicas convencionais, totalizando 12.827,5 MW de potência instalada, sendo que a parcela de Furnas corresponde a 10.366 MW. No segmento de transmissão, são 63 subestações, com capacidade de transformação de 109.865 MVA, e cerca de 24 mil quilômetros de linhas de transmissão, dos quais 19.868 km correspondem à parcela de Furnas. Ao final de 2013, o número de empregados era de 3.547 empregados efetivos e 1.339 contratados. |GRI 2.2, 2.3, 2.7, 2.8| (Furnas-RS, 2013, p. 18). Até 2018, será acrescentado 6.332 MW de capacidade instalada ao Sistema Elétrico Brasileiro com a entrada em operação das próximas unidades geradoras da UHE Santo Antônio e a construção de mais três novas usinas hidrelétricas e 48 parques eólicos, com investimentos próprios e em parceria. Além disso, a empresa participa da construção de 20 subestações (novas e ampliações) e de mais de 2 mil quilômetros de novas linhas de transmissão. No contexto das usinas do rio Madeira, ressalta-se que a UHE Santo Antônio é considerada por Furnas como uma “gigante” do segmento hídrico que já se encontra em fase de motorização. (Furnas-RS, 2013, p. 18). 88 O discurso de Furnas de 2009 a 2013 está sintetizado no quadro 22. Quadro 22 - Análise do discurso nos relatórios de Furnas de 2008-2014. ANO Empresa 2007 Furnas Sem informações disponíveis na fonte pesquisada. Dimensões de sustentabilidade / Paradigmas - 2008 Furnas Sem informações disponíveis na fonte pesquisada. - 2009 Furnas 2010 Furnas 2011 Furnas 2012 Furnas 2013 Furnas 2014 Furnas Características do discurso Informar: Tema do Relatório Socioambiental: "O Fio Que Nos Une"; Desenvolvimento do país e da região; Investimento em empregos diretos e indiretos, preocupação no gerenciamento do projeto UHE SAE, total geração de energia em 2015; PBA como promotor de sustentabilidade organizacional, afirmação de monitoramento da qualidade da agua do reservatório (programa limnológico) tomado emprestado da SAE (não fica claro de quem é a responsabilidade, como se fosse um produto que pode ser tomado emprestado para fins de elaboração e divulgação de relatório). Informar: ênfase no tema: "O Fio Que Nos Une" - fortalecer o meio ambiente através do desenvolvimento econômico do país e da Amazônia. Informar: ênfase no tema "O Fio Que Nos Une", imagens que simbolizam a presença do desenvolvimento (maquinas pesadas e usina em funcionamento); Imagens ilustrando a responsabilidade ambiental (execução do programa de resgate de animais silvestres) viveiro de mudas para reflorestamento, ribeirinhas (mulheres) trabalhando com artesanato simbolizando a responsabilidade social com as populações afetadas. Informar: Imagens que simbolizam a presença do desenvolvimento (maquinas pesadas - grande porte) - e a comporta da usina aberta em pleno funcionamento / ambiental: imagens ilustrando a responsabilidade ambiental. Informar: retrospectiva da empresa nos últimos anos, potencial gerador de energia, imagens da obra em execução e operação. Sem informações na fonte pesquisada Econômica – Tecnocentrado. Econômica, ambiental, social. Tecnocentrado. Econômica, ambiental, social, ecológica – Tecnocentrado. Econômica – Tecnocentrado. Econômica – Tecnocentrado. - Fonte: Elaborado pelo autor. Em 2008 não foi identificados relatórios socioambientais ou de sustentabilidade no sitio eletrônico de Furnas. Já em 2009, o Relatório Socioambiental elaborado por Furnas destaca que desde 1992, a empresa apresenta índices de confiabilidade de 99,99%, sendo uma das melhores empresas do setor. Sua gestão da qualidade conquistou certificações internacionais e premiações. A empresa realizou estudos para avaliar a viabilidade técnica e econômica de incrementar a motorização da empresa Santo Antônio Energia S.A., no rio Madeira (RO), com vistas a agregar energia assegurada ao empreendimento (Furnas Relatório Socioambiental 2009, p. 15). Alguns trechos discursivos foram extraídos do RS-Furnas 2009 cujo padrão aproximase ao padrão discursivo identificado na empresa SAE (Furnas, 2009, p. 93): 89 Em todos os seus projetos, FURNAS desenvolve vários programas para prevenir, mitigar, controlar ou compensar os efeitos ambientais causados por suas atividades e preservar a biodiversidade dos ecossistemas em suas áreas de atuação. Na UHE Santo Antônio não poderia ser diferente; O Projeto Básico Ambiental – PBA prevê o investimento de R$ 800 milhões em 28 programas que vão desenvolver 48 ações para minimizar os impactos da construção da hidrelétrica; A crescente demanda por recursos hídricos coloca as hidrelétricas em lugar central com relação ao gerenciamento dos usos múltiplos de seus reservatórios, como também das respectivas bacias de drenagem como unidade de gestão ambiental. Portanto, mais do que uma responsabilidade. Neste sentido o discurso de Furnas se configura pela conservação da água como um importante patrimônio organizacional. A empresa afirma que executa programas de monitoramento limnológico e da qualidade da água em todos os seus reservatórios em operação, por meio de campanhas periódicas (bimestrais ou trimestrais), em uma ampla rede amostral, cobrindo a extensão de cada reservatório, assim como alguns pontos nas respectivas cabeceiras. Nos empreendimentos em construção, são realizados monitoramentos com uma frequência maior (periodicidade mensal), visando o registro das características naturais e variações sazonais das drenagens e da qualidade de água antes da construção da barragem. Um momento importante, e também estudado mensalmente, é o registro das alterações no ambiente ocorridas durante a etapa de enchimento do reservatório (Furnas, 2009, p. 99). Flavio Decat de Moura – diretor presidente discursou em prol do lema "O FIO QUE NOS UNE" como principal marca de Furnas em termos de sustentabilidade. Assim, “gerar e transmitir energia em bases sustentáveis representa um enorme desafio que FURNAS enfrenta, renovando a cada ano seu compromisso com o desenvolvimento do País, e criando as bases para a empresa que pretende ser nas próximas décadas”. (FURNAS-RS 2010, p. 4) Em 2010 o tema “O FIO QUE NOS UNE” foi mantido e indicou um padrão discursivo que percorreu os anos de 2011, 2012 e 2013. No âmbito do Plano de Transformação da Eletrobrás, os presidentes de todas as empresas do sistema reafirmaram seu compromisso com a sustentabilidade ao firmarem o Pacto de Furnas com metas de aperfeiçoamento do desempenho nas dimensões econômicofinanceira, social e ambiental o que alinhou o discurso organizacional às “dimensões” de Pearce (1993) e Sachs (1993; 2002). 90 Da dimensão econômica como discurso dominante destacou-se pela empresa que a sustentabilidade é obtida com trabalho que alinha diálogo, parceria e desenvolvimento. Este discurso alinhou-se as metas do Governo Federal de “fortalecer a proteção ao meio ambiente, reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo, mantendo a vanguarda nacional na produção de biocombustíveis e desenvolvendo nosso potencial hidrelétrico” (Furnas, 2010). No contexto das UHEs do rio Madeira, Furnas alinhou seu discurso ao discurso do governo federal no sentido da continuidade ao seu projeto de expansão e comprometimento com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pela construção de 03 novas usinas hidrelétricas, entre elas, a UHE Santo Antônio (RO), em Sistema de Propósito Específico (SPE). O discurso da sustentabilidade ambiental também foi notado como característica presente no RS 2010 de Furnas através do trecho discursivo [...] Gerar energia na Amazônia, região que ainda depende fortemente de unidades térmicas à base de óleo diesel, contribuirá para que o País reduza as emissões de gases de efeito estufa (Furnas, 2010, p. 4). Na área da Responsabilidade Social, a empresa Furnas participou do processo de elaboração da norma internacional ISO 26.000, publicada em novembro de 2010. Seu principal discurso baseou-se em transformar em práticas consistentes sua adesão aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa do Pacto Global e do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e ao Compromisso Corporativo no Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. O Relatório Socioambiental - Furnas 2010, (“O Fio Que Nos Une”), foi destaque em três das seis categorias na segunda e última fase do GRI Readers’ Choice Awards 2010, organizado pela Global Report Initiative, em Amsterdã, Holanda. O relatório foi considerado o 3º melhor na categoria “Relatório Mais Efetivo”, 4º melhor na categoria “Sociedade Civil” e 4º melhor na categoria “Escolha dos Leitores GRI”. Mais de 2 mil publicações entraram na competição e 1.100 receberam votos dos leitores (Furnas, 2010, p. 19). As imagens-fotografias contidas no Relatório Socioambiental Furnas – 2010 também foram utilizadas para caracterizar o discurso da empresa. Algumas delas retrataram o contexto da UHE Santo Antônio em construção no período 2009, 2010 e 2011 no rio Madeira que podem ser visualizadas na figura 14. 91 Figura 124 – RS Furnas 2009 / 2010 / 2011 – O Fio Que Nos Une. FURNAS 2009/2010 FURNAS 2011 Fonte: Furnas – Relatório de Sustentabilidade, 2009, p. 99; 2010, p. 04-05-20-22-27-33; 2011, p. 82-182-196199. As imagens do RS Furnas 2009/2010 foram dispostas para simbolizar o tema proposto pela empresa. Do lado esquerdo superior a imagem de um rio límpido, não poluído, significando o meio ambiente preservado. Ainda do lado superior duas crianças felizes, sorrindo, simbolizando a responsabilidade social que vai além da responsabilidade com os funcionários da empresa, se estendendo às comunidades locais onde os empreendimentos são instalados. Entre as crianças e o rio, a torre de transmissão em meio ao horizonte do por do sol, onde os fios de alta tensão, de forma suave harmonizam a natureza e a pessoas. Na parte inferior da figura 14, do lado esquerdo, são retratadas etapas da execução da obra UHE Santo Antônio nos seus estágios iniciais. Os trabalhadores uniformizados, usando equipamentos de segurança em meio a gigantescos equipamentos em construção às margens do rio Madeira. Na parte inferior da figura afirma-se a necessidade do desenvolvimento econômico (sustentabilidade econômica) para a manutenção de serviços ecológicos, ambientais e sociais. O RS de 2011 de Furnas apresentou algumas imagens-fotografias que já haviam sido utilizadas no RS 2010 da mesma empresa. Além disso, outras imagens podem ser vistas como descontínuas da posição discursiva defendida pela empresa. Na parte superior da imagem uma retroescavadeira (maquina pesada) carregando uma caçamba (veículo pesado) com o por do sol ao fundo, simbolizando a harmonia entre o desenvolvimento e o meio ambiente. Ao lado, ainda na parte superior mais à direita, a UHE apresenta seus primeiros sinais de funcionamento (geração de energia) com suas comportas em funcionamento, revelando a força das aguas do rio Madeira para gerar energia, e desenvolver economicamente a região de Porto Velho/RO. Entre estas imagens, no centro, moradoras ribeirinhas da Vila de Teotônio 92 desenvolvem trabalhos artesanais que simboliza a aproximação de FURNAS junto às comunidades ribeirinhas das áreas afetadas pela obra. O RS 2011 de FURNAS apresentou através da figura 14 no centro direito o sumário do documento dedicado a mostrar a UHE Santo Antônio em funcionamento dentro da normalidade a montante da barragem. Esta imagem leva crer que as comportas estão abertas em função do grande volume de agua em épocas de cheia do rio Madeira como observado, especificamente em 2014 (cheia histórica), com a intervenção da ANEEL ao exigir que a UHE Santo Antônio liberasse suas comportas e deixasse o rio correr livremente. A escola de ASD orienta que o analista do discurso que faz uso deste método procure captar o que as imagens não mostram em uma primeira análise, porém, devido a real representação (aquilo que não se quis mostrar) da imagem precisa ser analisado. Isto foi percebido nas fotos inferiores logo abaixo do sumário desta imagem. Ao apresentar o trabalho no Centro de Animais Silvestres da UHE SAE, a primeira impressão leva a crer que os animais resgatados foram salvos pela empresa de forma planejada e ambientalmente correta. O leitor não visualiza nenhum texto associado à imagem porque o objetivo desta última é de simbolizar a boa ação da empresa com o programa de recuperação de animais silvestres ao devolvê-los à natureza. As fotografias revelam que os animais estão assustados, denunciando a forma como o desequilíbrio ecológico ocorre nas etapas de construção das barragens e enchimento dos reservatórios. Em relação a não associação de textos às imagens ilustrativas, a imagem do viveiro de mudas da UHE Santo Antônio é usada na mesma direção dos animais silvestres apresentam apenas uma indicação com o nome do empreendimento “UHE Santo Antônio (RO)”. A empresa Furnas passou em 2011 a elaborar relatórios de sustentabilidade em substituição aos relatórios socioambientais onde reafirmou seu alinhamento com a Global Report Intitiative – GRI. Neste ano, o RS de Furnas no contexto da UHE Santo Antônio posicionou-se discursivamente por maior ênfase no empreendimento do rio Madeira tanto em forma textual quanto em imagens. Da análise textual o principal discurso faz parte da apresentação do relatório por parte do Diretor-Presidente da Empresa, Flávio Decat de Moura e é voltado para a divulgação da SAE (Furnas, 2011, p. 13). Trecho discursivo 1 - [...] Para tanto, a empresa conclui grandes empreendimentos: [...] em parceria, como a Hidrelétrica de Santo Antônio, que vai gerar energia para cerca de 25 milhões de pessoas e cujo modelo de sustentabilidade foi destaque no 6º Fórum Mundial da Água, realizado em março deste ano, em Marselha, na França. 93 Trecho discursivo 2 – No final de 2011, as mulheres já ocupavam 14% das funções gerenciais. “São gerentes e superintendentes, e, desde agosto de 2011, pela primeira vez, uma mulher assumiu uma das diretorias de Furnas”. Trecho discursivo 3 – “Todas as ações socioambientais empreendidas durante o ano refletem a adesão da empresa aos princípios do Pacto Global da ONU, do qual FURNAS é signatária desde 2003. [...] A empresa que todos nós queremos está em construção”. Trecho discursivo 4 – “Viva FURNAS!”. Os trechos discursivos identificam a posição discursiva de Furnas em 2012. Trecho discursivo 1 - No período, o orçamento de investimentos, de R$ 2,63 bilhões, foi o maior dos últimos 12 anos, tendo sido executado em percentual de 91%. Foram investidos R$ 665 milhões em reforço, manutenção e implantação de novos empreendimentos de transmissão, corporativos e em parceria, com destaque para a Interligação Elétrica do Madeira, que transmitirá a energia gerada pelas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Outros R$ 265 milhões foram investidos em meio ambiente e infraestrutura. O parque gerador recebeu cerca de R$ 1,7 bilhão, destacando-se as parcerias nas usinas hidrelétricas Santo Antônio e Teles Pires e as conclusões de importantes empreendimentos corporativos, como as hidrelétricas de Simplício e Batalha. (Furnas – RS 2012, p. 5). Trecho discursivo 2 - Dotada de um diversificado parque gerador, Furnas opera e mantém oito usinas hidrelétricas e duas usinas termelétricas, das quais possui a concessão integral, totalizando 8.137 MW de capacidade instalada [...]. Furnas participa, também, de Sociedades de Propósito Específico (SPEs) (GRI 2.3) para a construção, operação e manutenção de usinas hidrelétricas e parques eólicos. São cinco usinas já em operação, com capacidade instalada total de 1.742 MW. Em construção, são duas usinas hidrelétricas (Santo Antônio e Teles Pires), com capacidade total planejada de 4.970 MW [...] (Furnas, 2012, p. 27). Trecho discursivo 3 - Nos próximos anos, Furnas contribuirá para o aumento da capacidade instalada do Sistema Elétrico Brasileiro, agregando 5.215 MW com a entrada em operação de mais unidades geradoras da UHE Santo Antônio, com o início da operação comercial das UHEs Simplício e Batalha, e com a construção da UHE Teles Pires e de 17 parques eólicos. Atualmente, a empresa está envolvida com quatro empreendimentos de geração hidráulica, com investimento aproximado de R$ 23 bilhões [...] (Furnas, RS 2012, p. 28). Trecho discursivo 4 - A matriz elétrica de Furnas é predominantemente renovável. Mais de 90% da capacidade instalada, considerando a parcela de participação da Empresa nas 94 parcerias e em SPEs, é constituída por usinas hidrelétricas. Em 2012, mais de 98% da energia foi produzida pelas usinas hidrelétricas. A tendência de crescimento da matriz limpa para os próximos anos é reforçada pela perspectiva de entrada em operação de mais três usinas hidrelétricas, de outras máquinas geradoras da UHE Santo Antônio e de 17 parques eólicos (Furnas, 2012, p. 29). As imagens-fotografias contidas e analisadas no relatório de 2012 vão de encontro ao que foi observado no seu texto documento. A principal característica da ASD das imagens, no contexto do rio Madeira – UHE Santo Antônio é de informar que a obra seguiu no ritmo proposto pelo PAC. Além disso, observou-se o interesse de Furnas em mapear sua rede de transmissão de energia com destaque para o estado de Rondônia onde está o empreendimento analisado. Esta análise pode ser percebida na figura 15. Figura 15 - Furnas: Desenvolvimento econômico - RS 2012. Fonte: Furnas - Relatório de Sustentabilidade, 2012, p. 26-48-133-134-151. A fotografia superior esquerda e superior direita apresenta de um lado a obra em andamento, e de outro, a transmissão de energia através de linhões e torres de transmissão. No centro da figura 15 encontra-se o desenho da rede do sistema de geração e de transmissão de 95 energia operado por Furnas em nível nacional. O estado de Rondônia foi destacado de forma a evidenciar o potencial gerador da UHE Santo Antônio. A parte inferior da esquerda e inferior da direita evidenciam as relações com os fornecedores de Furnas. Entre 2012 e 2013, 16 das 50 unidades geradoras da UHE Santo Antônio entraram em operação, agregando 1.128,2 MW ao parque gerador da empresa. Com isso, a empresa contribuiu com aproximadamente 9,3% da expansão de capacidade verificada no setor elétrico no ano, que foi de 5.600 MW, segundo dados da Aneel (Furnas, 2013, p. 27). O conteúdo do Relatório de Sustentabilidade de Furnas em 2013 ressaltou de forma retrospectiva como a empresa tem se posicionado frente aos seus stakeholders. Furnas declarou publicar anualmente (desde 1998), um relatório com os principais acontecimentos da empresa e seus resultados econômicos, sociais e ambientais. Desde 2004, o documento segue as diretrizes da GRI (Furnas, 2013, p. 11). Em parceria com empresas estatais e/ou privadas Furnas tem participação, em empreendimentos de geração e transmissão que contribuem para o aumento da oferta de energia elétrica no País. De acordo com Furnas, em 2013, a empresa gerou 35.371 GWh de energia, considerando os empreendimentos próprios, em parceria e com SPEs, o equivalente a 6,7% da geração total brasileira – sendo 92,7% de fonte hidráulica e 7,3% de térmicas. O desempenho operacional da empresa tem sido alcançado em função do seu mix de produtos e serviços, onde predomina a geração a partir da matriz hidrelétrica. Furnas destacou no RS 2013 o Linhão do Madeira, maior tronco de transmissão de interligação de usinas já construído no Brasil, que transporta até São Paulo a energia gerada pelas UHEs Santo Antônio e Jirau, localizadas no Rio Madeira, em Rondônia. (Furnas, 2013, p. 34). Esta rede de transmissão denominada Coletora Porto Velho-Araraquara II é fruto de parceria entre Furnas (24,5%), Chesf (24,5%) e CTEEP (51%), na SPE Interligação Elétrica do Madeira S.A., com 2.375 km (Furnas, 2013, p. 34). Diante do contexto analisado, o discurso que predominou no relatório foi baseado na participação de Furnas no empreendimento UHE Santo Antônio, cuja participação é de 39% do empreendimento que vai gerar 3150 MW quando estiver em pleno funcionamento. O discurso Furnas vai de encontro à dimensão econômica da sustentabilidade. As demais dimensões de sustentabilidade observadas no RS 2013 foram relacionadas ao contexto de outros empreendimentos, que, em sua maioria, já se encontrava em pleno funcionamento. As imagens-fotografias apresentadas deste relatório, (contexto UHE Santo Antônio), também 96 retrataram o ambiente operacional da etapa de construção de civil, montagem mecânica e geração de energia, conforme apresenta a figura 16. Figura 16 – Furnas – Obra em andamento x montagem x operação - RS 2013. Fonte: Furnas - Relatório de Sustentabilidade, 2013, p. 32-54-86-88. Todas as imagens retrataram fielmente o discurso organizacional de FURNAS em 2013. A perspectiva econômica é latente no contexto do rio Madeira, especificamente a UHE Santo Antônio. Desta forma deu-se a análise dos relatórios de sustentabilidade de FURNAS cuja característica principal é o desenvolvimento econômico, representado nesta pesquisa pelo paradigma tecnocentrado (Gladwin, Kenelly, Krause, 1995) e pela sustentabilidade econômica (SACHS, 1993; 2002; 2007; 2008) que são homologados pela visão institucional (MEBRATU, 1998) capitaneada por organismos internacionais que geralmente adota uma posição discursiva pela sustentabilidade em todas as suas dimensões, porém suas práticas discursivas (LEFF, 2008) são orientadas para o cumprimento de metas financeiras e econômicas que governam as organizações sejam públicas ou privadas. 4.4.2 SAE - CEMIG - 2008 a 2013 97 A CEMIG divulgou em seus Relatórios de Sustentabilidade 2008, 2009, 2010 e 2011 a participação no consórcio Madeira Energia (como era denominado inicialmente). O discurso predominante nestes anos foi relacionado às ações socioambientais necessárias à implantação da usina Santo Antônio através dos programas de conservação da flora, resgate da fauna, programas de monitoramento da ictiofauna, ações de comunicação e programas sociais, entre outros. Além disso, a Cemig enfatizou sua participação no empreendimento com a parcela de 10% do empreendimento (CEMIG, 2008, p. 50). O discurso da CEMIG de 2009 a 2013 está sintetizado no quadro 23. Quadro 23 - Análise do discurso nos relatórios da CEMIG de 2008-2014. ANO Empresa 2007 CEMIG 2008 CEMIG Características do discurso Sem informações disponíveis na fonte pesquisada. Informar: Participação acionária de Furnas no empreendimento UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna, programas de monitoramento da ictiofauna / social: ações de comunicação e programas sociais. Informar: Participação acionária de Furnas no empreendimento UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna, programas de monitoramento da ictiofauna / social: ações de comunicação e programas sociais. Informar: Participação acionária de furnas no empreendimento UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna, programas de monitoramento da ictiofauna; Ações de comunicação e programas sociais; Reassentamento de populações atingidas. Informar: Participação acionária de furnas no empreendimento UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna, programas de monitoramento da ictiofauna; Ações de comunicação e programas sociais; Reassentamento de populações atingidas. Informar: Programa Acreditar - capacitação de 42446 alunos dos quais 29965 foram contratados. Este programa pertence a Odebrecht. Informar: Programa Acreditar - capacitação de 42446 alunos dos quais 29965 foram contratados. Este programa pertence a Odebrecht. Sem informações na fonte pesquisada 2009 CEMIG 2010 CEMIG 2011 CEMIG 2012 CEMIG 2013 CEMIG 2014 CEMIG Fonte: Elaborado pelo autor. Dimensões de sustentabilidade / Paradigmas Econômica, ecológica, ambiental, social – Ecocentrico. Econômica, ecológica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, ecológica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, ecológica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, social, ambiental – Tecnocentrico. Econômica, social, ambiental – Tecnocentrico. - Ao tratar da dimensão sociedade no RS 2010, a CEMIG, declarou que o reassentamento das populações atingidas pela UHE SAE tratava de uma etapa em fase de conclusão com 1.356 propriedades e população de 1.720 famílias sendo realocadas (reassentadas) via alternativas de remanejamento discutidas e ajustadas com a população. O discurso da empresa baseou-se na defesa das alternativas de pagamento de indenização em 98 pecúnia, reassentamento em loteamentos rurais, em lotes de 50 hectares, com casa, água, energia elétrica, estradas e equipamentos comunitários e públicos. Logo, a empresa afirmou que ao fim de 2010, a população foi reassentada em cinco loteamentos rurais e dois urbanos, implantados em 556 casas construídas. O investimento total previsto para o remanejamento da população está estimado em R$ 570 milhões (CEMIG, 2010, p. 108). Para Sachs (2008) o assentamento de populações humanas (por exemplo, reassentamento) deve ser realizado de forma cada vez mais humana. Além de características sociais, trata-se de uma questão de dimensão territorial, também influenciada pela dimensão cultural. No contexto do rio Madeira, estas populações possuem como principal fonte de recursos de sobrevivência o próprio rio, seja através da pesca, do garimpo e da agricultura, comumente realizados de forma artesanal. A empresa faz referencia ao Programa Acreditar que foi criado com objetivo de formar profissionais para atuar na área do empreendimento e qualificar a mão de obra local. De acordo com a empresa, até 2012 foram capacitadas pelo programa 42.442 pessoas, das quais 29.965 foram contratadas (CEMIG, 2012). Vale ressaltar que este programa é de autoria da Construtora Odebrecht e executado em parceria com instituições de ensino, principalmente o SENAI/RO. A empresa também declarou não assumir responsabilidade pelas questões socioambientais diretamente relacionadas ao contexto da UHE SAE, porém utilizou imagensfotografias da região do entorno para ilustrar o RS CEMIG 2012. Pelas imagens, em primeira análise, percebeu-se uma preocupação em valorizar a vida local tanto do ponto de vista social quanto ecológico. As imagens ocuparam páginas inteiras do início ao fim do relatório. O que se pretendeu mostrar pela empresa CEMIG foi uma imagem de aproximação do cotidiano dos pescadores artesanais e da beleza de grandes arvores e matas da floresta amazônica nas imediações do rio Madeira. No RS 2013, a CEMIG apresentou o Projeto Vitrine da SAE que foi apontado como iniciativa de reforço às atividades já desenvolvidas pela empresa Santo Antônio Energia para o apoio à produção e reinserção produtiva das famílias residentes em reassentamentos. O objetivo deste projeto foi de tornar o lote uma vitrine tecnológica para os agricultores do reassentamento (CEMIG, 2013). Neste mesmo ano a CEMIG apresentou os estados em que atua incluído o estado de Rondônia e, ainda utilizou uma mesma imagem que já havia se utilizado no RS 2011 de Furnas. Imagens fotografias do RS 2012/13 é apresentada na figura 17. 99 Figura 17 – CEMIG – Contexto rio Madeira - RS 2012/13. Fonte: CEMIG - Relatório de Sustentabilidade, 2012, p. 2-30-75-82; 2013, p. 27. Ao comparar o discurso textual com as imagens da figura 17 extraídas do RS CEMIG 2012 e 2013 foi possível lançar alguns questionamentos: qual o comprometimento com a sustentabilidade nas dimensões propostas por Sachs (2008) das organizações que participam como acionistas minoritárias em SPE relacionado a geração de energia? Utilizar imagens que já foram divulgadas por outros relatórios de sustentabilidade para promover seus próprios relatórios, se isentando da responsabilidade dos atos materiais para atuar apenas no campo do discurso caminha para a sustentabilidade organizacional? 4.4.3 SAE - Odebrecht - 2008 a 2013 Para os gestores da empresa, a criação da Organização Odebrecht, em 1944, trás embutido em sua estrutura a sustentabilidade considerada presente nas práticas de suas equipes. O fundador Norberto Odebrecht iniciou a sistematização e a redação dos princípios, conceitos e critérios da Tecnologia Empresarial Odebrecht com a publicação do livro Pontos de Referência, em 1970. O tema se consolidou como princípio da TEO no livro Sobreviver, Crescer e Perpetuar, de 1981 (ODEBRECHT, 2007). O resumo do discurso da Odebrecht ao longo dos anos 2007 a 2014 está no quadro 24. 100 Quadro 24 – Análise do discurso da Odebrecht – 2007-2014. ANO Empresa 2007 Odebrecht 2008 2009 Odebrecht Odebrecht 2010 Odebrecht 2011 Odebrecht 2012 Odebrecht 2013 Odebrecht 2014 Odebrecht Características do discurso Sem informações disponíveis nas fontes pesquisadas Informar: Sobre a Tecnologia Empresarial Odebrecht; Riscos socioambientais que devem ser vistos como um desafio tecnológico; Lançamento do Programa Acreditar. Informar: Tecnologia Empresarial Odebrecht; Informação do numero de inscritos no Programa Acreditar: 25.170 pessoas locais qualificadas. Informar: Modelo de sustentabilidade a ser seguido: este modelo é pautado no desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, responsabilidade ambiental, valorização da cultura e participação política conforme apresenta o seu relatório de gestão; Aproximação das dimensões de Sachs; TEO - tema "Energia no Horizonte"; Programa Acreditar, Boletim infromativo especial: tema "Sempre Elas" dedicado as mulheres que trabalham na empresa; Imagens apresentadas para validar os textos argumentativos - trechos discursivos Informar: Programa Acreditar qualificou até o fim de 2011 "92 mil pessoas". Informar: Programa Acreditar - premiação em prêmio internacional Informar: Tema 2013 "crescimento sustentável"; Discurso de excelência em gestão empresarial e técnica em construção civil; atualização dos dados do Programa Acreditar. Informar: Tema 2014 "todo tempo é de servir"; Utilizar os recursos da natureza para perpetuar a espécie humana. Dimensões de sustentabilidade / Paradigmas Econômica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, ecológica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Social, econômica, ambiental - Centrado na sustentabilidade. Econômica, social, ambiental – Centrado na sustentabilidade. Econômica, social, ambiental – Tecnocentrico. Econômica, ambiental Tecnocentrico. Fonte: Elaborado pelo autor. Em 2007 a Odebrecht elaborou relatório de gestão, no entanto, não divulgou noticias relacionadas ao contexto das usinas hidrelétricas no rio Madeira. Em 2008, as obras da UHE SAE são iniciadas e a empresa, através da mensagem do presidente do Conselho de Administração, Emilio Odebrecht afirma que, [...] “a passagem do discurso à prática não é tarefa isenta de disciplina e persistência”. [...] para quem faz uma decidida opção pelo futuro, abrir mão de resultados imediatos que representem riscos socioambientais ou aplicar recursos próprios no desenvolvimento de comunidades será tão natural e lógico quanto investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico [...] (Odebrecht, 2008, p. 10). O trecho discursivo refere-se a várias perspectivas, porém, é na dimensão social que se concentra o discurso da empresa neste ano. Através do lançamento do programa de qualificação de mão-obra denominado Acreditar, foi configurado o discurso da Odebrecht. 101 Talvez pela ousadia da iniciativa de qualificar mão-de-obra sem a garantia de contratação, mas por um lado, se posicionando a favor destas, principalmente de cidadãos moradores do estado de Rondônia, a empresa tivesse tão segura de suas ações no contexto da usina hidrelétrica em construção já no ano de 2008. Neste sentido a empresa manteve uma posição discursiva pela sustentabilidade no contexto das usinas hidrelétricas do rio Madeira. Mesmo diante da falta de consistência dos estudos preliminares, questionados anteriormente, realizados no rio Madeira, frente à suposta necessidade de gerar energia para desenvolver a região norte e o país como contraponto aos impactos ambientais e sociais futuros. O principal discurso do relatório de gestão TEO em 2009 foi informar o número de alunos inscritos no Programa Acreditar, na ordem de 25.170, que teve início na construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, para subsidiar a contratação de 10 mil postos de trabalho diretos e mais 50 mil indiretos durante sua construção. Neste relatório foi apresentado o objetivo do programa que era qualificar e preparar trabalhadores das regiões onde existiam obras da Odebrecht. O discurso da sustentabilidade da organização Odebrecht leva em conta a multidimensionalidade, como a própria empresa afirma. A empresa acredita que integra aspectos econômicos, sociais, ambientais, culturais e políticos através da Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO) desde as origens da Odebrecht. Segundo a empresa, este conceito vem se aprimorando ao longo dos anos. Com base na Política de Sustentabilidade, suas equipes buscam o domínio de competências e práticas empresariais cada vez mais completas, de modo a contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países e regiões em que atuam (Odebrecht, 2011, p. 17). Para os idealizadores a empresa se coloca frente aos desafios de gestão empresarial para a sustentabilidade como modelo a ser seguido por organizações desta e de outras áreas de atuação. O modelo de gestão sustentável TEO possui características que se aproximam das características das dimensões de sustentabilidade proposta por Sachs (2008). Este modelo é pautado no desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, responsabilidade ambiental, valorização da cultura e participação política conforme apresenta o seu relatório de gestão 2010 (Odebrecht 2010, p. 17). Desta forma, a Odebrecht não elabora relatórios de sustentabilidade com base em modelos internacionais como o GRI, defendendo firmemente o discurso de que sua tecnologia empresarial – TEO serve como modelo a ser seguido por qualquer organização (ODEBRECHT, 2011; 2014). No ano de 2010 a empresa publicou o boletim informativo de nº 148 no qual destinou uma seção especial à obra da UHE SAE. Na capa o título “Energia no Horizonte, Usina 102 Hidrelétrica Santo Antônio começa a mostrar sua face” a Odebrecht também promoveu o discurso de apresentação da grandiosidade da obra. Como conteúdo, as informações ligadas ao programa Acreditar e a valorização das pessoas com o título “Pessoas, sempre elas” foi apresentado o panorama do programa Acreditar. Alguns trechos discursivos foram extraídos do informativo nº 148 de 2010 e apresentados para representar o discurso escrito da Odebrecht de 2008 a 2010 uma vez que as informações deste documento diz respeito ao histórico da empresa no contexto das obras do rio Madeira. Vale ressaltar que as publicações da SAE só foram disponibilizadas a partir do ano de 2012. Para não tornar este fato uma limitação do estudo (sem contar a ausência de relatórios de sustentabilidade), as informações contidas nos relatórios e informativo da Odebrecht acabaram por colaborar com a ausência de informações da SAE garantido a confiabilidade e validade nos dados pesquisados. Trecho discursivo 1 - Mário Lúcio Pinheiro, Diretor de Contrato e responsável pelas obras civis do Consórcio Santo Antônio Civil: “Lidar com a diversidade de culturas exige olho no olho, diálogo franco. O maior desafio não é a construção de uma usina, mas, sim, a construção de uma unidade. Temos de trabalhar em união”. Trechos discursivos 2 - Luiz Gabriel Todt de Azevedo, da Odebrecht Energia, responsável pela área de Sustentabilidade: “Nossa meta é promover ganhos sociais e econômicos para as comunidades da região, além de garantir oportunidades reais para a conservação ambiental”. “O Brasil tem condições de provar que aprendeu com o passado e que pode estabelecer Santo Antônio como um marco de desempenho socioambiental para a futura exploração do potencial energético dos rios da Amazônia”. Trechos discursivos 3 – Idealizador do programa Acreditar, Antônio Cardilli está na Odebrecht há 30 anos. Aos 47 anos, esse barrageiro coleciona pedras das usinas em que esteve: seis. “Esta é daqui”, aponta para uma pedrinha cinzenta. Ele começou na Organização aos 17 anos e acredita ter atingido a fase mais gratificante. “Cheguei aqui em 14 de janeiro de 2008 para montar o escritório.” Trechos discursivos 4 - Rubens Gonçalves da Silva: “Antes, eu andava de bicicleta e não tinha perspectiva. Com meu novo trabalho, melhorei de vida e consegui que minha filha, Edivânia, concluísse o curso de Administração de Empresas”. Trechos discursivos 5 - “Gosto de desafios”, diz. “Acho bonito uma mulher trabalhar em funções que eram só de homens. No futebol e aqui.” Os trechos discursivos representam a fala de pessoas que participaram de forma direta do contexto em que foram iniciados os trabalhos de execução da UHE Santo Antônio. O 103 discurso textual destes documentos foi ilustrado com imagens-fotografias que podem ser visualizadas na figura 18. Figura 18 – Odebrecht – Programa Acreditar e a obra da UHE-SAE – 2009/2010. Fonte: Relatório Odebrecht, 2009, p. 33; 2010, p. 24. Informativo Odebrecht 148, 2010, p. 1-16-18. As imagens apresentadas na figura 18 dizem respeito aos discursos de profissionais que realizaram o programa Acreditar no contexto da UHE SAE. Além disso, as imagens sensibilizam para a grandiosidade da obra, para as questões de segurança no trabalho e mostram funcionários sendo transportados pela empresa em modalidades de transporte local como as voadeiras. O que não pode ser percebido nestas imagens é a questão da natureza e da sociedade, fazendo valer apenas a preocupação da Odebrecht com os seus funcionários. Mesmo assim considera-se que o programa Acreditar tenha sido uma das mais inovadoras formas de contratação de mão-de-obra em empreendimentos hidrelétricos de grande porte, tanto é que a partir de sua origem na cidade de Porto Velho/RO, já percorreu as demais obras da Amazônia, como exemplo a obra da UHE Teles Pires em Mato Grosso. Por um lado a Odebrecht garantiu no quadro de funcionários pessoas qualificadas de acordo com os objetivos da empresa, por outro lado, os funcionários não tem obrigação de ingressar após realizar os cursos de qualificação não precisando pagar pelas horas de estudo. Ainda como forma de comprovar a sua participação é fornecido certificado com carga horária e áreas estudadas, desde o nível mais básico até o nível técnico, pela instituição de ensino parceira da Odebrecht, no contexto de Porto Velho, o SENAI/RO. 104 Em 2011 a Odebrecht destaca novamente o programa Acreditar com informações mais consistentes do ponto de vista da sua idealização e condução. A empresa declarou que o Programa Acreditar, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, foi criado para forma profissionais para atuar em obras de construção civil. Até 2011 já havia recebido inscrições de 92 mil trabalhadores brasileiros e que os beneficiários do Bolsa Família podem participaram do programa, que começou em 2008, nas obras da Hidrelétrica de Santo Antônio, em Porto Velho (RO), onde oitenta e cinco por cento dos contratados da obra foram capacitados pelo Acreditar (ODEBRECHT, 2011). O Relatório de Gestão Odebrecht 2012 apresentou algumas premiações conquistadas pela empresa, principalmente na área educacional conforme relata o Líder Empresarial da Odebrecht Energia, Henrique Valladares, Prêmio Pan-Amazônico de Excelência Educacional e Acadêmica, na categoria Formação para o Trabalho, concedido pela Associação PanAmazônia ao Programa Acreditar. A iniciativa premia professores, educadores e empresas que se dedicam ativamente à melhoria da educação na Amazônia Continental. (Odebrecht, 2012, p. 70). Importante destacar que a Odebrecht não tinha naquele contexto professores atuando na execução do programa, que foi realizado em parceria com o SENAI/RO. Em 2013 a empresa apresentou o tema “Crescimento Sustentável” atualizando os dados e informando novamente sobre o programa Acreditar. Seu discurso priorizou também a excelência em gestão empresarial e técnica no setor de construção civil, metal e mecânica. O tema “Todo Tempo é de Servir” foi abordado em 2014 em homenagem ao criador da empresa que viria a falecer neste mesmo ano. As palavras do empresário Norberto Odebrecht estão descritas no trecho discursivo do livro Educação pelo Trabalho, “O genuíno empresário é um tipo muito especial de ser humano. Seu propósito na vida é servir a seus semelhantes, liderando a produção de riquezas, isto é, de bens e serviços que a nossa espécie requer para sobreviver, crescer e perpetuar.” (Odebrecht, 2014, p. 2). Este discurso caracteriza o perfil da empresa no lado do tecnocentrismo onde a economia predomina sobre a natureza. As imagens dos relatórios de 2011, 2012, e 2013 relacionados ao contexto do UHE SAE apresentou a evolução da obra, funcionários em postos de trabalho e mapas de participação da empresa nos estados onde realizou obras conforme figura 19. 105 Figura 19 - Odebrecht – Evolução da UHE-SAE – 2011/2014. Fonte: Relatório Odebrecht, 2011, p. 4; 2012, p. 20-69; 2013, p. 23. Do ponto de vista da sustentabilidade econômica do empreendimento, é possível observar na imagem-fotografia superior esquerda (2011) que a Odebrecht considerou a UHE Santo Antônio um dos seus principais empreendimentos de construção civil em 2011. Dividindo espaço no relatório com obras realizadas, por exemplo, em aeroporto americano. Na parte inferior direita (2012) é possível perceber a força do rio Madeira em contradição à área de ensecadeira onde são construídos os vertedouros. A imagem-fotografia superior direita (2012) apresenta uma funcionária da Odebrecht liderando sua equipe já em um dos ambientes operacionais da usina, destacando a força da mulher em atividades lideradas no passado apenas por homens. A imagem inferior direita (2013) apresenta os números do programa Acreditar no Brasil e no mundo, com uma funcionária utilizando equipamentos de segurança individual e coletiva, reafirmando a opção e o reconhecimento da Odebrecht por funcionários do gênero feminino. 4.4.4 ESBR - GDF Suez - Tractebel Energia - 2008 a 2013 O parque gerador da Tractebel tem capacidade instalada própria de 6.472 MW, equivalente a cerca de 6,6% da capacidade instalada total no Brasil. É composto por 21 usinas 106 operadas pela Companhia, das quais oito são hidrelétricas, seis termelétricas e sete complementares – duas a biomassa, duas eólicas e três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Entretanto, a capacidade instalada total operada pela Tractebel é de 7.543 MW, pois existem parcelas detidas por outros investidores nos consórcios de três dessas usinas: Usina Hidrelétrica Itá, Usina Hidrelétrica Machadinho e Usina Termelétrica Ibitiúva Bioenergética. Além das usinas em operação, as usinas hidrelétricas Estreito e Jirau estão em construção e deverão agregar 2.164,1 MW à capacidade instalada própria da Companhia, ou 4.537 MW à capacidade por ela operada. A diferença é decorrente da existência de outros sócios no Consórcio Estreito Energia (Ceste) e na empresa de propósito específico Energia Sustentável do Brasil (ESBR), que desenvolvem os projetos. De acordo com a empresa GDF Suez (2010) a Tractebel Energia é a sua representante legal no contexto de operação da UHE Jirau, onde é acionista majoritária com 50,1% do empreendimento. A configuração narrativa foi identificada no trecho discursivo “A Tractebel desenvolve ações e apoia projetos de sustentabilidade nas regiões de atuação de sua sede e das usinas sob sua responsabilidade” (GDF SUEZ – TRACTEBEL – RS, 2008, p. 114). Seu controle acionário é detido pela GDF Suez Energy Latin America Participações Ltda. (GSELA), que responde por 68,71% do capital social da Tractebel Energia. A GSELA é controlada pelo grupo franco-belga GDF Suez, maior produtor independente de energia do mundo, com uma capacidade instalada de 117 GW, e que atua em toda a cadeia de valor da energia, tanto na exploração e produção quanto no transporte, distribuição e comercialização, em eletricidade e gás natural. A Companhia é sediada em Florianópolis (SC), e suas usinas se encontram instaladas em todas as regiões do Brasil. As características resumidas do discurso da GDF Suez estão no quadro 25. 107 Quadro 25 – Análise do discurso da GDF Suez – 2007 a 2013. ANO Empresa 2008 GDF Suez 2009 GDF Suez 2010 GDF Suez 2011 GDF Suez 2012 GDF Suez 2013 GDF Suez 2014 GDF Suez Características do discurso Informar: Participação majoritária da empresa na SPE UHE ESBR (50,10 %). Informar: Que as ações da empresa foram selecionadas para compor o Indide de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BMF & Bovespa que agrupa ações de empresas comprometidas com as melhores práticas de sustentabilidade, avaliadas em relação à sua eficiência econômica, responsabilidade socioambiental e governança corporativa; Riscos hidrológicos: aumento da capacidade geradora da empresa no contexto nacional (importância da ESBR) uma vez que 80 da energia gerada pela empresa é de fonte hidrelétrica. Informar: Parcerias com a China na aquisição de equipamentos de tecnologia de ponta para ser instalados na usina hidrelétrica, responsabilidade gerencial. Apresentar: Organograma da empresa com ESBR figurando entre as principais empresas do grupo, previsão de avaliação da participação da GDF Suez no empreendimento para ser analisado e homologado em 2012. Informar: Que a empresa é premiada pela Global Report Intiative (GRI) por ações que não estão relacionadas ao contexto da ESBR, mas sim a empreendimentos onde a operação para geração de energia já está consolidada. Informar: A empresa afirma ser a maior geradora de energia elétrica do país; Projeto de ampliação; Módulos de avaliação de geração de energia fotovaica em vários estados inclusive Rondônia na UHE ESBR. Sem informações na fonte pesquisada Dimensões de sustentabilidade / Paradigmas Econômica – Tecnocentrismo. Econômica, Ambiental Tecnocentrismo. Econômica – Tecnocentrismo. Econômica – Tecnocentrico. Econômica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade. Econômica, ambiental, social – Centrado na sustentabilidade - Fonte: Elaborado pelo autor. A ESBR já figura em 2008 como uma das principais empresas do grupo ocupando posição de destaque na estrutura organizacional da GDF Suez conforme pode ser visto na figura 20. Figura 20 – Estrutura organizacional simplificada – GDF Suez – RS 2008. Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade Tractebel (2008, p. 21). 108 Em primeira mão a intenção de utilizar a figura 20 perpassa pela importância concedida ao empreendimento UHE Jirau que já inicia suas obras com seus principais acionistas definidos. No entanto, a política do grupo majoritário para este empreendimento em relação ao discurso foi de cautela, não assumindo responsabilidades em seu relatório de sustentabilidade que fossem além da divulgação da participação societária majoritária (50,01%) do empreendimento. Em 2009, as ações da Tractebel foram selecionadas para compor a carteira do ISE da BM&FBOVESPA pelo quinto ano consecutivo, desde a criação do índice, em 2005. A carteira agrupa ações de empresas comprometidas com as melhores práticas de sustentabilidade, avaliadas em relação à sua eficiência econômica, responsabilidade socioambiental e governança corporativa. Com isso, o ISE tornou-se uma referência para o investimento socialmente responsável, servindo como um indutor de boas práticas no meio empresarial brasileiro. As 34 empresas que compõem a carteira foram selecionadas dentre as 51 companhias que responderam o questionário enviado às 137 emissoras das 150 ações mais líquidas da BM&FBOVESPA. (GDF Suez, 2009 p. 50). Sobre a gestão de riscos hidrológicos, de acordo com os dados do ONS, a maior parte do suprimento de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN) era gerado por Usinas Hidrelétricas (UHE). Como o SIN opera em sistema de despacho otimizado e centralizado pelo ONS, cada UHE, incluindo as UHE da Companhia, está sujeita a variações nas condições hidrológicas verificadas, tanto na região geográfica em que opera como em outras regiões do País. A geração hidrelétrica representava aproximadamente 80% da Capacidade Instalada total das usinas da Companhia, o que equivale a 5.124 MW. Na eventualidade da ocorrência de condições hidrológicas desfavoráveis no SIN, em conjunto com a obrigação de entrega da Energia Assegurada, a Companhia ficaria exposta ao mercado de energia de curto prazo, o que poderia afetar os resultados financeiros futuros da Companhia (GDF Suez, 2009, p. 184). O relatório de sustentabilidade de 2010 apresentou uma característica mais reflexiva do ponto de vista dos objetivos e da problemática da pesquisa em curso. Tratou-se de apresentar a fala de alguns funcionários responsáveis por áreas e empreendimentos de várias localidades do Brasil. Alguns trechos discursivos e as respectivas fotos dos funcionários foram extraídos do RS 2010 e apresentados na figura 21. 109 Figura 21 - Análise do discurso de funcionários GDF SUEZ em 2010. Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade TRACTEBEL (2010). A prática discursiva de introdução de falas de funcionários, moradores das comunidades ao entorno de empreendimentos hidrelétricos, por exemplo, configura-se como um padrão discursivo nas empresas do grupo ESBR, inclusive por parte de sua acionista majoritária. Desta forma, o discurso que pode ter significado contextual, está representado pelo trecho discursivo 1 da figura 21 no qual um dos funcionários fala a respeito da sua experiência com a importância de um grande volume de turbinas do país China e os desafios de ver a tarefa concluída na UHE Jirau. Outro discurso que é enfatizado no RS 2010 são os prêmios conquistados pela empresa neste ano, entre eles foram citados: Troféu Transparência (Anefac); As Melhores da Dinheiro (edição especial da Revista IstoÉ Dinheiro - A Companhia foi escolhida como 1° lugar no ranking “empresa do setor elétrico”, em Gestão de Recursos Humanos, 2° lugar em Sustentabilidade Financeira e 2° lugar em Governança Corporativa); Prêmio Expressão de Ecologia 2010; 6º Prêmio Brasil Ambiental; 12º Prêmio Abrasca - Relatório Anual (O Relatório de Sustentabilidade 2009 da Tractebel Energia conquistou o quarto lugar do Prêmio, escolhido entre mais de 30 companhias abertas participantes, reconhecido pela qualidade, 110 transparência e objetividade das informações prestadas na publicação. Além disso, a Companhia recebeu menção honrosa na categoria “Gestão de Risco”). Em 2011 a GDF Suez – Tractebel Energia enfatizou o alinhamento do RS 2010/2011 com a GRI na tentativa de evidenciar a asseguração de que seus relatórios estavam sendo homologados por asseguradores independentes como, por exemplo, a Pricewaterhouse Coopers Auditores Independentes. Sobre o contexto da UHE Jirau o RS 2011 informou que em 2012 deveria ser iniciada a avaliação da viabilidade de transferência para a Companhia da participação de 50,1% que a IPR detém na Usina Hidrelétrica Jirau, a qual está em construção e terá potência total de 3.750 MW. Essa avaliação seria feita pelo Comitê Especial Independente para Transações com Partes Relacionadas, formado em sua maioria por membros independentes do Conselho de Administração da Tractebel Energia. A presença da ESBR como empresa do grupo GDF Suez figurou também no RS 2011 na estrutura organizacional do grupo como pode ser observado na figura 22. Figura 22 - Estrutura organizacional GDF Suez RS 2011 Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade Tractebel (2011, p. 26). Do lado esquerdo da figura 22 encontra-se o organograma societário da GDF Suez que apresenta a ESBR figurando como uma das mais importantes sociedades do grupo. Do lado direito, o mapa do Brasil onde as regiões em cor roxa retratam a presença da estrutura organizacional da acionista. Percebe-se que no estado de Rondônia (cor cinza), a GDF não possui operações. Esta configuração pode ser analisada sob 02 aspectos: o primeiro reside no fato da empresa não se comprometer com as demandas sociais e ambientais da fase de 111 construção e o segundo que por ser uma empresa na qual seu principal objetivo é o lucro econômico não discursaria em prol de ações que por motivos financeiros não iria praticar. Em 2012 a ênfase do discurso foi pelo parecer da Global Report Intiative “A GRI neste ato declara que a Tractebel Energia apresentou seu “Relatório de Sustentabilidade 2012” para o setor de Serviços de Relatório da GRI, que concluiu que o mesmo atende aos requisitos de Nível de Aplicação A+” (RS GDF SUEZ, 2012 p. 131). Em 2013 a Tractebel Energia, declara ser o maior gerador privado do setor elétrico brasileiro no qual atua desde 1998, tanto na geração quanto na comercialização de energia, por meio da implantação e operação de usinas. Assim, vem diversificando sua matriz energética e a participação em diferentes mercados regionais, e permanece com o firme propósito de continuar a ampliação do seu parque gerador, prioritariamente por meio de fontes renováveis, como a hidráulica, a eólica, a biomassa e a solar. Outro importante destaque apontado no RS 2013 é que desde o início das operações no Brasil, a Companhia analisa oportunidades de expansão nas diferentes regiões do País, que sejam sustentáveis dos pontos de vista econômico, social e ambiental como pode ser visto na figura 23. Figura 23 - Tecnologias de geração de energia sustentável - RS 2013. Fonte: GDF SUEZ – Tractebel, 2013, p. 48. Um dos projetos de P&D desenvolvidos ao longo de 2013 foi a implantação de uma usina solar fotovoltaica em Capivari de Baixo (SC), Município sede do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda. Liderado pela Tractebel Energia, o projeto é desenvolvido em parceria com o Grupo de Pesquisa Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mais 12 empresas cooperadas, tendo como objetivo avaliar o potencial de geração 112 solar no Brasil, sua complementaridade com outras fontes de energia e identificar as tecnologias mais apropriadas às condições climáticas predominantes em cada região. O investimento total previsto é de R$ 56,3 milhões. No estado de Rondônia este projeto figura como módulo de avaliação. 4.4.5 ESBR – CHESF- ELETROBRÁS - 2008 a 2011 Os relatórios de sustentabilidade da Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco – CHESF, empresa participante da SPE/ESBR foram analisados de 2008 a 2011. Estes relatórios estão disponíveis no sitio eletrônico da empresa. A análise do discurso de sustentabilidade empreendida refere-se ao contexto da UHE Jirau no rio Madeira. A partir de 2012 a empresa passou a ser considerada, assim como todas as outras do Sistema Eletrobrás, nos relatórios desta última. Como a SPE/ESBR só foi estabelecida em 2008, o relatório deste mesmo ano cujas informações são referentes aos anos anteriores, não apresentou nenhuma notícia relacionada às hidrelétricas em construção no rio Madeira. Nos relatórios de 2009, 2010 e 2011, a empresa informa que possuía participações minoritárias nas seguintes empresas: 49% no capital social da empresa STN – Sistema de Transmissão Nordeste S.A.; 12% no capital social da empresa Integração Transmissora de Energia S.A.; 24,5% no capital social da empresa Energética Águas da Pedra S.A.; 20% no capital social da empresa ESBR Participações S.A; 19,5% no capital social da empresa Manaus Transmissora de Energia S.A.; 19,5% no capital da empresa Manaus Construtora Ltda.; 24,5% no capital da empresa Interligação Elétrica do Madeira S.A (IEM) (CHESF, 2009). 4.4.6 ESBR – Eletrosul-Eletrobrás – 2008 a 2012 O quadro 26 apresenta uma síntese do discurso da Eletrosul-Eletrobrás no contexto da SPE/ESBR. 113 Quadro 26 - Análise do discurso da Eletrosul – Eletrobrás – 2008-2012. ANO Empresa 2007 Eletrosul Sem informações disponíveis na fonte pesquisada. 2008 Eletrosul Sem informações na fonte pesquisada. 2009 Eletrosul 2010 Eletrosul 2011 Eletrosul Características do discurso Informar: sobre a declaração do objetivo da Eletrobrás tornar-se, em 2020, a maior empresa de energia limpa do mundo. O destaque é para o Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte e as usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau. Apresentar: A UHE Samuel e não faz referencia ao contexto do rio Madeira UHE ESBR. Reafirmar: O discurso realizado em 2009 - liderança mundial em produção de energia limpa - PBA no contexto do rio Madeira (toma emprestado do discurso para caracterizar a dimensão sustentabilidade das ações da ESBR). Informar: numeros referente a obra UHE ESBR; imagens da natureza preservada 2012 Eletrosul 2013 Eletrosul Sem informações na fonte pesquisada. 2014 Eletrosul Sem informações na fonte pesquisada Dimensões de sustentabilidade / Paradigmas Econômica Tecnocentrismo. Econômica, ambiental Tecnocentrismo. Econômica, ecológica – Ecocentrico e Tecnocentrico. - Fonte: Elaborado pelo autor. O relatório de sustentabilidade da Eletrosul em 2008 não apresentou informações relacionadas ao contexto da SPE/ESBR. Em 2009, a única ocorrência do RS Eletrosul diz respeito a capacidade instalada de 99% em novos empreendimentos previstos para a expansão da Eletrobrás considerando que a fonte é de energia limpa (conforme discursam as empresas hidrelétricas), sendo 34.031 MW em fonte hidráulica. O único discurso presente neste relatório que fala do contexto pesquisado é a declaração do objetivo da Eletrobrás tornar-se, em 2020, a maior empresa de energia limpa do mundo. O destaque é para o Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte e as usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau (ELETROSUL, 2009). Em 2010 a empresa apresentou mapas ilustrando sua participação na transmissão e distribuição de energia elétrica pelo país, porém naquele contexto só figurava a usina de Samuel na geração de energia no estado de Rondônia. As UHE‘s’ ESBR e SAE ainda não estavam gerando energia, o que ocorreria só em 2012. O principal discurso referente às usinas em construção foi relacionada a regularização de consumidores, necessidade apontada pela Eletrobrás Distribuição Rondônia, devido ao crescimento está atrelado ao grande contingente populacional atraído pelas obras do complexo hidrelétrico do rio Madeira. No relatório de 2011 a Eletrobrás atribuiu o alcance das metas traçadas pela companhia para os próximos anos, primordialmente com foco em projetos de grande potencial 114 gerador, em especial os hidrelétricos, como: o aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte, as usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau – e as usinas hidrelétricas da bacia do rio Tapajós – São Luiz do Tapajós, Jatobá, Jamanxim, Cachoeira dos Patos e Cachoeira do Caí. Em 2011, tiveram início as obras das usinas hidrelétricas de Teles Pires e Belo Monte (Eletrobrás, 2011, p. 20). Neste mesmo ano a empresa comemorou 50 anos de existência do Sistema Eletrobrás. Neste sentido, seus relatórios de sustentabilidade iniciam um processo de elaboração integrada fazendo valer o potencial gerador, transmissor e de distribuição da estatal. O que se pretendeu foi integrar empresas do setor como CHESF, Eletrosul e a própria Eletrobrás. As empresas Eletrobrás detêm a concessão/autorização para a construção de novos empreendimentos de geração (e aguardam outorga de outros empreendimentos ganhos em leilões passados), com capacidade total de cerca de 23.700 MW [...] (Eletrobrás, 2011, p. 20). No relatório de 2011, a Eletrobrás se considerou a maior holding do setor de energia elétrica da América Latina, composto pelas empresas Eletrobrás Holding, Eletrobrás Eletropar, Eletrobrás Cepel, Eletrobrás CGTEE, Eletrobrás Chesf, Eletrobrás Eletronorte, Eletrobrás Eletrosul, Eletrobrás Eletronuclear, Eletrobrás Furnas, Itaipu Binacional e as empresas de distribuição ED Acre, ED Alagoas, Eletrobrás Amazonas Energia, ED Piauí, ED Rondônia e ED Roraima. A figura 24 apresenta o mapa de transmissão e distribuição de energia no contexto nacional inclusive, considera o estado de Rondônia. 115 Figura 24 - Mapa de transmissão e distribuição Eletrobrás - RS 2011. Fonte: Eletrobrás, 2011, p. 34-36. O discurso da Eletrobrás se manifesta pelo discurso econômico, de desenvolvimento da capacidade geradora de energia da empresa e do país. No entanto, seu discurso busca evidenciar que existe uma preocupação com a dimensão ambiental diante da propagação do discurso de que ações efetivas de mitigação de impactos sobre as espécies serão adotadas, conforme acordado junto aos órgãos ambientais, com elaboração e implementação de um Plano de Conservação de Ecossistemas Aquáticos. Através deste relatório a Eletrobrás acredita que a construção de escadas de peixes nas usinas em implantação no rio Madeira, Santo Antônio e Jirau seriam suficientes para a continuidade de piracemas sem grandes problemas (ELETROBRÁS, 2011). Além de discursar em prol do meio ambiente, a Eletrobrás relatou as ações empreendidas para combater a corrupção. No relatório apresenta os 09 autos de infração aplicados pela Aneel diretamente a ED Rondônia da empresa. Esta prática discursiva refere-se ao requisito da GRI que orienta para as organizações trabalharem no sentido do combate a corrupção, principalmente quando o contexto é da própria organização (ELETROBRÁS, 2011). Ao contrário de 2011, o relatório de sustentabilidade de 2012 da Eletrobrás apresentou apenas dados técnicos econômicos da obra de Jirau, das linhas de transmissão e de distribuição. O que chamou mais a atenção foi o simbolismo da imagem-fotografia de uma 116 planta muito conhecida no Brasil e na Amazônia que é a Vitória-Régia e uma foto de uma grande árvore da floresta amazônica conforme figura 25. Figura 25 – Discurso de sustentabilidade ecológica - RS 2012. Fonte: Eletrobrás, 2012, p. 179-329. As fotografias retrataram a exuberância da floresta amazônica no contexto do rio Madeira. A Vitória-Régia, planta típica de igarapés de rios de águas mansas transmitem a sensação de que a natureza permanece inalterada, sem grandes impactos ambientais. É o caminhar do discurso da sustentabilidade ecológica. No entanto, as imagens aparecem no relatório sem nenhuma informação de cunho de preservação, muito comum em relatórios de sustentabilidade. A realização da análise sociológica do discurso nos relatórios de sustentabilidade seguiu o mesmo procedimento da análise dos releases, informativos, clippings e notícias do item 4.3. A construção do discurso organizacional das empresas Furnas, CEMIG e Odebrecht, acionistas da SPE/SAE e das empresas GDF Suez, Chesf, Eletrobrás e Eletrosul, acionistas da SPE/ESBR foram realizadas a partir dos RS disponíveis do período 2008 a 2014. A partir desta análise os discursos produzidos refletiram as posições discursivas, configurações narrativas e espaços semânticos destas empresas com base nas dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e nos paradigmas de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) visualizados na representação gráfica da figura 26. 117 Figura 26 – Construção do discurso em Relatórios de Sustentabilidade das empresas acionistas da SPE/SAE e SPE/ESBR Fonte: Elaborado pelo autor. A análise longitudinal realizada a partir da figura 26 agrupou as empresas que discursaram individualmente, entre si, como participantes de sociedades de propósito específico SPE/SAE e SPE/ESBR ou ainda, em prol de outras empresas relacionadas ao contexto de construção das usinas do rio Madeira e geração e distribuição de energia elétrica para o país. Relacionados a este contexto, nenhuma das empresas divulgou informações em seus relatórios no ano de 2007. A partir de 2008 começou a se produzir nos respectivos documentos (relatórios de gestão, socioambientais e sustentabilidade) os discursos sobre as obras dos aproveitamentos hidrelétricos do rio Madeira. Empresas vinculadas a SPE/ESBR como GDF Suez e Eletrobrás não se esforçaram para informar em seus relatórios os caminhos percorridos para se atingir a sustentabilidade. Quando o fizeram no documento, se referiram a outros contextos onde os negócios já estavam mais desenvolvidos. A CEMIG apoiou seu discurso no PBA da SPE/SAE (mais para a dimensão ecológica) enquanto a Odebrecht priorizou a divulgação da sua 118 tecnologia de gestão onde acredita-se cumprir padrões internacionais baseados na sustentabilidade. Em seu relatório de gestão de 2008 a Odebrecht já anunciava os primeiros números do Programa Acreditar e confirmava a sua vocação para os desafios socioambientais frente à necessidade tecnológica para superar estes desafios. Neste ano, os discursos produzidos caminharam ao lado dos paradigmas tecnocentrado (GDF Suez), paradigma ecocentrico (CEMIG) e centrado na sustentabilidade (Odebrecht). Em 2009 e 2010 o discurso produzido pelas empresas ora foi caracterizado pelo paradigma tecnocentrado, ora pelo paradigma centrado na sustentabilidade. Do lado do primeiro foram posicionadas as empresas do grupo SPE/ESBR e do lado do segundo as empresas do grupo SPE/SAE. As dimensões de sustentabilidade percorreram a dimensão econômica, ecológica, ambiental e social. A aproximação da empresa Odebrecht ao contexto local liderando a condução do PBA da UHE Santo Antônio com grande amplitude na execução de seu programa de qualificação profissional (Programa Acreditar) favoreceu a manutenção da sua prática discursiva aos seus atos materiais. Do lado UHE/ESBR (Jirau) as empresas não vivenciaram o cotidiano da obra, ficando a cargo de construtoras que não foram identificadas como participantes da SPE/ESBR. A Odebrecht construiu seu discurso baseado no contexto da obra da UHE/SAE nos demais relatórios de gestão até o ano de 2012 reafirmando o sucesso do “Programa Acreditar” no contexto local estendendo-o aos demais empreendimentos em outros estados e até mesmo em outros países. Ao discursar baseado nas dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e apresentar números expressivos de resultados sociais e ambientais nos relatórios, a empresa manteve seu discurso alinhado ao paradigma centrado na sustentabilidade. Pelo lado da GDF Suez (principal acionista do grupo ESBR) somente em 2012 é que a mesma começa a apresentar sinais de sustentabilidade por ganhar um premio internacional da GRI, no entanto, que não dizia respeito a ações sustentáveis no contexto do rio Madeira. Em 2013 e 2014 os discursos construídos nos relatórios de sustentabilidade assumem configurações narrativas que se invertem, por exemplo, todas as empresas tratam das dimensões de Sachs (2008), no entanto, a Odebrecht passa a não valorizar mais o contexto da UHE/SAE enquanto a GDF Suez apresenta ações sustentáveis que passam a incluir a UHE/ESBR. Além disso, a empresa Furnas passa a valorizar mais o contexto analisado em função do inicio de geração e distribuição de energia, colocando-a como uma empresa presente no complexo hidrelétrico do rio Madeira, pois além de ser acionista da SPE/SAE, também o é na distribuição de energia da SPE/ESBR. Logo, a Odebrecht é caracterizada pelo paradigma tecnocentrado. A GDF Suez constrói seu discurso nesta etapa de quase finalização 119 da obra UHE/ESBR por um olhar que começa a perceber-se no contexto da UHE/ESBR caracterizado pelo paradigma centrado na sustentabilidade, como ocorre na construção do seu discurso em outros contextos de atuação já consolidados. Desta forma, da análise dos relatórios de sustentabilidade é um pouco mais abrangente na participação dos funcionários enquanto interlocutores da organização (exigências do padrão GRI) depreendeu-se que a posição discursiva (quem fala) é representada principalmente pelos diretores das organizações e pelos seus funcionários. Quando é fornecido voz à comunidade, geralmente é para relatar a forma pela qual foi conquistado uma função organizacional no quadro das empresas. A fala do presidente está presente na maioria dos relatórios. Os relatórios seguem as diretrizes de organismos internacionais como GRI, logo apresentam forte padronização discursiva. Na maioria dos relatórios, o espaço semântico foi construído através da necessidade de desenvolvimento econômico do país em bases sustentáveis a partir da geração de energia hidroelétrica, considerada energia limpa (em sua forma de discurso). A hermenêutica da palavra energia limpa não discutida neste trabalho, o que poderia levar a outra discussão senão, as características de sustentabilidade das empresas do complexo hidrelétrico do rio Madeira. Neste sentido o espaço semântico (de que se fala) baseou-se também na necessidade que as empresas possuem de tornar público os seus relatórios de gestão, relatórios socioambientais e relatórios de sustentabilidade com base em padrões internacionais de gestão que incluem a sustentabilidade de grandes empreendimentos como no caso da UHE/SAE e UHE/ESBR. Como resultados as características de sustentabilidade de Sachs (2008) e os paradigmas da sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) associados ao que as empresas falam (posições discursivas). Das configurações narrativas (o que está em jogo) no qual o objetivo principal foi caracterizar o discurso de sustentabilidade das empresas acionistas das SPE/SAE e ESBR, surgiram alguns resultados importantes neste estudo. As práticas discursivas e não discursivas (atos materiais) das empresas se alinham à sua proximidade com o contexto em que foi analisado. Por exemplo, a Odebrecht, acionista minoritária discursou muito mais em relação a sustentabilidade no contexto em análise do que empresas que possuem grandes participações como no caso da GDF Suez, acionista majoritária da SPE/ESBR. No contexto geral, a primeira alinhou sua prática discursiva à prática não discursiva (ato material) ao executar o Programa Acreditar que capacitou quase 100 mil funcionários. Já a segunda que orienta sua prática discursiva pela GRI (a GRI orienta que as empresas que participam de grandes empreendimentos desenvolvam ações de sustentabilidade nas localidades ao entorno da obra), 120 guiou sua prática não discursiva pela visão natureza-economia, pelo menos no contexto do rio Madeira. 4.5 Resultados e discussão com base na análise sociológica do discurso sobre sustentabilidade Através das conjecturas pré-analiticas realizadas no processo de investigação procurou-se encontrar maneiras de tecer e configurar de forma unitária um conjunto de elementos que poderiam representar o discurso, tanto por seu conteúdo, como pelo fato de serem produzidas por diferentes agentes que divulgam seu entendimento sobre sustentabilidade. A lógica inicial foi pensada de forma a identificar trechos discursivos nos textos-documentos e posteriormente, qual a relação dos textos com as imagens que acompanham os documentos. A análise das imagens basicamente foi realizada através dos relatórios de sustentabilidade que em parte foram mais significativas visualmente do que na sua forma textual em relação aos objetivos desta pesquisa. Para realizar as análises, seguiu-se em ordem: contexto inicial das obras, análise dos planos básicos ambientais (PBA), releases, clipping e notícias das empresas ESBR e SAE consideradas a partir das análises como grupos distintos de atuação e que discursam de forma independente entre si. Seus acionistas são empresas públicas e privadas pelas quais foram analisados em sua maioria relatórios de sustentabilidade compostos por textos e imagens que enriqueceram o material disponível e ajudaram na formulação de uma das sugestões de pesquisa para as organizações pesquisadas. As posições discursivas e os espaços semânticos foram construídos a partir dos trechos discursivos codificados que geraram as redes de relacionamento. A materialização das características observadas foi possível através de representações gráficas que orientaram a pesquisa como um instrumento útil, fornecendo a garantia no trabalho de elaboração e validação das conjecturas. A representação formal das configurações narrativas surgiram a partir da reflexão e investigação dos documentos, guiados pelo discurso de sustentabilidade produzido a partir das posições discursivas (quem fala), dos espaços semânticos (de que se fala) e da própria configuração narrativa (o que está em jogo). O MP/RO se apresentou vinculado à necessidade de alinhamento das ações dos empreendedores às condicionantes do IBAMA, porém, o que em um dado momento (como observado nos trechos discursivos analisados anteriormente) que sua função era pelo 121 paradigma da sustentabilidade, ou seja, mais próximo possível da natureza e da sociedade. A percepção da própria sociedade, por exemplo, nas audiências públicas realizadas em 2006 foi de alinhamento da posição discursiva e não discursiva do MP/RO aos interesses econômicos dos empreendedores das usinas. Ao analisar o processo de licenciamento prévio, por exemplo, verifica-se que a produção do discurso nas diretrizes preliminares do IBAMA é pela manutenção dos interesses da natureza e da sociedade baseado na sua função discursiva voltada para a sua natureza ecológica. Logo, tanto na sua função discursiva quanto não discursiva (ato material), o órgão licenciador se manteve próximo de sua visão paradigmática neste estudo caracterizada pela manutenção dos sistemas ecológicos e ambientais com impactos reduzidos. Além disso, o MP/RO em de seus discursos reconheceu que os ecossistemas e o meio ambiente seriam afetados seriamente, mas que a partir da execução dos PBA‘s’, os programas seriam capazes de minimizar ou mitigar os impactos gerados nas obras e no seu entorno. Os resultados obtidos com a análise dos planos básicos ambientais da SPE/SAE e da SPE/ESBR apontam que as posições discursivas que predominam na sua elaboração, validação e implementação foram construídas a partir dos interesses dos órgãos de fiscalização (IBAMA), empreendedores e acionistas (empresas) homologados pelo Ministério Público Estadual (MPE) sob pressão do governo federal (MME) para atingir seus objetivos de desenvolvimento econômico. Pelo lado mais fraco, não se pode afirmar que os discursos produzidos pelas populações atingidas refletem o que eles realmente desejaram enquanto sustentabilidade. Em alguns momentos foi possível perceber o posicionamento discursivo mais radical, por parte da comunidade ribeirinha, se colocando totalmente contra a realização das usinas hidrelétricas. No sentido do PBA, as populações atingidas reivindicaram um maior horizonte de planejamento, de estudos, de discussões, de realizações de infra-estruturas ainda pendentes principalmente na cidade de Porto Velho. Pelo lado mais forte, (governo e empresas) atestaram o seu poder simbólico diante das populações atingidas a partir da produção de um discurso cujo espaço semântico se desenvolveu na hermenêutica da configuração narrativa de sustentabilidade e crescimento econômico como paradigmas indissociáveis. Esta configuração narrativa no contexto que antecede a liberação da licença de instalação – LI também pode ser caracterizada como de sustentabilidade, principalmente, porque as dimensões que foram associadas aos programas básicos ambientais apresentados se aproximam das visões de sustentabilidade conforme proposto por Mebratu (1998); Gladwin, K.K. (1995); Pearce (1993); Sachs (2008). No entanto, quando comparado ao discurso do 122 IBAMA na LP 251/2007, o empreendedor não vai além das suas obrigações legais para com os órgãos públicos, a sociedade e o meio ambiente. Os resultados obtidos com as análises de releases, informativos, clippings, notícias e relatórios de compensações sociais e compensações ambientais foram produzidos a partir do discurso principalmente textual, porém as imagens utilizadas em cada texto confirmaram a posição discursiva de envolvimento das populações atingidas nos programas básicos ambientais (fato não confirmado pela falta de entrevistas a estes atores). Mesmo assim as posições discursivas nestes documentos resultaram da fala dos dirigentes e funcionários das empresas, dos representantes públicos, empresários locais e principalmente das comunidades ribeirinhas. Todas as notícias indicaram que o espaço semântico produzido refere-se ao contexto de construção e operação das usinas a partir da execução e finalização das compensações sociais e compensações ambientais. A principal configuração narrativa a partir destes atores sempre foi a melhoria da qualidade de vida das populações atingidas e manutenção da natureza preservada, como pano de fundo a sustentabilidade na região de atuação da SPE/SAE e SPE/ESBR. Vale lembrar, que nesta análise buscou se respostas para a caracterização do discurso da sustentabilidade nas empresas hidrelétricas do rio Madeira, não sendo responsabilidade do mesmo apontar os responsáveis pelos impactos ambientais e sociais ocorridos durante e após a enchente histórica de 2014 (pelo menos em tempo). Os resultados obtidos com a análise dos relatórios de sustentabilidade indicaram tanto pela posição discursiva das empresas acionistas da SPE/SAE quanto pela posição discursiva das empresas acionistas da SPE/ESBR que os espaços semânticos que mais lhe interessam dizem respeito aos empreendimentos hidrelétricos que já se em encontram em pleno funcionamento, ou seja, com operações consolidas na geração e distribuição de energia. Ao contrário da recomendação da Global Report Intiative (GRI) que orienta para as empresas que participam de empreendimentos que causam grandes impactos ambientais e sociais a atuar na sua mitigação, redução e ou eliminação, como por exemplo, no contexto do rio Madeira. Neste sentido, empresas acionistas como a Odebrecht (SPE/SAE) produziram em seus relatórios de gestão discursos centrado na sustentabilidade o que lhe garantiu melhor alinhamento da sua prática discursiva e prática não discursiva ao espaço semântico orientado pela Tecnologia de Gestão Odebrecht - TEO à configuração narrativa da sustentabilidade no contexto do complexo hidrelétrico do rio Madeira. Vale lembrar que a Odebrecht não se orienta e não recebe auditoria da GRI, o que valida seu discurso de empresa que busca ser referência nas áreas em que atua. 123 A disposição em monitorar suas atividades a partir de um sistema de gestão baseado parcialmente nas dimensões de Sachs (2008) apresentadas neste referencial corrobora com o que propõe Foucault (2008) sobre a criatividade no uso de metodologias desde que elas não se configurem como anarquias metodológicas, mas sim, melhorem a compreensão (hermenêutica) das pessoas sobre determinado tema. Neste sentido pode-se afirmar que a Odebrecht busca a inovação em seus processos a partir de estudos inclusive no contexto do rio Madeira, com a criação de um programa pioneiro de educação profissional (Programa Acreditar) que, conforme a própria empresa apresenta, tem sido aplicado em diversas obras no Brasil e no Mundo. A sustentabilidade como principal configuração narrativa se apresenta como um padrão para a maioria das empresas pesquisadas, porém, sua aproximação maior vai de encontro ao que Sachs (2008) reconhece como sustentabilidade econômica traduzida pela manutenção do paradigma de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) do lado tecnocentrado. Ou seja, por não fazer parte do contexto local onde os empreendimentos se desenvolvem, as empresas priorizam outros espaços semânticos de atuação para falar de sustentabilidade, onde suas configurações narrativas são percebidas pela sociedade com maior visibilidade. Logo, não se pretendeu obter resultados que caracterizasse o discurso das empresas pesquisadas em um contexto global de atuação, mas sim no contexto do rio Madeira, que pertence ao bioma amazônico, ameaçado por sua própria natureza. Desta forma, ao discorrer sobre os resultados da pesquisa foi possível afirmar que os relatórios de sustentabilidade analisados ajudaram a preencher algumas lacunas no discurso das sociedades de propósito específicos SPE/SAE e SPE/ESBR. Uma delas é a falta de elaboração de relatórios de sustentabilidade e, por consequência maior divulgação local, regional e global de suas práticas discursivas e práticas não discursivas, principalmente na configuração narrativa de sustentabilidade, cujo tema é interesse de todos os seus acionistas e sociedade como um todo. 124 5 CONCLUSÕES A pesquisa de dissertação ora apresentada visou compreender as características dos discursos organizacionais sobre sustentabilidade da SPE/SAE e da SPE/ESBR no contexto da das usinas Hidrelétricas do rio Madeira no município de Porto Velho/RO. Esta compreensão foi possível após a identificação do discurso acerca da sustentabilidade da SPE Santo Antônio Energia (SAE) e da SPE Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR), bem como analisar os discursos das duas organizações. Também se traduz em uma tentativa de aumentar o leque disponível de pesquisas qualitativas no âmbito do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), principalmente na utilização de métodos e procedimentos metodológicos poucos adotados na forma aqui apresentada. O uso indiscriminado da análise de conteúdo nos programas de pós-graduação tem lançado desafios para o surgimento de novas estratégias de análise que possam validar as pesquisas futuras no campo da pesquisa qualitativa. No campo da pesquisa qualitativa surgiu uma nova forma de analisar textos cujo processo de trabalho vai além do conteúdo do documento analisado. Neste sentido que o uso da Analise Sociológica do Discurso (ASD) se apresentou como alternativa ao uso único e exclusivo de análise de conteúdo, pois como os próprios pesquisadores da escola da ASD afirmam, a analise de conteúdo está contida na ASD, sendo utilizada como a primeira etapa de análise cujo tratamento nos documentos é informacional-quantitativo. Logo, para que os resultados reflitam o que o texto representa de fato é que esta escola que ganhou corpo em 2008 inclui como etapas complementares à AC e análise textual. A análise socialhermenêutica colabora para a compreensão do texto no contexto analisado. Isto inclui texto– documento e também imagem-documento como foi realizado neste trabalho. É possível afirmar que a ASD foi reconhecida nesta pesquisa como uma alternativa para uso mais frequente em pesquisas que além de analisar o contexto, fornecer robustez e validade semântica às analises de documentos muito extensos ou ainda, que possui grande volume de textos em variados formatos. Este foi o caso desta pesquisa, que apresentou aproximadamente 10 mil páginas analisadas constituídas em 1523 documentos em formas variadas como foi observado ao longo da apresentação da análise, discussão e resultados. A orientação da análise pelo problema de pesquisa serviu para 02 propósitos: primeiro no campo discursivo para realizar o processo de pesquisa e análise e para identificar as características do discurso de sustentabilidade das empresas das UHE do rio Madeira. Segundo, ao problema foi apresentada resposta via a compreensão das características do 125 discurso de sustentabilidade onde as empresas afirmam o seu alinhamento pelas dimensões da sustentabilidade de Pearce; Sachs. A identificação do discurso de sustentabilidade da SPE/ESBR revelou que a empresa é cumpridora do Programa Básico Ambiental - PBA e que a máxima do seu discurso está relacionada às compensações sociais e ambientais. As imagens do relatório de compensação sociais revelaram este feito. Os diretores da empresa se preocuparam mais com as evidências para o encerramento do protocolo de intenções assinado com a Prefeitura de Porto Velho/RO do que os efeitos que as compensações poderiam causar. As dimensões de sustentabilidade foram identificadas nos diversos documentos. Apesar de a dimensão social ser a dimensão representa a sua posição discursiva na analise dos textos e imagens, o discurso predominantemente visualizado por parte da ESBR foi o discurso do desenvolvimento econômico do país e dos seus acionistas. A SPE/SAE não apresentou um histórico em noticias, releases e informativos desde o inicio da construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, iniciando o seu processo de informação em 2012. No entanto, a sua posição discursiva tem características que a destacam em outras dimensões que não sejam a dimensão econômica. Por mais que a empresa também procura cumprir seu PBA como pano de fundo para a sustentabilidade, acaba por ter mais identidade com a população afetada e com a natureza. O lançamento em 2014 do Livro “Peixes do Madeira” é uma realização inédita, pois, em parceria com a UNIR mapeou quase 1000 espécies da ictiofauna do rio Madeira, característica de discurso pela dimensão ecológica de sustentabilidade. Da dimensão social, tanto a SAE quanto as empresas acionistas discursam em apoio ao programa Acreditar (qualificação profissional para o trabalho em construção civil) que treinou 92 mil alunos até o ano de 2011 para ocupar uma vaga no quadro de funcionários das empresas envolvidas direta e indiretamente na construção da obra da usina de Santo Antônio. As análises do discurso da ESBR e da SAE indicaram que todas as empresas pesquisadas se esforçam em divulgar seu discurso sobre sustentabilidade em torno das dimensões ecológicas, sociais, ambientais, culturais, geográficas, politicas e econômicas. Mas todas elas acabam por privilegiar as dimensões social, ambiental, ecológica e econômica. Por fim, acaba por adotar uma posição discursiva que visa o seu interesse maior que é o retorno financeiro das empresas acionistas. Os relatórios de sustentabilidade das empresas acionistas confirmam esta posição discursiva uma vez que as configurações narrativas e os espaços semânticos não levam em consideração a sustentabilidade dos empreendimentos, mas sim, os 126 retornos financeiros esperados com a operação de geração e distribuição de energia elétrica no complexo hidrelétrico do rio Madeira. A sustentabilidade organizacional deve ser encarada a partir dos paradigmas propostos por Gladwin, Kenelly e Krause, pois as empresas por mais que se esforcem em demonstrar interesse em responsabilidade ambiental, responsabilidade social, resolução de conflitos pelos empreendimentos hidrelétricos, não se distanciam da visão guiada pela dimensão econômica da sustentabilidade e que, do ponto de vista dos paradigmas, se alinha ao tecnocentrismo. A aproximação epistemológica das visões de sustentabilidade com base em Munck, Souza e Silva guiaram o pesquisador para olhar além das visões aproximadas a partir somente de seus conceitos e definições e dar um passo adiante para visualizar como pessoas de um campo científico propõe o caminho da sustentabilidade por diferentes lentes teóricas, mas que buscam resultados sinônimos. Isto foi muito útil para enveredar com mais cautela nas análises das empresas e no relato dos resultados encontrados uma vez que todas as empresas pesquisadas discursam por sustentabilidade e caminham pelas margens dela, do lado de sobreposição dos interesses econômicos em relação à natureza. Vale ressaltar que esta pesquisa apresentou algumas limitações, entre elas: A falta de entrevistas aos dirigentes das organizações como forma de captar se a percepção destes dirigentes para comparar as características de sustentabilidade do discurso falado com o escrito nos documentos analisados; A análise de outros discursos que pudessem ser confrontados com o discurso organizacional como o discurso midiático local e nacional; De fato a ASD se materializa para o pesquisador qualitativo como uma poderosa ferramenta de análise sociológica, fazendo-nos encher os olhos na possibilidade de utilizá-la com mais tranquilidade em função dos objetivos e problema de pesquisa que estiver proposto. Ao fazer uso da mesma, seja no campo dos estudos em sustentabilidade ou qualquer outro campo da Administração. Neste sentido também foram sugeridas novos estudos a partir da ASD: Realizar analise do discurso organizacional a partir da ASD para caracterizar o discurso das empresas em relação à atuação como empresa de sociedade de propósito especifico (SPE). Pesquisar sobre a violência simbólica nas relações de poder desenvolvidas no campo de atuação das empresas que causam fortes impactos ambientais, sociais e territoriais, como no caso das populações ribeirinhas. 127 O discurso da sustentabilidade precisa ser enxergado pelos pesquisadores qualitativos como uma estratégia que colabora para a manutenção da vida no planeta terra e ela começa onde as grandes organizações se fazem presentes, em contextos que envolvem vários atores, desde os organismos públicos e privados até as populações afetadas pelas ações que causam impactos na natureza e na sociedade, a exemplo do contexto de construção e operação das usinas hidrelétricas do rio Madeira. 128 REFERÊNCIAS AFONSO, Cintia Maria. 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