Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no

Transcrição

Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
Marcos Aurélio Borchardt
Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico
do Rio Madeira
PORTO VELHO
2014
MARCOS AURÉLIO BORCHARDT
Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto do Complexo Hidrelétrico
do Rio Madeira
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação: Mestrado em
Administração (PPGMAD) da Fundação
Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
como requisito final para obtenção do título de
Mestre em Administração. Linha de pesquisa:
Gestão de Agronegócio e Sustentabilidade.
Orientador: Prof. Osmar Siena, Dr.
PORTO VELHO
2014
FICHA CATALOGRÁFICA
BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES
B72dp
Borchardt, Marcos Aurélio.
Discurso organizacional sobre sustentabilidade no contexto do complexo
hidrelétrico do Rio Madeira / Marcos Aurélio Borchardt . - Porto Velho,
Rondônia, 2014.
139f.:il.
Orientador: Prof. Dr. Osmar Siena
Dissertação (Mestrado em Administração) - Fundação Universidade
Federal de Rondônia - UNIR
1. Administração. 2.Sustentabilidade – análise sociológica.3.Usina hidrelétrica Rio
Madeira. I.Siena, Osmar.II.Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR.III.
Título.
CDU: 658:502.1
Bibliotecária Responsável: Carolina Cavalcante CRB11/1579
AGRADECIMENTOS
Não sei se choro ou se rio, só sei que a trajetória foi longa. Muitos desafios e
conquistas nestes últimos dois anos em que minha escolha pautou-se pelo saber através de um
programa de mestrado. Imaginava que ao final me comportaria diferente daquele menino que
sorria de tudo e brincava com tudo. Agora tenho que retornar para minha vida interrompida,
mas aplaudida por todos aqueles que em mim confiaram esta responsabilidade: transferir
conhecimento.
Fiquei feliz ao acessar a rede social e ver que os povos indígenas estão buscando o seu
lugar ao sol, porque se depender do contexto atual, provavelmente, não se terá mais notícias
destes povos pioneiros do Brasil. Nesse sentido meu primeiro agradecimento vai para estes
bravos cidadãos brasileiros, principalmente os que habitam na Amazônia cuja atenção parece
ser bem reduzida em menos importante para as grandes organizações.
Meus sinceros agradecimentos a todos os amigos que deixei em Sinop/MT, pra onde
retorno com toda a felicidade do mundo, ao encontro de uma minha vida que floresce e cresce
a passos largos, minha querida filha “Melissinha”. Aos meus amigos do Tapajós, da UFMT
(professores Juliano, Paula, Luana, Mariana e demais), da família do Raul, obrigado pela
receptividade no retorno a Sinop. A todos os amigos de Cuiabá/MT (Marcio e Pierre Farina)
que nas idas e vindas me forneceram um pouso acolhedor aos moldes cuiabanos.
Aos meus queridos amigos de Porto Velho/RO que não me abandonaram em momento
algum. Algumas pessoas especiais fora do contexto do mestrado que ficavam ouvindo minhas
aventuras nas leituras de Foucault e Bourdieu e colaboravam com pensamentos de teóricos
importantes para minha compreensão de mundo.
No contexto do mestrado, agradeço a todos pelo carinho e compreensão nestes 02
anos. Professor Dr. Osmar Siena, meus sinceros e profundos agradecimentos por toda
transferência de conhecimento concedida no âmbito do PPGMAD/UNIR, nas orientações, no
estágio de docência, no envolvimento com outros estudantes no sentido da pesquisa e da
docência. A todos os professores das disciplinas e artigos, grande e forte abraço. Angelina
Licório e Reginilde Lima e Jackson Baltazar, profundo agradecimento.
Especialmente, quero deixar meu agradecimento para um grande amigo de infância:
Bruno Martinelli Marangoni, que conhece um pouco da minha trajetória e luta, assim como
ele o faz hoje, amigo, consegui! Devo-te muito por isso.
Carinhosamente quero agradecer à Geanie, que me apoiou incondicionalmente nos
últimos 18 meses, sabe o quanto és importante para mim! Aos familiares amados, Borchardt e
Boostel, estaremos juntos neste e em outros verões. Por último, sucesso a todos do
PPGMAD/UNIR, a todos da UFMT a todos da UNEMAT e SENAI, instituições que
contribuem para o meu aperfeiçoamento como professor e como ser humano.
“Portanto, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.”
Matheus: 20; 16.
BORCHARDT, Marcos A. Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto
do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. Dissertação (Mestrado em Administração) –
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração – PPGMAD, Porto Velho: UNIR,
2014, 139p.
RESUMO
O objetivo geral deste trabalho consistiu em caracterizar o discurso organizacional sobre
sustentabilidade da Sociedade de Propósito Específico Santo Antônio Energia S.A.
(SPE/SAE) e da Sociedade de Propósito Específico Energia Sustentável do Brasil S.A.
(SPE/ESBR) no contexto das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira no município de Porto
Velho/RO. O problema proposto vai de encontro à identificação das características do
discurso Organizacional sobre sustentabilidade das Empresas do Complexo Hidrelétrico do
Rio Madeira. Em primeiro momento, buscou-se entendimento da teoria de sustentabilidade a
partir da visão de Mebratu, das dimensões de Pearce, das dimensões de Sachs e dos
paradigmas ambientais de Gladwin, K.K. A visão institucional, a visão acadêmica e a visão
ideológica foram aproximadas das dimensões social, ambiental, ecológica, econômica,
geográfica, cultural e política e também aos paradigmas ambientais através do tecnocentrism,
ecocentrism e o sustentaicentrism. As propostas teóricas foram aproximadas para melhorar o
entendimento da sustentabilidade enquanto discurso organizacional. Em segundo momento,
elaborou-se um panorama das escolas de análise do discurso que guiaram a pesquisa para o
caminho da escola de Análise Sociológica do Discurso (ASD), abordagem metodológica
utilizada e sistematizada neste estudo, vinculada à Tradição Espanhola de Pesquisa Social
Qualitativa. Epistemologicamente a pesquisa buscou entendimento no estudo da arqueologia
do saber, teoria proposta no pós-estruturalismo de Michael Foucault e no poder simbólico do
estruturalista Pierre Bourdieu. A metodologia utilizada foi definida como qualitativa de
natureza descritiva do tipo pesquisa documental com análise “ASD”. Nos documentos
organizacionais foram investigados e analisados textos e imagens do período de 2007 a 2014
com base em características do discurso sobre sustentabilidade das empresas pesquisadas.
Entre os documentos analisados: diretrizes preliminares, relatórios do Ministério Público,
programas básicos ambientais, relatórios de compensação social e ambiental, relatórios de
sustentabilidade das empresas acionistas, notícias, releases, clipping e informativos das
empresas responsáveis pela construção das usinas hidrelétricas. Ao todo, foram analisados
1327 documentos da SPE/ESBR e 183 documentos da SPE/SAE. A construção da análise e
resultados da pesquisa deu-se pelas posições discursivas, os espaços semânticos e as
configurações narrativas. Tanto a ESBR quanto a SAE orientam seu discurso sobre
sustentabilidade para a divulgação dos Programas Básicos Ambientais - PBA’s’ não
divulgando relatório de sustentabilidade. Através do programa de qualificação da mão-deobra “Programa Acreditar”, a Construtora Odebrecht S.A. – (SPE/SAE) capacitou mais de 92
mil pessoas até 2011. Constatou-se que o discurso da sustentabilidade está manifesto na
maioria dos documentos analisados, mas por mais que as organizações se esforcem para
declarar o seu discurso de sustentabilidade nas dimensões estudadas, o discurso das empresas
é guiado pela dimensão econômica, caracterizada pelo paradigma tecnocentrico no qual as
relações entre o desenvolvimento econômico e a natureza revelaram que a sustentabilidade é
visto como uma relação de poder da economia sobre a natureza.
Palavras-chave: Análise sociológica do discurso. Sustentabilidade. UHE rio Madeira.
BORCHARDT, Marcos A. Discurso Organizacional sobre Sustentabilidade no Contexto
do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. Dissertação (Mestrado em Administração) –
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração – PPGMAD, Porto Velho: UNIR,
2014, 139p.
ABSTRACT
The aim of this study was to characterize the organizational discourse on sustainability of
Special Purpose Company Santo Antônio Energia SA (SPE / SAE) and Special Purpose
Company Sustainable Energy of Brazil SA (SPE / ESRB) in the context of the river
hydropower plants Madeira in Porto Velho / RO. The proposed issue goes against the
identification of Organizational speech features on sustainability of Hydroelectric Complex
Business of Rio Madeira. First time, we sought to understand the sustainability theory from
the Mebratu vision, the dimensions of Pearce, the dimensions of Sachs and environmental
paradigms of Gladwin, KK The institutional vision, academic vision and the ideological
vision were approximated to those social, environmental, ecological, economic, geographic,
cultural and political and also environmental paradigms through tecnocentrism, ecocentrism
and sustentaicentrism. The theoretical proposals were brought together to improve
understanding of sustainability as an organizational discourse. Second time, we prepared an
overview of discourse analysis of schools that have guided the search for the way to school of
Sociological Discourse Analysis (DSA), methodological approach and systematic in this
study, linked to the Spanish tradition of Qualitative Social Research. Epistemologically the
research sought to understand the archeology of the study of knowledge, theory proposed in
the Michael Foucault post-structuralism and symbolic power of the structuralist Pierre
Bourdieu. The methodology used was defined as qualitative descriptive nature of the type
documentary research with analysis "ASD". In organizational documents were investigated
and analyzed texts and period 2007 to 2014 images based on speech characteristics about
sustainability of the companies surveyed. Among the documents analyzed: draft guidelines,
prosecutors reports, basic environmental programs, social and environmental compensation
reports, sustainability reports of the shareholding companies, news, releases, clipping and
information of the companies responsible for the construction of hydroelectric plants. In all,
1327 were analyzed documents of the SPE / ESRB and 183 documents of the SPE / SAE. The
construction of the analysis and survey results gave up the discursive positions, narratives
settings and semantic spaces. Both the ESRB as SAE guide his speech on sustainability for
the dissemination of Basic Environmental Programs - PBA's' not disclosing sustainability
report. Through the program believer out of hand labor qualification, the construction
company Odebrecht SA - (SPE / SAE) trained more than 92,000 people by 2011. It was found
that the discourse of sustainability is manifested in most documents analyzed, but more
organizations strive to declare his speech sustainability dimensions studied, the discourse of
business is guided by the economic dimension, characterized by technocentric paradigm in
which the relationship between economic development and the nature revealed that
sustainability is seen as a power relationship of the economy over nature.
Key-words: Keywords: sociological discourse analysis. Sustainability. HPP Madeira. River.
LISTA DE ABREVIATURAS
ABNT
AC
ACD
AD
AHE
ANA
ANEEL
APP
ASD
ATLAS T.I.
BM&F
BOVESPA
CEBDS
CHESF
CMMAD
CONAMA
COOPJIRAU
DP
DS
ED
EIA
EP
ESBR
FGV
GEE
GRI
IBAMA
IIED
IEERS
ISE
ISO
IUCN
LA
LI
LO
LP
MDL
MME
MPE
Associação Brasileira de Normas Técnicas
Análise de Conteúdo
Análise Crítica do Discurso
Análise do Discurso
Aproveitamento Hidrelétrico
Agência Nacional de Águas
Agência Nacional de Energia Elétrica
Área de Preservação Permanente
Análise Sociológica do Discurso
Análise Qualitativa de Dados
Bolsa de Mercadorias e Futuros
Bolsa de Valores de São Paulo
Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
Companhia Hidrelétrica do São Franciso
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
Conselho Nacional de Meio Ambiente
Cooperativa de Produtores Rurais do Observatório Ambiental Jirau
Diretrizes de Programas
Desenvolvimento Sustentável
Estação de Distribuição
Estudo de Impacto Ambiental
Estudos Preliminares
Energia Sustentável do Brasil S.A.
Fundação Getúlio Vargas
Gases de Efeito Estufa
Global Report Intiative
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
International Institute of Environment and Development
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
Índice de Sustentabilidade Empresarial
International Organization for Standardization
União Internacional para a Conservação da Natureza
Licenciamento Ambiental
Licenciamento de Instalação
Licenciamento de Operação
Licenciamento Prévio
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Ministério de Minas e Energia
Ministério Público do Estado de Rondônia
NOS
ONU
PAC
PBA
PCH
PNMA
PNUMA
PPGMAD
RA
RS
RSA
RSC
RIMA
SAE
SENAI/RO
SGA
SGQ
SIN
SPE
TBL
TEO
UHE
UNIR
WBCSD
WCED
WRI
WWF
WWF
Operador Nacional do Sistema
Organização das Nações Unidas
Programa de Aceleração do Crescimento
Programa Básico Ambiental
Pequenas Centrais Hidrelétricas
Politica Nacional do Meio Ambiente
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração
Relatório Anual
Relatório de Sustentabilidade
Relatório Socioambiental
Responsabilidade Social Corporativa
Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
Santo Antônio Energia S.A.
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Rondônia
Sistema de Gestão Ambiental
Sistema de Gestão da Qualidade
Sistema Interligado Nacional
Sociedade de Propósito Específico
Tripple Botton Line
Tecnologia de Gestão Odebrecht
Usinas Hidrelétricas
Universidade Federal de Rondônia
World Business Council for Sustainable Development
World Commission on Environment and Development
World Resources Institute
World Wide Fund for Nature
The Future We Want
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Visões de Desenvolvimento Sustentável de Mebratu (1998). .............................................. 26
Figura 2 - Dimensões da sustentabilidade de Pearce (1993). ................................................................ 29
Figura 3 - Paradigmas ambientais de Gladwin, Kenelly e Krause (1995). ........................................... 31
Figura 4 - Visões aproximadas da sustentabilidade. ............................................................................. 35
Figura 5 - Sustentabilidade empresarial a partir das dimensões econômicas, sociais e ambientais. ..... 40
Figura 6 - Processo de Análise Sociológica do Discurso. ..................................................................... 52
Figura 7 - Teia de relações organizacionais para a sustentabilidade. .................................................... 54
Figura 8 - Esquema de procedimento e análise sociológica do discurso. ............................................. 61
Figura 9 - Análise do PBA do AHE Santo Antônio Energia – SAE. .................................................... 76
Figura 10 - Análise dos programas socioambientais da UHE Jirau. ..................................................... 78
Figura 11 - Análise comparativa do discurso da sustentabilidade. ....................................................... 79
Figura 14 – RS Furnas 2010 / 2011 – O Fio Que Nos Une. .................................................................. 91
Figura 15 - Furnas: Desenvolvimento econômico - RS 2012. .............................................................. 94
Figura 16 – Furnas – Obra em andamento x montagem x operação - RS 2013. ................................... 96
Figura 17 – CEMIG – Contexto rio Madeira - RS 2012/13. ................................................................ 99
Figura 18 – Odebrecht – Programa Acreditar e a obra da UHE-SAE – 2009/2010. .......................... 103
Figura 19 - Odebrecht – Evolução da UHE-SAE – 2011/2014. ......................................................... 105
Figura 20 – Estrutura organizacional simplificada – GDF Suez – RS 2008. ...................................... 107
Figura 21 - Análise do discurso de funcionários GDF SUEZ em 2010. ............................................. 109
Figura 22 - Estrutura organizacional GDF Suez RS 2011 .................................................................. 110
Figura 23 - Tecnologias de geração de energia sustentável - RS 2013. .............................................. 111
Figura 24 - Mapa de transmissão e distribuição Eletrobrás - RS 2011. .............................................. 115
Figura 25 – Discurso de sustentabilidade ecológica - RS 2012. ......................................................... 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Síntese da evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. ........................ 21
Quadro 2 - Lista de Princípios e Plano de Ação da Conferência de Estocolmo....................... 22
Quadro 3 - Matriz de Sustentabilidade. .................................................................................... 30
Quadro 4- Síntese das dimensões da sustentabilidade de Sachs. ............................................. 33
Quadro 5 - As novas dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs. .................. 34
Quadro 6 - Motivos para adoção e elaboração de Relatórios de Sustentabilidade. .................. 38
Quadro 7 - Resumo-tendências (tradições) dos modelos de AD. ............................................. 43
Quadro 8 - - Os passos essenciais no processo de investigação do discurso............................ 44
Quadro 9 - Trabalhos práticos iniciais em Análise Sociológica do Discurso. ......................... 48
Quadro 10 - Procedimentos de interpretação em ASD. ........................................................... 49
Quadro 11 - Procedimentos de análise em ASD. ..................................................................... 50
Quadro 12 - Aproximação dos níveis da ASD à Análise do Discurso. .................................... 51
Quadro 13 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme paradigmas de Gladwin
Kenely e Krause........................................................................................................................ 62
Quadro 14 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme dimensões de Sachs. ......... 63
Quadro 15 - Termos e categorias discursivas iniciais da pesquisa. .......................................... 64
Quadro 16 - Coleta de dados – Documentos de 2007 – 2014. ................................................. 65
Quadro 17 - Organização e sistematização dos dados. ............................................................. 66
Quadro 18 - Contexto de viabilidade dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira....... 69
Quadro 19 - Algumas posições discursivas contrárias à realização da obra. ........................... 72
Quadro 20 - Resumo das condicionantes exigidas pelo IBAMA - LP 251/2007. .................... 74
Quadro 21 - Análise do discurso da ESBR e SAE – 2008-2014. ............................................. 82
Quadro 22 - Análise do discurso nos relatórios de Furnas de 2008-2014. ............................... 88
Quadro 23 - Análise do discurso nos relatórios da CEMIG de 2008-2014. ............................. 97
Quadro 24 – Análise do discurso da Odebrecht – 2007-2014. ............................................... 100
Quadro 25 – Análise do discurso da GDF Suez – 2007 a 2013. ........................................... 107
Quadro 26 - Análise do discurso da Eletrosul – Eletrobrás – 2008-2012. ............................. 113
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 13
1.1 Problema de Pesquisa ............................................................................................................... 14
1.2 Objetivos .................................................................................................................................... 16
1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................... 16
1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................................ 16
1.3 Concepções e Pressupostos ....................................................................................................... 17
1.4 Justificativa ................................................................................................................................ 18
1.5 Vinculação com as Linhas de Pesquisa do PPGMAD ............................................................ 18
1.6 Organização da Dissertação ..................................................................................................... 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO ..................................................................................... 20
2.1 Sustentabilidade: Histórico e Conceito.................................................................................... 20
2.2 Visões de sustentabilidade ........................................................................................................ 25
2.3 Sustentabilidade Organizacional ............................................................................................. 36
2.4 Análise do Discurso ................................................................................................................... 41
2.5 Análise Sociológica do Discurso – ASD ................................................................................... 46
2.5.1 Análise Sociológica do Discurso Organizacional ................................................................ 52
2.5.2 Análise do Discurso da Sustentabilidade ........................................................................... 55
3 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 58
3.1 Método(s) Geral e Abordagem Metodológica ......................................................................... 58
3.2 Tipo de Pesquisa e Métodos de Procedimentos ...................................................................... 59
3.3 Paradigmas, Dimensões e Categorias do Discurso da Sustentabilidade .............................. 62
3.4 Tipos de Dados, Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados ................................... 65
3.5 Procedimentos para Organização dos Dados ......................................................................... 66
3.6 Procedimentos para Análise e Interpretação dos Dados ....................................................... 66
4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO ................................................................................. 68
4.1 Contextualização do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) do Rio Madeira........................ 68
4.2 Análise dos Planos Básicos Ambientais dos AHE ‘s’ ............................................................. 75
4.2.1 – Análise do Plano Básico Ambiental (PBA) – AHE Santo Antônio .................................. 76
4.2.2 – Análise do PBA da empresa Energia Sustentável do Brasil - ESBR ................................ 77
4.2.3 – Comparação do discurso da SAE e ESBR com base nos PBA’s’ ..................................... 79
4.3. Análise dos releases, notícias, informativos e clipping da SPE/ESBR e da SPE/SAE ........ 81
4.4 Análise dos Relatórios de Sustentabilidade............................................................................. 86
4.4.1 SAE - Furnas Centrais Elétricas – 2009 a 2013 ................................................................... 87
4.4.2 SAE - CEMIG - 2008 a 2013 ............................................................................................... 96
4.4.3 SAE - Odebrecht - 2008 a 2013 ........................................................................................... 99
4.4.4 ESBR - GDF Suez - Tractebel Energia - 2008 a 2013 ....................................................... 105
4.4.5 ESBR – CHESF- ELETROBRÁS - 2008 a 2011 .............................................................. 112
4.4.6 ESBR – Eletrosul-Eletrobrás – 2008 a 2012 ...................................................................... 112
4.5 Resultados e discussão com base na análise sociológica do discurso sobre sustentabilidade
......................................................................................................................................................... 120
5 CONCLUSÕES .............................................................................................................................. 124
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 128
13
1 INTRODUÇÃO
Desenvolvimento é “[...] uma noção universalmente desejada que faz parte tanto da
literatura especializada quanto do senso comum; traz em si a ideia de progresso, melhoria. Por
isso, o mundo vem se transformando em nome do desenvolvimento [...]” (MONTIBELLERFILHO, 2008, p.50) e, a economia, sempre dominante nas decisões desenvolvimentistas,
prevalece ao longo do processo histórico-evolutivo da humanidade. Sen (2004, p, 25) observa
“[...] que desenvolvimento está fortemente ligado às liberdades considerando-as não apenas os
fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais”.
O contexto histórico do desenvolvimento aponta para as desigualdades passadas como
responsáveis pela criação de um abismo civilizatório a partir da exploração das colônias pelas
nações ricas e modernizadas (SACHS, 2008). “O ambiente renasce desse processo de
extermínio, reclamando seu sentido estratégico no processo epistemológico e político de
supressão das externalidades do desenvolvimento [...]”. (LEFF, 2008, p. 152).
Desenvolvimento muitas vezes é utilizado como sinônimo de crescimento; no entanto,
representam fenômenos diferentes. Desenvolvimento é um processo de mudanças sociais e
econômicas que ocorrem numa determinada região e crescimento é um processo de mudanças
de caráter predominantemente quantitativo, significando aumento em dimensão, volume e/ou
quantidade. Nessa mesma linha de raciocínio, considera-se o crescimento econômico como o
aumento da capacidade produtiva e da produção de uma economia, em determinado período
de tempo (SIEDENBERG, 2006).
A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de suas políticas e comissões,
como a World Commission on Environment and Development (WCED) ou Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) tem buscado unificar o
discurso sobre desenvolvimento, ampliando-o para o conceito de desenvolvimento sustentável
(DS) à sustentabilidade. Assim, desde os anos 1970, a discussão sobre DS (caminho ou ações)
para a sustentabilidade (capacidade de manter as gerações futuras), tem avançado em
substituição ao desenvolvimento proposto pela economia clássica e neoclássica, pelo menos
em termos de retórica. Embora os conceitos sejam distintos, a maioria dos autores (SACHS,
2008; BURZSTYN, 1994; CAMARGO, 2003) usa a expressão DS e a expressão
sustentabilidade como sinônimo. A distinção entre desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade reside no fato do DS (meio) ser considerado como a maneira pela qual se
atinge a sustentabilidade (fim).
14
Neste contexto, as empresas, de forma voluntária ou por necessidade de manter uma
imagem positiva junto à sociedade, foram incorporadas ao contexto proposto pela WCED.
1.1 Problema de Pesquisa
Na perspectiva da sustentabilidade, o cenário organizacional e a relação entre os atores
se caracteriza por um ambiente de alta complexidade de interações, inclusive em relação ao
processo de comunicação. Nesta grande teia de relações é que se permeabilizam os discursos
organizacionais. Via de regra, os discursos difundidos sobre sustentabilidade visam obtenção
de vantagem competitiva e posicionamento na rede de relações. Nestas, as organizações que
discursam pela sustentabilidade pretendem fazer com que as suas práticas sejam difundidas na
rede de relacionamento, não como um padrão homogêneo onde as características de cada ator
sejam desconsideradas; mas, como um fluido que emerge a cada relacionamento a fim de
garantir a inovação, viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, integridade
ambiental para as gerações atuais e futuras, além de relações harmoniosas que geram imagens
positivas da sustentabilidade para as organizações (COELHO, 2012). Enquanto para alguns o
discurso organizacional é o atestado do quão a empresa é sustentável, para outros a adoção de
normas, procedimentos, orientações para a sustentabilidade não passa de mero e simples
cumprimento da legislação.
A compreensão do discurso organizacional passa pelo entendimento do Relatório de
Sustentabilidade (RS) como um instrumento prático que está cada vez mais comum nos
setores onde as pressões por medidas de proteção ambiental são capazes de estimular
mudanças também nos sistemas de gestão. É possível verificar no RS o grau em que a
empresa tratou os impactos ambientais causados por seus produtos e processos de produção,
quanto foi dado de abertura para as partes interessadas se posicionarem e em que nível a
gestão estratégica assume características ambientais relevantes (COELHO, 2012).
O discurso midiático, por sua vez, apresenta-se principalmente sob 02 (duas) formas,
sejam elas por meio das próprias organizações interessadas em promover via discurso escrito
ou falado suas ações desenvolvidas ou a desenvolver em prol principalmente da
sustentabilidade e por meio da imprensa, cujo objetivo é informar à sociedade o que se passa
em níveis locais, regionais e globais no que tange a sustentabilidade.
Os grandes empreendimentos brasileiros liderados por empresas de capital nacional e
estrangeiro se utilizam das informações disponíveis em seus relatórios de sustentabilidade que
15
já foram auditados e avaliados por organismo internacional como, por exemplo, o Global
Report Intiative (GRI). Algumas empresas elaboram relatórios socioambientais, outras
elaboram relatório de gestão, e ainda aquelas empresas que acabam por utilizar relatórios de
compensações sociais e ambientais. Em sua maioria os relatórios tendem a responder às
exigências dos órgãos licenciadores e as demandas da sociedade na área onde está instalado o
empreendimento. No geral as grandes empresas utilizam do discurso de sustentabilidade para
informar de suas ações realizadas nos empreendimentos localizados em contextos específicos.
No setor de energia tem se formado agrupamentos de empresas (pool) que discursam
individualmente em seus relatórios e apresentam informações dos próprios empreendimentos,
e de forma tímida dos empreendimentos que são acionistas. Estas empresas passam a fazer
parte das Sociedades de Propósitos Específicos (SPE), como é o caso das empresas do
complexo hidrelétrico do rio Madeira em Porto Velho/RO.
O discurso da sustentabilidade em Porto Velho/RO no contexto das obras das
barragens e inicio de operação/geração e distribuição de energia é influenciado pelo discurso
dos usineiros: SPE Santo Antônio Energia S.A. (SAE) e SPE Energia Sustentável do Brasil
S.A. (ESBR), que têm afirmado o cumprimento das suas responsabilidades socioambientais
por meio dos seus programas declarados institucionalmente. O discurso destas empresas vai
de encontro ao acompanhamento dos órgãos ambientais como Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e demais órgãos institucionais como
Governo Federal, Estadual e Municipal, e o Ministério Público.
Compreender o discurso é desnudar o que as organizações desejam que seja difundido
na sociedade. Além disso, o discurso influencia o modo de pensar e agir da sociedade sobre
determinada questão. Portanto, conhecer qual o discurso das organizações que desenvolvem
projetos estratégicos é uma possibilidade de compreender o discurso não só da organização,
mas também da sociedade como um todo.
Diante deste cenário a pergunta que se coloca gira em torno do discurso de
sustentabilidade das empresas administradoras e acionistas das usinas hidrelétricas do rio
Madeira: Quais as características do discurso organizacional da sustentabilidade das
Empresas no Contexto das Usinas Hidrelétricas do rio Madeira?
A pesquisa teve como foco os discursos sobre sustentabilidade das empresas do
complexo SAE e ESBR do rio Madeira, por meio da análise dos relatórios de sustentabilidade
ou relatórios similares, diretrizes organizacionais, programas de compensações sociais e
ambientais (PBA ‘s’) e informativos institucionais, entre estes, as notícias e releases. Das
16
empresas acionistas foram analisados os relatórios de sustentabilidade, visto que este tipo de
comunicação com a sociedade é uma prática comum no setor elétrico mundial.
As duas usinas – a de Jirau e Santo Antônio – estão em construção no rio Madeira, no
município de Porto Velho, estado de Rondônia, Brasil. Desde que ganharam o leilão para
explorar o rio, entre 2007 e 2008, os empreendimentos tentam antecipar a conclusão das obras
e fazem alterações ao projeto para aumentar a geração de energia.
De um lado está a multinacional de origem francesa GDF Suez S.A, que comprou as
ações da Construtora Camargo Correa S.A. e virou sócia majoritária da SPE/ESBR,
responsável por Jirau. A ESBR também tem entre seus sócios a Eletrosul e a Companhia de
Energia de Vale do São Francisco (Chesf), ambas pertencentes ao sistema Eletrobrás S.A
vinculadas ao Ministério de Minas e Energia. Do outro lado, a SPE/SAE é liderada por
Furnas-Eletrobrás (vinculadas ao Ministério de Minas e Energia), Odebrecht Energia S.A.,
Construtora Andrade Gutierrez S.A. e Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig)
(subordinada ao governo de Minas Gerais).
Os dois empreendimentos devem receber um montante total de mais de R$ 30 bilhões
para construir e explorar uma estrutura capaz de gerar 6,9 mil megawatts, o equivalente a 6%
de toda a energia produzida no país, suficiente para abastecer mais de 20 milhões de
residências (O ECO, 2012).
1.2 Objetivos
Os objetivos da pesquisa foram dispostos em objetivo geral e objetivos específicos.
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral deste trabalho consistiu em caracterizar os discursos organizacionais
sobre sustentabilidade da SPE/SAE e da SPE/ESBR no contexto das Usinas Hidrelétricas do
rio Madeira no município de Porto Velho/RO.
1.2.2 Objetivos específicos

Identificar o discurso acerca da sustentabilidade da SPE Santo Antônio Energia (SAE)
e da SPE Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR);
17

Alinhar o discurso da SPE/SAE e SPE/ESBR ao discurso da sustentabilidade;

Dimensionar a prática discursiva e o discurso dominante das organizações;

Analisar os discursos das organizações participantes da SPE/SAE e SPE/ESBR.
1.3 Concepções e Pressupostos
De acordo com Bauer e Gaskell (2010, p. 253) “[...] fazer uma análise do discurso
implica questionar nossos próprios pressupostos e as maneiras como nós habitualmente
damos sentido às coisas”. O uso da análise do discurso direciona o pesquisador para um viés
interpretativo e construtivista, pois é parte do pressuposto de que o mundo social é
historicamente construído a partir de práticas discursivas que conferem significado simbólico
aos elementos das interações humanas. Essas práticas são respaldadas por relações de poder e
reprodutoras delas (SOUZA; CARRIERI, 2014, p. 13).
As concepções básicas que orientaram a pesquisa foram identificadas a partir das
abordagens das escolas estruturalistas e pós-estruturalistas cujos principais contribuições para
pesquisa são de Pierre Bourdieu (estruturalismo construtivista) e Michel Foucault que têm
sido adotadas para discussão sobre poder, saber e, principalmente, discurso. Para
complementar este arcabouço, tornou-se necessário convocar Enrique Leff cujas premissas
estão baseadas tanto em Bourdieu quanto em Foucault, porém com um viés para as relações
do campo ambiental, com foco no discurso da sustentabilidade (THIRY-CHERQUES, 2008;
LEFF, 2008). Para Thyri-Cherques (2008), os estudos de Levi-Strauss, Barthes, Bourdieu e
Foucault, são contribuições à Escola Estruturalista de Linguagem. Já Williams (2012) entende
que Michel Foucault é um dos principais pós-estruturalistas que ao desenvolver seus próprios
procedimentos para analisar principalmente “discurso”, promove a transição entre
estruturalistas e pós-estruturalistas.
Existe uma diversidade de pesquisas dentro da abordagem estrutural que se utiliza da
Análise do Discurso (AD) (ALONSO, 2010). A AD iniciou como um método, isto é, “[...]
uma aplicação dos conhecimentos sobre a linguagem à investigação de processos sociais [...]”
e converteu-se “[...] em um conjunto de perspectivas genuínas, que ajudaram a transformar
nossa concepção dos próprios processos sociais e da maneira de abordá-los.” (COELHO,
2012, p. 77). Dentre as abordagens de AD, nesta pesquisa optou-se por aquela difundida pela
chamada escola de Madri, capitaneada principalmente por Conde (2009), Alonso (2010) e,
recentemente no Brasil, por Coelho (2012) que é a escola denominada “Análise Sociológica
18
do Discurso” (ASD) cuja pretensão é aproximar elementos epistemológicos, metodológicos e
técnicos da AD ao campo organizacional (COELHO; GODOY, 2011).
1.4 Justificativa
A expansão do potencial energético brasileiro através da matriz hidrelétrica,
principalmente no contexto amazônico, tem provocado: o deslocamento de comunidades
locais ribeirinhas de seu ambiente natural; a degradação ambiental por alagamentos de
grandes porções de florestas, a extinção de espécies exóticas de animais da Amazônia, entre
eles os peixes, o desbarrancamento de encostas, bem como a perda da identidade e dos valores
culturais dos povos atingidos; o aumento da violência em todos os sentidos baseados num
suposto desenvolvimento aos moldes tradicionalmente capitalistas, economicistas, etc..
Os fatos ocorridos frente ao discurso observado sobre sustentabilidade colaboram para
o interesse na pesquisa da análise do discurso de sustentabilidade no município de Porto
Velho/RO onde estão operando as usinas hidrelétricas Santo Antônio Energia S.A. (SAE) e
Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR).
As pesquisas já desenvolvidas neste campo tanto em nível local como “Conflitos
Socioambientais pela Construção das Usinas do Jirau e de Santo Antônio no rio Madeira em
Porto Velho/RO” quanto nacional “Construção do discurso da sustentabilidade: uma prática
de análise sociológica do discurso no campo organizacional” associadas à construção das
usinas hidrelétricas em curso na Amazônia indica a necessidade de continuação das pesquisas
sobre o discurso da sustentabilidade.
1.5 Vinculação com as Linhas de Pesquisa do PPGMAD
A presente pesquisa foi desenvolvida na linha de pesquisa “Agronegócio e
Sustentabilidade” do Programa de Pós Graduação Mestrado em Administração da
Universidade Federal de Rondônia. Um dos seus objetivos é contemplar o desenvolvimento,
produção, e disseminação de conhecimentos sobre as estruturas produtivas, as tecnologias, a
competitividade, a cooperação. Os estudos consideram que a exigência para a busca de uma
sociedade sustentável exige adaptabilidade e alinhamento das instituições de pesquisa e
desenvolvimento com organizações voltadas aos sistemas produtivos e aos modelos de
negócios visando à inovação e à sustentabilidade dos recursos amazônicos.
19
Desta forma, esta pesquisa foi direcionada para a análise do discurso organizacional
nas empresas administradoras das usinas hidrelétricas do rio Madeira indo de encontro à
sustentabilidade amazônica.
1.6 Organização da Dissertação
A presente dissertação foi estruturada em cinco capítulos.
O primeiro capitulo prioriza a importância da discussão evolutiva e conceitual do
discurso de sustentabilidade. A partir da problemática, estabeleceu-se os objetivos geral e
específicos. As concepções e pressupostos foram baseadas nas escolas estruturalistas e pósestruturalistas conforme apresentado neste item. A justificativa para a elaboração desta
dissertação deu-se pela importância da continuação das pesquisas já realizadas tanto em nível
local quanto em nível nacional.
O segundo capítulo versa sobre o referencial teórico que foi dividido em dois temas
principais: de um lado a sustentabilidade e de outro lado o discurso.
O terceiro capítulo teve como objetivo estruturar os procedimentos metodológicos
com vistas a facilitar a operacionalização do planejamento de pesquisa, coleta e organização
dos dados, bem como a análise destes dados. Para tanto, tornou-se necessário estabelecer
algumas dimensões e categorias de orientação ao pesquisador, bem como, os trabalhos
práticos necessários para obtenção de resultados fidedignos e válidos para a análise do
discurso sob a perspectiva da escola de Análise Sociológica do Discurso. Como ferramenta de
auxílio à organização e análise dos dados optou-se pelo software de pesquisa qualitativa Atlas
T.I.
O quarto capítulo é referente aos resultados, análise e discussão. Por fim, no quinto
capítulo foram apresentadas às conclusões e recomendações.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO-EMPÍRICO
O
presente
referencial
teórico-empírico
visa
fornecer
fundamentação
para
compreensão do problema de pesquisa, com base nas perspectivas dos autores que discutem
paradigmas, visões, perspectivas e dimensões da sustentabilidade associado ao entendimento
do discurso aplicado ao termo. Divide-se este capítulo em 02 seções: a primeira seção trata da
origem do conceito de sustentabilidade, o conceito propriamente dito através de algumas
visões, sustentabilidade organizacional e, Análise do Discurso, com ênfase na Análise
Sociológica do Discurso (ASD) onde buscou-se as bases para entendimento do discurso
organizacional e suas imbricações com o discurso da sustentabilidade.
2.1 Sustentabilidade: Histórico e Conceito
Em fins de século XX, o crescimento da consciência da sociedade em relação à
degradação do meio ambiente, em parte, foi decorrente do processo de desenvolvimento. O
aprofundamento da crise ambiental, juntamente com a reflexão sistemática sobre a influência
do ser humano neste processo, lançaram os desafios da sociedade atual (VAN BELLEN,
2004). Pesquisas ambientais atribuem a degradação ambiental como consequência da poluição
industrial, no entanto, a degradação do solo, os riscos de poluição, desmatamento, podem ter
sido sentidos desde a queda de Roma, bem como o Império Babilônico (MEBRATU, 1998).
No contexto das transformações das últimas décadas, o conceito de desenvolvimento
foi objeto de controvérsias e a abordagem tradicional considerava desenvolvimento e
crescimento econômico como sinônimo (JACOBI, 2003). Fundamental para o debate da
questão foram as organizações que nascem a partir dos anos de 1960, tais como World Wide
Fund for Nature conhecida como WWF Green Peace, além da publicação de obras como o
livro Silent Spring (1962) de Rachel Carlson, a criação pelas Nações Unidas de programas e
comissões, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) e a realização das
conferências de Estocolmo, Rio – 92 e subsequentes (CAMARGO, 2003).
A CMMAD foi responsável pelo Relatório Bruntland (1987) também conhecido como
Our Common Future (Nosso Futuro Comum) que relata avanços na direção de uma sociedade
sustentável, mas também diversos problemas que assolaram os países no século XX,
principalmente os problemas relacionados às questões ecológicas. Com o Relatório surge a
21
definição de DS mais difundida, também no âmbito dos estudos organizacionais,
fundamentada nos pilares do crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico.
O relatório, entre outras questões, chega à conclusão de que era necessária uma mudança de
base no enfoque do desenvolvimento, já que o planeta e todos seus sistemas ecológicos
estavam sofrendo graves impactos negativos (JUSTEN; NETO, 2013; SICHE, et al. 2007).
O Brasil sediou o Encontro Eco-92 (1992) que aprovou a Agenda 21 proposta pela
ONU (CMMAD) onde se estabeleceu planos de ação ligados ao desenvolvimento sustentável
para os 20 anos subsequentes. As avaliações ocorreram em 2002 e recentemente no Encontro
Rio+20 (2012) com novos planos de ação a serem executados nos próximos anos.
A discussão do conceito de desenvolvimento sustentável para a sustentabilidade em
nível global até 1994 é apresentada com base na visão geral do pensamento de Mebratu
(1998) no quadro 1.
WCED –
1994
WCED 1987
PósEstocolmo
1972
PréEstocolmo –
Estocolm
1972
o – 1972
Quadro 1 - Síntese da evolução do conceito de desenvolvimento sustentável.
1.
2.
3.
4.
1.
2.
3.
1.
2.
1.
2.
3.
1.
2.
3.
4.
Fortes críticas ao sistema de produção;
Esgotamento dos recursos naturais e destruição ambiental;
Falha da economia tradicional no processo decisório político;
Despertar humano para poluição global e a escassez de recursos ecológicos.
Meio Ambiente Humano: meio ambiente e desenvolvimento – desenvolvimento “sem
destruição” – “desenvolvimento ambientalmente saudável”.
Surgimento do termo ecodesenvolvimento.
Começa a se desenhar o conceito de D.S tornando-se necessário alterar a forma presente
de desenvolvimento econômico.
1978 - Reconhecimento internacional que meio ambiente e desenvolvimento deveriam
andar juntos.
1980 – World Wildlife + União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) –
desenvolve conceito genérico de “conservação”: o termo “desenvolvimento sustentável”
ainda não aparecia nos textos.
Estabelecimento do termo “desenvolvimento sustentável” de acordo com kirkby, 1995.
Limitações impostas pelo estado tecnológico e a organização social sobre a capacidade
do ambiente para atender as necessidades presentes e futuras.
Comissão de Bruntland – “Nosso Futuro Comum”.
A partir dai todos passaram a adotar a expressão “desenvolvimento sustentável”;
WCED acredita na definição e confia na sua sabedoria prática;
Goldin e Winters (1995), Daly (1996), Tryzna (1995) Holmberg (1994) concordam que o
termo “D.S” não representa o que deveria representar;
A partir do Encontro Rio-1992, os países passaram a questionar o significado de “D.S”.
Fonte: Adaptado de Mebratu, 1998.
Para Mebratu, o Relatório de Estocolmo é composto por 24 princípios que orientam
como os agentes e suas sociedades constituídas, sejam elas públicas ou privadas, deveriam
agir de forma sustentável. De acordo com Afonso (2006, p. 21), na Conferencia de Estocolmo
foram produzidos três documentos: a Declaração de Estocolmo, uma Lista de Princípios
22
(afirma possuir 26 princípios) e um Plano de Ação. A Lista de Princípios foi agrupada em 05
categorias conforme descrito no quadro 2.
Quadro 2 - Lista de Princípios e Plano de Ação da Conferência de Estocolmo.
Categorias
Princípios
Os recursos naturais devem ser resguardados e conservados; a capacidade terrestre de produção
1)
de recursos renováveis deve ser mantida e os recursos não renováveis devem ser
compartilhados.
O desenvolvimento e a manutenção da qualidade ambiental devem se constituir em um só
2)
objetivo, devendo ser oferecidos assistência e incentivo aos países em desenvolvimento para que
promovam uma administração ambiental racional.
Os países devem estabelecer padrões nacionais de administração e exploração de recursos que
3)
também atendam aos princípios de cooperação internacional.
Os níveis de poluição não devem exceder a capacidade de recuperação dos ecossistemas,
4)
devendo ser especialmente evitada a poluição dos oceanos.
Ciência, tecnologia e pesquisa devem oferecer novos métodos e instrumentos para a
5)
conservação dos sistemas naturais.
Apresentação de um conjunto de atividades internacionalmente coordenadas (109
recomendações em avaliação ambiental, administração ambiental e medidas de apoio) para
Plano de
desenvolver conhecimento científico a respeito das tendências de alteração ambiental, de seus
Ação
efeitos sobre a humanidade e sobre os recursos ambientais, e de técnicas de administração e
planejamento para proteção e melhoria da qualidade ambiental.
Fonte: Afonso, 2006, p. 21.
A partir dos anos 80, países como o Brasil, intensificaram o alinhamento com os
princípios e plano de ação da Conferência de Estocolmo e leis foram promulgados como, por
exemplo, a Politica Nacional do Meio Ambiente que trata de questões de princípios,
instrumentos e mecanismos de formulação e aplicação da política ambiental, além de
determinar a obrigatoriedade da realização de avaliação de impacto ambiental para atividades
potencialmente poluidoras. Neste contexto, exatamente em 1980, a Internacional Union
Conservation of Nature and Natural Resoucers (IUCN) lança em mais de 40 países o texto
“Estratégia Mundial de Conservação” conectando questões de população, pobreza,
crescimento econômico, tecnologias inadequadas, conservação de energia e de matériasprimas, sistematizado em texto que orienta a organizações no sentido da busca pela
sustentabilidade: “[...] atividades econômicas, processos sociais e conservação dos recursos
ambientais” (AFONSO, 2006, p. 51).
Em 1992, mais de 170 países se reúnem no Rio de Janeiro para participar do evento
que seria o mais importante para a difusão do desenvolvimento sustentável em nível global.
Depois de 20 anos da Conferência de Estocolmo (1972) acontecera o evento Eco-92 com uma
extensa pauta acerca das problemáticas discutidas anteriormente por especialistas do mundo
inteiro em questões ambientais, econômicas e sociais.
23
Importante característica do evento foi propor um período de conscientização dos
povos das nações participantes sobre desenvolvimento sustentável, principalmente nos
aspectos ambientais e sociais e que era possível ser sustentável ambientalmente e socialmente
garantindo economicamente os resultados organizacionais e governamentais alcançados pelas
nações e empresas. A disseminação de ações neste plano foi marcante nos 20 anos
subsequentes.
Os debates no evento Rio + 20 foram caracterizados por quatro grandes discursos
sobre a política ambiental e desenvolvimentista ao longo dos últimos quarenta anos:
sobrevivencialismo, resolução de problemas, sustentabilidade e radicalismo verde
(WENCESLAU, ANTENAZA E CALMON, 2012).
Do lado das Nações Unidas (ONU), o encontro Rio +20 a partir do qual foi elaborado
o documento “The Future We Want” pela própria ONU (2012), tornou clara a posição de que
as pessoas são o centro da sustentabilidade e de que há subordinação da natureza aos seres
humanos. Há um apelo pela abertura por relações justas, equitativas e inclusivas. Em uma
abordagem holística e integrada do desenvolvimento sustentável, defende-se que o
crescimento econômico, a proteção ambiental e a justiça distributiva podem ocorrer
simultaneamente (UNITED NATIONS, 2012).
As implicações do evento Rio +20 para a sustentabilidade foi observada por Becker (2012, p.
10), que enfatizou a parceria entre grupos e atores em prol do bem comum, reconhecendo,
porém, que países ricos e pobres possuem responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Este
ponto foi bastante suavizado no documento final, mas fica clara a maior preocupação com a
redução das diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Essa visão de
mundo serve aos interesses geopolíticos dos países desenvolvidos, significando a abertura de
novos mercados. Há interesse em ampliar o controle sobre as grandes reservas de recursos
naturais dos países em desenvolvimento, pois a tecnologia para a expansão pertence aos
países ricos (BECKER, 2012).
No Brasil, as ações para a sustentabilidade englobam entre outras a produção de
energia considerada limpa a partir de fontes renováveis, manutenção da floresta amazônica
em condições naturais na sua maior parte, aprovação de um código florestal que obriga os
produtores rurais a constituírem em suas propriedades reservas legais e áreas de preservação
permanentes (APP), redução de emissão de gases poluentes nas indústrias e ainda nos
veículos leves e pesados (BECKER, 2004). No entanto, o posicionamento de países de
extrema pobreza denunciou o caráter apenas discursivo e retórico dos países em geral com
relação à sustentabilidade, uma vez que as nações que assim se encontram não têm percebido
24
grandes avanços nas questões básicas necessárias à sobrevivência humana em seus países. Por
exemplo, nos países da África, os desastres ecológicos e a degradação ambiental têm
acontecido com frequência, aumentando a distância da proposta de sustentabilidade ao
cotidiano dos seres humanos e respectivos ecossistemas.
A utilização demasiada da expressão desenvolvimento sustentável para contextos
organizacionais tem gerado confusões epistemológicas, paradigmáticas e teóricas a seu
respeito. Não são raros os estudos em que se encontra um conceito desvinculado do contexto
sobre o qual a pesquisa foi desenvolvida (MUNCK; SOUZA; SILVA, 2012). O conceito de
desenvolvimento sustentável é polissêmico e apresenta abordagens diferenciadas, desde a
biologia até a economia. Para se atingir a sustentabilidade, buscaria a almejada condição de
manutenção, sobrevivência e harmonia de todas as formas de vida na terra, em contraposição
a um padrão de desenvolvimento ecologicamente desequilibrado, economicamente instável e
socialmente desigual. Desta forma, mais de 160 definições foram identificadas (JATOBÁ;
CIDADE; VARGAS, 2009; VAN BELLEN, 2006; MEBRATU, 1998).
Sustentabilidade quer dizer manutenção do sistema de suporte da vida significa
comportamento em obediência às leis da natureza o significado da sustentabilidade que
interessa à espécie humana consiste na manutenção, reposição e crescimento dos ativos de
capital físico e humano, na manutenção das condições físicas ambientais dos constituintes do
bem-estar, no fortalecimento da resiliência dos sistemas terrestres, capacitando-os a ajustar-se
a choques e crises e ainda em evitar transferir dívidas de qualquer caráter, ecológicas ou
financeiras, para gerações futuras (CAVALCANTI, 1995; 2012; SICHE et al., 2007).
A base do conceito de sustentabilidade está na utilização dos serviços da natureza
dentro do princípio da manutenção do capital natural, isto é, o aproveitamento dos recursos
naturais dentro da capacidade de carga do sistema.
Além disso, a noção de justiça social
(redução das desigualdades sociais e direito de acesso aos bens necessários a uma vida digna)
e aos valores éticos (compromisso com as gerações futuras) para garantir o que pode ser
sustentado (NASCIMENTO, 2012; VAN BELLEN, 2004; SULAIMAN, 2011).
Neste sentido, a sustentabilidade pode ser conceituada como estrutural ou conjuntural.
O lado estrutural tem sentido diacrônico, trata do controle por parte dos agentes do trabalho
de campo sobre os recursos fundamentais à sua própria reprodução e atende a uma primeira
exigência do conceito operacional. A sustentabilidade conjuntural tem sentido sincrônico e
trata do uso dos recursos já existentes na unidade produtiva e das relações destes com os
sistemas de produção e o ambiente de modo geral (TAMBELLINI, 2009). Em geral o que se
observa são duas posições extrema que orientam a definição de sustentabilidade. De um lado
25
os biocentrados e de outro os tecnocentrados. Mesmo que existam várias divergências entre os
“verdes” e aqueles ditos “do mercado”, ambos parecem compartilhar de um mesmo desejo
que é a sobrevivência da raça humana (MARCONATTO, et al, 2013).
Como a sociedade global tornou-se, em sua maioria, dependente de uma economia de
base industrial, esta mesma sociedade estará sempre beirando a insustentabilidade, se já não
estiver inteiramente nela. Desta maneira a insustentabilidade é atribuída à economia de base
industrial (GEORGESCU-ROEGEN, 1971; VEIGA, 2008; CAVALCANTI, 2012). Mesmo
com um cenário desfavorável é possível enfrentar o desafio. Condições de mais ou menos
insustentabilidade (ou sustentabilidade) dão alento à ideia de se encontrar saídas razoáveis
para o desejo de progresso da humanidade ser concebidas. Entre elas, configurações que
garantam equidade e articulação entre o global e o local nas áreas sociais (CAVALCANTI,
2012; JACOBI, 1999).
Neste sentido, as visões de sustentabilidade que hoje ocupam espaços no debate
acadêmico, organizacional e midiático não são neutras nem imutáveis, tendo seu significado
variado ao longo do tempo, em sintonia com a dinâmica social, econômica e política que
circunscreve as relações entre a sociedade e a natureza (JATOBÁ, CIDADE e VARGAS
2009).
2.2 Visões de sustentabilidade
Para a presente discussão, optou-se por quatro contribuições específicas, sendo elas: a
análise conceitual de Mebratu (1998) sobre desenvolvimento sustentável (neste caso adotado
como sinônimo de sustentabilidade), as correntes paradigmáticas abordadas por Gladwin,
Kenelly e Krause (1995) as dimensões de sustentabilidade discutidas por Pearce (1993) e as
dimensões propostas por Sachs (2007).
Assim como ocorrido na década de 1970, na década de 80 o conceito desenvolvimento
sustentável também foi utilizado para apropriação do tema tecnologia. Nos fins da década de
1980, a influência do conceito aumentou significativamente em nível nacional e internacional
no desenvolvimento de políticas, tornando-se elemento central dos documentos de política de
governos, agências internacionais e organizações empresariais, pelo menos em termos de
discurso (MEBRATU, 1998). Esta utilização alargou o discurso sobre o conceito de
desenvolvimento sustentável, resultando em uma ampla variedade de definições e
interpretações. Diante desta variedade, Mebratu (1998) analisou a evolução do conceito de
26
desenvolvimento sustentável, suas e as interpretações sobre ele. Estas visões foram
identificadas como visão institucional, visão ideológica e visão acadêmica que foram
esquematizadas na figura 1 (MEBRATU, 1998).
Figura 1 - Visões de Desenvolvimento Sustentável de Mebratu (1998).
Fonte: Adaptado de Mebratu, 1998.
A visão institucional foi apresentada a partir de três grandes grupos como
representantes das diversas concepções: World Commission on Environment and
Development (WCED, 1987) – Relatório Nosso Futuro Comum; International Institute of
Environment and Development (IIED, 2001); e, World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD, 2001). Todas estas visões têm como elemento central a definição de
desenvolvimento sustentável dada pela Comissão Brundtland e o conceito de “satisfação das
necessidades”, sendo que as diferenças de interpretação são decorrentes das influências dos
objetivos das instituições (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002).
Mebratu (1998) atribui à visão institucional a vinculação do conceito de DS com a
expressão eco eficiência, que considera crescimento econômico como essencial para melhorar
o sustento dos pobres, sustentar o crescimento populacional, eventualmente estabilizar a
população, para adoção de novas tecnologias como apoio, utilização para o processo de
desenvolvimento três sistemas básicos: sistema biológico (ou energias mais limpas e
produção de menos poluição. O IIED concebe como bases psicológicas), o sistema econômico
e o sistema social, sendo que o desenvolvimento sustentável visa maximizar as metas na
confluência dos três sistemas por meio de um processo adaptativo onde é fundamental o
aumento do poder das pessoas para mudar seu próprio desenvolvimento, combinado com um
nítido conhecimento dos limites ambientais (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002). Pelo lado da
27
WBCSD, os líderes de negócios estão comprometidos com o desenvolvimento sustentável e
procuram satisfazer as necessidades sem comprometer a qualidade de vida das gerações
futuras (MEBRATU, 1998; SIENA, 2002).
Na visão ideológica, embora haja alguns fatores que indicam o surgimento de uma
ideologia distinta verde, as visões ambientais têm origem nas ideologias clássicas: a teologia
da libertação, o feminismo radical e o marxismo são os dominantes. O movimento ecofeminista surgido por volta de 1970 tem como preocupação as questões de opressão no
sentido da raça, classe social, natureza e como o próprio nome traduz a discriminação pelo
gênero feminino. Quando surgiu, esta visão pretendeu expor, desafiar e mudar as estruturas de
poder dominante, nas relações de gênero e em termos de sistemas econômicos. O ecofeminismo aponta para as interconexões entre as preocupações feministas e ecológicas
(MEBRATU, 1998).
Pelo lado das crenças religiosas mais conhecidas da ideologia eco-teológica, as
questões éticas sobre o amor e respeito por outras pessoas e a natureza não humana,
reverência à Natureza que se torna o Corpo de Deus, ou ainda o tratamento que deveria ser
dispensado ao vizinho (sentido de pessoa mais próxima) pelos quais deveria se tratar como
gostaria de ser tratado. (MEBRATU, 1998). A ascensão do ambientalismo moderno na década
de 1970 contribui para surgir um novo debate entre socialistas e ambientalistas que levou à
evolução do conceito de eco-socialismo.
Para Mebratu (1998) eco-socialismo baseia-se no pressuposto de que desenvolvimento
capitalista sustentável, do ponto de vista ecológico é uma contradição em termos que não
pode nunca ser realizados. Os ecossocialistas consideram a opressão capitalista como
principal fonte da crise ambiental responsável pela insustentabilidade do planeta,
principalmente em função das crises do sistema capitalista. Por outro lado, um grupo de
cientistas sociais de países ricos como a Suécia, a Holanda, a Alemanha, a Noruega e o Japão
desenvolveram um apelo pela Modernização Ecológica, considerada por eles uma versão mais
elaborada do discurso do desenvolvimento sustentável.
conhecida por ecocapitalimo
(MEBRATU, 1998; LIMA, 2003).
Assim, o ecocapitalismo pode ser entendido como uma proposta de reestruturação da
economia política do capitalismo que se esforça em demonstrar a compatibilidade entre
crescimento econômico e proteção ambiental, e a possibilidade de enfrentar a crise ambiental
dentro dos marcos do capitalismo (LIMA, 2003, p. 105).
Para compor a visão acadêmica, as respostas para a discussão da crise ambiental foram
sintetizadas em três grandes grupos (MEBRATU Apud SIENA, 2002, p. 35): no primeiro
28
grupo, Economia ambiental, na perspectiva da economia neoclássica, considerando que o
ambiente é subestimado, usado em demasia e degradado, propõe uma solução em dois
estágios; determinar o preço do “material ambiental” de acordo com a curva da oferta e
procura, identificando o nível ótimo ou apropriado da proteção ambiental, taxando a demanda
ambiental e subsidiando o melhoramento do ambiente ou criar mercado para os bens
ambientais através da permissão negociada entre firmas e consumidores; no segundo grupo
está a Ecologia profunda, que considera a natureza como um sistema auto organizado que
responde, altera e evolui no tempo por meio de um grande conjunto de variáveis quase
estáveis; de acordo com esta visão, o ser humano busca se impor por meio de intervenções
deterministas visando obter os produtos necessários; propõe, então, a substituição da
hierarquia antropocêntrica pelo igualitarismo biocêntrico, considerando a fertilidade e
diversidade da vida como um valor em si mesmo, não tendo o ser humano o direto de
produzir sua redução, exceto para satisfazer suas necessidades básicas; e, no terceiro, a
Ecologia social, que procura conciliar a visão reducionista da economia com a visão holística
da ecologia profunda como uma forma de superar o atual dualismo predominante.
O objetivo final da sustentabilidade é a plena integração dos sistemas naturais,
econômicos e sociais, e isto poderia ser conseguido pela integração destes objetivos
(pensamento linear). Ao contrário, as conclusões tiradas são baseadas no desenvolvido com
base na abordagem holística-reducionista (MEBRATU, 1998).
Ao discutir o conceito de sustentabilidade, Pearce (1993) trabalhou com a distinção
entre a visão tecnocêntrica e a visão ecocêntrica. Para o referido autor, quanto mais próximo
do tecnocentrismo mais fraca se torna a sustentabilidade (cornucopiana e adaptativa). O
ecocentrismo busca a consolidação da dimensão ambiental (ecologia profunda e
comunalismo). Estas dimensões são apresentadas na figura 2.
29
Figura 2 - Dimensões da sustentabilidade de Pearce (1993).
Sustentabilidade
Ecocentrismo
(Ecologia Profunda
/ Comunalismo)
Ambiental e Social
Forte
Econômica
Tecnocentrismo
Fraca
Cornucopiana
Adaptativa
Fonte: Adaptado de Pearce, 1993.
A sustentabilidade pressupõe um padrão de vida dentro dos limites da natureza, ou
seja, deve se viver dentro da capacidade do capital natural. Este tipo de capital, sendo
fundamental para a sobrevivência humana na Terra e as tendências que mostram uma
população e consumo médio crescentes, com decréscimo simultâneo deste mesmo capital,
leva Pearce (1993) a questionar quanto capital natural é necessário para manter o sistema. A
discussão destas diferentes possibilidades é que origina os conceitos de sustentabilidade forte
e fraca (VAN BELLEN, 2004).
De acordo com Van Bellen (2004), as visões de sustentabilidade diferem também pela
maneira como os diferentes componentes, humano e ecológico podem ser substituídos um
pelo outro. As várias abordagens têm sido classificadas por economistas, inclusive Pearce
(1993), de sustentabilidade fraca, sensível, forte e absurdamente forte.
A sustentabilidade fraca não está preocupada com as partes, mas apenas com o todo ou
a soma total do sistema; as partes, ou a redução das mesmas, podem ser substituídas por
outras, ou o aumento destas. A qualidade ambiental pode declinar de maneira isolada, mas
pode ser compensada pelo incremento na qualidade de vida humana. O incremento do capital
humano pode compensar as perdas do capital natural. A sustentabilidade sensível diz respeito
à manutenção do todo, fornecendo alguma atenção para as partes envolvidas. A
sustentabilidade forte solicita a manutenção das partes do sistema, e do sistema como um
todo, em boas condições; logo, nenhuma das partes do sistema pode ser substituída por outra
e, em algumas versões, existe apenas uma limitada sustentabilidade dentro das partes. Na
sustentabilidade muito forte, as partes devem ser mantidas integralmente ou intactas.
Van Bellen (2006) apresentou uma matriz de sustentabilidade baseado em Pearce
(1993) conforme o quadro 3.
30
Quadro 3 - Matriz de Sustentabilidade.
TECNOCÊNTRICO
ECOCÊNCTRICO
Cornucopiana
Adaptativa
Comunalista
Ecologia Profunda
X
Exploração de
recursos, orientação
pelo crescimento.
Conservacionismo
de recursos, posição
gerencial.
Preservacionismo de
recursos.
Preservacionismo
profundo.
Rótulo ambiental
Economia
antiverde, livre
mercado.
Economia verde,
mercado verde
conduzido por
instrumentos de
incentivos
econômicos.
Economia verde
profunda. Economia
steady-state,
regulação
macroambiental.
Economia verde
muito profunda,
forte regulação para
minimizar a tomada
de recursos.
Tipo de economia
Objetivo
econômico,
maximização do
crescimento
econômico.
Modificação do
crescimento
econômico, norma
do capital constante,
alguma mudança de
escala.
Crescimento
econômico nulo,
crescimento
populacional nulo.
Perspectiva
sistêmica, saúde do
todo (ecossistema),
hipótese de Gaia e
suas implicações.
Reduzida escala da
economia e da
população.
Imperativa mudança
de escala,
interpretação literal
de Gaia.
Estratégia de
gestão
Direitos e interesses
dos indivíduos
contemporâneos,
valor instrumental
na natureza.
Equidade intra e
intergeracional
(pobres
contemporâneos e
gerações futuras),
valor instrumental
na natureza.
Interesse coletivo
sobrepuja o interesse
individual, valor
primário dos
ecossistemas e valor
secundário para suas
funções e serviços.
Bioética (direitos e
interesses
conferidos a todas
as espécies), valor
intrínseco da
natureza.
Ética
Sustentabilidade
muito fraca.
Sustentabilidade
fraca.
Sustentabilidade
forte.
Sustentabilidade
muito forte.
Grau de
sustentabilidade
Fonte: Van Bellen, 2006, p. 26.
Van Bellen (2006) concorda com Pearce (1993) e sugere a matriz que apresenta a
sustentabilidade forte e fraca à sustentabilidade muito forte e muito fraca baseado na ética, na
estratégia de gestão, tipo de economia e rótulo ambiental. A sustentabilidade muito fraca é
resultado da posição cornucopiana (mais ao lado do tecnocentrico). No campo organizacional,
visando estabelecer uma visão paradigmática na transição de desenvolvimento sustentável
para a sustentabilidade, Gladwin, Kenelly e Krause (1995) compararam três correntes, sendo
31
o tecnocentrismo, ecocentrismo e o sustaincentrism (paradigma centrado na sustentabilidade).
Após o lançamento do Relatório Brundtland pela WCED em 1987, foram identificadas
definições alternativas de desenvolvimento sustentável como economias sustentáveis e
sociedades sustentáveis, indicando que esses construtos estão infundidos de múltiplos
objetivos e ingredientes o que faz permanecer confuso, elusivo, contestável e ideologicamente
controverso (GLADWIN, KENNELLY E KRAUSE,1995). Na figura 03 estão resumidas as
noções destes paradigmas.
Figura 3 - Paradigmas ambientais de Gladwin, Kenelly e Krause (1995).
Tecnocentrism
Sustaicentrism
Ecocentrism
• Mão invisível do
mercado - Adam Smith;
• Reconciliação de
posições científicas
radicais;
• Falhas dos tecno e
ecocentristas;
• Modelo para entender o
desenvolvimento
sustentável.
• Ecologia profunda;
• Ser humano acima da
natureza;
• Perspectiva econômica
dominante nos sistemas
ecológicos.
• Reverência ao planeta;
• Transcedental e
preservacionista.
Fonte: Adaptado de Gladwin, Kenelly e Krause, 1995.
Gladwin, Kenelly e Krause (1995), ao comparar as 03 correntes à luz de abordagens
organizacionais, entendem que o tecnocentrismo e o ecocentrismo são opostos, enquanto que
a terceira, o sustaincentrism (centrado na sustentabilidade), representa uma proposição de
compreensão de mundo mais flexível e aberta.
A origem do paradigma “tecnocentrico” pode ser remetida à revolução científica do
século XVII, com a emergência de uma teoria social liberal, da racionalidade da mão invisível
proposta por Adam Smith e da tendência de privilegiar os seres humanos sobre a natureza.
Essa perspectiva ainda se faz dominante contemporaneamente, uma vez que suas proposições
são mais convidativas aos sistemas econômicos e aos modelos de gestão organizacionais. O
tecnocentrismo tem sido rotulado de diversas formas, entre elas como cornucópias,
expansionista, grande mania, ambientalismo superficial ou ainda sustentabilidade fraca.
(GLADWIN, KENELLY E KRAUSE, 1995). O paradigma do tecnocentrismo é voltado para
o domínio do homem sobre a natureza diante de um reducionismo mecânico onde o mercado
resolve todos os problemas, guiado pela mão invisível de Adam Smith sendo capaz de se
32
autorregular. Seu pano de fundo é a economia tradicional clássica que tem como máxima a
economia ambiental.
O paradigma ecocentrismo é proveniente de uma filosofia que apregoa um estilo de
vida que se conforme com a ordem da natureza, com a reverência ao planeta, assim como os
movimentos transcendentalistas e preservacionistas. Sua principal marca é a ecologia
profunda, que rejeita qualquer dominação humana sobre a natureza. O ecocentrismo tem sido
referido como neomalthusianismo, preservação, estático, constante, a ecologia profunda ou no
sentido oposto do tecnocentrismo é considerado como sustentabilidade forte (GLADWIN,
KENELLY E KRAUSE, 1995). Neste paradigma encontra-se o homem como parte integrante
da natureza. Sua percepção é holística radical, onde a máxima é a perspectiva
preservacionista. No que diz respeito à ecologia profunda, fundada, no início dos anos 70,
pelo filósofo e ecologista norueguês Arne Naess, no âmbito da Escola de Oslo, não há
predomínio de qualquer perspectiva particular, tão somente a existência de um pensamento
ecológico, que percebe o mundo vivo como uma rede inseparável de relações (JUSTEN;
NETO, 2013).
O paradigma centrado na sustentabilidade se interessa pelo desenvolvimento
sustentável compreendido como um esforço dialético pelo qual a articulação de um olhar de
mundo é percebida como uma tentativa de se buscar uma reconciliação entre posições
científicas muito radicais. Dos paradigmas estudados, o sustaincentrism é a corrente que
representa a sustentabilidade sendo reconhecido pela interdisciplinaridade, por consequência,
assume, via de regra, uma postura epistemológica pluralista e conflitante (MUNCK, SOUZA
E SILVA, 2012).
Gladwin, Kenelly e Krause (1995) afirmam que tanto o tecnocentrismo quanto o
ecocentrismo falham em oferecer uma base sobre a qual o desenvolvimento sustentável possa
ser investigado. Estes paradigmas se apresentam muitas vezes de forma radical e isolada,
logo, não conseguem sequer promover o desenvolvimento e, muito menos, preservar a
natureza.
O paradigma centrado na sustentabilidade assume uma responsabilidade de articular o
conhecimento e as discussões por uma abordagem interdisciplinar, por meio da qual deve ser
estabelecido um diálogo entre essas duas fortes perspectivas científicas e operacionalizado
através de um modelo que melhor entenda e ainda promova o desenvolvimento sustentável.
Sachs (1993, 2002, 2007, 2008) propôs que as perspectivas da sustentabilidade
contemplam além das econômicas, sociais e ecológicas, as perspectivas denominadas por ele
como cultural e espacial (territorial). Para Sachs deve haver uma distribuição territorial mais
33
adequada, com uma melhor configuração rural-urbana e assentamentos humanos mais
humanos. Devem ser respeitados os valores ecossistêmicos, culturais e locais dos povos em
geral. A sustentabilidade social está vinculada a uma melhor distribuição de renda com
redução das diferenças sociais. A sustentabilidade econômica está vinculada ao fluxo
constante de inversão pública e privada, além da destinação e administração correta dos
recursos naturais. A sustentabilidade ecológica está vinculada ao uso efetivo dos recursos
existentes nos diversos ecossistemas e, como um dos resultados, mínima deterioração
ambiental. A sustentabilidade geográfica está ligada a uma espacialização rural-urbana mais
equilibrada. A sustentabilidade cultural procura a realização de mudanças em harmonia com a
continuidade cultural vigente (SACHS, 1993; MONTIBELLER-FILHO, 2008; HOGAN,
2005).
Sachs (1993) parte do pressuposto que a sustentabilidade constitui-se num conceito
dinâmico que leva em consideração as necessidades crescentes das populações em um
contexto internacional em constante expansão. Neste período acredita que a sustentabilidade
tem como base cinco dimensões principais, que são a sustentabilidade social, a econômica, a
ecológica, a geográfica e a cultural. Montibeller-Filho (2008, p. 53) elabora uma síntese das
cinco dimensões da sustentabilidade propostas por Sachs (1993) conforme estabelecido no
quadro 4.
Quadro 4- Síntese das dimensões da sustentabilidade de Sachs.
Sustentabilidade social
Redução substancial das diferenças sociais;
Sustentabilidade econômica
Alocação e gestão mais eficiente dos recursos;
Sustentabilidade ecológica
Uso dos mais variados ecossistemas com mínima deterioração;
Sustentabilidade
espacial
e Relação mais equilibrada entre campo e cidade, evitar a
geográfica
concentração geográfica de populações;
Sustentabilidade cultural
Respeito aos ecossistemas, cultura e valores locais.
Fonte: Adaptado de Montibeller-Filho, 2008.
Ao prosseguir com suas pesquisas sobre sustentabilidade, Sachs (2002, 2007, 2008)
acrescenta às dimensões da sustentabilidade a dimensão ambiental, a dimensão política
nacional e a dimensão política internacional que são apresentadas no quadro 5 como as novas
dimensões consideradas por Sachs (2007).
34
Quadro 5 - As novas dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs.
TERMOS
Ambiental
CATEGORIAS
- respeitar e aumentar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.
- democracia definida em termos de apropriação universal do conjunto dos direitos humanos;
- um Estado desenvolvimentista capaz de implementar o projeto nacional em parceria com
Político (nacional)
todos os atores sociais interessados;
- um grau razoável de coesão social.
- eficácia do sistema de preservação de guerras da ONU, na garantia da paz e na promoção
da cooperação internacional;
- um pacote Norte-Sul de eco desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade (regras do
jogo e compartilhamento da responsabilidade de favorecimento do parceiro mais fraco);
- controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios;
Político
- controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio
(internacional) ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas; proteção da
diversidade biológica (e cultural); e gestão do patrimônio global, como herança comum da
humanidade;
- sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial de
caráter de commodity da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum
da humanidade.
Fonte: Adaptado de Sachs, 2007, p. 298.
A sustentabilidade territorial (sinônimo de sustentabilidade geográfica) objetiva à
eliminação de disparidades inter-regionais, a destinação igualitária de investimentos públicos
e a conservação da biodiversidade pelo eco-desenvolvimento. A sustentabilidade no âmbito
das políticas nacionais passaria por um nível razoável de coesão social, democracia e
capacidade institucional do Estado em implantar um projeto nacional (SACHS, 2002).
Com na aproximação das visões dos principais autores estudados, entre eles Mebratu
(1998), Pearce (1993), Gladwin, Kennely e Krause (1995) e Sachs (1993; 2002; 2007; 2008) é
possível propor uma perspectiva para subsidiar o processo de análise e de construção do
discurso da sustentabilidade, conforme disposto na figura 4.
35
Figura 4 - Visões aproximadas da sustentabilidade.
Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Munck,
Souza e Silva, 2012.
Ao alcance da ontologia, dos paradigmas e da epistemologia buscou-se aproximar as
visões de sustentabilidade baseado nas características apresentadas neste referencial teórico.
Esta colabora na identificação de como as organizações se utilizam do discurso da
sustentabilidade no desenvolvimento de seus processos internos e externos. De um lado, na
sobreposição dos interesses econômicos à natureza, característica da economia clássica. Do
lado da natureza e sociedade, encontra-se a visão ideológica de Mebratu (1998) aproximada
às dimensões ambientais, ecológicas e sociais (SACHS, 2007; PEARCE; 1993) representadas
em contexto mais amplo pelo paradigma ecocentrism de Gladwin, Kennely e Krause (1995).
Nesta aproximação busca-se harmonizar as visões destes autores relacionados à ideia de
preservação ecológica e manutenção das vidas humanas na terra.
Ao alcance da visão institucional (MEBRATU, 1998) que foi aproximada da dimensão
econômica (PEARCE, 1993; SACHS, 2007) encontra-se o paradigma tecnocêntrico de
Gladwin, Kennely e Krause (1995). Esta aproximação representa a visão de que os recursos
naturais podem ser utilizados pelos agentes econômicos a qualquer custo, inclusive de perda
dos sistemas ecológicos já ameaçados.
36
A sustentabilidade representada pela aproximação da visão acadêmica de Mebratu
(1998) às dimensões de sustentabilidade de Pearce (1993) e Sachs (2007) foi associada ao
paradigma centrado na sustentabilidade de Gladwin, Kennely e Krause (1995). A
sustentabilidade no sentido etimológico e hermenêutico da palavra se torna adjacente à
dimensão ecológica, social e econômica representando a aproximação epistemológica do
discurso conceitual da sustentabilidade (MEBRATU, 1998; PEARCE, 1993; GLADWIN,
KENNELY E KRAUSE, 1995; SACHS, 2007). Ao mesmo tempo, esta aproximação visa
romper com o modo tradicional e fragmentado utilizado para realizar pesquisa no âmbito
organizacional pela ausência de alinhamento das visões dos autores dos mais variados temas
organizacionais (MUNCK; SOUZA; SILVA, 2012).
2.3 Sustentabilidade Organizacional
No contexto organizacional, sistemas de crenças e quadros culturais são impostos e
adaptados por atores e organizações individuais. Assim, os papéis são em grande parte
determinados por estruturas maiores. As organizações sejam corporativas, governamentais ou
sem fins lucrativos, adotam práticas de negócios não porque eles são eficientes, mas porque
fornecem legitimidade aos olhos dos stakeholders, por exemplo, os credores, os reguladores
do governo e acionistas para manter a confiança desses terceiros que muitas vezes encontramse mal informados em relação ao contexto organizacional (DIMAGGIO; POWELL, 2005).
De acordo com Justen e Neto (2013), as discussões sobre sustentabilidade levam em
conta o âmbito organizacional, uma vez que a organização é mediadora moderna entre o
homem e a natureza. Logo, como valor empresarial, a sustentabilidade pode servir de
instrumento de legitimação para as práticas que justamente geram o colapso ecológico,
quando exercida no intento de mascarar o conjunto das externalidades negativas da atividade
empresarial sobre o entorno ecológico. Neste sentido, ao partir de uma ação comunicativa,
numa relação linguística travada entre sujeitos, não entre sujeito-objeto, a organização dotada
de uma intersubjetividade capaz de realizar a emancipação humana via interação social pode
ser transformadora do status quo organizacional. No entanto, o que se percebe da temática da
sustentabilidade empresarial é uma roupagem pretensamente multidimensional, com
conteúdo, porém, fortemente econômico, fato reforçado diante da carga epistemológica
positiva e instrumental presente no mundo dos negócios (JUSTEN; NETO, 2013).
37
Do ponto de vista epistemológico, o resultado é a apropriação de uma perspectiva
particular de sustentabilidade, de viés econômico e que trata as dimensões da sustentabilidade
como, por exemplo, as dimensões ambientais, ecológicas, sociais, geográficas, culturais e
políticas, como proposto por Sachs (2007; 2008), considerado os reflexos sob a dimensão
econômica com vistas à preservação da rentabilidade econômico-financeira.
Do ponto de vista dos paradigmas, Justen e Neto (2013) propõem duas abordagens que
devem ser consideradas pelas empresas ao tratarem de sustentabilidade organizacional, sendo
a ecologia profunda e a gestão social. Na ecologia profunda não há predomínio de qualquer
perspectiva particular e sim a existência de um pensamento ecológico, que percebe o mundo
vivo como uma rede inseparável de relações. A gestão social caminha com a possibilidade de
gestão democrática e participativa, seja no espaço público ou privado.
Do ponto de vista das organizações o que se percebe é o slogan da gestão verde,
também conhecida como “lavagem verde cosmética” que se traduz em um processo
organizacional amplo que aplica a inovação, redução de perdas, responsabilidade social e
vantagens competitivas, aprendizagem e desenvolvimento, adoção de metas e estratégias
ambientais que estejam totalmente integradas com as metas e estratégias da organização.
No Brasil, uma das instituições que trata da sustentabilidade organizacional na
perspectiva do conceito do Tripple Botton Line, norteadora da atuação das empresas a partir
de três pilares: o econômico, o social e o ambiental, foi o Conselho Empresarial para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) que é hoje uma referência empresarial da
sustentabilidade tanto para as empresas quanto para os parceiros e governos. É reconhecido
como o principal representante do setor empresarial na liderança de um processo de mudança:
transformar o modelo econômico tradicional em um novo paradigma (CEBDS, 2014). Criado
em 1997, O CEBDS foi responsável pelo primeiro Relatório de Sustentabilidade do Brasil, e,
em 2008, ajudou a implementar em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o
World Resources Institute ( WRI) a principal ferramenta de medição de emissões de gases de
efeito estufa (GEE), denominado GHG Protocol.
As empresas certificadoras consideram esta ferramenta uma metodologia importante
para a identificação de uma organização com a sustentabilidade em nível global, uma vez que
tanto a WRI quanto a World Business Concil Sustentabity Development (WBCSD) a utilizam
e a reconhecem em todo mundo, sendo compatível com as normas da International
Organization for Standardization (ISO).
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins
lucrativos, constituída como associação e capitaneada por grandes organizações, realiza
38
mobilização nacional em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país,
com visão de longo prazo. Para o Instituto, a sustentabilidade deve resultar do esforço de toda
a sociedade, do sistema político e da iniciativa privada. Para tanto, estimula e orienta o uso da
norma ISO 26000 de 2011 com vistas a Responsabilidade Social Empresarial (RSE)
(INSTITUTO ETHOS, 2014).
Para tornar suas operações mais sustentáveis, as empresas estabelecem um processo de
elaboração de relatório de sustentabilidade para medir desempenhos, estabelecer objetivos e
monitorar mudanças operacionais. Na visão da Global Report Intiative (GRI), um relatório de
sustentabilidade é a plataforma fundamental para comunicar os impactos de sustentabilidade
positivos e negativos bem como para obter informações que podem influenciar na política,
estratégia e nas operações da organização de uma forma contínua (GRI, 2006). É possível
constatar na própria GRI (2006) alguns dos motivos pelos quais as empresas relatam e
utilizam o Relatório de Sustentabilidade estão listados no quadro 6.
Quadro 6 - Motivos para adoção e elaboração de Relatórios de Sustentabilidade.
Aumentar a compreensão sobre os riscos e oportunidades que elas enfrentam.
Melhorar a reputação e a fidelidade à marca.
Ajudar seus stakeholders a compreender os impactos de sustentabilidade e desempenho.
Enfatizar a relação entre o desempenho organizacional financeiro e o não financeiro.
Influenciar na estratégia e política de gestão em longo prazo e planos de negócios.
Servir como padrão de referência (Benchmarking) e avaliação de desempenho de sustentabilidade com respeito
às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias.
Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relativas ao desenvolvimento
sustentável.
Comparar o desempenho organizacional interno e entre outras organizações.
Conformidade com os regulamentos nacionais ou com os requisitos referentes à bolsa de valores.
Fonte: Adaptado de Global Reporting Initiative, 2006.
Variadas organizações utilizam relatórios de sustentabilidade, sendo o Global
Reporting Initiative (GRI) o de maior aceitação pelas empresas, principalmente aquelas que
possuem suas operações classificadas como de alto impacto ambiental e social, como por
exemplo, as usinas hidrelétricas. Além do GRI, muitas organizações também fazem uso das
normas ABNT/ISO 9001 e ABNT/ISO 14001 cujas certificações são recomendadas para
estabelecer respectivamente o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) e Sistema de Gestão
Ambiental (SGA).
Os organismos orientadores e certificadores possuem alinhamento com as dimensões
da sustentabilidade, fazendo valer a necessidade de verificação caso a caso em cada
39
organização, se estas ao estabelecerem seus sistemas de gestão baseados em normas e
relatórios de sustentabilidade, fazem dos seus discursos, práticas cotidianas que se estendem
dentro e fora das empresas nas relações desenvolvidas com todos os seus stakeholders.
Para Tinoco e Kraemer (2004 apud Coelho 2013, p. 2), os relatórios ambientais,
também denominados de socioambientais ou suplementos ambientais, são entendidos como
ferramentas com as quais as empresas contam para descrever e divulgar seu desempenho
ambiental. Após a elaboração de relatórios de sustentabilidade as organizações buscam tornalos públicos, visam atender as preocupações das partes interessadas, de exigências legais e
pressões internas da cadeia de suprimentos, de pares e da sociedade como um todo. No Brasil,
a obrigatoriedade desses relatórios ambientais limita-se às empresas que possuem elevado
potencial de degradação em relação ao meio ambiente (COELHO, 2013). A partir de 2011
empresas de grande porte passaram a adotar como orientação a norma ISO 26000 que aborda
de forma mais ampla as questões relacionadas à Responsabilidade Social Corporativa (RSC).
Em função da rede de relacionamento dessas empresas, seus parceiros, principalmente
fornecedores, tem buscado entender e aplicar em suas práticas as recomendações de uso da
norma.
De acordo com Tachizawa (2008, p. 138), no macroambiente, há significativa
amplitude das forças ambientais que afetam todos os agentes no contexto da organização, em
termos
de
variáveis
econômicas;
demográficas;
físicas
ecológicas;
tecnológicas;
político/legais; e socioculturais. Tais variáveis externas atuam em um grande macroambiente,
com forças e megatendências que criam oportunidades e ameaças à organização; elas são
consideradas incontroláveis, e a organização deve monitorar e interagir em seu processo de
gestão ambiental e social.
Neste sentido são elaborados e apresentados esquemas que orientam as organizações
no contexto da sustentabilidade organizacional, por exemplo, o esquema elaborado a partir de
Coral (2002) apresentado na figura 5.
40
Figura 5 - Sustentabilidade empresarial a partir das dimensões econômicas, sociais e
ambientais.
Fonte: Adaptado de Coral, 2002, p. 129.
O modelo organizacional denominado sustentabilidade empresarial considera as
dimensões econômica, social e ambiental interagindo a partir de algumas práticas que
autorizem a sustentabilidade. Para as empresas, de uma forma geral as sustentabilidade
ambiental e sustentabilidade social se torna possível pela existência da sustentabilidade
econômica. As demais dimensões da sustentabilidade proposta por Sachs (1993) como a
cultural e geográfica acabam por ser incorporadas nas dimensões econômicas, ambientais e
sociais.
O processo de adequação às normas internacionais (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS
18001 e SA 8000) colabora para a sustentabilidade empresarial, uma vez que envolve
mudanças na estrutura organizacional em relação ao meio ambiente e à sociedade, procurando
sempre retornos econômicos. As normas internacionais impulsionam a busca pela
sustentabilidade nas organizações quando estes objetivos estão alinhados aos objetivos da
empresa. A implantação destas normas internacionais realiza-se por meio do cumprimento
dos requisitos normativos exigidos para a certificação, a partir do desenvolvimento de
programas socioambientais, mudando culturalmente as ações da organização e dos
colaboradores em termos mais sustentáveis. Porém, corre-se o risco de não deixar claro quais
foram os impactos nas comunidades locais e no meio ambiente externo, positivos ou
negativos a partir da implantação destas normas (ARAÚJO E MENDONÇA, 2008).
41
A grande questão que pesquisadores apontam em relação à sustentabilidade
empresarial é o alcance de seu interesse econômico tendo como pano de fundo a
sustentabilidade em todas as suas dimensões e paradigmas. Logo, é necessário aprofundar o
estudo da sustentabilidade em nível de discurso organizacional e sua análise.
2.4 Análise do Discurso
A análise do discurso é utilizada a partir de vários enfoques na pesquisa científica
relacionado ao estudo de textos, de variadas tendências em países com tradição acadêmica em
estudos de linguagem. Para caracterizar a análise do discurso em seu sentido amplo, Bauer e
Gaskell (2010, p. 244) afirmam que,
Análise de discurso é o nome dado a uma variedade de diferentes enfoques nos
estudos de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos
tratamentos em diferentes disciplinas. Estritamente falando, não existe uma única
“análise de discurso”, mas muitos estilos diferentes de análise e todos reivindicam o
nome.
As tradições existentes seguem tendências de acordo com o perfil de seus grupos de
pesquisadores e objetivos de analisar os discursos. As mais tradicionais são representadas por
escolas europeias como, por exemplo, a escola francesa. No entanto, novas escolas
interessadas no desenvolvimento de pesquisas organizacionais a partir da análise do discurso
como a escola espanhola de Madri, colaboram para aumentar as possibilidades de praticar a
analises do discurso.
De acordo com Orlandi (2009, p. 15 apud COELHO, 2012, p. 77) a AD não trata da
língua, nem da gramática, ainda que estejam vinculadas; versa, pois, sobre discurso. “O
discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso
observa-se o homem falando.”. Denominação da variedade de diferentes enfoques no estudo
de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em
diferentes disciplinas, a AD tem como base as teorias linguísticas que possibilitam
compreender os múltiplos sentidos criados por meio da complexa trama dos atores que o
realizam. Desvendar sua linguagem, suas palavras e frases para revelar os segredos
subentendidos são algumas das contribuições da AD, além de penetrar nos implícitos ditos,
que compõem o instrumental metodológico que perfaz o discurso (BALLALAI, 1989).
De acordo com Iñiguez, (2004a p. 97):
42
A AD tornou-se uma perspectiva a partir da qual podemos analisar os processos
sociais. Iniciou como um método, uma aplicação dos conhecimentos sobre a
linguagem à investigação de processos sociais, e tornou-se em um conjunto de
perspectivas genuínas, que ajudaram a transformar nossa concepção dos próprios
processos sociais e da maneira de abordá-los.
A Análise do Discurso (AD) possui origem e aplicação em diversas disciplinas do
conhecimento, logo se apresenta como um vasto campo de investigação. Para Foucault
(2008) a AD é um instrumento teórico e metodológico interdisciplinar, que permite a
compreensão dos discursos de diferentes atores por meio de uma síntese metodológica.
Algumas das principais tendências em relação aos modelos de Análise de Discurso (AD) que
são entendidas como tradições nas abordagens para analisar discurso nas mais variadas áreas
de pesquisa estão resumidas no quadro 7 (COELHO, 2012).
43
Quadro 7 - Resumo-tendências (tradições) dos modelos de AD.
Tendências
Americana
Modelo(s) e principais precursores
 Modelo distribucional (Zellig Harris)
 Modelo trasformacional (Chomsky)
 Modelo tagmémico (Pike)
 Modelo pragmático da etnografia e da comunicação (Dell Hymes; Gumpers)




Modelo da filosofia analítica, teoria dos atos da fala (Austin; Searle)
Modelo de análise textual (M.K. Halliday)
Modelo argumentativo (Stephen Toulmin)
Modelo de análise discursivo, cultural e ideológico (Thompson – neohermenêutico; Giddens
Britânica
– neomaterialista)
 Modelo de análise pragmáticos-discursiva (Deborah Camerun)
 Modelo de análise crítica do discurso (Wodark e Meyer; Fairclough)
 Modelo argumentativo (Kellin, Zimerman; Kooperscmidt; e outros)
 Modelo psicoanalítico (Wilhem Reick; Theodoro Adorno)
 Modelo linguística textual (Petofi; Schmidt; e outros)
Alemã
 Modelo pragmático (J. Habermas)
 Modelo hermenêutico (Gadamer)
 Modelo argumentativo e de implícito (Ducrot; Anscombre)
 Escola Francesa de Análise do Discurso (Pecheux; Robbin; Marcelesi, Gardin; Maudidier;
Guespin; Maingueneau; Courtine; Charaudeau; e outros)
 Outros modelos de análise do discurso: a) da enunciação (Dubois; Recanati;Todorov;
Francesa
Kerbrati-Orecchioni; Benveniste; Mainguenaum; etc) b) da gramatologia (Derrida)
 Modelo hermenêutico (Paul Ricoeur)
 Modelo de semiótica narrativa (Greimas; Bhartes; Bremmond; Gennete; Kristeva; Rastier;
Landowisky; Claude Duchete; etc)
 Modelo argumentativo (Periman – a nova retórica)
Belga
 Modelo de semiótica narrativa aplicada ao discurso religioso (Grupo de Entrevernes)
 Modelo de análise argumentativa (Escola de Neuchatel - Grize e Vignaux)
Suiça
 Modelo da linguística textual e de análise crítica do discurso (T. A . Van Dijk)
Holandesa
 Modelo de análise textual (Wolfgan Dressler – ligado a aquisição da linguagem)
Austríaca
 Modelo de análise do discurso/poder (Ruth Wodak e outros)
Australiana  Modelo de análise do discurso da mídia de massa (Hodge; Kress entre outros)
 Modelo desenvolvido na Polônia - aspectos de análise relacionados com a teoria de recepção
 Modelo de análise textual (formalistas russos)
Europa
 Modelo de análise poética (Círculo de Praga)
ocidental
 Modelo de análise discursivo-textual (derivados de Mikhail Bakhtin)
 Modelo de análise literário da Escola de Tartu.
Fonte: Coelho, 2012, p. 81, adaptado de Haidar, 1998.
A análise do discurso tem sido utilizada por diversas escolas e pesquisadores para se
retratarem de temas recorrentes à sociedade. No entanto, em alguns casos não se busca maior
conhecimento do que de fato seja um discurso e, qual a sua efetividade em um determinado
campo. As tradições da análise do discurso de forma geral, porém, associam o uso da AD ao
pós-estruturalismo representado por Michel Foucault (1971). O pós-estruturalismo rompeu
com as visões realistas da linguagem e rejeitou a noção do sujeito unificado coerente que foi
por longo tempo o coração da filosofia ocidental (BAUER E GASKELL, 2010).
Para Foucault (2008, p. 43), uma das hipóteses de formação do discurso é por meio da
regra deformação:
44
Chamaremos de regras deformação as condições a que estão submetidos os
elementos dessa repartição (objetos, modalidade de enunciação, conceitos, escolhas
temáticas). As regras deformação são condições de existência (mas também de
coexistência, de manutenção, de modificação e de desaparecimento) em uma dada
repartição discursiva.
Assim, Foucault envolve a ciência, ideologia, teoria e domínio dos objetos para
caracterizar a formação discursiva. Para compreender a formação do discurso em determinado
campo, Foucault propõe que os elementos constitutivos desta formação desapareçam com o
tempo. Como exemplo, o caso dos grandes desastres que ocorrem em várias partes do mundo,
deixando populações desoladas, e com o passar do tempo, o discurso de ajuda que se faz
necessário no pós-desastre se perde, restando populações completamente sem perspectivas de
um futuro sustentado. No quadro 8 é apresentada uma proposta de orientação foucaultiana
para procedimentos de análise do discurso.
Quadro 8 - Os passos essenciais no processo de investigação do discurso.
Item
a)
Passos essenciais
Identificação
das
práticas
discursivas e dos atos materiais
(não discursivos)
b)
Determinação
descontinuidades
c)
Análise (não interpretação) desses
elementos
d)
Hermética
e)
Profundidade à amplitude
f)
Episteme, saber (distinção entre a
“percepção”, o “saber”, o discurso
geral ao nível das pessoas e das
instituições; e o “conhecimento”, a
elaboração teórica, o discurso
científico ou que tem a pretensão à
cientificidade)
Dispositivo, poder
h)
das
Fonte: Tiry-Cherques, 2008, p. 218-220.
Características
Onde não interessa a verdade (mas o que é dito) nem o sentido
(mas o enunciado), o que implica em reconhecer os saberes
existentes na regularidade (regras de formação) dos conceitos,
dos objetos, das estratégias, das ações (práticas não
discursivas) e das instituições a ele associados;
Da emergência e do desaparecimento de conformações das
subjetividades e da objetividade social expressa nos saberes
(limiares epistemológicos das epistemes, dos dispositivos) em
cada segmento (momento) descontinuo, fazendo aflorar os
extratos acumulados, justapostos pelo tempo;
Que se dá simultaneamente a cada identificação e a cada
determinação e, sinteticamente, em um quadro explicativo da
articulação entre a seriação dos discursos e as práticas não
discursivas;
Inacessível ao pesquisador comum, inconformismo com os
métodos tradicionais derivados do marxismo, da
fenomenologia e do estruturalismo, inventar novos
procedimentos, novos termos para descobertas epistemológicas
realizadas por Foucault;
Temas como loucura, saber, poder, relações com o corpo.
Estruturas do conhecimento e os modos de compreender se
alteram segundo época e lugar;
Arqueologia do saber procura marcar as mutações, explorar as
distinções entre conceitos, objetos, estilos, teorias, as
assimetrias, entre as formas de racionalidade que o sujeito
humano aplica a si mesmo. Informa sobre uma coerência, sobre
uma episteme em um período determinado. Não constituição
do senso comum ou o bom-senso, mas sim as formas de pensar
das pessoas (do paciente, não do médico, por exemplo);
Abordagem genealógica derivada de Nietzsche, só há
compreensão através do presente, as continuidades das práticas
culturais que Foucault isola, identificando as descontinuidades
evidenciadas em discursos-objeto.
45
A proposta de Foucault se apresenta como um quase roteiro metodológico para ser
seguido, no entanto, como o próprio autor acredita que o pesquisador do discurso não deve se
manter muito preso as estruturas metodológicas sem delas se perder, mas estar atento às
questões de saber, a partir de um arquétipo que rompe com a proposta rígida de cientificidade
praticada anteriormente às suas ideias de pesquisa. Portanto, o que se busca inicialmente é o
entendimento das práticas discursivas e não discursivas (atos materiais), determinar as
descontinuidades, ser profundo e amplo, hermenêutico (não ser um pesquisador comum, preso
a processos epistemológicos tradicionais como o marxismo e a fenomenologia), enfim,
conseguir perceber os mais variados discursos a partir do conhecimento, do saber geral, da
ciência, elaboração teórica e a pretensão à cientificidade.
A ênfase do processo de análise discursiva está nas relações de produção do sentido,
no estudo dos discursos e suas determinações e motivações. O texto consiste apenas no
alicerce dos diferentes discursos, como linhas de coerência simbólica com as quais os sujeitos
representam e se representam, nas diferentes posições sociais (ALONSO, 1998; COELHO,
2012).
Coelho (2012, p. 4), baseado em Godoi (2006) e Ferreira (2005), entende que o texto e
o discurso, como categorias linguísticas distintas, precisam ser compreendidos em suas
características diferenciais para permitir o entendimento do objeto e do modo de
funcionamento da análise social do discurso, logo o texto é considerado, em sua
materialidade, como uma peça com suas articulações, todas relevantes para a construção do
sentido. O sentido torna-se evidente por um efeito ideológico que provoca no gesto de
interpretação a ilusão de que um enunciado quer dizer o que realmente diz.
No mesmo caminho da busca de entendimento dos textos discursivos, Faria (2007, p.
121) afirma que,
[...] a compreensão do discurso não deve se limitar apenas a atos isolados da análise
do discurso pontual em determinada situação presenciada. Deve haver uma análise
longitudinal, no tempo (histórica) e no conteúdo conceitual do vocabulário utilizado
(episteme e o ordenamento dos saberes). [...]
O autor acredita que pesquisas realizadas em curtos intervalos de tempo podem não
revelar o que realmente deveria revelar tornando necessário na análise de discurso pesquisar
um maior intervalo de tempo, por exemplo, ano a ano até que sejam identificados padrões
discursivos que sejam fidedignos do enunciado do texto e a mensagem que se quis transmitir.
A Análise do Discurso nos estudos organizacionais brasileiros é entendida como uma
metodologia com condições de revelar aspectos discursivos em relação ao contexto social,
46
considerado como um apanhado de regras que delimitam um determinado conjunto
sociocultural de enunciados. Por meio do contexto e, ao relacioná-lo à linguagem, neste tipo
de análise, procura-se ainda incorporar todo o universo simbólico que justifica e legitima as
ações dos atores sociais (COELHO, 2012). Conforme Bauer e Gaskell (2010, p. 255), “[...]
quando um analista de discurso discute o contexto, ele está produzindo uma versão,
construindo o contexto como objeto, em outras palavras, a fala dos analistas de discurso não é
menos construída, circunstanciada e orientada à ação que qualquer outra [...]”. Logo, ao se
utilizar da análise do discurso, o que o analista realiza são leituras de textos e contextos
garantidos de atenção cuidadosa aos detalhes existentes.
Em síntese, comparado a outros estilos de análise que suprimem a variabilidade, ou
simplesmente encobrem situações que não se adaptam à história que está sendo contada, a
análise do discurso exige rigor, a fim de produzir um sentido analítico dos textos a partir da
sua confusão fragmentada e contraditória (BAUER; GASKELL, 2010).
2.5 Análise Sociológica do Discurso – ASD
A Análise Sociológica do Discurso (ASD) está vinculada à tradição espanhola de
Pesquisa Social Qualitativista, principalmente no que tange às concepções de discurso,
contexto e coerência (IBÁÑEZ, 1979, 1985; ORTÍ, 1993; MARTÍN CRIADO, 1991; DE
LUCAS; ALONSO, 1998, 2002, 2012; ALONSO; CALLEJO, 1999; CONDE, 2009; RUIZ
RUIZ, 2009, GODOI, 2005, 2006, 2009; GORDO, SERRANO, 2008). É representada e
difundida pela chamada Escola de Madri, capitaneada principalmente por Conde (2009) e
Alonso (2008; 2010). A abordagem ASD busca no estudo do campo trabalhar com imagens,
sons e textos-documentos e seus respectivos contextos (COELHO, 2012).
A Análise Sociológica do Discurso pode ser visualizada em 03 níveis básicos: 1)
informacional-quantitativo; 2) estrutural-textual e 3) social-hermenêutica. Em relação à
Análise de Conteúdo (AC), difundida principalmente a partir dos estudos de Laurence Bardin
nos anos 70, que vem sendo bastante utilizada em pesquisa social, a escola ASD afirma que a
AC está inserida no nível 1, informacional-quantitativo. Logo, existe uma vantagem em se
utilizar a ASD em detrimento da AC. Considera-se que a segunda (AC) esteja contida na
primeira (ASD) (COELHO, 2012).
De acordo com Bauer e Gaskell (2010, p. 213), a AC apresenta algumas desvantagens
em relação à analise do discurso quando utilizada em pesquisas sociais. Ela possui uma
47
tendência na focalização de frequências, com isso descuida do que é raro e do que está
ausente. Para o autor existe na AC um problema de enfoque explicitado pelo questionamento
sobre a atenção que o analista deve fornecer em relação ao texto analisado. A atenção deve ser
voltada para o que está presente ou o que está ausente no texto (aquilo que foi omitido para
não deixar claro o que realmente é). Mesmo fazendo ambas as coisas o viés da AC na análise
de textos é para o presente.
Algumas características da ASD são influenciadas por Foucault (1971) a partir dos
seguintes aspectos (CONDE, 2009; COELHO, 2012):
•
Os discursos são produções e práticas sociais, não individuais, portanto, considera-se a
produção do grupo, evitando considerar as variações pessoais fora de sua concepção como
situação social;
•
Os discursos são produzidos a partir do conjunto de ligações, dos nós das relações
sociais entre os sujeitos que falam;
•
Os discursos sociais formam um sistema estruturado, ordenado e hierarquizado;
•
A circulação dos discursos sociais responde a uma complexa rede de relações e
conflitos sociais, ideológicos, simbólicos, longe de qualquer outro tipo de unilateralismo;
•
Existe uma diversidade de graus de cristalização e de circulação social dos distintos
discursos sociais.
A ASD trata de analisar fluxos simbólicos sociais e não somente palavras, sua
característica principal de análise é a interdiscursividade do discurso social produzido em
relação a outro discurso social. Além de realizar uma análise interna, a ASD trabalha com um
discurso contextualizador, ou seja, toda interpretação somente se torna razoável quando situa
o texto no contexto – processo chamado de contextualizar (ALONSO, 1998; 2002; COELHO,
2012).
Em relação aos aspectos metodológico-técnicos da Análise Sociológica do Discurso,
Coelho e Godoy (2013) orientam, com base em Conde (2009), que a análise sociológica do
corpo do texto constitui o alicerce da investigação e determina como são estabelecidas as
bases de construção do “sistema de discursos”. Para estes autores, o uso dos procedimentos
depende do processo criativo e singular de cada pesquisa desenvolvida, o que não deve ser
confundido com anarquia metodológica.
Para fornecer uma orientação procedimental para a utilização da ASD em processos
cujas etapas de operacionalização se tornem flexíveis às análises realizadas em cada pesquisa,
Coelho e Godoy (2013) alertam que é necessário realizar trabalhos práticos iniciais,
procedimentos de interpretação e procedimentos de análise em ASD. Para tanto se utilizam de
48
quadros explicativos informando o que é importante em cada destas etapas. Os trabalhos
iniciais para a prática da ASD recomendados estão dispostos no quadro 09.
Quadro 9 - Trabalhos práticos iniciais em Análise Sociológica do Discurso.
Etapa(s)
Preparação da
análise dos
textos
Tarefas
imediatamente
posteriores ao
trabalho de
campo
Transcrição
literal
Leitura
ordenada do
corpus do texto
Preparação do
trabalho de
leitura
Leitura literal
do texto
Separação entre
a decomposição
e a abordagem
integral do
texto
Decomposição
em unidades
elementares
Aproximação
integral do texto
Anotações do texto
Trabalhos práticos iniciais de ASD
Tarefas realizadas com base no caderno de campo:
- Elaboração de um mapa de posições e identificação de pontos de
conflito.
- Identificação de temáticas significativas; de diferenças entre as
entrevistas; de temas que não haviam despertado atenção; de
correspondência ou ruptura das perguntas do roteiro.
- Análise do contexto das entrevistas/grupo de discussão.
- Análise do papel do entrevistador.
- Elaboração de um gráfico (sociograma) para ordenar a leitura do texto
de maneira sistemática, não meramente aleatória.
- Realizar um pequeno escrito com as primeiras intuições, sensações,
ideias e conclusões as entrevistas/grupo de discussão.
- Procedimento básico para o trabalho de análise e associações dos
deslocamentos, tensões, desenhos e expressões.
- Inclusão de comentários, pausas, saídas, movimentos, intervenientes.
- Realização de anotações para ler várias partes do texto de forma
simultânea.
- Releitura das transcrições.
- Criação de uma ordem provisória de leitura das entrevistas/grupos de
discussão.
- A ordem pode ter sido estabelecida a partir das notas do caderno de
campo ou de transcrição.
- Sugestões de critérios: de acordo com desenho da posição social; com
peculiaridades; com primeira intuição das posições discursivas.
- Leitura idealmente “literal”, com atribuição de igual valor a cada
expressão, seja óbvia ou não.
- Mudança na maneira habitual de leitura.
- Identificação de peculiaridades geradoras de pistas, sem buscar
saturação de informações.
- Decomposição e fragmentação do corpus do texto em unidades
elementares de análise.
- Realização posterior de uma síntese (aproximação analítica).
- Aproximação do texto de forma global e integral.
- Desenvolvimento posterior de um trabalho de análise particularizado e
detalhado. (aproximação integrativa).
- Realizadas desde primeiras tarefas práticas, em paralelo com a leitura
dos textos.
- Caracterização, classificação e codificação de conteúdos; marcação de
expressões, insights, associações, hipóteses, elementos importantes.
Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 11.
No que diz respeito a pesquisas com documentos, estes trabalhos iniciais devem ser
realizados a partir da preparação da análise dos textos, seguido de leitura ordenada do corpus
do texto e leitura literal de cada documento. Ao decompor e fragmentar o corpus do texto em
49
unidades elementares é importante que se realize sínteses que podem partir de trechos
discursivos do próprio texto e também da síntese que o analista desenvolve. As
particularizações e detalhamentos das anotações ficam a critério de quem está analisando o
texto.
Para realizar a redação em ASD é importante que as anotações desde o início dos
trabalhos de análise e de interpretação possibilitem o surgimento de características, códigos,
insights e associações que aproximam a pesquisa aos seus objetivos. Uma vez estabelecido e
realizado os trabalhos práticos iniciais recomenda-se seguir com os procedimentos de
interpretação propostos por Coelho e Godoy (2011), relacionados no quadro 10.
Quadro 10 - Procedimentos de interpretação em ASD.
Etapa(s)
Elaboração
Conjecturas préanalíticas
Validação
Estilos discursivos
Procedimento(s) de interpretação em ASD
- Operação conjunta entre a dedução-indução científica e as intuições,
conjecturas.
- Realização de leitura aberta, atenta à literalidade e expressividade do
texto, bem como, aos indícios e evocações neste trabalho.
- Atenção à análise da dinâmica das entrevistas/grupo de discussão;
ao contexto; aos trabalhos iniciais sobre as notas; aos objetivos da
pesquisa.
- Atrever-se a pensar e interpretar.
- Não existem regras para fazer boas conjecturas, mas existem
métodos para validá-las.
- Análise da coerência e consistência do conjunto do texto com as
conjecturas, com verificação do encaixe da consolidação das
conjecturas, ou estabelecimento de novas conjecturas.
- Análise das formas expressivas, idiossincráticas, singulares,
enunciativas, dos giros expressivos, estilos narrativos e tipos de
aproximação/construção discursiva de um fenômeno social em cada
entrevista/grupo de discussão.
Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 12.
Por se tratar de análise de discurso, esta etapa é fundamental para o estabelecimento
das conjecturas pré-analíticas de elaboração e validação das interpretações que se apresentam
na pesquisa e posteriormente à identificação dos estilos discursivos.
Terminados os procedimentos de interpretação que abrangem o trabalho do texto de
maneira mais global, iniciam-se as etapas referentes aos procedimentos de análise que
deverão resultar na elaboração de um texto escrito dos resultados que constroem, de forma
narrativa, o sistema de discursos analisado na investigação. A interpretação e anotação
colaboram para a produção de textos de alto nível, e, para que isso ocorra, também é
importante destacar as etapas propostas no quadro 11.
50
Quadro 11 - Procedimentos de análise em ASD.
Etapa(s)
Procedimento (s) de análise em ASD
Análise das
posições
discursivas
- Perspectiva ou pontos de vista dos participantes sobre o tema.
- Respostas às perguntas: Quem fala? Desde que posição se fala (lugar social)?
- Guia geral para a análise e construção dos discursos.
- Tensões, conflitos, diferenças de posições e de opiniões expressadas pelos participantes.
- Respostas às perguntas: O que está em jogo no que se fala? O que se quer dizer com o
que disse?
- Geração de uma primeira hipótese sobre dimensões, eixos ou vetores dos textos.
- Relaciona-se com a análise de posições discursivas, podendo ocorrer simultaneamente.
- Configuração e delimitação dos principais conteúdos e suas materialidades verbais.
- Análise dos atores semânticos, dos segmentos argumentativos e discursivos.
- Respostas às perguntas: De que se fala? Como se organiza a fala?
- Análise do uso da língua, dos discursos concretos dos participantes, e de como esse
discurso se vincula ou se dissocia as diferentes formas de abordar o objeto de
investigação.
- Relaciona-se com o “campo semântico” - conjunto de unidades léxicas, dotadas de
organização estrutural subjacente, consideradas como hipóteses de trabalho.
- Análise dos desajustes e distâncias entre a análise das configurações narrativas e dos
espaços semânticos, em função dos objetivos da pesquisa.
Análise das
configurações
narrativas
Análise dos
espaços semânticos
Relação entre
configurações
narrativas e
espaços semânticos
- Análise de temas, conteúdos, expressões que possam parecer desconexas, ilógicas, fora
do lugar.
- Associações: ligações sintagmáticas e afetivas, que dão indícios de ligações psíquicas
Análise das
inconscientes. Análise dos conflitos expressos nesse jogo.
associações,
- Deslocamentos: mudanças de temas, conteúdos, expressões, que assinalam uma posição
deslocamentos e
defensiva. Indicam conflito, freio, censura, repressão.
condensações
- Análise dos deslocamentos: existência de conflito, repressão ou censura.
- Análise das condensações: interseções de várias cadeias associativas, entendidas como
porta de entrada ao latente.
- Podem ser utilizadas durante as etapas de análise e ajudam a: expressar, visualizar os
Utilização de
sistemas de discurso; sugerir a dimensão relacional e contextual dos conceitos gerados;
representações
criar e validar as conjecturas e as configurações narrativas. Explicitam a evolução no
gráficas
tempo das posições discursivas, das configurações narrativas e dos espaços semânticos
construídos na pesquisa.
- Trabalho de escrita narrativa que permite evidenciar as etapas anteriores, configurando
Redação da ASD
os discursos produzidos como resultados da pesquisa.
Fonte: Coelho e Godoy, 2011, p. 13.
As etapas de análise são as mais importantes por se tratar do objeto fim da Análise
Sociológica do Discurso. Busca-se analisar as posições discursivas, as configurações
narrativas, os espaços semânticos bem como relacionar as configurações narrativas com os
espaços semânticos. Posteriormente a utilização de representações gráficas é realizada e por
fim a redação do texto final com base nas análises.
Os quadros de orientação técnica para uso da ASD podem ser utilizados como
geradores de processos criativos e não simplesmente como um roteiro ou manual de pesquisa
(COELHO; GODOY, 2011).
51
A partir da contribuição de Alonso (1998) e Coelho (2012) comparam-se as principais
características dos níveis 1, 2 e 3 da ASD quando aproximada à Análise do Discurso,
conforme apresentado no quadro 12.
Quadro 12 - Aproximação dos níveis da ASD à Análise do Discurso.
Parâmetro
de análise
Informacional-quantitativo
Estrutural-textual
Social-hermenêutica
a)
Palavra
Texto
Discurso social
b)
Estatística textual e primeiro nível
qualitativo (diferencial semântico)
Análise internalista do texto
Análise internalista e
externalista
c)
Evidenciam-se indícios mais diretos
para posterior interpretação
Conjunto estruturado de
signos
Recuperação do sujeito
no texto
d)
Exclui-se de maneira total qualquer
de suas possíveis dimensões
pragmáticas
Materialização do discurso
Análise contextual dos
argumentos
Análise de Conteúdo clássica
Análise Semiótica e inclui
grande parte da tradição
francesa de AD
Interpretação
sociológica
Exemplo
Fonte: Coelho, (2012, p. 94).
A principal característica é que, enquanto o nível 1 e 2 trabalham com ênfase nas
mensagens que um determinado texto analisado possa fornecer, o nível social-hermenêutica
está centrado no contexto. Uma vez que o contexto pode gerar o texto, pressupõe-se que o
nível 3 possa incluir os níveis 1 e 2 de análise do discurso. Vale ressaltar que a ASD não se
trata da Análise Crítica do Discurso (ACD), que se preocupa essencialmente com as
mensagens do texto escrito (ALONSO, 2008; FLICK, 2009; COELHO, 2012).
Ruiz Ruiz (2009) propôs um processo de Análise Sociológica do Discurso, conforme
figura 6.
52
Figura 6 - Processo de Análise Sociológica do Discurso.



Discurso como acontecimento
singular;
Plano de enunciação;
Compreensão do
discurso.

Análise
contextual
Análise
sociológica


Discurso como informação, como
ideologia ou como produção
social;
Plano de interpretação;
Explicação (sociológica do
discurso).
Análise textual



Discurso como objeto;
Plano de enunciado;
Caracterização do discurso.
Fonte: Ruiz Ruiz, 2009, p. 6; Coelho, 2012, p. 94.
No nível de análise textual (semântica do discurso) se analisa o texto em função do
sistema da língua, por meio de uma cadeia sintagmática e paradigmática. No nível contextual
de análise permite-se compreender o significado do discurso para os envolvidos em sua
produção, focalizando, portanto, a interpretação dos discursos dos sujeitos envolvidos em
situações sociais. Esse nível já constituiria, na classificação de Alonso, a ASD, no entanto,
Ruiz Ruiz (2009) insere a necessidade do nível da interpretação sociológica, no qual só então
seria finalizada a ASD. Na análise sociológica o planejamento da ASD passa necessariamente
pelos três níveis, considerados como etapas essenciais. Para Ortí (1986), a distinção em três
níveis, regiões ou estruturas sociais, tende a se constituir como objetivações teórico-práticas
mediadoras da própria análise, que o autor chama de processo de construção sociológica da
realidade social (COELHO, 2012).
2.5.1 Análise Sociológica do Discurso Organizacional
O discurso organizacional vem ganhando especial atenção dos consumidores que além
de divulgar as ações e as concepções da empresa, propõe-se alinhar todas as suas atividades
administrativas, financeiras e de marketing à forma de relacionamento com seus públicos de
53
interesse e, principalmente, aos conceitos de responsabilidade socioambientais. Configura-se
como a base da empresa, representa sua imagem, o seu apoio, a sua comunicação e a ideia que
deseja transmitir, tanto interna como externamente (ALEDI FILHO, 2002).
Os valores, a missão e a visão da organização pautam o seu discurso. Ele se estabelece
e cria a identidade corporativa; confere interação aos negócios. Há um consenso sobre a
elaboração de um discurso próprio e unificado que identifique o todo e cada uma de suas
partes; é o discurso que cria a identidade. Ele é o principal meio pelo qual a empresa pode
fazer com que seus públicos se identifiquem com a sua causa e se engajem em objetivos
comuns e associados à corporação.
Os discursos também podem ser apresentados pelas formas discursivas nas
organizações. Estas formas levam em conta tanto um saber ideológico caracterizado por
evidências doutrinárias, mensagens e discursos especulativos do lado dos problemas, quanto
da enunciação de soluções prontas de reconhecimento de mundo e ao mesmo tempo de
desconhecimento, por exemplo, se reconhece o que traz vantagem para a organização e se
desconhece o que representa desvantagem. Estes discursos são classificados como discurso
social comum, discurso ideológico propriamente dito, discurso democrático reflexivo,
discurso mítico e discurso teleológico (FARIA 2007).
A complexidade das relações entre os diversos atores organizacionais, institucionais e
sociais, remete ao questionamento do quão difícil pode ser para uma organização praticar o
que se difunde nos seus mais variados discursos. A complexidade na qual uma organização
que se propõe a atuar com base no discurso da sustentabilidade, pode ser visualizada na rede
de relacionamento da figura 7.
54
Figura 7 - Teia de relações organizacionais para a sustentabilidade.
Fonte: Aledi Filho, 2002 apud Coelho, 2012, p. 36.
De acordo com Coelho (2012), uma empresa se torna sustentável quando vai para
além do discurso de produzir e vender, ao posicionar-se como um agente que promove o
desenvolvimento sustentável da sociedade e das comunidades ao seu entorno. As perspectivas
econômica e social com uma visão de sustentabilidade devem estar alinhadas à busca pela
qualidade do desempenho organizacional. Portanto, a teia de relações entre a organização e os
demais atores precede o discurso da sustentabilidade, fazendo com que as práticas sejam
difundidas na rede de relacionamento, não como um padrão homogêneo onde as
características de cada ator sejam desconsideradas, mas sim, como um fluido que emerge a
cada relacionamento a fim de garantir a inovação, viabilidade econômico-financeira dos
empreendimentos, integridade ambiental para as gerações atuais e futuras, além de relações
harmoniosas que geram imagens positivas de sustentabilidade para as organizações.
O discurso organizacional torna-se, portanto, um dos mecanismos pelo qual a
organização cria uma realidade social, fundamentada na percepção ou na projeção de sua
identidade, permitindo assimilar com clareza a organização como um fenômeno de
linguagem. Desta forma, o discurso organizacional também se manifesta a partir de estruturas
de informação baseadas em conceitos de mídias, como por exemplo, os sítios eletrônicos que
55
possibilitam a aproximação dos stakeholders da organização. Pelos canais de informação
denominados em sua maioria de portal de imprensa, são disponibilizadas as noticias que
refletem o discurso da organização, e ainda, vídeos, fotos, imagens colaboram para a
representação simbólica do discurso das organizações.
A análise das mídias está restrita a observações empíricas que não podem ser
comprovadas, isto é, está limitada à análise com base nos efeitos visados e não nos efeitos
efetivos; a esses restam apenas meras hipóteses (CHARAUDEAU, 2009).
Desta forma, verifica-se que além das informações das ações empreendidas pelas
organizações no sentindo da sustentabilidade, o discurso midiático organizacional pode se
orientar pelo caminho da educação ambiental como proposto por Leff (2008) e educação
social conforme orientado por Fergus e Rowney (2005), ambos tratados pelos autores como
processos epistemológicos da sustentabilidade.
2.5.2 Análise do Discurso da Sustentabilidade
O discurso da sustentabilidade utiliza a expressão sustentabilidade de forma
indiscriminada e muitas vezes não representa o que de fato ocorre no campo. Por isso, é
fundamental a análise e compreensão daquilo que as pessoas e as organizações divulgam
sobre o assunto, a partir das discussões organizacionais e midiáticas. Nesse contexto,
associado ao processo de globalização, o discurso da sustentabilidade é percebido como uma
esquizofrenia discursiva e cega institucionalmente, sendo desprotegido de valores
integradores de conhecimento através de um saber ambiental que é reduzido aos propósitos de
instrumentalização tecnológica e econômica (LEFF, 2008, p. 234).
Não é diferente com as organizações em determinados campos, onde a sua
manifestação discursiva determina as formas como as relações com os diversos atores irão se
estabelecer. O campo dos acontecimentos discursivos é considerado como um conjunto finito
e efetivamente limitado das únicas sequências linguísticas que tenham sido formuladas
(FOUCAULT, 2008, p. 30).
No campo da sustentabilidade, com base em Bordieu (2003), podem ocorrer os
processos de violência simbólica. Os atores envolvidos no campo podem apresentar
fragilidades marcadas não somente pela luta de classes como propunha Marx, mas também
pelo que Sachs (2008) considera como vítimas do processo histórico desenvolvido pela
exploração capitalista onde a dimensão econômica predominou demasiadamente sobre as
56
demais dimensões, categorizada por ele como ambientais, ecológicas, sociais, culturais,
geográficas e políticas.
Desta forma, a violência simbólica é definida como agressão dissimulada, mascarada,
invisível, esquecida na qual se supõe o desconhecimento da sua origem, das relações de força
que a geraram, constituindo uma imposição à arbitrariedade julgada legítima dentro de cada
campo; os ganhos de todos os tipos de capital tendem sempre para os agentes dominantes
(Thyri-Cherques, 2008, p. 175).
O poder exercido pelo lado mais forte da rede de relacionamento pode ser traduzido
em violência simbólica quando seus agentes, por um lado, representam um poder de
persuasão, decisão e controle e, pelo lado mais fraco estão os agentes que são os controlados
ou dominados, que aceitam a violência como algo internalizado ao seu cotidiano. Como
exemplo no campo dos conflitos agrários e sindicais, esta violência pode ocorrer, por
exemplo, de trabalhadores rurais sem terra, povos indígenas, atingidos por barragens que
sofrem por não terem forças de lutar com outros agentes públicos ou privados (entre eles, os
latifundiários da questão agraria), os funcionários que se rebelam contra as construtoras por
melhores condições de trabalho, do lado mais fraco.
Quando os dominados pelos agentes mais fortes das forças simbólicas estão isolados
no campo, acabam por aceitar as condições determinadas pelos dominantes que discursam em
função dos primeiros como se a nova realidade traduzisse em melhorias na vida cotidiana,
obrigando-os a acreditarem que o melhor para o seu grupo isolado foi realizado. A identidade
do agente mais fraco passa a fazer parte do novo ambiente, inclusive do estilo de vida, como
algo bem superior ao vivenciado anteriormente (Bourdieu, 2003, p. 124).
Para Thiry-Cherques (2008, p. 178), o campo é caracterizado pelas relações de força
resultantes das lutas internas e pelas estratégias em uso; sejam estratégias defensivas ou
subversivas. Mas, também, pelas pressões externas, porque os campos se interpenetram e se
inter-relacionam.
O discurso da sustentabilidade e os conflitos reais de interesse se realizam como
práticas discursivas, porém ainda não transformados em práticas não discursivas (atos
materiais) e caminhos possíveis. A crise ambiental abre novos espaços de participação e de
governabilidade democrática no desenvolvimento. O discurso da sustentabilidade se desdobra
em um campo de teorias e práticas pela apropriação da natureza, onde a questão do poder e do
poder no saber inscrevem estratégias do conhecimento e da educação ambientais associados à
perda de alguns privilégios para que a qualidade de vida e os rumos do planeta terra sejam
modificados pela sustentabilidade (AFONSO, 2006; LEFF, 2008; FOUCAULT, 2008).
57
A hermenêutica é a base para o processo epistemológico ambiental e
consequentemente para a formação do discurso ambientalista cujo campo é heterogêneo e
conflitivo onde se confrontam saberes e interesses nas dimensões, perspectivas, paradigmas e
visões discursivas da sustentabilidade (GLADWIN, K.K., 1995; MEBRATU, 1998; SACHS,
2003; PEARCE, 1993; LEFF, 2008). A hermenêutica ambiental não é consenso internalizado
nos variados discursos de sustentabilidade presentes na sociedade. A construção de um
mundo sustentável baseado na diversidade cultural resultará no reconhecimento do saber e
poder fecundos no presente se projetando para o futuro que vai além da elaboração de
discursos acerca do tema. Tantos conceitos que geraram visões intrincadas em perspectivas,
dimensões e paradigmas, não favorece compreensão única da sustentabilidade.
De acordo com Leff (2008, p. 248),
As distintas vertentes da sustentabilidade terão, pois, importantes repercussões sobre
as estratégias e conteúdos da educação ambiental. Os efeitos sobre o processo
educacional serão diferentes se a transição para a sustentabilidade global privilegiar
os mecanismos do mercado para valorizar a natureza e a mudança tecnológica para
desmaterializar a produção e limpar o ambiente, ou se ela se fundar numa nova ética
e na construção de uma racionalidade ambiental.
O saber no poder, efetivo no discurso da sustentabilidade quando aplicados, por meio
de uma hermenêutica e epistemologia que garantam, principalmente, a memória e as
identidades presentes e futuras de saber e racionalidade ambiental se efetivam quando
formada por seres humanos dotados de conhecimento em educação ambiental que transcenda
os atuais limites existentes nesta relação de saber e poder. (LEFF, 2008; BOURDIEU, 2003;
FOUCAULT, 2008; THYRI-CHERQUES, 2008).
Na órbita do saber ambiental, o campo discursivo da sustentabilidade não emerge
único e exclusivamente do conhecimento, mas como um efeito da racionalidade econômica,
científica e instrumental que torna o mundo em objetos se sobrepondo à natureza (LEFF,
2004). Esse campo discursivo compreende o real e as identidades culturais e não se estabelece
em essência ao jogo de linguagens (discurso), precisa de ancoragem no real. Assim, as leis,
limites da natureza, da cultura e do território se vinculam entre o que acontece na realidade
juntos aos atores sociais que se apropriam da natureza de acordo com diferentes estratégias,
conforme suas necessidades e/ou aspirações (LEFF, 2004).
58
3 METODOLOGIA
3.1 Método(s) Geral e Abordagem Metodológica
Os paradigmas de pesquisa são discutidos a luz da ética, da epistemologia, da
ontologia e da metodologia. As características básicas do positivismo, pós-positivismo, teoria
crítica, construtivismo e teoria participativa são relacionados com estes paradigmas.
Denzin e Lincoln (2000 p. 183) discorrem sobre os paradigmas:
[...] ninguém afirmaria que um único método – ou coleção de métodos – representa
o caminho mais fácil para o conhecimento supremo. Na investigação de novos
paradigmas, contudo, não é apenas o método que promete apresentar um conjunto de
verdades embasadas no local ou no contexto, mas também os processos de
interpretação. (Denzin & Lincoln, 2000 p. 183).
A análise crítica em estudos organizacionais com base em novas dimensões, como o
pós-estruturalismo de Foucault, a Teoria Crítica, o simbolismo de Bourdieu, o imaginário de
Castoriadis e a teoria da complexidade de Morin, entre outros, são análises críticas não
marxistas e que estudam as organizações do ponto de vista das relações de poder (COELHO,
2012). Por outro lado, o construtivismo, a hermenêutica e o interpretativismo, também
analisados pelos estruturalistas (Bourdieu) e pós-estruturalistas (Foucault) são relacionados
por Denzin e Lincoln (2000, p. 164) como ontologia relativista, de epistemologia transacional
e uma metodologia dialética e hermenêutica. O pesquisador que emprega esse paradigma
volta-se para a produção de interpretações reconstruídas do mundo social.
Desta forma, o presente estudo adota como posicionamento epistemológico a teoria
construtivista, cuja abordagem metodológica remete as escolas estruturalistas e pósestruturalistas, cujo método geral é a análise do discurso que está baseada no entendimento da
hermenêutica (interpretação e compreensão de textos). O pós-estruturalismo caminha entre as
margens da etnologia (Lévi-Strauss) e a psicanálise de Lacan, retomando os caminhos da
história por Marx e Althusser e principalmente pela arqueologia do saber de Foucault,
estabelecendo um caráter global das abordagens das ciências sociais (BRUYNE; HERMAN;
SCHOUTHEETE, 1977).
De acordo com Schmidt (2012, p. 11-12) “[...] a hermenêutica trata de teorias para
interpretar textos corretamente.” e,
O significado filosófico da hermenêutica hoje é determinado principalmente por
Hans-Georg Gadamer em Verdade e método, que originalmente seria intitulado Os
fundamentos da hermenêutica filosófica. O Editor achou que a palavra
59
“hermenêutica” não era conhecida o bastante para estar no título, por isso a outra
opção foi escolhida. Para Gadamer, a hermenêutica é a teoria filosófica do
conhecimento que afirma que todos os casos de compreensão envolvem
necessariamente tanto interpretações quanto aplicação.
Na interpretação de Schmidt sobre o uso da palavra hermenêutica verifica-se que de
fato esta postura epistemológica tem sido pouco abordada nas pesquisas sociais,
principalmente na área de gestão. A interpretação hermenêutica tende a captar os sentidos
latentes e manifestos dos processos de interação social, que vai além das declarações
convencionais. Estes sentidos são concretizados por um projeto de definição das estratégias
dos atores envolvidos na investigação que é progressivamente objetivada para sua
contextualização no conjunto de forças sociais que acompanham os sujeitos da investigação, o
investigador e a própria investigação (ALONSO, 2013). Por isso, optou-se pela Análise
Sociológica do Discurso surgida a partir da variante da hermenêutica denominada socialhermenêutica que, para Alonso (2013, p. 1), é uma tradição própria do conhecimento
sociológico desde o primeiro momento de formação da sociologia interpretativista clássica.
Esta tradição é diferente da atual desconstrução pós-moderna e sua ideia sobre o poder total
do texto. A lógica da análise sociológica dos discursos - como análise compreensiva e
interpretativa e como um tipo de trabalho específico - é quando comparado tanto às análises
quantitativas de conteúdo quanto às análises estruturais de texto de origem linguística, o que a
torna distinta das análises de discurso tradicionais (ALONSO, 2013).
3.2 Tipo de Pesquisa e Métodos de Procedimentos
O método geral de pesquisa utilizado é o qualitativo, que é uma forte característica da
escola de tradição espanhola de ASD, em que o termo qualitativista apresenta-se imbuída na
sua denominação. A pesquisa qualitativa de acordo com Creswell (2007, p. 208) “[...] capta
tanto perspectivas tradicionais quanto perspectiva defensiva, participatória e auto reflexivas
mais recentes da mesma”. As principais características da pesquisa qualitativa são o ambiente
natural em que as interações ocorrem face a face no decorrer do tempo, o pesquisador como
instrumento fundamental, coletando os dados, examinando documentos, observando
comportamentos, entrevistando os participantes, as múltiplas fontes de dados que são
coletadas, a análise indutiva que constroem unidades de informações cada vez mais abstratas,
o significado dos participantes cujo foco é o aprendizado destes e, principalmente o
aprendizado sobre o problema através da emergência do projeto, da lente teórica, da
60
interpretação e do relato holístico que vão determinar a alta complexidade da pesquisa
(CRESWELL, 2007).
O campo qualitativo tornou-se uma das principais fontes de criação e de inovação no
esforço da pesquisa científica. A pesquisa como processo relacional faz análise textual e
propõe novas formas de análise, a exemplo da Análise Sociológica do Discurso (ASD)
(DENZIN; LINCOLN, 2006; COELHO, 2012).
Quanto aos fins a pesquisa possui caráter descritivo que exige do investigador uma
série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os
fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Neste estudo optou-se pelo
método de procedimento de pesquisa documental que para Siena (2007 p. 66),
Este tipo possui características semelhantes àquelas referidas para pesquisa
bibliográfica, diferindo desta em relação às fontes dos dados. A pesquisa
documental é elaborada utilizando materiais (documentos, banco de dados, etc.) que
não receberam tratamento analítico ou que podem ser reelaborados pelo pesquisador.
O tipo de análise também depende dos objetivos da pesquisa e podem assumir
formas diversas, desde a análise de conteúdo (perspectiva qualitativa ou
quantitativa) até estudos essencialmente quantitativos.
A pesquisa documental muitas vezes não é bem vista no meio acadêmico, uma vez que
a tradição predominante no meio científico é de que toda pesquisa precisa de uma aplicação
empírica (no cotidiano do campo estudado). Mesmo assim, como foi observado por Siena
(2007) é possível realizar boas pesquisas principalmente no campo qualitativo a partir de
documentos, com adoção de técnicas de análise como a análise de conteúdo e a análise do
discurso.
Bauer e Gaskell (2010) ao analisarem textos, som e imagens propuseram que o
processo de documentação da pesquisa qualitativa deve levar em consideração os aspectos da
fidedignidade e da validade dos dados. Logo existe uma preocupação em identificar
indicadores de polissemia do texto no lado da fidedignidade e, do lado da validade, a garantia
de que os códigos utilizados se refiram às palavras usadas no texto (validade semântica).
Para tanto, ao se utilizar da pesquisa documental para analisar conteúdo e discurso o
processo de documentação deve ser muito bem detalhado como propõem Bauer e Gaskell
(2010, p. 206). “[...] A documentação detalhada do processo de codificação assegura uma
prestação pública de contas, e serve para que outros pesquisadores possam reconstruir o
processo caso queiram imitá-lo. A documentação é um ingrediente essencial da objetividade
dos dados”.
61
Desta forma, foram investigados e analisados documentos organizacionais do período
de 2007 a 2014, entre eles: relatórios de sustentabilidade, diretrizes dos programas de
compensações (denominados Programas Básicos Ambientais), informativos, notícias e
releases, clipping (divulgados pelas organizações) e estudos preliminares.
O esquema prático de procedimentos e análise adotados para realização desta pesquisa
pode ser visualizado pela figura 8.
Figura 8 - Esquema de procedimento e análise sociológica do discurso.
Problema de pesquisa:
Quais as características do discurso organizacional da sustentabilidade das Empresas das Usinas
Hidrelétricas do rio Madeira?
Posicionamento
epistemológico:
Teoria
Construtivista
Conjectura
analítica
Sistematização
do método de
Análise
Sociológica do
Discurso
(ASD)
Análise do
discurso
organizacional
Posições
discursivas;
Espaços
semânticos;
Configurações
narrativas.
Posicionamento
teórico:
Sustentabilidade
como discurso
C
o
n
s
t
r
u
ç
ã
o
d
i
s
c
u
r
s
o
Fontes discursivas
organizacionais:
- Relatórios (RS);
- Diretrizes (PBA);
-Releases e notícias;
-Estudos preliminares.
Posicionamento
metodológico:
Análise
Sociológica do
Discurso (ASD)
Organização/
setor estudado:
empresas de
energia
elétrica
Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Coelho, 2012.
Como método de análise, a opção é pela abordagem metodológica “Análise
Sociológica do Discurso” (ASD). Ao utilizar esta abordagem intentou-se priorizar o estudo no
campo a partir de textos-documentos e seus respectivos contextos (COELHO, 2012), pois
para entender e analisar os enunciados é necessário levar em consideração o contexto no qual
62
eles ocorrem: tanto discursivo quanto o “contexto interativo local”, sendo uma condição
predominante na pesquisa qualitativa (FLICK, 2009, p. 298). O discurso não trata,
especificamente, da língua ou da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem o objeto
de estudo que interessa é o discurso e sua forma de produção de sentido. Assim, ao perseguir
o desafio de construir interpretações, a análise do discurso parte do pressuposto de que um
sentido oculto deve ser captado, o qual, sem uma técnica apropriada, permanece inacessível
(ORLANDI, 1999).
Foram reconstruídos oito anos da “história discursiva” – de 2007 até 2014 – das
empresas de energia do rio Madeira acerca da sustentabilidade, com base em documentos que
possibilitaram a construção do percurso semântico do tema sustentabilidade nestas
organizações.
3.3 Paradigmas, Dimensões e Categorias do Discurso da Sustentabilidade
Os conceitos e as visões, a evolução histórica, e o discurso da sustentabilidade, por
meio dos teóricos que se fazem presentes neste estudo foram dispostos ao longo do trabalho
com a finalidade de garantir respaldo ao posicionamento técnico. De acordo com Siena (2007,
p. 95): “Definir um termo, categoria ou uma variável é expressar o seu significado e informar
a maneira pela qual será realizada a mensuração (medida ou observação)”.
A partir do referencial teórico foi possível definir os paradigmas e as dimensões, as
categorias e as características observáveis do discurso da sustentabilidade das organizações
pesquisadas. A definição do discurso da sustentabilidade foi baseada nos paradigmas de
Gladwin, Kennely e Krause (1995) conforme descrito no quadro 13.
Quadro 13 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme paradigmas de
Gladwin Kennely e Krause.
Paradigma
Descrição
Característica do discurso
Tecnocentrism
Visão econômica clássica
“Econômico”
Sustaicentrism
Encontro das posições científicas radicais
“Sustentabilidade”
Visão ecológica profunda
“Ecológico”
Ecocentrism
Fonte: Elaborado pelo autor.
As visões discutidas por Mebratu (1998) colaboram com o paradigma da
sustentabilidade. Ao lado do desenvolvimento econômico encontra-se a visão institucional
capitaneada pelas Nações Unidas (ONU), enquanto do lado ecológico observa-se a visão
ideológica representada pelos movimentos eco-feministas, eco-religiosos e eco-socialistas. A
63
visão acadêmica navega pela economia ambiental, ecologia profunda e ecologia social,
representando o objetivo final da sustentabilidade enquanto discurso: a plena integração da
natureza, economia e sistemas sociais pela integração destes objetivos (MEBRATU, 1998).
Foi possível associar os paradigmas às dimensões da sustentabilidade propostas por
Sachs (2003), que são orientadas para o objetivo e para o problema desta dissertação
conforme apresentado na figura 8. No quadro 14 são apresentadas as seis dimensões, com
suas respectivas descrições e as características relacionadas a cada dimensão com vistas ao
discurso da sustentabilidade no processo de investigação da pesquisa.
Quadro 14 - Definição do discurso da sustentabilidade conforme dimensões de Sachs.
Dimensão
Descrição
Sustentabilidade social
Sustentabilidade econômica
Redução substancial das diferenças sociais;
Alocação e gestão mais eficiente dos recursos;
Respeitar e aumentar a capacidade de
autodepuração dos ecossistemas naturais;
Uso dos mais variados ecossistemas com
mínima deterioração;
Relação mais equilibrada entre campo e cidade,
evitar a concentração geográfica de populações;
Respeito aos ecossistemas, cultura e valores
locais.
Sustentabilidade ambiental
Sustentabilidade ecológica
Sustentabilidade espacial e
geográfica
Sustentabilidade cultural
Característica do
discurso
“Social”
“Econômico”
“Ambiental”
“Ecológico”
“Territorial”
“Cultural”
Elaborado pelo autor.
Apoiado no estudo das dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008), o objetivo do
conteúdo do quadro 14 foi identificar as características do discurso: social, econômico,
ambiental, ecológico, territorial e cultural identificadas nos textos e imagens que representam
o discurso da sustentabilidade das organizações pesquisadas.
Alguns termos foram utilizados para a identificação de categorias prévias do discurso
da sustentabilidade que orientaram o processo de coleta dos dados nos documentos
analisados, bem como no processo de análise sociológica do discurso das empresas SPE/SAE
e SPE/ESBR, conforme quadro 15.
64
Quadro 15 - Termos e categorias discursivas iniciais da pesquisa.
PARADIGMA /
DIMENSÃO
Termos de pesquisa
para identificação
do discurso da
sustentabilidade
TECNOCENTRISMO
SUSTENTABILIDADE
ECOCENTRISMO
Deslocamento populacional
Comunidades assistidas
continuamente (RSC)
Preservação de reservas
indígenas
Reconfiguração urbana e rural
Saúde, Educação,
Segurança.
Preservação da fauna e
da flora
Riscos civis
Geração de emprego/renda
Apoio a agroecologia
Compensações financeiras
Participação social (inclui
movimentos organizados)
Respeito às tradições
locais
Indenizações
Participação pública
Autonomia
Obras públicas
Desenvolvimento local
Apoio a RESEX
Fonte: Elaborado pelo autor.
A partir do conteúdo dos quadros 13, 14 e 15, os textos coletados foram
operacionalizados a partir da identificação das posições discursivas, espaços semânticos e
configurações narrativas no contexto dos discursos analisados.
Para realizar a operacionalização foram utilizados códigos. À medida que a leitura dos
documentos foi sendo realizada e os padrões discursivos foram se repetindo, foram
construídas funções discursivas, apresentadas na análise e nos resultados desta pesquisa.
Bauer e Gaskell (2010, p. 209) alertam para os dilemas existentes entre a
fidedignidade e a validade dos dados relacionados à codificação,
[...] Uma codificação simplificada pode permitir resultados fidedignos, mas pouca
informação. Por outro lado, uma alta fidedignidade é difícil de ser conseguida para
uma codificação complexa, embora os resultados provavelmente sejam mais
relevantes para a teoria e para o contexto prático. (Bauer e Gaskell, 2010, p. 209).
Neste sentido, buscou-se com a codificação proposta nos quadros 13,14, e 15 utilizar
uma codificação simplificada, e nos códigos incorporados ao longo das leituras uma
codificação mais complexa em função dos padrões discursivos que foram surgindo o que
favoreceu significativamente a busca por resultados relevantes tanto para o contexto teórico
quanto para contexto prático da pesquisa. Além dos padrões discursivos, a escrita da redação
final do texto de análise e resultados contou com recursos gráficos para melhor compreensão
do discurso da sustentabilidade no espaço de tempo longitudinal como proposto por Faria
(2007), Coelho e Godoy (2010).
Em relação à analise do discurso, Bauer e Gaskell (2010, p. 248) apontam que depois
da fidedignidade e da validade dos dados, uma terceira característica que deve ser uma
preocupação do analista de discurso é com a função discursiva, vista como prática social. Os
65
atores sociais estão continuamente orientados pelo contexto interpretativo em que se
encontram e constroem o discurso para que os outros atores possam se ajustar a esse contexto.
A Análise Sociológica do Discurso (ASD) realizada apresentou todas estas características
indicadas por Bauer e Gaskell (2010). As funções discursivas são utilizadas na ASD a partir
dos padrões discursivos identificados pelos quais surgiram os posicionamentos discursivos
que caracterizam o contexto analisado.
3.4 Tipos de Dados, Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados
O procedimento de coleta de dados foi realizado mediante pesquisa documental por
meio da leitura de relatórios de sustentabilidade, diretrizes dos programas de compensação
(PBA ‘s’), notícias e releases organizacionais. O espaço temporal está compreendido entre
2007 e 2014. No quadro 16 estão descritos a quantidade e o tipo de documentos coletados.
Quadro 16 - Coleta de dados – Documentos de 2007 – 2014.
Nº
ANO
EMPRESAS
UHE
NOTÍCIA/ E.P. /
R.S. R.A/RSA D.P. RELEASE/ PBA'S'
CLIPPING
TOTAL
Energia
Sustentável do
ESBR
24
34
1233
14
1305
Brasil
GDF Suez 2 2007-2014
ESBR
7
7
Tractebel Energia
3 2008-2012 Chesf - Eletrobrás
ESBR
4
2
6
Eletrosul 4 2008-2012
ESBR
2
3
5
Eletrobrás
5 2008-2011
Eletrobrás
ESBR
4
4
Santo Antônio
6 2012-2014
SAE
8
128
23
159
Energia
Odebrecht
7 2007-2014
SAE
9
9
Participações
8 2007-2013
Furnas
SAE
3
6
9
9 2008-2013
Cemig
SAE
6
6
Ministério Público
10 2007-2014
12
12
Estadual
11 2007-2014
IBAMA
1
1
2007-2014
Total
26
52
34
1361
50
1523
Legenda: RS – Relatório de Sustentabilidade, R.A – Relatório Anual, R.S.A – Relatório Socioambiental, D.P. Diretrizes de Programas, E.P. – Estudos Preliminares, PBA‘S’ – Programas Básicos Ambientais.
Fonte: Elaborado pelo autor.
1
2008-2014
Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados: acesso ao site das organizações,
instituições e sítios eletrônicos, cujos relatórios, notícias e releases, diretrizes de programas
de compensações organizacionais, documentos institucionais encontravam-se disponíveis. Os
66
documentos foram arquivados em ambiente adequado de acordo com a característica de cada
documento.
3.5 Procedimentos para Organização dos Dados
Para Bauer e Gaskell (2010, p. 251), textos de domínio público não precisam ser
transcritos, como, por exemplo, artigos de jornais (notícias, releases e clipping) relatórios de
uma companhia (relatórios de sustentabilidade), registros de debate parlamentar (audiências
públicas), caso contrário a transcrição é fundamental. Dificuldades foram encontradas em
localizar textos em determinados contextos, o que levou a decisão de organizar os dados de
forma a garantir consultas constantes. Esta organização deu-se em forma de relatórios e redes
gerados a partir do software ATLAS ti.
Os dados foram estruturados por meio da adaptação dos procedimentos propostos por
Cresswell (2007) e Flick (2007) valendo-se da sequencia apresentada no quadro 17.
Quadro 17 - Organização e sistematização dos dados.
Identificação dos Relatórios de Sustentabilidade, programas (PBA ‘s’), releases, notícias, estudos
preliminares;
Seleção e transcrição de trechos discursivos da Missão, Visão, Princípios, Valores, Crenças e
b)
Políticas.
c)
Leitura cética das transcrições e codificação para exame, realce e seleção dos focos de análise;
Identificação de padrões discursivos e funções (que se repetem entre as empresas) das expressões
d)
associadas à sustentabilidade;
e)
Interpretação das unidades de significados presentes nos trechos analisados;
f)
Sistematização dos dados em arquivos manuais e eletrônicos.
Exemplo Trecho do discurso - Padrões discursivos - Funções discursivas
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Coelho e Godoy, 2010, p. 77.
a)
Desta forma os dados foram organizados de tal forma que representassem o discurso
da sustentabilidade captado nos documentos analisados.
3.6 Procedimentos para Análise e Interpretação dos Dados
Para Creswell (2007, p. 216) “[...] a análise de dados qualitativos é conduzida
concomitantemente com a coleta de dados, a realização de interpretações e a redação de
relatórios”. À medida que os dados são coletados o pesquisador se posiciona diante de
inúmeros dados que podem ser semelhantes, pertencentes a uma mesma categoria. No
67
entanto, à medida que o volume destes dados aumenta corre-se o risco de informações
valiosas deixarem de ser processadas.
Existem vários softwares disponíveis no mercado, porém nem sempre são os mais
adequados para a finalidade a que a pesquisa se propõe. Em função das características desta
pesquisa e as recomendações, optou-se por utilizar o software ATLAS.ti para auxiliar na
realização dos procedimentos de análise dos dados (FLICK, 2007).
A interpretação foi realizada a partir de representações gráficas elaboradas pelo autor e
pelas redes de relacionamento geradas pelo software Atlas Ti durante a etapa de análise. Estas
contribuíram para expressar e visualizar os sistemas de discurso; sugerir a dimensão
relacional e contextual dos conceitos apresentados; criar e validar as conjecturas e as
configurações narrativas. Além disso, colaboraram para explicitar a evolução no tempo das
posições discursivas, das configurações narrativas e dos espaços semânticos construídos na
pesquisa. A redação da análise e resultados constitui o trabalho de escrita narrativa permitindo
evidenciar as etapas anteriores, configurando os discursos produzidos como resultados da
pesquisa.
O caminho da interpretação não deve conduzir a nenhuma arbitrariedade do
pesquisador; a interpretação adquire sentido quando reconstrói, com relevância, o seu campo
de forças sociais dando lugar a investigação, e quando a chave interpretativa é coerente com
os próprios objetivos concretos da investigação, surge um duplo enfoque pragmático pragmática dos discursos sociais, pragmática da estratégia de investigação (Alonso, 2013).
68
4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO
O processo de construção da ASD foi realizado conforme a proposta metodológica
apresentada na figura 8 que, além das conjecturas analíticas necessárias para iniciar a
construção da análise, utilizou-se da análise das posições discursivas, das configurações
narrativas e dos espaços semânticos. Na análise das posições discursivas buscou-se responder
as perguntas “quem fala? Desde que posição se fala?”.
Da análise das configurações
narrativas “o que está em jogo no que se fala? O que se quer dizer com o que disse?”. Na
análise dos espaços semânticos “de que se fala? Como se organiza a fala?”. A relação entre
as configurações narrativas e os espaços semânticos em função dos objetivos da pesquisa.
Foram identificados trechos discursivos nos textos com características da
sustentabilidade simétricos aos padrões e funções discursivas complementares às análises
propostas com o uso de representações gráficas. Por fim, realizou-se a redação da ASD por
meio de escrita narrativa que permitiu evidenciar as etapas anteriores, configurando os
discursos produzidos como resultados da pesquisa referente aos 08 anos (2007-2014) das
empresas das usinas hidrelétricas no contexto do rio Madeira.
4.1 Contextualização do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) do Rio Madeira
Os estudos sobre os aproveitamentos hidrelétricos no Brasil, principalmente na
Amazônia, têm sido realizados a partir de longos processos de licenciamento que inclui
diversas fases que requer tanto a participação dos agentes públicos, representantes da
sociedade, quanto a participação de agentes privados na elaboração, execução e operação,
principalmente na geração e distribuição de energia elétrica. Por um lado, o governo brasileiro
em nome do crescimento e desenvolvimento, a partir da garantia de geração de energia
elétrica desenvolve sua agenda conforme as necessidades apontadas em estudos
encomendados pelos seus próprios ministérios e referendados pelas agencias nacionais
reguladoras. Por outro lado, as empresas tanto públicas quanto privadas, a fim de implementar
o seu planejamento estratégico, se lançam a assumirem responsabilidades tanto com o
governo brasileiro, quanto com a sociedade.
De acordo com o Art. 1º, Inciso I, Resolução CONAMA nº 237 de 19/12/1997, o
Licenciamento Ambiental é um procedimento administrativo obrigatório que precede a
instalação, a ampliação e a operação de qualquer empreendimento ou atividade considerada
69
efetiva ou potencialmente poluidora ou que possa, sob qualquer forma, causar degradação
ambiental. As principais diretrizes para a execução do licenciamento ambiental no Brasil são
expressas na Lei nº 6.938/1981 e nas Resoluções CONAMA nº 001/1986 e nº 237/1997.
Baseado no art. 10 da Lei 6.938 de 31/08/1981 e da Resolução CONAMA nº 237 de
19/12/1997, através do Licenciamento Ambiental, o órgão competente estabelece as
condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser observadas ao longo da
implantação e operação do empreendimento, Este processo poderá ocorrer na esfera
municipal, estadual ou federal. Na esfera federal, o licenciamento ambiental compete ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O
processo de licenciamento ambiental consiste em 03 (três) etapas principais, as quais resultam
na emissão das seguintes licenças ambientais: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI)
e Licença de Operação (LO). Para solicitação de cada licença, o órgão ambiental competente
define os estudos ambientais e documentos cabíveis, os quais deverão ser apresentados
previamente pelo empreendedor. Os estudos necessários ao processo de licenciamento
ambiental devem ser realizados por profissionais legalmente habilitados, a expensas do
empreendedor. Baseado nestas informações, o órgão estabelece as condicionantes, específicas
para cada etapa do licenciamento ambiental e que devem ser devidamente atendidas antes da
solicitação da licença ambiental seguinte, e assim sucessivamente. Assim, é correto afirmar
que as licenças ambientais podem ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a
natureza, características e fase do empreendimento ou atividade. Neste contexto e arcabouço
normativo, as usinas hidrelétricas do rio Madeira foram constituídas a partir de um processo
de estudos, elaboração, aprovação e licenciamento ambiental dos empreendimentos. As etapas
iniciais que antecederam ao licenciamento ambiental para inicio das obras estão resumidas no
quadro 18.
Quadro 18 - Contexto de viabilidade dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira.
2002
2003
2005
Publicado no Diário Oficial da União o Despacho da ANEEL que aprova o Estudo de Inventário
do Rio Madeira, contemplando os aproveitamentos hidrelétricos Santo Antônio e Jirau, elaborado
por Furnas Centrais Elétricas e a Construtora Norberto Odebrecht (CNO);
Furnas e CNO solicitam à ANEEL registro para elaboração dos estudos de viabilidade;
ANEEL aceita o registro dos estudos de viabilidade realizados por Furnas e CNO;
A ANEEL disponibiliza para consulta os estudos de viabilidade técnica e econômica e o Estudo
de Impacto Ambiental (EIA) das usinas hidrelétricas Jirau (3.300 MW) e Santo Antônio (3.150
2006
MW). A Agência Nacional de Águas (ANA) declara a garantia de disponibilidade hídrica
necessária à viabilidade do empreendimento;
A ANEEL aprova os estudos de viabilidade e o IBAMA publica a Licença Prévia (LP), com 33
2007
condicionantes que devem ser cumpridas para a validade da LP.
Fonte: Elaborado pelo autor com base no sitio eletrônico da ESBR, 2014.
70
A partir do fim do ano de 2006 ocorreu uma mobilização principalmente local e
regional em torno do debate acerca dos aproveitamentos hidrelétricos no rio Madeira. O
processo de licenciamento ambiental e discussão com a sociedade avançou a partir do ano de
2006 até o ano de 2008, período compreendido pelas consultas às comunidades locais,
emissão da Licença Prévia (LP) e emissão da Licença de Instalação (LI). De acordo com o
Ministério Público do Estado de Rondônia, no dia 27 de novembro de 2006 na cidade de
Porto Velho/RO foi realizada uma das principais Audiências Públicas para providenciar o
debate democrático acerca do complexo tema que envolveu o licenciamento ambiental dos
Aproveitamentos Hidrelétricos (AHE‘s’) do rio Madeira.
[...] Na sequencia, o Procurador-Geral discursou: “Embora a maioria não se
aperceba disso, a reunião de hoje, secundada de tantas outras, será uma das mais
importantes realizadas pelo Ministério Público do Estado de Rondônia”. Estamos
fazendo história. Estamos delineando o futuro de todas as gerações desta parte do
nosso País, desta parte do Planeta. (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2006, p. 1).
Para validar as ações do processo de Licenciamento Ambiental, de acordo com seu
regulamento, foi publicado o Edital de Convocação das Audiências Públicas em locais
considerados estratégicos da área diretamente afetada. Além da capital Porto Velho, no mês
de novembro de 2006 foram realizadas audiências publicas nas localidades de Jaci-Paraná,
Abunã e Mutum-Paraná (distritos de Porto Velho). A cronologia dos acontecimentos consta
no trecho discursivo extraído da ata da audiência em 27/11/2006,
[...] Discorreu sobre o estágio de Licenciamento Ambiental do Projeto 2004/2005;
aprovação pelo IBAMA dos Termos de Referência para o estudo ambiental
2003/2006; Elaboração do EIA-RIMA pela Construtora Leme Engenharia Fev a
julho/2006; Pedidos de complementação pelo IBAMA Jul a Ago/2006; Entrega das
complementações Junho/2006; Termo de Compromisso Ambiental entre MP/RO e a
Odebrecht Set/2006; Aceitação pelo IBAMA do estudo ambiental Out/2006; 1ª
versão do Relatório de Análise do Conteúdo do EIA/RIMA Nov/2006; Realização
das Audiências Públicas, Estágio de Licenciamento Ambiental do Projeto; sobre as
próximas etapas deferimento da licença prévia, que determina os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas licenças de instalação e operação; Realização
do Leilão de energia; e por fim, Edital Público Elaboração do Plano Básico
Ambiental – PBA, a ser aprovado pelo IBAMA, que pode ser submetido a
audiências públicas; Obtenção da Licença de Instalação – LI. (COBRAPE, 2006, p.
1)
O Ministério Público Estadual (MP/RO), em 26 de junho de 2006, assinou um Termo
de Compromisso Ambiental (TCA) junto ao empreendedor, de modo a viabilizar o presente
documento, com o apoio de um grupo de especialistas de notório conhecimento e
especialidade nas áreas temáticas afetas aos empreendimentos. O resultado destes estudos e as
71
conclusões foram necessários para amparar e orientar as ações do MP em relação ao processo
de licenciamento das obras e respectivas operações no Rio Madeira (COBRAPE, 2006).
Enfatizo aos presentes o caráter pioneiro de que tal Termo de Compromisso
Ambiental, que prima por ser o primeiro no país a atuar de forma preventiva, dando
a conhecer ao EIA/RIMA referente ao empreendimento antes do início das obras.
Permite-se assim que os ajustes sejam feitos, de modo a minimizar os danos
ambientais, evitando-se desde logo, a majoração do impacto negativo no entorno e
paralisações das atividades. (COBRAPE, 2006, p. 3)
O estudo, encomendado pelo Ministério Público do Estado de Rondônia (MP/RO) e
realizado pela Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE) em 2006,
custeados pelas empresas Furnas Centrais Elétricas S.A. e Construtora Norberto Odebrecht
S.A., objetivou análises críticas dos impactos que poderiam ser provocados pela implantação
e operação dos aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira, à época denominada Santo
Antônio e Jirau. O trecho discursivo que resume a função discursiva do MP/RO foi transcrito
do documento da COBRAPE (2006, p. 37),
De fato, o complexo das hidrelétricas é uma obra estratégica, envolvendo e
desencadeando uma série de efeitos sobre as dimensões econômica, social,
ambiental e institucional, conectando-se a uma lógica de desenvolvimento que,
naturalmente, extravasa os limites do município de Porto Velho e do Estado de
Rondônia, afinal implica na discussão da matriz energética nacional, nos planos e
propostas de desenvolvimento econômico regional, na conexão territorial e logística
(hidrovia, ferrovia, rodovia, aeroportos, etc.) e, essencialmente, nas diretrizes para a
sustentabilidade da região amazônica. (COBRAPE, 2006, p. 37)
Além de apontar para vantagens do ponto de vista da sustentabilidade nas suas
dimensões econômica, social, ambiental e institucional, o estudo teve como premissa orientar
as ações das empresas participantes dos empreendimentos tanto do ponto de vista da
sustentabilidade quanto da geração de energia e integração regional.
O processo de Licenciamento Ambiental, apoiado pelas audiências públicas são
momentos importantes de consulta pública, através dos quais são colhidas as manifestações da
sociedade sobre o empreendimento proposto. E é após as audiências públicas que o órgão
licenciador recebe, durante determinado tempo estipulado por competência legal, demais
questionamentos levantados além dos registrados quando da exposição do assunto.
(COBRAPE, 2006)
Nas audiências publicas, a exemplo da realizada em Porto Velho foi possível captar 2
posições discursivas que foram confrontadas nas falas dos participantes. Aqueles que estavam
a favor da construção das usinas e aqueles que mesmo sendo contra reivindicavam a
suspensão do processo de licenciamento ambiental por um período suficiente para que toda a
72
sociedade tivesse chance de aprofundar-se no conhecimento necessário para a tomada de
decisão.
O MP/RO em um de seus discursos, logo no inicio do encontro esclarece,
Não há, por parte do Ministério Publico Estadual de Rondônia, nenhum interesse em
inviabilizar a instalação do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, mas não se pode
dele afastar o dever de conhecer os estudos realizados, as consequências ambientais
e sócio-econômicas de sua instalação bem como a aplicação de medidas mitigadoras
e compensatórias, visando a garantia de preservação do meio ambiente. Tanto assim
é que o próprio termo de compromisso ambiental significa a cooperação mútua,
entre quem realiza o EIA/RIMA e quem tem o dever de fiscalizar, já desde os
estudos iniciais, a futura execução da obra, que segundo a revista EXAME de
20.06.06, repita-se da ordem de 20 bilhões de reais. (COBRAPE, p. 2)
O discurso do MP/RO deixa bem claro o seu posicionamento favorável à realização
dos empreendimentos, tanto que ao longo da audiência diversos questionamentos foram
expostos na busca por esclarecimentos sobre a obra, com indagações diretas ao MP/RO de sua
função social de defesa dos interesses do povo, e não dos interesses dos empreendedores,
como pode ser observado nos trechos discursivos do quadro 19.
Quadro 19 - Algumas posições discursivas contrárias à realização da obra.
[...] Eu quero saber porque a população ribeirinha, ou seja, milhares de famílias
devem, devem aceitar entregar suas terras, nas quais construíram suas vidas, e das
quais dependem sua subsistência e cultura, por uma indenização que elas não sabem
nem o quanto será? Onde estão os direitos humanos? Porque o povo que vive na
Siomara da Costa
margem do rio e que não entende essa linguagem técnica nem sequer foi visitado?
Alves – Comunidade
[...] Se há tanto risco de apagão, porque não investir então nas 23 usinas menores que
juntas garantem a mesma quantidade de megawatts, exigem menos tempo de
Maravilha (p. 16)
construção, e já tem licença ambiental, portanto, menos impactos [...] Porque Porto,
Porto Velho deve aceitar virar um canteiro de obras, perdendo sua identidade, a
ferrovia Madeira-Mamoré, sua história, sendo o aspecto turístico fortemente afetado
pela explosão de suas cachoeiras [...]?
[...] Além das usinas atuais, de Santo Antônio e de Jirau, existem uma série de outros
José Avelino Costa (p. empreendimentos muito grandes previstos aqui na área da Amazônia legal. [...] a
pergunta é: o impacto sócio-ambiental de todos os empreendimentos não deveria ser
18)
estudado em conjunto? Porque estudar cada um deles isoladamente pode acabar
minimizando o que a gente tá deixando pras gerações futuras em termos, de
alagamento de florestas, e etc..
Elaborado pelo autor com base em COBRAPE, 2006.
O início precoce das obras configurou-se como um dos principais fatores para a
necessidade de aprimorar a discussão sobre as usinas, tanto para os defensores do discurso
contrário, quanto os defensores da realização dos trabalhos conforme cronograma do MME e
dos empreendedores. O curto espaço de tempo de realização das audiências públicas (menos
de 30 dias), concentrada no mês de novembro de 2006 causou desconfianças nos
participantes. Mesmo assim, de a fala do Procurador-Geral do MP/RO, na relação MP e
73
sociedade foi de dever cumprido como representante do povo que assume o seu papel junto
aos seus patrões,
[...] Encerrados os questionamentos, Dr. Abdiel tomou a palavra: Como foi dito
anteriormente, as, as cartas desse empreendimento não são, não são dadas, não
foram criadas, regras pelo Ministério Público do Estado de Rondônia. Eu, eu penso
que o simples fato de estarmos aqui ouvindo, inclusive acusações de coadjuvantes
de empreendedores, mostra que essa é uma praça democrática. Mostra que todos
aqui tem voz e estão sendo ouvidos. Até quem é lá de Maravilha, da comunidade
Maravilha. Até quem é do outro lado do rio Madeira. Significa que nós estamos
cumprindo o papel que nos cabe neste contexto. Em momento algum, nós dissemos
que somos a favor ou contra o empreendimento. Nós somos, é, nos somos
participantes, nos somos acurados personagens desse ônibus que queremos não
perder a viagem. (COBRAPE, 2006, p. 21)
A análise deste trecho discursivo define a posição discursiva do MP/RO no contexto
inicial à construção dos empreendimentos hidrelétricos do rio Madeira. A hermenêutica do
discurso pode ser vista sob várias perspectivas, mas, nesta pesquisa, o que se observa é a
existência de fluxos simbólicos geradores de violência simbólica conforme proposto por
Bourdieu (2003); Thiry-Cherques (2008). A forma de menção ao público participante, tanto
do lado dos empresários locais, quanto do lado dos ribeirinhos é a prova que pouco adiantaria
manifestações contrárias à certeza dos benefícios que as obras poderiam trazer para a cidade
de Porto Velho.
A LP 251/2007 foi concedida pelo então presidente substituto do Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente - IBAMA, Sr. Benedito Alves Margarido Neto no dia 09 de julho de 2007
ao empreendedor Furnas Centrais Elétricas S.A. registrado no órgão licenciador sob o
processo de nº 02001.003771/2003-25. A citação do documento está no trecho discursivo:
Expedir a presente Licença Prévia ao: [...] relativa aos Aproveitamentos
Hidrelétricos de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, estado de Rondônia,
município de Porto Velho, com potências instaladas de 3.150 MW e 3.300 MW, e
áreas dos reservatórios de 271,3 km² e 258 km², respectivamente. A obra é composta
por dois barramentos a fio d'agua, duas casas de força, vertedouros e turbinas tipo
bulbo. Esta licença Prévia é válida pelo período de 02 (dois) anos, a contar da
presente data, estando sua validade condicionada ao cumprimento das
condicionantes constantes no verso deste documento, que deverão ser atendidas
dentro dos respectivos prazos estabelecidos, e dos demais anexos constantes do
processo que, embora não transcritos, são parte integrantes deste documento.
(IBAMA, 2007, p. 1)
A LP é a principal referência para a finalização desta fase do processo de
licenciamento ambiental, na qual se apresentaram as exigências a serem cumpridas nas etapas
de elaboração dos Projetos de Engenharia e de elaboração do Plano Básico Ambiental, já na
fase de Licenciamento de Instalação (LI).
74
As condicionantes estabelecidas na LP 251/2007 versam sobre uma série de questões a
serem atendidas, conservadas, viabilizadas e monitoradas pelo empreendedor do AHE. Entre
estas foram verificadas em forma de discurso a presença de padrões excessivamente
ambientais e ecológicos, no entanto todas as dimensões da sustentabilidade foram de alguma
forma contemplada, mesmo que não representasse as reais necessidades das populações que
viriam a ser afetadas (atingidas) pelas instalações e operações. O resumo das condicionantes
estabelecidas na LP 251/2007 do IBAMA estão descritas no quadro 20.
Quadro 20 - Resumo das condicionantes exigidas pelo IBAMA - LP 251/2007.
Dimensão
Sustentabilidade social
(Redução substancial das diferenças sociais)
Sustentabilidade econômica
(Alocação e gestão mais eficiente dos recursos)
Sustentabilidade ambiental
(Respeitar e aumentar a capacidade de
autodepuração dos ecossistemas naturais)
Sustentabilidade ecológica
(Uso dos mais variados ecossistemas com
mínima deterioração)
Sustentabilidade geográfica
(Relação mais equilibrada entre campo e
cidade, evitar a concentração geográfica de
populações)
Sustentabilidade cultural
(Respeito aos ecossistemas, cultura e valores
locais)
Fonte: Elaborado pelo autor
Conteúdo das Condicionantes
Comunicação social; Saúde pública;
Compensação social;
Recuperação da infraestrutura afetada;
Programa ambiental para a construção;
Sistema de gestão ambiental; Programa
de compensação ambiental; Educação
ambiental; Plano de conservação e uso
do entorno do reservatório;
Monitoramento do lençol freático;
sismológico;
hidrossedimentológico;
climatológico;
hidrobiogeoquímico;
limnológico; das macrófitas aquáticas;
Conservação e resgate da fauna;
Desmatamento das áreas de influência
direta; Conservação da ictiofauna;
Apoio
às
populações
indígenas;
Remanejamento da população atingida;
Programa de ações a jusante; Realocação
da atividade garimpeira;
Preservação
do
patrimônio
paleontológico;
Arqueológico; Préhistórico; Histórico; Lazer e turismo;
Discurso
“Social”
“Econômico”
“Ambiental”
“Ecológico”
“Territorial”
“Cultural”
Através do resumo elaborado da LP 251/2007 foi possível observar que a posição
discursiva do IBAMA referente às condicionantes estabelecidas na licença prévia do AHE‘s’,
contemplou exigências aos empreendedores que se enquadram no discurso das dimensões da
sustentabilidade defendido por Sachs (2008). Do ponto de vista paradigmático de Gladwin,
Kenely e Krause (1995) a posição discursiva do órgão licenciador (IBAMA) são bem mais
claras e objetivas na visão natureza-sociedade, caracterizado por um discurso de
sustentabilidade mais para o lado da ecologia e meio ambiente.
O discurso em relação à sustentabilidade dos empreendimentos hidrelétricos,
principalmente associado ao discurso que vem sendo exigido das empresas que participam de
75
grandes obras como no caso das realizadas no rio Madeira deu-se neste contexto, de um lado,
pelo Ministério de Minas e Energia (MME) exigindo que a obra se desenvolvesse em
consonância com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Do
outro lado, o IBAMA e Ministério Público realizando a interação com a sociedade local
determinando suas posições discursivas pautadas nas suas convicções e conhecimentos sobre
o que deve ser garantido tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade local. O
Ministério Público de Rondônia recomendou diversas ações relacionadas às dimensões
ambiental, ecológica, econômica, social, cultural e territorial para garantir que na escolha pela
realização das obras as comunidades atingidas, bem como os funcionários das empresas, a
sociedade em geral e principalmente o meio ambiente fossem privilegiados, com vistas a
garantir assim a sustentabilidade mais aceitável e necessária para a realização das obras.
Em síntese, as práticas discursivas e as ações institucionais referentes aos
empreendimentos hidrelétricos na fase de licenciamento para construção foram propostas com
base na visão de especialistas familiarizados com os conceitos de sustentabilidade.
As
dimensões de Sachs (2008) estão presentes no documento analisado, com forte viés para as
questões ambientais e sociais, porém todas as outras dimensões como a econômica, a
ecológica, a territorial e a cultural também percorreram tanto o discurso do MP quanto o
discurso dos especialistas contratados para elaborar o documento.
4.2 Análise dos Planos Básicos Ambientais dos AHE ‘s’
O Projeto Básico Ambiental (PBA) é o documento do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente - IBAMA que consiste em apresentar as orientações para a elaboração dos planos
básicos ambientais apresentados pelos empreendedores dos aproveitamos hidrelétricos. Este
documento consta em anexo à Licença Prévia (LP) 251/2007, concedida em 9 de julho de
2007. As exigências do IBAMA foram estipuladas em 33 condicionantes (LP 251/2007) com
o conteúdo básico dos vários programas de monitoramento, mitigação e manejo social e
ambiental para a garantia da sustentabilidade exigida pelo órgão licenciador para a aprovação
da instalação das usinas hidrelétricas – UHE‘s’ no rio Madeira.
Desta forma, no mês de fevereiro de 2008 os empreendedores apresentaram ao
IBAMA os seus PBA‘s’ baseados nas condicionantes da Licença Prévia – LP 251/2007. Para
caracterizar o discurso de cada empreendimento (AHE Santo Antônio e AHE Jirau), os
documentos dos PBA ‘s’ foram inicialmente analisados de forma separada. Posteriormente
76
buscou-se comparar estes documentos para identificar os padrões discursivos e as respectivas
funções discursivas de cada empreendedor como proposto por Coelho e Godoy (2011).
4.2.1 – Análise do Plano Básico Ambiental (PBA) – AHE Santo Antônio
O projeto hidrelétrico do rio Madeira foi considerado um investimento prioritário no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Neste sentido, a pressão
política sobre o órgão licenciador ocorreu pela aprovação da Licença de Instalação – LI, com
vistas ao cumprimento do cronograma de conclusão do projeto e início das obras em setembro
de 2008.
O plano básico ambiental da usina Hidrelétrica de Santo Antônio foi denominado de
Projeto Básico Ambiental e elaborado pela empresa Madeira S.A em fevereiro de 2008. A
rede da figura 9 foi elaborada para associar os programas do PBA do AHE Santo Antônio às
dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e ainda analisar o contexto do PBA – AHE
Santo Antônio relacionado às condicionantes propostas na LP 251/2007 do IBAMA.
Figura 9 - Análise do PBA do AHE Santo Antônio Energia – SAE.
desmatamento
direto {1-1}
m. sismológico
{1-1}
uso entorno
reservatório {1-1}
m. lençol freático
{1-1}
m. climatológico
{1-1}
macrófitas
aquáticas {1-1}
==
==
==
resgate da fauna
{1-1}
==
Sustentabilidade
ambiental {1-7}
==
SAE - PBA NOTÍCIAS {1-6}
==
==
p. p. arqueológico
{1-1}
==
==
==
c. ictiofauna {1-1}
==
==
p.p pré-histórico e
histórico {1-1}
p. p.
paleontológico {1-1}
==
Sustentabilidade
econômica {1-2}
==
infra-estrutura
afetada {1-1}
==
==
Sustentabilidade
cultural {1-5}
==
ações a jusante
{1-1}
==
==
Sustentabilidade
ecológica {1-12}
==
compensação
ambiental {1-1}
==
==
==
lazer e turismo {1-1}
educação
ambiental {1-1}
==
m. hidrossedim.
{1-1}
==
==
m. hidrobiogeoq.
{1-1}
s. gestão
ambiental {2-1}
m. limnológico
{1-1}
==
==
preservação fauna
{1-1}
p. ambiental de
construção {2-1}
Sustentabilidade
geográfica {1-4}
Compensação
social {1-1}
==
==
==
==
==
Comunicação
social {1-1}
Saúde pública {1-1}
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do software Atlas T.I.
atividade
garimpeira {1-1}
==
Sustentabilidade
social {1-4}
populações
indígenas {1-1}
populações
atingidas {1-1}
77
Em linhas gerais, os programas básicos ambientais elaborados pelo empreendedor no
documento enviado ao órgão licenciador seguiram as condicionantes exigidas pela LP
251/2007. O discurso do empreendedor na elaboração do PBA seguiu o rigor do órgão
licenciador. As denominações dos programas em sua maioria são idênticas às expressões que
identificaram as condicionantes caracterizando que o discurso das empresas aproximou-se do
padrão discursivo do IBAMA.
Diante do contexto global do Projeto Básico, o PBA deveria fornecer detalhes
suficientes para mostrar que todos os programas necessários de monitoramento, mitigação e
minimização de impactos ambientais e sociais relacionados foram totalmente desenvolvidos,
incluindo orçamentos e responsabilidades de implementação, de tal forma que, se a
construção iniciasse em 2008, os melhores resultados para o empreendimento em termos
ambientais e sociais seriam alcançados com pouca ou nenhuma modificação dos programas
propostos. (FARREL, 2008).
Naquele contexto, os 04 volumes do PBA da Madeira S.A. (SAE) apresentaram
referências vagas sobre a possibilidade de desenvolvimento de novos programas futuros de
monitoramento e manejo em longo prazo, tendo em vista que as ações do PBA se encerram
em 2017.
4.2.2 – Análise do PBA da empresa Energia Sustentável do Brasil - ESBR
O processo de elaboração e aprovação do PBA do aproveitamento hidrelétrico de Jirau
foi realizado com vantagem em relação ao PBA do AHE Santo Antônio. O que reforça essa
afirmação é o fato das condicionantes da Licença Prévia 251/2007 do IBAMA fazer
referencia aos 02 empreendimentos, tanto o AHE Santo Antônio quanto o AHE Jirau. Desta
forma os programas básicos ambientais do AHE Jirau foram realizados a partir de um
“extenso” debate realizado anteriormente com os agentes públicos, com os empreendedores e
com a sociedade local.
Das 33 condicionantes estabelecidas na Licença Prévia os empreendedores elaboraram
34 programas básicos ambientais denominados programas socioambientais. Ressalta-se que
os programas socioambientais seguiram a as exigências das condicionantes da LP do IBAMA.
Ao contrário do PBA Santo Antônio Energia, os documentos analisados estão disponíveis no
próprio sitio eletrônico (formato visualização) da Energia Sustentável do Brasil S.A,
atualmente responsável pelo AHE de Jirau.
78
A Usina Hidrelétrica Jirau foi leiloada em 19 de maio de 2008 em pregão realizado
pela ANEEL em Brasília. O Consórcio Energia Sustentável do Brasil, foi formado pelas
empresas GDF Suez Energy South America Participações Ltda (50,1%), Camargo Corrêa
(9,9%), Eletrosul (20%) e Companhia Hidroelétrica do São Francisco - Chesf (20%),
vencedores do leilão pelo preço final de R$ 71,37 por megawatt-hora.
Os programas socioambientais da ESBR empresa responsável pelo aproveitamento
hidrelétrico de Jirau podem ser visualizados na figura 10:
Figura 10 - Análise dos programas socioambientais da UHE Jirau.
P. Conservação
Ictiofauna {1-1}
P. Conservação da
Flora {1-1}
P. Desmatamento
Reservatório {1-1}
==
==
==
P.M. Climatológico
{2-1}
Sustentabilidade
ecológica {11-12}
==
==
==
P.M. Lençol
Freático {2-1}
P.M. Hidrossedim.
{2-1}
P. Educação
Ambiental {1-1}
P.M.C. Macrófitas
Aquáticas {1-1}
P. Compensação
Ambiental {1-1}
==
==
==
==
P.R. Infraestrutura
Atingida {1-1}
==
==
==
Sustentabilidade
geográfica {3-5}
==
==
P.R. Áreas
Degradadas {1-1}
P.A. Comunidades
Indígenas {1-1}
==
==
==
P.M.A. Atividade
Pesqueira {1-1}
==
P. Comunicação
Social {1-1}
P.R. Salvamento
Ictiofauna {1-1}
==
==
==
P.U. Entorno
Reservatório {1-1}
P. Ambiental
Construção {2-1}
==
==
S. Gestão
Ambiental {2-1}
==
==
==
P. Ações a Jusante
{1-1}
Sustentabilidade
social {4-4}
Sustentabilidade
econômica {1-2}
==
Sustentabilidade
ambiental {10-13}
==
==
==
Sustentabilidade
cultural {3-4}
P.M.P.P.I. Encostas
e T. Marginais {1-1}
==
==
==
35:1
==
P.P.S. Patrimônio
Arqueológico {1-1}
P.A.D. Resgate da
Fauna Silvestre {1-1}
PBA - ESBR {1-6}
P.I.M.S.
Paleontológico {1-1}
P.A.A. Lazer e
Turismo {1-1}
P.M. Sismológico
{2-1}
==
==
==
P.M.
Hidrobiogeoq {2-1}
P.M. Limnológico
{1-1}
==
==
P.C. Fauna
Silvestre {1-1}
P.G. Ambiental e
Patrimonial {1-1}
P.G.T.D. Flutuantes
Submersos {1-1}
P.R. Populações
Atingidas {1-1}
P.A.D.M. Atividade
Garimpeira {2-1}
P. Compensação
Social {1-1}
P. Saúde Pública
{1-1}
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do Atlas TI.
A rede foi configurada a partir das dimensões de sustentabilidade propostas por Sachs
(2008) e codificadas nesta pesquisa com o apoio do software Atlas TI.
Conforme disponível no sítio eletrônico da ESBR (2014), os programas
socioambientais da Usina Hidrelétrica Jirau foram formulados por uma equipe de especialistas
multidisciplinares incluindo renomadas universidades, centros de pesquisa e empresas de
consultoria. A consolidação do Projeto Básico Ambiental (PBA), documento que detalha as
ações sociais e ambientais a serem desenvolvidas pela Energia Sustentável do Brasil na região
de implantação do empreendimento, contou com a participação ativa das equipes do IBAMA,
que colaboraram com o envio de importantes recomendações. (ESBR, 2014)
79
Os programas do PBA baseiam-se em princípios essenciais para a Energia Sustentável
do Brasil: equidade, sustentabilidade, eficiência, processo decisório participativo e
responsabilidade social. As ações buscam restaurar os meios de subsistência das populações,
concentrando-se não apenas na mudança física, mas também na recuperação econômica e
social das comunidades. O discurso da ESBR baseia-se no cuidado e no respeito com o meio
ambiente em todas as atividades. (ESBR, 2014).
4.2.3 – Comparação do discurso da SAE e ESBR com base nos PBA’s’
O comportamento dos programas básicos da ESBR seguiu a tendência verificada na
análise do PBA do AHE Santo Antônio. A diferença básica entre os programas de Santo
Antônio e Jirau reside no fato da primeira apresentar 28 programas enquanto a segunda
apresenta 34 programas, ambos com objetivo de responder às condicionantes da LP 251/2007
do IBAMA.
No entanto, os questionamentos, ora pela sociedade civil, ora pelo MP/RO, e exigido
pelas condicionantes do IBAMA caminharam lado a lado do paradigma predominante em
grandes empreendimentos quando da elaboração e aprovação dos PBA‘s’ que foi pela visão –
natureza-economia (discurso tecnocentrado). A análise destes discursos de sustentabilidade
foi construída a partir da figura 11.
Figura 11 - Análise comparativa do discurso da sustentabilidade.
NATUREZA / SOCIEDADE
IBAMA
IBAMA
EMPRESAS
SUSTENTABILIDADE
MP/RO
EMPRESAS
NATUREZA / ECONOMIA
Fonte: Elaborado pelo autor.
Posições discursivas
Posições não discursivas
MP/RO
80
A figura 11 esquematiza as visões de sustentabilidade presentes no discurso dos atores
ESBR e SAE (empresas), Ministério Público Estadual (instituição mediadora) e IBAMA
(órgão licenciador) frente ao PBA‘s’ dos empreendimentos hidrelétricos do rio Madeira.
Neste contexto, os discursos podem ser apropriados aos interesses econômicos dos atores
dominantes, tanto públicos como privados, onde o discurso dos dominados (sociedade e
natureza), é registrado, porém, suprimido pelas vozes do desenvolvimento do país e pela
suposta melhoria da qualidade de vida da população.
Para Bourdieu (1998, p. 23) a diferença se torna signo de distinção se aplicada em
principio de visão e de divisão que é o produto da incorporação da estrutura de diferenças
objetivas.
Através do contexto e, ao relacioná-lo à linguagem, na análise do discurso,
procura-se ainda incorporar todo o universo simbólico que justifica e legitima as ações dos
atores sociais (COELHO, 2012).
Neste contexto, a etapa de licenciamento prévio foi aprovada, porém com todos os
seus paradigmas mal definidos e a sustentabilidade sendo utilizada de forma apenas
discursiva, com programas básicos ambientais enquadrados, mas, desarticulados às dimensões
de Sachs (2008). Desta forma, garantiu o avanço da obra à etapa de licenciamento de
instalação caracterizado pela emissão das Licenças de Instalação – LI do IBAMA que
permitiram o início da construção das usinas hidrelétricas do rio Madeira ainda no ano de
2008.
A usina hidrelétrica de Santo Antônio encerrou o processo de licenciamento prévio em
18 de agosto, data em que foi emitida por um prazo de 04 anos a licença de instalação ao
empreendedor MESA S.A., responsável pelo AHE Santo Antônio. O processo registrado no
IBAMA sob o nº 02001.000508/2008-99 autorizou a construção de uma usina hidrelétrica na
Cachoeira de Santo Antônio, localizada a 7 km de Porto Velho. A LI de nº 540/2008
autorizou mediante o cumprimento das condicionantes em anexo a instalação de um projeto
de potência instalada de 3.150, 40 MW, energia média de 2.200,13 MW, 44 turbinas tipo
Bulbo, barramento com 2538 metros de comprimento e altura máxima de 30 metros.
A Usina Hidrelétrica Jirau é leiloada em 19 de maio de 2008 em pregão realizado pela
ANEEL em Brasília. No mês de agosto de 2008, o consórcio ESBR, recebeu a assinatura do
Contrato de Concessão no Palácio do Planalto e realizaram Reunião Pública no município de
Porto Velho, com participação das comunidades dos distritos de Mutum Paraná, Jaci Paraná,
Embaúba, Abunã, Fortaleza do Abunã, Palmeiral e comunidades ribeirinhas.
De acordo com a notícia veiculada no dia 20/05/2008 no site da ESBR:
81
O consórcio ESBR também cogita a instalação de mais que as 44 turbinas previstas,
ficando com o ganho extra de energia. E para maximizar as vantagens, o consórcio
já anunciou que a hidrelétrica entrará em operação em abril de 2012, oito meses
antes do prazo fixado no edital (janeiro de 2013). Para isso, no entanto, depende de
agilidade do IBAMA na expedição das licenças ambientais. "Queremos dividir em
duas licenças de instalação. Uma para o canteiro, que esperamos seja concedida
ainda em agosto deste ano, para início das atividades.” (ESBR, 2014)
Em 14 de novembro de 2008, foi emitido pelo IBAMA, a Licença de Instalação (LI) nº
563/2008, autorizando a instalação do primeiro Canteiro de Obras do AHE Jirau, para
somente em 03 de junho de 2009, receber a Licença de Instalação (LI) nº 621/2009,
autorizando a implantação do AHE Jirau, com características semelhantes à usina de Santo
Antôno: 44 turbinas tipo Bulbo e capacidade instalada de mais de 3 mil MW, porém com sua
localização distante 120 km de Porto Velho.
4.3. Análise dos releases, notícias, informativos e clipping da SPE/ESBR e da SPE/SAE
A análise de documentos informacionais como release, notícia, clipping e informativo,
mesmo não fornecendo a mesma consistência de documentos institucionais, por exemplo, dos
relatórios de gestão ou relatórios de sustentabilidade, apresentam material de densidade
profunda quando se pretende analisar as características do discurso das organizações, como no
caso deste artigo. Neste sentido estes documentos foram significativos para produzir os
discursos sistematizados em forma de conteúdo conforme descrito no quadro 21.
82
Quadro 21 - Análise do discurso da ESBR e SAE – 2008-2014.
ANO
UHE
2008
ESBR
2009
ESBR
2010
ESBR
2011
ESBR
2012
ESBR
2012
SAE
2013
ESBR
2013
SAE
2014
ESBR
2014
SAE
Características do discurso
Vantagens de custo com leilão do empreendimento transferência de local. Diminuição de custo
de 1 bilhão de reais; BNDES – Obra 75% financiada pelo BNDES.
Sustentabilidade atribuída ao cumprimento dos programas de compensação social e ambiental.
Texto: informar sobre a criação e as ações do comitê de sustentabi- lidade como responsável
pela condução dos 33 programas sócio-ambientais; Investimento em Saúde e Segurança do
Trabalho;
Imagens: evidenciar as entregas das compensações sociais à comunidade.
Informar sobre as ações do observatório ambiental de Jirau em Mutum Paraná. Discurso:
Educação ambiental, cidade sustentável;
Envolvimento da comunidade de Jaci Paraná, Mutum Paraná. Discurso: Entrega de 1300 casas
na comunidade;
Cumprir exigências socioambientais para receber outorga da agencia nacional das aguas:
Populações indígenas são tratadas com indiferença.
Informar sobre saúde. Discurso: Redução da malária com a aplicação de Mild's (equipamento
de proteção a mosquitos), Compensação social em Nova Mutum - intensificação do uso do
Observatório Ambiental Jirau com atividades à comunidade;
Povos indígenas: mesmo padrão discursivo - retratar por obrigação
Informar sobre o inicio do processo de comunicação com as partes interessadas; Parceria com a
UNIR no levantamento da ictiofauna (discurso ecológico) do rio Madeira realizado desde 2009
com a identificação de 970 espécies, 40 novas espécies; Cumprimento do protocolo de
intenções com a prefeitura de Porto Velho via compensações sociais concluídas através de 130
ações, por exemplo, do programa de apoio as atividades produtivas locais, saude publica
através do programa de combate a malaria / economica: desenvolvimento do país através da
geração de energia para mais de 40 milhões de brasileiros.
Informar sobre saúde. Discurso: Redução da malária com a aplicação de Mild's, compensação
social em Nova Mutum; Programa de comunicação sócial. Discurso: Divulgar o andamento da
obra (economico); Programa de geração de renda a partir de área de preservação permanente –
APP e reserva legal; Ações ligadas à Coopjirau como espaço de integração de saber ambiental
e eventos culturais ligados a musica, teatro e dança com temas ambientais; Programa
patrimônio arqueológico;
Informar sobre valores investidos na execução da obra (16 bilhoes de reais); Valores gastos
com compensações sociais (1,6 bilhão de reais). Presença por mais de 35 anos na região
através do empreendimento e apoio as populações locais; Importância do estudo ictiológico no
rio Madeira; Autorização da ONU através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL
para gerar créditos de carbono; Apoio as atividades produtivas rurais e urbanas reassentamento rural mais humano com produção de alimentos e venda em feiras livres
organizadas com o apoio da SAE; Programa de apoio as populações indígenas através da
significativa (50%) diminuição dos casos de malária entre as populações indígenas com
entrega de mais de 30 mil Milds; Assinatura do documento com ações a ser desenvolvidas
com os povos Karipuna, Karitiana e Cassupá e também com a Fundação Nacional do Índio
(Funai) Qualificação da mão-de-obra local (comunidade) em turismo - práticas discursivas e praticas
não discursivas em consonância; Responsabilidade social; Parceria com o Senai na contratação
de estagiários vários setores. Entrega de escolas, creches, postos de saúde, infraestrutura
urbana através de compensações sociais; Discurso de isenção de responsabilidades frente aos
impactos socioambientais causados pela enchente; Ações de filantropia para os desabrigados
com doações de alimentos.
Informar sobre o Programa de preservação do patrimônio histórico com apoio a revitalização
do complexo estrada de MadeiraMamoré; Conservação da ictiofauna; Resgate da fauna (24
mil animais silvestres) no periodo de 2008 a 2011; Lançamento do livro "Peixes do Madeira"
resultado da execução do PBA; Sustentabilida-de do empreendimento e das parcerias com
instituições de ensino e pesquisa da UNIR e comunidades; Geração de energia no pós enchente
com isenção de responsabilidade sobre os impactos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
83
A construção do discurso organizacional da SPE/ESBR e SPE/SAE que data do
período em que os documentos encontraram-se disponíveis (2008 a 2014) foi caracterizada a
partir das posições discursivas, configurações narrativas e espaços semânticos que foram
guiados pelas dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e pelos paradigmas de Gladwin,
Kenelly e Krause (1995) conforme visualizado na representação gráfica da figura 12.
Figura 12 – Construção do discurso em release, informativo, clipping e notícias
da SPE/ESBR e SPE/SAE
Fonte: Elaborado pelo autor.
Do lado das dimensões de Sachs (2008) o que se observou na evolução longitudinal de
2008 a 2009 foi um discurso de sustentabilidade guiado pela dimensão econômica devido à
necessidade da empresa ESBR justificar a sua existência enquanto organização constituída
para propósito de construção da UHE Jirau e futura geração de energia. Além disso, esta
dimensão é caracterizada pela necessidade de desenvolvimento do país através da geração de
energia hidrelétrica. Em relação ao PBA as organizações tiveram que apresentar e iniciar a
84
sua execução que foram disponibilizados em releases, clippings e notícias nos anos seguintes.
Por consequência, o paradigma de sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) que
predominou foi o tecnocentrado.
Em função da necessidade de manutenção da licença de construção e da licença de
instalação da ESBR o período de 2010 a 2011 foi caracterizado pela divulgação do
cumprimento das exigências do PBA representado pelas compensações sociais e ambientais
por parte da ESBR. Neste sentido, naturalmente, o que se observou foi um aumento no
volume de documentos publicados que, além da dimensão econômica foi constituído das
dimensões social, ambiental e territorial que garantiram ao empreendedor uma melhor
aproximação paradigmática centrada na sustentabilidade. O trecho discursivo de 02/02/2011
da ESBR ilustra esta aproximação: “Hoje esse é o nosso maior desafio, com objetivo de
concluir a construção da barragem e gerar energia limpa em Jirau” [...]. Neste sentido diversas
imagens foram produzidas para acompanhar tanto os relatórios de compensações quanto
notícias, releases e clippings veiculados pela ESBR a cada ano como pode ser observado na
figura 13.
Figura 13 - Imagens-fotografias das entregas de compensações sociais – ESBR.
Fonte: Boletim Especial das Compensações Sociais da UHE Jirau (2010, p. 1-7)
Vale ressaltar que do ano de 2008 a 2011 não foram localizados documentos
disponíveis no site da SPE/SAE sendo possível analisá-los somente a partir de 2012.
Em 2012 observou-se que ambas as empresas divulgaram documentos baseados no
PBA caracterizados por todas as dimensões de sustentabilidade, no entanto, foi verificado que
85
a ênfase em termos de paradigmas esteve mais ao lado do ecocentrismo. Esta característica
deu-se em função dos programas de resgate da fauna silvestre, monitoramento ictiológico
baseado principalmente no mapeamento das espécies de peixes do rio Madeira (SAE). Pelo
lado da ESBR, a veiculação de notícias referentes ao programa de educação ambiental
desenvolvido principalmente nas comunidades de Mutum Paraná e Jaci Paraná a partir da
criação da COOPJIRAU.
As análises dos documentos tanto da SPE/SAE quanto da SPE/ESBR de 2013 a 2014
foram caracterizadas por uma padronização no discurso baseado nas dimensões de
sustentabilidade, por exemplo, na posição discursiva (quem fala) dos diretores das empresas
que se comprometeram a atuar orientado pela visão de sustentabilidade nos próximos 35 anos,
período legal em que as empresas devem permanecer nos empreendimentos. Outro discurso
padronizado pela SAE e ESBR foi a conquista do registro na Organização das Nações Unidas
(ONU) no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Neste sentido, o
discurso organizacional da ESBR apresentou características muito semelhantes ao discurso da
SAE. Por exemplo, no tocante ao programa de apoio às comunidades indígenas, o discurso é
quase inexistente. Ao destacar o andamento (execução) da obra, tanto por parte da ESBR
quanto por parte da SAE verificou-se que esta temática é mais importante que informar sobre
as demais ações das usinas. Falar da grandiosidade da obra é uma característica semelhante
nos discursos organizacionais, sempre homologados por agentes externos e, principalmente,
pelas lideranças da empresa.
No ano de 2014, (contexto da enchente histórica) as empresas assumiram no espaço
semântico (de que se fala) uma configuração narrativa (o que está em jogo) como se não
existisse nenhum dano à comunidade local, regional e internacional e se os mesmos se
constatassem, não assumiria sua posição discursiva (quem fala) diante da situação caótica, se
orientando somente por decisões judiciais. O que se observa é que as empresas não fizeram
questão de reconhecer publicamente sua participação no contexto social e ambiental do rio
Madeira, apenas noticiando sobre a geração de energia elétrica que está alinhado à dimensão
econômica da sustentabilidade.
Além do contexto da enchente histórica 2014, tanto SAE quanto ESBR prosseguiram
veiculando informações nos seus respectivos canais de imprensa, por exemplo, o lançamento
do livro Peixes do Madeira (parceria entre SAE e Universidade Federal de Rondônia –
UNIR). Logo, do ponto de vista dos paradigmas de sustentabilidade percebeu-se uma
evolução em 2013 para um discurso centrado na sustentabilidade de ambas as empresas,
porém, os pouquíssimos documentos veiculados em 2014, evidenciaram que a SAE tentou
86
manter uma postura atuante no sentido da sustentabilidade enquanto a ESBR retornou à sua
função discursiva de 2008 a 2009, onde predominou o paradigma tecnocentrado guiado pelos
interesses econômicos dos seus acionistas.
Diante da análise de release, informativo, clipping e notícias empreendidas
depreendeu-se que a posição discursiva (quem fala) é representada principalmente pelos
diretores das organizações, pelos seus funcionários e pela comunidade através dos ribeirinhos
e sociedade em geral, permanecendo excluído o posicionamento discursivo dos povos
indígenas.
O espaço semântico foi orientado nestes documentos pela necessidade de tornar
público o cumprimento do PBA cujos programas de compensações sociais e compensações
ambientais são baseadas em dimensões da sustentabilidade de Sachs (2008) e os paradigmas
da sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995).
A principal configuração narrativa (o que está em jogo), objetivo deste estudo que é a
sustentabilidade continua imiscuída nas práticas discursivas e não discursivas (atos materiais)
das organizações SPE/ESBR e SPE/SAE, sendo que esta última mesmo ao apresentar uma
plataforma de informação (canal de imprensa) menos estruturada que a primeira, tem se
esforçado mais no sentido da sustentabilidade, principalmente da visão sociedade-natureza.
4.4 Análise dos Relatórios de Sustentabilidade
Algumas pesquisas já foram realizadas com relatórios de sustentabilidade no Brasil. A
análise destes relatórios a partir da ASD foi realizada em usinas hidrelétricas por Coelho
(2012) na empresa Tractebel Energia S.A. que, inclusive, é integrante do grupo GDF SUEZ,
maior acionista da UHE Jirau, denominada Energia Sustentável do Brasil (ESBR).
Para Coelho (2012, p. 170), esta análise dos Relatórios de Sustentabilidade vai ao
encontro dos dizeres de Voltolini (2009) ao revelar que, uma leitura minuciosa de tais
relatórios reserva-se àqueles que a fazem por motivos profissionais; surgem ainda os que
preferem não ler esses relatórios alegando que os textos não despertam interesse; outros
julgam que os relatórios se tornaram enigmáticos pela excentricidade ou que são apenas autoelogiosos, com o intuito de destacar práticas com as quais as organizações almejam ser
percebidas.
As observações de Coelho (2012) foram verificadas nas análises das noticias, releases,
clipping e programas básicos ambientais realizados nos itens anteriores desta dissertação.
Além disso, não foram encontrados relatórios de sustentabilidade no site oficial ESBR e da
87
SAE. Logo, como estratégia complementar às análises já realizadas, analisou-se também os
relatórios de sustentabilidade das empresas integrantes das usinas hidrelétricas em construção
no rio Madeira. Estas empresas também participam em outros empreendimentos específicos,
muitos destes já consolidados. Logo, os documentos analisados foram utilizados para
obtenção de resultados que representassem o contexto das usinas do rio Madeira, como
proposto pela escola de ASD (ALONSO, 2008).
Pelo lado da SAE foram analisados os relatórios das empresas Furnas, CEMIG e
Odebrecht. Do lado da ESBR a análise percorreu os relatórios de sustentabilidade da GDF
Suez – Tractebel e sistema Eletrobrás (Eletrobrás, Chesf e Eletrosul).
4.4.1 SAE - Furnas Centrais Elétricas – 2009 a 2013
Criada em 28 de fevereiro de 1957, Furnas é uma sociedade anônima de economia
mista, de capital fechado, que atua em geração, transmissão e comercialização de energia
elétrica, em 15 Estados e no Distrito Federal. Tem como principal acionista a Centrais
Elétricas Brasileiras S/A – Eletrobrás. |GRI 2.1, 2.5, 2.6| (Furnas-RS, 2013, p. 18).
De acordo com a empresa, sua operação é mantida por uma estrutura pela qual passa
mais de 40% de toda a energia consumida pelos brasileiros, garantindo o fornecimento
energético a uma região que concentra 63% dos domicílios e 81% do PIB do País. Composto
por 17 usinas hidrelétricas (nove próprias, duas em parceria com a iniciativa privada e seis
sob a forma de Sociedades de Propósito Específico – SPEs), três parques eólicos em SPEs e
duas térmicas convencionais, totalizando 12.827,5 MW de potência instalada, sendo que a
parcela de Furnas corresponde a 10.366 MW. No segmento de transmissão, são 63
subestações, com capacidade de transformação de 109.865 MVA, e cerca de 24 mil
quilômetros de linhas de transmissão, dos quais 19.868 km correspondem à parcela de Furnas.
Ao final de 2013, o número de empregados era de 3.547 empregados efetivos e 1.339
contratados. |GRI 2.2, 2.3, 2.7, 2.8| (Furnas-RS, 2013, p. 18). Até 2018, será acrescentado
6.332 MW de capacidade instalada ao Sistema Elétrico Brasileiro com a entrada em operação
das próximas unidades geradoras da UHE Santo Antônio e a construção de mais três novas
usinas hidrelétricas e 48 parques eólicos, com investimentos próprios e em parceria. Além
disso, a empresa participa da construção de 20 subestações (novas e ampliações) e de mais de
2 mil quilômetros de novas linhas de transmissão. No contexto das usinas do rio Madeira,
ressalta-se que a UHE Santo Antônio é considerada por Furnas como uma “gigante” do
segmento hídrico que já se encontra em fase de motorização. (Furnas-RS, 2013, p. 18).
88
O discurso de Furnas de 2009 a 2013 está sintetizado no quadro 22.
Quadro 22 - Análise do discurso nos relatórios de Furnas de 2008-2014.
ANO
Empresa
2007
Furnas
Sem informações disponíveis na fonte pesquisada.
Dimensões de
sustentabilidade /
Paradigmas
-
2008
Furnas
Sem informações disponíveis na fonte pesquisada.
-
2009
Furnas
2010
Furnas
2011
Furnas
2012
Furnas
2013
Furnas
2014
Furnas
Características do discurso
Informar: Tema do Relatório Socioambiental: "O Fio Que Nos
Une"; Desenvolvimento do país e da região; Investimento em
empregos diretos e indiretos, preocupação no gerenciamento do
projeto UHE SAE, total geração de energia em 2015; PBA como
promotor de sustentabilidade organizacional, afirmação de
monitoramento da qualidade da agua do reservatório (programa
limnológico) tomado emprestado da SAE (não fica claro de quem é
a responsabilidade, como se fosse um produto que pode ser tomado
emprestado para fins de elaboração e divulgação de relatório).
Informar: ênfase no tema: "O Fio Que Nos Une" - fortalecer o meio
ambiente através do desenvolvimento econômico do país e da
Amazônia.
Informar: ênfase no tema "O Fio Que Nos Une", imagens que
simbolizam a presença do desenvolvimento (maquinas pesadas e
usina em funcionamento); Imagens ilustrando a responsabilidade
ambiental (execução do programa de resgate de animais silvestres) viveiro de mudas para reflorestamento, ribeirinhas (mulheres)
trabalhando com artesanato simbolizando a responsabilidade social
com as populações afetadas.
Informar: Imagens que simbolizam a presença do desenvolvimento
(maquinas pesadas - grande porte) - e a comporta da usina aberta
em pleno funcionamento / ambiental: imagens ilustrando a
responsabilidade ambiental.
Informar: retrospectiva da empresa nos últimos anos, potencial
gerador de energia, imagens da obra em execução e operação.
Sem informações na fonte pesquisada
Econômica –
Tecnocentrado.
Econômica,
ambiental, social.
Tecnocentrado.
Econômica,
ambiental, social,
ecológica –
Tecnocentrado.
Econômica –
Tecnocentrado.
Econômica –
Tecnocentrado.
-
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em 2008 não foi identificados relatórios socioambientais ou de sustentabilidade no
sitio eletrônico de Furnas. Já em 2009, o Relatório Socioambiental elaborado por Furnas
destaca que desde 1992, a empresa apresenta índices de confiabilidade de 99,99%, sendo uma
das melhores empresas do setor. Sua gestão da qualidade conquistou certificações
internacionais e premiações. A empresa realizou estudos para avaliar a viabilidade técnica e
econômica de incrementar a motorização da empresa Santo Antônio Energia S.A., no rio
Madeira (RO), com vistas a agregar energia assegurada ao empreendimento (Furnas Relatório Socioambiental 2009, p. 15).
Alguns trechos discursivos foram extraídos do RS-Furnas 2009 cujo padrão aproximase ao padrão discursivo identificado na empresa SAE (Furnas, 2009, p. 93):
89
 Em todos os seus projetos, FURNAS desenvolve vários programas para prevenir,
mitigar, controlar ou compensar os efeitos ambientais causados por suas atividades e
preservar a biodiversidade dos ecossistemas em suas áreas de atuação. Na UHE Santo
Antônio não poderia ser diferente;
 O Projeto Básico Ambiental – PBA prevê o investimento de R$ 800 milhões em 28
programas que vão desenvolver 48 ações para minimizar os impactos da construção da
hidrelétrica;
A crescente demanda por recursos hídricos coloca as hidrelétricas em lugar central
com relação ao gerenciamento dos usos múltiplos de seus reservatórios, como também das
respectivas bacias de drenagem como unidade de gestão ambiental. Portanto, mais do que
uma responsabilidade. Neste sentido o discurso de Furnas se configura pela conservação da
água como um importante patrimônio organizacional. A empresa afirma que executa
programas de monitoramento limnológico e da qualidade da água em todos os seus
reservatórios em operação, por meio de campanhas periódicas (bimestrais ou trimestrais), em
uma ampla rede amostral, cobrindo a extensão de cada reservatório, assim como alguns
pontos nas respectivas cabeceiras.
Nos empreendimentos em construção, são realizados monitoramentos com uma
frequência maior (periodicidade mensal), visando o registro das características naturais e
variações sazonais das drenagens e da qualidade de água antes da construção da barragem.
Um momento importante, e também estudado mensalmente, é o registro das alterações no
ambiente ocorridas durante a etapa de enchimento do reservatório (Furnas, 2009, p. 99).
Flavio Decat de Moura – diretor presidente discursou em prol do lema "O FIO QUE
NOS UNE" como principal marca de Furnas em termos de sustentabilidade. Assim, “gerar e
transmitir energia em bases sustentáveis representa um enorme desafio que FURNAS
enfrenta, renovando a cada ano seu compromisso com o desenvolvimento do País, e criando
as bases para a empresa que pretende ser nas próximas décadas”. (FURNAS-RS 2010, p. 4)
Em 2010 o tema “O FIO QUE NOS UNE” foi mantido e indicou um padrão
discursivo que percorreu os anos de 2011, 2012 e 2013.
No âmbito do Plano de Transformação da Eletrobrás, os presidentes de todas as
empresas do sistema reafirmaram seu compromisso com a sustentabilidade ao firmarem o
Pacto de Furnas com metas de aperfeiçoamento do desempenho nas dimensões econômicofinanceira, social e ambiental o que alinhou o discurso organizacional às “dimensões” de
Pearce (1993) e Sachs (1993; 2002).
90
Da dimensão econômica como discurso dominante destacou-se pela empresa que a
sustentabilidade é obtida com trabalho que alinha diálogo, parceria e desenvolvimento. Este
discurso alinhou-se as metas do Governo Federal de “fortalecer a proteção ao meio ambiente,
reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo,
mantendo a vanguarda nacional na produção de biocombustíveis e desenvolvendo nosso
potencial hidrelétrico” (Furnas, 2010).
No contexto das UHEs do rio Madeira, Furnas alinhou seu discurso ao discurso do
governo federal no sentido da continuidade ao seu projeto de expansão e comprometimento
com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pela construção de 03 novas usinas
hidrelétricas, entre elas, a UHE Santo Antônio (RO), em Sistema de Propósito Específico
(SPE).
O discurso da sustentabilidade ambiental também foi notado como característica
presente no RS 2010 de Furnas através do trecho discursivo [...] Gerar energia na Amazônia,
região que ainda depende fortemente de unidades térmicas à base de óleo diesel, contribuirá
para que o País reduza as emissões de gases de efeito estufa (Furnas, 2010, p. 4).
Na área da Responsabilidade Social, a empresa Furnas participou do processo de
elaboração da norma internacional ISO 26.000, publicada em novembro de 2010. Seu
principal discurso baseou-se em transformar em práticas consistentes sua adesão aos
Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa do Pacto Global e do Fundo de
Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e ao Compromisso Corporativo no
Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
O Relatório Socioambiental - Furnas 2010, (“O Fio Que Nos Une”), foi destaque em
três das seis categorias na segunda e última fase do GRI Readers’ Choice Awards 2010,
organizado pela Global Report Initiative, em Amsterdã, Holanda. O relatório foi considerado
o 3º melhor na categoria “Relatório Mais Efetivo”, 4º melhor na categoria “Sociedade Civil” e
4º melhor na categoria “Escolha dos Leitores GRI”. Mais de 2 mil publicações entraram na
competição e 1.100 receberam votos dos leitores (Furnas, 2010, p. 19).
As imagens-fotografias contidas no Relatório Socioambiental Furnas – 2010 também
foram utilizadas para caracterizar o discurso da empresa. Algumas delas retrataram o contexto
da UHE Santo Antônio em construção no período 2009, 2010 e 2011 no rio Madeira que
podem ser visualizadas na figura 14.
91
Figura 124 – RS Furnas 2009 / 2010 / 2011 – O Fio Que Nos Une.
FURNAS 2009/2010
FURNAS 2011
Fonte: Furnas – Relatório de Sustentabilidade, 2009, p. 99; 2010, p. 04-05-20-22-27-33; 2011, p. 82-182-196199.
As imagens do RS Furnas 2009/2010 foram dispostas para simbolizar o tema proposto
pela empresa. Do lado esquerdo superior a imagem de um rio límpido, não poluído,
significando o meio ambiente preservado. Ainda do lado superior duas crianças felizes,
sorrindo, simbolizando a responsabilidade social que vai além da responsabilidade com os
funcionários da empresa, se estendendo às comunidades locais onde os empreendimentos são
instalados. Entre as crianças e o rio, a torre de transmissão em meio ao horizonte do por do
sol, onde os fios de alta tensão, de forma suave harmonizam a natureza e a pessoas. Na parte
inferior da figura 14, do lado esquerdo, são retratadas etapas da execução da obra UHE Santo
Antônio nos seus estágios iniciais. Os trabalhadores uniformizados, usando equipamentos de
segurança em meio a gigantescos equipamentos em construção às margens do rio Madeira. Na
parte inferior da figura afirma-se a necessidade do desenvolvimento econômico
(sustentabilidade econômica) para a manutenção de serviços ecológicos, ambientais e sociais.
O RS de 2011 de Furnas apresentou algumas imagens-fotografias que já haviam sido
utilizadas no RS 2010 da mesma empresa. Além disso, outras imagens podem ser vistas como
descontínuas da posição discursiva defendida pela empresa. Na parte superior da imagem uma
retroescavadeira (maquina pesada) carregando uma caçamba (veículo pesado) com o por do
sol ao fundo, simbolizando a harmonia entre o desenvolvimento e o meio ambiente. Ao lado,
ainda na parte superior mais à direita, a UHE apresenta seus primeiros sinais de
funcionamento (geração de energia) com suas comportas em funcionamento, revelando a
força das aguas do rio Madeira para gerar energia, e desenvolver economicamente a região de
Porto Velho/RO. Entre estas imagens, no centro, moradoras ribeirinhas da Vila de Teotônio
92
desenvolvem trabalhos artesanais que simboliza a aproximação de FURNAS junto às
comunidades ribeirinhas das áreas afetadas pela obra.
O RS 2011 de FURNAS apresentou através da figura 14 no centro direito o sumário
do documento dedicado a mostrar a UHE Santo Antônio em funcionamento dentro da
normalidade a montante da barragem. Esta imagem leva crer que as comportas estão abertas
em função do grande volume de agua em épocas de cheia do rio Madeira como observado,
especificamente em 2014 (cheia histórica), com a intervenção da ANEEL ao exigir que a
UHE Santo Antônio liberasse suas comportas e deixasse o rio correr livremente.
A escola de ASD orienta que o analista do discurso que faz uso deste método procure
captar o que as imagens não mostram em uma primeira análise, porém, devido a real
representação (aquilo que não se quis mostrar) da imagem precisa ser analisado. Isto foi
percebido nas fotos inferiores logo abaixo do sumário desta imagem. Ao apresentar o trabalho
no Centro de Animais Silvestres da UHE SAE, a primeira impressão leva a crer que os
animais resgatados foram salvos pela empresa de forma planejada e ambientalmente correta.
O leitor não visualiza nenhum texto associado à imagem porque o objetivo desta última é de
simbolizar a boa ação da empresa com o programa de recuperação de animais silvestres ao
devolvê-los à natureza. As fotografias revelam que os animais estão assustados, denunciando
a forma como o desequilíbrio ecológico ocorre nas etapas de construção das barragens e
enchimento dos reservatórios. Em relação a não associação de textos às imagens ilustrativas, a
imagem do viveiro de mudas da UHE Santo Antônio é usada na mesma direção dos animais
silvestres apresentam apenas uma indicação com o nome do empreendimento “UHE Santo
Antônio (RO)”.
A empresa Furnas passou em 2011 a elaborar relatórios de sustentabilidade em
substituição aos relatórios socioambientais onde reafirmou seu alinhamento com a Global
Report Intitiative – GRI. Neste ano, o RS de Furnas no contexto da UHE Santo Antônio
posicionou-se discursivamente por maior ênfase no empreendimento do rio Madeira tanto em
forma textual quanto em imagens. Da análise textual o principal discurso faz parte da
apresentação do relatório por parte do Diretor-Presidente da Empresa, Flávio Decat de Moura
e é voltado para a divulgação da SAE (Furnas, 2011, p. 13).
Trecho discursivo 1 - [...] Para tanto, a empresa conclui grandes empreendimentos:
[...] em parceria, como a Hidrelétrica de Santo Antônio, que vai gerar energia para cerca de 25
milhões de pessoas e cujo modelo de sustentabilidade foi destaque no 6º Fórum Mundial da
Água, realizado em março deste ano, em Marselha, na França.
93
Trecho discursivo 2 – No final de 2011, as mulheres já ocupavam 14% das funções
gerenciais. “São gerentes e superintendentes, e, desde agosto de 2011, pela primeira vez, uma
mulher assumiu uma das diretorias de Furnas”.
Trecho discursivo 3 – “Todas as ações socioambientais empreendidas durante o ano
refletem a adesão da empresa aos princípios do Pacto Global da ONU, do qual FURNAS é
signatária desde 2003. [...] A empresa que todos nós queremos está em construção”. Trecho
discursivo 4 – “Viva FURNAS!”.
Os trechos discursivos identificam a posição discursiva de Furnas em 2012.
Trecho discursivo 1 - No período, o orçamento de investimentos, de R$ 2,63 bilhões,
foi o maior dos últimos 12 anos, tendo sido executado em percentual de 91%. Foram
investidos R$ 665 milhões em reforço, manutenção e implantação de novos empreendimentos
de transmissão, corporativos e em parceria, com destaque para a Interligação Elétrica do
Madeira, que transmitirá a energia gerada pelas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Outros
R$ 265 milhões foram investidos em meio ambiente e infraestrutura. O parque gerador
recebeu cerca de R$ 1,7 bilhão, destacando-se as parcerias nas usinas hidrelétricas Santo
Antônio e Teles Pires e as conclusões de importantes empreendimentos corporativos, como as
hidrelétricas de Simplício e Batalha. (Furnas – RS 2012, p. 5).
Trecho discursivo 2 - Dotada de um diversificado parque gerador, Furnas opera e
mantém oito usinas hidrelétricas e duas usinas termelétricas, das quais possui a concessão
integral, totalizando 8.137 MW de capacidade instalada [...]. Furnas participa, também, de
Sociedades de Propósito Específico (SPEs) (GRI 2.3) para a construção, operação e
manutenção de usinas hidrelétricas e parques eólicos. São cinco usinas já em operação, com
capacidade instalada total de 1.742 MW. Em construção, são duas usinas hidrelétricas (Santo
Antônio e Teles Pires), com capacidade total planejada de 4.970 MW [...] (Furnas, 2012, p.
27).
Trecho discursivo 3 - Nos próximos anos, Furnas contribuirá para o aumento da
capacidade instalada do Sistema Elétrico Brasileiro, agregando 5.215 MW com a entrada em
operação de mais unidades geradoras da UHE Santo Antônio, com o início da operação
comercial das UHEs Simplício e Batalha, e com a construção da UHE Teles Pires e de 17
parques eólicos. Atualmente, a empresa está envolvida com quatro empreendimentos de
geração hidráulica, com investimento aproximado de R$ 23 bilhões [...] (Furnas, RS 2012, p.
28).
Trecho discursivo 4 - A matriz elétrica de Furnas é predominantemente renovável.
Mais de 90% da capacidade instalada, considerando a parcela de participação da Empresa nas
94
parcerias e em SPEs, é constituída por usinas hidrelétricas. Em 2012, mais de 98% da energia
foi produzida pelas usinas hidrelétricas. A tendência de crescimento da matriz limpa para os
próximos anos é reforçada pela perspectiva de entrada em operação de mais três usinas
hidrelétricas, de outras máquinas geradoras da UHE Santo Antônio e de 17 parques eólicos
(Furnas, 2012, p. 29).
As imagens-fotografias contidas e analisadas no relatório de 2012 vão de encontro ao
que foi observado no seu texto documento. A principal característica da ASD das imagens, no
contexto do rio Madeira – UHE Santo Antônio é de informar que a obra seguiu no ritmo
proposto pelo PAC. Além disso, observou-se o interesse de Furnas em mapear sua rede de
transmissão de energia com destaque para o estado de Rondônia onde está o empreendimento
analisado. Esta análise pode ser percebida na figura 15.
Figura 15 - Furnas: Desenvolvimento econômico - RS 2012.
Fonte: Furnas - Relatório de Sustentabilidade, 2012, p. 26-48-133-134-151.
A fotografia superior esquerda e superior direita apresenta de um lado a obra em
andamento, e de outro, a transmissão de energia através de linhões e torres de transmissão. No
centro da figura 15 encontra-se o desenho da rede do sistema de geração e de transmissão de
95
energia operado por Furnas em nível nacional. O estado de Rondônia foi destacado de forma a
evidenciar o potencial gerador da UHE Santo Antônio. A parte inferior da esquerda e inferior
da direita evidenciam as relações com os fornecedores de Furnas. Entre 2012 e 2013, 16 das
50 unidades geradoras da UHE Santo Antônio entraram em operação, agregando 1.128,2 MW
ao parque gerador da empresa. Com isso, a empresa contribuiu com aproximadamente 9,3%
da expansão de capacidade verificada no setor elétrico no ano, que foi de 5.600 MW, segundo
dados da Aneel (Furnas, 2013, p. 27).
O conteúdo do Relatório de Sustentabilidade de Furnas em 2013 ressaltou de forma
retrospectiva como a empresa tem se posicionado frente aos seus stakeholders. Furnas
declarou publicar anualmente (desde 1998), um relatório com os principais acontecimentos da
empresa e seus resultados econômicos, sociais e ambientais. Desde 2004, o documento segue
as diretrizes da GRI (Furnas, 2013, p. 11).
Em parceria com empresas estatais e/ou privadas Furnas tem participação, em
empreendimentos de geração e transmissão que contribuem para o aumento da oferta de
energia elétrica no País.
De acordo com Furnas, em 2013, a empresa gerou 35.371 GWh de energia,
considerando os empreendimentos próprios, em parceria e com SPEs, o equivalente a 6,7% da
geração total brasileira – sendo 92,7% de fonte hidráulica e 7,3% de térmicas. O desempenho
operacional da empresa tem sido alcançado em função do seu mix de produtos e serviços,
onde predomina a geração a partir da matriz hidrelétrica. Furnas destacou no RS 2013 o
Linhão do Madeira, maior tronco de transmissão de interligação de usinas já construído no
Brasil, que transporta até São Paulo a energia gerada pelas UHEs Santo Antônio e Jirau,
localizadas no Rio Madeira, em Rondônia. (Furnas, 2013, p. 34). Esta rede de transmissão
denominada Coletora Porto Velho-Araraquara II é fruto de parceria entre Furnas (24,5%),
Chesf (24,5%) e CTEEP (51%), na SPE Interligação Elétrica do Madeira S.A., com 2.375 km
(Furnas, 2013, p. 34).
Diante do contexto analisado, o discurso que predominou no relatório foi baseado na
participação de Furnas no empreendimento UHE Santo Antônio, cuja participação é de 39%
do empreendimento que vai gerar 3150 MW quando estiver em pleno funcionamento. O
discurso Furnas vai de encontro à dimensão econômica da sustentabilidade. As demais
dimensões de sustentabilidade observadas no RS 2013 foram relacionadas ao contexto de
outros empreendimentos, que, em sua maioria, já se encontrava em pleno funcionamento. As
imagens-fotografias apresentadas deste relatório, (contexto UHE Santo Antônio), também
96
retrataram o ambiente operacional da etapa de construção de civil, montagem mecânica e
geração de energia, conforme apresenta a figura 16.
Figura 16 – Furnas – Obra em andamento x montagem x operação - RS 2013.
Fonte: Furnas - Relatório de Sustentabilidade, 2013, p. 32-54-86-88.
Todas as imagens retrataram fielmente o discurso organizacional de FURNAS em
2013. A perspectiva econômica é latente no contexto do rio Madeira, especificamente a UHE
Santo Antônio.
Desta forma deu-se a análise dos relatórios de sustentabilidade de FURNAS cuja
característica principal é o desenvolvimento econômico, representado nesta pesquisa pelo
paradigma tecnocentrado (Gladwin, Kenelly, Krause, 1995) e pela sustentabilidade
econômica (SACHS, 1993; 2002; 2007; 2008) que são homologados pela visão institucional
(MEBRATU, 1998) capitaneada por organismos internacionais que geralmente adota uma
posição discursiva pela sustentabilidade em todas as suas dimensões, porém suas práticas
discursivas (LEFF, 2008) são orientadas para o cumprimento de metas financeiras e
econômicas que governam as organizações sejam públicas ou privadas.
4.4.2 SAE - CEMIG - 2008 a 2013
97
A CEMIG divulgou em seus Relatórios de Sustentabilidade 2008, 2009, 2010 e 2011 a
participação no consórcio Madeira Energia (como era denominado inicialmente). O discurso
predominante nestes anos foi relacionado às ações socioambientais necessárias à implantação
da usina Santo Antônio através dos programas de conservação da flora, resgate da fauna,
programas de monitoramento da ictiofauna, ações de comunicação e programas sociais, entre
outros. Além disso, a Cemig enfatizou sua participação no empreendimento com a parcela de
10% do empreendimento (CEMIG, 2008, p. 50).
O discurso da CEMIG de 2009 a 2013 está sintetizado no quadro 23.
Quadro 23 - Análise do discurso nos relatórios da CEMIG de 2008-2014.
ANO
Empresa
2007
CEMIG
2008
CEMIG
Características do discurso
Sem informações disponíveis na fonte pesquisada.
Informar: Participação acionária de Furnas no empreendimento
UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna,
programas de monitoramento da ictiofauna / social: ações de
comunicação e programas sociais.
Informar: Participação acionária de Furnas no empreendimento
UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna,
programas de monitoramento da ictiofauna / social: ações de
comunicação e programas sociais.
Informar: Participação acionária de furnas no empreendimento
UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna,
programas de monitoramento da ictiofauna; Ações de comunicação
e programas sociais; Reassentamento de populações atingidas.
Informar: Participação acionária de furnas no empreendimento
UHE SAE, programas de conservação da flora, resgate da fauna,
programas de monitoramento da ictiofauna; Ações de comunicação
e programas sociais; Reassentamento de populações atingidas.
Informar: Programa Acreditar - capacitação de 42446 alunos dos
quais 29965 foram contratados. Este programa pertence a
Odebrecht.
Informar: Programa Acreditar - capacitação de 42446 alunos dos
quais 29965 foram contratados. Este programa pertence a
Odebrecht.
Sem informações na fonte pesquisada
2009
CEMIG
2010
CEMIG
2011
CEMIG
2012
CEMIG
2013
CEMIG
2014
CEMIG
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dimensões de
sustentabilidade /
Paradigmas
Econômica,
ecológica, ambiental,
social – Ecocentrico.
Econômica,
ecológica, ambiental,
social – Centrado na
sustentabilidade.
Econômica,
ecológica, ambiental,
social – Centrado na
sustentabilidade.
Econômica,
ecológica, ambiental,
social – Centrado na
sustentabilidade.
Econômica, social,
ambiental –
Tecnocentrico.
Econômica, social,
ambiental –
Tecnocentrico.
-
Ao tratar da dimensão sociedade no RS 2010, a CEMIG, declarou que o
reassentamento das populações atingidas pela UHE SAE tratava de uma etapa em fase de
conclusão com 1.356 propriedades e população de 1.720 famílias sendo realocadas
(reassentadas) via alternativas de remanejamento discutidas e ajustadas com a população. O
discurso da empresa baseou-se na defesa das alternativas de pagamento de indenização em
98
pecúnia, reassentamento em loteamentos rurais, em lotes de 50 hectares, com casa, água,
energia elétrica, estradas e equipamentos comunitários e públicos. Logo, a empresa afirmou
que ao fim de 2010, a população foi reassentada em cinco loteamentos rurais e dois urbanos,
implantados em 556 casas construídas. O investimento total previsto para o remanejamento da
população está estimado em R$ 570 milhões (CEMIG, 2010, p. 108).
Para Sachs (2008) o assentamento de populações humanas (por exemplo,
reassentamento) deve ser realizado de forma cada vez mais humana. Além de características
sociais, trata-se de uma questão de dimensão territorial, também influenciada pela dimensão
cultural. No contexto do rio Madeira, estas populações possuem como principal fonte de
recursos de sobrevivência o próprio rio, seja através da pesca, do garimpo e da agricultura,
comumente realizados de forma artesanal.
A empresa faz referencia ao Programa Acreditar que foi criado com objetivo de
formar profissionais para atuar na área do empreendimento e qualificar a mão de obra local.
De acordo com a empresa, até 2012 foram capacitadas pelo programa 42.442 pessoas, das
quais 29.965 foram contratadas (CEMIG, 2012). Vale ressaltar que este programa é de autoria
da Construtora Odebrecht e executado em parceria com instituições de ensino, principalmente
o SENAI/RO. A empresa também declarou não assumir responsabilidade pelas questões
socioambientais diretamente relacionadas ao contexto da UHE SAE, porém utilizou imagensfotografias da região do entorno para ilustrar o RS CEMIG 2012. Pelas imagens, em primeira
análise, percebeu-se uma preocupação em valorizar a vida local tanto do ponto de vista social
quanto ecológico. As imagens ocuparam páginas inteiras do início ao fim do relatório. O que
se pretendeu mostrar pela empresa CEMIG foi uma imagem de aproximação do cotidiano dos
pescadores artesanais e da beleza de grandes arvores e matas da floresta amazônica nas
imediações do rio Madeira.
No RS 2013, a CEMIG apresentou o Projeto Vitrine da SAE que foi apontado como
iniciativa de reforço às atividades já desenvolvidas pela empresa Santo Antônio Energia para
o apoio à produção e reinserção produtiva das famílias residentes em reassentamentos. O
objetivo deste projeto foi de tornar o lote uma vitrine tecnológica para os agricultores do
reassentamento (CEMIG, 2013). Neste mesmo ano a CEMIG apresentou os estados em que
atua incluído o estado de Rondônia e, ainda utilizou uma mesma imagem que já havia se
utilizado no RS 2011 de Furnas. Imagens fotografias do RS 2012/13 é apresentada na figura
17.
99
Figura 17 – CEMIG – Contexto rio Madeira - RS 2012/13.
Fonte: CEMIG - Relatório de Sustentabilidade, 2012, p. 2-30-75-82; 2013, p. 27.
Ao comparar o discurso textual com as imagens da figura 17 extraídas do RS CEMIG
2012 e 2013 foi possível lançar alguns questionamentos: qual o comprometimento com a
sustentabilidade nas dimensões propostas por Sachs (2008) das organizações que participam
como acionistas minoritárias em SPE relacionado a geração de energia? Utilizar imagens que
já foram divulgadas por outros relatórios de sustentabilidade para promover seus próprios
relatórios, se isentando da responsabilidade dos atos materiais para atuar apenas no campo do
discurso caminha para a sustentabilidade organizacional?
4.4.3 SAE - Odebrecht - 2008 a 2013
Para os gestores da empresa, a criação da Organização Odebrecht, em 1944, trás
embutido em sua estrutura a sustentabilidade considerada presente nas práticas de suas
equipes. O fundador Norberto Odebrecht iniciou a sistematização e a redação dos princípios,
conceitos e critérios da Tecnologia Empresarial Odebrecht com a publicação do livro Pontos
de Referência, em 1970. O tema se consolidou como princípio da TEO no livro Sobreviver,
Crescer e Perpetuar, de 1981 (ODEBRECHT, 2007).
O resumo do discurso da Odebrecht ao longo dos anos 2007 a 2014 está no quadro 24.
100
Quadro 24 – Análise do discurso da Odebrecht – 2007-2014.
ANO
Empresa
2007
Odebrecht
2008
2009
Odebrecht
Odebrecht
2010
Odebrecht
2011
Odebrecht
2012
Odebrecht
2013
Odebrecht
2014
Odebrecht
Características do discurso
Sem informações disponíveis nas fontes pesquisadas
Informar: Sobre a Tecnologia Empresarial Odebrecht; Riscos
socioambientais que devem ser vistos como um desafio
tecnológico; Lançamento do Programa Acreditar.
Informar: Tecnologia Empresarial Odebrecht; Informação do
numero de inscritos no Programa Acreditar: 25.170 pessoas locais
qualificadas.
Informar: Modelo de sustentabilidade a ser seguido: este modelo é
pautado no desenvolvimento econômico, desenvolvimento social,
responsabilidade ambiental, valorização da cultura e participação
política conforme apresenta o seu relatório de gestão; Aproximação
das dimensões de Sachs; TEO - tema "Energia no Horizonte";
Programa Acreditar, Boletim infromativo especial: tema "Sempre
Elas" dedicado as mulheres que trabalham na empresa; Imagens
apresentadas para validar os textos argumentativos - trechos
discursivos
Informar: Programa Acreditar qualificou até o fim de 2011 "92 mil
pessoas".
Informar: Programa Acreditar - premiação em prêmio internacional
Informar: Tema 2013 "crescimento sustentável"; Discurso de
excelência em gestão empresarial e técnica em construção civil;
atualização dos dados do Programa Acreditar.
Informar: Tema 2014 "todo tempo é de servir"; Utilizar os recursos
da natureza para perpetuar a espécie humana.
Dimensões de
sustentabilidade /
Paradigmas
Econômica,
ambiental, social –
Centrado na
sustentabilidade.
Econômica,
ambiental, social –
Centrado na
sustentabilidade.
Econômica,
ecológica, ambiental,
social – Centrado na
sustentabilidade.
Social, econômica,
ambiental - Centrado
na sustentabilidade.
Econômica, social,
ambiental – Centrado
na sustentabilidade.
Econômica, social,
ambiental –
Tecnocentrico.
Econômica,
ambiental Tecnocentrico.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em 2007 a Odebrecht elaborou relatório de gestão, no entanto, não divulgou noticias
relacionadas ao contexto das usinas hidrelétricas no rio Madeira. Em 2008, as obras da UHE
SAE são iniciadas e a empresa, através da mensagem do presidente do Conselho de
Administração, Emilio Odebrecht afirma que,
[...] “a passagem do discurso à prática não é tarefa isenta de disciplina e
persistência”. [...] para quem faz uma decidida opção pelo futuro, abrir mão de
resultados imediatos que representem riscos socioambientais ou aplicar recursos
próprios no desenvolvimento de comunidades será tão natural e lógico quanto
investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico [...] (Odebrecht, 2008, p. 10).
O trecho discursivo refere-se a várias perspectivas, porém, é na dimensão social que se
concentra o discurso da empresa neste ano. Através do lançamento do programa de
qualificação de mão-obra denominado Acreditar, foi configurado o discurso da Odebrecht.
101
Talvez pela ousadia da iniciativa de qualificar mão-de-obra sem a garantia de contratação,
mas por um lado, se posicionando a favor destas, principalmente de cidadãos moradores do
estado de Rondônia, a empresa tivesse tão segura de suas ações no contexto da usina
hidrelétrica em construção já no ano de 2008. Neste sentido a empresa manteve uma posição
discursiva pela sustentabilidade no contexto das usinas hidrelétricas do rio Madeira. Mesmo
diante da falta de consistência dos estudos preliminares, questionados anteriormente,
realizados no rio Madeira, frente à suposta necessidade de gerar energia para desenvolver a
região norte e o país como contraponto aos impactos ambientais e sociais futuros.
O principal discurso do relatório de gestão TEO em 2009 foi informar o número de
alunos inscritos no Programa Acreditar, na ordem de 25.170, que teve início na construção da
Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, para subsidiar a contratação de 10 mil
postos de trabalho diretos e mais 50 mil indiretos durante sua construção. Neste relatório foi
apresentado o objetivo do programa que era qualificar e preparar trabalhadores das regiões
onde existiam obras da Odebrecht.
O discurso da sustentabilidade da organização Odebrecht leva em conta a
multidimensionalidade, como a própria empresa afirma. A empresa acredita que integra
aspectos econômicos, sociais, ambientais, culturais e políticos através da Tecnologia
Empresarial Odebrecht (TEO) desde as origens da Odebrecht. Segundo a empresa, este
conceito vem se aprimorando ao longo dos anos. Com base na Política de Sustentabilidade,
suas equipes buscam o domínio de competências e práticas empresariais cada vez mais
completas, de modo a contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países e regiões em
que atuam (Odebrecht, 2011, p. 17). Para os idealizadores a empresa se coloca frente aos
desafios de gestão empresarial para a sustentabilidade como modelo a ser seguido por
organizações desta e de outras áreas de atuação. O modelo de gestão sustentável TEO possui
características que se aproximam das características das dimensões de sustentabilidade
proposta por Sachs (2008). Este modelo é pautado no desenvolvimento econômico,
desenvolvimento social, responsabilidade ambiental, valorização da cultura e participação
política conforme apresenta o seu relatório de gestão 2010 (Odebrecht 2010, p. 17). Desta
forma, a Odebrecht não elabora relatórios de sustentabilidade com base em modelos
internacionais como o GRI, defendendo firmemente o discurso de que sua tecnologia
empresarial – TEO serve como modelo a ser seguido por qualquer organização
(ODEBRECHT, 2011; 2014).
No ano de 2010 a empresa publicou o boletim informativo de nº 148 no qual destinou
uma seção especial à obra da UHE SAE. Na capa o título “Energia no Horizonte, Usina
102
Hidrelétrica Santo Antônio começa a mostrar sua face” a Odebrecht também promoveu o
discurso de apresentação da grandiosidade da obra. Como conteúdo, as informações ligadas
ao programa Acreditar e a valorização das pessoas com o título “Pessoas, sempre elas” foi
apresentado o panorama do programa Acreditar.
Alguns trechos discursivos foram extraídos do informativo nº 148 de 2010 e
apresentados para representar o discurso escrito da Odebrecht de 2008 a 2010 uma vez que as
informações deste documento diz respeito ao histórico da empresa no contexto das obras do
rio Madeira. Vale ressaltar que as publicações da SAE só foram disponibilizadas a partir do
ano de 2012. Para não tornar este fato uma limitação do estudo (sem contar a ausência de
relatórios de sustentabilidade), as informações contidas nos relatórios e informativo da
Odebrecht acabaram por colaborar com a ausência de informações da SAE garantido a
confiabilidade e validade nos dados pesquisados.
Trecho discursivo 1 - Mário Lúcio Pinheiro, Diretor de Contrato e responsável pelas
obras civis do Consórcio Santo Antônio Civil: “Lidar com a diversidade de culturas exige
olho no olho, diálogo franco. O maior desafio não é a construção de uma usina, mas, sim, a
construção de uma unidade. Temos de trabalhar em união”.
Trechos discursivos 2 - Luiz Gabriel Todt de Azevedo, da Odebrecht Energia,
responsável pela área de Sustentabilidade: “Nossa meta é promover ganhos sociais e
econômicos para as comunidades da região, além de garantir oportunidades reais para a
conservação ambiental”. “O Brasil tem condições de provar que aprendeu com o passado e
que pode estabelecer Santo Antônio como um marco de desempenho socioambiental para a
futura exploração do potencial energético dos rios da Amazônia”.
Trechos discursivos 3 – Idealizador do programa Acreditar, Antônio Cardilli está na
Odebrecht há 30 anos. Aos 47 anos, esse barrageiro coleciona pedras das usinas em que
esteve: seis. “Esta é daqui”, aponta para uma pedrinha cinzenta. Ele começou na Organização
aos 17 anos e acredita ter atingido a fase mais gratificante. “Cheguei aqui em 14 de janeiro de
2008 para montar o escritório.”
Trechos discursivos 4 - Rubens Gonçalves da Silva: “Antes, eu andava de bicicleta e
não tinha perspectiva. Com meu novo trabalho, melhorei de vida e consegui que minha filha,
Edivânia, concluísse o curso de Administração de Empresas”.
Trechos discursivos 5 - “Gosto de desafios”, diz. “Acho bonito uma mulher trabalhar
em funções que eram só de homens. No futebol e aqui.”
Os trechos discursivos representam a fala de pessoas que participaram de forma direta
do contexto em que foram iniciados os trabalhos de execução da UHE Santo Antônio. O
103
discurso textual destes documentos foi ilustrado com imagens-fotografias que podem ser
visualizadas na figura 18.
Figura 18 – Odebrecht – Programa Acreditar e a obra da UHE-SAE – 2009/2010.
Fonte: Relatório Odebrecht, 2009, p. 33; 2010, p. 24. Informativo Odebrecht 148, 2010, p. 1-16-18.
As imagens apresentadas na figura 18 dizem respeito aos discursos de profissionais
que realizaram o programa Acreditar no contexto da UHE SAE. Além disso, as imagens
sensibilizam para a grandiosidade da obra, para as questões de segurança no trabalho e
mostram funcionários sendo transportados pela empresa em modalidades de transporte local
como as voadeiras. O que não pode ser percebido nestas imagens é a questão da natureza e da
sociedade, fazendo valer apenas a preocupação da Odebrecht com os seus funcionários.
Mesmo assim considera-se que o programa Acreditar tenha sido uma das mais inovadoras
formas de contratação de mão-de-obra em empreendimentos hidrelétricos de grande porte,
tanto é que a partir de sua origem na cidade de Porto Velho/RO, já percorreu as demais obras
da Amazônia, como exemplo a obra da UHE Teles Pires em Mato Grosso.
Por um lado a Odebrecht garantiu no quadro de funcionários pessoas qualificadas de
acordo com os objetivos da empresa, por outro lado, os funcionários não tem obrigação de
ingressar após realizar os cursos de qualificação não precisando pagar pelas horas de estudo.
Ainda como forma de comprovar a sua participação é fornecido certificado com carga horária
e áreas estudadas, desde o nível mais básico até o nível técnico, pela instituição de ensino
parceira da Odebrecht, no contexto de Porto Velho, o SENAI/RO.
104
Em 2011 a Odebrecht destaca novamente o programa Acreditar com informações mais
consistentes do ponto de vista da sua idealização e condução. A empresa declarou que o
Programa Acreditar, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, foi criado
para forma profissionais para atuar em obras de construção civil. Até 2011 já havia recebido
inscrições de 92 mil trabalhadores brasileiros e que os beneficiários do Bolsa Família podem
participaram do programa, que começou em 2008, nas obras da Hidrelétrica de Santo
Antônio, em Porto Velho (RO), onde oitenta e cinco por cento dos contratados da obra foram
capacitados pelo Acreditar (ODEBRECHT, 2011).
O Relatório de Gestão Odebrecht 2012 apresentou algumas premiações conquistadas
pela empresa, principalmente na área educacional conforme relata o Líder Empresarial da
Odebrecht Energia, Henrique Valladares,
Prêmio Pan-Amazônico de Excelência Educacional e Acadêmica, na categoria
Formação para o Trabalho, concedido pela Associação PanAmazônia ao Programa
Acreditar. A iniciativa premia professores, educadores e empresas que se dedicam
ativamente à melhoria da educação na Amazônia Continental. (Odebrecht, 2012, p.
70).
Importante destacar que a Odebrecht não tinha naquele contexto professores atuando
na execução do programa, que foi realizado em parceria com o SENAI/RO.
Em 2013 a empresa apresentou o tema “Crescimento Sustentável” atualizando os
dados e informando novamente sobre o programa Acreditar. Seu discurso priorizou também a
excelência em gestão empresarial e técnica no setor de construção civil, metal e mecânica.
O tema “Todo Tempo é de Servir” foi abordado em 2014 em homenagem ao criador
da empresa que viria a falecer neste mesmo ano. As palavras do empresário Norberto
Odebrecht estão descritas no trecho discursivo do livro Educação pelo Trabalho, “O genuíno
empresário é um tipo muito especial de ser humano. Seu propósito na vida é servir a seus
semelhantes, liderando a produção de riquezas, isto é, de bens e serviços que a nossa espécie
requer para sobreviver, crescer e perpetuar.” (Odebrecht, 2014, p. 2). Este discurso caracteriza
o perfil da empresa no lado do tecnocentrismo onde a economia predomina sobre a natureza.
As imagens dos relatórios de 2011, 2012, e 2013 relacionados ao contexto do UHE
SAE apresentou a evolução da obra, funcionários em postos de trabalho e mapas de
participação da empresa nos estados onde realizou obras conforme figura 19.
105
Figura 19 - Odebrecht – Evolução da UHE-SAE – 2011/2014.
Fonte: Relatório Odebrecht, 2011, p. 4; 2012, p. 20-69; 2013, p. 23.
Do ponto de vista da sustentabilidade econômica do empreendimento, é possível
observar na imagem-fotografia superior esquerda (2011) que a Odebrecht considerou a UHE
Santo Antônio um dos seus principais empreendimentos de construção civil em 2011.
Dividindo espaço no relatório com obras realizadas, por exemplo, em aeroporto americano.
Na parte inferior direita (2012) é possível perceber a força do rio Madeira em contradição à
área de ensecadeira onde são construídos os vertedouros.
A imagem-fotografia superior direita (2012) apresenta uma funcionária da Odebrecht
liderando sua equipe já em um dos ambientes operacionais da usina, destacando a força da
mulher em atividades lideradas no passado apenas por homens. A imagem inferior direita
(2013) apresenta os números do programa Acreditar no Brasil e no mundo, com uma
funcionária utilizando equipamentos de segurança individual e coletiva, reafirmando a opção
e o reconhecimento da Odebrecht por funcionários do gênero feminino.
4.4.4 ESBR - GDF Suez - Tractebel Energia - 2008 a 2013
O parque gerador da Tractebel tem capacidade instalada própria de 6.472 MW,
equivalente a cerca de 6,6% da capacidade instalada total no Brasil. É composto por 21 usinas
106
operadas pela Companhia, das quais oito são hidrelétricas, seis termelétricas e sete
complementares – duas a biomassa, duas eólicas e três Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCHs). Entretanto, a capacidade instalada total operada pela Tractebel é de 7.543 MW, pois
existem parcelas detidas por outros investidores nos consórcios de três dessas usinas: Usina
Hidrelétrica Itá, Usina Hidrelétrica Machadinho e Usina Termelétrica Ibitiúva Bioenergética.
Além das usinas em operação, as usinas hidrelétricas Estreito e Jirau estão em
construção e deverão agregar 2.164,1 MW à capacidade instalada própria da Companhia, ou
4.537 MW à capacidade por ela operada. A diferença é decorrente da existência de outros
sócios no Consórcio Estreito Energia (Ceste) e na empresa de propósito específico Energia
Sustentável do Brasil (ESBR), que desenvolvem os projetos.
De acordo com a empresa GDF Suez (2010) a Tractebel Energia é a sua representante
legal no contexto de operação da UHE Jirau, onde é acionista majoritária com 50,1% do
empreendimento. A configuração narrativa foi identificada no trecho discursivo “A Tractebel
desenvolve ações e apoia projetos de sustentabilidade nas regiões de atuação de sua sede e das
usinas sob sua responsabilidade” (GDF SUEZ – TRACTEBEL – RS, 2008, p. 114).
Seu controle acionário é detido pela GDF Suez Energy Latin America Participações
Ltda. (GSELA), que responde por 68,71% do capital social da Tractebel Energia. A GSELA é
controlada pelo grupo franco-belga GDF Suez, maior produtor independente de energia do
mundo, com uma capacidade instalada de 117 GW, e que atua em toda a cadeia de valor da
energia, tanto na exploração e produção quanto no transporte, distribuição e comercialização,
em eletricidade e gás natural. A Companhia é sediada em Florianópolis (SC), e suas usinas se
encontram instaladas em todas as regiões do Brasil.
As características resumidas do discurso da GDF Suez estão no quadro 25.
107
Quadro 25 – Análise do discurso da GDF Suez – 2007 a 2013.
ANO
Empresa
2008
GDF Suez
2009
GDF Suez
2010
GDF Suez
2011
GDF Suez
2012
GDF Suez
2013
GDF Suez
2014
GDF Suez
Características do discurso
Informar: Participação majoritária da empresa na SPE UHE ESBR
(50,10 %).
Informar: Que as ações da empresa foram selecionadas para compor
o Indide de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BMF & Bovespa
que agrupa ações de empresas comprometidas com as melhores
práticas de sustentabilidade, avaliadas em relação à sua eficiência
econômica, responsabilidade socioambiental e governança
corporativa; Riscos hidrológicos: aumento da capacidade geradora
da empresa no contexto nacional (importância da ESBR) uma vez
que 80 da energia gerada pela empresa é de fonte hidrelétrica.
Informar: Parcerias com a China na aquisição de equipamentos de
tecnologia de ponta para ser instalados na usina hidrelétrica,
responsabilidade gerencial.
Apresentar: Organograma da empresa com ESBR figurando entre
as principais empresas do grupo, previsão de avaliação da
participação da GDF Suez no empreendimento para ser analisado e
homologado em 2012.
Informar: Que a empresa é premiada pela Global Report Intiative
(GRI) por ações que não estão relacionadas ao contexto da ESBR,
mas sim a empreendimentos onde a operação para geração de
energia já está consolidada.
Informar: A empresa afirma ser a maior geradora de energia elétrica
do país; Projeto de ampliação; Módulos de avaliação de geração de
energia fotovaica em vários estados inclusive Rondônia na UHE
ESBR.
Sem informações na fonte pesquisada
Dimensões de
sustentabilidade /
Paradigmas
Econômica –
Tecnocentrismo.
Econômica,
Ambiental Tecnocentrismo.
Econômica –
Tecnocentrismo.
Econômica –
Tecnocentrico.
Econômica,
ambiental, social –
Centrado na
sustentabilidade.
Econômica,
ambiental, social –
Centrado na
sustentabilidade
-
Fonte: Elaborado pelo autor.
A ESBR já figura em 2008 como uma das principais empresas do grupo ocupando
posição de destaque na estrutura organizacional da GDF Suez conforme pode ser visto na
figura 20.
Figura 20 – Estrutura organizacional simplificada – GDF Suez – RS 2008.
Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade Tractebel (2008, p. 21).
108
Em primeira mão a intenção de utilizar a figura 20 perpassa pela importância
concedida ao empreendimento UHE Jirau que já inicia suas obras com seus principais
acionistas definidos. No entanto, a política do grupo majoritário para este empreendimento em
relação ao discurso foi de cautela, não assumindo responsabilidades em seu relatório de
sustentabilidade que fossem além da divulgação da participação societária majoritária
(50,01%) do empreendimento.
Em 2009, as ações da Tractebel foram selecionadas para compor a carteira do ISE da
BM&FBOVESPA pelo quinto ano consecutivo, desde a criação do índice, em 2005. A
carteira agrupa ações de empresas comprometidas com as melhores práticas de
sustentabilidade, avaliadas em relação à sua eficiência econômica, responsabilidade
socioambiental e governança corporativa. Com isso, o ISE tornou-se uma referência para o
investimento socialmente responsável, servindo como um indutor de boas práticas no meio
empresarial brasileiro. As 34 empresas que compõem a carteira foram selecionadas dentre as
51 companhias que responderam o questionário enviado às 137 emissoras das 150 ações mais
líquidas da BM&FBOVESPA. (GDF Suez, 2009 p. 50).
Sobre a gestão de riscos hidrológicos, de acordo com os dados do ONS, a maior parte
do suprimento de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN) era gerado por Usinas
Hidrelétricas (UHE). Como o SIN opera em sistema de despacho otimizado e centralizado
pelo ONS, cada UHE, incluindo as UHE da Companhia, está sujeita a variações nas condições
hidrológicas verificadas, tanto na região geográfica em que opera como em outras regiões do
País.
A geração hidrelétrica representava aproximadamente 80% da Capacidade Instalada
total das usinas da Companhia, o que equivale a 5.124 MW. Na eventualidade da ocorrência
de condições hidrológicas desfavoráveis no SIN, em conjunto com a obrigação de entrega da
Energia Assegurada, a Companhia ficaria exposta ao mercado de energia de curto prazo, o
que poderia afetar os resultados financeiros futuros da Companhia (GDF Suez, 2009, p. 184).
O relatório de sustentabilidade de 2010 apresentou uma característica mais reflexiva
do ponto de vista dos objetivos e da problemática da pesquisa em curso. Tratou-se de
apresentar a fala de alguns funcionários responsáveis por áreas e empreendimentos de várias
localidades do Brasil. Alguns trechos discursivos e as respectivas fotos dos funcionários
foram extraídos do RS 2010 e apresentados na figura 21.
109
Figura 21 - Análise do discurso de funcionários GDF SUEZ em 2010.
Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade TRACTEBEL (2010).
A prática discursiva de introdução de falas de funcionários, moradores das
comunidades ao entorno de empreendimentos hidrelétricos, por exemplo, configura-se como
um padrão discursivo nas empresas do grupo ESBR, inclusive por parte de sua acionista
majoritária. Desta forma, o discurso que pode ter significado contextual, está representado
pelo trecho discursivo 1 da figura 21 no qual um dos funcionários fala a respeito da sua
experiência com a importância de um grande volume de turbinas do país China e os desafios
de ver a tarefa concluída na UHE Jirau.
Outro discurso que é enfatizado no RS 2010 são os prêmios conquistados pela
empresa neste ano, entre eles foram citados: Troféu Transparência (Anefac); As Melhores da
Dinheiro (edição especial da Revista IstoÉ Dinheiro - A Companhia foi escolhida como 1°
lugar no ranking “empresa do setor elétrico”, em Gestão de Recursos Humanos, 2° lugar em
Sustentabilidade Financeira e 2° lugar em Governança Corporativa); Prêmio Expressão de
Ecologia 2010; 6º Prêmio Brasil Ambiental; 12º Prêmio Abrasca - Relatório Anual (O
Relatório de Sustentabilidade 2009 da Tractebel Energia conquistou o quarto lugar do Prêmio,
escolhido entre mais de 30 companhias abertas participantes, reconhecido pela qualidade,
110
transparência e objetividade das informações prestadas na publicação. Além disso, a
Companhia recebeu menção honrosa na categoria “Gestão de Risco”).
Em 2011 a GDF Suez – Tractebel Energia enfatizou o alinhamento do RS 2010/2011
com a GRI na tentativa de evidenciar a asseguração de que seus relatórios estavam sendo
homologados por asseguradores independentes como, por exemplo, a Pricewaterhouse
Coopers Auditores Independentes.
Sobre o contexto da UHE Jirau o RS 2011 informou que em 2012 deveria ser iniciada
a avaliação da viabilidade de transferência para a Companhia da participação de 50,1% que a
IPR detém na Usina Hidrelétrica Jirau, a qual está em construção e terá potência total de
3.750 MW. Essa avaliação seria feita pelo Comitê Especial Independente para Transações
com Partes Relacionadas, formado em sua maioria por membros independentes do Conselho
de Administração da Tractebel Energia.
A presença da ESBR como empresa do grupo GDF Suez figurou também no RS 2011
na estrutura organizacional do grupo como pode ser observado na figura 22.
Figura 22 - Estrutura organizacional GDF Suez RS 2011
Fonte: GDF SUEZ – Relatório de Sustentabilidade Tractebel (2011, p. 26).
Do lado esquerdo da figura 22 encontra-se o organograma societário da GDF Suez que
apresenta a ESBR figurando como uma das mais importantes sociedades do grupo. Do lado
direito, o mapa do Brasil onde as regiões em cor roxa retratam a presença da estrutura
organizacional da acionista. Percebe-se que no estado de Rondônia (cor cinza), a GDF não
possui operações. Esta configuração pode ser analisada sob 02 aspectos: o primeiro reside no
fato da empresa não se comprometer com as demandas sociais e ambientais da fase de
111
construção e o segundo que por ser uma empresa na qual seu principal objetivo é o lucro
econômico não discursaria em prol de ações que por motivos financeiros não iria praticar.
Em 2012 a ênfase do discurso foi pelo parecer da Global Report Intiative “A GRI
neste ato declara que a Tractebel Energia apresentou seu “Relatório de Sustentabilidade 2012”
para o setor de Serviços de Relatório da GRI, que concluiu que o mesmo atende aos requisitos
de Nível de Aplicação A+” (RS GDF SUEZ, 2012 p. 131).
Em 2013 a Tractebel Energia, declara ser o maior gerador privado do setor elétrico
brasileiro no qual atua desde 1998, tanto na geração quanto na comercialização de energia,
por meio da implantação e operação de usinas. Assim, vem diversificando sua matriz
energética e a participação em diferentes mercados regionais, e permanece com o firme
propósito de continuar a ampliação do seu parque gerador, prioritariamente por meio de
fontes renováveis, como a hidráulica, a eólica, a biomassa e a solar.
Outro importante destaque apontado no RS 2013 é que desde o início das operações no
Brasil, a Companhia analisa oportunidades de expansão nas diferentes regiões do País, que
sejam sustentáveis dos pontos de vista econômico, social e ambiental como pode ser visto na
figura 23.
Figura 23 - Tecnologias de geração de energia sustentável - RS 2013.
Fonte: GDF SUEZ – Tractebel, 2013, p. 48.
Um dos projetos de P&D desenvolvidos ao longo de 2013 foi a implantação de uma
usina solar fotovoltaica em Capivari de Baixo (SC), Município sede do Complexo
Termelétrico Jorge Lacerda. Liderado pela Tractebel Energia, o projeto é desenvolvido em
parceria com o Grupo de Pesquisa Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e mais 12 empresas cooperadas, tendo como objetivo avaliar o potencial de geração
112
solar no Brasil, sua complementaridade com outras fontes de energia e identificar as
tecnologias mais apropriadas às condições climáticas predominantes em cada região. O
investimento total previsto é de R$ 56,3 milhões. No estado de Rondônia este projeto figura
como módulo de avaliação.
4.4.5 ESBR – CHESF- ELETROBRÁS - 2008 a 2011
Os relatórios de sustentabilidade da Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco
– CHESF, empresa participante da SPE/ESBR foram analisados de 2008 a 2011. Estes
relatórios estão disponíveis no sitio eletrônico da empresa. A análise do discurso de
sustentabilidade empreendida refere-se ao contexto da UHE Jirau no rio Madeira. A partir de
2012 a empresa passou a ser considerada, assim como todas as outras do Sistema Eletrobrás,
nos relatórios desta última.
Como a SPE/ESBR só foi estabelecida em 2008, o relatório deste mesmo ano cujas
informações são referentes aos anos anteriores, não apresentou nenhuma notícia relacionada
às hidrelétricas em construção no rio Madeira. Nos relatórios de 2009, 2010 e 2011, a
empresa informa que possuía participações minoritárias nas seguintes empresas: 49% no
capital social da empresa STN – Sistema de Transmissão Nordeste S.A.; 12% no capital
social da empresa Integração Transmissora de Energia S.A.; 24,5% no capital social da
empresa Energética Águas da Pedra S.A.; 20% no capital social da empresa ESBR
Participações S.A; 19,5% no capital social da empresa Manaus Transmissora de Energia S.A.;
19,5% no capital da empresa Manaus Construtora Ltda.; 24,5% no capital da empresa
Interligação Elétrica do Madeira S.A (IEM) (CHESF, 2009).
4.4.6 ESBR – Eletrosul-Eletrobrás – 2008 a 2012
O quadro 26 apresenta uma síntese do discurso da Eletrosul-Eletrobrás no contexto da
SPE/ESBR.
113
Quadro 26 - Análise do discurso da Eletrosul – Eletrobrás – 2008-2012.
ANO
Empresa
2007
Eletrosul
Sem informações disponíveis na fonte pesquisada.
2008
Eletrosul
Sem informações na fonte pesquisada.
2009
Eletrosul
2010
Eletrosul
2011
Eletrosul
Características do discurso
Informar: sobre a declaração do objetivo da Eletrobrás tornar-se, em
2020, a maior empresa de energia limpa do mundo. O destaque é
para o Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte e as usinas
hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau.
Apresentar: A UHE Samuel e não faz referencia ao contexto do rio
Madeira UHE ESBR.
Reafirmar: O discurso realizado em 2009 - liderança mundial em
produção de energia limpa - PBA no contexto do rio Madeira (toma
emprestado do discurso para caracterizar a dimensão
sustentabilidade das ações da ESBR).
Informar: numeros referente a obra UHE ESBR; imagens da
natureza preservada
2012
Eletrosul
2013
Eletrosul
Sem informações na fonte pesquisada.
2014
Eletrosul
Sem informações na fonte pesquisada
Dimensões de
sustentabilidade /
Paradigmas
Econômica Tecnocentrismo.
Econômica,
ambiental Tecnocentrismo.
Econômica, ecológica
– Ecocentrico e
Tecnocentrico.
-
Fonte: Elaborado pelo autor.
O relatório de sustentabilidade da Eletrosul em 2008 não apresentou informações
relacionadas ao contexto da SPE/ESBR. Em 2009, a única ocorrência do RS Eletrosul diz
respeito a capacidade instalada de 99% em novos empreendimentos previstos para a expansão
da Eletrobrás considerando que a fonte é de energia limpa (conforme discursam as empresas
hidrelétricas), sendo 34.031 MW em fonte hidráulica. O único discurso presente neste
relatório que fala do contexto pesquisado é a declaração do objetivo da Eletrobrás tornar-se,
em 2020, a maior empresa de energia limpa do mundo. O destaque é para o Aproveitamento
Hidrelétrico de Belo Monte e as usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau
(ELETROSUL, 2009).
Em 2010 a empresa apresentou mapas ilustrando sua participação na transmissão e
distribuição de energia elétrica pelo país, porém naquele contexto só figurava a usina de
Samuel na geração de energia no estado de Rondônia. As UHE‘s’ ESBR e SAE ainda não
estavam gerando energia, o que ocorreria só em 2012. O principal discurso referente às usinas
em construção foi relacionada a regularização de consumidores, necessidade apontada pela
Eletrobrás Distribuição Rondônia, devido ao crescimento está atrelado ao grande contingente
populacional atraído pelas obras do complexo hidrelétrico do rio Madeira.
No relatório de 2011 a Eletrobrás atribuiu o alcance das metas traçadas pela
companhia para os próximos anos, primordialmente com foco em projetos de grande potencial
114
gerador, em especial os hidrelétricos, como: o aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte, as
usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau – e as usinas hidrelétricas da
bacia do rio Tapajós – São Luiz do Tapajós, Jatobá, Jamanxim, Cachoeira dos Patos e
Cachoeira do Caí. Em 2011, tiveram início as obras das usinas hidrelétricas de Teles Pires e
Belo Monte (Eletrobrás, 2011, p. 20).
Neste mesmo ano a empresa comemorou 50 anos de existência do Sistema Eletrobrás.
Neste sentido, seus relatórios de sustentabilidade iniciam um processo de elaboração
integrada fazendo valer o potencial gerador, transmissor e de distribuição da estatal. O que se
pretendeu foi integrar empresas do setor como CHESF, Eletrosul e a própria Eletrobrás. As
empresas Eletrobrás detêm a concessão/autorização para a construção de novos
empreendimentos de geração (e aguardam outorga de outros empreendimentos ganhos em
leilões passados), com capacidade total de cerca de 23.700 MW [...] (Eletrobrás, 2011, p. 20).
No relatório de 2011, a Eletrobrás se considerou a maior holding do setor de energia
elétrica da América Latina, composto pelas empresas Eletrobrás Holding, Eletrobrás
Eletropar, Eletrobrás Cepel, Eletrobrás CGTEE, Eletrobrás Chesf, Eletrobrás Eletronorte,
Eletrobrás Eletrosul, Eletrobrás Eletronuclear, Eletrobrás Furnas, Itaipu Binacional e as
empresas de distribuição ED Acre, ED Alagoas, Eletrobrás Amazonas Energia, ED Piauí, ED
Rondônia e ED Roraima. A figura 24 apresenta o mapa de transmissão e distribuição de
energia no contexto nacional inclusive, considera o estado de Rondônia.
115
Figura 24 - Mapa de transmissão e distribuição Eletrobrás - RS 2011.
Fonte: Eletrobrás, 2011, p. 34-36.
O discurso da Eletrobrás se manifesta pelo discurso econômico, de desenvolvimento
da capacidade geradora de energia da empresa e do país. No entanto, seu discurso busca
evidenciar que existe uma preocupação com a dimensão ambiental diante da propagação do
discurso de que ações efetivas de mitigação de impactos sobre as espécies serão adotadas,
conforme acordado junto aos órgãos ambientais, com elaboração e implementação de um
Plano de Conservação de Ecossistemas Aquáticos. Através deste relatório a Eletrobrás
acredita que a construção de escadas de peixes nas usinas em implantação no rio Madeira,
Santo Antônio e Jirau seriam suficientes para a continuidade de piracemas sem grandes
problemas (ELETROBRÁS, 2011).
Além de discursar em prol do meio ambiente, a Eletrobrás relatou as ações
empreendidas para combater a corrupção. No relatório apresenta os 09 autos de infração
aplicados pela Aneel diretamente a ED Rondônia da empresa. Esta prática discursiva refere-se
ao requisito da GRI que orienta para as organizações trabalharem no sentido do combate a
corrupção, principalmente quando o contexto é da própria organização (ELETROBRÁS,
2011).
Ao contrário de 2011, o relatório de sustentabilidade de 2012 da Eletrobrás apresentou
apenas dados técnicos econômicos da obra de Jirau, das linhas de transmissão e de
distribuição. O que chamou mais a atenção foi o simbolismo da imagem-fotografia de uma
116
planta muito conhecida no Brasil e na Amazônia que é a Vitória-Régia e uma foto de uma
grande árvore da floresta amazônica conforme figura 25.
Figura 25 – Discurso de sustentabilidade ecológica - RS 2012.
Fonte: Eletrobrás, 2012, p. 179-329.
As fotografias retrataram a exuberância da floresta amazônica no contexto do rio
Madeira. A Vitória-Régia, planta típica de igarapés de rios de águas mansas transmitem a
sensação de que a natureza permanece inalterada, sem grandes impactos ambientais. É o
caminhar do discurso da sustentabilidade ecológica. No entanto, as imagens aparecem no
relatório sem nenhuma informação de cunho de preservação, muito comum em relatórios de
sustentabilidade.
A realização da análise sociológica do discurso nos relatórios de sustentabilidade
seguiu o mesmo procedimento da análise dos releases, informativos, clippings e notícias do
item 4.3. A construção do discurso organizacional das empresas Furnas, CEMIG e Odebrecht,
acionistas da SPE/SAE e das empresas GDF Suez, Chesf, Eletrobrás e Eletrosul, acionistas da
SPE/ESBR foram realizadas a partir dos RS disponíveis do período 2008 a 2014. A partir
desta análise os discursos produzidos refletiram as posições discursivas, configurações
narrativas e espaços semânticos destas empresas com base nas dimensões de sustentabilidade
de Sachs (2008) e nos paradigmas de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) visualizados na
representação gráfica da figura 26.
117
Figura 26 – Construção do discurso em Relatórios de Sustentabilidade das
empresas acionistas da SPE/SAE e SPE/ESBR
Fonte: Elaborado pelo autor.
A análise longitudinal realizada a partir da figura 26 agrupou as empresas que
discursaram individualmente, entre si, como participantes de sociedades de propósito
específico SPE/SAE e SPE/ESBR ou ainda, em prol de outras empresas relacionadas ao
contexto de construção das usinas do rio Madeira e geração e distribuição de energia elétrica
para o país. Relacionados a este contexto, nenhuma das empresas divulgou informações em
seus relatórios no ano de 2007.
A partir de 2008 começou a se produzir nos respectivos documentos (relatórios de
gestão, socioambientais e sustentabilidade) os discursos sobre as obras dos aproveitamentos
hidrelétricos do rio Madeira. Empresas vinculadas a SPE/ESBR como GDF Suez e Eletrobrás
não se esforçaram para informar em seus relatórios os caminhos percorridos para se atingir a
sustentabilidade. Quando o fizeram no documento, se referiram a outros contextos onde os
negócios já estavam mais desenvolvidos. A CEMIG apoiou seu discurso no PBA da SPE/SAE
(mais para a dimensão ecológica) enquanto a Odebrecht priorizou a divulgação da sua
118
tecnologia de gestão onde acredita-se cumprir padrões internacionais baseados na
sustentabilidade. Em seu relatório de gestão de 2008 a Odebrecht já anunciava os primeiros
números do Programa Acreditar e confirmava a sua vocação para os desafios socioambientais
frente à necessidade tecnológica para superar estes desafios. Neste ano, os discursos
produzidos caminharam ao lado dos paradigmas tecnocentrado (GDF Suez), paradigma
ecocentrico (CEMIG) e centrado na sustentabilidade (Odebrecht).
Em 2009 e 2010 o discurso produzido pelas empresas ora foi caracterizado pelo
paradigma tecnocentrado, ora pelo paradigma centrado na sustentabilidade. Do lado do
primeiro foram posicionadas as empresas do grupo SPE/ESBR e do lado do segundo as
empresas do grupo SPE/SAE. As dimensões de sustentabilidade percorreram a dimensão
econômica, ecológica, ambiental e social. A aproximação da empresa Odebrecht ao contexto
local liderando a condução do PBA da UHE Santo Antônio com grande amplitude na
execução de seu programa de qualificação profissional (Programa Acreditar) favoreceu a
manutenção da sua prática discursiva aos seus atos materiais. Do lado UHE/ESBR (Jirau) as
empresas não vivenciaram o cotidiano da obra, ficando a cargo de construtoras que não foram
identificadas como participantes da SPE/ESBR.
A Odebrecht construiu seu discurso baseado no contexto da obra da UHE/SAE nos
demais relatórios de gestão até o ano de 2012 reafirmando o sucesso do “Programa Acreditar”
no contexto local estendendo-o aos demais empreendimentos em outros estados e até mesmo
em outros países. Ao discursar baseado nas dimensões de sustentabilidade de Sachs (2008) e
apresentar números expressivos de resultados sociais e ambientais nos relatórios, a empresa
manteve seu discurso alinhado ao paradigma centrado na sustentabilidade. Pelo lado da GDF
Suez (principal acionista do grupo ESBR) somente em 2012 é que a mesma começa a
apresentar sinais de sustentabilidade por ganhar um premio internacional da GRI, no entanto,
que não dizia respeito a ações sustentáveis no contexto do rio Madeira.
Em 2013 e 2014 os discursos construídos nos relatórios de sustentabilidade assumem
configurações narrativas que se invertem, por exemplo, todas as empresas tratam das
dimensões de Sachs (2008), no entanto, a Odebrecht passa a não valorizar mais o contexto da
UHE/SAE enquanto a GDF Suez apresenta ações sustentáveis que passam a incluir a
UHE/ESBR. Além disso, a empresa Furnas passa a valorizar mais o contexto analisado em
função do inicio de geração e distribuição de energia, colocando-a como uma empresa
presente no complexo hidrelétrico do rio Madeira, pois além de ser acionista da SPE/SAE,
também o é na distribuição de energia da SPE/ESBR. Logo, a Odebrecht é caracterizada pelo
paradigma tecnocentrado. A GDF Suez constrói seu discurso nesta etapa de quase finalização
119
da obra UHE/ESBR por um olhar que começa a perceber-se no contexto da UHE/ESBR
caracterizado pelo paradigma centrado na sustentabilidade, como ocorre na construção do seu
discurso em outros contextos de atuação já consolidados.
Desta forma, da análise dos relatórios de sustentabilidade é um pouco mais abrangente
na participação dos funcionários enquanto interlocutores da organização (exigências do
padrão GRI) depreendeu-se que a posição discursiva (quem fala) é representada
principalmente pelos diretores das organizações e pelos seus funcionários. Quando é
fornecido voz à comunidade, geralmente é para relatar a forma pela qual foi conquistado uma
função organizacional no quadro das empresas. A fala do presidente está presente na maioria
dos relatórios. Os relatórios seguem as diretrizes de organismos internacionais como GRI,
logo apresentam forte padronização discursiva.
Na maioria dos relatórios, o espaço semântico foi construído através da necessidade de
desenvolvimento econômico do país em bases sustentáveis a partir da geração de energia
hidroelétrica, considerada energia limpa (em sua forma de discurso). A hermenêutica da
palavra energia limpa não discutida neste trabalho, o que poderia levar a outra discussão
senão, as características de sustentabilidade das empresas do complexo hidrelétrico do rio
Madeira. Neste sentido o espaço semântico (de que se fala) baseou-se também na necessidade
que as empresas possuem de tornar público os seus relatórios de gestão, relatórios
socioambientais e relatórios de sustentabilidade com base em padrões internacionais de gestão
que incluem a sustentabilidade de grandes empreendimentos como no caso da UHE/SAE e
UHE/ESBR. Como resultados as características de sustentabilidade de Sachs (2008) e os
paradigmas da sustentabilidade de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) associados ao que as
empresas falam (posições discursivas).
Das configurações narrativas (o que está em jogo) no qual o objetivo principal foi
caracterizar o discurso de sustentabilidade das empresas acionistas das SPE/SAE e ESBR,
surgiram alguns resultados importantes neste estudo. As práticas discursivas e não discursivas
(atos materiais) das empresas se alinham à sua proximidade com o contexto em que foi
analisado. Por exemplo, a Odebrecht, acionista minoritária discursou muito mais em relação a
sustentabilidade no contexto em análise do que empresas que possuem grandes participações
como no caso da GDF Suez, acionista majoritária da SPE/ESBR. No contexto geral, a
primeira alinhou sua prática discursiva à prática não discursiva (ato material) ao executar o
Programa Acreditar que capacitou quase 100 mil funcionários. Já a segunda que orienta sua
prática discursiva pela GRI (a GRI orienta que as empresas que participam de grandes
empreendimentos desenvolvam ações de sustentabilidade nas localidades ao entorno da obra),
120
guiou sua prática não discursiva pela visão natureza-economia, pelo menos no contexto do rio
Madeira.
4.5 Resultados e discussão com base na análise sociológica do discurso sobre
sustentabilidade
Através das conjecturas pré-analiticas realizadas no processo de investigação
procurou-se encontrar maneiras de tecer e configurar de forma unitária um conjunto de
elementos que poderiam representar o discurso, tanto por seu conteúdo, como pelo fato de
serem produzidas por diferentes agentes que divulgam seu entendimento sobre
sustentabilidade. A lógica inicial foi pensada de forma a identificar trechos discursivos nos
textos-documentos e posteriormente, qual a relação dos textos com as imagens que
acompanham os documentos. A análise das imagens basicamente foi realizada através dos
relatórios de sustentabilidade que em parte foram mais significativas visualmente do que na
sua forma textual em relação aos objetivos desta pesquisa.
Para realizar as análises, seguiu-se em ordem: contexto inicial das obras, análise dos
planos básicos ambientais (PBA), releases, clipping e notícias das empresas ESBR e SAE
consideradas a partir das análises como grupos distintos de atuação e que discursam de forma
independente entre si. Seus acionistas são empresas públicas e privadas pelas quais foram
analisados em sua maioria relatórios de sustentabilidade compostos por textos e imagens que
enriqueceram o material disponível e ajudaram na formulação de uma das sugestões de
pesquisa para as organizações pesquisadas.
As posições discursivas e os espaços semânticos foram construídos a partir dos trechos
discursivos codificados que geraram as redes de relacionamento. A materialização das
características observadas foi possível através de representações gráficas que orientaram a
pesquisa como um instrumento útil, fornecendo a garantia no trabalho de elaboração e
validação das conjecturas. A representação formal das configurações narrativas surgiram a
partir da reflexão e investigação dos documentos, guiados pelo discurso de sustentabilidade
produzido a partir das posições discursivas (quem fala), dos espaços semânticos (de que se
fala) e da própria configuração narrativa (o que está em jogo).
O MP/RO se apresentou vinculado à necessidade de alinhamento das ações dos
empreendedores às condicionantes do IBAMA, porém, o que em um dado momento (como
observado nos trechos discursivos analisados anteriormente) que sua função era pelo
121
paradigma da sustentabilidade, ou seja, mais próximo possível da natureza e da sociedade. A
percepção da própria sociedade, por exemplo, nas audiências públicas realizadas em 2006 foi
de alinhamento da posição discursiva e não discursiva do MP/RO aos interesses econômicos
dos empreendedores das usinas.
Ao analisar o processo de licenciamento prévio, por exemplo, verifica-se que a
produção do discurso nas diretrizes preliminares do IBAMA é pela manutenção dos interesses
da natureza e da sociedade baseado na sua função discursiva voltada para a sua natureza
ecológica. Logo, tanto na sua função discursiva quanto não discursiva (ato material), o órgão
licenciador se manteve próximo de sua visão paradigmática neste estudo caracterizada pela
manutenção dos sistemas ecológicos e ambientais com impactos reduzidos.
Além disso, o MP/RO em de seus discursos reconheceu que os ecossistemas e o meio
ambiente seriam afetados seriamente, mas que a partir da execução dos PBA‘s’, os programas
seriam capazes de minimizar ou mitigar os impactos gerados nas obras e no seu entorno.
Os resultados obtidos com a análise dos planos básicos ambientais da SPE/SAE e da
SPE/ESBR apontam que as posições discursivas que predominam na sua elaboração,
validação e implementação foram construídas a partir dos interesses dos órgãos de
fiscalização (IBAMA), empreendedores e acionistas (empresas) homologados pelo Ministério
Público Estadual (MPE) sob pressão do governo federal (MME) para atingir seus objetivos de
desenvolvimento econômico. Pelo lado mais fraco, não se pode afirmar que os discursos
produzidos pelas populações atingidas refletem o que eles realmente desejaram enquanto
sustentabilidade. Em alguns momentos foi possível perceber o posicionamento discursivo
mais radical, por parte da comunidade ribeirinha, se colocando totalmente contra a realização
das usinas hidrelétricas.
No sentido do PBA, as populações atingidas reivindicaram um maior horizonte de
planejamento, de estudos, de discussões, de realizações de infra-estruturas ainda pendentes
principalmente na cidade de Porto Velho. Pelo lado mais forte, (governo e empresas)
atestaram o seu poder simbólico diante das populações atingidas a partir da produção de um
discurso cujo espaço semântico se desenvolveu na hermenêutica da configuração narrativa de
sustentabilidade e crescimento econômico como paradigmas indissociáveis.
Esta configuração narrativa no contexto que antecede a liberação da licença de
instalação – LI também pode ser caracterizada como de sustentabilidade, principalmente,
porque as dimensões que foram associadas aos programas básicos ambientais apresentados se
aproximam das visões de sustentabilidade conforme proposto por Mebratu (1998); Gladwin,
K.K. (1995); Pearce (1993); Sachs (2008). No entanto, quando comparado ao discurso do
122
IBAMA na LP 251/2007, o empreendedor não vai além das suas obrigações legais para com
os órgãos públicos, a sociedade e o meio ambiente.
Os resultados obtidos com as análises de releases, informativos, clippings, notícias e
relatórios de compensações sociais e compensações ambientais foram produzidos a partir do
discurso principalmente textual, porém as imagens utilizadas em cada texto confirmaram a
posição discursiva de envolvimento das populações atingidas nos programas básicos
ambientais (fato não confirmado pela falta de entrevistas a estes atores). Mesmo assim as
posições discursivas nestes documentos resultaram da fala dos dirigentes e funcionários das
empresas, dos representantes públicos, empresários locais e principalmente das comunidades
ribeirinhas. Todas as notícias indicaram que o espaço semântico produzido refere-se ao
contexto de construção e operação das usinas a partir da execução e finalização das
compensações sociais e compensações ambientais. A principal configuração narrativa a partir
destes atores sempre foi a melhoria da qualidade de vida das populações atingidas e
manutenção da natureza preservada, como pano de fundo a sustentabilidade na região de
atuação da SPE/SAE e SPE/ESBR.
Vale lembrar, que nesta análise buscou se respostas para a caracterização do discurso
da sustentabilidade nas empresas hidrelétricas do rio Madeira, não sendo responsabilidade do
mesmo apontar os responsáveis pelos impactos ambientais e sociais ocorridos durante e após
a enchente histórica de 2014 (pelo menos em tempo).
Os resultados obtidos com a análise dos relatórios de sustentabilidade indicaram tanto
pela posição discursiva das empresas acionistas da SPE/SAE quanto pela posição discursiva
das empresas acionistas da SPE/ESBR que os espaços semânticos que mais lhe interessam
dizem respeito aos empreendimentos hidrelétricos que já se em encontram em pleno
funcionamento, ou seja, com operações consolidas na geração e distribuição de energia. Ao
contrário da recomendação da Global Report Intiative (GRI) que orienta para as empresas que
participam de empreendimentos que causam grandes impactos ambientais e sociais a atuar na
sua mitigação, redução e ou eliminação, como por exemplo, no contexto do rio Madeira.
Neste sentido, empresas acionistas como a Odebrecht (SPE/SAE) produziram em seus
relatórios de gestão discursos centrado na sustentabilidade o que lhe garantiu melhor
alinhamento da sua prática discursiva e prática não discursiva ao espaço semântico orientado
pela Tecnologia de Gestão Odebrecht - TEO à configuração narrativa da sustentabilidade no
contexto do complexo hidrelétrico do rio Madeira. Vale lembrar que a Odebrecht não se
orienta e não recebe auditoria da GRI, o que valida seu discurso de empresa que busca ser
referência nas áreas em que atua.
123
A disposição em monitorar suas atividades a partir de um sistema de gestão baseado
parcialmente nas dimensões de Sachs (2008) apresentadas neste referencial corrobora com o
que propõe Foucault (2008) sobre a criatividade no uso de metodologias desde que elas não se
configurem
como
anarquias
metodológicas,
mas sim, melhorem
a compreensão
(hermenêutica) das pessoas sobre determinado tema. Neste sentido pode-se afirmar que a
Odebrecht busca a inovação em seus processos a partir de estudos inclusive no contexto do rio
Madeira, com a criação de um programa pioneiro de educação profissional (Programa
Acreditar) que, conforme a própria empresa apresenta, tem sido aplicado em diversas obras no
Brasil e no Mundo.
A sustentabilidade como principal configuração narrativa se apresenta como um
padrão para a maioria das empresas pesquisadas, porém, sua aproximação maior vai de
encontro ao que Sachs (2008) reconhece como sustentabilidade econômica traduzida pela
manutenção do paradigma de Gladwin, Kenelly e Krause (1995) do lado tecnocentrado. Ou
seja, por não fazer parte do contexto local onde os empreendimentos se desenvolvem, as
empresas priorizam outros espaços semânticos de atuação para falar de sustentabilidade, onde
suas configurações narrativas são percebidas pela sociedade com maior visibilidade. Logo,
não se pretendeu obter resultados que caracterizasse o discurso das empresas pesquisadas em
um contexto global de atuação, mas sim no contexto do rio Madeira, que pertence ao bioma
amazônico, ameaçado por sua própria natureza.
Desta forma, ao discorrer sobre os resultados da pesquisa foi possível afirmar que os
relatórios de sustentabilidade analisados ajudaram a preencher algumas lacunas no discurso
das sociedades de propósito específicos SPE/SAE e SPE/ESBR. Uma delas é a falta de
elaboração de relatórios de sustentabilidade e, por consequência maior divulgação local,
regional e global de suas práticas discursivas e práticas não discursivas, principalmente na
configuração narrativa de sustentabilidade, cujo tema é interesse de todos os seus acionistas e
sociedade como um todo.
124
5 CONCLUSÕES
A pesquisa de dissertação ora apresentada visou compreender as características dos
discursos organizacionais sobre sustentabilidade da SPE/SAE e da SPE/ESBR no contexto da
das usinas Hidrelétricas do rio Madeira no município de Porto Velho/RO. Esta compreensão
foi possível após a identificação do discurso acerca da sustentabilidade da SPE Santo Antônio
Energia (SAE) e da SPE Energia Sustentável do Brasil S.A. (ESBR), bem como analisar os
discursos das duas organizações. Também se traduz em uma tentativa de aumentar o leque
disponível de pesquisas qualitativas no âmbito do Programa de Pós Graduação em
Administração da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), principalmente na utilização de
métodos e procedimentos metodológicos poucos adotados na forma aqui apresentada. O uso
indiscriminado da análise de conteúdo nos programas de pós-graduação tem lançado desafios
para o surgimento de novas estratégias de análise que possam validar as pesquisas futuras no
campo da pesquisa qualitativa. No campo da pesquisa qualitativa surgiu uma nova forma de
analisar textos cujo processo de trabalho vai além do conteúdo do documento analisado. Neste
sentido que o uso da Analise Sociológica do Discurso (ASD) se apresentou como alternativa
ao uso único e exclusivo de análise de conteúdo, pois como os próprios pesquisadores da
escola da ASD afirmam, a analise de conteúdo está contida na ASD, sendo utilizada como a
primeira etapa de análise cujo tratamento nos documentos é informacional-quantitativo. Logo,
para que os resultados reflitam o que o texto representa de fato é que esta escola que ganhou
corpo em 2008 inclui como etapas complementares à AC e análise textual. A análise socialhermenêutica colabora para a compreensão do texto no contexto analisado. Isto inclui texto–
documento e também imagem-documento como foi realizado neste trabalho.
É possível afirmar que a ASD foi reconhecida nesta pesquisa como uma alternativa
para uso mais frequente em pesquisas que além de analisar o contexto, fornecer robustez e
validade semântica às analises de documentos muito extensos ou ainda, que possui grande
volume de textos em variados formatos. Este foi o caso desta pesquisa, que apresentou
aproximadamente 10 mil páginas analisadas constituídas em 1523 documentos em formas
variadas como foi observado ao longo da apresentação da análise, discussão e resultados.
A orientação da análise pelo problema de pesquisa serviu para 02 propósitos: primeiro
no campo discursivo para realizar o processo de pesquisa e análise e para identificar as
características do discurso de sustentabilidade das empresas das UHE do rio Madeira.
Segundo, ao problema foi apresentada resposta via a compreensão das características do
125
discurso de sustentabilidade onde as empresas afirmam o seu alinhamento pelas dimensões da
sustentabilidade de Pearce; Sachs.
A identificação do discurso de sustentabilidade da SPE/ESBR revelou que a empresa é
cumpridora do Programa Básico Ambiental - PBA e que a máxima do seu discurso está
relacionada às compensações sociais e ambientais. As imagens do relatório de compensação
sociais revelaram este feito. Os diretores da empresa se preocuparam mais com as evidências
para o encerramento do protocolo de intenções assinado com a Prefeitura de Porto Velho/RO
do que os efeitos que as compensações poderiam causar. As dimensões de sustentabilidade
foram identificadas nos diversos documentos. Apesar de a dimensão social ser a dimensão
representa a sua posição discursiva na analise dos textos e imagens, o discurso
predominantemente visualizado por parte da ESBR foi o discurso do desenvolvimento
econômico do país e dos seus acionistas.
A SPE/SAE não apresentou um histórico em noticias, releases e informativos desde o
inicio da construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, iniciando o seu processo de
informação em 2012. No entanto, a sua posição discursiva tem características que a destacam
em outras dimensões que não sejam a dimensão econômica. Por mais que a empresa também
procura cumprir seu PBA como pano de fundo para a sustentabilidade, acaba por ter mais
identidade com a população afetada e com a natureza. O lançamento em 2014 do Livro
“Peixes do Madeira” é uma realização inédita, pois, em parceria com a UNIR mapeou quase
1000 espécies da ictiofauna do rio Madeira, característica de discurso pela dimensão
ecológica de sustentabilidade. Da dimensão social, tanto a SAE quanto as empresas acionistas
discursam em apoio ao programa Acreditar (qualificação profissional para o trabalho em
construção civil) que treinou 92 mil alunos até o ano de 2011 para ocupar uma vaga no quadro
de funcionários das empresas envolvidas direta e indiretamente na construção da obra da
usina de Santo Antônio.
As análises do discurso da ESBR e da SAE indicaram que todas as empresas
pesquisadas se esforçam em divulgar seu discurso sobre sustentabilidade em torno das
dimensões ecológicas, sociais, ambientais, culturais, geográficas, politicas e econômicas. Mas
todas elas acabam por privilegiar as dimensões social, ambiental, ecológica e econômica. Por
fim, acaba por adotar uma posição discursiva que visa o seu interesse maior que é o retorno
financeiro das empresas acionistas. Os relatórios de sustentabilidade das empresas acionistas
confirmam esta posição discursiva uma vez que as configurações narrativas e os espaços
semânticos não levam em consideração a sustentabilidade dos empreendimentos, mas sim, os
126
retornos financeiros esperados com a operação de geração e distribuição de energia elétrica no
complexo hidrelétrico do rio Madeira.
A sustentabilidade organizacional deve ser encarada a partir dos paradigmas propostos
por Gladwin, Kenelly e Krause, pois as empresas por mais que se esforcem em demonstrar
interesse em responsabilidade ambiental, responsabilidade social, resolução de conflitos pelos
empreendimentos hidrelétricos, não se distanciam da visão guiada pela dimensão econômica
da sustentabilidade e que, do ponto de vista dos paradigmas, se alinha ao tecnocentrismo.
A aproximação epistemológica das visões de sustentabilidade com base em Munck,
Souza e Silva guiaram o pesquisador para olhar além das visões aproximadas a partir somente
de seus conceitos e definições e dar um passo adiante para visualizar como pessoas de um
campo científico propõe o caminho da sustentabilidade por diferentes lentes teóricas, mas que
buscam resultados sinônimos. Isto foi muito útil para enveredar com mais cautela nas análises
das empresas e no relato dos resultados encontrados uma vez que todas as empresas
pesquisadas discursam por sustentabilidade e caminham pelas margens dela, do lado de
sobreposição dos interesses econômicos em relação à natureza.
Vale ressaltar que esta pesquisa apresentou algumas limitações, entre elas:

A falta de entrevistas aos dirigentes das organizações como forma de captar se a
percepção destes dirigentes para comparar as características de sustentabilidade do
discurso falado com o escrito nos documentos analisados;

A análise de outros discursos que pudessem ser confrontados com o discurso
organizacional como o discurso midiático local e nacional;
De fato a ASD se materializa para o pesquisador qualitativo como uma poderosa
ferramenta de análise sociológica, fazendo-nos encher os olhos na possibilidade de utilizá-la
com mais tranquilidade em função dos objetivos e problema de pesquisa que estiver proposto.
Ao fazer uso da mesma, seja no campo dos estudos em sustentabilidade ou qualquer outro
campo da Administração. Neste sentido também foram sugeridas novos estudos a partir da
ASD:

Realizar analise do discurso organizacional a partir da ASD para caracterizar o
discurso das empresas em relação à atuação como empresa de sociedade de propósito
especifico (SPE).

Pesquisar sobre a violência simbólica nas relações de poder desenvolvidas no campo
de atuação das empresas que causam fortes impactos ambientais, sociais e territoriais,
como no caso das populações ribeirinhas.
127
O discurso da sustentabilidade precisa ser enxergado pelos pesquisadores qualitativos
como uma estratégia que colabora para a manutenção da vida no planeta terra e ela começa
onde as grandes organizações se fazem presentes, em contextos que envolvem vários atores,
desde os organismos públicos e privados até as populações afetadas pelas ações que causam
impactos na natureza e na sociedade, a exemplo do contexto de construção e operação das
usinas hidrelétricas do rio Madeira.
128
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