Implicações pedagógicas e terapêuticas da reencarnação

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Implicações pedagógicas e terapêuticas da reencarnação
ARQUIVO DOS ARTIGOS DO SITE DA ABPE
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS E TERAPÊUTICAS
DA REENCARNAÇÃO
Julio Peres e Dora Incontri
INCONTRI, Dora. (Org,) Educação e Espiritualidade: Interfaces e Perspectivas
São Paulo: Editora Comenius, 2010.
23- Implicações pedagógicas e
terapêuticas da reencarnação
Julio Peres
Psicólogo clínico, doutor em Neurociências pela USP, pós-doutor
pelo Center for Mind and Spirituality da Universidade da Pensilvânia. Autor do primeiro estudo Latino Americano que investigou cientificamente os efeitos neurobiológicos da psicoterapia
através da neuroimagem funcional. Desenvolve pesquisas científicas sobre resiliência, espiritualidade/reencarnação e respectivo
impacto na Saúde.
Dora Incontri
I. Introdução
O assunto a que se propõe este artigo envolve um terreno fronteiriço e convida os leitores a revisitar os paradigmas vigentes da Psicologia e da Pedagogia,
porque pela primeira vez na história, a reencarnação sai do domínio das crenças
religiosas e das racionalizações filosóficas, para se tornar uma hipótese científica
com o peso de evidências empíricas. O que nos propomos aqui é trazer algumas
dessas robustas evidências, estabelecer relações entre elas e as práticas clínica e
educacional e lançar algumas questões em aberto nos campos da Psicologia e da
Pedagogia, para posteriores estudos.
Tanto uma intervenção terapêutica quanto uma intervenção pedagógica de
um ser humano sobre outro – e ambas as intervenções muitas vezes se conjugam,
pois para educar precisamos conhecer a psicologia humana e para “curar” a psique, precisamos de instrumentos pedagógicos que promovam uma auto-terapia
– há a necessidade de uma teoria a respeito de uma questão crucial – o que é o
homem? E a pergunta subseqüente é: o que é a criança?
Ao longo da História, essas questões foram ora respondidas dentro de contextos religiosos, ora filosóficos, que freqüentemente partiam de premissas dogmáticas ou meramente argumentativas. A partir do século XIX, assistiu-se ao
nascimento tanto da Psicologia experimental, quanto da Pedagogia experimen-
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tal. No primeiro campo, Wilhelm Wundt e William James e outros lançaram os
pressupostos da pesquisa empírica da psique humana e na Pedagogia, Edouard
Claparède, Maria Montessori, Jean Piaget, Lev Vigotski e outros se debruçaram
sobre o desenvolvimento da criança, suas formas de interação com o meio e os
mecanismos da aprendizagem. Todos esses pesquisadores tinham envolvimento
com a Medicina e procuraram trazer para a Psicologia e para a Pedagogia modelos de pesquisa científica, que guardavam sempre alguma marca positivista do
virar do século XIX ao XX.
O que caracteriza essa marca positivista é pressupor que se possa reduzir a
compreensão do ser humano a uma abordagem apenas biológica e social, descartando-se aprioristicamente qualquer possibilidade de uma dimensão espiritual.
Explica Abbagnano (1962: 746) que, para o positivismo, “a ciência é o único conhecimento possível e o método da ciência é o único válido: portanto, o recurso
a causas e princípios que não são acessíveis ao método da ciência não dá origem
a conhecimentos; e a metafísica que justamente recorre a tal método, não tem
nenhum valor.” Banida a possibilidade de verificação de qualquer categoria que
remeta à metafísica, as hipóteses de pesquisa que possam incluir uma dimensão
extra-física do ser humano não podem ser cogitadas. Um exemplo dessa posição
iniciada no século XIX, e que ainda hoje tem ressonâncias, está na frase seguinte
do médico alemão Theodor Billroth em seu livro Lehren und Lernen der Medizinischen Wissenschaften (Ensino e Aprendizagem das Ciências Médicas), que deixou
heranças sobre as escolas médicas norte-americanas e depois do mundo inteiro,
pela influência exercida sobre o célebre Relatório Flexner (ver Pagliosa e Ross,
2008): “a Psicologia útil aos médicos está quase toda abrangida na Fisiologia e
na Patologia” (Billroth, 1976).
Exceção deve ser feita a Maria Montessori, que embora médica e propositora
de uma pedagogia científica, ainda preservou a herança de Rousseau (1967) e
Pestalozzi (1927-1980), ao considerar a dimensão espiritual da criança. Fazendo
uma crítica ao experimentalismo radical, dizia ela: “Muitos olharam as contribuições da ciência materialista e mecanicista com demasiadas ilusões” (Montessori, 1986). James também transcendeu as restrições positivistas, considerando a
validade, ao menos subjetiva, da experiência espiritual ( James, 1995).
As críticas contemporâneas da segunda metade do século XX, feitas pela filosofia da ciência, sob diferentes perspectivas, com teóricos como Gaston Bachelard (2000), Karl Popper (2000) e Thomas Kuhn (1962) entre outros, demonstrou que teoria e pesquisa empírica se conjugam para uma visão do real.
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Kuhn, aponta que sempre há elementos históricos, subjetivos, sociais, filosóficos,
num determinado paradigma compartilhado por uma comunidade. Por isso, o
positivismo é classificado como “romantismo da ciência” (Abbagnano, 1970) e a
tendência positivista, embora tenha perdido desde o século XIX a sua visão totalizadora, é um termo que ficou na linguagem para definir uma visão reducionista
e cientificista da realidade.
A questão que se põe neste capítulo é que parece haver dados que indicam o
surgimento de um novo paradigma na Psicologia e na Pedagogia – mas segundo essa mesma visão, mais contemporânea de ciência, esses dados precisam ser
articulados filosoficamente para uma atuação prática na realidade. Discutindo
o status epistemológico da Pedagogia, Franco Cambi refere que há uma crise
ainda não resolvida nesse campo do saber, mas aponta que: “este vem se configurando, como foi dito, como um saber hipercomplexo, constituído de muitos
elementos, a ser submetido a uma coordenação reflexiva e capaz de desenvolver também uma radical auto-reflexão, que controle seus estatutos e finalidades”
(Cambi, 1999:598). Se levarmos então em conta a hipótese da reencarnação,
essa necessidade se torna premente. Entretanto, ainda aí, devemos levar em consideração Montessori, que soube se manter num ponto de equilíbrio entre empirismo e filosofia recomendando: “dar à Pedagogia uma mais larga utilização
das experiências científicas, sem removê-la de suas naturais bases de princípios
especulativos.” (Montessori, 1986). É claro que a articulação de um novo paradigma transcende o escopo deste artigo, mas as questões aqui lançadas pretendem apontar alguns caminhos.
Teorias modernas da personalidade humana e as psicoterapias delas derivadas são baseadas nas histórias de vida das pessoas e suas relações com o meio
ambiente. No entanto, existe hoje um crescente reconhecimento da necessidade
de levarem-se em conta os ambientes culturais dos pacientes sendo submetidos
a intervenções de tratamento médico e psicológico (Bergner, 2005). Métodos
usados em reconhecidos enfoques psicoterapêuticos, tais como o comportamentalismo de Watson, psicanálise de Freud, ou a terapia cognitiva-comportamental
de Beck não levam em conta a crença na vida após a morte, professada pela
maior parte da população mundial (World Values Survey). Estas crenças e valores refletem as hipóteses básicas acerca da natureza do homem e os pontos
de referência cognitivos usados para fazer frente a dificuldades psicológicas. A
crescente experiência da psicoterapia em todo o mundo levanta a questão da
universalidade das hipóteses básicas do modelo do Ocidente e sugere que elas
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cresceram num contexto cultural específico durante um determinado período
de tempo (Varma, 1988; Karasu, 1999). Estes pontos de referência foram e são
transmitidos no mundo acadêmico, que Thomas Kuhn (1962) descreveu como
um importante propagador e mantenedor de paradigmas na sociedade. Marcos
fundamentais na história da ciência foram estabelecidos quando pesquisadores
estudaram ou revisaram fenômenos não lavados em conta pelos paradigmas de
seu tempo. Galileu e Darwin, por exemplo, coletaram substancial evidência empírica ignorada pela maioria dos cientistas da época. Suas descobertas refutaram
conceitos longamente “estabelecidos” relacionados com astronomia e biologia
(Moreira-Almeida e Koenig, 2007).
O conceito de reencarnação, o espírito retornando à forma material, é encontrado através da história da humanidade em diferentes períodos e culturas.
A tradição filosófica ocidental coloca a idéia da sobrevivência da alma após a
morte física e sua jornada contínua evoluindo através da reencarnação. Esta idéia
se faz presente nas escrituras dos antigos órficos gregos que influenciaram Pitágoras e Platão. Na cultura das civilizações orientais, o conceito de reencarnação
é também encontrado em religiões e filosofias tais como Budismo (525 A.C.) e
Hinduísmo (1.500 A. C.).
No Ocidente, a idéia da reencarnação, presente na Grécia antiga (ver capítulos 16 e 17 deste livro), nasce juntamente com o conceito de identidade da
personalidade humana – em que se baseiam todas as teorias psicológicas que
conhecemos. A individualidade, sobre a qual se debruça o terapeuta e com a
qual trabalha o educador, ganha consistência filosófica com Sócrates e Platão,
que eram reencarnacionistas. Sócrates, que estabeleceu pela primeira vez o “conceito” na filosofia, define o ser humano como alma, cuja natureza transcendente
e imortal, é o ser que é. Segundo Reale (2002:142), Sócrates define a natureza do
homem, como “psyche, entendida como consciência intelectual e moral”. Essa
alma indivisível, única, de origem divina, é a identidade do homem, enquanto
memória, conhecimento e qualidades morais (Platon, 1950). Ora, é bem esse
Sócrates que lança o marco fundamental da Psicologia e da Pedagogia ocidentais, com seu “conhece-te a ti mesmo” e quando faz coincidir o ato filosófico,
com o ato pedagógico, promovendo o parto espiritual do ser – a maiêutica – como
processo de construção de si. Por trás dessa sua concepção maiêutica, está a idéia
da autonomia do indivíduo, justificada pela sua transcendência.
Quando no século XX, o filósofo e psicólogo Erich Fromm define personalidade como “a totalidade de qualidades psíquicas herdadas e adquiridas que
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caracterizam um indivíduo e o tornam original”, concluindo que a “principal
missão do homem em sua vida é dar à luz a si mesmo” (FROMM, s/d:56-202) –
embora não esteja explicitamente falando de alma, está profundamente radicado
nesta tradição socrática.
Já no Oriente, a idéia da reencarnação não está necessariamente conectada
com o princípio de identidade do indivíduo, predominante no Ocidente (ver
capítulo 15 deste livro). Pode não haver uma alma indivisível e única no entendimento reencarnacionista de budistas, por exemplo. No entanto, apesar da
transmigração das almas, como diziam os gregos, ser crença antiga e presente em
diversas culturas, já se vão três décadas desde que a hipótese de reencarnação se
deslocou da esfera religiosa e filosófica para o campo da pesquisa científica.
Algumas desordens e comportamentos desajustados observados na Medicina
e Psicologia são difíceis de serem explicados somente através da genética e/ou
influências do ambiente. Entre eles estão as Fobias Específicas e os sintomas
do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) não causados por eventos
experimentados na vida presente. Além destes sintomas, a hipótese de reencarnação pode também nos ajudar a entender fenômenos como tipos incomuns
de brincadeiras ou expressões de temperamento na infância, marcas congênitas
raras relacionadas a supostas lembranças da morte numa vida anterior, lembranças espontâneas de crianças sugestivas de vidas passadas, eventos em pesadelos
recorrentes, ou lembranças traumáticas de supostas vidas prévias relacionadas
a comportamentos desajustados (Stevenson, 2000a). Lembranças espontâneas
(não induzidas ou reforçadas pela família) de vidas passadas são às vezes relatadas por crianças em diferentes culturas e países. A investigação destas supostas
memórias, com o uso de métodos com controles rigorosos, sugere uma base
empírica para a hipótese da reencarnação (Stevenson, 1983a). Se esta hipótese é
confirmada, como seriam revisados os paradigmas da Psicologia contemporânea?
Como este fenômeno se manifestaria na psique e no comportamento humano?
Poderiam habilidades inatas, talentos não aprendidos no presente contexto, perturbações ou medos injustificados ser derivados de lembranças reencarnatórias
conscientes ou mesmo inconscientes? Poderiam as influências do meio incluir
outras vidas?
O impacto na área da Educação não seria menor. Como entender o desenvolvimento da criança, integrando sua carga genética, sua interação com o meio
e as heranças passadas? Como discernir tendências trazidas do passado e como
trabalhar com elas do ponto de vista pedagógico? Como pais, escola, orientado-
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res pedagógicos e psicólogos da educação deveriam se posicionar quando uma
criança manifesta memórias, comportamentos e informações, reportados por
elas como de outras vidas?
II. Pesquisas sobre reencarnação
Vários pesquisadores (Stevenson, 1974a; Stevenson, 1987; Haraldsson, 1991;
Stevenson, 1993; Stevenson, 1997a; Stevenson, 2000b; Keil et al., 2000; Tucker.
2005; Keil et al, 2005; Pasricha et al., 2005) argumentam que a hipótese da
reencarnação oferece uma explicação possível para comportamentos incomuns
não produzidos ou imitados no contexto da família. Por exemplo, um menino
chamado Sujith Jayaratne no Sri Lanka, relatou detalhes sobre uma suposta
vida prévia sua como Sammy, um trabalhador de estrada de ferro e vendedor de
bebidas alcoólicas na vila de Gorkana. Antes do nascimento de Sujith, Sammy
teria discutido violentamente com sua esposa Maggie, se embriagado e saído
para uma volta quando foi atropelado e morto por um caminhão. A mãe de Sujith não prestou atenção aos detalhes da história e nunca tinha ido a Gorkana,
mas Stevenson (1977a) confirmou a verdade desta e de outras vinte declarações.
Quando o menino foi levado para a vila, ele reconheceu várias pessoas, locais e
objetos da vida de Sammy e mostrou notáveis características psicológicas similares, incluindo-se comportamento agressivo e violento e um interesse precoce
incomum em cigarros e álcool, que eram características de Sammy.
Lembranças espontâneas de crianças de suas supostas vidas anteriores têm
sido estudadas, desafiadas e em muitos casos confirmadas, para indivíduos de
diferentes culturas tais como Índia (Stevenson, 1975), Sri Lanka (Stevenson,
1977a), Ásia (Stevenson, 1977b), Líbano, Turquia (Stevenson, 1980), Tailândia, Birmânia (Stevenson, 1983a), Estados Unidos (Stevenson, 1983a; Tucker,
2005), África (Stevenson, 1986), Brasil (Andrade, 1990) e Holanda (Rivas,
2003). Enfoques científicos para a natureza das lembranças de supostas vidas
prévias colocam algumas questões. Estas lembranças aparecem somente em
culturas que acreditam na reencarnação? Ou a reencarnação é um fenômeno
universal, isto é, um fenômeno que se manifesta em diferentes povos a despeito das culturas reencarnacionistas? A natureza universal da manifestação deste
fenômeno reforça a evidência da reencarnação. Thomas Kuhn (1962) nota que
estudos conduzidos a partir de certos pontos de referência teóricos podem ne-
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gligenciar fenômenos que seriam observáveis usando-se outros paradigmas mais
abrangentes. O conjunto de evidências sobre a reencarnação levanta questões
em relação aos paradigmas correntes da Psicologia e da Pedagogia, que falham
não pesando as influências de vidas anteriores na personalidade e psique da vida
presente.
Obeysekere (2002) aponta, confirmando a teoria de Kuhn, que entre os antropólogos de origem européia, a herança religiosa e cultural os impedia de levar
em consideração a narrativa de culturas tribais reencarnacionistas, escamoteando essa crença, como irrelevante, quando ela ocupava lugar central em tais
culturas. Isso pode nos levar à percepção de que existe uma resistência à idéia da
reencarnação no Ocidente e talvez isso seja devido à repressão promovida pela
Igreja Católica contra qualquer premissa filosófica ou interpretação escritural
que pudessem abrir caminhos para a presunção de tal princípio. No ano de 543,
sem mencionar explicitamente a idéia da transmigração das almas, o Concílio de
Constantinopla anatematizou Orígenes, até então considerado um dos grandes
pais da Igreja, porque ele se colocava contra as penas eternas e a favor da redenção de todas as criaturas, inclusive do demônio e igualmente postulava a préexistência da alma ( Johnson, 2001). Hoje, com as pesquisas históricas referentes
aos primeiros séculos do Cristianismo, não é mais possível ignorar o quanto a
ortodoxia foi imposta lentamente e sempre com muita violência, às custas da repressão e supressão das idéias contrárias — entre elas a da reencarnação, que era
crença comum na Antigüidade. Significativa narrativa desse processo é o capítulo de Paul Johnson de sua obra História do Cristianismo, intitulado: De mártires e
perseguidores (Ver também Hillgarh, 1969 e Rubenstein, 2001).
O que hoje é considerado como sendo o próprio cerne da ortodoxia cristã
(natureza divina de Jesus, ressurreição da carne, condenação eterna e outros)
estava longe da unanimidade nos primeiros séculos de Cristianismo, (ver Frangiotti, 2002). Essa diversidade incial e a maneira como em todo o decorrer de
dois mil anos de história das Igrejas, houve apenas uma aparente e forçada unidade de idéias, pode sugerir a idéia de que a reencarnação esteve entre as visões
reprimidas. Eusébio de Cesaréia (2000), em sua História Eclesiástica, escrita em
torno de 325, menciona mais de 20 posições diversas dos primeiros três séculos,
chamadas de heréticas, em confronto com a que prevaleceu na Igreja, seladas
pela autoridade de Constantino, o Imperador que fez do Cristianismo a religião
oficial do Estado Romano. Entre essas posições, havia algumas que adotavam a
idéia da reencarnação. Foi Constantino que incumbiu Eusébio de fazer a nar-
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ração desta primeira história do Cristianismo, coroando-a com a sua imperial
adesão a Cristo. “A ortodoxia era apenas uma das várias formas de cristianismo, durante o século III, e pode só ter se tornado dominante no tempo de Eusébio” ( Johnson,
2001: 69). Isso mostra que outras formas de Cristianismo foram recorrentes no
tempo e só não tiveram validade, porque encontraram perseguição, tortura, fogueira e banimento histórico. Um exemplo de um grupo cristão que defendia a
reencarnação em plena Idade Média foi o dos Cátaros, contra quem foi criada a
instituição da Inquisição e contra quem foi feita uma cruzada, a única na História, de cristãos contra cristãos (Ver Nelli, 1964 e Brenon, 1998).
Além desse possível entrave religioso em relação à reencarnação no Ocidente,
há também a herança positivista dos séculos XIX e XX, que, como vimos, parte
do pressuposto de que a ciência para ser ciência, tem que se ater aos fenômenos
químicos, biológicos e não pode adentrar o domínio do espírito, que seria algo
imponderável e não verificável empiricamente e portanto, inexistente.
Entretanto, introduzindo o que Kuhn chama de “anomalia” no paradigma
vigente, além dos estudos sobre lembranças espontâneas de crianças de suas vidas passadas (Stevenson, 1974a; Haraldsson et al., 1975; Stevenson, 1987; Haraldsson, 1991; Stevenson, 2000b; Tucker, 2005; Keil et al., 2005) várias outras
linhas de pesquisa têm encontrado evidências sugerindo vida após a morte, comunicabilidade de espíritos, assim como a expressão da consciência a despeito
do cérebro. Incluem-se nesse rol, lembranças espontâneas de vidas anteriores
com marcas congênitas correspondentes (Stevenson, 1993; Stevenson, 1997a;
1997b; Keil et al., 2000 ; Stevenson, 2001b; Pasricha et al., 2005), xenoglossia (conhecimento de um idioma não aprendido na vida presente), (Stevenson,
1974b; Stevenson; 1984), casos terapêuticos de regressão a vidas passadas com
detalhes verificáveis, (Wambach, 1978), experiências de quase morte e experiências fora do corpo com detalhes verificáveis (Stevenson and Greyson, 1979;
Morse et al., 1991; Greyson, 2000; Van Lommel, 2001; Athappilly et al., 2006;
Greyson, 2007), e ainda mensagens recebidas via médiuns na forma de escrita
com detalhes particulares não conhecidos do médium e dos familiares vivos antes de receberem as mensagens psicografadas (Severino, 1994).
II.I. Casos positivos e falso positivos
Stevenson e sua equipe da Universidade de Virginia estudaram mais de 2.500
casos de crianças de 4 a 10 anos de idade que declaravam lembrar-se de uma vida
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anterior e verbalizaram detalhes tais como, nomes próprios, nomes de parentes,
nomes de cidades, tipo de morte na vida anterior e eventos que levaram àquela
morte (Stevenson, 1974a; 1975; 1977a; 1980; 1983a; 1983b; 1987; 2000b). Os
investigadores da área observaram que estas lembranças tendiam a diminuir ou
desaparecer após alguns anos, com o início da adolescência (Stevenson, 1977c;
2000a). Contudo, nem todas as lembranças das supostas vidas passadas podem
ser verificadas, e um número razoável não foram confirmadas como verdadeiras.
A reencarnação não é a única explicação para estas lembranças, que estas crianças parecem interpretar como verdadeiras, mas é, no entanto, uma hipótese a ser
usada com seriedade. Pesquisadores independentes – usando o mesmo método
de investigação – com relatórios feitos antes da identificação da personalidade prévia – têm coletado declarações feitas por estas crianças e observadas por
numerosas testemunhas. Ao testarem as informações coletadas, eles puderam
verificá-las em muitos casos. Assim, pesquisadores independentes obtiveram
resultados semelhantes (Haraldsson et al., 1975; Andrade, 1990; Haraldsson,
1991; Mills et al., 1994; Tucker, 2005; Keil et al., 2005). As crianças estudadas
lembravam freqüentemente (75%-80%) como haviam morrido na vida anterior
e apresentavam detalhes sobre sua morte. Elas freqüentemente descreviam com
precisão as áreas onde haviam vivido, embora estas fossem geograficamente distantes e elas nunca haviam estado lá. Os estudos também reportam um grande
número de casos não resolvidos (Stevenson et al., 1983). Haraldson e colegas
(2000) estimaram que somente um terço das crianças que declaravam lembrarse de uma vida passada proporcionaram evidência para reencarnação. Nos casos
investigados, as memórias pareciam emergir espontaneamente, e algumas crianças que se identificavam fortemente com suas vidas passadas insistiam em serem
chamadas pelos seus nomes anteriores contra a vontade de suas famílias atuais.
Outros casos estudados revelaram não só memórias espontâneas assertivas
de vidas passadas, mas também marcas de nascença incomuns correspondentes a ferimentos fatais no indivíduo identificado como a personalidade anterior
(Stevenson, 1993; Stevenson, 1997a, 1997b; Keil et al. 2000 ; Stevenson, 2001b;
Pasricha et al., 2005). Stevenson e colegas (1997a, 1997b) mostraram que em
alguns países até 35% das crianças que alegavam lembrar de vidas passadas apresentaram sinais e/ou defeitos que elas atribuem a uma morte traumática, em
uma vida passada. Em outros países, o percentual era bem menor. Os defeitos de
nascença eram geralmente de tipos raros, e em 43 dos 49 casos em que os registros médicos (geralmente relatórios post-mortem) foram obtidos, a relação entre
feridas e marcas de nascença ou defeitos foi confirmada. As pesquisas também
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mostraram uma série de características psicológicas – interesses, traços de personalidade, preconceitos, fobias específicas e desejos, comportamentos bastante diferentes daqueles da família presente, mas coerentes com a suposta vida anterior
– que eram difíceis de explicar sem a idéia da reencarnação (Cadoret , 2005). Por
exemplo, Erlendur Haraldsson (2000) destacou o interessante caso de Purnima
Ekanayake entre os 60 relatos de crianças estudados por ele no Sri Lanka. A
investigação ocorreu de setembro de 1996 a março de 1999, com a entrevista e
re-entrevista de numerosas testemunhas em cinco visitas ao país. Purnima tinha
nove anos quando Haraldsson a conheceu em sua casa em Bakamuna, uma pequena cidade do distrito de Polunnaruwa, do Sri Lanka central. Conforme seus
pais, Purnima falava de uma vida anterior desde os três anos de idade. Ela se comunicou livremente entre os pesquisadores e, por vezes, corrigia as declarações
iniciais que seus pais lembravam. Conforme o investigador, a criança parecia
bem ajustada psicologicamente, feliz em sua família e era aplicada na escola.
Sua comunicação era clara e todos os seus relatos ao longo das várias entrevistas
mantiveram coerência e linearidade, sem contradições.
Purnima Ekanayake 23/09/98 Bakamuna.
Logo após o seu nascimento, a mãe de Purnima notou marcas de nascença
como grandes aglomerados de hipopigmentação (nevos) à esquerda da linha
média do peito, e sobre as costelas inferiores. Quando Purnima começou a falar
dos eventos passados, em 1990, seus pais deram pouca atenção. Foi só no início
de 1993, que dedicaram algum interesse a seus persistentes relatos. A primeira
afirmação incomum que Purnima repetidamente verbalizava, como uma peque-
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na criança, era: “as pessoas que dirigem mais pessoas na rua são pessoas ruins”.
Purnima também fez declarações sobre um acidente fatal com um veículo de
grande porte (Zoku uahana geralmente significa um ônibus ou caminhão). Ela
relatou que em seguida à sua morte flutuou no ar na semiescuridão por alguns
dias, viu pessoas chorando em luto e também seu corpo no funeral, “havia muitas pessoas flutuantes ao redor, então eu vi uma luz, fui lá e vim aqui (para Bakamuna)”. Purnima falava que sua família anterior fazia incenso Ambika e os pais
pensavam que ela poderia estar sugestionada pela publicidade de uma empresa
de jóias que a televisão mostrava com o mesmo nome. Os investigadores verificaram que apenas duas marcas distintas de incenso eram produzidas na região.
As marcas de nascença de Purnima estavam nas mesmas áreas dos ferimentos fatais de Jinadasa. Depois de obter permissão da Corte de Magistrados de Gangodavilla, foi fornecido o relatório médico pós-morte
(G. Jinadasa 10/04/1985) do Dr. Kariyawasam, que conduziu o exame
de Jinadasa, que seria a encarnação anterior de Purnima. O relatório
descreve: fratura das costelas, 1 e 2, 8, 9 e 10, lateralmente à esquerda;
fígado rompido; baço rompido; pulmões foram penetrados por costelas
quebradas.
384
Aos 4 anos, Purnima viu um programa de televisão sobre o templo Kelaniya
(145 milhas de distância de Bakamuna) e afirmou que ela reconhecia o templo,
e que tinha vivido do outro lado do rio Kelaniya, próximo à edificação. As 20
declarações que, segundo seus pais, Purnima fez, antes da família da vida passada
ser encontrada, estão listadas abaixo:
Relatos de Purnima
1
Eu morri em um acidente de trânsito e vim aqui.
3
Nós fazíamos incenso Ambika.
2
4
5
6
Minha família fazia incenso e não tinha outro trabalho.
Nós fazíamos incenso Pichcha Geta.
A fábrica de incenso é perto de uma fábrica de tijolos e perto de uma lagoa.
Primeiro só a nossa família trabalhava e, em seguida, duas pessoas foram empregadas.
+
+
+
+
+
?
14
+
+
Eu era o melhor fabricante de incensos.
?
Na vida anterior eu era casado com uma cunhada, Kusumi.
+
O proprietário da fábrica de incensos, (Eu) tinha duas esposas.
+
Meu pai anterior era ruim (o pai presente é bom).
?
Pai anterior não era um professor como o pai presente.
+
Eu tinha dois irmãos mais jovens (que eram melhores do que os irmãos presen- +
15
O nome da minha mãe era Simona.
7
8
9
10
11
12
13
16
17
18
19
20
Tínhamos duas vans.
Tínhamos um carro.
tes).
Simona era muito justa.
Eu estudei na escola Rahula.
A escola Rahula tinha um prédio de dois andares (não como em Bakamuna).
Meu pai disse: você não precisa ir à escola, você pode ganhar dinheiro fazendo
incenso.
Eu só estudei até a 5ª série
Legenda: + Verificadas (14), - incorreto (3), ? indeterminado (3)
+
+
+
Em janeiro de 1993, um graduado da Universidade Kelaniya, W.G. Sumanasiri, foi nomeado professor em Bakamuna, e buscou confrontar os relatos de
Purnima, que lhe forneceu outros itens para serem verificados como: ela vivia no
385
outro lado do rio do templo Kelaniya e vendia incenso em uma bicicleta. Estes
itens não foram incluídos na tabela por serem mencionados somente depois
do encontro dos investigadores com Sumanasiri. Em sua primeira verificação,
Sumanasiri foi a Kelaniya acompanhado por seu cunhado Tony Modalige. Eles
confirmaram as descrições de Purnima sobre o local próximo ao templo e encontraram três pequenas empresas familiares produtoras de incenso. Uma delas
produzia as marcas Ambika e Geta Pichcha. O proprietário era L.A. Wijisiri,
associado de Jinadasa Perera, que havia morrido em um acidente com um ônibus quando levava incenso ao mercado numa bicicleta, em setembro de 1985.
Duas semanas mais tarde, Sumanasiri, Purnima e seus pais fizeram uma visita
surpresa a Wijisiri e sua família em Angoda. Antes de chegar, Purnima sussurrou
novamente à sua mãe: “Eu tinha duas esposas e este é um segredo”. Durante o
contato com a menina, Wijisiri ficou confuso e quis mandá-los embora. Então,
Purnima começou a perguntar detalhes sobre vários tipos de pacotes de incenso que fabricavam e só então Wijisiri dedicou atenção à sua história. Purnima
percebeu que os pacotes pareciam diferentes e perguntou a Wijisiri “Você mudou a cobertura exterior dos pacotes?” De fato, Wijisiri havia alterado a cor e o
desenho dos pacotes de incenso. Ela perguntou sobre amigos de Jinadasa, como
Somasiri e Padmasiri, irmão Wijisiri e também sobre sua mãe, esposa e irmã (de
Jinadasa), mencionando os nomes com precisão. Haraldsson soube depois, pela
família de Wijisiri, que Jinadasa de fato, tinha duas esposas. Os investigadores
perguntaram, anteriormente, a Purnima se ela sabia como o incenso é feito. Ela
respondeu que sim e relatou o processo detalhado com segurança. Os pais de
Purmina desconheciam o processo, assim como Haraldsson e o intérprete Godwin. Mais tarde Wijisiri mostrou o processo da maneira que Purnima havia
descrito.
Resumindo os pontos fortes deste caso: as localizações das duas famílias eram
muito distantes, e elas não se conheciam; um terceiro conseguiu encontrar a
pessoa que combinava com as declarações de Purnima; quatorze de dezessete
declarações que poderiam ser encontradas foram verificadas corretamente; Jinadasa havia morrido dois anos antes de Purnima nascer; as marcas de nascença de
Purnima estavam de acordo com a área das lesões fatais de Jinadasa; há algumas
evidências de conhecimento sobre a fabricação de incenso, incomum para uma
criança, o que Purnima explica como decorrentes de sua vida anterior. Pode-se
afirmar que o caso de Purnima Ekanayake é de qualidade incomum, combinando declarações verificadas corretamente, marcas de nascença e conhecimento e
habilidades da vida anterior. A principal fraqueza do caso é o fato de que ne-
386
nhum registro das declarações de Purnima foi feito quando ela começou a falar
sobre a sua vida anterior antes da investigação controlada.
III. O enigma da personalidade
Estudos sobre o aprendizado infantil têm contribuído para o entendimento
da personalidade e documentado a existência de um conjunto de etapas cruciais
– períodos críticos – para o desenvolvimento psicológico normal. Por exemplo,
Spitz (1945, 1946, 1947) comparou o desenvolvimento de crianças mantidas
em instituições para menores abandonados e crianças criadas em um lar ligado
a mulheres detentas. Ambas as instituições eram razoavelmente limpas e forneceram uma alimentação adequada, assim como cuidados médicos similares. Os
bebês no lar foram tratados pelas mães detentas, que dedicavam afeto e cuidados
aos seus filhos durante o tempo atribuído cada dia. Na instituição para menores
abandonados, as crianças foram tratadas por enfermeiros, cada um responsável
por sete crianças isoladas em seus berços, cobertos na lateral – com muito menos contato com outros seres humanos e em condições de privação sensorial e
social, quando comparadas às crianças assistidas pelas mães na prisão. No final
do primeiro ano, as crianças com privação sensorial e social apresentaram índices de depressão e retardo mental significativos em comparação às crianças
estimuladas pelas mães. Outros estudos com o controle da privação materna
foram realizados com primatas em laboratórios, e o conjunto dos resultados sugere que existe um período crítico ao desenvolvimento de habilidades sociais,
tanto em macacos como em seres humanos (Harlow 1958, 1965; Suomi et al.,
1975). A partir dos métodos de mapeamento das conexões entre os neurônios,
foi possível demonstrar prejuízos anatômicos decorrentes de algumas privações
sensoriais (Cowan et al., 1972). Estudos celulares e cognitivos sobre períodos
críticos de aprendizagem mostram que a interação com o ambiente modifica a
eficácia das redes neurais preexistentes, sensibilizando expressões distintas de
comportamentos (Kandel, 2001). Em linha com esses achados, Vygotsky e Luria (1996) postularam que o processo de conhecimento da realidade é regulado
por uma contínua interação de práticas culturais, percepção e linguagem. Não
apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem
são resultantes da prática social, ou seja: as relações sociais/culturais “modelam”
a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito. A não exposição a essa “modelagem” cultural pode gerar déficits nas faculdades cognitivas.
387
Vygotsky complementa que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada por sistemas simbólicos. A práxis opera
no sistema perceptual, gerando conteúdos visuais, tácteis, olfativos e gustativos;
por meio da socialização, o indivíduo se integra no grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos, costumes e traços de personalidade característicos desse grupo. Os estímulos ambientais e fatores socioculturais seriam,
nesse sentido, ingredientes decisivos da constituição da personalidade. Assim,
as escolhas individuais aparentemente autênticas, estariam confinadas ao leque
de opções que o entorno fornece. Contudo, exemplos de personalidades destacadas, como a de Leonardo Da Vinci, Michelangelo di Ludovico Buonarroti
Simoni, Johann Sebastian Bach, entre muitos outros indivíduos “comuns” que
transcenderam o condicionamento cultural-sociológico, desafiam esse enfoque,
ainda que a genialidade esteja em vários casos associada a transtornos de personalidade (Andreasen, 1987).
Teorias contemporâneas pressupõem que a personalidade é condicionada
por uma combinação entre a herança genética e as influências ambientais no
curso da própria história de vida. Porém, a singularidade genética e sua interface
com o meio ambiente não fornecem uma descrição completa da individualidade
humana, se fosse esse o caso, duas pessoas com o mesmo genoma e as mesmas
experiências de vida apresentariam personalidades idênticas. Gêmeos diencefálicos (duas cabeças no mesmo corpo) e os gêmeos siameses (duas cabeças e dois
corpos interligados), com experiências de vida e constituições genéticas idênticas teriam os mesmos traços de personalidade, ou ao menos semelhantes. No
entanto, as gêmeas americanas Abigail e Brittany Hensel, e as gêmeas iranianas
Laleh e Ladan Bijani, entre outros casos, mostraram personalidades muito diferentes (gostos, temperamentos, opiniões, desejos) desde a primeira infância
– de 0 a 6 anos (Wallis, 1996; Thompson, 2003). Além dos fatores genéticos e
ambientais, deve haver mais fatores envolvidos na composição da personalidade.
Stevenson (2000) sugere a reencarnação como um possível terceiro elemento
para constituição da personalidade, além da genética e das influências ambientais da presente vida.
388
Abigail e Brittany Hensel aos 17 anos de idade e Laleh e Ladan Bijani aos
29 anos. Desde a infância apresentaram traços de personalidade distintos
e desafiam a hipótese de que a interação dos fatores genéticos e ambientais constroem exclusivamente a personalidade.
III.I. Lucidez a despeito do cérebro
Nos últimos anos, vários estudos independentes levantaram a possibilidade de testar a hipótese de a consciência existir a despeito do funcionamento
do cérebro, investigando a mente humana durante a parada cardíaca (Parnia,
2007). Após a parada cardíaca, a pressão arterial média torna-se imensurável
e os sinais de sinapses elétricas próximas ao escalpo, indicadoras da atividade
neural, são nulos. A perda de reflexos e funções do tronco cerebral, que ativa as
áreas corticais através do tálamo também são observadas nesse estado crítico.
Alguns pacientes que chegaram ao pronto socorro com parada cardíaca – de
11 a 20% – recordaram lucidamente pensamentos bem estruturados, processos
cognitivos de raciocínio e formação de memória, assim como a preservação da
consciência durante a parada, chamando a atenção de vários investigadores. Entre eles, Morse e colegas (1991), Greyson e colegas (2000; 2007), Van Lommel
e colegas (2001), Athappilly e colegas (2006) e Parnia (2007) mostraram que os
conteúdos experimentados variam entre imagens de luzes e túneis brilhantes.
Além disso, os procedimentos do staff médico relatados por estes pacientes durante a parada cardíaca foram verificados corretamente. Os autores dessa linha
de pesquisa postulam que a preservação da lucidez, de processos cognitivos de
raciocínio e formação de memórias, bem como a capacidade de alguns indivíduos de recordarem episódios pormenorizados é um paradoxo científico. Isto é: nas
condições neurofisiológicas durante a parada cardíaca seria esperada a ausência
389
da manifestação consciente e de processos cognitivos complexos. Em linha com
esses achados, algumas teorias associam o cérebro com o papel de mediar conceitos como espírito, que supostamente envolve um repertório de experiências
passadas refletidas na personalidade (Peres, 2009).
O interessante caso de Pam Reynolds, que aparentemente sofreu uma profunda experiência transcendental enquanto foi operada de um aneurisma da
artéria basilar, merece atenção. A intervenção cirúrgica requer um estado clinicamente morto do paciente: a temperatura corporal reduzida a 17 °C, sem
batimento cardíaco e respiração, e o sangue drenado de sua cabeça. Reynolds
estava sob monitoramento médico durante toda a operação e após a cirurgia
fez observações detalhadas sobre o procedimento, que mais tarde foram confirmadas pela equipe médica como surpreendentemente precisas. Entre outros, o
caso de Pam Reynolds desafia a doutrina materialista em relação ao problema
mente-cérebro, sugerindo que os processos mentais podem ser experimentados
no momento em que as funções do cérebro aparentemente não estão ativas. A
acurácia de alguns relatos como este sugere que experiências transcendentais não
são necessariamente ilusões criadas pelo cérebro. Em outras palavras, seria possível para os seres humanos a experiência de uma realidade transcendente, na qual
a manifestação da percepção, da cognição, da emoção e da identidade, acontece
independentemente do cérebro. Essa idéia não é nova. William James e Frederic
Myers postularam que o cérebro pode funcionar como um filtro para as manifestações da mente em nossa vida cotidiana, em vez de produzir a mente. Em
outras palavras, o cérebro pode funcionar como um órgão que permite, mas não
limita a expressão da mente (Kelly et al., 2007). Mais recentemente, os achados
neurofuncionais em psicoterapia, hipnose e efeito placebo, tomados como um
todo, também desafiam a hipótese de que a mente é um subproduto do cérebro
(Beauregard, 2007). Vale lembrar que, tendo eletricamente estimulado o cérebro
in vivo para mapear as funções corticais, Penfield (1978) postulou que as redes
neurais por si sós, seriam incapazes de produzir consciência, e declarou que a
mente tem uma existência separada do cérebro, embora estejam intimamente relacionados. Penfield acrescentou que não havia qualquer local no córtex cerebral
onde a estimulação elétrica faria um indivíduo tomar uma decisão.
IV. Implicações na psicologia
As raízes da Psicologia remontam à Grécia Antiga, quando o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) produziu o escrito Acerca da Alma, citado muitas vezes
390
como o primeiro manual de Psicologia (Aristotle, 1956). O termo psicologia, no
qual reside a raiz etimológica psiché (alma) mais o sufixo logos (razão, estudo),
surgiu no final do século XVI com Rodolfo Goclenio e a publicação Psychologhía, hoc est de hominis perfectione, animo et in primis ortu eius, commentationes
ad disputationes. A proposta original da psicologia foi estudar e compreender
o espírito – do latin spiritus –, que significa literalmente respiração, sopro. Os
limitados métodos científicos dos séculos passados distanciaram a Psicologia do
estudo do “não-palpável”, enquanto a medicina desenvolvia métodos para investigações do corpo (do latim corpus: parte essencial) (Finger, 1994). Atualmente, algumas das investigações controladas das ultimas três décadas, expostas no
presente capítulo, sugerem que a consciência – não local e não palpável – pode
se manifestar a despeito do cérebro, além de sobreviver à morte e voltar à vida
física por meio da reencarnação.
William James afirmou que “a Psicologia não pode considerar-se abrangente
se não levar em conta as inúmeras variedades de experiências diferentes daquelas
consideradas normais”. ( James, 1890). Alinhados a James, outros autores, com
base em estudos populacionais, reportam que os relatos de experiências consideradas paranormais são tão comuns na população geral que nenhuma teoria da
Psicologia pode ser considerada completa se não levá-las em consideração. Hoje,
diversas teorias que procuram explicar a consciência e a personalidade oferecem
um extenso espectro de hipóteses, como interações de fatores ambientais, psicossociais, neurais, genéticos, espirituais e reencarnatórios. A compreensão da
etiologia do sofrimento humano estará com a continuidade de estudos controlados sobre a psique, quiçá num futuro próximo, alinhada à terapêutica eficaz.
Portanto, o esclarecimento dos fatores constituintes da natureza humana, em
especial da consciência e da personalidade, são objetos de estudo justificáveis e
imprescindíveis aos profissionais que se ocupam de tratar a dor psíquica em sua
miríade de expressões.
Não há como se falar em Psicologia ou Psiquiatria sem abordar a personalidade e a expressão da consciência, e esse tema não pode ser deixado à margem
da prática clínica. A visão do homem e a natureza que o constitui são esteios que
norteiam as intervenções terapêuticas dos profissionais da Saúde. Mesmo sem a
compreensão cabal dos critérios que constituem a natureza humana, as psicoterapias surgiram em meados do século XIX no Ocidente. As abordagens variam
em relação às escolas filosóficas, às perspectivas epistemológicas, às teorias e aos
métodos que utilizam como orientação de suas intervenções práticas. Tal ordem
conceitual é necessária para que as intervenções terapêuticas estejam alinhadas
391
a uma estratégia funcional para o alcance do objetivo maior das psicoterapias: o
alívio do sofrimento.
Por um lado, a ciência não trouxe esclarecimentos definitivos a respeito das
variáveis que constituem a personalidade e, assim sendo, investigações, hipóteses e abordagens terapêuticas são bem-vindas. Por outro lado, tal multiplicidade
– teórica, metodológica e prática –, que vigora na Psicologia/Psiquiatria clínica,
pode ser questionada quanto à cientificidade das abordagens adotadas, uma vez
que a natureza humana em si é a mesma, a despeito das diversas definições
encontradas nas teorias. No começo do século XX, como exemplo, o psicólogo
John Watson postulou que conseguiria fazer de qualquer criança um médico ou
artista de sucesso se pudesse aplicar na “cobaia” um sistema contínuo de estímulos. De pensadores como Watson veio a idéia de que a personalidade é resultado
de uma educação de recompensas e punições.
Definir personalidade é até hoje um desafio, uma vez que a ciência ainda não
esclareceu conclusivamente o mosaico de variáveis e suas participações interativas na constituição da singularidade de nossas identidades. Múltiplas concepções do homem embasadas em distintos pressupostos epistemológicos espelham
referenciais históricos e socioculturais, às vezes distantes dos recentes achados
científicos. Reconhecidas abordagens psicoterápicas não levam em consideração
a crença compartilhada pela maior parte da população mundial: a possibilidade da sobrevivência após a morte (World Values Survey). Particularmente no
Brasil, de acordo com a pesquisa Data Folha (2007), apenas 21% da população
não acredita em vida após a morte, 1% não acredita que Deus existe, e 44% não
acredita em reencarnação. Tais crenças e valores refletem suposições básicas sobre a natureza do homem e referenciais cognitivos adotados para enfrentamento
das dificuldades psicológicas. Estes dados demográficos também justificam a
relevância dos estudos nessa área fronteiriça a respeito da sobrevivência.
A fonte e o suposto término da “vida psíquica” vêm sendo debatidos desde as
milenares tradições religiosas e antigos gregos até a Neurociência contemporânea sem, todavia, o estabelecimento de um consenso. As experiências espirituais
podem auxiliar na compreensão da relação mente-corpo, e conforme refere o
psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, a humildade, a abertura e o rigor científico são imprescindíveis para esse alcance. Isto é: modificar quando necessário
as nossas premissas mais fundamentais diante das evidências científicas. Por
exemplo, a teoria do “ponto de Deus”, que postulava um ponto no cérebro como
responsável para a experiência da divindade, foi derrubada por estudos recentes
392
de neuroimagem (Azari et al., 2001; Newberg et al., 2003; Beauregard et al.,
2006).
Edward Kelly e colegas (2007) apresentam e discutem no livro “Irreducible Mind” (Mente Irredutível) as implicações de vários fenômenos psicológicos
significativos, mas negligenciados, como influências psicofisiológicas (psicossomática, placebo, transtornos dissociativos, mudanças neurofisiológicas induzidas por hipnose, influência mental à distância), memória, automatismo mental
(identidade, escrita automática/psicografia, estados de transe, experiências mediúnicas), fenômenos de quase-morte e experiências similares (experiência fora
do corpo, sonhos vívidos, aparições e visões lúcidas no leito de morte) e experiências místicas. Alvarado e colegas (2007; 2008) em especial, destacam que a
mediunidade foi usada para defender ampla variedade de idéias sobre a mente
subconsciente, a comunicabilidade do espírito, a dissociação e a psicopatologia.
É necessário que sua influência seja mais reconhecida do que o é atualmente na
historiografia da Psicologia e da Psiquiatria. Os autores referem que “aqueles de
nós interessados na Psicologia e na Psiquiatria não devem negligenciar os médiuns em seus estudos de desenvolvimento intelectual dessas disciplinas”. Chico
Xavier, apenas com ensino fundamental, foi um dos médiuns mais destacados no
mundo. Recebia mensagens de espíritos com estilos e conteúdos variáveis (poesia, romances, biologia, história, medicina e psicologia). Tais psicografias renderam mais de 400 livros publicados e milhões de cópias distribuídas pelo mundo.
Todos os direitos autorais foram doados para instituições de caridade. Algumas
mensagens de filhos falecidos trouxeram dados corretos que os pais e o médium
desconheciam anteriormente. Finalmente, Kelly e colegas (2007) mostram que,
à luz das evidências disponíveis, considerando a revisão detalhada sem limitar a
análise apenas aos dados contemporâneos da Neurociência Cognitiva, as principais teorias monistas materialistas atuais a respeito do complexo mente-corpo
são seriamente falhas e incapazes de explicar muitas das experiências humanas.
IV.I. Divisores de águas
As neurociências trazem contribuições para o entendimento da percepção,
que pode ser definida como a capacidade de associar informações sensoriais à
memória e à cognição, a fim de construir conceitos sobre o mundo, de nós mesmos, e orientar nossos comportamentos (Peres, 2009). Percepção e processos de
memória estão diretamente relacionados à geração dos comportamentos (Peres
et al., 2007b). Nós não percebemos o mundo exatamente como ele é, mas como
393
acreditamos que possa ser, e estes resultados sugerem que a riqueza da experiência individual é imensamente subjetiva (Ramachandran e Gregory, 1991; Yarrow
et al., 2001). Em outras palavras, os pressupostos subjetivos sobre o mundo estão
entre os pilares sobre os quais os comportamentos são construídos (Creamer
et al., 2005). Por exemplo, a crença na reencarnação, dentro da visão ocidental,
considera um ciclo contínuo de aprendizado e evolução através das vidas sucessivas. Deste ponto de vista, as dificuldades são transitórias e podem ser superados
quando os seus ensinamentos foram absorvidos (Peres, 2009). Por outro lado, a
crença na finitude da vida pode ampliar a dimensão da dificuldade atual. Devemos lembrar que o desenvolvimento psicológico humano é altamente refinado e
de auto-correção (Prochaska et al., 1992; Masten et al., 1998), e os pacientes ao
invés dos terapeutas, são os curadores real (Bohart, 2000). Portanto, a valorização
dos conteúdos que os pacientes trazem e seus respectivos sistemas de crenças,
pode reforçar as próprias capacidades de lidar com os problemas (Karasu, 1986;
Sayed, 2003; Bergner, 2005; Peres et al., 2007a).
Os psicoterapeutas podem contemplar os sistemas de crença do número significativo de reencarnacionistas ao redor do mundo. Além dos dados demográficos referidos anteriormente, o World Values Surveys mostrou que a crença na reencarnação é professada por 22,6% da população nos países nórdicos, 20,2% na
Europa Oriental, e 27% na Europa Ocidental (Inglehart et al., 1998, 2004) e nos
Estados Unidos os números chegam a 27% (Gallup, 2003). As abordagens psicoterápicas devem tomar nota deste grupo significativo de pessoas, independentemente das razões que os levam a acreditar em reencarnação – vestígios da era
pré-cristã, influências de escrituras/filosofias ocidentais e asiáticas, necessidade
de encontrar uma explicação plausível para questões existenciais, experiências
e recordações pessoais de vidas passadas, ou enquadre cognitivo para lidar com
a dor da perda de entes queridos. Como todos, os reencarnacionistas buscam
tratamentos psicológicos que levam seus sistemas de crenças em consideração.
Aceitar a realidade psicológica e os pontos de referência do próprio individuo
que busca auxílio são preditores de resultados terapêuticos satisfatórios (Brune
et al., 2002; Peres et al., 2007a). No entanto, em oposição à opinião da maioria
da população mundial, a hipótese dominante transmitida no mundo acadêmico
postula a morte como fim da existência pessoal (Haraldsson, 2006). Fundamentalmente, a Psicologia contemporânea deve analisar a universalidade das suas bases e teorias para que assim possa compreender e trabalhar com as manifestações
naturais dos seres humanos e, conseqüentemente promover a psicoterapia com
eficácia. Varma (1988) mostrou que as premissas subjacentes das psicoterapias
394
contemporâneas, que não consideram a reencarnação, não conseguem responder
às necessidades da maioria das pessoas na Índia e não são funcionais para a população.
A crescente experiência no âmbito psicológico aponta para a importância
do surgimento de abordagens terapêuticas não-dogmáticas que levem em conta
e valorizem as realidades sócio-culturais das grandes e pequenas comunidades
(Varma, 1988; Sayed, 2003). Muitas pessoas acreditam que as suas atuais dificuldades possam estar relacionadas a ocorrências traumáticas em vidas anteriores. A
crença na reencarnação foi associada com mais experiências traumáticas graves
em alguns indivíduos com TEPT, incluindo abuso sexual na infância, estupro e
perda de um ente da família com morte violenta (Davidson et al., 2005). Estudos
de crianças que espontaneamente recordam de vidas passadas demonstraram
que como um grupo, apresentam importante prevalência de sintomas do TEPT,
que pode ser explicado pelo fato de que 80% dessas crianças alegarem memórias
de mortes violentas, como acidentes, guerras ou assassinatos (Stevenson e Samararatne, 1988; Haraldsson, 2003).
Bohart (2000) postulou que o paciente deve ser visto como o fator comum
mais importante na psicoterapia, trazendo o conceito de “resiliência” – capacidade de atravessar dificuldades e voltar à qualidade satisfatória de vida – para argumentar que os pacientes, e não os terapeutas, são os curadores. Seligman (1995)
chama a atenção à importância de avaliar aspectos intitulados como não-específicos, tais como: traços de personalidade do terapeuta que podem sensibilizar
o estabelecimento do rapport – aliança terapêutica –, a aderência e a confiança
do paciente em relação ao profissional e ao respectivo tratamento. Portanto, a
psicoterapia deve voltar-se para os pacientes e respectivos sistemas de crenças,
no sentido de potencializar suas capacidades, uma vez que a terapia funciona até
onde estes aceitam participar e as condições de aprendizagem. Além disso, é fundamental que a psicoterapia trabalhe para desenvolver modelos colaborativos,
baseados na relação, que enfatizem a mobilização da esperança e do otimismo, o
envolvimento ativo do paciente e a ajuda para que este mobilize suas inteligências intrínsecas para encontrar soluções (Bohart, 2000, p. 145). Nesse sentido, é
razoável postular que a reencarnação deve ser considerada pelos terapeutas em
suas abordagens, e mesmo estratégias psicoterápicas que valorizem tais sistemas
de crenças devem ser formuladas e investigadas quanto à eficácia do tratamento.
Consideramos fundamental que os psicoterapeutas respeitem essas crenças subjetivas trazidas pelos pacientes.
395
IV.II. Exemplos de casos clínicos
Os dois seguintes relatos mostram como o respeito do terapeuta em relação
as crenças dos pacientes sobre a reencarnação pode ser útil:
1) M.A, engenheiro, 38 anos. Tenho três filhos, mas eu era incapaz de me relacionar bem com um deles. Eu não conseguia expressar afeto, evitava o contato com esse
filho, sendo sempre mais rigoroso com ele. Como reencarnacionista, eu sabia que nós
somos um pai ou um filho nesta vida por uma razão, e como um pai adulto, eu teria
que mudar meu comportamento para com o meu filho de 6 anos de idade. Busquei psicoterapia para me ajudar a superar esta dificuldade. Depois de duas tentativas sem sucesso, com um terceiro psicólogo me senti confortável ao falar sobre isso, porque percebi
que a minha crença na reencarnação foi naturalmente aceita. Conforme respondia às
perguntas do psicólogo sobre o que eu acreditava que seriam os meus desafios em relação
ao meu filho, foi se tornando mais claro o que eu precisaria superar. Não foi rápido,
mas tive os meus insights e, gradualmente, consegui construir um bom relacionamento
com meu filho. A ajuda profissional foi muito importante para eu sentir o que eu não
conseguia antes por conta própria: estar bem com o meu filho amado!
2) P.L, músico, 23 anos. Até 22 anos de idade, eu tive um pesadelo que se repetia:
Via um grande lobo feroz, com dentes afiados, pronto para me atacar, mas acordava
antes que ele pudesse me morder. Eu senti que esse sonho estava relacionado a uma
vida anterior, mas eu não entendia porque se repetia da mesma maneira sempre. Busquei psicoterapia para lidar com outro problema: um estado contínuo de excitação,
ansiedade e sentimento de impotência que eu não podia explicar. Durante a psicoterapia eu dei uma descrição detalhada dos meus sintomas para a terapeuta e em uma
das sessões, eu falei sobre o pesadelo e tudo isso. Era como ter um peso enorme nos meus
ombros... A psicóloga me pediu para ir falando sobre o pesadelo, e então eu me vi como
uma criança dormindo em uma cabana de madeira na neve. Acordei sentindo frio
e vi que um lobo enorme olhava para mim através da porta aberta. Foi uma morte
traumática, senti angústia terrível por morrer sozinho! Eu entendi que a ansiedade
e o desamparo pertenciam ao passado e que agora estou vivendo em um contexto diferente, eu sou um adulto forte e apoiado pela minha família. O pesadelo nunca mais
aconteceu, eu consegui desligar do trauma e viver no presente, agora em paz.
396
V. Implicações na educação
Embora poucas crianças apresentem possíveis memórias de vidas passadas
e dentre essas, nem todas as lembranças puderam ou podem ser verificadas em
pesquisa, as evidências já existentes, corroboradas pelo fato de a reencarnação
estar entre as crenças mais antigas e universais da humanidade, convocam-nos
a considerar esta hipótese para trabalhar também com um novo paradigma na
Educação. As observações que vem sendo feitas a respeito do desenvolvimento
infantil – desde a primeira formulação empírica de Pestalozzi à psicologia genética de Piaget – teriam de ser revisitadas levando-se em conta essa variável, para
podermos formular uma nova teoria da infância, que englobasse os parâmetros
biológicos, sociais, mas igualmente essas possíveis heranças de outras vidas.
A casuísta levantada por pesquisadores sobre a problemática da reencarnação
mostrada aqui nos deixam entrever que as marcas de uma personalidade anterior podem interagir com as heranças biológicas e as influências do meio atual.
Brincadeiras, comportamentos sociais, conhecimentos, sentimentos, orientações sexuais aparecem nestes casos com reflexos significativos da vida anterior.
As crianças que se lembram com precisão têm a característica predominante
de reportarem vidas anteriores recentes, com mortes violentes, causadoras de
trauma. Stevenson considera (ver capítulo 23 deste livro) que o trauma da morte
recente e violenta é um fator preponderante para a personalidade atual guardar
a lembrança do que passou.
Entretanto, se essas pesquisas lidam com crianças que têm memórias mais
ou menos claras, isso não significa que aquelas que não têm tais lembranças, não
apresentem também brincadeiras, comportamentos, tendências, talentos, traumas, que procedam de outras vidas, desde que não se identifiquem as causas na
presente existência. O caso de talentos extraordinários precoces, como as crianças gênios, a Síndrome Savant, de difícil enquadramento causal, mas que não
reportam memórias passadas poderiam ser indicativos de reminiscências inatas.
Mas a partir das evidências daquelas que se lembram, podermos ter parâmetros
para trabalhar com aquelas que não se lembram, mas que apresentam comportamentos, tendências ou problemas cuja origem não é identificável.
Isso coloca o educador numa posição inédita diante do educando. A primeira
mudança deveria ser a do olhar: não mais enxergar a criança como um ser que
397
apenas absorve o ambiente e se constrói a partir do que lhe oferecem aqui e
agora, mas sabê-la como uma personalidade integral, antiga, cujas ressonâncias
devem interagir com a influência atual. A partir desse pressuposto, o educador
pode se orientar com muito maior respeito pela individualidade com a qual se
depara, pois ele jamais poderá formatá-la de fora, mas deverá contar com a sua
vontade livre de auto-construção e com as experiências positivas e negativas que
o inconsciente carrega do passado.
O educador se torna um observador atento para entender que personalidade
é essa, que se manifesta em impulsos, emoções, idéias inatas, talentos ou problemas – cuja etiologia não pode ser verificada nem em seu meio social, nem em sua
família. Freqüentemente, professores se vêem diante de comportamentos extraordinários (positivos ou negativos) que não encontram explicação na educação
familiar ou escolar – são esses principalmente que podem ser trabalhados com
a hipótese da reencarnação. Tomando-se todo o cuidado para que o educando
não perceba que ele está sendo objeto desse olhar atento e esquadrinhador, o
educador deverá agir com delicadeza e afeto, para lidar com essas manifestações.
Isso significa que ele ouvirá com acolhimento, observará com circunspecção e
intervirá com sutileza (por palavras colocadas adequadamente, por estímulos
positivos, por conversas amistosas).
Isso pressupõe uma mudança de atitude que afeta todo o processo educativo:
o ato de educar não deve ser a formatação externa, como faz a escola tradicional,
mas a ausculta cuidadosa do educando, para uma intervenção delicada e amorosa.
V.II. Exemplos de casos na escola
Os casos abaixo não foram pesquisados para fornecerem evidências que
pudessem verificar as afirmações das crianças e as percepções dos educadores.
Entretanto, justamente por causa das pesquisas acima mencionadas, podemos
adotar na prática pedagógica, uma observação atenta para manifestações que
possam indicar lembranças e comportamentos relacionados com vidas passadas.
A utilidade de se levar em conta essa hipótese está em saber como se conduzir
com a criança, proporcionando estímulos educativos e terapêuticos, que venham
a curar traumas e fazê-la desligar-se de memórias ou condicionamentos que
estejam prejudicando seu ajuste emocional, para um desenvolvimento harmonioso.
398
Uma das constantes observadas por pesquisadores como Stevenson e que
aparecem nesses casos abaixo, é uma sensação de inadequação e desajuste da
criança à sua condição infantil, à sua vida presente. Essa característica está presente em significativa parte dos casos relatados por Stevenson, mas também
pode ser observada em crianças cuja memória do passado não seja tão explícita.
São freqüentes os desajustes com o gênero, com a cultura, com a classe social,
com a família em que o indivíduo se encontra. Platão em seu mito de Er, na República, diria que a alma dessas crianças beberam menos água do rio do Letes (a
água que fazia as almas se esquecerem ao reencarnar na terra) e elas conservam
mais fortemente traços da personalidade anterior e algumas se revelam bastante
incomodadas por “estarem crianças” – um dado que reforça a hipótese da reencarnação: só pode sentir como incômoda a posição de ser criança quem já foi
adulto.
Nesses casos, um procedimento que se mostra eficaz é fazer recomendações
diretas e firmes, mas com afeto e serenidade para chamá-la para esta vida como:
“isso já passou!” Ou: “agora você tem outra família e nós o amamos muito!”,
“agora é outro tempo!”. A criança se sente entendida em suas recordações, mas é
convidada a se ajustar ao presente.
Caso Adolfo
1) Um menino de 5 anos, que chamaremos de Adolfo, apresentava expressões fisionômicas, falas e comportamentos muito diferenciados de todos os colegas da escola e foi
observado por diversos professores que tiveram contato com ele. Estava constantemente
de mau humor, porém, não era uma birra típica de criança, manhosa, chorosa; era um
humor ranzinza. Sempre de cara fechada, pouco sorria. As brincadeiras de que todas as
outras crianças gostavam, Adolfo se recusava participar delas, principalmente as que
envolviam alguma coisa imaginária. Ele afirmava que não gostava daquilo, como se
estivesse se sentindo ofendido por estar sendo tratado como criança. Seu vocabulário
muitas vezes também era bastante adulto. O que se destacava sobretudo eram suas
narrativas espontâneas a respeito de suas posses: dizia que tinha uma fazenda, com
muitos carros, cavalos, gado – fazia uma descrição detalhada de sua propriedade num
tom de orgulho. Consultada a família, os professores foram informados de que nem os
pais, nem parentes ou pessoas de suas relações tinham fazenda e Adolfo jamais estivera
numa propriedade como a que ele descrevia. Tratava-se de uma família de classe média, que vivia na cidade de São Paulo.
O procedimento pedagógico e terapêutico a se adotar neste caso não é o de reprimir
essas manifestações e tampouco estimulá-las. Trata-se de acolher a criança, quando
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narra algo, que para ela é muito sério e tentar situá-la na vida presente, procurando
atividades saudáveis, desenvolvimento de talentos, relações positivas – que façam com
que ela se apegue mais ao presente e sinta-se confortável na vida atual.
Caso Augusto
2) Um menino, que chamaremos de Augusto, de 8 anos de idade, especialmente
bonito, já havia conquistado o título de menino-problema na escola em que estudava.
Nada lhe interessava. Nenhuma atividade, nenhum amigo, nenhuma brincadeira.
Seu comportamento era mesmo regressivo: durante as aulas às vezes até se jogava no
chão. Fugia de qualquer conversa, embora tivesse bom vocabulário e fosse uma criança
inteligente. Uma educadora, que se preocupava intensamente com sua situação, passou
a observá-lo com mais atenção e viu que o menino apresentava uma sensualidade
precoce, um comportamento às vezes sedutor, próprio de um adulto. Sensível à idéia da
reencarnação, formulou a hipótese de que Augusto estava desconfortável na infância.
Certo dia na escola, procurou falar com Augusto e, perguntou de supetão: – Augusto,
do que você não gosta? A resposta veio sem nenhuma hesitação: – De ser criança. A
educadora e a diretoria da escola já sabiam que a mãe havia se separado do pai e era
pouco acessível a qualquer conversa, mas desconheciam que Augusto dormia na mesma
cama que a mãe e tinha o hábito de mexer nos seus seios.
O caso não precisaria de uma explicação reencarnatória: Augusto estava recebendo um estímulo sexual precoce e desejava substituir o pai em todos os sentidos e por
isso não gostava de ser criança e não poder assumir essa posição. Entretanto, a visão
reencarnacionista complementava o quadro, mostrando que o estímulo precoce atual
trazia à tona uma personalidade passada, na qual o menino se fixava, negando-se
inconscientemente a ser criança, a estudar, a participar da vida escolar. Também não
se trata de um caso que pudesse fornecer alguma evidência palpável de reencarnação,
mas essa hipótese enriquece a percepção da situação, mostrando que se a mãe precisava
de uma terapia, o filho também necessitava, além de ser cuidado terapeuticamente, de
uma ação pedagógica positiva para trazê-lo ao presente e à vivência da infância.
A intervenção pedagógica proposta no caso seria o processo de estimulação para
conectá-lo à realidade atual, procurando achar algum fio de interesse que pudesse concentrá-lo numa atividade. A música tinha para Augusto esse caráter apaziguador e
nos momentos em que os educadores propunham o canto em sala de aula, ele conseguia
maior nível de concentração. A longo prazo, pela observação contínua de suas manifestações e de tentativas de outras atividades que lhe chamassem o interesse, poderiam
se achar outros caminhos. Infelizmente, porém, o menino foi retirado da escola e os
professores envolvidos não souberam mais do desdobramento do caso.
400
O que se opõe a esse tipo de observação e intervenção no universo escolar é o fato de
que a criança raramente é tomada em sua individualidade, para que sejam captados
seus interesses, suas manifestações e seus talentos pessoais. O sistema de ensino tradicional, vigente na maioria das escolas, indiferencia os alunos, com a preocupação básica da
transmissão de conteúdos. Os casos de Adolfo e Augusto puderam ser detectados, porque
os educadores envolvidos estavam desenvolvendo projetos interdisciplinares na escola,
independentes das aulas convencionais. E sua proposta de trabalho se fundamentava
em uma vinculação afetiva com o educando.
VI. Conclusão
William James postulou que um único “corvo branco” refutaria a afirmativa
que “todos os corvos são pretos” ( James, 1890). Constatamos nesse capítulo que
diferentes linhas de pesquisas e estudos sobre a reencarnação sugerem evidências
consideráveis em favor do fenômeno. Se a hipótese da reencarnação é verdadeira,
então os atuais paradigmas da personalidade humana, que não levam em conta a
influência das vidas passadas sobre o presente serão necessariamente revisitados
e reescritos. Portanto, o interesse e a pertinência de investigações científicas relativas à reencarnação se justifica, dada a importância do seu impacto na qualidade
de vida das pessoas através das respostas obtidas pela ciência. Nós postulamos
que seria, no mínimo salutar, que os psicoterapeutas perguntassem aos pacientes,
no setting terapêutico, sobre as raízes/origens de suas dificuldades e estivessem
abertos a trabalhar com o conteúdo que emerge naturalmente, incluindo supostas vidas passadas. Os profissionais devem estar confortáveis com pacientes
que levantam questões existenciais e espirituais (Shaw et al., 2005; Peres et al.,
2007a). Há uma necessidade terapêutica e um dever ético de respeitar essas opiniões, e mostrar empatia e respeito da realidade que o paciente traz, mesmo que
o terapeuta não compartilhe das mesmas crenças (Shafranske, 1996). Um grande
número de pessoas no mundo, especialmente em culturas e países onde há uma
crença generalizada e aceitação da reencarnação (Peres et al., 2007c), têm sido
negligenciadas pelas psicoterapias contemporâneas aceitas e ensinadas no meio
acadêmico. Talvez um dos maiores desafios para a psicoterapia seja a mudança
do paradigma da nossa visão do homem como um ser bio-psico-social que ignora a dimensão espiritual e a reencarnação.
Da mesma forma, parece-nos que seria saudável uma abertura dos educadores
para olhar os educandos, admitindo a possibilidade da reencarnação, sobretudo
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numa cultura como a nossa, brasileira, onde essa idéia encontra boa acolhida
na população. Essa variável para entender a personalidade da criança pode nos
colocar no caminho para solucionar problemas que às vezes parecem sem saída
na prática diária de um educador e, ao mesmo tempo, nos abre amplas perspectivas, no cultivo das personalidades que temos sob a nossa responsabilidade no
processo da aprendizagem.
Além da abertura propriamente do educador, a perspectiva de uma pedagogia
baseada na reencarnação poderia ensejar uma educação mais centrada na pessoa,
menos massificada e mais comprometida com o desenvolvimento pessoal dos
educandos. Mas para que tal proposta seja implementada, precisamos avançar
nas pesquisas das evidências de vidas passadas, cruzadas com estudos psicológicos do desenvolvimento infantil, desde que tal linha fosse incorporada como
uma alternativa presente nos estudos acadêmicos, assim como o são as teorias
pedagógicas de origem marxista, psicanalítica, psicogenética, sócio-interativista.
Pesquisas sobre o complexo de fatores envolvidos na formação da personalidade devem continuar. Ainda há muito a ser desvendado no fenômeno da
consciência. Mas enquanto isso, desembarecemo-nos dos preconceitos que nos
impeçam de avançar alguns passos na direção de um paradigma abrangente da
integralidade do ser humano.Se assim fizermos, talvez venhamos a entrelaçar
uma Psicologia e uma Pedagogia reencarnacionistas que situem o educador
como terapeuta de uma alma antiga, que ele saiba captar e ajudar na cura de
seus traumas e desajustes, enquanto o terapeuta como educador possa estimular
as potencialidades transcendentes do ser humano para seu desenvolvimento e
auto-resolução de conflitos. As funções de educador e terapeuta se conjugarão
num só sentido: fazer uma educação que cure e uma terapia que auto-eduque,
com o devido respeito à dimensão espiritual do ser.
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