uma década informando aos pernambucanos

Transcrição

uma década informando aos pernambucanos
R$ 10,00
UMA DÉCADA
INFORMANDO aOS
PERNAMBUCANOS
Nesta edição especial de aniversário da revista, veja as
transformações ocorridas no Estado nos últimos dez anos
Algomais • Março/2016
1
E M P E R N A M B U CO , O D E S E N VO LV I M E N T O
C H E G A D E N AV I O , D E C A R R O E D E AV I ÃO .
Operação Hub Azul
» 66 voos diários para 24 cidades
» Incremento de R$ 2,5 bilhões na economia
» Expansão de 12,49% no PIB do turismo
Polo Automotivo da Jeep
» 1ª fábrica da marca fora dos Estados Unido
» Produção de 250 mil veículos/ano
Polos de desenvolvimento
» Polo de Confecções do Agreste
2º maior polo têxtil do Brasil
» Polo Cervejeiro
Ambev, Brasil Kirin e Itaipava
» Polo Gesseiro do Araripe
95% da produção nacional de gesso
» Fruticultura no Vale do São Francisco
98% da exportação nacional de uva
Complexo de Suape
» 105 empresas em operação
» 45 empresas em instalação
» Melhor porto público do País
2
Algomais • Março/2016
os
o
e
Pernambuco não para de crescer. Grandes empreendimentos, como o Complexo de Suape, seguem a todo vapor. O Polo Automotivo
da Jeep está promovendo uma verdadeira transformação na economia. Novas indústrias, de diversos segmentos, vêm gerando
mais oportunidades, do Sertão ao Litoral. E com o Hub Azul, o Estado se tornou o centro de conexões de voos da companhia no
Nordeste. Com atração de novos investimentos estamos construindo um futuro cada vez melhor para os pernambucanos.
Operação Hub Azul
» 66 voos diários para 24 cidades
» Incremento de R$ 2,5 bilhões na economia
» Expansão de 12,49% no PIB do turismo
Polo Automotivo da Jeep
» 1ª fábrica da marca fora dos Estados Unidos
» Produção de 250 mil veículos/ano
Polos de desenvolvimento
» Polo de Tecnologia da
Informação e Economia Criativa
250 empresas instaladas
» Polo Cervejeiro
Ambev, Brasil Kirin e Itaipava
» Polo Gesseiro do Araripe
95% da produção nacional de gesso
» Polo Energético
Potencial para geração de 1.000GW de energia eólica
Complexo de Suape
» 105 empresas em operação
» 45 empresas em instalação
» Melhor porto público do País
Algomais • Março/2016
3
editorial
Edição 120
Dez anos de conquistas
Aniversário
Retrospectiva
Temos muito o que comemorar nesta década de existência da Revista Algomais.
Em primeiro lugar, fizemos com que caísse por terra a ideia – até então tida como
verdade absoluta – de que o mercado editorial pernambucano não comportaria
uma revista mensal. O sucesso da publicação, o número de leitores que conquistou
e a repercussão de suas reportagens mostram que esses “analistas da comunicação”
estavam equivocados.
Outro motivo de comemoração é constatar que a linha editorial adotada pela revista
foi acertada e deu muitos frutos. Mais do que realizar críticas inférteis, Algomais
se propõe a debater os desafios e problemas de Pernambuco e propor as possíveis
soluções, a partir de reportagens baseadas em análises de especialistas competentes.
Dentro dessa linha surgiram os seminários Pernambuco Desafiado, realizados em
parceria com a TGI Consultoria em Gestão. A iniciativa evoluiu e hoje a publicação
comemora seus 10 anos instituindo o Conselho Estratégico Revista Algomais –
Pernambuco Desafiado. Composto por lideranças empresariais e de movimentos
sociais, seu intuito é formar um fórum de discussões para refletir sobre os desafios do
Estado e sugerir soluções factíveis para o poder público.
Em meio a tantas conquistas obtidas nesta década, trazemos a você, leitor, uma
edição de aniversário pra lá de especial e que tem tudo a ver com a revista. São várias
matérias mostrando algumas das mudanças ocorridas no Estado nestes 10 anos e o
impacto que causaram no comportamento dos seus moradores. Portanto, a estrela
deste número da revista é você, pernambucano. Daí porque nossa capa traz vários
“conterrâneos”, alguns famosos e outros anônimos.
Para atuar na partida desta edição, entrou em campo não apenas o nosso competente
time de reportagem. Convidamos também craques em temas como economia,
futebol, literatura, entre outros, para fazer uma análise das mudanças ocorridas
nessas áreas na última década. Destaque para um verdadeiro “Pelé” da crônica: Joca
Souza Leão, que até hoje nossos leitores sentem saudades da sua coluna Pano Rápido.
O resultado foi um gol de placa. Confira!
@revistaalgomais
facebook.com/revistaalgomais
Cláudia Santos - Editora Geral
[email protected]
Saiba o que foi notícia nas páginas de
Algomais nestes 10 anos. 16
Mobilidade
Congestionados
Engarrafamentos e percursos
maiores mudam a rotina do
pernambucano. 24
tecnologia
Internet
Nem os idosos resistem à sedução de
conectividade das redes sociais. 48
educação
A Era do Enem
Exame revoluciona a forma de
ensinar e de aprender. 74
e mais
Entrevista
8
Economia /Jorge Jatobá
90
Baião de Tudo/Geraldo Freire
104
Arruando pelo Recife e Olinda
108
João Alberto
110
Memória Pernambucana
112
Última Página/ Francisco Cunha
114
Edição 120 - Março/2016 - Tiragem 12.000 exemplares
Capa: Combogó Comunicação e Estratégia
Uma publicação da SMF- TGI EDITORA
Diretoria Executiva
Sérgio Moury Fernandes
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Ricardo de Almeida
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Diretoria Comercial
Luciano Moura
[email protected]
Conselho Editorial
Armando Vasconcelos, Fábio Lucas, Gustavo Costa,
João Rego, Luciano Moura, Mariana de Melo,
Raymundo de Almeida, Ricardo de Almeida e
Sérgio Moury Fernandes.
4
Redação
Fone: (81) 3126.8156/Fax: (81) 3126.8154
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EDITORIA GERAL
Cláudia Santos (Editora)
Roberto Tavares (Consultor Editorial)
Reportagens
Cláudia Santos
Rafael Dantas
Kássia Alcântara
Yago Gouveia
Editoria de Arte
Rivaldo Neto (Editor)
Algomais • Março/2016
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Pernambuco, sem louvações descabidas nem
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do contraditório, pontualidade de circulação
e identificação inequívoca dos conteúdos
editorial e comercial publicados.
Algomais • Março/2016
5
Escreva para
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cartas
ON LINE
www.revistaalgomais.com.br
@revistaalgomais
facebook.com/revistaalgomais
para deslocamento via bicicleta pela
Zona Oeste do Recife, inclusive desaguando na rua Cosme Viana que ainda
tem a via pintada devido à ciclofaixa
de turismo e lazer que funciona aos
domingos. Por falta de manutenção não há mais sinalização vertical
nem pintura no logradouro. Restaram algumas placas de sinalização
e semáforos de ciclistas, mas a pista
independente foi extinta.
Frevo 1
Ferreira
A reportagem de capa e páginas 12
a 15, que tratam do Futuro do Frevo,
serve de alerta para retomarmos os
grandes momentos do nosso Carnaval, com festivais e grandes promoções pelos tradicionais clubes, com
excelentes orquestras e apresentando
o genuíno frevo pernambucano.
A família de Lucilo Maranhão agradece suas citações elogiosas. Entretanto, já que se trata de reportagem
sobre "arte", solicito um "retoque" no
sobrenome do meu pai. Aproveito a
oportunidade para exprimir minha
admiração por esta revista, da qual
sou leitor.
Atenciosamente
Foto: Irandi Souza
Gilson Sotero Jr. - Recife
José Almeida Queiroz – Recife
Ricardo Médicis de A. Maranhão – Recife
Frevo 2
Jailson Raulino - Recife
Caro Ricardo, desculpem-nos pelo erro
que cometemos na reportagem sobre
Ferreira, na qual afirmamos que o nome
do médico que auxiliou o artista plástico
chama-se Lucilo Magalhães. Na verdade, o correto é Lucilo Maranhão.
Clídio Nigro
Ciclofaixa
Amei - na Algomais – o merecido
destaque dado por Marcelo Alcoforado ao inesquecível Clídio Nigro, imortalizado pelo gosto popular ao criar
o “Hino não oficial do Carnaval de
Olinda”_ o seu Olinda Nº 1, que todo
mundo sabe e/ou aprende, passando
pela cidade na época do Carnaval.
Em face à matéria veiculada na edição
de janeiro/2016 – Bikes ganham espaço
na cidade teço meu comentário: Bikes
ganham espaço. Lindo título, mas não
basta apenas a prefeitura inaugurar
novas ciclofaixas ou ciclovias e não
conservar as anteriores. A antiga
ciclovia permanente que havia no
curso da Rua 21 de Abril (que liga os
bairros de San Martin, Mustardinha e
Afogados) era um modal importante
Quero parabenizar a ênfase dada ao
frevo na edição de Jan/2016.
Marieta Borges - Recife
6
Algomais • Março/2016
Francisco José 1
Belíssima entrevista. Cada vez que o
escuto ou leio uma entrevista como
esta, passo a admirá-lo mais.
Antonia Salviano - Recife
cartas
Francisco José 2
Um repórter muito profissional e
extremamente divertido que tive o
prazer de conhecer. Admiro muito
seu trabalho! Entrevista muito bacana.Chico é demais!
Tania Betim - Recife
Francisco José 3
Muito legal essa reportagem, eu já era
fã do Chico José, agora que sou mais
ainda.
Fábio Freire - Olinda
Algomais – 10 anos
Requeremos à mesa da Câmara Municipal do Recife um voto de aplausos à
Revista Algomais, pela comemoração
dos seus 10 anos de fundação. Da
decisão desta casa legislativa, dê-se
conhecimento aos sócios-diretores
da Editora SMF-TGI, Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura, aos
jornalistas Rafael Dantas e Roberto
Tavares, e aos sócios da TGI Consultoria em Gestão Francisco Cunha e
Ricardo de Almeida. Trata-se de um
Acabei de ler a Algomais de janeiro e quero parabenizálos. Apesar de magra, está forte e resistente como nosso homem
do Sertão, que não se rende às crises e às intempéries da vida.
João Rego - Recife
periódico mensal, antenado com as
novas tendências de mercado e com
o nosso Recife. A Algomais também
é parceira da Revista Olhar Cristã, que
aborda temas relacionados ao cristianismo.
A Algomais se caracteriza por uma
destacada qualidade editorial, cujo
conteúdo é de fácil leitura, inclusive
para temas complexos, em virtude
da forma inovadora de comunicar e
da competência dos seus diretores,
colunistas e colaboradores. As pautas
são analisadas rigorosamente pelo
seu conselho editorial e o seu projeto
gráfico possui sintonia e qualidade
impecáveis.
Portanto, é justo que esta casa legislativa parabenize todos os que fazem
parte dessa revista, que tem como
propostas dar visibilidade aos principais acontecimentos que ocorrem em
Pernambuco, especialmente na nossa
cidade. A comemoração do aniversário de uma década é motivo dos
nossos calorosos aplausos.
gra, está forte e resistente como nosso
homem do Sertão, que não se rende
às crises e às intempéries da vida.
João Rego - Recife
Francisco Cunha
Sensacional! Como leitor de Algomais, parabenizo esta revista pela
publicação do artigo Estão voltando as
flores (edição 117). É algo mais que nos
prova que: “Há esperança ainda!”
Walter Ribeiro – Recife
Michelen Collins, vereadora - Recife
Edição de Janeiro
Acabei de ler a Algomais de janeiro e
quero parabenizá-los. Apesar de ma-
Algomais • Março/2016
7
entrevista
ALCEU VALENÇA Artista fala do seu trabalho na
música, no cinema e de suas traquinagens da infância
“A vida toda serei
um adolescente"
Irrequieto, eloquente e bem-humorado, Alceu Valença esbanja uma vitalidade que nem parece que fará 70
anos em julho. Nesta conversa com
Algomais ele fala do filme que está
lançando, inspirado nas conversas
sobre Lampião que ouvia na infância,
das traquinagens de criança, de como
Jean-Paul Bemondo o ajudou a conquistar garotas e da política das gravadoras.
Como foi ser menino em São Bento do
Una?
Muito bom. Eu jogava pião, corria
atrás de bezerros na fazenda, via os
cavalos com os vaqueiros aboiando,
via na feira os emboladores, os cegos
que tocavam, os cordelistas cantando
seus cordéis, as mentiras que contavam dos cangaceiros, dos circos que
passavam, da discussão se Lampião
era bandido ou herói. São Bento para
mim é um mito em tudo: o mito da
música, do Agreste, dos forrós. Isso
tudo está no meu filme chamado A
Luneta do Tempo, que vai ser passado,
finalmente, no dia 24 de março no circuito comercial.
Por que fazer cinema?
Meu pai morreu, eu fui enterrá-lo e
me lembrei muito do papo dele comigo sobre grupos como o de Lam8
Algomais • Março/2016
Diego Nóbrega
Entrevista a Cláudia Santos, Rafael Dantas e Wanessa Campos
pião. Lembro de vovô que fez o folheto Patativa e Azulão com tio Lucilo.
Por isso, talvez eu tenha feito um
folheto chamado A Luneta do Tempo,
que primeiro era cordel virtual, não
um filme. A mitologia segura a gente. Lampião, Corisco são mitos, entre
outras dezenas de mitos brasileiros.
Meu filme é bem-feito, mas não tem
estouros, essa coisa chata da indústria do entretenimento. Não suporto
efeitos especiais.
Verdade que você começou a cantar
aos 4 anos?
Foi no Cine Teatro Rex em São Bento
do Una. O prêmio era uma caixa de
sabonetes. Eu concorri mas perdi a
caixa de sabonetes! Um outro menino cantou Granada e ganhou porque
cantava melhor do que eu. Mamãe
conta que eu não entendia o que era
palco o que era plateia e quando o
menino vencedor começou a cantar
fiquei na frente rebolando, e fazendo o que se chama de bunda canastra (cambalhotas). Aí o público ficou
louco por mim naquele momento e
eu sem entender muito bem, porque
eu queria me amostrar pra mamãe.
Como foi o início nos estudos?
Tia Bebete foi minha professora. Na
primeira aula, achei chato demais,
pedi para sair da aula para poder cuspir. Ela deixou e aí corri para casa.
Fiquei embaixo de uma cama. De repente, Miau, meu gato, me viu chegou
perto de mim e fiquei com ele horas
e horas debaixo da cama. Depois fui
morar em Garanhuns e estudar no
Colégio Diocesano de Padre Adeumar
da Mota Valença, que era o diretor
do colégio. Depois vim para cá e fui
morar na rua dos Palmares, onde eu
via passar os frevos, os caboclinhos.
Essa rua eu denominei num poema de
“carnavalódroma”. O maestro Nelson Ferreira morava ao lado da minha
casa e na frente morava o poeta Carlos
Pena Filho, que era casado com Tânia
Carneiro Leão, mulher muito bonita. Olhava o belo casal passeando na
rua e pensei que se fosse poeta também poderia arranjar uma gata para
mim. Ao lado esquerdo da minha casa
morava Maria Parísio, cantora lírica.
Nesse momento eu estudava no Colégio Nóbrega e fui expulso.
Por que?
Eu precisava de um ponto para poder
passar em francês. O professor estava com marcação comigo. Eu tirei
10, 10, 10, mas depois eu não estudei
Morei na rua
dos Palmares, que
denominei de
carnavalódroma, era
vizinho de Nelson
Ferreira, Carlos Pena
Filho, Maria Parísio”
muito, porque jogava basquete na
seleção pernambucana infantil e juvenil e tive que viajar para o Paraná
para jogar. Ele botou zero, zero, zero.
Acontece que eu tinha sido escolhido
para fazer um concurso para ir para
França e ainda ia ganhar um dinheirinho. Mas não podia tirar nota baixa. Precisava de um ponto só. Pedi
ao professor, bote um, preciso viajar.
Ele não quis, aí disse: quer saber de
uma coisa? Soque no cu! (risos) Fui
expulso.
E foi para onde?
Para o colégio do professor Rodolfo
Aureliano, um desembargador que
era colega de meu pai, que era procurador. Nessa época eu ia para os carnavais no Clube Português, chegava
perto das moças, mas elas me davam
um chute. Comecei a me achar feio.
Até que um dia surgem filmes da
nouvelle vague e um deles era À bout
de souffle (Acossado) , com Jean-Paul
Belmondo. Era o novo galã, a nova
estética. Eu era parecido com ele, só
que mais bonito, porque na época em
tinha um nariz direitinho e ele havia
levado um murro e tinha um nariz
quebrado. Eu ia para o cinema São
Luiz e ali aprendi a fumar por causa
dele – a pior coisa que fiz na minha
vida. Eu fazia assim: (coloca a mão
como se estivesse com cigarro entre
os dedos e toca os lábios). As meninas diziam: “meu Deus do Céu ele é
igual ao artista!”. Aí namorei muito
por causa de Belmondo. Nessa época eu era muito botado para fora das
salas de aula, de castigo. Mas eu devo
muito a Dr. Aureliano porque ele me
colocava na sala dele e ficava até duas
horas da tarde tendo que ler. Ele me
apresentou a livros de Jorge Amado,
Graciliano Ramos. Ele mandava bilhetes para papai dizendo que eu tinha sido expulso da classe. Eu levava
e falsificava a assinatura de papai e
entregava no colégio. Até que um dia
ele desconfiou e mandou a caderneta
lá pra casa por um cara que trabalhava
no colégio. Aí eu corri para casa, botei uns óculos, penteei o cabelo para
trás para fingir que eu era meu irmão.
Quando ele chegou ficou olhando pra
mim e disse: sou do colégio Padre Félix. Perguntei: aconteceu alguma coisa com Alceu? Aí ele disse “é que
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ALCEU VALENÇA
Dr. Aureliano mandou isso aqui”. Eu
assinei e ninguém soube, aliás papai
soube algum tempo atrás (risos).
Diego Nóbrega
entrevista
Você se formou?
Em direito, mas trabalhava como estagiário em jornalismo. Trabalhei na
redação da Bloch e do Jornal do Brasil,
onde falei muito bem de São Bento.
Mas eu mentia muito. Para eu reescrever uma reportagem do Diario de
Pernambuco ou Jornal do Commercio
que eles pediam, eu reescrevia e incluía São Bento. Teve uma reportagem sobre jumentos que eram comprados em Alagoas, abatidos e depois
iam para o Japão. Em vez de dizer que
foi em Alagoas, eu coloquei que foi
em São Bento e disse que o povo de
São Bento não quis vender o jumento
porque como diz aquela música de Luiz
Gonzaga, o jumento era nosso irmão.
Estava tentando ser jornalista e estudando direito. Mas nesse momento veio
a lei que só permitia trabalhar quem tivesse cursado jornalismo.
Você que escolheu o direito ou foi a família?
Meu pai que queria que eu não fosse artista, porque dois irmãos dele tocavam
violão iam pra farra e foram os únicos
que não se formaram. Aí papai botou na
minha cabeça que eu teria que fazer direito. E ele até me prometeu um carro se
eu passasse. Eu passei aí ele pediu para
dividir o carro com outros irmãos Risos). Hoje em dia nem de carro eu gosto. Passei na universidade federal. Aí fui
fazer um estágio com minha ex-mulher
no escritório do pai dela. Minha função
foi fazer uma cobrança a um cara, um
devedor. Mas ele me explicou porque
estava devendo e aí dei razão a ele. Disse
que ele não devia pagar não (risos). Aí
sai do escritório e nunca mais voltei.
E a música como surgiu na sua vida?
Meu avô tocava violino, um tio chamado Juventino tocava sanfona, outros tios tocavam violão. Eu ouvia os
aboios. Meu outro avô tocava bandolim e tia Canô tocava piano, mas
ninguém era profissional. Eu ouvia
isso quando pequeno e fica na cabeça da gente. Sou músico porque eu
toco, mas eu não aprendi a tocar com
ninguém. Eu conhecia toda essa cultura e todas as músicas das rádios. Sei
10
Algomais • Março/2016
imitar todo mundo quer que eu imite? (começou a imitar Cauby Peixoto e Nelson Gonçalves. Veja o vídeo:
www.revistalagomias.com.br).
Quando passou a cantar em festivais?
No Recife. Cantei com Roberto Carlos,
que ainda não era conhecido. O show
era Roberto Carlos, cantor da rádio
Mayrinck Veiga, e Alceu Valença. Foi
no Náutico. Ainda estava no Jornal do
Brasil quando soube que podia me inscrever para o FIC (Festival Internacional da Canção). Ia ter uma fase Norte-Nordeste que seria realizada aqui. Aí
eu passei (nessa etapa), com a música
Acalanto para Isabela com arranjo do
maestro Duda, regido por Clóvis Pereira. Sem saber de nada fui para o
Maracanãzinho, no Rio.
Mas você estourou mesmo no Brasil no
Festival Abertura, da Rede Globo?
Foi, mas antes gravei um disco com Ge-
raldo Azevedo que me deu muita força.
Belle De Jour é seu maior sucesso?
Não, Tropicana. O disco antes de
completar um ano vendeu 1,6 milhão
de cópias. O outro, Anjo do Avesso,
que tinha Anunciação, vendeu mais
de 1,5 milhão. Belle De Jour vendeu
umas 800 mil cópias.
Você e vários artistas romperam com as
gravadoras. O que aconteceu?
Uma gravadora comprou meu passe
e de outros artistas (Chico, Elba, Gal
Fagner) só para nos derrubar. A gente
vendia mais de um milhão de discos.
Eu ganhei até um apartamento de cobertura no Rio de Janeiro para eles me
tirarem do catálogo. Era uma maneira
de tirar a MPB do Brasil porque a MPB
tinha que ter investimento para gravar. Mas, a gravadora trazendo uma
música da América do Norte, uma
música da Madonna ou de outra qual-
Uma
gravadora comprou
meu passe e de outros
artistas só para nos
derrubar”
casa. Aí eu liguei para o comitê de
Joaquim Francisco e fiquei cantando
(na campanha dele) num trio elétrico
só com violão. Não ganhei um tostão. Eu fui em nome de mim mesmo,
sabe? Do meu direito de ser democrático. Não suporto ditadura, nem
de direita, nem de esquerda. Nunca
me locupletei.
E como é ser um artista hoje?
Não se vende mais disco, não adianta.
Eu tenho 1,3 milhão de pessoas que
me seguem na internet. Uma música
minha, No meio da rua, deu 8 milhões
de acessos.
quer, a produção já acabou, já ganhou
milhões e milhões, então só era botar no mercado daqui e colocar nas
rádios. Você entra com um produto,
a custo zero, para não entrar com um
outro produto que pode custar R$ 200
mil ou R$ 250 mil.
É o neoliberalismo entrando nas gravadoras?
O neoliberalismo é uma jogada que
interessa sobretudo às grandes marcas. Eu sou uma pessoa que raciocino, não sou contraditório, sou controverso. Eu me lembro uma vez que
apoiei Joaquim Francisco, porque eu
tinha estado na Alemanha Oriental,
onde existia uma ditadura. Sabe por
que caiu? Por causa do papel higiênico. Várias vezes passei por lá e numa
dessas eu fui no banheiro. O papel
higiênico era uma lixa. Eu disse lá
aos meus amigos: caiu a Alemanha
Oriental. E eles perguntaram, por
que? Eu disse: por causa do papel
higiênico, não há cu de comunista
que aguente uma lixa dessa! Quando
voltei para cá, estava numa discussão
na casa de Roberto Lessa sobre a direita e a esquerda. Os ânimos se exaltavam. Aí me perguntaram em quem
votaria. Disse que meu título era do
Rio, mas se eu votasse aqui eu votaria
em branco. Aí alguém me perguntou
em branco? Eu disse: contra Joaquim
não posso votar, porque é meu amigo
de classe e de rua. Só isso. No outro
dia as pessoas que estavam lá começaram a me telefonar. João de Lima
Neto, que morreu, grande amigo
meu, rompeu com o PMDB passou
para o outro lado. Ele me perguntou: posso dizer que você está com
Joaquim? Eu disse não. Eu não estou
com ele, eu não estou contra ele. No
outro dia já estavam me esculhambando, até que chegou um momento que jogaram uma pedra na minha
E você hoje ganha dinheiros dos shows?
Dos shows e direitos autorais. Eu não
preciso de muito dinheiro para mim.
Eu acredito que vai haver uma saída
do neoliberalismo para uma outra
coisa porque o mundo não vai conseguir mais segurar a ganância. Vai
haver uma migração para o campo.
Em vez de você comprar um apartamento, vai comprar, a um preço baratinho, uma casa arretada no meio
de uma vila de 20 pessoas no campo.
Mas nessa volta ao campo tem internet. A função de Delminha, minha
irmã, na fazenda é irrigar a plantação. Mas descobri que você vai poder
abrir e fechar a torneira pelo celular.
Você faz 70 anos este ano e...
… Quando você diz isso me dá um
susto! Sou uma pessoa muito nova na
minha cabeça. A vida toda serei um
adolescente.
Veja mais conteúdo no site
www.revistaalgomais.com.br
Algomais • Março/2016
11
aniversário
Revista cria fórum
para debater PE
Ao completar uma década no mercado editorial,
publicação constitui com a TGI o Conselho Estratégico
Revista Algomais – Pernambuco Desafiado
N
esses 10 anos levando informação à sociedade pernambucana, a Revista Algomais sempre se pautou
por defender os interesses de Pernambuco. Outra característica da
publicação tem sido analisar os problemas e desafios enfrentados pelo
Estado, sem se fechar na crítica infrutífera, mas, sobretudo, publicando
reportagens partindo de um prisma
propositivo. Mais do que apontar as
dificuldades, o objetivo é buscar soluções, a partir de entrevistas e debates com especialistas.
E para comemorar essa década de
existência, mantendo-se fiel à linha
de fomentar discussões e propostas,
a revista inova ao criar o Conselho
Estratégico Revista Algomais – Pernambuco Desafiado. “Trata-se de
um fórum permanente formado por
lideranças que fazem a diferença nas
diversas cadeias produtivas de Pernambuco e em movimentos sociais.
Esse grupo terá a missão de refletir
sobre os desafios do Estado”, esclarece Sérgio Moury Fernandes, diretor
da SMF-TGI Editora, que publica a
revista. “É importante ressaltar que
o conselho tem cunho institucional e
visa colaborar para o futuro do Estado. Não tem caráter comercial”, adverte Sérgio Moury.
O funcionamento do conselho se
dará a partir de reuniões semestrais
12
Algomais • Março/2016
45 anos de pioneirismo desenvolvendo
soluções para implantar e
administrar estacionamentos.
CONTATO: PE (81) 3204-2760 | RN (81) 3204-2758 | SP (13) 3219-3538 - Site:Algomais
www.sanpark.com.br
• Março/2016
13
ordinárias. A primeira delas será realizada no mês que vem.“As reuniões
extraordinárias poderão ser convocadas, sempre que necessário, para
debater temas específicos”, acrescenta o diretor comercial da editora,
Luciano Moura. Os encontros serão
coordenados pela TGI Consultoria em
Gestão e terão como secretaria executiva a Revista Algomais.
A TGI, na verdade, tem uma participação importante na
idealização desse conselho, porque a ideia
da sua criação surgiu a
partir da pesquisa Empresas & Empresários
(E&E) executada pela
consultoria e pelo INTG
– Instituto da Gestão.
Realizada desde 1990,
a E&E forneceu conteúdo para três livros,
sendo o último deles,
Pernambuco Desafiado
Cenários e Prioridades
para a próxima Geração
de Pernambucanos no
Horizonte 2035, inspirou a criação do Conselho Estratégico.
“Publicamos no livro
a decisão de promover o
seminário permanente
Pernambuco Desafiado,
de forma articulada entre
a Algomais e a TGI, com
o objetivo de manter aceso o debate e a mobilização em relação ao
futuro do Estado, dando continuidade à
proposição original da Pesquisa Empresas & Empresários”, explica Ricardo de
Almeida, diretor da SMF-TGI Editora e
consultor da TGI. Vários seminários foram
realizados até a iniciativa evoluir para a
constituição do Conselho Estratégico.
Com a promoção desses encontros,
a Revista Algomais espera propor iniciativas para que o Estado possa sustentar seu crescimento. Cada encontro terá como resultado proposições
reais de enfrentamento dos desafios
para o desenvolvimento sustentável
de Pernambuco, que serão temas de
matérias na revista. A ideia é que as
propostas levantadas nos seminários
sejam sugeridas ao poder público.
“Esses encontros são da maior
importância, principalmente neste
14
Algomais • Março/2016
momento de crise. Não se pode parar
o debate. E Pernambuco, mais uma
vez, é pioneiro com esse projeto”,
salienta o consultor da TGI Francisco
Cunha. Opinião que é compartilhada
pelo presidente do Imip Gilliatt Falbo. “Essa iniciativa já é importante num momento de calmaria, num
período de incerteza, como este, é
mais importante ainda”, ressalta
Falbo. “E como crise é também épo-
Ça Va apresenta
aravilhas
As 4doMM
und
para o poder público e, juntos, encontrarmos saídas”, espera Queiroz Filho.
Essa confiança nos resultados
propostos pelo Conselho Estratégico
foi um dos motivos que levou Paulo
Dantas, diretor comercial da Agrodan, a aceitar o convite para participar do conselho. “Achei uma ótima
iniciativa e uma forma de contribuir
para o futuro de Pernambuco. Unindo lideranças das diversas cadeias
produtivas, esse fórum terá condições
de propor iniciativas para o crescimento integrado,
e sustentável, de
todas as regiões do
Estado”,
estima
Dantas.
Com a experiência de atuar no Observatório do Recife
– organização que
também reúne diferentes segmentos
da sociedade em
prol da qualidade
de vida dos recifenses – Rubén Pecchio
não pensou duas
vezes em dizer sim
ao convite de participar do Conselho
Estratégico. “Acredito em formas de
colocar a sociedade
mais ativa e mais
capaz de realizar mudanças”, justifica Pecchio. “O conselho vai trazer
uma gama de olhares diferentes, e
essa é uma de suas riquezas. Nele podemos discutir com agentes públicos
para criar arranjos sociais mais justos, mais sustentáveis e igualitários
e construir a sociedade que queremos”, acredita.
Expectativa que também é acalentada por Eduardo Lemos Filho, economista
e sócio da LMS/TGI (empresa especializada em gestão de empreendimentos e
shopping centers). “Tanto o poder público quanto a iniciativa privada estão num
período de crise, em que as soluções não
são fáceis. Espero que o Conselho Estratégico possa contribuir para que o Estado
encontre as saídas. As dificuldades são
grandes , mas se a gente se unir a gente
sai na frente”, assegura Lemos.
Entrada + Prato Principal +
Sobremesa + Café
Segunda a sexta.
Só no almoço
39,
Apenas
R$
90
bistrô moderne
ca de oportunidade para rever nossos
processos e conceitos, o fato de fazer
esse exercício de forma coletiva, com
representantes de vários segmentos
no conselho, terá uma produtividade
ainda maior do que isoladamente”,
acredita o presidente do Imip.
Reunir pessoas de setores econômicos distintos também é uma característica do conselho que foi elogiada
por Queiroz Filho, CEO da holding
Duca. “É importante estarmos juntos para pensar formas de sair dessa
crise”, afirma o publicitário. “Minha
expectativa é de que encontremos um
caminho porque a coisa não está fácil.
Não podemos só ficar esperando o governo fazer a parte dele. Claro que tem
aspectos que compete somente ao governo realizar. Mas acho que as lideranças vão conseguir levar propostas
Celebração
nas casas
legislativas
O aniversário de 10 anos da Revista Algomais será celebrado em
sessões solenes na Câmara dos Vereadores do Recife e na Assembléia Legislativa. Ainda no mês de março, no
dia 30, a Casa José Mariano realizará
a homenagem, que foi requerida pelo
vereador André Regis, que ressaltou a
qualidade editorial da publicação e a
conexão com o mercado local.
Já no Palácio Joaquim Nabuco,
a sessão solene foi requerida pela
deputada estadual Priscila Krause.
“Fico feliz em saber que uma revista
de credibilidade, como a Algomais,
vai completar 10 anos em 2016”, diz.
Também em referência à comemoração, a Algomais recebeu no final de
fevereiro um voto de aplauso da Câmara dos Vereadores do Recife, de autoria
da vereadora Michele Collins.
homenagem. sessões solenes foram requeridas por priscila krause e andré régis
Algomais • Março/2016
15
capa
Revista registrou
uma década intensa
em Pernambuco
Há dez anos os engarragamentos no Recife não eram tão quilométricos e nas cidades do interior quase
não existiam. O Facebook apenas começava a sua escalada para conquistar mais de 1 bilhão de usuários,
porque a moda na época era o Orkut. E os celulares? Eram simples telefones que enviavam e recebiam
torpedos. Nada parecido com a conectividade viciante dos smartphones. A classe média recifense não se
atrevia a andar de bicicleta pelo Recife Antigo, nem abria mão de ter empregada doméstica. De lá para cá,
muita coisa mudou e foi nesse período de transições que surgiu a Algomais. Trazemos a seguir reportagens
que mostram o impacto dessas mudanças na vida dos pernambucanos. Contamos, ainda, com o auxílio
luxuoso de articulistas de peso que analisam as transformações ocorridas na economia, literatura, futebol,
tecnologia,educação e no interior. Para começar, saiba como Algomais retratou a década.
Kássia Alcântara, especial para Algomais
A
s páginas da Revista Algomais registraram uma década intensa em Pernambuco.
Desde sua primeira capa,
em março de 2006, foram mostrados
os grandes momentos da economia
pulsante e emergente do Estado, que
assistiu seu auge entre os anos de
2007 e 2012, aos debates
sobre a cidade e a difícil tarefa do Recife em se tornar
a metrópole sustentável e
amada por seus moradores.
São 10 anos de viva transformação no comportamento
social, político e econômico
do pernambucano, e como a
revista de Pernambuco, a Algomais refletiu em suas 120 edições
histórias de sucesso, memórias
do passado, proposições de como
os desafios do presente e do futuro
podem ser enfrentados.
Por falar em futuro, foi na Algomais de julho de 2012 (edição 76) que
foi iniciado o debate sobre o Recife do
Futuro, como a capital deverá chegar
16
Algomais • Março/2016
0
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2>
aos 500 anos, no ano de 2037. Um
trabalho começado em abril daquele
ano, em parceria com o Observatório
do Recife, que debateu “O Recife que
Precisamos”, a partir do qual leitores,
assim como uma parcela mais ampla da sociedade, foram mobilizados
na descoberta de alternativas viáveis
para o futuro da cidade. O resultado
desses debates gerou uma publicação
inspiradora que continua dando frutos, como o projeto Recife 500 Anos,
tocado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (A.R.I.E.S), uma
Organização Social, incubada no
Porto Digital, e mantida pela Prefeitura do Recife para, entre outras coisas, construir o plano estratégico de
longo prazo para a cidade. O primeiro
de toda a sua história.
História que trouxe de 1954 a memória da passagem por Pernambuco
do padre dominicano Louis-Joseph
Lebret, do movimento economia e
humanismo. O relatório apresentado nessa visita, realizada a convite da
Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Codepe, hoje
Instituto de Planejamento de Pernambuco), pode-se dizer que foi o primeiro planejamento de longo prazo realizado no Estado.
O Complexo Portuário de Suape,
assim como o estaleiro e até uma refinaria de petróleo foram sugeridas
naquele material. Algo que se concretizou mais de 50 anos depois. Este
resgate a Algomais fez na edição 37, de
abril de 2009. Produzida pelo jornalista José Neves Cabral, a reportagem foi
finalista no Prêmio Cristina Tavares de
Jornalismo.
TECNOLOGIA. A revolução da
tecnologia e a importância do Recife
como polo de desenvolvimento no setor foi matéria de capa já na edição 20,
em novembro de 2007, quando o Porto Digital foi eleito pela primeira vez o
melhor parque tecnológico do Brasil.
De lá pra cá, o parque foi reconhecido
outras duas vezes, 2011 e 2015, e chega
ao 15 anos, completados recentemente, como uma promessa sendo cumprida no desenvolvimento dos serviços avançados como um segmento
econômico importante para o Estado.
O interior de Pernambuco sempre foi pauta na Algomais. Na edição
número 2, de abril de 2006, o jorAlgomais • Março/2016
17
PROFETA. matéria sobre Louis-Joseph Lebret, do movimento economia e humanismo, foi finalista do prêmio cristina tavares
nalista Eduardo Ferreira trazia como
tendência o Polo de Confecções de
Santa Cruz do Capibaribe e Toritama.
Caruaru, a capital do Agreste, foi capa
da revista já na edição 4, em junho de
2006, onde já se destacava o potencial
para o comércio e a cultura da cidade.
No ano passado, a edição 111 trouxe uma matéria especial sobre o avanço da interiorização do ensino superior. A reportagem Educação acelera
desenvolvimento, assinada pelo jornalista Rafael Dantas, chegou a final do
Prêmio Estácio de Jornalismo.
CULTURA - Mas não foram só reflexões sobre a economia. “Cultura, por
exemplo, sempre foi um ponto forte
da publicação. Pernambuco é um Estado riquíssimo culturalmente e nunca deixamos de dar atenção a todos os
aspectos deste segmento”, comenta
Sérgio Moury Fernandes, diretor executivo da SMF-TGI, editora da Revista Algomais. Já na edição de número
2, em abril de 2006, o crescimento do
cinema pernambucano foi tema. Em
matéria assinada pelo jornalista Ale18
Algomais • Março/2016
ARTE. PREMIADO CINEMA PERNAMBUCANO TAMBÉM GANHOU DESTAQUE NA REVISTA
xandre Figueirôa foi apresentado o
mapeamento da cadeia produtiva do
cinema em Pernambuco, realizado
pelo Sebrae, ainda durante a euforia
da exibição do filme Cinemas, Aspirinas e Urubus, dirigido por Marcelo Gomes, no Festival de Cannes, na
França. Dez anos depois, neste mês de
março, o Festival de Toulouse, também na França, prepara uma mostra
exclusiva com curtas-metragens de
Pernambuco, além de promover retrospectiva de longas-metragens do
cineasta Marcelo Gomes.
O frevo, símbolo maior da música
pernambucana, foi por diversas vezes
tema na Algomais. A capa da edição
11, em Janeiro de 2007, trouxe um verdadeiro especial com registro dos blocos, compositores e espaços dedicados
ao ritmo e observava a importância do
seu reconhecimento como patrimônio cultural da humanidade. Apenas
na edição 81, em dezembro de 2012, foi
possível registrar que aos 105 anos o frevo havia, finalmente, sido reconhecido
pela Unesco e ganhava seu lugar como
patrimônio cultural imemorial da hu-
O Frevo, que é
um dos maiores
símbolos da música
pernambucana,
ganhou a capa de
algumas edições da
Revista Algomais
manidade. Na edição do mês passado,
voltamos a falar do tema com a opinião
de músicos e especialistas sobre os caminhos para o ritmo atravessar as fronteiras do calendário de Momo.
Durante todos esses anos, a Algomais publicou edições especiais,
como o Anuário Socioeconômico de
Pernambuco 2010 e 2011, que identificou os cenários geográfico, eco-
nômico, cultural e histórico das 12
microrregiões de Pernambuco - incluindo o Arquipélago de Fernando
de Noronha. A Algomais Bairros, que
em três oportunidades, entre os anos
de 2011 e 2014, registrou importantes
referências históricas e patrimônios
culturais do Recife, contando detalhes do passado e perspectivas para o
futuro dos 94 bairros da capital pernambucana, além de dados demográficos sobre cada um deles. “Conhecer
o próprio bairro e ter consciência da
ligação dele com a história do Recife só contribui para o sentimento de
pertencimento à cidade”, comenta
Moury sobre a importância do projeto.
O primeiro desses projetos foi
desenvolvido em parceria com o jornalista Fernando Castilho, publicado
em 2010, e contou a história das empresas cinquentenárias de Pernambuco, como Pitú, Armazém Coral
e Baterias Moura. No ano de 2012, a
Algomais recebeu o III Prêmio Mestre
Salustiano do Turismo de Pernambuco, promovido pela Empetur, com
Algomais • Março/2016
19
a série de reportagens Algomais Tudo
Litoral Sul. As matérias, vencedoras
da categoria texto, foram redigidas
pela jornalista Karoline Fernandes e
publicadas na edição nº 56, em novembro de 2010.
Em 2014, em mais um momento
de inovação, foi laçado o suplemento
Algomais Saúde. Publicação trimestral,
encartado na revista, que trata de temas
ligados à área de saúde, como nutrição,
bem-estar e fitness. O objetivo é oferecer aos leitores uma publicação que ajude as pessoas a cuidarem da saúde, uma
prioridade dos homens e mulheres contemporâneos. O encarte tem as seções
fixas: “Além do Consultório”, “Fala,
Doutor!”, e “Mito ou Verdade”.
Durante esses 10 anos a Algomais
teve o privilégio de realizar grandes
entrevistas como com o artista plástico Abelardo da Hora, o comunicador Geraldo Freire, o ex-presidente
Lula, o ex-governador Eduardo Campos, e diversos empresários como
João Carlos Paes Mendonça. O resgate
da memória também é missão da revista e todos os meses personagens
como Dominguinhos, Pelópidas da
Silveira, Jerônimo de Albuquerque,
entre tantos outros foram apresentados na seção Memória Pernambucana, assinada por Marcelo Alcoforado,
além dos textos do historiador Leonardo Dantas, que sempre traz alguma curiosidade ou fato da história de
Pernambuco.
URBANISMO. As discussões sobre o
espaço urbano do Recife e da região
metropolitana foram alvo de uma
série de coberturas nesses 10 anos.
Duas delas foram reconhecidas com
premiações. A série "O Recife que
Precisamos", da repórter Luiza Assis,
levou o prêmio Cristina Tavares 2013,
na categoria reportagem de texto estudante.
No ano passado, a Algomais levou
duas distinções no Prêmio Ademi de
Jornalismo. Discutindo uma proposta de revitalização para a Avenida
Dantas Barreto, a revista ficou com o
primeiro lugar na categoria série de
reportagens, com o trabalho do repórter Rafael Dantas. A matéria Ocupação do Estelita também foi destacada, terminando em terceiro lugar na
categoria reportagem individual.
20
Algomais • Março/2016
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Algomais • Março/2016
21
Assim se
passaram 10 anos
lvanildo Sampaio*
H
á dez anos, no primeiro
trimestre de 2006, o então
governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, começava a cuidar da sucessão estadual
e cimentar sua candidatura ao Senado Federal. O vice-governador, Mendonça Filho, havia se preparado para
assumir o cargo e, depois, disputar
um novo mandato. Há 10 anos, o País
inteiro acompanhava com interesse o
chamado “escândalo do mensalão”,
quando começou a se ver que o Partido dos Trabalhadores não era tão puro
assim – ainda que estivesse muito
longe de uma “Operação Lava Jato”.
Há 10 anos, o jovem Ministro da
Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, deixava Brasília aos finais de semana e vinha para o Recife, de onde
saía, religiosamente, para visitas políticas ao interior do Estado, alimentando uma candidatura majoritária
na qual só ele mesmo acreditava. Há
10 anos, o escritor norte-americano
Don Brown ganhava milhões de dólares com o livro O Código da Vinci, traduzido para vários idiomas, adaptado
para o cinema e sucesso de vendas
por muito tempo mais. Há 10 anos,
havia crise no futebol de Pernambuco e todos os times deviam milhões
à Previdência – quadro exatamente
igual ao que acontecia em quase todas
as unidades da Federação, e que não
mudou muito, até hoje.
22
Algomais • Março/2016
Há 10 anos, Pelé ainda era perseguido pelos “paparazzi” do mundo
inteiro, que procuravam documentar
se o “rei do futebol” tinha nova namorada; Rubens Barrichelo se arrastava pelos autódromos do mundo – a
internet começa a ser descoberta pelo
cidadão comum. Há 10 anos, Sérgio
Moury Fernandes, tendo como parceiros o publicitário Luciano Moura e
os consultores Francisco Cunha e Ricardo de Almeida, criou uma revista
informativa e ilustrada em Pernam-
buco, e lhe deu o nome de Algomais.
Fazer uma revista periódica num
Estado periférico não é uma tarefa fácil. A começar pela seleção
da mão de obra: tem que ter gente
talentosa, porém que não se sinta
mais talentosa do que é, pois excesso de estrelismo fez mal a Marilyn
Monroe. E mais: tem que acreditar
no projeto, envolver-se plenamente com ele, até porque está provado
que o projeto é bom; tem que perder
o complexo do coitadinho, achando
que só no Sul e no Sudeste do País
são feitas boas revistas; tem que
respeitar as regras do mercado, da
ética e da convivência harmoniosa,
entendendo que governo é governo,
imprensa é imprensa, cada um no
seu lugar e na sua função. Tem que
administrar conflitos, sem cometer
injustiças. Sérgio Moury e seus parceiros montaram sua equipe à luz de
todos esses entendimentos.
Acompanho a trajetória da Algomais desde o seu lançamento. Pelo
menos, no seu conteúdo – naquilo que ela publica. Comecei minha
vida profissional como repórter de
revistas, ao longo de meio século
trabalhei para algumas delas; umas
foram referências e campeãs de
venda; outras nem tanto. Dava-me
prazer escrever para elas. Muitas vezes, modificava-se a abertura de um
texto para não perder uma foto absolutamente genial, clicada por alguns
monstros sagrados do fotojornalismo
brasileiro, com os quais tive a felicidade de fazer dupla: Walter Firmo,
Sebastião Barbosa, Nelson Santos,
Claus Mayer, Juvenil de Souza e tantos
mais. É claro que o mundo era outro; é
claro que não havia mídia eletrônica;
é claro que as revistas ilustradas, que
dividiam o número de páginas meio a
meio para o texto e as fotos – eram o
grande veículo impresso da sociedade
brasileira: todos liam Manchete, todos
liam O Cruzeiro, antes que o mercado
fosse poluído e segmentado, com títulos e conteúdos para os gostos mais
diversos. Mas, se Manchete e O Cruzeiro são apenas uma lembrança na
* Ivanildo Sampaio é jornalista.
história da imprensa brasileira, estão
aí, para o bem e para o mal, Veja, Época, Isto É, Carta Capital e outras mais,
cujas tiragens, somadas, vão além de
1,5 milhão de exemplares, mostrando
que apesar de todas as “internetes”
da vida ainda sobra espaço, e muito,
para a leitura de bons impressos. Vale
dizer: de boas revistas.
Creio que uma das razões do sucesso da Algomais foi se manter fiel
à proposta inicial, aprimorando o
conteúdo a partir de demandas do
mercado e dos leitores, focando as
coisas de Pernambuco com o melhor do olhar local, sendo crítica
quando necessário, mas reconhecendo igualmente iniciativas que
merecem ser louvadas. Não tenho
dúvida: Sérgio Moury, Luciano
Moura, Francisco Cunha e Ricardo
de Almeida criaram uma revista que
se ligou definitivamente ao melhor
da Imprensa de Pernambuco, com
o sério compromisso de defender
tudo aquilo que é nosso, navegando
com serenidade nesse mar de crise
que afeta todas as atividades – mas
conscientes de que o trabalho e a
perseverança ainda são o caminho
para levar com tranquilidade a um
porto seguro essa nau que lhes foi
confiada.
Algomais • Março/2016
23
Foto: Juarez Ventura
mobilidade
Novos caminhos
do trânsito
Congestionamentos e mudanças nos deslocamentos da
RMR mudaram alguns hábitos dos recifenses
Rafael Dantas
S
e há uma mudança perceptível para os moradores do
Grande Recife nesta última
década foi o aumento dos
congestionamentos. Hoje,
a frota de veículos da RMR é 88%
maior que em 2006, de acordo com
números do Detran-PE. A conta é
simples, um automóvel para cada três
moradores da região. Além de mais
carros e motos, as distâncias também
aumentaram. Cresceu significativamente o fluxo de pessoas que moram
24
Algomais • Março/2016
em Paulista e trabalham no Recife,
por exemplo. Sem falar naqueles que
se empregaram em Suape ou Goiana
e viajam diariamente para esses polos industriais nos extremos no nosso
litoral. Na matemática que contempla
os maiores percursos e mais automóveis nas mesmas avenidas, o resultado é mais tempo gasto nos trajetos
cotidianos. E desse fenômeno surgiram muitas mudanças no comportamento dos cidadãos, como deixar de
almoçar em casa e usar a criatividade
para aproveitar o período do dia perdido nos engarrafamentos.
Cidadão típico desta realidade,
João Victor dos Santos, 21 anos, é
analista de cobrança de um escritório de advocacia com sede no Recife.
Morador da Zona Norte, ele precisa
de dois ônibus para chegar em Boa
Viagem, onde está a empresa em que
trabalha. Na média enfrenta quase
duas horas nos cerca de 20 quilômetros de deslocamentos. Somando ida
e volta, são entre três horas e meia e
quatro horas apenas nos seus trajetos.
Se não dá para encurtar o tempo,
a estratégia usada por ele para aproveitar um pouco dessas horas dentro
do transporte público é estudar. “No
começo gostava de usar meu celular
para ouvir músicas no caminho, mas
temendo ser assaltado, optei pela leitura dentro dos coletivos”, conta João
Victor. “Não tinha muito o hábito de
ler. Hoje brinco dizendo que por conta
da insegurança fui incentivado a estudar. Como sou músico nas horas vagas, gosto de ler também sobre teoria
musical nos trajetos”, acrescenta.
O analista chegou a pensar em
migrar para as motocicletas. Plano
que não virou realidade devido ao receio de ser mais uma vítima das centenas de acidentes anuais com motoqueiros. Esse caminho do transporte
público para o individual, aliás, é feito por milhares de pernambucanos
anualmente. Na década o número de
motos triplicou no Estado e na RMR,
segundo dados do Detran-PE. Só na
capital pernambucana são acrescidas
à frota quase 10 mil novas motos e
motonetas (cinquentinhas) por ano.
“O que se coloca hoje como possibilidade de amenizar o deslocamento nos
grandes centros urbanos é a qualidade, o aprimoramento do serviço de
tempo. joão victor aproveita para estudar quando está no transporte público
Algomais • Março/2016
25
comportamento
com trânsito, recifenses fogem dos
deslocamentos quando possível. para
atender esse público, o mr. fit investiu
na entrega delivery
transporte público. Inverter o transporte individual para o coletivo. Mas,
em meio aos congestionamentos, a
população tem migrado para as cinquentinhas. Isso não é uma solução,
mas o agravamento do problema”, comenta o chefe de educação no trânsito
da CTTU, Francisco Irineu.
Quem se locomove no Recife por
meio de automóvel particular também
vem mudando seus hábitos. Não era
incomum, anos atrás, pessoas saírem
do trabalho para almoçar em casa ou
se transportarem de carro para algum
restaurante nem sempre tão próximo
ao local de trabalho. Cláudio Simões,
54 anos, vivenciou de perto quanto o
comportamento do motorista recifense
vem se modificando. Em 1998, ele fundou um restaurante no Espinheiro que
funcionou durante 15 anos, no formato
self-service e atraia uma freguesia que
trabalhava em outros bairros. “Quando
fundamos o restaurante, o deslocamento era fácil na cidade. Mas percebemos
a queda no movimento ao longo dos
anos”, recorda-se o empresário.
Com o aumento do fluxo de carros na avenida Agamenon Magalhães
e na avenida Rosa e Silva, duas artérias
urbanas que trazem grande impacto
para o bairro do Espinheiro, a clientela
foi sumindo gradativamente. Simões
constatou que as pessoas passaram
a se alimentar em estabelecimentos mais próximos aos seus empregos
para não perderem tempo no trânsito
ou procurando uma vaga para estacionar. “Após perceber uma queda vertiginosa do número de clientes reinventamos todo o negócio, mas mesmo
assim tivemos que fechar”, diz.
Mau tempo para uns, boa oportunidade para outros. Nessa época
também proliferaram na cidade restaurantes que investiram na entrega
de refeições em escritórios. Alguns
ainda oferecem uma comida mais
leve e saudável, já que evitar os quilos a mais na balança também passou
a ser uma preocupação dos clientes.
Uma das unidades da rede de franquia Mr. Fit, por exemplo, localizada
26
Algomais • Março/2016
próximo a edifícios empresariais, no
Pina, inaugurou há poucos meses seu
serviço de delivery. Com essas duas
alternativas, a empresa do ramo de
fast-food saudável está garantindo
uma clientela que chega a pé, por trabalhar próximo, como também públicos de pelo menos quatro bairros
vizinhos. “Com menos de seis meses
do serviço de entrega, o delivery já
representa 50% das nossas vendas.
Há uma grande demanda devido à
comodidade para os clientes que buscam comida saudável, mas que querem evitar os deslocamentos na cidade”, analisa o empresário João Luiz,
que toca o negócio ao lado da esposa
Fabiana Fraga. Apesar do almoço ser
o horário de maior serviço da marca,
o estabelecimento dispõe de um cardápio que atende a clientela em qualquer horário do dia.
VIA MANGUE. Lembram do Cláudio Assis,
do restaurante no Espinheiro? Nem todas
as mudanças no trânsito lhe prejudicaram. Hoje ele trabalha como publicitário
na Ilha do Leite. Até bem pouco tempo
gastava quase uma hora para se deslocar
cerca de 10 quilômetros da sua residência,
no bairro do Setúbal, até o escritório. Com
o advento da Via Mangue, o mesmo percurso é feito em apenas 20 minutos.
“Com a abertura dessa via expressa, melhorou bastante meu cotidiano”,
avalia. Após morar em São Paulo e no Rio
de Janeiro, onde considera que o transporte público funciona bem melhor que
no Recife, Simões avalia que a escolha
da moraria passou a ser mais criteriosa.
“Antigamente morar perto do trabalho
era apenas uma ideia. Hoje, com os congestionamentos urbanos, morar perto
do emprego se tornou uma condição de
qualidade de vida”, afirma.
Infraestrutura
aumentou. Extensão
do percurso também
O aumento do número de veículos
não é a única novidade na década. A
recém-inaugurada Via Mangue mudou
o trânsito na Zona Sul. Mas nesses anos
o recifense viu nascer a Linha Sul do
metrô, observou o surgimento das faixas exclusivas de transporte coletivo, a
ampliação dos Terminais Integrados de
Ônibus, a chegada dos primeiros VLTs
e de novos trens, além da implantação
de alguns corredores de BRT. Nessa
década chegaram também à região
metropolitana as primeiras vias pedagiadas de Pernambuco. Novidades que
mudaram também os modais de deslocamento dos recifenses.
Só o Metrorec registrou um aumento
de 95% do fluxo de passageiros e mensalmente transporta 9,3 milhões de
usuários. A Linha Sul chega a receber
por dia 100 mil pessoas. “A população
começou a perceber os benefícios sociais
decorrentes da utilização dos transportes
sobre trilhos. Redução do tempo de viagem, de acidentes no trânsito, do consumo de combustíveis são algumas dessas
vantagens”, afirma Mauricio Meirelles
Martins, coordenador operacional de
Planejamento de Transporte da Companhia Brasileira de Trens Urbanos.
Se a Linha que segue da Estação
Recife para Cajueiro Seco foi a novidade da última década, o coordenador fala de intenções da empresa para
ampliar o sistema. “Internamente,
desejamos expandir o metrô para a
área norte da cidade. Entendemos que
o metrô deveria chegar a bairros como
por exemplo Casa Amarela, diminuindo o fluxo de veículos pela Avenida
Norte”, diz Meirelles. A CBTU, que administra o Metrorec, no entanto é uma
das operadoras do sistema de transporte público de passageiros da Região
Metropolitana do Recife e as expansões
dependem da iniciativa do Governo do
Estado.
As modificações na infraestrutura
da cidade foram acompanhadas também pelo crescente número de ciclistas, que reivindicaram e conquistaram
espaço na agenda pública recifense
(veja matéria seguinte). Outro grupo
até então invisível na discussão da mobilidade que ganhou voz é o dos pedestres, que passou a reivindicar melhorias principalmente nas calçadas.
Mais que novos investimentos em
transporte público e vias urbanas,
os moradores da RMR se deslocam
muito mais porque as oportunidades
de emprego se espalharam por esse
território de influência direta da capital. Se antes os postos de trabalho
se concentravam no Recife, há alguns
anos o polo do Complexo Industrial
metrô. ampliação do sistema de transporte sobre trilhos gerou um aumento de fluxo de 95% de passageiros na década
Algomais • Março/2016
27
e Portuário de Suape, no Litoral Sul, e
o polo automotivo da Fiat, no Litoral
Norte, inverteram essa lógica. Além
de empregar os moradores locais,
evitando seu deslocamento pendular
diário, essas grandes indústrias contam com moradores que estão há quilômetros de distância, que chegam ao
serviço em muitos casos através de
ônibus fretados.
“Tivemos a situação de instalação
de grandes equipamentos que afetaram os deslocamentos. Suape e tudo o
que veio junto; o empreendimento da
Reserva do Paiva; a Fiat, que gera um
outro movimento; há uma série de indústrias de alimentos que se instalaram
em Vitória de Santo Antão e Moreno.
Muita gente mora no Recife e se desloca
para esses lugares. No Recife mesmo, o
crescimento do Polo Médico, do Porto
Digital, o surgimento de novos shoppings e de grandes grupos educacionais de ensino superior trouxeram novas dinâmicas para a cidade”, aponta
o arquiteto e urbanista João Domingos
Azevedo, presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira.
Um dos municípios mais próximos do Recife e que tem induzido um
maior fluxo de deslocamentos para
trabalho ou estudo é Paulista. Fora a
expansão habitacional, a cidade se
destaca pelo aumento do consumo
numa média de 14% ao ano, segundo a consultoria McKinsey. De olho
nesse mercado consumidor, grandes
empreendimentos, como o Shopping
Paulista North Way decidiram investir. Mas também pequenos empreendedores estão atentos, como é o caso
da universitária Priscila de Souza, 24,
moradora do bairro de Areias. Interessada em abrir uma loja no segmento
de cosméticos, ela optou por fazer o
investimento no bairro de Maranguape 1, que foi aberto recentemente.
Se as perspectivas para o novo negócio são animadoras, o desgaste do
transporte diário já tem feito Priscila
sonhar com um veículo particular.
Diariamente anda um pequeno percurso a pé, usa metrô e passa por duas
integrações de ônibus. Para chegar no
seu destino são cerca de uma hora e
meia, mas o retorno, no horário de
pico, é feito em no mínimo duas horas. “Esse desconforto é um dos motivos que ninguém deixa o carro em
28
Algomais • Março/2016
casa, mesmo com o combustível nas
alturas”, comenta Priscila, que divide o trabalho com uma pós-graduação em psicologia organizacional e
um curso técnico em administração.
TECNOLOGIA. O uso de novas tecnologias nos smartphones para amenizar a luta diária do trânsito é outro
comportamento já identificado pelos
especialistas em mobilidade urbana.
“As pessoas usam com eficiência vários aplicativos que dão informações
em tempo hábil para que os motoristas optem pelas melhores rotas pela
cidade. Além disso, usam muito as
redes sociais que estão interligadas
com as informações do trânsito”,
destaca o chefe de educação da CTTU,
Francisco Irineu.
O universitário João Victor Dias,
21, usa aplicativos diariamente. No seu
trajeto de ida e volta entre o bairro das
Graças, onde mora, e o estágio na Ilha
do Leite, ele usa o Google Maps para
pegar os caminhos com menos trânsito
e para alternar sua rotina. No horário
noturno, as novas tecnologias também
o ajudam a chegar na Unicap. “Infelizmente sempre faço os deslocamentos
no horário de pico, mas com os apli-
cativos faço a opção do lugar com menos congestionamentos, mesmo que
seja um pouco mais distante. Também
gosto de mudar de percurso sempre”,
afirma o estudante, que já usou o Waze,
que tem funcionalidades semelhantes.
É através da tecnologia também que
o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira
(ICPS) está realizando uma pesquisa de
origem e destino. A última foi realizada
há 18 anos. Como os custos para realização desse estudo de forma tradicional
são volumosos, a Prefeitura da Cidade
do Recife está fazendo o levantamento
de forma virtual. Para coletar os dados
dos recifenses e moradores das cidades
que compõem a sua região metropolitana, o ICPS disponibilizou um formulário digital, que pode ser preenchido em
poucos minutos através do endereço:
pesquisademobilidade.recife.pe.gov.br
Educação no trânsito, tecnologia
e infraestrutura urbana são alguns dos
elementos que compõem a tentativa do
poder público de melhorar a fluidez dos
deslocamentos na cidade. Enquanto esse
quebra-cabeças não é resolvido, os recifenses vão mesclando um pouco de paciência e muita organização para rearrumar suas agendas e usar a criatividade
para aproveitar melhor o tempo.
aplicativo. joão dias usa o google maps para driblar os congestionamentos
Um dos mais eficazes
tratamentos não cirúrgicos
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radioterápico que permite a colocação precisa de fontes
de radiação dentro ou próximas ao tumor, permitindo uma
M A R C A | M A R C A V E R T I C A L C O M A S S I N AT U R A
dosagem reduzida nas áreas não afetadas do corpo.
Este é um método que pode ser realizado em regime
ambulatorial, de forma isolada ou associada à radioterapia
externa, aumentando as chances de cura do paciente, e o
melhor é que as sessões têm tempo reduzido quando
comparadas às de outros tratamentos.
Provedor do Real Hospital Português:
Alberto Ferreira da Costa
Diretora Técnica/Médica:
Dra. Maria do Carmo Lencastre
CRM-PE 8325
Algomais • Março/2016
29
NINHO DE PALAVRAS
BRUNO MOURY FERNANDES
O bom humor
[email protected]
Advogado
V
oando entre Natal e o Recife, lendo a revista de bordo, deparei-me com uma
reportagem sobre “os barbixas”, grupo de humoristas. Durante o texto o repórter explica
que é difícil arrancar alguma resposta
séria dos integrantes do grupo. Levam
tudo na brincadeira e no bom humor.
Nunca escrevi sobre isso, mas agora
o faço: acredito no bom humor como
estilo de vida. O pacto que fiz com o
bom humor é irrevogável e irretratável.
Pode acontecer o que for. E olhe que já
aconteceu um lote de merda: AVC na
minha madrinha (querida Fatinha),
choque (e morte) do meu pai, autismo no meu filho, ligamento do joelho
rompido, separação de casais queridos,
liturgias cansativas dos ritos processuais no dia a dia da vida forense, seca
no Sertão, trânsito caótico, contas pra
pagar, etc. Nada disso é capaz de me
tirar o bom humor, a alegria de viver.
Claro que muitas coisas me entristecem, mas logo vejo o lado positivo em
tudo e cuido de extrair da situação alguma coisinha engraçada. É o famoso
“rir da própria desgraça”.
Não, meu senhor, não é um texto
de autoelogio. Não, minha senhora,
não estou me “amostrando”, nem me
exibindo. Muito menos ficando doido.
Estou somente a relatar – porque acredito piamente nisso – que o bom humor cura, ameniza, ensina, empurra
pra frente, alivia, engrandece. O sorriso é o alimento da alma. É o que nos faz
seguir adiante. Nada forçado. Assim,
natural mesmo. Tudo bem que em certas ocasiões posso beirar a tabacudice.
Mas ser tabacudo tem lá seus encantos.
Quando minha mãe iniciou um relacionamento após ficar viúva, bateu
uma ciumeira danada. Coisa boba, de
filho. Mas logo cuidei de brincar com
as pessoas que, tentando tratar o as-
30
Algomais • Março/2016
“Se eu perder a capacidade de rir de tudo é
porque, na verdade, já estarei morto.”
sunto com seriedade, me diziam “você
tem que entender, ela ficou viúva muito cedo”. Minha resposta era sempre
”você diz isso porque não estão comendo sua mãe, tão comendo é a minha”. Pronto! Logo todo mundo caía na
risada e o papo sério se transformava
em alto astral. Nem por isso deixei de
sofrer os problemas que a vida me proporcionou. Mas o bom humor sempre
me salvou de tudo e de todos.
Lembro que um dia após a morte de painho, estávamos trancados no
silêncio profundo do quarto de mãe.
Eu, ela e Edmar, meu irmão. Em meio
àquelas horas de silêncio fúnebre e no
seio daquela tristeza imensa, arrisquei
dizer que “dessa vez Deus botou sem
cuspe e lambuzado na areia” (perdoem
a heresia). E meu irmão emendou com
um “tomamos no oiticica”. Assim, caímos na gargalhada, e depois choramos.
Choramos muito. Até hoje a gente chora. Mas nunca deixamos de intercalar
esses choros com muitas risadas. Doido,
eu!? Sou nada! Eu sou é bem humorado.
Só isso. Mas peço a Deus que pegue leve
porque não sei até onde aguento. Tenho
medo de ficar sisudo e amargurado. Se
isso um dia ocorrer, peço que me enterrem vivo porque não suportarei ficar
por aqui. Aliás, se eu perder a capacidade de rir de tudo é porque, na verdade,
já estarei morto.
Algomais • Março/2016
31
Pano Rápido
Voilà!
Joca Souza Leão*
Joca Souza Leão escreveu para Algomais de 2008 a 2010. Histórias hilárias
sobre personagens, escritores e artistas,
na maioria pernambucanos. Em 2011,
reuniu mais de 200 dessas histórias e 300
personagens no livro Pano Rápido, editado pela Cepe em parceria com a Algomais. O ano passado, Joca fez uma cirurgiazinha cardíaca e, sabe-se lá por quê,
parou de escrever. Mas, eis o cronista aqui
de volta, em plena forma, para celebrar a
vida. E os 10 anos da Algomais.
M
orrer. Taí um negocinho
qu’eu jamais teria programado para esta altura
da vida. Até porque – o
que seria meu caso – nunca vi ninguém programar a aposentadoria
para morrer.
Conheci um camarada que programou a aposentadoria pra trabalhar dobrado e em poucos anos ficar
rico. Na noite em que completava um
ano de jornada dobrada, morreu com
um infarte agudo do miocárdio. Bom,
né? Dizem que a viúva pediu ao médico para declarar como causa morte
no atestado de óbito: “além de corno,
burro.”
Um sujeito quiném eu, classe
média, recém-entrado nos 60 e saúde pra dar e vender se organiza e se
aposenta para viver, isso, sim; fazer
as coisas para as quais (da boca pra
fora, pelo menos) nunca teve tempo
nem grana.
No meu caso, mesmo, pretendia
morar algum tempo em Portugal. Na
volta, então, vestiria o velho calção
de banho e teria a vida pra vadiar.
Sem remorso.
Mas qual o quê?
32
Algomais • Março/2016
Tudo começou com uma faltinha
de ar, percebida nas caminhadas.
“Coisa besta”, pensava eu. E atribuía
à noite mal dormida ou coisa que o
valha. Mas o bicho começou a pegar,
caro leitor. E eu tava ficando ofegante
com qualquer esforço.
Médicos e exames, sei lá quantos.
Até que a cineangio, que já passou
pela artéria coronária deixando um
stentzinho, confirmou o diagnóstico: estenose (calcificação) da válvula
aórtica.
Solução? Faca! Na intimidade cardiológica, o famoso “frango assado”,
para trocar a válvula calcificada por
uma de boi, novinha em folha. Aliás,
era minha intenção dar nome e raça
ao boi, mas ninguém soube me dizer.
Como se usa em humanos dezenas
de órgãos de porco e boi, sugiro que
se crie um monumento em homenagem ao boi e ao porco desconhecidos.
Nada mais justo.
Mas, para que o meu boi não ficasse sem nome, chamei-o de Surubim, que é nome de boi pernambucano, citado em poema de Ascenso
Ferreira.
Hô – hô – hô – hô – hô,
Váá!
Meu boi Surubim!
Boi!
Boiato!
Mas, voltemos à vávula.
Como nunca fui de reza, acho que
nem o Pai Nosso sei mais de cor, fiquei com um sambinha de Paulo
Vanzolini me martelando o juízo: “No
último dia da vida / Encontrei-me
com os meus pecados, / Uns maiores,
outros menores, / Mas no geral bem
pesados, / Do outro lado somente /
A ingratidão que sofri / O anjo pôs
na balança / E vestido de branco eu
subi.”
Medo de morrer? Você quer uma
resposta sincera, leitor? Pois a resposta é não. Não um “não” arrogante, impetuoso ou, até, corajoso,
desafiador. Mas um “não” de quem
não acreditava que seria dessa vez.
E que, além disso, tinha uma grande
confiança na equipe médica. Se eu
morresse, acredite, morreria decepcionado com minha intuição.
Quarto do Hospital Português. Eu
lá, deitado, vestindo aquele camisolão que deixa a gente com a bunda
de fora. Entra um médico da equipe. Como já estava meio grogue, não
identifiquei quem. Mas acho que foi
Fernando Moraes. “Doutor, o coração para mesmo, completamente?”,
perguntei. “Para – disse ele – completamente.” “Por quanto tempo?” –
insisti. “Uns 20 minutos... aí a gente
dá um choquinho e ele volta a bater.”
– E se não voltar?
* Joca Souza Leão é cronista
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Algomais • Março/2016
33
mobilidade
Bikes entram na
rotina da cidade
Seja para os deslocamentos de trabalho, para lazer ou para
perder peso, o uso das magrelas está mais comum na capital
A
o mesmo tempo em que
circular pela cidade se
tornou mais complicado
por transportes motorizados, o uso de bicicleta
pelo recifense foi se tornando mais
comum. Uma mudança de comportamento que não traz impactos apenas sobre a mobilidade urbana, mas
acaba mudando o estilo de vida do cidadão. Um novo olhar sobre o espaço
público, benefícios para saúde e economia no bolso. Vantagens que antes
eram usufruídas apenas pela população mais pobre, mas que nos últimos
anos ganhou prestígio na classe média, especialmente após a implantação das ciclofaixas móveis pela Prefeitura do Recife. Uma mudança no
perfil dos usuários das bikes que aumentou a pressão para a ampliação da
infraestrutura para o modal.
O servidor público e coordenador da Associação Metropolitana de
Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Cezar Martins, é um dos recifenses que abandonou o carro e
passou a usar a bike como seu meio
de transporte diário. Ele começou as
pedaladas em 2011 e dois anos depois
vendeu seu veículo, ao perceber que
o carro estava muito tempo parado
na garagem. A mudança radical teve
motivações urbanas e econômicas.
“Essa é a porta de saída que os moradores das grandes cidades estão encontrando para não depender do carro, principalmente numa cidade em
34
Algomais • Março/2016
que o transporte público não funciona bem. Posso dizer que é um ponto
de libertação do cidadão”, afirma.
Da sua residência no Parnamirim
até seu local de trabalho, no Bairro
do Recife, ele gasta entre 20 e 25 minutos de pedalada. Um desempenho
que seria impossível no carro. Cezar
considera que ao descobrir as vantagens do uso das bicicletas, os recifenses estão quebrando alguns mitos
que os impediam de usar esse modal
e isso tem mudado o status do automóvel. “A população mais pobre há
muito tempo se desloca bastante de
bicicleta, mesmo sem ciclovias e fazendo percursos maiores. A novidade
nos últimos anos foi a descoberta da
classe média, que mora na área plana
cotidiano
"pedalar me fez um bem muito grande.
aumentou minha qualidade de vida e
melhorou minha disposição", afirma a
jornalista e ciclista cristiane sales
migração. cezar considera que recifense está descobrindo vantagens das bikes
da cidade e em geral não depende de
trajetos longos”, informa. Ele considera que a criação da ciclofaixa móvel
trouxe os holofotes para as bikes, o
que motivou o surgimento de muitos
novos ciclistas, mas é urgente a ampliação de ciclovias na cidade.
A jornalista Cristiane Sales, 42
anos, há pouco mais de um ano começou a experimentar a bicicleta
para lazer. Desejando apenas sair da
condição de sedentária, ela acabou
encontrando seu novo veículo de
transporte diário. “Pedalar me fez
um bem muito grande. Aumentou
minha qualidade de vida, melhorou
minha disposição. Hoje vou para todos os lugares sem precisar de ônibus
ou carro”, afirma a ciclista. Sua única
restrição é quando precisa chegar a
um lugar com roupas mais formais e
que não há estrutura para banho.
Na sua rotina de bicicleta, ela chega a circular 20 quilômetros na cidade para seus afazeres. O exemplo da
jornalista rendeu frutos na família.
Após essa sua mudança, os três filhos
passaram a usar também as magrelas
como seu principal meio de transporte.
Como as bicicletas se tornaram
mais comuns na cidade, Cristiane
acredita que os motoristas passaram a ter mais respeito pela figura
do ciclista. “Acredito que as pessoas
estão mais atentas para essa população que transita pela cidade de bikes.
Procuram dar uma maior distância,
não passar tão rápido do nosso lado.
Mas, claro, não é um comportamento
geral. Além disso, as ruas da cidade,
além de muito esburacadas, são bem
estreitas. Na maioria das vias não tem
espaço para esse 1,5 metro de distância a ser dado ao ciclista”, considera.
Para o ciclista e sociólogo Nadilson
Silva, 46 anos, o grande entrave para
que mais pessoas pedalem da cidade é
a segurança. Ele, por exemplo, só usa
o carro quando precisa retornar para
casa mais tarde. “As pessoas que usam
a bike nos finais de semana buscam o
lazer e uma melhoria na saúde. Muitos não fazem das bicicletas o meio de
transporte do seu dia a dia por causa
da insegurança. Hoje eu considero
que há uma preocupação maior com
os acidentes que com os assaltos. Disputar o espaço com os carros assusta
ainda as pessoas”, avalia.
Da sua residência em Boa Viagem
até a Unicap, onde ele trabalha, Nadilson percorre aproximadamente 15
quilômetros de distância. Além desse
percurso, ele ainda pedala em grupos
de ciclismo de amigos pelo menos
duas vezes por semana e já teve experiências de cicloturismo. Outras práticas de lazer que são cada vez mais
comuns na cidade.
Algomais • Março/2016
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trabalho. hadassa roberta passou a usar a bicicleta como quisque para vender a sua linha de produtos de chocolate
RENDA. As bicicletas têm gerado oportunidades de geração de renda na cidade. Principalmente após o lançamento
das ciclofaixas móveis, se tornou mais
comum ver as bikefoods ou mesmo empresas de aluguel e manutenção de bicicletas. Se o serviço de locação do Bike
PE, que usa a marca do Itaú, é o mais conhecido, há mais de 10 pequenas empresas que realizam esse trabalho na cidade.
Uma dessas é a RentBike Recife, dos sócios e irmãos Daniel e Jonas Santiago. O
salto de ciclistas para empreendedores
começou um mês antes do primeiro final
de semana de operação da ciclofaixa móvel. “No começo, com poucos concorrentes, chegamos a trabalhar com mais
de 100 bicicletas em três pontos da cidade. Hoje, como muita gente já comprou
a sua, nossa demanda reduziu um pouco
e temos 70 bikes, além de 11 triciclos e 5
quadriciclos”, diz Daniel.
Além de funcionar nos finais de
semana, com pontos de locação na Jaqueira, Recife Antigo e 2º Jardim de Boa
Viagem, a RentBike também oferece o
serviço em eventos particulares, sob
demanda. A clientela da empresa é de
99% de pessoas que locam as magrelas por lazer. “Temos clientes fiéis, que
nos procuram semanalmente, pois não
querem transportar a bike até os pontos
das ciclofaixas, nem se preocupar com
a manutenção. Há um fluxo também de
turistas que usam o serviço”, diz Santiago.
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Algomais • Março/2016
locação. rentbike recife é uma das empresas que entraram no filão do aluguel
De olho na tendência das foodbikes, a universitária Hadassa Roberta, 23
anos, aproveitou o charme da bicicleta
para colocar seus quitutes à venda. Cozinheira de mão cheia, ela criou há um
ano uma linha de produtos de chocolate sob a marca Sereníssima Chocolateria. Os lugares favoritos da empreendedora para estacionar sua foodbike
são o Parque da Jaqueira e o Shopping
Plaza. “Eu fazia faculdade de administração, mas não gostava. Como sempre
me interessei em cozinhar migrei para
a faculdade de gastronomia. Estou bem
no início. Como as pessoas gostavam
muito do que eu fazia na cozinha, decidi testar no mercado”, afirma.
De uma ciclista aos domingos, Hadassa passou a ter na bike o seu ponto
de vendas, que tem a vantagem de poder se deslocar a depender do movimento do dia. No início do mês, os seus
cupcakes, tortas, bolos e brigadeiros
somem em pouco tempo. Para que os
clientes de carteirinha encontrem a sua
bike, o percurso diário da Sereníssima
Chocolateria também é contado pelas
redes sociais, além de atender pedidos
também pelo WhatsApp e telefone.
Os recifenses começam a experimentar outros serviços como a de
entregas e até o uso de publicidade
sonora e visual. Mercados iniciantes
que ainda estão no início da pedalada.
Recife tem
potencial para
a “magrela”
Os recifenses contam com cerca de 43 quilômetros de ciclovias ou
ciclofaixas. Para regular a expansão
dessa malha viária foi criado em 2014
o Plano Diretor Cicloviário da Região
Metropolitana do Recife. O projeto
que tinha um orçamento de R$ 354
milhões para ser implantado propunha uma malha metropolitana de 590
quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e
ciclorrotas, sendo 244 quilômetros de
responsabilidade do Governo do Estado e 346 quilômetros a serem viabilizados pelas prefeituras. O projeto é
reconhecido por ser pioneiro no País.
A atuação da Ameciclo e dos urbanistas da cidade tem aumentado
a reflexão e discussões sobre o lugar
das bikes no espaço urbano e produzido pesquisas e artigos que fomentam o agendamento de políticas
públicas para incentivar o modal.
A Ameciclo, por exemplo, realiza a
contagem de ciclistas em pontos estratégicos da cidade, com o objetivo
de mapear o potencial cicloviário do
Recife. Uma dessas medições foi na
Avenida Caxangá, onde a associação
estimou uma circulação diária de 3,2
mil pessoas de bikes, sendo um potencial de deslocamento de até 6 mil
ciclistas no ponto que se aproxima
da BR-101. “O potencial do Recife
é muito grande. Em São Paulo, por
exemplo, foi instalada uma ciclovia
na Avenida Brigadeiro Faria Lima há
alguns anos, mas somente hoje é que
possui um fluxo de 3 mil ciclistas por
dia. A nossa avenida Caxangá já tem
mais que isso sem a infraestrutura”,
afirma Cezar Martins.
Após gerar informações sobre a
quantidade de recifenses que usam
bikes, a associação mira agora fazer
um levantamento da qualidade das
ciclovias, como um instrumento de
medição da manutenção dessa infraestrutura a cada gestão municipal.
Em 2014, por exemplo, a estu-
dante do curso de gestão ambiental
do IFPE Mariana das Dores realizou a
pesquisa Recife Ciclável: Diagnóstico do Sistema Cicloviário da Cidade,
que mapeou indicadores como a presença de bicicletários, a proximidade
com estações de aluguel de bikes, a
existência de sinalização, o sombreamento, entre outros. “Um sistema
cicloviário bem projetado, executado
e operado é capaz de evitar inúmeros
acidentes e de oferecer conforto e segurança aos seus usuários. E para que
seja respeitado deve estar visível e ser
fiscalizado bem como outros tipos
de sistema, pois o ciclista diante do
trânsito também possui direitos e deveres”, relata a pesquisa. (R.D.)
Se beber não pedale
Um comportamento que não é raro entre os ciclistas do Recife pode
prejudicar a sua saúde: pedalar depois de tomar alguma dose de bebida alcoólica. Se as campanhas publicitárias destacam que o volante não
combina com o álcool, essa premissa também é verdade para o guidão
da bicicleta. Os riscos porém são outros.
O ciclista que ingere álcool aumenta a frequência cardíaca e o estresse, além de potencializar a desidratação do organismo. “É uma
combinação perigosa. Muitas pessoas que bebem e saem de bikes correm o risco de passarem por picos de pressão arterial e cardíaca”, alerta
o coordenador do curso de Educação Física da Faculdade Guararapes e
da Academia R2, em Casa Forte, Thiago Borges.
Ele também recomenda a qualquer pessoa, seja adulta, jovem ou idosa, que está há tempo sem fazer atividade física,
a fazer uma consulta com um cardiologista. “Ele poderá ver a história clínica e estratificar os riscos que a pedalada pode
oferecer para cada indivíduo”, afirma.
Algomais • Março/2016
37
entrevista
O
que a prefeitura tem feito
para garantir mais segurança aos ciclistas? E como
tem enfrentado o desafio
de conviver com as pressões dos players econômicos e as demandas da
população sobre o espaço público?
O prefeito Geraldo Julio responde a
essas indagações nesta entrevista e
explana as ações realizadas na sua
gestão para incentivar o recifense a
usufruir mais da sua cidade.
A Ciclofaixa de Turismo e Lazer incentivou o recifense a usar a bicicleta
como meio de transporte?
Acredito que sim. Para quem não tinha o hábito de pedalar ou tinha esquecido a bicicleta empoeirada na
garagem, a Ciclofaixa de Turismo e
Lazer inaugurou uma nova perspectiva de olhar a cidade, de circular
pelo Recife. A ciclofaixa, que hoje
tem 36,5 quilômetros de extensão e
corta 31 bairros da cidade, atraindo mais de 17 mil pessoas a cada dia
de projeto, trouxe mais qualidade de
vida ao recifense. Tornou-se um convite permanente, reforçado a cada
domingo e cada feriado, para que a
população aproveite os momentos de
folga para praticar exercícios físicos
e para que faça isso usufruindo dos
espaços públicos, conhecendo e vivendo a cidade de perto. Já ouvimos
vários relatos de pessoas que perderam peso e reverteram problemas de
saúde por terem conseguido quebrar
38
Algomais • Março/2016
Foto: Andréa Rêgo Barros
"Quero que o cidadão
se relacione com
a cidade"
a inércia, levantando do sofá para
pedalar. Quando a pessoa associa a
prática de atividades físicas a lazer
e contemplação das paisagens que a
cidade oferece, fica mais fácil incorporar o exercício físico ao cotidiano.
Aí, a mudança de hábitos torna-se
efetiva. E o cidadão ganha duas vezes: ganha saúde e ganha intimidade
com o lugar onde vive.
Como a prefeitura tem incentivado o
uso da bicicleta no dia a dia?
Fizemos a prospecção de 12 rotas cicláveis em consonância com o Plano
Diretor Cicloviário da Região Metropolitana (PDC/RMR), que é coordenado pelo Governo do Estado. Da
nossa parte, estamos projetando a
Rede Cicloviária Complementar de
forma que as novas rotas se conectem
com as já existentes e com a Rede Cicloviária Metropolitana. Os projetos
priorizam o atendimento aos bairros
que abrigam polos de interesse, como
parques, praças, mercados públicos e
terminais integrados, criando pontos
de conectividades entre esses equipamentos. Entre as rotas já implantadas estão a Inácio Monteiro, Antônio
Curado, Marquês de Abrantes, Arquiteto Luiz Nunes, Antônio Falcão, Ciclofaixa Jardim Beira Rio e a Zona 30,
que transformou boa parte do Bairro
do Recife em uma rota compartilhada
entre pedestres, bicicletas e veículos. Também entregamos em janeiro
a nova ciclovia Via Mangue, que tem
cerca de 4 km de extensão e se conecta com as ciclofaixas Antônio Falcão
e Jardim Beira Rio, além da ciclovia
existente no entorno do anel viário
do shopping RioMar, formando uma
rota ciclável contínua de mais de sete
quilômetros. A próxima ciclofaixa
será implantada no bairro de Jardim
São Paulo e está prevista para esse
primeiro semestre de 2016. Atualmente existem 45,5 kms de ciclovias,
ciclofaixas e ciclorrotas na cidade e a
prefeitura vai continuar trabalhando
para ampliar ainda mais a rede.
De que forma a gestão municipal tem
investido na segurança do ciclista?
A segurança do tráfego do Recife
tem passado por melhorias desde o
início da nossa gestão. A CTTU tem
realizado um trabalho intenso para
a melhoria da sinalização viária em
toda cidade, com foco nos ciclistas,
pedestres e motoristas. Nos últimos
três anos, cerca de 4 mil faixas de
pedestre foram pintadas e 6 mil placas de sinalização foram trocadas ou
implantadas, beneficiando mais de
400 vias em todos os bairros da cidade. Além da sinalização, ações como
campanhas educativas, o reforço da
fiscalização eletrônica contribuíram
para a redução de cerca de 25% dos
acidentes com vítimas e também
para a melhoria da mobilidade. Os
orientadores de trânsito, que trouxeram o reforço de cerca de 350 profissionais para os principais corredores
viários do Recife, e vem mostrando
resultados cada vez mais positivos,
também estão diretamente ligados às
melhorias registradas. Isso sem falar
nas operações de trânsito pontuais,
como a colocação de cones em pontos críticos da cidade, disciplinando
a circulação e dando mais fluidez e
segurança às vias. A Guarda Municipal também está atenta à segurança
dos ciclistas. A equipe de monitoramento das câmeras dão todo suporte
para que a Polícia Militar e o Corpo
de Bombeiros sejam acionados de
imediato, assim que identificam uma
situação suspeita ou uma ocorrência
nas ciclofaixas e ciclovias.
O senhor acredita que, com os projetos da prefeitura, o cidadão tem demonstrado mais interesse pelas questões urbanísticas?
Essa é uma das prioridades da minha gestão: estimular que o cidadão
se relacione com a cidade de perto,
conhecendo e usufruindo dos nossos
atrativos, dos bairros, de tudo que
faz do Recife uma cidade cada vez
mais das pessoas. O Recife Antigo é
um bom exemplo disso. Revitalizar
o bairro e transformá-lo num grande
parque a céu aberto foi um dos pri-
Muitos problemas parecem complicados se sem solução.
Até chegarem a nossas mãos.
A Deloitte é referência em consultoria e auditoria no Brasil e no mundo. E isso é
resultado do esforço para encontrar as melhores soluções de negócio e de
seu comprometimento com o desempenho de seus clientes. Isso é o que faz
a Deloitte ser líder. Isso é o que faz a Deloitte ser a Deloitte.
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Algomais • Março/2016
Foto: Andréa Rêgo Barros
meiros compromissos de campanha
que pusemos em prática. Tanto que
foi criada na Secretaria de Turismo e
Lazer uma gerência específica para
cuidar do Recife Antigo. O primeiro
passo para isso foi devolver o Marco
Zero ao cidadão. Restringimos a pauta de eventos do espaço, que chegava a passar mais de 260 dias ao ano
ocupado com montagem, execução e
desmontagem de eventos. Agora, são
realizados apenas três grandes eventos representativos para a nossa cultura no espaço: o Carnaval do Recife, a
Paixão de Cristo do Recife e o Baile do
Menino Deus. Depois estruturamos um
conjunto de ações com o intuito de trazer a população de volta para o bairro,
como o Olha!Recife, que oferece, todo
fim de semana, passeios gratuitos a pé,
de bicicleta, de ônibus e de catamarã
pelos nossos atrativos e por nossa história, e a Ciclofaixa de Turismo e Lazer,
com as três rotas que convergem para o
bairro histórico. O Recife Antigo de Coração, realizado uma vez por mês, para
um público de mais de 20 mil pessoas,
também teve um papel fundamental
nisso. O projeto, que disponibiliza no
bairro esportes, shows e brincadeiras
para a criançada foi muito importante
para que o recifense voltasse a procurar os espaços públicos nos momentos
de lazer em família. Hoje, o Recife Antigo é o segundo bairro de todo recifense. Está vivo de novo. O movimento gerado pelas atrações atraiu novos
empreendimentos comerciais revitalizando também economicamente o
bairro. Outras atrações são os novos
equipamentos culturais importantíssimos, como o Cais do Sertão e o Paço do
Frevo. Sempre soubemos que a missão
da administração municipal era trazer
as pessoas de volta ao bairro. Com elas,
tínhamos certeza, viria toda a transformação. Porque é assim que funciona.
Qualquer iniciativa que visa a qualificação do espaço público e de equipamentos de uso público provocam respostas imediatas da população. Outros
exemplos dessa reação positiva são as
pessoas que mudaram o estilo de vida e
ganharam mais saúde a partir das atividades físicas oferecidas pela Academia
Recife, encontradas em vários bairros
da cidade. Recentemente inauguramos
o Skate Park Marcelo Lyra, que faz parte
da requalificação da orla de Boa Viagem
e já é um sucesso. Tudo isso e tantas outras ações apontam para a necessidade
de termos um novo modelo de construção de cidade, que implique de fato na
melhoria da qualidade urbana e de vida
das pessoas. Uma coisa é certa: quando
a população se apropria da cidade, ela
quer fazer parte da construção do seu
futuro. Trata-se de um movimento importante de construção de cidadania.
Como é lidar com as pressões dos players econômicos e dos movimentos
sociais sobre o espaço urbano?
A retomada do planejamento urbano do Recife passa por esse envolvimento e estamos, sim, atentos
às contribuições das pessoas. Com
as frentes de diálogos abertas com
os diversos setores da sociedade já
avançamos na elaboração do Plano
Recife 500 Anos, que lança um olhar
estruturador para o planejamento da
cidade, por exemplo. Também é fruto
dessa escuta a construção do Plano de
Mobilidade Urbana; o Plano Centro Cidadão, que acontece em convênio com
a Universidade Católica; o Projeto Parque Capibaribe; o Plano de Drenagem; o
Mapeamento de Áreas Críticas; o Plano
Urbanístico do Cais de Santa Rita, Cais
de José Estelita e Cabanga; e o próprio
Recife Participa, modelo permanente de participação social da gestão. O
planejamento da cidade envolve também o cuidado com o nosso passado.
Intensificamos esse resgate patrimonial
e histórico e em três anos classificamos
104 imóveis como Imóveis Especiais de
Preservação, os IEPs. Esse resultado foi
fruto do envolvimento das pessoas com
o objetivo de preservar nossa história.
O Recife tem uma tradição histórica de
participação da população na definição
de seus rumos.
Veja a entrevista na íntegra no site
www.revistaalgomais.com.br
Algomais • Março/2016
41
urbanismo
Preocupação com a
cidade é tendência
Grupos de
recifenses
passaram a se
apropriar do
espaço público
e a reivindicar
melhorias urbanas
42
Algomais • Março/2016
Conhecer a cidade caminhando
por suas ruas e estradas é um passeio
estimado por todo turista ao visitar o destino desejado. É uma experiência já louvada na canção Estrada
do Canindé, por Luiz Gonzaga: “Ai,
ai, que bom / Que bom, que bom que
é / Uma estrada e uma cabocla / Cum
a gente andando a pé”. Essa vivência
mais humana do ambiente urbano,
de experimentar o Recife a pé ou de
bike, associada ao transtorno cotidiano, elevou o clamor de um grupo
de recifenses na última década por
um maior cuidado com o espaço pú-
blico. Calçadas, ciclovias, altura dos
edifícios, preservação dos espaços
históricos são alguns dos temas que
entraram definitivamente na agenda
política da capital. Porém, isso não
nasceu aqui. Mas é um movimento
global por reocupação ou reapropriação das cidades pela população.
Há 10 anos, o consultor Francisco Cunha começou a caminhar sistematicamente pelo Recife. Das suas
caminhadas nasceu um novo olhar
sobre o espaço da cidade. “Sou graduado em arquitetura e urbanismo
pela UFPE, mas a ficha só foi cair
mesmo quando passei a andar. Só é
possível conhecer uma cidade quando andamos a pé ou de bicicleta, pois
olhamos o espaço público numa outra velocidade. Nesses 10 anos percebo que muita coisa mudou. Da voz
das ruas a consciência se amplia”,
considera. Nesse período surgiram as
primeiras ciclovias, faixas azuis para
ônibus e houve o interesse do poder
pública pela qualificação das calçadas. “Vemos mais pessoas usando as
praças, fazendo exercícios físicos nos
parques, estão circulando mais no espaço público”, diz.
Apesar de mais pessoas nas ruas,
o consultor acredita que o principal
combustível para aumentar as discussões sobre os espaços públicos é
a péssima qualidade da urbanização
das cidades brasileiras. “Primeiro temos a herança do urbanismo português que é ruim. Depois tivemos um
descuido ao longo do tempo com essa
questão que se acentuou no processo
de urbanização acelerada que o Brasil
viveu. Mudamos rapidamente de um
País 20% urbano para ser 80% urbano, com população quintuplicada. O
terceiro foi a perda da qualidade téc-
Calçadas, ciclovias,
altura dos edifícios
e preservação dos
espaços históricos são
temas que entraram
definitivamente na
agenda de debates
políticos da cidade
nica por causa da transição política.
Na ditadura, investiu-se em planejamento, na transição, jogou-se fora
tudo como se fosse obra da ditadura
que devia ser exterminada. Extinguiu-se departamentos e áreas onde
havia preocupação com planejamento, inclusive urbano”, avalia Cunha.
O sociólogo e professor da Unicap
Nadilson Silva incorporou a bicicleta
no seu cotidiano também há 10 anos.
Ele avalia que os cidadãos que fizeram
essa opção de abandonar ou reduzir
sua dependência dos transportes motorizados transformaram não apenas
seu deslocamento, mas sua percepção sobre a qualidade de vida urbana.
“Isso muda a visão que a pessoa tem
da cidade, já que passa a olhar coisas que no carro não consegue ver. É
além do engarrafamento ou do carro
da frente. Observa mais a paisagem,
a beleza, mas também os buracos das
ruas. Esse cidadão passa a ter uma vivência mais próxima da realidade urbana e das pessoas”, afirma.
Essa experiência de desfrutar a
cidade é exaltada na canção do Velho Lua. Na sabedoria popular, esse
pobre que anda a pé - no lugar onde
não tem automóvel – é que molha os
pés no riacho, contempla o orvalho
beijando a flor e vê de perto o galo de
campina. Esse convívio mais prazeroso e de maior respeito também com
o espaço natural são algumas bandeiras levantadas por uma série de movimentos que passaram a questionar
o desenvolvimento do Recife.
Se o Direitos Urbanos foi o que
agregou mais adeptos nos últimos
Algomais • Março/2016
43
olhar. sociólogo nadilson silva afirma que cidadão que se desloca de bike ou a pé contempla a cidade de forma diferente
anos, vários outros grupos discutiram o espaço urbano e as propostas de
intervenção públicas ou privadas, como
no bairro da Tamarineira (que impediu a
construção de um shopping). O Observatório do Recife (ODR), por exemplo, reúne diversos representantes da sociedade
civil para dialogar e trazer proposições
para a cidade. "Trabalhamos para monitorar os indicadores socioeconômicos da
cidade. A partir disso, podemos orientar
o debate cidadão, para fazer com que as
discussões sejam mais produivas", avalia
Fernando Holanda, um dos integrantes
do núcleo executivo do ODR. Na sua avaliação, os resultados do movimento ainda
são de gerar mais engajamento, mobilização e abertura de dialogo, mais que intervenções práticas na cidade.
Apesar desses movimentos ocuparem mais espaços na mídia nos
últimos anos e terem sido impulsionados principalmente pelas redes sociais, os especialistas têm a
compreensão de que eles ainda não
alcançaram as massas. O arquiteto
Cesar Barros, coordenador do curso
de arquitetura da Faculdade Guara44
Algomais • Março/2016
década. francisco cunha avalia que houve mudanças na rotina dos recifenses
rapes, considera que o caráter mais
elitista desses coletivos é comum no
mundo inteiro, envolvendo principalmente a classe média. Para ele, o
primeiro desafio desses movimentos
é intensificar a comunicação entre os
diversos coletivos, o que começou a
acontecer no Recife por meio da Escola de Ativismo, que está reunindo
mais de 10 desses grupos. E a partir
de uma maior conexão poderem chegar numa parcela maior da população
“Os movimentos precisam transcender a barreira de um perímetro
urbano muito limitado da cidade. É
preciso chegar nas periferias, levar as
discussões para os moradores das regiões mais populares da cidade”, diz.
Apesar disso, ele considera que a
atuação da sociedade civil organizada já
tem alguns resultados concretos na cidade. “Essa discussão sobre o espaço urbano faz com que uma empresa pense duas
vezes antes de lançar um empreendimento, por exemplo. É importante pensarmos que não estamos fazendo projetos sobre uma base zero, mas sobre uma
cidade construída, onde já existe um
contexto consolidado”, afirma Barros.
tamarineira. movimento evitou construção de um novo shopping no bairro
Algomais • Março/2016
45
Iniciativas
no meio
empresarial e no
poder público
Recife, mas a Região Metropolitana,
onde estão instalados os empreendimentos dessas empresas. “Temos
objetivo de contribuir para o crescimento planejado da cidade, atendendo as necessidades e desejos da
população, que é o nosso cliente”,
aponta André Callou, presidente da
Ademi-PE.
O dirigente da Ademi informou
que os temas prioritários do projeto
em relação ao desenvolvimento da
cidade são segurança, mobilidade,
sustentabilidade, segurança jurídica,
verticalização, entre outros. “Um dos
pontos fortes que discutiremos é a
violência. As construções até a década de 80 não eram tão fechadas, nem
Foto: Maira Erlich
O movimento que passa pela
sociedade também tem reflexos no
meio empresarial e no poder público.
Com essa proposta de pensar a cidade e não apenas o lote construído, a
Ademi-PE e o Sinduscon lançaram
no final do ano passado o projeto Redeprocidade. Na Prefeitura do Recife,
o grande projeto de repensar urbanisticamente a capital do Estado é o
Parque Capibaribe, que propõe um
projeto de longo prazo para transformar a capital pernambucana numa
cidade-parque.
O Redeprocidade reúne diversas
instituições representativas do setor empresarial da construção tendo
a proposta de discutir não apenas o
projeto. parque capibaribe propõe revitalização da cidade a partir do rio
46
Algomais • Março/2016
callou. segmento criou redeprocidade
tinham guarita ou gradios. Não foi o
setor que fechou, mas atendemos os
interesses dos próprios moradores.
Um dos aspectos para melhorar a cidade é pensar ações junto à segurança pública para que possamos modificar esse cenário e pensar numa
forma de urbanização mais amigável”, afirma Callou.
PARQUE. Do percurso e das águas do
Rio Capibaribe nasceu um dos projetos mais ousados para revitalização
da capital pernambucana. Fruto de
um convênio de cooperação técnica
entre a Prefeitura do Recife, através
da Secretaria do Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Recife, e a Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), o projeto Parque Capibaribe propõe uma transformação de
grande parte do território da cidade
a partir do rio, que corta 35 bairros.
Há uma proposta do poder público de envolver a população na idealização dos investimentos a serem realizados pelo projeto. A prefeitura tem
desenvolvido espaços de escuta para
ouvir a opinião dos moradores sobre
o que cada comunidade gostaria de
ter no espaço público vizinho à sua
casa. Antes de apresentar a proposta do parque para a população houve
uma vasta pesquisa técnica sobre a
vitalidade do rio e foram apresentados os conceitos macros que orientarão a execução do parque – como
a prioridade para o transporte não
motorizado e o incentivo à arborização. (R.D.)
Algomais • Março/2016
47
inovação
Redes sociais
mudam o cotidiano
Facebook e o WahtsApp revolucionam o trabalho e ajudam
na inclusão do idoso na sua comunidade
Yago Gouveia
D
efinitivamente, o advento da
internet mudou a forma das
pessoas se comunicarem. É
um tal de WhatsApp pra cá,
de Facebook pra lá... A sensação é de
que a tecnologia chegou e dificilmente vai sair do cotidiano. Não é difícil
encontrar alguém distraído olhando
para a tela de seu smartphone,
seja para conversar nas redes
sociais, para ler as notícias do
dia, saber como será o clima
ou escolhendo a playlist da
volta para casa depois de um
dia cansativo.
Mas as principais causadoras das mudanças nas relações
interpessoais são as redes sociais.
Por definição, elas são estruturas
compostas por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários
tipos de relações. Na prática, entretanto, elas representam bem mais que
um local repleto de pessoas com diferentes objetivos, pensamentos e ambições. "O uso das redes sociais possui
um aspecto positivo, é claro, no sentindo de favorecer a expansão da comunicação e da informação", afirma o
psicológo Leopoldo Barbosa.
Mas ele também salienta como aspecto negativo o fato de as pessoas
postarem
informações
sem se preocuparem com a
48
Algomais • Março/2016
veracidade delas e sem confirmarem
a fonte. "Muitos colocam uma opinião
sobre um assunto tendo uma fonte
que não é verídica. Como as pessoas
não são cobradas, elas terminam se
expondo diante de uma opinião superficial, sem uma análise aprofundada do tema", adverte o psicológo.
O que ninguém pode negar, no
entanto, é que a internet possibilitou
uma aproximação entre indivíduos,
reduzindo as distâncias. "Embora
seja comum encontrarmos pessoas
bem próximas fisicamente, sem conversar, mas trocando mensagens pelo
celular, é notório, contudo, que as
redes sociais estão promovendo uma
aproximação de pessoas que tempos
atrás estavam distantes. Isso era algo
impossível há 20 anos", analisa o psicológo do Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL) Miguel
Gomes . "As fronteiras geográficas não
existem mais. Eu, por exemplo, tenho
uma sócia que está morando na França, mas nos falamos todos os dias. Em
qualquer lugar do mundo que tenha
uma conexão com a internet, ela liga
o celular e pode saber de tudo que
web. experiência nas redes sociais fez rodolfo migrar para curso de publicidade
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Algomais • M
/ carço
o m/2016
b o g o c o m49
unicacao
está acontecendo aqui. Isso é uma
conquista enorme", completa.
Na verdade, os avanços no mundo
digital provocaram mudanças profundas na forma de trabalhar. E é praticamente impossível existir uma profissão que não tenha sido impactada
pela web. A partir desse novo cenário,
novas oportunidades surgem. Mas a
tecnologia pode mudar a carreira de
alguém? No caso do estudante de publicidade e propaganda Rodolfo Assis,
de 22 anos, sim. Ele é o criador e dono
da página Hipster Recifense, que possui
mais de 70 mil curtidas no Facebook. A
página aborda, com bom humor e tons
recheados de ironia, comportamentos
e faz críticas diante das realidades enfrentadas pelos pernambucanos.
Ele cursava administração, mas foi
convidado a trabalhar em uma agência de publicidade, graças ao sucesso
atingido pela página. A partir desse
momento, ele percebeu que precisava
mudar de área de trabalho. "Eu já tinha
vontade de mudar antes. Mas quando
comecei a página, fui chamado para positivo. barbosa: "A Entrada dos idosos na internet é algo a ser comemorado"
trabalhar em uma agência para a criação de conteúdo para internet. Essa dos idosos é algo a ser comemorado. rismo sendo fomentado na sociedade?
experiência que eu tive na publicida- Apesar de ser uma geração anterior a Gomes, entretanto, não vê nenhum
de, me deu a certeza que eu não queria esta que já nasce informatizada, o que problema em não ler ou saber como oufazer administração. Esse know-how observo é uma mudança no padrão tras pessoas comentam sobre os aconme ajudou a ver algumas coisas e criar de comportamento dessas pessoas. É tecimentos a partir de determindada
outras. Aprendi mais e consegui me- uma forma para voltarem à ativa com visão. Para ele, a principal questão é a
lhorar a página através da agência", os familiares. Temos vários grupos da fonte da informação, independente de
comemora.
família no WhatsApp, por exemplo, e corrente política. "Todo mundo possui
Em todas as postagens, Assis costu- é uma forma dos idosos participarem uma posição cultural e política e seguirá
ma mesclar elementos cômicos, ironias mais dessa dinâmica", diz Barbosa. aquilo que se identifica. Mas no passado,
sempre com ênfase na regionalidade. "Muitas vezes, por causa da não in- quando ainda não havia internet, já era
Segundo ele, o último elemento é o que clusão, eles ficavam isolados. Então, a assim. O que acontece com o Facebook,
explica o crescimento e o sucesso. "Sem- importância das redes sociais, muitas por exemplo, é apenas a potencialização
pre quis essa pegada de humor porque vezes, é unir informações da família", disso", afirma.
não podemos nos estressar com esses completa.
O psicólogo, porém, é cuidadoso
problemas do cotidiano. Temos que rir
Uma das pessoas ávidas por esse quanto ao tempo de exposição das crianmesmo. Sempre brinquei com os fatos novo formato de comunicação é a apo- ças na internet. Por ainda estarem em
que ocorriam comigo. Tento sempre tra- sentada Vilma Teixeira. Aos 84 anos, ela um processo de crescimento, tanto físico
zer as coisas para um lado mais regional, conheceu o WhatsApp para não lar- quanto intelectual, afirma Gomes, os pais
que é para o público ter uma identifica- gar mais. "Eu gostei muito e me adap- devem ficar atentos ao período de coneção maior. Quando há essa proximidade, tei bem rápido. Para mim é mais fácil xão dos pequenos. "As crianças precisam
o pessoal acaba gostando mais e compra e simples me comunicar via internet. do relacionamento interpessoal, de pesa ideia que eu quis passar", explica.
Sempre falo com meus parentes, filhos soas nesse processo. Não podemos deixar
A surpresa é que não são apenas e netos. A comunicação ficou bem me- esse contato sempre intermediado por
jovens e adolescentes que utilizam as lhor. Falo sobre diversos assuntos com uma tela. É extremamente importante a
redes sociais, mas também os idosos todos eles", afirma.
convivência com crianças da mesma idaencontraram nelas uma forma de se
Uma das grandes polêmicas das re- de para que elas possam viver situações de
comunicar. Elas se tornaram um ins- des sociais, é a possibilidade de filtrar dificuldade, se frustrarem com determitrumento de inclusão das pessoas mais páginas e conteúdos que não corres- nada questões para terem a oportunidade
velhas na comunidade – familiar ou pondem à posição política ou ideológica de resolverem esses problemas sozinhas",
de amigos – em que vivem. "A entrada do internauta. Seria um tipo de secta- orienta o psicólogo.
50
Algomais • Março/2016
Tecnologia
em prol da
autoestima
Que a evolução tecnológica avançou
e transformou os rumos comunicacionais da sociedade é inegável. Entretanto, esse processo de desenvolvimento
também desencadeou melhorias em
torno da autoestima das pessoas. Uma
das grandes revoluções aconteceu na
odontologia. E um dos recursos que
vem ganhando adesão são os implantes
dentários, que nada mais são do que raízes artificiais, no qual os dentes são colocados por cima. Eles substituem o uso
das peças móveis (dentaduras).
"Existem trabalhos hoje em dia que
são feitos em apenas 72 horas. Uma
pessoa chega no consultório sem nenhum dente e três dias depois ela sai
com a arcada dentária completa. Também já existem implantes imediatos,
ou seja, a colocação do dente é no mes-
sorriso. lacet: não importa a idade, as mulheres se preocupam com a estética
mo momento da chegada do paciente,
uma técnica chamada de implante de
carga imediata. Isso é uma verdadeira
revolução na odontologia", explica o
dentista da Odontocape Kleber Lacet.
Segundo Lacet, as mulheres são as
mais preocupadas em eliminar o uso
das dentaduras. Elas se sentem constrangidas quando tiram a peça móvel.
"Independente da idade são vaidosas",
diz. A respeito dos homens, entretanto, o dentista acredita que a procura
por peças fixas possui uma outra finalidade. "Os homens mais idosos,
que antes colocavam um pijama e iam
dormir cedo, hoje em dia querem ficar
com uma aparência bacana para namorar. Essa é a verdade", afirma.
Algomais • Março/2016
51
tecnologia
Brechó agora
é na web
Vender vestuários e acessórrios usados pela internet tem
proporcionado uma renda extra a grupos de recifenses
D
efinitivamente, a crise
econômica que assolou o
País afetou muito o poder
de compra dos brasileiros.
A palavra economia, portanto, começou a fazer parte do vocabulário
cotidiano. Na contramão dos problemas gerados pelos tempos bicudos, os
brechós - lojas de artigos usados com
preços mais baixos - voltaram a ter
destaque e entraram, mais uma vez,
na moda. Nos últimos cinco anos, por
exemplo, a comercialização de usados cresceu cerca de 210%, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Mas a grande novidade é que
alguns brechós tornaram-se virtuais.
Muita gente está descobrindo na internet uma forma de se desfazer de
roupas e acessórios em bom estado e
que não usam mais e, ainda por cima,
ganhar um dinheirinho. As vendas
são realizadas por meio do Facebook.
Em 2015 a servidora pública Con- Desapego. Oportunidades geradas pela crise levaram amigas a criar o Ma ChÉrie
ceição Maria Carneiro Vasconcelos
decidiu abrir o Ma Chérie Brechó em os quais já não utilizávamos e não específico, mas não teriam condições
parceria com mais três amigas. "A cumpriam com o seu objetivo, mas de comprá-los a preços de mercado.
ideia surgiu de um insight ao verificar que também não seriam para o caso Enfim, verificamos que tínhamos dique havia propostas similares, pela de mera doação, pois o estado de nheiro parado nos armários. A ideia
internet, em brechós de outros Es- novo ou seminovo deles permitia que central também é de desapego, deitados, principalmente no Sudeste do cumprissem com outras funções, ou xar a energia circular e abrir oportuPaís", conta. "Também verificamos seja, gerar uma pequena renda e ain- nidade a quem realmente gostaria de
que havia produtos com possibili- da serem adquiridos por pessoas que ter e usar uma peça", justificou.
dade de venda em nossos armários, gostariam de uma peça ou acessório
Em razão da crise, muitas pes-
52
Algomais • Março/2016
Algomais • Março/2016
53
soas perderam o poder de compra
de outrora. Por isso, pagar um preço abaixo de mercado em uma peça
usada se torna uma opção bem mais
viável. "É econômico aos que precisam ou gostam de garimpar bons
produtos, sem problema algum com
o fato da peça ser de segunda mão",
explica Conceição. Além das peças
das sócias, o Ma Chérie comercializa
roupas e acessórios usados de pessoas
que queiram vendê-los. "Isso garante
uma pequena renda ao fornecedor do
produto, pois recebemos as peças em
consignação e retiramos uma pequena comissão de divulgação e venda,
para depois repassarmos o valor líquido a quem fornece a peça", esclarece. Para quem compra a vantagem é
adquirir produtos em bom estado (já
que o brechó não recebe peças com
avarias ou muito desgastadas), por
um preço em conta. "Não focamos no
lucro em si, mas na circulação dessas
mercadorias", diferencia Conceição.
Apenas em 2015, o comércio virtual no Brasil faturou cerca de R$ 41,3
bilhões, um crescimento de mais de
15% em relação a 2014, segundo dados
do site Profissional de E-commerce,
especializado no assunto. Os números mostram a mudança no hábito do
brasileiro. A microempresária ainda
se mostra receosa com a expansão do
e-commerce, mas reconhece a maior
facilidade das compras on-line. "A
internet é um meio que veio agregar,
não creio que substitua por completo
o olho no olho, o prazer de sair para
bater pernas vendo vitrines. Muitas
pessoas ainda são amedrontadas com
o e-commerce por falta de prática ou
por não se sentirem à vontade, confortáveis com um fornecedor virtual.
Também acredito que a criatividade e
a publicidade é a grande força motriz
para os futuros eventos, principalmente em cenário de crise, deve-se
enfrentar os desafios cativando os
clientes. As redes sociais dão ideias
de perfil de pessoas e de consumo, de
interesses em geral, possibilitando o
acesso mais rápido e instantâneo aos
produtos, daí que manter-se conectado é uma via sem volta para o comércio", afirma Conceição.
Além do lucro dado para as proprietárias do brechó virtual, uma
parcela é revertida para instituições
54
Algomais • Março/2016
Bazar. Danielle kuhni conseguiu R$ 5 mil para viajar ao Chile com seus amigos
de caridade. Além disso, a microempresa se tornou uma espécie de rede,
onde as clientes compartilham suas
experiências de vida. "Revertemos
parte do lucro para auxílio em instituições filantrópicas, dando assistência com materiais variados que adquirimos e entregamos diretamente
aos administradores dos locais. Ainda como efeito inesperado, mas nem
por isso menor, fizemos uma rede
de 'chéries', as nossas clientes, com
quem compartilhamos histórias,
apoio mútuo, divertimo-nos nos
grupos de whatsapp e trocamos informações", completa Conceição.
EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL. Mas não
são apenas as empresas que descobriram o filão dos usados do Facebook.
As pessoas, individualmente, também
têm recorrido às redes sociais para fazer uma renda extra naquele vestido
ou sapato que está quase novo mas que
"enjoaram". Elas organizam um bazar
entre os amigos do Facebook.
Foi o caso da fisioterapeuta Danielle Kuhni, de 24 anos. Havia muitas roupas que ela já não utilizava, por
isso resolveu vendê-las e faturar um
dinheiro extra. "Tinha muita peça parada no meu guarda-roupa por diversos motivos. Ganhava de presente e
não podia trocar, estava muito frouxa
ou muito apertada. Eram roupas para
frio, de praia, enfim... coisas que eu
poderia usar um dia, mas nunca usava. Já conhecia uns grupos no Facebook que vendiam produtos, e postei
uma foto dizendo que tinha mais de
100 peças para vender com preço a
partir de R$ 5. As pessoas começaram
a me procurar para ver os produtos e
uma delas falou para fazer um bazar.
Decidi fazer. Organizei o primeiro em
apenas dois dias", afirma.
O dinheiro das vendas foi essencial para Danielle realizar um sonho:
conhecer o Deserto do Atacama, no
Chile. "Foi uma viagem só com amigos. O fato de ser só com amigos já
se deduz que não teríamos o conforto de ser bancada pelos pais, ou seja,
precisava de dinheiro. Consegui tirar
a passagem por pontos, mas todo o
resto tive que pagar sozinha pois minha mãe estava sem condições de me
ajudar. Foi aí que surgiu a idéia de
vender minhas roupas que estavam
paradas e deu super certo, pois todo o
dinheiro que juntei para a viagem foi
do bazar", conta Danielle.
Foram três edições em finais de
semana diferentes, e como a maioria
das peças eram dela, a fisioterapeuta acabou conseguindo cerca de R$
5 mil. "Deu e sobrou, pois como todos eram estudantes, foi uma viagem
com gastos reduzidos", revela a fisioterapeuta. (Y.G.)
Algomais • Março/2016
55
Sempre conectados
Ivo Dantas*
A
tualmente, tecnologia e
internet fazem parte da
vida da maioria das pessoas. Basta pensar um
pouco sobre sua rotina
diária para perceber que passamos
nossos dias conectados, desde o momento em que acordamos até a hora
de dormir. Vamos lá.
Ao acordar, provavelmente com um
alarme, é comum utilizarmos algum tipo
de aparelho para ler e-mails, mensagens
e conferir a agenda do dia. Ao entrar no
carro, podemos checar o trânsito para
decidir o melhor trajeto até o local de
uma reunião. Isso se o encontro não for
realizado por alguma ferramenta de videoconferência. Ao longo de todo o dia
estaremos conectados de alguma forma.
À noite podemos marcar uma saída com
os amigos pelo WhatsApp, chamar o táxi
e pagar a conta por um aplicativo. Seja
pelo computador, celular, tablet, smartwatch, nossa rotina está vinculada a esses famosos gadgets.
A última década concentrou tantas
mudanças tecnológicas, que é difícil
imaginar a vida livre de aparelhos. Para
testar essa nossa dependência, o jornalista americano Paul Miller aceitou o
desafio de passar um ano desconectado da internet. A conclusão da jornada
surpreendeu até o próprio jornalista.
Para ele, ao invés do que muitos o fizeram acreditar, estar fora da internet
não o tornou mais sociável. Afinal, as
pessoas estavam online, enquanto ele
estava completamente desconectado
dessa realidade.
Não é preciso concordar com a
56
Algomais • Março/2016
conclusão de Miller para perceber que,
gostando ou não, a tecnologia já faz parte de nossas vidas como uma extensão.
Há 10 anos, o YouTube não passava de
um site com alguns milhares de vídeos
feitos por amadores e o Facebook iniciava sua trajetória em direção a se tornar
uma rede social com mais de 1 bilhão de
usuários. No universo dos smartphones,
o sistema Android ainda não havia sido
lançado, tampouco estávamos preparados para a revolução que a Apple faria
nas nossas vidas com o primeiro iPhone,
apresentado apenas em 2007. Em 2016,
são vistos cerca de 4 bilhões de vídeos
todos os dias no YouTube, existem mais
de 280 milhões de linhas de celulares no
Brasil e mais da metade dos jovens brasileiros possuem smartphones.
Essa avalanche não deve parar por
aí. A tendência é que as tecnologias
invadam ainda mais nossas vidas.
Para muitos, os próximos anos serão marcados pelo crescimento dos
chamados wearables, produtos tecnológicos que serão vestidos, como
óculos, relógios, roupas e calçados
inteligentes. Não bastasse isso, o
surgimento de impressoras 3D, com
preços cada vez mais acessíveis, pode
modificar a forma como nos relacionamos com objetos do nosso dia a dia.
Made in Pernambuco. Nesse cenário de grandes avanços tecnológicos,
Pernambuco tem seguido sua tradição
histórica de pioneirismo, recebendo
grande destaque no setor de Tecnologia da Informação (T.I.) ao longo dos
últimos anos. Não faltam exemplos de
iniciativas bem-sucedidas no Estado.
Em 2006, o Porto Digital, localizado no Bairro do Recife, possuía
102 entidades participantes do parque tecnológico, empregando cerca
de três mil profissionais e disponibilizando uma área recuperada para
instalação de empresas de 8 mil metros quadrados. Em uma década, os
números cresceram ancorados no
desenvolvimento da economia pernambucana e no aumento da importância dada à tecnologia dentro de
empresas e administração pública.
Hoje, são 259 empresas, organizações de fomento e órgãos do governo
instalados em uma área que possui mais
de 50 mil metros quadrados de imóveis
históricos restaurados, faturando R$
1,3 bilhão e empregando 8 mil pessoas.
O Porto Digital tornou-se reconhecido
mundialmente, chegando a sediar uma
conferência internacional de parques
tecnológicos, que contou com a presença de profissionais de 42 países.
A tecnologia desenvolvida em
Pernambuco já faz parte do nosso dia a
Ivo Dantas é jornalista.
dia, mesmo sem percebermos. Empresas locais são responsáveis pela gestão de
sistemas hospitalares, automação, serviços bancários, tráfego e segurança.
Na educação, alunos da rede pública e privada têm tido cada vez mais
acesso a aulas de robótica, estimulando a produção desde cedo. Os resultados não demoraram para vir e os
projetos criados por alunos pernambucanos têm tido destaque nas edições da
Olimpíada Brasileira de Robótica. Além
disso, um grupo de pesquisadores ganhou um prêmio na ONU pelo desenvolvimento de tecnologias inclusivas
para deficientes visuais. Não à toa,
Recife já foi sede de quatro edições da
Campus Party, evento voltado para a
troca de experiências sobre tecnologia
e internet.
Projetos como o carro elétrico
compartilhado do Porto Leve, a disponibilização de internet gratuita em
áreas públicas, o crescimento de iniciativas que estimulam a criatividade
e o surgimento de empresas startups,
além dos passos dados para interiorizar o conhecimento, dão uma ideia do
que pode ser o futuro do setor de T.I.
no Estado. Não faltam desafios, mas
em uma área pautada pela inovação, o
pioneirismo pernambucano tem dado
mostras de que é possível aliar tradição
e visão em prol do desenvolvimento.
Algomais • Março/2016
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58
Algomais • Março/2016
Algomais • Março/2016
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água
Uma revolução no
convívio com a seca
Instalação de mais de 160 mil cisternas em Pernambuco e
atuação educativa das ONGs mudou o cenário no Estado
Rafael Dantas
A
imagem do migrante sertanejo abandonando a sua terra
em fuga da aridez da seca está
sendo dissolvida. O volume
das chuvas não aumentou (pelo contrário), nem Sertão não virou mar. A
novidade é que houve uma significativa
mudança na forma de encarar o clima
e a disponibilidade hídrica do Semiárido, além de um volumoso investimento
em cisternas. A população começou a
aprender a conviver com a seca e a contar com tecnologias que permitiram o
acúmulo de água para consumo humano e para a produção agrícola.
Moradora do Sítio Felipe, no município de São José do Egito, Fátima
Souto viu a qualidade de vida da sua
família mudar substancialmente nos
60
Algomais • Março/2016
últimos anos com um acesso mais
seguro à água. Antes da chegada das
tecnologias de convívio com a seca,
ela se deslocava de bicicleta dois
quilômetros com baldes para buscar
o precioso líquido para beber e cozinhar. Há mais de 10 anos sua casa
foi uma das pioneiras a receber uma
cisterna de 16 mil litros (voltada para
consumo humano).
Mais recentemente, cerca de
dois anos, a sua residência passou a
contar também com um poço de 48
metros de profundidade, furado pela
ONG Diaconia. A nova infraestrutura permitiu a família plantar e criar
animais. “A gente vive 100% da agricultura. Plantamos verduras, alface,
couve, coentro. Vendemos nas feiras
locais ainda o que sobra. Ainda criamos galinhas e temos uma produção
de ovos”, comemora a agricultora.
Uma mudança que impulsionou a
família como um todo. Se os pais são
do campo, uma filha já trabalha com
educação na cidade e o filho estuda
direito na Paraíba.
Ela lembra que com a chegada de cada nova tecnologia há uma orientação
sobre a higiene e o uso
adequado da cisterna,
bem como do manuseio
eficiente da água. Dona
Fátima, que integra a associação de agricultores do município afirma que quase toda a
população já é abastecida por meio
Algomais • Março/2016
61
das cisternas. Nas reuniões mensais,
ela é uma das encarregadas de informar o nome dos novos moradores que
chegaram à região.
Já foram construídas com recursos federais mais de 160 mil cisternas
em Pernambuco. Em todo o Semiárido, os números registrados do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate a Fome (MDS) contabilizam
1,2 milhões de instalações apenas
para o consumo humano. “Com esses
reservatórios, as famílias possuem
água para cozinhar, beber e para a higiene pessoal. Juntas, o total de tecnologias entregues tem capacidade
de armazenar aproximadamente 20
bilhões de litros de água. Além disso,
mais de 159 mil tecnologias sociais de
água para produção agrícola foram
entregues no Semiárido”, afirma Igor
da Costa Arsky, coordenador geral de
Acesso à Água do MDS.
Um dos grandes expoentes da
defesa do convívio com a seca no
Nordeste é a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que é uma rede
que reúne cerca de cinco mil organizações, entre sindicatos, ONGs e
cooperativas. Um sistema robusto
para reagir aos desafios de atender
ao semiárido mais populoso do mundo, segundo o geógrafo francês Jean
Dresch. De acordo com informações
do Instituto do Semiárido, a população estimada que vive nessa região
ultrapassa 23,5 milhões de habitantes
(2014), o que equivale a 12% do País.
A compreensão de que é preciso
conviver com o Semiárido é a primeira grande mudança dos últimos anos,
na opinião do coordenador da ASA
para Pernambuco, Alexandre Henrique Pires. “Se há tanta gente morando nessa região é porque é possível
viver e resistir. Isso nos dá segurança
para apostar e acreditar na experiência desses agricultores. Sempre houve uma visão de combater a seca. Ao
longo da história da ASA fomos desconstruindo isso, com entendimento
que se convive com o clima da região.
Evidenciamos o semiárido como
território. Lutamos que sejam reconhecidos não pela desgraça da seca
e fome, mas pela própria identidade
das pessoas, sua biodiversidade, criatividade e resistência”, afirma Pires.
A aproximação do conhecimento
62
Algomais • Março/2016
produção. a agricultora fátima souto foi uma das pioneiras a ser beneficiada
no nordeste. Igor Arsky contabiliza 1,2 milhões de cisternas em todo semiárido
técnico e científico do meio acadêmico com a sabedoria e experiência
popular apontaram os caminhos que
fundamentaram as mudanças do semiárido. O programa das cisternas
da ASA saiu do exercício de experimentar os trabalhos e iniciativas das
ONGs, organizações rurais, movimentos sociais e igrejas. “Da experimentação por parte das organizações
e movimentos, com base nas experiencias com os agricultores, surgiram as tecnologias de convivência”,
disse Pires. No catálogo de soluções
que foram testadas estão, por exemplo, as cisternas de 16 mil litros (que
capta água do telhado para o consumo humano), as cisternas tipo calça-
dão (que são usadas para produção de
alimentos e criação de animais), além
de algumas variedades de barragens.
Dentro do programa do Governo
Federal voltado para a construção de
cisternas para o consumo humano, a
ASA realizou a construção de 82 mil
unidades, atendendo 81.573 famílias e
416 escolas. O abastecimento às instituições de ensino é uma das novidades.
“Nos debates sobre educação, percebemos que muitas escolas rurais deixavam de ter aulas no período da estiagem. É preciso assegurar água para
garantir o processo de educação rural.
Estamos em negociação com o MDS
para dar continuidade a esse programa”, afirma o coordenador da ASA.
Algomais • Março/2016
63
Foto: Ubirajara Machado - MDS
Um impulso
para a
agricultura
familiar
64
Algomais • Março/2016
A região Nordeste possui uma
média de dois milhões de núcleos de
agricultura familiar e, de acordo com
a Secretaria de Agricultura e Reforma
Agrária (Sara) do Governo de Pernambuco, 90% estão localizados no
Semiárido. Só no Estado são 275.920
mil agricultores familiares distribuídos nas diversas regiões de desenvolvimento. Além das cisternas, estão
no escopo de ações da secretaria a
implantação de barragens, poços e
sistemas de abastecimento de água
nas comunidades rurais com até 250
famílias. Em dezembro de 2015 foi
firmado convênio entre a Sara, o Ministério da Integração e a Compesa,
no valor de R$ 97 milhões, para implantação de sistemas de abasteci-
Foto: Ubirajara Machado - MDS
produtividade
cerca de 90% dos agricultores do
nordeste vivem no semiárido. novas
tecnologias têm evitado migração do
campo em tempos de seca
mento de água ao longo do projeto de
transposição do Rio São Francisco,
que vão beneficiar cerca de 150 comunidades.
O secretário Nilton Mota destaca
duas principais vantagens da chegada das tecnologias no Semiárido para
a produção rural. “Por considerar
que os agricultores beneficiados estão em sua maioria em comunidades
difusas, passam a viver com um potencial de acúmulo de água ao lado
da casa, fato que minimiza as distâncias dos açudes. Outra vantagem das
cisternas é de ordem técnica, pois a
água acumulada permanece protegida da evaporação, otimizando assim
um armazenamento para utilização
da água apenas nos meses mais secos,
sem riscos de perda, diferente do que
ocorre nos açudes”, avalia.
O Estado, através da Sara, iniciou
convênios com o Governo Federal,
possibilitando a construção de 17.950
cisternas calçadão de 52 mil litros
(para produção de alimentos e dessedentação animal). A ASA construiu
em Pernambuco 13.271 cisternas nesse formato. Como algumas dessas
instalações atendem comunidades, a
quantidade de famílias beneficiadas
é maior que o número de tecnologias
construídas.
Mais que instalar essas infraestruturas de captação e armazenamento
de água, as ONGs e o poder público
têm um relevante papel de formação
desse homem do campo e de fomentar a sua produção e comercialização.
Proprietário do Sítio Bom Sucesso da
Ingazeira, em Tuparetama, José Ivan
Monteiro é um agricultor que, em
parceria com a ONG Diaconia, deu
uma guinada na sua produção. Possuindo cisterna e poço, ele cultiva 35
tipos de frutas e 15 de hortaliças, além
da trabalhar com produção de mel e
de poupa de frutas.
O trabalho de orientação fez mudar completamente suas práticas
Algomais • Março/2016
65
no campo. "Eu trabalhava de forma
errada com o solo. Queimava, usava
agrotóxico e desmatava. Com a agricultura agroflorestal as condições de
vida da minha família melhoraram
muito. Quem produz agroecológicos,
produz saúde. Depois que recebemos
as tecnologias sociais através da Diaconia, a produção aumentou bastante. Agora, nós podemos produzir o
alimento que consumimos e as outras
famílias consomem", conta. A família
conquistou um sistema de irrigação
por gotejamento, que reduziu o seu
consumo de água na produção, e hoje
comercializa seus produtos em feiras
nos municípios de Tuparetama, Afogados da Ingazeira e São José do Egito,
localizadas no Sertão do Pajeú.
Por parte do Governo do Estado,
há alguns projetos que estimulam a
produção desses agricultores familiares, como o Redes Produtivas. Essa
iniciativa tem por proposta conectar
sustentável
josé ivan monteiro, que produz poupa
de frutas, mel e hortaliças, passou
a usar um sistema de irrigação por
gotejamento, que reduziu uso de água
66
Algomais • Março/2016
NILTON MOTA
Consolidação das
redes colabora para
ampliação da geração
de renda e preservação
dos recursos naturais"
os vários elos das diversas cadeias
produtivas para promover estimulo ao
intercâmbio e troca de informações
e experiências, além da articulação
dos grupos. “A consolidação das redes
colabora para a ampliação da geração
de renda, da preservação da natureza
e dos recursos naturais, da disseminação de boas práticas de produção,
além da vigilância territorial, da promoção da saúde alimentar e nutricional e da educação rural, entre outras”,
afirma Nilton Mota. Uma pactuação
entre o Banco Mundial e o Governo do
Estado já investiu através do ProRural
um total de R$ 35,3 milhões nessas
redes.
Os intercâmbios de experiências
também são uma prática da ação da
ASA. A sensibilização e formação das
pessoas do campo é algo que chega ao
Semiárido antes da vinda dos investimentos. Nesse processo de mobilização social, são articuladas visitas entre famílias de diferentes municípios
e Estados. “Esse movimento de troca
de informações entre as famílias gera
uma consciência coletiva de como é
possível conviver no Semiárido com
estratégias diferentes”, afirma Alexandre.
Médico Responsável: José Rocha de Sá - CRM 1586
Agora, ao realizar os seus exames
de Tomografia e Ressonância em uma
de nossas clínicas, você tem acesso online
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mais conforto e qualidade para você.
Algomais • Março/2016
67
bairros. reserva do paiva abriga residenciais, hotel e empresarial. reserva são lourenço atinge público do programa mcmv
habitação
RMR atrai novos
moradores
Fruto da expansão econômica do Estado, investimentos
residenciais e empresariais extrapolaram os limites do Recife
N
os últimos 15 anos, a população da Região Metropolitana do Recife aumentou
em quase 600 mil habitantes. Desse crescimento, apenas 32%
é da população da capital. Mais que o
avanço na quantidade de moradores,
municípios vizinhos - como Paulista,
São Lourenço, Camaragibe e Cabo de
Santo Agostinho – viram embarcar
no seu território alguns bilhões de investimentos residenciais, comerciais e
industriais. A organização e conexão
da nossa metrópole está ainda longe
da perfeição, mas esses recentes fe-
68
Algomais • Março/2016
nômenos demográficos e econômicos,
associados ao surgimento de novas
infraestruturas de mobilidade urbana,
mudaram a dinâmica dessas cidades e
dos cidadãos metropolitanos.
Com todo o investimento industrial e de infraestrutura no Litoral Sul
do Estado, municípios como Cabo de
Santo Agostinho e Ipojuca ganharam
uma atenção especial dos grandes
players do segmento imobiliário. As
oportunidades de trabalho e também
de moradia que surgiram atraíram a
atenção de novos residentes para a
região. O administrador de empresa
Ricardo Rego é um desses que ao voltar para Pernambuco, após oito anos
residindo em Brasília, optou por morar e trabalhar na Reserva do Paiva,
no Cabo de Santos Agostinho.
“Trabalho no empresarial aqui mesmo no Paiva, a dois quilômetros do nosso apartamento, e minhas filhas estão
na primeira turma do colégio Santa
Maria”, conta o empresário que diariamente as leva num triciclo para a escola.
“Já aproveitamos esse trajeto para fazer
nossa atividade física. Neste um ano que
estamos aqui, vimos o crescimento do
bairro e nossa rotina ficou completa-
mente integrada ao local”, afirma. A
mulher de Ricardo, que trabalha para a
Unesco, a partir de março estará atuando em Suape, que fica a aproximadamente 10 quilômetros de distância.
A proposta de cada um dos novos
bairros ou centralidades que surgiram
na última década é tanto atrair moradores como desenvolver serviços
que antes só eram ofertados no Recife. Daí o surgimento dos shoppings,
empresariais, centros gastronômicos,
hospitalares e educacionais por toda
a RMR. Uma expansão que contribui
para evitar muitos deslocamentos,
mas estimula outros motivados pelas
oportunidades de emprego.
Na Reserva do Paiva, por exemplo,
além dos diversos condomínios residenciais, já funciona um empresarial,
um hotel cinco estrelas, o Empório
Gourmet (que é um complexo gastronômico, que abarca bares e restaurantes) e, mais recentemente, viu a inauguração da nova unidade do Colégio
Santa Maria. O empreendimento que
teve seu primeiro lançamento em 2007
viu uma velocidade de vendas acima do
que esperava para seus primeiros anos.
ROBERTO REGO
A Promovalor viu
um grande potencial
em investir no
complexo dentro da
Reserva do Paiva"
“Entre 2008 e 2011 a procura por
produtos comerciais e residenciais fez
com que a gente colocasse mais unidades no mercado do que estava previsto
inicialmente. A localização privilegiada entre o Recife e Suape fez do nosso empreendimento a primeira opção
para o público externo”, declara Carolina Tigre Viriato, diretora comercial
e de marketing da Odebrecht Realizações Imobiliárias, que é a empresa responsável pelo desenvolvimento do terreno que pertence aos grupos Ricardo
Brennnand e Cornélio Brennand. Apesar do impulso dado pelo Complexo
Industrial e Portuário de Suape ao empreendimento, os moradores vindos de
outros estados ou países com destino
ao "el dourado pernambucano" não representam a maior clientela da Reserva
do Paiva. “Nosso público principal não
é de fora, mas de gente que está saindo do Recife, querendo integração com
natureza e buscando mais infraestrutura de condomínio”, diz.
Na única área do Paiva que foi adquirida pelo grupo português Promovalor foram construídos o Empresarial
Novo Mundo, o Sheraton Reserva do
Algomais • Março/2016
69
Paiva e o residencial Terraço Laguna.
O centro empresarial, por exemplo, já
tem 80% dos espaços vendidos, sendo uma torre inteira para o Consulado
Americano. Outro gigante que desembarcará em breve no Paiva é a Fiat
Chrysler Automobiles, que instalará no
lugar o seu centro de pesquisa e tecnologia de desenvolvimento de motores.
O índice de velocidade de vendas do
Novo Mundo no seu lançamento bateu
o desempenho de todos os empresariais
do Recife na época.
O consultor Roberto Rego, que hoje
é diretor da Promovalor Brasil Participações, foi o responsável por apresentar o empreendimento para o grupo português que tinha interesse em
vir para Pernambuco. “Eles viram um
grande potencial na construção desse complexo que envolve um hotel de
alto padrão vizinho do empresarial e
de uma oferta imobiliária qualificada.
A Promovalor tinha uma experiência
semelhante em Portugal, no empreendimento Parque das Nações, que consolidou o grupo”, afirma o diretor.
A opção por uma bandeira hoteleira de alto padrão veio como proposta
do então governador Eduardo Campos.
Na ocasião o Estado de preparava para
sediar a Copa do Mundo e a Copa das
Confederações. “O projeto do hotel era
até mais simples, mas nos foi solicitado
um equipamento de alta qualidade para
motivar o turismo”, diz o diretor. Passado o evento mundial, o destaque ficou
por conta da seu Centro de Convenções,
com capacidade de receber até 1,6 mil
pessoas. Ele afirma que mesmo em meio
a crise, os empreendimentos seguem
recebendo novos interessados semanalmente e revelou que o próximo investimento dentro do terreno da Promovalor
deverá ser um flat com serviços conectados ao hotel.
Ainda no litoral Sul, mas no município de Ipojuca, a Pernambuco Construtora lançou a Reserva Ipojuca, atendendo um perfil de público do programa
federal Minha Casa, Minha Vida.
LITORAL NORTE. Responsável pelo
investimento do recém-inaugurado
shopping Paulista North Way, o empresário Avelar Loureiro Filho, da
ACLF Empreendimentos, comemora as mudanças que aconteceram na
cidade da década. A chegada do BRT
70
Algomais • Março/2016
e consolidação do terminal integrado
diminuíram as distâncias entre o município, a capital pernambucana e os
demais integrantes da RMR. “Apesar
do momento do País, estamos indo à
festa, que é a consolidação de toda infraestrutura. O casamento da iniciativa
pública e privada gerou uma requalificação urbana no município”, afirma.
A aposta do empresário na cidade – onde já construiu dois bairros
planejados, o shopping e uma faculdade – tem três novos lançamentos,
mesmo no período de crise. O grupo
empresarial está ofertando 1,8 mil
unidades residenciais em três empreendimentos imobiliários (um na
praia de Conceição e dois que estão
localizados a mil metros do mall).
Em maio será lançado o Projeto Nova
Paulista, que projeta 50 mil novas habitações em 20 anos.
Na zona oeste da RMR, Camaragibe e São Lourenço são dois destinos
de grandes empreendimentos. Apesar da Cidade da Copa não ter vingado, os investimentos da duplicação
da PE-408 e da construção da Arena
Pernambuco atraíram o interesse dos
pernambucanos para o município
como uma opção de moradia. De olho
nesse movimento, a Pernambuco
Construtora investiu na Reserva São
Lourenço. Já foram entregues 1,3 mil
apartamentos. Quando todo o empreendimento estiver concluído serão
2.048 unidades habitacionais.
“O crescimento está acontecendo
nesses municípios em torno do centro, pois o Recife não tem mais terrenos para construções de grande porte.
A proximidade do TIP e a facilidade de
acesso para universidades e hospitais
são fatores valorizados pelos clientes”,
diz Mariana Wanderley, diretora-executiva da Pernambuco Construtora.
Ela também é diretora da Terra Norte Urbanismo, que está realizando uma
expansão imobiliária de outra cidade
dessa RMR expandida: Itapissuma. Com
um terreno maior que a área construída
da cidade, a empresa está implantando
um loteamento de um bairro planejado.
Entre indústrias, shoppings, bairros
planejados (populares ou sofisticados) a
RMR, apesar das dificuldades enfrentadas, contempla o surgimento de novas
centralidades a cada ano. Novas estruturas que mudam a dinâmica de várias
dessas cidades. (R.D.)
em casa. ricardo rego e família alinharam moradia, trabalho e estudos no paiva
Fundada há mais de 30 anos,
a Exata Engenharia construiu muito
mais que prédios. São décadas de
tradição, qualidade e sustentabilidade
que ganharam destaque no mercado
imobiliário por proporcionar bem-estar
para seus clientes e para o mundo.
Esse é o seu novo estilo de vida.
EXPERIMENTE
O ESTILO
EXATA
DE VIVER.
Algomais • Março/2016
71
PENSANDO BEM
LAÉRCIO QUEIROZ
Uma metrópole não metropolitana
[email protected]
Consultor
O
que é metrópole? ...o
que é ser metropolitano?
Duas perguntas que deveriam ter uma resposta
clara para a população da
Região Metropolitana do Recife.
A metrópole é o “carro-chefe”, é
quem deve liderar. É quem deve puxar
para si a condição solidária de contribuir para o desenvolvimento econômico e social da região metropolitana
observadas as idiossincrasias peculiares
dos demais municípios metropolitanos.
A cultura provinciana e coronelista, centralizadora e introvertida das
cidades, certamente, é a principal causa do atraso quando se trata de gestão
metropolitana. Os de “cima” não querem “perder” a condição de “conduzir” as implementações das políticas
de desenvolvimento, e os de “baixo”
não conseguem se livrar do “manto”
protecionista que esperam ter dos de
“cima”. Nessa celeuma e acomodação
no status quo do processo, ninguém
“puxa o carro”.
Os municípios metropolitanos precisam deixar de se verem como tal. Para
tanto se faz necessário que se movimentem, se articulem e se organizem para
estimular a participação da metrópole
e do Governo de Estado. Os problemas
desses municípios são de tal magnitude
e amplitude, que, não se resolverão caso
não busquem se unir e conjuntamente
analisá-los para definição de políticas
estratégicas com projetos, capazes de
assegurar os recursos necessários para
implementação.
Independente de termos municípios
maiores, menores, mais ricos ou mais
pobres, tem que ser valorizado o sentimento regional e solidário. Preconiza o
Estatuto das Metrópoles, dentre outras
coisas, a prevalência do interesse comum
sobre o local e o compartilhamento de
responsabilidades para a promoção do
desenvolvimento urbano integrado.
72
Algomais • Março/2016
Como o Recife vai resolver questões
como: mobilidade, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos, saúde,
promoção e assistência social, segurança pública, infraestrutura, habitação, planejamento urbanístico, trânsito
e transporte, meio ambiente, e neste
ponto incluam-se os rios Capibaribe,
Beberibe, Jordão e o Tejipió além do resto de Mata Atlântica que ainda resiste?
municípios metropolitanos. Juntos estabelecerem uma pauta positiva para
uma ação cooperada, compartilhada
e solidária que possibilite uma gestão
colaborativa e abrangente, capaz de
resolver a maioria dos “gargalos” históricos que se arrastam pelo tempo.
Não há nenhuma dúvida, os problemas do Recife não se resolverão caso
não se consiga um pacto onde se defina
“Independente de termos municípios maiores,
menores, mais ricos ou mais pobres, tem que ser
valorizado o sentimento regional e solidário”
Não pode o Recife se “fechar em
copas” e não observar que a falta de
estrutura e de condições, sejam recursos humanos, recursos técnicos e financeiros dos demais municípios metropolitanos, geram problemas nesses
municípios que refletem diretamente
na metrópole.
O Governo do Estado de Pernambuco, que por sua vez, criou a Região
Metropolitana do Recife, é seu guardião
e tutor, contudo, não tem feito e não faz
a tutela responsável ajudando aos municípios metropolitanos a encontrarem
as soluções conjuntas para os graves
problemas que afloram a cada dia, pois,
estamos falando da região mais populosa e desenvolvida do Estado.
Os instrumentos legais de gestão e
governança existem, falta quem conduza, quem lidere e, enquanto isso,
sofre a Região Metropolitana do Recife,
e, principalmente, sua população que
não se sentem metropolitanas.
O Recife para ser uma metrópole metropolitana deve trabalhar junto
com o Governo de Pernambuco e liderar os entendimentos com os demais
uma gestão política metropolitana com
a participação e o comprometimento
de todos os municípios metropolitanos
através de instrumentos legais, modernos e atuais que consubstancie a
vontade e o desejo da população.
Na realidade, é preciso trabalhar
a construção de um Plano Metropolitano que contemple todas atividades
de responsabilidade da gestão pública que interfiram comumente no
conjunto das cidades metropolitanas.
As tentativas de se estabelecer
uma gestão para uma ideia desse
porte não têm dado certo pois falta
o “pacto”, falta o entendimento e o
comprometimento metropolitano,
falta visão regional para enfrentar o
tamanho dos problemas.
O Recife como metrópole, é o grande protagonista para uma nova realidade
metropolitana e uma alternativa plausível
é a constituição de um Consórcio Público Metropolitano. A Região Metropolitana do Recife precisa que a sua metrópole
assuma sua posição de vanguarda, principalmente, por se tratar da mais importante região metropolitana do Nordeste.
Algomais • Março/2016
73
educação
Escola mudou a
rotina após o Enem
E os estudantes também. Exame promoveu fim da "decoreba”
e até permitiu ao aluno estudar no exterior
D
esde que passou a ser utilizado como instrumento
de seleção para acesso
ao ensino superior,
o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) ganhou outro
status no sistema educacional brasileiro. Mesmo numa
história curta, que ainda se
aproxima de 10 anos, a nova
funcionalidade dada para essa
avaliação vem trazendo modificações tanto nas escolas como
nas universidades. Do ponto de
vista pedagógico a proposta
de interdisciplinariedade e de
contextualização das provas
do Enem estão promovendo
alterações nas instituições de
ensino. Já do ponto de vista seletivo, o Enem tem estimulado a
mobilidade de estudantes pelo País e
até para o exterior.
Para o aluno que viveu a transição
das tradicionais provas de vestibular
- que tinham uma rígida divisão por
disciplinas – para o Enem – que avalia o aluno por áreas de conhecimento
– provavelmente houve um estranhamento. No entanto, mais que agrupar
as notas de matérias distintas, o novo
paradigma de avaliação prosposto
por esse exame valorizou ainda mais
a interdisciplinaridade e a contex-
74
Algomais • Março/2016
Algomais • Março/2016
75
tualização dos conteúdos trabalhados
em sala de aula, na opinião do professor Armando Vasconcelos, diretor do
Colégio Equipe.
“Por trás da organização das provas do Enem existe um paradigma,
uma concepção de educação diferente, que é a interdisciplinaridade.
A operacionalização desse conceito
indica que as escolas trabalhem por
áreas de conhecimento, o que altera
a prática pedagógica dos professores”, afirma o professor Armando.
Ele considera que esse conceito facilita o estudante a fazer conexão entre os conteúdos curriculares e o seu
cotidiano. “Todos os conteúdos têm
relação com a realidade do aluno. A
interdisciplinaridade e a contextualização são eixos indispensáveis para a
escola, pois permite ao estudante fazer a relação do conhecimento com a
realidade dele”, avalia o docente.
No livro Os sete saberes necessários
à educação do futuro (2001), o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin
já problematizava que a prática de
ensino tradicional se confrontava
com a educação do futuro. “Existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um
lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro,
as realidades ou problemas cada vez
mais multidisciplinares, transversais,
multidimensionais, transnacionais,
globais e planetários”, escreveu.
Se havia uma crítica ao antigo
modelo de seleção através dos vestibulares, que privilegiava a “decoreba”, o novo formato é elogiado justamente por valorizar práticas que
aproximaram a escola do seu contexto. As gincanas escolares, passeios
pedagógicos e as propostas de trabalho integrando diversas disciplinas
ganharam força. Na opinião dos especialistas, os colégios que passaram
a apresentar melhor desempenho no
Enem foram justamente aqueles que
fizeram a leitura desse novo paradigma e se propuseram a inovar.
“A mudança do modelo de prova tem relação com o modelo de sociedade que deseja ser democrática,
que valoriza o livre-pensamento,
construção criativa das ideias, uso
das inteligências em movimento, a
competência cognitiva intelectual.
76
Algomais • Março/2016
avanço. professor armando elogia interdisciplinaridade proposta no enem
No modelo anterior você poderia repetir fórmulas. Poderia usar uma inteligência de memória, de associação,
agora com a abordagem de construção de conhecimento construtivista,
o que cabe é essa ideia do estímulo
ao pensar. Estímulo a você mobilizar
o seu conhecimento”, afirma a professora da UFRPE Irenilda Lima, que
é doutora em comunicação e possui
vasta experiência na área de educação, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino.
A mudança do modelo de prova
não significa que a avaliação ficou
mais fácil, na opinião da professora. Para Irenilda Lima, o candidato
do Enem é muito mais exigido, pois
é desafiado a pensar a aplicação do
conhecimento que foi adquirido e
não apenas reproduzi-lo. Ela considera que essa proposta valoriza uma
formação do cidadão que a sociedade
contemporânea almeja. “O conhecimento adquirido tem que ter significado de aplicação de prática. É um
tipo de inteligência bem-vinda para
uma sociedade que deseja ser democrática, da informação e do conhecimento”, considera.
Hoje estudante de letras da UFPE,
o universitário Lucas Ferreira, 20,
enfrentou seu único Enem há quatro anos, logo após encerrar o ensino
médio numa escola particular do Recife. Atualmente faz estágio na rede
pública de ensino. “Quando estudei
ainda era muito modesta essa relação
entre as disciplinas. Mas já havia uma
experiência nas próprias aulas de
português, que eram bastante contextualizadas, e ao longo do ano alguns eventos propunham a mescla de
conhecimentos”, diz. Já com o olhar
de dentro da academia, ele considera que o Enem é melhor que os ves-
Foto: Cristhiane Costa/Divulgação
tibulares tradicionais, mas que ainda
tem um caminho para avançar. “A
prova avalia muito as competências,
mas não reconhece a importância de
alguns conhecimentos relevantes.
Sobre a adaptação das escolas a esse
modelo de interdisciplinariedade, há
ainda muita dificuldade na maioria
delas. Acredito que é um desafio do
ensino superior”, diz.
Além de mudar algumas práticas
da escola, a instituição do Enem enquanto instrumento de seleção para
as universidades mudou também um
pouco a face dos primeiros colocados. Se antes esse posto era exclusivo
dos alunos de medicina, os noticiários passaram a anunciar nos últimos
anos alunos de música e jornalismo
aparecendo nas primeiras posições.
Na seleção 2015, por exemplo, um
aluno do curso de matemática despontou na primeira colocação.
Outra mudança é a maior mobilidade de estudantes pelo País e até
para o exterior. Só de Portugal são
11 instituições de ensino que aceitam alunos brasileiros com a nota
do Enem, através do Sisu. O aluno
exterior. com nota do enem, joão vitor conseguiu vaga para estudar em portugal
Algomais • Março/2016
77
Foto: Juarez Ventura
Especialistas alertam
que a experiência do
exame de avaliar o
aluno por áreas de
conhecimento não
podem ser esquecidas
na nova Base Nacional
Curricular Comum
recifense Vitor Tôrres Potts, 18 anos,
foi aprovado recentemente para o
curso de psicologia na Universidade
de Coimbra. Com a nota de 790,13,
ele havia alcançado o terceiro lugar
no mesmo curso da UFPE, mas optou por ter a experiência de estudar
na Europa. “Minha família sempre
viajou bastante e eu tinha interesse
em estudar fora. Pensava em fazer
a graduação no Reino Unidos, mas
enquanto a seleção lá é complicada,
consegui o acesso para estudar em
Portugal pelo próprio Enem”, afirma
o estudante, que tem interesse em
seguir estudando para ser professor-pesquisador.
CURRÍCULO. Um dos debates mais
aquecidos no meio educacional brasileiro é a construção da Base Nacional Comum Curricular (que é o documento que detalha o que precisa ser
ensinado em matemática, linguagens
e ciências da natureza e humanas nas
escolas do País). Essa discussão está
sendo coordenada pelo Ministério
da Educação que apresentou no ano
passado uma proposta preliminar do
texto que será referência para reformular um currículo mínimo para os
alunos das escolas de educação básica no País. Nesse momento crucial
para o ensino brasileiro, a experiência
do Enem não pode ser desconsiderada, na análise do professor Armando Vasconcelos. No meio de tantas
críticas que os documentos de base
78
Algomais • Março/2016
contraponto. joão batista defende diversidade no acesso ao ensino superior
apresentados pelo MEC sofreram, ele
destaca o fato de que essa concepção
das áreas de conhecimento não está
contemplada adequadamente.
“Do ponto de vista pedagógico,
as mudanças promovidas pelo Enem,
que são amplamente positivas, são
irreversíveis. Sendo assim, é preciso refletir bem sobre a relação entre
a proposta do Enem e a construção
da Base Comum Curricular. Ela não
pode desconhecer que o currículo
do ensino médio está dividido por
área de conhecimento. As novas definições não podem fazer referência
apenas às disciplinas. Isso seria um
retrocesso”, considera o diretor do
Colégio Equipe.
CRÍTICAS. Um dos especialistas nacionais em educação que questiona
severamente o Enem é o professor
João Batista Araújo e Oliveira, que é
doutor em pesquisa em educação. Em
seu livro Repensando a educação brasileira, publicado no ano passado pela
editora Salta, ele discorda do fato de
o País possuir apenas uma única avaliação de acesso ao ensino superior.
“Nenhum País possui um sistema
unificado de vestibular em que todos os alunos são obrigados a fazer
um mesmo teste como o do Enem. Há
países que usam testes padronizados
como o ACT/SAT nos Estados Unidos
e seu similar no Chile, mas esses são
testes não vinculados a currículos
específicos. Nos demais predomina
a diversificação, e muitos o fazem de
forma eficiente”, declara.
O especialista acredita que essa
unificação prejudica as características locais que cada sistema de ensino
pode enfrentar. Ele sugere que haja
o estímulo à diversidade, considerando as motivações acadêmicas e
profissionais. No livro ele elogia, por
exemplo, o caso dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) em que há variedade na formação escolar e nas regras de acesso
ao ensino superior. "Para o ensino
médio, só existe uma solução conhecida: diversificar, oferecendo opções
acadêmicas e profissionais, com ampla liberdade e flexibilidade", avalia o
professor João Batista. (R.D.)
Algomais • Março/2016
79
Educar para a
competência global
Eduardo Carvalho*
A
globalização intensificou-se nessa última década
com a potencialização do
sistema de comunicação
através de redes sociais, o
acesso mais rápido e abrangente pela
internet e o desenvolvimento de plataformas de e-learning. A transnacionalização das empresas foi marcante. As
causas ambientais passaram a ser muito mais foco das discussões globais. O
sistema de informação global foi aperfeiçoado e possibilitou a comparação
do desempenho das nações através de
inúmeros indicadores. A circulação de
idéias, pessoas, mercadorias e capital
ao redor do mundo foi acelerada. Redes
internacionais de atividades, conhecimento e poder foram criadas.
Compreender a globalização
é
chave para reconhecer e responder às
pressões do mundo dos negócios e da
competitividade entre as nações. Esse
processo resultou num aumento significativo da competitividade global que é
avaliada pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo essa entidade, em 2014 o
Brasil estava em 57º lugar numa lista de
144 países. No ano seguinte (2015), caiu
para a 75ª posição. Nossa imagem no
contexto da competitividade agrava-se
ainda mais ao considerar o indicador de
qualidade do sistema educacional primário, no qual fomos avaliados entre os
piores do mundo (129º lugar). Na avaliação do sistema educacional superior,
ficamos em 126º lugar. A análise do sistema educacional
(escolas púbicas e privadas) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
80
Algomais • Março/2016
Educacionais (Inep) confirma o resultado internacional. No País, para os
anos finais do ensino fundamental, o
indicador em 2005 era 3,5 (escala de
0-10), e na última avaliação divulgada, em 2013,foi 4,2. No ensino médio,
o indicador patinou de 3,4, em 2005,
para 3,7, em 2013.
A situação em Pernambuco não é
diferente, mas melhorou nos últimos
anos do ensino fundamental, com indicadores de 2,7, em 2005, para 3,8,
em 2013. No ensino médio, evoluiu de
3,0 para 3,8, no mesmo período. Na
última avaliação divulgada do Enem
referente a 2014, d
​ as 620 escolas do
ensino médio de Pernambuco (públicas e particulares), apenas cinco estão
entre as 200 melhores do Brasil.
O cenário comprova que educação
deve ser o topo das prioridades do País.
Entretanto, as ações nesse setor devem
compreender simultaneamente a melhoria radical do sistema de ensino básico/superior e a criação de um sistema
que prepare o aluno para ser inovador e
Globally competent (competente globalmente). Isso significa que o indivíduo
deve ter competências e habilidades
para compreender e atuar em questões
com perspectiva global, interagindo com
pessoas e empresas de vários países.
Essas pessoas são conscientes,
curiosas, sabem fazer perguntas inteligentes e são motivadas a aprender sobre o mundo e como ele funciona. Esse
processo de desenvolvimento é denominado de Global Education e tem em
seu fundamento as habilidades do século 21: para vida e carreira; de aprendizado e inovação; e para informação e
mídia. Desse conjunto, destacamos os
4Cs: a Criatividade, o pensamento Crítico, a Comunicação e a Colaboração.
O aluno se prepara para ser Globally competent através de um processo
que compreende investigar o mundo;
analisar cenários; comunicar ideias
para diversas audiências; e agir/atuar
transformando as ideias em ações
adequadas para melhorar/solucionar
o problema definido. Para isso, ele
precisa desenvolver as habilidades do
século 21 e dominar outros idiomas,
fundamentalmente o inglês. Assim,
poderá questionar atitudes e buscar
as melhores práticas e referência no
mundo através da participação em redes globais de conhecimento.
O Brasil é um país monolinguístico. Pesquisa do EF-Education First
estimou que apenas 2% da população
brasileira, cerca de 500 mil pessoas,
comunicam-se em inglês fluentemente. Em Pernambuco, o Instituto
Harrop confirmou esse indicador. Ou
seja, apenas essa pequena parcela de
brasileiros teria a competência para
atuar profissionalmente em multinacionais e ser admitida em boas universidades de outros países.
Numa tentativa de mudar esse cenário, algumas escolas surgiram no
mercado e se autodenominam bilíngues, mas o modelo é tão somente instalar um curso de Inglês num
ecossistema longe de ser o necessário
para preparar o aluno para ser Globally
competent. Muitas escolas reconhecem que o processo de educação bilíngue exige um ecossistema exclusivo, e
delegam, de modo assertivo, o processo de ensino de idioma estrangeiro
para a escola especialista.
No contexto dos cursos de inglês,
o que se constata é a proliferação de
cursos com apenas salas de aula, sem
funções fundamentais para preparar
o aluno para ser fluente no idioma e
muito menos ser Globally competent.
Para esse processo ser bem sucedido,
o centro educacional precisa estar interconectado com outras instituições
no mundo; e estimular os alunos a
pensar criativa e criticamente, compreender o mundo e discutir problemas globais.
O processo requer uma abordagem com ênfase em aprendizado
através de projetos PBL (Aprendizado
Baseado em Projeto). A instituição IB-International Baccaulaureate World
Schools, com sede na Suíça, inovou
com essa metodologia. Hoje, 4.267
escolas em 147 países fazem parte da
rede. Em Pernambuco, há apenas uma
escola da rede. São instituições bilíngües e verdadeiras escolas globais.
Eduardo Carvalho é educador.
Na escola tradicional, o currículo é
voltado para o Enem. Não sobra tempo
nas escolas do ensino médio para outras
atividades. Em função desse foco, os alunos param de estudar inglês em cursos
especializados no início do ensino médio
e a grande maioria não retoma o desenvolvimento linguístico. Ficam, portanto,
aquém da fluência exigida para o mercado globalmente competitivo.
No contexto universitário, o Brasil
não tem nenhuma universidade entre
as 200 melhores do mundo. E entre as
500, o país possui apenas três, segundo
pesquisa recente da Times Higher Education, do Reino Unido. Participar de
programas de intercâmbio, conhecer
outros países, visitar museus e participar
de conversas em família sobre assuntos
globais enriquecem o saber do aprendiz.
Uma nação inovadora precisa produzir muitas idéias para resolver diferentes problemas; e precisa criar novos e
melhores produtos, processos e serviços
que outros países necessitem comprar.
O país precisa de escolas-laboratórios
onde os alunos aprendem conceitos,
habilidades e valores mais do que fatos,
tendo um conjunto de disciplinas eletivas. Precisamos preparar nossas crianças e jovens para Think, act and interact
beyond the borders (pensar, agir, interagir além das fronteiras), tornando-se
Globally competent.
Algomais • Março/2016
81
É possível ter educação
pública de qualidade?
Raul Henry*
O
Brasil realizou conquistas
inquestionáveis na educação básica, nas últimas
duas décadas: praticamente universalizou o
ensino fundamental, criou sistemas de
financiamento e de avaliação, reduziu a
distorção idade/série e elevou a escolaridade média da população de 5,2 anos,
em 1995, para 7,7 anos, em 2003.
No que diz respeito à qualidade
da escola pública, porém, o País está
quase estagnado ou apresenta tendência de declínio. A série histórica
de 1997 a 2013 do Ministério da Educação mostra uma pequena melhora
apenas no 1º ciclo do fundamental: o
percentual de alunos com proficiência adequada em português sai de
36% para 45% e, em matemática, de
21% para 39%. No 2º ciclo do fundamental, há uma tendência de estagnação: em português cai de 32% para
29% e, em matemática, de 17% para
16%. A situação do ensino médio é a
pior, com claro declínio: em português, de 40% para 27% e, em matemática, 18% para 9%.
Se esses números, representativos
da rede total, são ruins, eles ficam
ainda piores quando segmentados
entre redes privada e pública. Tome-se como exemplo o desempenho em
matemática no 3º ano do ensino médio. Na decomposição dos 9% com
proficiência adequada, tem-se, na
rede privada, uma média de 34,7% e,
na pública, um número escandaloso:
4,9%.
82
Algomais • Março/2016
Algomais • Março/2016
83
Os dados do Pisa confirmam os
do MEC. Entre 2006 e 2012, o Brasil
caiu da 52ª para a 57ª posição, entre
65 países avaliados.
O que fazer diante desse monumental desafio? Um olhar panorâmico pode levar a alguns ensinamentos.
1- A necessidade de um currículo nacional
Essa é uma convicção já consolidada
nos países mais avançados. Todos os
alunos têm o direito de ter acesso ao
mesmo conjunto de conhecimentos.
Não é justo submetê-los ao repertório
local de escolas situadas em comunidades com diferentes níveis culturais
e socioeconômicos. E mais: a experiência internacional mostra que os
melhores currículos são os mais claros, os mais concisos e com as mais
altas expectativas de aprendizagem.
O currículo é a “viga-mestra” que
vai orientar a política de formação de
professores, a produção do material
didático, a capacitação em serviço e
as avaliações.
2- O recrutamento de pessoas talentosas
e comprometidas
Talvez esteja aí o maior gargalo estrutural do Brasil. A função docente
perdeu a atratividade. Carece de reconhecimento e valorização, e tem
uma remuneração média que é a metade da média das outras profissões
de nível superior (Pnad 2012).
Pesquisa patrocinada pela Unesco
(2009) mostra o perfil atual dos alunos das faculdades de pedagogia e
licenciatura: aproximadamente 50%
têm renda familiar até três salários
mínimos, trabalham de dia e estudam à noite; os pais cursaram, no
máximo, até a 4ª série; não possuem
livros, revistas ou jornais em casa;
entraram na faculdade após os 24
anos e estão entre os 30% de pior desempenho no ensino médio. Ou seja:
o Brasil está recrutando seus professores nos segmentos mais vulneráveis
da sociedade.
Enquanto isso, na Coreia e na Finlândia, o vestibular para professor tem
maior concorrência que o de medici84
Algomais • Março/2016
na. Nesses países, a carreira docente
tem uma remuneração equivalente às
outras profissões de nível superior, e
é objeto de reconhecimento e valorização social.
Com a insolvência de Estados e municípios brasileiros, a possibilidade de
melhorar a remuneração docente está
na adoção de uma carreira suplementar financiada pelo MEC.
3- Formação docente adequada
A formação docente no Brasil hoje
coloca em plano secundário dois elementos fundamentais: o que ensinar
e como ensinar. O currículo das faculdades de pedagogia e licenciatura
enfatiza filosofia da educação, antropologia da educação, sociologia da
educação, teoria da educação. Mas a
evidência empírica mostra que é preciso embasar a formação docente no
currículo a ser trabalhado na escola.
Para enfrentar essa realidade, o MEC
dispõe de suficientes instrumentos
regulatórios. Precisa apenas de coragem para encarar o corporativismo e
as trincheiras ideológicas.
4- Sistemas de avaliação permanente
Nesse caso, é necessário reconhecer
que o Brasil avançou muito. Os sistemas de avaliação são fundamentais
para identificação e correção das lacunas de aprendizagem. A devolução dos
resultados deve ser feita com o propósito de oferecer meios para resolver os
problemas identificados. Para isso, a
escola precisa estar capacitada a interpretar os resultados da avaliação.
Esse processo repete as etapas do ciclo
PDCA: planejar, fazer, avaliar e corrigir as falhas apresentadas.
5- Gestão meritocrática
Os sistemas de avaliação também devem ser utilizados para implantação
de políticas meritocráticas de gestão.
Os sistemas de incentivo, quando bem
formulados, podem ser um poderoso fator motivacional. A remuneração adicional pelo melhoramento do
desempenho da escola é uma experiência vitoriosa em alguns sistemas
*Raul Henry é vice-governador
de Pernambuco
educacionais, inclusive no Brasil. Mas,
necessariamente, esses sistemas devem vir acompanhados de ferramentas que possibilitem uma melhoria de
desempenho do corpo docente.
O fenômeno do teach for test (ensinar
para a prova), apontado por muitos
como impeditivo de sucesso, pode
ser contornado com a elaboração de
testes que exijam raciocínio lógico,
capacidade de interpretação de textos e resolução de problemas. Outros
mecanismos podem ser incluídos na
avaliação da equipe, entre os quais:
pontualidade, frequência, domínio
do conteúdo das disciplinas pelos
professores, supervisão das aulas.
Outra consequência natural da avaliação como instrumento de gestão
é a responsabilização: pessoas descomprometidas com o bom andamento da vida escolar devem ser
afastadas.
Os pontos elencados acima estão fartamente evidenciados na literatura
que analisa os sistemas educacionais
que mais avançaram. Mas há um
problema: segundo o professor Michael Fulham, “boas ideias são apenas 25% de uma política educacional, os outros 75% são o esforço para
implementá-las”. No Brasil, é preciso
vencer a ideologização do debate para
avançar na qualidade da educação.
Algomais • Março/2016
85
cultura
Memória-conhecimento
da cultura judaica em PE
Para a antropóloga conhecer a cultura do “outro” é
fundamental para combater a discriminação e o preconceito
Tânia Neumann Kaufman
A
Assembleia Geral das Nações Unidas instituiu o dia
de 27 de Janeiro como o
Dia Mundial da Lembrança do Holocausto. A data é uma
homenagem aos seis milhões de
judeus, vítimas dos programas
de extermínio. Foi em 1945 que as
tropas soviéticas libertaram o campo
de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polonia.
Superação. Todavia, nessa data
devemos incluir em nossas lembranças outras vítimas do holocausto,
além de judeus. Também, negros,
ciganos, homossexuais, e todos
os que não cabiam nas medidas
da pretendida “eugenia racial ou religiosa” defendida e executada pelo
nazismo e pela Inquisição na Espanha
e em Portugal. Não é fácil expres86
Algomais • Março/2016
sar sentimentos e falar sobre aqueles
tempos de “estranhos deuses” que
justificavam a intolerância a todas as
etnias e grupos sociais apenas por serem “diferentes”.
Visão de Futuro. Sobre esse
assunto venho refletindo bastante sobre um conceito que está
intimamente ligado às questões de
intolerância. É o conceito de ressentimento e suas relações com a história e
com a memória. E qual a relação entre
eles? Pensando bem, ressentimento
envolve pensamentos de rancores,
desejos de vinganças, fantasmas
de morte. Os fatos causadores
estão situados nas partes sombrias e tristes da história e se instalam
nas memórias e nas lembranças das
pessoas. Normalmente são provocados
por conflitos nas esferas políticas e
Algomais • Março/2016
87
religiosas. E aí estão as relações entre
ressentimento, história e memória.
Será que podemos imaginar como
fica a memória e a lembrança dos
descendentes dos seis milhões de
judeus e outras centenas de grupos
que perderam suas vidas apenas por
serem “diferentes”? E os ressentimentos dos que constataram que suas
raízes familiares estão no passado não
tão distante dos temíveis tempos da
Inquisição no Brasil e buscam o retorno a sua cultura anterior?
O resultado das minhas reflexões sobre esse assunto me estimulou a desenvolver ações favoráveis à
transformação de ressentimentos em
“atitudes afirmativas” através do conhecimento. Não defendo a tolerância, pois ela sugere uma hierarquia
na qual os “melhores” toleram os
“outros”. Pressupõe uma situação de
desigualdade. Ou seja, alguém se coloca como modelo, pois se julga mais
civilizado, de uma cultura superior e
toma alguma atitude de benevolência
em relação a outro julgado menor.
Alio-me aos que oferecem a memória-conhecimento como suporte
documental para as narrativas históricas. Através do conhecimento sobre
este “outro”, provavelmente as fronteiras marcadas pela discriminação e
intolerância perdem seus limites. As
diferenças entre os grupos étnicos e
sociais tornam-se permeáveis à ideia
da convivência possível entre culturas.
Por fim, na preponderância da diversidade da cultura brasileira está o
caminho para a construção de pontes
entre homens e entre mundos distantes
no tempo e no espaço. No Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco de 1992
até 2015, entreguei-me ao desafio de
oferecer conhecimento sobre acontecimentos ligados à cultura judaica que
permitisse a construção de pontes entre as diversas culturas. Agora, é preciso compartilhar a memória-história da
cultura judaica em Pernambuco com a
memória das demais culturas que trazem para os pernambucanos uma singularidade, justamente pelo mosaico
étnico, social, religioso e cultural.
* Tânia Neumann Kaufman é mestre em antropologia e
doutora em história (UFPE)
88
Algomais • Março/2016
Algomais • Março/2016
89
O ciclo da economia de
Pernambuco: 2005-2015
Jorge Jatobá*
A
o longo dos dez anos de
circulação da Revista Algomais, a economia de
Pernambuco passou por
mudanças na base produtiva e infraestrutura. Nos dois governos
de Jarbas Vasconcelos (1999-2006) foram criadas as pré-condições políticas,
os programas de desenvolvimento e as
primeiras negociações que conduziram a um período de forte crescimento
econômico durante o Governo Eduardo Campos (2007-2014) que ampliou
e consolidou um ambiente de negócios
que trouxe para Pernambuco um bloco
de investimentos da ordem de R$ 105
bilhões, dois terços dos quais foram alocados ao setor industrial e endereçados,
em grande parte, para Suape. Os governos do PSB ousaram politicamente para
atrair esses investimentos, inovaram na
gestão pública e assumiram para si e em
parceria com o setor privado importantes investimentos em infraestrutura
econômica, especialmente rodovias.
Na segunda metade da década passada houve a feliz convergência de um bom
desempenho das economias internacional
e nacional, estabilidade macroeconômica e
a chegada à maturidade dos investimentos
realizados em Suape, fruto do esforço de
sucessivos governos desde 1974. Durante o
período 2005-2015, as taxas de crescimento anual do PIB de Pernambuco – à exceção
do ano de 2007– situaram-se sempre acima das taxas brasileiras. Com isso o PIB por
habitante cresceu 7,0%, em termos reais,
entre 2010 e 2013.
Mudanças na estrutura econômica do Estado ocorreram durante esse
período. A construção civil avançou
90
Algomais • Março/2016
substancialmente pois a ela coube o
papel de edificar e de instalar os novos
equipamentos produtivos e de construir a nova infraestrutura. Assim, a
participação da construção civil no
PIB aumentou de 5,6%, em 2005, para
9,4%, em 2013, constituindo-se, nessa
fase, no principal motor da economia
pernambucana. Estavam sendo implantadas novas cadeias produtivas na
economia do Estado e outras estavam
se modernizando, gestando uma nova
conformação do aparelho produtivo
com a presença das indústrias naval,
petróleo e gás, offshore e automotiva.
As indústrias de alimentos e bebidas
se modernizaram e se interiorizaram.
Evidentemente que, concluídos esses
investimentos e iniciadas as operações
desses empreendimentos, estão sendo observadas mudanças graduais na
estrutura econômica do Estado, fenômeno que foi desacelerado mais recentemente por causa da crise econômica.
Esse dinamismo econômico se manifestou claramente nos indicadores do
mercado de trabalho. A ocupação total,
segundo a PNAD, cresceu 1,2% ao ano
entre 2005 e 2014, liderado pelo pujante
crescimento do emprego na construção
civil que se expandiu no mesmo período
à taxa de 7,1% anuais, seguido dos setores transporte, armazenagem e comunicação (6,1%) e de alojamento e alimentação (5,1%), que se beneficiaram da
expansão dos investimentos puxada pela
construção civil. Esses setores aumentaram sua importância relativa no conjunto da ocupação durante esse período: a
construção civil elevou sua participação
de 5,5%, em 2005, para 9,0% em 2014
enquanto os setores de transporte, armazenagem e comunicações e o de alojamento e alimentação subiram, respectivamente, de 4,3% para 6,4% e de 3,6%
para 5,5%. Com a demanda por mão de
obra em ascensão, especialmente nas
ocupações de baixa e média qualificação
da construção civil, o rendimento médio
real de todos os trabalhos da população
ocupada com 10 anos ou mais elevou-se
ao ritmo de 5,4% ao ano, bem superior
à apresentada para o País como um todo
(4,1%), durante o período 2005-2014.
Com isso taxa de desemprego caiu de
11,0%, em 2005, para 8,7% em 2014.
O emprego formal também cresceu
expressivamente durante esse período
contribuindo para reduzir a taxa de informalidade no mercado de trabalho,
uma característica estrutural da economia pernambucana. O estoque de emprego formal segundo a RAIS cresceu
4,4% ao ano entre 2005 e 2015, sendo
que a construção civil se expandiu ao ritmo de 7,5% e os serviços e o comércio
às taxas, respectivamente, de 6,3% e de
5,9% anuais. Esses crescimentos teriam
sido bem mais expressivos durante o
período não fosse o efeito da crise econômica que queimou 9,6 mil e 89,8 mil
empregos com carteira, respectivamente, em 2014 e 2015. Isso significa que a
crise extinguiu parte, mas ainda deixou
intactos significativa parcela dos empregos gerados durante aquele período.
Se houve um ciclo virtuoso de fatores
que propiciaram um robusto crescimento da economia de Pernambuco no início do período que estamos analisando,
ocorreu o inverso no seu final, ou seja,
nos anos de 2014 e de 2015 quando a crise começou a manifestar seus primeiros
impactos sobre o Estado. No rastro da
economia mundial, ainda em recuperação da crise de 2008, a economia nacional, devido aos sucessivos equívocos
e voluntarismo da política econômica
do Governo Dilma, entrou em forte recessão. Pernambuco ficou exposto e absorveu os efeitos da retração no nível de
atividade da economia brasileira.
Além disso, a crise atingiu o Estado no momento em que o mercado de
trabalho estava fragilizado pela grande
desmobilização – previsível e inevitável
– de mão de obra ocorrida em decorrência da conclusão da fase de implantação
dos investimentos produtivos e em infraestrutura, especialmente em Suape. O
mercado de trabalho foi pego, portanto,
na fase de transição da implantação para
a de funcionamento de vários empreendimentos produtivos e de infraestrutura.
E finalmente, a economia estadual
sofreu as consequências econômicas
das investigações no âmbito da Operação Lava Jato. O envolvimento da Sete
* Jorge Jatobá é economista.
Brasil que, para produzir sondas que
seriam alugadas a Petrobras, tinha feito
várias encomendas ao Estaleiro Atlântico Sul, viu-se obrigada a cancelar
contratos que desencadearam efeitos
em cadeia que atingiram severamente
a recém-instalada indústria naval e o
setor metalmecânico da economia estadual. A Refinaria Abreu e Lima, por
outro lado, ficou inconclusa.
Os números são inequívocos: a
economia estadual retrocedeu 2,2%
entre janeiro e setembro de 2015
comparada com o mesmo período de
2014, o Estado perdeu quase 90 mil
empregos em 2015, a taxa de desemprego voltou aos 11% no final de ano
passado e o rendimento médio real
do trabalho caiu quase 1% em termos
reais, corroendo parte dos ganhos
observados nos anos anteriores.
Todavia, quando forem restabelecidas
as condições políticas e econômicas para
a retomada do crescimento, Pernambuco poderá se recuperar com mais rapidez
devido ao grande bloco de investimentos
feitos anteriormente, embora continuem
a pairar incertezas sobre a economia em
função da crise da Petrobras e dos questionamentos sobre a continuidade da política de conteúdo nacional no qual está
assentada a nossa indústria naval.
Temos que olhar para a frente e alimentar esperanças de dias melhores.
Algomais • Março/2016
91
GESTÃO MAIS
TGI CONSULTORIA EM GESTÃO
Gestão para jovens empreendedores
www.tgi.com.br
M
uitos jovens hoje querem empreender, seja
um negócio ou uma
atividade, de modo
individual (como freelancer, por exemplo). Nesse contexto,
decerto, irão se deparar com situações
desafiadoras e complexas que exigirão
conhecimentos para além do que se
estuda na faculdade, como administrar conflitos, formar ou fazer parte de
uma equipe eficaz, ter foco simultâneo
no curto e longo prazos e formular uma
estratégia para seu negócio ou carreira.
Por isso, uma boa formação técnica, embora seja um fator de competitividade, não é suficiente para ter
êxito empreendedor. Para empreender é essencial ter vontade, mas falta a
outra metade, que é o investimento no
conhecimento do mercado, no planejamento e na organização do empreendimento. Podemos traduzir a “vontade
empreendedora” em quatro pontos:
1. coragem, encarada como reconhecimento e controle sobre os receios e
a insegurança, necessário para tomar
decisões qualificadas;
2. paixão, afinal, o empreendedor
que tem esse investimento emocional no negócio terá mais disposição
para cuidar, estudar e dedicar tempo
à empreitada;
3. cultura estratégica, traduzida nas
capacidades de antecipação (de problemas, oportunidades, consequências
de decisões), mobilização (de recursos
e de pessoas) e realização (organização
e disciplina para execução); e
4. liderança, para desenvolver equipes e fazer a gestão acontecer na organização.
92
Algomais • Março/2016
“Quem tem a vontade, já tem a metade.”
Dão Silveira, empresário paraibano.
Já a “outra metade” que, pode-se
dizer, corresponde ao investimento em gestão, compreende também
quatro pontos:
1. conhecer o mercado para entender
como conseguir quem compre o que
gosta e sabe fazer bem;
2. aprender a avaliar como (ou se é possível) responder às exigências do mercado e, a partir daí, definir os diferenciais,
pensando “por que é que o cliente vai escolher o meu produto ou serviço?”;
3. planejar a implantação da empresa
a partir da construção de um projeto
empresarial, de um planejamento estratégico (com foco duplo no médio e
curto prazos) e de um orçamento que
permita mapear os custos para operacionalização, dando visibilidade às
exigências de caixa e à viabilidade da
estratégia; e
4. cuidar do dia a dia, trabalhando
com profissionalismo e qualidade
e monitorando sistematicamente o
planejamento, o orçamento e o dia a
dia das operações da empresa ou da
atividade.
Essa quantidade de pontos de
atenção não deve paralisar o empreendedor e sim ajudá-lo a criar
melhores condições para o sucesso do empreendimento. Afinal,
como escreveu Guimarães Rosa em
Grande Sertão: Veredas: “O correr
da vida embrulha tudo. A vida é
assim: esquenta e esfria, aperta e
daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem.”
Algomais • Março/2016
93
Os melhores de
Pernambuco são
do Ceará
Raimundo Carrero*
A
literatura
pernambucana, hoje, é marcada
por um dado curioso e surpreendente: Os
principais escritores do
Estado são cearenses: Ronaldo Correia Brito, Sidney Rocha, Everardo
Norões, e Xico Sá, sem esquecer os
irmãos Telma Brilhante e Heitor Bezerra, todos oriundos do núcleo intelectual do Crato e Juazeiro. Não nasci
em terras alencarinas, mas meus pais
– Raimundo e Maria Gomes de Sá nasceram e viveram em Porteiras,
cidade também encravada no Cariri
cearense. Meus pais foram morar em
Salgueiro, Pernambuco, onde nasci, embora estivessem destinados ao
Crato. Meu pai manteve uma loja –
era comerciante de tecidos e chapéus
– na cidade de Baixio do Couro, mais
tarde Getúlio Vargas, na área em que
divisam os dois Estados.
Ronaldo Correia de Brito, Sidney
Rocha e Everardo Norões conquistaram recentemente grandes prêmios
nacionais – pela ordem, prêmios São
Paulo de Literatura, prêmio Jabuti e
prêmio Portugal-Telecom – enquanto Xico tem optado pela celebridade, integrando grandes programas
de sucesso nacional. Mesmo assim
94
Algomais • Março/2016
ele escreve um artigo semanal para o
jornal El País, da Argentina, e sua novela Big Jato - espécie de Lazarilho de
Thormes, novela de autor anônimo
espanhol – tem sido resenhada pelos principais jornais brasileiros, com
ampla repercussão em todo País, e foi
adaptada para o cinema pelo competente Cláudio Assis. Telma e Heitor
publicam com regularidade, quase
sempre em antologias, com algumas
novelas autorais.
Isso não quer dizer que também
não temos nossos valores contemporâneos e definitivos: basta lembrar
os nomes da pernambucaníssima de
Garanhuns Luzilá Gonçalves Ferreira,
romancista cuja obra tem sido muito
estudada – assunto de mestrado e de
reflexões acadêmicas, além de artigos e resenhas – ao lado de Débora
Ferraz – prêmio São Paulo, na categoria estreante, Micheliny Verunski – prêmio São Paulo, na categoria
veteranos – Adrienny Mirtes, Lucila
Nogueira, poeta de altíssima qualidade - do também pernambucaníssimo
Lourival Holanda – mestre de todos
nós, com participação crescente na
vida literária nacional –, dos sertanejos Cícero Belmar – com sua prosa cada vez mais instigante – Pedro
Américo e Cida Pedrosa – poetas de
longo curso; de Paulo Caldas – muito
forte no texto e na oficina literária –
dos estudiosos e críticos Schneider
Carpeggiani, editor e crítico do Suplemento Pernambuco, Eduardo César
Maia – responsável pelas melhores
análises sobre Álvaro Lins e Mário
Vargas Llosa –, Anco Márcio, Renato
Lima, Thiago Correa e todo o grupo
Café Colombo. Além de estudiosos
que atuam em sites e blogs, a exemplo
de Ney Anderson. Além de jornalistas e críticos literários como Marcelo
Pereira, Diogo Guedes, Felipe Torres e
Hugo Vianna. Atenção sempre especial para Marcelino Freire, o Grande,
e Jommard Muniz de Brito.
Alguns nomes novos se impõem: Nivaldo Tenório, Mário
Rodrigues,Hélder, Gerusa Leal e Izabella Domingues.
E A INTERNET, COMO FICA? No nosso
mundo contemporâneo é inevitável
a pergunta: E como anda a literatura
pernambucana na internet?
Destaco, sobretudo, a atuação do
grupo Café Colombo, criado e realizado por jovens mestres e doutores no
rádio e no impresso, sobretudo, mas
com atuação destacada também na
internet, através de um site. É claro
que existe também O Grito, um site
cultural amplo com participação em
Raimundo Carrero é escritor
vários campos. Vacatussa, Domingo
com Poesia, Interpoética – vale mais
do que um jornal – livros que você
precisa ler, Recife Assombrado – especializado em fantasmas, enriquece
o imaginário recifense, com Andre
Balaio e Roberto Beltrão. Fernando
Farias Contos, Estante Literária – de
Paulo Cantarelli – Leitor Cabuloso,
Leitura, Literatura e Entretenimento.... E muitos, muitos outros sites e
blogs.
O suplemento Pernambuco, da
Cepe, é leitura obrigatória. Lembrando, ainda, a revista Continente.
Aliás, o mundo da internet coloca em xeque a questão da literatura
no impresso, em que se alega que há
poucos leitores para a especialidade
literatura. Já se sabe, curiosamente, que os jornais europeus e norte-americanos que mais perderam assinantes são aqueles que cortaram os
suplementos literários e noticiários
sobre escritores. O que, aliás, me parece óbvio. Quem compra ou assina
jornal são aquelas pessoas que leem
compulsivamente. Se são afastados
do jornal, então não procuram mais
o impresso e migram imediatamente
para a internet.
Ingenuidade, pura ingenuidade.
Ou falta de profissionalismo.
Algomais • Março/2016
95
trabalho
Ter uma doméstica
agora é luxo
Sem condições de atender a lei que regulamenta a
profissão, muitos patrões demitiram suas trabalhadoras
E
m abril de 2013, a Emenda
Constitucional 72 foi aprovada. Com isso, os trabalhadores domésticos ficaram mais
perto de obter os direitos comuns de
qualquer outra profissão. A emenda,
contudo, dependia de diversos pontos para ser finalmente aprovada. Em
junho do ano passado, o projeto de lei
complementar foi outorgado e, enfim, o passo para que esses trabalhadores tenham regulamentados seus
direitos foi dado.
Entre os pontos regulamentados,
estão, por exemplo, a obrigatoriedade do recolhimento do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
por parte do empregador e os direitos a adicional noturno e indenização
em caso de demissão sem justa causa,
além do direito a férias de 30 dias por
ano.
Na prática, os trabalhadores domésticos tiveram um aumento de
responsabilidade em relação à sua
produtividade enquanto empregado.
A partir da nova regulamentação,
eles são vistos como qualquer outro
profissional. Antes, contudo, eles
eram considerados como "parte da
família" isentado os patrões de obrigações legais.
"A alteração foi total. Em síntese,
as domésticas passaram a ser equiparadas aos demais trabalhadores urbanos. A mudança atingiu também o
empregador doméstico, porque todas
as residências, sem exceção, passaram a ser consideradas como uma
96
Algomais • Março/2016
adaptação. depois de ser demitida, aparecida virou diarista e vende cosméticos
empresa. Antes, os empregadores
domésticos eram considerados famílias, empregadores especiais, que
não geravam lucros e, por tal razão,
não poderiam ser compelidos a arcar
com todas as obrigações trabalhistas
e previdenciárias, da mesma forma
dos empregadores comuns", afirma
o advogado Marcos Alencar. Segundo
ele, o empregador doméstico passou
a ter maior obrigação com relação ao
controle de jornada de trabalho do
seu empregado doméstico. Mesmo
tendo apenas um empregado, ele é
obrigado a manter registro de ponto.
Patrões e empregados tentam se
adaptar à nova lei. Maria Apareida
Moreira da Silva, de 48 anos, está na
profissão desde criança, mas não encontra mais oportuniddades na profissão. "Trabalhei como doméstica
minha vida toda. Comecei aos 10 anos
e só parei há pouco tempo. Depois
que essa lei começou, fui dispensa-
da de dois locais onde trabalhava. Eles
disseram que não estavam conseguindo mais pagar", afirma. "Acredito que
(a promulgação da lei) ficou bem mais
difícil. Várias pessoas não me chamam porque não podem pagar o que
está determinado", completa.
Essa é a situação em que se encontra a aposentada Leni Barbosa, de
71 anos. Há quase dez anos ela mantinha uma profissional do ramo. As novas normas, entretanto, a impediram
de continuar. "Tinha uma funcionária que me ajudava em praticamente
tudo. Infelizmente, a regulamentação
da lei dificultou muito a manuntenção dela", revela. "A regulamentação,
apesar de necessária para as profissionais, me deixou sem a possibilidade desse auxílio porque fiquei completamente sem condições de pagar
todos os direitos conquistados pela
categoria", completa.
Sem a renda de outros tempos,
Aparecida tenta completar o faturamento mensal através de bicos. Ela,
inclusive, continua realizando trabalhos domésticos. Agora, entretanto,
sem qualquer vínculo empregatício.
MARCOS ALENCAR
Todas as
residências, sem
exceção, passaram a
ser consideradas como
uma empresa"
"Eu sobrevivo vendendo cosméticos,
produtos de beleza, vendo roupas
que outras pessoas me pedem para
vender...Nessas vendas, ganho 15%
a 20% e assim vou levando. Também
faço faxina. Ganho bem menos que
antes. Antigamente, eu recebia um
valor certinho todo mês", lamenta.
Vínculo empregatício, aliás, é um
conceito que sempre dá dor de cabeça. De acordo com Alencar, aquele
indíviduo que trabalha apenas dois
dias em residência é diarista. Portanto, não possui os mesmos direitos.
Apesar de todas as dificuldades,
Aparecida afirma que as conquistas
da categoria são necessárias. "Muitos
patrões estão demitindo porque não
querem pagar os direitos que conquistamos. Mesmo assim, eu achei
que isso precisava acontecer. Temos
que nos adequar à lei. A gente tem
que viver como pode", declara. Quem
sabe, Pernambuco e o Brasil vivam
uma fase de transição e, em breve,
sejam como nos países desenvolvidos
onde raras são as famílias de classe
média que possuem um empregado
doméstico. (Y.G.)
Algomais • Março/2016
97
Mudanças sentidas no
Futebol pernambucano
José Neves Cabral*
U
ma década é tempo ínfimo. Menos de um décimo de segundo na história da humanidade. Mas
suficiente para a história
ganhar novos contornos. Atitudes,
movimentos, geram novos conceitos.
É tempo de uma geração sair de cena
para dar lugar a outra, mais arejada.
Ou não. Como os demais segmentos
sociais, o esporte também sofre mudanças num período como esse. Vamos a 2006. Janeiro.
O Santa Cruz havia conquistado o
título estadual do ano anterior e, no
embalo, uma vaga na elite do futebol
nacional. Sport e Náutico debatiam-se na Segunda Divisão, o segundo
ainda amargava uma aguda ressaca
pela derrota para o Grêmio na fatídica
“Batalha dos Aflitos”. Em dezembro
daquele ano, como é bem da dinâmica do futebol, o time tricolor estava
rebaixado à Série B, enquanto os seus
arquirrivais classificados à elite. Posições invertidas num breve espaço de
12 meses.
E a alternância na Série A marcou
a trajetória de alvirrubros e rubro-negros de 2006 para cá. Paralelamente
a essa irregularidade técnica provocada por fatores diversos, mas com
uma raiz comum – administrações
equivocadas e deficiência financeira
em relação aos grandes clubes do eixo
Sul-Sudeste. Eles como protagonistas
beneficiados por contratos de imagem
mais vantajosos em relação aos locais,
condenados ao papel de coadjuvantes
por receberem menos na divisão do
98
Algomais • Março/2016
bolo das cotas de tevê.
Mas eis que nos últimos cinco anos
algumas luzes começaram a surgir no
fim do túnel para os grandes clubes
recifenses. O Santa Cruz saiu de uma
grave crise administrativa que o jogou
na Série D, recuperou prestígio em
âmbito local, ganhando quatro dos últimos cinco estaduais e recuperou seu
lugar na Série A. A reação veio talhada
por uma combinação de renovação e
estabilidade política e nova organização administrativa bem representada por Antonio Luiz Neto, que
presidiu o clube de 2011 a 2014,
e o advogado Alírio Moraes,
que assumiu a presidência no
ano passado. E é exatamente
o segundo que bem representa essa renovação, por não ter
o perfil de um “cartola” tradicional.
Seu foco é a reorganização
do clube como instituição. No
futebol, a forma como o clube contrata reflete muito esse
nova ordem. A única “estrela” trazida a peso de ouro foi o
atacante Grafite, uma espécie
de cartão de visitas da equipe. Os demais jogadores que
aportaram no Arruda são atletas emergentes, que podem
alavancar a carreira escorados
na tradicional camisa tricolor,
como o talentoso João Paulo.
A renovação política também
alcançou rubro-negros e alvirrubros.
Há dez anos, quem apostaria que o advogado Humberto
Martorelli seria o presidente do
Sport em 2016? Depois de mais
de uma década em que dois
grupos políticos se revezavam
no comando, surge Martorelli
com o aval de um desses grupos, mas, ao mesmo tempo,
fazendo uma gestão de rompimento com práticas políticas
que pareciam consolidadas na
agremiação. Um de seus diferenciais é o pragmatismo em
busca de um trabalho a longo
prazo, exemplo claro na manutenção
de Eduardo Baptista por mais de um
ano à frente do time de futebol, apesar dos resultados irregulares. Fora
das quatro linhas, uma posição firme:
o afastamento das torcidas organizadas da sede do clube e a proibição
da entrada das uniformizadas na Ilha
do Retiro. Nessa década, é impossível
não destacar a atitude do presidente
do Sport como o início de uma nova
fase no futebol: o enfrentamento pelos próprios clubes das facções criminosas que se apossaram de suas cores
para faturar e também impor o medo
aos cidadãos que desejam apenas ir e
vir em paz às nossas praças esportivas.
No Náutico, a renovação política
começou em 2001 com a chegada de
André Campos à presidência. Hábil,
ele conseguiu rapidamente unir um
clube dividido politicamente para formar um time e evitar o hexa do Sport.
Mas o processo sofreu interrupções
nos últimos dez anos em que o time
de futebol alternou bons e maus momentos nas duas primeiras divisões
do futebol brasileiro. Recentemente,
o clube deu mais um passo nessa era
de renovação com a eleição de Marcos
Freitas à presidência executiva. Empresário bem-sucedido, alvirrubro
comprometido, ele já deu alguns bons
passos neste início de gestão para levar a nau alvirrubra no bom caminho.
Pagou débitos atrasados com os jogadores e, com bom senso, manteve o
técnico Gilmar dal Pozzo no comando
da equipe. Bom senso porque o treinador trabalhou exatamente para a
gestão anterior, derrotada por Freitas no processo eleitoral. A atitude
mostra que, apesar das ressalvas aos
adversários políticos, ele foi capaz de
enxergar algo positivo. Ao manter Dal
Pozzo, sinalizou que não há ranço ou
preconceito de sua parte quando se
trata de definir o que é melhor para a
agremiação.
Em relação aos nossos três principais representantes no futebol, podemos dizer que há algo em comum no
olhar de seus dirigentes para o futuro.
Náutico e Sport já construíram centro
José Neves Cabral é jornalista.
de treinamento, investindo em instalações mais confortáveis. O Santa já adquiriu o seu e trabalha para equipá-lo
a contento. A preocupação em formar
talentos tornou-se algo urgente em
razão da supervalorização dos jogadores no mercado. Temos como grande
novidade agora a entrada dos chineses
no mercado da bola, contratando jogadores a peso de ouro. A saída de talentos em velocidade impressionante
tem enfraquecido as competições nacionais, o que obriga os clubes a reagir,
investindo cada vez mais na formação
de atletas. E basta dar uma olhadinha
sem saudades na história dos nossos
clubes para constatar a importância da
revelação de jogadores da base. Quando
o fizeram, os três colheram ótimos resultados.
Por fim, não poderia encerrar esse
texto sem registrar a ascensão do Salgueiro como quarta força do futebol
pernambucano, uma proeza para um
time formado lá no Sertão Central,
numa cidade a 525 km do Recife. Devemos exaltar a consolidação desse
clubes nos últimos dez anos de futebol
pernambucano. Ao oferecer resistência aos grandes da capital, surpreendendo-os em algumas oportunidades,
o Carcará apenas enriquece as disputas do Estadual. Que sirva de exemplo
para os demais intermediários.
Algomais • Março/2016
99
Interior conectado,
sim senhor!
Wanessa Campos*
H
á dez anos, ninguém poderia imaginar que, um
crime acontecido em
Limoeiro (Agreste), por
exemplo, chegasse ao conhecimento dos moradores de Petrolina
(Sertão do São Francisco), minutos depois. E olhe que a distância é de 668 km.
Parece ficção, mas é o dia a dia no interior do Estado. Essa notícia foi enviada
por WhatsApp, um dos avanços da tecnologia que aterrissou nas 185 cidades
pernambucanas. E tem mais: o Twitter,
Facebook e até selfies existem do Litoral
ao Sertão, sim senhor.
100
Algomais • Março/2016
As redes sociais, que viraram febre de 40º, permitindo que a juventude principalmente, esteja conectada.
E o que provocou tudo isso? E quando
essa mudança aconteceu? O nosso
interior vive intensamente a Era Digital. Os últimos cinco anos foram
determinantes graças à internet.
Antes de 2006, só a TV era o canal
comunicador e as emissoras de rádios
levavam informações e formavam
opiniões. Nos últimos 10 anos, Pernambuco sofreu mudanças bruscas
que hoje refletem no modo de vida
das cidades e no comportamento
das pessoas. A vinda das faculdades,
escolas técnicas, indústrias contribuíram. O vocabulário, as gírias, é
o mesmo que se ouve nas novelas da
TV. Traduzindo em miúdos, as operadoras de telefonia foram as grandes responsáveis pela transformação.
O boom aconteceu nos últimos dois
anos quando o celular passou a ser a
maior ferramenta de comunicação,
inclusive na zona rural. É comum
avistar antenas parabólicas nos sítios.
A informação chega em toda parte.
Além disso, a invasão de blogs
de turismo, amenidades, políti-
Algomais • Março/2016
101
ca, está transformando radialistas e
curiosos em repórteres amadores. No
plano comportamental ficou comum
ver casais homossexuais em atitudes
explícitas nos espaços públicos. Sinal
dos tempos. Os estudantes estão mais
críticos com os governos e reivindicam uma política mais participativa.
A teoria de Marshall MacLuhan, o Pai
da Comunicação, prova que “o meio
é a mensagem”. Ele profetizou nos
anos 60 que os eletrônicos encurtariam distâncias e haveria uma aldeia
global. Uma comunicação interligada. E ela já está entre nós.
E as consequências? Muitas. Além
do comportamento social, observa-se o crescimento das igrejas evangélicas, antes uma raridade. Mudanças profundas se veem na cultura, na
economia de Petrolina, Serra Talhada, Garanhuns, Araripina, Arcoverde, Salgueiro, só para exemplificar. A
presença das faculdades de medicina,
engenharia, administração etc teve
um percentual significativo nessa
transformação, assim como as escolas técnicas e profissionalizantes.
O segmento imobiliário, por sua
vez, ganha uma força visível com novos prédios, condomínios, inclusive
populares para as classes menos favorecidas. Nossas principais cidades
já sofrem com o trânsito engarrafado
e estacionamentos lotados. As motos
multiplicaram-se contribuindo para o
caos. As novas estradas proporcionaram uma “inflação” de motos para toda
e qualquer finalidade (até para crimes)
e uma profissão surgiu: mototaxista.
Outra novidade: academias em praça
pública ou particulares, ciclovias, todos querem mais saúde e boa forma física. Encontram-se facilmente clínicas
médicas em bairros periféricos.
Chama atenção o comércio de
aparelhos eletroeletrônicos nas feiras
livres e o fechamento das videolocadoras e lan houses que já foram manias. Ficaram supérfluas... E diante
de todo esse progresso, as mazelas
das grandes cidades também foram
transportadas: violência, assaltos em
bancos e ruas, sequestros, crimes de
102
Algomais • Março/2016
todas as modalidades. Drogas. E a
impunidade também. Por que não?
Na verdade, o perfil econômico de
Pernambuco mudou na última década. Mas vamos por partes, como fazia Jack, o estripador: Mata Sul, com
o Porto de Suape, transformou a cara
da região. O crescimento explodiu
indo da especulação imobiliária ao
turismo, passando pelo emprego informal e prestação de serviços.
A Mata Norte enfrenta uma revolução. De tradicional cultura da
cana-de-açúcar, a região recebeu
investimentos de indústrias automobilísticas, farmacoquímica, bebidas
etc. Goiana está inserida na indústria
automotiva com o Polo Jeep, a primeira do Brasil e até 2020 responderá
por 6,5% do PIB estadual.
O Agreste, com as confecções nas
cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama, Caruaru, exporta moda
para o País, especialmente jeans, e
ocupa o segundo lugar na produção
têxtil do Brasil. São 11 cidades que
produzem mais de 800 milhões de
peças/ano, 18 mil fábricas e 30 mil
pontos de venda. Belo Jardim, com
indústrias de grande porte, soma a
consolidação da economia. O cartão
de crédito facilita a vida de todos.
O Sertão surpreende. A distância
com o Recife não impediu a conexão
global. As vidas severinas só existem
nas obras de João Cabral de Melo, não
*Wanessa Campos é jornalista
por causa do Programa Bolsa-Família, mas, graças à tecnologia que chegou pra ficar e ganhou musculatura.
A exportação de frutas, flores tropicais e a produção de gesso crescem. O
turismo vem gerando emprego e renda. Entretanto, o forró (leia-se Luiz
Gonzaga) permanece firme e forte,
junto com o Cordel. Ainda bem. Tudo
junto e misturado na Era Digital.
Quem sentir saudades daquele interior de antigamente, das ruas calmas,
das cadeiras nas calçadas, das crianças
brincando de pega, das conversas nas
portas das casas e da violência zero, assista às novelas de época na TV.
em baixa. Se antes eram uma febre, hoje as lan houses tornaram-se supérfluas
Algomais • Março/2016
103
baião de tudo
Geraldo Freire
O GANDHI DESCONHECIDO
Esta verdade nova vem por conta da jornalista e escritora Caitlin Moran. Ela lista
um rosário de maus costumes de Gandhi,
garantindo que pesquisou e conheceu o
lado escuro do Mahatma, que na vida íntima familiar era fissurado por sexo e até
capaz de gestos de crueldade. Nos quase 20
anos que viveu na África, praticou vários
atos de racismo. Teria até afirmado que a
população branca da África do Sul deveria
predominar no país, fazendo dos negros
minoria social. Quando foi preso, ficou revoltado por ter ficado na mesma prisão dos
negros, e não para onde eram levados os
brancos em reclusão. Ainda afirmam que o
grande pacificador da Índia pouco se preocupava em ajudar aos que precisavam. E
mais: Gandhi acreditava que a mulher era
responsável por despertar e liberar a libido
sexual do homem e dizia que o impulso sexual masculino era involuntário e incontrolável, cabendo ao sexo feminino preservar
a sua sexualidade. Para tentar domar a sua
libido, usou diversas meninas menores de
idade, levando para a cama e dormindo nu
até com uma sobrinha-neta. Foi publicado
no livro Great Soul, de Joseph Lelyveld, que
Gandhi teve experiências homossexuais,
inclusive com o arquiteto judeu Hermann
Kallenbach, por quem teria se apaixonado
loucamente. A morte trágica e a propaganda pessoal teriam feito dele uma figura capaz de superar todos os erros e falhas.
104
Algomais • Março/2016
[email protected]
A MÍDIA
Pesquisa com 33 mil pessoas de 28 países, feita pela
consultora Edelman, mostra que a mídia está bem
na fita: globalmente subiu de 45% para 47% e, separadamente, no Brasil, de 51% para 54%.
MACONHA NA ECONOMIA
O jornalista e ex-deputado Gabeira disse certa vez que a
maconha ainda salvaria o Brasil. Até agora, aqui, ninguém
deu essa oportunidade à “erva maldita”, mas nos Estados
Unidos acabam de divulgar que a comercialização legal da maconha rendeu, em 2015, a quantia de US$ 54 bilhões.
INCENTIVO À CULTURA
O rico empresário Roberto Medina jogou R$ 6 milhões a mais no “pé do
cipa”, convencendo o governo federal de que o superlucrativo Rock in Rio
precisava de uma ajudazinha da Lei Rouanet. Quem precisa não recebe,
mas quem tem a chave da porta do poder faz a água correr para o mar.
DRAMÁTICA HISTÓRIA DE CHIFRE
Vai sair um livro de Anna Sharp, neta de Ana Ribeiro, mulher de Euclides da Cunha. Como todos sabem, o autor de Os Sertões foi assassinado
por Dilermando de Assis, que comia a mulher dele. Cunha descobriu
o romance entre sua mulher e o garanhão que era oficial do Exército
e campeão de tiro. Quando o escritor tentou a vingança, ele reagiu
matando-o. Foi uma legítima defesa, no dia 15 de agosto de 1909. Alguns anos depois, o filho de Euclides da Cunha tentou vingar o pai, mas
foi também assassinado pelo oficial Dilermando, macho da mãe dele.
Agora a nova escritora vem contando que Euclides tratava a esposa, avó
dela, muito mal desde o dia do casamento. Ela casou com 15 anos e,
quando ele teve tuberculose, tentou obrigá-la a beber o seu sangue.
Algomais • Março/2016
105
Aprenda Pernambuco
Por Carlos André Moura e Mário Ribeiro
Cidade localizada no Agreste pernambucano, a 84
km do Recife e 447 metros de altitude, com um
forte polo moveleiro, com baixas temperaturas em
vários períodos do ano.
(a) Caruaru
(b) Garanhuns
(c) Gravatá
Instituição pernambucana que reúne intelectuais,
artistas e literatos, com contribuição para as letras
e a cultura.
(a) Academia Pernambucana de Letras
(b) Centro de Cultura de Pernambuco
(c) Fundação Pernambucana de Cultura
Conjunto de escarpas assimétricas, localizada a 80
km do litoral de Pernambuco, na divisa dos municípios de Pombos, Gravatá e Chã Grande.
Centro de pesquisa e ensino, localizado entre as
cidades do Recife e Olinda, no espaço conhecido
como Memorial Arcoverde.
(a) Chapada Diamantina
(b) Serra das Russas
(c) Pico da Neblina
(a) Espaço Ciências
(b) Centro de Convenções de Olinda
(c) Chevrolet Hall
Rodovia Federal, com extensão de 552 Km, que segue
do Recife ao município de Parnamirim, como um dos
principais acessos ao interior pernambucano.
Fundado em 1862, instituição que reúne pesquisadores sobre a História de Pernambuco, tem a
função de conservar documentações de vários
períodos históricos e possui um museu para os
visitantes. Localizado na Rua do Hospício.
(a) BR – 101
(b) BR – 408
(c) BR – 232
(a) Arquivo Público Estadual
(b) Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano
(c) Instituto Ricardo Brennand
Museu localizado as margens da BR – 232, no
município de Bezerros, com elementos da cultura
pernambucana.
(a) Museu do Centro de Artesanato de Pernambuco
(b) Museu Paço do Frevo
(c) Museu Cais do Sertão
Memorial e museu, localizada na cidade de Bezerros,
que apresenta as principais obras do artista J. Borges.
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Algomais • Março/2016
Respostas: 1.(C) Gravatá • 2.(B) Serra das Russas • 3.(C) BR – 232 • 4.(A) Museu do Centro de Artesanato de
Pernambuco • 5.(A) Museu da Xilogravura • 6.(A) Academia Pernambucana de Letras • 7.(A) Espaço Ciências •
8.(A) Arquivo Público Estadual
(a) Museu da Xilogravura
(b) Museu do Sertão
(c) Museu do Agreste
EXCLUSIVIDADE
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APENAS 2
UNIDADES
PARA PRONTA
ENTREGA
Algomais • Março/2016
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arruando pelo Recife e por Olinda
A esquecida Rua
do Imperador
Nela morou Maurício de Nassau, a família imperial desfilou
no seu calçamento e também frei Caneca antes da morte
Leonardo Dantas Silva
D
entre as ruas que marcaram o
centro do Recife, destaca-se
a Rua do Imperador D. Pedro
II, a primeira surgida na ilha
entre os anos de 1606 e 1613, quando
os frades franciscanos nela fizeram erguer o convento e uma igreja dedicada
a Santo Antônio.
Por ocasião da invasão holandesa, em 1630, foi o Convento de Santo Antônio cercado por muralhas e
transformado no Forte Ernestus, uma
fortificação retangular com quatro
baluartes, dispondo de 19 canhões de
diversos calibres.
Nesta rua fixou residência o Conde
João Maurício de Nassau-Siegen, que
aqui chegou como governador do Brasil Holandês em 1637, ocupando uma
casa então localizada na atual esquina
da Rua Primeiro de Março. Nela o sábio
Georg Marcgrave (1610-1648) instalou
o primeiro observatório astronômico
em terras das Américas e iniciou seus
estudos sobre a fauna, flora e tipos humanos da região.
Naquele local ele ergueu uma torre de observação em madeira, onde
instalou o seu telescópio com o qual
fez observações sobre o nosso céu e
documentou o primeiro eclipse solar,
ocorrido em 13 de novembro de 1640.
No extremo norte da ilha, o Conde
de Nassau fez erguer o Palácio das Torres (Friburgo) em 1642, rodeado por
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Algomais • Março/2016
auge. com bares e escritórios, rua já foi uma das mais movimentadas da cidade
jardins, árvores frutíferas e dois grandes viveiros para criação de peixes,
construindo assim um Jardim Zoobotânico destinado às experiências e
estudos dos membros de sua comitiva
de cientistas.
O trajeto do caminho do palácio,
margeado pelo Capibaribe, veio a ser
aplainado e transformado em pista de
esportes equestres (cavalhadas, corridas, etc.), sendo no seu extremo construído o templo religioso dos calvinistas franceses (1642).
No final do século 17 foi criada a
Ordem Terceira de São Francisco que
iniciou a construção da monumental
Capela Dourada dos Irmãos Noviços,
construída entre 1695 e 1697, junto
ao Convento Franciscano. Os Irmãos
Terceiros de São Francisco, irmandade
constituída pelos mais ricos comerciantes da então Vila de Santo Antônio do Recife (1709), logo iniciaram a
construção do seu templo cujas obras
se estenderam de 1702 a 1828.
Em 1731 a primitiva Rua de São
Francisco recebeu o prédio da Cadeia
Pública (hoje ocupado pelo Arquivo
Público Estadual) e, por conta dele, a
denominação de Rua da Cadeia Nova,
pois a primitiva prisão continuaria no
bairro do Recife.
O primitivo templo dos calvinistas
passou a ser ocupado pelo Colégio dos
Jesuítas (1686). Com a expulsão dos
padres da Companhia de Jesus do Brasil (1757), o conjunto de prédios veio a
ser ocupado pelo Palácio dos Governadores da Capitania, seguindo-se do
Tribunal da Relação de Pernambuco e
pela igreja do Divino Espírito Santo,
esta a partir de 1855.
No ano de 1859 o Recife recebe
com grandes festas a Família Imperial Brasileira, que desfila em grande
cortejo na então Rua do Colégio, naquele 22 de novembro. É nesta ocasião
que o D. Pedro II, emocionado com a
calorosa recepção quando do seu desembarque, haveria exclamado: “Pernambuco é um céu aberto...” A partir
da visita da Família Imperial, a antiga
Rua da Cadeia mudou seu nome para
Rua do Imperador D. Pedro II.
Com o centro religioso de devoção,
com o Convento de Santo Antônio a
receber, todas as terças-feiras, centenas de devotos, durante todo ano...
Com suas calçadas largas a permi-
tir a formação a um só tempo de dezenas de conglomerados de homens a
falar de política, futebol, vida alheia,
negócios e tanta coisa mais...
Com os diversos centros administrativos no seu entorno, como o Palácio
da Justiça, Fóruns Cível e Criminal, Secretaria da Fazenda, a secção regional
da Ordem dos Advogados do Brasil, cartórios, repartições, redações de grandes
jornais (Jornal do Commercio, 1919),
instituições culturais (Gabinete Português de Leitura, 1850; Arquivo Público
Estadual, 1945), bancos, escritórios de
advocacia, casas comerciais, bares...
Até recentemente, era a Rua do
Imperador uma das mais movimentadas da cidade do Recife. A sua história, porém, se confunde com a própria
história do Recife... As pedras do seu
calçamento testemunharam o caminhar para a forca mártires das revoluções liberais, a exemplo de Agostinho
Bezerra Cavalcanti e Frei Joaquim do
Amor Divino Caneca (1825)...
Foi da sacada de um dos seus sobrados que o então estudante da Faculdade
de Direito do Recife (que funcionava no
prédio do antigo Colégio dos Jesuítas),
Antônio de Castro Alves (1847-1871),
conclamava a Mocidade Acadêmica naquele seu Improviso, quando da
questão Ambrósio Portugal (1867):
Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos!
Moços! O crime nos cobriu de sangue!
Vós os luzeiros do paí­s, erguei-vos!
Perante a infâmia ninguém fica exangue
Protesto santo se levanta agora,
De mim, de vós, da multidão, do povo;
Somos da classe da justiça e brio,
Não há mais classe ante esse crime novo!
Sim! mesmo em face, da nação, da pátria,
Nós nos erguemos com soberba fé!
A lei sustenta o popular direito,
Nós sustentamos o direito em pé!
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João Alberto
[email protected]
Lulu Pinheiro
Vendas
Pesquisa do Portal Administradores, com cinco mil entrevista, revela que 70% das pessoas se incomodam muito ao serem
recebidos numa loja com o tradicional "Olá, posso ajudar?",
sempre acompanhado de um insistente sorriso meigo.
Som ruim
Cada vez mais comum encontrar aviões com serviço de
som interno deficiente, não se conseguindo ouvir com
clareza o que o comandante fala.
Aprendizado
Pouco a pouco os recifenses vão entendendo que é fundamental fazer a reserva de mesas nos restaurantes badalados, especialmente nas sextas e sábados. Muita gente
ainda acaba voltando da porta por falta de lugar.
Problema
Os prefeitos das principais cidades do País estão com um
problema comum: a alta geométrica do desemprego tem
obrigado muita gente a abandonar planos de saúde e escola particulares dos filhos. Isto acarreta forte aumento nos
custos da saúde pública e nas escolas municipais.
Brilho feminino
Silvana Aguiar Arruda herdou do pai, Severiano Aguiar o
gosto pelo trabalho no turismo; da mãe, Glorinha Aguiar,
a elegância, o dinamismo. Casada com Sérgio Arruda,
forma um dos casais mais queridos da nossa sociedade.
Depois da aposentadoria do pai, assumiu o comando da
Sevagtur, uma das maiores agências de viagens do Estado,
onde faz um trabalho dos mais competentes, com destaque para os grandes grupos que leva, todos os anos, para
férias na Disney e excursões exclusivas no Carnaval. Faz
parte de um grupo que constantemente realiza excursões
de bicicleta, por roteiros charmosos na Europa. E é também, excelente anfitriã, especialmente em festas que faz
na sua casa de Toquinho.
Sucesso de Miriam Depois de atuar na assessoria do pai, Julião Konrad, Miriam Konrad Viezze partiu para carreira solo e faz sucesso
com a filial do The Black Angus que comanda no Shopping
Recife, com espaço do restaurante e da loja de vinhos. E
tem outros grandes projetos para este ano.
Eudes Santana/Divulgação
SILVANA AGUIAR ARRUDA
Pernambucanidade
Dois pernambucanos que atuaram na Ambev de Pernambuco ocupam postos chaves na empresa atualmente. Ricardo Melo, depois de trabalhar no Canadá e Estados Unidos é o novo vice-presidente nacional e Marcelo Freitas
assumiu a diretoria Nordeste, que tem sede em Salvador.
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Miriam Konrad Viezze
Roberto Ramos
O que se
comenta...
Bacharéis
Funcionam atualmente no Brasil mais de mil
cursos de direito autorizados pelo Ministério
da Educação. Só em São
Paulo são 250. Em Pernambuco, 32, mas só
três receberam o selo de
qualidade da OAB: Damas, UFPE e Unicap.
THIAGO NORÕES
Moto
Nova sede de Suape O técnico do Santa Cruz,
Marcelo Martelotti, costuma ir para os treinos
da equipe a bordo de sua
poderosa moto, que usa
também nos seus passeios na cidade. Garante
que pilota com toda precaução no trânsito.
O secretário Thiago Norões acompanha
as obras de conclusão da nova sede de
Suape, no seu complexo industrial e
portuário. O prédio tem uma bela arquitetura e até um heliponto, que vai
facilitar a visita de empresários que
pretendam investir no espaço.
... por aí
QUE a Sierra, uma das mais tradicionais
lojas de móveis do Recife, encerrou suas
atividades.
QUE apesar da fiscalização, muitas motos cinquentinhas continuam circulado
sem placas.
QUE o grupo Carvalheira ocupou espaço
de destaque no segmento de promoção
de eventos no Recife.
QUE Jarbas Vasconcelos Filho desistiu
de se candidatar a vereador do Recife em
outubro
QUE não foi para frente o projeto da
prefeitura de incentivar a construção de
edifícios garagem no centro da cidade.
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F: 81. 99192.4530 / 99294.6055 / 3423.7919
memória pernambucana
O mais pernambucano
dos alagoanos ou o
mais alagoano dos
pernambucanos?
Marcelo Alcoforado
P
ara ambas as questões a resposta é afirmativa. Aldemar
Paiva é honra e glória de
Alagoas e Pernambuco, protagonista de um inesquecível caso de
dupla naturalidade. Caso começado
cedo, diga-se, quando ele, militar,
foi transferido de Maceió para o Recife. Aqui, dia a dia, se foram distanciando os sons das ordens-unidas,
dando lugar aos que vinham da Rádio Clube de Pernambuco. Foi naquela
emissora que ele deu os seus primeiros passos como radialista e, para
começar, enfrentou a árdua missão
de substituir ninguém menos que
Chico Anysio.
Deu conta do recado, e com perfeição. Tanta, diga-se, que de lá para
cá só conheceu o sucesso, tornando-se um dos mais disputados profissionais do mercado, inclusive fora do
meio radiofônico. Afora haver sido
produtor, apresentador e diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco,
ele teve igual sucesso nas rádios Tamandaré e Jornal do Commercio, na TV
Rádio Clube, onde foi diretor de teleteatro, e na TV Jornal do Commercio,
onde foi apresentador. Registre-se,
igualmente, que ele manteve coluna no jornal Fatorama, de Brasília, e
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foi redator da Golden Publicidade, na
época a mais importante agência de
propaganda do Estado.
Fora do meio de comunicação,
presidiu a Empresa Metropolitana de
Turismo, planejou e instalou a Empresa Cearense de Turismo, atuou
como ator e diretor do Teatro de
Amadores de Pernambuco e dirigiu o
Museu Murillo La Greca.
Um homem de valor, não é mesmo? – mas ele foi, essencialmente,
um homem de profunda sensibilidade. Assinou mais de 70 composições
musicais, em meio a elas Saudade e
Me abufelei, frevos-canção. Fez também Pajuçara, homenagem à bela
praia maceioense, onde, dizia a letra, havia mais encanto, mais luz.
Em parceria com o maestro Nelson Ferreira, compôs Frevo da saudade e Sopa no mel – frevos, Brasil
campeão do mundo – hino, Elegia a
Calheiros – canção, Se me viste chorar
– bolero, entre outras. Notou a versatilidade dos gêneros musicais?
No rádio, ele reinou. Basta dizer
que, no horário, foi líder de audiência durante 25 anos ininterruptos,
com o programa diário Pernambuco,
você é meu. E não foi seu único sucesso. Credite-se-lhe igualmente
Dona Pinoia e seus brotinhos, Festa no
varandão, O céu é o limite, Campeonato das cidades...
Aldemar Paiva também escreveu livros e publicou seis: O caso eu
conto, Monólogos e outros poemas, A
chegada de Nelson Ferreira ao céu, Gilberto Freyre descobridor do Brasil e A
saga do 44 espada d’água. Com muita
razão, pois, ele foi membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, sócio honorário da Academia
Maceioense de Letras, e foi homenageado com os títulos de Cidadão
do Recife, Cidadão de Pernambuco,
Memória Viva da Cidade do Recife, e
o Troféu Cipriano Jucá, da Academia
Maceioense de Letras.
Peças teatrais? Também escreveu, bastando registrar Auto do Batizado, um especial da Rede
Globo sobre a Inconfidência Mineira.
Que tal conhecer agora o Aldemar Paiva poeta? Para falar dele, nada
melhor do que sua própria
poesia. Como este monólogo: Eu não gosto de você
Papai Noel! | Também não
gosto desse seu papel de
vender ilusão pra burguesia.
| Se os meninos pobres da cidade soubessem o desprezo
que você tem pelos humildes;
pela humildade, eu acho que
eles jogavam pedra em sua
fantasia. I Talvez você não
se lembre mais, eu cresci me
tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que passou…
| Eu lhe escrevi um bilhete
pedindo o meu presente… a
noite inteira eu esperei contente…| Chegou o sol, mas
você não chegou. | Dias depois meu pobre pai cansado
me trouxe um trenzinho velho, enferrujado, pôs na minha mão e falou: Tome filho,
é pra você. Foi Papai Noel
que mandou! | E vi quando
ele disfarçou umas lágrimas
com a mão. | Eu inocente e alegre nesse
caso, pensei que meu bilhete, embora com atraso, tinha chegado em suas
mãos no fim do mês. | Limpei ele bem
limpado, dei corda, o trenzinho partiu,
deu muitas voltas… O meu pai então se
riu e me abraçou pela última vez. | O
resto eu só pude compreender depois
que cresci e via coisas com a realidade.
| Um dia meu pai chegou assim pra mim
como quem tá com medo e falou: -Filho, me dá aqui seu brinquedo, eu vou
trocar por outro na cidade. | Então eu
entreguei o meu trenzinho quase a soluçar, como quem não quer abandonar
um mimo, um mimo que lhe deu quem
lhe quer bem | Eu supliquei… Pai! Eu
não quero outro brinquedo, eu quero
meu trenzinho… Não vai levar meu trem
pai…! | Meu pai calou-se e de seu rosto
desceu uma lágrima que até hoje creio
tão pura e santa assim só Deus chorou,
ele saiu correndo, bateu a porta assim,
como um doido varrido. | A minha mãe
gritou: -José! José! José… Ele nem deu
ouvido, foi-se embora e nunca mais
voltou…| Você! Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou… | Sem pai e sem brinquedo,
Afinal, dos meus presentes não há
um que sobre da riqueza de um menino pobre, que sonha o ano inteiro com
a noite de Natal! | Meu pobre pai, malvestido, pra não me ver naquele dia
desiludido, pagou bem caro a minha
ilusão… | Num gesto nobre, humano e
decisivo, ele foi longe demais pra me
trazer aquele lenitivo; tinha roubado
aquele trenzinho do filho do patrão! |
Quando ele sumiu, eu pensei que ele
tinha viajado, só depois de eu grande
minha mãe em prantos me contou… que
ele foi preso, coitado! E transformado
em réu. | Ninguém pra absolver meu pai
se atrevia. Ele foi definhando na cadeia
até que um dia, Nosso Senhor… Deus
nosso Pai…Jesus entrou em sua cela e
libertou ele pro céu.
Aldemar Buarque de Paiva, justo
orgulho de alagoanos e pernambucanos, nasceu em Maceió, em 20 de
julho de 1925 e repousa eternamente
no Recife, desde 4 de novembro de
2014.
Poeta, cordelista, radialista, jornalista, compositor, produtor artístico e publicitário, foi um homem de
múltiplos talentos e incontáveis admiradores.
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113
última página
frAncisco cunha
A vitória do acaso
[email protected]
P
or formação, desde pelo menos o primeiro dia de faculdade, e também por
dever de ofício da consultoria, tenho
lidado a cada dia com planejamento
há mais de 40 anos, seja de projetos,
seja de clientes e parceiros, seja da TGI e, como
não poderia deixar de ser, seja de minha própria
trajetória pessoal e profissional.
Ao longo desse tempo, muitas coisas aconteceram como resultado do planejado, outras não
aconteceram e algumas mais aconteceram mesmo sem terem sido planejadas. Dentre essas últimas, do ponto de vista pessoal, nunca me passou
pela cabeça, como algo planejado com antecedência, nem fazer exposição nem publicar um
livro de fotografias, bem como nunca me passou
pela cabeça participar do projeto de uma revista, menos ainda de um projeto vitorioso que hoje
completa 10 anos como o da Algomais.
Da emergência das coisas não planejadas
mas bem sucedidas, tirei o ensinamento que
passei a adotar no meu dia a dia de planejamento e pode ser enunciado do seguinte modo:
“planeje o mais que puder, mas deixe sempre a
porta aberta para o acaso”. Em não poucas situações ele se impõe de forma avassaladora.
No que diz respeito à Algomais, foi um acaso e
tanto que terminou se transformando num projeto de absoluto sucesso. Uma revista que, desde
o seu número zero, se pauta pela defesa do nosso
Estado e que, de fato, pratica a missão que definiu
para si: “Prover com pautas ousadas, inovadoras
e imparciais, informações de qualidade para os
leitores, sempre priorizando os interesses, fatos
SF 010 14 af_an_rodapé.pdf
114
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1
06/10/14
e personagens relevantes de Pernambuco, sem
louvações descabidas nem afiliações de qualquer
natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca
dos conteúdos editorial e comercial publicados.”
Além dessa fidelidade absoluta à missão, outro fator distingue a Algomais no meio jornalístico pernambucano: o funcionamento ininterrupto, desde o seu primeiro número em 2006, do
No que diz respeito à Algomais,
foi um acaso e tanto que
terminou se transformando
num projeto de absoluto
sucesso
Conselho Editorial que, de fato, pautou, avaliou
e qualificou, com suas reuniões mensais, cada
uma das 120 edições que hoje se completam.
Na condição de colunista mais antigo da revista (desde o número zero), nesta mesma Última Página, presidente licenciado do Conselho
Editorial e sócio da SMF/TGI, editora da Algomais, só tenho que me congratular orgulhosamente com o acaso. Não fora ele, eu não estaria
participando desta experiência fantástica.
06:49 PM
Consultor
e arquiteto
Algomais • Março/2016
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