FACULDADE DE AMERICANA ARTIGO DE REVISÃO TEMPO DE

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FACULDADE DE AMERICANA ARTIGO DE REVISÃO TEMPO DE
“ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL AMERICANENSE”
FACULDADE DE AMERICANA
CURSO DE GRADUAÇÃO - BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ARTIGO DE REVISÃO
TEMPO DE REAÇÃO NO RUGBY
RANGEL KAIAN FERREIRA PEREIRA
AMERICANA
2013
“ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL AMERICANENSE”
FACULDADE DE AMERICANA
MONOGRAFIA – GRADUAÇÃO
TEMPO DE REAÇÃO NO RUGBY
RANGEL KAIAN FERREIRA PEREIRA
Trabalho de conclusão de curso
apresentado à disciplina de trabalho de
conclusão de curso em educação física
da Faculdade de Americaca – FAM e
obtenção do título de bacharel em
Educação Física sob a orientação da
Prof. Ms. Cathia Alves.
AMERICANA
2013
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família, à Lays de Paula, minha ouvinte e principal
contribuinte, aos meus colegas da FAM e meus companheiros do Lobos Rugby.
“Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino.
Sou o capitão da minha alma.”
Invictus- William Ernest Henley (1875)
AGRADECIMENTO
Eu gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que acima de tudo foi
minha fonte de força e paciência nos momentos em que me vi cansado e
desmotivado, devido a sua providencia tive vivências únicas, com pessoas que não
hesitaram em compartilhar seu conhecimento e contribuíram muito para o meu
crescimento pessoal e profissional.
À minha família que representa meu porto seguro, me deu apoio e
recursos para que eu concluísse meu objetivo e desse o primeiro passo para a
realização de um sonho, especialmente meu pai, que me ensinou muito mais do que
dez faculdades poderiam e a minha mãe, cujo cuidado e proteção sempre me
inspiraram a ser melhor.
À minha Aroha, minha companheira Lays de Paula, que se tornou uma
pessoa fundamental em minha vida, me aconselhou e orientou profissionalmente e
vem me ajudando a construir minha história dentro e fora da educação física.
Aos meus companheiros que me apresentaram ao rugby, Fabio Lopes,
Douglas Parazzi, Gean Franco e Heverton de Rizzo.
À todos os meus parceiros do Lobos Rugby, em especial Denes Cardozo,
Diego Gonçalves e William Michel, que sempre estão comigo, dentro e fora de
campo.
Aos meus amigos da FAM que durante os quatro anos de curso
aprenderam comigo e me ensinaram.
Aos professores que transmitiram boa parte do seu “Saber”, em especial
Vitor Coelho, Carla Ribeiro, Tiago Volpi e Rosane Beltrão que me ajudaram a
construir esse trabalho.
Às minhas amigas da Casa do Conto, Cristina Lazaretti e Roseli Martins,
que proporcionaram um toque de fantasia à minha realidade.
E a todos que contribuíram para que esse projeto se tornasse realidade.
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TEMPO DE REAÇÃO NO RUGBY
RANGEL KAIAN FERREIRA PEREIRA
FACULDADE DE AMERICANA
RESUMO
O rugby é um esporte cooperativo, com afrontamento entre os jogadores, além de
possuir características que o tornam uma modalidade muito completa. Dessa forma,
a rapidez da tomada de decisão se torna essencial, contudo, o tempo de reação
(TR) pode ser uma possibilidade de melhoria da tomada de decisão.
Assim, o
objetivo desse trabalho foi reunir estudos sobre TR e identificar os fatores que
podem influenciar no tempo de reação, possibilitando o conhecimento necessário
para evitar as influencias negativas e promover as positivas, maximizando o
desempenho na tomada de decisão. Entre os resultados encontrados, a fadiga é o
principal fator negativo, contudo, o aquecimento, a atenção e o estado de alerta
podem diminuir os valores do TR e melhorar a tomada de decisão.
Palavras chave: Rúgbi, Tempo de reação, Processamento de informação.
ABSTRACT
Rugby is a cooperative sport with confrontation between players and also has
features that make it a very complete modality, so the speed of decision making
becomes essential, however, the reaction time (RT) may be a possibility
improvement of decision making. The objective of this study was to gather studies on
TR and identify factors that may influence the reaction time, allowing the knowledge
to avoid the negative influences and promote positive, maximizing performance in
decision making. Among the results, the fatigue is the main negative factor, however,
heating, attention and alertness can decrease the values of TR and improve decision
making.
Keywords: rugby, reaction time, information processing.
INTRODUÇÃO
O treinamento de tempo de reação (TR) deve possibilitar melhorias no
tempo de reação complexo, possibilitando ao atleta uma leitura mais rápida do
ambiente, optando pela tarefa mais eficaz para anular a ação adversária e atingir o
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objetivo escolhido. Esse tipo de treinamento proporciona a previsão das ações do
adversário e a busca pela melhor ação dentro daquele contexto. É importante
ressaltar que o ambiente de jogo muda rapidamente, e as possibilidades se alteram
com a mesma velocidade, portanto se o indivíduo necessitar de menos tempo para
identificar e executar uma tarefa, ele obterá certa vantagem quanto a seus
adversários.
Marques Junior (2011) cita a decomposição do TR de três formas,
simples, em que há somente um estímulo e uma resposta, de escolha, havendo
diversos sinais e diversas respostas diferentes e o de discriminação, que existe
somente uma resposta adequada aos vários estímulos apresentados.
O treinamento pode reduzir o TR complexo, pois o TR simples é
caracteristicamente genético, ou seja, por ser um valor pré-estabelecido, não pode
ser melhorado. Contudo os ganhos são significativos, através de situações
dinâmicas e situacionais, pode-se observar grandes melhorias (VERKHOSHANSKI,
2001).
Quanto maior o número de estímulos, maior demanda temporal para
aplicação da resposta, gerando aumento nos valores do TR, mas além da
quantidade de estímulos, existem outros fatores que podem positivar ou negativar os
valores do TR complexo, mas qual seriam esses fatores? Como o treinador poderia
planejar o treinamento para maximizar os resultados e evitar as influências
negativas? O objetivo desse trabalho foi reunir estudos sobre tempo de reação,
identificar os tipos de TR, investigar os fatores influentes e as possibilidades de
treinamento.
A literatura sobre tempo de reação ainda é muito escassa, embora seja
uma via muito promissora do treinamento, dessa forma, as informações contidas
nesse trabalho podem orientar o técnico a ensinar ao atleta a retardar o TR do
oponente, utilizando fintas ou outras ações que possam ludibriar o adversário
(MARQUES JUNIOR, 2011). O desenvolvimento atual e o nível competitivo
alcançado pelo jogo de “rugby” têm exigido níveis de desempenho cada vez mais
elevados. Neste sentido, o desempenho das equipes em situação de treinamento e
de competição deve ser analisado de forma minimalista (VAZ, 2012).
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METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, seguindo as
orientações de Severino (2007), tendo como fonte de pesquisa a biblioteca da FAM
e as bases de dados online, Scielo e Google Acadêmico. Foram utilizadas como
palavras chave: tempo de reação, tomada de decisões, processamento de
informação humano e rúgbi.
Contudo, embora formalizadas pelo decs, o cruzamento dessas palavras
chave não apresentaram quantidade significativa de estudos, dessa forma a busca
por trabalhos se deu utilizando-as individualmente.
A técnica de leitura foi feita segundo o mesmo autor, realizando
primeiramente uma leitura geral, posteriormente uma leitura mais aprofundada,
buscando temas necessários para o trabalho e grifando palavras desconhecidas.
Após esse procedimento foi realizado uma síntese dos trabalhos, para facilitar a
utilização dos conceitos no estudo.
REVISÃO DE LITERATURA
Breve relato histórico do rugby
Segundo Antunes (1992), o rugby é o resultado de vários jogos que se
difundiram e evoluíram entre diversas civilizações ao longo da história, mantendo
sempre a virilidade como essência principal. O esporte possui uma relação muito
profunda com a cultura Greco-latina, pois na Grécia, Itália, Inglaterra e França,
existiam diversos jogos semelhantes, como o harpastum, soule e urani, cuja
característica principal era passar pelos adversários portando a bola (feita de couro
ou bexiga de boi) ou defendendo-se agarrando o indivíduo com a posse do objeto.
Contudo, os primeiros indícios da versão atual do esporte, ocorreram na
Inglaterra, na escola pública da cidade de Rugby. Conta-se que a modalidade surgiu
a partir de uma jogada irregular no futebol. Em novembro de 1823, um garoto
chamado William Webb Ellis, pegou a bola com as mãos e tentou correr em direção
ao gol, mas foi agarrado por seus adversários durante o percurso. A partir desse
acontecimento supostamente surgiu o rugby, com a aprovação dos diretores da
escola, a criação de regras e normas de conduta, o esporte difundiu-se pela cidade
e pelo país, estendendo-se pelo mundo todo (AGUIAR, 2011).
Atualmente é o segundo esporte mais praticado do mundo, muito popular
em países do reino unido, além de Irlanda, França, Argentina, Austrália, África do
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Sul e Nova Zelândia, atual campeã mundial. A copa do mundo de rugby é o terceiro
maior evento esportivo do planeta, atrás apenas da copa do mundo de futebol e
olimpíadas. O evento é realizado de quatro em quatro anos, sendo visto por mais de
3 bilhões de espectadores durante seus 45 dias de realização (CAFEO; MARQUES
2011).
Ao Brasil, o rugby chegou no mesmo navio que o futebol, trazido por
marinheiros ingleses e posteriormente sendo difundido por uma figura conhecida
como o pai do futebol, Charles William Muller. Atualmente as seleções masculina e
feminina ocupam respectivamente a 27ª e a 10ª posição no ranking da International
Rugby Board (IRB), que é o órgão que controla o esporte a nível mundial. Segundo
a Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), há cerca de vinte mil jogadores no país
(CENAMO, 2010).
O esporte
Segundo Aguiar (2011), a modalidade pode ser classificada como
coletiva, de interação com o adversário e invasão de território. É um esporte
cooperativo, com afrontamento entre os jogadores, além de possuir características
que o tornam uma modalidade muito completa quando comparada a outras
modalidades.
Entre as principais ações identificadas no jogo, o autor citada as quedas
provocadas pelos adversários, chutes, disputas aéreas, corridas, formação em linha,
além de exigir muita força. Essas ações podem ser encontradas separadamente em
muitos esportes, como lutas, futebol, basquete, atletismo, handebol e levantamento
de peso.
O esporte é praticado por duas equipes, cujo principal objetivo é chegar à
zona de pontuação, denominada in goal, e apoiar a bola no solo. O in goal é uma
área que se localiza no fundo do campo adversário, a jogada descrita anteriormente
é denominada try. Existem ainda outras três possibilidades de pontuação,
relacionadas à estrutura localizada na linha inicial do in goal. O H é uma estrutura
utilizada para pontuar os chutes, após cada try a equipe tem direito a um chute
bônus, chamado de conversão. Existe ainda o drop goal, em que o chutador deve
esperar a bola tocar o solo para realizar o chute (bate pronto), o drop goal pode ser
realizado em qualquer momento do jogo. A última possibilidade de pontuação é o
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chute de penal, em que a equipe deve cobrar quando o adversário comete alguma
infração mais grave, do local onde ela ocorreu (MORENO, 2012).
Atualmente há duas versões em âmbito profissional, o rugby union, que
tem duração de dois tempos de 40 minutos e é composto por 15 jogadores, com
posições, funções e características físicas diferentes. Os atletas são classificados de
acordo com o biótipo predominante, os Forwards, que geralmente são jogadores
mais fortes e pesados e os Backwards, que são jogadores mais leves e rápidos. A
outra versão é denominada seven, é composta por duas equipes de sete jogadores
com duração de dois tempos de 7 minutos (modalidade Olímpica). Ambas as
modalidades são realizadas em um campo com 100 metros de comprimento por 70
metros de largura (AGUIAR, 2011).
O esporte para categorias infantis e juvenis sofre algumas modificações
nas regras, dimensão do campo, quantidade de jogadores, tempo de jogo e tamanho
da bola. Dessa forma o jogo visa o processo de maturação de cada praticante,
aumentando as ações vivenciadas e respeitando as capacidades físicas individuais
(MORENO, 2012).
TEMPO DE REAÇÃO
Para entendermos o papel do tempo de reação nas ações esportivas,
primeiramente devemos compreender os três estágios de processamento de
informação publicados por Schmidt e Wrisberg (2001).
Figura 1 – Estágios do processamento de informação (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).
O primeiro estágio é denominado percepção, trata-se da identificação do
estímulo apresentado, o segundo estágio é a seleção da resposta ou decisão e o
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terceiro estágio é chamado de programação da resposta, trata-se da ação
(SCHMIDT; WRISBERG, 2001). No entanto, para que todos os estágios de
processamento de informação sejam completos, desde a identificação do estímulo
até a seleção da resposta, é necessário um período de tempo, que é denominado
tempo de reação (BRAGANHOLO; OKAZAKI, 2009).
O tempo de reação é uma capacidade física intimamente relacionada com
o desempenho humano (VAGHETTI; ROESLER; ANDRADE, 2007), pois Indica os
efeitos ou resultados do desempenho de uma habilidade motora (SOUZA;
OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006; SCHMIDT; WRISBERG, 2001; LIMA et al., 2004).
No Rugby, assim como a maioria dos esportes, uma característica muito
importante é a presteza dos atletas para responderem aos diferentes estímulos
apresentados durante o jogo (SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006), tornando o
tempo de reação uma possibilidade de treinamento muito importante, pois pode
potencializar
o
aproveitamento
motor
e
a
percepção
dos
competidores,
consequentemente refletindo no grupo ou equipe (SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA,
2006). Quanto menor o valor do TR, maior velocidade do atleta no desempenho da
ação (JUODZBALIENE; MUCKUS, 2006 apud MARQUES JUNIOR, 2011). Partindo
desse pressuposto, pode-se presumir que há a possibilidade de utilização do tempo
de reação como ferramenta para avaliar a velocidade e a eficácia da tomada de
decisão dos atletas em relação às variáveis dos fundamentos apresentados no jogo,
além de viabilizar uma avaliação das suas capacidades de percepção e antecipação
(SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006).
Segundo Magill (1984), o Tempo de reação é o lapso de tempo entre o
início de um estímulo, como uma campainha ou uma luz e o início de um movimento
ou resposta, também é definido como o estímulo que chega ao sistema sensorial
antes do início da resposta motora (LIMA et al., 2004), ou o intervalo de preparação
necessária para gerar o movimento, ou seja, o TR é o tempo antes de iniciar a ação
(MARQUES JUNIOR, 2011).
Por apresentar valores muito breves, a mensuração do tempo de reação é
feita em milésimos de segundos (ms) e dependendo do sistema sensorial, apresenta
valores distintos em um mesmo indivíduo (SCHMIDT; WRISBERG, 2010 apud
MARQUES JUNIOR, 2011).
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Marques Junior (2011) apresentou valores aproximados do tempo de
reação em cada sistema sensorial, TR tátil está em torno de 110 ms, o TR auditivo é
de aproximadamente 150 ms e o valor do TR visual é por volta de 200 ms.
O tempo de reação pode ser identificado e denominado de três formas,
TR simples, TR de escolha e TR de discriminação, segundo a classificação de
Schmidt e Wrisberg (2001) apud Souza, Oliveira e Oliveira (2006).
TR simples é o tempo de reação mais breve, é o intervalo de tempo entre
um estímulo não antecipado e o início de uma resposta (SCHMIDT; WRISBERG,
2001 apud SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006).
TR de escolha é o tempo decorrente entre a apresentação de vários
estímulos e o início de uma das várias respostas compatíveis (SCHMIDT;
WRISBERG, 2001 apud SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006).
TR de discriminação é o intervalo de tempo entre a apresentação de
vários estímulos não antecipados e o início de uma única resposta compatível
(SCHMIDT; WRISBERG, 2001 apud SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006).
Ao tratarmos de tempo de reação de escolha, devemos citar os estudos
realizados por Hick (1952) e Hyman (1953), Apud Elliot e Mester (2000), que
partiram da análise de tempo necessário para programar um movimento em
situações em que há uma grande variedade de possíveis respostas.
Estes estudos foram posteriormente conhecidos como a lei de HickHyman, que descreve uma relação estável entre a quantidade de estímulos e o
tempo de resposta, aumentando de forma linear os valores do TR, ou seja, quanto
maior o número de estímulos, maior o tempo necessário para geração da resposta
(BRAGANHOLO; OKAZAKI, 2009).
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Gráfico 1. A relação entre número de estímulos e tempo de resposta (BRAGANHOLO; OKAZAKI,
2009).
O gráfico publicado por Braganholo & Okazaki (2009) comprova a teoria
da lei de Hick – Hyman, analisando-o, pode-se verificar a relação direta entre o
número de escolhas e o tempo de resposta, além do notável crescimento linear
desse tempo. A medida que o número de alternativas foi aumentando, o tempo
necessário para os indivíduos processarem e responderem aos estímulos também.
De acordo com os autores, os resultados podem ser explicados pela maior demanda
no processamento das informações, sendo necessário maior tempo para identificar o
estímulo, selecionar a resposta e programá-la.
Além da quantidade de estímulos evidenciados na lei de Hick, diversos
outros fatores podem influenciar o TR, desde a natureza da informação até o tipo de
resposta que deve ser gerada (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Fatores como a
compatibilidade entre estímulo e resposta, o tempo de prática e a fadiga podem
interferir nos valores de resposta.
A compatibilidade estímulo-resposta é um fator determinante e muito
importante no TR de escolha, é frequentemente definido como a maior naturalidade
de conexão entre o estímulo e a resposta (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Realizar
uma ação à direita, a partir de um estímulo que venha do mesmo lado é um exemplo
de naturalidade entre estímulo e resposta (GAWRYSZWSKI et. al, 2006).
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Segundo Gawryszewski et. al (2006), o hemisfério direito do cérebro
controla os movimentos do lado esquerdo e o hemisfério esquerdo controla os
movimentos do lado direito, quanto maior a compatibilidade, menor o valor do TR,
pois a seleção da resposta é mais simples. Pegar um objeto que se aproxima pelo
lado direito utilizando a mão direita, estimula os neurônios do lado esquerdo, que
imediatamente geram uma resposta. Entretanto, para realizar uma ação como pegar
um objeto que venha pelo lado direito, utilizando a mão esquerda, torna-se mais
complexo, pois o objeto ativará o lado esquerdo, que deverá transferir a informação
para o lado responsável pelo membro efetor (mão direita), o hemisfério direito.
Figura 2. Compatibilidade entre estímulo e resposta (SCHMIDT & WRISBERG, 2001).
Contudo, Schimidt e Wrisberg (2001) evidenciam que um indivíduo que
apresenta um grande tempo de prática, pode realizar situações em que haja
desvantagem de execução, como a incompatibilidade E-R, de forma quase
instantânea.
Acredita-se que a vivência possa potencializar desenvolvimento de
atividades cognitivas, porque a necessidade de adaptação ao ambiente, sua
instabilidade e variedade de estímulos, desenvolve no atleta a inteligência esportiva,
possibilitando a solução mais objetiva e eficaz (SCHMIDT; WRISBERG, 2001;
MAGILL, 1984).
Os estudos de Schimidt e Boshuizen (1990) apud Barcelos et al (2009)
propõem quatro estágios de desenvolvimento.O primeiro estágio caracteriza-se pelo
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ganho de conhecimento e desenvolvimento de um repertório fragmentado de
informações. No segundo estágio as informações na memória são mais claras e
organizadas, como sinais ambientais, e possibilidades da tarefa, nesse estágio o
indivíduo já é capaz de separar e selecionar as informações relevantes.No terceiro
estágio o indivíduo relaciona e associa as informações encontradas no ambiente. O
quarto estágio representa o acréscimo na memória dos conhecimentos aprendidos
anteriormente.
Dessa forma, os estudos demonstram que de acordo com o aumento da
prática, os valores do TR de escolha se tornam menores, mesmo em ambientes
desfavoráveis, como tarefas de natureza complexa, contudo, atletas de alto nível
com experiência extrema de prática, podem reagir quase de forma automática aos
estímulos. À medida que a mesma ação é necessária como resposta a um estímulo
específico, sua execução se torna mais rápida (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).
Outro fator muito presente nos treinamentos e competições é a fadiga,
segundo Weineck (1999) apud Portela (2005), fadiga é a redução de desempenho
físico ou psicológico, que não impossibilita a continuação da ação, mas prejudica a
coordenação e apresenta um alto gasto energético. A fadiga é um fator significativo
e influencia negativamente no TR (PORTELA, 2005), fisiologicamente, pode ocorrer
desde a percepção do sinal até a contração muscular (LIMA et al, 2004).
Com o rendimento comprometido, a capacidade do atleta de reagir aos
estímulos será afetada negativamente, provavelmente diminuindo as capacidades
de execução de uma ação como esquiva (LIMA et al, 2004), entretanto, é importante
ressaltar que cargas leves de exercício provocam o efeito oposto, ou seja, podem
melhorar os valores do TR.
Um estudo de Chmura et al (1994) apud Lima et al (2004), verificou os
valores do TR com diferentes cargas de esforço e concentrações de lactato.
Inicialmente o TR apresentou valores reduzidos, aumentando após 6mM/l de lactato.
Dessa forma constatou-se que cargas leves de exercício geram efeito de
aquecimento, ativando o sistema nervoso central, aumentando a atenção e
consequentemente melhorando o desempenho (WEINECK apud PORTELA, 2005).
A atenção permite o processamento de estímulos relevantes para atingir
um determinado objetivo e desconsiderar uma grande variedade de estímulos
irrelevantes, que provavelmente provocarão distração (FERREIRA, 2007), dessa
forma, o indivíduo no ambiente de jogo em que há uma variabilidade de sinais, pode
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diminuir seu tempo de reação. À medida que alguns sinais são desconsiderados, a
quantidade de estímulos apresentada é menor, consequentemente o tempo de
resposta diminui (HELENE; XAVIER, 2003).
Partindo do pressuposto de que a atenção está ligada à leitura do
ambiente, Magill (1999) indica que a velocidade de resposta é dependente da
preparação para um sinal, pois os valores do TR são maiores quando não há sinal
de aviso, portanto, um indivíduo deve se preparar para a identificação do sinal e a
geração de uma resposta, ou seja, é necessário um estado de alerta. Contudo, o
autor indica também a necessidade de um período mínimo para realizar a resposta
logo após esse estado, esse tempo é denominado pré-período.
Figura 3. Pré-período (MAGILL, 1999).
Segundo os estudos realizados por Woodrow (1914) Apud Magill (1984),
o período ideal para resposta ao sinal é de 2 a 4 segundos, dessa forma, um
estímulo apresentado antes ou após essa faixa de tempo, não possibilitará a melhor
resposta. Deve-se considerar esse tempo preparatório como contínuo, em que a
faixa de tempo ideal, situa-se entre os dois extremos, um sinal apresentado muito
cedo não haverá tempo suficiente para a preparação e se ocorrer muito tarde, o
indivíduo perderá a eficiência de resposta.
A união dos fatores citados acima podem contribuir de forma significativa
para a redução do tempo de reação e principalmente a tomada de decisão de um
indivíduo, pois segundo estudos apresentados por Schimidt e Wrisberg (2001),
mesmo executantes novatos reduzem o TR quando recebem um sinal indicativo do
próximo estímulo.
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CONTEXTUALIZANDO
Um jogador rompe a linha de defesa e parte com a posse de bola em
direção ao ataque pela lateral do campo, imediatamente o fullback, que é o último
jogador do time se aproxima para efetuar a defesa. O atacante tentando evitar o
contato aumenta sua velocidade em um sprint em linha reta pela linha lateral. Essa
decisão tomada pelo jogador facilita o trabalho do defensor, pois existe somente um
estímulo e resposta, derrubar o jogador em direção à linha lateral, dessa forma como
citado anteriormente e confirmado por Barbante (2001) Apud Marques Junior (2011)
o TR simples é mais breve, portanto o atleta desempenha a ação de forma mais
rápida e eficiente.
Nessa jogada, o atleta poderia atrasar o TR do defensor utilizando uma
finta (side step). Ele poderia ludibriar seu oponente, seguindo em linha reta pelo lado
esquerdo, quando o defensor se aproximar para realizar o tackle, o atacante realiza
um side step para o lado oposto e parte em velocidade em direção ao in goal. Nessa
ação o defensor não consegue fazer uma marcação eficiente porque a finta criou
dois estímulos e consequentemente duas respostas para o defensor, o que
caracteriza o TR como de escolha. Esse atraso na resposta entre dois estímulos
muito próximos é definido como tempo refratário psicológico
(SCHMIDT;
WRISBERG 2010, apud MARQUES JUNIOR 2011).
Nas situações em que dois estímulos são apresentados de forma
inesperada em um curto espaço de tempo, o indivíduo percebe o primeiro estímulo e
começa o processo de geração da resposta, mas quando ocorre a apresentação do
segundo estímulo, o primeiro ainda está em processamento, então ocorre uma
interferência. Contudo, esse atraso do TR ocorre quando o segundo estímulo é
apresentado aproximadamente 50 a 60 ms após o outro, mas se ocorrer em um
período menor do que 40 ms, o encéfalo responde aos dois estímulos
simultaneamente, como se fossem um único sinal (SCHMIDT; WRISBERG 2010,
apud MARQUES JUNIOR 2011).
É importante relembrar o trabalho de Braganholo e Okazaki (2009) que
cita a lei de Hick-Hyman, partindo das informações encontradas no trabalho, podese utilizar essa lei no contexto de jogo. Quanto maior o número de estímulos, maior
o tempo de geração de resposta, dessa forma, deve-se sempre proporcionar ao
adversário situações de incerteza, em que haja sempre dois ou mais estímulos para
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serem processados, esse atraso no TR do oponente torna-se fundamental para a
eficiência da ação e precisão na execução do objetivo.
Ainda tendo como base a lei de Hick, nas situações de defesa pode-se
evitar o atraso no TR eliminando as alternativas do oponente, induzindo-o a escolher
uma determinada ação, ou seja, no caso da situação de finta, se o defensor oferecer
um sinal de que irá partir em direção ao atacante, seu oponente irá realizar a finta,
dessa forma a ação do segundo jogador foi induzida e o defensor eliminou uma das
alternativas, portanto assim que a finta é realizada, o defensor realiza o tackle. Essa
situação criada pelo defensor engloba o TR de discriminação, em que existem vários
estímulos, mas somente uma resposta para conclusão da tarefa, os estímulos são
desconsiderados e somente o quando o side step é realizado pelo oponente, o
defensor realiza sua ação.
Embora
o
TR
simples
seja
uma
característica
genética
(VERKHOSHANSKI, 2001), o TR de discriminação pode ser reduzido com o
treinamento, obtendo ganhos significativos através de trabalho dinâmicos e
situacionais, atividades que estimulam a leitura de ambiente melhoram a precisão do
atleta em relação à escolha das ações e consideração ou eliminação dos estímulos
(ZAKHAROV, 1992 apud MARQUES JUNIOR, 2011),
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante os treinamentos do tempo de reação deve-se atentar aos fatores
que podem influenciar na velocidade da resposta, é importante levar em
consideração a natureza dos estímulos e o ambiente da tarefa em que ele é
inserido, bem como a compatibilidade entre estímulo e resposta deve ser
proporcional ao tempo de prática da modalidade. Como vimos anteriormente, um
atleta bem treinado responde até mesmo aos estímulos mais complexos de forma
quase simultânea, contudo, atletas iniciantes apresentam dificuldade, dessa forma,
sua estimulação deve ser mais simples, geralmente envolvendo os fundamentos,
como passe, o tackle e a formação de linha defensiva.
É importante ressaltar que nos treinamentos em que o foco é o tempo de
reação e a tomada de decisão, deve se evitar o estado de fadiga, realizar
previamente o aquecimento dos atletas e promover durante toda a sessão, a
atenção, além de realizar situações que provoquem o estado de alerta nos
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indivíduos. Contudo, torna-se fundamental respeitar o tempo de preparação dos
indivíduos (pré-período).
Esses são os princípios para melhoria do TR, uma capacidade que pode
ser o grande diferencial de um esporte que está cada vez mais bem estruturado e
competitivo, portanto o indivíduo que souber estimular o tempo de reação e a
tomada de decisão de seus atletas poderá elevar o nível de sua equipe e conquistar
os objetivos propostos em jogos e competições.
REFERÊNCIAS
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Sul. 2011. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/39322 > Acesso
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ANTUNES, F. M. Futebol de fábrica em São Paulo. Dissertação de Mestrado em
Sociologia, FFLCH-USP, 1992. Disponível
em:<http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/142251_futeboldefabrica.pdf> cesso
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BARCELOS, J. L.; MORALES, A. P.; MACIEL, R. N.; AZEVEDO, M. M. & SILVA, V.
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BRAGANHOLO, W.; OKAZAKI, V. H. Capacidades limitadas de processar
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CAFEO, M. R.; MARQUES, J. C. Persuasão ou performance: as estratégias
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