ed 181 Revisão 2 + Roteiro.indd

Transcrição

ed 181 Revisão 2 + Roteiro.indd
1
editorial
ETIQUETA PROFISSIONAL
Ricardo Pinto
No confessionário, chega o pequeno Joãozinho e inicia sua confissão:
- Padre, eu pequei. Fui seduzido por uma mulher casada que se diz séria.
- É você, Joãozinho? – pergunta o padre.
- Sou, Seu Padre, sou eu sim.
- E com quem você esteve, Joãozinho?
- Padre, eu já disse o meu pecado... Ela que confesse o dela.
- Olha, mais cedo ou mais tarde eu vou descobrir, Joãozinho. Assim é
melhor que me diga agora!... Foi a Isabel Fonseca?
- Os meus lábios estão selados - disse Joãozinho, convicto.
- A Maria Gomes?
- Não vou contar...
- Ah! A Sabrina, da farmácia?
- Não direi nunca!!!
- Então foi a Catarina, da pastelaria?
- Padre, desculpe-me, mas da minha boca não sairá nada além do meu
pecado.
O Padre, enfim desiste, satisfeito com a bela demonstração de convicção do menino.
- Você é um cabeça dura, Joãozinho, mas, no fundo do coração, admiro
a sua discrição. Vai rezar 20 Pai-Nossos e dez Ave-Marias... Vá com
Deus, meu filho!
Joãozinho sai do confessionário e vai para um banco nos fundos da
igreja. O seu amigo Maneco aparece e sussurra:
- E então? Conseguiu a lista?
Ao que Joãozinho prontamente responde:
- Consegui sim. Tenho três nomes de mulheres casadas que dão para
todo mundo.
Etiqueta é sinônimo de boa educação e significa saber se comportar
em qualquer situação, preservando sua imagem pessoal. Ela é imprescindível na vida, na atuação profissional e no mundo dos negócios. Dentre
as várias regras da etiqueta profissional, uma é a de não se fazer fofocas,
regra esta que o ingênuo padre da anedota não respeitou.
São muitas as regras de etiqueta válidas para diferentes situações da
vida corporativa. Assim, abaixo segue uma breve compilação das regras
que acredito serem bem importantes para quaisquer profissionais:
Muita atenção à primeira impressão. Por isso, comunique-se com
todo o seu corpo: levante-se quando alguém entra, tenha um aperto de
mão firme, apresente-se em 30 segundos sobre quem você é e o que faz.
2
Esquecer nomes é um problema comum. Uma dica para evitar constrangimentos é iniciar e terminar frases com o nome da pessoa recém-conhecida.
A pontualidade deve ser um hábito tanto em encontros como em reuniões.
Não se preste a fazer e nem divulgar fofocas. O que lhe for contado
confidencialmente, mantenha em segredo.
Sorria! Ninguém gosta de pessoas rabugentas e que só fazem reclamar.
Use a abuse da simpatia e educação falando: “por favor”, “muito obrigado(a)”, “por gentileza”, “com licença” etc.
Com relação ao vestuário, espelhe-se nos gestores e supervisores,
usando o que eles usam. Evite roupas desbotadas, manchadas ou velhas.
Em reuniões, coloque seu celular no modo silencioso. Se o assunto
for urgente, desculpe-se com os colegas e saia da sala.
Em almoços ou jantares de negócios, evite tomar muita bebida alcoólica e pedir o item mais caro do cardápio, bem como pratos complicados
de se comer, como ostras, peixes com espinho e costelas.
Escreva seus emails como escreveria cartas, sem abreviações, palavras
sem acentuação, emoticons e outros que tais. Também tenha muito cuidado com “responder a todos” e copiar outras pessoas no seu email. Evite o
envio de emails de correntes e de mensagens pessoais, especialmente para
aqueles que não lhe são muito íntimos.
Ouça as outras pessoas atentamente, não as interrompendo e nem monopolizando as conversas.
Em reuniões e apresentações, evite usar notebooks, tablets e smartphones, a não ser que seja para anotar o que está sendo dito. Seja respeitoso
com quem está falando.
Humor é um tema complicado no ambiente de trabalho. Muito cuidado com comentários sobre religião, raça, gênero e preferência sexual.
Mantenha um relacionamento cordial e profissional com seus colegas
e superiores hierárquicos. Seja amigável e aberto, mas não divida detalhes
íntimos de sua vida pessoal. É saudável manter um pouco de distância psicológica para te preservar.
Quando telefonar para alguém, especialmente em celulares, primeiro
pergunte se a pessoa tem tempo para atendê-lo. Ao deixar mensagem na
caixa postal, diga seu nome, empresa, data , motivo da ligação e seu número de telefone.
Retorne sempre todos os emails e ligações gravadas em sua caixa postal, de preferência em menos de 24 horas.
índice
“A nossa maior ilusão é acreditar que somos o que
pensamos ser.”
Henri Amiel
“Na condução das questões humanas não existe
lei melhor do que o autocontrole.”
Lao Tsé
“Os homens são como as estrelas. Alguns geram a
sua própria luz enquanto outros refletem o brilho
que elas recebem.”
José Martí
Especial
12
O que o setor sucroenergético pode
esperar do governo Temer?
Tecnologia
agrícola
14
Nitrogênio em cana planta -parte 3
18
Cana de 3x3 dígitos
24
Traduzindo as imagens dos drones
Tecnologia
industrial
28
Uso de robôs para chapisco de
moendas
Conjuntura
33
Leilões online para setor agrícola
se consolidam
38
Sugestões para a retomada
do setor
39
A dicotomia entre o sucesso e o
fracasso, ao longo do tempo, das
ferramentas de gestão de pessoas
edição 181
Ano 15
Julho
de 2016
Gestão
Diretor Geral
Ricardo Pinto
[email protected]
Redação
Natália Cherubin
[email protected]
Editora
Natália Cherubin
Jornalista Responsável
Mtb 61.149
[email protected]
[email protected]
(16) 3602-0900
Estagiário da Redação
Alisson Henrique dos Santos
[email protected]
Diretora Financeira
Patrícia Nogueira Díaz Alves
[email protected]
Diretores
Egyno Trento Filho
[email protected]
Antonio Zatonni Afférri
[email protected]
Gerente Comercial
Marlei Euripa
[email protected]
fone: (16) 99191-6824,
98127-0984, 3602-0900
Fotografia
Mikeli Silva
Rogério Pinto
Projeto Gráfico
Rogério Pinto
fone: 11 5686-9044
[email protected]
Auxiliar de Design
Marcelo Machioni
[email protected]
Diagramação
Fernando Almeida
[email protected]
Administração
Camila Garbino
[email protected]
Filipe Custódio
[email protected]
Executivas de Contas
Bruna Balducci
[email protected]
(16) 99142-6840 / 3602-0900
Departamento de Marketing
Mikeli Silva
[email protected]
Larissa Sousa
[email protected]
(16) 3602-0900
RPAnews é lida mensalmente por
aproximadamente 35.000 executivos, profissionais e empresários
ligados à agroindústria da cana-de-açúcar do Brasil.
CTP e Impressão
Gráfica SilvaMarts
ISSN 1679-5288
Siga-nos no Facebook:
Facebook/RevistaRPAnews
CONSELHO EDITORIAL
Ailton Antônio Casagrande
Alexandre Ismael Elias
Antônio Carlos Fernandes
Antônio Celso Cavalcanti
Antônio Vicente Golfeto
Celso Procknor
Egyno Trento Filho
Geraldo Majela de Andrade Silva
Guilherme Menezes de Faria
Henrique Vianna de Amorim
João Carlos de Figueiredo Ferraz
José Pessoa de Queiroz Bisneto
José Velloso Dias Cardoso
Leonardo Mina Viana
Luiz Custódio da Cotta Martins
Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo
Luiz Chaves Ximenes Filho
Manoel Carlos Azevedo Ortolan
Marcos Guimarães Landell
Marco Antonio da Fonseca Viana
Maurilio Biagi Filho
Osvaldo Alonso
Paulo Adalberto Zanetti
Ricardo Pinto
Rogério Antônio Pereira
Assinatura anual (12 edições): R$
170,00 - Número avulso: R$ 17,00.
Para adquirir sua assinatura basta acessar nossa loja virtual em:
www.revistarpanews.com.br
ou
enviar e-mail para: marketing@
revistarpanews.com.br.
RPAnews não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos
artigos assinados. Matérias não
solicitadas, fotografias e artes não
serão devolvidas. É autorizada a
reprodução das matérias, desde
que citada a fonte
Plantio de cana do futuro
Fórum
“Aqueles que podem é porque pensam que
podem.”
Virgílio
“Um grande erro: crer-se mais importante do que
se é e estimar-se menos do que se vale.”
Johann Goethe
4
Atualidades
jurídicas
41
Por dentro da
usina
42
Dicas e
novidades
43
Fora do
expediente
44
A importância de ter um hobby
para chamar de seu
Executivo
46
Espírito de liderança
Dropes
50
RPA Consultoria (16) 3237-4249
Revista RPAnews (16) 3602-0900
Rua Casemiro de Abreu, 950, Vila Seixas, Ribeirão Preto, SP, CEP 14020-193
www.revistarpanews.com.br
3
especial
O que podemos
vislumbrar para
daqui dez anos?
Teremos o plantio
comercial de MPB?
A tão esperada
cana semente?
Ou deveremos
continuar com o
plantio mecanizado
convencional, só
que com máquinas
mais avançadas?
4
Mesmo com todas as atenções voltadas para
a expansão e desenvolvimento da colheita mecanizada, acelerada graças à assinatura do protocolo ambiental, os últimos dez anos também foram
marcados, sem dúvida, por grandes mudanças no
sistema de plantio de cana, que agora começa a
vislumbrar, num horizonte não tão distante, uma
evolução ou quem sabe uma verdadeira revolução, não só na forma de se pensar o plantio, mas
principalmente na forma de fazê-lo. Será o futuro
do plantio o MPB? Ou teremos finalmente a tão
esperada cana semente? Ou ainda vamos continuar
o modelo de plantio mecanizado convencional de
cana tolete, mas com máquinas mais avançadas?
Qual é a sua aposta?
Por volta de 2010, ao mesmo tempo em que as
fabricantes de máquinas se esforçavam para evoluir os projetos de suas plantadoras, nasciam novos
estudos e ideias sobre qual seria o modelo de cana
ideal para o plantio. Em 2011, após quatro anos de
estudos, surgia o Plene, método desenvolvido pela
Syngenta e que preconizava o plantio de mini toletes previamente tratados com produtos químicos
adicionados diretamente à gema da cana. Estes
pequenos toletes tinham 4 cm e vinham tratados contra doenças e pragas, permitindo que
fosse possível fazer um plantio com apenas 2 t
de colmo por ha, uma enorme evolução diante
do que até então era feito, plantio de colmos de
40 cm e com o gasto de, pelo menos, 12 t de
colmos por ha (no método manual).
O idealizador do projeto foi o pesquisador
Antonio Carlos Nascimento que contou, em
entrevista concedida na época do lançamento
do Plene, que apesar da ideia de mini toletes já
existir há mais de 20 anos, a inserção de produtos químicos na gema da cana com o objetivo
proteger suas propriedades germinativas era
algo que ainda não havia sido estudada.
Depois de seu lançamento em 2011, a
empresa chegou a vender R$ 400 milhões em
Plene para grandes grupos do setor sucroenergético. A primeira a assinar contrato com
a Syngenta para a aquisição do produto foi a
Usina Guaíra, de Guaíra, SP. Depois vieram algumas usinas do Grupo Guarani, uma usina de
EVOLUÇÃO DO
SISTEMA MPB
Apesar de ainda não existir um balanço
concreto sobre o número de unidades produtoras de cana que já fazem o uso do MPB, depois
de lançada no mercado em 2013, é perceptível,
ao conversar com produtores e usinas, que a
sua adesão foi enorme. Melhorar a qualidade
das mudas, aumentando sua sanidade, facilitar
a disseminação de novas variedades de cana e
trazer aumento de produtividade eram algumas
das premissas da tecnologia. Três anos se passaram e pergunto aos especialistas e produtores:
isto de fato se cumpriu?
Cristiano Peraceli, gerente de marketing
para Cultura de Cana da Basf, avalia que a expansão da tecnologia está dentro do planejamento estabelecido e com resultados extremamente positivos em relação à produtividade da
cana, que chega a aumentar em até 40%. “Vale
destacar também que os plantios são mais uniformes e isentos de doenças, principalmente
do sphenophorus levis, praga que tem um alto
poder destruidor.”
Para Erich Stingel, gerente de Supply Chain
do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), o
novo sistema traz, de fato, aumento nas taxas
de multiplicação, se comparado ao sistema convencional de plantio, e tem sido uma oportuni-
Tadeu Cury
Moçambique, na África, o Grupo São Martinho
e a usina Diana, que chegou a investir quase R$
90 mil em 35 ha de sua área.
A Syngenta também investiu pesado. Injetou R$ 119 milhões na construção de uma
fábrica em Itápolis, SP, e em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, que chegou a ser
disseminada em 600 ha comerciais até aquele
ano, com previsão de, até 2015, ter pelo menos
350 mil ha em todo o País. Mas acabou não
dando certo. Isto porque, o shelf-life (vida útil)
do Plene, por ser muito curto, inviabilizou a sua
produção em larga escala, fazendo com que a
empresa retornasse o desenvolvimento para o
laboratório em 2012 para reformulação.
Um ano depois, em 2013, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) apresentava a Muda
Pré-Brotada (MBP), uma técnica desenvolvida com o intuito de aumentar a eficiência e os
ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais, renovação
e expansão de áreas de cana-de-açúcar, contribuindo para uma rápida produção de mudas,
associando alto padrão de fitossanidade, vigor
e uniformidade de plantio.
Cury faz o plantio de MPB em método de Meiosi e, a partir de 2016, o fará também
em Cantonsi na sua propriedade, localizada na região de Ituverava, SP
dade interessante para disseminação rápida de
novas variedades de cana, permitindo que os
produtores usufruam mais rapidamente dos benefícios decorrentes do uso de variedades mais
modernas em escala comercial.
“A redução dos riscos de disseminação de
pragas e doenças e a expectativa de ganhos de
produtividade também tem despertado o interesse dos produtores. Contudo, é importante
lembrar que, para que realmente haja um aumento de produtividade nos hectares plantados
com mudas pré-brotadas, além da escolha de
variedades de alto potencial genético, é necessário que o material utilizado na sua produção
seja extraído de viveiros com alto vigor e qualidade fitossanitária”, adiciona.
Ismael Perina, produtor de cana e presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal, faz
uso do sistema de mudas pré-brotadas Agmusa e diz que fica emocionado ao falar sobre a
evolução da tecnologia e sua contribuição para
os canaviais.
Ele começou a plantar MPB há três anos
e, desde lá, a cada ano, tem se empolgado cada vez mais com os resultados e a melhoria
dos canaviais que tem implantado em sua fazenda. “Durante um bom período fomos os
grandes responsáveis por disseminar doenças,
ervas daninhas e pragas através do transporte
de colmos que serviriam como mudas, mas o
sistema MPB acabou com isso. Um canavial
formado com muda de qualidade e com isenção
de pragas e doenças é insumo fundamental para
produtividade.”
Perina utiliza as mudas pré-brotadas basicamente em método Meiosi (Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente) para a
formação de áreas comerciais e afirma que os
resultados têm sido surpreendentes. “O grande ganho é na redução do custo de plantio, que
chega a ser de R$ 2.500 por ha. A sanidade e
qualidade são premissas básicas para produtividade e o que posso adiantar é que em boa
parte das áreas que tenho plantado desta forma,
a produtividade superou 110 t/ha nos primeiros três cortes já realizados. Entendo isso como
um ponto significativo. Não me passa hoje pela
cabeça que algum produtor plante alguma área
comercial sem que a base de sua formação não
tenha vindo de viveiros de qualidade, com sanidade e verificações constantes de pureza. Aliás,
no ‘bê-á-bá’ da produção agrícola, seja ela qual
for, a semente tem que ser boa. E com a cana
não pode ser diferente”, destaca.
Tadeu Nascimento Cury, produtor de cana
da região de Ituverava, SP, começou a fazer o
uso de MPB na safra 2015/16, quando foi plantada uma área de 30 ha, e tem obtido bons resultados também. Suas mudas são compradas exclusivamente com a Syngenta porque, segundo
5
o produtor, além da empresa ter acumulando
muito conhecimento ao longo dos anos com
o desenvolvimento do Plene, também oferece mudas mais rustificadas e com substrato maior que o da concorrência, tornando-as
mais resistentes no campo.
“A escolha pelo uso das mudas provenientes de meristema, ao invés das mudas
provenientes de uma seção do tolete (mini
rebolo), se deram por conta não só da alta
sanidade como também pelo maior perfilhamento. Se por um lado a muda proveniente
de meristema tem maior sanidade, por outro,
as mudas advindas dos mini rebolos são mais
rústicas e garantem um mínimo de nutrição
para a planta, conferindo uma maior resistência ao estresse hídrico. Mesmo assim, observamos que as mudas provenientes de meristema têm um maior perfilhamento em relação
às plantas de MPB”, aponta o produtor, que
nesta safra já programou o plantio de 35 ha
de mudas pré-brotadas.
Edivaldo Rio, professor e especialista em
agronegócio da UEMG (Universidade Esta-
dual de Minas Gerais), conta que nos experimentos e trabalhos acadêmicos realizados no
campo da universidade, no qual se faz o uso
das mesmas variedades de cana utilizadas nas
usinas do Triângulo Mineiro, o sistema MPB,
comparado ao sistema tradicional (plantio
mecanizado ou semi-mecanizado), mostrou
uma redução significativa da necessidade de
replantio, que caiu para 0,04%.
“Outro benefício observado foi a redução
da necessidade de adubação no plantio, assim
como a facilidade de se realizar um sistema de irrigação simples de gotejamento, que
facilmente pode ser transformado para uma
realidade comercial”, afirma o pesquisador.
O Grupo Biosev produz e utiliza MPBs
há várias safras, mas foi a partir de 2014 que
o trabalho com esse sistema de plantio se intensificou na companhia. Segundo Ricardo
Lopes, diretor Agrícola da Biosev, na última
safra, a empresa plantou aproximadamente
3 milhões de mudas, o que é equivalente a
uma área de 225 ha. “Atualmente, o plantio de MPB na Biosev tem como foco a formação de viveiros e introdução de variedades promissoras. Assim, temos conseguido
garantir uma melhor sanidade das mudas e
um plantio sem falhas e, em função dessa
melhora, temos conseguido um avanço no
rendimento das mudas, quando comparado
ao plantio convencional. Cabe ressaltar que
uma boa opção tem sido a prática do plantio
em Meiosi também.”
Após quatro anos de estudos,
surgia o Plene, método
desenvolvido pela Syngenta e
que preconizava o plantio de mini
toletes previamente tratados com
produtos químicos adicionados
diretamente à gema da cana. Estes pequenos toletes tinham 4
cm e vinham pré-tratados contra
doenças e pragas, permitindo que
fosse possível fazer um plantio
com apenas 2 t de colmo por ha,
uma enorme evolução diante do
que até então era feito, plantio de
colmos de 40 cm e com o gasto
de, pelo menos, 12 t de colmos
por ha (no método manual).
6
ENFRENTANDO
DESAFIOS
Um dos principais gargalos do sistema
MPB apontados pelos produtores era a necessidade da irrigação e, principalmente, o alto
custo das mudas, situação que vem, segundo
Alessandra Durigan, gestora técnica da Canaoeste, sendo superada.
“No plantio de MPB, a irrigação é necessária, com maior e menor frequência, respectivamente, nas fases de pegamento e desenvolvimento das mudas. Tem que ter umidade no solo
para uma boa performance do material. Mas,
caso o plantio seja realizado no período chuvoso e a chuvas forem bem distribuídas, a prática
da irrigação pode até ser abolida. No caso do
custo das mudas, atualmente temos no mercado mudas a preços mais acessíveis, mas preços
estes que ainda podem melhorar, e muito! De
qualquer forma, acredito que o importante é
considerarmos o retorno a médio e longo prazo em produtividade agrícola e longevidade do
canavial, desta forma, chegaremos à conclusão
que todo o investimento inicial compensa, seja
para a instalação de viveiros ou plantios comerciais. Outro ponto a ser analisado é a produção
de MPB pelo próprio produtor, que diminui
consideravelmente os custos”, afirma a gestora
técnica da Canaoeste.
De acordo com Dario William Sodre, diretor da D2G Consultoria, usinas e produtores
que estão desenvolvendo seus viveiros e produzindo a MPB internamente têm conseguin-
IAC lança a muda pré-brotada, um
novo sistema desenvolvido com
o intuito de aumentar a eficiência
e os ganhos econômicos na
implantação de viveiros, replantio
de áreas comerciais, renovação
e expansão de áreas de cana,
contribuindo para uma rápida
produção de mudas, associando
alto padrão de fitossanidade,
vigor e uniformidade de plantio.
A tecnologia permite redução no
consumo de mudas, que cai de
18 a 20 t no plantio convencional
para 2 t no sistema MPB.
do custos na faixa de R$ 0,20 por muda, valor
que no mercado chega a custar até R$ 1 por
muda. “Tão logo seja difundida a tecnologia
em maior escala, a tendência é que os custos
adequem-se ao patamar, pois tecnicamente esse
tipo de plantio apresenta as melhores condições
geométricas de alocação de mudas, permitindo
uma melhor utilização de água, nutrientes e luz
para o desenvolvimento das plantas.”
Cury diz que apesar de ser necessária quando o plantio é feito em meados de junho a outubro, a irrigação não precisa ser vista como
um gargalo, pois é uma operação simples de
ser feita. “De novembro a fevereiro, não vejo
tanta necessidade de irrigação (com um regime
normal de chuvas). No primeiro ano de plantio
de MPB, fizemos em novembro no método de
Meiosi, havendo a necessidade de irrigação, e
obtivemos excelentes taxas de multiplicação.
Mas daqui para frente (de 2016 a diante), plantaremos MPB em método Cantosi em dezembro, após dez meses desdobraremos em Meiosi
com tolete, e novamente desdobramos as Meiosis de fevereiro a março. Desta maneira, acabamos com a necessidade de irrigação no plantio
da Cantosi em dezembro com MPB, e na Meiosi
de outubro usaremos o tolete (provenientes da
Cantosi plantada em dezembro) que tem maior
resistência à seca. Desta maneira, diminuiremos
os riscos de perdas por falta de água.”
Quanto o custo por muda, Cury afirma que
quando se pensa em viveiro de mudas onde 1
hectare de MPB plantará 37 ha, o custo torna-
-se extremamente acessível financeiramente
e agronomicamente. “Os ganhos são muitos,
sendo ganhos mensuráveis e não mensuráveis.
Entre os mensuráveis destaco a diminuição do
consumo de mudas por hectare, a diminuição
do custo de plantio, por não utilizar caminhões
e guinchos, e o aumento da produtividade devido à sanidade. Entre os fatores não mensuráveis, temos a prevenção contra o Sphenophorus
na área, possibilidade de venda de mudas a terceiros e, devido ao alto custo de implantação,
acabamos zelando melhor por nossos viveiros
de mudas e ainda desenvolvemos uma cultura
de planejamento”, salienta Cury.
Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do
IAC, afirma que os desafios de custo e necessidade de irrigação são importantes, porém destaca ser necessário tratar as MPBs como uma
engrenagem dentro de um sistema de produzir
cana. Isso significa que é preciso rever e ajustar janelas de plantio e modelos e estratégias
de produção de MPBs. “Certamente, dentro
desta visão, haverá maiores possiblidades de
tratar esses pontos considerados gargalos por
alguns produtores.”
MPB EM PLANTIO
COMERCIAL: VIÁVEL?
Alguns produtores e usinas têm testado pequenas áreas com MPB em plantio comercial.
Este é o caso de Ismael Perina, que tem testado o sistema, no entanto, apenas com o intuito de gerar resultados. “Entendo ser a Meiosi
Além de automatizado, o último
modelo de plantadora de cana, até
então lançado pelo mercado, vem
equipado com uma esteira com
ângulo invertido e com um encoder
que permite calibrar a velocidade
da mesma em RPM (rotação por
minuto). Assim, a plantadora
devolve para a caçamba o excesso
de mudas da esteira, fazendo com
que apenas os rebolos presentes
nas taliscas sejam distribuídos nos
sulcos de plantio. De acordo com a
DMB, fabricante da tecnologia, com
a automatização e as modificações
é possível diminuir até 5 t de
mudas por ha, dependendo da
variedade e da idade da muda, o
que significaria pular dos atuais 16
a 18 t/ha, para 12 t/ha.
o ‘pulo do gato’ para termos sucesso com essa
tecnologia. Os custos são reduzidos assustadoramente e a qualidade e sanidade agregados de
forma muito simples. E estou falando de redução
de custos da ordem de 25% a 30% na atividade
de plantio. É muita coisa. Com isso, posso ter
canaviais comerciais com características de viveiro primário.”
Cury não faz plantio de MPB em áreas comerciais e crê que não seja viável devido ao alto
custo de implantação. “Vejo a MPB no futuro
exclusivamente para o replantio de falhas, onde,
diga-se de passagem, ajudará, e muito, na questão da longevidade dos canaviais.”
Stingel afirma que já existem projetos utilizando mudas pré-brotadas para plantios de áreas
mais extensas em andamento e é provável que
estas iniciativas se multipliquem nos próximos
anos. Todavia, acredita que o uso deste sistema
em larga escala pelo setor só acontecerá se houver redução significativa do preço das mudas,
aumento dos rendimentos de plantio e redução
da dependência de irrigação após o plantio.
“Ainda hoje os custos de implantação de
um canavial com mudas pré-brotadas são mais
elevados, quando comparados ao plantio convencional, limitando o uso do sistema. Contudo, quando todos os critérios de qualidade são
observados ao longo do processo de produção
de MPB e o sistema é utilizado para acelerar
o crescimento de variedades mais modernas, é
possível verificar ganhos significativos de produtividade, o que justifica o investimento. Já a
Com a reformulação do Plene, a
Syngenta deverá trazer ao mercado
a tão esperada cana semente já
em 2017. O Plene Emerald promete
substituir o sistema tradicional de
plantio com colmos ou mudas por
pequenas cápsulas que contém
várias gemas, o que faz com que o
volume de cana no plantio diminua
drasticamente. Serão precisos
apenas 150 kg de cápsulas por
ha. Com isso, os equipamentos
envolvidos no plantio poderão ser
menores e mais leves, reduzindo
a compactação do solo. Com
vida útil significativamente mais
longa em comparação ao Plene
original, o novo conceito pode ficar
alguns meses armazenado com
resfriamento até 12°C.
7
necessidade de irrigação após o plantio, pode ser
considerada uma barreira importante ao uso das
mudas pré-brotadas em larga escala, uma vez
que a irrigação com água não é uma técnica usual para grande parte dos produtores. Já existem
estudos em andamento, que buscam reduzir a
dependência de irrigação para o estabelecimento
das mudas, mas até o momento não existe nada de concreto, fazendo com que os produtores
concentrem os plantios de mudas pré-brotadas
nos períodos chuvosos. Outro aspecto relevante
para ampliar o uso deste sistema é o desenvolvimento de máquinas de plantio que proporcionem
menor demanda de mão de obra e aumentem o
rendimento da operação, reduzindo os custos do
processo”, observa Stingel.
Para Sodre é possível vislumbrar MPB em
áreas comerciais, no entanto, isto dependerá do
processo de transferência de conhecimento. “Se
compararmos somente o custo da muda, a conta não fecha, mas tem que fazer o balanço total
do ciclo. Esta proposta ainda irá contribuir para
uma nova forma de plantio de cana nos próximos
anos, no entanto, a tecnologia ainda está em fase
de desenvolvimento, principalmente em nível de
plantios de larga escala.”
Experimentos realizados na UEMG estão revelando que pode haver potencial para o plantio
comercial de MPB que, segundo Rios, só não é
viável hoje por aspectos como: mecanização do
plantio, preparo de solo diferenciado, sistema
de adubação não tradicional e sistema de irrigação por covas.
“A maior deficiência encontrada nos experimentos, quando olhamos o lado comercial, é
justamente a falta de tecnologia totalmente mecanizada em todas as etapas deste sistema, a começar com o preparo dos mini rebolos. Ainda
não chegamos a um sistema automático que faça
a leitura, por exemplo, da gema sem a interferência humana. Por consequência, esse processo
ainda deve ser realizado de forma semi-mecanizado. Então, se os processos ainda precisam da
interferência humana, não acho viável”, afirma.
Mas já existem estudos, inclusive com expe-
8
rimentos, para o desenvolvimento de um tubete produzido com a palha da cana que deverá
facilitar o sistema de plantio, eliminando duas
ações no momento do plantio e da adubação.
“Buscamos uma logística de plantio mais eficaz. A ideia é acabar com a necessidade de
sacar as mudas de dentro do tubetes, como
ocorre nos tubetes de PVC, e fazer a aplicação do adubo necessário para o primeiro ciclo
de crescimento já no tubete. Ainda não temos
nenhum resultado positivo ou mesmo perspectivas sobre a produção de uma plantadora ou
guilhotina, o que achamos ser necessário, mas
já temos a produção dos tubetes pré-adubados
na qual usamos 100% da palha da cana para a
sua fabricação e os resultados vem sendo testados e validados nos experimentos.”
TECNOLOGIA EM
TRANSPLANTIO:
SOLUÇÃO PARA O
AUMENTO DE ESCALA?
Com o intuito de atender rapidamente ao
plantio de MPB, várias empresas fabricantes
de máquinas notaram que era possível fazer o
plantio dos tubetes de cana com o uso de máquinas usadas em outras culturas como a do
tomate, fazendo poucas ou até mesmo nenhuma adaptação. E deu certo. Várias máquinas
transplantadoras de abacaxi e tomate rodam
plantando MPB. No entanto, a busca atual por
melhorias no rendimento e na redução de custos com mão de obra, tem feito com que algumas empresas busquem tecnologias específicas
para a cana.
A DMB iniciou um trabalho, em parceria
com a Basf, para o desenvolvimento de uma
transplantadora de mudas, entre 2012 e 2013, e
trouxe ao mercado a primeira máquina voltada
ao plantio de viveiros primários.
“Nossa máquina para plantio de MPB tem
tecnologia nacional e nasceu de um projeto
específico para a cultura da cana, mas com alguns conceitos vindos de máquinas de outras
culturas. Ela realiza todas as operações para o
plantio das mudas, desde a sulcação, adubação,
aplicação de defensivos, cobrição e transplantio
das mudas, sem a necessidade de duas ou mais
operações, como ocorre com a maioria das plantadoras adaptadas de outras culturas”, destaca Rodrigo Salgado de Carvalho, gestor de Negócios da
DMB, que revela que a expansão desta tecnologia
está caminhando em duas frentes para a empresa.
Uma com o pensamento na formação de viveiros
e outra, ainda em processo embrionário, pensando já na questão de plantios comerciais com uso
do MPB.
A Motoagro foi uma das empresas que descobriu um novo nicho de mercado com as mudas
pré-brotadas. De acordo com Wagner Guidi, diretor comercial da Motoagro, a partir do modelo
PMA1800, uma plantadora de mudas de abacaxi,
a empresa identificou que poderia agilizar o plantio de outras culturas como a cana. “Hoje, este
modelo de transplantadora de mudas da Motoagro
já faz o plantio de mais de 1 milhão de mudas de
MPB nas principais regiões produtoras do Brasil.”
Segundo Guidi já existem alguns produtores
fazendo plantio comercial no sistema Meiosi e
Cantosi com a transplantadora da empresa, que
apresenta um rendimento de até 42 mil mudas de
MPB a cada oito horas trabalhadas.
No entanto, para Cury, as transplantadoras
de MPB ainda têm muito a evoluir. No ano passado, o produtor relata que fez o plantio de 15
ha com a transplantadora da empresa fornecedora das mudas e os outros 15 hectares foram
plantados manualmente com matracas. “O que
descobrimos, infelizmente, foi que o rendimento
operacional e a qualidade foram muito melhores
na operação manual do que com o uso da transplantadora. Mas de qualquer forma, nem mesmo
a melhoria das transplantadoras de MPB trarão
o plantio de MPB para as áreas comerciais. Não
é possível por dois motivos: pelo alto custo das
mudas e também pelo risco de falta de água para
os MPBs plantados, sendo um alto risco para um
custo alto de investimento.”
Adiantando-se aos possíveis desdobramentos
do plantio de MPB, a TMA, empresa fabricante de
9
plantadoras e distribuidoras de cana, já divulgou ao mercado o protótipo de uma transplantadora automatizada. A transplantadora, chamada TMPB, vem sendo desenvolvida desde
2013 e tem como principal destaque o pacote
tecnológico da automação, que acaba com a
necessidade de mão-de-obra para o transplantio das mudas.
Segundo Márcio Leão, gerente comercial
corporativo da TMA, os experimentos com cana já foram realizados em áreas da companhia,
mas novos testes serão realizados nos canaviais da Usina São Martinho a partir de agosto.
“Houve muita procura de outras usinas interessadas em conhecer na prática a máquina e
vê-la trabalhando no campo, então acredito que
conseguiremos testá-la em outras unidades.”
A expectativa é que a máquina comece a
ser comercializada no plantio de 2017. “Acreditamos que esta nova tecnologia poderá auxiliar num possível plantio comercial de MPB,
pois é uma máquina que tem uma performance
de plantio excelente, visando principalmente o
alto rendimento com qualidade e sem falhas.”
A Basf também está desenvolvendo dois
modelos de transplantadoras, que atualmente encontram-se em fase de teste e validação,
mas que devem sim colaborar com o uso de
MPB em plantio comercial. Segundo gerente
de marketing para Cultura de Cana da Basf,
uma delas é automática e voltada para o plantio em duas linhas e a outra é semi automática
para plantio em uma linha.
CANA SEMENTE
A Usina Guaíra, primeira unidade sucroalcooleira a investir no Plene, chegou a fazer
o uso da tecnologia em 80 ha de sua unidade.
Gustavo Villa Gomes, diretor agrícola da Usina
Guaíra, que acompanhou todo o processo, conta que apesar do canavial pós-Plene ter apresentado falhas em algumas linhas de plantio,
o que fez com que se deduzisse que existia algum problema no tratamento daqueles toletes,
o projeto não foi abandonado.
Mesmo com a Syngenta retornando com a
tecnologia para o laboratório, Gomes conta que
os 80 ha com o Plene permaneceram na unidade e já estão em seu quinto corte. No entanto, a
cana da área experimental foi remanejada para
mudas nos três primeiros cortes e agora, em seu
quarto corte, partiu para a indústria. “Usei essa
cana para muda durante muito tempo, porque
o Plene tinha uma pureza genética e uma sanidade muito boa. Agora, em seu quarto corte
ela foi para estágio comercial.”
Gomes não tem dados atualizados sobre o
10
Perina revela que nas áreas de plantio de
MPB em Meiosi a produtividade superou
110 t/ha nos primeiro três cortes já
realizados
canavial que foi para a indústria, mas confirma
que o modelo de plantio reduz significativamente o uso de mudas por hectare, assim como
prometia a Syngenta. “Usamos menos toneladas por ha. Na época, usamos de 6 a 8 mini
toletes por metro, ou seja, muito menos do que
se faz no plantio convencional mecanizado.”
Com a reformulação do Plene, já divulgada
em 2014, a Syngenta deverá trazer ao mercado
a tão esperada cana semente a partir de 2017.
O Novo Plene, ou Plene Emerald (esmeralda,
referência à cor verde das cápsulas) promete
substituir o sistema tradicional de plantio com
colmos ou mudas por pequenas cápsulas que
contem várias gemas. Segundo a empresa, que
não quis se manifestar sobre a etapa atual em
que a tecnologia se encontra até o fechamento
desta edição, uma das vantagens será a grande redução no volume de material a ser movimentado nas áreas de formação dos canaviais.
Além disso, com vida útil significativamente mais longa em comparação ao conceito
original do Plene, o novo produto deve melhorar a logística e tornar a tecnologia amplamente disponível. O shelf-life do Plene Emerald
tem uma performance superior: pode ficar alguns meses armazenado com resfriamento até
12°C, dando mais flexibilidade tanto à Syngenta quanto ao produtor, segundo informações
divulgadas por Daniel Bachner, diretor de Cana-de-Açúcar e Novas Soluções Latino-América da Syngenta. “Em nossas comunicações
sobre o Plene Emerald, temos afirmado aos
produtores que a nova tecnologia do produto
vai trazer uma mudança, não apenas no plantio,
mas também no processo de comercialização
e exportação.”
O volume de cana no plantio também diminui drasticamente. Se no sistema conven-
cional mecanizado são usadas 20 t de mudas
por ha, no sistema desenvolvido pela Syngenta,
serão precisos apenas 150 kg de cápsulas, de
acordo com Bachner. Com isso, o equipamento
de plantio pode ser menor e mais leve, reduzindo a compactação do solo. O menor volume
também permitirá o uso de tratores de menor
potência e o aumento no número de linhas, resultando em ganho de velocidade e eficiência do
plantio. Será possível plantar até 90 ha por dia
com uma máquina.
A previsão ainda é de que a tecnologia dispense a necessidade de formação de áreas de
viveiro nos canaviais, o que vai permitir com
que essa parcela do terreno possa ser destinada
ao plantio comercial, aumentando a produção de
açúcar, etanol e energia.
As sementes estão sendo produzidas em
ambiente controlado e encontram-se em fase de
adaptação às condições dos campos brasileiros
nas principais regiões produtoras do Sudeste e do
Centro-Oeste. O diretor agrícola da Usina Guaíra, uma das parceiras da Syngenta, revelou, em
conversa com a RPAnews, que os testes com o
Plene Emerald dentro da unidade devem começar ainda este ano.
O acordo de licenciamento exclusivo com a
canadense New Energy Farms para acesso à tecnologia CEEDS é o que permitirá a produção do
Plene Emerald em escala comercial. O plano é
tornar a tecnologia amplamente disponível, com
a abertura de novas biofábricas no país. Existe
também um modelo de maquinário que estará
disponível para os plantios comerciais em 2017,
mas a empresa ainda não definiu os preços das
sementes de cana.
O FUTURO
Pedimos a todos os entrevistados que respondessem como eles viam, daqui dez anos, o
futuro do plantio de cana. O CTC, de acordo
com Stingel, acredita que, no longo prazo, uma
tecnologia que irá revolucionar o mercado de
plantio é a semente de cana. Por isso, está desenvolvendo um projeto inovador que pretende
solucionar as grandes barreiras enfrentadas pelo
setor atualmente, como logística, sanidade, elevada demanda de áreas de viveiro, entre outras.
“As pesquisas estão em andamento, mas já é
possível dizer que será uma tecnologia que deverá revolucionar o mercado.”
O gestor de negócios da DMB, acredita que
no médio prazo o plantio de cana deverá passar
por algumas mudanças devido às novas tecnologias que estão chegando, mas o maior percentual
ainda permanecerá com o plantio mecanizado
convencional, principalmente devido às novas
tecnologias empregadas nas plantadoras de cana automatizadas, que promovem consumo de
mudas até 45% abaixo da média nacional que
trabalha hoje com 20 t/ha. “Já o plantio de MPB,
cana semente ou outra tecnologia semelhante,
ainda requer muitos estudos e testes para comprovação de sua eficácia em plantios comerciais
devido ás condições climáticas, cada vez mais
adversas, profundidade de plantio, conformação
dos sulcos, tipos de solos, declividade da área e
das restrições do uso da água, que já encontramos nos dias de hoje.”
Para Sodre o setor também deverá continuar, ainda por muitos anos, com o plantio convencional de toletes, mas com aumento e consolidação do plantio de MPB. “Ainda acredito
que, nas próximas duas décadas, o plantio com
toletes será utilizado e melhorado. Com relação
à cana semente, particularmente não conheço
todo estágio de evolução desse processo, mas é
um target para o futuro sim.”
Alessandra vê o MPB como parte deste futuro, assim como o plantio mecanizado convencional e a cana semente. “Vejo a operação de
plantio totalmente mecanizada, sendo ela realizada com mudas convencionais ou com MPB
ou com cana semente. O importante é que os
custos sejam compatíveis com a realidade dos
produtores e que a produtividade e longevidade
do canavial sejam boas para que eles se mantenham na atividade.”
De acordo com o professor e pesquisador
da UEMG, o plantio mecanizado é o que temos
hoje para suprir a demanda industrial do setor,
porém, os custos, que já foram reduzidos, se
comparados ao manual, vêm sendo questionados a todo instante diante dos novos sistemas.
“Em minha opinião é o sistema MPB que vai
revelar o futuro! Experimentos realizados por
nossos discentes mostram viabilidades tanto para o sistema de plantio MPB, como no sistema
de plantio direto de mini-rebolo (praticamente o
sistema Plene) sem o uso de tratamento algum,
que também tem se mostrando muito eficiente
e com ótimos resultados.”
“O plantio de MPB irá evoluir muito nos
próximos anos, aja visto os investimentos de
várias usinas no desenvolvimento de sua própria
estrutura de produção e desenvolvimento dessas
mudas. Porém, esta tecnologia não irá substituir
o plantio mecanizado convencional, e sim complementar. Agora aguardamos a cana semente,
que promete bastante também”, afirma o gerente
comercial corporativo da TMA.
O diretor agrícola da Usina Guaíra, que realiza 100% do seu plantio com o uso de plantadoras convencionais e distribuidoras de toletes,
Espera-se que com o sistema Plene
Emerald sejam precisos apenas 150 kg
de cápsulas por ha, o que reduziria o
tamanho dos equipamentos de plantio,
minimizando a questão da compactação
do solo
diz que torce para um futuro em que exista cana
semente. “O plantio atual convencional mecanizado tem gerado muito desgaste e falhas no
plantio. Eu acredito que daqui dez anos tenhamos uma revolução. E que essa revolução seja
a cana semente. Essa é a nossa aposta! Mas isso
não vai ser de uma hora para a outra.”
Enquanto a semente não chega, Gomes
conta que única opção no momento será trocar, em pelo menos uma frente de plantio, as
plantadoras antigas por modelos automatizadas, buscando redução do gasto de mudas.
Já para o produtor da região de Ituverava,
Cury, nos próximos dez anos o setor continuará “enterrando açúcar, etanol e energia no solo
através do plantio via toletes, seja mecanizado ou manual. Mas em um horizonte maior
que dez anos, confio que teremos o plantio de
cana-de-açúcar através de sementes, onde os
plantios serão feitos com máquinas de menor
potência e maior agilidade. Inclusive, há empresas que pesquisam a semente de cana que
dizem que o plantio poderá ser feito com plantadoras de grãos. Isso seria uma revolução no
setor, onde a mesmas máquinas que fazem os
plantios de grãos na rotação de cultura, também farão os plantios de cana-de-açúcar. Isso
sim é um sonho para o produtor rural. Em resumo prevejo no futuro assim: a implantação
do canavial via semente e MPB para reposição
de falhas. Esse sim seria o casamento perfeito
entre as tecnologias!”
11
fórum
AGUARDANDO
RECONHECIMENTO
“Esperamos que governo possa dar o
devido valor a cadeia sucroenergética.
Desde a produção da cana-de-açúcar
no campo até o consumidor final, o setor gera empregos, renda, inclusão social, oportunidades e contribui para o
desenvolvimento das regiões produtoras
pelo Brasil afora. Chegou o momento
do governo incluir o etanol na política
energética de uma vez por todas e garantir o fornecimento de combustível
sustentável à população.”
Bruno Rangel Geraldo Martins, presidente da Socicana
BOAS
PERSPECTIVAS
“As expectativas são positivas. O novo
governo chega atendendo o anseio popular e com uma boa base no legislativo
federal. No entanto, há muito que ser
feito. Não se pode perder o tempo e é
preciso tomar de imediato as medidas e
reformas necessárias para recuperar a
economia do país.”
Roberto Hollanda Filho, presidente
da Biosul
12
REAJUSTE DA CIDE
“Eu acredito que, se o novo governo deixar de atrapalhar
o setor, como fazia o anterior, já estará de bom tamanho.
Porém, creio que o governo Temer poderia ajudar o setor
sucroenergético e, principalmente, ajudar o país se fizesse
a alíquota da Cide dos combustíveis, que hoje está em R$
100 por m3 de gasolina, ser de pelo menos metade do que
foi em 2001, quando ela foi lançada (R$ 860/m3), sem obviamente mexer na alíquota do etanol. Isso faria com que o
número atual de cinco estados, onde costuma ser mais vantajoso para o consumidor abastecer etanol nos carros flex
(GO, MG, MT, PR e SP), crescesse para 12 estados, incorporando BA, DF, MS, PE, PI, RJ e TO. Esta Cide maior da
gasolina substituiria parte da demanda prevista de recursos
pela CPMF e ainda geraria maior demanda para o etanol hidratado, injetando ânimo numa cadeia produtiva que está em
frangalhos.Outro ponto que afetou o fluxo de investimentos
externos para o setor sucroenergético foi a restrição de venda de terras brasileiras a estrangeiros. Penso que este novo
governo poderá rever o parecer dado pela Advocacia-Geral da União (AGU) em 2010. Além disso, todas as demais
estratégias para auxiliar a retomada da produção industrial
do Brasil, que deverão ser adotadas pelo governo Temer,
ajudarão o ser sucroenergético, tais como a flexibilização
nas leis trabalhistas, a maior abertura comercial, o retorno
às privatizações e tudo que possibilitar tirar o país da recessão que se encontra.”
Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria
MAIOR ABERTURA PARA
DISCUSSÕES
“O presidente, ainda interino, Michel Temer,
assumiu pregando o diálogo com a sociedade e
com as forças políticas do Congresso Nacional.
A expectativa do setor é, justamente, ter esse
diálogo, uma abertura para a discussão de nossos
pleitos. A formação de uma equipe econômica
profissional e competente com a possibilidade
de um maior diálogo, bem como os outros
ministérios temáticos, nos faz acreditar que é
possível o setor sucroenergético e o Brasil saírem
dessa grande crise.”
Mário Campos, presidente da Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergétics de Minas Gerais)
POLÍTICAS DE MÉDIO E
LONGO PRAZO
“Buscar o que o setor vem insistentemente tentando,
que são políticas que deem condições as empresas e
industrias de investirem para a expansão do setor e
melhorar os seus negócios. Políticas especialmente
de médio e longo prazo, porque até agora o setor viveu das incertezas e de políticas imediatistas. O que
precisamos é inverter essa lógica e ter o etanol e a
bioeletricidade na matriz energética em definitivo.
Enfim, precisamos de medidas que garantam aos investidores o retorno do negócio. Que eles possam ter
a visão do médio e longo prazo e, com isso, tomar a
decisão de investir ou não.”
Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, presidente
da Canaoeste
ESPERANÇA RENOVADA
“Com um novo governo, sempre há renovações de
mudanças e de esperanças. Tínhamos grandes expectativas positivas quando a presidente da CNA,
Katia Abreu, assumiu o Mapa, e foi uma grande decepção para o setor produtivo. Teremos outra vez
um ministro que é um grande produtor de soja e que
conhece as dificuldades e gargalos do setor agrícola.
A esperança se renova e precisamos que o governo
aplique medidas que deem segurança para a volta dos
investimentos e, consequentemente, dos empregos
e que faça políticas de longo prazo para sinalizar a
retomada deste desenvolvimento.”
Alexandre Andrade Lima, presidente da
Feplana (Federação dos Plantadores de
Cana do Brasil)
RETOMADA DA CONFIANÇA
“O setor sucroenergético, como um todo, espera que o
novo governo tenha uma visão muito mais realista quanto à sua importância e preservação, considerando seu valor estratégico enquanto parte importantíssima da matriz
energética nacional, seja no que diz respeito ao etanol
ou a bioeletricidade. Grande parte das recentes dificuldades enfrentadas pelo setor pode ser debitada na conta
do governo federal, que provocou profundas mudanças
nos rumos de nossa atividade econômica por diversos
fatores, dos quais se destacam: a concorrência desleal do
etanol com a gasolina, provocada pelo congelamento dos
preços praticados pela Petrobras por quase cinco anos, a
redução de adição de etanol anidro à gasolina durante um
tempo muito longo e a retirada da Cide sobre os combustíveis fósseis. Agora, se o novo governo mantiver uma
política responsável de gestão de preços da Petrobras (e,
ao que tudo indica, pela qualidade da equipe econômica
e pelo discurso governista de não deixar que a empresa
seja utilizada como agente de políticas de controle de
inflação, deve ser o que vai ocorrer), e houver políticas
adequadas para projetos de cogeração de energia elétrica a partir de biomassa da cana, podemos entrar em
um ciclo de recuperação e retomada de investimentos
já em 2017. Em termos macroeconômicos, ainda considerando a excelência da equipe econômica capitaneada
por Henrique Meirelles, é plausível um quadro de retomada de confiança ainda este ano, o que também deve
contribuir de maneira altamente positiva para a volta
de investimentos, geração de empregos e distribuição
de renda. Naturalmente, é absolutamente crucial que a
crise política se resolva definitivamente, permitindo que
o foco do governo passe realmente a ser a recondução
definitiva do país aos caminhos do desenvolvimento. É
com isto que todos nós contamos.”
Paulo Roberto Gallo, presidente do CEISE Br
SETOR DEVERÁ
SER PRIORIDADE
“O setor sucroenegético já vem se mobilizando junto ao
Governo Temer e está confiante que seus pleitos serão
inseridos como prioridades na agenda governamental de
curto prazo do novo presidente. Acreditamos na atualização e retomada da Cide sobre a gasolina como medida
norteadora para a competitividade do etanol, ensejando o
reconhecimento das externalidades positivas para o meio
ambiente, saúde e redução do efeito estufa, proporcionado pela manutenção e desenvolvimento da produção do
etanol no Brasil.”
Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar-AL (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Alagoas)
13
tecnologia agrícola
Na última parte do artigo, o autor fala sobre
a questão da lixiviação do nitrogênio no solo,
adubação foliar em cana planta e soca, e
também sobre a palha como fonte de N
*José Luiz Ioriatti Dematte
Apesar da preocupação em relação a
transpiração da precipitação, encontrou-se
fertilizantes passaram a ser utilizados em
possíveis perdas de nitrogênio por lixivia-
a lixiviação na faixa de 1 mm de NO3 trans-
quantidade adequada no solo, começou-se
ção no plantio da cana-de-açúcar, tal fato
locado no solo/mm de chuva. Considerando
a observar menores respostas à aplicação
não parece ser significativo, pois trabalhos
um saldo de 600 mm entre precipitação e
aérea. Sendo assim, em 1992, Morelli et
executados com 15 feitos em cana planta
evapotranspiração, o lixiviado estaria a 60
al., trabalhou com um total de 22 grandes
têm indicado ausência de perdas por lixivia-
cm de profundidade do solo, ou seja, numa
experimentos (parcelas com 4 repetições)
ção do nitrogênio do adubo ou quando ocor-
profundidade em que ainda é possível de
nos anos agrícolas de 1992 a 1995 em ca-
rido, indica perdas em pequenas quantida-
ser absorvido pelas raízes da cana, porém
na planta e soca, aplicando 13 kg de N na
des (Padovessi, 1988; Salcedo, et al. 1988).
o mesmo não se pode afirmar em relação às
forma de ureia, 450 g/ha de molibdato de
Tais autores atribuem esta pequena quanti-
socas. amônio e 10 kg/ha de potássio no período
N
dade lixiviada à imobilização do nitrogênio
realizada pelos organismos do solo.
Oliveira et al. (2002) estudaram com
ADUBAÇÃO FOLIAR EM
CANA PLANTA E SOCA
das águas. A aplicação do fertilizante foi
feita em parcelas controladas através do auxílio de uma barra aplicadora com pressão
lisímetros* as perdas de 15N provenientes
Íons e moléculas, para serem absorvi-
constante, a fim de garantir uniformidade
da ureia em solo podzolizado (baixa ferti-
dos pelas folhas da cana, devem ultrapassar
de aplicação e a dose recomendada, sendo
lidade) com 84% de areia na camada super-
praticamente duas barreiras: a cuticular, pa-
que no ano de 1995 aplicou-se uma dose
ficial e doses de N de 0, 30, 60 e 90 kg/ha,
ra entrarem no apoplasto em difusão livre
em dezembro e depois se repetiu a mesma
e precipitação total de 2.015 mm de água.
(adsorção) e a plamalema, para passarem do
dose em fevereiro.
Eles notaram que durante o experimento
apoplasto para o simplasto (absorção reque-
Os resultados mostraram que não hou-
não ocorreram perdas por lixiviação de N
rendo energia da planta, portanto absorção
ve respostas significativas para a adubação
originário da ureia em nenhuma das doses
ativa). Muito se tem comentado a respeito
foliar em nenhum dos experimentos. Os au-
aplicadas. As maiores perdas de N, princi-
da aplicação aérea de fertilizantes na ten-
tores, inclusive, concluíram que a quanti-
palmente na forma de NO3, de 4,5 kg/ha,
tativa de trazer aumento de produtividade.
dade de N aplicada no plantio ou soca foi
foram provenientes do solo e dos restos de
Tal prática se iniciou nos anos 70, no Grupo
suficiente para a demanda da cana. Do mes-
cultura (Gráfico 1). Um cálculo aproxima-
Zillo Lorenzetti, em Lençóis Paulista, SP,
mo modo e também ao longo das safras de
do da lixiviação é o sugerido por Reichardt
com aplicações baseadas, principalmente,
1992 a 1995, foram aplicados os mesmos
et al. (1982), onde, após deduzir a evapo-
em N, K e Mo. Porém, à medida que os
tratamentos em 11 experimentos na Usina
14
Quatá, que também não apresentaram re-
não ao P e K, produtos hormonais, ácidos
sultados significativos. Em 1995, nesta
húmicos, aminoácidos, formas líquidas de
mesma usina, quatro experimentos foram
N com ou sem acompanhantes de outros
montados tanto em cana planta como em
nutrientes, capeados ou não com ácidos hú-
soqueira, porém com reaplicações de N
micos, entre outros.
PALHA: FONTE
DE NUTRIENTES E
NITROGÊNIO
Normalmente, 10% a 15% da palha fica
no solo após o corte da cana. Este material
a doses de 0, 13, 26 e 39 kg/ha (Tabela
Com as informações de biometria tem-
apresenta uma série de nutrientes macro e
1) e os resultados também não foram
-se obtido aumento de produtividade na fai-
micro, e que podem ser mineralizados ao
significativos.
xa de 4 a 8 t/ha e, eventualmente, valores
longo dos cortes da cana, sendo o potássio o
Resultados semelhantes foram obti-
mais elevados. Dependendo do produto, o
de maior liberação, logo após o corte e com
dos por Penatti e Forti, (1995 e 2001).
custo final tem ficado na faixa de 2 a 3 t
as chuvas ou a irrigação. A relação C/N infe-
Em 2005, os mesmos pesquisadores
de cana, o que faz com que os usuários ar-
lizmente é elevada (faixa de 95 na palha sem
aplicaram adubo foliar contendo mi-
risquem mais nas aplicações. Muitas das
decomposição), indicando que o N, que esta-
cronutrientes em cana planta e soca na
empresas fabricantes destes produtos, utili-
ria fazendo parte da celulose e hemi-celulo-
Usina Catanduva (Tabela 2) e na Usi-
zam-se de análises foliares para elaboração
se, não pode ser rapidamente mineralizado,
na Santa Adélia, ambas sem resultados
das informações do que aplicar, porém com
permanecendo no sistema por alguns anos.
significativos. Praticamente logo após
resultados analíticos duvidosos, colocando
Entretanto, este N será, mais cedo ou mais
2005 e devido às modificações das ope-
em descrédito os fornecedores. Dentro deste
tarde, liberado e disponibilizado ao sistema.
rações da área agrícola, principalmen-
contexto, um fato tem chamado a atenção:
Trabalhos preliminares do Cena (Centro
te com os blocos de colheita, o corte
no passado as variações de produtividade
de Energia Nuclear na Agricultura) da Esalq/
mecanizado e a contenção de despesas,
em aplicações foliares raramente davam
USP de Piracicaba, SP, estão sendo comple-
grande parte das usinas eliminaram as
resultados e atualmente praticamente tudo
tados para indicar o tempo de decomposi-
parcelas controladas dos experimen-
que se aplica tem dado resultados. Como
ção desta palha e, em consequência, qual é
tos e, com isso, perdeu-se, em muito, a
explicar?
a liberação de nitrogênio. Posteriormente,
qualidade das informações. Atualmente,
Eventualmente e, em determinadas si-
teremos possíveis modificações em relação
tem-se utilizado a biometria para ava-
tuações, com uma cana menos nutrida, a
a este tema, com reduções de N para cana
liação dos experimentos com todas as
aplicação aérea é positiva e deve ser man-
planta, mas principalmente para as soqueiras.
implicações relacionadas ao sistema. Ao
tida. No entanto, uma vez que o solo esteja
mesmo tempo, uma série de novos pro-
adequadamente recuperado quimicamente,
dutos tem sido oferecidos ao mercado
inclusive com micronutrientes em doses
para aplicação foliar, contendo comple-
apreciáveis, tanto para cana planta quanto
xos de micronutrientes associados ou
soqueira, não se justifica a aplicação aérea.
RECOMENDAÇÃO DE
ADUBAÇÃO DE N
PARA O PLANTIO
O nitrogênio é absorvido na forma mi-
15
que podem ser encontrados na literatura.
O que posso dizer é que, a maioria dos
trabalhos tem indicado a aplicação de 0 a
60 kg/ha de N no plantio sem se esquecer
de, por segurança, usar o cálculo da mineralização. Outro fator que se deduz é
que o fracionamento do N não se justifica
assim como a lixiviação. Com relação a
aplicação aérea de outros produtos, concluo que somente se justificaria se o solo
estiver aquém da necessidade da cultura. O
saldo do N aplicado via fertilizante, e não
neral, NO3 ou NH4, sendo que o principal
que a comunidade bacteriana é regida forte-
aproveitado pela cultura no plantio, seria
meio de translocação no solo é via fluxo de
mente por tais fatores, afetando a composi-
aproveitado na soqueira posterior.
massa e a distância linear média percorrida
ção microbiana do solo. Neste contexto, há
A fixação biológica devido às bactérias
pelo NO3 por dia (período úmido) é de 4,2
influência tanto das bactérias fixadoras de
diazotrópicas, apesar de ocorrer no solo,
mm/dia (Novais e Smith, 1999). Os traba-
N como a mineralização pura e simples. O
não tem apresentado o desempenho ne-
lhos sobre recomendação de adubação têm
ciclo interno de N no solo é o controlador
cessário na fixação do N2 para suprir as
indicado o seguinte: as doses de N estariam
da disponibilidade de N para a nutrição das
demandas da cultura, seja na cana planta
na faixa de 0 a 60 kg/ha e na média 30 a
plantas, independentemente de sua origem.
ou soca. Por outro lado, a resposta positi-
40 kg/ha; a aplicação seria feita somente no
A mineralização do N, apesar de sua
va a inoculação de bactérias tem indicado
fundo do sulco; no caso do uso de legumi-
grande importância, ainda tem muito pouco
que ela é dependente da variedade de ca-
nosa como cultura secundária, não se deve
estudo. Assim como pensa Victoria (1992),
na, o que dificulta muito as aplicações em
aplicar o N; e a torta de filtro supre todo o N.
nas últimas décadas pouca atenção tem sido
larga escala. Já a inoculação de bactérias
Não há nenhuma contra indicação quanto ao
dada aos estudos dos processos microbianos
fixadoras de N em cana, não tem dado a
uso das diversas formas de N, como ureia,
de mineralização e transformação do N no
segurança necessária aos usuários, ficando
nitrato de amônia e sulfato de amônio, seja
solo, principalmente no Brasil, sendo que a
ainda este conhecimento, por enquanto,
sólido ou fluído.
maior parte dos esforços de pesquisas tem
confinado na área de pesquisa.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
sido voltadas para o estudo da fixação biológica de N2. De acordo com este autor, o
procedimento mais aconselhável, no caso do
Em um ambiente tão complexo quan-
estudo da mineralização do N do solo, seria
to o solo, onde fatores químicos e físicos
o de enfocar conjuntamente, apesar das difi-
interagem continuamente e influenciam as
culdades, os processos de amonificação e ni-
demais condições do solo, como tempera-
trificação, sendo esta talvez a principal razão
tura, umidade, reação etc, pode-se perceber
pela qual poucos são os trabalhos específicos
16
*Lisímetro é utilizado para medir a evapotranspiração de referência (ETo) ou
da cultura (ETc).
*José Luiz Ioriatti Dematte é professor
Titular e ex-chefe do Departamento de
Solos e Nutrição de Plantas da ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” da Universidade de
São Paulo)
17
tecnologia agrícola
Enquanto os produtores e usinas de cana se esforçam para conquistar
um canavial de três dígitos, algumas unidades já ultrapassaram as 300
t/ha. Mas como isso é possível?
Diante da queda da produtividade dos canaviais nos últimos anos, o que mais tem sido discutido pelo setor canavieiro é como voltar a ter canaviais de três dígitos. Novas
tecnologias, formas de manejo e novas variedades vêm sendo implementadas por produtores e usinas de cana e já têm
mostrado bons resultados. Mas ainda não chegamos lá. Só
para se ter uma ideia, o clima favorável de 2015 e a melhora do manejo dos canaviais, fez com que a produtividade do
Centro-Sul do Brasil atingisse, no ano passado, o melhor resultado desde 2009, com 83 t de cana por ha. Em 2014, por
exemplo, o rendimento havia sido de apenas 73,8 t por ha.
Diversos são os fatores que contribuíram para a queda
na produtividade e a consequente perda de rentabilidade do
setor ao longo dos últimos anos. Segundo Mauro Violante,
gerente de Desenvolvimento de Produto e Assistência Técnica do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), é evidente
que fatores climáticos foram um dos maiores componentes
para o impacto na produtividade, já que o setor tem sofrido
com grandes variações climáticas entre nos últimos anos
agrícolas. No entanto, ele destaca que a interação de fatores
econômicos, tais como, redução do investimento em proteção
18
de cultivos (controle de pragas e plantas daninhas), nutrição
insuficiente e o baixo índice de renovação dos canaviais, a
partir de 2009, aliado a fatores técnicos como a redução da
atenção no controle de sanidade das áreas comerciais e dos
viveiros e, principalmente, a alta concentração de cultivo
de variedades mais antigas, pouco adaptadas à mecanização e com potencial produtivo limitado, tem feito com que
a competitividade se reduza a cada ano.
Para Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, um dos
principais fatores que impactaram na produtividade dos
canaviais foi a agenda operacional no momento da grande
expansão, ocorrida entre os anos de 2003 a 2009. Neste
período, o setor praticamente dobrou a área cultivada de
cana-de-açúcar no Brasil, um grande feito, no entanto, realizado sem princípios técnicos.
“A qualidade de muda foi relegada a um segundo plano,
quando se aproveitava o canavial mais próximo da área a
ser plantada por questões de logística, sem a preocupação
com a qualidade da muda. Muitas vezes, aquilo que se cha-
Tabela 1 – Interação entre a temperatura e a cana-de-açúcar
mou muda era, na realidade, um canavial de corte avançado, no terceiro,
quarto ou quinto corte, por exemplo.
Isto acabou comprometendo a saúde
de nossos canaviais, principalmente
com o raquitismo da soqueira interferindo de maneira significativa na produtividade. Essa prática de se aproveitar de canaviais mais próximos para
a muda também acabou perpetuando,
por mais um a três ciclos, variedades
mais antigas, lançadas na década de
noventa, em detrimento do uso de variedades mais recentes lançadas pelos
programas brasileiros que, com certeza, apresentam maior potencial”,
aponta Landell.
Outro aspecto relevante, segundo
ele, é que a expansão ocorreu, de maneira geral, para regiões com estresse
hídrico mais pronunciado e solos de
menor fertilidade ou com restrições físicas, o que deve ser levado em conta
na redução da produtividade agrícola
dos últimos quinze anos.
Por fim, o cenário mudou radicalmente em 2000. Hoje, praticamente
100% dos canaviais são plantados e
colhidos mecanicamente, trazendo o
ambiente de cana crua como predominante, que trouxe pragas importantes,
como a cigarrinha daa raízes e ampliou o Sphenophorus levis. “A mecanização impactou os nossos solos,
pois introduziu equipamentos muito
mais pesados nas lavouras, produzindo compactação e efeito negativo na
brotação dos canaviais. O aparecimento de doenças importantes como a ferrugem alaranjada entre 2009 e 2010,
também não pode ser esquecida, pois
acabou por afetar a segunda varieda-
não obteve retorno. Decidimos então
reunir alguns especialistas e produtores para comentar e explicar como é
possível alcançar altos níveis de produtividade.
CONDIÇÕES
CLIMÁTICAS
Porto Filho: “Os ótimos números são
reflexo da visão empreendedora dos
acionistas mediante oportunidades
identificadas na área de produção,
utilizando-se de alta tecnologia no
processo produtivo”
de mais plantada, a SP81-3250. Acredito que isso nos trouxe experiência para
estabelecer uma nova canavicultura com
instrumentos e estratégias novas, gerando
uma perspectiva de aumento expressivo de
produtividade a médio prazo”, destaca o
pesquisador do IAC.
O sonho dos três dígitos, porém, chega
a ser até simples se pensarmos que existem
algumas unidades e produtores de cana
que têm chegado a canaviais que correspondem a três vezes as 100 t por ha. Sonho
para alguns, realidade para outros.
Uma unidade sucroalcooleira, localizada no Norte de Minas Gerais, conseguiu, em cana planta de 14 meses, atingir
310 t por ha, apresentando 149,2 kg de
ATR por t de cana e 46,3 t de ATR por ha.
Lá, a variedade que conseguiu expressar
tamanho potencial foi uma RB 961003.
Como eles chegaram a isso? A redação da
RPAnews tentou contato com a unidade
para saber como foi possível tais atingir
números, mas até o fechamento da edição
Antes de tudo, é preciso entender
a ação do clima na produtividade da
cana. De acordo José Luiz Ioriatti Dematte, professor Titular e ex-chefe do
Departamento de Solos e Nutrição de
Plantas da ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
da Universidade de São Paulo), os parâmetros climáticos que influenciam
na produtividade são diversos, mas os
principais seriam:
- a quantidade de chuva no ano agrícola;
- a evapotranspiração da planta;
- o déficit hídrico;
- as variações de temperatura;
- e a radiação solar.
Em relação à cultura da cana e as
condições de temperatura, segundo
Dematte, observa-se que o seu crescimento e consequente produtividade
terão mais chances de ocorrer quando,
após dez dias do plantio, as temperaturas permanecerem entre 30°C e 34ºC.
Com temperaturas abaixo ou iguais a
18°C, por exemplo, a planta não absorve água e nutrientes e em situações de
temperaturas abaixo de 18°C ou então
acima de 38°C, há a paralização do seu
crescimento, como é possível analisar
na Tabela 1
Ainda é preciso analisar a taxa de
crescimento da cultura, que ocorre
em função da região, assim como na
19
temperatura e umidade ao longo dos meses. “Para um canavial em São Paulo com
plantio em março, a taxa de crescimento
é de 70% a 75% de setembro a abril, período quente e úmido, sendo que para outras regiões, como Goiás, a taxa é de 80%
a 85%. Portanto, na maioria das regiões
canavieiras sempre haverá um período de
crescimento e desenvolvimento, e um período de maio a agosto onde as condições
climáticas permitem pouco crescimento,
sendo quente e seco (como em Goiás, MG,
MT), frio e seco (como no Oeste de São
Paulo), ou frio e úmido (como em MS,
Ourinhos). No Nordeste a situação se inverte, com período úmido de abril a agosto, e período seco e quente de setembro a
março. Portanto, em tais regiões, a taxa
de crescimento não é total, isto é, durante todos os meses do ano. Sendo assim, a
produtividade também não será máxima”,
explica Dematte.
Considerando que a cana precisa de
água, qual então seria a quantidade ideal
de água por t de colmo? De maneira geral, Dematte explica que há necessidade
de 45 l de água para cada 1 kg de matéria
verde, ou 4,5 mm/t de matéria verde. Considerando a quantidade de umidade num
ciclo de cana de ano e meio de 2100 mm,
a produtividade seria de 466,6 t/ha, sem
considerar a evapotranspiração da cultura
(EVP). “Apenas como exemplo e para a
região de Ribeirão Preto, SP, em uma soqueira de segundo corte, no período maio
a maio, agosto a agosto e outubro a outubro, a EVP aumenta neste sentido e, em
consequência, há redução da toneladas de
cana por hectare. Os dados da Tabela 2
detalham tais informações.”
TRÊS X TRÊS DÍGITOS
Chegar a mais de 300 t/ha é mais que
possível, mesmo em áreas comerciais. De
acordo com Landell, normalmente essas
grandes produtividades são raras em áreas comerciais, mas podem ser atingidas
em cana de primeiro ciclo (cana planta)
e devem estar associadas à irrigação ou a
ambientes com alto potencial produtivo e
que apresentem grande disponibilidade de
20
De acordo com Landell, normalmente
as grandes produtividades são raras em
áreas comerciais, mas podem ser atingidas
em cana de primeiro ciclo (cana planta) e
devem estar associadas à irrigação ou a
ambientes de alto potencial produtivo e
que apresentem grande disponibilidade
de água para a planta
água para a planta.
“O aumento de produtividade de maneira consistente se dará com um conjunto
de fatores, dentre eles o uso de irrigação.
Mas a adoção de variedades mais modernas, adaptadas a mecanização, com maior
população de colmos por hectare, cultivadas com o uso de agricultura de precisão
para reduzir os efeitos nefastos do pisoteio
também poderão nos conduzir a patamares
de produção expressivamente superiores”,
afirma Landell.
Novas tecnologias como a irrigação e
o controle de qualidade e planejamento,
são alguns dos fatores que têm contribuído
para que a Agrovale, localizada em Juazeiro, BA, supere a marca média de 100
t por ha, chegando a 270 t de cana por ha
em cana planta e 300 t por ha em 1 mil dos
17.500 ha da Companhia.
Segundo Cid Eduardo Porto Filho, diretor Agrícola da Agrovale, isto foi possível por meio da introdução de novas
tecnologias de produção com controle de
qualidade de planejamento, desde o plantio até a colheita, passando pelo preparo
de solo, espaçamento, controle de qualidade do plantio, fertirrigação adequada
e demais tratos inerentes à cultura. “Os
ótimos números são reflexo da visão empreendedora dos acionistas mediante oportunidades identificadas na área de produção, utilizando-se de alta tecnologia no
processo produtivo.”
Com áreas 100% irrigadas, a Agrovale tem conseguido aumentar, nos últimos
cinco anos, em 25% a sua produtividade
média, que saltou de 85 t por ha para 112 t
por ha. Os sistemas de irrigação utilizados
para produção de cana-de-açúcar no bioma Caatinga do sertão baiano são o sulco
de infiltração, o pivô central e linear, e o
gotejamento subterrâneo, sistema em expansão dentro da Agrovale.
“O ambiente de produção foi um fator
determinante para as boas produtividades
e tem sido potencializada com a utilização de variedades responsivas a irrigação
e ao manejo utilizado. Parte desse feito
também se deve às técnicas utilizadas na
irrigação do canavial, através do método
de gotejamento subterrâneo. O incremento
de TCH não se deve somente à irrigação
empregada, mas está também associada à
fertirrigação, a qual é manejada segundo
as fases de crescimento da cultura”, afirma
o diretor agrícola da Agrovale.
O plano almejado pela companhia para
os próximos 15 anos é bater produtividades acima das 100 t por ha em toda área
da usina. Segundo Porto Filho, isto será
realizado por meio da união da tecnologia de irrigação e fertirrigação, manejo
varietal, espaçamento ideal e controle de
qualidade em todas as operações.
Dematte afirma que chegar a 320 t/ha
na cana de 14 meses não seria possível em
situações em que não há água, nutrientes
e temperaturas favoráveis e que permitam
um bom desenvolvimento do canavial durante praticamente todos os meses do ano.
“Estes números, inclusive, são possíveis
mesmo em um ambiente semi árido, com
temperatura favorável e desde que não falte umidade. Neste caso, será inevitável em
sistema de irrigação, aspersão ou gotejo.
Há possibilidade de sistema de irrigação
para determinados períodos, três a cinco
meses, dependendo das condições de clima, como nas regiões de período quente e
seco de maio a setembro, como no Centro-Sul, ou no período outubro a janeiro,
no Nordeste.”
“As condições do Nordeste, com temperaturas e insolação privilegiadas para
o ganho de biomassa são excepcionais se
associados à irrigação. Na região Centro-Sul podemos atingir grandes produtividades também como aquelas conseguidas
nas condições do Centro Cana IAC, em
Ribeirão Preto, que atingiu 355 t/ha em
12 meses”, conta Landell.
Dematte explica que para atingir tais
produtividades, o solo deve ser mantido
em condições adequadas de fertilidade e
nutrientes (Qt). A conta é a seguinte: Qt
nutrientes= (fornecido pelo solo + fornecido pelo fertilizante) > = extraído pela
planta. “Para solos de boa drenagem e no
sistema de gotejo, a textura não tem ação.
Temos obtido elevadas produtividades em
solos extremamente arenosos ou argilosos”, comenta o pesquisador.
MANEJO VARIETAL
E as variedades? Podem ser determinantes? Sem dúvida alguma, segundo Dematte. “Os trabalhos relacionados a este
tema têm indicado que entre as variedades
há determinadas que reagem melhor ao sistema de irrigação, por exemplo.”
Violante afirma que existem variedades com potencial genético para atingir
100 t/ha ou mais considerando a média de
cinco cortes. Contudo, ele frisa a importância de se seguir o posicionamento correto
de cada cultivar e a adoção das melhores
práticas de manejo agronômico, tais como
colheita no período adequado e realizada
de maneira adequada, controle de pragas
de forma eficiente, adotar práticas de manejo e conservação do solo, nutrição balanceada, entre outros fatores.
“A irrigação é um dos fatores tecnológicos que podem contribuir muito com o
aumento de produtividade. Contudo, é plenamente possível chegar a um alto nível de
produtividade utilizando a variedade correta, no local certo, sem um investimento
maior em outras tecnologias. A variedade
de cana é hoje a tecnologia de mais baixo
custo frente ao seu potencial em contribuir
para o aumento de produtividade, propiciando o maior retorno econômico para o
capital investido”, destaca o pesquisador
do CTC.
Ele acredita que há regiões no Centro-Sul que teriam o potencial de atingir até
mesmo níveis mais altos de produtividade
em condições ideais. Nas avaliações de
produção e produtividade realizadas pela
equipe do CTC, Violante afirma que é comum encontrar áreas comerciais com produtividades acima de 200 t por ha, como
na região de Ribeirão Preto, Araçatuba,
Triângulo Mineiro e no Mato Grosso do
Sul. “Em área de validação pré-comercial
do CTC, no ano de 2015, a cultivar CTC9005HP, na região de Ourinhos, SP, obteve produtividade em cana planta de 213
21
Tabela 2 – Taxa de crescimento de soqueira de segundo corte
t/ha, por exemplo.”
Landell acredita que as variedades podem contribuir, mas dependerão de um ambiente que proporcione
expressão da produção da cana. “Em
condições de plena irrigação e nutrição adequada aos níveis de produção,
chegamos a obter 355 t/ha no primeiro ciclo (cana planta) em 12 meses de
cultivo, em variedades de alto potencial produtivo e com responsividade
a irrigação como as IACSP95-5094,
IACSP95-5000 e IAC91-1099. Em
condições de sequeiro, temos visto
produtividades de mais de 120 t por
ha na média de cinco cortes, quando
bem conduzidas e com estratégias que
reduzam a exposição das mesmas a
um déficit hídrico exacerbado.”
Todos programas de melhoramento de cana no Brasil têm disponibilizado variedades de maneira contínua
aos produtores brasileiros, e as liberações feitas, principalmente na última
década, têm trazido variedades de alto
potencial biológico para a produção
de colmos e açúcar.
O que é preciso perceber, segundo
Landell, é que o setor está inserido em
um cenário de ampla mecanização, e
tais variedades, apesar do alto potencial, podem apresentar interação com
plantio mecânico e também com a colheita mecânica, fazendo com que mudem a sua expressão produtiva.
“Normalmente, isso se dá pela redução da população de colmos que
pode ser afetada de maneira mais significativa por ambas as práticas mais
em algumas variedades do que em outras. Desta maneira, a informação obtida na rede experimental, apesar da
preocupação dos pesquisadores reali-
22
zarem os ensaios de maneira mais próxima
possível daquilo que ocorre na grande lavoura, pode não ter plena correlação com
o cultivo das mesmas nas áreas comerciais,
o que acaba frustrando a expectativa dos
produtores e também dos pesquisadores”,
conclui Landell.
QUASE LÁ
Antônio José Mendonça, engenheiro
agrônomo e sócio do Condomínio Agropecuário José Paulo Mendonça, é fornecedor da Usina Colorado e produz em uma
área 2.280 ha, localizada em Guaíra, SP.
A média de produtividade de seu canavial
nos últimos quatro anos é de 92,2 TCH,
sendo que no ano de 2013 ele chegou aos
101 TCH. Apesar dos bons números, se
comparado à média do Estado de SP, Mendonça diz que o desafio agora será ultrapassar as 100 TCH.
A preocupação com correção e adubação do solo, realizada com o uso de tecnologias de agricultura de precisão desde
2010, tem sido primordial para que ele
atinja a atual média de TCH. “Com o resultado das análises de solo faço a correção e a adubação corretamente. Faço a
coleta de solo de três em três anos ou de
dois em dois anos conforme a necessidade,
sempre deixando o solo em boas condições
para a cultura. A escolha das variedades é
feita um pouco antes do plantio junto com
a Usina Colorado.”
O plantio é outra operação olhada com
muita atenção pelo produtor, que tem um
canavial com uma média de oito cortes.
Nos últimos dois anos foi feito de forma
mecanizada e manual, sendo 60% e 40%
respectivamente. “O plantio mecanizado
é feito com plantadoras e o manual é feito via esparrame das mudas no sulco de
plantio. Faço o uso de fungicida, inseti-
cidas e micronutrientes, como boro e
zinco nos plantios tanto manual, quanto
mecanizado.”
A aplicação de herbicida em cana-planta é feita logo após o plantio, antes
que a cana germine, e após o quebra-lombo. Se houver alguma nova infestação durante este período, Mendonça faz o controle pós-emergente de ervas daninhas
para que o canavial feche limpo. Em cana soca é feito apenas se necessário, mas
sempre em época chuvosa.
“Em 2016 adquirimos um autopropelido e com essa ótima ferramenta pretendo fazer o controle de ervas daninhas apenas na época chuvosa. As bordaduras dos
canaviais faço em toda a área após o corte
e o controle de pragas e doenças é feito
o ano todo, sendo que na nossa região,
as pragas predominantes são a broca e a
cigarrinha, e as doenças que predominam
são as ferrugens alaranjada e marrom. Já a
aplicação de inibidores de florescimento é
feito nas variedades em que há a possibilidade de florescer e/ou isoporizar. Faço
a aplicação do etephon na segunda quinzena de fevereiro”, detalha.
O produtor conta que iniciou o teste
de três produtos foliares para incremento
de produção. As aplicações começaram
na safra 2015/16 e continuarão este ano e
nos próximos dois. “Um deles se destacou
na safra anterior, então irei dar continuidade por pelo menos três safras para tirar
melhores conclusões. Estou analisando
melhorias no plantio da cana também.
Neste sentido, este ano vou plantar 12
ha de MPB. Acho que a somatória de manejos bem feitos têm colaborado para que
tenhamos uma boa produção. O manejo é
básico, porém bem feito e eficiente. Tive
um custo de R$ 1.205 com tratos culturais
na safra passada”, finaliza o produtor.
23
tecnologia agrícola
Como fazer a
leitura das
imagens
capturadas
pelos vants
de forma que
elas sejam
relevantes para
os produtores
nas tomadas
de decisões?
24
O uso de Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) ou drones já é considerado algo trivial
nos canaviais brasileiros. Usinas e fornecedores
de cana fazem seus voos, muitas vezes por conta própria e sem qualquer dificuldade, graças às
tecnologias oferecidas pelo mercado, que são de
fácil operação e manuseio. Mas hoje “o pulo do
gato” é ter uma equipe que saiba fazer a análise
e interpretação das imagens capturadas por estas aeronaves. Afinal, de nada adianta realizar o
voo, coletar as imagens e depois não saber como
extrair informações relevantes para a tomada de
decisões no canavial.
A ciência por trás do mapeamento aéreo é
a fotogrametria, método já utilizado há mais de
150 anos através de sensores embarcados em
plataformas aéreas, como em aviões tripulados.
Porém, por possuir um alto custo de viabilidade,
seus produtos eram restritos a órgãos públicos
e grandes empresas de engenharia. A principal
transformação com a chegada dos drones no mercado foi justamente a diminuição dos custos e a
popularização desta ciência.
Hoje, a partir das imagens captadas pelos
vants é possível produzir mapas digitais georreferenciados e ortoretificados, identificação de
falhas de plantio, estresse hídrico, verificação e
monitoramento da sanidade do canavial (limpeza, ervas daninhas e pragas), informações para
estimativa de produtividade, necessidade de replantio e áreas para reforma.
“O vant funciona como um indicador de problemas. Através das imagens aéreas é possível
identificar onde está ocorrendo problemas no
plantio, qual a sua dimensão e qual a sua localização exata no terreno. De posse destas informações, o agrônomo vai até o campo, onde
os problemas estão localizados, identifica a sua
causa e quais medidas serão necessárias para reparar. Fazendo uma breve analogia, as imagens
aéreas geradas pelos vants são como um raio-X
e têm a mesma função que para um médico, ou
seja, auxiliar a tomada de decisão do agrônomo
e otimizar sua ação contra um problema”, destaca Manoel Silva Neto, engenheiro cartógrafo
e sócio-fundador da DronEng.
No mercado da cana-de-açúcar as soluções
mais utilizadas hoje são:
Topografia do terreno: por meio de imagens aéreas é possível realizar a topografia do
terreno de maneira mais rápida e precisa, mapeando até 1.500 ha em um único voo e com
um único operador em campo. Da forma tradicional, levantar a mesma área demoraria pelo
menos dois meses e necessitaria de uma equipe
muito maior.
Levantamento de falhas no plantio: Em
um primeiro momento, são geradas as imagens
aéreas do plantio, através de um algoritmo de
visão computacional que percorre toda área mapeada identificado as falhas do plantio. No final
é possível produzir um relatório que mostra a
porcentagem de falhas em cada talhão, o tamanho destas falhas e qual a sua localização no
terreno. Assim, é possível saber onde é preciso
fazer o replante.
Mapa de saúde da vegetação: por meio de
sensores que capturam informações via ondas
infravermelhas, é possível medir a interação da
vegetação com os raios solares no processo de
fotossíntese. Com isso, é gerado um mapa de
saúde da vegetação, no qual é possível identificar quais áreas estão saudáveis e quais não estão.
Com este mapa, o agrônomo vai até o plantio
e verifica a causa das deficiências e quais ações
serão tomadas. Após as ações faz-se um novo
voo e verifica-se se houve melhorias.
Segundo George Alfredo Longhitano, diretor
da G Drones, tais informações vão auxiliar o agricultor a reduzir gastos com insumos e defensivos
e ainda aumentar a sua produtividade. Ou seja,
em última instância, a tecnologia deve melhorar
a rentabilidade das áreas de cultivo. “Além disso, a topografia da área pode ser utilizada para
o planejamento do plantio e preparo da terra.”
Juliano Leal, da JL Tecnologias, conta que,
além disso, alguns serviços de identificação de
mapeamento de ervas daninhas, encontrando reboleiras das plantas infestantes já começaram a
ser realizados nas usinas. “O serviço de cálculo
de volume de bagaço de cana também vem sendo muito solicitado pelas indústrias que desejam
dimensionar o seu estoque.”
MAPEAMENTO
DE IMAGENS
Um projeto de mapeamento aéreo é dividido
em três etapas. No primeiro momento é realizado
o planejamento do voo em escritório, nesta etapa
é identificada a área que será mapeada e definidas
as faixas de voo que o drone irá percorrer capturando as imagens do terreno.
No segundo momento, de acordo com Neto,
estas imagens capturadas são processadas em escritório juntamente com as informações do GPS e
do sistema inercial (sensor que mede os ângulos
de rotação da aeronave no momento da captura
da imagem) e após este processamento, é gerada a base cartográfica do terreno, composta pelo
mosaico de imagens georreferenciadas, o modelo digital da superfície e o modelo digital do
terreno. “De maneira simples, a base cartográfica
traz o terreno para dentro do escritório, onde são
tomadas as decisões estratégicas.”
Segundo Longhitano, ainda não existem softwares específicos para o setor canavieiro, pois a
tecnologia e sua aplicação é relativamente nova.
Entretanto, há bons softwares de geoprocessamento, inclusive gratuitos, que podem ser aplicados para o setor. É importante que os profissionais que realizam os serviços de mapeamento
com drones tenham boas noções em cartografia,
geoprocessamento, sensoriamento remoto e da
cultura da cana-de-açúcar.
Neto conta que já existe um algoritmo de
busca de falhas no plantio desenvolvido a partir
da demanda do setor canavieiro. “Este algoritmo
percorre as imagens aéreas demarcando as falhas
acima de 50 cm no terreno. Através deste algorit-
Neto: “Fazendo uma breve analogia, as
imagens aéreas geradas pelos vants são
como um raio-X e tem a mesma função
que para um médico, ou seja, auxiliar
a tomada de decisão do agrônomo e
otimizar sua ação contra um problema”
mo é possível identificar, de maneira precisa qual
a produção de cada talhão do plantio.”
A Geo Agri desenvolveu uma série de algoritmos que permitem extrair informações das fotografias aéreas. Segundo Paulo Henrique Amorim
da Silva, gerente de Soluções em Sensoriamento
Remoto Geo Agri, a ideia não é só entregar um
mosaico de fotografias para o produtor, mais sim
relatórios com informações que sejam relevantes
para os gestores.
“As usinas e demais produtores que já possuem uma equipe e estrutura de geoprocessamento, têm adquirido os vants e extraído informações diretamente sobre as imagens. Já as usinas
e clientes que não possuem esta estrutura para
processamento, têm efetuado os voos e enviado
os dados para serem processados. Nos especializamos em mapas específicos, como os de falha
de plantio e mapeamento de linha de cana plantada, a fim de atender a demanda”, explica Silva.
O Centro de Pesquisa da Embrapa Instrumentação de São Carlos trabalha, desde 1999,
no desenvolvimento softwares que analisam com
25
SENAR OFERECE
CURSOS DE
AGRICULTURA DE
PRECISÃO
Um dos grandes desafios da
agropecuária brasileira é a falta de
mão de obra profissional. E devido
às inovações no campo e das
novas necessidades de capacitação
da mão de obra rural, o Senar
vem investindo em quatro pilares
de formação: a formação inicial
continuada; a educação profissional
de nível médio; a profissional de
nível superior e a de pós-graduação.
Rafael Diego Nascimento da Costa,
engenheiro agrônomo e assessor
técnico do Senar (Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural), afirma
que pensando na expansão da
Agricultura de Precisão o Senar
começou, em 2012, um Programa
Nacional de formação inicial
continuada. Com carga horária de
120 horas, o curso é dividido em
sete módulos nos temas: agricultura
de precisão para todos; sistemas
globais de navegação por satélites;
piloto automático; semeadoras;
distribuição; pulverizadores e
monitor de colheita.
Como só o curso não é suficiente
para suprir toda a demanda, o Senar
oferta também a capacitação à
distância através do portal de EAD
Senar (www.senar.org.br/ead), onde
são oferecidos mais três cursos na
área de Agricultura de Precisão.
O Senar ainda não oferece cursos
específicos para manipulação de
drones, mas poderá fazê-lo em
breve. “O uso de drones e vants
tem tido grande repercussão e
acreditamos que essa tecnologia
pode e vai contribuir ainda mais
para aumentar a eficiência
produtiva nas lavouras. Porém,
o setor ainda carece de uma
regulamentação para o uso dessa
tecnologia. Futuramente, havendo
a determinação do que cabe como
atividade do trabalhador rural, nós
teremos interesse em ofertar cursos
para que o mercado possa ter
profissionais que saibam pilotar tais
equipamentos, planejar missões,
capturar, processar imagens e
utilizar a tecnologia com segurança
e de maneira correta.”
26
precisão e rapidez as imagens captadas. O pesquisador Lúcio André de Castro Jorge, coordenador
das pesquisas envolvendo vants, explica que o
software SisCob permite ao agricultor treinar o
sistema para reconhecer, por cor, as diferenças
que existem na imagem fazendo com que o software determine a área ocupada, por exemplo, por
nematoides, plantas invasoras, identificar falhas
de plantio, medir porcentagem de cobertura vegetal, dentre outras ações.
Outro software, que também é gratuito, é o
GeoFielder, desenvolvido com o objetivo de coletar dados georreferenciados em campo. Castro
Jorge explica que o programa permite mais precisão nos processos de vistoria, uma vez que as
respostas são localizadas geograficamente.
“Entre as aplicações estão à demarcação da
propriedade, coleta de amostras georreferenciadas, aquisição de imagens e a inspeção e controle de operações. O GeoFielder versão Android e
para uso em tablets, permite esta operação. Já a
versão Windows, para uso em notebooks, deve
ser usado como auxílio para coleta de contornos
em campo e para programar missões dos drones
ou vants. Ambos os softwares estão disponíveis
para download gratuito no site http://labimagem.
cnpdia.embrapa.br/.”
Além das versões gratuitas, os programas
foram licenciados para a empresa Stonway, que
oferece cursos, serviços de customização e atualização dos sistemas. De acordo com Castro Jorge,
a Embrapa tem investido no desenvolvimento de
metodologias de processamento de imagens para
drones capazes de operar em condições de campo
adversas. “A utilização de drone na agricultura é
bem mais barata e não tem volta.”
CONHECIMENTO É
ESSENCIAL
Para traduzir as imagens é necessário que o
técnico responsável pelo processamento tenha
conhecimentos prévios em geoprocessamento,
afinal, segundo Longhitano, a interpretação e extração de informações das imagens é parte essencial da aplicação da tecnologia.
“O profissional que vai liderar isto deve aliar
conhecimentos relativos ao cultivo e fisiologia da
cana-de-açúcar, com os de geoprocessamento e
sensoriamento remoto. As equipes das usinas já
possuem um corpo técnico com conhecimentos
em agronomia e geoprocessamento, caberá, entretanto, aos profissionais, uma busca por capacitação para operar corretamente os vants e drones.
Já existem no Brasil cursos e treinamentos oferecidos para isso. A GDrones e a Escola Profissional de vant, por exemplo, oferecem treinamentos
customizados e cursos.”
Além da identificação e mapeamento de
ervas daninhas, o serviço de cálculo de
volume de bagaço de cana também vem
sendo muito solicitado pelas indústrias
que desejam dimensionar o seu estoque
Qualquer pessoa pode se dedicar aos
estudos e processar os dados gerados pelos
vants. “Vai depender muito do posicionamento estratégico da usina. Se historicamente a
unidade já investe em pesquisa e desenvolvimento e possui tecnologias próprias, provavelmente ela fará todo o processo, inclusive
o processamento de imagens e geração de soluções, porém, existem algumas unidades que
historicamente terceirizam suas tecnologias,
recebendo apenas os relatórios prontos para
a tomada de decisão”, afirma Neto.
A DronEng também oferece cursos de
capacitação para quem quer entrar neste novo mercado. São dois cursos online, um de
mapeamento aéreo com drones e outro de
processamento de dados. “Nós já temos mais
de 850 alunos em nossa plataforma online
EAD. E já começamos um curso presencial
no qual oferecemos a experiência completa
de trabalhar em um projeto de mapeamento
aéreo com drones, todos com certificado de
conclusão.”
O produtor de cana da Agropastoril Campanelli, Victor Campanelli, acredita que a
tecnologia é melhor operada por empresas
especializadas e prestadores de serviço que
entregarão a usina ou agricultor um relatório já processado e de mais fácil interpretação. “Colocar um vant para voar parece ser
brincadeira de criança, mas o que vem depois é muito mais complicado. É preciso fazer os mosaicos das imagens e processá-los
em softwares específicos. A análise ocular
de imagem a imagem não é a mais eficiente.
Quando usam-se softwares apropriados, eles
tem o poder de fazer centenas de milhares de
cálculos e entregar uma imagem processada
com um realce de anomalias, facilitando a
análise e interpretação dos dados”, opina.
27
tecnologia industrial
Novas tecnologias de automação para soldagem de
rugosidade têm surgido no mercado com o intuito de
trazer redução de custos e maior segurança na operação
Se você já entrou em uma indústria de açúcar e etanol e chegou bem perto do processo de
moagem, deve ter avistado algumas pessoas
equipadas com diversas EPIs bem próximas
aos rolos das moendas produzindo um tipo de
faísca. Estes são os chapiscadores de moendas,
os quais têm como função, manter a superfície
dos rolos das moendas, mais especificamente a
parte superior dos flancos dos frisos, com rugosidade adequada para um melhor desempenho
do processo de moagem.
Em detalhes, o chapisco de moenda consiste em obter uma superfície com rugosidade
uniforme para permitir uma aplicação mais efetiva da carga de compressão, preservar por um
período mais longo da safra a integridade dos
frisos dos rolos e, ainda,
auxiliar na alimentação mais eficaz de cada moenda. Apesar da atividade ser realizada
no setor há muitos anos desta forma, a figura
do chapiscador pode estar com os dias contados, isto porque o mercado vem desenvolvendo
opções mais econômicas e evoluídas de robôs
para chapisco, que poderão acabar substituindo
parte desta mão de obra dentro de alguns anos.
Antonio Carlos Junqueira Rodrigues, en28
genheiro mecânico da EcoAlba, afirma que,
antes de mais nada, é preciso valorizar o profissional que executa esta importante tarefa.
“A soldagem por ele executada adere ao metal
base na forma de gotículas, resultando em um
aumento do coeficiente de atrito entre a cana
desfibrada/bagaço e os frisos da camisa de um
cilindro. O revestimento do eletrodo utilizado
tem a capacidade de pulverizar o metal fundido
sobre o metal base. Assim, a solda final nunca
terá a forma de um cordão contínuo, que espera-se estar isento de mordeduras, poros e outros
defeitos. Sem a soldagem de rugosidade sobre
os frisos das camisas, as perdas na moenda são
maiores”, explica.
Ainda de acordo com Rodrigues, para apresentar alta eficiência, a moenda necessita de
uma soldagem tipo spray sobre as faces dos frisos da camisa. Esta soldadura tem que ser executada por um soldador habilitado para tal, que
deve ser qualificado em soldagem de manutenção, com ênfase em aço carbono. “É importante
que todos na usina saibam que a possibilidade
de aplicar taxas de água de embebição da ordem de 250% fibra, a temperaturas ao redor de
70° C, tendo, como consequência, uma pol %
bagaço inferior a 2% e uma umidade % bagaço
inferior ou igual a 50%, somente será possível
se o soldador de rugosidade fizer muito bem o
seu serviço”, ressalta.
O chapisco atua na redução de um fenômeno que ocorre em todas as moendas do mundo,
chamado reabsorção. Mas o que é isso? Segundo Rodrigues, Egeter foi o primeiro a observar
que o volume de bagaço que passava pela abertura existente entre dois rolos, mais especificamente entre o rolo superior e o rolo de saída, era
superior ao ‘volume descrito’ por aqueles rolos.
A única possibilidade para explicar esta incongruência seria o bagaço passar por entre os dois
rolos a uma velocidade superior à velocidade
periférica dos rolos. Egeter observou então, que
tal fenômeno sempre estava associado à ocorrência de esguichos de caldo pela abertura entre
os dois rolos. E o pior, como esse caldo saia em
maior velocidade que o bagaço, ele acabava
sendo reabsorvido por aquele bagaço.
“O fenômeno recebeu o nome de reabsorção e é medido pelo fator de reabsorção, ou
fator de super velocidade. Matematicamente
temos: K = (Volume de bagaço que passa entre os rolos) ÷ (Volume descrito pelos rolos). K
sempre é maior que 1 e varia com a velocidade
e o fator de atrito entre o bagaço e a camisa.
Um terno em que a reabsorção é alta produzirá um bagaço com alta umidade e alta pol %
bagaço, maximizando as perdas na moenda”,
detalha Rodrigues.
Além da umidade/Pol alto, a falta do chapisco pode causar redução de moagem, queda
na extração, oscilação baixa e enchimento de
shut, de acordo com Florindo Mateus Adão, da
FMA Assessoria.
ELETRODOS OU
ARAMES?
O chapisco no Brasil se iniciou e permaneceu por muito tempo sendo aplicado através
de eletrodos, com base na experiência importada de outros países, notadamente da África
do Sul, o que permitiu uma evolução rápida no
uso desta tecnologia.
A aplicação com arames se iniciou muito
tempo depois e, além de não ter tido a mesma
chance de desenvolvimento dos eletrodos, segundo os especialistas, tem limitações de quantidade de material depositado. Segundo Delfini,
esta limitação impede que a granulometria e
durabilidade do chapisco aplicado com arames
Enquanto num processo de chapisco são necessárias de 4 a 18 pessoas, dependendo
do tamanho da moenda, no processo automatizado este número cai para duas a três
pessoas apenas
tenha o mesmo resultado do chapisco aplicado
com eletrodos.
Além do uso do eletrodo para o chapisco,
Adão afirma que é preciso ter alguns cuidados
nesta operação como:
- posicionar corretamente o eletrodo (ângulo de
inclinação): altura do friso a ser chapiscado
(2/3 da altura);
- nunca chapiscar no fundo do friso, para evitar
danos com os pentes e/ou encabelamento;
- usar cabo de bitola mínima (70 mm) e com
emendas adequadas;
- usar porta-eletrodo adequado (800 a 1000 A);
- recolher as pontas que sobram dos eletrodos
com cuidado, para não jogá-los fora;
- e manter o eletrodo em estufa e retirar somente
o que será usado no dia;
“Além disso, é preciso estar atento e evitar
o chapisco muito compacto, baixo e fino porque
ele desliza no bagaço, não dá pega na moenda,
29
Segundo Romão, a redução de custos
com mão de obra chega a pelo menos
50%, isto porque, parte da mão de obra
será formada com o objetivo de operar
o sistema
não oscila e acaba provocando enchimento de
shut. É preciso ainda, observar a fixação dos
cabos + e –, se o terra está preso corretamente
no rolo, e se o chapisco está com a rugosidade
correta. Por fim, não descuidar do rolo superior,
onde o desgaste é mais rápido que nos demais”,
esclarece Adão.
RISCO AO
TRABALHADOR
O trabalho destes chapiscadores não é nada fácil. Isto porque, como a eficiência do processo de embebição tem uma ligeira melhora
quando se utiliza água a temperaturas ao redor
de 70°C, o soldador de rugosidade ou chapiscador tem que se posicionar de frente para a
camisa que será soldada. Isto significa, no caso
do rolo de saída, por exemplo, que ele terá de
se posicionar entre o eixo traseiro do condutor
intermediário e o rolo de saída. Nas instalações
antigas, com ternos conjugados, acionados dois
a dois, o espaço disponível é bem reduzido e,
consequentemente, desconfortável. Pior ainda
quando ele fica exposto aos vapores produzidos
pela água de embebição. A tudo isso é preciso
ainda adicionar a grande quantidade de fumos
produzidos pela queima do revestimento especial do eletrodo de rugosidade.
Segundo Rodrigues, é obrigação do supervisor de Extração, do supervisor de Segurança
Industrial e do gerente Industrial, melhorarem
as condições de trabalho dos soldadores de rugosidade. “É fato que o trabalho de soldadura
está cercado por condições inseguras e a periculosidade cresce muito quando da execução da
soldagem do rolo superior. Infelizmente, ainda
é possível encontrar soldadores executando a
30
soldagem do rolo superior praticamente dentro do terno. Nesta posição, quando ocorre
um acidente, ele é fatal. Tal possibilidade é
inaceitável”, relata.
José Darciso Rui, diretor-executivo do
Gerhai (Grupo de Estudos em Recursos Humanos na Agroindústria), explica que existem normas regulamentadoras que protegem
os trabalhadores das áreas industriais como o
PPRA, LTCAT, LIP, Normas internas, Legislação Trabalhista, uso de EPIs adequados e
fiscalização da Segurança do Trabalho. “Os
riscos são inerentes à função, porém são
amenizados com uso de EPIs ou de EPCs
(Equipamento de Proteção Coletiva) como
capacetes, luvas, roupas especiais, máscaras, óculos de segurança e botinas, em casos de EPIs, e passarela e grade de proteção
peitoral, em casos coletivos. Acidentes de
trabalho ocorrem em qualquer atividade,
não é diferente no trabalho do chapiscador.
Porém, eu, com décadas de usina, não me
lembro de qualquer acidente grave com um
destes profissionais.”
Helio Teixeira Belai, vice-presidente do
GEMEA (Grupo de Estudo para Maximização da Eficiência Agroindustrial), afirma que os riscos são muito baixos tendo
em vista o sistema de segurança existente e
leis específicas que gerem as indústrias sucroenergéticas. “Antigamente, os acidentes
ocorriam devido à ausência de um sistema
de segurança forte. Por isso existiam acidentes onde os rolos engoliam os trabalhadores,
que, por descuido, pendiam para dentro dos
mesmos. No entanto, eu mesmo, em 35 anos
de usina, nunca evidenciei tais acidentes.”
De acordo com o gerente técnico da
Fronius, Ronaldo Romão, a solda em contato direto com o operário produz substâncias
altamente tóxicas e traz como consequência uma série de doenças, como a pneumoconiose, a disfunção pulmonar, a febre de
fumaça de solda, além dos efeitos sobre os
olhos, pele e sistema nervoso. “O trabalho
diário de manutenção dos rolos de moagem
da usina ainda é realizado de forma muito
artesanal, expondo os profissionais a riscos
de acidentes graves. Por ser um ambiente
muito agressivo, em alguns casos, podem
sofrer até mutilações. As organizações de
classe, o Ministério do Trabalho e os empresários aguardam uma solução efetiva para
essa questão, com sistemas automatizados
que permitam uma menor exposição dos
profissionais aos riscos”, esclarece.
Delfini acredita que a tecnologia de robôs
para aplicação de chapisco ainda deixa a
desejar, não pela sua funcionalidade, mas
pelo resultado do chapisco aplicado, que
trabalha com arame
ROBÔS PARA CHAPISCO
Mais conscientes sobre os riscos do ambiente de trabalho, as usinas têm investido cada
vez mais na segurança dos trabalhadores. Pensando nisto, empresas do ramo de soldagem
têm apostado em sistemas que automatizem
a operação de chapisco. A Fronius do Brasil
lançou recentemente o Arcing, voltado para o
revestimento dos frisos dos rolos de moendas.
“O Arcing é uma automação desenvolvida
para executar a operação de chapisco. O equipamento conta com tecnologia digital de controle
de soldagem, evitando que o operador tenha
que interferir frequentemente na operação. É
um sistema blindado à prova de água e vapor,
e dispõe de posicionamento automático, atendendo assim, as normas vigentes de segurança
do Ministério do Trabalho”, explica Romão.
Por possuir um sistema moderno e seguro,
não necessita de mão de obra humana e é simples de manipular. “Oferecemos duas opções:
trabalhar com um ou dois arames. O de dois
arames pode otimizar ainda mais o tempo de
produção, mas ambos proporcionam total segurança na operação. Por ter tochas refrigeradas, o consumo do bico de contato (o que faz a
solda) é menor, resultando em menos paradas
e manutenção do sistema. Outra vantagem para o consumidor é poder utilizar a tecnologia
para realizar reparos nos frisos durante a safra,
ou seja, onde há desgastes contínuos (linhas de
desgaste localizadas entre o material do friso e
a camada da lateral aplicada – veias de desgaste que geram a quebra de pedações do friso),”
ressalta Romão.
O Arcing utiliza duas fontes de soldagens
reguladas e monitoradas pelo microprocessador
31
de cada máquina. Sua ignição impede que o
arame grude no rolo na hora de desligar o arco
e, em caso de queda de energia, o equipamento
não precisa ajustar ou ser reprogramado. Basta acessar o programa, referenciar e reiniciar a
soldagem. Segundo Romão, a redução de custos
com mão de obra chega a pelo menos 50%, isto
porque, parte da mão de obra será formada com
o objetivo de operar o sistema.
Só para se ter uma ideia, dependendo das
dimensões da moenda como, por exemplo, uma
de 54” e 6 ternos, utiliza-se, em média, de 4 a
8 chapiscadores, já uma moenda de 90” precisa de 10 a 18 chapiscadores, isto considerando
os processos manual e semi-automático. Já no
processo automatizado, utilizam-se apenas dois
colaboradores (1 supervisor e um operador) para
moendas de 54” e três colaboradores (1 supervisor e dois operadores para operar dois robôs)
para moendas de 90”.
Contudo, Renato de Oliveira, diretor Industrial da Logtronic Tecnologia Industrial, frisa
que os postos de trabalho normalmente não são
extintos, pois os mesmos chapiscadores são relocados para ajudar na manutenção da moenda
e realizar outras tarefas como a recuperação de
faca, martelo, bagaceira, desembuchamento de
rolos e troca de pente.
Para atender a demanda do setor, a Logtronic desenvolveu o sistema Robotronic Cana,
o qual é voltado especialmente para sanar as
maiores dificuldades que esta aplicação impõe
na moenda durante a safra. Os equipamentos
são 100% automatizados, o que faz com que o
operador não precise ligar ou desligar qualquer
parte do sistema durante o chapisco automatizado; todas as partes sujeitas ao ataque direto
do caldo são feitas em aço inox, com roldanas
rolamentadas e protegidas contra o caldo e bagaço; eles têm memória de parâmetros para cada
camisa, ou seja, o operador não precisa ajustar
nenhum parâmetro para chapiscar qualquer rolo, porque quem faz isto, e apenas uma vez só
durante toda a safra, é o supervisor, que tem a
senha para ajustar os parâmetros do sistema;
tem parada automática em caso de parada da
moenda, de falha na fusão do arame e de conexão elétrica molhada; sensores com fim de curso
eletrônicos de alta durabilidade e imunes ao ataque químico do caldo, garantindo que o sistema
não se danifique por posicionamento errôneo;
sistema sinérgico que não desperdiça pedaços
de arame durante o chapisco; e chapisco com
dupla tocha, reduzindo tempo.
“Este sistema tem apresentando grandes
benefícios às usinas, como retorno do valor
32
Todos os sistemas automatizados para
chapisco hoje ofertados pelo mercado,
utilizam arames ao invés de eletrodos
investido já na primeira safra, extração alta e
constante durante toda a safra, melhoria da imagem socioambiental, melhoria das condições de
trabalho dos colaboradores, agilidade e rápido
start up, e o mais importante, elevação da segurança operacional dos colaboradores da usina”,
afirma Oliveira.
Para Rodrigues, seria conveniente a utilização de robôs na soldagem dos rolos superiores
durante a safra, desde que a soldagem de rugosidade desse rolo na entressafra tenha sido executada na usina por soldadores próprios e pelo
processo de eletrodo revestido.
Ele explica que são duas as soldagens de
revestimento necessárias a uma camisa de moenda: o picote e o chapisco. O primeiro trata
de manter o terno bem alimentado, sem engasgos e tem que durar toda a safra. “Esta vida
útil mais longa depende de pelo menos dois
fatores: o primeiro é uma soldadura de picote
bem executada, e que resulta em picotes de
boas dimensões e, o mais importante, muito
bem fixados e ancorados na camisa. Isto se
consegue somente executando o picote com
eletrodo revestido. Um picote corretamente
executado apresentará, após o passe final, uma
dureza superficial igual ou superior a 58 RC.”
Já para o chapisco, o teor de Cr do eletrodo não pode ser inferior a 27%, segundo
Rodrigues. Os glóbulos depositados devem
apresentar um diâmetro de 1,5 a 3 mm. E, o
mais importante, a densidade por cm2 deve ser
compatível com uma cobertura de pelo menos
50% da face do friso. “Para se ter uma ideia
grosseira, e sempre falando de eletrodos, não
se conseguirá uma boa densidade de glóbulos
sobre um friso passo 2”, ângulo de 35°, se
esta face não receber pelo menos 2,5 varetas
de eletrodo!”
Rodrigues salienta que as tecnologias estão melhorando, mas ainda precisam de preços mais competitivos e redução do peso para
facilitar a sua movimentação de um terno para
outro, e entre os rolos de um mesmo terno. “A
vida útil das tochas também tem que ser aumentada. Além disso, a movimentação longitudinal
e o seu posicionamento entre frisos vizinhos,
bem como a movimentação da tocha da crista
para o fundo do friso precisam ter a precisão e
a acurácia melhoradas. E o consumível (arame)
necessita de aprimoramentos no sentido de melhorar o rendimento da aplicação, a fixação e a
dureza superficial dos glóbulos.”
Delfini também acredita que a tecnologia
de robôs para aplicação de chapisco ainda deixa a desejar, não pela sua funcionalidade, mas
principalmente pelo resultado do chapisco aplicado, pois trabalha com arame. “Recentemente temos observado uma grande evolução na
tecnologia dos robôs cuja operação esta sendo
mais focada no controle dos parâmetros de soldagem, permitindo um melhor aproveitamento
do insumo de soldagem e maior recurso para
controle da granulometria resultante da aplicação. Existe também uma empresa trabalhando
no desenvolvimento de um robô para aplicação
de eletrodos, porém, os investimentos para esta finalidade são relativamente elevados e, ao
contrário do desenvolvimento de robôs com
arame, não há experiência prévia para suportar
este desenvolvimento.”
Para ele, os robôs ainda não devem substituir completamente o homem uma vez que,
a cada operação, o robô precisa ser deslocado,
reprogramado e ter sua operação supervisionada. “No que diz respeito a substituir a aplicação manual, sem que haja prejuízo da qualidade obtida, acredito que ainda serão necessários
de cinco a dez anos para se atingir uma condição satisfatória. Uma questão importante precisa ser levantada: por que uma tecnologia que
é tão avançada em outros tipos de indústria,
como na automobilística, por exemplo, não
encontra paralelo na indústria açucareira? A
explicação desta enorme defasagem está no
fato do uso intensivo e de alto investimento
neste tipo de indústria, muito superior ao que
seria investido na nossa, afugentando iniciativas mais intensas de desenvolvimento deste
tipo de tecnologia para aplicação em nossas
moendas”, conclui Delfini.
conjuntura
Utilizados como principal canal para venda e compra de ativos, os leilões
virtuais vêm crescendo e já representam mais de 90% dos pregões
realizados por usinas sucroenergéticas
Uma mão se levanta e acena. “Dou-lhe uma, dou-lhe duas,
dou-lhe três! Vendido!”– diz o leiloeiro. O lance foi feito e o item
foi arrematado. É assim que por muitos de anos foram e ainda são
realizados os leilões por todo o mundo. Agora, imagine um produtor ou usina sucroenergética que deseja adquirir uma propriedade,
uma frota de caminhões, um trator, ou ainda que precisa colocar
alguns ativos à venda para gerar caixa, mas não tem tempo e nem
disponibilidade para organizar ou se deslocar até um leilão?
Pois bem, estes têm sido alguns dos motivos que tem feito
com que os leilões virtuais tenham tido crescimento expressivo
nos últimos anos, principalmente dentro do agronegócio, onde já
é possível, em um único clique, participar de leilões para compra
de gado, imóveis, fazendas e de máquinas e equipamentos agrícolas e industriais.
Para participar de um leilão presencial o comprador teria muitas
das vezes que viajar longas distâncias para participar do chamado
pregão. Hoje, um lance ou arremate pode ser feito na comodidade
e conforto do sofá de casa, via smartphone e com apenas um clique, evitando trânsito, longas filas e possíveis desgastes causados
por um mau atendimento.
A maioria das empresas organizadoras de leilões ainda trabalha
com a modalidade presencial e oferecem locais para a realização
dos pregões físicos, mas a modalidade online vem predominando
neste mercado. Pelo menos é o que tem acontecido com a Superbid, umas das principais empresas do ramo, a qual conclui 99,9%
dos seus leilões via internet.
DOU-LHE UMA,
DOU-LHE DUAS, DOU-LHE TRÊS
Ao invés de levantar as mãos, um clique no mouse. No lugar da
conhecida martelada, um relógio virtual com a contagem regressiva
para o final do pregão. O roteiro do leilão virtual é praticamente o
mesmo dos presenciais, tanto que muitas empresas fazem ambos
simultaneamente. Neste caso, os internautas disputam os bens em
igualdade de condições com as pessoas que estão nos auditórios dos
pregões e os lances aparecem nos telões instalados nos auditórios
e são analisados como ofertas. Nos dois casos é preciso se cadastrar previamente. Para participar do leilão eletrônico, no entanto,
a apresentação de documentos deve ser feita com antecedência.
Gustavo de Oliveira Rossi, diretor de marketing da empresa Rossi leilões, explica que, além dos leilões simultâneos (online/presencial), existem os leilões eletrônicos, que têm um tempo
pré-definido para os lances e finalização da venda. Neste caso, o
comprador pode fazer quantos lances quiser durante o tempo de
realização de cada lote, porém, o arrematante será o que apresentar o maior valor até o encerramento do tempo. “A diferença está
no tempo limite para a realização do apregoamento. Também é
necessário que a pessoa tenha um cadastro no site para que tenhamos informações seguras de que a compra ou a venda ocorrerá sem
maiores problemas.”
Pedro Suplicy Barreto, diretor comercial da Superbid, salienta que um dos maiores trunfos para o sucesso do leilão online é o
fato de haver as mesmas condições seja para comprar presencialmente ou online, o que faz com que a maioria dos compradores
opte pelo online.
“Oferecemos igualdade de condições entre os compradores
online e os presenciais. Vale destacar que os compradores podem
agendar com a Superbid a visita aos lotes desejados de acordo com
a sua disponibilidade e no dia do encerramento, podem participar
de onde estiverem, sem ter que lidar com os inconvenientes dos
tradicionais pregões físicos”, conta.
De acordo com o produtor agrícola Wesley Castro, que costuma
usar o site para vender os equipamentos que não utiliza mais em
suas propriedades, a ideia de participar dos leilões online surgiu
em 2013, depois que ele concluiu trabalhos em algumas de suas
unidades e não tinha mais o que fazer com alguns dos seus equipamentos. “Não dava para bater de porta em porta e oferecer. Precisávamos de um meio mais ágil e a nível nacional. Foi então que
33
MacBook Pro
PRESENCIAL
Além de estar fisicamente presente
no momento do leilão, é preciso fazer
o lance através de um gesto, um
aceno. O valor dos lances é definido
pelo leiloeiro. Geralmente, são
definidos intervalos de 1% do valor
do bem, no mínimo. O leilão só se
encerra com a saída do leiloeiro e da
equipe do local do leilão.
ONLINE
O roteiro do leilão online é
praticamente o mesmo dos
presenciais, tanto que muitas
empresas fazem ambos
simultaneamente. Neste caso, os
internautas devem primeiro fazer um
cadastro e depois escolher o leilão
que desejam participar. As disputas
dos bens ocorrem em igualdade de
condições com as pessoas que estão
nos auditórios onde os pregões estão
acontecendo.
ELETRÔNICO
Modalidade de leilão realizada
através da internet com o envio de
lances eletrônicos. Quem der o maior
lance até o seu encerramento, já
pré-estabelecido, arremata o bem.
Para participar, o interessado deve
primeiramente se cadastrar no site no
qual se deseja arrematar algum bem
e enviar a documentação necessária,
conforme as condições específicas
do leilão. São aceitos os lances que
atenderem as normas e critérios de
participação de cada leilão.
34
procuramos um site de leilões online para fazer o negócio.”
Castro revela que a princípio houve receio e ansiedade em relação à modalidade de venda, que ainda não fazia parte do hábito de
muitos produtores brasileiros naquela época. “Mas resolvemos arriscar devido ao conforto que a empresa nos deu em relação ao leilão”,
explica ele, que na oportunidade, escolheu o Superbid para mediar às
vendas de seus itens.
No primeiro lote Castro conta que vendeu 60 tratores com preços
satisfatórios. No segundo e terceiro leilão chegou a negociar lotes que
ultrapassavam R$ 2 milhões em equipamentos. “A partir daí, identificamos que esse negócio de máquinas e implementos seria um sucesso
e resolvemos continuar.”
Em todos os leilões existe uma lista com todas as características
dos bens que estão sendo vendidos, além de fotos que facilitam na hora
do comprador avaliar e escolher ou não certos produtos. “É importante
deixar claro que, em todo leilão, é possível visitar o lote pessoalmente
para obter detalhes antes da compra”, relata Rossi.
De acordo com Barreto, os itens vendidos com maior frequência
pelo setor sucroenergético por meio do Superbid são as frotas leves e
pesadas, incluindo carros de passeio, pick-ups, tratores, máquinas pesadas, caminhões e também carretas. “Podemos destacar também uma
vasta gama de implementos e equipamentos de apoio, tal como pulverizadores, transbordos, arados, tubos e bombas para irrigação. Já na parte industrial, podemos citar os conjuntos de moendas, tanques, filtros,
centrífugas, caldeiras e turbinas.”
Os equipamentos vendidos com maior facilidade são os agrícolas,
pois têm um público comprador mais amplo, segundo Barreto. Já os
equipamentos industriais encontram boa liquidez, porém, com um número menor de potenciais compradores. “O público comprador é bastante
variado, no entanto, tem havido uma presença crescente do consumidor final, aquele fazendeiro ou usina que quer realizar um bom negócio
comprando produtos com descontos significativos, se comparados com
a venda direta”, explica Barreto.
Só em 2015, foram realizados mais de 114 leilões de usinas sucroenergéticas via Superbid. Em 2016, até o momento, já aconteceram
46, segundo a empresa. Usinas como Santa Adélia, São Manoel, Pedra
Agroindustrial, Abengoa, Guaíra, Agroterrenas e grandes grupos como
Guarani, Bunge, Raízen, São Martinho, Aralco, Noble Agri e NovAmérica, são algumas das empresas que colocaram à venda suas frotas de
carros, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas, máquinas pesadas, entre outros itens.
LEILÕES JUDICIAIS
Dentro do segmento existem ainda os leilões judiciais, caracterizados pelo fato dos bens leiloados terem sido levados a esta situação
por determinação de um juiz para o pagamento de dívidas. No caso dos
leilões da Justiça do Trabalho, por exemplo, estes são realizados para
pagamentos de dívidas oriundas de processos trabalhistas. Já os realizados pela Justiça Federal e Estadual, geralmente são realizados por
conta de tributos atrasados. A disputa pela compra pode ser eletrônica e
presencial, tudo depende da regra específica do leilão, que pode variar.
De acordo com Iamily Rodrigues, da Leilões Judiciais
no Brasil, os valores dos bens levados a leilão são definidos
pelo oficial avaliador, - que é nomeado pelo juiz que preside
o processo, podendo ser indicado pelo credor-, e são compatíveis com os valores praticados no mercado. A grande vantagem dos leilões judiciais, segundo Iamily, são os descontos
praticados, que podem chegar a até 70% do valor do item.
Iamily explica que nos leilões judiciais o arrematante
tomará posse do bem após a liberação da carta de arrematação. Com a carta em mãos, o comprador poderá ir direto ao
endereço do fiel depositário e buscar o bem arrematado. “A
carta de arrematação é liberada em, no mínimo, 30 dias, mas
pode demorar um pouco mais dependendo do andamento do
processo. Ela vale como nota fiscal do bem móvel, como o
recibo de transferência do veículo ou como a escritura de um
imóvel. Para saber se a carta está pronta, o comprador deve
dirigir-se até a Justiça que realizou o leilão com o auto de
arrematação em mãos”, explica.
Perguntada sobre a possibilidade do dono do bem pedir a
devolutiva do item arrematado, Iamily explica que o réu - pessoa física ou jurídica que tem seus bens leiloados para pagamento de dívida em favor do exequente/credor – pode sim, em
até dez dias, contestar a arrematação. “O juiz não tem prazo
para decidir isso. Pode demorar entre 2 e 12 meses. De qualquer forma, ou o dinheiro investido pelo comprador é devolvido ou o bem, conforme consta no edital. Após a expedição
da carta de arrematação ou ordem de entrega, a invalidação
da arrematação será pleiteada por ação autônoma”, conclui.
Nos últimos anos o número de usinas sucroalcooleiras que
participaram deste tipo de leilões aumentou. Entre as usinas
que já passaram pela Leilões Judiciais, Iamily cita a Unialco
S/A e a Usina Central do Paraná.
Em processo de recuperação judicial desde 2014, a Usina
Carolo, leiloou, em junho de 2015, via Superbid Judicial, a
Usina Planalto, sua unidade produtiva localizada em Ibiá,
MG, e a fazenda Manchúria, de 1.271 ha. A planta industrial
tinha uma estrutura de produção composta por conjunto de
moendas, caldeiras e destilaria para a produção de etanol
com uma capacidade nominal de 300 m3/dia de combustível
e armazenamento de 15 milhões de l. A venda foi determinada, na época, pela Juíza da 1ª Vara Cível da Comarca de
Pontal/SP, Drª. Carolina Nunes Vieira.
O lance inicial era de R$ 25 milhões, o equivalente a
45% do valor total das avaliações, mas pesquisas feitas pela
equipe da RPAnews no site do Superbid Judicial mostram
que o encerramento deste leilão, o qual obteve 14.826 visitas, ocorreu no dia 18/09/2015, após um último lance no
valor de R$ 40.292.800. No entanto, o leilão fechou sem
vencedores. De acordo com a Superbid, foram realizados,
até o momento, 1.508 pregões judiciais. (Colaboração de
Alisson Henrique)
Nos leilões online, os internautas disputam os bens em igualdade de
condições com as pessoas que estão nos auditórios dos pregões
Só em 2015, 114 leilões foram realizados por usinas sucroenergéticas
com a intermediação do Superbid, a qual finaliza 99,9% dos leilões via
internet
35
36
37
conjuntura
Diante das dificuldades enfrentadas pela cadeia sucroenergética ao longo dos últimos
anos, o autor dá sugestões de medidas que poderiam fortalecer
e alavancar o setor frente ao novo cenário político
*José Américo Rubiano
A contribuição do Governo Dilma para a destruição do setor sucroenergético, antes da percepção que estava destruindo o Brasil, é de tal monta
que a retomada em um cenário de crise geral torna-se ainda mais difícil.
O Brasil vive um momento paradigmático. Ainda que com boa parte dos
atores de filme B da Câmara Federal, um novo governo se inicia. Desce
a rampa aquela que jamais poderia ter subido, e sobe um político experimentado, intelectual e politicamente mais preparado e com experiência
para conduzir com melhores resultados as necessárias tratativas com o
Congresso Nacional. A policromia política brasiliense impõe um ajuste
de expectativa. Ainda assim, haverá avanços.
É nessa nova quadra da política nacional que o setor deve situar-se
para buscar as conquistas necessárias para reencontrar-se crescentemente
como provedor de empregos, de sustentabilidade, contribuinte de tributos
e da balança comercial.
Sem pretensão de esgotar o tema, vamos nomear algumas dificuldades
e sugestões que contribuirão para o setor retomar o crescimento. Uma parte
importante é o endividamento tributário. Acredito que uma ferramenta, já
experimentada, mas que deve ser aperfeiçoada,seria a implementação de
um novo PESA (Programa Especial de Securitização de Ativos). Afinal,
como o governo contribuiu fortemente para as dificuldades, tem a obrigação de prover soluções.
O endividamento bancário tem que ser resolvido e está sendo resolvido em negociações entre partes. Importante observar que os credores
tenham real consciência das dificuldades, para não imporem negociações
que inviabilizem a atividade e o recebimento de seus créditos. Juros e prazos compatíveis com a capacidade de pagamento são fundamentais nessa
negociação. Estes dois aspectos resolvidos terão reflexos importantes nos
balanços das empresas.
A renovação da lavoura com a crise foi precarizada, com importante
impacto no índice de produtividade. É necessário aumentar substancialmente os recursos do Prorenova, transformando-o em linha regular de financiamento pelo prazo de, no mínimo, dois ciclos da cana. Neste momento
de dificuldades o BNDES pode buscar recursos no mercado internacional,
disponibilizando financiamentos em moeda forte para as empresas que
exportam produtos. Neste caso, a estruturação de garantias, além das usuais, considerando ainda a instabilidade do dólar, pode contar com instrumentos de mercado para mitigar o risco. Esta linha de financiamento com
38
mais recursos, permitirá que as empresas tenham melhores condições de
comercialização dos seus produtos, não precisando antecipar a venda de
quase toda a produção.
Outra questão importante (aqui é uma questão de opinião), é a velha
briga entre gasolina e etanol. Na data em que escrevo o preço do hidratado não paga o custo de produção. O anidro adicionado é vendido ao
consumidor final por R$ 3,50. Não seria o caso de um combustível único onde se estabeleceria uma adição crescente de anidro? Neste caso, há
espaço para um preço que remunere a produção. Outra alternativa seria
o desenvolvimento de motores que tornassem o etanol mais competitivo
com relação a gasolina, não pelo preço, mas pelo desempenho. O governo
que sai, poderia ter condicionado o forte apoio ao setor automotivo para
o desenvolvimento de novos motores, por exemplo.
Outro aspecto da maior importância é a representação do setor. As
instituições existentes têm feito um trabalho importante. Mudar a adição de etanol de 25% para 27% é importante. Mas é preciso avançar, ter
uma presença mais forte nas instâncias decisórias de governo. A pauta de
reinvindicação tem que ser com temas mais amplos, estruturantes e que
resolvam os nós do setor. Por exemplo, carga tributária não considera as
externalidades do etanol. Ainda que neste momento discutir a carga tributária e a forma de incidência dos impostos possa parecer pecado, não
é. Estamos falando de colocar o tema em discussão, para buscar um novo
modelo tributário para o setor, para quando o momento se fizer oportuno,
este modelo esteja maduro para ser proposto.
O setor deve atingir sua capacidade instalada nesta safra. Não seria
o caso de se desenvolver um programa especial para recolocar em atividade as dezenas de empresas fechadas, seja nos locais onde estão instaladas ou a relocalização das indústrias, quem sabe até para uma nova
fronteira do etanol? O setor produz energia limpa que ganha cada vez
mais espaço no mercado internacional. É inacreditável que este problema não tenha solução.
Para estes temas estruturais a representação do setor precisa aprender a
articular com as forças políticas que fazem a regra do jogo. Recentemente
foi instituído o Programa de Combustíveis e Tecnologias Veiculares e o
setor nem se quer está representado nesta comissão!
*José Américo Rubiano é proprietário da J.A Rubiano Consultores
Associados
gestão
Afinal, esses dois polos estão nelas ou na imaturidade
crônica das relações de trabalho?
*Beatriz Resende
Se existe um mercado fissurado em modismos,
nha de pensamento que o nosso famigerado (e muito
este é a área de RH. Depois que ela passou a ter
pouco praticado, embora antigo) feedback, deve ser
o caráter de área estratégica, isso ficou ainda mais
abandonado porque não traz resultados (já foi ten-
aflorado. Ela se sentiu na obrigação de entregar
tado de verdade?), e que agora a solução para todos
modelos e práticas pagos a custos altos no mercado
os nossos problemas é o feedfoward. Se já era difí-
para compensar ou confirmar a sua importância no
cil falar, entender e praticar o primeiro, o que será
âmbito do negócio e provar competência pela com-
dessa atual versão? Esse novíssimo conceito prega
plexidade em alta e não pela simplicidade bem feita,
que o feedback tradicional não é positivo porque só
sempre necessária e mais aderente.
fala de passado e não olha para o futuro (?). E que
Nos anos em que atuo na área, já vi conceitos,
o feedforward parte do princípio de que as pessoas
ferramentas e práticas saírem do patamar de heroínas
são capazes de fazer mudanças positivas para o fu-
para o de bandidas (exagero, Bia! Não achei palavra
turo, pois ele oferece falas positivas e estimulantes
melhor...), com postura blasé, como se nunca tivésse-
para que a pessoa dê importância a esse olhar e não
mos dado crédito um dia a esse, que hoje, tornou-se
à necessidade de correção trazida pelo tradicional
se o nosso atraso, o nosso atestado de incompetên-
feedback. Nada contra a nova ferramenta, adoro e
cia como área. Nem chegamos a aproveitar e incen-
estimulo formas de facilitar a evolução e maturida-
tivá-las da forma correta e construtiva, e já estamos
de da relação chefia-subordinado que, a meu ver, é
abrindo mão em nome das novas e recomendadas
o foco do processo e não a ferramenta em si. Com
boas práticas de mercado.
velhos nomes complicados e /ou novos nomes para
Vou trazer dois exemplos mais atuais do que eu
velhas práticas, velhas de necessidade e ainda ten-
estou falando nesse artigo. Um deles veio de uma li-
tando resolver velhos problemas, mas pouco vividas,
39
acredito que nosso dever como área é treinar, estimular e
pela insígnia de Avaliação de Desempenho, representando,
dar exemplos, a começar de nós (raramente vejo um RH
na maioria dos casos, a mesma coisa. E as reais avaliações
que vive o que prega), para a prática construtiva do diálo-
de desempenho, baseadas em métricas de desempenho opera-
go entre as parcerias. Independente do nome e se é ou será
cional e de gestão (setorial e corporativa), são praticadas de
tendência global. Se o feedback não foi utilizado até hoje
forma correta por poucos e ainda não entendida na íntegra.
como deveria, a culpa é somente nossa: do RH, de mais
Isso sem citar a onda da Avaliação 360º, que até ontem foi
ninguém. Nós é que não soubemos utilizar de estratégias
endeusada mesmo por realidades que não tinham a mínima
para “vender” aos líderes e gestores, de um lado, e às pes-
condição e cultura de praticá-la.
soas, de outro, a importância de usar a ferramenta no dia
Nesse cenário, como podemos afirmar que avaliar pesso-
a dia, para construção de manutenção de relações mais
as não é mais eficaz, se ainda não chegamos num acordo em
transparentes e maduras. Deixamos passar, mais uma vez, a
como avaliar, utilizando o que? Se nem a área de RH entende
oportunidade de ser importantes na prática de bons hábitos.
claramente os conceitos e sua aplicabilidade, como vamos
Portanto, não é que o feedback só olhe para o passado e os
cobrar essa lucidez e competência do gestor?
erros; que não estimule os pontos fortes; e que não tragam
E ainda: precisamos de, uma vez por todas, desatrelar
soluções conjuntas. É que ele foi mal praticado: sem boa
o processo de avaliar pessoas e orientá-las a partir disso,
vontade; pela metade; de forma inadequada; sem a venda
de uma ferramenta periódica. Avaliar e orientar pessoas são
necessária. Só isso. E tudo o que vier de novo pode cair
práticas do dia a dia. Talvez sim, eu concordaria com esse
na mesma armadilha, porque o problema é maior do que a
novo discurso, se ele viesse propondo que saíssemos desse
simples troca de ferramentas.
formato que temos praticado (quando praticamos), para um
Outro exemplo mais recente ainda, e que novamente
processo mais consistente, desenhado a várias mãos, estimu-
me causa angústia pela forma como as pessoas certamen-
lado e envolvido, e amadurecido com, de novo, boa vontade,
te interpretarão, vem de um discurso que as avaliações de
competência e propósito da área de RH. É mais fácil criticar,
pessoas (competências ou desempenho) estão chegando ao
queimar, abandonar as práticas com a desculpa da sua inefi-
fim. Ai, ai....lá vamos nós de novo!
cácia, do que tentar aprimorar o que se tem e avaliar porque
Assim como o feedback, e lembrando que elas andam
motivos não temos visto resultados nelas.
juntas, as avaliações também sofreram da síndrome do fra-
Podemos falar ainda dos processos de coaching e mento-
casso da prática por várias vezes. Nos anos 70, a avaliação
ring, também exaltados nos últimos anos e já praticados, com
de desempenho era moda e não tinha a característica que a
outros nomes, técnicas ou de forma mais simples, com certe-
repaginação dos anos 2000 à frente trouxe. Ela era mais tí-
za, na busca dos mesmos resultados: desenvolver competên-
mida em termos de ferramenta (formulário/tela), mas muito
cias técnicas, comportamentais e de gestão nos profissionais.
valorizada e utilizada na época. Depois de umas duas dé-
Amadurecê-los em seus papéis e entregas. Isso é novo? Os
cadas, ela foi derrubada com a pecha de que não era eficaz
nomes com certeza sim, mas a necessidade não.
por ser subjetiva, e ter conceitos tratados de forma mistu-
Essas são minhas considerações, e as considero muito lú-
rada (desempenho, conduta, requisitos pessoais e outros).
cidas porque, além de conhecimentos e experiências sólidas,
Na virada do milênio, um pouco antes disso, vivenciamos
já vivenciei toda essa trajetória, com bons e maus resultados,
a chegada da era das Competências, e aí passamos a bus-
e também já errei muito como toda a minha geração, que na
car o melhor modelo de avaliação de competências, numa
ânsia de buscar reconhecimento e valor, como área, tam-
sofisticação que pudesse encher os olhos dos dirigentes,
bém acreditou na solução fácil, através de troca de receitas
já que poderíamos, agora sim, provar que RH também se
e formulários. Depois me certifiquei, e hoje patrocino a re-
mostrava bom em métricas. E que as avaliações não eram
comendação de que a gestão das relações de trabalho não se
mais subjetivas. Enchemo-nos de orgulho por isso. Logo
faz com fórmulas e métricas, mas sim com diálogo, mentoria,
depois, atrelado a resultados, voltou-se a falar, com toda
dedicação, disciplina e uma causa. A causa de contribuir pa-
força, em desempenho. E que era este que valeria, já que
ra a formação e evolução dos profissionais que passam pelas
as empresas tinham que mostrar resultados e as pessoas
nossas mãos. E isso não se compra: a gente pode, no máximo,
também. Até porque precisamos buscar outras formas de
tentar despertar ou estimular, mas é algo inerente ao posicio-
remuneração e valorização e tais avaliações iriam subsidiar
namento de vida e profissional de cada um.
essa necessidade. A avaliação de competências, com esse
nome, foi logo deixada de lado, e foi rapidamente trocada
40
*Beatriz Resende é consultora, palestrante e conselheira de
Carreiras da Coerhência-Integrando Negócios & Pessoas.
Atualidades Jurídicas
DIREITO TRIBUTÁRIO
STJ JULGARÁ EXCLUSÃO DO ICMS
DA BASE DE CÁLCULO DA COFINS
O STJ analisará, em sede de recurso repetitivo, a possibilidade de exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins, cujo impacto econômico poderá ser de até R$ 250 bilhões,
segundo relatório Riscos Fiscais, da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016.
A questão a ser discutida é antiga nos tribunais superiores,
com o entendimento consolidado do STJ em sentido contrário aos
contribuintes havendo, inclusive, duas súmulas editadas há mais
de 20 anos por aquele tribunal, sendo que a discussão voltou à
tona após manifestação do STF favoravelmente aos contribuintes.
A discussão no STF foi proferida em 2014 após mais de
15 anos de debates e entendeu que a base de cálculo da Cofins
abrange apenas valores obtidos nas operações de venda ou de
prestação de serviços, excluindo, assim, o ICMS, uma vez que
este tributo não reflete a riqueza obtida, constituindo ônus fiscal
e não faturamento. Além dessa decisão, há outras duas ações no
STF à espera de julgamento, uma dela inclusive em repercussão
geral, razão pela qual há entendimentos de que a jurisprudência
do STJ não poderá ser alterada sem o julgamento das ações em
trâmite no STF. Outra questão acerca do tema diz respeito ao
alcance da decisão que será proferida pelo STJ, uma vez que
esta corte tem competência para analisar o caso até o limite da
lei federal, e os argumentos principais para a exclusão do ICMS
da base de cálculo do PIS e da Cofins são constitucionais, cuja
competência para análise é do STF.
A admissão do julgamento em sede de recurso repetitivo foi
proferida monocraticamente pelo ministro Napoleão Nunes Maia
Filho em recurso apresentado por empresa do setor automotivo
do Estado do Paraná e será julgada pela 1ª Seção do STJ, ficando suspensos todos os processos que tratam da mesma matéria.
DIREITO DO TRÂNSITO
SANCIONADA A LEI QUE TORNA
OBRIGATÓRIO O USO DO FAROL
BAIXO DURANTE O DIA NAS
RODOVIAS
O presidente em exercício, Michel Temer, sancionou a lei
nº. 13.290, de 23 de maio de 2016 que torna obrigatório o uso
de farol baixo durante o dia nas rodovias. A lei sancionada e
publicada no Diário Oficial da União em maio de 2016, altera
dispositivo do Código de Trânsito Brasileiro, e determina que
o condutor mantenha acesos os faróis do veículo, utilizando luz
baixa, durante a noite e durante o dia, nos túneis providos de
iluminação pública e nas rodovias. Atualmente, só é exigido o
uso de farol durante a noite e em túneis, independentemente do
horário do dia.
A lei entrará em vigor em 45 dias contados da data da sua
publicação, para que haja ampla divulgação da norma, por se
tratar de medida com grande repercussão. A alteração resulta
na previsão de nova infração de trânsito, sendo que em caso de
descumprimento do comando estatuído, o motorista será autuado por infração média, com a penalidade de multa de R$ 85,13
e quatro pontos na carteira de habilitação.
DIREITO CIVIL
MUDANÇA NO CNPJ FACILITARÁ
COBRANÇA JUDICIAL
A Instrução Normativa 1.634 da Receita Federal alterou o regulamento do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), passando a obrigar
empresas estrangeiras a identificarem seus controladores ou beneficiários
finais a partir de 2017. As informações deverão ser incluídas no chamado
Quadro de Sócios e Administradores (QSA) da empresa.
A medida deve facilitar cobrança de dívidas tributárias ou de natureza privada e evitar a blindagem patrimonial, impedindo que brasileiros
usem empresas no exterior para esconder patrimônio.
DIREITO DO TRABALHO
OPERADOR É DISPENSADO POR JUSTA
CAUSA APÓS TIRAR COCHILO
E PARALISAR USINA
Tribunal Regional do Trabalho do Paraná manteve a demissão por
justa causa de um operador de pá carregadeira que provocou a paralisação
total de uma usina de açúcar, após colocar a máquina em ponto morto
para tirar um cochilo. A atitude deliberada do trabalhador fez com que as
sobras de bagaço de cana entupissem as esteiras, desarmando o sistema e
exigindo a paralisação das caldeiras por cerca de duas horas.
Ao recorrer à Justiça, o trabalhador alegou que não havia motivo grave o suficiente para a demissão por justa causa. O pedido de reversão da
dispensa foi negado. O trabalhador recorreu, argumentando que sempre
trabalhou de forma exemplar e que o fato de ter dormido não colocou em
risco de vida os empregados da ré e não gerou prejuízos.
No entanto, para os desembargadores, a negligência do operador, além
de causar prejuízo financeiro à usina, colocou a própria vida em risco e
também a dos demais trabalhadores. Verificada a gravidade na falta cometida pelo empregado, não há rigor excessivo nem falta de proporcionalidade na dispensa imediata.
EMPREGADO DEVE SER COMUNICADO
SOBRE PERÍODO DE FÉRIAS COM PELO
MENOS 30 DIAS DE ANTECEDÊNCIA
Todo empregador deve comunicar ao empregado com antecedência
de, pelo menos, 30 dias, qual será o período de suas férias, devendo o
empregado dar recibo dessa comunicação. Já o pagamento das férias, com
acréscimo de um terço, deve ser efetuado até dois dias antes do início do
período de gozo (artigos 135 e 145 da CLT).
Justamente em razão da inobservância dessas determinações legais
que o coordenador de uma empresa pediu na Justiça do Trabalho o pagamento das férias em dobro. A empresa se defendeu, ao argumento de que
a ausência do cumprimento desses prazos configura mera infração administrativa, incapaz de ensejar sanção em dinheiro em prol do trabalhador.
Mas ao examinar a questão, o juiz deu razão ao coordenador. Explicando que caso a empresa descumpra essas determinações, concedendo as
férias ou efetuando o pagamento fora do prazo legal, ainda que as férias
tenham sido gozadas em época própria, a parcela deve ser paga de forma
dobrada. Nesse sentido, a OJ 386 do TST, invocada pelo juiz, que refutou, assim, a configuração de mera infração administrativa suscitada pela
empresa. Conforme observado, a empresa não comprovou a comunicação
da concessão de férias, revelando os contracheques que o pagamento foi
quitado fora do prazo, quando já em curso o descanso anual. A empresa
recorreu, mas o TRT manteve a decisão de origem, por unanimidade.
41
41
Por dentro da Usina
USINAS MANTÊM POSTURA
CAUTELOSA EM 2016/17
Os principais grupos sucroenergéticos do país,
Raízen, Tereos, Biosev e São Martinho, listadas na
BM&FBovespa, têm mostrado uma postura mais
cautelosa na safra 2016/17. Isto é o que mostram as
divulgações dos resultados do exercício 2015/16,
marcados por incrementos robustos nas respectivas
receitas líquidas.
Em contrapartida, a valorização do dólar em relação ao real até o início deste ano agravou o endividamento da maior parte das companhias, que só não
foi mais preocupante porque, em geral, os ganhos
operacionais suavizaram as relações entre dívida e
Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação
e amortização).
Ainda que a maior parte das projeções indique
déficit global de açúcar nesta e na próxima safra, e
exista algum otimismo com a política de preços de
combustíveis da Petrobras no Brasil, os grupos sucroalcooleiros prometem controlar seus gastos com
rédea curta e continuar a reduzir a alavancagem, em
alguns casos, com o alongamento de dívidas.
USINA FLEX NO MT
INTERROMPE FABRICAÇÃO
DE ETANOL DE MILHO
A Usina Porto Seguro, localizada em Jaciara,
MT, interrompeu, desde janeiro, a sua produção de
etanol a partir do milho. O preço da saca de 60 kg
do cereal e a escassez do produto foram os principais motivos para a paralisação das atividades na
indústria, que é flex (produz etanol a partir de milho e cana-de-açúcar). No último dia 15 de junho a
empresa iniciou a produção do combustível através
da cana-de-açúcar.
A produção de etanol a base de milho é realizada pela Usina Porto Seguro durante a entressafra
da cana-de-açúcar, que tem período de seis meses.
Em 2015, a unidade moeu, em média, 500 t de milho por dia, o que significa uma produção de aproximadamente 200 m3 de etanol. O diretor da Usina
Porto Seguro, Michael Hebert Matheus, explica que
o mercado tem muitas nuances e que o custo de produção envolve não apenas a cotação do milho, mas
insumos, que em sua maioria são cotados em dólar,
e até mesmo do valor de mercado do próprio etanol.
Mesmo diante do cenário, novos investimentos estão sendo realizados. “Estamos fazendo um
investimento que deve chegar a R$ 5 milhões em
novas dornas e outros equipamentos que permitirão
separar a produção do etanol a partir do grão. Havendo viabilidade de mercado, será possível produzir etanol de grão 365 dias por ano”, diz Matheus.
42
NOVA ARALCO DESENVOLVE PROJETO
DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS
Colaboradores da Nova Aralco participaram do treinamento do Programa de Aplicação Responsável 2016, da Dow AgroSciences, realizado em
parceria com a Unesp de Botucatu. O encontro aconteceu no Alojamento
da Aralco, em Santo Antônio do Aracanguá e contou com a participação
de 48 trabalhadores do setor de Tratos Culturais do grupo, que foram certificados pelo programa da Unesp.
A capacitação tem intuito de transmitir a responsabilidade durante a
aplicação de defensivos agrícolas e garantir a sustentabilidade do agronegócio. Os participantes tiveram a oportunidade de usufruírem de aulas
teórica e prática, ministradas pelos profissionais Mateus Queiroz e Saulo
Gomes, ambos da Unesp.
Para o assistente de Formação e Colheita, Tiago Rodrigo Dossi, os
benefícios do programa são vários como: atualização técnica de operadores, atualização da segurança do trabalho, diminuição de perdas, maior
qualidade na operação, entre outros. “Esse tipo de treinamento é sempre
importante para reciclagem dos colaboradores com mais experiência; e
ao crescimento, amadurecimento dos colaboradores recém-contratados”,
afirmou Tiago.
USINAS ITAMARATI É A PRIMEIRA
EMPRESA A INTEGRAR O PACTO EM
DEFESA DAS CABECEIRAS DO PANTANAL
A Usinas Itamarati passa a ser a primeira empresa a fazer parte do Pacto
em Defesa das Cabeceiras do Pantanal, movimento lançado em 2015 para recuperar nascentes e conservar rios da maior área úmida do planeta. Atualmente
o projeto conta com a parceria do governo do Mato Grosso, 25 prefeituras da
área das Cabeceiras do Pantanal, além do Consórcio Complexo Nascentes do
Pantanal e a ONG WWF-Brasil.
A Usinas Itamarati se compromete em promover a troca de experiências em
educação ambiental, planejar a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de nascentes, e ainda em participar na elaboração e na gestão
do Plano de Bacia do rio Paraguai. “Nossa empresa tem forte preocupação com
o meio ambiente e integrar o Pacto revela esse compromisso. É também uma
oportunidade de cuidar das águas que não só alimentam os animais e plantas
do Pantanal, mas que nos ajudam a promover o desenvolvimento sustentável
de uma região onde vivem e produzem mais de 3 milhões de pessoas”, afirma
Caetano Henrique Grossi, gerente de Meio Ambiente da Usinas Itamarati.
NISSAN DESENVOLVE NOVO
SISTEMA QUE SUBSTITUI
HIDROGÊNIO POR ETANOL
UNESP LANÇA APLICATIVO QUE
IDENTIFICA QUALIDADE DE
COMBUSTÍVEIS
A Nissan divulgou que está desenvolvendo um novo tipo
de célula de combustível para automóveis, o SOFC (Solid
Oxide Fuel Cell), que ao contrário dos dispositivos que utilizam o hidrogênio, utilizará etanol. A tecnologia é chamada
de e-Bio e utilizará o etanol comum, obtido através da cana-de-açúcar ou milho.
A Nissan decidiu trocar o hidrogênio pelo etanol por conta
da sua complexidade e por conta dos riscos que se tem com
o hidrogênio, que exige a instalação de tanques pressurizados, tanto nos postos quanto nos automóveis. Em ambos os
casos, tais tanques precisam ser feitos de fibra de carbono,
aumentando muito os custos.
Além disso, em relação aos automóveis, não há necessidade de tanques especiais e o sistema de células de combustível
E-bio dispensa o uso de platina e outros materiais nobres no
catalisador, que são muito caros. Isso porque, a tecnologia
funciona em temperaturas mais altas que as dos carros movidos por hidrogênio. Com isso, um carro movido por células
de combustível E-bio poderá ser abastecido com etanol em
qualquer posto, sendo muito mais barato que um equivalente
movido por hidrogênio. A previsão é que o primeiro modelo
SOFC e-Bio da Nissan seja lançado em 2020.
Desenvolvido pela Unesp (Universidade Estadual
Paulista), o aplicativo PostoFiel poderá ser um novo aliado na hora de abastecer. Com ele, é possível reconhecer
e atestar a qualidade dos combustíveis comercializados
nos postos participantes do programa. O objetivo é reforçar a credibilidade dos postos e trazer mais confiança
para os usuários.
O PostoFiel é um programa do Centro de Monitoramento e Pesquisa da Qualidade de Combustíveis, Biocombustíveis, Petróleo e Derivados (Cempeqc), laboratório
de pesquisa e prestação de serviços da Unesp, sem fins
lucrativos, que trabalha em prol do interesse público.
Para usar basta baixar o aplicativo na AppStore ou
na GooglePlay no celular, tablet ou pelo site www.postofiel.com.br. Depois, é só personalizar a busca com os
tipos de combustíveis que mais usa, clicar em “farejar”
e pronto. Vão aparecer somente os postos participantes
que tiverem o tipo de combustível que escolheu e com a
qualidade realmente comprovada.
BIOSEV E RIDESA
FIRMAM PARCERIA PARA
MELHORAMENTO GENÉTICO
NO NORDESTE
A Biosev e a Ridesa (Rede Interuniversitária para o
Desenvolvimento do Setor Sucroenergético), anunciaram
um acordo para pesquisa e desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar com o objetivo de impulsionar
o melhoramento genético no Nordeste.
O projeto, chamado Núcleo Experimental, foi iniciado
com o plantio de 25 mil seedlings (plantas oriundas de hibridação) em uma área de 2 ha em Arez, no Rio Grande do
Norte. O Núcleo Experimental fará a seleção de clones na
fase inicial, o que possibilita a identificação e seleção de
materiais genéticos mais adaptados às condições de clima
e solo da região.
Segundo Ricardo Lopes, diretor Agrícola da Biosev, o
incremento de novas variedades é um dos fatores que mais
contribuem para o aumento de produtividade e sustentação
do potencial produtivo da cultura. “E é esse um dos nossos
objetivos com o projeto”, conclui.
Atualmente, o acervo varietal da Ridesa conta com 94
variedades com aptidões de cultivo para diferentes regiões
do País, sendo que sete delas correspondem a 60% da área
total de cultivo.
AGRONEGÓCIO MOVIMENTA
TRANSAÇÕES EM NOVA
PLATAFORMA ONLINE
Os resultados do setor de agronegócios têm sido fundamentais para que a crise econômica do Brasil não seja
ainda mais profunda. Segundo o Ministério da Agricultura, no primeiro semestre deste ano, somente a exportação
cresceu 7,4%. Este resultado reflete no bom desempenho
da área na XBW, plataforma de negócios destinada a intermediar o contato entre compradores e fornecedores de
produtos e serviços de diversos segmentos.
O portal reúne grandes nomes do setor como Bayer,
Yara, John Deere, entre outros, que são responsáveis por
uma fatia de mais de 25 mil acessos dentre os mais de
250 mil usuários cadastrados. Os contratos entre as empresas do segmento engrossam o montante de mais de R$
2 milhões de negócios já firmados pelo portal em menos
de três meses.
No total, são mais de 6 mil empresas de diversos segmentos que podem ser acessadas com apenas um clique.
“Os empreendedores de diversas frentes que englobamos
no portal podem contar com a nossa ajuda para facilitar
os trâmites de compra e venda de produtos no dia a dia. A
XBW é uma plataforma simples, rápida, que conecta todas
as pontas da cadeia de maneira efetiva, proporcionando
uma otimização da produção, com redução de custos, já
que você pode ter acesso a dezenas de orçamentos rapidamente”, explica Anderson Detogni, CEO da plataforma.
43
Não importa se você é um corretor da
Para Beatriz Rossi Resende de Olivei-
mo hobby ou prática incorporada na rotina
bolsa de valores ou então um executivo do
ra, coaching e consultora Organizacional
de cuidados da saúde, têm mais energia e
mais alto escalão de uma empresa, um pes-
da Coerhência, o fato das pessoas terem
disposição para encarar os desafios que
quisador científico ou ainda um motorista
outras atividades e fontes que visam uma
a vida profissional condiciona, ou pelo
de caminhão. Independentemente da pro-
busca de energia, prazer, complementação
menos, consegue lidar com mais humor
fissão que você escolheu para a sua vida,
ou outro objetivo é muito positivo. “Pes-
e vitalidade.
ter atividades extracurriculares é sempre
soas que trabalham muito, ainda mais em
João Henrique de Andrade, diretor
fundamental para a boa saúde do corpo e
atividades intelectuais/mentais, precisam
Financeiro Administrativo e Industrial
da mente. Seja fazendo exercícios físicos
buscar o equilíbrio através de algo que
da Usina Pitangueiras, revela que mes-
regularmente ou tendo algum hobby como,
faça a mente se esvaziar. Até para depois
mo com uma rotina agitada, consegue ter
por exemplo, andar de moto, a cavalo ou
ter mais capacidade para trabalhar com o
uma vida balanceada. “Sempre encontro
ainda jogar vídeo game, é tão importante
foco, criatividade e arejamento, necessá-
um tempo para conciliar trabalho e ati-
quanto trabalhar.
rios às nossas atuações.”
vidades extras. Jogo tênis praticamente
Segundo a psicóloga Ana Ficher, o
Se a sua desculpa é a falta de tempo,
todos os dias, faço pilates duas vezes por
hobby é uma atividade feita por livre es-
apenas entenda que o que você precisa é
semana e academia três vezes. Costumo
colha de um indivíduo que busca satisfa-
de disciplina! Os especialistas são unâni-
praticar tiro ao prato aos finais de semana
zer necessidades, sendo essas, outras que
mes em dizer que para conseguir conciliar
também”, conta.
não àquelas meramente financeiras, nor-
trabalho e os hobbies, organização e disci-
Cargos de gestão e chefia nas empre-
malmente feitas fora do horário de traba-
plina são fundamentais. Sem organização
sas acabam exigindo um pouco mais das
lho. “Pode ser um esporte, como andar de
para ajustar compromissos e, principal-
pessoas. E para suportar as exigências, o
bicicleta, correr, jogar, treinar karatê ou
mente, sem muita disciplina e esforço para
profissional precisa ter não só os atribu-
ter uma coleção de miniaturas, aeromo-
aguentar o tranco, a façanha de conciliar
tos intelectuais necessários, mas também
delismo ou ainda tirar fotografias, fazer
atividade física, por exemplo, e vida pro-
precisa de saúde para trabalhar por horas,
scrapbooks, colecionar itens e outras mui-
fissional não é possível.
muitas vezes sentado, e estar “pronto para
tas atividades que proporcionem prazer a
quem pratica”, explica.
44
Segundo Beatriz, estudos comprovam
que pessoas que buscam os esportes co-
outra” no dia seguinte.
Marcio Sumay, empreendedor e mas-
ter coach afirma que, “quando você tra-
o executivo, que acredita
balha muito, mudar a chave é essencial.
que ter atividades fora do
E a pratica de algum hobby faz com que
trabalho é essencial. “Ter
você obtenha uma espécie de relaxamento
algo para distrair a mente
mental. Quando você consegue equilibrar
relaxa e prepara o executivo
auto performance profissional com estas
para os momentos de reflexão
práticas, você muda de foco. E daí, quando
e decisão que terão que ser tomados
você volta para o trabalho, há um ganho de
no dia a dia”, adiciona.
produção e atenção muito maior.”
Trabalho + atividade física regular =
Isto é exatamente o que acredita João
sucesso na carreira. É o que acredita Su-
Henrique, que relata que as atividades ex-
may, que explica que a escolha por uma
tras que ele pratica trazem um ganho enor-
atividade fora do trabalho deve buscar o
me, não só para o dia a dia no trabalho
equilíbrio, sobretudo com o que a pessoa
como também para a vida pessoal. “Ajuda
faz no seu dia a dia profissional. A escolha
tanto na vida pessoal, quanto na profissio-
pela atividade vai sempre depender muito
nal, pois precisamos ter concentração e
do ambiente de trabalho da pessoa.
determinação se quisermos ter resultado.
“O lado direito do cérebro é usado
Se eu for jogar uma partida de tênis ou
por nós para a execução da criatividade,
atirar em pratos sem estar focado no que
enquanto o esquerdo é encarregado pela
estou fazendo, com certeza não irei colher
razão. Por exemplo, se é uma pessoa
bons resultados.”
que tem muita competitividade no seu
Todos que conhecem o diretor Comer-
trabalho, provavelmente, ela precisa
cial da Usina Alta Mogiana, Gustavo Jun-
se reequilibrar com atividades mais
queira Figueiredo, sabem que ele tem um
relaxantes, como pintura, canto e outras
hobby um tanto quanto inusitado. Sua pai-
atividades artísticas. Isso porque estas
xão é pilotar aviões, mais especificamente
pessoas usam muito o lado esquerdo do
o seu monomotor Beech Bonanza. Picado
cérebro, o racional. Agora se o oposto
pelo “aerococus”, como ele mesmo diz, é
acontece, naturalmente, a parte que deve
isso que o ajuda a relaxar e deixar de lado
ser estimulada é a esquerda. Neste caso,
o estresse do dia a dia.
as atividades recomendadas são aquelas
“Além de ter a pratica de dirigir aviões
que estimulam competição, como corrida,
como hobby, também costumo jogar tênis,
futebol, tênis, entre outras, que podem
ouvir música e brincar com meus filhos.
aumentar seu grau de disputa”, detalha
Durante a semana também vou a acade-
o master coach. (Colaboração Alisson
mia, corro e ando de bicicleta”, afirma
Henrique)
45
executivo
Paulo Sérgio
de Marco Leal
Naturalidade
Cambará, PR
Idade
64 anos
Estado Civil
Casado, tem dois filhos e
três netos
Formação
Engenharia Civil pela Escola
de Engenharia de São José
dos Campos, SP
Cargo
Vice-presidente da Feplana
(Federação dos Plantadores
de Cana do Brasil)
Hobbies
Correr e curtir momentos ao
lado da família
Filosofia de vida
Saber conviver com as
diferenças
Mesmo tendo nascido dentro de uma fazenda e de carregar
em suas veias a tradição agrícola, herdada do pai e avô, produtores de café, soja, milho e cana-de-açúcar, o executivo deste
mês, Paulo Sérgio de Marco Leal, hoje vice-presidente da Feplana (Federação dos Plantadores de Cana do Brasil) - entidade
na qual atuou como presidente durante seis anos -, saiu aos 14
anos da pequena cidade de Cambará, no Paraná, para estudar e
só retornou quando já era formado em Engenharia Civil.
A escolha pela Engenharia Civil foi influência da família,
que apesar de ter raízes no campo, não tinha como tradição
formar engenheiros agrônomos. “Meu pai era advogado e não
tinha formação agrícola alguma e eu, como tinha na família outras pessoas que eram engenheiros, acabei sendo influenciado.”
Entre os anos de 1966 e 1985, Leal morou longe da família
e da cidade Cambará até que, após receber uma proposta para
trabalhar em uma petroquímica em Camaçari, na Bahia, resolveu voltar a sua cidade natal. O intuito, segundo ele, era reaproximar-se de sua família, principalmente porque ele já estava
casado e tinha dois filhos adolescentes. “Na época eu já tinha
meus dois filhos e havia acabado de receber uma proposta de
trabalho para montar outro projeto de uma petroquímica. Eu ficaria mais uns dez anos longe da minha família. Foi ai que eu e
minha esposa decidimos voltar a Cambará. Imediatamente abri
meu escritório de engenharia e comecei tudo de novo”, relembra.
Ao voltar à terra natal, Leal começou a acompanhar o dia a
dia da propriedade do pai, que na época já começava a cultivar
cana-de-açúcar. “Os baixos preços do café estimularam o início
do cultivo de cana em nossas propriedades. Logo que comecei
a me envolver mais no dia a dia da fazenda, também acabei me
tornando um associado da Canapar (Associação dos Fornecedores e Plantadores de Cana do Paranapanema), onde me encontro
46
Leal ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros,
em encontro da Feplana
Leal e o atual presidente da Repúlica, Michel Temer, em
encontro realizado no último mês de junho
até hoje. Inclusive, durante este período também cheguei a
gresso Federal, fizeram de seu nome o mais cotado para assumir
fazer parte da sua diretoria”, relembra Leal.
o importante cargo, que perdurou por dois mandatos, até 2016.
Após a morte dos pais, ele assumiu de vez a propriedade
“Pela primeira vez, assumi uma entidade de conotação na-
e começou a ser cada vez mais atuante dentro das associações
cional, atendendo às demandas tanto do Centro-Sul, quanto do
do setor. “Na Canapar comecei como um associado bastante
Nordeste. Demandas que, por muitas vezes, eram até mesmo
colaborativo e cheguei até a sua diretoria.”
antagônicas, mas que eram analisadas em separado para serem
Este, digamos assim, “espírito associativo”, como ele mes-
atendidas. Demandas do Nordeste não serviam ao Sul e vice-
mo descreve, era tão grande que acabou o levando a assumir
-versa, fazendo com que cada decisão tivesse que ser detalhada-
a presidência de uma cooperativa de produção de cana de mé-
mente estudada. Os conflitos de interesses foram equacionados
dio porte no Norte do Paraná, e também a diretoria de uma
com o diálogo. Nestes dois mandatos em que estive à frente da
cooperativa de crédito da região. Desde então, ele se tornou
presidência, minha maior atribuição foi reestabelecer o peso da
um dos líderes dos produtores de cana do Estado e do Brasil.
Feplana a nível nacional, de modo a torná-la reconhecida na-
Leal assumiu a presidência do Sindicato Rural de Cam-
cionalmente, afinal, ela é a única entidade nacional legalmente
bará por duas vezes, onde hoje atua como vice-presidente, e
estabelecida e que tem a legitimidade para a defesa jurídica do
também a diretoria geral da Santa Casa de Misericórdia da
produtor de cana”, salienta.
cidade, após a morte do pai, que era provedor do hospital. Em
Em março deste ano, Leal deixou a presidência, mas foi
2010 outro desafio surgiu em suas mãos. Diante de sua forte
requisitado pelo então novo presidente da Feplana, Alexandre
atuação durante quatro anos como vice-presidente da Fepla-
Lima, para auxiliá-lo novamente na vice-presidência. Lima, in-
na, Leal foi convidado a assumir a presidência da entidade,
clusive, só aceitou dirigir a entidade com a condição de poder
no lugar de Antonio Celso Cavalcanti, que estava há mais de
contar com a colaboração e atuação de Leal, dividindo com ele
dez anos a frente da federação.
as responsabilidades e atribuições que o cargo requer.
“A Feplana estava há quase 20 anos sem um novo presidente. Então a diretoria já estava cansada e a entidade, há tem-
PRODUTOR E PORTA-VOZ
pos, não participava mais das decisões políticas importantes e
Analisando o cenário sob o ponto de vista dos produtores
que impactavam os produtores. Na última gestão de Antonio
agrícolas, Leal afirma que um dos maiores desafios têm sido
Celso Cavalcanti em que fui vice, comecei a colocar a enti-
equacionar o custo de produção não só da cana-de-açúcar co-
dade onde ela realmente deveria estar. Viramos uma entidade
mo também da soja. Neste sentido, ele conta que tem procurado
de classe mesmo. Iamos a todos os encontros e eu cheguei a
investir em novas tecnologias agrícolas e no melhoramento dos
visitar todos os Ministérios. O intuito era aumentar o o diá-
solos da sua propriedade.
logo com o governo federal”, conta Leal.
Os custos de produção também têm sido outro desafio. “Pen-
Com sua entrada na presidência, Leal revelou que conse-
sávamos que a implementação do plantio e colheita mecani-
guiu ouvir e dar igual atenção aos interesses tanto dos pro-
zada de cana seria a nossa tábua de salvação e que nos traria
dutores do Nordeste, quanto dos produtores de São Paulo e
redução nos nossos custos de produção, contudo, não foi esse
Paraná. Inclusive, a sua conduta reta, as relações próximas e a
o resultado. Adicionado a isso, a falta de sistematização das
tramitação fácil na Câmara dos Deputados e também no Con-
áreas e de variedades aptas à mecanização fez com que a lon47
Ao lado do Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em
encontro recente
Ao lado de Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), durante encontro em
Brasília
gevidade do canavial diminuísse pela metade, havendo também
ados pelo agente regulador no qual conseguimos vender ener-
um aumento significativo de doenças, o que elevou ainda mais
gia de biomassa a preços que variavam entre R$180 e R$200.
os nossos custos de produção”, relata.
Nestes mesmos leilões, a energia advinda das termoelétricas
Leal analisa que apesar do valor do ATR no final do ano de
foram adquiridas por valores entre R$800 a R$1.000 por Mwh,
2015 ter sido alto, fato que ocorreu devido ao aumento do con-
ou seja, um valor muito acima se comparado a biomassa. No
sumo de etanol hidratado por parte dos consumidores, por outro
início deste ano, se falava em venda de energia de biomassa a
lado, com a entrada da nova safra e o endividamento industrial,
valores entre R$80 e R$100, ou seja, fica praticamente impos-
as usinas colocaram um grande excedente de etanol a disposição,
sível investir em recursos e desenvolvimento diante da falta
o que fez com que os preços despencassem. “A salvação para
de valor que se dá a energia renovável no Brasil”, destaca.
nossos fornecedores não é exatamente o valor do ATR e sim a
Esta e outras reivindicações da Feplana junto aos Poderes
quantidade de oferta e demanda do produto, isto sim fará com
Executivo e Legislativo constam nas finalidades principais da
que o etanol suba ou desça de preço. Portanto, temos que conti-
entidade, inclusive, a Feplana tem como objetivo reivindicar
nuar buscando baixar os custos de produção, ter uma cana rica
e colaborar com os poderes públicos nos assuntos ligados à
em açúcar e agora também em fibras”, opina.
política da produção e comercialização da cana, açúcar, eta-
EQUILÍBRIO FINANCEIRO
E POLÍTICO
nol e de quaisquer subprodutos da cana. E também colaborar com projetos, emendas e sugestões nas leis e outros atos
normativos referentes à agricultura da cana no governo e no
A recuperação do setor depende de sua reestruturação finan-
Congresso Nacional. “No início de junho estivemos em uma
ceira. Este pelo menos é um dos pleitos importantes da Feplana
reunião junto com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
que, segundo Leal, vem junto ao governo federal, tentando criar
de São Paulo), em Brasília, e pudemos levar alguns pleitos ao
um PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao For-
atual presidente da República e para o ministro da fazenda,
talecimento do Sistema Financeiro Nacional) voltado tanto para
Henrique Meirelles. Reivindicamos a desoneração tributária,
indústria como para o fornecedor de cana.
a diminuição dos juros e recursos para novos investimentos.
Outro ponto para a alavancagem do setor seria, segundo o
Conversei com o presidente Michel Temer brevemente sobre
executivo, o desenvolvimento de um projeto que prevê a utiliza-
o setor e deixei claro que queremos um Brasil diferente e que
ção da bioenergia ao longo de, pelo menos, dez anos. A Feplana
estamos prontos para colaborar com ele e realizar todas as
já iniciou um projeto com o auxílio da Associação de Lençóis
mudanças necessárias.”
Paulista, a qual vem se destacando no recolhimento da palha da
cana-de-açúcar. “A meu ver, os maiores desafios do setor estão
POUCO TEMPO
concentrados na solução econômica da indústria e do fornecedor.
A primeira coisa que faz ao acordar é ir à academia. Se
E isto se dará quando o setor souber qual será o papel do etanol e
ele não pode ir por algum motivo, opta por correr. São pelo
da bioenergia na matriz energética brasileira. Para exemplificar
menos duas corridas de 6 km por semana. Depois as energias
tomo como base o ano de 2014, quando houveram leilões efetu-
são canalizadas para gerenciar a Santa Casa de Misericórdia,
48
da qual ele é diretor geral há quase dez anos, desenvolver os
projetos do escritório de engenharia e ainda resolver as pendências do Sindicato Rural, onde é vice-presidente.
A tarde ele se dedica à administração agrícola da sua propriedade e faz o despacho administrativo da Feplana. “Nesse
dia a dia resta pouco tempo para outras coisas, a não ser o
tempo necessário para a esposa, filhos e netos. Leal é casado
e tem dois filhos, Rafael Leal, 36, Ana Paula Leal, 34 anos
e três netos.”
Seu espírito de liderança é tão grande que por onde Leal
passa coisas boas acontecem. Muito além do seu comprometimento e consequente sucesso como gestor da Feplana, a Santa
Casa de Misericórdia de Cambará, sob sua direção há 10 anos,
foi reconhecida como um dos exemplos de boa gestão para
outras Santas Casas do Brasil, e até já recebeu prêmios de re-
No início do ano, Leal assumiu a vice-presidência da Feplana
a pedido de Alexandre Lima, atual presidente
conhecimento por isso. “Existem diversas Santas Casas pelo
dente de uma cooperativa de produção, assumi um passivo de
Brasil e a de Cambará é umas das mais bem administradas.
mais de 140 ações trabalhistas e, durante o período em que fui
Não devemos nada, nem um tributo ou passivo”, conta Leal,
presidente (dez anos), não tive sequer uma ação na Justiça do
que ainda afirma que o trabalho na Santa Casa é árduo, mas
Trabalho. Por estas e outras razões, posso dizer que a melhor
muito prazeroso e gratificante.
lição que tirei destes últimos anos foi aprender a conviver com
“Encerrando, gostaria de enfatizar que, quando fui presi-
a diferença”, concluiu.
O resultadO dessa
qualidade
aparece na sua
prOdutividade.
Calcário Itaú. Mais fino, mais puro,
mais eficiente, mais econômico.
www.vcimentos.com.br | SAC: 0800 701 9895 | F: (16) 3019 8110 | [email protected]
49
JULGAMENTO DO CASO
ABENGOA-DEDINI É ADIADO
A disputa entre a espanhola Abengoa e a brasileira Dedini
Agro vai se arrastar por mais tempo. A expectativa era de que
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) completasse o julgamento
em junho, mas a corte ministerial adiou a análise para agosto.
O processo já foi retardado por um pedido de vistas em abril.
Por ora, dois dos 15 ministros indeferiram a homologação de
decisão de uma corte arbitral internacional que determinava à
Dedini o pagamento de R$ 150 milhões à Abengoa, em um caso
que envolve a compra, em 2007, de usinas de cana-de-açúcar.
A Abengoa adquiriu em 2007 o controle da Dedini Agro por R$
1,3 bilhão e assumiu R$ 730 milhões em dívidas. Na negociação
estavam unidades de processamento de cana localizadas em Pirassununga e São João da Boa Vista, ambas no interior paulista.
O conglomerado espanhol, entretanto, afirma que teve prejuízos
por causa de números superestimados de moagem divulgados
pela Dedini e cobra ressarcimento.
As duas usinas da Abengoa têm capacidade instalada para
quase 7 milhões de t de cana por temporada. No ciclo 2016/17,
que começou em abril, a expectativa da companhia é de processamento em torno de 5,8 milhões de t.
apresentando bons resultados preliminares com impactos diretos positivos, como aumento de rendimento de conversão de
carboidratos em biocombustível e aumento do poder calorífico
do biocombustível. Atualmente, o grupo finalizou a prova de
conceito dessa rota e procura parceiros para o desenvolvimento
completo do produto. Sendo complementar ao etanol, com potencial de substituição e baseado na biomassa da cana-de-açúcar,
o novo combustível possui estrutura química que aumenta a sua
afinidade a hidrocarbonetos.
Os testes iniciais mostram que a rota tecnológica adotada,
que é uma rota híbrida, pois tem passos bioquímicos e passos de
catalise química heterogênea, apresentou uma vantagem imediata: muito baixa produção de gás carbônico quando comparada à
produção de etanol.
BALANÇO MUNDIAL DE AÇÚCAR
APONTA PARA MAIOR
DÉFICIT NA SAFRA 2016/17
No final do mês de junho, dia 26, faleceu, em grave acidente
de carro, o empresário do setor sucroalcooleiro, Luiz Guilherme
Zancaner. Ele tinha 59 anos de idade.
Zancaner, que era presidente da Unialco Açúcar e Álcool,
nasceu e foi criado em São Paulo, formando-se economista pela
Universidade Mackenzie. Agropecuarista no Mato Grosso do Sul
desde 1978, ajudou a fundar as usinas Unialco (Guararapes), em
1983, e Alcoolvale (Aparecida do Taboado/MS), em 2000. Desde
1995 presidia o Grupo Unialco. Ele também foi presidente da
UDOP entre 1997 e 2006.
O balanço mundial de açúcar na safra 2016/17, que acontecerá nos meses de outubro e setembro, deverá apresentar um déficit de 7,10 milhões de t, valor cru, de acordo com a estimativa
da Datagro. Como resultado, a relação entre estoque e consumo
mundial no final da temporada de 2016/17, deve atingir 39,8%.
Na previsão anterior, o déficit era estimado em 6,09 milhões de t. Esta revisão veio em linha com a expectativa de que
a queda na oferta de açúcar na Ásia compense maior produção
no Brasil. Outro motivo é que, na Índia, mesmo que as chuvas
de monções voltem ao normal em 2016, os efeitos do El Niño
já causaram danos nos canaviais a serem colhidos em 2016/17.
A longa estiagem também afetou a rebrota e o desenvolvimento
na cana na Tailândia, Paquistão e na China. A estimativa de um
maior déficit em 2016/17 também é resultante do aumento da
taxa de crescimento do consumo mundial, de 1,5% em 2015/16
para 1,7% em 2016/17, fruto da esperada melhora do crescimento do PIB mundial.
PESQUISADORES TESTAM NOVA
ROTA DE PRODUÇÃO DO ETANOL
MOAGEM 2016/17 PODE SER
MENOR QUE O ESPERADO
ACIDENTE TIRA A VIDA DE LUIZ
GUILHERME ZANCANER
Um grupo de pesquisa do Laboratório Nacional de Ciência
e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) propõe uma nova rota tecnológica para a produção de biocombustíveis oxigenados (álcool
alifático de cadeia maior que o etanol) a partir da biomassa da
cana-de-açúcar. O processo permite o alongamento da cadeia
carbônica do etanol, conferindo maior afinidade com combustíveis fósseis, como gasolina e diesel.
O novo desenvolvimento é base do projeto Eureka, que vem
50
50
A moagem de cana no Centro-Sul do Brasil pode ficar menor
que o esperado na temporada 2016/17, devido a um regime de
chuvas inferior ao necessário em alguns meses, como em abril.
A opinão é do diretor-presidente da Cosan, Marcos Lutz. “Acho
que a uma safra será menor que o esperado, pois o regime de
chuvas não foi tão bom”, disse ele, após participar de evento
anual de agribusiness da BM&FBovespa, sem entrar em detalhes sobre volumes.
51
51
52