A codificação - Revista Cristã de Espiritismo
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A codificação - Revista Cristã de Espiritismo
A codificação espírita Introdução ao estudo da doutrina espírita 1 A codificação da Doutrina Espírita Allan Kardec: um grande pesquisador que fez de suas observações um farol para a evolução do conhecimento humano Por Carlos Antônio Fragoso Guimarães D urante todo o século XVIII, a França se ergueu como o farol intelectual da civilização ocidental. Era para lá que iam artistas, professores, filósofos e cientistas. Apesar do esbanjamento e da corrupção da corte, Paris sempre foi a capital européia mais atrativa para os intelectuais do continente. Junto com a Alemanha, sua maior rival, a França dirigia os rumos do intelecto humano. Com o Iluminismo, sua capital passou a ser conhecida como a “cidade luz”, pois o homem era incentivado a ser independente, a pensar com a própria cabeça depois de tanto tempo à mercê dos ditames do clero e da aristocracia. “Todos os homens são iguais”, era o slogan do Iluminismo, que nasceu e teve suas maiores conseqüências em solo francês. Embora tenha sido, na verdade, um retumbante movimento da burguesia, com seus lamentáveis e inevitáveis excessos, a Revolução Francesa teve o mérito de desmistificar a pseudo-superioridade das classes privilegiadas (a corrupta aristocracia e o hipócrita clero católico), levantando as bandeiras contagiantes da “Liberdade, IgualPestalozzi dade e Fraternidade” e da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. Evidentemente que a efervescência do período desembocou em um paradoxo, com o surgimento do império napoleônico, mas os frutos intelectuais da Revolução permitiram limpar a Europa do velho ranço aristocrático, 2 forçando a melhoria dos direitos sociais em todas as nações do Ocidente e fortificando o papel do Direito mais do que nunca. Foi em meio a esse clima de mudanças e reconstrução de um novo mundo, quando vingava o perfume primaveril do Romantismo por toda a parte, que, em 03 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, nascia Hippolite Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo pelo qual ficaria conhecido: Allan Kardec. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e de Jeanne Duhamel. Pestalozzi, o mestre Conta-se que o pai o iniciou com todo cuidado nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos clássicos já em tenra idade. Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e línguas. Após completar os primeiros estudos em Lyon, partiu para a Suíça, a fim de completar seus estudos secundários na escola do célebre professor Pestalozzi, sediada na cidade de Yverdon. Bem cedo, o jovem de Lyon chamou a atenção de seu mestre, que o colocou como seu auxiliar nos trabalhos acadêmicos que exercia, tendo substituído Pestalozzi na direção da escola algumas vezes, enquanto este empreendia alguma viagem para divulgar sua metodologia de ensino ou era convidado para criar, em outras localidades, uma instituição nos moldes de Yverdon. Também exercia com prazer o papel de professor, ensinando aos seus colegas as lições que aprendera. Apesar de tão responsável, ele era visto como um jovem amável, espirituoso e muito disciplinado. Não há registros de que tenha sido mal quisto em qualquer fase de seu período estudantil. Rivail se bacharelou em Letras e Ciências, falando vários idiomas fluentemente. Após ser dispensado do serviço militar, resolveu fundar, em Paris, uma escola nos moldes de Yverdon, que foi chamada de Liceu Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação francesa e, por isso, escreveu vários livros sobre o assunto, tendo sido premiado por seu trabalho pela Academia Real de Arras, em 1831. Por esta mesma época, casou-se com a professora Amélie Gabrielle Boudet. Quando tudo parecia ir bem, o sócio de Rivail, que era seu tio, levou o Liceu à ruína por dissipar vastas somas financeiras no jogo e nada mais lhe restou a não ser pedir a liquidação do instituto ao qual se dedicou com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, ele sofreu um outro imprevisto: após aplicá-lo na casa comercial de um de seus amigos, este logo abriu falência por realizar maus negócios. Dessa forma, Rivail se encontrava na constrangedora situação de nada mais possuir. Para sobreviver, ele se lançou freneticamente à 3 A doutrina espírita Em 1855, Hippolite Rivail testemunhou pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Depois disso, passou a observar estes fatos, pesquisando-os cuidadosamente havia quem levasse a sério tais coisas, pois, muitas vezes, as mesinhas davam respostas corretas sem que ninguém conseguisse provar ou descobrir quem ou o que as fazia responderem as questões. Convém notar que essa “moda” das mesinhas que giravam parecia ocorrer em todos os lugares e em vários países, em um “boom” que dificilmente pode ser creditado ao acaso. As mesas girantes redação de livros didáticos e ao trabalho como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou, após o susto e o desespero iniciais, recuperar parte de seu antigo padrão de vida. Chegou a organizar, também, cursos de Física, Química, Astronomia e Anatomia Comparada, bastante populares entre os jovens da época. Depois de algum tempo, ele já tinha o necessário para viver com um certo conforto e se dedicar novamente à educação. Quase paralelamente a estes acontecimentos na vida de Rivail, um conjunto de fenômenos nos Estados Unidos deu início ao moderno Espiritismo (termo cunhado por Kardec em 1857 para distinguir este movimento de outras escolas espiritualistas). Trata-se dos fenômenos ocorridos em 1848, na pequena localidade de Hydesville, mais precisamente na casa da família Fox, que era metodista e, portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse por fatos que hoje poderíamos chamar de “paranormais”. As fortes pancadas, violentamente ouvidas no quarto das irmãs Katherine e Margaret e que se fizeram freqüentes por várias semanas, levaram a primeira, então com 9 anos de idade, a desafiar o “batedor” para reproduzir as batidas que ela mesma daria. A prontidão das respostas acabaria por marcar o início desse tipo de comunicação entre vivos e mortos. Nesta época, em Paris, aconteciam com freqüência os fenômenos das “mesas falantes” ou “mesas girantes”, que consistiam em se fazer perguntas em torno de uma mesa ou outro móvel qualquer, que as respondiam através de pancadas. Isso era visto apenas como uma sutil e inexplicável diversão de salão, quando não era encarada como uma brincadeira ou embuste espirituoso. Porém, 4 Hippolite Rivail ouviu falar pela primeira vez sobre tais fenômenos em 1854, entretanto, sua primeira atitude diante deles foi a de ceticismo. “Eu acreditarei quando vir, quando conseguirem me provar que uma mesa dispõe de cérebro e nervos e que pode se tornar sonâmbula. Até que isso se dê, permitam-me não enxergar nisso mais do que um conto para provocar o sono”, afirmou. Por insistência dos amigos, Rivail presenciou algumas manifestações físicas das mesinhas. Depois da estranheza e descrença inicial, ele começou a cogitar seriamente a validade de tais fenômenos. “De repente, encontrava-me no meio de um fato esdrúxulo, contrário às leis da natureza à primeira vista, ocorrendo na presença de pessoas honradas e dignas de fé. Mas a idéia de uma mesa falante ainda não cabia em minha mente”, explicou, completando: “Pela primeira vez, pude testemunhar o fenômeno das mesas que giravam e pulavam em tais condições que dificilmente poderia se acreditar serem frutos de embuste ou fraude”. Rivail disse que suas idéias estavam longe de terem sofrido uma modificação, mas que deveria haver uma explicação em tudo aquilo que se sucedia diante dele. Em 1855, Hippolite Rivail testemunhou pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Depois disso, passou a observar estes fatos, pesquisando-os cuidadosamente. Graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe foi peculiar, ele resistiu em elaborar qualquer teoria preconcebida. Queria, a todo custo, descobrir as causas. Como disse Henri Sausse no livro Allan Kardec, “sua razão repele as revelações, somente aceita observações objetivas e controláveis”. Ainda segundo o autor, “vários amigos que acompanhavam há cinco anos o estudo dos fenômenos colocaram à sua disposição mais de cinqüenta cadernos contendo O caso das irmãs Fox Em dezembro de 1847, uma família metodista de nome Fox alugou uma casa em vilarejo típico de New York, chamado Hydesville. Nessa família haviam duas filhas: Margaret, de 14 anos e Kate, de 11 anos. Em 1848, surgiram na casa ruídos, arranhões, batidas, sons semelhantes ao arrastar de móveis que não deixava as meninas dormirem, a não ser no quarto de seus pais. Tão vibrantes eram esses sons que as camas tremiam e moviamse. As irmãs Fox iniciaram o diálogo com o espírito batedor, fato este que passou a história do Espiritismo como o episódio de Hydesville. Passado esse acontecimento no qual as meninas ficaram conhecidas, estas iniciaram sessões em New York e em outros lugares, triunfando em cada ensaio a que eram submetidas. Tanto Kate quanto Margaret morreram no começo do último decênio do século. Todavia, as idéias espíritas dissiminadas através de seus feitos, ora através do cansativo alfabeto das batidas, ora por eventos espetaculares cuja causa era a mediunidade de ambas, prepararam o terreno para a codificação da doutrina espírita, ordenada por Allan Kardec. as comunicações feitas pelos espíritos. O estudo desses cadernos constituiu, para ele, o trabalho mais profundo e decisivo. Foi por esse estudo que ele se convenceu da existência do mundo invisível e dos espíritos”. Ele utilizava o material dos cadernos, com as respostas dadas pelos supostos espíritos, para refazer as mesmas perguntas para outros médiuns, de preferência desconhecidos dos primeiros. Com base nas novas respostas, Rivail comparava o conteúdo de ambas e ficava perplexo com as freqüentes similaridades. Ele reformulava as questões e pedia a ajuda de amigos para fazê-las a outros médiuns, em outras localidades. Recebia as respostas e as compilava, organizando-as por tópicos e assuntos. Como era possível que pessoas que nunca se viram darem as mesmas respostas para as mesmas perguntas, que, freqüentemente, possuíam um grande peso filosófico e uma amplidão de conhecimentos que escapavam à formação ou aos conhecimentos normais delas? A única resposta lógica seria a de que agentes inteligentes responderiam por intermédio de certas pessoas com uma sensibilidade psíquica especial: os médiuns. Além do mais, Rivail notou que poderia existir uma extraordinária discrepância entre o desenvolvimento moral e intelectual de um médium e as comunicações obtidas em estado de transe, chamadas, na época, de “estado sonambúlico” ou, algumas vezes, de “mesmerização”, por causa do pioneiro da hipnose, Franz Anton Mesmer. Sendo assim, a faculdade de se comunicar com os agentes inteligentes invisíveis independe do grau de desenvolvimento espiritual do médium, tendo aqueles moralmente medíocres ou até mesmo perversos e aqueles de grande desenvolvimento moral. Uns e outros podem receber mensagens de cunho elevado ou banal. Por estarem em um plano diferente do nosso, estes agentes inteligentes invisíveis teriam de vivenciar uma realidade própria ao estado vibratório de sua dimensão, o que explicaria algumas características das repostas dadas. Isso abriria um imenso leque de cogitações e explicações extraordinárias, mas Rivail não se deixou levar pelo entusiasmo. Ele percebeu claramente, desde o início, que muitas das respostas obtidas por meio dos médiuns eram tolas e pueris, enquanto outras tinham muito a ver com os conhecimentos ou as crenças do próprio médium, embora ele, durante o transe, comumente não tivesse consciência do que dizia ou escrevia. Assim, Rivail chegou à conclusão de que, se são agentes inteligentes extrafísicos que dão as respostas, nem por isso eles parecem ser muito diferentes dos homens vivos, pois elas são parecidas com as que qualquer homem daria, inclusive dentro do nível de instrução a que tenham chegado, pelo fato de haver respostas muito bem elaboradas junto com muitas outras bastante fúteis. Concluiu, ainda, que, algumas vezes, as respostas são dadas de forma não-consciente pelo próprio médium, ou seja, seria o agente inteligente do próprio médium que responderia certas coisas em certas ocasiões. No entanto, estas respostas não são destituídas de valor, podendo apresentar um extraordinário grau de maturidade, mesmo que sejam estranhas ao pensamento normal do médium quando em estado de vigília ou de consciência desperta. Desta forma, Hippolite Rivail reconheceu clara e lucidamente que as entidades, por serem seres extra-corpóreos, não eram necessariamente mais sábias do que os homens encarnados. Elas mesmas diziam que nada mais eram do que os espíritos dos homens que já morreram e, por isso mesmo, continuavam tão humanas e cheias de falhas quanto antes. Mais ainda: Rivail se antecipou 5 A doutrina espírita Com uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além do nível de conhecimento ordinário de sua época de publicação ao célebre Sigmund Freud (1856-1939) em mais de 43 anos ao reconhecer uma ação inconsciente pessoal agindo sobre a manifestação mediúnica algumas vezes. Assim, podemos nos perguntar se ele não teria sido, indiretamente, um precursor da cética psicanálise. O Livro dos Espíritos Com o estudo meticuloso das respostas dadas pelos espíritos por meio de diversos médiuns e em vários países, Hippolite Rivail teve material suficiente para compor um livro. Ele fez uma lúcida introdução sobre seu trabalho no prefácio da obra que fez nascer o Espiritismo: O Livro dos Espíritos. Na capa do livro, lançado na cidade de Paris em 18 de abril de 1857, está o nome do autor, ou melhor, seu pseudônimo: Allan Kardec. Rivail preferiu adotar este nome para diferenciar sua nova obra dos trabalhos anteriores, voltados à educação e à pedagogia. Mas por que Allan Kardec? Bem, certa ocasião, depois repetida inúmeras vezes, um espírito que se denominava como “Z” havia dito para Hippolite Rivail que eles tinham sido amigos em uma existência anterior, vivida entre os druidas na Gália, e que o nome deste era Allan Kardec. Era incrível, porém, mais uma vez vinha à tona na Europa uma antiga concepção fluente no ocidente desde Pitágoras, Sócrates, Platão, Plotino etc, bem como entre os povos originários da Bretanha, como os celtas, e os chamados “movimentos heréticos”, como os cátaros e os templários: a idéia da reencarnação. Com uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além do nível de conhecimento ordinário de sua época de publicação, inclusive no que tange aos aspectos científicos da obra. Citemos, só de passagem, a noção de evolução das espécies vivas dada pelos espíritos e comentada por Kardec, publicada um ano antes de A Origem das Espécies, famoso livro de Charles Darwin, ou ainda a identidade entre matéria e energia (chamada por Kardec de “fluido universal”), que se diferenciam entre si apenas por um estado de condensação, muito antes do grande físico Albert Einstein. De igual modo, a percepção de consciência como sendo diferentes manifestações de maturação psíquica lembra e muito as 6 atuais abordagens da psicologia, principalmente a transpessoal. Há momentos em que a apresentação da doutrina em O Livro dos Espíritos não fica devendo nada às melhores teorias de personalidade da psicologia moderna. A descrição kardequiana do Fluído Cósmico Universal lembra o conceito de “orgônio” ou “orgon” dado pelo psicanalista Wilhelm Reich, pai da bioenergética. Da mesma maneira, os fundamentos e causas do processo da reencarnação são idênticos aos postulados por alguns psicoterapeutas que, em boa parte, não conhecem Allan Kardec e, por meio do desenvolvimento de pesquisas diversas a partir do atendimento clínico de pacientes, chegaram à técnica de TVP (Terapia de Vidas Passadas). Sem contar que a filosofia de vida que a doutrina estimula a adotar é, em muitos pontos, similar às condições propícias ao desenvolvimento da auto-atualização, lema de psicólogos humanistas como Abraham Maslow e Carl Ransom Rogers, por exemplo. A noção de animismo aponta para o conceito de inconsciente que teve em Freud seu mais sério teórico, enquanto que a de evolução espiritual lembra o processo de individualização postulado por Carl Gustav Jung. O mais assombroso de tudo é que Kardec logo reconheceria que seu estudo sobre a comunicação dos espíritos, que ele chamou de Espiritismo, não trazia nada de realmente novo a não ser o fato destes fenômenos serem vistos e entendidos sob a ótica moderna, científica. “Constituindo uma lei da natureza, os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antigüidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da metempsicose, ou seja, da transmigração da alma pela reencarnação. Ele colheu isso dos filósofos indianos e egípcios, que a tinham desde tempos imemoriais”, afirmou Kardec em O Livro dos Espíritos, completando: “O que não padece dúvidas é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, nem consegue se impor às inteligências de escol, se não contiver algo de sério”. É por isso, também, que a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864, livro de cunho filosófico que objetivava esclarecer a posição da doutrina frente à mensagem do Cristo, traz um estudo histórico que culmina em um resumo do posicionamento de Sócrates e Platão como precursores dos mais elevados ideais cristãos e, em suas filosofias, de vários tópicos do Espiritismo, como fica bem evidenciado no diálogo “Fédon”, do segundo. Já em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec tece comentários a respeito da ancestralidade das idéias básicas do Espiritismo (capítulo V) e a universalidade dos fenômenos ditos espíritas. Os fenômenos que caracterizam o Espiritismo, especialmente o da comunicação entre vivos e “mortos”, são mencionados e reconhecidos como existentes em todas as épocas da humanidade, qualquer que seja a cultura considerada. Um dos mais antigos e claros registros a este respeito dentro de nossa tradição judaico-cristã é a referência bíblica na qual Saul visita a pitonisa (médium) de EnDor, que lhe possibilitou a comunicação com o espírito do profeta Samuel. A idéia da reencarnação, por exemplo, é tão antiga e universal quanto a própria humanidade. É a base de diversas tradições filosóficas e religiosas do oriente, como o budismo e o hinduísmo, bem como das religiões pré-cristãs da Europa, como o druidismo, e do posicionamento de alguns pais da Igreja antes do Concílio de Constantinopla, em 533, quando a doutrina da reencarnação foi abolida por motivos políticos. Houve ainda a presença de alguns movimentos fortemente contestatórios da ação da Igreja de Roma, como os cátaros, embora os conhecimentos antropológicos, históricos e sociológicos de seu tempo não permitissem a Kardec ir muito além na análise destas tradições, filosofias e ocorrências históricas. Além do mais, diferentemente de outras escolas espiritualistas, ele fez absoluta questão de expor seus estudos de forma racional, sem cair nas armadilhas do discurso ordinário, levado mais pela emoção e fantasia do que pela razão, a partir de fatos, fenômenos e percepções reais. Procurou analisar com o máximo zelo a descrição dos fenômenos, a partir de sólidos referenciais lógicos. Seu trabalho seria trazer ao nível intelectual moderno alguns fenômenos que sempre acompanharam o homem em sua história e que foram negligenciados pela ciência mecanicista moderna, principalmente a partir do legado de Descartes e Newton, apesar de ambos terem sido pessoas espiritualizadas, principalmente o segundo, que foi o primeiro grande cientista da era moderna e o último grande mago dos tempos alquímicos. Revista Espírita Em 01 de janeiro de 1858, Allan Kardec publicou o primeiro número da Revista Espírita, que serviu como uma poderosa auxiliar para os trabalhos ulteriores e para a divulgação da dou- trina espírita na Europa e na América. Segundo Henri Sausse, “em menos de um ano, a Revista Espírita estava espalhada por todos os continentes do globo”. O número de assinantes aumentou de tal maneira, contou Sausse, que Allan Kardec reimprimiu duas vezes as coleções de 1858, 1859 e 1860 a pedido deles. Dentre os mais célebres admiradores, amigos e estudiosos tanto de Kardec como do Espiritismo, podemos destacar o famoso astrônomo francês Camille Flammarion, o filósofo H. Bergson, o psicólogo e filósofo William James, o físico William Crookes, o biólogo Alfred Russel Wallace, o físico Oliver Lodge e o escritor Arthur Conan Doyle, entre outros. Podemos expor a importância do trabalho de Kardec através das palavras do pai da moderna parapsicologia, Charles Richet: “Allan Kardec foi o homem que, no período de 1857 a 1871, exerceu a mais penetrante influência e que traçou o sulco mais profundo na ciência metapsíquica”. Da mesma forma, vários outros estudiosos confirmaram a importância de Allan Kardec no desenvolvimento dos estudos psíquicos por todo o mundo. Camille Flammarion, um dos maiores astrônomos da história, sempre lhe foi grato pelos estudos que eram correntes na Sociedade de Estudos Espíritas e foi ele quem fez o discurso fúnebre de Kardec. A lista poderia se alongar com o nome de vários outros 7 A doutrina espírita Participaram do auto de fé Um padre, com seus hábitos sacerdotais, tendo a cruz em uma das mãos e, na outra, uma tocha; Um tabelião encarregado de redigir o processo verbal do auto-de-fé e o assistente do tabelião; um funcionário superior da administração das alfândegas e três serventes da alfândega, com a função de alimentar o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas. célebres pesquisadores, como Ernesto Bozzano, César Lombroso etc. No dia 01 de abril de 1858, Allan Kardec fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que tinha como objetivo “o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas”. Ele não tinha a intenção de fundar uma religião, como ocorreu posteriormente, a partir de seu legado. Para Kardec, “a ciência espírita compreende duas partes: uma experimental, relativa às manifestações em geral, e outra filosófica, relativa às manifestações inteligentes e suas conseqüências”. O auto de fé Em outubro de 1861, ocorreu um triste e patético acontecimento. Trata-se do famoso auto-de-fé promovido pela Igreja Católica na cidade espanhola de Barcelona, quando cerca de 300 publicações espíritas foram queimadas em praça pública. As obras, encomendadas a Allan Kardec pelo livreiro Maurice Lachâtre, foram enviadas de forma comum, nas condições alfandegárias normais e tendo as taxas de importação pagas pelo destinatário às autoridades espanholas. No entanto, a entrega das encomendas não foi realizada, pois foram confiscadas pelo bispo de Barcelona com a seguinte justificativa: “A Igreja Católica é universal e estes livros são contrários à fé católica, não podendo o governo permitir que passem a perverter a moral e a religião de outros países”. Talvez com saudades dos áureos tempos de absoluto domínio das consciências humanas à base de ferro e fogo, o bispo, acreditando pertencer à uma seleta instituição de únicos representantes da vontade de Deus na Terra, fez reacender as fogueiras que atingiram tantas vítimas inocentes em séculos anteriores. Através de um carrasco, as obras foram queimadas, certamente, no lugar das pessoas que deveriam estar ali: os espíritas franceses em geral e um homem em particular: Allan 8 Uma incalculável multidão se fez presente, enchendo os passeios e cobrindo a esplanada onde ardia a fogueira. Após o fogo ter consumido os trezentos volumes e brochuras espíritas, o sacerdote e seus auxiliares se retiraram cobertos pelas vaias e maldições de inúmeros assistentes, que bradavam: Abaixo à inquisição ! Depois, em protesto, muitas pessoas se aproximaram e apanharam as cinzas . Kardec. A pantomima seguiu em tudo as regras de uma execução inquisitorial. Graças a esta demonstração de brutalidade por parte da religião de Roma, o Espiritismo acabou tendo uma grande repercussão em toda a Espanha, granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, o ato alçou a doutrina espírita ao mesmo patamar de outros mártires da liberdade de espírito, incluindo Jacques DeMolay, Galileu Galilei, Giordano Bruno e aquela que, com toda a infalibilidade papal, foi condenada como bruxa à fogueira, para, quatro séculos depois, ser elevada à categoria de santa: Joana D’Arc. Na Revista Espírita de 1864, Allan Kardec fez uma observação a respeito da divulgação do Espiritismo como uma religião pelos doutores da lei da era moderna. Disse ele: “Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o clero é quem o terá provocado”. Kardec passou o resto de sua vida na missão de divulgar os resultados de seus estudos e os de outros colegas, empreendendo inúmeras viagens pela França e pela Bélgica entre os anos de 1859 e 1868 e escrevendo várias brochuras e pequenos artigos para a propagação do Espiritismo. Produziu ainda muitos outros livros, entre eles O Livro dos Médiuns (1861), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). Sempre lúcido e lógico, Kardec soube muito bem como enfrentar a oposição e a difamação de inimigos gratuitos com dignidade e nobreza, reconhecendo quando algum argumento oposto tinha valor sério e sincero. Manteve-se à frente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, além de escrever outros livros e artigos para a Revista Espírita, até os seus últimos dias de vida. Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, vítima de um aneurisma cerebral. Regressava ao plano espiritual aquele que abriu as mentes dos homens para esse mundo além da morte. Allan Kardec O codificador Introdução ao estudo da doutrina espírita 9 Especial No ano do bicentenário do nascimento de Kardec, os centros espíritas precisam iniciar uma campanha de divulgação e estudo metódico em massa das obras básicas da doutrina espírita Por Érika Silveira C omemora-se neste ano o bicentenário do nascimento de Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita. Conhecer sua vida e obra é entrar em contato com a filosofia, religião e ciência consoladora. Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec, nasceu na cidade de Lyon, na França, no dia 3 de outubro de 1804. Com dez anos de idade mudou-se para a Suíça, onde teve a oportunidade de estudar no Instituto Pestalozzi de Yverdon, dirigido com métodos pioneiros de ensino pelo educador Johann Heinrich Pestalozzi. A metodologia contribuiu para que Kardec entrasse para a classe dos homens progressistas e dos livres pensadores. Não há registro preciso de seu regresso à capital parisiense, mas em 1823, quando lançou seu primeiro livro de teor pedagógico, Curso prático e teórico de aritmética, em dois volumes, já havia retornado para a França. No mesmo ano passou a freqüentar os trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris, tornando-se um magnetizador (doador de fluidos magnéticos). Com vinte e um anos de idade, passou a dirigir a Escola de Primeiro Grau e no ano seguinte fundou o Instituto Técnico Rivail, nos moldes de seu mestre Pestalozzi. Publicou também diversos trabalhos voltados à educação como gramáticas, aritméticas e livros para estudos pedagógicos superiores. Obras que foram adotadas pelas universidades e vendidas abundantemente. Preocupado com a qualidade do 10 ensino elegeu alguns princípios como primordiais: Cultivar o espírito natural de observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam; Cultivar a inteligência, observando um comportamento que capacite o aluno a descobrir por si mesmo as regras; Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto; Evitar toda atitude mecânica, levando o aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz; Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades; Só confiar à memória aquilo que já tenha sido apreendido pela inteligência. O contato com os espíritos Embora tenha nascido em família de origem católica, foi educado nos princípios de um país protestante. Em 1855, teve seu primeiro contato com o fenômeno das mesas girantes. Foi durante essas reuniões que iniciou os estudos sérios de espiritismo e também descobriu que em uma de suas encarnações anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan Kardec e desde então adotou o pseudônimo. Inicialmente, as sessões mediúnicas não tinham nenhuma finalidade determinada, mas com o tempo percebeu que naqueles fenômenos se encontravam respostas ainda não compreendidas a respeito do passado e do futuro da humanidade. Nascia, assim, uma doutrina para a instrução de todos. Orientado Em 1855, Kardec teve seu primeiro contato com o fenômeno das mesas girantes. Muitas teorias que a ciência moderna tem concluído já tinham sido divulgadas pelos espíritos e compiladas por Kardec pela espiritualidade, recebeu as instruções sobre sua missão, que seria a codificação de uma nova doutrina: O Consolador Prometido por Jesus. Passou a preparar questões para cada sessão, que sempre eram respondidas com precisão e lógica. Foram essas mesmas perguntas desenvolvidas e complementadas que constituíram a base de O Livro dos Espíritos, publicado em abril de 1857. Para que não ocorressem fraudes, nem más interpretações posteriores, Kardec submeteu o livro que deveria ser publicado à análise de diversos espíritos, com a ajuda de diferentes médiuns. Depois do êxito na publicação de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec percebeu a importância de elaborar um meio de comunicação que propiciasse o intercâmbio de informações entre diferentes grupos. Para isso, consultou mais uma vez os amigos espirituais que foram favoráveis, mas lhe pediram cautela e empenho. Em janeiro de 1858 lançou o primeiro número da Revista Espírita, periódico que abordava fenômenos, novos adeptos da doutrina e sua divulgação em geral. Pouco tempo depois também fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Após três anos, em 1861 publicou O Livro dos Médiuns, em 1864 O Evangelho Segundo o Espiritismo; seguido de O Céu e o Inferno, em 1865, e por último, em 1868, A Gênese e Os Milagres e as Predições, completando as cinco obras básicas do espiritismo. Desencarne e Obras Póstumas Desencarnou no dia 31 de março de 1869, aos 65 anos em Paris, em decorrência de um aneurisma. Kardec se preparava para mudança de endereço da rua Sainte-Anne para Vila Ségur, com o objetivo de continuar trabalhando mais ativamente nas obras. Desejava no futuro que sua residência se transformasse em um asilo para recolher idosos. Duzentos anos depois de sua partida para o plano espiritual, permanece imortal o ideal da compreensão dos fatos, ao invés da fé cega e alienante. Publicado vinte e dois anos após o lançamento da sua última obra, A Gênese, o livro Obras Póstumas apresenta diversos trabalhos de Kardec que nunca haviam aparecido em livro. A maioria do material havia sido publicado apenas na Revista Espírita. 11 1 Médiuns famosos do passado Introdução ao estudo da doutrina espírita 13 Médiuns famosos do passado Conheça alguns grandes médiuns que tiveram influência decisiva na consolidação científica das pesquisas dos fenômenos mediúnicos Pelo Grupo Espírita Apóstolo Paulo N ão é possível, num simples artigo como este, apresentarmos todos os médiuns famosos que apareceram na face da Terra, em diferentes épocas. Daí porque nos propusemos a falar apenas sobre alguns dos que mais se evidenciaram pelas faculdades que possuíam. E, dentre estes, colocamos, em primeiro lugar o grande vidente sueco, Emmanuel Swedenborg, que pelas suas preciosas faculdades mediúnicas pode ser considerado, no dizer de Conan Doyle, o “pai dos fenômenos supranormais”. Emanuel Swedenborg O imortal escritor inglês, em seu livro História do Espiritismo, diz que, para se “compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se um cérebro de Swedenborg; e isto não se encontra em cada século”. O médium era engenheiro de minas e grande autoridade em Física e Astronomia, tendo publicado, também, vários trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Foi, ainda, financista e político, além de apaixonado estudioso da Bíblia. Aos vinte e cinco anos de idade ocorreu seu desenvolvimento psíquico, mas desde menino já tinha visões. Conta-se que, por ocasião de um jantar, onde se encontravam cerca de dezesseis pessoas, Swedenborg, pela sua clarividência à distância, observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de Gothenburg, onde se realizava o jantar. Somente em 1744 é que desabrocharam suas forças latentes, quando se achava em Londres. “Na mesma noite, o mundo dos espíritos do céu 14 e do inferno abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente, o Senhor abriu os olhos de meu espírito para ver, perfeitamente de perto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e espíritos”, diz ele. Conan Doyle, na sua obra já citada, expõe os principais fatos por ele descritos, que vamos transcrever, pois julgamos de grande valia para nossos leitores, uma vez que os mesmos muito se assemelham às narrativas de André Luiz, recebidas pelo canal mediúnico de Chico Xavier. Vejamos: “Verificou que o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito da morte têm pouco proveito. Nessas esferas, verificou que o cenário e as condições deste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais e palácios onde deviam morar os chefes. A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência. Esses recém-vindos passavam imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem. Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis: médiuns famosos pelos fenômenos que produziam, oferecendo vasto campo de pesquisas profundas sobre a imortalidade da alma que tinham vivido na Terra e que, ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos. De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só suas forças, mas seus hábitos mentais adquiridos, suas preocupações, seus preconceitos. Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhe serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras. Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma posição mais elevada. Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma mulher constituíam uma unidade completa (é de notar-se que Swedenborg jamais se casou). Não haviam detalhes insignificantes para sua observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura, de artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da leitura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes. Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais. Os que saíram deste mundo, velhos, decrépitos, doentes ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. Dois amantes verdadeiros não são separados pela morte, de vez que o espírito do morto habita com o sobrevivente, até a morte deste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que antes.” Com estas citações, acreditamos haver dado ligeira noção sobre os ensinamentos de Swedenborg, porém, quem desejar beber mais ensinamentos encontrará amplo material em suas obras Céu e Inferno, A nova Jerusalém e Arcana Coelestia. Andrew Jackson Davis Este homem deve figurar entre nós como um dos maiores médiuns da sua época, não só pelos fenômenos que produzia, como também pela sua obra no campo da literatura. Nasceu no dia 11 de agosto de 1826, nas margens do rio Hudson, nos Estados Unidos, e desencarnou em 1910, com a idade de 84 anos. 15 Médiuns famosos Swedenborg, pela sua vidência à distância, observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de Gothenburg, onde participava de um jantar Jackson Davis descendia de família humilde. Sua faculdade mediúnica desabrochou quando tinha apenas 17 anos. Primeiro, desenvolveu a clariaudiência. Ouvia vozes que lhe davam bons conselhos. Depois, surgiu a clarividência, tendo notável visão quando sua mãe morreu. Viu ele uma belíssima região muito brilhante, que supôs fosse o lugar para onde teria ido sua mãe. Mais tarde, manifestou-se outra faculdade muito interessante e muito rara: a de ver e descrever o corpo humano, que se tornava transparente aos seus olhos espirituais. Ele dizia que cada órgão do corpo parecia claro e transparente, mas se tornava escuro quando apresentava enfermidade. Não é de se admirar que Davis descrevesse a constituição anatômica do ser humano, pois já Hipócrates, o “pai da Medicina”, dizia: “A alma vê de olhos fechados as afecções sofridas pelo corpo”. Na tarde de 6 de março de 1844, deu-se com Davis um dos mais extraordinários fenômenos: o de transporte. Ele foi tomado por uma força estranha que o fez voar da cidade de Poughkeepsie a Catskill, cerca de quarenta milhas de distância. Naquela época, não se sabia explicar esse fenômeno, porquanto os fatos dessa natureza ainda eram desconhecidos. Para nós, espíritas, o papel representado por Jackson Davis é de grande importância, pois começou a preparar o terreno para os grandes acontecimentos na época em que Kardec codificava o Espiritismo. Em suas visões espirituais viu quase tudo o que Swedenborg descreveu sobre o plano espiritual (abramos aqui um parêntese para dizer que, por ocasião do seu transporte às montanhas de Catskill, identificou Galeno e Swedenborg como seus mentores espirituais). Em seu caderno de notas, encontrou-se a seguinte passagem, datada de 31 de março de 1848:“Esta madrugada, um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, a dizer: irmão, um bom trabalho foi começado – olha! surgiu uma demonstração viva. Fiquei pensando o que queria dizer aquela mensagem.”. Ao que parece, este aviso fazia menção aos fenômenos de Hydesville, pois foi exatamente nessa data, numa sexta-feira, que se estabeleceu o início da telegrafia espiritual, através da menina Kate Fox. 16 Daniel Dunglas Home Descendente de uma nobre família da Escócia, nascia no dia 15 de março de 1833, em Currie, perto de Edimburgo, o maior médium de efeitos físicos do século passado – Daniel Dunglas Home. Aos nove anos de idade, Home partiu para os Estados Unidos em companhia de uma tia que o adotara. Quando tinha treze anos, manifestou-se nele extraordinária faculdade psíquica, tendo previsto a desencarnação de um amigo da família. Conta-se que Home fizera um pacto com um colega de nome Edwin, para que o primeiro a desencarnar viesse mostrar-se ao outro. Um mês após haver se mudado para outro distrito, quando foi para cama, teve a visão de Edwin, que desencarnara e viera cumprir o pacto, cuja confirmação recebeu dois ou três dias depois. Em 1850, teve uma segunda visão; esta, sobre a morte de sua mãe, que vivia na América do Norte. Em seguida, começaram a produzir-se os mais variados fenômenos, tais como fortes batidas nos móveis, transporte de objetos e outros raps que inquietaram o lar de sua tia, com quem morava, ao ponto desta afirmar que o rapaz havia trazido o diabo para sua casa. Esses fenômenos tiveram grande repercussão em toda a América, tendo sido organizada, em 1852, uma Comissão da Universidade de Harward para visitar o médium, comissão essa que lavrou ata afirmando a exatidão dos fatos verificados durante as experiências com ele realizadas. Tamanha era sua força que, em todas as casas onde se hospedava realizava sessões diárias, o que lhe produzia grande esgotamento. Em 1855, Home viajou para a Europa, ocasião em que foram realizadas, com ele, várias experiências perante o Imperador Napoleão III. Durante essas experiências, obteve-se uma prova concreta da assinatura de Napoleão Bonaparte, com a presença da Imperatriz Eugênia, cujo fato aumentou grandemente sua fama. Home jamais mercadejou seus preciosos dons mediúnicos. Teve inúmeras oportunidades, mas sempre recusou. Dizia ele: “Fui mandado em missão. Essa missão é demonstrar a imortalidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais o receberei”. Home, como se vê, possuía várias faculdades, dentre elas, a de levitação, fenômeno esse inúmeras vezes constatado por cientistas da época. Jackson Davis (acima, com a esposa) foi tomado por uma força estranha que o fez voar da cidade de Poughkeepsie a Catskill, cerca de quarenta milhas de distância. Já, as primeiras manifestações mediúnicas de Eusápia Paladino (ao lado) consistiram no movimento e levitação de objetos Como todo médium, Home foi caluniado e ferido em sua dignidade, mas nunca lhe faltou nas horas mais difíceis o amparo de seus mentores espirituais. Allan Kardec, através das colunas da Revue Spirite, o defende, dizendo: “Dotado de excessiva modéstia, jamais fez praça de sua maravilhosa faculdade; jamais fala de si mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta casos pessoais, fá-lo com simplicidade e jamais com a ênfase própria das criaturas com as quais a malevolência procura compará-lo.” Sobre sua missão, disse Kardec: “Foi uma missão que aceitou; missão não isenta de tribulação nem de perigos, mas que realiza com resignação e perseverança, sob a égide do espírito de sua mãe, seu verdadeiro anjo da guarda.” Eusápia Paladino Eusápia Paladino foi a primeira médium de efeitos físicos a ser submetida a experiências pelos cientistas da época, tais como César Lombroso, Alexandre Aksakof, Charles Richet e muitos outros. Nasceu em Nápoles, Itália, em 31 de janeiro de 1854, e desencarnou em 1918, com a idade de sessenta e quatro anos. Sua mãe morreu quando ela nasceu, e o pai, quando ela alcançou a idade de doze anos. As primeiras manifestações de sua mediunidade consistiram no movimento e levitação de objetos, quando ainda era muito jovem (tinha apenas quatorze anos). Esses fenômenos eram espontâneos e se verificavam na casa de um amigo com quem morava. Somente aos vinte e três anos é que, graças a um espírita convicto, Signor Damiani, ela conheceu o Espiritismo. Por volta do ano 1888, Eusápia tornou-se conhecida no mundo científico, em virtude de uma carta do prof. Ércole Chiaia enviada ao criminalista César Lombroso, relatando detalhadamente as experiências já realizadas por ele com a médium, carta essa publicada no jornal Il Fanfulla dela Domênica. Entre outras coisas, dizia o missivista: “A doente é uma mulherzinha de modestíssima condição social, com cerca de trinta anos, robusta, iletrada e cujo passado, porque vulgaríssimo, não merece ser esquadrinhado; que nada apresenta de notável, a não ser as pupilas de fascinante brilho e essa potencialidade que os criminalistas diriam irresistível.” Em outro trecho da carta, diz: “Quando quiserdes, essa mulherzinha será capaz de, encerrada numa sala, divertir durante horas, por meio de surpreendentes fenômenos, todo um grupo de curiosos mais ou menos céticos, ou mais ou menos acomodatícios”. 17 Médiuns famosos Como a maioria dos médiuns de prova, Madame d’Esperance também sofreu muito durante o cumprimento da sua espinhosa missão Através dessa carta, convidava, também, o célebre alienista, a investigar diretamente os fenômenos por ele constatados na médium. Três anos mais tarde, em 1891, Lombroso aceitou o convite, realizando com Eusápia uma série de sessões. Esses trabalhos foram seguidos pela Comissão de Milão, integrada pelos professores Schiaparelli, diretor do Observatório de Milão; Gerosa, catedrático em física; Ermacora, doutor em Filosofia, de Munique, e o prof. Charles Richet, da Universidade de Paris. Além dessas sessões, muitas outras foram realizadas com a presença de homens da Ciência, não só da Europa, como também da América. Lombroso, diante da evidência dos fatos, converteu-se ao Espiritismo, tendo declarado: “Estou cheio de confusão e lamento haver combatido, com tanta persistência, a possibilidade dos fatos chamados espíritas.” A conversão de Lombroso deveu-se, também, ao fato de o espírito de sua mãe haver-se materializado em uma das sessões realizadas com Eusápia. Antes de encerrarmos esta ligeira exposição sobre a preciosa mediunidade de Eusápia Paladino, convém citarmos um trecho do relatório apresentado pela Comissão de Milão, que diz: “É impossível dizer o número de vezes que uma mão apareceu e foi tocada por um de nós. Basta dizer que a dúvida já não era possível. Realmente, era uma mão viva que víamos e tocávamos, enquanto, ao mesmo tempo, o busto e os braços da médium estavam visíveis e suas mãos eram seguras pelos que achavam a seu lado.”. Como se vê, a comissão que ofereceu este relatório era constituída por homens da Ciência, o que não deixa dúvida quanto à veracidade dos fenômenos por eles constatados. O prof. Charles Richet, em 1894, também realizou várias sessões experimentais em sua própria casa, obtendo levitações parciais e completas da mesa, além de outros fenômenos de efeitos físicos. Sir Oliver Lodge, prof. de Filosofia Natural do Colégio de Bedford, Catedrático em Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade de Birmingham, e que foi, também, por longos anos, presidente da Associação Britânica de Cientistas, após as experiências realizadas com Eusápia apresentou um relatório à Sociedade de Pesquisas da Inglaterra, dizendo, entre outras coisas, o seguinte: 18 “Qualquer pessoa, sem invencível preconceito, que tenha tido a mesma experiência, terá chegado à mesma larga conclusão, isto é, que atualmente acontecem coisas consideradas impossíveis... O resultado de minha experiência é convencer-me de que certos fenômenos, geralmente considerados anormais, pertencem à ordem natural e, como um corolário disto, que esses fenômenos devem ser investigados e verificados por pessoas e sociedades interessadas no conhecimento da natureza”. Eis aí, em linhas gerais, o que foi a excepcional mediunidade de Eusápia Paladino, figura de destaque na história do Espiritismo, que veio à Terra para cumprir a sublime missão de demonstrar a sobrevivência do espírito após a desencarnação. Elizabeth d Esperance Elizabeth d’Esperance nasceu em 1849, um ano depois dos fenômenos de Hydesville. Quando ainda mocinha, apareceu em público através da apresentação de T. P. Barkas, em New Castle. Barkas organizou uma extensa lista de perguntas referentes aos mais variados setores da Ciência, que foram respondidas, rapidamente, pela médium, em inglês, alemão e até mesmo em latim. Madame d’Esperance, que possuía educação de classe média, quando caía em transe mediúnico externava admiráveis conhecimentos científicos, muitas vezes abordando assuntos completamente desconhecidos daqueles que a interrogavam. Nesse estado, desenhava na mais completa escuridão. Mr. Barkas, referindo-se às sessões realizadas com ela, disse: “Deve ser geralmente admitido que ninguém pode, por um esforço normal, responder com detalhes, a perguntas críticas ou obscuras em muitos setores difíceis da Ciência com que se não é familiarizado. Além disso, deve admitir-se que ninguém pode ver normalmente e desenhar com minuciosa precisão em completa obscuridade; que ninguém pode, por meios normais de visão, ler o conteúdo de uma carta fechada, no escuro; que ninguém, que ignore a língua alemã, possa escrever com rapidez e exatidão longas comunicações em alemão. Entretanto, todos esses fenômenos foram verificados com essa médium e são tão acreditados quanto as ocorrências normais da vida diária.”. Madame d’Esperance publicou um livro intitulado Shadow Land que, traduzido, significa “Re- Nas reuniões realizadas na casa do Dr. Speer, Willian Stainton Moses começou a receber, pela psicografia, mensagens de três espíritos que davam os nomes Imperador, Doctor e Rector gião das Sombras”, através do qual relata seus dons mediúnicos. Diz ela que, na sua infância, brincava com espíritos de crianças, como se estes fossem crianças reais. Mais tarde, lhe foi acrescentada a faculdade de materialização, pois ela fornecia, em abundância, o fluido chamado “ectoplasma”, que serve para a produção desse fenômeno. Seu guia espiritual era uma bela moça árabe, que dava o nome de Yolanda. Esse espírito se materializava, constantemente, dada a perfeita afinidade que tinha com a médium. Ela podia ver a forma materializada, conforme descreve em seu livro: “Sua roupagem leve permitia que se visse muito bem a bela cor azeitonada de seu pescoço, dos ombros, dos braços e dos tornozelos. Os longos cabelos negros e ondulados desciam pelos ombros até abaixo do peito e eram atados por uma espécie de turbante pequenino. Suas feições eram miúdas, corretas e graciosas; os olhos eram negros, grandes e vivos; todos os seus movimentos eram cheios daquelas graças infantis ou como os de uma jovem gazela, quando a vi, tímida e decidida, por entre as cortinas.”. Alexandre Aksakoff, no seu livro Um caso de desmaterialização parcial, descreve que, em uma sessão realizada com essa médium, viu seu corpo desmaterializar-se, parcialmente. Muitos outros casos de materialização de objetos foram constatados, entre eles, o caso das vinte e sete rosas descrito por William Oxley, editor da obra Angelis Revelation, e mais uma planta rara, em flor. Disse ele sobre o fato: “Eu tinha fotografado a planta Ixora Crocata na manhã seguinte, depois do que trouxe para casa e a coloquei na minha estufa, aos cuidados do jardineiro. Ela viveu três meses, depois murchou. Tomei as folhas, muitas das quais abandonei, exceto a flor e três brotos que o jardineiro cortou, quando cuidava da planta”. Foram também obtidos, graças à preciosa faculdade dessa médium, moldagens em parafina, de mãos e pés, com punhos e tornozelos que, dada a estreiteza dessas partes, não podiam permitir a saída dos membros, a não ser por sua desmaterialização. Como a maioria dos médiuns de prova, Madame d’Esperance também sofreu muito durante o cumprimento da sua espinhosa missão. Em um dos trabalhos de materialização realiza- do na Escandinávia, o espírito Yolanda foi agarrado por um pesquisador menos avisado, com o intuito de desmascarar, tendo a médium sofrido grande choque traumático que lhe produziu sério desequilíbrio orgânico, prostrando-a de cama. E, para encerrar, citemos mais um trecho do último capítulo do seu livro, que diz: “Os que vierem depois de mim talvez venham a sofrer quanto eu tenho sofrido pela ignorância das leis de Deus. Quando o mundo for mais sábio do que no passado, é possível que os que tomarem as tarefas na nova geração não tenham que lutar, como lutei, contra o fanatismo estreito e os julgamentos duros dos adversários.”. William Stainton Moses W. Stainton Moses nasceu em 5 de novembro de 1839, em Lincolnshire, na Inglaterra. Fez seus estudos em Bedford Grammar School e no Exeter College de Oxford. Seu pai, William Moses, era reitor da Escola de Gramática. Durante a vida de estudante, o jovem Moses sempre se destacou pela sua inteligência e aplicação, recebendo de seus professores as melhores referências. Exerceu o ministério religioso como Cura na Ilha de Man. Mais tarde, por motivo de saúde, foi aconselhado a viajar, tendo, na sua volta, passado seis meses no Mosteiro de Monte Athos. Aí, no isolamento e na meditação, manifestaram-se os primeiros sinais de sua mediunidade. Aos vinte e três anos de idade, Moses volta para Oxford, onde recebe seu diploma, em 1863, continuando, ainda, como Cura, de Man. A esse tempo, uma forte epidemia de varíola 19 Médiuns famosos Eglinton costumava realizar as materializações à luz da lua, em estado consciente, tendo as mãos seguradas pelos presentes espalhou-se por toda a Ilha, onde não existiam médicos. Ali, “...dia e noite estava ele à cabeceira de doentes pobres, por vezes, depois de haver assistido a um moribundo, se via obrigado a unir as tarefas de sacerdote às de coveiro, e ele próprio a transportar cadáveres”. Retirando-se, depois, daquela Ilha, fixou residência em Londres, onde ingressou no Magistério, tornando-se professor na University College School. Em 1870, mais ou menos, quando residia na casa do Dr. Speer, sua atenção voltou-se para o Espiritismo, graças a um livro que a sra. Speer lhe aconselhou a ler, chamado Debatable Land (Terra Contestada), de autoria de Robert Dale Owen. Moses e o Dr. Speer travavam constantes discussões em torno da doutrina espírita, notadamente sobre pontos de controvérsias religiosas, pois ambos Seção de materialização de espírito com Eglinton (ao lado) e Mary Burchett desejavam provas sobre a imortalidade da alma e, para o Dr. Speer, materialista intransigente, o problema parecia de difícil solução. Mas, por outro lado, para Moses, espírito bastante religioso, isso não era impossível e, pensando assim, começou estudar o Espiritismo e assistir a sessões mediúnicas. Nas reuniões realizadas na casa do Dr. Speer, Moses começou a receber, pela psicografia, mensagens de três espíritos que davam os nomes Imperador, Doctor e Rector. Ele, entretanto, não aceitava o conteúdo dessas mensagens, uma vez que as suas idéias eram outras e os ensinamentos contidos estavam em contradição com os da Bíblia. Mesmo assim, sua mediunidade desenvolveu-se, rapidamente, tendo-se manifestado nele quase todos os fenômenos de efeitos físicos então conhecidos. Na sua presença, objetos se movimentavam; livros e cartas eram transportados de uma sala para outra, em plena luz do dia. Somente em 1872, quando realizava sessões com William e Miss Lottie Fowler é que se operou sua completa conversão ao Espiritismo. Seus escritos, com o pseudônimo M. A. Oxon, constituem dois importantes trabalhos publicados sob os títulos: Ensinos Espíritas e Aspectos Superiores do Espiritismo. Stainton Moses foi, por muito tempo, redator da grande revista Light, da qual foi também diretor. Devemos acrescentar, ainda, que esse grande baluarte da doutrina espírita foi um dos fundadores da Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres, inaugurada em 1882. Em 1884, foi eleito presidente da Aliança Espírita de Londres, permanecendo nesse cargo até quando se deu sua desencarnação. William Eglinton A história do Espiritismo está repleta de grandes médiuns, cada um cumprindo a missão que trouxe do alto, de acordo com o “convênio” firmado no plano espiritual. William Eglinton foi um deles. Veio à Terra como os demais missionários do Cristo para servir de intérprete aos espíritos, dando prova de que a vida não se extingüe no túmulo: continua no seio da espiritualidade, sempre ascendendo para o alto, em cumprimento aos desígnios do Criador. Eglinton nasceu em 1857. Quando ainda muito 20 Além de clarividente de grande poder, possuía, Foster, a interessante e raríssima faculdade de exibir na pele, principalmente no antebraço, as iniciais dos nomes dos espíritos que se comunicavam com ele jovem, revelou seu gênio imaginoso, sonhador e sensitivo. Só em 1874, com a idade, portanto, de dezessete anos, é que entrou no grupo da família, onde seu pai investigava os fenômenos espíritas. No momento em que o rapaz se ligou àquele grupo, a mesa ergueu-se com rapidez, obrigando os assistentes a se porem de pé a fim de manter as mãos sobre ela. Na sessão seguinte, Eglinton caiu em transe mediúnico, recebendo comunicação de sua mãe. A notícia espalhou-se por toda a parte, tendo ele recebido inúmeros convites para tornar-se médium profissional, o que recusou. Em 1878, viajou para diversos países, visitando a África do Sul, a Suécia, a Dinamarca e a Alemanha. Em Leipzig, realizou sessões com o professor Zollner, cujos trabalhos foram assistidos por outras figuras de destaque no meios científicos ligados à Universidade. Em Paris, M. Tissot, famoso artista pintor, assistindo a uma sessão de materialização, com Eglinton, na qual se materializou o espírito de uma senhora reconhecida como parenta, pintou-a numa tela, que intitulou de Aparição medianímica. Eglinton costumava realizar as materializações à luz da lua, em estado consciente, tendo as mãos seguradas pelos presentes. M. W. Harrison, redator do The Spiritualist, assistindo a um dos trabalhos de materialização, assim descreve: “Na noite de segunda-feira, última, dez ou doze amigos se reuniram em volta de uma grande mesa circular, com as mãos juntas, em cujas condições o médium W. Eglinton ficava seguro pelos dois lados. Não havia outras pessoas na sala além das que estavam sentadas à mesa. Um fogo, que se apagava, dava uma luz fraca, que apenas permitia se vissem as silhuetas dos objetos. O médium estava na parte da mesa mais próxima do fogo, de modo que suas costas ficavam para a luz. Uma forma, na inteira proporção de um homem, ergueu-se, lentamente, do chão até ao nível da borda da mesa; estava a cerca de trinta centímetros atrás do cotovelo direito do médium. O assistente mais próximo era o sr. Wisemann, de Orne Square, Baywater. A forma estava coberta com um pano branco, e as feições não eram visíveis. Como se achava próximo ao fogo, podia ser vista distintamente pelos que se achavam mais próximos. Foi observado por todos os que assim estavam, que o canto da mesa ou os assistentes não tapavam a vista da forma; assim, foi observada, por quatro ou cinco pessoas e isto não foi resultado de impressões subjetivas. Depois de erguer-se até o nível da mesa, mergulhou e não mais foi vista, ao que parece tendo esgotado as forças. Sr. Eglinton estava numa casa estranha e vestido a rigor. De um modo geral, foi um teste de manifestação, que não podia ser produzido por meios artificiais.” Outra face da mediunidade de Eglinton foi a da pneumatografia, ou seja, a da escrita direta. Embora tenha ele, por mais de três anos, se esforçado neste sentido, somente em 1884 é que obteve resultados positivos. As lousas usadas para a obtenção da escrita direta eram do tipo comum, que os assistentes tinham a liberdade de trazer para serem utilizadas. A ardósia era segurada pelo médium e a escrita se produzia dentro de poucos instantes, ouvindo-se, muitas vezes, o ruído do lápis que deslizava, com grande velocidade. Eram usadas, também, duas lousas do mesmo tamanho, superpostas e amarradas, às quais se ligava um cadeado com chave, a fim de evitar possíveis truques. E as mensagens eram obtidas, graças à faculdade de Eglinton, a quem o mundo muito deve pelo seu notável trabalho de prova da sobrevivência do espírito após a morte do corpo. Charles Foster Desde épocas remotas, têm surgido na Terra médiuns dotados das mais variadas faculdades, dependendo da aptidão orgânica de cada um deles. E Charles Foster se inclui no rol daqueles que mais se notabilizaram pela importância do trabalho realizado. 21 Médiuns famosos Chico Xavier sempre viveu de maneira modesta, apenas com sua pequena aposentadoria, por estar ciente de que os mais de quatrocentos livros que psicografou não lhe pertenciam Além de clarividente de grande poder, possuía, Foster, a interessante e raríssima faculdade de exibir na pele, principalmente no antebraço, as iniciais dos nomes dos espíritos que se comunicavam com ele. Esse fenômeno foi severamente examinado por várias figuras de renome internacional, que não puseram dúvida alguma quanto à veracidade do fato. Mas, não foram somente a vidência e as letras que se manifestaram em Foster: mantinha ele, também, conversação com entidades desencarnadas, como ocorreu com Cervante, Camões, Virgílio e outros. Conta-nos sr. George C. Barlett, autor da obra The Salem Seer (O Vidente de Salém) que, certa feita, quando se encontrava nos aposentos de Foster, foi por ele acordado, às duas horas da madrugada, dizendo “George, quer fazer o favor de acender o gás? Eu não posso dormir: o quarto está cheio da família de Adams e parece que estão escrevendo seus nomes em mim”. Com efeito, sr. Adams o havia procurado durante o dia anterior para uma consulta, tendo Foster, através da vidência, observado que muitos espíritos ficaram em sua companhia. E continuando o relato, sr. Barlett conclui, dizendo: “E com grande admiração minha, a lista de nomes da família Adams estava gravada em seu corpo. Contei onze nomes diferentes: um estava gravado na testa, outros nas costas”. Temos notícia de que esse tipo de fenômeno tem se verificado, constantemente, nas mãos e nos pés das beatas, o que parece ter muita semelhança com o dom das letras que Foster apresentava sobre a pele. Henry Slade Henry Slade representou importante papel na história do espiritismo, pelo grande poder mediúnico de que era dotado. Slade celebrizou-se pela escrita na lousa, tendose exibido, por muitos anos, na América do Norte, de onde mudou para a Inglaterra, realizando, em Londres, inúmeras sessões desse gênero. M. J. Enmore Jones, redator do The Spiritual Magazine e um dos mais conhecidos pesquisadores do psiquismo, dele, diz o seguinte: “No caso de sr. Home, recusou receber um salário e, via de regra, as sessões eram feitas ao anoitecer, no calmo ambiente familiar. Mas no caso do dr. Slade, elas se realizavam numa pensão. Cobra vinte shillings e 22 prefere que apenas uma pessoa fique na sala que ocupa. Não perde tempo: assim que o visitante se senta, começam os incidentes, continuam e terminam em cerca de quinze minutos.” Slade não só produzia a escrita na lousa, como também provocava outros fenômenos de efeitos físicos tais como o arremesso de objetos, materializações de mãos e a execução musical. Certa vez, em uma sessão realizada em plena luz do dia, além de ser obtida a escrita na ardósia, foi também executada, ao acordeon, a peça Home, Sweet Home. Como se vê, Slade era médium dotado de grande poder para a produção de fenômenos de efeitos físicos. A carreira de Slade, como a da maioria dos médiuns, foi bastante espinhosa. Por acusação de fraude, feita pelo prof. Ray Lankester, foi julgado na Corte de Polícia de Bow Street, perante o juiz Flower. A acusação foi feita pelo sr. George Lewis e a defesa esteve a cargo do sr. Munton. Sobre a autenticidade dos fenômenos produzidos por Slade, falaram Alfred Russel Wallace, Serjeant Cox, além de outros, que apresentaram provas concretas para a defesa do acusado, mas, mesmo assim, o magistrado, no julgamento, exclui, dizendo que sua decisão baseava-se em “inferências deduzidas dos conhecidos fatos naturais”. Assim, foi Slade condenado a três meses de prisão, com trabalhos forçados, nos termos da lei. Houve apelo e ele foi solto sob fiança. Mais tarde, quando foi julgado o apelo, a condenação foi anulada. Henry Slade desencarnou em 1905, num sanatório, em Michigam. Foram inúmeros os comentários feitos pela imprensa londrina a respeito das ocorrências registradas com ele, notadamente sobre a perseguição movida por Ray Lankester, em Bow Street, de que resultou sua condenação. Francisco Cândido Xavier Por Érika Silveira Em 30 de junho de 2002, um domingo no qual o Brasil inteiro vivia a euforia da conquista do quinto título mundial pela seleção brasileira de futebol, partia para o plano espiritual um dos maiores exemplos de paz, caridade e amor: Chico Xavier. Sem dúvida alguma, o planeta sentirá a ausência de sua presença física radiante de luz, porém, ele permanecerá instruindo e confortando um número incalculável de corações através do tesouro literário que deixou para a humanidade, um acervo com mais de 400 obras psicografadas, entre romances, poesias e livros doutrinários, além de milhares de cartas de desencarnados para seus parentes. Segundo relatos de amigos e pessoas próximas ao médium mineiro, após um dia de rotina, ele jantou ao anoitecer, pediu café quente e foi para o seu quarto. Então, deitou-se e, dez minutos depois, teve uma parada cardíaca. Chegava ao fim a jornada de Chico na Terra, na qual dedicou grande parte de seus 92 anos de vida em favor do próximo. Homem de corpo franzino e aparentemente frágil, com sérios problemas de saúde, levou o consolo aos desesperados e o conhecimento por meio das obras psicografadas até o fim de seus dias. Considerado o maior divulgador do Espiritismo no Brasil e no mundo, foi um exemplo de fé e caridade. No entanto, sua maior missão talvez tenha sido exemplificar à humanidade como o amor pode transformar tristeza em coragem, uma lágrima em sorriso de esperança, o trabalho em alimento tanto para o corpo como para o espírito. Tido como um fenômeno editorial, movimentou milhões com as vendas dos livros psicografados, muitos deles traduzidos para outros idiomas. Mesmo assim, sempre viveu de maneira modesta, apenas com sua pequena aposentadoria, por estar ciente de que as obras não lhe pertenciam. Dessa forma, doou todos os direitos autorais para obras sociais mantidas por diversas entidades. Tamanha dedicação à humanidade rendeu a Chico Xavier muitas homenagens, difíceis até de enumerar. A que mais se destacou foi a indicação ao Prêmio Nobel da Paz de 1981, promovida pelo já desencarnado diretor de televisão Augusto César Vanucci e pelo então deputado federal Freitas Nobre. Embora a candidatura não tenha obtido sucesso, a imagem que permanecerá com o público, espírita ou não, é a de um homem que transmitiu o amor e a caridade sem se importar com glórias ou nomeações. Infância e juventude Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, nasceu em Pedro Leopoldo (MG), em 02 de abril de 1910, data marcada pela chegada daquele que seria o propagador incansável da doutrina espírita e um dos maiores médiuns de todos os tempos. Com apenas cinco anos de idade, enfrentou a dor de perder a mãe, Maria João de Deus. No leito de morte, ela disse ao filho que não morreria, simplesmente iria para um hospital muito longe, mas voltaria. Então, como combinado, o pequeno Chico foi morar com sua madrinha Rita de Cássia, período em que enfrentou punições em virtude, principalmente, de dizer que via e conversava com “mortos”. Passados dois anos, voltou a morar com seus oito irmãos e o pai, João Cândido Xavier, que tornou a se casar, desta vez com Cidália Batista, um “anjo salvador” que chegaria na vida de Chico, como disse sua mãe quando lhe apareceu em espírito. Realmente, a madrasta sempre o tratou e o ouviu com muito carinho. Embora não entendesse a causa das visões do menino, por ser católica, Cidália resolveu levá-lo à igreja a fim de curar essas manifestações constantes, tidas como loucura na época. Inclusive, ela sempre pedia a Chico que não contasse nada disso para seu pai, pois este estava querendo interná-lo em um sanatório para doentes mentais. Bastava comentar algo relacionado aos espíritos que o pai o levava à igreja e o padre lhe aplicava várias penitências, como rezar mil Ave-Marias e seguir as procissões carregando uma pedra quase equivalente ao seu peso. Além dos problemas causados pela mediunidade, Chico sempre ajudou no sustento da família, trabalhando desde pequeno. O primeiro emprego foi como operário de uma fábrica de tecidos, entretanto, devido à poeira do algodão, teve problemas no pulmão, recebendo do médico o pedido para que trocasse de local. Exerceu diversas funções ao longo de sua vida, trabalhando como servente de fiação, servente de cozinha e até mesmo caixeiro de armazém. Seu último emprego, cuja aposentadoria 23 Médiuns famosos Sem sombra de dúvida, sua ausência deixa saudades, porém, seu exemplo de caridade permanece vivo na memória de todos nós garantiu seu sustento até o desencarne, foi como funcionário do Ministério da Agricultura, cargo que exerceu por 35 anos consecutivos. A descoberta do Espiritismo Como já dissemos, as manifestações mediúnicas surgiram cedo na vida de Chico Xavier e, por causa disso, ele cresceu sendo repreendido por familiares, professores, religiosos e conhecidos. A primeira prova concreta de psicografia ocorreu na escola, em um concurso comemorativo ao centenário da Independência do Brasil, em 1922. No momento de escrever a redação, Chico ouviu um espírito ditar o texto e, com a inocência peculiar de uma criança, comentou o fato, interpretado com o mesmo desdém de outras vezes em que disse ter contato com desencarnados. Mesmo assim, venceu o concurso, porém, com o objetivo de esclarecer a dúvida sobre se havia copiado as palavras de algum livro ou um amigo misterioso teria ditado, pediram-lhe que fosse à lousa e escrevesse sobre o tema “areia”. Logo, ele escreveu: “Meus filhos, ninguém escarneça da criação. O grão de areia é quase nada, mas parece uma pequenina estrela refletindo o sol de Deus”. Apesar do espanto dos colegas e da própria professora, Chico foi proibido de falar novamente do assunto. Em 1927, o rumo dos acontecimentos começou a mudar. Uma de suas irmãs, Maria Xavier, apresentou sintomas de perturbação mental e a família, desesperada com inúteis esforços médicos, pediu auxílio para um casal de amigos espíritas: José Hermínio e Carmem Pena. Com duas semanas de tratamento, a irmã estava curada. Então, depois de acompanhar todos os procedimentos, Chico começou a freqüentar a Fazenda Maquiné, que logo se transformou no Centro Espírita Luiz Gonzaga. Recebeu de presente O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos e, a partir daí, jamais se afastou dos ensinamentos da doutrina. Emmanuel, o mentor espiritual que o acompanhou desde a infância, só passou a ser percebido 20 anos depois, em uma das reuniões na fazenda. Dona Carmem ouviu nitidamente uma voz, que se identificou como ele, pedindo lápis e papel, pois iria ditar uma mensagem. Desde então, o mentor e companheiro inseparável nunca mais abandonou o médium mineiro. Em entrevista concedida à publicação da FEESP 24 (Federação Espírita do Estado de São Paulo) sobre os seus 60 anos de mediunidade, Chico Xavier deu a seguinte declaração: “Tive três períodos distintos em minha vida mediúnica. O primeiro, de completa incompreensão para mim, é aquele dos cinco anos de idade, quando via minha mãe me proteger, até os 17, quando a doutrina espírita penetrou em nossa casa. O segundo vai de 1928 a 1931, no qual psicografei centenas de mensagens que os benfeitores espirituais, mais tarde, determinaram que fossem inutilizadas, porque, na opinião deles, elas eram apenas esboços de exercícios. O terceiro período começou com a presença de nosso abnegado Emmanuel, que, em 1931, assumiu o encargo de orientar todas as atividades mediúnicas até agora”. Obras literárias O início das produções psicográficas ocorreu em 1927, porém, atendendo a um pedido de Emmanuel, as mensagens recebidas até 1931 foram inutilizadas, pois tinham o objetivo de treiná-lo. Em 1932, a Federação Espírita Brasileira (FEB) lançou o primeiro livro, Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de poemas mediúnicos de grandes escritores, como Castro Alves, Casemiro de Abreu, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Manuel Quintão, Arthur Azevedo, entre outros. O fato causou um grande furor por todos os cantos. Questionava-se como um homem de tão pouca instrução, semianalfabeto, podia produzir tal obra. Apenas a espiritualidade explicaria tamanho fenômeno. A FEB ficou anos sem publicar outras obras, alegando cautela doutrinária. Por causa disso, Chico Xavier enfrentou inúmeras dificuldades para colocar os livros psicografados em circulação, mas, felizmente, as publicações foram retomadas posteriormente e se consagraram em todos os cantos do planeta. Chico era um homem de pouca instrução escolar, mas isso não o impediu de psicografar textos de diversos autores, entre eles, André Luiz, Emmanuel, Auta de Souza, Bezerra de Menezes, Meimei e Humberto de Campos. As mensagens deste último geraram problemas jurídicos envolvendo sua família, que entrou com processo visando o recebimento de direitos autorais. No entanto, o juiz encarregado de decidir o caso declarou que os mortos não possuíam direitos e, portanto, a família não deveria receber nada. Para evitar maiores problemas depois do fato, Humberto de Campos passou a assinar suas psicografias como “Irmão X”. Durante tantos anos de trabalho, críticas e dificuldades também fizeram parte da história de Chico Xavier. Porém, com humildade e resignação, ele jamais teceu um comentário sequer contra calúnias ou difamações, nem mesmo com relação às denúncias de desvio de verbas ou agressões físicas envolvendo seu filho adotivo, o dentista Eurípedes Humberto Higino dos Reis, e sua nora. A vasta obra mediúnica, dirigida pelo iluminado espírito de Emmanuel, consolidou a divulgação do evangelho de Jesus e deu continuidade às obras de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. No final da década de 50, Chico se mudou para Uberaba (MG) por motivos de saúde. No Grupo Espírita da Prece, recebeu o maior número de mensagens de caráter científico, filosófico e doutrinário. Além disso, suas obras psicografadas foram transformadas em peças de teatro e filmes. O médium mineiro, inclusive, chegou a fazer uma participação especial na novela O Profeta, de Ivani Ribeiro, na extinta TV Tupi. Durante anos, Chico Xavier sofreu silenciosamente. Com um corpo frágil e debilitado, apresentou diversos problemas de saúde ao longo da vida. Tinha angina, que enfraqueceu sua resistência física, agravada por pneumonias e problemas cardíacos, crises de labirintite, glaucoma (que o deixou cego de um olho), dificuldades para se locomover e falar etc. Há algum tempo, ele recebia cuidados especiais do médico particular e amigo, Eurípedes Tahan, e de enfermeiros. Sempre com um ar de tranqüilidade estampado no rosto e uma palavra de conforto para qualquer pessoa que o procurasse, Chico resistiu bravamente até os seus últimos dias, com uma inigualável abnegação em favor do próximo. Cumpriu bem os postulados espíritas de “amar ao próximo como a ti mesmo” e de que “fora da caridade, não há salvação”. Sem sombra de dúvida, sua presença deixará saudades, porém, seu exemplo de caridade permanecerá vivo na memória de todos nós. Por mais que se fale sobre essa figura doce e meiga que foi Chico Xavier, não é possível traduzir em palavras o bem imenso que ele proporcionou para toda a humanidade. Devemos esclarecer, ainda, que não foram somente os médiuns biografados neste artigo que trabalharam nestes setores, mas muitos outros também se sacrificaram, grandemente, os quais deixamos de citar (como José Arigó, por exemplo), pois nosso trabalho visa tão somente dar ligeira noção sobre alguns médiuns do passado, não permitindo, dessa forma, citação de todos os grandes missionários da Espiritualidade, que deram o melhor de seus esforços, não só no campo de mediunidade, como também abrangendo outros aspectos da doutrina espírita. 25 Elementos gerais do universo Introdução ao estudo da doutrina espírita 27 Fluido Cósmico É a matriz que dá origem à todas as diferentes combinações químicas, materiais, inclusive, é a base de energias sutis como o fluido vital Por Edvaldo Kulcheski T odos nós vivemos em um universo constituído por partículas, raios e ondas que não conseguimos perceber normalmente. Estamos imersos em um mundo de matéria sutilizada, refinada e invisível, porém, real, que tem como fonte uma substância denominada Fluido Cósmico Universal. Portanto, estamos vivendo em um universo que se apresenta sob duas formas: uma visível ou material, na qual habitam os seres encarnados ou materiais, e outra invisível ou imaterial, na qual habitam os desencarnados. No universo visível, os fenômenos ocorrem dentro de certos limites, segundo determinadas leis. A matéria se apresenta, basicamente, sob quatro estados reconhecidos pela Ciência: sólido, líquido, gasoso e “radiante”. Como vemos, o universo visível apresenta determinados estados da matéria em condições de invisibilidade para os cinco sentidos humanos. Aquilo que não podemos sentir normalmente pelos sentidos de que somos dotados é percebido ao usarmos determinados instrumentos, ou mesmo por meio de cálculos matemáticos. O mundo imaterial ou invisível começa justamente onde o visível termina, pois tudo segue um plano perfeito de continuidade na natureza. No universo invisível, igualmente ocorrem fenômenos que seguem leis reveladas pelos seres que nele habitam. O Fluido Cósmico Universal é a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos existentes na natureza. O universo “imaterial”, invisível ou espiritual também é composto por algo material, substância ou elemento, que, no caso, são os fluidos. Eles têm uma estrutura, uma forma de agregação e composição de acordo com as vibrações sofridas, apresentando propriedades especiais. Existem vários estados e formas com os quais os fluidos se apresentam, cada um com propriedades específicas, mas todos eles 28 são originários do fluido universal. Como princípio elementar, o Fluido Cósmico Universal assume dois estados distintos: de eterização ou imponderabilidade (que se pode considerar como o primitivo estado normal) e o de materialização ou ponderabilidade (que, de certa maneira, é consecutivo do primeiro). No estado de eterização, o Fluido Cósmico Universal, sem deixar de ser etéreo, passa por modificações variadas em seu gênero, mais numerosas que no estado de matéria tangível. Tais modificações constituem fluidos distintos, dotados de propriedades especiais e que dão lugar aos fenômenos particulares do mundo invisível. Por serem formas energéticas, os fluidos estão sujeitos à impulsão da mente tanto do encarnado como do desencarnado. Para os espíritos, certos fluidos têm uma aparência material tanto quanto os objetos tangíveis têm para os encarnados. São para eles o que as substâncias do mundo terrestre representam para nós, ou seja, os espíritos elaboram os fluidos e os combinam para produzir determinados efeitos. A vida espiritual e a vida material se encontram incessantemente em contato, tanto que, fenômenos das duas categorias muitas vezes são produzidos simultaneamente. Como reencarnado, o homem pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à vida corpórea. Como vemos, é através do corpo que percebemos os fenômenos de nosso meio material e é pela percepção fluidica ou mediunidade, inerente a todos os seres, que o espírito encarnado capta as ocorrências do mundo espiritual. Para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que a mão representa para o homem. Pelo pensamento, imprimem ao fluido esta ou aquela direção; aglomeram, dispersam, combinam e mudam suas propriedades. Sob o ponto de vista moral, trazem Universal impressões de vários sentimentos, como amor, bondade, caridade, doçura, benevolência, ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, hipocrisia, etc, enquanto que sob o aspecto físico, são condutores, excitantes, calmantes, reparadores, transmissores, entre outros. O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais como o dos desencarnados, transmitindo-os de espírito para espírito pelas mesmas vias. Conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos do ambiente. O perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, assimilando-os com facilidade. Tais fluidos agem sobre o perispírito e este, por sua vez, reage sobre o organismo com o qual está em contato molecular. Se os eflúvios forem de boa natureza, o corpo terá uma impressão salutar, caso contrário, a impressão será penosa. Fluido vital O fluido vital é a energia auxiliar adquirida para a manutenção da vida. Esta energia é extraída do Fluido Cósmico Universal, que absorvemos automática e inconscientemente por várias portas de entrada, destacando-se a respiração, a alimentação e os centros de força vital, os chamados chakras. Ao ser absorvido por um destes centros de força, o Fluido Cósmico Universal é metabolizado em fluido vital e canalizado para todo o organismo com maior ou menor intensidade, de acordo com o estado emocional da criatura. A quantidade de fluido vital não é a mesma em todos os seres orgânicos, bem como não é constante em cada um ou em todos os indivíduos de uma mesma espécie. Ela se esgota se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contém ; o fluido vital se transmite de um indivíduo para outro. No processo de irradiação ou passes magnéticos, transmitimos aos outros, por meio de nossa vontade, a carga de força vital que dispomos para doar. O magnetismo é a força que edifica e coordena as moléculas físicas, ajustando-as de modo a comporem as formas em todos os reinos: mineral, vegetal, animal e hominal. Sem ele, não haveria coesão molecular, pois congrega todas as células independentes e as interliga em íntima relação. Assim como o cimento une os tijolos de um prédio, é o elo que associa os átomos, as moléculas e as células. A manifestação do fluido vital se dá conforme a necessidade e a natureza vibratória de cada plano em que o espírito atua, plasmando as múltiplas formas de vida. Absorvemos do cosmo os fluidos vitais em seu estado mais puro, e estes, ao ingressarem em nosso organismo perispiritual, entram em reação com as ondas que se produzem através do que pensamos e do que sentimos. Nesse processo metabólico, os fluidos em estado puro que foram absorvidos adquirem as características apropriadas do que pensamos e sentimos, ou seja, se pensamos e sentimos coisas boas, os fluidos se tornam leves e sutis, deixando-nos bem, caso contrário, tornanse pesados e densos, deixando-nos mal. Também absorvemos os fluidos que já foram metabolizados e que são irradiados por outras pessoas, os quais passam a ter nossas características somadas às propriedades vindas desses seres. 29 Especial O médium em desdobramento pode deslocar seu perispírito apenas alguns centímetros do corpo físico denso ou se projetar a grandes distâncias 30 Perispírito O espírito é envolvido por corpos, do mais sutil ao mais material. A frequência vibratória de cada um deles está relacionada com a dimensão em que atuam Por Edvaldo Kulcheski D e acordo com as concepções espiritualistas, o espírito, na condição de foco inteligente e diretor da vida, encontra-se envolvido por vários campos energéticos, cada qual a vibrar na dimensão espacial que lhe é própria, sendo o campo físico a camada mais externa e mais densa da complexidade humana. Com o objetivo de facilitar o entendimento da seriação energética do homem, Allan Kardec resumiu o assunto denominando como “perispírito” tudo aquilo que reveste a essência espiritual do ser, ou seja, que se encontra interposto entre o espírito e o campo físico. Desta maneira, o perispírito representa todos os corpos que envolvem o espírito quando este está desencarnado. Nosso espírito está envolto por muitos corpos, que se subdividem de acordo com as várias dimensões em que atuamos. À medida que ocorre a evolução do espírito, esta se caracteriza pela desmaterialização progressiva dos envoltórios mais densos, ou seja, o espírito evoluído não precisa das camadas que estão ligadas mais intimamente à matéria mais densa, esvaindo-se com sua inutilidade. No entanto, o envoltório mais próximo do espírito não se perde, já que, por mais evoluído que seja, ele terá no mínimo uma camada a lhe envolver e dar forma. Como exemplo, temos o caso daquele espírito que desencarna e não precisa mais reencarnar. Ele perde a necessidade de algumas funções do corpo espiritual mais denso e, assim, estas camadas vão se extinguindo. É por isso que espíritos mais evoluídos encontram dificuldades para trabalhar junto à crosta terrestre ou agir mais diretamente nos umbrais, pois estas atividades são muito densas para seu corpo espiritual mais sutil. Estudando o homem de acordo com o Espiritismo, André Luiz estabeleceu que ele é composto pelo corpo, pelo duplo etérico ou biossoma, pelo perispírito ou psicossoma, pelo corpo mental e pelo espírito. Já na definição do dr. Jorge Andréa dos Santos, médico e renomado escritor espírita, o homem é formado pelo corpo físico, pelo duplo etérico, pelo perispírito, pelo corpo mental, pelo inconsciente atual, pelo inconsciente passado ou arcaico e pelo inconsciente puro ou espírito. O perispírito O perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência ou alma. É o envoltório semimaterial do espírito, o laço que o une à matéria do corpo. Diz-se que o perispírito é semimaterial porque pertence à matéria pela sua origem (fluido universal) e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível, porém, ele pode sofrer modificações que o tornam perceptível e até tangível, ou seja, possível de ser visto e tocado. O perispírito é formado com os elementos contidos nos fluidos ambientais de cada mundo, de onde se deduz que seus elementos constitutivos variam conforme os mundos aos quais estão ligados. A natureza do perispírito sempre está relacionada ao grau de adiantamento moral do espírito. Desta forma, conforme a maior ou menor depuração do ser, seu perispírito se formará das partes mais puras ou mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo no qual ele venha a encarnar. O perispírito não está preso aos limites do corpo. Por sua natureza fluídica, ele é expansível, irradiando para o exterior e formando em torno do corpo uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem dilatar com maior ou menor intensidade. Como o perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos do mundo espiritual, ele os assimila com facilidade, semelhante a uma esponja que absorve um líquido. Quando esses fluidos atuam sobre o perispírito, este reage sobre o organismo material com o qual está em contato molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo sente uma 31 Especial O perispírito é o modelo organizador biológico, pois é em sua intimidade energética que se agregam as células e se modelam os órgãos impressão salutar, mas se são maus, a impressão é penosa. Caso sejam permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas, o que explica a causa de certas enfermidades. O perispírito é o organismo que personaliza e individualiza o espírito, identificando-o quanto à aparência. Após a morte, a alma jamais perde sua individualidade, apesar de não possuir mais o corpo material, enquanto que o perispírito guarda a aparência de sua última encarnação. É por ele que um ser abstrato, como é o espírito, torna-se um ser concreto, definido pelo pensamento. Molde do corpo físico Pode-se afirmar que o perispírito é o esboço, o modelo a partir do qual se desenvolve o corpo físico. Ele também é o modelo organizador biológico, pois é em sua intimidade energética que se agregam as células e se modelam os órgãos, proporcionando-lhes o pleno funcionamento. Para atuar na matéria, o espírito precisa desta. Em virtude de sua natureza etérea, o espírito propriamente dito não pode atuar sobre a matéria grosseira sem algo ou alguém que o ligue a ela. Esse intermediário, que chamamos de perispírito, faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material. Portanto, ele é o órgão de manifestação utilizado pelo espírito para efetuar suas comunicações com o plano dos espíritos encarnados. É comum encontrarmos alguns autores espíritas que confundem atributos do espírito como sendo do perispírito. A sede da memória é um deles. Segundo Allan Kardec, é o espírito que possui a sede da memória, pois ele é o ser inteligente, pensante e eterno. Sem ele, o perispírito é uma matéria inerte, privada de vida e sensações. É importante lembrar que, ao passarem de um mundo para outro, os espíritos mudam de perispírito de acordo com a natureza dos fluidos ambientes. Se a sede da memória residisse no perispírito, o espírito a perderia cada vez que precisasse mudar a constituição íntima de seu envoltório fluídico. A mesma coisa se dá quando nos referimos à sede da sensibilidade. É o espírito quem ama, sofre, pensa, é feliz, triste, ou seja, é nele que residem todas as 32 sensações ou faculdades. O perispírito é apenas o órgão que transmite todas essas sensações, portanto, é um instrumento a serviço do espírito. Logo, segundo Kardec, é incorreto dizer que no perispírito ficam marcadas ou gravadas certas memórias ou atos do espírito durante sua vida. Como já vimos, o perispírito é matéria, não pensa e não tem memória, atributos pertencentes ao espírito. Os órgãos do perispírito Pela simples observação do corpo físico, pode-se deduzir que o perispírito também possui algo semelhante a órgãos, isto é, conjuntos de moléculas cuja configuração especial é destinada à execução de determinadas funções. Tais aglomerados moleculares, evidentemente, são apropriados ao funcionamento na vida extrafísica, promovendo a captação e assimilação de energias e fluidos necessários à sua manutenção, que se processam de modo essencialmente diverso da vida física. Por isso mesmo, os órgãos do perispírito não podem ser iguais aos do corpo denso, mas determinam, pelas linhas de força que os caracterizam, a conformação e distribuição funcional destes últimos, os quais estão adaptados à execução e às funções específicas conforme a evolução biológica. Os órgãos do perispírito podem ser lesados pela ação desordenada ou maléfica da mente do ser. O gênero de vida de cada indivíduo carnal determina a densidade do organismo perispirítico após a perda do corpo denso. O mundo espiritual guarda íntima ligação com o progresso moral que realizamos. À medida que crescemos moralmente, nosso perispírito vai ficando gradativamente mais leve e, assim, podemos nos movimentar em planos mais sutis. 1 Pesquisadores pioneiros espíritas Introdução ao estudo da doutrina espírita 33 Willian Crookes Cientista dos espíritos Maria Aparecida Romano Q uando se diz que William Crookes foi o maior químico da Inglaterra e um dos mais ilustres cientistas do século XIX, é preciso acrescentar à sua gloriosa trajetória o fato de seu nome ser constantemente mencionado como um dos mais corajosos pesquisadores dos fenômenos supranormais, devido às relevantes e pioneiras experiências no campo da fenomenologia espírita. Nascido em 17 de junho de 1832, em Londres, Crookes sentiu-se atraído logo cedo pelas ciências experimentais, destacando-se no Colégio Real de Química, onde estudou. Posteriormente, foi convidado para exercer o cargo de inspetor de meteorologia do observatório de Radcliff. Após se casar aos 23 anos de idade, fixou residência em Londres, época em que assumiu a cadeira de química na Universidade de Chestere, passando a publicar artigos científicos em revistas especializadas. Em 1861, coroando seu incansável trabalho com pesquisas, Crookes ficaria mundialmente conhecido e respeitado ao isolar o tálio, metal branco que se aproxima do chumbo por sua cor e dureza, e determinar suas propriedades físicas. Inventando os “tubos Crookes”, explicou os raios catódicos, raios invisíveis que se propagam rapidamente e penetram nos corpos. Em 1872, após persistentes estudos em torno do espectro solar, construiu o radiômetro, a fim de estudar melhor a aparente ação repulsiva dos raios luminosos. Descobrindo um novo tratamento para o ouro, determinou também o quarto estado da matéria, apresentando ao mundo a Teoria da Matéria Radiante, que se tornaria o “conceito de fluidos”. Químico e físico por excelência, William Crookes exerceu importantes cargos em diversas sociedades eruditas, como presidente da Sociedade Real de Química, do Instituto de Engenharia Eletricista, da Sociedade Britânica e da Sociedade de Investigações Psíquicas. Por causa de suas relevantes descobertas, foi recompensado com merecidos prêmios pela Academia de Ciências da 34 França, recebendo ainda a medalha de ouro da Socidade Real, a medalha Davy e a medalha Sir G. Coprey. Por fim, foi condecorado pela Ordem do Mérito da Inglaterra e, em 1897, agraciado pela rainha Vitória com o título de Sir. Próximo dos 40 anos de idade, Crookes se tornou um dos nomes mais respeitados da época, não só na Inglaterra, mas em todo o mundo. Dedicado, perfeccionista e com uma comprovada fibra de pesquisador, teve suas experiências aceitas sem a menor contestação, legando inestimáveis obras ao mundo científico e expondo todo o seu conhecimento. O livro Métodos Seletos de Análise Química se transformou em um dos mais completos do gênero. Deve-se também a ele a fundação de importantes órgãos de divulgação, como o Chemical News e o Quartely Journal of Science. Enquanto isso, uma nova luz brilhava nos horizontes mentais do mundo. Na França, Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido posteriormente como Allan Kardec, professor de várias disciplinas científicas e portador de uma ampla cultura, estabeleceu a origem dos fenômenos espirituais, provocando uma série de controvérsias e polêmicas. O lado científico que caracterizava a nova doutrina, chamada por ele de Espiritismo, chamou a atenção de renomados cientistas ingleses, que iniciaram pesquisas no campo da fenomenologia mediúnica com resultados positivos. No entanto, fazendo prevalecer a razão que sempre o caracterizou, William Crookes recebeu os fatos com naturalidade e, sem empregar subterfúgios, utilizou-se de atitudes corajosas e definitivas para fazer ressalvas ao trabalho deles. Em 1896, o cientista recebeu a visita do professor Daniel Dunglas Home, famoso médium inglês que realizava especificamente o fenômeno de levitação. Procedente de São Petesburgo, na Rússia, entregou-lhe uma carta do professor Butleroff, um conhecido pesquisador de fenômenos parapsicológicos, cujo texto solicitava a Crookes que aplicasse todo o seu cabedal de conhecimentos para a causa da nova doutrina. Então, com o mesmo espírito pesquisador que o celebrizou no campo científico, William Crookes passou imediatamente a realizar as primeiras investigações sobre fenômenos espirituais. Para isso, contou com a valiosa colaboração dos médiuns J. J. Morse e sra. Marshall, que serviram de instrumentos, além de uma jovem inglesa que se tornaria muito importante. A materialização de Katie King Nascida em 1856, Florence Cook tinha apenas 15 anos de idade quando se apresentou a William Crookes para servir como medianeira para as pesquisas científicas realizadas por ele. Tinha contra si e sua corajosa atitude o parecer de um cavalheiro inglês, Sir Wolckmann, que havia lhe imputado suspeitas de fraude. Entretanto, contando com o auxílio da esposa do cientista, a jovem Florence se submeteu às experimentações científicas, com o objetivo de comprovar sua mediunidade. Em 22 de abril de 1872, ocorreu a primeira materialização do espírito Katie King, fato que contou com a presença da mãe, de alguns irmãos e da criada da médium. A partir daí, com a manifestação regular desse espírito, a senhorita Cook se prontificou a colaborar com todo gênero de identificações, visando acabar com a descrença que Crookes ainda alimentava. Gradualmente, as famosas manifestações de Katie King foram proporcionando belíssimas sessões, tudo dentro da maior seriedade e nos moldes previstos pela doutrina espírita. As experiências levadas a efeito ganharam tamanha notoriedade que abalaram o mundo científico. Enquanto isso, Crookes trabalhava incessantemente, aprofundando-se nas investigações e tendo em sua esposa uma auxiliar direta e eficiente. Quando constatou que os casos eram verídicos, ele não hesitou em expor seu nome consagrado, passando a se dedicar com seriedade e amor à tarefa investigativa, além de receber apoio moral e intelectual. Embora cientistas de renome tenham hesitado em proclamar a verdade mesmo diante da veracidade dos fatos, temendo as conseqüências, eles se calaram em respeito a Crookes e tudo que ele representava. Então, em 16 de junho de 1871, Sir William Crookes entregou pessoalmente à rainha Victória um relatório no qual confirmava a veracidade dos fenômenos espíritas, através dos fatos ocorridos com a jovem médium Florence Cook. William Crookes desencarnou em Londres em 04 de abril de 1919, aos 86 anos de idade. Seu nome sempre foi sinônimo de respeito no campo científico em virtude de suas atitudes arrojadas e definidas. Quando se tornou espírita convicto, durante sua trajetória não menos brilhante, soube explorar como ninguém o lado científico que a doutrina oferece. Em sua obra espírita, nota-se muito claramente os fortes reflexos do cientista que, com idéias nobres, desempenhou a missão que lhe foi designada na Terra. Crookes legou uma notável contribuição para todos aqueles que defendem a imortalidade da alma, a ponto de ser mencionado como um dos pesquisadores mais corajosos dos fenômenos supranormais. Seu livro Fatos Espíritas, um valioso repositório de verdades comprovadas, não encontrou opositores. Nele, há uma súmula de trabalhos publicados pelo cientista em 1874 nas páginas do Quartely Journal of Science, nos quais expõe, de modo convincente, que o fenômeno de materialização de entidades representa a prova real da grandeza divina. 35 BOZZANO O CIENTISTA DA ALMA DE MATERIALISTA CONVICTO À GRANDE DEFENSOR DO ESPIRITISMO, BOZZANO DEIXOU UMA OBRA DE INCALCULÁVEL VALOR PARA À HUMANIDADE Jon Aizpúrua [email protected] E minente pensador e cientista italiano, nascido a 9 de janeiro de 1862 na cidade de Gênova e falecido na mesma cidade no dia 24 de junho de 1943. Ernesto Bozzano aos quinze anos de idade já demonstrava uma vocação para o estudo e se interessava por filosofia, psicologia e todas as ciências naturais. Queria encontrar respostas, às múltiplas perguntas que agitavam sua alma juvenil, sobre a natureza humana e o sentido da vida. Por falta de apoio familiar não pôde seguir os estudos superiores, mas seu apaixonado amor pelo saber levaram-no a obter com esforço próprio uma sólida formação filosófica e científica. Estudou também por sua conta a língua inglesa, dominando-a perfeitamente. Inicialmente, seu pensamento apresentou tendência para o materialismo e para o positivismo, influenciado pelas doutrinas de Comte e de Spencer, as quais chegou a professar com fervor e intransigên- 36 GÊNOVA É MUNDIALMENTE FAMOSA PELOS SEUS ASPECTOS HISTÓRICOS cia. Admirava acima de tudo o eminente filósofo inglês, a quem considerava como “o Aristóteles dos tempos modernos”, por haver construído uma impressionante síntese de todo o conhecimento humano. Anos depois confessaria: “Fui um positivista-materialista a tal ponto convencido que me parecia inverossímil que existissem pessoas cultas, dotadas de bom senso, que pudessem crer na existência e sobrevivência da alma”. Em 1891, o senhor Théodule Ribot, professor da Sorbone e diretor da Revue Philosophique, informou-o do lançamento da revista Annales des Sciences Psychiques, dirigida pelo Dr. Dariex e sob a orientação do professor Charles Richet. O professor Ribot exortava-o à leitura da revista com atenção, pois ali se estava propondo um novo enfoque para a psicologia, com a incorporação dos fenômenos supranormais. Sua primeira reação foi de desconforto, pois considerava um verdadeiro escândalo que representantes da ciência oficial discutissem seriamente a possibilidade da transmissão do pensamento ou a aparição de fantasmas. Mas a leitura demorada dos Anais foi removendo progressivamente seus preconceitos, obrigando-o a mudar de opinião. Posteriormente, Bozzano e Richet mantiveram com regularidade uma correspondência franca e afetuosa. Nesse período apareceu o famoso livro de Gurney, Podmore e Myers, Phantasms of the Living (Fantasmas dos Vivos) em tradução para o francês com o título modificado de Hallucinations Télépatiques (Alucinações Telepáticas) onde um grande número de casos comprovados sobre telepatia, clarividência, premonição, telecinesia, desdobramento, aparições e mediunismo em geral eram apresentados. Bozzano estudou meticulosamente a obra e começaram a dissipar-se as dúvidas que o afligiam. Outra obra que exerceu uma influência significativa sobre Bozzano foi Animismo e Espiritismo, do grande investigador russo Alexander Aksakof. Daí em diante dedicouse a estudar sistematicamente os fatos espíritas, tomando como roteiro as obras de Kardec, Denis, Delanne, Gibier, Crookes, Wallace, Du Prel e outros eminentes investigadores das ciências psíquicas. EM BUSCA DA COMPROVAÇÃO Quando já havia adquirido um amplo conhecimento teórico, considerou Bozzano ter chegado o momento de comprovar os fatos mediante experiências próprias. Em janeiro de 1899, fundou o Círculo Científico Minerva, um grupo experimental dedicado à verificação dos fenômenos psíquicos e mediúnicos com a participação de vários professores da Universidade de Gênova. Durante cinco anos, graças ao intenso trabalho efetuado, “NEM LIVRE-ARBÍTRIO, NEM DETERMINISMO ABSOLUTOS DURANTE A ENCARNAÇÃO DO ESPÍRITO, MAS LIBERDADE CONDICIONADA” DO LIVRO OS FENÔMENOS PREMONITÓRIOS aquele seleto grupo deu muito o que falar à imprensa italiana e mundial, tanto pela qualidade dos fenômenos que ali ocorriam como pelo rigor científico com que eram estudados. Apresentaram-se manifestações mediúnicas impressionantes, tanto de ordem intelectual como física, tais como a psicofonia, psicografia, xenoglossia, voz e escrita diretas, levitação e, inclusive, a mate- 37 PROSSEGUINDO NA EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DOS RESULTADOS OBTIDOS, NOTO QUE O EXAME DOS FATOS NOS LEVOU A ESTABELECER QUE JÁ NÃO É LÍCITO DUVIDAR DA EXISTÊNCIA DE UMA “INFLUÊNCIA PESSOAL HUMANA” REGISTRADA PELOS OBJETOS E PERCEPTÍVEL AOS SENSITIVOS, E CUJA “INFLUÊNCIA” SERVE PARA ESTABELECER A “RELAÇÃO” ENTRE O SENSITIVO E O POSSUIDOR DO OBJETO PSICOMETRADO, DE CUJO SUBCONSCIENTE O SENSITIVO EXTRAI, TELEPÁTICA E QUASE INTEGRALMENTE, OS APONTAMENTOS FORNECIDOS DO LIVRO ENÍGMAS DA PSICOMETRIA rialização. O desenvolvimento das sessões no Círculo Minerva e seus resultados tornaram-se conhecidos pelo trabalho de seus vários experimentadores, em diversos fascículos, monografias e livros, constituindo um material muito valioso para a bibliografia especializada no tema. Bozzano passou quase uma década estudando, analisando, comparando, antes de começar a escrever e publicar. Seu primeiro artigo intitulado “Espiritualismo 38 e Crítica Científica”, apareceu em dezembro de 1899 na Rivista di Studi Psichici, que era editada em Turim sob a direção de Cesar Baudi de Vesme, e que simultaneamente era editada em francês com o nome de Revue des Etudes Psychiques. A partir daí, e por mais de quarenta anos, trabalhando num ritmo intenso de 14 horas diárias, levando uma vida austera e disciplinada, consagrou-se à redação de artigos, monografias e livros que, se fossem reunidos em volumes de tamanho médio, chegariam ao respeitável número de 15.000 páginas. Fortalecido em seus argumentos, valente em suas informações, Bozzano proclamou a veracidade das teses espíritas e enfrentou com sua argumentação clara e serena os preconceitos acadêmicos e a aversão religiosa. UM POUCO DE SUA OBRA Pela sua amplitude e por estar dividida em centenas de artigos publicados em revistas espíritas e metapsíquicas do mundo não é possível apresentar uma relação completa de sua obra escrita. Não existe tema vinculado à investigação psíquica que tenha escapado a sua observação e análise. Aqui relacionamos alguns livros mais conhecidos e divulgados: Hipótese Espírita e Teoria Científica, Casos de Identificação Espírita, Fenômenos Premonitórios, Os Enigmas da Psicometria, Comunicações Mediúnicas entre os Vivos, Defesa do Espiritismo, Cérebro e Pensamento; Pensa- mento e Vontade, Manifestações Supranormais entre os Povos Primitivos, A Crise da Morte, Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte, Literatura depois da Morte, Fenômenos de Transportes, Xenoglossia (Mediunidade Poliglota); Breve História dos Raps; Fenômenos de Bilocação; Fenômenos de Assombração; Animismo ou Espiritismo? , A Verdade sobre a Metapsíquica Humana; A Morte e seus Mistérios; Manifestações Metapsíquicas nos Animais. Quando foi necessário sair em defesa do Espiritismo, não hesitou em discutir com os mais ardentes contraditores, defendendo seus argumentos com a força do raciocínio e apoiando sobre os fatos todas as suas afirmações, sem deter-se em discussões estéreis ou na desqualificação pessoal de seus adversários, a quem sempre ofereceu sua amizade. Assim ocorreu com Sudré, Morselli, Mackenzie e outros estudiosos contrários à interpretação espírita, que sempre demonstraram respeito à inteligência e às qualidades morais de Bozzano. O próprio Richet confessou-lhe em uma carta que foram suas monografias que o fizeram vencer seu ceticismo a respeito da existência e imortalidade do espírito. Ernesto Bozzano é, sem dúvida, o maior representante italiano do Espiritismo. Sua contribuição a esta “Ciência da Alma” assim chamada por ele, à Metapsíquica e à Parapsicologia é inestimável, contribuindo também na formulação de seus princípios teóricos e em sua demonstração experimental. Seu trabalho constitui uma das mais poderosas demonstrações a favor do reconhecimento da idéia transcendente que haverá de orientar o ser humano em sua ascensão evolutiva: a sobrevivência e continuidade do espírito depois da morte. LÉON DENIS Por Mauro Bueno 39 39 HOMEM! MEU IRMÃO! VAMOS PARA O MAIS ALTO MAIS ALTO! L éon Denis nasceu numa aldeia chamada Foug, situada nos arredores de Tours, na França, no dia 1º de janeiro de 1846. Nascido em uma família humilde, cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família. Não desperdiçava um minuto sequer de seu tempo com distrações frívolas, às quais a maior parte dos homens recorre para passar as horas. Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio, desenvolver a sua inteligência. Tornou-se um autodidata sério e competente. O JOVEM LÉON DENIS Aos 12 anos, concluiu o curso primário, mas a situação modesta da sua família não lhe permitiu grandes estudos. Desde cedo teve problemas de saúde física, com os olhos principalmente. Aos 16 anos, salientou-se como um dos melhores oradores e ardente propagandista. Aos 18, tornou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes, situação que se manteve até algum tempo após sua aposentadoria. Adorava a música e sempre que podia assistia a uma ópera ou concerto. Gostava de dedilhar ao piano árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio devaneio. Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e 40 40 não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua bebida ideal. O PRIMEIRO CONTATO COM A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS Era seu hábito olhar com interesse para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o chamado acaso fez com que sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro era O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis disse: “Nele encontrei a solução clara, completa e lógica acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas”. O seu espírito, nessa hora, sentiu-se sacudido em face dos compromissos assumidos no Espaço, para iniciar, em breve, o trabalho de propagação das verdades kardequianas. “Como tantos outros” – disse ele – “procurava provas, fatos precisos, de modo a apoiar a minha fé, mas esses fatos demoraram muito a chegar. A princípio, insignificantes, contraditórios, mesclados de fraudes e mistificações que não me satisfizeram, a ponto de, por vezes, pensar em não mais prosseguir as minhas investigações. Mas, sustentado como estava por uma teoria sólida e de princípios elevados, não desanimei. Parece que o invisível deseja experimentar-nos, medir o nosso grau de perseverança, exigir certa maturidade de espírito antes de entregar-nos os seus segredos”. Encontrava-se em seus trabalhos de experimentações, quando um importante acontecimento se verificou em sua vida: Allan Kardec viera passar alguns dias na pacata cidade de Tours, com seus amigos. Todos os espíritas turenses foram convidados a recebê-lo e a saudá-lo. AS VIAGENS As viagens eram para ele uma fonte de alegria e de aprendizado. Na França e no estrangeiro, aproveitava as oportunidades que poderiam enriquecer materialmente o patrão, sem desprezar tudo o que poderia contribuir para o conhecimento próprio. Interessavam-lhe as praças, os monumentos, o povo, os hábitos, os costumes e a meditação entre os velhos caminhos das montanhas. Deliciava-se com os bosques, com os rios e os lagos. Estas longas horas de meditação solitária no seio da natureza conduziram-no a uma mais completa compreensão de Deus. Em 1880, pelas cidades e vilas que percorria por força dos seus afazeres profissionais, pronunciava conferências e fundava círculos e bibliotecas populares. É incalculável o número de conferências por ele proferidas na França, no propósito de propagar a Liga de Ensino fundada por Jean Macé. Na Argélia, onde esteve várias vezes em serviço, também desenvolveu uma intensa atividade de divulgação doutrinária. PARECE QUE O INVISÍVEL DESEJA EXPERIMENTAR-NOS, MEDIR O NOSSO GRAU DE PERSEVERANÇA, EXIGIR CERTA MATURIDADE DE ESPÍRITO ANTES DE ENTREGAR-NOS OS SEUS SEGREDOS AS DIFICULDADES O ano de 1882 marca, em realidade, o início do seu apostolado, durante o qual teve que enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo, que encaram o Espiritismo com ironia e risadas, assim como os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam em se aliar aos ateus para ridicularizá-lo e enfraquecer a doutrina espírita. Léon Denis porém, como bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu lado para o encorajar e exortá-lo à luta. “Coragem, amigo” – diz-lhe o espírito Jeanne – “estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-teão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra”. Em 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um evento de capital importância produziu-se em sua vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele espírito que, durante meio século, havia de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual. Era o espírito Jerónimo de Praga, que lhe disse: “Vai meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar”. E como Léon Denis indagasse se o seu estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa, recebeu esta outra afirmativa: “Coragem, a recompensa será mais bela”. A partir de 1884, achou conveniente fazer palestras visando à maior difusão das idéias espíritas. Escreveu, em 1885, o trabalho O Porquê da Vida, no qual explica, com nitidez e simplicidade, o que é o Espiritismo. Em 1892, recebeu um convite da duquesa de Pomar para falar de Espiritismo na sua residência, numa dessas manhãs célebres em que se reunia quase toda Paris. Ele ficou indeciso e temeroso. Depois de muito meditar as responsabilidades, aceitou o convite. Le Journal, de Paris, publicou, acerca da reunião na casa da duquesa, a seguinte notícia: “A reunião de ontem, para ouvir a conferência de Léon Denis sobre a doutrina espírita, foi uma das mais elegantes. De uma eloqüência muito literária, o orador soube encantar o numeroso auditório, falando-lhe do destino da alma, que pode, diz ele, reencarnar até à sua perfeita depuração. Ele possui a alma de um Bossuet e soube criar um entusiasmo espiritualista”. Jacques-Benigne Bossuet foi um célebre bispo francês, da Companhia de Jesus – jesuíta, portanto – grande orador nos púlpitos, de fervorosa e impecável eloqüência católica, nascido em 27 de setembro de 1627. Ardoroso estudante também, realmente a comparação é, sobretudo, um elogio respeitável. O SUCESSO LITERÁRIO O êxito de seu livro Depois da Morte situara-o como escritor de primeira ordem. Os grandes jornais e revistas ecléticas solicitavam-no e as tiragens sucessivas desse livro esgotavam-se rapidamente. A principal obra literária de Denis foi a concernente ao Espiritismo, mas escreveu, outrossim, segundo o testemunho de Henri Sausse, várias outras, como Tuní- sia, Progresso, Ilha de Sardenha etc, certamente fruto das suas memórias de viagem. A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi enfraquecendo dia-a-dia. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava com calma e resignação a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Aceitava tudo com estoicismo e resignação. Jamais o viram se queixar. Todavia, bem podemos avaliar quão grande devia ser o seu sofrimento. Mantinha volumosa correspondência e jamais se aborrecia. Amava a juventude, possuía a alegria da alma. Era inimigo da tristeza. O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande dificuldade para Denis consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar os amigos. Depois da morte da sua genitora, uma empregada cuidava da sua pequena habitação. Ele só exigia uma coisa: o absoluto respeito às suas numerosas notas manuscritas, as quais ele arrumava com meticulosa precaução. E foi justamente por causa dessa sua velha mania que a duquesa de Pomar o denominara “o homem dos pequenos papéis”. Em 1911, após despender não 41 41 pequeno esforço no preparo da nova edição de O Problema do Ser, do destino e da Dor, ficou gravemente doente com uma pneumonia. Foi o tratamento a tempo do seu médico que, num curto espaço de tempo, o colocou de novo em pé. Contudo uma grande e profunda dor lhe estava reservada: veio a Guerra de 191418 e o seu espírito condoía-se ao ver partir para a frente de batalha a maioria dos seus amigos. LÉON DENIS E A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Léon padecia, então, de uma doença intestinal e estava parcialmente cego. Pela incorporação, os seus amigos do espaço e, entre eles, um espírito eminente comunicavam-lhe, de tempos em tempos, as suas opiniões sobre essa terrível guerra, considerada nos seus dois aspectos: o visível e o oculto. A guerra a qual se referem aqui é a Primeira Grande Guerra Mundial, ocorrida em 1914 . Estas comunicações levaram-no a escrever um certo número de artigos, publicados na Revue Spirite, na Revue Suisse des Sciences Psychiques e no Echo Fid, onde transparece, dentro da lei de causa e efeito, o seu grande amor pela terra onde nasceu. Quando a guerra se aproximava do fim, a Revue Spirite passou a publicar, em todos os seus números, artigos de Léon Denis. Após a Primeira Guerra Mundial, aprendeu braile, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito, pois, nesta época da sua vida, estava, por assim dizer, quase cego. Em 1915, iniciava ele uma nova série de artigos, repassados de poesia profunda e serena, sobre a voz das coisas, preconizando o retorno à natureza. Nesta época, um forte vento soprava contra a Codificação Kardequiana. O fenomenismo metapsiquista espalhava aos quatro ventos a 42 42 Léon Denis e a capa da edição brasileira de O problema do ser, do destino e da dor, publicada pela FEB doutrina do filósofo puro. Heuzé fazia muito barulho através do L’ Opinion, com as suas entrevistas e comentários tendenciosos. Afirmava prematuramente que, à medida que a metapsíquica fosse avançando, o Espiritismo iria, a par e passo, perdendo terreno. A sua profecia, no entanto, ainda não se realizou. Aliás, como tantas outras que profetizaram o fim do Espiritismo. EM DEFESA DO ESPIRITISMO Após a vigorosa resposta de Jean Meyer na Revue Spirite, Léon Denis, por sua vez, entrou na discussão, na qualidade de presidente de honra da União Espírita Francesa, numa carta endereçada ao “Matin”, na qual estabelecia, com admirável nitidez, a diferença entre Espiritismo e Metapsiquismo. A partir desse momento, Léon Denis teve que exercer grande atividade jornalística para responder às críticas e ataques de altos membros da Igreja Católica, saindo-se, como era de esperar, de maneira brilhante. Em março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Neste mesmo mês, a Revue Spirite publicava o seu derradeiro artigo. Terça-feira, 12 de março de 1927, pelas 13h, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar de muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: “É preciso terminar, resumir e... concluir”. Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Neste preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças para que pudesse articular outras palavras. Às 21h, o seu espírito alou-se. O seu semblante parecia ainda em êxtase. As cerimônias fúnebres realizaram-se no dia 16 de abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja confessional. Está sepultado no cemitério de La Salle, em Tours. Mediunidade Conceitos gerais Introdução ao estudo da doutrina espírita 43 O que é mediunidade? Entenda quais são as manifestações mediúnicas mais comuns e qual é a responsabilidade do médium no desenvolvimento Por Edvaldo Kulcheski e Victor Rebelo M ediunidade é a faculdade humana pela qual se estabelecem as relações entre homens e espíritos. É uma faculdade natural, inerente a todo ser humano, por isso não é privilégio de ninguém. Em diferentes graus e tipos, todos a possuímos. Aqueles que a possuem de forma mais objetiva, clara, chamamos de médiuns ostensivos. A mediunidade é, pois, a faculdade natural que permite sentir e transmitir a influência dos espíritos, ensejando o intercâmbio e a comunicação entre as consciências. Trata-se de uma sintonia, permitindo a percepção de pensamentos, vontades e sentimentos. Graças a esse intercâmbio, podemos ter não apenas a certeza da sobrevivência da vida após a morte, mas também a oportunidade de atuarmos como intermediários de espíritos equilibrados, amorosos, que visam o Bem da humanidade. É graças à mediunidade que o homem tem a antevisão do seu futuro espiritual e, ao mesmo tempo, o relato daqueles que o precederam na viagem de volta à erraticidade, trazendo-lhe informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e a oportunidade de refazer o caminho pelas lições que ele absorve através do contato mantido com os desencarnados. Assim, possui uma finalidade de alta importância, porque é graças a ela que o homem se conscientiza de suas responsabilidades de espírito imortal. Sendo inerente ao ser humano, a mediunidade pode aflorar em qualquer pessoa, independentemente da doutrina religiosa que ela abrace. A história revela grandes médiuns em todas as épocas e em todos os credos. Além disso, a mediunidade, enquanto faculdade, não depende de lugar, idade, sexo ou condição social e moral. Diz a questão 459 de O Livro dos Espíritos: “Os 44 espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações? A este respeito, sua influência é maior do que podeis imaginar. Muitas vezes são eles que vos dirigem”. A idéia da ação dos espíritos não nasceu com o Espiritismo, já que sempre existiu desde as épocas mais remotas da vida humana na Terra. Todas as religiões pregam sobre a ação dos espíritos de uma forma direta ou indireta, mas nenhuma nega completamente estas intervenções. Inclusive, criaram dogmas e cerimônias relativas a elas, tais como promessas (pedir alguma forma de ajuda para um espírito em troca de um sacrifício) e exorcismos (cerimônia religiosa para afastar o “demônio” ou os espíritos perturbados). A ação dos espíritos Sua influência não está limitada às sessões mediúnicas. Vivemos, mediunicamente, entre planos diferentes, dos mais sutis ao mais denso (físico) e em relação permanente com entidades espirituais, (que são as pessoas que se manifestam sem um corpo físico denso, pois se desligaram dele após o desencarne). Isto se dá porque os espíritos povoam os mesmos espaços em que vivemos, às vezes acompanham-nos em nossas atividades e ocupações, vão conosco aos lugares que freqüentamos, seguindo-nos ou evitando-nos. Estamos cercados por espíritos e sua influência oculta sobre os nossos pensamentos e atos se faz sentir pelo grau de afinidade que mantivermos com eles. Inúmeros espíritos benfeitores também se comunicam conosco, inspirando-nos todas as vezes quando nos dispomos a ser úteis aos nossos irmãos em nossa vida social. Quantas vezes um conselho sensato e oportuno que damos sob a intuição de um benfeitor espiritual consegue mudar o rumo de uma vida e até, em certos casos, salvar ou evitar que uma família inteira seja precipitada no abismo de uma desgraça? O amor verdadeiro e desinteressado não requer lugar nem hora especial para ser praticado, pois o nosso mundo, com o sofrimento da humanidade torturada, é igualmente um vasto campo de serviço redentor. Portanto, a mediunidade não existe para o simples passatempo ou satisfação de nossos caprichos. Todo médium iniciante, a fim de evitar inconvenientes na prática mediúnica, primeiramente deve se dedicar ao indispensável estudo prévio da teoria e jamais se considerar dispensado de qualquer instrução, já que poderá ser vítima de mil ciladas que os espíritos mentirosos preparam para lhe explorar a presunção. Após o conhecimento teórico, deve procurar desdobrar a percepção psíquica sem qualquer receio. Na orientação do desenvolvimento mediúnico, é importante que procuremos as instruções espíritas para evitarmos dissabores e percalços. É aconselhável o desenvolvimento mediúnico em grupos especialmente formados para isto, pois pessoas bem orientadas, que se reúnem com uma intenção comum, formam um ambiente coletivo favorável ao intercâmbio. É aconselhável ainda que o médium jamais abuse da mediunidade, empregando-a para a satisfação da curiosidade. 45 Mediunidade Chico Xavier: o maior fenômeno da psicografia no mundo, com mais de 400 obras prévio do médium ou um certo amadurecimento psicológico, é preciso orientá-lo para que os fenômenos sejam disciplinados e ele empregue acertadamente sua faculdade. Não se deve colocar em trabalho mediúnico quem apresente perturbações ou quem tenha desconhecimento sobre o assunto. Primeiro, é preciso ajudar a pessoa a se equilibrar psiquicamente através de várias ferramentas à nossa disposição – dos passes energéticos e seções de desobsessão ao processos psicoterápicos convencionais. O médium também precisa ser amigo do estudo e da boa leitura. Por fim, que cultive a oração diária, pois ela é um poderoso fortificante espiritual e um benéfico exercício de higiene mental. Perispírito e fluido vital Desenvolver a mediunidade é aprender a usála. Para que sejamos bem-sucedidos, devemos cultivar virtudes como a paciência, a perseverança, a boa vontade, a humildade e a sinceridade. A mediunidade não se desenvolve de um dia para o outro, por isso, devemos ter muita paciência. Sem perseverança nada se alcança, pois o desenvolvimento exige que sejamos persistentes. Ter boa vontade é comparecermos alegres e cheios de satisfação às sessões. A humildade é a virtude pela qual reconhecemos que tudo vem de Deus. E se faltarmos com a sinceridade no desempenho de nossas funções mediúnicas, mais cedo ou mais tarde sofreremos decepções... ensinamentos é que não faltam em todas as circunstâncias de manifestações da vida. A faculdade mediúnica em harmonia pode fazer grandes coisas. A educação mediúnica pode começar no simples modo de falar aos outros, transmitindo brandura, alegria, amor e caridade em todos os atos da vida. A mediunidade se desenvolve naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca e nos afeta com as suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma que a inteligência e as demais faculdades humanas, a mediunidade se desenvolve no processo de relação e sobretudo, de autoconhecimento. Quando a mediunidade aflorar sem o preparo 46 Antes de explicarmos as manifestações mediúnicas mais comuns, é preciso que o leitor tenha algumas noções básicas sobre o perispírito e o fluido vital, pois eles fazem parte da constituição de todos os seres humanos, sejam eles médiuns ostensivos ou não. O perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência ou alma. É o envoltório semimaterial do espírito, o laço que o une à matéria do corpo. Diz-se que o perispírito é semimaterial porque pertence à matéria pela sua origem (fluido universal). Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível para quem não é clarividente, porém, ele pode sofrer modificações que o tornam perceptível e até tangível, ou seja, possível de ser visto e tocado por todos. A natureza do perispírito sempre está relacionada ao grau de adiantamento moral do espírito. O perispírito não está preso aos limites do corpo. Em virtude de sua natureza fluídica, ele é expansível, irradiando para o exterior e formando em torno do corpo uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem dilatar com maior ou menor intensidade. Como o perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos do mundo espiritual, ele os assimila com facilidade, semelhante a uma esponja que absorve um líquido. Quando esses fluidos atuam sobre o perispírito, este reage sobre o organismo material com o qual está em contato molecular. Caso os eflúvios sejam de boa natureza, o corpo sente uma impressão salutar, mas se são maus, ela se torna penosa. Se forem permanentes e enérgicos, os eflúvios desequilibrados podem ocasionar desordens física, o que explica a causa de certas enfermidades. O perispírito é o organismo que “personaliza” o espírito, identificando-o quanto à aparência. Após a morte, a alma jamais perde sua individualidade, apesar de não ter mais o corpo material, enquanto que o perispírito, normalmente, guarda a aparência de sua última encarnação. É por ele que um ser abstrato, como é o espírito, transforma-se em um ser concreto, definido pelo pensamento. Pode-se afirmar que o perispírito é o esboço, o modelo a partir do qual se desenvolve o corpo físico. Ele também é o modelo organizador biológico, uma vez que é por sua influência energética que se agregam as células e se modelam os órgãos, proporcionando-lhes o pleno funcionamento. Para atuar na matéria, o espírito precisa desta. Em virtude de sua natureza etérea, o espírito propriamente dito não pode atuar sobre a matéria grosseira sem algo ou alguém que o ligue a ela. Esse intermediário, que chamamos de perispírito, faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material. Portanto, ele é o órgão de manifestação utilizado pelo espírito para efetuar suas comunicações com o plano dos espíritos encarnados. Já com relação ao fluido vital, de acordo com O Livro dos Espíritos, “O conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismo que recebe impulsão da atividade íntima ou princípio vital que entre eles existe. Ao mesmo tempo que o agente vital dá impulsão aos órgãos, a ação destes entretém e desenvolve a atividade daquele agente, quase como sucede com o atrito, que desenvolve o calor.”. O fluido vital é conhecido pelas doutrinas orientais como Chi, Prana, entre outros nomes. Escoa-se facilmente pelo corpo humano através da rede nervosa, principalmente pelas pontas dos dedos e cabelos, na forma de energia dinâmica em dispersão ou “fuga” pelas pontas. Os plexos nervosos são fontes de fluido vital armazenado, constituindo-se de reservas energéticas que, a qualquer instante, transformam-se em energia dinâmica, conectando os orgãos físicos com suas respectivas contrapartes ou matrizes situadas no perispírito, que são extremamente sensíveis à atuação de espíritos desencarnados. No momento em que o médium conserva maior potencial de carga magnética em torno dos plexos nervosos, ele também oferece melhor ensejo para os desencarnados acionarem seus nervos motores e, assim, identificarem-se mais facilmente por suas características individuais. Psicografia É a mediunidade pela qual os espíritos influenciam a pessoa para levá-la a escrever. Os que a possuem são denominados médiuns escreventes ou psicógrafos. Mediunidade mecânica É mais apropriada para a identificação dos desencarnados, pois a seiva magnética que se acumula nos plexos nervosos transforma-se em alavanca eficiente para os desencarnados comandarem os nervos motores dos braços e, dessa forma, exporem fielmente suas idéias, escrevendo de forma idêntica à que usavam em sua vida física. Esta mediunidade é rara entre os médiuns – atualmente, podemos arriscar que manifesta-se em cerca de 2%, de acordo com o filósofo norteamericano Ken Wilber. No caso da psicografia – o espírito desencarnado atua sobre os gânglios nervosos do médium, à altura do omoplata e, assim, age diretamente no corpo, na mão do médium, impulsionando-a. Esse impulso não depende da vontade deste, ou seja, enquanto o espírito tem alguma coisa a escrever, movimenta a mão da pessoa sem interrupção. Certos médiuns mecânicos chegam a trabalhar com ambas as mãos ao mesmo tempo e sob a ação simultânea de duas entidades. Em condições excepcionais, o médium também pode conversar com os presentes sobre um assunto completamente diferente daquele que está psicografando. Nesse caso, o espírito comunicante consegue escrever na forma que era peculiar na vida física. O médium mecânico não sabe o que sua mão escreve, somente depois, ao ler, é que ele vai tomar conhecimento da mensagem. A escrita mecânica costuma ser muito rápida. Por causa desse domínio do corpo físico, temos alguns tipos específicos de médiuns psicógrafos. No caso dos médiuns polígrafos, é possível verificar a mudança da escrita conforme o espírito que se comunica e até mesmo a reprodução daquela 47 Mediunidade Os espíritos auxiliares aproximam o espírito que irá se manifestar pela psicografia e fazem a ligação perispiritual que o comunicante tinha em vida. O primeiro tipo de poligrafia é mais comum, enquanto que o segundo, a identidade da escrita, é mais raro. Há também os iletrados, que não sabem ler e escrever no estado normal, porém, escrevem fluentemente quando em transe mediúnico. No entanto, este é um caso mais raro que os demais, em virtude da maior dificuldade material a vencer. Outro caso pouquíssimo comum são os médiuns poliglotas, que têm a faculdade de falar e escrever em línguas que lhe são desconhecidas ou até mesmo em dialetos já extintos, fato que se torna interessante e convincente aos incrédulos. Mediunidade semimecânica Já o médium semimecânico se vê obrigado a preencher intuitivamente todos os truncamentos ou vazios existentes em suas comunicações, motivo pelo qual ele tem consciência perfeita de quase tudo o que escreve, embora o faça de modo semimecânico. Quando desaparecem os impulsos de sua mão na escrita mecânica, ele dá prosseguimento ao comunicado passando a “ouvir” intuitivamente seus comunicantes, que ora escrevem diretamente, ora o fazem pelo ajuste perispiritual. Os médiuns semimecânicos, que representam aproximadamente 28% dos psicógrafos. Não abandonam o corpo físico ao escreverem as mensagens. O espírito atua sobre a mão do médium, que não perde o controle desta, mas recebe uma espécie de impulsão. O médium participa tanto da mediunidade mecânica como da intuitiva, pois escreve recebendo parte do pensamento dos espíritos pela comunicação e contato perispiritual, ao mesmo tempo em que outra parte é articulada pelos comunicantes independentemente de sua vontade. Os semimecânicos têm consciência do que escrevem à medida que as palavras vão sendo escritas. O médium possui um conhecimento parcial daquilo que lhe atravessa o cérebro perispiritual, mas passa a ignorar os trechos que lhe são escritos mecanicamente, sem fluir pelo cérebro físico. Mediunidade intuitiva Representando cerca de 70% dos psicógrafos, o médium intuitivo também não deixa o corpo físico no momento em que escreve as mensagens dos espíritos. Neste caso, o espírito não atua sobre a mão 48 para movê-la, mas sobre o psiquismo do médium, identificando-se com ele e lhe transmitindo suas idéias e vontades. O médium as capta e escreve voluntariamente. Portanto, ele tem conhecimento antecipado, mas o que escreve não é seu. O médium atua como um intérprete, que, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele e traduzilo. O pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. No início, o médium o confunde com seu próprio pensamento e as mensagens, às vezes, extrapolam o conhecimento dele. Como vimos, os médiuns psicógrafos podem ser classificados em três tipos: intuitivo, semi-mecânico e mecânico. A psicofonia É a mediunidade que permite a comunicação oral de um espírito através do médium. Kardec a denominou “mediunidade falante”, ou seja, aquela faculdade que propicia o ensejo para que os espíritos entrem em contato através da palavra, travando conversações. É ainda conhecida popularmente como incorporação, mas este termo poderia sugerir uma falsa idéia de que o espírito comunicante entra dentro corpo do médium, o que na verdade não acontece. O médium é sempre responsável pela ordem do desempenho mediúnico e, seja qual for o grau de consciência, o papel dele é sempre passivo. Quando a educação mediúnica é deficiente ou viciosa, o intercâmbio é dificultado, faltando liberdade e segurança. O médium reage à exteriorização perispirítica, dificulta o desligamento e quase sempre intervém na comunicação, truncando-a. Ele deve ser o intérprete nesse intercâmbio e, assim, entender o pensamento do espírito comunicante e transmiti-lo sem alteração. Atualmente, é a faculdade mais encontrada nas práticas mediúnicas. É a porta mais acolhedora e acessível para a manifestação dos espíritos no plano material. Esta forma de mediunidade é bastante proveitosa, principalmente pela possibilidade de estabelecer o diálogo com o espírito comunicante. Por permitir o diálogo direto, vivo e dinâmico com os espíritos, facilita o atendimento dos que precisam de ajuda ou esclarecimento, possibilitando ainda A preparação para a psicografia O mentor espiritual responsável pela preparação do fenômeno da psicografia aproxima-se do médium e lhe aplica forças magnéticas sobre seu chacra coronário. Isso sensibiliza e ativa a glândula pineal, fazendo-a produzir um hormônio chamado melatonina, que interage com os neurônios, tendo um efeito sedativo. Em seguida, esse hormônio é direcionado para a parte do córtex cerebral responsável pela coordenação motora, que vai ficar sob seu efeito, ou seja, sedada. Assim, o médium perde o comando sobre os órgãos motores, permitindo que outro espírito se ligue a este sistema sensitivo e o utilize. Depois, os espíritos auxiliares aproximam o espírito que irá se manifestar pela psicografia e fazem a ligação perispiritual com os órgãos sensoriais do movimento dos braços do médium, através do chacra umeral. O espírito comunicante se apossa temporariamente dos gânglios nervosos à altura do omoplata do médium, apropriando-se de seu mundo sensitivo e conseguindo se expressar pela escrita. a doutrinação e consolação dos espíritos pouco esclarecidos sobre as verdades espirituais. A psicofonia é uma das formas mais interessantes e úteis de mediunidade, não só porque nos faculta entendimento direto e pessoal com os espíritos, como também a possibilidade de esclarecermos os espíritos inconscientes, imersos em escuridão mental, e os maldosos, realizando assim um ato de verdadeira caridade espiritual e cooperando com os companheiros que dirigem as organizações assistenciais do espaço dedicadas a esse trabalho. Por meio da psicofonia, o médium, às vezes, chega a dizer coisas inteiramente fora do âmbito de suas idéias habituais, de seus conhecimentos e até fora do alcance de sua inteligência. Não é raro vermos pessoas iletradas e de inteligência vulgar se expressarem em tais momentos com verdadeira eloqüência e tratar, com incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de emitir uma opinião no estado comum. Médium consciente ou inspirado A psicofonia consciente é a mais comum entre os médiuns psicofônicos – cerca de 70% do total. O espírito comunicante se aproxima do médium sem manter um contato perispiritual mais efetivo e transmite telepaticamente as idéias que deseja. É a mediunidade dos tribunos e pregadores, que manifestam a “inspiração momentânea”. O espírito emite o pensamento e influi sobre o médium, que transmite as idéias conforme as entende e usando seu próprio estilo, vocabulário e construção de frases. Ou seja, a idéia é do espírito, mas o jeito de falar é do médium. O médium sente a influência e capta o pensamento do espírito comunicante na origem, antes de falar. Desta forma, ele pode avaliar antes da manifestação, tendo fácil controle do fenômeno. Médiuns semi-conscientes Acreditamos que representam cerca de 28% dos médiuns psicofônicos. Na psicofonia semi-consciente existe uma maior exteriorização do perispírito do médium, mas ainda incompleta. O espírito comunicante entra em contato com o perispírito do médium, que se semi-exterioriza, e atua através deste sobre o corpo físico, ficando os órgãos vocais do médium parcialmente sob o controle do espírito que faz a comunicação. Desta forma, o espírito tem maior influência no psiquismo e nos órgãos do médium. Portanto, na maior parte do tempo, o estilo e as idéias são do espírito, ocorrendo uma certa alteração nos gestos e entonação de voz. 49 Mediunidade Desenvolver a mediunidade é aprender a usá-la. Para que sejamos bem-sucedidos, devemos cultivar virtudes como paciência e humildade Enquanto a mensagem é recebida, o médium sabe o que fala, sente o padrão vibratório e a intenção do comunicante, podendo controlar e intervir se necessário. Porém, ao terminar a manifestação, só recordará do início e do final da mensagem, ficando apenas com uma vaga lembrança do tema abordado. É a principal manifestação mediúnica nos centros de Umbanda, onde ocorre de forma mais abrangente, pois as entidades chegam a manipular outras partes do corpo do médium. Inconsciente Na psicofonia inconsciente, que representa somente 2% dos casos de médiuns psicofônicos, há uma exteriorização maior do perispírito do médium, que permanece ligado ao corpo pelo cordão fluídico. O fato do espírito do médium se exteriorizar do corpo físico temporariamente faz com que passe a estar quase que inteiramente à disposição e sob controle do espírito comunicante. A atuação do espírito sobre o organismo físico do médium é mais direta, através do chacra laríngeo e dos centros nervosos liberados. Ao retornar do transe, o médium geralmente nada recorda da mensagem deixada. A vantagem é que há maior liberdade para o espírito, que se identifica de forma mais objetiva por gestos, entonação da voz e atitudes. Clarividência Diz a questão 167 de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec: “Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os espíritos. A vidência é fenômeno mediúnico e na vidência mediúnica só o médium vê”. Há os que gozam dessa faculdade em estado normal, quando estão perfeitamente despertos e dela conservam uma lembrança exata. Outros não a têm senão em estado sonambúlico ou próximo ao sonambulismo. A questão 171 de O Livro dos Médiuns afirma que “a faculdade de ver os espíritos, sem dúvida, pode se desenvolver, mas é uma daquelas que convém esperar seu desenvolvimento natural, sem provocá-lo, caso não queira se expor a ser joguete da própria imaginação”. O médium vidente acredita ver pelos olhos físicos, mas na realidade é a alma quem vê. Essa é a razão pela qual vêem tão bem tanto com os olhos 50 fechados como com os olhos abertos. Em Estudando a Mediunidade, Martins Peralva diz: “Quantas vezes, tentando sustar uma visão desagradável produzida por um espírito menos esclarecido, o médium fecha os olhos e, quanto mais aperta, a visão se torna mais nítida e melhor se definem os contornos da entidade?”. Bastaria isso para a comprovação plena de que, pela vidência, não se vê os espíritos com os olhos corporais. Como disse Allan Kardec, o médium vê através da mente, que, nesse caso, funciona à maneira de um prisma, de um filtro que reflete diversamente quadros e impressões, idéias e sentimentos iguais em sua origem. A vidência raramente é permanente e é, quase sempre, o efeito de uma crise momentânea e passageira. A questão 167 de O Livro dos Médiuns diz que “é providencial que a vidência não seja constante”. Esta faculdade é protegida por filtros que são defesas psíquicas do médium, fazendo com que ele veja aquilo que seja possível. Estamos rodeados de espíritos e vê-los todos e a todo momento nos perturbaria e embaraçaria nossas ações, tirando-nos a iniciativa. Julgando-nos sós, agimos mais livremente. Clariaudiência A questão 165 de O Livro dos Médiuns explica bem a faculdade da audição. “Os médiuns audientes são dotados da faculdade de ouvir os espíritos. A audiência é um fenômeno mediúnico e na audição mediúnica só o médium ouve”. Às vezes, é uma voz íntima que se faz ouvir no foro interior e, em outras, é uma voz exterior, clara e distinta, como a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes podem, assim, entrar em conversação com os espíritos. Isto é muito agradável quando o médium ouve somente os bons espíritos, mas não ocorre o mesmo quando um espírito obsessor se obstina junto a ele, fazendo-o ouvir coisas desagradáveis e, algumas vezes, inconvenientes. Para que um médium se torne um instrumento confiável, é necessário que evolua moral e intelectualmente na razão em que exercita sua faculdade. Aqueles que são atraidos para a prática mediúnica com ansiedade pelos fenômenos espirituais e os médiuns invigilantes respondem pelos desequilíbrios das manifestações mediúnicas. Reencarnação Conceitos gerais Introdução ao estudo da doutrina espírita 51 MECANISMOS DA REENCARNAÇÃO A relação afetiva, espiritual e biológica com os pais, assim como os antecedentes cármicos do próprio espírito reencarnante, são fatores determinantes no processo reencarnatório Cícero Marcos Teixeira 52 Histórica e culturalmente, a gestação ou gravidez é considerada função da mulher. Isso é verdadeiro do ponto de vista biológico. Entretanto, na visão espírita, não se circunscreve apenas à mulher propriamente dita. A gravidez é também um estado psicofísico, emocional, que envolve o homem, juntamente com a mulher, no desempenho da função procriadora de um novo corpo físico, com a participação direta, consciente ou inconsciente, do espírito reencarnante. Portanto, no mínimo três individualidades estão diretamente envolvidas na dinâmica da gestação de um novo corpo físico. O homem, em particular, precisa se educar e se auto-educar, no sentido de assumir e desempenhar a função da paternidade em toda a sua abrangência e plenitude conscientemente, não transferindo à mulher toda a responsabilidade na ação co-criadora da gestação de um corpo físico de um filho ou uma filha. Preliminarmente, destacase a interação bioenergética anímico-mediúnica das partes interessadas na ação co-criadora da paternidade-maternidade, na dinâmica da gestação. Tal intervenção se faz consciente ou inconscientemente, além daquela psicofísica, em nível biológico propriamente dito. Por que interação anímicomediúnica consciencial? É de conhecimento geral que as dimensões biológicas, psicológicas, emocionais e sentimentais são componentes dinâmicos da gestação de um corpo físico para ser veículo da consciência individual reencarnante, na condição de filho ou filha. Com a interação anímico-mediúnica não há o mesmo reconhecimento. Entretanto, efetua-se nas diferentes fases da gravidez, desde a etapa que precede o grande momento da fecundação biológica, prossegue ao longo de todo o período gestacional e culmina com a fase do parto propriamente dito, ocorrendo com maior ou menor freqüência ao longo da vida de relação da vida familiar entre pais, filhos e irmãos nas mais variadas circunstâncias. INTERAÇÃO MENTE-MATÉRIA Tal interação se processa através das funções Psi, inerentes ao psiquismo dos pais gestantes e filho ou filha reencarnantes durante a gestação propriamente dita, através de percepções extrasensoriais. Não se conhece ainda, em detalhes mais profundos, o dinamismo psicofísico, sensorial e extrasensorial de tal processo mento-afetivo, que não se circunscreve apenas à dimensão biológica, mas inclui também a psicológica – a emoção, o sentimento e a maior ou menor lucidez cognitiva consciencial. Mas o que se pode afirmar, a partir do conhecimento parapsicológico das funções Psi (divididas em Psi-gamma – telepatia, clarividência e clariaudiência – e Psi-Kappa – ação da mente diretamente sobre a matéria) e dos informes dos espíritos, é que a mente reencarnante exerce sua ação teledinâmica através de campos bioenergéticos modeladores e organizadores do perispírito, interferindo na organogênese do corpo físico, com a correspondente participação dos pais gestantes. A análise de fatores intervenientes nesse processo de interação dinâmica pressupõe a constituição fisiopsicossomática do homem, cuja anatomia fisiológica é composta de outros corpos energéticos mais sutis, que servem de substrato para a composição do sistema ternário humano (corpo, espírito e perispírito) quando encarnado do ponto de vista espírita, especificamente, ou do sistema septenário, na visão de escolas espirituais orientais, sem nenhum antagonismo excludente, mas implícita e explicitamente complementares. Nesta oportunidade, não se pretende aprofundar na complexidade bioenergética da individualidade em sua dimensão extrafísica. Entretanto, é necessário que se esclareça que, além do complexo desse sistema de interação bioenergética, o homem 53 O planejamento é orientado e administrado nos planos extrafísicos por entidades de elevada sabedoria e hierarquia espiritual e a mulher que se propõem a assumir a responsabilidade da paternidade e da maternidade estabelecem um campo bioenergético extrafísico, psicodinâmico, ideoplástico, anímico e mediúnico, que pode favorecer a atração do espírito ou consciência preexistente que vive no mundo espiritual como desencarnado; no respectivo plano consciencial, compatível com o grau de evolução moral alcançado. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Propomos os seguintes princípios fundamentais do processo de gestação à luz do Espiritismo: O ser humano é um espírito ou consciência individualizada, dotada de razão, instrumentalizada pela linguagem, livre-arbítrio, instinto, memória, emoção e sentimento; O espírito ou o eu-consciência é arquiteto de seu próprio destino, em obediência às leis da vida: evolução, reencarnação, ação e reação ou lei do carma e lei do progresso, através da qual expande a consciência rumo à plenitude do ser; O espírito desencarnado preexiste à formação do seu corpo físico, pensa, sente e age de acordo com o seu estágio de evolução cognitiva, sentimento e moralidade, no respectivo plano consciencial e extrafísico; Em obediência ao principio universal de afinidade, sintonia e ressonância, quando oportuno ou necessário, o espírito, em função de sua necessidade de realização e auto-realização, vê-se na contingência de “um novo renascer” no plano físico para prosseguir sua evolução planetária; Nessa fase de sua evolução, de acordo com sua maior ou menor autonomia volitiva, necessidade e merecimento, se propõe e/ou se dispõe a participar do planejamento de sua nova e futura reencarnação; O planejamento reencarna- INFLUÊNCIAS NO PROCESSO REENCARNATÓRIO ESPÍRITO REENCARNANTE Animismo PAI ENCARNADO Relação anímica, mediúnica, psico-afetiva e biológica (herança genética) RENASCIMENTO EM NOVO CORPO FÍSICO ESPÍRITOS PERTURBADORES Desafetos, inimigos espirituais do espírito reencarnante ou dos pais 54 Traz gravado em seu perispírito o resultado de seu passado multimilenar MÃE ENCARNADA Relação anímica, mediúnica, psico-afetiva e biológica (herança genética e gestação) ESPÍRITOS GENETICISTAS Espíritos de elevada hierarquia espiritual que atuam na relação afetiva-espiritual e no desenvolvimento do genótipo do reencarnante tório envolve complexas medidas dinâmicas e teledinâmicas de natureza bioenergética no plano extrafísico, de acordo com a “Genética Espiritual” e lei de ação e reação que estabelecem as condições orientadoras na execução do plano reencarnatório individual, de modo a permitir que cada espírito herde de si mesmo, com a contribuição de seus pais no plano físico; Tal planejamento é orientado e administrado nos planos extrafísicos por entidades de elevada sabedoria e hierarquia espiritual. A maior parte da humanidade terrestre, encarnada e desencarnada, ainda se encontra nos primeiros estágios de evolução. Goza de autonomia muito restrita e não tem condições de usar o livre-arbítrio com discernimento; Quanto maior for o grau de evolução consciencial ao longo de seu continuum histórico palingenésico maior será a participação direta do espírito reencarnante em todas as fases do planejamento e execução de sua própria reencarnação, sob a assistência técnica dos “geneticistas” e “embriologistas”, podendo participar da modelagem do futuro corpo físico, em obediência às leis da “herança espiritual” condicionantes da herança psicofísica biológica. O espírito encarnado ou desencarnado é assistido nas suas necessidades de auto-realização e progresso de acordo com a lei de merecimento; O espírito candidato à nova experiência reencarnatória no plano físico passa por uma fase preparatória de análise e autoanálise através de um processo de profunda introspecção, mediante Maria de Nazaré, arquétipo cristão da maternidade urna visão retrospectiva de sua história pessoal, valendo-se dos registros de sua memória absoluta, vê com clareza e em detalhes esclarecedores as ações pretéritas, podendo ser assessorado pelos mentores no planejamento de um novo projeto reencarnatório. Após esse exame analítico consciencial, cada espírito entra em uma nova etapa de programação da futura existência, em função de sua herança espiritual; Providências gerais e específicas são tomadas no sentido de conjugar harmonicamente o livre-arbítrio e o determinismo da lei de causa e efeito, objetivando sempre o progresso e o aperfeiçoamento individual e coletivo; Em obediência à lei de sintonia, afinidade e ressonância, cada espírito encontra-se ligado ao respectivo grupo familiar e racial, ao seu povo ou nação, ao longo do continuum histórico palingenésico; Desse modo, a escolha do grupo familiar e dos futuros pais obedece aos princípios gerais das leis citadas, em consonância com a respectiva herança consciencial, psicológica e espiritual. Essa herança fica registrada na memória genética perispirítica através das matrizes Psi dos respectivos genes. Estes irão se expressar por meio do genótipo ou fenótipo no plano biológico, através da organogênese do futuro corpo físico, com a contribuição biogenética dos respectivos pais. PROCESSO REENCARNATÓRIO Estabelecidas as diretrizes gerais e específicas para a viabilidade do planejamento reencarnatório, o espírito reencarnante entra na fase préreencarnatória, cujo tempo de execução varia de acordo com as características e necessidades específicas de cada individualidade, levando em conta todos aqueles princípios já explanados. Fase Preparativa Ocorre, nesta fase, na dimensão extrafísica: Escolha dos futuros familiares e pais biológicos, em função de compromissos, comprometimentos e vinculações cármicas: Estabelecimento do programa geral de futuras realizações e auto-realizações no plano físico, tendo em vista os objetivos educativos a serem atendidos; Prévia escolha ou determinação de sexo genético, que se verifica de acordo com a respectiva sexualidade e características genético-espirituais do reencarnante e segundo determinantes cármicos conscienciais preexistentes, tendo em vista futuras realizações; Definição do tipo de reencarnação: compulsório ou de livre escolha; provacional; expiatória; sacrificial ou missionária; Execução do plano de associação e vinculação psicodinâmica, bioenergética, mental e afetiva - essa fase inclui os futuros pais gestantes e demais familiares, segundo as necessidades de harmonização, entendimento, apoio mútuo, afinidade, sintonia e ressonância. Em conseqüência das necessidades e exigências específicas de bem cumprir os imperativos naturais das leis da vida, já citadas, nessa etapa da fase preparatória, o espírito candidato à nova reencarnação passa a conviver no clima psicofísico e emocional dos futuros pais em especial, interagindo dinamicamente com os mesmos, procurando estabelecer as melhores relações de sintonia, afinidade e ressonância indispensáveis ao êxito da concretização do complexo e laborioso planejamento reencarnatório. Múltiplas operações bioenergéticas e magnético-espirituais podem ser realizadas pelos espíritos construtores nas intervenções que se fizerem necessárias na organização perispirítica do reencarnante. Para poder efetivar a ligação com a célula-ovo no zigoto, a partir da fecundação propriamente dita, ocorre previamente no plano extrafísico, a miniaturização, que se caracteriza pela redução da forma perispirítica. Com base na análise dos mapas cromossômicos e organogênicos, tais intervenções se fazem no sentido de orientar a modelagem bioenergética e genético-estrutural referente à embriogênese e morfogênese do futuro corpo físico, em consonância com a herança cármica e o programa de realização na nova experiência reencarnatória. Efetuadas as operações de imantação e ligação do perispírito da consciência do reencarnante à célula-ovo, no terço médio da trompa de Falópio, segue-se a nidação no útero materno, com a participação mento-afetiva dos pais gestantes e do filho ou filhos reencarnantes. Fase Organogênica Após a fecundação propriamente dita, inicia-se a fase organogênica, envolvendo em- 55 REFERÊNCIAS ANDRADE, Hernani Guimarães. Morte, renascimento, evolução Psi quântico Espírito, perispírito e alma Editora Pensamento Os espíritos “geneticistas”, de elevada hierarquia espiritual também atuam na seleção do espermatozóide e do óvulo a serem fecun- ANDRÉA, Jorge. Energética do psiquismo Enigmas da evolução DELANNE, Gabriel. A evolução anímica A reencarnação FEB LUIZ, André. Missionários da Luz FEB briogênese, histogênese e morfogênese, em obediência às leis biogenéticas, culminando no crescimento e desenvolvimento do corpo físico que virá a nascer posteriormente. Na realidade, para o novo corpo físico é nascimento, mas para o espírito reencarnante é um novo renascimento. À medida que se processam as fases embriológicas e organogênicas, culminando no crescimento e desenvolvimento do feto, o reencarnante vai adensando o seu perispírito miniaturizado e, conseqüentemente, vai entrando num estado de bloqueio de memória, com o esquecimento total ou parcial de suas vivências reencarnatórias anteriores. Essa é uma das causas do esquecimento, que constitui um mecanismo de defesa e autopreservação de natureza neurofisiológica, psicológica, consciencial e, sobretudo, de ordem ética. As idéias deste artigo são resultado de um esforço de teorização sobre uma experiência que está em pleno desenvolvimento. Por isso, o que aqui registramos poderá ser aprofundado ao longo do tempo. Novos conceitos poderão ser propostos. A educação de pais gestantes à luz do Espiritismo é uma necessidade urgente que se situa no âmbito das finalidades educacionais e terapêuticas da casa espírita, numa perspectiva mais ampla que relaciona o Espiritismo com as áreas da educação, higiene e saúde. 56 GLOSSÁRIO 1 – Continuum Histórico Palingenésico: Refere-se ao contínuo espaçotempo em que se verifica a história evolutiva ontológica e filogenética do ser humano e da humanidade, através da palingênese. A evolução ontológica refere-se ao desenvolvimento evolutivo do ser enquanto ser. Evolução filogenética significa a história evolutiva da espécie. Palingênese é a palavra de origem grega que designa o processo da reencarnação. A memória genética celular tem sua matriz Psi na memória genética das células perispiríticas que integram o perispírito, o qual serve como modelo organizador biológico. 2 – Memória genética perispíritica: A exemplo do que ocorre com a memória genética no núcleo celular, as moléculas de DNA (ácido desoxinibonucléico) e RNA (ácido ribonucléico) como substrato fisiobioquímico da hereditariedade biológica. 3 – Genótipo: constituição genética do indivíduo. Conjunto de genes de um indivíduo. 4 – Fenótipo: características do indivíduo resultantes da manifestação do genótipo. 5 – Organogênese: origem e formação do organismo físico como um todo, a partir da fecundação biológica, e demais fases dos processos morfogenéticos integrantes da organização anatômica e fisiológica do corpo humano. 6 – Mapas cromossômicos: representação gráfica das estruturas microscópicas e ultramicroscópicas dos cromossomos, que são corpúsculos coráveis existentes no núcleo celular, apresentando-se sob diferentes formas, contendo os genes responsáveis pelas características hereditárias. 7 – Mapas organogênicos: representação gráfica do crescimento e desenvolvimento do organismo, incluindo a fase de formação do embrião e dermua órgãos, aparelhos e sistemas que constituem o corpo físico. 8 – Modelagem bioenergética e genética estrutural: os espíritos construtores, valendo-se de avançados e complexos conhecimentos de embriologia, anatomia, fisiologia, evolução, ação e reação ou lei do carma, genética e outras áreas do conhecimento da ciência do espírito, no desempenho de sua ação cocriadora, atuam mediante intervenções mentais psicodinâmicas, arquitetando modelos bioenergéticos e estruturais que servirão posteriormente à modelagem de formas anatômicas específicas, compatíveis com as necessidades de cada espírito em face do respectivo planejamento reencarnatório, na realização das operações de mentalização da formação de um novo corpo físico, à imagem e semelhança de seu próprio perispírito preexistente, que funcionará como modelo organizador biológico. 9 – Embriogênese: origem e formação do embrião após a fecundação biológica. 10 – Morfogênese: fase de estruturação da morfologia biológica durante o crescimento e o desenvolvimento do embrião e dos densais órgãos, aparelhos e sistemas fisiológicos integrantes da constituição fisiopsicossomática do ser humano. 11 – Histogênese: fase de formação dos diferentes tipos de tecidos celulares durante o desenvolvimento embriológico e do organismo como um todo. A codificação Considerações finais Introdução ao estudo da doutrina espírita 57 Codificação Allan Kardec: Pedagogia e método Conheça os termos fundamentais para quem quer se dedicar ao estudo da Doutrina Espírita Por Raimundo Wilson Morais T odas as ciências se encadeiam e se sucedem numa ordem racional; elas nascem umas das outras à medida que encontram um ponto de apoio nas idéias e conhecimentos anteriores. Pedagogia e método são termos fundamentais para quem quer se dedicar ao estudo do Espiritismo. Se consultarmos o dicionário, veremos que um significado possível para a palavra pedagogia é: teoria e ciência da educação e do ensino. A palavra método, por sua vez, tem um significado que abrange não só as noções de meios e fins (caminho), mas, indo além desse conhecimento, liga-nos às noções de ordem, regra, sistema, procedimento etc. Essas acepções nos remetem à idéia de ensino, ou melhor, de ensino e aprendizado. Nas casas espíritas que mantêm o curso de educação mediúnica (chamada antigamente de Escola de Médiuns), os dirigentes desses cursos vivem, dia a dia, a experiência de um ensinar e aprender constantes, a lhes mostrar as crianças espirituais que somos todos nós. É o defrontar da Religião com a Ciência: nesse espaço, conhecimento teórico da doutrina espírita é condição necessária, mas não suficiente, porque há todo um aprendizado que é feito in loco, caso a caso. Para isso, é preciso crer. Infelizmente, no meio espírita, não se dá real valor aos cursos de médiuns: ou ele é tratado como continuação natural de uma Escola de Aprendizes do Evangelho, ou como uma espécie de aperfeiçoamento da parte técnica da doutrina. Também não há pesquisas nessa área, como se elas não fossem do interesse das próprias casas espíritas. Como resultado, estamos assistindo a uma espécie de tomada de posição por parte dos dirigentes de cursos. Temos aqueles que acreditam no fenômeno em si, e não procuram aprimorar seus conhecimentos: preparam alunos crédulos, sem base. E temos diri- 58 gentes que, por um suposto cientificismo, rejeitam os fenômenos que lhes caem às mãos: preparam alunos sem fé, incapazes de entender o que existe de maravilhoso na mediunidade. Em se tratando de mediunidade, ortodoxia é má conselheira. Provamos que desconhecemos Kardec se não aceitarmos que “duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o elemento material; da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se se faz abstração de um dos dois...” Cada caso é único, cada médium um mundo próprio. A preocupação do mestre lionês em comunicar-se eficazmente já se nota desde as primeiras páginas de O Livro dos Espíritos. Ao insistir na compreensão do que é a alma, ou na justificativa para a introdução dos neologismos (para uma coisa nova, um nome novo), Kardec já antevia o quão difícil seria convencer a posteridade do caráter científico do Espiritismo. É por demais óbvio que uma tarefa de tal envergadura necessitava de alguém com grande conhecimento da ciência de sua época e, mais que isso, com preparo para passar esse conhecimento. Quem melhor que Kardec, um educador comprometido com uma nova pedagogia, aprendida com Pestalozzi? Escrever O Livro dos Espíritos em forma de perguntas e respostas foi uma decisão adrede preparada, para facilitar a compreensão de temas tão complexos. Quem melhor que um professor para a transmissão da nova revelação ? O próprio Kardec tinha bem a consciência do papel a desempenhar: “Qual é o papel do professor diante de seus alunos, senão o de um revelador ? Ele lhes ensina aquilo que não sabem, o que não teriam tempo nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma 59 Codificação Em todas as obras de Kardec é claramente perceptível o esforço feito para nos transmitir os assuntos de maneira didática (no sentido de utilizar uma técnica eficaz de ensino) multidão de homens que trouxeram, cada um, o seu contingente de observações, e das quais se aproveitam aqueles que vêm depois. O ensino é, assim, na realidade, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feita por homens que as conhecem a outros que as ignoram e que permaneceriam ignoradas, se assim não fosse.”. Em todas as obras de Kardec é claramente perceptível o esforço feito para nos transmitir os assuntos de maneira didática (didática, aqui, no sentido de utilizar uma técnica eficaz de ensino, arte de ensinar): parecem até ingênuas, em certas ocasiões, as repetições de alguns conceitos, ou a insistência em fixar algumas premissas. Na verdade, é nessas ocasiões que Kardec revela toda a sua genialidade e o quanto permanece atual. Nos dias de hoje, um trabalho que busque legitimação na área científica tem que dizer a que veio, que hipóteses está levantando, quais as justificativas e procedimentos adotados. Kardec não deixou por menos: em pleno século XIX escreveu, com toda a clareza, que o Espiritismo “aplica o método experimental... é uma ciência da observação e não o produto da imaginação” e que “As ciências não fizeram progressos sérios senão depois que os seus estudos se basearam no método experimental; mas acreditava-se que esse método não poderia ser aplicado senão à matéria, ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas.”. É pena que a esse conjunto de afirmações de Kardec não se dê a importância que merece: evitaríamos muitos problemas em nossas casas espíritas, que passam por superstições, fatalismos e extravagâncias que nada tem a ver com a Doutrina. Quando tais tipos de conduta não encontram oposição fundamentada por parte dos dirigentes de Cursos de Médiuns, a casa tende a se afastar da essência do trabalho sério, feito com conhecimento. Em nome desse conhecimento, todo dirigente de curso tem por obrigação estudar Kardec com afinco. Por tratar da parte prática, técnico-científica (ou fenomênica, se preferirem) do Espiritismo, O Livro dos Médiuns revela, desde sua primeira página, a preocupação do Codificador com o estabelecimento das premissas, as argumentações, o desenvolvimento das explicações para os fatos e as refutações necessárias: é o pedagogo explicando a mais pura 60 ciência. E por se tratar de ciência, foi mister estabelecer as bases, fora das quais não caberia continuar a discussão: “Seja qual for a idéia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio.”. É neste ponto que quero chegar. Num trabalho acadêmico, por exemplo, minhas conclusões se verificarão mediante a aceitação de determinadas condições estabelecidas a priori. Em outras palavras, derrubadas as premissas, minhas conclusões poderão ser falsas. Ciência ou Religião? No meio espírita, vez por outra me encontro diante de temas para os quais as pessoas se perguntam: “Isto é ciência ou religião ?” No meu modo de ver, alimentar esse tipo de discussão é recusar o princípio da indivisibilidade entre os elementos material e espiritual, premissa para ler A Gênese. Grassa no meio espírita a idéia de que é possível sermos espíritas de modo “científico”: se essa afirmação é feita por um dirigente de Curso de Médiuns, a distorção das palavras de Kardec atinge aspectos de maior gravidade, porque esse dirigente convive com o lado fenomênico da mediunidade, cotidianamente. “Em lógica elementar, para se discutir uma coisa, preciso se faz conhecê-la...”, é o que nos assevera o codificador. Se o ponto de partida é a existência da alma, torna-se incoerente nos dizermos espíritas e ao mesmo tempo buscarmos a justificação científica da existência dela. Creio que isso se resolve a partir da leitura do Capítulo III de O Livro dos Médiuns, intitulado “Do Método”, o qual considero a leitura definitiva não só para dirigentes, mas para os médiuns em geral. Todos os argumentos de que necessitamos para a compreensão dos fenômenos mediúnicos estão ali, sem subterfúgios. É nosso dever procurar uma base racional para explicar os fenômenos espíritas. Entretanto, não temos o direito de negar autenticidade aos fenômenos que não são passíveis de constatação através de nossos sentidos, pela simples razão de que os espíritos não estão à nossa disposição, nem têm obrigação de nos prestar contas. “Se houvés- “Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação.” semos de somente acreditar no que vemos com os nossos olhos, a bem pouco se reduziriam as nossas convicções.” Aceitam-se como válidos, no meio científico, os processos de argumentações e teste de hipóteses, muitas vezes baseados em dados estatísticos questionáveis. Em suma, é válido o método que se utiliza da persuasão através dos processos de explicações e/ou das experiências. Por qual razão – pergunto – o método de Kardec encontra objeção na área da Ciência? Vejamos o que afirmou o mestre de Lion: “Não se espantem os adeptos com esta palavra – ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aquele que procura persuadir a outro, seja pelo processo das explicações, seja pelo das experiências.”. Impossível ser mais claro! Se o método é válido, é válido sempre: não há como criar uma dupla conceituação de método, valendo uma para fenômenos ditos “científicos” e outra para fenômenos que, por serem da área do Espiritismo, são ditos “religiosos” ou - para voltar ao século de Kardec – metafísicos. Quem quiser entender realmente o porquê da preocupação de Kardec com o método e qual a razão de o mundo espiritual se utilizar de um espírito encarnado envolvido com a Pedagogia, leia o que vem depois das afirmações citadas no parágrafo anterior. Duas delas são fundamentais, em se tratando de “fazer ciência”, e é com elas que me despeço dos caros leitores: “No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secundária e consecutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisamente o erro em que caem muitos adeptos... Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma.”. “Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que ele a observe, de convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às leis da matéria... Falar-lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premissas.”. O autor, Raimundo Wilson Santos Duarte Morais, é dirigente do Curso de Médiuns e do Centro Espírita Discípulos de Jesus, da Aliança Espírita Evangélica. Cursou a Universidade de São Paulo (graduação e licenciatura plena). Publicado na revista eletrônica O mensageiro: www.omensageiro.com.br 61 1 Universalismo Mensagem final Introdução ao estudo da doutrina espírita 63 Especial A doutrina da paz Acima das diferenças doutrinárias, deve prevalecer o sentimento de fraternidade universal, independente de qualquer religião Por Gandharananda Shanti N ão há religião superior à outra, não há doutrina superior à outras doutrinas. A questão é de consciência, de estágio experiencial. O neófito que inicia seu caminho no rumo das expansões conscienciais, quando não tem por perto dos seus estudos e práticas espirituais um instrutor abalizado na experiência, perde-se em conjecturas vazias. Não se pode perder de vista que as religiões sempre foram estágios para as consciências que trafegam na experiência do despertar, e que cada época trouxe seu avatar, seu líder religioso, seu pensador, e assim a egrégora mental planetária se transforma sempre na direção das ascensões, impulsionando a coletividade, quer sejam de encarnados ou desencarnados, pois que as almas sempre se repetem nas viagens entre os diversos educandários na busca infatigável de aprimorarem-se e sublimarem-se através da provas individuais e coletivas. Seria uma agressão ir até o jardim de infância e exigir que os infantes ali estagiários assumam as lições da escolástica universitária. Não é missão do educador espiritual converter as consciências que se demoram a compreender a convergência espiritual que se processa hoje à luz do dia. Não faz parte da missão do Manú-Semente converter as raças e migrá-las para outras religiões... Natura non facit saltum! O importante é que o homem se torne melhor na religião que abraçou. Se for budista, que viva em si mesmo os exemplos de Sidharta Gautama. Se for cristão, que se apóie nas práticas de Jesus, e viva Seu evangelho de luz. Se for hinduísta, que medite nas ilações dos Vedas Sagrados e pratique ahimsa. Se for xintoísta, que exercite as virtudes morais de seus códigos de condutas. Se for espírita, que eduque-se, vivenciando as práticas propostas na codificação. Se for umbandista, que viva o seu dia a dia de acordo com as vibrações salutares de seus Orixás. Se for evangélico, adventista, batista, salvacionista, maçom, rosa-cruz, ou ateu, que seja um 64 exemplo de ser humano, esforçando-se no sentido de tornar melhor a sociedade, através do respeito e cordialidade, fraternidade e solidariedade, com humildade. Que importa se estamos no pagode, na igreja, no templo, no centro espírita, no terreiro, no ashram, no monastério, na loja, no eremitério, quando nossa alma unificada em vibrações de simpatia universal busca o Mesmo e Único Deus Imanente, Transcendente, Onisciente? Que importância tem para as divindades a nossa religião, se elas, as entidades de luz são puro amor, e não são à favor do separatismo doentio dos homens? Convergência religiosa Todas as religiões vieram da mesma Fonte, mas em épocas diferentes, conforme a maturidade dos homens. Mahavir, Zarathrusta, Maomé, Gandhi, Jesus, Krishna, Buda, Zoroastro, Confúcio, Lao Tse, ou Caboclo das Sete Encruzilhadas, são todos irmãos nossos, cuja origem se perde na noite profunda do cosmos, e todos vieram cumprir uma missão especial em favor de nosso entendimento espiritual, nos proporcionando abranger o horizonte do conhecimento oculto, cada um em sua época e de acordo com o nível de evolução das raças. Todos eles foram humildes. Todos eles ensinaram o perdão. Todos eles estimularam a virtude do Amor incondicional. Todos eles incentivaram a paz. Todos eles insistiram em nos chamar de irmãos. Por que então o orgulho, a vaidade, a arrogância, a prepotência, o desprezo, a presunção? Quais destes Mestres nos ensinou a sermos mesquinhos? Ainda que venham outras e novas doutrinas, a nossa urgente necessidade de todos os tempos é tão antiga quanto O Pai Celestial, porém não é um mistério. O “amai-vos uns aos outros”, eternizado por Jesus, deve ser sempre a flâmula a tremular no céu de nossas consciências! Deve ser sempre o grito divino ecoando em nossos corações, a nos convocar para a “re-união” e para a convergência planetária, sem importar a nossa visão fragmen- tada da verdade, e sem nos excluir por causa de diferenças religiosas. Estamos a favor da Causa Maior, operando em nome de Deus? Ou estamos usando a religião como um trampolim da nossa vaidade e do nosso orgulho, a fim de projetarmo-nos aos olhos da sociedade? E se somos agredidos, mesmo dentro de nossos templos, igrejas, ou terreiros, por adversários, visíveis e invisíveis, se sofremos ataques de entidades trevosas dentro dos limites de nosso espaço sagrado, é porque talvez nossas atitudes não estejam de acordo com os nossos esclarecimentos. Talvez nossas atitudes e nossos comportamentos não estejam em sintonia com os nossos guias. Talvez nossos atos e pensamentos, nossos vícios e inclinações estejam muito aquém dos níveis basilares que devemos manter a fim de suportar a nossa missão e o nosso trabalho como espiritualistas. Meditemos profundamente. Invoquemos a Santa Presença, que nos orienta e inspira sempre quando somos honestos conosco mesmos. E nunca percamos de vista, que o sucesso de nosso trabalho e de nossa missão, por humilde que seja, está em relação direta com a retidão de nosso caráter; está em sintonia com as vibrações de nossos corações. 65
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