A codificação - Revista Cristã de Espiritismo

Transcrição

A codificação - Revista Cristã de Espiritismo
A codificação
espírita
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
1
A codificação da
Doutrina Espírita
Allan Kardec: um grande pesquisador que fez de suas observações
um farol para a evolução do conhecimento humano
Por Carlos Antônio Fragoso Guimarães
D
urante todo o século XVIII, a França se ergueu
como o farol intelectual da civilização ocidental. Era para lá que iam artistas, professores,
filósofos e cientistas. Apesar do esbanjamento e
da corrupção da corte, Paris sempre foi a capital
européia mais atrativa para os intelectuais do continente. Junto com a Alemanha, sua maior rival, a
França dirigia os rumos do intelecto humano. Com
o Iluminismo, sua capital passou a ser conhecida
como a “cidade luz”, pois o homem era incentivado
a ser independente, a pensar com a própria cabeça
depois de tanto tempo à mercê dos ditames do clero
e da aristocracia. “Todos os homens são iguais”,
era o slogan do Iluminismo, que nasceu e teve suas
maiores conseqüências em solo francês.
Embora tenha sido, na verdade, um retumbante
movimento da burguesia, com seus lamentáveis e
inevitáveis excessos, a Revolução Francesa teve
o mérito de desmistificar a pseudo-superioridade
das classes privilegiadas (a corrupta aristocracia
e o hipócrita clero católico), levantando as bandeiras contagiantes
da “Liberdade, IgualPestalozzi
dade e Fraternidade”
e da “Declaração dos
Direitos do Homem e
do Cidadão”. Evidentemente que a efervescência do período
desembocou em um
paradoxo, com o surgimento do império
napoleônico, mas os
frutos intelectuais da
Revolução permitiram
limpar a Europa do velho ranço aristocrático,
2
forçando a melhoria dos direitos sociais em todas
as nações do Ocidente e fortificando o papel do
Direito mais do que nunca.
Foi em meio a esse clima de mudanças e reconstrução de um novo mundo, quando vingava
o perfume primaveril do Romantismo por toda a
parte, que, em 03 de outubro de 1804, na cidade
de Lyon, nascia Hippolite Léon Denizard Rivail,
que mais tarde adotaria o pseudônimo pelo qual
ficaria conhecido: Allan Kardec. Ele era filho de
um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e de Jeanne
Duhamel.
Pestalozzi, o mestre
Conta-se que o pai o iniciou com todo cuidado
nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos
clássicos já em tenra idade. Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e línguas.
Após completar os primeiros estudos em Lyon,
partiu para a Suíça, a fim de completar seus estudos
secundários na escola do célebre professor Pestalozzi, sediada na cidade de Yverdon. Bem cedo, o
jovem de Lyon chamou a atenção de seu mestre,
que o colocou como seu auxiliar nos trabalhos acadêmicos que exercia, tendo substituído Pestalozzi
na direção da escola algumas vezes, enquanto
este empreendia alguma viagem para divulgar
sua metodologia de ensino ou era convidado para
criar, em outras localidades, uma instituição nos
moldes de Yverdon. Também exercia com prazer o
papel de professor, ensinando aos seus colegas as
lições que aprendera. Apesar de tão responsável,
ele era visto como um jovem amável, espirituoso e
muito disciplinado. Não há registros de que tenha
sido mal quisto em qualquer fase de seu período
estudantil.
Rivail se bacharelou em Letras e Ciências,
falando vários idiomas fluentemente. Após ser
dispensado do serviço militar, resolveu fundar, em
Paris, uma escola nos moldes de Yverdon, que foi
chamada de Liceu Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação
francesa e, por isso, escreveu vários livros sobre
o assunto, tendo sido premiado por seu trabalho
pela Academia Real de Arras, em 1831. Por esta
mesma época, casou-se com a professora Amélie
Gabrielle Boudet.
Quando tudo parecia ir bem, o sócio de Rivail,
que era seu tio, levou o Liceu à ruína por dissipar
vastas somas financeiras no jogo e nada mais lhe
restou a não ser pedir a liquidação do instituto ao
qual se dedicou com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, ele sofreu um outro imprevisto:
após aplicá-lo na casa comercial de um de seus
amigos, este logo abriu falência por realizar maus
negócios. Dessa forma, Rivail se encontrava na
constrangedora situação de nada mais possuir.
Para sobreviver, ele se lançou freneticamente à
3
A doutrina espírita
Em 1855, Hippolite Rivail testemunhou pela primeira vez o fenômeno
das mesas girantes. Depois disso, passou a observar estes fatos,
pesquisando-os cuidadosamente
havia quem levasse a sério tais coisas, pois, muitas
vezes, as mesinhas davam respostas corretas sem
que ninguém conseguisse provar ou descobrir
quem ou o que as fazia responderem as questões.
Convém notar que essa “moda” das mesinhas que
giravam parecia ocorrer em todos os lugares e em
vários países, em um “boom” que dificilmente pode
ser creditado ao acaso.
As mesas girantes
redação de livros didáticos e ao trabalho como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou,
após o susto e o desespero iniciais, recuperar parte
de seu antigo padrão de vida. Chegou a organizar,
também, cursos de Física, Química, Astronomia e
Anatomia Comparada, bastante populares entre
os jovens da época. Depois de algum tempo, ele já
tinha o necessário para viver com um certo conforto
e se dedicar novamente à educação.
Quase paralelamente a estes acontecimentos
na vida de Rivail, um conjunto de fenômenos nos
Estados Unidos deu início ao moderno Espiritismo
(termo cunhado por Kardec em 1857 para distinguir
este movimento de outras escolas espiritualistas).
Trata-se dos fenômenos ocorridos em 1848, na
pequena localidade de Hydesville, mais precisamente na casa da família Fox, que era metodista e,
portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse
por fatos que hoje poderíamos chamar de “paranormais”. As fortes pancadas, violentamente ouvidas
no quarto das irmãs Katherine e Margaret e que
se fizeram freqüentes por várias semanas, levaram
a primeira, então com 9 anos de idade, a desafiar
o “batedor” para reproduzir as batidas que ela
mesma daria. A prontidão das respostas acabaria
por marcar o início desse tipo de comunicação entre
vivos e mortos.
Nesta época, em Paris, aconteciam com freqüência os fenômenos das “mesas falantes” ou
“mesas girantes”, que consistiam em se fazer
perguntas em torno de uma mesa ou outro móvel
qualquer, que as respondiam através de pancadas.
Isso era visto apenas como uma sutil e inexplicável
diversão de salão, quando não era encarada como
uma brincadeira ou embuste espirituoso. Porém,
4
Hippolite Rivail ouviu falar pela primeira vez
sobre tais fenômenos em 1854, entretanto, sua primeira atitude diante deles foi a de ceticismo. “Eu
acreditarei quando vir, quando conseguirem me
provar que uma mesa dispõe de cérebro e nervos
e que pode se tornar sonâmbula. Até que isso se
dê, permitam-me não enxergar nisso mais do que
um conto para provocar o sono”, afirmou.
Por insistência dos amigos, Rivail presenciou
algumas manifestações físicas das mesinhas. Depois
da estranheza e descrença inicial, ele começou a
cogitar seriamente a validade de tais fenômenos.
“De repente, encontrava-me no meio de um fato
esdrúxulo, contrário às leis da natureza à primeira
vista, ocorrendo na presença de pessoas honradas
e dignas de fé. Mas a idéia de uma mesa falante
ainda não cabia em minha mente”, explicou, completando: “Pela primeira vez, pude testemunhar o
fenômeno das mesas que giravam e pulavam em
tais condições que dificilmente poderia se acreditar
serem frutos de embuste ou fraude”. Rivail disse
que suas idéias estavam longe de terem sofrido uma
modificação, mas que deveria haver uma explicação
em tudo aquilo que se sucedia diante dele.
Em 1855, Hippolite Rivail testemunhou pela
primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Depois disso, passou a observar estes fatos, pesquisando-os cuidadosamente. Graças ao seu espírito
de investigação, que sempre lhe foi peculiar, ele
resistiu em elaborar qualquer teoria preconcebida.
Queria, a todo custo, descobrir as causas. Como
disse Henri Sausse no livro Allan Kardec, “sua
razão repele as revelações, somente aceita observações objetivas e controláveis”. Ainda segundo
o autor, “vários amigos que acompanhavam há
cinco anos o estudo dos fenômenos colocaram à sua
disposição mais de cinqüenta cadernos contendo
O caso das irmãs Fox
Em dezembro de 1847, uma
família metodista de nome Fox
alugou uma casa em vilarejo típico
de New York, chamado Hydesville.
Nessa família haviam duas filhas:
Margaret, de 14 anos e Kate, de 11
anos. Em 1848, surgiram na casa
ruídos, arranhões, batidas, sons
semelhantes ao arrastar de móveis
que não deixava as meninas dormirem, a não ser no quarto de seus
pais. Tão vibrantes eram esses sons
que as camas tremiam e moviamse. As irmãs Fox iniciaram o diálogo
com o espírito batedor, fato este
que passou a história do Espiritismo
como o episódio de Hydesville.
Passado esse acontecimento no
qual as meninas ficaram conhecidas,
estas iniciaram sessões em New York
e em outros lugares, triunfando em
cada ensaio a que eram submetidas.
Tanto Kate quanto Margaret morreram no começo do último decênio
do século. Todavia, as idéias espíritas
dissiminadas através de seus feitos,
ora através do cansativo alfabeto das
batidas, ora por eventos espetaculares cuja causa era a mediunidade de
ambas, prepararam o terreno para
a codificação da doutrina espírita,
ordenada por Allan Kardec.
as comunicações feitas pelos espíritos. O estudo
desses cadernos constituiu, para ele, o trabalho
mais profundo e decisivo. Foi por esse estudo que
ele se convenceu da existência do mundo invisível
e dos espíritos”.
Ele utilizava o material dos cadernos, com as
respostas dadas pelos supostos espíritos, para refazer as mesmas perguntas para outros médiuns,
de preferência desconhecidos dos primeiros.
Com base nas novas respostas, Rivail comparava o conteúdo de ambas e ficava perplexo com
as freqüentes similaridades. Ele reformulava as
questões e pedia a ajuda de amigos para fazê-las
a outros médiuns, em outras localidades. Recebia
as respostas e as compilava, organizando-as por
tópicos e assuntos.
Como era possível que pessoas que nunca se
viram darem as mesmas respostas para as mesmas perguntas, que, freqüentemente, possuíam
um grande peso filosófico e uma amplidão de
conhecimentos que escapavam à formação ou aos
conhecimentos normais delas? A única resposta
lógica seria a de que agentes inteligentes responderiam por intermédio de certas pessoas com uma
sensibilidade psíquica especial: os médiuns. Além
do mais, Rivail notou que poderia existir uma extraordinária discrepância entre o desenvolvimento
moral e intelectual de um médium e as comunicações obtidas em estado de transe, chamadas,
na época, de “estado sonambúlico” ou, algumas
vezes, de “mesmerização”, por causa do pioneiro
da hipnose, Franz Anton Mesmer.
Sendo assim, a faculdade de se comunicar com
os agentes inteligentes invisíveis independe do
grau de desenvolvimento espiritual do médium,
tendo aqueles moralmente medíocres ou até mesmo perversos e aqueles de grande desenvolvimento moral. Uns e outros podem receber mensagens
de cunho elevado ou banal. Por estarem em um
plano diferente do nosso, estes agentes inteligentes invisíveis teriam de vivenciar uma realidade
própria ao estado vibratório de sua dimensão, o
que explicaria algumas características das repostas
dadas. Isso abriria um imenso leque de cogitações
e explicações extraordinárias, mas Rivail não se
deixou levar pelo entusiasmo.
Ele percebeu claramente, desde o início, que
muitas das respostas obtidas por meio dos médiuns eram tolas e pueris, enquanto outras tinham
muito a ver com os conhecimentos ou as crenças
do próprio médium, embora ele, durante o transe,
comumente não tivesse consciência do que dizia
ou escrevia. Assim, Rivail chegou à conclusão de
que, se são agentes inteligentes extrafísicos que
dão as respostas, nem por isso eles parecem ser
muito diferentes dos homens vivos, pois elas são
parecidas com as que qualquer homem daria,
inclusive dentro do nível de instrução a que tenham chegado, pelo fato de haver respostas muito
bem elaboradas junto com muitas outras bastante
fúteis. Concluiu, ainda, que, algumas vezes, as
respostas são dadas de forma não-consciente
pelo próprio médium, ou seja, seria o agente
inteligente do próprio médium que responderia
certas coisas em certas ocasiões. No entanto, estas
respostas não são destituídas de valor, podendo
apresentar um extraordinário grau de maturidade, mesmo que sejam estranhas ao pensamento
normal do médium quando em estado de vigília
ou de consciência desperta.
Desta forma, Hippolite Rivail reconheceu
clara e lucidamente que as entidades, por serem
seres extra-corpóreos, não eram necessariamente
mais sábias do que os homens encarnados. Elas
mesmas diziam que nada mais eram do que os
espíritos dos homens que já morreram e, por isso
mesmo, continuavam tão humanas e cheias de falhas quanto antes. Mais ainda: Rivail se antecipou
5
A doutrina espírita
Com uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes,
O Livro dos Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além
do nível de conhecimento ordinário de sua época de publicação
ao célebre Sigmund Freud (1856-1939) em mais
de 43 anos ao reconhecer uma ação inconsciente
pessoal agindo sobre a manifestação mediúnica
algumas vezes. Assim, podemos nos perguntar se
ele não teria sido, indiretamente, um precursor da
cética psicanálise.
O Livro dos Espíritos
Com o estudo meticuloso das respostas dadas
pelos espíritos por meio de diversos médiuns e em
vários países, Hippolite Rivail teve material suficiente
para compor um livro. Ele fez uma lúcida introdução
sobre seu trabalho no prefácio da obra que fez nascer
o Espiritismo: O Livro dos Espíritos. Na capa do livro,
lançado na cidade de Paris em 18 de abril de 1857,
está o nome do autor, ou melhor, seu pseudônimo:
Allan Kardec. Rivail preferiu adotar este nome para
diferenciar sua nova obra dos trabalhos anteriores,
voltados à educação e à pedagogia.
Mas por que Allan Kardec? Bem, certa ocasião,
depois repetida inúmeras vezes, um espírito que se
denominava como “Z” havia dito para Hippolite
Rivail que eles tinham sido amigos em uma existência anterior, vivida entre os druidas na Gália, e
que o nome deste era Allan Kardec. Era incrível,
porém, mais uma vez vinha à tona na Europa uma
antiga concepção fluente no ocidente desde Pitágoras, Sócrates, Platão, Plotino etc, bem como entre
os povos originários da Bretanha, como os celtas,
e os chamados “movimentos heréticos”, como os
cátaros e os templários: a idéia da reencarnação.
Com uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos Espíritos possui
passagens e reflexões que vão muito além do
nível de conhecimento ordinário de sua época de
publicação, inclusive no que tange aos aspectos
científicos da obra. Citemos, só de passagem, a
noção de evolução das espécies vivas dada pelos
espíritos e comentada por Kardec, publicada um
ano antes de A Origem das Espécies, famoso livro
de Charles Darwin, ou ainda a identidade entre
matéria e energia (chamada por Kardec de “fluido
universal”), que se diferenciam entre si apenas por
um estado de condensação, muito antes do grande
físico Albert Einstein. De igual modo, a percepção
de consciência como sendo diferentes manifestações de maturação psíquica lembra e muito as
6
atuais abordagens da psicologia, principalmente a
transpessoal. Há momentos em que a apresentação
da doutrina em O Livro dos Espíritos não fica devendo nada às melhores teorias de personalidade
da psicologia moderna.
A descrição kardequiana do Fluído Cósmico
Universal lembra o conceito de “orgônio” ou “orgon” dado pelo psicanalista Wilhelm Reich, pai da
bioenergética. Da mesma maneira, os fundamentos
e causas do processo da reencarnação são idênticos
aos postulados por alguns psicoterapeutas que, em
boa parte, não conhecem Allan Kardec e, por meio
do desenvolvimento de pesquisas diversas a partir
do atendimento clínico de pacientes, chegaram
à técnica de TVP (Terapia de Vidas Passadas).
Sem contar que a filosofia de vida que a doutrina
estimula a adotar é, em muitos pontos, similar
às condições propícias ao desenvolvimento da
auto-atualização, lema de psicólogos humanistas
como Abraham Maslow e Carl Ransom Rogers,
por exemplo. A noção de animismo aponta para o
conceito de inconsciente que teve em Freud seu
mais sério teórico, enquanto que a de evolução
espiritual lembra o processo de individualização
postulado por Carl Gustav Jung.
O mais assombroso de tudo é que Kardec logo
reconheceria que seu estudo sobre a comunicação
dos espíritos, que ele chamou de Espiritismo, não
trazia nada de realmente novo a não ser o fato
destes fenômenos serem vistos e entendidos sob
a ótica moderna, científica. “Constituindo uma
lei da natureza, os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão de ter existido desde a origem dos
tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar
que dele se descobrem sinais na antigüidade mais
remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da
metempsicose, ou seja, da transmigração da alma
pela reencarnação. Ele colheu isso dos filósofos
indianos e egípcios, que a tinham desde tempos
imemoriais”, afirmou Kardec em O Livro dos Espíritos, completando: “O que não padece dúvidas
é que uma idéia não atravessa séculos e séculos,
nem consegue se impor às inteligências de escol,
se não contiver algo de sério”.
É por isso, também, que a introdução de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864, livro
de cunho filosófico que objetivava esclarecer a
posição da doutrina frente à mensagem do Cristo,
traz um estudo histórico que culmina em um resumo do posicionamento de Sócrates e Platão como
precursores dos mais elevados ideais cristãos e,
em suas filosofias, de vários tópicos do Espiritismo,
como fica bem evidenciado no diálogo “Fédon”, do
segundo. Já em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
tece comentários a respeito da ancestralidade das
idéias básicas do Espiritismo (capítulo V) e a universalidade dos fenômenos ditos espíritas.
Os fenômenos que caracterizam o Espiritismo,
especialmente o da comunicação entre vivos e
“mortos”, são mencionados e reconhecidos como
existentes em todas as épocas da humanidade, qualquer que seja a cultura considerada. Um dos mais
antigos e claros registros a este respeito dentro de
nossa tradição judaico-cristã é a referência bíblica
na qual Saul visita a pitonisa (médium) de EnDor, que lhe possibilitou a comunicação com o
espírito do profeta Samuel.
A idéia da reencarnação, por exemplo,
é tão antiga e universal quanto a própria
humanidade. É a base de diversas tradições
filosóficas e religiosas do oriente, como o budismo e o hinduísmo, bem como das religiões
pré-cristãs da Europa, como o druidismo, e do
posicionamento de alguns pais da Igreja antes
do Concílio de Constantinopla, em 533, quando a doutrina da reencarnação foi abolida por
motivos políticos. Houve ainda a presença de
alguns movimentos fortemente contestatórios
da ação da Igreja de Roma, como os cátaros,
embora os conhecimentos antropológicos, históricos e sociológicos de seu tempo não permitissem a
Kardec ir muito além na análise destas tradições,
filosofias e ocorrências históricas.
Além do mais, diferentemente de outras escolas espiritualistas, ele fez absoluta questão de
expor seus estudos de forma racional, sem cair
nas armadilhas do discurso ordinário, levado mais
pela emoção e fantasia do que pela razão, a partir
de fatos, fenômenos e percepções reais. Procurou
analisar com o máximo zelo a descrição dos fenômenos, a partir de sólidos referenciais lógicos. Seu
trabalho seria trazer ao nível intelectual moderno
alguns fenômenos que sempre acompanharam o
homem em sua história e que foram negligenciados
pela ciência mecanicista moderna, principalmente
a partir do legado de Descartes e Newton, apesar
de ambos terem sido pessoas espiritualizadas, principalmente o segundo, que foi o primeiro grande
cientista da era moderna e o último grande mago
dos tempos alquímicos.
Revista Espírita
Em 01 de janeiro de 1858, Allan Kardec publicou o primeiro número da Revista Espírita,
que serviu como uma poderosa auxiliar para os
trabalhos ulteriores e para a divulgação da dou-
trina espírita na Europa e na América. Segundo
Henri Sausse, “em menos de um ano, a Revista
Espírita estava espalhada por todos os continentes do globo”. O número de assinantes aumentou
de tal maneira, contou Sausse, que Allan Kardec
reimprimiu duas vezes as coleções de 1858, 1859
e 1860 a pedido deles. Dentre os mais célebres
admiradores, amigos e estudiosos tanto de Kardec
como do Espiritismo, podemos destacar o famoso
astrônomo francês Camille Flammarion, o filósofo
H. Bergson, o psicólogo e filósofo William James,
o físico William Crookes, o biólogo Alfred Russel
Wallace, o físico Oliver Lodge e o escritor Arthur
Conan Doyle, entre outros.
Podemos expor a importância do trabalho de
Kardec através das palavras do pai da moderna
parapsicologia, Charles Richet: “Allan Kardec foi
o homem que, no período de 1857 a 1871, exerceu
a mais penetrante influência e que traçou o sulco
mais profundo na ciência metapsíquica”. Da mesma forma, vários outros estudiosos confirmaram a
importância de Allan Kardec no desenvolvimento
dos estudos psíquicos por todo o mundo. Camille
Flammarion, um dos maiores astrônomos da história, sempre lhe foi grato pelos estudos que eram
correntes na Sociedade de Estudos Espíritas e foi
ele quem fez o discurso fúnebre de Kardec. A lista
poderia se alongar com o nome de vários outros
7
A doutrina espírita
Participaram do auto de fé
Um padre, com seus hábitos
sacerdotais, tendo a cruz em uma
das mãos e, na outra, uma tocha;
Um tabelião encarregado de redigir
o processo verbal do auto-de-fé e
o assistente do tabelião; um funcionário superior da administração
das alfândegas e três serventes da
alfândega, com a função de alimentar o fogo; um agente da alfândega
representando o proprietário das
obras condenadas.
célebres pesquisadores, como Ernesto Bozzano,
César Lombroso etc.
No dia 01 de abril de 1858, Allan Kardec fundou
a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que tinha como objetivo “o estudo de todos os fenômenos
relativos às manifestações espíritas e suas aplicações
às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas”.
Ele não tinha a intenção de fundar uma religião,
como ocorreu posteriormente, a partir de seu legado.
Para Kardec, “a ciência espírita compreende duas
partes: uma experimental, relativa às manifestações
em geral, e outra filosófica, relativa às manifestações
inteligentes e suas conseqüências”.
O auto de fé
Em outubro de 1861, ocorreu um triste e patético
acontecimento. Trata-se do famoso auto-de-fé promovido pela Igreja Católica na cidade espanhola
de Barcelona, quando cerca de 300 publicações
espíritas foram queimadas em praça pública. As
obras, encomendadas a Allan Kardec pelo livreiro
Maurice Lachâtre, foram enviadas de forma comum, nas condições alfandegárias normais e tendo
as taxas de importação pagas pelo destinatário às
autoridades espanholas. No entanto, a entrega
das encomendas não foi realizada, pois foram confiscadas pelo bispo de Barcelona com a seguinte
justificativa: “A Igreja Católica é universal e estes
livros são contrários à fé católica, não podendo o
governo permitir que passem a perverter a moral
e a religião de outros países”.
Talvez com saudades dos áureos tempos de
absoluto domínio das consciências humanas à base
de ferro e fogo, o bispo, acreditando pertencer à
uma seleta instituição de únicos representantes
da vontade de Deus na Terra, fez reacender as
fogueiras que atingiram tantas vítimas inocentes
em séculos anteriores. Através de um carrasco, as
obras foram queimadas, certamente, no lugar das
pessoas que deveriam estar ali: os espíritas franceses em geral e um homem em particular: Allan
8
Uma incalculável multidão se fez
presente, enchendo os passeios e
cobrindo a esplanada onde ardia a
fogueira. Após o fogo ter consumido
os trezentos volumes e brochuras
espíritas, o sacerdote e seus auxiliares
se retiraram cobertos pelas vaias e
maldições de inúmeros assistentes,
que bradavam: Abaixo à inquisição !
Depois, em protesto, muitas pessoas
se aproximaram e apanharam as
cinzas .
Kardec. A pantomima seguiu em tudo as regras de
uma execução inquisitorial.
Graças a esta demonstração de brutalidade por
parte da religião de Roma, o Espiritismo acabou
tendo uma grande repercussão em toda a Espanha,
granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, o ato
alçou a doutrina espírita ao mesmo patamar de outros
mártires da liberdade de espírito, incluindo Jacques
DeMolay, Galileu Galilei, Giordano Bruno e aquela
que, com toda a infalibilidade papal, foi condenada
como bruxa à fogueira, para, quatro séculos depois,
ser elevada à categoria de santa: Joana D’Arc.
Na Revista Espírita de 1864, Allan Kardec fez
uma observação a respeito da divulgação do Espiritismo como uma religião pelos doutores da lei da
era moderna. Disse ele: “Quem primeiro proclamou
que o Espiritismo era uma religião nova, com seu
culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu,
até o presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o
clero é quem o terá provocado”.
Kardec passou o resto de sua vida na missão
de divulgar os resultados de seus estudos e os de
outros colegas, empreendendo inúmeras viagens
pela França e pela Bélgica entre os anos de 1859
e 1868 e escrevendo várias brochuras e pequenos
artigos para a propagação do Espiritismo. Produziu ainda muitos outros livros, entre eles O Livro
dos Médiuns (1861), O Céu e o Inferno (1865) e A
Gênese (1868).
Sempre lúcido e lógico, Kardec soube muito bem
como enfrentar a oposição e a difamação de inimigos
gratuitos com dignidade e nobreza, reconhecendo
quando algum argumento oposto tinha valor sério
e sincero. Manteve-se à frente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, além de escrever outros
livros e artigos para a Revista Espírita, até os seus
últimos dias de vida. Allan Kardec desencarnou em
31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, vítima
de um aneurisma cerebral. Regressava ao plano
espiritual aquele que abriu as mentes dos homens
para esse mundo além da morte.
Allan Kardec
O codificador
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
9
Especial
No ano do bicentenário do nascimento de Kardec, os centros espíritas
precisam iniciar uma campanha de divulgação e estudo metódico em massa
das obras básicas da doutrina espírita
Por Érika Silveira
C
omemora-se neste ano o bicentenário do
nascimento de Allan Kardec, o codificador
da doutrina espírita. Conhecer sua vida e obra
é entrar em contato com a filosofia, religião e ciência consoladora. Hippolyte Léon Denizard Rivail,
que adotou o pseudônimo de Allan Kardec, nasceu
na cidade de Lyon, na França, no dia 3 de outubro
de 1804. Com dez anos de idade mudou-se para a
Suíça, onde teve a oportunidade de estudar no Instituto Pestalozzi de Yverdon, dirigido com métodos
pioneiros de ensino pelo educador Johann Heinrich
Pestalozzi. A metodologia contribuiu para que Kardec
entrasse para a classe dos homens progressistas e
dos livres pensadores.
Não há registro preciso de seu regresso à capital
parisiense, mas em 1823, quando lançou seu primeiro
livro de teor pedagógico, Curso prático e teórico de
aritmética, em dois volumes, já havia retornado para a
França. No mesmo ano passou a freqüentar os trabalhos
da Sociedade de Magnetismo de Paris, tornando-se um
magnetizador (doador de fluidos magnéticos).
Com vinte e um anos de idade, passou a dirigir a
Escola de Primeiro Grau e no ano seguinte fundou o
Instituto Técnico Rivail, nos moldes de seu mestre
Pestalozzi. Publicou também diversos trabalhos
voltados à educação como gramáticas, aritméticas
e livros para estudos pedagógicos superiores. Obras
que foram adotadas pelas universidades e vendidas
abundantemente. Preocupado com a qualidade do
10
ensino elegeu alguns princípios como primordiais:
Cultivar o espírito natural de observação das
crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos
que as cercam; Cultivar a inteligência, observando
um comportamento que capacite o aluno a descobrir por si mesmo as regras; Proceder sempre do
conhecido para o desconhecido, do simples para o
composto; Evitar toda atitude mecânica, levando o
aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz;
Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos
todas as verdades; Só confiar à memória aquilo que
já tenha sido apreendido pela inteligência.
O contato com os espíritos
Embora tenha nascido em família de origem
católica, foi educado nos princípios de um país protestante. Em 1855, teve seu primeiro contato com
o fenômeno das mesas girantes. Foi durante essas
reuniões que iniciou os estudos sérios de espiritismo e
também descobriu que em uma de suas encarnações
anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan
Kardec e desde então adotou o pseudônimo.
Inicialmente, as sessões mediúnicas não tinham
nenhuma finalidade determinada, mas com o tempo
percebeu que naqueles fenômenos se encontravam
respostas ainda não compreendidas a respeito do
passado e do futuro da humanidade. Nascia, assim,
uma doutrina para a instrução de todos. Orientado
Em 1855, Kardec teve seu primeiro contato com o fenômeno das mesas girantes. Muitas teorias que a ciência
moderna tem concluído já tinham sido divulgadas pelos espíritos e compiladas por Kardec
pela espiritualidade, recebeu as instruções sobre sua
missão, que seria a codificação de uma nova doutrina:
O Consolador Prometido por Jesus.
Passou a preparar questões para cada sessão,
que sempre eram respondidas com precisão e lógica. Foram essas mesmas perguntas desenvolvidas e
complementadas que constituíram a base de O Livro
dos Espíritos, publicado em abril de 1857.
Para que não ocorressem fraudes, nem más interpretações posteriores, Kardec submeteu o livro que
deveria ser publicado à análise de diversos espíritos,
com a ajuda de diferentes médiuns.
Depois do êxito na publicação de O Livro dos
Espíritos, Allan Kardec percebeu a importância de
elaborar um meio de comunicação que propiciasse o
intercâmbio de informações entre diferentes grupos.
Para isso, consultou mais uma vez os amigos espirituais que foram favoráveis, mas lhe pediram cautela
e empenho. Em janeiro de 1858 lançou o primeiro
número da Revista Espírita, periódico que abordava
fenômenos, novos adeptos da doutrina e sua divulgação em geral. Pouco tempo depois também fundou a
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Após três anos, em 1861 publicou O Livro dos Médiuns, em 1864 O Evangelho Segundo o Espiritismo;
seguido de O Céu e o Inferno, em 1865, e por último,
em 1868, A Gênese e Os Milagres e as Predições,
completando as cinco obras básicas do espiritismo.
Desencarne e Obras Póstumas
Desencarnou no dia 31 de março de 1869, aos 65
anos em Paris, em decorrência de um aneurisma.
Kardec se preparava para mudança de endereço da
rua Sainte-Anne para Vila Ségur, com o objetivo de
continuar trabalhando mais ativamente nas obras.
Desejava no futuro que sua residência se transformasse em um asilo para recolher idosos.
Duzentos anos depois de sua partida para o plano
espiritual, permanece imortal o ideal da compreensão dos fatos, ao invés da fé cega e alienante.
Publicado vinte e dois anos após o lançamento da
sua última obra, A Gênese, o livro Obras Póstumas
apresenta diversos trabalhos de Kardec que nunca
haviam aparecido em livro. A maioria do material
havia sido publicado apenas na Revista Espírita.
11
1
Médiuns famosos
do passado
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
13
Médiuns famosos
do passado
Conheça alguns grandes médiuns que tiveram influência decisiva na
consolidação científica das pesquisas dos fenômenos mediúnicos
Pelo Grupo Espírita Apóstolo Paulo
N
ão é possível, num simples artigo como este,
apresentarmos todos os médiuns famosos que
apareceram na face da Terra, em diferentes
épocas. Daí porque nos propusemos a falar apenas
sobre alguns dos que mais se evidenciaram pelas
faculdades que possuíam. E, dentre estes, colocamos, em primeiro lugar o grande vidente sueco,
Emmanuel Swedenborg, que pelas suas preciosas
faculdades mediúnicas pode ser considerado, no
dizer de Conan Doyle, o “pai dos fenômenos supranormais”.
Emanuel Swedenborg
O imortal escritor inglês, em seu livro História
do Espiritismo, diz que, para se “compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se
um cérebro de Swedenborg; e isto não se encontra
em cada século”.
O médium era engenheiro de minas e grande
autoridade em Física e Astronomia, tendo publicado, também, vários trabalhos sobre as marés e
sobre a determinação das latitudes. Foi, ainda,
financista e político, além de apaixonado estudioso
da Bíblia.
Aos vinte e cinco anos de idade ocorreu seu
desenvolvimento psíquico, mas desde menino já
tinha visões.
Conta-se que, por ocasião de um jantar, onde
se encontravam cerca de dezesseis pessoas, Swedenborg, pela sua clarividência à distância, observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a
trezentas milhas de Gothenburg, onde se realizava
o jantar.
Somente em 1744 é que desabrocharam suas
forças latentes, quando se achava em Londres.
“Na mesma noite, o mundo dos espíritos do céu
14
e do inferno abriu-se convincentemente para mim,
e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento
e de todas as condições. Desde então, diariamente,
o Senhor abriu os olhos de meu espírito para ver,
perfeitamente de perto, o que se passava no outro
mundo e para conversar, em plena consciência,
com anjos e espíritos”, diz ele.
Conan Doyle, na sua obra já citada, expõe os
principais fatos por ele descritos, que vamos transcrever, pois julgamos de grande valia para nossos
leitores, uma vez que os mesmos muito se assemelham às narrativas de André Luiz, recebidas pelo
canal mediúnico de Chico Xavier. Vejamos:
“Verificou que o outro mundo, para onde vamos
após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de
felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se
adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados
automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado
global de nossa vida, de modo que a absolvição
ou o arrependimento no leito da morte têm pouco
proveito. Nessas esferas, verificou que o cenário
e as condições deste mundo eram reproduzidas
fielmente, do mesmo modo que a estrutura da
sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se
reuniam para fins sociais e palácios onde deviam
morar os chefes.
A morte era suave, dada a presença de seres
celestiais que ajudavam os recém-chegados na
sua nova existência. Esses recém-vindos passavam
imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias,
segundo a nossa contagem.
Havia anjos e demônios, mas não eram de
ordem diversa da nossa: eram seres humanos,
Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis: médiuns famosos pelos fenômenos que produziam,
oferecendo vasto campo de pesquisas profundas sobre a imortalidade da alma
que tinham vivido na Terra e que, ou eram almas
retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.
De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de
vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito
do que quando na matéria. Levou consigo não só
suas forças, mas seus hábitos mentais adquiridos,
suas preocupações, seus preconceitos.
Todas as crianças eram recebidas igualmente,
fossem ou não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhe serviam de mães, até que chegassem
as mães verdadeiras.
Não havia penas eternas. Os que se achavam
nos infernos podiam trabalhar para sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no
céu não tinham lugar permanente: trabalhavam
por uma posição mais elevada.
Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma
mulher constituíam uma unidade completa (é de
notar-se que Swedenborg jamais se casou).
Não haviam detalhes insignificantes para sua
observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura, de artesanato, das flores, dos frutos, dos
bordados, da arte, da música, da leitura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das
bibliotecas e dos esportes. Tudo isso pode chocar
as inteligências convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e
negamos outras coisas menos materiais.
Os que saíram deste mundo, velhos, decrépitos,
doentes ou deformados, recuperavam a mocidade
e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos
os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união.
Dois amantes verdadeiros não são separados pela
morte, de vez que o espírito do morto habita com o
sobrevivente, até a morte deste último, quando se
encontram e se unem, amando-se mais ternamente
do que antes.”
Com estas citações, acreditamos haver dado
ligeira noção sobre os ensinamentos de Swedenborg, porém, quem desejar beber mais ensinamentos encontrará amplo material em suas obras Céu e
Inferno, A nova Jerusalém e Arcana Coelestia.
Andrew Jackson Davis
Este homem deve figurar entre nós como um
dos maiores médiuns da sua época, não só pelos
fenômenos que produzia, como também pela sua
obra no campo da literatura.
Nasceu no dia 11 de agosto de 1826, nas margens do rio Hudson, nos Estados Unidos, e desencarnou em 1910, com a idade de 84 anos.
15
Médiuns famosos
Swedenborg, pela sua vidência à distância, observou e descreveu
um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de Gothenburg,
onde participava de um jantar
Jackson Davis descendia de família humilde.
Sua faculdade mediúnica desabrochou quando
tinha apenas 17 anos. Primeiro, desenvolveu a
clariaudiência. Ouvia vozes que lhe davam bons
conselhos. Depois, surgiu a clarividência, tendo
notável visão quando sua mãe morreu. Viu ele uma
belíssima região muito brilhante, que supôs fosse
o lugar para onde teria ido sua mãe. Mais tarde,
manifestou-se outra faculdade muito interessante
e muito rara: a de ver e descrever o corpo humano,
que se tornava transparente aos seus olhos espirituais. Ele dizia que cada órgão do corpo parecia
claro e transparente, mas se tornava escuro quando
apresentava enfermidade. Não é de se admirar que
Davis descrevesse a constituição anatômica do ser
humano, pois já Hipócrates, o “pai da Medicina”,
dizia: “A alma vê de olhos fechados as afecções
sofridas pelo corpo”.
Na tarde de 6 de março de 1844, deu-se com
Davis um dos mais extraordinários fenômenos: o
de transporte. Ele foi tomado por uma força estranha que o fez voar da cidade de Poughkeepsie a
Catskill, cerca de quarenta milhas de distância.
Naquela época, não se sabia explicar esse fenômeno, porquanto os fatos dessa natureza ainda
eram desconhecidos.
Para nós, espíritas, o papel representado por
Jackson Davis é de grande importância, pois começou a preparar o terreno para os grandes acontecimentos na época em que Kardec codificava o
Espiritismo.
Em suas visões espirituais viu quase tudo o que
Swedenborg descreveu sobre o plano espiritual
(abramos aqui um parêntese para dizer que, por
ocasião do seu transporte às montanhas de Catskill,
identificou Galeno e Swedenborg como seus mentores espirituais).
Em seu caderno de notas, encontrou-se a
seguinte passagem, datada de 31 de março de
1848:“Esta madrugada, um sopro quente passou
pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, a
dizer: irmão, um bom trabalho foi começado – olha!
surgiu uma demonstração viva. Fiquei pensando o
que queria dizer aquela mensagem.”.
Ao que parece, este aviso fazia menção aos
fenômenos de Hydesville, pois foi exatamente
nessa data, numa sexta-feira, que se estabeleceu
o início da telegrafia espiritual, através da menina
Kate Fox.
16
Daniel Dunglas Home
Descendente de uma nobre família da Escócia,
nascia no dia 15 de março de 1833, em Currie, perto
de Edimburgo, o maior médium de efeitos físicos
do século passado – Daniel Dunglas Home.
Aos nove anos de idade, Home partiu para os
Estados Unidos em companhia de uma tia que o
adotara. Quando tinha treze anos, manifestou-se
nele extraordinária faculdade psíquica, tendo previsto a desencarnação de um amigo da família.
Conta-se que Home fizera um pacto com um
colega de nome Edwin, para que o primeiro a
desencarnar viesse mostrar-se ao outro. Um mês
após haver se mudado para outro distrito, quando
foi para cama, teve a visão de Edwin, que desencarnara e viera cumprir o pacto, cuja confirmação
recebeu dois ou três dias depois.
Em 1850, teve uma segunda visão; esta, sobre a
morte de sua mãe, que vivia na América do Norte.
Em seguida, começaram a produzir-se os mais
variados fenômenos, tais como fortes batidas nos
móveis, transporte de objetos e outros raps que
inquietaram o lar de sua tia, com quem morava,
ao ponto desta afirmar que o rapaz havia trazido
o diabo para sua casa.
Esses fenômenos tiveram grande repercussão
em toda a América, tendo sido organizada, em
1852, uma Comissão da Universidade de Harward
para visitar o médium, comissão essa que lavrou ata
afirmando a exatidão dos fatos verificados durante
as experiências com ele realizadas.
Tamanha era sua força que, em todas as casas
onde se hospedava realizava sessões diárias, o que
lhe produzia grande esgotamento.
Em 1855, Home viajou para a Europa, ocasião
em que foram realizadas, com ele, várias experiências perante o Imperador Napoleão III. Durante
essas experiências, obteve-se uma prova concreta
da assinatura de Napoleão Bonaparte, com a presença da Imperatriz Eugênia, cujo fato aumentou
grandemente sua fama.
Home jamais mercadejou seus preciosos dons
mediúnicos. Teve inúmeras oportunidades, mas
sempre recusou. Dizia ele: “Fui mandado em missão. Essa missão é demonstrar a imortalidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais o receberei”.
Home, como se vê, possuía várias faculdades,
dentre elas, a de levitação, fenômeno esse inúmeras vezes constatado por cientistas da época.
Jackson Davis (acima, com a esposa) foi tomado por uma força estranha que o fez
voar da cidade de Poughkeepsie a Catskill, cerca de quarenta milhas de distância.
Já, as primeiras manifestações mediúnicas de Eusápia Paladino
(ao lado) consistiram no movimento e levitação de objetos
Como todo médium, Home foi caluniado e ferido em sua dignidade, mas nunca lhe faltou nas
horas mais difíceis o amparo de seus mentores
espirituais.
Allan Kardec, através das colunas da Revue
Spirite, o defende, dizendo:
“Dotado de excessiva modéstia, jamais fez praça de sua maravilhosa faculdade; jamais fala de si
mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta
casos pessoais, fá-lo com simplicidade e jamais
com a ênfase própria das criaturas com as quais a
malevolência procura compará-lo.”
Sobre sua missão, disse Kardec:
“Foi uma missão que aceitou; missão não isenta
de tribulação nem de perigos, mas que realiza com
resignação e perseverança, sob a égide do espírito
de sua mãe, seu verdadeiro anjo da guarda.”
Eusápia Paladino
Eusápia Paladino foi a primeira médium de
efeitos físicos a ser submetida a experiências pelos
cientistas da época, tais como César Lombroso, Alexandre Aksakof, Charles Richet e muitos outros.
Nasceu em Nápoles, Itália, em 31 de janeiro
de 1854, e desencarnou em 1918, com a idade de
sessenta e quatro anos.
Sua mãe morreu quando ela nasceu, e o pai,
quando ela alcançou a idade de doze anos.
As primeiras manifestações de sua mediunidade
consistiram no movimento e levitação de objetos,
quando ainda era muito jovem (tinha apenas quatorze anos). Esses fenômenos eram espontâneos
e se verificavam na casa de um amigo com quem
morava. Somente aos vinte e três anos é que, graças a um espírita convicto, Signor Damiani, ela
conheceu o Espiritismo.
Por volta do ano 1888, Eusápia tornou-se conhecida no mundo científico, em virtude de uma
carta do prof. Ércole Chiaia enviada ao criminalista
César Lombroso, relatando detalhadamente as
experiências já realizadas por ele com a médium,
carta essa publicada no jornal Il Fanfulla dela
Domênica.
Entre outras coisas, dizia o missivista:
“A doente é uma mulherzinha de modestíssima
condição social, com cerca de trinta anos, robusta,
iletrada e cujo passado, porque vulgaríssimo, não
merece ser esquadrinhado; que nada apresenta de
notável, a não ser as pupilas de fascinante brilho
e essa potencialidade que os criminalistas diriam
irresistível.”
Em outro trecho da carta, diz:
“Quando quiserdes, essa mulherzinha será
capaz de, encerrada numa sala, divertir durante
horas, por meio de surpreendentes fenômenos,
todo um grupo de curiosos mais ou menos céticos,
ou mais ou menos acomodatícios”.
17
Médiuns famosos
Como a maioria dos médiuns de prova, Madame d’Esperance também
sofreu muito durante o cumprimento da sua espinhosa missão
Através dessa carta, convidava, também, o
célebre alienista, a investigar diretamente os fenômenos por ele constatados na médium.
Três anos mais tarde, em 1891, Lombroso aceitou o convite, realizando com Eusápia uma série
de sessões. Esses trabalhos foram seguidos pela
Comissão de Milão, integrada pelos professores
Schiaparelli, diretor do Observatório de Milão;
Gerosa, catedrático em física; Ermacora, doutor
em Filosofia, de Munique, e o prof. Charles Richet,
da Universidade de Paris. Além dessas sessões,
muitas outras foram realizadas com a presença
de homens da Ciência, não só da Europa, como
também da América.
Lombroso, diante da evidência dos fatos, converteu-se ao Espiritismo, tendo declarado:
“Estou cheio de confusão e lamento haver combatido, com tanta persistência, a possibilidade dos
fatos chamados espíritas.”
A conversão de Lombroso deveu-se, também, ao
fato de o espírito de sua mãe haver-se materializado em uma das sessões realizadas com Eusápia.
Antes de encerrarmos esta ligeira exposição
sobre a preciosa mediunidade de Eusápia Paladino,
convém citarmos um trecho do relatório apresentado pela Comissão de Milão, que diz:
“É impossível dizer o número de vezes que uma
mão apareceu e foi tocada por um de nós. Basta dizer que a dúvida já não era possível. Realmente, era
uma mão viva que víamos e tocávamos, enquanto,
ao mesmo tempo, o busto e os braços da médium
estavam visíveis e suas mãos eram seguras pelos
que achavam a seu lado.”.
Como se vê, a comissão que ofereceu este
relatório era constituída por homens da Ciência,
o que não deixa dúvida quanto à veracidade dos
fenômenos por eles constatados.
O prof. Charles Richet, em 1894, também realizou várias sessões experimentais em sua própria
casa, obtendo levitações parciais e completas da
mesa, além de outros fenômenos de efeitos físicos.
Sir Oliver Lodge, prof. de Filosofia Natural do
Colégio de Bedford, Catedrático em Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade de
Birmingham, e que foi, também, por longos anos,
presidente da Associação Britânica de Cientistas,
após as experiências realizadas com Eusápia apresentou um relatório à Sociedade de Pesquisas da
Inglaterra, dizendo, entre outras coisas, o seguinte:
18
“Qualquer pessoa, sem invencível preconceito,
que tenha tido a mesma experiência, terá chegado
à mesma larga conclusão, isto é, que atualmente
acontecem coisas consideradas impossíveis... O
resultado de minha experiência é convencer-me
de que certos fenômenos, geralmente considerados
anormais, pertencem à ordem natural e, como um
corolário disto, que esses fenômenos devem ser
investigados e verificados por pessoas e sociedades
interessadas no conhecimento da natureza”.
Eis aí, em linhas gerais, o que foi a excepcional
mediunidade de Eusápia Paladino, figura de destaque na história do Espiritismo, que veio à Terra
para cumprir a sublime missão de demonstrar a
sobrevivência do espírito após a desencarnação.
Elizabeth d Esperance
Elizabeth d’Esperance nasceu em 1849, um
ano depois dos fenômenos de Hydesville. Quando ainda mocinha, apareceu em público através
da apresentação de T. P. Barkas, em New Castle.
Barkas organizou uma extensa lista de perguntas
referentes aos mais variados setores da Ciência, que
foram respondidas, rapidamente, pela médium, em
inglês, alemão e até mesmo em latim.
Madame d’Esperance, que possuía educação
de classe média, quando caía em transe mediúnico
externava admiráveis conhecimentos científicos,
muitas vezes abordando assuntos completamente
desconhecidos daqueles que a interrogavam. Nesse estado, desenhava na mais completa escuridão.
Mr. Barkas, referindo-se às sessões realizadas com
ela, disse: “Deve ser geralmente admitido que
ninguém pode, por um esforço normal, responder
com detalhes, a perguntas críticas ou obscuras em
muitos setores difíceis da Ciência com que se não
é familiarizado. Além disso, deve admitir-se que
ninguém pode ver normalmente e desenhar com
minuciosa precisão em completa obscuridade; que
ninguém pode, por meios normais de visão, ler o
conteúdo de uma carta fechada, no escuro; que ninguém, que ignore a língua alemã, possa escrever
com rapidez e exatidão longas comunicações em
alemão. Entretanto, todos esses fenômenos foram
verificados com essa médium e são tão acreditados
quanto as ocorrências normais da vida diária.”.
Madame d’Esperance publicou um livro intitulado Shadow Land que, traduzido, significa “Re-
Nas reuniões realizadas na casa do Dr. Speer,
Willian Stainton Moses começou a receber, pela
psicografia, mensagens de três espíritos que davam
os nomes Imperador, Doctor e Rector
gião das Sombras”, através do qual relata seus dons
mediúnicos. Diz ela que, na sua infância, brincava
com espíritos de crianças, como se estes fossem
crianças reais. Mais tarde, lhe foi acrescentada a
faculdade de materialização, pois ela fornecia, em
abundância, o fluido chamado “ectoplasma”, que
serve para a produção desse fenômeno.
Seu guia espiritual era uma bela moça árabe,
que dava o nome de Yolanda. Esse espírito se
materializava, constantemente, dada a perfeita
afinidade que tinha com a médium. Ela podia ver
a forma materializada, conforme descreve em seu
livro: “Sua roupagem leve permitia que se visse
muito bem a bela cor azeitonada de seu pescoço,
dos ombros, dos braços e dos tornozelos. Os longos
cabelos negros e ondulados desciam pelos ombros
até abaixo do peito e eram atados por uma espécie
de turbante pequenino. Suas feições eram miúdas,
corretas e graciosas; os olhos eram negros, grandes e vivos; todos os seus movimentos eram cheios
daquelas graças infantis ou como os de uma jovem
gazela, quando a vi, tímida e decidida, por entre
as cortinas.”.
Alexandre Aksakoff, no seu livro Um caso de
desmaterialização parcial, descreve que, em uma
sessão realizada com essa médium, viu seu corpo
desmaterializar-se, parcialmente.
Muitos outros casos de materialização de objetos foram constatados, entre eles, o caso das vinte
e sete rosas descrito por William Oxley, editor da
obra Angelis Revelation, e mais uma planta rara,
em flor. Disse ele sobre o fato: “Eu tinha fotografado a planta Ixora Crocata na manhã seguinte,
depois do que trouxe para casa e a coloquei na
minha estufa, aos cuidados do jardineiro. Ela viveu três meses, depois murchou. Tomei as folhas,
muitas das quais abandonei, exceto a flor e três
brotos que o jardineiro cortou, quando cuidava
da planta”.
Foram também obtidos, graças à preciosa faculdade dessa médium, moldagens em parafina,
de mãos e pés, com punhos e tornozelos que, dada
a estreiteza dessas partes, não podiam permitir a
saída dos membros, a não ser por sua desmaterialização.
Como a maioria dos médiuns de prova, Madame d’Esperance também sofreu muito durante o
cumprimento da sua espinhosa missão.
Em um dos trabalhos de materialização realiza-
do na Escandinávia, o espírito Yolanda foi agarrado
por um pesquisador menos avisado, com o intuito
de desmascarar, tendo a médium sofrido grande
choque traumático que lhe produziu sério desequilíbrio orgânico, prostrando-a de cama.
E, para encerrar, citemos mais um trecho do
último capítulo do seu livro, que diz:
“Os que vierem depois de mim talvez venham
a sofrer quanto eu tenho sofrido pela ignorância
das leis de Deus. Quando o mundo for mais sábio
do que no passado, é possível que os que tomarem
as tarefas na nova geração não tenham que lutar,
como lutei, contra o fanatismo estreito e os julgamentos duros dos adversários.”.
William Stainton Moses
W. Stainton Moses nasceu em 5 de novembro
de 1839, em Lincolnshire, na Inglaterra. Fez seus
estudos em Bedford Grammar School e no Exeter
College de Oxford. Seu pai, William Moses, era
reitor da Escola de Gramática.
Durante a vida de estudante, o jovem Moses
sempre se destacou pela sua inteligência e aplicação, recebendo de seus professores as melhores
referências. Exerceu o ministério religioso como
Cura na Ilha de Man. Mais tarde, por motivo de
saúde, foi aconselhado a viajar, tendo, na sua volta,
passado seis meses no Mosteiro de Monte Athos.
Aí, no isolamento e na meditação, manifestaram-se
os primeiros sinais de sua mediunidade.
Aos vinte e três anos de idade, Moses volta
para Oxford, onde recebe seu diploma, em 1863,
continuando, ainda, como Cura, de Man.
A esse tempo, uma forte epidemia de varíola
19
Médiuns famosos
Eglinton costumava realizar as materializações à luz da lua, em estado
consciente, tendo as mãos seguradas pelos presentes
espalhou-se por toda a Ilha, onde não existiam
médicos. Ali, “...dia e noite estava ele à cabeceira
de doentes pobres, por vezes, depois de haver assistido a um moribundo, se via obrigado a unir as
tarefas de sacerdote às de coveiro, e ele próprio a
transportar cadáveres”.
Retirando-se, depois, daquela Ilha, fixou residência em Londres, onde ingressou no Magistério, tornando-se professor na University College
School.
Em 1870, mais ou menos, quando residia na
casa do Dr. Speer, sua atenção voltou-se para o
Espiritismo, graças a um livro que a sra. Speer lhe
aconselhou a ler, chamado Debatable Land (Terra
Contestada), de autoria de Robert Dale Owen.
Moses e o Dr. Speer travavam constantes discussões em torno da doutrina espírita, notadamente
sobre pontos de controvérsias religiosas, pois ambos
Seção de materialização de
espírito com Eglinton (ao lado)
e Mary Burchett
desejavam provas sobre a imortalidade da alma e,
para o Dr. Speer, materialista intransigente, o problema parecia de difícil solução. Mas, por outro lado,
para Moses, espírito bastante religioso, isso não era
impossível e, pensando assim, começou estudar o
Espiritismo e assistir a sessões mediúnicas.
Nas reuniões realizadas na casa do Dr. Speer, Moses começou a receber, pela psicografia,
mensagens de três espíritos que davam os nomes
Imperador, Doctor e Rector. Ele, entretanto, não
aceitava o conteúdo dessas mensagens, uma vez
que as suas idéias eram outras e os ensinamentos
contidos estavam em contradição com os da Bíblia.
Mesmo assim, sua mediunidade desenvolveu-se,
rapidamente, tendo-se manifestado nele quase
todos os fenômenos de efeitos físicos então conhecidos. Na sua presença, objetos se movimentavam;
livros e cartas eram transportados de uma sala para
outra, em plena luz do dia.
Somente em 1872, quando realizava sessões
com William e Miss Lottie Fowler é que se operou
sua completa conversão ao Espiritismo. Seus escritos, com o pseudônimo M. A. Oxon, constituem
dois importantes trabalhos publicados sob os títulos: Ensinos Espíritas e Aspectos Superiores do
Espiritismo. Stainton Moses foi, por muito tempo,
redator da grande revista Light, da qual foi também diretor.
Devemos acrescentar, ainda, que esse grande
baluarte da doutrina espírita foi um dos fundadores da Sociedade de Investigações Psíquicas
de Londres, inaugurada em 1882. Em 1884, foi
eleito presidente da Aliança Espírita de Londres,
permanecendo nesse cargo até quando se deu sua
desencarnação.
William Eglinton
A história do Espiritismo está repleta de grandes
médiuns, cada um cumprindo a missão que trouxe
do alto, de acordo com o “convênio” firmado no
plano espiritual.
William Eglinton foi um deles. Veio à Terra
como os demais missionários do Cristo para servir
de intérprete aos espíritos, dando prova de que a
vida não se extingüe no túmulo: continua no seio
da espiritualidade, sempre ascendendo para o alto,
em cumprimento aos desígnios do Criador.
Eglinton nasceu em 1857. Quando ainda muito
20
Além de clarividente de grande poder,
possuía, Foster, a interessante e raríssima
faculdade de exibir na pele, principalmente
no antebraço, as iniciais dos nomes dos
espíritos que se comunicavam com ele
jovem, revelou seu gênio imaginoso, sonhador e
sensitivo. Só em 1874, com a idade, portanto, de
dezessete anos, é que entrou no grupo da família,
onde seu pai investigava os fenômenos espíritas.
No momento em que o rapaz se ligou àquele
grupo, a mesa ergueu-se com rapidez, obrigando
os assistentes a se porem de pé a fim de manter as
mãos sobre ela. Na sessão seguinte, Eglinton caiu
em transe mediúnico, recebendo comunicação de
sua mãe.
A notícia espalhou-se por toda a parte, tendo ele
recebido inúmeros convites para tornar-se médium
profissional, o que recusou.
Em 1878, viajou para diversos países, visitando
a África do Sul, a Suécia, a Dinamarca e a Alemanha. Em Leipzig, realizou sessões com o professor
Zollner, cujos trabalhos foram assistidos por outras
figuras de destaque no meios científicos ligados à
Universidade.
Em Paris, M. Tissot, famoso artista pintor,
assistindo a uma sessão de materialização, com
Eglinton, na qual se materializou o espírito de uma
senhora reconhecida como parenta, pintou-a numa
tela, que intitulou de Aparição medianímica.
Eglinton costumava realizar as materializações
à luz da lua, em estado consciente, tendo as mãos
seguradas pelos presentes.
M. W. Harrison, redator do The Spiritualist,
assistindo a um dos trabalhos de materialização,
assim descreve: “Na noite de segunda-feira, última, dez ou doze amigos se reuniram em volta de
uma grande mesa circular, com as mãos juntas,
em cujas condições o médium W. Eglinton ficava
seguro pelos dois lados. Não havia outras pessoas
na sala além das que estavam sentadas à mesa.
Um fogo, que se apagava, dava uma luz fraca,
que apenas permitia se vissem as silhuetas dos
objetos. O médium estava na parte da mesa mais
próxima do fogo, de modo que suas costas ficavam
para a luz. Uma forma, na inteira proporção de um
homem, ergueu-se, lentamente, do chão até ao
nível da borda da mesa; estava a cerca de trinta
centímetros atrás do cotovelo direito do médium.
O assistente mais próximo era o sr. Wisemann, de
Orne Square, Baywater. A forma estava coberta
com um pano branco, e as feições não eram visíveis. Como se achava próximo ao fogo, podia ser
vista distintamente pelos que se achavam mais
próximos. Foi observado por todos os que assim
estavam, que o canto da mesa ou os assistentes não
tapavam a vista da forma; assim, foi observada, por
quatro ou cinco pessoas e isto não foi resultado de
impressões subjetivas. Depois de erguer-se até o
nível da mesa, mergulhou e não mais foi vista, ao
que parece tendo esgotado as forças. Sr. Eglinton
estava numa casa estranha e vestido a rigor. De um
modo geral, foi um teste de manifestação, que não
podia ser produzido por meios artificiais.”
Outra face da mediunidade de Eglinton foi a da
pneumatografia, ou seja, a da escrita direta.
Embora tenha ele, por mais de três anos, se
esforçado neste sentido, somente em 1884 é que
obteve resultados positivos.
As lousas usadas para a obtenção da escrita
direta eram do tipo comum, que os assistentes tinham a liberdade de trazer para serem utilizadas.
A ardósia era segurada pelo médium e a escrita se
produzia dentro de poucos instantes, ouvindo-se,
muitas vezes, o ruído do lápis que deslizava, com
grande velocidade.
Eram usadas, também, duas lousas do mesmo
tamanho, superpostas e amarradas, às quais se
ligava um cadeado com chave, a fim de evitar
possíveis truques. E as mensagens eram obtidas,
graças à faculdade de Eglinton, a quem o mundo
muito deve pelo seu notável trabalho de prova da
sobrevivência do espírito após a morte do corpo.
Charles Foster
Desde épocas remotas, têm surgido na Terra
médiuns dotados das mais variadas faculdades,
dependendo da aptidão orgânica de cada um deles. E Charles Foster se inclui no rol daqueles que
mais se notabilizaram pela importância do trabalho
realizado.
21
Médiuns famosos
Chico Xavier sempre viveu de maneira modesta, apenas com
sua pequena aposentadoria, por estar ciente de que os mais de
quatrocentos livros que psicografou não lhe pertenciam
Além de clarividente de grande poder, possuía,
Foster, a interessante e raríssima faculdade de exibir na pele, principalmente no antebraço, as iniciais
dos nomes dos espíritos que se comunicavam com
ele. Esse fenômeno foi severamente examinado por
várias figuras de renome internacional, que não puseram dúvida alguma quanto à veracidade do fato.
Mas, não foram somente a vidência e as letras que
se manifestaram em Foster: mantinha ele, também,
conversação com entidades desencarnadas, como
ocorreu com Cervante, Camões, Virgílio e outros.
Conta-nos sr. George C. Barlett, autor da obra The
Salem Seer (O Vidente de Salém) que, certa feita,
quando se encontrava nos aposentos de Foster, foi
por ele acordado, às duas horas da madrugada,
dizendo “George, quer fazer o favor de acender o
gás? Eu não posso dormir: o quarto está cheio da
família de Adams e parece que estão escrevendo
seus nomes em mim”.
Com efeito, sr. Adams o havia procurado durante o
dia anterior para uma consulta, tendo Foster, através
da vidência, observado que muitos espíritos ficaram
em sua companhia. E continuando o relato, sr. Barlett
conclui, dizendo: “E com grande admiração minha, a
lista de nomes da família Adams estava gravada em
seu corpo. Contei onze nomes diferentes: um estava
gravado na testa, outros nas costas”.
Temos notícia de que esse tipo de fenômeno
tem se verificado, constantemente, nas mãos e nos
pés das beatas, o que parece ter muita semelhança com o dom das letras que Foster apresentava
sobre a pele.
Henry Slade
Henry Slade representou importante papel na
história do espiritismo, pelo grande poder mediúnico de que era dotado.
Slade celebrizou-se pela escrita na lousa, tendose exibido, por muitos anos, na América do Norte,
de onde mudou para a Inglaterra, realizando, em
Londres, inúmeras sessões desse gênero.
M. J. Enmore Jones, redator do The Spiritual
Magazine e um dos mais conhecidos pesquisadores
do psiquismo, dele, diz o seguinte: “No caso de sr.
Home, recusou receber um salário e, via de regra,
as sessões eram feitas ao anoitecer, no calmo ambiente familiar. Mas no caso do dr. Slade, elas se
realizavam numa pensão. Cobra vinte shillings e
22
prefere que apenas uma pessoa fique na sala que
ocupa. Não perde tempo: assim que o visitante se
senta, começam os incidentes, continuam e terminam em cerca de quinze minutos.”
Slade não só produzia a escrita na lousa, como
também provocava outros fenômenos de efeitos
físicos tais como o arremesso de objetos, materializações de mãos e a execução musical.
Certa vez, em uma sessão realizada em plena
luz do dia, além de ser obtida a escrita na ardósia,
foi também executada, ao acordeon, a peça Home,
Sweet Home.
Como se vê, Slade era médium dotado de
grande poder para a produção de fenômenos de
efeitos físicos.
A carreira de Slade, como a da maioria dos
médiuns, foi bastante espinhosa. Por acusação de
fraude, feita pelo prof. Ray Lankester, foi julgado
na Corte de Polícia de Bow Street, perante o juiz
Flower. A acusação foi feita pelo sr. George Lewis
e a defesa esteve a cargo do sr. Munton.
Sobre a autenticidade dos fenômenos produzidos por Slade, falaram Alfred Russel Wallace,
Serjeant Cox, além de outros, que apresentaram
provas concretas para a defesa do acusado, mas,
mesmo assim, o magistrado, no julgamento, exclui,
dizendo que sua decisão baseava-se em “inferências deduzidas dos conhecidos fatos naturais”.
Assim, foi Slade condenado a três meses de
prisão, com trabalhos forçados, nos termos da lei.
Houve apelo e ele foi solto sob fiança.
Mais tarde, quando foi julgado o apelo, a condenação foi anulada. Henry Slade desencarnou
em 1905, num sanatório, em Michigam. Foram
inúmeros os comentários feitos pela imprensa londrina a respeito das ocorrências registradas com
ele, notadamente sobre a perseguição movida por
Ray Lankester, em Bow Street, de que resultou
sua condenação.
Francisco Cândido Xavier
Por Érika Silveira
Em 30 de junho de 2002, um domingo no qual
o Brasil inteiro vivia a euforia da conquista do
quinto título mundial pela seleção brasileira de
futebol, partia para o plano espiritual um dos
maiores exemplos de paz, caridade e amor: Chico Xavier. Sem
dúvida alguma, o planeta sentirá
a ausência de sua presença física radiante de luz, porém, ele
permanecerá instruindo e confortando um número incalculável
de corações através do tesouro
literário que deixou para a humanidade, um acervo com mais de 400
obras psicografadas, entre romances,
poesias e livros doutrinários, além de
milhares de cartas de desencarnados para
seus parentes.
Segundo relatos de amigos e pessoas próximas
ao médium mineiro, após um dia de rotina, ele
jantou ao anoitecer, pediu café quente e foi para
o seu quarto. Então, deitou-se e, dez minutos depois, teve uma parada cardíaca. Chegava ao fim a
jornada de Chico na Terra, na qual dedicou grande
parte de seus 92 anos de vida em favor do próximo.
Homem de corpo franzino e aparentemente frágil,
com sérios problemas de saúde, levou o consolo
aos desesperados e o conhecimento por meio das
obras psicografadas até o fim de seus dias. Considerado o maior divulgador do Espiritismo no Brasil
e no mundo, foi um exemplo de fé e caridade.
No entanto, sua maior missão talvez tenha sido
exemplificar à humanidade como o amor pode
transformar tristeza em coragem, uma lágrima em
sorriso de esperança, o trabalho em alimento tanto
para o corpo como para o espírito.
Tido como um fenômeno editorial, movimentou
milhões com as vendas dos livros psicografados,
muitos deles traduzidos para outros idiomas.
Mesmo assim, sempre viveu de maneira modesta,
apenas com sua pequena aposentadoria, por estar
ciente de que as obras não lhe pertenciam. Dessa
forma, doou todos os direitos autorais para obras
sociais mantidas por diversas entidades.
Tamanha dedicação à humanidade rendeu a
Chico Xavier muitas homenagens, difíceis até de
enumerar. A que mais se destacou foi a indicação
ao Prêmio Nobel da Paz de 1981, promovida pelo
já desencarnado diretor de televisão Augusto
César Vanucci e pelo então deputado federal
Freitas Nobre. Embora a candidatura não tenha
obtido sucesso, a imagem que permanecerá com
o público, espírita ou não, é a de um homem que
transmitiu o amor e a caridade
sem se importar com glórias ou
nomeações.
Infância e juventude
Francisco Cândido Xavier, mais
conhecido como Chico Xavier, nasceu em Pedro Leopoldo (MG), em 02
de abril de 1910, data marcada pela
chegada daquele que seria o propagador incansável da doutrina espírita e um
dos maiores médiuns de todos os tempos.
Com apenas cinco anos de idade, enfrentou
a dor de perder a mãe, Maria João de Deus. No
leito de morte, ela disse ao filho que não morreria,
simplesmente iria para um hospital muito longe,
mas voltaria. Então, como combinado, o pequeno
Chico foi morar com sua madrinha Rita de Cássia,
período em que enfrentou punições em virtude,
principalmente, de dizer que via e conversava
com “mortos”.
Passados dois anos, voltou a morar com seus oito
irmãos e o pai, João Cândido Xavier, que tornou a
se casar, desta vez com Cidália Batista, um “anjo
salvador” que chegaria na vida de Chico, como
disse sua mãe quando lhe apareceu em espírito. Realmente, a madrasta sempre o tratou e o ouviu com
muito carinho. Embora não entendesse a causa das
visões do menino, por ser católica, Cidália resolveu
levá-lo à igreja a fim de curar essas manifestações
constantes, tidas como loucura na época. Inclusive,
ela sempre pedia a Chico que não contasse nada
disso para seu pai, pois este estava querendo interná-lo em um sanatório para doentes mentais.
Bastava comentar algo relacionado aos espíritos
que o pai o levava à igreja e o padre lhe aplicava
várias penitências, como rezar mil Ave-Marias e
seguir as procissões carregando uma pedra quase
equivalente ao seu peso.
Além dos problemas causados pela mediunidade, Chico sempre ajudou no sustento da família,
trabalhando desde pequeno. O primeiro emprego
foi como operário de uma fábrica de tecidos, entretanto, devido à poeira do algodão, teve problemas
no pulmão, recebendo do médico o pedido para
que trocasse de local. Exerceu diversas funções ao
longo de sua vida, trabalhando como servente de
fiação, servente de cozinha e até mesmo caixeiro de
armazém. Seu último emprego, cuja aposentadoria
23
Médiuns famosos
Sem sombra de dúvida, sua ausência deixa saudades, porém, seu
exemplo de caridade permanece vivo na memória de todos nós
garantiu seu sustento até o desencarne, foi como
funcionário do Ministério da Agricultura, cargo que
exerceu por 35 anos consecutivos.
A descoberta do Espiritismo
Como já dissemos, as manifestações mediúnicas
surgiram cedo na vida de Chico Xavier e, por causa
disso, ele cresceu sendo repreendido por familiares,
professores, religiosos e conhecidos.
A primeira prova concreta de psicografia ocorreu na escola, em um concurso comemorativo ao
centenário da Independência do Brasil, em 1922.
No momento de escrever a redação, Chico ouviu
um espírito ditar o texto e, com a inocência peculiar
de uma criança, comentou o fato, interpretado com
o mesmo desdém de outras vezes em que disse ter
contato com desencarnados. Mesmo assim, venceu
o concurso, porém, com o objetivo de esclarecer
a dúvida sobre se havia copiado as palavras de
algum livro ou um amigo misterioso teria ditado,
pediram-lhe que fosse à lousa e escrevesse sobre
o tema “areia”. Logo, ele escreveu: “Meus filhos,
ninguém escarneça da criação. O grão de areia é
quase nada, mas parece uma pequenina estrela
refletindo o sol de Deus”. Apesar do espanto dos
colegas e da própria professora, Chico foi proibido
de falar novamente do assunto.
Em 1927, o rumo dos acontecimentos começou
a mudar. Uma de suas irmãs, Maria Xavier, apresentou sintomas de perturbação mental e a família,
desesperada com inúteis esforços médicos, pediu
auxílio para um casal de amigos espíritas: José
Hermínio e Carmem Pena. Com duas semanas de
tratamento, a irmã estava curada. Então, depois
de acompanhar todos os procedimentos, Chico
começou a freqüentar a Fazenda Maquiné, que
logo se transformou no Centro Espírita Luiz Gonzaga. Recebeu de presente O Evangelho Segundo
o Espiritismo e O Livro dos Espíritos e, a partir daí,
jamais se afastou dos ensinamentos da doutrina.
Emmanuel, o mentor espiritual que o acompanhou desde a infância, só passou a ser percebido
20 anos depois, em uma das reuniões na fazenda.
Dona Carmem ouviu nitidamente uma voz, que se
identificou como ele, pedindo lápis e papel, pois
iria ditar uma mensagem. Desde então, o mentor e
companheiro inseparável nunca mais abandonou
o médium mineiro.
Em entrevista concedida à publicação da FEESP
24
(Federação Espírita do Estado de São Paulo) sobre
os seus 60 anos de mediunidade, Chico Xavier
deu a seguinte declaração: “Tive três períodos
distintos em minha vida mediúnica. O primeiro,
de completa incompreensão para mim, é aquele
dos cinco anos de idade, quando via minha mãe
me proteger, até os 17, quando a doutrina espírita
penetrou em nossa casa. O segundo vai de 1928 a
1931, no qual psicografei centenas de mensagens
que os benfeitores espirituais, mais tarde, determinaram que fossem inutilizadas, porque, na opinião
deles, elas eram apenas esboços de exercícios. O
terceiro período começou com a presença de nosso
abnegado Emmanuel, que, em 1931, assumiu o
encargo de orientar todas as atividades mediúnicas
até agora”.
Obras literárias
O início das produções psicográficas ocorreu
em 1927, porém, atendendo a um pedido de Emmanuel, as mensagens recebidas até 1931 foram
inutilizadas, pois tinham o objetivo de treiná-lo.
Em 1932, a Federação Espírita Brasileira (FEB)
lançou o primeiro livro, Parnaso de Além-Túmulo,
uma coletânea de poemas mediúnicos de grandes
escritores, como Castro Alves, Casemiro de Abreu,
Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Manuel Quintão,
Arthur Azevedo, entre outros. O fato causou um
grande furor por todos os cantos. Questionava-se
como um homem de tão pouca instrução, semianalfabeto, podia produzir tal obra. Apenas a
espiritualidade explicaria tamanho fenômeno. A
FEB ficou anos sem publicar outras obras, alegando
cautela doutrinária. Por causa disso, Chico Xavier
enfrentou inúmeras dificuldades para colocar os livros psicografados em circulação, mas, felizmente,
as publicações foram retomadas posteriormente e
se consagraram em todos os cantos do planeta.
Chico era um homem de pouca instrução escolar, mas isso não o impediu de psicografar textos
de diversos autores, entre eles, André Luiz, Emmanuel, Auta de Souza, Bezerra de Menezes, Meimei
e Humberto de Campos. As mensagens deste
último geraram problemas jurídicos envolvendo
sua família, que entrou com processo visando o
recebimento de direitos autorais. No entanto, o juiz
encarregado de decidir o caso declarou que os mortos não possuíam direitos e, portanto, a família não
deveria receber nada. Para evitar maiores problemas depois do fato, Humberto de Campos passou
a assinar suas psicografias como “Irmão X”.
Durante tantos anos de trabalho, críticas e
dificuldades também fizeram parte da história de
Chico Xavier. Porém, com humildade e resignação,
ele jamais teceu um comentário sequer contra calúnias ou difamações, nem mesmo com relação às
denúncias de desvio de verbas ou agressões físicas
envolvendo seu filho adotivo, o dentista Eurípedes
Humberto Higino dos Reis, e sua nora.
A vasta obra mediúnica, dirigida pelo iluminado
espírito de Emmanuel, consolidou a divulgação do
evangelho de Jesus e deu continuidade às obras de
Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. No final
da década de 50, Chico se mudou para Uberaba
(MG) por motivos de saúde. No Grupo Espírita da
Prece, recebeu o maior número de mensagens de
caráter científico, filosófico e doutrinário. Além disso, suas obras psicografadas foram transformadas
em peças de teatro e filmes. O médium mineiro,
inclusive, chegou a fazer uma participação especial
na novela O Profeta, de Ivani Ribeiro, na extinta
TV Tupi.
Durante anos, Chico Xavier sofreu silenciosamente. Com um corpo frágil e debilitado, apresentou diversos problemas de saúde ao longo da vida.
Tinha angina, que enfraqueceu sua resistência
física, agravada por pneumonias e problemas cardíacos, crises de labirintite, glaucoma (que o deixou
cego de um olho), dificuldades para se locomover
e falar etc. Há algum tempo, ele recebia cuidados
especiais do médico particular e amigo, Eurípedes
Tahan, e de enfermeiros.
Sempre com um ar de tranqüilidade estampado
no rosto e uma palavra de conforto para qualquer
pessoa que o procurasse, Chico resistiu bravamente até os seus últimos dias, com uma inigualável
abnegação em favor do próximo. Cumpriu bem os
postulados espíritas de “amar ao próximo como
a ti mesmo” e de que “fora da caridade, não há
salvação”. Sem sombra de dúvida, sua presença
deixará saudades, porém, seu exemplo de caridade
permanecerá vivo na memória de todos nós. Por
mais que se fale sobre essa figura doce e meiga
que foi Chico Xavier, não é possível traduzir em
palavras o bem imenso que ele proporcionou para
toda a humanidade.
Devemos esclarecer, ainda, que não foram
somente os médiuns biografados neste artigo que
trabalharam nestes setores, mas muitos outros também se sacrificaram, grandemente, os quais deixamos de citar (como José Arigó, por exemplo), pois
nosso trabalho visa tão somente dar ligeira noção
sobre alguns médiuns do passado, não permitindo,
dessa forma, citação de todos os grandes missionários da Espiritualidade, que deram o melhor de
seus esforços, não só no campo de mediunidade,
como também abrangendo outros aspectos da
doutrina espírita.
25
Elementos gerais
do universo
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
27
Fluido Cósmico
É a matriz que dá origem à todas as diferentes combinações
químicas, materiais, inclusive, é a base de
energias sutis como o fluido vital
Por Edvaldo Kulcheski
T
odos nós vivemos em um universo constituído
por partículas, raios e ondas que não conseguimos perceber normalmente. Estamos imersos
em um mundo de matéria sutilizada, refinada e
invisível, porém, real, que tem como fonte uma
substância denominada Fluido Cósmico Universal.
Portanto, estamos vivendo em um universo que se
apresenta sob duas formas: uma visível ou material,
na qual habitam os seres encarnados ou materiais,
e outra invisível ou imaterial, na qual habitam os
desencarnados.
No universo visível, os fenômenos ocorrem dentro de certos limites, segundo determinadas leis.
A matéria se apresenta, basicamente, sob quatro
estados reconhecidos pela Ciência: sólido, líquido,
gasoso e “radiante”. Como vemos, o universo visível apresenta determinados estados da matéria em
condições de invisibilidade para os cinco sentidos
humanos. Aquilo que não podemos sentir normalmente pelos sentidos de que somos dotados é
percebido ao usarmos determinados instrumentos,
ou mesmo por meio de cálculos matemáticos.
O mundo imaterial ou invisível começa justamente onde o visível termina, pois tudo segue um
plano perfeito de continuidade na natureza. No
universo invisível, igualmente ocorrem fenômenos
que seguem leis reveladas pelos seres que nele
habitam. O Fluido Cósmico Universal é a matéria
elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos
corpos existentes na natureza.
O universo “imaterial”, invisível ou espiritual
também é composto por algo material, substância ou
elemento, que, no caso, são os fluidos. Eles têm uma
estrutura, uma forma de agregação e composição
de acordo com as vibrações sofridas, apresentando
propriedades especiais. Existem vários estados e
formas com os quais os fluidos se apresentam, cada
um com propriedades específicas, mas todos eles
28
são originários do fluido universal.
Como princípio elementar, o Fluido Cósmico
Universal assume dois estados distintos: de eterização ou imponderabilidade (que se pode considerar
como o primitivo estado normal) e o de materialização
ou ponderabilidade (que, de certa maneira, é consecutivo do primeiro).
No estado de eterização, o Fluido Cósmico
Universal, sem deixar de ser etéreo, passa por
modificações variadas em seu gênero, mais numerosas que no estado de matéria tangível. Tais
modificações constituem fluidos distintos, dotados
de propriedades especiais e que dão lugar aos
fenômenos particulares do mundo invisível. Por
serem formas energéticas, os fluidos estão sujeitos
à impulsão da mente tanto do encarnado como do
desencarnado.
Para os espíritos, certos fluidos têm uma aparência material tanto quanto os objetos tangíveis
têm para os encarnados. São para eles o que as
substâncias do mundo terrestre representam para
nós, ou seja, os espíritos elaboram os fluidos e os
combinam para produzir determinados efeitos.
A vida espiritual e a vida material se encontram incessantemente em contato, tanto que,
fenômenos das duas categorias muitas vezes são
produzidos simultaneamente. Como reencarnado,
o homem pode perceber os fenômenos psíquicos
que se prendem à vida corpórea. Como vemos, é
através do corpo que percebemos os fenômenos
de nosso meio material e é pela percepção fluidica
ou mediunidade, inerente a todos os seres, que o
espírito encarnado capta as ocorrências do mundo
espiritual.
Para os espíritos, o pensamento e a vontade são
o que a mão representa para o homem. Pelo pensamento, imprimem ao fluido esta ou aquela direção;
aglomeram, dispersam, combinam e mudam suas
propriedades. Sob o ponto de vista moral, trazem
Universal
impressões de vários sentimentos, como amor,
bondade, caridade, doçura, benevolência, ódio,
inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, hipocrisia, etc,
enquanto que sob o aspecto físico, são condutores,
excitantes, calmantes, reparadores, transmissores,
entre outros.
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais como o dos desencarnados, transmitindo-os de espírito para espírito pelas mesmas
vias. Conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os
fluidos do ambiente. O perispírito dos encarnados
é de natureza idêntica à dos fluidos espirituais,
assimilando-os com facilidade. Tais fluidos agem
sobre o perispírito e este, por sua vez, reage sobre
o organismo com o qual está em contato molecular.
Se os eflúvios forem de boa natureza, o corpo terá
uma impressão salutar, caso contrário, a impressão
será penosa.
Fluido vital
O fluido vital é a energia auxiliar adquirida para
a manutenção da vida. Esta energia é extraída do
Fluido Cósmico Universal, que absorvemos automática e inconscientemente por várias portas de
entrada, destacando-se a respiração, a alimentação
e os centros de força vital, os chamados chakras.
Ao ser absorvido por um destes centros de força,
o Fluido Cósmico Universal é metabolizado em
fluido vital e canalizado para todo o organismo
com maior ou menor intensidade, de acordo com
o estado emocional da criatura.
A quantidade de fluido vital não é a mesma em
todos os seres orgânicos, bem como não é constante em cada um ou em todos os indivíduos de uma
mesma espécie. Ela se esgota se não for renovada
pela absorção e assimilação das substâncias que o
contém ; o fluido vital se transmite de um indivíduo
para outro. No processo de irradiação ou passes
magnéticos, transmitimos aos outros, por meio de
nossa vontade, a carga de força vital que dispomos
para doar.
O magnetismo é a força que edifica e coordena as moléculas físicas, ajustando-as de modo a
comporem as formas em todos os reinos: mineral,
vegetal, animal e hominal. Sem ele, não haveria
coesão molecular, pois congrega todas as células
independentes e as interliga em íntima relação.
Assim como o cimento une os tijolos de um prédio,
é o elo que associa os átomos, as moléculas e as
células.
A manifestação do fluido vital se dá conforme a
necessidade e a natureza vibratória de cada plano
em que o espírito atua, plasmando as múltiplas
formas de vida.
Absorvemos do cosmo os fluidos vitais em seu
estado mais puro, e estes, ao ingressarem em nosso
organismo perispiritual, entram em reação com as
ondas que se produzem através do que pensamos
e do que sentimos. Nesse processo metabólico,
os fluidos em estado puro que foram absorvidos
adquirem as características apropriadas do que
pensamos e sentimos, ou seja, se pensamos e
sentimos coisas boas, os fluidos se tornam leves e
sutis, deixando-nos bem, caso contrário, tornanse pesados e densos, deixando-nos mal. Também
absorvemos os fluidos que já foram metabolizados
e que são irradiados por outras pessoas, os quais
passam a ter nossas características somadas às
propriedades vindas desses seres.
29
Especial
O médium em
desdobramento pode
deslocar seu perispírito
apenas alguns centímetros do corpo físico
denso ou se projetar a
grandes distâncias
30
Perispírito
O espírito é envolvido por corpos, do mais sutil ao mais
material. A frequência vibratória de cada um deles
está relacionada com a dimensão em que atuam
Por Edvaldo Kulcheski
D
e acordo com as concepções espiritualistas, o
espírito, na condição de foco inteligente e diretor da vida, encontra-se envolvido por vários
campos energéticos, cada qual a vibrar na dimensão
espacial que lhe é própria, sendo o campo físico a
camada mais externa e mais densa da complexidade
humana. Com o objetivo de facilitar o entendimento
da seriação energética do homem, Allan Kardec resumiu o assunto denominando como “perispírito” tudo
aquilo que reveste a essência espiritual do ser, ou
seja, que se encontra interposto entre o espírito e o
campo físico. Desta maneira, o perispírito representa
todos os corpos que envolvem o espírito quando este
está desencarnado.
Nosso espírito está envolto por muitos corpos, que
se subdividem de acordo com as várias dimensões
em que atuamos. À medida que ocorre a evolução
do espírito, esta se caracteriza pela desmaterialização progressiva dos envoltórios mais densos, ou
seja, o espírito evoluído não precisa das camadas
que estão ligadas mais intimamente à matéria mais
densa, esvaindo-se com sua inutilidade. No entanto,
o envoltório mais próximo do espírito não se perde, já
que, por mais evoluído que seja, ele terá no mínimo
uma camada a lhe envolver e dar forma.
Como exemplo, temos o caso daquele espírito
que desencarna e não precisa mais reencarnar. Ele
perde a necessidade de algumas funções do corpo
espiritual mais denso e, assim, estas camadas vão se
extinguindo. É por isso que espíritos mais evoluídos
encontram dificuldades para trabalhar junto à crosta
terrestre ou agir mais diretamente nos umbrais, pois
estas atividades são muito densas para seu corpo
espiritual mais sutil.
Estudando o homem de acordo com o Espiritismo,
André Luiz estabeleceu que ele é composto pelo corpo, pelo duplo etérico ou biossoma, pelo perispírito
ou psicossoma, pelo corpo mental e pelo espírito. Já
na definição do dr. Jorge Andréa dos Santos, médico
e renomado escritor espírita, o homem é formado
pelo corpo físico, pelo duplo etérico, pelo perispírito, pelo corpo mental, pelo inconsciente atual, pelo
inconsciente passado ou arcaico e pelo inconsciente
puro ou espírito.
O perispírito
O perispírito é uma condensação do fluido cósmico
universal em torno de um foco de inteligência ou
alma. É o envoltório semimaterial do espírito, o laço
que o une à matéria do corpo. Diz-se que o perispírito
é semimaterial porque pertence à matéria pela sua
origem (fluido universal) e à espiritualidade pela sua
natureza etérea.
Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível, porém, ele pode sofrer modificações
que o tornam perceptível e até tangível, ou seja,
possível de ser visto e tocado. O perispírito é formado
com os elementos contidos nos fluidos ambientais de
cada mundo, de onde se deduz que seus elementos
constitutivos variam conforme os mundos aos quais
estão ligados.
A natureza do perispírito sempre está relacionada
ao grau de adiantamento moral do espírito. Desta
forma, conforme a maior ou menor depuração do ser,
seu perispírito se formará das partes mais puras ou
mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo no qual
ele venha a encarnar.
O perispírito não está preso aos limites do corpo.
Por sua natureza fluídica, ele é expansível, irradiando
para o exterior e formando em torno do corpo uma
atmosfera que o pensamento e a força de vontade
podem dilatar com maior ou menor intensidade.
Como o perispírito dos encarnados é de natureza
idêntica à dos fluidos do mundo espiritual, ele os
assimila com facilidade, semelhante a uma esponja
que absorve um líquido. Quando esses fluidos atuam
sobre o perispírito, este reage sobre o organismo
material com o qual está em contato molecular. Se
os eflúvios são de boa natureza, o corpo sente uma
31
Especial
O perispírito é o modelo
organizador biológico, pois é
em sua intimidade energética
que se agregam as células e se
modelam os órgãos
impressão salutar, mas se são maus, a impressão é
penosa. Caso sejam permanentes e enérgicos, os
eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas, o
que explica a causa de certas enfermidades.
O perispírito é o organismo que personaliza e
individualiza o espírito, identificando-o quanto à
aparência. Após a morte, a alma jamais perde sua
individualidade, apesar de não possuir mais o corpo material, enquanto que o perispírito guarda a
aparência de sua última encarnação. É por ele que
um ser abstrato, como é o espírito, torna-se um ser
concreto, definido pelo pensamento.
Molde do corpo físico
Pode-se afirmar que o perispírito é o esboço, o
modelo a partir do qual se desenvolve o corpo físico.
Ele também é o modelo organizador biológico, pois
é em sua intimidade energética que se agregam as
células e se modelam os órgãos, proporcionando-lhes
o pleno funcionamento.
Para atuar na matéria, o espírito precisa desta. Em virtude de sua natureza etérea, o espírito
propriamente dito não pode atuar sobre a matéria
grosseira sem algo ou alguém que o ligue a ela. Esse
intermediário, que chamamos de perispírito, faculta
a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem
material. Portanto, ele é o órgão de manifestação
utilizado pelo espírito para efetuar suas comunicações com o plano dos espíritos encarnados.
É comum encontrarmos alguns autores espíritas
que confundem atributos do espírito como sendo do
perispírito. A sede da memória é um deles. Segundo
Allan Kardec, é o espírito que possui a sede da memória, pois ele é o ser inteligente, pensante e eterno.
Sem ele, o perispírito é uma matéria inerte, privada
de vida e sensações.
É importante lembrar que, ao passarem de um
mundo para outro, os espíritos mudam de perispírito
de acordo com a natureza dos fluidos ambientes.
Se a sede da memória residisse no perispírito, o
espírito a perderia cada vez que precisasse mudar
a constituição íntima de seu envoltório fluídico. A
mesma coisa se dá quando nos referimos à sede da
sensibilidade. É o espírito quem ama, sofre, pensa,
é feliz, triste, ou seja, é nele que residem todas as
32
sensações ou faculdades. O perispírito é apenas o
órgão que transmite todas essas sensações, portanto,
é um instrumento a serviço do espírito. Logo, segundo
Kardec, é incorreto dizer que no perispírito ficam
marcadas ou gravadas certas memórias ou atos do
espírito durante sua vida. Como já vimos, o perispírito
é matéria, não pensa e não tem memória, atributos
pertencentes ao espírito.
Os órgãos do perispírito
Pela simples observação do corpo físico, pode-se
deduzir que o perispírito também possui algo semelhante a órgãos, isto é, conjuntos de moléculas cuja
configuração especial é destinada à execução de determinadas funções. Tais aglomerados moleculares,
evidentemente, são apropriados ao funcionamento
na vida extrafísica, promovendo a captação e assimilação de energias e fluidos necessários à sua manutenção, que se processam de modo essencialmente
diverso da vida física.
Por isso mesmo, os órgãos do perispírito não
podem ser iguais aos do corpo denso, mas determinam, pelas linhas de força que os caracterizam, a
conformação e distribuição funcional destes últimos,
os quais estão adaptados à execução e às funções específicas conforme a evolução biológica. Os órgãos do
perispírito podem ser lesados pela ação desordenada
ou maléfica da mente do ser.
O gênero de vida de cada indivíduo carnal determina a densidade do organismo perispirítico após a
perda do corpo denso. O mundo espiritual guarda
íntima ligação com o progresso moral que realizamos.
À medida que crescemos moralmente, nosso perispírito vai ficando gradativamente mais leve e, assim,
podemos nos movimentar em planos mais sutis.
1
Pesquisadores
pioneiros espíritas
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
33
Willian Crookes
Cientista dos espíritos
Maria Aparecida Romano
Q
uando se diz que William Crookes foi o maior
químico da Inglaterra e um dos mais ilustres
cientistas do século XIX, é preciso acrescentar
à sua gloriosa trajetória o fato de seu nome
ser constantemente mencionado como um dos mais
corajosos pesquisadores dos fenômenos supranormais, devido às relevantes e pioneiras experiências
no campo da fenomenologia espírita.
Nascido em 17 de junho de 1832, em Londres,
Crookes sentiu-se atraído logo cedo pelas ciências
experimentais, destacando-se no Colégio Real de
Química, onde estudou. Posteriormente, foi convidado para exercer o cargo de inspetor de meteorologia do observatório de Radcliff. Após se casar
aos 23 anos de idade, fixou residência em Londres,
época em que assumiu a cadeira de química na
Universidade de Chestere, passando a publicar
artigos científicos em revistas especializadas.
Em 1861, coroando seu incansável trabalho com
pesquisas, Crookes ficaria mundialmente conhecido e respeitado ao isolar o tálio, metal branco
que se aproxima do chumbo por sua cor e dureza,
e determinar suas propriedades físicas. Inventando
os “tubos Crookes”, explicou os raios catódicos,
raios invisíveis que se propagam rapidamente e
penetram nos corpos. Em 1872, após persistentes
estudos em torno do espectro solar, construiu o
radiômetro, a fim de estudar melhor a aparente
ação repulsiva dos raios luminosos. Descobrindo
um novo tratamento para o ouro, determinou
também o quarto estado da matéria, apresentando
ao mundo a Teoria da Matéria Radiante, que se
tornaria o “conceito de fluidos”.
Químico e físico por excelência, William
Crookes exerceu importantes cargos em diversas
sociedades eruditas, como presidente da Sociedade Real de Química, do Instituto de Engenharia
Eletricista, da Sociedade Britânica e da Sociedade
de Investigações Psíquicas. Por causa de suas
relevantes descobertas, foi recompensado com
merecidos prêmios pela Academia de Ciências da
34
França, recebendo ainda a medalha de ouro da
Socidade Real, a medalha Davy e a medalha Sir
G. Coprey. Por fim, foi condecorado pela Ordem
do Mérito da Inglaterra e, em 1897, agraciado pela
rainha Vitória com o título de Sir.
Próximo dos 40 anos de idade, Crookes se
tornou um dos nomes mais respeitados da época,
não só na Inglaterra, mas em todo o mundo. Dedicado, perfeccionista e com uma comprovada fibra
de pesquisador, teve suas experiências aceitas
sem a menor contestação, legando inestimáveis
obras ao mundo científico e expondo todo o seu
conhecimento. O livro Métodos Seletos de Análise
Química se transformou em um dos mais completos
do gênero. Deve-se também a ele a fundação de
importantes órgãos de divulgação, como o Chemical News e o Quartely Journal of Science.
Enquanto isso, uma nova luz brilhava nos horizontes mentais do mundo. Na França, Hippolyte
Léon Denizard Rivail, conhecido posteriormente
como Allan Kardec, professor de várias disciplinas
científicas e portador de uma ampla cultura, estabeleceu a origem dos fenômenos espirituais, provocando uma série de controvérsias e polêmicas.
O lado científico que caracterizava a nova
doutrina, chamada por ele de Espiritismo, chamou
a atenção de renomados cientistas ingleses, que
iniciaram pesquisas no campo da fenomenologia
mediúnica com resultados positivos. No entanto,
fazendo prevalecer a razão que sempre o caracterizou, William Crookes recebeu os fatos com
naturalidade e, sem empregar subterfúgios, utilizou-se de atitudes corajosas e definitivas para
fazer ressalvas ao trabalho deles.
Em 1896, o cientista recebeu a visita do professor Daniel Dunglas Home, famoso médium
inglês que realizava especificamente o fenômeno
de levitação. Procedente de São Petesburgo, na
Rússia, entregou-lhe uma carta do professor Butleroff, um conhecido pesquisador de fenômenos
parapsicológicos, cujo texto solicitava a Crookes
que aplicasse todo o seu cabedal de conhecimentos
para a causa da nova doutrina.
Então, com o mesmo espírito pesquisador que
o celebrizou no campo científico, William Crookes
passou imediatamente a realizar as primeiras investigações sobre fenômenos espirituais. Para isso,
contou com a valiosa colaboração dos médiuns J.
J. Morse e sra. Marshall, que serviram de instrumentos, além de uma jovem inglesa que se tornaria
muito importante.
A materialização de Katie King
Nascida em 1856, Florence Cook tinha apenas
15 anos de idade quando se apresentou a William
Crookes para servir como medianeira para as pesquisas científicas realizadas por ele. Tinha contra si
e sua corajosa atitude o parecer de um cavalheiro
inglês, Sir Wolckmann, que havia lhe imputado
suspeitas de fraude. Entretanto, contando com o
auxílio da esposa do cientista, a jovem Florence
se submeteu às experimentações científicas, com
o objetivo de comprovar sua mediunidade.
Em 22 de abril de 1872, ocorreu a primeira
materialização do espírito Katie King, fato que
contou com a presença da mãe, de alguns irmãos
e da criada da médium. A partir daí, com a manifestação regular desse espírito, a senhorita Cook
se prontificou a colaborar com todo gênero de
identificações, visando acabar com a descrença
que Crookes ainda alimentava.
Gradualmente, as famosas manifestações de
Katie King foram proporcionando belíssimas sessões, tudo dentro da maior seriedade e nos moldes
previstos pela doutrina espírita. As experiências
levadas a efeito ganharam tamanha notoriedade
que abalaram o mundo científico. Enquanto isso,
Crookes trabalhava incessantemente, aprofundando-se nas investigações e tendo em sua esposa
uma auxiliar direta e eficiente.
Quando constatou que os casos eram verídicos,
ele não hesitou em expor seu nome consagrado,
passando a se dedicar com seriedade e amor à
tarefa investigativa, além de receber apoio moral
e intelectual. Embora cientistas de renome tenham
hesitado em proclamar a verdade mesmo diante da
veracidade dos fatos, temendo as conseqüências,
eles se calaram em respeito a Crookes e tudo que
ele representava.
Então, em 16 de junho de 1871, Sir William
Crookes entregou pessoalmente à rainha Victória
um relatório no qual confirmava a veracidade dos
fenômenos espíritas, através dos fatos ocorridos
com a jovem médium Florence Cook.
William Crookes desencarnou em Londres em
04 de abril de 1919, aos 86 anos de idade. Seu
nome sempre foi sinônimo de respeito no campo
científico em virtude de suas atitudes arrojadas
e definidas. Quando se tornou espírita convicto,
durante sua trajetória não menos brilhante, soube
explorar como ninguém o lado científico que a
doutrina oferece. Em sua obra espírita, nota-se
muito claramente os fortes reflexos do cientista
que, com idéias nobres, desempenhou a missão
que lhe foi designada na Terra.
Crookes legou uma notável contribuição para
todos aqueles que defendem a imortalidade da
alma, a ponto de ser mencionado como um dos
pesquisadores mais corajosos dos fenômenos supranormais. Seu livro Fatos Espíritas, um valioso
repositório de verdades comprovadas, não encontrou opositores. Nele, há uma súmula de trabalhos
publicados pelo cientista em 1874 nas páginas do
Quartely Journal of Science, nos quais expõe, de
modo convincente, que o fenômeno de materialização de entidades representa a prova real da
grandeza divina.
35
BOZZANO
O CIENTISTA DA ALMA
DE MATERIALISTA
CONVICTO À GRANDE
DEFENSOR DO
ESPIRITISMO,
BOZZANO DEIXOU UMA OBRA
DE INCALCULÁVEL VALOR
PARA À HUMANIDADE
Jon Aizpúrua
[email protected]
E
minente pensador e cientista italiano, nascido a
9 de janeiro de 1862 na
cidade de Gênova e falecido
na mesma cidade no dia 24 de
junho de 1943. Ernesto Bozzano aos quinze anos de idade
já demonstrava uma vocação
para o estudo e se interessava
por filosofia, psicologia e todas
as ciências naturais. Queria encontrar respostas, às múltiplas
perguntas que agitavam sua
alma juvenil, sobre a natureza
humana e o sentido da vida.
Por falta de apoio familiar não
pôde seguir os estudos superiores, mas seu apaixonado amor
pelo saber levaram-no a obter
com esforço próprio uma sólida
formação filosófica e científica.
Estudou também por sua conta
a língua inglesa, dominando-a
perfeitamente. Inicialmente,
seu pensamento apresentou
tendência para o materialismo e
para o positivismo, influenciado
pelas doutrinas de Comte e de
Spencer, as quais chegou a professar com fervor e intransigên-
36
GÊNOVA É MUNDIALMENTE FAMOSA PELOS SEUS
ASPECTOS HISTÓRICOS
cia. Admirava acima de tudo o
eminente filósofo inglês, a quem
considerava como “o Aristóteles
dos tempos modernos”, por haver
construído uma impressionante
síntese de todo o conhecimento
humano.
Anos depois confessaria: “Fui
um positivista-materialista a tal
ponto convencido que me parecia inverossímil que existissem
pessoas cultas, dotadas de bom
senso, que pudessem crer na
existência e sobrevivência da
alma”.
Em 1891, o senhor Théodule
Ribot, professor da Sorbone e
diretor da Revue Philosophique,
informou-o do lançamento da
revista Annales des Sciences
Psychiques, dirigida pelo Dr.
Dariex e sob a orientação do
professor Charles Richet. O professor Ribot exortava-o à leitura
da revista com atenção, pois ali
se estava propondo um novo
enfoque para a psicologia, com a
incorporação dos fenômenos supranormais. Sua primeira reação
foi de desconforto, pois considerava um verdadeiro escândalo
que representantes da ciência
oficial discutissem seriamente a
possibilidade da transmissão do
pensamento ou a aparição de fantasmas. Mas a leitura demorada
dos Anais foi removendo progressivamente seus preconceitos,
obrigando-o a mudar de opinião.
Posteriormente, Bozzano e Richet
mantiveram com regularidade
uma correspondência franca e
afetuosa.
Nesse período apareceu o
famoso livro de Gurney, Podmore e Myers, Phantasms of the
Living (Fantasmas dos Vivos) em
tradução para o francês com o título modificado de Hallucinations
Télépatiques (Alucinações Telepáticas) onde um grande número
de casos comprovados sobre
telepatia, clarividência, premonição, telecinesia, desdobramento,
aparições e mediunismo em geral eram apresentados. Bozzano
estudou meticulosamente a obra
e começaram a dissipar-se as
dúvidas que o afligiam. Outra
obra que exerceu uma influência
significativa sobre Bozzano foi
Animismo e Espiritismo, do grande investigador russo Alexander
Aksakof. Daí em diante dedicouse a estudar sistematicamente
os fatos espíritas, tomando como
roteiro as obras de Kardec, Denis,
Delanne, Gibier, Crookes, Wallace, Du Prel e outros eminentes
investigadores das ciências psíquicas.
EM BUSCA DA COMPROVAÇÃO
Quando já havia adquirido
um amplo conhecimento teórico,
considerou Bozzano ter chegado
o momento de comprovar os fatos
mediante experiências próprias.
Em janeiro de 1899, fundou o
Círculo Científico Minerva, um
grupo experimental dedicado à
verificação dos fenômenos psíquicos e mediúnicos com a participação de vários professores da
Universidade de Gênova.
Durante cinco anos, graças
ao intenso trabalho efetuado,
“NEM LIVRE-ARBÍTRIO,
NEM DETERMINISMO
ABSOLUTOS DURANTE
A ENCARNAÇÃO
DO ESPÍRITO,
MAS LIBERDADE
CONDICIONADA”
DO LIVRO OS
FENÔMENOS
PREMONITÓRIOS
aquele seleto grupo deu muito
o que falar à imprensa italiana
e mundial, tanto pela qualidade
dos fenômenos que ali ocorriam
como pelo rigor científico com
que eram estudados. Apresentaram-se manifestações mediúnicas impressionantes, tanto de ordem intelectual como física, tais
como a psicofonia, psicografia,
xenoglossia, voz e escrita diretas,
levitação e, inclusive, a mate-
37
PROSSEGUINDO NA EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DOS
RESULTADOS OBTIDOS,
NOTO QUE O EXAME
DOS FATOS NOS LEVOU
A ESTABELECER QUE JÁ
NÃO É LÍCITO DUVIDAR
DA EXISTÊNCIA DE UMA
“INFLUÊNCIA PESSOAL
HUMANA” REGISTRADA
PELOS OBJETOS E PERCEPTÍVEL AOS SENSITIVOS, E CUJA “INFLUÊNCIA” SERVE PARA ESTABELECER A “RELAÇÃO”
ENTRE O SENSITIVO E O
POSSUIDOR DO OBJETO
PSICOMETRADO, DE
CUJO SUBCONSCIENTE
O SENSITIVO EXTRAI,
TELEPÁTICA E QUASE
INTEGRALMENTE, OS
APONTAMENTOS
FORNECIDOS
DO LIVRO ENÍGMAS DA
PSICOMETRIA
rialização. O desenvolvimento
das sessões no Círculo Minerva
e seus resultados tornaram-se
conhecidos pelo trabalho de seus
vários experimentadores, em diversos fascículos, monografias e
livros, constituindo um material
muito valioso para a bibliografia
especializada no tema.
Bozzano passou quase uma
década estudando, analisando,
comparando, antes de começar a
escrever e publicar. Seu primeiro
artigo intitulado “Espiritualismo
38
e Crítica Científica”, apareceu
em dezembro de 1899 na Rivista
di Studi Psichici, que era editada
em Turim sob a direção de Cesar
Baudi de Vesme, e que simultaneamente era editada em francês
com o nome de Revue des Etudes
Psychiques. A partir daí, e por
mais de quarenta anos, trabalhando num ritmo intenso de 14
horas diárias, levando uma vida
austera e disciplinada, consagrou-se à redação de artigos, monografias e livros que, se fossem
reunidos em volumes de tamanho
médio, chegariam ao respeitável
número de 15.000 páginas. Fortalecido em seus argumentos,
valente em suas informações,
Bozzano proclamou a veracidade
das teses espíritas e enfrentou
com sua argumentação clara e
serena os preconceitos acadêmicos e a aversão religiosa.
UM POUCO DE SUA OBRA
Pela sua amplitude e por estar
dividida em centenas de artigos
publicados em revistas espíritas
e metapsíquicas do mundo não é
possível apresentar uma relação
completa de sua obra escrita. Não
existe tema vinculado à investigação psíquica que tenha escapado
a sua observação e análise. Aqui
relacionamos alguns livros mais
conhecidos e divulgados: Hipótese Espírita e Teoria Científica,
Casos de Identificação Espírita,
Fenômenos Premonitórios, Os
Enigmas da Psicometria, Comunicações Mediúnicas entre os
Vivos, Defesa do Espiritismo,
Cérebro e Pensamento; Pensa-
mento e Vontade, Manifestações
Supranormais entre os Povos
Primitivos, A Crise da Morte, Fenômenos Psíquicos no Momento
da Morte, Literatura depois da
Morte, Fenômenos de Transportes, Xenoglossia (Mediunidade
Poliglota); Breve História dos
Raps; Fenômenos de Bilocação;
Fenômenos de Assombração;
Animismo ou Espiritismo? , A
Verdade sobre a Metapsíquica
Humana; A Morte e seus Mistérios; Manifestações Metapsíquicas nos Animais.
Quando foi necessário sair em
defesa do Espiritismo, não hesitou
em discutir com os mais ardentes
contraditores, defendendo seus
argumentos com a força do raciocínio e apoiando sobre os fatos
todas as suas afirmações, sem
deter-se em discussões estéreis
ou na desqualificação pessoal de
seus adversários, a quem sempre
ofereceu sua amizade. Assim
ocorreu com Sudré, Morselli,
Mackenzie e outros estudiosos
contrários à interpretação espírita, que sempre demonstraram
respeito à inteligência e às qualidades morais de Bozzano. O
próprio Richet confessou-lhe em
uma carta que foram suas monografias que o fizeram vencer seu
ceticismo a respeito da existência
e imortalidade do espírito.
Ernesto Bozzano é, sem dúvida, o maior representante italiano
do Espiritismo. Sua contribuição
a esta “Ciência da Alma” assim
chamada por ele, à Metapsíquica
e à Parapsicologia é inestimável,
contribuindo também na formulação de seus princípios teóricos
e em sua demonstração experimental. Seu trabalho constitui
uma das mais poderosas demonstrações a favor do reconhecimento da idéia transcendente que
haverá de orientar o ser humano
em sua ascensão evolutiva: a
sobrevivência e continuidade do
espírito depois da morte.

LÉON DENIS
Por Mauro Bueno
39
39


HOMEM! MEU IRMÃO!
VAMOS PARA O MAIS ALTO
MAIS ALTO!
L
éon Denis nasceu numa aldeia chamada Foug, situada
nos arredores de Tours, na
França, no dia 1º de janeiro de
1846. Nascido em uma família
humilde, cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais
e os pesados encargos da família.
Não desperdiçava um minuto sequer de seu tempo com distrações
frívolas, às quais a maior parte
dos homens recorre para passar
as horas.
Desde os seus primeiros passos
neste mundo, sentiu que os amigos
invisíveis o auxiliavam. Ao invés
de participar em brincadeiras
próprias da juventude, procurava
instruir-se o mais possível. Lia
obras sérias, conseguindo assim,
com esforço próprio, desenvolver
a sua inteligência. Tornou-se um
autodidata sério e competente.
O JOVEM LÉON DENIS
Aos 12 anos, concluiu o curso
primário, mas a situação modesta
da sua família não lhe permitiu
grandes estudos. Desde cedo
teve problemas de saúde física,
com os olhos principalmente. Aos
16 anos, salientou-se como um
dos melhores oradores e ardente
propagandista. Aos 18, tornou-se
representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o
obrigava a viagens constantes, situação que se manteve até algum
tempo após sua aposentadoria.
Adorava a música e sempre
que podia assistia a uma ópera
ou concerto. Gostava de dedilhar
ao piano árias conhecidas e de
tirar acordes para seu próprio
devaneio. Não fumava, era quase
exclusivamente vegetariano e
40
40

não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua
bebida ideal.
O PRIMEIRO CONTATO COM
A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS
Era seu hábito olhar com interesse para os livros expostos
nas livrarias. Um dia, ainda com
18 anos, o chamado acaso fez
com que sua atenção fosse despertada para uma obra de título
inusitado. Esse livro era O Livro
dos Espíritos, de Allan Kardec.
Dispondo do dinheiro necessário,
comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se
com avidez à leitura.
O próprio Denis disse: “Nele
encontrei a solução clara, completa e lógica acerca do problema
universal. A minha convicção
tornou-se firme. A teoria espírita
dissipou a minha indiferença e as
minhas dúvidas”.
O seu espírito, nessa hora,
sentiu-se sacudido em face dos
compromissos assumidos no
Espaço, para iniciar, em breve,
o trabalho de propagação das
verdades kardequianas. “Como
tantos outros” – disse ele – “procurava provas, fatos precisos, de
modo a apoiar a minha fé, mas
esses fatos demoraram muito a
chegar. A princípio, insignificantes, contraditórios, mesclados de
fraudes e mistificações que não
me satisfizeram, a ponto de, por
vezes, pensar em não mais prosseguir as minhas investigações.
Mas, sustentado como estava por
uma teoria sólida e de princípios
elevados, não desanimei. Parece
que o invisível deseja experimentar-nos, medir o nosso grau
de perseverança, exigir certa
maturidade de espírito antes de
entregar-nos os seus segredos”.
Encontrava-se em seus trabalhos de experimentações, quando
um importante acontecimento
se verificou em sua vida: Allan
Kardec viera passar alguns dias
na pacata cidade de Tours, com
seus amigos. Todos os espíritas
turenses foram convidados a recebê-lo e a saudá-lo.
AS VIAGENS
As viagens eram para ele uma
fonte de alegria e de aprendizado. Na França e no estrangeiro, aproveitava as oportunidades que poderiam enriquecer
materialmente o patrão, sem
desprezar tudo o que poderia
contribuir para o conhecimento
próprio.
Interessavam-lhe as praças,
os monumentos, o povo, os hábitos, os costumes e a meditação
entre os velhos caminhos das
montanhas. Deliciava-se com os
bosques, com os rios e os lagos.
Estas longas horas de meditação
solitária no seio da natureza conduziram-no a uma mais completa
compreensão de Deus.
Em 1880, pelas cidades e vilas
que percorria por força dos seus
afazeres profissionais, pronunciava conferências e fundava círculos
e bibliotecas populares. É incalculável o número de conferências
por ele proferidas na França, no
propósito de propagar a Liga de
Ensino fundada por Jean Macé.
Na Argélia, onde esteve várias
vezes em serviço, também desenvolveu uma intensa atividade de
divulgação doutrinária.

PARECE QUE O INVISÍVEL DESEJA EXPERIMENTAR-NOS, MEDIR O
NOSSO GRAU DE PERSEVERANÇA, EXIGIR CERTA MATURIDADE DE ESPÍRITO ANTES DE ENTREGAR-NOS OS SEUS SEGREDOS
AS DIFICULDADES
O ano de 1882 marca, em
realidade, o início do seu apostolado, durante o qual teve que
enfrentar sucessivos obstáculos:
o materialismo e o positivismo,
que encaram o Espiritismo com
ironia e risadas, assim como os
crentes das demais correntes
religiosas, que não hesitam em
se aliar aos ateus para ridicularizá-lo e enfraquecer a doutrina
espírita.
Léon Denis porém, como bom
paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis
colocam-se ao seu lado para o
encorajar e exortá-lo à luta. “Coragem, amigo” – diz-lhe o espírito
Jeanne – “estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar.
Jamais estarás só. Meios ser-teão dados, em tempo, para bem
cumprires a tua obra”.
Em 2 de novembro de 1882, dia
de Finados, um evento de capital
importância produziu-se em sua
vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele espírito que,
durante meio século, havia de ser
o seu guia, o seu melhor amigo, o
seu pai espiritual. Era o espírito
Jerónimo de Praga, que lhe disse:
“Vai meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás
de ti para te sustentar”.
E como Léon Denis indagasse
se o seu estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa,
recebeu esta outra afirmativa:
“Coragem, a recompensa será
mais bela”.
A partir de 1884, achou conveniente fazer palestras visando à
maior difusão das idéias espíritas.
Escreveu, em 1885, o trabalho O
Porquê da Vida, no qual explica,
com nitidez e simplicidade, o que
é o Espiritismo.
Em 1892, recebeu um convite
da duquesa de Pomar para falar
de Espiritismo na sua residência,
numa dessas manhãs célebres em
que se reunia quase toda Paris.
Ele ficou indeciso e temeroso.
Depois de muito meditar as responsabilidades, aceitou o convite. Le Journal, de Paris, publicou,
acerca da reunião na casa da
duquesa, a seguinte notícia: “A
reunião de ontem, para ouvir a
conferência de Léon Denis sobre
a doutrina espírita, foi uma das
mais elegantes. De uma eloqüência muito literária, o orador soube
encantar o numeroso auditório,
falando-lhe do destino da alma,
que pode, diz ele, reencarnar até
à sua perfeita depuração. Ele possui a alma de um Bossuet e soube
criar um entusiasmo espiritualista”. Jacques-Benigne Bossuet
foi um célebre bispo francês, da
Companhia de Jesus – jesuíta,
portanto – grande orador nos púlpitos, de fervorosa e impecável
eloqüência católica, nascido em
27 de setembro de 1627. Ardoroso estudante também, realmente
a comparação é, sobretudo, um
elogio respeitável.
O SUCESSO LITERÁRIO
O êxito de seu livro Depois da
Morte situara-o como escritor de
primeira ordem. Os grandes jornais
e revistas ecléticas solicitavam-no
e as tiragens sucessivas desse livro
esgotavam-se rapidamente.
A principal obra literária de
Denis foi a concernente ao Espiritismo, mas escreveu, outrossim,
segundo o testemunho de Henri
Sausse, várias outras, como Tuní-
sia, Progresso, Ilha de Sardenha
etc, certamente fruto das suas
memórias de viagem.
A partir de 1910, a visão de
Léon Denis foi enfraquecendo
dia-a-dia. A operação a que se
submetera, dois anos antes, não
lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava com calma e
resignação a marcha implacável
desse mal que o castigava desde
a juventude. Aceitava tudo com
estoicismo e resignação. Jamais
o viram se queixar. Todavia, bem
podemos avaliar quão grande
devia ser o seu sofrimento.
Mantinha volumosa correspondência e jamais se aborrecia.
Amava a juventude, possuía a
alegria da alma. Era inimigo da
tristeza. O mal físico, para ele,
devia ser bem menor do que a
angústia que experimentava pelo
fato de não mais poder manejar
a pena. Secretárias ocasionais
substituíam-no nesse ofício. No
entanto, a grande dificuldade
para Denis consistia em rever e
corrigir as novas edições dos seus
livros e dos seus escritos. Graças,
porém, ao seu espírito de ordem
e à sua incomparável memória,
superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar
os amigos.
Depois da morte da sua genitora, uma empregada cuidava
da sua pequena habitação. Ele
só exigia uma coisa: o absoluto
respeito às suas numerosas notas
manuscritas, as quais ele arrumava com meticulosa precaução. E
foi justamente por causa dessa
sua velha mania que a duquesa
de Pomar o denominara “o homem dos pequenos papéis”.
Em 1911, após despender não
41 41

pequeno esforço no preparo da
nova edição de O Problema do
Ser, do destino e da Dor, ficou
gravemente doente com uma
pneumonia. Foi o tratamento a
tempo do seu médico que, num
curto espaço de tempo, o colocou
de novo em pé. Contudo uma
grande e profunda dor lhe estava
reservada: veio a Guerra de 191418 e o seu espírito condoía-se ao
ver partir para a frente de batalha
a maioria dos seus amigos.
LÉON DENIS E A PRIMEIRA
GUERRA MUNDIAL
Léon padecia, então, de uma
doença intestinal e estava parcialmente cego. Pela incorporação, os seus amigos do espaço e,
entre eles, um espírito eminente
comunicavam-lhe, de tempos em
tempos, as suas opiniões sobre
essa terrível guerra, considerada
nos seus dois aspectos: o visível
e o oculto.
A guerra a qual se referem
aqui é a Primeira Grande Guerra
Mundial, ocorrida em 1914 . Estas comunicações levaram-no a
escrever um certo número de artigos, publicados na Revue Spirite,
na Revue Suisse des Sciences
Psychiques e no Echo Fid, onde
transparece, dentro da lei de
causa e efeito, o seu grande amor
pela terra onde nasceu. Quando
a guerra se aproximava do fim, a
Revue Spirite passou a publicar,
em todos os seus números, artigos
de Léon Denis.
Após a Primeira Guerra Mundial, aprendeu braile, o que lhe
permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos
que lhe vinham ao espírito, pois,
nesta época da sua vida, estava,
por assim dizer, quase cego.
Em 1915, iniciava ele uma
nova série de artigos, repassados
de poesia profunda e serena,
sobre a voz das coisas, preconizando o retorno à natureza. Nesta
época, um forte vento soprava
contra a Codificação Kardequiana. O fenomenismo metapsiquista espalhava aos quatro ventos a
42
42
Léon Denis e a capa da
edição brasileira de O
problema do ser, do
destino e da dor, publicada pela FEB
doutrina do filósofo puro. Heuzé
fazia muito barulho através do L’
Opinion, com as suas entrevistas e comentários tendenciosos.
Afirmava prematuramente que, à
medida que a metapsíquica fosse
avançando, o Espiritismo iria, a
par e passo, perdendo terreno.
A sua profecia, no entanto, ainda não se realizou. Aliás, como
tantas outras que profetizaram o
fim do Espiritismo.
EM DEFESA DO ESPIRITISMO
Após a vigorosa resposta de
Jean Meyer na Revue Spirite,
Léon Denis, por sua vez, entrou na
discussão, na qualidade de presidente de honra da União Espírita
Francesa, numa carta endereçada
ao “Matin”, na qual estabelecia,
com admirável nitidez, a diferença entre Espiritismo e Metapsiquismo. A partir desse momento,
Léon Denis teve que exercer
grande atividade jornalística para
responder às críticas e ataques de
altos membros da Igreja Católica,
saindo-se, como era de esperar, de
maneira brilhante.
Em março de 1927, com 81
anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de O Gênio
Céltico e o Mundo Invisível. Neste
mesmo mês, a Revue Spirite publicava o seu derradeiro artigo.
Terça-feira, 12 de março de
1927, pelas 13h, respirava Denis
com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A
vida parecia abandoná-lo, mas o
seu estado de lucidez era perfeito.
As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma,
apesar de muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada
Georgette: “É preciso terminar,
resumir e... concluir”.
Fazia alusão ao prefácio da
nova edição biográfica de Kardec. Neste preciso momento,
faltaram-lhe completamente as
forças para que pudesse articular
outras palavras. Às 21h, o seu
espírito alou-se. O seu semblante
parecia ainda em êxtase.
As cerimônias fúnebres realizaram-se no dia 16 de abril. A
seu pedido, o enterro foi modesto
e sem o ofício de qualquer Igreja
confessional. Está sepultado no
cemitério de La Salle, em Tours.
Mediunidade
Conceitos gerais
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
43
O que é
mediunidade?
Entenda quais são as manifestações mediúnicas mais comuns
e qual é a responsabilidade do médium no desenvolvimento
Por Edvaldo Kulcheski e Victor Rebelo
M
ediunidade é a faculdade humana pela
qual se estabelecem as relações entre
homens e espíritos. É uma faculdade
natural, inerente a todo ser humano, por
isso não é privilégio de ninguém. Em diferentes
graus e tipos, todos a possuímos. Aqueles que a
possuem de forma mais objetiva, clara, chamamos
de médiuns ostensivos.
A mediunidade é, pois, a faculdade natural que
permite sentir e transmitir a influência dos espíritos, ensejando o intercâmbio e a comunicação
entre as consciências. Trata-se de uma sintonia,
permitindo a percepção de pensamentos, vontades
e sentimentos. Graças a esse intercâmbio, podemos ter não apenas a certeza da sobrevivência da
vida após a morte, mas também a oportunidade
de atuarmos como intermediários de espíritos
equilibrados, amorosos, que visam o Bem da humanidade. É graças à mediunidade que o homem
tem a antevisão do seu futuro espiritual e, ao mesmo tempo, o relato daqueles que o precederam
na viagem de volta à erraticidade, trazendo-lhe
informes de segurança, diretrizes de equilíbrio e
a oportunidade de refazer o caminho pelas lições
que ele absorve através do contato mantido com
os desencarnados. Assim, possui uma finalidade
de alta importância, porque é graças a ela que o
homem se conscientiza de suas responsabilidades
de espírito imortal.
Sendo inerente ao ser humano, a mediunidade
pode aflorar em qualquer pessoa, independentemente da doutrina religiosa que ela abrace. A história revela grandes médiuns em todas as épocas
e em todos os credos. Além disso, a mediunidade,
enquanto faculdade, não depende de lugar, idade,
sexo ou condição social e moral.
Diz a questão 459 de O Livro dos Espíritos: “Os
44
espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?
A este respeito, sua influência é maior do que podeis
imaginar. Muitas vezes são eles que vos dirigem”.
A idéia da ação dos espíritos não nasceu com o
Espiritismo, já que sempre existiu desde as épocas
mais remotas da vida humana na Terra. Todas as
religiões pregam sobre a ação dos espíritos de uma
forma direta ou indireta, mas nenhuma nega completamente estas intervenções. Inclusive, criaram
dogmas e cerimônias relativas a elas, tais como
promessas (pedir alguma forma de ajuda para um
espírito em troca de um sacrifício) e exorcismos
(cerimônia religiosa para afastar o “demônio” ou
os espíritos perturbados).
A ação dos espíritos
Sua influência não está limitada às sessões mediúnicas. Vivemos, mediunicamente, entre planos
diferentes, dos mais sutis ao mais denso (físico) e
em relação permanente com entidades espirituais,
(que são as pessoas que se manifestam sem um
corpo físico denso, pois se desligaram dele após o
desencarne). Isto se dá porque os espíritos povoam os mesmos espaços em que vivemos, às vezes
acompanham-nos em nossas atividades e ocupações, vão conosco aos lugares que freqüentamos,
seguindo-nos ou evitando-nos. Estamos cercados
por espíritos e sua influência oculta sobre os nossos pensamentos e atos se faz sentir pelo grau de
afinidade que mantivermos com eles. Inúmeros
espíritos benfeitores também se comunicam conosco, inspirando-nos todas as vezes quando nos
dispomos a ser úteis aos nossos irmãos em nossa
vida social. Quantas vezes um conselho sensato e
oportuno que damos sob a intuição de um benfeitor
espiritual consegue mudar o rumo de uma vida
e até, em certos casos, salvar ou evitar que uma
família inteira seja precipitada no abismo de uma
desgraça? O amor verdadeiro e desinteressado não
requer lugar nem hora especial para ser praticado,
pois o nosso mundo, com o sofrimento da humanidade torturada, é igualmente um vasto campo
de serviço redentor. Portanto, a mediunidade não
existe para o simples passatempo ou satisfação de
nossos caprichos.
Todo médium iniciante, a fim de evitar inconvenientes na prática mediúnica, primeiramente
deve se dedicar ao indispensável estudo prévio
da teoria e jamais se considerar dispensado de
qualquer instrução, já que poderá ser vítima de
mil ciladas que os espíritos mentirosos preparam
para lhe explorar a presunção.
Após o conhecimento teórico, deve procurar
desdobrar a percepção psíquica sem qualquer
receio. Na orientação do desenvolvimento mediúnico, é importante que procuremos as instruções
espíritas para evitarmos dissabores e percalços.
É aconselhável o desenvolvimento mediúnico
em grupos especialmente formados para isto, pois
pessoas bem orientadas, que se reúnem com uma
intenção comum, formam um ambiente coletivo
favorável ao intercâmbio. É aconselhável ainda que
o médium jamais abuse da mediunidade, empregando-a para a satisfação da curiosidade.
45
Mediunidade
Chico Xavier: o maior fenômeno da
psicografia no mundo, com mais de 400 obras
prévio do médium ou um certo amadurecimento
psicológico, é preciso orientá-lo para que os fenômenos sejam disciplinados e ele empregue acertadamente sua faculdade. Não se deve colocar em
trabalho mediúnico quem apresente perturbações
ou quem tenha desconhecimento sobre o assunto.
Primeiro, é preciso ajudar a pessoa a se equilibrar
psiquicamente através de várias ferramentas à nossa
disposição – dos passes energéticos e seções de desobsessão ao processos psicoterápicos convencionais.
O médium também precisa ser amigo do estudo
e da boa leitura. Por fim, que cultive a oração diária,
pois ela é um poderoso fortificante espiritual e um
benéfico exercício de higiene mental.
Perispírito e fluido vital
Desenvolver a mediunidade é aprender a usála. Para que sejamos bem-sucedidos, devemos
cultivar virtudes como a paciência, a perseverança,
a boa vontade, a humildade e a sinceridade.
A mediunidade não se desenvolve de um dia
para o outro, por isso, devemos ter muita paciência.
Sem perseverança nada se alcança, pois o desenvolvimento exige que sejamos persistentes. Ter boa
vontade é comparecermos alegres e cheios de satisfação às sessões. A humildade é a virtude pela qual
reconhecemos que tudo vem de Deus. E se faltarmos
com a sinceridade no desempenho de nossas funções
mediúnicas, mais cedo ou mais tarde sofreremos decepções... ensinamentos é que não faltam em todas
as circunstâncias de manifestações da vida.
A faculdade mediúnica em harmonia pode fazer
grandes coisas. A educação mediúnica pode começar no simples modo de falar aos outros, transmitindo brandura, alegria, amor e caridade em todos
os atos da vida.
A mediunidade se desenvolve naturalmente
nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo
espiritual que nos cerca e nos afeta com as suas
vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma
que a inteligência e as demais faculdades humanas, a mediunidade se desenvolve no processo de
relação e sobretudo, de autoconhecimento.
Quando a mediunidade aflorar sem o preparo
46
Antes de explicarmos as manifestações mediúnicas mais comuns, é preciso que o leitor tenha
algumas noções básicas sobre o perispírito e o
fluido vital, pois eles fazem parte da constituição
de todos os seres humanos, sejam eles médiuns
ostensivos ou não.
O perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência
ou alma. É o envoltório semimaterial do espírito,
o laço que o une à matéria do corpo. Diz-se que o
perispírito é semimaterial porque pertence à matéria pela sua origem (fluido universal).
Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível para quem não é clarividente,
porém, ele pode sofrer modificações que o tornam
perceptível e até tangível, ou seja, possível de ser
visto e tocado por todos.
A natureza do perispírito sempre está relacionada
ao grau de adiantamento moral do espírito. O perispírito não está preso aos limites do corpo. Em virtude
de sua natureza fluídica, ele é expansível, irradiando
para o exterior e formando em torno do corpo uma
atmosfera que o pensamento e a força de vontade
podem dilatar com maior ou menor intensidade.
Como o perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos do mundo espiritual,
ele os assimila com facilidade, semelhante a uma
esponja que absorve um líquido. Quando esses
fluidos atuam sobre o perispírito, este reage sobre
o organismo material com o qual está em contato
molecular. Caso os eflúvios sejam de boa natureza,
o corpo sente uma impressão salutar, mas se são
maus, ela se torna penosa. Se forem permanentes
e enérgicos, os eflúvios desequilibrados podem
ocasionar desordens física, o que explica a causa
de certas enfermidades.
O perispírito é o organismo que “personaliza” o
espírito, identificando-o quanto à aparência. Após
a morte, a alma jamais perde sua individualidade,
apesar de não ter mais o corpo material, enquanto
que o perispírito, normalmente, guarda a aparência
de sua última encarnação. É por ele que um ser
abstrato, como é o espírito, transforma-se em um
ser concreto, definido pelo pensamento.
Pode-se afirmar que o perispírito é o esboço, o
modelo a partir do qual se desenvolve o corpo físico. Ele também é o modelo organizador biológico,
uma vez que é por sua influência energética que
se agregam as células e se modelam os órgãos,
proporcionando-lhes o pleno funcionamento.
Para atuar na matéria, o espírito precisa desta. Em virtude de sua natureza etérea, o espírito
propriamente dito não pode atuar sobre a matéria
grosseira sem algo ou alguém que o ligue a ela. Esse
intermediário, que chamamos de perispírito, faculta
a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem
material. Portanto, ele é o órgão de manifestação
utilizado pelo espírito para efetuar suas comunicações com o plano dos espíritos encarnados.
Já com relação ao fluido vital, de acordo com O
Livro dos Espíritos, “O conjunto dos órgãos constitui
uma espécie de mecanismo que recebe impulsão
da atividade íntima ou princípio vital que entre
eles existe. Ao mesmo tempo que o agente vital
dá impulsão aos órgãos, a ação destes entretém e
desenvolve a atividade daquele agente, quase como
sucede com o atrito, que desenvolve o calor.”.
O fluido vital é conhecido pelas doutrinas
orientais como Chi, Prana, entre outros nomes.
Escoa-se facilmente pelo corpo humano através
da rede nervosa, principalmente pelas pontas dos
dedos e cabelos, na forma de energia dinâmica em
dispersão ou “fuga” pelas pontas.
Os plexos nervosos são fontes de fluido vital
armazenado, constituindo-se de reservas energéticas que, a qualquer instante, transformam-se
em energia dinâmica, conectando os orgãos físicos
com suas respectivas contrapartes ou matrizes
situadas no perispírito, que são extremamente
sensíveis à atuação de espíritos desencarnados.
No momento em que o médium conserva maior
potencial de carga magnética em torno dos plexos
nervosos, ele também oferece melhor ensejo para
os desencarnados acionarem seus nervos motores
e, assim, identificarem-se mais facilmente por suas
características individuais.
Psicografia
É a mediunidade pela qual os espíritos influenciam a pessoa para levá-la a escrever. Os que a
possuem são denominados médiuns escreventes
ou psicógrafos.
Mediunidade mecânica
É mais apropriada para a identificação dos desencarnados, pois a seiva magnética que se acumula nos plexos nervosos transforma-se em alavanca
eficiente para os desencarnados comandarem os
nervos motores dos braços e, dessa forma, exporem
fielmente suas idéias, escrevendo de forma idêntica
à que usavam em sua vida física.
Esta mediunidade é rara entre os médiuns
– atualmente, podemos arriscar que manifesta-se
em cerca de 2%, de acordo com o filósofo norteamericano Ken Wilber.
No caso da psicografia – o espírito desencarnado atua sobre os gânglios nervosos do médium, à
altura do omoplata e, assim, age diretamente no
corpo, na mão do médium, impulsionando-a. Esse
impulso não depende da vontade deste, ou seja,
enquanto o espírito tem alguma coisa a escrever,
movimenta a mão da pessoa sem interrupção.
Certos médiuns mecânicos chegam a trabalhar com ambas as mãos ao mesmo tempo e sob a
ação simultânea de duas entidades. Em condições
excepcionais, o médium também pode conversar
com os presentes sobre um assunto completamente
diferente daquele que está psicografando. Nesse
caso, o espírito comunicante consegue escrever na
forma que era peculiar na vida física.
O médium mecânico não sabe o que sua mão
escreve, somente depois, ao ler, é que ele vai tomar
conhecimento da mensagem. A escrita mecânica
costuma ser muito rápida.
Por causa desse domínio do corpo físico, temos
alguns tipos específicos de médiuns psicógrafos.
No caso dos médiuns polígrafos, é possível verificar a mudança da escrita conforme o espírito que
se comunica e até mesmo a reprodução daquela
47
Mediunidade
Os espíritos auxiliares aproximam o espírito que irá se manifestar pela
psicografia e fazem a ligação perispiritual
que o comunicante tinha em vida. O primeiro
tipo de poligrafia é mais comum, enquanto que o
segundo, a identidade da escrita, é mais raro. Há
também os iletrados, que não sabem ler e escrever
no estado normal, porém, escrevem fluentemente
quando em transe mediúnico. No entanto, este é
um caso mais raro que os demais, em virtude da
maior dificuldade material a vencer. Outro caso
pouquíssimo comum são os médiuns poliglotas,
que têm a faculdade de falar e escrever em línguas
que lhe são desconhecidas ou até mesmo em dialetos já extintos, fato que se torna interessante e
convincente aos incrédulos.
Mediunidade semimecânica
Já o médium semimecânico se vê obrigado a
preencher intuitivamente todos os truncamentos
ou vazios existentes em suas comunicações, motivo
pelo qual ele tem consciência perfeita de quase
tudo o que escreve, embora o faça de modo semimecânico. Quando desaparecem os impulsos de sua
mão na escrita mecânica, ele dá prosseguimento
ao comunicado passando a “ouvir” intuitivamente
seus comunicantes, que ora escrevem diretamente,
ora o fazem pelo ajuste perispiritual.
Os médiuns semimecânicos, que representam
aproximadamente 28% dos psicógrafos. Não abandonam o corpo físico ao escreverem as mensagens.
O espírito atua sobre a mão do médium, que não
perde o controle desta, mas recebe uma espécie
de impulsão.
O médium participa tanto da mediunidade mecânica como da intuitiva, pois escreve recebendo
parte do pensamento dos espíritos pela comunicação e contato perispiritual, ao mesmo tempo em
que outra parte é articulada pelos comunicantes
independentemente de sua vontade.
Os semimecânicos têm consciência do que
escrevem à medida que as palavras vão sendo escritas. O médium possui um conhecimento parcial
daquilo que lhe atravessa o cérebro perispiritual,
mas passa a ignorar os trechos que lhe são escritos
mecanicamente, sem fluir pelo cérebro físico.
Mediunidade intuitiva
Representando cerca de 70% dos psicógrafos, o
médium intuitivo também não deixa o corpo físico
no momento em que escreve as mensagens dos espíritos. Neste caso, o espírito não atua sobre a mão
48
para movê-la, mas sobre o psiquismo do médium,
identificando-se com ele e lhe transmitindo suas
idéias e vontades. O médium as capta e escreve
voluntariamente.
Portanto, ele tem conhecimento antecipado,
mas o que escreve não é seu. O médium atua como
um intérprete, que, para transmitir o pensamento,
precisa compreendê-lo, apropriar-se dele e traduzilo. O pensamento não é seu, apenas lhe atravessa
o cérebro. No início, o médium o confunde com
seu próprio pensamento e as mensagens, às vezes,
extrapolam o conhecimento dele.
Como vimos, os médiuns psicógrafos podem ser
classificados em três tipos: intuitivo, semi-mecânico
e mecânico.
A psicofonia
É a mediunidade que permite a comunicação
oral de um espírito através do médium. Kardec a
denominou “mediunidade falante”, ou seja, aquela
faculdade que propicia o ensejo para que os espíritos entrem em contato através da palavra, travando
conversações. É ainda conhecida popularmente
como incorporação, mas este termo poderia sugerir uma falsa idéia de que o espírito comunicante
entra dentro corpo do médium, o que na verdade
não acontece.
O médium é sempre responsável pela ordem do
desempenho mediúnico e, seja qual for o grau de
consciência, o papel dele é sempre passivo. Quando a educação mediúnica é deficiente ou viciosa,
o intercâmbio é dificultado, faltando liberdade e
segurança. O médium reage à exteriorização perispirítica, dificulta o desligamento e quase sempre
intervém na comunicação, truncando-a. Ele deve
ser o intérprete nesse intercâmbio e, assim, entender o pensamento do espírito comunicante e
transmiti-lo sem alteração.
Atualmente, é a faculdade mais encontrada nas
práticas mediúnicas. É a porta mais acolhedora
e acessível para a manifestação dos espíritos no
plano material.
Esta forma de mediunidade é bastante proveitosa, principalmente pela possibilidade de estabelecer o diálogo com o espírito comunicante. Por
permitir o diálogo direto, vivo e dinâmico com os
espíritos, facilita o atendimento dos que precisam
de ajuda ou esclarecimento, possibilitando ainda
A preparação para a psicografia
O mentor espiritual
responsável pela preparação do fenômeno da
psicografia aproxima-se
do médium e lhe aplica forças magnéticas sobre seu
chacra coronário. Isso sensibiliza e ativa a glândula
pineal, fazendo-a produzir
um hormônio chamado
melatonina, que interage
com os neurônios, tendo
um efeito sedativo. Em
seguida, esse hormônio é
direcionado para a parte
do córtex cerebral responsável pela coordenação
motora, que vai ficar sob
seu efeito, ou seja, sedada. Assim, o médium perde o
comando sobre os órgãos motores, permitindo que outro
espírito se ligue a este sistema sensitivo e o utilize.
Depois, os espíritos auxiliares aproximam o espírito
que irá se manifestar pela psicografia e fazem a ligação
perispiritual com os órgãos sensoriais do movimento
dos braços do médium, através do chacra umeral. O
espírito comunicante se apossa temporariamente dos
gânglios nervosos à altura do omoplata do médium,
apropriando-se de seu mundo sensitivo e conseguindo
se expressar pela escrita.
a doutrinação e consolação dos espíritos pouco
esclarecidos sobre as verdades espirituais.
A psicofonia é uma das formas mais interessantes
e úteis de mediunidade, não só porque nos faculta
entendimento direto e pessoal com os espíritos,
como também a possibilidade de esclarecermos
os espíritos inconscientes, imersos em escuridão
mental, e os maldosos, realizando assim um ato de
verdadeira caridade espiritual e cooperando com os
companheiros que dirigem as organizações assistenciais do espaço dedicadas a esse trabalho.
Por meio da psicofonia, o médium, às vezes,
chega a dizer coisas inteiramente fora do âmbito
de suas idéias habituais, de seus conhecimentos e
até fora do alcance de sua inteligência. Não é raro
vermos pessoas iletradas e de inteligência vulgar
se expressarem em tais momentos com verdadeira
eloqüência e tratar, com incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de
emitir uma opinião no estado comum.
Médium consciente ou inspirado
A psicofonia consciente é a mais comum entre
os médiuns psicofônicos – cerca de 70% do total.
O espírito comunicante se aproxima do médium
sem manter um contato perispiritual mais efetivo
e transmite telepaticamente as idéias que deseja.
É a mediunidade dos tribunos e pregadores, que
manifestam a “inspiração momentânea”.
O espírito emite o pensamento e influi sobre
o médium, que transmite as idéias conforme as
entende e usando seu próprio estilo, vocabulário e
construção de frases. Ou seja, a idéia é do espírito,
mas o jeito de falar é do médium.
O médium sente a influência e capta o pensamento do espírito comunicante na origem, antes
de falar. Desta forma, ele pode avaliar antes da
manifestação, tendo fácil controle do fenômeno.
Médiuns semi-conscientes
Acreditamos que representam cerca de 28%
dos médiuns psicofônicos.
Na psicofonia semi-consciente existe uma maior
exteriorização do perispírito do médium, mas ainda
incompleta. O espírito comunicante entra em contato com o perispírito do médium, que se semi-exterioriza, e atua através deste sobre o corpo físico,
ficando os órgãos vocais do médium parcialmente
sob o controle do espírito que faz a comunicação.
Desta forma, o espírito tem maior influência no
psiquismo e nos órgãos do médium. Portanto, na
maior parte do tempo, o estilo e as idéias são do
espírito, ocorrendo uma certa alteração nos gestos
e entonação de voz.
49
Mediunidade
Desenvolver a mediunidade é aprender a usá-la. Para que sejamos bem-sucedidos,
devemos cultivar virtudes como paciência e humildade
Enquanto a mensagem é recebida, o médium
sabe o que fala, sente o padrão vibratório e a intenção do comunicante, podendo controlar e intervir
se necessário. Porém, ao terminar a manifestação,
só recordará do início e do final da mensagem,
ficando apenas com uma vaga lembrança do tema
abordado. É a principal manifestação mediúnica
nos centros de Umbanda, onde ocorre de forma
mais abrangente, pois as entidades chegam a manipular outras partes do corpo do médium.
Inconsciente
Na psicofonia inconsciente, que representa
somente 2% dos casos de médiuns psicofônicos,
há uma exteriorização maior do perispírito do médium, que permanece ligado ao corpo pelo cordão
fluídico. O fato do espírito do médium se exteriorizar do corpo físico temporariamente faz com que
passe a estar quase que inteiramente à disposição
e sob controle do espírito comunicante.
A atuação do espírito sobre o organismo físico
do médium é mais direta, através do chacra laríngeo e dos centros nervosos liberados.
Ao retornar do transe, o médium geralmente
nada recorda da mensagem deixada. A vantagem
é que há maior liberdade para o espírito, que se
identifica de forma mais objetiva por gestos, entonação da voz e atitudes.
Clarividência
Diz a questão 167 de O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec: “Os médiuns videntes são dotados
da faculdade de ver os espíritos. A vidência é fenômeno mediúnico e na vidência mediúnica só o
médium vê”. Há os que gozam dessa faculdade
em estado normal, quando estão perfeitamente
despertos e dela conservam uma lembrança exata.
Outros não a têm senão em estado sonambúlico ou
próximo ao sonambulismo.
A questão 171 de O Livro dos Médiuns afirma
que “a faculdade de ver os espíritos, sem dúvida,
pode se desenvolver, mas é uma daquelas que
convém esperar seu desenvolvimento natural, sem
provocá-lo, caso não queira se expor a ser joguete
da própria imaginação”.
O médium vidente acredita ver pelos olhos físicos, mas na realidade é a alma quem vê. Essa é a
razão pela qual vêem tão bem tanto com os olhos
50
fechados como com os olhos abertos. Em Estudando a Mediunidade, Martins Peralva diz: “Quantas
vezes, tentando sustar uma visão desagradável
produzida por um espírito menos esclarecido, o médium fecha os olhos e, quanto mais aperta, a visão se
torna mais nítida e melhor se definem os contornos
da entidade?”. Bastaria isso para a comprovação
plena de que, pela vidência, não se vê os espíritos
com os olhos corporais. Como disse Allan Kardec,
o médium vê através da mente, que, nesse caso,
funciona à maneira de um prisma, de um filtro que
reflete diversamente quadros e impressões, idéias
e sentimentos iguais em sua origem.
A vidência raramente é permanente e é, quase
sempre, o efeito de uma crise momentânea e passageira. A questão 167 de O Livro dos Médiuns
diz que “é providencial que a vidência não seja
constante”. Esta faculdade é protegida por filtros
que são defesas psíquicas do médium, fazendo
com que ele veja aquilo que seja possível. Estamos rodeados de espíritos e vê-los todos e a todo
momento nos perturbaria e embaraçaria nossas
ações, tirando-nos a iniciativa. Julgando-nos sós,
agimos mais livremente.
Clariaudiência
A questão 165 de O Livro dos Médiuns explica bem
a faculdade da audição. “Os médiuns audientes
são dotados da faculdade de ouvir os espíritos. A
audiência é um fenômeno mediúnico e na audição
mediúnica só o médium ouve”. Às vezes, é uma
voz íntima que se faz ouvir no foro interior e, em
outras, é uma voz exterior, clara e distinta, como a
de uma pessoa viva.
Os médiuns audientes podem, assim, entrar
em conversação com os espíritos. Isto é muito
agradável quando o médium ouve somente os
bons espíritos, mas não ocorre o mesmo quando
um espírito obsessor se obstina junto a ele, fazendo-o ouvir coisas desagradáveis e, algumas vezes,
inconvenientes.
Para que um médium se torne um instrumento
confiável, é necessário que evolua moral e intelectualmente na razão em que exercita sua faculdade.
Aqueles que são atraidos para a prática mediúnica
com ansiedade pelos fenômenos espirituais e os
médiuns invigilantes respondem pelos desequilíbrios das manifestações mediúnicas.
Reencarnação
Conceitos gerais
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
51
MECANISMOS DA
REENCARNAÇÃO
A relação afetiva, espiritual e biológica com os pais, assim como os
antecedentes cármicos do próprio espírito reencarnante, são fatores determinantes no processo reencarnatório
Cícero Marcos Teixeira
52
Histórica e culturalmente, a gestação ou gravidez é considerada
função da mulher. Isso é verdadeiro do ponto de vista biológico.
Entretanto, na visão espírita, não
se circunscreve apenas à mulher
propriamente dita.
A gravidez é também um estado psicofísico, emocional, que
envolve o homem, juntamente com
a mulher, no desempenho da função procriadora de um novo corpo
físico, com a participação direta,
consciente ou inconsciente, do
espírito reencarnante.
Portanto, no mínimo três individualidades estão diretamente
envolvidas na dinâmica da gestação de um novo corpo físico.
O homem, em particular, precisa se educar e se auto-educar,
no sentido de assumir e desempenhar a função da paternidade
em toda a sua abrangência e
plenitude conscientemente, não
transferindo à mulher toda a responsabilidade na ação co-criadora da gestação de um corpo físico
de um filho ou uma filha.
Preliminarmente, destacase a interação bioenergética
anímico-mediúnica das partes
interessadas na ação co-criadora
da paternidade-maternidade,
na dinâmica da gestação. Tal
intervenção se faz consciente ou
inconscientemente, além daquela
psicofísica, em nível biológico
propriamente dito.
Por que interação anímicomediúnica consciencial? É de
conhecimento geral que as dimensões biológicas, psicológicas,
emocionais e sentimentais são
componentes dinâmicos da gestação de um corpo físico para ser
veículo da consciência individual
reencarnante, na condição de
filho ou filha. Com a interação
anímico-mediúnica não há o
mesmo reconhecimento. Entretanto, efetua-se nas diferentes
fases da gravidez, desde a etapa
que precede o grande momento
da fecundação biológica, prossegue ao longo de todo o período
gestacional e culmina com a
fase do parto propriamente dito,
ocorrendo com maior ou menor
freqüência ao longo da vida de
relação da vida familiar entre
pais, filhos e irmãos nas mais
variadas circunstâncias.
INTERAÇÃO MENTE-MATÉRIA
Tal interação se processa através das funções Psi, inerentes ao
psiquismo dos pais gestantes e
filho ou filha reencarnantes durante a gestação propriamente
dita, através de percepções extrasensoriais.
Não se conhece ainda, em
detalhes mais profundos, o dinamismo psicofísico, sensorial
e extrasensorial de tal processo
mento-afetivo, que não se circunscreve apenas à dimensão
biológica, mas inclui também a
psicológica – a emoção, o sentimento e a maior ou menor lucidez
cognitiva consciencial.
Mas o que se pode afirmar, a
partir do conhecimento parapsicológico das funções Psi (divididas em Psi-gamma – telepatia,
clarividência e clariaudiência
– e Psi-Kappa – ação da mente
diretamente sobre a matéria) e
dos informes dos espíritos, é que
a mente reencarnante exerce
sua ação teledinâmica através
de campos bioenergéticos modeladores e organizadores do
perispírito, interferindo na organogênese do corpo físico, com
a correspondente participação
dos pais gestantes. A análise
de fatores intervenientes nesse
processo de interação dinâmica
pressupõe a constituição fisiopsicossomática do homem, cuja
anatomia fisiológica é composta
de outros corpos energéticos mais
sutis, que servem de substrato
para a composição do sistema
ternário humano (corpo, espírito
e perispírito) quando encarnado do ponto de vista espírita,
especificamente, ou do sistema
septenário, na visão de escolas
espirituais orientais, sem nenhum
antagonismo excludente, mas implícita e explicitamente complementares. Nesta oportunidade,
não se pretende aprofundar na
complexidade bioenergética da
individualidade em sua dimensão
extrafísica.
Entretanto, é necessário que
se esclareça que, além do complexo desse sistema de interação bioenergética, o homem
53
O planejamento é orientado e administrado nos planos
extrafísicos por entidades de elevada sabedoria e hierarquia espiritual
e a mulher que se propõem a
assumir a responsabilidade da
paternidade e da maternidade
estabelecem um campo bioenergético extrafísico, psicodinâmico, ideoplástico, anímico
e mediúnico, que pode favorecer a atração do espírito ou
consciência preexistente que
vive no mundo espiritual como
desencarnado; no respectivo
plano consciencial, compatível
com o grau de evolução moral
alcançado.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Propomos os seguintes princípios fundamentais do processo de
gestação à luz do Espiritismo:
O ser humano é um espírito
ou consciência individualizada,
dotada de razão, instrumentalizada pela linguagem, livre-arbítrio, instinto, memória, emoção e
sentimento;
O espírito ou o eu-consciência é arquiteto de seu próprio
destino, em obediência às leis
da vida: evolução, reencarnação,
ação e reação ou lei do carma e
lei do progresso, através da qual
expande a consciência rumo à
plenitude do ser;
O espírito desencarnado
preexiste à formação do seu
corpo físico, pensa, sente e age
de acordo com o seu estágio de
evolução cognitiva, sentimento e
moralidade, no respectivo plano
consciencial e extrafísico;
Em obediência ao principio
universal de afinidade, sintonia e
ressonância, quando oportuno ou
necessário, o espírito, em função
de sua necessidade de realização
e auto-realização, vê-se na contingência de “um novo renascer”
no plano físico para prosseguir
sua evolução planetária;
Nessa fase de sua evolução,
de acordo com sua maior ou menor autonomia volitiva, necessidade e merecimento, se propõe
e/ou se dispõe a participar do
planejamento de sua nova e futura reencarnação;
O planejamento reencarna-
INFLUÊNCIAS NO PROCESSO REENCARNATÓRIO
ESPÍRITO REENCARNANTE
Animismo
PAI ENCARNADO
Relação anímica, mediúnica, psico-afetiva e biológica (herança genética)
RENASCIMENTO EM
NOVO CORPO FÍSICO
ESPÍRITOS PERTURBADORES
Desafetos, inimigos espirituais
do espírito reencarnante ou dos
pais
54
Traz gravado em seu perispírito o
resultado de seu passado multimilenar
MÃE ENCARNADA
Relação anímica, mediúnica, psico-afetiva e biológica (herança genética
e gestação)
ESPÍRITOS GENETICISTAS
Espíritos de elevada hierarquia espiritual que
atuam na relação afetiva-espiritual e no desenvolvimento do genótipo do reencarnante
tório envolve complexas medidas
dinâmicas e teledinâmicas de
natureza bioenergética no plano
extrafísico, de acordo com a “Genética Espiritual” e lei de ação e
reação que estabelecem as condições orientadoras na execução do
plano reencarnatório individual,
de modo a permitir que cada
espírito herde de si mesmo, com
a contribuição de seus pais no
plano físico;
Tal planejamento é orientado e administrado nos planos
extrafísicos por entidades de
elevada sabedoria e hierarquia
espiritual.
A maior parte da humanidade
terrestre, encarnada e desencarnada, ainda se encontra nos
primeiros estágios de evolução.
Goza de autonomia muito restrita
e não tem condições de usar o livre-arbítrio com discernimento;
Quanto maior for o grau de
evolução consciencial ao longo de
seu continuum histórico palingenésico maior será a participação
direta do espírito reencarnante
em todas as fases do planejamento e execução de sua própria
reencarnação, sob a assistência
técnica dos “geneticistas” e “embriologistas”, podendo participar
da modelagem do futuro corpo
físico, em obediência às leis da
“herança espiritual” condicionantes da herança psicofísica
biológica.
O espírito encarnado ou desencarnado é assistido nas suas
necessidades de auto-realização
e progresso de acordo com a lei
de merecimento;
O espírito candidato à nova
experiência reencarnatória no
plano físico passa por uma fase
preparatória de análise e autoanálise através de um processo de
profunda introspecção, mediante
Maria de Nazaré,
arquétipo cristão da
maternidade
urna visão retrospectiva de sua
história pessoal, valendo-se dos
registros de sua memória absoluta, vê com clareza e em detalhes
esclarecedores as ações pretéritas,
podendo ser assessorado pelos
mentores no planejamento de um
novo projeto reencarnatório. Após
esse exame analítico consciencial,
cada espírito entra em uma nova
etapa de programação da futura
existência, em função de sua herança espiritual;
Providências gerais e específicas são tomadas no sentido
de conjugar harmonicamente o
livre-arbítrio e o determinismo da
lei de causa e efeito, objetivando
sempre o progresso e o aperfeiçoamento individual e coletivo;
Em obediência à lei de sintonia, afinidade e ressonância,
cada espírito encontra-se ligado
ao respectivo grupo familiar e
racial, ao seu povo ou nação, ao
longo do continuum histórico
palingenésico;
Desse modo, a escolha do
grupo familiar e dos futuros pais
obedece aos princípios gerais das
leis citadas, em consonância com
a respectiva herança consciencial, psicológica e espiritual. Essa
herança fica registrada na memória genética perispirítica através
das matrizes Psi dos respectivos
genes. Estes irão se expressar
por meio do genótipo ou fenótipo
no plano biológico, através da
organogênese do futuro corpo
físico, com a contribuição biogenética dos respectivos pais.
PROCESSO REENCARNATÓRIO
Estabelecidas as diretrizes
gerais e específicas para a viabilidade do planejamento reencarnatório, o espírito reencarnante
entra na fase préreencarnatória,
cujo tempo de execução varia
de acordo com as características
e necessidades específicas de
cada individualidade, levando
em conta todos aqueles princípios
já explanados.
Fase Preparativa
Ocorre, nesta fase, na dimensão extrafísica:
Escolha dos futuros familiares e pais biológicos, em função
de compromissos, comprometimentos e vinculações cármicas:
Estabelecimento do programa geral de futuras realizações e
auto-realizações no plano físico,
tendo em vista os objetivos educativos a serem atendidos;
Prévia escolha ou determinação de sexo genético, que se
verifica de acordo com a respectiva sexualidade e características
genético-espirituais do reencarnante e segundo determinantes
cármicos conscienciais preexistentes, tendo em vista futuras
realizações;
Definição do tipo de reencarnação: compulsório ou de livre
escolha; provacional; expiatória;
sacrificial ou missionária;
Execução do plano de associação e vinculação psicodinâmica, bioenergética, mental e
afetiva - essa fase inclui os futuros pais gestantes e demais familiares, segundo as necessidades
de harmonização, entendimento,
apoio mútuo, afinidade, sintonia
e ressonância.
Em conseqüência das necessidades e exigências específicas
de bem cumprir os imperativos
naturais das leis da vida, já citadas, nessa etapa da fase preparatória, o espírito candidato à nova
reencarnação passa a conviver
no clima psicofísico e emocional
dos futuros pais em especial, interagindo dinamicamente com os
mesmos, procurando estabelecer
as melhores relações de sintonia,
afinidade e ressonância indispensáveis ao êxito da concretização
do complexo e laborioso planejamento reencarnatório. Múltiplas operações bioenergéticas e
magnético-espirituais podem ser
realizadas pelos espíritos construtores nas intervenções que se
fizerem necessárias na organização perispirítica do reencarnante.
Para poder efetivar a ligação com
a célula-ovo no zigoto, a partir da
fecundação propriamente dita,
ocorre previamente no plano extrafísico, a miniaturização, que se
caracteriza pela redução da forma
perispirítica.
Com base na análise dos mapas cromossômicos e organogênicos, tais intervenções se fazem no
sentido de orientar a modelagem
bioenergética e genético-estrutural referente à embriogênese
e morfogênese do futuro corpo
físico, em consonância com a herança cármica e o programa de
realização na nova experiência
reencarnatória.
Efetuadas as operações de
imantação e ligação do perispírito
da consciência do reencarnante
à célula-ovo, no terço médio da
trompa de Falópio, segue-se a
nidação no útero materno, com
a participação mento-afetiva dos
pais gestantes e do filho ou filhos
reencarnantes.
Fase Organogênica
Após a fecundação propriamente dita, inicia-se a fase organogênica, envolvendo em-
55
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Hernani Guimarães.
Morte, renascimento, evolução
Psi quântico
Espírito, perispírito e alma
Editora Pensamento
Os espíritos “geneticistas”,
de elevada hierarquia espiritual também atuam na
seleção do espermatozóide
e do óvulo a serem fecun-
ANDRÉA, Jorge.
Energética do psiquismo
Enigmas da evolução
DELANNE, Gabriel.
A evolução anímica
A reencarnação
FEB
LUIZ, André.
Missionários da Luz
FEB
briogênese, histogênese e morfogênese, em obediência às leis
biogenéticas, culminando no
crescimento e desenvolvimento
do corpo físico que virá a nascer
posteriormente.
Na realidade, para o novo
corpo físico é nascimento, mas
para o espírito reencarnante é
um novo renascimento. À medida que se processam as fases
embriológicas e organogênicas,
culminando no crescimento
e desenvolvimento do feto, o
reencarnante vai adensando o
seu perispírito miniaturizado e,
conseqüentemente, vai entrando num estado de bloqueio de
memória, com o esquecimento
total ou parcial de suas vivências
reencarnatórias anteriores.
Essa é uma das causas do
esquecimento, que constitui um
mecanismo de defesa e autopreservação de natureza neurofisiológica, psicológica, consciencial
e, sobretudo, de ordem ética.
As idéias deste artigo são resultado de um esforço de teorização sobre uma experiência que
está em pleno desenvolvimento.
Por isso, o que aqui registramos
poderá ser aprofundado ao longo
do tempo. Novos conceitos poderão ser propostos. A educação de
pais gestantes à luz do Espiritismo
é uma necessidade urgente que
se situa no âmbito das finalidades
educacionais e terapêuticas da
casa espírita, numa perspectiva
mais ampla que relaciona o Espiritismo com as áreas da educação,
higiene e saúde.
56
GLOSSÁRIO
1 – Continuum Histórico Palingenésico: Refere-se ao contínuo espaçotempo em que se verifica a história evolutiva ontológica e filogenética
do ser humano e da humanidade, através da palingênese. A evolução
ontológica refere-se ao desenvolvimento evolutivo do ser enquanto ser.
Evolução filogenética significa a história evolutiva da espécie. Palingênese
é a palavra de origem grega que designa o processo da reencarnação.
A memória genética celular tem sua matriz Psi na memória genética das
células perispiríticas que integram o perispírito, o qual serve como modelo
organizador biológico.
2 – Memória genética perispíritica: A exemplo do que ocorre com a memória
genética no núcleo celular, as moléculas de DNA (ácido desoxinibonucléico)
e RNA (ácido ribonucléico) como substrato fisiobioquímico da hereditariedade
biológica.
3 – Genótipo: constituição genética do indivíduo. Conjunto de genes de
um indivíduo.
4 – Fenótipo: características do indivíduo resultantes da manifestação do
genótipo.
5 – Organogênese: origem e formação do organismo físico como um todo, a
partir da fecundação biológica, e demais fases dos processos morfogenéticos
integrantes da organização anatômica e fisiológica do corpo humano.
6 – Mapas cromossômicos: representação gráfica das estruturas
microscópicas e ultramicroscópicas dos cromossomos, que são corpúsculos
coráveis existentes no núcleo celular, apresentando-se sob diferentes formas,
contendo os genes responsáveis pelas características hereditárias.
7 – Mapas organogênicos: representação gráfica do crescimento e
desenvolvimento do organismo, incluindo a fase de formação do embrião e
dermua órgãos, aparelhos e sistemas que constituem o corpo físico.
8 – Modelagem bioenergética e genética estrutural: os espíritos construtores,
valendo-se de avançados e complexos conhecimentos de embriologia,
anatomia, fisiologia, evolução, ação e reação ou lei do carma, genética e outras
áreas do conhecimento da ciência do espírito, no desempenho de sua ação cocriadora, atuam mediante intervenções mentais psicodinâmicas, arquitetando
modelos bioenergéticos e estruturais que servirão posteriormente à modelagem
de formas anatômicas específicas, compatíveis com as necessidades de cada
espírito em face do respectivo planejamento reencarnatório, na realização das
operações de mentalização da formação de um novo corpo físico, à imagem
e semelhança de seu próprio perispírito preexistente, que funcionará como
modelo organizador biológico.
9 – Embriogênese: origem e formação do embrião após a fecundação
biológica.
10 – Morfogênese: fase de estruturação da morfologia biológica durante o
crescimento e o desenvolvimento do embrião e dos densais órgãos, aparelhos
e sistemas fisiológicos integrantes da constituição fisiopsicossomática do ser
humano.
11 – Histogênese: fase de formação dos diferentes tipos de tecidos celulares
durante o desenvolvimento embriológico e do organismo como um todo.
A codificação
Considerações finais
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
57
Codificação
Allan Kardec:
Pedagogia e método
Conheça os termos fundamentais para quem quer
se dedicar ao estudo da Doutrina Espírita
Por Raimundo Wilson Morais
T
odas as ciências se encadeiam e se sucedem
numa ordem racional; elas nascem umas das
outras à medida que encontram um ponto de
apoio nas idéias e conhecimentos anteriores.
Pedagogia e método são termos fundamentais
para quem quer se dedicar ao estudo do Espiritismo. Se consultarmos o dicionário, veremos que
um significado possível para a palavra pedagogia
é: teoria e ciência da educação e do ensino. A palavra método, por sua vez, tem um significado que
abrange não só as noções de meios e fins (caminho),
mas, indo além desse conhecimento, liga-nos às
noções de ordem, regra, sistema, procedimento etc.
Essas acepções nos remetem à idéia de ensino, ou
melhor, de ensino e aprendizado.
Nas casas espíritas que mantêm o curso de educação mediúnica (chamada antigamente de Escola
de Médiuns), os dirigentes desses cursos vivem,
dia a dia, a experiência de um ensinar e aprender
constantes, a lhes mostrar as crianças espirituais
que somos todos nós. É o defrontar da Religião com
a Ciência: nesse espaço, conhecimento teórico da
doutrina espírita é condição necessária, mas não
suficiente, porque há todo um aprendizado que é
feito in loco, caso a caso. Para isso, é preciso crer.
Infelizmente, no meio espírita, não se dá real
valor aos cursos de médiuns: ou ele é tratado como
continuação natural de uma Escola de Aprendizes
do Evangelho, ou como uma espécie de aperfeiçoamento da parte técnica da doutrina. Também não
há pesquisas nessa área, como se elas não fossem
do interesse das próprias casas espíritas. Como
resultado, estamos assistindo a uma espécie de tomada de posição por parte dos dirigentes de cursos.
Temos aqueles que acreditam no fenômeno em si,
e não procuram aprimorar seus conhecimentos:
preparam alunos crédulos, sem base. E temos diri-
58
gentes que, por um suposto cientificismo, rejeitam
os fenômenos que lhes caem às mãos: preparam
alunos sem fé, incapazes de entender o que existe
de maravilhoso na mediunidade.
Em se tratando de mediunidade, ortodoxia é má
conselheira. Provamos que desconhecemos Kardec
se não aceitarmos que “duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o elemento material;
da ação simultânea desses dois princípios nascem
fenômenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se se faz abstração de um dos dois...” Cada
caso é único, cada médium um mundo próprio.
A preocupação do mestre lionês em comunicar-se eficazmente já se nota desde as primeiras
páginas de O Livro dos Espíritos. Ao insistir na
compreensão do que é a alma, ou na justificativa
para a introdução dos neologismos (para uma coisa
nova, um nome novo), Kardec já antevia o quão
difícil seria convencer a posteridade do caráter
científico do Espiritismo. É por demais óbvio que
uma tarefa de tal envergadura necessitava de alguém com grande conhecimento da ciência de sua
época e, mais que isso, com preparo para passar
esse conhecimento. Quem melhor que Kardec, um
educador comprometido com uma nova pedagogia,
aprendida com Pestalozzi?
Escrever O Livro dos Espíritos em forma de
perguntas e respostas foi uma decisão adrede preparada, para facilitar a compreensão de temas tão
complexos. Quem melhor que um professor para a
transmissão da nova revelação ? O próprio Kardec
tinha bem a consciência do papel a desempenhar:
“Qual é o papel do professor diante de seus alunos,
senão o de um revelador ? Ele lhes ensina aquilo
que não sabem, o que não teriam tempo nem
possibilidade de descobrir por si mesmos, porque
a Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma
59
Codificação
Em todas as obras de Kardec é claramente perceptível o esforço
feito para nos transmitir os assuntos de maneira didática
(no sentido de utilizar uma técnica eficaz de ensino)
multidão de homens que trouxeram, cada um, o
seu contingente de observações, e das quais se
aproveitam aqueles que vêm depois. O ensino é,
assim, na realidade, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas,
feita por homens que as conhecem a outros que
as ignoram e que permaneceriam ignoradas, se
assim não fosse.”.
Em todas as obras de Kardec é claramente
perceptível o esforço feito para nos transmitir os
assuntos de maneira didática (didática, aqui, no
sentido de utilizar uma técnica eficaz de ensino,
arte de ensinar): parecem até ingênuas, em certas
ocasiões, as repetições de alguns conceitos, ou a
insistência em fixar algumas premissas. Na verdade, é nessas ocasiões que Kardec revela toda a
sua genialidade e o quanto permanece atual. Nos
dias de hoje, um trabalho que busque legitimação
na área científica tem que dizer a que veio, que
hipóteses está levantando, quais as justificativas
e procedimentos adotados. Kardec não deixou
por menos: em pleno século XIX escreveu, com
toda a clareza, que o Espiritismo “aplica o método
experimental... é uma ciência da observação e não
o produto da imaginação” e que “As ciências não
fizeram progressos sérios senão depois que os seus
estudos se basearam no método experimental; mas
acreditava-se que esse método não poderia ser
aplicado senão à matéria, ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas.”.
É pena que a esse conjunto de afirmações de
Kardec não se dê a importância que merece: evitaríamos muitos problemas em nossas casas espíritas,
que passam por superstições, fatalismos e extravagâncias que nada tem a ver com a Doutrina. Quando tais tipos de conduta não encontram oposição
fundamentada por parte dos dirigentes de Cursos
de Médiuns, a casa tende a se afastar da essência
do trabalho sério, feito com conhecimento. Em
nome desse conhecimento, todo dirigente de curso
tem por obrigação estudar Kardec com afinco.
Por tratar da parte prática, técnico-científica (ou
fenomênica, se preferirem) do Espiritismo, O Livro
dos Médiuns revela, desde sua primeira página, a
preocupação do Codificador com o estabelecimento das premissas, as argumentações, o desenvolvimento das explicações para os fatos e as refutações
necessárias: é o pedagogo explicando a mais pura
60
ciência. E por se tratar de ciência, foi mister estabelecer as bases, fora das quais não caberia continuar
a discussão: “Seja qual for a idéia que dos Espíritos
se faça, a crença neles necessariamente se funda
na existência de um princípio inteligente fora da
matéria. Essa crença é incompatível com a negação
absoluta deste princípio.”.
É neste ponto que quero chegar. Num trabalho
acadêmico, por exemplo, minhas conclusões se
verificarão mediante a aceitação de determinadas
condições estabelecidas a priori. Em outras palavras, derrubadas as premissas, minhas conclusões
poderão ser falsas.
Ciência ou Religião?
No meio espírita, vez por outra me encontro diante de temas para os quais as pessoas se perguntam:
“Isto é ciência ou religião ?” No meu modo de ver,
alimentar esse tipo de discussão é recusar o princípio da indivisibilidade entre os elementos material
e espiritual, premissa para ler A Gênese. Grassa no
meio espírita a idéia de que é possível sermos espíritas de modo “científico”: se essa afirmação é feita
por um dirigente de Curso de Médiuns, a distorção
das palavras de Kardec atinge aspectos de maior
gravidade, porque esse dirigente convive com o lado
fenomênico da mediunidade, cotidianamente.
“Em lógica elementar, para se discutir uma
coisa, preciso se faz conhecê-la...”, é o que nos
assevera o codificador. Se o ponto de partida é
a existência da alma, torna-se incoerente nos
dizermos espíritas e ao mesmo tempo buscarmos
a justificação científica da existência dela. Creio
que isso se resolve a partir da leitura do Capítulo
III de O Livro dos Médiuns, intitulado “Do Método”, o qual considero a leitura definitiva não só
para dirigentes, mas para os médiuns em geral.
Todos os argumentos de que necessitamos para a
compreensão dos fenômenos mediúnicos estão ali,
sem subterfúgios.
É nosso dever procurar uma base racional
para explicar os fenômenos espíritas. Entretanto,
não temos o direito de negar autenticidade aos
fenômenos que não são passíveis de constatação
através de nossos sentidos, pela simples razão de
que os espíritos não estão à nossa disposição, nem
têm obrigação de nos prestar contas. “Se houvés-
“Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna.
Há também o da simples conversação.”
semos de somente acreditar no que vemos com os
nossos olhos, a bem pouco se reduziriam as nossas
convicções.”
Aceitam-se como válidos, no meio científico,
os processos de argumentações e teste de hipóteses, muitas vezes baseados em dados estatísticos
questionáveis. Em suma, é válido o método que
se utiliza da persuasão através dos processos de
explicações e/ou das experiências. Por qual razão
– pergunto – o método de Kardec encontra objeção na área da Ciência? Vejamos o que afirmou
o mestre de Lion: “Não se espantem os adeptos
com esta palavra – ensino. Não constitui ensino
unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina
todo aquele que procura persuadir a outro, seja
pelo processo das explicações, seja pelo das experiências.”. Impossível ser mais claro! Se o método é válido, é válido sempre: não há como criar
uma dupla conceituação de método, valendo uma
para fenômenos ditos “científicos” e outra para
fenômenos que, por serem da área do Espiritismo,
são ditos “religiosos” ou - para voltar ao século de
Kardec – metafísicos.
Quem quiser entender realmente o porquê
da preocupação de Kardec com o método e qual
a razão de o mundo espiritual se utilizar de um
espírito encarnado envolvido com a Pedagogia,
leia o que vem depois das afirmações citadas no
parágrafo anterior. Duas delas são fundamentais,
em se tratando de “fazer ciência”, e é com elas que
me despeço dos caros leitores: “No Espiritismo, a
questão dos Espíritos é secundária e consecutiva;
não constitui o ponto de partida. Este precisamente
o erro em que caem muitos adeptos... Não sendo os
Espíritos senão as almas dos homens, o verdadeiro
ponto de partida é a existência da alma.”.
“Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Ora, para o materialista,
o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e
tratai, antes de tudo, fazendo que ele a observe,
de convencê-lo de que há nele alguma coisa que
escapa às leis da matéria... Falar-lhe dos Espíritos,
antes que esteja convencido de ter uma alma, é
começar por onde se deve acabar, porquanto não
lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premissas.”.
O autor, Raimundo Wilson Santos Duarte Morais,
é dirigente do Curso de Médiuns e do Centro Espírita
Discípulos de Jesus, da Aliança Espírita Evangélica.
Cursou a Universidade de São Paulo (graduação e
licenciatura plena). Publicado na revista eletrônica O
mensageiro: www.omensageiro.com.br
61
1
Universalismo
Mensagem final
Introdução ao estudo
da doutrina espírita
63
Especial
A doutrina da paz
Acima das diferenças doutrinárias, deve prevalecer o sentimento
de fraternidade universal, independente de qualquer religião
Por Gandharananda Shanti
N
ão há religião superior à outra, não há doutrina superior à outras doutrinas. A questão é de
consciência, de estágio experiencial.
O neófito que inicia seu caminho no rumo das
expansões conscienciais, quando não tem por
perto dos seus estudos e práticas espirituais um
instrutor abalizado na experiência, perde-se em
conjecturas vazias. Não se pode perder de vista
que as religiões sempre foram estágios para as
consciências que trafegam na experiência do
despertar, e que cada época trouxe seu avatar, seu
líder religioso, seu pensador, e assim a egrégora
mental planetária se transforma sempre na direção
das ascensões, impulsionando a coletividade, quer
sejam de encarnados ou desencarnados, pois que
as almas sempre se repetem nas viagens entre
os diversos educandários na busca infatigável de
aprimorarem-se e sublimarem-se através da provas
individuais e coletivas.
Seria uma agressão ir até o jardim de infância
e exigir que os infantes ali estagiários assumam as
lições da escolástica universitária. Não é missão
do educador espiritual converter as consciências
que se demoram a compreender a convergência
espiritual que se processa hoje à luz do dia. Não
faz parte da missão do Manú-Semente converter
as raças e migrá-las para outras religiões... Natura
non facit saltum!
O importante é que o homem se torne melhor
na religião que abraçou. Se for budista, que viva
em si mesmo os exemplos de Sidharta Gautama.
Se for cristão, que se apóie nas práticas de Jesus,
e viva Seu evangelho de luz. Se for hinduísta, que
medite nas ilações dos Vedas Sagrados e pratique
ahimsa. Se for xintoísta, que exercite as virtudes
morais de seus códigos de condutas. Se for espírita,
que eduque-se, vivenciando as práticas propostas
na codificação. Se for umbandista, que viva o seu
dia a dia de acordo com as vibrações salutares de
seus Orixás.
Se for evangélico, adventista, batista, salvacionista, maçom, rosa-cruz, ou ateu, que seja um
64
exemplo de ser humano, esforçando-se no sentido
de tornar melhor a sociedade, através do respeito
e cordialidade, fraternidade e solidariedade, com
humildade. Que importa se estamos no pagode, na
igreja, no templo, no centro espírita, no terreiro,
no ashram, no monastério, na loja, no eremitério,
quando nossa alma unificada em vibrações de
simpatia universal busca o Mesmo e Único Deus
Imanente, Transcendente, Onisciente? Que importância tem para as divindades a nossa religião, se
elas, as entidades de luz são puro amor, e não são
à favor do separatismo doentio dos homens?
Convergência religiosa
Todas as religiões vieram da mesma Fonte, mas
em épocas diferentes, conforme a maturidade dos
homens. Mahavir, Zarathrusta, Maomé, Gandhi,
Jesus, Krishna, Buda, Zoroastro, Confúcio, Lao
Tse, ou Caboclo das Sete Encruzilhadas, são todos irmãos nossos, cuja origem se perde na noite
profunda do cosmos, e todos vieram cumprir uma
missão especial em favor de nosso entendimento
espiritual, nos proporcionando abranger o horizonte do conhecimento oculto, cada um em sua época
e de acordo com o nível de evolução das raças.
Todos eles foram humildes. Todos eles ensinaram o perdão. Todos eles estimularam a virtude do
Amor incondicional. Todos eles incentivaram a paz.
Todos eles insistiram em nos chamar de irmãos.
Por que então o orgulho, a vaidade, a arrogância, a
prepotência, o desprezo, a presunção? Quais destes
Mestres nos ensinou a sermos mesquinhos?
Ainda que venham outras e novas doutrinas, a
nossa urgente necessidade de todos os tempos é
tão antiga quanto O Pai Celestial, porém não é um
mistério. O “amai-vos uns aos outros”, eternizado
por Jesus, deve ser sempre a flâmula a tremular
no céu de nossas consciências! Deve ser sempre
o grito divino ecoando em nossos corações, a nos
convocar para a “re-união” e para a convergência
planetária, sem importar a nossa visão fragmen-
tada da verdade, e sem nos excluir por causa de
diferenças religiosas.
Estamos a favor da Causa Maior, operando em
nome de Deus? Ou estamos usando a religião como
um trampolim da nossa vaidade e do nosso orgulho,
a fim de projetarmo-nos aos olhos da sociedade?
E se somos agredidos, mesmo dentro de nossos
templos, igrejas, ou terreiros, por adversários, visíveis e invisíveis, se sofremos ataques de entidades
trevosas dentro dos limites de nosso espaço sagrado, é porque talvez nossas atitudes não estejam de
acordo com os nossos esclarecimentos. Talvez nossas atitudes e nossos comportamentos não estejam
em sintonia com os nossos guias. Talvez nossos atos
e pensamentos, nossos vícios e inclinações estejam
muito aquém dos níveis basilares que devemos
manter a fim de suportar a nossa missão e o nosso
trabalho como espiritualistas.
Meditemos profundamente. Invoquemos a
Santa Presença, que nos orienta e inspira sempre
quando somos honestos conosco mesmos.
E nunca percamos de vista, que o sucesso de
nosso trabalho e de nossa missão, por humilde
que seja, está em relação direta com a retidão de
nosso caráter; está em sintonia com as vibrações
de nossos corações.
65

Documentos relacionados

Miolo - No invisivel.indd

Miolo - No invisivel.indd exteriorizar em camadas concêntricas ao corpo humano8 e mesmo, em certos casos, condensar-se em graus diversos e materializar-se ao ponto de impressionar placas fotográficas e aparelhos registradore...

Leia mais