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ISSN 2236-0468 Fundação Educacional Guaçuana – FEG Presidente – Márcia Urbini Brandão Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro - FMPFM Diretor Geral – Prof. Dr. Estéfano Vizconde Veraszto Vice-Diretor – Prof. Dr. Odail Pagliardi Secretária Geral – Profa. Kátia Elaine da Silva Coordenador do Curso de Administração – Prof. Dr. José Celso Sobreiro Dias Coordenador do Curso de Ciências da Computação – Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo Coordenador do Curso de Engenharia Ambiental – Prof. Dr. Alexandro Batista Ricci Coordenador do Curso de Engenharia Química – Prof. Dr. Moacyr Rodrigo H. de Almeida Coordenadora do Curso de Nutrição – Profa. Daniela Soares de Oliveira Coordenadora do Curso de Psicologia – Profa. Me. Flávia Urbini dos Santos Editores: Profa. Dra. Maria Suzett Biembengut Santade Prof. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida Conselho Editorial Profa. Dra. Ana Olivia Barufi Franco de Magalhães Prof. Dr. Antonio Medina Rivilla – Universidad Nacional de Educación a Distáncia (España) Profa. Dra. Daniela Melaré – Universidade Aberta de Lisboa (Portugal) Prof. Dr. Erico Fernando Lopes Pereira-Silva Prof. Dr. Estéfano Vizconde Veraszto Prof. Dr. Francisco García García – Universidad Complutense de Madrid (España) Prof. Dr. João Alexandre Bortoloti Prof. Dr. José Celso Sobreiro Dias Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo Prof. Esp. Luiz Carlos Aceti Junior Profa. Dra. Maria Suzett Biembengut Santade Prof. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida Prof. Dr. Norian Marranghello - UNESP Prof. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira Pareceristas Prof. Dr. Ademilde Silveira Sartori - UDESC Prof. Dr. Antonio Roberto Saad - UNG Profa. Dra. Carolina Del Roveri - UNESP / UNICASTELO Prof. Dr. Claudio Manoel de C. Correia - PUC / UFAM Profa. Dra. Darcilia Marindir Pinto Simões - UERJ Prof. Dr. Denilson Pereira de Matos - UFPB Prof. Dr. Eder Pires de Camargo - UNESP Prof. Dr. Eleone Ferraz de Assis - UFG / UERJ Profa. Dra. Eliana Meneses de Melo - UBC / UMC Profa. Dra. Fernanda Oliveira Simon - FAC Prof. Dr. Gilberto Costa Justino - INPA Profa. Dra. Giselle Patrícia Sancinetti - FAE Profa. Dra. Ivani Aparecida Carlos - UFSCar Profa. Dra. Liliane Santos - Université Charles-de-Gaulle Profa. Dra. Lucia Deborah Araujo - UNESA Prof. Dr. Luiz Antonio Rossi - UNICAMP Profa. Dra. Magda Bahia Schlee - UERJ / UFF Prof. Dr. Márcio Henrique Zancopé - UFG Prof. Dr. Marcolino F. Neto - FAE/PUC-Poços de Caldas Prof. Dr. Marcos Vinícius Rodrigues - FAE/UNIFAL Profa. Dra. Maria Salett Biembengut - FURB/CREMM Prof. Dr. Mauro Donizeti Berni - UNICAMP Prof. Dr. Nelson Hein - FURB Prof. Dr. Nonato Assis de Miranda - UNESP Profa. Dra. Rozely Ferreira dos Santos - UNICAMP Prof. Dr. Sandro Xavier de Campos - UEL Profa. Dra. Vania Lúcia Rodrigues Dutra - UERJ/UFF Profa. Dra. Vera Lucia M. dos Santos Nojima - PUC-RJ Prof. Me. Bruno Brandão Fischer – UCM/Madrid/Espanã Diagramação e Arte Antonio Valdomiro Mucciolo Junior Gilson Anacleto da Mota Guilherme de Oliveira Martins Editora FMPFM I49 Interciência e Sociedade. v.1, n.1 (2012). – Mogi Guaçu : Faculdade Municipal Professor Franco FICHA CATALOGRÁFICA Montoro, 2012. Semestral 1. Divulgação científica – Periódicos. 2. Ciência. 3. Cultura. 4. Gestão. 5. Sustentabilidade. 6. Educação. 7. Saúde. 8. Tecnologia. 9. Multidisciplinar CDD-050 ISSN 2238-1295 Ficha Catalográfica: Adriano Madaleno Miossi – CRB 8 / nº 6981 Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores. Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor. Endereço para correspondência e contato: REVISTA INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM Rua dos Estudantes, s/nº, Cachoeira de Cima, Caixa Postal 293, CEP: 13843-971 - Mogi Guaçu - SP. Fone: (19) 3861-6255 e 3861-6606 Homepage: www. fmpfm.edu.br e-mail: [email protected] EDITORIAL Para o caminho da pesquisa na teia do conhecimento A Sociedade do Conhecimento pode ser compreendida como a sociedade onde o conhecer forma a rede de recurso para a produção científica e teórica na troca de conhecimento e para a criação de riqueza, de prosperidade e de qualidade de vida da população. Por esta razão, o investimento na pesquisa e em sua interação entre a diversidade de saberes tem caminhado na velocidade acelerada em nível científico pelo progresso tecnológico e pela capacidade de aprendizagem das sociedades. Desta feita, a segunda edição da REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” suscita a teia das ideias nos diálogos da produção científica de pesquisadores de diversas unidades e universidades de pesquisa para que haja a integração das abordagens diferentes na formação da totalidade de pensamento que se movimenta, na soma de saberes, o conceito maior da trilha da humanidade. Essa noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, cria uma concepção de que a simples soma das partes não leva ao simples total. É certo que a totalidade das pesquisas provoca o conjunto dos saberes e também conclama o espaço de cada colocação dos pesquisadores. Isso significa que na união das forças de cada pesquisa forma-se a soma das ideias coletivas num só corpo: o conhecimento em teia. Vale aqui ressaltar que os sentidos do homem não se diluem ao vento, mas são interlocutores do mundo. É nesse sentido, que se fala da capacidade auto-organizativa do ser humano e da sua autonomia diante da complexa ambiência em que se vive atualmente. Assim se observa que, na organização dos saberes da segunda edição da Revista, os artigos bradam a união de todas as inquietações humanas, como: vida sustentável, administração em setores contábeis, planejamento da construção civil, expansão e aplicação tecnológica em diferentes setores, educação ambiental no aproveitamento do lixo urbano, ciclo organizativo do ecossistema, políticas públicas no planejamento das cidades, gastronomia na equação da vida social das pessoas, dentre outras preocupações. Na complexidade das pesquisas, a humanidade está sujeita a cruzamento de múltiplas dinâmicas pessoais, contextuais, familiares e institucionais. Nessa mesma dinâmica, a REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” ancora-se na multiversalidade das pesquisas para não se calarem as inquietações dos pesquisadores, dos docentes e dos discentes na busca da organicidade da vida através das pesquisas. O Editorial tem certeza de que todos os envolvidos nesta Revista demonstram a coragem de estarem juntos no fazer ciência para o crescimento sempre da instituição no envolvimento cada vez mais dos docentes-pesquisadores e no fortalecimento de seus futuros profissionais. Profª Drª Maria Suzett Biembengut Santade Editora SUMÁRIO REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO CONJUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE ESTUDO DE CASO SARTORTI, Artur Lenz PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA – SP FAGUNDES, Anatália Silva Montoro; FRAISOLI, Camila PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADES MARANGONI FILHO, Mário INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS 09 19 31 CORRÊA, Rony Felipe Marcelino; PINTO, Lilian Vilela Andrade 41 SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA, DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SP CAMARGO, Eliana Anunciato Franco de; PRADO, Angelo Pires do; CAMARGO, José Tarcísio Franco de 53 ANÁLISE AMBIENTAL E GEOESPACIAL DOS DEPÓSITOS DE LIXOS CLANDESTINOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇU COSTA, Ana Caroline; BARRAZA LARIOS, Mario Roberto 61 MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETROFIT DE EDIFICAÇÕES BERNI, Mauro Donizeti; DELGADO, Antonio Carlos; PAGLIARDI, Odail 73 EDUCAÇÃO EM DIABETES MIRANDA, Silvio Cesar; OLIVEIRA, Daniela Soares A SUSTENTABILIDADE E O MERCADO GASTRONÔMICO WERDINI, Marcelo Malta EMPREENDEDORISMO 85 NO 95 INTERFACEAMENTO DE MODELOS PARA OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS ANALÍTICOS BORTOLOTI, João Alexandre; OCCHIUCCI, Fernando 101 DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIAPARADETERMINAÇÃO DE COT POR ESPECTROFOTOMETRIA LEME, Bruno de Campos; SAITO, Bruno Orui 109 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS E ESTRUTURA COSTA, Rodrigo Simão da 117 REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO CONJUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE ESTUDO DE CASO SARTORTI, Artur Lenz Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) [email protected] RESUMO: Este artigo refere-se à utilização conjunta de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças de concreto armado submetidas à flexão simples. Este assunto tem gerado dúvidas e questionamentos em alguns membros da comunidade técnica, a qual muitas vezes tem dividido as suas opiniões. Desta forma, a presente pesquisa busca contribuir na elucidação do assunto com uma breve revisão teórica ampliada por um estudo de caso prático de uma viga bi-apoiada, submetida à flexão simples com armadura composta por aço CA-50 e CA-60. Este artigo pode ser de utilidade para estudantes de graduação em engenharia civil ou profissionais que queiram ampliar seu conhecimento sobre o assunto. PALAVRAS CHAVE: Aço CA-50 e CA-60; flexão simples; vigas ABSTRACT: This article refers to the joint use of steels in CA-50 and CA-60 categories in reinforced concrete pieces submitted to the simple flexion. This issue has raised doubts and questions among members that belong to the technical community, which often have divided their opinions. Thus, this research tries to contribute with the elucidation concerning to the subject with a brief theoretical increased by a practical case study of a bi-supported beam, submitted to the simple flexion with a reinforcement composed by CA-50 and CA-60 steel. This article can be use for students of graduation in Civil Engineering or professionals that desire to improve their knowledge about the subject. KEYWORDS: Steel CA-50 and CA-60; simple bending; beams. 1. INTRODUÇÃO A expansão dos produtos para a construção civil tem possibilitado ao engenheiro projetista especificar soluções estruturais com variados materiais. Uma variável possível é a utilização de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças de concreto armado. Muitas vezes é levantada a dúvida por profissionais da área estrutural, no que diz respeito à viabilidade técnica da utilização de aços de diferentes categorias de resistência e comportamentos em uma mesma peça de concreto armado. Desta maneira, muitas opiniões têm divergido e alguns engenheiros têm evitado a “mistura” de aços em seus projetos. O presente artigo busca contribuir no sentido de elucidar alguns pontos desta discussão, apresentando um estudo teórico, baseado em uma revisão de conceitos, sobre a utilização de aços de categorias diferentes em peças de concreto armado submetidas à flexão simples. Para que os conceitos apresentados na revisão teórica possam ser bem compreendidos, reserva-se ao final do artigo um espaço para a demonstração de um caso prático de dimensionamento de uma viga de concreto armado bi-apoiada com a mistura de aços de diferentes categorias. 2. Objetivo De forma geral, o objetivo do artigo é revisar os conceitos da aplicação de aços de diferentes categorias em peças de concreto armado submetidas à flexão simples, tentando responder a questão da possibilidade técnica de utilização conjunta de aços de duas categorias na mesma peça. Por meio de um estudo de caso, procura-se ilustrar os conceitos abordados no artigo. Interciência & Sociedade 9 SARTORTI, A. L. 3. Metodologia O artigo é baseado em uma breve revisão bibliográfica e em um estudo de caso de uma viga bi-apoiada sujeita a flexão simples. Esta viga foi escolhida por se tratar de uma estrutura básica de concreto armado, de fácil entendimento, na qual os conceitos aqui abordados podem ser facilmente identificados. 4. Aços CA-50 e CA-60 O aço é um material metálico, produto das usinas siderúrgicas, constituído essencialmente de ferro e uma adição de até 2% de carbono. Outros elementos químicos podem ser acrescentados para melhorar alguma de suas características. A NBR 7480:2007 classifica como barras os produtos de diâmetro nominal igual a 5,0mm ou superior obtidos exclusivamente por laminação à quente (CA-25 e CA-50), e como fios os produtos de diâmetro nominal até 10mm obtidos por trefilação ou processo equivalente (CA-60). Assim, nota-se que o processo de fabricação do CA-50 e do CA-60 é diferente. Moraes e Rego (2005) afirmam que a laminação é um processo de deformação mecânica, responsável pela redução da se- s ção transversal do tarugo de aço, através de cilindros paraleos em rotação. Já a trefilação é um processo de conformação mecânica a frio onde o fio-máquina passa por meio de matrizes ou fieiras que são orifícios calibrados. Entretanto, não é apenas na fabricação que os aços CA-50 e CA-60 se diferem. Como a sua designação deixa explícita, a capacidade resistente das duas categorias é diferente. O comportamento mecânico dos dois aços pode ser descrito através dos diagramas tensão-deformação. A NBR 6118:2003 no item 8.3.6 apresenta um diagrama-deformação único para qualquer categoria de aço. Porém, sabe-se que o comportamento dos dois tipos de aço é diferente. Com base na antiga NBR 6118:1978, Fusco (1981) apresenta os diagramas tensão-deformação ilustrados nas Figuras 01 e 02. Apesar de não serem mais válidos pela NBR 6118:2003, estes diagramas expressam o real comportamento dos aços CA-50 e CA-60, sendo, portanto, utilizados neste estudo para melhor elucidar o comportamento do uso misto destas categorias em peças de concreto armado sujeitas à flexão simples. Vale ainda destacar que a NBR 7480:2007 valida ainda estes diagramas conforme as prescrições encontradas no item 6.6.1. s s f yd f yk f yd Lei Lei de H ook de H ook e e 0,7.f yd Es Es yd 10‰ 2‰ s Figura 1: Diagrama tensão-deformação para o aço CA-50. Fonte: Adpt. Fusco (1981). 10 = s/Es + 1/45.( s /f yd - 0,7)² yd 10‰ Figura 2: Diagrama tensão deformação para o aço CA-60. Fonte: Adpt. Fusco (1981). Interciência & Sociedade s Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso 60 vale 36,54kN/cm²; • A deformação específica equivalente ao fim da proporcionalidade de Hooke do aço CA-60 vale ; • A deformação específica de início de escoamento do aço CA-60 ( ) vale , onde é o módulo de elasticidade do aço da armadura passiva definido em norma com o valor de 210GPa e é o valor da deformação específica residual no início do escoamento. Portanto ; • A deformação específica última vale . Da observação da Figura 01 pode-se notar que: • A resistência característica ao escoamento do aço CA-50 ( ) vale 50kN/cm²; • A resistência de cálculo ao escoamento do aço CA-50 ( ) vale 43,5kN/cm²; • A deformação específica de início de escoamento do aço CA-50 ( ) vale , onde é o módulo de elasticidade do aço da armadura passiva definido em norma com o valor de 210GPa. Portanto ; • A deformação específica última vale . 5. Utilização conjunta de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças submetidas à flexão simples Da observação da Figura 02 pode-se notar que: • A resistência característica ao escoamento do aço CA-60 ( ) vale 60kN/cm²; • A resistência de cálculo ao escoamento do aço CA-60 ( ) vale 52,2kN/cm²; • A resistência de fim da proporcionalidade de Hooke do aço CA- As peças sujeitas a flexão simples perfazem uma grande parcela dos elementos estruturais de concreto armado. Para ilustrar a situação de uma peça fletida, tem-se como exemplo uma viga qualquer com esquema estático e seção transversal apresentada na Figura 03. h p As b M = p. ²/8 Figura 3: Esquema estático e seção transversal de uma viga genérica. Fonte: Autor. Interciência & Sociedade 11 SARTORTI, A. L. Admitindo-se que a armadura As é composta por barras e fios (CA-50 e CA-60) e que o momento fletor M inicial seja exatamente maior que o momento de fissuração, a seção média desta viga estará no Estádio II. Sendo assim, o diagrama de deformações e tensões para esta seção transversal pode ser ilustrado como na Figura 04. - Linha Neutra + es s Figura 4: Diagrama de deformações e tensões da seção mais solicitada. Fonte: Autor. Quando o valor do momento fletor M aumenta, os valores da tensão no aço ( )gradualmente irão elevar-se para níveis mais próximos ao patamar de escoamento. Como a armadura é composta por aços das categorias CA-50 e CA-60 ter-se-ia a seguinte situação ao serem sobrepostos os diagramas tensão-deformação dos dois aços (Figura 05). s Tre cho com um f yd CA-60 f yd CA-50 0,7.f yd CA-60 yd CA-50 yd CA-60 10‰ s Figura 5: Diagramas tensão-deformação sobrepostos para os dois aços. Fonte: Autor. 12 Fazendo-se uma rápida leitura da Figura 05 nota-se que: • O trecho inicial do diagrama tensão deformação pode ser admitido igual para os dois aços, pois a NBR 6118:2003 define um único módulo de elasticidade para as diferentes categorias de aço; • Em um determinado ponto (a 0,7 de fyd do aço CA-60) os diagramas se separam, sendo que o aço CA-50 segue ainda um pouco no regime elástico e o aço CA-60 passa ao regime elasto-plástico; • Ao o aço CA-50 chegar ao patamar de escoamento, o aço CA60 ainda absorve tensões com o aumento das deformações até o início de seu patamar de escoamento; • Os dois aços devem apresentar uma deformação específica máxima de , sendo então o fator limitante a máxima deformação específica e não a tensão de uma ou outra categoria de aço; Interciência & Sociedade Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso • Na ruptura que se espera em uma peça solicitada à flexão simples (deformação plástica excessiva do aço – Domínios 1, 2 e 3), os dois tipos de aço estarão em seus respectivos patamares de escoamento sendo limitados pela máxima deformação. 6.Estudo de caso de uma viga composta de aços das categorias CA-50 e CA-60 Para que os pontos observados na análise teórica fiquem mais claros, reserva-se este espaço para o desenvolvimento prático de um caso de um viga submetida à flexão simples, na qual é empregada armadura passiva composta por CA-50 e CA-60. Trata-se de uma viga bi-apoiada com vão de 5m e resistência característica à compressão do concreto (fck) equivalente a 25 MPa. O esquema estático bem como a seção transversal e o diagrama de momentos fletores estão representados na Figura 06. Para efeito de análise, adotou-se a posição relativa da linha neutra ( ) com o valor de 0,2, o que caracteriza a peça estar trabalhando no Domínio 2 de deformações na ruptura, já que o limite entre os domínios 2 e 3 dá-se com o valor 0,259. 50cm p 5m As 20cm M = p. ²/8 Figura 6: Esquema estático e seção transversal da viga em análise. Fonte: Autor. Pelo equilíbrio de momentos no Estádio III em uma seção retangular determina-se a equação (1): (1) Sendo: é o momento fletor máximo com seu valor de cálculo; b é a largura da seção transversal valendo 20cm neste caso; d é a altura útil da armadura de tração medida do centro de gravidade da armadura de tração à borda mais comprimida e neste caso vale 46cm; neutra x; é a posição relativa da linha é o valor da resistência de cálculo à compressão do concreto, e é determinada pela divisão da resistência característica à compressão do concreto pelo coeficiente de minoração da resistência do concreto que nesta verificação vale 1,4. Portanto, para este caso vale 17,86MPa. Portanto, o máximo momento fletor que pode ser resistido por esta peça com a imposição de é: Interciência & Sociedade 13 SARTORTI, A. L. Adotando-se a relação de eficiência igual a 1,2 entre o aço CA-50 e CA-60 (60/50=1,2) e determinando-se que a armadura em aço CA-50 deverá perfazer 76,7% da área total e os outros 23,3% devem ser atendidos com aço CA-60, tem-se: Armadura em 0,767.5,14=3,95cm² Armadura em 0,233.5,14/1,2=1,00cm² CA-50 = CA-60 = Portanto o arranjo final fica em . Para ilustrar as variações de tensões dos dois aços em serviço, imagine-se que na seção central da viga: Situação 01: um pequeno carregamento seja aplicado a viga, o qual geraria um momento fletor M1. Sendo M1 um valor muito pequeno, ele estaria abaixo do momento mínimo de fissuração (limite entre os Estádios I e II). Portanto, a peça não estaria fissurada e as tensões de tração estariam sendo suportadas apenas pelo concreto, independentemente da quantidade e categoria de aço envolvida no problema. Para exemplificar, seja este carregamento igual a 2kN/m. O momento fletor resultante máximo é igual à 625kN.cm. 14 LN x Sendo: é a resistência de cálculo ao escoamento do aço. Admitindo inicialmente que a área de aço para resistir este momento seja apenas composta de aço CA-50, tem-se: Situação 02: um acréscimo no carregamento amplia os valores das tensões de tração e um novo momento fletor M2, maior que o momento de fissuração, começa a atuar. Desta maneira, o concreto não resiste mais a tração e encontra-se fissurado. A armadura então começa a absorver as tensões de tração, porém estes valores são baixos. Para exemplificar, seja este carregamento igual a 15kN/m. O momento fletor resultante máximo é igual à 4687,5kN.cm. Já o momento de fissuração, definido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale 3206,20kN.cm. Nota-se que o valor solicitante é superior ao momento de fissuração e a seção está no Estádio II. Para que seja possível o cálculo da tensão na armadura, faz-se necessário a determinação da posição da linha neutra na seção mediana no Estádio II. Fazendo-se a somatória do momento estático em relação à linha neutra (equação (3)) tem-se (Figura 07): d (2) x/2 Já o momento de fissuração, definido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale 3206,20kN.cm. Nota-se que o valor solicitante é inferior ao momento de fissuração e a seção está no Estádio I. d-x Por meio do equilíbrio de forças normais na seção transversal retangular no Estádio III tem-se a área de aço necessária para resistir a esta solicitação através da equação (2). 20cm As.a e Figura 7: Determiação da linha neutra e do momento de inércia no Estádio II. Fonte: Autor. Interciência & Sociedade Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso Sendo: é a razão modular dada por onde é o módulo de elasticidade do aço (210GPa) e é o módulo de elasticidade secante do concreto dado por . O valor de neste exemplo é de 8,82. Desta forma: O valor da inércia no Estádio II é dado por (equação (4)): (4) A tensão na armadura então pode ser determinada conforme a equação (5): (5) Esta tensão está abaixo do limite de proporcionalidade de Hooke, tanto para o aço CA-50 (43,5kN/cm²) quanto para o aço CA-60 (36,54kN/cm²). Portanto, essa tensão ainda está contida no trecho comum, ilustrado no diagrama tensão-deformação da Figura 05. Para o cálculo da deformação específica pode ser utilizada a Lei de Hooke e esta valerá 1,06‰. Situação 03: um acréscimo maior no carregamento amplia os valores das tensões de tração, e um momento fletor M3 começa a atuar. Esse novo momento fletor faz com que a deformação específica atinja o valor de 1,74‰, que é o limite da proporcionalidade de Hooke para o aço CA-60. A tensão tanto no CA-50 quanto no CA-60 valeria 36,54kN/cm². Situação 04: um outro acréscimo no carregamento amplia os valores das tensões de tração e um momento fletor M4 começa a atuar. Esse novo momento fletor faz com que a deformação específica atinja o valor de 2,07‰, que é o limite da proporcionalidade de Hooke para o aço CA50. O aço CA-60 está em seu trecho curvo do diagrama tensão-deformação. A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm². Isolando-se a tensão do aço CA-60 para o trecho curvo na equação apresentada na Figura 02 tem-se a configuração da equação (6): (6) Interciência & Sociedade 15 SARTORTI, A. L. Percebe-se que a tensão no aço CA-60 é menor que no aço CA-50. Situação 05: Um novo carregamento gera um momento M5. Esse novo momento faz com que a deformação específica atinja o valor de 4,49‰, que é a deformação específica de início de escoamento do CA-60. A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm². A tensão no aço CA-60 valerá 52,2kN/cm². Situação 06: Um último carregamento gera um momento M6, igual ao momento resistente último. Esse novo momento faz com que a deformação específica atinja o valor de 10‰, que é a deformação específica máxima tanto para o aço CA-50 quanto para o CA-60. A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm². A tensão no aço CA-60 valerá 52,2kN/cm². Nota-se que na ruptura as duas categorias de aço estarão em seus respectivos patamares de escoamento. 7. Análise dos resultados Das situações apresentadas no item 6, podem ser observados os seguintes fatos: • Quando a deformação específica do aço está abaixo de 1,74‰, ambos os aços das duas categorias analisados apresentarão a mesma tensão atuante (situação 02 e 03); • Entre o limite de deformação de 1,74‰ e 2,07‰, o aço CA-50 apresenta um acréscimo de tensão maior que o CA-60 (situação 04); • A partir da deformação 2,07‰, o aço CA-50 não tem acréscimo de tensão, enquanto que o aço CA-60 apresenta acréscimo até a deformação de 4,49‰ (situação 05); • Quando os dois aços chegam a deformação limite de 10‰, ambos estarão com sua respectiva tensão de escoamento (situação 06); 16 • As diferentes tensões encontradas nos diversos níveis de carregamento, para cada categoria de aço, não representam problema para o comportamento conjunto, pois o concreto que envolve as barras garante a mesma deformação específica para ambos os aços através do monolitismo; • As situações discutidas no item 6 podem ser aplicadas a qualquer elemento simplesmente fletido de concreto armado. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos conceitos expostos, nota-se que a utilização conjunta do aço CA-50 e CA-60 em peças submetidas à flexão simples não acarreta problemas. Esta conclusão pode ser sustentada pelos seguintes fatos: • Não existe diferença na tensão dos aços em uma fase inicial dos diagramas tensão-deformação. Os níveis de tensão usualmente encontrados em peças fletidas em serviço, na maioria das vezes, estão abaixo do valor de 36,54kN/cm²; • Quando os diagramas de tensão-deformação dos dois aços se dividem, as tensões em cada categoria de aço são diferentes, porém não a deformação que é garantida pelo concreto que envolve as barras; • Na iminência de ruptura, as duas categorias de aço estão em regime de escoamento e, portanto, com tensões constantes. Isso é essencial para que seja garantida uma ruptura avisada. Portanto, fica evidente a possibilidade de utilização das duas categorias de aço em uma peça simplesmente fletida. Isto se mostra como uma vantagem quando existe a necessidade de alocação de um número excessivo de barras. A eficiência maior do aço CA-60 quanto à resistência pode ajudar a descongestionar armaduras. Outra situação muito comum é a utilização de telas eletrossoldadas em aço CA-60 Interciência & Sociedade Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso como complementos de armaduras em vergalhões CA-50 para elementos de superfície. Contudo, não se pretende fechar a questão da utilização de armaduras conjuntas de aços de categorias diferentes em peças fletidas neste artigo. Entretanto, espera-se que os comentários aqui expostos possibilitem um melhor esclarecimento do assunto ao leitor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto e execução de obras de concreto armado. NBR 6118. Rio de Janeiro, 1978. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto - procedimento. NBR 6118. Rio de Janeiro, 2003. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado - especificação. NBR 7480. Rio de Janeiro, 2007. Fusco, P. B. Estruturas de concreto: solicitações normais. LTC editora. Rio de Janeiro, 1981. Moraes, V. R.; Rego, L. R. M. Aços para Concreto Armado. In. Concreto: ensino, pesquisa e realizações. Isaia, G. C. – editor. Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). São Paulo, 2005. Artur Lenz Sartorti. Graduado em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2005), mestre em Engenharia Civil de Estruturas pela Universidade Estadual de Campinas (2008) e doutorando em Engenharia de Estruturas na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, em fase de elaboração de tese. Atualmente é professor associado de Engenharia Civil do Centro Universitário Adventista de São Paulo na área de Estruturas. Engenheiro Civil Calculista/Projetista de Estruturas. Foi Calculista/Projetista de Estruturas na ILTRUK - Projetos & Consultoria Técnica-Comercial Ltda apoiando as ações de consultoria da mesma. Possui experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Estruturas de Concreto Armado/Protendido e Estruturas Metálicas. Interciência & Sociedade 17 18 Interciência & Sociedade PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA – SP FAGUNDES, Anatália Silva Montoro Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] FRAISOLI, Camila Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) [email protected] RESUMO: Nas últimas décadas, com a necessidade de reflexão acerca das questões ambientais, o termo planejamento ambiental tem estado na pauta de discussões de esferas privadas e públicas. O termo planejamento, embora recente, vem sendo apontado como uma das soluções para promover o desenvolvimento de um meio ambiente urbano sustentável, capaz de preservar os recursos e, ao mesmo tempo, promover melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. O presente trabalho visa realizar uma breve reflexão acerca do planejamento ambiental e das possibilidades de implantação de tal planejamento no Município turístico de Serra Negra, interior do estado de São Paulo. Para realizar este estudo foi efetivado o levantamento de aspectos legais, ambientais e econômicos do município, a fim de compreender os principais problemas, impactos e limites de Serra Negra. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Planejamento Ambiental, Turismo, Serra Negra. ABSTRACT: In recent decades, with the need to reflect on environmental issues, the term environmental planning has been on the table of discussions of private and public spheres. The term planning, although recent, has been appointed as a solution to promote the development of a sustainable urban environment, which can preserve the resources and at the same time, improvements in quality of life for people of medium and small municipalities. The present work aims at a brief reflection on the possibilities of environmental planning and deployment of such planning in the City tour of Serra Negra, in the state of Sao Paulo. To make this study we realize an analyses of legal aspects, environmental and economic municipality to understand impacts and limits of Serra Negra. KEYWORDS: Sustainable Development, Environmental Planning, Tourism, Serra Negra. 1. INTRODUÇÃO Desde a Primeira Revolução Industrial (meados do século XVIII) as transformações ambientais induzidas pelos homens foram intensas e ininterruptas, modificando por completo o meio ambiente em escala mundial. Após essa revolução, o meio ambiente e os recursos naturais passam a ser vistos como mercadorias, sendo assim apropriados pelo modo de produção capitalista. Da mesma forma, a Revolução Industrial impôs um novo ritmo de consumo às sociedades humanas, fato que interfere diretamente sobre o meio ambiente, tanto como recurso como quanto depósito dos resíduos gerados pela sociedade. Segundo RIBEIRO (2001), as discussões sobre as questões ambientais nascem como resposta a destruição de bases naturais, da caça indiscriminada e da matança de animais e pássaros. A primeira ação de destaque internacional relacionado à questão ambiental ocorreu em 1890 nos EUA, com a criação do Parque de Yellowstone, sendo essa a primeira Área de Proteção Ambiental do planeta. Quase um século depois, em Interciência & Sociedade 19 FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C. 1972, ocorre em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Essa conferência é o marco mais significativo do movimento ambiental mundial. Os objetivos da conferência davam ênfase principalmente às questões referentes à poluição ambiental, ao acelerado processo de industrialização e urbanização, a relação entre uso dos recursos naturais e crescimento populacional. Em 1983, a ONU organizou a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, que resultou no documento intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como relatório Brundtland, publicado em 1987. Nesse documento, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha destaque ao propor a possibilidade de desenvolvimento, desde que este esteja atrelado ao uso racional dos recursos naturais. O relatório também se destaca por dar grande ênfase à questão da pobreza mundial, apontando este como um dos principais problemas ambientais mundiais (FERREIRA, 1992). Em 1992 ocorre na cidade do Rio de Janeiro a Conferência do Rio, chamada de Eco 92. Essa Conferência representou outro marco para o movimento ambientalista, pois resultou em alguns avanços teóricos metodológicos no debate ambiental. A Conferência teve como principais itens: a reafirmação sobre a soberania dos territórios nacionais; elege a pobreza como o principal elemento de degradação ambiental; diferencia as responsabilidades dos países ricos e pobres quanto à poluição; reafirma a preocupação com as gerações futuras; coloca a necessidade de maior mobilidade social; difunde a meta do desenvolvimento sustentável; cria o documento conhecido como Agenda 21. No contexto nacional, os primeiros movimentos brasileiros que podem ser considerados como “ambientais” surgem após 1930. Nesse contexto político, as preocupações ambientais diziam respeito ao uso e ocupação do território, imprimindo, portanto, uma preocupação geopolítica, marcando assim o controle federal sobre a biodiversidade do país. Coincidindo com as tendências internacionais acerca das questões ambientais, os espaços naturais brasi- 20 leiros eram abordados, ao mesmo tempo, por perspectivas naturalistas e geopolíticas, procurando preservar os “ambientes naturais”, os ecossistemas, e os limites das fronteiras naturais. As maiores mudanças das políticas públicas ambientais nacionais só se efetivaram de fato após a Constituição Federal de 1988. Após 1988, é implementada a Política Nacional de Meio Ambiente, cuja prioridade era: “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida visando a assegurar, no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e proteção da dignidade da vida humana” (Lei 6. 938, art. 2º, VENTURA e RAMBELLI, 1996). Além da PNMA (Política Nacional de Meio Ambiente), todas as Constituições Estaduais passam a ter capítulos sobre o meio ambiente, tão ou mais abrangentes que a Constituição Federal. Os municípios, agora com maior autonomia com a constituição de 1988, passaram a ter dispositivos legais para a preservação ambiental, como as Leis Orgânicas e os Planos Diretores. Com novos mecanismos legais, todas as esferas do poder público são então capazes de prover um meio ambiente que respeite os recursos naturais e, ao mesmo tempo, preserve e/ou promova a qualidade de vida de seus habitantes. Nas esferas locais, os grandes instrumentos de destaque são o Plano Diretor e a Lei Orgânica dos municípios. Ambos os instrumentos são capazes de estabelecer normas que regulamentam o território e as atividades sociais e econômicas das cidades. Especificamente os planos diretores, apresentam a capacidade de organizar e traçar objetivos e metas de controle, gerenciamento e regulamentação do meio ambiente urbano. Assim sendo, o plano diretor, em si mesmo, estabelece características próprias de um planejamento ambiental urbano. Nesse sentido, podemos entender que o plano diretor de um município pode ser um importante instrumento de planejamento ambiental. O município de Serra Negra, localizado no interior de São Paulo, apresenta condições ambientais particulares. Essas características transformaram o município Interciência & Sociedade Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP em um pólo de atração turística, sendo esta a principal atividade econômica da cidade. Porém, o intenso fluxo turístico, aliado ao uso intenso do meio ambiente do município pode comprometer tanto o sistema natural de Serra Negra quanto a própria atividade do turismo. Assim sendo, é necessário se pensar em soluções e regulamentações para o uso do meio ambiente do local. O objetivo deste trabalho, tendo em vista as condições de Serra Negra, consiste na análise da viabilidade de implantação de Planejamento Ambiental urbano no município, dado as necessidades geradas pela pressão turística. 2. Metodologia Tendo como norteador os objetivos propostos nesse trabalho, a metodologia se baseia na interpretação e análise das características ambientais, econômicas, sociais e jurídicas do município de Serra Negra. Para esse fim, os seguintes passos foram seguidos; - Avaliar o Plano Diretor Municipal, e outros mecanismos legais de Serra Negra; - Interpretar e avaliar as características econômicas, sociais e ambientais de Serra Negra; - Identificar os principais problemas ambientais urbanos; - Avaliar os principais problemas decorrentes da atividade turística do município; 3. Planejamento ambiental nas esferas municipais Após a Constituição de 1988, os três níveis de governo estão habilitados a, da forma que melhor os couber, planejar e controlar o meio ambiente. Á União cabe questões de interesses mais gerais, à escala do território nacional, aos estados cabem as questões em níveis regionais, enquanto aos municípios caberiam os assuntos de interesses locais. Na prática significa afirmar que a autonomia dos estados e municípios após 1988 representa maiores possibilidades de ação das administrações estaduais e municipais. Porém, por vezes esses novos instrumentos defrontam-se com a incapacidade política, com jogos de interesses e com a inoperância de determinadas ações frente aos problemas urgentes (financeiros, sociais, etc.) dos estados e municípios brasileiros. O termo Planejamento Ambiental é uma expressão recente, usada com maior freqüência nos últimos dez anos graças a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, a ECO-92. A conferência tem como destaque a produção da chamada AGENDA 21, que previa um planejamento ambiental desde o nível global até os níveis nacional, regional (estadual) e local (municipal). Segundo a AGENDA 21, o objetivo do planejamento é promover a melhoria da qualidade de vida do ser humano e a conservação e preservação do meio ambiente. Segundo BALDWIN (1985), o planejamento ambiental pode ser definido como o iniciar e a execução de atividades para dirigir e controlar a coleta, a transformação, a distribuição e a disposição dos recursos de forma a sustentar as atividades humanas com um mínimo de distúrbios nos processos físicos, ecológicos e sociais. Para FLORIANO (2004) planejamento ambiental é um processo de organizações de tarefas para se chegar a um fim, com fases características e seqüenciais que, em geral estão na seguinte ordem: identificar o objeto do planejamento, criar uma visão sobre o assunto, definir o objetivo do planejamento, determinar uma visão ou compromisso para se cumprir o objetivo, definir políticas e critérios de trabalho, estabelecer metas, desenvolver um plano de ações necessárias para se atingir as metas, desenvolver um plano de ações necessárias para se atingir as metas. Segundo CHRISTOFOLETTI (2000), o planejamento ambiental é um importante instrumento de tomada de decisão, e deve levar em consideração os seguintes fatores: cenários econômicos e demográficos, projeção de uso das águas, demandas hídricas; avaliação de limitação de recursos; avaliação de processos e fenômenos Interciência & Sociedade 21 FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C. naturais. No caso do setor público, o planejamento ambiental apresenta algumas características diferenciadas. O governo tem papel fundamental na consolidação do desenvolvimento sustentável1, uma vez que ele é o responsável pelo estabelecimento das leis e normas que estabelecem os critérios ambientais que devem ser seguidos por todos. As leis e normas citadas devem ter atenção especial ao setor privado que, em seus processos de produção de bens e serviços, se utiliza dos recursos naturais e produz resíduos poluentes. Além de definir as leis e fiscalizar seu cumprimento, o poder público precisa ter uma atitude coerente, responsabilizando-se também por ajustar seu comportamento ao princípio do desenvolvimento sustentável, tornando-se exemplo de mudança de padrões de consumo e produção, adequando suas ações à ética socioambiental. Com a maior autonomia dos municípios, novos instrumentos políticos foram inseridos nas administrações públicas municipais, permitindo maior amplitude de solução dos problemas urbanos e rurais dos municípios (FERREIRA, 2000). Dentre esses instrumentos, os principais são o Plano Diretor e a Lei Orgânica municipal. Braga (2001, p: 96) conceitua o plano diretor como “instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, que tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes”. Para MOTA (1999, p: 25), “o plano diretor deve conter as diretrizes e padrões da organização do espaço urbano, do desenvolvimento sócio-econômico e do setor político administrativo, sempre visando melhorar as condições de vida da população da cidade”. Inicialmente, a proposta era que todos os municípios com mais de 20 mil habitantes seriam obrigados a formular seus Planos Diretores2. Porém, em 2001, com a aprovação do Estatuto da cidade (Lei 10. 257 / 2001), ficou estabelecido a obrigatoriedade do plano diretor para os municípios com as seguintes situações: cidades pertencentes a regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; cidades localizadas em áreas de especial interesse turístico; cidades em áreas de influencia de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental. Segundo o documento “Cidades Sustentáveis” do Ministério do Meio Ambiente, para a formulação e implementação de políticas públicas pautadas no desenvolvimento sustentável e na Agenda 21, duas estratégias de sustentabilidade estão diretamente ligadas ao Plano Diretor: 1 – Aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção de equidade, eficiência e qualidade ambiental. 2 – Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão democrática de cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade. Analisando os parâmetros acima citados, o Plano Diretor se configura como instrumento institucional que busca a normatização dos usos e a regulamentação do espaço urbano. Por isso, sua regulamentação e prática organiza e transforma as cidades, se constituindo em um instrumento de ação para o planejamento rural e urbano dos municípios. Segundo BRAGA (2001), há um grande distanciamento entre o que é proposto pelos planejadores e seus projetos e Nesse trabalho, entendemos por desenvolvimento sustentável o atendimento das necessidades da geração atual sem comprometer o direito das futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades. 1 2 22 No caso do Estado de São Paulo, todos os municípios foram obrigados a compor um plano diretor. Interciência & Sociedade Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP a realidade dos processos sociais e econômicos que moldam o meio ambiente urbano. Em grande parte das cidades brasileiras, os Planos Diretores jamais saíram do papel, ou então se tornaram obsoletos ou pouco práticos, frente à realidade dos municípios. Na prática, o sistema político administrativo brasileiro, baseado no jogo de interesse e na lenta máquina burocrática, dificulta a aprovação e a aplicação dos planos, comprometendo o planejamento dos municípios. Ainda sim, a partir do Plano Diretor é possível não apenas administrar o espaço urbano dos municípios, mas também realizar um planejamento ambiental adequado às condições naturais dos sítios urbanos. Como instrumento de gestão, os planos diretores se configuram como uma saída à degradação ambiental e a fragilização do meio ambiente urbano. Assim, podemos compreender que o Plano Diretor pode ser utilizado como organismo de implantação de instrumentos de planejamento. Os planos, da mesma forma que os planejamentos ambientais aplicados a meios privados, devem seguir metodologias de diagnósticos, traçar objetivos e metas, impor mecanismos de regulação de uso e ocupação de terras. 4. O município de Serra Negra e o planejamento ambiental As cidades podem ser compreendidas como a máxima representação do desenvolvimento técnico, econômico e social das sociedades humanas. Desde os primeiros aglomerados humanos, até as atuais e modernas megalópoles, podemos afirmar que as cidades são o espaço primordial do homem, onde ele realiza todas as suas atividades e relações. Nos ambientes urbanos podemos encontrar os objetos e elementos construídos pelo homem, bem como os elementos e fenômenos naturais próprios do meio ambiente e fundamental aos meios de vida humana. É no meio ambiente urbano que se evidencia intensamente a modificação do meio ambiente causada pela ação humana. Tendo em vista os impactos ambientais urbanos causados pela ação hu- mana, bem como a qualidade de vida das sociedades urbanas, é cada vez mais urgente pensar em alternativas para criar um meio ambiente urbano que vise o desenvolvimento sustentável. Pensando em alternativas, a implantação de um planejamento ambiental urbano pode ser uma saída para a questão. Nesse sentido, as políticas públicas municipais tornam-se um importante instrumento de planejamento, uma vez que permitem ao poder local a tentativa de enfrentar o processo de degradação sócio-ambiental. Assim, visando os objetivos desse estudo, abaixo nos concentraremos nas questões referentes ao município de Serra Negra. O município de Serra Negra possui 26.613 habitantes (IBGE, 2011), e está situado numa ramificação da Serra da Mantiqueira, a leste do Estado de São Paulo. Faz parte do chamado Circuito das Águas Paulistas, sendo, portanto, um dos centros turísticos da região. Conforme suas características ambientais e econômicas, Serra Negra é um grande centro turístico do país, recebendo um público flutuante de cerca de 100.000 pessoas durante todo o ano (Prefeitura Municipal de Serra Negra, 2011). O grande número de turistas, bem como sua alta rotatividade, faz com que o turismo seja a atividade econômica mais importante do município. Para compreender melhor as condições do município de Serra Negra é necessário avaliar suas características, a fim de estabelecer limites e soluções propiciadas pelas pressões geradas pela atividade turística. 4.1. Caracterização Ambiental Avaliando a Geomorfologia e a Geologia da região, podemos afirmar que o relevo de Serra Negra é esculturado sobre rochas muito antigas do chamado embasamento cristalino, e influenciado por grandes alterações climáticas pretéritas, além de movimentos tectônicos diversos. O município situa-se quase que integralmente sobre rochas do chamado Complexo Amparo, de idade pré-cambriana. Interciência & Sociedade 23 FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C. A pedologia de Serra Negra obedece às características geológicas e climáticas da área, sendo, portanto, formado por solos rasos, classificados como Cambissolos. Os solos da região não apresentam acumulação significativa de óxidos de ferro, húmus ou argilas. O clima do Município é caracterizado como mesotérmico de invernos secos, com verões quentes e chuvosos. A temperatura média do mês mais frio é inferior a 18°C e do mês mais quente, situa-se entre 22° e 24°C. O índice pluviométrico do Município varia entre 1.300 mm e 1.400 mm, sendo a média do mês mais seco inferior a 30 mm. A vegetação original era formada por floresta mesófila, caracterizada como formação florestal estacional latifoliadas subcaducifólia tropical pluvial. As espécies características são o cedro, a peroba e a figueira, dentre outras. As águas minerais do município de Serra Negra são consideradas o principal recurso natural da cidade, estando vinculadas diretamente às atividades turísticas do município. O município é classificado como “Estância Hidromineral”, devido à exploração da balneoterapia e água de mesa. Os recursos hídricos de Serra Negra pertencem à UGRHI (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos) nº 09, que é formada pelos territórios dos municípios contidos na Bacia do Rio Mogi Guaçu. 4.2. Caracterização Demográfica De acordo com suas características demográficas, o município de Serra Negra pode ser considerado um município de pequeno porte, com uma área de aproximadamente 203 Km2. Com uma população de cerca de 26.633 habitantes, o município apresenta uma taxa de densidade demográfica de 131 habitantes por Km2. Com essa taxa, podemos considerar o município como sendo muito povoado, mesmo não sendo populoso. Na tabela abaixo (tabela 1), podemos fazer uma breve avaliação das condições demográficas gerais de Serra Negra: Tabela 1. Aspectos Demográficos do Município de Serra Negra Área (km2 ) População (hab.) Densidade Demográfica (hab./km2) Taxa de Crescimento Anual da População (% a.a.) Grau de Urbanização (%) Taxa de natalidade (por mil hab.) 203,01 26.633 131,19 1,02 86,76 10,89 Taxa de mortalidade Infantil (por mil mulheres entre 15 e 49 anos) 3,48 Fonte: IBGE 4.3. Caracterização Socioeconômica Conforme já destacado, o município de Serra Negra apresenta como principal fonte de renda a atividade turística. Essa atividade proporciona aos moradores do local um nível econômico considerado ele- 24 vado, com alto PIB e alto índice de Desenvolvimento Humano (vide tabela 2). Além disso, o município também apresenta bons índices de infraestrutura urbana, apontado para uma boa qualidade de vida para grande parte de seus moradores. Interciência & Sociedade Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP Tabela 2. Aspectos Econômicos do Município de Serra Negra PIB (em milhões de reais correntes) Renda per Capita (salários mínimos) Índice de Desenvolvimento Humano – IDH Participação nas Exportações do Estado (%) Domicílios com Infraestrutura Interna Urbana Adequada (%) Taxa de Analfabetismo (%) 262,61 3,08 0,817 0,000390 73,44 8,90 Fonte: SEADE 4.4 Plano Diretor de Serra Negra Conforme citado anteriormente, o plano diretor é o instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana. Tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar da população (BRAGA, 2001). De forma geral, os planos diretores tem se constituído basicamente em instrumentos definidores das diretrizes de planejamento, gestão territorial urbana e ambiental. Possibilita a ordenação do uso e ocupação do solo urbano por meio de uma gestão democrática, que permite a inserção da participação popular, gerando assim discussões acerca da problemática urbana e das relações socioeconômicas das cidades (SIVIERO, 1995). O atual plano diretor do município de Serra Negra foi aprovado em 30 de outubro de 2006. No decorrer do primeiro capítulo são estabelecidas diversas diretrizes. Entre elas está a determinação de Plano Diretor ser o orientador das atividades públicas e privadas desenvolvidas no Município pelo prazo de dez anos, e após esse prazo o mesmo deve ser revisto. No quarto capítulo, o Plano aborda os Aspectos Econômicos. Especificamente a Seção III determina que a política municipal de industrialização deverá estar de acordo com a lei municipal vigente, bem como com a vocação turística do município, e não poderão ser instaladas indústrias poluentes ou cujas atividades apresentem risco ambiental, além de promover a formação e atualização de mão-de-obra local. Esta seção faz paralelo com a Se- ção IV, que estabelece que a política municipal de turismo deverá estar plenamente adequada à presente lei, devendo privilegiar o potencial e a vocação turística do Município, procurando a sua consolidação e seu crescimento de forma ordenada e equilibrada, de forma a não prejudicar suas maiores riquezas, assim compreendidos o clima, a água, a vegetação e sua paisagem natural. No Capítulo V, o Plano aborda os Aspectos Sociais do município, relacionado com a Saúde, a Assistência Social, a Educação, a Cultura, ao Esporte e Lazer e a Habitação. Dentro de todos os aspectos, o Plano estabelece: a criação de programas de prevenção e tratamento de doenças de saúde pública; determina que os serviços de assistência social deverão ter estrutura organizacional adequada; que deverão ser garantidas ao ensino fundamental e médio, transporte gratuito e merenda escolar de qualidade; que deverão ser valorizados os eventos e manifestações culturais e artísticas existentes e incentivar o surgimento de outros novos; que o poder público deverá apoiar e incentivar todas as modalidades de esporte, bem como os atletas amadores que representarem o Município; que o Município e a iniciativa privada deverão desenvolver políticas de incentivo à construção de casas próprias. Todos os esforços deverão ser empenhados para evitar as sub-habitações e favelas, para isso o Município poderá ter áreas disponíveis para a implantação de loteamentos ou desmembramentos populares. No sexto capítulo, encontramos questões relativas á Infra-Estrutura Física. Assim, ficam estabelecidas as zonas urbana e rural, bem como vias, anéis viários Interciência & Sociedade 25 FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C. urbanos, entre outros e os critérios de funcionamento para todos os tipos de transporte. Neste mesmo capítulo, encontramos as questões relativas ao Saneamento Básico. Dessa forma, na seção IV, o Plano estabelece que os serviços de abastecimento de água e de coleta e destinação final de esgotos sanitários do Município continuarão sendo prestados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mediante concessão pública. O capítulo VII do Plano aborda as questões relativas ao Meio Ambiente. O Plano prevê a preservação dos corpos d’água através das áreas de proteção permanente (APP). A paisagem urbana deverá preservar os aspectos característicos do município, especialmente morros, montanhas, nascentes, fontes, praças, monumentos e marcos históricos e urbanísticos. Ainda, na seção IV, o Plano prevê a criação de um programa de minimização de resíduos, como também, o incentivo da participação da comunidade no programa de coleta seletiva e na educação ambiental. As questões relativas ás Áreas, o Parcelamento, do Uso e da Ocupação do Solo, do Código de Obras, Edificações e Posturas é abordado no capítulo VII. Neste capítulo é especificado que o território municipal fica subdividido em “área urbana”, “área rural”, “área de urbanização específica” e “área de expansão urbana”. Define também os abairramentos setoriais do Município. Na seção IX tem-se que nenhuma edificação, reforma, demolição, movimentação de terra ou outra obra de qualquer espécie poderá ser feita sem licenciamento prévio pelos órgãos competentes e da Administração Municipal. O capítulo XI aborda as questões relativas ás Propostas das Audiências Públicas. Dispõe que a gestão municipal deverá seguir as propostas votadas e aprovadas nas audiências públicas, no sentido de elevar a qualidade de vida, priorizando a educação, a saúde, protegendo os recursos naturais e as paisagens, evitando a ocupação das áreas de risco, aumentando a eficiência e a abrangência da economia, pensando no bem-estar e na melhoria das condições de vida da população. A partir da leitura do Plano Dire- 26 tor observa-se que o mesmo é uma peça chave para articular os processos de desenvolvimento e de tomada de decisões em nível municipal, pois trabalha com mecanismos diversos, incluindo técnicas legais e administrativas, cuidando da ordenação do espaço territorial municipal, envolvendo, ainda, aspectos sociais, econômicos, físico-territoriais e institucionais, além de suas interferências no uso e na distribuição da população e de suas atividades no solo urbano. 4.5 A Questão do Turismo Estima-se (conforme dados da Prefeitura Municipal de Serra Negra) que a cidade recebe um público flutuante de cerca de 100.000 pessoas durante todo o ano, sendo que os períodos de final de ano, carnaval, páscoa e Corpus Christi são as épocas de maior visitação. O município possui uma média de 60 prédios voltados ao turismo, entre hotéis e pousadas, totalizando uma média de 7000 leitos. Acredita-se que o turismo represente 50% de toda economia do município. O comércio local representa um grande pólo de atração turística, com uma enorme variedade em produtos em lã, linha, couro, artefatos de madeira e laticínios. O turismo rural também é representativo na economia local, com propriedades abertas à visitação que desenvolvem desde o plantio de café à fabricação de queijos e vinhos. Atualmente encontra-se uma média de 10 propriedades rurais que oferecem esse tipo de serviço aos turistas. O plano diretor composto em 2006 aponta propostas e regulamentações a fim de privilegiar o potencial e a vocação turística do Município. O plano procura a consolidação e o crescimento da atividade turística de maneira ordenada e equilibrada, de forma a não prejudicar seus recursos ambientais. Também faz parte do plano desenvolver a educação da população, visando estimular a mentalidade turística interna e receptiva. Faz parte das propostas do plano diretor a criação de um Plano Diretor de Turismo, prevendo a construção de novos recursos e infraestruturas, além da exploraInterciência & Sociedade Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP ção de um espaço já existente no município, chamado de “Centro de Convenções”. A localização do município na Serra da Mantiqueira, o clima tropical de altitude, a preservação de grande parte de suas matas nativas, além dos recursos hídricos, são os elementos que proporcionaram a grande atratividade do município. Esses foram os recursos naturais e ambientais apropriados como mercadorias pelo sistema econômico e transformados em objetos de atração turística e fontes de renda. Os recursos hídricos de Serra Negra, e em especial as fontes e minas de água, são considerados os grandes bens naturais da cidade. O desenvolvimento da atividade turística ocorreu de fato a partir da descoberta da qualidade das águas minerais, sendo que hoje Serra Negra é considerada “Cidade da Saúde”. Segundo os dados do plano diretor (2006), as águas encontradas em Serra Negra têm como características a radioatividade, o baixo índice de mineralização e o pH alcalino. As minas e fontes de água foram transformadas em fontanários, e hoje a cidade possui mais de 10 fontes de visitação pública. 5. Propostas para o planejamento ambiental de Serra Negra A partir de toda a caracterização de Serra Negra, observa-se que o mesmo necessita de um Planejamento Ambiental Urbano. Isso se justifica pelo fato do município ter o turismo como atividade econômica principal, ao passo que possui muitos recursos ambientais. A grande pressão exercida pela atividade turística acarreta alguns problemas de ordem turística, ambiental e de infra-estrutura. Dessa forma, é preciso agregar o turismo ao Meio Ambiente para que se tenha o desenvolvimento da atividade sem causar degradação. Um importante instrumento do Planejamento Ambiental é Plano Diretor Municipal, uma vez que o mesmo possibilita a regulamentação do uso e ocupação da Terra, legaliza atividades, e permite planejar os espaços urbanos. Após a análise do Plano Diretor de Serra Negra observa-se que muitas ideias contidas ali ainda não foram colocadas em prática. Talvez um primeiro passo seria a revisão do Plano e a tentativa de usar as propostas ali descritas a fim de melhorar alguns aspectos do município. Em relação ao Turismo, percebe-se que o mesmo deveria ter uma abrangência maior no município, ou seja, a cidade precisaria criar Planos e Projetos a fim de desenvolver a educação da população, visando estimular a mentalidade turística interna e receptiva. Como descrito no Plano Diretor, seria importante criar intensas campanhas de motivação para todos os setores do município, a fim de que haja o engajamento da população na consolidação do turismo. Outro ponto importante seria investir na promoção do Município e na capacitação dos prestadores de serviços. Além dos incentivos e investimentos, é importante salientar a participação ativa da administração pública na criação e manutenção da infra-estrutura básica do município. Dentre eles, a limpeza, o calçamento em bom estado de conservação, iluminação eficiente, praças conservadas, gerenciamento do trânsito e dos estacionamentos, segurança etc. Outro tópico importante é a proposta de criação de um Plano Diretor de Turismo, que contemple e regulamente a implementação de diretrizes importantes. Dentre elas pode-se citar: a execução e implantação de pólos de atração turística em alguns pontos estratégicos; implantação de cursos profissionalizantes nas áreas de turismo e hotelaria, mediante convênios; intensa promoção; divulgação do Município no Estado de São Paulo e em âmbito nacional e valorização dos artesãos e agricultores locais. Não menos importante, é a exploração do espaço chamado “Centro de Convenções”. Este espaço é uma ferramenta muito importante para o município, por possuir um grande espaço para convenções, além de abrigar um balneário que atualmente encontra-se desativado. O Plano Diretor previa também, a conclusão e estruturação administrativa do Centro de Convenções, bem como a integração do local ao centro da cidade durante as temporadas, dando oportunidade para o turista usufruir do balneário e de outras atividades no local. Esse espaço poderia contribuir muito para o desenvolvimento do turismo local, mas para isso seria essencial o investimento para que Interciência & Sociedade 27 FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C. sua construção fosse finalizada e o balneário voltasse a funcionar. Com relação ao Meio Ambiente, também pode-se sugerir inicialmente a aplicação do Plano Diretor. Como já dito, o município possui muitas Áreas de Preservação Permanente (APP), mas poucas são conhecidas da população e dos turistas. Um trabalho importante seria a recuperação e preservação das APP’s, bem como implantação de novos parques urbanos e áreas de preservação permanente com finalidades ecológicas e de lazer. Neste sentido seria importante trabalhar com a população para que os mesmos pudessem auxiliar na implantação, divulgação e preservação não só destes parques, como também das APP’s. Outro ponto importante seria a elaboração de um plano integrado de preservação e manutenção da paisagem urbana do centro comercial, dos edifícios e dos monumentos históricos. Com relação aos Resíduos Sólidos, é importante que o município possua um Programa de Gerenciamento, a fim de reduzir os riscos de degradação ambiental, que no caso do Ribeirão Serra Negra, já está poluído. O gerenciamento dos resíduos beneficiaria não só a população local, mas também os turistas que muitas vezes sentem-se incomodados com a falta de Coleta Seletiva, por exemplo. O Plano Diretor mesmo prevê um programa de minimização de resíduos, visando a redução da quantidade de lixo a ser disposta em aterros. Neste sentido, a Administração Pública, deve incentivar a participação da comunidade, bem como a educação ambiental, divulgando a coleta seletiva, suas vantagens e forma de funcionamento. É importante salientar que muitas das propostas levantadas até aqui trarão benefícios não só ao Meio Ambiente, mas ao Turismo também. Uma ideia muito interessante apontada no Plano Diretor, é a viabilização dos “Monitores Turísticos e Ambientais”, trabalhando com jovens a partir dos quatorze anos, visando um turismo ambiental e receptivo. Para que não só essas ideias, mas outras que possam surgir, sejam colocadas em prática é importante que se faça um Planejamento Ambiental Urbano. Segundo 28 FLORIANO (2004), o processo de planejamento pode ser organizado da seguinte maneira: identificação do elemento do planejamento, criação de uma visão sobre o assunto, definição dos objetivos, definição de critérios e ferramentas de trabalho, desenvolvimento de métodos de controle e análise das ações planejadas e, então, a tomada de decisões para prevenção e correção quanto às irregularidades que poderão ocorrer em relação ao plano. Neste sentido, o Planejamento Ambiental Urbano é uma iniciativa onde poderão ser trabalhados muitos aspectos relativos ao município, seja ele ambiental, turístico, de uso e ocupação do solo, de infra-estrutura, entre outros. Através dele, será possível apontar os problemas do município e, principalmente, buscar soluções. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O município de Serra Negra, desde o início de sua fundação, possui um caráter turístico devido aos seus recursos ambientais e seu comércio local. Observa-se que o Turismo foi se desenvolvendo, e o município absorveu esse crescimento, porém de forma desordenada, sem o devido planejamento. Atualmente, percebe-se uma cidade privilegiada de recursos ambientais, com um fluxo de visitantes intenso, que mantém a economia local, mas que é carente de planos de melhoria e previsão futura. Serra Negra, da mesma forma que outros municípios paulistas, possui um Plano Diretor que apresenta diversas idéias que, se postas em prática, poderiam não apenas solucionar problemas urbanos, como também alavancar a atividade turística e promover o desenvolvimento de Serra Negra. O plano, com diretrizes, objetivos e metas, poderia ser um forte instrumento de planejamento ambiental, garantindo que a atividade turística e o meio ambiente se mantivessem de forma concomitante e harmoniosa. O planejamento ambiental, conforme exposto nesse artigo, além de preservar o meio ambiente, e garantir a sustentabilidade da atividade turística, também poderia garantir uma maior qualidade de vida para os moradores da cidade, uma vez que estaInterciência & Sociedade Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP beleceria uma série de ações de melhorias contínuas. Com o Plano Diretor já composto, o mesmo poderia ser utilizado como embasamento legal para a composição de um planejamento ambiental. Porém, vale destacar que mesmo com todos os aspectos positivos criados pelo Plano Diretor, esse não foi colocado em prática na íntegra, o que nos leva a crer na existência de barreiras políticas e sociais impostas pela dinâmica do município. As condições para a construção de um Planejamento Ambiental Urbano no município de Serra Negra existem e talvez não sejam tão complexas. Porém, ainda seria necessário ir além de questões legais, alcançando também as perspectivas políticas, sociais e culturais. Assim, podemos concluir esse estudo reafirmando as possibilidades de melhorias proporcionadas pelo planejamento ambiental. No caso de Serra Negra, seria de grande valia, pois uma cidade bem planejada tem grandes chances de obter o retorno de seu investimento, que não está só no presente, mas no futuro também. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio Claro, LPM-UNESP, 2001. pp 95 á 109. CHRISTOFOLETTI, A., Modelagem de Sistemas Ambientais, São Paulo, ed. Edgard Blücher, 2000. 236 p. FERREIRA, L., C., Estado e Ecologia: Novos Dilemas e Desafios, Tese de Doutorado, IFCH, Unicamp, Campinas, 1992. FLORIANO, E. P., Planejamento Ambiental. Santa Rosa, ed. ANORGS, 2004. 54 p. FRANCO, M. A. R., Planejamento Ambiental para a Cidade Sustentável. São Paulo, ed. Annablume: FAPESP, 2001. 296p. MOTA, S., Urbanização e Meio Ambiente, Rio de Janeiro, ed. Abes, 1999. PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA ESTÂNCIA HIDROMINERAL – SP, 2006. RIBEIRO, W. C., A Ordem Ambiental Internacional, ed. Contexto, São Paulo, 2001. SANTOS, R. F., Planejamento Ambiental: teoria e prática, São Paulo, ed. Oficina de textos, 2004. 184 p. SIVIERO, S. O., A Política Ambiental e o Pode Local: O Caso do Município de Campinas – SP, Campinas, 1995. 126 p. Tese de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. BRAGA, R ., CARVALHO, P. F., Perspectivas de Anatália Silva Montoro Fagundes é bacharel em Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor Franco Montoro. Camila Fraisoli é bacharel em geografia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, mestrado em geografia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Interciência & Sociedade 29 30 Interciência & Sociedade PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADES MARANGONI FILHO, Mário Faculdade Municipal “Professor Franco Motoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: O presente artigo abrange o estudo das propostas de três importantes autores que procuraram estabelecer princípios e diretrizes para o planejamento urbano. Inicia com a teoria da Cidade-Jardim de Ebenezer Howard na passagem do século 19 para o século 20; em seguida verifica algumas das proposições do arquiteto Le Corbusier na primeira metade do século 20 e finaliza com as propostas de Jane Jacobs, elaboradas no início da década de 1960. Pretende verificar como as propostas de Jane Jacobs podem ser aplicadas no planejamento de cidades médias. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento urbano, cidade-jardim, vitalidade das cidades. ABSTRACT: This article covers the study of the proposed three important authors who sought to establish principles and guidelines for urban planning. Starts with the theory of City-Garden of Ebenezer Howard in the passage of the 19 century for the 20 century; then verifies some propositions of the architect Le Corbusier in the first half of 20 century and ends with the proposals of Jane Jacobs, compiled in the early 1960. Aims to see how the proposals of Jane Jacobs can be applied in the planning of medium-sized cities. KEYWORDS: Urban planning, City-Garden, vitality of cities. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo faz parte de uma pesquisa sobre o planejamento urbano e sobre o espaço de Mogi Guaçu, cidade média do interior do estado de São Paulo. A principal motivação da pesquisa foi a procura de indicações para a vitalidade urbana na cidade de Mogi Guaçu. Considera-se que a questão do planejamento urbano local deve ser um processo contínuo que leve em conta os referenciais teóricos apropriados e as observações e descrições precisas das condições locais. Quais devem ser os pressupostos do planejamento urbano para o crescimento das cidades médias com vitalidade urbana? Esta é a problemática que a pesquisa procurou compreender e fazer indicações para o caso de Mogi Guaçu. O artigo concentra-se nos princípios de planejamento urbano a partir da te- 1 oria da cidade-jardim de Ebenezer Howard, do planejamento moderno e racionalista de Le Corbusier e das propostas de planejamento para a vitalidade das cidades de Jane Jacobs. O trabalho tem por objetivos verificar como as propostas de Jane Jacobs podem ser aplicadas nos planos diretores de cidades médias. 2. A teoria da Cidade-Jardim Em seu livro Cidades-Jardins de Amanhã, Howard (2002, p.191) apresenta suas ideias não apenas para uma cidade, mas para aglomerados de cidades de populações máximas entre 30.000 e 54.000 habitantes1, como alternativa ao crescimento de Londres com aproximadamente 5 milhões de habitantes por volta de 1900. O tamanho das cidades-jardins preconizado por Howard, tinha a finalidade da preservação do espaço urbano próximo do setor agrí- As populações totais, incluindo os moradores da zona agrícola, seriam de 32.000 pessoas e de 58.000 pessoas. Interciência & Sociedade 31 MARANGONI FILHO, M. cola, e a intenção de construção de novas cidades, onde seria possível o estabelecimento de uma “sociedade na qual o amor próprio a si mesmo nos leva a insistir numa maior consideração pelo bem-estar de nossos semelhantes”. A sua representação gráfica da cidade-jardim (Figura 1), de forma circular, ressalta corretamente que era apenas um diagrama e a implantação deveria considerar o sítio selecionado para o projeto da cidade. A área da cidade ocupava 400 hectares, um sexto do total municipal de 2.400ha que incluía a zona agrícola. No centro, localizavam-se os edifícios públicos: a sede da municipalidade, as salas de concertos e conferências, o teatro, a biblioteca, o museu, a galeria de arte e o hospital, disposto como um belo e irrigado jardim. Seis avenidas ou bulevares com 36 metros de largura conduziam ao centro. Ao redor deste do centro, haveria um parque central de 56 ha com grandes áreas de recreação, circundado por um Palácio de Cristal. Os lotes para residências, com área mínima de 186 metros quadrados e dimensões de 6,10 x 30,50 metros somariam 5.500 unidades, em um sistema de arrendamento por 99 anos. Haveria também a Grande Avenida com 128 m de largura dividindo a cidade em duas faixas circulares. As fábricas e armazéns seriam implantados na parte externa da cidade, defronte a via férrea e teriam os maquinários movidos à eletricidade. A administração e o controle da cidade e do município seriam de uma Junta Administrativa para o direcionamento da iniciativa municipal, organizada conforme o modelo de uma grande empresa e de forma que a responsabilidade por cada setor da administração seria assumida diretamente pelos funcionários daquele setor. Figura 1: Diagrama de Ebenezer Howard para a cidade-jardim. Fonte: Benevolo, 1974, p.400. 32 Interciência & Sociedade Planejamento para a vitalidade das cidades Letchworth foi a primeira cidade-jardim implantada, conforme a teoria de Howard e localizada a aproximadamente 50 km ao norte de Londres, a partir de 1903, com a compra de 1.546 ha para uma área urbana de 505ha, pela companhia First Garden City Ltd. Com a previsão de 30.000 habitantes, a cidade de Letchworth atingiu 26.000 habitantes somente em 1962 (Cf. Ottoni, 2002, p.45). O plano inicial dos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker2, é mostrado na Figura 2 a seguir. Figura 2: Planta de Letchworth, a primeira cidade-jardim. Fonte: Benevolo, 1974, p.400. 2 Os mesmos arquitetos são os autores do projeto do loteamento paulistano Jardim América, em 1919 (Cf. Ottoni, 2002, p.72). Interciência & Sociedade 33 MARANGONI FILHO, M. Em 1919 Howard funda uma segunda sociedade e começa a construção da cidade de Welwyn, localizada aproximadamente na metade do percurso entre Londres e Letchworth. Com previsão de população total de 50.000 habitantes, alcança 35.000 habitantes antes da segunda Guerra Mundial. Porém, o cinturão agrícola perde a importância econômica nas duas cidades-jardins e se reduz às áreas verdes circundantes das suas zonas urbanas. No caso de Welwyn, a proximidade de Londres proporciona a possibilidade de trabalhar na metrópole e residir na cidade-jardim. A cidade-jardim, enfim, torna-se uma cidade como as demais, submetida à atração da metrópole, restando da concepção original a elegância dos traçados das ruas, a uniformidade dos edifícios e a distribuição das áreas verdes. A teoria e o movimento de Howard tiveram uma grande influência na Europa e assim, grande número de subúrbios das principais cidades adotaram a forma de cidades-jardins (Cf. Benevolo, 1974, p.401). A proposta da cidade-jardim e o projeto de Letchworth mostram o zoneamento urbano como um dos fundamentos da nova cidade, com quatro zonas de uso do solo: residencial, industrial, comercial e as áreas verdes. Como visto acima, da ideia original da cidade-jardim permaneceu a parte formal de ruas curvas e áreas verdes, com resultados palpáveis em loteamentos arborizados. A distância dos centros urbanos, outra ideia da cidade-jardim, também aparece em projetos de loteamentos murados ou também em condomínios horizontais fechados, muitas vezes com apelos ou motivações de proximidade da natureza. Por outro lado, loteamentos populares afastados das áreas mais centrais das cidades, são tam- 34 bém chamados de jardins, o que aparece apenas como um recurso de mercado sem constituir uma prática imobiliária real. 3. Le Corbusier e o planejamento racionalista Le Corbusier, um dos arquitetos mais influentes da arquitetura moderna, também foi um dos maiores teóricos do urbanismo progressista ou racionalista, característico do movimento moderno no século XX. Considerou a vida nos subúrbios um engano, onde o campo tornou-se uma zona imensa sem plano e sem ligação com a aglomeração. “Esta teoria, nas cidades-jardim da Inglaterra, dos Estados Unidos, criou a desarticulação do fenômeno urbano” (LE CORBUSIER, 1979, p.22). Procurou maneiras de evitar que as cidades se estendam e se diluam, perdendo a forma e a alma; assim, considerou que a solução é conferir altura às construções para ganhar terreno em torno delas (Cf. Le Corbusier, 2008, p.12 e p.87). Sua maneira de pensar o urbanismo abrangia a reunificação da propriedade fundiária urbana em uma renovação pela arquitetura e pelo urbanismo, com a demolição do casario existente e a implantação de edifícios, com a orientação racional da morada, onde a cidade pouco a pouco se transforma em um parque, e ocorria a abolição da tirania da rua, local principal de circulação. As figuras 3 e 4 mostradas a seguir exemplificam sua ideia de separação entre os pedestres e os automóveis, e a construção dos imóveis em meio às áreas verdes. O projeto do plano piloto de Brasília também apresentou estes princípios, como parte da concepção urbanística de Lúcio Costa. Interciência & Sociedade Planejamento para a vitalidade das cidades Figura 3: Separação de pedestres e automóveis (Le Corbusier). Figura 4: Imóveis na cidade, conforme Le Corbusier. Fonte: Le Corbusier, 1979, p.49. Fonte: Le Corbusier, 1979, p.50. Esta breve exposição evidencia as propostas de Le Corbusier, como exemplos de um planejamento racional e organizado em todos os detalhes do espaço urbano, onde não haveria possibilidades de existência da cidade espontânea e certamente desorganizada, conforme a sua visão. Deve-se considerar também que as suas ideias referem-se às grandes cidades, com grandes populações, problemas de circulação, necessidades de habitações com qualidades ambientais e necessidade de áreas verdes. Em relação às ideias de Le Corbusier para o planejamento regional, destaca-se sua proposta de fábrica verde, em centros industriais lineares ao lado das vias entre cidades: Os edifícios são dispostos segundo as necessidades do terreno e as exigências da fabricação; suas formas, suas dimensões são, em cada caso, proporcionais às funções. A luz é larga e sistematicamente distribuída nas oficinas por dispositivos apropriados. Mas, em determinados lugares, quando o sol não incomodar, aberturas verticais serão abertas, sobre perspectivas paisagísticas judiciosamente reservadas ou regulamentadas. Os espaços entre os edifícios constituirão conjuntos harmoniosos com vastas extensões de céu e de perspectivas sobre lugares longínquos. A relva está justamente ao pé dessas vidraças aberta sobre o campo: as árvores são mantidas e outras são plantadas para vestir o lugar. [...] Este é um exemplo inteiramente ocasional da fábrica verde, que pode servir de norma quando da constituição das cidades lineares industriais. (LE CORBUSIER, 1979, p.143) Interciência & Sociedade 35 MARANGONI FILHO, M. Figura 5: A fábrica verde de Le Corbusier. Fonte: Le Corbusier (1979, p.141). 4. Vitalidade Urbana Para Jane Jacobs (2000, p.1), seu trabalho Morte e Vida de Grandes Cidades, escrito no início da década de 1960, aborda o funcionamento das cidades na prática, principalmente e basicamente as grandes cidades norte-americanas. É uma tentativa de introduzir novos princípios no planejamento urbano, diferentes e em oposição ao planejamento urbano moderno, cujos princípios e objetivos procuram estabelecer a ordem na desordem das cidades. Argumenta que o funcionamento das cidades na prática é a única forma de saber que princípios de planejamento e quais iniciativas de reurbanização conseguem promover a vitalidade socioeconômica nas cidades e quais práticas e princípios a inviabilizam. As grandes cidades são muito diferentes das cidades médias e pequenas e se tentarmos entender as cidades menores com base nas metrópoles, a confusão será maior do que tentar entender as cidades grandes com base no comportamento e no suposto funcionamento das cidades menores (cf. JACOBS, 2000, p.15). 36 Para a autora (Jacobs, 2000, p.23), Le Corbusier foi o arquiteto europeu que propôs o planejamento anticidade dentro das cidades, ao imaginar nos anos de 1920, uma cidade chamada Ville Radieuse formada por 24 grandes edifícios em meio a um parque, resultado da demolição de uma grande área de Paris. Com esta colocação fica evidente o interesse da autora pela vida urbana com possibilidade de encontro social informal entre as pessoas e que esta possibilidade ocorre nas ruas com calçadas de tamanho apropriado à circulação de pedestres e com a existência de comércio e serviços diversificados, e com alta densidade populacional. Apresenta-se a seguir modos de análise para compreender as cidades, com base nas propostas de Jacobs (2000, p.491), tendo por objetivo a verificação das possibilidades de aplicá-los no planejamento de cidades médias brasileiras. 1- Refletir sobre os processos. As cidades e os seus elementos abrangem processos urbanos; e é preciso pensar nos catalisadores desses procesInterciência & Sociedade Planejamento para a vitalidade das cidades sos. Os processos urbanos podem ser compreendidos por quase todos e não apenas por especialistas, e ao compreender esses processos é possível dar-lhes direção. Para isso é de importância a realização de audiências públicas, tendo em vista a participação popular para a elaboração dos planos diretores municipais, conforme é exigido no Estatuto da Cidade (Lei nº. 10.257/2001, Art. 40, §4º), ou seja, no processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização da sua implementação o Poder Legislativo e o Executivo garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade. 2- Usar de indução, raciocinando do particular para o genérico e não o contrário, usar de dedução, raciocinando do genérico para o particular. Os urbanistas foram treinados e formados no raciocínio dedutivo. Por outro lado, o raciocínio indutivo pode compreender particularidades e pode ser praticado por cidadãos comuns, que não são acostumados a pensar sobre um lugar de maneira genérica ou abstrata. Não basta aos planejadores e administradores conhecer serviços e técnicas específicas, mas precisam conhecer a fundo os lugares específicos. O conhecimento local é imprescindível para o planejamento urbano e as áreas de atuação dos planejadores não podem ser muito extensas, pois deixa de focalizar o local específico e é muito difícil conhecer uma cidade por inteira ou um grupo de bairros com o detalhamento necessário (cf. JACOBS, 2000, p. 456). 3- Procurar índices sobre quantidades pequenas de coisas, que revelem como funcionam quantidades médias e maiores. Os índices precisos sobre quantidades pequenas de coisas informam como as coisas estão funcionando, por exemplo, os horários de funcionamento do comércio informam sobre a permanência das pessoas nas vias públicas do local. Neste sentido, é preciso considerar a existência de pontos de interesse, ou de elementos irregulares, como indispensável para as cidades cheias de vida, sendo também importantes como indícios para análise urbana. Irregularidades, nestes casos, têm o sentido de diferença e de ponto de interesse. Os planejadores urbanos, ao exercer a ciência do planejamento urbano e a arte do desenho urbano, não podem considerar as irregularidades, ou pontos de interesse urbano, como incoerentes ou fora de padrão, mas como geradores de vitalidade urbana (cf. JACOBS, 2000, p.493). Além da análise para compreender as cidades, é preciso que o planejamento urbano tenha objetivos específicos, e neste trabalho concorda-se com Jacobs (2000, p.454/455), que o objetivo do planejamento urbano é conseguir a vitalidade urbana com a diversidade de usos, em locais específicos da cidade; sendo metas do planejamento urbano para obter a vitalidade urbana: 1- Estimular a diversidade de usos e de usuários para a vitalidade social e como alicerce da força econômica. 2- Interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e proprietários possam dar uma contribuição para a segurança. 3- Evitar fronteiras desertas e ajudar a promover a identificação das pessoas com os distritos extensos. 4- Estimular forças econômicas construtivas e projetos pessoais, em meio à diversidade em uma área mais ampla da cidade. 5- Explicitar a ordem visual das cidades, por meio da promoção e da compreensão da ordem funcional3. Para explicitar a ordem visual da cidade pode-se utilizar a comunicação visual para indicação dos lugares e dos prédios públicos e privados, inclusive a distribuição de mapas da cidade. Também por meio do urbanismo, com ruas, avenidas, prédios e marcos visuais naturais ou construídos. 3 Interciência & Sociedade 37 MARANGONI FILHO, M. Estas metas estão inter-relacionadas e os responsáveis pelo diagnóstico urbano, pela elaboração de táticas e pela recomendação de medidas de revitalização precisam ter um conhecimento detalhado sobre os lugares específicos e únicos da cidade, e não um conhecimento generalizado. Pode-se adquirir boa parte das informações com os próprios moradores do lugar, que têm conhecimentos sobre esses lugares específicos e únicos, pois não há quem mais saiba a respeito. Por exemplo, para a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Mogi Guaçu, Lei nº 968 de 2008, a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano realizou audiências públicas em 2006, para adquirir informações com os próprios moradores da cidade e do distrito de Martinho Prado. Os cinco itens relacionados acima podem fazer parte dos planos diretores de cidades médias como Mogi Guaçu, de diversas formas, no zoneamento urbanístico, nas diretrizes viárias e no planejamento de áreas de lazer. Tendo por objetivo a vitalidade urbana, se pode abordar essas questões no zoneamento urbanístico dos planos diretores municipais, possibilitando usos diferentes em uma mesma área: habitação unifamiliar, habitação multifamiliar, comércio e serviços. Também devem ser evitados os núcleos habitacionais populares sem comércio e serviços. Uma forma de evitar fronteiras desertas é a permissão ou previsão de lotes comerciais, de serviços, habitacionais ou institucionais na parte externa dos condomínios fechados, e também dos loteamentos fechados, evitando assim os muros extensos e desertos. A implantação de áreas de lazer menores para o atendimento de áreas menores da cidade também pode evitar as áreas verdes grandes, desertas e inseguras. Em outra escala, a implantação de áreas de lazer para atendimento de áreas maiores da cidade deve ocorrer com comércio e serviços nas proximidades ou na própria área de lazer para evitar áreas desertas. A forma de parques lineares junto aos córregos urbanos permite a existência 38 de residências próximas, assim como o comércio e os serviços. A implantação de sinalização informativa dos lugares, com placas, indicações e inclusive com a distribuição de mapas da cidade, pode ajudar a explicitar a ordem visual e a compreensão funcional. Em relação à vitalidade de projetos urbanos específicos, são apresentadas algumas considerações propostas por Jacobs (2000, p.437/445), que também podem ser utilizadas no planejamento urbano das cidades médias, como Mogi Guaçu. 1- É necessário evitar projetos autônomos em si e separados da cidade, assim é preciso costurar os projetos na trama urbana e fortalecer a trama ao redor. Aqui aparece novamente a questão de como fazer com que os loteamentos fechados ou murados e os condomínios horizontais nas cidades médias, sejam integrados de alguma forma na trama urbana, ou pelo menos, não criem longas barreiras arquitetônicas ao longo das suas divisas. Como foi visto acima, outros tipos de uso, comerciais, serviços, institucionais ou ainda habitacionais junto das divisas muradas, eliminam ou reduzem o isolamento dos muros. Também é possível a utilização do estudo de impacto de vizinhança (EIV), previsto no Art. 36 da Lei nº. 10.257/2001, Estatuto da Cidade, da seguinte forma: lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana, que dependerão de estudo prévio de impacto de vizinhança, para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder público municipal. 2- Os novos projetos de núcleos habitacionais populares precisam de personagens públicas informais, espaços públicos vivos, bem vigiados e usados com constância e inter-relação de usos com pessoas de fora. Para os núcleos habitacionais existentes é preciso diagnosticar as condições de gerar diversidade que estão faltando e os conjuntos devem ser seguros e viáveis para a vida urbana. Considera-se que os núcleos habiInterciência & Sociedade Planejamento para a vitalidade das cidades tacionais não podem ser apenas de habitação, mas precisam conter também comércio e serviços diversos, permitindo a interpenetração de vizinhanças. Assim, para apagar a monotonia dos conjuntos residenciais é necessário atrair outros usos não residenciais. O piso térreo deveria ser incorporado aos usos da rua com pedestres, quiosques, comércio e serviços. As ruas nesse pavimento térreo deveriam ser ruas verdadeiras para carros e pessoas. As figuras públicas como os vendedores, comerciantes, policiais, vigias, taxistas em pontos de táxi, são importantes para a vitalidade urbana, pois geram comunicação e segurança. Pequenos comerciantes são tipicamente propensos a manter a lei e a ordem pública. 3- Ao contrário de superquadras, características do planejamento urbano moderno, as quadras devem ser pequenas, para maior circulação de pessoas nelas. As novas ruas devem ligar-se a ruas além dos limites do projeto para a integração desse local ao que está à sua volta. As ruas devem ligar-se aos elementos fixos e notáveis do terreno, quando existem esses elementos. 4- Pequenos parques públicos e áreas de esportes e lazer devem estar junto das ruas movimentadas. Também é importante prever outros usos para os espaços públicos, como auditórios e escolas, nos fins-de-semana. Assim como Le Corbusier, Jacobs (2000, p.494/498) considera um equívoco a vida nos subúrbios, que é vista como uma aproximação desejada da natureza. Este modo de vida não é uma característica de Mogi Guaçu como uma cidade média, porém existem alguns loteamentos de chácaras afastados da cidade e também o distrito de Martinho Prado Júnior, distante 20 km da cidade sede. No século XVIII, o romantismo disseminou o sentimento da natureza e as cidades, com seus problemas, foram vistas como inimigas da natureza. Os planejadores urbanos crêem na irracionalidade das cidades e no caos urbano, e nesta crença existe um equívoco sobre a inter-relação das cidades e dos homens com o restante da natureza. Porém, os seres humanos fazem parte da natureza, e as cidades são produtos de uma forma de natureza, de uma natureza transformada; assim, as cidades são naturais e não antinaturais. É possível e necessário poder observar a natureza nas cidades, com parques, áreas verdes, rios limpos, atmosfera limpa, etc. A mentalidade que só vê desordem na vida das ruas das cidades é ansiosa por destruí-la, padronizá-la, transformá-la em subúrbio. Talvez por isso a ideia de Cidade-Jardim ainda é um conceito forte no pensamento do planejamento urbano e manifesta-se, de certa forma, nos loteamentos fechados nos subúrbios. As ideias e proposições de Jacobs foram elaboradas tendo em vista a aplicação nas grandes cidades, porém princípios como a diversidade urbana, a convivência urbana com privacidade, a qualidade de vida urbana sem segregação ou discriminação também são válidos para as cidades médias como Mogi Guaçu. Para a formação de condições de vitalidade urbana é necessário que o planejamento urbano e o desenho urbano não se tornem apenas componentes técnicos da gestão das cidades. As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender, comunicar, planejar e inventar o que for necessário para enfrentar as dificuldades. [...] As cidades monótonas, inertes, contêm, na verdade, as sementes de sua própria destruição e um pouco mais. Mas as cidades vivas, diversificadas e intensas contêm as sementes de sua regeneração, com energia de sobra para os problemas e as necessidades de fora delas. (JACOBS, 2000, p.498 e 499) Também é preciso colocar, como uma possibilidade de utilização nos planos diretores municipais, uma proposta de Mumford (2003, p.289), que consiste no acesso público às paisagens rurais, por meio do planejamento de faixas contínuas de terrenos públicos no conjunto da paisagem, sem alterar o funcionamento da ecoInterciência & Sociedade 39 MARANGONI FILHO, M. nomia agrícola. Ressalte-se, porém, que esta proposta de acesso público aos espaços rurais deve ser bem mais detalhada, envolvendo aspectos complexos de propriedades rurais e de uso para turismo local nos municípios, aspectos esses que podem constituir uma pesquisa específica. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS De forma geral, verifica-se que as colocações de Jane Jacobs (2000) para o planejamento urbano são adequadas para a cidade de Mogi Guaçu e também para outras cidades médias brasileiras na atualidade, como a cidade vizinha de Mogi Mirim. Algumas ideias de Jacobs formam um conjunto de procedimentos para o planejamento urbano, que podem estabelecer a vitalidade das cidades: estimular a diversidade de usos e de usuários em uma mesma área da cidade; interpenetração de vizinhanças, cujos usuários e proprietários possam contribuir para a segurança pela simples presença nos locais de atividades comerciais e de serviços; evitar as fronteiras desertas em áreas verdes e muros extensos de condomínios fechados; estimular forças econômicas construtivas e projetos pessoais; explicitar a ordem visual das cidades, por exemplo, com a adequada sinalização informativa dos lugares inclusive com a distribuição de mapas urbanos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENEVOLO, L. Historia de la Arquitectura Moderna. Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1974. HOWARD, E. Cidades-Jardins de Amanhã. Annablume Editora, São Paulo, 2002. JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades. Martins Fontes, São Paulo, 2000. LE CORBUSIER. Os Três Estabelecimentos Humanos. 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Professor da Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro e das Faculdades Integradas Maria Imaculada, em Mogi Guaçu – SP. 40 Interciência & Sociedade INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS CORRÊA, Rony Felipe Marcelino Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] PINTO, Lilian Vilela Andrade Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, Campus Inconfidentes (IFSULDEMINAS) [email protected] RESUMO: O presente trabalho teve como objetivos inventariar quali-quantitativamente a arborização urbana em vias públicas de Inconfidentes-MG, seus impactos negativos, as espécies mais frequentes e as que trazem mais problemas para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano de arborização urbana. Para atender esses objetivos foi realizado um inventário quali-quantitativo das espécies arbóreas e arbustivas encontradas na arborização de 35 quadras da cidade, sendo identificados 408 indivíduos distribuídos em 40 espécies e 21 famílias botânicas. As espécies que apresentaram maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%, Ficus benjamina (fícus) com 11%, Delonix regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. Pôde-se constatar que 226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo de conflito, sendo os maiores conflitos relacionados com fios, calçadas e pedestres, e apenas 182 indivíduos (44,61%) não geram nenhum tipo de conflito. PALAVRAS-CHAVE: Arborização urbana; planejamento urbano; gestão ambiental. ABSTRACT: This study aimed to elaborate a qualitative and quantitative inventory urban forestry on public roads MG-Inconfidentes, its negative impacts, the most frequent species and bring more problems for the municipal government may later develop a plan for urban forestry. To meet these objectives we performed a qualitative and quantitative inventory of tree and shrub species found in the afforestation of 35 city blocks, being identified 408 individuals in 40 species and 21 botanic families. The species with the highest frequency were Caesalpinia peltophoroides ) totaling 27%, Ficus benjamina with 11%, Delonix regia with 8% and Murraya exotic with 7.5%. It might be noted that 226 individuals (55.39%) generate some kind of conflict, with the biggest conflicts over power lines, sidewalks and pedestrians, and only 182 individuals (44.61%) did not generate any kind of conflict. KEYWORDS: urban forestry, urban planning, environmental management. 1. INTRODUÇÃO O planejamento da arborização urbana é indispensável para o desenvolvimento urbano, evitando que traga prejuízos ao meio ambiente, levando em consideração os diversos benefícios diretos e indiretos que traz ao homem, através da estabilização climática, embelezamento gerado pelo colorido das árvores, da sombra e lazer que fornece às praças, parques, ruas e avenidas das cidades (Dantas & Souza, 2004). A caracterização física de cada rua é essencial no planejamento da arborização para, assim, definir as espécies mais adequadas para cada área. Nessa caracterização não se pode esquecer alguns critérios básicos tais como, o aspecto visual-espacial, limitações físicas e biológicas que o local impõe ao crescimento das árvores, espécies que melhoram o microclima e condições ambientais locais (Amir & Misgav, 1990 apud Dantas & Souza, 2004). A escolha das espécies adequadas é essencial na hora de se planejar a arborização, pois a escolha de espécies com características inapropriadas aos locais de plantio faz com que muitas vezes a árvore Interciência & Sociedade 41 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. seja percebida como um elemento negativo na cidade. Não só a má escolha da espécie, mas também a mudança do espaço público onde a espécie foi plantada será negativo, causando danos às edificações, atrapalhando trânsito de pedestres e veículos, causando interferência na rede de serviços públicos (Programa de Arborização Urbana, 2005). Apesar de em muitas cidades a população tomar para si a responsabilidade de realizar plantios e até mesmo podas de árvores, é importante salientar que a responsabilidade é das prefeituras municipais, que devem ter leis que tratem especificamente da arborização urbana. Ainda que a responsabilidade seja das prefeituras, parcerias devem ser feitas entre prestadoras de serviços públicos e privados no que se A diz respeito à arborização e, também, a população deve ser orientada para colaborar nos planos de arborização (Bahia, 2002). O presente trabalho teve como objetivos conhecer a arborização urbana em vias públicas de Inconfidentes-MG, seus impactos negativos, as espécies mais frequentes e as que trazem mais problemas, para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano de arborização urbana. 2. Material e Métodos A partir do mapa da cidade (Figura 1) foram selecionadas 35 quadras para serem inventariadas, totalizando 70% da área total da cidade. B Figura 1: Cidade de Inconfidentes-MG: A) Mapa das quadras da cidade; B) Mapa das quadras inventariadas. Fonte: Autores. O mapa de Inconfidentes foi adquirido junto à Prefeitura Municipal que, segundo informações, foi confeccionado por alunos da Universidade Federal de Ouro Preto, onde os mesmos realizaram as medições das quadras e a locação de seus respectivos lotes. A partir do mapa foi constatado que as larguras das ruas e calçadas não coincidiam com a realidade dessas medidas na cidade e, por isso, teve-se que adicionar esses parâmetros na planilha de avaliação das quadras. Para medição da altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos ao longo da cidade foi elaborado um metro, feito a partir 42 de duas barras de ferro e um cano PVC ligados entre si, através de conectores em PVC, que foi devidamente graduado com auxílio de fita métrica. A medição de ruas e calçadas foi realizada por meio de uma trena de 50 metros, a circunferência a altura do peito (CAP) foi mensurada fazendo uso de uma fita métrica de 1 metro e em troncos maiores utilizou-se a trena de 50 metros. As medições da CAP foram efetuadas a 1,30 metros do solo. A metodologia adotada para obter as informações em campo foi do tipo censo, ou seja, foram avaliados todos os indiInterciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados víduos individualmente, em quadras pré-determinadas na cidade. As planilhas com a determinação dos dados referentes às características e localização das espécies (Tabela 1) e das características espaciais das vias públicas (Tabela 2) foram desenvolvidas seguindo orientações encontradas na literatura de Gonçalves & Paiva (2004) e Soares (1998). Tabela 1. Características e localização das espécies. QUADRA “X” Garagem Sinalização Fios Postes Iluminação Muro Veículos Casas P CONFLITOS ESPACIAIS Pedestres A Formação Ótima (1) Boa (2) Regular (3) Ruim (4) Calhas C Marquises Altura Calçada Espécie Fonte: Autores. Tabela 2. Características espaciais das vias públicas. Orientação da Rua N/S/ E/O Largura da Rua QUADRA “X” Largura da Rede elétriCalçada ca Sim/não Edificações com marquises ou toldos Nº médio de mudas à plantadar Fonte: Autores. A formação do indivíduo arbustivo-arbóreo foi caracterizada com os conceitos de ótima, boa, regular e ruim, seguindo os seguintes critérios: i) Ótima: quando a formação do indivíduo era bem definida, com copa bem formada, tronco perfeito e aspecto sanitário bom; ii) Boa: quando o indivíduo apresentava imperfeições em 1 dos 3 aspectos descritos acima; iii) Regular: quando o indivíduo apresentava imperfeições em 2 dos 3 aspectos descritos no conceito “ótima”; iv) Ruim: quando o indivíduo apresen- tava imperfeições nos 3 aspectos descritos no conceito “ótima”. 3. Resultados e discussão O inventário das espécies arbóreas e arbustivas das 35 quadras que representam 70% da cidade de Inconfidentes é apresentado na Tabela 3. Nas 35 quadras amostradas foram identificados 408 indivíduos distribuídos em 40 espécies e 21 famílias botânicas. Interciência & Sociedade 43 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. Tabela 3. Inventário de 35 quadras do município de Inconfidentes contendo informações sobre a família, nome científico, nome comum, número de indivíduos, frequência e origem. Famílias Anacardiaceae Apocynaceae Arecaceae Bignoniaceae Espécies Nome comum Número de indivíduos Freqüência (%) Origem Mangifera indica mangueira 3 0,74 exótica Schinus molle aroeira-salsa 11 2,70 nativa Thevetia peruviana chapéu-de-napoleão 1 0,25 exótica Nerium oleander espirradeira 10 2,45 exótica Roystonea oleracea palmeira-imperial 24 5,88 exótica Syagrus romanzoffiana palmeira-jerivá 2 0,49 nativa Archontophoenix alexandrae palmeira-real 1 0,25 exótica Tabebuia chrysotricha ipê-amarelo 2 0,49 nativa Tabebuia heptaphylla ipê-roxo 1 0,25 nativa Tecoma stans ipê-mirim 23 5,64 exótica Boroginaceae Cordia superba baba-de-moça 2 0,49 nativa Chrysobalanaceae Licanea tomentosa oitizeiro 4 0,98 nativa Combretaceae Terminalia catappa sombreiro 4 0,98 exótica Delonix regia flamboyant 32 7,84 exótica Caesalpinia pulcherrima flamboyant-mirim 6 1,47 exótica Schizolobium parahyba guapuruvu 1 0,25 nativa Leucaena leucocephala leucena 22 5,39 exótica Bauhinia variegata pata-de-vaca 13 3,19 nativa Caesalpinia peltophoroides sibipiruna 109 26,72 nativa Tamarindus indica tamarindo 1 0,25 exótica Lythraceae Lagerstroemia indica resedá 15 3,68 exótica Fabaceae Malvaceae Hibiscus rosa-sinensis hibisco 1 0,25 exótica Melastomataceae Tibouchina granulosa quaresmeira 3 0,74 nativa Meliaceae Muntingia calabura calabura 1 0,25 exótica Ficus benjamina fícus 43 10,54 exótica Ficus boni fícus-boni 1 0,25 exótica Ficus benjamina var. variegata fícus-variagata 3 0,74 exótica Moraceae Myrtaceae Oleaceae Pinaceae Ficus doliaria gameleira 1 0,25 exótica Callistemon viminalis esponja-de-garrafa 2 0,49 exótica Eugenia involucrata cereja-do-rio 15 3,68 nativa Eugenia uniflora pitangueira 4 0,98 nativa Eugenia pyriformis uvaia 1 0,25 nativa Jasminum officinale jasmim 1 0,25 exótica Ligustrum lucidum legustrum 3 0,74 exótica Pinus sp. pinus 5 1,23 exótica Proteaceae Grevillea robusta grevilha 1 0,25 exótica Punicaceae Punica granatum romã 2 0,49 exótica Rosaceae Eriobotrya japonica nêspera 1 0,25 nativa Rutaceae Murraya exotica murta 31 7,60 exótica Solanaceae Cestrum nocturnum dama-da-noite 2 0,49 exótica 408 100 TOTAL Fonte: Autores. 44 Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados As espécies que apresentaram maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%, Ficus benjamina (fícus) com 11%, Delonix regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. O restante das espécies ficou abaixo dos 6%. Segundo Ferreira Junior (2000) deve-se por razões estéticas e fitossanitárias estabelecer o número de espécies a utilizar e a proporcionalidade de uso de cada espécie em relação ao total de árvores a ser plantado, sendo que cada espécie não deve ultrapassar 15% da população total de árvores. Seguindo essa orientação verificou-se que somente a sibipiruna está acima dos padrões recomendados. Segundo Pivetta & Filho (2002), na cidade de Piracicaba-SP, a frequência de sibipiruna foi alta (56,1%), pouco maior que o dobro da mesma espécie encontrada na cidade de Inconfidentes-MG. Em um conjunto habitacional de Santa Maria-RS, Teixeira (1999) constatou que somente a espécie Melia azedarach (cinamomo) apresentou 18,07% do total inventariado, ultrapassando os limites máximos de espécies recomendadas. Já na cidade de Jacareí-SP, segundo Faria et.al. (2007), destacam-se as espécies Tipuana tipu (tipuana) com 21,7%, Anadenanthera colubrina (angico) com 11,5% e sibipiruna com 11,2%. Observa-se que em Jacareí-SP, somente a tipuana ultrapassa os limites recomendados. Na cidade Águas de São Pedro-SP a sibipiruna também é a de maior frequência com 13,63% dos indivíduos inventariados (Bortoleto, 2004). Das 21 famílias botânicas presentes em Inconfidentes-MG as que apresentaram o maior número de espécies foram Fabacea (7), Myrtaceae (4), Moraceae (4), Arecaceae (3), Bignoniaceae (3) e Proteaceae (3) (Tabela 3), englobando 60% das 40 espécies presentes na cidade (Tabela 3). Nas vias públicas inventariadas nas cidades de Jacareí-SP, Águas de São Pedro-SP e no conjunto habitacional de Santa Maria-RS foram constatadas 28 (Faria et al., 2007), 161 e 112 espécies (Bortoleto, 2004), respectivamente. Com relação ao percentual de espécies encontradas verificou-se que a soma das 10 espécies mais frequentes na arborização de vias públicas de Inconfiden- tes-MG totalizaram juntas 79,68% dos 408 indivíduos inventariados. Na cidade de Jaboticabal-SP as 10 espécies mais frequentes totalizam 71,25% do total de indivíduos (Bortoleto, 2004), situação próxima a de Inconfidentes-MG. Já no Conjunto Habitacional Tancredo Neves a soma das 10 espécies mais frequentes totalizaram 63,58% de um total de 2.788 indivíduos (Teixeira, 1999), valor muito mais preocupante que em Inconfidentes-MG por apresentar um número baixo de espécies considerando o grande número de indivíduos inventariados. Na cidade de Águas de São Pedro-SP as 10 espécies de maior frequência correspondem a 48,33% de toda arborização viária (Bortoleto, 2004). Na arborização urbana é comum poucas espécies representarem a maior parte da arborização, mesmo não sendo uma situação desejável (Silva, 2000 apud Faria et al., 2007). Em Céu Azul-PR foram encontradas 18 espécies em uma análise quali-quantitativa total da cidade, que tem 11.755 habitantes, sendo que somente um tipo de espécie, Lagerstroemia indica (resedá), representou 66% do total de indivíduos (Pivetta & Filho, 2002), indicando uma frequencia bastante elevada. Na arborização de vias públicas de Inconfidentes-MG foi constatado que as origens das espécies se dividem em 35% de nativas e 65% de exóticas que são plantadas por sua beleza e por serem observadas em muitas cidades, servindo de referência para os moradores. Na arborização do conjunto habitacional de Santa Cruz a maior parte das espécies são exóticas (Teixeira, 1999). Klein (1985) apud Teixeira (1999) afirma que o sucesso obtido por meio da introdução das espécies exóticas se deve a fatores como a adequada seleção das espécies, metodologia silvicultural desenvolvida e grande facilidade de coleta de sementes. Na composição da arborização urbana das vias públicas que contém mais árvores em Jacareí-SP verificou-se a mesma quantidade de nativas e exóticas (Faria et al., 2007). Os conflitos gerados pelo plantio de espécies inadequadas ao local e/ou a má condução das mesmas encontram-se na Figura 2. Os maiores conflitos foram com fios, calçadas e pedestres. Com relação aos fios da rede elétrica e telefônica, Interciência & Sociedade 45 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. 103 indivíduos estão em conflito. Isso se deve ao fato da má escolha de espécies, cujo porte não é compatível com o local de plantio, por exemplo, a utilização de árvores de médio e grande porte sob fiações. Segundo Vasconcelos (2000), o contato entre galhos de árvores e componentes das redes de distribuição de eletricidade pode causar curtos circuitos com pequenas interrupções no fornecimento de energia e até mesmo acidentes fatais com pessoas. O autor ressalta que no ano de 2000 a CEMIG estimou que 500.000 árvores de grande porte se encontravam em conflito com suas redes, o que causou 15.000 desligamentos em 1998. Segundo Rocha et al. (2004), 45% dos indivíduos analisados nas vias públicas de Nova Iguaçu-RJ apresentavam conflitos evidentes, com necessidade de poda e substituição de algumas árvores por outras mais adequadas. Figura 2: Conflitos gerados pelo plantio de espécies inadequadas ao local e/ou a má condução das mesmas no município de Inconfidentes. Fonte: Autores. Já em relação à calçada, 87 indivíduos (21,3%) geraram conflitos pela má escolha da espécie e também pela falta de área livre impermeável ao redor da árvore, fazendo com que a mesma provocasse o levantamento das calçadas. Em Piracicaba-SP, os maiores problemas gerados pelos indivíduos é também com relação ao conflito com a calçada, representando 62,3% dos indivíduos inventariados por Lima (1993). Outro conflito significante foi em relação 46 aos pedestres, onde 58 indivíduos (14,2%) geravam problemas pelo fato de não terem sido conduzidos adequadamente, apresentando as primeiras bifurcações abaixo de 1,80 metros, atrapalhando o trânsito dos pedestres. Pode ser constatado também que 226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo de conflito e que 182 indivíduos (44,61%) não geram nenhum tipo de conflito (Figura 3). Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados 240 220 200 Nº de indivíduos 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 SIM NÃO Geram conflitos Figura 3: Número de indivíduos arbóreos e arbustivos que geram conflitos nas vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. Entre as espécies inventariadas, a sibipiruna é a que mais traz transtornos na cidade, sendo que dos 109 indivíduos de sibipiruna avaliados 41 (37,61%) estão em conflito com fios e 49 (44,95%) estão em conflito com calçadas. Quando foi realizada a primeira arborização pela prefeitura do município, no ano de 1967, foram selecionadas sibipirunas para o plantio em calçadas, o que era muito utilizado na arborização da maioria das cidades do Brasil, e flamboyant para plantio nos canteiros centrais. Em Piracicaba-SP, ao longo do tempo, a sibipiruna e outras árvores de maior porte foram cortadas devido às inúmeras solicitações dos munícipes incomodados com a queda de folhas, entupimento de calhas e danificação de calçadas. Houve um processo de intensa retirada arbórea na região central de Piracicaba-SP, sem a devida reposição (Aguirre Junior et al., 2007). Na cidade de Maringá-PR a sibipiruna apresentava-se com uma frequência de 49,8% do total de espécies, sendo, o seu plantio, proibido pela prefeitura no município pelo fato da grande densidade e frequência dessa espécie. Outra espécie que traz preocupação na cidade de Inconfidentes-MG é a fícus, por promover o levantamento de calçadas, interferência na rede de esgoto, problemas com muros e fios no local onde está plantada, sendo solicitado a prefeitura o corte destas árvores. A alta densidade dessa espécie, representando 11% dos indivíduos avaliados, pode ser explicada pelo fato dos moradores ficarem encantados com sua sombra e beleza de suas folhas. Na cidade do Rio de Janeiro-RJ, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente promoveu a substituição da espécie fícus na arborização da cidade por estarem provocando danos significativos em edificações e calçadas, e o plantio de novas mudas da espécie está proibido tanto nas ruas como em praças (Secretaria de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro-RJ, 2008). A formação dos indivíduos inventariados foi satisfatória, sendo que a soma de indivíduos com formação ótima e boa totalizaram 85,54%, restando apenas 14,46% na soma de regular e ruim (Figura 4). A classificação da qualidade de formação não Interciência & Sociedade 47 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. leva em conta o espaço físico ao entorno do indivíduo, mas sim sua formação natural, como por exemplo, em uma análise da copa do indivíduo não foi levado em consideração se o mesmo está em conflito ou não com os fios, mas sim a formação da copa do mesmo. Nas vias analisadas na cidade de Jacareí-SP, Faria et al., (2007) relatou que 84% dos indivíduos apresentavam-se, numa análise semelhante à realizada na ci- dade de Inconfidentes-MG, em ótimo e bom estado, e que o restante se encontrava em situação de regular a ruim. Na análise qualitativa da arborização viária de Águas de São Pedro-SP, Bortoleto (2004) constatou que 79,18% dos indivíduos apresentavam condição ótima e boa e 20,82% dos indivíduos apresentavam-se em uma condição de regular, péssima e morto. 140 Nº de indivíduos 120 100 80 60 40 20 0 Ótima Boa Regular Ruim Formação Figura 4: Formação dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. A altura dos indivíduos mais frequentes na cidade ficou entre 2,98 a 7,07 metros (66,18%) (Figura 5), porte considerado adequado que pode promover benefícios à fauna, clima, psicológico para munícipes e para o paisagismo da cidade. Com 8,5 metros de altura foram constatados quase que exclusivamente os indivíduos da espécie flamboyant e entre 12 a 20 metros somente as Roystonea oleracea (palmeira imperial). Tanto os flamboyant quanto as palmeiras imperiais tinham espaço para 48 crescer por se encontrarem em canteiros centrais da cidade. Como exceção, destaca-se uma árvore de sibipiruna e uma de Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo) com 12 metros cada uma, localizadas em calçadas da cidade. Vale ressaltar que, segundo Gonçalves & Paiva (2004), de um modo geral, o porte inadequado das árvores na arborização urbana conflita com as redes de energia elétrica e prejudica também a iluminação pública, as fachadas dos prédios e as placas de sinalização. Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados 110 100 90 Nº de indivíduos 80 70 60 50 40 30 20 10 0, 26 -1 1, ,62 62 -2 2, ,98 98 -4 4, ,34 34 -5 5, ,71 71 -7 7, ,07 07 -8 8, ,43 43 9, 9,7 79 9 11 11 ,1 ,15 512 12 ,5 ,51 113 13 ,8 ,87 715 15 ,2 ,24 416 16 ,6 ,60 017 17 ,9 ,96 619 19 ,3 ,32 220 ,6 8 0 Altura (m) Figura 5: Altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. A circunferência a altura do peito (CAP) da maior parte dos indivíduos (17,64%) foi de 0,99 a 1,20 metros (Figura 6). As CAP de 1,41 a 3,08 metros apareceram com mais freqüência para as espécies sibipiruna, flamboyant e palmeira imperial. Na cidade de Águas de São Pedro-SP a situação encontrada foi semelhante a de Inconfidentes, tendo as maiores CAP os indivíduos de sibipiruna, flamboyant, ficus e sombreiro representando 16,47%, 7,16%, 5,13% e 4,92%, respectivamente. 80 70 Nº de indivíduos 60 50 40 30 20 10 -0 ,0 50 0, ,15 15 -0 0, ,36 36 -0 0, ,57 57 -0 0, ,78 78 -0 0, ,99 99 -1 1, ,20 20 -1 1, ,41 41 -1 1, ,62 62 -1 1, ,83 83 -2 2, ,04 04 -2 2, ,25 25 -2 2, ,46 46 -2 2, ,67 67 -2 2, ,88 88 -3 ,0 8 0 CAP (m) Figura 6: Circunferência a altura do peito (CAP) dos indivíduos arbóreos e arbustivos. Fonte: Autores. Interciência & Sociedade 49 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. Um dos problemas para planejar a arborização de vias públicas de Inconfidentes-MG se deve ao fato da rede elétrica estar presente na maior parte das calçadas e por não se estabelecer um padrão de largura mínima de calçadas para novos loteamentos implicando muitas vezes no plantio de espécies de pequeno porte e arbustivas, impedindo o plantio de espécies de médio e grande porte. Constatou-se que nos 125 lados das quadras avaliadas, 77 (61,6%) continham rede elétrica (Figura 7). Em Piracicaba-SP, a presença de fiação aérea também é um problema, sendo encontrada em 55,9% das ruas (Pivetta & Filho, 2002), resultando numa escolha pouco adequada das espécies quanto ao local de plantio. 80 Lado de quadras 60 40 20 0 Não Sim Rede elétrica Figura 7: Número de lados de quadras com rede elétrica no município de Inconfidentes. Fonte: Autores. No município de Inconfidentes, a troca da rede elétrica convencional pela compacta ou subterrânea permitiria um melhor convívio das árvores com as redes de distribuição de energia, evitando conflitos. Outra solução para as redes elétricas seria uma padronização no sistema de distribuição de energia, deixando livre de rede elétrica as calçadas que devem receber espécie de médio e grande porte e com presença de rede elétrica as calçadas que receberão árvores de pequeno porte. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O inventário das espécies arbustivas e arbóreas na cidade de Inconfidentes- 50 -MG mostrou que a arborização urbana de vias públicas segue o padrão encontrado em outros municípios brasileiros. Houve uma grande ocorrência da espécie sibipiruna (27%) superando os limites de frequência de cada espécie indicados por alguns autores que é de 15%. A espécie traz grandes benefícios na arborização, desde que seja plantada em local compatível. A espécie ficus também teve uma frequência considerável (11%), sendo que esta não é indicada para plantio em calçadas pelos danos que ela traz ao local. Espécies exóticas são encontradas com frequência na arborização urbana devido sua adaptação comprovada com o meio, salientando que as mais indicadas são as nativas. Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados Os conflitos provocados pelo plantio inadequado de espécies em vias públicas foram considerados altos, constatando que 55,39% das espécies geravam algum tipo de conflito. Este alto índice deve-se ao fato de a cidade não ter um plano de arborização, ficando para a população o objetivo de plantar qualquer espécie que julgue conveniente. Árvores que geram conflitos significantes com grandes danos a população devem ser substituídas gradualmente a médio prazo. As características físicas largura das ruas e calçadas não limita o plantio de espécies e portes diversificados em grande parte da cidade, mas a presença de rede elétrica convencional limita o plantio de espécies de médio e grande porte. Uma das maiores dificuldades em convencer os moradores a deixarem plantar uma árvore em frente a sua residência é resultado da má impressão que a sibipiruna passa para a população. As reclamações são muitas, exigindo a retirada das mesmas por estarem “quebrando” a calçada, por estarem em contato com casas, por entupirem as calhas através de suas folhas e por provocarem muita sujeira, além do impacto visual devido às inúmeras podas mutiladoras que as árvores sofreram ao longo dos anos. A educação ambiental é imprescindível para a conscientização da população sobre a importância da arborização urbana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIRRE JUNIOR, J.H.; FILIK, A.V.; LIMA, A.M.L.P. 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SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO-RJ – Espécie Ficus benjamina será substituída na cidade. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/smac/mostra_noticia. php?not=NOT&codnot=652. Acessado em 26 de abril de 2008. SOARES, M. P. Livro verdes urbanos e rurais Orientação para arborização de cidades e sítios campesinos. Porto Alegre: Cinco Continentes, 1998. TEIXEIRA, I. F. Análise qualitativa da arborização de ruas do conjunto habitacional Tancredo Neves, Santa Maria – RS. Ciência Florestal: Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, v. 9, n. 2, p. 9-21, 1999. VASCONCELOS, A Arborização urbana. Revista ação ambiental, Viçosa, n.9, p. 5 e 6, 2000. Interciência & Sociedade 51 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. Rony Felipe Marcelino Corrêa é graduado em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG, pós-graduado em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Faculdade São Luís de Jaboticabal-SP e acadêmico do curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” de Mogi Guaçu-SP. Lilian Vilela Andrade Pinto possui graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Atualmente é coordenadora e professora do curso de Gestão Ambiental no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG. 52 Interciência & Sociedade SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA, DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SP CAMARGO, Eliana Anunciato Franco de Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) [email protected] PRADO, Angelo Pires do Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) [email protected] CAMARGO, José Tarcísio Franco de Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: Neste trabalho, insetos adultos de Musca domestica foram coletados em propriedade rural no município de Mogi Guaçu, no Estado de São Paulo a fim de determinar a susceptibilidade ou a resistência destes insetos aos larvicidas ivermectina, moxidectina e doramectina. Através de diluições seriadas no meio de cultura de larvas foram determinadas as concentrações letais para cada um deles. As concentrações utilizadas foram: 0,02, 0,05, 0,1 e 0,5 ppm. Os dados obtidos foram expressos com CL50 e CL95 e demonstraram que a população coletada apresentou-se muito sensível quando comparada com os valores expressos pela OMS para populações sensíveis. A presença de elevado grau de susceptibilidade às avermectinas sugere que os aspectos operacionais do uso destes compostos e, provavelmente, o tempo de utilização nesta região ainda não permitem a detecção de resistência. PALAVRAS-CHAVE: Musca domestica, ivermectina, moxidectina, doramectina, controle de insetos. ABSTRACT: In this study, Musca domestica adults were collected in a farm in order to detect and to determine the susceptibility or resistance of these insects to the ivermectin, moxidectin and doramectin larvicides in Mogi Guaçu. The determination of lethal concentration for each larvicide were made through the larvicide dilutions in larvae culture medium. The concentrations used were 0.02, 0.05, 0.1 and 0.2 ppm. Data were expressed as LC50 and LC95 and results demonstrated that the population collected in this city had been showed more susceptible to the tested larvicides than the reference pattern used by the World Health Organization values for sensitive populations. The presence of high level of susceptibility to avermectins suggests that the operational use of these compounds and possibly the time of use in this region doesn’t allow the detection of Musca domestica resistance. KEYWORDS: Musca domestica, ivermectin, moxidectin, doramectin, insect control. 1. INTRODUÇÃO Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) é uma espécie de grande importância econômica e, em áreas de criação de animais domésticos, seus estágios larvais obtêm nas fezes e resíduos alimentares desses animais um excelente substrato para desenvolvimento (MILLER, 1970; AXTELL & EDWARDS, 1983; MULLA & AXELROD, 1983). Vários métodos para combate e controle desta praga podem ser elencados, tais como, manejo de matéria orgânica depositada nos locais de criação, alteração das características bióticas do esterco, uso de parasitas, parasitóides, predadores, competidores e patógenos como tentativa de controle biológico e, também, o uso de inseticidas seletivos (AXTELL & EDWARDS, 1983; BARNARD & HARMS, 1992). No passado, o uso indiscriminado de inseticidas em programas de controle de doenças e na agricultura influenciou o desempenho de muitos compostos químicos, fazendo com que espécies resistentes Interciência & Sociedade 53 CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F. surgissem rapidamente nas mais diversas regiões (METCALF, 1980; BLOOMCAMP et al., 1987). Segundo HERD (1995), as avermectinas são compostos endectocidas, ou seja, são efetivas contra endo e ectoparasitas e representam uma classe de lactonas macrocíclicas que tem demonstrado atividade contra helmintos, ácaros e insetos. As avermectinas, cujos principais compostos produzidos são a ivermectina e a abamectina, demonstram ser tóxicas para a maioria dos insetos (STRONG & BROWN, 1987). Seu modo de ação em invertebrados relaciona-se com a interrupção dos receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA) no sistema nervoso central e no sistema muscular (STRONG & BROWN, 1987; FISHER & MROZIK, 1989; LASOTA & DYBAS, 1991; CLARK et al., 1995; ROHRER & SCHAEFFER, 1995). Alguns estudos demonstram o efeito de ivermectina em larvas de dípteros. Em fêmeas de Neomyia cornicina (Díptera: Muscidae) observou-se uma redução significante na taxa de oviposição e de eclosão de ovos (GOVER & STRONG, 1995). KRÜGER & SCHOLTZ (1995) relatam redução na fertilidade de Musca nevilli (Diptera: Muscidae), enquanto FARKAS et al. (2003) demonstraram redução na emergência de Musca domestica em fezes tratadas de bovinos e suínos. Considerando que a aplicação de inseticidas para controle de pragas é uma prática difundida no Brasil e, as avermectinas, por consequência, utilizadas amplamente, esta pesquisa objetivou documentar a ocorrência de problemas na susceptibilidade da população de Musca domestica coletada em Mogi Guaçu-SP à ivermectina, à doramectina e à moxidectina através da determinação das CL50 e CL95 para cada larvicida. Tal fato se justifica em virtude dos relatos de alteração da susceptibilidade das populações deste insetos coletadas em diferentes regiões e que causam implicações financeiras, pois demandam aplicações mais frequentes, elevação nas dosagens utilizadas pelos consumidores finais, além da necessidade de pesquisas adicionais para desenvolvimento de novos produtos 54 químicos. 2. Material e métodos Foram realizados bioensaios utilizando exemplares de Musca domestica coletadas como insetos adultos, numa propriedade particular no município de Mogi Guaçu-SP, utilizada como criadouro rural em pequena escala de animais domésticos, onde não se observou nenhum tipo de manejo ou controle. Os insetos coletados no campo foram levados ao laboratório e transferidos para gaiolas com armação de ferro recobertas com tela de “nylon”, sendo mantidos em sala apropriada para criação com temperatura (26,5 ± 1,0ºC), umidade (70%) e fotoperíodo (12/12) controlados, disponível no Laboratório de Entomologia do Departamento de Parasitologia do IB/Unicamp. A alimentação destes insetos consistiu em uma mistura em partes iguais de açúcar refinado, leite em pó integral e levedura de cerveja. Água e alimento eram oferecidos e mantidos em abundância no interior das gaiolas. Para a realização dos bioensaios para determinação das concentrações letais, era oferecido meio de oviposição e cultura de larvas proposto por PICKENS & LORENZEN (1983) com algumas modificações e que era constituído por 4 partes de ração utilizada na alimentação de camundongos devidamente triturada e 6 partes de água. As gerações obtidas em laboratório foram tratadas com os seguintes larvicidas: - Doramectina (formulação comercial como Dectomax, Pfizer, 10% i.a.) - Ivermectina (formulação comercial como Ivomec, MSD, 10% i.a.) - Moxidectina (formulação comercial como Cydectin, Cyanamid, 10% i.a.) Os bioensaios para a determinação das respectivas CL50 e CL95 consideravam a taxa de mortalidade nos meios tratados até a emergência dos adultos. O cálculo era realizado da seguinte maneira: Interciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP onde: TMA = taxa de mortalidade LI = número inicial de larvas AE = número de adultos emergentes Para a obtenção dos meios tratados, foram realizadas diluições seriadas dos larvicidas no meio de cultura das larvas, os quais eram utilizados para a determinação das concentrações letais da população. TURNER & SCHAEFFER (1989) classificam as avermectinas como pouco solúveis em água, por isso, optou-se por diluir a ivermectina em 1 ml de acetona PA conforme sugere REED et al. (1985). Os meios testemunha também foram preparados com e sem acetona, a fim de pesquisar a interferência ou não desta no desenvolvimento das larvas. Os meios tratados apresentavam as seguintes concentrações: 0,02, 0,05, 0,1 e 0,2 ppm (partes por milhão) de ingrediente ativo de cada larvicida. Os bioensaios foram realizados em copos plásticos (50 ml) contendo 25 g de meio de cultura, onde foram colocadas 25 larvas de primeiro instar. A relação larva/quantidade de meio foi 1:1 que, segundo BARNARD & GEDEN (1993), em temperaturas entre 23-32ºC são adequadas. Foram feitas quatro réplicas para cada tratamento e dois grupos testemunha, um com acetona e outra sem acetona. Os copos recobertos com organza foram mantidos em câmara de germinação modelo FANEN 347 CGD, com temperatura (26,5 ± 0,5ºC), umidade (70%) e fotoperíodo (12/12) controlados. Após 9 dias, as pupas foram recolhidas pelo método de flutuação (SCHMIDT & KUNZ, 1980; BLOOMCAMP et al., 1987). A contagem dos sobreviventes era realizada considerando os insetos que conseguiam emergir por completo do pupário. Insetos com emergência incompleta, mesmo com alguma mobilidade eram descartados da contagem. A mortalidade nos meios tratados foi corrigida pela mortalidade nos meios testemunha pela fórmula de ABBOTT (1925), a qual se refere a índices de mortalidade natural ou acidental dos organismos analisados, alheios ao efeito do composto químico (FINNEY, 1971). Para a determinação das concentrações letais foi utilizado o programa “Probio”, que consistia numa análise por “probits” dos resultados (BATSON, 1956), desenvolvido pelo Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo. A taxa comparativa entre larvicidas foi calculada dividindo-se a CL50 obtida para o larvicida pela menor CL50 obtida dentre os larvicidas testados, onde foram considerados resistentes, os testes com taxas cujos valores fossem maior que um (KEIDING, 1999). O programa “Minitab for Windows” foi utilizado para a realização dos testes estatísticos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores percentuais obtidos para os bioensaios larvicida/concentração são mostrados na Tabela 1, sendo possível verificar que a população tratada com ivermectina apresentou percentuais maiores de mortalidade em comparação com os outros larvicidas em todas as concentrações utilizadas. Conforme demonstrado na Tabela 2, a menor CL50 observada no bioensaio foi demonstrada por insetos tratados com ivermectina (0,017 ppm), tendo sido utilizada como referência para o cálculo da Taxa Comparativa (TC) entre os larvicidas utilizados. A TC foi obtida dividindo-se as CL50 dos larvicidas pela CL50 do larvicida referência. Tabela 1. Percentual médio de mortalidade de Musca domestica coletada em Mogi Guaçu. Larvicida/Concentração Doramectina Ivermectina Moxidectina 0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a. 40 (3,27) 65 (6,00) 83 (3,83) 87 (2,00) 44 (3,27) 57 (8,87) 0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a. 81 (3,83) 90 (9,52) 97 (2,00) 100 (0,00) 74 (3,27) 88 (3,27) Fonte: Autores. Os valores descritos entre parênteses correspondem ao desvio padrão dos percentuais de mortalidade. Interciência & Sociedade 55 CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F. A maior CL50 observada foi demonstrada pelos insetos tratados com moxidectina, sendo, portanto, considerado o larvicida que demonstrou menor susceptibilidade. Convém citar os resultados de SCHMIDT & KUNZ (1980) que relatam que a CL50 utilizada pela OMS para considerar populações de Stomoxys calcitrans e Haematobia irritans como sensíveis para a ivermectina é 0,024 ppm e 0,003 ppm, res- pectivamente, o que se aproxima muito dos resultados obtidos nestes bioensaios. HERD (1995) e KIERAN (1994) demonstram que, em programas de rotação de inseticidas, a moxidectina é mais efetiva que a ivermectina, pois permite seu uso combinado com outras classes de drogas, além de permanecer efetiva por mais tempo. Tabela 2. Susceptibilidade de Musca domestica aos larvicidas doramectina, ivermectina e moxidectina coletada em Mogi Guaçu (SP). Larvicida/Concentração Doramectina Ivermectina Moxidectina 0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a. 40 (3,27) 65 (6,00) 83 (3,83) 87 (2,00) 44 (3,27) 57 (8,87) 0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a. 81 (3,83) 90 (9,52) 97 (2,00) 100 (0,00) 74 (3,27) 88 (3,27) Fonte: Autores. CL50 = concentração letal para 50% dos insetos tratados. CL95 = concentração letal para 95% dos insetos tratados. T.C. = taxa comparativa (CL50 da população/CL50 da população susceptível de referência) * = CL50 escolhida como referência no cálculo dos fatores de resistência LUMARET et al. (1993) em seu experimento, indicam que o impacto potencial da ivermectina no ambiente é muito variável, dependendo principalmente da região, do clima, dos insetos e das estações. Neste bioensaio, no entanto, o que se observou foi uma maior eficácia da ivermectina em relação à moxidectina, não concordando com os dados destes autores. TITCHENER & PURNELL (1996) relatam que a doramectina apresentou resultados favoráveis quando comparada com a ivermectina no controle de piolhos de gado. Porém, conforme observado na Tabela 2, o mesmo não se aplica à Musca domestica. Além disso, no local de coleta, não se observou nenhum tipo de controle químico, o que indica que, teoricamente, não se observou nenhuma pressão seletiva anterior exercida por inseticidas químicos. De maneira geral, os resultados obtidos indicam a alta sensibilidade da população estudada em relação aos larvicidas e permitem sugerir técnicas para a manutenção da sensibilidade desta população, 56 bem como retardar o processo de desenvolvimento de resistência em populações de campo. Cabe aqui ressaltar que, a partir do momento que as densidades populacionais destes insetos são aumentadas, pode ocorrer invasão de variados espaços, inclusive domicílios, causando incômodo, do ponto de vista estético e sanitário, com a possibilidade de veiculação de um número elevado de patógenos, como vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos, sendo, portanto, questão de saúde pública (GREENBERG, 1973; GUIMARÃES et al., 1983; MARILUIS et al., 1989; FOTEDAR, 1992; KOBAYASHI et al.,1999; FISCHER, 1999). Além disso, ressalta-se as perdas financeiras geradas pela presença dos estágios imaturos destes insetos em locais de criação de animais domésticos, tais como, granjas e currais (POVOLNÝ, 1971) que implicam na necessidade de utilização de técnicas de controle. Considerando que a utilização de controladores químicos é prática amplaInterciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP mente disseminada no Brasil e, que estes compostos perdem a sua eficiência à medida que os insetos desenvolvem resistência genética aos produtos mais poderosos atuais (LEARMOUNT et al., 2002) a observação de populações resistentes aos compostos químicos utilizados é muito frequente, o que gera custos financeiros elevados pois implica o desenvolvimento de novos produtos ou novas tecnologias para controle de insetos considerados pragas. HERD et al. (1993) sugerem monitoramento periódico de populações de campo, como o realizado neste bioensaio. Porém, uma vez constatada a resistência, o manejo deste processo envolve a exposição da população considerada “praga” a “controladores não químicos” (ROUSH, 1993). HOY (1995) cita que as estratégias devem combinar uma variedade de táticas: redução de pesticidas aplicados, controle biológico e controle cultural. Cabe ressaltar que, conforme citam DENHOLM & ROWLAND (1992) não existe uma solução universal e nem facilitadores para tratar da resistência à inseticidas, por isso, o monitoramento da susceptibilidade das populações frequentemente atingidas por algum inseticida se torna imprescindível. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOT, W. S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology 18 (2): 265-267, 1925. AXTELL, R. C.; EDWARDS, T. D. Efficacy and nontarget effects of Larvadex as a feed additive for controlling house flies in caged-layer poultry manure. Poultry Science 62: 2371-2377, 1983. BARNARD, D. R.; HARMS, R. H. Growth and survival of house flies (Diptera: Muscidae) in response to selected physical and chemical properties of poultry manure. Journal of Economic Entomology 85 (4): 1213-1217, 1992. 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Changing role of insecticides in crop 58 Interciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP Eliana Anunciato Franco de Camargo possui mestrado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1997), graduação em Licenciatura em Ciências - Faculdades Integradas Maria Imaculada (1992) e graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Amparo (2000). Atualmente é doutoranda do curso de Ciências Biológicas em Biologia Animal na Universidade Estadual de Campinas, professora e coordenadora do curso de Ciências Biológicas do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal e professora de educação básica II do Governo do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores e na área de Ensino Aprendizagem. Ângelo Pires do Prado possui graduação em Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1964) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1969). É professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia de Parasitos e Vetores e Sanidade Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: Musca domestica, Diptera, dípteros sinantrópicos, desenvolvimento e ecologia de moscas domésticas, de frutas e varejeiras; ácaros domésticos (de poeira), ácaros fitófagos, ácaros associados às aves sinantrópicas e silvestres (nidícolas, plumícolas , calamícolas e da pele). José Tarcísio Franco de Camargo possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1989), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Atualmente é Professor do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, Professor da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro”, Professor do Centro Guaçuano de Educação Profissional “Governador Mário Covas”, Membro de corpo editorial da Revista CEGEP Acadêmico e Membro de corpo editorial da Interciência e Sociedade - Fac. Municipal “Professor Franco Montoro”. Tem experiência na área de Ciência da Computação. Interciência & Sociedade 59 60 Interciência & Sociedade ANÁLISE AMBIENTAL E GEOESPACIAL DOS DEPÓSITOS DE LIXOS CLANDESTINOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇU COSTA, Ana Caroline Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] BARRAZA LARIOS, Mario Roberto Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: O presente estudo foi realizado no município de Mogi Guaçu/SP. Foi realizado um levantamento dos bolsões de lixo encontrados nas principais vias de acesso da zona urbana. Para esse levantamento dividiu-se a zona urbana em três zonas: Zona Leste/Centro, Zona Norte/Oeste e Zona sul, facilitando os trabalhos realizados. Foram visitados no total de 80 bairros, sendo 34 bairros na zona Leste/Centro com 284 pontos, 27 na zona Norte/Oeste com 144 pontos e 19 bairros na zona Sul com 100 pontos. Nas visitas foram determinadas as coordenadas e foi possível registrar por meio de fotografias a situação e a quantidade de lixo nos pontos. Com todos os dados levantados foi possível obter a distribuição geoespacial dos pontos irregulares de lixo, em uma planta planimétrica do município de Mogi Guaçu. Também foi possível obter a distribuição do percentual por zonas e bairros, sendo a região Zona Leste/Centro com maior percentual de 54% e com uma quantidade maior de bairros de baixa renda. PALAVRAS-CHAVE: Mogi Guaçu/SP, Bolsões de Lixo, Resíduos Sólidos, Coordenadas, Planta Planimétrica. ABSTRACT: This study was conducted in the city of Mogi Guaçu / SP. A survey of the pockets of trash found on the main access roads of the urban area. For this survey divided the urban area into three zones: the East / Central, North Zone / West Zone and South, facilitating the work. We visited a total of 80 districts, 34 districts in the Eastern / Central with 284 points, 27 in the northern / West with 144 points and 19 districts in the South with 100 points. During the visits the coordinates were determined and it was possible to register through photographs the situation and the amount of garbage points. With all the data collected it was possible to obtain the distribution of geospatial rough spots of garbage in a planimetric plant in the city of Mogi Guaçu. It was also possible to obtain the distribution of the percentage of districts and neighborhoods, the East and the region / center with the highest percentage of 54% and a larger amount of low-income neighborhoods. KEYWORDS: Mogi Guaçu / SP, Pockets of Waste, Solid Waste, Coordinates, Plant planimetry. 1. INTRODUÇÃO Lixo é todo e qualquer resíduo sólido proveniente das atividades diárias do homem em sociedade. Esses resíduos gerados diariamente são causadores da destruição de boa parte do meio ambiente em que vivemos. Normalmente os resíduos e seus problemas são ignorados pela popula- ção e órgãos públicos, ou seja, descartando de forma indevida simplesmente por achar que o lixo desaparecerá, em outras palavras popularmente conhecida “empurrar a sujeira para debaixo do tapete”. Para diminuir esses tipos de pensamentos, o descaso e principalmente a falta de comprometimento do poder público, foram criadas diversas normas e leis como a Política Nacional dos Interciência & Sociedade 61 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. Resíduos Sólidos onde descrimina a função de cada um perante os nossos resíduos de cada dia tanto para o poder público como para toda a população e com prazo para que possa ser cumprida. Algumas empresas viram no lixo o poder de ganhar dinheiro com a reciclagem, ajudando assim o meio ambiente. Os resíduos sólidos são destinados de diversas formas diferentes, isso varia muito de acordo com o procedimento de cada cidade ou região. Mas por muito tempo muitas cidades fizeram a destinação incorreta, ou seja, em lixões, e com isso surgiram os problemas como às contaminações do solo, transmissões de doenças, proliferação de vetores e até mesmo catadores vivendo em condições impróprias para seres humanos. Com o tempo começou-se a ter uma visão melhor da destinação dos resíduos, ou seja, encaminhando-os para aterro sanitário e até mesmo na recuperação, reutilização, reciclagem e a redução. Mesmo com tantas leis e as mudanças do poder público, ainda é comum vermos tantos cursos d’águas, solos e diversos recursos naturais sendo destruídos e contaminados, justamente pelos resíduos sólidos destinados incorretamente e por negligencia da população. A falta de controle da geração dos resíduos perante a quantidade, a coleta e a falta de conscientização da sociedade são os principais problemas nos centros urbanos, ou seja, formando assim os depósitos irregulares tão comumente encontrados nas cidades. Os depósitos de lixos indevidos não é só uma poluição visual, isso leva a diversos problemas como enchentes em centros urbanos, proliferação de vetores, contaminação do solo, mau odor entre outros mais. A poluição encontrada em cursos d’águas, em depósitos indevidos normalmente é produzida pelos próprios moradores. Em preocupação a esse grande problema é que neste estudo considerou-se a necessidade de mapear e identificar esses depósitos irregulares de lixo, para realizar o controle, identificar as possíveis 62 contaminações existentes nesses locais, e se possível a eliminação dos mesmos. 2. Objetivos 2.1. Objetivos gerais Fazer um levantamento dos depósitos irregulares de lixo e mapeá-los no município de Mogi Guaçu. 2.2. Objetivos específicos - Identificar locais indevidos de depósitos lixos; - Mapear os pontos dos depósitos; - Apontar os problemas causados pelos depósitos irregulares de lixo; - Apontar soluções e conscientização; 3. Revisão Bibliográfica 3.1. Resíduos Sólidos Lixo é todo e qualquer resíduo sólido resultante das atividades diárias do homem em sociedade. Pode encontrar-se nos estados sólido, líquido e gasoso. Sua origem pode ser: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição, ficam incluso nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, os resíduos gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, e todo e qualquer líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento em redes públicas de esgotos ou corpos de água, ou ainda exijam para isso soluções técnicas e economicamente viáveis em face à melhor tecnologia disponível (NBR 10.004, 2004). 3.2. Classificação dos Resíduos Sólidos Segundo MONTEIRO et.al. (2001) e a Lei 12.305 (2010) são várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As mais comuns são quanto às características físicas: secos e molhados, quanto à composição química aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente: orgânico e inorgânico e quanto à natureza ou origem: Interciência & Sociedade Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de Mogi Guaçu resíduos domiciliares, resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, resíduos da construção civil, resíduos industriais, resíduos de serviços de transportes, resíduos agrossilvopastoris e resíduos de serviços de saúde. 3.3. Etapas do Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos Segundo ZVEIBIl (1991) o gerenciamento dos resíduos envolve uma seqüência de atividades que ajudam a melhorar o sistema de limpeza urbana. As etapas básicas do sistema são: - 4Rs: Redução (ou Prevenção), Reutilização, Reciclagem e Recuperação (do material ou da energia); - Acondicionamento; - Coleta; - Transporte; - Tratamento; - Disposição Final 3.4. Tratamento dos Resíduos Sólidos MONTEIRO et.al. (2001) define-se tratamento como uma série de procedimen- tos destinados a reduzir a quantidade ou o potencial poluidor dos resíduos sólidos, seja impedindo descarte de lixo em ambiente ou local inadequado, seja transformando-o em material inerte ou biologicamente estável. O tratamento mais eficaz é o prestado pela própria população quando está empenhada em reduzir a quantidade de lixo, evitando o desperdício, reaproveitando os materiais, separando os recicláveis em casa ou na própria fonte e se desfazendo do lixo que produz de maneira correta. (MONTEIRO et.al., 2001). Além desses procedimentos, existem processos físicos e biológicos que objetivam estimular a atividade dos microorganismos que atacam o lixo, decompondo a matéria orgânica e causando poluição. As usinas de incineração ou de reciclagem e compostagem interferem sobre essa atividade biológica até que ela cesse, tornando o resíduo inerte e não mais poluidor. (MONTEIRO et.al., 2001). 4. Materiais e Métodos No presente Trabalho foram analisadas algumas áreas no município de Mogi Guaçu, SP. (Figura 1). Figura 1: Área de Estudos – Município de Mogi Guaçu, SP. Fonte: Google Earth, 2011. Interciência & Sociedade 63 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. A Existência de muitos depósitos de lixo irregular espalhados pelo município levou a idealizar o presente trabalho, que busca elaborar um mapeamento dos mesmos. Os pontos mais relevantes pesquisados são as principais vias de acesso da cidade, próximos aos corpos d’água e áreas verdes. Esses pontos foram inseridos em cartas topográficas, sendo possível obter a distribuição geoespacial dos mesmos. Para o desenvolvimento destas atividades de campo foram utilizados os seguintes materiais: - Máquina Fotográfica digital - Computador para trabalhar os locais identificados. - GPS (Global Position Sistem ou Sistema de Posicionamento Global) . 5. Resultados Apresentam-se a seguir os resultados encontrados por meio dos levantamentos e investigações em campo e dos trabalhos executados no escritório. 5.1. Situação atual do Município de Mogi Guaçu/SP Segundo o questionário realizado no município encontra-se em fase de aprovação o Plano Diretor Municipal de Resíduos Sólidos, faltando apenas a audiência pública. Mogi Guaçu não possui a caracterização do lixo gerado pela população, ou seja, apenas se conhece a geração de lixo total e não especificadamente por tipo. Existe coleta para todos os tipos de resíduos no município, excluindo no setor privado. 5.2. Resíduos Sólidos de Mogi Guaçu/SP Uma pesquisa realizada junto a SSM permitiu identificar a situação atual em relação à coleta dos resíduos sólidos do município. Resíduo Domiciliar 64 Segundo a CETESB (2010) o município de Mogi Guaçu se enquadra na geração per capita de 0,5 kg/hab.dia, sendo coletado por dia em média 65,2 t/dia. O município possui no total onze caminhões para a coleta domiciliar, sendo seis caminhões trabalhando no período da manhã, cinco no período da tarde e um fixo no distrito de Martinho Prado. As coletas são divididas em três dias por semana em todo o município. Totalizando o atendimento no período da manhã de Oitenta e cinco bairros e no período da tarde de Cinqüenta e Nove bairros ambos com os dias alternados. Resíduo da Construção Civil e Outros O município possui dez caminhões caçambas para coleta de resíduos da construção civil (entulhos) e cinco caminhões de carrocerias para a coleta de galhos, sofás e outros resíduos não domiciliares. Os resíduos da construção civil são coletados com datas agendadas através de um calendário realizado pela prefeitura do município. Esses mesmos resíduos coletados têm sua destinação final em um depósito de inertes, situada na Avenida Brasil próximo as margens do rio Mogi Guaçu, esse local possui licença para operar obtida pelo órgão responsável (CETESB). Os resíduos de galhos, móveis inservíveis entre outros, inclusive resíduos domésticos são coletados com as mesmas datas da coleta de inertes, sendo os mesmo destinados ao depósito que se encontra no Distrito Industrial Getulio Vargas II próximo ao Comércio de Sucata Bueno. A SSM possui um disk denuncia na intenção que a população faça parte dessa luta contra os bolsões de lixo. A secretaria possui hoje cinco fiscais para realizar todo o trabalho no município de Mogi Guaçu que possui uma extensão de 812 km² com aproximadamente 153 bairros e um total de 137.245 hab. (IBGE, 2010). Resíduo de Serviços de Saúde O município possui uma coleta para Interciência & Sociedade Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de Mogi Guaçu os resíduos de serviços de saúde com caminhão próprio (furgão), coletando apenas no setor público, sendo sua destinação para uma empresa particular Sterlix Ambiental situada no município de Mogi Mirim. Por dia é coletado 84 t sendo realizada a pesagem na balança do aterro sanitário do município. As unidades hospitalares do município não realizam nenhum tipo de tratamento em suas unidades como recomendam as normas. 5.3. Identificação dos Bolsões de Lixo Os trabalhos de campo foram realizados nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto de 2011. Com o levantamento dos bolsões de lixo realizado pela prefeitura, foi possível ir diretamente aos pontos identificados e com as visitas aos bairros foi possível identificar outros pontos não cadastrados. Juntamente com essas visitas foram determinadas as coordenadas dos pontos e foi possível registrar por meio de fotografias a situação atual dos pontos. O município de Mogi Guaçu possui uma extensa área urbana, por isso foi dividido em Zonas: Zona Leste/Centro, Zona Norte/Oeste e Zona Sul. Sendo assim possível a elaboração das tabelas 1 a 3 dos bairros com mais pontos encontrados após todos os levantamentos. Tabela 1. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi Guaçu – Zona Leste/Centro. JARDIM CANAÃ II L178 Alameda Nazareth Maria Biazotto inicio da alameda divisão de bairro 301705; 7529321 L/C L217 Alameda Rubens Martini canteiro central 301956; 7530007 L/C L184 Rua Almir Nelson Falseti área verde 301831; 7529461 L/C L192 Rua Antonio G. de Souza na quadra por todo perímetro do escoa- 301866; 7529332 L/C mento de água pluvial L190 Rua Benedita G. de oliveira lado da escola 301997; 7529464 L/C L187 Rua Benedita P. Garcia em frente 492 301940; 7529911 L/C L195 Rua Célia Stabile final da rua 302135; 7530043 L/C L198 Rua Idalina Colombo inicio da rua 302180; 7529338 L/C L197 Rua Idalina Colombo lado direito 380 302197; 7529705 L/C L196 Rua Idalina Colombo lado esquerdo 365 302192; 7529699 L/C L193 Rua Jose Nunes de Matos final da rua 302209; 7529585 L/C L189 Rua Jose Rodrigues Neto área verde 302113; 7529675 L/C L191 Rua Jose Rodrigues Neto área verde final da rua 302097; 7529296 L/C L188 Rua Jose Rodrigues Neto em frente 2590 302123; 7529681 L/C L185 Rua Marli Ricci Toso em frente ao 193 301732; 7529655 L/C L186 Rua Marli Ricci Toso lado direito 243 301780; 7529708 L/C L218 Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central 301855; 7529909 L/C L219 Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central 301820; 7529870 L/C L220 Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central 301767; 7529839 L/C L221 Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central 301731; 7529807 L/C L222 Rua Nair Simioni Pancieira canteiro central 301573; 7529673 L/C L183 Rua Reinaldo Pelegrini em frente ao 25 301685; 7529404 L/C L194 Rua Reinaldo Pelegrini final da Rua 302197; 7529794 L/C L182 Rua Rita de Cássia Ramos esquina com rua Oscar Ravagnani 301760; 7529552 L/C Fonte: COSTA, 2011. * L/C – Zona Leste Centro. * Margem de erro do GPS + ou – 10 metros. Interciência & Sociedade 65 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. Tabela 2. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi Guaçu – Zona Norte/Oeste JARDIM IPÊ PINHEIRO L335 Avenida das Petunias por extensão 299331; 7529511 N/O L336 Avenida das Petunias por extensão 299360; 7529477 N/O L337 Avenida das Petunias por extensão 299388; 7529441 N/O L338 Avenida das Petunias por extensão 299404; 7529385 N/O L339 Avenida das Petunias por extensão 299464; 7529314 N/O L340 Avenida das Petunias por extensão 299526; 7529263 N/O L341 Avenida das Petunias por extensão 299609; 7529203 N/O L343 Avenida das Petunias por extensão 299298; 7529578 N/O L344 Avenida das Petunias por extensão 299267; 7529595 N/O L345 Avenida das Petunias por extensão 299220; 7529660 N/O L348 Avenida das Petunias por extensão 299186; 7529710 N/O L346 Avenida dos Ipês lado esquerdo da EMEI 299000; 7529530 N/O L347 Avenida Flamboyants esquina com a rua Geranios 299079; 7529751 N/O L349 Avenida Flamboyants final da rua 299104; 7529821 N/O L371 Avenida Flamboyants por toda extensão 299138; 7529518 N/O L372 Avenida Flamboyants por toda extensão 299188; 7529425 N/O L373 Avenida Flamboyants por toda extensão 299218; 7529373 N/O L374 Avenida Flamboyants por toda extensão 299252; 7529298 N/O L375 Avenida Flamboyants por toda extensão 299279; 7529291 N/O L376 Avenida Flamboyants por toda extensão 299312; 7529249 N/O L377 Avenida Flamboyants por toda extensão 299307; 7529245 N/O L350 Estrada Municipal esquina com a rua Azaléias 298893; 7529913 N/O L351 Estrada Municipal para o matadouro 298950; 7529921 N/O Fonte: COSTA, 2011. * N/O – Zona Norte e Oeste. * Margem de erro do GPS + ou – 10 metros. Tabela 3. Identificação e Coordenadas Geográficas dos Pontos Irregulares de Lixo em Mogi Guaçu – Zona Sul JARDIM IPÊ PINHEIRO 66 L464 Rua Cristovão Colombo área verde esquina com a rua Vicen- 300486; 7522833 S te J. de Carvalho L448 Rua Cristovão Colombo extensão do córrego 300310; 7522427 S L449 Rua Cristovão Colombo extensão do córrego 300346; 7522491 S L450 Rua Cristovão Colombo extensão do córrego 300371; 7522539 S L447 Rua Maria C. P. Marchesi esquina com rua Cristovão Colom- 300255; 7522358 S bo L460 Rua Osvaldo de Carvalho área verde 300254; 7522868 S L462 Rua Osvaldo de Carvalho área verde toda extensão 300297; 7522873 S L456 Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 250 300112; 7522920 S L455 Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 274 300131; 7522904 S Interciência & Sociedade Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de Mogi Guaçu Tabela 2. Continuação L461 Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 444 300275; 7522857 S L463 Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 506 300337; 7522832 S L457 Rua Osvaldo de Carvalho inicio da rua área grande 300026; 7522951 S L458 Rua Osvaldo de Carvalho inicio da rua área grande 300003; 7522959 S L459 Rua Osvaldo de Carvalho em frente ao 310 300179; 7522894 S L453 Rua Vereador Jose Martini em frente ao 12 300166; 7522627 S Fonte: COSTA, 2011. * S – Zona Sul. * Margem de erro do GPS + ou – 10 metros. As tabelas 1 a 3 mostram a real situação dos bairros em suas respectivas Zonas. Foram visitados 34 bairros nessa região Leste/Centro encontrando-se 284 pontos no total. Em média tem-se 8,35 pontos por bairro. Os bairros que possuem mais pontos irregulares de lixo são Jardim Novo II com 22 pontos, Jardim Nova Canaã e Jardim Canaã II com 24 pontos cada. Já na região Norte/Oeste foram visitados 27 bairros encontrando-se 144 pontos no total. Em média tem-se 5,33 pontos por bairro. Os bairros que possuem mais pontos irregulares de lixo são Ipê Pinheiro com 23 pontos e Jardim Ipê V com 14 pontos. E na região Sul foram visitados 19 bairros encontrando-se 100 pontos no total. Em média tem-se 5,26 pontos por bairro. Os bairros que possuem mais pontos irregulares de lixo são Jardim Novo Itacolomy com 15 pontos, Jardim Sta. Madalena com 12 pontos e a Rua Benedito Euclides Martini que atravessa 3 bairros com 13 pontos. car as quantidades de lixos, os tamanhos dos bolsões e os tipos de lixos encontrados que vão de resíduos da construção civil até resíduos sólidos urbanos, encontrando diversos tipos de resíduos nesses pontos. Zona Leste/Centro Nessa região foram escolhidas as figuras 2 a 3, as quais representam os bairros Jardim Canaã II e Loteamento Nova Mogi Guaçu. Nestes foi possível encontrar inúmeros pontos irregulares de lixo. • Jardim Canaã II A pior situação entre os bairros da região Leste/Centro foi encontrada no Jardim Canaã II. Só nesse bairro foram registrados vinte e quatro pontos, todos com grandes extensões e com muito odor. A figura 2 mostra o ponto onde sua extensão é por todo o quarteirão. 5.4. Bolsões de Lixo De acordo com as visitas realizadas nos bairros supra mencionados, nota-se que a maioria dos bolsões de lixo são encontrados em ruas ainda sem asfalto, terrenos baldios sem muros, próximos a cursos d’águas em especial próximo as linhas férreas e áreas verdes. Foram escolhidas algumas das imagens dos piores pontos encontrados em determinados bairros separados por regiões, para demonstrar a situação encontrada em cada um dos bairros visitados. Nessas imagens é possível verifi- Figura 2: Bolsão de Lixo - Alameda Nazareth M. Biazotto. Fonte: COSTA, 2011. Interciência & Sociedade 67 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. • Loteamento Nova Mogi Guaçu. No Loteamento Nova Mogi Guaçu são encontrados doze pontos, como o bairro situa-se mais afastado a prefeitura colocou uma lixeira para realizar a coleta deste bairro. Na figura 3 nota-se que há mais lixo no chão do que na própria lixeira. Zona Sul Nessa região foram escolhidas as figuras 5 a 6 os bairros Areião, Jardim Cristina, Jardim Munhoz, Jardim Novo Itacolomy e Recanto Itamaracá. Nestes foi possível encontrar inúmeros pontos irregulares de lixo. • Jardim Novo Itacolomy No Jardim Novo Itacolomy são encontrados quinze pontos. Nove desses pontos encontram-se na mesma rua sendo bem próximo uns dos outros. Todos com grandes extensões chegando a atingir um quarteirão e com muita quantidade de lixo como podemos ver na Figura 5 a seguir. Figura 3: Bolsão de Lixo - Estrada Policarpo A. C Fonte: COSTA, 2011. Zona Norte/Oeste Nessa região foi escolhida a figura 4, ao qual representa o bairro Jardim Altos dos Ipês. Nesta região foi possível encontrar inúmeros pontos irregulares de lixo. • Jardim Alto dos Ipês No Jardim Alto dos Ipês são encontrados nove pontos. Na Figura 5 pode-se observar a quantidade de lixo, a grande extensão desse ponto e principalmente a prefeitura realizando a limpeza do local. Figura 5: Bolsão de Lixo - Rua Cristovão Colombo área verde. Fonte: COSTA, 2011. • Recanto Itamaracá No Recanto Itamaracá são encontrados seis pontos. Um deles chama bem atenção pelo tamanho, a quantidade de lixo, o mau odor e por ser próximo a área verde. A figura 6 mostra a real situação do local que fica na principal avenida do bairro. Figura 4: Bolsão de Lixo - Rua Basílio Brugheroto. Fonte: COSTA, 2011. 68 Interciência & Sociedade Da figura 3 passa para a figura 5. Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de Mogi Guaçu Foram visitados 80 bairros dos 153 do município, totalizando 528 pontos, que foram identificados e inseridos na planta planimétrica divididos por regiões (Zona Leste/Centro, Norte/Oeste e Sul). A Figura 8 mostra um dos bairros que possuem mais pontos irregulares de lixo o Jardim Canaã II. O bairro pertence à Zona Leste/Centro com os vinte e quatro pontos irregulares de lixo locados. Figura 6: Bolsão de Lixo - Rua Maria do Carmo B. Bueno. Fonte: COSTA, 2011. 5.5. Distribuição Espacial dos Bolsões de Lixo em Mogi Guaçu O município de Mogi Guaçu possui uma extensão de 812 km² e aproximadamente 153 bairros incluindo os mais afastados. As coordenadas dos pontos foram adquiridas por meio do GPS e transferidas para o computador sendo assim possível a distribuição espacial dos mesmos como pode-se observar na figura 7. Figura 8: Distribuição espacial dos pontos irregulares de lixo – Jd. Canaã II – Zona Leste/ Centro. Fonte: COSTA, 2011. Com a materialização de todos os pontos levantados e inseridos na planta foi possível fazer a avaliação de cada região e sua porcentagem encontrada como mostra figura 9. Figura 7: Distribuição espacial dos pontos irregulares de lixo. Fonte: COSTA, 2011. Figura 9: Percentual de Bolsões de Lixos por Zonas. Fonte: COSTA, 2011. Interciência & Sociedade 69 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. Nota-se claramente que a porcentagem maior de bolsões de lixos está na Zona Leste/Centro com 54%, a Zona Sul é a que possui uma porcentagem menor com 19% mas isso não é vantagem, pois essa região possui cinco pontos dos quais são de grandes extensões chegando a atingir até um quarteirão inteiro. A existência desses bolsões de lixo é de extremo perigo, causando risco à saúde da circunvizinhança, aos animais domésticos, e principalmente ao solo onde esses bolsões se encontram podendo até contaminar o lençol freático. As figuras a seguir mostram a real situação de alguns dos bairros urbanos do município, em destaque os bairros com mais percentuais de bolsões de lixo. Figura 10: Percentual de Bolsões de Lixos por Zona L/C dos Bairros. Fonte: COSTA, 2011. Figura 11: Percentual de Bolsões de Lixos por Zonas N/O dos Bairros. Fonte: COSTA, 2011. 70 Interciência & Sociedade Análise ambiental e geoespacial dos depósitos de lixos clandestinos da cidade de Mogi Guaçu Figura 12: Percentual de Bolsões de Lixos por Zonas Sul dos Bairros. Fonte: COSTA, 2011. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio do levantamento realizado foi possível visitar 80 bairros e identificar 528 pontos irregulares de lixos, a maioria desses pontos encontra-se em áreas verdes, próximo a córregos, linhas férreas e terrenos baldios. Nos pontos é possível encontrar todos os tipos de resíduos, os mais comuns são resíduos da construção civil, galhos e podas, restos de móveis e eletrônicos, restos de animais e principalmente resíduos sólidos urbanos. É comum dizer que esse cenário se repete por bairros caracterizados como de baixa renda, mas no município de Mogi Guaçu foram encontrados muitos pontos nos bairros de classe média. Nota-se que pelo lado ambiental que esses bolsões de lixo são um grande risco ao solo, pois estão depositados sem preparação alguma e podem resultar em problemas com o lençol freático os quais podem ser contaminados por chorume e outros componentes químicos lixiviados do solo por meio das águas de chuvas. A prefeitura realiza sua parte porém com algumas falhas significativas, que são apontados nesse referido trabalho e suas conseqüências. Segundo o levantamento junto à prefeitura acredita-se que os bolsões de lixos existem somente por cultura da população, mas segundo esse estudo nota-se que esse problema é um “efeito dominó”, ou seja, eles existem por diversas falhas da coleta realizada pela prefeitura fazendo com que a população se livre dos seus lixos depositando em qualquer lugar e é justamente nessa parte que entra o problema cultural mencionado. Com base neste estudo juntamente com todas as legislações vigentes no país no âmbito de resíduos sólidos urbanos nota-se algumas soluções a serem tomadas pelos órgãos públicos do município ou a quem couber a responsabilidade de gerir esse grave problema, são eles: • • • • • Interciência & Sociedade Aplicar tudo o que diz a Lei 12.305 – Política Nacional dos Resíduos Sólidos, onde os principais são: Coleta seletiva, e os sistemas de logística reversa; Educação Ambiental; Realizar um planejamento de coleta do município seguindo o manual; Incentivo do poder público para coleta seletiva porta a porta, com mão de obra de catadores 71 COSTA, A. C.; BARRAZA LARIOS, M. R. • • • • • do próprio município; Criação de cooperativas de catadores e de Usina de reciclagem no município; Criação de um aterro de inertes adequados para receber os resíduos do município de Mogi Guaçu; Limpeza correta e definitiva dos bolsões de lixos já existentes no município; Realização de Ecopontos em cada bairro para tornar fixo apenas um ponto para coleta de resíduos no município. Buscar a melhoria continua para o município lembrando sempre que os resíduos sólidos podem ser aplicados os quatros Rs: Redução na fonte, Reciclar, Reutilizar e Recuperar sendo possível evitar o cenário dos bolões de lixos tão comum em Mogi Guaçu. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ANBT. NBR 10004. Resíduos Sólidos - Classificação. 2004. ra a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 3 ago. de 2010. Disponível em: < www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/.../lei/l12305.htm/>. Acesso em: 22/08/2011. BRASIL, Resolução CONAMA n.° 307 de 5 de Julho de 2002, Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, 2002. LEI COMPLEMENTAR Nº 968, DE 05 DE DEZEMBRO DE 2008 - Dispõe sobre a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI de Mogi Guaçu e dá outras providências. MONTEIRO, J. H. P.; et al. Coordenação técnica Victor Zular Zveibil. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Patrocínio: Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. RAMOS, J. Sua Pesquisa. Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/o_que_e/ residuos_solidos.htm>. Acesso em 31/01/2011. SILVA, J. R. B. Recicle & CIA. Gerenciamento de Resíduos. Disponível em: <http://recicle-cia.com/crbst_12.html>. Acesso em: 22/08/2011. ZVEIBIl, V. Z. Cartilha de Limpeza Urbana. Chefe do Centro de Estudos e Pesquisas Urbanas do IBAM. 1991.pdf. ABGE, 1995. Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. IPT Série Meio Ambiente, 247 p. BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Alte- Ana Caroline Costa é graduada em Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM. Mario Roberto Barraza Larios é Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo – USP, Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – UFV, Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Viçosa – UFV e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico – IAT. Atualmente é Professor do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFM, Professor dos cursos da Escola de Engenharia de Piracicaba EEP–FUMEP, professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Adventista de São Paulo – UNASP e Responsável Técnico da Empresa Gerenciamento Ambiental Ltda. 72 Interciência & Sociedade MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETROFIT DE EDIFICAÇÕES BERNI, Mauro Donizeti Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP [email protected] DELGADO, Antonio Carlos IYO Soluções Sustentáveis Ltda [email protected] PAGLIARDI, Odail Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP IYO Soluções Sustentáveis Ltda [email protected] RESUMO: O objetivo principal é o estabelecimento de um arcabouço metodológico e sua validação, como resposta à necessidade de uma ferramenta de gestão em face da demanda recorrente de comparações a revitalização de edificações ou retrofits. Com o aprimoramento dos investimentos e da execução de ações com critérios sócio-econômicos balizados por marcos regulatórios, cada vez mais faz-se, necessário acompanhar os resultados passados e prospectar os futuros, relativos aos empreendimentos, para a medição de até que ponto os esforços estão atendendo aos requisitos regulatórios e ao objetivo de contribuir com o desenvolvimento sustentável. Neste contexto a utilização de indicadores tem sido uma das principais ferramentas de gestão. PALAVRAS-CHAVE: retrofit, indicadores econômicos, indicadores sociais. ABSTRACT: The main objective is to establish a methodological framework and its validation as a response to the need for a tool of demand management in the face of recurring comparisons revitalization of buildings or retrofits. With the improvement of the investment and implementation of actions with socio-economic criteria delimited by regulatory frameworks, increasingly it is necessary to monitor past performance and future prospect, for the projects, to measure the extent to which efforts are meeting regulatory requirements and aim to contribute to sustainable development. In this context the use of indicators has been a major management tools. KEYWORDS: retrofit, economic indicators, social indicators. 1. INTRODUÇÃO As questões da sustentabilidade vêm requerendo a atenção mundial e, na esfera da construção civil e arquitetura, coloca-se a necessidade da atuação empresarial estar voltada a contribuir para a sustentabilidade global. Neste contexto, requer-se como princípio, que cada pessoa, física ou jurídica contribua com seu papel para garantir que os recursos naturais e o planeta, assim como se conhece hoje, sejam preservados para as futuras gerações. A busca pela sustentabilidade ainda é incipiente em edificações, no entanto contata-se um aumento continuado das preocupações neste sentido. A inserção da avaliação da sustentabilidade no ambiente empresarial da construção civil e no projeto arquitetônico pode contribuir para a melhoria do Interciência & Sociedade 73 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia o marco regulatório e sua interrelação concernente aos estudos prévios necessários para a viabilização dos empreendimentos de revitalização imobiliária ou retrofits de forma sustentável, com foco nas dimensões social e econômica. A sustentabilidade observada da perspectiva social, a ênfase é dada à presença do ser humano na biosfera. A preocupação maior é com o bem-estar humano, a condição humana e os meios utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condição. Acesso a serviços básicos, água limpa e tratada, ar puro, serviços médicos, proteção, segurança e educação pode estar ou não relacionado com os rendimentos ou riqueza da sociedade. A sustentabilidade social refere-se a um processo de desenvolvimento que leve a um crescimento estável com distribuição eqüitativa de renda; gerando com isso, a diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis da sociedade e a melhoria das condições de vida das populações. A sustentabilidade econômica abrange a alocação e distribuição eficiente de recursos naturais dentro de uma escala apropriada. O conceito de desenvolvimento sustentável, observado a partir da perspectiva econômica, tende a ver o mundo em termos de estoques e fluxos de capital. Na verdade, essa visão não está restrita apenas ao convencional capital monetário ou econômico, mas está aberta à consideração de capitais de diferentes tipos, incluindo o ambiental, o humano e o social. Nas seções seguintes apresenta-se uma alternativa metodológica e sua validação no contexto da sustentabilidade do retrofit de edificações, a partir de indicadores sociais e econômicos, permitindo estabelecer uma linha de base para a sustentabilidade em edificações. Os indicadores são instrumentos importantes para o processamento de informações múltiplas e variadas, permitindo, de uma forma gráfica e simples, a tradução de realidades complexas e a tomada de decisão. Decisões corretas na fase de projeto das edificações po- 74 dem resultar em menores impactos sociais e ambientais, e consequentemente maior sustentabilidade. Selos Verdes e/ou Certificações de qualidade são atestados de cumprimento de marcos regulatórios ainda na fase de projeto, construção, desconstrução e/ou qualidade no sentido de garantir o menor impacto social e econômico, bem como menor consumo de energia para edificação construída ou “retrofit” de edificação antiga. 3. Metodologia 3.1 Indicadores Sociais Em Retrofit Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico ou programático. É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma (JANNUZZI, 2009). Em âmbito nacional são exemplos de sistemas de indicadores o Sistema de Indicadores para Políticas Urbanas, o Sistema de Indicadores de Saúde, o Sistema de Indicadores do Mercado de Trabalho, etc. Em uma perspectiva internacional, pode-se citar o Sistema de Bem Estar Social da OCDE, o Sistema Mínimo de Indicadores Urbanos, para orientar a implementação das diretrizes de ação. A título de exemplificação, na avaliação das condições de vida em determinada tipologia, pode ser operacionalmente traduzida como o nível de atendimento das necessidades materiais básicas para sobrevivência e reprodução social naquela tipologia. Desta forma, as dimensões operacionais de interesse poderiam ser as condições da saúde, tipo e qualidade da habitação, infraestrutura de serviços urbanos, acessibilidade, segurança, etc. Outro aspecto a ser comentado é quanto à classificação e critérios para escolha de indicadores sociais. Por conta de diferenças conceituais, indicadores sociais podem ser objetivos e subjetivos, mesmo estando em uma mesma dimensão social, podem não apontar as mesmas tendências. Interciência & Sociedade Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações Por exemplo, na investigação de uma tipologia como um programa de moradias habitacional, é bem possível que os indicadores objetivos apontem melhoria com relação às condições materiais de vida da população, que, não se manifeste em indicadores de satisfação baseados na opinião das pessoas ali residindo. A Dimensão Social do Ambiente Construído. Um dos elementos defendidos pela teoria da construção enxuta é a agregação de valor, através do atendimento aos requisitos dos usuários no Brasil, fenômenos relativamente recentes, como a estabilidade econômica, a edição da legislação do consumidor, a maior disponibilidade de informação e a migração das empresas para faixas de renda mais elevadas modificaram o perfil do cliente: na faixa de classe média, as empresas hoje se relacionam com usuários mais informados e qualificados. Como reação a esta nova realidade, a maioria das empresas buscou ampliar a eficiência, através de ações de gerenciamento da construção (otimização de processos, implantação de programas de qualidade, certificação e terceirização de grande parte das atividades necessárias à produção) e adoção de algumas alternativas tecnológicas nas diferentes tipologias requeridas para este novo momento. Entretanto, em última análise, ao invés de ampliar a qualidade do produto e conseqüentemente a satisfação do cliente final, os esforços praticados são mais voltados ao enfrentamento da concorrência acirrada e à redução de custos. Neste contexto, indicadores sociais contemplando a avaliação pós-ocupação destas tipologias estão sendo utilizados para identificar pontos positivos e negativos sobre decisões tomadas na fase de projetos de empreendimentos, podendo ser utilizada no processo de projeto de novos empreendimentos. São compostos por um amplo diagnóstico do ambiente construído, incluindo análise do sistema construtivo, conforto ambiental, funcionalidade, acessibilidade, segurança ao fogo, e as relações entre o ambiente construído e o usuário. Esta análise é geralmente realizada através de um conjunto de indicadores sociais que podem ser utilizados por projetista para os projetos de novos empreendi- mentos considerando os aspectos positivos e negativos apontados pelos usuários, melhorando o processo de projeto e agregando maior valor aos empreendimentos. O emprego de indicadores sociais deve considerar aspectos comportamentais, físicos e comentários gerais de usuários. Com isto, também, pode-se antecipar as necessidades futuras que a tipologia deverá atender. Observe que as preferências dos usuários são alteradas com base em transformações sociais, econômicas e culturais, enquanto que as edificações imóveis são bens duráveis, sendo utilizados continuamente por dezenas de anos. Quanto mais ajustado às necessidades dos usuários, melhor o conforto proporcionado ou então menor a necessidade de retrofit futuro. Considerando os diversos agentes que compõe as forças de mercado, bem como os objetivos do empreendedor da indústria da construção: funcionalidade, com as necessárias condições de segurança para os efeitos das ações tanto naturais como humanas e com características de durabilidade que permitam a redução da deterioração ao longo do seu ciclo de vida e custos envolvidos, a aplicação da metodologia proposta levou à seleção dos seguintes indicadores sociais: 3.1.1 Tema A: Práticas Laborais Os aspectos que devem ser considerados, no que se refere às práticas laborais, são baseados em normas universais reconhecidas internacionalmente. Há dois instrumentos ligados diretamente às responsabilidades sociais das empresas: a Declaração Tripartida da OIT sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social e as Diretrizes para Empresas Multinacionais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Desta forma, no que se refere às práticas laborais, sugerem-se indicadores com os seguintes aspectos: emprego, saúde e segurança no trabalho, formação e educação, e diversidade e igualdade de oportunidades. Emprego – pode ser obtido por: ● Discriminação da mão-de-obra total, por tipo de emprego, por contrato Interciência & Sociedade 75 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. de trabalho e por região; ou ● Número total de trabalhadores e respectiva taxa de rotatividade, por faixa etária, gênero e região. Saúde e Segurança no Local de Trabalho – este indicador pode ser obtido de: ● Taxa de lesões, doenças profissionais, dias perdidos, absentismo e óbitos relacionados com o trabalho, por região; ou ● Programas de educação, formação, prevenção e controle de risco para garantir assistência aos trabalhadores, às suas famílias ou aos membros da comunidade. Formação e Educação – medida pela: ● Média de horas de formação, por ano, por trabalhador, discriminadas por categoria de funções; ou ● Programas para a gestão de competências e aprendizagem contínua que apóiam a continuidade da empregabilidade dos funcionários e para a gestão de carreira. Diversidade e Igualdade de Oportunidades – tal indicador pode ser visto como: ● Composição dos órgãos sociais da empresa e relação dos trabalhadores por categoria, de acordo com o gênero, a faixa etária e as minorias; ou ● Discriminação do salário base entre homens e mulheres, por categoria de funções. 3.1.2. Tema B: Direitos Humanos Os indicadores de desempenho relativos aos direitos humanos devem estar relacionados aos investimentos nas práticas de seleção de fornecedores e empresas contratadas. Esses indicadores devem incluir, ainda, a formação dos funcionários e do pessoal de segurança em direitos humanos, abrangendo também a não-discriminação, a liberdade de associação, o trabalho infantil, o trabalho forçado e escravo e os direitos dos indígenas, quando pertinente. Os aspectos sobre direitos humanos que foram levados em consideração para o estabele- 76 cimento de indicadores são: discriminação; abolição do trabalho infantil; prevenção de trabalho forçado e escravo e procedimentos de segurança. Mais especificamente tem-se: Discriminação: Número total de casos de discriminação e ações tomadas para sua abolição. Abolição do Trabalho Infantil: Número de casos em que exista um risco significativo de ocorrência de trabalho infantil e medidas que contribuam para a sua eliminação. Prevenção de Trabalho Forçado e Escravo: Número de casos em que exista um risco significativo de ocorrência de trabalho forçado ou escravo e medidas que contribuam para a sua eliminação. Procedimentos de Segurança: Percentagem do pessoal de segurança submetido à formação nas políticas ou procedimentos da empresa, relativos aos direitos humanos e que são relevantes para as operações. 3.1.3. Tema C: Sociedade Os indicadores relativos à sociedade estão focados nos impactos que o empreendedor e a tipologia em construção e/ ou construída, produzem nas comunidades em que atua e na divulgação da forma como os riscos, resultantes de sua interação com a sociedade, são gerenciados e mitigados. É importante determinar indicadores que forneçam informações sobre os riscos associados ao suborno, à corrupção, à influência indevida na elaboração de políticas públicas e nas práticas de monopólio. Neste sentido, os tópicos que devem ser abordados para definição dos parâmetros de sustentabilidade no âmbito da sociedade são: comunidade; corrupção; políticas públicas e concorrência desleal (BORBA, 2009). Estes indicadores seriam: Comunidade e Usuários: Natureza, âmbito e eficácia de quaisquer programas e práticas para avaliar e gerir os impactos das obras nas comunidades, incluindo no momento da sua instalação, durante a operaInterciência & Sociedade Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações ção e na desmobilização. 3. 2. Indicadores Econômicos Corrupção: Porcentagem de trabalhadores que tenham efetuado formação nas políticas e práticas anti-corrupção da empresa. Ainda, este indicador pode ser obtido pelas “Medidas tomadas em resposta a casos de corrupção”. Projetos devem ter objetivos claros; e quando estão em andamento, devem ser avaliados por indicadores operacionais, além dos de impacto, efetividade e desempenho, para possíveis correções de sua rota. Trabalhar “por projeto” é algo extremamente pragmático, afinal, todo projeto é um empreendimento temporário (prazo finito), que envolve recursos (materiais, logísticos, humanos, entre outros) e, por isso, exige orçamento prévio e gestão financeira dos investimentos realizados. Assim, em um determinado período, um produto ou serviço é gerado dentro de um orçamento definido. Na área de projetos existem lacunas que exigem ação imediata dos administradores e gerentes de projetos, com destaque para os indicadores de desempenho. É evidente que antes de se iniciar um projeto se faz necessária uma avaliação de custo-benefício, a fim de tomar a decisão de prosseguir ou interromper o projeto. Este conceito já está amplamente disseminado no mercado e a grande maioria das empresas realiza isto com métodos criteriosos e específicos. Em todo o projeto está implícita a idéia de risco. A noção de risco é diversa, e muda conforme o enquadramento que deu origem à metodologia de gestão de risco em causa. Em manuais publicados pela US Project Management Institute (PMI) encontra-se a seguinte definição de risco de projeto: evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo sobre pelo menos um objetivo do projeto, como tempo, custo, âmbito ou qualidade – PMI, PMBOK Guide (2008). O tipo de risco e sua probabilidade de ocorrência ou o seu impacto sobre o projeto, variam ao longo do ciclo de vida do mesmo, sendo por isso necessário proceder-se à identificação dos riscos, em todas as suas fases. A discussão que se segue é quanto ao acompanhamento do projeto durante o ciclo de vida de uma edificação. Quando se efetua uma avaliação do projeto durante seu ciclo de vida através de indicadores (que não elimina as Revisões de Qualidade) é possível tomar decisões para mudar o Políticas Públicas: Posições quanto a políticas públicas e participação na elaboração de políticas públicas, bem como em grupos de pressão. Concorrência Desleal: Número total de ações judiciais por concorrência desleal, práticas de monopólio, bem como os seus resultados. 3.1.4 Tema D: Responsabilidade Os indicadores sociais referentes à responsabilidade estão relacionados essencialmente à responsabilidade pela qualidade do produto obtido e comercializado. Desta forma, os indicadores devem abordar os aspectos dos produtos e dos serviços decorrentes que afetam diretamente os consumidores finais, como: saúde e segurança, informações e rotulagem, marketing e privacidade. No que se refere à responsabilidade pelo produto e/ou serviço, os indicadores devem ser estabelecidos para os seguintes aspectos: saúde e segurança do consumidor; comunicações de marketing; privacidade quando pertinente. Saúde e Segurança do Consumidor: Indicar os ciclos de vida dos produtos e serviços em que os impactos de saúde e segurança são determinados, com a finalidade de promover melhorias contínuas. Sub-tema: Comunicações de Marketing: Programas de observância das leis, normas e códigos voluntários relacionados com comunicações de marketing, incluindo publicidade, promoção e patrocínio. Privacidade do Cliente: Número total de reclamações registradas relativas à violação da privacidade de clientes. Interciência & Sociedade 77 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. rumo do projeto ou mesmo para paralisá-lo, pois os indicadores mostram a situação atual e indicam tendências. Na área de projetos, entre os indicadores, fala-se em CPI (Cost Performance Index) e SPI (Schedule Performance Index), que respectivamente representam: o índice de desempenho de custos em um projeto e o índice de desempenho de cronograma no projeto, com base na execução de atividades e custos planejados/incorridos. Há, no entanto, quatro tipos de indicadores de projeto importantes que precisam ser vistos recorrentemente: de impacto, de efetividade, de desempenho e operacionais. Os de impacto medem o objetivo geral do projeto com resultados em longo prazo e sua contribuição para a organização; os indicadores de efetividade medem os resultados dos objetivos propostos em um determinado período de tempo. Já os de desempenho evidenciam se os resultados planejados foram alcançados citando-se o ROI - Return of Investment, (inclusive os tradicionais Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno e Payback), o CPI e o SPI obtidos ao final do projeto. Os indicadores operacionais devem funcionar como ferramentas de monitoração dos projetos em seu dia-a-dia, sobretudo quanto ao orçamento e cronograma – o CPI e o SPI se encaixam também neste item. Se um indicador é uma medida quantitativa e se é possível estabelecer um padrão (valor esperado) para ele, então as possíveis variações determinam que algo está fora das condições de normalidade, exigindo do gerente de projetos avaliação da variação, análise dos agressores que causam as variações e elaboração/execução de planos de ação para ajuste da rota. Por exemplo: o CPI e SPI têm como padrão de normalidade o número 1,0 (um). Qualquer variação para cima indica que o projeto está melhor que o planejado em termos de custos (CPI) ou em termos de prazos (SPI); porém, se abaixo de 1,0 indicam situação adversa em uma ou em ambas as dimensões citadas. Os indicadores indicam tendências. Portanto, após a definição dos indicadores, deve-se fazer a sua implementação estabelecendo plano de metas, definindo 78 percentuais ou quantitativos a serem atingidos em determinado período de tempo. A Análise de Valor Agregado ou Earned Value Analysis (VARGAS, 2009) aproveita as fórmulas fundamentais de Valor Agregado — Budget at Competion (BAC), Custo Real, Valor Planejado e Valor Agregado — para determinar o desempenho do projeto, índices relativos de custo e cronograma. O valor agregado é parte do Controle de Custos grupo de processos do Custo de Gerenciamento de Projetos. As fórmulas de Valor Agregado de desempenho consistem em: ● Cost Performance Index (CPI) Esta medida representa a quantidade de trabalho que está sendo realizado em um projeto para cada unidade de custo gasto. O CPI é calculado pela relação valor agregado (EV) e valor real gasto (AC), isto é, EV / AC. Um valor acima de 1 (um) significa que o projeto está se encaixando no orçamento (MIGUEL, 2010). ● Schedule Performance Index (SPI) - Este índice representa o quão próximo o trabalho real está sendo concluído quando comparado com a programação. O SPI é calculado pela relação Valor Agregado (EV) e Valor Planejado (PV), ou seja, EV/ PV. Está se comparando o custo do que foi ganho com o que foi orçado. Um valor acima de 1 (um) significa que o projeto está em sintonia com o calendário proposto (MIGUEL, 2010). Earned value management (EVM) é uma técnica de gestão de projeto para medir seu desempenho e seu progresso de uma forma objetiva. EVM tem a capacidade de combinar medidas de escopo, cronograma e custo em um único sistema integrado. As características essenciais de qualquer implantação de EVM incluem: ● Um plano do projeto que identifica o trabalho a ser completado; ● Uma avaliação do trabalho planejado, chamado Planned Value (PV) ou Budgeted Cost of Work ScheduInterciência & Sociedade Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações led (BCWS); e ● Predefinir “earning rules” (também chamado de métrica) para quantificar o trabalho realizado, chamado Earned Value (EV) ou Budgeted Cost of Work Performed (BCWP). A implantação do EVM para grandes e complexos projetos inclui características adicionais, tais como indicadores e previsões da evolução dos custos e performance orçamentária. Entretanto, o requisito mais básico de um sistema EMV é que ele quantifica seu progresso utilizando PV e EV. Existe um método prático de análise de investimento que é tempo de retorno o investimento realizado. Tempo de retorno (Payback) O tempo de retorno, também conhecido como Payback, é a relação entre o valor do investimento e o fluxo de caixa do projeto (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999). O tempo de retorno indica em quanto tempo deve ocorrer a recuperação do investimento. Os pontos fracos desse método são: a) não considera o valor do dinheiro no tempo; b) não considera os fluxos de caixa após a recuperação do capital; e c) não pode ser aplicado quando o fluxo de caixa não é convencional. Quanto aos métodos analíticos, estes são precisos porque se baseiam no valor do dinheiro no tempo. O valor do dinheiro no tempo para cada empresa é expresso por um parâmetro denominado Taxa Mínima de Atratividade. Essa taxa é específica para cada empresa e representa a taxa de retorno que ela está disposta a aceitar em um investimento de risco (projeto empresarial) para abrir mão de um retorno certo num investimento sem risco no mercado financeiro. Os métodos analíticos empregados em análise de investimentos são: o Valor Presente Líquido e a Taxa Interna de Retorno (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999). Valor Presente Líquido O valor presente líquido (VPL) de um projeto de investimento é igual ao valor presente de suas entradas de caixa menos o valor presente de suas saídas de caixa. Para cálculo do valor presente das entradas e saídas de caixa é utilizada a Taxa Mínima de Atratividade como taxa de desconto. Se o Valor Presente Líquido de um projeto de investimento for maior do que zero, significa que o investimento é economicamente atrativo, pois o valor presente das entradas de caixa é maior do que o valor presente das saídas de caixa. Entre vários projetos, o mais atrativo é aquele que tem maior Valor Presente Líquido. Taxa Interna de Retorno A Taxa Interna de Retorno é a taxa de juros que torna o valor presente das entradas de caixa igual ao valor ao presente das saídas de caixa do projeto de investimento (VPL=0). A Taxa Interna de Retorno de um investimento pode ser maior ou menor do que a Taxa Mínima de Atratividade, significando que o investimento é, respectivamente, economicamente atrativo ou investimento não é atrativo, este último significando que seu retorno é superado pelo retorno de um investimento sem risco. 3.2.1. Dificuldades na análise de investimentos A principal dificuldade na análise de investimentos é a obtenção de dados confiáveis, principalmente as projeções de entradas de caixa. Estas se originam basicamente das estimativas das receitas. Quando estas são imprecisas, é recomendável que a análise de investimentos utilize três hipóteses: provável, otimista e pessimista. Desse modo, a análise de investimentos produzirá uma Taxa Interna de Retorno ou Valor Presente Líquido máximo, médio e mínimo esperados. A metodologia de análise de investimentos apresentada, na qual os dados são considerados como certos, é denominada determinística. A taxa interna de retorno e o valor presente líquido podem ser enriquecidos com técnicas mais sofisticadas (árvore de decisão, análise de Monte Carlo, etc.) para lidar com o risco e a incerteza relacionados com os dados do projeto. Cabe agora, analisar uma medida Interciência & Sociedade 79 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. de desempenho usada para avaliar a eficiência de um investimento: o retorno sobre investimento ou Return On Investment – ROI (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999). Este índice é obtido pelo quociente entre os benefícios (retornos) de um investimento e o custo desse investimento; o resultado é expresso (em percentagem). Trata-se, assim, da relação entre o dinheiro ganho ou perdido através de um investimento, e o montante de dinheiro investido. Existem três formulações possíveis de taxa de retorno: retorno efetivo, retorno exigido e retorno previsto. torno Sobre o Investimento, não é apenas um percentual, mas sim a compreensão total dos custos e benefícios associados ao desenvolvimento de uma tecnologia. Uma análise de ROI é tão boa quando sua suposição ou dado mais inconsistente. Para se ter confiança em um cálculo, a organização precisa não apenas de um número, mas sim de uma completa explanação das suposições e cálculos utilizados para obter esse índice. a) O retorno efetivo serve como medida de avaliação do desempenho de um investimento, aferido a posteriori. O retorno previsto serve como medida ex ante do desempenho de um investimento; é a sua taxa implícita ou interna de retorno, aquela que iguala o valor do investimento ao seu preço ou custo. b) A taxa de retorno exigida é a que permite determinar o valor de um investimento. De fato, o valor de um investimento é o equivalente atualizado dos seus cash-flows futuros, pela taxa de retorno exigida. A ideia é que qualquer investimento deve proporcionar uma taxa de retorno igual a uma taxa sem risco acrescida de um prêmio de risco função do grau de incerteza que afeta os cash-flows futuros do investimento. c) A taxa de retorno prevista é função do preço (ou custo) do investimento e do fluxo de cash-flows futuros atribuíveis ao investimento. Sendo incertos estes cash-flows, resulta que a taxa de retorno prevista é também incerta, apresentando-se como uma variável aleatória. Este fato representa o risco do projeto, que deve ser estimado para ser estipulado o prêmio de risco a incluir na taxa de retorno exigida. Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx utilizaram a palavra produtividade, sempre em relação ao trabalho e sua divisão, e consequente ao rendimento. Na Revolução Industrial, a noção de produtividade teve mais campo para se difundir, por meio das substituições das ferramentas manuais por máquinas, da mecanização da agricultura e do advento da produção em massa, iniciada na Inglaterra em 1760 e desenvolvida nos Estados Unidos, Alemanha, França, fazendo com que essa noção passasse a significar bem-estar individual e social. Pode-se definir produtividade (TOLEDO JR, 2004) como sendo a relação entre produto gerado por homem-hora. Formalmente, a produtividade do trabalho corresponde à quantidade de trabalho necessária para produzir uma unidade de um determinado bem. O crescimento da produtividade depende da qualidade do capital físico, da melhoria das competências da mão-de-obra, dos progressos tecnológicos e de novas formas de organização. O crescimento da produtividade é a principal fonte de crescimento econômico. Uma força de trabalho bem formada desempenha um papel fundamental no crescimento da produtividade. A sua qualidade é baseada na educação, na formação e na aprendizagem ao longo da vida. Portanto, o índice ROI = Lucro Líquido / Investimentos representa o retorno que determinado investimento oferece, e geralmente é utilizado para determinar o retorno de investimentos isolados. Invertendo-se a relação (ROI = Investimento / Lucro Líquido), obtém-se o tempo necessário para se reaver o capital investido. Finalizando, cabe um alerta. O Re- 80 3.2.2. Produtividade: a chave para a competitividade das empresas Conceito amplo de produtividade Para Ribeiro e Camargo (1994), a elaboração e aplicação de conceito de medidas de desempenho são fundamentais Interciência & Sociedade Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações para o desenho de um programa de produtividade que seja eficaz na proposta de conduzir ao melhor gerenciamento. Deve-se começar com conceitos importantes: - insumos – os recursos com os quais se trabalha; - processo (atividade) – como se trabalham os insumos; - produto – o que é produzido; e - resultados – o impacto produzido. Podem ser citados três critérios básicos de mensuração e avaliação do desempenho de uma organização: eficiência, eficácia e efetividade. a) Eficiência – é uma medida mais quantitativa que qualitativa. Trata-se da razão entre o custo dos insumos e o valor dos produtos. Eficiência significa fazer uma tarefa ou atividade com o menor custo possível, realizando-a da forma mais econômica. Eficiência está associada à noção de poupar. Daft (2005) define eficiência como “o uso de recursos mínimos - matérias-primas, dinheiro e pessoas - para produzir um volume desejado de produção”. b) Eficácia – este conceito relaciona-se diretamente com objetivos e metas de produção, ou seja, trata-se da razão entre os produtos/serviços produzidos e as metas colocadas anteriormente. Eficácia, segundo o mesmo autor, é “O grau em que a organização alcança uma meta declarada”. Eficácia tem que ver, assim, com o nível ou grau em que se alcança uma meta ou resultado. Por exemplo, se ao programar pavimentar 10 km de estrada e conseguir apenas 9 km, a eficácia foi de 90%. c) Efetividade – trata-se do “grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados pela instituição” (TOLEDO JR, 2004). Este conceito envolve, portanto, a noção de qualidade. Efetividade relaciona-se com grau em que os resultados alcançados dão resposta ao problema para cuja resolução se programou e executou uma determinada ação. Por exemplo, se uma empresa quer apoiar socialmente os seus trabalhadores, pode abrir linhas de crédito bonificado para a aquisição da casa própria, veículo automotivo ou custear despesas médicas. Os trabalhadores normalmente têm seus pedidos atendidos (eficácia plena, quanto ao objetivo “conceder empréstimos bonificados”). Contudo, se os pedidos forem atendidos com muita morosidade, levando meses para se concretizar, pode representar perda de oportunidades de compra pelo trabalhador, pois assumiram o compromisso de reservar o bem, muitas vezes mediante caução. Nestas condições, o trabalhador chega muitas vezes a perder o “sinal” ou a ter que se endividar para satisfazer suas necessidades. No final, o objetivo principal da empresa que era o de criar facilidades sociais para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, não é alcançado, pois não resolve o problema para o qual foi executada, não atingindo a efetividade. Para o nível estratégico, tem-se o foco na conquista da eficácia, que é uma medida do alcance dos resultados, ficando o critério da eficiência mais ligado ao nível operacional, com a utilização dos recursos disponíveis no processo. (LOBATO, 1997). Um problema comum quando se pensa em programas de produtividade, é decidir o que mensurar: os insumos, o processo ou atividade, o produto ou o resultado. Esta decisão depende do que se deseja ou do que é mais fácil; a facilidade da mensuração está diretamente relacionada à natureza do serviço. Após a determinação do nível de produtividade (mensuração), sugere-se o uso de outros métodos que eliminem o trabalho desnecessário ou o “retrabalho”. Deve-se pensar em técnicas de simplificação do trabalho, análise de valor, brainstorming (tempestade de idéias), análise organizacional, determinação de missão, levantamento dos métodos e procedimentos correntes, ou seja, qualquer procedimento e metodologia que possa melhorar a medida atual de produtividade. A implantação prática da participação dos funcionários é imprescindível para a viabilidade da implementação de programas de produtividade. A sensibilização do empregado Interciência & Sociedade 81 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. para os conceitos de produtividade e efetividade é obtida por meio da implementação de mecanismos de cooperação entre a administração estratégica e o empregado, que permite a participação dos funcionários na tomada de decisão sobre seu trabalho e resultados. A questão da motivação dos funcionários e integração no processo decisório torna-se particularmente importante quando se deseja reter mão-de-obra qualificada, motivar o desenvolvimento e melhorar a qualidade dos serviços prestados. Devido à facilidade de se medir a performance da mão-de-obra utilizada no processo produtivo, em número de homens/ hora ou simplesmente número de funcionários, a produtividade da mão-de-obra é o indicador mais usado. Por outro lado, quando o denominador é uma combinação de mão-de-obra e capital, tem-se a chamada produtividade total dos fatores, indicador menos encontrado justamente pelas dificuldades em agregar insumos de natureza diferente. É difícil estabelecer regras rígidas para o cálculo de índices de produtividade, dada a riqueza e a diversidade das atividades de serviços, pois cada empresa possui suas particularidades. Na construção de um índice de produtividade, as principais decisões a serem tomadas são as seguintes: a) objetivo do índice; b) periodicidade; c) abrangência; d) medida de produção a utilizar; e) medida dos insumos. Cada uma dessas decisões envolve problemas próprios que acabam fazendo com que uma interfira sobre as outras. Na prática, será preciso que todas sejam analisadas ao mesmo tempo. Conceito restrito ou básico da produtividade A definição técnica de produtividade é um conceito simples. É definida como a relação entre os recursos empregados e os resultados obtidos. A produtividade pode ser definida como a otimização do uso dos recursos empregados (inputs) para a maximização dos 82 resultados desejados (outputs). Isto significa que, no processo de transformação dos recursos, o valor agregado aos produtos e serviços resultantes deve levar ao crescimento e ao desenvolvimento da riqueza da organização. Para Falconi (1999), output é o que a empresa produz, e input é o que ela consome, ou seja: produtividade é o quociente entre valor produzido e valor consumido. Os valores produzido e consumido podem ser substituídos por qualidade e custos, respectivamente. A idéia de produtividade pode ser encarada sob os seguintes aspectos: técnica ou física; econômica; produtividade social; e do trabalho, descritas a seguir. Entende-se por Produtividade Técnica ou Física quando tanto a produção como os recursos são expressos em unidades físicas (quantidades), que se apresenta como o resultado de uma fração cujo numerador indica determinada quantidade de produção (computada em volume, peso ou unidade) e cujo denominador indica, englobadamente, os fatores arregimentados para obter a produção em causa (equipamentos, energia, trabalho, direção, etc.). Produtividade Econômica refere-se à rentabilidade da empresa, definida como a relação entre lucro auferido e capital empregado, ou a qualquer relação que utilize valor e não quantidade. Permite um conhecimento mais profundo da estrutura da economia, sendo indispensável aos efeitos de uma política econômica e social. Produtividade Social é indicada pelo grau de utilidade que a empresa desenvolve em seu ambiente. É o grau de economicidade de uma empresa. Produtividade do Trabalho é a noção mais usual de produtividade. Trata-se do quociente da produção pelo qual essa produção foi obtida. Esta relação reveste-se de significado científico quando se precisam, por um lado, a natureza e as condições técnicas da produção e, de outro, os elementos contidos no cálculo do denominador. Existem fatores de incremento da produtividade, apesar das diferenças existentes entre as economias desenvolvidas Interciência & Sociedade Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações e aquelas em desenvolvimento, que propiciam incremento na produtividade, de forma global e particular, tais como: ciência e tecnologia; sistema educacional; capital; mão-de-obra; motivações. Produtividade na Terceirização dos Serviços de Manutenção O empreendimento deve possuir um Sistema Gerencial de Manutenção que discrimina todos os serviços, englobando serviços produtivos e serviços improdutivos. Os serviços tratados como produtivos são aqueles relacionados com atividades de manutenção (de eletricidade, redes de água e esgoto, etc.) tais como: consertar, substituir, remanejar componentes do sistema operacional; substituir, instalar, remanejar, retirar equipamentos; verificar a qualidade da água e iluminação, dentre outros serviços. Os serviços improdutivos podem ser discriminados por tipo: acidente de trabalho; aguardando instruções; aguardando liberação de alvará; área critica de abastecimento; atendimento de emergência; cancelamento de serviço por erro de digitação; cancelamento do serviço por entrada do pagamento; cancelamento do serviço a pedido do cliente; defeito no veículo; deslocamento; equipe inadequada para o serviço; espera por material ou equipamento; impossibilidade de acesso; informação incompleta ou incorreta; nada constatado como anormal; serviços não executados por falta de material, falta de equipe, equipamento ou veículo; cliente não permitiu executar o serviço. Como visto, a produtividade é a relação do total de trabalho realizado pelo número total de empregados para sua realização. Porém, a dificuldade é de como medir a produtividade, numa área de manutenção na qual a mão-de-obra está totalmente terceirizada. Neste caso, um indicador de produtividade que pode ser usado trata da relação do número de atividades realizadas (completas ou parciais), pelo número de empregados da empresa (efetivos e afastados) mais os empregados contratados. Com referência ao número de em- pregados da empresa, entende-se como efetivos os empregados em plenas funções de suas atividades, e entre os empregados afastados estão incluídos: por invalidez, auxílio-doença, acidente de trabalho, maternidade e outros. Os contratados são empregados administrativos e operacionais, (terceirizados) e empregados da Prefeitura Municipal (ou setor privado) à disposição da empresa. Normalmente não incluí no indicador de produtividade os empregados de empreiteiras, que executam serviços operacionais na área e estagiários. O que leva à produtividade é o aumento da produção com os mesmos custos fixos permitindo à empresa conquistar novos mercados. Assim, o indicador de produtividade de uma Unidade de Manutenção poderá estar relacionado em número total de serviço realizado pelo total de despesas desta. A produtividade em alguns setores envolve conceito amplo e prático da qualidade dos serviços. Trata-se da efetividade, que é “grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados”. Como lembrete, tratar a eficácia somente na redução de despesas pode tornar-se algo prejudicial, porém tratar a eficácia como aumento do número de operações, pode estar relacionado diretamente com objetivos e metas da empresa. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para efeito de demonstração e alavancar a incipiente e frágil política pública, visando a sustentabilidade no setor da construção civil do Brasil, a determinação de indicadores de sustentabilidade para o setor é um objetivo a perseguir. Por outro lado, faz-se necessário salientar que é comum haver certa confusão entre os temas sustentabilidade e certificações. Este projeto poderá ajudar a minimizar este erro interpretativo, na medida em que esforços estão concentrados no estabelecimento de uma metodologia nacional para o estabelecimento de indicadores de sustentabilidade para vários tipos de tipologias. Interciência & Sociedade 83 BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ed.). Portugal: Editora FCA, 2010. BORBA, A.E.O., Proposta de indicadores de sustentabilidade para o setor da construção civil, Engenharia Civil da Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, 2009 (dissertação Mestrado),135 pp. PMBOK Guide Fourth Edition (2008) do Project Management Institute (PMI), Filadélfia, Pensilvânia, EUA. BRIGHAM, Eugene; GAPENSKY, Louis C.; EHRHARDT, Michael C. Administração Financeira – Teoria e Prática, São Paulo: Ed. Atlas 2001. DAFT, Richard. L. Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. JANNUZZI, P.M., Indicadores sociais do Brasil, Campinas-SP: Ed. Alénea, 2009. LOBATO, D. M. Administração Estratégica: Uma visão orientada para a busca de Vantagens Competitivas. Rio de Janeiro: Papéis e Cópias, 1997. RIBEIRO, C.A.C. e CAMARGO, C.G. Programas de produtividade no setor público: uma discussão acerca de alguns elementos básicos. Revista Indicadores da Qualidade e Produtividade [do IPEA], Brasília, v. 2, n. 1, jun. 1994, p. 67-78. ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph W., JAFFE, Jeffrey J. Administração Financeira - Corporate Finance. Atlas, 2002. TOLEDO JR., Itys-Fides Bueno de. Produção, Produtividade e Eficiência (8 ed.). São Paulo: Ed. Itys Fides, 2004. VARGAS, Ricardo. Análise de Valor Agregado em Projetos (4 ed.). Rio de Janeiro: Brasport, 2009. MIGUEL, Antonio. Gestão Moderna de Projectos (4 Mauro Donizeti Berni é engenheiro de produção pela Universidade Federal de São Carlos. É mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. Atualmente é pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE da Unicamp. Antonio Carlos Delgado é engenheiro elétrico e sócio proprietário da empresa de consultoria IYO Soluções Sustentáveis Ltda. Odail Pagliardi é bacharel em economia e também em matemática, ambas as graduações realizadas na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. É mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e Doutor pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, com enfoque em mercados futuros de produtos agrícolas. Atualmente é vice-diretor da Faculdade municipal Professor Franco Montoro e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp. Os autores agradecem o suporte financeiro da Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL no desenvolvimento do projeto Green Building. 84 Interciência & Sociedade EDUCAÇÃO EM DIABETES MIRANDA, Silvio Cesar Universidade Paulista (UNIP) Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI) [email protected] OLIVEIRA, Daniela Soares Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: O Diabetes Mellitus tipo I (DM1) é uma doença crônica caracterizada pela destruição parcial ou total das células beta das ilhotas de Langerhans pancreáticas, resultando na incapacidade progressiva em produzir insulina. Esse processo pode levar meses ou anos, mas só aparece clinicamente quando já houve a destruição de pelo menos 80% da massa de ilhotas. Há inúmeros fatores, genéticos e ambientais que contribuem para que haja ativação imunológica desencadeando esse processo destrutivo. O Diabetes Mellitus tipo II (DM2) é a forma presente em 90%-95% dos casos e caracteriza- se por defeitos na ação e na secreção da insulina. Em geral ambos os defeitos estão presentes quando a hiperglicemia se manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas é geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não são dependentes de insulina exógena para sobrevivência, porém podem necessitar de tratamento com insulina para a obtenção de um controle metabólico adequado. Diferentemente do DM1 auto-imune não há indicadores específicos para o DM2. Existem provavelmente diferentes mecanismos que resultam nessa forma de DM, e com a identificação futura de processos patogênicos específicos ou defeitos genéticos, o número de pessoas com essa forma de DM irá diminuir à custa de uma mudança para uma classificação mais definitiva em outros tipos específicos de DM. O número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida do paciente com DM. Quantificar a prevalência de DM e o número de pessoas diabéticas, no presente e no futuro, é importante para permitir uma forma racional de planejamento e alocação de recursos e ações educacionais, para a construção de um comportamento saudável de pacientes diabéticos. PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus; insulina; ações educacionais. ABSTRACT: Diabetes Mellitus type I (T1DM) is a chronic disease that is characterized by partial or total destruction of the Beta Cells of the Langerhan’s pancreatic islets which results in the progressive inability to produce insulin. This process may take months or years, but it only occurs clinically when the body’s immune system attacks and destroys at least 80% of the pancreatic islet cells. There are numerous genetic and environmental factors that contribute to this destructive process. Diabetes Mellitus type II (T2DM) present in 90% – 95% of the cases is characterized by the disability in producing and secreting insulin. Both disabilities are presented when hyperglycaemic reactions manifest themselves, but there may be preponderance of one of them. The T2DM may occur at any age but it is normally diagnosed in adults over 40. Patients are not dependent on exogenous insulin for survival, but they may need treatment with insulin in order to obtain an adequate metabolic control. There is no specific indicator for T2DM. There are probably different mechanisms that result in this type of DM, and with the future identification of specific pathogenic processes or genetic disabilities, the number of people with T2DM will decrease due to a conclusive classification of the other specific types of DM. The number of diabetics is increasing because of the growth and the ageing of the population, the stress, the obesity, the sedentary habits as well the increase of their survival rate. To quantify the prevalence and the number of the cases of DM nowadays and in the future is Important in order to allow a rational planning, resources and educational activities to build a healthy behaviour for diabetic patients. KEYWORDS: Diabetes Mellitus; insulin; educational activities. Interciência & Sociedade 85 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. 1. INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, e um grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. Um indicador macroeconômico a ser considerado é que o diabetes cresce mais rapidamente em países pobres e em desenvolvimento e isso impacta de forma muito negativa devido à morbimortalidade precoce que atinge pessoas ainda em plena vida produtiva, onera a previdência social e contribui para a continuidade do ciclo vicioso da pobreza e da exclusão social (MONTENEGRO, 2003). O diabetes pode ser ocasionado por carência de insulina, pela resistência a esse hormônio ou pelas duas razões. No processo normal a refeição, usada pelo corpo como energia, é transformada em glicose que é uma fonte de combustível para o corpo e entra na circulação sanguínea. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas para controlar a glicose sanguínea, ou seja, transporta a glicose da corrente sanguínea até as células dos músculos, de gordura e do fígado, onde esse açúcar é usado como combustível. (COLLET-SOLBERG, 2001). As pessoas com diabetes possuem muita glicose no sangue. Isto se deve ao fato do pâncreas não produzir insulina suficiente para as células dos músculos, de gordura e do fígado (COLLET-SOLBERG, 2001). O diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos,especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogê- 86 nicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros (KUMAR,2008). Há duas formas atuais para classificar o diabetes, definidos de acordo com defeitos ou processos específicos, e a classificação em estágios de desenvolvimento, incluindo estágios pré-clínicos e clínicos (KUMAR, 2008). O sucesso de tratamento e controle do diabetes caminha em conjunto com uma educação para o diabetes. Desta forma torna-se fundamental fazer uma breve reflexão sobre o comportamento alimentar e a assimilação de informações pertinentes à patologia do diabetes. A educação é uma forma de socialização, ou seja, uma ferramenta para incluir o indivíduo na sociedade (BRANDÃO, 2007). Atualmente existe uma obsessão pela boa mesa e pela forma física, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, nem sempre contribuindo para um comportamento alimentar adequado e preventivo à inúmeras patologias, entre elas o diabetes. Observa-se uma necessidade de uma política educacional voltada para a educação alimentar dos indivíduos já na fase escolar, possibilitando a construção de um conhecimento e comportamento na vida adulta para à saúde. 2. Metodologia A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho foi uma revisão bibliográfica, em obras de cunho acadêmico nacional e internacional. A pesquisa bibliográfica é considerada o primeiro passo de toda a pesquisa científica (LAKATOS,1996). Por se tratar de um trabalho acadêmico, portanto um saber organizado e sistemático faz-se necessário argumentar sobre o conhecimento e metodologia. O conhecimento classifica-se em vulgar, a alcance de todos, da massa; esse tipo de conhecimento na maioria das vezes apresenta-se soluções rápidas e simples. Científico, foge do alcance da massa, preocupa-se não só com os problemas, bem Interciência & Sociedade Educação em diabetes como, com as soluções nascidas de observação sistemática e análise do interrelacionamento das partes no conjunto e na compreensão do todo (CASTRO,2000). Para o desenvolvimento do presente trabalho utilizamos o método acima citado, compreendendo que o mesmo contribuiria para evidenciar a interface entre educação e diabetes. 3. Tipos de Diabetes - classificação etiológica Os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo I, anteriormente conhecido como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e o diabetes tipo II, anteriormente conhecido como diabetes do adulto, que compreende cerca de 90% do total de casos. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal (NAVES et al.,2003). Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes (NAVES et al.,2003). 3.1. Diabetes tipo O termo tipo I indica destruição das células beta que eventualmente leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando a administração de insulina é necessária para prevenir cetoacidose, coma e morte. A destruição das células beta é geralmente causada por processo auto-imune, que pode se detectado por auto-anticorpos circulantes como anti-descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina, e, algumas vezes, está associado a outras doenças auto-imunes como a tireoidite de Hashimoto, a doença de Addison e a miastenia grave. Em menor proporção, a causa da destruição das células beta é desconhecida (tipo 1 idiopático).O desenvolvimento do diabetes tipo I pode ocorrer de forma rapidamente progressiva,principalmente, em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14 anos), ou deforma lentamente progressiva, geralmente em adultos, (LADA - Latent Autoimmune Diabetesin Adults). Esse último tipo de diabetes, embora assemelhando-se clinicamente ao diabetes tipo I auto-imune, muitas vezes é erroneamente classificado como tipo II pelo seu aparecimento tardio. Estima-se que 5% à 10% dos pacientes inicialmente considerados como tendo diabetes tipo II podem, de fato, ter LADA (ALBERTI,1999). 3.2. Diabetes tipo II O termo tipo II é usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose,mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. A maioria dos casos apresenta excesso de peso ou deposição central de gordura. Em geral, mostram evidências de resistência à ação da insulina e defeito na secreção de insulina, manifesta-se pela incapacidade de compensar essa resistência. Em alguns indivíduos, no entanto, a ação da insulina é normal, e o defeito secretor mais intenso (ALBERTI,1999). 3.3. Diabetes gestacional É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. A OMS (Organização Mundial de saúde) recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como diabetes gestacional valores referidos fora da gravidez, como indicativos de diabetes ou de tolerância à glicose diminuída (KUMAR, 2008). Cerca de 80% dos casos de diabetes tipo II podem ser atendidos predominantemente na atenção básica, enquanto que os casos de diabetes tipo I requerem maior Interciência & Sociedade 87 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. colaboração com especialistas em função da complexidade de seu acompanhamento. Em ambos os casos, a coordenação do cuidado dentro e fora do sistema de saúde é responsabilidade da equipe de atenção básica à saúde (KUMAR, 2008). 4. Diagnóstico O diagnóstico do diabetes é estabelecido quando o indivíduo apresenta uma concentração sérica alta de glicose. Frequentemente, a concentração sérica de glicose (glicemia) é verificada durante um exame anual de rotina, no exame pré-admissional ou no exame para liberar um indivíduo para a prática esportiva. Além disso, o médico pode verificar a concentração sérica de glicose para descobrir a possível causa de sintomas como o aumento da sede, da micção ou do apetite, ou quando o indivíduo apresenta fatores de risco típicos como, por exemplo, uma história familiar de diabetes, obesidade, infecções frequentes ou qualquer uma das complicações associadas ao diabetes. Para dosar a concentração sérica de glicose, uma amostra de sangue é comumente coletada após o indivíduo realizar um jejum de aproximadamente 8 horas. Porém, a amostra pode ser coletada após uma refeição. Uma certa elevação da concentração sérica de glicose após comer é normal, mas assim mesmo ela não deve atingir valores muito elevados. Nos indivíduos com mais de 65 anos de idade, o melhor é realizar o exame após um período de jejum, uma vez que os idosos apresentam um maior aumento da concentração de glicose no sangue após comer. Um outro tipo de exame de sangue, o teste de tolerância à glicose oral, pode ser realizado em determinadas situações, como por exemplo, quando o médico suspeita que uma gestante apresenta diabetes gestacional. Neste teste, o indivíduo jejua durante um período, uma amostra de sangue é coletada para a dosagem da concentração sérica de glicose de jejum e, em seguida, o indivíduo ingere uma solução especial contendo uma quantidade padronizada de glicose. Outras amostras serão coletadas num período entre 2 e 3 horas seguintes, após a coleta da primeira amostra (COLLET, 2001). 88 5. Tratamento O principal objetivo do tratamento do diabetes é manter o máximo possível a concentração sérica de glicose dentro dos limites de normalidade. A manutenção da concentração de glicose completamente normal é difícil, mas quanto mais ela for mantida dentro da faixa de normalidade, menos provável será a ocorrência de complicações temporárias ou de longo prazo. O principal problema ao se tentar manter um controle rígido da concentração sérica de glicose é a maior chance de se produzir uma redução exagerada da mesma (hipoglicemia). O tratamento do diabetes requer atenção ao controle do peso, à atividade física e à dieta (ALBERTI, 1999). Indivíduos obesos com diabetes tipo II não necessitariam de medicação, caso perdessem peso e mantivessem uma atividade física regular. Contudo, a redução de peso e o aumento do exercício físico, são para a maioria dos indivíduos diabéticos é difícil. Por essa razão, a terapia de reposição de insulina ou com medicamentos hipoglicemiantes orais é frequentemente necessária. O exercício reduz diretamente a concentração sérica de glicose e, também, a quantidade de insulina necessária (ALBERTI, 1999). A dieta é muito importante, geralmente, os indivíduos diabéticos não devem consumir alimentos doces em excesso e devem alimentar-se dentro de um esquema regular. No entanto, o consumo de um lanche no momento de deitar ou no final da tarde frequentemente previne a hipoglicemia em indivíduos que auto-aplicam uma insulina de ação intermediária pela manhã ou à noite. Como os indivíduos diabéticos apresentam uma tendência a apresentar concentrações altas de colesterol, os nutricionistas normalmente recomendam a limitação da quantidade de gorduras saturadas na dieta. No entanto, a melhor maneira de se reduzir a concentração de colesterol é controlar a concentração sérica de glicose e o peso corpóreo. A maioria dos diabéticos beneficia-se com o fornecimento de informações sobre a doença, e sobre o que eles podem fazer para controlá-la. Essa orientação é mais adequadamente provida Interciência & Sociedade Educação em diabetes por uma equipe multidisciplinar, preparada em educação sobre diabetes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Todos os diabéticos devem compreender como a dieta e o exercício físico, afetam a concentração sérica de açúcar e devem estar conscientes de como evitar as complicações como, por exemplo, examinar a pele em busca de ulcerações. Também devem tomar um cuidado especial para evitar infecções nos pés, podendo ser benéfico lançar mão de um podólogo para o corte das unhas dos pés (Figura 1). É essencial a realização anual de um exame oftalmológico para se investigar alterações dos vasos sangüíneos que podem levar à cegueira (retinopatia diabética). Os indivíduos diabéticos sempre devem carregar consigo um cartão ou uma pulseira de alerta médico, que identifique a patologia na eventualidade de sofrerem uma lesão ou apresentarem uma concentração sérica alta ou baixa de glicose. Alertar os profissionais da saúde para a presença do diabetes permite que eles instituam rapidamente um procedimento adequado ao portador de diabetes, fundamental para salvar a vida do indivíduo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Figura 1: Lesão dos vasos sanguíneos dos pés. Fonte: <http://saude.ig.org.br> 5.1. Terapia de Reposição da Insulina No diabetes tipo I, o pâncreas não consegue produzir insulina e, por essa razão, ela deve ser reposta. A reposição pode ser realizada somente através de injeção. Como a insulina é destruída no estômago, ela não pode ser administrada pela via oral. A insulina é injetada sob a pele, na camada de gordura, normalmente no membro superior, na coxa ou na parede abdominal. O uso de seringas pequenas com agulhas muito finas torna as injeções praticamente indolores. Um dispositivo de bomba de ar que injeta a insulina sob a pele pode ser utilizado nos indivíduos que não suportam agulhas. Uma caneta de insulina, a qual contém um cartucho com insulina e é fechada como uma caneta grande, é um modo conveniente para o transporte da insulina, especialmente para aqueles que administram várias injeções diárias longe de casa. Outro dispositivo é a bomba de insulina, a qual bombeia a insulina continuamente de um reservatório através de pequena agulha que é mantida na pele (NAVES, 2003). Interciência & Sociedade 89 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. Doses adicionais de insulina podem ser programadas ou disparadas de modo que a bomba simule o máximo possível a maneira como ela é normalmente produzida pelo organismo. Para alguns indivíduos, a bomba oferece um maior grau de controle, enquanto outros consideram o seu uso desconfortável ou apresentam feridas no local de inserção da agulha. A insulina encontra-se disponível sob três formas básicas, cada qual com velocidade e duração da ação diferente. A insulina de ação rápida, como a insulina regular, é a que possui a ação mais rápida e curta. Este tipo de insulina frequentemente começa a diminuir a concentração sérica de glicose em 20 minutos, atinge a atividade máxima em 2 a 4 horas e sua ação dura 6 a 8 horas. A insulina de ação rápida é comumente utilizada por indivíduos que tomam várias injeções diárias e é injetada de 15 à 20 minutos antes das refeições. A insulina de ação intermediária, como a insulina zinco em suspensão ou a insulina isofano em suspensão, começa a agir em 1 à 3 horas, atinge a atividade máxima em 6 à 10 horas e a sua ação dura de18 à 26 horas (NAVES, 2003). Este tipo de insulina pode ser utilizado pela manhã, para dar cobertura durante a primeira parte do dia, ou ao entardecer, para prover a quantidade necessária durante a noite. A insulina de ação prolongada, como a insulina zinco em suspensão de ação prolongada, tem um efeito muito reduzido durante as 6 primeiras horas (NAVES, 2003). 5.2. Controle do Tratamento O controle da concentração sérica de glicose é uma parte essencial do tratamento do diabetes. Embora possa ser verificada a presença de glicose na urina, o exame de urina não é uma boa maneira para se controlar o tratamento ou para se realizar ajustes da terapia. Atualmente a concentração sérica de glicose pode ser facilmente aferida em casa. Uma gota de sangue é obtida através da punção da ponta do dedo, com uma pequena lanceta. A lanceta pode puncionar o dedo ou pode ser colocada em um dispositivo com uma mola que perfura a pele rápida e facilmente (Figura 2). Quase todos os diabéticos consideram a perfuração praticamente indolor. A seguir, uma gota de sangue é colocada sobre uma tira reagente. Na presença de glicose, a tira reagente muda de cor ou apresenta alguma outra alteração química (OLIVEIRA, 2001). Existem vários aparelhos disponíveis, e eles usam apenas uma gota de sangue. A automonitoração indica se a dieta, a medicação e os exercícios físicos combinados e sob orientações de uma equipe multidisciplinar, estão sendo eficazes para controlar o diabetes. (DUNCAN, et al., 1993). Figura 2: Autoteste de Glicemia Capilar. Fonte: :<http://saude.ig.org.br> 90 Interciência & Sociedade Educação em diabetes Algumas tiras mudam de cor o bastante para permitir a leitura da concentração sérica de glicose através da sua comparação com as cores impressas em um gráfico. Outro sistema possível e mais preciso consiste no uso de um aparelho que lê as alterações da tira de teste e apresenta o resultado em um monitor digital. A maioria desses aparelhos cronometra a reação e lê o resultado automaticamente. Os aparelhos são pequenos, possuindo um tamanho que varia do tamanho de uma caneta ao de um maço de cigarros. Os indivíduos diabéticos devem anotar os valores de suas concentrações séricas de glicose e informá-los ao médico ou ao enfermeiro para orientação sobre o ajuste da dose de insulina ou de um hipoglicemiante oral. Em alguns casos e durante as visitas sucessivas do paciente, o médico ou o enfermeiro podem ensiná-lo como ajustar a dose da insulina (DUNCAN, 1993). Os profissionais da área da saúde utilizam um exame de sangue denominado hemoglobina glicosilada (ou hemoglobina A1C) para controlar o tratamento. Quando a concentração sérica de glicose encontra-se elevada, ocorrem alterações na hemoglobina, a substância que transporta o oxigênio no sangue. Essas alterações são diretamente proporcionais à concentração sérica de glicose durante um longo período. Portanto, ao contrário da dosagem da concentração de açúcar no sangue, a qual revela o nível em um determinado momento, a dosagem da hemoglobina glicosilada revela o grau de controle da concentração sérica de açúcar nas últimas semanas. A concentração normal da hemoglobina glicosilada é inferior a 7%. Os indivíduos diabéticos raramente atingem esses níveis, mas o objetivo do controle rigoroso é aproximar-se deles. A concentração superior a 9% revelam um mau controle e a superior a 12% revela um controle muito ruim. A maioria dos profissionais especializados no tratamento do diabetes recomendam a dosagem da hemoglobina glicosilada no período de 3 à 6 meses (KUMAR, 2008). Um nutricionista pode ajudar no planejamento das suas necessidades dietéticas. Diabéticos tipo I devem comer nos mesmos horários todos os dias e tentar ser consistentes com os tipos de alimentos selecionados. Isso ajuda a impedir que o nível glicêmico fique extremamente alto ou baixo. Diabéticos tipo II devem seguir uma dieta bem balanceada com pouca gordura (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). A medicação para tratar o diabetes consiste em insulina e comprimidos que reduzem o nível de glicose no sangue, chamados de drogas hipoglicêmicas. Diabéticos tipo I não conseguem produzir sua própria insulina. Por isso, eles precisam de injeções de insulina. A insulina não é apresentada em comprimidos. Geralmente, são necessárias de uma a quatro injeções por dia. Algumas pessoas usam uma bomba de insulina. Ela é usada o tempo todo e secreta um fluxo constante de insulina durante o dia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Diferentemente do tipo I, o diabetes tipo II responde a um tratamento com exercícios físicos, dieta e medicamentos orais. Existem diversos tipos de remédios usados para reduzir a glicose sanguínea no diabetes tipo II (KUMAR, 2008). Durante a gravidez e a amamentação, os medicamentos podem ser trocados pela insulina. A diabetes gestacional pode ser tratada com exercícios físicos e mudanças na dieta (DUNCAN et al., 1993) A prática regular de exercícios físicos é muito importante para os diabéticos. Ela ajuda no controle da glicemia, do peso e da hipertensão. Diabéticos que praticam exercícios têm menor probabilidade de sofrerem um ataque cardíaco ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), em comparação àqueles que não praticam exercícios regularmente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000). Com um bom controle da glicose e da pressão arterial, muitas das complicações do diabetes podem ser evitadas. Estudos mostram que o controle rígido dos níveis de glicemia, de colesterol e de pressão arterial nos diabéticos ajuda a minimizar o risco de doença hepática, ocular, do sistema nervoso, ataque cardíaco e AVC (ALBERTI, 1999). Manter o peso ideal e um estilo de vida ativo pode evitar o diabetes tipo II. AtuInterciência & Sociedade 91 MIRANDA, S. C.; OLIVEIRA, D. S. almente, não existe nenhuma maneira de prevenir o diabetes tipo I. Não existem exames de triagem eficazes para o diabetes do tipo I em pessoas que não apresentam os sintomas. A realização de exames de triagem para o diabetes tipo II em pessoas que não apresentam os sintomas é recomendado para: crianças acima do peso que apresentam outros fatores de risco para o diabetes (começando aos 10 anos de idade e repetindo a cada 2 anos), adultos acima do peso (com índice de massa corporal acima de 25) que apresentam outros fatores de risco, adultos acima dos 45 anos (repetindo a cada 3 anos) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,2000). 6. Educação Após ampla pesquisa e discussão sobre a patologia do diabetes, com os alunos do sexto semestre do Curso de Nutrição, da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, localizada no município de Mogi Guaçu, estado de São Paulo, consideramos de fundamental importância, para a construção do conhecimento, fazermos uma breve reflexão sobre o papel da educação no controle e acompanhamento do diabetes. O controle da doença perpassa pela educação alimentar, desta forma as unidades de ensino em seu trabalho pedagógico constituem um importante elemento na orientação sobre a patologia. Com um perfil inovador os Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs, constituem a orientação curricular oficial para a Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental I e II, ensino médio). Trazendo as disciplinas tradicionais com os seis temas transversais: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual e trabalho-consumo. Devendo ter um lugar de destaque nas escolas, e, por isso a educação nutricional deve estar inserida no universo escolar. Como o controle do diabetes está diretamente ligado ao comportamento alimentar, e a criança, o adolescente na sua fase escolar devem ser alvo de orientação. A implantação da educação nutricional no ensino fundamental é uma questão política 92 (HABERMAS,1990). A implantação da educação alimentar nas unidades de ensino receberiam críticas por desafiar o modelo vigente. Convivemos com uma cultura alimentar onde encontramos os excessos ou exageros gastronômicos, amplamente divulgados pelos compêndios médicos, artigos científicos e pelos meios de comunicação de massa (HABERMAS, 1990). Para a educação em relação ao diabetes, seria necessário uma construção coletiva do conhecimento mediante planejamento didático participativo de todo o corpo docente das unidades de ensino, sociedade, equipes de saúde, escola, a criança e a família, e tendo como meta o comportamento adulto saudável, no que se refere a alimentação, atividades físicas e exames médicos preventivos. Diante de tais reflexões e pesquisas, verificou-se a necessidade de uma palestra orientativa junto às unidades de ensino, da rede Estadual e Municipal de ensino. Com uma postura e procedimento educativo, observamos uma variada rede de informações sobre o diabetes, porém nem sempre compatível e coerente aos procedimento corretos e profiláticos do diabetes. Confirma-se a concepção que a educação determina o indivíduo, e a sociedade determina a educação (FERREIRA, 2000). 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, que é necessário para as células utilizar o açúcar no sangue, e que os indivíduos com diabetes possuem uma alta taxa de açúcar no sangue, devido ao fato de que o pâncreas não produz insulina suficiente para as células dos músculos, de gordura e do fígado. É uma doença que pode ser controlada com dieta e medicamentos específicos, porém quando não tratada pode causar perda de visão, ulcerações na pele e problemas cardíacos e renais. Os sintomas apresentados, geralmente é vontade frequente de urinar, sede exagerada, cansaço constante, infecções urinárias ou de pele, visão turva, coceira, perda de peso, eventuais feridas que Interciência & Sociedade Educação em diabetes demoram a cicatrizar. O diabetes apresenta dois grupos: diabetes Mellitus tipo I - ocasionado pela destruição da célula beta do pâncreas, em geral por decorrência de doença auto-imune, levando a deficiência absoluta de insulina, e, diabetes Mellitus tipo II - provocado predominantemente por um estado de resistência à ação da insulina associado a uma relativa deficiência de sua secreção. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência é o diabetes gestacional, detectado no rastreamento pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes. De acordo com a importância da patologia diabetes, a educação e a informação se fazem necessário, para evitar perdas da função biológica e consequência econômicas. Educação em saúde possibilita capacitação e ações transformadoras que favorecem mudança de pensamentos e ações, se aplicando bem às doenças crônicas, dentre as quais, destaca-se o diabetes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI KGMM, ZIMMET PZ, for the World Health Organization Consultation. Definition, diagnosis and classification of diabetes mellitus and its complications. Part 1: Diagnosis and classification of diabetesmellitus. Report of a WHO Consultation. Geneva:; 1999. BRANDÃO, C. R. O que é Educação? Editora Brasilense. São Paulo,2007. COLLET-SOLBERG, PF. Cetoacidose Diabética em Crianças: Revisão da fisiopatologia e tratamento com o uso do “método de duas soluções salinas”. J Ped 2001;77:9-16. DUNCAN, B.B., SCHIMIDT, M.I., POLANCZK, C.A., et al. Risk Factors for non-communicable diseases in a metropolitan area in south of Brazil: prevalence and simultaneity. Rev. Saúde Pública 1993;27:43-8. FERREIRA, R. M. Sociologia da Educação. Editora Atica: São Paulo, 2000. HABERMAN, J. 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TORQUATO MTCG, MONTENEGRO JR, et al. Prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urban population aged 30-69 years, in RibeirãoPreto (São Paulo), Brazil. São Paulo Med J. 2003. Disponível em:<http://saude.ig.org.br). Acesso em: 05 dez. 2011. CASTRO, C. A. P. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 2000. Silvio Cesar Miranda, possui graduação em Medicina Veterinária pela Faculdade Professor Antônio Secundino de São José (1993) e Mestrado em Educação pelo Centro Universitário Monte Serrat (2003). Atualmente é Docente na Faculdade Professor Franco Montoro – Mogi Guaçu/SP, Docente titular na Universidade Paulista - UNIP – Campus Swift – Campinas/SP e Docente na Faculdades Integradas Maria Imaculada – Mogi Guaçu/SP. Daniela Soares de Oliveira, possui graduação em Nutrição (2000) e Especialização em Nutrição Clínica (2001) pela Universidade Metodista de Piracicaba, Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Atualmente é coordenadora do curso de Nutrição e Docente na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro. Interciência & Sociedade 93 94 Interciência & Sociedade A SUSTENTABILIDADE E O EMPREENDEDORISMO NO MERCADO GASTRONÔMICO WERDINI, Marcelo Malta Universidade Anhembi Morumbi (UAM) [email protected] RESUMO: O mercado gastronômico assume um novo mecanismo de gestão que busca o aumento da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente e promovendo a igualdade social: o desenvolvimento sustentável. Para isso, mescla o uso de inovações tecnológicas que possibilitam um significativo avanço na economia nos mais variados segmentos do ramo comercial à melhoria significativa das condições de trabalho, da distribuição de renda e da proteção ambiental. A passagem de um modelo de crescimento arcaico ao desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão voltada não somente ao aspecto quantitativo na obtenção e acúmulo de bens ou ao usufruto indiscriminado de matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana. Essa situação exige a conscientização do segmento para o uso racional dos recursos naturais e um novo olhar para uma organização produtiva que seja capaz de levar ao crescimento econômico ao mesmo tempo em que promova a igualdade e o desenvolvimento humano. PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, globalização. ABSTRACT: The gastronomic market takes over a new manangerment mecanism that looks for the growth of the economic efficiency without affect the environment and promoting social equality: the sustainable development. For this, mix the use of a tecnologic inovation that makes possible a significative advance in the economy in the most different kinds of segments of comercial activity into na important improvement of working conditions, of the income distribution and the enviroment protection. The passage of a arcaic modelo f growth of sustainable development imply in the adoption of a new view turned not only to the quantitative aspect but also in obtaining asset acumulation or the indiscriminated usofruto of raw material, but also there is a permanent concerne with enviroment issues that are necessary for the human existence. This situation demands the counciousness of the segment for a rational use of the natural sources and a new view towards to a productive organization that is capacble of leading to economic grouth promoting at the same time the equality and the human development. KEYWORDS: sustainable development, quality of life, globalization. 1. INTRODUÇÃO As propostas de desenvolvimento sustentável atualmente norteiam as ações estratégicas fundamentais para a promoção do empreendedorismo e para a viabilidade de negócios, cruciais para atender as exigências de estabilidade do mercado gastronômico. Esse desenvolvimento será alcançado se três critérios fundamentais forem atingidos simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica (SACHS, 1993). Dentro dessa contextualização procura-se estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza como centro de um processo capaz de satisfazer às necessidades e às aspirações humanas (IUCN/UNEP/WWF, 1980). O pre- domínio de qualquer um desses critérios desvirtua o conceito de sustentabilidade e torna-se uma manifestação de interesse de grupos, dissociando-se do contexto mais geral que é o interesse da humanidade como um todo (LÉLÉ, 1991). Tal afirmação incorpora-se dentro de um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam assegurando as idéias dos principais objetivos das políticas ambiental e desenvolvimentista, como o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisão (CMMAD, 1991). Em dezembro de 2008 foi inaugurado o primeiro Mc Donald´s sustentável Interciência & Sociedade 95 WERDINI, M. M. da América Latina, localizado em Bertioga, litoral de São Paulo, sendo o começo de um novo conceito, chamado de “Restaurante Verde”, o qual inova várias técnicas de mercado. Além disso, tende a privilegiar o emprego de energia limpa, reutilização e consumo consciente de água e o uso de materiais naturais, recicláveis, renováveis e de produção regionalizada. Com isso, seus resultados foram significativos, permitindo uma redução de 14% do consumo de energia e 50% do consumo de água, considerando que a alimentação é um dos maiores contribuintes para o desperdício, desde a atividade agrícola até as produções culinárias. 2. Objetivo O presente artigo discorre sobre o segmento gastronômico e suas tendências atuais, em razão da grande evidência de mercado que o setor conquistou. Reflete as ações estratégicas e os novos mecanismos de gestão que buscam o aumento da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente. O mercado de gastronomia contemporâneo, assim como todos os segmentos profissionais, busca a conscientização da responsabilidade socioambiental. Para isso, os estabelecimentos gastronômicos, mesclam o uso de inovações tecnológicas que proporcionam uma evolução na economia de diversos setores do ramo comercial à melhoria das condições de trabalho, da distribuição de renda e da proteção ambiental. A mudança de um modelo de gestão tradicional para desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão voltada não apenas para ao acúmulo de bens ou ao usufruto indiscriminado de matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana. Essa situação exige das empresas a responsabilidade com atitudes como a reciclagem de lixo, o reaproveitamento de sobras de alimentos, reestruturação das cozinhas, utilização consciente da água, além de um foco especial obtenção de uma organização produtiva que seja capaz de levar ao cresci- 96 mento econômico ao mesmo tempo em que promova a igualdade e o desenvolvimento humano. O restaurante auto-sustentável será um objetivo de reflexão para diversas classes profissionais ligadas à este segmento. 3. Mecanismos de gestão A gestão ambiental é realizada através de mecanismos e instrumentos que estabelecem ações específicas para todas as etapas que participam dos processos produtivos. É a permanente busca pela melhoria da qualidade dos serviços, produtos e ambientes afetados. Este processo de aprimoramento é constante e deve ser estabelecido através de políticas, diretrizes e programas específicos que evitem ou minimizem os impactos ambientais e sociais dos empreendimentos gastronômicos. 3.1. A globalização e a sustentabilidade Para alguns alcançar o desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico contínuo através de um uso mais racional de recursos naturais e de tecnologias mais eficientes e menos poluentes. Para outros, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um projeto social e político destinado a erradicar a pobreza, elevar a qualidade de vida e satisfazer às necessidades básicas da humanidade que oferece os princípios e orientações para o desenvolvimento harmônico da sociedade, considerando a apropriação e a transformação sustentável dos recursos ambientais (HERCULANO, 1992). Partindo dessa premissa, trata-se de compatibilizar o meio ambiente com um crescimento econômico contínuo, mantendo as condições que produzem e reproduzem as relações de exploração, hierarquização e dominação que permitem a apropriação da capacidade produtiva social para alguns homens. Assim, esse processo implica em criar novas bases, nas quais se sustenta à civilização, através da construção de uma nova racionalidade, uma racionalidade ambiental, dando como sentido e fim da organização produtiva o bem-estar material do Interciência & Sociedade A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico ser humano, seu nível de vida, seu desenvolvimento espiritual e sua qualidade de vida (BARONI, 1992). O progresso em direção ao desenvolvimento sustentável é um bom negócio, onde se observa a criação de vantagens competitivas bem como o fomento de novas oportunidades de emprego, porém isso exige mudanças profundas e de amplo alcance da atitude empresarial, incluindo o surgimento de uma nova ética no sistema econômico (SCHMIDHEINY, 1992). Ainda de acordo com o proposto acima, o mundo se move em direção à desregulação, às iniciativas privadas e aos mercados globais, onde as empresas são “obrigadas” a assumir uma maior responsabilidade social, econômica e ambiental ao definir seus papéis e ações. 3.2. Os aspectos gerais da sustentabilidade empresarial Toda e qualquer organização, independentemente do segmento do mercado que atue, gira em torno do desempenho e do desenvolvimento e do comprometimento de seus colaboradores tendo uma estreita relação com a estratégia gestora da organização (LAGEMANN, 2004). O princípio da sustentabilidade relaciona-se com a proteção ambiental, com aspectos sociais e com aspectos econômicos, tendo como escopo principal a proteção da vida da atual e das futuras gerações, devendo ser considerado um aspecto constitucional estruturante ou fundamental (CANOTILHO, 2003). A partir disso, os conceitos de desenvolvimento sustentável e o uso racional dos recursos naturais e de energia assumem um papel importante quando exercidos na prática diária. Assim como, deve-se estimular o relacionamento e as parcerias do setor privado com o governo e com a sociedade em geral, bem como na melhoria contínua dos processos de comunicação. Tais parcerias podem incentivar o desenvolvimento e o fornecimento de produtos e serviços que não produzam impactos inadequados ao meio ambiente e à saúde da comunidade (CNI, 2002). O desenvolvimento sustentável nas organizações apresenta três dimensões: a econômica, a social e a ambiental. Do ponto de vista econômico, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser economicamente viáveis, onde seu papel na sociedade deve ser cumprido levando em consideração esse aspecto da rentabilidade, ou seja, dar retorno ao investimento realizado pelo capital privado. Considerando o lado social, a empresa deverá proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados, dando ênfase à diversidade cultural no segmento em que atua e estabelecer uma promoção de caráter acessível aos deficientes de um modo geral. E, quanto à questão ambiental, deverá a organização estabelecer um equilíbrio dinâmico com os dois requisitos anteriores, adotando uma postura de responsabilidade ambiental, evitando uma contaminação ambiental diante dos procedimentos que forem adotados, e, sobretudo procurar participar de todas as atividades patrocinadas pelas autoridades governamentais locais e regionais no que diz respeito ao meio ambiente natural (DIAS, 2010). Os empresários devem buscar o lucro aceitável, os sindicatos devem buscar reinvidicar o possível, objetivando manter esse equilíbrio, e por último as entidades ambientalistas devem ceder a fim de evitarem prejuízos quando da adoção das medidas de controle para a obtenção do ambiente natural (DIAS, 2010). O fato é que nem sempre as medidas de controle da contaminação geram custos, mas as intervenções do governo que estimulam investimentos de controle ou de prevenção da contaminação é que gera custos iniciais. Todavia contribuem para a melhoria das condições de competitividade das cidades em que se situam, gerando benefícios públicos adicionais como o aumento de emprego e o bem-estar social (DIAS, 2010). Em muitos casos, na sua maioria, a redução da contaminação pode ocorrer sem necessidade de investimento, apenas com a melhoria da gestão e das práticas adotadas ao longo do processo operacional (KINLAW, 1997). Assim, tornar-se uma empresa ambientalmente responsável significa engajarInterciência & Sociedade 97 WERDINI, M. M. -se profunda e completamente num modelo globalizado, onde a integração parcial dentro de uma perspectiva ambiental não se converterá em vantagem competitiva nem a médio e longo prazo, quando muito em curto prazo poderá ocorrer melhoria na convivência social da organização com outros agentes sociais (ALVES, 1996). De qualquer modo, assumindo a necessidade de adoção de estratégias de negócios de médio e longo prazo, deve-se levar em consideração que em termos de competitividade, torna-se cada vez mais importante a previsão das tendências da sociedade e, particularmente, dos mercados de negócios onde a empresa é atuante (ROOME, 1992). 3.3. Gestão ambiental: um modelo de competitividade? O nível de competitividade de uma empresa depende de um conjunto de fatores, variados e complexos, os quais se inter-relacionam e são mutuamente dependentes, como: custos, qualidade dos produtos e serviços, nível de controle de qualidade, capital humano, tecnologia e capacidade de inovação. No entanto, ocorre que nos últimos anos a gestão ambiental tem assumido uma posição de destaque no cenário do marketing e meios de comunicação, e em termos de competitividade empresarial, há duas variáveis ambientais relevantes: a gestão de processos e a de produtos (VIALLI, 2004). Na gestão ambiental de processos, as principais ferramentas com as quais se obtêm os melhores resultados são as tecnologias ambientais e são verificadas por meio de certificação de processos. Em relação à gestão de produtos, as principais ferramentas são as análises do ciclo de vida, a certificação dos produtos (selos ecológicos) e o ecodesign (EPELBAUM, 2004). O ecodesign é uma ferramenta que vem ganhando destaque nos últimos anos e que pode ser definido como um conjunto específico de práticas de projeto, orientadas para a criação de produtos e processos ecoeficientes, respeitando-se os objetivos ambientais, de saúde e segurança durante todo o ciclo de vida destes produtos e processos. Essa ferramenta possibilita reduzir 98 a utilização da matéria-prima, de energia e de água necessárias para a fabricação do produto (FIKSEL, 1996). Assim, um aspecto importante é que o Sistema de Gestão Ambiental incorpora de forma sistemática a inovação como componente fundamental e permanente da estrutura organizacional. E, uma estrutura organizacional visa além da competitividade outros aspectos como a redução de custos através de cortes nos desperdícios observados, com isso pensa-se em melhorar a qualidade dos produtos e serviços, a qual está relacionada à funcionalidade dos operadores, confiabilidade na equipe de produção, durabilidade e maior facilidade para a sua manutenção. Ao mesmo tempo a imagem do produto deve ser levada em consideração, pois um selo ecológico eleva consideravelmente o nível dessa ação. A partir desses pressupostos, a inovação por meio do uso dos recursos tecnológicos busca uma diferenciação em relação aos seus concorrentes, garantindo uma posição de competitividade vantajosa frente ao mercado gastronômico. Senso assim, com o aumento da responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível de preocupação empresarial aumentou no sentido de como conservar o meio ambiente, considerando as necessidades das gerações futuras e os efeitos do processo produtivo na comunidade local. Essa sensibilização certamente deverá impulsionar o fomento de iniciativas voltadas para os processos de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico (CNI, 2004). Há um crescente aumento das exigências ambientais por parte de clientes e consumidores finais, obrigando as empresas a melhorar sua forma de atuar, modificando seus processos e produtos. A partir daí, muitas empresas de pequeno e médio porte passam a disputar com seus concorrentes contratos das grandes empresas, quando possuem, por exemplo, o certificado ISO 14.000, servindo como parâmetro de controle de qualidade, onde o resultado é a formação de uma cadeia de fornecedores com orientação ambiental, construindo Interciência & Sociedade A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico uma cadeia produtiva ambientalmente correta (DIAS, 2010). A Política Nacional do Meio Ambiente institui a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) interdisciplinar para projetos, planos e programas de intervenção no meio ambiente e que foi introduzido no país por meio da Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 (CONAMA, 1986). É importante ressaltarmos, que dentre os objetivos da Política Nacional podemos destacar no seu artigo 4º a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, que constituem as bases da dinâmica da sustentabilidade empresarial e industrial. A Confederação Nacional da Indústria considera que para o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social, a indústria deve ter como princípios básicos: a educação, a erradicação da pobreza, a promoção da saúde e a eliminação da exclusão social, os quais constituem os paradigmas fundamentais das bases da sustentabilidade frente ao mercado de trabalho (CNI, 2002). Com isso, uma gestão empreendedora não pode ser considerada de forma fragmentada, sendo imprescindível às tomadas de decisões que estão inter-relacionadas com o crescimento sócio-econômico, com a gestão ambiental e com a infra-estrutura organizacional, as quais são fundamentais para a expansão de um mercado de restauração no segmento gastronômico. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados econômicos e a sustentabilidade de uma empresa estão interligados e dependem direta e primordialmente do desempenho humano, da sua satisfação, da sua motivação, da sua fidelidade e do seu incentivo em amplos aspectos. O sucesso está atrelado à estabilidade e as negociações obtidas com parceiros que tenham o mesmo foco. Com isso, as empresas conseguem seu “sucesso” por meio do alcance das suas ações estratégicas, as quais estão inseridas num contexto globalizado voltado cada vez mais para uma qualidade de vida, e para uma valorização de uma conscientização da sua responsabilidade social e ambiental. A inovação por meio do uso dos recursos tecnológicos busca uma diferenciação em relação aos seus concorrentes, garantindo uma posição de competitividade vantajosa frente ao mercado gastronômico. Desse modo, com o aumento da responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível de preocupação empresarial aumentou no sentido de como conservar o meio ambiente, considerando as necessidades das gerações futuras e os efeitos do processo produtivo na comunidade local. Essa sensibilização certamente deverá impulsionar o fomento das iniciativas voltadas para os processos de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, U. Volvo reaproveita resíduo industrial. Gazeta Mercantil, 15 fev. 1996, p. C-3. ARCOS DOURADOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA. Primeiro restaurante McDonald’s verde da América Latina. Disponível em:<http//: www.agendasustentavel.com.br>. Acesso em: 30 mai.2011. BARONI, M. 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Atualmente é Coordenador e docente do Curso de Gastronomia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. Mestrando em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (término em 2012). É Chef de cozinha desde 1991. 100 Interciência & Sociedade INTERFACEAMENTO DE MODELOS PARA OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS ANALÍTICOS BORTOLOTI, João Alexandre Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM) Escola Superior de Administração e Marketing e Comunicação (ESAMC) Universidade Paulista (UNIP) [email protected] OCCHIUCCI, Fernando Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” [email protected] RESUMO: Cromatografia e Eletroforese são métodos de separação amplamente utilizados em laboratórios de pesquisa e na indústria. Contudo a determinação de condições otimizadas para a realização das análises muitas vezes representa uma dificuldade importante. Para auxiliar na determinação das melhores condições analíticas desenvolveu-se um software com uma interface gráfica que permite a visualização dos valores das variáveis envolvidas no processo e a previsão das posições dos picos referentes às substâncias separadas pelos métodos citados. PALAVRAS-CHAVE: Cromatografia, eletroforese, otimização multivariada, interface gráfica. ABSTRACT: Chromatography and Electrophoresis separation methods are widely used in research laboratories and industry. However the determination of optimum conditions for carrying out the analysis often represents a challenge. To assist in determining the best analytical conditions developed software with a graphical interface that allows viewing of the variables involved in the process and the prediction of the positions of the peaks relating to the substances separated by the methods cited. KEYWORDS: Cromatography, eletrophoresis, multivariate optimization, graphic interface. 1. INTRODUÇÃO Na natureza as substâncias normalmente não se encontram isoladas, mas sim formando misturas. As misturas podem ser formadas por apenas alguns componentes ou até por centenas ou milhares destes. De acordo com a complexidade das misturas a separação de seus componentes pode se torna um desafio nos laboratórios da indústria e dos centros de pesquisa. Ao longo dos anos com o desenvolvimento científico vários métodos foram concebidos para se a realizar a separação e identificação dos componentes das misturas. Alguns métodos são extremamente simples e se baseiam nas diferentes propriedades físicas dos componentes da mistura como solubilidade ou ponto de ebulição. Outros métodos empregam equipamentos sofisticados e permitem não só a separação dos componentes da mistura como também a identificação mesmo em quantidades inferiores a 0,000.000.001g! Dentre os métodos que apresentam grande precisão em seus resultados analíticos destacam-se a cromatografia e a eletroforese. A cromatografia é baseada na migração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a diferentes interações, entre duas fases: estacionária e móvel. O termo foi primeiramente empregado em 1906 e sua utilização é atribuída ao botânico russo Michael S. Tswett ao descrever suas experiências na separação dos componentes de extratos de folhas. Como os componentes apresentavam cores que permitiam que fossem distinguidos isto levou a criação do termo cromatografia (chroma = cor e graphie = escrita) (Degani, Cass, Vieira, 1998). Em 1906 Tswett publicou dois traInterciência & Sociedade 101 BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F. balhos onde descreveu minuciosamente suas pesquisas, nas quais usou um tubo de vidro contendo um sólido para a separação de pigmentos pela passagem descendente de um líquido apolar. Os melhores resultados empregaram como fase estacionária carbonato de cálcio e fase móvel éter dietílico. Tswett descreveu todo o processo que é chamado hoje de cromatografia líquido-sólido em coluna seca. Segundo ele com a realização da cromatografia os componentes coloridos que formavam a mistura foram separados. A explicação para o processo de separação foi baseada no fato de que cada componente deveria interagir com a fase estacionária e móvel de maneira diferente. A adsorção diferencial de cada componente da mistura com os componentes no material contido na coluna implicaria em diferentes tempos de eluição. Com o desenvolvimento tecnológico e elevado grau de sofisticação a técnica ganhou grande potencial de aplicação em muitas áreas. A cromatografia pode ser utilizada para a identificação de substâncias, por comparação com padrões, para a purificação de compostos, e para a separação dos componentes de misturas com alta complexidade (Degani, Cass, Vieira, 1998). A eletroforese é uma técnica de separação molecular comum em laboratórios, por ser uma técnica poderosa, além de fácil execução e de baixo custo. Pode ser definida como “o transporte, em solução eletrolítica, de compostos carregados eletricamente sob a influência de um campo elétrico, no qual a separação entre dois solutos ocorre de acordo com diferenças entre suas mobilidades eletroforéticas” (Kuhn & Hoffstetter-Kuhn APUD Assis, 2006). Apesar dos arranjos físicos e do meio por onde as moléculas migrarão, todas as separações eletroforéticas dependem da distribuição de carga das moléculas a serem separadas. As separações podem ser em uma ou duas dimensões, feitas em tubos ou lâminas, respectivamente (Heidcamp, 1995). Na eletroforese a acidez do meio é um fator muito importante. Mesmo pequenas variações no valor do pH podem melhorar a resolução, ou até inverter a ordem da evolução dos picos correspondentes a 102 cada substância que passa pelo detector. Adicionalmente, a interação do pH com outros fatores pode ser otimizada, tornando-o especialmente adequado para otimização multivariada. (Ballus, et al, 2011). Métodos de eletroforese capilar, particularmente, utilizam várias aplicações de modelagem estatística multivariada, uma vez que vários fatores influenciam o resultado do processo de separação, como concentração do eletrólito, voltagem e pH médio. Uma das dificuldades da técnica de cromatografia e eletroforese está na determinação das condições que permitam separações eficientes de componentes das amostras. A otimização dessas condições de maneira confiável segundo critérios estatísticos envolve a realização de experimentos com planejamento adequado e tratamento dos dados. A geração e validação dos modelos permite a previsão de condições adequadas para a realização das análises. Em muitos casos apesar da amostra apresentar uma grande quantidade de componentes apenas alguns são de interesse naquele momento. Assim é muito interessante que o analista possa adequar as condições experimentais para otimizar seu trabalho (Bortoloti, Bruns, 2007). 2. O Processo de otimização Uma abordagem empregada na formulação e resolução de problemas consiste no emprego de modelos de otimização, os quais visam maximizar ou minimizar um critério de desempenho, sujeito a restrições que descrevem as condições operacionais. A linguagem utilizada pela otimização para expressar os problemas de uma forma declarativa é conhecida universalmente por programação matemática. Elementos típicos de um problema de otimização consistem em variáveis de decisão (parâmetros cujos valores definem uma solução para o problema); função objetivo (função das variáveis de decisão a ser minimizada/maximizada) e restrições (conjunto de funções que define o espaço de soluções) (Camponogara, 2006). Qualquer estratégia de otimização envolve conjuntos de: Interciência & Sociedade Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos a) Variáveis independentes que o experimento controla e b) Variáveis dependentes medidas em resposta. Uma metáfora comum envolve visualizar as possíveis combinações de variáveis independentes (parâmetros) como pares ordenados em um plano (geralmente um plano cartesiano, com dimensões x e y), onde a variável de resposta é representada por uma de suas dimensões (normalmente y). A procura da combinação ótima dos parâmetros é, portanto, um problema de otimização combinatória, cuja dificuldade cresce exponencialmente com o número de parâmetros a serem verificados. A partir de certo ponto, o tempo gasto para a descoberta de uma solução ótima pode acabar se tornando uma barreira e uma solução seria recorrer aos assim chamados métodos heurísticos para obter um resultado aproximado ou ótimo local (que nem sempre uma solução ótima global) (O’Hagan, et al. 2005). O problema abordado neste trabalho pôde ser resolvido com a otimização por enumeração, devido ao reduzido número de variáveis (três), apesar de o número de valores que cada variável pode assumir ser um fator debilitante. Problema inicial transcrito em programação matemática: Maximize Minimize dm ≤ d1 – d2 dmo = ∑ (f(x)/n) Sujeito a: n> 0 -2 ≤ x ≤ 2 -2 ≤ y ≤ 2 -2 ≤ z ≤ 2 d1, d2 = f(x) f(x) = ct + ax + by + cz + dx2 + ey2 + fz2 + gxy + hxz+ iyz Onde: dmo = distância média entre os picos obtidos na separação; dm = distância mínima entre dois picos quaisquer obtidos na separação; d1, d2 = tempos de retenção de dois picos quaisquer; n = número de reagentes utilizados no processo de separação; x, y, z = coordenadas inseridas na interface gráfica representando o nível da variáveis no processo; ct, a, b, c, d, e, f, g, h, i = coeficientes inerentes aos parâmetros da f(x). Figura 1: Diagrama de Fluxo de Dados (DFD) Fonte: Autores. Interciência & Sociedade 103 BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F. Isso quer dizer que a menor distância observada entre duas curvas quaisquer em um determinado ponto deve ser a maior possível, ao mesmo tempo em que a distância média entre as curvas também tenha um valor mínimo. Com isso busca-se uma solução com a melhor distribuição possível dos resultados, e que leve o menor tempo possível para ser verificada. A Figura1 indica o diagrama de fluxo de dados (DFD). Para a resolução do problema inicial, foi desenvolvido um software para a plataforma Windows utilizando o ambiente Delphi 7 com o componente auxiliar Absolute Database. A interface gráfica consiste de um quadro representando as coordenadas que indicam o nível das variáveis a serem uti- lizados para promover a separação, com uma barra de rolagem usada como uma terceira variável na definição do ponto inicial. Esses valores serão registrados como um ponto em {x,y,z R3 || -2 ≤ x ≤ 2, -2 ≤ y ≤ 2, -2 ≤ z ≤ 2}. As configurações dos reagentes a serem utilizados no processo de separação têm seus valores calculados por fontes externas, e são inseridas manualmente, ou extraídas de arquivos com a extensão csv (comma separated value). É oferecida a opção de salvar a configuração atualmente em uso, também em formato csv, através da interface indicada na Figura 2. Figura 2: Visualização da interface gráfica Fonte: Autores. 104 Interciência & Sociedade Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos Figura 3: Configuração dos coeficientes para os modelos. Fonte: Autores. Figura 4: Visualização dos tempos de retenção. Fonte: Autores. Figura 5: Visualização de tempo de retenção com o nível das variáveis otimizados. Fonte: Autores. Interciência & Sociedade 105 BORTOLOTI, J. A.; OCCHIUCCI, F. A rotina de otimização apenas aplica a segunda regra se duas possíveis soluções apresentarem um mesmo valor para a primeira. A Figura 4 indica os tempos de retenção esperados para cada substância segundo os níveis das variáveis escolhidos pelo usuário. A Figura 5 representa os tempos de retenção após o processo de otimização pelo algoritmo. Os processos de Cromatografia e Eletroforese são exemplos de processos que podem ser beneficiados pela aplicação de métodos de otimização e o desenvolvimento de softwares de interface gráfica. Áreas de pesquisa similares podem também ser auxiliadas pelo desenvolvimento de simples softwares de interface gráfica que auxiliem na otimização de processos. Por isso esta é uma área propícia a melhorias com o advento de novas tecnologias e novas áreas de pesquisa, bem como a descoberta de métodos de otimização mais eficientes. Vale lembrar que muitos problemas de otimização requerem o uso de métodos mais específicos para sua resolução, e com isso um método pode não ter aplicação em outro problema. Sendo assim, uma área onde diversas pequenas soluções são possíveis constitui um nicho ideal para ser explorado por programadores recém-introduzidos na comunidade acadêmica, permitindo resolver problemas presentes em outras áreas. Vale ressaltar que muitos pesquisadores na área de engenharia necessitam de softwares específicos, mas por não possuírem tempo ou conhecimento de linguagens de programação acabam não usufruindo das facilidades das ferramentas computacionais. Com o desenvolvimento deste trabalho estabeleceu-se um elo para o desenvolvimento de pesquisas científicas entre pesquisadores da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” e do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas que sem dúvida é um dos principais centros de excelência do Brasil. Assim, projetos como este reforçam o desenvolvimento tecnológico e científico da FMPFM em parcerias com grandes centros já reconhecidos internacionalmente. 106 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, R. A. Aperfeiçoamento e aplicações de uma metodologia para análise de especiação de arsênio por eletroforese capilar com detector de ICPMS. 2006. 159 f. Tese (Doutorado em Química). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 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Interciência & Sociedade Interfaceamento de modelos para otimização de sistemas analíticos Fernando Occhiucci é Técnico em Informática e graduado em Ciência da Computação pela Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro”. Atua como Monitor de Informática na EMEF Alice de Campos Silva em Mogi Guaçu desde 2009. João Alexandre Bortoloti é graduado em Química (Unicamp – 1998), Mestre em Físico-Química (Unicamp – 2001) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 2006). Atua como professor universitário desde 2002 em disciplinas da área de Química, Estatística e Matemática em cursos de engenharia. Como pesquisador publica nas áreas de Química Analítica, Quimiometria, ensino de Engenharia e Tecnologia. Interciência & Sociedade 107 108 Interciência & Sociedade DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DE COT POR ESPECTROFOTOMETRIA LEME, Bruno de Campos Technes Agrícola Ltda. [email protected] SAITO, Bruno Orui Technes Agrícola Ltda. [email protected] RESUMO: O método oficial para determinação do COT se baseia na oxidação de toda a matéria orgânica presente na amostra em presença de um meio fortemente ácido utilizando dicromato de potássio ou sódio, seguida de titulação dos íons dicromato remanescentes com sulfato de ferro. No trabalho presente, a quantificação passa a ser feita utilizando a espectrofotometria no visível. Através de diversas análises, tanto espectrofotometricamente e titulometricamente, das mesmas amostras, verificou-se a correlação entre os resultados obtidos em cada método. Os resultados obtidos através da espectrofotometria e volumetria se apresentaram sempre muito próximos. A partir dos resultados nota-se a alta precisão do método de determinação proposto. As grandes vantagens do método espectrofotométrico em relação ao titulométrico estão no menor tempo requerido por análise, menor gasto de reagentes e diminuição de erros aleatórios. PALAVRAS-CHAVE: carbono orgânico total, COT, espectrofotometria, dicromato. ABSTRACT: The official method to determination of TOC is based on the oxidation of all organic matter present in the sample in the presence of a strongly acidic medium using potassium or sodium dichromate, followed by titration of the remaining dichromate ions with iron (II) sulfate. In this work, the measurement becomes be carried out using the visible light spectrophotometry. Over multiple analysis of the same samples (both spectrophotometrically and titulometricamente), there was a correlation between the results obtained with each method. The results obtained by spectrophotometry and volumetric are always presented very close. Based on the results it is noticed a very high precision of determination proposed. The main advantages of the spectrophotometric determination against the titrimetric one is the time required for analysis, a lower cost of reagents and reduction of random errors. KEYWORDS: total organic carbon, TOC, spectrophotometry, dichromate. 1. INTRODUÇÃO O elemento carbono (C) é o principal constituinte da matéria orgânica (MO), a MO exerce importantes efeitos que beneficiam as propriedades químicas, físicas, físico-químicos e biológicos do solo, favorecendo o crescimento e desenvolvimento das plantas. A matéria orgânica é uma importante fonte de nutrientes para plantas, microflora e fauna terrestre. Apesar da MO não ser necessária diretamente na nutrição vegetal, sua presença no solo tem como funções: disponibilizar macro e micro nutrientes presentes, corretivo de toxidez e condicionador de solo. Atualmente existem inúmeros produtos como fertilizantes organominerias fluidos e condicionadores de solo que apresentam o C da MO como um de seus “princípios ativos”, sendo então necessária a quantificação do mesmo. O método oficial descrito na Instrução Normativa (IN Nº 28) de 27 de Julho 2007 pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para determinação do Carbono Orgânico Total (COT), desenvolvido por Ciavatta et al. (1989), se baseia na oxidação de toda a matéria orgânica presente na amostra em presença de Interciência & Sociedade 109 LEME, B. C., SAITO, B. O. um meio fortemente ácido utilizando dicromato de potássio ou sódio, seguida de titulação dos íons dicromato remanescentes com sulfato de ferro, originalmente proposto pelo método de Walkley-Black em 1934. No trabalho presente, propõe-se uma metodologia diferente do ponto de vista da quantificação dos íons dicromato, mantendo a mesma forma de extração da amostra. A quantificação passa a ser feita utilizando a espectrofotometria em comprimento de onda adequado e com curva de calibração apropriada ao problema. 1.1 Metodologia de determinação de COT por oxidação com íons dicromato (Oficial) O método empregado nessa determinação é baseado na oxidação por via úmida do carbono orgânico presente na amostra com dicromato de potássio em excesso e ácido sulfúrico concentrado seguido de aquecimento sob refluxo. A determinação do carbono é realizada indiretamente através da titulação do dicromato não reagido com sulfato ferroso amoniacal. O aquecimento sob refluxo é uma adaptação à metodologia oficial sugerida pelo Prof. Dr. Arnaldo Antônio Rodella (ESALQ/USP). 1.1.1 Procedimento Pesa-se uma amostra cuja quantidade de carbono (COT) não exceda 0,1 gramas em erlenmeyer de 250 mL de boca esmerilhada, posteriormente são adicionados 20 mL de solução dicromato de potássio a 2N e 26 mL de ácido sulfúrico concentrado P.A., o mesmo é realizado com uma prova em branco sem a adição de amostra. Logo após são colocados os erlenmeyers em aquecimento sob refluxo, acoplando-os em condensadores. Ao iniciar ebulição, diminui-se o aquecimento e deixa-se por mais 10 minutos. Após este período desliga-se o aquecimento e retira-se os erlenmeyers para resfriar.Transfere-se a solução obtida da oxidação (solução extratora) para um balão volumétrico de 200 mL e completa-se com água deionizada. Usando pipeta volumétrica transferir 10 mL da solução padrão 0,1N de dicromato de potássio para erlenmeyer de 110 250 mL. Adiciona-se 4 mL de ácido sulfúrico (1+1), 5mL de ácido fosfórico (1+3), 4 gotas de indicador e água deionizada para que o volume total atinja cerca de 50 mL. Essa solução tem a cor castanha. Preenche a bureta com solução de sulfato ferroso amoniacal 0,1M a ser padronizada. Titular a solução ao erlenmeyer. A padronização da solução titulante deve ser repetida a cada dia de trabalho, isso porque o sulfato ferroso pode se oxidar com o passar do tempo. Para titulação da prova em branco e das amostras, o procedimento segue da seguinte forma: preenche-se uma bureta com 50 mL de solução de sulfato ferroso amoniacal padronizada. Transfere-se 10 mL da solução extratora para erlenmeyer de 250 mL. Se junta 5 mL de ácido fosfórico (1+3), 4 gotas de indicador e água para que o volume total atinja 50 mL. Titular com a solução de sulfato amoniacal. Proceder igualmente a titulação com a prova em branco utilizando o mesmo procedimento efetuado para solução extratora. 1.2 Dificuldades da Metodologia Oficial A metodologia oficial demanda muito tempo de um analista, já que no procedimento de aquecimento deve-se ter muito controle, pois sob alta temperatura e tempo prolongado de aquecimento irá ocorrer à degradação do dicromato resultando em valores acima do real, sendo assim, é estritamente necessário que o analista esteja cuidando da digestão. Outro fator crucial do método é a padronização da solução de sulfato ferroso amoniacal, que deve ser feita sempre no dia que a metodologia será realizada, já que há uma perda de concentração em função do tempo devido à oxidação do ferro e dependendo da forma como é estocada a solução, a concentração diminui rapidamente. Há também a dificuldade de observar o ponto de viragem na titulação, que, dependendo da natureza da amostra, não se torna evidente a mudança de cor. 2 Materiais e métodos Materiais utilizados: • Interciência & Sociedade Balões volumétricos de 100 e Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria • • • • • • • 200 mL Pipetas volumétricas de 10, 5 e 4 mL Bureta de 50 mL Erlenmeyers, béqueres, povetas, condensadores e chapas aquecedoras Balança semi-analítica (3 casas decimais) Pipetador automático (1 mL - Digipet) Reagente: K2Cr2O7, grau analítico (Merck); H2SO4 P.A.; H3PO4 P.A.; Difenilaminasulfonato de Bário (indicador); Sulfato de Ferro (II) Amoniacal hepta-hidratado. Espectrofotômetro UV-Vis NOVA 1600UV Primeiramente foram realizadas varreduras de λ com o intuito de analisar o perfil de absorbância das amostras, extratos e padrões de K2Cr2O7, comparando-os, e também determinar o máximo de absorção, o λmáx. Realizaram-se estudos a respeito da melhor faixa de concentrações de pa- drões para confecção da curva de calibração. Através de diversas análises tanto espectrofotometricamente e titulometricamente das mesmas amostras, verificou-se se há convergência entre os resultados obtidos em cada método de determinação, correlacionando-os. Também foram feitos estudos sobre a precisão da leitura espectrofotométrica em diversas amostras. 3 Resultados e discussão Abaixo estão os espectros de absorção de UV-Vis, das diferentes soluções que foram usadas em laboratório. As soluções utilizadas para obtenção dos espectros de varredura, foram escolhidas em função de questionamentos sobre a influência da matriz no perfil espectral, e do ácido sulfúrico, visto que quando o mesmo é adicionado à solução de dicromato ocorre aumento na intensidade da cor. Foi observado, no entanto, que a intensificação da coloração está relacionada com o forte aumento da temperatura do meio. Figura 1: Espectros de absorção UV-Vis de diferentes amostras. Fonte: ???? Interciência & Sociedade 111 LEME, B. C., SAITO, B. O. 112 Observa-se na Fig. 1 que a presença da matriz amostral não interfere no perfil de absorbância das soluções de K2Cr2O7, ou seja, tanto ensaios em branco (solução de K2Cr2O7) como as soluções preparadas segundo a metodologia oficial apresentam pico de absorção quantitativo mais definido em λ=350 nm. Outra observação refere-se a presença de ácido sulfúrico concentrado e aquecimento na extração da amostra, e observa-se também que estes fatores não interferem no perfil espectral. Assim sendo a determinação da concentração de K2Cr2O7 nas diferentes soluções (branco e amostra) pode ser feita através da espectrofotometria no visível, em λ=350 nm. Também foi observado um pico na região do Ultravioleta, porém este não foi usado, pois apresenta menor definição e por questões de custos, visto que um colorímetro é mais barato do que um espectrofotômetro de UV. Foram realizados também varreduras de comprimento de onda nos padrões de dicromato de potássio. Nota-se na Fig. 2 que a absorbância dos padrões é quantitativa, ou seja, a relação entre a Abs e a concentração em λ= 350 nm, é diretamente proporcional, o que também foi comprovado quando se fez a curva de calibração (Fig. 3). Figura 2: Espectros de absorbância no Vis dos padrões utilizados para curva de calibração. Figura 3: Curva de calibração para os padrões de 20, 60, 80, 100 e 120 ppm de K2Cr2O7. Fonte: ???? Fonte: ???? Nota-se o alto grau de linearidade na curva de calibração, R = 0,999671, permitindo a quantificação de analitos desconhecidos através de comparação com os padrões, ou seja, através da Abs obtida pode-se determinar a concentração dessas amostras fazendo-se uso da curva de calibração. Finalmente, foram realizadas as análises de COT em diversas matrizes, comparando os resultados obtidos com a determinação convencional (por titulação redox). Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 1. Interciência & Sociedade Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria Tabela 1. Resultados de determinação de % COT por espectrofotometria e titulometria. Amostra Titulação Espectrofotometria % Esp/Tit 1 15,86 15,27 96,30 2 15,15 14,49 95,66 3 15,14 14,76 97,51 4 16,35 16,21 99,19 5 3,91 3,37 86,17 6 3,18 2,78 87,53 7 15,60 14,91 95,58 8 3,73 3,50 93,83 9 15,30 14,63 95,62 10 15,01 14,85 98,93 11 28,04 26,87 95,83 12 4,41 4,13 93,65 14 3,12 3,10 99,36 15 3,82 3,73 97,64 16 4,17 4,14 99,28 17 1,85 1,81 97,84 18 13,65 13,82 101,26 19 12,01 12,16 101,27 20 10,84 10,86 100,18 21 9,91 9,76 98,48 22 11,69 11,77 100,67 23 11,29 11,40 100,98 24 3,32 3,35 100,91 Fonte: ???? Figura 4: Valores obtidos de COT por titulometria versus espectrofotômetria. Fonte: ???? Interciência & Sociedade 113 LEME, B. C., SAITO, B. O. Os resultados obtidos através da espectrofotometria e volumetria se apresentaram sempre muito próximos, sendo que existe um pequeno decréscimo no valor de % COT, na maioria dos casos, quando se realiza por espectrofotometria. Provavelmente por dois motivos: a presença de imprecisão na detecção do ponto final da titulação redox dos íons Cr2O72- com Fe2+, além de desvios no valor de concentração desta solução titulante de Fe (II) e também desvios acumulados na confecção dos padrões analíticos para a curva de calibração. Os estudos de precisão da determinação de COT por espectrofotometria são apresentados nas Tabelas 2 a 5. Tabela 2. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média e coeficiente de variação. Amostra 1 C (ppm) %COT 1 47,569 4,616681 2 48,065 4,664819 3 47,596 4,619301 4 47,506 4,610566 5 47,37 4,597367 6 47,163 4,577278 7 47,497 4,609693 8 47,172 4,578151 9 47,118 4,57291 10 47,118 4,57291 Desvio padrão Média % Coef. Var 0,028843 4,601968 0,626762 Fonte: ???? Tabela 2. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média e coeficiente de variação. Amostra 2 C (ppm) %COT 1 44,25 4,291164 2 44,404 4,306098 3 44,503 4,315699 4 44,395 4,305225 5 44,214 4,287673 6 44,539 4,31919 7 44,728 4,337518 8 44,837 4,348088 9 44,755 4,340137 10 44,566 4,321808 Desvio padrão Média % Coef. Var 0,020376 4,31726 0,471977 Fonte: ???? 114 Interciência & Sociedade Desenvolvimento de metodologia para determinação de COT por espectrofotometria Tabela 4. Valores de % COT obtidos com leitura espectrofotométrica e valores de desvio padrão, média e coeficiente de variação. Amostra 3 C (ppm) %COT 1 53,034 5,142996 2 53,349 5,173544 3 53,196 5,158706 4 53,025 5,142124 5 53,187 5,157834 6 53,349 5,173544 7 53,349 5,173544 8 53,178 5,156961 9 52,989 5,138632 10 53,304 5,16918 Desvio padrão Média % Coef. Var 0,013738 5,158706 0,266314 Fonte: ???? A partir dos resultados presentes nas Tabs. 2 – 4 nota-se a alta precisão do método de determinação, o que também é confirmado através dos resultados obtidos de % Coeficiente de Variação que mostram-se aceitáveis, pois segundo WOOD: o coeficiente de variação (ou desvio-padrão relativo) máximo aceitável está relacionado com o nível de concentração do analito na amostra, definido pela equação: CV(%) =2(10,5logC) , na qual C é a concentração do analito (p/p). 4 Metodologia proposta – espectrofotometria Através dos resultados obtidos, pode-se então sugerir um método para determinação da % de COT por espectrofotometria, realizando a extração da amostra pelo método oficial. A curva de calibração foi feita com padrões de K2Cr2O7 de 20, 60, 80, 100 e 120 ppm, usando como zero de absorbância o padrão de 20 ppm. O aparelho utilizado foi um espectrofotômetro NOVA 1600UV ajustado em comprimento de onda (λ) de 350 nm. A extração das amostras foi realizada de forma convencional, como descrito na metodologia oficial. A partir da solução extratora diluída em balão de 200 mL, retira-se 1 mL e transfere-se para balão volumétrico de 100 mL completando o volume com água destilada. Finalmente são realizadas as leituras de absorbância das amostras dos balões de 100 mL em comprimento de onda de 350 nm utilizando a solução-padrão de 20 ppm para zerar o aparelho. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O alto grau de correlação entre os resultados leva a inferir que o método é válido para a detecção da % COT nas amostras utilizadas, que representam as amostras de rotina do centro de qualidade de uma empresa que fabrica fertilizantes organo-minerais fluidos. A presença de pequenos desvios quando são comparados os métodos de espectrofotometria e titulação é natural, visto o grande número de erros sistemáticos e aleatórios que estão presentes na realização de uma análise, principalmente nas que demandam um grande número de etapas. Assim sendo, o uso de uma aparelhagem simples em substituição à “mão humana” é um ganho, pois minimiza os erros aleatórios que podem ocorrer, sem tornar a análise cara. Interciência & Sociedade 115 LEME, B. C., SAITO, B. O. As grandes vantagens do método espectrofotométrico em relação ao titulométrico estão no menor tempo requerido por análise, menor gasto de reagentes, diminuição de erros aleatórios como detecção de ponto de viragem por exemplo, e possivelmente em maior exatidão nos resultados, sendo que estudos futuros na parte de extração de amostra podem fornecer mais embasamento sobre as variáveis envolvidas no método, e consequentemente um maior controle das mesmas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CIAVATTA, C.; VITTORI ANTISARI, L.; SEQUI, P. Communication in soil and plant analysis. V 20, n 7-8, p 759-773, 1989. KIEHL, E.J. Fertilizantes Orgânicos. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1985. MAPA, Instrução Normativa, Nº 28. 2007. WALKLEY, A.; BLACK, I. A. Soil Science. 37: 29-38, 1934. WOOD, R. Trends Anal. Chem., v. 18, p. 624-632, 1999. Bruno de Campos Leme é bacharel em Química pela Universidade Federal de São Carlos (2011), Campus de São Carlos / SP. Atualmente é profissional contratado pela Technes Agrícola. Bruno Orui Saito é Engenheiro Químico pela Universidade Federal de São Carlos, mestrando em processos industriais pelo Instituto de pesquisa tecnológica do estado de São Paulo. Atualmente é profissional contratado pela Technes Agrícola. 116 Interciência & Sociedade DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS E ESTRUTURA COSTA, Rodrigo Simão da Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB) [email protected] RESUMO: A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) se tornou obrigatória no Brasil com a criação da Lei 11.638/2007 e, desde então, todos os profissionais que fazem parte do ambiente empresarial precisaram conhecer essa demonstração e saber interpretar os seus resultados. Com o presente estudo, procurou-se através de uma pesquisa bibliográfica abordar os conceitos e a estrutura da DFC e, ao final, apresentar a resolução passo-a-passo de um exemplo prático para demonstrar as suas técnicas de elaboração. PALAVRAS-CHAVE: Fluxo de Caixa, Contabilidade, Finanças, Demonstração. ABSTRACT: The Statement of Cash Flows (CFD) became mandatory in Brazil with the creation of Law 11638/2007, and since then, all professionals who are part of the business environment needed to go through this demonstration and to interpret their results. In fact, the control box has always been practiced by companies, but the CFD brought a standardization to that tool. As the present study, we sought through a literature search addressing the concepts and structure of the CFD and at the final table the resolution step by step in a practical example to demonstrate their techniques of manufacture. KEYWORDS: Cash Flow, Accounting, Finance, Demo. 1. INTRODUÇÃO No atual mundo competitivo e globalizado, cada vez mais se torna necessária a utilização de ferramentas que garantam a sobrevivência das empresas no mercado. Com a criação da Lei 11.638, em 28 de Dezembro de 2007, a Contabilidade brasileira passou a ser convertida nos moldes do padrão internacional, isto é, das IFRS – International Financial Reporting Standards e, somada ao intenso processo de informatização do sistema de fiscalização, tornou a Contabilidade, mais do que nunca, peça chave para a sobrevivência das empresas. Uma das novidades apresentada por essa lei foi a obrigatoriedade da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), em substituição à antiga DOAR – Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. Mesmo antes da aprovação da lei, o IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), pela NPC 20, de abril de 1999, e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já recomendavam a apresentação da DFC como informação complementar. (FIPECAFI, 2010, p.565). Salotti e Yamamoto (2008, p.48) elaboraram uma pesquisa onde constataram que as companhias abertas que negociam suas ações na BOVESPA, divulgavam a DFC de forma voluntária antes da adoção da Lei 11.638/2007 porque já a divulgavam em período anterior e também porque dão mais importância às percepções dos seus outsiders (usuários externos). Nem todas as empresas estão obrigadas a apresentar a DFC, por exemplo, ficam dispensadas as sociedades anônimas de capital fechado com patrimônio líquido reduzido (inferior a R$ 2.000.000,00 na data do balanço) e as sociedades limitadas de pequeno e médio porte (as que possuem ativo total igual ou inferior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual igual ou inferior a R$ 300.000.000,00). A utilização da DFC pode proporcionar todo um gerenciamento do caixa, Interciência & Sociedade 117 COSTA, R. S. da onde as empresas podem identificar os períodos de sobra e escassez de recursos. Sobre esse aspecto, Marion (2009, p.446) diz que ”por meio do planejamento financeiro o gerente saberá o montante certo em que contrairá empréstimos para cobrir a falta (insuficiência) de fundos, bem como quando aplicar no mercado financeiro o excesso de dinheiro, evitando, assim, a corrosão inflacionária e proporcionando maior rendimento à empresa”. O objetivo desse artigo é apresentar os conceitos de caixa e a estrutura da DFC, elaborando-se um exemplo prático no final. Pretende-se demonstrar uma linha de raciocínio para acompanhar o passo-a-passo da elaboração de uma DFC. Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para se identificar os conceitos utilizados na DFC nos mais recentes materiais publicados sobre o assunto e através de sua conclusão, espera-se contribuir para um melhor entendimento sobre essa tão importante demonstração contábil, e que o material sirva para posteriores estudos. 2. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) O objetivo da DFC é evidenciar as variações ocorridas no disponível das empresas entre um determinado período de tempo. Observe que apesar do nome “fluxos de caixa”, farão parte dessa demonstração todas as contas do grupo do disponível, isto é, caixa, bancos e aplicações de liquidez imediata (como a caderneta de poupança, por exemplo). Segundo a FIPECAFI (2010, p.565) “o objetivo primário da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é prover informações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um determinado período”. O conceito trabalhado na DFC é o regime de caixa onde se evidencia o que realmente entrou e o que realmente saiu de recursos no disponível das empresas. As informações históricas do fluxo de caixa são extremamente importantes para o planejamento futuro de qualquer em- 118 presa, onde através de projeções, é possível construir cenários e se antecipar na execução das ações. Os resultados da DFC também são importantes para auditar as informações contábeis na busca por erros e possíveis fraudes contábeis, conforme comentado por Lamas e Gregório (2009, p.101) e Marion (2009, p.446). Serão alvos da DFC todos os recebimentos, ou entradas, e pagamentos, ou saídas, de caixa (ou disponível). Quando uma operação representar uma entrada de caixa, deverá ser somada na demonstração e, quando representar uma saída, deverá ser subtraída na demonstração. No próximo capítulo, serão abordadas a estrutura e as formas de apresentação da DFC. 3. Estrutura e Formas de Apresentação da DFC A elaboração de um fluxo de caixa pode ser feita de várias maneiras, pois cada pessoa ou empresa poderia realizar o controle dos recebimentos e pagamentos de caixa conforme seus próprios entendimentos. Porém, segundo Lamas e Gregório (2009), ao se elaborar uma DFC estruturada em normas, é possível comparar o desempenho operacional entre diferentes empresas, uma vez que elimina os efeitos desiguais dos possíveis tratamentos contábeis. Em razão dessa necessidade de uniformização das demonstrações contábeis, torna-se necessário que algumas regras sejam respeitadas na elaboração da DFC. A norma contábil responsável por esta normatização no Brasil é o Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa. Esse pronunciamento determina a estruturação da DFC em três atividades: operacionais, de investimentos e de financiamentos. As atividades operacionais se referem ao montante dos recursos que a empresa gerou através de sua atividade-fim. Farão parte dessas atividades os elementos relacionados com a DRE (DemonstraInterciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura ção do Resultado do Exercício). As contas pertencentes ao Balanço Patrimonial, mas que foram originadas de transações ligadas às receitas, custos e despesas, também deverão ser consideradas, por exemplo: as contas a receber (relacionadas com as vendas a prazo), os estoques (relacionados com os custos), os fornecedores (relacionados com as compras a prazo) e as contas a pagar (relacionadas com as despesas). Segundo a FIPECAFI (2010, p.567), as atividades operacionais “envolvem todas as atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços e os eventos que não sejam definidos como atividades de investimento e financiamento”. Como exemplos de atividades operacionais, poderão ser classificadas como entradas as vendas à vista, o recebimento de clientes e o recebimento de juros, e como saídas, o pagamento de fornecedores, o pagamento de impostos e o pagamento de despesas diversas. As atividades de investimento se referem às transações onde a empresa utilizou as sobras de caixa e aplicou, investiu recursos visando um benefício futuro. Dessa forma, quando há recurso disponível que possa ser investido pela empresa, ela pode emprestá-lo para terceiros ou investi-lo na compra de ativos fixos classificados como investimentos, imobilizado ou intangíveis no Balanço Patrimonial. Quando a empresa adquiri um determinado ativo fixo, isso representará uma saída de caixa e, quando vende algum desses ativos, representará uma entrada de caixa. Na IAS 7, a importância da divulgação separada de fluxos de caixa de atividades de investimentos é destacada, onde diz ser “importante porque os fluxos de caixa representam a extensão dos gastos efetuados com recursos destinados a gerar receita e fluxos de caixa futuros” (IASCF, 2008, p.862). Farão parte das atividades de investimentos todas as transações relacionadas com o ativo não circulante do Balanço Patrimonial. Como exemplos de entradas têm-se as vendas de investimentos, as vendas de imobilizado e o recebimento de empréstimos, e como exemplos de saídas, têm-se as aquisições de investimentos, de imobilizado e de ativos intangíveis. Já as atividades de financiamento, ao contrário das atividades de investimento, referem-se às transações onde a empresa toma recursos emprestados, geralmente, quando há uma escassez de caixa. Os recursos podem ser captados tanto de terceiros, quanto dos próprios proprietários ou sócios das empresas. Farão parte das atividades de financiamento todos os elementos relacionados com o exigível a longo prazo, o patrimônio líquido e os financiamentos e empréstimos de curto prazo, localizados no passivo circulante, todos localizados no Balanço Patrimonial. Para as atividades de financiamento, podem-se citar como exemplos de entradas de recursos, os aumentos de capital, as emissões de novas ações e os empréstimos e financiamentos tomados, e como exemplos de saídas, os pagamentos de dividendos, as recompras de ações da empresa e os pagamentos de empréstimos e financiamentos. Algumas transações podem não ser percebidas somente pelas informações do Balanço Patrimonial e da DRE, necessitando da utilização de uma outra demonstração contábil, como a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. O resultado final da DFC será a soma algébrica dos resultados líquidos de cada uma das atividades, que deverá ser conciliada com a diferença entre os saldos respectivos das disponibilidades, isto é, entre o início e o fim do período considerado (FIPECAFI, 2010, p.573). Lustosa e Santos (2004) dizem que essa classificação em três atividades é muito útil em termos informativos, mas também existem alguns aspectos polêmicos que devem ser melhor estudados para algumas transações financeiras, por exemplo, as reservas de capital. Algumas situações podem apresentar transações onde os fluxos de caixa serão classificados em mais de uma atividade, por exemplo, quando há um desembolso de caixa para pagamento de empréstimo, onde os juros podem ser classificados como atividade operacional e o valor do Interciência & Sociedade 119 COSTA, R. S. da principal deve ser classificado como atividade de financiamento (BRASIL2, 2008). Existem ainda algumas operações que não deverão fazer parte da DFC, pelo fato de não afetarem o caixa, por exemplo, as depreciações, as provisões, os ganhos e perdas de equivalência patrimonial, entre outros. Também podem acontecer transações de investimento e financiamento sem efeito no caixa, como por exemplo, as dívidas convertidas em aumento de capital, mas essas, devem ser evidenciadas em notas explicativas (FIPECAFI, 2010, p.569). A DFC pode ser elaborada se- gundo dois métodos, o direito e o indireto. A diferença entre eles está nas atividades operacionais. No método direto as atividades operacionais são elaboradas utilizando os reais recebimentos de clientes, pagamentos de fornecedores e pagamentos de despesas. Segundo a FIPECAFI (2010, p.573), “o método direto explicita as entradas e saídas brutas de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais, como os recebimentos pelas vendas de produtos e serviços e os pagamentos a fornecedores e empregados”. Tabela 1. Balanço Patrimonial BALANÇO PATRIMONIAL – EMPRESA ALFA ATIVO (em R$) 31/12/X1 Circulante Disponível Dupl. a receber Estoques Total Circulante Não Circulante Investimentos Part.outras cias Imobilizado Móveis e utensílios (-) Depr. acum. Terrenos Total Não-Circul. Total PASSIVO (em R$) 31/12/X2 1.500 500 1.000 2.300 1.000 1.500 3.000 4.800 500 500 2.640 2.640 1.200 (200) 2.000 3.000 1.500 (320) 3.000 4.180 3.500 6.820 6.500 11.620 Circulante Fornecedores Empr. bancários I.R. a recolher Total Circulante Patrimônio Líquido Capital social Lucros retidos Total do P.L. Total Fonte: Autor. 120 Interciência & Sociedade 31/12/X1 31/12/X2 1.000 1.000 - 2.000 1.470 1.050 2.000 4.520 4.500 4.500 6.000 1.100 7.100 6.500 11.620 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura Tabela 2. Demonstração do Resultado do Exercício. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM 31/12/ X2 (em R$) Receita Bruta 10.000 (-) CMV (5.500) Lucro Bruto 4.500 (-)Despesa Operacional Desp.Vendas (500) Desp. Administração (380) Desp.c/Depreciação (120) Outras Despesas (500) 1.500 Lucro Antes Impostos 3.000 (-) Provisão p/ I.R. (1.050) Lucro Líquido 1.950 Fonte: Autor. Tabela 3. Demonstração das Mutações do Patrimônio Lìquido. DEMONSTR. DAS MUTAÇÕES DO PATRIM. LÍQUIDO FINDO EM 31/12/X2 (em R$) Movimentações Saldo Inicial em 31/12/X1 Aumento de capital Capital Social 4.500 1.500 L. Retidos - Total 4.500 1.500 Lucro Líquido 1.950 1.950 Distribuição Dividendos Saldo final em 31/12/X2 (850) 1.100 (850) 7.100 6.000 Fonte: Autor. O primeiro método a ser elaborado será o método direto. Para se iniciar a DFC, primeiramente é preciso conhecer a variação do disponível. O valor encontrado é de R$ 800,00, obtido pela diferença do disponível entre os dois períodos, ou seja, R$ 2.300,00 menos R$ 1.500,00. Uma vez encontrada a variação do disponível, o próximo passo é elaborar as atividades operacionais, as quais possuem, basicamente, três elementos: recebimento de clientes, pagamento de fornecedores e pagamento de despesas. Para se encontrar o valor que foi realmente recebido dos clientes é preciso realizar um pensamento lógico, considerando todas as vendas como sendo a prazo. Isso porque não é possível identificar de forma direta qual seriam os valores à vista e a prazo, pelo fato da Contabilidade ser elaborada por regime de competência, ou seja, os fatos contábeis são contabilizados independentemente do seu recebimento ou pagamento. No ano de X1, a empresa tinha para receber R$ 500,00 (duplicatas a receber – ativo) e vendeu em X2 mais R$ 10.000,00 (receitas brutas – DRE), tendo para receber, portanto, um montante de R$ 10.500,00. Como o valor a receber no ano de X2 é de R$ 1.000,00 (duplicatas a receber – ativo), significa dizer que a empresa recebeu a diferença, isto é, R$ 9.500.00 de seus clientes. Depois de encontrado o valor do recebimento dos clientes, é preciso calcular o valor do pagamento das compras. O raciocínio é bem semelhante ao utilizado no recebimento dos clientes, com a única diferença, que para se encontrar o valor dos pagamentos dos fornecedores, primeiramente é preciso encontrar o valor das compras, o qual está embutido no valor do CMV na DRE. Interciência & Sociedade 121 COSTA, R. S. da O procedimento é utilizar a fórmula do CMV e substituir os valores que podem ser encontrados nas demonstrações contá- beis. A fórmula está descrita abaixo, já com os valores rastreados do Balanço Patrimonial e da DRE: CMV = ESTOQUE INICIAL + COMPRAS – ESTOQUE FINAL R$ 5.500,00 = R$ 1.000,00 + COMPRAS – R$ 1.500,00 COMPRAS = R$ 6.000,00 Encontrado o valor das compras, deve-se também considerá-lo como sendo todo a prazo. O raciocínio é o seguinte: Se a empresa devia ao seu fornecedor R$ 1.000,00 (passivo circulante) em X1, e comprou a prazo em X2 mais R$ 6.000,00, teria que pagar um montante de R$ 7.000,00 a ele, mas como aparece no saldo da conta de fornecedores em X2 apenas R$ 2.000,00, significa dizer que a empresa realmente pagou aos seus fornecedores a diferença, ou seja, R$ 5.000,00. Em relação ao pagamento das despesas, é preciso relacionar as despesas da DRE com as contas do passivo. Caso uma determinada despesa conste na DRE e também conste, no mesmo valor, no passivo, significa que a mesma ainda não foi paga, não havendo a necessidade de evidenciá-la na DFC e, caso ocorra o contrário, deverá ser evidenciada. As despesas constantes na DRE são as de vendas, administração, com depreciação, outras despesas e provisão p/ I.R. É possível verificar que além das despesas operacionais, também foi incluída a provisão para imposto de renda, pois também se trata de uma despesa, porém classificada de uma outra forma. Dentre as despesas elencadas na DRE, a única conta que não deverá fazer parte da DRE é a com depreciação, pelo fato de não afetar o caixa (não representar um desembolso). Fazendo a relação com as contas de passivo, não é possível verificar nenhuma conta intitulada “contas a pagar” ou alguma coisa parecida, o que demonstra que todas essas contas foram realmente pagas pela empresa, com exceção da provisão para imposto de renda, pois aparece a conta de “I.R. a recolher”, cujo valor é exatamente 122 o demonstrado na DRE, o que significa que tal imposto ainda não foi pago. Dessa forma, somente serão consideradas pagas as despesas com vendas, administração e outras despesas, cujo montante soma R$ 1.380,00. Utilizando os valores dos recebimentos dos clientes, pagamento dos fornecedores e pagamento das despesas, as atividades operacionais totalizam, portanto, R$ 3.120,00. Encerradas as atividades operacionais, o próximo passo é elaborar as atividades de investimentos, onde serão utilizados os grupos do ativo não circulante, com exceção do ativo realizável a longo prazo, onde será utilizado apenas quando tiver valores relacionados com as vendas de mercadorias a longo prazo. Na empresa ALFA, todas as contas do ativo não-circulante tiveram uma variação positiva (aumento), devendo ser consideradas como aquisições da empresa e saídas de caixa na DFC. A única conta que não será utilizada é a da depreciação acumulada, pois não afeta o caixa. Aliás, pode-se verificar que a diferença entre os saldos dessa conta é de R$ 120,00, exatamente o mesmo valor evidenciado na DRE na conta de despesas com depreciação. Considerando as variações das contas do ativo não-circulante, com exceção da depreciação acumulada, as atividades de investimento totalizam um montante de R$ 3.440,00 que deve ser subtraído na DFC por representar uma saída de caixa. As últimas atividades a serem encontradas são as de financiamento, as quais se referem aos grupos do exigível a longo prazo, patrimônio líquido e os empréstimos e financiamentos do passivo circulante. Observando o grupo do passivo circulante, percebe-se que existe uma conInterciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura ta de empréstimos bancários, a qual apresenta uma variação positiva de R$ 470,00. Isso quer dizer que a empresa necessitou captar recursos e pegou mais essa quantia dos bancos, representando assim, uma entrada de caixa na DFC. Já no patrimônio líquido, a conta capital social também sofreu uma variação positiva de R$ 1.500,00, representando assim, um aumento de capital realizado pelos sócios e uma entrada de caixa na DFC. A outra conta é a de lucros retidos que em X1 não possuía saldo e em X2 passou a ficar com R$ 1.100,00. Como não tinha nada e agora tem um saldo, subentende-se tratar do lucro líquido do exercício que foi transportado para essa conta, porém, o valor do lucro líquido demonstrado na DRE é de R$ 1.950,00. A diferença é de R$ 850,00 e se justifica pela retirada desse valor da conta lucros retidos para a constituição de dividendos (localizada no passivo circulante), que está discriminada na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Como os dividendos não apare- cem no passivo circulante, entende-se que os mesmos foram pagos pela empresa e, portanto, devem ser evidenciados na DFC como uma saída de caixa. As variações na conta de lucros retidos não devem ser utilizadas na DFC, pois, na verdade, as transações que afetaram o seu resultado já foram contempladas pelas atividades quando foram utilizados os valores relacionados com a DRE. Considerando as variações dos empréstimos de curto prazo, do capital social e o valor dos dividendos, as atividades de financiamento totalizaram R$ 1.120,00, uma vez que os valores das aquisições de empréstimos de curto prazo e aumento de capital foram somados e o pagamento de dividendos foi subtraído. Para se elaborar a DFC, basta somar as três atividades e verificar se o resultado é o mesmo identificado pela variação do disponível, no caso, R$ 800,00. A DFC pelo método direto fica estruturada da seguinte forma: Tabela 4. DFC Método Direto. DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ALFA MÉTODO DIRETO ATIVIDADES OPERACIONAIS Recebimento de clientes Pagamento de fornecedor Pagamento de despesas Caixa líquido atividades operacionais R$ R$ R$ R$ 9.500,00 (5.000,00) (1.380,00) 3.120,00 ATIVIDADES DE INVESTIMENTO Aquisição de Ações (Part.Outras Cias) Aquisição de Móveis e Utensílios Aquisição de Terrenos Caixa líquido atividades de investimento R$ R$ R$ R$ (2.140,00) (300,00) (1.000,00) (3.440,00) ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO Aquisição empréstimos curto prazo Aumento de capital Pagamento de dividendos Caixa líquido atividades de financiamento R$ R$ R$ R$ 470,00 1.500,00 (850,00) 1.120,00 Variação de Caixa e Equivalentes Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes Saldo Final de Caixa e Equivalentes R$ R$ R$ 800,00 1.500,00 2.300,00 Fonte: Autor. Interciência & Sociedade 123 COSTA, R. S. da Para se elaborar a DFC pelo método indireto, a diferença está nas atividades operacionais. Ao invés de apresentarem os reais recebimentos de clientes e pagamentos de fornecedores e despesas, serão elaboradas ajustando-se o lucro líquido e considerando as variações das contas patrimoniais relacionadas com a DRE. As atividades de investimento e de financiamento serão idênticas às do método direto. A primeira coisa a se fazer no método indireto é verificar o valor do lucro líquido na DRE, no caso, R$ 1.950,00. Nesse valor, é necessário fazer alguns ajustes referentes às contas que não afetam o caixa. Na DRE da empresa ALFA, a única conta que não afeta o caixa é a despesa com depreciação, no valor de R$ 120,00. Para eliminar o seu efeito sobre o lucro líquido, é preciso inverter o seu sinal na DFC, isto é, se na DRE a despesa com depreciação foi subtraída, na DFC ela será somada. Caso existam outras contas que também não afetem o caixa, é preciso que se faça o mesmo procedimento na DFC. Feitos os ajustes no lucro líquido, é preciso verificar as variações nas contas patrimoniais relacionadas com a DRE. Essas variações serão favoráveis (aumento) ou desfavoráveis (diminuição) para o caixa, utilizando-se conta por conta do Balanço Patrimonial. No ativo, a primeira conta é a do disponível e já foi utilizada para verificar a variação de quanto tem que dar a DFC. A próxima conta é duplicatas a receber e ela tem relacionamento com a DRE, pois se origina das vendas a prazo. A variação de X1 para X2 é um aumento de R$ 500,00, e é desfavorável para o caixa, ao passo que a empresa abriu mão de parte de suas vendas à vista para recebê-las em um momento futuro, e representará uma saída de caixa. Logo após, tem-se a conta dos estoques que também está relacionada com a DRE, pois se origina das compras 124 de mercadorias. A variação foi positiva em R$ 500,00, e também é desfavorável para o caixa, uma vez que a empresa, para aumentar seus estoques, precisou tirar dinheiro do caixa. As outras contas do ativo não possuem relação direta com a DRE e não farão parte das atividades operacionais, pois já foram utilizadas na atividade de investimento. No passivo, a primeira conta é fornecedores que está relacionada com a DRE, pois é originada pela compras a prazo de mercadorias. Ela traz um aumento de X1 para X2 no valor de R$ 1.000,00, sendo favorável para o caixa e representará uma entrada na DFC, ao passo que a empresa está, de certa forma, postergando um pagamento. A próxima conta é a de empréstimos bancários, e essa não tem relação direta com a DRE, pois pertence às atividades de financiamento. Já a conta de imposto de renda a recolher possui relacionamento direto com a DRE, pois recebe os valores da provisão de imposto de renda. A variação de X1 para X2 dessa conta foi um aumento de R$ 1.050,00 e também significa uma entrada na DFC, pois é favorável para o caixa, isto é, uma postergação de pagamento do seu imposto de renda. As outras duas contas do passivo não se referem às atividades operacionais, pois a conta capital social pertence às atividades de financiamento e a conta de lucros retidos já foi computada, pois é composta pelo lucro da DRE que já foi considerado na DFC. O resultado encontrado deve ser o mesmo do método direto, ou seja, R$ 3.120,00, pois se trata do mesmo caixa, da mesma empresa, só que elaborado de uma outra forma. Portanto, a DFC elaborada pelo método indireto fica representada dessa forma: Interciência & Sociedade Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): conceitos e estrutura Tabela 5. DFC Método Indireto. DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ALFA MÉTODO INDIRETO ATIVIDADES OPERACIONAIS Lucro Líquido (+/-) Ajustes Depreciação Variações nos Ativos e Passivos Variação em duplicatas a receber Variação em estoques Variação em fornecedores Variação em imposto de renda a recolher Caixa líquido atividades operacionais R$ 1.950,00 R$ 120,00 R$ R$ R$ R$ R$ (500,00) (500,00) 1.000,00 1.050,00 3.120,00 ATIVIDADES DE INVESTIMENTO Aquisição de Ações (Part.Outras Cias) Aquisição de Móveis e Utensílios Aquisição de Terrenos Caixa líquido atividades de investimento R$ (2.140,00) R$ (300,00) R$ (1.000,00) R$ (3.440,00) ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO Aquisição empréstimos curto prazo Aumento de capital Pagamento de dividendos Caixa líquido atividades de financiamento R$ R$ R$ R$ 470,00 1.500,00 (850,00) 1.120,00 Variação de Caixa e Equivalentes Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes Saldo Final de Caixa e Equivalentes R$ R$ R$ 800,00 1.500,00 2.300,00 Fonte: Autor. O método indireto é o mais utilizado pelas empresas, pois sua elaboração é mais simples, mas, é o método direto o preferido para a tomada de decisão, uma vez que para os usuários seria muito mais interessante conhecer os reais recebimentos de clientes e os pagamentos de fornecedores e de despesas. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O controle do fluxo de caixa sempre foi e ainda é amplamente utilizado por qualquer tipo de pessoa ou negócio, pois o gerenciamento das entradas e saídas de caixa é a base para todo planejamento e posterior tomada de decisão. Para que seja possível a comparação entre a posição financeira dos recursos de caixa das empresas, foi criada a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), que no Brasil, passou a ser exigida como demonstração contábil obrigatória com a criação da Lei 11.638/2007, embora já fosse evidenciada como informação complementar pelas instruções do IBRACON. Interciência & Sociedade 125 COSTA, R. S. da A segregação da DFC em atividades operacionais, de investimento e de financiamento torna possível uma melhor análise da composição da variação de caixa. Para se elaborar a DFC é preciso seguir algumas técnicas que utilizam as informações de outras demonstrações contábeis, como o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Com a realização dessa pesquisa, procurou-se elaborar uma DFC explicando cada passo e relacionando cada conta com sua origem nas demonstrações contábeis. Esse tipo de estudo torna-se importante não só para os profissionais relacionados com a Contabilidade das empresas, mas para todas as pessoas que estejam relacionadas com o ambiente de negócios no qual a empresa esteja inserida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Altera os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 dez.2007. BRASIL2. Pronunciamento Técnico CPC 03. Demonstração dos Fluxos de Caixa. Ata CPC, Brasília, DF, 13 jun.2008. FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010. IASCF INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE FOUNDATION. Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRSs). Incluindo Normas Internacionais de Contabilidade (IASs) e Interpretações , aprovadas em 1º de Janeiro de 2008. Volume 1. IASCF – International Accounting Standards Committee Foundation e IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, 2008 LAMAS, F. R.; GREGÓRIO, A. A. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Contabilidade Criativa. Revista Universo Contábil, Blumenau, v5, n.3, p.99-115, jul./ set. 2009. LUSTOSA, P. R. B.; SANTOS, A. Como Classificar as Reservas de Capital na Demonstração dos Fluxos de Caixa? In: XXVIII EnANPAD. Curitiba-PR, 2004. MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SALOTTI, B. M.; YAMAMOTO, M. M. Divulgação Voluntária da Demonstração dos Fluxos de Caixa no Mercado de Capitais Brasileiro. Revista de Contabilidade e Finanças USP., São Paulo, v.19, n.48, p.3749, set./dez.2008. Rodrigo Simão da Costa é Bacharel em Ciências Contábeis pelo UNIFEOB - Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (2001) onde também é Especialista em Gestão Empresarial (2003). É Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006). Atualmente é professor titular do UNIFEOB e coordenador dos cursos de Ciências Contábeis e Administração. Tem experiência na área Contábil, com ênfase em Contabilidade Ambiental. É palestrante de diversos temas relacionados à área contábil e financeira, publicou diversos artigos em revistas científicas e é o autor dos livros Contabilidade para Iniciantes em Ciências Contábeis e Cursos Afins e Práticas de Contabilidade Gerencial, ambos publicados pela Editora Senac de São Paulo. ERRATA: O artigo acima está sendo republicado devido a problemas de formatação referentes ao título e cabeçalho ocorridos no vol. 1 - n. 1 - março 2011 da revista Interciência & Sociedade. 126 Interciência & Sociedade SUBMISSÃO DE TRABALHOS Os artigos deverão ser encaminhados para o Conselho Editorial via mensagem eletrônica para: revista@fmpfm. edu.br (Assunto: Submissão). Os textos deverão ser publicados em português. Além disso, requer-se que os manuscritos submetidos a esta revista não tenham sido publicados anteriormente e não sejam submetidos simultaneamente em outro periódico. O conteúdo dos artigos aqui publicado é de responsabilidade, única e exclusiva, dos respectivos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou pensamento do conselho editorial. NORMAS PARA FORMATAÇÃO 1. Formatação Geral Características gerais: Número de páginas: um mínimo de 8 páginas e no máximo 12 páginas, incluindo as dedicadas às referências; Papel: sulfite no formato A4 (297 x 210 mm); Editor de texto: Word 2003 ou superior; Margens: direita e esquerda – 3 cm; superior e inferior – 3 cm; Fonte: Arial, para todo documento; Parágrafo: espaçamento entre parágrafos: 0 cm; espaçamento entre linhas: simples; alinhamento justificado; recuo especial da primeira linha: 1,25 cm. 2. Estrutura do Trabalho Seguem-se as recomendações em relação à estrutura dos trabalhos a serem avaliados e, posteriormente, se for o caso, publicados pelo periódico INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE. 2.1.Título O título deve estar na primeira página, centralizado, devendo ocupar no máximo duas linhas, com espaçamento entrelinhas 1,5, letras maiúsculas (caixa alta) em negrito, na fonte Arial, tamanho 14. 2.2.Autoria As autorias constituem-se pelas pessoas físicas responsáveis na criação do conteúdo intelectual de um documento e são indicadas pelos nomes dos autores, IES de origem e pelo e-mail. 2.2.1.Nome Os nomes são referenciados pelo último sobrenome, em letras maiúsculas, seguidos dos prenomes e outros sobrenomes, que podem ser abreviados ou não, no formato que se segue: SOBRENOME do 1º autor, letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11; seguido do nome do 1º autor, letras maiúsculas e minúsculas (caixa alta e baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 11, alinhados à direita, espaçamento entrelinhas simples. 2.2.2.IES O nome da Instituição de Ensino Superior deve estar em letras maiúsculas e minúsculas (caixa alta e baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, com a sigla da IES, entre parênteses, em letras maiúsculas (caixa alta) normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, espaçamento simples. 2.2.2.E-mail O endereço eletrônico deve estar em letras minúsculas (caixa baixa), normal, na fonte Arial, tamanho 10, alinhados à direita, espaçamento simples. 2.3.Resumo O texto deve ser escrito em português, com no máximo 10 linhas, cerca de 500 palavras, na fonte Arial, normal, alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra RESUMO, seguida de dois pontos, deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, o texto do resumo vem logo a seguir. 2.4.Palavras-chave As palavras-chave devem ser escritas em português, em número máximo de cinco palavras-chave, na fonte Arial, normal, alinhamento justificado, espaçamento simples. PALAVRAS-CHAVE seguida de dois pontos devem ser escritas em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10. 2.5.Abstract O texto do abstract, que vem a ser a tradução para a língua inglesa do resumo, até 10 linhas, na fonte Arial, itálico, alinhamento justificado e espaçamento simples. A palavra ABSTRACT, seguida de dois pontos, deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10. 2.6. Keywords São as palavras-chave traduzidas para o inglês, em número máximo de cinco palavras, na fonte Arial, itálico, alinhamento justificado e espaçamento simples. KEYWORDS seguida de dois pontos devem ser escritas em letras maiúsculas (caixa alta), em negrito, na fonte Arial, tamanho 10, em itálico, as keywords propriamente ditas vêm logo a seguir. Interciência & Sociedade 127 3.Introdução O texto da Introdução deve ser escrito em português, na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, sem hifenação, com recuo de 1,25 cm na primeira linha. A palavra Introdução deve ser escrita em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento 1,5, entre a palavra Introdução e o texto propriamente dito não há espaçamento entrelinhas. 4. Texto 4.1.Tópicos Em quantidade necessária para o desenvolvimento estruturado do trabalho deve estar na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, não sendo conveniente ultrapassar-se uma linha e deve obedecer a numeração arábica progressiva crescente. 4.2.Sub-tópicos Se fizerem necessários os sub-tópicos, até no máximo o terceiro nível, devem estar na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, não sendo conveniente ultrapassar-se uma linha. E, esses sub-tópicos devem obedecer a numeração arábica progressiva crescente. O texto referente ao conteúdo dos sub-tópicos deve(m) estar na fonte Arial, tamanho 11, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, obedecendo a um recuo de 1,25 cm para a primeira linha de cada parágrafo. 4.3.Figuras O título da Figura e as legendas devem vir logo abaixo desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, centralizados, com uma entrelinha 1,5 entre a figura e o título da figura, obedecendo a numeração arábica progressiva crescente, e deve haver uma entrelinha 1,5 para a continuação do texto. 4.4. Quadros e Tabelas O título dos quadros e as tabelas devem vir logo acima desta, na fonte Arial, tamanho 10, normal, alinhado à esquerda, com uma entrelinha 1,5 entre o texto e o título dos quadros ou tabelas, obedecendo a numeração arábica progressiva crescente. 4.5. Notas de rodapé As notas de rodapé devem ser inseridas somente se forem extremamente necessárias para a compreensão do texto, em numeração arábica progressiva crescente, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, com entrelinhas simples. 5. Considerações finais Deve ser escrito em letras maiúsculas (caixa alta), na fonte Arial, tamanho 11, em negrito, alinhamento justificado, espaçamento simples. 6. Referências bibliográficas As referências citadas no corpo do texto, conforme padrão da ABNT (NBR-6023) deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples, sem hifenação. Entre as referências deve ser utilizado um espaçamento antes do parágrafo de 6 pontos. Como nota de fim de texto deve ser inserido um minicurrículo do(s) autore(s), até no máximo 10 linhas, na fonte Arial, tamanho 9, normal, alinhamento justificado, espaçamento entrelinhas simples e espaçamento simples entre os minicurrículos (caso houver mais autores). PROCESSO DE AVALIAÇÃO Os artigos recebidos são submetidos à análise do Conselho Editorial para avaliação da adequação às áreas de interesse da revista e às exigências para submissão. Posteriormente, os artigos são encaminhados para análise por especialistas (pareceristas) nas respectivas áreas temáticas - método conhecido como avaliação por pares, peer review. Os nomes dos pareceristas e dos autores são mantidos em sigilo durante todo o processo. Os autores têm acesso aos pareceres referentes aos seus artigos, porém sem a identificação do parecerista. DIREITOS AUTORAIS Ao submeterem artigos à Revista, os autores declaram serem titulares dos direitos autorais, respondendo exclusivamente por quaisquer reclamações relacionadas a tais direitos. Os autores autorizam a Revista, sem ônus, a publicar os referidos textos em qualquer meio, ficando ainda a Revista também autorizada a adequar os textos a seus formatos. 128 Interciência & Sociedade Interciência & Sociedade 129 EDITORA FMPFM