Artigo de Maria Angela Jabur
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Artigo de Maria Angela Jabur
Revista Aberje 60_FINAL.qxd 10/6/06 7:21 PM Page 49 49 mudar o mundo ? A partir de conversas com profissio- nessa favela, outras “entidades” capazes a angústia e o ceticismo das mães. “É pre- nais especializados em implantar de fornecer lazer com tanta eficiência. ciso dar lazer a nossos filhos para tirá-los ações sociais, colecionei, nos Outra história tem a ver com educação das mãos dos bandidos”, diz uma delas. últimos meses, histórias reais sobre a peri- e veio de uma profissional especializada “Muita gente vem aqui e fala em inclusão feria de São Paulo. Uma das que mais me em professores da rede pública. O projeto social. Mas incluir nossos jovens em quê? tocaram foi sobre a forma de operar do se propõe a modificar o comportamento Na sociedade do lado de fora, para que crime organizado em uma favela da zona dos professores para integrar escola e co- eles saiam da favela e trabalhem como em- Sul. As quadrilhas funcionam como uma munidade de modo a reduzir o nível de pregados domésticos em casas de ricos?”, indústria, na qual jovens operários cum- violência e o índice de evasão dos alunos. completa outra em defesa da preservação prem a jornada de trabalho pesando e en- A maioria desses profissionais não lê nem da cultura e da dignidade locais. rolando papelotes de cocaína para receber livros nem jornais e mal conhece a matéria Falta de renda, falta de educação e fal- quase R$ 1 mil mensais – um salário in- que ministra (talvez daí venha a inseguran- ta de instituições fortes e respeitadas. Está vejável ante a remuneração média de ça em inovar). “Aqueles que lêem um pou- formado o tripé que sustenta o atual qua- profissionais de baixa qualificação no mer- co mais têm uma visão muito ideológica e dro de violência social. E se anos atrás essa cado de trabalho formal. Esses jovens, na pouca base de conhecimentos para trans- violência refletia-se basicamente no coti- maioria recém-chegados à adolescência, mitir”, disse ela. diano das regiões periféricas, agora atinge são arregimentados principalmente em Parte dessa realidade é acessível por fil- em cheio a vida dos habitantes das áreas bailes ou shows promovidos pelos pró- mes, noticiários, estudos acadêmicos e es- mais centrais. Não é preciso chegar ao prios traficantes com a finalidade exclusiva tatísticas. Mas senti-la “in loco”, posso extremo dos atenta- de recrutar novos quadros, como se fos- garantir, é muito diferente – e mais forte. dos dos criminosos sem “head-hunters” do mal. Não existem, Principalmente quando se ouvem também do Primeiro Coman- Passe rápido Desafio 1 – Falta de renda, falta de educação e falta de instituições fortes e respeitadas. Está formado o tripé que sustenta o atual quadro de violência social. Desafio 2 – E se anos atrás essa violência refletia-se basicamente no cotidiano das regiões periféricas, agora atinge em cheio a vida dos habitantes das áreas mais centrais. Desafio 3 – O curioso é que a intensificação desse quadro coincide com uma movimentação muito grande em torno do conceito de responsabilidade social. Solução – A questão, agora, portanto, não é fazer ou não fazer. Isso já está superado. A questão é: o que se faz é suficiente, está na direção correta, pode ser aperfeiçoado? Como – Assim, quando se soma a tendência empresarial, o movimento das inúmeras ONGs e instituições assemelhadas e a boa vontade das pessoas físicas, a corrente fica tão forte que parece ser capaz de carregar os germes de uma necessária mudança mais profunda. Comunicação Empresarial 60 | Outubro 2006 Revista Aberje 60_FINAL.qxd 7:21 PM Page 50 Pensata do da Capital (PCC) para constatar essa ponsável deixou de ser opção para trans- mam um exército de formiguinhas. Assim, realidade. Basta olhar a tensão de motoris- formar-se em imperativo: é uma questão quando se soma a tendência empresarial, tas em faróis e congestionamentos ou o de imagem. E é bom que seja assim, pois, o movimento das inúmeras ONGs e ins- desconforto dos habitantes dos chamados se a função principal de uma companhia é tituições assemelhadas e a boa vontade bairros nobres com os moradores de rua. produzir resultados consistentes ao longo das pessoas físicas, a corrente fica tão O curioso é que a intensificação desse do tempo a fim gerar renda e empregos – forte que parece ser capaz de carregar os quadro coincide com uma movimentação alguns dizem até ser essa a sua principal germes de uma necessária mudança mais muito grande em torno do conceito de ação social – , apenas projetos que se inse- profunda. Principalmente porque as em- responsabilidade social – que não se con- rem dentro da lógica corporativa conse- presas agregam cidadãos – os mesmos funde com filantropia, que extrapola o guem ter consistência e perenidade. que estão sujeitos aos efeitos dessas ca- apoio aos menos favorecidos, mas que, rências sociais. E esses cidadãos são pesDIVULGAÇÃO 50 10/6/06 naturalmente, também se manifesta na implantação de projetos nessa direção. soas com valores como solidariedade, respeito e cidadania. Uma pesquisa no Google, por exemplo, A questão, agora, portanto, não é fa- mostra que existem nada menos que 12 zer ou não fazer. Isso já está superado. A milhões e 800 mil páginas produzidas no questão é: o que se faz é suficiente, está Brasil a abordar o tema. Um número mui- na direção correta, pode ser aperfeiçoado? to maior do que as páginas relativas à ética Existe uma efetiva relação de troca ou ape- (7 milhões e 260 mil), conceito mais anti- nas os atos estanques de dar e receber? go, mas que, por óbvias e infelizes razões, Sem esquecer que o Estado e a sociedade ganhou corpo nos últimos 12 meses. civil têm papéis distintos e complementa- Essa exposição na web, assim como o crescente número de premiações, seminários e cursos, é compreensível. Afinal, é res quando se fala em prover saúde e Para Maria Angela, empresas devem considerar a responsabilidade social em todas as suas atividades. difícil encontrar, hoje em dia, uma empre- educação e em montar um cenário econômico capaz de gerar rendas e empregos. Assim, movimentar-se para estimular sa que não tenha o seu projeto social, por O lado perverso desse quadro é a o Estado a voltar a cumprir suas funções menor que seja. Algumas, mais avança- constatação de que as carências sociais básicas – incluindo, nessa relação, o forta- das, já consolidaram essa linha de ação e são tamanhas que fornecem um potencial lecimento das instituições – pode ser o buscam, agora, inserir a atitude ética e a imenso para a expansão dessa efervescên- maior dos projetos sociais hoje em gesta- responsabilidade social e ambiental em cia, que já produz resultados exemplares. ção. E, nesse caso, não bastam ações seu cotidiano e na relação com todos os Para onde se volte a vista, nota-se que há coletivas. É preciso, também, posturas in- grupos de interlocutores. Exemplos são os espaço de ação: no combate às drogas, no dividuais. Afinal, inúmeras formiguinhas esforços para aumentar a qualidade de combate à violência, no respeito à diversi- caminhando juntas... atendimento ao consumidor ou a trans- dade, na melhoria da educação e da saú- parência com os investidores. Outras em- de, na extinção da miséria, na inclusão de Maria Angela Jabur penham-se simultaneamente nas duas pessoas portadoras de necessidades espe- Diretora de Comunicação e Responsabilidade direções: a implantação de projetos espe- ciais etc. etc. etc. Social da AES Eletropaulo, coordenadora cíficos e a mudança de atitude. Afinal, ser O lado positivo é saber que milhares de Comunicação e Responsabilidade uma empresa social e ambientalmente res- de formiguinhas caminhando juntas for- Social do grupo AES no Brasil. Comunicação Empresarial 60 | Outubro 2006