ASSTese98 - Observa Saúde.SP
Transcrição
ASSTese98 - Observa Saúde.SP
1 ÁLVARO ESCRIVÃO JUNIOR ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE: ESTUDO NUMA ÁREA RESTRITA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Medicina. Área de concentração: Medicina Preventiva Orientador: Prof. Dr. Guilherme Rodrigues da Silva São Paulo 1998 2 O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê, E nem pensar quando se vê Nem ver quando se pensa. Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender. Fernando Pessoa para minha irmã Lígia 3 APRESENTAÇÃO Partindo-se da identificação e sistematização de aspectos conceituais e metodológicos dos estudos de situação de saúde, reflete-se sobre os condicionantes sócio-políticos desta prática nos serviços de saúde, analisando-se, como ilustração, a experiência do município de São Paulo no período 1989/92. Em seguida, apontam-se alternativas para o aprimoramento da prática de análise de situação de saúde, em nosso meio, exemplificando-as com a avaliação das necessidades de saúde em uma população da área sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, através das estatísticas de mortalidade e dos resultados de inquérito populacional de morbidade referida, discutindo-se características operacionais do uso integrado destas fontes de dados. O interesse pelo tema foi suscitado ao longo da vivência do autor, enquanto epidemiologista de serviços de saúde estaduais e municipais e, especialmente, na sua experiência como Diretor do Centro de Epidemiologia Pesquisa e Informação - CEPI da SMS-SP, no período de 1989 a 1992, e como coordenador do processo de organização do "Sistema Municipal de Informação em Saúde - SIMIS". A amplitude das questões debatidas nesta tese gerou, provavelmente, restrições não desprezíveis quanto à profundidade das análises, mas procurou responder, às demandas do cotidiano dos profissionais dos serviços de saúde, em sua tarefa de avaliar as necessidades de saúde e participar da construção das respostas sociais para atendê-las. 4 Além da consulta às bases de dados bibliográficas habituais, procurouse identificar outros textos sobre análise de situação de saúde que permitissem o conhecimento das propostas formuladas por órgãos oficiais do setor saúde, principalmente OMS, OPAS e Ministério da Saúde, por entidades representativas dos profissionais de saúde e conselhos de gestores do SUS e de representação social nos diferentes níveis de organização do sistema de saúde. Valeu-se, também, de consultas a "home pages" e documentos sobre experiências nacionais e internacionais de análise de situação de saúde. A identificação, no conjunto das proposições analisadas, daquelas mais coerentes com a linha de pensamento e ação do movimento da saúde coletiva visou contribuir para o trabalho dos profissionais dos serviços de saúde das regiões metropolitanas brasileiras, no sentido de apontar questões estratégicas para o enfrentamento da iniqüidade em saúde. Assim, este trabalho parte da perspectiva dos serviços de saúde e insere-se na linha de pesquisa acadêmica que estuda as possibilidades e os limites da aplicação da epidemiologia para o planejamento e a gestão dos serviços e sistemas de saúde, esperando-se que os seus resultados possam fornecer elementos úteis aos estudos de situação de saúde em nosso meio, e trazer uma contribuição aos esforços despendidos, por muitas instituições acadêmicas da área de saúde coletiva, para apoiar o desenvolvimento de um Sistema Único de Saúde capaz de alavancar as mudanças requeridas pelo quadro de saúde brasileiro. 5 AGRADECIMENTOS Muitas pessoas contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho. A todas elas expresso o meu reconhecimento, e em especial: ao professor Guilherme Rodrigues da Silva, que me concedeu as condições, e o privilégio de trabalhar no Departamento de Medicina Preventiva, onde encontrei todos os recursos para a realização deste estudo, e coordenou a Pesquisa sobre Análise de Situação de Saúde, desenvolvida em Lages – SC, experiência que me permitiu amadurecer várias das questões tratadas nesta tese, ao professor Moisés Goldbaum, pelas muitas e valiosas contribuições e por sua irrestrita solidariedade; aos professores Maria Novaes, Chester Galvão Cesar e Julio Litvoc, pelos seus importantes comentários no exame de qualificação; ao professor Chester, pelo acesso aos dados do inquérito e constantes sugestões; ao professor Paulo Elias, pelo estímulo, sugestões e ajuda fraterna de todos os tipos; à professora Maria Novaes, pelo seu apoio na comissão de pósgraduação e estimulante convivência no curso de graduação; ao professor Eliseu Waldman pelo estímulo e sugestões; 6 aos colegas do PROAHSA – HCFMUSP e da EAESP-FGV, pela compreensão e o estímulo; ao professor Sauaia e demais docentes do Departamento de Medicina Preventiva, pelo apoio constante; à Dodó e demais colegas da Medicina Preventiva pelo apoio cotidiano; ao Fernão, pela ajuda com os dados, à Érica e ao André pela edição da tese; à Clara, pelas sugestões e pelo apoio logístico; à Alice e ao Moche, pelo estímulo e a ajuda de sempre, e para Luciana, João, Cezário e demais amigos que, nestes tempos difíceis para todos nós, ainda conseguem praticar a solidariedade; à Silvia, pela torcida e ajuda de todos os tipos, sem a qual...; à Dona Lídia, minha mãe, por tudo...; à Flávia e ao Neto, como uma lição de perseverança, que aprendi com os meus pais. ao professor Ricardo Lafetá, que revisou os primeiros escritos desta tese, pelas boas lembranças e lições de história. 7 RESUMO Este estudo analisa os aspectos conceituais, metodológicos e os indicadores usualmente utilizados nos estudos de situação de saúde, discutindo o uso integrado das estatísticas de mortalidade e dos inquéritos populacionais de morbidade referida. A partir da identificação e sistematização desses aspectos, reflete-se sobre os condicionantes sócio-políticos destes estudos na prática dos serviços de saúde. Em seguida, apontam-se alternativas para o aprimoramento da prática de análise de situação de saúde, exemplificando-as com a avaliação das necessidades de saúde em uma população de região metropolitana. O exame das questões envolvidas nos estudos de situação de saúde permitiu demonstrar as potencialidades deste instrumento epidemiológico nos serviços de saúde. 8 SUMMARY This study analyzes the conceptual, methodological aspects and the indicators usually used on health studies, discussing the integrated use of mortality statistics and survey of self-reported health in these studies. From the identification and systematization of these aspects, a reflection about socialpolitical conditions in these studies on health services is developed. Alternatives are then pointed for the improvement of health situation analysis through examples about the evaluation on health needs in a population from a metropolitan area. The examination of issues that are involved in the health situation studies showed the potentiality of this epidemiological instrument for health services. 9 ÍNDICE APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO 1. Epidemiologia e serviços de saúde ........................................................... 01 1.1. Desenvolvimento histórico da epidemiologia ............................ 03 1.2. Aplicações da epidemiologia....................................................... 25 1.3. Propostas de uso da epidemiologia nos serviços de saúde ....... 30 2. Análise de situação de saúde..................................................................... 39 2.1 Fontes de dados............................................................................. 56 2.2 Mensuração da situação de saúde e das condições de vida ...... 68 OBJETIVOS .................................................................................................. 84 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 85 RESULTADOS .............................................................................................. 92 Morbidade referida na área de estudo ........................................................ 93 Mortalidade da área de estudo ................................................................... 103 DISCUSSÃO ................................................................................................ 123 CONCLUSÕES............................................................................................ 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 135 10 INTRODUÇÃO 1. EPIDEMIOLOGIA E SERVIÇOS DE SAÚDE Existe um aparente consenso sobre as vantagens de se aplicar a epidemiologia para orientar políticas e até para subsidiar o planejamento e a gestão de sistemas e serviços de saúde. As questões conceituais e metodológicas do campo da epidemiologia, no entanto, admitem posições divergentes e mesmo antagônicas. As equipes dos serviços de saúde têm acompanhado esse debate e, embora, tenham dificuldades para compreender seus detalhes acadêmicos e políticos, vêm buscando, no nível da prática, concretizar as propostas de utilização da epidemiologia nos serviços. Neste nível, a ampliação do uso dos conceitos e técnicas da epidemiologia para além das áreas de conservação da saúde e da prevenção de doenças tem provocado o esvaecimento dos limites de atuação dos profissionais que se dedicam à administração dos recursos financeiros e institucionais dos sistemas e serviços de saúde e daqueles envolvidos com o uso dos métodos e das técnicas epidemiológicas. No plano conceitual, assiste-se a um intenso debate sobre as reais possibilidades e os limites da aplicação da epidemiologia nos sistemas e serviços de saúde, discutindo-se, também, quais seriam os paradigmas e as opções metodológicas do campo epidemiológico mais adequados aos propósitos do movimento da saúde coletiva. No intuito de apresentar um quadro referencial, onde se inserem 11 estas discussões, apresenta-se a seguir, os principais pontos de inflexão da epidemiologia, em sua trajetória histórica, enfatizando os aspectos atuais desse debate. 12 1.1.Desenvolvimento histórico da epidemiologia Ao longo da história, as propostas de intervenção sobre os problemas de saúde modificam-se, acompanhando as mudanças das conceituações vigentes em cada época. Na Antigüidade, até a civilização grega, predominam explicações e intervenções sobre a doença de caráter místico (ROJAS, 1974). A partir de então, como expõe Ricardo Novaes (1996): “a medicina hipocrática domina a cena da civilização ocidental desde o seu nascimento - 500 anos aC - até o século XIX”. Na concepção de Hipócrates, para conhecer a doença e intervir sobre ela era necessário estudar o homem em seu estado normal e na sua relação com o meio em que vivia, e investigar as causas que perturbavam o equilíbrio entre o homem e o meio. A teoria dos humores explicava a origem das doenças pelo desequilíbrio entre os elementos primordiais, as estações do ano e os humores corporais, respectivamente: água, terra, ar e fogo; primavera, verão, outono e inverno; e sangue, bile amarela, bile negra e fleuma. Durante a Idade Média, com o domínio da Igreja Católica sobre os valores vigentes na maior parte do mundo ocidental, fortalece-se a interpretação da enfermidade (e especialmente das epidemias) “como castigo divino por los pecados del hombre” (ROJAS, 1974). A partir do Renascimento, num contexto de grandes transformações sócio-econômicas e culturais, verifica-se o declínio da influência do pensamento religioso sobre a sociedade, retomando-se então a busca da origem das doenças na natureza e na vida social, com a emergência do “empirismo moderno”, cujo exemplo mais relevante foi a “vaccinia” de Jenner, e da “concepção miasmática”, que atribuia aos miasmas - emanações provenientes da decomposição de matérias orgânicas - a responsabilidade pela origem das doenças. Esta 13 concepção será a base das medidas de saneamento implantadas nas cidades européias do século XVII em diante. Na fase de acumulação pré-capitalista, com a desarticulação do modo de produção feudal e a constituição dos estados nacionais, torna-se necessário conhecer a dimensão e a dinâmica das populações. Em 1662, J. Graunt realizou em Londres um estudo utilizando dados de mortalidade e batismos relatando, entre outros achados, que os percentuais de nascimentos e mortes para o sexo masculino eram maiores que os verificados para o sexo feminino. O pioneirismo dessas pesquisas conferiu a Graunt a condição de fundador da estatística médica, que foi posteriormente institucionalizada por W. Farr ao criar, em 1839, o registro anual de mortalidade e morbidade para a Inglaterra e País de Gales (ALMEIDA FILHO, 1988). Para Ayres (1995), através das estatísticas vitais e dos estudos de morbidade, que se iniciaram no século XVIII, "começa a delinear-se uma esfera de objetividade propriamente sanitária e, correlatamente, proposições teórico-metodológicas substancialmente novas, que Foucault designou de "proto-epidemiologia". A partir da Revolução Industrial, na vigência da concepção de doença como decorrente das condições de vida e trabalho, observa-se o surgimento do Sanitarismo, na Inglaterra, e da Medicina Social, na França e na Alemanha, como principais formas de intervenção sobre os problemas de saúde (ROSEN, 1994). Castellanos (1997), analisando "o debate teórico geral sobre os determinantes da saúde", no "agitado meio social do século XIX", mostra que proliferaram estudos que hoje poderiam ser classificados como "sobre a situação de saúde", estabelecendo-se uma polarização entre os autores "contagionistas, em geral conservadores e defensores dos privilégios dos setores sociais predominantes" e aqueles "de pensamento mais voltado para o social, que atribuíam as doenças à pobreza das maiorias, colocando a ênfase explicativa nas condições de vida e do meio ambiente, destacando-se entre eles Virchow, na Alemanha; Villermé, na França; Alison, na Escócia; 14 e os que sustentavam a teoria "miasmática", como Farr e Simon na Inglaterra". A epidemiologia teve suas bases científicas* estabelecidas em meados do século XIX. Apesar da existência de estudos anteriores sobre as condições de saúde das populações, destacando-se o de Lind, sobre o escorbuto (1753), o de Baker, sobre o saturnismo (1767), e o de Casal, sobre a pelagra (1762), atribui-se a John Snow o pioneirismo da sistematização do método epidemiológico, graças ao seu meticuloso trabalho de análise das diversificadas fontes de informação, procurando compreender o modo de transmissão do cólera na Inglaterra, especialmente o estudo do comportamento das epidemias de 1853 e 1854, em Londres (OPAS, 1989). Ayres (1995) considera que, embora não se possa definir com precisão o momento histórico da emergência da objetividade epidemiológica, as principais referências situam-se na higiene francesa dos anos 1830/40, destacando-se, entre os autores desse período, Villermé com seus estudos sobre as condições de vida e trabalho, sendo Snow a "primeira grande personagem paradigmática" da epidemiologia baseada no "evolucionismo biologicista, no causalismo e no empiro-indutivismo". A denominada "Teoria Bacteriológica", com o conceito de unicausalidade - para cada doença, um agente específico - torna-se predominante a partir do final do século XIX (TERRIS, 1989), época de acelerado progresso no conhecimento científico sobre as doenças transmissíveis, que se constituíam no principal problema de saúde das populações européias. O avanço no conhecimento sobre as doenças infecciosas e a melhoria nas condições de vida e de trabalho trazem a necessidade de serem explicados tanto os aspectos mais complexos das cadeias de transmissão * Há controvérsias, na literatura, quanto ao status da epidemiologia enquanto ciência, ou seja, um corpo de conhecimentos tendo um objeto determinado e reconhecido e um método próprio; apresentam-se, aqui, tão somente algumas referências a esse debate, pertinentes aos objetivos desta tese. 15 dessas enfermidades como a origem dos problemas de saúde decorrentes do aumento da expectativa de vida das populações. Neste contexto, a teoria unicausal vai sofrendo modificações, e já no início do presente século, especialmente a partir da década de 20, o modelo da multicausalidade tornase dominante no campo da epidemiologia. A tendência dessas modificações é à ampliação da importância atribuída aos fatores ambientais e do hospedeiro na determinação dos problemas de saúde*. A origem da doença passa então, a ser explicada pela denominada “tríade epidemiológica”, ou seja, pela interação do agente etiológico com o hospedeiro humano, em um ambiente composto de elementos físicos, biológicos e sociais, que modulam esta relação. A noção de causa - condição de presença obrigatória para a ocorrência da doença - será substituída pelo conceito de “fator de risco”, entendido como aquela condição cuja presença aumentará a “probabilidade” de ocorrência do problema de saúde (BARATA, 1985). Como afirma Barreto: “dentro deste novo sistema teórico, ocorrerão avanços importantes no tocante às doenças infecciosas... (com a) identificação dos vetores de uma série de doenças, tais como a febre amarela, a doença de Chagas e a esquistossomose” (BARRETO, 1990). Este conceito será igualmente útil no estudo de moléstias crônicas degenerativas, doenças genéticas, agravos provocados por causas externas e distúrbios psico-emocionais, que vão se constituindo nos principais problemas de saúde dos países desenvolvidos (FORATTINI, 1980). As modificações de conceitos e métodos da epidemiologia provocadas pelo novo perfil de morbi-mortalidade constituem o que se convencionou chamar de "Segunda Revolução Epidemiológica", iniciada na Inglaterra nos anos 1940 (WALL, 1995). Para Wall, isto significou o renascimento da escola sociológica que tinha florescido com Virchow cem anos antes. * Segundo a definição de Paul (1958): “A epidemiologia ocupa-se das circunstâncias em que as doenças ocorrem...(que ) podem ser microbiológicas ou toxicológicas;... fatores genéticos, sociais ou 16 O conceito de multicausalidade será progressivamente modificado, sendo propostos vários “modelos” e quadros esquemáticos para atender aos diversos usos na investigação e no planejamento das intervenções sobre os problemas de saúde. Além dos fatores “diretos” (físicos, químicos e biológicos), passam a ser considerados os fatores indiretos (de risco ou de proteção), “representados por variáveis sócio-econômicas, que assim como os fatores diretos, são submetidas aos tratamentos estatísticos habituais, de modo a que se possam estudar suas ligações com o problema de saúde” (GOLDBERG, 1990). Esta visão ampliada da rede de causalidade do processo saúde-doença, considerando-se os “fatores” sociais e ambientais mais complexos, tem sido denominada concepção ecológica (TAMBELLINI, 1975). A consolidação da concepção multicausal-ecológica no campo da epidemiologia, com seus diferentes enfoques, é acompanhada por um expressivo desenvolvimento dos métodos e das técnicas de investigação científica, com a incorporação crescente de conhecimentos da estatística, que terão posteriormente seu uso potencializado pela acelerada expansão da área de informática. Da década de 20 até os anos sessenta, são constituídos os principais delineamentos dos estudos epidemiológicos. A publicação de MacMahon, em 1960, é considerada uma síntese dos métodos e técnicas desenvolvidos no campo da epidemiologia neste período (BARRETO, 1990). Assim, já no início dessa década a epidemiologia contava com um conhecimento solidamente estabelecido, parecendo que o modelo da Tríade: Agente - Hospedeiro - Meio ambiente era suficiente para explicar tanto a geração quanto a distribuição da doença na população. A teoria dos sistemas, modelo paradigmático das ciências naturais, passou a ser o modelo das ciências sociais. O pressuposto básico deste modelo é a separabilidade dos componentes da causalidade; seu objetivo principal, a busca de determinações imediatas passíveis de intervenções focais (TESTA, 1992). ambientais. Mesmo os fatores religiosos ou políticos devem ser considerados, desde que se note que 17 Nos anos 60, partindo do conceito da história natural da doença desenvolvido por J. Ryle em 1936, Leavell e Clark propõem uma "nova orientação" para a prática médico-odontológica, que pode ser sintetizada, nas palavras dos próprios autores, como uma “perspectiva de abordagem, relacionada aos modernos conceitos de epidemiologia... (visando) definir os pontos ou níveis da história natural de qualquer doença em que as medidas preventivas possam ser aplicadas eficazmente” (LEAVEL, 1976). Na realidade, uma das motivações deste modelo, assim como de vários outros que foram propostos posteriormente, prende-se à progressiva especialização da prática médica, gerando aumento dos custos dos métodos diagnósticos e terapêuticos, e a escassez de recursos para a extensão desses serviços ao conjunto da população. Embora sejam bastante conhecidas as suas limitações explicativas (AROUCA, 1976), o modelo da história natural da doença proposto por Leavell e Clark ainda predomina, modificado pela contribuição de outros autores, na formulação de políticas e de programas de intervenção sobre os problemas de saúde na maioria dos países. Em uma dessas contribuições, Laframboise apresentou, em 1973, o conceito de “Campo da Saúde”, no qual propõe dividir os vários fatores de risco relacionados ao processo saúde-doença em quatro agrupamentos: estilo de vida, ambiente, organização dos cuidados com a saúde e biologia humana (DEVER, 1988). De acordo com os pressupostos deste modelo, a interação entre os quatro grupos produzirá conformações específicas segundo cada doença ou agravo à saúde. Neste mesmo sentido, o “modelo epidemiológico para a análise da política de saúde”, proposto por Dever em 1976, enfatiza a necessidade de serem considerados todos os fatores que participam da prevenção de doenças e da recuperação da saúde. A epidemiologia, através de seus métodos e técnicas, seria a disciplina capaz de identificar “as populações de risco” e orientar as atividades dos administradores de eles têm alguma influência sobre a prevalência da doença”(Paul, J.R. apud Leavell e Clark, 1976). 18 serviços de saúde. Kerr White (apud DEVER, 1988) oferece uma expressiva ilustração dos objetivos pretendidos pelos autores destes esquemas conceituais: “é evidente a necessidade de um modelo teórico, no qual os agentes nocivos não sejam necessariamente físicos, químicos ou biológicos, e que se dê lugar a fatores que exerçam influências perniciosas sobre a saúde, tais como poluição sonora, esgotamento nervoso, stress ocupacional, violência doméstica, criação inadequada e desgaste sexual”. Percebe-se que, apesar de apresentarem um novo desenho e outra terminologia para os elementos integrantes da rede de causalidade do processo saúde-doença, esses autores fundamentam-se nos mesmos paradigmas até então predominantes. Mais recentemente, outros autores tem preconizado a necessidade de serem desenvolvidas novas formas de compreensão do processo saúdedoença na população. Para Castellanos (OPAS, 1991), este processo pode ser entendido tanto como expressão das condições de vida, como determinante de outros fenômenos da vida humana e o seu estudo se caracteriza pela complexidade e indefinição, ou seja, exige o emprego de inúmeras variáveis e admite um alto grau de incerteza quanto à relação entre elas. Segundo este autor, as condições de vida de cada setor da população têm dupla importância: "expressam os processos gerais da sociedade e são mediadoras das determinações dos problemas de saúde no nível individual e coletivo", sendo esse último o espaço onde operam as políticas sociais. Os modelos explicativos da realidade buscam reduzir sua complexidade, recortando diferentes períodos do processo saúde - doença: exposição a riscos, doença, e morte; e diversos espaços organizativos da realidade (grupos populacionais/nível geral da sociedade) e categorias individuais (idade, sexo, instrução...). O processo de seleção das "poucas variáveis" que cada pesquisador considera relevantes para descrever a realidade, a partir dos 19 paradigmas que o orientam, conduz, segundo Samaja (1993), a "una reducción o empobrecimento del plenun de la experiencia originaria". Nos últimos anos tem se observado um grande interesse pelo debate das questões relativas ao desenvolvimento teórico da epidemiologia e à aplicação de seus conceitos e métodos nos serviços de saúde, revelando a heterogeneidade desta disciplina quanto aos seus objetivos, métodos e aplicações (BARATA, 1996). Destaca-se neste debate a abordagem do "social" nos estudos epidemiológicos, confrontando-se, entre outras, a vertente que afirma ser possível fragmentar os problemas sociais em componentes que se auto sustentam, com aquela que afirma a obrigatoriedade de compreender o social como uma totalidade de significação. Esta última considera que o modelo dominante (estatístico etiológico) no estudo dos determinantes sócio-econômicos da saúde de uma população, ao considerar os indivíduos como unidades estatísticas independentes, ignora a existência das relações sociais nas quais as representações, os comportamentos, os saberes e os modos de vida são produzidos. Gonçalves considera que a epidemiologia não logrou a elaboração de um objeto de conhecimento definitivamente diverso do da clínica, "uma vez que o fenômeno da doença é apreendido fundamentalmente aos níveis individual e biológico", sendo "incapaz de apreender de modo direto e substantivo as dimensões sociais do objeto" (GONÇALVES, 1994). O social, alerta o autor, "não é dócil como a vida...sendo por sua própria natureza múltiplo e conflituoso", sendo possível "construir uma ciência do social ao modo das ciências naturais, mas não se pode invalidar completamente as outras ciências do social, que representam outras posições em conflito no social, já que uma ciência social "naturalizada" expressa apenas uma das consciências possíveis dele" (GONÇALVES, 1990). Segundo o autor: "é precisamente esta maneira restrita que permite a ela (a epidemiologia), nas condições do modo de produção capitalista, dar conta adequadamente de suas funções", quais 20 sejam, de obscurecer os nexos através dos quais a estrutura social produz a doença e, ao mesmo tempo, instrumentalizar a prática para o efetivo controle das condições de reprodução da força de trabalho. Wing, analisando os quatro conceitos centrais da chamada "epidemiologia moderna": população, risco, dose resposta e "confounding", considera que a construção de paradigmas alternativos para a explicação epidemiológica sobre os problemas de saúde da população, "requer um longo tempo e grandes mudanças sociais e científicas". Assim, no conceito de população - usualmente apreendida como mero veículo para demonstrar associações entre propriedades (exposições e doenças) definidas em termos individuais -, é necessário reconhecer a organização e relação entre os grupos populacionais como essenciais para a explicação e intervenção sobre os problemas de saúde. Para o autor, o uso do conceito de risco na "epidemiologia moderna" é contraditório, pois é considerado uma propriedade de indivíduos que só pode ser definida em grupos, e a idéia de "confounding" é freqüentemente apresentada como "uma propriedade do mundo real" e não como um conceito que deriva da perspectiva de análise do método epidemiológico predominante. Nos termos do próprio autor: "nothing in the real word is confounded, that is, if one recognizes that world as one complex, constantly changing system. The belief in confounding depends on both the assumption that 'independent' variables are indeed separate things, rather than different aspects of the same things, and the assumption that, even if they are differents things, they can be separated from one another, i.e., taken out of context, without any obligation to put then back togheter again" (WING, 1993). O autor conclui afirmando que as intervenções de saúde pública dirigidas a comportamentos individuais, como no caso do uso de tabaco, sem uma preocupação de identificar os determinantes sociais estruturais da saúde e da doença, podem, inclusive, contribuir para aumentar as 21 iniqüidades em saúde. Um exemplo destas conseqüências parece ser o comportamento epidemiológico das doenças coronarianas, que inicialmente atingiram mais as "classes altas", deslocando-se, em seguida, para as classes menos favorecidas, em decorrência de sua maior exposição aos fatores ambientais e comportamentais de risco, entre esses, o consumo de fumo, álcool e alimentos inadequados (DRUMOND, Wall (1995), 1996). Além disso, como lembra associações causais definidas em estudos individuais sobre fatores de risco podem não se repetir e mesmo mostrarem resultados contraditórios nos estudos populacionais, o que dificulta a escolha das estratégias de prevenção. Esta limitação da metodologia epidemiológica usual poderia, segundo o autor, ser ilustrada pelo denominado "paradoxo francês" - apesar da sua dieta com alta ingestão de gorduras saturadas e consequentemente maiores níveis de colesterol sérico que em outros países europeus, a população da França apresenta menores taxas de mortalidade por doença cardiovascular. Outros autores reafirmam que a metodologia utilizada em grande parte dos estudos epidemiológicos trata raça, classe social e condições econômicas apenas como "potenciais fatores confundidores" e raramente consideram o efeito das políticas na saúde da população. Inferir relações entre fatores de risco e doenças na população a partir de estudos em grupos de indivíduos poderia levar à "falácia biomédica" (SHY, 1997), ou "atomística" (MARMOT, 1998), de ocorrência mais freqüente e acarretando piores conseqüências para a orientação da prática de saúde pública que o seu inverso, a falácia ecológica. Preconiza-se, então, a adoção de um novo paradigma, a "macro-epidemiologia", que seria responsável pelo desenvolvimento das bases de conhecimento para a ação da saúde pública. Para Castellanos, os estudos ecológicos podem ser tão potentes quanto os individuais para a formulação e teste de hipóteses, sendo as preocupações quanto às falácias de nível válidas para ambos os tipos de desenho. Segundo 22 este autor, no desenho e na análise dos estudos deve ser considerada a "coerência de nível", significando que, em cada nível de abordagem da realidade, deve haver "coerência entre a forma de propor os problemas, a definição das unidades de análise, as variáveis e indicadores e os procedimentos de análise e interpretação", concordando com Almeida que o estudo ecológico não é "um dos desenhos possíveis em Epidemiologia", mas sim um nível de abordagem, no qual podem ser utilizados praticamente todos os desenhos desta disciplina (CASTELLANOS, 1997). Goldberg (1990) critica a utilização da categoria “fatores de risco” para o estudo da relação entre a saúde e os determinantes sócio-econômicos, apontando que esses "modelos lineares" colocam todas as variáveis num mesmo plano, limitando a compreensão dos mecanismos sociais e sua evolução no tempo. Do mesmo modo, ao considerar os fatores de risco como fenômenos isolados, independentes uns dos outros do ponto de vista de suas origens, a intervenção fica conformada às ações pontuais, isto é, “atacando-se fator por fator”, o que limitaria o sucesso de muitos programas de prevenção. Para Goldberg o modelo básico da análise epidemiológica é estatístico e responde ao que se convencionou chamar de "modelo etiológico". Este modelo estuda problemas de saúde selecionados pelos autores, tomados como variáveis dependentes, escolhendo-se outros fenômenos passíveis de influenciar os problemas, como variáveis independentes ou explicativas, aplicando-se, a seguir, técnicas estatísticas para medir a forma e a intensidade de ligação entre as variáveis, para, então, se concluir sobre a associação causal. Considera necessário refletir sobre a "arbitrariedade total" desse procedimento hegemônico, analisando-se criticamente a escolha, a definição, a significação e as técnicas de interpretação das variáveis, dependentes e explicativas, uma vez que: "cada autor impõe implícita ou explicitamente sua concepção de saúde e a escolha dos fenômenos observáveis que a refletem". 23 Para Shy (1997), a maioria das pesquisas sobre doenças na população desconsideram o contexto social e enfatizam os determinantes biológicos imediatos da doença, fornecendo as bases para o sistema predominante de cuidados médicos, mas não produzem os conhecimentos imprescindíveis para orientar, adequadamente, os esforços da sociedade na promoção e proteção da saúde, por exemplo, para o equacionamento de problemas importantes de saúde pública, tais como as doenças sexualmente transmissíveis, a violência social e as iniqüidades em saúde. Nas palavras de Shy: "If epidemiology is to function as a basic science of public health, it must address the underlying population determinants of disease and of health status. It is insufficient to conclude that social and economic inequalities are important determinants of health. Epidemiology should research these sociocultural factors as potentially modifiable determinants of patterns of disease in populations". Porém, segundo o mesmo autor, o que tem sido enfatizado, nos últimos vinte anos, são os estudos "analíticos" e de epidemiologia molecular, com uma crescente sofisticação das análises estatísticas multivariadas de fatores de risco individuais, observando-se, neste período, um concomitante recuo na evolução da epidemiologia direcionada para uma "macro perspectiva". Rothman et al. consideram que a progressiva concentração dos estudos epidemiológicos no detalhamento dos mecanismos causais das doenças, "duramente criticada por diversos autores", representa um amadurecimento do campo, permitindo, por exemplo, que fatores como "consumo de dieta gordurosa" possam ser melhor explicados, classificandose as dietas gordurosas segundo a estrutura química e permitindo a avaliação do efeito protetor dos antioxidantes para problemas endoteliais induzidos pela gordura (ROTHMAN, 1998). Para os autores, quanto mais conhecimentos forem disponíveis sobre as causas das doenças, em todos os níveis - dos determinantes sócio-econômicos e políticos mais amplos, até os 24 determinantes moleculares e bioquímicos mais próximos da ocorrência doença - mais fundamentadas serão as ações de saúde pública; a necessidade de controlar a produção do tabaco, por exemplo, não diminui a importância dos diversos estudos epidemiológicos que detalharam os efeitos do seu consumo, além disso, em suas próprias palavras: "the importance of societal causes of disease does not mean that biological pathways to disease should be ignored, or that epidemiologists who choose to study causal mechanisms have been neglecting their mission. Furthemore, as with any public-health professionals who share humanist values, epidemiologists do not need to establish the health effects of poverty to know that society should aim to eliminate it". Marmot (1998), desenvolvendo as idéias de Rose sobre iniqüidade em saúde, observa que se, durante o século XIX, os avanços na saúde da população decorreram da nutrição e do ambiente onde as pessoas viviam e trabalhavam, no século XX o foco mudou do ambiente para o comportamento dos indivíduos (como, exemplos maiores, diminuir o tabagismo e o colesterol); no futuro, avanços na saúde humana serão proporcionados pela revolução na biologia molecular e nos "approaches" genéticos para combater as doenças. O papel da epidemiologia será então baseado nas evidências clínicas, subsidiando a avaliação do risco individual, o diagnóstico e o tratamento. O interesse por indivíduos e partes dos indivíduos tem sido a tendência dominante na epidemiologia, enquanto a análise ecológica e a correlação entre as características de grupos, têm sido vistas como um caminho de "segunda categoria" ("second-rate") para abordar riscos individuais (PARASCANDOLA, 1998). O autor aponta as limitações desses "approaches" dominantes, afirmando que "embora os problemas de saneamento e de desnutrição tenham sido resolvidos nos países desenvolvidos, as circunstâncias nas quais as pessoas vivem e trabalham são ainda os determinantes cruciais das taxas de doenças e, 25 portanto, proveem o lugar para as intervenções efetivas no sentido de desenvolver a saúde pública". No início da década de 1970, autores latino-americanos, entre os quais se destacam Breilh (1989), no Equador, e Laurell (1983), no México, propuseram reformulações na concepção do processo de saúde-doença e nas práticas sanitárias dominantes. Para Breilh e colaboradores, as doenças são determinadas pelas formas de organização social da produção, ao gerarem diferenciais de qualidade de vida e exposição a “processos deteriorantes”, segundo as classes sociais às quais pertencem os indivíduos. A partir deste entendimento do “processo saúde-doença como fato social, cada grupo de classe-gênero-etnia tem um perfil de saúde característico, que, para ser estudado, medido e analisado, requer uma operacionalização de aspectos substantivos de cada uma dessas dimensões determinantes” (BREILH, 1996). Os autores enfatizam a necessidade de se encontrar alternativas ao que consideram um “modo funcionalista e anacrônico” de pensar a intervenção sobre os problemas de saúde no plano coletivo, reafirmando “o valor indiscutível do materialismo histórico, da dialética e do socialismo científico, como guias de pensamento e ação aplicados à saúde” (BREILH, 1990), e afirmam que, "no caso particular do conhecimento epidemiológico, tem-se conseguido superar os princípios idealistas do positivismo e, ao mesmo tempo, tem-se recuperado as possibilidades explicativas e as ferramentas operacionais da estatística e da lógica matemática, da demografia, da sociologia e da lógica formal, além de outras disciplinas que a epidemiologia convencional tem utilizado”. Segundo Possas, no entanto, este corpo conceitual não dá conta das mediações teóricas necessárias à construção de uma teoria epidemiológica alternativa, sendo “necessário explicitar os obstáculos que se colocam à construção de um instrumental adequado à apreensão consistente da determinação social em epidemiologia e à sua operacionalização” (POSSAS, 26 1989). Esta autora propõe a adoção de um novo referencial baseado “nas formas concretas de inserção sócio-econômica (condições de trabalho e condições de vida) da população” que definem os distintos padrões de determinação do processo saúde-doença. Outros autores consideram necessário o desenvolvimento de estudos que busquem superar os problemas da utilização do conceito de classe social em investigações epidemiológicas, apontando a necessidade de adequação do esquema de operacionalização às características de cada formação sócioeconômica concreta. Para esses, na medida em que a classe social é um determinante distal do processo saúde doença, cuja ação é mediada por muitas outras “variáveis que possuem certo grau de autonomia”, as relações estatísticas entre as duas variáveis podem ser enfraquecidas (SOLLA, 1996). Além disso, tais dificuldades não são específicas das tentativas de operacionalizar o conceito de classe social nas investigações epidemiológicas, sendo problemas que enfrentam todos os estudos que têm por objetivo compreender as determinações sociais relativas ao processo saúde-doença e ao acesso aos serviços de saúde. Parece, segundo Castiel, ser necessária uma mediação entre os níveis social e individual, faltando um nível de organização intermediário bem estabelecido, isto é, com sua identidade teórica definida, para responder "de que modo variáveis consideradas como pertencentes à dimensão macrossocial (por exemplo classe social) teriam nexos causais diretos (ou determinações) com a ocorrência de agravos específicos à saúde detectados em nível microssocial" (CASTIEL, 1994). Castellanos (1997), analisando as contribuições da "Teoria sobre sistemas complexos, hierárquicos e adaptativos" para estudos de situação de saúde, observa que qualquer objeto de estudo pode ser analisado não apenas em si mesmo, mas como integrante de totalidade maior, no seio da qual interage com outras unidades do mesmo nível, sendo que cada estratégia de abordagem relaciona-se com disciplinas 27 diferentes, por exemplo, a clínica, a epidemiologia e a sociologia da saúde. Embora essas abordagens sejam consideradas complementares, é necessário, "para que realmente o sejam", que compartilhem a mesma conceituação das unidades de informação e de análise, assim como das variáveis. Baseando-se nos estudos de Lazarfeld e de Galtung sobre a complexidade estrutural do dado científico, Samaja (1993) desenvolve a noção das "matrizes de dados", afirmando que "todos os dados de todas as investigações científicas de todas as disciplinas" possuem uma estrutura invariável, a qual denomina "matriz de dados", composta de 1)unidade de análise, 2)variáveis, 3)valores de tais variáveis e 4)indicadores*. Toda investigação científica, segundo esta teoria, produz pelo menos três matrizes de dados: 1) uma matriz central, denominada nível de ancoragem, 2) uma matriz de nível subunitário, constituída pelos componentes das unidades de análise do nível de ancoragem e 3) uma matriz supraunitária, constituída pelos contextos das unidades de análise do nível de ancoragem. Cada tipo de variável pode ser definida operacionalmente de acordo com três tipos de indicadores: 1)analíticos, 2)estruturais e 3) globais, sendo o processo de elaboração dos indicadores considerado parte essencial das mediações entre matrizes de diferentes níveis. Para Castellanos (1997), as variáveis estruturais do nível de ancoragem escolhido pelo pesquisador são, de fato, variáveis analíticas, quando situadas em nível superior, e contextuais quando são apreciadas no nível inferior, podendo, portanto, uma mesma variável ser construída como contextual, estrutural ou analítica. Além disso, segundo o autor, "esta ferramenta permite realizar movimentos ascendentes e descendentes quanto a outros níveis de organização, sem perder o nível de ancoragem da investigação, de tal forma que os conhecimentos obtidos, nos outros níveis, possam ser * Samaja define "indicador", como algum tipo de procedimento que se aplique a alguma dimensão da variável, para estabelecer que valor dela corresponde a uma unidade de análise determinada e 28 recuperados em nosso nível de interesse". Assim, considera que a teoria desenvolvida por Samaja pode melhorar a compreensão de diversas questões metodológicas dos estudos epidemiológicos, e constituir-se em "um caminho promissor que orienta a natureza das contribuições que se espera da Epistemologia aplicada ao nosso campo específico de pesquisa". Pearce (1997) discute as razões para a predominância, nos estudos epidemiológicos sobre o câncer, de abordagens a partir dos fatores de risco individuais, sugerindo a necessidade de se estudar a doença nos diferentes "níveis de causalidade, que abrangem desde formas de organização social, o indivíduo, um sistema de órgãos em particular, até uma molécula específica" (PEARCE, 1997). O autor considera ser vantajoso compreender a causalidade da doença em todos esses níveis, já que, por um lado, embora os fatores de risco para o câncer, como o tabaco, pareçam operar no nível individual, a exposição a eles depende de um leque de fatores políticos e sócioeconômicos; por outro lado, o tabaco exerce efeitos no nível celular e molecular, aí incluída a produção de mutações no DNA. Recentemente, propostas de ampliação do escopo da epidemiologia para "além da perspectiva biomédica" têm sugerido a procura da causa das doenças, não apenas em grupos de indivíduos, mas também na comunidade e no sistema sócio-político, preconizando-se a utilização de métodos qualitativos e participativos (SHY, 1997). Alguns desses estudos consideram a epidemiologia como um ramo da ecologia humana, devendo incorporar os princípios e métodos da demografia, economia, sociologia e mesmo da ciência política, com o objetivo de ampliar a sua compreensão sobre a origem da doença na população humana. Como afirma Rose, "se os determinantes primários da doença são principalmente econômicos e sociais, os seus remédios devem ser, também, econômicos e sociais" (ROSE, 1992). Além disso, como adverte Chor, falta compreender o caráter não racional "dimensão de uma variável", como um aspecto parcial da variável (ou predicado) que é relativamente 29 das escolhas de comportamento, especialmente quando se trata do prazer, seja ele ligado à vida sexual ou ao hábito de fumar, beber ou comer, sendo preciso considerar "não somente os determinantes que fazem parte do mundo objetivo, mas também aqueles subjetivos, do mundo dos símbolos (CHOR, 1998). Castellanos (1997) aponta os "avanços significativos na articulação de procedimentos quantitativos e qualitativos na exploração da realidade" e o grande desenvolvimento de técnicas etnográficas e heurísticas de investigação, que enfatizam a dimensão subjetiva dos fenômenos de saúde coletiva. Para o autor, não se trata, apenas, da incorporação de uma bagagem adicional de técnicas "qualitativas", mas de uma dimensão do objeto de estudo e, portanto, de uma reconceitualização necessária dos fenômenos sob estudo e de seus processos de determinação. A questão da incorporação das técnicas e dos métodos qualitativos no estudo do processo saúde-doença, tem surgido com maior freqüência na literatura. Pedersen(1990), critica os autores que consideram existir um antagonismo entre essas duas abordagens metodológicas, afirmando a vantagem do uso da estratégia de "triangulação", aplicação interativa dos dois métodos, o que aumentaria "a confiabilidade dos resultados" e conduziria a um entendimento mais completo do fenômeno estudado*. O autor reconhece, contudo, que há desvantagens e limitações para o uso desta estratégia, principalmente quanto às diferenças na sensibilidade dos dois tipos de métodos para estudar os fenômenos e às dificuldades de replicação desses estudos, que requerem muita experiência dos investigadores para processar e analisar conjuntamente dados qualitativos e quantitativos. independente dos outros aspectos, que com ele, constituem o sentido total da variável. * Termo originado dos métodos utilizados na navegação significando, aqui, a coleta de dados sobre um mesmo fenômeno a partir de distintas perspectivas. A triangulação tem sido usada nas ciências sociais como técnica de validação, ou seja, para assegurar que tal ou qual variação se deve à tendência do fenômeno e não ao método utilizado, prestando-se também para capturar uma imagem mais completa do mesmo, enriquecendo e aprofundando a análise e gerando melhores hipóteses que as aportadas por um só método. (Pedersen, 1992) 30 Campaña (1997) critica o uso da "triangulação metodológica", quando mescla "cosmovisões distintas e até diametralmente opostas", reconhecendo o caráter promissor da "triangulação de técnicas como exercício de articulação de recursos instrumentais que podem facilitar o conhecimento de aspectos específicos, mas integrados, da realidade". O autor alerta, ainda, para a necessidade de julgar os alcances e os limites das técnicas qualitativas na prática científico-epidemiológica, uma vez que se, por um lado, essas técnicas permitem melhorar substancialmente o conhecimento das relações do micromundo pessoal, familiar e grupal, por outro, não se deve, "quando se faz a crítica ao empirismo quantitativista, ao excesso de quantificação e ao uso acrítico de técnicas extensivas, cair em outra forma de empirismo que consiste em fetichizar as palavras". Campaña considera que "o método dialético permite relacionar, de forma proveitosa, o quantitativo e o qualitativo, o teórico e o empírico, o racional e o sensorial", não se justificando, desta perspectiva metodológica, a separação entre os mundos macro e micro, entre o sociológico e o antropológico, entre o extensivo e o intensivo etc., "senão como recurso prático para aprofundar os aspectos específicos do conhecimento". Adorno, citando Minayo e Sanches, admite as vantagens instrumentais do uso de múltiplas técnicas na construção do desenho das pesquisas, mas critica a redução que se costuma fazer dos conceitos e das metodologias desenvolvidos pelas ciências sociais, quando são incorporados como "técnicas" pela saúde pública, alertando que "além dessas questões de 'fundo metodológico', a própria condição do método encontra-se hoje em discussão, em função do que vem sendo chamado de 'crise de paradigmas', ou de uma crise de interpretação em torno de modelos cristalizados", não havendo, portanto, respostas definitivas para essas questões (ADORNO, 1994). Na história recente da clínica, identifica-se um movimento de questionamento, mais do que da sua eficácia, da própria cientificidade desta 31 disciplina, propondo-se que a metodologia epidemiológica passe a iluminar a produção de conhecimentos nessa área, embora para muitos autores, tratarse-ia, de fato, "da aplicação da metodologia de pesquisa científica, em especial das técnicas estatísticas, na pesquisa em clínica" (GOLDBAUM, 1997). Para Almeida "...grupos de epidemiologia clínica têm se organizado em competição com os núcleos de pesquisa epidemiológica...em todas as frentes, desde a formação de recursos humanos... até a própria produção do conhecimento". Em termos conceituais, segundo este autor, a competição expressa-se na luta pelo "arbítrio da cientificidade", pleiteando, aqueles que se filiam ao movimento da epidemiologia clínica, que o "paradigma experimental" deva ser o "padrão exclusivo de rigor científico para a pesquisa em saúde" (ALMEIDA FILHO, 1993). Segundo Breilh "...no se puede confundir el objeto de estudio de la epidemiología que es siempre social, y que tiene, eso sí, diferentes dimensiones de análisis, con una técnica de apoyo; pues por ese camino llegaríamos al absurdo de hablar de una epidemiología estadística, una epidemiología antropológica, una epidemiología económica etc., según empleásemos con mayor énfasis técnicas de apoyo provenientes de esas ramas de la ciencia. Un abordaje de ese tipo, crearía mucha confusión, dado que un objeto social complejo como el de la Epidemiología generalmente requiere del uso de varias y múltiples técnicas que se triangulan" (BREILH, 1998). O grande desenvolvimento observado na área da "epidemiologia clínica", nos últimos anos, produziu, segundo Castellanos (1989), uma situação paradoxal: um expressivo aumento dos conhecimentos produzidos nos inúmeros estudos etiológicos sobre a relação entre um problema singular de saúde e um determinado fator de risco, com uma pequena utilização dos mesmos para a reorganização dos serviços de saúde, uma vez que, "con contadas excepciones, explican cada vez aspectos más reducidos del conjunto de la situación de salud y por lo tanto una menor fracción de 32 impacto potencial (o proporción de riesgo atribuible) en la población". Barata considera que um dos maiores desafios para a epidemiologia, no próximo século, será mantê-la articulada com a saúde coletiva, resistindo às tendências de transformá-la em uma disciplina da área médica, subordinando-a à clínica e esvaziando-a de seu potencial crítico e práxico (BARATA, 1998). Para Goldbaum (1997), não existe uma oposição entre a Clínica e a Epidemiologia, sendo possível visualizar claramente as especificidades dos seus diferentes campos técnicos, "o que evidentemente implica reconhecer suas intercessões e objetivos comuns: reiterando, a saúde de populações". Para o autor, todavia, "vive-se novamente um período de efervescência no mundo científico e tecnológico...e a Epidemiologia se vê presa de um rico debate que, menos do que encerrar questões técnicas propriamente ditas, as toma mais da perspectiva política. Assim, reacendese a dicotomia entre o social e o biológico, entre individual e coletivo...que, por vezes, a impedem de buscar seu desiderato maior e a busca da eqüidade em Saúde". Para Sabroza: “as propostas de explicação em epidemiologia sempre caminharam juntas com projetos de controle social, embaladas em forte conteúdo ideológico, embora muitas vezes não explicitado” (SABROZA, 1990). Os vários complementos que o termo "Epidemiologia" tem recebido, tais como: clássica, convencional, moderna, clínica, molecular, ecológica, social, crítica, refletem a tensão existente entre as diversas correntes que compõem o campo epidemiológico de investigação e prática. Os argumentos de cada corrente, embora sejam “parcialmente excludentes, não se anulam”, razão pela qual tem-se buscado promover o debate entre as mesmas, no sentido de encontrar novos caminhos para a pesquisa e a prática em epidemiologia. No entanto, como expõe Gonçalves (1990): “é óbvio ...que não se alcançará essa situação por meros atos de vontade: os compromissos político-ideológicos, as articulações objetivas, não da epidemiologia, mas 33 das práticas epidemiologicamente instrumentalizadas, cobram aqui os seus direitos”. Samaja (apud OPAS, 1991) considera que "as teorias científicas no surgem como las islas coralinas por acumulación milenária de sedimentación de conocimientos, ni surgen como las ciudades fundadas por las hordas conquistadoras que previamente han arrasado com todos los ocupantes anteriores". Cada novo desenvolvimento conceitual sobre saúdedoença incorpora e redefine os conceitos anteriores. 34 1.2. Aplicações da epidemiologia Desde a publicação de Morris (1957) sobre os usos da epidemiologia, no final da década de 50, observa-se na literatura um crescimento das prescrições de uso dos conceitos e métodos desta disciplina científica no planejamento e gestão de serviços de saúde. Em seminários promovidos pela OPAS em 1983, em Buenos Aires e pela ALAESP em 1987, no México, foram debatidos os limites e as possibilidades dessas proposições (SILVA, 1989). Para Beaglehole e Bonita (1993), a saúde pública pode ser definida como “um dos esforços coletivos organizados pela sociedade para prevenir a morte prematura, doenças, agravos e incapacidades e para promover a saúde da população”. Esta definição inclui, além das ações de promoção da saúde e de vigilância epidemiológica - áreas tradicionalmente pertencentes ao campo da saúde pública -, a preocupação com o cuidado médico e a reabilitação. Para esses autores, a epidemiologia é uma ferramenta central na prática da saúde pública, orientando a escolha de estratégias para intervir, direta ou indiretamente, sobre todos os determinantes sociais, econômicos e culturais da doença (THE LANCET, 1997). Como expõe Najera, sendo a epidemiologia “a ciência que estuda todos os possíveis fatores que de alguma forma contribuem para modificar a saúde da comunidade, no sentido positivo ou negativo, com o objetivo prático de potencializar os primeiros e reduzir os últimos, é obvio tratar-se de uma das ciências fundamentais na área de saúde” (NAJERA, 1984). O quadro abaixo, que apresenta as áreas de produção do conhecimento na investigação epidemiológica, segundo a formulação de Acuña e Romero (1984), ilustra, sinteticamente, o amplo espectro de aplicações da metodologia epidemiológica, as quais, embora se encontrem consolidadas na literatura 35 científica, carecem de análise quanto às possibilidades e limites da sua utilização ampla na prática dos serviços de saúde. Quantificação e caracterização de problemas de saúde e dos fatores de risco presentes na população. Identificação de fatores de risco e fatores prognósticos para problemas de saúde determinados. Ampliação da informação sobre a história natural de um problema de saúde. Determinação da validade e precisão de procedimentos de diagnóstico e intervenção. Avaliação da eficácia de medidas profiláticas ou terapêuticas. Avaliação do impacto potencial da eliminação de um fator de risco. Avaliação do impacto de programas, serviços ou ações de saúde. Construção de modelos epidemiológicos para análises estatísticas e simulação Investigação descritiva Investigação etiológica. Estudo da freqüência populacional de carac. clínicas, de prognósticos e de sobrevivência. Investigação metodológica. Ensaios controlados. Investigação de avaliação prognóstica. Investigação de avaliação diagnóstica. Investigação teórica e metodológica. Terris relaciona o "complexo de forças" - sociais, políticas, econômicas e ideológicas - que interagem na aplicação da epidemiologia na prática de saúde pública: a força da evidência, a magnitude da mudança requerida, a natureza dos beneficiários e dos oponentes potenciais, a mobilização e a correlação de forças entre opositores e beneficiários e a luta política entre eles (TERRIS, 1993). Campos, analisando "a gestão dos serviços de saúde segundo os interesses coletivos", entende que a organização da produção de ações de saúde tomando como parâmetro determinante o conjunto das necessidades sanitárias de uma coletividade reserva para a Epidemiologia o papel de "estabelecer um 'diálogo' do saber técnico com os interesses sociais e com a consciência sanitária dos cidadãos", constituindose, assim, no princípio orientador para a tomada de decisões do setor saúde (CAMPOS, 1989). Para Castellanos: "resulta obvio que las decisiones en términos de políticas, planes y gestión de los servicios de salud no se rigen exclusivamente, y tal vez ni siquiera predominantemente, por la lógica de la 36 investigación epidemiológica; pero nos parece igualmente obvio que todo administrador de salud se interesara por un mejor conocimiento de la eficiencia e eficácia de sus acciones, independientemente de la voluntad o del poder que tenga para utilizar este conocimiento en uno u otro sentido". Seria, também, interesse da sociedade a produção de conhecimentos científicos sobre as questões relacionadas à saúde, podendo a epidemiologia contribuir para a construção de um espaço privilegiado de consenso para o planejamento neste setor. Castellanos identifica três tipos de limitações para a utilização da epidemiologia no planejamento, organização e gestão de serviços de saúde: no próprio campo da epidemiologia, inclusive no que se refere ao domínio da teoria e dos métodos; no campo do planejamento e gestão dos serviços; e no "marco social", ou seja, nas condições de cada formação social concreta para consolidar um espaço de reflexão científica sobre saúde como fundamento das decisões administrativas (CASTELLANOS, 1989). Silva (1984), embora reconhecendo a relevante função instrumental e técnica da epidemiologia para a organização dos serviços de saúde, já alertava, em 1984, para a importância exagerada atribuída a esta disciplina científica no planejamento, programação e avaliação dos serviços de saúde pública em detrimento, inclusive, de outros enfoques ou técnicas de intervenção e controle baseados em outras ciências. Gonçalves (1994), examinando as características operacionais da epidemiologia, analisa criticamente a função atribuída à essa disciplina de resolver as questões através de "receituários de ações racionais e burocratizadas, superestimando as possibilidades abertas por um enfoque aparentemente tão lógico e fechado". Este autor não despreza os efeitos das práticas instrumentalizadas pela epidemiologia na modificação dos padrões de morbidade e mortalidade, dentro dos limites de possibilidade histórica dessa legitimação, e, sobretudo, "os efeitos muito notáveis na legitimação da concepção do social natural". 37 As práticas instrumentalizadas pela epidemiologia são as práticas de saúde pública, em que atuam, além desta disciplina, outras ciências de caráter normativo e técnico. Apesar de ser reconhecida a participação das outras disciplinas, vem crescendo na literatura a proposição de um papel privilegiado para a epidemiologia, sendo defendida a idéia de que "a sua explicação para os padrões de ocorrência e distribuição das doenças específicas e os seus critérios de racionalidade - condições de eficácia, efetividade e eficiência - presidiriam a organização das práticas de saúde pública, no plano técnico" 1994). (GONÇALVES, Carvalheiro admite os avanços trazidos pelas propostas de utilização da epidemiologia, do planejamento e, mais recentemente, da investigação nos serviços de saúde, mas critica a função de "panacéia" atribuída a essas áreas para solucionar as crises da saúde pública, apontando o caráter falacioso da idéia de que "intervenções singulares na instância técnica resolverão sozinhas a crise profunda que se abateu sobre a saúde pública em nível mundial" (CARVALHEIRO, 1995). Para Breilh (1997), existem quatro "projeções sociais" prioritárias para a prática da epidemiologia: ser testemunha dos processos destrutivos da vida impostos à população; consolidar-se como ferramenta de monitorização crítica da qualidade de vida e dos determinantes de saúde; apoiar a construção de mecanismos de poder democrático e popular na gestão tripartida da saúde, respaldando inclusive a formação de uma nova subjetividade popular; e constituir-se em arma para o planejamento estratégico de projetos inovadores do desenvolvimento humano. O autor considera que será muito difícil alcançar esses objetivos se não ocorrerem, simultaneamente, transformações na "configuração interna da epidemiologia", ou seja, nos seus fundamentos conceituais, modo de interpretação e formas instrumentais. Neste mesmo sentido, Castellanos alerta para a mudança observada nos paradigmas da saúde pública, de uma visão populacional para uma visão 38 de indivíduos enfermos (CASTELLANOS, 1995). Para o autor, as populações não podem ser entendidas apenas como "qualquer conjunto de indivíduos agrupados segundo os critérios utilitários do investigador", sendo a interação entre os seus membros um atributo essencial de toda população. Assim, torna-se importante distinguir entre a abordagem individual e a populacional e, ao mesmo tempo, estabelecer as relações entre ambas, priorizando-se a realização de "estudos epidemiológicos ecológicos", não apenas na sua modalidade mais usual, que se caracteriza por inferir os riscos individuais a partir de valores médios de um grupo populacional, mas principalmente os estudos ecológicos em que a população além de ser a unidade de análise e de definição de variáveis, constitui o universo para o qual se inferem os resultados. 39 1.3. Propostas de uso da epidemiologia nos serviços de saúde Na perspectiva dos serviços de saúde, a aplicação da metodologia epidemiológica poderia, segundo Goldbaum (1996), ser sistematizada em quatro grandes grupos: estudos de situação de saúde vigilância epidemiológica estudos etiológicos (“causais”) avaliação de serviços, programas e tecnologias. A publicação organizada por Knox (1981), no final dos anos setenta, contando com a colaboração de vinte e sete pesquisadores de quinze países, reflete a crescente preocupação com a utilização da epidemiologia no planejamento da atenção à saúde, e enfatiza a necessidade de se ampliar o uso dos fundamentos desta disciplina para além de seus limites tradicionais: o estudo dos determinantes da saúde, da doença e do desempenho social, e o interesse pela prevenção das doenças e atenção médica enfocadas nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e não no conjunto dos serviços de saúde. Para os autores, esta situação seria decorrente da estreita gama de métodos e técnicas até então utilizados pela maioria dos epidemiologistas e pelo seu distanciamento dos processos de tomada de decisões, agravados pela "conceptualización restringida del debido lugar de una disciplina científica (a epidemiologia) con respecto a la administración". Consideram, ainda, que as razões para explicar a crescente participação da epidemiologia na prática administrativa são complexas, mas esta poderia, em parte, ser decorrente dos avanços técnicos no manejo da informação e da demanda por sistemas de informação em grande escala. Segundo Knox, a expansão do uso do conceito de sistemas* na epidemiologia e na administração "erosionó * Habitualmente, "sistema" é definido como uma série de elementos interrelacionados, cada um deles contribuindo para que se efetue uma atividade conjunta. Nos sistemas de planejamento social os 40 su segregación tradicional y borró las distinciones entre las funciones profesionales", não se podendo mais, a partir destas mudanças, definir a epidemiologia por seus objetos de estudo, por exemplo "doenças infecciosas", e sim por seus métodos e modelos de análise dos problemas de saúde das populações. Nestas formulações, considera-se essencial o uso dos fatos, dados e evidências no planejamento "efetivo e responsável", na ação e na avaliação das intervenções de saúde, caracterizando o que tem sido denominado um "processo de tomada decisões baseando-se em informações" (HEALTH, 1995). De forma esquemática essa proposta é, em geral, representada por um "ciclo planejamento/ação", que se inicia com o estabelecimento das diretrizes e a elaboração do plano - etapa que pressupõe avaliar situações e necessidades de saúde, estabelecer prioridades, metas, objetivos e alvos e desenvolver estratégias e planos. Segue-se a etapa de desenvolvimento e implementação da ação, o que implica em formular políticas e programas bem como implementar e gerenciar programas e serviços. A terceira etapa é constituída pelo monitoramento e a avaliação dos progressos, o que requer manter-se informado sobre atividades e resultados e avaliá-los, além de monitorar mudanças da situação de saúde. Na última fase do ciclo estariam incluídas as decisões de manter ou modificar as diretrizes estabelecidas, baseando-se nos progressos e resultados observados e nas necessidades e circunstâncias novas e existentes. Neste processo, caberia à epidemiologia: o ordenamento dos dados disponíveis, a busca e o rastreamento de dados e informações existentes, mas habitualmente não disponíveis, e a produção de informações não disponíveis, através de estudos especiais, amostragens, investigação epidemiológica e outras análises. elementos e as relações compõem-se dos recursos, tecnologia, atividades e atores internos a eles, descrevendo-se também suas relações com outros sistemas situados além de seus limites. 41 Vigilância epidemiológica Tradicionalmente, a aplicação da epidemiologia nos serviços de saúde tem se concentrado nos programas de controle das doenças de notificação compulsória (ESCRIVÃO,1985), através da prática da vigilância epidemiológica, um instrumento destinado ao contínuo acompanhamento e análise da ocorrência de doenças e problemas de saúde particularmente importantes, visando subsidiar o gerenciamento de programas de intervenção (ESCRIVÃO, 1994). Waldman, partindo de uma meticulosa revisão conceitual sobre a vigilância epidemiológica, a monitorização e outros instrumentos da saúde pública utilizados para o acompanhamento e controle dos problemas de saúde das populações, analisa os principais aspectos operacionais da prática da vigilância epidemiológica, apontando as características comuns da vigilância epidemiológica e da monitorização: atividades contínuas de coleta e análise de dados e de divulgação de informações analisadas, aos que delas necessitam tomar conhecimento. O autor ressalta a especificidade da vigilância epidemiológica, enquanto instrumento destinado a estabelecer as bases técnicas para o controle de eventos adversos à saúde (WALDMAN, 1991), e afirma que: "não podemos entender como objetivo da vigilância, meramente a coleta e análise das informações mas a responsabilidade de elaborar, com fundamento em conhecimentos científicos rigorosamente atualizados, as bases técnicas que oferecerão subsídios aos serviços de saúde na elaboração e implementação dos programas de saúde com a preocupação de contínuo aprimoramento assim como a agilização da identificação de problemas de maneira a propiciar a oportuna intervenção para seu controle" (WALDMAN, 1998). Para este autor, a monitorização, diferentemente da vigilância, não é uma aplicação exclusiva da epidemiologia, podendo ser utilizada em muitas áreas de atividade como, por exemplo, a monitorização de indicadores econômicos, demográficos, de qualidade ambiental etc. 42 Waldman admite vantagens no uso da designação "vigilância em saúde pública" ou simplesmente "vigilância", em substituição a "vigilância epidemiológica", como se verifica na literatura internacional, considerando, no entanto, que o que se tem denominado "vigilância em (à) saúde" é um conceito em fase de construção, significando "o acompanhamento contínuo de indicadores de saúde, econômicos e sociais com o objetivo de propor políticas, estabelecer prioridades e promover a saúde e bem-estar da comunidade", sendo uma "atividade desenvolvida por meio da ampla utilização da monitorização como instrumento de saúde pública" (1998). Mendes, por sua vez, define "vigilância à saúde" como "uma prática informada pelo modelo epidemiológico, que articula sob a forma de operações, um conjunto de processos de trabalho relativos às situações de saúde a preservar, riscos, danos e seqüelas incidentes sobre indivíduos, famílias, ambientes coletivos, grupos sociais e meio ambiente; normalmente dispersos em atividades setorizadas em programas de saúde, na vigilância sanitária*, na vigilância epidemiológica, ... no controle de vetores, na educação em saúde, nas ações sobre o meio ambiente, com ações extra setoriais, para enfrentar problemas contínuos, num território determinado, especialmente ao nível da micro - área" (MENDES, 1993). Paim, entre outros autores, sugere que a concepção da vigilância epidemiológica, em nossa realidade, deveria partir da análise da situação de saúde da população e de seus determinantes, particularmente as condições de vida, para ampliar o elenco dos problemas de saúde sob observação, propondo a adoção de metodologias mais abrangentes de intervenção sobre eles (PAIM, 1992). A OPAS, através do Programa de Análise de Situação de Saúde, vem estimulando os países da região a capacitarem-se para avaliar e "vigiar" a * "Vigilância sanitária" é uma designação clássica para a conduta de se observar os comunicantes de casos de doenças infecciosas, durante o período máximo de incubação, sendo este termo utilizado, no Brasil, a partir de 1976, também para designar o conjunto de ações capazes de diminuir, eliminar ou prevenir riscos e intervir sobre os problemas sanitários decorrentes da produção e circulação de 43 situação de saúde e as condições de vida dos diferentes grupos populacionais, visando o desenvolvimento de "opções práticas, econômicas e tecnicamente viáveis, para o fortalecimento da capacidade de análise da situação de saúde, com ênfase no estudo das desigualdades e iniqüidades" (OPAS, 1991). Avaliação de serviços, programas e tecnologias No que se refere à avaliação dos cuidados à saúde, embora esteja disponível um grande arsenal de ferramentas para diagnosticar, prevenir e tratar doenças, não foram ainda desenvolvidas, a contento, estruturas capazes de assegurar uma avaliação oportuna de todos estes instrumentos (BANTA, 1993). Uma ilustração expressiva das conseqüências dessa falta de controle seria "a irracionalidade" na oferta e na demanda de medicamentos em nosso meio, cujo consumo tem aumentado sem uma avaliação das vantagens e dos malefícios que proporcionam aos pacientes (BARROS, 1996). O uso da metodologia epidemiológica, na medida em que possibilita a avaliação da eficácia e dos riscos dos meios de prevenção, controle e recuperação da saúde, poderia, também, contribuir para o equacionamento do problema gerado pelo crescimento do gasto com os cuidados de saúde e com a busca de um uso racional dos recursos públicos, que se constituem na principal fonte de financiamento das ações do setor saúde na maioria dos países (ROBISON, 1993). Desde o final dos anos setenta, tem havido um crescente interesse pelos métodos de síntese do conhecimento epidemiológico (NOVAES, 1996) H.M.D. acumulado nos incontáveis estudos observacionais e experimentais (AUSTIN, 1994). Mais recentemente, tem-se observado a ampla disseminação de propostas como a denominada "medicina baseada em evidências", movimento originado nos anos setenta, principalmente no Canadá e na mercadorias, da prestação de serviços e da intervenção sobre o meio ambiente, objetivando a saúde do 44 Inglaterra, que preconiza uma nova racionalidade para a prática médica, no sentido de torná-la mais eficiente, substituindo a chamada “experiência clínica” na tomada de decisões (BALAS, 1992). A preocupação central desses movimentos parece ser a relação custo/efetividade das condutas médicas, articulando-se com os objetivos do polêmico "managed care" - atendimento gerenciado à saúde, cada vez mais presente nos serviços de saúde dos Estados Unidos. Os "protocolos clínicos baseados em evidências médicas" permitiriam, através de revisões sistemáticas da literatura, separar as condutas médicas "que funcionam" daquelas que "não funcionam" e, ao mesmo tempo, identificar lacunas no conhecimento sobre os métodos diagnósticos e terapêuticos, indicando, assim, novas áreas de pesquisas. A revisão bibliográfica tradicional está sendo substituída por conferências de consenso, encontros para avaliar o "estado da arte", método Delphos e metanálise (Wall 1995). Esta última tem sido muito utilizada para sumarizar objetivamente a totalidade das evidências relativas a um particular assunto médico, através da escolha de um certo número de estudos epidemiológicos que examinaram a mesma questão, freqüentemente ensaios controlados, fazendo a combinação estatística de seus resultados, com o intuito de reduzir os erros amostrais aleatórios*. Além de avaliar a eficácia das tecnologias de diagnóstico e terapêutica, a epidemiologia poderia contribuir para a análise da qualidade dos serviços de saúde, através de comparações dos indicadores epidemiológicos de diferentes unidades, ou em séries históricas para uma mesma unidade (DONABEDIAN, 1985). As grandes variações observadas nas taxas de mortalidade, infecção hospitalar e proporções de partos operatórios, entre outras, podem ser estudadas utilizando-se como variáveis explicativas consumidor, do trabalhador e da população em geral (Escrivão, 1994). * Preconiza-se, na elaboração dos estudos de metanálise (overviews), o uso de critérios objetivos e explícitos de inclusão dos trabalhos científicos, incluindo-se, também, aqueles não publicados, no sentido de controlar os denominados “bias de publicação” - a literatura tende a aceitar mais as pesquisas que mostraram resultados “positivos” (estatisticamente significantes). 45 o treinamento, grau de especialização e idade da força de trabalho; as condições de trabalho e formas de financiamento das instituições; e as características do hospital e dos usuários (RATTNER, 1996). Em um recente estudo realizado no município de São Paulo, por exemplo, as taxas de cesárea variaram entre 13,5% e 87%, sendo maiores nos serviços privados, e estão relacionadas com diversos fatores organizacionais das unidades mas, fundamentalmente, "com o tipo e valor da remuneração dos profissionais envolvidos com o parto" (NOVAES, H.M.D. 1998). A adoção da filosofia da qualidade nos serviços de saúde deveria redundar em modelos assistenciais mais eficientes, permitindo que os rendimentos econômicos operacionais pudessem ser utilizados para ampliar o grau de eqüidade da cobertura (NOGUEIRA, 1993). Reveste-se de grande complexidade a discussão das relações existentes entre as áreas de produção de conhecimento que operam nos serviços de saúde, não sendo precisos, inclusive, os seus limites de atuação. A avaliação de serviços e programas implica 1) na avaliação tecnológica eficácia, segurança e efetividade; 2) na avaliação econômica (eficiência) custo efetividade, custo utilidade e custo benefício; e 3) na avaliação da qualidade. Para Donabedian (1985), esta última poderia ser enfocada a partir dos conceitos de otimização, aceitabilidade, legitimidade e eqüidade, sendo possível criar indicadores para medir os seus três componentes: estrutura, processo e resultado. A inserção da epidemiologia é mais relevante neste terceiro componente, uma vez que, para se avaliar os efeitos ou produtos das ações realizadas pelos serviços de saúde, é preciso conhecer previamente a situação de saúde das pessoas e comunidades, para que se possa atribuir a modificação observada ao processo de intervenção que está sendo avaliado. Ressalte-se, no entanto, que a avaliação do resultado pode ser feita tanto no que se refere aos efeitos concretos - “fisiopatológicos” - na história natural das doenças, como no tocante à dimensão “psicossocial”, decorrente do 46 relacionamento social entre os provedores e os usuários, intermediado pelas expectativas de ambos (TANAKA, 1990). Como afirma Novaes (1996), novas necessidades históricas têm exigido a rediscussão das reais contribuições que o conhecimento clínico, epidemiológico e administrativo podem dar, para produzir uma maior qualidade e melhores resultados nos serviços de saúde. Deslandes aponta possíveis campos teóricos pouco explorados pela área de avaliação de serviços, afirmando que ao longo dos últimos anos essa área deixou de ser considerada um processo exclusivamente técnico, um método que, dispondo de um conjunto de procedimentos e indicadores, poderia medir com presteza a efetividade de determinado serviço ou programa, sendo necessário "articular informações estatísticas com os significados destes fatos para os sujeitos sociais que os vivenciam (comunidade, grupos e profissionais de saúde)" (DESLANDES, 1997). Nesta sistematização das propostas presentes na literatura sobre os usos da epidemiologia, destacou-se aqueles mais relevantes na prática dos serviços de saúde, ou seja: análise da situação de saúde, que será tratada em capítulo específico, vigilância epidemiológica e avaliação de tecnologias, programas e serviços de saúde (DUSSALT, 1995). Como se pode observar, não é possível definir precisamente os limites entre as aplicações propostas para a epidemiologia nos serviços de saúde. As diversas terminologias utilizadas em nosso meio refletem diferenças tanto nas conceituações como nas maneiras de organizar administrativamente o conhecimento epidemiológico. Pretendeu-se, até este ponto, revelar e sistematizar o grande debate, e mesmo os embates, entre as várias visões sobre a produção de conhecimento e sua aplicação para as mudanças na qualidade de vida e de saúde das populações. Foram apresentadas, também, as diversas prescrições de uso da 47 epidemiologia, discutindo suas determinações ideológicas, bem como suas possibilidades instrumentais para a prática de saúde pública. Um outro aspecto passível de análise, de fundamental importância prática, refere-se às reais possibilidades de se promover as mudanças sociais requeridas para alcançar os objetivos sumariados anteriormente, mais especificamente, como, e com que parcerias, podem os profissionais dos serviços de saúde contribuir para avançar na direção pretendida. Como afirma Carvalheiro (1995), "ainda não passou de todo, mas abrandou-se muito a sofreguidão com que se apontou a epidemiologia como salvadora da saúde pública", mas "a vida real incumbiu-se de mostrar que a razão técnica (epidemiológica) dificilmente supera as outras: administrativa, econômica e política". 48 2. ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE SAÚDE A disseminação do método "CENDES-OPAS" de programação local de saúde desenvolvido em 1962, e implantado nos países latino-americanos no período de 1965-1970, consolidou a prática da elaboração dos "diagnósticos de saúde" fundamentados na visão ecológica do processo saúde-doença (MAZZAFERRO, 1984), utilizando as medidas de mortalidade e de morbidade para definir prioridades de ação. Segundo Acunã e Romero (1984), os critérios epidemiológicos utilizados para este fim são os seguintes: magnitude e gravidade do dano, este é o conjunto de problemas de saúde similares, passíveis de serem controlados pelas mesmas técnicas; a vulnerabilidade, esta é a possibilidade de evitar-se o dano frente ao estado atual dos conhecimentos científicos e tecnológicos; os grupos populacionais de maior risco; o custo e a factibilidade da intervenção frente à sua eficácia; e a compatibilização de diversas intervenções em programas de controle polivalentes. Esta metodologia de programação tinha como objetivo reduzir mortes evitáveis, sendo bastante discutidos os efeitos concretos de sua aplicação no cenário de saúde latino - americano, considerando-se inclusive, que outras abordagens do planejamento em saúde, desenvolvidas mais recentemente, teriam uma melhor adequação ao contexto sócio-político da região 1989). (RIVERA, As propostas e experiências levadas a efeito, em nosso meio, para a análise da situação de saúde e utilização dos serviços, têm-se restringido à elaboração de diagnósticos de saúde "de caráter bastante genérico” 1992) (GOLDBAUM, e “predominantemente descritivos e acríticos" (CASTELLANOS, 1989). Mais recentemente as modificações nos perfis de morbi-mortalidade dos países subdesenvolvidos - cujas explicações são ainda insuficientemente 49 formuladas - assim como as mudanças nos sistemas de serviços de saúde, estão provocando, a necessidade de ampliação dos limites destes tradicionais "diagnósticos sanitários" (FERRARA, 1976). Omran, em 1971, denominou de "transição epidemiológica" o processo de transformações do perfil de morbimortalidade em diferentes países, seguindo a trajetória de um padrão tradicional para um padrão moderno (BARRETO 1995). Segundo este autor, poderiam ser identificados três tipos de mudança: 1) o modelo clássico ou ocidental, caracterizado por queda na mortalidade e fertilidade e aumento das doenças crônicas e das "provocadas pelo ser humano"; 2) o modelo acelerado, observado no Japão, após os anos cinqüenta; 3) o modelo tardio ou contemporâneo, típico dos países subdesenvolvidos, caracterizado por queda gradual da mortalidade e também da fertilidade, embora em menor proporção. Segundo Frenk (1993), no entanto, para os países latino americanos poderia ser definido um "quarto" tipo de modelo de transição epidemiológica "polarizado prolongado", o qual se caracteriza por apresentar transição prolongada, superposição de etapas, contratransição (reaparecimento de doenças controladas em períodos anteriores) e polarização epidemiológica (coexistência de padrões de morbi-mortalidade característicos das diferentes etapas e distribuídos desigualmente na população), exigindo que esses países enfrentem, simultaneamente, as três etapas de evolução dos padrões de doença que os países desenvolvidos atravessaram em mais de um século (ST. 1989). JOHN, Mais recentemente, alguns autores admitem um quarto padrão, também para os países desenvolvidos, marcado pelo declínio das doenças crônicas (SIQUEIRA, 1992). Em 1981, a Organização Panamericana de Saúde estabeleceu o Plano de Ação que visava, até o ano 2000, alcançar para todos os povos americanos "um grau de saúde que permitisse a cada indivíduo gozar uma vida social e economicamente produtiva". A Organização Mundial da Saúde (1981) recomendou indicadores para monitorar a implementação do referido plano, 50 organizando-os em quatro categorias: a) indicadores da política sanitária, avaliando o compromisso político dos países com o plano e as características de sua implementação, b) indicadores sociais e econômicos relacionados com a saúde, incluindo-se a taxa de crescimento demográfico e os indicadores de renda, habitação, disponibilidade de alimentos e alfabetização; c) indicadores do estado de saúde, principalmente os de mortalidade; d) indicadores da prestação de serviços de saúde*. Atualmente, a OPAS tem preconizado o desenvolvimento da capacidade de investigação epidemiológica e sua articulação com as políticas e planos nacionais, regionais e locais de saúde e bem estar, visando realizar ações intersetoriais e de caráter integral orientadas para os grupos humanos prioritários (OPS, 1993A). Através do Programa de Análise da Situação de Saúde segundo condições de vida, está instituição vem estimulando a produção e o processamento da informação adequada para a identificação de perfis de problemas prioritários de saúde, com ênfase na revelação das diferentes formas de manifestação da iniqüidade em cada país, ou seja, das características que ela assume em diferentes grupos populacionais e áreas geográficas, visando orientar as políticas, o planejamento e a gestão de saúde e bem estar e avaliar seus impactos (OPS, 1997). A Organização Mundial da Saúde e a SIDA (Swedish International Development Agency), a partir da constatação do aumento das desigualdades, tanto nos países em desenvolvimento como nos industrializados, estão atuando conjuntamente para apoiar políticas e ações objetivando reduzir desigualdades na situação de saúde e no acesso aos cuidados de saúde, recomendando-se a utilização de indicadores para monitoramento que sejam de fácil construção, simples interpretação e úteis para orientar políticas de saúde (WHO, 996). O * Os objetivos específicos considerados essenciais no plano eram: a)esperança de vida ao nascer: 70 anos; b)mortalidade infantil: abaixo de 30/ 1000 nascidos vivos; c)mortalidade de 1-4 anos: abaixo de 2,4/ 1000 crianças de 1-4 anos; d)imunização básica: 100% de cobertura vacinal para os menores de 1 ano e gestantes; e)saneamento básico: 100% de cobertura populacional; f)cobertura dos serviços de saúde: 100% de acesso aos níveis apropriados de atenção à saúde. 51 relatório da oficina de trabalho sobre monitoramento de iniqüidades em saúde, realizada durante o IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia, manifestou a preocupação com o desaparecimento do tema "eqüidade" nos documentos institucionais internacionais e recomendou o aprimoramento das metodologias dos estudos de situação de saúde, bem como a "tradução" dos conhecimentos produzidos para a sociedade, ampliando o uso político dos resultados dos estudos (ABRASCO 1998). Para Castellanos (1997), o campo da situação de saúde inclui, tanto os perfis de necessidades e problemas de saúde, como as respostas sociais organizadas frente aos mesmos e "da interação entre ambos resulta um conjunto de fenômenos (aparentes) que é conhecido, em geral, como perfil de morbimortalidade, incapacidades e insatisfações, conjunto que constitui a parte emergente e visível, ao nível fenomenológico, dessa estrutura latente que é o complexo de necessidades, problemas e respostas sociais". Segundo este mesmo autor, as noções de "desigualdades naturais", decorrentes da diversidade biológica da espécie humana - expressas por diferenças entre gênero, raça e idade, - e as de "desigualdades sociais", - determinadas pela estrutura social em que se inserem os indivíduos, - têm apenas um caráter descritivo, diversamente do conceito de "iniqüidade", que tem uma dimensão moral e ética, podendo ser enunciado como uma manifestação mensurável da injustiça social, ou das heterogêneas condições de existência e acesso aos bens e serviços, inclusive os de saúde (SILVA, 1995). A eqüidade, definida pela OPAS, por ocasião da XXI Conferência Sanitária Panamericana, como "a participação justa nos recursos disponíveis em um momento dado, em uma sociedade", é um conceito composto por muitas dimensões, sendo, difícil encontrar uma definição de eqüidade que seja "rica, precisa e globalizadora" (LEMUS, 1995). Nos últimos anos, a tática principal da OPAS para operacionalizar essas propostas, tem sido a de estimular a implantação dos Sistemas Locais de Saúde – (SILOS), conceituados como as unidades básicas dos sistemas 52 nacionais de saúde, constituindo o ponto focal de planejamento e gestão dos serviços de saúde. Os SILOS deveriam administrar diretamente alguns recursos e coordenar toda a infra-estrutura social dedicada à saúde em uma área geográfica e dimensionada para resolver uma parte significativa dos problemas de saúde dos indivíduos, das famílias, dos grupos sociais, das comunidades e do meio ambiente. Seria, também, sua atribuição a articulação com outros setores e o estímulo à participação social (OPS, 1993B). Carvalheiro (1995), refletindo sobre as características operacionais da proposta de "Distrito Sanitário", considera que a localização da "unidade de análise" da situação de saúde neste nível, confere forte conteúdo epidemiológico, sendo, do ponto de vista do sistema de informações, o local de encontro dos fluxos ascendente e descendente. Para este autor, em que pesem as dificuldades para concretizar essa proposta, o Distrito Sanitário é "inegavelmente" o local adequado para explicitar as necessidades e equacionar os problemas de saúde, entendendo que, "como razão técnica, a epidemiologia joga aqui um papel fundamental, quando outras razões estão presentes" (CARVALHEIRO, 1995). Diversas administrações municipais brasileiras, estão conduzindo projetos em parceria com centros universitários, visando o desenvolvimento dos Sistemas Locais de Saúde. A partir da concepção que dirige a atenção para os problemas de saúde da população, tem-se preconizado, nestes projetos, "a utilização de conhecimentos e tecnologias voltados a tornar factível o processo de mudança da situação de saúde" (UFBA, 1989). Utilizando-se do conceito de "território", Unglert (1987) propôs metodologia que considera as relações de variáveis geográficas, demográficas e sociais para efetuar a distribuição espacial dos problemas (mortes, agravos e riscos), desenvolvendo um sistema de informação capaz de possibilitar o conhecimento da "situação de vida e saúde dos habitantes da área de abrangência das unidades de saúde, enfatizando-se, nesse processo, a participação da comunidade" (FAMED-UFBA, 1993). Esforços tem sido despendidos no sentido de integrar informações de 53 diferentes fontes secundárias, utilizando-se, inclusive, softwares de informações geográficos – (SIG), para superpor mapas ambientais, demográficos, sócio-econômicos e epidemiológicos, complementado-os com dados produzidos no nível distrital, através de inquéritos rápidos, entrevistas de informantes chaves, dentre outros. Assumindo características peculiares em cada área, a implantação dos SILOS no Brasil, iniciada no final da década de 80 a partir da iniciativa da OPAS, envolveu um grande número de municípios de diversos Estados, havendo em alguns desses, o envolvimento do nível regional no processo de implantação (UNGLERT, 1995). Pinho (1995) chama a atenção para a necessidade de se desagregar as informações de saúde, à medida que se descentraliza a gestão do SUS, apontando a importância do uso, no nível dos SILOS, de informações das diversas fontes disponíveis, de forma integrada e "subordinada à lógica epidemiológica", assim como da coleta, processamento e análise de outros dados necessários ao processo de planejamento e intervenção. O mesmo autor considera ser difícil alcançar esse objetivo a curto prazo, sendo, "para a maioria dos SILOS, a utilização rotineira dos dados epidemiológicos clássicos, como mortalidade e vigilância epidemiológica (...) já um avanço em relação à realidade atual" (PINHO, 1995). As dificuldades na divulgação oportuna dos dados para a construção de indicadores sociais e de saúde foi ilustrada por uma recente publicação americana, que comparou as diferenças entre a defasagem das estatísticas sociais com as utilizadas na área econômica, verificando um prazo de até dois anos, no caso de inquéritos nacionais sobre violência, êxodo escolar e mortalidade infantil, e de três a seis meses, para abuso infantil e droga adição, sendo de apenas 15 segundos para o "CRB Futures Price Index", sessenta segundos para o índice "Dow Jones", uma a duas semanas para os índices de desemprego e de três a quatro semanas para o produto nacional bruto (PNB). Esta diferença revela que, enquanto na área econômica as decisões são 54 tomadas levando-se em consideração o comportamento dos indicadores, na área social constata-se a existência de uma percepção limitada e fragmentada dos problemas e uma menor importância das informações para o processo decisório (WAGNER, 1998). Necessidades e problemas de saúde As definições de necessidade de saúde e as abordagens para sua avaliação variam segundo as diferentes perspectivas dos estudos e estão limitadas, nas situações concretas em que se realizam as investigações, pela disponibilidade de tempo e de recursos. Segundo Gonçalves (1994), a epidemiologia, ao tomar a saúde e a doença na sua dimensão coletiva como objeto de estudo, desenvolve instrumentos para apreender esse conjunto e constrói quadros mais ou menos amplos de descrição do estado de doença do coletivo - os perfis epidemiológicos - permitindo transformar uma necessidade socialmente expressa em um conjunto de conceitos estruturado, coerente e lógico, capaz de descrever um dado fenômeno, explicá-lo "causalmente" e prever seu desenvolvimento tendencial, segundo o comportamento das configurações causais. No plano da prática, esses passos corresponderiam à captação da necessidade, à sua apreensão como forma de objeto de determinado trabalho e à interferência sobre o coletivo com efeitos previsíveis sobre ele. Castellanos (1997) considera que a noção de problema de saúde é ainda mais complexa do que a de necessidade, sendo a análise de situação de saúde, "na realidade, a análise dos perfis de necessidades e problemas hierarquizados por diferentes atores sociais que interagem quotidianamente no seio das instituições". Entre outros requisitos, os estudos de análise de situação de saúde demandam a explicitação clara dos critérios para a seleção e construção dos indicadores, com definição dos agravos e de seus "fatores determinantes", 55 além do uso de outros dados e informações adequados para a caracterização da população alvo ("conhecimento dos denominadores") (PENNA 1986). Dever (1988), ressalvando a "complexidade do significado de necessidades de saúde", considera que a sua avaliação poderia ser sintetizada em três funções: colher as informações de fontes já existentes, o desenvolvimento de novas fontes de informação e a integração de informações vindas de dentro e de fora do sistema de saúde. Esses dados e informações seriam obtidos e trabalhados segundo três abordagens: 1) do indicador, envolvendo a análise de estatísticas de expectativa de vida, de morbidade e de incapacidade, de estatísticas sociais relativas à saúde e de estatísticas de utilização de serviços de saúde; 2) de levantamento, incluindo a análise da disponibilidade e utilização de serviços, taxas de pessoas em tratamento de saúde e levantamento em amostras da população geral para coleta de dados, sobre problemas de saúde, incapacidade e percepção das necessidades, e 3) de consenso, nos quais seriam utilizados meios para definir as necessidades de cuidados de saúde confrontando as visões leiga e profissional dos grupos participantes. Almeida Filho (1998), identifica quatro grupos de indicadores: "a) intuitivos; não só relevantes cientificamente mas também capazes de orientar os processo de tomada de decisão; b) pragmáticos; baseados na informação disponível, levando em conta indicadores já existentes de situação de saúde e de serviços de saúde; c) consistentes, portadores de consistência, flexibilidade e extensividade, aplicáveis a diferentes aspectos da situação de saúde (morbidade, mortalidade, serviços); d) sensíveis, capazes de incorporar as heterogeneidades sociais e culturais, assumido a equidade como essencial para as políticas de saúde". O estudo "Inequalities in health: the Black report" (BLACK, 1982), publicado no início dos anos oitenta na Inglaterra - uma das mais reconhecidas pesquisas sobre situação de saúde e utilização de serviços de saúde - apresenta o padrão da iniquidade segundo o gênero, raça, classe ocupacional e região. A atualização do "Black report", realizada em 1992, demonstrou que, uma 56 década depois, permanecem diferenças significativas na mortalidade por câncer de pulmão e doença coronariana, com riscos maiores para os trabalhadores manuais. Entre os homens, apenas o melanoma e para as mulheres, o melanoma, a leucemia linfóide crônica e os canceres de mama e de cérebro, foram as únicas causas da mortalidade com taxas maiores para os grupos de melhor nível sócio-econômico (WHITEHEAD, 1992). Além disso, a tendência histórica destas taxas indicam um aumento da desigualdade entre as classes sociais. Power (1998) considera que apesar dos avanços na compreensão das causas da iniqüidade em saúde, pouco ainda é conhecido sobre a importância relativa delas. Salienta também que as pesquisas exploram, "as quatro principais explicações apresentadas no estudo de Black (artefato, seleção, estilo de vida e circunstâncias materiais) e enfatizam a distribuição, acessibilidade, e qualidade do cuidado médico, fatores perinatais, fatores psicossociais e coesão social" (Power, 1998). Esse autor considera que, em seu conjunto, as pesquisas sugerem que as explicações variam segundo o sexo, o estágio da vida e para diferentes causas de mortalidade e morbidade (POWER, 1998). Como afirma Goldbaum (1997), o conjunto de trabalhos científicos e documentos produzidos pelos órgãos oficiais de saúde, e mesmo dos organismos financeiros internacionais, têm demonstrado os diferenciais de adoecimento e morte, tanto nos países subdesenvolvidos, como nos países centrais, "tornando a questão da desigualdade um fato comum e corriqueiro", sendo necessário recuperar a idéia de eqüidade, cuja acepção contém a idéia de justiça social. Illsley (1990) revisou as fontes e metodologias utilizadas nos estudos sobre iniqüidade de saúde na Europa, constatando uma imensa diversidade entre elas nos diversos países. As fontes de informação utilizadas nesses países foram: o censo, os registros de nascimentos e óbitos, as doenças de notificação, os estudos de morbidade referida e uso de serviços, o absenteísmo e a aposentadoria precoce, dados produzido por agências de saúde, de serviço 57 social e por organizações de voluntários, bem como estatísticas de atendimento médico ambulatorial e hospitalar. Os grupos sociais foram definidos a partir da ocupação, educação, região e local de residência, idade, sexo, estado marital e grupo étnico a que pertenciam (ILLSLEY, 1990). Um dos principais problemas para a comparação dos dados, entre os países, decorre do fato de que as fontes são mais confiáveis nas áreas mais desenvolvidas, por refletirem o grau de desenvolvimento econômico e político. Além disso, muitos desses estudos utilizam dados de ocupação no momento da morte, desconsiderando a mobilidade social. Os pesquisadores desses países relataram a dificuldade ou a impossibilidade para medir taxas gerais de morbidade e a sua distribuição nos grupos sociais. Inquéritos de morbidade referida, realizados em alguns desses países, produziram resultados conflitantes quando comparados, refletindo as diferenças culturais e nas técnicas de elaboração dos questionários e das entrevistas. Apesar dessas deficiências, os trabalhos foram capazes de documentar importantes diferenças entre as áreas estudadas: a expectativa de vida ao nascer era de 77 anos na Islândia e de 61 anos no Marrocos; as taxas de mortalidade por doença isquêmica do coração e por neoplasias estavam caindo nos países do noroeste da Europa e persistiam aumentando nos países mais atrasados da Europa Central e do Leste, onde ainda tem importância as doenças da pobreza. Nos países mediterrâneos verificava-se um quadro intermediário. O grau das diferenças internas em países como Portugal, Hungria, Turquia e Iugoslávia são muito maiores do que as correspondentes na Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido. Para Illsley (1990), esses padrões de mortalidade resultam de distintas combinações entre pobreza e riqueza, estilos de vida e utilização de tecnologia médica, que "se movem em diferentes direções e, no momento, parecem indicar uma tendência de aumento nos diferenciais de mortalidade entre os países". 58 Mais recentemente, Cavelaars et al (1998) estudando a morbidade referida em onze países da Europa ocidental, demonstrou que os problemas de precisão e de comparabilidade dos dados internacionais ainda provocavam uma grande margem de incerteza na estimativa da iniquidade em saúde, sendo possível, apesar disso, afirmar que não necessariamente seu grau seja menor nos países com políticas sociais mais igualitárias tais como os Países Baixos e a Escandinávia. Os resultados desse estudo indicaram que a Suécia, a Noruega e a Dinamarca apresentaram os maiores valores para a iniquidade, sendo que a Espanha, a Suíça e a Alemanha Ocidental apresentam os índices menores, enquanto que a Finlândia, a Grã-Bretanha, a França e a Itália situavam-se em posição intermediária (CAVELAARS, 1998). Estes achados coincidem com os verificados no estudo que analisou a relação entre iniquidade de renda e mortalidade nas áreas metropolitanas dos EUA, verificando-se um excesso de 139,8 óbitos por 100. 000 habitantes nas áreas com maior iniquidade e menor renda média, em comparação às áreas que apresentavam maior renda média e menores taxas de iniquidade. Assim, essas pesquisas indicam que, além da conhecida relação entre quantidade absoluta da renda e condições de saúde das populações, também a disparidade na distribuição da riqueza constitui um importante determinante, indicando que, nas sociedades mais eqüitativas os níveis gerais de saúde tendem a ser melhores (LYNCH, 1998). Power (1998) analisou a influência de fatores, tais como condições psicossociais relacionadas ao trabalho - satisfação, controle do ritmo, estabilidade e outras características do trabalho - e os que denominou de circunstâncias materiais - casa própria, poupança - nos níveis de saúde das populações. A tendência desses fatores ao longo da vida das pessoas e sua relação com as condições de saúde, foi estudada em 1958 em uma coorte de nascimentos, em que foram coletados informações de 17.414 nascimentos, correspondendo a 98% do total de crianças nascidas na Inglaterra, Gales e 59 Escócia no período de 3 a 9 de março de 1958. Foram realizados seguimentos nas idades de 7,11,16 23 e 33 anos, mantendo-se a representatividade em relação à amostra original, realizando-se 11.405 entrevistas (5606 homens e 5799 mulheres), em 1991. Apesar das desigualdades de saúde encontradas nesta coorte não pudessem ser explicadas por um fator isoladamente, alguns deles mostraram maior impacto: a qualificação educacional, a classe social e as características psicossociais relacionadas ao trabalho. O gradiente de saúde que existia permaneceu constante nas idades de 23 e de 33 anos, revelando a influência de situações mais antigas interferindo no momento presente, contudo, quando se compara a classe social ao nascimento com a qualificação educacional, conclui-se que a esta é mais importante para medir iniqüidade em saúde.(MANOR, 1997). Lynch (1998) analisando, a relação entre desigualdade de renda, e a mortalidade média dos anos de 1989 a 1991, nas 282 áreas metropolitanas dos EUA*, encontrou uma variação de 642,5 a 1.092,9 por 100.000 habitantes para a taxa de mortalidade ajustada por 13 grupos de idade, tomando como padrão a população americana de 1990. Para este autor, o excesso de mortalidade, calculado como a diferença entre os quartis mais alto e mais baixo em termos de desigualdade de renda, "indica a carga absoluta de doença associada com diferenças na desigualdade de renda" (LYNCH, 1998), acreditando que medidas absolutas como essa, são um padrão apropriado na avaliação da importância das desigualdades de renda para a saúde da população. Os efeitos da desigualdade de renda diferiram por idade, sendo maiores nos grupos de menores de um ano e nos de 15 a 64 anos. Também variaram segundo as medidas de desigualdade utilizadas, sendo o índice de Gini menos sensível do que as razões entre os percentis de renda. * Na definição do "Federal Office of Management and Budget", uma área metropolitana compreende um núcleo central com grande população e comunidades adjacentes, que com ele mantêm um alto grau de integração econômica e social. As populações das 283 áreas metropolitanas americanas variam de 56 735 habitantes em Enid - Okla, a 18 087 251 em New York - NY, com uma população média de 242 622 hab. 60 Kawachi (1997) realizou um estudo transversal ecológico testando a relação entre a mortalidade total nos 50 estados americanos e seis diferentes indicadores de desigualdade na renda: índice de GINI; razão de decil; proporção do total de renda auferido em 50%, 60%, 70% dos domicílios com menor renda; índice de Robin Hood; índice de Atkison; e medida entrópica de Theil, demonstrando que todas eram correlacionadas entre si e fortemente associadas com a mortalidade, mesmo após ajustamento por outras variáveis pertinentes. O autor conclui, então, que a escolha da medida da desigualdade de renda não parece alterar os resultados mostrando sua associação com a mortalidade. Para Marmot (1998) não há uma clara linha divisória abaixo da qual aqueles com baixo status sócio-econômico têm uma saúde pior. Ademais disso, citando Rose, lembra que existem características da comunidade considerada como um todo que mostram grandes diferenças entre regiões, sexo, classes sociais e grupos de renda, como no caso da Saúde Mental. O autor cita, como exemplo da complexidade dos estudos sobre fatores de risco e doenças específicas, a relação inversamente causal entre o consumo moderado de álcool e doença coronariana, que poderia sugerir a adequação de se recomendar a prática de "beber para relaxamento", advertindo que os estudos mostram que o aumento no consumo individual de álcool, além de estar associado como fator de risco para outras doenças, seria provavelmente acompanhado de um aumento na prevalência de bebedores pesados na comunidade e, consequentemente, por um aumento na freqüência de doenças associadas ao consumo intenso. Uma outra importante conclusão dos trabalhos de Rose, comentada por Marmot, é que os determinantes das variações entre indivíduos de uma população podem ser diferentes dos determinantes das variações entre 61 populações, citando, como exemplo, a análise dos homicídios em Chicago e na Inglaterra/Gales, onde se constata que a idade e o sexo (homens de 20-24 anos) dos homicidas são os mesmos em ambas regiões, mas as taxas de Chicago são trinta vezes maiores, e concluindo, ironicamente, que "se quisermos prevenir homicídios poderemos injetar algum antagonista da testosterona na população alvo ou reconhecer a taxa de homicídio como um reflexo de uma sociedade desordenada, perguntando-nos o que é possível fazer para modificá-la". O interessante estudo realizado em Roseto, uma pequena comunidade italo-americana no sudeste da Pennsylvania, revelou a influência da denominada "coesão social" sobre as condições de saúde da população, mostrando que essa cidade tinha taxas de mortalidade substancialmente menores que as cidades vizinhas, especialmente para infarto, embora apresentassem as mesmas taxas de exposição aos fatores de risco (tabagismo, obesidade, sedentarismo etc.) que as outras cidades, situação que poderia ser explicada pela maior coesão social em Roseto. (KAWACHI 1997b). Para este autor, "while many Americans have stopoed smoking, gone on diets, and put on joggings shoes, American society has become, if anything, less cohesive", e consequentemente menos saudável. Braveman (1997), em documento apresentado no "Meeting on policyoriented monitoring of equity in health and health care", embora reconheça a importância de se comparar a situação de saúde entre diferentes países, considera necessário, principalmente nos países com dados limitados e poucos recursos para análise, o desenvolvimento de mecanismos para "detectar, medir, e chamar a atenção para desigualdades evitáveis entre grupos com diferentes níveis de prerrogativas sociais" (BRAVERMAN, 1997). A mesma autora seleciona as seguintes questões, que considera essenciais para se alcançar o desenvolvimento de políticas voltadas para a diminuição da iniquidade em saúde dos países: a identificação de fontes de dados acessíveis e contínuas, 62 que possam ser adequadas para o monitoramento da equidade em saúde; a definição, em cada país, dos grupos sociais a serem comparados; e a seleção dos indicadores de saúde e de cuidado de saúde que sejam úteis para comparação entre grupos sociais. O documento sugere que, além da avaliação de diferenças entre grupos sociais, é necessário monitorar a magnitude das medidas de saúde de cada grupo, de modo a acompanhar a situação ao longo do tempo. As estratégias para enfrentar esses desafios incluiriam, além da desagregação e melhor uso no nível local dos dados coletados pelo censo e pelos órgãos do setor saúde, a produção de outros dados qualitativos e quantitativos referentes ao conjunto da população, utilizando-se inclusive métodos que captem a percepção da população sobre os problemas de saúde. O uso combinado dos dados de base populacional, com os produzidos nos serviços de saúde permitiriam avaliar melhor a iniquidade no cuidado da saúde (BRAVEMAN, 1997). Diversos países têm apresentado avanços importantes na prática de análise de situação de saúde, registrando-se estudos com abrangência tanto nacional, como no nível local. A publicação, em 1990, do número especial da "Soc. Sci. Med". (vol 37 n.º8), apresenta uma revisão sobre os estudos de iniqüidade em saúde em diversos países europeus. Estudos e experiências publicados ou apresentados em "home pages", mostram iniciativas em outros continentes, podendo-se citar experiências relevantes na Austrália, no Canadá, e na América Latina, a Argentina, o Chile, a Colômbia, o Equador e a Venezuela. Em nosso meio, apesar de se verificar um crescimento no número de publicações e documentos de serviços de saúde sobre este tema, principalmente análises realizadas no nível municipal, tem sido apontada a escassez de experiências, de utilização de categorias, indicadores e procedimentos metodológicos da epidemiologia nos estudos da situação de saúde e de utilização de serviços avaliadas criticamente (ABRASCO, 1989). O II 63 Plano diretor para o desenvolvimento da epidemiologia, da Abrasco, aponta as dificuldades de operacionalização dos estudos de situação de saúde, destacando a importância da utilização de metodologias que possam explicar as desigualdades em saúde e recomendando a utilização de análises que incorporem a dimensão espacial (ABRASCO, 1995). A abordagem territorial permite aproveitar melhor as informações oficiais disponíveis e, ao mesmo tempo, obter boa aproximação com relação a algumas unidades de reprodução social dentro de determinados limites de generalização, como demonstram diversos estudos em nosso meio (AKERMAN, 1990), 1994), e em outros países (BREILH, utilizando-se desta abordagem. No entanto, discute-se, "os caminhos" que conduzem aos diferenciais de saúde entre diferentes áreas geográficas, sendo que estes provavelmente decorrem da combinação de fatores históricos, culturais, ambientais e sócio-econômicos, e muitas vezes não sendo possível, dada a carência dos dados necessários, avaliar claramente as conseqüências do "aumento dramático das desigualdades de renda e bem estar para as desigualdades de saúde nos EUA" (KAPLAN, 1996). Paim (1997), estudando o espaço urbano como mediação das relações entre condições de vida e saúde, considera que o recurso à categoria espaço para aproximação às condições de vida, enquanto mediação entre os determinantes estruturais e a situação de saúde, apresenta-se como opção para apreender processos relativos à reprodução social. Para o autor: "na medida em que o conceito de território ou de espaço transcenda a sua condição física ou natural e recupere o seu caráter histórico e social, o estudo das condições de vida, segundo inserção espacial dos grupos humanos no território, tende a ser uma alternativa teórico metodológica para a análise das necessidades e das desigualdades sociais da saúde". O mesmo autor ressalta, que parte significativa do processo saúde-doença poderia ser compreendida como resultante "das posições ocupadas pelos agentes no espaço social" e das 64 relações daí decorrentes, ou seja, os capitais cultural, econômico e simbólico dos indivíduos e dos grupos sociais. Procurou-se, até aqui, demonstrar o amplo espectro de questões envolvidas na escolha das estratégias, técnicas e instrumentos de abordagem dos estudos de situação de saúde. Mais uma vez, entende-se que um dos fios condutores do presente trabalho é a sistematização das possíveis escolhas que se apresentam ao profissional de serviços, na tarefa de analisar e propor intervenções sobre a situação de saúde da população. Analisa-se, a seguir, as características, das fontes de dados, dos indicadores e das metodologias mais utilizados nos estudos de situação de saúde. 65 2.1. Fontes de dados Os estudos (CARVALHO, 1997) e debates (PADILHA, 1996) sobre as características atuais dos grandes sistemas nacionais de informação em saúde têm evidenciado o grande volume de dados produzidos (DATASUS, 1997), os quais, no entanto, são coletados, tratados e organizados sob diferentes lógicas, respondendo fundamentalmente aos interesses de cada uma das instituições produtoras (ABRASCO, 1994). Em um abrangente estudo sobre informações de saúde concluído recentemente, Moraes (1998) apresenta propostas de organização e gestão destas informações, na esfera municipal, preconizando o uso, entre outros, dos seguintes sistemas/bases de dados: SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos SINAN - Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação SIH-SUS - Sistema de Informação Hospitalar do SUS SIA-SUS - Sistema de Informação Ambulatorial do SUS Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Sistema de Vigilância Nutricional (SISVAN) Censo Demográfico - IBGE AMS - Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária - IBGE O uso articulado das informações dos grandes sistemas nacionais de informação de saúde (OPAS, 1997), bem como a comparação entre seus dados, implica no desenvolvimento de cadastros*, tabelas e/ou padrões compatíveis (SÁ, 1980), sendo esses alguns dos desafios assumidos pela Rede Integrada de * CADASTROS são universos dos objetos de pesquisa, contendo descritores mínimos dos objetos: nome, onde se encontram e suas principais características de interesse. Exemplo: Cadastro de Estabelecimentos de Saúde, envolvido em quase todos os sistemas referidos acima. TABELAS são organizações de referência que asseguram coerência funcional ou espacial em uma base ou entre bases de dados. Algumas delas precisam ser padronizadas, tais como as tabelas de ocupação, instrução e cor, enquanto outras já são comuns a todas as bases geradas pelos sistemas acima, tal como a Tabela de Municípios em que todos usam o código do IBGE. PADRÕES são regras de 66 Informações para a Saúde - RIPSA, instituída pelo Ministério da Saúde/OPAS no final de 1996, com o objetivo de propiciar a disponibilização adequada, oportuna e abrangente de dados básicos, indicadores e análises de situação sobre as condições de saúde e de suas tendências no país (OPAS, 1996). O Grupo Técnico de Informação em Saúde e População - GTISP, da ABRASCO, tem estimulado a formulação de propostas consensuais quanto às informações necessárias para a gestão democrática do SUS, bem como quanto às providências necessárias para disponibilizar as bases de dados requeridas pelos diferentes segmentos da sociedade e pelos órgãos da administração. Nos vários momentos deste processo de discussão, tem-se enfatizado a necessidade de serem utilizadas, tanto na produção como na disseminação dos dados, metodologias adequadas às específicas atuações de cada um dos segmentos envolvidos na definição de políticas de saúde e no gerenciamento do SUS. No Brasil, as fontes de dados dos estudos de situação de saúde incluem as estatísticas de mortalidade e de morbidade, sendo as primeiras tradicionalmente mais utilizadas, dada a sua maior acessibilidade e melhor qualidade dos dados quando comparados com os dados secundários de morbidade. No entanto, as estatísticas de mortalidade mostram o resultado final do processo saúde-doença, sendo mais importantes para o estudo dos problemas de saúde mais graves, enquanto que as estatísticas de morbidade permitem conhecer as condições de saúde de uma população com muito mais sensibilidade. Assim, sendo possível através delas, e possível obterem-se informações detalhadas sobre a prevalência, a duração e a letalidade das doenças, bem como sobre as relações entre a morbidade populacional e a demanda dos serviços de saúde e avaliado-se as perdas financeiras que ocasionam (LEBRÃO, 1995). As fontes existentes de informações de morbidade caracterizam-se por apresentarem grande diversidade quanto aos sistemas de coleta, abrangência, estruturação dos dados com a sua conceituação. Exemplo: qual é o conceito de “posto de saúde” 67 fidedignidade e facilidade de acesso. A principal fonte de base populacional é a notificação compulsória de casos e óbitos de algumas doenças transmissíveis que requerem ações imediatas para o seu controle. No final da década de 70 foi implantado o "Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica", que instituiu um elenco de 14 doenças de notificação compulsória em todo território nacional, permitindo-se aos Estados ampliarem a proposta pela esfera federal. Em 1978, no momento da implantação do sistema no Estado de São Paulo, foram adicionadas cinco moléstias ao elenco nacional, perfazendo um total de dezenove doenças de notificação obrigatória no território paulista (ESCRIVÃO, 1985). Ao longo desses vinte anos de funcionamento do sistema de vigilância epidemiológica, foram introduzidas novas doenças, tanto no elenco estadual, quanto na lista nacional, tendo esta sido recentemente revisada, através de um inédito e louvável processo, no qual foi realizada ampla consulta aos diferentes setores interessados, contemplando-se os seguintes aspectos: magnitude; potencial de disseminação; transcendência (severidade, relevância social e relevância econômica); vulnerabilidade; valor da notificação (necessidade de conhecer caso a caso; existência de outros sistemas, estratégias alternativas); inclusão na política de saúde; compromisso internacional; e notificação internacional (quadro) (CENEPI, 1998). AIDS Cólera Coqueluche Dengue Difteria Doença Chagas Aguda Doença Meningocócica Esquistossomose área endêmica Esquistossomose área não endêmica Febre Amarela Febre Tifóide Hanseníase Hepatites Virais Leishmaniose Tegumentar utilizado nos vários sistemas? Malária área endêmica Malária área não endêmica Meningite Tuberculosa Oncocercose Outras Meningites Peste Poliomielite Raiva Humana Rubéola Rubéola Congênita Sarampo Sífilis Congênita Teníase/Cisticercose Tétano 68 Leishmaniose Visceral Tétano Neonatal Leptospirose Tuberculose Fonte: Ministério da Saúde / CENEPI - junho de 1998 Outra fonte de morbidade com base populacional potencialmente importante, são os registros de câncer criados, em Belém, Fortaleza, Recife, São Paulo, Goiânia e Porto Alegre, a partir de 1967, visando permitir um acompanhamento contínuo e sistemático da sua incidência de câncer nas cinco regiões brasileiras. No entanto, esses registros têm enfrentado muitas dificuldades para sua manutenção, o que tem resultado numa produção irregular de informações. Recentemente alguns desses registros foram aprimorados, bem como, outros municípios brasileiros os estão implantando, concorrendo para que se possa concretizar a potencialidade desta fonte de dados. Encontram-se em operação com os dados já publicados para 1998, cinco dos treze Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) implantados: Belém, Fortaleza, Goiânia, Campinas e Porto Alegre, estando os demais em diferentes fases de operação (INCA, 1998). Apesar da conhecida limitação do uso de dados de morbidade de pacientes hospitalizados ou atendidos em ambulatórios para a análise da situação de saúde da população geral, este decorrente das diferentes possibilidades de acesso dos grupos populacionais aos serviços de saúde, os registros hospitalares podem, em circunstâncias especiais, constituírem-se em alternativa para o estudo das doenças mais graves (LEBRÃO, 1993). Os hospitais que prestam serviços e ao Sistema Único de Saúde - SUS preenchem para cada paciente a AIH - Autorização de Internação Hospitalar, que constitui um formulário que registra, entre outros dados necessários para o controle da remuneração efetuada, o motivo da alta, (com os diagnósticos principais codificados pela CID verificados no paciente) - e a eventual ocorrência de óbito. Existem muitas restrições a uso do Sistema de Informações Hospitalares - SIH/SUS para a avaliação da morbidade hospitalar, podendo-se, entre outras, citar que as informações se referem ao evento "internação" e não, às "pessoas 69 internadas", o que impede a construção de taxas. Além disso, não havendo nos hospitais, pessoal devidamente treinado em codificação de doenças pela CID, estaria comprometida a qualidade da informação. Finalmente, por ser utilizada basicamente como um instrumento de pagamento, a AIH estaria sujeita a vários tipos de distorções. Em que pesem essas dificuldades, é preciso apontar que o SIH/SUS é a única fonte regular e quase universal sobre morbidade hospitalar existente no país, produzindo dados relativos a mais de 12 milhões de internações anuais. Vale destacar os esforços para o seu aprimoramento, no sentido de transformála em um instrumento efetivo de gestão e monitoramento das ações hospitalares (MORAES 1998). Merece ainda referência o esforço exemplar do DATASUS para a ampla divulgação desses dados, o que tem garantido seu uso por todos os setores interessados. No Estado de São Paulo, as informações sobre pacientes egressos dos hospitais (conveniadas ou não ao SUS), são coletadas através do formulário CAH-106, constituindo-se este em outra importante fonte de morbidade hospitalar, a qual apresenta muitas das restrições já apontadas para o SIH/SUS mas, por não se constituir em instrumento de remuneração das internações, apresenta um menor grau de distorção. Vale apontar que o último relatório divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde refere-se a 1994, tornando assim indisponíveis estatísticas mais atuais. Apesar de serem, em geral, limitados para o conhecimento da morbidade global da comunidade, os dados referentes às pessoas atendidas nos ambulatórios das unidades básicas de saúde, prontos-socorros e unidades de assistência médica especializada são bastante úteis para a realização de estudos epidemiológicos da morbidade da população atendida e para subsidiar as atividades de planejamento e gerenciamento da assistência oferecida. Não existe um sistema de informações que torne disponíveis dados de morbidade ambulatorial referentes ao conjunto dos atendimentos prestados pela rede de 70 saúde. O enorme volume de consultas médico-odontológicas efetuadas nos serviços ambulatoriais públicos e privados inviabiliza, em termos práticos, a possibilidade de codificação dos diagnósticos e a implantação de fluxos desses dados para que estes dados sejam compilados nos níveis estadual e nacional. Iniciativas de elaboração desse tipo de informações, por meio de amostragem dos prontuários e fichas de atendimento, em períodos delimitados parecem ser mais eficientes e já estão sendo conduzidas por diversas instituições. Para outras informações sobre os atendimentos ambulatoriais (número de consultas, procedimentos efetuados etc.) pode-se recorrer ao Sistema de Informações Ambulatoriais - SIA/SUS, que se destina ao controle dos pagamentos efetuados, dos atendimentos prestados pelos serviços conveniados à rede pública ou privada. À semelhança do SIH-SUS, o sistema de informações ambulatoriais caracteriza-se por ser abrangente, recobrindo um grande volume de atendimentos prestados em todo o país, embora apresente também as imperfeições já comentadas para o sistema de internações. O IBGE, em convênio com o Ministério da Saúde, realiza, desde 1975, a pesquisa "Assistência Médico Sanitária - AMS", levantando anualmente dados relativos aos estabelecimentos públicos e privados de saúde existentes no território brasileiro. Estas estatísticas contemplam a natureza dos serviços de saúde, sua estrutura física, seu perfil assistencial, sua produção de atividades e seus recursos humanos. Em 1995 foram divulgados os dados da AMS - 1992, sendo este o último ano disponível, o que revela as dificuldades existentes para a manutenção desta importante fonte de dados (VIACAVA, 1996). Especificamente para as doenças profissionais e acidentes do trabalho* existem os dados registrados pela Comunicação de Acidente de Trabalho CAT, os quais são processados por órgãos vinculados ao Ministério da * São considerados acidentes de trabalho: a doença profissional e a doença do trabalho Equiparam-se também ao acidente de trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a ocorrência da lesão; certos acidentes sofridos pelo segurado no local e no horário de trabalho; a doença proveniente de contaminação acidental do 71 Previdência Social. Cabe à empresa comunicar o acidente de trabalho à Previdência Social, através da CAT, e compete ao INSS, ao recebê-la, caracterizar o acidente: administrativamente, pelo setor de benefícios, que estabelece o nexo entre o trabalho exercido e o acidente; e, tecnicamente, através da perícia médica, que estabelece o nexo de causa e efeito entre o acidente e a lesão, entre a doença e o trabalho, e entre a causa mortis e o acidente. Esta base de dados refere-se a uma massa segurada da ordem de 24 milhões de trabalhadores no país e registra anualmente, um total de 400 mil acidentes, com cerca de 5.500 óbitos. Apesar dos conhecidos problemas de cobertura e de qualidade dos dados desta fonte, principalmente para os "acidentes leves", a relevância do estudo da morbidade deste grupo populacional parece indiscutível e a intensificação do uso desses dados pelas equipes de saúde, atualmente pouco significativo, poderia contribuir para aprimora-los (WÜNCH FILHO, 1995). Algumas outras fontes possíveis de dados de morbidade da população atendida em serviços ambulatoriais, são os sistemas de seguro saúde, atendimentos prestados em ambulatórios de empresas, de escolas e mesmo consultórios particulares. As dificuldades de acesso aos dados dessas fontes, e os problemas de padronização de critérios de registro e de codificação, entre outros, têm limitado a sua utilização. Os Censos Demográficos, realizados desde 1940, com periodicidade decenal e caráter universal, constituem-se em fontes imprescindíveis para os estudos de situação de saúde, sendo possível, a partir do censo de 1970, acessar os seus dados, por meios eletrônicos. Além dos dados demográficos e sócio-econômicos, os levantamentos do censo incluem outros relativos às características dos domicílios: qualidade da construção, densidade de moradores e acesso a sistemas de saneamento básico, permitindo o cruzamento de todas essas variáveis com os indicadores de mortalidade e empregado no exercício de sua atividade, e o acidente sofrido a serviço da empresa ou no trajeto entre 72 morbidade disponíveis (OLIVEIRA, 1995). No censo de 1991 foram pesquisadas, pela primeira vez, as deficiências física e mental, embora os dados relativos a esses quesitos não tenham ainda sido avaliados quanto à sua cobertura e consistência. Estes quesitos do censo revestem-se de grande importância para os estudos epidemiológicos, haja vista as dificuldades específicas para se coletarem esses dados em outras fontes, principalmente no que se refere à cobertura, já que em muitos casos seus portadores não se utilizam dos serviços de saúde e também pela ocorrência de possíveis duplicações. Informações sobre a incapacidade. (disability) e a deficiência (handicap), além de permitirem estudos sobre seus determinantes individuais, demográficos e sócio-econômicos, são indicadores importantes das necessidades de serviços de saúde e bem estar. O uso dos dados censitários para o cálculo (através de estimativas indiretas) de indicadores de mortalidade e de expectativa de vida, poderia ser de grande valia em muitos municípios das Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, nos quais ocorrem grandes percentuais de sub-registro de óbitos e de nascimento. Estudo conduzido no Equador, a partir dos dados do censo, utilizando a técnica de Brass-Trussell, calculou a probabilidade de mortes em menores de um ano registrando pequenas diferenças destas com as taxas de mortalidade infantil existentes nos registros oficiais referentes à região metropolitana, sendo significativas as variações entre elas nas regiões menos desenvolvidas, alcançando uma diferença absoluta de cerca de 30 óbitos /mil nascidos vivos nas áreas rurais (90 pela técnica de Brass-Trussel, e 60, nos registros oficiais) (BREILH, 1990). As estimativas indiretas são produzidas levando em conta as razões de sobrevivência em classes de idade selecionadas, utilizando-se os dados dos quesitos "número de filhos tidos nascidos vivos" e "filhos sobreviventes", por classes quinqüenais de mulheres em idade reprodutiva (15-19, 20-24...45-49 anos). Problemas de consistência no cálculo a residência e o local de trabalho do segurado. (MPAS 1998) 73 de estimativas para os municípios com população inferior a 50 mil habitantes, poderiam, segundo Oliveira, serem contornados pelo uso de indicadores mais simplificados tal como a mortalidade infanto-juvenil. Nos intervalos entre os censos, os dados necessários ao acompanhamento da situação demográfica e sócio-econômica do país são atualizados pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios - PNAD, que se realiza anualmente, abrangendo todas as regiões do país, desde a década de 70, com representatividade para unidades federativas e regiões metropolitanas, e portanto limitadas para o seu uso em estudos de abrangência municipal. Inquéritos populacionais de saúde Os inquéritos populacionais são realizados, freqüentemente, através de levantamentos domiciliares, em amostras representativas da população, permitindo a produção de dados primários sobre a situação de saúde e condições sócio-econômicas e ambientais, não disponíveis nas fontes secundárias. A avaliação da morbidade populacional, neste tipo de estudo, pode utilizar exame clínico ("morbidade diagnosticada") e/ou laboratoriais ("morbidade objetiva") ou realizar entrevistas na população ("morbidade sentida"), sendo que muitas destas utilizam entrevistadores leigos com o objetivo de captar as representações sobre os problemas de saúde existente na população. Há ainda a vantagem da coleta rápida e fácil, quando comparadas com sistemas permanentes de coleta de dados, bem como do seu custo menor em comparação aos dos inquéritos de morbidade diagnosticada. Nas pesquisas de morbidade diagnosticada, são examinadas pessoas de uma amostra representativa da população de estudo com a finalidade de identificar casos de doenças específicas. No Município de São Paulo, em 1992, foi realizada a primeira fase do "Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal", tendo sido visitados 444 domicílios (correspondente a 10% da 74 amostra total do projeto), onde foram examinadas, por cirurgiões dentistas, 549 pessoas das várias idades de interesse, buscando-se fazer o diagnóstico de patologias da boca: dentes cariados, perdidos e obturados; condições da gengiva e do esmalte; e problemas de oclusão. Foram também produzidos dados para caracterizar epidemiologicamente a população estudada, além de informações sobre utilização de serviços odontológicos. Na pesquisa "Morbidade Psiquiátrica em Regiões Metropolitanas do Brasil - 1990/1991", foram aplicados questionários em amostras representativas da população acima de 14 anos, das R.M. de Brasília, São Paulo e Porto Alegre, visando a detecção de prováveis casos psiquiátricos, os quais eram confirmados em uma segunda etapa. Neste tipo de inquérito têm sido bastante utilizados escalas e formulários estruturados. Pesquisas de morbidade por várias outras doenças têm sido conduzidas em nosso meio, como por exemplo: hipertensão arterial, tracoma, e desnutrição. Levantamentos epidemiológicos utilizando testes laboratoriais para o diagnóstico de casos ou de infeções sub-clínicas têm sido realizados para diversas patologias ou grupos específicos da população. McDowell e Newell (1996) analisam as diferenças entre as medidas "objetivas", baseadas em resultados de exames laboratoriais ou de outros testes diagnósticos, e as "subjetivas", nas quais uma pessoa - profissional de saúde, paciente ou familiar - faz um "julgamento", que é utilizado no calculo do indicador. Ressalta que as medidas objetivas, embora não dependam de julgamento na fase de coleta dos dados, estão também sujeitas a ele no momento da interpretação, o que indica a complexidade da distinção entre esses dois tipos de abordagem. Os estudos e sondagens, através de inquéritos, começaram a ser realizados na década de 20 nos países industrializados, e a partir da década de 50 nos países periféricos, tornando-se mais rigorosos, ao utilizarem- se da metodologia científica, a partir da década de 30 (PEDERSEN, 75 1990). Segundo (KROEGER, 1985) os inquéritos domiciliares de saúde podem ser usados para avaliar o estado de saúde da população, registrar o número de pessoas incapacitadas ou funcionalmente doentes, e avaliar os usos de serviços de saúde, constituindo-se no marco zero para planejamento de saúde. Os inquéritos possibilitam ainda a obtenção de dados sobre a morbidade populacional, inclusive de deficiências físicas e mentais e as desvantagens sociais, prestando-se para avaliar o impacto dos problemas de saúde no cotidiano das pessoas, a freqüência de fatores de risco considerados relevantes e o consumo de serviços de saúde. (CESAR, 1996 B). Desde meados da década de 70 (CARVALHEIRO, 1997), vêm sendo realizados levantamentos de morbidade referida em nosso meio (CARANDINA, 1989), (LEBRÃO, 1991). Mais recentemente, um estudo realizado na área sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo (CESAR, 1996A), cujo banco de dados é utilizado no presente estudo, levantou, através de entrevistas domiciliares, a morbidade sentida pelas pessoas (prevalência), num determinado período (últimos quinze dias) e a utilização que fazem dos diversos serviços de saúde, inclusive das modalidades "alternativas" de assistência à saúde (CÉSAR, 1997). Borrel revisou a metodologia utilizada para estudar as desigualdades sociais em saúde, apontando que os inquéritos longitudinais, embora apresentem suas vantagens, tais como a de "unir" o censo e as estatísticas vitais (minimizando o viés numerador/denominador) e possibilitando, também, o estudo da mobilidade social, são muito caros e demandam longo tempo para sua realização, além de utilizarem-se de uma metodologia mais complexa que a dos inquéritos transversais (BORREL, 1997). Uma alternativa para estudar tendências, seria a realização periódica de estudos transversais, de tipo individuais ou ecológicos. Barreto (1995), chama a atenção para a complexidade e o dinamismo do processo saúde - doença, advertindo que o estudo deste fenômeno na população não deveria se ater a captar "instantâneos", ou seja, impressões estáticas e parciais que oferecem uma 76 visão limitada da realidade, apontando a possibilidade de se recuperar alguns elementos do dinamismo do processo através dos estudos de tendências temporais das doenças. Pedersen, ao comparar os inquéritos populacionais com os denominados "métodos rápidos de investigação em saúde" enfatiza que o rigor científico das pesquisas não é garantido simplesmente pela escolha que se faz de métodos e técnicas, qualitativos ou quantitativos, mas sobretudo, pela qualidade das decisões que os investigadores tomam ao longo do processo de pesquisa. Vários autores discutem as vantagens e os riscos dos denominados "métodos rápidos" de avaliação. Luiz (1997) analisando a técnica de "estimativa rápida", aponta seus problemas de validade e critica o uso freqüente desta técnica para contornar os obstáculos à coleta e análise de dados, presentes nos países subdesenvolvidos, significando, em sua avaliação, "uma maneira de estruturar um sistema de informação pobre, para subsidiar políticas sociais para população pobre". 77 2.2. Mensuração da situação de saúde e das condições de vida Não há uma variável única capaz de descrever saúde, pois sua mensuração* requer o uso combinado de muitas variáveis, apresentadas como "indicadores de saúde", cada uma delas respondendo por um elemento do conceito total (ILLSLEY 1990). Os tipos de indicadores de saúde socialmente necessários mudam à medida em que se alteram as concepções de saúdedoença e se estabelecem novas demandas requeridas ao controle social dos serviços de saúde (MCDOWELL, 1996). A mortalidade infantil tem sido apontada como uma boa ilustração da necessidade de substituição dos indicadores frente às mudanças verificadas nas sociedades, pois, embora seja um indicador sensível para medir o nível de saúde nas áreas economicamente pouco desenvolvidas, perde esta característica quando se trata das áreas mais desenvolvidas. Neste último caso, torna-se necessário escolher indicadores mais sensíveis que a mortalidade infantil, como a mortalidade entre 15 e 20 anos que, em situação de paz, explora melhor as condições de vida (CHOR, 1992). Nos últimos 150 anos, podem ser observadas diferentes fases, quanto ao enfoque dos estudos de situação de saúde, partindo-se de uma preocupação quase exclusiva com a sobrevivência, passando pelas abordagens da saúde como "ausência" de doenças e enquanto capacidade individual para desempenhar as atividades diárias. Mais recentemente, a ênfase tem recaído nos indicadores positivos tais como, bem estar social e emocional, felicidade e qualidade de vida. * Define-se "Mensuração" ("medida") como "a atribuição de números para objetos ou eventos, para representar quantidades de atributos, de acordo com regras" 78 Indicadores sócio - demográficos e econômicos relacionados à saúde Os indicadores de renda per capita ainda são muito utilizados para revelar as diferenças no desenvolvimento humano entre países e regiões, embora não tenham mais o prestígio verificado nos anos setenta e oitenta (ROSSETI, 1997). Apesar das suas conhecidas limitações para a avaliação da eqüidade na distribuição da renda entre os diferentes grupos sociais, o PNB per capita, no início dos anos noventa, revelava grandes desigualdades entre os países, variando entre um valor máximo de US$ 36.080 dólares, para a Suíça, e um mínimo de US$ 60 dólares, para Moçambique. Os países de baixa renda, realizaram 5,4% do produto mundial bruto e contam com 61, 4% da população, enquanto os de alta renda realizaram 52,1% da renda com apenas 8,9% da população mundial. No continente americano, Estados Unidos e Canadá tem valores equivalentes aos registrados na maioria dos países da Europa Meridional - faixa de 20.000 a 23.000 dólares americanos. Na América Latina, o Brasil apresentava um valor do PNB per capita de 2.770 dólares, inferior ao da Argentina, semelhante ao do Chile e superior a diversos outros países da região, embora seus indicadores sociais revelassem, no período, pior desempenho que o de países com menor PNB per capita, tais como a Costa Rica, com 1.960 dólares. Assim, para o ano de 1991, a Costa Rica apresentou um coeficiente de mortalidade infantil de 14 /1000, enquanto que para o Brasil o valor desse indicador foi de 58/1000 nascidos vivos (BANCO MUNDIAL, 1993). Países com PNB/per capita menores que 1000 dólares americanos anuais apresentam insuficiência nos setores da nutrição, saúde, educação e habitação, além de mostrarem maiores índices de concentração de renda. O PNB/per capita apresenta forte correlação: com o consumo de energia elétrica per capita, a porcentagem da força de trabalho masculina na agricultura, a porcentagem da população em área urbana, o consumo de 79 calorias per capita, a taxa de analfabetismo, a expectativa de vida ao nascer e a poupança financeira bruta em relação à renda agregada. Outros indicadores, como o Índice de Desenvolvimento Humano -IDH e o Índice de Desenvolvimento Social - IDS, mostram, com maior clareza, as reais diferenças entre as economias de alto e as de baixo PNB per capita. O IDH, proposto pelas Nações Unidas, ordena os países segundo o grau de desenvolvimento, através dos valores dos seguintes índices parciais, que variam de zero a um: PNB/per capita, expectativa de vida ao nascer, alfabetização de adultos, poder efetivo de compra da renda interna, condições culturais prevalecentes, relação entre trabalho e lazer e grau de liberdade política. Os valores deste índice para 1998, dividem os países em três grupos: Grupo I, de 0,805 a 0,960, integrado por países como o Canadá, França e Noruega sendo que o Brasil ocupa uma das últimas colocações neste grupo; Grupo II, de 0,500 a 0,800, fazendo parte o Suriname, Líbano, Bulgária, Cuba e Peru; Grupo III, de 0,185 a 0,494, onde situam-se o Quênia, Paquistão e outros países africanos e asiáticos. O IDS, desenvolvido por Rodrigues (1993), do Instituto Brasileiro de Economia - FGV, é semelhante ao IDH, detendo-se nas condições materiais de vida da população: remuneração, saúde, educação, habitação, alimentação e transportes. Pelos valores deste indicador, que também varia de 0 a 1, os países são classificados nos seguintes cinco grupos: I (0,8 a 1,0)- Japão, Suécia, Canadá, Bélgica, Alemanha, EUA, e França, entre outros; II (0,6 a 0,8)- Austrália, Nova Zelândia, Hong Kong, Cingapura e Espanha; III (0,4 a 0,6)- Costa Rica, Venezuela e Colômbia; IV (0,2-0,4)- Brasil, Peru e Marrocos e V (< 0,2)- Gana, Índia e Costa do Marfim. O índice de Gini mede a concentração de renda, comparando a porcentagem do rendimento total auferido por uma parcela da população, com o peso relativo dessa parcela no conjunto da população. Dessa forma, altos valores deste índice significam grandes desigualdades na renda, variando de 0 80 (zero) - perfeita igualdade, a 1 (um) - completa desigualdade na distribuição de renda. Uma perfeita igualdade na distribuição de renda seria alcançada se, por hipótese, 10% da população recebesse 10% da renda total, 20% da população 20% da renda total e assim, sucessivamente (LYNCH 1998). No Brasil, os valores deste índice estão aumentando: 0,5 em 1960, 0,562 em 1970, 0,581 em 1980 e 0,618 em 1989 (DUCHIADE, 1995). O índice de Robin Hood relaciona a distribuição da renda auferida por uma certa porcentagem da população(em décimos, por exemplo) somando o percentual de renda que excede o percentual da população em cada grupo. Este procedimento indica o percentual da renda que teria que ser retirado dos grupos que têm um percentual de renda maior que o seu correspondente peso na população e que, se transferido para os grupos com percentual de renda menor que seu peso correspondente no conjunto da população, resultaria em um padrão de igualdade na distribuição de renda (KENNEDY, 1996). O índice de pobreza de Sen - relaciona o coeficiente de Gini com o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza (2 salários mínimos*) e o hiato entre a renda de cada classe definida e a linha de pobreza (Siqueira 1992). O índice de nível de vida considera cinco componentes para medir o atendimento às necessidades básicas por domicilio: saúde (esperança de vida), habitação (tipo de abastecimento de água, consumo de energia elétrica e presença de geladeira), educação (alfabetização), participação econômica (renda per capita) e informação (presença de rádio e tv). O NBI (necessidades básicas insatisfeitas), proposto pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) utiliza cinco indicadores parciais de carência: densidade intradomiciliar, presença de equipamentos de saneamento, escolaridade e nível de renda (LEMUS, 1992). *Nos EUA, em 1990, a linha de pobreza era definida como renda anual de menos que US$ 13 359,00, para domicílios com família de quatro membros 81 O IGADSA (Indicador Global de Acessibilidade ao Desenvolvimento Social Acumulado), considera como estimadores a acessibilidade aos serviços de saúde, a renda, a educação, o nível de nutrição e o saneamento, com o objetivo de refletir o grau de acesso da população aos componentes básicos das condições de vida relacionados à situação de saúde (LUIZ, 1997). O indicador “willingness to pay”, proposto em 1968, por Schelling, busca medir o valor da vida humana pela quantia de dinheiro que as pessoas querem gastar para comprar uma específica redução na probabilidade de morte ou incapacidade. Alguns indicadores pretendem medir outros aspectos, tais como o índice de Coesão Social estimado pela percentagem de pessoas que confiam nas outras ("social trust") que foi utilizado por Kawachi (1997a) para demonstrar a sua relação inversa com o índice de Robin Hood. Este mesmo autor, discute a relação entre a coesão social e as condições de saúde, comentando a contribuição de Putnan, ao demonstrar o declínio do capital social nos EUA, entendido como "the invisible glue that holds society together - the social networks, norms, and trust enable groups of individuals to cooperate in pursuing shared objetives". Putnan ilustra essa relação, com o aumento que verificou no número de praticantes de boliche, acompanhado da queda no número de sócios dos clubes de boliche, concluindo que "bowling alone may not only hazardous to the body politic - it may also be dangerous for the body" (KAWACHI, 1997b). Indicadores compostos Estudos utilizando a combinação de vários indicadores, tais como os referenciais para descrição de áreas geográficas, têm sido desenvolvidos há muitas décadas. No final dos anos setenta foi proposto o "Indicador de Qualidade Material de Vida", combinando a taxa de mortalidade dos lactantes, 82 a expectativa de vida na idade de um ano e o índice de capacidade para ler e escrever (OMS, 1981). Indicadores compostos capazes de medir, simultaneamente, perdas relacionadas com mortes prematuras e com doenças requerem dimensões comuns, que em geral, contemplem a unidade de tempo e/ou de população, para que as medidas se façam sob as mesmas unidades. O controvertido indicador da Carga Global de Doença (MURRAY, 1996), utiliza o tempo como unidade de medida, somando os anos ou dias relacionados com a doença, YLDs (years of life with disability) com os anos ou dias perdidos por mortes prematuras, YLLs (years of life lost) relacionando-os com a expectativa de vida para cada idade. Este indicador é comparável, ainda que de uma lógica inversa, aos Anos de Vida Ajustados por Qualidade (QALYs quality-adjusted life years), que são largamente incorporados na análise econômica (custoutilidade) (MURRAY, 1994). Segundo Dachs (1998), os problemas técnicos desse indicador, que têm sido mencionados na literatura como uma limitação à sua utilização, são de solução relativamente simples, sendo mais significativas as dificuldades que surgem com o uso desse indicador para populações específicas, tais como o custo-efetividade acoplado às medidas sumarizadoras do tipo DALY. Para este mesmo autor, "é nessa área de trabalho multidisciplinar que devem interagir o epidemiologista, o planejador, o economista em saúde, a sociedade civil, os centros de pesquisa para discutir formas de alcançar o estabelecimento de prioridades, não apenas economicamente viáveis, com uso de intervenções tecnicamente adequadas, mas também aceitas pela população, que se proponham a diminuir as iniqüidades (CARR-HILL, 1994) no financiamento e acesso aos serviços de saúde, e que sejam parte de um conjunto de políticas sociais visando o combate às iniqüidades em geral e de saúde em particular". Vale destacar que em nosso meio Akerman (1997) sugere que os processos de construção de indicadores compostos possam "ser realizados em 83 arena mais participativa", aproximando os técnicos responsáveis por medir, com os demais segmentos sociais interessados na melhoria das condições de vida e situação de saúde da população. Como já referido anteriormente, a operacionalização da variável classe social, tem sido considerada uma questão polêmica e complexa (PAIM, 1997). No Brasil, tem-se observado um decréscimo na produção científica que se utiliza do referencial teórico marxista, fato este atribuído a problemas de desenvolvimento teóricos, conceituais e metodológicos que dificultam a sua operacionalização em situações concretas, bem como aos fatores relacionados ao deslocamento no espectro político na América Latina, inclusive com repercussões restritivas no financiamento de pesquisas que se utilizam deste referencial. Além disso, este tipo de estudo "demanda uma análise detalhada da formação sócio-econômica local e de suas características de produção", além de precisar equacionar, nas análises estatísticas, o obstáculo colocado pelo tamanho desigual das classes e suas frações, sendo, por exemplo, o proletariado mais numeroso que a burguesia (LUIZ, 1997). Para o grupo de epidemiologistas equatorianos, a construção do objeto de estudo deve estar centrada "não nas manifestações terminais - doenças mas, nos determinantes da Saúde Coletiva, nos perfis grupais de processos protetores e destrutivos (trabalhos, consumo e necessidade popular), nos interesses e forças sociais envolvidas, em sua capacidade organizativa, em suas condições ideológicas e saberes, com vistas à assegurar, através da experiência científica participativa, o próprio poder e conhecimento da população e suas organizações" (CAMPAÑA, 1997). Nesta proposta de abordagem os seres humanos são agrupados segundo quatro critérios fundamentais: lugar que ocupam no sistema de produção social; suas relações com os meios de produção; o papel que desempenham na organização social do trabalho; e o modo de perceber e a proporção em que percebem a parte da riqueza social de que dispõem (CAMPAÑA, 1997). Em nosso meio, diversas pesquisas foram 84 realizadas para analisar os diferenciais de saúde segundo classes sociais. Estudo realizado no município de Campinas, em 1991, demonstrou a existência de diferenciais importantes na distribuição das mortes por faixas etárias, segundo classes sociais divididas em cinco segmentos: subproletariado, proletariado típico, proletariado não típico, pequena burguesia e burguesia. Este tipo de abordagem ilustra a importância de se "ampliarem os referenciais no sentido de melhor apreender as complexas dimensões ligadas às desigualdades em saúde" (BARROS, 1997). Cesar (1997) demonstrou a concordância entre o grau de escolaridade e a condição de classe social *, em que a concentração dos níveis de escolaridade mais baixos situase no proletariado e no subproletariado enquanto que a burguesia e nova pequena burguesia apresentam os melhores níveis de escolaridade. Para Giddens (1984), a classe social deve ser considerada "um agrupamento em grande escala de pessoas que compartilham recursos econômicos comuns, os quais influenciam fortemente sobre o estilo de vida que são capazes de levar". A propriedade da riqueza, juntamente com a ocupação, são as bases mais importantes das diferenças de classes na sociedade pós-industrial ocidental, podendo ser agrupadas em três classes que combinam elementos ligados à propriedade dos meios de produção, os relacionados à qualificação ocupacional e os relativos ao nível de educação e às condições de trabalho: Classe alta: Classe média (subdividida em três grupos: tradicional classe média: pequenos negociantes, proprietários de comércios locais e pequenos camponeses; classe média alta: pessoas que ocupam posições de gestão e profissionais, sendo que a maioria ascendeu com estudo superior; classe média baixa: é mais heterogênea e inclui pessoas como proprietário de oficinas, professores e enfermeiras etc..) * Foi utilizada a classificação de Bronfman & Tuirám que considera seis segmentos de classes e frações de classe: subproletariado, proletariado típico, proletariado não típico, pequena burguesia tradicional, nova pequena burguesia e burguesia. 85 Classe trabalhadora: (subdividida em três grupos: classe trabalhadora alta: mais qualificados, maiores ganhos de renda e trabalhos mais estáveis; classe trabalhadora baixa: não qualificados e semi-qualificados, menores ganhos de renda e instabilidade no trabalho; infra classe: pessoas marginalizadas) Breve referência à prática da análise da situação de saúde: a experiência da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo Embora não se pretenda analisar detalhadamente neste trabalho o modo como a epidemiologia tem sido apropriada pelos serviços de saúde em nossa realidade, considerou-se relevante e oportuno apresentar a experiência do uso dos conceitos e métodos da epidemiologia na organização e gestão dos serviços de saúde no município de São Paulo, no período de 1989 a 1992, como uma ilustração das possibilidades e limites deste uso em serviços de saúde de regiões metropolitanas, com características semelhantes às de São Paulo. Orientando-se pelas proposições encontradas na literatura disponível e sugeridas em consultorias prestadas por diversas instituições brasileiras e de outros países, essa experiência procurava concretizar as ambiciosas diretrizes assumidas no âmbito da Secretaria Municipal da Saúde-SMS, que condicionaram o processo de formulação e implantação do Sistema Municipal de Informações de Saúde-SIMIS*, no sentido da descentralização e da democratização das informações e do uso amplo de indicadores epidemiológicos.. Segundo Moraes (1998), um sistema municipal de informações de saúde deveria abranger "toda e qualquer informação relevante para o conhecimento e monitoramento das condições de vida de uma dada população municipal, bem como daquelas relevantes para subsidiar o processo decisório em termos de gestão das políticas públicas que tenham expressão nessa base geográfica - o município". *"Sistema de Informação em Saúde" é usualmente definido como um conjunto de instrumentos destinados a coletar, classificar, processar e analisar os dados para o conhecimento da situação de saúde da comunidade e o funcionamento dos serviços, visando tomar decisões adequadas e oportunas (OPS 1993). 86 As propostas de saúde do governo municipal de São Paulo, no período 1989-1992, preconizavam a utilização dos indicadores das condições de vida e saúde, construídos a partir das realidades locais, na gestão dos serviços municipais de saúde, priorizando-se as necessidades dos grupos sociais e modificando-se a lógica administrativa predominante representada pela simples adequação entre os recursos disponíveis e os problemas a serem atendidos. Estas propostas decorriam de diretrizes gerais da administração municipal, sendo o "Projeto São Paulo Cidade Saudável", implantado em 1991, uma das iniciativas para concretizá-las. Com base no conceito de "Cidades Saudáveis", surgido no Canadá e desenvolvido pelo Escritório Europeu da OMS a partir de 1986, constitui-se um movimento de cidades comprometidas com a implantação de processos envolvendo governo e movimentos sociais visando articular as políticas públicas e os esforços da sociedade para a melhoria da qualidade de vida da população. Esta iniciativa, que envolve hoje centenas de cidades, em todo o mundo, estrutura-se como uma rede, sendo São Paulo a primeira cidade brasileira inscrita no movimento. Os contatos iniciais com o "Movimento das Cidades Saudáveis" ocorreram em 1990, a partir do Programa de Intercâmbio São Paulo/Toronto, quando se identificaram muitos pontos de contato entre as proposições do movimento e as diretrizes do governo municipal de São Paulo. Embora tenha havido uma boa receptividade por parte dos vários setores da administração municipal paulistana, inclusive com a concretização de algumas intervenções intersetoriais inspiradas no projeto, sua ampliação enfrentou os limites da prática predominante na administração pública brasileira, especialmente quanto à tendência de compartimentalização das ações por setor. 87 A estrutura organizacional da Secretaria Municipal da Saúde precisou ser adaptada para atender ao processo de implantação do modelo de intervenção preconizado (ELIAS, 1992). No início do governo, as unidades ambulatoriais e as hospitalares eram coordenadas por dois órgãos específicos do nível central, havendo pouca integração de suas atividades no nível local. Não existiam estruturas específicas responsáveis pela epidemiologia ou vigilância epidemiológica, havendo, apenas, uma "seção de estatísticas", que consolidava os boletins de produção das unidades de saúde. Assim, já no início de 1989, procedeu-se a uma ampla reforma administrativa na SMS, com o objetivo de "estabelecer as bases para a implantação do SUS no município", tendo como princípios a democratização, a descentralização, a eqüidade e a integralidade das ações de saúde. No início do processo de descentralização da gestão do sistema municipal de saúde foram criadas dez Administrações Regionais de Saúde - ARS e dois órgãos técnicos no nível central, o Centro de Epidemiologia, Pesquisa e Informação (CEPI) e o Centro de Organização da Atenção à Saúde (COAS). Em 1990, iniciou-se o processo de implantação dos Distritos Sanitários, tendo sido criados trinta e dois DS até o final de 1992. Nas Regionais e nos Distritos de Saúde foram criados os Núcleos de Epidemiologia, Pesquisa e Informação (NEPI), cujas atribuições correspondiam, no nível regional e distrital, às do CEPI (TELESI, 1998). Além da atribuição de órgão assessor dos níveis centrais de decisão, para as questões relativas à área epidemiológica, o CEPI era responsável pelo desenvolvimento e coordenação do Sistema Municipal de Informação em Saúde (SIMIS). O COAS, que seria a área responsável pela coordenação das atividades da área de planejamento e programação, adquiriu uma conformação heterogênea, marcada pelo agrupamento de vários programas, dirigidos a grupos populacionais ou problemas de saúde específicos, não havendo neste órgão, no momento inicial da reforma administrativa, profissionais interessados pela área de vigilância. 88 Apesar das propostas de implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) preconizarem a transferência das estruturas e atribuições relativas à vigilância epidemiológica e sanitária para o nível municipal, diversos tipos de dificuldades fizeram com que não se concretizasse, em São Paulo, a municipalização das atividades de vigilância, as quais permaneceram sob controle da Secretaria Estadual de Saúde (SES-SP). A Prefeitura de São Paulo, seguindo legislação municipal específica, atuava em apenas duas áreas da vigilância sanitária: o controle de fauna sinantrópica e zoonoses e a fiscalização dos estabelecimentos comerciais varejistas de alimentos e feiras livres. A primeira delas era desenvolvida pela Secretaria Municipal de Saúde de forma centralizada, em um único órgão, e a segunda pela Secretaria Municipal do Abastecimento, através de convênio celebrado com a SES-SP, em 1985. Constituíam-se, também, atribuições municipais, fiscalizar o saneamento das edificações e do meio ambiente e o uso e a ocupação do solo, atividades que envolviam as Secretarias das Administrações Regionais, da Habitação, e de Serviços e Obras. De início não se pretendia ter um órgão central de "vigilância" na SMS, por ser esta uma atividade típica dos níveis regional e local, cabendo ao nível central apenas a coordenação técnica, a normatização/uniformização de procedimentos e a avaliação. Estas atribuições eram previstas para serem desenvolvidas através de comitês específicos, contemplando a participação de representantes das Administrações Regionais de Saúde (ARS). No entanto, várias demandas de vigilância advindas tanto do Ministério da Saúde e da SES-SP, como das instâncias regional e distrital, provocaram a necessidade de implementar, em nível central, atividades de coordenação da vigilância na rede municipal. Como a maioria dos profissionais da equipe técnica do CEPI contava com a experiência anterior de trabalho na área de vigilância epidemiológica, este órgão foi assumindo, paulatinamente, a responsabilidade por essas atividades. 89 Assim, a incorporação das ações de vigilância à SMS foi ocorrendo a partir de demandas específicas (SES-SP, 1990), buscando-se, na medida das possibilidades técnicas e políticas, mudar o padrão centralizado e compartimentalizado, que caracteriza essa prática. Neste movimento de descentralização das atividades podem ser destacadas as seguintes (PMSP, 1992): 1) controle da fauna sinantrópica e zoonoses, que passou a ser de responsabilidade dos serviços regionais de controle de zoonoses, ficando a maioria deles sob a coordenação dos NEPI; 2) monitorização da fluoretação das águas de abastecimento público - iniciativa do programa de saúde bucal, envolvendo toda a rede de serviços de SMS; 3) implantação, em alguns DS, da vigilância epidemiológica dos óbitos por determinadas causas e/ou grupos etários, com procedimentos de intervenções nos serviços de saúde para corrigir os problemas detectados, apesar de não ser da competência legal do município a vigilância sanitária de serviços de saúde; 4) vigilância dos ambientes de trabalho, através dos cinco Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, orientadas a partir de critérios epidemiológicos de risco e de denúncias colhidas junto à população ou através dos sindicatos de trabalhadores; 5) desenvolvimento, em alguns DS, de ações intersetoriais para a intervenção sobre problemas de saúde específicos de suas regiões, contando com a assessoria do Department of Public Health (DPH) (DPH/TORONTO, 1985) da cidade de Toronto; 6) elaboração, através de grupo de trabalho intersetorial, de um anteprojeto de Código Municipal de Saúde, estabelecendo as atribuições do município na área de vigilância. A evolução do processo de organização das atividades de vigilância epidemiológica, monitorização e vigilância/fiscalização sanitária foi marcada por divergências quanto às concepções e aos métodos mais adequados para a sua consecução, enfrentando igualmente dificuldades políticas, tanto internamente à administração municipal como nas relações com o governo estadual. No entanto, o processo evoluiu para um consenso na SMS, quanto à 90 necessidade dessas atividades serem integradas em uma área que foi designada de vigilância à saúde. A capacitação das equipes responsáveis pelas atividades nos diferentes níveis da estrutura da SMS incluiu a realização de cursos de vigilância à saúde, cujo programa foi em parte baseado na organização da área de saúde ambiental da cidade de Toronto, incluindo-se conteúdos de epidemiologia, vigilância epidemiológica e vigilância sanitária. A estratégia escolhida para aprimorar as fontes próprias da SMS e melhorar o acesso às fontes externas de dados e informações, incluiu um diversificado leque de ações, tornando-se necessário, inclusive, criar instrumentos para apoiar o desenvolvimento de um "Modelo de Atenção à Saúde em que as equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) deveriam realizar continuamente atividades de avaliação dos determinantes dos problemas de saúde mais importantes na suas áreas, atuando sobre os mesmos, de forma articulada com os outros setores da administração pública contemplando a participação da população." (ESCRIVÃO, 1990). Pretendia-se, ainda, modificar o modelo tecnológico da assistência médico - odontológica, restringindo-se as ações justapostas e desarticuladas dos diversos profissionais e implantando-se intervenções coletivas através de equipes multidisciplinares orientadas pela concepção da “unidade do indivíduo inserido no segmento social a que pertence”. Serão destacadas, a seguir, algumas das iniciativas mais relevantes para as questões envolvidas no presente estudo: • Realização, no período de 1989/90, de um "Diagnóstico de Saúde" para a população do Município de São Paulo como um todo e das 10 áreas correspondentes às suas Administrações Regionais de Saúde (ARS). Para o desenvolvimento deste projeto foram feitas articulações do nível central da SMS com órgãos municipais e estaduais produtores de informações sócioeconômicas e demográficas, no sentido de facilitar o acesso aos dados às equipes técnicas das ARS. • Implantação, em outubro de 1989, do PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo), com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade dos dados e disponibilizar, as informações preliminares de mortalidade para subsidiar as ações dos serviços de saúde nos vários níveis, viabilizando, entre outras, as atividades de vigilância epidemiológica da mortalidade infantil e a implantação do Comitê de Investigação da 91 Morbi-mortalidade Materna, além de tornar mais acessíveis dados para serem utilizados, na realização de estudos, por universidades e outros centros de pesquisa (ESCRIVÃO, 1990). • Definição dos instrumentos primários de registro e consolidação de dados dos serviços municipais de saúde, das informações necessárias em cada nível do sistema e dos fluxos de dados, ascendente e descendente, entre eles. Os instrumentos primários, prontuários e fichas de atendimento principalmente, foram estruturados para conter, além das informações tradicionais para avaliar o volume do atendimento, dados úteis para a caracterização epidemiológica dos usuários dos serviços municipais de saúde (PMSP, 1990). • Melhoria da qualidade e estímulo à maior utilização dos dados de morbidade dos pacientes internados e elaboração de metodologia de produção de dados sobre a morbidade da demanda atendida nos serviços ambulatoriais da SMS. Desde 1990, foram realizados levantamentos trimestrais, por amostragem, da morbidade da população atendida nos serviços de urgência/emergência, nas unidades básicas de saúde e nos ambulatórios especializados. • Planejamento do "Levantamento epidemiológico em saúde bucal no município de São Paulo” 1992 – constituído por um inquérito de morbidade diagnosticada e de utilização de serviços odontológicos, com representatividade para o município de São Paulo e para as 10 Administrações Regionais de Saúde existentes na época. A complexidade da pesquisa exigiu um minucioso e demorado planejamento, sendo possível, durante a administração 1989/92, realizar apenas a sua primeira fase. A gestão subseqüente da SMS, infelizmente, não deu continuidade à pesquisa. A implantação do SIMIS (Sistema Municipal de Informações de Saúde) proporcionou resultados expressivos quanto ao acesso aos dados de mortalidade referentes à cidade de São Paulo e à melhoria de sua qualidade, tendo colaborado decisivamente para o uso descentralizado dos indicadores de mortalidade na orientação das políticas de intervenção sobre os problemas prioritários nas regiões de saúde. O acesso facilitado às fontes secundárias de dados de morbidade de base populacional (doenças de notificação compulsória, principalmente) e a maior utilização dos dados relativos aos pacientes internados, assim como a produção de dados de morbidade da demanda atendida nos serviços municipais de saúde, permitiram um maior conhecimento dos problemas de saúde das regiões e uma melhor caracterização epidemiológica dos usuários dos serviços. Entre as medidas necessárias à viabilização do SIMIS, devem ser destacadas: a ampla 92 disseminação das informações disponíveis; o acesso facilitado e desagregado às bases de dados demográficos e sócio-econômicos de fontes secundárias, possibilitando seu uso no nível local; a organização de base de dados primários de mortalidade, viabilizada pela implantação do PRO-AIM (PMSP, 1992) e a ampliação dos recursos da informática. Merece destaque, ainda, a condução do "Levantamento Epidemiológico de Saúde Bucal", objetivando estudar a situação da população da Cidade de São Paulo no que se refere aos principais problemas de saúde bucal e à utilização de serviços odontológicos, assim como suas relações com variáveis sociais e demográficas (PMSP, 1992). Ao lado destes avanços, cujos reflexos podem ser observados até os tempos atuais, a experiência de implantação do SIMIS provocou diversas indagações relativas aos limites das metodologias usuais e à capacitação das equipes técnicas, para concretizar as propostas de uso da epidemiologia na organização e gestão dos serviços de saúde. O manejo de dados das diversas fontes, a escolha de indicadores adequados para os diversos usos e níveis da estrutura da SMS, e mesmo o contato com abordagens conceituais conflitantes aportadas pelas diferentes agências que apoiavam a administração municipal, constituíram-se, na época, em grandes desafios. No momento atual torna-se importante refletir sobre esta experiência, pretendendo-se no presente estudo dialogar com um aspecto particular dela, qual seja a aplicação da epidemiologia para a análise da situação de saúde. Embora se reconheça a amplitude e a diversidade de temas desta introdução, essa abordagem justifica-se pela necessidade de estabelecer um quadro referencial para o entendimento das propostas e das práticas de análise de situação de saúde. O uso de novos enfoques para as fontes e metodologias tradicionais nos diagnósticos sanitários e o desenvolvimento de outras formas de apreensão de necessidades e problemas de saúde, inserem-se no movimento de pesquisadores e técnicos da área de saúde coletiva que requer a construção 93 de alternativas adequadas, no plano teórico e na prática dos serviços, para a superação da iniqüidade na situação de saúde e no consumo de serviços. Procurou-se com esta introdução apontar o conjunto de questões centrais na reflexão sobre a análise da situação de saúde. 94 OBJETIVOS Objetivo Geral: Analisar aspectos conceituais, métodos e indicadores para estudos de situação de saúde em regiões metropolitanas brasileiras. Objetivos Específicos: Discutir características metodológicas e fontes de dados dos estudos de situação de saúde e demonstrar as limitações desta prática nos serviços de saúde na Região Metropolitana de São Paulo. Identificar formas de aprimoramento das fontes e metodologias para análise de situação de saúde na Região Metropolitana de São Paulo. Comparar a avaliação das necessidades de saúde em uma população da área sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, através das estatísticas de mortalidade e dos resultados de inquérito populacional de morbidade referida, discutindo-se características operacionais do uso integrado destas fontes para a análise de situação de saúde. 95 MATERIAL E MÉTODOS Tendo em vista os objetivos e o tipo de abordagem assumidos nesta tese, realizou-se, além da consulta às bases de dados bibliográficas habituais, a consulta a outros textos sobre análise de situação de saúde que permitissem o conhecimento de propostas formuladas por: órgãos oficiais do setor saúde (OMS, OPAS, Ministério e Secretarias de Saúde); associações de gestores estaduais e municipais do SUS; entidades representativas dos profissionais de saúde, da academia e dos serviços, como a Abrasco e a APSP; e conselhos representativos nos diferentes níveis de organização do sistema de saúde. Valeu-se, também, de consultas a "home pages" e documentos sobre experiências nacionais e internacionais de análise de situação de saúde, fazendo-se, dada a maior facilidade de acesso à material mais detalhado, uma apreciação da experiência da SMS-SP, período de 1989-92, no sentido de ilustrar algumas particularidades desta prática de saúde pública, em nossa realidade. Quanto aos indicadores de mortalidade e de morbidade utilizados, optou-se por ilustrar a importância da comparação entre diferentes medidas da situação de saúde, com a comparação entre os coeficientes de prevalência e de mortalidade na região do estudo, no período de 89/90. Em que pese, a grande relevância do uso de outras medidas de mortalidade no estudo das desigualdades de saúde, possibilitando extrair diferentes significados da mesma fonte de dados padronizada (SMR), (ILLSLLEY,1990), excesso de tais como: razão de mortalidade mortalidade padronizada (EMR), probabilidades de morte e de sobrevivência até idades específicas, anos potenciais de vida perdidos (APVP), e a razão entre coeficientes de duas 96 populações (DRUMOND JR. 1996); optou-se, no presente estudo, pelo uso das freqüências absolutas, índices proporcionais e, principalmente, coeficientes de prevalência e de mortalidade, por serem mais adequados aos seus objetivos. Esta opção pretendeu valorizar a "riqueza do conhecimento que pode ser extraído das análises dos coeficientes específicos por causas", nos grupos populacionais definidos por idade, sexo e condições sócio-econômicas e ambientais (PLAUT, 1989). Área de estudo Tendo em vista os objetivos da presente tese, os dados populacionais e de mortalidade da área estudada, que abrange atualmente 8 municípios, foram organizados segundo as divisões geográficas utilizadas no Inquérito Populacional de Morbidade Referida e Utilização de Serviços, estando os mesmos distribuídos pelas seis regiões e pelos sete “domínios” de idade/sexo definidos para o referido inquérito. Assim, os dados populacionais dos municípios de Vargem Grande Paulista e de São Lourenço da Serra estão, respectivamente, englobados nos municípios de Cotia e de Itapecerica da Serra. Dados de Morbidade O principal motivo para a escolha da área e do período de estudo foi a possibilidade rara, e o privilégio, de acesso aos dados do Inquérito Populacional de Morbidade Referida e Utilização de Serviços, realizado em 1989/90, na região metropolitana de São Paulo. Esta pesquisa, coordenada pelo professor Chester Galvão Cesar, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, e conduzida por uma dedicada e competente equipe, produziu um importante banco de dados que tem sido 97 utilizado para a realização de diversos estudos (CESAR, 1996) (BUSTAMANTE, 1996). Nas publicações geradas a partir destes estudos, pode-se obter um melhor detalhamento dos aspectos metodológicos, a seguir, apresentados (CESAR 1996 e 1997). A população do estudo foi uma amostra: probabilística, constituída pela população civil, urbana, não institucionalizada e residente na área estudada, com representatividade para cada um dos municípios que a constituem. O levantamento de campo teve duração de doze meses, julho de 1989 a junho de 1990, utilizando-se entrevistadores leigos, para evitar traduções para linguagem técnica, sendo as questões respondidas por adultos, ou pela mãe/responsável no caso dos menores de 14 anos. Os dias/períodos de referencia foram os seguintes: dia da entrevista, para problemas crônicos de saúde e deficiências físicas; três dias anteriores à entrevista, para uso de medicamentos; duas semanas anteriores à entrevista, para morbidade referida e utilização de serviços; e doze meses anteriores à entrevista, para hospitalização e uso de serviços odontológicos. O acesso ao banco de dados da pesquisa permite conhecer tanto a prevalência de problemas de saúde na população amostral, como a morbidade proporcional de um determinado código da CID, em relação ao total de diagnósticos referidos. As características metodológicas deste levantamento de morbidade referida possibilitam, teoricamente, a atribuição de até 15 códigos da CID para cada pessoa da amostra, uma vez que foram registrados até 3 problemas de saúde ("afecção"), comportando até 3 códigos por afecção; "problemas de nervos", com até 3 códigos; e acidentes, também comportando até 3 códigos da CID. Além desses, relativos à natureza da lesão, é possível atribuir para os acidentes um quarto código, da classificação suplementar por causas externas, relativo à natureza do episódio que gerou a(as) lesão(ões). A gravidade do problema de saúde foi medida pela limitação de atividades habituais e falta à escola ou emprego. A condição sócio-econômica 98 foi avaliada pela escolaridade do chefe de família (para menores de 1 ano, escolaridade da mãe), ocupação e renda. Utilizou-se também a metodologia de Bronfman e Tuiram para definir a "condição de classe social" do entrevistado. O processo amostral utilizou a técnica denominada "amostragem de área", com várias etapas de sorteio. Em uma primeira fase: considerou-se os municípios como conjuntos de setores e sub-setores censitários, sendo cada um deles dividido em dois estratos segundo a densidade de domicílios, sorteando-se 30 setores ou sub-setores, em cada município, sendo 70% pertencentes ao estrato 1 (alta densidade domiciliar) e 30% ao estrato 2 (baixa densidade). Na segunda fase, realizou-se o sorteio dos quarteirões e, posteriormente, dos domicílios (dentro dos quarteirões sorteados), nos estratos 1; e o sorteio dos domicílios, nos estratos 2. Para garantir número suficiente de menores de um ano e de idosos na amostra, foram definidos sete domínios de estudo, por grupos de idade e sexo (1ano, 1 a 6 anos, 7 a19 anos, 20 a 49 anos masc., 20 a 49 anos fem., 50 e + masc. e 50 e + fem), fazendo-se, antes da análise dos dados, um processo de ponderação e ajuste da amostra, para tornála representativa da população alvo, em termos de estrutura de idade e sexo. Foram visitados 9.842 domicílios e realizadas 10.199 entrevistas. O número de indivíduos entrevistados em cada domínio foi definido como 200 (alfa de 5% e Beta de 7%) sendo sorteados, para entrevista, 250 indivíduos em cada domínio, para compensar a perda estimada em 20%. A perda verificada foi de 5,4%, sendo realizadas 10.199 entrevistas, para um total previsto de 10.796 indivíduos a serem entrevistados. 99 Dados de Mortalidade Foram utilizados dados secundários de mortalidade do Sistema de Informação de Mortalidade - SIM, do Ministério da Saúde, acessados através de CD com as bases de dados do período 1979 - 1996 (para o último ano da série, os dados eram incompletos). Utilizando o software TABWIN versão 1.1 foram preparadas tabelas, organizando-se os dados de mortalidade de modo a permitir a análise comparativa com os dados de morbidade referida da área de estudo, ou seja, mesmo período - julho de 1989 a junho de 1990, e grupos populacionais - "domínios", definidos no inquérito. Além desses, foram levantados os dados de mortalidade do Estado de São Paulo e da área de estudo, no período de 1980 a 1995, para permitir a análise da tendência da mortalidade, não sendo possível, fazer a análise de tendência comparativa com a morbidade referida, uma vez que, não existem dados de morbidade referida para outros períodos, além daquele estudado. Os dados estão codificados pela CID - 9, revisão vigente à época do estudo, e foram organizados, para análise, por capítulos da classificação e por causas (três dígitos e CID BR). Foram calculadas as proporções e os coeficientes específicos por causa, domínios e áreas definidas, fazendo-se, quando indicado, a padronização pelo método direto, utilizando o software Excel, versão 97. Tendo em vista que se procura, nesta tese, estudar a estrutura da mortalidade através da seleção de grupos de causas específicas, e também, que as diferenças encontradas entre os valores dos indicadores padronizados e não padronizados foram de pequena magnitude, optou-se, quando possível e pertinente, pela apresentação dos coeficientes na forma não padronizada. Além disso procurou-se evidenciar a situação real, refletida nas taxas específicas, uma vez que nenhum índice geral, seja bruto ou ajustado, substitui satisfatoriamente a observação e análise das taxas de cada grupo etário. 100 População A população para janeiro de 1990, meio do período anual do inquérito, foi estimada calculando-se o valor do crescimento mensal no período intercensitário, dividindo-se o valor da diferença entre a população medida no censo de 1991 e no de 1980, pelos 132 meses existentes no período.(População de 1980 + N x r, sendo N o número de meses entre julho de 1980 e janeiro de 1990 e r o crescimento populacional mensal do período). Para o cálculo dos estratos por gênero e faixa etária foram aplicados à população estimada para janeiro de 1990, os percentuais apurados no censo de 1991, eliminando-se o grupo de 362 pessoas para as quais não se obteve informação de idade/sexo. Utilizou-se como população padrão a média aritmética das populações das seis áreas definidas no estudo (Tabela 1). TABELA 1 - População da região do estudo, em janeiro de 1990 e população padrão, segundo áreas e “domínios” de idade/sexo definidos no inquérito. Embu Taboão Itapecerica Embu-guaçu Juquitiba Cotia/Vg pta Total “padrão” M/F <1 a 3 421 3 174 2 009 805 421 2 450 12 280 2 047 M/F 1a6 21 449 20 678 12 949 4 813 2 716 15 680 78 285 13 048 M/F 7 a 19 45 220 42 231 26 778 10 246 5 742 33 506 163 723 27 287 MASC FEM MASC FEM TOTAL 20 a 49 20 a 49 50 e + 50 e + 32 826 33 018 5 184 5 752 146 870 34 313 36 126 6 470 7 633 150 625 19 178 19 221 3 934 4 127 88 196 7 240 7 008 1 980 1 877 33 969 3 815 3 662 1 396 1 084 18 836 25 270 25 570 5 800 5 900 114 176 122 642 124 605 24 764 26 373 552 672 20 440 20 768 4 127 4 396 92 112 101 Composição proporcional das populações estimadas, da população total e da população padrão 50% 40% 30% 20% m/f <1a m/f 1 a 6 m/f 7 a 19 m/f 20-49 "padrão" total cotia/vgpta juquitiba embuguaçu itapecerica taboao 0% embu 10% m/f 50 e mais 102 RESULTADOS A área do estudo está localizada na porção sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, sendo constituída pelos municípios de Taboão da Serra, Embu, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Embu-Guaçu, Juquitiba, Cotia e Vargem Grande Paulista. Essa área apresentou grande crescimento nas décadas de 70 e 80, recebendo sem o devido planejamento, grandes contingentes populacionais, de baixo nível sócio-econômico, vítimas do processo de "expulsão" ocorrido nas áreas mais centrais da RMSP. Este processo atingiu menos os municípios de Embú-Guaçu e Cotia, sendo que neste último o crescimento populacional decorreu, em grande parte, da instalação de conjuntos residenciais destinados à população de alto nível sócio-econômico. O melhor acesso ao transporte coletivo e a proximidade com o município de São Paulo, fazem com que Taboão, Embu e Itapecerica tenham a maior parte de sua população trabalhadora atuando na capital. Juquitiba, com hábitos rurais predominantes é o mais distante da região central da RMSP e tem o maior percentual de população trabalhando no próprio município. A exploração da relação entre os dados de morbidade referida e dados de fontes secundárias existentes na região já foi objeto de estudo de Gattás, que apontou divergências nos dados de cobertura vacinal para Região Sudoeste da R.M. de São Paulo, no período de 1988 a 1990, constantes no boletim mensal de produção do ERSA-12, variando entre 64 e 74% para as diferentes vacinas, e os produzidos pela Divisão de Imunização do CVE, que variaram entre 95 e 110% (GATTÁS, 1996). Problemas de uso de denominadores diferentes podem explicar essa divergência, reforçando a utilidade dos levantamentos com base populacional para o conhecimento da 103 real cobertura vacinal, além disso, segundo a autora, os dados do numerador também podem ser melhor apurados nos inquéritos, que permitem igualmente pesquisar outros dados para caracterização da criança e da família, normalmente não trabalhados pelos serviços de saúde, onde, infelizmente, ainda predominam métodos administrativos de avaliação da cobertura vacinal. No estudo de Gattás, foram utilizadas variáveis demográficas, ano de nascimento, município, áreas homogêneas e sócioeconômicas, como escolaridade, inserção no mercado de trabalho e condição de classe social. Escuder também realizou estudo na região, no período de 15/11/94 a 15/01/95, comparando os dados da demanda ambulatorial de um programa de saúde infantil (menores de 5 anos) com os dados de morbidade referida coletados a partir de um inquérito domiciliar em área residencial do município do Embu, "visando conhecer o potencial da morbidade da demanda como instrumento de reconhecimento das necessidades de saúde da população"(ESCUDER, 1998). As conclusões deste trabalho mostram que existe uma identidade satisfatória na forma de identificar a morbidade nas duas fontes, sendo a concordância na medida da morbidade decorrente da cobertura dos serviços. A procura por serviços variou segundo a faixa etária, mas não foi determinada pelo tipo de patologia, uma vez que os perfis de doença são semelhantes entre os que buscam e os que não buscam atendimento nas unidades de saúde. Morbidade da área de estudo O estudo da morbidade mostrou que 30,4% da população da região referia, nos quinze dias anteriores à entrevista, pelo menos um "problema de saúde", sendo que a maioria (83%) referia apenas um. No entanto, pelas características do questionário, para cada "problema de saúde" podem ser atribuídos até três códigos da CID, como se explicou no item referente à 104 metodologia. Neste estudo, embora se registrem variações entre os grupos de idade e sexo, encontrou-se a ocorrência de quatro ou mais diagnósticos por pessoa para menos de 2% do total da amostra, sendo verificado um máximo de oito códigos da CID9 para uma mesma pessoa, apesar da possibilidade de se alcançar, pelas características do questionário, até quinze diagnósticos por indivíduo. Assim, na "leitura" das necessidades de saúde na população estudada, a partir do inquérito de morbidade, o coeficiente de prevalência difere daquele calculado para o estudo de doenças específicas, onde cada pessoa "caso" - é contada apenas uma vez no numerador. Difere, também, das estatísticas de mortalidade, uma vez que para essas, convencionou-se atribuir apenas uma "causa básica do óbito". Como foi anteriormente comentado, as dificuldades para o estudo do adoecer humano, decorrentes da coexistência de diversos problemas de saúde para um mesmo indivíduo (e, portanto, mais de um código das classificações de doenças), são algumas das razões pelas quais os estudos de morbidade costumam ser considerados trabalhosos. Quando se opta pela análise do coeficiente de prevalência específico de uma doença na população ou ainda quando se calcula a proporção desta causa no conjunto delas, de modo a visualizar a importância relativa de cada diagnóstico, essa dificuldade não gera artefatos significativos. Porém, quando se pretende medir as principais doenças de um determinado grupo populacional dividido por faixa etária, sexo, ocupação, classe social etc. - essa condição adquire relevância. Em que pese não ser esta uma exclusividade dos estudos de morbidade referida, a dificuldade de catalogar as pessoas como "saudáveis" ou "doentes" - e, neste caso, de qual(is) doença(s) são acometidas (e portanto quantos códigos da CID), fica acentuada neste tipo de pesquisa, principalmente para os problemas inespecíficos, em geral de difícil identificação. 105 As tabelas, a seguir, ilustram alguns aspectos dessa complexidade e mostram a potencialidade dos estudos de morbidade referida para a análise de situação de saúde. No banco de dados desta pesquisa é possível calcular a prevalência das doenças pelo levantamento do número de indivíduos que referiram problemas de saúde em cada capítulo da CID, no conjunto da amostra, ou para os diferentes "domínios" considerados e também calcular a prevalência pelo número de indivíduos que referiram uma doença específica. A "leitura" das categorias de morbidade e, principalmente, os correspondentes valores dos coeficientes de prevalência, serão diferentes em cada um desses procedimentos. Assim, por exemplo, irão diferir os valores dos coeficientes de prevalência do capítulo XVI (sinais e sintomas mal definidos) caso a pesquisa no banco de dados selecione "pessoas da amostra que referiram algum problema deste capítulo" (situação dicotômica "sim" ou "não"), ou “pessoas da amostra que referiram alguma causa específica (código de 3 dígitos)” dentro deste capítulo (Tabela 2). Em geral, os valores dos coeficientes calculados a partir dos códigos de 3 dígitos são maiores que os calculados por capítulos, mas a magnitude dessa diferença é variável segundo o "domínio" e o capítulo que está sendo considerado. Assim, as prevalências de infecciosas no grupo de 50 anos e mais, quando se calcula por capítulo e por categorias de 3 dígitos, são, respectivamente, 4,8/1000 e 8,7/1000, para as mulheres e 8,8/1000 e 7,1/1000 para os homens, mostrando que as mulheres referiram mais causas dentro deste capítulo. 106 TABELA 2 - Coeficiente de prevalência (*1000) dos "Sinais, sintomas e afecções mal definidas", segundo o tipo de levantamento: por capítulo e por categorias de 3 dígitos, julho de 89 a junho de 90, na área de estudo. CID9 <1 ano 1 - 6 Capít. XVI 134,0 106,8 Categoria de3 162,7 128,2 Dígitos 7 - 19 20 – 49M 20 - 49F 50 e +M 50 e +F TOTAL 89,8 120,5 202,9 191,7 263,1 138,3 113,4 158,4 287,4 254,5 384,6 185,1 Na tabela 3, são apresentados os coeficientes de prevalência por capítulos da CID, podendo-se observar que a maior prevalência deve-se ao capítulo das mal definidas, fato decorrente das características dos levantamentos de morbidade referida . A esse, seguem, em ordem decrescente de importância, os problemas respiratórios, digestivos, osteomusculares e lesões/envenenamentos. Na tabela (4) pode-se observar a distribuição dos coeficientes de prevalência dos capítulos por faixa etária e sexo ("domínios" do inquérito), revelando-se os diferentes perfis de problemas de saúde nos grupos estudados. Estes perfis serão detalhados nas tabelas de prevalência de causas codificadas pelos 3 dígitos da CID9. 107 TABELA 3 - Coeficiente de prevalência (*1000 hab.), em ordem decrescente de magnitude, na região do estudo, de julho de 89 a junho de 90, segundo os principais capítulos da CID 9 e as principais causas no interior dos capítulos. CAP N.º CAPÍTULO CID9 PREV. 138,3 VIII Sintomas Sinais e Afeções mal definidas Problemas Respiratórios IX Aparelho Digestivo 25,4 XIII Doenças do Sist. Osteomuscular e Tec. Conjuntivo Lesões e Envenenamentos 24,2 XVI XVII 99,3 22,6 I Doenças Infecciosas e Parasitárias 16,7 VII Ap. Circulatório 13,6 VI Sistema Nervoso 12,4 X Geniturinário 9,9 V Transtornos Mentais 6,9 XII Doenças da Pele e do Tecido Celular Subcutâneo 6,5 Demais Capítulos <2,0 PRINCIPAIS CAUSAS (ordem decrescente) Nervosismo, Cefaléia, Hipertermia de origem desconhecida, Tosse Gripe com manifestação respiratória Resfriado comum Faringite aguda não especificada Transtornos. da função gástrica não espec. Gastrite/gastroduodenite Dentes e suas estruturas de sustentação Dor nas costas n/ especificada, Dor nos membros Transtornos nas costas não especificados Alergia não especificada Outros traumatismos do joelho perna e pé n/ esp. Fratura de tíbia e perônio fechada. Colite, enterite e gastroent. infeciosas Helmintíase n/ especificada Varicela Diarréia de origem infecçiosa presumível Hipertensão essencial n/ especificada Hipotensão não especificada Varizes de extr. inferiores sem úlcera ou inflam. Otalgia e Otite média n/ especificada Labirintite Outras conjuntivites e as não especificadas. Síndrome de TPM Transtornos do rim e ureter n/ esp Sinais e sintomas das mamas. Transtorno explosivo da personalidade Depressão Estados de ansiedade Reação aguda ao stress n/ especificada Outros transtornos. da pele e tec. cel. subc. n/ especif. Prurido não especificado Outras doenças da pele Furúnculo de localização não especificada 99 TABELA 4 - Coeficiente de Prevalência (*1000), por grupos etários/sexo e capítulos da CID9, de julho de 89/junho de 90, na região do estudo. CAP CID9 D. infecciosas e parasitárias Neoplasmas D. endoc. n. m. t.imunitários D.sangue e órg. hematopoét. Transtornos mentais D. do sist. nervoso/ org. sent. D. do aparelho circulatório D. do aparelho respiratório D. do aparelho digestivo D. do aparelho genitourinário Com. gravidez, parto, puerp. D. pele e tec. celular subcut. D. sist. osteomusc. /tec. conj. Anomalias congênitas Alg. afec orig.n.per. perinatal S.s. e afecções mal definidas Lesões e envenenamentos Clas. supl. c. ex. les./ env. M/F <1Ano 30,4 35,4 275,7 8,6 2,0 13,2 2,1 1,3 4,6 134,0 11,8 - M/F 1-6a 47,7 2,1 3,5 0,3 17,1 166,9 7,0 1,9 11,6 1,3 106,8 32,1 - M/F 7-19a 13,8 0,1 3,2 5,2 12,6 2,4 86,6 18,8 5,2 0,8 6,4 3,4 89,8 20,8 0,4 MASC 20-49a 10,9 0,6 0,1 5,0 5,6 12,3 68,5 30,6 3,2 2,2 17,0 120,5 26,4 1,0 FEM 20-49a 10,1 1,1 2,3 1,1 15,8 11,6 17,7 93,6 37,5 28,7 0,3 5,8 45,8 202,9 17,8 0,6 MASC 50 ou+ 7,1 0,3 3,2 7,4 18,7 48,7 67,5 35,0 5,6 1,3 11,3 72,2 191,7 17,8 1,7 FEM 50 ou+ 4,8 6,6 1,2 6,7 15,5 83,4 95,0 38,0 12,8 9,2 117,1 263,1 19,7 3,9 TOTAL 16,7 0,3 1,4 1,8 6,9 12,4 13,6 99,3 25,4 9,9 0,4 6,5 24,2 0,0 0,1 138,3 22,6 0,8 99 Na tabela 5, apresenta-se o perfil da morbidade para o grupo de 50 anos e +, masculino, verificado por meio das categorias de doenças, (desconsiderando-se as causas mal definidas e desconhecidas), no sentido de demonstrar diferentes possibilidades de manejo, com as categorias de diagnósticos da CID 9, em separado ou o agrupadas. Pretende-se demonstrar que as "leituras" que vão sendo feitas dos problemas modificam-se com o recorte escolhido, podendo-se trabalhar com grupos amplos, como os 17 capítulos, até com as categorias detalhadas de 4 dígitos, alergia, por exemplo. Neste grupo de idade/sexo, uma interessante ilustração da importância de se combinar os estudos de morbidade e mortalidade, pode ser dada pela hipertensão arterial, terceira colocada no "ranking" da morbidade e ausente nas principais causas de mortalidade, sendo essa, no entanto, um fator de risco para a doença isquêmica do coração, que, por sua vez, ocupa a primeira posição no "ranking" da mortalidade. Este exemplo revela, igualmente, a potencialidade da exploração deste caminho nos estudos de situação de saúde. Outro aspecto a considerar, é o grau de dispersão entre os diferentes códigos dentro de cada agrupamento de categorias, ou seja para alguns deles, como "outros transtornos femininos", na faixa de 20 - 49 anos, cada categoria de 3 dígitos, isoladamente, apresenta coeficientes de valores pequenos, mas somadas, assumem magnitude relevante. O mesmo pode-se observar para o agrupamento dos transtornos neuróticos, da personalidade e outros transtornos mentais não psicóticos, que têm relevância para as mulheres de 20 a 49 anos, com um coeficiente de 16,69 por mil, mas nenhuma categoria, dentro do agrupamento, ultrapassa o valor de 5 por mil. O significado desses diferentes recortes, quando se considera a prática dos serviços de saúde, é uma das questões discutidas adiante. 100 TABELA 5 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 50 anos ou + masculino, segundo principais causas específicas - CID9, 3 dígitos, julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIAS DA CID - 3D COEF. AGRUPAMENTO DE CATEGORIAS Outros transtornos dos tecidos moles (729) Gripe (487) Hipertensão essencial (401) Outros transt. do dorso e os n. espec. (724). Úlcera gástrica e tr. da f. gástrica(536,531) 44,90 43,17 35,98 32,47 18,74 Bronquite n. espec. c/ aguda/ crônica (490) Resfriado comum (460) Outros efeitos adversos... incl. alergia.(995) 9,77 9,01 7,19 Reumatismo excluindo o dorso Pneumonia e gripe Doença hipertensiva Dorsopatias Doenças do esôfago, estômago e duodeno Doença Pulmonar Obstrut. Crôn. e afins Infecções respiratórias agudas Outros efeitos de causas ext. e os n. esp. O perfil de causas de doenças, nas mulheres de 50 e +, apresenta poucas diferenças em relação ao masculino, chamando a atenção os maiores valores dos coeficientes do grupo feminino, de maneira geral, conforme pode ser observado na tabela 6. TABELA 6 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 50 anos ou + feminino, segundo categorias específicas - CID9, 3 dígitos, de julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D COEF. AGRUPAMENTO DE CATEGORIAS Gripe (487) Outros transtornos dos tecidos moles (729) Hipertensão essencial (401) Outros transt. do dorso e os n. espec. (724). Úlcera gástrica e tr. da f. gástrica(536,531) 64,80 63,47 61,46 54,03 22,26 Varizes das extremidades inferiores(454) 12,51 Resfriado comum (460) Bronquite n. espec. c/ aguda/ crônica (490) 10,58 9,37 Pneumonia e gripe Reumatismo excluindo o dorso Doença hipertensiva Dorsopatias Doenças do esôfago, estômago e duodeno Doenças das veias e dos linfát. e out. circ. Infecções respiratórias agudas Doença Pulmonar Obstrut. Crôn. e afins 101 Nas tabelas 7 a 11 são apresentados os coeficientes de prevalência das principais causas para os demais grupos de idade e sexo. TABELA 7 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 20-49 anos, masculino, segundo categorias específicas - CID9, 3 dígitos, julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D Gripe (487) Úlcera gástrica e gastrite / duodenite (536,535) Resfriado comum (460) Outros transt. do dorso e os n. espec. (724). Hipertensão essencial (401) COEF. 40,68 19,16 14,69 11,44 8,14 TABELA 8 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 20-49 anos, feminino, segundo principais capítulos da e categorias específicas - CID9 3 dígitos, de julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D Gripe (487) Resfriado comum e faringite aguda(460, 462) Outros transt. do dorso e os n. espec. (724). Úlcera gástrica e gastrite / duodenite (536,535) Reumatismo excluindo o dorso (726 a729) Hipertensão essencial (401) COEF. 52,12 33,08 22,11 21,62 19,75 10,64 TABELA 9 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 7-19 anos, segundo principais categorias específicas - CID9, 3 dígitos, julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D COEF. Gripe (487) Resfriado comum e faringite aguda(460, 462) Úlcera gástrica e gastrite / duodenite (536,535) Doenças do ouvido e apófise mastóide (381 a 389) 37,88 36,97 13,54 8,37 102 TABELA 10 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo 1-6 anos, segundo principais categorias específicas - CID9, 3dígitos, de julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D Resfriado comum e faringite aguda (460, 462) Gripe (487) Infecções intestinais mal definidas (009) Bronquite não especificada como aguda ou crônica (490) Doenças do ouvido e apófise mastóide (381 a 389) Alguns efeitos adversos n/ classif. em out. parte (995) inclui alergia. Outras helmintiases e as não especificadas COEF. 82,36 67,11 25,85 16,82 14,03 12,08 11,06 TABELA 11 - Coeficiente de prevalência(*1000) no grupo de menores de 1 ano, segundo principais categorias específicas - CID9, 3 dígitos, de julho de 89 a junho de 90, na região estudada. CATEGORIA DA CID - 3D COEF. Gripe (487) Resfriado comum e faringite aguda (460, 462) Doenças do ouvido e apófise mastóide (381 a 389) Infecções intestinais mal definidas (009) Bronquite não especificada como aguda ou crônica (490) Alguns efeitos adversos n/ classif. em out. parte (995) inclui alergia. 141,69 122,31 30,94 24,19 11,97 10,50 103 Mortalidade da área de estudo O interesse principal da análise da mortalidade na região estudada é a comparação com a morbidade referida, no período de julho de 1989 a junho de 1990. Reitera-se, ainda, que a análise dos dados de mortalidade pretende demonstrar as diferenças entre o que mostram as estatísticas de morbidade e o inquérito de morbidade referida, e, mais do que isso, o caráter complementar destas fontes. Assim, poderá ser objeto de trabalho posterior a análise detalhada das causas específicas de mortalidade e morbidade, e a sua relação com outros dados e informações existentes para a área e o período do estudo. Será feita inicialmente a apresentação dos dados no período 1980 1995, para descrever indiretamente a tendência das necessidades de saúde na região, através das estatísticas de mortalidade. Para o conhecimento direto da tendência da morbidade seria necessário realizar periodicamente os inquéritos transversais, na mesma área, projeto que se encontra em fase de planejamento, para ser executado em 1999. Os dados de escolaridade e de ocupação existentes nas fontes oficiais de mortalidade, em princípio úteis para a classificação social dos indivíduos, apresentam graves problemas de qualidade, especialmente no que se refere ao quesito "instrução dos falecidos". A variável "ocupação" pode ser utilizada como um indicador social para analisar diferenciais de mortalidade, sendo uma alternativa para o estudo das desigualdades na mortalidade da população adulta (DRUMOND, 1998). Contudo, o alto percentual de ausência de preenchimento destes quesitos nos dados da região, impediram sua utilização, neste estudo. A melhoria desta fonte constitui-se, aliás, em tarefa urgente e possível, tanto no que diz respeito à qualidade do preenchimento dos itens existentes, como no desenvolvimento de novos quesitos adequados para os estudos de situação de saúde. A tendência dos indicadores de mortalidade no período 80-95, é de 104 melhora para todas as áreas geográficas, embora as desigualdades entre elas tenham se mantido, e mesmo, se acentuado. Esta mesma tendência pode ser observada no coeficiente de mortalidade infantil, que diminuiu de 60 p/ mil nascidos vivos, no início dos anos 80, para cerca de 35 p/ mil nascidos vivos, uma década depois, com a seguinte distribuição, por município, em 1991: Taboão-32,11; Embu-40,63; Itapecerica da Serra-37,15; Embu-Guaçu-32,01; Juquitiba-28,42; Cotia-32,41, e Vargem Grande Paulista-38,90 (BUSTAMANTE, 1996). Analisando-se os índices de mortalidade proporcional, segundo a faixa etária, para os anos de 1980 e 1995, pode-se observar que para os municípios de Cotia, Juquitiba e Embu-Guaçu, registraram-se os maiores valores na mortalidade proporcional na faixa etária de 50 anos e +, e os menores valores para a mortalidade proporcional de menores de um ano, indicando serem áreas com melhor nível de saúde; por estes índices, o município do Embu tem a pior situação (Tabelas 12 e 13). 105 TABELA 12 - N.º de óbitos e índices de mortalidade proporcional, por faixa etária e áreas da região sudoeste da R.M. de São Paulo, em 1980. ÁREA Cotia Embu Embu-Guaçu Itapecer. da Serra Juquitiba Taboao da Serra TOTAL < 1 ano 121 25,7% 216 40,8% 47 33,3% 133 33,8% 25 20,7% 205 35,0% 747 33,4% 1-4 17 3,6% 27 5,1% 7 5,0% 19 4,8% 7 5,8% 25 4,3% 102 4,6% 5-19 25 5,3% 28 5,3% 9 6,4% 18 4,6% 7 5,8% 28 4,8% 115 5,1% Idade(anos) 20-49 50 e+ 87 220 18,5% 46,8% 102 156 19,3% 29,5% 20 58 14,2% 41,1% 73 148 18,6% 37,7% 33 49 27,3% 40,5% 141 186 24,1% 31,8% 456 817 20,4% 36,5% Ign 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 0,5% 0 0,0% 0 0,0% 2 0,1% TOTAL 470 100,0% 529 100,0% 141 100,0% 393 100,0% 121 100,0% 585 100,0% 2239 100,0% TABELA 13 - N.º de óbitos e índices de mortalidade proporcional, por faixa etária e áreas da região sudoeste da R.M. de São Paulo, em 1995. ÁREA Cotia Embu Embu-Guaçu Itapecerica da Serra Juquitiba Taboão da Serra TOTAL < 1 ano 86 9,3% 132 12,5% 28 9,6% 90 11,4% 11 6,4% 91 8,1% 438 10,0% 1-4 19 2,0% 18 1,7% 7 2,4% 15 1,9% 3 1,8% 14 1,2% 76 1,7% 5-19 41 4,4% 66 6,2% 14 4,8% 42 5,3% 11 6,4% 61 5,4% 235 5,4% Idade(anos) 20-49 237 25,5% 389 36,8% 73 24,9% 269 34,0% 39 22,8% 403 36,0% 1410 32,3% 50 e+ 521 56,1% 437 41,3% 162 55,3% 354 44,8% 98 57,3% 545 48,6% 2117 48,5% Ign TOTAL 25 929 2,7% 100,0% 16 1058 1,5% 100,0% 9 293 3,1% 100,0% 21 791 2,7% 100,0% 9 171 5,3% 100,0% 7 1121 0,6% 100,0% 87 4363 2,0% 100,0% 106 Observa-se nos dados da tabela 14 que são expressivas as variações dos índices proporcionais, no período analisado, especialmente para o município de Juquitiba, provavelmente devido à sua menor população. TABELA 14 - Mortalidade proporcional para menores de um ano e para maior de 50 anos, na região sudoeste da R. M. de São Paulo, nos anos de 1980, 1990 e 1995. ÁREA Cotia Embu Embu-Guaçu Itap. Serra Juquitiba Taboao da Serra TOTAL Mortalidade % < 1 a 1980 1990 1995 25,7 12,9 9,3 40,8 20,4 12,2 33,3 11,9 9,6 33,8 15,5 11,4 20,7 18,2 6,4 35,0 13,1 8,1 33,4 15,4 10,0 Mortalidade % 50 e + 1980 1990 1995 46,8 54,3 56,1 29,5 36,2 41,3 41,1 57,9 55,3 37,7 48,9 44,8 40,5 37,7 57,3 31,8 44,0 48,6 36,5 45,7 48,5 Na tabela 15 e nos gráficos correspondentes observa-se a evolução das causas de mortalidade, no período de 1980 a 1995, chamando a atenção as quedas das doenças infecciosas e das afecções perinatais e o aumento das lesões e envenenamentos. 107 TABELA 15 - Ranking da média trienal da mortalidade proporcional, segundo capítulos da CID9, para os anos de 1980, 1985, 1990, 1995*, na região do estudo. CAUSA (CAP CID9) Md Md ranking 79/81 84/86 % % 12,3 6,3 D. infecciosas e parasitárias 4 7,2 9,0 Neoplasmas 6 3,7 4,2 D. endoc. nutr. metab. transt imunitários 8 0,2 0,3 D. do sangue e órg. hematopoéticos 0,3 0,7 Transtornos mentais 1,7 1,8 D. do sist. nervoso e órgãos do sentidos 23,2 26,9 D. do aparelho circulatório 1 13,6 12,0 D. do aparelho respiratório 2 3,4 4,2 D. do aparelho digestivo 9 0,9 1,2 D. do aparelho genitourinário 0,3 0,3 Complic. da gravidez, parto e puerpério 0,1 0,2 D. da pele e tecido celular subcutâneo 0,2 0,2 D sist osteomuscular e tecido conjuntivo 1,8 1,9 Anomalias congênitas 10 11,5 9,1 Alg. afecções orig .no período perinatal 5 6,4 4,6 Sint. sinais e afecções mal definidas 7 13,2 17,3 Lesões e envenenamentos 3 *Último ano com dados disponíveis, no momento do levantamento. ranking 6 5 9 1 3 8 10 4 7 2 Md 89/91 % 4,7 9,8 4,5 0,5 0,9 1,4 27,7 10,6 4,4 1,1 0,2 0,1 0,3 1,5 7,1 4,6 20,9 ranking 9 3 5 10 1 4 7 6 8 2 Md 94/95 % 3,6 10,9 5,7 0,2 0,8 1,5 27,6 10,3 5,3 1,0 0,2 0,1 0,1 1,4 5,4 5,2 20,8 ranking 9 3 5 10 1 4 7 6 8 2 108 109 110 Conforme apresentamos no capítulo da metodologia, os dados de mortalidade da região estudada foram agrupados seguindo o mesmo período e áreas do inquérito de morbidade referida, com a finalidade de compará-los com os dados correspondentes do referido inquérito. Nas tabelas 16 e 17 apresenta-se a freqüência absoluta e a mortalidade proporcional, revelandose o mesmo padrão anteriormente comentado para o nível de saúde das áreas, ou seja Cotia e Embu-Guaçu, são as áreas que apresentam um nível mais elevado e o Embú tem os piores resultados, como pode ser observado nas curvas de Nelson de Moraes. 111 TABELA 16 - Distribuição dos óbitos registrados na região sudoeste da Grande São Paulo, de julho de 89 a junho de 1990, segundo áreas e "domínios"(faixa etária e sexo) definidos no inquérito. ÁREAS "DOMÍNIO" M/F <1ano M/F 1a6 M/F 7 a 19 Masc Fem Masc Fem 20 a 49 20 a 49 50 ou + 50 ou + Masc ign Fem ign TOTAL Cotia/Varg. Grande Pta. 82 12 24 124 43 221 155 3 2 666 Embu 150 23 53 209 68 161 121 4 0 789 Embú-Guacu 25 5 10 37 10 52 52 0 0 191 Itapecerica da Serra 77 17 33 101 28 141 101 0 0 498 Juquitiba 22 4 3 37 9 33 26 1 0 135 Taboão da Serra 120 15 61 212 79 174 185 3 0 849 TOTAL 476 76 184 720 237 782 640 11 2 3128 112 TABELA 17 - Mortalidade proporcional(%), por faixa etária, segundo áreas da região sudoeste da R.M. de São Paulo, no período de julho de 89 a junho 90. ÁREAS < 1 ano 1-4 5 - 19 20 - 49 50 e + Total Cotia/VG Pta 12,31 1,20 4,20 25,08 56,46 100 Embu 19,01 2,41 7,22 35,11 35,74 100 Embu-Guaçu 13,09 2,62 5,24 24,61 54,45 100 Itapecerica da Serra 15,46 3,01 7,03 25,90 48,59 100 Juquitiba 16,30 2,96 2,22 34,07 43,70 100 Taboao da Serra 14,13 1,65 7,30 34,28 42,29 100 Total 15,22 2,08 6,23 30,59 45,46 100 113 Curvas de Nelson de Moraes na região de estudo de julho/89 – junho/90. Quanto ao local de ocorrência dos óbitos, no período 89/90, quase metade destes ocorrereu no município de São Paulo, seguindo-se os municípios pertencentes à área de estudo (Tabela 18). 114 TABELA 18 - Distribuição dos óbitos da área de estudo, no período de junho de 1989 a julho de 1990, segundo município de ocorrência. Município N.º % 1.424 45,4 Cotia 571 18,3 Taboão da Serra 315 10,1 Embu 271 8,7 Itapecerica da Serra 209 6,7 Embu-Guaçu 87 2,8 Juquitiba 82 2,6 São Roque 41 1,3 Osasco 35 1,1 Vargem Grande Paulista 30 1,0 Outros municípios 63 2,0 São Paulo No período de julho de 1989 a junho de 1990, foram registrados 3.128 óbitos na área de estudo, cuja distribuição segundo o mês de ocorrência é apresentada na tabela (19), podendo-se observar que os maiores percentuais referem-se ao período de abril a julho, e ao mês de outubro. A análise da distribuição dos óbitos por categorias da CID9, revela uma freqüência maior para as doenças do aparelho respiratório, especialmente pneumonias, nos meses de maio e junho, e para septicemia no mês de julho. 115 TABELA 19 - Distribuição dos óbitos no período de jul/89 a jun/90, segundo o mês de ocorrência, na área sudoeste da R.M. São Paulo. Mês N.º Jul/89 285 Ago/89 256 Set/89 259 Out/89 299 Nov/89 250 Dez/89 220 Jan/90 234 Fev/90 218 Mar/90 228 Abr/90 270 Mai/90 293 Jun/90 316 Total 3128 Quanto às causas de óbito, segundo os capítulos da CID9, observa-se que, para o conjunto da população, os principais capítulos são: doenças do aparelho circulatório, causas externas, neoplasmas e doenças do aparelho respiratório, respondendo por mais de 70% dos óbitos com causas conhecidas. O capítulo das causas perinatais, apesar de restrito à faixa de menores de um ano, surge na quinta posição do ranking geral, seguido pelos "sintomas, sinais e afecções mal definidos". As doenças infecciosas/parasitárias e as doenças endócrinas/transtornos imunitários ocupam a sétima e a oitava posições, respectivamente (Tabela 20). 116 TABELA 20 - Ranking da mortalidade, por capítulos da CID 9, na região sudoeste da R.M. de São Paulo, no período de jul 89 a jun 90, segundo faixa etária. Causa (Cap. CID9) <1 a 1-6 7-19 20-49 50 + Total Circulatório 7º 7º 3º 2º 1º 1º Causas externas 8º 1º 1º 1º 5º 2º 4º 2º 3º 2º 3º 3º 5º 5º 3º 4º Neoplasmas Respiratório 2º Perinatal 1º Mal definidas 9º Infecciosas e paras. 3º Endoc n m. tr. imun. 5º 8º 8º 4º 6º 2º 4º 6º 8º 7º 5º 8º 6º 7º 6º 8º Digestivo 10º 9º 4º 7º 9º Sist nervoso e or sen 6º 6º 10º 10º Anom. Congênitas 4º 5º 7º Geniturinario 10º Transtornos mentais 9º 9º 9º Sangue e or.hemat S. Osteom e tec con. 10º Grav. Parto e puerp. Pele e tec. cel subcut 10º Total Na tabela (21) são apresentados os números absolutos e o índice de mortalidade proporcional nas faixas etárias selecionadas, por capítulos da CID9, para ambos os sexo, e na tabela (22) o coeficiente de mortalidade por capítulos nos grupos de idade/sexo ("domínios") definidos no inquérito de morbidade. 117 TABELA 21 - N.º e proporção de óbitos na área do estudo, de julho de 1989 a junho de 1990, segundo capítulos da CID9 e faixa etária/sexo definidos no inquérito. CAUSA <1 Ano 8 Mort. % 1,7 1-6 Anos 4 Mort. % 5,3 7 - 19 Anos 8 Mort. % 4,3 20 - 49 Anos 190 Mort. % 19,9 50 e + Anos 668 Mort. % 47,0 Ign Total 2 880 Mort. % 28,1 Causas externas 7 1,5 21 27,6 131 71,2 393 41,1 66 4,6 8 626 20,0 Neoplasmas 0 0,0 7 9,2 14 7,6 74 7,7 238 16,7 0 333 10,6 D. do apar. respiratório 111 23,3 10 13,2 6 3,3 52 5,4 137 9,6 3 319 10,2 Alg. af. orig p. perinatal 224 47,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 224 7,2 Sint. s. afec. mal definid. 5 1,1 1 1,3 3 1,6 36 3,8 112 7,9 0 157 5,0 D. infec. e parasitarias 56 11,8 12 15,8 7 3,8 46 4,8 30 2,1 0 151 4,8 D.e. n. met. e tr. imun. 18 3,8 4 5,3 4 2,2 40 4,2 63 4,4 0 129 4,1 D. do apar. digestivo 4 0,8 3 3,9 1 0,5 63 6,6 55 3,9 0 126 4,0 D.sist nervo e org sentid 11 2,3 5 6,6 4 2,2 11 1,1 13 0,9 0 44 1,4 Anomalias congênitas 31 6,5 6 7,9 1 0,5 3 0,3 2 0,1 0 43 1,4 D. do apar. geniturinar. 0 0,0 1 1,3 0 0,0 12 1,3 21 1,5 0 34 1,1 Transtornos mentais. 0 0,0 0 0,0 0 0,0 19 2,0 7 0,5 0 26 0,8 D.sang. org. hematopoet. 0 0,0 0 0,0 2 1,1 6 0,6 4 0,3 0 12 0,4 D. s. osteom e tec conj. 0 0,0 0 0,0 1 0,5 4 0,4 4 0,3 0 9 0,3 C.grav parto e puerpério. 0 0,0 0 0,0 2 1,1 6 0,6 0 0,0 0 8 0,3 D.pele e tec. cel. subcut. 1 0,2 2 2,6 0 0,0 2 0,2 2 0,1 0 7 0,2 476 100,0 76 100,0 184 100,0 957 100,0 1422 100,0 13 3128 100,0 D. do apar. circulatório Total TABELA 22 - Coeficiente de Mortalidade específico (por 100 000), por grupos etários/sexo e capítulos da CID9, julho de 89 a junho de 90, na região do estudo. 118 CAP CID9 M/F < 1 Ano 456,03 M/F 1-6a 15,33 M/F 7 - 19a 4,28 MASC 20 - 49a 21,20 FEM 20 - 49a 16,05 MASC 50 ou + 76,72 FEM 50 ou + 41,71 TOTAL 0,00 8,94 8,55 26,91 32,90 549,18 386,76 60,25 D. endoc. n. m. tr. imunitár. 146,58 5,11 2,44 23,65 8,83 104,99 140,29 23,34 D.sangue e órg. hematopoét. 0,00 0,00 1,22 1,63 3,21 8,08 7,58 2,17 Transtornos mentais 0,00 0,00 0,00 13,05 2,41 24,23 3,79 4,70 D. do sist. nerv./ org. sent. 89,58 6,39 2,44 6,52 2,41 32,30 18,96 7,96 D. do aparelho circulatório 65,15 5,11 4,89 95,40 58,59 1393,15 1224,74 159,23 D. do aparelho respiratório 903,91 12,77 3,66 30,98 11,24 319,01 219,92 57,72 D. do aparelho digestivo 32,57 3,83 0,61 43,22 8,03 125,18 91,00 22,80 D. do apar. genitourinário 0,00 1,28 0,00 4,89 4,82 60,57 22,75 6,15 Com. grav., parto, puerp. 0,00 0,00 1,22 0,00 4,82 0,00 0,00 1,45 D. pele e tec. celular subcut. 8,14 2,55 0,00 0,00 1,61 0,00 7,58 1,27 D. sist. osteomusc. /tec. conj. 0,00 0,00 0,61 0,00 3,21 8,08 7,58 1,63 Anomalias congênitas 252,44 7,66 0,61 1,63 0,80 0,00 7,58 7,78 Alg. afec orig. n. per. perin.l *18,24 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 *18,24 S.s. e afecções mal definidas 40,72 1,28 1,83 20,38 8,83 258,44 182,00 28,41 Lesões e envenenamentos 57,00 26,83 80,01 297,61 22,47 197,87 64,46 113,27 D. infecciosas e parasitárias Neoplasmas * x1000 27,32 119 Nas tabelas, a seguir, apresenta-se o perfil da mortalidade, verificado através dos principais capítulos da CID e das principais causas específicas (desconsiderando-se as causas mal definidas e desconhecidas - CID 799), nos grupos de idade e sexo definidos pelo inquérito. TABELA 23 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 50 anos ou +, masculino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 D. do aparelho circulatório Coef. CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. 1393,15 D. isquêmica coração (410 e 414) 488,61 Neoplasmas 549,18 D. cérebrov./ H. intrac.(431 e 436) 375,54 D. do aparelho respiratório 319,01 Insuficiência cardíaca (428) 181,72 S.s. e afecções mal definidas 258,44 Broncopneumonia n.espec.(485) 149,41 Causas externas 197,87 Neo malig,. tr. br. pulmão (162) 84,80 D. do aparelho digestivo 125,18 Neo maligno de estômago (151) 80,76 D. Endoc. n. m. t.imunitários 104,99 Diabetes Mellitus (250) 68,65 D. infecciosas e parasitárias 76,72 Obstrução cron. vias resp.(496) 68,65 D. do aparelho genitourinário 60,57 D.cron.do fígado e cirrose (571) 64,61 Neo maligno de próstata (185) 64,61 D. do sist. nervoso/ org. sent. 32,30 *Coef. mortalidade: 3 157,81/ 100mil TABELA 24 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 50 anos ou +, feminino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 D. do aparelho circulatório Coef. CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. 1224,74 D. isquêmica coração (410 e 414) 364,01 Neoplasmas 386,76 D.cérebrov./ H. intracr.(431 e 436) 261,63 D. do aparelho respiratório 219,92 Insuficiência cardíaca (428) 166,84 S.s. e afecções mal definidas 182,00 D. hipertensiva (401 e 402) 128,92 D. endoc. n. m. t.imunitários 140,29 Diabetes Mellitus (250) 113,75 D. do aparelho digestivo 91,00 Broncopneumonia n.espec.(485) 87,21 Causas externas 64,46 Aterosclerose (440) 53,08 D. infecciosas e parasitárias 41,71 Obstrução cron. vias resp.(496) 49,29 D. do aparelho genitourinário 22,75 Neo malig. colo do útero (180) 45,50 Neo malig,. tr. br. pulmão (162) 37,92 D. do sist. nervoso/ org. sent. 18,96 *Coef. de mortalidade: 2426,72 /100 mil 120 TABELA 25 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 20-49 anos, masculino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 Coef. Causas externas 297,61 D. do aparelho circulatório 95,40 D. do aparelho digestivo 43,22 D. do aparelho respiratório 30,98 Neoplasmas 26,91 D. Endoc. n. m. t.imunitários 23,65 D. infecciosas e parasitárias 21,20 S.s. e afecções mal definidas 20,38 Transtornos mentais 13,05 D. do sist. nervoso/ org. sent. 6,52 *Coef. de mortalidade: 587,07 /100mil CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. Homicídio (E968, E965 e E966) A. tr. v.motor/pedest.(E819 e E814) D. isquêmica coração (410 e 414) Outr. causas ext. n. espec.(E928) D.cron.do fígado e cirrose (571) Trans. env. m. imunitário (279) Afogamento e sub. acid. (E910) D cérebrov./ H. intracr.(431 e 436) Broncopneumonia n.espec.(485) Síndr. da depen. do álcool (303) 155,74 66,86 40,77 30,17 28,54 18,75 16,31 16,30 11,42 11,42 TABELA 26 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 20-49 anos, feminino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 Coef. D. do aparelho circulatório 58,59 Neoplasmas 32,90 Causas externas 22,47 D. infecciosas e parasitárias 16,05 D. do aparelho respiratório 11,24 D. Endoc. n. m. t.imunitários 8,83 S.s. e afecções mal definidas 8,83 D. do aparelho digestivo 8,03 Compl.da grav,. parto e puer. 4,82 D. do aparelho genitourinário 4,82 *Coef. de mortalidade: 190,20 /100 mil CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. D. isquêmica coração (410 e 414) D cérebrov./ H. intracr.(431 e 436) Neo malig. da mama fem. (174) Ac. tr. v.motor/pedest.(E819 e814) Tripanossomiase Neo malig. do útero (179 e 180) Broncopneumonia n.espec.(485) Insuficiência cardíaca (428) Diabetes Mellitus (250) Trans. env. m. imunitário (279) 16,85 16,05 9,63 8,03 6,42 5,62 4,01 4,01 4,01 3,21 121 TABELA 27 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 7 a 19 anos, masculino/feminino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 Coef. Causas externas 80,01 Neoplasmas 8,55 D. do aparelho circulatório 4,89 D. infecciosas e parasitárias 4,28 D. do aparelho respiratório 3,66 D. Endoc. n. m. t.imunitários 2,44 D. do sist. nervoso/ org. sent 2,44 S.s. e afecções mal definidas 1,83 D. sangue e org. hematopoiet 1,22 Compl.da grav,. parto e puer. 1,22 *Coef. de mortalidade: 112,38/100 mil CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. Homicídio (E968, E965 e E966) A. tr. v.motor/pedest.(E819 e E814) Afogamento e sub. acid. (E910) Outras quedas ou n. esp. (E888) Outr. causas ext. n. espec.(E928) Broncopneumonia n.espec.(485) Neo não especificado (199 e 239) Leucem. linf./Mielóide(204 e 205) Tuberculose pulmonar (011) Septicemia (038) 43,36 12,22 9,77 4,28 4,28 3,05 3,05 2,44 1,83 1,22 TABELA 28 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de 1 a 6 anos, masculino/feminino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 Coef. Causas externas 26,83 D. infecciosas e parasitárias 15,33 D. do aparelho respiratório 12,77 Neoplasmas 8,94 Anomalias congênitas 7,66 D. do sist. nervoso/ org. sent 6,39 D. Endoc. n. m. t.imunitários 5,11 D. do aparelho circulatório 5,11 D. do aparelho digestivo 3,83 D. pele e tec. cel. subcutâneo 2,55 *Coef. de mortalidade: 97,08/100 mil CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. Broncop./Pneum. n.esp.(485,486) Afogam./Atropelam.(E910,E814) Neoplasmas (239,184,191, 204,194) Ac.causado p/fogo n. esp.(E899) Sufocação/O.c.ext(E888, E928,E913) Inf. mening/Men. n. esp(036,322) Anom cong.cor./A.crom(746,758) Septicemia (038) Out. tipos desn. prot-cal(262,263) Paralisia cerebral infantil (343) 11,49 11,49 8,95 7,66 7,66 6,39 6,39 5,11 5,11 3,83 122 TABELA 29 - Coeficiente de mortalidade (por 100.000) no grupo de < 1 ano, masculino/feminino*, de julho/89 a junho/90 na Região estudada. CAPÍTULO CID 9 Alg. afec. or. no per.perinatal Coef. 1824,10 CAUSA DO ÓBITO CID (3 Dígitos) Coef. Hipox.asfix/Sin.ang./Ou.(768 a 770) 1245,93 D. do aparelho respiratório 903,91 Broncop./Pneum. n. esp.(485,486) 732,90 D. infecciosas e parasitárias 456,03 Infeções intestinais mal .def.(009) 317,59 Anomalias congênitas 252,44 Anomalias congênitas (740 a 759) 252,44 D. Endoc. n. m. t.imunitários 146,58 Tr. gest. cur. dur e p.baixo (765) 244,30 D. do sist. nervoso/ org. sent 89,58 Out.afec perin. (761a763, 767, 772a779) 244,30 D. do aparelho circulatório 65,15 Out. tipos desn. prot-cal. (261 263) 138,43 Causas Externas 57,00 Septicemia (038) 122,15 S.s. e afecções mal definidas 40,72 Infeções esp. per. perinatal (771) 89,58 Mening bacter./M. n. esp. (320,322) 48,86 D. do aparelho digestivo 32,57 *Coef. de mortalidade: 3 876,22/100 mil a 123 DISCUSSÃO Neste trabalho foram discutidas as diversas possibilidades metodológicas para os estudos de situação de saúde, afirmando-se a pertinência de se identificar as proposições mais coerentes com a linha de pensamento e ação do movimento da Saúde Coletiva, como um subsídio aos profissionais atuantes nos serviços de saúde das regiões metropolitanas brasileiras. No sentido de perceber a delimitação e as relações da prática da análise de situação de saúde no conjunto das diferentes aplicações da epidemiologia nos serviços de saúde, foi feita uma sistematização dessas, tendo como pano de fundo um quadro referencial sobre o desenvolvimento histórico dessa disciplina científica. Optou-se por esboçar um quadro geral dos conceitos, métodos e técnicas envolvidos na prática da análise da situação de saúde ancorando-se, assim, a reflexão neste nível de abordagem, e fazendo-se incursões para níveis superiores, no sentido de compreender os limites para a aplicação da lógica da epidemiologia nos serviços de saúde, e inferiores, visando identificar, no que se refere às fontes de dados e aos indicadores disponíveis, possibilidades instrumentais recentemente desenvolvidas e/ou pouco exploradas, em nosso meio, apontando-se a importância de avanços nesse plano. A escolha das questões e dos autores, o encadeamento das citações de seus estudos e os comentários realizados em cada parte deste trabalho evidenciaram o posicionamento "deste sujeito de pesquisa" e consequentemente discutiram os temas considerados centrais na análise de situação de saúde, revelando também seus viéses e comprometimentos. Portanto, será feita, aqui, apenas uma síntese dos aspectos mais relevantes dessa temática. 124 Parece ser necessário alertar, desde logo, que não é possível, definir precisamente os limites entre as diferentes aplicações propostas para a epidemiologia nos serviços de saúde. As delimitações de área de atuação e as terminologias utilizadas, em nosso meio, refletem diferentes visões sobre as formas de organizar administrativamente o conhecimento epidemiológico. Também não se encontrou unanimidade, conceitual ou metodológica, sobre o significado do termo análise de situação de saúde, nem uma clara diferenciação entre este e a designação diagnóstico de saúde. Acredita-se que o primeiro expressa uma preocupação de amplos setores da área de Saúde Coletiva com o aprimoramento, tanto das técnicas adequadas para avaliar os problemas de saúde, onde se situa a maior contribuição da epidemiologia, quanto com as ações sociais necessárias para a diminuição da iniqüidade em saúde. Neste último caso, conforme se analisou nos capítulos introdutórios, assume relevância a participação de outras disciplinas do campo da saúde pública. As designações diagnóstico de saúde e diagnóstico sanitário parecem estar mais identificadas com a dimensão técnica, inspirando-se no modelo CENDES-OPAS de definição de prioridades, apresentado anteriormente. Assim, a análise de situação de saúde assume um caráter contraditório, de resto semelhante aos outros instrumentos da saúde pública, englobando tanto a prática da identificação dos perfis de necessidades e problemas de saúde, como a construção das respostas sociais organizadas frente aos mesmos. Em outros termos, enquanto "técnica de ação racional, instrumentalizada pela epidemiologia" (GONÇALVES, 1990) faz uma leitura pautada na concepção de doença clínica e constrói indicadores epidemiológicos que quantificam a importância do problema de saúde na população; porém, enquanto "técnica de ação social", relaciona-se com o complexo de forças sociais, políticas, econômicas e ideológicas que interagem na aplicação da epidemiologia na prática de saúde pública. 125 Os autores conferem à epidemiologia a função de participar na construção do diálogo entre o saber técnico e os interesses sociais, e dessa forma, ao lado de outros campos disciplinares atuantes nos serviços de saúde, orientar a tomada de decisões. Muitos deles têm chamado a atenção para a necessidade de mudança dos "paradigmas utilizados pela saúde pública", afirmando que "as populações não podem ser entendidas apenas como "qualquer conjunto de indivíduos agrupados segundo os critérios utilitários do investigador, sendo a interação entre os seus membros um atributo essencial de toda população" (CASTELLANOS, 1995). Esta questão da definição da unidade de análise e das variáveis escolhidas é muito debatida na literatura, conforme se registrou nos capítulos iniciais. Consideramos que a dificuldade encontrada para se avançar significativamente no seu esclarecimento decorre da compartimentalização dos grupos de pesquisa e de seus critérios de validação de resultados. Ou seja, a interação entre as abordagens individual e populacional não é facilmente alcançada em virtude da disputa que se estabelece entre os grupos de autores identificados com cada uma delas, tanto por espaço político institucional, quanto por recursos para o desenvolvimento de suas pesquisas e de condições para publicá-las. A interação dos conhecimentos produzidos a partir das duas abordagens parece ser a conduta mais apropriada embora se constate a existência de uma ênfase exagerada na sofisticação metodológica e técnica dos estudos epidemiológicos, em detrimento de estudos com abordagens mais adequadas para a missão maior da saúde pública, que é a prevenção de doenças e agravos (ATWOOD, 1997). Outro aspecto a considerar é a necessidade do enriquecimento dos estudos epidemiológicos com o aporte de recursos metodológicos de outras disciplinas, visando construir uma compreensão global dos determinantes do perfil de necessidades de saúde da população. Os estudos descritivos tradicionais têm mostrado, de modo reiterado, desigualdades na mortalidade 126 e morbidade dos diferentes segmentos populacionais, assim como os diversos outros desenhos de estudo da epidemiologia têm produzido conhecimento sobre um grande número de fatores de risco e de proteção para as doenças e agravos, a partir de abordagens individuais. No nível da prática, contudo, a apropriação desses conhecimentos, impregnados pela lógica com que foram produzidos, não tem conseguido alcançar os impactos esperados seja na mudança do estilo de vida dos indivíduos, seja nos determinantes sociais dos problemas de saúde. No capítulo introdutório apresentou-se o quadro referencial dessa polêmica questão, constatando-se igualmente a sua complexidade. Constata-se que embora seja uma proposição freqüente na literatura o uso integrado de dados de diferentes fontes e a combinação de métodos e de técnicas, para prover a visão mais completa possível sobre a relação entre as características sócio-econômicas e ambientais da população e o seu perfil de saúde, a análise do perfil de mortalidade tem sido o principal recurso utilizado para esse fim. A razão para essa preferência é que a fonte de dados de mortalidade tem uma cobertura importante em grande parte do território nacional, e vem apresentando melhorias expressivas na qualidade do preenchimento das causas do óbito. Além disso, esses dados têm sido divulgados mais oportunamente, quer pela melhora do processamento no nível federal, quer pelo esforço dos níveis estadual e municipal. Apesar dos esforços que alguns autores estão empreendendo para utilizar os dados de ocupação, e mesmo os de escolaridade, para traçar o perfil da desigualdade social na mortalidade, a má qualidade de preenchimento desses quesitos têm inviabilizado o seu uso para esse fim, sendo uma prática quase exclusiva fazer a aproximação das desigualdades sociais na mortalidade, pela distribuição espacial. É indiscutível o valor desse procedimento para comparações entre países e grandes áreas, e possível, dada a grande desigualdade social vigente em nossa realidade, 127 encontrar diferenças importantes entre áreas homogêneas de municípios e distritos de saúde, mesmo de pequeno porte. O que se enfatiza, no entanto, é a necessidade de aprimoramento, em termos de conteúdo, qualidade e cobertura, das fontes de dados nacionais e estaduais para o estudo da iniquidade em saúde, e do desenvolvimento de outras alternativas ainda pouco exploradas, em nosso meio, para este tipo de estudo, principalmente em áreas menores como os distritos de saúde. Concorda-se, portanto, com a proposição da OMS, sobre a importância de se usar melhor os dados e métodos atualmente disponíveis, enquanto são desenvolvidas técnicas mais aprimoradas para guiar as ações no rumo de uma maior equidade, conforme apresentamos anteriormente. Alguns avanços nessa área podem ser concretizados a curto prazo, tais como, se alcançar uma melhor caracterização sócio-econômica dos indivíduos, na declaração de óbito, corrigindo falhas no preenchimento dos itens de ocupação e de escolaridade, além de ser possível desenvolver futuramente modificações neste instrumento de coleta de dados para torná-lo mais adequado aos estudos de situação de saúde. A avaliação de diferenças entre grupos sociais, requer a existência desse tipo de dados também para as outras fontes existentes, bem como o desenvolvimento de levantamentos específicos, tais como o inquérito de morbidade referida utilizado neste trabalho. Assim, as estratégias para enfrentar esses desafios incluiriam, a produção de dados primários, qualitativos e quantitativos, referentes ao conjunto da população, utilizando-se inclusive métodos capazes de captar a percepção das pessoas sobre os problemas de saúde, além da desagregação e melhor uso no nível local, dos dados secundários coletados pelo censo, órgãos do setor saúde e de outros setores. Na nossa realidade, esses avanços dependem da superação de várias dificuldades, como a forma compartimentalizada de atuação das instituições que produzem os dados, a virtual inexistência de dados de morbidade com 128 base populacional e o uso insignificante de dados censitários, e outros demográficos e sócio econômicos, de forma articulada com dados epidemiológicos. Parece fundamental, por exemplo, uma aproximação entre os profissionais de saúde e os responsáveis pelo planejamento da coleta e pelo processamento dos dados censitários. A referência que se fez, anteriormente, sobre a existência, desde 1991, de dados censitários sobre incapacidades e deficiências, não se tendo notícia do seu uso pela área de saúde, é um exemplo importante, do que se pretende apontar. Esta aproximação, seria produtiva não somente para se avaliar a qualidade e propor eventuais mudanças nos quesitos relativos as incapacidades, na próxima versão do censo, como para introduzir outros quesitos importantes para o setor saúde. A experiência de implantação do PRO-AIM e o expressivo avanço na divulgação dos dados do SIH, pelo DATASUS, anteriormente referidos, são ilustrações importantes das possibilidades de avanço nessa área, não tendo decorrido muito tempo, desde a época em que se considerava inviáveis iniciativas deste tipo. Outro aspecto passível de discussão diz respeito à combinação das metodologias quantitativas e qualitativas nos estudos de situação de saúde. Observa-se que as pesquisas orientadas por esses dois métodos cursam "caminhos paralelos", revelando mais uma vez a compartimentalização das áreas de pesquisa. Foram anteriormente mostradas as dificuldades que os profissionais dos serviços de saúde enfrentam para escolher suas metodologias de trabalho e como as propostas de aplicação da epidemiologia nos serviços de saúde são muitas vezes tomadas como panacéia, ressaltando-se os riscos do uso, no nível da prática, de alternativas cientificamente discutíveis, sob a alegação de serem menos complexas do ponto de vista metodológico ou de menor custo. Alerta-se, aqui, para a importância do desenvolvimento de metodologias de análise de situação de 129 saúde simples e práticas, mas escoradas no método científico, disseminandoas para os serviços de saúde. A análise da experiência da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, no período 1989-1992, mostrou que se pretendia desenvolver e utilizar, amplamente, indicadores das condições de vida e saúde, construídos a partir das realidades locais, na gestão dos serviços de saúde, visando subsidiar intervenções intersetoriais e participativas sobre problemas de saúde da população. Em que pese não terem sido superados muitos obstáculos importantes, observaram-se, nessa experiência, avanços significativos para a concretização das propostas de uso da epidemiologia nos serviços de saúde, conforme se apresentou anteriormente. O estudo de experiências semelhantes, em outras realidades, confirmou a grande possibilidade de atuação aberta pela nova configuração que assumiu o sistema de saúde, em nosso meio. Constatou-se a existência de iniciativas promissoras em muitos estados e municípios, concretizando as propostas de uso da epidemiologia existentes nos documentos oficiais e nos textos acadêmicos, apesar de serem também registrados alguns retrocessos importantes na área da saúde pública. A análise integrada dos dados de todas as fontes secundárias potencialmente relevantes complementares, como e o o empreendimento inquérito de de morbidade levantamentos referida, é, inequivocamente, uma necessidade para o avanço nos estudos de situação de saúde. Extrapolaria os objetivos deste trabalho realizá-los, na íntegra, na região e no período estudados. Entende-se, porém, que se deva continuar esse estudo, preferencialmente com o envolvimento de equipes multidisciplinares, visando construir alternativas práticas de análises integradas de situação de saúde, adequadas à realidade dos serviços das regiões metropolitanas. Um maior aproveitamento do banco de dados gerado no inquérito de 89/90, com o aprofundando da análise da 130 mortalidade, aqui tomada como ilustração, acrescentando-se dados para a área e período de outras fontes ainda não exploradas, assim como a análise das mudanças que serão reveladas pela pesquisa prevista para 99/2000, poderão ampliar, em muito, as contribuições relevantes dos diversos trabalhos que ali já foram realizados. Considera-se, ademais, que iniciativas desse tipo, podem significar uma contribuição importante dos centros de pesquisa para com os serviços de saúde, demonstrando alternativas para o estudo das iniqüidades em saúde que facilitem a atuação dos profissionais no seu cotidiano técnico e os auxiliem em sua missão de enfrentá-las, junto com os demais atores sociais. A comparação em uma mesma área e mesmo período, da prevalência e da mortalidade, revelou-se um importante instrumento de avaliação das necessidades de saúde. Quando se comparam os perfis segundo os capítulos da CID 9, verifica-se que os referentes às Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, Doenças da pele e Sintomas, sinais e afecções mal definidas, são muito mais presentes como causas de morbidade, enquanto que as Doenças do aparelho circulatório, Neoplasmas, Lesões e envenenamentos e Infecciosas e parasitárias, são as mais importantes na mortalidade. A comparação utilizando categorias de doenças constituiu outro recurso útil para avaliar as necessidades de saúde, a partir das duas técnicas utilizadas, revelando-se, por exemplo, que o perfil da morbidade infantil é semelhante nos sub- grupos desta faixa etária, predominando as doenças respiratórias de pequena gravidade, doenças do ouvido e infecções intestinais, embora com diferentes magnitudes nos sub-grupos. Já os dados de mortalidade, mostraram diferenças importantes entre o perfil dos menores de um ano, onde se concentram as causas relacionadas à gestação e ao parto, e na faixa de 1-6 anos, onde têm importância as causas externas e os neoplasmas, por exemplo. 131 Um outro aspecto a considerar nesta comparação refere-se à relação entre a morbidade atual e a futura mortalidade, indicando a importância do desenvolvimento de técnicas simples e integradas de análise de dados de diversas fontes, como um recurso para o monitoramento dessas condições e dos determinantes a elas relacionados. O comentário que se fez, anteriormente, sobre a hipertensão arterial, terceira colocada no ranking da morbidade e ausente nas principais causas de mortalidade, sendo ela, no entanto, um fator de risco para a doença isquêmica do coração, que é a primeira no ranking da mortalidade, mostra a possibilidade de se explorar as potencialidades deste banco de dados, assim como sugere a importância de realização de estudos deste tipo em outros lugares. 132 CONCLUSÕES A característica assumida pela prática da análise de situação de saúde, assim como pelos outros instrumentos da saúde pública, é a resultante da interrelação entre três dimensões: os conhecimentos científicos e tecnológicos existentes, a decisão política e as estratégias sociais. O aprimoramento das fontes de dados existentes e o uso mais criativo dos indicadores epidemiológicos tradicionais, assim como o desenvolvimento de novas técnicas, de pequena complexidade e cientificamente rigorosas para evidenciar as desigualdades em saúde, constituem desafios que os centros de pesquisa podem assumir para facilitar a escolha das ferramentas mais eficientes pelos profissionais dos serviços, para estudar a situação de saúde. Do mesmo modo elas também devem servir para melhorar o desempenho desses profissionais no mister de estabelecerem relações com outros atores envolvidos na superação da iniquidade social e em saúde. O atendimento desta demanda dos serviços aos centros de pesquisa implica a construção de abordagens metodológicas adequadas a esse fim e o fortalecimento dessa área de pesquisa interdisciplinar, aportando-se os recursos necessários. A possibilidade de concretizar, tanto a prática da análise de situação de saúde, nos moldes apresentados nesta tese, quanto o desenvolvimento da área de pesquisa correspondente, são decisões políticas, que dependem da existência de uma demanda social neste sentido. Diversos aspectos dessa questão foram apresentados neste trabalho, tanto no que diz respeito à produção do conhecimento científico quanto à prática da análise de situação de saúde. 133 A experiência da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo ilustra influência de diretrizes de governo que orienta a distribuição dos recursos institucionais, permitindo, ora o avanço, como se viu com a implantação do PRO-AIM e do SIMIS, ora o retrocesso, havido na interrupção do importante inquérito de morbidade em saúde bucal. A continuidade dos esforços da Saúde Coletiva Brasileira para formular e construir, em conjunto com outros segmentos sociais, alternativas viáveis para a superação da iniquidade em saúde, requer o desenvolvimento e o aprimoramento de instrumentos, tal como a análise da situação de saúde, que permitam articular as razões técnica e social. 134 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRASCO - II Plano Diretor para o desenvolvimento da epidemiologia no Brasil 1995-1999. Rio de Janeiro, 1995. ABRASCO - Plano Diretor para o desenvolvimento da epidemiologia no Brasil. Rio de Janeiro, 1989. ABRASCO. Relatório da oficina de trabalho "Monitoramento de Iniqüidades em Saúde", do IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998 ABRASCO/ GTISP - Informação em Saúde a Serviço da Sociedade, RJ e SP/nov-93. In: ABRASCO/MS. Uso e Disseminação de Informações em Saúde - Subsídios para elaboração de uma Política de Informação em Saúde para o SUS, Brasília, agosto/94. ACUÑA, D.L.; ROMERO, A. Perspectivas de la Investigacion Epidemiologica en el Control y Vigilancia de la Enfermedades. In: OPS. Usos y perspectivas de la Epidemiologia. Washington, Pub. PNSP 84-87, 1984. ADORNO, R. C. F.; CASTRO, A. L. O exercício da sensibilidade: pesquisa qualitativa e a saúde como qualidade. Saúde e Sociedade, v. 3, n. 2, p.172-185, 1994. AKERMAN, M. Metodologia de construção de indicadores compostos: um exercício de negociação intersetorial. In: BARATA, R.B. (org.) Condições de vida e situação de saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 1997 135 AKERMAN, M.; STEPHENS, C.; CAMPANÁRIO, P., MAIA, P. B. Saúde e meio ambiente: uma análise de diferenciais intra-urbanos enfocando o município de São Paulo, Brasil. Rev. de Saúde Pública, v. 28, n. 4, p. 320-325, 1994. ALBERTA HEALTH. Evidence-Based Decision Making. http://www.health.gov.ab.ca/role_rha.htm. Julho 1995. ALMEIDA FILHO, N. A Clínica e a Epidemiologia. Salvador, APCEAbrasco, 1992. ALMEIDA FILHO, N. A clínica, a epidemiologia e a epidemiologia clínica. PHYSIS, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 35-53, 1993. ALMEIDA FILHO, N. A nova geração de indicadores de saúde. Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. ALMEIDA FILHO, N. Bases Históricas da Epidemiologia. In: ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro, Medsi, 1988 AROUCA, A.S.S. A história natural das doenças. Saúde em debate, n. 1, out/nov/dez 1976. ATWOOD, K.; COLDITZ, G.; KAWACHI, I. From public health science to prevention policy: Placing science in its social and political contexts. American Journal of Public Health. v. 87, n. 10, p. 160306, oct 1997. AUSTIN, S. M.; BALAS, E. A. Advanced information support: abstracting evidence from clinical pratice research. MGM journal, july/august 1994. 136 AUSTRÁLIA, Department of health & comumunity services - Victoria. Health indicators, some baseline measures of health status and health services in Victoria, 1994. AYRES, J.R.C.M. Epidemiologia e emancipação. S. Paulo/R. de Janeiro, HUCITEC/ABRASCO, 1995. BALAS, E.A; MITCHELL, J.A.; BOPP, K.D.; BROWN, G.D.; EWIGMAN, B.G. The Columbia Registry of controlled clinical computer trials. In: FRISSE, M.E.(ed.) Proceedings of the symposium on computer applications in medical care. McGraw-Hill, 1992. BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial: investindo em saúde. São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, 1993. BANTA, H.D.; LUCE, B.R. Health Care Techonology and its assessment - an international perspective. Oxford, Oxford Medical Press, 1993. BARATA, R. C. B. A historicidade do conceito de causa. Textos de Apoio - Epidemiologia 1, Rio de Janeiro, ABRASCO, 1985. BARATA, R.C.B. Epidemiologia no século XXI: perspectivas para o Brasil. Conferência no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. BARATA, R.C.B.; BARRETO, M.L. Algumas questões sobre o desenvolvimento da Epidemiologia na América Latina. Ciência & Saúde Coletiva, v. 1, n. 1, 1996. BARRETO, M.L. Epidemiologia, sua história e crises. In: Costa, D. C. Epidemiologia: Teoria e objeto. São Paulo, HUCITEC/ABRASCO, 1990 137 BARRETO, M.L.; CARMO, E. H. Mudanças em padrões de morbimortalidade: conceitos e métodos. In: MONTEIRO, C. A.(org.) Velhos e novos males da saúde no Brasil. A evolução do país e de suas doenças. São Paulo, HUCITEC/NUPENS-USP, 1995. BARROS, J.A.C. A multiplicação de especialidades no mercado farmacêutico: instrumento a serviço da saúde? Saúde em Debate, n. 51, p.59-63, 1996. BARROS, M.B.A. Epidemiologia e superação das iniqüidades em saúde. In: Barata, R.B. et al (org.) Eqüidade e saúde: contribuição da epidemiologia. R. J., FIOCRUZ/ABRASCO, 1997. BEAGLEHOLE, R. BONITA, R.; KJELLSTRÖM, T. Basic Epidemiology. Geneva, Word Health Organization, 1993. BLACK, D., MORRIS, S.N., SMITH, C., TOWNSEND, P. Inequalities in health, The Black report. New York, Penguin Books, 1982. BORREL, C. Métodos utilizados no estudo das desigualdades sociais em saúde. In: BARATA, R. B. (org.) Condições de vida e situação em saúde. Rio de Janeiro, ABRASCO, 1997. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estimativa da incidência e mortalidade por câncer no Brasil 1998. Rio de Janeiro, PROONCO/INCA, 1998. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lista Brasileira de Doenças de Notificação Compulsória - relatório final. Brasília, MS - CENEPI, junho de 1998. BRAVEMAN, P. Basic note to focus discussion on selected methodological issues. Geneva, WHO - document 3, sep./oct. 1997. BREILH, J. El genero entrefuegos: inequidade y esperanza. Quito, CEAS, 1996. 138 BREILH, J. “La sociedad, el debate de la modernidad y la nueva epidemiologia”. Conferência no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. BREILH, J. A epidemiologia na humanização da vida: convergências e desencrontos das correntes. In: BARATA, R. B. (org.). Eqüidade e saúde: contribuições da epidemiologia. Rio de Janeiro, FIOCRUZ/ABRASCO, 1997. BREILH, J.; CAMPAÑA, A. Zonas homogeneas de la necesidad en salud de las familias. In: BREILH, J.; CAMPAÑA, A.; COSTALES, P.; GRANDA, E.; PÁEZ, R.; YÉPEZ, J. Deterioro de la vida: um instrumento para análisis de prioridades regionales en lo social y la salud. Quito, CEAS, 1990. BREILH, J.; CAMPAÑA, A.; COSTALES, P.; GRANDA, E.; PÁEZ, R.; YÉPEZ, J. Deterioro de la vida: un instrumento para análisis de prioridades regionales en lo social y la salud. Quito, Corporación Editora Nacional/CEAS, 1990. BREILH, J.; GRANDA, E. Investigação da Saúde na Sociedade: guia pedagógico sobre um novo enfoque do método epidemiológico. S.Paulo/R.Janeiro, Cortez/Abrasco, 1989. BUSTAMANTE, M.A. Utilização dos serviços de saúde maternoinfantis na região sudoeste da Grande São Paulo. 1989-1990. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Saúde Pública da USP, 1996. CAMPAÑA, A. Em busca da definição de pautas atuais para o delineamento de estudos sobre condições de vida e saúde. In: BARATA, R.B. (Org.) Condições de vida e situação de saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 1997 139 CAMPOS, G.W S. Considerações sobre o processo de administração e gerência de serviços de saúde. In: CAMPOS, G.W.S.; MERHY, E.E.; NUNES, E.D. Planejamento sem normas. São Paulo, HUCITEC, 1989. CARANDINA, L.; MAGALDI, C.. "Análise das Condições de Saúde e de Vida da População Urbana de Botucatu - SP (Brasil)". Conhecimentos e Opiniões da População sobre Sintomas de Doenças, 1983. Rev. Saúde Pública, v. 23, n. 3, p.196-200, 1989. CARR-HILL, R. Efficiency and equity implications of the health care reforms. Soc. Sci. Med., v. 39, n.9, p.1189-1201, 1994. CARVALHEIRO, J. R. Levantamento das condições de saúde por entrevistas domiciliares. Tese de Livre Docência. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, 1975 CARVALHEIRO, J.R. A epidemiologia salvou-se por milagre, mas a saúde pública soçobrou. Saúde e Sociedade, v. 4, n.1/2, p.127132, 1995. CARVALHO, D.M. saúde: revisão Grandes sistemas nacionais de informação em e discussão da situação atual. Informe Epidemiológico do SUS, ano VI, n. 4, out/dez 1997. CASTELLANOS, P. L. Epidemiologia y organización de los servicios de salud. In: OPAS. La Formación em Epidemiologia para el Desarrollo de los Serviços de Salud. Washington, D.C., Publicación no.88, 1989 CASTELLANOS, P. L. Epidemiologia, saúde pública, situação de saúde e condições de vida. Considerações conceituais. In: BARATA, R.B. (org.) Condições de vida e situação de saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 1997. 140 CASTELLANOS, P. L. Lo ecológico en la epidemiologia aplicada en salud publica. Trabalho apresentado no III Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Salvador, 24-29 de abril de 1995. (mimeo). CASTIEL, L.D. - O buraco e o avestruz: a singularidade do adoecer humano. Campinas, Papirus, 1994. CAVELAARS, A.E.; KUNST, A.E.; GEURTS, J.J.; CRIALESI, R.; GROTVEDT, L.; HELMERT, U.; LAHELMA, E.; LUNDBERG, O.; MATHESON, J.; MIELCK, A.; MIZRAHI, A; RASMUSSEN, N.K.; REGIDOR, E.; SPUHLER, T.; MACKENBACH, J.P. Differences in self reported morbidity by educational level: a comparison of 11 western European countries. Journal of Epidemiology & Community Health, v. 52, n. 4, p.219-27, 1998. CESAR, C. L. G. Morbidade referida e utilização de serviços de saúde na Grande São Paulo: o perfil da desigualdade em saúde. Tese de Livre - Docência. São Paulo, FSP-USP, Departamento de Epidemiologia, 1997. CESAR, C.L.G.; FIGUEIREDO, G.M.; WESTPHAL, M.F.; CARDOSO, M.R.A.; COSTA, M.Z.A.; GATTÁS, V.L. Morbidade referida e utilização de serviços de saúde em localidades urbanas brasileiras: metodologia. Revista Saúde Pública, v.30, n.2, p.15360, 1996 a. CESAR, C.L.G; TANAKA, O.Y. Inquérito domiciliar como instrumento de avaliação de saúde: um estudo de caso na região sudoeste da área metropolitana de São Paulo, 1989-1990. Cad. Saúde Públ., v. 12, supl. 2, p.59-70, 1996 b. CHOR, D. Mudanças de comportamento: uma questão contemporânea. Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. 141 CHOR, D., DUCHIADE, M. P.; JOURDAN, A. M. F. Diferencial de mortalidade em homens e mulheres em localidade da Região Sudeste, Brasil - 1960, 1970 e 1980. Rev. Saúde públ., São Paulo, v. 26, n.4, p.246-55, 1992. City of Toronto/Department of Public Health. Environmental health and inspection services manual. DPH/Toronto, 1985 (mimeo). DACHS, N. A medição da carga da doença com DALY(s) e seu uso no planejamento de saúde e no desenvolvimento de pacotes de atenção de saúde. Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. DATASUS - Fundação Nacional de Saúde - Ministério da Saúde. Diretório de bases de dados de interesse da saúde, Rio de Janeiro, 1997 DESLANDES, S. F. Concepções em pesquisa social: articulações com o campo da avaliação em serviços de saúde. Cad. Saúde Públ., v.13, n.1, 1997. DEVER, G.E.A. A Epidemiologia na administração dos serviços de saúde. São Paulo, Pioneira, 1988 DONABEDIAN, A. The epidemiology of quality. Inquiry, n. 22, p.282-92, 1985. DRUMOND JR. , M. et al. Ocupação e mortalidade no município de São Paulo. Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Rio de Janeiro 01-05 de agosto de 1998. DRUMOND JR., M. Mortalidade evitável do adulto: desigualdades sócio-espaciais no município de São Paulo. Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Campinas, 1996. 142 DUCHIADE, M.P. População brasileira: um retrato em movimento. In: MINAYO, M.C. (org) Os muitos brasis: saúde e população na década de 80. São Paulo/ Rio de Janeiro, HUCITEC/ABRASCO, 1995. DUSSALT, G. - La Epidemiología y la Gestión de los Servicios de Salud. Boletin Epidemiológico/OPS, v. 16, n. 2, Julho 1995 ELIAS, P.E. A municipalização da saúde em São Paulo : dimensões políticas e econômicas. São Paulo em Perspectiva, v. 6, n.4, p.7783, 1992. ESCRIVÃO JR, A., WALDMAN, E.A.; LUNA, E.J.A. "O que é afinal a vigilância à saúde?" Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Olinda/Recife-PE, de 19 a 23 de junho de 1994. ESCRIVÃO JR., A. - As Práticas de Controle das Doenças Transmissíveis: a questão da hepatite por vírus no Estado de São Paulo. São Paulo, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da USP, 1985. ESCRIVÃO JR., A. Produção e Uso das Informações de Saúde na S.M.S. de São Paulo: Uma Questão Estratégica para a Construção do SUS. Trabalho apresentado em Oficina de Trabalho do I Congresso Brasileiro de Epidemiologia, promovido pela ABRASCO, Campinas, 1990 (mimeo). ESCRIVÃO JR., A.; LIRA, M.T.A. PRO-AIM - Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo. Saúde em Debate, n.30, p.72-5, 1990. ESCUDER, M. M. L. Morbidade ambulatorial como expressão das necessidades de saúde da população. Dissertação de mestrado (FSPUSP). São Paulo, 1998. 143 FERRARA, F.A., ACEBAL, E.; PAGANINI, J.M. Elementos necessarios para la determinación de un diagnostico sanitário. In: Medicina de la comunidad. Buenos Aires, Intermédica, 1976. FORATTINI, O.P. Epidemiologia geral. São Paulo, Artes Médicas, 1980. FRENK, J. In: OPS. Sobre la teoria y práctica de la salud pública. Washington, OPS, 1993. GATTÁS, V.L. Avaliação da cobertura vacinal e do uso de serviços de saúde para vacinação na região sudoeste da Grande São Paulo, 19891990. Dissertação de mestrado (FSP-USP). São Paulo, 1996. GIDDENS, A. Sociologia: uma breve porém crítica introdução. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1984. GOLDBAUM, M. A epidemiologia em busca da eqüidade em saúde. In: BARATA, R.B. (org.) Eqüidade e saúde: contribuição da epidemiologia. Rio de Janeiro, FIOCRUZ/ABRASCO, 1997. GOLDBAUM, M. Epidemiologia em serviços de saúde no Brasil: anotações para um debate. Saúde em Debate, n. 36, 1992. GOLDBAUM, M. Epidemiologia e serviços de saúde. Cad. Saúde Públ., v.12, n.2 [supl.], p.95-8, 1996 GOLDBERG, M. Este obscuro objeto da Epidemiologia. In: COSTA, D. C. Epidemiologia: Teoria e objeto. São Paulo, HUCITEC/ABRASCO, 1990 GONÇALVES, R.B.M. Reflexão sobre a articulação entre a investigação epidemiológica e a prática médica a propósito das doenças crônicas degenerativas. In: COSTA, D. C. Epidemiologia: Teoria e objeto. São Paulo, HUCITEC/ABRASCO, 1990 144 GONÇALVES, R.B.M. Tecnologia e organização social da práticas de saúde. São Paulo, HUCITEC/ABRASCO, 1994. GONÇALVES, R.B.M.; SCHRAIBER, L.B.; NEMES, M.I.B. Seis teses sobre a ação programática em saúde. In: SCHRAIBER, L.B. (Org.). Programação em saúde hoje. São Paulo, HUCITEC, 1990. ILLSLEY, R. Comparative review of sources, methodology and knowledg. Soc. Sci. Med., v.31, n.3, p.229-36, 1990. KAPLAN, G.A.; PAMUK, E.R.; LYNCH, J.W.; COHEN, R.D.; BALFOUR, J.L. Inequality in income and mortality in the United States: analysis of mortality and potential pathways. Brit. Med. Journal, v. 312, n.7037, p. 999-1008, 1996. KAWACHI, I.; KENNEDY, B.P. The relationship of income inequality to mortality: does choice of indicator matter? Social Science & Medicine, v. 45, n. 7, p.1121-7, 1997 a. KAWACHI, I.; KENNEDY, B.P.; LOCHNER, K. Long live community: social capital as public health. American Prospect, Nov/Dec 1997 b. KENNEDY, B.; KAWASHI, I.; PROTHROW-STITH, D. Income distribution and mortality: cross sectional ecological study of the Robin Hood index in the United States. Brit. Med. Journal, v. 312, n.7037, p.1004-13, 1996. KNOX, E.G. (org) La epidemiologia en la planificación de la atención a la salud. México, Siglo XXI, 1981. KROEGER, A. Response errors and other problems of health interview surveys in developing countries. Wld. hlth statist. quart., n. 38, 1985. 145 LAURELL, A.C. A saúde-doença como processo social. In: NUNES, E.D. Medicina Social - aspectos históricos e teóricos. São Paulo, Global Ed., 1983. LEAVELL, H.R. E CLARK, E.G. Medicina Preventiva. São Paulo, McGraw-Hill, 1976. LEBRÃO, M.L. Estudos de morbidade: usos e limites. Saúde e Sociedade, v. 4, n.1/2, p.51-7, 1995. LEBRÃO, M.L.. Análise das Condições de Saúde e de Vida na População Urbana de Botucatu - SP - IV - Morbidade Referida em Entrevistas Domiciliares. Rev. Saúde Pública, n. 25, v. 6, p. 45360, 1991. LEBRÃO, M.L.; LITVOC, J.; LEITE, R.M. Estudo da morbidade dos pacientes internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP - 1989. Rev. Hosp. Clín. Fac. Med. S. Paulo, v. 48, n.4, p.189-98, 1993 LEMUS, J. D. Eficiência y equidade. Texto apresentado no III Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco. Salvador, Bahia, 1995. [mimeo] LEMUS, J.D. Condiciones de vida y salud en la Argentina. Ambiente Medico. Rev. Hosp. Fernandez, n. 27, p. 9-18, 1992. LUIZ, O. C. Perspectivas da avaliação de situação de saúde: uma apreciação crítica. São Paulo, Dissertação de mestrado (FMUSP), 1997. LYNCH, J.W. .; KAPLAN, G.A.; SALONEN, J.T. Why do poor people behave poorly? Variation in adult health behaviours and psychosocial characteristics by stages of the socioeconomic lifecourse. Social Science & Medicine, v. 44, n.6, p. 809-19, 1997.. 146 LYNCH, J.W.; KAPLAN, G.A.; PAMUK, E.R.; COHEN, R.D. Income inequality and mortality in metropolitan areas of United States. Am J Public Health, v. 88, n. 7, p.1074-80, 1998. MANOR, O.; MATTHEWS, S.; POWER, C. Comparing measures of health inequality. Social Science & Medicine, v. 45, n.5, p.761-71, 1997. MARMOT, M. G. Improvement of social environment to improve health. The Lancet, v. 351, p. 9095, p.57-60, 1998. MAZZAFERRO, V.E. Uso de la Epidemiologia en la Planificación de los Servicios de Salud. In: Usos y Perspectivas de la Epidemiologia. Washington, D.C., OPAS, Publ. OPS, PNSP 84-87, 1984. MCDOWELL, I.; NEWELL, C. Measuring health: a guide to rating scales and questionaires. New York/Oxford, Oxford Univ. Press, 1996. MENDES, E.V. Distrito Sanitário. São Paulo, HUCITEC, 1993. MORAES, I. H. S. Informações em saúde: para andarilhos e argonautas de uma tecnodemocracia emancipadora. Tese de doutoramento (ENSP-FIOCRUZ), 1998. MORRIS, J.N. Uses of Epidemiology . Edinburgh, Livisngstone, 1957. MURRAY, C.J L.; LOPEZ, A. D. The global burden of disease (vol I e II). USA, WHO/Harvard University Press, 1996 MURRAY, C.J.L. Quantifying the burden of disease: the technical basis for disability -adjusted life years. Bulletin of the World Health Organization, n.72, p. 429-445, 1994. 147 NAJERA, E. Usos y perspectivas de la Epidemiologia en la investigacion. in: OPS. Usos y perspectivas de la Epidemiologia. Washington, Pub. PNSP 84-87, 1984. NOGUEIRA, R.P. A gestão da qualidade total na perspectiva dos serviços de saúde. Ensaios, v. 10, n. 27, p. 98-121, 1993. NOVAES, H. M. D.; ALMEIDA, M. F.; VALENÇA, O.; MADI, M. C. Qualidade da assistência ao parto: taxas de cesárea e capacidade instalada de hospitais e maternidades públicos e privados do município de São Paulo. Trabalho apresentado no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Rio de Janeiro, 01-05 de agosto de 1998. NOVAES, H.M.D. Epidemiologia e avaliação em serviços de atenção médica: novas tendências na pesquisa. Cad. Saúde Públ., v. 12, n. 2 [supl], p.7-12, 1996a. NOVAES, R. L. Sobre a técnica. História, Ciência, Saúde Manguinhos, ano III, n.1, mar.-jun 1996b. OLIVEIRA, L. A. P. O uso de dados censitários para a construção de indicadores de saúde. Texto apresentado no III Congresso Brasileiro de Epidemiologia da Abrasco. Salvador , Bahia, 1995. [mimeo] OMS. Preparación de indicadores para vigilar os progresos realizados en logro de la salud para todos en el año 2000. Genebra, OMS, 1981. OPAS. Collection and use of core health data. Resolução CE 120.R7, 26 de junho 1997. OPAS. Desarrollo y fortalecimiento de los sistemas locales de salud: evaluación para el cambio. HSS/SILOS - 24, 1993b. 148 OPAS. Programa Análisis de la Situación Salud. Metodologia para o estudo das desigualdades na situação de saúde. Boletim Epidemiológico OPS. v. 14, n.2, p. 5-8, 1993a. OPAS. Usos y perspectivas de la epidemiologia. Washington, D.C. Publ. OPS, PNSP 84-87, 1984. OPAS. Compatibilização de sistemas e bases de dados da Rede Integrada de Informações para a saúde (RIPSA) - Informe final. Informe Epidemiológico do SUS, ano VI, n.3, jul/set 1997. OPAS. El desafio de la epidemiologia: problemas y lecturas selecionadas. Washington, D.C., OPS Publicación Científica n. 505, 1989. OPAS. Rede Integrada de Informações para a Saúde no Brasil - RIPSA. Documento final da Primeira Oficina de Trabalho Interagencial realizada em Brasília, nos dias 13 e 14 de agosto de 1996. OPAS. Sistemas nacionales de vigilância de la situación de salud segun condiciones de vida y del impacto de las acciones de salud y bienestar. Washington, OPS, 1991. PADILHA, H.P.; COSTA, C.H.L. O plano diretor de informações do Ministério da Saúde: uma estratégia para sua elaboração. Informe Epidemiológico do SUS, ano V, n. 2, abr/jun 1996. PAIM, J. S. Abordagens teórico-conceituais em estudos de condições de vida e saúde: notas para reflexão e ação. In: BARATA, R. B. (org.) Condições de vida e situação em saúde. Rio de Janeiro, ABRASCO, 1997. PAIM, J.S.; TEIXEIRA, M.G.L.C. Reorganização do sistema de vigilância epidemiológica na perspectiva do sistema único de saúde (SUS). Informe Epidemiológico do SUS. CENEPI, out. 1992. 149 PARASCANDOLA, M. Epidemiology: Second-rate science? Public Health Reports. v. 113, n. 4, jul/aug 1998. PEARCE, N. Classe social e câncer. In: BARATA, R.B. (org.) Eqüidade e saúde: contribuição da epidemiologia. Rio de Janeiro, FIOCRUZ/ABRASCO, 1997. PEDERSEN, D. - "El dilema de lo quantitativo y lo qualitativo de las encuestas a los métodos rápidos de investigacion en salud". Trabalho apresentado na Conferência Internacional sobre metodologia de avaliação rápida em saúde. Washington, D.C., 12 a 15 de novembro de 1990 (mimeo). PENNA, M.L.; FAERSTEIN, E. Coleta de dados ou sistema de informações? O método epidemiológico na avaliação dos serviços de saúde. Trabalho apresentado no seminário "Perspectivas da epidemiologia frente a reorganização dos serviços de saúde", ABRASCO, maio de 1986 [mimeo]. PINHO, W.P. Sistema de informação para a gestão local de saúde. Saúde e Sociedade, v. 4, n.1-2, p.47-50, 1995. PLAUT, R.; ROBERTS, E. Preventable mortality: indicator or target? Applications in developing countries. Wld hlth statist. quart., n. 42, 1989. POSSAS, C. Epidemiologia e Sociedade: heterogeneidade estrutural e saúde no Brasil. São Paulo, HUCITEC, 1989. POWER, C.; MATTHEWS, S.; MANOR, O. Inequalities in sef-rated health: explanations from different stages of life . The Lancet, v. 351, n. 9108, p.1009-1014, 1998. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - SMS. Relatório do seminário "Uso das Informações de Mortalidade em Nível 150 Municipal". Realizado em São Paulo em 20 de novembro de 1992 [mimeo]. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - SMS.. Manuais de instruções de preenchimento do SIMIS. São Paulo, 1990 [mimeo]. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO - SMS - Centro de Epidemiologia, Pesquisa e Informação - CEPI. Relatório da Área de Projetos: vigilância, dezembro de 1992 [mimeo]. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO - SMS - Centro de Epidemiologia, Pesquisa e Informação - CEPI. Relatório da Área de Projetos: diagnóstico de saúde, dezembro de 1992 [mimeo]. RATTNER, D. Sobre a hipótese de estabilização das taxas de cesárea no Estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública, v. 30, p.19-33, 1996. RIVERA, F.J.U.(org) Planejamento e programação em saúde: um enfoque estrategico. São Paulo, Cortez, 1989. ROBISON, R. Economic Evaluation And Health Care. (6 Subtítulos). British Medical Journal, 307, 1993. RODRIGUES, M.C.P. O índice de desenvolvimento social (IDS). Conjuntura Econômica, fev 1993. ROJAS, R.A. Epidemiologia. Buenos Aires, Intermédica, 1974. ROSE, G. The strategy of preventive medicine. Oxford: Oxford University Press, 1992. ROSEN, G. From medical policy to social medicine: essay on the history of medical care. New York , Science History Publications, 1974. 151 ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo, Editora da UNESP, 1994. ROSSETI, J.P. Introdução à economia. São Paulo, Atlas, 1997. ROTHMAN, K.J.; ADAMI, H-O.; TRICHOPOULOS, D. Should the mission of epidemiology include the erradication of poverty? The Lancet, v. 352, n. 9130, p. 810-13, 1998. SÁ, G. Cadastros, tabelas e padrões: Um exame do sistema estatístico nacional. Revista de Administração de Empresas, v. 20, n. 2, p. 25-34, 1980. SABROZA, P.C. In: COSTA, D. C. Epidemiologia: Teoria e Objeto. São Paulo, HUCITEC-ABRASCO, 1990 [prefácio] SAMAJA, J. Epistemología y metodologia: elementos para una teoria de la investigación científica. Buenos Aires, EUDEBA, 1993. SÃO PAULO, SES / CVS, Documento de Municipalização da Vigilância Sanitária, São Paulo, 1990 [mimeo]. SHY, C. M. The failure of Academic Epidemiology: witness for the prosecution. Am J Epidemiol v. 145, n. 6, 1997. SILVA Jr., J.B. Diferenciais intra-urbanos de saúde em Olinda/PE. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Campinas, 1995. SILVA, G.R. La epidemiologia como especialidad. In: OPAS. La formación en epidemiologia para el desarrollo de los serviços de salud. Washington, D.C., Publicación n. 88, 1989. SILVA, G.R. La formación de personal en función de los usos y perspectivas de la epidemiologia. In: OPS. Usos y perspectivas de la Epidemiologia. Washington, Pub. PNSP 84-87, 1984 152 SIQUEIRA, M. S., VENTURA, A.; LEITE, A.P.A. Epidemiologia nos serviços de saúde. Saúde em Debate, n. 37, dez 1992. SOLLA, J.J.S.P. Problemas e limites da utilização do conceito de classe social em investigações epidemiológicas: uma revisão crítica da literatura. Cad. Saúde Públ., v. 12, n.2, p. 207-16, 1996. ST. JOHN, R. La necessidad de un pensamiento epidemiológico en los servicios de salud y la formación de recursos humanos. In: OPAS. La Formación em Epidemiologia para el Desarrollo de los Serviços de Salud. Washington, D.C., Publicación , n..88, 1989 TAMBELLINI AROUCA, A.M. Contribuição à análise dos acidentes de trânsito. Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Campinas, 1975. TANAKA. O. Y. - Análise da utilização pela clientela de uma unidade ambulatorial da SMS-SP. Rev. Saúde Públ., v. 24, p.60-8, 1990. TELESI Jr, E.; Reflexões sobre a política de saúde do Município de São Paulo (1989-92). Tese de doutorado apresentada ao Depto. de Práticas da Faculdade de Saúde Pública da USP. São Paulo, 1998. TERRIS, M. In : OPS. Sobre la teoria y práctica de la salud pública. Washington, OPS, 1993. TERRIS, M. Desarrollo historico -Discusión. In: El desafio de la epidemiologia: problemas y lecturas selecionadas. Washington, D.C., OPS Publicación Científica n. 505, 1989. TESTA, M. Pensar em saúde. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992. THE LANCET. Editorial: Putting Public Health Back Into Epidemiology. The Lancet , v. 350, july 26, 1997 UFBA-FAMED- Relatório do seminário e oficina de trabalho sobre operacionalização da vigilância à saúde, promovido pela Secretaria 153 Municipal de Salvador e Departamento de Medicina Preventiva, 23 e 24 de abril de 1993. [mimeo] UFBA-FAMED. Territorialização. Documento preliminar do encontro sobre sistemas de informação em SILOS realizado no Departamento de Medicina Preventiva, de 30 de novembro a 01 de dezembro de 1989 [mimeo] UNGLERT, C. V. S. O processo de territorialização na implantação do distrito sanitário. Trabalho apresentado no III Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Salvador, Bahia, abril de 1995. UNGLERT, L.; ROSEMBURG, C. P.; JUNQUEIRA, C.B. Acesso aos serviços de saúde: uma abordagem de geografia em Saúde Pública. Rev. Saúde Pública, v. 21, n.5, p. 439-46, 1987. VIACAVA, F.; BAHIA, L. Assistência Médico - Sanitária. Dados, n. 20, nov. 1996. WAGNER, C.G. This just in - old statistics. The Futurist, v.32, n.7, p.6-7, 1998. WALDMAN, E. A. Usos da vigilância e da monitorização em saúde pública. Informe Epidemiológico do SUS. CENEPI, 1998 [no prelo] WALDMAN, E. A. Vigilância Epidemiológica como Prática de Saúde Pública. Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Saúde Pública da USP, 1991. WALL, S. Epidemiology for prevention. Int. Journal of Epidem., v. 24, n. 4, p.655-664, 1995 WHITEHEAD, M. The health divide. London, Penguin Books, 1992 WHO. Equity in health and health care: a WHO/SIDA initiative. Geneva, WHO, 1996. 154 WING, S. Notes on some themes in critical epidemiology: a proposal. Trabalho apresentado no workshop sobre Análise de Situação de Saúde e condições de vida. Salvador , Bahia, 8-19 de março de 1993. (mimeo) WÜNCH FILHO, V. Variações e tendências na morbimortalidade dos trabalhadores. In: MONTEIRO, C. A. Velhos e novos males da saúde no Brasil. A evolução do país e de suas doenças. São Paulo, HUCITEC/NUPENS-USP, 1995.